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Senhora Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN

no Estado do Espírito Santo

Ref.: Resposta ao Ofício nº 663/2023/IPHAN-ES-IPHAN


Processo nº 01409.000622/2015-01
Fazendas São Joaquim e Dourada Una (Bloco VI)

SUZANO S.A., pessoa jurídica de direito privado, devidamente qualificada nos autos do
processo administrativo em epígrafe, doravante simplesmente designada por Manifestante,
por meio de seu representante já habilitado, vem à presença de V. Sa. expor:

1. Considerando o interesse desde ilustre órgão ambiental em manter-se atualizado


acerca das atividades a serem executadas e os produtos gerados do Projeto de
Educação Patrimonial, serve do presente para apresentar 2º relatório referente as
ações do PIEP, folder da comunidade de Água Preta, bem como cronograma
atualizado;

2. Insta esclarecer que o folder da comunidade de Valdício Barbosa, assim como algumas
ações que haviam sido previstas para os meses anteriores nessa comunidade, não
foram realizadas ainda devido à dificuldade de alinhamentos e de uma agenda
conjunta com as lideranças e demais membros da comunidade, conforme
detalhamento no 2º relatório, em anexo.

Colocamo-nos à disposição para os esclarecimentos que eventualmente se fizerem


necessários.

Vitória/ES, 09 de maio de 2023.

Ismael Paranágua
Consultor Corporativo de Licenciamento Ambiental
Suzano S.A.

SUZANO S.A.
Av. Professor Magalhães Neto, 1752  10º andar  Salas 1009/1011  CEP 41810-012  Salvador  BA
www.suzano.com.br
PROJETO INTEGRADO
DE EDUCAÇÃO
PATRIMONIAL
Fazendas São Joaquim e Dourada Uma Comunidades da
AID – Água Preta e Valdício Barbosa Municípios de
Conceição da Barra e Pedro Canário/ES
Processo IPHAN nº 01409.000622/2015-01

SEGUNDO RELATÓRIO –
Segunda e terceira etapas de campo

Elaborado por:
Júlio Jader Costa
Letícia Moura Simões de Souza
Fernando Walter da Silva Costas

Maio de 2023

1
Sumário
1- Apresentação ........................................................................................................... 4
2- Desenvolvimento ..................................................................................................... 9
2.1- Segunda Etapa de Campo ................................................................................... 9
2.1.1 - CRAS Itaúnas e CRAS Braço do Rio ........................................................... 9
2.1.2. Imersão etnográfica nas feiras de Pedro Canário e Conceição da Barra 16
2.2.3. Visita a São Mateus - Sítio Histórico (Porto) .............................................. 22
2.2- Terceira Etapa de Campo................................................................................... 22
2.2.1- Condições de acesso às comunidades ...................................................... 22
2.2. 2. Etnoregistros colaborativos ....................................................................... 24
3- Cenários e desenho de futuro da segunda etapa de campo - Mapa de Navegação
proposto para o 3º Campo ........................................................................................... 26
3.1- Água Preta .......................................................................................................... 26
3.1.1- Etnoregistros Colaborativos - Dias 26 e 27 de janeiro - Local- Quintais
produtivos .............................................................................................................. 26
3.1.2- Oficina de Memória e História - Dia 28 de janeiro. Local: Escola ............. 26
3.2- Assentamento Valdício Barbosa dos Santos ................................................... 27
4- Atividades realizadas na terceira etapa de campo ................................................. 28
4.1- Atividades desenvolvidas em Água Preta ........................................................ 28
4.1.1- Situação Atual (S1) ...................................................................................... 28
4.1.2- Etnoregistro do Artesanato em Cipó: Extrativismo e Manejo Sustentável
do território ............................................................................................................ 29
4.1.2.1- Visita a locais de coleta na mata - 26/01.................................................. 30
4.1. 2.2- Feito de Cipó e balaio - dias 26 e 27/01 - Local: Quintal produtivo de
Dona Imaculada ..................................................................................................... 32
4.1.3- Etnoregistro Saberes do Pilão: Feito de Coco de Dendê e Feitio de Óleo
de Mamona ............................................................................................................. 34
4.1.3.1- Etnoregistro Saberes do Pilão 1 - Café Pilado torrado na lenha com
garapa da engenhoca. Locais: Quintais Produtivos do Sr. Avellar e Sr. Vila .... 35
4.1.4- Etnoregistro - Produção de Chimangos, Beijus e quitandas. Locais:
cozinha da Dona Regina e feira de Pedro Canário .............................................. 38
4.1.5 - Oficina Memória e História – Produto 2 (Água Preta) ............................... 40
4.1.5.1- 1ª Sequência - Abertura e reflexão criativa sobre Sumário Genealógico
................................................................................................................................ 42
4.1.5.2- 2ª Sequência - Apresentação/validação da proposta do PIEP, do DCC
(Produto 1) e folder e do DCC ............................................................................... 49
4.1.5.3- 3ª Sequência - Reflexão Criativa Sobre a linha do tempo - Os Lugares e
Objetos Falantes .................................................................................................... 53

2
4.1.6- Cenários e Desenhos de Futuro Água Preta .............................................. 60
4.2- Valdício Barbosa dos Santos - Ações desenvolvidas, situação atual e
desenho de futuro ..................................................................................................... 60

3
1- Apresentação
O relatório em tela refere-se aos trabalhos de campo realizados entre 16 e 21
de dezembro de 2022 e entre 24 e 30 de janeiro de 2023, compreendendo,
respectivamente, a segunda e a terceira etapas dos trabalhos com as comunidades
de Água Preta e Valdício Barbosa dos Santos.

O estado atual da situação dos trabalhos e a projeção de futuro pode ser aferido
no quadro abaixo.

TABELA 1: Resumo do trabalho executado e em andamento


Entrega/
Data início fim
Início 17 out. 22 11 nov. 22
CAMPO 1 01 nov. 22 05 nov. 22
Relatório 1 (RT1) 07 nov. 22 05 dez. 22
CAMPO 2 16 dez. 22 21 dez. 22
Informação complementar RT1 16 jan. 23 18 jan. 23
Relatório 2 - primeira versão 23 dez. 22 13 jan. 23
CAMPO 3 25 jan. 23 31 jan. 23
Relatório 2 - segunda versão 03 fev. 23 23 fev. 23
CAMPO 4 11 abril 23 16 abril 23
Validação do Relatório 2 pelas
comunidades 11 abril 23 16 abril 23
Relatório 3 17 abril 23 03 maio 23
CAMPO 5 04 maio 23 08 maio 23
Validação do Relatório 3 pelas
comunidades 04 maio 23 08 maio 23

Embora o planejamento inicial do segundo campo previsse a validação do


primeiro relatório (RT1) intitulado Diagnóstico Cultural Colaborativo (DCC) nas duas
comunidades e a realização da Oficina 1 - Memórias de Água Preta, as fortes
chuvas que assolaram toda a região norte do Espírito Santo neste período
inviabilizaram a programação.

As condições meteorológicas foram desfavoráveis durante toda a segunda


etapa de campo, motivo pelo qual o primeiro relatório não pôde ser validado pelas
comunidades na segunda visita à região, nem tampouco ocorreu a primeira oficina.
De todo modo, a equipe conversou por telefone e pessoalmente nas feiras urbanas
com pessoas das comunidades ou conhecidos das mesmas, que nos alertaram
sobre as situações precárias das estradas rurais.

4
Figura 1: reportagem de jornal sobre as condições da BR-101, em São Mateus/ ES, em
19 de dezembro de 2022. Fonte: https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/12/2022/br-
101-es-interdicao-total-transito-sao-mateus

Foto 01: cratera formada na BR-101, município de São Mateus/ES, 19 de dezembro de


2022, ilustra as condições climáticas da etapa de campo. Foto de autor desconhecido,
mensagem enviada por moradores de Conceição da Barra durante nossa estadia no
local.

5
6
Fotos 02-05: Imagens das estradas BR 101 e vicinal, em Linhares/ES, registro realizado
em 20 de dezembro de 2022 durante o retorno para Vitória.

Por outro lado, nessa segunda etapa de campo foi possível visitar e realizar
oitivas nas feiras de Conceição da Barra e Pedro Canário, conversar com
expositores provenientes do assentamento Valdício Barbosa e adjacências, bem
como com técnicas do CRAS Itaúnas e CRAS Braço do Rio, que desenvolvem
ações de apoio às comunidades alvo do PIEP.

7
Durante a terceira visita da equipe à região, finalmente, conforme estipulado
pelo mapa da 3ª Navegação, em seu trajeto houve a validação do primeiro relatório
(RT1) intitulado Diagnóstico Cultural Colaborativo (DCC) nas duas comunidades e
a realização da Oficina 1 - Memória e História de Água Preta.

Aqui faz-se necessário reiterar alguns pontos adicionais da metodologia.

A primeira refere-se ao caráter integrativo dos produtos que compõem o


PIEP. Não obstante possuírem objetos distintos, a sinergia do PIEP opera estas
ligações em um conjunto (sistema) dotado de interações processuais. Resulta que
os registros de campo vão se acumulando e contribuindo progressivamente para
uma melhor aproximação com os detentores e a valoração de seus bens culturais
em contextos cotidianos, que não se organizam segundo a “compartimentação de
alguns domínios do real”1 típica das epistemes científicas (disciplinas).

Isto coloca um impasse inicial, pois não estamos aqui exercitando as


ciências duras ou exatas com esquemas rígidos e projeções matemáticas.
Tampouco operamos entre as ciências da vida (biológicas), onde o estudo dos
organismos permite inferir certos padrões de funcionamento e previsibilidade.

Nossos agenciamentos inscrevem-se no campo das Humanidades, com


seus cenários qualitativos não preditivos2 e recheados de variáveis de incerteza
social. Aqui, jaz absolutamente fundamental a distinção entre a lógica formal e a
lógica da vida, notadamente se nos apoiamos em procedimentos de pesquisa
etnográfica.

Esta constatação impõe como imperativo metodológico a flexibilidade na


implementação das ações, obedecendo a dois níveis distintos de respostas:

1º Nível da Estratégia (Prescrição) - corresponde ao que é formalmente


prescrito nas normativas/instruções técnicas de salvaguarda, nas informações
sistematizadas já existentes sobre as comunidades e nos métodos de pesquisa em
uso.

1
Félix Guattari (1990) As três ecologias. Trad. De F. Bittencourt, M.C. Campinas:Papirus.11ª ed.
p.24.
2
Sobre a diferença entre prescrição de cenários X predição normativa ver : Matus C. Teoria do
jogo social. São Paulo: FUNDAP; 2005

8
2º Nível das Táticas (Real)3 - corresponde à realidade acontecimal dos
comunitários. A aproximação do método etnográfico das atividades cotidianas, bem
como sua capacidade de adaptar-se às mudanças situacionais imediatas é
chamada de tática. Seu objetivo é manter no horizonte de alcance a estratégia, isto
é, os objetivos de salvaguarda.

O pacote de ferramentas técnicas de campo pode ser acessado a partir de


nomeações como “pólo acontecimal”, “horizonte dos detentores”, “contextos
cotidianos”, “sentidos êmicos" (auto atribuições), “configurações rizomáticas” e
“patrimônio imaterial como um todo”.

A este universo semântico juntam-se a palavra colaborativa, significado co


= junto; labor= trabalho e ativa = fazer, significando fazer o trabalho junto com…a
comunidade.

Sendo vivo o patrimônio imaterial e referindo-se aos detentores humanos e


seus grupos sociais, não poderia ser de outra forma. Nesta injunção construtivista,
os comunitários assumem posição ativa de trabalho na valoração de suas práticas
culturais.

Dadas estas preliminares, justificam-se as atualizações em tempo real no


Mapa de Navegação, aferido como bússola orientadora das tarefas, mas com
capacidade de operar em cenários sociais móveis e dinâmicos.

2- Desenvolvimento

2.1- Segunda Etapa de Campo

2.1.1 - CRAS Itaúnas e CRAS Braço do Rio


Foram realizadas oitivas e articulações institucionais com os equipamentos
supracitados.

3
“ O trabalho prescrito pode ser entendido como sendo a tarefa que é imposta ao trabalhador pela
empresa. Caso a tarefa seja seguida à risca, o trabalho é inviabilizado.Dejours, C.; Abdoucheli, E.;
Jayet, C. (1994). Psicodinâmica do Trabalho - Contribuições da Escola Dejouriana à Análise da
Relação Prazer, Sofrimento e Trabalho. São Paulo: Atlas.

9
O CRAS de Itaúnas, coordenado pela assistente social Alessandra Souto
dos Santos, embora não seja a referência direta para a assistência das
comunidades alvo do PIEP, informou sobre os processos de compra de alimentos
do Valdício Barbosa para abastecimento às comunidades quilombolas em
vulnerabilidade social do município de Conceição da Barra. O contrato é executado
pela Associação de Mulheres Agricultoras (AMAG) do assentamento e atualmente
é o único em vigor em Conceição da Barra.

Foto 06: conversa com a coordenadora do CRAS Itaúnas, Alessandra Souto dos Santos
(16/12/2022).
A coordenadora informou que esteve no assentamento Valdício Barbosa na
quinta-feira (14/12/2022), anterior à nossa visita. Ela disse que as estradas estavam
ruins para carros pequenos, mas o caminhão da prefeitura conseguia passar. A
AMAG fornece alimentos todas as quintas-feiras ao CRAS Itaúnas. Esses alimentos
abastecem entorno de 70 famílias.

Entregam melancia, maracujá, abacaxi, hortaliças (couve, salsa,


coentro), aipim, coco, milho verde.
Tem o CDA também, que entrega poucas coisas, o CDA é individual,
que é direto do fundo municipal. Entrega tomate, quiabo, jiló, maxixe,
bastante coisa.
A associação das mulheres, AMAG, (mostrando as fotos) isso foi
ontem, é só coisa boa. Eles entregam tudo de primeira qualidade
mesmo. São quase 30 famílias que estão na associação, são mais de
20 pessoas. (Alessandra Souto dos Santos, 15 de dezembro de 2022)

10
11
12
Fotos 07-10: alimentos fornecidos pela AMAG ao CRAS Itaúnas. Fotos de Alessandra
Souto dos Santos 14 de dezembro 2022.
Por sua vez, o CRAS de Braço do Rio é o equipamento de referência para
as famílias de Valdício Barbosa dos Santos e Água Preta. Inicialmente
conversamos com a coordenadora Maria Aparecida Marciano, que nos direcionou
à secretaria de assistência.

13
Foto 11: conversa com a coordenadora do CRAS Braço de Rio, Maria Aparecida
Marciano (19/12/2022).

A assistente social Naiara Ferraz dos Santos e a psicóloga Camila Rodrigues


informaram sobre os programas de segurança alimentar que incluem a distribuição
de cestas básicas de forma descontínua para ambas as comunidades.

Elas informaram que em Água Preta há 15 famílias referenciadas, enquanto


em Valdício Barbosa há 79 famílias, das quais 19 foram inseridas em 2022. A
informação sobre as famílias assistidas também contribuiu para complementação
de informações sobre a linha do tempo de Água Preta.

Informamos sobre as Oficinas que realizaremos junto às duas comunidades


rurais. As técnicas demostraram interesse em participar, em especial nas de Água
Preta, pois não conhecem pessoalmente o local. Entretanto, solicitaram que
enviássemos as datas das Oficinas com 15 dias de antecedência, para que elas
possam se programar.

14
Foto 12: conversa com as técnicas Naiara Ferraz dos Santos e Camila Rodrigues,
secretaria de assistência do CRAS Braço do Rio (19/12/2022).

Foto 13: detalhe do quadro indicando as comunidades assistidas pelo CRAS Braço do
Rio.

15
2.1.2. Imersão etnográfica nas feiras de Pedro Canário e Conceição da Barra

Foto 14: Feira de Pedro Canário, sábado, 17 de dezembro de 2022.


Em Pedro Canário foi realizada oitiva da Oralidade com Lorrayne Fernandes
Ribeiro, comunitária de Valdício Barbosa. A mesma informou que chega ao local
aos sábados bem cedo, a exemplo dos outros feirantes, entorno das 4:30 às 5:00
horas da madrugada. Mas que, em função das chuvas, poucos se fizeram
presentes na ocasião da oitiva (17-12-2022).

Lorrayne informou que produz biscoito, bolo, pãozinho caseiro e chimango,


tendo contribuído para esclarecer a diferença deste último (mais macio e enrolado
na mão) dos biscoitos de goma que faz espremido e são mais duros. Também
informou que faz beiju, mas que em função da sazonalidade da colheita de
mandioca, mais escassa nas chuvas, faz menos, porque tem que comprar a
mandioca.

Os preparos de biscoitos começam na quinta-feira, já os demais fazem de


sexta para sábado, pois são mais perecíveis. Tudo é feito no forno à lenha, porque
mantém o saber e é atrativo aos consumidores. Além disso, a produtora rural
informou o potencial da comunidade Valdício Barbosa para a fabricação de sucos
naturais.

Além das quitandas, que produz junto com sua mãe (Maria de Lourdes
Fernandes Ribeiro), Lorrayne também vende, na área aberta da feira, feijão,

16
maxixe, aipim, jaca, quiabo, tomate e outras coisas que a família dela planta no
assentamento.

Sobre a AMAG, Associação de Mulheres Agricultoras, ela disse que surgiu


recentemente e que vem ajudando as pessoas, em especial aquelas que não têm
condições de vir à feira para vender sua produção. Ela afirmou que essa questão
da mobilidade é um problema para muitas famílias do assentamento. Então a
associação entrega toda quinta, e as pessoas vendem pela associação.

A associação das mulheres, depois que ela surgiu foi ficando melhor, foi
ajudando as pessoas lá de dentro. (...) Porque tem muita gente lá que não
tem condições de vir para feira para vender, aí a associação já ajudou
também. (Lorrayne Fernandes Ribeiro, 17-12-2022)

Ela disse que inclusive algumas pessoas estão querendo fazer um abaixo-
assinado para pedir a volta do transporte, porque ajuda muito as pessoas a vir
vender na feira. Ela mesma, nessa época de estradas precárias, em virtude da
chuva, só vem porque precisa. Ela revelou que seu pai, sr. José Fernandes Sobril,
faz hemodiálise e precisa vir a Pedro Canário três vezes por semana. Por isso, ela
sempre vem, em veículo próprio, independente das condições das estradas.

Tinha um ônibus que trazia o pessoal para feira de manhã, que trabalhava
aqui. É tanto que a feira aqui esvaziou um pouco, porque a maioria das
pessoas que trabalhava na roça, por conta do COVID, quando entrou o
COVID e a chuva. Primeiro foi o COVID, aí tiraram os ônibus, para não
trabalhar mais, agora veio a chuva e não tem como o pessoal se locomover
para vir.
(Lorrayne Fernandes Ribeiro, 17-12-2022)

Lorrayne informou ainda que já expôs em outras feiras, de Conceição da


Barra e Braço do Rio, mas atualmente só vem a Pedro Canário. Ela revelou porque
não vai mais às outras feiras:

Por causa da distância, para ir para Conceição da Barra a gente tem que vir
por onde a gente vem para vir para Pedro Canário e ir pelo asfalto, porque
por dentro, nessa chuva, não dá. A gente vem mesmo porque a gente
vende. Mas a gente já trabalhou na feira da Barra. Paramos, optamos por
ficar só aqui. A gente ia na da Barra (sexta), chegamos a ir na do Braço do
Rio (domingo) também.
Agora mesmo caiu um barranco no meio do caminho, tá só uma
passagenzinha, caiu essa semana, antes de ontem. Aí quando foi hoje que

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eu passei para vir tinha caído em baixo já. Eu não sei nem se chover se vai
dar para passar voltando para lá.
(Lorrayne Fernandes Ribeiro, 17-12-2022)

Foto 15: Barraca da Lorrayne Fernandes Ribeiro, na feira de Pedro Canário/ES.

Fotos 16-17: conversa com a Lorrayne e detalhe dos biscoitos ainda disponíveis na sua
barraca por volta das 9h da manhã (17/12/2022).

Outra oitiva realizada em Pedro Canário foi com a Dona Nitinha, de 70 anos.
Juntamente com o esposo Afonso de 67, que há mais de quarenta anos moram na

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Fazenda do Perote. Essa fazenda fica bem na divisa de Água Preta, onde Mauro,
na nossa primeira imersão etnográfica, mostrou os fornos dos tempos da carvoaria,
a estrutura (hoje fechada) onde existiu uma casa de farinha e um alambique.

Dona Nitinha produz queijos, requeijão, biscoitos, chimango seco (mais


durinho). Relata que já fez óleo de mamona e vários remédios que eram usados na
época da mãe. Entre os principais estão óleo de mamona mastruz (para vermes),
imburana, cebola branca, óleo de palma junça, noz moscada, entre outros.

Ela ativa também a memória da água branca que corria na parte de cima de
Água Preta, nas proximidades de suas residências, lembrando que era limpinha,
mas depois que colocou água na cidade “o povo abandonou, hoje corre pouco e
tem muito mato”. Esta água era usada para vários fins, porque não havia água nas
residências, logo tudo era feito no curso, como lavar roupa, etc.

Além do abastecimento que chega na Água Preta hoje, este antigo curso
d'água foi represado à montante, formando duas represas, de onde abastece
alguns logradouros. Todavia, os comunitários relatam que nenhum destes líquidos
são propícios para o consumo e tanto em um caso, como em outro o consumo é
feito a partir de galões que são buscados no bairro Camata.

19
Fotos 18-19: barraca da Dona Nitinha, moradora da Fazenda Perote, vizinha de Água
Preta
(por volta de 9:30 h em 17/12/2022).

Em 16 de dezembro, sexta-feira, na feira de Conceição da Barra não


encontramos nenhum morador de Água Preta ou do assentamento Valdício
Barbosa. De todo modo, nessa feira encontramos um pouco do contexto regional a
ser trabalhado nas oficinas.

20
Fotos 20-27: feira de Conceição da Barra/ES, 16 de dezembro de 2022.

21
2.2.3. Visita a São Mateus - Sítio Histórico (Porto)
Além das ações acima descritas, considerando as melhores condições de
acesso (asfalto) e o percurso natural do campo, foi realizada visita técnica ao Porto
localizado no Sítio Histórico de São Mateus, momento em que foi possível
aprofundar temáticas sobre a ocupação regional, destacadamente as associadas à
diáspora africana no norte do Espírito Santo e que serão pautadas na Oficina de
Educação Patrimonial.

No local também foi identificado um Ponto de Cultura que se constitui em


mais um elemento com potencial formativo para contribuir com as reflexões e
desenhos de futuro das comunidades no tocante à salvaguarda dos seus bens,
principalmente para o caso do assentamento Valdício Barbosa dos Santos.

Foto 28: porto de São Mateus, Associação de Capoeira Dendê, Ponto de Memória
Teodorinho Trinca Ferro, Ponto de Cultura Dendê em 17 de dezembro de 2022.

2.2- Terceira Etapa de Campo

2.2.1- Condições de acesso às comunidades


Um ponto ilustrativo da maleabilidade exigida pelas situações concretas de
campo são as estradas rurais e condições de acesso às comunidades de Água
Preta e Valdício Barbosa.

Se, até mesmo rodovias regionais importantes como a BR 101 foram


interditadas e prosseguem em reparo devido às prolongadas e intensas chuvas que
dificultaram o 2º campo; o que dizer das vias rurais de acesso à Água Preta e ao

22
Assentamento? A resposta deve considerar adicionalmente as variáveis de
exclusão geográfica em função da localização das mesmas nas áreas fronteiriças:
Pedro Canário com Conceição da Barra no nível municipal e Bahia com Espírito
Santo no nível regional.

Em outros termos, apesar do arrefecimento das condições meteorológicas,


vários trechos de acesso às comunidades continuam encharcados, alagados e com
atoleiros, buracos, deslizamentos e desvios.

Apesar de todas as dificuldades e contrastando com o 2º campo, desta feita


foi possível chegar até os locais e realizar o escopo geral de atividades prescritas
no Mapa de Navegação, pois a equipe técnica estava munida de um veículo mais
potente e adequado às condições.

Fotos 29-34: ilustram as condições da estrada de acesso às comunidades via Pedro


Canário/ ES e obras em desvio da BR101.

23
Todavia, ainda assim alguns trechos do Mapa de Navegação não puderam
ser percorridos. E para além das dimensões mais básicas de sobrevivência e
trânsito dos comunitários, também os serviços de salvaguarda cultural são
impactados. Em especial devido ao esforço da equipe técnica em conhecer o
perímetro e todos os acessos de entrada e saída das comunidades, pois os
caminhos também são valorados culturalmente em função da ressonância que
exercem na memória e cartografia social das comunidades.

Um exemplo foi a impossibilidade da equipe de atravessar trecho com


atoleiro no encontro da estrada ES-010 com a via rural que desembocaria em Água
Preta. Esta via permitiu inclusive a visualização de uma ligação territorial com
comunidades quilombolas de Conceição da Barra e cujo padrão de distribuição
espacial se concentra na faixa litorânea.

Desde a perspectiva deste caminho histórico, é possível compreender a


inclusão de Água Preta e Valdício Barbosa na circunscrição municipal de
Conceição da Barra, uma vez que o acesso à sede deste é absurdamente menor
por esta via, comparativamente ao acesso via o asfalto da BR 101, passando por
Pedro Canário para enfim alcançar Conceição da Barra.

Fotos 35-36: Atoleiro de acesso às comunidades de Água Preta e Valdício Barbosa


passagem pela rodovia ES-010 e via rural.

2.2. 2. Etnoregistros colaborativos


Os etnoregistros apoiam-se na colaboração ativa dos detentores, instados a
se apresentarem em posição de trabalho junto com a equipe técnica. Contando

24
com suportes da cultura digital4, seu objetivo é ampliar o alcance das lentes
etnográficas para uma melhor aproximação acontecimal dos detentores em
contextos de reprodução de suas práticas culturais.

Em um primeiro momento, junto com as oitivas da oralidade (Diário de


Bordo), contribuem para a geração de conteúdos e obtenção de dados primários,
funcionando como inputs.

Em seguida, os etnoregistros alimentam os esquemas reflexivos nas


pedagogias de roda (oficinas), possibilitando sínteses criativas (outputs) que
retroalimentam a valoração das práticas culturais em processo de inventario
(feedback).

Conjugados com técnicas de visualização e espelhamento reflexivo, os


etnoregistros contribuem para a auto atribuição5 dos bens culturais. Sem essa auto
atribuição, os ativos culturais circulam no presente etnográfico e apenas em sentido
potencial podemos falar em bens. Portanto, além do conhecimento antropológico e
das normativas de salvaguarda, a valoração patrimonial de um ativo cultural
comunitário passa irremediavelmente pelo seu reconhecimento e proclamação
pelos próprios detentores e/ou comunitários.

Sinteticamente, podemos configurar os fluxos e processos através da


seguinte imagem.

4
Referimos aqui especificamente aos equipamentos. Contudo, o termo tem uma acepção mais
ampla a ser explicitada em etapas futuras do PIEP. Por ora, é suficiente assinalar que, além das
inovações na materialidade das tecnologias e dos equipamentos-suporte, a cultura digital abrange
também os processos e fluxos de redes cibernéticas que ampliam as possibilidades de interação e
conectividade na ação social e educativa.
5
Aqui certamente estamos fazendo um paralelo com os critérios de reconhecimento e auto
atribuição de comunidades tradicionais, em que identidade, cultura e territorialidade são
indissociáveis.

25
Figura 2: Sinergia do PIEP e fluxo processual dos produtos de salvaguarda

3- Cenários e desenho de futuro da segunda etapa de campo - Mapa de


Navegação proposto para o 3º Campo
Para os desenhos de futuro, após a segunda visita, a equipe técnica propôs
o Mapa de Navegação a seguir:

3.1- Água Preta

3.1.1- Etnoregistros Colaborativos - Dias 26 e 27 de janeiro - Local- Quintais


produtivos
Atividades:
• Visita a áreas de extrativismo: Coleta de coco e mamona
Saber do Pilão 1: Feitio de óleo de Dendê no pilão
Saber do Pilão 2: Feitio de óleo de mamona no pilão

• Visita ao Boticudo
Feitio de chimango e quitandas
Saber do Pilão 3: Feitio de café com garapa socado no pilão e moído na engenhoca

3.1.2- Oficina de Memória e História - Dia 28 de janeiro. Local: Escola


Atividades:

26
• Sumário genealógico (incluindo salvaguarda dos sepultamentos)
• Linha do tempo
• Os nomes dos lugares (topônimos) e os objetos falantes (coisas da roça)

Figura 03: folder de divulgação da Oficina 01 – Memória e História de Água Preta.

3.2- Assentamento Valdício Barbosa dos Santos


O desenho de futuro prevê para o próximo campo a reunião de validação do DCC
e desenho colaborativo de cenários para o futuro dos trabalhos, proposta de data comum
para a realização da primeira oficina em Valdício Barbosa.

27
4- Atividades realizadas na terceira etapa de campo

4.1- Atividades desenvolvidas em Água Preta

4.1.1- Situação Atual (S1)


A situação atual (S1) será apresentada tendo como parâmetro de medição
o Marco Zero descritivo de Água Preta (Relatório 1, DCC).

Em primeiro plano chama a atenção a alteração do quadro qualificado como


“precário ou inexistente associativismo de Água Preta, refletido na fragilidade
institucional da comunidade”. (Relatório 1, DCC:19). Isto porque foi identificada a
criação da associação local, que será presidida por Camila de Jesus Freitas Dutra,
nora do Senhor Avelar. A vice-presidenta será Angélica Santos Gomes, que atua
como zeladora da escola.

Outro ponto refere-se à contemplação de projetos locais na 2ª chamada de


um edital da Suzano para apoio às comunidades. Embora não explicitado no
Relatório 1 DCC, algumas oitivas da oralidade manifestaram desconforto em
relação à ausência de beneficiados na 1ª chamada. Na nova situação de campo,
identificamos dois projetos aprovados. O primeiro associado ao ponto comercial do
filho do Sr. Avelar, Esdras, e o segundo relacionado com o plantio de pimenta pelo
Mauro Sérgio Conceição Gomes, que também tem um comércio na localidade.

O terceiro ponto que merece atenção é a situação da escola. O campo


ocorreu na véspera da retomada das aulas e até aquele momento os pais e alunos
de Água Preta sequer sabiam onde iam estudar. Não houve nenhum informe oficial
acerca da hipótese de transferência dos alunos para a Escola de Valdício Barbosa,
onde a prefeitura já alugava uma sala para a educação infantil e pretendia ampliar
o espaço de uso.

Ocorre que este processo envolve a municipalização do equipamento, mas


segundo algumas fontes, o diálogo com professores e assentados não foi
satisfatório e segundo os procedimentos coletivos que regem a dinâmica do MST
este cenário pode ser comprometido.

28
4.1.2- Etnoregistro do Artesanato em Cipó: Extrativismo e Manejo
Sustentável do território
Consolidadas no âmbito IN 01/2015 IPHAN, ADA e AID traduzem avanços
normativos no campo dos direitos patrimoniais. São garantias procedimentais para
aplicação da salvaguarda.
Por outro lado, não é preciso um teste de paternidade para revelar que estes
termos possuem um certo grau de orfandade epistemológica em relação ao
universo semântico do licenciamento ambiental, onde os impactos são definidos
com base na metrificação de áreas físicas, parâmetros que nem sempre se
mostram suficientes para abarcar a complexidade das situações de campo que
envolvem o patrimônio imaterial vivo.6
No âmbito do patrimônio imaterial, o desafio é conjugar os avanços e
garantias procedimentais com o zoom das lentes etnográficas, ajustando o foco
para processos de territorialização/ reterritorialização agenciados por
detentores/bens fluídos e móveis, cujas dinâmicas nem sempre coincidem com as
métricas espaciais estáticas.
A relação fluída, dialógica e de fronteiras imprecisas entre centro (ADA) e
periferia (AID) foram apontadas no RAIPI, conforme atesta parecer técnico de
aprovação da peça, destacando que foram consideradas as “dinâmicas
socioculturais e históricas de ambos e não as comunidades fechadas em si
mesmas, apenas como objetos definidos e finitos em si”. (03/12/2018 SEI/IPHAN -
0727302 - Parecer Técnico)
Os saberes e fazeres tradicionais associados ao extrativismo, ao manejo do
território e seus caminhos, incluindo as áreas tradicionais de subsistência para
atividades como caça, pesca e coleta; enfim, todo este conjunto compõe um rico
acervo memorial da cultura de trabalho destas populações rurais.
Sob esta perspectiva, nosso enfoque recai exclusivamente no caráter
dinâmico e processual de práticas valoradas como memória e no seu enraizamento
nas estruturas sociais que configuram a história local.
O valor memorial conferido pelos detentores a estas práticas entra,
inevitavelmente, em choque com a política e as normativas ambientais, uma vez

6
No âmbito dos patrimônio arquitetônico/edificado esta definição de ADA e AID pode ser suficiente
para estimativa dos impactos, correspondendo a um perímetro delimitado (ADA) ou casarios e
edificações tombados isoladamente(AID). Já para o caso da arqueologia metragem pode se referir
a uma área de amostragem bem definida. Tudo isso, é claro, cenário hipotético.

29
que estas são apresentadas como justificativa para a restrição da circulação e do
manejo tradicional pelos que possuem os direitos de gestão econômica dos
territórios, sejam proprietários ou arrendatários.

4.1.2.1- Visita a locais de coleta na mata - 26/01


O local situa-se dentro da Fazenda São Joaquim. Tendo como âncora o
detentor Geraldo Pires, filho da Maria Imaculada, a expedição coincidiu com um dia
de vista do proprietário, que arrendou as terras para o plantio de eucalipto pela
Suzano.
Todavia, o referido tinha acabado de decolar pela pista local. Logo, a
autorização para o procedimento de coleta foi dada pelo gerente Valdemar que,
mesmo diante da explicação da atividade e seu caráter amostral para fins de
salvaguarda cultural, não deixou de alertar para o cuidado com a “turma do meio
ambiente”.
Nosso âncora explicou que os detentores tradicionalmente recebiam
autorização para a coleta do cipó. Mas ressalta que, em caso de proibição,
acessavam facilmente os locais pelos atalhos que conheciam na manga, nome pelo
qual designam os abundantes pastos que recortam todo o território, interligando
fazendas.

Foto 37: Caminho na manga que leva ao local de coleta do cipó

30
O cipó alvo da busca ativa é designado como “rejeira”, de ocorrência mais
abundante, embora outros tipos tenham sido usados no passado. Sua proliferação
se dá nas matas de galeria que protegem cursos d'água e áreas alagadas de várzea
e lagoa.
Após prospecção visual pela área e identificação da peça, o detentor explica
o manejo sustentável que consiste em cortar fibras mais finas próximo a base e
puxá-las para baixo até que se soltem das copas. A técnica funciona como uma
espécie de poda invertida, preserva o que chamam de “Mãe”, que consiste no veio
de fibra mais grossa e de onde provém as demais. Ao mesmo tempo, o corte
favorece o surgimento de novas ramificações, contribuindo para a proliferação da
espécie.

Foto 38: técnica de manejo sustentável na coleta do cipó.

Integrado ao modo de vida tradicional de comunidades rurais como Água


Preta e tendo como referência territórios específicos, o manejo ecológico do cipó
certamente se integrava com outras atividades no passado tais como pesca
artesanal e até mesmo caça.
É bem certo e esperado que os locais de extrativismo e pesca correspondam
a áreas de preservação ambiental. Do ponto de vista dos direitos de fruição à
paisagem natural, configuram-se como pequenas ilhas de beleza, abundância e
vitalidade faunística/florística/hídrica, contrastando com o entorno.

31
Foto 39: Curso d'água represado destacando, ao fundo, a mata de galeria de
onde é extraído o cipó.

Para além do refúgio silvestre e da proteção ambiental, a salvaguarda das


práticas de cultura do trabalho e manejo extrativista de detentores residentes em
Água Preta exigiria avanços mais agudos no âmbito dos direitos culturais e na
autorização quanto ao uso e manejo de territórios por populações rurais afetadas
por grandes empreendimentos, especialmente quando atrelados à processos de
concentração fundiária.
No estado atual da situação, o único habitat que constatamos seguro para o
refúgio e preservação de tais práticas é a Memória e a inclusão desta etapa da
cadeia operatória do artesanato no etnoregistro foi empreendida exclusivamente
com este fim.

4.1. 2.2- Feito de Cipó e balaio - dias 26 e 27/01 - Local: Quintal produtivo de
Dona Imaculada
O feito foi executado por Dona Imaculada e seu filho, Geraldo Pires,
responsável pela coleta. Após a colheita os feixes são desenrolados, juntados em
maços alinhados paralelamente e debulhados. Em seguida tem início a amarração.

32
Fotos 40-45: Maria Imaculada manuseando o cipó para fazer uma vassoura,
conhecimento passado ao filho Geraldo.

Fotos 46-49: Geraldo manuseando o cipó para fazer dois modelos de vassoura.

33
O feito artesanal de vassouras e balaios de cipó, incluindo o
detalhamento das técnicas de manejo e coleta, será refletido com apoio de
técnicas de visualização criativa na Oficina de Patrimônio Cultural e seu
detalhamento compõe o produto final de inventario.

4.1.3- Etnoregistro Saberes do Pilão: Feito de Coco de Dendê e Feitio de


Óleo de Mamona

Prescritos no Mapa de Navegação 7, este etnoregistro pode ser


traduzido como rizoma Pilão-Extrativismo.
Porém, a imprevisibilidade de campo decorrente das condições
climáticas impediu o planejamento prévio para acesso às áreas de coleta.
Outro dado é que tanto o Dendê quanto a Mamona passam por processo de
secagem, ainda que diferenciados.
A tática operada frente a esta mudança situacional imediata foi
potencializar o artesanato de vassouras de cipó, pois a mestria de todos
estes saberes-fazeres é agenciada pelo núcleo familiar da mesma detentora:
Dona Imaculada, sempre acompanhada de perto por alguns de seus filhos
e netos.

Fotos 50-51: cachos de dendê verdes, corte simulado para demonstração

Seu filho Geraldo Pires simulou um corte na palha, uma vez que os
cocos não estavam maduros, mostrando como extrair os cachos sem
prejudicar a planta.

7
Ver Relatório 2. Cenários e Desenhos de Futuro.

34
Cumpre lembrar que já na primeira imersão do PIEP a equipe técnica
se deparou com a atividade extrativista do coco exercitada por este núcleo
familiar, quando o neto de dona Imaculada aproveitou o trajeto de volta do
trabalho ao fim da tarde para coletar e entregar à avó cacho maduro de coco
dendê.

Foto 52: neto de Imaculada trazendo um cacho de coco de dendê.

O feito no pilão de coco de dendê e óleo de mamona, incluindo o


detalhamento das técnicas de manejo e coleta, será refletido com apoio de
técnicas de visualização criativa na Oficina de Patrimônio Cultural e seu
detalhamento compõe o produto final de inventario.

4.1.3.1- Etnoregistro Saberes do Pilão 1 - Café Pilado torrado na lenha com


garapa da engenhoca. Locais: Quintais Produtivos do Sr. Avellar e Sr. Vila
Esta atividade foi realizada envolvendo simultaneamente dois quintais
produtivos de dois dos mais antigos moradores de Água Preta.
A parte 1 corresponde a torra e pilagem de café, tendo acontecido no
quintal produtivo do Senhor Avelar, apontado como o mais antigo morador
de Água Preta.
Sr. Avelar atualmente reside em Valdício Barbosa dos Santos com a
esposa Regina, em área que inclui outras unidades domésticas como a da
filha Moabia e do genro. Todavia, mantém um comércio em Água Preta onde
seu descendente Esdras habita a residência patronímica ao lado da esposa
Camila, que acaba de assumir a presidência da associação recém fundada.
O café é colhido ali mesmo no quintal, em meio a extensa plantação,
passando por uma secagem prévia in natura. Tradicionalmente, a torra era

35
processada em uma “bola de metal”, mas em função do estado de
depreciação do artefato o processo foi realizado na panela em um fogão
improvisado.

Fotos 53-55: Método tradicional (bola) e improvisado (panela) de torrar os grãos.

Após o café atingir o ponto ideal de torra, aferido através de inspeção


visual, tem início a pilagem no tradicional artefato. Por fim, o café foi coado
em uma peneira de plástico de onde os grãos mais finos atravessam para
uma vasilha de aço inoxidável.

36
Fotos 56-58: os grãos torrados foram processados no pilão e coados, resultando
em um pó de café completamente artesanal.

A etapa seguinte foi realizada no exuberante quintal produtivo do


Senhor Vila, que também está entre os mais antigos moradores da
comunidade. Ali podemos vivenciar a síntese dos mosaicos produtivos da
agricultura familiar, com uma variedade de frutas, alimentos, plantas
alimentares e medicinais, além de “cacimba” (poço) que garante abundantes
recursos hídricos8. A cana é colhida e transportada até a engenhoca para
moeção, atividade que envolve, além do Sr. Vila e sua esposa Dona Maria,
os comunitários Mauro e Adilson.

Fotos 59-60: colheita e transporte da cana por Mauro e Adilson, sob orientação
do Sr. Vila.

A exemplo do sari de cisterna, a formidável engenhoca funciona como um


tipo de alavanca. Possui um eixo central com duas extremidades, ambas
trespassadas por 4 hastes perpendiculares. Ao serem giradas espremem, melhor
dizendo, trituram a cana, que passa pelo fino espaço entre o cilindro do eixo
(envelopado por metal denteado) e um segundo cilindro que serve de suporte. A

8
Os Quintais Produtivos e A Memórias das Águas serão alvo de etnoregistros específicos.

37
garapa escorre naturalmente até o balde por um dispositivo de desvio improvisado
em chapa de metal.

Fotos 61-62: moagem da cana por Mauro, Adilson e Dona Maria.

Os etnoregistros colaborativos cafés no pilão com garapa serão refletidos,


com apoio de técnicas de visualização criativa, na oficina de Patrimônio Cultural e
seu detalhamento compõe o escopo do relatório final de inventario.
Contudo, já foi possível fruir os prazeres gastronômicos propiciados pelo
rizoma pilão-engenhoca no lanche oferecido ao final da Oficina de Memória e
História, que será descrita mais adiante.

4.1.4- Etnoregistro - Produção de Chimangos, Beijus e quitandas. Locais:


cozinha da Dona Regina e feira de Pedro Canário
A produção de quitandas derivadas da mandioca é presente em toda a
região norte do estado, atestada pelos diversos relatos de farinheiras existentes em
quilombos e pequenas propriedades, pela diversidade de barracas que vendem tais
produtos nas feiras de Pedro Canário e Conceição da Barra, assim como pela oferta
deles em padarias e outros estabelecimentos comerciais da região. Além da farinha
de mandioca, muito presente na culinária local, outros derivados são vendidos nas
feiras e mercados ou são apenas produzidos para uso familiar como gomas, bolos,
biscoitos e beijus.
Entre os comunitários de Água Preta, a Dona Regina e sua filha Moábia
ensinaram o modo de fazer o biscoito Chimango. Dona Regina disse que foi sua
mãe de criação (mãe Rosa) que ensinou a fazer esse biscoito. O chimango é feito
com a goma de mandioca, uma massa mais grossa, diferente do biscoito voador
(que vai água).

38
A Dona Regina produz a sua própria goma e inclusive a comercializa para
terceiros, entre os quais a Lorrayne, expositora da feira de Pedro Canário e
assentada do Valdício Barbosa.
Ela informa que para assar o chimango o forno tem que ser bem quente,
senão ele não cresce. Dona Regina geralmente utiliza o forno de barro aquecido à
lenha para assar os biscoitos.
Agora, para o outro biscoitinho voador que a gente faz, é pouco fogo,
para não queimar. Um é o contrário do outro. (Dona Regina, janeiro
2023)
Os etnoregistros colaborativos do modo de fazer o chimango serão
trabalhados, com os recursos áudio visuais, na oficina de Patrimônio Cultural e seu
detalhamento compõe o escopo do relatório final de inventariamento.

Fotos 63-68: modo de fazer o chimango por dona Regina, conhecimento compartilhado
com sua filha Moábia.

39
Fotos 69-71: Dona Regina preparando beiju de queijo.

4.1.5 - Oficina Memória e História – Produto 2 (Água Preta)


A oficina de Memória e História constitui-se em um dos produtos incluídos
no escopo do Programa Integrado de Educação Patrimonial (PIEP), de acordo com
requisitos solicitados pelo Ofício Nº 635/2019/IPHAN-ES-IPHAN, concernente ao
processo administrativo nº 01409.000622/2015-01.
Tem como horizonte a promoção do direito à memória comunitária em suas
relações com as pessoas, coisas e lugares e deve ser compreendido como
ambiente participativo de reflexão e sínteses criativas a partir de dados empíricos
coletados no campo.
Em um momento anterior, foram destacadas algumas vantagens de operar
com os etnoregistros colaborativos conjugados com técnicas de visualização. Aqui
cabe mais um à parte, esta abordagem primeira permite traçar linhas de fuga de
certas vulnerabilidades que dificultam a aderência e mobilização dos comunitários
para o PIEP.

É o caso da exigência de atividades com foco estritamente na escrita.


Notadamente no caso de Água Preta, o alcance das ações do PIEP vem incluindo
mestres e artífices de saberes-fazeres tradicionais, além de outras pessoas simples
da comunidade, bem como crianças de diferentes idades. Aqui, o simples fato de
coletar assinatura pode constranger a aderência. Torna-se, pois, imprescindível a

40
mobilização de técnicas de visualização criativa para a projeção vital dessas
pessoas e grupos em situação de alta vulnerabilidade social.

Figura 4: lista de presença da Oficina Memórias de Água Preta.

41
Outras das vulnerabilidades que atravessam a vida cotidiana são a
sobrecarga de trabalho com pouco tempo de lazer/descanso que reduzem a
disponibilidade de participação nas oficinas, situações de alcoolismo e
incapacidade física dos mais idosos de se locomover até os locais de reuniões.

Nesta direção, a oficina não deve ser pensada como uma arena isolada na
vida da comunidade, mas como um continuum (momento de socialização) que se
desdobra a partir dos etnoregistros, das entrevistas e oitivas da oralidade, tudo
funcionando de forma sinérgica e integrada apoiando a mobilização e alimentando
os esquemas reflexivos.

De acordo com nossa perspectiva, embora a atividade grupal tenha contato


com a presença de 28 pessoas, entre os quais se incluíam crianças, adolescentes,
adultos e melhor idade, o conjunto da soma de colaboradores nas atividades
comunitárias integradas em fundo de quintal (etnoregistros e entrevistas) é bem
maior.

Uma vez que os conteúdos e repertórios são resultantes da sistematização


parcial das oitivas e dos etnoregistros, o ambiente reflexivo das oficinas abre campo
para a problematização e o reconhecimento de suas práticas culturais a partir do
horizonte êmico dos detentores (autoatribuição).
A oficina de Memória e História foi organizada conforme a sequência que se
segue.

4.1.5.1- 1ª Sequência - Abertura e reflexão criativa sobre Sumário


Genealógico
Iniciou com a dinâmica de apresentação dos participantes com informações
sobre parentesco e origem dos principais núcleos familiares da comunidade,
sobrepostas reflexivamente com as fontes orais da pesquisa.
Importante destacar que o sumário genealógico de Água Preta não é
apresentado tendo como referência os modelos clássicos da antropologia para o
estudo de comunidades tradicionais, pois inexiste um ancestral comum que permita
sua caracterização como um grupo social específico, a exemplo dos indígenas e
quilombolas.

42
Para o caso em tela temos núcleos familiares oriundos que migraram
isoladamente de outras regiões do Espírito Santo, do sul da Bahia ou do leste e
norte de MG, principalmente. Em outros termos, a configuração territorial de Água
Preta está associada às migrações pendulares de campesinato rudimentar,
majoritariamente negro, que se apresentou como solução de mão obra explorada
por vetores de desenvolvimento econômico que se sucederam nesta área
fronteiriça entre o norte do ES e o sul da BA.
Outra dificuldade de operar com genealogia em Água Preta é a situação de
vulnerabilidade da comunidade frente aos agudos processos de mudança que
solapam em escala crescente seus modos tradicionais de produção e reprodução
social.
Apenas parcialmente as técnicas de projeção vital para o fortalecimento da
identidade cultural e autoimagem dos comunitários (DCC-Produto 1:30)
conseguem reconstruir suas memórias familiares e comunitárias,
Portanto, é no horizonte sempre parcial destas reminiscências orais
capturadas da escuta (oitiva) e registro etnográfico que apresentamos o sumário
genealógico das principais famílias que hoje habitam em Água Preta.
É importante destacar que a incompletude do sumário genealógico, nomes
faltantes e vazios, são propositais nessa etapa do trabalho, uma vez que a equipe
sistematiza as informações prestadas pelos comunitários informalmente. Os nomes
e parentescos são capturados no fluxo das conversas, na escuta dos relatos e não
através de perguntas diretas.
Dessa maneira, a validação do segundo relatório traz ao processo de
construção do mesmo o caráter colaborativo. A equipe técnica iniciou a genealogia,
mas na validação os comunitários completaram e, com isso, refletiram sobre suas
origens. Àqueles que colaboraram mais com os etnoregistros verão suas famílias
mais representadas na genealogia, os demais tiveram a oportunidade de participar
e se verem melhor representados.
Na oficina estiveram presentes muitas pessoas do núcleo familiar de dona
Maria Imaculada. O filho Geraldo Pires contou que nasceu em Linhares e veio para
Água Preta na época da fazenda São Joaquim, quando o pai era carreiro (de boi),
lenhador e a mãe carvoeira.
A sua irmã, Sueli (46 anos), contou que mora atualmente na Fazenda São
Luiz, onde trabalha há 22 anos, mas está voltando para sua terra natal, Água Preta.

43
Ela contou que tem lembrança dos seus 11 anos, quando morava na Fazenda São
Joaquim com os pais, e frequentava a igrejinha católica.
Considerando que os parentes da Dona Maria Imaculada e do Sr. Avelar
estiveram mais presentes nos etnoregistros, utilizamos essas duas famílias com
exemplos para ilustrar o processo de síntese genealógica colaborativa, que foi
revisado com os participantes na validação desse relatório. E em seguida foram
incluídas outras famílias, do Sr. Aurino e do Sr. Otaviano.

Foto 72: Validação do sumário genealógico do núcleo familiar do sr. Avelar.

Foto 73-74: Validação do sumário genealógico do núcleo familiar da Dona Imaculada.

Foto 75: Validação do sumário genealógico do núcleo familiar do Sr. Otaviano.

44
Figura 5: núcleo familiar da Maria Imaculada.

45
Figura 6: núcleo familiar do Sr. Aurino

46
Figura 7: núcleo familiar do Sr. Avelar.

47
Figura 8: núcleo familiar do Sr. Otaviano.

48
O sumário genealógico abriu uma linha de fuga para tratar a temática sensível
do cemitério e seus sepultamentos. Os presentes refletiram sobre os finados que
estão sepultados ali, sendo listados, vários graus de parentesco como avós, pais, tios,
cunhados, sobrinhos etc. Este cemitério está desativado em péssimas condições de
manutenção, exigindo medidas de proteção como cercas, capina, etc.
Todavia, existiu um outro cemitério na comunidade que atualmente teve seu
espaço ocupado por residências, gerando uma casuística e fatos curiosos. Um deles
é narrado pelo Benedito, filho do Sr. Vila, que diz que a engenhoca onde foi moída a
garapa foi construída onde tinha uma tumba.
A existência dos dois cemitérios é indicativa da maior densidade populacional
que a localidade galgou no passado. Está também associada a epidemias e pestes,
como a febre amarela, que segundo o Sr. Avelar decifrou sua mãe “que também está
enterrada naquele cemitério”.

4.1.5.2- 2ª Sequência - Apresentação/validação da proposta do PIEP, do DCC


(Produto 1) e folder e do DCC

Em seguida foi feita a apresentação/validação do PIEP, DCC (Relatório 1) e


roteiro do folder, de forma dialógica com apoio de técnicas de visualização.
Inicialmente foi apresentado o esquema triangular que justifica o trabalho,
recapitulando etapas do licenciamento e com esclarecimentos dos papéis da
SUZANO, do IPHAN e dos técnicos da 2Tree.

Foto 76: Oficina Memórias de Água Preta, descrição do PIEP aos comunitários.

49
Figura 9: Fluxograma institucional do PIEP explicado aos comunitários.

Depois foi empreendida a leitura do Termo de Autorização para o Direito de


Uso de Imagem e Proteção de Dados dos Comunitários, destacando parâmetros da
legislação vigente e a promoção dos direitos difusos e coletivos de comunidades
rurais.

Figura 10: Declaração de Autorização de Imagem do PIEP apresentada aos comunitários e


aprovada pelos presentes.

Após a delimitação do uso de imagens, teve início a apresentação Diagnóstico


Cultural Colaborativo (DCC-Relatório 1).

50
Foto 77-79: participantes da oficina Memórias de Água Preta, validação do DCC,
autorização do uso de imagem.

Os comunitários refletiram ativamente sobre cada ativo cultural apresentado e


os demais pontos da peça técnica.

Fotos 80-81: comunitários participando da Oficina Memórias de Água Preta.

E ao final recomendaram a inclusão de 03 pontos na peça aprovada junto ao


IPHAN:
• Consideração do campo de futebol em conjunto com o ativo paisagístico
e memorial composto por Igreja, Cemitério e Escola;
• Inclusão do feito de óleo de coco entre os saberes do Pilão a serem
registrados (detentora Dona Imaculada);

51
Inclusão do saber -fazer do pilãozeiro, isto é, o fazedor de pilões, cujo detentor
é Geraldo Pires, filho de Dona Imaculada.
Também foi identificada uma errata:
No “Ativo Cultural 4 - Saberes do Pilão: Modo Tradicional De Fazer Óleo de
Azeite No Pilão - Dina Maria Helena Imaculada” o nome correto seria Dona Maria
Imaculada, Maria Helena foi a irmã de Imaculada, mãe de Mauro, falecida há
aproximadamente um ano.
Ao validarem o DCC - Relatório 1, os comunitários firmaram compromisso de
adesão com as metas de salvaguarda previstas no PIEP. Deste modo, o esquema
deixa de ser triangular e passa a incorporar um quarto componente que é a própria
comunidade, agora fortalecida pela associação recém fundada.

Fotos 82-83: autorização do uso de imagem e validação do DCC pelos


comunitários.

52
4.1.5.3- 3ª Sequência - Reflexão Criativa Sobre a linha do tempo - Os Lugares e
Objetos Falantes

A reflexão criativa sobre a linha do tempo fortaleceu a vertente construtivista


das oficinas, buscando aproximação dos sentidos êmicos dos comunitários a partir
da relação especular que estabelecem com lugares e objetos.
O repertório de localidades que reverberam na memória de Água Preta foi
destacado de etnoregistros, de entrevistas e outras oitivas, consistindo em pontos de
referência e padrões de resposta dos comunitários quando indagados sobre origem
ou história local.

Fotos 84-85: entrevista com o Sr.Villa. Data: 26/01/2023.

Todo este material empírico é obtido em campo, com colaboração de


comunitários nas imersões in loco e com apoio de suportes digitais e técnicas de
visualização são refletidos no dispositivo grupal da oficina.

Etnoregistro Linha do Tempo - Lugares Falantes

O registro foi estendido colaborativamente até as seguintes localidades:

Buticudo

53
Fotos 86-88: Buticudo apresentado pelo comunitário Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.

Cadeia

Fotos 89-90: Cadeia apresentada por Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.

Fazenda São Joaquim

54
Fotos 91-92: Fazenda São Joaquim apresentada por Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.

Nova Canaã

Fotos 93-94: Nova Canaã apresentada por Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.

Fazenda do Perote

55
Fotos 95-96: Fazenda Perote apresentada por Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.

Fazenda São Luiz

Fotos 97-98: Fazenda São Luiz apresentada por Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.

A linha do tempo de Água Preta está sendo sistematizada a partir dos dados
de campo e da reflexão criativa. Também será suplementada pelos dados a serem
gerados na Oficina 3- Cartografia Social (Relatório 4). Em sua configuração completa
será apresentada no capítulo introdutório do Inventário Final (Relatório 5).

Etnoregistro dos Quintais Produtivos - Os objetos falantes

Cada objeto é apresentado separadamente para provocar a reflexão,


instigando os participantes sobre os contextos de uso e sentidos atribuídos ao
mesmo. Em seguida, exercita-se a reflexão do conjunto e em relação com a memória
e costumes locais.

56
57
Fotos 99-107: Objetos falantes apresentados para reflexão na oficina Memórias de
Água Preta.

A reflexão criativa revelou que Geraldo Pires detém a arte de fazer pilão, do
uso de plantas como fedegoso na pilhagem para fins medicinais e de outros saberes
do pilão (além do dendê, da mamona e do café na garapa), sendo também
mencionados o óleo de coco e o corante.
Alguns objetos são diretamente associados pelos comunitários às atividades
econômicas que atestam sua cronologia. O Jequi, por exemplo, remeteu às memórias
sobre a atividade tradicional de pesca, que ainda é um costume importante para os
comunitários, em que pese o acesso às áreas de manejo serem cada vez mais
restritas.

58
A bola (na verdade um cilindro girante) produziu o efeito cômico a partir da
tentativa de imitação, por alguns, do chiado do café torrando.
A farinheira foi associada aos plantios de mandioca que já foram vistosos, bem
como os derivados incluindo quitandas e chimango, conforme será possível fruir a
seguir.

4.1.5.4- 4ª Sequência - Fruição Gastronômica de Produtos Locais:

Os repertórios foram os produtos resultantes dos etnoregistros: café de


engenhoca na garapa, chimangos, biscoito voador, beijus. Angélica também fez bolo
e sucos naturais com frutas dos quintais.

Fotos 108-110: repertório gastronômico da comunidade oferecido em colaboração com a


2Tree aos comunitários que participaram da primeira oficina.

Adicionalmente, foram comprados produtos da Lorrayne (Valdício Barbosa) e


da Dona Nitinha (caseira da Fazenda do Perote - vizinha à Água Preta) para
complementar o lanche da oficina. Os moradores de Água Preta (Angélica e Regina)
recomendaram os produtos da Dona Nitinha, com destaque para bolos, chimangos e
biscoitos “voador” (polvilho). As trocas entre amigas (Nitinha e Regina) também fazem
parte da cultura imaterial, que passa por gerações e extrapola limites geográficos.

59
Fotos 111-112: barracas da Lorrayne e de Dona Nitinha na feira de Pedro Canário.

4.1.6- Cenários e Desenhos de Futuro Água Preta

Tendo em vista a aderência dos comunitários para a 1ª oficina, o cenário ideal


é a intensificação da execução com intervalo de tempo mais curto entre a 2ª e a 3ª
oficina.
No escopo do 4º campo estão incluídos a complementação dos etnoregistros
relacionados aos saberes do pilão.

4.2- Valdício Barbosa dos Santos - Ações desenvolvidas, situação atual e


desenho de futuro
O Mapa de Navegação inicial previa a validação do DCC (Produto 1) junto ao
assentamento. Todavia, este processo requer formalidade e observância aos
métodos de organização próprios do MST, que valoriza as decisões coletivas.
Os impactos das chuvas, a agenda externa de lideranças e, principalmente, o
período de férias escolares impediram a realização de uma assembleia para
validação formal dos trabalhos.
Todavia, neste momento já foi possível conversar com a maioria das lideranças
de forma isolada e a organização já está ciente da presença da equipe técnica no
assentamento, inclusive já realizando etnoregistros.
Exemplo foi a cobertura etnográfica da Festa de São Sebastião realizada na
manhã do dia 29 de janeiro de 2023, seguida de confraternização comunitária. No
transcurso da atividade, a equipe conversou sobre o PIEP com o novo Padre João
Batista e com as principais lideranças do assentamento que estavam presentes.

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Fotos 113-117: Festa de São Sebastião realizada, seguida de confraternização
comunitária. 29/01/2023.

Cumpre lembrar que a Festa da Primavera também foi coberta pela navegação
no 1º campo realizado em setembro por ocasião da elaboração do DCC. Portanto,
as duas principais festividades do assentamento já foram cobertas no decurso do
PIEP.

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Na tarde do mesmo dia teve início o etnoregistro Memórias da Agrovila, na
residência do Sr. Valmir, onde foram feitas oitivas e gravações. Também foram
passados alguns pontos do DCC (Relatório 1) e na ocasião ele chamou a atenção
para a necessidade de inclusão das “Rodas de Viola do MST” e das “Místicas” no
escopo dos bens culturais a serem inventariados.
No dia 30 de janeiro conversamos com a Cida, atuante na escola da Agrovila,
esposa do Adelson (que não estava presente), para alinhamento de uma data em que
as lideranças locais pudessem agendar uma assembleia para colaboração sobre o
conteúdo das oficinas e estabelecer um cronograma com datas para realização das
três oficinas previstas no PIEP.
Portanto, o desenho de futuro do Assentamento Valdício Barbosa dos Santos
depende de uma data comum em que os comunitários escolham para a realização da
assembleia, que definirá o conteúdo que será trabalhado nas oficinas e as datas em
que ocorrerão.

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outubro novembro dezembro janeiro fevereiro março abril maio junho
Ações
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
Diagnóstico da situação inicial do patrimônio cultural (leitura das peças técnicas do Planejado 1 1 1 1
licenciamento ambiental) Realizado 2 2 2 2
Planejado 1
1ª Etapa de campo
Realizado 2
Planejado 1 1 1 1
Elaboração do Relatório I - Diagnóstico descritivo da situação inicial - marco zero
Realizado 2 2 2 2
Planejado 1
2ª Etapa de Campo
Realizado 2
Planejado 1
Elaboração de Informações Complementares - Relatório I
Realizado 2
Validação interna (2TREE e SUZANO) da informação complementar e de novo Planejado 1 1 1 1 1
cronograma Realizado 2 2 2 2 2
Planejado 1
Entrega ao IPHAN de informações complementares - Relatório I
Realizado 2
Planejado 1
3ª Etapa de campo
Realizado 2
Planejado 1
Validação do Relatório I pelas comunidades
Realizado 2
Planejado 1
OF1- Oficina de Memória e História (comunidade Água Preta)
Realizado 2
Reunião com lideranças do Assentamento Valdício Barbosa, planejamento Planejado 1
conjunto das oficinas (OF1, OF2 e OF3) Realizado 2

Elaboração do Relatório II- Resultado da Oficina OF1 (Água Preta) e das 2ª e 3ª Planejado 1 1 1 1 1 1 1
Etapas de campo Realizado 2 2 2 2 2 2 2

4ª Etapa de campo - OF2- Oficina de Educação para o Patrimônio Cultural (Água Planejado 1° agendamento não
Preta), etnoregistros em Água Preta; AGENDA imaterial de Valdício Barbosa, 1 1 1 1 1
realizado por conta do
celebração do aniversário do Assentamento e inauguração das instalações do
secador de café do assentamento. Realizado COVID
3 3 3 3 2
Equipe aguardando confirmação de nova agenda do Assentamento Valdício Planejado
Barbosa Realizado 2 2 2 2 2 2 2 2 2
Planejado 1
Validação do Relatório II pela comunidade de Água Preta
Realizado 2
Planejado 1 1 1
Elaboração Relatório III- Resultado da Oficina OF2 (Água Preta)
Realizado 2 2 2
Planejado 1
Entrega do relatório II ao Iphan
Realizado

5° Etapa de campo - OF3- Oficina de capacitação para elaboração de material Planejado


cartográfico e georreferenciado utilizando google earth (Água Preta) e 1
possibilidade ( a depender da disponibilidade da comunidade) de realização da
Realizado
OF1- (Valdício Barbosa)
Planejado 1
Validação do Relatório III pela comunidade
Realizado
Elaboração do Relatório IV- Resultado da OF3 (Água Preta) e da OF1 (Valdício Planejado 1 1 1
Barbosa) Realizado
Planejado 1
Entrega do relatório III ao Iphan
Realizado
6ª Etapa de campo - OF02 e OF3 (Valdício Barbosa) a depender da agenda do Planejado 1
assentamento - Validação do Relatório IV pela comunidade Realizado
Elaboração do Relatório V - Final - Relatório de Inventário Social, Resultado da Planejado 1 1 1
OF3 (Valdício Barbosa) Realizado
Planejado 1
Entrega do relatório IV ao Iphan
Realizado
Planejado 1 1 1
Mapas de afetações culturais
Realizado
Planejado 1
Validação do Relatório V pela comunidade
Realizado
Planejado 1
Revisão do Relatório V por orientação da comunidade
Realizado
Planejado 1
Entrega do relatório V ao Iphan
Realizado

Condições climáticas
Carnaval
Planejado
Realizado
Não realizado

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