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PARENTALIDADE:
entendendo a ligação
socioafetiva entre
pais e filhos
índice
Introdução ........................................................................... 3
Conclusão ....................................................................... 17
A Artmed ......................................................................... 19
Referências ..................................................................... 20
INTRODUÇÃO
A parentalidade tem um impacto crucial no desenvolvimento infantil. Ela é definida como uma
jornada multifacetada, envolvendo atividades destinadas à criação e cuidado de um indivíduo,
com consequências substanciais nos primeiros anos de vida e no desenvolvimento subsequente
(Keller, 2007). Sua relevância é ressaltada no artigo 27º da Convenção dos Direitos da Criança
(ONU/UNICEF, 1990), que atribui aos pais a responsabilidade primordial de proporcionar as con-
dições necessárias para o desenvolvimento da criança.
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FUNDAMENTOS TEÓRICOSDA
PARENTALIDADE
A parentalidade pode ser definida como o conjunto de atividades dedicadas à criação e ao cuida-
do de um indivíduo. Nesse contexto, os cuidados parentais são compreendidos como sistemas
de cuidado aos quais um indivíduo é exposto durante seus primeiros anos de vida, exercendo
impactos significativos no desenvolvimento infantil (Keller, 2007). Os estudiosos também en-
fatizam que a parentalidade se constitui pelo seu objetivo: o asseguramento da sobrevivência
e do desenvolvimento de forma segura e direcionado para a autonomia (Barroso & Machado,
2010). Tendo em vista que as crianças não conseguem crescer e prosperar sem a presença de
cuidadores, a parentalidade é definida como um trabalho em que o principal objeto de atenção e
ação é a criança. Nesse sentido, a presença dos pais/cuidadores é fundamental para educação
e socialização (Gurgel et al., 2023).
Os objetivos da parentalidade podem ser observados no artigo 27º da Convenção dos Direitos
da Criança (ONU/UNICEF, 1990):
“Cabe aos pais ou a outras pessoas responsáveis pela criança a responsabilidade primordial
de propiciar, de acordo com as possibilidades e os recursos financeiros, as condições de vida
necessárias ao desenvolvimento da criança.”
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A parentalidade pode tomar diferentes definições dependendo de como se olha para ela, uma
vez que se trata de um construto complexo e multifatorial. Ou seja, ela envolve não apenas a re-
lação pais/cuidadores e filhos, mas também se ampara em determinantes sociais e biológicos.
Considerando essa complexidade, diversos modelos foram propostos na literatura para compre-
ender, avaliar e estudar o construto da parentalidade.
• atividades parentais;
• áreas funcionais; e
• pré-requisitos.
Áreas funcionais: dizem respeito às necessidades dos filhos, que funcionam como uma bússola
para as atividades parentais. Dentre as funcionalidades, estão inclusas: saúde física, saúde men-
tal, comportamento social e funcionamento educativo e intelectual.
O Modelo das 11 Dimensões não tem como objetivo esgotar todas as nuances do construto da
parentalidade. Porém, ele traz uma boa ideia da complexidade da interação dos fatores envolvi-
dos. Esse modelo serviu como fundamento para várias pesquisas sobre o assunto. Da mesma
forma, ao estudarmos a parentalidade, é crucial entendermos o ponto teórico do qual estamos
partindo, ou seja, qual modelo está sendo adotado para compreender o conceito. No entanto,
apesar dos diferentes modelos, uma coisa é certa: todos concordam que a definição se embasa
no fato de a parentalidade ser a manifestação do cuidado dos pais/cuidadores para com seus
filhos.
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DESENVOLVIMENTO SOCIOAFETIVO NA INFÂNCIA
O Modelo Bioecológico de Bronfembrenner (1979) explica como o desenvolvimento humano é
influenciado pelas pessoas, ambiente, contexto e tempo em que se vive. Processos no ambiente
microfamiliar na relação entre pais-crianças são influenciados por espaços do mesossistema,
como escola, vizinhança e trabalho dos pais (Gurgel et al., 2023). Nesse sentido, o meio social e
as relações familiares impactam no desenvolvimento infantil, desempenhando importante papel
tanto no desenvolvimento típico como no desenvolvimento de dificuldades afetivas e cognitivas.
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De acordo com Bronfenbrenner (1979), o desenvolvimento infantil está intrinsecamente ligado à
qualidade das interações estabelecidas no contexto familiar. O desenvolvimento socioafetivo na
infância, embora seja influenciado por vários sistemas, como a pré-escola, destaca-se de manei-
ra especial pelas interações no microssistema familiar. Isso ocorre porque a família é reconhe-
cida como o primeiro e mais significativo sistema de socialização e aprendizado da regulação
emocional (Cano & Moré, 2008).
7
Tabela 1. Como as interações parentais influenciam o desenvolvimento psicossocial de seus filhos.
8
• Período de mudanças e de transição, marcado
por transformações. As relações entre os pares
se intensificam (Neufeld & Rebessi, 2018).
Fonte: os autores.
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ESTILOS PARENTAIS
O desenvolvimento humano é resultado da interação de diferentes fatores, sendo eles biológicos
e contextuais/sociais. Dentro das variáveis contextuais/sociais, os cuidadores primários apre-
sentam um papel central no percurso desenvolvimental. Os impactos da parentalidade no desen-
volvimento humano são alvo de estudo há décadas na literatura científica. Devido à relevância da
parentalidade no desenvolvimento, as práticas parentais também foram sendo caracterizadas,
categorizadas e seus efeitos foram sendo melhor estudados ao longo dos anos (Kuppens & Ceu-
lemans, 2019; De Carvalho & Silva, 2014).
A primeira pessoa a propor um modelo de classificação dos estilos parentais foi uma a pesqui-
sadora norte-americana Baumrind (Fadlillah & Fauziah, 2022). Em seus estudos observacionais
com crianças pré-escolares, Baumrind observou três grandes categorias de condutas parentais:
estilos autoritativo, autoritário e permissivo. Os estilos parentais sofreram uma revisão na dé-
cada de 80 por Maccoby e Martin (1983), os quais destrincharam o estilo permissivo em duas
outras categorias: o estilo permissivo e negligente.
Os estilos podem ser analisados dentro de um espectro que varia de acordo com duas variáveis,
limite e afeto, como indicado na figura 1.
LIMITE
Estilo Estilo
Autoritário Autoritativo
AFETO
Estilo Estilo
Negligente Permissivo
Fonte: os autores.
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ESTILO PARENTAL PROTETIVO AO
DESENVOLVIMENTO: ESTILO AUTORITATIVO
A literatura aponta o estilo autoritativo como sendo o estilo protetivo ao desenvolvimento. Estu-
dos apontam que esse estilo está associado a desfechos favoráveis. Por exemplo, crianças de
cuidadores autoritativos, apresentam melhor desempenho e sucesso acadêmico e maior frequ-
ência de comportamentos de obediência. Esse estilo também se relaciona a uma melhor quali-
dade no relacionamento familiar, melhores índices de saúde mental dos cuidadores e crianças e
apresenta impactos protetivos para uso de substâncias e comportamentos de risco na adoles-
cência (Baumrind, 2013). Esses resultados podem ser explicados porque os cuidadores autorita-
tivos apresentam condutas e práticas mais consistentes, sendo mais sensíveis às contingências
comportamentais e às necessidades emocionais, conseguindo equilibrar a manifestação de afe-
to e reforço, com o estabelecimento de limites e regras (Baumrind, 2013).
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ESTILOS PARENTAIS ASSOCIADOS
A DIFICULDADES NO DESENVOLVIMENTO
Ao contrário do estilo autoritativo, os outros três estilos parentais, (autoritário, permissivo e ne-
gligente) foram relacionados com efeitos mais deletérios.
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DESAFIOS E QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS DA PARENTALIDADE
Os desafios atuais na criação de filhos têm sido inúmeros, marcados pelas transformações so-
ciais, culturais, climáticas, econômicas e tecnológicas, que caracterizam o mundo contempo-
râneo. A parentalidade, nesse contexto, está sujeita a uma série de questões que demandam
reflexão e adaptação por parte dos cuidadores. Alguns dos desafios contemporâneos envolvem:
uso de telas, uso de redes sociais, questões relacionadas a diversidade sexual e de gênero e a
escolha da parentalidade, ou seja, ter ou não ter filhos.
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USO DE TELAS
No mundo digital atual, o uso excessivo de dispositivos eletrônicos por crianças e adolescentes
tornou-se um desafio central. A exposição constante a telas, seja por meio de smartphones,
tablets ou computadores, pode impactar o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das
crianças. Questões como tempo de tela adequado, conteúdo apropriado e os efeitos na qualida-
de do sono tornaram-se preocupações para os pais. Estratégias para equilibrar o uso de telas e
promover atividades físicas, interações sociais e leitura tornam-se essenciais.
• Abaixo dos 18 meses: nenhuma exposição a telas, exceto por videochamadas (para
pais e avós, por exemplo)
• Crianças entre 18 meses e 2 anos: pouca ou nenhuma exposição a telas. Por ser um
período crítico para o desenvolvimento da criança, é recomendável o máximo possível de
interação física com outras pessoas e a criatividade.
!
DICA!
Nessa fase, se a criança for exposta a telas, assista em conjunto e escolha
conteúdos educativos de qualidade, que ajudarão a criança a compreender o
que está assistindo. Limite o conteúdo a uma hora diária.
• Crianças entre 3 e 5 anos: até uma hora ao dia. A orientação é que os pais planejem o
tempo de assistir as telas com antecedência e resistam à tentação de usá-la para acal-
mar ou distrair a criança. Uma vez que crianças nessa idade podem interagir com os
personagens, ajudá-las a entender o que estão vendo e aplicar isso ao mundo real pode
ser bastante interessante.
!
DICA!
Muitos tipos de mídia e desenhos podem ser encontrados em outras versões,
como as impressas. Tente encontrar livros e brinquedos para que as crianças
brinquem e interajam com seus personagens favoritos, só que fora da tela.
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• Crianças entre 6 e 10 anos: Entre uma hora e uma hora e meia ao dia. É importante
avaliar o conteúdo que é consumido e balancear o uso criativo de telas, envolvendo ha-
bilidades tecnológicas com o uso destinado puramente à diversão.
!
DICA!
Nessa idade, a criança já está na escola, então certifique-se de que ela não
tenha o hábito de ficar exposta a TV, tablet e celular até que tenha terminado as
tarefas de casa.
Com a idade, os pais podem dar às crianças um pouco mais de controle sobre
suas escolhas e manejo do tempo com o celular/tablet/TV.
Certifique-se de que as telas não ocupem o tempo que deve ser gasto com
horas de sono adequadas, atividade física e outras atividades essenciais à
saúde da criança.
• Crianças e adolescentes entre 11 e 13 anos: Até duas horas por dia. Nessa idade, a
criança já entende o conceito de “equilíbrio”. Os pais devem ajudá-la a entender como
distribuir o tempo de exposição às telas ao longo do dia.
!
DICA!
Se você notar que a criança está exagerando no uso dos videogames, por
exemplo, há uma semana ou duas, tente ajudá-lo a entender os benefícios de
realizar essas atividades com moderação.
Ajude a criança a reconhecer que está gastando muito tempo em uma única
coisa. Ter essa percepção poderá ajudar a criança por toda sua vida.
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ESCOLHA DA PARENTALIDADE:
TER OU NÃO TER FILHOS
A decisão de ter ou não ter filhos tornou-se uma escolha mais complexa na sociedade contem-
porânea. Fatores como carreira, estabilidade econômica, preocupações ambientais e mudanças
nas perspectivas sobre a vida impactam essa decisão. A parentalidade consciente envolve refle-
xão sobre as motivações individuais, a preparação emocional e a compreensão das responsa-
bilidades associadas à criação de filhos. A sociedade contemporânea está testemunhando um
aumento no número de pais que escolhem caminhos como a parentalidade única, adoção ou a
opção de não ter filhos. Em face desses desafios, é crucial que os pais desenvolvam habilidades
de adaptação, promovam o diálogo aberto com seus filhos e busquem recursos de apoio, uma
vez que a capacidade de equilibrar tradições familiares com as demandas contemporâneas é
essencial para uma parentalidade bem-sucedida.
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CONCLUSÃO
Ao longo deste e-book, mergulhamos nos intricados caminhos da parentalidade, compreenden-
do-a como uma jornada multifacetada que transcende os limites temporais dos primeiros anos
de vida, estendendo-se ao desenvolvimento subsequente das crianças e adolescentes. Portan-
to, a parentalidade pode ser definida como um sistema de cuidado a que o indivíduo é exposto
durante os primeiros anos de vida e que têm consequências importantes no desenvolvimento
infantil.
No que tange aos estilos parentais, a literatura aponta o estilo autoritativo como um fator de pa-
rentalidade protetivo, associado a resultados favoráveis, enquanto os estilos autoritário, permis-
sivo e negligente revelam potenciais desafios no desenvolvimento infantil. A compreensão sobre
os estilos parentais não apenas oferece reflexões para práticas parentais mais conscientes, mas
também reforça a compreensão da parentalidade como um fator determinante no percurso de-
senvolvimental humano.
Assim, é possível concluir que a parentalidade é um compromisso dinâmico, que perpassa teo-
rias, práticas e desafios contemporâneos. Este e-book configura-se como um convite à reflexão
contínua sobre a importância da parentalidade no desenvolvimento socioafetivo de crianças e
adolescentes, já que as relações de parentalidade são cruciais nas trajetórias de desenvolvimen-
to humano.
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SOBRE ESTE E-BOOK
SOBRE AS AUTORAS
Beatriz de Oliveira Meneguelo Lobo Myrian Machado de Paula Silveira
Psicóloga e Mestra em Psicologia/Cognição Psicóloga e Mestra em Neurociências
Humana pela Pontifícia Universidade Católica pela Universidade Federal de Minas Gerais
do Rio Grande do Sul (PUCRS). Especialista (UFMG-BH). Doutoranda no programa
em Terapias Cognitivo-Comportamentais de pós-graduação em Psicobiologia da
e com formação em Terapia do Esquema. Universidade de São Paulo - Ribeirão
Professora em cursos de Pós-Graduação Preto (USP-RP). Especialista em Terapias
em Terapia Cognitivo-Comportamental, Cognitivo-Comportamentais e com
Terapia Cognitivo-Comportamental na formação em Terapia do Esquema.
Infância e Adolescência e Terapia do Pesquisadora no Laboratório de Pesquisa
Esquema. Supervisora Clínica. Pesquisadora e Intervenção Cognitivo-Comportamental -
Colaboradora no Laboratório de Pesquisa e LaPICC da Faculdade de Filosofia, Ciências
Intervenção Cognitivo-Comportamental - e Letras de Ribeirão Preto (FFCL-RP) da
LaPICC da Faculdade de Filosofia, Ciências Universidade de São Paulo (USP).
e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da
Universidade de São Paulo (USP).
SOBRE A EDITORA-CHEFE
Carmem Beatriz Neufeld
Psicóloga, Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora
do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP. Pesquisadora
Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - USP. Presidente da Federação Latino Americana de
Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais - ALAPCCO (2019-2022). Presidente da Associação
de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências (2020-2023).
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