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e-book

PARENTALIDADE:
entendendo a ligação
socioafetiva entre
pais e filhos
índice
Introdução ........................................................................... 3

Fundamentos teóricos da parentalidade ............................. 4

Desenvolvimento socioafetivo na infância ......................... 6

Estilos parentais .............................................................. 10

Desafios e questões contemporâneas da parentalidade ..... 13

Conclusão ....................................................................... 17

Sobre este e-book ........................................................... 18

A Artmed ......................................................................... 19

Referências ..................................................................... 20
INTRODUÇÃO
A parentalidade tem um impacto crucial no desenvolvimento infantil. Ela é definida como uma
jornada multifacetada, envolvendo atividades destinadas à criação e cuidado de um indivíduo,
com consequências substanciais nos primeiros anos de vida e no desenvolvimento subsequente
(Keller, 2007). Sua relevância é ressaltada no artigo 27º da Convenção dos Direitos da Criança
(ONU/UNICEF, 1990), que atribui aos pais a responsabilidade primordial de proporcionar as con-
dições necessárias para o desenvolvimento da criança.

Ao longo deste e-book, serão explorados os fundamentos teóricos da parentalidade e do desen-


volvimento socioafetivo na infância, com destaque para a importância das relações familiares
no desenvolvimento psicossocial das crianças. Além disso, são abordados os estilos parentais,
examinando as categorias propostas por Baumrind e suas implicações no desenvolvimento. O
estilo autoritativo é apontado como protetivo, associado a resultados favoráveis, enquanto es-
tilos autoritário, permissivo e negligente são relacionados a dificuldades no desenvolvimento.

O e-book explora, ainda, desafios contemporâneos da parentalidade, considerando questões


como o uso de telas, redes sociais e a decisão de ter ou não ter filhos. Diante das transforma-
ções sociais, culturais, climáticas, econômicas e tecnológicas, os pais enfrentam uma gama
de desafios que exigem reflexão e adaptação para promover uma parentalidade consciente e
bem-sucedida.

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FUNDAMENTOS TEÓRICOSDA
PARENTALIDADE

A parentalidade pode ser definida como o conjunto de atividades dedicadas à criação e ao cuida-
do de um indivíduo. Nesse contexto, os cuidados parentais são compreendidos como sistemas
de cuidado aos quais um indivíduo é exposto durante seus primeiros anos de vida, exercendo
impactos significativos no desenvolvimento infantil (Keller, 2007). Os estudiosos também en-
fatizam que a parentalidade se constitui pelo seu objetivo: o asseguramento da sobrevivência
e do desenvolvimento de forma segura e direcionado para a autonomia (Barroso & Machado,
2010). Tendo em vista que as crianças não conseguem crescer e prosperar sem a presença de
cuidadores, a parentalidade é definida como um trabalho em que o principal objeto de atenção e
ação é a criança. Nesse sentido, a presença dos pais/cuidadores é fundamental para educação
e socialização (Gurgel et al., 2023).

Os objetivos da parentalidade podem ser observados no artigo 27º da Convenção dos Direitos
da Criança (ONU/UNICEF, 1990):

“Cabe aos pais ou a outras pessoas responsáveis pela criança a responsabilidade primordial
de propiciar, de acordo com as possibilidades e os recursos financeiros, as condições de vida
necessárias ao desenvolvimento da criança.”

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A parentalidade pode tomar diferentes definições dependendo de como se olha para ela, uma
vez que se trata de um construto complexo e multifatorial. Ou seja, ela envolve não apenas a re-
lação pais/cuidadores e filhos, mas também se ampara em determinantes sociais e biológicos.
Considerando essa complexidade, diversos modelos foram propostos na literatura para compre-
ender, avaliar e estudar o construto da parentalidade.

O Modelo das 11 Dimensões da Parentalidade proposto por Hoghughi (2004) é um exemplo.


Ele foi construído com base nas teorias de Bronfenbrenner (1979) e de Belsky (1984), buscando
compreender de forma mais aprofundada os diferentes componentes que podem ser avaliados
na parentalidade (desde às práticas até as competências parentais).

MODELO DAS 11 DIMENSÕES DA PARENTALIDADE


Esse modelo, proposto por Hoghughi (2004), divide a parentalidade em 3 grandes áreas:

• atividades parentais;
• áreas funcionais; e
• pré-requisitos.

Atividades parentais: incluem um conjunto de atividades relacionadas à garantia do desenvolvi-


mento saudável do indivíduo (cuidado físico, emocional e social dos filhos) e as ações relaciona-
das ao estabelecimento de disciplina e limites.

Áreas funcionais: dizem respeito às necessidades dos filhos, que funcionam como uma bússola
para as atividades parentais. Dentre as funcionalidades, estão inclusas: saúde física, saúde men-
tal, comportamento social e funcionamento educativo e intelectual.

Pré-requisitos: embasam e qualificam as atividades parentais. Os pré-requisitos apontados por


Hoghughi (2004) são: conhecimento e compreensão das necessidades dos filhos, motivação em
se engajar nas atividades, recursos e oportunidades.

O Modelo das 11 Dimensões não tem como objetivo esgotar todas as nuances do construto da
parentalidade. Porém, ele traz uma boa ideia da complexidade da interação dos fatores envolvi-
dos. Esse modelo serviu como fundamento para várias pesquisas sobre o assunto. Da mesma
forma, ao estudarmos a parentalidade, é crucial entendermos o ponto teórico do qual estamos
partindo, ou seja, qual modelo está sendo adotado para compreender o conceito. No entanto,
apesar dos diferentes modelos, uma coisa é certa: todos concordam que a definição se embasa
no fato de a parentalidade ser a manifestação do cuidado dos pais/cuidadores para com seus
filhos.

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DESENVOLVIMENTO SOCIOAFETIVO NA INFÂNCIA
O Modelo Bioecológico de Bronfembrenner (1979) explica como o desenvolvimento humano é
influenciado pelas pessoas, ambiente, contexto e tempo em que se vive. Processos no ambiente
microfamiliar na relação entre pais-crianças são influenciados por espaços do mesossistema,
como escola, vizinhança e trabalho dos pais (Gurgel et al., 2023). Nesse sentido, o meio social e
as relações familiares impactam no desenvolvimento infantil, desempenhando importante papel
tanto no desenvolvimento típico como no desenvolvimento de dificuldades afetivas e cognitivas.

As relações familiares desempenham um papel crucial no desenvolvimento infantil, equiparan-


do-se à relevância do meio social. Elas influenciam não apenas o desenvolvimento típico da
criança, mas também estão associadas ao surgimento de dificuldades afetivas e cognitivas
(Favez, 2013). Nesse contexto, criar um ambiente acolhedor e organizar situações propícias ao
desenvolvimento atuam como mecanismos de proteção às trajetórias de desenvolvimento da
criança (Dessen & Braz, 2005).

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De acordo com Bronfenbrenner (1979), o desenvolvimento infantil está intrinsecamente ligado à
qualidade das interações estabelecidas no contexto familiar. O desenvolvimento socioafetivo na
infância, embora seja influenciado por vários sistemas, como a pré-escola, destaca-se de manei-
ra especial pelas interações no microssistema familiar. Isso ocorre porque a família é reconhe-
cida como o primeiro e mais significativo sistema de socialização e aprendizado da regulação
emocional (Cano & Moré, 2008).

O desenvolvimento psicossocial das crianças pode ser descrito em termos de competência e


disfunção. Entre os indicadores de desenvolvimento social que podem ser avaliados nos primei-
ros anos de vida, destacam-se aqueles relacionados aos problemas de externalização e à com-
petência social (Alvarenga & Piccinini, 2007).

Problemas de comportamento referem-se a déficits ou excessos comportamentais que dificul-


tam a transição por fases comportamentais (Webster-Stratton & Reid, 2004). Nesse sentido,
fatores como as características individuais da criança, incluindo o temperamento, e suas intera-
ções com variáveis ambientais, como as experiências de criação e características do ambiente
de cuidado, estão envolvidos em desfechos de desenvolvimento psicossociais (Gomes, 2015;
Rothbart & Bates, 2006).

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Tabela 1. Como as interações parentais influenciam o desenvolvimento psicossocial de seus filhos.

• Bebês apresentam significativa


imaturidade cerebral e estão em exponencial
desenvolvimento (Siegel & Bryson, 2011).
• Maior proximidade física entre os cuidadores
e o bebê: estudos clássicos demonstram a
Desenvolvimento importância do aconchego, toque e carinho
psicossocial na físico como elementos fundamentais para o
primeira infância desenvolvimento infantil (Harlow, 1959; Oliva et
al., 2018).
• Desenvolvimento do apego: vinculação
construída entre pais e filhos que se forma
desde os primeiros meses do desenvolvimento e
consolida-se aos poucos (Oliva et al., 2018).

• Fase em que os comportamentos sociais


são particularmente sensíveis às condições
ambientais (Gomes, 2015).
• A família é a principal fonte de influência
nesse momento de vida: os pais e as mães
são apontados como um dos principais
determinantes das competências e das
dificuldades sociais das crianças (Tremblay,
2008).
• Entre as idades de dois e seis anos, observa-
se o maior declínio de agressão física no
desenvolvimento humano (Tremblay, 2008).
Desenvolvimento
psicossocial na • Nessa faixa etária, há um aumento marcante
idade pré-escolar da competência social, que se refere à
interação entre as características individuais,
as estratégias usadas para a adaptação ao
ambiente e os recursos disponíveis no meio,
como o apoio familiar e social (Gomes, 2015;
Tremblay, 2008). A competência social é um
indicador de adaptação positivo, avaliando o
grau em que a pessoa é capaz de negociar
adaptativamente os desafios encontrados
(Brophy-Herb et al., 2007). Trata-se, portanto,
de uma habilidade importante para o
desenvolvimento socioafetivo adequado (Gomes,
2015; Webster-Stratton & Reid, 2004).

8
• Período de mudanças e de transição, marcado
por transformações. As relações entre os pares
se intensificam (Neufeld & Rebessi, 2018).

• Estudos indicam que relacionamentos


saudáveis entre adolescentes e adultos que
pertencem ou não à família são protetivos à
Desenvolvimento relação pais e filhos, já que aumentam o suporte
psicossocial na social do adolescente (Neufeld & Rebessi, 2018).
adolescência
• O apoio social percebido contribui para o
aumento da qualidade de vida, o rendimento
acadêmico e o sentimento de pertencimento,
o que atua como prevenção ao surgimento de
desfechos psicossociais não saudáveis, como
psicopatologias (Neufeld & Rebessi, 2018).

Fonte: os autores.

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ESTILOS PARENTAIS
O desenvolvimento humano é resultado da interação de diferentes fatores, sendo eles biológicos
e contextuais/sociais. Dentro das variáveis contextuais/sociais, os cuidadores primários apre-
sentam um papel central no percurso desenvolvimental. Os impactos da parentalidade no desen-
volvimento humano são alvo de estudo há décadas na literatura científica. Devido à relevância da
parentalidade no desenvolvimento, as práticas parentais também foram sendo caracterizadas,
categorizadas e seus efeitos foram sendo melhor estudados ao longo dos anos (Kuppens & Ceu-
lemans, 2019; De Carvalho & Silva, 2014).

A primeira pessoa a propor um modelo de classificação dos estilos parentais foi uma a pesqui-
sadora norte-americana Baumrind (Fadlillah & Fauziah, 2022). Em seus estudos observacionais
com crianças pré-escolares, Baumrind observou três grandes categorias de condutas parentais:
estilos autoritativo, autoritário e permissivo. Os estilos parentais sofreram uma revisão na dé-
cada de 80 por Maccoby e Martin (1983), os quais destrincharam o estilo permissivo em duas
outras categorias: o estilo permissivo e negligente.

Os estilos podem ser analisados dentro de um espectro que varia de acordo com duas variáveis,
limite e afeto, como indicado na figura 1.

Figura 1. Diagrama dos estilos parentais

LIMITE

Estilo Estilo
Autoritário Autoritativo

AFETO

Estilo Estilo
Negligente Permissivo

Fonte: os autores.

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ESTILO PARENTAL PROTETIVO AO
DESENVOLVIMENTO: ESTILO AUTORITATIVO
A literatura aponta o estilo autoritativo como sendo o estilo protetivo ao desenvolvimento. Estu-
dos apontam que esse estilo está associado a desfechos favoráveis. Por exemplo, crianças de
cuidadores autoritativos, apresentam melhor desempenho e sucesso acadêmico e maior frequ-
ência de comportamentos de obediência. Esse estilo também se relaciona a uma melhor quali-
dade no relacionamento familiar, melhores índices de saúde mental dos cuidadores e crianças e
apresenta impactos protetivos para uso de substâncias e comportamentos de risco na adoles-
cência (Baumrind, 2013). Esses resultados podem ser explicados porque os cuidadores autorita-
tivos apresentam condutas e práticas mais consistentes, sendo mais sensíveis às contingências
comportamentais e às necessidades emocionais, conseguindo equilibrar a manifestação de afe-
to e reforço, com o estabelecimento de limites e regras (Baumrind, 2013).

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ESTILOS PARENTAIS ASSOCIADOS
A DIFICULDADES NO DESENVOLVIMENTO
Ao contrário do estilo autoritativo, os outros três estilos parentais, (autoritário, permissivo e ne-
gligente) foram relacionados com efeitos mais deletérios.

• Estilo autoritário: os cuidadores tendem a focar mais na correção de comportamentos


inadequados e no estabelecimento de limites e regras. Também predomina uma alta
exigência em relação aos comportamentos e desempenho dos filhos, somado a uma
dificuldade em demonstrar afeto e reconhecer os pontos positivos na criança (Shaw &
Starr, 2019). O estilo autoritário pode gerar nas crianças efeitos emocionais negativos,
facilitando a construção de uma relação de apego inseguro, o que impacta na constru-
ção das crenças sobre autoimagem e autoeficácia, bem como se torna um fator de risco
de comportamentos de risco e problemas de conduta (Perez-Gramaje et al., 2019; Garcia
et al., 2020). Nos casos mais graves, os filhos de cuidadores autoritários têm mais chan-
ces de sofrer abusos físicos e psicológicos (Shaw & Starr, 2019).

• Estilo permissivo: ocorrem quando os cuidadores apresentam dificuldades em esta-


belecer limites. No estilo permissivo, os cuidadores são capazes de demonstrar o afeto,
mas apresentam maiores dificuldades em estabelecer limites. Crianças de pais muito
permissivos podem apresentar dificuldades em aceitar os limites não só em casa, mas
também em outros contextos, como na escola. Ademais, o estilo permissivo se relacio-
na a dificuldades de regulação emocional nas crianças e na presença de problemas de
conduta (dos Santos & Martins, 2021).

• Estilo negligente: no caso dos cuidadores negligentes, o interesse pela criança e a


demonstração de afeto é pouco frequente ou inexistente (Cardoso & Veríssimo, 2013).
A negligência pode ser extremamente deletéria para o desenvolvimento de uma crian-
ça, uma vez que gera insegurança e privação das necessidades básicas emocionais e
de sobrevivência. Estudos mostram que a privação das necessidades relacionais com
as figuras de apego se relaciona há impactos profundos, principalmente se acontecer
durante a primeira e a segunda infância (Basso et al., 2019). Esses impactos podem ser
desde atrasos significativos dos marcos desenvolvimentais, até o desenvolvimento de
psicopatologias (Cecconello et al., 2003).

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DESAFIOS E QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS DA PARENTALIDADE

Os desafios atuais na criação de filhos têm sido inúmeros, marcados pelas transformações so-
ciais, culturais, climáticas, econômicas e tecnológicas, que caracterizam o mundo contempo-
râneo. A parentalidade, nesse contexto, está sujeita a uma série de questões que demandam
reflexão e adaptação por parte dos cuidadores. Alguns dos desafios contemporâneos envolvem:
uso de telas, uso de redes sociais, questões relacionadas a diversidade sexual e de gênero e a
escolha da parentalidade, ou seja, ter ou não ter filhos.

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USO DE TELAS
No mundo digital atual, o uso excessivo de dispositivos eletrônicos por crianças e adolescentes
tornou-se um desafio central. A exposição constante a telas, seja por meio de smartphones,
tablets ou computadores, pode impactar o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das
crianças. Questões como tempo de tela adequado, conteúdo apropriado e os efeitos na qualida-
de do sono tornaram-se preocupações para os pais. Estratégias para equilibrar o uso de telas e
promover atividades físicas, interações sociais e leitura tornam-se essenciais.

As recomendações da Academia Americana de Pediatria (AAP), Organização Mundial de Saúde


(OMS) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) envolvem:

• Abaixo dos 18 meses: nenhuma exposição a telas, exceto por videochamadas (para
pais e avós, por exemplo)

• Crianças entre 18 meses e 2 anos: pouca ou nenhuma exposição a telas. Por ser um
período crítico para o desenvolvimento da criança, é recomendável o máximo possível de
interação física com outras pessoas e a criatividade.

!
DICA!
Nessa fase, se a criança for exposta a telas, assista em conjunto e escolha
conteúdos educativos de qualidade, que ajudarão a criança a compreender o
que está assistindo. Limite o conteúdo a uma hora diária.

• Crianças entre 3 e 5 anos: até uma hora ao dia. A orientação é que os pais planejem o
tempo de assistir as telas com antecedência e resistam à tentação de usá-la para acal-
mar ou distrair a criança. Uma vez que crianças nessa idade podem interagir com os
personagens, ajudá-las a entender o que estão vendo e aplicar isso ao mundo real pode
ser bastante interessante.

!
DICA!
Muitos tipos de mídia e desenhos podem ser encontrados em outras versões,
como as impressas. Tente encontrar livros e brinquedos para que as crianças
brinquem e interajam com seus personagens favoritos, só que fora da tela.

14
• Crianças entre 6 e 10 anos: Entre uma hora e uma hora e meia ao dia. É importante
avaliar o conteúdo que é consumido e balancear o uso criativo de telas, envolvendo ha-
bilidades tecnológicas com o uso destinado puramente à diversão.

!
DICA!
Nessa idade, a criança já está na escola, então certifique-se de que ela não
tenha o hábito de ficar exposta a TV, tablet e celular até que tenha terminado as
tarefas de casa.

Com a idade, os pais podem dar às crianças um pouco mais de controle sobre
suas escolhas e manejo do tempo com o celular/tablet/TV.

Certifique-se de que as telas não ocupem o tempo que deve ser gasto com
horas de sono adequadas, atividade física e outras atividades essenciais à
saúde da criança.

• Crianças e adolescentes entre 11 e 13 anos: Até duas horas por dia. Nessa idade, a
criança já entende o conceito de “equilíbrio”. Os pais devem ajudá-la a entender como
distribuir o tempo de exposição às telas ao longo do dia.

!
DICA!
Se você notar que a criança está exagerando no uso dos videogames, por
exemplo, há uma semana ou duas, tente ajudá-lo a entender os benefícios de
realizar essas atividades com moderação.

Ajude a criança a reconhecer que está gastando muito tempo em uma única
coisa. Ter essa percepção poderá ajudar a criança por toda sua vida.

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ESCOLHA DA PARENTALIDADE:
TER OU NÃO TER FILHOS
A decisão de ter ou não ter filhos tornou-se uma escolha mais complexa na sociedade contem-
porânea. Fatores como carreira, estabilidade econômica, preocupações ambientais e mudanças
nas perspectivas sobre a vida impactam essa decisão. A parentalidade consciente envolve refle-
xão sobre as motivações individuais, a preparação emocional e a compreensão das responsa-
bilidades associadas à criação de filhos. A sociedade contemporânea está testemunhando um
aumento no número de pais que escolhem caminhos como a parentalidade única, adoção ou a
opção de não ter filhos. Em face desses desafios, é crucial que os pais desenvolvam habilidades
de adaptação, promovam o diálogo aberto com seus filhos e busquem recursos de apoio, uma
vez que a capacidade de equilibrar tradições familiares com as demandas contemporâneas é
essencial para uma parentalidade bem-sucedida.

16
CONCLUSÃO
Ao longo deste e-book, mergulhamos nos intricados caminhos da parentalidade, compreenden-
do-a como uma jornada multifacetada que transcende os limites temporais dos primeiros anos
de vida, estendendo-se ao desenvolvimento subsequente das crianças e adolescentes. Portan-
to, a parentalidade pode ser definida como um sistema de cuidado a que o indivíduo é exposto
durante os primeiros anos de vida e que têm consequências importantes no desenvolvimento
infantil.

O e-book explorou a complexidade do construto de parentalidade por meio do Modelo das 11


Dimensões proposto por Hoghughi (2004), que delineia atividades parentais, áreas funcionais e
pré-requisitos, oferecendo uma visão abrangente das diversas nuances envolvidas na parentali-
dade. No campo das relações familiares, destaca-se o impacto significativo do desenvolvimento
socioafetivo na infância, ressaltando a família como centro crucial para a socialização e regula-
ção emocional das crianças.

No que tange aos estilos parentais, a literatura aponta o estilo autoritativo como um fator de pa-
rentalidade protetivo, associado a resultados favoráveis, enquanto os estilos autoritário, permis-
sivo e negligente revelam potenciais desafios no desenvolvimento infantil. A compreensão sobre
os estilos parentais não apenas oferece reflexões para práticas parentais mais conscientes, mas
também reforça a compreensão da parentalidade como um fator determinante no percurso de-
senvolvimental humano.

Além disso, é fundamental considerar os desafios contemporâneos que moldam a parentalidade


no século XXI. O uso exacerbado de telas, as complexidades das redes sociais e a decisão de
ter ou não ter filhos apresentam-se como questões complexas, que exigem orientações e refle-
xões. Os pais são convocados a equilibrar a tecnologia com o cuidado presencial, a gerenciar as
armadilhas das redes sociais e a refletir profundamente sobre a escolha de trilhar o caminho da
parentalidade.

Assim, é possível concluir que a parentalidade é um compromisso dinâmico, que perpassa teo-
rias, práticas e desafios contemporâneos. Este e-book configura-se como um convite à reflexão
contínua sobre a importância da parentalidade no desenvolvimento socioafetivo de crianças e
adolescentes, já que as relações de parentalidade são cruciais nas trajetórias de desenvolvimen-
to humano.

17
SOBRE ESTE E-BOOK

Como citar: Lobo, B. O. M., Machado, M. P. S. & Neufeld, C. B. (2024, jan.).


Parentalidade: entendendo a ligação socioafetiva entre pais e filhos. [E-book].

SOBRE AS AUTORAS
Beatriz de Oliveira Meneguelo Lobo Myrian Machado de Paula Silveira
Psicóloga e Mestra em Psicologia/Cognição Psicóloga e Mestra em Neurociências
Humana pela Pontifícia Universidade Católica pela Universidade Federal de Minas Gerais
do Rio Grande do Sul (PUCRS). Especialista (UFMG-BH). Doutoranda no programa
em Terapias Cognitivo-Comportamentais de pós-graduação em Psicobiologia da
e com formação em Terapia do Esquema. Universidade de São Paulo - Ribeirão
Professora em cursos de Pós-Graduação Preto (USP-RP). Especialista em Terapias
em Terapia Cognitivo-Comportamental, Cognitivo-Comportamentais e com
Terapia Cognitivo-Comportamental na formação em Terapia do Esquema.
Infância e Adolescência e Terapia do Pesquisadora no Laboratório de Pesquisa
Esquema. Supervisora Clínica. Pesquisadora e Intervenção Cognitivo-Comportamental -
Colaboradora no Laboratório de Pesquisa e LaPICC da Faculdade de Filosofia, Ciências
Intervenção Cognitivo-Comportamental - e Letras de Ribeirão Preto (FFCL-RP) da
LaPICC da Faculdade de Filosofia, Ciências Universidade de São Paulo (USP).
e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da
Universidade de São Paulo (USP).

SOBRE A EDITORA-CHEFE
Carmem Beatriz Neufeld
Psicóloga, Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora
do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP. Pesquisadora
Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - USP. Presidente da Federação Latino Americana de
Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais - ALAPCCO (2019-2022). Presidente da Associação
de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências (2020-2023).

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