Você está na página 1de 36

O Ordenamento Jurídico Brasileiro e a Saúde do

Trabalhador

Conteudista: Prof. Me. Alessandro José Nunes da Silva


Revisão Textual: M.ª Vitória Eugênia Oliveira Pereira

Objetivo da Unidade:

Apresentar visão geral e integrada sobre o sistema jurídico e a estrutura institucional


existente no país para a área da Saúde do Trabalhador, que abrange o especialista em
Engenharia de Segurança do Trabalho.

📄 Contextualização
📄 Material Teórico
📄 Material Complementar
📄 Referências
📄 Contextualização
Página 1 de 4

O Direito é um conjunto de institutos criados pelo homem para viabilizar o convívio social em relativa paz e
segurança, dando condições de previsibilidade nas relações humanas. Mas ele é um “canteiro de obras”
repleto de dissenso e em constante construção. Ao regular as relações humanas por meio de regras e
limitações no interesse do bem comum, o Direito cria condições para transformar materialmente o mundo. E
essa transformação pressupõe, necessariamente, a presença do trabalho humano.

O trabalho, por sua vez, ocupa papel central na existência humana. As palavras usadas cotidianamente ao
se referir à atividade profissional do indivíduo deixam evidente tal relevância: “O que você vai ser quando
crescer?”; “O que você faz na vida?”. O trabalho é um elemento essencial na constituição da saúde, da
identidade e, para a maior parte das pessoas, o principal elo entre os indivíduos e a sociedade. Trabalhar

significa pensar, agir, conviver, construir-se a si próprio e confrontar-se perante o mundo. O trabalho é um
dos espaços da vida determinantes na construção e na desconstrução da saúde (Assunção; Lima, 2003).
Esse contínuo confronto identitário gera um sofrimento que não necessariamente será patológico, pois, a
depender das condições que o trabalhador tem de superá-lo, poderá ser fator de crescimento e de
desenvolvimento psíquico (Sznelwar et al., 2015).

O Brasil, chamado na década de 1970 de campeão mundial em acidentes de trabalho, adotou desde então
alterações legislativas, punições mais severas e outras medidas para melhorar a segurança e qualidade de
vida nos locais de trabalho; o País apresentou progressos, mas ainda está longe de uma situação aceitável
(Almeida, Vilela, 2010; Melo, 2006; Oliveira, 2014). Apesar da estrutura institucional e normativa criada,
grande número de trabalhadores continua encontrando doença e morte quando vai à busca do “ganhar a
vida” (Oliveira, 2014).

Uma das medidas trazidas pela legislação visando reduzir o número de acidentes e doenças ocupacionais
foi a obrigatoriedade de as empresas possuírem um Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho (SESMT), que é previsto no art. 162 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e na
Norma Regulamentadora 4 (NR4).

O especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho precisa, para desempenhar a contento sua função
de prevenir os riscos nas atividades de trabalho, conhecer as normas técnicas aplicáveis nas mais diversas
situações. Contudo, para ser um profissional de referência que sabe se articular com os diversos setores da
empresa (técnico, jurídico, administrativo), bem como com os órgãos públicos e privados envolvidos neste
segmento da Saúde e Segurança do Trabalho, é preciso ir além. Deve passar pela compreensão da
importância da responsabilidade técnica e do compromisso assumido quando se desenvolve a atividade de
Engenheiro de Segurança do Trabalho.

As normas estão inseridas em um conjunto legislativo que implica na forma como será interpretada cada
linha da especificação técnica; é impossível entender as entrelinhas do conjunto de normas aplicáveis a

uma situação sem conhecer os princípios que regem o ordenamento jurídico. E, já que a lei não dá conta de
prever todas as situações reais possíveis, é essencial ter essa formação acerca do sistema jurídico e
estrutura institucional existente no país, que norteará o profissional para se posicionar diante das
instituições existentes e embasará suas decisões diante da grande responsabilidade de zelar pela saúde e
integridade física do trabalhador.
📄 Material Teórico
Página 2 de 4

Direito: Noções Terminológicas


Justiça, direito e lei são conceitos que se entrelaçam, a tal ponto de serem considerados uma só coisa pelo
senso comum. Contudo, nem sempre possuem o mesmo significado e podem até mesmo entrar em colisão.

Eleita como a palavra do ano em 2018, “justiça” é um conceito abstrato que se refere ao estado ideal e

almejado de interação social equilibrada. Embora signifique condição do que é equitativo ou moralmente
correto, o termo também é utilizado para se referir ao próprio Poder Judicial.

Leitura
Justiça é Eleita Palavra do Ano pelo Dicionário Americano
O dicionário da editora Merriam-Webster’s, nos Estados Unidos, elegeu
“justiça” como a palavra do ano 2018. De acordo com a editora, ela esteve no

topo das pesquisas nesse ano e foi consultada 74% de vezes a mais que em
2017.

Clique no botão para conferir o conteúdo.


ACESSE

Você Sabia?
A deusa grega Têmis (Themis) está representada na escultura “A Justiça”, de

Alfredo Ceschiatti, localizada em Brasília, na frente do Supremo Tribunal


Federal (STF). A obra segue a tradição de mostrar a “deusa da justiça” com os
olhos vendados, para sinalizar a sua imparcialidade, e com espada, que

simboliza a força de que dispõe para impor o direito. Muitas representações


possuem também uma balança, que simboliza a necessária ponderação dos
interesses das partes em conflito.
Figura 1 – Deusa grega Têmis (Themis)
Fonte: sindjusdf.org

O Direito é um fenômeno de regulação social que tem como objetivo atingir o estado de equilíbrio da justiça,
muito embora nem sempre o alcance. O Direito permeia todas as relações sociais e a vida do indivíduo, do
nascer ao morrer, desde uma corrida de táxi até a punição por um crime. Ele possui várias fontes que lhe dão
alicerce e direção, e a principal delas é a lei (ao lado dos costumes, jurisprudência, doutrina, analogia,
princípios e equidade). Assim, quando um juiz decide ou um advogado requer algo em juízo, será preciso

fundamentar tal argumentação em uma ou várias dessas fontes do Direito, que se dá principalmente na
aplicação da legislação em vigor para aquele assunto.

O Princípio da Legalidade pode simplificar a compreensão do papel exercido pela lei na sociedade humana.
Previsto na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988, art. 5º, inciso II), declara

que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar alguma coisa senão em virtude de lei”. Dessa forma, temos
que, se algo não está descrito na lei como proibido, ninguém poderá exigir que esse algo não seja feito.
Vale destacar que a aplicação desse princípio difere quando se trata da Administração Pública: enquanto o
indivíduo pode fazer tudo o que a lei não proíbe, o administrador público deve fazer tudo o que a lei autoriza.
Ou seja, dentro da Administração Pública a legalidade restringe a atuação naquilo que é permitido por lei, de

acordo com os interesses públicos. Já no âmbito privado, o cidadão pode fazer tudo o que a lei não previu
como proibido.

A interpretação da lei se dá por alguns caminhos, a mais adotada é a sistemática porque considera todo o
arcabouço legal sob o qual a regra se insere e está subordinada. Chama-se hermenêutica jurídica a técnica
de interpretação aprendida nas faculdades de direito que consiste em um percurso racional e sistemático,
dentro da ordem jurídica, para responder a determinado caso.

Normas: Hierarquia e Tipos Legais


É extremamente importante considerar as mudanças de normas e legislações. Elas são vivas e mudam ao
longo do tempo. Nesse sentido, apresentamos, a seguir, uma linha do tempo com alguns pontos importantes
com o tema Saúde e Segurança do Trabalho.

Note que o processo de formação das instituições e do arcabouço jurídico surge buscando as
transformações das relações de trabalho e dos processos no meio ambiente de trabalho.
Figura 2 – Fatos históricos da segurança e ergonomia no Brasil
Fonte: Adaptada de Getty Images

#Paratodosverem: Figura colorida sobre fundo branco. Ao centro, a figura apresenta 14


setas no sentido da direita. As 14 setas estão divididas em duas partes uma acima e
outra abaixo. Elas iniciam na esquerda (indicando o ano e a descrição da lei). Assim,
inicia-se com seta amarela, ano 1919, criação da lei de acidente de trabalho; seguida de
laranja, 1923, criação das caixas de aposentadoria; vermelha, 1930, criação do Ministério
do Trabalho; roxo, 1943, criação da CLT; azul claro, criação da Fundacentro; azul médio,
criação de cursos de Saúde e Segurança do Trabalho nas universidades; azul escuro,
1978, criação das normas regulamentadoras. Na parte debaixo, iniciando na esquerda,
amarela, 1988, Constituição Federal; laranja, 1988, fortalecimento das ações da justiça e
Ministério Público do Trabalho; vermelho, 1992, convenção OIT 155 – SST; roxo, 1994,
Criação do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS); azul claro, 2001, convenção OIT
174 – prevenção de acidentes maiores; azul médio, 2011, Política Nacional de Segurança
e Saúde no Trabalho; azul escuro, 2012, Política de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora.
Fim da descrição.

Ordenamento jurídico é o nome que se dá ao conjunto hierarquizado de normas que disciplinam


coercitivamente as condutas humanas, com a finalidade de buscar harmonia e a paz social. Nesse sistema,
a Constituição Federal (CF) tem papel de preponderância, ou seja, todas as demais normas precisam conter
regras compatíveis com aquelas presentes na Constituição.

Inicialmente, é preciso esclarecer que o termo “norma” tem um significado genérico, sendo utilizado em

sentido amplo para se referir a qualquer espécie legislativa ou ato normativo com cunho regulamentar. A
Figura 2, a seguir, indica que o nível superior precisa ser respeitado em todos os seus preceitos pela norma
inferior, caso contrário, haverá colisão de normas. Nessa situação, a norma hierarquicamente superior deve
ser respeitada. Por exemplo, os contratos e sentenças fazem lei entre as partes, mas não podem

desrespeitar as portarias, leis, tratados e Constituição no que for aplicável àquele tema, sob risco de
anulação do contrato ou reforma da sentença.

Observe que algumas nomenclaturas utilizadas geram dúvidas. Por exemplo, a maioria da matéria relativa à
Saúde e Segurança do Trabalho (SST) é tratada por Normas Regulamentadoras (NR) emitidas pelo

Ministério do Trabalho. Contudo, as NRs recebem tal denominação, mas são criadas por portarias.
No que se refere à lei, o termo ordinário significa comum e, assim, essa é a mais usual espécie de lei no
ordenamento jurídico, pois possui um trâmite de aprovação mais simples que os demais tipos legais. Há
outras modalidades de lei, como a lei complementar, contudo, quando se usa a nomenclatura “lei”, o que se

lê nas entrelinhas é que se está falando de um produto do processo legislativo, ou seja, um ato normativo de
competência do Poder Legislativo.

Enquanto as leis têm como fonte de inspiração a Constituição Federal e criam, modificam ou extinguem
direitos, o decreto tem como finalidade regulamentar uma lei,

portanto, não pode inovar o mundo jurídico. O decreto regulamentar é um ato administrativo e sua emissão é
de competência do chefe do Poder Executivo, sem votação e discussão no Poder Legislativo. Um bom
exemplo é o que ocorre na legislação previdenciária, com a Lei 8.213/1991 que dispôs sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social, mas de forma genérica e abstrata, tendo sido publicado posteriormente o
Decreto-Lei 3.048/1999, que detalha como será operacionalizada a Previdência Social, esmiuçando
pormenores para a fiel execução da lei, mas sem inovações do que já fora previsto na Lei 8.213/1991.

As portarias, por sua vez, são atos administrativos emitidos pelos chefes dos órgãos públicos e têm como
objetivo disciplinar o funcionamento da Administração Pública e a conduta de seus agentes. Elas precisam

respeitar o que consta nas leis, nos decretos e, obviamente, na Constituição.


Figura 3 – Hierarquia das normas
Fonte: BELTRAMELLI, et. al., 2021

#ParaTodosVerem: Figura colorida sobre fundo branco. Ao centro, a figura triângulo


dividido em seis partes conectadas com cores diferentes em degradê: na parte de cima,
marrom, vindo a seguir tendência de verde e finalizando com roxo. Na parte superior e
inferior temos descrições com letras tamanho médio; escrito em preto, há o título escrito:
Pirâmide de Normas de Saúde e Segurança do Trabalho. Na parte superior, está escrito: 1º
parte - Constituição Federal, 2º parte emendas constitucionais, tratados internacionais, 3º
parte leis complementares, ordinárias e delegadas, decretos, medidas provisórias e
resoluções. Por fim, está escrito: 4º parte decretos regulares, 5º parte portarias e 6º parte
normas individuais. Fim da descrição.

Se tratado internacional sobre direitos humanos ou aprovado em rito especial no Congresso Nacional, terá
mesmo status de norma constitucional.

Embora a Figura 2 represente essencialmente a hierarquia de normas federais (com a Constituição Federal
no topo), vale destacar que o mesmo se aplica para normas estaduais e municipais. Assim, cada estado
possui sua Constituição Estadual que também precisa ser respeitada em todos os termos pelas leis criadas

pelas Assembleias Legislativas daquele estado. As Câmaras Municipais, por sua vez, representam o Poder
Legislativo do município e precisam observar a Lei Orgânica daquela cidade em cada norma que for
debatida e criada. A divisão dos assuntos que serão legislados na esfera federal, estadual ou municipal,
bem como a organização político-administrativa do Estado brasileiro, é feita pela CRFB/1988 (art. 18 a 33).

Tabela 1 – Descrição e das responsabilidades da Hierarquia das Leis

Legislações Descrição Comentários

São as mais Nessa escala hierárquica


importantes, por das leis, colocam-se bem
conterem os elementos alto e acima de toda a
estruturais da nação e a Constituição Federal.
Leis
definição fundamental Emanação direta da
constitucionais
dos direitos do homem, soberania nacional. Por
considerado como isso mesmo, devem ser
indivíduo e como obedecidas igualmente
cidadão. por todos.

As leis complementares
A lei complementar tem
são aquelas votadas
Leis um processo de
pela legislatura para
complementares aprovação mais rigoroso,
regulamentação dos
no Congresso Nacional.
textos constitucionais.

Hierarquicamente, a lei
As leis ordinárias são as
complementar sobrepõe-
que emanam dos órgãos
se à ordinária, de tal
Leis ordinárias que a Constituição
forma que a lei ordinária
investiu da função
não pode revogar a
legislativa.
complementar.
Legislações Descrição Comentários

Têm aplicação normal a


todo território da nação,
Leis federais são as
salvo aquelas que por
Leis federais votadas pelo Congresso
motivo especial se
Nacional.
restringem a uma parte
dele.

Leis estaduais são as


Têm atuação restrita à
que votam as
Leis estaduais circunscrição territorial
Assembleias
respectiva dos estados.
Legislativas Estaduais.

Leis municipais são Têm atuação restrita à


aquelas aprovadas pelas circunscrição territorial
Leis municipais
Câmaras de Vereadores respectiva dos
Municipal. municípios.

A Medida Provisória é A medida provisória


utilizada pelo Presidente poderá ser expedida em
Medida da República a fim de caso de relevância e
Provisória editar medidas urgência, devendo ser
provisórias com força de submetida ao Congresso
lei. Nacional.

O Decreto é ato
São atos administrativos
administrativo de
normativos, originários
competência privativa do
Decretos do Poder Executivo,
Chefe do Executivo
estando sempre em
Federal, Estadual e
posição inferior à lei.
Municipal.
Legislações Descrição Comentários

Expedidos pelas
São atos administrativos autoridades do Poder
Resoluções normativos inferiores ao Executivo cuja função é
Decreto. explicar e complementar
os regulamentos.

Contém instruções
acerca da aplicação de
É um documento de ato leis ou regulamentos,
administrativo de recomendações de
Portaria
qualquer autoridade caráter geral, normas de
pública. execução de serviço,
nomeações, demissões,
punições.

Para que as regras das leis sejam aplicadas, existe a necessidade da atuação das instituições que realizam
as fiscalizações e inspeções do trabalho para a prevenção e proteção do meio ambiente de trabalho. É
notória a importância da participação das instituições no desenvolvimento das ações de prevenção e
proteção à saúde do trabalhador, entre elas destacamos:
Figura 4 – Apresenta algumas instituições importantes para a
prevenção e proteção da saúde do trabalhador

#Paratodosverem: Figura colorida sobre fundo branco. Ao centro, a figura com seis
círculos conectados com cores diferentes. Em sentido horário: azul claro, azul médio, azul
escuro, vermelho escuro, vermelho claro e laranja. As conexões são interligadas e
coloridas também. Em sentido horário, cada círculo apresenta descrições com letras de
tamanho médio, escritas na mesma cor: instituições importantes para a prevenção e
proteção da saúde do trabalhador. No descritivo, Ministério Público do trabalho, Sindicatos,
Justiça do trabalho, Ministério da saúde, Ministério da previdência, Ministério do Trabalho.
Ao centro, pesquisas e universidades, Associação Brasileira de Normas e Técnicas e
Conselhos de regulamentação profissional. Fim da descrição.

Importante saber que existe várias fontes de dados no Brasil, conforme apresentado a seguir:
Leitura
Instituições, dados gerados e links para pesquisa sobre trabalho e agravos à

saúde do trabalhador(a)

OIT – Segurança e Saúde no Trabalho


Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Ministério Público do Trabalho (MPT) – Observatório do Trabalho Decente


Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Ministério Público do Trabalho (MPT) – Observatório de Saúde e Segurança


Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Ministério da Saúde – Painel de Monitoramento das Notificações das Doenças e Agravos Relacionadas ao
Trabalho (Dart) no Sinan
Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Ministério da Saúde – Doenças relacionadas ao trabalho. Manual de procedimentos para os serviços de


saúde/Ministério da Saúde do Brasil
Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Ministério da Saúde – Lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de Saúde
Pública
Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Ministério do Trabalho – Secretaria de Inspeção do Trabalho


Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Ministério do Trabalho – Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho


Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Ministério do Trabalho – Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no Brasil


Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Ministério da Previdência – Auxílio-doença por Acidente do Trabalho (B91) Afastamentos por Agravo –
(B31)
Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
Justiça do Trabalho – Trabalho Seguro
Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Jurisprudência: Importante Fonte do Direito


O termo “jurisprudência” significa “sabedoria dos tribunais”. Trata-se do conjunto de decisões judiciais
proferidas sobre determinada matéria. As decisões reiteradas do judiciário são utilizadas como fonte do
direito, no sentido de serem matéria-prima da qual nasce o direito. Isso ocorre porque, embora o
ordenamento jurídico disponha de leis tratando dos mais variados assuntos, persistem lacunas, já que é
muito difícil prever todas as situações que podem acontecer na prática. Em outros casos, a redação da
norma dá margem a mais de uma interpretação ou podem ocorrer conflitos de normas. Nessas situações,
cabe ao juiz dar a solução ao caso concreto, tomando uma decisão fundamentada no sistema jurídico
existente; com frequência, outros julgamentos são utilizados de parâmetros para decidir.

Quando uma jurisprudência se consolida, é comum a edição de súmulas, que são enunciados afirmando a
regra originada a partir da aplicação da legislação, decisões anteriores e demais fontes do direito segundo a
interpretação daquele tribunal. Assim, é muito importante conhecer as súmulas e jurisprudência dos
tribunais, pois ela sinaliza como a lei vem sendo aplicada aos casos concretos.

Site
Sistema de Pesquisa de Jurisprudência
Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

A súmula é, no contexto jurídico, uma interpretação jurisprudencial sem efeito de vínculo, visando auxiliar
outros tribunais na interpretação de casos semelhantes aos que ela aborda.

Contudo, desde 2004, existe no país a previsão da Súmula Vinculante, que obriga os demais tribunais a
seguirem a decisão do STF; ela foi criada justamente para reduzir a sobrecarga da nossa corte máxima, que

recebia todos os anos centenas de recursos para casos aos quais já dera parecer. Até 2018, foram editadas
56 súmulas vinculantes pelo STF.

Cabe ainda mais uma explicação envolvendo a jurisprudência. Em alguns países de tradição inglesa, como
os Estados Unidos, o Direito tem como principal fonte as decisões judiciais. É o sistema conhecido como
“Common Law”, sendo chamadas de “precedentes” as decisões anteriores sobre o mesmo caso,
semelhantes às nossas súmulas. Você provavelmente já ouviu falar que a constituição americana tem
apenas 7 artigos e 27 emendas. Ela é a mais curta constituição em vigor no mundo, mas faz toda a
diferença lembrar que, na estrutura jurídica daquele país, as principais regras são construídas pela
jurisprudência e não pelo processo legislativo, como ocorre no Brasil e na maior parte dos países (sistema

conhecido como “Civil Law”).

O Poder Judiciário
O Estado brasileiro é formado por três poderes, cuja estrutura e separação de competências se encontram
na CRFB/88. O Poder Judiciário, regulado nos art. 92 a 126, possui vários órgãos que estão divididos por área
de atuação: Justiça Comum (tanto estadual quanto federal) e as especializadas Justiça do Trabalho,
Justiça Eleitoral e Justiça Militar. Por exclusão, as matérias que não são de competência da Justiça Federal
ou de qualquer outra justiça especializada são de competência da Justiça Comum estadual.
Figura 5 – Panorama e Estrutura do Poder Judiciário Brasileiro
Fonte: Reprodução

Os órgãos do Poder Judiciário estão hierarquicamente apresentados na figura 5, de autoria do Conselho


Nacional de Justiça (CNJ), criado em 2005 com a função de tornar o Poder Judiciário do País mais eficiente,
transparente e célere, por meio do controle administrativo e financeiro (Arcuri, 2015). Para se ter uma noção
da magnitude do Poder Judiciário do Brasil, saiba que se submetem ao controle do CNJ os noventa tribunais
brasileiros e seus 18.168 magistrados (CNJ, 2018), assim divididos: quatro tribunais superiores STJ -
Superior Tribunal de Justiça, TST - Tribunal Superior do Trabalho, STM - Superior Tribunal Militar e TSE –
Tribunal Superior Eleitoral.

A função típica do Poder Judiciário é a jurisdicional, ou seja, dizer com quem está o direito, resolver os

conflitos de interesses em cada caso concreto, por meio de um processo judicial. Como regra, os processos
se originam nas varas, julgados por juiz singular (apenas um magistrado) e podem ser levados, por meio de
recursos, para a segunda instância (tribunais regionais ou tribunais superiores), de tal forma que a decisão
anteriormente proferida será revisada por órgão colegiado (grupo de juízes) que poderá manter ou alterar a
sentença ou acórdão.
Saiba Mais
Sentenças são as decisões prolatadas nas varas (juízo de primeiro grau),

enquanto os acórdãos são prolatados por órgãos colegiados superiores, ou


seja, pelos tribunais (juízo de 2º ou 3º graus). O termo ‘decisão judicial’
costuma ser usado tanto para sentenças quanto para acórdãos.

O STF é o órgão máximo do Judiciário brasileiro. Sua principal função é zelar pelo cumprimento da
Constituição e dar a palavra final nas questões que envolvam normas constitucionais. As ações podem
chegar ao Supremo Tribunal Federal, em grau de recurso extraordinário, desde que se tenha ofendido
matéria constitucional. O STF é composto por onze ministros indicados pelo Presidente da República e

nomeados por ele após aprovação pelo Senado Federal. Assim como no STF, os juízes dos outros tribunais
superiores também são chamados de ministros e cuidam da uniformização (padronização) da
jurisprudência. No STJ, os 33 ministros, também nomeados pelo Presidente da República após aprovação do
Senado e escolhidos a partir de uma lista tríplice elaborada pelo próprio STJ, têm como responsabilidade
manter a interpretação uniforme da legislação de competência das justiças estaduais, revisando as
decisões dos Tribunais de Justiça do País. O mesmo ocorre com o TST e seus 27 ministros em relação às
decisões dos TRTs.

Saiba Mais
Existe a instância que julga (primeira) e aquela que revisa (segunda). Engano
presente no senso comum, não existe “3ª instância”, mas, sim, 3º grau ou
nível, já que os juízos são de 1º grau, 2º grau e grau superior (STF, STJ, TST,

STM e TSE são tribunais de grau superior). Já as instâncias são móveis e


dependem dos casos que devem ser propostos diretamente para os tribunais
regionais, terão sua apreciação em 2ª instância nos tribunais superiores, caso

contrário, a 2ª instância será apreciada no tribunal regional, seja do trabalho,


federal ou de justiça.

Compete à Justiça Federal processar e julgar as questões que envolvem, como autoras ou rés, a União
Federal, suas autarquias, fundações e empresas públicas federais, entre outras. Os juízes federais e os

Tribunais Regionais Federais (TRFs) compõem a Justiça Federal, que conta também com os juizados
especiais para julgar causas de menor potencial ofensivo e pequeno valor econômico. As ações de regresso
movidas pela autarquia previdenciária (INSS) contra o empregador que descumpriu lei e gerou ônus aos
cofres da Previdência (pensão por morte ou auxílio-doença acidentário) é julgada pela Justiça Federal.
Também é essa a justiça competente para decidir sobre a concessão de aposentadorias, inclusive aquelas
especiais com a antecipação do benefício em decorrência de condições insalubres, perigosas ou penosas
no ambiente de trabalho.

A Justiça Comum Estadual é composta pelos juízes de direito (que atuam na primeira instância) e pelos

desembargadores, juízes que atuam nos tribunais de justiça. Assim como na Justiça Federal, possui
juizados especiais cíveis e criminais para casos de menor potencial ofensivo e pequeno valor econômico. A
ela cabe processar e julgar qualquer causa que não esteja sujeita à competência de outro órgão jurisdicional
(Justiça Federal, do Trabalho, Eleitoral e Militar). Muitos tribunais estaduais organizaram suas varas
divididas por competência exclusiva, tais como: varas exclusivas cíveis, varas exclusivas criminais, varas
exclusivas da infância e juventude, varas exclusivas de violência doméstica, varas exclusivas de execução
penal, juizados especiais da Fazenda Pública e varas de acidentes do trabalho (CNJ, 2018).
Enquanto as ações de divórcio são julgadas pelos juízes estaduais das varas de família, as ações penais,
envolvendo, por exemplo, acidente que vitimou trabalhador, serão julgadas pelo juiz estadual de uma vara
criminal. Também as ações previdenciárias acidentárias, interpostas pelo trabalhador contra o INSS, para a

concessão ou revisão do benefício previdenciário, são de competência da Justiça Estadual. Observe que,
como tal ação é movida contra o INSS, deveria, em primeira análise, ser julgada pela Justiça Federal (afinal,
tem como parte uma autarquia federal). Porém, a CRFB estabeleceu expressamente no art. 109, inciso I, que
será a justiça dos estados a competência para decidir sobre tais questões.

A Justiça do Trabalho tem a competência de julgar conflitos individuais e coletivos entre trabalhadores e
empregadores e outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como as demandas que
tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças. Os órgãos da Justiça do Trabalho são o
Tribunal Superior do Trabalho (TST), os Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e os Juízes do Trabalho, que
atuam nas varas do trabalho. Além das reclamações trabalhistas para discutir pagamentos de diferenças
salariais ou verbas rescisórias, esse é o ramo da justiça que recebe os pedidos de indenização por danos
morais, que podem até ser coletivos, mas sempre em decorrência de uma relação de trabalho (não
necessariamente de emprego) havida entre as partes.

Leitura
Justiça do Trabalho
A Justiça do Trabalho criou o Programa Trabalho Seguro, que ao longo do

tempo vem implementando medidas buscando contribuir diretamente para a


redução de acidentes de trabalho e valorização da saúde e da vida dos
trabalhadores. Programa Trabalho Seguro – TST.

Clique no botão para conferir o conteúdo.


ACESSE

Saúde do Trabalhador: Contextualização e Desafios


Os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais são um grande problema para a Saúde Pública em
todo o mundo e o principal agravo à saúde dos trabalhadores, com elevados custos sociais e econômicos
(Oliveira, 2014; Silva J., 2014). Quando um trabalhador se acidenta ou adoece no trabalho, as repercussões
não acontecem apena na vida do indivíduo, mas na sociedade como um todo. Para as empresas, esses
eventos afetam o custo de produção e forçam a elevação dos preços de bens e serviços, interferindo no

conjunto da economia. Oneram o Estado pela atenção à saúde que precisa prover aos trabalhadores
afetados e pela ativação do sistema de previdência. Mas são as pessoas mais próximas do trabalhador
acidentado ou doente que suportam as principais consequências, pois, além do sofrimento pessoal, os
familiares com frequência passam pela redução de renda, interrupção do emprego e gastos com
acomodação no domicílio (Wünsch Filho, 2004; Santana et al., 2006).

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em documento de 2007, reitera que os trabalhadores representam
metade da população do mundo e que são os principais contribuintes para o desenvolvimento
socioeconômico. Sua saúde é determinada não só por riscos no local de trabalho, mas também por fatores

sociais e individuais, bem como o acesso a serviços de saúde (OMS, 2007). A Organização Internacional do
Trabalho (OIT), que, desde a sua criação há 100 anos (em 1819), mobiliza nações em prol da melhoria das
condições de trabalho existentes, conclamou governos, empresas e sociedade a promoverem campanha
urgente e vigorosa para combater os acidentes e doenças profissionais, classificadas como “epidemia
oculta” (OIT, 2013).

Ao longo dos últimos 30 anos, houve importantes avanços na regulamentação da proteção dos
trabalhadores, particularmente no que diz respeito a aspectos da SST em todo o mundo (OIT, 2015). O Brasil
conta atualmente com um vasto conjunto normativo aplicável à proteção da saúde e segurança dos
trabalhadores, que inclui tratados internacionais, garantias constitucionais, normas regulamentadoras e

outros dispositivos em leis ambiental, previdenciária, trabalhista e civil.


Nossa legislação prevê instrumentos processuais não apenas para reparar os danos causados à saúde dos
trabalhadores, mas também para prevenir que ocorram (Melo, 2012; Silva, J. 2014; Silva, H., 2015). A
legislação ambiental brasileira abrange o meio ambiente do trabalho e permite agir preventivamente mesmo
sem a certeza absoluta do dano (princípio da precaução) para proteger interesses coletivos. A Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988 atrelou a organização econômica do País à proteção do valor do
trabalho humano, priorizando a “dignidade da pessoa humana trabalhadora” (Mori; Fava, 2015). A existência
digna para todos, conforme os ditames da justiça social, deve estar conjugada com a livre iniciativa e livre

concorrência (art. 1º, III; 170 caput e VI da CRFB). A saúde é declarada direito fundamental universal e dever
do Estado, garantia constitucional que foi regulamentada pela Lei Orgânica da Saúde (8080/1990) que criou
o Sistema Único de Saúde (SUS).

Na esfera do direito à saúde, encontra-se a Saúde do Trabalhador, definida na Lei 8080/1990 (art. 6º, §3º)
como:

Um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância
sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação
da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.

A abordagem da Saúde do Trabalhador (ST) ocorre na investigação do processo de trabalho com a visão
sistêmica e não de fatores de risco. A lógica da Saúde Pública, com prevenção de riscos, promoção da
saúde e participação dos trabalhadores em perspectiva coletiva é incorporada na Saúde do Trabalhador. Ela
surgiu como crítica ao modelo trabalhista-previdenciário ligado à Medicina do Trabalho e Saúde
Ocupacional, para ultrapassar as visões reducionistas de causa e efeito de ambas as concepções,

sustentadas pela visão unicausal entre doença e agente específico (Lacaz, 2007; Mendes, Dias, 1991).
Como é próprio da saúde coletiva, a ST agrega amplo espectro de disciplinas, que inclui a Sociologia,
Epidemiologia, Ergonomia, Ecologia, Estatística, Toxologia, Engenharia de Produção, Ciências Políticas,
História e o Direito.
A ST rompe com a concepção hegemônica que estabelece um vínculo causal entre a doença e um agente
específico ou a um grupo de fatores de risco presentes no ambiente de trabalho (Mendes; Dias, 1991) e,
contrariamente aos marcos da saúde ocupacional – em que os trabalhadores são vistos como pacientes,

objetos de intervenção profissional –, na Saúde do Trabalhador, eles constituem-se em sujeitos políticos


coletivos, depositários de saber emanado da experiência e agentes essenciais de ações transformadoras
(Minayo-Gomez, 2011).

No aspecto institucional, merecem destaque os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST,

mais conhecidos como Cerest), de inserção estadual e municipal, criados na estrutura do SUS para
implementar ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde dos trabalhadores, no âmbito da sua
área de abrangência (Portaria MS 1679/GM de 2002). Além de orientação e atendimento, os centros têm
fiscalizado e punido empresas pelo descumprimento de normas de saúde e segurança do ambiente laboral.
Após questionamentos judiciais, a sua legitimidade para fiscalizar o cumprimento das normas de SST e
impor multas vem sendo reconhecida nos tribunais e, em 2016, pelo Tribunal Superior do Trabalho.

Saiba Mais
Processo: ARR - 389-35.2012.5.15.0094. Data de Julgamento: 03/02/2016.
Relatora Ministra: Maria de Assis Calsing, 4ª Turma. Data de Publicação:
DEJT_12/02/2016.
Leitura
Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Cerest)

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Outra instituição que tem sido protagonista na área da SST, principalmente com medidas preventivas, é o

Ministério Público do Trabalho (MPT). O MPT é um dos ramos do Ministério Público da União, tem
autonomia funcional e administrativa e, dessa forma, atua como órgão independente dos poderes
legislativo, executivo e judiciário.

Aos Procuradores do Trabalho cabe a tutela dos direitos sociais constitucionalmente garantidos,
abrangendo o meio ambiente do trabalho. O MPT atua judicialmente propondo Ações Civis Públicas (ACPs)
na Justiça do Trabalho, mas é a atuação extrajudicial que tem se destacado na prevenção de acidentes de
trabalho. Os Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) são acordos extrajudiciais firmados com empresas
principalmente em prol da SST que, se não cumpridos, são executados. Ressaltem-se, também, os

Procedimentos Promocionais, conhecidos como “Promo”, que têm como escopo viabilizar a articulação
social do MPT com outros atores sociais.

Leitura
Banco de Projetos do MPT
Projetos do MPT, tais como: saúde e segurança, trabalho escravo, trabalho
infantil, entre muitos outros.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Embora as vantagens da ação preventiva sejam unanimidade (pois o ideal almejado é a não ocorrência de

acidentes), a fiscalização com orientação e, se for o caso, punição exemplar administrativa e/ou judicial,
mesmo que reparatória (quando o dano à saúde do trabalhador já ocorreu), também têm grande relevância
na diminuição do número de acidentes. No Brasil, há mais de um órgão legitimado a fazer a inspeção das
condições de saúde e segurança nos ambientes de trabalho: Ministério Público do Trabalho, na pessoa dos
seus procuradores do trabalho; Ministério do Trabalho, por meio dos seus auditores fiscais do trabalho; e
mais recentemente os profissionais do Cerest, inclusive com a legitimidade para multas referendadas em
alguns tribunais regionais e também pelo TST, como abordados acima.

Apesar da estrutura institucional e normativa criada, a situação está longe de aceitável e grande número de
trabalhadores continua encontrando a morte quando vai à busca do “ganhar a vida” (Oliveira, 2014). Um dos

grandes problemas da luta pela proteção da saúde e segurança dos trabalhadores no Brasil é a dispersão da
responsabilidade pela proteção à saúde e segurança no trabalho por um excessivo número de órgãos
estatais e a falta de unidade na atuação dos mesmos (Boucinhas Filho, 2012).

O Ministério da Previdência Social se encarrega dos benefícios acidentários (auxílio-doença, auxílio-

acidente, aposentadoria por invalidez, pensão por morte) e o serviço de reabilitação profissional. Ao
Ministério do Trabalho cabe a elaboração das Normas Regulamentadoras e a fiscalização no cumprimento
das normas de SST. Enquanto esta última atividade é realizada pelos auditores fiscais do trabalho, a primeira
tem a coordenação do Ministério, mas é realizada por comissão tripartite formada por representantes do

governo, trabalhadores e empresas. A Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP), responsável pela
criação e revisão das NRs, foi substituída pela Comissão Nacional Tripartite (CNT) com a Portaria 59/2008.
Além de integrar a CNT como representante do governo, a Fundacentro é o braço do Ministério do Trabalho
que cuida do desenvolvimento de pesquisas e provê formação em SST. O Ministério da Saúde, por sua vez,
coordena o SUS, que também atua na área da saúde do trabalhador (Cerest).

Outro problema diz respeito ao modelo normativo brasileiro de SST, que deixa vulnerável o trabalhador dentro
do seu ambiente laboral. Em 1977, uma das medidas trazidas pela legislação para reduzir o número de
acidentes e doenças ocupacionais foi a obrigatoriedade de as empresas possuírem um Serviço
Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), que é previsto no art. 162 da
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e na Norma Regulamentadora 4 (NR4). Esses serviços consistem

em um grupo interdisciplinar de profissionais que atuam nas questões de SST dentro da empresa, com
composição obrigatória que depende do grau de risco da atividade e número de funcionários (anexos I e II
da NR4). Segundo essa norma, o SESMT será constituído pelos seguintes profissionais: Médico do
Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Técnico de Segurança do Trabalho, Enfermeiro do Trabalho
e Auxiliar ou Técnico em Enfermagem do Trabalho.

Ao lado da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), obrigatória para empresas com mais de 20
empregados e formada por representantes eleitos para mandato de 1 ano (regulada no art. 163 da CLT e
NR5), essas duas figuras foram criadas para proteger a saúde e prevenir acidentes de trabalho. Porém, a lei
não assegurou espaço de autonomia para a ação independente desses profissionais, na prática, reverteu-se
em atuação burocrática e cartorial de defesa jurídica da empresa em caso de acidentes (Costa et al., 2013;
Inoue, Vilela, 2014; Jackson Filho et al., 2013). Nesse sentido, também se manifestou Homero Batista
Mateus da Silva, ao apontar como dilema do SESMT o fato de o serviço nem sempre atingir os resultados
almejados porque:

Achando-se seus ocupantes vinculados a contrato de trabalho com o empregador, dificilmente vão se
envolver em alguma controvérsia sobre a forma de trabalho e tampouco se deve supor que, em caso de
litígio, penderão para o lado do empregado. Outrossim, a tendência é que naturalmente se priorize o
tratamento clínico do empregado que apresentar algum distúrbio ou sintomas de enfermidades, em vez de

atacar as causas da moléstia, que residem no meio ambiente de trabalho. (SILVA, H., 2015, p. 42).
Em Síntese
Sob a ótica legal da segurança e saúde no trabalho, temos um vasto campo de

legislações, direitos e deveres. Foram imprescindíveis as mudanças nos


vários segmentos que condicionaram e consolidaram o direito à saúde do
trabalhador no País, norteando, assim, as análises médicas, das engenharias e
também jurídicas, que, em conjunto, passaram a requerer diretrizes
norteadoras.

Dessa forma, os atuais trabalhadores têm direito a um meio ambiente de


trabalho seguro e saudável. No campo juridico existe um arcabouço legal
muito rico, que precisa ser aprimorado na sua prática, uma vez que as
investigações do meio ambiente do trabalho são conduzidas de forma

superficial e falha.

Nesta Unidade, apresentamos as legislações e as normatizações de forma


sistêmica, estimulando o aluno a refletir sobre a ação da prática e as
implicações das legislações e a normatizações. Cabe a cada profissional
valorizar a dinâmica participativa envolvendo diferentes atores
(multiprofissionais).
📄 Material Complementar
Página 3 de 4

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Site

Ergonomia da Atividade

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Vídeo

Audiência Pública sobre a Revisão da NR –17


Audiência Pública sobre a revisão da NR-17

Leitura

O Essencial da Prevenção dos Acidentes Graves, Fatais e


Tecnológicos Ampliados

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Enciclopédia OIT

Clique no botão para conferir o conteúdo.


ACESSE

Trabalho Ilustrado: uma Crítica Bem-humorada às Empresas


Contemporâneas e ao Mundo do Trabalho

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho


(CANPAT)

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
📄 Referências
Página 4 de 4

ALMEIDA, I. M; VILELA, R. A. G. Modelo de análise e prevenção de acidente de trabalho – MAPA. Piracicaba:


CEREST, 2010.

ARCURI, D. M. Nos bastidores do Conselho Nacional de Justiça. Revista do Advogado, São Paulo, n. 128, p.
13-21, dez. 2015. Disponível em:
<https://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:rede.virtual.bibliotecas:artigo.revista:2015;1001063005>. Acesso:

20/11/2023.

ASSUNÇÃO, A. Á; LIMA, F. P. A. A contribuição da ergonomia para a identificação, redução e eliminação da


nocividade do trabalho. In: MENDES, R. (org.). Patologia do Trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2003. p.
1768-1789.

BELTRAMELLI N. S.; ZANCHETTA, G. B.; LUSTRE, P. S. Saúde e Segurança no Trabalho: um direito humano.
Engenharia do trabalho: saúde, segurança, ergonomia e projeto. Campinas: Ex Libris, 2021. Disponível em:
https://engenhariadotrabalho.com.br/sobreolivro/. Acesso em: 20/11/2023.

BOUCINHAS F. J. C.; Reflexões sobre as normas da OIT e o modelo brasileiro de proteção à saúde e à

integridade física do trabalhador. Revista LTr, São Paulo, n. 76, v. 11, p. 1355-1364, nov. 2012. Disponível em:
<https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/164416>. Acesso em: 20/11/2023.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ. Justiça em números 2018: ano base 2017. Brasília: CNJ, 2018.
Disponível em: < https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/conteudo/arquivo/2018/08/44b7368ec6f888b383f6c3de40c32167.pdf>. Acesso em:

20/11/2023.
COSTA, D. et al. Saúde do Trabalhador no SUS: desafios para uma política pública. Rev. bras. Saúde
ocupacional, São Paulo, n. 38, v. 127, p. 11-30, 2013. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/rbso/a/8j9nbYrQgSd7kjKs4tBqJMk/abstract/?lang=pt>. Acesso em: 20/11/2023.

INOUE, K. S. Y; VILELA, R. A. G. O poder de agir dos Técnicos de Segurança do Trabalho: conflitos e


limitações. Rev. bras. saúde ocup., São Paulo, n. 39, v. 130, p.136-149, dez 2014. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbso/v39n130/0303-7657-rbso-39-130-136.pdf>. Acesso em: 30/10/2023.

JACKSON FILHO, J. M. et al. Sobre a aceitabilidade social dos acidentes do trabalho e o inaceitável conceito
de ato inseguro. Rev. bras. saúde ocup., São Paulo, n. 38, v. 127, p. 6-8, 2013. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0303-76572013000100001>. Acesso em:
30/10/2023.

LACAZ, F. A. C. O campo Saúde do Trabalhador: resgatando conhecimentos e práticas sobre as relações

trabalho-saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, n. 23, v. 4, p. 757-766, abr. 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/csp/v23n4/02.pdf>. Acesso em: 30/10/2023.

MELO, R. S. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006.

MELO, R. S. Ações acidentárias na Justiça do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2012.

MENDES, R.; DIAS, E. C. D. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Revista de Saúde Pública, São
Paulo, n. 25, v. 5, p. 341-349, 1991. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/rsp/a/VZp6G9RZWNnhN3gYfKbMjvd/abstract/?lang=pt#>. Acesso em:
20/11/2023.

MINAYO-GOMEZ, C. Produção de conhecimentos e intersetorialidade em prol das condições de vida e de

saúde dos trabalhadores do setor sucroalcoleiro. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n. 16, v. 8, p.
3363-3368, 2011. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/csc/a/49Vnct5g3v4RLLBgMd9nCPw/?lang=pt>.
Acesso em: 20/11/2023.

MORI, D; FAVA, M. N. A causa de pedir nas demandas que envolvem adicionais de periculosidade e

insalubridade. In: DEVONALD, S. R. P. G.; NAHAS, T. C. (coord.). Desafios para alcançar o trabalho seguro no
Brasil. São Paulo: LTr, 2015. p. 180-189.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. A prevenção das doenças profissionais. Abr. 2013.
Disponível em: < https://www.ilo.org/lisbon/publica%C3%A7%C3%B5es/WCMS_714586/lang--pt/index.htm>.

Acesso em: 20/11/2023.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Proteção dos trabalhadores num mundo do


trabalho em transformação. Genebra, 2015. Disponível em: < https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---
europe/---ro-geneva/---ilo-lisbon/documents/publication/wcms_709440.pdf>. Acesso em: 20/11/2023.

OLIVEIRA, S. G. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 8. ed. São Paulo: LTr, 2014.

ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD – OMS. Salud de los trabajadores: plan de acción mundial.
Genebra, 2007. Disponível em: < https://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/WHA60/A60_R26-sp.pdf>. Acesso
em: 20/11/2023.

SANTANA, V. S. et al. Acidentes de trabalho: custos previdenciários e dias de trabalho perdidos. Rev. Saúde
Pública, n. 40, v. 6, p. 1004-1012, 2006. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/rsp/a/FhcxwZVjRCmWDySm4gxdPRh/?format=pdf&lang=pt >. Acesso em:
20/11/2023.

SILVA, J. A. R. O. Acidente do trabalho: responsabilidade objetiva do empregador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2014.

SILVA, H. B. M. Curso de direito do trabalho aplicado: Segurança e Medicina do Trabalho. Rio de Janeiro:
Campus, 2015.

SZNELWAR, L. S; LANCMAN, S.; UCHIDA, S; PEREIRA L; BARROS, J. Trabalhar na magistratura, construção


da subjetividade, saúde e desenvolvimento profissional. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2015.

VILELA, R. A. G; ALMEIDA, I. M; MENDES, R. W. B. Da vigilância para prevenção de acidentes de trabalho:


contribuição da ergonomia da atividade. Cien. Saúde Colet., n. 17, v. 10, p. 2817-2830, 2012. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/csc/a/RpWGgmyZHXvmsz3MLMLRXDC/?lang=pt>. Acesso em: 20/11/2023.
WÜNSCH F. V. Perfil epidemiológico dos trabalhadores. Rev. Bras. Med. Trabalho, n. 2, v. 2, p. 103-117, 2004.
Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/0180.pdf>. Acesso em:
20/11/2023.

Você também pode gostar