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EXEQUIBILIDADE EXTRÍNSECA

TÍTULO EXECUTIVO

I. GENERALIDADES SOBRE O TÍTULO EXECUTIVO

A. Conceito:

O acertamento (acto que afirma a existência de uma obrigação a ser cumprida pelo devedor) é o ponto de
partida da acção executiva

A realização coactiva da prestação pressupõe a anterior definição dos elementos da relação jurídica de que
Notas das aulas teóricas:
ela é o objecto.
↓ A acção executiva é uma acção que
Através do objecto, determina-se o fim e os limites da acção executiva (art. 10/5) - o tipo de acção, o seu tem por base um documento,
objecto, assim como a legitimidade (activa e passiva) para ela (53/1). exigindo a sua apresentação (art.
↓ 10/5), o que denota a importância
O objecto pode ter que ser complementado, de forma a verificar-se se a obrigação é certa, líquida e exigível do TE. É o TE que vai determinar o
(art.713 a 716). porquê, para quê, entre quem vai
decorrer a execução. Determina os
limites objectivos e subjectivos da
O título executivo ganha relevância especial fruto da circunstância de oferecer a segurança mínima reputada acção executiva. Também determina
suficiente quanto à existência do direito de crédito, que se pretende executar. os pressupostos processuais
(competência, legitimidade, valor da
causa, etc).
B. Natureza:
 É um documento: Deve acompanhar o requerimento
executivo (art. 724) e a falta da sua
apresentação tem consequências
Os títulos criados pelas als. b), c) e d) do art. 703 são documentos escritos representativos de uma declaração e
negativas, nomeadamente a
constituem meio de prova (arts. 362, 371/1 e 376/2 CC).
possibilidade de despacho de
indeferimento liminar. A falta de TE
Sentenças condenatórias - A injunção que é feita ao réu sobressai face à natureza estática do documento que a determina a extinção da execução.
materializa. Neste caso, o título executivo, embora seja a sentença, é mais o acto jurídico que esta constitui -
acto jurídico que, aplicando e concretizando o direito, torna possível, graças à sua estrutura de comando, a O TE não é um pressuposto
subsequente actuação prática da sanção se a ordem judicial não for cumprida. processual. Os pressupostos dizem
respeito à instância, à relação
processual civil. E o TE tem que ver
Discussão doutrinária:
com a causa de pedir e o seu mérito.
Carlenutii - , a sentença condenatória tem a natureza de documento
vs.
Liebman - considera que reveste a natureza de acto

O documento acaba por ser a materialização do direito exequível e constitui um documento probatório do
acto jurisdicional que acerta esse facto constitutivo.

Contudo ...

A consideração da inexiquibilidade da sentença de mera apreciação (que também realiza esse acertamento)
leva a concluir que tal não chega para explicar a constituição do título executivo judicial, o qual requer também
a emanação duma ordem emitida em função dum pedido. Para LEBRE DE FREITAS, esta dualidade de
justificações da figura pode ser insuperável e, na tentativa de chegar a um conceito unitário, assume que se
tenha de ficar pela afirmação de que uma e outra são consideradas base suficiente para a radicação da própria
obrigação no título (documento) para efeitos executivos, dado constituir qualquer delas o grau de certeza,
sobre a existência do direito, que o sistema entende exigível para a admissibilidade da acção executiva.

→ O título executivo é um documento; e a sentença, a ordem do tribunal fica representada nas folhas do
processo em que é exarada, as quais não se confundem com o acto de condenação que lhe constitui o
conteúdo.

 Título como condição da acção:

Não há execução sem título, o qual tem de acompanhar o requerimento inicial ou de se formar dentro do processo, antes
que tenha lugar qualquer diligência de ordem executiva (art. 724/4)

Configuração do título como condição suficiente da acção executiva → Levanta algumas dificuldades:

Títulos negociais:

No plano da validade formal: Quando a lei exija certo tipo de documento para a sua constituição ou prova, não se pode
admitir execução fundada em documento de menor valor probatório para o efeito de cumprimento de obrigação
correspondentes ao tipo de negócio ou acto em causa.
P.e., Ac.TRL de 16/7/95, foi entendido que a nulidade por falta de forma do contrato de mútuo (1143CC), não afecta a
exequibilidade da livrança subscrita, mesmo no domínio das relações imediatas. A afirmação só é verdadeira, se se estiver no
domínio das relações mediatas. No campo das imediatas, a execução não pode prosseguir, uma vez verificada a nulidade do
acto constitutivo da relação fundamental, a não ser para a restituição da quantia entregue.

No plano da validade substancial: Devem ser conhecidas todas as causas de nulidade do negócio ou acto que o título
formaliza ou prova, desde que sejam de conhecimento oficioso e o juiz se possa servir dos factos de que decorrem, no termos
do art.5. Também aqui a desconformidade manifesta entre o título e o direito que se pretende fazer valer impede a realização
dos actos executivos.

A mesma orientação deve ser seguida quanto à ocorrência de factos modificativos ou extintivos posteriores à constituição
do título. P.e., a extinção da obrigação exequenda por acto de pagamento de terceiro, que resulta do próprio requerimento
inicial.

Toda a desconformidade entre o título e a realidade substantiva pode e deve ser conhecida pelo juiz, desde que a sua causa
seja de conhecimento oficioso e resulte do próprio título, do requerimento inicial de execução, dos embargos de executado ou
de facto notório ou conhecido pelo juiz em virtude do exercício das suas funções.

Art. 726/2/c) + 734:


- O juiz deve indeferir liminarmente o requerimento de execução com algum dos fundamentos referidos – embora o
726/2/c) não refira os factos modificativos, estes poderão dar lugar a indeferimento parcial, como consagra o 726/3.
- Não o tendo feito, deverá rejeitar ulteriormente a execução, extinguindo-a, quando se aperceba da situação, ainda que em
virtude de embargos de executado deduzidos com outro fundamento ou quando o processo lhe seja concluso, por outro
motivo, até ao primeiro acto de transmissão de bens.

O juiz não pode solicitar meios de prova complementares ao exequente, salvo os casos de incerteza, inexigibilidade e
iliquidez da obrigação.

A obrigação exequenda tem de constar no título e a sua existência é por ele presumida, podendo ser ilidida tal presunção,
salvo o recurso à acção declarativa de embargos de executado, movida com essa finalidade. Só neste sentido julgamos poder
ser afirmada a suficiência do título para a acção executiva e a sua consequente autonomia em face da obrigação exequenda.

C. Funções do título executivo:

1) Delimitativa → determina o porquê, para quê, entre quem


 No plano objetivo determina o objeto da prestação - entrega de quantia certa, pagamento de quantia e prestação de
facto.
 No plano subjetivo o título executivo determina, indiretamente, a regra cardinal da legitimidade para se ser parte na
execução: credor e devedor em face do título (art. 53) ou seus sucessores (art. 54/1).
É esse o sentido do art. 10/5: o título determina porquê, contra quem e para quê o credor requer a execução.

2) Representativa
 O TE é o documento que, nos termos da lei processual, certifica a causa de pedir, enuncia os factos principais da causa
de pedir (que em certa data foi constituída uma obrigação). Os factos complementares (se a obrigação é exigível ou não)
pode não constar no título. O TE “tens ou não tens o direito?”. Contudo, o TE não é a causa de pedir – embora possam
coincidir. Representa apenas a causa de pedir.
 O título é a causa de pedir na acção executiva, de acordo com a qual a causa de pedir deixaria, na acção executiva, de
ser o facto jurídico de que resulta a pretensão do exequente (581/4) para passar a ser o próprio título executivo, que
dela constitui prova ou acertamento. Quando coincide com
Função de representação na causa de pedir: a causa de pedir. P.e.,
- Título executivo negocial - Art. 726/2/c) - Através do TE e dos demais elementos dos autos, o credor tem o ónus de se o TE for o cheque
fundamentar o seu pedido numa aparência mínima dos factos principais constitutivos do seu direito, sob pena de corresponde à causa
indeferimento liminar. A aparência mínima é a que impede um juízo de inexistência manifesta desses factos. de pedir, se for o
- Título recognitivo privado (reconhecimento de dívida) - Art. 458/1 CC - O credor fica dispensado de provas a relação negócio jurídico
fundamental, cuja existência se presume até prova em contrário. A existência do documento presume relação executado.
fundamental. Cabe ao devedor alegar e provar a inexistência, nulidade ou anulabilidade do negócio donde procede a Contudo, pode não
dívida ou a que prestação se reporta. O credor tem a seu favor a inversão do ónus da prova da causa de pedir, mas não coincidir, como p.e.,
fica dispensado de a indicar, caso o título não a contenha, nos termos do art. 724/1/e). uma sentença
- Títulos de crédito - A causa de pedir é a aquisição, na esfera do requerente, de um direito a uma prestação mediante o condenatória.
saque ou emissão do título, mas sem que ele tenha de indicar a que relação subjacente corresponde esse direito (art. 1
LULL e 458 CC). Por isso, a apresentação do título de crédito, devidamente datado e preenchido, cumpre, só por si, a
exigência de causa de pedir, uma vez que certifica o facto do saque ou da emissão.

3) Constitutiva → Nulla executio sine titolo


 O título executivo atribui a exequibilidade a uma pretensão, possibilitando que a correspondente prestação seja
realizada através das medidas coativas impostas ao executado pelo tribunal.
 Esta função é explicada pela natureza jurídico-processual do título executivo: ele não é um pressuposto processual, mas
uma condição formal da realização coativa da prestação.
 O título certifica a obrigação exequenda.
 RUI PINTO: A natureza processual do TE é a de ser a condição formal da acção executiva. Não é um pressuposto
processual, porque não diz respeito à instância, mas, sem o TE também não há execução. Diz respeito à exequibilidade
da pretensão.
 TEIXEIRA DE SOUSA: Não basta haver incumprimento, tem que haver um TE (exequibilidade extrínseca) → por isso é
que um dos princípios da acção executiva é a formalização.

D. Exigência legal de título executivo:

Art. 10/5 CCP - Toda a acção tem por base um título, pelo qual se determina os fins e os limites da acção executiva

Art. 725/1/d) e 855/2/a) - A secretaria (forma ordinária) ou o AE (forma sumária) devem recusar receber o requerimento
quando não seja apresentado o título ou a sua cópia.

Art. 726/2/a) - Prolação do despacho liminar de indeferimento quando seja manifesta a falta ou insuficiência do título
determina um despacho liminar de indeferimento quando seja manifesta a falta ou insuficiência do título, causa essa que pode
também conduzir, até ao primeiro ato de transmissão de bens penhorados, a uma extinção superveniente da execução, ao
abrigo do art. 734/1

Falta, insuficiência e inexequibilidade do título - Fundamento de oposição à execução (art. 729/a))

O título deve demonstrar uma obrigação, que se pede que seja certa, líquida e exigível.

Art. 713 - Determina que a execução principia pelas diligências, a requerer pelo exequente, destinadas a tornar a obrigação
certa, exigível e líquida, se o não for em face do título executivo. A falta destes carateres impede a execução da pretensão, como
se depreende da leitura dos arts. 724/1/h), 725/1, als. a) e c) e 726/2/c, 729/e), 734/1 e 855/2/a).

ANSELMO DE CASTRO + alguma jurisprudência: qualificam a exigência de título executivo e de obrigação certa, líquida e exigível
como pressuposto processuais específicos.

PALMA CARLOS, CASTRO MENDES, LEBRE DE FREITAS: designa-os como pressuposto formal e pressuposto material/substancial
da ação executiva, respetivamente.

TEIXEIRA DE SOUSA: ensina que o primeiro constitui a exequibilidade extrínseca e o segundo a exequibilidade intrínseca,
respetivamente. O TÍTULO
EXECUTIVO É
PRESSUPOSTO
LEBRE DE FREITAS:
PROCESSUAL?
o Tanto o título executivo, quanto a verificação da certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação são pressupostos
processuais específicos da ação executiva. (várias posições
o O título é um pressuposto processual, sem prejuízo da sua articulação com o direito exequendo. doutrinárias)
o A certeza, a exigibilidade e a liquidez são condições da ação executiva e são requisitos autónomos quando não
resultem presumidas pelo título executivo, caso em que são exigências de complemento do título e que apenas ao
executado caberá impugnar a par dos demais caracteres da obrigação.

RUI PINTO: O TE não é um pressuposto processual. Os pressupostos dizem respeito à instância, à relação processual civil. E o TE
tem que ver com a causa de pedir e o seu mérito.

E. Características:

o Tipicidade:

O legislador, fixa, de modo taxativo, no art. 703 os títulos executivos – atenção ao “apenas” na letra da lei.
O art. 703/1 não pode ser interpretado de forma analógica, mas admite interpretação extensiva. Assim sendo, as
partes não podem determinar que outros documentos possam valer como TE e também não podem retirar força
executiva aos títulos a que a lei confira esse valor.
O rol do art. 703 é completado pelos arts. 704, 708 e alguma legislação avulsa, como determina o art. 703/1/d).

Art. 703/1/d) – “todos os outros que estejam noutras normas” → Há mais TE. P.e., o NRAU (L 06/2006) – art. 14-A:
título executivo extrajudicial e avulso (não está nas categorias do art. 703): o contrato de arrendamento qd
acompanhado do doc de notificação das rendas em mora, constitui TE para execução das mesmas – é um TE
composto (contrato de arrendamento + notificação ao inquilino) → RUI PINTO entende que só se pode executar o
arrendatário, mas tem sido uma interpretação extensiva segundo a qual também se pode executar o fiado, pq a letra
do art. não designa quem é que podemos executar, logo pode considerar-se que se trata do devedor principal ou o
fiador.

o Literalidade:

Abrange dois aspectos:


a) Suficiência: Significa que o título pode cumprir toda a função seja de delimitação, seja constitutiva, seja de
certificação sem necessidade de elementos complementares e, em particular, de mais processo declarativo.
O TE cumpre todas as suas funções sem necessidade de documentos complementares, o que quer dizer que
normalmente o TE tende a ser um documento – embora exista TE compostos. Pode acontecer que a obrigação não
seja certa, líquida ou exigível e aí já deve haver docs complementares;

b) Autonomia: O TE goza de autonomia em face do seu conteúdo: a exequibilidade do título é independente da


exequibilidade da pretensão. Formalmente, a lei distingue, entre documento e conteúdo, nomeadamente na
separação entre, de um lado, inexistência/inexequibilidade do título (art. 729, als a) e b)) e, do outro, factos
impeditivos, modificativos ou extintivos (art. 729/g)).
A eficácia do TE não depende da obrigação. A exequibilidade do TE é independente da exequibilidade da obrigação e
independentemente desta ser certa, líquida ou exigível.
Contudo, esta autonomia não é pura. Pode haver situações em que a invalidade da obrigação pode contaminar o TE.
Ex: celebro um contrato de mútuo de 1M€ num doc. Particular – há uma invalidade formal que contamina o TE; se
houver uma invalidade substantiva de conhecimento oficioso, essa invalidade tb contamina a execução do TE.

Classificação:

Quanto à natureza da entidade autora dos efeitos jurídicos:


i. Títulos executivos públicos:
1. Títulos executivos judiciais;
2. Títulos executivos judiciais impróprios;
3. Títulos executivos administrativos.
ii. Títulos executivos privados:
1. Títulos executivos autênticos;
2. Títulos executivos particulares, autenticados e simples.

Segundo critério → Toma a sentença por referência, separando entre:


i. Títulos judiciais impróprios ou parajudiciais:
O título judicial é a sentença, i.e., a decisão, tendencialmente final no plano do procedimento, de conhecimento de uma
pretensão de resolução de um litígio com valor de caso julgado material.
Título judicial impróprio enuncia um comando de atuação, também conhecido por injunção de cumprimento de uma obrigação
pelo devedor, no quadro de um procedimento – de injunção ou monitório – de exercício do direito de ação e de garantia do
contraditório da parte contrária, sem valor de caso julgado material.
ii. Títulos extrajudiciais.
Os títulos extrajudiciais, privados e administrativos, dispensam um prévio processo judicial ou contraditório o que leva alguns
autores italianos a verem, por isso, nessa dispensa de prévio processo judicial uma forma de tutela.

Terceiro critério → Tem em conta o efeito material do título executivo em face do direito à prestação. Pode distinguir-se entre:
i. Títulos executivos constitutivos da aquisição do direito à prestação;
ii. Títulos executivos recognitivos da aquisição do direito à prestação.

Quanto ao seu valor como categoria legal, podemos arrumar os títulos executivos em:
i. Títulos executivos típicos;
ii. Títulos executivos avulsos.
CATEGORIAS DE TÍTULO EXECUTIVO

SENTENÇAS CONDENATÓRIAS

Art. 703/1/a)

Abrange as decisões em acções condenatórias e qualquer sentença que imponha uma ordem ou comando de atuação ao réu de
forma incondicional, seja em ações de simples apreciação ou constitutivas. Isso inclui a condenação em custas e outras condenações
acessórias, atualmente cobertas pelo art. 705/1.

Abrangidas pelo art. 703/1/a):


a) Sentenças de ação de condenação a título singular, finais ou antecipadas em saneador-sentença, incluindo as proferidas em
processo especial;
b) A parte condenatória de ação de simples apreciação em que o pedido de reconhecimento da existência/inexistência de um
facto/direito o autor tenha cumulado um pedido de condenação;*
c) A parte condenatória de ação constitutiva em que ao pedido de constituição, modificação ou extinção de uma situação jurídica o
autor tenha cumulado um pedido de condenação.*
d) No plano da eficácia formal, uma sentença condenatória pode também ser uma providência cautelar não especificada que
imponha uma ordem de pagamento de quantia certa, de entrega de coisa ou de prestação de facto, positivo ou negativo.
e) São equiparadas às sentenças condenatórias as decisões arbitrais (art. 705. e incluem-se as sentenças homologatórias).

Extensão às condenações acessórias:


São equiparadas às sentenças condenatórias, os despachos e quaisquer outras decisões ou atos de autoridade judicial que condenem
no cumprimento duma obrigação (art. 705/2).
É o que sucede com a decisão, autonomizada em despacho ou integrante de uma qualquer sentença, que imponha o pagamento das
custas processuais, abrangendo taxa de justiça, encargos e custas de parte (arts. 527/1 e 529/1). O mesmo se diga quanto à
condenação no pagamento de multa e/ou o pagamento de indemnização por litigância de-má fé, nos termos do art. 542/1.

Excluídas:
a) Sentenças de simples apreciação, as constitutivas e modificativas:*
Por não conterem um comando de cumprimento de uma prestação, não são título executivo. Uma sentença constitutiva que
contenha uma decisão de mérito favorável não é suscetível de ser executada pois o efeito constitutivo da sentença produz-se
automaticamente, nada restando da sentença para ser executado. O que pode ser executado é uma decisão condenatória, expressa
ou implícita, que com esta se pode cumular. As sentenças de simples apreciação também não constituem título pois elas apenas se
limitam a declarar a existência de um direito ou facto jurídico, não sendo o réu condenado a nada com esta decisão. Das sentenças
judiciais, apenas as sentenças de condenação são passíveis de execução.
b) Litigância de má-fé:
Devido à má-fé, são condenatórias, mas não é de mérito. Só têm força executiva por força do art. 705/1.

Questão das sentenças de condenação implícita:

É um problema que se coloca face a sentenças de simples apreciação e a sentenças constitutivas. Cabe saber e discutir se estas
sentenças com condenações implícitas valem ou não como título executivo

Pode acontecer que a procedência da sentença constitua uma obrigação que não existia no início do processo.
Ex. Peço a declaração da nulidade do contrato, que segundo o CC, obriga à restituição das quantias já entregues. Esta obrigação não
existia à data de início do pedido.
Ex: Se for declarado nulo o despedimento, isso implica que sejam pagos os salários que se venceram.

DOUTRINA MAIORITÁRIA: Ainda assim, as condenações


o Entende que há uma condenação implícita, porque impõe ao réu que cumpra as obrigações que implícitas não ferem:
decorrem da procedência do pedido. Não é exigido que o autor peça essas prestações, ab initio, porque
- Princípio do dispositivo: há uma
seria uma cumulação aparente. Esta posição cabe dentro da ideia de favor creditoris, porque o poupa de
condenação implícita, ou seja, ainda
tentar encontrar um TE. Tem uma boa justificação do ponto de vista do p. da economia processual e da que implícito há um pedido.
tutela jurisdicional efectiva. Consegue-se retirar um pedido de
ação.
RUI PINTO:
- Princípio do contraditório: a defesa
o Discorda. Entende que é errado falar-se em condenações implícitas. Neste tipo de sentenças, o tribunal do executado na ação executiva não
não exprimiu qualquer vontade sobre a questão em apreciação, pelo que o problema apenas se coloca seria substancialmente diferente da
face às obrigações decorrentes diretamente da lei. Não vê como há uma condenação enquanto tal. Há, sua defesa na ação declarativa.
sim, a constituição (implícita) de uma obrigação. Considerar que há uma condenação implícita limita o (controverso, na medida em que se
direito de defesa da parte passiva. O réu sabe do que dispõe o art. 609, pelo que se defende apenas viola o art. 609 – o tribunal não pode
contra o pedido e não contra aquilo que não foi pedido. O tribunal não poderia conhecer oficiosamente julgar mais do que o pedido – pode
daquele efeito. O réu está a ser condenado por algo que nunca esteve em discussão na acção violar o p. do contraditório)
declarativa. E isto consiste numa violação ao direito de defesa do réu (embora se possa defender como - Segurança jurídica: pois o executado
executado, na acção executiva, atrasando-se, assim, o direito de defesa do réu). Contudo, também na acaba por estar à espera da
condenação visto que se pode extrair
a condenação da interpretação da
sentença."
acção executiva, o réu fica numa posição bastante desfavorável, pq, no processo sumário, ele só se
defende depois de terem sido praticados actos executórios.
o Considera que a limitação dos direitos do réu não é proporcional, porque há uma limitação dos direitos
do réu.
o Considera que há uma violação do art. 557, na medida em que a condenação in futurum é proibida. Nos
termos do art. 557/2, tem que haver um interesse processual. Só pode haver condenação in futurum
quando possa causar grave prejuízo ao credor.
o Viola também os arts. 20/4 CRP, art. 3 e 609 , na medida em que desrespeita o direito de defesa,
princípio da igualdade e vinculação do tribunal ao pedido.

Questão das sentenças de condenação genérica:

A sentença de condenação genérica (art. 609/) apresenta o problema de termos uma sentença a meio. Nesta situação, e só nesta
situação, a liquidez é um pressuposto de exequibilidade extrínseca e não intrínseca, ou seja, forma o título executivo e não o
complementa apenas.
Não sendo líquida, não existe título executivo (art. 704/6).

O que é que o agente de execução deve fazer nesse caso?
- Deve recusar o requerimento executivo por insuficiência ou por inexistência do título.
- Se, inadvertidamente, aceitar o requerimento executivo, o que pode o executado fazer? Pode deduzir oposição à execução, em que
nos termos do art. 729/1/a) dirá que existe a falta ou insuficiência do título. (Atenção que isto é diferente da oposição à execução
baseada na exigibilidade e liquidez ou incerteza da obrigação exequenda, pois só nestes casos é pressuposto de exequibilidade
extrínseca).

Voltando ao art. 704/6, importa atender quando é que a liquidação depende de simples cálculo aritmético.

O que se deve fazer perante um caso destes?

Olhar para o título:


o Art. 10
o Art. 703/1/c)
o Referir que, na verdade, esta sentença apresentada não será título executivo porque ainda não é líquido, e neste caso é
um pressuposto de exequibilidade extrínseca.

E, portanto, temos de saber se a liquidação depende de simples cálculo aritmético ou se não depende de cálculo aritmético. Ao
aplicar-se o art. 704., n.6 , sabe-se já que a liquidação depende de simples cálculo aritmético, mas antes disso temos de saber qual o
critério distintivo entre ambas.
o É dependente de cálculo aritmético quando resultar de factos notórios ou de conhecimento oficioso. Portanto, quando
não é necessário produzir prova em relação aos factos sobre que assenta este cálculo; por exemplo, juros. Como se
calculam os juros moratórios? Se continuam a vencer no decurso da ação executiva, o agente de execução terá de calcular
os juros moratórios só quando se extingue a ação é que vamos fazer o cálculo de tudo e, então, aplicar o art. 716., n.2 .
Chega-se ao fim da execução e faz-se simples cálculo aritmético (atenção que a liquidez é, neste caso, um pressuposto da
exequibilidade intrínseca);
o Quando não dependa de cálculo aritmético: é necessário produzir prova em relação aos montantes pedidos. Quando
temos uma sentença de condenação genérica, o juiz tem a certeza que existe a obrigação de indemnizar mas ainda não
sabe o quantum indemnizatório. Ora, não havendo liquidez, e não estando dependente de simples cálculo aritmético, o
que deveria fazer? Incidente de liquidação, havendo uma abertura da instância declarativa (art. 358., n.2 ).
o No caso de um título extrajudicial em que a liquidação também não depende de simples cálculo aritmético: esta
liquidação é feita, já não nos termos de uma ação declarativa, pois ela não existe, mas sim nos termos do art. 714., n.6 ,
em que também haverá uma contestação, que, a não se realizar, determina o efeito cominatório pleno e já não o semi-
pleno (como seria o caso da não contestação de oposição ao incidente de liquidação por parte dos réus-executados no
anterior incidente declarativo onde o juiz poderia sempre apreciar a prova, podendo acontecer que ela não corresponda
ao que o juiz viria a condenar)

Questão da exequibilidade provisória → Art. 703/1/a) + 704

Será título a sentença de condenação que tenha transitado em julgado (arts. 615.e 616). Contudo, há a possibilidade de execução
provisória da sentença. São situações em que, apesar de a decisão não estar transitada em julgado, poder fundamentar uma
execução.

Regra geral: Para uma sentença ser exequível tem de ter transitado em julgado, não podendo ser suscetível de recurso ordinário ou
de reclamação (art. 628).

Fora destes casos, há possibilidade de exequibilidade provisória da sentença no caso de ter sido interposto recurso com efeito
meramente devolutivo (art 704/1 sendo possível executar a sentença na pendência do recurso).
Se o recurso tiver efeito suspensivo não é título executivo e não pode haver lugar a exequibilidade provisória.
Para que haja o recurso tem de ter efeito devolutivo. A sua ratio prende-se com a ideia de que ao permitirmos que o recurso não
impeça a execução estamos a proteger os interesses do credor, visando evitar-se que o devedor peça recurso com a mera finalidade
de adiar a execução.
Assim, temos os seguintes tipos de recurso com efeito devolutivo:
- Recurso de apelação (art. 647/1),
. Recurso de revista (art. 676/1).

Sendo que, é ainda possível pedir-se a suspensão da execução (art. 704, n.º 4 e 5).

Quando a causa vier a ser definitivamente julgada, a decisão de recurso terá dois efeitos possíveis sobre a execução em curso (art.
704/2):
- Extinguir a execução se for totalmente revogatória da decisão exequenda, absolvendo o réu, ou seja, se o tribunal superior revogar
completamente a primeira decisão;
- Modificar a execução se apenas em parte a decisão de recurso revogar a decisão exequenda. Mantém-se uma condenação parcial
do réu (art. 704., n.2, 1.ª parte ), ou seja, a primeira decisão é parcialmente revogada.

Se a decisão do tribunal de recurso for sujeita a novo recurso para tribunal superior, a execução também há lugar a execução
provisória se o recurso não tiver efeito suspensivo. Neste caso, após a decisão final a execução:
- Suspender-se-á: se a decisão da Relação for totalmente revogatória da primeira decisão se o recurso interposto para o Supremo
Tribunal de Justiça tiver efeito devolutivo;
- Modificar-se-á: se a decisão da Relação for parcialmente revogatória da primeira decisão e se o recurso interposto para o Supremo
Tribunal de Justiça tiver efeito devolutivo;
- Prossegue tal como foi instaurada: se o novo recurso para o Supremo Tribunal de Justiça tiver efeito suspensivo, só podendo a
execução ser extinta ou modificada com a decisão definitiva do Supremo Tribunal de Justiça.

A ação proposta na pendência do recurso também pode ser suspensa a pedido do executado (art. 704/5) desde que preste caução.
Esta, serve para garantir o dano que, no caso de confirmação da decisão recorrida, o exequente sofra em consequência da demora da
execução. Sendo prestada nos termos gerais do art. 623 CC.

De acordo com o art. 704/3, não havendo suspensão da execução e prosseguindo, não se admite o pagamento enquanto a sentença
estiver pendente de recurso sem que haja lugar ao pagamento de uma caução por parte do exequente. Estabelecendo uma exceção
ao favor creditoris, sendo assim uma proteção do executado. Sendo esta a mesma lógica presente no art. 704/4.

Se, quando a decisão definitiva ocorrer antes da transmissão dos bens penhorados, temos o levantamento da penhora. Se a decisão
ocorrer já depois da transmissão dos bens penhorados, ou seja, os bens já estão na esfera do terceiro adquirente e se já houve
pagamento dos credores que tiveram de prestar caução (art. 704/3):
- Ineficácia da venda (art. 839/1, alínea a) CPC) e devolução dos bens ao executado (art. 839/3 CPC); ou
- O executado fica com a caução prestada pelos credores.

Sentenças não passíveis de execução provisória:


Casos previstos no art. 647, n.º 2 e 3
Ex: as ações sobre o estado das pessoas, ações referidas nas als. a) e b) do art. 629/3 e as ações que respeitem à posse ou à
propriedadeda casa de habitação do réu.
Em suma, causas que relevarão em sede de execução para entrega de coisa certa. Nestas eventualidades, em que não pode haver
execução provisória, determina o art. 649/2 que o apelado (i.e., o credor), que não esteja já garantido por hipoteca judicial, pode
requerer que o apelante preste caução, nos termos do art. 623 CC e art. 650 CPC, no prazo de 10 dias contados da notificação do
despacho que admitiu o recurso com efeito suspensivo.

Procedimento de execução provisória:


Providência inibitória da execução provisória de sentença:
Obtida a sentença, o devedor apelante, ao interpor recurso, pode requerer a suspensão da exequibilidade da sentença,com
fundamento em que a execução lhe causa prejuízo considerável → Providência inibitória da execução provisória de sentença.
A declaração do efeito suspensivo é requerida no próprio requerimento de interposição do recurso, conforme o art. 647/4. O
apelado pode responder-lhe nas suas contra-alegações, nos termos do art. 648/2

O perigo de prejuízo considerável deve ser justificado nos mesmos termos que valem para as providências cautelares (art. 368/1) ou
para a dispensa de citação prévia (art. 727/1).
∟ O que se deve demonstrar é o perigo de dano (e não a, pretensa, inexistência da dívida do réu, já que esta está a ser discutida no
recurso)
∟ Mas tal não é suficiente para a procedência do requerimento: se resultar da prova que o receio do prejuízo considerável é fundado,
deve ainda o tribunal, nos termos gerais do art. 36/2, fazer um balanceamento entre os interesses das partes, ou seja, entre o
prejuízo que a execução causará ao devedor e o prejuízo que a não execução causará ao credor. Será deferido o requerimento do
devedor apelante se o "saldo" lhe for negativo, mas desde que realize a prestação de caução em prazo fixado pelo tribunal (art. 647/
4 infine)

Vicissitudes subsequentes:
Se o devedor recorrente não requereu ou se não obteve efeito suspensivo da relação: bastará ao credor a extração de certidão de
sentença ou do traslado ( art. 649/1) para poder deduzir a sua pretensão no requerimento executivo.
Mas, proposta a execução, o executado recorrente pode, ao abrigo art. 704/5, obter suspensão do processo executivo, mediante
prestação de caução. → Não se trata de se obter a suspensão do efeito executivo da sentença, mas suspensão da marcha da
execução.
O pedido será deduzido nos termos do 734/2.
Aplica-se, devidamente adaptado, art. 733/3 - i.e., a caução suspensa prosseguirá se o recurso estiver parado durante mais de 30
dias, negligência do devedor em promover os seus termos - e o art. 650, n.º 3 e 4.
Tutela da posição do executado:
Enquanto a sentença estiver pendente de recurso, se o bem penhorado for a casa de habitação efetiva do executado (art. 704/4), a
suspensão será decretada se a venda for suscetível de causar prejuízo grave e dificilmente reparável. A venda da casa fica a aguardar
a decisão definitiva do recurso
Enquanto a sentença estiver pendente de recurso, não pode o exequente ou qualquer credor ser pago sem prestar caução – ver art.
839, nº1/a) e 3.

Nota final sobre as execuções provisórias:

A exequibilidade da sentença é provisória porque depende do efeito devolutivo. Em relação a recursos, aquilo que devemos saber é a
diferença entre recursos de revista e recurso de apelação. Quando se diz que o recurso tem um efeito devolutivo significa que
suspende a execução da decisão de primeira instância. Se se diz que tem efeito devolutivo, não suspende. A regra é que o recurso de
apelação tem efeito devolutivo e, portanto, quando existe apelação de um recurso devolutivo ainda existe uma decisão definitiva, e a
sentença é título executivo. Neste caso, como é que chegamos ao efeito devolutivo? Art. 647/1 CPC – é o art. que temos de analisar
quando estamos perante um caso de exequibilidade provisória. Existe uma remissão dos n.º1 e 2 do art. 604.º CPC para o art. 647.º
CPC. No art. 647.º CPC temos, então, de ver que efeito o recurso tem. Se o recurso tem efeito suspensivo não é título executivo. Se o
recurso tem efeito devolutivo é título executivo. Em regra, o recurso tem efeito devolutivo, os casos que temos de conhecer
especialmente são os recursos com efeito suspensivo porque são esses que, de alguma forma, podem criar alguma dificuldade nas
nossas respostas.

Uma alínea que tem bastante relevância é o n.º3 do art. 647.º CPC. Comparando este art. 647.º CPC com o art. 704/5 CPC, são
coisas totalmente diferentes. Quando falamos da suspensão do art. 647.º CPC estamos a falar da suspensão da decisão, da execução,
não se pode propor uma ação executiva. A eficácia da decisão na ação declarativa está suspensa. Podemos propor uma ação
executiva se houver recurso do efeito suspensivo? Não, não existe título executivo porque não tem efeito devolutivo, tem efeito
suspensivo. A questão que se encontra no n.º5 do art. 704.º CPC é diferente. O art. 704/5 CPC aplica-se aos casos em que não há
efeito suspensivo do recurso, há efeito devolutivo: o título executivo existe. No entanto, se a execução provisória for penhorada a
minha habitação, por exemplo, esta penhora não pode passar para a fase da venda a não ser que o exequente ou que o próprio
adquirente desta preste caução (art. 704/5 CPC). No art. 647.º CPC o que tem efeito suspensivo é o recurso que vai determinar a
existência do título executivo, no art. 704/5 CPC existe título executivo porque o recurso tem efeito devolutivo mas suspende-se a
execução. São coisas diferentes, num caso existe título no outro não. Quanto à caução, tanto para efeito suspensivo no recurso pode
ser prestada caução como também pode ser prestada caução para que ao abrigo do art. 604/5 CPC, o exequente não queira a
suspensão da venda do bem.

Em suma, no art. 704/5 CPC existe título mas o bem penhorado, por exemplo, é a casa, logo a suspensão é da execução. No art.
647/3, alínea b) CPC não existe título executivo porque o efeito tem recurso suspensivo. No art. 704/5 CPC é o executado que presta
a caução para a suspensão da execução, não a caução para a suspensão da eficácia da decisão da ação declarativa. No art. 647/4
CPC, quando se fala em prejuízo obrigação de valor muito elevado e em que exista a probabilidade daquela decisão ser revogada
pelos tribunais superiores. No art. 647/3 CPC quem presta caução é a parte a quem o efeito devolutivo prejudica, ao réu, pelo que
pratica o réu este efeito devolutivo porque ele não vê já no seu património a execução daqueles bens. A própria execução em si é um
resultado natural da eficácia da sentença. A questão é a de saber que termos é que a execução poderá criar ou não um prejuízo
considerável ao réu. Esse prejuízo será tão maior quanto menor for o património dele.

Assim:
No art. 647/3 CPC não há título executivo porque o recurso tem efeito suspensivo.
No art. 704/5 CPC existe título executivo mas suspendemos a execução, sempre havendo uma caução.

Devemos ter noção de que na ação executiva a execução é provisória porque é isso mesmo, provisória, o destino da execução vai
depender da decisão definitiva. Ora, pode acontecer que a execução fique sem efeito, que se anule todo o processado e que depois
se extinga a execução e isso pode levar, por exemplo, à anulação da venda que tenha sido feita. Da perspetiva do réu, os bens podem
estar a ser penhorados para que no futuro se venha a considerar que na verdade aquela execução nunca deveria ter acontecido.

Obtenção aparentemente desnecessária de ação declarativa:

Ao credor que disponha de título executivo diverso de sentença condenatória não está vedado a sua obtenção dessa sentença. Já
Lopes Cardoso escrevia que o emprego de processo de declaração, por parte de quem esteja munido de título com manifesta força
executiva é permitido, não importando nulidade. Notava Anselmo de Castro que isso pode suceder, essencialmente, com duas
finalidades: a primeira é a resolução de dúvidas sobre a existência e exequibilidade do título ou sobre a dívida, a segunda, a obtenção
de maior segurança formal. No primeiro caso, existindo as dúvidas sobre a existência e exequibilidade do título ou sobre o
incumprimento do seu crédito, o credor coloca ação condenatória para evitar correr o risco de um indeferimento liminar da ação
executiva ou da procedência da respetiva oposição à execução. No segundo caso, mesmo que lhe seja em absoluto desnecessária e
tenha em vista unicamente a vantagem da substituição do título inicial pelo mais completo e seguro da sentença condenatória, pode
pedir a condenação do devedor. No atual procedimento executivo alcançará algumas eventuais vantagens como a dispensa de
citação prévia e a redução dos fundamentos de oposição à execução (artigos 550.º, n.º2, alínea a) e 729.º CC). No entanto, há mais
razões, lícitas, que justificam o uso do meio declarativo. Assim, Lopes Cardoso e Remédio Marques apontam a obtenção de sentença
judicial contra o cônjuge que não figure como devedor no título, ao abrigo do artigo 34.º, n.º3, 2.ª parte CPC. E, por seu lado, Diogo
Pereira faz notar outros ganhos que podem levar o credor a procurar a condenação judicial: subida do valor da taxa de juro de mora
aplicável de civil para comercial (por invocação da relação subjetiva), possibilidade de registar hipoteca judicial (artigo 710.º CC) ou
aumento do prazo de prescrição da obrigação (artigos 309.º e 311.º CC), nomeadamente. O autor que, apesar de estar munido de
um título com manifesta força executiva, recorre ao processo de declaração terá, pois, direito a uma sentença de mérito, devendo
apenas ser condenado em custas, conforme impôs o n.º2, alínea c) do artigo 535.º CPC. Porventura, assim não será, no caso daquela
terceira finalidade, já que, na verdade, não tem título contra o cônjuge e dele carece.

Despachos judicias:

Exemplos de despachos condenatórios exequíveis: os que impõem multas à partes ou a testemunhas, condenem em indemnizações
ou fixem honorários de peritos, depositários, agentes de execução ou liquidatários judiciais. Estão também nesse caso as decisões
que ordenem providências cautelares que não sejam executadas nos próprios autos do procedimento cautelar (ver anotação do 373
do CPC anotado).

Decisões arbitrais:

Quanto às decisões dos tribunais arbitrais estão, quando proferidas no estrangeiro, sujeitas a revisão, nos termos da Convenção de
Nova Iorque sobre o Reconhecimento e Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras. Quando proferidas em território nacional,
estão sujeitas às regras da exequibilidade das sentenças dos tribunais judiciais de 1.ª instância. → Art. 705/2

Sentença homologatória:

Na categoria de sentenças condenatórias cabem as sentenças homologatórias, das quais são exemplos a sentença homologatória de
transacção ou confissão do pedido (290/3) e a decisão homologatória de partilha.
Caracterizam-se por o juiz se limitar a sancionar a composição dos interesses em litígio pelas próprias partes, limitando-se a verificar
a sua validade enquanto negócio jurídico. Por esta razão, estas sentenças foram qualificadas como títulos executivos parajudiciais ou
títulos judicias impróprios, em oposição às sentenças propriamente ditas.
ANSELMO DE CASTRO define os títulos executivos parajudicias como aqueles que, formando-se num processo – ou seja, de carácter
formalmente judicial – não procedem de uma decisão judicial, mas antes de um acto de confissão expressa ou tácita das partes.
À distinção destes dois tipos de título executivo, segundo ANSELMO DE CASTRO, correspondem duas especialidades de regime:
- Por um lado, a oposição à execução da sentença homologatória de conciliação, confissão ou transacção é possível com maior
amplitude do que a oposição à sentença judicial propriamente dita, pois nela se pode invocar qualquer causa de nulidade ou
anulabilidade desses actos (729/i);
- Por outro lado, a sentença homologatória proveniente de tribunal estrangeiro não teria de ser objecto de revisão e confirmação por
um tribunal português, devendo ser equiparada aos títulos estrangeiros extrajudicias, que dela não carecem.
Em face do direito português, esta qualificação não é de adoptar. Na lógica da sua definição, ANSELMO DE CASTRO considerava
também título executivo parajudicial, entre outros, a sentença de condenação provisória do réu (fundada na confissão expressa, ou
na simples admissão, da autoria da assinatura do doc. em que se baseasse a acção). Está igualmente na lógica daquela definição
considerar título executivo parajudicial toda a sentença (ou despacho) proferida por via dum efeito cominatório pleno (716/4, 773/4
e 777/3, 791/4).
Por seu lado, a sentença homologatória constitui, no nosso direito, uma sentença de condenação como as restantes, sem prejuízo de
os actos dispositivos das partes que a determinam estarem, como negócios jurídicos do direito civil, sujeitos a um regime de
impugnação que não se confunde com o da sentença homologatória, da qual resulta o efeito de exequibilidade. Ter em conta, em
sede de acção declarativa, o 291/2 e, em sede de acção executiva, o 729/i.

Simples declaração judicial do direito:

Quando a sentenla tem por objecto o reconhecimento de certo direito a uma prestação. LOPES CARDOSO admite que a mera
declaração judicial da obrigação possa ser executada.
Há uma aparente incoerência do sistema, pois, de um lado, concede valor executivo à recognição extrajudicial da dívida e, do outro,
nega-a à simples apreciação judicial decorre, pois, de a sentença de simples apreciação não constituir materialmente meio de
cobrança de créditos para os efeitos do art. 817 CC.

Sentença estrangeira:

É exequível por força do art.703/1/a), mas só depois de revisão e confirmação pelo competente tribunal da relação (arts. 706 e 969),
visto que só depois de confirmada é que têm eficácia em Portugal (art.978/1). A confirmação é assim necessária, com a única
ressalva da sua invocabilidade em tribunal como meio de prova, a apreciar livremente pelo julgador (978/2).
Requisitos da confirmação, segundo o art. 980:
- O trânsito em julgado da sentença, segundo a lei do país onde foi proferida (al.b). Pelo que não é possível a execução provisória de
uma sentença estrangeira pendente de recurso;
- A não ocorrência de competência internacional exclusiva dos tribunisl portugueses (63), nem fraude à lei que tenha provocado a
competência do tribunal estrangeiro (al.c);
- O respeito pelo direito de defesa e a observância dos princípios do contraditório e da igualdade de armas (al.e);
- A ininvocabilidade da excepção de litispendência ou de caso julgado com fundamento na afectação da causa a um tribunal
português (al.d);
- A não contradição da decisão com a ordem pública internacional portuguesa (al.f)
O âmbito de aplicação dos preceitos da lei portuguesa sobre a revisão das sentenças estrangeiras encontra-se reduzido em
consequência do Regulamento de Bruxelas I e da Convenção de Lugano, que estabelecem que o reconhecimento automático das
sentenças proferidas noutro Estado da União ou, no caso da Convenção, noutro Estado Contratante, sem quaisquer formalidades.
Delas conhece qualquer tribunal perante o qual a decisão seja invocada a título incidental, i.e., como resolução duma questão prévia
de que dependa a decisão a proferir ou para dedução da excepção de caso julgado. Se for invocada a título principal, pode a parte
interessada, no regime do Regulamento, requerer ao tribunal que o Estado-Membro haja indicado à Comissão que declare não haver
motivos para recusar o reconhecimento, o mesmo podendo fazer a parte interessada na recusa. A decisão só não será reconhecida
nos casos em que seja contrária à ordem pública, ofenda os direitos de defesa, seja inconciliável com outra decisão ou haja
inobservância de normas de competência.
No regime do Regulamento N.º 44/2001, a execução de sentença proferida por um tribunal dum Estado da UE ou de outro Estado
Contratante da Convenção de Lugano sobre matéria não excluída e que tivesse força executiva no Estado em que houvesse sido
proferida devia ser precedida de declaração de executoriedade, a emitir a requerimento de qualquer interessado, por tribunal de 1.ª
instância português. Este regime mantém-se na Convenção, mas o Regulamento dispensa a declaração de executoriedade. Assim, a
decisão proferida num Estado-Membro e que nele seja exequível pode ser executada e fundar medidas cautelares em outro Estado
da UE, em conformidade com a lei deste Estado.
CATEGORIAS DE TÍTULO EXECUTIVO

DOCUMENTOS PRIVADOS

Podemos ter:
- Documentos exarados e autenticados em notário - Art. 703/1/b),
- Títulos de crédito – Art. 703/1/c).

DOCUMENTOS AUTÊNTICOS OU ATENTICADOS

(Art. 703/1/b))

Um documento exarado ou autenticado por notário é um título extrajudicial, pois não se produz em juízo. Ele emerge de um negócio
jurídico. Ou seja, é título executivo um documento com termo de autenticação e escrituras públicas. Por serem exarados por notário,
são documentos autênticos, incluindo-se aqui o testamento e a escritura pública.

Documentos autênticos e documentos particulares autenticados:

a) No plano formal:
Escrituras, testamentos públicos, testamentos cerrados (art. 383, 384, 386 e 387 CC);

b) No plano material, pode ser:


- Um título constitutivo (ex: contrato de mútuo de valor superior a 25k, art. 1143CC, contrato de compra e venda de coisa imóvel, art.
875CC),
- Um título recognitivo da obrigação (ex: confissão do ato ou facto que constituiu a dívida, nos termos dos arts. 352, 358/2 e 364º CC,
ou reconhecimento de dívida, nos termos do art. 458 CC)

Estes actos jurídicos têm que ser formalmente válidos, ou seja, têm que respeitar a forma legal, assim como a formalidade de
aposição de assinatura do autor do acto.

Tanto pode ser o original, como a sua cópia, consoante o tipo de entrega do requerimento executivo (art. 724/4/a)).

A constituição ou reconhecimento da obrigação deve ser expressa ou implícita?


- Título executivo recognitivo apenas serve para executar as obrigações que reconhece;
- Título executivo constitutivo tem força executiva de todas as obrigações que enuncia expressamente, bem como de todas as
obrigações do tipo legal não enunciadas

Os documentos da al. b) não podem servir para executar obrigações que não constituem, nem reconhecem.

Testamento:

Será título quando nele o testador assume uma dívida ou constitui uma dívida. Para ser título tem de se verificar a aceitação da
herança pelo sucessor, sendo que a aceitação constitui condição de transmissão da dívida e, portanto, fundamento da legitimidade
passiva do sucessor para a execução. Esta aceitação tem de ser alegada e provada pelo exequente (art. 54/1 e 715/1).

Quanto ao que é título, ou seja, se o título é a aceitação ou se o título é o testamento, discute-se:


- LEBRE DE FREITAS: O título executivo é o testamento e nunca poderá ser a aceitação;
- RUI PINTO: Entende que o título é a aceitação porque é ela que permite a constituição válida do título. É a aceitação que confere
legitimidade ao sucessor.

Isto impõe-se por uma questão de legitimidade. No entanto, para que possa ser título executivo o testamento tem de ser válido
formal e materialmente. Se não for não é título executivo. Contudo, o reconhecimento de dívida nele imposto será sempre válido
porque para um reconhecimento apenas basta a forma escrita. Nestes casos, há que ver se não há nenhum título escondido como
seja uma garantia real. Contudo, esta garantia tem de estar registada pois aqui o registo tem efeito constitutivo. Isto porque, por
exemplo, uma hipoteca será sempre feita por escritura pública que constitui documento exarado por notário e logo entra no art.
703/1/b).
a. Para fins de legitimidade, e no caso de o testamento ser válido, pelo art. 54/1, os legatários só respondem nos termos do seu
legado.
b. O O art. 744 concretiza o art. 2098 CC (se um bem pertencer ao património de um herdeiro, mas esse bem não advier da herança
em causa, à partida, este bem não vai responder pelas dívidas da herança. Nestes casos, o herdeiro tem de se opor à penhora (art.
744/c)).

Regime especial da execução de obrigações futuras (art. 707):

Para efeitos do art. 703/1/b), o doc. privado deve importar a constituição ou reconhecimento de qualquer obrigação pelo
próprio título.

Art. 707 admite que docs. autênticos ou autenticados sirvam de título executivo a obrigações futuras, i.e., obrigações que
o título não constitui ou reconhece.

O art. 707 é um caso especial do art. 703/1/b), por admitir obrigações futuras.

Os requisitos que devem ser cumpridos para que docs. autenticados tenham força executiva de obrigações que não O art. 707 respeita à exequibilidade
extrínseca das obrigações, pelo que se
constituem ou reconhecem são: não for junto o documento suplementar
não existirá título executivo.

 convencionarem prestações futuras ou preverem a constituição de obrigações futuras; 1.ª parte do artigo: referente a
 devem ser acompanhados de prova complementar do título de que, quanto às primeiras, alguma prestação obrigações futuras:
(pecuniária, de facto ou entrega de coisa certa) foi realizada para conclusão do negócio, ou de que, quanto às
A relação negocial de onde emergem já
segundas, alguma obrigação foi constituída na sequência da previsão das partes. se encontra constituída;

2.ª parte do artigo: referente às


A obrigação futura stricto sensu - é a que decorre de um contrato que as partes se obrigaram no título executivo a obrigações virtuais-
constituir.
Aqui a relação negocial ainda não está
constituída e pode não se constituir.
Prova complementar do título → Deve ser feita por doc. passado em conformidade com as cláusulas constantes do doc.
exequendo (ex: extractos de conta-corrente ou outros documentos contratuais) ou, sendo estas omissas, por doc.
revestido de força executiva própria (ex: letras e livranças, ambas necessitam de reconhecimento notarial para servir de
prova complementar da obrigação futura titulada, p.e., em hipoteca).
Vejamos, do título (contrato de abertura
de crédito) apenas decorre a obrigação
RUI PINTO segue LEBRE DE FREITAS e entendem que se fala de títulos que configuram contratos promessa ou contratos
de pagamento das comissões, uma vez
preparatórios de contratos reais quoad constitutionem – contrato de promessa de mútuo, comodato e de depósito (que que esta é a única obrigação que se
só se constituem com a entrega). constitui no momento da celebração do
contrato. No que concerne às obrigações
de reembolso e de pagamento de juros
O exemplo mais paradigmático é a promessa de empréstimo bancário, quando o particular acorda com o banco: o remuneratórios, há que juntar um outro
documento que prove que efetivamente
contrato de abertura de crédito.
o montante foi requerido. O banco terá
de provar que entregou a quantia pedida
A constituição de obrigações futuras tem, geralmente, aplicação nos contratos de abertura de crédito. pelo mutuário. É este documento que vai
conferir exequibilidade extrínseca às
↓ obrigações de reembolso e de pagamento
Estes contratos, correspondem a uma promessa de mútuo decorrendo daqui as seguintes obrigações: dos juros remuneratórios. Se este
documento não for junto, o banco apenas
1. Banco (mutuário): obrigação de disponibilizar o crédito; poderá pedir o pagamento das comissões
2. Mutuante: pelo capital imobilizado
a. Pagar as comissões devidas pela imobilização do montante disponibilizado pelo banco. São indexadas à totalidade do
valor disponibilizado;
b. Reembolsar o capital efetivamente mutuado. Esta é uma obrigação que se constitui no momento da solicitação do
crédito, contudo a obrigação só se vence no final do prazo acordado.
c. Pagar os juros remuneratórios, que vão incidir sobre o capital efetivamente mutuado.

Este contrato, (caso conste de documento particular autenticado) é um título complexo, sendo a sua exequibilidade
apurada nos termos deste art. 707.

Podem, também, estar em causa contratos-promessa, contratos reais quoad constituionem ou contratos-quadro. Assim, no art. 707
temos três momentos:

O documento aqui elaborado tem de ser um documento extrajudicial,


e, ainda não há título, pois ainda não está constituída a obrigação
exequenda. Aqui apenas é elaborado o documento que, em conjunto
Elaboração do título com o documento elaborado no momento seguinte, revestirá força
executiva. Deste documento deve constar:
- Convenção de prestações futuras (obrigações futuras) ou previsão de
constituição de obrigações futuras (obrigações virtuais);
- Identificação dos documentos elaborados no momento seguinte que
podem complementá-lo.
É o momento da constituição da obrigação exequenda que deve poder
provar-se mediante o documento elaborado neste momento. Deste
Ocorrência de factos documento deve resultar:
relevantes para a obrigação - Alguma prestação que tenha sido realizada para a conclusão do
exequenda negócio, ou seja, deve resultar que o exequente realizou a prestação
respetiva; ou
- Alguma obrigação foi constituída na sequência da previsão das partes.
Este documento pode ser judicial ou extrajudicial.
O título será composto pelo documento elaborado no primeiro
Propositura da ação executiva / prova dos factos momento, juntamente com o título elaborado no segundo momento.
relevantes Salvas as hipóteses em que o documento elaborado no segundo
momento reveste força executiva.

Notas sobre o art. 707:

Situações em que um documento só por si não é título executivo, temos de o juntar a outros documentos e termos aquilo a que se
chama título integrado, composto ou compósito.

Estamos a falar de contratos que dão início a uma relação jurídica duradoura e desse contrato não resulta ainda a obrigação
exequenda, não está ainda incorporada a obrigação exequenda.

No contrato de abertura de crédito há quem lhe chame contrato de promessa de mútuo. O banco quando celebra o contrato de
abertura de crédito compromete-se a disponibilizar o dinheiro (prestação de imobilização, sendo esta que é paga). Banco
compromete-se a entregar esse dinheiro sempre que necessitar, mas tem de ter uma provisão para entregar ao outro mutuário.
Como é remunerada essa imobilização? Com comissões (de imobilização). É apenas isto que resulta do contrato de abertura de
crédito: o banco obriga-se durante determinado período de tempo a disponibilizar um determinado montante. O mutuário apenas
tem de solicitar. Quando se falam das obrigações deste: obriga-se a pagar a comissão de imobilização a partir do momento em que se
celebra o contrato de abertura de crédito e obriga-se também, havendo alguma solicitação, a correspondente entrega pelo banco,
neste caso, a quantia mutuada: o mutuário tem de restituir o capital e pagar juros remuneratórios. Temos, assim, três obrigações
exequendas diferentes:
 Pagar a comissão de imobilização: em relação a esta o contrato de abertura de crédito é título executivo que incorpora
esta obrigação. Esta constitui-se a partir do momento em que se celebrou o contrato.
 Reembolsar o capital: constitui-se no momento em que é incorporada no contrato de abertura de crédito;
 Pagar juros: constituiu-se no momento em que é igualmente incorporada no contrato de abertura de crédito.

Temos um contrato-quadro, que regula as obrigações no futuro, nas obrigações futuras em sentido estrito. No caso de contrato de
abertura de crédito, só é título executivo consoante a relação a estabelecer com o que está nele incorporado. Não se pode confundir
constituição de obrigação com vencimento de obrigação (uma coisa é dizer que ele está obrigado a pagar, outra coisa é dizer que ele
vai estar obrigado a pagar no dia X). Artigo 707.º e 715.º CPC levam para uma estrutura temporal tripartida:

 Abertura de crédito: título executivo em relação à comissão de imobilização;


 Factos relevantes: momento em que se constitua a obrigação exequenda;
 Momento em que se propõe a ação executiva.

Artigo 707.º CPC: se, no momento 3, alguém quer propor uma ação executiva, e quer executar a obrigação que se constitui no
momento 2, não pode apresentar apenas o documento 1, tem de juntar a esse um documento 2 que prove que naquela data (antes
da ação executiva e depois da abertura de crédito) se constituiu a obrigação exequenda. Isto em conjunto é que é título executivo.
Concluindo, este documento 2 tem de provar a constituição da obrigação exequenda. Esta constituiu-se através da
transferência/entrega desse dinheiro pelo banco ao mutuário, prestação essa que tem de se provar por prova documental pelo
exequente, não pelo executado. Este documento 2 pode revestir duas características:

 Ou ele próprio é título executivo;


 É passado em conformidade com as cláusulas do documento 1 (documento 1, no seu clausulado, tem de fazer referência a
como se complementaria com o documento 2).

A força executiva já existe, é o documento 1 que já tem força suficiente para se considerar exequível. Num contrato quadro todas as
obrigações que se constituem são obrigações que nascem desse contrato.

Declaração antecipada de não cumprimento:

Em face do título, a obrigação vencia-se em determinada data, mas, na verdade, a obrigação tornou-se exigível antes da propositura
da ação executiva porque houve uma declaração antecipada de não cumprimento. Isto não tem nada a ver com o artigo 713.º CPC
pois esse artigo reporta-se às situações em que a obrigação exequenda não é certa, exigível ou líquida quando se propõe a ação
executiva, sendo necessário torná-la, depois do momento 3, certa, exigível e líquida. O artigo 714.º CPC tal como o artigo 713.º CPC
reportam-se a situações posteriores ao momento 3. No caso, estamos a falar do artigo 715.º CPC: aplica-se a situações em que a
obrigação se torna certa, exigível ou líquida na fase 2. Aqui estamos a aplicar o artigo 715.º CPC analogicamente, reporta-se apenas a
situações em que se verificaram condições antes da propositura da ação executiva e às situações em que o exequente cumpriu a sua
prestação para efeitos de depois não ser invocada a exceção de não cumprimento. Logo estamos a aplicar analogicamente o artigo
715.º CPC a todos os casos em que no momento 2 a obrigação se torna certa, exigível ou líquida naquela fase.
Problema: temos de provar que a obrigação se tornou certa, exigível ou líquida no momento 2. O exequente teria de provar a
exigibilidade (qualquer meio de prova, não tem de ser prova documental, pois não estamos a formar o título, estamos apenas a
complementá-lo). Como a prova terá de ser testemunhal pelo declaratário da declaração de não cumprimento teremos de chamar o
juiz, pois haverá efeito cominatório pleno.

O artigo 707.º CPC temos documento 1 (documento mãe), que tem de revestir os requisitos de exequibilidade do artigo 703.º, n.º1,
alínea b) CPC e depois poderia ser complementado com um documento nesta fase, logo naquela data ele ainda não é título
executivo, apenas se torna título executivo quando justamos o documento 2 (este para complementar o 1 tem de revestir 1 de duas
características:
 Ou ele próprio é título executivo; ou
 Então é um documento ao qual o documento 1 faz referência, em conformidade com as cláusulas dele constantes.)

No caso, temos obrigações virtuais pois num contrato de abertura de crédito a própria solicitação é eventual, não estaria obrigado a
exigir aqueles montantes. O artigo 707.º CPC aplica-se tanto no caso em que temos obrigações virtuais tanto nos casos em que
temos obrigações futuras em sentido estrito: exemplo, quando penhoramos salários, penhoramos créditos, nesse caso estamos a
penhorar um crédito que é futuro porque ainda não é exigível, mas é um crédito futuro em sentido estrito porque a relação negocial
da qual resulta aquele crédito já existe. Aqui temos um crédito futuro em sentido estrito, o crédito é futuro, ainda não se constituiu,
mas a relação negocial da qual emerge já existe. Ao falar-se em qualquer crédito a ter no futuro, estamos a dizer que ele é virtual ou
futuro em sentido amplo, porque ele ainda não se constituiu nem sequer se constituiu a relação negocial da qual ele emerge, vai
constituir-se no futuro, eventualmente. Isto é importante porque o artigo 707.º CPC abrange estas duas situações, tanto os créditos
futuros em sentido estrito, como os créditos futuros em sentido amplo ou virtual.

Documentos privados estrangeiros

Não carecem de revisão para serem exequíveis em Portugal (706/2), mas devem ser objecto de legalização. Esta legalização tem
lugar, para docs. autênticos e autenticados, mediante o reconhecimento da assinatura do oficial público que os emitiu ou autenticou
pelo agente diplomático ou consular português, no Estado respectivo (440/1). Só é dispensável – para além dos casos abrangidos por
regulamento comunitário ou por convenção aprovada e ratificada pelo Estado Português, como é o caso do Regulamento de Bruxelas
I, da Convenção de Haia e da Convenção de Lugano - quando a autenticidade for manifesta. O reconhecimento não é obrigatório, em
sede de prova, senão quando haja fundadas dúvidas sobre a autenticidade do documento (365/2 CC).

Para os títulos de crédito é igual. Para serem exequíveis carecem de reconhecimento notarial da assinatura do subscritor (440/2).

Notas:
- Regulamento Bruxelas I: Também dispensa a declaração de executoriedade.
- Convenção de Haia: O reconhecimento de documentos exarados num dos Estados outorgantes, que se pretendam fazer valer em
outro Estado outorgante, é feito através de uma apostilha (certificação da autenticidade de atos públicos), a emitir por uma entidade
pública do Estado de origem por este designada – em Portugal, é a PGR). Da articulação desta Convenção com o Regulamento
Bruxelas I e a Convenção de Lugano, resulta que os documentos autênticos carecem da declaração de executoriedade para o efeito
de fundarem a acção executiva, sempre que possam fundar uma acção executiva no Estado em que foram exarados, sem prejuízo de
carecerem da apostilha, quando se pretenda fazê-los valer como simples meior de prova e ainda quando não constituam título
Executivo no Estado de origem.
- Convenção de Lugano (art.57): os documentos autênticos exarados num Estado contratante, de acordo com os requisitos de
autenticidade nele estabelecidos, e que aí revistam natureza de título executivo, podem fundar uma execução em outro Estado
contratante, mesmo que aqui não fosse exequíveis, após a emissão, neste Estado, da declaração de executoriedade, a emitir, a
requerimento de qualquer interessado, nos mesmos termos que a declaração de executoriedade das sentenças. Esta declaração só
pode ser negada, se a execução for contrária à ordem pública internacional do Estado requerido.
- Regulamento Bruxelas I: Também dispensa a declaração de executoriedade.

Documentos recognitivos

Documentos autênticos também constituem título executivo quando deles conste o reconhecimento, pelo devedor, de uma
obrigação pré-existente. O reconhecimento pode ser a confissão do ato que constitui a dita obrigação (artigos 352.º, 358.º, n.º2 e
364.º CC) ou, através do reconhecimento de dívida (artigo 458.º CC).

TÍTULOS DE CRÉDITO

Art. 703/1/c))

Art. 703/1/c) → Exequibilidade aos títulos de crédito que, ainda meros quirógrafos, desde que, neste caso, os factos constitutivos da
relação subjacente constem do próprio documento ou sejam alegados no requerimento executivo.

Em concreto, são títulos executivos: o cheque, a letra, a livrança e o extracto de uma factura.
 A letra contém uma ordem pura e simples de pagamento, emitida pelo emitente ou sacador contra um
sacado que, em caso de aceite, deve pagar ao tomador o valor constante do título (art. 1 LULL).

 A livrança contém uma promessa pura e simples de pagamento, realizada por um subscritor ou devedor
que se compromete a pagar à ordem do seu credor uma determinada importância (art. 75 LUC).

 O extracto de factura é um título de crédoto à ordem que é representantivo de um crédito proveniente de


uma compra e venda mercantil a prazo realizada entre comerciantes e que é obrigatoriamente emitido
sempre o preço não seja representado por uma letra.

 O cheque contém uma ordem pura e simples de pagamento, emitida pelo emitente ou sacador contra um
banco, para que este pague uma determinada importância ao beneficiário ou tomador (art. 1 LUC).

Quanto ao cheque, alguma jurisprudência (minoritária) nega-lhe exequibilidade, com o argumento de que ele mais não é do que
uma ordem de pagamento. Contudo, esquece-se que a entrega ao portador ou o preenchimento à ordem tem implícita a
constituição ou o reconhecimento de uma dívida, a satisfazer através da cobrança de um direito de crédito (cedido), contra a
instituição bancária. De salientar que é exigível o seu total preenchimento, incluindo a datação, para que possa valer como tal. O STJ
decidiu ser imprescindível a apresentação do cheque a pagamento no prazo de 8 dias, sem a qual não pode funcionar como título
executivo (Ac. Do STJ de 14/6/1983, BMJ, 1983).

Só é exigido o reconhecimento da assinatura do devedor no título de crédito quando ele não saiba ou não possa ler, sendo então
assinado a rogo. Fora deste caso, o reconhecimento, por notário, da assinatura, do devedor tem a utilidade de obstar ao pedido de
suspensão da acção executiva pelo executado que alegue a não genuinidade da assinatura.

Quando se fala em títulos de crédito há que ter presente que neles coexistem duas relações distintas:

• Relação cartular;
• Relação subjacente.

Elas coexistem, não se anulando. Quando a relação cartular está ativa a subjacente permanece inativa e, quando a cartular se
extingue a relação subjacente fica ativa.

Nos títulos de crédito, não há novação pois enquanto a relação cartular está ativa, a relação subjacente está adormecida. Após a
relação cartular prescrever o título de crédito continua a poder valer como título executivo na sua forma de quirógrafo.

• Ao se apresentar o título como quirógrafo, o que se está a executar é a relação subjacente;


• Se for apresentado como título de crédito o que se está a executar é a relação cartular.

A relação subjacente prescreve ao fim de:

• 3 anos: caso seja uma relação extracontratual;


• 20 anos: caso seja uma relação contratual.

A prescrição tem de ser invocada na oposição à execução.

Quirógrafo: documento particular de reconhecimento de dívida. Neste está sempre um causa a relação subjacente.

Quando dos títulos prescritos não conste a causa da obrigação há que distinguir consoante a obrigação a que se reporta emerja ou
não de um negócio jurídico formal:

• Emerge de um negócio jurídico formal: sendo a causa do negócio um elemento essencial do mesmo, o documento não constitui
título executivo (artigos 221.º, n.º1 e 223.º, n.º1 CC);
• Não emerge de um negócio jurídico formal: a autonomia do título em face da obrigação exequenda e a consideração o regime de
reconhecimento de dívida leva a admiti-lo como título executivo, sem prejuízo de a causa da obrigação ser invocada no requerimento
executivo e poder ser impugnada pelo executado.

Se o exequente não a invocar, ainda que a título subsidiário no requerimento executivo, não pode fazê-lo posteriormente na
pendência do processo, após a verificação da prescrição da obrigação cartular e sem a concordância do executado (artigo 264.º CC).
Tal implicaria a alteração da causa de pedir.

Assim, temos:

• Relações imediatas: entre o credor e devedor originário;


• Relações mediatas: quando temos endosso.
• O endosso, enquanto transmissão originária do título de crédito, vai criar uma relação imediata (originária) entre quem endossa e o
endossado e uma relação mediata entre o endossado e o credor originário.

Do cheque em especial:

Temos três sujeitos e consiste na seguinte estrutura:


o Banco: sacado;
o Cliente: sacador;
o Terceiro: beneficiário do cheque.

O saque é a ordem de pagamento dada pelo cliente ao Banco para que este pague ao terceiro. Constitui a relação cartular e acontece
quando o sacador assina o cheque. (Não há aceite porque esse é dado aquando da emissão do cheque). O beneficiário do cheque
pode, posteriormente, endossar o cheque a outro.

Há que ter em atenção o prazo de 8 dias (artigo 29.º, n.º1 Lei Uniforme sobre o Cheque) para apresentar o cheque a pagamento. Ver
ainda o prazo do artigo 52.º, n.º1 LUC. Se estes dois passarem o cheque está definitivamente prescrito como título de crédito.

Quando o cheque é apresentado a pagamento após estes oito dias, temos de verificar se foi ou não revogado:

• Se foi revogado: cessa a relação cambiária e passa a valer como quirógrafo;


• Se não foi revogado e foi apresentado fora do prazo, aplica-se o regime do artigo 32.º LUC.

Para PAULO OLAVO CUNHA continua a poder ser usado como título executivo, contudo já não se pode deitar mão da relação
cambiária.

Assim:

Tendo em atenção ao artigo 703.º, n.º1, alínea c) CPC, isso traduz-se em que na:

1. Primeira parte da norma: o cheque é título de crédito até aos 8 dias (A), sem qualquer sombra de dúvidas
e, depois dos 8 dias e até aos 6 meses (B), será necessário intentar ação cambiária (artigo 52.º LUC).
2. Segunda parte da norma: os cheques deixam de ser títulos de crédito, mas continuam a ser quirógrafos
(documentos particulares).
• E depois dos 6 meses (ø)? A doutrina divide-se:
• EURICO LOPES CARDOSO: o cheque prescreveu, servindo apenas como prova se o negócio não
estiver sujeito a forma;
• LEBRE DE FREITAS: tem de ser alegado pelo autor e provada a relação subjacente;
• PAULO OLAVO CUNHA + RUI PINTO: não é título de crédito.

Portanto, só pode valer como quirógrafo se reunir determinadas condições:

1. Assinatura do devedor (requisito formal);


2. Estarmos no domínio das relações imediatas (requisito material subjetivo);
3. O exequente ter alegado a relação material subjacente (causa do cheque), que deve ser minimamente
demonstrada para se evitar um indeferimento liminar por falta de aparência mínima do facto constitutivo
do direito (requisito material objetiva n.º1).
4. A relação subjacente não exigir requisitos de forma mais solenes que o cheque, sob pena deste servir para
provar algo que apenas poderia ser provado por documento com força probatória mais elevada.

Em resumo, no que atende ao cheque:

Quando existe pagamento através de um cheque constitui-se uma nova obrigação, temos uma obrigação emergente da relação
subjacente que, quando se emite ou faz o saque de um cheque, constitui-se uma nova obrigação (obrigação cartular ou cambiária).
Quando se emite um cheque não existe novação. Ao emitir-se um cheque está-se, agora, a ficar vinculado a duas obrigações: a
obrigação da relação cartular e a obrigação da relação subjacente (são obrigações distintas).

Isto significa que há um acordo entre o sacador e beneficiário do cheque onde o portador/beneficiário do cheque se vai fazer pagar
por um cheque e, portanto, este vai exigir ao sacador que lhe pague a obrigação cartular e a obrigação subjacente (ao pagar a
obrigação cartular extingue-se a obrigação subjacente por cumprimento).

É relevante a ideia de que não existe novação porque poderemos ter determinadas vicissitudes com a relação cartular e pode levar à
sua extinção e depois vamos fazer renascer a relação subjacente. Quando se emite um cheque a relação subjacente fica adormecida
e esta vai-se acordar quando existe alguma vicissitude de uma obrigação cambiária – é isto que temos no artigo 703.º, n.º1, alínea c)
CPC.

Poderemos ter um cheque que para efeitos de exequibilidade pode ser um título executivo enquanto título de crédito ou enquanto
mero quirógrafo – quando é título executivo enquanto título de crédito a obrigação exequenda é a obrigação cartular (existe aqui
aquilo que se designa de ação cambiária – regulada na LUC); quando já não existe obrigação cambiária, mas a extinção da mesma
não se tenha devido ao cumprimento, por comprovação vamos fazer renascer a obrigação subjacente. Quando temos um cheque
como quirógrafo a obrigação exequenda é a obrigação da relação subjacente.

É importante falar aqui da incorporação da obrigação exequenda porque num determinado momento temos um papelinho que
incorpora a obrigação cartular e a partir de determinado momento temos de ter um papel que vai incorporar outra obrigação. Se for
proporá uma ação executiva em que se apresenta um cheque como título de crédito (porque não se indica a relação subjacente), e se
o executado dizendo que o cheque está prescrito, o exequente, não pode alegar “que se use, então, como quirógrafo” porque estaria
a fazer uma alteração da causa de pedir (e esta, durante o processo, só pode ser feita por acordo da contraparte). Aqui era necessário
que houvesse a distinção desta ação executiva (procedência da oposição à execução) e iniciava-se uma nova ação executiva em que o
cheque valia como quirógrafo.

Temos sempre a relação subjacente e temos a obrigação emergente da relação subjacente e a obrigação da obrigação cartular.
Quando o sacador emite um queque ele não extingue a obrigação subjacente, e essa pode ser útil para o futuro porque pode existir
alguma vicissitude com a obrigação cartular (exemplo, revogação do cheque e prescrição da obrigação cartular). É o facto de não
existir novação que permite que o cheque possa valer como quirógrafo.

Artigo 703.º, n.º1, alínea c) CPC isso plasma: o cheque como título de crédito é sempre exequível, é um documento particular
exequível. São exequíveis, permitem o recurso a uma ação cambiária, por essa razão, tendo em conta a supressão dos documentos
particulares e da exequibilidade dos documentos particulares, cada vez mais se vai assistir a um renascimento da utilização dos
títulos de crédito, porque é o único documento particular que não é necessário a intervenção do notário ou de alguém com
competência para tal de modo a que se atribua exequibilidade ao documento.

É frequente que as pessoas passem um cheque pré-datado: o cheque, ao contrário dos outros títulos de crédito, é um crédito
pagável à vista. O que significa que se o beneficiário apresentar o cheque a pagamento no dia seguinte ou posterior a esse, o cheque
tem de ser pago, independentemente da existência da existência de fundos que se encontrem no banco (não existindo fundos,
passou-se um cheque sem provisão). Mas houve, aqui, um acordo em que aquela pessoa só apresentava o cheque a pagamento
depois daquela data. Isso é um problema de relação subjacente e não de relação cartular. Logo, independentemente disso, aquele
cheque pode dar início a uma ação executiva, apesar da data ainda não ter decorrido.

Ao contrário dos outros títulos de crédito com o cheque temos uma relação triangular: na letra e na livrança não é, porém,
necessária esta estrutura triangular. Quando se fala do cheque temos o sacado, ao contrário do que acontece na letra, o sacado é
sempre um banco e, ao contrário do que exista na letra, também, não existe aceite porque este está incorporado no próprio cheque
que o banco entrega ao cliente.

No caso temos o sacador como cliente e o beneficiário (entre o sacador e o banco existe a convenção de cheque, nos termos da qual
o banco se obriga a pagar a um terceiro, beneficiário, se o sacador lhe der uma ordem para isso através do saque do cheque. Da
relação entre o sacador e o Banco (sacado) resulta que este, em regra, só paga se houver fundos: este não está obrigado a pagar se
não existir fundos na conta bancária do sacador.

Um cheque incorpora uma ordem de pagamento, como uma letra, e, ao contrário de uma livrança, que já não incorpora uma ordem
de pagamento mas, sim, uma promessa de pagamento. O acordo entre o beneficiário e o sacador incorpora uma ordem de
pagamento onde o sacador diz que vai pagar através de cheque. Há uma ordem, então, de pagamento do sacador ao sacado (o
banco).

Resumindo, é cheque como título de crédito quando incorpora uma obrigação cambiária, e só é título executivo desta forma quando
a obrigação cambiária ainda exista e seja exigível.

Se o cheque se encontrar prescrito já só vale como quirógrafo. O último responsável é sempre o sacador

O título de crédito enquanto quirógrafo → Títulos prescritos

Os títulos de crédito, ainda que meros quirógrafos, são TE (art. 70371/c)), i.e., ainda que se encontrem prescritos.

Relativamente aos prazos de prescrição, há a considerar:


- Art. 52/1 LUC: 6 meses a partir do prazo da apresentação do cheque;
- Art. 70/1 e 77 LULL: 3 anos a contar da data do vencimento da letra ou da livrança.
Para se compreender este regime, importa ter presente que um título de crédito consubstancia uma relação cartular e que esta
corresponde, normalmente, uma relação subjacente - p.e., a que decorre de um contrato de compra e venda. Neste contexto, se os
títulos de crédito, ainda que meros quirógrafos, são títulos executivos, isso implica que, mesmo que a obrigação cartular se encontre
prescrita e não possa ser executada, o título de crédito continua a ser TE em referência ao reconhecimento da dívida que ele titula.

Para que o título de crédito possa servir de título executivo, é necessário o preenchimento de algumas condições:

1. O exequente tem que invocar, no requerimento executivo, os factos constitutivos da relação subjacente (art. 724/1/e)). Disto
resulta que, quando o exequente utiliza um título de crédito rpescrito, a fonte da obrigação exequenda é a relação subjacente ( e não
a relação cambiária) e que aquele título vale apenas como meio de reconhecimento do correspondente débito ou promessa
unilateral da prestação. Este reconhecimento implica que o credor, apesar de não ficar dispensado de alegar a relação fundamental,
fica dispensado de a provar, dado que é o executado que, em embargos de executado, tem o ónus de demonstrar a não constituição
ou existência da dívida (art. 728/1, 731 e 856/1).

2. Tem que estar no plano das relações imediatas, i.e., das relações entre o credor e o devedor originários. Preenchida esta
condição, é irrelevante que o cheque tenha sido emitido ao portador. Segundo Pedro Pais de Vasconcelos, cada endosso é um novo
saque, porque ao contrário da cessão de créditos, não se transmitem créditos cartulares: esses constituem-se com o endosso, há
sempre um novo saque e como tal há sempre uma nova relação subjacente. O problema é, assim, de legitimidade. Note-se que
relações imediatas não têm de ser relações de saque original. Existem entre cada um deles, porque cada um deles tem um titulo
subjacente.

3. O negócio subjacente não seja formal, i.e., não exija um documento como condição da sua validade. Dado que, normalmente, o
título de crédito não contém a causa da obrigação exequenda, esse título não pode susbtituir o documento que a lei exige para a
validade do negócio. O documento escrito é negócio formal, não é preciso que seja formal solene. Nunca pode ser sujeito aquela
forma porque senão estaríamos a usar um documento particular para titular uma obrigação subjacente que para ser formalmente
válida se exige escritura pública ou documento autenticado. Significa que sempre que tenhamos numa relação subjacente um bem,
ou um contrato que exija uma forma mais solene que a de documento particular, nesse caso um cheque nunca pode valer como
quirógrafo.

A circunstância de o título de crédito prescrito ser TE, desde que seja alegada a relação subjacente, permite a seguinte estratégia
processual do exequente: mesmo que este exequente considere que o título de crédito que utiliza como TE não se encontre
prescrito, esta parte não perde nada em invocar, no requerimento executivo, a relação subjacente (art. 724/1/e)), dado que esta
alegação obsta a que o executado possa invocar, em embargos de executado, a prescrição do título de crédito e a inexequibilidade do
TE (art. 729/1/a) e 731). Isto é: a alegação da relacção subjacente cobre a hipótese de o título de crédito se encontrar prescrito e
evita a inadmissibilidade da execução com fundamento na inexequibilidade desse título.

Linha jurisprudencial maioritária propugna que o credor possa executar já não a obrigação cartular mas a obrigação subjacente
fazendo uso do mesmo documento, agora como simples reconhecimento particular de dívida, nos termos do art. 458 CC.

Prescrita a obrigação cartular constante de uma letra, livrança ou cheque (pelo decurso do prazo prescricional, seguido da
manifestação de vontade do devedor no sentido de que pretende valer-se da prescrição), pode o título de crédito continuar a valer
como título executivo, desta vez enquanto escrito particular consubstanciando a obrigação subjacente, segundo o 703/1/c).

Quando o título de crédito mencione a causa da relação jurídica subjacente, o título prescrito vale como documento particular
respeitante à relação jurídica subjacente.

Quanto aos títulos de crédito prescritos dos quais não conste a causa da obrigação, há que distinguir consoante a obrigação emerja
ou não de um negócio jurídico formal.

 Se não emergir, uma vez que a causa do negócio jurídico é um elemento essencial deste, o documento não constitui título
executivo (221/1 e 223/1 CC).

 Se emergir, a autonomia do título executivo em face da obrigação exequenda e a consideração do regime do


reconhecimento de dívida (458/1) leva a admiti-lo como título executivo, sem prejuízo de a causa da obrigação dever ser
invocada na petição executiva e poder ser impugnada pelo executado. Se o exequente não a invocar, ainda que a título
subsidiário, no requerimento executivo, não será possível fazê-lo na pendência do processo, após a verificação da
prescrição da obrigação cartular e sem o acordo do executado (264), por tal implicar alteração da causa de pedir.

A invocação da causa da obrigação subjacente introduz esta como objecto do processo executivo, mesmo que ainda não tenha
prescrito a dívida abstracta.

RUI PINTO: Discorda. Não adere à tese do mero quirógrafo - que é dominante na doutrina. Considera que a assinatura da letra,
livrança ou cheque é somente constitutiva da respectiva obrigação. Atribuir-lhe uma vontade negocial ao subscritor de reconhecer a
dívida que deu causa ao acto, equivale a ultrapassar os limites objectivos inerentes ao título de crédito e os seus limites temporais.
Nada no título permite a afirmação expressa de uma vontade negocial de conhecimento da obrigação subjacente e assumir isso é
criar uma ficção. Para o Professor, o devedor, se quiser emitir o reconhecimento de dívida, recorre à figura do art. 458 CC.

Contudo:

A Reforma de 2013 pretendeu eliminar a polémica sobre este tema. Ressalvou como títulos executivos, no art. 703/1/c), os títulos de
crédito, ainda que meros quirógrafos, desde que, neste caso, os factos constitutivos da relação subjacente constem do próprio
documento ou sejam alegados no requerimento executivo. A aplicação concreta deste entendimento, ao qual RUI PINTO não adere,
deve ser feita com cuidado.

Assim, o exequente de título de crédito prescrito tem o ónus de alegação no requerimento executivo da relação de valuta. Essa causa
deverá ser demonstrada o suficiente para evitar um indeferimento liminar por falta de aparência mínima da existência do facto
constitutivo do direito (artigo 726.º, n.º2, alínea c) CPC).

Além disso, deve estar-se no domínio das relações imediatas, já que o putativo reconhecimento foi-o entre o sacador e o beneficiário,
e o negócio de valuta não pode ser solene. Se assim não também pode ter lugar indeferimento liminar nos termos do artigo 726.º,
n.º2, alínea a) CPC.

Por outro lado, o exequente não pode basear a execução no título prescrito e mais tarde convolar para execução de reconhecimento
de dívida. Isso porquanto a invocação da relação subjacente, em substituição da invocação da relação formal configura a invocação
de uma causa de pedir diferente da inicial.

Ora uma alteração superveniente da causa de pedir no estrito procedimento executivo apenas pode ser feita com o acordo do
executado, por força do artigo 264.º CPC. Na falta desse acordo, a convolação não pode ter lugar, sequer na oposição à execução pois
o autor nesta é o executado, o que impede o uso do artigo 265.º, n.º1 CPC atinente ao uso da réplica.
CATEGORIAS DE TÍTULO EXECUTIVO

DOCUMENTOS AVULSOS

Art.703/1/d) → Documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força executiva

Normas avulsas, situadas no próprio CPC ou em legislação geral, é importante apresentá-las, dada a sua heterogeneidade, fazendo
uso das categorias de títulos judiciais impróprios, particulares e administrativos.

Os títulos judiciais impróprios correspondem essencialmente a títulos produzidos ao termo de um procedimento de injunção ou
monitório, mas também a casos pontuais em que o título processual não contém uma condenação com valor de caso julgado, mas
tem, ainda assim, força executiva.

TÍTULOS INJUNTÓRIOS

Os títulos injuntórios enunciam um comando de cumprimento de uma obrigação, também conhecido por injunção, produzido num
procedimento contraditório de jactância ao devedor para cumprir ou impugnar o crédito alegado pelo requerente, sem valor de caso
julgado material. Se não contestar, nem pagar, entende-se que o requerido fez uma confissão de uma dívida.

Trata-se de um mecanismo de tutela sumária, apresentado restrições às garantias constitucionais, seja de defesa, seja de equidade
no plano da verdade material (menor exigência de prova), seja de estabilidade da decisão.

Esse procedimento, pode ser judicial ou administrativo, consoante seja da competência de um juiz ou de uma entidade
administrativa.

Características:

a. Do lado do autor, a obtenção do título consubstancia o exercício do direito de ação, coberto pelo artigo 20.º CRP;

b. Do lado do réu, garante o efetivo conhecimento do procedimento de formação do título, através da citação, e o direito de defesa,
imediata ou diferida;

c. Organicamente, o título incorpora um ato de autoridade judiciária ou de uma entidade administrativa com possibilidade de recurso
para um juiz;

d. Materialmente, o comando de atuação ao réu é uma cominação por este ter confessado expressa ou tacitamente (por falta de
contestação) a dívida.

Podem distinguir-se, usando uma sub-divisão concetual corrente em Itália entre:

a. Injunção pura: o credor deve alegar os factos constitutivos da sua pretensão mas não tem de os demonstrar; e

b. Injunção documental: o autor tem o ónus de alegar e provar os factos.

Além disso, a injunção tanto pode ser a estrutura de um específico procedimento, como pode ser uma solução para a revelia do réu,
no quadro de um procedimento não sumário – revelia com efeito cominatório pleno, i.e., sobre a própria procedência do pedido e
não apenas quanto aos factos. Adicionalmente, ao configurar-se como um meio de resolver a questão da omissão de contestação a
uma pretensão, a técnica da injunção pode ainda aparecer, sem autonomia formal, em qualquer tipo de ação, máxime, como modo
de produção de certeza jurídica sobre a qualidade/existência de um crédito dentro de uma execução, de que são exemplo os artigos
741/2, in fine, 773/3 e 792/3.

Processo de injunção (Decreto-Lei n.º 269/98, 1 setembro):

Entre nós, o uso da injunção para a produção de títulos executivos tem a sua expressão no Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de setembro,
alterado sucessivamente. Além dele, há ainda o incidente do despejo imediato previsto no artigo 14.º, n.º4 e 5 NRAU e o
requerimento de despejo não contestado em sede de processo especial de despejo, do artigo 15.º-E, n.º1, alínea a) NRAU, que
estudaremos mais adiante.
No Decreto-Lei n.º 269/98, a injunção é definida no seu artigo 7.º como a providência que tem por fim dar força executiva a
requerimento destinado a exigir o cumprimento das seguintes obrigações:

a. Obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior a 15 000 euros (artigo 1.º do diploma preambular ao
Decreto-Lei n.º 269/98);

b. Obrigações pecuniárias emergentes de transações comerciais abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 32/2003, de 17 de fevereiro,
independentemente do valor da dívida (artigo 7.º desse Decreto-Lei).

O artigo 3.º, alínea a) do Decreto-Lei n.º 32/2003, de 17 de fevereiro, define como transação comercial qualquer transação entre
empresas ou entre empresas e entidades públicas, qualquer que seja a respetiva natureza, forma ou designação, que dê origem ao
fornecimento de mercadorias ou ainda à prestação de serviços contra uma remuneração. Deste modo, trouxe-se em 2003 para o
âmbito da injunção as transações entre comerciantes, sejam empresas ou empresários em nome coletivo. A lei não distingue entre
obrigações pecuniárias cujo montante foi fixado por acordo das partes, daquelas em que tal não acontece.

Procedimentalmente, o credor deve começar por entregar o requerimento de injunção,

a. Por via eletrónica no Balcão Nacional de Injunções (artigo 5.º e seguintes Portaria n.º 220-A/2008, 4 de março);

b. Ou em suporte de papel, por correio, telecópia ou entrega direta (artigos 5.º, n.º2 Portaria n.º 220-A/2008), na secretaria ou do
tribunal do lugar do cumprimento ou do domicílio do devedor (artigo 8.º do anexo ao Decreto-Lei n.º 269/98, e artigo 5.º n.º3 da já
referida Portaria).

Segundo o modo constante do artigo 9.º do anexo ao Decreto-Lei n.º 269/98 e com o conteúdo e forma do artigo 10.º deste diploma.
O credor tem o ónus de alegar os fatos constitutivos do seu direito (artigo 10.º, n.º1, alínea d)), mas não de fazer prova, máxime,
documental, dos mesmos. Por isso, está-se perante uma injunção pura. Depois, a secretaria recusa (artigo 11.º) ou recebe. Neste
caso, deve proceder à notificação do requerido em 5 dias, para no prazo de 15 dias, pagar a quantia e taxa de justiça ou deduzir
oposição (artigo 12.º, n.º1, e 13.º). A notificação realiza-se por carta registada com aviso de receção, mas, se frustrada, passa-se à via
postal simples (artigo 12.º, n.º1 e 4 Decreto-Lei n.º 269/98). O mesmo sucede em caso de convenção de domicílio (artigo 12.º-A, n.º1
Decreto-Lei n.º 269/98) bastante frequente. O conteúdo dos elementos a notificar ao requerido está estabelecido no artigo 13.º, mas
ele não é informado da cominação de preclusão dos fundamentos de oposição à execução, em sede de artigo 729.º CPC. À
notificação é aplicável, com as devidas adaptações, o disposto nos artigos 223.º, 224.º, 228.º, n.º2 e 5 e 246.º CPC. Se o requerido
proceder ao pagamento da dívida e das custas (artigo 7.º, n.º4 RC), extingue-se o processo. Se nada fizer, tem lugar a oposição da
fórmula executória, sobre o suporte de papel (artigo 14.º, n.º1 Decreto-Lei n.º 269/98) ou por via eletrónica (artigo 12.º Portaria n.º
220-A/2008). O credor passa, assim, a dispor de um título judicial impróprio. Aposta a fórmula executória procede-se à devolução de
todo o expediente ao requerente em suporte de papel (artigo 14.º, n.º4 dito Decreto-Lei) ou à sua disponibilização por via eletrónica
(artigo 13.º Portaria n.º 220-A/2008). O credor poderá instaurar, de imediato, uma execução para pagamento de quantia certa não
carecendo de outros documentos que serviram de suporte ao processo de injunção para que tenha força executiva. Essa execução vai
correr com dispensa de citação prévia seja em sede de artigo 812.º-C, alínea b) anterior CPC, seja em sede de artigo 550.º, n.º2,
alínea b) CPC (processo sumário), o que corresponde à solução, revogada pelo artigo 15.º Decreto-Lei nº38/2003, de 8 de março, de
a execução do requerimento de injunção seguir a forma sumária da execução para pagamento de quantia certa. A lei no artigo 14.º
Portaria n.º 220-A/2008, de 4 de março, autoriza a que o exequente em vez de apresentar o original do requerimento de injunção, o
substitua, para todos os efeitos, por disponibilização ao tribunal da referência única prevista no n.º do artigo 13.º dessa Portaria,
juntamente com o número do procedimento em que foi aposta a fórmula executória. O tribunal ou o agente de execução podem
sempre consultar o título executivo na área de acesso público do endereço eletrónico oficial destinado a esse fim. O controlo de um
juiz está sempre garantido na injunção. Ele tanto pode conhecer de reclamação da recusa de recebimento (artigo 11.º, n.º2 anexo ao
Decreto-Lei n.º269/98), como de recusa de aposição de fórmula executória (artigo 14.º, n.º4 do mesmo anexo), como, em geral, de
qualquer questão sujeita a decisão judicial (artigo 16.º, n.º2 do mesmo anexo). A competência judicial injuntória é, assim, uma
competência de garantias. Se o requerido deduzir oposição ao requerimento de injunção e, bem assim, quando ocorra frustração da
notificação, após apresentação dos autos à distribuição (artigo 16.º) vai seguir-se, com as necessárias adaptações, a ação declarativa
condenatória na forma sumaríssima abreviada regulada nos artigos 1.º a 5.º do Anexo ao Decreto-Lei n.º269/98, sem prejuízo das
regras gerais subsidiárias, ex vi artigo 549.º, n.º1 CPC. Trata-se de uma ação em que o requerimento executivo vai valer como petição
inicial e a oposição do requerido como contestação. A principal especialidade é a ter a característica títpica da injunção de a falta de
contestação implicar que o tribunal confira força executiva à petição, a não ser que ocorram, de forma evidente, exceções dilatórias
ou que o pedido seja manifestamente improcedente (n.º2). A execução desta petição seguirá, também, sem citação prévia do
executado, por força do artigo 550.º, n.º2, alínea b) CPC, mutatis mutandis. Se a ação for até à sentença final, esta será
sumariamente justificada e ditada para ata (artigo 4.º, n.º7 do anexo). Repare-se na diferença desta ação perante a estrutura
subjetiva e a distribuição probatória na oposição à execução. Na injunção, o credor alega sempre os fatos constitutivos, mas, num
primeiro momento, tão só para suportar a sua pretensão injuntória, mas sem que o Balcão Nacional de Injunções possa controlar o
fundamento (artigo 11.º, n.º1 Anexo). Portanto, basta-lhe cumprir um ónus processual de fundamentação formal, estando
dispensado de um juízo de procedência ou de, pelo menos, de não manifesta improcedência por parte de um juiz. Há aqui,
claramente, uma jactância dirigida ao devedor, pois é sobre ele – e não ao requerente, como seria numa ação judicial sujeita ao ónus
da prova (artigo 342.º, nº1 CC – que recai o ónus de decidir o destino (processual) da (alegada) dívida: ou paga, ou deixa formar título
executivo contra si, ou dá impulso processual à convolação para procedimento jurisdicional – impugnado ou excecionado,
dilatoriamente ou perentoriamente. Todavia, havendo convolação, o requerido tomará a posição passiva na ação sumaríssima,
abreviada, ao contrário do que sucede na oposição à execução. Naquela se formará, sendo o caso, título executivo; nesta nega-se o
título ou a dívida ou os pressupostos processuais.

Títulos particulares:
1. A ata de reunião de condomínio, nas condições do artigo 6.º, n.º1 Decreto-Lei n.º 268/94, 25 outubro, nomeadamente indicando o
devedor e quantia em dívida.

A ata constitui título executivo avulso para a execução da obrigação de pagamento da quota-parte do proprietário de fracção
autónoma nas despesas necessárias à conservação e fruição das partes comuns e ao pagamento dos serviços de interesse comum.

São condições dessa exequibilidade:


i) aprovar o montante daquelas despesas e valores;
ii) estabelecer o prazo de vencimento e quota-parte de cada condómino;
iii) e o condómino deve estar devidamente identificado.

Sem prejuízo de o condómino devedor ter de ser convocado para a assembleia de condomínio e ter de receber a comunicação da
deliberação em questão, ele não tem de estar presente na respectiva assembleia, nem tem de assinar a ata para que esta ganhe força
executiva.

2. O extrato de conta emitido por sociedade sediada em Portugal, dedicada à concessão de crédito por emissão e utilização de
cartões de crédito, quanto ao saldo destes (artigo 1.º Decreto-Lei n.º45/79, 9 março);

3. O contrato de arrendamento acompanhado das comunicações ao inquilino previstas no artigo 15.º, n.º1 NRAU, até às alterações
trazidas pela Lei n.º31/2012, 14 agosto.

Títulos administrativos:

O Estado, incluindo as autarquias e pessoas coletivas públicas, beneficia de um vasto leque de títulos avulsos de dívidas contraídas
pela prática de atos administrativos em face dos particulares. Disso são exemplo:

1. A certidão de dívida à segurança social (artigo 9.º Decreto-Lei n.º511/76, 3 julho);

2. A certidão de dívida ao Serviço Nacional de Saúde (Decreto-Lei n.º 194/92, 8 setembro);

3. O certificado de conta de emolumentos e outros encargos por ato registal ou notarial (artigo 133.º Decreto-Regulamentar 55/80,
8 outubro);

4. A certidão de liquidação de conta de custas, juntamento com a sentença transitada em julgado (artigo 35.º, n.º2 RC);

5. Os certificados emitidos pelas entidades reguladoras de valor mobiliário escriturais (artigo 84.º CVM);

6. A decisão de entidade mediadora de conflito de consumo (artigo 8.º Decreto-Lei n.º 146/99, 4 maio), eventualmente;

7. A decisão de autoridade administrativa que impõe coima, ao abrigo do artigo 89.º, n.º1 Regime Geral das Contra-Ordenações
(Decreto-Lei n.º 433/82, 27 outubro);

8. A nota discriminativa de honorários e despesas do agente de execução, ex vi artigos 721.º, n.º5 CPC e artigo 5.º Decreto-Lei n.º
4/2013, 11 janeir

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