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SUZANO S.A., pessoa jurídica de direito privado, devidamente qualificada nos autos do
processo administrativo em epígrafe, doravante simplesmente designada por Manifestante,
por meio de seu representante já habilitado, vem à presença de V. Sa. expor:
2. Insta esclarecer que o folder da comunidade de Valdício Barbosa, assim como algumas
ações que haviam sido previstas para os meses anteriores nessa comunidade, não
foram realizadas ainda devido à dificuldade de alinhamentos e de uma agenda
conjunta com as lideranças e demais membros da comunidade, conforme
detalhamento no 2º relatório, em anexo.
Ismael Paranágua
Consultor Corporativo de Licenciamento Ambiental
Suzano S.A.
SUZANO S.A.
Av. Professor Magalhães Neto, 1752 10º andar Salas 1009/1011 CEP 41810-012 Salvador BA
www.suzano.com.br
PROJETO INTEGRADO
DE EDUCAÇÃO
PATRIMONIAL
Fazendas São Joaquim e Dourada Uma Comunidades da
AID – Água Preta e Valdício Barbosa Municípios de
Conceição da Barra e Pedro Canário/ES
Processo IPHAN nº 01409.000622/2015-01
SEGUNDO RELATÓRIO –
Segunda e terceira etapas de campo
Elaborado por:
Júlio Jader Costa
Letícia Moura Simões de Souza
Fernando Walter da Silva Costas
Maio de 2023
1
Sumário
1- Apresentação ........................................................................................................... 4
2- Desenvolvimento ..................................................................................................... 9
2.1- Segunda Etapa de Campo ................................................................................... 9
2.1.1 - CRAS Itaúnas e CRAS Braço do Rio ........................................................... 9
2.1.2. Imersão etnográfica nas feiras de Pedro Canário e Conceição da Barra 16
2.2.3. Visita a São Mateus - Sítio Histórico (Porto) .............................................. 22
2.2- Terceira Etapa de Campo................................................................................... 22
2.2.1- Condições de acesso às comunidades ...................................................... 22
2.2. 2. Etnoregistros colaborativos ....................................................................... 24
3- Cenários e desenho de futuro da segunda etapa de campo - Mapa de Navegação
proposto para o 3º Campo ........................................................................................... 26
3.1- Água Preta .......................................................................................................... 26
3.1.1- Etnoregistros Colaborativos - Dias 26 e 27 de janeiro - Local- Quintais
produtivos .............................................................................................................. 26
3.1.2- Oficina de Memória e História - Dia 28 de janeiro. Local: Escola ............. 26
3.2- Assentamento Valdício Barbosa dos Santos ................................................... 27
4- Atividades realizadas na terceira etapa de campo ................................................. 28
4.1- Atividades desenvolvidas em Água Preta ........................................................ 28
4.1.1- Situação Atual (S1) ...................................................................................... 28
4.1.2- Etnoregistro do Artesanato em Cipó: Extrativismo e Manejo Sustentável
do território ............................................................................................................ 29
4.1.2.1- Visita a locais de coleta na mata - 26/01.................................................. 30
4.1. 2.2- Feito de Cipó e balaio - dias 26 e 27/01 - Local: Quintal produtivo de
Dona Imaculada ..................................................................................................... 32
4.1.3- Etnoregistro Saberes do Pilão: Feito de Coco de Dendê e Feitio de Óleo
de Mamona ............................................................................................................. 34
4.1.3.1- Etnoregistro Saberes do Pilão 1 - Café Pilado torrado na lenha com
garapa da engenhoca. Locais: Quintais Produtivos do Sr. Avellar e Sr. Vila .... 35
4.1.4- Etnoregistro - Produção de Chimangos, Beijus e quitandas. Locais:
cozinha da Dona Regina e feira de Pedro Canário .............................................. 38
4.1.5 - Oficina Memória e História – Produto 2 (Água Preta) ............................... 40
4.1.5.1- 1ª Sequência - Abertura e reflexão criativa sobre Sumário Genealógico
................................................................................................................................ 42
4.1.5.2- 2ª Sequência - Apresentação/validação da proposta do PIEP, do DCC
(Produto 1) e folder e do DCC ............................................................................... 49
4.1.5.3- 3ª Sequência - Reflexão Criativa Sobre a linha do tempo - Os Lugares e
Objetos Falantes .................................................................................................... 53
2
4.1.6- Cenários e Desenhos de Futuro Água Preta .............................................. 60
4.2- Valdício Barbosa dos Santos - Ações desenvolvidas, situação atual e
desenho de futuro ..................................................................................................... 60
3
1- Apresentação
O relatório em tela refere-se aos trabalhos de campo realizados entre 16 e 21
de dezembro de 2022 e entre 24 e 30 de janeiro de 2023, compreendendo,
respectivamente, a segunda e a terceira etapas dos trabalhos com as comunidades
de Água Preta e Valdício Barbosa dos Santos.
O estado atual da situação dos trabalhos e a projeção de futuro pode ser aferido
no quadro abaixo.
4
Figura 1: reportagem de jornal sobre as condições da BR-101, em São Mateus/ ES, em
19 de dezembro de 2022. Fonte: https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/12/2022/br-
101-es-interdicao-total-transito-sao-mateus
5
6
Fotos 02-05: Imagens das estradas BR 101 e vicinal, em Linhares/ES, registro realizado
em 20 de dezembro de 2022 durante o retorno para Vitória.
Por outro lado, nessa segunda etapa de campo foi possível visitar e realizar
oitivas nas feiras de Conceição da Barra e Pedro Canário, conversar com
expositores provenientes do assentamento Valdício Barbosa e adjacências, bem
como com técnicas do CRAS Itaúnas e CRAS Braço do Rio, que desenvolvem
ações de apoio às comunidades alvo do PIEP.
7
Durante a terceira visita da equipe à região, finalmente, conforme estipulado
pelo mapa da 3ª Navegação, em seu trajeto houve a validação do primeiro relatório
(RT1) intitulado Diagnóstico Cultural Colaborativo (DCC) nas duas comunidades e
a realização da Oficina 1 - Memória e História de Água Preta.
1
Félix Guattari (1990) As três ecologias. Trad. De F. Bittencourt, M.C. Campinas:Papirus.11ª ed.
p.24.
2
Sobre a diferença entre prescrição de cenários X predição normativa ver : Matus C. Teoria do
jogo social. São Paulo: FUNDAP; 2005
8
2º Nível das Táticas (Real)3 - corresponde à realidade acontecimal dos
comunitários. A aproximação do método etnográfico das atividades cotidianas, bem
como sua capacidade de adaptar-se às mudanças situacionais imediatas é
chamada de tática. Seu objetivo é manter no horizonte de alcance a estratégia, isto
é, os objetivos de salvaguarda.
2- Desenvolvimento
3
“ O trabalho prescrito pode ser entendido como sendo a tarefa que é imposta ao trabalhador pela
empresa. Caso a tarefa seja seguida à risca, o trabalho é inviabilizado.Dejours, C.; Abdoucheli, E.;
Jayet, C. (1994). Psicodinâmica do Trabalho - Contribuições da Escola Dejouriana à Análise da
Relação Prazer, Sofrimento e Trabalho. São Paulo: Atlas.
9
O CRAS de Itaúnas, coordenado pela assistente social Alessandra Souto
dos Santos, embora não seja a referência direta para a assistência das
comunidades alvo do PIEP, informou sobre os processos de compra de alimentos
do Valdício Barbosa para abastecimento às comunidades quilombolas em
vulnerabilidade social do município de Conceição da Barra. O contrato é executado
pela Associação de Mulheres Agricultoras (AMAG) do assentamento e atualmente
é o único em vigor em Conceição da Barra.
Foto 06: conversa com a coordenadora do CRAS Itaúnas, Alessandra Souto dos Santos
(16/12/2022).
A coordenadora informou que esteve no assentamento Valdício Barbosa na
quinta-feira (14/12/2022), anterior à nossa visita. Ela disse que as estradas estavam
ruins para carros pequenos, mas o caminhão da prefeitura conseguia passar. A
AMAG fornece alimentos todas as quintas-feiras ao CRAS Itaúnas. Esses alimentos
abastecem entorno de 70 famílias.
10
11
12
Fotos 07-10: alimentos fornecidos pela AMAG ao CRAS Itaúnas. Fotos de Alessandra
Souto dos Santos 14 de dezembro 2022.
Por sua vez, o CRAS de Braço do Rio é o equipamento de referência para
as famílias de Valdício Barbosa dos Santos e Água Preta. Inicialmente
conversamos com a coordenadora Maria Aparecida Marciano, que nos direcionou
à secretaria de assistência.
13
Foto 11: conversa com a coordenadora do CRAS Braço de Rio, Maria Aparecida
Marciano (19/12/2022).
14
Foto 12: conversa com as técnicas Naiara Ferraz dos Santos e Camila Rodrigues,
secretaria de assistência do CRAS Braço do Rio (19/12/2022).
Foto 13: detalhe do quadro indicando as comunidades assistidas pelo CRAS Braço do
Rio.
15
2.1.2. Imersão etnográfica nas feiras de Pedro Canário e Conceição da Barra
Além das quitandas, que produz junto com sua mãe (Maria de Lourdes
Fernandes Ribeiro), Lorrayne também vende, na área aberta da feira, feijão,
16
maxixe, aipim, jaca, quiabo, tomate e outras coisas que a família dela planta no
assentamento.
A associação das mulheres, depois que ela surgiu foi ficando melhor, foi
ajudando as pessoas lá de dentro. (...) Porque tem muita gente lá que não
tem condições de vir para feira para vender, aí a associação já ajudou
também. (Lorrayne Fernandes Ribeiro, 17-12-2022)
Ela disse que inclusive algumas pessoas estão querendo fazer um abaixo-
assinado para pedir a volta do transporte, porque ajuda muito as pessoas a vir
vender na feira. Ela mesma, nessa época de estradas precárias, em virtude da
chuva, só vem porque precisa. Ela revelou que seu pai, sr. José Fernandes Sobril,
faz hemodiálise e precisa vir a Pedro Canário três vezes por semana. Por isso, ela
sempre vem, em veículo próprio, independente das condições das estradas.
Tinha um ônibus que trazia o pessoal para feira de manhã, que trabalhava
aqui. É tanto que a feira aqui esvaziou um pouco, porque a maioria das
pessoas que trabalhava na roça, por conta do COVID, quando entrou o
COVID e a chuva. Primeiro foi o COVID, aí tiraram os ônibus, para não
trabalhar mais, agora veio a chuva e não tem como o pessoal se locomover
para vir.
(Lorrayne Fernandes Ribeiro, 17-12-2022)
Por causa da distância, para ir para Conceição da Barra a gente tem que vir
por onde a gente vem para vir para Pedro Canário e ir pelo asfalto, porque
por dentro, nessa chuva, não dá. A gente vem mesmo porque a gente
vende. Mas a gente já trabalhou na feira da Barra. Paramos, optamos por
ficar só aqui. A gente ia na da Barra (sexta), chegamos a ir na do Braço do
Rio (domingo) também.
Agora mesmo caiu um barranco no meio do caminho, tá só uma
passagenzinha, caiu essa semana, antes de ontem. Aí quando foi hoje que
17
eu passei para vir tinha caído em baixo já. Eu não sei nem se chover se vai
dar para passar voltando para lá.
(Lorrayne Fernandes Ribeiro, 17-12-2022)
Fotos 16-17: conversa com a Lorrayne e detalhe dos biscoitos ainda disponíveis na sua
barraca por volta das 9h da manhã (17/12/2022).
Outra oitiva realizada em Pedro Canário foi com a Dona Nitinha, de 70 anos.
Juntamente com o esposo Afonso de 67, que há mais de quarenta anos moram na
18
Fazenda do Perote. Essa fazenda fica bem na divisa de Água Preta, onde Mauro,
na nossa primeira imersão etnográfica, mostrou os fornos dos tempos da carvoaria,
a estrutura (hoje fechada) onde existiu uma casa de farinha e um alambique.
Ela ativa também a memória da água branca que corria na parte de cima de
Água Preta, nas proximidades de suas residências, lembrando que era limpinha,
mas depois que colocou água na cidade “o povo abandonou, hoje corre pouco e
tem muito mato”. Esta água era usada para vários fins, porque não havia água nas
residências, logo tudo era feito no curso, como lavar roupa, etc.
Além do abastecimento que chega na Água Preta hoje, este antigo curso
d'água foi represado à montante, formando duas represas, de onde abastece
alguns logradouros. Todavia, os comunitários relatam que nenhum destes líquidos
são propícios para o consumo e tanto em um caso, como em outro o consumo é
feito a partir de galões que são buscados no bairro Camata.
19
Fotos 18-19: barraca da Dona Nitinha, moradora da Fazenda Perote, vizinha de Água
Preta
(por volta de 9:30 h em 17/12/2022).
20
Fotos 20-27: feira de Conceição da Barra/ES, 16 de dezembro de 2022.
21
2.2.3. Visita a São Mateus - Sítio Histórico (Porto)
Além das ações acima descritas, considerando as melhores condições de
acesso (asfalto) e o percurso natural do campo, foi realizada visita técnica ao Porto
localizado no Sítio Histórico de São Mateus, momento em que foi possível
aprofundar temáticas sobre a ocupação regional, destacadamente as associadas à
diáspora africana no norte do Espírito Santo e que serão pautadas na Oficina de
Educação Patrimonial.
Foto 28: porto de São Mateus, Associação de Capoeira Dendê, Ponto de Memória
Teodorinho Trinca Ferro, Ponto de Cultura Dendê em 17 de dezembro de 2022.
22
Assentamento? A resposta deve considerar adicionalmente as variáveis de
exclusão geográfica em função da localização das mesmas nas áreas fronteiriças:
Pedro Canário com Conceição da Barra no nível municipal e Bahia com Espírito
Santo no nível regional.
23
Todavia, ainda assim alguns trechos do Mapa de Navegação não puderam
ser percorridos. E para além das dimensões mais básicas de sobrevivência e
trânsito dos comunitários, também os serviços de salvaguarda cultural são
impactados. Em especial devido ao esforço da equipe técnica em conhecer o
perímetro e todos os acessos de entrada e saída das comunidades, pois os
caminhos também são valorados culturalmente em função da ressonância que
exercem na memória e cartografia social das comunidades.
24
com suportes da cultura digital4, seu objetivo é ampliar o alcance das lentes
etnográficas para uma melhor aproximação acontecimal dos detentores em
contextos de reprodução de suas práticas culturais.
4
Referimos aqui especificamente aos equipamentos. Contudo, o termo tem uma acepção mais
ampla a ser explicitada em etapas futuras do PIEP. Por ora, é suficiente assinalar que, além das
inovações na materialidade das tecnologias e dos equipamentos-suporte, a cultura digital abrange
também os processos e fluxos de redes cibernéticas que ampliam as possibilidades de interação e
conectividade na ação social e educativa.
5
Aqui certamente estamos fazendo um paralelo com os critérios de reconhecimento e auto
atribuição de comunidades tradicionais, em que identidade, cultura e territorialidade são
indissociáveis.
25
Figura 2: Sinergia do PIEP e fluxo processual dos produtos de salvaguarda
• Visita ao Boticudo
Feitio de chimango e quitandas
Saber do Pilão 3: Feitio de café com garapa socado no pilão e moído na engenhoca
26
• Sumário genealógico (incluindo salvaguarda dos sepultamentos)
• Linha do tempo
• Os nomes dos lugares (topônimos) e os objetos falantes (coisas da roça)
27
4- Atividades realizadas na terceira etapa de campo
28
4.1.2- Etnoregistro do Artesanato em Cipó: Extrativismo e Manejo
Sustentável do território
Consolidadas no âmbito IN 01/2015 IPHAN, ADA e AID traduzem avanços
normativos no campo dos direitos patrimoniais. São garantias procedimentais para
aplicação da salvaguarda.
Por outro lado, não é preciso um teste de paternidade para revelar que estes
termos possuem um certo grau de orfandade epistemológica em relação ao
universo semântico do licenciamento ambiental, onde os impactos são definidos
com base na metrificação de áreas físicas, parâmetros que nem sempre se
mostram suficientes para abarcar a complexidade das situações de campo que
envolvem o patrimônio imaterial vivo.6
No âmbito do patrimônio imaterial, o desafio é conjugar os avanços e
garantias procedimentais com o zoom das lentes etnográficas, ajustando o foco
para processos de territorialização/ reterritorialização agenciados por
detentores/bens fluídos e móveis, cujas dinâmicas nem sempre coincidem com as
métricas espaciais estáticas.
A relação fluída, dialógica e de fronteiras imprecisas entre centro (ADA) e
periferia (AID) foram apontadas no RAIPI, conforme atesta parecer técnico de
aprovação da peça, destacando que foram consideradas as “dinâmicas
socioculturais e históricas de ambos e não as comunidades fechadas em si
mesmas, apenas como objetos definidos e finitos em si”. (03/12/2018 SEI/IPHAN -
0727302 - Parecer Técnico)
Os saberes e fazeres tradicionais associados ao extrativismo, ao manejo do
território e seus caminhos, incluindo as áreas tradicionais de subsistência para
atividades como caça, pesca e coleta; enfim, todo este conjunto compõe um rico
acervo memorial da cultura de trabalho destas populações rurais.
Sob esta perspectiva, nosso enfoque recai exclusivamente no caráter
dinâmico e processual de práticas valoradas como memória e no seu enraizamento
nas estruturas sociais que configuram a história local.
O valor memorial conferido pelos detentores a estas práticas entra,
inevitavelmente, em choque com a política e as normativas ambientais, uma vez
6
No âmbito dos patrimônio arquitetônico/edificado esta definição de ADA e AID pode ser suficiente
para estimativa dos impactos, correspondendo a um perímetro delimitado (ADA) ou casarios e
edificações tombados isoladamente(AID). Já para o caso da arqueologia metragem pode se referir
a uma área de amostragem bem definida. Tudo isso, é claro, cenário hipotético.
29
que estas são apresentadas como justificativa para a restrição da circulação e do
manejo tradicional pelos que possuem os direitos de gestão econômica dos
territórios, sejam proprietários ou arrendatários.
30
O cipó alvo da busca ativa é designado como “rejeira”, de ocorrência mais
abundante, embora outros tipos tenham sido usados no passado. Sua proliferação
se dá nas matas de galeria que protegem cursos d'água e áreas alagadas de várzea
e lagoa.
Após prospecção visual pela área e identificação da peça, o detentor explica
o manejo sustentável que consiste em cortar fibras mais finas próximo a base e
puxá-las para baixo até que se soltem das copas. A técnica funciona como uma
espécie de poda invertida, preserva o que chamam de “Mãe”, que consiste no veio
de fibra mais grossa e de onde provém as demais. Ao mesmo tempo, o corte
favorece o surgimento de novas ramificações, contribuindo para a proliferação da
espécie.
31
Foto 39: Curso d'água represado destacando, ao fundo, a mata de galeria de
onde é extraído o cipó.
4.1. 2.2- Feito de Cipó e balaio - dias 26 e 27/01 - Local: Quintal produtivo de
Dona Imaculada
O feito foi executado por Dona Imaculada e seu filho, Geraldo Pires,
responsável pela coleta. Após a colheita os feixes são desenrolados, juntados em
maços alinhados paralelamente e debulhados. Em seguida tem início a amarração.
32
Fotos 40-45: Maria Imaculada manuseando o cipó para fazer uma vassoura,
conhecimento passado ao filho Geraldo.
Fotos 46-49: Geraldo manuseando o cipó para fazer dois modelos de vassoura.
33
O feito artesanal de vassouras e balaios de cipó, incluindo o
detalhamento das técnicas de manejo e coleta, será refletido com apoio de
técnicas de visualização criativa na Oficina de Patrimônio Cultural e seu
detalhamento compõe o produto final de inventario.
Seu filho Geraldo Pires simulou um corte na palha, uma vez que os
cocos não estavam maduros, mostrando como extrair os cachos sem
prejudicar a planta.
7
Ver Relatório 2. Cenários e Desenhos de Futuro.
34
Cumpre lembrar que já na primeira imersão do PIEP a equipe técnica
se deparou com a atividade extrativista do coco exercitada por este núcleo
familiar, quando o neto de dona Imaculada aproveitou o trajeto de volta do
trabalho ao fim da tarde para coletar e entregar à avó cacho maduro de coco
dendê.
35
processada em uma “bola de metal”, mas em função do estado de
depreciação do artefato o processo foi realizado na panela em um fogão
improvisado.
36
Fotos 56-58: os grãos torrados foram processados no pilão e coados, resultando
em um pó de café completamente artesanal.
Fotos 59-60: colheita e transporte da cana por Mauro e Adilson, sob orientação
do Sr. Vila.
8
Os Quintais Produtivos e A Memórias das Águas serão alvo de etnoregistros específicos.
37
garapa escorre naturalmente até o balde por um dispositivo de desvio improvisado
em chapa de metal.
38
A Dona Regina produz a sua própria goma e inclusive a comercializa para
terceiros, entre os quais a Lorrayne, expositora da feira de Pedro Canário e
assentada do Valdício Barbosa.
Ela informa que para assar o chimango o forno tem que ser bem quente,
senão ele não cresce. Dona Regina geralmente utiliza o forno de barro aquecido à
lenha para assar os biscoitos.
Agora, para o outro biscoitinho voador que a gente faz, é pouco fogo,
para não queimar. Um é o contrário do outro. (Dona Regina, janeiro
2023)
Os etnoregistros colaborativos do modo de fazer o chimango serão
trabalhados, com os recursos áudio visuais, na oficina de Patrimônio Cultural e seu
detalhamento compõe o escopo do relatório final de inventariamento.
Fotos 63-68: modo de fazer o chimango por dona Regina, conhecimento compartilhado
com sua filha Moábia.
39
Fotos 69-71: Dona Regina preparando beiju de queijo.
40
mobilização de técnicas de visualização criativa para a projeção vital dessas
pessoas e grupos em situação de alta vulnerabilidade social.
41
Outras das vulnerabilidades que atravessam a vida cotidiana são a
sobrecarga de trabalho com pouco tempo de lazer/descanso que reduzem a
disponibilidade de participação nas oficinas, situações de alcoolismo e
incapacidade física dos mais idosos de se locomover até os locais de reuniões.
Nesta direção, a oficina não deve ser pensada como uma arena isolada na
vida da comunidade, mas como um continuum (momento de socialização) que se
desdobra a partir dos etnoregistros, das entrevistas e oitivas da oralidade, tudo
funcionando de forma sinérgica e integrada apoiando a mobilização e alimentando
os esquemas reflexivos.
42
Para o caso em tela temos núcleos familiares oriundos que migraram
isoladamente de outras regiões do Espírito Santo, do sul da Bahia ou do leste e
norte de MG, principalmente. Em outros termos, a configuração territorial de Água
Preta está associada às migrações pendulares de campesinato rudimentar,
majoritariamente negro, que se apresentou como solução de mão obra explorada
por vetores de desenvolvimento econômico que se sucederam nesta área
fronteiriça entre o norte do ES e o sul da BA.
Outra dificuldade de operar com genealogia em Água Preta é a situação de
vulnerabilidade da comunidade frente aos agudos processos de mudança que
solapam em escala crescente seus modos tradicionais de produção e reprodução
social.
Apenas parcialmente as técnicas de projeção vital para o fortalecimento da
identidade cultural e autoimagem dos comunitários (DCC-Produto 1:30)
conseguem reconstruir suas memórias familiares e comunitárias,
Portanto, é no horizonte sempre parcial destas reminiscências orais
capturadas da escuta (oitiva) e registro etnográfico que apresentamos o sumário
genealógico das principais famílias que hoje habitam em Água Preta.
É importante destacar que a incompletude do sumário genealógico, nomes
faltantes e vazios, são propositais nessa etapa do trabalho, uma vez que a equipe
sistematiza as informações prestadas pelos comunitários informalmente. Os nomes
e parentescos são capturados no fluxo das conversas, na escuta dos relatos e não
através de perguntas diretas.
Dessa maneira, a validação do segundo relatório traz ao processo de
construção do mesmo o caráter colaborativo. A equipe técnica iniciou a genealogia,
mas na validação os comunitários completaram e, com isso, refletiram sobre suas
origens. Àqueles que colaboraram mais com os etnoregistros verão suas famílias
mais representadas na genealogia, os demais tiveram a oportunidade de participar
e se verem melhor representados.
Na oficina estiveram presentes muitas pessoas do núcleo familiar de dona
Maria Imaculada. O filho Geraldo Pires contou que nasceu em Linhares e veio para
Água Preta na época da fazenda São Joaquim, quando o pai era carreiro (de boi),
lenhador e a mãe carvoeira.
A sua irmã, Sueli (46 anos), contou que mora atualmente na Fazenda São
Luiz, onde trabalha há 22 anos, mas está voltando para sua terra natal, Água Preta.
43
Ela contou que tem lembrança dos seus 11 anos, quando morava na Fazenda São
Joaquim com os pais, e frequentava a igrejinha católica.
Considerando que os parentes da Dona Maria Imaculada e do Sr. Avelar
estiveram mais presentes nos etnoregistros, utilizamos essas duas famílias com
exemplos para ilustrar o processo de síntese genealógica colaborativa, que foi
revisado com os participantes na validação desse relatório. E em seguida foram
incluídas outras famílias, do Sr. Aurino e do Sr. Otaviano.
44
Figura 5: núcleo familiar da Maria Imaculada.
45
Figura 6: núcleo familiar do Sr. Aurino
46
Figura 7: núcleo familiar do Sr. Avelar.
47
Figura 8: núcleo familiar do Sr. Otaviano.
48
O sumário genealógico abriu uma linha de fuga para tratar a temática sensível
do cemitério e seus sepultamentos. Os presentes refletiram sobre os finados que
estão sepultados ali, sendo listados, vários graus de parentesco como avós, pais, tios,
cunhados, sobrinhos etc. Este cemitério está desativado em péssimas condições de
manutenção, exigindo medidas de proteção como cercas, capina, etc.
Todavia, existiu um outro cemitério na comunidade que atualmente teve seu
espaço ocupado por residências, gerando uma casuística e fatos curiosos. Um deles
é narrado pelo Benedito, filho do Sr. Vila, que diz que a engenhoca onde foi moída a
garapa foi construída onde tinha uma tumba.
A existência dos dois cemitérios é indicativa da maior densidade populacional
que a localidade galgou no passado. Está também associada a epidemias e pestes,
como a febre amarela, que segundo o Sr. Avelar decifrou sua mãe “que também está
enterrada naquele cemitério”.
Foto 76: Oficina Memórias de Água Preta, descrição do PIEP aos comunitários.
49
Figura 9: Fluxograma institucional do PIEP explicado aos comunitários.
50
Foto 77-79: participantes da oficina Memórias de Água Preta, validação do DCC,
autorização do uso de imagem.
51
Inclusão do saber -fazer do pilãozeiro, isto é, o fazedor de pilões, cujo detentor
é Geraldo Pires, filho de Dona Imaculada.
Também foi identificada uma errata:
No “Ativo Cultural 4 - Saberes do Pilão: Modo Tradicional De Fazer Óleo de
Azeite No Pilão - Dina Maria Helena Imaculada” o nome correto seria Dona Maria
Imaculada, Maria Helena foi a irmã de Imaculada, mãe de Mauro, falecida há
aproximadamente um ano.
Ao validarem o DCC - Relatório 1, os comunitários firmaram compromisso de
adesão com as metas de salvaguarda previstas no PIEP. Deste modo, o esquema
deixa de ser triangular e passa a incorporar um quarto componente que é a própria
comunidade, agora fortalecida pela associação recém fundada.
52
4.1.5.3- 3ª Sequência - Reflexão Criativa Sobre a linha do tempo - Os Lugares e
Objetos Falantes
Buticudo
53
Fotos 86-88: Buticudo apresentado pelo comunitário Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.
Cadeia
54
Fotos 91-92: Fazenda São Joaquim apresentada por Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.
Nova Canaã
Fotos 93-94: Nova Canaã apresentada por Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.
Fazenda do Perote
55
Fotos 95-96: Fazenda Perote apresentada por Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.
Fotos 97-98: Fazenda São Luiz apresentada por Geraldo Pires. Data: 26/01/2023.
A linha do tempo de Água Preta está sendo sistematizada a partir dos dados
de campo e da reflexão criativa. Também será suplementada pelos dados a serem
gerados na Oficina 3- Cartografia Social (Relatório 4). Em sua configuração completa
será apresentada no capítulo introdutório do Inventário Final (Relatório 5).
56
57
Fotos 99-107: Objetos falantes apresentados para reflexão na oficina Memórias de
Água Preta.
A reflexão criativa revelou que Geraldo Pires detém a arte de fazer pilão, do
uso de plantas como fedegoso na pilhagem para fins medicinais e de outros saberes
do pilão (além do dendê, da mamona e do café na garapa), sendo também
mencionados o óleo de coco e o corante.
Alguns objetos são diretamente associados pelos comunitários às atividades
econômicas que atestam sua cronologia. O Jequi, por exemplo, remeteu às memórias
sobre a atividade tradicional de pesca, que ainda é um costume importante para os
comunitários, em que pese o acesso às áreas de manejo serem cada vez mais
restritas.
58
A bola (na verdade um cilindro girante) produziu o efeito cômico a partir da
tentativa de imitação, por alguns, do chiado do café torrando.
A farinheira foi associada aos plantios de mandioca que já foram vistosos, bem
como os derivados incluindo quitandas e chimango, conforme será possível fruir a
seguir.
59
Fotos 111-112: barracas da Lorrayne e de Dona Nitinha na feira de Pedro Canário.
60
Fotos 113-117: Festa de São Sebastião realizada, seguida de confraternização
comunitária. 29/01/2023.
Cumpre lembrar que a Festa da Primavera também foi coberta pela navegação
no 1º campo realizado em setembro por ocasião da elaboração do DCC. Portanto,
as duas principais festividades do assentamento já foram cobertas no decurso do
PIEP.
61
Na tarde do mesmo dia teve início o etnoregistro Memórias da Agrovila, na
residência do Sr. Valmir, onde foram feitas oitivas e gravações. Também foram
passados alguns pontos do DCC (Relatório 1) e na ocasião ele chamou a atenção
para a necessidade de inclusão das “Rodas de Viola do MST” e das “Místicas” no
escopo dos bens culturais a serem inventariados.
No dia 30 de janeiro conversamos com a Cida, atuante na escola da Agrovila,
esposa do Adelson (que não estava presente), para alinhamento de uma data em que
as lideranças locais pudessem agendar uma assembleia para colaboração sobre o
conteúdo das oficinas e estabelecer um cronograma com datas para realização das
três oficinas previstas no PIEP.
Portanto, o desenho de futuro do Assentamento Valdício Barbosa dos Santos
depende de uma data comum em que os comunitários escolham para a realização da
assembleia, que definirá o conteúdo que será trabalhado nas oficinas e as datas em
que ocorrerão.
62
outubro novembro dezembro janeiro fevereiro março abril maio junho
Ações
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
Diagnóstico da situação inicial do patrimônio cultural (leitura das peças técnicas do Planejado 1 1 1 1
licenciamento ambiental) Realizado 2 2 2 2
Planejado 1
1ª Etapa de campo
Realizado 2
Planejado 1 1 1 1
Elaboração do Relatório I - Diagnóstico descritivo da situação inicial - marco zero
Realizado 2 2 2 2
Planejado 1
2ª Etapa de Campo
Realizado 2
Planejado 1
Elaboração de Informações Complementares - Relatório I
Realizado 2
Validação interna (2TREE e SUZANO) da informação complementar e de novo Planejado 1 1 1 1 1
cronograma Realizado 2 2 2 2 2
Planejado 1
Entrega ao IPHAN de informações complementares - Relatório I
Realizado 2
Planejado 1
3ª Etapa de campo
Realizado 2
Planejado 1
Validação do Relatório I pelas comunidades
Realizado 2
Planejado 1
OF1- Oficina de Memória e História (comunidade Água Preta)
Realizado 2
Reunião com lideranças do Assentamento Valdício Barbosa, planejamento Planejado 1
conjunto das oficinas (OF1, OF2 e OF3) Realizado 2
Elaboração do Relatório II- Resultado da Oficina OF1 (Água Preta) e das 2ª e 3ª Planejado 1 1 1 1 1 1 1
Etapas de campo Realizado 2 2 2 2 2 2 2
4ª Etapa de campo - OF2- Oficina de Educação para o Patrimônio Cultural (Água Planejado 1° agendamento não
Preta), etnoregistros em Água Preta; AGENDA imaterial de Valdício Barbosa, 1 1 1 1 1
realizado por conta do
celebração do aniversário do Assentamento e inauguração das instalações do
secador de café do assentamento. Realizado COVID
3 3 3 3 2
Equipe aguardando confirmação de nova agenda do Assentamento Valdício Planejado
Barbosa Realizado 2 2 2 2 2 2 2 2 2
Planejado 1
Validação do Relatório II pela comunidade de Água Preta
Realizado 2
Planejado 1 1 1
Elaboração Relatório III- Resultado da Oficina OF2 (Água Preta)
Realizado 2 2 2
Planejado 1
Entrega do relatório II ao Iphan
Realizado
Condições climáticas
Carnaval
Planejado
Realizado
Não realizado