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INFORMAÇÕES RELEVANTES – TEA

Versão: 16.09.2022
Por Meire Fava (OAB/PR 34.266)
Assessora Jurídica Pedagógica da Fava & Seifert
Direitos Autorais garantidos

Diante do aumento da demanda de pedidos diversificados nas escolas que atendemos, e que são
advindos de responsáveis por alunos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista
(TEA), seja por meio de laudos de Neurologistas e/ou Psicólogos/Psicopedagogos, resolvemos
fazer esse pequeno rol de perguntas e respostas, as quais serão constantemente atualizadas, com
a intenção e fornecer embasamento legal para reuniões com os responsáveis desses alunos no
ambiente educacional. Porém cada caso deve ser analisado de forma individualizado e se
necessitarem estarei aqui para auxiliar a equipe nas decisões que forem necessárias.

1. Definições:
Neurodiverso: Conceito da socióloga Judy Singer e que inclui as pessoas que se
enquadram como neurotípicos e neuroatípicos
Neurotípico: Refere-se as pessoas que possuem funcionamento neurológico típico
sem alterações funcionais, na memória, na atenção, ou na cognição.
Neurodivergente: Refere-se as pessoas que apresentam alterações no funcionamento
cognitivo, comportamental, neurológico e neuro anatômico. Geralmente para alunos
com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH), Síndrome de Tourette, Depressão, Dislexia, Esquizofrenia,
entre outros.
Neuroatípico: Nomeiam as pessoas diagnosticadas com TEA.

2. Quais são os profissionais que devem acompanhar um aluno diagnosticado com o


Transtorno do Espectro Autista (TEA)?
Depende das orientações do médico neurologista, no entanto os mais comuns são:
✓ Profissional ABA/Análise do Comportamento;
✓ Profissional da área de psicologia;
✓ Profissional da área de Psicopedagogia;
✓ Profissional da área de Apraxia (distúrbios da fala);
✓ Terapeutas Ocupacionais;
✓ Fonoaudiólogo;
✓ Etc.

3. O aluno diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem direito


ao PEI (Plano de Ensino Individualizado)?
Sim, ele deve ser montado conforme orientações já enviadas para todas as equipes.
Caso não tenha recebido, peço que entre em contato para que possamos conversar e
repassarei as informações. Quando o PEI estiver pronto, eu também posso olhar para
ver se cumpre os ditames legais.
Não podemos esquecer que o PEI para os alunos novos, deverá ser montando após um
período de observação da criança e/ou adolescente no ambiente educacional e mediante
a análise dos relatórios das equipes que atendem o menor no contraturno, que podem
ser (a depender do CID): 1) Relatório descritivo do Psicólogo Comportamental; 2)
Relatório circunstanciado e detalhado do Psicopedagogo que o acompanha; 3) Relatório
da equipe de terapia ocupacional; 4) Relatório de atendimentos e necessidades do
Fonoaudiólogo, 5), etc.
O PEI só terá validade jurídica se conter a assinatura dos responsáveis;
Geralmente o prazo para assinatura do PEI é de 2 (dois) meses, após o recebimento dos
relatórios da equipe multidisciplinar;
O PEI não é um documento rígido, ele deve ser reavaliado a cada três ou seis meses,
com intuito de modificar as estratégias pedagógicas (caso necessário).
4. A escola poderá pedir apresentação de relatórios de acompanhamento
multidisciplinar?
Sim, geralmente esses relatórios devem ser solicitados a cada trimestre para manter
e/ou modificar as estratégias de ensino individualizado do aluno.
Os relatórios de acompanhamento no contraturno escolar, são de extrema importância
para analisar os elementos que intervêm no processo de ensino e aprendizagem, de modo
a identificar as necessidades educativas do menor de E.I. que apresenta dificuldade,
ajustando o conteúdo curricular e a prática pedagógica na instituição de ensino, para o
pleno desenvolvimento das competências e implementação das estratégias de
flexibilização e os procedimentos didáticos pedagógicos, além de práticas alternativas
e adequadas para o menor.
5. Todos os alunos portadores de transtorno do espectro autista, tem direito a um
acompanhante especializado?
Tendo em vista que os portadores de transtorno do espectro autista são pessoas com
deficiência (art. 1º, § 2º, da Lei nº 12.764/2012), é de se reconhecer o direito
ao acompanhamento por profissional de apoio escolar especializado, com amparo
na Constituição Federal (arts. 205, 208, inciso III e 227, § 1º, inciso II) e na legislação
infraconstitucional (art. 54, inciso III, do ECA; arts. 4º, inciso III, 58, § 1º e 59,
inciso III, da Lei nº 9.394/1996; art. 3º, inciso IV, alínea a e parágrafo único da Lei
nº 12.764/2012; e art. 28, incisos II, V e XVII, da Lei nº 13.146/2015).
No entanto, nem todos os alunos precisam necessariamente de um apoio escolar
especializado, por isso cada caso deve ser analisado da sua real necessidade e da
comprovação dela, seja pelo médico neurologista, seja pela equipe pedagógica da
escola.

6. Como deverá será comprovado a necessidade de apoio escolar especializado?


A Lei nº 12.764/2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, prevê o direito a acompanhante
especializado para os alunos autistas incluídos em classes comuns de ensino regular,
em caso de comprovada necessidade. Essa necessidade deverá ser comprovada por
meio de laudo médico, que constará as necessidades educativas para escola.

7. O profissional que fará o acompanhamento especializado deverá ter qual


formação acadêmica?
Nenhuma legislação Federal voltada para os alunos de E.I. tece comentários sobre a
formação acadêmica do profissional de apoio. Sobre essa questão, podemos observar
que a LDB (Lei nº 9394/97) afirma em seu artigo 59 que os: sistemas de ensino devem
assegurar aos educandos de E.I. o fornecimento de professores com especialização
adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, com intuito de
integrar os educandos que comprovarem a necessidade dele.

8. A escola deverá oferecer Profissional de Apoio Terapêutico para aplicação de


medicação por sonda gástrica e ou medição e aplicação de insulina em alunos?
Não existe obrigatoriedade legal e nem devemos realizar tais procedimentos pelo alto
risco que ele possui, observando ainda as orientações do Conselho Regional de Medicina
e as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria. Somente com pedido judicial,
no entanto não encontramos ainda nenhuma decisão nesse sentido.
Sobre a aplicação de insulina, a Sociedade Brasileira de Pediatria assim se manifestou:
assim se manifestaram: “o uso de medicamentos deve ser restrito às condições em que
é imprescindível, com cuidados, a fim de evitar o uso inadequado, que poderá ter
consequências sérias para saúde. (...) a família registra a medicação a ser dada. A
análise dessas anotações revela muitos enganos (doses e intervalos errados,
concentração da substância ativa diferente em relação à prescrita e até via de
administração incorreta)”.
Já o Conselho Regional de Medicina/SP, afirmou que: (...)” é necessário conhecer
qual é o tipo e a dose que você precisa para evitar inconvenientes e problemas de
saúde como, por exemplo, uma overdose de insulina. Para que a insulina tenha o
efeito desejado, você deve administrá-la na dose correta. No entanto, em ocasiões o
cálculo pode falhar e o resultado seja uma overdose de insulina”.

9. A escola poderá aceitar Profissionais Terapêuticos para aplicar medicamentos aos


alunos?
Sim. Diante da inexigibilidade legal para que tenhamos um profissional especializado
para aplicação de alimentos e/ou remédios via sonda ou injetáveis, a escola mediante
um termo próprio e que deverá ser assinado pelos responsáveis poderá aceitar que um
profissional contratado pelos responsáveis possa adentrar no estabelecimento de ensino
e realizar tais procedimentos.
10. A escola deverá oferecer Profissional Especializado em ABA?
Não. Trata-se de um profissional da área de saúde, especializado em Análise do
Comportamento, integrante da Equipe Multidisciplinar que deve acompanhar a criança
e/ou adolescente em seu tratamento médico/terapêutico, cabendo legalmente aos
responsáveis legais providenciar e se responsabilizar por esse acompanhamento no
período do contraturno.
O Profissional ABA, integrante da Equipe Multiprofissional de tratamento e
responsável por aplicar a intervenção ABA, cuja “técnica terapêutica” tem por
finalidade capacitar e desenvolver habilidades essenciais, sobretudo na área
comportamental, quando a criança e/ou adolescente apresenta dificuldades de sozinha
realizar tal desenvolvimento.
Esse profissional de comportamento ao aplicar essa técnica de saúde denominada ABA,
deve ser supervisionado pelo analista do comportamento ABA, já que ele será
responsável para o preparo de programas individualizados da criança e/ou adolescente
portadora de autismo, além de avaliar a mesma periodicamente, no período do
contraturno escolar.

11. O Profissional de Apoio escolar poderá ser compartilhado entre os alunos de E.I,
ou individualizado?
Após o recebimento do pedido (laudo médico) de acompanhamento especializado, a
equipe pedagógica irá analisar se o aluno necessita deste profissional de forma
individual (a depender do grau de deficiência e comportamento do aluno), ou
compartilhado com outros alunos de E.I. da sala de aula. As decisões judiciais atuais,
entendem que esse profissional poderá ser compartilhado, auxiliando simultaneamente
eventuais outros alunos com necessidades especiais, com base no princípio da
solidariedade (C.F., art. 3º, I).

12. Os responsáveis legais, podem acompanhar as atividades do aluno de Inclusão em


sala de aula?
Não, pois do contrário deixaríamos de oferecer uma “educação inclusiva”, já que os
responsáveis podem interferir no comportamento do aluno de E.I. além de interferir nas
questões pedagógicas. Existem várias decisões judiciais que tratam desse assunto entre
elas podemos citar a da 2ª Vara Judicial de Monte Mor/SP, que recentemente NEGOU
essa possibilidade.
13. Os alunos que demonstrarem um comportamento agressivo e que se automutilam
no ambiente educacional ou praticam lesões graves em seus colegas podem ficar em
Regime Domiciliar até que seu comportamento possa ser compatível para conviver
no ambiente educacional?
Depende. Cada caso deve ser analisado em conjunto com a equipe pedagógica e jurídica
da escola e as decisões tomadas em conjunto com os familiares;
No entanto, aquelas crianças e/ou adolescentes que com todo apoio pedagógico oferecido
pela escola não conseguem sua integração no ambiente educacional e até mesmo com
seus colegas por questões comportamentais, a escola, em acordo com os familiares poderá
ofertar atividades em Regime Domiciliar até que a equipe multidisciplinar ou a equipe
médica consigam adequar as medicações e ou terapias comportamentais para que eles
consigam permanecer no estabelecimento de ensino sem que corram risco
(automutilação) ou ofereçam riscos para outras crianças diante de um alto grau de
agressividade (por exemplo).

14. (...)

Esse texto faz parte do Livro Direito Educacional na Prática, a ser lançado
brevemente;
Serão ainda acrescentadas novas informações relevantes;
Liberado para circulação aos clientes da Fava & Seifert.
(...) dúvidas estou à disposição da equipe de Direção e Coordenação pelos nossos canais
de atendimento: meirefava@gmail.com – 41.9.9995.1298 - 41.9.8401.1298

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