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Análise de Políticas e Interpretação de

Indicadores Macroeconómicos/
Pobreza e Desenvolvimento

Carlos Nuno Castel-Branco

Segundo curso de actualização de jornalistas


da área económica
ISCTEM
06 de Agosto de 2007
Estrutura da Apresentação

• Introdução
• Conceitos de indicadores macroecnómicos
• Duas abordagens:
– Começa com teoria

– Começa com olhar sobre o que está a acontecer estruturando informação

– A “impureza” dos dois métodos

• Navegando na economia Moçambicana


Introdução
• Tema muito amplo; escolha de um sub-tema que possa ligar as
diferentes partes do tema. Foco: análise e discusão de indicadores
macroeconómicos.
• Tendência: “macroeconomia” é um conceito “pacífico” relacionado
com indicadores globais, geralmente monetários e super-agregados
da economia, desligados das dinâmicas mais profundas
• Quatro tendências subsequentes:
– Conflito entre macroeconomia/microeconomia/distribuição
– Não há realmente discussão da macroeconomia, ou quando há é superficial
– Procura das questões/respostas fora da análise económica
– Curto prazo
Introdução

• Esta sessão consiste em “navegar” através da economia de


Moçambique usando “indicadores macroeconómicos” e explorando
as relações entre eles a partir de uma certa abordagem crítica.
• Objectivo: método/aprender a analisar/pensar
• Não é possível definir um caminho para “navegar” sem ter um ponto
de partida analítico:
– O que é que nos interessa analisar – o que é que parece estar a acontecer e
como é que isso pode ser explicado (informação sistemática)
– Foco temático – não podemos analisar tudo de uma vez; então vamos definir
parâmetros limitados para o exercício, pois é apenas um exercício
– Quais são os pressupostos de que partimos
Conceito de Indicador Macroeconómico

• Conceito de “indicador macroeconómico”:


– A abordagem monetarista; para além da abordagem monetarista

– As ligações e relações; para além do divisão entre “macro” e “micro” economia

• Portanto, indicadores há muitos…


– Monetários, comércio, emprego, produção, crescimento, distribuição, etc…

• …mas a questão central é a relação dinâmica entre eles – como é que se


relacionam e afectam. Neste sentido, as economias não são todas iguais
(não só os parâmetros, mas mesmo as dinâmicas centrais, diferem).

• Contra o conceito de sector líder da economia: o que importa são as


articulações.
Duas abordagens
• Começar com a teoria e hipóteses de investigação:
– Teoria define hipóteses, métodos, informação e interpretação

– Problemas:
• Como escolher a teoria?

• Como evitar que a teoria deturpe a informação?

• Começar com informação:


– O que está a acontecer?

– Problemas:
• Como escolher a informação?

• Como organizar a informação?

• Como entender a informação?

• A “impureza” dos dois métodos – análise social não é independente da teoria social
Navegando na Economia Moçambicana - Introdução

• Governador do Banco de Moçambique:


– Macroeconomia está bem
– Microeconomia está mal

• A que é que ele se referia?


– Macroeconomia: crescimento, investimento, estabilidade
– Microeconomia: funcionamento das empresas e da base produtiva e comercial

• Teria, ele, razão em fazer aquela afirmação?


– Será, esta, uma afirmação com “sentido”?
– Como é que uma economia pode estar “macrobem” e “micromal”?
– E que tal se fizessemos a nossa própria investigação/análise?
Navegando na Economia Moçambicana - Informação

• Que informação nos é dada, frequentemente, para sustentar


análises da economia?
– Taxas de crescimento do PIB – o que é produzido em território nacional
– Inflação
– Relção entre o Metical e as moedas externas mais utilizadas (estabildiade
cambial)
– Exportações
– Receitas fiscais

• Mas esta informação é muito agregada, de difícil compreensão e


esconde dinâmicas e processos que são tão ou mais importantes do
que a informação dada. Vamos lá explorar a informação!
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (1)
Moçambique: Produto Interno Bruto (PIB) a preços constantes de 1996
(em milhões de MT ou milhares de MTn)
70,000,000

60,000,000

50,000,000

40,000,000

30,000,000

20,000,000

10,000,000

0
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004*

Fonte: Instituto Nacional de Estatística (INE)


Navegando na Economia Moçambicana – PIB (2)
Moçambique: Taxas de Crescimento do PIB a preços constantes de 1996 (em %)
15.0

12.5

10.0

7.5

Média do período: 6.5% ao ano


5.0

2.5

0.0
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004*
-2.5

-5.0

-7.5

-10.0

Fonte: Instituto Nacional de Estatística


Navegando na Economia Moçambicana – PIB (3)
• Primeira observação (directa): nos últimos 14 anos, o PIB cresceu a uma
taxa média de 6.5% ao ano…
• …mas a taxa de crescimento é muito instável;
• Segunda observação (informação paralela comparativa): esta taxa média
é superior à média da África Sub-Sahariana para o mesmo período – será a
nossa taxa alta ou a da ASS muito baixa?
• …mas inferior a de economias muito maiores que a nossa (Índia,
China…)…
• …e (informação complementar analítica) demasiado baixa para ter um
impacto significativo na pobreza e na aproximação de outras economias.
• Terceira observação (informação complementar contextual): esta taxa
de crescimento acontece numa economia pós-guerra, muito pequena e
com altos níveis de capacidade ociosa.
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (4)
• Em conclusão:
– A taxa de crescimento não diz muito – pós-guerra, economia pequena, capacidade
ociosa, taxa apenas moderada e não suficiente para ter impacto subtancial no
desenvolvimento

– A taxa de crescimento é instável – porquê? Será que a resposta a esta pergunta


poderá igualmente ajudar a elevar a taxa de crescimento para níveis mais
ambiciosos?

• Mais uma pergunta: por que é que estamos tão focados na taxa de
crescimento?
– Crescimento significa mais riqueza – logo, é sempre bom;

– Mais riqueza significa menos pobreza (pressupostos simplistas sobre distribuição);

– Logo, crescimento é indicador e determinante de sucesso!


Navegando na Economia Moçambicana – PIB (5)

• Vamos, então, apenas tratar de duas questões:


– Por que é que a taxa de crescimento é instável?
– Será o crescimento económico
• Sempre bom?

• Sempre reflectido em redução da pobreza?

• Como é que podemos tratar destas questões:


– Desagregando os determinantes do crescimento do PIB – o que é que faz o
PIB crescer
– Olhando para as dinâmicas de crescimento es eu impacto através da
economia – neste caso, vamos olhar para o comércio externo e a balança de
pagamentos
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (6)
10000

PIB

1000
Investimento
Total

Fluxos Totais de Capitais Externos

100

10

1
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

14
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (7)
10,000

PIB
1,000

Ajuda Externa
100

Investimento Directo
Estrangeiro
10

1
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

15
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (8)
8.6

8.4

8.2
Ln P IB

8.0

7.8

7.6

7.4
5.4 5.6 5.8 6.0 6.2 6.4 6.6

Coeficiente = 0,75 Ln Ajuda Externa

R-Squared Ajustado = 0,60 t-Stat = 4,60


16
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (9)

8.6

8.4

8.2

8.0
Ln PIB

7.8

7.6

7.4

7.2
2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 5.5 6.0

Coeficiente = 0,25
Ln IDE
R-squared ajustado = 0,81 t-Stat = 7,90

17
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (10)
Moçambique: Tendências do Valor Acrescentado Sectorial (em milhões de MT ou milhares de MTn)
a preços constantes de 1996
30,000,000

25,000,000

20,000,000

15,000,000

10,000,000

5,000,000

0
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004*

Agricultura Indústria Manufactureira


Serviços Outras Indústrias Fonte: Instituto Nacional de Estatística
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (11)
Moçambique: Estrutura Sectorial do PIB a preços constantes de 1996 (em % do PIB)
60

55

50

45

40

35

30

25

20

15

10

0
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004*

Serviços Agricultura Ind. Transformadora


Fonte: Instituto Nacional de Estatística
Outras Indústrias Pescas
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (12)
Moçambique: Taxas de crescimento do valor acrescentado sectorial a preços constantes de 1996
(em %)
40.0

30.0

20.0

10.0

0.0
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004*

-10.0

-20.0

-30.0

Agricultura Indústria Manufactureira


Fonte: Instituto Nacional de Estatística
Serviços Outras indústrias
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (12)

1,400

1,200

1,000

800

600

400

200

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Investimento Privado Investimento Público


Investimento Total

21
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (13)

800

700

600

500

400

300

200

100

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Investimento Directo Nacional Investimento Directo Estrangeiro


Empréstimos Investimento Privado

22
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (14)

800

700

600

500

400

300

200

100

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fluxo de capitais privados externos Investimento Privado

23
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (15)

800

700

600

500

400

300

200

100

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Ajuda Externa Investimento Público

24
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (16)

1,400

1,200

1,000

800

600

400

200

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fluxo Total de Capitais Externos Investimento Total

25
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (17)

Investimento Privado Autorizado por fonte de financiamento e tipo de projecto (1993-2004)


(US$ Milhões)

14,000

12,000

10,000
8,899
8,000

6,000 4,956
821 3,943
4,000
207
3,337 614
2,000 2,312
1,025
0
Total incluindo mega Mega projectos Total excluindo mega
projectos projectos

IDE IDN Emprestimos


Navegando na Economia Moçambicana – PIB (18)

Investimento Privado Autorizado (1993-2004): distribuição do financiamento por mega


projectos e para outros projectos (% do total por fonte)

100
90 31
44 43
80
70
75
60
50
40 69
56 57
30
20
25
10
0
IDE IDN Emprestimos Total

% que vai para mega projectos % que vai para outros projectos
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (19)

Investimento Privado Autorizado (1993-2004): Distribuição por grupos de províncias (em %


do total)

100

90
92
80

70

60 68
50

40

30

20 23
10
8
0
Maputo (cidade e Três outras províncias Seis províncias sem Cinco províncias com
província) (A) com mega projectos mega projectos mega projectos (A+B)
(B)
Navegando na Economia Moçambicana – PIB (20)
• Observações:
– Instabilidade da taxa de crescimento está relacionada com
• Instabilidiade sectorial

• Instabilidade do fluxo de recursos

– Crescimento está relacionado com:


• Despesa pública em projectos sociais financiados por ajuda externa (parte masi estável do investimento e
despesa corrente)

• Investimento privado em projectos de grande porte (parte mais instável do investiemnto e despesa
corrente)

– Dependência de recursos externos é muito grande

– Impacto no emprego, embora sem informação estatística sóldia, parece ser limitado;

– Crescimento de base pequena/estreita com impacto em vulnerabilidade e desigualdade


(estatísticas oficiais mostram aumento da desigualdade).
Navegando na Economia Moçambicana – Investimento e saldo da conta
corrente (US$ Milhões)

1,500

1,250

1,000

750

500

250

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
-250

-500

-750

-1,000

Investimento Total Saldo da conta corrente


Investimento público Investimento privado

30
Navegando na Economia Moçambicana –Conta corrente (depois de donativos) e
exportações, com e sem mega projectos (US$ Milhões)

1,750
1,500
1,250
1,000
750
500
250
0
-250 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

-500
-750
-1,000
-1,250
-1,500
Exportações incluindo mega projectos
Exportações excluindo mega projectos
Conta corrente incluindo mega projectos
Conta corrente excluindo mega projectos

31
Navegando na Economia Moçambicana
• Observações mostram que:
– Estrutura, dinâmica e estabilidade/sustentabilidade da economia estão
relacionadas – logo, “macrobem” e “micromal” não faz sentido;
– Estrutura e dinâmcia da economia é geradora de instabildidade e concentração de
recursos – logo, crescimento nem sempre é “bom” nem necessariamente ajdua a
reduzir a pobreza

• Porque é que exploramos os dados desta maneira?


– Percepção da importância central do padrão de crescimento (e seus componentes)
– Percepção da importância das articulações – dados são válidos depois de
analisados articuladamente
– Percepção de que nem todos os padrões e caminhos de de desenvolvimento são
iguais e geram oportunidades e desafios idênticos.
– Isto é, ´combinação de dados com modelo teórico.
Introdução

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