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HISTÓRIA DA PSICOLOGIA - ATIVIDADE 4

JÚLIA SARTORI ADEODATO PORTO

1) As instituições abordadas pelo texto 1 diferiam completamente da noção de


hospital médico proposta por Foucault.
O corpo técnico das instituições pioneiras para alienados no Brasil não
contava com a presença significativa de médicos ou demais profissionais da
saúde. Ele era majoritariamente composto de pessoas ligadas às irmandades
religiosas, possuindo, assim, um caráter essencialmente assistencial. Assim,
considerando tal finalidade, não demandava-se a produção de um sistema de
registro sobre os pacientes. As informações eram restritas às elevadas taxas
de mortalidade, ao crescimento exponencial de pacientes internados.
A rotina hospitalar, por sua vez, não se assemelhava com os
protocolos seguidos rigorosamente nas instituições de saúde da atualidade.
As atividades realizadas, em tese, concentravam-se apenas em fornecer aos
necessitados um abrigo, alimentos e cuidados religiosos. No entanto, os
registros apontam para as condições precárias enfrentadas pelos internos, à
exemplo da falta de higiene, da superlotação e dos maus tratos. Nesse viés,
essas condições precárias serviram como um pretexto para a implementação
de hospitais organizados pelo poder disciplinar.
As primeiras instituições para alienados no Brasil eram destinadas aos
loucos pobres, visando retirar essas pessoas das ruas, como uma evidente
estratégia de segregação. Portanto, ainda que a justificativa para o cuidado
com os pobres possuísse um caráter religioso, as irmandades religiosas
estavam submetidas às ordens do governo, bem como aos seus respectivos
interesses.
Desse modo, o propósito dessas instituições consistia basicamente em
retirar de circulação os indivíduos considerados perigosos para a segurança
pública, segregando-os nessas instituições. Essa segregação,
posteriormente, “evoluiria” para um controle minucioso das informações e das
ações desses indivíduos, a partir da organização dos hospitais pelo poder
disciplinar.
corpo técnico, produção de um sistema de registro sobre os pacientes e a rotina
hospitalar, público atendido e propósitos da instituição)

O texto 8 aborda o “Hospício do Juquery e sua transição “de casa de loucos


à ordem terapêutica”, ou seja, a constituição de um Hospital Psiquiátrico ancorado
no rigor científico e sistematicamente organizado pelo poder disciplinar.
Considerando o objetivo de tornar o Hospício do Juquery um centro modelo
de psiquiatria, o corpo técnico dessa instituição era composto majoritariamente por
médicos psiquiatras e demais profissionais da área da ciência, rompendo com o
caráter filantrópico/assistencial das instituições para alienados.
Os propósitos da instituição, por sua vez, fixavam-se na “cura, na
recuperação e na regeneração”. Desse modo, o hospício deveria configurar-se
como um espaço médico destinado à cura e ao tratamento moral dos loucos.
Objetivava-se, nesse viés, o chamado “asilamento racional”, a fim de que os
hospícios deixassem de configurar “prisões para loucos” para tornarem-se um
modelo organizado de assistência e cuidados médicos, alicerçado na ciência
moderna. A instituição reuniu o primeiro grupo de especialistas no país.
Os pacientes advindos do meio urbano eram, em sua maioria, operários,
indigentes, pessoas em situação de rua, criminosos e contraventores. Já os
pacientes de origem rural eram fazendeiros, colonos, trabalhadores rurais e
pequenos proprietários. O contingente de internos era formado majoritariamente por
homens, negros libertos ou imigrantes.
A rotina dos internos era pautada na desindividualização, marcada por uma
vigilância constante e extremamente opressora. Enquanto uma instituição
controlada pelo poder disciplinar, objetivava-se o controle absoluto do
comportamento dos pacientes e de suas subjetividades, como medida para conter o
suposto perigo representado por sua loucura. A laborterapia, por exemplo, era
amplamente praticada, justificada e incentivada pelo meio científico, pois conferia
aos loucos algum sentido de utilidade e por realizar a manutenção da ordem. Tais
princípios estavam alicerçados no ideal de que o trabalho dignifica o homem e,
portanto, seria a única alternativa plausível para a degenerescência à qual os loucos
estariam submetidos,
A produção de um sistema de registro sobre esses pacientes, pois, foi
imprescindível para o exercício de um controle rigoroso sobre os corpos loucos e
seu caráter indisciplinado e desordenado, como bem elucidado no trecho abaixo:
“Culminação da ciência médica”, a psiquiatria quer conhecer e
desnudar as profundezas da alma humana; pretende criar um
indivíduo a sua imagem e semelhança e, nesta busca, engendra no
asilo um arremedo do que deveria ser a ordem social: impõe disciplina,
estabelece papéis, define limites, cria rotinas e impõe uma “nova
ordem científica” fundada na disciplina e no trabalho, como a ordem
social a que serve.

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