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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO

HISTÓRIA GERAL – HISTÓRIA ANTIGA

I - INTRODUÇÃO
O homem comum acostumou-se a olhar para o mar e ver nele apenas a imensa massa líquida que orna os
litorais, cativante por sua beleza plácida nos dias calmos de céu azul e temível nas ressacas e demais horas de grande
agitação. Vêem-se os pássaros marinhos que o sobrevoam, conhecem-se os barcos e navios que nele flutuam, sabe-se
e até vive-se muito de seu romantismo, mas pouco se cogita do valor real do mar para a vida. Desconhecem-se
aspectos fundamentais do papel do mar no progresso, na grandeza e na decadência dos povos. Pouco se conhece a
história do mar! Entretanto, é preciso conhecer melhor o mar. Particularmente no Brasil, onde muitas vezes já se
abordou o problema, há necessidade de se formar definitivamente uma consciência marítima que corresponda à nossa
realidade geopolítica. Só encontraremos, porém, bases reais para a formulação de uma política marítima, em época já
tão avançada da era cósmica, se conhecermos solidamente a experiência alheia e a nossa própria nesse setor, isto é, se
formos capazes de buscar na História o que ela possui para nossa orientação. É tarde demais para começarmos do
nada, sobretudo quando já possuímos um background histórico que nos autoriza a um avanço que não pode ser
tímido, mas deve ser impetuoso. Não pretende este livro ser outra coisa que um breve resumo histórico sobre a
influência do mar e do que a ele está ligado no curso da vida do homem. Muitas vezes foi extremamente decisiva uma
ação marítima – industrial, comercial ou guerreira – para resolver graves problemas que se têm apresentado à
humanidade. O homem já pereceu e já foi salvo pelo mar. Nele encontrou alimento e por ele se expandiu desde
tempos muito antigos.
Os grandes povos nunca desconheceram sua importância. Todos os grandes impérios usaram e até abusaram do
mar. Para nós, particularmente, basta um breve relance no passado para desconfiarmos, pelo menos, de que o mar
teve alguma coisa a ver com a economia das grandes potências: os fenícios, que disseminaram o alfabeto; os gregos,
que nos legaram imorredouros padrões de expressão artística e de pensamento filosófico; os romanos, que nos
deixaram a lei e o costume da ordem e da justiça; os portugueses, que ligaram a Europa ao Oriente; os espanhóis, que
ligaram o Velho e o Novo Mundos; os ingleses, que fizeram a Revolução Industrial; todos foram fundadores de
impérios marítimos, todos conheceram a importância do mar.

1 - PODER MARÍTIMO
Não se trata de definir, mas de compreender. É mais fácil, no caso, evoluir do particular para o geral, em face
de algumas confusões que se fazem em torno do assunto. É comum identificar imediatamente o poder marítimo com
as Esquadras militares, como se este poder se resumisse a navios de guerra. Não é esta, entretanto, a verdade. As
marinhas de guerra são apenas uma parte – e não são a maior parte – do poder marítimo. Elas constituem o chamado
poder naval por reunirem parte dos elementos diretamente responsáveis pela garantia do exercício da soberania de
cada país no mar. Sendo assim, o poder naval compõese de uma esquadra ou de forças navais (como núcleo), das
bases navais, do pessoal engajado, e de vários outros elementos diretamente ligados à guerra naval. Esse poder naval,
contudo, como dissemos acima, é apenas uma fração do poder marítimo de uma nação ou de um grupo de nações.
Além do poder naval, o poder marítimo engloba a marinha mercante, o território marítimo, as indústrias subsidiárias,
a vocação marítima do povo, a política governamental e outros elementos afins. Assim, toda a potencialidade
marítima de um país, traduzida em termos de uso do mar, constitui o seu poder marítimo. Dissemos uso do mar e esta
expressão pode parecer que, então, englobar o poder naval aí é pura formalidade. Não o compreenderemos assim se
atentarmos para o que disse o Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva: “Não compreendo defender-se um mar
que não se use”. A recíproca é verdadeira: muito dificilmente se conseguirá usar um mar sem defendê-lo
devidamente. Isto está sobejamente demonstrado pelos fatos registrados na História, cuja interpretação adequada nos
cabe elaborar.
Ainda hoje, cerca de 98% do comércio internacional faz-se por mar. Isso ilustra bastante o emprego pacífico
das águas, em que podemos considerar, também, as vias lacustres e fluviais, além dos canais especialmente
construídos no interior dos países e que, como no caso da Europa, chegam a formar enormes redes de comunicações.
Falando especificamente do mar, temos também a considerar as comunicações marítimas, que são as vias pelas quais
se ligam os diversos pontos terminais junto ao mar. Essas vias compõem-se das rotas de navegação mundialmente
usadas nos oceanos e mares. Por elas flui todo o comércio a bordo das embarcações mercantes. Em caso de guerra,
torna-se necessário impedir que o inimigo use as suas comunicações marítimas para que não se possa prover de novos
elementos que lhe facilitarão as hostilidades. Do mesmo modo, além de negar ao inimigo o uso de suas comunicações
marítimas, tem-se que garantir o livre uso das próprias comunicações. Quando se obtém isso, diz-se que se conseguiu
o controle ou o domínio do mar na área considerada. Normalmente decide-se esse domínio do mar por uma batalha
naval. O aniquilamento, ou seja, a destruição da esquadra inimiga é normalmente obtida por uma batalha decisiva, do
que veremos alguns exemplos neste livro. Às vezes o acaso ajuda um dos contendores, quando uma tempestade
destrói a força naval; isso aconteceu muitas vezes na Antigüidade e foi o que liquidou com a “Invencível Armada”.
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A paralisação da frota inimiga é geralmente obtida quando um dos lados, sendo mais forte, tem condições de
fazer o bloqueio, isto é, impedir a esquadra adversária de sair de suas bases; também veremos vários exemplos
através da História. Por vezes, uma batalha naval indecisa conduz a esse resultado, como aconteceu, por exemplo,
depois da Batalha da Jutlândia, na Primeira Guerra Mundial, quando a esquadra alemã não se aventurou mais no mar.
Quando, numa determinada área marítima, nenhum dos dois lados consegue o domínio do mar e ambos usam ou
tentam usar o mar em seu proveito, diz-se que é um domínio do mar contrastado.

2 - AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES
A História não começou ao mesmo tempo em todas as partes da Terra. Aliás, ainda hoje há povos que vivem na
pré-história, como parte dos índios do Brasil, por exemplo. As primeiras grandes civilizações nasceram à beira
d’água, fosse de rios, lagos ou mar. Nas regiões banhadas por grandes rios, que serviam tanto para fertilizar o solo
como para o transporte de mercadorias e pessoas, o progresso foi naturalmente muito mais rápido e eficaz do que em
áreas menos favorecidas pela natureza. Nessas zonas privilegiadas, os homens não tinham que fazer tanto esforço
para lutar pela vida. Essa largueza de tempo conduziu naturalmente à divisão do trabalho, à elevação religiosa, ao
culto das artes etc. Por outro lado, foram essas regiões sempre muito cobiçadas pelos povos civilizados que
habitavam territórios semidesérticos ou montanhosos e que, embora mais atrasados, eram geralmente mais belicosos.
Se fôssemos estudar, neste pequeno livro, a história militar dos povos que primeiro se adiantaram na marcha da
civilização, veríamos que sua vida é uma luta quase constante com os invasores, às vezes de muito longe. O vale do
rio Nilo produziu a extraordinária civilização egípcia, cujos monumentos gigantescos até hoje nos enchem de
assombro e admiração; a civilização do Nilo é anterior a 4000 a.C., mas sua história só começa propriamente com a
unificação dos reinos do Alto e Baixo Egito em 2900 a.C., feita pelo Faraó Menes. A Mesopotâmia, onde correm os
rios Tigre e Eufrates, foi palco das culturas de Sumer, de Acad, da Babilônia e da Assíria, e sua história começa em
2800 a.C. No Extremo Oriente, nos vales dos rios Huang-Ho (rio Amarelo) e Yang-Tse-Kiang (rio Azul), também
floresceu uma das mais velhas civilizações do mundo: a chinesa. A região dos rios Ganges e Bramaputra produziu a
civilização hindu, de cujas origens temos poucas informações com rigor cronológico. Mas, como se disse, também à
margem dos mares a civilização começou cedo. No Oriente, a civilização japonesa e, no mar Mediterrâneo, a
cretense, ambas de tendência fortemente marítima pelo fato de estarem situadas em ilhas. A Geografia, em grande
parte, explica a História.

3 - OS POVOS MARÍTIMOS
De todos os povos citados até aqui, o que mais nos interessa, por ter constituído a primeira talassocracia da
História, é o cretense que habitava a ilha de Creta, hoje pertencente à Grécia. Suas origens remontam a 3400 a.C.;
desde cedo, os minoanos se entregaram a um ativo intercâmbio comercial com os povos da região do Levante; por
volta de 2000 a. C., suas relações mercantis com o Egito eram intensas. Os cretenses dominaram todo o Mediterrâneo
Oriental, mas, em 1750 a.C., um grande cataclismo arruinou o poderio de Creta e favoreceu a invasão de um povo
continental vindo da Grécia. O poderio cretense não existia mais em 1400 a.C. A herança dos cretenses foi recolhida
pelos fenícios, que vieram a dominar não apenas o Mediterrâneo Oriental, mas todo o referido mar até o estreito de
Gibraltar5 (as “Colunas de Hércules” na denominação grega). Os fenícios, povo pastor de origem semita, foram
levados ao mar quando se instalaram em uma estreita faixa de terra espremida entre o mar e a montanha, além da qual
poderosos vizinhos não permitiam sua expansão. A Fenícia corresponde aproximadamente ao Líbano de hoje. Mais
uma vez, aparece a Geografia explicando a História. Os fenícios não se limitaram, porém, ao mar Mediterrâneo.
Navegaram as costas da Europa para o norte e chegaram a contornar a África numa viagem que ficou famosa. Sua
principal colônia, Cartago, na África do Norte, veio a ser mais importante do que a antiga metrópole. Outra colônia,
Cartago Nova, originou a Cartagena atual, na Espanha. Teriam os fenícios chegado ao Brasil? Há autores que
defendem entusiasticamente essa tese e chegam inclusive a estabelecer a data: 1100 a.C., quando um navio
desgarrado de uma frota que fazia o périplo da África teria chegado às costas da atual Paraíba. Por mais apaixonante
que seja essa idéia e em que pese a sinceridade de seus defensores, ainda há muito que discutir antes de aceitá-la.
Foram esses os principais povos navegadores da Antigüidade, ou, pelo menos, os mais conhecidos. Os tartéssios, no
sul da Espanha, antes dos fenícios navegaram pelo Atlântico e teriam estado, segundo alguns autores, na América
Central. Antes de os fenícios estabelecerem uma base naval em Gades (hoje Cádiz), essa cidade teria sido a capital
dos atlantes, povo também marítimo, remanescente da famosa Atlântida.

4 - O INÍCIO DO COMÉRCIO MARÍTIMO


Pouco se sabe com exatidão dos primeiros tempos do comércio marítimo, mas é fora de dúvida que, por volta
do ano 2000 a.C., já havia intenso comércio marítimo em todo o Mediterrâneo Oriental, o qual se ligava por meio de
caravanas terrestres e da navegação fluvial a um não menos florescente comércio no golfo Pérsico e no mar
Vermelho. Os primeiros grandes comerciantes, importadores ou exportadores de mercadorias, existiram no Egito, na
Mesopotâmia e em Creta. A dificuldade em se reconstituir a história do comércio marítimo na Antigüidade se deve,

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em grande parte, à tendência que tinham os povos da época de guardar segredo sobre suas rotas marítimas. Essa
preocupação era tão grande que o cronista romano Estrabão conta um interessante episódio de um navio cartaginês,
que foi propositadamente encalhado pelo seu comandante para que o navio romano, que o seguia, não descobrisse sua
rota. O segredo era tão cuidadosamente guardado que até falsas histórias eram divulgadas para afastar possíveis
rivais: O Almirante cartaginês Himilco efetuou, no século VI a.C., uma viagem às ilhas britânicas, terra do estanho, e
de lá voltou com impressionantes notícias da existência de monstros marinhos, massas flutuantes de sargaços que
prendiam os navios, etc.; isso, porém, não impediu que os punos continuassem a fazer esse comércio durante séculos.
O comércio marítimo da Antigüidade oferece ainda muitos pontos obscuros; vários países citados nos escritos
antigos, inclusive na Bíblia, até hoje não foram satisfatoriamente localizados ou, pelo me- nos, há dúvidas a seu
respeito, tais como o país de Punt, o país de Ofir, o reino de Sabá (cuja rainha visitou Salomão, rei de Israel), Marib,
Tule ou Thule e outros.

5 - AS PROFISSÕES MARÍTIMAS
A figura do armador, ou seja, do homem que prepara navios para viagens, dotando-o de equipamento e de
tripulação, é muito antiga na História. O armador nem sempre era o comerciante marítimo ou proprietário do navio;
na Antigüidade, porém, o mais comum era ser as três coisas ao mesmo tempo.
O comandante do navio, vulgarmente chamado de capitão, era geralmente um experimentado marinheiro,
resistente às intempéries, enérgico e resoluto.
O marinheiro, muitas vezes iniciado na profissão à força (costume que chegou até o século XX em muitos
países), era geralmente um homem inculto que só conhecia bem a sua profissão (também isso chegou até o século
XX). A bordo cuidava das velas, dos cabos e fazia um sem-número de funções variadas.
O mestre era um experimentado marinheiro cuja atribuição principal era a manobra do velame e a supervisão
geral do convés.
Havia ainda a figura do piloto, que às vezes era o próprio capitão; seu mister era a navegação e, para isso, tinha
conhecimentos acima da maioria do pessoal, conhecimentos (diríamos hoje) técnicos.

6 - EMBARCAÇÕES NA ANTIGUIDADE
Embora os fenícios tenham sido os principais navegadores da Antigüidade, a melhor descrição que temos de
um navio mercante provém dos egípcios. O navio mercante, de um modo geral, apresentava forte calado e tinha boca
relativamente larga; por esta última característica era chamado “navio redondo”, o que evidentemente era força de
expressão. Seu meio de propulsão era a vela, embora possuísse alguns remos para auxiliar a manobra de entrada e
saída dos portos, assim como para o caso de completa calmaria. Quando parado, ficava fundeado, isto é, preso ao
fundo do mar por uma poita. Embora suas dimensões fossem variáveis, sabemos que os navios mercantes gregos
tinham, em média, um comprimento de 55 metros e boca de 13 metros. Como veremos mais adiante, o navio de
guerra, que surgirá mais tarde, será bem diferente.
O transporte de riquezas pelo mar deu ensejo ao surgimento da pirataria, tão antiga quanto o próprio comércio
marítimo. Isso suscitou a necessidade de os navios mercantes se defenderem, para o quê se embarcaram guarnições
aguerridas, aptas para o combate de abordagem. A crescente ameaça ao comércio marítimo, contudo, só pôde
efetivamente ser controlada pela criação de navios especiais, com grande capacidade de manobra, cujo fim era a
defesa dos poucos manobreiros “navios redondos”. Assim surgiu o navio de guerra, a serviço dos navios mercantes e,
portanto, da economia de cada nação ou império. O navio de guerra egípcio, do qual temos a melhor descrição entre
os mais remotos, tinha pouca boca, o que lhe valeu ser chamado de “navio comprido”, pois, ao contrário do mercante,
era bem mais estreito. Tinha o fundo chato, o que, juntamente com a característica anterior, fazia com que oferecesse
pouca resistência à água. Sua propulsão principal era o remo. Havia uma longa fileira de remos de ambos os bordos,
manejados geralmente por escravos, prisioneiros ou condenados, que eram acorrentados aos bancos para que não
tentassem fugir na hora do combate; obviamente morriam quando o navio afundava. Os navios de guerra possuíam
também velas, cujos mastros eram arriados na hora da batalha para evitar que sua queda atingisse os ocupantes do
navio. As velas eram usadas nas travessias longas, longe do inimigo, a fim de poupar os remadores, e no caso de
haver necessidade de bater em retirada para aumentar a velocidade de fuga; de fato, “içar as velas” era, no combate,
sinônimo de “fugir”. Por causa do seu fundo chato e de sua pouca resistência aos temporais, os navios de guerra não
fundeavam como os mercantes; eram puxados para terra, ficando em seco. Essa circunstância ocasionou algumas
“batalhas navais” travadas em terra, quando acontecia de um inimigo atacar a esquadra antes que os navios pudessem
ser postos a flutuar. A Batalha de Micale (479 a.C.), na qual os gregos venceram os persas, e Batalha de Egos-
Pótamos (405 a.C.) em que os espartanos venceram os atenienses, são as mais conhecidas.Quanto às suas dimensões,
sabemos que uma trirreme13 grega tinha geralmente 25 metros de comprimento por apenas seis metros de boca.
O navio de guerra conduzia a bordo, além do pessoal marítimo como qualquer navio, os guerreiros e os
remadores. Já vimos o que eram estes últimos infelizes; os guerreiros eram soldados terrestres que simplesmente
embarcavam e seus comandantes comandavam a batalha naval. Assim foi na Batalha de Salamina (480 a.C.), a
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primeira grande batalha naval da História. Mais tarde, porém, o combatente do mar foi se distinguindo do combatente
de terra, e o ateniense Formion será o primeiro “general do mar”, ou seja, o primeiro almirante. Formion, vencedor
dos espartanos e seus aliados em vários combates, principalmente na batalha do golfo de Corinto (429 a.C), quando
fez inteligente manobra antes de atacar, é considerado o pai da tática naval, que, depois dele, passou a ser feita pela
combinação de choque e movimento; só no século XIV surgiu o terceiro elemento, o fogo, isto é, o canhão.
Mas a arma principal do navio de guerra não era o soldado que ia a bordo, mas uma protuberância colocada na
proa do navio à linha d’água chamada esporão, aríete ou rostrum, destinada a penetrar profundamente na nave
inimiga e, assim, póla a pique; acontecia, porém, muitas vezes, que o esporão se quebrava com o choque e o navio
atacante, com um rombo na proa, também ia a pique. Foram os fenícios os grandes aperfeiçoadores do esporão, que
passou a ser revestido de bronze, o que o tornou ainda mais temível. Se compararmos os dois tipos básico de navios
na antigüidade, vemos que o primeiro era lento e bojudo, ao passo que o segundo era rápido esguio, o que se explica
pelas suas finalidades enquanto o mercante pretendia transportar o máximo possível de carga com um mínimo de
custo operacional, o navio de guerra queria chegar o mais rapidamente junto do inimigo e vibrar-lhe um golpe de
morte, pouco importando quanto custasse isso em termos de dinheiro. Sim, porque, enquanto um navio mercante
tinha uma tripulação pequena, um navio de combate levava, em média, 200 homens, mesmo considerando que os
remadores não eram pagos pelo seu trabalho, a necessidade de alimentá-los e mais a despesa com todos os guerreiros
e tripulantes fazia com que o navio de guerra fosse caro, que só os governos podiam permanentemente manter.

7 - O MEDITERRÊNEO: MAR RESTRITO


Diz-se assim porque foi no Mar Mediterrâneo que floresceram as atividades marítimas na Antiguidade. Os
grandes oceanos permaneciam desconhecidos.
Naquela época, o crescimento econômico e demográfico de uma nação era conseguido através da conquista de
novas terras e de seus povos, com grandes investimentos em peças de guerra e perdas de vida. Era o “modelo
imperial” implementado pelas forças armadas do conquistador. Em determinadas ocasiões, o conquistador expandia-
se territorialmente e cortava o apoio logístico à marinha inimiga: em outras vezes, impedia com sua frota naval o
abastecimento dos exércitos inimigos.
Táticas inteligentes eram utilizadas para vencer o inimigo nas batalhas navais: o abalroamento do navio
inimigo, aproveitando o choque provocado pelo movimento da embarcação; a surpresa no ataque; a aproximação para
a abordagem usando uma prancha de madeira lançada sobre o convés inimigo; etc.
Algumas embarcações de guerra passaram a utilizar nos seus conveses, na proa, uma armação de madeira, que
servia como “alojamento” para os soldados embarcados, chamada de “castelo”. Essa idéia mais tarde foi incorporada
à arquitetura dos navios
Como veremos mais adiante, em Império Romano, os romanos tiveram um império marítimo tão poderoso que
passaram a denominar o Mediterrâneo de “mare nostrum” ou “mar romano”.

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II – EGITO ANTIGO – MESOPOTÂMIA – FENÍCIA

1 – A CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA DA ANTIGUIDADE


A civilização egípcia floresceu durante 3.500 anos. Já naquela época os egípcios destacavam-se na fabricação
de tecidos, pois o seu linho era de superior qualidade. Os agricultores egípcios cultivavam a agricultura às margens
do rio Nilo, em mil quilômetros de extensão, chamadas de “terra preta”. Sem o rio Nilo, o Egito seria um deserto sem
fim (denominado de “terra vermelha” e “reino dos mortos” pelos antigos); era navegável na seca e inundava as suas
margens durante quatro meses do ano. Assim, na estreita faixa verde ao longo do rio nasceu a civilização egípcia.
A costa egípcia era desprovida de abrigos e perigosa à navegação. Apesar do caráter terrestre do povo, havia
expedições marítimas para o norte, em busca de madeira, escassa no Egito, e para o sul, percorrendo o Mar Vermelho
até a “Terra do Ponto”, nas proximidades da Somália, em busca de ébano e incenso.
O primeiro grande período da civilização egípcia (o Império Antigo) foi marcado pela utilização, pela primeira
vez, da pedra na construção de um tipo de pirâmide (a de Degraus), em 2.780 a.C, concebida pelo famoso arquiteto e
médico Imhotep. Menos de cem anos depois surgiu a verdadeira pirâmide, cuja câmara mortuária já não se
encontrava no subsolo, mas no centro do seu interior. São as famosas três pirâmides de Gizé, construídas por Quéope,
Quéfren e Micerino (pai, filho e neto, respectivamente), com cerca de 145 metros de altura, em pedra calcária, uma
das sete maravilhas do mundo antigo.
A partir de 2.500 a.C, lutas dinásticas começaram a enfraquecer o trono, com guerras civis constantes, saques e
invasão das fronteiras por outros povos. Em 2.050 a.C o país foi novamente unificado, iniciando-se o Médio Império,
que durou até 1.780 a.C, com o incremento das expedições marítimas.
Os primeiros barcos de carga egípcios percorriam o rio Nilo à vela, quando navegavam para o sul; para o norte,
usavam remadores e aproveitavam a corrente. As embarcações transportavam gado e produtos agrícolas. Outras
embarcações navegavam no Golfo Pérsico e mais além, transportando cereais e tecidos, e no regresso traziam
marfim, pérolas, madeiras e especiarias, expandindo o comércio.
Os egípcios inventaram a escrita diferente da cuneiforme dos sumérios, usando símbolos pictoriais (os
hieróglifos) e foram o primeiro povo a constituir uma nação. Descobriram a planta do papiro, que secavam e
cortavam em tiras e na qual escreviam e desenhavam com tinta. O papiro egípcio rapidamente difundiu-se no mundo
mediterrâneo, sendo a cidade de Biblo, no Líbano, que deu nome à Bíblia, o principal mercado exportador. Foram
grandes construtores usando a pedra e exímios carpinteiros, artífices e matemáticos, além de se notabilizarem na
medicina, com tratados e técnicas apuradas, dentre as quais a mumificação de corpos.
As profundas crenças religiosas foram sustentáculo de sua civilização, eram politeístas. Os egípcios inventaram
o calendário de 365 dias, já utilizando o ano dividido em doze meses. Ignora-se o significado exato da forma utilizada
nas suas pirâmides, crendo-se que poderia tratar-se de uma escada gigantesca pela qual o faraó subiria até o sol, com
o qual se uniria após a morte. As quatro faces da pirâmide eram orientadas para os pontos cardeais (N, S, E, W). O
faraó era considerado como tendo qualidades divinas, com autoridade absoluta, e representava na terra Horo, deus do
céu.
Em XIV a.C., o faraó Amenofis IV tentou realizar uma reforma religiosa substituindo o politeísmo pela
adoração a uma única divindade, Áton, o deus solar. Edificou uma nova cidade, Aketaton, a 400 km do Nilo, onde
vivia com Nefertiti, sua formosa mulher. Após a morte de Amenofis, voltou o politeísmo no Egito.
Um dos grandes feitos navais da dinastia dos faraós ocorreu em 1.504 a.C, já no Novo Império, quando a rainha
Hatshepsut apoderou-se do trono, após a morte do marido, em lugar do jovem sobrinho Tutmósis, e determinou que
uma grande expedição marítima se dirigisse à “Terra do Ponto” em busca de mirra, marfim, ébano, peles de pantera,
ouro e mercadorias exóticas do coração da África. Depois de sua morte, após vinte anos de reinado, seu sobrinho
Tutmósis, por vingança, mandou apagar todos os registros do reinado da tia.

2 – EGITO: A FORMAÇÃO DE UM IMPÉRIO


A natureza especial do solo do sistema hidrográfico característico do Egito fez, desde os tempos mais recuados,
das duas margens do Nilo, uma terra fértil com a condição de que o homem, por um labor continuado e intenso, a
preservasse de perpétua e tríplice ameaça: a ação devastadora das águas limosas, a ardência das épocas de seca e a
marcha invasora das areias do deserto. Em conseqüência, desde sua remota origem até a queda da antiga monarquia,
o povo egípcio dedicou-se sobretudo à agricultura e teve poucos contatos com os povos vizinhos. Fatores diversos,
porém, fizeram com que, ao lado da agricultura, conseguisse também a indústria alcançar nível elevado, e cerca do
ano 3300 A.C., a fabricação de tecidos, motivada em grande parte pela esplêndida qualidade do linho daquelas
regiões, já alcançava importância. Surge assim o país dos faraós em época muito remota, com um centro de indústrias
diversas e progressivas. Juntamente com seus cereais, que em período de escassez eram solicitados pelos países
vizinhos, fornecia o Egito uma série de produtos artísticos, dando com isso potente estímulo ao comércio. Como o
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Nilo era navegável mesmo no período de seca, e os canais que sulcavam o país contribuíam para intensificar o
tráfego, explica-se a existência de um animado tráfego interior cujo centro foi Pelúsio, cidade solidamente fortificada
que ficava perto da fronteira oriental. O tráfego marítimo teve, em compensação, escassa importância durante a época
dos faraós. As costas desprovidas de abrigos e perigosas para a navegação, a falta de madeiras e os preceitos
sacerdotais que predicavam a aversão ao mar, serviram de estímulo à repulsa que esse povo de agricultores sentia
pela água. Entretanto, o governo interveio por diversas vezes no comércio por meio de expedições navais em que o
faraó tomava a iniciativa, com o fim de estabelecer relações diretas de troca com os países do Ponto, situados na
Arábia Meridional e pátrias do incenso, produto então muito procurado. Semelhantes expedições, determinadas pelos
faros e organizadas pelo Estado, foram, sobretudo, freqüentes durante as XII e XIII dinastias. Depois de instalação da
Nova Monarquia, o tráfego pelo mar Vermelho, quase completamente interrompido sob a dominação dos Iksos,
retomou, graças ao poder real, uma força e um arrojo até então desconhecidos. As expedições marítimas
multiplicaram-se, sobretudo devido à iniciativa dos faraós da XVIII dinastia, ao mesmo tempo em que aumentavam
as trocas com a Núbia.
Após as conquistas realizadas nas costas asiáticas, o centro político do Egito se transformou, com Ramsés II,
para o Norte, ou mais exatamente para o delta Oriental. O Egito se abriu então largamente ao contato com os povos
navegadores do Mediterrâneo. Os últimos faraós esforçavam-se por completar e aperfeiçoar a obra de organização do
comércio egípcio realizado por seus predecessores. Psamético fundou numerosos centros de negócios e uma grande
frota mercante. Necao, mais empreendedor ainda, deu forte impulso ao comércio arábico com o fim de colocar nas
mãos dos egípcios o monopólio do tráfego das especiarias.
Conquistado através dos séculos, sucessivamente pelos assírios, persas, e por fim pelos gregos, sob Alexandre,
o Grande, o Egito não perdeu. Apesar de tudo, a importância comercial. Bem pelo contrário, com um gesto de
vidente, o conquistador fundou Alexandria numa situação incomparável, na costa vasta e sem refúgios de país interior
incomensuravelmente rico, na desembocadura do seu único rio, no limite de duas partes do mundo e unido com a
terceira, mais do que separado, por um mar mediterrâneo sumamente irregular. Desenvolveu-se Alexandria com
inesperada rapidez, convertendo-se não só em magnífico centro de arte e de ciência como também na praça comercial
mais grandiosa do mundo antigo. Ela concentrava, ao mesmo tempo, os gêneros e os produtos manufaturados do vale
do Nilo, os gêneros e as matérias-primas vindas da Etiópia, da África Oriental, da Arábia, da Índia, os quais, por seu
intermédio, espalhavam-se em todo o mundo grego até o Ocidente. Sua população, onde se misturavam gregos,
egípcios e judeus orientais, já se distinguia pela fisionomia cosmopolita que caracteriza hoje os grandes portos do
Levante. O movimento de negócios era de uma intensidade notável. O local da cidade, escolhido por Alexandre,
permitiu a criação de um porto marítimo ao norte de um porto fluvial ao sul. O porto marítimo, entre a margem e a
ilha Pharos, protegido contra as ondas do leste pelo cabo Locias e pelo molhe que o prolongava, era dividido em duas
partes pelo Heptardion, molhe que unia Pharos à terra firme. A leste ficava o grande porto cuja entrada era assinalada
de dia e iluminada de noite pela famosa torre de Pharos, origem dos faraós, enquanto, o grande porto protegia os
arsenais e a frota de guerra.
A comercial Alexandria, convertida em sede do governo pela dinastia dos Ptolomeus, em seguida à partilha dp
Império de Alexandre, o Grande, contrastava notavelmente comas capitais faraônicas de Tebas, Sais e Memphis. Não
obstante, convém observar que, no Nilo como os Eufrates, o centro de gravidade da vida econômica era constituído
pela agricultura, e que a indústria e o comércio só em segundo termo ocupava a vida dos moradores. A principal
atividade do povo egípcio foi sempre a cultura dos campos e a criação de animais, porquanto o comércio em
Alexandria era exercido em grande parte por judeus e gregos.
As referências feitas por Plutarco e por outros historiadores ao número de navios queimados pelos soldados de
Júlio César em Alexandria, durante a conquista romana, e às forças navais de Antônio, na guerra contra Augusto,
mostram não terem sido pequenos os recursos do Egito no mar, malgrado o caráter terrestre de seu povo.
Em suma, o Egito antigo caracteriza, sob o ponto de vista marítimo, uma nação continental que se desenvolveu
inicialmente livre da influência das rotas oceânicas e que, por força do próprio progresso, foi levado a participar cada
vez mais das atividades nos mares. A evolução egípcia exemplifica também a tendência de povos interiores buscarem
a saída livre das rotas marítimas, com decorrência inevitável do desenvolvimento.

3 – OS EGÍPCIOS E OS “POVOS DO MAR”


No seu oitavo ano de reinado, em 1.190 a.C Ramsés III viu-se às voltas com os “Povos do Mar”, assim
denominado um bando de nômades ladrões de terra, um grupo heterogêneo incluindo indivíduos das ilhas do mar
Egeu, da costa ocidental da Ásia Menor, da Grécia e talvez da Síria, que tinham o hábito de viajar em companhia das
suas famílias, em carroças de duas rodas puxadas por bois.
Entre esses povos encontravam-se os filisteus, mencionados no Antigo Testamento, inimigos declarados dos
judeus. Por onde passavam, os “Povos do Mar” deixavam um rastro de morte e destruição. Anteriormente já haviam
severamente derrotado os hititas, inimigos dos egípcios. As forças dos “Povos do Mar” estavam divididas em uma
frota naval que percorria o Mediterrâneo Oriental e um exército que avançava por terra. A batalha terrestre entre os

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egípcios e os “Povos do Mar” foi muito disputada, cruel e sangrenta, vencendo o exército egípcio, surpreendendo o
inimigo, que não esperava pela luta imediata. Travada a batalha, um outro confronto aguardava os egípcios, pois a
frota guerreira dos “Povos do Mar” encontrava-se numa das muitas embocaduras do delta do Nilo, preparada para
avançar rumo a Mênfis, capital administrativa do Egito. Ramsés reuniu a maior frota da história do Egito, dirigindo as
operações da margem do rio, de onde seus homens podiam arremessar setas em direção aos navios inimigos. Os
navios egípcios, com seus homens remando à toda força, atacaram e afundaram dezenas de naus adversárias. Os
“Povos do Mar” foram amplamente derrotados e nunca mais voltaram. A partir dessa época o império egípcio
começou a entrar em decadência.

4 – A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO EGÍPCIO


Cerca de 1.085 a.C a idade de ouro do Império Egípcio passara. O país foi seguidamente invadido por
diferentes povos e os faraós viram-se à mercê da corrupção e da desorganização, enfrentando escassez de recursos e
guerras civis. Tropas assírias ocuparam Mênfis durante longo tempo. Após o século VIII, o Egito recuperou sua
independência e unidade nacional, sob nova dinastia, que escolheu como nova capital a cidade de Sais, no delta do
Nilo. A prosperidade restabeleceu-se, o comércio renasceu, com fortes relações com a Grécia, na economia, na arte e
na cultura em geral.
Em 525 a.C, Cambises, o Persa, filho do rei persa Ciro, saiu da Palestina e invadiu as terras egípcias, sendo
coroado faraó, iniciando-se o domínio persa. Dois séculos mais tarde, em 332 a.C, depois de triunfar na Ásia Menor e
na Síria, Alexandre, o Grande, penetrou no Egito e expulsou o último governador persa. Alexandre nasceu em 356
a.C na Macedônia, região montanhosa ao norte da Grécia.
Alexandre deu grande impulso ao Egito, fundando a
cidade de Alexandria, grande centro de arte e ciência,
mantendo forte intercâmbio com Etiópia, África Oriental,
Arábia e Índia. Alexandria tornou-se um grande porto
comercial (ao norte) e fluvial (ao sul), muito explorado por
gregos e judeus, destacando-se o farol da ilha de Pharos, uma
das sete maravilhas do mundo antigo, com 140 metros de
altura, junto à embocadura do porto, cuja luz proveniente de
algum tipo de combustível (talvez petróleo) podia ser vista a 56
km de distância. Possuía a cidade também célebre biblioteca,
com milhares de livros escritos em rolos de papiros, que foi
destruída por um incêndio no século 3 a.C, e um centro de
estudos, o Museion, no qual trabalharam o matemático
Euclides e o astrônomo Aristarco.
Após a morte de Alexandre, em 323 a.C, na Babilônia,
com 33 anos, seu vasto Império foi tomado por seus generais,
Antígono, Seleuco, Ptolomeu e Lisímaco, e seus descendentes.
A Macedônia foi dominada por Antígono; a Síria, com partes
da Pérsia e da Mesopotâmia, foi dominada por Seleuco; coube
a Ptolomeu o Egito. Estes reinos, apesar de fragmentados,
ainda duraram três séculos. O reino dos ptolomeus foi o mais
resistente. Só em 30 a.C, após a morte de Cleópatra, a última
ptolomeu, esgotou-se a herança de Alexandre.
O advento do cristianismo anunciou a morte da velha religião de muitos deuses. A outrora esplendorosa
civilização egípcia sucumbiu finalmente, sobrevivendo apenas a sua língua.

5 – POVOS MESOPOTÂMICOS

5.1 – SUMÉRIOS
Cerca de 5.000 a.C. os sumérios surgiram entre os rios Tigre e Eufrates e constituíram a primeira civilização do
mundo. Os sumérios inventaram a escrita cuneiforme em 3.000 a.C., para registros comerciais feitos em barro cozido,
desenvolveram a agricultura, descobriram metais e desde aquela época utilizavam veículos de rodas de madeira. A
região, chamada de Mesopotâmia, depois foi pátria dos acadianos, dos babilônios e dos assírios. Os mesopotâmios
sobreviveram mais de três mil anos, até a conquista de Babilônia, pelos persas, em 539 a.C. Eles acreditavam em
deuses protetores e eram excelentes metalúrgicos e matemáticos, pois inventaram a base 10 e a base 60, dividindo o
círculo em 360º e as horas em 60 minutos. Os conhecimentos dos sumérios foram passados para os babilônios e
assírios, povos que os sucederam.

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5.2 – BABILÔNIOS E ASSÍRIOS


Babilônia era uma cidade-estado da Mesopotâmia. Em 1.900 a.C. tornou-se a capital de um pequeno reino.
Hamurabi foi seu primeiro grande rei, que de 1792 a 1750 a.C., durante 42 anos, tornou Babilônia o centro de um
próspero Império. Hamurabi foi o autor de diversas leis, reunidas em um código, que durou mais de dois mil anos.
No século XVI a.C., Babilônia caiu sob o controle dos cassitas, durante quatrocentos anos. Neste período,
Marduck passou a ser a principal divindade em toda a Mesopotâmia, esculpida em uma imagem toda em ouro.
No século IX a.C., os assírios dominaram e destruíram a cidade, sob o comando de Senaqueribe, e a estátua de
Marduck foi levada para Nínive, capital da Assíria. Os assírios eram um povo semita que se estabelecera ao norte do
Tigre, usavam armas de ferro de aprimorada fabricação e inteligentes táticas de guerra. Devido à sua localização
geográfica, os assírios viram-se forçados a travar inúmeras batalhas, para manter abertas suas rotas comerciais.
A cidade de Babilônia foi reconstruída pelo sucessor de Sanaquiribe. Em 626 a.C, os babilônios declararam-se
independentes; porém somente quatorze anos depois o Império Assírio foi derrotado pelos babilônios, auxiliados
pelos medos, e Nínive, destruída. O Império Assírio foi então dividido entre medos e babilônios.
Em 605 a.C., Nabudoconosor subiu ao trono após a morte de seu pai, reinando durante 43 anos, recuperando
novamente a cidade e construindo muitos templos, usando operários de toda a região, inclusive os judeus que tinham
sido expulsos de Jerusalém em 586 a.C. Os barcos de Nabudoconosor, tripulados por fenícios, desciam o Eufrates até
o Golfo Pérsico, carregando lã, tecidos e cevada, e trazendo mercadorias no seu retorno.
Em 539 a.C., Ciro, rei dos persas, ordenou que desviassem o curso do rio Eufrates para um pântano, para
permitir a passagem de suas tropas, e invadiu Babilônia, durante um banquete do rei Baltazar, em dia de feriado,
quando os conselheiros babilônios bebiam vinho nas taças sagradas trazidas de Jerusalém. Ciro, enfim, passou a
reinar sobre toda a Mesopotâmia, sobre a Síria e a Palestina.
Porém, em 482 a.C., os babilônios revoltaram-se contra o domínio persa, exercido por Xerxes, que mandou
arrasar as muralhas e os templos da cidade e derreter a imagem de ouro de Marduck. Finalmente em 331 a.C.
Babilônia foi dominada por Alexandre, o Grande, que projetava fazer da cidade uma jóia do seu vasto Império.
Porém a morte de Alexandre, com a divisão do seu Império, fez a cidade entrar em decadência. Em 275 a.C, grande
parte de sua população foi transferida para uma nova capital junto ao Tigre.
Os jardins suspensos da Babilônia, construídos por Nabudoconosor, por volta de 600 a.C., para sua mulher,
tornaram-se uma das sete maravilhas do mundo. Os babilônios também se destacaram na astronomia, criando o mapa
das estrelas, e estudaram os movimentos dos planetas.

5.3 – POVOS HITITAS


Os hititas formaram uma potência dominante no Oriente Médio, de 1.500 a 1.200 a.C., tendo sua capital Hatusa
a 80 km a leste da atual Ancara, na Turquia. Eram um povo indo-europeu oriundo do norte, que atravessou as
montanhas do Cáucaso com o objetivo de subjugar as populações da Anatólia (atual Turquia).
Foram os primeiros povos a utilizar largamente o ferro, que era fundido a altíssimas temperaturas (1.300º C).
Os hititas travaram inúmeras batalhas, sendo numa delas, a de Kadesh, no rio Orontes, na Síria, derrotados pelos
egípcios, durante o reinado de Ramsés II.
Os hititas lutaram também contra os “Povos do Mar”, dentre os quais encontravam-se os filisteus, sendo
amplamente derrotados cerca de 1.200 a.C. Começou, então, a derrocada do Império Hitita.

6 – OS FENÍCIOS, UM POVO EM BUSCA DO MAR


A Fenícia, na época mais brilhante de sua história, não era mais que uma região estreita que, desde Arad até o
Monte Carmelo, estendia-se num comprimento de 50 léguas do 35º ao 33º grau de latitude e numa largura, entre o
Mediterrâneo e as escarpas rochosas do Líbano, de 3 a 10 quilômetros. Tal território não podia sustentar seus
habitantes, pois a agricultura oferecia um rendimento mísero pela escassa fecundidade do solo. À parte duas pequenas
planícies, o país compunha-se de ravinas por onde desciam torrentes de neve fundida. Compreende-se desse modo
que os habitantes considerassem, desde época muito remota, o mar como fonte de seu sustento; e se o Monte Líbano
não lhes permitia estenderem-se para o interior das terras, fornecia-lhes, em compensação, madeiras de construção,
como pinheiros, ciprestes, cedros; a costa, por sua vez oferecia uma série de portos naturais, nos quais os fenícios
construíram as cidades onde se instalou uma população de pescadores e marinheiros com uma aristocracia de
comerciantes. Depois de haverem buscado na pesca a subsistência que a terra não lhes podia oferecer. Eles se fizeram
mercadores e piratas, favorecidos pela posição geográfica de seu território em frente aos países fecundos da Bacia
Mediterrânea, ao lado dos Estados antigos de maior desenvolvimento cultural e industrial e colhendo, por meio do
comércio, “as riquezas do Levante e ‘as distribuídas pelas regiões do Oeste”. Beirute, Aça, Jaffa e, sobre todas elas,
Tiro e Sidon tornaram-se os pontos de apoio de uma atividade mercantil que enlaçava os círculos culturais asiáticos e
egípcios.
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Os fenícios exploraram sucessivamente as costas do Mediterrâneo e as ilhas dos arquipélagos, oferecendo aos
gregos, ainda bárbaros, os produtos da indústria egípcia ou asiática. Quando podiam aprisionavam mulheres e
crianças para as venderem noutro lugar. Com intuição feliz, andavam e procuravam nos vários centros a matéria-
prima que escasseava, não só no prórpio país, mas nas regiões e nos Estados vizinhos. Souberam tornar-se
indispensáveis a tal ponto, que obtiveram dos faraós egípcios o monopólio grande e pequena cabotagem entre os
pontos daquele Império. Unindo a audácia aventureira do marinheiro à habilidade do mercador, eles conseguiram
rapidamente estabelecer entre os povos disseminados ao longo do Mediterrâneo e além das Colunas de Hércules
(estreito de Gilbratar) um sistema de trocas intensas.
As invasões egípcias efetuadas sob as dinastias XVII, XIX e XX, não parecem ter afetado o desenvolvimento
comercial dos fenícios. Aceitando o domínio dos faraós, em troca obtiveram o monopólio do comércio egípcio e
puderam estender suas relações ao mesmo tempo sobre o Mediterrâneo e o mar Vermelho. É nessa época que se situa
a fundação das primeiras colônias fenícias na costa da Caria e da Kilídia, em Chipre, em Creta, em várias ilhas dos
arquipélagos e do norte da África. Sidon, que não tinha sido na origem senão uma cidade de pescadores, herdou
supremacia antes exercida pelas cidades de Arad e Biblos e tornou-se a metrópole de um vasto império marítimo.
Forçados mais tarde pelos progressos da Marinha grega a se retirarem, pouco a pouco, das ilhas dos
arquipélagos do Egeu, os fenícios estabeleceram numerosos empórios na parte ocidental do Mediterrâneo, na
Espanha, Gália, Itália, Silícia, Malta, Córsega, Sardenha e ilhas Baleares. Entre os séculos IX e XI A.C., depois da
fundação de Utica (na Tunísia) e de Cádiz, mas antes da de Cartago, os fenícios desenvolveram as trocas comerciais
na parte ocidental do Mediterrâneo. Para proteger a rota mercantil de Gades (Cádiz) e de Malaca (Málaga), criaram
estações marítimas na Silícia da mesma forma que na Tunísia, nos pontos do litoral onde havia os melhores portos
naturais. As ilhas vizinhas, Malta, Gozo, Pantelaria e Lampedusa, foram assim transformadas em estações marítimas.
Na Silícia, o avanço dos colonos gregos, no começo do século VIII A.C., provocou a retirada gradual dos fenícios
para o noroeste da ilha onde eles conservaram as cidades de Panormium (mais tarde Palermo), Motya e Solans, que
estavam bem colocadas para curtas travessias à vela em direção a Cartago, então já uma cidade florescente.
Provavelmente os fenícios estabeleceram também ponto de apoio no local onde hoje se situa Lisboa. Alguns
historiadores admitem mesmo que os fenícios tenham estendido suas expedições marítimas até às Canárias, em pleno
Atlântico, e talvez ainda mais ao sul, às ilhas do Cabo Verde. Outros historiadores admitem apenas que navegantes
isolados talvez tenham chegado às costas do mar Vermelho, às ilhas Canárias e as Scilly (Inglaterra); em
compensação, a hipótese de uma influência mercante fenícia na África Meridional e de uma navegação em caráter
regular pelo mas Vermelho e pelo oceano Índico, ou de verdadeiras expedições à Grã-Bretanha e às costas nórdicas,
são hoje consideradas como desprovidas de fundamento. Gades (Cádiz), na parte meridional da península ibérica, é a
colônia fenícia mais avançada que se conhece com segurança.
As cidades fenícias não se comunicavam facilmente uma com as outras, a não ser por mar, e conservaram entre
si uma autonomia, constituindo mesmo cada centro urbano uma unidade política independente. Compreende-se que
entre elas tenham nascido rivalidades ferozes, chegando algumas a emprestar esquadras às potências estrangeiras para
abater a rival. Ao que consta, Tiro foi obrigada certa vez a enfrentar navios de Sidon cedidos aos assírios.
Naturalmente as dissensões internas facilitaram a agressividade das nações próximas e, além dos egípcios, os fenícios
sofreram o domínio de vários outros povos no decorrer de sua história. A opressão de estados mais poderosos talvez
tenha concorrido para incrementar a expansão marítima fenícia. A própria Cartago, ao que parece, foi fundada por
imigrantes que fugiam ao domínio estrangeiro ou a lutas internas. Muitas vezes, porém, favorecidas pela posição de
suas cidades, geralmente construídas em ilhas ou em penínsulas de fácil defesa, os fenícios resistiram ferozmente às
invasões. Provavelmente, a posse livre do mar garantiu o suprimento das cidades sitiadas, pois de outra forma é difícil
explicar como Tiro, por exemplo, só tenha caído em poder dos assírios após cinco anos de assédio, ou tenha resistido
por treze anos ao cerco dos babilônios sob comando de Nabucodonosor.
Através dos séculos e apesar das múltiplas vicissitudes, o comércio marítimo ficou sendo sempre a principal
atividade do povo fenício. Por causa dele, tiveram os fenícios que conquistar e conservar o domínio absoluto do mar,
o que conseguiram, graças a instituições particulares. Para conservar o monopólio do tráfego marítimo, as
comunidades fenícias guardavam rigorosamente secretos seus itinerários comerciais. Aos antigos trazidos de países
longínquos associavam lendas de serpentes aladas e gigantescos pássaros venenosos. Quando preciso, assaltavam os
navios de outros povos que ousassem concorrer aos mesmos mercados e indicavam derrotas erradas com o fito de
causar a perda dos rivais. Para estenderem as suas navegações tornaram-se exímios construtores navais. Os seus
navios eram quase redondos e de pouco calado, a fim de poderem navegar junto à praia. Venciam o vento contrário
por meio de velas largas e grandes remos. Para a guerra construíam navios longos e afilados. Ainda foram os fenícios
os primeiros a aproveitarem no mar as observações astronômicas de que os outros povos se serviam para
adivinhações.

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A superioridade dos fenícios no setor marítimo era reconhecida por todos os demais povos que ou recorriam
diretamente à utilização de sua Marinha ou encomendavam a construção de suas frotas nos estaleiros de Tiro e Sidon.
Ao que consta, a frota de Salomão bem como a de Semíramis e a de Sesóstris foram construídas nos estaleiros
daquelas cidades; Assurbanipal valeu-se de uma esquadra fenícia para o transporte de seus exércitos Nilo acima na
conquista do Egito, e os babilônios recorriam aos navios de Sidon para o deslocamento de tropas ao longo do rio
Eufrates. Também foi em navios fenícios que os persas procuraram disputar aos gregos o domínio do mar Egeu no
decorrer das Guerras Medas.
Embora recente investigação tenha reduzido as exageradas idéias que prevaleciam a respeito da indústria, do
comércio e do tráfego dos fenícios, não pode haver dúvida alguma de que, como mestres na navegação, deram grande
impulso ao tráfego marítimo no Mediterrâneo onde foram os primeiros portadores da cultura, difundindo as
invenções feitas pelo Egito e pela Ásia. Concentraram igualmente em suas mãos todo o comércio mundial daquela
época. Na história dos grandes monopólios mercantis, o procedimento dos fenícios foi considerado como exemplar
pelo espaço de vários séculos.
A potência econômica fenícia foi arruinada pela conquista Macedônia e pela fundação de Alexandria cerca de
332 a.C., Cartago, a mais importante de suas colônias, que já possuía o comércio do Mediterrâneo Ocidental, herdou
o comércio fenício.
Foi, assim, a Fenícia a primeira nação no mundo ocidental a se constituir e evoluir sob a influência contínua e
direta do mar. Os primeiros fenícios estabeleceram-se ao longo da costa oriental do Mediterrâneo desde cerca de
5.000 a.C. Inicialmente eram pastores, caçadores e colonizadores, entre os quais encontravam-se hebreus, o primeiro
povo da história a abandonar o politeísmo.
Os fenícios logo se lançaram ao mar, compelidos pela estreiteza de seu território, que ia da Turquia ao Egito,
com cerca de 800 km, mas cuja exiguidade, entre o mar e as escarpas do Monte Líbano, rico em florestas, pouco
ultrapassava dez quilômetros. O terreno pouco fecundo obrigou o povo fenício a cedo buscar seu sustento no mar,
iniciando-se no comércio e na pirataria. Os fenícios foram o primeiro povo a romper com a tradição do comércio
terrestre, estabelecendo diversos pontos de apoio na costa e nas ilhas, para onde trocavam produtos egípcios e
asiáticos. Biblo, um pouco ao norte da atual Beirute, transformou-se no centro de comércio dos semitas e era uma das
mais antigas cidades do mundo (cerca de 2.600 a.C), sendo eclipsada mais tarde por Tiro e Sidon.
A superioridade fenícia no mar era tanta que outros povos utilizavam seus estaleiros, nas diversas cidades, para
a construção de embarcações. Os navios fenícios e respectivas tripulações eram requisitados para expedições
marítimas idealizadas por outros governantes, como ocorreu com o faraó egípcio Neco (609-593 a.C), que mandou
uma esquadra fenícia realizar uma viagem de circunavegação à África, descendo o Mar Vermelho e retornando por
Gibraltar, com a duração de três anos. A sua proeza só foi repetida pelos europeus em 1497, quando Vasco da Gama
dobrou o cabo da Boa Esperança.
Os fenícios, além de ótimos construtores navais e hábeis marinheiros, eram grandes engenheiros. Os barcos
fenícios geralmente eram movimentados por 50 remadores distribuídos em duas fileiras, tinham um aríete na proa,
junto à quilha (o esporão). Os navios de carga eram quase redondos e muitos deles possuíam pouco calado para
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navegar junto às praias, enquanto os barcos para a guerra eram mais finos, para permitir mais governabilidade. Foram
os fenícios os primeiros a aproveitar no mar as observações astronômicas, que até então eram usadas em
adivinhações. Consta que foram os babilônios que ensinaram aos fenícios os rudimentos da navegação pelos astros.
Sabe-se também que o alfabeto surgiu pela primeira vez na Fenícia cerca de 2.000 a.C. Foi em Biblo que se
começou a utilizar a escrita alfabética, sendo modificada posteriormente pelo grego e pelo latim até a moderna escrita
romana, dando origem ao alfabeto ocidental atual. Foram os fenícios também que levaram para a Grécia o papiro, daí
originando-se a palavra de origem grega bíblia para descrever os livros feitos com ele.

7 – O MONOPÓLIO DO COMÉRCIO FENÍCIO NO MEDITERRÂNEO


Ao aceitarem, nos séculos XVII, XIX e XX a.C, o domínio dos faraós, os fenícios acabaram obtendo o
monopólio do comércio egípcio em todo o Mediterrâneo, chegando a atingir Cádiz, na península ibérica, a colônia
fenícia mais avançada. Tinham o domínio do Mar Mediterrâneo e espertamente guardavam em rigoroso segredo seus
itinerários comerciais. Os fenícios fabricavam tecidos de lã, de sua própria produção, e com estopa e linho egípcio, e
com marfim, pedras preciosas e metais importados destacaram-se como joalheiros. De um molusco (múrice)
retiravam um corante chamado “a púrpura de Tiro”, que se tornou a cor tradicional da realeza e originou a palavra
grega phoinix.
As cidades fenícias comunicavam-se entre si pelo mar, tinham certa autonomia administrativa e política e não
raras vezes duelavam ferozmente umas com as outras, disso se aproveitando algumas nações mais próximas para
tentar invadi-las. A defesa era facilitada pela localização de Tiro, Trípolis e Arvad, situadas em promontórios ou
ilhotas ao largo, apenas Sidon ficava no continente. Tais pressões, longe de atemorizar os fenícios, serviam para
motivá-los a expandirem-se ainda mais.
O vastíssimo império fenício, no seu esplendor, comerciava com Sicília, Sardenha, Egito, Mesopotâmia,
Espanha, Malta, norte da África, Grécia, etc.
A potência econômica fenícia entrou em decadência quando Alexandre, o Grande, da Macedônia, invadiu o
Egito em 332 a.C e em seguida fundou Alexandria, que se tornou notável centro comercial e cultural. Cartago, a mais
importante colônia fenícia, que já dominava o comércio no Mediterrâneo Ocidental, passou, como herdeira, a
representar o comércio marítimo fenício remanescente.

8 – A PODEROSA CARTAGO
A fundação de Cartago, considerada a mais poderosa das colônias fenícias, ocorreu no fim do século IX a.C. A
cidade tornou-se o pólo comercial para onde afluíam as caravanas do interior da África, principalmente depois que
Tiro perdeu a primazia comercial em conseqüência da invasão e domínio assírio. A presença cartaginesa era
extraordinária em todo o Mar Mediterrâneo, considerado um mar fechado a embarcações estrangeiras. Muitos nobres
cartagineses eram armadores e banqueiros, transformando a cidade em um “império capitalista”.
Cartago possuía uma marinha mercante e uma marinha de guerra inteiramente nacionais, ao contrário do seu
exército, integrado por mercenários. A construção naval era intensa, aproveitando a madeira africana.
As forças cartaginesas empenharam-se em lutas constantes contra etruscos, gregos, massílios e romanos. Por
ocasião das três Guerras Púnicas com Roma, Cartago construiu navios com várias fileiras de remos, que podiam
transportar 120 soldados e 300 marinheiros cada um. Contra Siracusa, na Sicília, Cartago armou 152 navios. E a
Xerxes, rei da Pérsia, nas Guerras Medas entre persas e gregos, Cartago forneceu dois mil grandes navios de
transporte.
Coube a Roma em 146 a.C, na terceira Guerra Púnica, destruir o domínio cartaginês sobre os mares, abrindo as
rotas marítimas do Mediterrâneo para outros povos.

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AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES E O MAR

III - GRÉCIA ANTIGA E IMPÉRIO PERSA

1 – CARACTERÍSTICAS DA GRÉCIA ANTIGA


O território recortado, com incontáveis ilhas e penínsulas, dificultava a comunicação interna na Grécia. No solo
nem sempre fértil, rodeado de montanhas, a produção de cereais era escassa, levando à importação de alimentos, por
via marítima, principalmente de trigo. Regiões mais distantes, como o mar Negro, o Egito e a Líbia, e mais próximas,
como a Sicília, eram mercados preferenciais. A oliveira era plantada em abundância no solo grego e a produção do
azeite de oliva, muito usado na iluminação, era largamente exportada. Com tais características, os gregos buscaram
no mar, desde cedo, o seu principal sustento.
Pouco se conhecem da vida na Grécia no
período de 1.100 a 800 a.C, os “anos obscuros”
gregos. Vimos anteriormente que a região era
habitada por povos guerreiros e agressivos (os
micênicos, por exemplo). De 800 a 500 a.C. as
cidades gregas foram governadas por oligarquias.
Solon, um desses governantes, em 600 a.C.
distinguiu-se por expandir a legislação e os
preceitos da obediência aos direitos e deveres. Em
621 a.C., Dracon, um legislador ateniense, elaborou
um código penal rigorosíssimo, que punia até com
a pena de morte aquele que roubasse um pé de
couve. Apesar de cada cidade ter sua autonomia
política e serem até rivais, havia um sentimento de
unidade nacional quando se tratava de combater o
inimigo externo. As cidades gregas, denominadas
de cidades-estado, eram separadas por altas
montanhas e seus habitantes desenvolviam alianças
entre si e coligações, cada cidadão dando sua
contribuição para a sociedade à qual pertencia. Daí
dizer-se que a Grécia foi o berço da democracia.
Pireu era uma cidade portuária, com Atenas a nordeste, nas proximidades, e Esparta mais ao sul.
Os gregos foram grandes mestres na cerâmica, na escultura, na poesia e na ciência e se destacaram na medicina;
Hipócrates, considerado o pai da medicina, nasceu na Grécia.

2 – “POVOS DO MAR”
Foi assim denominado um bando de nômades ladrões de terras, constituindo um grupo heterogêneo composto
por indivíduos provenientes das ilhas do mar Egeu, da costa ocidental da Ásia Menor, da Grécia e talvez da Síria.
Tinham o hábito de viajar em companhia das suas famílias, em carroças de duas rodas puxadas por bois. Após as
lutas contra os egípcios, nas quais foram derrotados, os “Povos do Mar” que não foram mortos ou escravizados
dividiram-se em vários grupos: alguns fixaram-se na Sardenha (os sherden); outros colonizaram a Sicília (os
shekelesh); os teresh se estabeleceram no noroeste da Itália, misturaram-se aos habitantes locais e originaram os
etruscos; alguns grupos tjeker fixaram-se ao sul do Monte Carmelo; outros foram para Chipre; o grupo dos peleset, ou
filisteus, retirou-se para o sul de Canaã, dando o seu nome à terra onde se fixou – a Palestina. Lá os filisteus
encontraram tribos hebraicas, que há muito tempo haviam se instalado nas colinas da região, denominada de Judá.

3– A EXPANSÃO GREGA NO MAR


Do século IX a.C. ao século VII a.C. os gregos espalharam-se no Mediterrâneo, fundando numerosas colônias,
penetrando para o nordeste em direção ao mar Negro. De 750 a.C. a 550 a.C. dominaram o mar Egeu e o mar Jônio.
Era pelo mar que as colônias se comunicavam, exigindo marinhas de guerra para a proteção de seu comércio contra a
pirataria. Os gregos foram aos poucos fazendo concorrência com os comerciantes fenícios, que até então dominavam
amplamente o Mediterrâneo. Com o progressivo afastamento dos barcos fenícios, acabou florescendo o porto de
Pireu, que no século V a.C. se transformou no ponto de encontro de comerciantes e embarcações. De lá os navios se
aventuravam para regiões mais distantes, buscando Chipre e penetrando no mar Adriático até Hídria, propulsionados
à vela, pois raramente usavam os remos. A marinha grega, no entanto, não era tão eficiente, pois os piratas,
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principalmente no mar Egeu, atuavam quase sem obstáculos. Talvez porque as batalhas fossem geralmente travadas
em terra, para a ocupação dos territórios, a marinha grega não tinha tantos motivos para desenvolver-se. É possível
que, posteriormente, a pressão militar exercida pelos persas tenha estimulado a sociedade helênica a procurar
estabelecer uma marinha de guerra mais combativa e mais adequada a defendê-la. A pobreza florestal da Grécia não
impediu que seus habitantes construíssem uma frota de guerra cujas embarcações depois se espalharam por todo o
Mediterrâneo.

4 – A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO PERSA


Os primeiros habitantes da Pérsia (atual Irã) datam de 6.000 a.C. e estabeleceram-se inicialmente em Susa, que
viria a ser uma das capitais do Império Persa. Cerca de 1.000 a.C., habitantes das montanhas do Cáucaso, conhecidos
como arianos, penetraram para o sul e fundaram dois reinos, que eram rivais: o reino dos medos, ao sul do mar
Cáspio; e o reino de Pártia, a leste do Golfo Pérsico. Em 546 a.C., Ciro, o Grande, de Pártia, unificou os reinos, dando
início ao Império Persa com a anexação da Assíria, da Ásia Menor (atual Turquia, em 546 a.C., ao derrotar o rei
Creso, da Lídia), da Babilônia (em 539 a.C.) e Índia. Cambises, filho de Ciro, anexou o Egito, em 525 a.C., sendo
coroado faraó.
Após a morte de Ciro, em 529 a.C., Cambises reinou durante oito anos, quando faleceu. Subiu ao trono, então,
Dario, em 521 a.C. Dario era um governante tolerante, fez construir ampla estrada de quase 2.600 km, ligando Lídia a
Susa. Em 512 a.C. Dario invadiu Tracia (atual Bulgária), numa expedição punitiva. Em 492 a.C., Dario tentou invadir
o norte da Grécia, não sendo bem sucedido, com a perda de diversos navios da esquadra de Mardônio, seu cunhado,
numa tempestade, ao largo do monte Atos.
A dificuldade de obtenção de água na Pérsia dificultava o trabalho na agricultura, por isso os persas eram
nômades. Esta também é a razão de buscarem o mar. Considerados bons marinheiros, os persas, em 465 a.C., já
haviam contornado a África.

5 – AS BATALHAS ENTRE GREGOS E PERSAS


A história documentada do poder marítimo tem início em meio a uma grande crise. O tipo mais comum de
crescimento econômico e demográfico dos povos antigos era através da conquista de novas terras e outras gentes.
Assim, adquiriam- se, às custas de um vasto investimento em vidas e em equipamentos bélicos, recursos naturais e
humanos para a expansão necessária como processo de desenvolvimento e riqueza. Esse modelo econômico de
crescimento é chamado modelo imperial, pelo qual se estabeleciam os impérios da Antigüidade, repousando sempre
sobre a escravização ou a exploração dos vencidos. Tal modelo requeria, portanto, um elemento essencial à sua
execução, as forças armadas, sem as quais não haveria, evidentemente, qualquer conquista, porque todas eram
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realizadas pelo fio da espada. Então, ao se falar em modelo imperial, subentende-se o exercício pleno do poder
militar. Grandes operações militares já se faziam entre os antigos, todas de caráter eminentemente terrestre. A
primeira vez em que aparece o elemento naval em grande escala foi em “um ataque da Ásia sobre a Europa”. Trata-se
de tentativa, três vezes encetada, do império persa para dominar a Grécia, durante a segunda metade do século V a.C.
Senhora já da costa oriental do Mediterrâneo, dominando numerosas cidades gregas da Ásia Menor, pretendia
a Pérsia expandir mais para ocidente os seus territórios, conquistando a península Helênica, e, assim, concluir sua
dominação sobre os gregos. A primeira dessas tentativas realizou-se em 492 a.C. e constou do envio de um exército,
através do Helesponto (Dardanelos atual) e da Trácia, em direção ao interior da Grécia, acompanhado por uma
esquadra, que o seguiria pelo litoral do mar Egeu, a fim de garantir-lhe o flanco esquerdo e o apoio logístico. Tal
empresa não deu resultados satisfatórios porque uma boa parte da esquadra persa foi destruída por mau tempo,
quando contornava o monte Atos, junto à costa. Sem o apoio naval, retirou-se o exército invasor para a Ásia, sem
levar adiante o seu intento.
A segunda tentativa, em 490 a.C., realizou-se através do mar, desembarcando o exército persa na Ática,
depois de haver cruzado o Egeu. Mais uma vez frustrou-se a intenção do invasor, com a derrotaque sofreu, após o
desembarque, junto a Maratona. Vemos já nas duas primeiras tentativas a presença do elemento naval como de
grande importância para a realização do que pretendiam os persas. Entretanto, é na terceira tentativa que veremos a
força naval decidir em larga escala toda a campanha. Em 480 a.C., um exército de cerca de 180 mil homens deixou a
Ásia Menor e atravessou o Helesponto em direção à península Helênica. Paralelamente, saiu desse estreito uma
grande força naval composta aproximadamente de 1.300 navios, com a mesma missão da primeira invasão.
A esquadra persa era composta de navios e marinheiros de diversas origens, pertencentes a estados vassalos
do império persa, notadamente fenícios e gregos da Ásia Menor, obrigados estes a combaterem seus parentes
helênicos. Depois de passar pelo canal de Xerxes, aberto especialmente para se evitar o contorno do monte Atos, a
esquadra prosseguiu ao lado do exército triunfante. Nas Termópilas, a tentativa de Leônidas, Rei de Esparta, para
conter o avanço inimigo fracassou. Retiraram-se os gregos mais para o sul, enquanto Atenas era ocupada pelos
persas. No istmo de Corinto pararam as forças gregas de terra. Temístocles, o grande chefe grego, também decidira
levar sua esquadra para lá, cerca de 300 navios de guerra. Os persas, além do seu exército, até então vitorioso nessa
campanha, contavam ainda com uma força naval de cerca de 800 navios, reduzida que fora por uma sucessão de
tempestades, o flagelo dos antigos navios. Restavam aos gregos duas opções: a resistência no istmo de Corinto ou o
emprego decisivo de sua esquadra. Ocorreu então a Temístocles a grande idéia: não eram os persas dependentes de
suas linhas de comunicações marítimas? Por que não cortá-las? Cabe aqui uma explicação. O exército persa era
bastante grande para a época e não poderia encontrar no território ocupado todos os recursos necessários ao seu
sustento. Fazia-se, pois, imprescindível a vinda de recursos de fora, o que era garantido pela marinha persa, através
do mar Egeu. Deduziu daí, acertadamente, Temístocles que o exército invasor era dependente da marinha para o
pleno êxito de suas manobras terrestres.
A frota grega era composta por muito menos embarcações, cerca de trezentas, comandadas por um espartano,
Euribíades, seguindo estratégia de Temístocles. Devido a uma informação falsa transmitida por Temístocles, a de que
os gregos iriam fugir, a esquadra persa dividiu-se para bloquear as duas entradas da baía de Salamina. Aproveitando-
se disso, ao alvorecer a esquadra grega surpreendeu a frota persa, em um local onde os gregos eram familiarizados e
manobravam melhor. Após horas de sangrenta batalha, os gregos foram amplamente vencedores, obrigando os
sobreviventes a fugir; os soldados persas na ilha de Psitaléia foram massacrados. Em seguida, uma esquadra grega,
sob o comando de Cimon, perseguiu os persas e conseguiu libertar Chipre, Bizâncio e todas as colônias ocupadas.
Dispersa a frota inimiga, obtiveram os gregos a superioridadeno mar. Sem possibilidade de receber o apoio logístico
de que precisava, o exército persa viu-se forçado à retirada. Permaneceu no território helênico apenas uma força
terrestre de cerca de 50 mil homens, que foi batida em Platéia, cerca de 60 quilômetros a noroeste de Atenas, em 479
a.C.
Dispersa a frota inimiga, obtiveram os gregos a superioridadeno mar. Sem possibilidade de receber o apoio
logístico de que precisava, o exército persa viu-se forçado à retirada. Permaneceu no território helênico apenas uma
força terrestre de cerca de 50 mil homens, que foi batida em Platéia, cerca de 60 quilômetros a noroeste de Atenas,
em 479 a.C. Na mesma ocasião, em Micale, nas costas da Ásia Menor, os gregos destruíram o resto da esquadra
persa, numa “batalha naval” em terra. Essa campanha foi decidida pelo mar. Dentro do modelo imperial, os persas
fizeram uma campanha com íntimas conexões entre o exército e a marinha. Foi posto à prova, pela primeira vez na
História, em grande escala, o valor de uma força naval para operação de larga envergadura. Na ameaça persa, o mar
foi capital. Era elemento imprescindível para a vitória e foi decisivo para a derrota. Ficou provada a vulnerabilidade
dos exércitos operando longe de suas bases, quando dependentes de comunicações marítimas, se estas não forem
devidamente conservadas. Mais tarde, Napoleão, no Egito, ficará na mesma situação de Xerxes na península
Helênica, o mesmo sucedendo a muitos outros chefes militares. A marinha salvou os helenos e, com eles, todo o
acervo de uma brilhante civilização.

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6 – ALEXANDRE, O GRANDE E O MAR NEUTRALIZADO


Assim como a ruptura das linhas de comunicações marítimas pode implicar a derrota de forças terrestres, como
exposto acima, pode-se neutralizar ou eliminar a ação marítima por operações terrestres bem orientadas. Claríssimo
exemplo disso é a campanha de Alexandre, o Grande, quando saiu para a Ásia Menor, por via terrestre, para
conquistar o império persa. Partindo a princípio diretamente contra os persas, Alexandre cruzou o Helesponto em 334
a.C. com cerca de 35 mil homens, atingindo vitoriosamente a cidade de Sardis, na Ásia Menor, que tomou.
Sentindo, entretanto, que os persas ameaçavam sua retaguarda com o poder naval de que dispunham, Alexandre
decidiu voltar-se para o litoral antes de prosseguir pelo interior. É que os persas ameaçavam desembarcar na Grécia,
empregando sua ainda vasta esquadra, ao mesmo tempo que ameaçavam as comunicações de Alexandre com a
Macedônia e impediam os portos, que se submeteram aos gregos, de exercerem o comércio marítimo. A estratégia de
Alexandre aí foi inversa da de Temístocles em Salamina. Avançou sobre o litoral persa e dominou as bases da
marinha inimiga, impedindo-a de dispor dos recursos que só nesses pontos encontraria. Afastado esse perigo, pôde
Alexandre completar a conquista da Ásia persa, dirigindo-se para a Mesopotâmia e o planalto do Irã, chegando a
atingir a Índia.
Vêem-se assim dois tipos de ação claramente distintos com um mesmo fim. Em um deles, o mar usado para
desarticular atividades militares terrestres; noutro, a ação em terra neutralizando o uso do mar. Ambos são aspectos
marítimos da defesa nacional.
De 431 a 404 a.C. Atenas e Esparta entregaram-se a diversas guerras entre os dois estados da Grécia.
Em 334 a.C., na última batalha das “Guerras Medas”, os persas foram totalmente derrotados por Alexandre, o
Grande, proveniente da Macedônia, região ao norte da Grécia. À frente de um exército de cerca de quarenta mil
homens, Alexandre atravessou o Dardanelos e na batalha de Issus foi o grande vencedor.
Alexandre, em 331 a.C., tomou Babilônia, Susa e Persépolis. Quanto a esta última, mandou incendiá-la por
vingança, pela destruição anterior de Atenas, pelos persas.

7 – DUAS GRANDES RIVAIS: ATENAS E ESPARTA


As derrotas dos persas em Salamina e Platéias enfraqueceram o Império Persa. A Grécia pode desfrutar de
cinquenta anos de paz conhecida como a “Idade de Ouro” na arquitetura, no teatro, na filosofia e na poesia. Esses
anos de esplendor terminaram em 431 a.C., com as “Guerras do Peloponeso”, entre Atenas e Esparta, que duraram 27
anos, só terminando em 404 a.C.
Atenas e Esparta eram duas grandes cidades-estado, porém possuindo algumas diferenças. Atenas, mais
próxima de Pireu, era, por vocação, mais marítima do que Esparta, conhecida pelo seu forte e disciplinado exército.
Tais diferenças logo se transformaram em desavenças, principalmente porque, com hegemonia no mar, Atenas tentou
também o domínio mercantil, já que possuía mais de duzentas cidades-estado e ilhas associadas, a chamada Liga de
Delos, criada anteriormente em face de ameaça persa. Esses fatos acabaram provocando os confrontos entre as duas
cidades.
No Golfo de Corinto ocorreu uma batalha naval entre Esparta e Atenas. O ateniense Formion ficou conhecido
como o “pai da tática naval”, pois no confronto usou a velocidade de suas embarcações para lançá-las sobre as
embarcações inimigas, na famosa tática de “movimento/choque”.
Dois grandes desastres, todavia, terminaram com o curto “Império Ateniense”: em Siracusa, na Sicília, em 413
a.C., e em Egos-Potamos, em 405 a.C., ocasiões em que os atenienses foram derrotados. Parece que os espartanos
compreenderam que estava no mar o poderio da sua rival Atenas e também criaram uma poderosa marinha de guerra,
que levou Esparta a estas duas vitórias. Os espartanos conduziram seus navios até Pireu e por terra conquistaram
Atenas, assumindo, então, a hegemonia da Grécia.
Mesmo séculos depois, ainda que sob o domínio de outros povos, os gregos jamais deixaram seus hábitos
marítimo-comerciais. Afinal, foram os gregos, desde 1.100 a.C., que assentaram os alicerces da civilização
contemporânea.

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AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES E O MAR

IV – IMPÉRIO ROMANO

1 – O NASCIMENTO DE ROMA
Os primeiros habitantes da península itálica datam de
cerca de 1.000 a.C. Como vimos em “Povos do Mar”, alguns
de seus grupos se dirigiram para a Sicília e para o noroeste da
Itália, onde, por miscigenação com habitantes locais, formaram
os etruscos.
Em 753 a.C., Roma foi fundada às margens do rio Tibre,
por camponeses vindos da Europa Central. A partir de 396 a.C.
os romanos começaram a se libertar do domínio etrusco.

2 – A EXPANSÃO DO IMPÉRIO ROMANO


O Império Romano passou a expandir-se após a
libertação do domínio etrusco; no seu apogeu contava com
cem milhões de habitantes, espalhados do litoral da Espanha às
costas do mar Cáspio, das florestas da Grã-Bretanha aos
desertos do Egito.
Com a conquista dos territórios da Grécia, de Cartago,
do Egito e as derrotas dos soberanos orientais Antiocus,
Mitridate e mais adiante Cleópatra, Roma tornou-se dona de
todos os mares e de quase todas as terras conhecidas na época.
O Império Romano era tão extenso que tinha duas sedes: uma
em Roma, a do Império Romano do Ocidente; e a outra em
Bizâncio, a do Império Romano do Oriente, em uma antiga
cidade mercantil grega, localizada nas proximidades da entrada
do mar Negro. Bizâncio mais tarde deu lugar à cidade de
Constantinopla.
A península italiana era habitada por agricultores, camponeses que viam na terra seu sustento e seu comércio,
pois no mar sua expansão era prejudicada por Cartago, que era a mais importante colônia fenícia, situada na costa
africana, junto ao mar Mediterrâneo.

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3 – AS GUERRAS PÚNICAS: DELENDA EST CARTHAGO


A frase título deste item simboliza uma época: a da curiosa e importantíssima luta entre Cartago, potência
marítima de primeira ordem dentro do Mediterrâneo, e Roma, que se afirmava como potência terrestre em plena
expansão continental. A causa primordial das chamadas “guerras púnicas” foi a rivalidade comercial marítima. No
século II a.C., já Cartago, antiga colônia fenícia no norte da África, exercia intensa atividade comercial marítima no
mar Mediterrâneo.
Os romanos haviam acabado de conquistar a península itálica, englobando em seu novo território político as
cidades gregas do sul da “bota” italiana. Eles eram excelentes soldados de terra, que em sucessivas campanhas
dilataram o que mais tarde formou o Império Romano. Vendo a expansão romana, Cartago logo pressionou os gregos
da Sicília, produtores de trigo, a fim de manter essa ilha sob sua tutela, antes que Roma se apoderasse dela. A ameaça
cartaginesa, entretanto, gerou a grande crise que se iniciou em 264 a.C. e que só terminou após três guerras
sucessivas, com o arrasamento da cidade de Cartago em 146 a.C. Na verdade, sendo uma ilha o pivô da disputa, a
guerra a se travar tinha que ser marítima; e Cartago tinha a vantagem. Com sua poderosa e adestrada marinha, os
cartagineses punham sua capital a salvo das investidas romanas, enquanto interditavam o comércio marítimo de
Roma e pilhavam suas costas. Não restava aos romanos outra alternativa. A serem fragorosamente derrotados por
Cartago, tinham que se transformar em nação marítima!
Era o grande e grave desafio que a guerra trazia aos latinos. E Roma vai se transformar em potência marítima!
Os romanos constroem as necessárias galeras, que lhes são também cedidas pelas cidades gregas aliadas. Os
remadores exercitam- se nas areias do rio Tibre e, depois, partem para o mar. Para vencerem, põem sua capacidade
inventiva à prova e imaginam ter no mar as vantagens que tinham em terra. A tática naval tinha apenas um
componente marinheiro: as manobras de aproximação. O resto era como na batalha campal: abordagem e luta corpo-
a-corpo. Entretanto, possuíam os navios de guerra os formidáveis esporões, com que se tentava investir contra o
navio inimigo para afundá-lo com toda a sua guarnição, sem necessidade de abordagem. Era preciso evitá-lo. Se os
romanos não introduzissem alguma alteração na tática, certamente levariam a pior. Eles não temiam o combate
corporal, em que eram superiores aos cartagineses. Mas, e a aproximação das esquadras? Em meio à manobra, os
cartagineses, superiores marinheiros, poderiam investir com seus esporões antes de dar aos romanos a oportunidade
de se valerem de sua superioridade militar. Inventou-se o corvo, do latim corvus. Foi a solução romana. Constava de
uma prancha articulada no pé do mastro e presa à sua extremi dade superior possuindo um gancho em forma de bico
de corvo, donde o seu nome. Ao se aproximarem do inimigo a uma razoável distância, cerca de seis metros, os
romanos largavam o corvo, que caía sobre a galera inimiga, fazendo-a perder sua mobilidade, já que ficava presa.
Pela prancha passavam os soldados de Roma, que iam encontrar seus adversários no convés inimigo. Tal engenho,
aliado à total surpresa com que apareceu, foi a causa da primeira grande vitória romana no mar sobre os cartagineses,
na batalha de Miles, na costa da Sicília, em 260 a.C. De Miles em diante, foi uma sucessão de vitórias marítimas para
Roma. Forçados pela necessidade, tornaram-se os romanos hábeis marinheiros. Em 241 a.C., fez-se a paz entre as
partes beligerantes e Cartago teve que renunciar a quaisquer pretensões na Sicília, além de sujeitar- se a outras
exigências. Roma saiu da primeira das guerras púnicas transformada em potência marítima, apta a dirigir sua
expansão também pelo mar, como efetivamente o fez posteriormente.
As segunda e terceira guerras púnicas realizadas entre 218-202 a.C. e 149-146 a.C., respectivamente, nada
acrescentaram de importante ao problema do poderio marítimo.
A segunda foi eminentemente terrestre, na qual o gênio cartaginês de Aníbal soube fazer uma potência de
tradição marítima como Cartago levar Roma quase à rendição por meio de uma campanha terrestre partida da
Espanha, colônia cartaginesa. Era o reverso da medalha, em pleno continente europeu. Mas o domínio do mar, agora
com os romanos, foi mais uma vez decisivo. Os romanos levaram um exército para o norte da África e ameaçaram
Cartago; chamado às pressas, Aníbal acabou derrotado na Batalha de Zama (202 a.C.).
A terceira guerra púnica foi de aniquilamento, como desejava Catão. Apesar das duas derrotas anteriores,
Cartago recuperava-se rapidamente (como a Alemanha no século XX); aproveitando-se de um pretexto mesquinho,
os romanos arrasaram-na após uma heróica resistência.
As guerras púnicas tiveram um acentuado motivo econômico. Em sua História Geral, Políbio já nos conta as
rivalidades comerciais entre Roma e Cartago, de cunho marítimo por excelência, perfeitamente sensíveis nas
cláusulas de um tratado entre romanos e cartagineses, celebrado muito antes, em 509 a.C.: “Entre os romanos e seus
aliados de um lado, e os cartagineses e seus aliados do outro lado, reinará paz com a condição de que nem os romanos
nem seus aliados navegarão além do cabo Bom (promontório ao norte de Cartago), a menos que a isto sejam
obrigados por tempestade ou por algum inimigo. “E no caso em que sejam assim impelidos pela força para além de
cabo Bom, não terão o direito de tomar ou comprar o que quer que seja, com exceção do que for estritamente
necessário para repor os seus navios em condições de navegar ou para fazer sacrifícios aos deuses, e deverão partir
dentro do prazo de cinco dias”. Este trecho não apenas evidencia o cuidado de Cartago em afastar Roma de suas áreas
de influência, como mostra sua posição hegemônica antes das guerras.

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4 – ROMA APÓS AS GUERRAS PÚNICAS.


No item anterior, vimos o mar na problemática da expansão dentro do modelo imperial. Foi elemento de
conquista, fazendo-se a dilatação dos domínios diretamente por ele, ou usando-se suas facilidades para garantir os
movimentos expansionistas, sempre encetados ou levados a efeito pelas forças militares. Cabe agora ver outros
aspectos do mar restrito da Antigüidade, notando-se a defesa das vias marítimas para sua pacífica utilização e a
consolidação das conquistas feitas através do mar. As marinhas de guerra surgiram na aurora da História com uma
missão específica que deve ser permanentemente lembrada: a defesa do tráfego marítimo. As primeiras linhas
comerciais ao longo das costas mediterrâneas despertaram cedo o desejo do enriquecimento às custas do assalto às
embarcações mercantes carregadas de material de troca. Conforme se viu no capitulo I, a solução encontrada para a
proteção aos navios mercantes foi a criação de um tipo novo de navio, com grandes características de mobilidade
(embora lhe faltassem resistência ao mar e raio de ação), especificamente dedicado à guerra, tanto defensiva como
ofensiva. Estava criada a marinha de guerra, em função da necessidade imposta pelas riquezas “nacionais”,
transportadas pela marinha mercante. Diversos problemas tiveram os povos antigos com as atividades piratas. Roma
particularmente esteve às voltas com este problema, até que, em 67 a.C., Pompeu limpou os mares romanos da
pirataria. Conta-se que Júlio César, quando jovem, foi raptado por piratas marítimos, que o mantiveram prisioneiro
até que fosse resgatado. Depois de libertado, Júlio César tornou a seus antigos carcereiros e, acompanhado de
soldados, crucificou toda a tripulação pirata.
Roma, entretanto, não encontrou logo a paz em seus domínios crescentes. O período de 133-131 a.C. foi
acidentado pela guerra civil, que agitou a República com problemas gerados pela sua própria expansão. As estruturas
romanas não resistiam mais às novas condições da imensidão de suas terras e da multiplicidade de seus habitantes. As
diversas disputas internas, que haviam de durar 100 anos, encontraram um ponto final no caso do triunvirato Otávio-
Marco Antônio- Lépido. Afastado o último, restavam Otávio no Ocidente e Marco Antônio no Oriente, este de
amores com a soberana do Egito, Cleópatra. Dizia-se insistentemente que Alexandria iria tornar-se a capital da
república romana. Otávio partiu contra Marco Antônio, então na Grécia em companhia de Cleópatra, próximo a Ácio
(Actium). Persuadidos de estarem servindo a uma causa alienígena, muitos dos soldados de Marco Antônio passaram-
se para Otávio durante a campanha. Percebendo a dificuldade de obter uma vitória terrestre sobre o adversário, Marco
Antônio resolveu tentar a sorte no mar, enfrentando os navios de Agripa, almirante de Otávio. Em caso de êxito,
poderia apelar posteriormente para uma batalha terrestre; em caso de fracasso, poderia retirar-se para o Egito, por via
marítima, em companhia de Cleópatra. As forças mediram-se ao largo do golfo Ambraciano, na grande Batalha de
Ácio, em 31 a.C. Incapaz de vencer os navios de Agripa, mais ágeis e manobreiros do que os seus, Marco Antônio
viu desfazerem-se no mar os sonhos de seu império.

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Otávio teve em Ácio a vitória militar necessária à união da república sob sua tutela exclusiva. Senhor, assim,
do poder romano, Otávio pôde receber o imperium, isto é, os poderes civil, militar e religioso e reformar as
instituições romanas, a fim de que fossem atendidas às urgentes necessidades políticas, econômicas e militares das
vastas terras de Roma. E o império romano uniu-se sob o novo Augustus, Princeps e Pontifex Maximus, à volta do
velho mar de todas as civilizações do Ocidente e do Oriente Próximo, que na Antigüidade compuseram a história do
homem ocidental: o mar Mediterrâneo, o Mare Nostrum dos romanos. “Somos inclinados a imaginar a Roma
imperial como uma potência terrestre, suas regiões sendo ligadas entre si pelo melhor sistema de estradas dos tempos
antigos. Este conceito é apenas parcialmente verdadeiro. Muito mais importante do que quaisquer comunicações
terrestres para conservar a união do império eram o mar Mediterrâneo e as outras águas que banhavam suas costas. A
história do mar e sua participação na história imperial não são dramáticas nem dinâmicas e, por isso, tendem a não
apresentar registro. No entanto, o humilde mercador, distribuindo os produtos de qualquer parte do império para todas
as partes, transportando os procônsules e suas legiões de apoio para os domínios de além-mar, conduzindo os
apóstolos e seus sucessores com a mensagem do cristianismo, teve parte indispensável na formação e na preservação
do maior de todos os impérios da Antigüidade. Durante cinco séculos depois de Ácio, navios mercantes
movimentaram- se do Mar Negro para a fronteira atlântica, protegidos apenas por pequenas forças de navios-patrulha
para impedir as atividades piratas. O Mediterrâneo inteiro e quase suas águas tributárias haviam se tornado um mar
fechado, com todas as costas e bases navais controladas por Roma. Em terra e no mar estabeleceu-se a Pax Romana,
o mais longo período de relativa paz na História”.
Por ocasião da instalação da capital do império romano na antiga Bizâncio, que passou a chamar-se
Constantinopla, em 328 de que a caracterizara no começo dos tempos imperiais. Depois da divisão do império em
duas partes, Oriente e Ocidente, problemas os mais diversos surgiram no quadro militar dos latinos (ocidentais) e
gregos (orientais). A invasão dos bárbaros para o ocidente europeu não implicou nenhuma campanha naval. Foram
invasões terrestres, começadas por via pacífica e concluídas com as grandes correntes migratórias que transpuseram
os rios Reno e o Danúbio para o coração do Império.
Foi assim que, em 476, a cidade de Roma foi ocupada por um pequeno povo bárbaro, os hérulos, e o último
César, Rômulo Augusto, foi deposto. Assim terminou o Império Romano do Ocidente.

5 – A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE E A EXPANSÃO ÁRABE.


No Império Romano do Oriente, entretanto, fatos marcantes ocorreram, já mais tarde, em plena Idade Média,
que tiveram profunda significação em termos navais, nas constantes tentativas de desintegração daquele
remanescente império. Desta vez, entretanto, a ameaça vinha dos árabes. Maomé pregara aos árabes de 622 a 632. De
um povo disperso formou-se uma multidão de fiéis desejosa de conquistar o mundo para Alá. Veneradores da
memória do profeta, cedo partiram os maometanos para uma imensa aventura de conquista. Em 637, haviam já
submetido Jerusalém. “Logo no início do século VIII, os árabes dominavam desde o rio Indo, a leste, até o Cáucaso,
ao norte, e a costa do Atlântico a oeste. Seu império se encurvava como uma cimitarra oriental ao longo da costa da
África até o coração da Espanha e ameaçava toda a cristandade. A invasão árabe é certamente sem paralelo na
História, pela sua rapidez e extensão”. Realmente, subiram os maometanos para a Europa Ocidental através da
península Ibérica, onde deixaram indeléveis sinais de sua cultura. Tentaram, sem dúvida, prosseguir, não conseguindo
realizar seu intento por encontrarem a notável resistência oferecida pelos cristãos de Carlos Martel, de França.
Contudo, impregnaram a região ibérica com seus traços, a começar pelo rochedo de Tarik (“Gebel Al Tarik”), hoje
Gibraltar. Contidos a oeste, não desistiram os árabes de tentar o prosseguimento de sua expansão a leste, onde um
grande obstáculo se opunha a seus propósitos: a cidade de Constantinopla, baluarte do Império Romano do Oriente.
Nas lutas pela conquista de Constantinopla, são vistas grandes campanhas navais decisivas na sorte da Europa
Oriental. Diversas investidas fizeram os maometanos por mar e por terra, até que a invenção do fogo grego, aparecido
em 677, no quarto ano de sítio que sofria a capital oriental, permitiu ao Imperador Constantino IV, conhecendo as
possibilidades da nova arma, empregá-la com pleno exito contra seus inimigos, destruindo a esquadra árabe junto ao
mar de Mármara. O fogo grego era mistura altamente inflamável, que resistia até mesmo à ação da água e que aderia
fortemente à madeira das embarcações em que caía. Sua composição é desconhecida até hoje, mas parece que
alcatrão e enxofre dela faziam parte. O lançamento era feito por meio de tubos-sifões; foi antepassado do moderno
lança-chamas. Sitiada ainda diversas vezes no correr dos séculos seguintes por árabes e turcos, Constantinopla
sustentou a luta e permaneceu fora do alcance dos estrangeiros que pretendiam dominá-la. Ela, contudo, que salvara a
civilização cristã do Ocidente, obstando o avanço de seus inimigos, veio a ser, por ironia da História, pilhada
barbaramentepela quarta cruzada (cristã), de 1204. Finalmente, fraca em terra e no mar, Constantinopla caiu em mãos
dos turcos, em 1453.

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EAD – HIS GER – EX

01) “A História documentada do poder marítimo tem início em meio a uma grande crise. O tipo mais comum de
crescimento econômico e demográfico dos povos antigos era através da conquista de novas terras e outras gentes.
Assim, adquiriam-se, às custas de um vasto investimento em vidas e em equipamentos bélicos, recursos naturais e
humanos para a expansão necessária como processo de desenvolvimento e riqueza. Tal modelo requeria, portanto, um
elemento essencial à sua execução, as forças armadas, sem as quais não haveria, evidentemente, qualquer conquista,
porque todas eram realizadas pelo fio da espada. ” (Fatos da História Naval)
Texto acima faz referência ao desenvolvimento econômico dos povos da antiguidade, em grande parte baseado no
emprego do poder militar. Estamos falando do chamado Modelo:
a) Colonial.
b) do Mar Fechado.
c) Imperial.
d) do Mar Restrito.
e) Monárquico.

02) “A estratégia de Alexandre aí foi inversa da de Temístocles em Salamina. Avançou sabre o litoral persa e
dominou as bases da marinha inimiga, impedindo-a de dispor dos recursos que só nesses pontos encontraria. Afastado
esse perigo, pode Alexandre completar a conquista da Ásia persa, dirigindo-se para a Mesopotâmia e o planalto do
Irã, chegando a atingir a Índia. ” (Fatos da História Naval)
O texto acima fala sobre as campanhas militares de Alexandre, O Grande, contra o Império Persa. A que episódio das
campanhas de Alexandre o texto faz referência?
a) à destruição da cidade egípcia de Menfis, mais importante base naval do Império Persa, posteriormente batizada de
Alexandria.
b) à fundação de Alexandria por Alexandre o Grande. Após a conquista do Egito, Alexandre destruiu as cidades
fenícias dominadas pelos Persas.
c) à vitória grega sobre os Persas em Salamina, o que possibilitou a Alexandre invadir o Império Persa.
d) à destruição, por Alexandre, das cidades fenícias que forneciam os navios e marinheiros para o Império Persa.
e) às vitórias gregas nas batalhas de Salamina, Maratona e Égos Potâmos.

03) Leia abaixo e responda:


“O rei Leônidas e 300 companheiros puseram-se no desfiladeiro das Termópilas, em ponto capaz de atrasar a marcha
do exército inimigo. Intimado por Xerxes a render-se, sob o argumento de que os persas eram tão numerosos que suas
flechas cobririam o Sol, Leônidas respondeu: “Tanto melhor, combateremos à sombra”. Os espartanos foram
massacrados porque um traidor revelou aos persas uma passagem através das montanhas.”
O texto faz referência à famosa Batalha das Termópilas, relatada e livros e filmes através dos tempos. Menos
lembrada, mas não menos importante, é uma batalha naval que ocorreu simultaneamente. Estamos falando da Batalha
Naval de:
a) Salamina.
b) Micale.
c) Artemisium.
d) Egos Potamos.
e) Miles.

04) Quando utilizamos o conceito de “mar restrito” na antiguidade ocidental estamos fazendo referência ao fato de
a) na antiguidade o mar ser usado somente para o comércio.
b) na antiguidade o mar ser usado somente para a guerra e nesse sentido, somente para o transporte de tropas.
c) os sacerdotes do antigo Egito proibirem a navegação pelo fato do mar ser a morada de demônios.
d) os povos da antiguidade só conhecerem profundamente o mediterrâneo, centro do mundo conhecido até então.
e) que até a formação do Império Romano a navegação no mediterrâneo ser rudimentar e pouco importante para o
desenvolvimento das civilizações da antiguidade.
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05) O navio mercante da antiguidade, de um modo geral, apresentava forte calado e tinha boca relativamente larga;
por esta última característica era chamado navio
a) redondo.
b) largo.
c) quadrado.
d) de costado rígido.
e) de carreira.

06) “A política econômica do Estado romano afastou-se do seu fim tradicional e adotou novas diretrizes. Com essa
guerra começou uma nova história de Roma e do mundo, sobretudo porque acarretou na Itália o aparecimento da era
mercantil na antiga sociedade aristocrática e guerreira.” (CAMINHA, João Carlos. História Marítima p. 31)
A citação acima está fazendo referência às transformações ocorridas na sociedade romana após:
a) Batalha Naval do Ácio em 31 a.C.
b) A Vitória Romana sobre os Cartagineses nas Guerras Púnicas.
c) Conquista Romana da Grécia no século III a.C.
d) A expulsão dos Reis Etruscos e o estabelecimento da República Romana em 509 a.C.
e) A Conquista do Egito após a Morte de Marco Antônio e Cleópatra.

07) Observe a imagem abaixo e responda a questão a seguir.

O filme "300", que fez grande sucesso nos cinemas de todo o mundo em 2007, tematiza uma das batalhas mais
importantes das Guerras Médicas. Tal evento pode ser caracterizado como um conflito que foi causado pelo processo
de expansão territorial do império persa, que ambicionava expandir seus domínios sobre os gregos. Nesse contexto,
além da famosa Batalha das Termópilas, que é focada no filme "300”, é correto citar também a Batalha Naval de:
a) Artemisium, onde, apesar de estarem em desvantagem numérica, conseguiram, utilizando manobras complicadas
no estreito de Messina, derrotar a gigantesca armada persa do rei Xerxes.
b) Salamina, na qual os atenienses, apesar de contarem com uma armada heterogênea composta basicamente por
navios oriundos das ilhas gregas, derrotaram os navios persas do rei Dario, composta exclusivamente de navios
fenícios e egípcios.
c) Salamina, onde os atenienses, liderados por Temístocles, contando com poucas e pequenas embarcações,
obtiveram sucesso conseguindo a destruição da gigantesca, mas heterogênea, armada persa do rei Xerxes.
d) Artemisium, onde os gregos, contando com o apoio dos Macedônios, conseguiram na região de Salamina, derrotar
a armada persa que, apesar de mais numerosa, era composta por navios heterogêneos que não tinham fidelidade ao rei
Xerxes.
e) Salamina, onde atenienses e espartanos, contando com o apoio das cidades da Confederação do Peloponeso
conseguiram derrotar a gigantesca, mas inexperiente, armada do rei Dario que logo a seguir assinou uma paz com os
gregos.

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HISTÓRIA 2 CURSO ASCENSÃO

HISTÓRIA DO BRASIL – PERÍODO COLONIAL

I – AS EXPEDIÇÕES MARÍTIMAS NO PROCESSO DE MONTAGEM DAS COLÔNIAS NA AMÉRICA

1 - INTRODUÇÃO: NOVOS MUNDOS PELO MAR (Fatos da História Naval)


Nos estudos anteriores, vimos como os antigos limitaram suas atividades praticamente ao mar Mediterrâneo,
apenas com escassos contatos com outras civilizações longínquas. Tal situação foi de isolamento maior ainda na
Idade Média, em vista da fragmentação política que se seguiu ao desaparecimento do império romano do Ocidente e
ao crescente enfraquecimento do império romano do Oriente.
Embora seja um exagero chamar-se a Idade Média ocidental de “Idade das Trevas”, não há dúvida de que, pelo
relativo isolamento em que viviam as comunidades e, consequentemente pela pouca circulação das ideias, muitos
conhecimentos dos antigos se perderam ou, na melhor das hipóteses, ficaram circunscritos a alguns homens letrados,
geralmente religiosos.
É por essa razão que o grande movimento chamado Renascença ou Renascimento tem tal nome; porque foi, de
fato, um novo nascimento da cultura da Antiguidade, especialmente a grega.

1.1 - AS GRANDES INVENÇÕES


O fim da Idade Média é marcado por importantes invenções, entre as quais avultam, pela sua importância para o
mundo de hoje, a pólvora e a imprensa, aquela como elemento destruidor, esta como fator de divulgação da cultura.
Da pólvora já falamos no capítulo anterior. Da imprensa não falaremos por escapar à finalidade deste livro, mas
sua importância foi enorme na divulgação dos conhecimentos geográficos e na impressão das cartas náuticas.
Quanto à arte da navegação, deu-se um acontecimento de grande importância no século XIII, que foi a
introdução da bússola na Europa; esse instrumento já era conhecido pelos chineses, parecendo mesmo que os
mongóis já se orientavam por ela em suas incursões pela Europa. Coube aos árabes servirem de ligação entre o
Oriente e a Europa, apesar de suas contínuas lutas com os cristãos; na época das cruzadas, os europeus devem ter
tomado conhecimento dessa invenção, que, a princípio, foi considerada coisa de feiticeiro.
Pelos fins do século XIII, no entanto, o uso da bússola já estava generalizado na Europa, para a navegação.
Juntamente com outros instrumentos da época, o astrolábio e a balhestilha1 davam ao navegador um seguro
conhecimento de sua latitude.
Quanto à longitude, porém, o único meio de conhecimento era pelo caminho percorrido, o que se obtinha, com
grande margem de erro, navegando-se até o paralelo desejado e daí rumando para leste ou oeste até o ponto desejado.
Como veremos adiante, coube aos portugueses o principal papel do grande espetáculo dos descobrimentos
marítimos. Suas primeiras navegações foram feitas empregando-se navios como a barcha ou barca e o barinel.
A partir de 1440, aproximadamente, os portugueses inventaram, ou melhor, aperfeiçoaram um novo tipo de
navio, que viria a ser o mais característico dessa época: a caravela, navio mais alongado dos seus antecessores a vela,
de borda alta, empregando velas latinas triangulares, o que o tornava apto a navegar quase contra o vento, a orçar. O
almirante João Brás de Oliveira disse que a caravela era de origem mourisca, de armação latina, com porte
aproximadamente de 50 a 100 tonéis; a relação comprimento boca era de 3:1, às vezes mais2. Dele se disse: “Navio
capaz de afrontar mares tempestuosos e de lutar contra contra um condicionalismo atmosférico difícil a caravela
portuguesa foi, até aos fins do século XV, triunfalmente, o navio dos descobrimentos”.
Depois de explorada toda a costa africana do Atlântico, os portugueses adotaram novo tipo de navio, a nau, bem
maior do que a caravela e capaz de navegar muito longe do litoral, mesmo com tempo hostil. Foi com esse tipo de
navio que Vasco da Gama fez sua viagem às Índias.

1.2 - AS LENDAS DA IDADE MÉDIA


Muitas histórias fantásticas corriam na Idade Média a amedrontar os que se aventurassem “pela grandeza do mar
oceano”, isto é, pelo Atlântico: animais monstruosos, capazes de devorar um navio inteiro, sereias, que atraíam com
seu canto os navegantes para junto dos rochedos, algas (sargaços) gigantescas que imobilizavam os navios e faziam
morrer de sede e fome seus ocupantes, etc. Algumas dessas lendas remontavam à Antiguidade.
As discussões sobre a forma da Terra faziam recear que, navegando até o fim do oceano, o navegante cairia no
espaço vazio, isso sem falar nas regiões onde o mar fervia e consumia os navios.

1
Instrumentos náuticos antepassados do sextante.
1
Cf. Fonseca, Quirino da. A caravela portuguesa e a prioridade técnica das navegações henriquinas. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1934, p. 34-35.
2
Cf. Fonseca, Quirino da. A caravela portuguesa e a prioridade técnica das navegações henriquinas. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1934, p. 34-35.
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Mas, se havia assim tantas “estórias” desanimadoras, por outro lado havia bons motivos para animar os nautas a
afrontarem os perigos do “mar oceano”: as fabulosas notícias relativas às terras do Oriente, especialmente depois do
livro de Marco Polo, o comércio das especiarias3, então monopólio dos árabes, que revendiam-nas aos venezianos,
genoveses e outros povos do Mediterrâneo, negócio altamente lucrativo4, e a lenda do Prestes João, príncipe cristão
que habitaria algum lugar longínquo, talvez na África5.

1.3 - O PAPEL DE PORTUGAL


No capítulo da abertura do mar, o primeiro lugar cabe indiscutivelmente aos portugueses. Foram eles que durante
mais de 200 anos abriram novos caminhos, exploraram novas fontes de riquezas e descobriram novas terras. A
descoberta da América por Colombo, a serviço da Espanha, é um episódio isolado, ao passo que as navegações
portuguesas se desenrolaram com caráter de continuidade e, muitas vezes, com planos pré-estabelecidos.
Após a conquista de Ceuta, em 1415, o infante d. Henrique (mais tarde chamado o Navegador, não pelas suas
navegações pessoais, mas pelo fato de ter sido o condutor da política marítima portuguesa) instalou-se no
promontório de Sagres, transformando sua residência num ponto de reunião de geógrafos, navegadores, astrônomos e
outros indivíduos dedicados à ciência.
Inicialmente, o objetivo do príncipe era modesto: explorar as costas da África além do cabo Não. Ano após ano,
partiam os nautas portugueses (e também de outras nacionalidades a serviço de Portugal) pelas costas africanas, “por
mares nunca dantes navegados”6, aumentando sempre os conhecimentos náuticos dos lusitanos, pois cada navegante
que partia já o fazia baseado nas descobertas dos seus antecessores.
E assim foram sucessivamente atingidos o cabo Bojador, rio do Ouro, a Guiné e a Serra Leoa.
Mesmo a morte do príncipe d. Henrique, em 1460, não modificou substancialmente o problema; após um curto
intervalo, recomeçaram as navegações, o que mostra que o ciclo marítimo português não foi obra de um homem
enquanto viveu, mas uma política de governo; antes da morte do príncipe a coroa já havia mudado de cabeça duas
vezes sem que esmorecessem as viagens.
À proporção que as viagens iam mais longe, e com o surgimento de muitas estórias a respeito de novas terras,
passaram os portugueses a desejar chegar às fabulosas Índias7. Embora existissem mapas que não indicavam a
possibilidade de passar pelo sul da África (mapas aliás feitos sem o menor rigor científico), os lusos continuaram
explorando a costa africana na esperança de que ela tivesse um fim. E foi assim que, em 1488, Bartolomeu Dias, após
ter sido jogado mar afora por uma violenta tempestade, voltou para leste para retomar o acompanhamento do litoral
como vinha fazendo e teve a surpresa de verificar que não o encontrava mais; voltou então para o norte e reencontrou
o litoral à sua frente (W-E); após prosseguir para leste algum tempo voltou e só então descobriu o extremo sul da
África, que, muito acertadamente, chamou de cabo das Tormentas. Esse nome foi mais tarde mudado para cabo da
Boa Esperança pelo rei porque, dizia ele, era a esperança de poder chegar às Índias.
De fato, verificado que o continente africano tinha um fim, ele poderia, logicamente, ser contornado; logo, estava
aberto o caminho marítimo para as Índias.
Por que então só onze anos depois foi que os portugueses chegaram àquelas terras tão desejadas? E como foi isso
possível se Vasco da Gama, o homem que chegou às Índias, não seguiu a rota de Bartolomeu Dias até o cabo da Boa
Esperança? Por que os portugueses não exploraram o litoral africano do lado do Índico, pouco a pouco, como tinham
feito com o do Atlântico?
Descoberto o extremo sul da África, Portugal viu que estava no bom caminho; tratou, pois, de consolidar o seu
domínio sobre o litoral africano já explorado, estudar os ventos e as correntes marinhas do Atlântico e preparar, logo
que possível, uma expedição que fosse ao outro oceano que existia do lado de lá da África e possivelmente às Índias.
Já vimos que as navegações portuguesas, ao contrário das realizadas depois por outros povos, tiveram, desde o
início, um forte apoio oficial e um aspecto de continuidade. Elas não foram feitas por simples aventureiros, mas por
homens que obedeciam a um plano de conjunto. Isso explica muita coisa.
Sabemos muito sobre as viagens ao longo do litoral africano porque Portugal tinha interesse político em assinalar
sua passagem sobre essas terras, a fim de garantir futuros direitos de ocupação; de fato, em dado momento da
Hist6ria, todo o litoral africano pertencia, por direito de descoberta, a Portugal. Mas, das navegações feitas para oeste,
pouco sabemos, porque poucas terras foram descobertas. Mas é fora de dúvida que os portugueses, em 1497, ano da
partida de Vasco da Gama para o Oriente, conheciam, e muito bem, o regime de ventos e de correntes marinhas em
todo o Atlântico equatorial e sulino. Seria admissível que Vasco da Gama, que se destinava às Índias, fizesse tal
abertura da costa senão com pleno conhecimento de causa?

3
Pimenta, canela, nós moscada e vários outros artigos usados principalmente na conservação de alimentos.
4
No trajeto entre o Oriente e a Europa as mercadorias quadruplicavam de preço.
5
A lenda tinha fundamento, pois o soberano etíope era cristão do ramo copta.
6
Camões, Luís de. Os lusíadas, canto I, 1.
7
A expressão “Índias” deve ser entendida de modo muito mais amplo do que a Índia de hoje: significava, de fato, o
Oriente além da região do Levante ou Oriente Próximo.
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É forçoso reconhecer que, durante o período que medeia entre a descoberta do extremo sul da África e a partida
de Vasco da Gama, duas coisas preocuparam o governo português: conhecer o mais possível o Atlântico e garantir a
posse das terras que se estavam descobrindo.
Foi assim que o governo lusitano ficou estupefato e contrariado quando, em 1493, Colombo, de volta à Espanha,
passa por Lisboa anunciando que havia chegado às Índias.

1.4 - A VIAGEM DE CRISTÓVÃO COLOMBO


Tudo o que se sabe a respeito de Colombo é inseguro: ano de nascimento, nacionalidade, como adquiriu seus
conhecimentos geográficos, se já havia navegado antes da viagem à América, etc.; mesmo depois de famoso, muita
coisa continuou obscura.
Além de apresentar seus planos por duas vezes ao governo espanhol, Colombo tentou conseguir o apoio de
Gênova, Inglaterra, França e Portugal.
A ideia de Colombo era relativamente simples: partindo do pressuposto de que a Terra era redonda, as Índias
poderiam ser atingidas navegando-se para o ocidente em vez do oriente. Como, porém, a base de sua argumentação (a
redondeza da Terra) fosse assunto mais do que discutido, até inaceitável para a época, Colombo foi muitas vezes
ridicularizado; se não tivesse chegado a fazer a viagem que o imortalizou, seu mérito seria enorme somente pela fé
inabalável que tinha na sua teoria; anos de persistência foram necessários para conseguir convencer alguém que
pudesse efetivamente auxiliá-lo. E esse alguém foi a rainha d' Espanha Isabel. Mas, antes de ver a sua ideia aceita na
Espanha, Colombo havia estado em Lisboa onde sua ideia também não fora aceita, mas não pelos mesmos motivos
que na Espanha, isto é, descrença na ideia daquele visionário.
Não, ao que tudo indica, os sábios portugueses não acharam a ideia absurda e tanto isso é verdade, que a levaram
ao rei. Mas, não interessava a Portugal abandonar uma norma que vinha seguindo havia meio século, isto é, chegar às
Índias passando pelo sul da África, para adotar uma nova conduta que poderia ser correta, mas também poderia
resultar em nada; essa viagem que Colombo imaginava era uma aventura, sem dúvida, e os portugueses já estavam
muito mais adiantados na maneira de encarar o problema.
De qualquer maneira, porém, após longas peregrinações e dissabores, Colombo pode armar a sua pequena frota
de três navios: a Santa Maria, a Pinta e a Niña. A Santa Maria que era a maior das três caravelas, tinha apenas 27
metros de comprimento e deslocava 100 toneladas; a Niña, que era a menor, deslocava apenas 40 toneladas.
Colombo desconhecia a existência de um vasto continente entre a Europa e as Índias8; imaginava a distância
entre a Europa e a Ásia pelo ocidente muito menor do que realmente é. Durante a viagem, teve que mentir para as
guarnições rebeladas, dizendo que ainda não haviam percorrido o caminho previsto.
De qualquer maneira, a descoberta da ilha de Guanahani hoje Watling island, uma das Bahamas, e, logo a seguir,
Cuba e Hispaniola, hoje Haiti, convenceu Colombo de ter chegado às Índias, idéia essa tanto mais reforçada quando
soube vagamente da existência de um grande império, mais a oeste, onde havia muitos metais preciosos; os indígenas
se referiam ao império azteca, mas para Colombo eram as tão ambicionadas Índias.
A viagem de Colombo que, à primeira vista, parecia colocar por terra todos os planos portugueses, fez com que
este país recorresse imediatamente ao papa na defesa de suas pretensões.

1.5 - A PARTIÇÃO DO MUNDO POR ALEXANDRE VI


Atendendo aos clamores de Portugal, mas ao mesmo tempo sem querer desagradar à Espanha, sua terra natal, o
papa Alexandre VI dividiu o mundo descoberto e por descobrir entre os dois estados querelantes. Pela bula Inter
Coetera estabeleceu que as terras situadas a 100 léguas a oeste do meridiano das ilhas dos Açores e do Cabo Verde
seriam da Espanha e, as situadas a leste, de Portugal.
A divisão, embora hábil do ponto de vista político, porque tentava evitar um conflito entre duas importantes
nações da cristandade, era frontalmente contrária aos prováveis interesses dos demais estados (França, Inglaterra,
Veneza, Gênova, etc.), que eram sumariamente excluídos da repartição do mundo. Para Portugal era injusto, porque
equiparava todo o longo e paciente trabalho de 70 anos com uma única viagem dos espanhóis.
Fosse como fosse, a decisão papal era impossível de ser aplicada pelas seguintes razões:
a) não estabelecia qual o meridiano que serviria de ponto de partida para a contagem da longitude;
b) O meridiano de Açores não é o mesmo do arquipélago de cabo Verde;
c) qualquer que fosse o grupo de ilhas considerado, haveria necessidade de se estabelecer exatamente qual a ilha
e qual o ponto nessa ilha para servir de ponto de partida, pois mesmo uma pequena diferença pode acarretar longas
discussões diplomáticas;
d) a légua portuguesa não era igual à espanhola e a bula não dizia qual delas deveria ser usada como medida.

8
Colombo calculava com razoável aproximação o diâmetro da Terra, mas, como ignorava a existência de um vasto continente entre a Europa
e a Ásia no oeste, supunha que Cipango (Japão) e Catai (China) fossem localizados na área dos atuais Estados Unidos da América
aproximadamente.
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De qualquer maneira, mesmo desprezando as diferenças decorrentes das imperfeições citadas, a linha passaria
em pleno oceano; toda a América seria da Espanha. Saberia disso o governo português? E se sabia, com que grau de
certeza o saberia?
É muito sintomático o fato de se ter Portugal recusado aceitar a bula papal; e passando das palavras aos fatos,
preparou-se para a guerra com a Espanha.

1.6 - O TRATADO DE TORDESILHAS


Não interessava absolutamente à Espanha ir à guerra com Portugal. Em primeiro lugar, a Espanha estava exausta
de uma luta centenária contra os mouros, luta essa que tinha terminado havia menos de dois anos, e, em segundo
lugar, era perigosa uma guerra para um país que tinha acabado de fazer a sua unificação. De mais a mais, a Espanha
estava longe de ter uma ideia real do valor das terras a que Colombo tinha chegado.
Por todos esses motivos o governo espanhol tratou por via diplomática de tentar chegar a um acordo com
Portugal. Concordando os dois países em discutir o assunto, reuniram-se na pequena cidade de Tordesilhas as
delegações dos estados interessados. Mas, enquanto a Espanha mandava representantes sem qualquer característica
especial, o pequeno reino luso se fazia representar por gente altamente credenciada para discutir assuntos náuticos e
geográficos. Não foi difícil aos portugueses conseguir convencer aos espanhóis que a bula papal era inexequível e
que melhor seria fazer um tratado de limites diretamente entre os dois países. Assim nasceu o famoso tratado que
recebeu o nome de sua cidade natal.
Por ele, o meridiano original passava a ficar situado a 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde, o que
viria a garantir mais tarde para Portugal a posse de grande parte do Brasil.
Saberia Portugal ou, pelo menos, teria alguma informação a respeito da existência da terra brasileira? Se não
sabia, por que tanto empenho em modificar a bula do papa, estando disposto até mesmo à guerra? Teria agido
pensando que Colombo tivesse mesmo chegado às Índias, mesmo dois anos depois da sua famosa viagem? Neste
caso, o que adiantaria a linha de Tordesilhas se as terras atingidas por Colombo estavam mais a oeste do que o
meridiano do tratado? Ou, quem sabe, os portugueses não só sabiam da existência do Brasil como também não o
confundiam com as Índias?

1.7 - A DESCOBERTA DO CAMINHO MARÍTIMO PARA AS ÍNDIAS


Portugal não se garantiu apenas por meio de um instrumento diplomático na questão da propriedade das terras
descobertas e por descobrir. Usou também o velho e eficiente recurso da união familiar: d. Manuel, rei de Portugal,
pediu a mão de d. Isabel, filha dos reis católicos Fernando e Isabel, para sua rainha, realizando-se o casamento em
1497.
Somente depois de garantidas para si as terras africanas já descobertas e afastada durante muito tempo a
possibilidade de conflito com a Espanha é que Portugal reiniciou a sua jornada para as Índias pelo oriente.
No entanto, quando Vasco da Gama parte em 1497, ele segue a rota de todos os navegantes que demandavam a
costa da África até as alturas de Serra Leoa e daí, surpreendentemente, guina para alto mar, afastando- se do golfo da
Guiné, região onde as calmarias eram frequentes e onde começava o trecho do litoral africano em que a Corrente de
Benguela e os ventos dominantes são contrários ao sentido de navegação.
A corrente Sul Equatorial e os ventos dominantes o levam para além do meio do Atlântico, a ponto de ver sinais
de terra, do que daria notícia a Cabral, quando este partiu para sua viagem em 1499, da qual resultaria a descoberta do
Brasil. Durante três meses só vê céu e água. Navegando decididamente no rumo aproximado sul, vai encontrar, nas
alturas do Prata e do sul da África, correntes e ventos favoráveis que o levam diretamente ao extremo sul da África.
Cabe aqui um raciocínio lógico: seria Vasco da Gama um irresponsável que arriscasse sua flotilha de três navios
por um caminho que ele não saberia aonde iria dar, mas que certamente não seria para as Índias, a menos que ele
soubesse exatamente onde mudar o rumo geral N -S para W -E? E teria sido por mera coincidência que essa estranha
navegação o levasse exatamente aonde Bartolomeu Dias tinha chegado por um caminho completamente diferente?
Nos dez anos que mediaram entre essas duas viagens e enquanto tantas coisas importantes aconteciam, como já
vimos, é obvio que alguém andou esquadrinhando todo o Atlântico Sul.
Observando o regime dos ventos, não nos surpreenderemos tanto com a viagem de Vasco da Gama, pois na
navegação para o golfo da Guiné, a ida e a volta não se faziam pelo mesmo caminho, o que demonstrava perfeito
conhecimento do regime e do sentido das correntes marinhas no Atlântico Norte.
Mas voltemos ao almirante da Gama. Passado o cabo da Boa Esperança, sobe ele o litoral africano do Índico até
encontrar povos que lhe dão seguras notícias das Índias, pois mantinham com essas regiões um comércio regular;
esse comércio era feito pelos árabes, que desde o século VIII possuíam o domínio do mar no Oceano Índico.
Contratando, por bom dinheiro, um excelente piloto árabe, Vasco da Gama segue diretamente para as tão
desejadas Índias, onde chega às proximidades de Calicute, em 20 de maio de 1498.

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Os navios lusitanos, de grande porte em comparação com os dos árabes, não tinham a liberdade de ação que
tinham os navios de guerra inimigos, mas tinham maior poder de fogo. E o mundo estava entrando numa época de
predomínio do fogo sobre movimento e choque.
Dessa disputa entre árabes e portugueses, que veremos daqui a pouco, estes, apesar das distâncias, mas
fortemente amparados por um governo resoluto, em poucos anos arrebatarão aos orientais o domínio dos mares
índicos e passarão a exercer, com exclusividade, o comércio das especiarias e demais mercadorias do Oriente para a
Europa.

1.8 - O DESCOBRIMENTO DO BRASIL


Embora haja autores que defendam a tese de que o Brasil já fora visitado por fenícios, egípcios, cartagineses,
gregos e árabes antes de Cabral, nada disso está provado, e, assim, não vamos perder tempo em discutir hipóteses
possíveis, mas pouco prováveis.
É provável, porém, que navegantes europeus tivessem estado no Brasil antes de Cabral. Quanto a um pelo
menos, não há dúvida: o espanhol Vicente Yañez Pinzon, o mesmo que acompanhara Colombo na sua primeira
viagem, percorreu o litoral do Nordeste e do Norte em janeiro de 1500. Quanto a outro, o português Duarte Pacheco
Pereira, um dos signatários do tratado de Tordesilhas, é extremamente provável não apenas pela sua narrativa como
também pela circunstância de estar na esquadra de Cabral, sem que se saiba qual era nela a sua função. Outros
portugueses poderão ter aqui estado sem que tenhamos qualquer certeza a respeito.
Os argumentos a favor da casualidade do descobrimento são:
a) o trecho da carta de Pero Vaz de Caminha em que ele diz: "O que se pode imaginar de mais fortuito, por ser
obra não da humana, mas da divina vontade;
b) o fato de não haver na esquadra de Cabral os padrões de pedra que, desde d. João II, costumavam levar os
navios portugueses para assinalar a posse das novas terras descobertas;
c) a circunstância de que as instruções do rei a Pedro Álvares Cabral não falavam no Brasil;
d) o desvio, já feito por Vasco da Gama, para evitar as calmarias do golfo da Guiné.
Em compensação, militam em favor da intencionalidade do descobrimento as fortes razões que já citamos, quais
sejam a atitude portuguesa diante da divisão feita pelo Papa, o conhecimento da ciência náutica e da geografia do
Atlântico que já possuíam, a presença de Duarte Pacheco Pereira na frota e o fato de que qualquer possível desvio da
esquadra causado pela Corrente Sul Equatorial, bastante duvidoso aliás, não levaria a frota à região do sul da Bahia,
mas bem mais ao norte, pelas alturas de Pernambuco. Quanto às tão faladas calmarias, é completamente fora de
propósito que elas fossem responsáveis por tão dilatado desvio.
Se considerarmos que o governo português poderia ter interesse em fingir o “descobrimento”, os três primeiros
argumentos a favor da casualidade caem por terra, ao passo que os contrários são muito mais sólidos. O estudo
profundo do problema indica, com alta probabilidade de acerto, que o Brasil já era conhecido dos portugueses antes
de 1500 e que, por motivos políticos, o fato foi ocultado até que pudesse ser feito oficialmente o “descobrimento”.

1.9 - OUTRAS NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS


Os lusos andaram mesmo, como diz O poema famoso, Os Lusíadas, “por mares nunca dantes navegados”, pelo
menos, por europeus.
Mesmo antes da “descoberta da América” por Colombo, já nela teriam estado os portugueses: em 1491, João Vaz
Corte Real e Álvaro Martins Homem estiveram na Terra Nova e, no mesmo ano da viagem de Colombo, João
Fernandes Labrador e Pedro de Barcelos descobriram a península que teria até hoje o nome do primeiro.
Em 1501, Gaspar Corte Real descobriu o Estreito de Davis, entre a Groenlândia e o continente norte-americano e
esteve naquela grande ilha.
As navegações lusitanas no Índico levaram à conquista de quase toda a costa da África e à descoberta de
inúmeras ilhas (Ceilão, Maurício, Reunião, Madagascar, Maldivas, Sonda, Sumatra, etc.) (para detalhes de datas e
navegantes ver bibliografia).
Em 1516, Duarte Coelho atinge a Cochinchina (atual Vietnam do Sul) e, em 1525, Luiz Vaz Torres descobre a
Austrália. A Nova Guiné, em 1538, com João Fogaça, e o Japão, em 1541, com Fernão Mendes Pinto e Antônio da
Mota, mostram quão longe chegaram os portugueses para as bandas do Oriente.
Mas, o ponto alto das navegações lusitanas viria com as viagens de João Martins que, em 1588, descobriu a
Passagem do Noroeste, passando pelo Estreito de Davis, mar de Baffin, ilhas Árticas, norte do Alasca e estreito de
Behring, vindo a sair no Pacífico, e de David Melgueiro que, em 1660, descobriu a Passagem do Nordeste, partindo
do Japão, passando pelo norte da Sibéria e das ilhas Spitzberg e chegando a Portugal pelo norte do Atlântico.
Desse imenso império colonial pouco restou a Portugal hoje em dia; a decadência começou em 1580 com a
entrega da coroa ao rei espanhol Felipe II, o que fez com que os holandeses, que estavam em luta com os espanhóis,
passassem a atacar os navios portugueses.
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2.1 – A EXPANSÃO MARÍTIMA PORTUGUESA (HISTÓRIA MARÍTIMA BRASILEIRA)


Este capítulo aborda as condicionantes físicas e políticas que levaram os portugueses a se aventurarem pelo “mar
tenebroso” – como antigamente era chamado o Oceano Atlântico – em busca de caminhos alternativos para o comércio
com o Oriente.
O pioneirismo português, ao assumir a liderança do processo de expansão em dois acontecimentos decisivos: o país
estava com suas fronteiras estabelecidas, após as guerras da Reconquista (que resultou na expulsão dos muçulmanos da
Península Ibérica) e firmava-se, então, como o primeiro Estado europeu moderno, politicamente centralizado, após a
vitória militar contra os reinos vizinhos de Leão e Castela. Tal processo de centralização do poder foi fator muito
importante para que o reino português pudesse lançar-se a aventura ultramarina, e quebrar o monopólio exercido pelas
cidades de Gênova e Veneza sobre as rotas de comércio com a Ásia e estabelecer contato direto com as fontes produtoras.
Para isso, em muito contribuiu a estrutura naval já existente, cujo desenvolvimento foi estimulado pela coroa portuguesa.
Na verdade, a expansão ultramarina ensejou uma aliança entre setores mercantis e a nobreza, tendo o Estado o controle e
direção de tal empreendimento.
A primeira conquista portuguesa no ultramar foi a cidade de Ceuta, ao norte da África onde hoje fica situado o
Marrocos. Na seqüência, Diogo Cão explorou a costa africana entre os anos de 1482 e 1485. Bartolomeu Dias atingiu o sul
do continente africano e ultrapassou o Cabo das Tormentas em 1487 (onde hoje fica a África do Sul) que, após este
acontecimento, passou a chamar-se Cabo da Boa Esperança. Vasco da Gama, em 1498, chegou a Calicute, Sudoeste da
Índia, estabelecendo a rota entre Portugal e o Oriente. Em 1500, a frota de Pedro Álvares Cabral chegou às terras do
Brasil, consolidando o império ultramarino português.
Descobertas as terras que Portugal denominou Brasil, tornou-se imperioso seu reconhecimento e povoamento.
Veremos, a partir daqui, quais as expedições que partiram para o reconhecimento do litoral das novas terras e as
providências para povoá-la e defendê-la.
Como “Navegar é preciso”, vamos partir para o reconhecimento de novas terras...
As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram; ...
Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas, ...

2.2 – FUNDAMENTOS DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO PORTUGUÊS E A EXPANSÃO ULTRAMARINA


A condição fundamental para o processo de formação das nações européias9 foi a crise do feudalismo, que teve início
em meados do século XIII. Esta crise foi resultante da relativa paz que vivia o continente europeu, que permitiu a criação
dos burgos (fora dos limites do senhor feudal, que lhes dava proteção em troca da vassalagem), que viriam a se
transformar em vilas ou cidades com relativa autonomia. Isto provocou o enfraquecimento dos senhores feudais, reduzindo
o poder da nobreza e, conseqüentemente, abrindo espaço para a retomada do poder político pelos reis.
Os soberanos, à medida que obtinham recursos financeiros, em troca de privilégios, fortaleciam seus exércitos e
submetiam os antigos feudos e as novas vilas e cidades à sua autoridade, incorporando esses territórios ao que viria ser
seus reinos. Era o embrião do futuro Estado Nacional.
Intensas lutas precederam e consolidaram o Estado português. Iniciou com a expulsão dos mouros da Península
Ibérica em 1249 (os mouros invadiram a Península Ibérica no ano de 71110), no movimento denominado Reconquista,

9
Até o final da Idade Média não existiam nações como Portugal, Espanha, França e Inglaterra, por exemplo. Grande parte do território
europeu naquela época era dividido em feudos governados por nobres (senhor feudal), onde os indivíduos (vassalos) consideravam-se
naturais da cidade em que haviam nascido, como Londres, Lisboa, Madri. É importante saber que o conceito de Nação pode ser definido
como um agrupamento humano, em geral numeroso, cujos membros, fixados em um território, são ligados por laços históricos, culturais,
econômicos e lingüísticos. Um Estado pode ser formado por várias nações, como o caso da ex-União Soviética e da antiga Iugoslávia.
10
A 30 de abril de 711, o exército de Tarik, general berbere muçulmano, desembarcou no rochedo que posteriormente se chamou Djebel El-
Tarik, ou seja, Monte de Tarik, e que hoje é conhecido como Gibraltar. Depois de ter todo o exército em terra, conta-se que mandou queimar
os navios e disse aos seus soldados: “Irmãos pelo Islã! Temos agora o inimigo pela frente e o mar profundo por detrás. Não podemos voltar
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quando Portugal consolidou seu território e firmou-se como “o primeiro Estado europeu moderno”, segundo o historiador
Charles Boxer. Mas somente aos a vitória sobre os Reinos de Leão e Castela, em 1385, na Batalha de Aljubarrota, e a
assinatura do tratado de paz e aliança perpétua com o Reino de Castela, em 1411, a paz foi selada.
Portugal iniciou seu processo de expansão ultramarina conquistando aos mouros a cidade de Ceuta, no norte da
África. A partir daí, virou-se para o mar, onde se tornou dominante. Como não poderia deixar de ser, esta empreitada
envolveu somas altíssimas e, para financiá-la, a coroa portuguesa se valeu do aumento de impostos e recorreu a
empréstimos de grandes comerciantes e banqueiros (inclusive italianos).

2.3 – LUSITÂNIA
A região que hoje é conhecida como Portugal foi originalmente habitada por populações iberas de origem indo-
européias. Mais tarde, foi ocupada, sucessivamente, por fenícios (séculos XII a.C.), gregos (século VII a.C.), cartagineses
(século III a.C.), romanos (século II a.C.) e, posteriormente, pelos visigodos (povo germânico, convertido ao cristianismo
no século VI). Desde 624.
Em 711, a região foi conquistada pelos muçulmanos, impulsionados por sua política de expansionismo, tendo como
base uma coligação formada por árabes, sírios, persas, egípcios e berberes, estes em maioria, todos unidos pela fé islâmica
e denominados mouros. Quase a totalidade da península caiu em mãos dos mouros que, em seu avanço, só foram
bloqueados quando tentaram invadir a França.
A resistência aos invasores só ganhou força a partir do século XI, após a formação dos reinos cristãos ao norte, como
Leão, Castela, Navarra e Aragão. A guerra deflagrada contra os mouros contou com o apoio de grande parte da
aristocracia européia, atraída pelas terras que a conquista lhes proporcionaria.
Durante o reinado de Afonso VI (1069-1109), de Leão e Castela, a partir de 1072, dois nobres franceses – Raimundo
e Henrique de Borgonha – receberam como recompensa pelos serviços prestados na campanha a mão das filhas do rei,
além de terras como dote. D. Raimundo recebeu as terras a norte do Rio Minho, e Condado de Galiza, e D. Henrique o
Condado Portucalense. Estas terras não se constituíam em reinos independentes e seus proprietários deviam prestar
vassalagem ao rei de Leão.
A origem do próprio Estado português se deu com a formação do Condado Portucalense, sob o domínio de D.
Henrique de Borgonha. Este nobre, tendo o senhorio de ampla região entre os Rios Minho e Mondego, procurou reforçar,
através da luta contra os mouros, seu poderio sobre os demais senhores de terras daquela área, bem como conseguir
autonomia frente aos interesses do vizinho Reino de Leão, a cujo soberano, como já foi deito, devia vassalagem.
O caráter inicial da formação dos reinos ibéricos, definido pelos aspectos militar e religioso desenvolvidos nas lutas
contra os mouros, marcou as tendências principais da constituição desses Estados.
De um lado, o processo de expulsão do inimigo muçulmano deu prioridade ao aspecto militar, o que criou a
necessidade de unificação do comando das forças cristãs, papel exercido pelos senhores de terras mais poderosos das
diversas regiões da península. Por outro lado, o profundo caráter religioso tomado pela Reconquista, identificada com as
cruzadas contra os infiéis muçulmanos, fez com que a Igreja de Roma tivesse grande interesse no sucesso das forças
cristãs.
As vitórias alcançadas pelos exércitos de D. Henrique mostraram à Santa Sé a importância que estes vinham
adquirindo no sucesso das lutas militares. Assim, os interesses do senhorio do condado e os do papado iam aos poucos
convergindo para o reconhecimento da autonomia portucalense entre o Reino de Leão.
O Tratado de Zamora, firmado em 1143 entre o Duque portucalense D. Afonso VII, imperador de Leão, determinou o
reconhecimento por parte deste último da independência do antigo condado, agora Reino de Portugal11.

2.4 – ORDENS MILITARES E RELIGIOSAS


Outro fator a ser ressaltado diz respeito ás ordens militares (ordens de cavalaria sujeitas a um estatuto religioso e que
se propunham a lutar contra os muçulmanos) no processo da Reconquista. Tais ordens, fundadas com o intuito de auxiliar
os doentes e peregrinos que iam à Terra Santa e, sobretudo, para combater militarmente os adeptos da fé muçulmana,
participaram das batalhas contra os mouros na Península Ibérica.
Seus contingentes, em muitos casos, formaram a base dos exércitos cristãos. Em conseqüência dessa atuação, várias
ordens receberam doações de terras nos reinos ibéricos. Em Portugal, as ordens dos Templários, de Avis e de Santiago
foram as mais beneficiadas por tais privilégios.
As ordens, no entanto, não se destacaram apenas pelo seu aspecto militar. Contribuíram significativamente para o
povoamento do território português, a partir das regiões que lhes foram distribuídas. Em torno de castelos e fortalezas, com
efeito, desenvolveram atividades agrícolas que levaram à fixação da população.
Além disso, foi igualmente importante nesse processo de ocupação territorial a participação das ordens religiosas
cujos membros não atuavam das lutas militares. Os mosteiros e capelas destas ordens, dentre as quais se destacou a dos

para o nosso lar porque queimamos os nossos barcos. Agora só nos resta derrotar o inimigo ou morrer de forma covarde, afogando-nos no
mar. Quem me seguirá?”
11
Uma carta régia de 13 de dezembro de 1143 colocou o novo reino sob a proteção da Santa Sé, o que lhe garantia a mediação do papado em
caso de ruptura do Tratao de Zamora e a criação de bispados sem interferência leonesa. Esse processo se concluiu em 1179, quando o Papa
Alexandre III, pela bula Manifestis Probatum, de 23 de maio do mesmo ano, reconheceu Dom Afonso Henrique como rei de Portugal
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beneditinos, tornaram-se pólos de atração pela segurança que ofereciam a inúmeras famílias. Da mesma forma, desde a
Reconquista, as ordens tomaram a peito a colonização de zonas desertas ou dizimadas pela guerra, criando novos focos de
povoamento e estimulando a exploração da terra.

2.5 – O PAPEL DA NOBREZA


Além de setores diretamente ligados à Igreja, assinala-se também intensa vinculação da nobreza portucalense na
formação do Estado Nacional lusitano. Este setor social, cujo poder se originava na propriedade da terra, também
participou de forma decisiva nas guerras da Reconquista, apoiando o esforço militar da realeza. Esta, num primeiro
momento, concedeu privilégios bastante amplos à nobreza. Mais tarde, contudo, pretendeu limitar tais privilégios,
impondo medidas que beneficiavam a centralização do poder.
Uma das providências tomadas nesse sentido foi a autonomia concedida pelo poder central aos concelhos (que
correspondem aos municípios nos dias de hoje), onde começavam a ter influência as aspirações de comerciantes e mestres
de ofício. O apoio do rei aos concelhos visava a enfraquecer o poder da nobreza fundiária em sua própria base territorial,
impedindo assim que os senhores de terras fizessem prevalecer livremente seus interesses nas áreas que comandavam, sem
levar em conta as determinações régias.
Outro mecanismo de limitação do poder da nobreza foi o estabelecimento das inquirições. A partir de uma interrupção
nas lutas militares contra os mouros, entre os séculos XII e XIII, a coroa portuguesa buscou avaliar a situação da
propriedade de terras no reino.
Durante a Reconquista, a nobreza laica e eclesiástica aproveitou-se da falta de controle régio para alargar seus
domínios territoriais e privilégios, prejudicando em alguns casos os direitos e rendimentos da coroa. Para coibir tal
situação, o poder real utilizou-se das inquirições, pelas quais se formavam comissões de inquérito (alçadas) a fim de
investigar se os direitos reais devidos estariam sendo cumpridos e até mesmo verificar o direito legal às propriedades.
Tal mecanismo se completava com as confirmações, processo pelo qual o rei sancionava não só a propriedade da terra
como o próprio título nobiliárquico do senhor em questão. Esses poderes submetiam, de certa maneira, a nobreza
eclesiástica e civil à coroa, já que passavam a depender desta para a preservação tanto do título quanto da propriedade.

2.6 – A IMPORTÂNCIA DO MAR NA FORMAÇÃO DE PORTUGAL


Paralelamente aos problemas político-territoriais apontados, é digno de destaque que, além da agricultura, o comércio
marítimo e a pesca eram as mais importantes atividades praticadas em Portugal, país de solo nem sempre fértil e produtivo.
A atividade pesqueira destacou-se como fundamental para complemento da alimentação de sua população.
Situado em posição geográfica estratégica, à beira do Oceano Atlântico e próximo ao Mediterrâneo, era de se esperar
que desenvolvesse grande devotamento à navegação e, conseqüentemente, à construção naval. Natural, também, que a
Marinha portuguesa fosse utilizada em caráter militar, o que ocorreu a partir do século XII.
No reinado de D. Sancho II (1223-1245) podem ser assinaladas as primeiras tentativas de implantação de uma frota
naval pertencente ao Estado, ordenando, inclusive, a construção de locais específicos nas praias para reparo de
embarcações.

2.7 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL


Durante o reinado de D. Dinis (1279-1324)12, sexto rei de Portugal (primeiro a assinar documentos com nome
completo e, presumidamente, primeiro rei não analfabeto daquele país), iniciativas bastante relevantes foram adotadas para
o fomento da cultura, da agricultura, do comércio e da navegação. Denominado O Lavrador ou Rei Agricultor e ainda Rei
Poeta ou Rei Trovador, D. Dinis foi um monarca essencialmente administrador e não guerreiro. Envolvendo-se em guerra
contra Castela, em 1295, desistiu dela em troca das Vilas de Serpa e Moura. Pelo Tratado de Alcanizes (1297) formou a
paz com Castela, ocasião em que foram definidas as fronteiras atuais entre os países ibéricos.
Preocupado com a infra-estrutura do país, ordenou a exploração de minas de cobre, estanho e ferro, fomentou as
trocas comerciais com outros países, assinou o primeiro tratado comercial com a Inglaterra, em 1308, e instituiu a Marinha
Real. Nomeou então o primeiro almirante (que se tem conhecimento) da Marinha portuguesa, Nuno Fernandes
Cogominho, para cuja vaga foi contratado, em 1317, o genovês Pezagno (ou Manuel Pessanha). Data dessa época a
chegada dos portugueses às Ilhas Canárias.
Deve-se também à sua iniciativa a intensificação da monocultura do pinheiro bravo (Pinhal de Leiria), em princípio,
com a finalidade de criar uma barreira vegetal que protegesse as terras agrícolas do avanço das areias costeiras e, também,
como reserva florestal par ao fornecimento de madeira destinada à construção naval e à exportação.

12
Durante o reinado de D. Dinis foi publicado código voltado para a proteção das classes menos favorecidas contra abusos de poder, e
estimulada uma “reforma agrária” que incluiu a redistribuição de terras e fundação de várias comunidades rurais. A cultura foi um de seus
interesses pessoais e, como apreciador de literatura, escreveu vários livros abordando temas como administração e vários volumes de poesia.
Nesse período, Lisboa foi considerada um importante centro cultural, culminando com a fundação da Universidade de Coimbra pela Magna
Charta Priveligiorum.
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O cultivo era extremamente racional: sempre que havia corte de árvores, novas mudas eram plantadas de imediato,
recorrendo-se a enormes sementeiras13. Esta ação manteve o pinhal praticamente intacto e foi bastante utilizado durante os
séculos XV e XVI, no período dos descobrimentos marítimos. Além de fornecer madeira para a construção naval, o pinho
fornecia um subproduto importantíssimo para conservação e calafeto dos cascos das embarcações: o chamado pez, alcatrão
vegetal de grande poder de vedação. É notável que o Pinhal de Leiria exista até os dias de hoje, constituindo uma das
maiores manchas naturais da região do norte do distrito de Leiria.
No reinado de D. Fernando I (1367-1383), último soberano da dinastia de Borgonha, foi baixada a Lei de Sesmarias,
de 28 de maio de 1376. Tendo como medida coercitiva mais rígida da expropriação das terras não produtivas, essa lei foi
mais uma tentativa de solucionar a carência de mão-de-obra no campo, causada pela fuga das populações para os centros
urbanos, devido à peste negra14. O resultado foi uma séria crise de abastecimento de gêneros alimentícios no reino.
A Lei de Sesmarias, que mais tarde seria aplicada no Brasil, teve pouco efeito prático. Seus artigos, apesar de
conterem ameaças aos proprietários de terras, atuaram no sentido de fortalecê-los, pois obrigavam os trabalhadores a
permanecerem nos campos, mesmo em troca de baixa remuneração.
Ainda durante o reinado de D. Fernando I, a construção naval recebeu grande incentivo, mediante a isenção de
impostos e a concessão de vantagens e garantias aos construtores navais, tais como a autorização aos construtores de
embarcações com mais de cem tonéis que cortassem a madeira necessária nas matas reais com isenção de impostos.
Também ficou isenta de impostos, a matéria-prima importada destinada à construção naval. Em 1380, o monarca criou a
Companhia das Naus, que funcionava como uma empresa de seguros destinada a evitar a ruína financeira dos homens do
mar. Como resultado, incrementaram-se o comércio marítimo, a exportação de produtos da agricultura e a importação de
tecidos e manufaturas. As rendas da Alfândega de Lisboa, considerado porto franco, aumentaram significativamente e era
intensamente freqüentado por estrangeiros.
Outra importante iniciativa de D. Fernando foi a instalação da Torre do Tombo, o Arquivo Nacional Português, onde
se guardavam documentos importantes que preservavam a memória e a história de Portugal. Foi-lhe dado este nome
porque ficava sediado numa torre do Castelo de São Jorge, e tombo, porque significava lançar em livro, inventariar,
registrar.
D. Fernando I envolveu-se em três guerras contra Castela e passou a se malvisto pela opinião publica por seu
casamento com Dona Leonor Teles (cujo casamento anterior fora anulado). Após a morte de D. Fernando, os portugueses
não aceitaram a regência da rainha viúva em nome da filha, a Infanta Dona Beatriz, casada com um potencial inimigo, o
rei de Castela. Este fator, somando à continuidade da crise de abastecimento, deflagrou a Revolução de Avis.
Após deliberação das Cortes, foi aclamado rei o Mestre da Ordem de Avis, D. João I (1385-1433), filho bastardo do
oitavo rei de Portugal D. Pedro I (1357-1367), a quem caberia inaugurar uma nova dinastia vitoriosa em Lisboa, a revolta
transformou-se em movimento de fidalgos e plebeus em guerra contra Castela, cujo rei declarou pretensão à coroa
portuguesa. Os castelhanos foram vencidos em várias batalhas e, embora tenham bloqueado Lisboa, foram, afinal,
fragorosamente derrotados na Batalha de Aljubarrota (1385). A paz só foi selada em 1411.
Outra conseqüência importante dos fatos apontados foi a renovação da aristocracia portuguesa. Os setores que haviam
apoiado Castela tiveram seus bens confiscados pela coroa, a qual os doou em parte aos seus aliados. Com tal divisão na
nobreza, houve até mesmo casos em que pais perderam os bens para seus próprios filhos.
Além disso, o apoio dos grupos mercantis a D. João I fez com que as aspirações de tais grupos passassem a ser
valorizadas pelo poder régio. A situação econômica do reino, ao sair vitoriosa da revolução, era uma das mais graves. A
alta do custo de vida e a queda do valor da moeda colocaram o tesouro português em situação bastante difícil15.

13
Hoje, técnica muito parecida é defendida por ambientalistas para ser implantada na exploração de madeira da região amazônica,
considerada internacionalmente como “ecologicamente correta”.
14
Durante o reinado de Dom Afonso IV (1325-1357), Portugal foi atingido pela peste negra (peste bubônica, transmitida pelas pulgas que
infestam ratos). Esta foi a maior, a mais trágica epidemia que a História registra, tendo produzido um morticínio sem paralelo. Foi chamada
peste negra pelas manchas escuras que apareciam na pele dos enfermos. Como outras epidemias, teve início na Ásia Central, espalhando-se
por via terrestre e marítima em todas as direções. Em 1334 causou 5 mil mortes na Mongólia e no norte da China. Houve grande mortandade
na Mesopotâmia e na Síria, cujas estradas ficaram juncadas de cadáveres dos que fugiam das cidades. No Cairo os mortos eram atirados em
valas comuns e em Alexandria os cadáveres ficaram insepultos. Calcula-se em 24 milhões o número de mortos nos países do Oriente. Em
1347 a epidemia alcançou a Criméia, o arquipélago grego e a Sicília. Em 1348 embarcações genovesas procedentes da Criméia aportaram em
Marselha, no sul da França, ali disseminando a doença. Em um ano, a maior parte da população de Marselha foi dizimada pela peste. Em
1349 a peste chegou ao centro e ao norte da Itália e dali se estendeu a toda a Europa. Em sua caminhada devastadora semeou a desolação e a
morte nos campos e nas cidades. Povoados inteiros se transformaram em cemitérios. Calcula-se que a Europa tenha perdido a metade de sua
população. Em Portugal, o impacto da epidemia também foi muito grande, tendo como conseqüência natural a drástica redução da mão-de-
obra em todos os níveis. Os trabalhadores que sobreviveram exigiram salários superiores aos que vigoravam antes da peste, gerando forte
reação dos proprietários de terras, que apelaram para o rei. Como resultado, o Rei Afonso IV (1325-1357), em 1349, ordenou que os
proprietários e autoridades competentes determinassem as medidas necessárias: foram fixados salários abaixo do que os trabalhadores
esperavam; tornaram obrigatória a aceitação da proposta por todos os trabalhadores e também obtiveram o direito de recrutar a mão-de-obra
à força. Apesar deste elenco de medidas, passados três anos, os proprietários de terras permaneciam insatisfeitos com as dificuldades de
recrutar trabalhadores pelo salário fixado. Em face do insucesso das medidas coercitivas, agravou-se a crise de abastecimento no país.
15
Porém, o estabelecimento de um novo imposto, a sisa, ao incidir sobre as trocas comerciais realizadas no Reino, constituiu a principal
fonte de recursos para o Tesouro Real. A coroa, em conseqüência, estabeleceu uma política de incentivo às atividades mercantis. No entanto,
se esta política de fato beneficiou o setor mercantil único capaz de, naquele momento, propiciar o sustento da nobreza, por outro lado o
subordinou aos próprios interesses do Estado. Do mesmo modo, as decisões quanto aos investimentos na empresa mercantil marítima eram
tomadas por funcionários reunidos nos diversos conselhos régios, e não pelos diretamente envolvidos na questão.
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A nobreza também teve suas bases de poder atingidas pelo movimento de centralização régia, com a colocação em
prática da Lei Mental. Por meio dessa lei, baixada por D. Duarte (1433-1438) em 8 de abril de 1434, os bens doados pela
coroa à nobreza só poderiam ser herdados pelo filho varão legítimo mais velho. Isso permitiu à coroa retomar uma série de
propriedades antes doadas às famílias nobres, reforçando seu poder e, de alguma maneira, minando as bases do poderio
senhorial.
Tal processo de centralização do poder foi o elemento essencial que permitiu ao reino português lançar-se na
expansão ultramarina. Deve-se destacar ainda que os limites da extração das rendas obtidas com a agricultura fizeram a
coroa voltar seus olhos às atividades comerciais e marítimas.
O monopólio exercido pelas cidades italianas de Gênova e Veneza sobre as rotas de comércio com a Ásia levou os
grupos mercantis portugueses a procurar outra alternativa para a realização de seus negócios e, conseqüentemente, para
obtenção de lucros. A saída seria a tentativa de contato direto com os comerciantes árabes, evitando o intermediário
genovês ou veneziano. Para isso muito contribuiu a estrutura naval já existente no reino, cujo desenvolvimento foi
estimulado pela coroa.
A expansão marítima portuguesa caracterizou-se por duas vertentes. A primeira, de aspecto imediatista, realizada ao
norte do continente africano, visava à obtenção de riquezas acumuladas naquelas regiões através de prática de pilhagens. A
tomada de Ceuta, no norte da África (Marrocos), em 1415, seria um dos exemplos mais representativos deste tipo de
empreendimento e marca o início da expansão portuguesa rumo à África e à Ásia16.
Em menos de um século, Portugal dominou as rotas comerciais do Atlântico Sul, da África e da Ásia, cuja presença
foi tão marcante nesses mercados que, nos séculos XVI e XVII, a língua portuguesa era usada nos portos como língua
franca – aquela que permite o entendimento entre marinheiros de diferentes nacionalidades. Na segunda vertente, o
objetivo colocava-se mais a longo prazo, já que se buscava conquistar pontos estratégicos das rotas comerciais com o
Oriente, criando ali entrepostos (feitorias) controlados pelos comerciantes lusos. Foi o caso da tomada das cidades
asiáticas. Tal modo de expansão também ficou marcado pelo aspecto religioso (cruzadas), pois mantinham-se a idéia de
luta cristã contra os muçulmanos17.
A expansão ultramarina permitiu, assim, uma convergência de interesses entre os setores mercantis e a nobreza, tendo
o Estado o papel de controle e direção de tal empreendimento. O monopólio do comércio dos produtos asiáticos e o tráfico
de escravos africanos (mão-de-obra para as regiões produtoras de matérias-primas) enriqueciam não só os grupos
mercantis, como geravam vultosas receitas para o tesouro régio, as quais a coroa em certa medida, repassava à nobreza
através da doação de mercês, bens móveis e de raiz, bem como de privilégios.
Cronologicamente e resumidamente, assim se deu o referido processo expansionista:
 Entre 1421 e 1434, os lusitanos chegaram aos Arquipélagos da Madeira e dos Açores e
avançaram para além do Cabo Bojador. Até esse ponto, a navegação era basicamente costeira.
 Em 1436 atingiram o Rio do Ouro e iniciaram a conquista da Guiné. Ali se apropriaram da
Mina, centro aurífero explorado pelos reinos nativos em associação aos comerciantes mouros,
a maior fonte de ouro de toda a história de Portugal até aquela data.
 Em 1441, chegaram ao Cabo Branco.
 Em 1441, atingiram a Ilha de Arguim, no Senegal, onde instalaram a primeira feitoria em
território africano e iniciaram a comercialização de escravos, marfim e ouro.
 Entre 1445 e 1461, descobriram o Cabo Verde, navegaram pelos Rios Senegal e Gâmbia e
avançaram até Serra Leoa.
 Entre 1470 e 1475, exploraram a costa da Serra Leoa até o Cabo de Santa Catarina.
 Em 1482, atingiram São Jorge da Mina e avançaram até o Rio Zaire, o trecho mais difícil da
costa ocidental africana. O navegador Diogo Cão explorou a costa da África Ocidental entre
1482 e 1485.

16
A mentalidade vigente na Europa no século XV se caracterizava por uma visão do mundo desconhecido como alguma coisa muito
perigosa. Acreditava-se que nos oceanos viviam monstros terríveis, correntes traiçoeiras e intransponíveis à espera dos marinheiros. Uma
mistura de conhecimentos geográficos com crendices e lendas que atormentava os homens do mar. Quando os navegadores dobraram o Cabo
Bojador no reconhecimento da costa africana, isto foi considerado um grande feito, tendo em vista a visão existente do que existiria além
naquele mar desconhecido. Doze anos levaram os portugueses na tentativa de ultrapassá-lo. Os cronistas da época assim se referiam: “Depois
deste cabo não há gente ou povoação alguma; a terra não é menos arenosa que os desertos da Líbia, onde não há água, nem árvore, nem erva
verde; e o mar é tão baixo, que a uma légua de terra não há fundo mais que uma braça. As correntes são tamanhas que o navio que lá passe
jamais nunca poderá tornar... Ora qual pensais que havia de ser o capitão de navio a que pusessem semelhantes dúvidas diante, e mais por
homens a que a razão de dar fé e autoridade em tais lugares, que ousasse de tomar tal atrevimento, sob tão certa esperança de morte como lhe
ante os olhos se apresentaram?” Nessa época vivia-se muito pouco se compararmos com os dias de hoje. A média de vida era de 30 anos, e
um homem saudável de 60, uma raridade. Daí talvez o fato de indivíduos assumirem a vida do mar motivados pelo espírito aventureiro e
também consciente da grande incerteza de retorno.
17
É necessário ressaltar a importante atuação das ordens militares no processo de expansão ultramarina, especialmente da riquíssima Ordem
de Cristo. Constituída em 1319, com os bens lusitanos pertencentes à Ordem dos Templários (1119-1311), a Ordem de Cristo tornou-se aos
poucos detentores de um grande poder no reino, o que despertou o interesse da coroa em absorver suas posses, quando do movimento, já
referido, de centralização político-administrativa. Mais tarde, a obtenção do grão-mestrado da Ordem de Cristo por Dom João III (1521-
1557), em 1522, permitiu ao monarca garantir a si próprio os poderes oriundos da influência da própria ordem.
MÓDULO 1 10 CURSOASCENSAO.COM.BR
HISTÓRIA 2 CURSO ASCENSÃO
 No período 1487/1488, Bartolomeu Dias atingiu o Cabo das Tormentas, no extremo Sul do
continente – que passou a ser chamado de Cabo da Boa Esperança – e chegou ao Oceano
Índico, conquistando o trecho mais difícil do caminho das Índias.
 Em 1498, Vasco da Gama chegou a Calicute, na costa Sudoeste da Índia, estabelecendo a
rota entre Portugal e o Oriente.
Durante o reinado de D. João II, iniciado em 1481, a expansão ultramarina atingiu o auge com os feitos dos
navegadores Diogo Cão e Bartolomeu Dias. Abriram-se, desse modo, novas e extraordinárias perspectivas para a nação
portuguesa. O negócio das especiarias do Oriente, levadas para a Arábia e para o Egito pelos árabes e dali transportadas
aos países europeus, por intermédio de Veneza – que enriqueceram com o tráfico —, vai se concentrar em novas rotas,
deslocando o foco do comércio mundial do Mediterrâneo para o Oceano Atlântico.
Foi justamente um genovês, Cristóvão Colombo, quem abalou as pretensões de D. João II na sua política
expansionista, ao descobrir a América em 1492. No retorno de sua famosa viagem, Colombo avistou-se com o rei de
Portugal comunicando-lhe a descoberta. Anteriormente, o mesmo Colombo já havia oferecido seus serviços ao soberano
português, que recusou a oferta baseado em informações dadas pelos cosmógrafos do reino, levando o genovês a dirigir-se
a Castela, onde obteve apoio financeiro para sua famosa viagem.
Abalado com as notícias trazidas por Colombo, D. João II cogitou em mandar uma expedição em direção às terras,
recém-descobertas, convencido de que lhe pertenciam por direito. Pouco depois, a questão foi arbitrada por três bulas18 do
Papa Alexandre VI, que concederam à Espanha os direitos sobre as terras achadas por seus navegadores a ocidente do
meridiano traçado a cem léguas a oeste das Ilhas dos Açores e de Cabo Verde.
Os portugueses discordaram da proposta e novas negociações resultaram na assinatura do Tratado de Tordesilhas
(cidade espanhola) em 7 de junho de 1494, que garantiu à coroa portuguesa as terras que viessem a ser descobertas até 370
léguas a oeste do Arquipélago de Cabo Verde. As terras situadas além desse limite pertenceriam à Espanha.
D. João II morreu em 1495 e coube ao seu sucessor, D. Manuel, dar continuidade ao projeto expansionista. Durante
sua gestão aconteceu a famosa viagem de Vasco da Gama, que partiu do Rio Tejo em julho de 1497, dobrou o Cabo da
Boa Esperança, transpôs o Rio Infante, ponto extremo da viagem de Bartolomeu Dias, reconheceu Moçambique, Melinde,
Mombaça e, em maio de 1498, após quase um ano de viagem, chegou a Calicute, na Índia.
A façanha de Vasco da Gama colocou Portugal em contato direto com a região das especiarias, do ouro e das pedras
preciosas e, como conseqüência, a conquista do quase total monopólio de tais produtos na Europa, abalando seriamente o
comércio das repúblicas italianas. A conquista da rota marítima para as Índias assumiu, na época, importância
revolucionária e seus conseqüências imediatas empalideceram até mesmo o maior acontecimento da história moderna das
navegações: o descobrimento da América por Cristóvão Colombo.

2.8 – A DESCOBERTA DO BRASIL


Vasco da Gama retornou a Portugal em julho de 1499 sob clima de grande excitação motivado pela descoberta da
nova rota para a Índia. Pouco depois, em 9 de março de 1500, partiu em direção ao oriente uma portentosa frota de 13
navios (dez provavelmente eram naus e “três navios menores”, que seriam caravelas, incluída aí, uma naveta de
mantimentos).
De seu comandante, Pedro Álvares Cabral, sabe-se que nasceu na Vila de Belmonte em 1467 ou 1468, segundo filho
de Fernão Cabral, senhor de Belmonte, e de Dona Isabel de Gouveia. Na juventude teria prestado bons serviços à coroa
nas guerras da África e por isso recebia 13.000 réis anuais. De qualquer modo, sabe-se da dúvida de D. Manuel na escolha
do comandante da expedição, que no primeiro momento recaiu sobre Vasco da Gama.
Cabral teria na época cerca de 30 anos e levava consigo marinheiros ilustres, como Bartolomeu Dias e Nicolau
Coelho, além de numerosa tripulação, perto de 1.500 homens alguns degradados e oito frades franciscanos, os primeiros
religiosos mandados por Portugal a tais lugares.
Uma das recomendações feitas a Cabral era que tivesse particular cuidado com o sistema de ventos nas proximidades
da costa africana, fruto da experiência de Vasco da Gama. Na manhã do dia 14 de março, a frota atingiu as Ilhas Canárias,
fazendo 5.8 nós de velocidade média. No dia 22, avistou São Nicolau, uma das ilhas do Arquipélago de Cabo Verde. Na
manhã seguinte, desgarrou a nau comandada por Vasco de Ataíde, que foi procurada exaustivamente e dada como perdida.
Prosseguindo a navegação sempre em rumo sudoeste, foram avistadas ervas marinhas, indicando terra próxima. No
dia 22 de abril, foram avistadas as primeiras aves e ao entardecer avistaram terra. Ao longe, um monte alto e redondo foi
denominado Pascoal por ser semana da Páscoa. Na manhã seguinte, avançaram as caravelas sondando o fundo e
fundeando a milha e meia da praia próxima à foz de um rio mais tarde denominado Rio do Frade. Após reunião com os
comandantes, foi decidido enviar a terra um batel sob o comando de Nicolau Coelho para fazer contato com os homens da
terra, quando se deu o primeiro encontro entre portugueses e indígenas.
Durante a noite soprou vento forte, seguido de chuvarada, colocando em risco as embarcações. Consultados os
pilotos, decidiu Cabral sair em busca de local mais abrigado, chegando em Porto Seguro, hoje Baía Cabrália. Alguns
tripulantes desceram a terra, não conseguindo se fazer entender nem ser entendidos pelos habitantes que falavam uma
língua desconhecida.

18
Documentos emitidos pelos papas de caráter internacional e oficial.
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HISTÓRIA 2 CURSO ASCENSÃO
No domingo de Páscoa, rezou-se a missa e foi decidido mandar ao reino, pela naveta de mantimentos, a notícia do
acontecimento. Nos dias posteriores, os marinheiros ocuparam-se em cortar lenha, lavar roupa e preparar aguada, além de
trocar presentes com os habitantes do lugar. Em 1º de maio, Pedro Álvares Cabral assinalou o lugar onde foi erigida uma
cruz, próximo ao que hoje conhecemos como Rio Mutari. Assentadas as armas reais e erigido o cruzeiro em lugar visível,
foi erguido um altar, onde Frei Henrique de Coimbra celebrou a segunda missa.
No dia 2 de maio, a frota de 11 navios levantou âncoras rumo a Calicute, deixando na praia dois degredados, além de
outros tantos grumetes, se não mais, que desertaram de bordo. Antes de atingirem o Cabo da Boa Esperança, quatro navios
naufragaram e desgarrou-se a nau comandada por Diogo Dias, que percorreu todo o litoral africano, reencontrando a frota
na altura de Cabo Verde, quando esta retornava a Portugal.
Com seis navios, Cabral alcançou à Índia, em setembro de 1500. Em Calicute, as negociações foram difíceis, surgindo
desentendimentos com os indianos, quando portugueses foram mortos em terra (inclusive o escrivão da Armada, Pero Vaz
de Caminha) e o porto bombardeado. Em seguida, a Armada ancorou em Cochim e Cananor, onde foi bem recebida,
abastecendo-se de especiarias antes da viagem de retorno, iniciada no dia 16 de janeiro de 1501. No trajeto de volta, um
navio perdeu-se no regresso e, dos que sobraram da esquadra, cinco retornaram ao reino. Em 23 de junho, a Armada
adentrou o Rio Tejo concluindo sua jornada.

2.9 – OS PORTUGUESES OCUPAM A TERRA DE SANTA CRUZ

2.9.1 - PERÍODO PRÉ-COLONIAL


De 1500 a 1530, Portugal preocupou-se exclusivamente em desvendar a terra encontrada, inexistindo um plano de
colonização. Por isso, se chama de Pré Colonial a esta fase. Não se sabe ao certo em que data, em 1500, Gaspar de Lemos
chegou a Lisboa com as notícias da terra achada. Mas foram estas notícias, sem dúvida, que motivaram o monarca a
organizar uma expedição com destino à terra descoberta, no ano seguinte, com três naus; nela embarcou Américo
Vespúcio como observador comercial. Ela percorreu grande parte do litoral, batizando e mapeando os acidentes, de acordo
com as festas do calendário religioso. As informações obtidas ocasionaram a mudança do nome da terra descoberta para
Terra de Santa Cruz, mas decepcionaram o rei: ela não passava de uma região vasta e sem possibilidades econômicas
imediatas. Nesse mesmo ano de 1501, ainda foi armada a expedição de João da Nova, sobre a qual pouco sabemos, mas
que, possivelmente, encontrou a Ilha de Ascensão. Em 1502, percorreu a costa Estevão da Gama, tendo achado a Ilha da
Trindade. Entre 1502 e 1503, Fernão de Loronha esteve no Brasil, tendo descoberto a ilha que chamou de São João, hoje
Fernando de Noronha. Concluía-se que a região encontrada aparecia em época inoportuna para Portugal, apesar de possuir
um pau-de-tinta, logo declarado monopólio da Coroa. Desprezá-la não traduzia uma boa política, pois era conveniente
manter sempre garantida a rota marítima para as Índias. Por isso, o rei resolveu alugar a terra. Foi feito, então, o Trato, isto
é, uma concessão por três anos a Fernão de Loronha, Bartolomeu Marchione e Benedito Morelli (provavelmente cristãos
novos), para explorar as riquezas da terra, mediante o pagamento de 4000 cruzados anuais e o compromisso de enviar à
nova terra seis navios pelo mesmo espaço de tempo. Concedia-se ao primeiro comerciante uma capitania hereditária: o
arquipélago por ele descoberto pouco sabemos hoje dos aspectos jurídicos desse Trato e o seu funcionamento
Esses arrendatários armaram, então, a expedição de 1503, sob o comando de Gonçalo Coelho, integrando-a Américo
Vespúcio, que, assim, retornava ao Novo Mundo. Dividida em duas estas expedições, depois das ilhas de Fernando de
Noronha, onde naufragou a capitânia, ignora-se por onde andou o seu comandante, que só reapareceu em Portugal quatro
anos depois. Parece que Vespúcio explorou a costa até Cabo Frio, onde fez uma entrada e construiu um pequeno reduto
fortificado.
O fato de a América ter hoje esse nome prende-se a este personagem e suas viagens na costa brasileira. Um grupo de
humanistas da cidade de Saint-Dié, França, protegido por Renato, Duque da Lorena, imaginou reimprimir a Geografia de
ptolomeu, com uma introdução que ilustrasse aos leitores sobre a importância desse geógrafo antigo. Incumbido dessa
introdução, Waldssemüller compôs uma primeira parte de cosmografia geral e uma segunda, formada pela narrativa das
viagens de Vespúcio contidas nas cartas enviadas a seu amigo Soderini (consideradas por muitos como apócrifas) e a
Lourenço de Médicis. O mapa que acompanhava o estudo de Waldssemüller trazia o nome América colocado na costa
brasileira, passando depois a designar todo o continente, em detrimento do seu verdadeiro descobridor.
Em 1511, situa-se a viagem da nau Bretoa (cujo nome provém de sua construção em algum estaleiro da Bretanha),
comandada por Cristóvão Pires e tendo por piloto João Lopes de Carvalho, provavelmente ainda pertencente ao Trato. Do
Brasil arrecadou 5.008 toros de pau-de-tinta, 35 indígenas e 70 animais A expedição de Estêvão Fróis, que navegou no
litoral norte em 1513, acabou por ser apreendida pelas autoridades espanholas nas Antilhas. Em 15I4, esteve em nossas
costas a expedição armada por D. Nuno Manoel (pilotava um dos dois navios João de Lisboa), conhecida pela Nova
Gazeta da Terra do Brasil (publicada na Alemanha e sem data sob o título original Newven Zeytung Auss Pressi/lg Landt)
e que, talvez, tenha percorrido o Rio da Prata antes dos espanhóis
Acredita-se que, por essa ocasião, terminou o Trato com Fernão de Noronha ou que o mesmo possuísse novo
arrematante, o armador Jorge Lopes Bixorda.
Diversos navios ou armadas aportavam nas costas brasílicas em demanda das índias ou delas, de retorno, paravam
para se abastecerem de água e alimentos. Foram essas expedições que, por vezes, largaram degredados ou que, sofrendo
naufrágios, proporcionaram o aparecimento, em diversos pontos da costa, de portugueses que representaram o traço de
união entre os indígenas e a futura colonização. Destacaram-se Diogo Álvares Correia, apelidado Caramuru, João
MÓDULO 1 12 CURSOASCENSAO.COM.BR
HISTÓRIA 2 CURSO ASCENSÃO
Ramalho, Cosme Fernandes, conhecido como o Bacharel de Cananéia, Antônio Rodrigues, Francisco de Chaves e Aleixo
Garcia, que chegou a terras hoje pertencentes ao paraguai e Bolívia precedendo, nessas regiões, os espanhóis, encontrando
a morte nas mãos dos índios guaranis.
Por essa época, a terra descoberta começou a ser chamada de BRASIL. A origem desse nome não se prende à cor de
brasa da madeira que existia em abundância no litoral, mas é uma corruptela do italiano versino ou versil, nome de
madeira de tinta proveniente do Oriente. A geografia medieval havia inventado uma ilha no Mar Tenebroso chamada
Barzil ou Bersil, onde existiam muitas riquezas, inclusive e sobretudo o versil. Ora, fácil foi os navegantes identificarem a
terra encontrada com a lendária ilha. Já em 1503, Giovani da Empoli dizia: "Ia terra della Vera Croce ouer de Bresil cosi
nominata" (in Viaggio fatto nell'lndia, Venetia, 1554)
Denominavam-se brasileiros todos aqueles que comerciavam com o pau-de-tinta. Durante esse período, andou
velejando em nosso litoral o português João Dias de Solís (1515 a 1516) a serviço de Castela, na tentativa de encontrar
uma passagem para as Índias. O mesmo fez outro português (igualmente a serviço de Castela), Fernão de Magalhães
(1519), o qual, tendo permanecido 13 dias na Baía de Guanabara, nos últimos dias de dezembro, batizou involuntariamente
a região com o nome de Rio de Janeiro e, mais feliz que seus antecessores, descobria a tão cobiçada passagem no extremo
sul da América. Mais tarde, em 1526, o veneziano Sebastião Caboto percorreu a costa brasileira
O pau-de-tinta atraiu também os franceses, corsários a mando do Rei Francisco I. Este monarca desconhecia o
"Testamento de Adão", que havia dividido o mundo em duas metades para os reis de Portugal e Espanha, seus primos,
enviando corsários com o objetivo de apanhar a madeira. Conhecemos bem a expedição do navio Espoir, comandado por
Binot Paulmier de Gonneville, que percorreu a Baía de Todos os Santos, em 1504. Jean Parmentier, francês de Dieppe,
velejou do Amazonas ao Prata, por volta de 1525 (citado em Ramúsio Dll/e Na viga tion i ed viaggi, lll); mas muitos
outros navios dos estaleiros de Jean Ango certamente aqui estiveram. Hábeis no trato com os indígenas, esses mairs (como
eram chamados os franceses pelos indígenas) gozavam de maior simpatia. Por isso, D. Manuel I determinou que Cristóvão
Jaques (descendente de ilustre família aragonesa e fidalgo da Casa Real) e os dois navios a seu comando policiassem o
litoral, o que pouco adiantou. Essa viagem durou de 21 de junho de 1516 a 9 de maio de 1519; Jaques fundou uma feitoria
na Ilha de Itamaracá (em Pernambuco)
De novo, o rei enviou Cristóvão Jaques ao Brasil, com dois navios, em 1521, em uma viagem de reconhecimento pela
costa meridional; a crítica histórica moderna, baseada em documentação irrefutável, conclui que Jaques penetrou no Rio
da Prata e explorou o Rio Paraná.
Morrendo D. Manuel I em 1521, subiu ao trono D. João III; as notícias que chegavam à Corte de Lisboa de que navios
franceses estavam sendo armados para efetuarem o corso nas terras brasileiras levaram o monarca a incumbir o mesmo
Cristóvão Jaques, em 1527, de idênticas funções policiadoras. Com uma nau e cinco caravelas, Jaques procurou
desencumbir-se da missão. Sabemos ter havido cruento combate na Baía de Todos os Santos. É possível que tenham
ocorrido outros encontros com corsários, mas, sozinho, pouco podia fazer. Em 1528, Jaques regressou a Portugal
Substituiu-o Antônio Ribeiro, sobre o qual nada sabemos. E, finalmente, exerceu esta atividade Duarte Coelho, entre 1530
e 1531 tendo combatido os índios caetés que favoreciam os franceses.
Durante esses trinta anos, os portugueses, pêros para os indígenas, mantiveram contatos amistosos com os naturais, os
quais se prestaram bem na exploração da madeira. O homem de pele branca despertava curiosidade e um irresistível
atrativo para a mulher indígena. Ele significava superioridade. Algumas feitorias, escassamente habitadas, começaram a
povoar a costa: havia a de Cabo Frio, uma na Baía de Todos os Santos, cujo feitor chamava-se João de Braga, e outra no
litoral de Pernambuco

2.10 – O RECONHECIMENTO DA COSTA BRASILEIRA (Sistematização de Introdução à História Marítima


Brasileira)

2.10.1 – A EXPEDIÇÃO DE 1501/1502


Preocupado em realizar o reconhecimento da nova terra, D. Manuel enviou, antes mesmo do retorno de Cabral, uma
expedição composta por três caravelas comandadas por Gonçalo Coelho, tendo a companhia do florentino Américo
Vespúcio19. A expedição partiu de Lisboa em 13 de maio de 1501 em direção às Canárias, de onde rumou para Cabo
Verde. Nessa ilha se encontrou com navios da Esquadra de Cabral que regressavam da Índia. Em meados do mês de junho,
partiu para sua travessia oceânica, chegando à costa brasileira na altura do Rio Grande do Norte.
Na Praia dos Marcos (RN), deu-se o primeiro desembarque, tendo sido ficando um marco de pedra, sinal da posse da
terra. A partir de então, Gonçalo Coelho deu partida a sua missão exploradora navegando pela costa, em direção ao sul,
onde avistou e denominou pontos litorâneos, conforme calendário religioso da época20. O périplo costeiro da expedição
teve como limite sul a região de Cananéia, localizada no atual litoral Sul do Estado de São Paulo.
19
Américo Vespúcio (1454-1512) – Navegador italiano que estava a serviço de Portugal. Foi representante dos Médicis em Sevilha. Teve em
sua homenagem o novo continente batizado com nome de América pelo cosmógrafo Martin Waldseemüller em sua Cosmographie
Introductio.
20

16 de agosto (1501) – Cabo de São Roque (RN)


28 de agosto – Cabo de Santo Agostinho (PE)
14 de setembro – Cabo de São Jorge (PE)
29 de setembro – Rio de São Miguel (AL)
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HISTÓRIA 2 CURSO ASCENSÃO

2.10.2 – A EXPEDIÇÃO DE 1502/1503


Essa segunda expedição foi resultado do arrendamento da Terra de Santa Cruz (nome inicial das nossas terras) a um
consórcio formado por cristãos-novos21, encabeçado por Fernando de Noronha, e que tinha a obrigação, conforme
contrato, de mandar todos os anos seis navios às novas terras com a missão de descobrir, a cada ano, 300 léguas a vante e
construir uma fortaleza.
Segundo o Almirante Max Justo Guedes22, essa viagem foi realizada entre o segundo semestre de 1502 e o primeiro
semestre de 1503. A rota traçada pela expedição possivelmente seguiu o percurso normal até Cabo Verde, cruzou o
Atlântico, passando pelo Arquipélago de Fernando de Noronha, concluindo sua navegação nas imediações de Porto
Seguro.

2.10.3 – A EXPEDIÇÃO DE 1503/1504


Segundo as informações do cronista Damião de Góis, essa expedição partiu de Portugal em 10 de junho de 1503, era
composta por seis naus, e novamente foi comandada por Gonçalo Coelho. Ao chegarem em Fernando de Noronha,
naufragou a capitânia. Neste local deu-se a separação da frota. Após aguardar por oito dias o aparecimento do estante da
frota, dois navios (num dos quais se encontrava embarcado Américo Vespúcio) rumaram para a Baía de Todos os Santos,
pois assim determinava o regimento real para qualquer navio que se perdesse da companhia do capitão-mor.
Havendo aguardado por dois meses e quatro dias alguma notícia de Gonçalo Coelho, decidiram percorrer o litoral em
direção ao sul, onde se detiveram durante cinco meses em um ponto cujas coordenadas indicam ter sido no litoral do Rio
de Janeiro, onde ergueram uma fortificação e deixaram 24 homens. Logo depois retornaram a Portugal aportando em 18 de
junho de 1504. Gonçalo Coelho com o restante da frota regressou a Portugal, ainda em 1503.

2.10.4 – AS EXPEDIÇÕES GUARDA-COSTAS


A costa do pau-brasil prolongava-se desde o Rio de Janeiro até Pernambuco, onde foram sendo estabelecidas
feitorias23, nas quais navios portugueses realizavam regularmente o carregamento desse tipo de madeira para o reino. Esse
negócio rendoso começou a atrair a atenção de outros países europeus que nunca aceitaram a partilha do mundo entre
Portugal e Espanha, dentre eles a França.
Os franceses começaram a freqüentar nosso litoral comercializando o pau-brasil clandestinamente com os índios.
Portugal procurou, a princípio, usar de mecanismos diplomáticos, encaminhando várias reclamações ao governo francês na
esperança de que o mesmo coibisse esse comércio clandestino.
Notando que ainda era grande a presença de contrabandistas franceses no Brasil, D. Manuel resolveu enviar o fidalgo
português Cristóvão Jaques24, com a missão de realizar o patrulhamento da costa brasileira25.
Cristóvão Jaques realizou viagens ao longo de nossa costa entre os períodos de 1516 a 1519, 1521 a 1522 e de 1527 a
1528, onde combatendo e reprimindo as atividades do comércio clandestino.
Em 1528, foi dispensado do cargo de capitão-mor da Armada Guarda-Costa, regressando para Portugal.

2.10.5 – A EXPEDIÇÃO COLONIZADORA DE MARTIM AFONSO DE SOUSA


Em 1530, Portugal resolveu enviar ao Brasil uma expedição comandada por Martim Afonso de Sousa visando à
ocupação da nova terra26. A Armada partiu de Lisboa a 3 de dezembro e era composta por duas naus, um galeão e duas
caravelas que, juntas, conduziam 400 pessoas. Tinha a missão de combater os franceses, que continuavam a freqüentar o
litoral e contrabandear o pau-brasil; descobrir terras e explorar rios; e estabelecer núcleos de povoação.

4 de outubro – Rio de São Francisco (SE)


1 de novembro – Baía de Todos os Santos (BA)
14 de novembro – Rio de São João (BA)
13 de dezembro – Rio de Santa Luzia (BA)
21 de dezembro – Serra de São Tomé (RJ)
1 de janeiro (1502) – Rio de Janeiro
6 de janeiro – Angra dos Reis (RJ)
13 de janeiro – Rio Jordão (RJ)
17 de janeiro – Rio de Santo Antônio (RJ)
20 de janeiro – Porto de São Sebastião (RJ)
22 de janeiro – Rio e Porto de São Vicente (RJ)
29 de fevereiro – Rio de Cananéia (SP)
21
Cristão-novo era o judeu que se converteu ao cristianismo por ocasião da Inquisição ocorrida na Europa.
22
Coleção História Naval Brasileira, I Volume – Tomo I.
23
As feitorias foram os primeiros estabelecimentos europeus ao longo da costa brasileira, não constituíam núcleos de povoamento e sim
depósitos provisórios das riquezas retiradas da terra.
24
O sobrenome de Jaques não é de origem francesa e sim devido aos membros dessa família serem oriundos de jaca, cidade espanhola do
Alto Aragão.
25
Uma de suas primeiras providências foi transladar, por motivo de segurança, a feitoria do Rio de Janeiro para Itamaracá, em Pernambuco.
26
Martim Afonso de Sousa contou com a presença e o auxílio de seu irmão Pero Lopes de Sousa, que registrou em diário os principais
acontecimentos da viagem.
MÓDULO 1 14 CURSOASCENSAO.COM.BR
HISTÓRIA 2 CURSO ASCENSÃO
Em 1532, fundou no atual litoral de São Paulo a Vila de São Vicente e logo a seguir – no limite do planalto que os
índios chamavam de Piratininga – a Vila de Santo André da Borba do Campo. Da Ilha da Madeira, Martim Afonso trouxe
as primeiras mudas de cana que plantou no Brasil, construindo na Vila de São Vicente o primeiro engenho de cana-de-
açúcar.
Ainda se encontrava no Brasil quando, em 1532, Dom João III decidiu impulsionar a colonização, utilizando a
tradicional distribuição de terras. O regime de capitanias hereditárias consistiu em dividir o Brasil em imensos tratos de
terra que foram distribuídos a fidalgos da pequena nobreza, abrindo à iniciativa privada a colonização.
Martim Afonso de Sousa retornou a Portugal em 13 de março de 1533, após ter cumprido de maneira satisfatória sua
missão de fincar as bases do processo de ocupação das terras brasileiras.

11 – A EXPEDIÇÃO COLONIZADORA (Livro Brasil: 500 anos)

11.1 – A EXPEDIÇÃO DE MARTIM AFONSO


Tendo em vista a rápida decadência das Índias, nas quais Portugal estava perdendo homens e dinheiro e não mais
adquirindo os fabulosos lucros iniciais, resolveu D. João 111 voltar-se para o Brasil. O próprio Cristóvão Jaques propunha
ao rei começar a colonização.
O rei não se precipitou. Resolveu mandar mais uma expedição comandada por um seu valido e em quem depositava
inteira confiança.
Martim Afonso de Sousa tinha por missões policiar a costa, expulsar estrangeiros, explorar o litoral, fundar um núcleo
de povoamento e, secretamente, fazer uma inspeção no Rio da Prata, ainda abandonado pelos espanhóis. A Martin Afonso
foi dado o título de capitão-mor e governador das Terras do Brasil. Consigo embarcaram cerca de 400 colonos, entre os
quais Vicente Lourenço, piloto-mor, Pedro Anes, que conhecia a língua dos indígenas, Pero Cápico, depois escrivão em S.
Vicente, Henrique Montes, que acompanhara Solís na expedição ao Prata e regressara a Portugal com Caboto, e o seu
irmão Pero Lopes de Sousa. Todos em duas naus, um galeão e duas caravelas
Partiram de Lisboa, a 3 de dezembro de 1530. Em janeiro chegaram ao cabo de S. Agostinho, onde apresaram dois
navios franceses e deram combate a um terceiro que se rendeu, sendo os mesmos incorporados à armada portuguesa.
Diogo Leite recebeu incumbência de, com as duas caravelas, percorrer o litoral norte, acreditando-se que, provavelmente,
velejou até a foz do Rio Gurupi. A esquadra continuou viagem rumo sul, parando na Baía de Todos os Santos, onde os
portugueses entraram em contato com Caramuru. Prosseguindo, em meio a fortes ventos e chuvas, aportaram, a 30 de
abril, na Baía de Guanabara, onde Martim Afonso permaneceu três meses Reaparelhou os navios, ordenou a confecção de
dois bergantins de 15 bancos, fez pequenas explorações perto do litoral e mandou construir uma casa sólida na emboca-
dura de um rio, a qual foi chamada pelos índios de Carioca (a casa do branco).
Suspenderam em direção sul até a ilha de Cananéia (atual ilha de Bom Abrigo), onde ficaram 44 dias Instado por
Francisco de Chaves e pelo Bacharel de Cananéia, que afirmavam serem grandes as riquezas do interior, o capitão-mor
mandou que alguns homens (talvez 80), chefiados por Pero Lobo, penetrassem em busca delas guiados por Chaves, mas
eles nunca voltaram. Continuaram rumo sul. Na entrada da Lagoa dos Patos um bergantim desapareceu em virtude do mau
tempo. Tendo a capitânia naufragado, na Punta dei Este de Maldonado, pararam na Ilha da Palma. Martim Afonso
determinou que seu irmão inspecionasse o Rio da Prata, com um bergantim e 30 homens. Pero Lopes nada encontrou de
importante Martim Afonso aguardou o retorno do irmão e, juntos, rumaram para o norte. No dia 20 de janeiro, entraram na
enseada de São Vicente. A terra pareceu tão convidativa que decidiram erigir neste ocal uma povoação. Assim, no dia 22
de janeiro de 1532, Martim Afonso fundou uma Vila na ilha de São Vicente. Nessa região vivia um português entre os
índios chamado Antônio Rodrigues. No alto da serra onde João Ramalho, também português, vivia, Martim Afonso lançou
as bases de outra povoação: Piratininga (de curta vida). Iniciou-se a agricultura de tipo europeu e aclimatou-se a cana-de-
açúcar. Tendo em vista o mal estado dos navios, resolveu-se que Martim Afonso permaneceria em São Vicente e que Pero
Lopes retornaria a Portugal (utilizando as melhores embarcações), a dar conta ao rei do que se havia passado. A 22 de
maio, partiu Pero Lopes. No litoral de Pernambuco deu combate e se apoderou de duas embarcações francesas; em
seguida, atacou poderoso fortim francês, comandado pelo Senhor de La Motte, guarnecido com 70 homens, conseguindo
dominar seus ocupantes, em 18 dias de lutas. Pero Lopes fez erigir uma fortificação (em Igaraçu, na qual deixou homens
comandados por Vicente Martins Ferreira.
Nessa mesma ocasião, a esquadra portuguesa de Antônio Correia aprisionava, na costa espanhola da Andaluzia, a nau
La Pélerine, contendo muitos toros de pau-brasil, algodão, papagaios e outras mercadorias D. João 1I1 amadurecia os
planos de colonização mais abrangente. O Dr Diogo de Gouveia, que dirigia em Paris o Colégio de Sainte Barbe,
argumentou a necessidade de uma colonização mais eficaz; sua carta ao soberano português, escrita em Rouen, é datada de
01.03.1532. Em carta enviada a Martim Afonso (por João de Sousa), escrita em 28 de setembro, o rei lhe comunicava o
propósito de dividir o Brasil em capitanias hereditárias. Martim Afonso regressou ao reino depois de 13 de março de 1533,
deixando o Padre Gonçalo Monteiro para dirigir os negócios de sua capitania.

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12 – SÍNTESE DO PROCESSO DE EXPANSÃO IBÉRICA

12.1 – O INÍCIO DA EXPANSÃO MARÍTIMA PORTUGUESA


Depois dos Vikings, foram os portugueses os primeiros povos que lançaram as vistas para o Oceano Atlântico.
Portugal era uma região de reduzidas dimensões, com rios que não eram navegáveis em toda a sua extensão para o
interior. O litoral, no entanto, possuía bons ancoradouros.
No início, Portugal só comerciava sal, sua produção industrial era incipiente, tinha que importar muitos bens. A
produção agrícola, no entanto, era suficiente para alimentar sua população.
Em 1147, meados do século XII, Lisboa e Alcácer foram conquistadas, abrindo as portas para a expansão comercial.
Por outro lado, a conquista de Silves, ao sul de Portugal, definitivamente no século XIII, veio consolidar o seu crescente
domínio mercantil.

12.2 – OS DIVERSOS REINADOS PORTUGUESES


Naquela época, a construção naval portuguesa já começava a florescer, com navios de borda mais alta para defender o
estuário do rio Tejo. A presença de navios portugueses passou a ser conhecida. As relações comerciais com outros locais
acentuaram-se, obtendo os portugueses importantes privilégios com a França, em 1290. Armadores e comerciantes
normandos e ingleses buscavam o Tejo como destino de suas mercadorias.
As lutas naquela parte da Europa cristã eram por terra, pois os cristãos não tinham tanto sucesso no mar, dominado
pelos árabes no Mediterrâneo.
Sob o reinado de D. Diniz, as marinhas de guerra e mercante tornaram-se inseparáveis. Em 1308, foi assinado um
tratado de comércio com a Inglaterra, o serviço de recrutamento foi estabelecido, um ano após a criação do cargo de
Almirante-Maior. Foram providências que demonstraram a importância de Portugal na época.
O rei D. Fernando, que se seguiu a D. Diniz, era armador e negociante. Conseguiu multiplicar a utilização de navios
mercantes portugueses criando o Direito Internacional de Bandeira e concedeu permissão para que a madeira fosse retirada
das matas reais, para favorecer a construção naval. Em 1372, D. Fernando fez bloquear Sevilha, ao norte de Cádiz, com
uma grande esquadra, e obteve uma vitória na guerra de Castela. Quase dez anos depois, em 1381, Portugal sofreu uma
derrota em Saltes.
A ascensão de uma burguesia comercial incentivava o tráfego marítimo. Veneza e Gênova eram potências
mediterrâneas, com uma situação geográfica que não as incentivava ao Atlântico; Castela (Espanha) e França enfrentavam
problemas políticos e militares. Portugal, então, podia se dedicar, quase que com exclusividade, aos empreendimentos em
alto mar.
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12.3 – NAVEGAR É PRECISO, O LEMA DE D. HENRIQUE


Em meados do século XV subiu ao trono português D.
Henrique (informação equivocada da bibliografia! D. Henrique
era filho mais novo do Rei de Portugal e nunca reinou!), que
fundou e organizou a Escola de Navegação e o Observatório de
Sagres. “O Navegador”, como era chamado D. Henrique, um
entusiasta das expedições marítimas, fê-las percorrer o Oceano
Atlântico com as suas naus, embarcações mais apropriadas do
que as caravelas, para enfrentar os oceanos, dotadas de
bússolas, astrolábios e quadrantes (antecessor dos sextantes),
instrumentos náuticos descobertos e aprimorados. Com isso, a
Ilha da Madeira (1419), o arquipélago dos Açores (1431), o
Senegal (1446), as ilhas de Cabo Verde (1455) e regiões
próximas não tardaram a ser descobertos.
Em 1415, a conquista de Ceuta veio demonstrar o estágio
avançado da expansão marítima portuguesa e, por outro lado, a
incapacidade de outras nações marítimas fazerem-se aos
oceanos. A conquista de Ceuta foi um duro golpe para o poder
muçulmano.
Em 1434, houve uma expedição em direção ao sul
africano, tendo Afonso Gonçalves e Gil Eanes ido além do
Cabo Bojador, ao sul das Canárias, e Nuno Tristão ultrapassado
o cabo Branco (Senegal). Em 1446, Álvaro Fernandes alcançou
o cabo Verde (também na costa de Senegal).
Em 1453, a conquista de Constantinopla pelos turcos dificultou o comércio marítimo das cidades italianas com os
portos do mar Negro e do mar Cáspio e começou a crescente movimentação comercial portuguesa, passando da Ásia para
a Europa, favorecida posteriormente pela chegada de Vasco da Gama à Índia.

12.4 – AS EXPEDIÇÕES MARÍTIMAS APÓS D. HENRIQUE


Com a morte de D. Henrique em 1460, subiu ao trono D. Afonso V. Foi uma época de declínio das expedições
marítimas, pois Portugal achava-se envolvido com guerras no Marrocos. Mesmo assim, em 1471, Pero de Sintra atingiu o
hemisfério sul, sendo o primeiro navegador português a fazê-lo.
Quando D. João II subiu ao trono, as viagens marítimas iniciadas por D. Henrique foram recomeçadas com empenho,
ressurgindo a construção naval, representada pelo grande galeão de mil tonéis, repleto de canhões, que emoldurava o Tejo.
Os instrumentos náuticos estavam mais desenvolvidos e eram acompanhados por cartas de navegação e tábuas de
declinação do sol. Os primeiros canhões surgiram no século XIII, após a descoberta da pólvora pelos chineses (800 ou
1249), tendo sido levada para a Europa Ocidental pelos árabes.
Em 1486, Bartolomeu Dias contornou o cabo das Tormentas (depois chamado de cabo da Boa Esperança). Em 1498,
Vasco da Gama finalmente chegou a Calicut, no mar da Arábia, Índia, iniciando-se então uma aguerrida guerra comercial
com os árabes, que dominavam aquela região, além do mar Vermelho, do Golfo Pérsico e de Málaca.
Em 1500, D. Manuel I, o Venturoso, rei de Portugal, organizou uma grande frota naval, composta de 13 naus, sob o
comando de Pedro Álvares Cabral, para fundar uma feitoria em Calicut. Segundo alguns, os navios desviaram-se da rota e
desceram para o sul, chegando ao litoral da Bahia, descobrindo o Brasil por acaso. Segundo outros, não ocorreram
tempestades durante a travessia, que desviassem os navios, tudo sendo uma “cortina de fumaça” para encobrir o verdadeiro
objetivo de D. Manuel, que não era a Índia. Nas terras de Santa Cruz, Cabral ficou pouco tempo, seguindo para a Índia.
Mandou um navio da sua frota para Lisboa, levando a notícia a D. Manuel, numa carta escrita por Pero Vaz de Caminha,
escrivão da frota.
Com Afonso de Albuquerque, Portugal conquistou Goa (costa de Malabar) em 1510, Molucas, Ceilão e Málaca. O
Extremo Oriente passou a ser parte integrante dos interesses portugueses. Em 1509, Francisco de Almeida, Vice-Rei de
Portugal, destruiu, em Diu, uma esquadra que o sultão egípcio enviou para a Índia, via mar Vermelho, instigado por
Veneza, que apavorara o sultão com a possibilidade de sofrer ataques portugueses a seu território e à sua religião. Em
1515, novamente Afonso de Albuquerque conseguiu tomar a cidade de Ormuz e nela construiu uma grande fortaleza, que
cortou a ligação do comércio árabe com o Mediterrâneo. Ormuz, Goa e Málaca durante 5 anos constituíram um tripé que
marcava o amplo domínio português na Índia, na Europa, na Ásia, na África e parte da América do Sul. Os portugueses,
que não possuíam nem 40 mil homens em armas, submetiam boa parte do mundo com os seus empórios comerciais e
fortalezas, atingindo o apogeu no final do século XVI.
D.Manuel, para agradar a seus sogros Fernando e Isabel (da Espanha), expulsou os judeus de Portugal, dos quais
dependia grande parte da prosperidade econômica portuguesa. Em 1521, com a morte de D. Manuel, assumiu o trono seu
filho, D. João III. Este rei, em 1536, admitiu em Portugal a Inquisição, destinada a procurar e julgar os hereges do país.
Quando D. João III morreu, o trono foi passado a seu filho D. Sebastião, com 3 anos de idade, que só assumiu o trono
quando atingiu a maioridade.
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12.5 – O DECLÍNIO DO DOMÍNIO PORTUGUÊS


Portugal era um reino de pequenas dimensões, com recursos limitados exauridos pelas campanhas em Marrocos,
ainda mais tendo sido derrotado pelos mouros em Alcácer-Kibir, em 1578. Após uma complicada batalha política, a coroa
portuguesa de D. Sebastião I (desaparecido no combate) passou às mãos de Filipe II, rei da Espanha. A Espanha
encontrava-se em guerra com a Inglaterra, a França e a Holanda, o que automaticamente transformou estes três países em
inimigos de Portugal e possíveis invasores do Brasil.
O Império Português no Ultramar
começou sua decadência: a Holanda tomou
grande parte das Índias Orientais em 1622; a
Espanha, preocupada em defender suas
colônias, abandonou as possessões
portuguesas durante o domínio espanhol. O
Brasil, principal colônia, por isso sofreu uma
invasão francesa em 1612, no Maranhão, até
1615 (fundaram a capital do estado, São
Luiz, em homenagem ao rei Luis XIII). Em
1599 e 1604 os holandeses atacaram a Bahia
e lá se fixaram em 1624, sendo expulsos em
1627; em 1630 ocuparam Recife, em 1633
ocuparam Natal (rebatizada de Nova
Amsterdam), em 1634 ocuparam a Paraíba.
Em 1637 chegou ao Brasil o conde Maurício
de Nassau, que permaneceu na terra até 1644,
tendo ocupado também o Ceará e Alagoas O
domínio holandês no Brasil durou 24 anos,
terminando em 1654 com a rendição dos
invasores, após a memorável Insurreição
Pernambucana (1645) e as duas batalhas de
Guararapes (1648 e 1649), onde se
destacaram Vidal de Negreiros, Henrique
Dias, Felipe Camarão e outros.
Em 1640, quando Portugal restaurou a sua monarquia, D. João IV encontrou um exército e uma marinha em estado
lamentável, após 61 anos de servidão. Somente após 20 anos de lutas com a Espanha foi que Portugal obteve o
reconhecimento por sua libertação, após perder Molucas, Cochim, Ceilão, Cabo da Boa Esperança e muitas benfeitorias
nas Índias Orientais.
Não havia mais condições, nos séculos seguintes, para Portugal recomeçar suas aventuras oceânicas. Os tempos eram
outros, com a Inglaterra e a Holanda à frente do comércio marítimo.

12.6 – A EXPANSÃO MARÍTIMA ESPANHOLA


O território espanhol é bem característico: apresenta rios caudalosos na época das chuvas e secos no verão, com
navegação nem sempre favorável; ao longo do litoral não existem bons portos, com exceção de Barcelona e Valência, que
formaram intrépidos marinheiros cujas frotas guerrearam na Idade Média com as Repúblicas Marítimas Italianas. A
agricultura, a viticultura, a criação do bicho-da-seda e a indústria pastoril tiveram grande importância, embora a grande
extensão territorial não propiciasse boa alimentação para toda a população. A Espanha, por outro lado, não era privilegiada
com muitos recursos naturais, daí talvez a dificuldade que teve o país mais tarde para acompanhar o desenvolvimento da
Revolução Industrial na Europa, pois o recurso às colônias, algumas desprovidas de riquezas naturais, não era suficiente
para prover a Espanha do necessário ao progresso.
O primeiro a aventurar-se nas rotas dos oceanos foi Cristovão Colombo, um genovês, às expensas dos reis espanhóis
Fernando e Isabel. Foi ele que fez surgir, após o descobrimento da América, em 1492, uma leva de aventureiros que deram
prosseguimento à expansão espanhola, como Pinzon, Vespúcio, Cortez, Balboa e tantos outros, a partir do século XVI.
Em 1489, os portugueses tiveram a certeza de que, contornando a África, chegariam às Índias depois que Bartolomeu
Dias dobrou o cabo das Tormentas (da Boa Esperança). Porém, Colombo tinha uma outra idéia: já sabia que a terra era
redonda e que poderia chegar à Índia atravessando o Atlântico. Com a rejeição de Portugal ao seu projeto, Colombo, sob
os auspícios da Espanha, constituiu uma frota de três pequenos navios e 90 homens e lançou-se ao mar em agosto de 1492.
Dois meses após chegou às Bahamas, que julgou ser as Índias. Navegando mais, avistou Cuba, que supôs ser uma ilha ao
largo do Japão ou da China, à qual deu o nome de Hespanhola. Colombo retornou a Barcelona em 1493 e contou sobre as
novas descobertas. Novas viagens foram financiadas pelos monarcas espanhóis, entre 1493 e 1502, quando chegou à foz
do rio Orenoco, na Venezuela. Colombo morreu em 1506, na Espanha, com 55 anos, desgastado, sem nunca compreender
que tinha encontrado um “Novo Mundo”.

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Em 1501-1502, Américo Vespúcio, um italiano navegando sob a bandeira da Espanha, desceu a costa oriental da
América do Sul chegando talvez à Patagônia. Chamou a nova terra de “Novo Mundo” em 1504. O nome “América” foi
atribuído em 1507 por um cartógrafo alemão (Martin Waldseemuller), em homenagem a Américo Vespúcio. Na época,
Vespúcio calculara a circunferência da Terra com uma diferença de 80 km em relação à medida real de 40 mil km.
Em 1519, Hernán Cortés chegou à costa mexicana, lá encontrando Montezuma II, imperador asteca, que terminou
prisioneiro de Cortés. Mais tarde, Montezuma foi apedrejado pela multidão enfurecida contra os espanhóis, vindo a
falecer. O cerco aos astecas durou até 1521, quando em agosto o Império Asteca ruiu, sendo destruída a cidade de
Tenochtitlán, capital asteca situada às margens de um lago. Cortés faleceu em Sevilha, em 1547, sendo seu corpo
transportado para a cidade do México, em 1629, onde foi enterrado.
Cerca de 1532, Francisco Pizarro comandou uma força espanhola de 180 homens até o Peru, onde encontrou a
civilização inca. Atahualpa, chefe inca, deixou Pizarro entrar no seu território, tendo a cidade de Cajamarca como capital,
situada numa montanha. Pizarro foi recebido por Atahualpa, acompanhado de 4 mil homens, que não aceitou o
cristianismo e a autoridade do rei da Espanha. Atahualpa foi preso, mas ofereceu uma grande quantidade de ouro e prata
pela sua liberdade. No entanto, mesmo assim foi estrangulado em praça pública em julho de 1533. As forças incas
recuaram e os espanhóis avançaram até Cuzco, a segunda capital, de lá seguindo até a atual capital Lima, onde se
estabeleceram.
Em 1513, Vasco Nuñez de Balboa, outro espanhol, ultrapassou o ístmo do Panamá e chegou ao litoral do Oceano
Pacífico. Somente em 1519-1522, com o português Fernão de Magalhães, foi feita a primeira viagem de circum-navegação
da Terra, atravessando o Pacífico e rumando para as Índias.

13 – APROFUNDANDO OS ESTUDOS

13.1 – A GRADATIVA TOMADA DE POSSE DAS “NOVAS TERRAS”


A instauração de uma colônia portuguesa no território americano não se deu imediatamente após a tomada de posse
por Pedro Álvares Cabral, em 1500. Portugal mantinha seus recursos voltados para o comércio oriental, deixando o Brasil,
por alguns anos, numa posição secundária, visto que aqui não haviam sido encontrados metais preciosos ou produtos
similares aos do rentável comércio afro-asiático. A única preocupação com o território recém-conquistado era a de garantir
a sua posse diante das contínuas investidas de outros países europeus.
A primeira expedição exploradora enviada ao Brasil, em 1501, foi chefiada por Gaspar de Lemos. Além de nomear
diversas localidades litorâneas, como a baía de Todos os Santos e o lugarejo de São Sebastião do Rio de Janeiro,
confirmou a existência do pau-brasil, madeira da qual se extraía um corante já utilizado na Europa para o tingimento de
tecidos. Em 1503, outra expedição chefiada por Gonçalo Coelho fundou feitorias no litoral fluminense, visando à
armazenagem da madeira e ao carregamento de navios. Administrados pelos feitores, muitos desses entrepostos eram
fortificações que garantiam a posse lusa em detrimento de outros conquistadores. Ao formarem plantios e dedicarem-se à
criação de animais para o sustento, transformavam-se, também, em núcleos colonizadores.
Devido à abundância do pau-brasil no litoral brasileiro, Portugal estabeleceu o estanco, ou seja, o monopólio real
sobre a exploração do produto. Mais à frente, diante da inexistência de braços europeus suficientes nas embarcações e nas
feitorias utilizou-se mão-de-obra dos navios indígenas para garantir a extração das madeiras. Por meio do escambo (troca)
os indígenas realizavam o corte e o transporte da madeira e recebiam por isso objetos vistosos, mas de pouco valor, como
espelhos e miçangas.
A extração do pau-brasil atraía também os contrabandistas estrangeiros, o que levou o governo português a enviar,
sob o comando de Cristóvão Jacques, expedições militares ao litoral brasileiro, em 1516 e 1526.
Passados 30 anos da chegada de Cabral, diante da progressiva crise do comércio com o Oriente e das ameaças
estrangeiras ao domínio sobre seu território na América, Portugal voltou-se para a efetiva colonização dessas terras.
Foram organizadas expedições colonizadoras, sendo a primeira delas a comandada por Martim Afonso de Souza, que
aqui chegou em 1531.
Nomeado capitão-mor da esquadra e das terras coloniais pelo rei de Portugal, Martim Afonso chegou trazendo
homens, sementes, plantas, ferramentas agrícolas e animais domésticos. Estava imbuído de amplos poderes para descobrir
novas riquezas, combater estrangeiros, policiar, administrar e provar as terras coloniais.
Além de organizar expedições que penetraram no território para reconhecimento e busca de riquezas, Martim Afonso
dirigiu-se à foz do rio da Prata, no Sul, para efetivar o domínio luso diante da crescente presença espanhola na região. Lá
aprisionou vários navios piratas franceses.
Colocando em prática sua política colonizadora, iniciou a distribuição de sesmarias (lotes de terra) aos novos
habitantes que se dispusessem a cultivá-las, bem como a plantação da cana-de-açúcar e a construção do primeiro engenho
da colônia. Um ano antes de partir para Portugal, havia fundado, em 1532, as vilas de São Vicente e Santo André da Borda
do Campo, respectivamente, no litoral e no interior do atual estado de São Paulo.

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PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Com algumas manhas ou bem à bruta, os portugueses não abriram a outros povos os tratos das costas brasileiras. Terá
mesmo havido a partir de 1516 uma intensificação fiscalizadora da navegação, pelo estabelecimento do que foi chamado a
“capitania do mar”. E em paralelo coma fixação de alguns colonos em terra, com “capitanias em terra”, em que se teriam
ensaiado as primeiras culturas da cana sacarina. Sem grande empenhamento da Corte. Nessa defesa e ensaio de exploração
se enquadram as demoradas expedições de guarda-costas de Cristóvão Jacques: 1516-1519, 1521-1522, 1527-1528. Com
práticas de extrema violência contra quantos foram achados a mercadejar.
Por volta de 1527 se documentava a existência de uma pequena povoação em são Vicente, já com 10 ou 12 casas,
uma delas de pedra com telhado, dispondo de uma torre para assegurar a defesa contra os naturais que lutavam contra a
apropriação de terras pelos portugueses que, entretanto já aí se tinham instalado.
MAGALHÃES, Joaquim Romero. As primeiras impressões. In:
Brasil-brasis: causas notáveis e espantosas (A construção do Brasil. 1500-
1825). Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos
Descobrimentos Portugueses. 2000. p. 19-20.

13.2 – O PROJETO AGRÍCOLA DA EXPLORAÇÃO COLONIAL PORTUGUESA


A partir do século XV, políticas colonizadoras diferenciadas marcaram a integração do continente americano à vida
política e, principalmente, econômica européia. Parte da América do Norte foi colonizada por ingleses como uma região
de povoamento, embora o Sul do território dos atuais Estados Unidos fosse uma região de exploração.
Já a colonização ibérica na atual América Latina caracterizou-se por basear-se no domínio monopolista metropolitano,
a serviço do Estado e de sua classe mercantil, que tinha interesse em assegurar a posse e a exploração colonial e executar a
administração e a fiscalização.
Pelas características peculiares tanto da realidade da colônia portuguesa quanto da expansão lusa, a colonização optou
pela agricultura. Também diferentemente das colônias espanholas, caracterizadas pela atividade mineradora, não foi
possível a utilização em larga escala da mão-de-obra indígena. Pelo menos não a longo prazo, visto que na colônia (a essa
altura já denominada Brasil), a população nativa era relativamente pouco numerosa e foi rapidamente exterminada na faixa
litorânea.
Para viabilizar a ocupação e o povoamento da colônia, a Coroa portuguesa recorreu ao cultivo da cana-de-açúcar, pois
aqui, ao contrário do que ocorrera nas áreas de dominação espanhola, não foram descobertas jazidas de metais preciosos.
Levado da Ásia para a Europa por árabes e cristãos engajados nas cruzadas durante a Idade Média, o açúcar era uma
especiaria das mais valiosas no início do século XV. Chegou a fazer parte de dotes de rainhas e princesas e era
comercializado a preços elevados, garantindo alta lucratividade aos mercadores.
Embora Portugal já conhecesse a agricultura da cana-de-açúcar desde o século XIII, foi só na segunda metade do
século XIV, com D. Henrique, o navegador, que a atividade açucareira ganhou amplitude e deixou de ser uma produção
limitada e isolada. Essa mudança deu-se graças à instalação de engenhos na ilha da Madeira, seguida de avanço das
técnicas de cultivo e grande utilização da mão-de-obra escrava, trazida das regiões conquistadas da costa africana. Assim,
as lavouras de cana espalharam-se pelos arquipélagos atlânticos, ganhando importância também nos arquipélagos dos
Açores, de Cabo Verde e nas ilhas de São Tomé e Príncipe.
A conseqüente aproximação de Portugal com os mercadores e banqueiros de Flandres (norte da Europa), responsáveis
pelo financiamento, refino e distribuição do açúcar, possibilitou o acesso dos portugueses à infra-estrutura comercial
européia, controlada pelos holandeses, bem como ao seu abundante capital, para o financiamento do empreendimento
agrícola brasileiro.
De posse dessas condições, Portugal tinha ainda a solução para o problema da mão-de-obra, podendo dar início a um
empreendimento de tão vastas proporções.
A escravidão era há muito praticada por europeus e árabes na África negra. Foi considerada uma instituição justa,
quando, no seu início, os portugueses escravizavam os mouros, considerados infiéis pelos cristãos. A “infidelidade”
religiosa acabou sendo também estendida aos negros africanos, legitimando sua escravização.
Os negros africanos compunham mão-de-obra compulsória e abundante, fundamental para a implantação da indústria
canavieira em um extenso território. Dois fatores explicam, em resumo, o emprego do trabalho escravo africano em maior
escala quando comparado ao indígena: os interesses ligados ao tráfico negreiro, que logo se tornou um empreendimento
altamente lucrativo para a Coroa e mercadores portugueses, e o simples desaparecimento da população indígena da área
açucareira.

13.3 – AS INSTALAÇÕES PRODUTIVAS AÇUCAREIRAS


Martim Afonso de Souza trouxe as primeiras mudas de cana-de-açúcar da ilha da Madeira e instalou o primeiro
engenho da colônia em São Vicente, no ano de 1533. Inaugurava-se, assim, a base econômica da colonização portuguesa
no Brasil.
Os engenhos multiplicaram-se rapidamente pela costa brasileira, chegando a 400 em 1610. A importância econômica
do açúcar como principal riqueza colonial evidencia-se no valor das exportações do produto no período do apogeu da
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mineração (século XVIII): superior a 300 milhões de libras esterlinas, enquanto a mineração, na mesma época, gerou um
lucro de cerca de 200 milhões.
A produção de açúcar voltava-se exclusivamente para a exportação e, por gerar elevados lucros, comandava a
economia colonial. Outras lavouras desenvolveram-se na colônia, mas geralmente apresentavam um caráter complementar
e secundário, como destacaremos mais à frente. A produção canavieira destinava-se as melhores terras, grandes
investimentos de capital e a maioria da mão-de-obra.
O responsável pela produção – o senhor de engenho – usufruía de enorme prestígio social. Sobre um latifúndio
monocultor, escravista e exportador, um padrão de exploração agrícola denominado plantation, assentava-se a agricultura
brasileira no início da colonização de nosso território.
A região Nordeste, destacadamente o litoral de Pernambuco e Bahia, concentrou a maior produção de açúcar da
colônia, como revelam a tabela e o gráfico a seguir:
As unidades açucareiras agroexportadoras, conhecidas como engenhos, eram compostas de grandes propriedades de
terra, obtidas com as doações de sesmarias pelos donatários e representantes da Coroa (governadores-gerais) aquém se
interessasse pelo empreendimento. A grande extensão dessas propriedades impediu a formação de uma classe camponesa e
o desenvolvimento significativo de atividades comerciais e artesanais que pudessem dinamizar um mercado interno, como
ocorria em algumas regiões coloniais da América do Norte.
O engenho que em alguns casos chegava a ter perto de 5mil moradores, era constituído por extensas áreas de florestas
fornecedoras de madeiras; plantações de cana; a casa-grande, residência do proprietário, sua família e agregados e sede da
administração; a capela; e a senzala, alojamento dos escravos. A moenda, a casa das caldeiras e a casa de purgar formavam
a fábrica do açúcar, o engenho propriamente dito. O produto era enviado para Portugal e depois para os Países Baixos,
onde era refinado e comercializado.
No topo da sociedade açucareira estavam os senhores de engenho, proprietários das unidades agroexportadoras; em
seguida, os senhores obrigados ou lavradores de cana. Estes eram fazendeiros que não possuíam as instalações de
fabricação de açúcar e eram obrigados a moer a cana no engenho próximo, pagando, em geral, com metade do açúcar
obtido. Uns e outros eram geralmente homens brancos, de ascendência lusitana, que possuíam algum capital e haviam
recebido as terras como recompensa por serviços prestados à Coroa, o que lhes garantia prestígio social e influência
política.
O poder dessa aristocracia expandia-se pelas vilas, dominando as câmaras municipais e quase toda a vida colonial.
Refletia-se também no âmbito privado, já que os senhores também eram obedecidos e temidos como chefes incontestáveis.
As mulheres administravam as casas, onde deveriam permanecer recolhidas, e controlavam o trabalho dos escravos
domésticos. Era tipicamente uma sociedade patriarcal.
A mobilidade social não era explicitamente vedada, mas era muito pouco provável: devido à concentração de terras,
renda e escravos, era praticamente impossível que um branco livre e pobre chegasse à condição de senhor de engenho.
As pessoas livres, como feitores, capatazes, padres, militares, comerciantes e artesãos, dedicavam-se a atividades
complementares no engenho e nos poucos núcleos urbanos dessa época. Consideramos simples mercadorias, os escravos
formavam a base econômica da sociedade e eram responsáveis por quase todo o trabalho executado na colônia, fosse
realizando serviços domésticos na casa-grande, fosse trabalhando de sol a sol nas lavouras e na produção de açúcar, sob
vigilância de um feitor e constantes castigos físicos.

13.4 – OS ESCRAVOS NA ECONOMIA AÇUCAREIRA


Diversos fatores determinaram a generalização do trabalho escravo africano no Brasil, a partir do final do século XVI,
ao mesmo tempo que a mão-de-obra nativa deixava de ser opção viável. Epidemias adquiridas em contato com os brancos,
mortes pelo trabalho forçado, desarticulação de sua economia de subsistência, fugas para o interior marcavam os povos
indígenas.
Além disso, a luta dos jesuítas contra sua escravização levou os colonos a voltarem seus olhos cada vez mais para os
escravos africanos. Há longo tempo o trabalho já era explorado por companhias particulares graças ao assiento, direito de
explorar o tráfico negreiro cedido pelo rei, mediante pagamento.
Os negros eram capturados na África pelos portugueses que, não raramente, promoviam ou estimulavam guerras entre
as tribos africanas para poderem comprar, dos chefes vencedores, os negros derrotados. Aos poucos, os sobas, chefes
locais africanos, passaram a capturar seus conterrâneos e a negociá-los com os traficantes, em troca de fumo, tecidos,
cachaça, armas, jóias, vidros, etc.
Mesmo considerando a diversidade das cifras, entre os estudiosos, sobre o tráfico de escravos capturados na África,
alguns números finais certamente estão bem próximos do que já se chamou de “holocausto negro”. Os escravos chegavam
ao Brasil amontoados nos porões de navios negreiros chamados tumbeiros, sujeitos a condições tão insalubres pela
superlotação e a longa duração da viagem, que a média de mortalidade era estimada em 20%.
Não seria exagero estimar que o número de vítimas envolvendo os escravos transportados e os que morreram na luta
contra as incursões brancas chegaria a alago próximo do dobro ou até do triplo dos africanos deslocados para a América.
Calcula-se que, até o século XIX, entre 10 e 15 milhões de africanos, dos quais cerca de 40% vieram para o Brasil, forma
capturados pelos brancos e deslocados para a América.

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Os sobreviventes eram desembarcados e vendidos nos principais portos da colônia, como Salvador, Recife e Rio de
Janeiro, completando-se a ligação entre o centro fornecedor de mão-de-obra (África) e o centro produtor de açúcar
(Brasil), integrados na empresa da colonização metropolitana. Para a Bahia dirigiram-se principalmente os negros
sudaneses, trazidos da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim, enquanto os bantos, capturados no Congo, Angola e
Moçambique, iam para Pernambuco, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Atos de rebeldia, como tentativas de assassinato de feitores e senhores, figas e suicídios, acompanhavam a exploração
dos africanos negros. Muitos dos fugitivos que escapavam à recaptura pelos capitães-do-mato organizavam-se em
quilombos, verdadeiras comunidades negras livres. O quilombo de Palmares, em território do atual estado de alagoas, foi
o mais importante deles na resistência à escravidão.
Estabelecido no século XVII, Palmares era uma comunidade auto-suficiente, que produzia gêneros agrícolas para seu
próprio sustento e que chegou a abrigar mais de 20 mil negros fugidos dos engenhos. O sucesso de sua organização era
uma ameaça aos senhores de engenho, pois estimulava o desejo de liberdade e formação de outros quilombos.
Após diversos cercos mal-sucedidos, em 1694, uma expedição sob contrato liderada pelo bandeirante paulista
Domingos Jorge Velho destruiu o que restava do quilombo. Zumbi, o principal líder de Palmares, reorganizou a luta com
os que tinham conseguido fugir, mas foi preso e morto em 20 de novembro de 1695. No Brasil essa data é, atualmente,
consagrada como Dia da Consciência Negra.

13.5 – APOGEU E CRISE DO AÇÚCAR


Durante o século XVI e início do século XVII, o Brasil tornou-se o maior produtor de açúcar do mundo e o
responsável pela riqueza dos senhores de engenho, da Coroa e de comerciantes portugueses. Mas foram sobretudo os
holandeses que mais se beneficiaram com a atividade açucareira. Responsáveis pelas etapas de refinação e
comercialização, segundo estimativas, obtinham a terça parte do valor do açúcar vendido.
O caráter exportador da economia, característico do pacto colonial (relação entre metrópole e colônia, segundo
política mercantilista), foi firmado pela maciça importação de mercadorias européias, como roupas, alimentos e até objetos
decorativos, para garantir o sustento e a opulência em que vivam os senhores de engenho do Nordeste. Além disso, a
participação dos holandeses e portugueses no comércio de açúcar foi fator que desviou a riqueza para as áreas
metropolitanas.
Por razões dinásticas, entre 1580-1640, o monarca espanhol Filipe II passou a dominar vastas extensões na Europa.
Nesse período, Portugal e suas colônias também estiveram subordinados ao domínio espanhol.
Uma guerra de independência entre Países Baixos e Espanha levou os holandeses, conhecedores das técnicas de reino
e comercialização do açúcar, a produzi-lo em suas colônias. Concorrendo em melhores condições com o produto
brasileiro, causaram a queda do seu preço, entre 1650 e 1688, a um terço de seu valor. A crise da produção açucareira no
Brasil trouxe prejuízos tanto para a economia portuguesa quanto para a colonial.
Diante da crise da produção colonial de açúcar, o rei de Portugal, D. Pedro II (1683-1706), procurou soluções para
superá-la, apoiando-se na atuação de seu ministro, o conde de Ericeira, que baixou as leis “pragmáticas”. Proibiu-se o uso
de certos produtos estrangeiros, a fim de reduzir as importações e equilibrar a deficitária balança comercial lusa, além de
reorientar as atividades produtivas no reino e nas colônias, com a ajuda de técnicos estrangeiros.
Estimulou-se no Brasil a produção do tabaco e outros produtos alimentares destinados à exportação, bem como
intensificou-se a busca das drogas do sertão. Juntamente com a tentativa de revitalização da produção açucareira, essas
medidas surtiriam efeitos positivos um pouco mais tarde, já no início do século XVIII, coincidindo com o princípio da
economia mineradora. Mesmo perdendo a supremacia no conjunto da economia colonial, o açúcar, que apresentava, nessa
fase, uma rentabilidade bem menor que a de séculos anteriores e concorria num mercado bastante competitivo, continuou a
ser o principal produto nas exportações.
Em Portugal, porém, a política de desenvolvimento econômico perseguida por Ericeira foi logo abandonada,
sobretudo devido à valorização de alguns produtos exportáveis pela metrópole, como o vinho. O tratado de Methuen
(1703), resultado de pressões inglesas sobre Portugal, abria o reino português aos importados ingleses, normalmente caros
produtos manufaturados. Em contrapartida a Inglaterra faria o mesmo em relação aos vinhos portugueses. A desigualdade
financeira nessas relações comerciais (de valor e de consumo - consumiam-se muito mais tecidos e produtos
manufaturados do que vinhos) contribuiu para as crescentes dificuldades econômicas de Portugal.

13.6 – AS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS E OS GOVERNOS-GERAIS


O primeiro passo no sentido de viabilizar a empresa açucareira e, portanto, a colonização no Brasil foi a doação do
sistema de capitanias hereditárias, já utilizado por Portugal nas ilhas do Atlântico. Tratava-se da doação de largas faixas de
terra aos capitães-donatários, regulamentada pelas cartas de doação e forais.
O donatário deveria colonizar a capitania, fundando vilas, bem como proteger a terra e seus colonos dos ataques dos
nativos e de estrangeiros. Deveria ainda fazer cumprir o monopólio real do pau-brasil (estanco) e do comércio colonial,
reservando à Coroa um quinto do valor obtido em metais preciosos, porventura descobertos. Apesar de seus amplos
poderes administrativos, o donatário era um mandatário do rei e não um senhor com autonomia total.
Ao todo foram criadas 15 capitanias, doadas a particulares entre 1534 e 1536, e posteriormente mais duas insulares,
nas ilhas de Trindade e de Itaparica. As capitanias que mais prosperaram foram as de São Vicente e, sobretudo, a de

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Pernambuco. As condições climáticas favoráveis ao cultivo da cana-de-açúcar, a maior proximidade da metrópole e a
política de povoamento de seu donatário, Duarte Coelho, favoreceram o desenvolvimento da capitania pernambucana.
Tomando como incentivo ao processo colonizador, o sistema de capitanias, no entanto, fracassou. Mesmo sendo
assistidos pelo sistema de governos-gerais, uma forma que a Coroa encontrou de centralizar a administração colonial, o
sistema de capitanias não vingou, especialmente devido à falta de recursos e de interesse dos donatários. O Regimento de
1548, criando o sistema de governos-gerais, reafirmava a autoridade e soberania da Coroa e fortalecia os instrumentos
colonizadores.
O governador-geral tinha muitos poderes, mas muitas obrigações também: deveria neutralizar a ameaça constante dos
indígenas combatendo-os ou fazendo alianças com eles, reprimir os corsários, fundar povoações, construir navios e fortes,
garantir o monopólio real sobre o pau-brasil, incentivar o plantio de cana-de-açúcar, buscar metais preciosos e defender os
colonos. Seus auxiliares, encarregados das finanças, da defesa do local e da justiça, eram, respectivamente, o provedor-
mor, o capitão-mor e o ouvidor-mor.
O primeiro dos governadores-gerais, que estabeleceu em Salvador, na Bahia, a primeira capital do Brasil e governou
de 1549 a 1553, foi Tomé de Souza. Junto com ele, vieram escravos africanos, mulheres e um grupo de jesuítas liderado
por Manuel da Nóbrega, que estabeleceria as primeiras unidades de ensino na colônia, os colégios jesuítas. Durante o seu
governo, deu-se a criação do primeiro bispado no Brasil – a Bahia –, para o qual foi nomeado D. Pedro Fernandes
Sardinha.
O governador seguinte, Duarte da Costa, trouxe consigo para a colônia, em 1553, mais colonos, mulheres e jesuítas.
Entre estes, o padre José de Anchieta, que fundou, juntamente com Nóbrega, em 1554, o colégio de São Paulo, embrião da
atual cidade de São Paulo.
Sua administraçao foi bastante tumultuada pelos atritos entre colonos e jesuítas contrários à escravização de nativos e
ao confisco de suas terras, além de um desentendimento com o bispo Sardinha. No seu governo aconteceu, em 1555, a
invasão de huguenotes franceses ao Rio de Janeiro, onde fundaram uma colônia chamada França Antártica. A aliança entre
nativos e franceses não só concedeu aos últimos expressivas vitórias contra os portugueses, como também atestou a
ineficiência administrativa de Duarte da Costa, logo substituído por outro governador.
As primeiras medidas do sucessor Mem de Sá foram para intensificar os aldeamentos indígenas dos jesuítas, as
“missões”. Sua intenção era ampliar a catequese e reduzir os conflitos entre jesuítas e colonos; favorecer a integração dos
nativos à cultura portuguesa e cristã e defendê-los dos ataques dos colonos que buscavam escravos.
Para os indígenas, além da descaracterização da ordem tribal, com a dominaçao e aculturação, o contato com os
europeus vinha acompanhado por disseminação de doenças desconhecidas para eles. Promovendo uma aproximação com
os jesuítas, a administração de Mem de Sá tentou também restabelecer as boas relações com o bispado: visando à
moralização dos costumes, procurou coibir o jogo, a vadiagem e vícios que se ampliavam entre os colonos.
O governador também procurou expulsar os franceses do Rio de Janeiro. Os jesuítas Nóbrega e Anchieta apoiaram-
no, interferindo junto aos tamoios e provocando o rompimento de sua aliança com os invasores franceses. Os reforços
vindos da metrópole, chefiados por seu sobrinho Estácio de Sá, foram fundamentais para vencer os franceses e expulsá-los
do território colonial.
Junto com Estácio, Mem de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1565, para organizar a
resistência contra os estrangeiros, num dos quais, Estácio de Sá foi mortalmente ferido.
Em 1570, foi nomeado um novo governador-geral para a colônia que, entretanto, não chegou, vítima do ataque de
piratas franceses em alto-mar. Dois anos depois, com 74 anos de idade e bastante doente, Mem de Sá faleceu na Bahia. A
metrópole decidiu, então, dividir a administração da colônia entre dois governadores: D. Luis de Brito, em Salvador, e D.
Antônio Salema, no Rio de Janeiro.

13.7 – O DOMÍNIO ESPANHOL NO BRASIL (1580-1640)


A morte do rei D. João III, em 1557, alçou ao trono seu neto, o menino D. Sebastião. Até a sua maioridade, em 1568,
foi substituído por dois regentes: sua avó, D. Catarina, e o cardeal D. Henrique, seu tio-avô. Após ter governado Portugal
durante dez anos, D. Sebastião morreu lutando contra os mouros, na batalha de Alcácer-Quibir, no norte da África.
Pela falta de descendentes diretos do rei, a Coroa voltou às mãos do cardeal D. Henrique. Pelo mesmo motivo, quando
o cardeal morreu, em 1580, o rei da Espanha, Filipe II, neto de D. Manuel, o venturoso, invadiu Portugal com suas tropas e
assumiu o trono lusitano, unindo Portugal e Espanha e dando início à União Ibérica.
A promessa de Filipe II de preservar relativa autonomia de Portugal e manter suas colônias sem submetê-las à
Espanha garantiu à colônia portuguesa na América poucas mudanças políticas significativas. Houve apenas substituição da
metrópole que exercia o monopólio comercial e o controle administrativo. No entanto, o domínio espanhol acabou por
abolir, na prática, as determinações do tratado de Tordesilhas, o que favoreceu o avanço dos colonos portugueses em
direção ao interior, permitindo a expansão do território, estimulada principalmente pela busca de metais preciosos.
O envolvimento da Espanha em diversos conflitos militares na Europa, porém, pôs seus inimigos contra a colônia
portuguesa. Inglaterra, França e Países Baixos realizaram várias invasões ao território da colônia. Isso enfraqueceu a
economia lusitana, acarretando um movimento pela restauraçao da autonomia, liderado pelo duque de Bragança. Os
restauradores só se libertaram do domínio espanhol em 1640, quando o dique foi coroado rei de Portugal com o título de
D. João IV, inaugurando o governo da dinastia de Bragança.

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Para combater as dificuldades econômicas herdadas do período anterior, o novo monarca intensificou a exploração e
reforçou a administração colonial, criando o Conselho Ultramarino. A centralização política colonial e a rigidez
fiscalizadora da metrópole intensificaram-se com a ampliação dos poderes administrativos dos governos-gerais, que
subordinaram colonos e donatários, e a eliminação progressiva das capitanias particulares. Os inúmeros choques entre a
Coroa e os interesses locais semearam as primeiras manifestações contra a autoridade metropolitana.

13.8 – A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL PORTUGUESA E OS PODERES LOCAIS


A administração da colônia, dividida em dois governos-gerais, voltou a ser unificada com o governador Lourenço da
Veiga, de 1578 a 1608. Nesse ano nova divisão, abandonada em seguida, foi feita. Em 1621, realizou-se mais uma divisão
administrativa da colônia, desta vez entre o estado do Maranhão e Grão-Pará, com capital inicialmente em São Luis e
depois em Belém, e o estado do Brasil, com capital em Salvador, e a partir de 1763 no rio de janeiro. Depois de 1640,
tornou-se cada vez mais comum usar-se o título de vice-rei em lugar de governador-geral.
As capitanias hereditárias e os governos-gerais continuariam convencido até o século XVIII, enquanto se dava a
progressiva criação de capitanias da Coroa, como a da Bahia de Todos os Santos e São Sebastião do rio de Janeiro.
Administradas por um governador nomeado pelo rei, foram aos poucos substituindo as capitanias hereditárias particulares,
por meio de compra, ou por falta de herdeiros, ou, ainda, por não se acharem efetivamente ocupadas.
O governador-geral da colônia e os governadores das capitanias chegaram a contar com as tropas de linha, efetivo
regular e profissional em armas. Eram compostas por regimentos portugueses, as milícias, força auxiliar cujos recrutas
pertenciam à população urbana e não recebiam remuneração pelo serviço obrigatório, e as ordenanças, compostas por toda
a população masculina em condições físicas e idade militar (entre 18 e 60 anos), convocadas quando necessário.
O caráter militar das primeiras feitorias traduzia-se nos poderes que os colonos da época da instalação das capitanias
apresentavam diante das contínuas ameaças internas e externas. Esse processo foi completado e continuamente aprimorado
com a instalação do sistema de governos-gerais, firmando a ordem militar como meio de integração dos colonos às
diretrizes metropolitanas. Até que surgissem os primeiros conflitos entre as elites proprietárias coloniais e o governo
metropolitano, as milícias e toda essa organização militar funcionaram satisfatoriamente na viabilização da exploração
colonial.
Os senados das câmaras (câmaras municipais), órgãos secundários da administração-geral, reuniam os
administradores das vilas, povoados e cidades, responsáveis por cuidar de problemas políticos, administrativos, judiciários,
fiscais, monetários e militares no âmbito local. Os vereadores que compunham as câmaras municipais eram todos grandes
proprietários de terras, designados homens bons, e por ela eram eleitos. Sua presidência cabia a um juiz, chamado de juiz
de fora, quando nomeado pela autoridade régia, e juiz ordinário, quando eleito como os demais membros. A maioria da
população, portanto, não participava da administração.
Muito descontentamento e mesmo a desorganização produtiva e a ruína de colonos foram causados pela forma
abusiva com que eram feitos a arrecadação de tributos e os recrutamentos forçados. O recolhimento de tributos como o
dízimo, décima parte de qualquer produção, era arrendado a particulares que detinham o poder de cobrar a população, em
troca de uma parte destinada à Coroa. Por meio de seu tipo de administração e exploração, portanto, a colônia e a maioria
de sua população serviam ao Estado mercantilista português. Inscrito no contexto colonialista, esse panorama propiciou o
desenvolvimento capitalista europeu, segundo as diretrizes das elites administradoras comerciais e proprietárias da
metrópole e da colônia.

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EAD – HIS BRA – EX

01) Durante o reinado de D. Dinis (1279-1324), sexto rei de Portugal (primeiro a assinar documentos com nome
completo e, presumidamente, primeiro rei não analfabeto daquele país), iniciativas bastante relevantes foram
adotadas para o fomento da cultura, da agricultura, do comércio e da navegação.
Sobre as medidas de D. Diniz, podemos afirmar que:
a) desestabilizou o tesouro real com os grandes galeões que assaltaram Calicute.
b) admitiu estrangeiros em sua esquadra, pois entendia que as trocas culturais sempre foram importantes para o
desenvolvimento da cultura marítima.
c) fomentou as trocas comerciais com outros países, assinou o primeiro tratado comercial com a Inglaterra, em 1308,
e instituiu a Marinha Real.
d) proibiu a utilização das terras comunais para a construção naval.
e) estabeleceu novos laços políticos com a realeza de Castela.

02) “Em 23 de julho de 1415, cinco dias após o último suspiro da rainha Filipa de Lancaster, a expedição partiu para
a conquista de Ceuta. Era uma frota impressionante, com mais de 200 embarcações...” “...Quase todos os homens a
bordo estavam ‘cruzados’, ou seja, haviam colado cruzes aos uniformes, deixando claro que partiam para uma guerra
santa. De fato, início de julho de 1415, o papa Gregório XII publicara uma bula concedendo ‘absolvição plenária’ a
todos que viessem a morrer naquela tentativa de ‘lavar as mãos no sangue dos infiéis’. Mas apenas oito portugueses
iriam tombar ao longo de um combate desigual” (Eduardo Bueno)
O acontecimento descrito no texto acima representou o marco inicial da
a) expansão marítima portuguesa.
b) guerra de reconquista.
c) luta pela expulsão dos protestantes que viviam em Portugal.
d) participação portuguesa nas Cruzadas.
e) luta contra comerciantes italianos pela reabertura do mar Mediterrâneo.

03) Leia o texto e responda:

Cristóvão Colombo.
Sabemos muito pouco sobre as origens de Colombo. Até hoje a sua origem é motivo de controvérsias entre os
pesquisadores. Há que defenda que era espanhol, português, apesar de a maioria dos pesquisadores concordar com a
hipótese de sua origem na cidade italiana de Gênova. No entanto não há dúvida sobre a importância de sua viagem de
1492. Ao contrário dos portugueses, que buscavam atingir as Índias contornando a costa africana, Colombo:
a) planejou atingir o Oeste, onde se encontravam as Índias, viajando no sentido Leste sob autoridade do Rei de
Castela.
b) concentrou suas navegações na parte Norte da América, em busca de uma passagem ao Noroeste para o continente
asiático;
c) planejou atingir o Leste, onde se encontravam as Índias, viajando no sentido Oeste sob autoridade do Rei de
Castela.
d) navegou pelo Oceano Atlântico em direção ao Canal da Mancha e Mar do Norte, seguindo as instruções do Rei de
Portugal;
e) planejou atingir o Leste, onde se encontravam as Índias, viajando no sentido Oeste sob autoridade do Rei de
Portugal.
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04) Os portugueses foram responsáveis pelo descobrimento e exploração do litoral da África e pela chegada dos
primeiros europeus, por via marítima, e por uma nova rota, às índias. Durante as primeiras décadas da expansão
portuguesa o navio empregado foi a caravela.
Marque abaixo a opção que apresenta corretamente as características desse navio.
a) Era um navio leve, dotado de artilharia de tiro rápido e de baixo calibre. Foi importante para derrotar os árabes no
oceano índico sobretudo na batalha naval de Diu.
b) Era um grande navio de guerra, de baixos costados e alta velocidade e muito manobrável, foi decisivo para a
derrota dos turcos no índico.
c) Era dotado de velas latinas. Essas velas são muito boas para navegar quase contra o vento, contribuindo para que
fossem muito úteis na costa da África
d) Era um navio mercante com grandes espaços nos porões para carregar as mercadorias do Oriente. Essa ênfase na
carga, no entanto, fazia com que as naus fossem mal armadas.
e) Era um navio de guerra maior e com mais canhões, para combater turcos no Oriente e corsários e piratas europeus
ou muçulmanos no Atlântico. O galeão foi a verdadeira origem do navio de guerra para emprego no oceano.

05) “Quanto à arte da navegação, deu-se um acontecimento de grande importância no século XIII, que foi a
introdução de um instrumento que já era conhecido pelos chineses, parecendo mesmo que os mongóis já se
orientavam por ela em suas incursões pela Europa. Coube aos árabes servirem de ligação entre o Oriente e a Europa,
apesar de suas contínuas lutas com os cristãos; na época das cruzadas, os europeus devem ter tomado conhecimento
dessa invenção, que, a princípio, foi considerada coisa de feiticeiro. ”
O texto acima, faz referência a um instrumento fundamental para a navegação e que foi decisivo para a expansão
marítimo-comercial europeia a partir do século XV. Estamos falando do (a):
a) Sextante
b) Balestilha
c) Leme de Boreste
d) Astrolábio
e) Bússola

06) A pintura é uma representação da chegada da esquadra de Vasco da Gama a Calicute, em 1498. Em relação às
motivações da expansão marítima portuguesa para as Índias, é correto afirmar que:

a) a ambição dos navegadores portugueses em alcançar as Índias foi motivada, exclusivamente, pelos seus interesses
e curiosidades em descobrir outra natureza e sociedades consideradas fantásticas em comparação com o mundo
miserável e limitado da Europa.
b) o desejo de mercadores e embarcadores portugueses pela descoberta da via marítima para as Índias foi resultado da
insatisfação crescente com a intermediação comercial entre a Europa a África e o oriente, monopolizada pelos
ingleses.
c) como a expansão pelo Atlântico rumo ao sul se tornando possível e lucrativa, o desejo dos portugueses em alcançar
a Índia por mar se tornou ainda mais forte com a Tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453.
d) os monarcas, mercadores e aristocratas portugueses incentivaram a expansão marítima, visando única e exclusi-
vamente o lucro e o poder. A religião e o desafio tecnológico da navegação foram apenas pretextos ou justificativas
inexpressivas quando comparadas com a lucratividade das atividades colonizadoras nos litorais africanos e asiáticos.
e) a primeira viagem de Vasco da Gama à Índia não foi muito lucrativa. Sua tentativa de estabelecer relações comer-
ciais com o chefe de Calicute fracassou. A competição entre mercadores e embarcadores pelas conquistas e des-
cobertas marítimas no Atlântico e no litoral africano alimentou a expansão colonial.
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07) Sobre o Tratado de Tordesilhas, assinado entre o Reino de Portugal e o Reino de Espanha em 7 de junho de 1494
é correto afirmar que:

a) O meridiano original passava a ficar situado a 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde. Os territórios
situados a leste do meridiano pertenceriam a Portugal e os situados a oeste, à Espanha.
b) O meridiano original passava a ficar situado a 100 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde. Os territórios
situados a leste do meridiano pertenceriam a Portugal e os situados a oeste, à Espanha.
c) O meridiano original passava a ficar situado a 370 léguas a leste do arquipélago de Cabo Verde. Os territórios
situados a oeste do meridiano pertenceriam a Portugal e os situados a leste, à Espanha.
d) O meridiano original passava a ficar situado a 100 léguas a leste do arquipélago de Cabo Verde. Os territórios
situados a leste do meridiano pertenceriam a Portugal e os situados a oeste, à Espanha.
e) O meridiano original passava a ficar situado a 100 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde. Os territórios
situados a oeste do meridiano pertenceriam a Portugal e os situados a leste, à Espanha.

08) Entre 1500 e 1530 o Brasil foi colocado em segundo plano na expansão marítimo-comercial Portuguesa. Isso se
deveu ao fato de as riquezas da Ásia se mostrarem, ainda, muito mais atraente para os Portugueses. Nesse período
pré-colonial os portugueses organizaram diferentes expedições para o Brasil.
Marque entre as opções abaixo a que se refere a uma expedição guarda costa, também conhecidas como expedições
militares.
a) Conhecemos bem a expedição do navio Espoir, comandado por Birot Paulmier de Gonneville, que percorreu a
Baía de Todos os Santos, em 1504. Jean Parmentier, francês de Dieppe, velejou do Amazonas ao Prata, por volta de
1525.
b) Durante esse período, andou velejando em nosso litoral o português João Dias de Solís (1515 a 1516) a serviço de
Castela, na tentativa de encontrar uma passagem para as Índias. O mesmo fez outro português (igualmente a serviço
de Castela), Fernão de Magalhães (1519) o qual, tendo permanecido 13 dias na Baía de Guanabara, nos últimos dias
de dezembro, batizou involuntariamente a região com o nome de Rio de Janeiro.
c) Cristóvão Jaques realizou viagens ao longo de nossa costa entre os períodos de 1516 a 1519, 1521 a 1522 e de
1527 a 1528, onde combatendo e reprimindo as atividades do comércio clandestino.
d) Em 1530, Portugal resolveu enviar ao Brasil uma expedição comandada por Martim Afonso de Sousa visando à
ocupação da nova terra. A Armada partiu de Lisboa a 3 de dezembro e era composta por duas naus, um galeão e duas
caravelas que, juntas, conduziam 400 pessoas. Tinha a missão de combater os franceses, que continuavam a
frequentar o litoral e contrabandear o pau-brasil; descobrir terras e explorar rios; e estabelecer núcleos de povoação.
e) Nesse mesmo ano de 1501, ainda foi armada a expedição de João da Nova, sobre a qual pouco sabemos, mas que,
possivelmente, encontrou a Ilha de Ascensão. Em 1502, percorreu a costa Estevão da Gama, tendo achado a Ilha da
Trindade. Entre 1502 e 1503, Fernão de Loronha esteve no Brasil, tendo descoberto a ilha que chamou de São João,
hoje Fernando de Noronha.

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