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Trabalho em Cartel e o efeito de grupo1

Jorge Pimenta 2

jpimentaf@gmail.com

Primeiramente quero agradecer à colega Maria José Gontijo, Zezé, pelo


amável convite para a intervenção nessa mesa. Cumprimento, também,
meus colegas de mesa de trabalho, Laura Rubião, Cristiane Barreto,
Roberto Assis e Lázaro Rosa e Sandra Espinha que está em sua
coordenação.

Escolhi trazer aqui alguns comentários sobre a questão do efeito de grupo


e o cartel. Tomo uma referência inicial que me parece fundamental –
aquela marcada por Francisco Paes Barreto, nosso colega AME da Escola
que nos ensina que se o passe é o melhor lugar para responder o que é
um analista, o cartel é o melhor lugar para responder o que é a psicanálise
3
.

Quanto ao tema – efeito de grupo – é necessário que não nos esqueçamos


de que não há Escola sem grupos, mas a questão é se haver com isso para
possibilitar o efeito sujeito, sempre determinado pelo o trabalho singular
de cada um, que está relacionado com o sintoma, o real e gozo.

À cola necessária, enquanto trabalho que implica algo de uma alienação,


fundamental para que o laço se faça, é necessário uma des-cola com
efeito de separação, papel que deve ser garantido no Cartel pela presença
do mais-um que descompleta o grupo. Tal efeito de grupo que chamamos
de OIG – obscenidade imaginária dos grupos, como nos recorda Antonio
Beneti4, existe em qualquer instituição – e a Escola não está isenta disso –
tal efeito funciona como um engodo do amor de completude, enquanto
encantamento fusional. Daí a aposta não do trabalho coletivo, mas no que
1
Intervenção na Mesa – “A experiência como Mais-Um” - XV Jornada de Cartéis da Escola Brasileira de
Psicanálise, Minas Gerais, Belo Horizonte, 23 de junho de 2012.
2
Analista Praticante Membro da EBP/AMP
3
3 Paes Barreto, F. – Apresentação do Manual de Cartéis, Belo Horizonte, EBP-MG, Liv. Ed. Scriptum, p.7,
2010.
4
Beneti, A. – Nota de Abertura do Manual de Cartéis, idem, ibidem, p.9
pode produzir cada um a partir de um tema próprio que mesmo se
articulando ao tema geral do Cartel constituído, dele se destaca, pois que
tomado a partir da singularidade do propositor.

Do lugar do encontro para o trabalho – e aqui o amor não é ao chefe, ao


mestre nem muito menos ao líder ou ao pai - é um amor à causa analítica,
o que exige de cada um nós um desencontro que é a responsabilidade a
partir de nossa condição de sujeitos divididos para darmos conta de nossa
inefável e estúpida existência, pois que sempre estamos embaraçados
com o saber. Desencontro que implica sempre uma ética das
consequências.

Lacan5 nos ensina de que há um luto a se fazer – um trabalho de luto,


digamos à margem do ideal que se poderia ter em relação à Escola,
pensada na condição de uma completude, vertente sempre possível
diante dos inúmeros equívocos que encaminham nossa vida de
neuróticos.

Da Escola se trata de que ela tem em seu centro um vazio e não um


atrativo hipnotizante, vazio que nos convoca cada um a colocar algo de si,
a partir “furo, do traumatismo em relação ao qual, de algum modo, o
encontro com a letra, o “acontecimento” Lacan, mantém para cada um,
certo ponto de consonância”. 6

Assim tentando responder à questão o que é a psicanálise - temos ao


mesmo tempo em que trabalhamos, estudamos e praticamos nossa
clínica, estar voltados para a construção sempre contínua da psicanálise.
Mas nos alertamos a partir de Lacan de que não há um progresso, pois a
causa não é Escola, mas sim campo, “onde cada um terá a liberdade para
demonstrar o que faz com o saber que a experiência deposita”7.

O mais-um no Cartel tem como tarefa zelar por esses efeitos de produção
e como tarefa provocar o trabalho – ser um agente de uma elaboração
provocada e aí está a sua arte: permitir que o discurso analítico no cartel

5
Lacan, J. – D’Écolage, in: Manual de Cartéis, Belo Horizonte, EBP-MG, Liv. e Ed. Scriptum, 13-16, 2010.
6
Cf. Terezinha N. M. Prado – Editorial de Opção Lacaniana 62, São Paulo, Eólia, p. 9, dezembro/2011.
7
Idem, ibidem, p. 15.
desloque a questão para o sujeito, enquanto provocador provocado,
segundo nos ensina Miller.8

Aos efeitos de obscenidade imaginária existente nos grupos, o cartel se


lança com o trabalho do mais-um a convocar a prudência onde a regra
falha. Segundo Miller9 a prudência sempre implica algo que não é
universal: “(...) Aristóteles chama “prudente”, busca como “prudentes”
homens para os quais não há tipo, mas que devem ser apreciados, a cada
vez, “um a um” pelo que eles são. “Prudente” é um significante que forma
conjuntos não-todo. Não há o homem prudente por excelência, não há a
essência do homem prudente; é preciso observar fulano para saber se ele é
prudente ou não. Quando se encontra alguém assim, é preciso sobretudo
não perdê-lo, é preciso conservá-lo e permanecer a seu lado”.

Muito obrigado!

8
Miller, J.-A. Cinco variações sobre o tema da elaboração provocada, in: Manual de Cartéis, Belo
Horizonte, EBP-MG, Liv. e Ed. Scriptum, 17-25, 2010.

9
Miller, J.-A. – O sagrado não é mais o que era, in: O sobrinho de Lacan, Rio de Janeiro, Forense
Universitária,2005: 144.

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