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Mayjo - Box Completo - o Guarda Costas
Mayjo - Box Completo - o Guarda Costas
LIVRO I
“Dificuldades e empecilhos podem se tornar barreiras
intransponíveis, mas você pode fazer disso uma oportunidade de
crescimento. ”
MAYJO
Copyright © MAYJO 2016
Título Original: Alexander
Revisão: Bookmarks
Diagramação digital: MAYJO
escorrerem pelo rosto por saber que o meu pai está vivo e bem. A polícia
federal o está resgatando do cativeiro onde foi mantido por mais de uma
semana.
— De acordo com as informações dadas pela polícia, o empresário
Eduardo Mitchell não aparenta ter ferimentos depois de passar quase uma
semana no cativeiro... — a voz da repórter ecoa na sala — Neste exato
momento, o sr. Mitchell está sendo levado para o hospital... — ela continua
dando a notícia, mas eu mal a escuto.
Vejo a minha mãe se levantar enquanto avisa que vai se trocar para
encontrar meu pai no hospital. Eu a sigo, decidida a acompanhá-la. Depois
dessa semana de terror, quando chegamos a pensar que o fim desse pesadelo
poderia ser diferente, precisávamos nos manter unidos.
A entrada do hospital está repleta de repórteres, que se acotovelam para
falar com a minha mãe.
Depois de dois dias internado, meu pai volta para casa, completamente
paranoico com a nossa segurança.
Nunca imaginei que o ocorrido traria tantas mudanças na minha vida.
Nem estava preparada para elas, não mesmo. Aos vinte e um anos, curso a
faculdade de direito. Talvez você ache que sou uma aluna aplicada... mas não
poderia estar mais enganado. Mal assisto às aulas. Minha fase rebelde e
mimada ainda não passou, mas gosto de pensar que sou autêntica. Adoro me
divertir.
Meus pais nunca me deram limites... e não permito que ninguém o faça.
semanas. — Pai, não vou andar para cima e para baixo com um guarda-costas
conheço me dizer que uma garota passou a perna nele. No fim da noite, ele
das ligações que fiz. Contatei o máximo de pessoas possível para que eu
Lana, e nada. Já passava das quatro da tarde quando ela foi localizada.
Orientei que ficassem de olho nela, mas não a abordassem. Em seguida, fui
me corpo. Então, faço algo inesperado — até mesmo para mim: agarro seu
pescoço e prendo as pernas ao redor dele. Se essa fosse a única forma de sair
O que estou fazendo? Estou perto dela há poucas horas, mas parecem dias...
meses até. Sei que não posso ter esse tipo de pensamento sobre ela. Quando a
tentei ao máximo ver apenas os seus defeitos, mas fica difícil raciocinar
Pela primeira vez, acho a aula de pole dance chata e não vejo a hora de
terminar. Ao sair, vou direto para a casa da Karine, mas ligo para minha mãe
avisando que não vou dormir em casa. Ela reclama e diz que eu deveria ir
para casa, pois precisamos conversar por causa da minha fuga na noite
passada, mas falo que conversaremos quando eu voltar e que o segurança tem
tudo sob controle. É óbvio que Bruno não sabe ainda, mas vou resolver isso
quando sair da aula.
Ele me espera na porta do salão de dança. Abro um sorriso.
— Preciso de um favor, Bruno — digo, calmamente. — Tenho que
fazer um trabalho da faculdade na casa de uma amiga. Você pode me deixar
lá?
— Casa de amiga? Lana, você sabe que tem que avisar antes para que
possamos tomar providências para a sua segurança — diz.
— Eu não sou nenhuma celebridade, isso não tem nada demais.
— Vou te levar para casa. São ordens.
— Ordens de quem? Do abusado do seu chefe? Ou você me leva, ou
vou a polícia denunciar o sequestro de ontem — ameaço, mas ele ri.
— Você é muito engraçada. Quem acreditaria nessa história?
Solto um longo suspiro e o ignoro.
— Ligue para o seu chefe e fale com ele — peço. — Por favor, isso é
muito importante.
Ele suspira e pega o telefone. Abro um sorriso agradecido. Alex
atrapalhou meus planos, preciso então reverter a situação. Sinto o sangue
correndo rápido nas veias. A sensação de que posso fazê-lo de bobo me causa
euforia. É infantil, eu sei, mas não aceito ser feita de tola. Primeiro, ele
simula um sequestro e, depois, me rejeita! Sei que ele vai ficar uma fera, e eu
vou adorar.
— Alexander, sei que você disse que era para levar a Lana direto para a
mansão, mas estou indo na casa de...
Ele continua explicando enquanto eu aguardo, com uma expressão
inocente, torcendo para que o plano dê certo. Se não, terei que repensar uma
forma de fazer o meu segurança lindo e gostoso de bobo. Ele vai ficar irado
quando souber das minhas peripécias do dia.
— Certo! Vou ficar de olho. Eu sei e não vou fazer isso. — Ele ouve e
me encara. Abro outro sorriso meigo. — Ela vai se comportar, tenho certeza.
— Faço um joinha para confirmar. — Vou fazer isso. Pode deixar.
— E aí? Estou liberada? Acho engraçado que, apesar de esse ser um
país livre, eu vivo em cárcere privado, você sabe — digo.
— Você é muito dramática, mas sim, pode ir para a casa da sua amiga,
mas vou ficar lá com você.
— Que chato!
— Poderia ser pior — ele responde, e eu acredito.
Pouco tempo depois, chegamos ao prédio da Karine. Bruno, assim
como havia dito, entra comigo e verifica tudo. Argh! Essa história é patética.
Quem iria querer me raptar? Só se estivesse desesperado, penso enquanto o
vejo vasculhar os arredores.
— Onde você vai ficar? Espero que não seja dentro do apartamento —
digo.
Ele semicerra os olhos para mim.
— Vou esperar lá fora, Lana. Estou acostumado com coisas piores —
ele retruca, e sinto um pouco de remorso por enganá-lo, mas tento não pensar
nisso.
Quando Bruno sai, Karine se volta para mim com um sorriso. Ela é
uma morena espetacular, cujo corpo foi todo turbinado em uma clínica de
estética. Seus cabelos são negros, e ela dá duas de mim; é alta, uma
verdadeira amazona moderna.
— Vamos nos divertir! — Ela me puxa para o quarto e tentamos
encontrar uma roupa para mim, mas não conseguimos por causa da diferença
de altura. Revolvemos ir às compras antes de irmos para a boate. Sinto pena
de Bruno quando saímos pelo elevador de serviços, mas tento não pensar
nisso. Vamos direto para a garagem e entramos no carro de Karine. Bom, até
que fugir não foi tão difícil.
Saímos, paramos no shopping e compramos um vestidinho branco e
curto para mim. Depois, fomos comer e colocar a fofoca em dia. Bem mais
tarde, seguimos para a casa noturna onde encontro com Jules e alguns
amigos. Mal entramos, e Karine foi se agarrar com o namorado. Eu me
acomodo em uma mesa e sinto um estranho frio no estômago. Depois de todo
esse trabalho, me sinto mal por essa aventura desnecessária. E se ele não vier
atrás de mim? Isso não vai ter graça nenhuma. Tenho vontade de ligar para
Alex, mas não tenho o número. Que merda!
— O que foi, Lana? — Jules pergunta e se senta do meu lado, passando
um braço ao redor dos meus ombros. — Quer beber o quê? — ele grita no
meu ouvido para cobrir o som alto da música.
— Nada!
— Você fez tudo isso para chegar aqui e ficar assim? — Ele balança a
cabeça — Cara, você é estranha! Está só querendo chamar a atenção do cara?
Está a fim dele?
— Claro que não... ah... tudo bem! Sim, estou a fim dele — suspiro. —
Mas ele acha que sou uma garota infantil e inconsequente.
— Ele tem razão. — Ele ri. — Você é deliciosamente inconsequente.
— Que belo amigo você é, Jules. — Dou um tapa no braço dele e uma
risadinha feliz pela parte do deliciosa.
— Amigo de verdade conhece os seus defeitos e, mesmo assim, te ama.
— Também amo você. — Dou um sorriso forçado, e ele insiste em
tomarmos algo. Peço uma bebida leve, já que não sou de beber muito e quero
me manter sóbria.
Pouco mais de uma hora se passa. Jules e eu estamos na pista de dança.
Ouço tocar a música Cuidar Nuestro Amor, de David Bisbal. Imediatamente,
penso em Alex. Sei que é cedo demais para ser amor o que sinto por ele...
mas, lá no fundo, tenho certeza de que o desejo desenfreado pode se tornar
algo ainda mais poderoso... Solto um longo suspiro, me sentindo perdida.
— Jules, quero ir embora — falo, desconsolada. — O meu plano não
deu certo. Acho que o Bruno não percebeu que fugimos. Vou avisar a Karine
que estou indo.
— Acho que você está enganada. Seu plano deu certíssimo. A cavalaria
acabou de chegar — Jules sussurra no meu ouvido.
Eu me viro e vejo a fúria que irradia dele. Prendo a respiração enquanto
observo Alex caminhar, parecendo Moisés abrindo o mar vermelho por entre
a multidão na escuridão. Ele para bem na minha frente, e seus olhos estão
sombrios. Ele não fala nada. Apenas olha para Jules e desliza os olhos em
direção aos braços que rodeiam a minha cintura. Meu amigo me solta
imediatamente, e Alex segura o meu braço e me leva para fora do clube.
— Eiii! Está me machucando — grito, fingindo indignação, mas é o
mesmo que gritar com uma parede.
Saímos para o ar frio da noite, e sou empurrada para o carro. Seu
silêncio é pior do que se ele estivesse gritando. Imagino que deva estar
furioso comigo. Abro um sorrisinho. Parece que consegui o que queria! Ele
dá a partida no carro e sai, dirigindo feito um louco pelas ruas. Não sei aonde
estamos indo, mas pouco me importo.
CAPÍTULO 7
Lana
Sinto a raiva exalar de Alexander por todo o trajeto. Ele não fala
nada, e a tensão no carro vai aumentando à medida que avançamos. Percebo
que ele não está me levando para casa. Em determinado momento, ele para o
carro e percebo que estamos no mesmo lugar de ontem. Ele sai, batendo a
porta, e dá a volta para abrir a outra para mim. Estou com um mau
pressentimento de que nada será como planejei. Sinto o calor intenso dos seus
direção a casa.
— Não sou um saco de batatas, caso não tenha percebido, Alexander
— digo, mal-humorada.
— Você é a porra do que eu quiser que seja — ele grunhe e abre a
porta, batendo com um baque pesado depois que entramos.
Estremeço com o barulho. Ele está louco!
— Fui muito compreensivo com você, Lana. Te dei a droga de uma
chance, imaginando que você tinha aprendido alguma coisa ontem, porra! —
Ele grita comigo. — Você é mimada e voluntariosa, e vou te ensinar que
você precisa amadurecer e lidar com as consequências dos seus atos!
Merda!! Ele caminha para o sofá, me levando com ele.
— O que pensa que está fazendo, Alex? — questiono, com meus
instintos em alerta máximo quando ele me puxa para seu colo e me coloca de
bruços. Ele segura com firmeza. Tento me levantar, mas ele me mantém
cativa em seus braços.
— Você vai aprender a merda das boas maneiras, Lana! — ele
esbraveja, e eu solto um grito, surpresa com sua atitude de homem das
cavernas.
Sua mão direita desliza pelo meu corpo enquanto a outra me mantém
firme. O clima tenso se torna elétrico quando a ponta dos seus dedos toca a
minha pele macia. Meu corpo inteiro se arrepia, e eu me contorço contra ele,
assustada com a expectativa do que está por vir.
— Me solta! — grito, sentindo a fúria me tomar. Nossas respirações
estão pesadas, e o som das minhas palavras parece ter o poder de despertar
ainda mais a ferocidade dentro dele. Sua mão forte desliza sobre a minha
bunda, erguendo a barra do vestido. A pele áspera desliza sobre a minha, e
ele a aperta com firmeza, seu toque despertando um desejo que eu não
esperava sentir numa situação como aquela.
— Você precisa aprender a obedecer às regras, Lana. — Seu tom de
voz é rouco e grave, e não consigo dizer se ele está com raiva ou excitado...
pelo toque sensual em meu corpo, talvez um pouco dos dois. — E sou eu
quem vou te ensinar.
Ainda me segurando com uma das mãos, ele afasta a outra do meu
traseiro até que sinto a força do primeiro tapa.
— Seu louco filho da mãe! — eu grito, mas o golpe desperta
sentimentos mistos em mim. Ao mesmo tempo que estou indignada, me sinto
estranhamente excitada enquanto ele acaricia com a palma da mão o lugar
onde me atingiu. Confusa, tento me contorcer, mas meu gesto é em vão. Ele
me mantém no lugar com firmeza. — Eu te odeio, Alex!
— Não me importo, garota estúpida! — A mão que acaricia se ergue
novamente e, antes que eu tenha chance de me preparar, sinto outro tapa. —
Quer jogar duro comigo, Lana? — ele pergunta, a voz ainda mais grave. —
Vamos ver se você aguenta o meu jogo!
Ele volta a acariciar minha bunda, que arde e está quente. Sinto as
lágrimas se formarem em meus olhos, mas pisco para contê-las. Não vou dar
a ele o gosto de me ver chorar. A indignação está tão presente quanto a
excitação, e eu me questiono como ele pode fazer isso comigo. Não sou a
droga de uma menina de cinco anos.
— Pare! — minha voz sai em um gemido trêmulo. Sinto seus dedos me
tocarem contra o tecido fino da calcinha, e eu luto contra a excitação, me
repreendendo mentalmente: isso não é nada sexy, Lana! Ser tratada feito uma
criança por esse brutamontes idiota é humilhante, falo comigo mesma,
tentando me convencer de que não estou gostando.
— Peça desculpas pela palhaçada de hoje — ele ordena. — Não vou
mais tolerar seus truques.
A mão que me mantém firme contra ele desliza pelas minhas costas até
alcançar minha nuca. Ele entrelaça os dedos em meus cabelos, puxando a
minha cabeça de forma que eu consiga ver seu rosto. Tenho certeza de que
ele consegue enxergar a raiva... mas também o desejo em meu olhar. Quando
nossos olhos se encontram, minha respiração falha, e eu tremo de forma
incontrolável. Nos encaramos, medindo forças. Ele aguarda meu pedido de
desculpas, mas não vou dar essa vitória a ele.
— Você é um grosso! — digo, furiosa. — Vai me pagar por isso,
Alexander. Seu trabalho como segurança inclui me agredir?
O peito dele sobe e desce com voracidade. Os olhos estão semicerrados
e a boca se entreabre enquanto ele desliza o olhar sobre o meu corpo seminu
contra o dele.
— Mais uma vez, você colocou a merda da sua vida em risco, Lana! E
ainda acha que não fez nada? Ignora as minhas orientações como se não se
importasse com nada! — Sinto a outra mão apertar minha bunda com
firmeza, me fazendo ofegar.
Estou excitada e perdendo o controle de mim mesma. Quando vejo o
brilho nos seus olhos verdes, tento conter o desejo e protesto novamente.
— Pare, Alex! — Minha voz sai quase um grunhido e não com a
gravidade que eu esperava. Ele percebe que estou sucumbindo ao desejo e dá
outro tapa.
As lágrimas que tanto lutei para conter começam a cair, silenciosas.
Nossos olhares se cruzam, e eu não falo nada, lutando internamente comigo
mesma. O que será que está acontecendo? Devo ser uma devassa. Em vez de
estar lutando para me soltar, estou excitada por estar levando tapas na bunda
como um bebê malcriado.
Então, de forma inesperada, me vi sendo puxada na sua direção e seus
lábios tomando os meus com paixão. O beijo é repleto de desejo, mas
também de raiva. Eu retribuo e ouço seu grunhido, sem saber se essa é uma
resposta vinda do tesão ou da ira. Mas não me importo. Ele me ergue e me
senta em seu colo, nossos peitos colados um contra o outro. Suas mãos
deslizam pela minha cintura e, ao alcançarem o meu quadril, ele puxa o
vestido para cima; ergo os braços para ajudar. Alex o joga para o chão. Fico
só de calcinha em seu colo, e nos encaramos, nossos olhares são um misto de
paixão e ódio, nossas respirações estão descompassadas. Não imaginava que
chegaríamos às vias de fato, mas ele me surpreende por não resistir à atração.
— Levante — ele ordena, e eu saio do seu colo, ficando de pé na sua
frente. — Tire a calcinha. Não era isso que você queria? — ele pergunta e
arqueia a sobrancelha, me olhando nos olhos.
Já me esqueci completamente que estava sendo punida feito uma
criança há poucos minutos. O ressentimento começa a se esvair com a força
do desejo cru que nos envolve. Tiro a calcinha e a jogo em seu rosto. Ele a
pega e a cheira calmamente, olhando em meus olhos. Isso é sexy! Que
safado! Seu olhar queima sobre mim enquanto ele o desliza pelo meu corpo,
de cima a baixo. Perco o fôlego com a intensidade dos olhos cor de jade.
Será que ele me deixou fugir para ter um motivo para me trazer aqui?
Como uma desculpa para quebrar as merdas das duas regras? Essa
possibilidade me deixa ainda mais excitada, e meu corpo arde em
expectativas.
Alex se levanta devagar. Tento abraçá-lo, mas ele se afasta.
— De joelhos no sofá, Lana.
Sua voz é rouca e desperta um arrepio que começa na base da minha
coluna e dispara por todo o corpo, que arde com tesão pelo homem gostoso
na minha frente. Seguro o encosto do sofá e fico de joelhos no assento. Eu o
sinto atrás de mim. De forma inesperada, ele dá um tapa forte na minha
bunda e segura meus glúteos enquanto solto um gemido com a luxúria que
corre solta. Já não estou mais assustada com os tapas. Ele se inclina sobre as
minhas costas e puxa meus cabelos para trás, expondo meu pescoço e o
rodeia com a outra mão.
— Gosta disso, pequena encrenqueira? É isso o que você quer de mim?
— Ele aperta meu pescoço suavemente, e quero esfregar meu corpo contra o
dele. Tento arquear contra ele, mas Alex aperta com mais firmeza.
— Claro que não, seu estúpido! — Nego o óbvio. Só um homem
inexperiente não notaria meus mamilos duros e arrepiados. — Você só fala,
brutamontes? Não fode? — provoco.
Ele me solta e recebo outro tapa de mão aberta enquanto ouço seu riso
gutural.
— Você não aprende, não é, espertinha? — ele grunhe e se afasta de
mim.
Olho para trás e o vejo tirar a roupa. Alex é grande, e sua massa sólida
de músculos é impressionante. Quero muito explorar aquele corpo por todos
os ângulos possíveis. Mas, nesse momento, só quero que ele me tome.
Em pouco tempo, seu pau deliciosamente duro está apontado para mim,
coberto por um preservativo. Não há qualquer romantismo. Esse momento é
de pura fome carnal. Ele volta a se inclinar atrás de mim, deslizando as mãos
pelas minhas costas, subindo pela lateral do meu corpo e segurando os seios
com as duas mãos enquanto aperta meus mamilos. Dor e prazer se misturam.
Rebolo minha bunda contra sua virilha, desejando mais. Quem disse que
quero romantismo? Eu o desejo com loucura. Seus dentes mordiscam o
lóbulo, e a sua respiração em meu ouvido me deixa trêmula. A ponta da sua
língua percorre toda a minha orelha, me arrepiando da cabeça aos pés. Ele
morde a minha nuca, e eu gemo descontrolada, arqueando de encontro ao seu
corpo. Me esfrego contra ele, impaciente e ardente. Eu o quero dentro de
mim!
— Tão ansiosa — ele murmura e se ergue, segurando meus quadris.
Acaricia suavemente minha bunda, e sinto sua boca quente deslizando sobre
os globos redondos, onde antes ele bateu com força. Mordisco os lábios
quando sinto suas mãos, lábios e língua pela minha pele. Enquanto dá
mordidinhas e lambidas de forma sensual, todo o meu corpo se arrepia, e uma
sensação deliciosa toma conta de mim. Estou molhada e excitada demais,
pronta para recebê-lo. Sua boca pecaminosa agora devora a minha boceta, me
fazendo gemer alto. Seu toque é rápido e, antes que eu espere, ele está entre
as minhas pernas, empurrando para dentro de mim em um movimento brutal.
Me penetrando com uma única estocada.
Porraaa!! Isso doeu.
— Ai, seu... — Ele se afasta e penetra até o fundo outra vez, tirando
literalmente o meu fôlego. — Ahhhh — gemo. Apesar do desconforto por ele
ser um homem tão grande, em todos os sentidos se comparado ao meu corpo
pequeno, é tão gostoso... parece que o tenho inteiro dentro de mim.
Alex não é nada gentil, ele me penetra intensamente enquanto eu
seguro o encosto do sofá com firmeza.
— Vai me matar, seu bruto — reclamo, mas minha voz sai ofegante. E,
apesar do protesto, eu adoro a sua pegada.
A luxúria me consome, estou tonta de prazer com a sensação de
preenchimento que Alex me proporciona. Ele entrelaça os dedos em meu
cabelo novamente, segurando-o com firmeza enquanto espalma a outra mão
nas minhas costas, passando a me comer com força, entrando e saindo de
dentro de mim. Me sinto enlouquecida de tesão e acompanho seus
movimentos de vai e vem. Nos tornamos irracionais. Descontrolados.
Extasiados. Até que grito, gozando violentamente e perco o controle de vez,
me dando conta de que, na verdade, não há qualquer controle no que se refere
aos sentimentos que Alexander me desperta.
Ele explode em um orgasmo avassalador, e o sinto estremecer atrás de
mim. Ouço seu rosnado quando perde o próprio controle e goza dentro de
mim. Caímos no sofá, emaranhados e suados. A letargia envolve meu corpo
quando me deito em seu peito duro e sinto seus braços me envolvendo e sua
mão deslizando sobre meus cabelos revoltos...
Alexander
Lana adormece. Eu a carrego para o quarto e a coloco sobre a cama.
Não sei que merda é essa que estou fazendo. Trazê-la até aqui e transar com
ela foi loucura. Já tive a minha cota de relacionamentos difíceis. Não suporto
complicação, por isso terminei com Adriane. Lana Mitchell é um problema
três vezes maior. Não quero que a minha vida seja virada de cabeça para
baixo por uma louca novamente, não mesmo!
Mas essa atração irresistível por ela me tira dos eixos.
Ela se aconchega a cama enquanto eu observo seu corpo pequeno e
curvilíneo. A porcaria do tesão volta com força total, mas me esforço para
ignorá-lo. Eu a cubro e vou para o chuveiro. Uma ducha fria vai acalmar a
droga da ereção. Porra de pau com vontade própria!
Hoje mandei que Bruno ficasse de olho nela que, mais uma vez, provou
ser mais esperta que nós. Eu não estava levando a sério as travessuras dessa
garota, por isso ela consegue essas façanhas. Não pude ficar com ela como
prometi, pois fui me reunir com a polícia para tentar desvendar os bilhetes
que Mitchell tem recebido. Foram horas de conversas. Quando Bruno me
ligou avisando do tal trabalho da faculdade, achei estranho. Até pensei que
era mais um truque dela, ou que Bruno a estava cantando, e como ela é
doidinha, podia estar cedendo aos avanços dele, mas ele me garantiu que não
era nada disso.
Ligo o chuveiro e fico debaixo do jato frio. Preciso colocar a cabeça no
lugar. Fiquei cego de raiva quando Bruno me ligou outra vez, avisando de
mais uma fuga. Geralmente eu cuido da parte administrativa da empresa.
Muito raramente faço a segurança de alguém, mas, agora, Lana não vai sair
das minhas vistas.
Estou muito puto e me sinto decepcionado com ela. Pensei que havia
me escutado. Mas que nada! Tenho certeza de que ela faz de propósito.
Afinal, qual seria a razão para agir dessa maneira leviana? Não sou um cara
violento, mas ainda sinto vontade de apertar aquele pescoço só de pensar no
risco que ela se colocou. Tentei me acalmar durante o trajeto daquela porcaria
de clube noturno até a minha casa, mas perdi o controle. Estou fodido! Ela
pode me ferrar. Não confio nem um pouco nela. Desmiolada do jeito que é,
pode até ir à polícia e dizer que eu a agredi. Estou ficando burro depois de
velho.
Saio do banho, enrolo uma toalha ao redor da cintura e vou para o
quarto. Visto uma boxer e vou verificar o sistema de segurança. Precisei
mudar o código de acesso por causa da Adriane. Ela precisa entender que não
tem mais lugar na minha vida. Já permiti demais que ela se infiltrasse aqui.
Pego o telefone, ligo para a casa dos Mitchell e falo com Daniel, um
dos seguranças da noite. Quero saber se há novidades ou se recebemos mais
algum bilhete. Peço que ele assegure aos pais de Lana que ela está bem.
Como ela mentiu para a mãe dizendo estar na casa de uma amiga, quero que
eles continuem pensando isso. Cibelly é tão ingênua que ainda acredita na
filha.
Depois de desligar, continuo sentado na sala. Sinto vontade de tomar
uma bebida forte, mas fico olhando o teto sem saber o que fazer. Pouco
depois levanto, me sirvo um drinque e vou para o quarto. Eu deveria ir para o
quarto de hóspedes, mas quem disse que tenho bom-senso? Entro e tranco a
porta. Não quero ser passado para trás de novo, caso ela acorde antes de mim.
Apesar que ela não teria como sair, já que a casa não tem chave.
Tomo um gole da bebida enquanto me sento na cama. Coloco a chave
do quarto na gaveta do criado-mudo. Sem resistir, me abaixo e beijo sua boca
suavemente. Ela se mexe e vira para o outro lado. Eu abro um sorriso. Será
que Lana Mitchell acha mesmo que vai dormir a noite inteira?
CAPÍTULO 8
Lana
Abro os olhos. Estou em uma cama estranha e vazia. Levanto a
cabeça do travesseiro e olho ao redor, me deparando com a manhã
acordou com beijos luxuriosos para uma segunda rodada de sexo puramente
primitivo é gloriosa. Adoro como ele me segura. Parece ter fome quando me
beija com intensidade. Ah, merda! Estou excitada de novo e ele nem está
urgente. Saio minutos depois, mas não encontro nada para vestir. Por mim,
tudo bem. Enrolo a toalha no corpo e sigo pela casa a procura de Alex.
Suas palavras ressoam na minha cabeça. Acho que fui fácil, o que faz
com que ele não se importe comigo. Por outro lado, eu o entendo... ter uma
relação comigo deve ser ruim, já que, para ele, sou sinônimo de problemas.
Ao chegamos na minha casa, saio do carro, bato a porta e não olho para
trás. Enquanto me afasto, ele me chama, mas finjo não ouvir. Babaca!
CAPÍTULO 9
Lana
Depois de ir para o meu quarto trocar o vestido de noite, atravesso
a casa, a procura da minha mãe. Ela está na biblioteca, onde costuma passar
boa parte do seu dia. Ela ergue os olhos do livro ao me ver e eu me aproximo,
indo me acomodar perto dela. Sei que precisamos conversar, mas não sei o
que dizer, já que não acredito que ela entenderia as minhas escolhas.
Opto pela alternativa mais simples e a deixo falar...
*
A tarde passa devagar. Passo o resto do dia com Luca, meu irmão
caçula, na piscina. Me repreendo, pois deveria fazer isso mais vezes. A hora
do jantar se aproxima e, desde que cheguei, só encontrei com o Alex uma
vez. Ele agiu de forma estranha, mal me olhou, me fazendo questionar se
aquilo se devia ao que aconteceu entre nós na noite passada, Então, fiz o
mesmo. Ignorei.
Estava descendo as escadas, quando ouço os primeiros convidados
começaram a chegar. Alex estava na porta checando cada um. Isso é mesmo
necessário? Meu pai está neurótico com essa coisa de sequestro!
O jantar transcorre com tranquilidade, mas a minha vontade é estar bem
longe. É maçante ficar ouvindo esses homens falando de negócios, tendo que
interagir com as esposas, umas peruas emperiquitadas. Para minha surpresa, o
pai do Jules está entre os convidados. Não fazia ideia de que eles tinham
negócios juntos. Mas isso pouco importa isso para mim. Olho ao redor, mas
não acho quem procuro. Onde será que ele está? Tenho que dar um jeito de
ficar a sós com Alex. Rio comigo mesma. Será que ele pensa que se livrou de
mim?
Quase no fim do jantar, peço licença e saio da mesa. Tenho um
segurança para caçar.
Amanhã tenho que ir para a ONG. Sei que vai ser divertido lá e tenho
que estar presente. Preciso convencê-lo a me levar.
Alexander
Por entre as sombras, observo os convidados de Mitchell. Qualquer um
pode ser aquele que envia os bilhetes e o mentor do sequestro. Muitos
homens de negócios podem ser implacáveis com seus rivais. Não descarto
ninguém, mas um, em particular, chama a minha atenção. Talvez seja pelo
fato de ele ser muito jovem comparado aos demais, ou, quem sabe, por estar
olhando muito para a Lana, ainda que com discrição. Ele não havia tentado
falar com ela, mas sempre que olho em sua direção, seus olhos estão focados
nela. Isso é irritante.
Não sou hipócrita. Sei que Lana é linda e isso chama atenção. Chequei
a lista de convidados várias vezes e não encontrei nada de suspeito, mas
precaução nunca é demais. Ao vê-lo desviar novamente o olhar para ela, sinto
vontade de arrancar os olhos dele. Solto um longo suspiro, ao me imaginar
como um animal marcando território. E, o pior de tudo, é que não quero que a
noite passada se repita. Que se foda, quero sim, mas sei que isso não vai dar
certo. O pai dela me paga para mantê-la segura não para trepar com ela. Nem
um santo poderia deixar de reparar na garota, ainda mais quando ela
demonstra tanto interesse.
Meu celular toca e vejo que é Adriane. Estou perdendo a paciência com
ela. Imagino que ela esteja na porta da minha casa, tentando entrar de novo.
Ignoro a chamada e guardo o telefone.
Sorrio ao observar Lana se contorcer impaciente na mesa. O que essa
garota tem na cabeça? Provavelmente nada. De repente, ela se levanta, olha
ao redor, mas não me vê. Observo quando ela se aproxima de um dos
seguranças, que aponta na minha direção.
Ela está me procurando? Merda! Aqui não, Lana! Tento me afastar sem
que ela me veja, mas a diaba já vem na minha direção.
Permaneço sério quando ela se aproxima.
— Oi, bonitão!
— O que deseja, Lana? — resmungo.
— Não você — responde e empina o queixo. — Preciso conversar.
— Estou ouvindo, garotinha.
Na mesa do jantar...
Mal consigo acreditar que estou dentro da casa de Mitchell. Nem sua
equipe de seguranças conseguiu me detectar. Jamais irão suspeitar de mim,
o que é perfeito. O jantar foi um arranjo de última hora. Vários empresários
foram convidados para uma conversa sobre uma possível parceria e eu
aproveitei. Vim para observar a rotina da casa. Agora, só preciso aguardar
o momento propício e atacar.
Deveria ter imaginado que o empresário teria um batalhão de homens
fazendo a segurança. Meu alvo principal acaba de sair da sala com um
deles. Não tive oportunidade de me aproximar. Merda! Talvez eu deva
repensar minha escolha... quem sabe a esposa seja uma opção melhor?
Mas não hoje. Por enquanto, vou apenas observar a movimentação.
Tentar algo seria muita burrice...
CAPÍTULO 10
Lana
— Estou ouvindo, garotinha — Alexander repete impaciente.
— Podemos ir para outro lugar? — Olho ao redor. Tento seguir para a
biblioteca, onde teríamos privacidade, mas sou impedida pela mão de Alex
no meu braço.
— Lana, se não percebeu, estou trabalhando. — Seu tom é baixo e
firme. — Não tenho tempo para suas... — ele faz uma pausa. Sua expressão
demonstra pouco caso para o que preciso falar. —... conversas.
Cara, estou tentando fazer a coisa certa e ele acha que é brincadeira?
Que eu quero chamar a atenção? Se eu resolver sair sozinha amanhã, ele não
vai gostar.
— Estou tentando falar com você. — Cruzo os braços e fecho a cara
para ele. — Dá para me ouvir? Tenho que sair amanhã.
— Ninguém está te impedindo de sair, Lana. É só avisar — ele replica.
— Mas é que estou fazendo agora. E você não está dando importância.
— O aborrecimento me toma com o fato de estar sendo tratada como uma
imbecil. A raiva começa a bater de frente com a vontade de fazer a coisa
certa. — Será que sempre que eu tiver que fazer algo vou ter que fazer
estripulias para ser levada a sério? Isso magoa.
— Você é a culpada de tudo isso, Lana. Se leve a sério, e as pessoas
vão te respeitar. Até lá, aguente as consequências da sua infantilidade.
Sinto meus olhos arderem e a garganta se fechar de raiva e decepção.
Dou meia volta e o deixo lá. Ouço Alex chamar meu nome, mas não olho
para ver se ele me segue ou não. Vou para o quarto e me tranco. Odeio essa
atração que sinto por ele. Eu deveria saber que nada ia mudar.
Assim como meus pais, sinto que Alex quer que eu aja de acordo com
suas regras. Pensar em meus pais me remete a conversa que tive com a minha
mãe. Pelo que ela falou, não era só a minha vida profissional que eles querem
manipular. Ela insinuou que o meu pai está pensando em me apresentar ao
filho de um parceiro de negócio. Será que ele acha que eu concordaria com
isso? Voltamos a idade média, onde os pais escolhiam os maridos das filhas?
Ele pode mudar de ideia, porque nunca vou aceitar isso.
Me deito na cama e pego o controle remoto do aparelho de som.
Preciso dançar. Estou há tanto tempo sem fazer o que realmente gosto... mas
decido ficar na cama ouvindo Demi Lovato. Parece que a música foi feita
para mim.
...
Never put my love out on the line
Never said "Yes" to the right guy
Never had trouble getting what I want
But when it comes to you, I’m never good enough
...
A música fala sobre manipular as pessoas, mas, a verdade é que Alex é
o único que não manipulo de alguma forma.
Não aguento ficar muito tempo deitada. Estou com raiva e inquieta.
Preciso fazer alguma coisa. Não quero nenhum segurança perto de mim,
principalmente a droga do meu algoz. Saio para a sacada do quarto.
Ultimamente, sempre tem um segurança debaixo da minha varanda. Deve ser
coisa do Alex “doente por controle” Marshall. Aliás, ele parece querer me
controlar o tempo todo. Saco!
Olho por trás da cortina e não vejo ninguém. Volto para o quarto, visto
uma legging e prendo o cabelo em um rabo de cavalo. Em seguida, envio
uma mensagem para Jules e outra para Karine, enquanto volto para a sacada.
Na lateral, uma escada conduz em direção a piscina e o jardim. Desço os
degraus devagar. Não vejo ninguém para me impedir. Desde ontem, nenhum
dos meus amigos se preocupou se algo havia acontecido comigo depois que
Alex me tirou da casa noturna. Amigos da onça!
Caminho rápido para a casa da piscina. Lá vou poder colocar uma
música alta e extravasar meu mau-humor...
O celular vibra e vejo a mensagem de Karine, dizendo que fala comigo
depois, mas não respondo.
Entro e acendo uma luz difusa na parede. Abro uma janela para o ar da
noite entrar, e conecto o celular no sistema de som. Escolho Domino, da
Jessie J e respiro fundo...
A música começa a tocar e começo a dançar. Isso me faz esquecer de
tudo... como não tem ninguém por perto, aproveito a calmaria para suar e
deixar de pensar em tantas besteiras e em um certo homem certinho demais.
Alexander
Tenho vontade de segui-la e colocar um pouco de juízo na sua cabeça.
Lana tem que entender que as coisas não têm que ser do jeito dela ou na hora
que ela determina. Ela está me distraindo do que tenho que fazer aqui, que é
cuidar do bem-estar da sua família — que paga pelo melhor serviço possível
— e, até agora, estou me envergonhando pelos serviços prestados.
Os convidados terminam de jantar e seguem para outro cômodo da
casa. Mantenho os olhos neles e continuo no canto quando — cerca de quinze
minutos depois — ouço a voz de Bruno na escuta. Ele está com Carl, na área
externa da casa.
— Coelho saindo da toca. — Ele dá uma risadinha característica dele, e
sei que o idiota está se divertindo com tudo isso. — Ela sempre tenta
escapulir de alguma forma.
Ele não precisa dizer que é está se referindo a Lana. Eu devia imaginar
que ela não se manteria quieta por muito tempo.
— Mantenha os olhos nela. E, Bruno, não a deixe sair da casa — exijo.
— Estou de olho, mas acho que ela não vai muito longe. Está se
dirigindo para a casa da piscina. — Eu confio em Bruno, mas sua cafajestice
com as mulheres me preocupa. Não me incomodo que ele se envolva com as
clientes, mas Lana estava fora de questão. Ele que nem pense nisso!
— Me mantenha informado dos seus movimentos, Bruno. — Não
demonstro estar chateado, mas sei que tenho que conversar com ele em
breve. Meu sócio é um cara esperto e profissional, mas quando o assunto é
mulher, nada o segura. Quando coloca na cabeça que vai ter alguém, ele vai
até o fim. Mas se ele acha que a Lana será a próxima, vai ter que mudar de
ideia.
— Ok! — ele confirma e eu espero que realmente esteja tudo certo até
que eu tome as rédeas da situação com Lana.
Parece que os convidados de Mitchell não irão embora tão cedo. Não
quero deixar o meu dever nas mãos dos outros. Não gosto da sensação que
estou sentindo e deixar que outras pessoas assumam a minha
responsabilidade está fora de cogitação. Meu celular continua tocando no
bolso e sei que é Adriane. Que porra de mulher insistente! A culpa é minha,
que não impus limite quando deveria. Tenho que resolver isso logo.
Um pouco mais tarde, os primeiros convidados começam a sair. Não
vejo a hora de todo mundo sair para que eu possa ir embora também. Lana
me vem à cabeça e eu chamo Bruno, para saber onde ela está, mas ele não
responde. Onde será que ele se meteu?
Chamo Carl, que responde imediatamente.
— Diz aí, Alex!
— Onde você está?
— Ala leste, indo para a frente da casa — ele responde. — Algum
problema?
Merda, a casa da piscina fica do outro lado.
— Você esteve com o Bruno?
— Há uns dez minutos. Vou tentar falar com ele. Está acontecendo
alguma coisa?
— Tentei falar com ele, mas não tive resposta. Veja se está tudo bem.
Sigo para o lado de fora e vejo os convidados começarem a entrar nos
carros estacionados.
— Em dez minutos todos estarão a caminho de suas casas.
— Entendido.
Não tenho retorno de Carl, mesmo após os dez minutos. Minha
impaciência e preocupação estão incontroláveis e sigo na direção da ala oeste
da casa. Peço para que um dos seguranças avise a Mitchell que preciso falar
com ele antes de ir embora.
Encontro Bruno e Carl discutindo em voz baixo perto da casa, e paro ao
lado deles.
— As mocinhas já terminaram? Onde está a Lana, Bruno? Não era para
você me manter informado? — grunho as perguntas.
— Ainda está na casa — ele aponta e Carl resmunga.
— Qual o problema com vocês dois?
— Nada demais, Alex. — Bruno sorri e olho para Carl, que mantém o
cenho franzido.
— Carl...
— Nada, Alex. Nós dois temos opiniões diferentes sobre uma coisa.
Deixo os dois sem falar nada e caminho para a casa. Entro e fico
paralisado. Lana está tão absorvida na música que não me ouve entrar. Fecho
a porta e me inclino contra ela, assistindo.
Lana é linda e tão sensual...
Me distraio com a sensualidade da minha pequena encrenqueira. Sinto
meu corpo esquentar, a vontade de esquecer o trabalho aumenta e tudo que
quero é agarrá-la e trepar com ela na merda daquele chão enlouquecidamente.
Respiro com dificuldade quando ela empina a bunda para minha visão
completa. Safada! Já deve saber que estou aqui e me provoca de forma
descarada.
Foco, Alex!
Olho ao redor e vejo a janela aberta. Então, algo me vem à cabeça.
Bruno não estava fazendo nada idiota, não é? Penso na discussão dele
com Carl, quando cheguei. Filho da puta! Vou arrancar suas bolas... a raiva
me toma. Idiota filho da mãe! Espero que ele mantenha as mãos e olhos para
si mesmo. Com certeza ele esteve assistindo o showzinho de dança.
Lana
Percebo a presença de Alex na porta e continuo a rebolar ao som da
música Sweet Dreams, da Beyoncé. Fecho os olhos e finjo que não o notei me
observar. Mas nem chego ao final. Paro, porque não aguento a força do seu
olhar sobre mim.
Que bela dançarina sedutora você é, Lana Mitchell, falo para mim
mesma.
— O que você quer? — pergunto me aproximando do aparelho de som
e desligo a música. — Não tenho nem mais o direito de ficar sozinha?
— Pode continuar. Não pare por minha causa. — Olho para ele na
penumbra e observo seus olhos verdes cintilantes. — Mas, antes, havia mais
alguém aqui com você?
— Mais alguém? Quem? O seu segurança foi o único que apareceu por
aqui, parecendo gostar da minha dança. E se eu estivesse com alguém aqui,
não era da sua conta! Você me atrapalhou.
Ele vai até a janela aberta, olha para fora e a fecha em seguida. Ele se
volta para mim e seu rosto é uma máscara de frieza. O que fiz agora para ele
estar tão puto?
— Bruno disse alguma coisa a você? — ele pergunta. Seu queixo está
tenso. — Você conversou com ele?
— Conversei? Não tenho nada para falar com seus funcionários. — O
olhar duro continua lá. — O que fiz agora? Não posso nem vir aqui? —
Aponto ao redor. — Isso já virou paranoia sabia?
— O que você queria falar comigo, Lana? — Ele suspira. Se renda,
Alex. É mais fácil. — Tenho algo para resolver, então fale.
Eu o encaro, mas perco o foco do que ia dizer. Balanço a cabeça e pego
o celular O para voltar para casa. Alex é demais para minha sanidade mental.
— Não é nada de importante. Amanhã o seu segurança me leva onde eu
tenho que ir ou vou sozinha — respondo e tento passar por ele, indo em
direção à saída, mas a mão dele se apoia na porta, mantendo-a fechada.
— Fala, Lana!
— Alex, estou cansada disso. Você me pressiona, depois volta atrás e
vice-versa. Suas ações são contraditórias o tempo todo — as palavras saem
em um turbilhão e a coisa que mais odeio acontece: sinto as lágrimas
começarem a cair. — Só me deixe em paz, por favor.
— Vai fazer beicinho agora ou vamos conversar como adultos? — Ele
apoia o ombro na porta
— Vá se foder!
— Qualquer hora dessas vou lavar sua boca com sabão. — Alex abre
um sorriso de lado e estende a mão, segurando o cabelo que soltei enquanto
dançava. Ele se inclina na minha direção e murmura. — Onde você quer ir
amanhã, garotinha?
— Você sabe. Você não disse que sabe de todos os meus passos? —
fungo, dramática. — Porque não começa seu discurso sobre como eu sou
infantil e tudo mais?
Ele não discute. Apenas segura meu rosto com as duas mãos e me olha
nos olhos com firmeza.
— Preciso que vá para dentro de casa, Lana. E amanhã vou te levar, ou
mandarei alguém, onde você queira ir. — Seu polegar acaricia minha boca.
Fecho os olhos e umedeço os lábios, lambendo seu dedo no processo. Ouço a
sua respiração e levanto os olhos para encarar os seus. — Acho melhor enviar
uma mulher para te acompanhar, assim você não vai seduzi-la — ele fala,
mas não me larga, em vez disso, se aproxima mais, fazendo meu corpo
encostar na porta fechada. — Tenho que falar com o seu pai antes de ir
embora. Então é melhor que você entre e fique lá dentro até o amanhecer.
— Tudo bem — concordo.
— Tudo bem? Assim, tão fácil? — Ele me observa e ri. — Não vai
tentar me seduzir?
— Não quero mais nada com você. Já matei a curiosidade — falo de
forma inexpressiva. Em seguida, acrescento casualmente. — Não estou mais
a fim. Posso ir dormir agora?
Ele me olha surpreso. Parece acreditar em mim, pois suas mãos se
afastam do meu rosto e seus olhos perdem o calor.
— Vamos. — Ele abre a porta e saímos em direção a casa. — Fique no
quarto, Lana. — diz quando alcançamos as escadas da sacada.
— Pode deixar.
Sinto vontade de mostrar a língua para ele. Quando vê que entrei e
tranquei a porta, Alex vai embora. Corro até a cômoda, pego uma mochila e
enfio algumas roupas lá dentro. Em seguida, saio pela varanda, outra vez. Sei
que colocaram uma câmera na frente da porta do quarto, então evito sair por
lá.
Caminho pelo jardim e procuro o carro de Alex, que sempre fica
estacionado do lado de fora da garagem e quase em frente à casa. Estou
prestes a virar a esquina quando um segurança vem na minha direção. Me
escondo entre a parede e um arbusto alto. Será que ele me viu? Ele se
aproxima mais e para bem na minha frente. Merda!
— O que está fazendo, Lana? — É Carl. Ainda bem. Ao menos eu o
conheço.
— Oi, Carl, estou tomando ar. Algum problema? — pergunto e
continuo agachada.
— Problema nenhum, mas o horário é bem impróprio. E, por acaso,
você toma ar na terra? Está praticamente com o nariz no chão.
— Você é tão engraçado. Qual é o carro do Alexander? E onde ele
está? — pergunto e me levanto. Tenho que me aliar a alguém.
— Por que quer saber? — Ele me observa atentamente.
— Combinei de ir para a casa dele, sabe? — Suspiro. — Amanhã tenho
que sair e ele vai me levar. Meus pais não sabem... e gostaria que isso
continuasse assim. Você pode me ajudar e deixar eu fique esperando no
carro?
— Claro que não!
— Não vou sem que o Alexander saiba. Ele que me mandou vir até
aqui para esperá-lo — insisto. Cara chato!
— Tudo bem... mas preciso perguntar a ele antes.
Ah, droga.
— Não precisa. — Me aproximo mais dele. — Tudo bem, você
venceu! Queria fazer uma surpresa para ele. — Faço beicinho. — Vou
esperar no carro, você queira ou não, e se tocar em mim vai se arrepender.
Caminho com passos firmes até o carro, abro a porta, sento no banco de
trás e espero. Menos de dez minutos depois, vejo Alex se aproximar.
Segurança fofoqueiro! Ele entra no lado do motorista, me olha pelo
retrovisor, bufa de raiva, fecha os olhos e encosta a cabeça no banco.
— O que você faz aqui? Perdeu alguma merda dentro do meu carro? —
ele grunhe. — Estou cansado disso!
— Vamos embora, Alex. E antes que você me mande sair do carro, se
eu fosse você não faria isso. — Eu o encaro pelo retrovisor. — Ou vou contar
amanhã cedo para o meu pai que fomos para cama e, você sabe, ele ainda
acha que sou virgem! Então, meu querido, vamos logo!
— Gostou das palmadas que levou na minha casa, Lana?
— Se tocar em mim daquele jeito de novo, eu quebro a sua cara — falo
e passo para o banco, virando bem a bunda para o seu lado. — Pronto,
podemos ir!
— Você vai se arrepender disso, garota!
Ele liga o carro e eu escondo o sorriso. Seguimos para a casa dele, que
dirige como um louco pelas ruas, me causando calafrios.
— Você sempre dirige assim, feito um louco? — pergunto segurando
firme no banco.
— Sei o que faço — resmunga.
— Mas eu não, por favor, vá com calma.
— Foi você que entrou no meu carro sem permissão. Então aguente!
Ao chegarmos na casa de Alex, sou prensada contra o corpo duro e
grande de Alex. Hummm, para quem não me queria perto... sua boca cobre a
minha com firmeza, a língua me invade e suga a minha. Ofego quando ele
morde meus lábios e o brilho malicioso nos olhos verdes são o único indício
de que vim parar na cova do leão. E eu amo ser a droga da sua presa. Ele dá
um tapa na minha bunda e a segura com força.
— É isso o que veio buscar, garotinha?
— Você gosta, Alex, admita.
Deslizo as mãos na frente da calça e acaricio seu pau por cima da
roupa. Sua sólida manifestação de desejo me deixa molhada e louca para
fazer tudo o que ele quiser. A luxúria violenta aperta meu baixo ventre e
começo a desabotoar sua camisa, passando as mãos por todo o seu peito. Me
inclinando, deslizo a língua por sua barriga enquanto desabotoo a calça.
Quando consigo, levo as duas mãos para dentro da boxer e aperto sua bunda
sexy. Tento tirá-la, mas ele, como sempre, tem que atrapalhar minha
diversão...
— Vem. — Ele segura minha mão e me leva para o quarto. Caímos
juntos na cama, ele por cima de mim, e nos beijamos com ferocidade, como
animais descontrolados. As respirações entrecortadas são os únicos sons no
quarto enquanto sou devorada viva. Alex segura meus pulsos para cima.
Levanto o dorso para encostar nele, que prende rapidamente os meus pulsos
com uma algema. Em seguida, me prende na cama. Ele suga meu mamilo por
cima da roupa deixando os bicos duros e salientes, deixando a marca da sua
boca na minha blusa, e repete o mesmo processo no outro seio. Gemo alto,
querendo mais.
— Alex — sussurro, louca de tesão, e querendo seu contato como uma
desesperada.
Ele se afasta me deixando excitada, e me olha com um sorriso
malicioso, de pé ao lado da cama.
— Vai ficar aí parado? — pergunto, sem fôlego.
— Não, vou checar uns documentos e dar uns telefonemas. — Ele
caminha para a porta me deixando lá. — Até amanhã!
O quê?
— Aleeex!!!
— Se comporte!
— Você está brincando comigo, não é?
— O que você acha?
— Isso não tem graça, Alex!
— Essa é só uma pequena lição, Lana. E tentar me chantagear não é
uma boa ideia — ele fala, parado na porta. — Você vai descobrir que essas
coisas não funcionam comigo. Eu tinha uma noite sensual programada e você
estragou com essa chantagenzinha de merda!
— Noite com quem? — pergunto furiosa, minha excitação esquecida.
— Você tem alguém? É aquela sua namorada?
— E se for? — Ele arqueia uma sobrancelha. — Ah, durma bem. —
Alex sai do quarto fechando a porta suavemente. Ele não vai me deixar aqui
assim, vai?
Começo a gritar e xingar todos os palavrões que conheço. Filho da
mãe! Não sabia que eu estava brincando? Que não contaria nada para o meu
pai?
— Aleeex!!! — grito inutilmente. — Vou matar você!
Depois de muito tempo me contorcendo, me convenço de que ele
realmente quer me dar uma lição. Que droga! Parecemos duas crianças
medindo forças.
Meus braços estão dormentes e as lágrimas de raiva começam a cair.
Não sei quanto tempo se passa. Devo ter adormecido, porque quando
acordei estava solta e o quarto estava claro. Nem sinal de Alex.
Continuo deitada, sentindo uma tristeza fora do comum. Fico pensando
se devo ir para a ONG com esse ânimo. Olho para o relógio da cabeceira da
cama. São cinco da manhã, ainda tenho tempo. Ao perceber que estou com as
mesmas roupas de ontem. Tiro tudo e volto nua para debaixo dos lençóis...
CAPÍTULO 11
Alexander
O dia amanhece e ainda estou na sala. Durante a madrugada fui
até o quarto e retirei as algemas de Lana. Mesmo que não tenha sido uma
ideia genial da minha parte, serviu para nós dois. Preciso manter a cabeça no
mesmo tempo, tentadora. Quero realizar todas as fantasias que ela me pede
Não tem nada pior que passar o sábado em casa. Acrescente a isso o
pensamento de Alex com a ex, em uma conversa que pode muito bem
terminar na cama. Estou a ponto de enlouquecer. Olho para o teto, entediada,
quando meu irmão aparece na porta do quarto.
— Oi, carinha. O que manda? — Sorrio para ele.
— Quer jogar comigo?
Ah, não! Mas vou para um jogo com meu irmão. Fazer o que se
estamos presos em casa como se tivéssemos cometido algum crime. Nada
como uns bons tiros no inimigo visualizando certo brutamonte.
Já são quase onze da noite quando volto para o quarto. Pego o celular e
ligo para Juliano, “vulgo” Jules. Sorrio pois sei que ele não gosta muito do
próprio nome.
— Gata, você me abandonou!
— Oi para você também, Jules. Onde você está?
— Em casa, meu pai reuniu a família para anunciar a nossa falência. —
Sua voz sai em tom de lamento. — Tínhamos algum compromisso?
— É sério, Jules? Sinto muito.
Conheço os pais do Jules, ou melhor, a mãe. O pai eu quase não vejo.
Pelo que sei, meu pai já teve algum tipo de negócio com ele, no passado. Mas
não acho tenham qualquer ligação recente.
— Ele disse que em breve tudo vai se resolver. Que voltaremos ao topo
outra vez. — Ele não parece se preocupar, mas isso é bem típico dele. — A
minha mãe que está péssima. Vai ter que parar de comprar bolsas de grife —
zomba.
Conversamos um pouco mais e desligo depois que combinarmos de nos
encontrar. Ele é o meu melhor amigo e sinto a sua falta. Além, disso, preciso
de um pouco de distração.
Perto dali...
Caminho de um lado para o outro no escritório da minha casa.
Contratei uma pessoa para vigiar a casa de Mitchell. Saber que tanto
trabalho foi desperdiçado, que por culpa dele estou indo à falência nos
negócios e que isso pode afetar a minha família, me faz desejar pagá-lo na
mesma moeda. O meu filho é um tonto, vive no mundo da lua, mas é amigo
da filha dele. Posso usar o rapaz para atrair a garota para cá. Faz pouco
tempo que ela esteve aqui, mas não desgrudou um minuto do Juliano.
Quando eu estiver com a querida filha dele, Mitchell não vai manter a
confiança. Hoje, quando anunciei que estávamos à beira da falência, me
senti um fracasso. Ter meus planos naufragados porque Mitchell se meteu
onde não devia, tirou a minha chance de resgatar a empresa da lama. Ele
tirou isso de mim.
Meu filho vai me ajudar, mesmo que não saiba disso ainda. Vou fazer
com que ele a convide para vir aqui e depois vou me livrar dos seguranças
dela.
Alexander
CAPÍTULO 13
Lana
Fico parada vendo Alex se aproximar.
— Onde está a minha outra sombra? Preciso sair — falo e mantenho o
olhar longe dele.
— Vou ficar com você hoje, Lana. Onde você vai? — pergunta,
parando ao meu lado. — Você deveria ter avisado que ia sair com
antecedência.
— Não sou celebridade! Estou indo na casa do Jules. — Ele abre a
porta do carro para mim e eu entro. Enquanto me acomodo, ele bate a porta e
dá a volta. — E onde estava? Você disse que ia me ajudar!
— Tenho uma empresa para administrar, Lana. Raramente faço serviço
de campo — ele diz, enquanto manobra o carro.
— Promessa é dívida! Você sabe o quanto isso é importante para mim,
Alex? — questiono, magoada. — Nem se importou!
Ele não responde. Para o carro no acostamento, solta o cinto e se vira
em minha direção.
— Sei o que prometi, mas nem tudo é como queremos. — Não falo
nada. Não adianta discutir... mas ele continua. — Como foi a sua semana? —
Agora parece interessado, mas é tarde para isso.
— Tirando a sua falta de consideração comigo, normal — digo seca.
— Só normal? Um pouco estranho para a “fodona” Lana Mitchell. —
Ele está caçoando de mim?
— Pode me levar para casa do Jules? — Ignoro sua farpa.
— Qual o lance com esse Jules? — ele fala o nome com irritação. Ah,
parou de rir, idiota? — Vocês “ficam”, como dizem por aí?
— Porque se importa? Não tenho namorado, posso ficar com quem
quiser. — Percebo quando ele aperta a mandíbula. Abro um sorriso
zombeteiro quando penso que ele pode estar com ciúme. — Não vai me
levar?
— Não vamos à casa do Jules. Quero te levar em um lugar — ele fala
enquanto liga o carro.
— Onde?
— Vocês vão ver. Ligue para o amiguinho e avise que não vai.
— O quê? Alex, isso não tem graça. Marquei com ele e vou, nem que
tenha que ir a pé.
— Tudo bem, se você não vai ligar, eu ligo — ele pega o próprio
telefone e começa a ligar. — Jules?
Tomo o telefone da sua mão e coloco no ouvido.
— Alô? — Ouço a voz de Jules do outro lado.
— Oi, Jules! É a Lana. Só um minuto. — Me viro para Alex. — Não
estou desistindo de sair à noite, Alex. — Volto a falar ao telefone. — Oi,
Jules, não posso ir à sua casa agora, vamos nos encontrar na Secrets Clubs. —
Marcamos e devolvo o telefone, ficando quieta. Meu mau-humor piora a cada
minuto. Alex me irrita demais. Tudo tem que ser do jeito dele sempre.
Vinte minutos depois, Alex para o carro em um parque e eu arregalo os
olhos surpresa.
— O que estamos fazendo aqui? — questiono. Não identifico o parque,
mas também não sou de ir a esse tipo de lugar. — Vamos fazer um
piquenique?
Ele não fala nada quando estaciona. Desce e dá a volta para abrir a
porta para mim. Quando desço vou de encontro ao peito duro dele, que me
sustenta firme.
— Que tal um pouco de diversão? — pergunta com a voz baixa e eu
fecho os olhos quando sua boca cobre na minha. Ah, caramba! Senti falta
disso. Sua língua invadindo minha boca com ímpeto. As coisas nunca são
doces com Alex. É intenso e esfomeado, e eu adoro esse jeito de homem das
cavernas nele.
Nunca imaginei que fosse gostar de passar a tarde em um parque, Mas
confesso que adorei. Alex me mostrou que não preciso de muito para me
sentir solta e feliz!
Ele me leva para uma barraca de cachorro quente e, apesar de não
querer comer, ele comprou dois, me fazendo experimentar um, e adorei.
Sentamos na grama e aproveitamos nossas “iguarias” cinco estrelas.
Mas a parte que mais gostei foi de me sentar e conversar sobre tudo e
nada. Esqueci da raiva que vinha sentindo por toda a semana dele. Alex
contou da empresa e um pouco da sua vida pessoal: a morte prematura do seu
amigo Adrian, como isso o abalou. Acabei perguntando da conversa com a
“cabelo de fogo” e ele negou, terminantemente, ter algo com ela. Eu queria
saber tudo a respeito do seu relacionamento com ela.
— Eu gosto da Adriane. Nós três crescemos juntos. — Ele tira um fio
de cabelo que o vento trouxe para meu rosto, enquanto presto atenção no que
ele diz. — Acredito que dessa vez ela entendeu que não posso sinto o mesmo
que ela. Ela não é má pessoa, Lana, só se entrega demais aos sentimentos,
além de ser muito ciumenta.
— Eu não me humilharia dessa forma por homem nenhum — falo, mas
penso que posso me entregar aos sentimentos avassaladores que Alex
desperta em mim. Eu e a sua ex temos algo em comum. — Ela não gosta
muito de mim. Acha que sou rival?
— Não se preocupe com isso, Lana. — Ele baixa a cabeça capturando
meus lábios nos seus.
Ao fim da conversa, eu estava com um sorriso no rosto, além de um
sentimento de satisfação.
— Alex? — perguntei em certo momento. — Você acha que existe
mesmo a chance de sermos sequestrados?
— Claro que sim, Lana — ele parece pensativo por um momento,
depois suspira. — Posso te contar algo? — Quando assinto ele continua —
Depois que seu pai voltou para casa, logo após o sequestro, ele vem
recebendo ameaças. Isso está o deixando muito preocupado. A polícia está
trabalhando nisso, mas enquanto essa pessoa não for presa, vocês todos
correm perigo, sim.
Fico calada. Não tinha noção de nada disso. Sou mesmo louca por sair
por aí sozinha.
— Então, se você for mais prudente, será muito bom, sua diabinha —
ele fala, beliscando meu nariz.
Nunca pensei em passar uma tarde tão maravilhosa, agindo como
“amigos”. Bem, amigos não ficam de amasso, não é? Mas me sinto cada vez
mais ligada a ele.
Estou me apaixonando de verdade.
Ouço meu filho ao telefone, combinando de ir a um clube noturno com
a filha de Mitchell. Ssondei para que ela viesse aqui, mas como sempre, ele
fez tudo errado e não conseguiu trazer a garota. Ouço o nome do lugar onde
estão isso e providencio para que alguém vá até lá. Envio por e-mail uma
foto que encontro na internet, para que a pessoa que contratei possa ficar de
olho neles.
Agora preciso aguardar e torcer para que ele faça um bom serviço!
Lana
Minha missão no clube noturno esfumaçado é dançar como uma louca,
mas Alex me observa com uma expressão carrancuda da mesa, enquanto
estou na pista dançando músicas eletrônicas eletrizantes com Jules, que está
muito louco. Ele dança muito bem, por isso que amo sair com ele.
Alex veio junto e não desgrudou até eu ir para a pista dançar, disse que
prefere observar. Então vamos dar a ele o que ver. Isso depois de uma ruiva
peituda quase esfregar se esfregar no rosto dele quando foi anotar o pedido.
Qual o problema com as ruivas? E, claro, ele olhou. Safado! Saí da mesa,
logo depois. Não queria jogar a bebida na cara da ruiva “periguete”!
— Que tal você fazer uma dança sensual no palco? — Jules grita em
meio ao barulho ensurdecedor. — O Rico não vai se importar se você fizer
um show gratuito. — O Secret Clubs é de um conhecido nosso. Na verdade,
foi por irmos tanto que fizemos amizade com Rico, um dos sócios do lugar.
— Você é louco, Jules? Meu algoz está bufando ali no canto.
— Vamos, Lana, você está ficando careta depois que arrumou esse
guarda-costas. E qual o lance de vocês? — ele torna a gritar no meu ouvido.
— Não é da sua conta, Juliano — falo rindo. — Não está rolando nada!
— Você guardando segredo, agora? Incrível! Vamos gata, só uma
dancinha?
Acabamos indo atrás do Rico para que eu pudesse dançar no palco
onde algumas mulheres estavam dançando no poste. O encontramos algum
tempo depois, em uma das salas VIPs. Ele realmente não se importa que eu
dê um showzinho. Então, ele me leva ao camarim para arranjar e sou recebida
pelas dançarinas que já me conhecem — não é a primeira vez que subo no
palco. Mas hoje quero fazer aquele grandalhão me notar.
— Vou fazer uma dança solo, meninas, quem vai me ajudar no
figurino? — peço e Amber, a moça que é responsável pelo show, vem na
minha direção dos fundos da sala.
— Lana! Sentimos sua falta. O que houve? Deixou as noitadas para
trás? — Ela ri, amigável. — Venha, vamos procurar algo sexy para você!
Apesar de que você está linda com esse vestido.
Eu a sigo e, em quinze minutos, estou pronta para a apresentação,
usando uma saia minúscula por cima de um short/calcinha e um top — que
estava mais para um sutiã com pedrarias. Os cabelos estão soltos em ondas
luxuriantes que caem por minhas costas e o visual é finalizado por sandálias
de salto agulha. Estou parecendo uma das dançarinas da casa. Amber me leva
até a lateral do palco e pede que eu aguarde a minha vez. Pouco depois, sou
anunciada como atração especial da noite por uma voz masculina. Dou uma
risada ao pensar na expressão de Alex no momento que eu entrar no palco.
No palco, as luzes diminuem e eu caminho até o poste quando a música
Welcome to Berlasque, da Cher, começa a tocar e um foco de luz solitária
foca em mim. Segurando a barra de aço, ondulo meu corpo deixando a
melodia me envolver, dançando o mais sensual que posso, enquanto enrosco
as pernas na barra.
Gosto dessa música por causa da parte flamenca do ritmo, que me faz
rebolar com sensualidade. Tento olhar na direção da plateia para ver se
Alexander está por perto e não demoro a encontrá-lo bem perto do palco.
Seus olhos são chamas incandescentes de raiva ou desejo — não consigo
identificar, mas não me importo. Aproveitando dou as costas para ele e
rebolo rapidamente em um determinado ponto da música, e volto a me mover
ao som do tango. Penso em cada coreografia sensual que conheço, mas é
difícil, já que meus pensamentos estão focados nele e se o estou afetando.
Quando a música termina, os frequentadores aplaudem e eu me curvo em
agradecimento. Desço do tablado em direção ao camarim para me trocar.
— Porra, Lana! Não saia por aí sem me avisar! — ele berra quando me
encontra assim que saio do camarim. — O que eu falei sobre sair de perto de
mim?
Sim, ele veio aqui com a condição de que eu não saísse das suas vistas.
E eu tinha feito justamente o contrário.
— Gostou da dança, Alex? — pergunto com um sorriso malicioso.
Quando eu me aproximo, ele parece se acalmar, e vejo Jules bem atrás
dele.
— Cara, ela está comigo! — Jules diz.
— Cale a boca! — ele repreende. Ele tem implicado com o Jules desde
que nos encontramos mais cedo. — Quando a Lana está com você parece que
ela perde o restinho de sensatez que tem. O que foi aquilo no palco? — Alex
grunhe.
Aproveito e o puxo para dançar. O lugar toca vários estilos e começa
uma salsa no momento que puxo Alex para pista. Me surpreendo por ele não
impor resistência, fazendo-o parar de esbravejar. Já que a minha dança não
teve o efeito que eu queria, aproveito quando ele acaba indo dançar de boa
vontade. O que mais me choca é saber que um homem daquele tamanho sabe
dançar salsa muito bem. Ele tem um gingado sexy demais e eu estava quase
salivando de tesão.
— Alex! — falo ao voltar de um rodopio. Ele segura a minha cintura e
pegamos o ritmo outra vez. — Não acredito que sabe dançar!
— Sei fazer várias coisas que você não sabe, menina bonita! — ele
murmura em meu ouvido.
Dançamos mais duas músicas. A última é Summertime Sadness, da
Lana Del Rey. Ele me puxa para tão perto que ofego. Tudo parece nos
envolver. Sinto o seu cheiro me invadir e pareço estar bêbada de uma luxúria
pecaminosa. Nossas bocas se aproximam quando Alex me ergue, tirando
meus pés do chão. Minhas pernas enlaçam seus quadris e praticamente
estamos transando na frente de todos, completamente envolvidos um no
outro.
— Você me deixou louco enquanto rebolava na porra daquele palco.
Está proibida de subir lá outra vez — ele fala, morde meu pescoço e volta a
encarar meus olhos. Meus lábios entreabertos estão próximos dos seus,
nossas respirações se misturam e bebemos ávidos um ao outro. Nosso desejo
é unir nossas bocas, mas parece que se fizermos isso, o encanto se quebrará.
Nossos corpos querem demais, almejam esse toque que nos leva a loucura.
Estou tão louca por ele, que estou a ponto de agarrá-lo ali mesmo,
quando sinto a evidência de que ele está bem afetado com a dança.
— Faz ideia do que é odiar, querer, sonhar e imaginar estar dentro de
alguém? — ele sussurra — Eu desejo você como se eu fosse um usuário de
drogas. Não posso te querer, Lana Mitchell, mas não consigo evitar.
— Também te quero, muito. — É a única resposta que posso dar nesse
momento. Não tenho porque negar que quero muito dar vazão a essa química
entre nós.
Ele me carrega por entre os outros dançarinos, me levando para um
canto escuro e reservado do clube noturno. Me vejo com as costas apoiadas
contra a parede, e sua boca na minha com paixão. Alex me coloca no chão e
se ajoelha diante de mim. Eu suspiro de antecipação. A saia curta do vestido
facilita seu acesso quando ele levanta um pouco e tira a calcinha, bem aqui!
Olho ao redor para ver se tem alguém olhando e fico mais tranquila que essa
área seja mais escura.
—Alex — chamo e sinto minhas pernas bambas.
—Segure nos meus ombros, Lana — ele ordena e cumpro de imediato.
Ele levanta a minha perna esquerda para seu ombro e afunda o rosto
direto no meu sexo, e só consigo gemer e aproveitar cada segundo.
— Alexander — ofego. — Ah, caramba!
Minha cabeça inclina para trás e solto um gemido desesperada,
querendo algo que nem sei o que é.
Ele chupa meu clitóris antes de continuar a provocá-lo com a ponta
dura da língua. Sua respiração é quente contra a minha carne e suas mãos
estão apertadas ao redor das minhas coxas.
Não quero que isso acabe nunca. Ele ergue a mão e desliza os dedos
para cima, colocando ao redor da minha entrada. Meu corpo enrijece no
momento em que ele desliza um dedo para dentro com facilidade. Estou
encharcada de puro tesão. Não acredito que ele me fará gozar aqui,
praticamente, na frente de todos. Ele me penetra em conjunto com a língua
pecaminosa. Lavas de puro fogo começam a se formar no meu baixo vente e
quero...
— Alex!!! — grito. — Eu... eu não...
Ele levanta e tira o cinto e desabotoa a calça. Vejo quando ele coloca o
preservativo e me ergue em seguida, puxando as minhas pernas ao redor da
sua cintura. Ele me preenche tão profundamente que grito, mas ninguém
parece nos ver, muito menos nos ouvir, ou eu estaria morta de vergonha.
Mas, e se alguém tirar uma foto?
— Ei! — Ele segura a minha nuca e levanta meu rosto quando sente
meu corpo tensionar. — O que foi?
— Ah, nada... — ofego. — Alguém...
— Não se preocupe, ninguém pode nos ver aqui. — Ele desce a boca
na minha e enrola nossas línguas em uma dança sensual. Esqueço de tudo ao
nosso redor e aproveito o prazer inebriante que ele me oferece...
Alexander
Eu a tomo com intensidade, com força, mas com cuidado, afinal,
estamos em um canto escuro da boate. Porra! Ela me enlouqueceu com a
merda da dança. Quando dei por mim, estava quase subindo e a tirando
daquele palco.
Lana me deixa enlouquecido. Ela goza gritando meu nome e sigo com
ela. Chego ao clímax tão rápido que mal consigo pensar de forma coerente.
Sinto uma quentura na coluna, que sobem pelo meu corpo como línguas de
fogo, e meus músculos apertam em êxtase. É como se eu fosse desmoronar
ali mesmo, mas me apoio contra a parede da boate e quase esmago Lana.
Porra!
A batida da música parece voltar com força total. Apoio quase todo
meu peso nela e a beijo outra vez. Minha necessidade por ela cresceu sem
que eu tivesse percebido. Depois de descobrir que ela não era tão
irresponsável quanto gosta de demonstrar, com sua atuação na ONG e o jeito
descontraído e encantador com que agiu no parque, o tesão começou a se
transformar nesse aperto em meu peito. Isso parecia ter quebrado a minha
resistência, aquilo que me mantinha afastado dela. Sei que ela também me
quer, que se derrete cada vez que a toco, mas não posso abrir o jogo com ela,
muito menos me deixar levar. E isso está me deixando louco.
Eu a coloco no chão e ajeito a sua roupa no lugar.
— Preciso ir ao banheiro — ela fala.
Eu enlaço a sua cintura e a conduzo para lá. Tem uma fila enorme e,
enquanto aguardo ao lado dela, ouço gracinhas das mulheres que esperam sua
vez de entrar.
— Vai entrar no banheiro feminino? — uma questiona. — Que
desperdício, o mundo está perdido mesmo!
— Acho que esse tem cara de macho e corpo também — outra fala,
dando uma conferida em mim. Faço cara de paisagem enquanto olho ao
redor. Mulheres!
Também preciso ir ao banheiro e, merda! Deveria ter trazido a Shirley
conosco. Mas, como a Lana sempre deixa de comunicar as coisas, isso
dificulta bastante o nosso trabalho.
Cinco minutos se passam e ela entra. Fico aguardando. Pela quantidade
de mulheres que entrou, sei que ela ainda vai enfrentar outra fila lá dentro.
Resolvo, então, ir ao banheiro também, mas tenho receio de perdê-la de vista.
Pego o telefone e ligo para ela.
— Já com saudades de mim?!
— Quero que fique aí dentro, até que eu te ligue de novo e peça para
você sair.
— Por quê?
— Porque estou pedindo, Lana! — falo e espero sua resposta
afirmativa.
—Tudo bem!
Desligo ao ouvir sua resposta e me apresso em direção ao banheiro
masculino.
Lana
Encaro minha imagem no espelho depois de usar a cabine e solto um
gemido. Meu cabelo está parecendo um ninho de vespas e meu rosto
vermelho. Nossa! Arrumo as mechas e reaplico o gloss. Em seguida molho
meus pulsos latejantes.
Alex me tira dos eixos.
Vou em direção à porta, mas paro quando me lembro que ele ainda não
ligou. Eu é que não vou ficar aqui dentro.
— Porque estou pedindo, Lana! — imito a voz de Alex quando abro a
porta do banheiro, dou uma olhada ao redor e não vejo nada além de
mulheres. Saio e olho no celular para ver se Alex ligou, mas nada. Aproveito
e ligo para Jules que deve estar perdido por aí.
— Oi, gata! — ele grita fazendo com que eu afaste o celular da orelha.
— Jules, qual o seu problema com esses gritos? Onde você está? Estou
indo para o bar, me encontra lá.
Caminho para dentro da boate e vou direto para o bar. Peço uma bebida
refrescante. Porque vou te contar, meu segurança “segura” de verdade. Esse
homem vira a minha cabeça!
Olho ao redor enquanto aguardo. Não vejo Jules, nem Alex. Onde eles
foram?
Minha bebida chega e pego o celular para ligar para Alex quando sinto
um corpo pressionar atrás de mim. De imediato eu sei que não é Alex.
— Olá, princesa — a voz fala e tento me virar de frente para o intruso,
porém sou impedida quando o homem atrás de mim pressiona algo duro nas
minhas costelas...
— Vamos dar um passeio princesa? — ele pergunta no meu ouvido.
Onde está a minha sombra quando mais preciso dela?
Sou levada em direção à saída. Ah, merda! Se eu sair, estou ferrada.
CAPÍTULO 14
Lana
Sinto um frio na espinha enquanto olho ao redor a procura de
Alex. Tento retardar o máximo que posso e ando devagar a frente da pessoa
levada. Falhei com ela e com seus pais. Estou tão furioso que se eu pegar esse
sou chamado à realidade. Tenho que manter a frieza e pensar em uma forma
Ao abrir os olhos, sinto a cabeça doer... parece que vai explodir. Estou
com náusea e tontura. Meu corpo está muito gelado e treme de uma maneira
estranha. Viro a cabeça e vejo o colchonete em que estou deitada, apesar da
escuridão. Sentindo o cheiro de mofo, tento me sentar. Jamais imaginei que
algo assim pudesse acontecer comigo. As lágrimas deslizam pelo meu rosto,
enquanto começo a lembrar do que aconteceu.
Tentei ligar para Alex e Daniel me ofereceu água... e, depois, não me
lembro de mais nada.
Será que ele me dopou? Mas, como? Eu mesma abri a garrafa. Como
Daniel colocou algo lá dentro? Minha cabeça dói e deixo isso de lado. Não
adianta tentar entender o que não tem mais jeito. O que eu preciso é arrumar
um jeito de fugir daqui. Tento me levantar e descubro que estou com as mãos
amarradas. Tateio no escuro e vejo que não estão tão apertadas. Então, puxo
com o máximo de força que consigo. Machuco as mãos, mas continuo
tentando me soltar. Me sinto grogue, o corpo pesado e meus movimentos
lentos. O lugar parece me sufocar mas, aos poucos, meu cérebro está
voltando a funcionar de novo. Meu coração está acelerado e descompassado.
Agora entendo o porquê de não ficar à vontade com Daniel. Era o meu
subconsciente me alertando de alguma forma. Eu devia ter dado mais atenção
aos meus instintos.
Não sei quanto tempo se passou desde que cheguei aqui, mas estou com
a garganta seca e ferida. Sinto muita sede. Me levanto, trôpega, e tateio as
paredes até encontrar uma porta. Forço a maçaneta, que não abre. Será que
Alexander ou outra pessoa está a minha procura? Tomara que ele não pense
que fugi por capricho. Sinto mais lágrimas se formarem, mas as seguro.
Preciso ser forte. Me inclino contra a parede e minhas pernas parecem de
gelatina quando escorrego até o chão. Apoio a cabeça no joelho e espero. Não
ouço qualquer ruído e o medo — por mais que eu tente mantê-lo afastado,
ameaça me dominar.
Quando penso que me esqueceram aqui, ouço passos do lado de fora da
porta. Pouco depois, ela é aberta e uma sombra se projeta. A luz de fora
clareia o quarto me cegando. Demoro a conseguir recuperar a visão e, quando
consigo, olho ao redor a procura de uma saída. Não vejo nada a não ser uma
janela no alto. O lugar parece velho e tudo indica que estou em uma espécie
de cabana. O quanto estou longe de casa?
— Vejo que a princesa acordou — diz o homem na porta. — Dessa vez
não conseguiu fugir, não é, espertinha?
Reconheço a voz! É o mesmo que tentou me sequestrar na casa
noturna. Mas seu rosto estava coberto por uma touca ninja preta de malha.
Tenho certeza de que o estranho pode ouvir meu coração, que bate
violentamente no peito. Consegui soltar as mãos da corda, mas as mantenho
juntas.
— Hora de comer, princesa. Queremos você viva e bem, por enquanto
— ele diz e deixa uma bandeja com alimentos no chão, perto de mim. Quero
gritar, mas a minha voz não sai.
Assim como apareceu, ele vai embora. Permaneço no lugar, sem saber
o que fazer. A escuridão envolve tudo outra vez e eu me arrasto até a bandeja
atrás de algo para beber. Encontro um copo e, sem me preocupar com o que
tem dentro, bebo de uma vez.
Levanto e vou até a janela Tento abri-la, mas é em vão, pois está
trancada. Que droga! Como vou sair daqui?
O que ele quis dizer com me querer viva por enquanto? Eles não vão
me matar se querem algo do meu pai. Volto para porta. Tento outra vez e
nada. Ouço vozes alteradas do lado de fora, mas não consigo distinguir nada
do que estão falando. Não sei quanto tempo se passou desde que me levaram
do campus. Só me resta esperar.
Ah, Alex! Sinto falta da sua presença sempre constante nessas últimas
semanas. E como será que a minha mãe está? Ela ficou muito mal quando
meu pai foi sequestrado. As lágrimas voltam e eu me deito encolhida. Sinto
muito frio e não tenho nada com que me cobrir.
Quando acordo parece ser dia, pois está mais claro. Sinto muita vontade
de ir ao banheiro. Me levanto e começo a bater na porta, me sentindo fraca.
Ouço passos e me afasto da porta que se abre. Um homem surge.
— Se a princesa não parar de fazer essa porra de barulho, vou arrancar
sua mão fora e mandar para seu papai, garota estúpida! — ele esbraveja.
— Preciso ir ao banheiro — digo e fico satisfeita que minha voz sai
firme.
— Sinto informar, princesa, aqui não é um hotel cinco estrelas — ele
continua com a máscara preta no rosto. — É melhor ficar quietinha aí. E não
me faça voltar.
Ele fecha a porta e percebo que vou ter que fazer xixi aqui mesmo. Que
merda! Onde está o Alex quando preciso dele? Sem outra opção, faço minhas
necessidades no canto, enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto...
Alexander
Paro o carro longe da cabana e começo a caminhar por entre arbustos e
árvores. O sinal que o celular de Lana emitiu veio dessa parte, e como é no
campo e fora da cidade, procurávamos algum lugar habitável. Ali será o
próximo lugar que vamos abordar. Nenhuma das casas que fomos era o
cativeiro, então tem que ser essa.
Sigo pelo meio do mato e observo alguma movimentação. Quando
chego perto da casa, vejo um cara fumando do lado de fora. Vim
acompanhado de uma equipe que, nesse momento, tem um cerco fechado na
propriedade. Chego o mais perto possível e tento atrair o cara para mim. Faço
um barulhinho suficiente para que ele ouça e atinjo meu objetivo.
Ele sai da varanda e vem na minha direção...
CAPÍTULO 16
parada. Ainda bem que decidi parar ou agora seria pego pelos homens
braço e tenho certeza de que fui atingido quando caio no chão amortecendo o
corpo dela. Deitados, eu giro e a cubro com meu corpo. Vejo quando os caras
Nos dias seguintes, não vejo Alex e a única notícia que tenho é que ele
se mantém focado em encontrar a pessoa que tentou nos matar na cabana.
Jules passou esse tempo aqui em casa, mas permaneceu calado e tão diferente
do rapaz doidinho que eu conheço.
Então, o pai dele acaba preso como o principal suspeito pelas ameaças
à minha família. Depois disso, Jules saiu, não voltou mais e não atende as
minhas ligações. Estou louca de preocupação com ele. Os dois não têm um
relacionamento amigável, mas, mesmo assim, saber que o pai pode estar
envolvido em crimes graves como sequestro e tentativa de assassinato é
péssimo.
Tenho me sentido frustrada e entediada. Ficar trancada em casa é, no
mínimo, estressante. Meu trabalho na ONG está prejudicado. Sinto falta das
meninas e mais ainda das aulas de dança.
Alexander
Alguns dias se passaram desde o atentado contra nós. Fontes foi,
finalmente, localizado pela polícia. O imbecil estava em um hotel e não
reagiu ao ser preso. A polícia tem fortes indícios de que ele está por trás dos
disparos efetuados naquele dia. Tudo leva a crer que o cara queria se vingar
por estar falindo e queria responsabilizar Mitchell de alguma forma, o que é
algo muito difícil de aceitar. Idiota!
Ele nega envolvimento com os crimes, mesmo depois dos depoimentos
dos comparsas que foram presos na cabana. Por um tempo, temi que ele fosse
solto após o depoimento, por causa daquela palhaçada da justiça de ser réu
primário e ter curso superior, o que poderia deixá-lo livre para colocar outras
vidas em risco. Mas a polícia conseguiu mantê-lo preso após os depoimentos.
Parece que, enfim, meu trabalho na casa do senhor Mitchell está chegando ao
fim.
— Acha que o Fontes tem outros comparsas? — o sr. Mitchell
pergunta, preocupado.
— Acredito que não. — Recosto na cadeira observando ao redor e
olhando as câmeras da casa. Vejo Lana passar pelo corredor principal e entrar
no quarto. Ela demora alguns segundos para abrir a porta. Meu coração
acelera ao vê-la olhar para a câmera e esboçar um sorriso. Em seguida, desvia
o olhar e entra no quarto, fechando a porta. Me sento na cadeira. Sem pensar
duas vezes, encaro o sr. Mitchell e faço a pergunta que eu vinha protelando
em fazer. — Quer manter meus homens aqui por um tempo?
— Se acha que não corremos perigo, não vejo necessidade de
mantermos tanta gente ao redor, mas faço questão de ter um excelente
sistema de segurança.
E, por incrível que pareça, não quero deixar esse trabalho. Estou me
tornando um homem das cavernas só de pensar em deixar Lana. Isso está me
matando! Sei que ela não pensa em ter algo com um cara como eu e, com
certeza, o pai pretende casá-la com alguém do seu meio.
Vai ser melhor ficar o mais longe possível... as coisas serão mais
fáceis... acho que aquele dia, no jardim da casa dela, foi como um adeus.
Depois de quase uma semana sem, praticamente, dormir direito, vou
para casa e tento colocar o sono em dia. Combinei com Mitchell de manter,
por mais uns dias, uma equipe um pouco maior do que ele costuma ter —
equipe essa que não trabalha para mim. Afinal, eles não correm mais perigo.
Pelo menos, não do pai do Jules — que, por sinal, anda sumido da casa dos
Mitchell desde que o pai foi preso.
CAPÍTULO 20
Lana
Não vi o Alex durante toda a semana e, quando o vi, mal falou
comigo. Me sinto em desespero, pensando que ele pode estar com raiva por
ter levado um tiro por minha causa. Sei que é bobo pensar isso depois
daquele dia no jardim, mas é a única explicação que encontrei para sua frieza.
Agora que o pai do Jules está preso, a equipe de Alex não tem mais
nenhum motivo para permanecer fazendo a nossa segurança, segundo o meu
pai. Isso está me matando aos poucos. Durante aquelas poucas semanas de
convívio, me apaixonei por Alex, mesmo que brigando mais do que fazendo
amor. Eu fui a responsável por nos envolvermos, afinal, fui eu quem pulou
em cima dele. Sei que ele tem me evitado e detesto esse sentimento de
rejeição. Será que ele acha que realmente não vale a pena ficar comigo? Ou
só está ocupado? Bom, seja o que for, ele vai ter que falar isso na minha cara,
e não fugir como um adolescente com medo de relacionamentos.
Aos poucos retornei a rotina diária: faculdade, dança e meu trabalho
com a dra. Cathy. Só faltava reencontrar meu melhor amigo, que havia se
afastado completamente. Minha mãe acha que ele está se sentindo
envergonhado por causa do pai, e acho que ela tem razão. Ao sair do estúdio
de dança, decido ligar para ele e, depois de inúmeras tentativas sem sucesso,
decido ir direto à casa dele. Afinal, ele não pode fugir de mim para sempre.
Entro no carro que me aguarda em frente ao estúdio de dança e peço ao
motorista que me leve até lá. Ah, mencionei que agora tenho um motorista? E
não porque tenha sido forçada a isso. Na verdade, não me sinto segura
sozinha. Tenho medo de que, a qualquer momento, um bandido apareça e me
leve outra vez.
Ao chegar ao prédio de Jules, me deparo com um segurança que
impede a minha entrada.
— São ordens, senhorita — o homem diz.
— Ordens de quem, posso saber? — Estou indignada.
— Do Juliano. — O quê? Porque meu amigo faria isso comigo? Ele
não quer me ver?
— Ele está em casa? Preciso falar com ele. É urgente. — Abro um
sorriso charmoso, mas acho que não faz qualquer efeito ele.
Pouco depois, retorno para o carro, furiosa. A rua parece nebulosa, mas
percebo que são as lágrimas que se formaram em meus olhos e começaram a
cair. Fui abandonada pelos dois homens da minha vida: primeiro, Alex se
afastou e, agora, Jules me impede de entrar na sua casa e nem atende as
minhas ligações.
— Merda! — esbravejo e o motorista olha para mim através do espelho
retrovisor. — Pode me levar a outro lugar? — pergunto e ele assente. Preciso
tirar uma história a limpo. O motorista liga o rádio e Don’tcry do Gun’s
n’Roses toca alto no silêncio do carro e do meu coração dilacerado. Não
posso acreditar que Jules vai jogar fora anos de amizade por algo que não foi
culpa dele. Sei da gravidade das ações do seu pai, mas a nossa amizade é
muito maior que isso.
Estou tão triste com tudo isso!
Alexander
Estava assistindo ao futebol, quando sou interrompido pela campainha.
— Quem é o chato que está me incomodando na hora do futebol? —
resmungo baixinho enquanto me levanto. Deixo a longneck na mesa em
frente e vou até a porta. Antes de abrir, olho pelo olho mágico.
O que ela faz aqui? Escancaro a porta e encaro a minha visitante com
irritação. Que merda!
— Que merda você quer aqui?
Estou cansada dessa mulher pegajosa.
— Como vai, Alexander? — Adriane, empertiga o corpo. — Soube que
levou um tiro. Vim ver como está.
— Já viu? — Abro um enorme sorriso forçado para ela. — Como pode
ver, estou em perfeitas condições. Agora, estou ocupado...
— Como é grosso! — ela me corta e entra, mesmo que não tenha sido
convidada.
— Você não viu nada. — Me jogo no sofá, outra vez, pego a cerveja e
a ignoro enquanto olho a TV.
— Conversa comigo, Alex! — Ela se senta no sofá ao meu lado e
estende a mão, tocando meu braço. — Só quero saber se você precisa de
alguma coisa.
— Estou bem, Adriane. Isso aconteceu há duas semanas — falo,
resignado. — Obrigado pela preocupação.
— Só soube hoje, quando liguei no seu trabalho e me disseram que
você estava em casa. Vim correndo. Não posso sequer imaginar que te
aconteça algo que o leve de mim também.
Ah, droga. Tudo o que eu não queria. Uma mulher aos prantos.
Estou prestes a responder quando a campainha toca outra vez. O que é
isso? Dia de visita na casa de Alex Marshall? Que merda!
CAPÍTULO 21
Lana
Toco a campainha da casa de Alex e espero. Estou com muita
raiva dele e de Jules. Os dois acharam que podiam me abandonar que nada
aconteceria? Eles estão bem enganados. Não consegui falar com meu amigo,
mas sei que ele vai aparecer na faculdade — assim espero — então vamos ter
uma conversa séria. Enquanto espero, bato o pé, impaciente, e ouço a porta
sendo aberta e... ah, caramba! Alex está usando só uma calça de moletom que
não deixa nada escondido da minha imaginação. Sei que meus olhos se
arregalam quando ele cruza os braços e sinto que não sou bem-vinda. Mas... o
...
Mas, mesmo assim, não consigo fugir da inspeção de minha mãe, ela
parece sentir meu estado de espírito e insiste em bater na minha porta até que
eu não tenho alternativa a não ser abrir.
— Queria saber se você... — ela começa e para quando percebe o caos
que me encontro com o meu rosto inchado por ter chorado.
Ver a preocupação em seu rosto, ao me ver chorando, faz minhas
lágrimas ainda mais tempestuosas. Estou triste por perceber que além do
Jules, não tenho verdadeiros amigos e junto com os últimos
acontecimentos não seguro mais nada dentro de mim. Mas eu ainda tenho
minha mãe aqui comigo.
— Que houve, Lana? — Me abraça como só uma mãe consegue
abraçar sua filha. — Que malas são essas, minha querida?
Não digo nada até que minhas lágrimas sequem e só então conto para
ela o que tem acontecido comigo e vejo o quanto sou uma menina boba e
imatura. Mas falo do meu trabalho na comunidade carente e minhas aulas de
dança que ela não sabia. Quem se importa se meus pais não aprovam nada
disso? Eu, não mais.
Ela não me julga e deve ser porque também já foi jovem, não que
minha mãe seja velha. Ela só me faz mandar levantar, tomar um banho e
quando eu volto ela parece uma locomotiva louca. Até parecia que ela me
queria longe daqui, coisa que sei que não é, ela só quer que eu fique bem.
—Tudo certo — ela diz com um sorriso. — Quanto tempo pretende
ficar fora?
— O quanto for possível — forço um sorriso.
Jules
Eu sou o maior idiota da face da terra!
Estou escondido feito um fodido filho da puta. A culpa me consome,
sei que não é culpa minha, mas ficar junto da família da Lana nesse momento
me enche de vergonha. Eu estou agindo da pior forma possível com minha
melhor amiga. Ela veio aqui hoje e eu a tratei mal não a deixando entrar, mas
eu estou muito chateado com toda essa merda.
Eu necessito de um tempo longe dela. Lana não tem muitos amigos e
deve estar sentindo minha falta. Sou o pior amigo do mundo. Desde que o
porteiro do meu prédio disse que ela saiu mal, quando não a deixei subir, eu
fiquei com a consciência pesada demais para aguentar ficar longe dela.
Soube pela minha mãe que meu pai vai sair da cadeia e eu não
permitirei que ele faça mal para Lana ou sua família.
Talvez seja a hora de voltar para minha linda amiga e deixar de agir
feito um covarde. Afinal não sou meu pai. Só de lembrar meu choque em
saber que ele é o mandante dos sequestros, causa arrepios pelo meu corpo.
Eu não sairei de perto de Lana e não deixarei nada de mal acontecer
com ela.
Alexander
Não esperava encontrar Lana na porta da minha casa e a sua presença
abalou minhas convicções. Mas eu precisava ser honesto com ela e a mandar
embora. Ouço o telefone tocar em algum lugar, mas não saio da janela onde
estou desde que ela saiu daqui, há quase duas horas. O aparelho continua a
tocar até que vou atender.
Olho o visor e vejo que é Carl.
— O que houve? — pergunto ao atender, minha voz sai em um tom
cortante.
— Soube que o Fontes pode ser libertado a qualquer momento.
Segundo informações, isso pode acontecer essa semana ainda.
— Que porra é essa! — grito. — Esse criminoso não pode sair da
cadeia agora. Sequestro, cárcere privado e o cara vai ser solto antes de
completar um mês de prisão?
— Pelo que soube, ele fica em liberdade até o julgamento. O advogado
dele deve ser bom — Carl continua.
Conversamos um pouco mais e, quando ele termina de me passar as
informações, eu desligo.
Troco de roupa e me encaminho até a casa de Mitchell. Ele, com
certeza, já sabe, pois tem uma ótima equipe de advogados que estava atenta a
isso. No entanto, preciso checar a segurança deles para que eu não
enlouqueça de preocupação. Fontes podia estar com ainda mais raiva de
Mitchell.
CAPÍTULO 22
Lana
Encaro minha imagem no espelho do banheiro e passo as mãos em
meus cabelos. Meu coração bate forte. Minha mãe já está com tudo pronto
para minha viagem. Estou pronta para ir, mas me sinto enjoada de
nervosismo... talvez seja por ter chorado tanto hoje. Só preciso de coragem
cabelos são castanhos claros e olhos azuis gelo como os de um lobo. Sorrio
por dentro, com a minha descrição. Ele parece ter uns trinta e poucos anos.
merece meus pensamentos, ainda que fosse recente demais para que eu o
esquecesse.
— Sou Lana Mitchell — falo em um inglês fluente, resultado de anos
de estudo. Me apresento ao homem de olhos de lobo na tentativa de esquecer
certos olhos verdes. Ele segura minha mão e seu aperto é forte. Bom.
— Oi. Mark Anderson, prazer. — Seu sotaque é carregado — Está
sozinha ou devo ter cuidado? — ele brinca. Seu riso é fácil e contagiante, e
me vejo sorrindo de volta.
— Não mais — flerto e ele sorri ainda mais. — Estou esperando por
uma mesa e você?
— Vou jantar também. Estou aqui a negócios — ele informa, mesmo
que eu não tenha perguntado nada.
Começamos a conversar enquanto aguardamos. Me sinto confortável
com ele, mesmo sabendo que bandido não vem com letreiro de neon na testa.
A lembrança do que me aconteceu na faculdade, do sequestro, ainda é muito
vívida, mas não sou o tipo de pessoa que fica “remoendo” um assunto o
tempo todo.
Mentira! Tem uma coisa que não paro de pensar, sem saber o que
fazer, e isso me deixa louca.
— Você trabalha com o quê? — pergunto tomando um gole do meu
drinque sem álcool.
— Estou tentando comprar meu primeiro hotel na cidade. — Ele chama
o barman e pede uma bebida para ele e outra para mim, sem me consultar. O
que há com os homens hoje em dia?
— Espero que consiga — falo.
— Obrigado. É um projeto antigo que espero concretizar em breve. —
Pelo seu tom de voz, ele parece uma criança em uma loja de guloseimas.
— E você, Lana, o que faz aqui sozinha? Estava te observando desde
que entrou e te achei um pouco triste — Mark fala e abro um sorriso meio
sem graça.
— Estou de férias — digo simplesmente. Não quero falar da minha
vida para um estranho que acabei de conhecer. Ainda mais que ele disse ter
estado me observando. — Vou ficar por aqui nos próximos dias... ou, talvez,
pegue um voo e vá para outro lugar.
Vou mesmo ficar por alguns dias, mas não quero pensar no retorno.
Hoje só quero me divertir, e é o que faço com meu novo amigo. Ele é bem
agradável, ainda que eu estivesse tomando cuidado com ele, afinal, Daniel
conseguiu me dopar por eu confiar em estranhos.
Depois que a mesa foi liberada, acabamos jantando juntos. Foi ótimo
ter companhia, pois não pensava nos problemas. Estávamos no meio do jantar
quando o celular toca e vejo o nome de Jules no visor. Agora que ele me liga?
Droga! Nunca deixei de atender as ligações dele, mas não vou ser rude com
Mark, atendendo ao telefone no meio do jantar.
Desligo e envio uma mensagem.
Lana: Te ligo depois...
Recebo uma de volta quase que imediatamente.
Jules: Preciso saber onde te encontrar. Desculpe!
Respondo e coloco o celular na bolsinha que estava usando.
Lana: Agora não posso conversar, te ligo mais tarde.
Quando olho para Mark, vejo que ele me observa com atenção.
— Problemas?
— Não. Era o meu melhor amigo — falo e sei que a minha voz sai um
pouco magoada. — Me fale mais de você, Mark — puxo assunto, querendo
que seu foco saia de mim.
— Não tenho segredos escabrosos, Lana — ele fala com um sorriso
charmoso. — Estou com trinta e dois anos e agora estou me firmando nos
negócios. Sou formado em medicina, mas sempre tive muita vontade de atuar
no ramo hoteleiro, então, estou dando os primeiros passos nessa área.
— Não exerce a medicina? — pergunto surpresa. Acho medicina uma
profissão tão linda.
— Sim, já trabalhei, mas, como disse, agora quero diversificar. —
Tenho vontade de rir. Desejei conhecer um surfista gato, mas acabei
conhecendo um médico. — Se não der certo no ramo hoteleiro, vou entrar
para os Médicos Sem Fronteira e partir para a África. — Ele me surpreende
outra vez e descubro que ele poderá ser uma ótima companhia nessas férias
forçadas.
No fim do jantar eu o convido para irmos a boate do hotel. O lugar é
escuro e a batida forte da música provoca dor nos tímpanos, mas não me
importo. Quero extravasar todo o estresse que venho contendo.
Jules
As palavras de Cybelle me fazem querer voltar para casa e me esconder
para sempre. O sermão dela me queima, mas ela tem razão. Fui covarde.
— Você não tem culpa das coisas que seu pai faz ou fez, Jules — ela
finaliza — Jamais te acusaríamos de qualquer coisa.
— Eu sei... — murmuro.
— Nunca vi minha filha tão triste como tem estado ultimamente. Vocês
cresceram juntos, não a abandone agora. E, além do mais, querido, você
também precisará de apoio com tudo isso que vem acontecendo ao seu pai —
diz. — Você é sempre bem-vindo a nossa casa, sabe disso. Te considero
como um filho, Jules.
Fui até lá falar com a Lana. Descobrir que ela viajou e que não estava
aqui quando ela precisou é frustrante. Sou o seu único amigo e, agora, ela não
tem ninguém.
Na saída da casa, avisto Alexander. Esse cara parece morar aqui. Vou
em sua direção e tento descobrir algo. Cybelle não me deu qualquer pista de
onde ela poderia estar.
— E aí, cara? — cumprimento quando me aproximo. — Tem ideia de
onde a Lana está?
— Ah, vejo que resolveu aparecer. — Ele é irônico. — Se ela quisesse
te falar, tinha ligado para você e dito. Ah! — Ele abre um sorriso frio. — Ela
foi na sua casa e você a expulsou de lá. Grande amigo você é.
Não sei qual é a desse cara. Mas tenho certeza de que ele acha que
tenho algum sentimento por Lana além de amizade. Há um tempo, pensei que
estava apaixonado. Mas eu sabia que para ficar com ela, tinha que ser um
cara mais durão. Alguém a quem ela não dominasse, como fazia comigo.
Nunca consegui dizer não para ela, mas não tenho qualquer interesse
amoroso.
Me sinto mal depois que Alex faz questão de jogar isso na minha cara e
vou embora. Ligo para Lana, que não atende. Logo depois recebo uma
mensagem dizendo que vai me ligar depois.
Aguardo sua ligação a noite toda.
Ela não me ligou e meu coração se aperta. Será que ela está muito
chateada comigo?
Lana
Na manhã seguinte, acordo com a cabeça pesada. Bebi mais do que
estou acostumada. Na verdade, não costumo beber mais que um drinque
quando saio à noite. Enquanto tomo um copo de suco na varanda do hotel,
ligo para Jules, que atende no segundo toque, como se estivesse esperando a
minha ligação. Ele deve ter ficado preocupado.
— Oi, Jules.
— Lana!
— Desculpe por não ligar ontem, fiquei fora até tarde...
— Sem problemas, Lana. Eu que sinto muito por não ter te ligado e
nem ter te recebido quando veio aqui. Me sinto um péssimo amigo — ele
dispara um monte de desculpas.
—Tudo bem, Jules. Já passou. — E falo do fundo do coração.
Pensando bem, sei que o Jules não tem que viver em função da nossa
amizade e que ele precisava de um tempo para processar os acontecimentos.
— Onde você está? — ele pergunta — As pessoas têm mantido isso
como um segredo da máfia russa.
Gargalho e a tensão que sinto parece diminuir um pouco.
— Malibu. Gostaria muito que estivesse aqui. Sinto a sua falta — digo
e sinto as lágrimas queimarem em meus olhos. — Como você está? — Me
lembro de que nada disso deve ser fácil para ele e sua família.
— Minha mãe está meio enlouquecida para tirar meu pai da prisão.
Você sabe que ele pode sair, não é? — Noto o remorso no tom da sua voz.
— Estou sabendo sim, Jules. Espero que tudo se resolva e sua família
fique bem. — Sim, sei que ele pode sair essa semana. Alex fez questão
de comunicar antes que eu viajasse. Pensar nele me faz ficar com raiva, mas
resolvo deixar Alexander de lado e me concentrar no meu melhor amigo.
Conversamos mais de meia hora, até que ele fica calado do outro lado.
— O que foi? — pergunto preocupada.
— Só quero que saiba que, se meu pai sair da prisão, não vou deixar
que nada de mal te aconteça — ele garante, e eu sorrio apesar de tudo.
— Ganhei um segurança?
— Mais um, você quer dizer, não é? — Ouço a sua risada do outro lado
da linha.
— O que você quer dizer com isso? — pergunto aflita. Será que tem
guarda-costas na minha casa, de novo?
— Seu amado segurança vive na sua casa — ele ri. — Ele não gosta
mesmo de mim, não?
— Você deve estar enganado, Jules. Ninguém acredita que você tenha
algo a ver com seu pai — digo.
— Não estou falando sobre isso. Acho que ele não vai com a minha
cara por sua causa.
— Pouco provável. Alexander não dá a mínima para o que eu faço —
retruco e mudo de assunto outra vez. Jules já me conhece e não força a barra.
— Te amo demais, Juliano.
— Ama nada, se amasse não me chamava assim — ele resmunga.
— Esse é seu nome, pequeno Julie — provoco.
— Argh! Cada um pior que o outro. Mas te amo mesmo assim,
patricinha.
Estávamos bem outra vez. Me sinto melhor sabendo que ainda o tenho
ao meu lado.
Assim que termino a chamada com ele, ligo para minha mãe. Ela me
pediu que ligasse para ela todos os dias em que estiver fora de casa.
— Oi, mãe!
— Querida, como você está? — pergunta do outro lado. — Espero que
esteja se divertindo...
— O que você fez o dia todo? — Mark se senta a minha frente, na casa
noturna. Faz três dias que saímos para dançar. Tenho feito o mesmo
programa todos os dias. Não me sinto segura em sair do hotel. Ainda não tive
coragem nem de fazer os passeios turísticos, mas aproveito o máximo às
cadeiras de frente para o mar. Mark passa o dia cuidando dos seus negócios,
então não posso contar com ele como distração.
Abro um sorriso e antes que eu fale, ele ergue a mão, me calando.
— Deixe-me adivinhar. — Ele ri mais agora. — Você passou mais um
dia deitada naquelas espreguiçadeiras?
— Claro que não! Mas vim aqui por causa da praia, então tenho que
ficar o máximo de tempo possível lá — me defendo.
— Deveríamos ir para outro lugar, em vez de irmos para essa mesma
casa noturna. — Ele faz cara de cachorrinho.
— Hoje não. — Me repreendo por dentro, mas sei que não o conheço o
suficiente.
CAPÍTULO 24
Alexander
Porque acusamos as mulheres de inconstantes, se nós, homens,
somos piores que ela? Saber que Lana foi embora por minha causa, fez com
impossível detê-lo.
— O que você está fazendo aqui, Alexander? — repito a pergunta,
quando ele não responde da primeira vez. — Não tem nenhum bandido para
você caçar?
— O que acha que vim fazer? Olhar a paisagem? É claro que vim te
ver! Que merda você está fazendo com esse cara, Lana? Você mal conhece
essa pessoa e se torna melhor amiga dele, em poucos dias? — Ele grita tanto
que acho que ele vai acordar o hotel inteiro. Ah, caramba! Ele nem me
cumprimentou e já está esbravejando! Filho da mãe!
— Baixe seu tom, Alexander — digo o mais baixo que posso —, ou
chamarei os seguranças e vou te acusar de invasão.
— Tente — ele deixa o desafio no ar.
Nos encaramos como dois oponentes em uma arena, onde o campeão é
o mais forte. Eu o observo lutando contra a fúria, e não compreendo o porquê
de ele estar nesse estado catastrófico de raiva.
— O que veio fazer? Me vigiar de novo? — Quebro o contato visual e
caminho para vestir outra roupa. Ainda vou sair e ele que não tente me
impedir.
Não vou ser boazinha com Alex. Juro que tentei mudar, prometi a mim
mesma que seria mais madura e responsável, mas Alexander desperta o pior
em mim.
— Estou de saída, então sugiro que caia fora.
— Vai sair o caralho! — Ele se aproxima de mim tão rápido que
estremeço com seu calor. — Ficou louca, Lana? Como você pensa em viajar
com esse cara?
— Como sabe disso? — Paro o que estou fazendo e o encaro.
— Não importa como sei. — Ele cerra os punhos e percebo sua raiva
latente dirigida a mim. — Esqueça essa viagem, Lana. Você não vai a lugar
nenhum. Vou te levar de volta para casa.
Perco o resto de controle que me resta e vou para cima dele.
— Você é louco ou o quê? Acha que pode me jogar fora e me pegar de
volta quando bem entende? — grito. — Deixa eu te esclarecer, Alex. Não
dou a mínima para o que você vai fazer. Não me importo com o que você
acha ou deixa de achar.
Ele não se mexe enquanto esbravejo o mais perto possível do seu rosto
bonito. Mas, ainda que eu esteja furiosa por ele ter me seguido, ainda o
desejo muito. Não consigo controlar meu fascínio por ele. Mesmo me
sentindo humilhada pela sua rejeição, não posso odiá-lo. O amor é uma
droga. Nunca achei que me apaixonaria por alguém. Bem, mas aqui estou, de
quatro por um que não me quer.
Respiro fundo e me viro. Pego um vestido azul-turquesa de alcinhas no
guarda-roupa e sigo para o banheiro. Bato a porta e tranco, não dando chance
a ele de vir aqui e tentar me impedir. Encaro meu reflexo no espelho e não
fico nada satisfeita com o que vejo: estou com as bochechas vermelhas e
minha respiração está tão acelerada que parece que fim uma corrida de dez
quilômetros.
— Abra essa porta antes que eu a quebre, Lana! — Ouço a voz furiosa
de Alex, mas não dou ouvido a sua voz zangada. Me inclino contra a porta e
sinto meu coração bater forte pra caramba. Com um suspiro, tiro a roupa e
entro no box para tomar um banho rápido.
Como é que Alexander sabe que pensei em ir para Los Angeles com
Mark? Ele tem um espião aqui? Será possível? Bem, na verdade, eu não ia a
lugar algum. Esse informante dele é muito desinformado. Mark me convidou
durante o jantar da noite passada, mas não acertamos nada.
Descobri que temos muito em comum: ele é humanitário e eu, uma
aprendiz. Contei a ele sobre a ONG e foi daí que surgiu o convite. Eu não ia,
mas poderia mudar de ideia só para implicar com Alex.
Meu coração está pesado. Ainda que eu não quisesse admitir, sinto o
desejo por Alex se intensificar, cada dia mais. Saí de casa por um tempo,
achando que isso diminuiria se eu ficasse longe dele. Mas seu súbito
aparecimento acaba com a minha determinação de não me deixar levar por
esses sentimentos. Quando isso vai acabar?
Ainda ouço seus resmungos, mas não me importo. Termino de me
arrumar em frente ao espelho, aplicando um mínimo de maquiagem, e abro a
porta para encontrar Alex de braços cruzados diante dela impedindo minha
saída.
— Precisamos conversar — ele anuncia com uma carranca. —
Aconselho que se esqueça do encontro com o doutor. — Suas palavras são
repletas de ironia.
— Não mesmo. Vou sair e você não vai me impedir. — Ele não se
mexe e eu forço a passagem, mas o corpo dele é como um poste na minha
frente.
— Não vai, não. Vamos nos sentar e conversar, Lana. — Ele segura
meu pulso e me puxa em direção ao sofá da suíte.
— Sente-se — ordena.
— Para quê? Estou...
— Sente-se, porra!
— Você não me manda — falo em tom frio e calmo. — Não está
falando com um dos seus homens.
Puxo meu braço e me afasto. Mal chego à porta quando sou agarrada
pela cintura e levantada do chão.
— Me solta, Alexander! — Furiosa bato em suas costas largas, mas não
parece doer em nada. Dou um grito de susto quando sou colocada em cima da
cama. Antes que eu consiga me mexer, ele está sobre mim, me prendendo no
colchão. Eu o encaro, ofegante.
— Agora, vamos conversar — ele fala, se inclina e beija meus lábios
com força. Sua língua invade a minha boca e fico parada esperando que ele
note que não estou brincando com ele. Não sou seu brinquedinho. Ele recua
ao perceber que estou imóvel e eu fecho os olhos, escapando do seu
escrutínio. — Olhe para mim, Lana.
Abro os olhos e o encaro séria. Ele está tão perto que só precisaria
levantar um pouco e estaríamos nos beijando outra vez.
— O que você quer de mim, Alex? — Minha voz soa cansada.
— Quero que me ouça por um instante — ele fala e seus olhos estão na
minha boca. Quando penso que ele vai me beijar de novo, ele rola de lado e
se levanta da cama.
Sento e espero. Ele não fala. Apenas me olha como se eu fosse sumir a
qualquer momento.
— Estou esperando — digo azeda.
— Por onde quer que eu comece? — Ele inspira com força. — Eu não
deveria dizer isso para você, mas sei que sou o culpado por você ter vindo
para cá daquele jeito e estar se colocando em risco, com um cara que mal
conhece.
— Não...
— Não terminei, Lana. O que quero dizer é que, por mais que eu queira
ficar longe, que diga para mim mesmo que não daríamos certo e que preciso
muito ficar longe de você — ele parece desconfortável e nervoso. Pela
primeira vez, ele não parece o cara frio que sempre demonstrou para mim —,
você tem sido uma lufada de ar refrescante na minha vida toda certinha, toda
teimosa e voluntariosa...
Ele para e sorri como se estivesse se recriminando pelo rumo que suas
palavras tomaram. Mesmo tentando consertar as coisas, ele ainda não parece
tão convencido do que quer de mim.
— Sinto muito.
— Sente muito pelo que, Alex? — Me sinto frustrada com ele.
— Preciso que você volte para casa, Lana. Ouça — ele pede quando
faço menção de falar. — Essa sua viagem é mais um motivo de preocupação.
O Fontes pode ter contatos e fazer algo com qualquer um de vocês, mesmo
estando preso. Ele pode até ordenar para alguém que aja por ele...
Ele continua falando, mas não ouço mais nada.
— É isso que você está tentando dizer esse tempo todo? Que quer que
eu volte por causa do pai do Jules?
Nossa, minha burrice não tem limites... e eu acreditando que ele diria
algo de diferente como: vim por que fui um babaca e quero dar uma chance
para nós!
Vou ter que esperar muito para isso acontecer...
Alexander
Quanto mais tento me explicar, mais as coisas saem erradas. Tentei
controlar a minha possessividade ao ver Lana com o médico almofadinha.
Agora, minha vontade é colar meu corpo contra o seu e mostrar que ela é
minha. Porém, ela está agindo de forma completamente diferente dos últimos
dois meses. Me acostumei com a garota sapeca e agora, essa mulher fria me
deixa mais nervoso do que levar um tiro. Seguro a ponta do nariz e suspiro,
enquanto observo Lana sentada na cama com aquele vestido minúsculo que
não deixa nada para imaginação. Abro a boca para explicar o motivo da
minha frieza quando a mandei embora da minha casa, mas...
— Você vai sair com essa roupa para se esfregar a noite toda com
aquele doutorzinho de merda? — É o que falo quando abro a porra da boca.
Vê-la toda sorridente mais cedo foi um baque no meu coração. Percebi que
não adiantava correr. Eu a queria mesmo tendo a certeza de que vamos nos
machucar.
— Sabe, isso não combina com você. — Ela ri, debochada — Essa
possessividade fora de hora. E me esfrego em quem eu quiser, afinal, sou
livre e solteira.
Ela levanta a sobrancelha de forma zombeteira para mim e sei que está
me provocando como sempre faz. Ah, droga, ela sabe como me deixar louco.
— Lana... — Merda, sou um fraco quando se trata dela. — Eu te quero!
— digo simplesmente.
Não sou um cara de palavras rebuscadas, nem romântico, jamais fui
meloso nessas coisas de casal apaixonado. Antes, quando queria uma mulher,
eu saía em encontros de uma só noite. Enquanto era noivo de Adriane, nunca
precisei ser romântico ou bancar o apaixonado — ela me sufocava o
suficiente. Queria me casar com ela, estava apaixonado — mas sei que estar
apaixonado não é amar. Nunca amei uma mulher para pensar em fazer algo
romântico por ela. Não costumo fazer loucuras de amor.
— Alex, não vou correr atrás de você de novo — ela diz, firme. —
Cansei.
— Eu sei. Mas estou aqui, não estou? — Vou até ela e a puxo para mim
— Vamos começar de novo? Não quero esconder as coisas da sua família,
como antes.
— Não sei se quero...
— Porra, Lana! Há menos de uma semana você queria e agora...
— E você me rejeitou. Há menos de uma semana eu não era boa o
bastante para você. O que mudou? Se descobriu apaixonado da noite para o
dia? — ela pergunta com tanta calma, que temo que ela realmente vá me
rejeitar. Seu olhar de desconfiança está abalando a minha confiança.
— Só estava sendo racional.
— Racional? Você tinha é que seguir o coração, como fiz! Abri meu
coração e você o despedaçou — ela fala com a voz trêmula. — Estou de
saída, Alexander. Quem sabe, quando eu voltar, a gente termina essa
conversa.
O quê? Ela está brincando comigo.
De repente, ouço batidas na porta da suíte, o que acaba de vez com o
último resquício de bom-senso da minha parte.
Sigo até lá, furioso, por que sei bem quem está atrás daquela porta.
Abro e dou de cara com o doutor filha da mãe.
— Alex... — Lana começa, mas começo a falar antes que ela consiga
sair do lugar.
— Perdeu alguma coisa aqui, camarada? — solto em um inglês furioso,
o que faz com que o sujeito de um passo para trás.
— Me desculpe. Acho que errei de quarto. — ele sorri sem graça e
começa a se afastar, quando sinto Lana tentando passar por mim.
— Não errou, Mark. Já estou indo — ela praticamente grita para o
almofadinha e ele volta, parecendo ainda mais desconfortável.
— Não sabia que tinha companhia. — Ele me encara e dou meu olhar
mais mortal. Ele tenta ver Lana, que tenta me empurrar, mas não saio do
lugar.
— Agora já sabe. Cai fora! — grunho as palavras, meu tom mais
expressivo que meu discurso.
— Sai da frente, Alex!
— Você não vai sair. Já disse, Lana. — Não tiro os olhos do doutor.
— Algum problema, Lana?
— O problema aqui é você. A Lana já tem compromisso para a noite.
— Abro um pouco de espaço, passo o braço por cima do ombro dela e dou
um grande sorriso para o tal doutorzinho.
— Diga para ele, amor, que você vai ficar ocupada à noite toda —
sussurro e dou um aperto firme nela, colando nossos corpos. Abaixo a cabeça
e beijo seus cabelos.
— Vou te matar, seu idiota — ela fala com a mandíbula trincada de
raiva. Depois suaviza a voz para falar com o cara. — Mark, te encontro na
boate daqui a dez minutos.
— Posso...
— Vai esperar a noite toda — eu o corto de forma grosseira e começo a
recuar para dentro do quarto, levando Lana comigo. — Ah! E esqueça a
minha namorada! — Isso vai deixá-la furiosa, mas não me importo. Se posso
assumir o risco que sejamos magoados no fim de tudo isso, quero tudo a que
tenho direito.
Lana
Vejo Mark caminhar relutante para o elevador. Antes que Alexander
me puxe para dentro do quarto, feito um homem das cavernas, vejo a
expressão decepcionada de Mark e minha fúria aumenta ainda mais.
— Seu idiota! Não acredito que você disse isso! — Dou um soco em
seu estômago, mas em vez de machucá-lo, a minha mão é que lateja. — Qual
o seu problema, Alexander? — grito.
— Meu problema é você, pequena encrenqueira.
Ah, não! Conheço muito bem esse seu tom de voz.
— Vai ter que rebolar, garanhão. Não vou cair nesse seu papo. —
Ando de costas por dentro do quarto enquanto ele me segue. — Estou falando
sério, Alex!
Ele não fala nada quando me agarra. Uma mão encaixa na minha
cintura e a outra em meus cabelos. Que merda! É horrível não ter força para
impedir, mas no fundo sou muito fraca quando se trata dele. Ele não parece
zangado como estava quando Mark bateu à porta. Agora tem um ar predador
e eu sou a caça.
Mas, antes que ele me beije outra vez, me lembro de algo.
— Tem alguém me espionando aqui? — Ele não nega e tudo se apaga
quando seus lábios colam nos meus.
Ah, céus... estou perdida!
Retribuo o beijo, mas meu subconsciente não para de avisar que estou
cometendo um grande erro. Mas não o ouço. Como sempre faço, se quero
algo, eu pego e quero Alexander de qualquer jeito. Me questiono se isso não
é um capricho, como ele costuma dizer. Mas quando sinto meu coração doer
ao pensar que posso nunca mais tê-lo assim, minha resolução de esquecê-lo
enfraquece.
Empurro seu ombro e interrompo o beijo.
— Ainda quero sair.
Mesmo que eu deseje muito cair na cama com ele, tenho que ser firme.
Ele precisa saber que não pode só aparecer e me beijar.
Beijos deliciosos, se me lembro bem.
Ele não me dá ouvidos e cola sua boca outra vez na minha, mais
exigente. É tudo tão cru que acabo me deixando levar. Merda! Amanhã vou
ser forte, eu prometo!
Era como se a música da Pink, Fuckin' Perfect, estivesse tocando na
minha cabeça.
Esqueci nossas desavenças. O desejo entre nós é denso e forte, e agora
parece que temos fome um do outro. Como ele pode afirmar que não sente
nada por mim?
Meu corpo cola no seu e eu puxo a camisa de dentro da calça,
acariciando o abdômen musculoso, as costas quentes e a pele macia. Nossas
línguas se enroscaram úmidas e frenéticas. Alex tira a camisa depois que abro
os botões. Tiro seu cinto, abro a calça, ele chuta os sapatos e tira o resto das
roupas. Então, ele rasga as alças finas do meu vestido, que escorrega para o
chão, e tira o fio dental muito rápido, antes de cairmos abraçados na cama,
nus, ardentes e esfomeados. É para ser sempre assim, intenso e voluptuoso,
com o desejo de nos fundirmos em um...
Tudo o que eu quero é o seu amor incondicional e vou lutar por ele...
CAPÍTULO 26
Lana
Acordo sentindo um peso sobre mim e me mexo na tentativa de
afastar o que me incomoda, quando me lembro que não estou sozinha na
cama. Alex! Merda! Tudo o que eu não queria acabei fazendo na noite
garganta está seca. Tiro o braço pesado de Alex de cima de mim, levanto e
servir, em vez de voltar a me deitar na cama, vou para o sofá e me deito lá.
Por que amar é tão complicado? Meu erro é ser tão impulsiva. Não penso —
ajo e lamento depois —, sempre foi assim. Saber que meus pais querem selar
muitas ações da minha vida. Era como se eu quisesse viver intensamente até
filho que meu pai gostaria de ter tido, e herdar seu legado...
Desvio meus pensamentos quando ouço Alex se mexer. Ele acorda, se
senta na cama e olha para os lados, até me localizar no sofá.
— O que está fazendo aí? Volte para cama. — Sua voz está rouca de
sono, soando mais gentil do que nunca, mas como não me mexo, ele me
observa com atenção. — Qual o problema, Lana? Está se sentindo mal? —
Ele sai da cama e vem até a mim. Nu.
Protesto quando ele se abaixa, me pega no colo e me leva para a cama.
Depois de me acomodar no colchão, me sento encostada na cabeceira e o
encaro:
— Por que você veio, Alex? — questiono. — Até agora, você não disse
o que está fazendo aqui. Só agiu como um homem das cavernas a noite toda.
Espero e ele suspira, como se eu estivesse fazendo uma pergunta difícil.
Mas só quero entender.
— Não é obvio, Lana? — ele grunhe depois de um momento de total
silêncio.
— Não para mim. Fiz exatamente o que você me pediu: esquecer o que
houve entre nós. — A rejeição ainda queima na minha alma e eu não vou
perdoá-lo com facilidade. Não mesmo. — Daí você aparece do nada e quer a
minha total compreensão? Não acha que me deve um pedido de desculpas?
— Por ser sincero com você? — Ele segura meu pescoço e me puxa
para perto de si. Tão perto que sinto seu hálito. — Mas, agora, vim até você
porque quero tentar e ver onde isso pode dar. Sei que demorei a compreender
o que sinto, mas parei de lutar comigo mesmo. E, se você ainda me quiser,
podemos tentar.
Olho profundamente na sua íris verde pálida, mas com um brilho tão
vívido e cheio de promessas que talvez ele não possa cumprir.
— Você acha que por vir até aqui, dizer que me quer, que eu vou para
você? Acha que sou tão fácil assim? — Que homem arrogante! Ele me teve
fácil, como uma boba apaixonada.
— Você é minha, já aceitei isso. — Não acredito nessa súbita mudança.
O que aconteceu para que ele viesse aqui, todo meloso?
— Vai ter que demonstrar que é isso que quer, Alexander. Transar
comigo não é prova de nada. Não prova que você quer dar uma chance de
verdade para nós. — Me inclino e o encaro, quase colada em sua boca. —
Vai ter que conquistar meu coração outra vez, Alex. As coisas foram muito
fáceis para você. Agora, posso até usar você para fazer sexo, mas meu
coração não está disponível para você, até que seja digno dele — sussurro.
— Acha que está sendo fácil? Você só me deu trabalho, Lana Mitchell.
— Ele cola a boca na minha e eu não abro para retribuir o beijo. — Me beija.
— Não... — falo com semblante fechado e ele entende a seriedade da
situação.
— Você está certa, Lana. Fiquei viciado em você. Mesmo que eu tenha
tentado negar, seu toque e seu afeto verdadeiro me conquistou. Não mereci
nada do que você me deu até agora. — Ele se afasta um pouco, olhando em
meus olhos. Uma infinidade de sentimentos cintila em sua íris translúcida,
que me atrai terrivelmente. — Mas sou louco por você! Estou tentando toda a
merda que vem acontecendo para trás e dar uma chance a nó. — ele fala e,
logo em seguida, faz uma careta como se não quisesse admitir que sente algo
por mim.
Será que é tão difícil me amar?
— Não quero que diga algo que não sente ou que acha que é o que
quero ouvir, Alex. — Sinto vontade de gritar de frustração. — Ou você me
quer ou não. Olha para mim. Abra seus olhos e veja quem eu sou de verdade.
— Sei quem você é. — Ele beija suavemente o meu nariz e meus lábios
cerrados. — Eu sei que você é linda, por fora e por dentro e isso é como uma
rajada de brisa morna na minha vida. — ele beija minhas pálpebras — Você é
como êxtase nas minhas veias, minha querida, vamos voltar e fazer tudo certo
dessa vez, pequena rebelde. — ele sussurra.
— Não estou pronta para voltar ainda — digo.
— Não — ele é taxativo. — Temos que voltar, Lana. Hoje.
— Vou ficar até o último dia que planejei. Não tente agir como um
idiota. — Me levanto e vou para o banheiro. Ele sempre tem que ter a última
palavra?
Alexander
Um homem sabe a hora certa de recuar!
Depois que Lana vai ao banheiro, caio na real de que parti seu coração
dela quando a mandei embora. Agora, preciso consertar as coisas. Pego o
telefone e entro em contato com o escritório. Pela hora, já deve ter alguém
por lá. Deixo recado, avisando que vou demorar mais que o esperado e que
quero um relatório diário sobre como as coisas estão. Se para fazer as pazes
com ela é preciso ficar aqui, é exatamente o que vou fazer. Ela não vai ficar
mais sozinha aqui um minuto sequer.
O dia começa a amanhecer e fico pensando em uma maneira de seduzir
Lana de vez...
Ela volta pouco depois e se deita de novo na cama, de costas para mim,
me ignorando.
— Você está certa, minha linda megera — digo, enquanto a puxo
contra mim. Seu corpo retesa e vejo que, ainda que tenhamos transado a noite
toda, ela não confia em mim. Fico aborrecido comigo mesmo por ter sido tão
intransigente ao afastá-la. — Tenho sido um grande idiota com você —
admito. — Você sabe melhor do que eu como agir quando quer algo... não
tem medo de correr atrás. Eu sou um tremendo machista tosco.
— Agora estamos falando a mesma língua, idiota. — Sua voz sai
abafada contra meu pescoço.
Dou um tapinha na sua bunda.
— Não seja insolente...
pela forma grosseira com que Alex o tratou. Ele jamais foi desrespeitoso
comigo.
— Oi, Mark.
— Lana... — Ele olha para Alexander, que está com cara de poucos
amigos. — Que bom que você está bem. Fiquei preocupado.
— Ah, sim, estou bem. — Fico vermelha e nem sei porquê. — Quero te
pedir desculpas por aquilo.
— Tudo bem, Lana. O seu namorado deve ter achado estranho
encontrar um homem na sua porta. — Ele abre um sorriso sem graça. — Se
você fosse a minha namorada, também ficaria chateado.
— É complicado — gaguejo e olho rápido para onde Alex está parado
esperando. — Quando você vai embora?
— Amanhã, como planejado — ele diz.
Ficamos sem saber o que falar durante um tempo, e ele estende a mão
para mim.
— De qualquer forma, foi ótimo conhecê-la, Lana — diz.
— Quero te convidar para ir a CASM qualquer dia desses. Vai ser
muito bem-vindo. — Dou o número do meu telefone a ele. — Vai ser ótimo
ter um dia de consulta grátis. Espero receber uma ligação sua em breve. —
Sorrio e o abraço de forma espontânea. Eu poderia conhecê-lo há pouco
tempo, mas sei que ele é uma boa pessoa.
— Vai ser um prazer ir lá conhecer. — Ele sorri.
Nos despedimos e seguro o cartão com seus contatos. Volto para perto
de Alex.
— Terminou de bater papo com o doutor? — Ele olha para o cartão em
minha mão.
— Ah, sim. Por enquanto... vamos. — Aponto o elevador. Ele fica
parado por um tempo que parece não ter fim, olhando na direção em que
Mark foi.
Meu telefone começa a tocar e vejo que é a minha mãe. Temos nos
falado todos os dias, hoje não seria diferente.
— Oi, mamãe! — Seguro a mão de Alex e o puxo em direção ao
elevador.
— Como você está, filha?
— É bem... estou ótima — respondo e abro um sorriso. Alex arqueia a
sobrancelha para mim. — Estava pensando em ficar mais um mês aqui. —
Não é verdade, mas quero implicar com ele, que arqueia ainda mais as
sobrancelhas.
— Tem certeza, Lana? E a faculdade? Acho que já está na hora de
seguir em frente, depois de tudo o que aconteceu — minha mãe fala. —
Estou preocupada com você. Sei que incentivei essa viagem, mas...
— Soube que o pai do Jules pode sair da cadeia — falo, pois sei que
sua preocupação tem tudo a ver com isso.
— Como você sabe disso?! — Pela apreensão em sua voz, acertei.
Olho para meu segurança- namorado e fico em dúvida se devo ou não contar
que estamos juntos. Ela não é muito fã de Alex. Bem, não desde o dia em que
me encontrou chorando pra caramba no quarto.
— Eu... fiquei sabendo — Droga!
— Lana Mitchell, o que você está escondendo da sua mãe? — Seu tom
é um pouco divertido, mas também apreensivo. — Será que você não
encontrou um amor aí?
Fico sem graça em conversar com ela enquanto Alex está prestando
atenção. E, pelo visto, ele estava até ouvindo o que ela estava falando do
outro lado da linha.
— Claro que não, mãe — respondo. — Conversamos quando eu voltar.
Desligo o telefone ao entrarmos na suíte e me volto para Alex, que está
parado feito uma estátua no meio do quarto.
— Você me deve um primeiro encontro. — Aponto o dedo para ele —
Nunca saímos como casal, portanto...
— Por que não disse para a sua mãe que está comigo? — ele pergunta e
parece chateado.
— Estava te salvando da ira dela. — Sigo para o banheiro — Você está
na lista negra da minha mãe.
— Responda à pergunta, Lana. — Seu tom é frio e controlado como
sempre.
— Já respondi. Ela não precisa saber que você está aqui. Não tem
motivo.
— Vou para o meu quarto — ele fala, se vira e sai. A suíte em que está
hospedado fica ao lado da minha. — Esteja pronta quando eu voltar.
Vou para o chuveiro e fico pensando em seu súbito mau-humor.
Alexander
Vou para o quarto puto. É assim que Lana quer que as coisas mudem?
Me escondendo da sua família? Mas que merda!
Me sinto irado depois de vê-la trocar telefones com o médico e não ter
contado para a mãe que estou aqui. Dou um murro na parede, totalmente fora
de controle! E fico com mais raiva ainda por perde-lo desse jeito.
Será que é tarde demais para que as coisas dessem certo entre nós?
Quando fizemos amor ontem, achei que tudo ficaria bem. Mas os últimos
acontecimentos provaram que estou errado e que, talvez, as coisas não
saíssem como eu esperava.
Que merda!
Vou para o banheiro tomar um banho e esfriar a cabeça. Ligo o sistema
de som e coloco um rock pesado para tocar, enquanto tiro a roupa. Entro no
chuveiro e começo a pensar de que forma vou conquistar o afeto de Lana
outra vez.
Enquanto me sexo, Let her go, de Passenger começa a tocar, zombando
de mim.
CAPÍTULO 28
Alexander
Saio do banheiro e me visto. Pego a carteira e passo os dedos pelos
meus curtos cabelos, em sinal de frustração. Não tenho a menor ideia do que
fazer para agradá-la. Sorrio a contragosto. Estou tenso. Não tenho nada
planejado e não faço a menor ideia de como agir para ser romântico com ela.
suas palavras. Ele me aperta com firmeza. Sinto a ereção roçar em minha
barriga, sua excitação evidente me deixando zonza de tesão. Percebo que não
importa onde estamos, o desejo é como uma presença física entre nós. Enrolo
Estava chateada com Alex por ele não ter me levado para sua casa. Faço uma
que ele havia perdido o interesse e percebo que estou indo no mesmo
caminho que ela, querendo sua atenção o tempo todo. Levanto a cabeça e
olho para o relógio: oito e meia da manhã. Desvio o olhar para a janela. O dia
está nublado e parece que vai chover bastante. Ainda bem que não vou a
me encara. Depois, ele volta o seu olhar para Alexander, que está
— Cara, qual foi a parte do “quero falar com você em particular” que
você não entendeu? — Jules pergunta, transtornado. — Se eu quisesse falar
com ela, tinha ligado. — Ele aponta para mim. — Vou embora.
— Não, Jules. Vamos entrar — Alexander fala com firmeza. —, e não
fale assim com ela.
— Pedi para falar com você.
Não entendo essa atitude de Jules. Toda vez que se sente ameaçado,
tenta fugir de mim.
— Deixei de ser a sua melhor amiga, Jules? — pergunto um pouco
magoada. — O que você tem agora?
— Esse é um assunto que não quero discutir com você, Lana — ele
retruca.
— Vamos entrar. Agora! — Alex nos leva para a entrada da casa e
Jules me olha feio.
— O que eu fiz? Não nos vemos há um tempo e não mereço nem um
abraço? — questiono, ficando chateada de verdade com ele. — Belo amigo,
hein?
— Não tem nada a ver com você, Lana. Só queria conversar sobre esse
assunto em particular.
Eu o encaro e vejo mágoa — além de outras coisas. Não me contenho e
vou até ele, envolvendo meus braços ao redor da sua cintura
— Só quero te proteger...
— Eu sei, Jules. Vamos entrar. Você pode falar à vontade. Sei que tem
a ver com o seu pai, mas não vou te julgar. Devia saber disso. Você não é ele,
Jules. Nunca confundiria isso e te afastaria de mim só porque o seu pai
resolveu nos prejudicar — garanto e o sinto relaxar enquanto entramos e nos
acomodamos na sala de estar.
— Pode falar na frente da Lana. Acho que ela é a mais interessada no
que você tem a dizer.
—Tudo bem. — Ele abaixa a cabeça — Vocês sabem que meu pai saiu
da prisão...
— Sim. Foi por isso que voltamos antes da viagem — Alex fala.
— É... eu soube que você também estava lá.
Jules me olha e sorri.
— Continue — Alex o corta, impaciente. — O que o seu pai fez dessa
vez?
— Ele ainda pretende sequestrar um dos Mitchell — ele responde e me
olha com pesar. — Sinto muito, Lana, não sei o que deu nele para fazer isso.
— O que aconteceu para você ligar para mim? — Alex o encoraja.
— Ele me pediu ajuda para continuar com essa história de sequestro.
Como recusei, ele me expulsou de casa. Ele pretende sequestrar o Luca ou a
Cybelle. Ou até mesmo você, Lana. Não tenho para onde ir, agora. Não posso
trair a confiança que a sua família tem em mim, nem facilitar esse crime.
Estou chocada. Como um homem pode cometer tantos crimes, por
motivos tão bobos?
— O que mais ele te disse, Jules? Conte tudo que você sabe — Alex
pede.
— Ele não me contou seus planos, só disse que queria a minha ajuda, já
que tenho acesso à casa da Lana. Me sinto um traidor, ainda que eu não tenha
nada a ver com isso.
Jules está tão triste! Vou até onde ele está e me sento ao seu lado.
Seguro suas mãos e entrelaço meus dedos nos dele.
— Jules, você não tem que se sentir assim. Só por ter vindo nos contar
é prova suficiente de que você não compactua com isso, amigo — falo. — Eu
e meus pais nunca duvidamos de você. Por favor, acredite. Sabe que pode
contar comigo, não é?
— Obrigado. Mas ainda não sei o que vou fazer. — Ele olha para
Alexander. — Só queria avisar para que vocês tivessem cuidado, meu pai
perdeu a razão.
— Claro, Jules. — A voz de Alex soa dura. — Vou arranjar um lugar
para você ficar. — Ele faz uma pausa. — E quanto a sua mãe? Ela não diz
nada sobre isso? Deixou que seu pai te expulsasse?
— Pois é... e você sabe o que ela foi fazer na nossa casa, hoje? —
pergunto e vejo os olhos dele se arregalarem de espanto.
— O quê? Ele conseguiu convencê-la a ajudá-lo nessa loucura! Avise
aos seus pais, Lana. Ela não é confiável.
— Não se preocupe, Alexander. Ele vai ficar na nossa casa!
Alex mantém os olhos fixos nas mãos entrelaçadas e seu cenho
franzido não é amigável. O que ele tem agora? Quando ele me encara, ergo a
sobrancelha em uma pergunta silenciosa.
— Com licença. Preciso fazer uma ligação para avisar a polícia do que
você me contou, Jules.
Alex pega o celular e sai da sala, nos deixando a sós.
— Tenho que ir, Lana. — Jules tenta se levantar. — Já fiz o certo.
Agora é com a polícia, não quero estar por perto quando meus pais se derem
mal.
— Ei, para onde você vai? Não fique assim, Jules. Você não é culpado
de nada e não pode se martirizar pelos erros dos outros.
— Ainda assim, saber que meus pais são criminosos é, no mínimo,
constrangedor, Lana. Você não imagina como estou me sentindo — ele fala.
Com um suspiro, muda de assunto. — Mas me conte, quando você chegou?
— Ontem. Te liguei, mas você não atendeu. — Aperto sua mão. —
Fique lá em casa, Jules. Tenho certeza de que vamos conseguir dar um jeito
nisso.
— Não posso, Lana. Não é conveniente.
Ele se levanta e começa a andar de um lado para outro.
— E vai para onde, posso saber? Deixa de ser tonto, Jules. — Vou até
ele — Você é o meu melhor amigo. Não vou te deixar sozinho.
Nos abraçamos.
— Você é a melhor, Lana Mitchell — ele sussurra no meu cabelo —
Estou perdido, sabe? Sinto tanto por toda essa loucura com a sua família.
— Amo você, independentemente de quem são seus pais, Jules. —
Sinto meu peito apertar por ele.
Alex volta para sala.
— Vocês dois podem parar com o agarramento? Isso está me irritando!
— É melhor se acostumar, dom Juan — Jules graceja e recebe um olhar
feio. — Pelo que sei, a Lana é solteira e disponível.
— Jules, não provoca. Você vai ser jogado aos leões se provocar o
selvagem. — Rio.
Sabia que ele ia sentir ciúmes, mas precisa se acostumar a me ver
fazendo o que quero e decidindo as coisas por mim mesma.
— Terminaram?
Ele vai para a cozinha e nós o seguimos.
— Jules, acho melhor você ficar aqui em casa, por enquanto. Depois
que resolvermos essa questão com o seu pai, você poderá voltar para casa.
— Ele vai ficar lá em casa, Alex — afirmo. — Vocês nem se conhecem
e não parecem se gostar.
— Faço questão, Lana. — Ele me fuzila com o olhar. — Não acha
melhor, Jules? Sei que vai se sentir mais à vontade aqui. — Ele sorri para
Jules, mas sei que é falso. Ele está com ciúmes e sempre fica com o pé atrás
com o coitado do Jules.
— Já que Lana insiste, vou ficar com ela. — Esse é o Jules que
conheço, entrando no jogo. — Como ela disse, eu mal te conheço.
— Tudo bem. Lana, avisa aos seus pais. — Ele está sério — Depois, vá
ao meu escritório. Quero falar com você.
Ele sai e nos deixa prendendo o riso.
— Lana, o seu novo namorado é possessivo!
Ele ri, o que faz com que o cansaço visível em seu rosto seja menos
evidente.
— Não o provoque, por favor. Estamos tentando nos acertar — digo.
— Ele se irrita fácil e você não é santa. Gosta de ver o homem
perturbado. — Jules para de ri. — Fico feliz por você.
Eu o observo.
— Jules, você parece exausto. Vou lá falar com o Alex e já volto para
que possamos ir para casa, ok?
Vou para o escritório que Alex tem em casa e o encontro ao telefone
esbravejando com alguém do outro lado da linha. Eu o aguardo terminar e me
sento em frente a sua mesa.
— Só vão prender esse cara depois que ele matar alguém? É isso? —
Ele ouve a pessoa e, então, volta a falar. — Quero levar o filho dele para
depor. Certo, eu aguardo. Obrigado.
Ele desliga e joga o celular na mesa.
— O que houve?
— Nada. Estava falando com um amigo que está envolvido no processo
do Fontes, mas deixe isso para lá. — Ele se levanta e enfia as mãos no bolso.
— Quero que você fique esses dias aqui, comigo.
— O quê?
— Quero que fique aqui. Vai ser mais seguro e vou ficar mais
tranquilo.
Será que ele bateu com a cabeça?
— Acha que a casa do meu pai não tem segurança o suficiente? Vou
ficar com o Jules. Ele vai se sentir melhor comigo lá. — Sei o que ele está
fazendo, mas não vou fazer suas vontades. Quero ficar na casa dele, mas não
por esse motivo. — Vou ficar na minha casa.
Ele suspira profundamente, demonstrando impaciência.
— Fica aqui, vai ser muito mais prático. — Ele se inclina na cadeira
que estou sentada, as mãos em cada braço da cadeira. — Quero você aqui,
garotinha. Não era isso que você queria? Um convite para ficar comigo?
Ah, mas ele é muito pretensioso! Alinho meu rosto ao dele,
praticamente o beijando e baixo a voz quando respondo.
— Estou rejeitando seu convite, namorado. Não quero que ele seja por
esse motivo. Quando eu vier para cá, será porque você me quer muito aqui.
— Que motivo você acha que eu tenho, além do fato de te querer como
um louco?
— Jules seria um bom motivo?
Ele se levanta.
— Essa sua intimidade com ele me tira do sério. — Ele volta a se
sentar atrás da mesa. —Você sabia que o seu pai achava que vocês dois iam
assumir uma relação algum dia, Lana? — Sua voz sai raivosa. — Se ele
pensa assim, imagina as outras pessoas.
— Você sabe muito bem que não temos nada, e o que os outros pensam
não me interessa. — Me levanto. — Bem, se a minha amizade com ele o
incomoda, você precisa repensar se quer mesmo ficar comigo. Não vou
afastá-lo da minha vida. Você vai ter que se acostumar com a minha amizade
com o Jules. Não temos e nunca tivemos qualquer coisa diferente de um amor
fraternal um pelo outro. Não vou tolerar isso.
— Faça como quiser. — Ele se levanta. — Vamos.
— Onde?
— Vou levar vocês para casa, Lana. — Ele segura a porta para mim.
Vou até ele e, em vez de sair, bato a porta.
— Que tal conversarmos como adultos, sr. Marshall? Ataques de
ciúmes não combinam com você.
— Estou fazendo a sua vontade. Não estou com ciúme. — Ele tenta me
afastar da porta. — Não quero discutir com você — ele grunhe, frustrado, e
segura meu rosto. — Vamos embora. Eu levo vocês.
— Por que a pressa, Alex? Tínhamos planos. — Faço beicinho, antes
que a sua boca tome a minha. Nem sabia que estava louca para beijá-lo até
que nossos lábios se tocam. Seu gosto é divino e me deixa viciada. Nasci para
estar bem aqui, desfrutando do seu sabor único. Sentir seus braços fortes me
envolverem é maravilhoso!
— Você é louco, Alexander — digo quando o beijo acaba. O que posso
fazer? Sou apaixonada por ele e ainda não aprendi a dizer não, mas vou. Só
não aceito crises de ciúme. Preciso dar apoio ao meu amigo.
— Pronta?
— Sim. Mas, depois, quero ir à ONG. Deixei minhas responsabilidades
de lado por muito tempo. — Esfrego as mãos ao longo do seu peito. — Quero
que me leve lá.
— Ok.
— Sem discussão? Que maravilha — gracejo.
— Não abusa, Lana. Posso mudar de ideia e usar aquela algema. — Ele
dá um tapinha na minha bunda, quando estamos saindo da sala.
— Você não perde por esperar! — Vou para cozinha, onde encontro
Jules muito à vontade, sentado na mesa, comendo.
— Fique à vontade, Jules — Alex diz em tom jocoso.
— Já estou. — Ele ri e eu não resisto, o acompanhando.
— Acho que desse jeito ele vai mudar de ideia quanto a sua presença
aqui, Jules. — Ergo o polegar. — Muito bem!
Pouco depois, voltamos para a casa dos meus pais. Alex está calado
enquanto Jules e eu conversamos. Quero distrair meu melhor amigo dos
problemas e dos pais canalhas! Tentar fazer o filho cometer um crime é
inaceitável!
Meus pais ficaram horrorizados, mas acolheram o Jules sem reservas.
Fiquei feliz por isso. Não sei como ele ficaria sem o apoio da minha família.
Não faço ideia do dano psicológico que as atitudes dos pais podem causar
nele. Ele tem idade para ser independente, mas nunca foi e agora eu percebo
que ele nunca teve o apoio de uma figura paterna. Lamentável.
Depois de acomodar meu amigo, vou até o quarto, faço uma pequena
mala e levo para o carro de Alex. Espero que ele termine uma reunião com a
equipe. Bruno está no comando da casa, o que vai deixar Alex mais livre.
Eu o aguardo há quase meia hora, quando vejo Bruno sair do escritório.
Ele é muito bonito, mas sua cara de safado é evidente. Gostei dele desde o
início por sua descontração.
— Como tem passado, Lana? — Ele se aproxima e sorri, charmoso.
— Ótima e você? Vai demorar muito para terminar a reunião?
— Não, já terminou. — Ele me observa com atenção. — Está
aguardando alguém?
— Sim. Alexander vai demorar?
— Acho que não. Sabe que vou ficar responsável pela segurança daqui,
não é? — Quando assinto, ele continua. — Espero que você não invente de
fugir de novo. Sou tão mal quanto Alex... pior, na verdade. Só estou
avisando, caso você pense em me passar a perna.
— Eu? Imagina se vou fazer isso com você. — Rio da sua expressão
incrédula. — Sério, agora não tenho nada a esconder.
— Algo me diz que você não mudou nada, Lana. — Ele ri abertamente
agora — Adoraria te caçar, mas tenho certeza de que você não ia gostar. Ou,
talvez, gostasse muito.
— Gostar do quê? — Ouço a voz de Alex e vejo que ele e o resto do
pessoal saiu da sala, e estão todos nos olhando.
— Ah, enfim acabou! Estou precisando sair, Alex. — Dou um sorriso
para ele, que não retribui.
— O que você ia gostar muito, Lana? — ele repete.
— Nada demais, Alex. — Bruno tem a cara de pau de rir para mim. Ele
provavelmente gosta de provocar o amigo. — Este assunto é entre Lana e eu,
seu novo segurança favorito.
— Lana, onde você vai, minha filha? — meu pai, que está com eles,
pergunta — Quero que tenha cuidado.
— Fica tranquilo, pai. Meu segurança favorito vai comigo — pisco
para Alex, que está furioso. Droga, o que fiz agora? — Bom, está na hora de
ir. Tchau, pai.
— Venha aqui fora, Bruno. — Ouço Alex resmungar em uma voz
irritada.
Caminho para a porta e sou seguida por um Alex carrancudo. Bruno
vem conosco sorrindo. Eles param junto ao carro e Alex fala:
— Fique o tempo todo de olho no Jules — ele fita Bruno em uma
mensagem silenciosa e continua. — E faça seu serviço em vez de flertar.
— Claro, chefe!
— Sem gracinhas ou você pode dar adeus ao seu trabalho aqui. — Ele
abre a porta do carro para mim.
— Como se você pudesse me demitir, sócio. — Bruno não parece
preocupado. Posso afirmar que ele adora provocar Alex.
Está muito tarde para ir a ONG, mas passo por lá só para avisar que, em
breve, vou voltar com as aulas de dança.
— O que você estava falando com o Bruno? Não sabe que ele é um
cafajeste idiota, Lana? — Ah sim, lá vamos nós. — Não dê confiança ou ele
vai se aproveitar disso.
— Sabe, Alex, não vou falar sobre isso. Vou fazer de conta que não
ouvi.
— Só estou preocupado com você, Lana. Seja prudente. Estou avisando
porque conheço muito bem o Bruno, ele não tem escrúpulos com nada — ele
fala, mas sua voz mudou e agora está branda.
— Estou vendo que você não me conhece e nem confia em mim. — Eu
o olho. — Espero que não tenhamos esse tipo de problema.
— É claro que confio em você — diz.
— Não parece. Na verdade, passou o dia desconfiando de mim. Isso
está começando a me chatear.
— Me desculpe. Estou descontando minha frustração em você, que não
merece isso. — Ele para o carro no acostamento. — Vem cá — pede e
desafivela meu cinto de segurança, me puxando para ele, dando um beijo na
minha fronte. — Me desculpe, amor — diz suavemente.
— Tudo bem... só acho que você deveria confiar mais em mim — digo.
— Por que confio em você, Alex. Sei que te provoco, mas não faço metade
das coisas que ameaço fazer.
Eu não deveria ter dito aquilo, porque mais tarde, naquele mesmo dia,
fui até mais neurótica que Alex. Fomos à CASM, mas a doutora não estava.
Conversei com algumas mulheres e o resto da tarde foi gratificante. Como já
era tarde, quando saímos, Alex me levou para jantar e depois para sua casa.
Eu não ficaria sozinha hoje, de jeito nenhum.
Mal entramos e a campainha toca.
— Está esperando alguém?
Ele dá de ombros e vai até a porta, olhando pelo olho mágico antes de
abrir. Ele suspira e fico imaginando quem será para causar tal desânimo. Alex
abre a porta e sua ex aparece do outro lado. Não posso acreditar que ela está
ali de novo. Bem, isso vai ter que acabar hoje.
— O que faz aqui? — Ele não dá passagem para ela. — Estou com
visita.
Visita?!
— Não vou demorar, Alex. — Ela me olha e cruza os braços, a raiva
cintilando em seus olhos — Ah sim! Visita.
— Não sou visita. — Vou para perto da porta. — Agora, se nos der
licença, sua parasita, estamos ocupados. — Pego os dois de surpresa e bato a
porta na cara dela. Me viro para Alex, furiosa.
— Espero que seja a última vez que vejo essa mulher aqui, Alexander
— digo tão baixo que nem reconheço minha voz. — Se acontecer de novo,
vamos terminar definitivamente.
— Lana... — ele começa, mas levanto a mão o impedindo de continuar.
— Não. Não quero saber se você e o irmão dela eram amigos de
infância. Você permitiu que ela me humilhasse e, mesmo assim, te perdoei.
Mas não terá uma próxima vez.
— Ah, amizade de infância só pode da sua parte? — Alex abre um
sorriso nada gentil.
— É diferente. Não fui noiva do Jules. Acho melhor você repensar, ou
vou arrancar todo o cabelo vermelho dela. — retruco antes de ser levantada
no ar e levada para o quarto, terminando de vez a nossa briga idiota.
CAPÍTULO 32
Alexander
O resto da semana foi tranquila. Não tive notícias do Fontes, mas
mantive a guarda erguida para qualquer eventualidade. Lana está na ONG. As
mulheres que vem aqui tem histórico de todo tipo de violência, e acho muito
bonita a iniciativa de Lana. Afinal, ela vive uma realidade tão distinta de tudo
isso que chega a ser estranho vê-la tão envolvida. Sei que ela gosta do que faz
aqui. É o único lugar que não age como uma garota mimada.
Uma música começa a tocar na sala onde ela está com um grupo de
mulheres. Lana me disse que ensinaria passos de pole dance. As mulheres
que frequentam o local vêm aqui para reaprender a se valorizar e levantar a
autoestima. É um grupo maior do que imaginei. Muitas tinham problemas
bem graves — algumas sentiam medo de se aproximar de qualquer homem.
Mas Lana é tão instigadora e bondosa com elas se rendiam a sua doçura.
Entro na sala e me encosto na parede, observando a movimentação lá
dentro. Não sou bem-vindo, já que elas estão tentando aprender algo sensual
e a presença de homens não é permitida. Mas não olho para qualquer outra
mulher na sala além dela. Lana está no pequeno palco onde tem um mastro,
usando um shortinho que mais parece uma calcinha, e um top que mal cobre
seus seios. Ela dá instruções às mulheres que fazem alongamento antes da
dança realmente começar. O que ela faz praticamente nua? Ela não fica assim
onde faz aula de dança, não é? A noite em que ela dançou na casa noturna me
vem à cabeça e fico puto ao me dar conta de que essas roupas não deixam
nada para a imaginação masculina.
— Estou vendo que não seguiram meu conselho de usarem uma roupa
mais apropriada, hoje — ela diz para as mulheres. — Na próxima aula, quero
ver todas vocês com roupas confortáveis e mais sexy que tiverem em casa. Já
sei! Vou comprar um short e top para cada uma. Quero ver a sensualidade
exalar de vocês.
Ela bate palmas e algumas mulheres parecem apreensivas com a
perspectiva de colocarem roupas tão minúsculas quanto as dela. Sorrio.
Tenho uma namorada gostosa que dança — mas que nunca dançou para mim
em particular. Vou fazer com que ela dance para mim muitas vezes.
Ela liga o som e As The Rush Comes, de Motorcycle Club, começa a
tocar. Lana vai para o mastro, enquanto instrui as mulheres. Não consigo
ouvi-la, mas estou fascinado por sua sensualidade enquanto ela rebola de
forma sexy ao som da música.
Tento me concentrar no meu trabalho que é me manter vigilante. Não
confio no silêncio de Fontes. Acho que ele espera que a gente se descuide.
Jules depôs na delegacia, mas como não demos oportunidade para que o
homem agisse, a semana passou em paz.
Vou me encontrar com Adriane hoje. Quero dar um basta para tirá-la da
minha vida. Para que eu possa ter paz, ela precisa seguir em frente. Depois
que a Lana a colocou para fora, ela me ligou, reclamando que não a defendi.
Mas Lana é muito mais importante para mim. A consideração que eu tinha
com ela, por causa do meu melhor amigo, acabou. Na vida, tudo tem limite.
Já conversamos antes, mas ela parece não ter entendido muito bem, porque
continuava aparecendo na minha casa como se fosse a dela.
vida deu um giro e estou muito feliz, por ter lutado por meu amor e ter
que amo na ONG, ajudando mulheres que não tiveram ou não têm a mesma
sorte que eu de ter um companheiro que me ama apesar do meu gênio difícil.
Sou amada e amo Alex acima de qualquer coisa. Estamos casados há três
anos. Depois daquele pedido no restaurante, fomos morar juntos e, por fim,
nos casamos. A única coisa que me deixava triste em alguns momentos, era a
FIM
AGRADECIMENTOS
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Esse Bryan não sabe porra nenhuma de mulher, porque eu digo todas
essas coisas piegas quando quero levar uma mulher para a cama e nem por
isso estou com elas hoje, e gosto disso do jeito que está.
No entanto, não consigo desligar meus pensamentos de Alicia e meu
corpo também não, porque só de pensar nela eu fico duro.
Praguejo com Bryan Adams. Ele estava certo: para realmente amar e
entender uma mulher, precisamos a conhecer por dentro, conhecer seus
sonhos, ouvir seus pensamentos, e eu não fazia nada disso. Eu só queria
entrar em sua calcinha e fodê-la até seus miolos estourarem, porém eu me via
querendo conhecer os pensamentos e sonhos de Alicia, muito... eu estava
começando a me preocupar com esses ...
Acho que o álcool não está me fazendo racionar direito.
12
Deni
Minha ida à casa do meu irmão tinha provado não ser de muita valia.
Precisava de uma forma de chegar em Alicia Duran, essa mulher poderia
estragar uma vida de negócios bem-sucedidos. A polícia poderia puxar a
ponta dessa corda e ela desandar em cima de nossas cabeças. Minha, do meu
pai e de nossos parceiros, e isso não era nada bom. E seria bem pior para a
mulher de Evan Duran, filho da puta ganancioso.
Entro no meu escritório e peço para minha assistente descobrir tudo que
diz respeita a Alicia Duran, até o tamanho do seu sutiã. Eu precisava chegar
nela antes que essa porcaria de caso explodisse e perdêssemos o controle
mais do que já tínhamos perdido.
— Mais alguma coisa, senhor Ross? — Betany pergunta, fazendo-me
voltar à realidade.
— Sim, quero saber tudo sobre meu irmão Bruno — digo — Tudo que
ele faz, aonde vai...
— Não sabia que o senhor tinha um irmão — olho para ela de cenho
franzido.
— Você não tem de saber de nada, só faça o que pedi — ela acena
rapidamente, saindo da minha sala. Tenho que me reunir com meu pai mais
tarde e isso, por si só, me deixava nervoso. O homem sabia como te fazer
sentir um inútil.
São quase oito horas da noite quando resolvo ir para a casa do meu pai,
mas, antes que eu saia, Betany entra na minha sala com um dossiê de Alicia
Duran.
— São só informações superficiais, mas pedi que continuassem
procurando — Betany me olha com expectativa.
Folheio rapidamente o documento, e nada de mais na vida da viúva de
Duran, só sua empresa que anda mal das pernas. Havia no dossiê a relação de
alguns clientes, reconheço alguns. Também as últimas festas que ela
organizou e suas próximas estavam aqui.
— E nada do meu irmão? — pergunto.
— As atividades do seu irmão não são fáceis de conseguir, mas estou
trabalhando nisso também, senhor.
— Ótimo, espero que até amanhã tenha algo.
Leio todo o documento no caminho da casa do meu pai, e um cliente
em especial chama minha atenção. Bem, vamos colocar a operação em
andamento.
Alicia
Eu sinto falta desses olhos azuis
De como você me beijava de noite
Eu sinto falta de como a gente dormia
Como se não houvesse nascer do sol
***
***
***
***
***
***
Chego na minha consulta com o Dr. Allan atrasada, pois sair sem o
Bruno hoje foi muito estranho. E levando em questão as nossas últimas
ações, fizeram com que eu me atrasasse mais ainda. Estava acostumada com
seu jeito idiota de ser, mas que me passava segurança. Ainda precisava
confiar nos meus novos companheiros das próximas semanas.
— Senhora Duran... — a recepcionista tira-me dos meus pensamentos e
indica que já posso entrar no consultório. O Dr. Allan deve ter uns trintas e
oito anos, faz cerca de três anos que me consulto com ele. Essa consulta de
hoje é pura rotina, sei que nada de novo vai surgir da noite para o dia.
Ele diz que estou bem, só preciso ser mais otimista com minha
situação. Ele acredita que posso agora levar uma gravidez até o fim, depois
da laparoscopia.
— Alicia, pensei que não viria mais — ele fala quando me recebe na
porta, me indicando a cadeira em frente à sua mesa. — Como tem se sentido
ultimamente?
Doutor, tenho feito muito sexo com meu guarda-costas gostoso que
partiu hoje e me deixou a ver navios!
— Estou bem, doutor — digo séria. — Bom, parei a medicação ontem,
então, até agora, não sinto nenhuma dor.
— Ótimo, estamos no caminho certo, e daqui um tempo você poderá
engravidar — ele aponta para a mesa de exame — Já sabe o que fazer.
E lá vamos nós! Gosto do doutor Allan, mas essas consultas são
terríveis, ele me enche de esperança e medo todas as vezes que venho aqui.
Cada vez que diz que posso engravidar ainda, isso desencadeia meus
pesadelos. Que começa comigo grávida e perdendo meu filho em seguida e
sempre esse bebê se multiplica numa montanha de bebês mortos e acordo
sempre chorando e com gritos de agonia...
17
Bruno
Um mês depois
Nossa missão de resgate na Floresta Colombiana provou-se uma
missão suicida e infrutífera. A pessoa que tínhamos sido pagos para resgatar
nunca foi encontrada. As informações não batiam, e agora estamos todos de
volta para casa, sem fazer nosso trabalho. Isso era frustrante pra caralho! O
calor infernal dos trópicos era terrível, estava exausto, mas tinha de saber
como andava minha viuvinha predileta.
Não tinha obtido nenhuma notícia dela. Quando questionava Alex, ele
só dizia que ela estava bem. Essa porra não bastava, tinha que vê-la e saber
que tinha se mantido viva nesse último mês. Sei que nenhuma tentativa houve
contra ela. Isso era tão estranho, um maldito jogo de gato e rato. Nunca
sabíamos quando esses marginais poderiam atacar outra vez. Preciso saber
como anda as investigações do Alex.
Pela informação que tive de "Tico e Teco", os dois babacas que agora
estavam com ela, Alicia estava em uma recepção hoje em um hotel. Alguma
festa de algum figurão, e eu estou indo para lá.
Paro o carro em frente ao hotel, e um manobrista aparece, entrego
minhas chaves. Estou prestes a entrar quando sou parado na entrada por um
dos seguranças. Esse provavelmente não faz parte da Marshall.
— Convite e identificação, senhor — pede.
— Sem convite, mas sou segurança da senhora Duran — digo. Sei que
ele está fazendo seu trabalho e tento ser paciente, coisa que não ando tendo
ultimamente.
— Senhor...
— Ross — informo quando tiro minha carteira de identificação. Espero
que esse cuidado todo se aplique a todos que tentem entrar aqui sem ser
convidado, mas tenho certeza que se um "amiguinho" de Alicia viesse aqui
teria um convite para entrar.
Acabo entrando sem precisar apelar para outro meio e circulo à procura
de Alicia. Não a vejo em lugar nenhum, mas também a quantidade de pessoas
aqui é enorme, parece que toda a cidade resolveu comparecer ao evento.
Estou quase ligando para uns dos "Tico e Teco" quando a vejo.
Ah, merda! Alicia está linda em um vestido preto elegante, toda
feminina e delicada. Minha vontade é atravessar o salão e plantar um beijo
duro nos lábios dela, que neste momento ostenta um lindo sorriso para a
pessoa que fala com ela e que não dá para ver de onde estou. Excitação
percorre meu corpo furiosamente quando começo a pensar numa forma de
levar Alicia à minha casa hoje à noite.
Ah, Ross, você deveria deixá-la em paz. Vocês já tiveram suas chances.
Penso e, no mais, eu não repito cardápio. Mas vê-la me deixa duro e louco,
querendo ser o único homem que a terá daqui para frente. Estou fodido,
completamente.
Começo a me aproximar pelo canto da sala, quando paro petrificado no
lugar. Que porra era aquela? O que ele estava fazendo junto de Alicia? Vejo
vermelho quando me aproximo deles, furioso. Antes que eu abra a boca, Deni
me vê e abre um sorriso afetado para mim.
— Irmão, não sabia que frequentava esse tipo de festa — ele diz,
fazendo Alicia virar-se para olhar-me — Alicia me disse que você estava fora
da cidade.
— Eu quero você longe dela, Deni — minha voz é um sussurro tão
furioso que minha mandíbula dói do aperto que mantenho sobre ela. Viro-me
para Alicia, que está de olhos arregalados olhando ora para mim, ora para
Deni. — Venha comigo.
Seguro seu braço, ignorando sua tentativa de sair do meu aperto. Ando
até uma das sacadas, longe dos ouvidos de Deni, e a encaro.
— O que diabos você faz de amizade com meu irmão, Alicia? —
esbravejo ainda segurando seu braço.
— Solte-me, senhor Ross — ela fala calma, no entanto vejo que está
furiosa e o verde de seus olhos estão mais intensos. — O que deu em você?
Quer acabar com minha reputação, me arrastando por aí como um saco?
Estou trabalhando aqui, senhor Ross. E você não tem nada a ver com isso.
— Quero saber o que faz com meu irmão! — ignoro seu discurso. Eu
sabia que Deni queria me atingir de alguma forma e vou descobrir o que
diabos ele quer. Se aproximar de Alicia não é mera coincidência. Bastardo
filho da mãe! Ele quer algo, e vou acabar com seus planos.
— Seu irmão não é esse monstro que você diz, Bruno — ela olha para
mim — Ele foi indicado pela Danila Fontes para que eu organizasse esse
evento e, até onde vi, ele tem sido um cavalheiro.
— O quê?
— Sim, isso mesmo, seu irmão é o anfitrião do evento, senhor Ross.
Então eu sugiro que você se contenha com suas acusações, sim? — Ela passa
por mim e volta para o salão.
Sim, meu irmão, definitivamente, está de alguma forma interessado em
Alicia. Não acredito que ele vai começar esse joguinho só porque ele me viu
com ela.
— Ora, ora, você não perde a oportunidade de falar mal de mim — a
voz de Deni está carregada de ironia quando ele para na minha frente.
— Entre tantas outras empresas de eventos nessa cidade, você inventa
uma festa sem sentido e contrata Alicia? Deni, o que você quer? Seja breve,
não tenho a noite toda para você. — cruzo meus braços na frente do meu
peito e espero.
— Sabe, Bruno, nem tudo gira em torno de você. Você sabe — ele ri,
desdenhoso —E Ali foi muito bem recomendada por sinal.
— Quero você longe dela, ou eu vou acabar com você — minha
ameaça era um pouco demais, mas eu estava falando sério com esse idiota.
— Acho que não vai ser possível atender a você, irmãozinho — ele
começa a se afastar, mas para olhando por cima do ombro — Alicia e eu
temos planos!
De que porra ele estava falando? Apenas um mês longe e as coisas já
estão todas fora de controle? Por que Alex não me disse que meu irmão
estava rondando Alicia? Ela não sabe com qual cobra venenosa está se
metendo.
Alicia
O que Bruno está fazendo aqui?
Essa pergunta ronda minha mente pelo resto da noite. Não sabia que ele
tinha voltado de sua viagem. Ele tinha se mantido por perto a noite toda, cada
volta que eu dava ele estava lá. Parecia cansado, mas não foi embora, até que
eu mesma chamei um dos meus seguranças e disse que estava na hora de eu ir
para casa, aproveitando que Bruno sumiu de vista por um momento.
Estou caminhando para saída quando Deni Ross aparece na minha
frente.
— Indo embora?
— Sim, não precisam mais da minha presença aqui — sorrio para ele
— Espero que tenha gostado, senhor Ross. — Isso era tão estranho, toda vez
que o chamo de Ross não é bem ele que vem à minha mente. Outro Ross que
vem claramente.
— Você sabe que sim, esse será o primeiro de muitos eventos que você
organizará para mim, Alicia — diz charmoso. Eram tão parecidos, Bruno e
ele — Farei de você a mulher mais procurada da cidade. No bom sentido,
claro. Cada pessoa que queira uma festa excepcional procurará você.
— Você é muito gentil, senhor Ross...
— Deni, chame-me de Deni — ele tem dito isso no decorrer dessas
semanas que organizei às pressas esse evento para ele. Mas eu continuei
chamando-o de senhor Ross
— Claro. Bem, tenha uma boa noite, Deni.
— Dou-lhe uma carona para sua casa, já estou de saída também — ele
diz enquanto caminha ao meu lado para saída.
18
Alicia
— Dou-lhe uma carona até sua casa, também já estou de saída —
Deni diz enquanto caminha ao meu lado para a saída. Não acho que seja uma
boa ideia e declino o convite com gentileza. Ele é um cliente e não quero que
tenha ideias a meu respeito.
— Deni, é muito gentil de sua parte, mas tenho dois seguranças
esperando para me levar — sorrio afável para ele.
— Estou curioso em saber por que uma mulher como você tem dois
seguranças. — ele devolve o sorriso agradável. Entretanto, meu sorriso apaga
com a pergunta curiosa dele. Mas antes que eu responda, somos interceptados
por Bruno que vem no sentido oposto.
Pensei que ele já teria ido embora, mas vejo que me enganei. Ele não
estava satisfeito com Deni perto de mim. Eu realmente queria entender essa
animosidade que ele tem pelo irmão, sei que muitos irmãos não se dão bem,
isso é bastante comum, porém Bruno muda totalmente quando ele está com
Deni.
— Onde está indo, Alicia? — ele para na nossa frente, e noto sua cara
de poucos amigos para Deni.
— Estou sendo um cavalheiro e levando Alicia para casa, caso não
tenha notado. Uma mulher precisa dessas coisas de vez em quando,
irmãozinho. — Deni está sendo caçoísta, mas Bruno o ignora olhando fixo
para mim.
— Bem, Deni, como nós dois sabemos que você não é nenhuma dessas
coisas, eu mesmo levarei Alicia — estou me sentindo a droga de um osso
velho sendo disputado por dois cães raivosos aqui.
Mas estou cansada e com fome, e não ficarei assistindo esses dois
discutirem. Contorno Bruno e caminho para a saída, atrás das minhas duas
sombras.
— Boa noite, senhores — digo, deixando-os lá.
— Deni, melhor seguir meu conselho de mais cedo — ouço Bruno
falar, mas continuo meu caminho.
— Espera, Alicia. Eu a levarei para casa. — Bruno chega ao meu lado
— Dispensei os caras por hoje.
Sério?
Quando não digo nada, ele me guia para seu carro, que está parado
perto da saída, como ele sempre faz quando está comigo. Estaciona o mais
perto possível, sempre cuidadoso.
— Bruno, não vejo necessidade de você levar-me, passei um mês sem
seu precioso cuidado e, por acaso, ainda estou viva. — Fico parada ao lado
da porta do passageiro — Não tinha nada que dispensar os rapazes. É uma
hora da manhã e quero descansar...
— Estou tentando fazer exatamente isso. Entre — ele abre a porta para
mim, e acabo acatando sua ordem, não porque seja obediente, mas porque ele
agora é meu único transporte além de um táxi. Quando sento, o espero fechar
a porta, mas ele se inclina em cima de mim — E, Alicia, nunca aceite carona
ou porra nenhuma que Deni ofereça para você. Ele só está usando você para
me atingir, porque sabe que não gosto dele perto de você.
— Por que vocês não são amigáveis um com o outro? — não aguento e
pergunto, realmente estou curiosa. Mas não espero sua resposta — Não quero
que atrapalhe minhas oportunidades de ter minha empresa funcionando
normal outra vez, Bruno. Então, você ficar atrapalhando não dá.
— É uma longa história, querida, mas seja prudente ao menos uma vez
na vida, confie em mim, por favor — ele diz sem sua arrogância habitual, e
fico desarmada para continuar argumentando com ele. — Bom, vou levar
você para casa.
— Só não quero que continue atrapalhando meus negócios — digo, e
ele assente com ar de resignação.
Suspiro suavemente quando ele sai de perto de mim e fecha a porta,
dando a volta para sentar no banco ao meu lado. Recostando-me no banco
tento relaxar, mas minha fome é maior que meu cansaço. Quando estou
trabalhando esqueço de me alimentar, e não tinha comido praticamente nada
o dia inteiro. Deni tinha me procurado a pedido de Danila e tive de organizar
as coisas às pressas para tudo estar em perfeita ordem para a recepção. Tudo
acabou saindo perfeitamente bem, mas, em contrapartida, negligenciei
minhas necessidades básicas. Agora minha barriga está dando gritos
arrepiantes, chamando a atenção de Bruno para mim.
— Não se alimentou? Devia ser mais cuidadosa com você mesma,
Alicia — ele repreende, enquanto manobra o carro para o trânsito. As luzes
da cidade entram no carro, mostrando o perfil de Bruno quando viro para
olhá-lo.
— Pode parar em algum lugar para comermos? — peço, fazendo-o me
olhar carrancudo, provavelmente sabendo que, para eu pedir isso, tenho de
estar com muita fome, mas não diz mais nada.
Cerca de vinte minutos depois, conseguimos encontrar um restaurante
aberto, e é onde estamos sentados agora, esperando sermos servidos. Pedi um
sanduíche light no pão árabe e uma xícara de chá, levando Bruno a levantar
suas sobrancelhas para mim:
— Vai comer só isso? Sério? — diz balançando a cabeça.
— Vou dormir daqui a pouco — digo à guisa de explicação e tento
mudar de assunto — E como foi no novo trabalho?
— Não foi, mas não quero falar disso — ele faz uma pausa quando
somos servidos e segue logo após: — Quero saber como foi que se tornou
amiga de Deni.
— Esse assunto de novo, Bruno? Isso está ficando chato — me servi da
comida. Bem, eu aproveitaria muito bem minha refeição, se ele quisesse
brigar, ele que brigasse só.
Acabamos conversando durante a refeição de outros assuntos, algo que
agradeci internamente. Não quero tratar Bruno como um inimigo a cada vez
que estamos juntos. Eu estou tranquila com relação ao nosso caso, nunca quis
que nada fosse sério, mas sentia falta daquelas semanas juntos, me fazia bem
e distraía dos meus problemas. No entanto, não quero voltar a ter nada com
qualquer homem, e uma segunda chance com Bruno acabaria comigo
apaixonada por ele.
E tanto eu como ele não estamos preparados para isso. Para mim era
muito cedo e, para ele, seria só mais uma transa sem significado algum. Isso
era algo que eu não queria arriscar, mas quem sabe o que o futuro me
reserva?
Entretanto, não posso perder tempo sentindo pena de mim mesma. É
claro que é mais fácil falar do que fazer. Eu tenho de admitir que sinto falta
da cama e da casa do Bruno, de seu cheiro, a sensação de suas mãos em mim,
suas gracinhas idiotas, seus beijos que me tiram o fôlego, dele dentro de mim
da maneira mais completa possível...
— Alicia... Alicia? — a voz de Bruno expulsa sua imagem quente de
minha mente. — Você está bem?
— S-sim... — limpo minha garganta e bebo sofregamente o resto do
meu chá.
— Pronta? — diz apontando para meu prato — Para irmos?
— Claro.
No percurso até meu apartamento não nos falamos, e algo clica na
minha cabeça quando Bruno estaciona no meu prédio.
— Você dispensou meus seguranças, quem ficará aqui? — digo quando
ele abre a porta para mim.
— Eu ficarei, Alicia.
— Claro que não. — digo e ele empurra-me levemente para o
elevador, sua mão quente na base da minha coluna me faz lembrar do porquê
não o quero debaixo do mesmo teto que eu — Bruno, você aceitou esse
trabalho para ficar longe de mim e agora você voltou como se não tivesse
acontecido nada?
— Nunca deixo um trabalho, Alexander precisava de mim, Alicia —
ele diz como se essa fosse uma justificativa para seus atos antes de partir.
Bem, senhor Ross, você terá uma surpresa.
— Bom, então volte para seu trabalho, prefiro do jeito que estamos
agora.
— Não irei deixar você só, Alicia — sua expressão é indecifrável.
Entramos e ele, como sempre, faz a revista dos cômodos e, se isso era
para me acalmar, só me faz mais nervosa.
— Bruno, quero que vá embora! — digo quando ele volta para a sala
onde estou parada desde que entrei.
— Como?
— Precisamos deixar as coisas como estão, não preciso que fique aqui.
Os outros nem ficam aqui dentro comigo, ficam no corredor. E você pode
ficar lá também. — Pronto, resolvido.
— Está brincando comigo? Alicia, já ficamos mais próximos que isso,
ficar aqui dentro não fará a menor diferença. — diz cruzando os braços,
fazendo a camisa branca de mangas compridas evidenciar seus músculos.
Desvio os olhos para seu rosto.
— Claro que faz. Saia. Minha fase de distração acabou, Bruno. Você já
serviu para um propósito e, bem... não quero repetir meus erros.
Ele me olha fixo por alguns minutos que parecem uma eternidade, e
sem dizer nada caminha para a saída. Acho que acabei de magoar Bruno
Ross.
Deni
Observo a interação do meu irmão com Alicia. Maldição! Ele tinha de
estar de volta tão cedo? Tanto trabalho para ele estar na selva colombiana e
ele já está aqui atrapalhando meus planos. Eu tinha de ganhar a confiança de
Alicia, e meu irmão parece a droga de um carrapato colado nela. Um mês era
muito pouco tempo, mas não desistiria dela. E posso dar um susto em Bruno
por ser tão pé no saco. Pego meu telefone e faço uma ligação quando os sigo.
Devia estar fazendo algo mais útil, em vez de estar aqui nesse carro seguindo
meu irmão, mas tem coisas que só você pode fazer. E eu adorava ver Bruno
irritado quando me via.
Sorrio quando paro ao lado do restaurante e espero. Ele não devia ser
tão óbvio com sua irritação comigo. Desde muito cedo que nós dois
brigávamos pela atenção de nosso pai, mas agora eu só o queria longe do meu
objetivo: Alicia Duran.
Eu estive algumas vezes com ela esses dias, mas não tive nenhuma
chance de perguntar nada pessoal, ainda mais que não convém agora eu ter
essa atitude para com ela. Além de que, os seguranças não a deixaram em
nenhum momento só. Estou sendo pior que os homens que foram contratados
antes para pegá-la. Sutileza não está dando o resultado que eu esperava.
Mas talvez ela não tenha nenhuma informação para onde o marido
desviava o dinheiro. Descobri que a empresa anda mal das pernas, se ela
soubesse onde estava esse dinheiro, provavelmente usaria. Tenho de ter
tempo e paciência, coisa que não tenho.
E se ela lembrar dos assassinos que viu naquela noite? Ela tinha visto
um dos sócios claramente.
Bruno
Saio praguejando todo tipo de maldição que conheço.
Alicia Duran era doida de pedra.
Entro no meu carro e fico parado na frente do prédio de Alicia. Eu
deveria saber que as coisas com ela não iam ser fáceis e, mesmo assim,
dispensei os outros seguranças. Alicia estava consumindo toda minha
sanidade, eu não deveria estar correndo atrás dela dessa maneira. O primeiro
erro foi chegar ontem e ir atrás dela, o segundo foi achar que ela me aceitaria
em sua cama depois de dispensá-la; o terceiro, que estou ficando ligado
demais a ela e não prestando atenção no que deveria estar focado.
Ela me faz pensar em coisas que, até então, eu nunca tinha cogitado ou
que eu possa dar para ela, como assumir uma relação duradoura. E, além
disso, ela transmite sinais duplos; uma hora é fria, outra dá a entender que me
quer. Alicia está fodendo com minha cabeça. Estou aqui tentando ser um
homem melhor do que eu costumo ser, aí ela vem e diz que sou apenas a
porra de uma distração de problemas.
Porra!
O pior de tudo é Deni rondando. Isso me faz lembrar que tenho de
descobrir por que ele apareceu de repente na minha vida.
Pego meu telefone e disco:
— Bruno, que diabos faz ligando para mim a essa hora? — Alexander
resmunga mal-humorado quando atende.
— Desculpe interromper o interlúdio amoroso com a Patricinha, meu
amigo. — digo, rindo — Mas eu preciso que você me diga se tem alguma
novidade no caso de Alicia.
— Não temos uma reunião amanhã? — diz — Agora não é hora para
isso, Bruno. E, cara, vai dormir. Você acabou de chegar de um trabalho
exaustivo.
— Preciso ver outra coisa com você. Na verdade, preciso de um
investigador para descobrir algo para mim.
— Claro, amanhã nos falamos. E, Bruno, pensei que você estava feliz
em deixar Alicia em paz.
— E estou...
— Não parece, chegou hoje e... Onde você está agora mesmo? — ele ri.
— Estou em casa, por quê? — minto. Droga.
— Aposto que está na casa dela. Devia pensar no que anda fazendo,
meu amigo.
— Alex, te vejo amanhã — desligo rapidamente. Não preciso do
sermão do senhor certinho a essa hora.
Ligo o rádio do carro para distrair, sei que não poderei ir para casa e
deixar Alicia aqui sem um segurança, mesmo que ela esteja relativamente
segura em casa.
***
Como é romântico!
Fico olhando o papel, e meus pensamentos voam para onde ele poderia
ter ido. Ligo para Marcos e combino de nos encontrar no local da festa de
Danila e, por um momento, esqueço Bruno e foco no meu trabalho. Dez
minutos depois, encontro minha dupla dinâmica esperando na porta de
Bruno, e me questiono por que diabos Bruno deixou os dois no corredor.
22
Deni
Matar uma pessoa era fácil demais, qualquer idiota poderia fazer com
uma arma na mão, mas então sou um idiota e, para ser sincero, eu sentia um
carinho por Alicia Duran. Meio mórbido, é verdade, mas um carinho de
qualquer forma. Ela me fascina de uma maneira que não consigo decidir se é
uma atração por ela ser linda ou a fascinação de saber que tenho um certo
controle sobre ela. Ela era tão serena e delicada, percebi no tempo que pude
ficar com ela no mesmo ambiente.
Eu queria conhecer todos os segredos dela, verdadeiramente. Descobrir
por que ela não revelava à polícia a identidade dos homens que ela disse ter
visto em seu depoimento. Só posso pensar que ela sabe mais do que admite.
Quero conhecer suas fraquezas e apertar seus botões até não ter nada
escondido sob aquela aparência fria e controlada.
Entretanto, eu sempre dava um passo para trás na minha aproximação
com ela. A culpa disso? Do meu querido irmão. Ele sempre consegue chamar
todas as atenções para si. Sempre tinha sido assim, até no dia que foi embora
da nossa casa. Ele deixou minha mãe em lágrimas por semanas e meu pai
raivoso e cuspindo fogo por seu filho preferir ir para o exército do que
assumir um lugar nas empresas da família.
Eu achando que o colocando no hospital, ele sairia do meu caminho
para ter Alicia em minhas mãos. Foi o contrário disso, e ela correu para ele
como uma mulherzinha apaixonada do caralho. Isso só fazia dela uma presa
mais fácil, eu sabia agora onde apertar e fazê-la abrir a boca e falar.
Nesse exato instante, tenho um Bruno enlouquecido subindo para falar
comigo, e sorrio de satisfação por tê-lo aborrecido e tirado de sua zona de
conforto.
Bruno
Quando invado o escritório do meu irmão, a fúria é minha
companheira. Minha vontade é quebrar seu corpo em pedaços sangrentos. Os
homens que faziam seus serviços sujos tentaram me impedir de entrar, mas
eles pensaram bem antes de colocar suas mãos sujas em cima de mim.
Devem ter avisado meu irmão, porque parecia que ele estava me esperando
no seu maldito covil.
— Eu vou acabar com você, Deni — grito furioso quando avanço para
ele e agarro seu pescoço. Minhas mãos em volta dele tão fortes que ele estava
ficando roxo, sem ar. Lembro que o maldito ainda é meu irmão e paro antes
que cometa um crime — Vim te dar um aviso e não vou me repetir: FIQUE.
LONGE. DA. ALICIA!
— Ou o quê? — ele rir e cruza seus braços despreocupadamente, como
se eu não tivesse tirado sua respiração segundo atrás — Vai sujar suas
mãozinhas inocentes com meu sangue? Você, Bruno? Não me faça rir.
— Estou avisando, Deni, saia de perto dela ou direi para ela quem você
é. Melhor ainda, entrego você à polícia como o assassino do marido dela —
digo baixo, minha raiva parecendo que irá explodir de dentro de mim.
— Faça isso e ela será posta em risco desnecessário. Posso deixar de
ser bonzinho e calá-la de uma vez por todas — ele não está brincando, ele
pode muito bem tentar fazer isso — Pelo nosso pai, ela já teria ido fazer
companhia ao marido salafrário dela, eu que ainda poupo sua vida, e olha,
irmãozinho, tive mais de centenas de chances de mandar sua querida
namorada para os ares e não fiz isso. Sabe por quê? Quero você desesperado
sem saber meu próximo passo. — ele está agora claramente debochando da
situação.
— Antes eu mato você, Deni — Caminho para a porta porque sei que
farei algo que me arrependerei mais tarde, como arrancar sua estúpida cabeça
fora de seu corpo maldito.
Falar com ele não vai adiantar, tenho que, de alguma forma, tirar Alicia
da cidade e fazer a polícia chegar neles. E eu mesmo farei questão de falar
com os policiais. Malditos.
Como direi para ela que meu irmão está, de alguma forma, envolvido
na morte de Evan Duran, sem que isso quebre a sua confiança em mim?
Como vou mantê-la afastada dele sem contar tudo?
Ligo para ela quando entro no carro, preciso saber onde ela está e ir até
ela. Não haverá nenhuma força sobrenatural que me fará sair de perto dela.
Nem que eu a algeme ao meu próprio braço. Tenho de pensar em um plano
para fazer Alicia entender que, nesse momento, ela tem de deixar sua
empresa de lado e sair um pouco de circulação. Eu só preciso pensar em algo.
Alicia
Estou a caminho do trabalho quando meu celular toca e o nome de
Bruno aparece no visor.
— Alô.
— Ainda enrolada em minha cama, querida? — ele diz do outro lado.
Tem um toque cínico em sua voz, ele não perdia uma oportunidade para
provocar.
— Não, infelizmente não gosto de brincar só — devolvo e entro na
brincadeira — O dono da cama achou mais fácil fugir logo cedo, me
deixando lá sozinha e querendo atenção.
— Acredite, eu teria gostado de acordar você, bebê, e fazê-la perder a
hora do trabalho — sorrio, incrivelmente contente com a promessa em sua
voz. — Onde você está agora?
Ah não, qual sacanagem ele quer fazer comigo ao telefone na frente dos
seguranças?
— Hummm, no carro ...
— Para aonde está indo? — Argh! Não era nada sacana, eu que estou
sexual hoje!
— Para a casa de eventos onde será a festa de Danila Fontes — digo
frustrada por ele ser tão sério, de repente, quando necessito que ele seja mais
leve comigo. Se eu quisesse ser honesta comigo mesma, mais safado comigo.
Passo o endereço para ele.
— Encontro você lá — ele desliga abruptamente e fico olhando para
meu telefone.
Meu dia começa frenético, logo que cheguei fui "atacada" por Marcos
cheio de dúvidas sobre a decoração do local, já que essa era umas das coisas
que eu teria visto ontem se não tivesse saído feito uma louca para ir atrás de
Bruno no hospital.
Hoje seria um dia longo.
Eu realmente amo o que faço, gosto de sentir a satisfação dos clientes
quando seus eventos saem de acordo com o que eles queriam, e fico mais
satisfeita ainda quando sou indicada para seus amigos. Essa era a verdadeira
propaganda de um negócio bem-sucedido.
Percebo que Bruno chegou logo depois de mim, mas ele ainda não
chegou perto o suficiente para falarmos, ele se manteve longe, me dando
espaço para que eu fizesse meu trabalho. Ele parece bem melhor que ontem,
apesar do curativo ainda na testa.
Só consigo falar com ele quando me arrasta para um almoço tardio,
coisa que eu havia esquecido de fazer hoje. Eu tinha a mania de esquecer
esses cuidados comigo mesma sempre que estava absorvida com o trabalho.
— Devia se alimentar melhor, Alicia — ele diz quando sentamos à
mesa em um restaurante perto do local onde estávamos.
— Estou correndo contra o tempo. Se não percebeu, tenho esse evento
acontecendo amanhã — sei que não falta muito para entregarmos o local
totalmente pronto amanhã, mas corri tanto atrás desse trabalho que estou
ansiosa demais para ficar quieta.
Pedimos nosso almoço, e observo que Bruno está calado e sisudo à
minha frente. Ele tem os olhos correndo ao redor, como de costume, mas ele
está claramente preocupado, percebo pelo vinco em sua testa e sua mandíbula
cerrada. Nesse tempo que convivi com ele, sempre está com um sorriso
cínico nos lábios e me chamando de viuvinha a cada cinco minutos, e desde
ontem que ele não solta suas habituais gracinhas.
— Algo o está incomodando, Bruno? — indago quando vejo que ele
não vai falar — É sobre seu acidente?
— Tenho um assunto para falar com você, mas não sei se seria
prudente trazer esse assunto agora — diz e me olha firmemente — Falar de
mim para uma cliente não é nada convencional.
Cliente? Lá vamos nós outra vez. Quando estou começando a me abrir
um pouco para nossa relação ele diz isso?
— Cliente? — Eu sou uma parva mesmo, não consigo segurar.
— Não me entenda mal, Alicia, tecnicamente você é, sim, minha
cliente acima de qualquer coisa, mesmo nós transando igual coelhos, isso não
muda. Afinal, estou zelando por sua integridade física — ele segura minha
mão por cima da mesa — Eu nunca pedi isso a uma mulher, Alicia. Nunca
precisei levar nenhuma a sério porque elas nunca dificultaram o sexo para
mim. Por que me comprometer se eu já as tinha conquistado e tirado delas
meu prazer? Mas quero assumir isso com relação a você.
Estou paralisada. O quê? Por que ele começou dando a entender que ia
falar um pouco de si e terminou querendo um relacionamento comigo? Ele
parece tão chocado quanto eu.
— Bruno... — começo, mas não sei o que dizer a ele. Estou apavorada.
— Bruno, eu não sei se...
— O quê? Você é mulher, Alicia, e as mulheres sempre querem algo
sério. Você não está sendo coerente, querida — diz, e eu puxo minha mão da
dele.
— Mas era só sexo! — Oh, Deus, o que estou fazendo? Eu não posso,
não ainda — Você disse isso, Bruno. Que podíamos nos divertir e eu poderia
esquecer...
Minha voz falha quando tento levantar da mesa. Estou em pânico...
— Alicia, sente-se — ele segura meu pulso, me fazendo sentar outra
vez — O que está havendo? Entendi tudo errado? Um mês atrás você ficou
puta da vida comigo porque eu terminei com você...
— Eu... — lágrimas queimam meus olhos e um nó na minha garganta
me faz tentar engolir em vão — Eu não posso — digo em um fio de voz.
Bruno
Por que diabos eu fui dizer isso para Alicia?
Ela estava me dando o fora? Ela que, há pouco mais de um mês, estava
puta comigo porque disse que não queria ter nada mais com ela? Eu estou
totalmente confuso agora, droga.
Mas não ia falar isso assim, depois de falar com Deni e ter ideia do
porquê de ele estar atrás dela. A minha ideia original seria tirá-la da cidade de
qualquer jeito, sem que eu tenha de contar sobre minha família, mas quando
abri minha maldita boca foi para fazer uma proposta que claramente ela não
ia aceitar. Confusão do caralho que eu mesmo criei.
Não queria dizer para ela que minha família era responsável por ela
ficar viúva, ela vai me odiar por isso ou correr para longe de mim. Esse
pensamento me deixa louco, no entanto, parece que a fiz se distanciar de mim
de qualquer maneira.
Ela parece apavorada na cadeira à minha frente, está se contorcendo
nervosa, e nunca a vi assim. Nosso almoço chega, e nós permanecemos
calados sem tocar na comida à nossa frente.
— Por que você não pode, Alicia? — É o que pergunto quando minha
maldita língua destrava. — Você não se importa de fazer sexo comigo, mas
levar um namoro ou qualquer dessas merdas de mulherzinha comigo é
demais para você?
— Não é você... — ela começa, mas eu a corto.
— Sim, vamos lá... o clássico "não é culpa sua, é minha". Alicia, somos
mais que isso! — estou começando a ficar furioso com ela.
Ontem essa mesma mulher estava gozando na minha cama, agora ela
vem com essa conversa de que não pode? Mesmo não sendo o que eu
realmente queria dizer, depois que saiu, percebo agora que quero isso com
ela. Eu a quero na minha vida, e isso é malditamente ruim, já que estou me
apaixonado por uma mulher que é evidente seu receio de entrar em um novo
relacionamento.
Qual o problema dela? O que diabos esse ex-marido dela fez para que
ela entrasse em pânico com um simples pedido para ir adiante na relação?
Porra! Não é nenhum pedido de casamento.
Vejo-a respirando fundo e tento me recompor também. Eu meti os pés
pelas mãos com ela agora. Mas Alicia conseguia me surpreender sempre,
nunca agindo como eu achava que ele iria. Entendi tudo errado ontem,
quando ela correu para me ver, preocupada comigo?
Droga, Bruno, você não está batendo bem da cachola, meu amigo,
resmungo para mim mesmo, internamente.
— Bem, não lhe pedirei outra vez isso, Alicia — pego meu garfo e
começo a comer.
Ela limpa a garganta.
— Você não vai me contar sobre sua família? — ela pede
delicadamente, e a incerteza do tom me desarma um pouco. Eu sei que ela
não teve um tempo bom com esse ex-marido, por isso eu queria dar um
pouco de mim, apesar de tudo.
— Não tenho muito o que falar — minto, certamente tenho muito o que
dizer a ela sobre eles — Vamos fazer um trato, Alicia?
Ela levanta seus olhos enormes para mim.
— Que trato?
— Eu conto mais sobre minha família e você me conta sobre seu
casamento e o porquê desse medo. Não; pavor, quando falei de irmos para
uma relação séria. — encosto-me na cadeira e a observando se contorcer
ainda mais em sua cadeira. — Então, temos um trato?
— Eu não acho que isso...
— É pegar ou largar, Alicia, ou a partir de agora serei apenas seu
segurança e nada mais que isso — Eu estou forçando essa porra de verdade.
Estou levanto tudo ao extremo hoje, fazendo exigências demais até para mim.
Mas minha viuvinha vai sair da porra da zona de conforto e falar comigo.
— Bruno, tem sido tão pouco tempo que nos conhecemos... — inclino-
me para ela sobre a mesa.
— Pare, Alicia. Não perguntei nada sobre o tempo que nos
conhecemos, quero saber se aceita o trato — digo e volto a encostar na
cadeira.
— Você não pode exigir isso — ela fala com mais firmeza dessa vez, a
Alicia impertinente começa a aparecer de novo. — Você surge com uma
proposta de uma hora para outra e quer que eu pule ao seu comando? Acha
que devo estar agradecida porque o fodão do Bruno Ross resolveu de um
momento para outro nos levar a sério? Você se escutou, Bruno? Essa não foi
a proposta mais romântica do mundo, sabe disso.
Ela dispara um discurso fervoroso. Descobri nesses minutos que
estamos sentados aqui discutindo, que meu ego não era tão forte assim, sua
recusa está amargando dentro de mim. Eu não sabia até então do quanto eu
precisava dela e do quanto ela se infiltrou dentro de mim. Que sua recusa me
deixou abalado...
— Você nunca fala de você, nunca deu a entender que era mais que
sexo, agora surge com isso e sem ao menos dar uma única indicação de nada?
— Ela, com certeza, não terminou seu discurso.
— Essa é sua resposta?
— Eu quero ficar com você, Bruno, mas isso não precisa ser uma
corrida de trem — ela me olha nos olhos — Por que não vamos devagar?
— Por que tenho a sensação que estou sendo usado sexualmente? —
resmungo. — Viaje comigo. Esqueça seu trabalho por um tempo e vamos sair
da cidade, e então acabamos com essa coisa de "não nos conhecemos de
verdade" —Sim, isso era o que deveria ter feito antes de falar demais.
— E para onde iríamos? — ela fica mais animada com essa
perspectiva.
— Qualquer lugar que queiramos ir.
Ela me dá um sorriso quando diz:
— Tudo bem, vou organizar as coisas.
Bem, as coisas podem não serem tão ruins assim.
23
Bruno
Acalme-se comigo
Me proteja
Me abrace
Deite-se comigo
E me segure em seus braços
O seu coração contra meu peito
Seus lábios pressionados em meu pescoço
Eu estou mergulhando dentro dos seus olhos
Mas eles ainda não me conhecem
Com um sentimento que vou esquecer
Estou apaixonado agora
Acalme-se comigo
E eu vou ser a sua segurança
Você vai ser minha garota
Eu fui feito para manter seu corpo quente
Mas sinto frio quando o vento sopra, então me abrace
...
Dançamos absortos, como se existisse só nos dois naquele lugar. E,
pouco depois, quando um dos funcionários vem em busca dela e ela sai dos
meus braços, tenho essa sensação de vazio no peito como se tivesse algo
arrancado de mim.
Olho ao redor da sala ainda cheia e pergunto-me que horas Alicia vai
dar a noite por encerrada.
A festa de confraternização que ela organizou agora virou uma balada
para os jovens advogados da empresa, e ninguém diria que eles eram
advogados sérios, pois estavam mais soltos depois que os superiores tinham
ido embora, pelo visto.
São duas da manhã, e Alicia ainda está elétrica, ela não parou um
instante sequer. Estou zonzo de seguir cada passo dela, mas não vou perdê-la
de vista.
Deni tinha estado na festa mais cedo, ele havia sido convidado, fez
questão de estar cada vez mais perto de Alicia em cada oportunidade que
teve. Eu entendia seu jogo comigo. Ele queria que eu perdesse o foco e
descuidasse dela. Mas ele deveria me conhecer melhor, tenho cada canto
desse lugar cercado. Ele não daria um passo em falso ou eu cairia sobre ele
com fúria.
Ele tinha saído, mas mantive um cara na cola dele. Não daria a chance
de ele se aproveitar hoje com essa movimentação de pessoas ao redor de
Alicia.
Eu passei boa parte do dia com Alex, planejando minha viagem. Ele era
totalmente contra, já que seria mais fácil sermos atacados estando só eu e
Alicia. Nem que eu tenha que ficar em um quarto trancado com ela, vou tirá-
la de perto de Deni. E a ideia de ficar isolado do mundo com Alicia não é má,
na verdade, eu adoro cada vez mais isso.
Corro meus olhos atrás dela quando a vejo ir falar com os garçons. Ela
não cansa? Estou indo atrás dela quando Carl aparece ao meu lado.
— O homem que estava atrás de seu irmão disse que ele foi para casa
— ele diz com seu jeito estoico de sempre — Se ele quiser mesmo fazer algo
para Alicia, acho que hoje não será o dia.
— Não confie nisso — digo e volto a olhar para onde está Alicia e
paraliso — Porra, aonde ela foi?
Alicia
Dando uma última olhada ao redor para certificar-me que tudo tinha
corrido bem e que agora eu poderia ir para casa tranquila, vou até onde estão
os garçons contratados e dou as últimas orientações para eles. Eu gosto de
ficar até o último convidado sair, ver se tudo estava certo nos mínimos
detalhes possíveis, não gosto de ter surpresas desagradáveis mais tarde, mas
isso foi antes de ter um segurança em meu encalço a noite inteira.
Pensando nisso, entro na sala onde estava sendo usada como depósito
de garrafas vazias e, como está tudo ok, dou meia-volta para ir ao encontro de
Bruno e irmos para casa. O salão de festas não fica muito distante, e caminho
calmamente para lá quando paro petrificada no corredor. Um homem de terno
está parado na minha frente, e sinto todos os pelos da minha nuca eriçar. Ele
me parece familiar, tenho a sensação de que o vi em algum lugar quando ele
fica parado, calado, olhando-me. Não lembro se ele é um convidado, se o vi
durante a noite, quando circulei no meio dos convidados de Danila.
— Posso ajudá-lo? — Pergunto, encontrando a minha voz firme, apesar
de sentir meu coração batendo forte em meu peito. — A festa é para lá —
aponto, e ele continua me olhando sem mexer um músculo da face.
Quando tento falar outra vez, ele diz:
— Você é Alicia Duran? — a voz é fria, e antes que eu responda, vejo
Bruno aparecer atrás do homem.
— E você, quem é? — Bruno pergunta, o homem se vira para encontrar
a carranca de Bruno.
— Só preciso saber onde ficam os banheiros. — ele responde
calmamente, como se fosse normal ficar em um corredor e o banheiro fosse
se materializar ali.
— Tenho certeza de que eles não ficam por aqui — Bruno vem para
meu lado, ficando entre mim e o homem.
— Obrigado — seus olhos caem em cima de mim outra vez — Boa
noite, senhora. — A forma que ele me olha faz algo estalar dentro da minha
cabeça, uma sensação de déjà vu.
Ele vira e vai embora. Bruno pega o telefone e fala com alguém sobre
ele. Não escuto o que ele fala, minha mente é um turbilhão frenético como se
quisesse me dizer algo, e minha respiração corta quando uma imagem pisca e
lembro onde vi aqueles olhos me olhando da mesma forma que me olhavam
antes de virar e ir embora.
Oh, meu Deus! Oh, meu Deus!
Sinto minhas pernas fracas quando me encosto à parede que estou
próxima, chamando a atenção de Bruno. Ele tinha parado de falar ao telefone
e segura-me forte pela cintura. Cada respiração que tento dar parece que está
esmagando meus pulmões e pânico começa a se construir dentro de mim.
— Você está bem, Alicia? — ele pergunta preocupado, observando
minhas mãos trêmulas — Ele fez algo com você?
Tento falar, no entanto, minha língua parece colada ao céu da boca.
Tento respirar e não consigo. Bruno me pega em seus braços e leva para fora
do corredor. Como estamos longe da saída, ele me carrega até um banheiro e
me senta no balcão de mármore.
— O que houve que deixou você assim? — ele segura meu rosto em
suas mãos, fazendo-me olhar seus olhos quando ordena: — Diga-me!
— A-aquele homem, eu lembro dele... — digo baixo
— De onde, Alicia?
— No elevador... na noite que Evan... — não preciso continuar para ele
entender o que quero dizer.
— Por que não disse antes, Alicia? — ele está pegando outra vez seu
telefone — Carl, você tem o cara? O quê?
Ele escuta Carl falar e começa a esbravejar ao telefone.
— Puta que pariu, ele só acabou de sair daqui, não daria tempo de ele
sumir. Manda alguém verificar tudo, ele pode ser um dos assassinos de
Duran.
Aperto meus olhos fechados e respiro fundo.
— Estou tirando Alicia daqui agora, indo para saída da lateral — ele
guarda o celular e olha-me por um segundo, fixamente. Seu olhar frustrado
me deixa ansiosa. — Vamos sair daqui.
Ele não espera por nenhuma resposta, pega-me nos braços e me carrega
para fora em direção à parte lateral onde tem uma saída direto para os
seguranças, que têm um carro bem na entrada nos esperando. Quando sento
no banco atrás da SUV, me lembro das minhas coisas, tenho de avisar alguém
para pegar. Estou pensando nisso quando Carl chega e me entrega meus
pertences. O carro arranca, nos levando para o trânsito.
— Conseguiu alguma coisa? — Escuto a voz de Bruno e percebo que
está falando ao telefone — Porra, essa era uma chance de termos algo
concreto sobre esses caras... O local tem a circuito interno, verifique. Estou
saindo do local.
Ele continua falando com a pessoa do outro lado, e minha mente deriva
para imagens nada agradáveis do que poderia ter acontecido se eu não
estivesse sob a proteção de Bruno e os outros homens.
Mantenho-me calada todo o caminho, e cada vez que penso o quanto
estive perto de um dos assassinos de Evan, sinto o suor frio correndo por
minha pele. Ele veio atrás de mim, eu nunca tive tanto medo desde a noite
que encontrei Evan morto na nossa sala. Eu queria correr para longe disso.
Sinto-me fraca, frágil e com a sensação que minha vida pode ser tirada a
qualquer minuto. Não tinha percebido que lágrimas caíam dos meus olhos,
até que sinto o lenço que Bruno coloca em meus dedos trêmulos e me puxa
para seus braços. Enterro minha cabeça em seu pescoço, inalando seu cheiro,
e começo a me sentir mais segura outra vez. Ele não pede que eu fale
qualquer coisa, porque sei que isso só fará a coisa ser mais real para mim.
Quando chegamos ao meu prédio não descemos de imediato. Ele
enviou Nate e outro segurança que não conheço para verificar meu
apartamento, e isso faz eu me sentir com mais medo. Será que ele acha que
alguém vai invadir minha casa?
Passa algum tempo antes que ele fale com Nate e me leve para cima
ainda em seus braços, mesmo eu protestando que posso andar, mesmo que
minha voz seja fraca. Ele não me dá ouvidos. Vamos direto para meu quarto,
e ele me deixa na cama antes de sentar ao meu lado.
— Está melhor? — pergunta, sua voz suave e preocupada. Quando
assinto, ele levanta e vai em direção ao banheiro e volta pouco depois,
retirando seu terno e ficando só com a camisa branca a qual ele arregaça as
mangas até os cotovelos.
— Venha aqui, vamos livrá-la desse vestido — olho surpresa para ele,
mas me dá um pequeno sorriso — Não se preocupe, só quero que tome um
banho e vá para cama.
Humm, chato.
Ele me puxa levemente para ficar de pé, ajuda a tirar minhas roupas e
leva-me para o banheiro onde a banheira está quase cheia. Ele tinha jogado
sais dentro, e acho que exagerou porque as espumas estão densas.
— Vamos lá — diz quando desliga a água e me ajuda a entrar. Não me
importo que ele esteja fazendo algo que posso fazer sozinha, sinto-me bem
com ele aqui cuidado de mim por um momento.
Meia hora depois estou na cama, e meu segurança/babá tem uma xícara
de chá para mim também.
— Obrigada — digo quando ele me dá a xícara — Você hoje está
meigo, senhor Ross.
— Eu sou meigo, bebê — ele me dá um sorriso de molhar calcinha —
Mas você levou um susto e precisa se deixar ser cuidada um pouquinho.
Sinto lágrimas quentes correrem por meu rosto. Além de Matt,
ninguém nunca se preocupou em cuidar de mim, nem mesmo meu ex-marido
tinha esse cuidado ou se importava depois que nós casamos.
— Hey... Está tudo bem. Não deixarei ninguém machucar você,
prometo — Bruno se inclina e tira a xícara de meus dedos. Depois de
depositá-la no criado-mudo, segura meu rosto com as duas mãos, retirando os
vestígios de lágrimas, e beija suavemente meus lábios — Vou cuidar de você,
querida. Confia em mim para isso?
Assinto quando envolvo meus braços em seu pescoço.
24
Bruno
— Está tudo bem, amor — murmuro contra os cabelos de Alicia e a
puxo para meus braços. Beijo ternamente sua face banhada de lágrimas e
tento controlar a raiva.
Esse sentimento avassalador que ela me faz sentir é tão estranho quanto
novo e não sei que rumo dar para ele. Mas a única coisa que posso fazer
agora é segurar minha garotinha frágil e cuidar dela. Ela não é tão forte como
diz e não sabe o que fazer comigo cuidando dela.
Depois de um tempo, ela dorme e eu saio da cama, a fazendo
resmungar algum protesto mesmo dormindo. Vou para a sala, encontrando
Carl lá junto com Nate.
— Alicia está bem? — Nate levanta quando me vê entrar — Ela
parecia não estar nada bem.
— Sim, está dormindo — digo a contragosto. Qual a dele com Alicia,
está afim dela também? Franzo minha testa com o pensamento dele a
cobiçando e tenho vontade de extravasar a raiva que estou acumulando dentro
de mim. — Nada que deva se preocupar.
Digo duro, e ele deve ter notado meu tom nada amigável, porque olha
para mim também com o cenho franzido.
— É claro!
Carl, que se mantinha calado, dá um meio sorriso quando sento em
frente a ele.
— Marcando território, Ross?
— Não preciso disso, só deixando claro as coisas por aqui — não
queria nenhum idiota com um pau perto da minha mulher, isso é um fato
simples. — Quais as novidades? Falou com a polícia?
— Sim, mas você acredita que eles não estão muito preocupados com
isso? — ele escora os cotovelos nos joelhos, inclinando para frente. — Eu
posso apostar que seu pai tem um dos grandes da polícia na folha de
pagamento, cara, isso é muito estranho.
Deve ter mesmo, por isso não fui à polícia ainda entregar os filhos da
mãe. Meu pai era esperto e estava brincando de gato e rato até nos cansarmos
e relaxar para ele fazer a jogada dele.
— A casa está pronta? — Carl tinha ficado encarregado de encontrar
um lugar seguro para mim e Alicia.
— Tudo certo, lá tem até um quarto do pânico — diz sorrindo, coisa
rara de se ver em Carl, um sorriso.
— Espero não poder usá-lo. E o carro?
— Estará aqui sem que haja nada suspeito sobre ele. Tudo limpo —
fala e levanta — Estou indo, meu amigo, amanhã falo com você.
— Mais tarde, você quer dizer — digo, levantando também para segui-
los até a saída. Quando eles saem, verifico o sistema de segurança e volto
para o quarto.
Quando deito, Alicia se agarra a mim como uma tábua de salvação em
seu sono.
Estou ficando fraco para as mulheres. Dormir ao lado dela por noites
seguidas e sem sexo? Preciso me tratar urgente.
Deni
— Qual foi a reação de Alicia ao vê-lo? — pergunto ao homem de pé
em frente à minha mesa logo cedo de manhã.
Eu começo a trabalhar antes das seis todos os dias, não importa o que
aconteça, e hoje eu estou mais que ansioso para saber como Alicia se
comportou ao ver o homem que ela supostamente esqueceu a fisionomia.
— Ela não pareceu me reconhecer — ele diz. Seu nome é Frank, foi ele
que puxou o gatilho naquela noite, mas teve a idiotice de sair junto com os
outros imbecis pela frente do edifício, como uns amadores filhos da puta —
Mas não tive muito tempo com ela, seu segurança apareceu e tive de cair
fora. Pela forma que ele me olhou, pode ter ficado em alerta. Ele não deu
muita chance para eu me aproximar dela durante toda a noite.
— Deixou meu irmão te ver? Como pode ser tão idiota? Aposto que
agora tem um monte de policiais querendo pôr as mãos em você — digo
furioso.
— Espero que não, senhor — olho feio para ele, pensando no quanto de
ingenuidade um homem como ele pode ter.
— Torça para que não seja pego, ou você não chegará vivo na prisão —
dou um sorriso frio para ele ter a certeza que não é brincadeira — Saia de
circulação por um tempo.
Ele assente e sai. Respiro profundamente e aperto meu nariz para
conter a raiva. Me aproximar de Alicia foi um erro. Eu devia ter mantido
distância dela. O tempo está correndo e não consigo executar as coisas direito
quando se trata dela. Um mês perto foi o suficiente para acabar com isso, mas
eu deixei passar e agora eles estão perto demais de pôr tudo a perder.
Alicia
— Onde estamos indo? — pergunto enquanto dobro um par de roupas e
coloco em minha mala, em cima da cama.
Estou fazendo uma mala sem saber para onde vamos. Bruno quer sair
da cidade o quanto antes e não me deu tempo de organizar meus
compromissos na empresa e deixar Marcos supervisionando tudo. Eu ainda
estou nervosa por ontem à noite, mas ele não saiu um minuto de perto de
mim, e quando digo um minuto, é isso mesmo. Ele enviou um dos caras para
pegar uma mala em seu apartamento e não me permitiu ir trabalhar hoje. Eu
cedi porque estou apavorada. Acordei hoje cedo com outro pesadelo. Eles
tinham parado, mas voltaram ontem, me deixando mais nervosa durante todo
o dia de hoje.
Odeio essa sensação de sufocamento que sinto em não poder ser livre
para ir e vir e fazer aquilo que gosto, sem me preocupar se tem um assassino
em minhas costas. Eu tinha chorado de desgosto e medo nos braços dele, e
ele só ficou lá, sem soltar suas gracinhas habituais, sem nenhum apelo sexual
no nosso abraço. Eu sei que ele está muito preocupado com algo que não só é
minha segurança, há outra coisa, além disso, o perturbando, e eu queria que
ele confiasse em mim para falar. Sei que não estamos nesse nível de
confidências, ainda precisamos trabalhar isso, tanto eu como ele.
Ele ainda não me passa segurança emocional, tenho meu pé atrás
porque ninguém muda da noite para o dia, até ontem ele só transava e ia
embora, por que não fará isso comigo? Quem me garante que seu interesse
não é maior porque eu não me jogo nele como deve fazer suas outras
mulheres? Quem garante para mim que sua óbvia preocupação comigo não é
só trabalho? Minha cota de decepções se esgotou com a morte de Evan e seu
mau caráter em me deixar com assassinos atrás de mim.
Mas apesar de dizer tudo isso para mim mesma, ele tem sido um
bálsamo para minhas dores e angústias dos últimos tempos. Eu gosto de sua
companhia, de me sentir querida e sei que, no fundo, estou caindo de amor
mais uma vez por alguém, ainda que continue negando. Ele me assusta
terrivelmente, porque ele pode me machucar mais do que Evan fez, disso eu
tenho certeza. No fim, não amava Evan tanto assim. Ele já havia acabado
com isso, com suas cobranças, como se fosse tudo culpa minha em não dar a
ele o que queria de mim.
Olho para Bruno, que está recostado em minha cama vestido
casualmente com jeans e suéter preto. Ele dá a impressão que está relaxado,
mas não está, sei disso pela mandíbula apertada. Esteve muito calado durante
todo o dia, só reafirmou que queria sair à noite, para não dar chance de quem
estivesse nos observando nos seguir.
Eu não posso decidir se estou chateada, com medo ou frustrada com
tudo isso. Estou quase virando uma fugitiva.
— Surpresa — ele resmunga quando achei que ele não responderia.
— Isso é chato, como vou levar as roupas certas? — levanto minhas
sobrancelhas para ele quando vejo o sorriso malicioso surgindo nos lábios
dele.
— Bebê, roupa não será problema — estica-se mais sobre minha cama
e sorri mais largo, fazendo meu coração pular feito um louco no meu peito —
Leve o essencial.
— Que tipo de viagem é essa? — resmungo quando vou pegar minha
nécessaire com produtos de higiene no banheiro.
Leve o essencial? Homens não entendem que mulher não viaja com o
essencial, ainda mais quando ela não sabe aonde vai.
Quando volto do banheiro, guardo o resto das coisas e fecho a mala,
encarando-o.
— Você é muito curiosa. — ele levanta e me puxa para cima dele e nós
dois caímos na cama — Liguei para seu irmão mais cedo e informei que
vamos ficar fora um tempo.
Oh, meu Deus, mal tenho visto e falado com Matt!
— Preciso falar com ele — digo e tento me soltar de seus braços.
— Alicia, ele disse que posso ficar com você o tempo que quiser. —
ele diz quando segura meu pescoço, trazendo minha cabeça para baixo.
— Mentiroso! Matt nunca diria uma coisa dessa. — repreendo quando
escondo meu sorriso. — Sou sua irmãzinha querida!
— Disse mais, que posso abusar de você de todas as maneiras que eu
quiser — fala de encontro à minha boca, em um sussurro rouco, antes de me
beijar. Retribuo porque sou incapaz de ter sua boca junto à minha e resistir,
não quero resistir mais. Gemo quando ele rola ficando por cima de mim e
aprofunda o beijo. É sempre assim: um pequeno carinho se transforma em
labaredas incandescentes de desejo quando nos tocamos.
— Bruno? — digo quando ele puxa a boca da minha e enterra a cabeça
nos meus cabelos, me deixando respirar um pouco.
— Sim? — ele beija meu pescoço, o colo. Sinto sua boca quente por
cima da minha blusa de malha fina, nos meus mamilos, deixando minha blusa
molhada e...
— Não temos tempo para isso... Ainda quero falar com Matt — digo
ofegante, mas seguro sua cabeça perto do meu peito.
— Ninguém precisa saber aonde vamos — ele levanta e senta na cama
— Melhor para você, não quero dar chance de sermos seguidos. Confie em
mim. É tão difícil assim, bebê?
— Eu confio — fico de joelhos na cama e passo os braços por seus
ombros, por trás, descansando minha cabeça na curva do seu pescoço que
cheira delicioso.
Bruno
Envio o carro de Alicia com Connor dirigindo em outra direção da qual
estou indo com ela. Peguei outro carro novo, já que preciso despistar Deni ou
sua corja de imbecis para longe do nosso destino. Faz uma hora que saímos
de carro. Não vou muito longe, nem vou sair do país, a melhor forma de se
esconder é em um lugar que ninguém acha que você irá.
Tenho mantido o olho no retrovisor, e nada que possa indicar se fomos
seguidos, assim eu espero. Não quero as mãos porcas do meu irmão em cima
da minha mulher, porque, porra, ela é minha e qualquer filho da puta que
colocar a mão nela vai sofrer. Eu não me importo se é meu irmão ou seus
malditos comparsas.
A fúria queima dentro das minhas entranhas e ameaça explodir desde
ontem quando ela me disse que o cara que a abordou era um dos assassinos.
Isso me deixa doente, pensar no que ele poderia ter feito com ela se eu não
tivesse chegado logo. Sinto raiva por não ter segurado o cara. Agora ninguém
sabia dele, ele tinha evaporado e não foi pego por nenhuma câmera do
circuito interno.
Deni miserável, eu preciso falar com meu pai, mandarei ele recuar
junto com Deni, ou seja lá com quem mais eles estão trabalhando. Preciso
saber o que eles querem realmente dela, porque uma coisa é certa: eles
querem algo. Eu conheço meu pai, ele não hesitaria em mandar colocar uma
bala na cabeça dela se ela fosse apenas uma ameaça de uma investigação
caindo sobre eles e seus negócios ilícitos.
Olho para a mulher ao meu lado no banco do carona e sinto meu
coração palpitar no meu peito. Nunca me importei ou me envolvi tanto com
uma cliente como estou com Alicia. Nas outras vezes, eu tinha ido uma ou
duas vezes para a cama com elas e partido para uma nova mulher, mas a
minha viuvinha marrenta me quebrou quando não estava olhando. Estou
apavorado para caralho!
Estendo minha mão e agarro a sua, trazendo para meus lábios e
beijando o dorso, fazendo-a virar a cabeça para me olhar. Olho para a estrada
e começo a investigar:
— Diga-me, o quanto você sabia do trabalho do seu marido? — odeio
essa palavra quando me refiro àquele idiota. Ex-marido filho de uma cadela.
Ela não responde imediatamente, mas, quando fala, sua voz mostra a
decepção clara em seu tom.
— A única coisa que sei é que ele era corretor da bolsa, Bruno — diz
— Eu só soube que ele estava metido nisso quando ele morreu.
— Ele nunca disse nada a você sobre qualquer um dos seus clientes,
nada que você lembre? Geralmente os maridos conversam com suas esposas,
não?
Ela ri, e não é de alegria
— Isso seria a piada do ano — Alicia vira no banco para ficar olhando
para mim. — Não tínhamos mais um casamento, Bruno. Só estávamos
levando isso, talvez, porque não queríamos dar o último passo, que era o
divórcio.
— E por quê? Ele te maltratava? — mordo as palavras. Maldito, se
ainda estivesse vivo acabaria com ele.
— Não como você pensa — ela vira para a janela e não diz mais nada.
Frustração me toma quando percebo que ela não falará mais.
— Fale comigo, Alicia — peço calmamente. Tenho vontade de parar
no acostamento, pegá-la no colo e beijar até que sua tristeza se dissolva em
meus lábios. — Não quero ser invasivo, mas falar, às vezes, faz bem.
Isso era eu mesmo falando? O cara que não quer contar para ela quem é
minha família?
Espero ela começar a falar, no entanto, ela continua virada para a janela
e, depois de um tempo, eu deixo por enquanto, porém voltarei a tentar tirar
alguma informação dela sobre seu casamento e assim eu possa ter uma ideia
do que meu pai quer com ela.
Ligo o som do carro e coloco uma música para quebrar o silêncio que
se instalou, me deixando nervoso. Sei que ela não confia em mim.
Independentemente de ela ter afirmado mais cedo que confiava, creio que
confia somente em mantê-la segura, mas, na parte que interessa, ela não
confia. Aumento o som mais um pouco e Stay With Me invade o silêncio
deixado no carro.
Eu preciso controlar meu ímpeto com Alicia, ela simplesmente tira meu
eixo, e a quero totalmente entregue para mim.
Depois que rodamos uma meia hora, ela se vira para mim.
— Vai demorar muito para chegarmos? — seus olhos estão sonolentos.
— Entediada, bebê? — olho rapidamente para ela e volto a olhar a
estrada.
— Só um pouco — diz — Tínhamos de sair tão tarde?
— Sim, era necessário — afirmo.
— Eu liguei para seu irmão hoje — ela diz casualmente.
— Você fez o quê? — eu freio o carro tão bruscamente que ela solta
um grito assustado — Mas que porra, Alicia!!
— Você está maluco? Quer nos matar?! — ela está de olhos
arregalados e agarrada ao banco do carro.
Mas que merda!!
— Que hora você fez isso? — agarro o volante com minhas mãos
crispadas de raiva. Alguém me ajude ou vou esganar essa mulher — Você
disse que íamos viajar, Alicia?
— Claro que não, estúpido! Você passou o dia inteiro falando para não
dizer a quem quer que seja, por que eu falaria para ele? — grita furiosa — E
por que não podia falar? É seu irmão!
— Ele é mais meu inimigo que irmão, Alicia — viro para ela — O que
exatamente você falou para ele?
— Nada de mais, só que precisava adiar mais uma vez nossa reunião.
Eu fiquei de ligar para ele, Bruno, e honro meus compromissos — ela cruza
os braços na defensiva, olhando para frente fixamente. — Não entendo vocês
dois.
— Alicia...
— Não posso aceitar suas exigências sem saber o motivo — ela olha
para mim — Custa me dizer o porquê dessa raiva entre vocês?
—Talvez seja pelo mesmo motivo que você não fala do seu casamento,
Alicia — vejo-a abrir a boca para falar e desiste.
Sei que não é justo mantê-la no escuro, mas, porra, não quero perdê-la
agora. Quero ficar com ela até o último minuto que eu puder. Depois dessa
viagem vamos sentar e conversar. Isso se eu não entregar o filho da puta para
a polícia.
Mesmo ela tendo dito que não falou para Deni, preciso fazer uma
parada antes do nosso destino. Quero verificar se posso continuar com isso.
Verifico minha arma, que mantenho em um lugar de fácil acesso, e ligo o
carro outra vez.
— Desculpe por preocupar você — escuto Alicia dizer, e sua voz faz a
raiva evaporar. Não resisto e passo um braço pelos seus ombros, a atraindo
para mim, e ela vem sem resistência. Essa mulher ainda vai ser minha morte.
— Não quero brigar com você.
— Tudo bem, querida. Só estou sendo cauteloso, não quero que nada
aconteça com você. — ela se aconchega mais em mim. Dirigir e ter Alicia
perto é um perigo. — O pensamento de você se machucar me deixa louco.
— Eu sei.
25
Alicia
Bruno faz questão de fazer uma parada antes do nosso destino final,
segundo ele, para verificar se não fomos seguidos.
Paramos em um posto de gasolina, onde ficamos em torno de meia hora
na loja de conveniência. Nós estamos chamando a atenção por passar tempo
demais fingindo sermos clientes. Depois de comprarmos água, caminhamos
de volta para o carro, deixando o homem do caixa nos olhando esquisito.
Estamos rindo quando partimos de lá. Nossa aventura era divertida, no fim
das contas. Eu imaginava a nós dois como nos filmes americanos, fugindo de
bandidos armados. Bem, de qualquer maneira, estamos mesmo.
O resto da viagem foi sem nenhum sobressalto de ambas as partes.
Acabei cochilando com minha cabeça no colo de Bruno, e quando acordei, o
dia estava amanhecendo. O lugar que ele para o carro é um enorme chalé
requintado à beira de um lago, de madeira escura e rodeado por um jardim
exuberante. Parecia mais uma pequena mansão do que realmente um chalé,
com uma vista linda do lago azul-esverdeado àquela hora da manhã.
Saio do carro para que possa ver mais do lugar, extasiada com a
paisagem. O chalé tem um deck que vai para o lago com piso de madeira e
uma vegetação ao redor indo em direção à água onde há espreguiçadeiras
acolchoadas com estampas floridas de cores claras.
Estou apaixonada pelo lugar e nem vi por dentro, ainda. Bruno não se
detém e pega a nossa bagagem, levando tudo para a porta da frente de
madeira maciça. Ele digita algo em um pequeno teclado escondido por uma
tampa de metal na parede ao lado da porta. Ouço um clique e a porta abre.
Caminho atrás de Bruno e paro, fascinada pela sala. É tudo meio rústico de
propósito, a pessoa que decorou o lugar queria passar a sensação de estar no
campo, de verdade.
Os móveis de madeira envernizada eram luxuosos. Assim como o teto
arcado de madeira e a lareira, em um canto da sala, com sofás de couro
escuros contrastando com a cor caramelo do lugar. No chão, tapetes persas,
não sei se eram originais, mas davam um ar ainda mais requintado à sala.
— De quem é essa casa? — pergunto curiosa para Bruno quando
caminho até a lareira. Queria que estivesse acesa.
— Bom, acho que pertence ao Carl — diz e leva nossas malas para
outro cômodo, que imagino ser um dos quartos. — Eu não queria ir para um
lugar onde tivesse muita movimentação de pessoas, aqui eu tenho uma visão
com câmeras de segurança que estão em lugares estratégicos. Quem se
aproximar daqui eu verei imediatamente. Nosso vizinho mais próximo é a um
quilometro daqui. Então, senhora Duran, você é minha refém. Totalmente
minha.
Sorrio quando paro atrás dele em um quarto com vista para o lago de
tirar o fôlego.
— Oh, não! Nunca mais quero ir embora desse lugar, é fantástico,
Bruno — vou até a janela de cortinas brancas esvoaçantes que se abre para o
deck e respiro o ar limpo e saudável da manhã, enchendo meus pulmões sem
os gases poluentes da cidade grande. — Amei esse lugar, mas eu preciso
dormir.
Digo quando viro para encontrá-lo, praticamente, colado a mim. Ele
envolve seus braços na minha cintura e me atrai para seu peito firme.
— Gosto muitíssimo dessa ideia, bebê — ele me beija, e esqueço que
estou exausta da viagem, sinto-me energizada com sua presença. — Vou
fazer você gozar, querida. — sua voz rouca e profunda fazendo minhas
terminações nervosas palpitarem em expectativas.
Nossas línguas duelam, e gemo quando ele me empurra facilmente em
direção à cama larga e baixa, forrada com lençóis brancos, que está bem no
meio do quarto. Não presto atenção a nada, a não ser no homem que me beija
tão ternamente que minha barriga dói de ansiedade.
Meus braços ao redor do seu pescoço, minhas costas arqueadas para
que meus seios estejam colados ao peito duro de Bruno. Caímos na cama
com ele sustentando nosso peso nos braços, nunca deixando de nos beijar
profundamente. Ele não perde tempo quando os dedos dele brincam com
minhas dobras por baixo da calcinha e, quando introduz dois dedos dentro de
mim, eu grito na sua boca que não desgruda da minha. Meus quadris têm
vontade própria quando mexo ao encontro de seus dedos habilidosos.
— Goze para mim, bebê — Bruno afunda mais um dedo, fazendo tudo
ficar nublado quando gozo gritando seu nome, que é engolido por sua boca
que, como seus dedos, é implacável e cruel tirando tudo que pode do meu
corpo. Nem estamos nus ainda e eu já perdi minha mente nesses poucos
minutos. Vou amar tê-lo todo para mim esses dias.
De repente ele levanta e fica em pé ao lado da cama, trazendo-me à
realidade depois de praticamente perder minha mente.
— Por que não se despe, minha querida? — sugere, mas parece uma
ordem, e seu rosto não deixa margem para dúvida. Faço o que me pede
languidamente, quando sento na cama e começo a retirar meu vestido,
ficando apenas de calcinha e sutiã enquanto ele apenas observa. — Tudo!
Fogo se constrói novamente em mim quando levo minhas mãos às
costas rapidamente e retiro meu sutiã. Logo em seguida minha calcinha faz
companhia à pilha de roupas que estou jogando no chão. Volto a deitar e olho
para ele. Um longo tremor passa por meu corpo quando olho seus maldosos e
maliciosos olhos azuis, e seu meio sorriso safado nos lábios só faz
intensificar mais os tremores em mim.
— Você tem ideia do quanto é linda, Alicia? — engulo em seco quando
vejo seu olhar de fome e desejo gravados em todo meu corpo — Cada dia
você parece mais linda para mim.
Ele tira lentamente sua roupa, como se tivesse todo o tempo do mundo
para isso. Estou a ponto de levantar para ajudá-lo a se livrar delas quando ele
me olha, autoritário.
— Fique aí — gemo quando caio de volta nos lençóis macios e brinco
com meus mamilos duros. Isso atrai os olhos de Bruno para meus seios. Ele
lambe seu lábio inferior lentamente, me deixando trêmula e tão excitada que
parece que estou em brasas, querendo somente que ele venha logo para a
cama. Faz tanto tempo que nós fizemos sexo, desde que ele voltou de viagem
que apenas tem cuidado do meu prazer.
— Vire e segure-se. — oh, ele estava frio e controlado, e não sabia que
gostava tanto de dar o controle para ele. Meu coração está pulando louco
dentro do meu peito quando fico de joelhos na cama e seguro na cabeceira da
cama almofadada. — Melhor segurar firme, tenho algumas continhas para
acertar com você, bebê.
Olho para ele, que está acariciando seu pau enquanto olha meu traseiro
exposto só para seu olhar. Ele vem para perto da beirada da cama e me puxa
pelo quadril, fazendo-me soltar a cabeceira, até que minhas costas estão
quase coladas às suas costas. Sinto o calor do seu pau duro e gemo quando
segura minha garganta, levanta meu rosto e beija-me forte, sua língua um
chicote excitante quando invade minha boca, enrolando com a minha. Ele
morde meus lábios para depois suavizar com sua língua deliciosa.
— Você me rejeitou, isso é mau, muito mau.
Ele segura meu cabelo em sua mão e empurra minhas costas me
curvando para frente e, sem aviso, ele entra em mim sem piedade.
— Oh, céus! — não estou pronta ainda, mas estou bastante lubrificada
do orgasmo anterior e gemo quando ele puxa, depois enfia forte até o fim. Eu
grito alto com o impacto de seu corpo no meu — Bruno!
— Oh, bebê, isso mesmo, grite meu nome — a palmada no meu
traseiro é tão forte que arqueio, arfante — Nunca. Diga. Não. Para. Mim —
cada palavra rouca é seguida de uma estocada de seu pau no fundo da minha
boceta.
Tremor violento de luxúria corre por mim quando planto meus
cotovelos na cama e dou livre acesso para Bruno, empinando meu traseiro
para ele. Segura meus quadris com as duas mãos, e estamos fazendo sexo
duro e rápido e sei que não vou durar muito; calor se constrói e gemo alto
como nunca pensei que gemeria na cama com um homem. Eu gozo tão
rápido que é vergonhoso, estou naquela queda livre de prazer ofuscante, mas
Bruno não parece se importar, porque sai de dentro de mim, agarra meus
cabelos e leva minha boca para seu pau lindamente duro e brilhante de meu
gozo. Chupo até onde posso tomá-lo.
— Chupe-me! Porra! — Ele está segurando tão forte meus cabelos que
dói, mas essa dor é nada comparada com a vontade de vê-lo perder o
controle.
Meus lábios o devoram, e seus quadris fazem uma dança lindamente
sincronizada e rítmica com minha boca. Gemo olhando seus olhos, que
perdem o foco quando goza jogando sua cabeça para trás murmurando meu
nome. Assisto quando ele se desfaz em minha boca e amo isso.
Pouco depois caímos em um emaranhado de corpos suados e exaustos,
e adormeço sendo beijada ternamente.
***
Quando acordo estou sozinha na cama, e uma brisa gostosa vem pela
janela refrescando o quarto. Procuro algum sinal de Bruno, e nada. Verifico
as horas e percebo que dormi demais. São três horas da tarde. Nunca dormi
tanto na minha vida. Vejo minha mala em um canto e levando lentamente,
sinto-me leve e um pouco aérea por ter dormido tanto. Consigo achar na mala
um robe branco curto de seda. O contato é delicioso na minha pele sensível.
Olhando ao redor do quarto, vejo uma porta e verifico que dá em um
banheiro. Oh! Certo, isso que eu precisava.
O banheiro é uma mistura em sua decoração: madeira escura com
porcelanas, tudo muito espaçoso, clean e cheirando a pinho. Não me detenho
muito aos detalhes porque estou muito curiosa para descobrir onde anda meu
lindo guarda-costas.
Tiro o robe e entro no boxe para uma ducha rápida. Depois irei explorar
essa banheira enorme que está no canto do banheiro, quem sabe com uma
companhia agradável. Estou com um sorriso bobo no rosto quando tomo meu
banho.
Volto a colocar o robe depois de seca e vou à procura de Bruno pela
casa. Percebo outros cômodos além daqueles que vi desde que cheguei, deve
ter outros dois quartos, e vou abrindo portas para verificar o lugar. Na
primeira porta que abro realmente é um quarto parecido com aquele que
estava. Fecho a porta e vou para a próxima. Essa não se abre quando tento a
maçaneta. Fico curiosa, mas sigo em frente e vou à sala que estive antes.
Escuto música suave vindo de outro cômodo e sigo, reconhecendo o som de
Moonligth sonata. O cheiro de especiarias é delicioso também, e percebo que
estou faminta.
Paro na porta e observo Bruno, apenas com uma calça de moletom, na
cozinha, preparando em cima do balcão de mármore e madeira, alguma coisa
que não consigo identificar. Passaria horas só olhando como ele fazia as
coisas com precisão e leveza, como se isso fosse algo que estivesse
acostumado a fazer e ainda escutando Beethoven. Era tão lindo que meu peito
estava doendo, apertado. Estou tão encrencada. Estou apaixonada. Porque eu
quero muito caminhar para ele agora, envolver meus braços ao seu redor e...
— Ah, enfim, a bela adormecida acordou — a voz de Bruno quebra
meu transe emotivo, e ele solta a faca que tem nas mãos para cortar os
legumes quando vem em minha direção. Termino de entrar na cozinha e ele
envolve meu rosto nas mãos para beijar calidamente meus lábios,
contrastando com a fúria da 5ª Sinfonia de Beethoven que, agora, está
tocando ao fundo. Mas suas mãos estão fazendo uma exploração por baixo do
meu robe.
— Venha comer algo, querida. — fala quando tira sua boca da minha.
Sorrio quando sou puxada para sentar no banco de madeira de
aparência rústica em frente ao balcão ao qual ele estava antes.
— Então, o que vai ser, madame? — ele faz mesuras para mim, e sorrio
igual uma boba — Para nosso almoço tardio temos lasanha e vinho ou vinho
e lasanha. Qual vai ser?
— Sério? Eu achando que você estava fazendo algo espetacular com
essa música e tudo mais — aponto a cozinha e o balcão onde ele estava
preparando uma salada, vejo agora.
— Bebê, sou um homem do exército, sei fazer coisas incríveis e
espetaculares — ele levanta sua sobrancelha e fica com um ar sexy —
Mostrarei para você ao longo de nossa estadia aqui. — diz com um sorriso
que indica que não é de comida que ele está falando.
— Promete? Adoraria aprender um ou dois truques com você, querido
— devolvo.
— Alicia, você está bem? — ele me olha abismado
— O quê?
— O inferno está congelando, você me chamando de "querido" — meu
sorriso murcha, mas trato de disfarçar quando ele vem outra vez para meu
lado, me agarrando pela cintura — Gosto disso. Precisa melhorar, mas eu
aceito isso. — E me beija. Adoro seus beijos.
Quando ele me solta novamente, começa a servir para mim um suco
natural. Agradeço, mas ele, em vez de servir a comida lá, me leva para fora.
Atrás da casa tem uma área com mesa e cadeiras, onde está posta para duas
pessoas. Ah, meu Deus, ele está sendo tão cavalheiro comigo. Estou cada
minuto mais apaixonada por seu cuidado. Ele puxa uma das cadeiras, me
fazendo sentar, e termino meu suco.
Ele serve a nós dois de vinho e, sim, ele não estava brincando quando
disse que era lasanha, vindo e salada.
Olho ao redor, amando a tranquilidade do lugar. A brisa soprava
suavemente, deixando um frescor delicioso, certamente devido ao lago que
praticamente rodeava a casa. Onde estávamos agora dava para ver
tranquilamente a água convidativa, onde alguns pássaros sobrevoavam as
águas tranquilas.
— Então, como é que o Carl tem esse lugar e não vive aqui? —
pergunto entre garfadas da lasanha que, por sinal, está muito boa. — Aqui é
maravilhoso, essa paisagem é linda!
— Não sabíamos desse lugar até há dois anos, quando ele mencionou
em uma conversa depois que tinha tomado uns quatro whiskies — Bruno se
encosta na cadeira, parecendo relaxado — Mas ele não vem aqui há um
tempo. Não sei bem a história por trás da casa.
— Eu amei isso aqui — aponto ao redor — Eu nem sabia que precisava
dessa serenidade, até que estou aqui nesse momento — e era verdade, estou
me sentindo em paz, coisa que não sentia há muito tempo. É como se aqui
não houvesse nenhuma ameaça à minha vida. E, ainda que não sei o que o
amanhã me trará com relação a Bruno e isso que está acontecendo conosco,
estou feliz por ele estar aqui comigo, e sinto que podemos nos conhecer
melhor.
26
Bruno
Verifico pelas câmeras de segurança cada canto da propriedade. Carl
fez um excelente trabalho com a vigilância do local. Esse quarto foi montado
com monitores para ver cada canto da casa e arredores. Eu não confio ficar
aqui sem dar uma verificada a cada hora nos monitores. Paranoia? Talvez.
Não quero dar chance para a vulnerabilidade de ser pego desprevenido,
entretanto.
Mas passei a manhã toda trabalhando para conectar as câmeras online
com o escritório central. Mas algumas ficaram de fora, na verdade, a maioria
de dentro do chalé, só a câmera da porta que estava transmitindo para os
caras na empresa. Assim posso ficar e relaxar com minha viuvinha. Falando
nela, volto minha atenção para a câmera que captura sua imagem.
Observo quando Alicia molha o pé na água do lago. Faz mais de uma
hora que ela está sentada no fim do píer de madeira que sai do deck para
dentro do lago. Ela está pensativa enquanto seu pé balança na água, e só faz
um dia que estamos aqui. O que a está incomodando?
Meu telefone toca e olho o visor para dar de cara com o nome de Alex.
É a primeira ligação que recebo, e sei que meu irmão não pode rastrear essa
ligação, Alex não seria idiota.
— Saudade de mim, meu amigo? — digo com deboche, como sempre.
— Tenho Matt aqui querendo saber se você comeu a irmãzinha dele no
jantar. Então... — a voz dele sai em um misto de severidade e brincadeira,
provavelmente porque Matt deve estar junto com ele.
— Um homem nunca diz essas coisas, Alex. — devolvo. Bem, não
tinha sido bem no jantar, mas como um café da manhã e toda a noite passada.
Sinto meu corpo despertar com a lembrança de Alicia Duran todo submissa
para mim. Isso era quente!
— Espero que esteja tudo bem aí — Alex agora é todo profissional, me
tirando dos pensamentos quentes de uma Alicia disposta e sem amarras.
— Sim, diga a Matt que sua irmã está bem. Alguma notícia do Deni?
— Nessas últimas vinte e quatro horas? A única coisa que ele fez foi ir
à casa de seu pai — diz — Bruno, você precisa decidir o que fazer a respeito
desse assunto.
— Preciso falar com Alicia primeiro. — digo quando suspiro
pesadamente — Vou cuidar disso. Só me dê um tempo antes que tudo acabe,
Alex. Eu estou cada dia mais...
Porra! Apaixonado? Não, claro que não. Isso é impossível! Alicia me
faz um homem melhor, quando estou com ela sou diferente, ela tem o maldito
poder de fazer meu lado idiota baixar a crista por ela está passando por um
momento delicado. Eu tenho esse receio que tudo que fizer vou magoá-la,
como fiz um tempo atrás por sair naquela viagem que até hoje me intriga. Só
em pensar que ela vai pedir para eu ir embora deixa meu coração batendo
descompassado, em um aperto que dói. Estremeço quando penso que vou
perdê-la quando tudo vier à tona.
— Isso está se arrastando, você sabe. Então resolva. Estar apaixonado
por uma cliente dá nisso, Bruno, complicações desnecessárias. Precisa definir
o que é mais importante. — ele desliga como sempre, sem se despedir.
Sim, preciso começar falando com Alicia de minha família, antes que
eu saia daqui. E como ele fica falando que estou apaixonado, se nem sei o
que sinto por aquela mulher? Mas que inferno, se eu não estou louco por ela e
com um maldito medo de perdê-la.
Saio da sala e caminho pela passarela de madeira que leva para dentro
do lago. Alicia escuta meus passos e vira a cabeça para mim, abrindo um
sorriso. Ela tem sorrido mais para mim nessas poucas mais de vinte e quatro
horas do que todo o esse tempo que nos conhecemos, e é um sorriso sincero e
lindo para caralho.
Acordar com ela relaxada hoje tinha sido interessante. Eu nunca a tinha
visto tão carinhosa e receptiva. Esse lugar estava fazendo bem para nós. Mas
nada tinha de relaxado quando começávamos mais uma rodada de sexo, ah
não, isso tem sido duro e árduo. Dou um sorriso quando me aproximo dela.
— Ross, pensei que iria passar a manhã toda trancafiado — ela reclama
— Já estava entediada.
— Estou sendo cuidadoso, Alicia, cuidado nunca é demais — sento ao
lado dela. Olho para o vasto lago azul e respiro forte para trazer um pouco de
tranquilidade e coragem de falar com ela.
— Você está bem? Parece pensativa desde quando sentou aqui —
observo. Estendo minha mão e tiro seu cabelo, que o vento trás para seu
rosto, e coloco atrás de sua orelha delicada. Ela é tão feminina, suave,
macia... Quero estar dentro dessa mulher vinte e quatro horas por dia. E isso
não me cansaria.
— Estou apenas aproveitando a paz que sinto aqui — ela aponta ao
redor — Obrigada por me trazer aqui, não sabia que precisava de um lugar
assim nesse caos que se tornou minha vida, até que ontem me vi aqui e
percebi que era o que eu precisava para relaxar.
Seus olhos estão límpidos e mais verdes que azuis, refletindo a
vegetação ao redor do lago. Ela está tão linda que não resisto, me inclino e
capturo os seus lábios macios em um beijo suave, como a brisa que bate em
nós. Desgrudando minha boca da dela, levanto e estendo minha mão para
ajudá-la a levantar.
— Venha, vamos dar um passeio — agarro sua mão e a puxo para
erguê-la quando começo a caminhar para o outro lado contrário ao lago.
Sou um maldito covarde adiando o inevitável, mas quem pode me
culpar por querer prolongar meu tempo com ela?
Alicia
— Onde estão seus pais, Alicia? — Bruno está deitado na
espreguiçadeira apenas com uma sunga de banho preta e óculos tipo aviador
no fim da tarde. Passamos a tarde caminhando, aproveitando e conhecendo
um pouco ao redor e, quando voltamos, estávamos acalorados e tínhamos
dado um mergulho no lago.
Mas sua pergunta me faz enrijecer na cadeira onde estou ao lado dele.
— Mortos — digo sem maiores informações, não tinha nada a dizer
sobre isso — Somos apenas eu e Matt. Desde que me lembro, nós cuidamos
um do outro, apesar de ultimamente ser só ele que cuida de mim. Mal o vejo.
— Sinto muito por isso — ele diz — Seu irmão sabe que não vamos
deixar nada acontecer a você, Alicia. E Evan? Onde o conheceu?
— Na faculdade. — digo sem dar mais nenhuma informação.
— E casou com o namorado da faculdade. Que original, Alicia — ele
implica com um meio sorriso, fazendo com eu relaxe um pouco. — Fale dele
para mim. — pede e vira sua atenção toda em minha direção.
— Falar o que, pelo visto não o conhecia como achava — digo, a
amargura dói em mim — Eu o conheci, namoramos por um bom tempo e
depois casamos. Fim.
— Tenho certeza que tem mais aí — ele insiste.
— Não tem, mas e você? Onde anda sua família, além de Deni? — viro
as perguntas para ele agora. Falar de mim é tão enfadonho.
Ele não responde agora, voltando a olhar o horizonte a distância. Parece
que toquei em uma ferida, porque ele está visivelmente tenso.
— Bom, meu irmão você já conhece — ele diz quando já estou dando
por certo que não responderia, porém, sua voz tem uma pitada de raiva e
amargura.
— Me fale por que vocês têm essa rivalidade — peço.
— Não é rivalidade, só coisa da cabeça obsessiva de Deni — ele
suspira —Ele é mais velho do que eu, e quando nasci, ele criou uma barreira
intransponível entre nós. Acha que vim ao mundo acabar com a vida dele,
tomar o que é dele, como se eu fosse querer alguma coisa que venha da
minha família.
Acho estranho ele dizer isso, e minha curiosidade leva a maior sobre a
cautela.
— E por que não? Você se dá bem com seus pais? Você nunca os
menciona.
Ele se mexe claramente desconfortável, e o aperto de seu punho é a
prova do seu estado.
— Não há muito o que falar sobre deles — sua voz mudou de raiva
para absoluta amargura. Ele parece que carrega grande mágoa com relação à
sua família, mas eu não posso imaginar o que se trata.
— Claro que há, sempre tem, Bruno. Principalmente se for algo que
nos machuca — ele parece considerar quando exala fortemente, acho que
criando coragem ou seja lá o que for que ele precisa para falar:
— Meu pai é um homem duro, Alicia. Fui criado no luxo e nas
melhores escolas e quando, anos depois, descobri de onde vinha todo
dinheiro da minha família, eu surtei porque ser um playboyzinho não tirou de
mim o senso do que é certo ou errado. Eu tinha uma vida folgada e fácil, mas
isso não tirou meu caráter. Meu pai queria que entrasse para o negócio dele, e
quando optei por servir no exército, ele me deserdou. Na verdade, eu teria
que escolher entre ir ou ficar, então eu fiz minha escolha — sua voz é tão
triste que me toca. Estendo minha mão e toco seu braço, tentando afastar seu
mal-estar. — Saí da casa dele e não voltei nunca mais.
— Isso é muito triste, querido. E o que seu pai faz? — pergunto
curiosa, mas não deve ser algo bom, já que ele não queria estar envolvido.
Calafrios correm por mim, e pela primeira vez estou desconfortável aqui
nesse lugar que só me trouxe bem-estar.
Ele fica calado, e não sei se vai responder, mas ele continua:
— Ele é um homem de negócios. Não negócio legal, no entanto — ele
confirma minhas suspeitas — Ele está em todos os segmentos que acha
lucrativo, e não pense que ele não tem nenhuma empresa legalizada, ele tem,
mas é só mera fachada. — Eu estou chocada que seu pai é algum tipo de
criminoso. Criminoso de alto perfil. — De qualquer forma, ele não achou
legal o filho dele querer entrar para o exército em vez de assumir uma parte
dos negócios ilegais dele. Na verdade, ele ficou indignado, possesso de raiva,
então, fiz como ele disse: um rato que abandona o navio ou coisa que o valha.
Mandou que saísse de sua casa, ela não abrigaria um filho ingrato que estava
cuspindo na mão que o alimentou a vida inteira.
Estou dolorida por ele, seu pai deve ser um homem sem coração para
tratar seu filho assim.
— Que idade você tinha? — minha voz é trêmula, não sei se de raiva
pelo homem que nunca vi ou por compaixão por Bruno.
— Bem, tinha acabado de completar dezoito e anunciei que ia me
alistar — diz sua voz resignada.
— E Deni, por que ele agora quer uma reconciliação? Pelo que ele me
disse, quer que vocês voltem a se dar bem — em vez de responder, ele ri alto,
mas é um riso sem alegria.
— Está mais para me tirar da jogada, querida — isso me choca. —
Como vamos voltar a nos dar bem se nunca fomos amigos?
— Tirar da jogada, como assim? — medo rasteja em minha pele
quando pergunto — Você quer dizer... matar você?
— Provavelmente, se isso não fizesse meu pai deserdá-lo. Eles têm
seus próprios códigos que não consigo entender — diz tão tranquilo eu só
olho boquiaberta para ele.
— E sua mãe? — minha pergunta é em um fio de voz, porque essa
família dele é demais para mim.
— Bem, minha mãe faz o que meu pai ordena. Se ela gosta de mim
como um filho, ela não demonstra muito. Ela antes me fez ter um pouco de
esperança, achava que se importasse comigo, mas sabe o quê? Ela o deixou
me expulsar de casa. Bem, isso deve dizer muito sobre ela e seu amor
materno.
— Sinto muito — levanto e sento na espreguiçadeira que ele está
deitado.
— Não sinta, isso foi há muito tempo.
— Claro que não, eles estão todos vivos e te ignoram, deve doer —
espalmo minhas mãos no seu peito desnudo e acaricio lentamente, lhe
transmitindo um pouco de conforto, mas ele levanta e segura o corrimão do
deck tão forte que vejo a hora de se partir em suas mãos.
— Está enganada, Alicia. Eu quero distância deles, não nasci para ser
um deles — o desprezo na sua vez é claro, mas sei que ele deve sofrer pela
indiferença de sua família.
Algo me ocorre, e um calafrio percorre minha pele quando o encaro:
— É por essa razão que você não queria o Deni perto de mim — minha
voz trai a ansiedade que sinto — Por ele ser uma espécie de criminoso?
— No começo, sim, mas agora — ele para e me olha firme quando
retira os óculos. O azul dos olhos dele é uma turbulência, um misto de
preocupação e outra coisa que não sei dar nome — Você não vai querer
envolvimento comercial com meu irmão, Alicia. Ele pode manchar de vez a
reputação de sua empresa, quando ela já é precária perante seus clientes por
causa de Duran.
Ele tem razão. Agora que sei sobre Deni, não posso me dar ao luxo de
perder o pouco que me resta de cliente. No entanto, como irei dizer a Deni
que não posso fazer negócio com ele sem expor minhas razões?
— Mas agora o que, Bruno?
— Nada de mais, só fique longe — reitera.
— Acha que seu irmão faria mal para mim? Por causa dessa rivalidade
ou porque descobri essas coisas sobre ele? — pergunto como se as palavras
saltassem para fora da minha boca antes que as detivesse.
Bruno não responde, e sei que ele quer dizer muito com esse silêncio.
— Só se mantenha o mais longe possível dele, Alicia. Já disse isso a
você — fala aborrecido depois de vários minutos de silêncio.
— Tudo bem.
— Estou falando sério, sem ligar ou atender telefonemas dele. Falando
nisso, onde está seu celular? — sua voz trai preocupação.
— No quarto, acho... — não termino de falar, ele já está correndo para
dentro da casa. O que foi isso?
Levanto e vou atrás dele para encontrá-lo desmontando meu celular.
— O que está fazendo?
— Droga, Alicia! Alguém pode muito bem rastrear seu celular. Era
para ter deixando em casa. — ele está furioso, mas não dirigido a mim, talvez
com ele mesmo.
— Ninguém disse nada. — ouço seu suspiro exasperado quando ele se
senta pesadamente na cama.
— Erros primários! Alexander tem razão, se envolver com as pessoas
que estamos protegendo não é legal. Perdemos a cabeça e comentemos esses
tipos de erros de jardim de infância do caralho!
Ah! Ele está chateado de verdade. Passa por mim e some no quarto que
fica trancado, ao lado do nosso.
Descobri que lá era uma sala cheia de monitores que transmite imagens
em tempo real da propriedade e todos os cômodos da casa.
Oh, meu Deus! Agora é minha vez de cair de bunda na cama, para
levantar em seguida e correr atrás de Bruno.
Vou para onde sei que ele deve estar agora e entro sem bater, parando
de súbito ao vê-lo falando ao telefone, mal-humorado.
— Só redobre isso — escuta com o cenho franzido — Um lapso, cara.
Você tem razão. Misturar trabalho e prazer nunca é bom, sei disso agora!
O quê? Para quem ele estava dizendo isso? Dizendo para o mundo que
está dormindo comigo? Idiota!
Quando ele desliga, estou carrancuda e de braços cruzados, olhando
feio para ele.
— Para quem está espalhando que está dormindo comigo?
— Me pergunte quem não sabe, querida. — ele vem e enlaça minha
cintura, plantado um beijo no meu pescoço. Ah, agora lembrei o que vim
fazer aqui.
— Bruno, essas imagens são transmitidas para onde?
— Humm, vamos falar disso agora? Prefiro despir você, bebê, e fazer
algumas...
— Alguém vê essas imagens dos cômodos da casa? — tento empurrá-
lo para longe — Algum dos seus amigos está vigiando a casa?
— Não se preocupe, ninguém viu seu traseiro, Alicia — ele ri sem nem
mesmo piscar com a possibilidade de nós estarmos dando um show de sexo
ao vivo.
— Espero que não. — resmungo.
— Mas não vamos poder inaugurar o deck, lá sim tem câmera
conectada com o pessoal da empresa. — ele lamenta — Por mim, eu poderia
muito bem usar o deck hoje à noite, mas sei que seu pudor não vai me
beneficiar.
— Em seu sonho, pervertido — bato no seu braço. Ele me puxa para
um beijo quente, me fazendo esquecer as câmeras.
Droga, agora não vou mais poder ficar à vontade aqui. Saber que seus
amigos podem nos ver fazendo sexo! Ele suga minha língua, e eu perco o
resto de raciocínio que me resta. Enlaço seu pescoço e cintura, e ele me leva
para o quarto batendo contra as paredes até me jogar em meio aos lençóis e
cair sobre mim.
Esqueço nossa conversa de agora há pouco sobre sua família e me
concentro no prazer que ele me proporciona. Envolvo seu pescoço, e uma
gama estarrecedora de novas emoções me bate. Procuro sua boca que vem
ávida para minha, me dando tudo que eu quero e muito mais.
Eu amo isso.
***
Rubor cobre minha face quando retiro a camisa branca que estou
usando e fico apenas em um biquíni minúsculo também branco. Desde que
Bruno disse que aqui tinha uma câmera não me sinto confortável para ficar
tomando sol à vontade. Olho ao redor, tentando achar a câmera e jogar algo
em cima dela tampando a visão, mas...
— Posso saber o que você está procurando? — a voz de Bruno me faz
pular de susto
— Nada!
— Alicia, faz uma semana que olha procurando alguma coisa aqui fora
— sua voz tem um traço de riso contido, e olho para encontrá-lo trazendo
pratos para nosso café da manhã e depositando na mesa. Ele deposita uma
jarra de suco e vou até lá me servir. Eu estou tão mal-acostumada. Ele tem
me paparicado por mais de uma semana nesse lugar. A cada vez que vou
fazer algo, ele me impede dizendo que quer que eu relaxe. Tem sido glorioso
cada dia aqui.
Nós mergulhamos no lago, fazemos caminhadas no fim da tarde,
dormimos e fazemos sexo, muito sexo. Quando formos embora daqui, serei
uma viciada em sexo, pode acreditar. As noites têm sido quentes, e não estou
falando do tempo. Os dias também, mas nos limitamos ao quarto porque não
confio nessas malditas câmeras. E não as esqueço. É a única coisa ruim aqui.
Mas sei que é para minha segurança.
Bruno vem e beija meus lábios, depois cai na cadeira à minha frente
com seu corpo sexy em uma bermuda cargo que cai por seus quadris. O botão
aberto faz meu sangue esquentar com aquele “V” exposto para minha
apreciação. Isso é tão indecente, pode causar taquicardia em uma mulher. E é
todo meu!
Por enquanto. Estou sempre me lembrando disso. Nada bom dura para
sempre. Eu sei disso muito bem.
— Alicia, continue a me devorar com esses olhos, querida, que
daremos um show digno de Oscar para os caras na empresa. — Bruno ri alto
do rubor que me cobre inteira.
Argh! Sempre estou babando em cima dele. Sou uma indecente!
***
Depois de tomar sol a manhã toda, entro para tomar um banho. Encho a
banheira e jogo um pouco de sais dentro. Ligo o som estéreo que foi instalado
aqui no banheiro, escolho uma música das minhas favoritas. Logo Uninvited,
da Alanis Morissette, enche o banheiro me fazendo suspirar.
Estou feliz aqui, faz tempo que não ando sorrindo assim... Eu estou me
entregando completamente a tudo isso.
Retiro meu biquíni quando algo me chama atenção. Uma pequena
mancha de...
Oh meu Deus! Meu sorriso se desfaz imediatamente.
Corro para minha nécessaire e agarro minhas pílulas que estão lá,
verificando se não esqueci de tomar algumas e, sim, tomei todas. Vejo que
faltam alguns dias para voltar para o médico.
Droga, por que estou sagrando? Desde que estou fazendo tratamento
não sinto mais tanta dor ou sangro antes da data.
Preciso ligar para o meu médico, urgente! Será que vou começar com
novas crises? Já faz algum tempo, que estou quase esquecendo como eram.
Tenho que falar com ele, marcar exames. Esqueço meu banho e visto meu
roupão, preciso de um telefone.
27
Alicia
Droga!!
Sento na cama respirando fundo, dizendo para mim mesma que tenho
de manter a calma.
— Sim, Alicia, isso não é nada. Só um pequeno sangramento. Isso
acontece às vezes, não é? — Oh, céus! A última vez que isso aconteceu eu
passei por uma curetagem e, logo após, a laparoscopia depois que me
recuperei. Agora isso estava acabando com minha paz conquistada essa
semana.
Procuro meu celular por todo o quarto, quando lembro que Bruno tinha
retirado a bateria e não o tinha me devolvido. Estou trêmula de ansiedade.
Nesses últimos dez minutos, todas as possibilidades ruins passam por minha
cabeça. Pode ser só apenas uma coisa boba, mas quando você está tendo sexo
e já teve vários abortos, a primeira coisa que você pensa é na possibilidade de
que os métodos tenham falhado e que você possa estar tendo outro aborto. Eu
não teria forças nem equilíbrio emocional para passar, outra vez, por esse
calvário na minha vida. Tento lembrar se nos esquecemos do preservativo,
mas nada vem à minha mente. Não lembro se naqueles meses que passei em
sua casa tínhamos sido cem por cento cuidadosos.
Preciso falar com meu ginecologista, só tenho de convencer Bruno a
me levar de volta para casa ainda hoje. Não percebo que estou com lágrimas
caindo, até que escuto a porta abrir e Bruno entrar, me olhando preocupado.
— O que houve, Alicia? Por que está chorando? — sentando ao meu
lado, ele segura meu rosto em suas mãos, me olhando tão carinhosamente que
só faz meu choro aumentar — Shii... está tudo bem, querida.
— Eu preciso voltar para casa hoje, Bruno — digo depois de um tempo
em silêncio — Por favor!
— Ainda não, Alicia. Não conseguimos ainda pegar os idiotas que
estão atrás de você, querida. Dê um tempo para nós trabalharmos nisso. — eu
começo a argumentar, mas ele coloca um dedo nos meus lábios, me
silenciando — Estamos trabalhando nisso sem a polícia, então temos que ser
cautelosos e levar provas contundentes e irrefutáveis.
— Mas você não entende, eu preciso ir ao meu médico e ...
— Você está doente?
— Não, eu só preciso ir no meu ginecologista.
— Alicia, isso pode esperar, vamos ficar aqui mais uma semana. É o
tempo de os investigadores conseguirem achar provas suficientes para
prender esses homens, querida — Estou grata por ele estar sendo tão paciente
com meu súbito surto.
— Bruno, é importante que eu vá hoje, eu preciso.
— Me faça entender, querida — ele fala mansamente — Se for um
caso de vida ou morte eu levo você, mas não podemos ficar fazendo essas
coisas porque você, de repente, resolveu ir ao seu médico para conversar.
Fico apenas olhando para ele. Eu estou me segurando para não surtar e
gritar com ele.
— Devolva meu telefone, Bruno — digo séria — Ou irei embora só.
— Está com algum problema que não conheço, Alicia?
— Não é da sua conta o que eu tenho, Bruno, só me devolva o telefone
— Estou por um triz de surtar e fazer uma bobagem, como ir embora daqui
sem ele.
Ele não diz nada quando levanta e sai do quarto. Eu quero seguir atrás
dele, mas minhas pernas não permitem que me mexa. Tenho tanto medo
daquelas pílulas terem falhado e eu...
A porta volta a abrir e Bruno entra com um telefone na mão, mas não é
o meu, deve ser algum telefone seguro, já que ele acha que podem rastrear o
meu até aqui.
— Para quem vai ligar? — ele está tão sério e frio.
— Dr. Allan, o meu médico, já disse — estico minha mão para o
telefone, impaciente, mas ele não permite.
— Não tão rápido, querida. Quero ter certeza que não fará nenhuma
besteira e, daqui a algumas horas, algum "amiguinho" seu aparecerá aqui
querendo sua cabeça. Não vou deixar você sozinha com esse telefone. Então,
qual o número?
O quê? Não vou me expor na sua frente. Mas minha cabeça está dando
voltas de preocupação, e acabo dando o número do Dr. Allan para ele. Ele
fala com meu médico para ter certeza que é ele realmente, enquanto bufo de
raiva por ele não confiar em mim.
— Seja rápida e não dê nosso endereço — diz quando me entrega o
celular.
— Como se eu conhecesse esse lugar — resmungo, antes de falar com
Allan — Allan? — vou para a varanda para ter alguma privacidade, mas
Bruno me segue, deixando-me mais nervosa.
— Alicia, como vai, aconteceu alguma coisa? Ainda faltam uns dias
para sua consulta.
Digo para ele do surgimento do pequeno sangramento e das minhas
preocupações, mas sem falar nada comprometedor para que Bruno venha
saber meus problemas ginecológicos, isso seria constrangedor. Depois que
termino de falar espero a resposta do doutor, tão ansiosa que tenho de sentar
na cadeira da varanda.
— Alicia, para ter um diagnóstico, eu precisaria fazer exames, mas isso
pode acontecer. Pequenos sangramentos no meio da cartela do
anticoncepcional pode ser apenas um escape menstrual sem importância,
problemas hormonais ou estresse, lembre-se que está ainda em tratamento.
Mas venha ao meu consultório para algo mais concreto, como exames. Você
está indo muito bem com o tratamento da endometriose. Você só precisa
relaxar para que as coisas melhorem.
— Eu não estou na cidade, doutor. O que posso fazer agora? — dou
uma olhada para Bruno que está descaradamente ouvindo a conversa com a
testa franzida.
— Venha quando puder ou, se esse sangramento persistir, venha
imediatamente. Mas mantenha a calma, vamos retornar o remédio que estava
tomando, se for o caso, porque esse tem uma dosagem menor. Não sei se
você tem uma vida sexual ativa, mas...
— Sim — Digo e sinto meu rosto esquentar. Por que ele tem de ficar
me olhando? Tento esquecer a presença de Bruno e continuo: — Pode ser
uma gravidez, Allan?
— Acho pouco provável, mas agora você me deixou preocupado.
Venha assim que puder. Por que não me disse isso quando veio aqui? Não
teria baixado sua dosagem.
Quando fui à consulta mês passado, não tinha dito que estava numa
relação e, portanto, ele tinha diminuído a dosagem da pílula. E esse era meu
medo terrível. Uma gravidez seguida de aborto. Eu ia desmoronar se isso
acontecesse outra vez.
runo
Escuto Alicia falando ao telefone, mas a única palavra que realmente
escuto é "gravidez". Que porra é essa? Fico paralisado quando ela,
enfim, desliga o telefone e vira para mim com olhos cheios de lágrimas.
Saio da paralisação momentânea e vou até ela.
— Você está grávida? — digo tão baixo que mal ouvimos o som da
minha voz. Ela está balançando a cabeça em negativa. Sou atingido por uma
avalanche de sentimentos contraditórios que nem sei qual tem maior
intensidade: alívio, consternação e...
— Claro que não! — ela diz com tanta firmeza que me atinge. Seria tão
ruim assim? Mas eu a entendo, isso seria terrível na situação em que estamos;
seria imprudente e uma total falta de responsabilidade. Primeiro, não
tínhamos base para ter um filho no nosso relacionamento e seriam duas vidas
em risco. Eu seria um louco se cogitasse isso. Nós tínhamos pessoas atrás de
Alicia, que não sabia se defender, lutar por sua própria vida. Se acaso alguém
colocasse as mãos sobre ela e se tivesse outro inocente no meio disso, nunca
poderia deitar e dormir se algo viesse a acontecer.
Ela já era um alvo fácil, e com um filho? Deni a mataria sem
pestanejar, ele enlouqueceria se eu engravidasse uma mulher primeiro que
ele. Uma gravidez agora era muita irresponsabilidade até para mim. Mas
mesmo que isso nunca tenha passado pela minha cabeça até agora, se um dia
eu fosse ter um filho seria com uma mulher como Alicia, que me faz querê-la
em minha vida, e isso sem me deixar com vontade de correr léguas de
distância.
Ela me acalma como nenhuma outra. Eu estava malditamente
apaixonado, isso sim. Alex tem razão, sou um homem comandado por uma
mulher sabichona do caralho, que pode muito bem me fazer beijar o chão que
ela pisa.
— Então, o que você tem, Alicia? Pela conversa que ouvi, você acha
que pode estar — pego o telefone que ainda está com ela e exijo: — O que
diabos está acontecendo, Alicia?
— Nada, Bruno. Esse assunto só diz respeito a mim — ela tenta passar
por mim, mas não permito.
— Não só diz respeito a você. Se suspeita de uma gravidez, isso me diz
respeito.
— Não é gravidez! — Ela grita tão alto que me deixa surpreendido. —
Que inferno! Não posso estar grávida, simples assim, senhor sabichão! Então
me deixe em paz!
— Não vou deixar você me afastar, Alicia — seguro seu braço antes
que ela volte para o quarto e, colocando o celular de lado, pego seu rosto em
minhas mãos fazendo-a olhar-me nos olhos. — Pensei que estávamos
progredindo, Alicia. Você precisa me dizer o que está havendo para que eu te
ajude. — digo persuasivo e o mais calmo que consigo.
Alicia é tão difícil de entender às vezes. Não deixa ninguém entrar
facilmente. Tenho estado perto dela nesses últimos meses, e foram poucas as
vezes que ela me permitiu chegar mais perto. E não estou falando do lado
sexual, mas emocionalmente, e agora não consigo entender sua mudança, não
faz nem uma hora que ela estava rindo — Fale comigo, querida.
Puxo-a para mim. Mesmo com sua resistência, consigo que ela relaxe
aos poucos no meu peito. Depois que parece uma eternidade, ela fala:
— Só fiquei menstruada, nada de mais — sua voz sai abafada por estar
com o rosto escondido em minha camisa. Sei que é mais que isso, mas não a
forço para falar.
— Tudo bem, quando você quiser falar, eu estou aqui — beijo o topo
de sua cabeça, massageando suas costas que estão rígidas — Venha.
Levo-a para a cama e deito com ela em meu peito, que fica lá calada até
que fala baixinho:
— Desculpe descontar em você meu nervosismo, mas eu não quero
uma gravidez, sabe, não quero mesmo — muito estranho uma mulher não
querer ser mãe, e Alicia não parecia esse tipo de mulher. — Você também
não parece o tipo de homem que quer ter filhos.
Oh, eu não me colocaria nessa categoria, nuca pensei, mas agora que o
assunto veio à tona, quero sim ter uma família um dia. Isso nunca tinha sido
colocado diante de mim, portanto, não pensava sobre isso.
— Por que acha isso? Porque ainda não sou um homem casado e essas
besteiras? — digo apertando-a nos braços — Eu quero sim, um dia.
Sinto o corpo dela ficar duro, para em seguida ela sair dos meus braços
e me olhar com pesar e dor nos olhos lacrimejantes.
— Boa sorte, então, para você. Eu nunca vou ter um filho — ela agarra
seu roupão como se ele fosse sua tábua de salvação — Acho que seria melhor
nós pararmos com isso. — ela aponta entre nós dois. — Vejo que me enganei
com você, não é o homem que imaginei que fosse. Aquele que nada quer de
uma mulher a não ser sexo. Mas é igual os outros, quer filhos e uma família.
Estou chocado com sua mágoa, tem algo de muito errado com ela,
porque o que ela diz não parece com a Alicia que estou conhecendo.
— O que isso tem de mau? Um homem pode mudar quando ele se
apaixona, mesmo sendo o pior galinha. Ele no fundo vai querer ter um lar,
Alicia.
— Não comigo. E deixei você entrar na minha vida em um dos piores
momentos por achar que você nunca iria querer essas coisas.
Porra! Ela está me fazendo sangrar aqui. Ela acha que não posso
mudar, amar. Acha que sou tão insensível assim, apenas porque peguei tantas
mulheres antes dela que não consigo contar?
E o que diabos é isso de só ficar comigo porque ela poderia me dar o
fora quando ela bem quisesse? Sou a porra de uma foda descartável?
— E se eu quiser, Alicia? Uma família, como uma pessoa normal?
— Só tenho de desejar boa sorte a você e a mulher que vai ter isso com
você. — ela levanta e caminha para o banheiro, o pesar em sua voz faz meu
coração falhar uma batida.
— Posso querer com você. — ela para, mas não vira para me olhar.
— Se isso for verdade, melhor você começar a rever seus desejos. Não
vou ter outra família, Bruno. Nunca.
— Diga-me por que, não seja covarde, Alicia — porra, acho que falei a
coisa errada porque ela se vira furiosa e magoada.
— Covarde? Acha covarde que eu abra mão de ser mãe? Acha que foi
fácil tomar essa decisão? — ela grita tão apaixonadamente que me corta o
fôlego com sua dor, mágoa, sofrimento; uma mistura de emoções — tomei
essa decisão para não ter esperança, para evitar uma dor maior que dilacera o
coração, Bruno. Você não sabe de nada. Acha que acordei um dia e disse que
não iria ter um filho, nunca? Acha? Nããão, isso foi tirado de mim da pior
forma, uma e outra vez. Quando casei pensei que teria isso, sabe, mas não,
filhos não seriam para mim, nunca. Você não sabe de nada da vida, senhor
Ross!
Ela cai em um choro compulsivo, seus ombros tremendo
violentamente. A única coisa que faço é ir até ela e envolver meus braços ao
seu redor. Não faço perguntas, só fico calado esperando a tempestade passar.
Estou tão curioso que preciso me controlar para não fazer todas as perguntas
que vêm à mente. Sei que ela não falará agora, não quero deixá-la mais
nervosa do que deixei agora há pouco.
Eu tinha notado algo desde que a conheci: seu casamento já estava
acabado quando Evan foi assassinado e que esse casamento pode tê-la
transformado nessa mulher de agora, magoada e sem deixar que outra pessoa
cuide só um pouco dela ou entre em sua vida. Ela tinha poucas amizades
também, e essa quase obsessão por trabalho, como se essa empresa fosse seu
mundo.
Volto com ela para a cama e voltamos à mesma posição de antes. Esse
dia estava se provando nada fácil. E eu nem sei como terminará antes que
outra explosão aconteça. Darei tempo para ela. Agora seria até de mau gosto
forçá-la a dizer algo. Mas, de uma coisa estou certo: ela não me contará nada
se isso a magoa tanto. Só posso descobrir por mim mesmo.
E é o que vou fazer, descobrir tudo sobre Alicia antes que o dia acabe.
Saberei até o número de sua maldita calcinha. Ah, isso eu já sabia.
— Você quer ir para casa? — pergunto depois de mais de meia hora
que estamos em um silêncio total, apenas quebrado pelos pequenos soluços
dela.
— Eu quero ir, mas sei que isso vai de encontro ao que vocês estão
trabalhando. Só ficarei bem depois que ver o Dr. Allan. Irei esperar até a
noite, está bem?
— Claro, bebê, como você quiser. Saiba que pode contar comigo,
Alicia. Seja o que for que esteja te perturbando, certo?
— Estou sendo uma vaca com você, não é? — ela levanta seu rosto
vermelho e inchado de lágrimas. Ela está uma bagunça chorosa. Dou um
sorriso para tranquilizá-la.
— Eu sou forte, você sabe.
— Eu queria que tudo fosse diferente, Bruno, mas não posso ser de
outra forma agora. Eu não quero tudo isso na minha vida outra vez, não quero
magoar e ser magoada por outro homem — mais lágrimas escorrem por sua
face — Eu queria poder me entregar totalmente a essa coisa que aconteceu a
nós, mas eu só vou magoar você. Eu vou magoar você, mas não consigo me
afastar. Sou tão egoísta.
— Shiii, não é. Você é linda! — porra, o que vou fazer com essa
mulher? Comigo?
Ela ainda precisa confiar em mim, isso era um fato. E, porra, estou
incomodado que ela não confie.
28
Bruno
Ficamos os dois deitados por tanto tempo que parecia que algo se
quebraria se nos mexêssemos. Talvez quebrasse mesmo, o meu coração no
caso. Dizem que o hipotálamo é o responsável pelos sentimentos, o amor
entre eles, mas por que o nosso peito aperta e dói para cacete? Eu estou
abalado pelas palavras de Alicia.
— Eu queria poder me entregar totalmente a essa coisa que aconteceu
a nós, mas eu só vou magoar você. Eu vou magoar você, mas não consigo me
afastar. Sou tão egoísta.
Suas palavras ficam rondando minha mente no silêncio do quarto.
Eu já tinha me entregado sem ao menos perceber quanto. Mas as
palavras dela me fazem ver que realmente estivemos brincando ao redor disso
nesses últimos meses. Eu preciso que ela se doe completamente para mim
porque estou totalmente doado a ela. Ela me desperta toda a docilidade que
estive negando a todas as mulheres que passaram por minha vida. Eu não
poderia abrir mão disso agora.
Esfrego suas costas para cima e para baixo. Sua respiração está
tranquila, e percebo que ela dormiu. Levanto devagar para não a acordar e
cubro seu corpo antes de sair do quarto. Vou direto para o telefone, preciso
saber o que afligi uma mulher como Alicia para ela parecer tão frágil. E se ela
tiver alguma doença grave? Pela forma que se comportou hoje, estou
imaginando todo tipo de merda.
Alexander atente imediatamente:
— Bruno, você não pode ficar ligando para mim a cada cinco minutos
— diz
— Você fez alguma investigação sobre a Alicia? Sei que você faz isso
com a maioria dos nossos clientes — digo sem ligar para suas gracinhas, indo
direto ao assunto — Preciso saber se temos em nossos arquivos sua ficha
completa.
— Por que isso? Ela tem algum problema, está acontecendo algo aí,
Bruno? Precisando de alguém aí? Reforço?
— Nada que deva se preocupar, Alex. E não preciso de reforço, tenho
controle aqui, aliás, não tem nada acontecendo com a segurança do local,
tudo em ordem. — suspiro quando prossigo: — Só quero saber toda a ficha
médica e tudo o que você tiver aí sobre a Alicia.
— Não investiguei nada sobre ela. Ela é irmã de Matt, não tinha
necessidade.
— Pode conseguir isso ainda hoje para mim? Ou posso falar com o
pessoal da empresa de investigação daqui mesmo, mas você que tem
paciência de lidar com esses caras.
— Não vai me dizer o que está acontecendo entre vocês dois?
— Isso é pessoal, Alex. Não me meto nos seus negócios com sua noiva,
cara, então fique fora dos meus negócios também.
— Isso que me preocupa, Ross. Sua seriedade é anormal, isso não é
você. Cadê o cara "nem aí" que conheço desde sempre? — ele realmente
pensa isso de mim, que não vou levar nenhuma mulher a sério nunca? Mas
também nunca dei motivo para ele pensar o contrário.
— "Ele" conheceu uma mulher e isso está acabando com o cara "nem
aí" — foi tudo que consegui dizer. — O nome do médico dela é Allan, não
sei o sobrenome, ele deve saber o que ela tem.
— Se ela estiver doente, volte para casa, Bruno. Matt vai matar você se
algo acontecer com a irmã dele. Todos os dias ele procura saber como ela
está, então, cara, não estraga isso.
Eu estou ficando irritado com as pessoas sempre achando que eu que
irei estragar as coisas. Isso poderia ser o contrário, sinto que Alicia pode
muito bem não estar preparada para nós. Não estou preparado para deixá-la
ir, entretanto. Pela primeira vez quero algo, e a mulher em questão está mais
esquiva que um cervo.
— Está bem, vou investigar e mando o que descobrir ainda hoje para
seu e-mail. Mas, mudando de assunto, seu irmão se mantém do mesmo jeito,
sem fazer nenhuma manobra. Mas isso não quer dizer que esteja tão quieto
assim. Acredito que ele pode estar aprontando alguma coisa, pois algo
estranho aconteceu que me deixou em alerta.
— O quê?
— Uma empresa chamada D-Ross Empreendimentos está interessada
na compra do antigo apartamento da Alicia. Tudo indica que essa empresa
pertence ao seu irmão. Ele não está sendo nada sutil nisso, com esse nome.
Ele está começando a errar nesse joguinho de gato e rato.
— Não conheço, mas o que conheço sobre minha família? Nada.
Precisamos descobrir o porquê de ele estar interessado na casa.
— Vamos investigar. Tenho de desligar, envio o documento para você
mais tarde, Ross — ele desliga. Fico parado olhando para o telefone por tanto
tempo que perco a noção da hora.
Levanto depois de um tempo e vou olhar Alicia no quarto. Estou
preocupado que outra crise apareça, mas ela continua dormindo, então volto e
vou para a cozinha, preciso fazer algo para ocupar minha mente antes que
enlouqueça.
Começo a preparar o jantar para quando Alicia acordar. Começo um
camarão à Provençal acompanhado com salada e arroz especial "a la Ross".
Meu toque especial.
Eu sempre fui um cara que gostava de privacidade, então, desde que saí
da casa dos meus pais, aprendi a viver sozinho. Mesmo tendo tantas mulheres
em minha vida, nenhuma passava de apenas uma noite, não tinha tempo para
essa merda de romance e nunca preparei um jantar para mulher alguma. Para
ser sincero, tinha sempre sido o contrário, elas estavam sempre à disposição e
eu nunca dei a mínima. Mas quando consegui me interessar por uma mulher
além de uma noite? Alicia é tão ou mais problemática do que eu.
Como Alicia gostava de comer lá fora, no deck, arrumei para que
jantássemos lá como fazíamos toda noite. Arrumo dois lugares, depois vou
até o pequeno jardim onde colho algumas rosas brancas, levando-as para a
mesa, onde ponho em um pequeno vaso. Bem, eu não saberia dizer se Alicia
iria gostar, afinal ela não deve estar com humor para minhas gentilezas,
entretanto eu gostaria de agradá-la, fazê-la esquecer suas tristezas e angústias
só por um momento. Não imagino como ela irá me tratar sabendo que sei um
pouco mais sobre a vida dela a partir de hoje.
Deixo minhas conjecturas de lado e vou verificar meu e-mail e se Alex
já enviou o documento com as informações que pedi mais cedo. Abro o
notebook na sala de monitoramento, mas ainda não tem nada no e-mail.
Estou chateado demais para permanecer no mesmo lugar, tinha vontade de
sair para uma corrida, espairecer minha mente e meu coração pesado. Saio
para o corredor, volto minha atenção para quarto e abro a porta, me
deparando com Alicia saindo do banheiro.
Ela deve ter tomado banho, pois o cheio de sabonete e loção chega até
mim. E ela também está vestindo umas das minhas camisas. Isso era sexy!
Pena que não poderia afundar no seu corpo e fazê-la esquecer a dor que
estava refletida nos olhos dela. Ela parece mais calma e introspectiva, tímida
até, não imagino o porquê. Ela nunca foi uma mulher tímida, era "cheia de
dedos", mas não tímida.
— Você está bem, bebê? — Vou até ela, mas ela se retraia quando me
aproximo, e isto causa uma dor aguda em meu peito.
— Sim, obrigada. — ela não olha em meus olhos, no entanto, não
posso deixar que ela me afaste dessa maneira.
— Você deve estar com fome, querida, venha jantar comigo —
convido, porém ela já está balançando a cabeça em negativa.
— Estou sem fome, Bruno, obrigada — estendo minha mão e acaricio
uma das bochechas que estão pálidas. Seus olhos estavam sem maquiagem e
ainda meio inchados do seu choro mais cedo. Ela nunca pareceu tão frágil.
Não dando atenção para seu retraimento, seguro seu rosto entre minhas
mãos e beijo seus lábios, um beijo cálido e suave, fazendo Alicia suspirar em
minha boca. Seu sabor me deixa excitado e louco para devorar sua boca
macia, mas dou um passo para trás, me distanciando. No entanto ela vem e
abraça meu tórax, escondendo seu rosto em minha camisa.
Envolvo meus braços em torno dela e aperto seu corpo contra a meu.
Ficamos lá em pé no meio do quarto por vários minutos, calados. Não havia
necessidade de falar, sei que ela só quer ser abraçada. Tenho um maldito nó
na garganta porque sei que se me deixar abater por sua distância, tudo que
vivemos até agora não será suficiente para mantê-la comigo.
Ergo uma mão e seguro o lado de sua face, fazendo-a me olhar nos
olhos.
— Faça-me companhia então, estou faminto. — eu só quero levá-la
para a mesa, sei que lá posso convencê-la a se alimentar.
— Está bem — sua súbita aquiescência me deixa feliz para caralho.
Envolto sua cintura e a levo para o deck que ela adora. Eu vou comprar uma
casa igual a essa para ela, disso não tenho dúvidas. Melhor ainda: farei uma
oferta a Carl e comprarei essa.
Faço Alicia sentar, e ela me olha com olhos assombrados assim que vê
a mesa, as flores e a garrafa de vinho que está ao lado pronta para ser servida.
— Por que está sendo gentil, Bruno? Você não precisa fazer isto, não
comigo, eu continuo a Alicia de antes, não me trate como um maldito cristal.
— Aceite um pouco de carinho, bebê. Isso não é nada de mais. — digo
e a sirvo primeiro, mesmo ela dizendo que não tem fome. Ligo o som com o
controle, e as músicas clássica começam a tocar. Eu as escuto para me
acalmar, e espero que Alicia aprecie também. Apesar de dizer que não queria,
ela começa a comer e dou um sorriso quando geme delicadamente com uma
porção em sua boca.
— Vou contratar você como meu cozinheiro, Bruno Ross. — ela dá um
meio sorriso e pega a taça de água, levando-a aos lábios.
— Não sei se você pode me pagar, bebê, mas posso pensar em algo
delicioso como pagamento — balanço minhas sobrancelhas para cima e para
baixo, fazendo seu sorriso aumentar.
Merda, eu poderia passar a porra da noite fazendo isto se ela manter
esse sorriso nos lábios. Fazendo-a esquecer suas merdas só por um instante.
Estamos quase terminando nosso jantar quando a voz de Josh Groban flutua
através dos altos falantes, fazendo minha pele arrepiar.
Em um piscar de olhos
Apenas um sussurro de fumaça
Você pode perder tudo
A verdade é que você nunca sabe
***
Me perdoa!
Eu fico olhando o telefone por horas, mas nada vem dele. Meu coração
está tão pequeno no meu peito... Eu sou tão estúpida. Não aguentando mais a
espera, eu apelo para algo que o fará vir para mim.
...
Caramba! Eu não sou muito boa nisso, preciso treinar mais com Bruno
o meu charme. Se depender dessa mensagem, talvez ele não ache que o quero
de volta na minha vida.
Não obtenho resposta imediata. Sento na cama, puxando meus joelhos
para junto do meu peito, minha testa encostada na perna, olhos fechados e
espero... e não vem mais nada da parte dele.
Estou tentada, depois de meia hora sentada na mesma posição, a enviar
outra mensagem, mas desisto. Não sei o que dizer, como me desculpar pela
minha falta de fé.
Escuto a campainha da porta e fico chateada pela visita fora de hora.
Não quero ver ninguém, quem eu quero não responde as minhas mensagens.
Que droga!
Estou realmente aborrecida agora, quando ouço uma batida na porta.
Devia ter alertado Laura que não queria mais nenhuma visita hoje. A visita de
Lana serviu por cinco.
— Entre, Laura — digo com voz apática. Penso que ela veio para
avisar da visita, coisa que não tenho a menor vontade de fazer agora. Ele está
me castigando por mandá-lo embora, ele faz isso para me deixar maluca,
apenas isso, eu sei.
A porta se abre e não levanto minha cabeça para olhar.
— Laura, não quero visita. Diga que estou indisposta.
Estou mesmo, meu estômago está embrulhado em nós de nervosismo.
Bruno Ross! Ainda vai me matar de ansiedade qualquer dia desses, mas ele
tem razão em uma coisa: eu preciso ser mais forte por nós.
— Você está bem?! — A voz preocupada e máscula não pertence a
Laura de maneira alguma.
Levanto minha cabeça para encontrar os olhos azuis hipnóticos fixos
em mim. Intensos e um pouco cautelosos, mesmo assim ele me fita com tanta
intensidade que queima dentro de mim como labaredas nas minhas veias.
Calor me aquece quando percebo que ele veio para mim. Mesmo que eu o
tenha chutado daqui dois dias atrás. Ele fica parado no meio do quarto, e sei
que isso depende de mim agora.
Deus, ele é tão lindo que tira meu fôlego. Eu não sei se um dia me
acostumarei com a forma que ele me abala e tira meu eixo; desestabiliza-me
de uma maneira única. Bruno Ross abala meu mundo como ninguém jamais o
fez, e é por isso que estou seguindo o conselho de Matt: me permitindo amar
livre de qualquer culpa e receio. Sei que preciso trabalhar meus medos com
essa gestação, mas o primeiro passo tenho que dar agora, aqui, com ele.
Meu segurança. Minha verdade. Meu porto seguro nesse mundo incerto
que se tornou minha vida. Eu só queria ser boa com as palavras e poder dizer
para ele o quanto ele significa para mim. Mas ficamos ali, os dois, olhando
nos olhos um do outro e sei o que ele quer que eu faça. Dar o primeiro passo,
só assim ele saberá que estou entrando com tudo e para ficar. Que o amo o
suficiente para esquecer meu passado. E olhar para ele como meu futuro.
— Você veio — sussurro. Saio da cama e fico a dois passos dele, ainda
olhando em seus olhos. Eu preciso falar com ele, colocar para fora o peso que
venho trazendo em meu peito, antes que mude de ideia e não fale tudo que eu
quero.
— Nunca imaginei, naquele primeiro dia, quando abri a porta achando
que encontraria meu irmão do outro lado — começo — que eu fosse
encontrar uma pessoa especial que me quisesse e aceitasse com meus
defeitos. Eu não imaginava, naquele dia, que encontraria parado na minha
frente, cheio de si e arrogante, um homem que me fizesse rir outra vez em um
dos piores momentos da minha vida. Que me tirou o chão e fez tudo ficar
mais fácil e leve; que me fez esquecer em momentos cruciais que eu poderia
ter o mesmo destino de Evan e fazer parte do medo ir embora. Eu queria ser
forte e, mesmo querendo isso intensamente, eu descobri que não sou tão forte
assim quando se trata de sentimentos, de se doar verdadeiramente a alguém,
quando lá atrás meu coração foi despedaçado — tomo fôlego e percebo que
lágrimas silenciosas correm pela minha face.
Bruno está me olhando sem nada em seu rosto que indique alguma
reação do que ele sente. Estou tremendo. O coração batendo tão acelerado
que estou temendo um ataque cardíaco.
— Eu costumava pensar que nunca mais seria feliz com alguém, mas
desde aquele dia, algo mudou dentro de mim. Meus pensamentos eram só
seus a cada hora do dia e da noite e neguei tanto, tanto, no entanto você
continuou vindo e se infiltrando dentro do meu peito, tão profundo que eu
nem percebi a hora que você se tornou meu mundo todo. Eu mandei você
embora porque o pensamento de você me abandonar era demais para
suportar, e se eu perder nosso filho não suportaria passar por isso sem você
por perto. Eu morreria de desgosto e só, porque fiz a bobagem de mandar
você sair da minha vida. Não significa que isso não me mate aos poucos. Sem
você por perto meu mundo perde o colorido. Eu quero que saiba que se Deus
não permitir que um dia eu seja a mãe do seu bebê, eu ainda tenho você
comigo, se ainda me quiser. Eu amo você mais do que possa imaginar, Bruno
Ross. — Emoção e dor excruciantes saem acompanhados na minha voz.
Eu soluço tão forte que sinto meu coração falhar uma batida. Sinto seus
braços me envolverem tão apertado que tira o resto da minha respiração.
— Eu garanto para você que vou tentar implacavelmente deixar meus
medos para trás. Tenho uma consulta marcada com o terapeuta, e esse
primeiro passo é por nosso bebê, por mim, por nós. Eu preciso que você
acredite em mim... — minha voz embarga e seus braços apertam-me mais.
— Shiii... está tudo bem, querida — sua voz também está embargada
quando ele segura meu rosto entre suas mãos e seca a torrente de lágrimas
que desce com seus polegares — Eu também te amo. Vai ficar tudo bem,
bebê.
— Sinto muito por ser tão intransigente e não saber lidar com tudo isso.
Você mudou minha vida, Ross, sem você ao redor, cuidando de mim, é vazio
e doloroso demais. E foram apenas dois dias, eu não aguentaria mais um dia
sem você — digo em um fio de voz, passando meus braços em volta de sua
cintura e enterrando meu rosto em sua camisa. — Eu amo você. Muito.
Deixe-me mudar sua vida também, por favor. Eu quero tanto que tudo se
conserte entre nós.
Ele segura minha cabeça outra vez em suas mãos e esmaga sua boca na
minha, beijando-me como se fosse a primeira vez, como se não tivesse de
mim o suficiente, e eu retribuo com todo o amor que sinto por esse homem.
Calor me toma, e agora meu coração está batendo com pura felicidade. Passo
meus braços por seu pescoço e beijo sua boca com fome. Tem sido tempo
demais que não provo sua boca. Gemo, e isso faz com que ele se afaste, me
olhando preocupado.
— Não... — tento puxá-lo de volta, mas é impossível.
— Não devia estar fora da cama, amor — diz ao mesmo tempo que me
pega no colo e me deita na cama e vem comigo, deitando em cima de mim,
mas sem o peso do seu corpo que está sendo seguro pelos seus braços que
estão em cada lado da minha cabeça. Estou em uma gaiola viril e quente. Dou
um sorriso trêmulo de emoção. — Como está meu bebê? — pergunta,
amoroso, deixando-me mais trêmula.
Ele olha para baixo para minha barriga inexistente. Meu coração aperta
em meu peito, com o tumulto de sentimentos que enrolam em um
emaranhado de emoções dentro de mim.
— Bruno, eu farei tudo que puder para ir até o fim. Allan me indicou
um terapeuta — repito sobre o terapeuta porque isso é difícil de admitir, que
eu estou quebrada para que precise de um. Baixo os olhos, mas ele me faz
olhar para os seus, segurando meu queixo entre os dedos.
— Fico muito feliz que aceitou ajuda, querida, você me deixa muito
orgulhoso com essa decisão. Só você pode decidir isso. Estarei aqui para
você, onde quer que você me queira — ele me dá um sorriso lindo quando
acrescenta: — Eu acredito que meu filho é forte pra caralho. Sairá a mim,
pode ter certeza. Não o deixarei ir assim facilmente, pode acreditar. E se tudo
não for como nós queremos, estarei aqui para te pegar e segurar você tão
forte que não haverá espaço para dor.
Sim, eu quero acreditar que ele tinha esse poder, eu só queria que ele
tivesse de verdade.
Acabo rindo de seu convencimento e do amor que seus olhos azuis
deixam transparecer. Ele não é o mesmo homem que conheci meses atrás,
não mesmo.
Oh, céus... O que foi que fizeram com Ross prostituto?
— Você tem certeza de que é um garoto? — pergunto e tiro seus
cabelos que caem em sua testa, empurrando-os para trás. — O que vier para
mim está perfeito — Levo minha boca para sua enquanto o puxo para mim,
beijando sua boca deliciosa.
Beijamo-nos durante o que parece uma eternidade, e quando eu acho
que ele vai além, ele rola me levando com ele, quebrando nosso beijo.
Ficamos deitados em silêncio. Não precisamos falar, é como se essa conexão
entre nós tivesse se estabelecido essa noite. Que o que viesse para nós,
iríamos enfrentar juntos.
— Te amo.
Ele diz, sussurrando em meu ouvido com uma voz arrastada que eu
conheço bem demais. Cheia de tesão. Arrepios percorrem minha espinha.
Levanto minha cabeça para olhá-lo, e ele captura outra vez meus lábios. Não
vamos arriscar sexo. De jeito nenhum. Mesmo que entremos em combustão
nessa cama.
Seus dedos estão agora nos meus seios. Ele torce meus mamilos
sensíveis entre os dedos, e um gemido rouco escapa da minha garganta.
— É tão bom tê-lo aqui, querido. Senti sua falta — digo ofegante.
Depois pergunto para distraí-lo, pois seus dedos são torturadores e estão me
deixando terrivelmente excitada: — Então, o que iremos fazer agora?
— Agora eu quero te beijar, até você perder essa linda cabecinha.
— Sim, por favor...
— Eu não poderia ficar mais tempo distante de você, sinto-me vazio
sem você. — diz antes de me beijar impiedosamente.
Ele é tão lindo que dói em meu coração...
39
Bruno
Um mês depois
Gemo quando abro caminho entre as pernas de Alicia e entro forte
dentro dela. Ela está molhada pra caralho e pronta para mim, seu grito rouco
ecoa no quarto. Meu pau está sendo estrangulado, e eu amo isso pra caralho.
Agarrando sua cintura, puxo-a para mim, encostando seus seios em
meu peito, e faço-a sentar em meu pau, usando minhas mãos como alavanca
para fazê-la subir e descer furiosamente sobre ele.
— Ah, bebê, como você é gostosa! — rosno quando mordo um dos
mamilos que está bem na frente do meu rosto e chupo tão forte em minha
boca que ela grita de prazer e dor. Estou no limiar de me perder
completamente dentro dela. Seguro seu cabelo na nuca e capturo sua boca
com a minha, mordendo e lambendo onde deixei minha marca em seus
lábios. Quero marcá-la como minha, deixá-la louca por mim, para que nunca
pense que pode me mandar sair de sua vida.
— Você é tão linda, meu amor... — digo de encontro aos seus lábios, e
eles se abrem para minha língua outra vez e tudo parece entrar em um frenesi
louco. Nosso beijo fica molhado, louco; estamos ofegantes e loucos de tesão,
meu pau fica mais duro, se possível, dentro dela. Estou prestes a gozar tão
violentamente dentro do seu calor úmido...
— Bruno?! — a voz de Alicia me chama, e o toque de sua mão em meu
peito me faz acordar do sonho molhado muito quente que estou tendo.
Merda!!
— Hummmm — resmungo frustrado.
— Você está bem? Estava parecendo que estava com dor — ela acende
a luz ao lado da cama. Dor? Sim, muita, mas de tesão maldito. Nem em
sonho estou gozando mais.
— Oh, sim, querida, estou com dor, muita dor. — estou com uma
maldita tenda nas minhas calças de pijama, e isto dói pra caralho. Olho para
ela, que está inclinada sobre mim com olhos preocupados.
— Onde é a dor, querido? — Ah, como minha Alicia está inocente.
Pego sua mão e coloco em minha ereção.
— Bem aqui.
— Oh! Eu vejo.
— Humm — ela aperta em torno de mim e gemo involuntariamente.
Ela trabalha a mão para cima e para baixo no meu eixo.
Alicia tem evitado qualquer tipo de excitação, e sexo está
definitivamente fora por tempo indeterminado. Mas isso é tão frustrante.
— Tudo bem, querida. Vou tomar um banho frio. — digo quando
levanto dando um beijinho em seus lábios e fujo para o banheiro.
Serão os nove meses mais longos da minha existência.
E contado...
***
Dias depois
...
Então não desista, é só um romance de jovens amantes
Não estou te descartando como vidro quebrado
...
(Ed Sheeran)
***
Volto minha total atenção quando, passando a primeira parte, uma voz
de Bruno sai do microfone.
Não aguento mais chorar... ele não devia fazer essas coisas. Mesmo sua
voz não sendo tão espetacular, a emoção contida nela me arrepia e energiza
toda minha alma. Você também é meu único, digo mentalmente para ele.
She needs somebody, to tell her that it's gonna last forever
(Ela precisa de alguém pra dizer-lhe que durará pra sempre)
— Case comigo, bebê. Eu apenas sei que amo você. — quando ele
chega perto da mesa, onde vem cantando e quando percebo o que ele vai
fazer, eu levo minhas mãos à boca e meus olhos se arregalam, surpresos. Não
acredito que ele vai fazer isso aqui e agora. Deus, meu prostituto é louco. —
Depois que te conheci, escutei essa música apenas uma vez e disse a mim
mesmo que ele não sabia porra nenhuma sobre as mulheres. Alicia, eu estava
enganado. Quando a gente ama uma mulher, nós dizemos para ela o quanto
ela é única, que é desejada e que permaneceremos juntos não importa o quê.
Então, casa comigo? Você é a única para mim.
Deus, ele realmente fez isso aqui? Tento ficar de pé, mas ele vem para
junto de mim ajudando-me a levantar, e não dou chance nenhuma a ele
quando enlaço seu pescoço com meus braços, enterrando meu rosto em seu
peito. Meu rosto está quente, devo estar tão vermelha!
— Você não respondeu, bebê — ele diz no meu ouvido.
— Você tinha que fazer isso assim? — eu levanto meu olhar para seu
olhos azuis, olhando o fundo de sua íris que amo tanto — Você também é
meu único. Eu...
Estou paralisada para dizer a palavra.
— Eu o amo mais do que você imagina. Sim, eu caso com você, se me
tirar daqui agora! — digo isso sussurrando para que as pessoas ao nosso redor
não ouçam meu apelo ridículo.
Ele apenas ri de mim, como sempre.
— Não seja boba, são nossos amigos — ele levanta meu queixo e me
beija profundamente, fazendo-me esquecer quem quer que seja.
— Ross, essa é minha irmã. Menos cara, bem menos — a voz de Matt
me faz sair do torpor que estou, essas brumas cor de rosa que estou agora são
muito densas. — Ela precisa de um anel. Eu não acredito que você teve
coragem de cantar, mas não comprou um anel?
— Claro que tem um anel, não faço nada pela metade — ele garante.
Puxando um anel idêntico ao meu colar e brincos, ele segura minha mão,
onde o enfia no meu dedo. — Agora não pode mais mudar de ideia.
— E quem disse que vou?
Agora somos os dois parabenizados por nossos amigos. Champanhe é
aberto em comemoração, e brindo com minha água.
— Você não é tão terrível cantando — digo para ele depois que as
coisas voltam ao normal na mesa. — Você planejou isso?
— Claro que sim — ele me puxa mais para perto, depositando beijos
em meu ombro desnudo. Meu vestido azul turquesa de um ombro só foi feito
para acomodar minha gravidez.
A noite acabou sendo perfeita. Quando finalmente todos caminhamos
para fora do restaurante, não imaginei que minha noite pudesse me abalar
mais que tudo que tinha acontecido até então. No entanto, me enganei.
Caminhamos para o estacionamento, mas todos paramos quando vimos
Deni encostado ao carro de Bruno.
— Ora, ora, se não é a turminha da Mônica! — ele ri da própria piada.
Está bêbado? Ele cambaleia para frente, fazendo todos ofegarem quando
percebemos a arma em sua mão. Ele aponta para Bruno e eu paraliso.
Deus, não!!
— Então, irmãozinho? — ele arrasta as sílabas grosseiramente. Seu
terno de grife está um pouco abarrotado, sua semelhança com Bruno está
longe de ser vista agora, pois a carranca dele deforma suas feições que são
tão parecidas com a de Bruno. — Pronto para dizer adeus à sua filha? À sua
namorada?
— O que você está fazendo, Deni? — a voz de Bruno, por mais dura
que esteja, tem uma nota de pânico, e sei que é por mim, que ele teme por
nossas vidas, minha e de nossa filha. — Solte essa maldita arma.
Deni ri. Estou tremendo tanto que minhas pernas falham debaixo de
mim, fazendo-me segurar o braço de Bruno com tanta força que devo o estar
machucando. Sinto alguém se aproximar de mim do outro lado, mas não
tenho coragem de tirar meus olhos do louco à minha frente.
— Eu vou soltar quando você estiver morto, seu maldito imbecil!
Quando você desaparecer e nosso pai deixar os negócios enfim para mim. Ter
o controle de tudo sem interferência do filho mais novo idiota que não quer
assumir nosso negócio, mas que ele deseja tanto isso de você que fica cego
para mim, que estou sempre fazendo tudo por ele! — ele berra furioso,
gesticulando com a arma. Cada vez que ele a aponta para nós eu tenho um
pequeno enfarto.
— Eu que assumo riscos, dou minha cara a tapa por nosso legado, e
você, o que faz? Ah, simplesmente abandona tudo e vai embora, esquece que
tem uma mãe e todo o resto, mas, mesmo assim, ele quer você lá para ser a
porra do mandachuva do negócio que fiz questão de aprender desde cedo.
Você apenas joga isso na nossa cara. Esnoba! Então, quando você não existir,
ele me fará o único herdeiro do que já me pertence!
— Você é um doente, Deni! — Bruno tenta me empurrar para trás dele,
mas eu finco meus pés no chão, não permitindo que ele se faça de escudo
para mim.
— E você é um fodido babaca, irmãozinho — ele rosna, e sua raiva é
tão latente.
— Bruno?! — chamo, porque estou perdendo os sentidos. Não quero
distrair Bruno para que ele venha a se ferir por minha causa.
As coisas parecem acontecer em câmera lenta quando eu simplesmente
apago de nervosismo. A última coisa que vem em meu pensamento é a minha
filha.
Eu acordo para dar com luzes passando rápido por cima de mim e
vozes alteradas ao longe. Eu tento voltar à realidade, mas não consigo sair
desse limbo entre a consciência e a inconsciência.
43
Bruno
Estou apavorado quando pego Alicia nos braços e entro no carro com
Connor dirigindo como um louco e a buzina escancarada para os motoristas
abrirem caminho.
Ainda bem que existe um hospital a poucos quarteirões de onde nós
estávamos. Chegamos em pouco minutos, e ela é levada para ser atendida o
mais rápido possível. Quando ela desmaiou praticamente aos meus pés, eu
entrei em pânico achando que Deni havia atirado nela e não visto, apesar de
não tirar os olhos dele.
Maldito louco! Mas o desmaio de Alicia veio a calhar, sua distração foi
suficiente para que Carl dominasse o idiota. Eu estava muito ocupado
pegando Alicia em meus braços para me importar com qualquer outra coisa
ao redor.
Ando de um lado para outro na sala de espera onde estão chegando
nossos amigos, menos Alexander e Carl. Benacci entra junto com Lillian e
Lana. Matt e a namorada vêm logo depois, e ele parece tão apavorado quanto
eu.
— Como está minha irmã? — indaga quando chega perto.
— Sendo atendida, ainda não sei como está — digo voltando a
caminhar de um lado para outro. Agarrando meu telefone, e disco o número
do meu pai, que atende quase que imediatamente.
— Eu te pedi para deixar seu maldito cão de guarda longe de Alicia! —
eu esbravejo e saio para outro corredor quase vazio do hospital — E você
simplesmente não o manteve na coleira. Se algo acontecer com ela, eu juro
que vocês todos irão pagar por isso.
— Do que está falando, filho? — ele pede.
— Estou apenas avisando, senhor Ross — enfatizo nosso sobrenome,
pois sei que ele detesta quando o chamo assim. — Ligue para seu filho.
Desligo o telefone e volto para a sala onde tudo parece igual a um
minuto antes.
Eu estive com meu pai meses atrás, fui lá conversar com minha mãe, e
na ocasião pedi que se mantivesse longe de Alicia, pois sei que não quero
minha mulher e filha contaminada por ele, mas isso hoje foi demais.
Ver minha mãe e conversar com ela não mudou muito o conceito de
família desajustada que eu tinha sobre a minha, penso enquanto me perco nas
lembranças do dia em que finalmente fui visitá-la.
***
Quando saí de lá, naquele dia, saí com a certeza de que meu pai
manteria Deni longe. Ledo engano do caralho!
***
Benacci me mantém informado do que houve com Deni. Ele estava
agora com os federais. Carl e Alex tinham ligado para eles, que vieram e o
levaram preso. É bom que o mantenham lá ou, Deus, eu não sei o que faria
com ele. Se o desgraçado não fosse meu irmão, já teria estourado seus
miolos.
Agora ele deve estar sendo acusado de tentativa de homicídio, mas ele
tinha meu pai para pagar uma fiança exorbitante por sua liberdade.
Meia hora depois, um médico aparece dizendo que posso ver Alicia.
Ele apenas diz que ela voltou à consciência e que está bem, e nossa filha
aparentemente está bem. Apenas um ligeiro aumento do batimento cardíaco
do bebê, mas que ele já estava entrando em contato com o médico de Alicia,
que eu imagino ser o Allan.
Sigo até uma sala onde ela está sendo mantida e caminho para perto
dela, verificando-a. Ela parece um pouco pálida e assustada.
— Hey!
Beijo sua testa antes de sentar ao seu lado. Pego suas mãos na minha.
— Você está bem?
— Sim. E o seu irmão, o que aconteceu com ele?
— Não se preocupe com isso, bebê — beijo sua mão carinhosamente
— Está preso. — digo apenas.
— Vou demorar aqui? Minha filha está bem? Estava aqui preocupada
com você.
— Sim, um pouco. Allan foi chamado caso entre em trabalho de parto.
Apenas preocupe-se de ficar bem, meu amor.
— Sério? Estou bem.
— Mas eles a querem em um hospital para uma eventualidade, você
passou um susto danado. — suavemente tiro seus cabelos do seu rosto, e ela
fecha os olhos. Lembrando que nossos amigos estão lá fora esperando
notícias, levando e digo: — Volto já, querida.
Volto para a sala de espera e os tranquilizo; agradecendo a todos, os
dispenso para irem embora. Eles acatam depois de saber que Alicia ficará
bem. Menos Matt, que foi ver sua irmã. Depois que eles saem, volto para o
quarto de Alicia.
Allan chegou pouco mais de meia-noite no hospital e depois de
examiná-la disse que era melhor preparar a sala de parto. Ela não sentia dor
nenhuma, mas estava com dilatação, palavras dele não minhas, ele falava
grego para mim.
Ele coloca um cateter em seu braço, dizendo que daqui a pouco ela
começará a sentir dores. Diz isso quando injeta algo no soro dela.
São três horas da manhã quando ela começa a se contorcer de dor, e eu
fico meio sem saber como agir. Odeio vê-la vermelha, suada e gemendo,
assim. Era bom fazer um bebê, mas tê-lo era algo bizarro.
Mesmo com a medicação, Alicia não dilatou o suficiente para o parto
normal, segundo Allan. E, como o coração da nossa filha estava agitado, ela
foi levada para a sala de cirurgia para uma cesariana. Não vou assistir o parto,
não sou tão corajoso, fico do lado da sala afundando o chão com meus
passos. Faz meia hora que ela foi para lá, e estou sofrendo de antecipação
quando vejo caminhando, porta adentro da sala, nada mais, nada menos que
meus pais.
Mas que merda é essa?! Caminho até onde eles estão.
— A única coisa que eu já pedi para vocês foi que Deni ficasse longe
de Alicia, e vocês não fizeram isso — vou acusando sem nem mesmo
cumprimentar. Eu sei que eles não poderiam controlar Deni, mas porra! Isso
era culpa deles mesmo.
— Não podemos controlar todos os passos de seu irmão, Bruno —
papai diz, ecoando meus pensamentos.
— Ah, pode sim, só espero que você não o tire da cadeia agora. — digo
ameaçador — Ou vou esquecer que somos do mesmo sangue.
Mamãe lamenta em voz baixa, mas não dou a mínima.
— Considere feito, filho — Ele diz — Ele permanecerá lá até criar
juízo. Como está Alicia?
— Em cirurgia — mordo as palavras.
Saio de perto deles e volto a andar igual a um leão enjaulado.
Frustração é meu nome. Deus! Como eu queria ter tido a chance de quebrar a
cara de Deni. Sabe quando você sente aquela sensação de impotência? Assim
que me sinto por não ter dado nem um soco na sua cara bêbada.
Segundo Bennaci, ele levou uns bons socos de Carl, que andava meio
violento de um tempo para cá. Bem feito para o filho da puta ganancioso.
Isso me lembra de algo. Vou até meu pai.
— Me tire do seu testamento. Isso para ontem, e deixe apenas Deni
como herdeiro de tudo — digo — Isso tudo é por causa do poder. Poder esse
que nunca quis e nem quero. Dê para ele, assim ele me deixará em paz para
sempre e eu lhe agradeceria muito. Só assim ainda irei ter alguma
consideração por vocês dois.
Ele assente, acatando meu pedido. Bem mais fácil do que do que
imaginei.
Estou prestes a voltar para minha andança pela sala quando Allan sai
com um sorriso. Eu paraliso.
— Ross, parabéns! Sua filha nasceu e Alicia passa bem, apesar do susto
de ontem — ele diz, e tenho de me escorar na parede. Bruno Ross pode
desmaiar a qualquer momento.
— Obrigado, Allan — minha voz sai embargada.
— Daqui a pouco pode ir vê-las — ele volta, e eu sento na cadeira mais
próxima.
Obrigado! Agradeço em pensamento.
Alicia
Estou sonolenta e grogue quando sinto algo macio tocar meus lábios.
Beijos cálidos e macios são colocados em meus lábios e rosto. Mãos
passeiam por meus cabelos.
— Acorde, bebê — uma voz máscula me chama — Sei que você não
quer perder isso.
— Bru... — limpo minha garganta obstruída — Bruno.
— Esse sou eu e nossa filha. Brulícia está aqui! — a voz dele é
recheada de riso.
— O quê? Que raio de nome é esse, Bruno?! — Oh, Deus, o que ele fez
com nossa filha?
— O nome dela, querida — Abro meus olhos e o vejo inclinado para
mim com um pacote rosa nos braços — ela esteve reclamando com o papai
dela que não tem nome.
Ele ri e vejo a malícia em seus olhos azuis.
— Então, estamos chamando nossa princesa de Brulícia — Oh, céus! O
que irei fazer com esse homem provocador?
— Retire esse nome horroroso dela, agora! — exijo, entrando nesse
joguinho dele — Isso é lá nome de gente, ainda mais da minha filha. —
Reclamo.
— Como não é nome de gente? São nossos nomes. Que tal Brunilda?
— Bruno! Fale sério, vai deixar essa garotinha assustada e para sempre
em acompanhamento psicológico.
— Alicia, você é tão fácil de provocar — ele diz, rindo tão largo que
meu peito incha de amor por ele.
Sorrio de volta quando uma onda de felicidade toma conta de mim.
Olhando para o pacotinho precioso no colo dele, eu apenas choro. Oh, cara!
Eu consegui, nós conseguimos ir até o fim.
Entendendo o porquê das minhas lágrimas, ele deposita nossa filha em
meus braços.
— Diga olá para mamãe, meu docinho. — fala amoroso para ela.
— Eu quero dar o nome de minha mãe para ela, Bruno, se você não se
importar — digo quando aperto e sinto o cheiro de bebê da minha filha. Isso
me inunda até a alma, me enchendo de mais amor por esse serzinho especial.
— Claro que não me importo, querida — ele beija meus lábios
suavemente. — Como sua mãe se chamava? Você nunca me disse.
— Valentina.
— Então será Valentina Ross — ele olha com amor para Valentina. —
Tão apropriado para minha guerreirinha mais linda!
— Eu te amo — sussurro para ele — Você me deu o maior presente
que alguém jamais poderia me dar.
— Não fiz nada, bebê. Eu fiquei com a melhor parte disso, que foi fazer
junto com você essa lindinha aqui. — ele nos beija e sorri.
— Então, quando vamos começar a fazer outros? — ele diz cada
palavra levantando as sobrancelhas sugestivamente — Estou contando os
minutos, sabe disso, não é? Eu, você, uma cama...
— Oh! Ela está escutando você falando essas coisas impróprias para
menores — aperto Valentina em meus braços.
Ele ri, me fazendo rir também.
— Estou falando sério, Alicia.
— Sei que está. Eu apenas sei que ele é perfeito para mim.
44
Alicia
— Amor?
Estou amamentando minha Valentina, embevecida de amor e gratidão,
olhando-a sugar com fome.
Ainda estou no hospital, em recuperação das horas de parto. Ontem, a
essa hora, eu estava sentindo tanta dor, mas tudo deu certo, tenho meu
tesouro mais preciso em meus braços. A alegria não cabe dentro de mim, é
tanto amor que tenho medo de ser um sonho.
— Amor? — percebo que Bruno esteve falando comigo e eu mal
escutei. Levanto meus olhos para ele. Está em pé com as mãos no bolso, sua
barba por fazer. Ele não saiu desse quarto desde que eu vim para cá.
— Não te ouvi, querido — respondo — O quê?
— Sim, agora estou em segundo lugar. Caramba, Alicia, fazendo-me
ficar com ciúme de uma garotinha? — ele graceja e vem sentar na poltrona ao
lado — Tenho de te perguntar algo.—Certo, deixe apenas eu colocar essa
garotinha na caminha dela que sou todas ouvidos ao meu segurança favorito.
— digo rindo
— Bebê, sou seu único segurança — ele levanta para pegar Valentina
nos braços, e é tão delicado e cuidadoso com ela que me deixa com lágrimas
nos olhos.
Eu me pergunto, às vezes, por que relutei tanto em me doar inteira para
esse homem. Ele era tão lindo! Eu sempre fui uma mulher que me amava
acima de qualquer coisa, mas meu casamento me levou ao fundo e fez-me
pensar que eu não era capaz, não era uma mulher completa que não teria uma
experiência única de ser a pessoa mais importante na vida de outra pessoa.
Aí vem um playboy mulherengo e me dá um presente lindo, único, que
é minha filha, mas não posso dar crédito a apenas a ele, eu fui a responsável
por isso também; consegui quando não achei que conseguiria. E não posso
deixar de amar esses dois como nunca amei algo na minha vida.
— Prontinho, minha princesa, papai agora precisa conversar com a
mamãe. Seja uma boa menina e não peça para mamar pelos próximos cinco
minutos, sim? — ele está falando com Valentina enquanto a coloca no
bercinho ao lado da minha cama. Estou boba do quão delicado ele é com ela.
Deixando-a lá quietinha, ele vem sentar ao meu lado na cama.
— O que houve? — estou preocupada. Nossa vida ainda corre perigo?
— Nada de mais, amor — ele me olha, segura minha mão e a leva aos
lábios para um beijo cálido — Sei que você pode se recusar a vê-lo, por toda
a situação que minha família criou para você, a colocando em risco, no
entanto meus pais querem muito conhecer a neta deles. Mas só os deixarei a
verem se você permitir, bebê. Você se sente segura e confortável para isso?
— Oh! — eu não tinha pensando nisso, que seus pais poderiam querer
fazer parte de nossas vidas. Não os queria perto da minha filha. Era tão
recente tudo que houve. — Não quero seu pai junto da minha filha, Bruno!
Não confio nele.
— Então irei dispensá-los — ele diz, levantando. Eu agarro sua mão,
parando-o.
— Eles estão aí fora?
— Sim, desde ontem, e querem ver Valentina, mas, como disse, você
decide isso.
— E você quer que eles tenham contato com nossa filha? — pergunto,
porque ele é o pai também e pode muito bem ter sua opinião levada em conta.
— Não quero ser hipócrita e ser o melhor filhinho do meu pai, mas
estou tão feliz que não me importo agora de eles a conhecerem.
— Então tudo bem — sorrio para ele — Só não quero ser amiga de seu
pai também, eles me causaram muito mal junto com seu irmão. Deixe-os
conhecerem a netinha linda deles, a mais linda do mundo inteiro.
— Sim, somos tão fodas, amor, fizemos juntos a bebê mais linda — ele
se gaba, e rimos juntos igual dois tontos. O amor pode fazer cada coisa
incrível!
— Vou os deixar entrar, ok? — ele beija meus lábios e se levanta para
chamar seus pais.
Pouco depois, a mãe de Bruno vem me cumprimentar e parabenizar.
Ela me esquece dentro de cinco segundos quando olha Valentina ao lado.
— Ela é tão linda! — ela suspira, emocionada.
Deni
Faz dias que olho as paredes da cela onde estive trancafiado nesse
último mês. Rio para mim mesmo.
Papai está fazendo tudo que pode para me manter aqui. Ele veio me
fazer uma visita um dia depois que aqueles federais filhos de uma cadela me
colocaram aqui. Veio dizer que eu tinha ultrapassado os limites ao tentar dar
um fim naquele meu irmãozinho de bosta. O tapa que ele me deu vai custar
caro para ele. É só eu sair daqui.
Alexander Marshall teve a audácia de dizer que matei Evan Duran, e
posso pegar alguns anos de cadeia por isso. Ele não perde por esperar.
Ouço a outra cama da cela gemer quando o meu companheiro de cela
se mexe. Odeio isso aqui. Os primeiros dias tive alguns problemas, os
desgraçados acharam que poderiam me intimidar. Descobriram logo que não
podiam, jamais. Bando de imbecis.
Tenho meus advogados trabalhando na minha liberdade, isso é uma
questão de tempo.
Saio da cadeia um mês depois e sou recebido por três seguranças do
meu pai. Eles abrem o carro, não deixando dúvida que tenho de ir com eles.
Eles me levam direto para casa. Esse tratamento nada convencional me deixa
intrigado, e quando sou escoltado para o escritório dele, estou bem chateado.
— Espero uma boa razão para estar sendo tratado como um delinquente
por você, pai — digo assim que entro.
— Sente-se — papai diz e sigo suas instruções. — Eu tinha de ter
certeza de que você iria vir direto para cá.
— Não sei mais para onde iria, já que moro aqui.
— Sabemos que não é bem assim. Mas vamos logo ao ponto. Estou
passando todo o negócio não legal para você, como sempre quis. — ele diz
como se isso fosse grande coisa. A verdade era que sempre estive à frente
disso. Mas tinha de reportar todas as merdas a ele no fim do dia.
— E por que isso agora? — pergunto calmamente — Estranho, já que
fui deixando para apodrecer na cadeia por você. E agora essa generosidade?
— Tenho uma razão, e você não vai levar tudo sem fazer algo em troca.
— E o que seria?
— Vou fazer um documento passando tudo para você, mas tem duas
cláusulas. Primeira: vai deixar seu irmão e a família dele em paz, sem
gracinhas de sua parte. Segunda: se algo acontecer com ele ou sua família,
você perde tudo. E sei que você quer muito dominar o submundo dessa
cidade. Tenho certeza que é maior que sua raiva por Bruno.
Aplaudo. Sua vontade de ficar bem com Bruno deve ser muito grande
para ele estar abrindo mãos de tanto poder.
— Não vai dizer nada? — diz quando apenas fico olhando ao redor.
Bem, vamos ver o quanto ele quer fazer isso.
— Bem, papai, eu aceito, mas essa casa fica comigo também.
— Sabe que essa casa pertence à sua mãe — ele diz
— E daí? Sem casa, sem acordo.
— Tudo bem, posso comprar uma melhor para ela.
— Sei que pode. Mas não terá o mesmo significado dessa. — Sim, eu
sei disso, essa casa pertenceu ao meu avô materno, e vamos ver se ele
convence mamãe de sair daqui. Eu levanto e caminho para a porta.
— Preciso de um banho — rindo, caminho para meu quarto.
Quando termino e saio do banheiro, encontro mamãe me esperando.
— Hoje é o dia da visita ao filho mau? — vou até ela e beijo sua testa.
— Vim dizer para você ficar com a casa. Iremos sair, filho. — Que
merda, eu queria um motivo para acabar com a raça de Bruno. Entretanto,
meus pais estão loucos pela neta. Soube que Bruno era pai de uma menina —
Aceite a oferta de seu pai.
Claro que ia aceitar, meu irmão não valia o esforço. O que eu queria
estava sendo dado facilmente para mim. Eu sou o rei dessa cidade finalmente.
— Claro que sim, mãe — dou um abraço nela e vou me vestir. Tenho
um negócio para administrar. Minha vingança não é tão importante assim.
Posso viver com isso.
Epílogo
Bruno
Seis meses depois...
Fim
LIVRO III
Copyright © 2017 MAYJO
Criado no Brasil.
— Devia tomar seu café da manhã primeiro, querida — ela diz, mas
meu apetite é zero. Estou nervosa com a ideia de sair dessa casa para ir com
Carl para esse lugar que ele faz questão de manter em segredo.
— Bom dia, Samantha. — É pensar nele e ele aparece. Alegria e paz é
o que sinto quando escuto sua voz. Deus, se não fosse mórbido estaria feliz
que tive esse acidente. Isso é tão louco. Porque sei que se não fosse por isso
ele não estaria aqui e nós talvez nunca teríamos uma nova chance para nos
encontrar. Naquela noite, na frente de seu prédio, vi o quanto ele estava certo
de nunca mais querer me ver. Mas agora? Uma esperança mesmo que
pequena me faz aceitar minha cegueira como talvez uma coisa ruim que me
trouxe algo de bom. Nada é tão trágico que não tenha seu lado positivo, não é
mesmo? Amor é confusão. É acordar todas as manhãs com trilhões de
problemas e achar o mundo lindo, e eu sempre amei Carl por todo minha
vida. Vou agarrar essa "confusão" em que estamos e tentar viver esse amor.
Só não sei ainda como faremos isso. Eu só preciso ter a coragem de agarrar
essa chance torta que a vida está estendendo para mim.
Ele não me dá nenhuma esperança, mas tenho por ele e por mim, pois
um dia nós tínhamos um amor sublime e tenho absoluta certeza que ainda há
um pouco desse carinho lá no fundo. Eu só preciso de um motivo para
acreditar.
— Bom dia. — Com o pensamento cheio de esperança, pela primeira
vez em muito tempo, dou um pequeno sorriso contente ou assim eu espero
que pareça para ele. Estendo minha mão a procura da dele quando mamãe
para de empurrar a cadeira e só encontro o vazio.
21
Carl
Acordo às cinco da manhã no quarto de hóspedes da casa de
Samantha, e a primeira coisa que vem a minha mente é o calor de seus lábios,
não devia tê-la beijado, movimento errado do caralho, mas, caramba, foi
incontrolável! Sua pele cremosa, refinada, mesmo que essa perfeição tivesse
alguns machucados não tirava sua beleza. Seu perfume delicado me fez tonto
pela proximidade, quando percebi estava beijando-a e nem era da forma que
imaginei que um dia voltaria a beijar sua boca linda. Não, eu sempre imaginei
faíscas saindo para todos os lados, roupas voando em todas direções,
gemidos, sua boca falando meu nome como uma oração e o som de nossos
corpos chocando-se um contra o outro quando eu estivesse enterrado dentro
dela. Fecho meus olhos quando deslizo minha mão pela barriga onde os
músculos estão enrijecidos e seguro meu pau dolorido. Gemo roucamente e
paro. Que merda estou fazendo? Ou prestes a fazer? Carl O'Neal, você está
possuído?
Carl O'Neal agindo fora da linha? Novidade do caralho. Bastou uma
semana perto de Sam e o gelo já começou a derreter?
Claro que não, merda. Eu estou aqui para mantê-la segura e nada
mais. Recrimino-me, jogo as cobertas de lado e levanto. Dormi praticamente
só duas horas, por isso devo estar agindo despropositadamente. Havia ficado
sentado ontem em uma poltrona velando seu sono e só saí por volta das três
horas da madrugada, depois que verifiquei todas as portas. Essa casa não
podia impedir um assassino de entrar aqui. Mesmo sendo a coisa mais errada
a fazer, envolvendo-me mais com Samantha nesse momento delicado de sua
vida, meu lado racional e irracional vivem em uma briga constante. E o lado
irracional sempre leva a melhor.
Preciso receber Roger daqui a pouco, ele tinha enviado uma
mensagem ontem dizendo que viria falar com Sam. Seria ótimo. Ele
conseguiria arrancar alguma coisa de alguém dessa casa.
Agora, depois de tomar um banho rápido, estou saindo do quarto
quando ouço uma voz no quarto que fica quase em frente ao qual foi
designado para mim. A voz de Zara é baixa e autoritária, como normalmente
ela fala.
— Temos de fazer ela mudar de ideia, a multa por abandonar os
compromissos agora é gigantesca. — Ela para de falar e chego mais perto da
porta, mas não escuto vozes. Será que ela está ao telefone com alguém? —
Temos de fazer uma intervenção. Ela não pode tomar decisões dessa
magnitude nesse momento. Ela está sendo influenciada por um problema que
está apenas na cabeça dela. Os médicos já deram um diagnóstico definitivo,
ela não está cega por problemas físicos. Está sendo teimosa como sempre.
Samantha tem vivido com essa mulher por quanto tempo para que ela
tenha essa atitude desrespeitosa com ela? Até parecia que Samantha
trabalhava para ela. Isso é real mesmo?
— Eu sei, como advogado dela já era para você estar aqui tomando
essas decisões — ela continua dizendo —, vou falar com seus pais, eles irão
concordar comigo. Uma intervenção será o que iremos fazer até ela voltar ao
seu juízo perfeito.
Intervenção? O que ela está pensando em fazer? Não vou deixar que
isso aconteça. Entretanto me pergunto como farei isso, não sou nada mais que
um ex-namorado que não sabe deixar nada quieto. E um ex abandonado,
devo lembrar a mim mesmo. Era a verdade olhando nos meus olhos e rindo
de minha incapacidade de ir embora e deixar Samantha resolver sua própria
vida.
Não fico mais escutando, vou direto para a cozinha, preciso tomar um
café. Surpreendo-me quando encontro o cantor sentando à mesa. Ele não
estava por perto ontem quando voltei para dormir aqui. Agora ele me olha
com desconfiança e desprezo.
— Não acha que está invadindo o espaço de Samantha agindo como
um troglodita, senhor O'Neal? — ele fala depositando a xícara na mesa com
mais força que necessário. Ele deve estar se sentindo ameaçado. Grande
idiota. — Hospeda-se sem ser convidado? Não acha sua preocupação um
pouco sem argumento?
Caminhando até a armário, pego uma caneca a encho com café antes
de voltar minha atenção para ele.
— Acho que já tivemos essa conversa, não? — Encosto-me no balcão
de mármore, encarando-o. — Eu posso te fazer exatamente a mesma
pergunta. O que faz aqui afinal?
— Antes de tudo, sou amigo da Samantha. É normal que esteja aqui
quando ela está doente. — Ele se empertiga todo, como se estivesse na
defensiva.
— É médico? — Minha pergunta irônica tira-o um pouco do sério. O
desagrado de antes apenas se acentua mais em seu rosto.
— Não sou médico, mas somos mais que meros amigos...
— Ontem você era noivo, hoje é amigo mais que meros conhecidos,
amanhã será o que, senhor cantor? Marido dela? — Minha pergunta jocosa
faz com que levante, empurrando a cadeira com força. Receio que o barulho
perturbe a casa, apesar que, ao que parece, todos estão acordados.
— Somos namorados e em breve, sim, seremos marido e mulher. —
Olho atentamente para ele. Será que ele era o perseguidor de Samantha? Essa
confusão de sua parte sobre a relação dos dois era muito estranha. Estreito
meus olhos encarando-o e ele desvia os olhos. Droga! O quanto antes tirá-la
daqui, melhor.
— Homem de sorte, não? — digo com um meio sorriso de quem
acreditava nele, mudando minha tática. Se ele fosse a mesma pessoa que
estava mandando esses e-mails, ele poderia se precipitar e fazer alguma
loucura antes que eu tirasse Sam daqui. — Espero que dê certo.
Bebo meu café lentamente e o observo sair me deixando sozinho.
Pego meu celular e envio uma mensagem para Roger, preciso que ele venha o
mais rápido que puder, e eu esteja fora daqui antes que o dia de hoje termine.
Rio deliciada quando ele me rodopia em um passo que não tem nada a
ver com a música. Quero prolongar esse momento para sempre.
Quando saímos do restaurante estamos embriagados de nós mesmo,
do nosso amor florescendo gigante sobre nós.
Ele chama um táxi, entramos e seguimos para o apartamento. Quando
paramos é que noto onde estamos. Não fomos para o apartamento onde
estivemos esses meses, mas para o dele. De onde ele me expulsou, onde vi
ele com aquelas duas mulheres. Onde disse palavras que dilacerou meu
coração naquele dia. A dor me cegou por um tempo e o acidente, a cegueira,
tudo volta na minha cabeça e eu tremo.
— Por que me trouxe aqui? — minha voz sai trêmula e fraca. —
Quero ir embora. Por favor, Carl.
— Shiiii, calma, amor. — Ele desce e estende a mão para que eu o
siga. Desço a contragosto e o táxi dá partida, nos deixando na entrada
exatamente onde ele disse coisas que quero esquecer.
— Aqui foi onde disse tantas coisas que me envergonharam depois
que as proferi. — Ele me olha e a sombra de dor aparece nos olhos azuis
profundos. — Eu não poderia continuar com nossas vidas sem vir aqui, nesse
mesmo lugar, e pedir perdão de joelhos para você por ser a causa de tanta dor
naquela noite. Porque seu sei que fui o culpado por seu acidente, mesmo que
indiretamente. Eu não tenho vivido bem comigo mesmo desde então, Sam.
Você nem eu merecemos continuar com alguma dúvida para o futuro que
escolhemos para nós.
— Eu não tenho.
Lágrimas quentes descem quando a emoção me toma e vejo Carl
ajoelhado na minha frente. Ele não tem culpa sozinho, eu preciso que ele me
perdoe também e por isso ajoelho em frente a ele. Parecemos dois loucos ali
ajoelhados e eu me debulhando em lágrimas.
— Você me perdoa, carinho? — pergunta secando com o polegar as
minhas lágrimas. — Por dizer tantas bobagens?
— Não antes que me perdoe por fazer você sofrer por anos, Carl. Por
ir embora e não voltar quando disse que voltaria, nos causando tanta dor e
mal entendidos. Você tem de perdoar as pessoas que nos magoaram também
para que possamos seguir em frente.
— Eu só me importo com você, nada mais. — Ele fica de pé e me
puxa para seus braços. — Estou velho para ficar de joelhos muito tempo,
querida.
Sorrio feliz quando recebo sua boca faminta na minha. Ele me leva
para seu apartamento que é tão masculino e sem enfeites, não há nada
feminino aqui.
— Venha conhecer meu quarto. — Ele me puxa para lá. Nossas
roupas seguem em uma trilha pelo chão e quando ele me deita na cama
espaçosa, vindo por cima de mim, beijando-me em reverência, eu sei que
iremos ficar bem.
Gemo quando ele suga com fome meus mamilos em sua boca
faminta. Sua boca perversa faz um caminho para baixo no meu abdome, sua
língua deixando um rastro de fogo e meu quadril levanta em antecipação.
— Quero você, Carl — gemo alto e exigente. — Não seja gentil, seja
apenas mau essa noite.
Minhas pernas em cada lado de seus ombros é o sinal de que ele vai ser
“mau” e levar as coisas lentas. Estou louca de tesão para ser delicada hoje. Eu
quero viver intensamente cada momento...
46
Samantha
Semanas depois...
Naquela noite que Zara levou um tiro e faleceu, seu comparsa foi
preso e tudo veio à tona sobre sua obsessão por mim, ou melhor, minha
carreira. Nada me chocou mais que saber que ela queria voltar a trabalhar
comigo, ela estava louca mesmo.
Hoje estou em frente aos meus pais em uma conversa que estive
adiando por dias
A conversa é esquisita, para dizer o mínimo. Fui até o hotel onde os
dois estão hospedados desde que cortei os subsídios. Minha mãe e meu pai
não parecem bem e eles confirmam isso quando eu pergunto.
— Seu pai teve um caso debaixo do meu nariz, Samantha, e você quer
que estejamos bem? — mamãe fala olhando feio para papai que está sentado
do outro lado da mesa. Ele parece que não estar nem aí para o que ela pensa.
Ele sempre foi muito na dele, pelo visto, acho que isso não mudou. — Não
podemos estar bem, ainda mais com tudo que você tem feito para nós.
Ela reclama. É inacreditável como eles deixaram as máscaras caírem e
mostram que a única coisa que importa é se vou continuar pagando suas
contas. Estive dez anos cega, vivendo com mentirosos dia e noite, mas não
percebi. Minha ingenuidade não teve limites.
— Deviam se unir já que não terá a mim para explorarem, mamãe —
falo com amargura. — Dei um tempo para vocês verem se era possível
mudarem, mas tudo continua igual, não é?
— E você é uma ingrata — papai replica furioso. — Fizemos tudo
para que hoje fosse a mulher bem sucedida que é...
— Obrigada pelo sacrifício, papai — retruco interrompendo-o. —
Vão escolher ficar aqui ou voltar para a Itália e, para que não digam que estou
sendo ingrata, fornecerei apenas o necessário para que vivam bem, porém
sem regalias nenhuma. — Levanto a mão parando os protestos. — Não
reclamem ou irão viver sem nenhum ajuda.
— Não queremos sua esmola Samantha, não vou ficar aqui vendo
você nos humilhar dessa forma — papai diz e levanta deixando apenas eu e
mamãe.
— Não devia ser tão dura conosco, filha. — Ela olha meu anel de
noivado. — No fim você está onde queria. — Ela balança cabeça descrente e
me olha com pesar. — Vai abandonar de vez sua carreira? É inacreditável.
— Tenho opções, mamãe, posso fazer tantas coisas sem que saia pelo
mundo em turnê. Posso trabalhar com música sem que seja uma pianista em
um país a cada semana. — Toco meu anel e sorrio. — Eu dei dez anos da
minha vida aos concertos, agora é hora de mudar, ter mais que só música e
viagem na minha vida. Posso continuar minha carreira de outras formas.
— Você quem sabe se vai jogar tudo fora para viver uma vida de
dona de casa, a vida passa muito rápido, Samantha, e você viu o que
aconteceu comigo e seu pai, anos de convívio, confiança e ele traiu isso. —
Ela abana a cabeça. — Veja que rumo vai tomar com sua decisão de trocar
uma carreira bem sucedida por um homem.
Caramba, parece a Zara falando.
Bem, não adianta falar com eles, meus pais estão ficando igual Zara
com a teimosia de tentar viver suas vidas através de mim. E isso tem de
acabar.
— Certo, mamãe, só que nem eu nem Carl somos vocês. — Empurro
as passagens que comprei para eles na mesa. — Aqui tem passagens para
Itália, voltem para a casa de vocês, quem sabe não se acertam? Não esqueçam
que agora não vou estar por perto, não quero esse tipo de amor que vocês
dois dizem sentir por mim, visando apenas que os sustente, então posso fazer
isso de longe.
— Samantha, podemos viver aqui...
— Não, mamãe, eu prefiro vocês lá onde sempre almejaram viver . —
digo. — Terão suas contas pagas, porém tudo será avaliado antes que eu
pague.
— Isso é tão humilhante!
— Não é, tem de agradecer por eu ter coração bondoso, outra pessoa
não seria tão generosa com vocês depois da palhaçada que fizeram para mim
juntamente com Zara. — Dou um sorriso apesar de tudo. — Mas eu
agradeço por tudo que fizeram, mãe, por isso ainda pagarei suas contas.
— Talvez não seja dinheiro que queremos.
— Não?
Ela desvia os olhos e sei que não é de meu afeto que estão sentindo
falta.
Pego minha bolsa na cadeira ao lado e levanto para ir embora. — Se
resolverem ir, avisem-me.
Saio de lá sem olhar para trás, eu tenho de fazer esses dois
entenderem que estou magoada e que com o tempo pode passar, mas não
agora. Ainda é muito recente para dizer a eles que os perdoei, seria mentira,
pois ainda sinto raiva.
Pego meu celular quando entro em um táxi e mando uma mensagem
para Carl, perguntando onde ele está, recebo quase que imediatamente a
resposta dele dizendo que está na empresa e que logo irá embora também.
Amanhã nós vamos nos encontrar com seus amigos e eu estou super ansiosa
para isso. Mas primeiro tenho algo para fazer, eu tenho um encontro com
Alexei Kolovky, um russo que conheci há alguns anos, para que ele organize
o último concerto. Será um fechamento da minha carreira como musicista, eu
também devia três concertos aqui. Mas irei fazer um totalmente filantrópico.
Alexei está me esperando em um restaurante perto do hotel onde ele se
hospedou, nosso contato tem sido todo por telefone e e-mails. Hoje
finalmente faremos uma reunião depois de sua chegada ao Brasil.
Ele é fácil de encontrar. Seus cabelos lisos, quase na altura dos
ombros, são pretos e contrastam com a pele branca e olhos castanhos. Ele é
impressionante e não falo de seu tamanho avantajado.
— Samantha — ele fala levantando-se quando me vê chegando. Seu
sotaque russo é impressionante e sexy. — Prazer revê-la.
Aperto sua mão.
— Alexei, seja bem-vindo — digo sentando a sua frente. Ele é jovem,
mas os concertos que esse homem organiza e promove são gigantescos, e eu
quero fechar com chave de ouro.
— Fico muito honrado pelo convite, terá seu melhor concerto,
Samantha — ele me garante.
Passo as próximas duas horas acertando detalhes incluindo local,
custos trabalhistas, decorações, publicidade e, depois de tudo acertado, deixo
em suas mãos mais do que capazes para executar. Quero organizar tudo e
fazer uma surpresa para Carl, ele nunca foi em um concerto meu, talvez por
orgulho, mas também nunca dei um aqui. Eu espero que ele goste da
surpresa.
Volto para o apartamento dele onde estamos morando agora. Depois
do pedido de casamento viemos para cá. Ainda não paramos para pensar em
um lugar para nós, as coisas estão sendo mais lentas nesse sentido, porque
afinal não estamos em uma corrida, ou seja, não precisamos de muito, apenas
de nós.
O táxi me deixa na frente do prédio e sigo para dentro, estou ansiosa
para ver Carl, passar o dia todo longe um do outro é sacrificante, já que
estivemos colados um no outro esses dias, porém paro surpreendida com a
figura masculina parada na entrada. O que diabos ele estava fazendo aqui?
— Como me encontrou aqui? — digo quando me aproximo. Pietro
estende a mão para mim, hesito antes de apertá-la.
— Vejo que está bem desde a última vez que a vi. — Ele me avalia de
cima a baixo.
— Obrigada. A que devo essa visita, Pietro?
— Não posso visitar minha ex-namorada que não se deu ao trabalho
de terminar comigo e já está morando com outro cara? — sua voz cheia de
rancor ou até mesmo raiva me surpreende. Ele ainda vive nessas nuvens?
Quantas vezes terei de dizer que nunca houve nada entre nós? — Não vai me
convidar para entrar?
Claro que não, não sou nenhuma idiota para convidar um homem que
tem alguma obsessão amorosa por mim para entrar em um local apenas eu e
ele.
— Pietro, você sabe que nunca ouve nada entre nós o máximo que
tivemos foi um...
— Conversa. Sabe que tivemos um romance.
— Tivemos um namorico para as câmeras e você sempre soube disso.
— Sinto-me inquieta com essa conversa sem sentido. — Bem, de qualquer
forma nunca tivemos nada sério e muito menos fomos noivos como as vezes
fala. Quero que pare com isso.
— Quer? Onde está seu guarda-costas agora? — Seu olhar muda
quando fixa em mim. Ele se aproxima no meu espaço pessoal, segurando
meu braço com força suficiente para deixar marcas. Quando ele fala, o tom
baixo me faz estremecer um pouco de medo. — Podemos ir para um lugar
melhor para conversar, Samantha? Isso não é um convite, estou muito irritado
de ter sido feito de bobo por você.
— Pietro é melhor você ir — digo tentando sair de seu agarre. —
Solte-me.
— Você gostou da lição que fiz para você?
Então tinha sido ele que ligou para a casa do lago? Eu pensei que
tinha sido Zara. Oh, meu Deus, estava vivendo com essas pessoas ao redor?
— O quê?
Ele ri quando fala de encontro ao meu rosto, tão perto que seu hálito
bate na minha face.
— Zara me contava muitas coisas e uma delas foi que recebia e-mails
de um admirador que não queria o fim de sua carreira. Eu queria você longe
desse cara para que pudéssemos ter uma chance, Sam — ele diz me deixando
chocada. — Você ficou com aquele babaca quando não teve nem a decência
de terminar comigo. Eu era seu namorado e você me desprezou quando corri
para cá, quando estava vulnerável. Eu fui um bobo romântico e recebi apenas
desprezo em favor daquele cara que nunca mereceu você!
— Você é tão louco, igual a Zara, solte-me — exijo quando o medo
de outro maluco tentar algo contra mim. Quando eu pensava que tinha tudo
acabado surge esse louco.
47
Carl
— Sério? Vai enfim nos apresentar Samantha? — Bruno levanta
a sobrancelha sarcasticamente — Deve ser uma mulher muito especial para
você manter em um cofre, O’Neal ou você a mantém a pão e água amarrada
em sua cama ao seu bel prazer?
— Eu a pedi em casamento — digo a eles ignorando as gracinhas de
Bruno. — Mas nossa história era complicada demais antes, não complicada,
para ser mais claro, porém cheias de mal entendidos e anos de orgulho ferido.
— Isso nós já sabemos, que ela é a causa da sua cara feia — Bruno
diz rindo. — E do seu azedume, meu caro amigo.
— E quem é o culpado de sua chatice, Ross? — rio também, com ele
por perto não tem quem fique sério por muito tempo.
— Ah, isto é de berço, nasci assim, é parte do meu charme lendário.
— Ele balança as sobrancelhas para cima e para baixo irritantemente.
— Lendário? Sei... — Salvatore debocha.
— E agora está tudo bem? Com você e Samantha? — a pergunta vem
de Alexander de onde está sentado na cabeceira da mesa de reunião na
Marshall Segurity.
— Como disse, pedi-a em casamento e ela aceitou. — Cruzo meus
braços na frente do peito — Eu namorei Samantha desde que ela tinha
dezesseis anos, planejamos casar e ter toda essa merda de romance
adolescente. Fizemos grandes planos porque sabíamos que nos amávamos
apesar de sermos jovens, mas ela ganhou uma bolsa em um conservatório de
música clássica na Europa quando fez dezoito anos. Seria pouco tempo longe
e quando ela voltasse iríamos nos casar, mas depois de meses recebi uma
carta dela destruindo tudo que eu acreditava, eu estava louco por aquela
menina e do nada ela joga esse amor na minha cara e eu não soube lidar com
essa merda. Perder Samantha foi dilacerante e eu a odiei por destruir tudo. Eu
tentei esquecê-la indo para as Forças Armadas e o resto é história, vocês
viram em primeira mão que não fui nenhum pouco simpático nesses anos
todos. Eu odiava e amava Sam na mesma proporção e às vezes a raiva levava
a melhor.
— Tu é um cara romântico pra caralho! — Bruno ri descontrolado. —
Quem agora é dominado por uma bu...?
— Vá se ferrar! — digo rindo, caramba quando foi a última vez que ri
descontraidamente com meus amigos? Quase nunca acontecia e agora vem
facilmente. Samantha é minha luz, saber que ela está em minha vida faz tudo
parecer perfeitamente em seu lugar.
— É só isso? —Sal se inclina para frente, baixa a voz e diz malicioso:
— Já fez amor com ela em cima de um piano? Dizem que isso é romântico,
última moda dos caras românticos.
— Isso não é da sua conta, imbecil — retruco olhando-o com uma
carranca, mas realmente precisamos batizar seu piano, afinal a música tem
estado entre nós há muito tempo.
— Agora eu tenho uma visão disso. Piano, uma mulher nua... —
Bruno se inclina para trás em sua cadeira, as mãos cruzadas na nuca. — Acho
que vou comprar um piano, Alicia é tão certinha que ia ficar escandalizada
quando eu a usasse para tocar o Lago do cisne negro com ela.
— Lago do Cisne, você quer dizer — corrijo.
— Só me interessa o lado mau da coisa — retruca.
— Vocês são uns doentes — Alexander diz rindo.
— Falou o homem que não trabalha mais a não ser na calcinha da
patricinha — Bruno bate no ombro dele. — Menos, senhor todo poderoso,
você é o pior. Dizem as más línguas que você dançou em uma boate apenas
de cueca cheia de brilho para satisfazer a Lana. Isso aconteceu em Malibu —
ele fala tão sério que outros acreditariam.
— Ei, não inventa essa merda porque ele vai achar que foi eu que
disse isso, apesar que teve umas coisas estranhas lá — Salvatore diz. — Não
quero ser demitido, mas a Lana sabe como...
— Acabaram? Vocês falam muita besteiras quando se juntam. —
Alexander me olha. — Boa sorte, Carl, você merece uma boa mulher e tenho
certa que vão dar certo.
— Obrigado. — Levanto e pego meu terno no encosto da cadeira
vestindo-o — Espero que venham conhecê-la. — Cito o restaurante que
vamos e saio, quero encontrar Samantha, sinto falta dela o dia todo. Pela
mensagem que recebi ela deve estar indo para casa agora, depois do encontro
com seus pais. Não fui com ela, ela precisava resolver sozinha, tomar as
rédeas de sua vida sem que haja alguém fazendo isso por ela, como todos têm
feito há anos.
Como é fim da tarde e não estou em nenhum trabalho com clientes,
volto para o meu apartamento onde estamos morando. Eu tenho procurado
uma casa para nós, quero fazer uma surpresa para Sam, o chalé no lago não
parece mais tão certo como anos atrás, ela agora tem outros planos,
certamente não pode morar longe da cidade, seria inviável.
Meu apartamento fica relativamente perto da empresa e não demora
muito para chegar. O casal na frente do prédio me chama atenção de longe e
eu conheço aquela mulher a quilômetros de distância. Paro o carro e desço,
eles estão discutindo tão entretidos que não veem eu me aproximando. Eu
reconheço o cantorzinho filha da puta e vejo vermelho, o que diabos ele faz
tocando em Samantha.
— Você é tão louco igual a Zara, solte-me — Samantha está
praticamente gritando quando exige. Meus punhos fecham quando marcho
para eles. Minhas preces foram ouvidas, eu desejei quebrar os ossos desse
filho da puta um dia. Bem, esse dia tinha chegado.
— Isso, filho da puta, solte minha mulher! Eu esperava o dia que ia
quebrar essa sua cara bonitinha, cantorzinho de merda. — Eu não espero uma
reação dele, meu soco vai direto em sua mandíbula e ele cai no chão. Minha
raiva cega faz com que chova socos na sua cara. Não dou chance para ele
revidar.
— Carl, você vai matar ele! — a voz de Sam penetra a bruma
vermelha que tenho diante de mim, não vejo nada além da raiva cega. Filho
de uma cadela. — Carl!
Saio de cima da massa sangrenta dele imóvel no chão e envolvo meus
braços em torno de Samantha. — Shiii, está tudo bem — digo beijando o
topo de sua cabeça, ela está tremendo violentamente. — Estou aqui, carinho
— A raiva borbulha dentro de mim. Filho da puta, fiquei tão concentrado em
Zara que não olhei direito para ele, imbecil. Pego meu celular e ligo para
Roger vir buscar esse calhorda.
— Você quase o matou — Samantha diz a voz abafada, pois seu rosto
está colado em meu peito.
— Ele merecia muito mais, carinho, não seja tão boazinha — reclamo
apertando meus braços em volta dela. — Não acredito que deixei ele chegar
perto de você.
— Eu sei que você não deixaria nada acontecer comigo. — Ela aperta
os braços em volta da minha cintura.
— Pode ter certeza, amor, mas esse bundão filho de uma cadela teve
oportunidade hoje de machuca-la. — olho para o cantor ainda no chão
desacordado. — Como você sobreviveu todo esse tempo com tanta gente
usurpadora ao seu lado?
— Não sei, acho que sempre fiz o que os outros esperavam de mim e
nunca questionei nada. — Ela suspira — Não tinha motivos além da música
para viver, agora eu tenho tudo que sempre quis.
— Nunca mais deixe ninguém ditar sua vida, Samantha, ou teremos
sérios problemas— falo seriamente.
— Vai fazer o que, senhor O’Neal? — Ela intensifica o aperto mais.
— Humm... posso pensar em algumas maneiras, carinho, eu sempre
penso.
Ela tenta rir, mas sai um riso forçado e sei que ela ainda está
assustada. Se esse cantorzinho já não estivesse no chão levaria mais uns bons
socos.
Não demora muito para Roger chegar, contudo garanti que esse
imbecil não fosse a lugar nenhum. Como amassei a cara dele, foi levado
primeiro para o hospital. Roger facilitou para nós e pegou nossos
depoimentos sem precisar que fossemos a delegacia, claro que depois
teríamos de ir.
— Carl, você devia pensar antes que de tentar matar o cara, isso pode
gerar problemas — Roger diz quando aperta minha mão em despedida. —
mantenha contato.
— Claro.
Depois levo Samantha para dentro do apartamento, odeio que ela teve
de passar por isso.
— Você está bem? — pergunto pela milionésima vez quando sento-a
no sofá, servindo uma bebida para ela. Eu não sei o que faria se algo
acontecesse com ela agora que a tenho finalmente aqui.
— Sim, amor — ela sorri enchendo meu coração com esse calor
cálido que me acalma. Acaricio seu rosto, amorosamente. — Ele não vai
incomodar mais.
— Espero que não.
— Vou garantir isso, querida.
Beijo seus lábios suavemente de início, mas o desejo de fundir com
ela é grande demais, intensifico o beijo, minha língua mergulhado e
vasculhando cada canto suculento de sua boca. — Eu quero você.
Ela geme quando pego-a nos braços, levando-a para nossa cama.
48
Samantha
Estamos no aeroporto vendo meus pais caminharem para o
terminal de embarque internacional e uma calma tranquila me toma.
Nessas semanas passadas foram um turbilhão de acontecimentos. Eu
fiquei muito triste com todo desfecho, não era para ser assim. Terminar
em tragédia, com Zara morta e Pietro preso, mas segundo Carl ele seria
solto. Eu não me importo, só quero distancia de tudo, quero pensar no
futuro. Meus pais tinham enfim entendido que eu não ia mais ceder em
nada para eles e revolveram voltar para sua casa na Itália, o lugar que eles
sempre quiseram estar quando eu pude presenteá-los com uma casa.
Dou um suspiro quando não avisto mais eles, eu sei que são meus pais
e fizeram muito por mim, mas agora quero que eles vivam suas vidas e
deixem que viva a minha com o homem que me ama da mesma forma que o
amo.
— Tem certeza que quer eles longe? — braços fortes e musculosos
me abraçam pela cintura e a voz rouca e sexy fala em meu ouvido, fazendo
minha cabeça pender para trás e se encaixar no seu ombro largo.
— Sim, quero apenas ser eu mesma daqui em diante — digo e viro-
me para olhar nos olhos azuis escuros que tanto amo. — Eu amo você.
— Carinho... — Carl tira uma mecha de cabelo do meu rosto e beija
minha testa — Você é linda e cada dia meu amor é maior.
Ele segura minha cintura e seguimos em direção ao carro. — Quero
levar você em um lugar — ele diz.
— Aonde?
— Surpresa.
— Odeio surpresa, já te disse isso? — resmungo fingindo mau humor.
— Você amou a última que fiz — ele passa o braço direito por cima
do meu ombro levando-me para fora do aeroporto. Claro que sim, afinal, ele
tinha me pedido em casamento. Olho o anel em meu dedo e meu peito aquece
com uma onda gigantesca de amor.
Uma hora depois ele para o carro em frente a uma casa em um bairro
residencial arborizado. Olho ao redor, eu gosto do clima daqui, porém fico
preocupada se ele mudou o horário e local onde iríamos encontrar seus
amigos, tínhamos um encontro hoje a noite e eu enfim vou conhece-los —
Vamos nos encontrar com seus amigos?
— Não.
— Que lugar é esse? — questiono.
— Por que não entramos? Podemos falar lá dentro. — Ele aponta para
casa. Vejo uma mulher em um terninho bege na frente. Quando passamos um
portão preto de ferro para um pequeno pátio onde tem um canteiro de flores
no meio como se fosse uma fonte, mas em vez de água tem flores plantadas
lá.
— Isso é lindo e a casa é... — toda pintada na cor clara e tem
provavelmente um primeiro andar com janelas brancas em cima, não é um
palácio, mas de um bom tamanho, é charmosa por fora e parece nova.
— Bom dia, senhor O’Neal, que bom que veio — a mulher fala
quando nos aproximamos. Carl aperta a mão dela e vira-se para mim.
— Samantha, essa é Adriana Brasil — ele apresenta. — Ela é
corretora e irá mostrar a casa para nós, Adriana, essa é minha noiva
Samantha.
— Seja bem-vinda, Samantha — ela me dá um sorriso caloroso e
aponta para nós entrarmos.
Depois de meia hora percorrendo a casa e a corretora falando sobre
cada canto fico encantada. Como imaginei, tem um primeiro andar onde
ficam os quartos e embaixo a sala, cozinha e outros cômodos, todos vazios,
eu já estava começando a decorar o ambiente em minha mente. É pequena
comparada com a casa que temos na Itália onde meus pais vivem, porém eu
prefiro assim, menor, mas que terá muito amor envolvido. Eu não tenho
dúvidas de que Carl pensou a mesma coisa já que ele me trouxe aqui e tinha
tudo acertado para ser essa a casa que iríamos morar, quando enfim
decidimos nos casar. Casamento esse que vai ser tão logo os papeis fiquem
prontos. Não queremos nada espetacular, mas simples e reservado.
— Você pode nos deixar a sós um momento, Adriana? — Carl pede
quando chegamos ao quarto principal. — Já falamos com você.
— Fiquem à vontade — ela diz e caminha para fora. — Estarei lá
embaixo.
Quando ela sai Carl se vira para mim
— Você gosta da casa?
— É perfeita.
— Você pode preferir outra, eu apenas achei que aqui daria para nós
— ele segura minha nuca com umas das mãos me atraindo para ele. Sua testa
encosta na minha.
— Eu amei essa.
— Ótimo — ele diz antes de me beijar ferozmente. Sinto-me quente
com sua língua perversa sugando a minha em sua boca. — Amo você e quero
que essa casa seja nosso pequeno ninho.
— Ele será. Também te amo.
Quando saímos de lá e voltamos para o apartamento dele, a única
coisa que pensamos é em dar vazão a luxúria que se mantém constante em
nossas veias quando estamos juntos. Esse amor que parece finalmente no seu
devido lugar.
*
O Vestido esmeralda na altura do joelho justo combina com os
brincos de esmeralda na minha orelha, meus cabelos soltos em ondas foi o
que optei para o jantar com os amigos de Carl. Somos os primeiros a chegar
no restaurante e sento nervosa. Eu sei que é besteira, mas se eles sabem da
nossa história podem me achar uma megera má que não merece Carl.
— Você já contou para seus amigos sobre nós? — pergunto
mordendo os lábios
— Algumas coisas — ele diz distraidamente enquanto beija o dorso
da minha mão. — Pare de se preocupar. Eles são como uma família para mim
e irá tratá-la como tal.
— É que... — a frase fica no ar quando vejo uma loira caminhar
direto para nossa mesa acompanhada de um homem enorme, ela parece
minúscula perto dele, mas posso dizer que ela é uma força a ser reconhecida.
— Aí está você, Samantha. Eu sabia que você só poderia ser muito
bonita para deixar Carl todo apaixonado — ela diz quando para ao nosso
lado, ela estende a mão para mim simpática — Lana Mitchell.
Escuto o resmungo de Carl ao meu lado e sorrio para ela. — Olá
Lana. Sou, Samantha.
Digo, desnecessário já que ela pare saber quem sou.
— Samantha, esse é Alexander e sua namorada Lana, como deve
saber por sua personalidade loquaz — Carl diz apontando o homem de olhos
verdes claros. Ele parece intimidante, mas me dá um sorriso caloroso.
— Samantha — ele beija minha mão, cavalheiro. — É um prazer
enfim conhecê-la
— Igualmente — responde feliz, pois não vejo nenhuma animosidade
da parte deles.
Lana fazendo jus ao que Carl disse sobre ela, vem e me dá um abraço.
Dizendo que quer me conhecer melhor e que estou convidada a ir em sua
casa qualquer dia desses. Gosto dela. O novo casal que aparece tem outra
loira, mas essa parece ser mais reservada do que Lana, porém é amável
também. Carl me apresenta como Lilian e seu marido Salvatore. Ele é
moreno e quase tão grande quanto Alexander, todos parecem simpáticos
comigo e vejo que não tinha motivos para temer conhece-los.
O último casal Bruno e Alicia chegam e todos nós sentamos depois
dos cumprimentos
— Samantha, você é real mesmo? Eu tinha sérias dúvidas sobre isso
— Bruno diz, sorrindo para mim. — Carl tem sido muito vago sobre você.
— Carl sempre foi muito protetor comigo, temos passado por alguns
percalços e foi preciso nos manter fora das vistas. — digo conciliatória.
Seguro a mão de Carl por baixo da mesa e dou um aperto firme. — Mas, sim,
sou real. Antes vivia viajando, passei muitos anos fora do Brasil
— Eu tinha outras teorias — Bruno continua e sua esposa
provavelmente lhe belisca, pois ele esfrega os braços olhando para ela de
testa franzida.
— Sam não ligue para ele, sempre fala o que não deve — Alicia diz
para mim.
— Quando vamos ouvi-la tocar? Sei que você é pianista — Lana
pergunta fazendo eu me voltar para ela.
Eu pareço ser o centro da atenção de todos e, se já não fosse
acostumada a isto, estaria vermelha agora com todos me olhando e fazendo
perguntas sobre mim.
— Estou preparando um último concerto e todos estão convidados —
digo e percebo o que disse. Eu não tinha contado para Carl ainda. Bem, agora
ele sabe e está me olhando surpreso.
— Não sabia disso — ele diz baixo apenas para mim.
— Eu ia contar, apenas escapou agora. Era surpresa.
— Vai me falar sobre isso mais tarde — ele diz em um tom sério.
O jantar transcorre bastante agradável e gostei muito dos amigos mais
chegados de Carl, eram como irmãos, uma família como ele disse mais cedo.
Fico quieta apenas vendo a interação de todos e fico imensamente
feliz por finalmente fazer parte disso ao lado do homem que amei minha vida
inteira. Estamos quase no fim do jantar quando Bruno e Alicia dizem que vão
embora, pois têm um bebê em casa que precisa deles.
— Vamos marcar qualquer dia desses um almoço, Samantha, você
precisa de novas amigas agora que está aqui em definitivo — Alicia diz
quando se despede. — Lana e Lilian são ótimas companhias, uns podem
dizer que não, mas são — ela provoca sorrindo para Lana. — Essa menina é
uma louca, mas uma louca muito gentil e amável.
— Eu sou mesmo — Lana replica rindo. — Não é querido?
— Você? Não tenho certeza, preciso verificar sua amabilidade mais
tarde — Alexander diz e Lana cora violentamente.
— Aqui não, amor, assim vão pensar coisas indecentes — ela
responde com um sorriso travesso, seus olhos totalmente maliciosos.
— Se ninguém imaginou, Lana, agora não tenho mais dúvidas disso
— Bruno fala rindo e puxa Alicia para seu lado acenando. Depois pisca para
mim. — Até outro dia, fantasminha.
Eles vão embora e fico imaginando quando também começarei uma
família com Carl. Isso seria perfeito.
49
Carl
Não perdi as esperanças de te encontrar outra vez
Eu voltei
Voltei pra te dizer que é impossível
Te esquecer
( Primeiro Amor – Malta)
Sorrio quando vejo Sam entrar na cozinha apenas com uma camisa
minha branca de mangas compridas. A camisa masculina a deixa sexy como
o inferno, sinto o desejo de agarrá-la e nós fizemos amor há menos de meia
hora, minha sede dessa mulher parece interminável.
— Bom dia, carinho — cumprimento de onde estou encostado no
balcão tomando meu café nas primeiras horas da manhã. Ela franze a testa
quando se aproxima.
— O que é isso que está bebendo? — pergunta saindo de perto de
mim — Fede.
— Isso é café, Sam. — Dou um gole e ela faz uma careta. — Até
ontem você bebia café
— Deve estar estragado então. — Ela abre a geladeira e se curva
dando-me uma visão privilegiada de sua bunda sexy. — Melhor fazer outro.
— Acabei de fazer — digo distraído. Maldição ela é perfeita.
— Hoje tudo tem de ser perfeito. — Ela levanta e me pega
conferindo-a. — Estava olhando minha bunda, senhor O’Neal?
— De jeito nenhum — digo inocente.
— Alexei me garantiu que só preciso comparecer e fazer o que
sempre fiz, mas estou nervosa demais, algo que não acontece há muito tempo
quando o assunto é tocar piano. — Ela me olha mordendo os lábios.
— Você será um sucesso. — Coloco minha caneca no balcão e vou
até ela. — Você é perfeita. E será uma esposa perfeita.
— Você me bajula. — Ela envolve os braços no meu pescoço e
nossos lábios se unem em um beijo lento, Sam me empurra e sai correndo de
perto de mim e volta para o quarto me deixando lá sem ação.
O que diabos foi isso? Penso quando vou atrás dela. Encontro
Samantha trancada no banheiro e o som de quem está vomitando vem de lá.
— Carinho, o que você tem? Você está bem, amor?
— Já vou, Carl — a voz sai abafada e pouco depois ela abre a porta e
parece verde. — Acho que estou mal do estômago.
— Melhor ir no médico, pode ser nervoso, tem de se controlar, amor
— digo quando a puxo para meus braços.
— Não me beije, esse gosto de café em sua boca está me enjoando.
— Me senti atingido agora, meu ego não pode sustentar essa rejeição
— brinco quando levo-a para cama e a deito. — Descanse e pare de se
preocupar com esse concerto, vai tudo correr perfeitamente.
Ela acena, mas sei pelo olhar aflito que minhas palavras não valeram
de muita coisa.
*
A noite do concerto de Samantha é agridoce porque eu desejaria que
ela tivesse mais disso em sua vida, que foi por essa razão que ela sacrificou
sua vida pessoal e desejo também que ela fique comigo para sempre. Sei que
uma coisa não anula a outra, mas construir uma família com alguém viajando
a todo momento não deve ser fácil. Mas sinto que ela está fazendo o que ela
quer. Indo para outro rumo de sua carreira. E só posso apoiar suas decisões.
O Teatro Municipal de São Paulo está lotado. Uma orquestra está no
palco e eu não vejo Samantha há um tempo. Localizo Alexander, Bruno e
suas mulheres e me junto a eles. Angelina também estava presente, Samantha
me fez localizá-la para que viesse essa noite. Ela merecia uma noite de gala
por ter acertado um soco em Zara. Ainda sorrio quando me lembro. Eu
concordo plenamente com Sam, Angelina merece um prêmio. Deveria ser
contrata pela Marshall em definitivo.
Salvatore e Lili chegam depois e todos sentamos.
A orquestra começa a tocar uma música que não parece nenhum
clássico quando um homem começa a cantar...
Não perdi as esperanças de te encontrar outra vez
Eu voltei
Voltei pra te dizer que é impossível
Te esquecer
Eu voltei
Ela estava me dando um recado tão claro e eu a amo demais, meu
peito está apertado nó e sinto vontade de beijá-la tão profundo...
Eu sabia que poderia ter realizações com minha música sem que
tivesse viajando de lado para outro. Hoje é um dia mais que feliz para mim.
Recebi um telefonema que me deixou nas nuvens, minhas árias que estive
compondo durante um ano é agora parte dos concertos de Valentina Lisitsa,
umas das maiores pianistas da atualidade e de quem sou grande admiradora.
Vejo Carl entrando na saleta de música e eu abro um sorrido radiante
para ele. Cada dia ele fica mais lindo e eu mais apaixonada, se isso é
possível.
— Você tem de comemorar isso em grande estilo, amor — Carl diz
quando digo para ele quem era ao telefone. — Tenho certeza que será um
sucesso.
— Comemorar como? — pergunto maliciosa, levantando
sugestivamente uma sobrancelha. — Tem alguma sugestão, senhor O’Neal?
— Humm, talvez — diz caminhando para perto de mim com esse ar
predatório que eu amo demais. Ele me puxa de encontro ao seu corpo quando
para a minha frente.
Ele envia as duas mãos em meus cabelos uma em cada lado da minha
cabeça e me beija profundo e intensamente, sua língua é impiedosa quando
ataca minha boca. Ele me pega nos braços e deita-me em cima do meu piano
de calda que está nessa sala. Não é a primeira vez que usamos o piano como
cama, mas sempre parece especial quando ele me toma aqui.
— As crianças? — eu pergunto sem folego, quando ele me empurra
em cima do piano e senta-se na banqueta.
— A babá saiu com elas — responde enquanto desliza a palma da
mão da minha barriga para o vale entre meus seios. Ele agarra um por cima
da minha camiseta branca e eu gemo quando ele belisca o mamilo duro com
as pontas dos dedos.
— Eu quero te comer até você gozar — ele rosna e segura minhas
pernas abertas para que fique entre elas, seu rosto bem ao alcance da junção
das minhas coxas.
—Você é tão linda e toda minha, porra — ele resmunga e baixa a
cabeça beijando-me por cima do tecido da minha calcinha de renda. Ele
afasta o tecido úmido e desliza sua língua sedosa ao longo de todo o local
pulsante e lambe toda minha excitação, em seguida começa a lamber minha
boceta como se tivesse faminto, sedento e eu fosse um banquete suculento
para seu prazer. Minha cabeça está inclinada para trás e o meu corpo se
arqueia e torce contra sua boca. Agarrando meus quadris, ele me fode com a
sua língua. Então ele chupa meu clitóris em sua boca até que eu estou
gritando.
—Eu estou quase... — balbucio incoerente e tento empurrar sua
cabeça de encontro onde mais preciso dele. Caramba, isto é demais!
—Não — diz ele, cessando o seu movimento. —Você gozará quando
eu estiver dentro de você, carinho. Meu corpo empurrava em espasmos e
minha cabeça gira sem controle
— Preciso de você, amor — ofego descontrolada.
Estou tão fora de mim de desejo insatisfeito que nem percebo que ele
se livrou da calça. Ele agarra meus pulsos e, segurando-os por cima da minha
cabeça, bate ainda com força em mim. Sua boca cai em um beijo duro e
faminto da mesma forma que ele está golpeando seu pau dentro de mim.
Enterrando-se ao máximo, meu corpo perde totalmente o controle e eu
começo a convulsionar de êxtase. Seu membro vidra dentro de mim quando o
prazer começa a tomá-lo também.
Ele cai por cima de mim esgotado, sua cabeça repousa em meu
abdome.
— Melhor nos mexermos ou seremos pego em flagrante — sorrio
acariciando seus cabelos macios.
— Humm...
— Eu te amo — digo cheia de ternura quando recebo um beijo na
barriga.
— Te amo mais.
*
Casa do Lago...
Dois pequenos corpos passam correndo em passos trôpegos pela sala
onde estou olhando minha relação de novos alunos para as próximas semana
de aula. Quando vejo os gêmeos fugirem para o deck, eu espero que Carl vá
atrás dos dois, mas ele não vem. Ele sempre está correndo atrás desses dois
travessos.
Levanto suspirando e vou verificar o que eles estão aprontando. Vejo
primeiro Monick em pé segurando a grade de proteção do deque e olhando
para a agua abaixo e, depois, seu irmão Liam tentando escalar. A grade é alta,
feita dessa maneira desde que eles começaram a andar. O cuidado era pouco
quando se dizia respeito a esses dois. Eles tinham muita energia, multiplique
por dois e você terá um monte de energia aqui.
— O que estão fazendo, queridos? — cruzo meus braços com cara de
brava. — Onde deixaram o papai?
— Mamãe! — Monick vem correndo para mim.
— Ei, bebê! — pego-a nos braços beijando sua bochecha rosada.
— Não sou um bebê — ela reclama, porém agarra meu pescoço
apertado. Sinto um cutucão na perna e olho para baixo para ver olhos azuis
escuros esperando sua vez. Com três anos eu não consigo mais pegar os dois
nos braços.
Sento na longa longue chaise e coloco cada um em uma perna.
— Tudo bem, querido? — beijo seus cabelos castanhos e recebo um
beijo molhado. — Onde está o papai?
— Ali, mamãe — Monick aponta para o lago e meu coração bate
como um louco quando vejo Carl acenando do pequeno barco para perto do
deck. Agora entendi por que os gêmeos estão querendo escalar a proteção.
Os gêmeos dessem do meu colo e vão para a grade outra vez.
Caminho e paro ao lado deles, olhando seu papai remar até parar.
— Me leva, papai! — Monick, como sempre a mais falante, grita
animada.
Tudo que eu mais amo está bem aqui, meus filhos e o homem que o
tempo não pode apagar do meu coração.
Liam era tão parecido com ele e tinha herdado minhas inclinações
para música. Ele já tocava piano lindamente. Os dois tocavam piano, mas o
talento do meu pequeno era notável. Eu sabia que ele provavelmente se
tornaria um grande concertista.
— Senhora O’Neal, jogue-me esses dois aqui — Carl grita lá de baixo
e seus filhos gritam felizes em acordo.
— Não vou jogar meus filhos, Carl, eles podem cair na água — digo
apreensiva.
— Eles não cairão, amor, para isso estou aqui — ele garante. Sei que
ele está. Meu segurança favorito sempre está pronto para nos proteger.
— Quero pular, mamãe! — eles falam ao mesmo tempo pulando para
cima e para baixo em expectativa e apenas faço suas vontades.
As risadas, depois, dos três lá embaixo enchem meu coração de uma
maneira que eu não sei como ainda não explodir de felicidade...
— Agora sua vez, carinho — ele diz sabendo bem que não vou pular
igual uma adolescente.
— Obrigada, querido, estou bem aqui. Mais tarde você pode fazer eu
pular de outra forma – sugiro maliciosa piscando para ele.
— Pode apostar, amor.
Fim
“A simplicidade é a conquista final. ”
Frederic Chopin
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por mais um trabalho realizado. A
Ele toda graça.
Agradeço a Patrícia da Silva pelo trabalho com Carl. Obrigada amiga.
Lisse, Lu, obrigada meninas.
Minhas leitoras queridas, obrigada por continuarem até aqui comigo.
As lindas que divulgam meus livros.
Grata.
MAYJO