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Paulo Ricardo da Silva Rosa
2013
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 2
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Paulo Ricardo da Silva Rosa
Mário Quintana1
Sumário
Capítulo 1.O projeto de pesquisa................................
................................
................................
................................
............
13
4.2.1 Maturação................................
................................
................................
................................
................................
.....43
4.2.2 História................................
................................
................................
................................
................................
...........
44
4.2.3 Testagem................................
................................
................................
................................
................................
.......44
4.2.4 Instrumentação................................
................................
................................
................................
..........................
44
4.2.5 Seleção
................................
................................
................................
................................
................................
............
45
4.2.6 Mortalidade................................
................................
................................
................................
................................
..45
4.2.7 Regressão
................................
................................
................................
................................
................................
......45
5.4 IntermezzoȂO Positivismo e sua influência nas ciências físicas e a pesquisa empírica
...................
57
5.9.2 Condução................................
................................
................................
................................
................................
.......87
6.1 O questionário................................
................................
................................
................................
................................
.....94
8.2.1 Monografia................................
................................
................................
................................
................................
. 142
8.2.2 Dissertação................................
................................
................................
................................
................................
142
8.2.3 Tese................................
................................
................................
................................
................................
...............
142
8.3.2 ElementosTextuais................................
................................
................................
................................
................
143
8.4.2 Relatórios................................
................................
................................
................................
................................
...148
Referências................................
................................
................................
................................
................................
................
155
Anexo................................
................................
................................
................................
................................
............................
159
Índice ................................
................................
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................................
............................
171
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 7
Índi ce de Figuras
Figura 10 - Uma mola que se contrai sob a ação de uma força. Exemplo referente
Leiàde Hooke
. ..........
26
Figura 20 - Fatores que afetam a validade interna de uma pesquisa empírica experimental.
.....................
44
Figura 58 - (a) Um atirador que não é fidedigno, porque não acerta sempre em torno do mesmo
onto,
p
e tampouco válido, pois não acerta o centro; (b) Um atirador é fidedigno, porque acerta sempre em
torno do mesmo ponto, mas não válido porque não acerta o centro; (c) Um atirador que é fidedigno,
pois acerta sempre em torno do mesmo ponto, e válido,
porque acerta o centro, objetivo do jogo.
.....122
Índice de Quadros
Apresentação
Quando alguém aponta a Lua, o tolo olha do dedo, o sábio olha a Lua2.
Provérbio Chinês
Seja bem-vindo!
Supomos que você, por escolher nosso texto para ler, seja um estudante
em fase de elaboração de seu
projeto. Este projeto poderá ser seu Trabalho de Conclusão de Curso (uma Monografia, uma
Dissertação ou uma Tese) ou um projeto que será submetido a alguma agência de fomento para
obtenção de fundos para o seu desenvolvimento
(uma bolsa, por exemplo). De qualquer modo,
esperamos que o manual que preparamos especialmente para você seja útil na elaboração de seu
projeto de pesquisa. Cremos, também, que um material como o nosso possa ser útil ao pesquisador
iniciante na construção de seus projetos de pesquisa. Além disso, esperamos que nosso texto possa
também auxiliar professores das disciplinas de metodologia da pesquisa a formar novos
pesquisadores.
Neste texto, discutiremos a metodologia do trabalho científico, procurando desenvolver seus aspectos
operacionais e formais.Nosso foco será aPesquisa Qualitativa
. Neste sentido, o presente texto deve ser
entendido como complementar a outro(MOREIRA e ROSA, 2013)
, no qual abordamos as técnicas de
pesquisa quantitativa. Entretanto, para completude do texto atual, vamos introduzir, de forma
resumida, alguns conceitos da pesquisa quantitativa na análise de testes.
Os aspectos operacionais
dizem respeito à formulação do problema científico e ao estabelecimento de
estratégias para encontrara solução procurada. Discutiremos o que é um problema e a sua delimitação
(o que chamamos de questão básica de pesquisa). Discutiremos, ainda, as formas de obter a resposta à
questão que formulamos (aspectos metodológicos).
O eixo articulador de nosso texto será a construção de um projeto de pesquisa. Escolhemos estaaform
por uma razão simples: a elaboração de projetos de pesquisa faz parte da vida do pesquisador. Hoje em
dia, as formas de financiamento da pesquisa passam, sempre, pela elaboração de projetos de pesquisa.
Em muitas áreas, sobram recursos e faltam bons proj
etos. Além dessa razão prática, a construção do
projeto de pesquisa permite que exploremos aspectos fundamentais da construção da pesquisa
científica, tais como: a questão básica de pesquisa, a Introdução e a Justificativa de um projeto de
pesquisa, questões de natureza metodológica, aspectos ligados a orçamentos e cronogramas.
Estes últimos dois tópicos são de particular interesse e não são cobertos, normalmente, em textos
sobre Metodologia da Pesquisa. Entretanto, muitos projetos não são aprovados por ãos
órg
financiadores ou não são levados a bom termo devido ao mau planejamento das ações (expressas pelo
cronograma do projeto) ou porque os recursos alocados ao projeto foram insuficientes ou mal
distribuídos entre as diferentes rubricas (itens contempladosna proposta orçamentária).
vários manuais que fazem isso que você poderá consultar. Ao final, na lista de referências, você
encontrará várias fontes para esses conteúdos, tanto impressas como na Internet.
Boa leitura.
3 Embora as Normas da ABNT não tenham força de lei, elas servem de referência a muitas organizações para a normatização dos
trabalhos produzidos em seu âmbito.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 13
Um projeto de pesquisaé uma proposta de pesquisaa ser apresentadaa algum órgão ou instituição.
Normalmente, o projeto de pesquisa aborda o objetivo da pesquisa
(com a justificativa de sua
relevância e ineditismo), a questão básica de pesquisa que se quer analisar e a metodolog
ia pela qual
pretendemos chegar ao objetivo pretendido. Outros itens do projeto de pesquisa são: seu Cronograma,
seu Orçamento, a relação dos profissionais envolvidos (com suas atribuições no projeto) e a lista de
instituições que participarão do projeto. As informações básicas que devem constar no projeto são
mostradas naFigura 1.
Referencial Teórico
Objeto do da Pesquisa Metodologia
Projeto da Pesquisa
Projeto de Pesquisa
Estado daarte da
área
Orçamento
Cronograma
2. Introdução
3. Justificativa
Nesta seção devemos apontar para o avaliador de nosso projeto as razões pelas quais
achamos que a pesquisa que nos propomos a realizar deve ser feita. É nesta parte que
apresentamos nossas razões para o convencimento ao avaliador.
Essas razões devem
ter por base o ineditismo e a relevância do que estamos nos propondo a investigar.
A
importância social do conhecimento que pode ser potencialmente produzido também
deve ser salientada.
Introdução
Folha de rosto Justificativa
Cronograma Metodologia da
RH e Instituições Pesquisa
participantes
4. Objetivos
Este objetivo diz respeito ao que o professor espera que os alunos sejam capazes de
realizar após o desenvolvimento da sequência didática aplicada. Por outro lado, um
objetivo de pesquisa seria:
5. Metas
A palavra Meta pode ter duas interpretações. Pode ser entendida como um objetivo de
caráter mais geral ou como um objetivo ao qual associamos indicadores de
mensuração. Por exemplo: formar 0%
9 dos acadêmicos da Física com uma nova
metodologia de ensino.
6. Metodologia
Nesta parte, o pesquisador demonstra seu domínio do tema e das técnicas disponíveis
(ou que estão sendo propostas) para atingir os objetivos opostos.
pr Na Metodologia, o
pesquisador descreve as ações que serão desenvolvidas para atingir os objetivos e
metas. É nesta parte que tipificamos a pesquisa que será executada, se experimen
tal
ou não, qualitativa ou não.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 16
Referencial Questão
Teórico básica
Metodologia
Métodos de
Delineamento análise de dados
Referencial Questão
Teórico básica
Metodologia
Métodos de
Delineamento análise de dados
7. Referências
4A ABNT (http://www.abnt.org.br ) não é um órgão oficial, mas uma entidade de caráter privado que sugere normas a serem
seguidas para a produção de textos científicos. Estas normas são seguidas por muitas instituições.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 17
Se as respostas a estas duas questões for positiva, então a lista de referências está
completa. Uma forma segura de garantir a resposta afirmativa a estas duas questões é
usar os mecanismos de in
dexação bibliográfica que osmodernos editores de texto
oferecem.
8. Instituições participantes
9. Participantes do Projeto
10. Cronograma
Neste item, fazemos uma descrição do tempo que será gasto em cada tarefa do projeto.
Muito cuidado deve ser tomado na análise de tempo que será gasto em cada etapa. A
elaboração do cronograma é fundamental para que possamos desenvolver o projeto
no prazo que nos propomos.
Deixe sempre uma folga no Cronograma, pois imprevistos que consomem tempo
acontecem e podem atrasar o desenvolvimento de uma atividade da qual dependem
todas as outras.Somente a experiência no desenvolvimento de projetos nos dá uma
visão mais acurada de quanto tempo cada tarefa nos tomará.
Início
Tarefa 1
Mesmo
Tarefa 4 Tarefa 5 Tarefa 6
tempo
Outras tarefas
Tarefa 1
Tarefa 2
Tarefa 3
Tarefa 4
Outro ponto importante é justificar claramente cada item pedido em função das
necessidades do projeto. Não adiante pedir um computador se o proj
eto não necessita
desse tipo de equipamento, por mais que o seu computador esteja pedindo água!
Despesas de Custeio
As Despesas de
Custeiosão classificadas em:
a. Diárias
Este tipo de gasto tem por objetivo cobrir gastos decorrentes de deslocamentos dos
integrantes da equipe do projeto e pode ser usado para pagar hotéis, refeições, etc. O
valor é definido pelo órgão que financia o projeto e é estipulado por dia de
afastamento da sede do pesquisador. Usualmente, o coordenador do projeto paga em
espécie ou deposita na conta do pesquisador que recebe a diária.
Este tipo de gasto também existe para cobrir despesas de locomoção paraa for
da sede
do projeto tais como: táxi, passagens aéreas, passagens terrestres, etc. Normalmente é
vedado o uso des
se recurso do projeto para cobrir participação em encontros
científicos (assim como os valores reservados a diárias).
Um aviso importante: se você
pagou Diárias, você não pode pagar despesas de
áxit ou outro meio de transporte
urbano, tampouco despesas com hospedagem não podem ser pagas
c. Serviços de Terceiro
- Pessoa Física
d. Serviços de Terceiros
- Pessoa Jurídica
e. Consumo
Neste item são detalhados os gastos com materiais descartáveis a serem utilizados no
projeto. Por exemplo, o mouse de um computador é material de consumo, assim como
a tinta da impressora e o papel. Reagentes químicos, filmes fotográficos,
CDs são
outros exemplos de materiais de consumo. Normalmente, cada agência lista os
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 20
materiais que considera de consumo. É sempre bom consultar esta lista antes de
classificar os materiais previstos no projeto.
No Setor Público, esse é o tipo de dinheiro mais difícil de ser conseguido no orçamento
dos diferentes órgãos. Por material per
manente é entendido todo o tipo dematerial
que não se degrada pelo uso que
e durará bastante tempo. Mesas, cadeiras, armários,
máquinas em geral, computadores, etc., são classificados como materiais
permanentes. Em geral, qualquer item passível de ser pat
rimoniado é considerado
material permanente.Pela Portaria 448 de 13 de setembro de 2002
(BRASIL/STN/MF,
2002) todo bem com vida útil superior a dois anos é considerado material
permanente.
Embora este quadro seja quase sempre solicitado, na maior parte das vezes os recursos são
liberados de uma única vez na conta do projeto quando do seu início.
Os projetos de pesquisa são submetidos às agências financiadoras de duas maneiras distintas: por
demanda espontâneaou por demanda induzida. No primeiro caso, o pesquisador apresenta o projeto à
agência, na forma de fluxo contínuo: o pesquisador apresenta a qualquer momento o seu projeto de
pesquisa. No segundo caso, o mais comum, a agência de financiamento lança um Edital, anunciando
que financiará projetos em certo campo do conhecimento. Figura
A 6 mostra esquematicamente estes
dois esquemas de submissão de
projetos de pesquisa.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 21
Chamada induzida:
Por demanda:
Fluxo
contínuo
1 Rubrica: lógica.
ramo da lógica que se ocupa dos métodos das diferentes ciências
1.1 parte deuma ciência que estuda os métodos aos quais ela própria recorre
1.2 Rubrica: literatura.
em literatura, investigação e estudo, segundo métodos específicos, dos componentes e do caráter
subjetivo de uma narrativa, de um poema ou de um texto dramático
2 Derivação: por extensão de sentido.
corpo de regras e diligências estabelecidas para realizar uma pesquisa; método
1 procedimento, técnica ou meio de se fazer alguma coisa, esp. de acordo com um plano
Ex.: há dois m. diferentes para executar essa tarefa
2 processo organizado, lógico e sistemático de pesquisa, instrução,
investigação, apresentação etc.
Ex.: m. analítico, dedutivo
3 ordem, lógica ou sistema que regula uma determinada atividade
Ex.: ensina
r com m. 4modo de agir; meio, recurso
Ex.: encontrou um bom m. para economizar
5 conjunto de regras e princípios normat
ivos que regulam o ensino ou a prática de uma arte
Ex.: aprendeu a ler pelo m. da silabação
6 Rubrica: filosofia.
conjunto sistemático de regras e procedimentos que, se respeitados em uma investigação
cognitiva, conduzem
-na à verdade.
Portanto, Metodologia pode ser entendida como o conjunto de regras ou procedimentos (o método)
pelo qual fazemos algo. Por outro lado,
Metodologia da Pesquisa,
se refere ao termoPesquisa,a qual,
ainda segundo o Houaiss pode ser definida como
(HOUAISS, 2001)
:
- conjunto de atividades que tem por finalidade a descoberta de novos conhecimentos no domínio
científico, literário, artístico etc.;
- investigação ou indagação minuciosa
Essa, talvez, deva ser a primeira lição: não há um único método ou o método certo pelo qual podemos
conhecer algo a respeito do Ensino de Ciências. O que existe são diferentes abordagens para diferentes
problemas. A abordagem que é adequada a uma classe de
roblemas
p pode não ser a mais adequada
para outra classe de problemas. Nosso objetivo é oferecer a você ferramentas variadas, de modo que
você, frente à determinada situação, escolha a mais adequada.
A pesquisa científica não acontece de forma isolada do contexto social no qual o pesquisador está
inserido. Este contexto é formado pelos aspectos físicos, sociais e históricos da sociedade particular na
qual a pesquisa é realizada. Importante, também, lembrar que a pesquisa
ocorre em um momento no
tempo. Como consequência disto, o pesquisador tem a sua frente questões de pesquisa específicas
oriundas de um modo particular (e histórico) de interagir com o mundo a sua volta. Este conjunto de
elementos presentes na mente do pesq
uisador é chamado de DomínioConceitual da pesquisa. Por
outro lado, ao realizar a pesquisa, o investigador da ciência faz uso de certos métodos, concebidos a
partir de sua visão particular do assunto objeto da pesquisa. Estes
métodos são compostos por
conceitos, formas de construir dados, asserções de valor e asserções de conhecimento. A este conjunto
chamamos de DomínioMetodológico da pesquisa.O V Epistemológico de Gowin
é uma figura na qual
representamos os dois ramos da Pesquisa Científica
(Figura 7), os domínios metodológico e conceitua
l
(MOREIRA, 1990).
No campo educaciona
l, além de nos permitir visualizar a estrutura dos experimentos científicos, V
o
Epistemológico de Gowin
, ou simplesmenteV Epistemológico,é uma ferramenta muito útil em vários
contextos: como auxiliar noplanejamento, como recurso instrucional, como inst
rumento de avaliação
do aluno, como ferramenta auxiliar na análise do material instrucional,
na análise do Currículo7 de um
material instrucional, etc. Por material instrucional entende-se uma aula, um experimento de
laboratório, um livro, um artigo de revista, um programa de computador, um vídeo, etc. A vantagem do
uso do V Epistemológico
, em relação a outras ferramentas de análise, écapacidade
a de síntese que
aquele possui.
7Por currículo entende-se o que pode ser apreendido daquele material instrucional. Nesse sentido, currículo deve ser
diferenciado de uma grade curricular que simplesmente é um conjunto de disciplinas que compõem curso.
um
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 24
A base sobre a qual oV Epistemológicose sustenta é a ideiade que a pesquisa é construída sobre uma
rede de significados composta por conceitos, teorias, eventos, questões, transformações de dados,
asserções de valor e significado. O papel do
V Epistemológicoé o de explicitar essescomponentes. Esta
crença, por sua vez, tem sua base na hipótese cognitivista de que o conhecimento é estruturado na
mente dos sujeitos e que ess
a estrutura subsiste por trás do projeto de pesquisa.
Domínio Domínio
Conceitual Questão básica Metodológico
Filosofias (visões de
Domínios em Asserções de
mundo)
interação valor
Teorias Asserções de
conhecimento
Leis Dados
Conceitos Registro
Evento
A percepção de um evento passa pela estrutura cognitiva de quem percebe. Da mesma forma, o que é
uma questão básica também depende de quai
s conceitos o sujeito traz naquela estrutura. Por exemplo,
considere a seguinte questão:
A formulação desta questão, que parece de uma trivialidade e simplicidade extremas, só foi possível
após o trabalho de Galileu a
Glilei 8 no século XVII e a consequente algebrização da Física iniciada por
ele.
Assim, em toda pesquisa, para que possa haver a compreensão do evento sobre o qual a pesquisa está
interessada, aqui entendida como a identificação do evento estudado, da formu
lação da questão básica
que suscita e as respostas que porventura possa oferecer, há sempre necessidade da mediação da
estrutura conceitual dos sujeitos.
Figura 9 - Poltrona.
O ser humano tem a capacidade de associar signos (verbais ou não) a conceitos. Ao longo do nosso
desenvolvimento, por volta dos dois anos, já temos capacidade de associar um
signo sonoro a
diferentes objetos e eventos, aprendendo, assim, a linguagem. A partir daí, temos uma associação, que
para os adultos é quase uma identidade, entre a linguagem e os conceitos. Quando pensamos
internamente, operamos sobre os signos linguístic
os em um espaço isomorfo ao dos conceitos. A
8 Físico e Matemático italiano responsável, entre outros, pela matematização da Física e pelo uso do telescópio como
instrumento astronômico com fins científicos.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 26
discussão desse processo foge ao objetivo deste texto. Se você estiver interessado neste assunto,
sugerimos a leitura do texto de Vygotsky(1993).
Tomemos, como exemplo, umexperimento no qual devemos obter aLei de Hooke(veja a Figura 10).
Esta lei estabelece que, dentro de certos limites, a força restauradora
9 em uma mola é proporcional a
Elongação
Figura 10 - Uma mola que se contrai sob a ação de uma força. Exemplo referente
Leiàde Hooke
.
Estes conceitos se ligam de forma ordenada e lógica para gerarem asserções que estabelecem como os
entes representados pelos conceitos se relacionam. Atas
es asserções chamamos uma
Lei. Um aspecto
importante de uma Lei é que ela expressa relações de causalidade entre eventos observados. Em geral
a estrutura de uma Lei é:p o q. Sendop e q são duas proposições, a Lei nos diz que
se a primeira
proposição, p, for verdadeira então a segunda proposição,q, também o será10. Um exemplo de Lei é a
Lei de Hookeque enunciamos acima: ela relaciona vários conceitos dizendo como a força restauradora
se comportará sesoubermos qual é a elongação da mola.
As leis, por sua vez, podem ser agrupadas em estruturas mais gerais, formando as Teorias
. Um exemplo
de teoria é a Mecânica Clássica na Física ou a Genética na Biologia ou a Teoria do Átomo na Química. As
Teorias têm um poder de explicaçã
o mais geral que uma Lei e
elas expressam uma síntese de todo um
campo do conhecimento. ALei de Hookeque vimos usando como um exemplo se encaixa dentro da
teoria mais geral da Mecânica Clássica. Enquanto a Lei dá conta de um evento específico, uma Teoria
dá
conta de princípios mais gerais envolvidos em todos os eventos de uma mesma classe.
Lei Ade Hookeé
específica para o evento de uma mola esticada ou comprimida enquanto que as Leis de Newton se
9 Força restauradora é a força que aparece em uma mola quando a esticamos ou comprimi mos fazendo com que uma mola volte
à sua posição de equilíbrio.
10 A este respeito, o trabalho de Toulmin
(2006) discute o conceito de Lei e a visão da Lei a partir da lógica.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 27
instrucional ou currículo. Uma Filosofia é um conjunto de ideias que dão um substrato epistemológico
às Teorias. Por exemplo, por trás da Mecânica Newtoniana se encontra a filosofia racionalista que
postula que o Universo é passível de entendimento
pela razão humanae que as leis naturais podem ser
descritas em termos matemáticos.
Os conceitos são importantes não só como as peças a partir das quais estrutur
as mais gerais as
( Leis,
as Teorias e as Filosofias) são construídas, mas, também, como elementos guia do processo
experimental em Ciência. Senão vejamos o nosso experimento sobre
Leiade Hooke
. Se fossemos para
um laboratório para obter a relação entrea força restauradora em uma mola e a sua elongação
, como o
faríamos? Bem, o procedimento mais simples é medir a mola em repouso, na horizontal (por quê?) e a
seguir, usando várias massas pequenas, medirmos a elongação da mola quando submetida ao peso das
massas. A partir desse experimento construiríamo
s uma tabela do tipo mostrado noQuadro 1
(resultados fictícios).
0 0
1 2
2 4
3 6
4 8
5 10
Se traçarmos um gráfico destes dados, colocando no eixo horizontal os valores das massas e, no eixo
vertical, os valores da elongação, obteremos um gráfico semelhante ao mostradoFigura
na 11.
Elongação
Massa
Analisemos, agora, que conceitos estão intervindo nesse processo. O fato de medirmos a elongação (ou
seja, o quanto a mola esticou
em relaçãoà situação na qual a mola não está esticada ou comprimida
)
tem sentido na medida em que tenham sido construídos pelo sujeito os conceitos de medição e de
diferença de comprimento. Sem eles
, é impossível entender o processo. Outro conceito que intervém é
o de força restauradora, que aqui aparece conjugado ao conceito de força. Como se vê, o processo de
medida não é independente do Domínio Conceitual envolvido. Mas vamos adiante. Outro conceito
envolvido, de forma subjacente
, por certo, é o conceito de propo
rcionalidade. Sem ele
, fica impossível
obter a expressão para aLei de Hooke
.
Para que possamos analisar o evento sob estudo e responder à questão básica formulada, qual a
relação funcional entre a elongação e a força restauradora, certas transformaçõesbre
soos dados
brutos obtidos no experimento devem ser feitas. As grandezas que realmente são medidas nesse
experimento são um comprimento (da mola) e uma massa (do contrapeso colocado). Todo o resto
(elongação, peso, tabelas, gráficos) são transformações de
ssesRegistros de Eventos
chamadas deDados.
Portanto, um Dado é o resultado de uma (ou mais) transformação que é feita sobre os
Registros de
Eventos. Exemplos deDados são a tabela e o gráfico que apresentam
os acima.Um ponto importante
que deve ser ressaltado aqui: os
Dados são sempre resultado de um processo de construção mediado
pelos conceitos que o pesquisador tem em sua estrutura cognitiva. Principalmente em Ciências Sociais,
o dado nunca existe indepen
dente da teoria que orienta o trabalho do pesquisador.
A partir dos Dados podemos fazer afirmações a respeito do evento sobre o qual fizemos a nossa
questão básica tentando agora respondê
-la. No nosso exemplo, umaAsserção de Conhecimento
é: a
relação entre a elongaçãox da mola e a força restauradoraF é do tipo12:
F
kx. (Lei de Hooke
)
Nessa expressão,
k é uma constante que depende da mola somente. Obtemos essa expressão a partir da
forma do gráfico: uma reta13. Essa expressão é a cham
ada Lei de Hooke
. (Pergunta: qual a origem do
sinal negativo que temos na expressão da
Lei de Hooke
?)
O nosso experimento, entretanto, não se esgota na obtenção dessas asserções de conhecimento. Todo
conhecimento, e o científico em particular, deve servir
a algum propósito. Para que serve estudar Lei
a
de Hooke? Por que devemos gastar preciosos minutos de nossas vidas tentando obtê
-la? A (s) resposta
(s) a esse tipo de pergunta é o que chamamos Asserções
de de Valor
, pois são a
firmações a respeito da
utilidade e da importância, particular ou social, daquele conhecimento obtido. No nosso exemplo,
estudar a Lei de Hookeé importante porque muitos sistemas físicos são bem descritos, dentro de certos
limites, por expressões semelhan
tes à obtida neste experimento. Todas essas informações a respeito
da metodologia da realização do experimento formam Domínio
o Metodológico de um experimento.
Podemos representar ess
es dois domínios (Conceitual e Metodológico) por um
V como naFigura 7.
1. Planejamento
Uma possível aplicação doV Epistemológicoé durante a fase de planejamento de um curso, de
uma aula expositiva, de um experimento, etc. Nesse momento o professor pode usarVo
Epistemológicocomo uma forma de explicitar relações e esclarecer como os conceitos e leis a
serem ensinados se ligam e explicitar relações de dependência entre as várias partes do
currículo.
2. Instrumento de ensino
Esta é outra aplicação potencial doV Epistemológico
. Como oV traz a informação contida no
currículo do material instrucional em uma forma compacta ele pode ser usado como forma de
apresentar o conteúdo do material instrucional antes ou após o seu desenvolvimento. Uma
aplicação na qual o uso do V se mostra particularmente útil é na análise de experimentos de
laboratório, depois da suarealização, como ferramenta defeedback, propiciando a reflexão por
parte do aluno sobre a atividade experimental desenvolvida.
3. Ferramenta de Avaliação
Relatórios de experimentos de laboratório podemser substituídos pela construção por parte
dos alunos de um V Epistemológicodo experimento por eles realizado; da mesma forma, em
vez de solicitar que os estudantes respondam a um questionário sobre determinado capítulo
de um livro porque não solicitar a construção de umV daquela unidade?
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 30
Mais do que falar em método científico, cremos ser melhor falarmos nas fases de um trabalho científico
(veja Figura 12). Antes de fazermos algo em Ciência precisamos ter percepção de que não sabemos
algo. É somente a percepção de nosso desconhecimento que nos permite desenvolver um trabalho
científico. Essa fase é a fase da
formulação do problema com a explicitação daquestão básica de
pesquisa.
Por fim, do ponto de vista social, uma atividade de pesquisa somente se justifica se os resul
tados forem
compartilhados com quem financiou a pesquisa. Além dessa razão, há outra muito importante: o
resultado de uma pesquisa somente pode ser aceito se ele for reprodutível. Isso quer dizer que outros
pesquisadores, partindo das mesmas premissas, dev
em ser capazes de obter os mesmos resultados.
Para que isso possa ser feito, os outros pesquisadores precisam saber o que foi feito. É, portanto, uma
obrigação ética do pesquisador a comunicação dos resultados de uma pesquisa em uma forma
compreensível. Es
sa fase é a fase de
Comunicação dos Resultados.
Delineamento
Formulação do
problema Plano Operacional
Trabalho Científico
Conclusões Execução do Plano
Operacional
2. Delinea r a pesquisa - Como salientado na introdução deste texto, o delineamento é uma das
fases mais importantes da pesquisa. Delinear uma pesquisa consiste em escolher os atores, os
comportamentos e contextos a serem observados, as partições a serem feitas entre eles e as
comparações de que serão objeto as observações. Parte importante do delineamento da
pesquisa é a definição da maneira pela qual os dados serão construídos.
4. Executar o Plano Opera cional ȂEsta é a fase na qual as ações definidas no Plano Operacional
serão realizadas
6. Mapear dados em variáveis ou categorias - Dados podem acumular -se em uma vasta
coleção. Como pode o investigador simplificar uma grande quantidade de dados em um modo
compreensível e facilmente manipulável?Para isso, o pesquisador precisa construir variáveis.
Nas metodologias de tipo qualitativo, muitas vezes estas variáveis são chamadascategorias.
de
Quer chamemos de categorias ou variáveis, o importante é o processo de sistematização e
redução envolvido. Neste processo, o pesquisador sca bu o que há de geral nos dados
construídos, em um processo de generalização. Esse processo, nas pesquisas de natureza
qualitativa, é usualmente de tipoGeneralização Analítica
. Nele, o pesquisador procurainsights
para a construção de teorias explicativas
do fenômeno social observado.
8. Tirar conclusões - Que hipóteses poderiam ter sido feitas sobre pessoas ou grupos que
poderiam ser explicações alternativas para soresultados obtidos? Qual a probabilidade de que
os resultados sejam obra do acaso? Que comparações poderiam ainda ser feitas de modo a
aumentar a confiança nos resultados obtidos?Que evidências o pesquisador tem a sua
disposição e como estas evidênciasdão suporte às conclusões que foram tiradas?
Por fim, mas não menosimportante, são as interações sociais às quais o pesquisador está submetido.
Qualquer projeto de pesquisa é formado em alguma extensão por todas estas fontes de
conceitualização.
Observamos na natureza que certas ações são executadas. Por exemplo, veja
Figura
a 14.
Novamente, temos algo queocorre e que percebemos conscientemente. Temos outro evento.
Ao percebermosum evento, este pode despertarnossa curiosidade. Podemos, então, colocar algumas
questões de natureza geral sobre o evento:
2. Quem as onstruiu?
c
Erroneamente, a maior parte das pessoas pensa que fazer Ciência é apresentar respostas. De fato, a
etapa mais importante é definir um problema e quais perguntas podemos fazer sobre esse problema.
Portanto, o foco de um cientista não é buscar resposta
s, mas sim apresentar boas perguntas.
Claro que, além destas, poderíamos colocar muitas outras questões. Mesmo as que colocamos acima
podem ser refinadas. Por exemplo, a questão 2 poderia ser subdividida em duas outras (pelo menos):
Enquanto a primeira subquestão diz respeito aos químicos, a segunda diz respeito aos biólogos. Deve
ser observado que afirmar que o hábito da queimada
é danoso ou benéfico ao meio ambiente vai ser
função das respostas que obtivermos às perguntas acima.
Um trabalho científico somente pode ser iniciado se soubermos colocar questões como as que
colocamos sobre as queimadas.
Não existe pesquisa sem um problema de pesquisa. Faremos inicialmente a distinção entre problema
de pesquisa (ou situação de pesquisa) e questão
básica de pesquisa (ou, simplesmente, questão
básica). Um problema de pesquisa ou situaç
ão de pesquisa é uma situação sobre aual
q queremos obter
informações.
Nem todo problema, como os apresentados na seção anterior, é um bom começo para uma pesquisa.
Em geral, no nível de formulação de problemas, as questões ainda não são suficientemente
pecíficas
es
para um bom projeto de pesquisa.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 35
Definimos como uma questão básica de pesquisa uma questão formulada sobre o
nosso problema tão específica que contenha dentro dela a maneira como vamos
respondê-la.
Quem as construiu?
Por fim, poderíamos colocar umaquestão básica para aobservação da estrelana seçãoanterior:
Essa questão aponta, do mesmo modo que as anteriores, para a sua solução: tomamos um
espectrômetro e analisamos a luz emitida pela trela.
es
Doutorado) o estudante tem tempo apenas para abordar uma ou mais questões básicas
de pesquisa.
Uma das principais tarefas de um orientador é levar o estudante a construir uma boa questão básica de
pesquisa. Em grupos de pesquisa, com vários pesquisadores e estudantes (de iniciação científica,
mestrado ou doutorado), normalmente as pesquisas ligadas às
diferentes questões básicas de pesquisa
abordadas pelo grupo dentro de seu programa de pesquisa
são divididas entre seus vários membros.
Assim, seguindo o exemplo dado anteriormente, enquanto um aluno de doutorado investiga a
correlação entre a produção industrial e o degelo da Antártida, outro estuda essa correlação, mas com
o Ártico. Outro ainda pode estudar os efeitos da produção industrial com as taxas de reprodução dos
pinguins.
Uma característica de uma boa questão básica de pesquisa é que dentro dela
temos uma indicação
clara de como vamos respondê
-la. Veja a questão que colocamos mais acima e que repetimos abaixo:
Observe que esta metodologia de responder a questão básica de pesquisa não estará presente se
modificarmos ligeiramente a forma como a questão básica for colocada:
Agora, não temos mais um indicativo do que fazer. Qual efeito procura
mos: sobre as taxas de
reprodução, como antes? Sobre os hábitos migratórios? Sobre a cor da gem
pela dospinguins? Sobre os
hábitos alimentares dos pinguins? Como você pode vera variedade de questões básicas de pesquisa
subjacentes à questão proposta é ampla. O pesquisador experiente dedica bom tempo da fase inicial da
pesquisana tarefa dedefinir com clareza qual é a verdadeira questão básica de pesquisa
.
Resumindo o que dissemos até agora, ao formular a sua questão básica de pesquisa responda de forma
honesta as seguintes perguntas:
15Discutiremos mais adiante a interpretação correta do coeficiente de correlação e porque não podemos baseados nele atribuir
relação de causalidade entre duas variáveis.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 37
Para construir o novo, é necessário que tenhamos um profundo conhecimento sobre o que
já é
conhecido no nosso campo de trabalho. Essa é a razão pela qual, na maior parte dos casos, os trabalhos
acadêmicos começam por uma profunda revisão da bib
liografia sobre o tema de pesquisa (o
problema). Essa revisão tem por objetivo a tomada de posse por parte do pesquisador daquilo que já
foi produzido na área e, naturalmente, indica o que ainda não é conhecido.
Vamos supor que outra pessoa já tenha feito essa mesma pergunta e tenha publicado os resultados
dessa pesquisa (nos moldes que descrevemos antes) em alguma revista
e divulgação
d científica. O
nosso pesquisador estaria então perdendo o seu tempo.
Esse termo,permanente provisória, indica que tomamos a nossa afirmação como verd
adeira até que
alguma outra evidência a questione. Ou seja, a ciência não assume que algo seja verdadeiro de forma
permanente.
Voltemos ao exemplo da nossa pirâmide. A pergunta básica que nosso pesquisador tinha feito era:
vulcânica, etc. Cada uma exige uma técnica diferente de análise. Ao escolher a técnica de análise
estamos fazendo uma hipótese: a pedra é vulcânica então usarei tal técnica. Se o resultado
negativo,
for
então a nossa verdade provisória (a pedra é vulcânica) não terá sido corroborada e a descartamos.
Um Delineamento de Pesquisa
é o desenho decomo a pesquisa será executada.nvolve
E a descrição de
como os registros serão coletados e analisados, como os grupos que partic
iparão da pesquisa serão
escolhidos, como os dados serão construídos e analisados
, etc. (veja aFigura 16). Os Delineamentos de
pesquisa podem ser classificados com e sem intervenção. No primeiro caso, Delineamentos
m co
Intervenção, o pesquisador altera o ambiente estudado de alguma maneira e analisa o efeito desta
alteração. No segundo, Delineamentos sem Intervenção, o pesquisador estuda o ambiente sem
modificar ou introduzir nenhum elemento.
Seleção da
amostra ou caso Forma de
População coleta de dados
Delineamento
Dizemos que a pesquisaé empírica experimental se houver intervenção de qualquer tipo, com a
intencionalidade de modificar de forma controladacertas condições do me
io no qual a pesquisa está
sendo realizada e observar o resultado
dessa intervenção. O caráterexperimental da pesquisa vem da
característica de intervenção na realidade que se quer estudar
e da intenção do pesquisador de
controlar as variáveis queregem o fenômeno sob análise.
Por outro lado, o caráter quantitativo ou não da pesquisa vem do uso ou não de ferramentas
quantitativas (tipicamente ferramentas da Estatística Inferencial) para análise dos
registros colhidos.
Pesquisasqualitativas têm por característica não usarem estas ferramentas, privilegiando o uso de
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 42
No que diz respeito a aspectos metodológicos, a Pesquisa Qualitativa procura utilizar instrumentos que
privilegiem a qualidade da observação, normalmente estudando em profundidade poucos
casos do
evento, tentando identificar o que esses poucos casos têm em comum. Já a Pesquisa Quantitativa
procura estudar em extensão muitos casos do evento procurando padrões generalizáveis. Quando
realizamos pesquisas quantitativas, técnicas de Estatístic
a Inferencial são usadas para estudar o
comportamento de populações16. A pergunta que procuramos responder com esse tipo de pesquisa é a
seguinte: com base nos resultados obtidos com a amostra, qual a probabilidade que temos de que esse
resultado seja válido para a população inteira?
É experimental, pois o
É empírica, pois é
pesquisador tenta
realizada no local em
controlar variáveis
que o evento ocorre
Pesquisa Empírica
Experimental
Na pesquisa qualitativa estamos mais interessados em aspectos qualitativos dos dados do que em
aspectos quantitativos. Este tipo de pesquisa
é usado, principalmente, para analisar questões que não
podem ser mensuradasou para as quais queremos construir um modelo explicativo
. Por exemplo, fica
difícil quantificar a esperança em um novo governo
17. Podemos apenas dizer se as pessoas têm
Ao executarmos uma pesquisaempírica com intervenção, aquele tipo de pesquisa no qual intervimos
sobre o meio e queremos avaliar a extensão do efeito da intervenção, com a intencionalid
ade de
generalizar nossos resultados,devemos nos preocupar com quais fatores podem fazer com que
cheguemos a conclusões incorretas a partir dos dados que obtemos na realidade investigada.
Para
outros tipos de pesquisa, como oEstudo de Caso
e a Fenomenolo
gia, por exemplo, estes vínculos são
menos rígidos ou a intenção de generalização é completamente abandonada
(veja a Figura 19).
Os fatores que podem invalidar nossas conclusões, e que dizem respeito à metodologializada,
uti são
chamados de Fatores de Validade Internada pesquisa. Por outro lado, sempre que pesquisamos uma
situação particular com a intencionalidade degeneralizar os resultados e conclusões que obtemos para
outras situações, generalizando as conclusões
, precisamos analisar os fatores que nos permitem ou não
fazer isso. Esses fatoressão chamados deFatores de Validade Externa
da pesquisa.Analisaremos cada
um deles agora.
4.2.1 Maturação
A maturação diz respeito às modificações que ocorrem nos sujeitos sendo pesquisados simplesmente
porque o tempo passa e eles ficam mais velh
os, com mais experiência ou em um nível cognitivo
diferente. Por maturação, entendemos variações internas
que ocorrem nos respondentes devidas,
simplesmente, à passagem do tempo e são independentes do tratamento que se quer estudar. Essas
são, por exemplo: fome, cansaço, envelhecimento, desenvolvimento cognitivo, desenvolvimento
psicomotor, desenvolvimento afetivo, etc.
Imagine que você esteja querendo estudar o efeito de determinada metodologia de ensino de ciências
ao longo de três anos em crianças entrecinco e oito anos. É claro que os seus resultados serão
mascarados pelo fato de que neste período de tempo as variações cognitivas (passagem do estágio
- pré
operatório para o estágio operatório concreto na descrição piagetiana do desenvolvimento
) são
extremamente importantes. Como saber se os resultados observados são resultado do método
empregado e não conseq
uências do processo de maturação ele mesmo?
4.2.2 História
Suponha que você esteja fazendo um estudo sobre a percepção a respeito da Ciência e como o ensino
de ciências pode afetar esta ercepção
p entre os alunos de uma determinada comunidade. Você aplica
um questionário em um dado instante do ano escolare volta a aplicar o questionário em outro
momento, no início e no final do ano, por exemplo. Entretanto, neste intervalo de tempo foi descoberta
a cura para determinada doença que aflige em particular aquela comunidade. Será que este fato não
alterará a percepção que os alunos apresentam àgunda
se aplicação do questionário?
4.2.3 Testagem
Testagem
História Regressão
Mortalidade
Maturação
Seleção
Figura 20 - Fatores que afetam a validade interna de uma pesquisa empírica experimental.
4.2.4 Instrumentação
Uma medida posterior pode variar de uma medida anterior pela variação do instrumento de medida
e/ou das condições nas quais o primeiro teste foi aplicado. Exemplo clássico: você aplica dois testes
sem verificar se eles realmente estão
medindo a mesma coisa.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 45
4.2.5 Seleção
Se os sujeitos são distribuídos em diferentes grupos de qualquer modo que não o aleatório, resultarão
diferenças sistemáticas entre os grupos que podem ter efeitos no desempenho
19.
Por exemplo, você está fazendo uma pesquisa sobre a percepção que os sujeitos de dada comunidade
têm sobre a AIDS. Para isto
, você seleciona para uma entrevista vários indivíduos que tiveram pessoas
de suas relações contaminadas pelo vírus. É claro que a percepção
destas pessoas será totalmente
diferente da percepção das pessoas que não foram diretamente afetadas pela doença e os resultados da
pesquisa serão mascarados por este fator.
4.2.6 Mortalidade
Perdas de respondentes entreos grupos sendo comparados é outra fonte de não validade interna. Se
alguns dos sujeitos analisados na primeira medida saem do experimento antes da medida final, as
características dos grupos não mais serão as mesmas e estas diferenças podem ter efeitos
retos
di no
desempenho final.
Imagine uma pesquisana qual você esteja interessado em analisar a percepção sobre o futebol no Rio
Grande do Sul. Para isto você seleciona um número de torcedores composto metade a metade por
gremistas e colorados, para duas ent
revistas, separadas no tempo portrês meses. No entanto, como o
Internacional foi desclassificado no meio do campeonato, os colorados se desinteressam de
comparecer a uma segunda entrevista. Neste caso, o não comparecimento dos colorados alterará as
conclusões a que você poderá chegar somente contando com os gremistas.
4.2.7 Regressão
Qualquer um dos fatores acima mencionados pode interagir com o tratamento experimental e produzir
efeitos que mascaram o real efeito do tratamento. Por exemplo, a pré
-testagem pode sensibilizar o
sujeito somente quando for seguida pelo tratamentoX. Ou os tipos de sujeitos que abandonam o
estudo (mortalidade) podem diferir entre o grupo recebendo o tratamentoe o grupo que não recebe o
tratamento X.
A Figura 20 mostra os fatores que afetam a validade interna de pesquisas empíricas experimentais.
A extensão e o modo pelo qual os resultados de um experimento podem ser generalizados a diferentes
sujeitos, condições, experimentadores e, possivelmente, testes é mada
cha de validade externa do
experimento. Podemos relacionar os pontos de estrangulamento que restringem a validade de um
experimento às condições nas quais o experimento se realizou. Estes pontos de estrangulamento
da
validade externa de um experimento podem ser agrupados em duas classes:
validade de população e
validade ecológica. Estas duas classes são bastante gerais. Passaremos agora a analisar cada uma
delas.
Falamos de Validade de População quando lidamos com fatores ligados à generalização dos
resultados a populações de sujeitos das quais a amostra foi retirada
:
Se a superioridade de um tratamento experimental sobre outro puder ser revertida quando sujeitos
em diferentes níveis dealguma variável descritiva forem expostos ao tratamento, então existe uma
interação dos efeitos do tratamento com variáveis de caráter pessoal.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 47
Este tipo de validade lida com variáveis ligadas ao ambiente do experimento. Sobre quais
ondições,
c
isto é, parâmetros, tratamentos, experimentadores, variáveis dependentes, etc., podem os mesmos
resultados ser esperados?
Quando dois ou mais tratamentos são administrados consecutivamente às mesmas pessoas dentro do
mesmo ou de diferentes estudos, é difícil,se não mesmo impossível algumas vezes, identificar as
causas dos resultados experimentais ou generalizar os resultados a condições nas quais somente um
dos tratamentos está presente.
O comportamento do sujeito pode ser influenciado parcialmente por sua percepção do experimento e
de como ele poderia responder aos estímulos experimentais. Sua consciência de participação em um
experimento pode precipitar comportamentos os quais não ocorreriam em condições não
percebidas
como experimentais.
Influência do experimentador
O comportamento dos sujeitos pode ser influenciado não intencionalmente por certas características
ou comportamentos do experimentador. As expectativas do experimentador podem também
influenciar a aplicação do tratamento e as observações do comportamento dos sujeitos.
Efeitos do tratamento podem serlatentes ou incompletos e aparecer somente quando um teste pós
-
experimental for aplicado. O pós
-teste pode clarear alguns pontos.
Os resultados podem ser unicamente devidos a eventos estranhos ao tratamento que ocorre
ram
paralelamente à aplicação do mesmo.
A generalização dos resultados depende da clara identificação das variáveis dependentes e da seleção
dos instrumentos para medir estas variáveis.
Medidas da variável dependente em dois instantes de tempo diferentes podem produzir resultados
diferentes. Certo efeito do tratamento observado imediatamente após sua aplicação pode não ser
observado algum tempo depois, e vice
-versa.
Interações estatísticas
Interações estatísticas não são aquelas entre indivíduos ou grupos, mas são aquelas entre variáveis
independentes. Questões sobre a generalidade dos result
ados podem ser vistas como questões sobre os
efeitos de interação
. Por exemplo, a presença de interação entre o tratamento (isto é, a variável
independente primária) e o que opesquisador espera como resultado do tratamento é evidência de
falta de possibilidade de generalização do estudo. Validade externa exige a ausência de interações
entre a principal variável independente do estudo e as condições de pesquisa na variável dependente.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 49
Para uma interpretação mais fácil, gráficos são muitas vezes traçados aparmostrar efeitos de
interação. Neste tipo de gráfico, a variável dependente é traçada no eixo vertical. Uma das variáveis
independentes (notas, por exemplo) é traçada no eixo horizontal. Os escores médios de ambos os
grupos são então traçados, deste modo
obtendo-se duas linhas.
Linhas paralelas indicam uma diferença constante e falta de interação. Interações são medidas em
diferenças Ȃpor linhas não paralelasȂe não por se alguma diferença é para mais ou para menos.
Naturalmente, se linhas se cruzam deveexistir interação presente na amostra dos dados sendo
mostrados, mas cruzamento de linhas não é requerido para que haja interação, basta que
sejam não
paralelas.
A questão a ser respondida é: houve ou não interação estatística? Sugestão: representar graficamente
estes dados, colocando as séries em um eixo e as médias em outro. Linhas paralelas indicarão ausência
de interação estatística e aslinhas não paralelasevidenciarão a existência de interação estatística.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 50
70
65
60 Grupo Experimental
Grupo de Controle
55
Escores 50
45
40
35
30
25
Ano
1. Análise Documental;
2. Observação Direta;
3. Estudo de Caso
;
4. Observação Participante;
5. Pesquisa Participante;
6. Pesquisa Ação
;
7. Grupos Focais.
Normalmente, os registros coletados pelo pesquisador que faz uso deste tipo de delineamento
são
obtidos por Instrumentos de Coleta de Registrospropícios para serem associados aTécnicas de
Análise de Dadosqualitativas. Convêm, neste momento, separar estes dois conceitos. sOInstrumentos
de Coleta deRegistros são as ferramentas que utilizamos para coletar registros sobre a realidade
estudada. As Técnicas de Análise de Registros são as ferramentas que utilizamos para extrair
informações dosregistros coletados, transformando-os em dadosque nos permitirão construir nossos
juízos de conhecimento.
Os Instrumentos de Coleta de
Registros mais utilizados nas pesquisas de caráter qualitativo em Ensino
são:
1. Questionários;
2. Entrevistas;
3. Opinários;
4. Caderno deCampo;
5. Testemunhos de Vida;
6. Testes;
7. Filmagens.
Este tipo de pesquisa se caracteriza por ser de natureza interpretativa. O pesquisador deve interpretar
os registros obtidos a partir da pesquisa tendo comobase a sua matriz culturale seu referencial
teórico. Para isso, neste tipo de pesquisa, o pesquisador devearest
imerso no universo estudado.
SegundoPatton (1980) e Glazier (1992),apud Dias (2011), os registros em pesquisas qualitativas são
obtidos a partir de:
Este é um ponto sobre o qual devemos nos deter mais. Vemos muitos trabalhos serem chamad
os por
seus autores como trabalhos qualitativos apenas porque usam
Análise de ConteúdoCategorial, por
exemplo, como ferramenta de análise dos dados. Usam este termo como sinônimo de delineamentos
ǡDz
quando de fato
dz
fazem uma intervenção no
ambiente, o modificando em relação ao seu estado natural. Esquecem, por vezes, que a simples
presença do pesquisador já é uma intervenção e o simples fato de os sujeitos saberem que estão sendo
observados modifica seus comportamentos. Devemos insistir na diferenciação entre um delineamento
empírico, no qual o pesquisador observa a realidade
in loco, o qual pode ser um delineamento de tipo
experimental com intervenção, empírico não experimental com intervenção, um del
ineamento
empírico não experimental sem intervenção e delineamentos
não empíricos (sem intervenção alguma,
portanto, não podem ser e
xperimentais). É sobre este
s último s tipos que nos deteremos aqui, nos
delineamentos sem intervenção, empíricos ou não.
Em todos os casos listados, o que torna a pesquisa
qualitativa ou quantitativa é como os dados são construídos e analisados.
No primeiro caso, é utilizada como ferramenta de coleta de registros para um trabalho de pesquisa
baseado na interpretação de documentos.oNsegundo caso, a análise documental é utilizada para que o
pesquisador tenha noção do estad
o da arte no seu campo de pesquisa: o que já foi realizado? Quais os
principais resultados que já foram obtidos por outros pesquisadores? Que metodologias já foram
utilizadas para estudar este assunto? Etc.
Relatos de
Textos legais: leis, decretos, observadores
instruções normativas, etc.
Fontes Fontes
primárias secundárias
Textos produzidos pelos sujeitos
da pesquisa: cartas, diários, Comentadores
manifestos, etc.
Exemplo: uma pesquisa em que queremos saber quais foram as políticas públicas
em relação à Educação a Distância nos últimos 100 anos. Nesse caso, fontes
primárias seriam documentos do Min
istério da Educação que tratem do assunto,
leis publicadas no período (Lei de Diretrizes e Bases da Educação, por exemplo),
transcrições de debates no Congresso Nacional, cartas trocadas entre gestores
da educação no país que tratem do tema, etc.
2. Pesqui
sas em fontes secundárias
Fontes secundárias são aquelas que comentam, citam, informam sobre o conteúdo das fontes
primárias.
Naturalmente que, em pesquisas documentais, a preferência deve ser dada às fontes primárias. Certa
vez, perguntado sobre o que alguém deveria ler para entender Shakespeare, Mário Quintana
21
2. Definição do e scopo
4. Análise
Embora o termo fichamento remeta à ficha de leitura (papel), nos dias de hoje
não se justifica mais este
tipo de suporte para esta tarefa. Use um banco de
dados (como os normalmente encontrados em pacotes para escritório) para
criar suas fichas de leitura. A vantagem de usar esta ferramenta é a
possibilidade de recuperar rapidamente a informação por meio da
usca
b por
palavras-chave.
É muito importante nesse tipo de pesquisa a anotação sistemática de tudo que for relevante para o
.
trabalho. Não confie na sua memória para guardar esse tipo de informação
¾ Título do documento;
¾ Autores do documento;
¾ Local de publicação do documento (quem publicou, meio de divulgação, dados do meio de
divulgação, etc.);
¾ Data de publicação do documento;
¾ Resumo do documento: as
sunto sobre o qualtrata o documento, hipóteses de trabalho,
modelo utilizado, metodologia do trabalho, principais conclusões do trabalho;
¾ Sua opinião sobre o trabalho e de como este trabalho se relaciona com seu próprio
trabalho e com outros que foram ana
lisados.
1. Por autor - nesse caso teremos uma ficha para cada autor. Desse modo, todas as referências
a um determinado autor estarão em uma mesma ficha. Essa forma é bastante útil quando
estamos estudando vários autores. Por exemplo, em um trabalho no qual analisamos as
concepções sobre o papel do professor que aparecem nos trabalhos dos cognitivistas, teríamos
uma ficha para Piaget, outra para Vygotsky, outra para Wallon, etc.
2. Por assunto- indexamos por assunto, colocando em uma mesma ficha todas as referências
ao assunto tratado. Essa é a forma mais adequada em trabalhos que envolvam vários temas.
Assim, por exemplo, em um trabalho sobre as várias escolas psicológicas (cognitivismo,
comportamentalismo, humanismo, etc.) e sua influência na concepção de educação à distância
teríamos uma ficha para o cognitivismo, outra para o comportamentalismo e assim por diante.
3. Por data - o índice de entrada nesse caso é a data de publicação do assunto. Em um trabalho
no qual analisamos o papel da imprensa como formadora de opinião sobre determinado tema
podemos organizar por ano as nossas anotações.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 56
4. Por obra - nesse caso temosuma ficha por obra consultada. Essa não é a melhor forma de
fazer análise documental, as formas anteriores sendo melhores. No entanto, essa forma de
ficha de leitura é das mais difundidas.
Tipos de relatos
Sintética:
Crônica: relatamos
analisamos por
quem fez o que.
assunto.
Um último comentário:
O texto de revisão deve ser seu. Transcreva o mínimo possível dos textos que você
consultou.Leia-os, reflita sobre eles e descreva o que eles obtiveram
.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 57
A Observação Direta se caracteriza pela presença do observador no ambiente do grupo estudado sem
que haja por parte dele uma proposta de intervenção. Na Observação Direta esquisador
op é alguém
externo ao grupo pesquisado (o que diferencia esta metodologia da
Observação Participante
) 22. O
pesquisador está ali somente para coletar dados em tempo real, enquanto os processos de interesse se
desenvolvem dentro do grupo.
Bastante usada em pesquisas de campo, esse tipo de pesquisa exige que o observador permaneça junto
ao grupo observado. Naturalmente, esse
delineamento pode apresentar vieses nos resultados obtidos,
pois nunca se sabe se a presença do observador alterou ou não o compo
rtamento observado.Devemos
ressaltar que aObservação Diretapode ser feita também se usarmos meios eletrônicos. Por exemplo, se
filmamos o comportamento a ser estudado.
A metodologia de pesquisaempírica das ciências exatasfoi transposta sem alterações para o campo
das Ciências Sociais
durante o final do século XIX e início do século XX. Esta metodologia de pesquisa
levou para o campo das Ciências Sociais abordagem
a das Ciências Exatas de encarar o sujeito da
pesquisa (pesquisador) e o objeto da pesquisa (pesquisado) como entes separados e não dependentes
um do outro. O olhar do observador deve
ria ser objetivo, não interferindo no comportamento do ente
observado. Ideologicamente, esta postura nega o caráter político
Ȃideológico da pesquisa e, com isso, a
possibilidade de transformação social.
O cientista duro não vê, normalmente, qualquer tipo de viés ideológico no seu traba
lho rotineiro. Para
ele, se houver algum traço ideológico cercando seu trabalho, esse é relacionado ao uso que será feito de
sua descoberta. É comum ouvirmos de físicos, por exemplo, a metáfora da faca:
o erro não está em
produzir a faca, que pode ser usad
a tanto para cortar o pão ou para matar uma pessoa, mas sim no uso
que osoutros fazem dela.Ou seja, nas ciências exatas foi construído o mito de neutralidade científica:
Dzdzǡ
s usos de suas
descobertas. O cientista, usualmente, não questiona a razão de os problemas de pesquisa serem o que
Aqui devemos chamar a atenção que usamos uma terminologia diferente da de outros textos de Metodologia da Pesquisa
22
são e, tampouco,o porquê de as agências de financiamento lançarem editais apoiando certas áreas e
não outras.
Evolução da
Humanidade
Fase
Fase Teológica: científica:
Fase Metafísica:
Busca relações
Fase do mito e Foco na causa entre eventos.
da religião. dos eventos,
filosófica.
Ordem
mantida
Fase Ordem
científica Social
Propriedade Privada
se justifica
Comandada
Para Comte, a Humanidade evolui em três etapas ou fases. A primeira fase é a fase
Teológica . Nesta
fase, as explicações para as observações feitas pelo Homem são de caráter teológico. É a fase do mito e
da religião. A segun
da fase é aMetafísica , na qual as explicações para estas mesmas observações
assumem caráter filosófico, sendo dada ênfase à explicação das
causasdos eventos.
Ciência
Positiva
Análise Controle
Sociologia
Positiva
A terceira faseda evolução é aCientífica . Neste período, as explicações são de caráter científico, com a
ciência buscando uma explicação não das causas
, mas dasrelaçõesentre dois eventos. Para Comte, na
fase científica o poder político deve ser xercido
e pelo sábio (definido como Homem de Ciência) cuja
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 60
função é organizar o Estado e distribuir a riqueza para as classes menos favorecidas, porém
sem alterar
a ordem vigente. Este pensamento leva a uma visão hierarquizada e elitizada do todo social. A
propriedade privada e a posse da riqueza por parte de alguns é vista como apenas um momento
histórico do fluxo da riqueza, que deve voltar ao todo social com o passar do tempo
23.
A obtenção de uma sociedade positiva, entretanto, primeiro deve passar pela ação
cri do Homem
Positivo, por meio de uma reforma intelectual do Homem, o que levaria a uma reformulação da
sociedade. Este desígnio leva Comte a criarReligião
a da Humanidade .
Diz Comte(1978):
O cientista
positivo
É
23Houve um ministro nos anos 1970 que, ao defender a concentração de renda, dizia que era preciso esperar o bolo crescer para
depois dividi-lo.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 61
O positivismo quando aplicado às ciências físicas provou dar resultados quanto aquisição
à de
conhecimentos
. O fato de o cientista analisar um sistema físico imparcialmente é útil para a descoberta
das leis que governam a matéria. Contudo, se o objeto de estudo são grupos sociais, útil
seráeste
isolamento científico proposto pelo Positivismo? É a pesquisa empírica, nos moldes positivistas,
eficiente e eficaz quando aplicado ao social?
Além disso, a pesqu
isa a partir dos pressupostos
positivistas é possível no campo das Ciências Sociais?
Essas questões começaram a ser colocadas já no final do século XIX por antropólogos e sociólogos
descontentes com os rumos tomados pelas ciências sociais. A Antropologia
o final
n daquele século era
feita a partir do relato de viajantes e missionários que tinham
convivido durante algum tempo entre os
selvagens
. A partir destes relatos, o antropólogo fazia a sua construção teórica.
Metodologia
Relatório de
campo.
Traz os
É descritivo. comentários do
pesquisador e suas
É produzido imediatamente impressões.
após os acontecimentos
vivenciados pelo
pesquisador .
A pesquisa, em Marx, assume um papel político. Marx não fez pesquisa etnográfica, no sentido de
Malinowski; a pesquisa para ele está intimamente relacionada ao seu projeto de transformação social.
A pesquisa é um instrumento de ação política, e não
um fim em si mesmo, como no positivismo
.
Convém destacar que tanto em Marx como em Malinowski a distinção sujeito
Ȃobjeto da pesquisa é
marcante e determinante do tipo de pesquisa a ser feita e do result
ado obtido.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 63
Marx aponta para a necessidade de buscar na História e nos fatores econômicos as causas da situação
atual e uma destinação políticapara a pesquisa. Entretanto, sua análise ainda é positivista, no sentido
de que Marx estuda o movimento social de fora, a partir de uma ótica intelectual que busca explicações
para a situação apresentada pelo movimento social de seu tempo. O operariado, objeto da pesquisa,
participa dela por meio da resposta a questionários. É um
a pesquisa individual.
Esse aspecto dialético, portanto, não pode ser apreendido pela pesquisa nos moldes positivistas, pelas
próprias características e pressupostos desta, tanto por sua ideologia com
o pelos seus aspectos
metodológicos, daí a necess
idade de outro tipo de pesquisa. Esse novo tipo de
pesquisa deve desvelar e
compreender o aspecto dinâmico do social, paralelamente a seu lado estático, que nada mais é que o
congelamento de um momento histórico por meio de gráficos, tabelas, etc.
Não há levantamento
de hipóteses a priori.
Figura 30 ȂCaracterísticas da Ob
servação Participante.
Esse tipo de pesquisa é bastante usado na análise de movimentos sociais. Nela, a fronteira entre o
pesquisador e o objeto da pesquisa não existe e o pesquisador, ao mesmo tempo em que reflete sobre o
tema, está inserido no contexto estudado porser parte do universo estudado.
essas ações gerarão situações que deseja pesquisar. Ele contribui com o grupo comointegrante.
seu
Durante sua atuação como membro do grupo o pes
quisador coleta os registros eos analisa, podendo
ou não devolver ao grupo os resultados obtidos.
Este último ponto é importante: o pesquisador desempenha dois papéis neste tipo de pesquisa, o de
membro do grupo e o de pesquisador. Como
parte do grupo eleatua normalmente e como pesquisador
ele o observa. Não há intervenção do pesquisador no sentido de provocar reações do grupo, ele apenas
observa o grupo em seuhabitat, registrando ações, atitudes, cadeias de decisão, etc.
É importante observar que a ideologia se manifesta pelas ideias que explicita, mas também pelas ideias
que não explicita. Em geral, temos várias ideologias em disputa dentro de determinada sociedade,
sendo dominante aquela defendida pel
o grupo dominante naquele contexto histórico - social
particular. O grupo dominante pode ser composto por apenas uma classe ou por um conjunto de
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 66
Trabalhadores Financistas
Índios
urbanos
Sociedade
Clero Latifundiários
Quando utilizada como instrumental de trabalho, por parte do Estado ou instituições ligadas ao poder,
a Pesquisa Participanteserá apenas um
a forma de levar as pessoas a agirem segundo os objetivos
daqueles interessados em dirigi
-las.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 67
Mecanismos
ideológicos
Aparelhos Ideol
ógicos Aparelhos
do Estado Repressores do
Estado
Função
Função repressora de
doutrinária
contramanifestações
Ex.: Escola
Ex.: Aparato
policial
Na Pesquisa Participante
, o pesquisador participa do grupo nesta condição, colocando suas habilid
ades
técnicas a serviço do grupo e interferindo no processo, apontando e discutindo temas a serem
pesquisados e métodos de análise dos dados. A decisão sobre quais as temáticas da pesquisa pertence
ao grupo, assim como a decisão sobre a metodologia a ser
sada.
u Neste caso, os resultados da pesquisa
executada pertencem e devem, necessariamente, retornar ao grupo. De fato, a análise dos resultados
da pesquisa também deve ser feita pelo grupo, subsidiada pela competência técnica do pesquisador.
Classe
dominante Se apropria Estado
Ideologia
Para finalizar esta parte, é necessário definir quem serão os pesquisadores e como os diferentes
grupos de pesquisa serão formados. Porim,
f o cronograma e o orçamento das ações devem ser
produzidos.
A Análise Crítica dos Problemas Considerados Prioritários constitui a terceira fase. Como o
próprio nome diz, nesta fase os participantes, distribuídos em grupos de estudo
e discussão, buscarão
analisar criticamente os problemas, analisando possíveis estratégias de superação.
Na quarta fase, Programação e Aplicação de um Plano de Ação, as ações planejadas são executadas
e a pesquisa propriamente dita acontece. Nesta etapa, as ações que foram delineadas nas etapas
anteriores serãoexecutadase o grupo recebe os resultados.
Fase I: Institucional e
Metodológica da Pesquisa.
Cellis (apud FREITAS FILHO, 1984) classifica os tipos de participação já tentados emPesquisa
Participante:
Ao mesmo tempoem que cumpre alguns dos critériosmais ou menos aceitos como científicos pelas
diversas correntes metodológicas (consistência e coerência, por exemplo), Pesquisa
a Participante
deixa de produzir, pelo menos no nível de exigênciaestas
d mesmascorrentes metodológicas, teorias
explicativas mais abrangentes da realidade.
5.7 PesquisaAção
Pesquisa Pesquisa
Participante ação
Compromisso
Intencionalidade de com a
transformação
política
Figura 38 ȂA Pesquisa Ação.
Mais recentemente, este termo tomou outro significado, apontando para um tipo de pesquisa que
é
desenvolvida enquanto a ação acontece. Neste caso,Pesquisa
a Açãopassa por um ciclo, como o
mostrado na Figura 39.
O Estudo de Caso
, como o próprio nome diz, é um tipo de pesquisa que não busca
a generalização pelo
estudo de muitos casos, mas busca especificidade da situação concreta.
O Estudo de Casoé
especialmente indicado para analisar
mos situações complexas para as quais não temos indicativos de
quais as causas da situação observada.
O texto fundamental para este tipo de delineamento de
pesquisa é o texto de Yin(2005).
Estudo de Caso
é uma família de métodos de pesquisajacudecisão comum é o enfoque numa
instância.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 72
O Estudo de Casoainda é indicado quanto queremos coletar elementos para construir hipóteses de
trabalho, as quais passarão pelo teste da generalização em outras investigações.
O Estudo de Caso
também pode ser usado para estudarmos situações que já ocorreram e que geraram um resultado
específico para o qual queremos obter as causas ou explicitar os fatores que levaram ao resultado
observado.
Um ponto importante no que diz respeito aoEstudo de Caso(assim como para outras formas de
pesquisa qualitativa) é o tipo de generalização que Estudo
o de Caso
permite (e que o pesquisador
deseja). Ao contrário de pesquisas com amostras, as quais buscam a generalização a uma população, o
Estudo de Casobusca a GeneralizaçãoAnalítica. Enquanto a Generalização a umaPopulação se
preocupa com a questão
:
Qual teoria pode ser construída a partir doestudo do caso observado e que
explica sua dinâmica
?
1. Buscar a descoberta;
2. Enfatizar Dz dzǢ
3. Procurar representar os diferentes e, às vezes, conflitantes pontos de vista presen
tes em
uma situação social;
4. Usar uma variedade de fontes de informação
;
5. Revelar experiências de outros e permitir generalizações naturalísticas;
6. Procurar retratar a realidade de forma completa e profunda; e,
7. Elaborar seus relatos em uma linguagem e em uma forma mais acessível do que outros
tipos de relatórios de pesquisa.
Tomemos um exemplo. Vamos avaliar porque na sua cidade o gosto musical é tão desenvolvido e há
suspeita de que isso seja consequência da educação recebida nas escolas públicas municipais.
Considere o conjunto de alunos da rede pública de sua cidade. Este é o universo.
Dimensão:Compreensão
buscada pelo pesquisador.
O casoseria um estudantedeste universo. Por outro lado, se você definisse o seu universo o conjunto
de escolas da sua cidade, caso
o seria uma escola específica. No primeiro exemplo, vocêseguiria um
aluno individual. No segundo, vocêobservaria uma escola individualmente. Deste modo, as variáveis
analisadas no primeiro caso seriam características individuais do aluno observado, enquanto que no
segundocasoas variáveis seriam as da escola. Um exemplo de variável a ser acompanhada no primeiro
caso seria a nota do aluno em Música ou a sua frequência
. No segundo, o número de alunos
matriculados na disciplina de Músicaou a formação dos professores de música da escola
.
Outra característica importante do Estudo de Casoé que, mesmo sendo uma pesquisa empírica, no
sentido que estudamos o fenômeno no ambiente em que
o mesmo acontece, no Estudo de Caso
não há
intervenção por parte do pesquisador com o objetivo de provocar mudanças controladas nas
variáveis estudadas.
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 74
Existem várias propostas de classificação doscasos. Por exemplo, Stake (1995, apud COUTINHOe
CHAVES
, 2002) propõe classificar oEstudo de Caso
a partir de três categorias que têm a ver com o tipo
de compreensão buscada pelo pesquisador:
1. Estudo de Casode Tipo Intrínseco - nesta categoria estão aquelescasos nos quais o
pesquisador possui interesse nas relações internas do caso. Por exemplo, em uma escola,
queremos analisar o fluxo de informações e como os dirigentes daquela escola
manipulam
a circulação deinformações relevantes como forma de manter o poder;
2. Estudo de Casode Tipo Instrumental - nesta categoria são enquadrados os
casosque são
usados para validar teorias, obter variáveis de natureza causal que poderão ajudar a
compreender outros casos. No nosso exemplo anterior, oestudo de caso
teria esta natureza
se procurássemos variáveis que explicassem o sucesso de uma escola no ENEM e
usássemos esta informação para analisar, segundo estas variáveis
, outros casos;
3. Estudo de Caso
de Tipo Coletivo - neste tipo de estudo, analisamos vários
casos, conforme
resultados observados em alguma categoria de análise, buscando semelhanças e
diferenças que explicassem os resultados diferentes observados nestas categorias.
O Estudo de Caso
é dito exploratório quando seu objetivo é obter evidências sobre quais variáveis ou
processos estão governando o problema
estudado. Quando o objetivo doEstudo de Casofor, apenas, a
descrição pormenorizada de certa situação de interesse, Estudo
o de Casoé chamado de descritivo.
Finalmente, quando queremos responder a questões do tipo
como ou por quê o Estudo de Caso
é dito
explanatório.
x Falta rigor à metodologia Ȃpela sua própria natureza oEstudo de Casonão tem o rigor
metodológico de outras formas de pesquisa (como Pesquisa
a Experimental Quantitativa
, por
exemplo). A esta crítica, pode
-se argumentar que há maneiras de verificar a validade e a
confiabilidade do estudo realizado;
x Viés devido ao pesquisadorȂno Estudo de Caso
o papel do pesquisador é central, uma vez que
é ele quem determina o caso a ser estudado e o analisa segundo seu referen
cial particular. Se o
pesquisador, mesmo inconscientemente, esperar obter o resultado da pesquisa apontando em
alguma direção então isto poderá causar a seleção de variáveis (ou mesmo caso) que sejam
favoráveis ao resultado esperado. A respeito desta obser
vação, pode-se também argumentar
que formas de validação e de verificação da confiabilidade podem ser aplicadas;
x Ter clareza do tipo de estrutura lógica que será usada na análise dos dados, permitin
do a
construção de asserções de conhecimento;
x Definir claramente o Referencial Teórico que será utilizado e as categorias que serão utilizadas
na análise docaso.
Observacional
Indução Analítica
Biografia
Estudo de Caso Estudo de Caso
único múltiplo
Comunitário Comparação
Constante
Situacional
Microetnografia
1. Validação de Constructo
Neste tipo de processo de validação, procuramos analisar cada variável a partir de diferentes
instrumentos, buscando várias fontes de evidência para aariável.
v A definição de quais são as
variáveis (bem como os conceitos e princípios operacionais) deve ser feita
a priori. A validação
se dá quando obtemos o mesmo resultado a partir de diferentes fontes para uma dada
variável.
2. Validação Interna
Neste tipo de processo de validação, buscamos uma explicação de tipo causal envolvendo as
diferentes variáveis e os resultados obtidos. Assim, para certa situação observada (resultado)
buscamos as causas dessa situação em variáveis presentes no meio estudado. Por
emplo,
ex
observamos que em uma escola (nosso
caso) há um grande interesse por música (resultado
observado) e que nesta escola existem professores Licenciados em Música (variável
professor).
Podemos então propor a relação causal:
Se há professores de música
na escola os alunos desenvolverão
interesse pela
música devido à qualificação dos professores que serão capazes de ensinar
música de forma adequada.
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3. Validação Externa
O Estudo de Caso
é construído a partir de um conjunto de ações. Primeiro, o pesquisador tem que ter a
qualificação e o treinamento necessários para conduzir o estudopropriadamente.
a Uma característica
do Estudo de Casoé que a interpretação dos dados ocorre quase que simultaneamente com a sua
coleta.
Bom ouvinte
Bom formulador Livre de
de questões preconceitos
Pesquisador
Ter coragem de Ser
mudar adaptativo
Conhecer o
Ser flexível
assunto