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OAB XXVII Exame de Ordem – Direito Penal

Profs. Ana Cristina Mendonça, Cristiane Dupret e Paulo Machado

SIMULADO VERDE

ANA CRISTINA MENDONÇA


CRISTIANE DUPRET
PAULO MACHADO

PADRÃO DE RESPOSTA
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OAB XXVII Exame de Ordem – Direito Penal
Profs. Ana Cristina Mendonça, Cristiane Dupret e Paulo Machado

SIMULADO VERDE
(3º SIMULADO COM CORREÇÃO EM VÍDEO)

PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Em uma noite chuvosa, em 15 de novembro de 2018, uma criança recém-nascida


recém nascida foi encontrada por moradores de rua
dentro de uma lixeira que ficava aos arredores de um Hospital Público de Salvador. Na tentativa de resgatá-la,
resgatá os
moradores tiraram a criança da lixeira, porém esta já estava sem vida. Lydiane, mãe da criança e que estava internada em
razão de complicações pós-parto,
parto, foi localizada e negou que tivesse jogado seu filho na lixeira. No curso das investigações,
vizinhos confirmaram que naquela mesma noite,
noite, a casa onde Lydiane morava com os pais havia sido alagada em razão da
enchente, fazendo com que a família perdesse absolutamente todos os seus pertences, inclusive o enxoval do bebê que foi
comprado com muito sacrifício desde o início da gestação de Lydiane,
Lydiane, e que tal situação fez com que a gestante à época
passasse mal e entrasse em trabalho antecipado de parto. Além disso, foi realizado exame médico legal, o qual constatou
que Lydiane, quando do fato, estava sob influência de estado puerperal.
Desconfiado
nfiado que a mãe da criança pudesse estar envolvida no fato e no intuito de confirmar a autoria, a autoridade policial,
durante seu comparecimento na enfermaria do hospital em que Lydiane se encontrava internada e enquanto esta dormia,
sem autorização judicial,
cial, se utilizou do celular de Lydiane, que estava ao lado da cama, para ter acesso às mensagens
arquivadas no aplicativo Whatsapp, tendo encontrado uma conversa com Marcília, uma amiga enfermeira que estava de
plantão naquela noite em que Lydiane deu entrada
entrada no Hospital. A conversa, que foi toda fotografada pelo delegado,
ocorreu logo após o parto, quando Lydiane já havia sido encaminhada para o quarto e que, em lamentação e sob influência
do estado puerperal, desabafou com Marcília que não sabia o que fazer,
fazer, que estava desesperada por ter perdido tudo e
que a única solução seria matar desde logo seu próprio filho. Em razão destas mensagens, o delegado indiciou e intimou
Lydiane para ser ouvida assim que deixou o hospital. Pressionada com as fotos das mensagens,
mensagens, em seu depoimento em
sede policial, Lydiane acabou confessando, que, por volta das 3 horas da madrugada do dia 14 de novembro de 2018,
ainda com muitas dores do parto, havia asfixiado o recém-nascido
recém nascido com um travesseiro e que sua amiga Marcília se livrou
li
do corpo, descartando-oo em uma das lixeiras públicas da redondeza. Lydiane afirmou ter agido por estar emocionalmente
transtornada, que não teria como sustentar ou manter a criança e que acabou realmente matando o bebê, mas que estava
em profundo arrependimento.
Em razão do ocorrido e com base nas provas produzidas pela autoridade policial, o Ministério Público denunciou Lydiane
pela prática do crime previsto no art. 121, §2º, III do CP, tendo sido a denúncia recebida pelo juiz da 2ª Vara da Comarca
de Salvador - BA (Tribunal do Júri). Durante a ação penal, ficou comprovado pelo laudo de necropsia realizada no corpo da
criança que esta já se encontrava morta minutos antes da tentativa de asfixia a ser provocada por Lydiane. A perícia
comprovou que a morte
te se deu em virtude de má-formação
má formação fetal causadora de graves problemas pulmonares. Além disso,
foi intimado para depor o médico que acompanhou Lydiane no período pré e pós-parto,
pós parto, o qual confirmou o estado
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puerperal em que se encontrava. Encerrada a instrução


instrução criminal, o Ministério Público pleiteou pela pronúncia, nos termos
da denúncia antes ofertada, tendo o magistrado, em 03 de janeiro de 2019, prolatado a sentença de pronúncia nos termos
indicados pelo promotor, sendo a defesa intimada da decisão no dia 07 de janeiro de 2019, segunda-feira.
segunda

Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto acima, na condição
de advogado(a) de Lydiane, redija a peça processual cabível, apresentando todas as teses pertinentes, apresentando-a
ainda no último dia do prazo. Considere ainda o dia 07 de janeiro de 2019, segunda-feira,
segunda feira, como dia de expediente forense.

PADRÃO DE RESPOSTA:

PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE


SALVADOR -BA

Processo número:

LYDIANE, já devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe, por seu advogado regularmente
constituído, que este subscreve, inconformada com a decisão de fls. _____, vem, tempestivamente, perante
per Vossa
Excelência, interpor o presente

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

com base no art. 581, inciso IV do Código de Processo Penal.

Desta forma, requer seja admitido o presente recurso, sendo a decisão proferida, conforme art. 589 do
Código de Processo Penal,
enal, submetida ao juízo de retratação e, caso seja a mesma mantida, pede seja o presente recurso,
com as inclusas razões, remetido ao Egrégio Tribunal de Justiça, para fins de processamento e julgamento.

Nestes termos
Pede deferimento.

Salvador, 14 de janeiro de 2019.


Advogado, OAB

RAZÕES RECURSAIS
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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA


COLENDA CÂMARA
EXCELENTÍSSIMOS JULGADORES

Processo número:
Recorrente:
Recorrido:

Inconformada com a respeitável decisão do Juízo ad quo, vem RECORRER EM SENTIDO ESTRITO pelas
razões de fato e de direito a seguir expostas.

DOS FATOS
Inicialmente, a recorrente foi acusada pela prática do crime previsto no art. 121, §2º, III do CP contra seu filho
recém-nascido,
nascido, o qual foi encontrado, por moradores
moradores de rua, já sem vida, em uma lixeira pública nos arredores do Hospital
Público de Salvador. Após ter sido localizada, ainda no hospital no qual estava internada em razão de complicações pós- pós
parto, a recorrente negou ter jogado o bebê na lixeira. No cursoo das investigações, vizinhos confirmaram que naquela
mesma noite a casa onde a recorrente morava com os pais havia sido alagada em razão da enchente, fazendo com que a
família perdesse absolutamente todos seus pertences, e que tal situação fez com que a gestante g entrasse em trabalho
antecipado de parto.
Apesar disso, tomando por base supostas conversas de whatsapp acessadas e fotografadas sem
autorização judicial, a autoridade policial indiciou a recorrente que, intimada, acabou confessando que havia se
desesperado,
esesperado, asfixiando a criança com um travesseiro, após o que foi auxiliada por Marcília, que se livrou do corpo.
Contudo, conforme consta dos autos, foi realizado exame médico legal na recorrente, o qual constatou que
estava ela sob influência de estado puerperal.
Com base nas provas produzidas em sede policial, a recorrente foi denunciada por violação do art. 121, §
2º., III, do CP. Durante a instrução probatória foi anexada aos autos laudo da perícia necroscópica, que atestou que a
criança já se encontrava
rava morta quando do ocorrido, sendo a morte decorrente de má-formação
formação fetal causadora de graves
problemas pulmonares.
Contudo,, encerrada a instrução criminal, o Ministério Público manifestou-se
manifestou se em memoriais pela pronúncia
nos termos da denúncia, tendo o magistrado prolatado a sentença de pronúncia nestes termos.

DAS PRELIMINARES
Preliminarmente, deve-se se destacar a ilicitude das provas produzidas em sede policial, uma vez que a
autoridade policial, mesmo sem autorização judicial, se utilizou do celular dada recorrente para ter acesso às mensagens
arquivadas no aplicativo whatsapp, em flagrante violação ao sigilo das comunicações telefônicas e telemáticas, bem como
em manifesta violação da garantia constitucional à intimidade e à vida privada.
privada
Ao comparecer à enfermaria em que se encontrava internada a recorrente e acessar o telefone da recorrente
que se encontrava ao lado do leito em que a mesma dormia, fotografando o conteúdo das conversas no whatsapp, sem
autorização da recorrente e sem a imprescindível autorização
autorização judicial, produziu a autoridade policial prova ilícita, em
absoluta afronta ao art. 5º., incisos X, XII e LVI da Constituição Federal, bem com ao art. 157 do Código de Processo
Penal.
Da mesma forma, verifica-se
verifica que o depoimento da recorrente, em sede policial, no qual supostamente
confessa que, em desespero, teria asfixiado a criança, somente foi obtido em razão da pressão imposta com as fotografias

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ilicitamente obtidas, o que torna a suposta confissão prova ilícita por derivação, também inaceitável
inaceitá em nosso ordenamento
jurídico, conforme estabelece o § 1º. do mesmo art. 157 do Código de Processo Penal.
Assim, imprestáveis tanto ao oferecimento da denúncia como à pronúncia da recorrente tanto as fotografias
das conversas ilicitamente obtidas como sua confissão em sede policial, devendo ambas as provas serem desentranhadas
do processo ou inutilizadas, conforme art. 157, § 3º. do Código de Processo Penal, caracterizando sua manutenção
flagrante nulidade, na forma do art. 564, IV, do mesmo diploma processual.
pro
Desta forma, em razão a violação das garantias constitucionais, previstas no art. 5º, inciso X, XII e LVI, da
Carta Magna, em face da clara ilicitude das provas apresentadas nos autos, requer-se
requer se o desentranhamento das provas
ilícitas, conforme o art. 157 do CPP.

NO MÉRITO
Diante dos fatos narrados, verifica-se
verifica se que a recorrente havia se preparado para o nascimento de seu filho.
Isso porque, conforme os vizinhos afirmaram, todo o enxoval havia sido comprado durante toda sua gestação. No entanto,
em razão da enchente daquela noite, a recorrente acabou perdendo todos seus pertences, tendo passado mal e levada a
um Hospital Público de Salvador, onde o parto restou antecipado.
Contudo, conforme demonstram as provas irrefutáveis nos autos, em especial o exame necroscópico
realizado na criança, a morte não foi motivada ou causada em decorrência da conduta supostamente praticada pela
recorrente ou por quem quer que seja, uma vez que a criança já se encontrava morta em razão de causas naturais, uma
vez que confirmada a asfixia em razão de má-formação
formação fetal causadora de graves problemas pulmonares.
Desta forma, é evidente que, ainda que eventualmente houvesse a recorrente praticado a conduta descrita
na exordial, a hipótese configuraria crime impossível, uma vez que a criança já se encontrava morta quando dos fatos,
caracterizando a absoluta impropriedade material do suposto crime.
Assim, não resta outra alternativa senão a de reconhecimento do crime impossível, conforme art. 17 do
Código Penal, devendo a decisão são ser reformada, com a consequente absolvição sumária da recorrente, com fundamento
no art. 415, inciso III, do Código de Processo Penal.
Além disso, ainda que se pudesse imputar à recorrente qualquer conduta, o que não se espera, é evidente
que a ora defendente encontrava-se se em estado puerperal, conforme comprovado tanto pelo exame médico legal como
pelos depoimentos dos autos, motivo pelo qual a única conduta que lhe poderia ser imputada seria aquela descrita no art.
123 do Código Penal. É evidente que, que, no caso concreto, se de algo pudesse ser acusada a recorrente, deveria ser
aplicado o princípio da especialidade, uma que presentes os elementos que caracterizam o infanticídio.
Desta forma, caso não entendam Vossas Excelências pela absolvição sumária da recorrente, que seja a
conduta desclassificada, na forma do art. 419 do Código de Processo Penal, com a pronúncia da recorrente apenas pela
suposta prática do crime previsto no art. 123 do Código Penal.

DO PEDIDO
Diante do exposto requer a Vossa Excelência o conhecimento e provimento do presente recurso para:
a) que seja declarada, preliminarmente, nulidade em face da ilicitude das provas consistentes nas fotos das
conversas de whatsapp, bem como a confissão delas decorrentes, com o consequente desentranhamento
desentranhamento ou inutilização
das mesmas, conforme art.157 do Código de Processo Penal;
b) no mérito, que seja reformada a decisão proferida, com a consequente absolvição sumária da recorrente,
com fundamento no art. 415, inciso III, do Código de Processo Penal.
Finalmente, apenas em face do critério da eventualidade, caso não entendam Vossas Excelências pela
absolvição da recorrente, o que não se espera, que seja reformada a decisão de pronúncia, na forma do art. 419 do
Diploma processual penal, com a desclassificação
classificação da conduta para aquela prevista no art. 123 do Código Penal.

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Nestes termos
Pede deferimento.

Salvador, 14 de janeiro de 2019.


Advogado, OAB

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QUESTÃO 01

Ludmila, argentina temporariamente moradora de Londrina -PR,


PR, com a intenção de adotar um bebê recém-nascido
recém de
maneira ilegal, ajustou o pagamento de R$50 mil com terceira pessoa, os quais deveriam ser pagos mediante a entrega do
bebê.
dos os procedimentos necessários para sair do país com a criança, tendo como destino Buenos Aires.
Ludmila realizou todos
Após as apurações feitas pela polícia, verificou-se
verificou se que Ludmila chegou a Buenos Aires em janeiro de 2019, já com a
criança.
Ludmila, primária e sem qualquer envolvimento com atos praticados por organizações criminosas, foi denunciada pelo
Ministério Público pelo crime de tráfico internacional de pessoas, nos termos do art. 149-A,
149 A, §1º, inciso IV, do CP. Encerrada
a instrução criminal, o magistrado condenou Ludmila,
Ludmila, nos moldes da denúncia, sem o reconhecimento de qualquer causa
de diminuição.

Diante dos fatos narrados, na qualidade de advogado de Ludmila,, responda aos itens a seguir:

A) Quem será competente para o processo e julgamento? Fundamente.

B) Há algumaa tese de direito material a ser suscitada para atacar a decisão do magistrado? Fundamente.

GABARITO COMENTADO:

A) Será competente para o processo e julgamento a Justiça Federal, na forma do art. 109, V da Constituição Federal.
O crime de tráfico internacional
acional de pessoas está previsto em tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, e foi
praticado por Ludmila com transposição da fronteira nacional, adequando-se
adequando se assim à hipótese de competência da Justiça
Federal, conforme dispositivo constitucional
ional acima indicado.

B) Sim. Tendo em vista que Ludmila é primária e nunca integrou organização criminosa, há de ser reconhecida causa de
diminuição prevista no art. 149, §2º do CP.

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QUESTÃO 02

Venâncio, médico há 30 anos, no intuito de salvar a vida de Ana Carla, menina muito conhecida na cidade, grávida de 7
meses, fez um procedimento abortivo, após sua paciente ter dado entrada no hospital às 4 horas da madrugada com
complicações e em trabalho de parto. O procedimento veio a ocasionar algumas lesões
lesões leves em Ana Carla. Não querendo
tornar sua vida uma notícia, Ana Carla, que era muito querida na cidade pequena em que mora, tinha conseguido esconder
sua gravidez de todos os conhecidos. No entanto a internação de Ana Carla gerou suspeitas, tendo sido fotografada por
um colega de escola no dia em que teve alta.
Todos na cidade ficaram chocados ao saber da gravidez de Ana Carla, e revoltados com o aborto provocado por Venâncio,
médico que estava há pouco tempo no local. Reginaldo, promotor de justiça amigo
amigo da família de Ana Carla, denunciou
Venâncio pelo crime de aborto qualificado, nos moldes do art. 125 c/c art. 127, ambos do Código Penal. Ao término da
primeira fase do júri, Venâncio foi pronunciado nos termos da denúncia. Quando da pronúncia, várias manifestações
m locais
ocorreram, em frente ao hospital, inclusive colocando em risco a segurança de Venâncio.

Com base nas informações narradas, na qualidade de advogado de Venâncio, responda aos itens a seguir:

A)) A decisão de pronúncia pelo crime de aborto qualificado foi tecnicamente correta?

B)) Que institutos de direito processual poderão ser alegados e/ou requeridos em favor de Venâncio?

GABARITO COMENTADO:

A)) Não. Conforme dispõe o art. 128, inciso I, do CP, não se pune o aborto praticado por médico nos casos em que não há
outro meio de salvar a vida da gestante. Trata-se
Trata se de causa especial excludente de ilicitude, o que afasta o crime de aborto.

B)) A defesa deverá arguir a suspeição do promotor de justiça, bem como o desaforamento do julgamento
julgament perante o
Tribunal Popular.
Conforme estabelece o art. 254, inciso I, combinado com o art. 258, ambos do Código de Processo Penal, o promotor de
justiça não deverá atuar quando for amigo ou inimigo de qualquer das partes. Assim, sendo Reginaldo amigo da família de
Ana Carla, demonstrada está sua suspeição, devendo o mesmo ser afastado do feito. Poderá ainda ser suscitada a
nulidade de todo o processo em razão da referida suspeição, na forma do art. 564, inciso I, do Código de Processo Penal.
Deverá ainda a defesa requerer o desaforamento do processo para outra comarca da mesma região, onde não existam os
motivos que geram a parcialidade da população, preferindo-se
preferindo se as mais próximas, conforme previsto no art. 427, caput, do
CPP. Dentre os motivos que justificam
icam o desaforamento está o risco à segurança pessoal do acusado.
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QUESTÃO 03

Lucas foi preso em flagrante delito pelo crime previsto no art. 3º da Lei 8.137/90. Depois da apuração policial, foi verificado,
verifica
na realidade, que o crime ocorrido fora o de concussão,
concussão, previsto no art. 316 do Código Penal, uma vez que Lucas, embora
servidor público e tendo exigido a quantia indevida, não exercia qualquer atividade de fiscalização tributária, bem como não
restava o caso compatível com as hipóteses previstas na lei
lei específica. Ainda assim, o representante do Ministério Público
ajuizou, na vara especializada, denúncia em desfavor de Lucas, denúncia esta que, embora narrando a conduta compatível
com o delito de concussão previsto como crime funcional próprio do diploma
diploma penal comum, tipificou a conduta como o
crime previsto no art. 3º da Lei 8.137/90, pedindo a condenação de Emerson nas penas deste artigo de lei. Após o
recebimento da denúncia e oferecimento da resposta à acusação, houve a instrução probatória, que corroborou
co a prática
da concussão regularmente imputada.

A) Diante da casuística apresentada, seria possível o magistrado modificar a tipificação constante na inicial acusatória?
Fundamente a sua resposta, indicando o instituto a ser aplicado ao caso narrado.

B) Caso o juiz não operasse a modificação indicada no item anterior no momento da sentença, seria possível referida
modificação em grau recursal?

GABARITO COMENTADO:

A) O magistrado poderá modificar a tipificação constante na inicial acusatória ao proferir a sentença, no intuito de corrigir o
equívoco na tipificação apresentada na denúncia, aplicando o instituto da emendatio libelli,, previsto no art. 383 do Código
de Processo Penal.
Na emendatio libelli,, na qual se enquadra a hipótese narrada, a narrativa fática apresentada na denúncia encontra-se
encontra
perfeitamente
amente adequada aos fatos, apresentando a peça acusatória apenas um erro na tipificação ou qualificação jurídica,
sendo permitido ao juiz operar uma correção ou emenda, ainda que referida modificação resulte na aplicação de pena mais
grave.
Tal fato é possível
ível porque o réu não se defende da tipificação indicada pelo órgão de acusação, e sim dos fatos narrados.
Portanto, de acordo com posicionamento ainda majoritário, se a instrução criminal confirma a narrativa fática contida na
denúncia, chamada de imputação,
ão, viabilizando o contraditório e a ampla defesa, não há qualquer impedimento a que o juiz
faça a adequação da definição jurídica ao tipo penal correto, independentemente de aditamento prévio por parte do
Ministério Público.

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B) Sim. A emendatio libelli pode


ode ocorrer a qualquer tempo, mesmo em grau recursal. Contudo, quando a emendatio
importar pena mais grave, deve-se
se observar, em eventual recurso exclusivo da defesa, a proibição da reformatio in pejus,
garantia especificada no art. 617 do Código de Processo
Proces Penal.

QUESTÃO 04

Coriolano, empresário conhecido de uma pequena cidade do interior de Amapá, era muito estimado pela população local
pelos projetos sociais desenvolvidos por uma ONG por ele criada e presidida. Flaviano, um grande fazendeiro sem
escrúpulos,
rúpulos, no intuito de se aproveitar da honestidade de Coriolano e da estima que a população tinha por ele, resolveu ter
uma conversa com Coriolano, ofertando-lhe
ofertando lhe a doação de valor ilícito, proveniente do tráfico de drogas, para seus projetos
sociais, de forma
orma a dissimular o valor proveniente da infração penal. De acordo com a proposta, Coriolano deveria retornar
parte do valor oferecido em depósito em conta no exterior em favor de Flaviano. Coriolano, que nunca se envolveu em
qualquer crime anteriormente, negou a proposta. No entanto, Flaviano, escoltado por um de seus capangas, ameaçou de
morte a família de Coriolano caso ele não aceitasse a proposta.
No intuito de proteger sua família, Coriolano acabou aceitando o valor ofertado e transferindo a parte da quantia por três
meses consecutivos para a conta indicada por Flaviano.
Descoberto, Coriolano foi acusado pela prática do crime de lavagem de dinheiro, nos moldes do art. 1º, §1º, inciso II, da Lei
9.613/98. Ressalta-se
se que, no curso das investigações, Coriolano
Coriolano esclareceu que não obteve qualquer vantagem de
Flaviano, tendo sido coagido a agir daquela forma, e que estava disposto a colaborar espontaneamente com as
autoridades. Contudo, quando de sua citação, Coriolano encontrava-se
encontrava se fora do país e, não tendo sido encontrado para ser
citado, o juiz determinou sua citação por edital.

Com base no caso apresentado, responda aos itens a seguir:

A) Como advogado procurado por Coriolano, que lhe explicou todo o ocorrido, qual a principal tese de direito material a ser
suscitada em sua defesa?

B) Além da tese anteriormente indicada, no caso em tela, que instituto poderia ser pleiteado para fins de afastar a pena
privativa de liberdade ou minorar suas consequências?

C) Como Coriolano foi citado por edital, quais seriam as consequências caso ele não compareça nem mande advogado?

GABARITO COMENTADO:

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A) Como tese de direito material, poderá ser suscitada em defesa de Coriolano a coação moral irresistível, nos moldes do
art. 22 do CP, tendo em vista que o prefeito foi coagido por Flaviano, que ameaçou sua família de morte, caso não
aceitasse sua proposta.
a. A coação moral irresistível afasta o crime de lavagem de dinheiro, já que possui natureza de causa
excludente de culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa.

B) Poderá ser suscitada a aplicação do instituto da colaboração premiada, previsto no


no art. 1º, §5º, da Lei de Lavagem de
Capitais (Lei 9.613/98).
Como Coriolano está disposto a colaborar espontaneamente com as autoridades, poderá o juiz deixar de aplicar ou
substituir a pena privativa de liberdade, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, ou, em último caso, reduzir a pena
privativa de liberdade de um a dois terços, a ser cumprida em regime aberto ou semiaberto.

C) No caso em tela é inaplicável o art. 366 do Código de Processo Penal, conforme estabelece o art. 2º., § 2º., da Lei
9.613/98. Caso Coriolano, citado por edital, não compareça ou mande advogado, o juiz decretará a revelia, nomeará
defensor público e prosseguirá normalmente com o processo.

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