Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Isabella Camargo
Resumo
A proposta da obra é bastante interessante: refletir sobre o que nos traz um sentimento de
autorrealização. Cortella nos indica que a realização, a sensação de uma vida bem vivida, advém da
consciência de nossa OBRA, que muitas vezes está ligada ao trabalho. A consciência e a certeza de ter
realizado algo, de ter ajudado alguém – independentemente do tamanho aparente desta obra – é o que nos
faz felizes!
Mas afinal, você sabe qual é a tua obra? Essa é a pergunta que cerca a reflexão feita pelo autor durante
todo o livro, e nos leva a analisar nossa trajetória, atitudes e princípios.
Ao se deparar com essa pergunta, você pode ter tido dois tipos de pensamentos. Pode ter se sentido
confortável e satisfeito com o que tem realizado até então, ou pode ter ficado inquieto e desconfortável com
a situação, em busca de uma resposta.
“Não é possível que qualquer homem ou mulher desenvolva alguma atividade se não tiver
consciência clara da finalidade da atividade” - S. Cortella.
Por meio desta frase, podemos encaminhar as discussões que são propostas pelo livro: “Qual é a tua
obra?”, com foco na formação continuada. O livro está estruturado em três momentos que permeiam
reflexões sobre gestão, liderança e ética. Tais reflexões nos encaminham para algumas considerações que
podem fortalecer o nosso trabalho na escola. Sendo elas:
O desejo de aprender;
O afastamento de atitudes arrogantes;
Ação equilibrada para enfrentar a mudança;
A renovação constante;
O pensamento coletivo;
"A ideia de trabalho como castigo precisa ser substituída pelo conceito de realizar uma obra." - S.
Cortella.
O mundo do trabalho que, historicamente, se constituiu sob a ideia de punição, sofrimento e fardo,
tem buscado introduzir uma nova visão de si mesmo, abrindo a possibilidade de ser uma esfera da vida onde
também cabe a alegria, a fruição, a satisfação, o sentimento de que se está realizando uma obra. Para isso é
necessário se reconhecer em sem seu trabalho, ir na direção oposta da alienação apontada por Karl Marx,
que distancia o trabalhador do produto final de seu trabalho causando diversos problemas físicos e
psicológicos relacionados com a falta de sentido naquilo que se faz.
O professor Cortella recorre à física quântica para mostrar a cura para casos crônicos de arrogância e
falta de humildade, que nos leva a ideia de que sabemos de tudo e que não temos mais nada a aprender com
o outro. Em um ensaio, em resposta à pergunta "você sabe com quem está falando?", o autor sugere uma
resposta metafísica. Afinal, seja você quem for, é apenas um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a
uma única espécie entre outras 3 milhões já classificadas, que vive num planeta que gira em torno de uma
estrela, que é apenas uma entre 100 bilhões que compõem uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos
universos possíveis e que vai desaparecer.
Cortella fala sobre o lado bom de não saber, pois reconhecer o desconhecimento é um sinal de
inteligência fundamental para mudança. No contexto escolar, os momentos de compartilhamento de boas
práticas propiciados pelos ATPCA’s e ATPCG’s são fundamentais para que possamos repensar
constantemente em nossas práticas e nos aperfeiçoar continuamente. Para o autor, o estoque de
conhecimento e a educação continuada são formas de aperfeiçoar competências e habilidades.
Seguindo esse raciocínio, Cortella nos coloca que só é possível caminhar em direção à excelência
através de um planejamento adequado e uma ação coletiva e eficaz se você souber que não sabe algumas
coisas. A pessoa que têm dúvidas procura, busca conhecer e é humilde para aprender com a correção de seus
erros. Uma pessoa que reconhece que não sabe, não significa que ela não saiba nada, significa apenas que
ela está sempre pronta para aprender.
Adiante, o autor trata sobre liderança e afirma que esta é uma virtude e não um dom. Cortella afirma
que uma das principais tarefas do líder é precisamente esclarecer a obra coletiva. Realizar e perceber-se no
conjunto da obra é a perfeita sensação daquilo em que me reconheço como indivíduo.
A noção de humanidade despertada por essa “nova” visão de liderança imprime um sentido mais
coletivo às ações, uma ideia de pertencimento na qual, o líder espiritualizado, é aquele capaz de olhar o
outro em sua individualidade, de inspirar e elevar sua obra, descartando posturas hierárquicas e autoritárias.
O autor aponta que atualmente, as pessoas estão começando a fazer uma distinção necessária entre o
que é essencial e o que é fundamental. Essencial é tudo aquilo que você não pode deixar de ter: felicidade,
amorosidade, lealdade, amizade, sexualidade, religiosidade. Fundamental é tudo aquilo que o ajuda a chegar
ao essencial, é o que nos permite conquistar algo. Por exemplo, trabalho não é essencial, é fundamental. O
trabalho lhe permite atingir a amizade, a felicidade, a solidariedade. Dinheiro não é essencial, é fundamental.
Sem ele você passa necessidade.
O nosso modo de vida no Ocidente está em crise e algumas questões relevantes vêm à tona: a
compreensão sobre a nossa importância, o nosso lugar na vida, o que vale e o que não vale, qual é o próprio
sentido da existência. Hoje temos um fosso entre o essencial e o fundamental, que leva as pessoas a se
sentirem incomodadas. Há um nível de insatisfação que somente através de mecanismos de reconhecimento
pode ser resolvido. “Reconhecer” significa conhecer a mim mesmo. Eu preciso me ver naquilo que faço, do
contrário não me realizo. Se não me percebo no que faço, eu me sinto infeliz. Essa é uma questão que os
líderes não podem perder de vista. Mostrar para as pessoas qual é o resultado da obra e identificar essa obra
como magnífica. Isso é essencial.
Um líder precisa ser capaz de inspirar e animar as pessoas. Elas precisam se sentir bem e plenamente
integradas à obra. Para isso, Cortella elenca as cinco competências essenciais na arte de liderar: abrir a
mente, elevar a equipe, recrear o espírito, inovar a obra e pensar o futuro.
Para finalizar, o autor vai tratar da ética. Podemos dizer que a ética é a capacidade de protegermos a
dignidade da vida coletiva. Na nossa convivência humana, quando alguém faz uma escolha ela traz
consequências, para o bem ou para mal, e essas consequências muitas vezes são compartilhadas, não
somente com a raça humana, mas com o ambiente. É a ética que responde: Quero? Devo? Posso? três
perguntas essenciais para cuidarmos da vida coletiva. Muitas vezes entramos em um dilema. Quero, mas,
não posso. Ou, posso, mas, não devo. É necessário cuidar da ética para não anestesiarmos a nossa
consciência e achar que tudo é normal.
Conclusão
Transformar nosso trabalho em uma obra que devemos construir diariamente nos leva a um
relacionamento diferente com nosso trabalho e com as pessoas com as quais trabalhamos, pois imprime
sentido amplo e exige um novo olhar sobre tudo o que fazemos.
Durante todo o livro ele destaca a relevância da humildade como base para a aquisição de
conhecimento e da prática da liderança que deve sempre respeitar o outro e entender sua importância no
conjunto da obra, assim como ter um papel fundamental como fonte de conhecimento adquirido através de
experiências ímpares.
A busca por excelência profissional, assim como a busca do conhecimento, não deve jamais se
distanciar da ética que é a expressão dos valores de um grupo visando a preservação da dignidade humana.
Finalizando, acredito que Cortella coloca como pontos centrais para a aquisição do conhecimento, ou
seja, para a formação contínua, a humildade, o reconhecimento de que não sabemos tudo e a capacidade de
mudança.
Referência
CORTELLA, Mário Sergio. “Qual é tua obra?: Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e
ética”. Ed. Vozes, 6ª Edição. Petropólis/RJ 2009.