Você está na página 1de 12

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

FACULDADE DE DIREITO
DIREITO COMPARADO

A Eutanásia e o Princípio da Dignidade da


Pessoa Humana em Angola, Portugal, Brasil e
Espanha

Grupo n.11
Este trabalho compreende um exercício técnico-jurídico proposto pelo Docente Hernani
Cambinda, o qual foi recebido com muito entusiasmo pelo grupo número 11 que
aguarda ansiosamente pela defesa.

Integrantes:
Gilberto Tomás........16827

Leonísio Santos........13732

Heytor Inácio........18775

Eulalia Panzo........20715

1
Índice
Introdução .............................................................................................................................. 3

Indentificação das Comparandas e Justificação .............................................................3

Tipo de Comparação e Elementos a Comparar ..............................................................3

Desenvolvimento ................................................................................................................... 4

Ordem Jurídica Angolana ...............................................................................................4

Princípio da Dignidade da pessoa humana ............................................................ 4

Eutanásia na ordem jurídica Angolana ...................................................................5

Código Deontológico e de Ética Medica em Angola .............................................5

Ordem Jurídica Portuguesa ............................................................................................ 5

A) Eutanasia na ordem juridica Portuguesa ..........................................................5

B) Do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ................................................ 7

Ordem Jurídica Brasileira .............................................................................................. 8

Princípio da Dignidade da pessoa humana ............................................................ 8

Eutanásia na ordem juridica brasileira ............................................................... 8

Ordem juridica Espanhola ..............................................................................................9

Princípio da Dignidade da pesssoa humana ...........................................................9

Eutanásia na ordem juridica Espanhola ............................................................... 10

Sintese comparativa (conclusão ) .........................................................................................12

Razão de ordem ............................................................................................................12

Semelhanças .........................................................................................................12

Diferenças ............................................................................................................ 12

2
Introdução

O presente trabalho comparativo tem por objecto analisar dois temas diversos que, dado
à sua estreita relação, tendem a ser estudados num único escopo: a Eutanásia e a Dignidade da
Pessoa Humana. Num ambiente marcado pelo crescimento dos movimentos liberalistas e com
isto o surgimento de discussões que incidem sobre valores jurídicos cuja tutela sempre esteve
nas mãos do poder público e por isso este sempre deteve a autoridade para limitar estes valores
fundando-se em razões de interesse colectivo, mas hoje com o desabrochar da Autonomia
resultante do desaflorar das liberdades pelas democracias, valores como o Bem Vida vêem-se
cobertos de questões semelhantes às do Existencialismo de Jean-Paul Sartre como “se o homem
busca a felicidade e para isto é livre, não deve por isso decidir sobre qual destino dar à sua vida?
Principalmete quando viver lhe parece mais doloroso do que morrer?”. A Eutanásia é um tema
essencialmente da Ética e Saúde pública mas cabe-nos assentar sobre questões jurídicas por isso
não serão objecto de análise a Morte, a Vida, os Métodos de Realização da Eutanásia nem
tampouco as motivações pessoais – todos estes subtemas poderão ser levantados para
fundamentar questões jurídicas mas não constam do nosso objecto central.

Indentificação das Comparandas e Justificação


Delimitamos a nossa abordagem à quatro Ordens Jurídicas inseridas na Família
Romano-Germânica, as quais Portugal, Angola, Brasil, Espanha Em princípio, a escolha das
4 Ordens Jurídicas em comparação resulta da aproximação do Idioma oficial (Português), maior
acesso às fontes tanto primárias como secundárias, de seguida a relação histórica entre os
mesmos países e por último a pertença à mesma família de direito. Apesar de pertencerem à
mesma família de direito e daí partilharem institutos bem como regimes de regulamentação
similares, deparamo-nos com o desafio de analisar a possibilidade ou não da existência de
divergências nos regimes destas ordens face ao tema da Eutanasia e o papel do princípio da
Dignidade da Pessoa Humana na decisão e interpretação das questões relativas à Eutanásia;
Sobre o acesso as fontes quer primárias como secundárias , a justificação cinge-se no facto de se
evitar o risco de traduções equivocadas; falamos de Angola em particular por ser a nossa ordem
juridica e de Portugal por ser o principal influenciador da atual estrutura do direito angolano .
Brasil por conta da sua lingua oficial portugues , e maior facilidade no acesso das fontes
espanha por ser um dos cabeças de estirpe deste sistema de direito .

Tipo de Comparação e Elementos a Comparar


No direito comparado existem três modalidades de comparação, as quais são:
Macrocomparacão ou sistemologia, Microcomparação, Megacomparacão ou Mesocomparacão
(esta meso comparação alguns autores alegam que ela faz parte da macrocomparação ). Para
efeitos da nossa actividade comparativa adotamos a Microcomparação, a qual compreende a
pesquisa das semelhanças e difernças existentes entre Institutos Jurídicos afins pertecentes a
ordens juridicas diferentes culminando numa síntese comparativa.
Faremos recurso ao método aproximação funcional segundo qual devemos ter em
conta não a designação do instituto mas a função que o instituto desenpenha nas ordens juridicas.
Para uma melhor comprenssão, prefirimos delimitar os pressupostos a comparar em diferentes
questões para as quais acharemos as soluções nas Ordens Jurídicas em análise. Pretendemos
responder à duas questões: 1. Há ou não diferença no regime jurídico das Ordens em análise
face à Eutanásia?; 2. Qual o Papel do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana nestas Ordens
Jurídicas em matéria da Eutanásia?

3
A título de elucidação dos conceitos cujos regimes jurídicos são abordados no presente
estudo, refira-se que por “eutanásia” se entende, de um modo geral, a “provocação da morte de
uma pessoa numa fase terminal da vida para evitar o sofrimento inerente a uma doença ou a um
estado de degenerescência”. É a provocação intencional da morte a determinada pessoa que
sofre de enfermidade extremamente degradante e incurável, visando privá-la dos suplícios
decorrentes da doença.
Na sua génese etimológica, a palavra “eutanásia”, oriunda do grego, significa boa morte,
morte piedosa, sem dor, tranquila. É, na perspetiva dos seus defensores, uma maneira digna de
morrer
Tipologias :Eutanásia ativa e eutanásia passiva. Existem duas formas de prática da
eutanásia: ativa e passiva. A eutanásia ativa acontece quando se apela a recursos que podem
findar com a vida do doente (injeção letal, medicamentos em dose excessiva, etc.) Na eutanásia
passiva, a morte do doente ocorre por falta de recursos necessários para manutenção das suas
funções vitais (falta de água, alimentos, fármacos ou cuidados médicos).

Desenvolvimento
Ordem Jurídica Angolana

Princípio da Dignidade da pessoa humana


No Ordenamento jurídico Angolano, a dignidade da pessoa humana é fundamento e
delimitação do poder estadual com valor constitucional nos termos do art. 1⁰ da CRA . Daí
extraímos uma imposição ontológica: está na base da essência do ser Humano. Ele está
colocado como um direito fundamental prioritário, isto é, está na base de todos os outros
direitos - os demais direitos concretizam este em destaque. O principal valor inserido na
sombrinha deste princípio e que colide, dependendo da perspectiva, com a eutanásia é o direito
a vida.1
A Constituição garante e estatui o direito à vida, e não o direito a dispor dela, é
garantida toda a protecção a um bem maior, a uma razão suprema, e não o contrário, uma vez
que, não se verifica apenas como um direito, é um valor, a expressão “a vida humana é
inviolável” do artigo 30º n.º 1 da C.R.A, é “(...) uma fórmula normativa muito mais forte e
expressiva do que a consagração do direito à vida. Muito mais do que um direito é um valor.
É o valor funcional que recebe da intransferível dignidade da pessoa o seu decisivo sentido.”52
– A vida humana é o valor fundamental da sociedade, é absoluto e inviolável, tanto por parte de
terceiros, como pelo próprio
Conforme já vimos o reconhecimento dos direitos de personalidade como forma
privilegiada de tutela e defesa da pessoa humana no particular domínio do direito civil , pode ter
–se como ponto definitivamente assente , o que pode varia de sistema jurídico para sistema
jurídico , é o conteúdo e extensão desses direitos e o alcance da sua tutela e bem assim a forma
de os conceber . E a inviolabilidade do direito a vida vem previsto no artigo 59 da CRA proíbe
a pena de morte . E igualmente a Legislação penal , estabelece uma particular protecção a este
bem essencial da pessoa humana .

1
Dr. Alfredo José Andrade Santos Orientador: Professor Doutor Fernando Silva
Outubro de 2016 Problemas penais da eutanásia e o suicídio assistido

4
O homicídio é punido nos termos dos artigos 147 , e segs proíbem respectivamente , o
auxilio ao suicídio , e a morte piedosa ou eutanásia. Trata-se de um direito totalmente
indisponível com total irrelevância do consentimento , seja ele viculante , autorizante ou
meramente tolerante

Eutanásia na ordem jurídica Angolana


No entanto, não há no ordenamento jurídico Angolano previsão legal para prática da
eutanásia. Apesar de algumas realidades aceitarem, a eutanásia a maior parte não admite essa
prática porque a consideram como uma forma de Homicídio .
E em Angola não é admissível está prática, por constituir crime. Por ser interpretada
como o acto de matar uma pessoa ou ajuda-la a cometer o seu suicídio. A lei 38/20 de 11 de
Novenbro a lei que aprova o codigo penal Angolano . e revoga o código penal de 1886 . E
Criminaliza no seu Livro II parte especial , capitulo I crimes contra a vida No seu atigo 153º do
CP incitação ou auxilio ao suicídio , corresponde a crime de Homicídio: quem incitar outra
pessoa ao suicídio e este se consumar ou chegar a ser tentado e punido com pena de prisão até 3
anos . Quem nas mesmas circunstâncias , se limitar a prestar ajuda à pessoa que dicidiu
suicidar-se é punido com pena de prisão ate 2 anos ou com multa de 240 dias . Mas em alguns
países como a Bélgica, Holanda e Suíça, esta é tida como uma prática legal .2

Código Deontológico e de Ética Medica em Angola


1.E um instrumento jurídico legal que estabelece princípios e regras a serem observados por
todos os médicos no exercício da sua profissão.
2.As disposições do presente código são aplicáveis a todos os médicos inscritos na ordem dos
médicos de Angola .
Na secção II do mesmo código, trata dos Problemas respeitantes a vida e a morte
Artigo 34 ( princípio Geral )
O medico deve guardar respeito pela Vida humana desde o seu inicio
Constitui falta de deontologia grave a prática da eutanásia
Existem vários argumentos a favor e contra a eutanásia, sendo que os defensores alegam
principalmente que cada indivíduo deve ter direito a escolha entre viver ou morrer com
dignidade, quando se tem consciência de que o estado da sua enfermidade é de tal forma grave
que não compensa permanecer em sofrimento até que a inevitável morte chegue. Por outro lado,
quem condena a eutanásia utiliza frequentemente o argumento religioso de que somente Deus (o
“Criador do Universo”) teria o direito de dar ou tirar a vida de alguém e, portanto, o médico não
deve interferir neste “processo sagrado”.

Ordem Jurídica Portuguesa

A) Eutanasia na ordem juridica Portuguesa


Para percebermos o posicionamente de Portugal face ao tema em destaque, é mister
percorrer os meandros das especificidades conceituais que os parlamentaristas Portugueses

2
Carlos Alberto B. Burity Teoria geral do direito Civil 2 Edição Noção de Direitos humanos .Na ordem
Angola . Código de deontologia médica . EUTANÁSIA EM ANGOLA . Código penal Angolano
Lei 38/20 de 11 de Novembro.1

5
exprimem no texto da lei pois que, só assim evitaremos cair no erro da má interpretação do
instituto à luz do regime em apreço. Em Portugal, não se fala da eutanásia como uma figura de
natureza autónoma e indissociada pelo contrário, fala-se da eutanásia como uma subrealidade no
âmbito da morte medicamente assistida, isto é, há um tipo penal mais abstracto do qual a
eutanásia figura como uma subespécie.3
Num conceito doutrinal e mais amplo, morte assistida compreende o auxílio para a
morte de uma pessoa, que pratica pessoalmente o acto que conduz à sua morte (ao seu suicídio):
tomar veneno, por exemplo Entretanto, o regime Português fala em morte medicamente
assistida e conceitua nos termos dos artigos 2° e 3° ambos da lei supracitada, e desta leitura
conjunta entendemos por “morte medicamente assistida não punível” aquela que ocorre por
decisão da própria pessoa, maior de idade, de nacionalidade portuguesa ou a residir legalmente
em território nacional; essa pessoa deve estar em situação do sofrimento de grande intensidade,
com lesão definitiva de gravidade extrema ou doença grave e incurável; e pode praticá-la ou ser
ajudada por profissionais de saúde. O número 4 do art.3° desta lei classifica a morte
medicamente assistida em a) suicídio medicamente assistido e b) eutanásia; onde, nos termos do
número 5 do mesmo artigo “a morte medicamente assistida só pode ocorrer por eutanásia
quando o suicídio medicamente assistido for impossível por incapacidade física do doente”.
Portanto, a eutanásia em Portugal é na verdade, uma alternativa ao suicídio medicamente
assistido somente quando este não puder ser concretizado por incapacidade física do doente.4
Será que isto quer dizer que em regra, Portugal reconhece a todos a faculdade de
cometerem suicídio aleatoriamente com recurso à fármacos? Certamente que não. O suicídio
medicamente assistido a que a lei refere é definido como a autoadministração de fármacos letais
pelo próprio doente, sob supervisão médica (alínea b) do art. 2° da mesma lei) e para tal está
sujeito a procedimento específico tipificado pela lei 22/23 de 25 de Maio de 2023.
Podemos então sublinhar que a distinção assenta no tipo de intervenção que o
profissional médico presta: na eutanásia o médico é que desempenha a atividade necessária para
dar fim ao sofrimento de grande intensidade sentido pelo paciente mediante a interrupção da
vida deste, ao passo que no suicídio medicamente assistido pelo facto de o paceinte ainda
possuir capacidade motora necessária então este próprio desempenha esta atividade e o médico
apenas está ali para prestar a devida informação e assistência como esclarece a alínea g) do art.2
desta lei. [ Lei da eutanásia foi aprovada – Sofia Lima]
O Código Penal Português (Decreto Legilsativo N.º 48/95, de 15 de Março)
criminalizava, nos termos dos arts. 134 º (Homicídio a pedido da vítima) e 135 º (Incitamento
ou ajuda ao suicídio) as condutas cujos elementos enquadram-se no que hoje a lei de alteração
lei N .º 22/23 de 25 de Maio de 2023 define como eutanásia e sancionava com pena de prisão de
2 a 8 anos nos termos da alínea d) do art. 161 do Código Penal Português.
Hoje, a eutanásia em Portugal já não é crime. Contudo, não é tão simples quanto possa
parecer obter uma resposta positiva do pedido de abertura do procedimento clínico de morte
medicamente assistida.
O regime português impõe o cumprimento de requisitos cuja efectuação passa por um
funíl muito estreito, isto é, tenta dificultar o acesso à este mecanismo àquelas pessoas que
padeçam de outras enfermidades que sejam suportáveis ou curáveis e visa por outra, acautelar

3
Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, Portugal - JOSE COELHO/LUSA
Portugal promulga lei que descriminaliza a eutanásia - France Presse

44
Lei da eutanásia foi aprovada – Sofia Lima

6
os casos de homicídio doloso e negligente por parte dos profissionais de saúde: é necessário que
se formule o pedido pelo doente ou o seu representante legal, este pedido deve ser remetido ao
médico pelo doente como seu orientador, o parecer deste médico carece de confirmação por um
outro médico especialista na área da enfermidade de grande intensidade a que o doente se
encontra a sofrer, carece ainda de confirmação médica por médico especialista em psiquiatria e
por fim o parecer da Comissão de Verificação e Avaliação (artigos 4º, 5º, 6º, 7º e 8º todos da lei
N .º 22/23 de 25 de Maio). É de ressaltar também que, este regime dispõe de diversos
mecanismos para acautelar as questões de vícios de vontade por um lado, por outro não
promove o recurso à morte medicamente assistida como um meio alternativo de punição (n. 4
do art.4 º da lei supracitada).

B) Do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana


1. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana tem o valor de pilar desta
República Soberana resultando no acompanhamento constante deste na tomada de decisões
públicas. O artigo 1º, que abre o discurso constitucional, encontra-se inserto nos «Princípios
Fundamentais», que antecedem a Parte I, relativa aos «Direitos e Deveres Fundamentais».
Nenhuma das normas que compõem a Parte I volta a fazer menção expressa ao «valor» ou ao
«princípio» da dignidade da pessoa. Assim, diversamente do que sucede com a Constituição
espanhola (que consagra o princípio no nº 1 do artigo 10º, e portanto a propósito dos direitos e
deveres fundamentais), ou do que sucede com a Constituição italiana (que parece implicá-lo no
seu artigo 2º, quando diz que a República garante e reconhece os direitos invioláveis do homem),
na Constituição portuguesa a dignidade da pessoa, enunciada como sendo a «base» da
República, surge fora e antes do sistema dos direitos fundamentais.
2.Critério último de legitimidade do poder político estadual: o princípio da dignidade da pessoa
humana acaba por ter um conteúdo de tal modo amplo (idêntico afinal de contas a um dos
elementos constantes da tradição do Estado de direito) que não chega a ter densidade suficiente
para ser fundamento directo de posições jurídicas subjectivas. O que nele se contém é por isso, e
ao mesmo tempo, algo mais e algo menos do que um direito. Quando muito o princípio confere
ao sistema constitucional de direitos fundamentais unidade e coerência de sentido, ajudando as
tarefas práticas da sua interpretação e integração. O que se lhe não pode pedir é que ele seja
tomado, em si mesmo, como fonte de um outro e autónomo direito (fundamental).[ De igual
modo, José Manuel Cardoso da Costa na obra supracitada]
Quando se fala sobre a eutanásia, é comum colocá-la de lado oposto ao Princípio da
Dignidade da Pessoa Humana – principalmente aqueles que defendem a “inviolabilidade da
vida”, ou ainda as correntes religiosas que não concordam que em momento algum cabe ao
homem decidir interromper a sua vida pois que só a Divindade dá a vida então somente esta
pode retirá-la, porque lhe pertence e não será movida de razões egocêntricas. Entretanto, em
Portugal o Partido Socialista que exprimiu a maioria absoluta de 129 votos a favor da
descriminalização da eutanásia fundamenta a concessão do “Direito a Morrer com Dignidade”
no projecto de lei submetido.5

5
José Manuel Cardoso da Costa, «O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana na Constituição e na
Jurisprudência Constitucional Portuguesa», em Direito Constitucional, Estudos em Homenagem a
Manoel Gonçalves Ferreira Filho
5
De igual modo, José Manuel Cardoso da Costa na obra supracitada
PROJETO DE LEI N.º 832/XIII/3.ª, in “Exposição de Motivos”

7
Ordem Jurídica Brasileira

Princípio da Dignidade da pessoa humana


O ordenamento juridico Brasileiro positivou na Constituição Brasileira o “Princípio da
dignidade da pessoa humana” conforme elenca o art. 1º A República Federativa do Brasil,
formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:a dignidade da pessoa humana;
O ordenamento jurídico existe com intuito de proteger o indivíduo e sua dignidade, isso
significa que o homem é o centro da ordem jurídica, sendo todo direito criado para protegê-lo. É
necessário que os direitos da personalidade sejam estudados na atualidade sob a ótica civil
constitucional, seguindo as diretrizes ditadas pela principiologia da lei maior, em razão da
cidadania, da dignidade da pessoa humana, como princípios constitucionais.
Onde entra a morte por Eutanásia na dignidade da Pessoa Humana? Eutanásia é uma
prática, um acto que induz o paciênte à morte com o propósito de livrar de uma enfermidade
crónica ou muito dolorosa, porém, recentemente tem ganhando seu espaço nos estudos. O
princípio da dignidade da Pessoa Humana entra na questão da eutanásia pelo simples fato de
que para ela ser aplicada não se deve ferir a dignidade humana do paciente. Várias ideias e
discussões se apresentam para a comunidade científica sobre a Eutanásia, isso passa a ocorrer
em diversas áreas da sociedade. Acerca dessas discussões existe os que concordam com a
medida da Eutanásia e os que são contra a mesma.

Eutanásia na ordem juridica brasileira


No Brasil, várias têm sindo as pressões de diversos estractos sociais no sentido de elevar
o debate do “Direito de escolher entre suportar a dor de uma doença incurável ou a morte
médica” ao palco do Senado. Contudo, os actos enquadráveis no que se conhece por eutanásia
continuam a ser criminalizados nos termos da legislação brasileira. O sistema normativo penal
brasileiro não tem legislação específica no que tange à eutanásia, entretanto, a prática pode ser
eventualmente enquadrada como suicídio assistido, auxílio ao homicídio ou até mesmo como
omissão de socorro (quando desta omissão resulta a morte do sujeito.
O primeiro código criminal brasileiro, de 1830, previa o crime de auxílio ao suicídio,
caracterizado no artigo 196: “Ajudar alguém a suicidar-se ou fornecer-lhe meios para esse fim”,
cuja punição era de prisão por dois a seis anos.
Já o Código Penal brasileiro de 1940, atualmente em vigência, restaurou a previsão de
pena de reclusão de dois a seis anos ao agente que “induzir ou instigar alguém a suicidar-se”,
conforme o artigo 122.
Há também a possibilidade do enfoque da eutanásia a partir do art. 121 do Código Penal,
equiparando-a ao crime de homicídio, nos seguintes termos: “Matar alguém. Pena: reclusão, de
seis a vinte anos”. Não existe qualquer excludente de ilicitude apta a eximir a punição do agente
activo que realiza esta conduta.
Consta apenas um atenuante insculpida no § 1° do referido artigo, que prevê a
possibilidade da atenuação da pena “se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima”, acto este chamado pela doutrina penal de “homicídio privilegiado” .
Além da possível interpretação da eutanásia à luz dos artigos 121 e 122, parte da doutrina
(DODGE, 2009) fala em crime de omissão de socorro, consubstanciado, no caso, na falta de
prestação de assistência à “pessoa inválida ou ferida”, nos termos do art. 135 do código penal. A
omissão de socorro tem prevê a sanção de detenção de um a seis meses, ou multa.

8
Neste disposição, quem pratica a eutanásia incorrerá criminalmente no artigo 121,
parágrafo primeiro, artigo 122 ou no artigo 135, todos do Código Penal vigente, a depender das
particularidades do caso concreto. Desta forma, embora não haja legislação específica para a
eutanásia no ordenamento pátrio, Tavares (2008, p. 50) entende que a punição do instituto tem
base legal, partindo-se de uma ponderação de princípios onde a inviolabilidade do direito à vida
deve preponderar sobre a dignidade: “
Assim, de um lado, não se pode validamente exigir, do Estado ou de terceiros, a
provocação da morte para atenuar sofrimentos. De outra parte, igualmente não se admite a
cessação do prolongamento artificial (por aparelhos) da vida de alguém, que dele dependa. Em
uma palavra, a eutanásia é considerada homicídio.
É por isso que, ao analisar a legislação existente sobre eutanásia no Brasil, Raquel
Dodge (2009, p. 5) conclui pela ilicitude absoluta da prática, não havendo, no ordenamento
pátrio, dispositivo legal apto a convalidar o instituto, mesmo nos casos em que há
consentimento do paciente: “A eutanásia sempre foi considerada conduta ilícita no Direito
brasileiro.
O Conselho Federal de Medicina, ao aprovar seu novo Código de Ética Médica, por
meio da Resolução nº 1.931/2009, (publicada no D.O.U. de 24 de setembro de 2009, Seção I, p.
90), estabelece, no Capítulo V: É vedado ao médico ``Abreviar a vida do paciente, ainda que a
pedido deste ou de seu representante legal´´ (art. 41).
O CFM, nessa Resolução, continua a tratar práticas como a eutanásia e o suicídio
assistido como inapropriadas à ética médica, mas dá suporte jurídico, mesmo que indiretamente,
à ortotanásia ao prever no parágrafo único do artigo 41 que o médico deve oferecer todos os
cuidados paliativos disponíveis, no caso de uma doença incurável e terminal, ao passo de não
empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis.6

Ordem juridica Espanhola


Princípio da Dignidade da pesssoa humana
Na discussão sobre a eutanásia e o suicídio assistido, é chamado constantemente
colação o princípio da dignidade humana, para justificar o tão desejado direito a uma morte
digna. Afigura-se então essencial perceber o que é este princípio, por forma, a saber se faz
sentido no enquadramento da discussão. Na perspectiva jurídica o princípio da dignidade da
pessoa humana, tem de ser entendido como princípio fundamental, como norma de base do
ordenamento jurídico. Por outra, o artigo 10º da C.R. E . Estabelece:
1. A dignidade da pessoa, e os direitos que lhe são inerentes são invioláveis livre
desenvolvimento da personalidade, o respeito à lei e os demais direitos são fundamento da
ordem política e da paz social.
2- As normas relativas aos direitos fundamentais e às liberdades que a Constituição reconhece
interpretar-se de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e os tratados e
acordos internacionais sobre as mesmas matérias ratificados por Espanha.

6
Brasil. Princípio da dignidade da pessoa humana Const.da República federativa do Brasil.
Artigo 1 DODGE 2009 Tavares (2008 p.50) entende que a punição do Instituto tem base legal .partido de
uma ponderação de princípios onde á inviolabilidade do direito à vida pode deve preponderar sobre a
dignidade. Conselho Federal de Medicina . Código de Ética médica por meio da Resolução. N-
1 .931/2009 Código penal brasileiro

9
3 - Bases da República espanhola, enforma a tutela dos direitos fundamentais e do sistema
democrático, sendo assim um fundamento de limitação à actuação do Estado.

Eutanásia na ordem juridica Espanhola


Punia-se a eutanásia activa sob a alçada do artigo 143.º do Código Penal espanhol, que a
considerava um subtipo desse crime, definido, no n.º 4 do artigo 143.º, como o acto de alguém
que causa ou coopera activamente na prática de actos necessários e diretos para provocar a
morte de outra pessoa, a pedido sério, expresso e inequívoco desta, que esteja a padecer de
doença grave que conduzirá necessariamente à sua morte ou resultará em graves sofrimentos
permanentes ou difíceis de suportar.
O autor do crime era é punido com a pena aplicável ao mero incitamento ao suicídio,
tipificado no n.º 1 do mesmo artigo, ou à mera ajuda ao suicídio, incriminada no n.º 2, mas
especialmente atenuada e reduzida. A pena prevista no n.º 1 (incitamento) é de 4 a 8 anos de
prisão, a do n.º 2 (ajuda) de 2 a 5 anos de prisão.52 Com importância capital para analisar a
forma como o ordenamento jurídico espanhol trata as restantes formas de eutanásia, importa
atermo-nos à Lei n.º 41/2002, de 14 de novembro, que, constituindo uma lei básica, regula a
autonomia do paciente e os seus direitos e obrigações em matéria de informação e
documentação clínica.
Tendo-se como pano de fundo o princípio da dignidade do ser humano, vinca-se que o
respeito pela autonomia da vontade e a privacidade da pessoa deve guiar todas as actividades
destinadas a obter, usar, guardar e transmitir informações e documentação clínica. Toda a
atuação neste domínio requer, em regra, o consentimento escrito do paciente, o qual pode
recusar quaisquer tratamentos que lhe sejam sugeridos. Os médicos e corpos clínicos são
obrigados a respeitar a vontade do doente (artigo 2.º).
Entretanto foi assim então que ,no dia 18 de março de de 2021foi aprovada a lei que
regula eutanásia com a resolução 122/000020 Proposta de Lei Orgânica de Regulação da
Eutanásia. Foi Apresentada pelo Grupo Parlamentar Socialista.7
A legalização e regulação da eutanásia assentam-se sobre a compatibilidade de
princípios essenciais que são base dos direitos das pessoas, e que são assim recolhidos na
Constituição Espanhola. São, de um lado, os direitos fundamentais à vida e à integridade física e
moral, e de outro, bens constitucionalmente protegidos como a dignidade, a liberdade ou a
autonomia da vontade.
Com a regulação dos dispositivos que permitem aos profissionais médicos finalizar o
sofrimento de determinados pacientes com a admnistração de medicamentos letais , bem como
permite ao próprio paciente a autoadmnistração de medicações , disciplinando o suicidio
assistido e , desta forma , delimitando os contornos da causa de justificação para a conduta
médica . Neste avanço legislativo a espanha se torna o quinto pais do mundo a regulamentar
este direito .
Tornar estes direitos e princípios constitucionais compatíveis é necessário e possível,
para o qual é necessária uma legislação respeitosa com todos eles. Tal modificação legal
deixaria as pessoas desprotegidas em relação ao seu direito à vida que o nosso quadro
constitucional exige proteger.

7
Espanha - A CRE constitui da República Espanhola A lei 41 /2002
Lei base que regula a autonomia do paciente . A lei que regula Eutanásia foi aprovada no do 18 de março
de 2021 . Com a resolução 122/000020 Código penal espanhol Artigo 143 foi discriminalizado
N-4 punia N- descriminaliza e a tal alteração

10
Procurou –se em vez disso, legislar para respeitar a autonomia e a vontade de pôr fim à
vida de quem está numa situação de doença grave e incurável, ou de uma doença grave, crónica
e invalidante, sofrendo insuportávelmente que não pode ser aliviado em condições que
considere aceitáveis, o que denominamos de contexto eutanásico.
Para esse fim, a presente lei regula e descriminaliza a eutanásia em determinados
pressupostos, claramente definidos, a nova lei promoveu alterações do código penal espanhol ,
em seu artigo 143º com a modificação do item 4 que vigora com a seguinte redação (artigo
143º):
1-Quem provocar suicidio de outrem e punido com a pena de prisão de quatro anos a oito anos .
2-A pena de prisão de dois a cinco é para e imposto a quem cooperar com os actos necessários
ao suicídio de uma pessoa .
3-Sera punido com pena de prisão de seis a dez anos se a cooperação chegar a execução da
morte .
Aquele que causa ou colabora activamente com actos necessarios e directos à morte de
pessoa que sofre de doença grave ,crônica e incapacitante ou grave e , relevante a doutrina do
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos que, no seu acórdão de 14 de maio de 2013 (caso
Gross vs. Suíça), considerou que não é aceitável que um país que tenha descriminalizado
condutas eutanásicas não tenha elaborado e promulgado um regime legal específico,
especificando as modalidades de prática de tais condutas eutanásicas.
N-º5 sem prejuizo do disposto do número anterior , quem causar ou cooperar
activamente com a morte de outrem não incorre em responsablidade penal com obeservância do
disposto na lei orgânica que regula a autanásia. Demanda-se , portanto , uma interpretação
sistemática da justificante com a nova legislação da eutanásia diante das condutas .em
1-Se tiver consciente , o interessado deve primeiro solicitar a eutanásia duas vezes por escrito
(ou por outro meio que deixe evidências , por exemplo , se a pesssoa souber escrever )
separadas por quinze dias e deixe claro que não e o resultado de qualquer pressão externa
2-Apòs a primeira solicitação , o medico responsável pelo caso deve realizar com o paciente
solicitante um processo deliberativo sobre o seu diagnóstico , possiblidades terapêuticas e
resultados esperados ,bem como sobre os possiveis cuidados paliativos certificando-se de que
ele entendeu as informações fornecidas
3-Depois disso , o paciente deve confirmar sua inteção . além disso , após a segunda solicitação
deve haver uma reunião médico –paciente para garantir que ele sabe o que está pedindo
4-Com isso , já haveria quatro vezes que o paciente deveria confirmar seus desejos , e todos eles
deveriam estar refletidos em sua história médica mas alem disso depois que o comitê de
avaliação aprovar o procedimento , o paciente terá que concordar novamente .
5-O interessado poderá interromper o processo a qualquer momento8

8
Aprobada por las Cortes Generales el 31 de octubre de 1978. • Ratificada por Referéndum Popular el 6
de diciembre de 1978. • Sancionada por su Majestad el Rey Don Juan Carlos I ante las Cortes Generales
el 27 de diciembre de 1978. (B.O.E., n.º 311-1, de 29 de diciembre de 1978). • Reforma del artículo 13,
apartado 2, de la Constitución Española, de 27 de agosto de 1992. (B.O.E., n.º 207, de 28 de agosto de
1992).

11
Sintese comparativa (conclusão )
Razão de ordem
A sintese que se segue é resultado da nossa actividade comparativa , que decorreu por
meio do metódo de aproximação funcional sobre o instituto da Eutanásia e a dignidade da
pessoa humana nas ordens juridicas Angolana, portuguesa ,Brasileira , e Espanhola . uma vez
defindas as comparandas e devidamente delimitados os elementos a comparar em sede da fase
integrativa ,cumpre –nos agora proceder à avaliação das diferenças e semelhanças , que tudo
indica o culminar de um longo processo comparativo.

Semelhanças
Angola, Brasil ,portugal ,Espanha têm a dignidade da pesssoa humana como um
atributo intrínseco , da essência da pessoa humana . por essa razão cada uma dessas ordens
juridicas o consagrou na sua constituição e as transformou num valor supremo da ordem
juridica .A dignidade da pessoa humana é centrada na autonomia e no direito de
autodeterminação de cada pessoa. A dignidade da pessoa humana constitui , assim um valor
universal , mesmo que presentes as diversidades sócio culuturais dos provos . as pessoas são
detentoras de igual dignidade apesar das suas diferenças.

Diferenças
Angola não conceitua a eutanásia como tal, o Código de Deontologia médica reprova o
recurso a esta técnica ; o Código Penal angolano não tipifica a eutanásia entretanto consagra
tipos penais com estrutura semelhante o que permite a incorporação destes actos nestes tipos
penais eg. Suicídio assistido. Portugal define na Lei N .º 22/23 de 25 de Maio de 2023; em
Portugal compreende uma modalidade da morte medicamente assisida;
Brasil não prevê a prática da Eutanásia e criminaliza. No Direito brasileiro. É crime, tal
o grau de rejeição à sua prática, em coerência com os valores fundamentais que estruturam o
ordenamento jurídico .Por isso, o consentimento do paciente à prática da eutanásia ou a
motivação piedosa de quem a pratica não retiram a ilicitude do acto, tampouco exoneram de
culpa quem a praticou”.
Em Espanha diferente do Brasil á prática da eutanásia já é uma realidade, com a
regulação dos dispositivos que permitem aos profissionais médicos finalizar o sofrimento de
determinados pacientes com a admnistração de medicamentos letais , bem como permite ao
próprio paciente a autoadmnistração de medicações , disciplinando o suicidio assistido e , desta
forma, delimitando os contornos da causa de justificação para a conduta médica.

12

Você também pode gostar