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Teorema Fundamental da

Trigonometria

Na ciência nada é sagrado, tudo é real deriva


da experiência, da análise e da lógica e a ex-
periência é o criério da verdade.
Prof. Grangeiro.

A relação entre o comprimento da circunferência e o diâmetro determinado por ela


é mesma, independente do raio da circunferência. Os povos antigos, mesopotâmicos
e gregos perceberam esta relação e calcularam com a aproximação decimal e até
centesimal. O grego Arquimedes, usando polı́gonos regulares inscrito e
10 C 10
circunscrito, com até 96 lados mostrou que 3 < < 3 . Os povos anti-
71 D 70
gos usaram sempre polı́gonos regulares inscritos e/ ou circuncrito para encon-
trar esta relação. Outros matemáticos posteriormente, utilizando polı́gonos regu-
lares inscritos com o número de lados cada vez maior emcontrou esta relação com
aproximação milesimal. Atualmente os matemáticos utilizam séries infinitas para
encontrar o valor desta relação com a aproximação que desejar, com milhares e
milhares de casas decimais. No século XVIII Euler esta relação por π (pi), pelo
fato da circunferência representar a periferia do cı́rculo. Em 1884 mostro que o π
é um número transcedental, ou seja não pode ser expresso em termos de números
inteiros, das operações fundamentais e das operações de potenciação e radiciação.

1
2

O que é muito esquisito é que apesar de todo esse estudo sobre π, nenhuma
equação simples foi encontrada para expressá-lo. Outro fato também esquisito é
que a Análise Matemática não sabe encontrá-lo, pois não se pode utilizar séries in-
finitas como meio de eoncontrar o π, pois este já utiliza a relação
sent
lim = 1, que por sua vez utiliza o valor de π. Fazer isto é cair numa re-
t→0 t
tundância, num cı́rculo vicioso. Alguns escritores de livros de cálculo chamam
sent
o limite lim = 1 como limite fundamental da trigonometria, desconhecendo
t→0 t
sent
que o limite fundamental da trigonometria é o próprio π e que o lim = 1
t→0 t
deriva facilmente do limite π. O livro de análise do Professor Elon Lages também
não traz nada a respeito do limite π.
Para corrigir esta deficiência da Análise Matemática e para maior compreensão
do estudo do cı́rculo e da circunferência pelo alunos do ensino médio é que eu re-
solvi publicar este trabalho. Demonstrarei o Teorema Fundamental da trigonome-
tria de forma rogorosa, segundo os padrões da análise, e como corolário apre-
sentarei uma série de resultados.

Teorema 0.1 (Teorema Fundamental da Trigonometria) Dada uma circunferência


de raio r, tem-se que a relação entre o comprimento C da circunferência e o seu
diâmetro D = 2r, independe do raio r e é dada por
180◦
 
C
= lim n sen .
2r n→∞ n
Demonstração: Inicialmente tomemos um cı́rculo de raio R e um polı́gono regu-
lar inscrito no cı́rculo com n lados.
Calculemos o perı́metro do polı́gono. Temos que Pn = nln , onde Pn é o
perı́metro do polı́gono, n o número de lados do polı́gono e ln o comprimento do
lado do polı́gono.
Temos que
180◦ 180◦
   
ln θn
= r sen = r sen ⇒ ln = 2r sen ,
2 2 n n
3

360◦
pois θn = . Então
n
180◦
 
Pn = 2rn sen .
n
Observe que a medida que n cresce o Pn também cresce, se aproximando
cada vez mais do “comprimento da circunferência”. Podemos então naturalmente
definir o comprimento da circunferência como sendo o lim Pn se este limite
n→∞
existir. De fato este limite existe pois Pn é uma sequência crescente e limitada.
Isto garante sua convergência. A observação que Pn é crescente e limitada pode
ser observada diretamente pela figura, porém demonstrarei algebricamente em
seguida.
Sendo assim, temos:

180◦ 180◦
   
C = lim Pn = lim 2rn sen = 2r lim n sen .
n→∞ n→∞ n n→∞ n

Portanto
180◦
 
C
= π = lim n sen .
2r n→∞ n
Observe que π independe de r.

180◦
 
Lema 0.2 A sequência Pn = 2rnsen é crescente.
n

180◦ 180◦ 1
Demonstração: Tomemos α = eβ = . Temos então que β = α+ α.
n+1 n n
1 2 k n
Tomemos os ângulos α1 = α, α2 = α, . . ., αk = α, . . ., αn = α = α e
n n n n
n+1 1
αn+1 = α = α + α = β.
n n
Observe que
senαk+1 − senαk < senαk − senαk−1 .
4

De fato pois
   
αk+1 + αk−1 αk+1 − αk−1
senαk+1 + senαk−1 = 2sen · cos
2 2
⇒ senαk+1 + senαk−1 < 2senαk

⇒ senαk+1 − senαk < senαk − senαk−1 .

Observe também que

senαn = (senαn − senαn−1 )+(senαn−1 − senαn−2 )+. . .+(senα1 − sen0)+sen0.

Logo

senαn > (senαn − senαn−1 ) + (senαn − senαn−1 ) + . . . + (senαn − senαn−1 ) =

= n (senαn − senαn−1 ) > n (senαn+1 − senαn ) .

Portanto

senαn > n (senαn+1 − senαn ) ⇒ (n + 1) senαn > n senαn+1

⇒ (n + 1) senα > n senβ


180◦ 180◦
   
⇒ (n + 1) sen > n sen .
n+1 n

Portanto
180◦ 180◦
   
2r(n + 1) sen > 2rn sen .
n+1 n


180◦
 
Lema 0.3 A sequência Pn = 2rn sen é limitada.
n

Demonstração: Observe que

180◦ 90◦ 90◦ 45◦ 45◦ 90◦ 45◦


sen = 2 sen · cos = 4 sen cos · cos < 4 sen ,
n n n n n n n
180◦ 45◦
ou seja sen < 4 sen .
n n
5

No Lema 0.2 dividimos α em n ângulos congruentes entre si e mostramos que


  
1
senα > n senα − sen α − α .
n

Usando este resultado para α = 45◦ temos

45◦
  
◦ ◦ ◦
sen45 > n sen45 − sen 45 −
n
45◦ 45◦
= nsen45◦ − nsen45◦ · cos + n cos 45◦ sen
n n

Portanto

◦ ◦ ◦ 45◦ ◦ ◦ 45◦
Pn = sen45 > n sen45 − n sen45 + n cos 45 sen = n cos 45 sen .
n n

Então
45◦
1 > n sen .
n
Portanto

180◦ 45◦ Pn
2Rn sen < 8rn sen < 8r ou < 4.
n n 2r

Corolário 0.1 O valor de π também pode ser dado pela expressão


v s
u r

u q
k
t
π = lim 2 2 − 2 + 2 + 2 + . . . + 2,
k→∞

com k raı́zes.

180◦
Demonstração: Sendo π = lim n sen , tomemos n = 2k+1 . Sendo
n→∞ n
6

r
θ 1 + cos θ
cos = , temos
2 2
v v ◦
u  
u 1 + cos 180
v u u
180◦
u   u
u
u 1 + cos
u
u1 +
t 2k−1
180◦ t 2k t 2
cos = =
2k+1 2 2
v s
u r
1 + cos 45◦
u
u1 + 1 + . . . +
u r
2 √
q
t 1
= = 2+ 2 + ... + 2
2 2
com k raı́zes quadradas.
Temos que
s r
◦ √ √
 q  q
180 1 1
sen = 1− 2+ 2 + ... + 2 = 2 − 2 + . . . + 2.
2k+1 4 2
Portanto v
u s r

u q
k
t
π = lim 2 2 − 2 + 2 + 2 + . . . + 2,
k→∞

com k raı́zes.

Corolário 0.2 A área de um cı́rculo de raio r é dada por A = πr2 .

Demonstração: Tomemos um polı́gono regular inscrito de n lados no cı́rculo de


raio r e calculemos sua área.
Dividindo o polı́gono em n triângulos iguais temos A = nA∆ onde
Pn
A∆ = Hn ln . Então A = Hn · nln = Hn .
2
Definindo a área do cı́rculo como lim An se este limite existir temos
n→∞

Pn
A = lim An = lim Hn .
n→∞ n→∞ 2
Pn 2πr
Observe que lim Hn = r e lim = = πr.
n→∞ n→∞ 2 2
Pn
Portanto A = lim Hn · lim = r · πr = πr2 ⇒ A = πr2 .
n→∞ n→∞ 2
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Definamos uma nova unidade de medida, o radiano, tal que

2πradianos ≡ 2πrad ≡ 360◦ .

Portanto πrad = 180◦ . Esta nova unidade de medida é mais conveniente para
o estudo da análise que o grau. Para encontrar o comprimento de um arco da
circunferência com o ângulo α em radianos basta multiplicar α por r. Isto surgge
do fato de o comprimento do arco ser proporcional ao ângulo.

sent
Corolário 0.3 Sendo t medido em radiano tem-se lim = 1.
t→0 t

Demonstração: Se 0 < t < 1 então ∃n ∈ N∗ tal que


 
π π π π 
0< < t < ⇒ 0 < sen < sent < sen
n+1 n n+1 n
e
n+1 1 n n 1 n+1
> > ⇒ < < .
π t π π t π
Logo  
n π sent n+1 π 
sen < < sen .
π n+1 t π n
Sendo
 
n π 1 n π 1
lim sen = lim (n + 1)sen = ·1·π =1
n→∞ π n+1 π n→∞ n + 1 n+1 π
e
n+1 π 1 n+1 π 1
lim sen = lim nsen = · 1 · π = 1,
n→∞ π n π n→∞ n n π
pois
π 180◦ n+1
lim nsen = lim nsen =1 e lim = 1.
n→∞ n n→∞ n n→∞ n
Então pelo teorema do confronto temos
sent
lim = 1.
n→∞ t
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Mas n → ∞ ⇒ t → 0+ . Logo

sent sent
lim = lim+ = 1.
n→∞ t t→0 t

Se t ≤ 0 tomemos u = −t. Então

sent sen(−u) −senu senu


lim− = lim+ = lim+ = lim+ = 1.
t→0 t u→0 −u u→0 −u u→0 u

Portanto pelo teorema dos limites laterais temos

sent
lim = 1.
t→0 t

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