Você está na página 1de 273

Direitos autorais do texto original copyright © 2023,

SKARLAT GOMES, A VINGANÇA DO MAFIOSO – Livro 1

Capa: Joy designer editorial


Diagramação: Skarlat Gomes
Ilustração do casal: Carlos Miguel
Preparação de texto/revisão: Claudyanne Ferreira

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Todos os direitos
reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida
sob quaisquer meios existentes — tangíveis ou intangíveis — sem
autorização por escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Playlist
Ilustração
Carta ao leitor
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo
Sobre o autor
Agradecimentos
Para ouvir a playlist de A VINGANÇA DO MAFIOSO no Spotify, abra o
app no seu celular, selecione buscar, clique na câmera e posicione sobre o
QR code.
O SKARVERSO está oficialmente aberto!
Brutinhas do meu coração, A vingança do mafioso é um livro que abrirá
portas para outras séries importantes no meu universo do submundo. É um
relançamento de REVENGE, algumas coisas foram mudadas. Lembrando que
esta é uma série onde os livros podem ser lidos separadamente, no entanto,
poderá ocorrer de pegar spoilers dos livros anteriores.
Haverá fatos neste livro que serão desvendados em outros LIVROS DA
SÉRIE.
Desde já agradeço pela leitura e não se esqueçam de avaliar ao final, sua
avaliação é muito importante para mim.
Skarlat Gomes
Para você que já foi em busca de uma
vingança, mas acabou se machucando no processo.
Eu vou te pegar
Eu vou atrás de ti até o inferno
Vou te triturar
Vou te ver arder no fogo eterno
Vou furar teu olho, arranhar tua cara
Vou quebrar tua perna, vou saber te machucar
E quem sabe no final de tudo com você todo fodido
Eu possa enfim te perdoar

Canção da vingança
Titãs
Eu nasci para ser o sucessor do meu pai, o Don da Cosa Nostra. Fui
forjado e moldado para um dia estar a frente de tudo aquilo que meus
antepassados criaram e ao longo do tempo, de geração em geração, fomos
tornando o império da Famiglia ainda maior. Meu destino foi selado, assim
como o de minha futura esposa, Allegra Cattaneo, a princesa da Camorra.
Durante muitos anos, uma guerra entre a Famiglia e a Camorra se estendeu, até
que cinco anos atrás, meu pai foi procurado por Humberto Cattaneo, o capo da
Camorra. Aquele velho trouxe um tratado de paz para com a Famiglia,
oferecendo sua única filha para um casamento comigo, também único herdeiro.
O tratado é simples, além da paz e de várias rotas para o transporte dos nossos
carregamentos de drogas e armas que foi assinado, eu e Allegra deveríamos nos
casar assim que ela completasse dezenove anos, quando eu já estaria com meus
vinte e nove anos. Além disso, caso nós dois viermos a ter dois filhos homens,
o primogênito herdará a cadeira da Cosa Nostra e o segundo filho homem será
o próximo capo da Camorra. O velho filho da puta queria garantir um herdeiro
de sangue, já que sua filha jamais poderia assumir o seu lugar e ele não queria
mais filhos depois que sua mulher morreu no parto de Allegra.
Um casamento com vários propósitos e esperado por anos.
Quando meu pai foi assassinado faltando um mês para o casamento, eu
soube que as responsabilidades começariam cedo, mas apesar de ser um dos
chefes mais novos a assumir a liderança da máfia, todos sabem que eu estou
pronto.
Uma das minhas primeiras ordens depois de assumir a cadeira de meu pai,
foi começar uma busca para achar quem o matou, para poder vingar sua morte.
Seu assassino, até hoje desconhecido, ainda sentirá minha ira por ter tirado a
vida de Carlo precocemente. Apesar de não ter sido um exemplo de pai, é meu
dever como chefe vingá-lo, mas enquanto eu ainda não tenho o culpado em
minhas mãos, aqui estou eu, sentado em minha cadeira no escritório, vestindo
um smoking, à espera do início do meu casamento.
Não possuo expectativas altas para essa união, só espero que ela não seja
uma pirralha problemática e fútil, como tantas outras mulheres da máfia. Passei
todos esses anos vigiando de longe minha querida noiva e sei tudo a seu
respeito, só que nunca troquei mais do que cinco frases com ela, em eventos
onde minha presença era necessária. Allegra se tornou uma mulher linda, mas
eu também vi em seus olhos, todas as vezes em que a vi, que ela é uma mulher
que traz consigo uma força imensurável e a teimosia como principal
característica. Que Deus a ajude saber escolher suas lutas e que ela não escolha
justo uma luta contra mim.
Eu fui moldado para ser o que sou e nada nem ninguém vai ficar no meu
caminho. Minha vingança pode demorar dias, ou anos, mas sei que ela vai
acontecer. Ao contrário do que dizem, uma vingança não é um prato que se
come frio, mas sim um prato que você saboreia quando tem a paciência de
esperar o banquete ser servido.
— Chegou a hora. — Meus pensamentos são interrompidos com a fala de
Luigi Collalto, meu consigliere e melhor amigo. — Você deveria estar com um
sorriso no rosto. — Debocha, pois sabe que não sou conhecido por dar sorrisos.
— Quem sabe depois que esse circo que minha mãe montou, acabar, eu
consiga. — Viro o whisky e vou rumo ao jardim da mansão Ruggero, com
Luigi logo atrás.
— Você vai ficar bem, ela parece ser uma mulher dócil. — Ele murmura,
mas não perco o tom sarcástico com que fala.
— E você vai perder os dentes se não calar a boca. — Retruco, mostrando
uma falsa calma.
Assim que eu chego ao altar, cumprimento discretamente minha mãe e me
posiciono ao seu lado. Logo a marcha nupcial anuncia a entrada da minha
noiva, e em minha cabeça, o início de uma nova era.
Suspiro e fecho os olhos com força, na esperança de que seja um pesadelo
e que eu vou acordar e rir de tudo isso. Quando volto a abri-los uma lágrima
silenciosa desce pelo meu rosto. Não é um sonho. Eu estou olhando meu corpo
com um vestido de noiva feito sob medida, pronta para ser sacrificada, sem
direito de escolha. Desde os meus quinze anos, vivo à sombra desse casamento
com Ottavio Ruggero. Fui preparada para ser a esposa perfeita do herdeiro da
Famiglia e ninguém se dignou a me perguntar se eu queria, ou se eu não estava
com medo de me casar com o herdeiro que durante anos foi nosso inimigo.
Minha cabeça fervilha com o pensamento de não saber o que vou enfrentar
depois que disser sim naquele altar. Uma batida na porta me faz desviar o olhar
do espelho e vejo de relance quando meu pai entra no quarto que me foi
disponibilizado na mansão, onde vou morar depois de casada. Aparentemente,
meu futuro marido é apegado a esta casa e não quer deixar a mãe sozinha. Mãe.
Eu nem sei o que é ter uma, já que nunca cheguei a conhecer a minha. Cresci
sendo cuidada por babás, que faziam rodízio entre cuidar de mim e aquecer a
cama de papai.
— Você é a noiva mais linda que essa família irá colocar os olhos. — A
fala de papai me faz dar um sorriso, mas provavelmente não chegou aos meus
olhos.
— Obrigada. — Os olhos analíticos do capo da Camorra estão em mim,
deixando o lugar em um silêncio sufocante. Eu gostaria que pelo menos uma
vez na vida fizesse seu papel de pai. Ele coloca as mãos para trás e começa a
andar em minha direção, me fazendo travar no lugar.
— Lembre-se de que você está fazendo o que nasceu para fazer. Seu
segundo filho será meu sucessor na cadeira da nossa família. — Herdeiros.
Filhos homens são tudo o que papai pensa e diz a todo momento que tem
oportunidade. E se por acaso eu tiver meninas? Uma atrás da outra! Será que
ninguém pensou nessa possibilidade?
— Vou manter em mente. — Respondo, devolvendo seu olhar.
— Não seja malcriada, Allegra. Seja mais do que a mulher de Ottavio.
Mostre para todos o poder que as mulheres da Camorra possuem. Em suas
veias corre meu sangue. Seja o braço direito de seu marido, nós dois sabemos
que você não é o estilo de esposa troféu.
— Eu farei o que preciso fazer, papai. Não se preocupe. — Ele assente e
me pega de surpresa quando me puxa para um abraço apertado. Eu retribuo o
gesto, sabendo que este pode ser o último dia que poderei estar tão perto assim
dele. Creio que Ottavio não vai permitir que eu transite entre os territórios,
apesar da trégua que nosso casamento está trazendo.
— Mostre ao garoto quem é que manda. — Sorrio e me afasto quando
Cosima, minha amiga e dama de honra, anuncia que está na hora.
Reunindo todo autocontrole que preciso, levanto a barra do meu vestido
rodado estilo princesa e agradeço com um sorriso gentil quando Cosima levanta
o meu véu para que eu não pise nele. Casamentos na máfia são sagrados, e
quando envolve duas organizações diferentes, se torna um evento pomposo,
onde as aparências devem falar em primeiro lugar, porque apesar da paz que
esse evento significa, no fundo, cada um sabe que isso pode não durar por
muito tempo, principalmente se eu não tiver os dois herdeiros homens.
Paro na entrada do jardim e vejo minha amiga andar em direção ao altar
com Luigi ao seu lado, então recebo minha deixa junto de meu pai para
entrarmos.
Com a cabeça erguida, lançando meu melhor olhar de indiferença a todos,
dou meus primeiros passos rumo ao altar, mas engulo em seco quando meus
olhos se chocam com os olhos azuis cristalinos do meu noivo. Sério e com as
mãos na frente do corpo, ele me encara duramente, fazendo com que as pessoas
ao redor se transformem em um borrão, quase como se estivéssemos sozinhos.
A intensidade do olhar dele me faz arrepiar. Ottavio é tudo o que eu não queria
em um homem. Porém, cá estou eu, selando de vez meu destino, pois depois de
dizer sim diante de toda a nata das duas maiores máfias da Itália, eu serei
Allegra Ruggero, a rainha da Famiglia.

Mais uma vez durante essa cerimônia que parece não ter fim, olho para o
lado, a fim de ver Allegra com uma postura altiva de que sabe que agora é a
mulher mais importante de duas organizações. Ela parece não estar com medo
de tudo que vem pela frente.
Grandes cargos, maiores são as responsabilidades.
— Façam seus votos. — Escuto ao fundo o pedido do padre sem desviar
meu olhar do rosto da mulher ao meu lado. Ela se vira para me olhar e
lentamente faço o mesmo, ficando de frente para ela. Na máfia, demonstração
de afeto é considerado fraqueza, mas o que poucos não sabem, é que trair sua
esposa é mal visto. Porque aos olhos de todos, se você tem coragem de trair a
mulher que jurou a você fidelidade, você também terá a ousadia de trair sua
organização. Pelo menos este é um ensinamento da Famiglia. Sabemos que na
Camorra é quase uma terra sem lei, e hoje, pela primeira e última vez, vou
expor meu novo calcanhar de Aquiles diante de todos. Pois mesmo não amando
Allegra, ela é minha para proteger e com isso se torna um alvo para meus
inimigos.
— Eu, Allegra, aceito você, Ottavio, como meu marido. Prometo ser fiel a
você todos os dias da minha vida, até a morte. — Sua voz doce, mas firme me
faz ter a certeza de que a mulher na minha frente tem muito a me mostrar.
Aperto suas mãos frias, fazendo-a encarar nossas mãos e depois voltar seu
olhar para meu rosto.
— Eu, Ottavio, aceito você, Allegra, como minha esposa. Prometo ser fiel
a você e aos meus juramentos para com a Famiglia. — Ela engole em seco e eu
sorrio de lado quando o padre termina a cerimônia.
Puxo seu corpo pequeno para junto do meu e a sinto tremer levemente,
então sem dar chance para mais nada, beijo a boca intocável da minha noiva.
Quando nos afastamos, Allegra está corada, o que me faz sorrir como o
bom filho da puta que sou.
— Seja bem vinda, doce Allegra. — Murmuro no pé do seu ouvindo,
recebendo um olhar afiado em troca.
— Obrigada. — Sua resposta é simples e objetiva.
Caminhamos rumo ao outro lado do jardim, onde minha mãe organizou a
festa de casamento. Durante meses, ela e Allegra se empenharam para deixar
tudo à altura do que esse evento representa. É claro que minha querida esposa
queria realizar o casamento em Nápoles, mas eu não colocaria minha mãe e
membros importantes da Famiglia em território inimigo. Por mais que a paz
esteja selada há alguns anos, nunca se sabe quando o estopim pode acontecer
para a guerra voltar ao que era.
Me posiciono ao lado de Allegra e começamos a recepcionar os
convidados.
— Olha só para você, Allegra. Está uma noiva deslumbrante nesse Pnina
Tornai. — Minha mãe fala, sem esconder o entusiasmo. Por outro lado, minha
esposa lhe lança um sorriso doce, mas contido.
Elas se abraçam e logo minha mãe se aproxima, me dá um beijo na
bochecha, deseja felicidades e sai, levando Allegra para apresentá-la a algumas
mulheres. Não tenho tempo para relaxar, pois Humberto se aproxima quando
percebe que estou sozinho e eu coloco minhas mãos no bolso, esperando o que
ele tem a dizer.
— Parabéns pelo casamento. — Sua fala sarcástica me faz olhá-lo
friamente.
— Não aja como se isso não fosse vantajoso para você.
— Mas é vantajoso para todos nós. Seu pai estaria feliz no dia de hoje. —
A simples menção ao meu pai me deixa tenso. Aperto as mãos com força e
agradeço mentalmente por elas estarem dentro dos bolsos da calça.
— Sim, estaria. — O velho me olha como se quisesse dizer algo e está
ponderando se deve. — O que pretende, Humberto? — Ele olha a filha de
longe, entre uma roda de mulheres e volta a me olhar.
— Allegra é uma mulher forte, você não vai conseguir domá-la. — Sua
fala me deixa confuso, apesar de eu não demonstrar isso para ele. Levo meu
olhar para a pequena mulher sorrindo e conversando, tentando entender o que
Humberto quis dizer com isso.
— O que farei com minha mulher não diz respeito a você. — Minha voz
firme o faz semicerrar os olhos para mim. Ela pode ser filha dele, mas preciso
deixar claro que agora eu sou o único a lidar com Allegra. Como se sentisse
que tem algo errado, Luigi aparece falando que a presença do capo é solicitada
em uma conversa com meus generais.
— Mal casou e já quer matar seu sogro?
— Já o queria morto antes de aceitar me casar. — Respondo o meu amigo
tranquilamente.
— Mantenha a cabeça no lugar, Ottavio. Ele não vai te deixar em paz
enquanto não tiver um herdeiro na barriga da filha dele. Pelo o que andei
ouvindo, o velho está com os dias contados. — Analiso o rosto de Luigi,
tentando averiguar se ele não está fazendo mais uma de suas piadas de mau
gosto, mas seu semblante sério é a resposta de que preciso. Humberto está
morrendo. Agora o que preciso saber, é se minha querida esposa sabe disso.
— Como soube? — Ele sorri e toma um gole do champanhe que segura.
— Eu não seria seu consigliere se não soubesse das coisas.
— Quanto tempo? — Pergunto, analisando ao redor para confirmar que
ninguém está nos ouvindo.
— Isso eu ainda não sei, mas quando eu descobrir você será o primeiro a
saber.
— Alguma novidade sobre aquele assunto? — Sem tirar nem por um
segundo os olhos de cima da minha esposa, que agora está sentada com a amiga
em uma das mesas dispostas no lugar. Espero a resposta para a minha pergunta.
— Nada, ainda. Mas aqueles cartuchos não são fabricados em qualquer
lugar. — Ele sussurra e enfim ganha minha atenção total.
— Então precisamos procurar o fabricante, para achar o comprador. Não
quero falhas, Luigi. Deixe isso claro a todos. — A cada dia que passa, eu sinto
que estou perto de descobrir quem é o assassino de meu pai.
Ainda me lembro de cada detalhe daquela noite. Meu pai estava indo jantar
com um dos nossos associados quando seu carro sumiu na estrada. Fizemos
uma busca e depois de horas encontramos seus soldados mais fiéis mortos e 10
quilômetros depois, o corpo dele, com sinais claros de tortura. Nenhuma
organização rival assumiu a autoria do crime, talvez por medo da retaliação,
mas todos são tolos se acham que eu não vou caçar o culpado até no inferno.
Me aproximo de Allegra e a puxo para abrirmos a pista de dança. Mal
espero a hora de podermos subir para nossa suíte e ter nosso casamento
consumado. Eu nunca estive com uma virgem, sempre preferi as mulheres
experientes e putas dos bordéis, mas minha esposa sempre despertou em mim o
interesse de a ter em meus braços.
— O que está passando pela sua linda cabecinha? — Pergunto enquanto
dançamos uma música lenta, depois de perceber que ela está perdida em
pensamentos.
— Estou me perguntando qual vai ser sua primeira ordem quando
estivermos a sós. — Ela diz, me olhando fixamente. Seus olhos verdes estão
me analisando como se conseguissem enxergar minha alma. Talvez até
poderiam, caso eu tivesse uma. Abaixo a cabeça, ficando rente ao seu ouvido
para que ela escute com clareza.
— Minha primeira ordem será que você fique imóvel, esposa. — Ela me
olha confusa e é nessa hora que sorrio por dentro. Eu vou amar corrompê-la. —
Para que eu possa pegar uma das minhas facas e rasgar esse vestido de noiva no
seu corpo, como manda a tradição. — Sinto sua respiração acelerar.
— Você vai me machucar? — Penso em sua pergunta e analiso seu olhar
preocupado.
— Prometo te fazer sentir prazer.
— Quais são suas expectativas? — Sua pergunta sai em um sussurro, como
se não tivesse certeza se é uma boa ideia dizer algo.
— Espero sua fidelidade, Allegra. — Ainda dançando, encaro seus olhos.
— Eu posso ser muitas coisas, mas eu não vou te machucar. Só peço que não
crie expectativas sobre mim, eu não posso te oferecer mais do que proteção e
fidelidade. — Ela abaixa os olhos e fica encarando meu peito.

Quando chegou a hora de subirmos para a suíte, nos despedimos de todos.


Minha esposa está calada e tensa, sinto sua mão entrelaçada na minha, trêmula.
Aceno para Luigi, que tem um sorriso zombeteiro no rosto, mas nada diz.
Espero Allegra abraçar sua amiga, que descobri se chamar Cosima, então
andamos em direção ao meu quarto na mansão. Mesmo depois de casado,
decidi que continuaria morando aqui, na casa onde cresci. Além de gostar da
localização, a mansão é uma verdadeira fortaleza, construída em cima de
montanhas, deixando-a com difícil acesso. Além de ter várias saídas de
emergência ao redor e o mar Tirreno logo atrás da casa.
Em um silêncio reconfortante para mim e imagino que assustador para ela,
subimos as escadas e entramos na minha ala da casa, onde poucos estão
autorizados a entrar. Abro a porta, dando caminho para minha mulher, que entra
arredia, analisando tudo ao redor.
— É agora que você dará a ordem? — Pergunta com a voz rouca, mas
percebo um pouco de receio. Ela se vira e me olha nos olhos, analiso seu
pescoço e vejo que engole em seco. Me aproximo dela como um predador indo
ao encontro da sua presa. Allegra não esboça nenhuma reação, então eu passo
uma mão no seu colo e sinto sua pele se arrepiar, fazendo-a fechar os olhos.
— Você se tornou uma mulher linda, Allegra. — Ela abre os olhos e
suspira quando me abaixo e beijo seu pescoço.
— Eu não tenho experiência alguma nisso. — Fala gemendo, enquanto
estou me ocupando em distribuir beijos em seu pescoço.
— Você teria problemas se dissesse algo diferente que isso. — Minhas
mãos circulam sua cintura e a puxo, grudando-a em meu corpo. Em um
movimento quase imperceptível, tiro minha faca do coldre dentro do meu
paletó e quando ela vê o objeto em minha mão, arregala os olhos verdes. —
Vire-se, esposa. Eu vou cumprir minha primeira promessa. — Ela se vira e eu
faço meu trabalho de cortar uma a uma, cada fita do corpete do seu vestido e
rapidamente a peça se afrouxa, caindo aos seus pés, e como se fosse possível,
meu pau fica ainda mais duro com a visão do corpo de Allegra em um conjunto
de cinta liga branco. Passo minhas mãos pela sua bunda e aperto, fazendo-a
ofegar.
— Sempre soube que era gostosa! — Falo, a virando de frente e atacando
sua boca em um beijo selvagem. No meu inconsciente, eu sei que preciso ir
devagar, pois ela é inexperiente em tudo, mas o homem das cavernas em mim a
quer forte e duro. Ela começa timidamente a passar as mãos pelo meu peito,
afrouxando minha gravata e a puxando em seguida, me afasto o bastante para
abrir minha camisa e a tirar do meu corpo. Allegra faz uma inspeção em meu
peito nu e seus olhos nublam de desejo, enquanto ela cora lindamente.
— Eu... Eu não sei o que fazer. — Sua inocência nesse momento é gritante,
me deixando ainda mais louco de tesão.
— Me deixe te dominar, eu cuidarei de você. — Como se estivesse
ponderando minha fala, ela me analisa por um instante, para então sacudir a
cabeça em concordância.
Volto a tomar sua boca enquanto deslizo minhas mãos por suas costas e
abro seu sutiã. Os mamilos com bicos rosados aparecem e eu os coloco na boca
sem perder tempo. O corpo dessa menina deveria ser considerado um pecado.
Chupo um seio, enquanto acaricio o outro, ao som dos seus gemidos. A deito
na cama e puxo sua calcinha, sua intimidade rosada e toda depilada me deixa
salivando. Me abaixo e passo a língua na boceta lubrificada, escutando-a gritar
de susto. — Se acalme, Allegra. Eu estou pegando o que é meu, apenas relaxe,
eu vou cuidar de você. — Me acomodo entre suas pernas sob seu olhar e passo
devagar a língua em seu clitóris, ela geme. — Já se tocou antes? — Ela assente
e fecha os olhos quando volto a passar a língua na sua intimidade,
intensificando as lambidas e logo estou a chupando sem pena, sentindo seus
sucos. Introduzo um dedo nela, a deixando tensa, mas volto a chupa-la e
quando sinto seu corpo relaxar novamente, introduzo outro dedo.
— Isso dói. — Diz rouca.
— Vai valer a pena, eu garanto. — Quando a sinto se desmanchar em
minha boca, levanto e tiro a minha calça e cueca juntos. Ela abre a boca,
formando um “O” quando olha o tamanho do meu pau, inflando ainda mais
meu ego. — Pode ficar tranquila. Cabe. — Minha fala sarcástica a faz me
fulminar com o olhar. Me deito em cima dela e começo a penetra-la. Suas
unhas se prendem como presas de um gato nos meus braços, mas eu não paro.
Prazer e dor para mim andam lado a lado.
Para chegar no paraíso, é preciso passar pela dor. Não é o que dizem?
Sinto ela ofegante e sem avisar, termino de me enterrar dentro dela. Minha
valente esposa fecha os olhos com força e uma única lágrima rola por seu rosto.
— Não tem mais volta, Allegra! Você é minha.
Isso a faz abrir os olhos e me encarar fixamente.
— E você é meu. — Dou um sorriso predatório para a mulher deitada em
baixo de mim. Eu estava certo. Ela nunca será alguém dócil.
Escuto a porta do banheiro bater e abro meus olhos, já tomando
consciência de tudo que aconteceu na noite anterior. Ottavio me tomou de todas
as maneiras possíveis, me apresentando um mundo de sensações totalmente
novas. Quando ele me perguntou se eu já havia me tocado, nem passou pela
minha cabeça negar, eu podia ser virgem, mas não boba! Conheço cada parte
do meu corpo e me dava prazer com as mãos, mas nada comparado ao que
fizemos ontem. Sento e me encosto na cabeceira da cama, escondendo meus
seios com o lençol. Devo estar uma bagunça completa. Sou incapaz de me
mover e solto um gemido de dor quando tento me levantar, minhas pernas estão
bambas e minha intimidade ardendo, mas se me perguntar como estou, direi
que satisfeita.
— Bom dia! — Me assusto com a voz rouca de Ottavio. Nem sequer notei
que ele tinha saído do banheiro. Faço uma inspeção rápida no seu corpo e sinto
minhas bochechas corarem. Seu corpo todo tatuado agora está coberto por um
terno três partes azul marinho que molda seus braços fortes, nos quais me perdi
na noite passada.
— Bom dia! — Tento falar mais firme, mas falho miseravelmente.
— O café já foi servido. Se arrume para descermos juntos. — Eu poderia
achar legal sua fala, se ele não tivesse usado um tom de voz como se fosse uma
ordem. Se meu querido marido acha que já pode me dar ordens como se eu
fosse um de seus soldados, está totalmente equivocado.
— Não preciso que me dê ordens. — Fixo meu olhar no seu, então ele
sorrir de lado e se aproxima de mim. Permaneço imóvel, vendo-o se sentar na
minha frente na cama. Sua mão fria começa um toque sutil pelo meu braço nu,
me fazendo arrepiar.
— Se você quer brigar, mia dea... — O apelido me faz fitá-lo com mais
interesse.
Ele acabou de me chamar de sua deusa?
— Escolha sabiamente suas lutas. — Seu olhar se prende no meu,
enquanto ele ainda alisa meu braço calmamente.
— Eu não gosto de receber ordens. — Falo e ele se aproxima do meu
rosto. — Eu gosto que falem com educação quando dirigem a palavra a mim.
— Ele solta uma risada anasalada e sua mão vai de encontro ao meu rosto, seu
dedão acariciando minhas bochechas e depois pretensiosamente meus lábios.
— Nós dois sabemos quem é o lado fraco da nossa relação, dea. Eu não
quero fazer mal a você, vamos tentar manter uma convivência pacífica.
Manterei em mente que você não gosta de receber ordens dentro desse quarto,
mas da porta para fora, se você não seguir algum comando meu, principalmente
se não estivermos sozinhos, você terá problemas. — Ele termina sua fala me
dando um beijo e logo se levanta, indo se sentar no sofá em frente a cama, me
deixando sem palavras.
Isso foi uma ameaça?
Frustrada e com dor, me levanto gemendo da cama, sob o olhar atento de
meu marido. Ando calada e nua até o banheiro, sem me importar de fechar a
porta e a ardência vem forte quando começo a fazer xixi.
— Cazzo. — Xingo baixo, me ergo e tomo um susto quando percebo
Ottavio encostado no batente da porta, de braços cruzados enquanto me
observa.
Ele me estende uma cartela de remédios e coro quando diz que é para as
minhas dores.
— Você já esteve pelada na frente de outro homem? — Sua pergunta me
faz virar o olhar para ele. A água do chuveiro cai na minha frente e tento
entender de onde ele tirou isso.
— Até ontem a noite eu era uma mulher virgem, Ottavio. — Respondo
seca e começo a tomar meu banho. Bufando de raiva, levanto meu olhar para a
porta e relaxo quando percebo que ele não está mais ali.
Passo os próximos minutos me arrumando para o meu primeiro café da
manhã na casa. A parte boa é que minha sogra é uma ótima mulher e poderá me
fazer companhia.
Talvez eu não me sinta tão sozinha quanto pensei que ficaria.
Quando termino de me arrumar, Ottavio me analisa de cima a baixo e eu
me pergunto se usar meus adoráveis vestidos soltos é uma boa ideia.
— Você se veste sempre assim? — Olho o vestido em meu corpo. Ele não
é um dos mais sofisticados que possuo, mas me deixa confortável. Volto a
encará-lo.
— Sim, eu me visto assim, tem mais desses pendurados no closet.
— Eu gostei, facilita na hora de foder. — Devo ter corado
instantaneamente com sua fala, pelo sorriso que ele me lança. Dio santo, esse
homem é completamente sem filtro.
Descemos para a sala de jantar, e pelo caminho ele me explica que estamos
em sua ala, onde possui cinco quartos e do outro lado da enorme escada
centralizada, fica a ala de sua mãe. Segundo Ottavio, nesse arranjo, os dois têm
privacidade.
Chegamos na sala de jantar e sorrio para minha sogra, que me olha com
brilho nos olhos.
— Bom dia! — A cumprimento e me sento na cadeira a direita de Ottavio.
— Como está, querida? — Fico sem jeito de responder sua pergunta
enquanto ela me serve um pouco de café.
— Estou bem e a senhora?
— Me chame de Elisa, agora somos família e sinto como se você fosse a
filha que eu nunca tive. — Seu sorriso doce e fala gentil me conquistaram
meses atrás, quando nos encontramos algumas vezes para organizar o
casamento. Mas agora é diferente. Pela primeira vez na vida sinto que posso ter
um afeto que chegue perto de parecer maternal.
— Deixe Allegra tomar café, mama. — Minha sogra se senta sorrindo e
tomamos um café da manhã silencioso, onde somente o barulho dos talheres
pode ser ouvido.
Somos interrompidos quando Luigi chega, chamando Ottavio para irem até
o escritório. Elisa logo me pega para um passeio pela propriedade e acabo me
encantando pela estrutura da mansão, construída em cima da montanha à beira
do mar Tirreno. O gramado verde se estende por todos os lados, além da
enorme piscina olímpica, e acabei descobrindo que nadar é um dos hobbies
preferidos de meu marido. Fico encantada quando encontro uma sala com uma
das paredes totalmente espelhada. Segundo minha sogra, este espaço está vazio
e nunca foi usado para nada, então me animo com a possibilidade de quem
sabe, poder montar um espaço meu para que eu possa praticar balé. Claro que
não sou tão boa e papai nunca me deixou ir a fundo, eu era uma prisioneira
dentro da minha própria casa, mas não muda o fato de que sou completamente
apaixonada pelos movimentos graciosos do balé. Cosima sempre disse que
tenho duas personalidades totalmente diferentes: meu lado doce ama dançar
balé e o outro atira como poucas mulheres. Eu nunca matei, mas se for para me
defender, não hesitarei.

Estou há alguns minutos encarando o mar da janela do meu escritório,


tentando achar uma saída para tudo que anda acontecendo desde a morte do
meu pai. Quando Luigi chegou dizendo que tinha novidades, logo entendi que
ele tinha as respostas para todas as minhas perguntas.
A única pista que temos, é que a arma usada para dar um fim no meu pai
foi uma Glock, o que no nosso mundo é como procurar agulha num palheiro. E
nos ferimentos de tortura que ele sofreu não encontramos nenhuma pista.
Estamos na estaca zero novamente.
— Precisamos ir a Florença. Eu sou somente seu consigliere, você sabe
que precisa de um subchefe, os capos estão ansiosos para um deles ser
escolhido. — As palavras do meu amigo me fazem voltar a realidade. Eu não
posso me deixar cegar pela sede de vingança, preciso controlar tudo e todos,
não posso deixar que me vejam como fraco.
— Eu quero Franco Coppola. — Digo e me viro, recebendo um olhar
curioso.
— Mas ele é só um soldado.
— Esatto, amico mio. Para o cargo de subchefe, preciso de alguém em
quem eu confie. Você sabe tão bem quanto eu que não confio em ninguém que
estará presente em Florença para a reunião. — A maioria dos capos da
Famiglia já estão velhos demais para estarem onde estão.
— Eles vão ficar revoltados com sua escolha. — Sorrio friamente com essa
possibilidade.
— Eu realmente espero que fiquem e que pelo menos um deles tenha
coragem para me desafiar em voz alta. Ando precisando extravasar.
— Que seja. Só espero que isso não termine em um banho de sangue.
Pretendo não me demorar com esse assunto. Vou mandar preparar o jatinho. —
Aperto meu olhar analisando sua expressão cansada o que me faz lembrar de
que faz dias que não recebo relatórios sobre por onde ele anda.
— Chame Franco e diga que eu quero falar com ele antes de partimos. —
Luigi assente, mas continua me olhando como se esperasse mais alguma coisa,
quando levanto a sobrancelha confuso, ele me pergunta se não vou levar
Allegra, já que comigo em busca do assassino, não pudemos ter uma lua de
mel. Pondero sua pergunta e decido que ela ficará em casa, junto de minha
mãe. Nesse momento a mansão é o lugar mais seguro para ambas.
Com a saída de Luigi, volto meus pensamentos para Allegra e a noite de
ontem. Apesar de ter comprovado sua virgindade, ela me surpreendeu por ter se
doado a noite inteira ao meu ritmo. Aquele corpo pequeno foi feito para ser
adorado. Sem qualquer experiência, Allegra se jogou e foi fundo junto comigo,
sentindo o ápice do prazer. Hoje de manhã, o fato dela mesmo acanhada não se
intimidar e ficar nua na minha frente, me mostrou que ela se adapta fácil, o que
é de grande importância para o cargo que ela ocupa agora. Com isso, me vem a
lembrança de que não nos prevenimos e provavelmente ela não deve fazer uso
de anticoncepcional, mas não tenho tempo de concluir meu pensamento sobre o
assunto, porque Franco bate na porta e entra depois que eu autorizo.
Analiso o homem à minha frente em um silêncio proposital. Ele, por sua
vez, não se deixa ser intimidado, e com o devido respeito me olha nos olhos
enquanto mantém sua postura.
— Você está comigo há muito tempo, Franco Coppola. Sempre atento em
tudo ao redor e todas às vezes em que eu estava em situações difíceis, você
esteve ao meu lado. — Ele acompanha meus movimentos sem dizer nada. —
Nós nos tornamos homens de honra juntos, vivemos todo inferno juntos. Hoje
eu preciso de um homem de confiança para o cargo de subchefe, então você é o
escolhido, mio caro. — Quando assimila o que eu disse, o homem na minha
frente arregala os olhos, mas logo volta a postura de indiferença, como fomos
treinados a usar desde sempre. Ele me olha nos olhos e nesse momento percebo
que fiz a escolha certa. O respeito e admiração com que Franco me encara me
diz que ele jamais ousará me trair e eu posso depositar nele a minha confiança.
— Eu agradeço, Don Ruggero. — Fala firme.
— Não me desaponte, porque você sabe que o único jeito de castigo, é a
morte. Agora vamos aos negócios. Prepare-se, estamos indo para Florença,
pegue as informações com Luigi e informe aos homens seu novo posto. —
Depois de agradecer mais uma vez, meu subchefe sai e eu vou atrás da minha
querida esposa. Quando não a encontro, sou informado de que ela está em um
dos ateliês perto da piscina, então sigo até lá. Nada teria me preparado para a
cena a minha frente: Allegra está de collant preto e uma saia de pano da mesma
cor, usando sapatilhas de balé. Ela desliza pela sala graciosamente, como uma
verdadeira deusa. Mia dea. Ela tem os olhos fechados, enquanto salta de um
lado para o outro, mas quando os abre e me vê pelo reflexo do espelho, paralisa
os movimentos, ofegante.
— Não te vi aí. — Me aproximo dela, encarando seu corpo e sua
respiração entrecortada.
— Não sou de fazer barulhos. Achei que você não dançasse mais. — Mudo
de assunto e ela me olha surpresa. Talvez pelo fato de eu já saber que ela
dançou algum dia.
— Como você sabe que eu danço balé?
— Eu sei tudo sobre você, mia dea. Todos esses anos, mesmo de longe, eu
sabia cada passo seu. Agora responda minha pergunta. — Ela arqueia a
sobrancelha pelo meu tom e eu sorrio. Esse jogo que estamos aprendendo a
jogar me excita. — Por favor. — Falo com deboche, a fazendo revirar os olhos.
— Eu gosto de dançar, nunca parei, somente diminui o ritmo. Gostaria de
transformar esse espaço em um estúdio para mim. — Ela pede, enquanto
encosto suas costas no meu peito, encarando tudo pelo espelho.
— Diga o que você quer, e terá. — Falo suavemente no seu ouvido,
sentindo seu corpo estremecer com meu toque. Distribuo beijos pelo seu
pescoço e mesmo suada Allegra tem gosto de pecado, e eu nunca quis tanto me
perder em um. Eu sabia que não conseguiria manter minhas mãos longe do seu
corpo depois de casados e o que me deixa louco é ver o quanto ela está
gostando dos meus toques.
— Vou manter isso em mente. — Ela responde entre gemidos, pois eu não
dou trégua em minhas investidas, roçando meu pau duro em sua bunda,
fazendo-a suspirar.
— Eu sei que está dolorida, mas eu preciso de você agora, querida esposa.
— Ela vira o corpo, ficando de frente para mim e vejo que seus olhos estão
nublados de desejo. A nossa diferença de altura é gritante, mas ela não se deixa
intimidar.
— Antes, quero conversar. — Suspiro frustrado. Tudo que eu menos quero
fazer agora, é conversar. Me afasto alguns centímetros e me sento em uma
cadeira. Ela me olha ainda incerta e eu espero que seja algo importante o que
ela tem para falar.
— Você tem alguns minutos. — Ela parece estar reunindo toda coragem
que precisa e quando estou quase desistindo de escutá-la, sua voz firme se faz
presente.
— Eu não fui criada para ser uma esposa bibelô da máfia. — Escuto sua
fala, tentando entender onde ela quer chegar. — Nós dois sabemos que no
fundo, todos esperam herdeiros, mas eu não serei só a parideira! Eu aceitei meu
destino de me casar com você, Ottavio. — Ela se aproxima de mim, ficando em
pé na minha frente. — Só que eu quero ser sua esposa de verdade. Eu sei que
na Famiglia não é permitido trair a esposa, como na Camorra. Mas, eu também
sei que muitos não seguem essa ideia e traem suas esposas. Você me disse
ontem que quer minha fidelidade, e você a tem, além é claro, do meu respeito.
Mas se você ousar me trair... — Ela se ajoelha, ficando entre minhas pernas. —
Eu te mato. — Sorrio divertido com a ameaça. Não que eu queira traí-la, mas
sim por achar divertida sua iniciativa de me falar abertamente que quer minha
fidelidade.
— Ameaçando o Don da Famiglia, mia dea? — Falo sarcástico.
— Não o Don, mas sim o meu marido. — Ela me olha intensamente
enquanto fala, e com essa atitude acaba ganhando minha admiração. Nem todos
os homens que conheço teriam coragem de me ameaçar, sabendo de que não
ficariam vivos para contar história.
— Você é diferente. — Falo e ganho um sorriso seu.
— Sim, eu sou! Eu só não quero viver infeliz. — Beijo sua testa
carinhosamente.
— Você é a mulher mais importante da Famiglia. Tudo que você quiser,
terá. E se for algo difícil, eu moverei o mundo e o colocarei aos pés da minha
esposa. — Falo e sei que é verdade. Eu acompanhei Allegra todos esses anos e
aprendi a gostar dela do meu jeito torto.
— Não me machuque, por favor. — Ela pede em um sussurro.
— Manterei isso em mente. — Ela sorri de lado quando uso suas palavras.
Tomo sua boca em um beijo lento, onde deixo que ela explore calmamente
minha boca. Suas mãos curiosas vagam pelos meus braços até pararem no meu
pescoço. A puxo para se sentar em meu colo, ficando de frente para mim, com
uma perna de cada lado. Coloco minhas mãos na sua cintura e a guio para se
movimentar em cima do meu pau, me fazendo gemer.
— Eu vou estar ausente por dois ou três dias, faça seu marido feliz e
aprenda a cavalgar agora! — Ela cora com minha fala suja, mas se levanta,
desfaz o laço que prende a saia na cintura, e quando a peça cai no chão, ela
logo desabotoa seu collant enquanto eu abro o zíper da minha calça, liberando
meu membro.
— Eu não sei fazer isso. — Murmura insegura enquanto me observa
manuseando meu pau babando a sua espera.
— Eu vou te ensinar, minha menina. Venha cavalgar. — Colocando uma
perna de cada lado, ela senta e eu vou me enterrando na sua boceta. Perfeita
como é, já se encontra molhada para me receber completamente.
— Vai ser fácil me viciar em você. — Digo e faço movimentos lentos de
entrar e sair. Allegra logo tem o rosto vermelho e me aperta forte nos ombros.
— Agora vamos a aula, mia dea. — Coloco as mãos na sua cintura, ajudando-a
a pegar impulso, fazendo-a subir e descer no meu membro. Seus gemidos
tomam a sala e me fazem rugir de tesão. Em poucos minutos, Allegra está
cavalgando como uma amazona legítima no meu pau, seus seios pulando no
meu rosto e eu levo um a minha boca, chupando e vendo-a revirar os olhos.
Aperto mais as mãos na sua cintura enquanto mamo.
— Oh!
— Isso, geme pra mim. — Seguro seu pescoço, fazendo ela me encarar
quando domino a situação. Sem dó nem piedade meto fundo e forte, encarando
seus olhos verdes. Acerto um tapa em sua bunda, a fazendo gritar. — Gostosa
pra caralho. Me diz, mia dea… Me diz quem é seu homem que te faz gozar,
hein? — Como se estivesse em transe, ela fecha os olhos com força. Sinto suas
pernas tremerem e levo uma mão ao seu clitóris, o estimulando mais ainda.
— Vo-você, Ottavio. — Sua fala me deixa insano, e quando percebo que
ela chegou ao seu orgasmo, estoco mais quatro vezes e me liberto, a
preenchendo com minha porra. Seu corpo treme e eu me sinto saciado pela
primeira vez.
— Tudo bem? — Pergunto ofegante, vendo-a puxar o ar e me olhar com
um sorriso aberto.
— Podemos fazer de novo? — Não me controlo e jogo a cabeça para trás,
gargalhando com sua fala.
Allegra Ruggero definitivamente foi feita para mim.
Foram tantos os problemas que encontrei em Florença, que a viagem que a
princípio seria de três dias, se estendeu para oito. Descobri que um dos nossos
associados mais velhos estava nos roubando e como eu andava entediado,
torturei o maldito e mandei pedaços do seu corpo como aviso para os outros
associados da região, para que soubessem que eu estarei sempre de olho e que
ninguém que tentar passar a Famiglia para trás, ficará vivo para contar história.
A reunião com os capos por pouco não terminou em um banho de sangue
depois que Aldo, capo de Napoli, ousou me desafiar com a escolha de Franco
como meu subchefe. Aquele velho gagá achou que eu o escolheria pela
amizade de anos que teve com meu pai. Eles entenderiam por bem ou com o
sangue que agora eu quem mandava.
— Isso é um desrespeito com a gente! Franco é somente um soldado,
Ottavio. — O homem gritou com raiva, enquanto eu continuei calmo,
encostado na minha cadeira na enorme mesa redonda, onde estão os principais
capos da Cosa Nostra. Passei o olho por um instante em cada homem presente
na sala e encontrei olhares de raiva e outros de indiferença.
— Mais alguém concorda com ele? — Os velhotes se olharam, enquanto
Aldo esperava com um sorriso de lado, achando que mais alguém teria a
ousadia de ir contra mim. Quando ele percebeu que ninguém ia se manifestar,
me olhou com olhos arregalados e eu senti o bem vindo cheiro do medo quando
ele percebeu que não sairia vivo da sala.
Sem titubear, puxei minha arma do coldre e disparei contra a cabeça dele,
vendo seu cérebro explodir como gelatina. Fiquei até surpreso quando percebi
que ele tinha um, pena que não soube usar. Os outros capos nem se moveram
em seus lugares.
— Não faz muito tempo que vocês beijaram este anel. — Levanto a mão
direita e mostro o anel da família Ruggero que todos beijaram e juraram
lealdade a mim no dia da minha posse. — Também não faz muito tempo que eu
disse que as coisas seriam diferentes. Então, comecem a rever seus atos, eu não
vou admitir falhas e deslizes. Não gostam das decisões que eu tomo? Arquem
com as consequências, isto não é a porra de uma democracia. Todos sabem que
não é do meu feitio ser paciente e benevolente.
— Eu estou às suas ordens, Don Ruggero. Fique a vontade para começar a
faxina. — Sorrio com a fala de Ângelo Santoro, um dos poucos capos jovens
presentes. Assim como eu, ele detesta a maioria dos velhos gagás aqui
presentes. É um aliado importante.
— Assim espero. — Pedi para retirarem o corpo de Aldo da sala e não
perdi o olhar tenso que muitos direcionaram ao cadáver sendo arrastado e
continuei a reunião. Encarreguei Ângelo de cuidar de Napoli até que eu
pudesse nomear outro capo para a região. Nem fodendo vou colocar alguém da
prole de Aldo no comando. Se entrassem em meu caminho, eu iria dizimar toda
a família da face da terra.
Mudamos o assunto para o que cada um conseguiu descobrir sobre a morte
de meu pai. Muitos não tiveram êxito em suas buscas, mas quando Fábio
Lucchese me disse que um de seus informantes entrou em contato, afirmando
que foi a Outfit que mandou matar o Don, fechei meus punhos com ódio. Quel
dannato do Cesare Galaretto pagará com seu sangue se esta informação for
verdade.
— Lucchese, preciso que me confirme esta informação. Diga a seu
informante que ele tem 24 horas. — O homem assentiu e eu perdi o foco de
tudo, pensando somente em mil possibilidades de matar Cesare lentamente.
— Pronto para ir embora? — Volto a realidade com a pergunta de Luigi.
Ele e Franco aparecem no meu campo de visão e meu consigliere como sempre
tem um sorriso zombeteiro no rosto.
— Oito dias longe de casa é tempo o suficiente. — Falo, entrando no carro
que nos levará à pista particular do meu jatinho.
— O que você pensa em fazer? — Franco, que estava calado há muito
tempo, me pergunta e eu penso na resposta.
Mas não tenho tempo de responder, porque o carro da frente explode,
fazendo Franco parar bruscamente nossa SUV. Segundos depois, o carro de trás
também vira uma bola de fogo.
— Puta que pariu! O filho da puta está com uma RPG. — Luigi xinga e
saca sua arma, abre a porta da frente e sai abaixado. Eu e Franco fazemos o
mesmo e atiro na direção de algumas casas velhas, escondido atrás do carro,
mas não consigo definir ao certo de onde vem os disparos.
— Onde esse maldito está? — Grito furioso.
— Ottavio, se protege, porra! — Franco grita, mas quando vejo Luigi
abaixado com um sangramento na perna, ando agachado até ele.
— Onde mais você está ferido? — Pergunto, checando sua perna e vendo
que levou um tiro de raspão. Ele diz que está tudo bem, ao mesmo tempo em
que os tiros cessam e Franco está parado, olhando para todos os lados, tentando
identificar de onde vem o perigo. Faço um torniquete na perna de Luigi
enquanto ele pragueja xingamentos.
— Eu não estou gostando disso. — Franco fala sobre o silêncio que
estamos.
A tensão é palpável e quando penso em voltar para onde eu estava, sinto
uma ardência em minha orelha esquerda ao mesmo tempo que Franco se joga
em cima de mim.
— Porra! Eu vou matar esse maldito. — Rujo, sentindo que tomei um tiro
de raspão na orelha que escorre sangue.
— Que porra de mira do cacete. Figlio di puttana! Cesare vai me pagar por
esse tiro. — Luigi grita e se levanta atirando. Dois carros apontam na estrada
em nossa direção quando novas rajadas de tiro ecoam. Abaixado, vejo Ângelo
sair do carro junto de seus soldados e atirar contra o casebre. Depois de alguns
minutos de confronto, escuto o barulho de uma moto em fuga, ao mesmo tempo
que um dos carros do meu capo sai em disparada, seguindo a moto.
— Tendo muitas emoções, chefe? — O capo me pergunta e se aproxima
sorrindo.
— Mas do que gostaria contar. O filho da puta com certeza é um executor,
além de ter explodido meus soldados. — Aponto para a bagunça feita e ele
assente.
Enquanto vejo Franco ajudar Luigi a entrar no carro, vou até a casa velha e
analiso o local, mas não encontro nada de útil. Me viro para sair e piso em um
envelope pardo com meu nome. Abaixo, pego e meu sangue gela quando vejo
uma foto de Allegra no dia do nosso casamento e atrás uma mensagem:
“Você será o último dos Ruggero a morrer.”
E logo em baixo o símbolo da Outfit. O que acaba com qualquer duvida de
que não fosse aquele filho da puta o mandante.
— Interessante. — Levanto a cabeço e fito Ângelo olhando a foto em
minhas mãos.
— Cesare e seu executor são homens mortos. — Sentencio. Porque tão
certo como a luz do dia de amanhã, é a minha vingança.
Assim que pousamos em Palermo, Franco leva Luigi para que nosso
médico verifique seu ferimento e mesmo sentindo minha orelha latejar, me
recuso a ir. Minha urgência é chegar em casa e conferir com meus próprios
olhos se Elisa e Allegra estão bem. No caminho até a mansão, passo analisando
os pontos cegos. Assim que Franco voltar, falarei com ele para fechar o cerco
ao redor da mansão.
Desço do carro, olhando a vigilância ao redor. Todos esses homens são de
minha confiança. Eu cresci com a maioria deles, conquistando sua lealdade e
sei que enquanto eles estiverem protegendo Allegra e minha mãe, elas ficarão
bem. Subo a escada rapidamente e quando passo pela porta, dando de cara com
a enorme sala de estar, encontro minha mãe tricotando. Ela levanta a cabeça e
percebo seu olhar ficar tenso, provavelmente por eu estar todo sujo de sangue.
— Ottavio, meu filho! O que aconteceu? — Em um piscar de olhos ela está
na minha frente me analisando.
— Estou bem, mama. Nada que um banho não resolva. — Olho ao redor e
antes que eu pergunte algo, ela sorri e diz que minha esposa está no ateliê. Eu
peço para que algum empregado vá chamá-la enquanto me dirijo para nosso
quarto.
Abro a porta da nossa suíte e o cheiro do perfume de Allegra me dá as
boas-vindas. Ando até o banheiro me despindo pelo caminho e olho meu
ferimento no espelho. Pego a caixa de primeiros socorros no armário da pia,
mas antes que eu comece a limpar a ferida, pequenas mãos me param no
caminho e eu encaro o olhar atento da minha esposa pelo espelho. Ela está
ofegante, como se tivesse vindo correndo. Seus cabelos estão presos em um
coque bagunçado e ela usa seu collant, saia e sapatilhas.
— O que aconteceu com você? — Ela pergunta e toma o algodão da minha
mão, tentando passa-lo no meu ferimento, mas sem sucesso por causa da
diferença de altura.
— Fui atacado quando estava vindo embora. — É tudo o que digo e a vejo
engolir seco.
Me curvo um pouco para ficar na sua altura e vejo ela sorrir de lado
enquanto limpa o ferimento. Ficamos calados até ela terminar o serviço.
Quando ela sai dizendo que vai buscar algo para eu comer, entro no chuveiro e
logo meus músculos tensos relaxam com a queda d'água. Coloco as mãos na
parede enquanto a água cai na minha nuca e penso nos motivos que levaram
Cesare a ordenar a morte de meu pai e de todos os Ruggero. Apesar de não
sermos aliados, a Outfit nunca se envolveu com a Cosa Nostra, pelo menos não
até agora. Permaneço mais alguns minutos e saio do banho ao mesmo tempo
que escuto a porta do quarto batendo. Vou para o mesmo e encontro Allegra
sentada na mesa de dois lugares perto da janela. Ela está olhando para o mar e
eu me pergunto como em poucos dias eu já tenha ficado com receio de que algo
aconteça com ela. Ela é mais perigosa do que imaginei.
— Você se adaptou bem a mansão nesse tempo em que eu estive fora? —
Pergunto e vou até a mesa. Ela vira seu olhar para mim e cora quando percebe
que estou somente com uma toalha na cintura.
— Sim, eu arrumei o meu ateliê. Além disso, Elisa é uma ótima pessoa e
foi paciente comigo. — Seu olhar me transmite cautela enquanto me sirvo. Me
pergunto se devo saber o que está passando na sua cabecinha.
— Quer me dizer alguma coisa?
— Sim. — Tomo um gole de água e peço para que diga enquanto como.
— Eu quero uma arma. — Levanto meu olhar até o seu e repito o que disse
na minha cabeça, para ter certeza de que não escutei errado. Empurro o prato de
comida para a frente e me encosto na cadeira. Analiso sua postura e percebo
que ela está segura do que me pediu.
— E por que você precisa de uma arma? — Ela sorri de lado e se recosta
em sua cadeira também.
— Porque eu sei atirar. E porque eu quero me sentir segura quando sair de
casa. — A ideia dela saindo depois da ameaça que recebi não me agrada.
— Arma não é sinal de segurança, Allegra. — Respondo duro, vendo-a me
olhar intensamente.
— Não, não é. Mas eu estarei mais protegida se eu puder andar armada.
Pelo menos quando eu sair de casa.
— Sabia que hoje recebi uma ameaça contra a sua vida? — Falo e ela
engole seco.
Minha esposa não é nenhuma covarde. Ela não se deixa intimidar, mas
também não tem noção de todos os perigos que a cercam. Vivendo durante anos
cercada por uma proteção exagerada, me surpreendo até mesmo com o fato de
que aquele carcamano do Humberto tenha permitido que ela aprendesse a atirar.
— Mais um motivo para que eu tenha minha própria arma. Eu não vou
confiar minha vida a um soldado.
— Você vai confia-la a mim, mia dea. — Respondo sério.
— Eu só quero me sentir protegida.
— Não tenha dúvidas de que você é, mas vou pensar sobre seu pedido.
— Por favor, não me esconda nada! — Ela pede, me fazendo suspirar
então volto a comer.
— O que você quer, Allegra?
— Eu quero que dê certo, Ottavio. — Seu olhar feroz me faz parar para
escuta-la. — Não quero ser a esposa fria e ser tratada como um bibelô que
precisa ser protegida para não ser quebrada. Eu sou sua esposa e sei de todo o
fardo que você carrega. No dia do nosso casamento, eu estava morrendo de
medo de você ser o monstro que todos falam, mas qual foi minha surpresa
quando você me fez sua, me cobrindo com carinho. — Eu suspiro e esfrego as
têmporas, escutando-a falar. — Todas às vezes que eu te vi todos esses anos, eu
idealizei na minha cabeça que eu apanharia todos os dias e que você me
prenderia em um porão. — Olho para ela surpreso.
Apesar de ser temido por muitos, eu jamais levantaria a mão para ela. Eu a
vi crescer e se tornar uma mulher. A minha mulher.
— Eu ainda não sei onde você quer chegar. — Sou sincero nas minhas
palavras.
— Eu quero que nosso casamento dê certo. Até nossa primeira noite
juntos, eu nunca imaginei que fosse dizer isso, mas eu quero, Ottavio. Você
poderá ser o que sempre foi da porta para fora deste quarto, mas aqui dentro eu
quero que você seja somente o Ottavio. Meu marido. — Ela diz isso tudo num
fôlego só e me surpreendo com a firmeza de suas palavras.
— Eu te disse para não esperar amor. — Falo cansado e ela assente.
— E também disse que você seria fiel a mim e que me protegeria. Isso é o
bastante, por enquanto. — Ela me dá um sorriso de lado e se levanta, vindo se
sentar em meu colo. Meu pau logo dá sinal de vida.
— Eu não confio facilmente. Então, se eu disser que eu confio em você,
não faça eu me arrepender. — Falo com intensidade a mais pura verdade.
A mulher hoje sentada em meu colo é tudo aquilo que eu queria e achei
que nunca teria. Allegra é uma verdadeira rainha da máfia, não tenho mais
dúvidas de que com ela ao meu lado o legado Ruggero se estenderá por várias
gerações.
— Tenha certeza de que a maior prova de amor que você pode me dar, é a
sua confiança. — Dizendo isto, ela me beija ferozmente. Seguro sua nuca e
aprofundo o beijo, escutando-a gemer, mas somos interrompidos por alguém
que bate na porta.
— Eu juro que vou matar seja lá quem for. — Me levanto e ando em
direção a porta, mas ela me segura e aponta para a toalha em minha cintura,
deixando evidente minha ereção.
— Vá se trocar, eu atendo. — Vou até o closet e visto um dos meus ternos
Armani. Quando saio, encontro Allegra tensa a minha espera.
— O que houve?
— Franco pediu para te chamar. — Ela diz e eu saio do quarto rumo ao
meu escritório. Para Franco ter mandado me chamar, algo de muito grave deve
ter acontecido. Assim que abro as portas do meu escritório e vejo a fisionomia
do meu subchefe, sei que não vou gostar do que ele tem a dizer.
— O que houve? — Pergunto novamente.
— Cesare entrou em contato. — Sua fala é direta.
— E o que ele disse? — Pergunto o vendo respirar fundo.
— Que não vai parar e que ele não vai deixar que Cosa Nostra e Camorra
se unifiquem. — Enfim o entendo o porquê ele começou os ataques. Medo.
Ele não quer que o acordo firmado aconteça, porque assim a Cosa Nostra
ítalo-americana também se beneficiaria com o tratado, abrindo brecha para uma
futura aliança com a Camorra americana. Aquele maldito matou meu pai
achando que nós iríamos recuar, por isso ele quer matar Allegra e a mim. Sem
nós dois, a guerra pelo poder nas duas máfias seria iminente.
Ando até o bar e me sirvo de uma boa dose de whisky. Tomo dois goles e
me sento no sofá ao lado, com a cabeça girando em torno da nova informação.
— E descobriram quem é o executor que tentou nos matar hoje? — Ele
assente e me passa uma pasta que estava o tempo todo em suas mãos.
— O nome dele é Otto Ross. Ele é o melhor executor da Outfit. Cesare o
treinou pessoalmente junto de um homem chamado Bruce, parece que o cara
até morava com Otto. — Leio as informações do filho da puta e começo a
pensar em uma estratégia.
— Franco, feche o cerco nas ruas de acesso a mansão, deixe os melhores
homens na segurança da casa. Minha esposa e minha mãe estão proibidas de
sair e os empregados também. Nada entra nessa mansão sem ser revistado. —
Dou as ordens e ele escuta atentamente, então o dispenso, ficando sozinho.
Meu celular começa a tocar no bolso e mostra um número restrito.
— Ruggero. — Atendo firme.
— A esta altura você já deve saber quem eu sou. — Eu sei muito bem
quem é Cesare Galaretto e com toda certeza não é ele do outro lado da linha.
— Sim, Otto. Eu sei quem você é. O faz tudo do Cesare. — Respondo
sarcástico, fazendo-o rir do outro lado da linha.
— Se prepare, pois eu não vou errar o próximo tiro. — Levo as mãos até
minha orelha e meu sangue ferve por causa de sua provocação.
— Estarei esperando. Ah! Otto, diga a Cesare para mandar o que ele tem
de pior, porque eu não vou parar agora que comecei.
Saber que em tão pouco tempo eu já tenho um alvo pintado nas costas por
ser a mulher de Ottavio, só me confirma que preciso me cuidar e não depender
somente dos soldados do meu marido. Quando ele sai para o escritório com o
chamado do seu subchefe, tomo um banho rápido, em seguida coloco a
primeira roupa confortável que vejo e desço para a sala, onde encontro Elisa
fazendo seu tricô. Meu coração se aquece toda vez que a vejo assim. Seus olhos
pretos como a noite me encaram e ela me lança um sorriso maternal.
— Onde está Ottavio? — Sua voz treme ao falar do filho. Pelo pouco
tempo que nos conhecemos, Elisa se mostrou uma mãe maravilhosa e o
cuidado que ela tem com Ottavio chega a ser engraçado, já que ele é o Don de
uma máfia.
— Ele está bem, foi só um ferimento de raspão na orelha, não precisa se
preocupar. — Me sento ao seu lado no sofá e pego suas mãos com carinho.
— Meu menino durão. — Ela fala, perdida em pensamentos.
— Ele me disse que estou correndo perigo. — Conto e ela me olha, mas
volta ao tricô em seguida.
— Sempre estamos correndo algum perigo, filha. Essa é a máfia. — Suas
palavras firmes me fazem fitá-la.
Seu olhar não transmite nada para ser entendido e eu me pergunto quantas
vezes a mulher na minha frente correu risco de vida quando estava em meu
lugar.
— Bom, vamos deixar isso de lado. Venha comigo em uma loja de tecidos,
preciso comprar alguns tecidos para terminar um vestido que estou fazendo
para você. — Me surpreendo com sua fala e devo ter deixado transparecer, pois
ela sorri ao se levantar e me puxa para a ante sala para pegarmos nossas bolsas.
Minha sogra é uma mulher elegante e me amaldiçoo quando vejo a
diferença gritante de nossos estilos. Elisa parece ter saído de uma revista dos
anos de 1940 com seu vestido até a canela marcando seu belo corpo, que apesar
da idade ainda deixa muitas meninas no chinelo. Seus cabelos são pretos e
estão sempre impecáveis em um coque e os saltos baixos são sua marca, até
hoje nunca a vi sem.
Me olho novamente no espelho e suspiro, frustrada por ter colocado um
dos meus vestidos rodados. Pelo menos este é verde escuro e não vou me sentir
tão imbecil.
Andamos em direção a garagem e rapidamente estamos saindo da
propriedade com sete seguranças a tira a colo.
O caminho até a cidade é tranquilo e aproveito para olhar as paisagens de
Palermo. A cidade litorânea é linda.
— Você está calada. — Volto minha atenção para minha sogra ao meu
lado.
— Só apreciando a paisagem.
O motorista para e depois de alguns minutos fomos autorizadas a sair do
carro. Meu celular começa a tocar e atendo Ottavio rapidamente.
— Alô. — Falo suavemente, enquanto andamos até a loja. Minha sogra
anda ao meu lado e quatro dos soldados nos seguem ao nosso redor.
— Qual a parte onde eu disse que seu pescoço corre perigo você não
entendeu, Allegra? — Ottavio ruge ao telefone e faço uma careta pelo seu tom.
— Eu ouvi perfeitamente, mas só vim acompanhar sua mãe para que ela
compre o que precisa.
— Per l'amor di Dio, vocês duas vão me deixar louco! Estou enviando
alguns homens, vocês têm uma hora para comprar o que querem, as ordens são
para te trazerem a força depois disso. — Acaba de dizer e desliga na minha
cara. Fecho os olhos e respiro fundo. Talvez hoje meu querido marido tenha
uma pequena surpresa com o quão rebelde eu posso ser.
— Ele sabe ser terrível quando quer. — Elisa resmunga ao meu lado, me
fazendo rir. Entramos na loja, que está fechada para nos receber
exclusivamente. Passamos um bom tempo olhando tecidos e conversando com
a vendedora senhorinha que descobri ser amiga fiel de Elisa. Quando estamos
em uma longa conversa, um soldado com um semblante nada amistoso entra e
eu o reconheço como um dos que vivem acompanhando Ottavio.
— Com licença, senhoras. — Ele diz suavemente, o que me deixa surpresa
e ganha nossa atenção. — Hora de ir embora.
— Ora essa, Piero, será que eu vou ter que arranjar um casamento para
você aprender bons modos, menino? — Elisa fala divertida, fazendo o homem
à nossa frente engolir seco, com os olhos arregalados. — Não se interrompe
senhoras quando elas estão colocando o assunto em dia.
— Tudo bem, Elisa. Ottavio deve estar colocando a casa abaixo com nossa
saída, depois do que te contei. — Ela me lança um olhar de entendimento e nos
despedimos de Olga, prometendo voltar em breve. Piero nos acompanha,
carregando consigo nossas compras. Quando minha sogra e eu paramos na
calçada, esperamos os seguranças trazerem o carro, e é quando acontece.
Elisa, que estava sorrindo, de repente fica pálida olhando para o lado e
quando sigo seu olhar, não vejo nada. Ela suspira trêmula e sai andando em
disparada na direção que estava olhando, fazendo os seguranças correrem atrás
dela. Fico sem saber o que fazer e grito a chamando, mas Piero me segura,
pedindo para que eu espere voltar. Sentada dentro do carro, espero Elisa, mas
quando entra seu olhar perdido me assusta e seu semblante de confusão e
silêncio me deixam em alerta.
— O que aconteceu? — Pergunto, segurando sua mão fria. Os olhos pretos
estão cheios de lágrimas não derramadas.
— Nem eu mesma sei. Talvez eu esteja ficando louca. — É tudo o que ela
diz antes de virar para a janela e permanecer calada.
Quando chegamos em casa, o silêncio da minha sogra me faz sentir que
tem algo de errado. Ela sai do carro sem esperar que abram a porta para ela e
anda para o seu quarto, me deixando andando lentamente logo atrás. Não tenho
tempo de colocar meus pensamentos em ordem, porque sou surpreendida por
mãos grandes me prendendo na parede da sala de estar.
— Você está proibida de sair de casa, Allegra. — Ottavio ruge com um
semblante de ódio direcionado a mim e tento não transparecer que fiquei com
medo do seu tom, mas falho.
— Eu só acompanhei sua mãe e nós levamos proteção. — Digo firme.
— Não deveriam ter feito isso. Vocês duas não saem de casa até segunda
ordem. — Ele me solta e arruma a postura sem tirar seus olhos frios de mim. —
O que aconteceu lá? — Conto tudo que fizemos e a reação repentina de sua
mãe. Logo seu semblante se fecha ainda mais e ele sai atrás dela.
Passo as próximas horas arrumando as compras de Elisa no seu ateliê de
costura, tentando entender o que aconteceu. Quando saio, trombo em Luigi a
procura de Ottavio.
— Me desculpe. — Ele diz sem jeito, olhando para os lados.
— Tudo bem. — Respondo arrumando minha postura.
— Só isso? — Levanto minha sobrancelha, tentando entender sua fala. Ele
ri e logo emenda. — Pelo jeito que já dominou a fera, achei que fosse mais
dura com as palavras, mas continua a doce e delicada princesa da Camorra. —
Sua fala me surpreende e fico me perguntando como assim domei a fera? Será
que ele se refere a Ottavio?
— Eu sou muitas coisas, mas nenhuma delas diz respeito a você. E para
melhor entendimento, hoje eu sou a rainha da Cosa Nostra — Ele cai na
gargalhada, me fazendo revirar os olhos para o imaturo consigliere do meu
marido.
— Aí está! Por isso Ottavio anda de cabelos em pé depois que casou, você
é a porra da alma gêmea dele. Cara de anjo, mas quando abre a boca é letal.
Somos interrompidos por Franco chamando Luigi para alguma coisa e
decido ir ver Elisa em seu quarto. A encontro deitada com as mãos cruzadas no
peito e olhando para o teto.
— Você está melhor? — Pergunto suavemente, entrando no cômodo e me
sentando ao seu lado na cama. Ela tem o olhar perdido e quando me olha,
lágrimas rolam pelo seu rosto.
— Eu acho que vou morrer. — Perco o fôlego com sua fala e me sinto
tensa. Eu não conheci minha mãe e agora que tenho uma referência, vou perdê-
la. É isso?
— Co-como assim? — Ela se senta na cama e limpa o rastro de lágrimas.
— Eu vou morrer, Allegra. Quantas vezes uma pessoa pode morrer em
uma única vida? — Sua voz transmite dor e eu gostaria de entender o que está
se passando pela sua cabeça.
— Por favor, tenha calma. Você está bem e não vai morrer coisa nenhuma.
Você me disse que seria para mim a mãe que eu nunca tive. Eu não posso sofrer
a perda de outra mãe. — Soluço e ela me puxa para um abraço, no qual eu
julgo ser um abraço maternal.
— Eu fui quebrada duas vezes na minha vida, Allegra. E nas duas eu juntei
meus cacos espalhados no chão, mas não terá uma terceira vez, porque eu não
vou suportar. — Ela murmura e alisa meus cabelos enquanto estou com a
cabeça deitada em seu colo.
— Me diga o que você tem, nós podemos resolver.
— Não posso, porque nem eu sei direito o que vi. — Ela fica calada e eu
respeito seu momento, mas sem tirar suas palavras da cabeça.

Os dias passam devagar dentro da mansão e apesar de estar mais


familiarizada com os empregados, sinto uma tensão no ar. Elisa desde o dia do
acontecido na loja de tecidos, há uma semana, parece perdida dentro da sua
cabeça. Ela não tem mais o sorriso de sempre, nem a confiança. Ottavio, no
entanto, vem trabalhando mais e estamos desenvolvendo nossa relação. Quando
estamos em nosso quarto, somos atraídos como imãs e passamos horas fazendo
sexo, fico admirada em como ele é capaz de me dar prazer. Ele idolatra meu
corpo, me sinto realizada e até mesmo boba quando ele me chama de mia dea,
mas sei que o campo que estou indo é perigoso demais. Amar em nosso mundo
é perigoso e mesmo sabendo que Ottavio nunca me machucaria, no fundo eu
sei que ele jamais poderia retribuir qualquer sentimento. E sim, eu aceitaria
qualquer coisa vindo dele, porque eu aceitei meu destino há muito tempo.
Isso me assusta.
Saio do meu estúdio e estanco no lugar quando vejo Ottavio dentro da
piscina, apoiado na borda e me olhando. Meu corpo esquenta cada vez que me
aproximo mais dele. Meu marido é a visão mais sexy e depravada que já vi e
seu corpo totalmente tatuado me deixa louca sempre que o olho. A única parte
do corpo musculoso que não é tatuada, é a perna direita e os seis gomos da
barriga. Chego perto e fico ao seu lado fora da piscina, me sento e coloco meus
pés na água. Ele, por sua vez, vem e fica entre minhas pernas, de frente para
mim, ainda dentro da água.
— Por que não avisou que chegou? — Pergunto e me aproximo para dar
um selinho nele.
— Eu precisava voltar ao meu normal antes. — Olho seu semblante e
entendo sua fala.
Todas às vezes que ele faz algo obscuro, quando chega em casa nunca vai
direito para nosso quarto. Ele sempre arruma alguma atividade que possa
ajudar a guardar dentro de si seu lado sombrio, mas isso não me assusta, eu
adoro todos os lados dele, apesar de nunca ter visto seu lado que o faz ser
temido.
— E como está agora? — Ele sorri com a pergunta e me puxa para dentro
da piscina, me fazendo soltar um grito assustado.
— Duro pela mia dea. — Ele sussurra no meu ouvindo, me fazendo
arrepiar e contrair por dentro somente com a antecipação de senti-lo dentro de
mim.
Rapidamente tiro minhas roupas, ficando nua dentro da piscina. Ottavio
me vira de costas, me fazendo segurar na borda e eu olho para os lados com
receio de estarmos sendo vistos por algum dos inúmeros soldados.
— Somos só nos dois, mia cara. — Ele diz rouco e me penetra sem aviso.
A forma crua como Ottavio me toma, me diz que ele ainda não voltou ao seu
estado comum e não posso negar que isso me excita mais ainda.
Ele prende meus cabelos em sua mão e mete rápido, fazendo a água se
agitar e meus gemidos aumentarem. Quando ele coloca a outra mão em meu
seio e aperta, eu grito, o fazendo parar seus movimentos e se afastar de mim.
— Me perdoe, Allegra. Eu… — Ele fala meio confuso e tentando se
afastar, mas eu o impeço.
— Está tudo bem! Eu só ando sensível esses dias. — Minha fala o faz me
fitar intensamente.
— Você já foi ao médico?
— Não achei que tinha necessidade. — Ele me puxa pela mão para fora da
água e me cobre com um roupão, em seguida coloca uma toalha ao redor da sua
cintura.
— Você deveria ter me falado. — Passo a mão na sua mandíbula cerrada.
Agora que o conheço mais, é tão nítido saber quando algo o desagrada, basta
olhar a mandíbula para saber que ele está com raiva.
— Não é nada demais. Além do mais, você anda muito atarefado com a
missão de nos manter em segurança. — Ele acena em concordância.
— Não estamos nos prevenindo e já faz semanas que nos casamos. — Ele
não precisa dizer o que está se passando na sua cabeça, porque eu sei bem.
— Sim, eu acho que estou grávida, mas ainda não fiz um teste e amanhã
vou ao médico. — Ele encara minha barriga por alguns segundos antes de
suspirar e voltar seu olhar para meu rosto. — Você quer ser pai agora?
— É o que esperam de nós. — Sua fala não é rude, mas me faz revirar os
olhos, porque mesmo não tendo colocado no acordo pré-nupcial, nós dois
sabemos que se tivermos mais de um filho homem, ambos terão poder nas
mãos. O mais velho será o sucessor de Ottavio e o segundo o sucessor de meu
pai, na Camorra. Por isso nós dois sabemos que se eu estiver mesmo grávida,
será algo bom para os negócios.
— Mas nós ainda corremos perigo. — Afirmo, andando para dentro de
casa com ele ao meu lado.
— Sim. — É tudo que ele diz até que cheguemos em nosso quarto. Corro
para o banheiro e me enfio embaixo da ducha morna. Com os olhos fechados,
sinto mãos acariciando minhas costas, me fazendo soltar um gemido baixo pelo
aperto gostoso na nuca.
— Eu vou proteger você e nossos futuros filhos, nem que eu tenha que
caçar de buraco em buraco e matar todos os meus inimigos. — Ele fala sério e
eu me viro para olhá-lo.
— Aqueles que dependem dos outros, depende de sobras, Ottavio. Eu não
quero depender dos outros para estar segura, eu sei me defender perfeitamente.
— Falo, olhando-o nos olhos e ele me fita por alguns segundos antes de
responder.
— Amanhã vamos ao médico, se confirmar a gravidez, vou providenciar
sua arma. — Sorrio, me sentindo vitoriosa. — Mas você vai ter um dos
soldados ao seu lado, até mesmo dentro de casa. — Bufo contrariada, mas
decido não retrucar.
Tomamos um banho, que era para ser rápido, mas se tratando de meu
marido, nada se torna rápido. Ele me tomou de todas as formas no chuveiro e
quando nos deitamos, achei que ele estaria saciado, mas quando dei por mim,
eu já estava quicando freneticamente em cima do seu corpo.
Os dias estão se arrastando, trazendo problemas atrás de problemas. Entrei
em contato com Marcello De Luca, o capo da Famiglia em Nova York, e ele me
garantiu que vai atacar Cesare. Perguntei o que queria em troca e ele
simplesmente disse que quando a hora chegar, vai cobrar o favor. Mas o que
importa é que ele realmente atacou Chicago, deixando baixas importantes para
o figlio di puttana do Cesare.
Enquanto isso, concentrei minha atenção no executor que se confirmou ter
matado meu pai. Minha sede por vingança tem se tornado insustentável. Venho
torturando e matando no lugar dos meus executores para tentar descontar. Luigi
disse que eu estou descontrolado, mas a verdade é que eu já não tenho controle
desde que me tornei chefe.
Uma batida na porta e Franco e Luigi entram em meu escritório na
empresa, La Cittá. Ser o CEO de uma das maiores empresas que constroem
aviões no mundo é uma vantagem para esconder meu real cargo na máfia.
Além de facilitar o transporte dos carregamentos de armas e drogas, escondidos
em fundos falsos criados para isso em alguns aviões da minha frota, faz com
que seja fácil a lavagem de dinheiro.
— Buon giorno! — Percebo a tensão. Luigi me cumprimenta e vai servir
uma dose de whisky no aparador do meu escritório. Sentado em minha mesa,
eu analiso a postura do meu consigliere enquanto ele vira uma dose dupla da
bebida.
— O que aconteceu com você? — Pergunto e ele me encara.
— Fomos atacados. — Respiro fundo com sua fala, tentando sem sucesso
controlar a vontade de quebrar tudo.
— Um dos galpões no porto. Levaram nossa mercadoria. — Franco fala e
então me lembro que o carregamento em questão eram drogas, a porra das
drogas para abastecer nossas cidades, começo a pensar em como resolver isso.
Eu quero a porra da minha carga de volta.
— E pela sua raiva, foi o executor. — Afirmo e Luigi assente. Eu preciso
matar esse executor figlio di puttana, e logo.
— Ele estava com alguns homens, mas na fuga um ficou para trás. O cara
tomou um tiro na perna. — Me levanto e coloco meu blazer, saindo do
escritório sem falar mais nada, mas sei que ambos estão me acompanhando. Já
dentro do meu carro, pergunto onde colocaram o homem e quando tenho minha
resposta coloco em prova a velocidade da minha Ferrari preta.
Vinte minutos depois, chego na Trentotto, a principal boate da Famiglia, é
aqui onde fazemos os negócios mais importantes sem deixar suspeitas, o lugar
é requisitado e está sempre com lotação máxima. Vou para o subsolo, onde
realizamos nossas torturas, claro que possuímos outros lugares espalhados em
pontos estratégicos de Palermo, mas a Trentotto é o nosso lugar! Ninguém em
sã consciência realizaria uma batida ou juiz liberaria um mandato para
revistarem. Eu tenho todos nas mãos. Esta é a minha cidade, a única lei que
prevalece é a minha. As várias celas e o fedor de mofo, urina e podridão
revelam que não há como sair daqui vivo, mas espero que nosso novo
prisioneiro escolha o caminho certo para ter uma morte rápida.
Ando até a última cela, mas o infeliz já notou minha presença de longe por
causa das paredes de grades enferrujadas. Ele está sentado no chão, com a
perna baleada esticada e pressionando o ferimento com uma das mãos, mas
nem por um minuto tira os olhos de mim. Me aproximo calmamente,
mostrando a ele que eu não tenho pressa e quando fico de frente para a cela, eu
puxo uma cadeira e me sento confortavelmente.
— Então você foi deixado para trás! — Exclamo e ele vira o rosto para não
me olhar.
— Me mata de uma vez e acabe com isso, italiano. — Ele fala a última
palavra sarcasticamente, me fazendo sorrir de lado.
— Você está fodido. Da última vez que ele sorriu assim, torturou um
homem por três dias seguidas, logo depois. — Luigi fala e cai na gargalhada,
fazendo meu prisioneiro arregalar os olhos.
— Qual é o seu nome? — Pergunto, sem dar mais importância para a
risada do meu consigliere.
— James.
— Que porra de nome é esse? Tipo, James Bond? Vocês americanos não
deixam de ser imbecis nunca, cazzo.
— Luigi, cala a boca ou saia daqui. — Falo firme depois de escutar seu
comentário.
Ele fecha a cara, mas pelo bem dos meus ouvidos, se cala.
— James, caro mio, você tem duas opções. — Digo, tendo sua total
atenção. — Está vendo aquele gancho ali? — Aponto para o gancho preso ao
teto com algumas correntes penduradas. — Se você não me disser onde
encontro o executor, eu vou te pendurar como um animal pronto para o abate.
— Sorrio de lado. — Sabe, colocaram um apelido em mim… Não que eu goste,
porque eu acho idiota, mas faz sentido para o que gosto de fazer quando estou
conversando com meus prisioneiros. — Meus soldados, Ítalo, Franco e Luigi
sorriem, fazendo James engolir em seco.
— Não me interessa.
— Se eu fosse você, perguntaria o que ele faz para ter ganhado o apelido.
— Luigi murmura, fazendo o homem semicerrar os olhos para ele.
— Eu não quero saber, vou morrer de qualquer jeito. — James fala
ríspido.
— Me apelidaram de "o empalador". — Falo e o vejo engolir seco. —
Você sabia que na idade média, eles já eram especialistas em torturas? Dentre
todos os métodos que eles utilizavam, com o tempo eu me aperfeiçoei em um
deles, o empalamento.
— Eu ainda acho nojento. — Reviro os olhos para a fala de Luigi e volto
minha atenção para o prisioneiro.
— James, eu vou perguntar só mais uma vez. Onde está o executor? — Ele
vira o rosto para o lado e não diz nada, então me levanto da cadeira e tiro meu
blazer e gravata. — Ítalo, traga à estaca! — Meu soldado sai, indo buscar o que
pedi, enquanto Luigi suspira, se senta na cadeira onde eu estava e Franco sai
para ir conferir como anda o movimento lá em cima.
Alguns minutos depois, Ítalo retorna com a estaca de madeira com a ponta
fina e na outra mão um ramo de ervas daninhas, sorrio para meu soldado pois
ele já sabe o que vai acontecer. Coloco a estaca de dois metros dentro do
buraco no chão do subsolo, criado especialmente para isso, pego as ervas e
passo ao longo da estaca grossa em pé. A ansiedade já toma conta do meu
corpo. Metodicamente confiro se a erva está espalhada na madeira para que
faça o efeito esperado. Quando termino, me viro para um James de olhos
arregalados.
Eu adoro essa parte!
O medo se mostrando somente no olhar das pessoas. Todas as vezes em
que empalei alguém, o prazer que senti foi como se fosse a primeira vez. Luigi
não estava mentindo quando disse que já fiz uma com uma mesma pessoa por
três dias. Era um soldado que tinha nos traído pegando para si boa parte da
arrecadação dos nossos associados. Ele foi tolo em achar que não seria
descoberto. Quando Carlo me deu a ordem da execução na época, foi inevitável
não fazer dele um exemplo para todos. Nós estávamos no comando e de olho
em tudo e todos. O vídeo do corpo com uma estaca de madeira atravessada por
dentro onde a ponta saia pela boca rodou no site do submundo. Durante
semanas sempre que saia em reuniões com Carlo o assunto era comentado.
— Tragam ele para mim. — Luigi e Ítalo pegam James se debatendo
ofegante, vindo ao meu encontro no meio da sala de tortura. Meu soldado
amarra as mãos dele enquanto eu preparo as correntes. Inço James, o deixando
pendurado e ele grita, me amaldiçoando enquanto eu me divirto.
Fraco.
— Seu psicopata, filho da puta! Otto vai te matar. — Ele grita e se debate.
— A hora dele vai chegar, não se preocupe! — Respondo.
Aceno a cabeça e Ítalo se aproxima dele, tirando suas calças. Posiciono
corretamente a ponta que não está tão fina em seu ânus, o fazendo gritar e se
contorcer.
— Agora eu deixo a gravidade fazer o trabalho dela, amico. Eu controlo
essas correntes que te seguram e quando eu começar a girar para que elas
desçam, eu não vou parar, James. Porque eu quero respostas e eu vou tê-las,
com você falando ou não. — Minha fala é fria e ele se debate mais ainda. Vejo
às horas no meu relógio e fico irritado quando vejo que já é tarde e eu sequer
almocei. — Luigi, peça meu almoço. — Olho para o homem pendurado a
minha frente e sorrio. — Isso aqui vai demorar.
Começo a descer a corrente devagar, fazendo-o suar e gritar por causa da
dor.
— Mas ainda nem comecei, assim você me desaponta. Onde encontro ele?
— Vai se foder, ele vai te estripar. — Ele grita e chora.
Meu almoço chega e me sento na mesa de dois lugares de frente para
James. Faz dois minutos que parei com as correntes. A ponta da estaca já está
dentro dele e pelos seus movimentos tenho quase certeza de que as ervas estão
fazendo ele sentir vontade de se coçar. Sorrio pela bela imagem que se desenha
em minha frente.
Corto meu bife mal passado e levo à boca, saboreando tanto a refeição,
quanto a cena de James se contorcendo.
— Sabe, para se fazer esse tipo de tortura é preciso entender um pouco
sobre anatomia, principalmente se você quiser que a pessoa viva pelo menos
uns dois dias. Mas eu já consegui com que um ou dois ficassem vivos com essa
estaca atravessada em seus corpos por três dias, gostaria de quebrar esse
recorde com você, é claro. — Ele fecha os olhos e respira fundo.
Termino minha refeição e fico sozinho com meu brinquedo quando Luigi e
Ítalo saem.
— Otto vai acabar com você. — Ele fala entre gemidos de dor e se
contorce. Giro mais a manivela, fazendo a estaca se enfiar cada vez mais.
Naquela altura, a ponta já estava mais do que entrando por entre seus órgãos.
Sua respiração estava ofegante e o suor escorrendo pelo seu rosto o deixam
ainda mais tenso. Ele é um homem fraco e pelo jeito não aguentaria mais por
muito tempo.
— Porque Cesare mandou matar meu pai? — Mudo a pergunta quando o
homem parece querer perder a consciência.
— Eu dei o tiro que matou seu pai, mas Otto aproveitou enquanto
arrancada dedo por dedo dele. — Sorri sádico e percebo o que ele está tentando
fazer.
O homem sabe que não vai aguentar por muito tempo, então está me
provocando para que eu acabe com isso logo. Para a sorte dele, eu preciso
resolver o problema da carga roubada e não posso perder mais tempo aqui.
— Se você não me disser nada, então você não me é útil. Sendo assim,
serei breve. — Giro mais rápido, fazendo seu corpo descer mais e mais sobre a
estaca. Não demora para que o sangue comece a escorrer, manchando a
madeira. Seus gritos de dor são constantes e pela visão periférica vejo Franco
entrar e fazer uma careta quando vê a cena. Ele se aproxima de mim e fica ao
meu lado.
— Ele sabe que estamos com um de seus homens, mandou um mensageiro
deixar um bilhete na empresa.
— E o que dizia o bilhete? — Pergunto, ainda girando devagar a manivela,
porque é um trabalho de paciência fazer com que a estaca vá entrando no corpo
sem furar os órgãos vitais para que a morte se torne lenta. Eu disse que iria ser
rápido, não que não iria doer.
— Ele disse que vai se tornar pessoal se você matar o amigo dele. —
Direciono meu olhar para meu subchefe e sorrio. — Você ainda quer se vingar
pela morte de seu pai? — Ele pergunta.
— Não é vingança. É a lei de Newton: para toda ação, existe uma reação.
Ele veio ao meu território e matou meu pai, já se tornou pessoal. Mesmo que eu
mate Cesare, ainda vou querer a cabeça do seu executor e vou colocá-la na
minha sala de reuniões do conselho, para que todos vejam o que vai acontecer
caso se voltem contra mim. — Viro meu olhar para o homem ofegante à minha
frente e volto a girar a manivela mais rápido ao som dos gritos de James. Três
viradas bruscas e a ponta da estaca sai pela sua boca. Para as pessoas sensíveis,
ver uma estaca de madeira atravessada dentro do corpo de uma pessoa pode ser
traumatizante, mas para mim é como sentar e admirar uma obra de
Michelangelo, me prendendo nos detalhes da fascinação de como o artista se
empenhou para deixar seus traços. — Veja, Franco. Ação e reação. — Falo e
vou para o banheiro para me lavar.
— O que você quer que façamos agora? Ele não disse nada! — Olho para
ele por cima dos ombros.
— Ele não disse nada, mas sua morte vai nos trazer Otto. Dê um jeito de
deixar o corpo dele em alguma vala e avise todos, logo ele encontrará o que
cadáver. Todos cometem erros quando se torna pessoal.
Quando chego em casa, já passa da meia noite. Demorei mais do que
gostaria resolvendo o problema da carga de drogas roubada, odeio fazer
negócios com aos colombianos e pedir outra remessa onde tive que pagar quase
o dobro foi o fim. Eu preciso arrumar outro produtor e rápido, além de ter tido
meus compromissos na parte da tarde na empresa. Manter os negócios legais é
sempre uma tarefa difícil quando se está em guerra. A mansão escura me
mostra que todos já foram dormir, mas ao passar pela sala noto minha mãe
sentada no sofá com uma xícara de café nas mãos, com o olhar distante.
— O que faz acordada? — Minha pergunta a faz saltar de susto. Sorte não
ter derramado o café. Me aproximo dela e me sento na mesa de centro, ficando
na sua frente.
— Estou sem sono. — Ela me responde e estende uma mão, passando-a
carinhosamente pelo meu rosto.
Elisa não está bem e eu preciso descobrir o que foi que aconteceu para ter
tirado minha mãe do eixo.
— Quando vai me contar o que te fez ficar assim? — Ela faz uma careta e
depois me dá um sorriso terno, o mesmo que usava quando eu era criança.
— Eu acho que agora que estou sentindo o luto de Carlo. — Diz, como se
eu fosse acreditar nisso. Não que eu duvide que ela amava meu pai, mas porque
eu sei que não é verdade. Elisa Ruggero é uma mulher de fibra que nasceu fora
da máfia, mas quando se casou com meu pai passou muitos momentos difíceis
até conquistar o respeito e admiração de todos.
— Estarei à disposição para quando você quiser me contar a verdade. —
Ela sorri de lado e eu sigo até meu quarto.
Abro a porta e encontro o corpo pequeno de Allegra deitado sobre a cama.
Sua respiração lenta mostra que ela já está dormindo. No banheiro, tiro minhas
roupas e tomo um banho rápido, retorno ao quarto e sorrio para a pequena
mulher carrancuda sentada no meio da cama.

Escuto o barulho do chuveiro ligado e abro os olhos devagar. Me viro e


olho as horas no criado mudo, vendo que mais uma vez Ottavio chegou tarde,
além de ter esquecido minha consulta. Me sento no meio da cama no mesmo
momento que ele sai do banheiro, nossos olhos se encontram e me sinto corar.
É sempre assim, eu olho para ele e meu corpo parece acender como luzes de
natal.
— Você esqueceu da consulta hoje. — Falo sorrindo de lado e me levanto.
— Eu tive muitos problemas para resolver, nem passou pela minha cabeça,
desculpe. — Ele se aproxima e me dá um beijo nos lábios. Quando se afasta,
passa o olhar pelo meu corpo e quando olha meus seios que a traíra da camisola
revela estarem com os bicos duros, sorri de lado. — Precisa de algo, dea? —
Pergunta no meu ouvido com a voz rouca e depois morde fraco, é inevitável
não soltar um gemido.
— Preciso. — Coro quando ele me encara com um sorriso cínico.
— Basta pedir. — Ele sabe o que eu quero, mas ele quer me ouvir falar,
talvez até implorar.
— Preciso de você. — Respondo e ataco sua boca com urgência. O beijo
sempre selvagem entre nós, parece estar em um nível ainda mais. Suas mãos
passeiam pelo meu corpo quente e sinto minha entrada já se contrair só com a
emoção de saber que em breve serei invadida pelo membro do meu marido.
Ele se afasta do beijo, passando o polegar nos meus lábios, provavelmente
inchados pelo beijo.
— Ajoelhe-se. — Seu pedido me faz olhá-lo, porque sei o que ele quer.
Nesse tempo todo eu nunca fiz um boquete nele e ele jamais pediu, até agora.
Me ajoelho e fico de frente para sua ereção, que está escondida pela toalha
enrolada na cintura. Ele a tira e segura seu membro babado pelo pré gozo
despontando, alisando o comprimento grande e grosso algumas vezes sob meu
olhar atento. Esse pedaço de maravilha no mundo. Ottavio passa a cabeça do
seu pau nos meus lábios e por instinto passo a língua, sentindo seu gosto. Nada
mal. Seus olhos nublados de desejo encontram o meu e volto a passar a língua
na cabeça, deslizando seu membro para dentro da minha boca, mas pelo
tamanho, grande parte fica para fora. Fecho meus lábios e chupo como se fosse
um pirulito, o fazendo gemer e levar uma das mãos ao meu cabelo e segurar
firme.
Guiando minha cabeça devagar em movimentos de vai e vem, ele geme.
Seu corpo se abaixa um pouco e sinto sua mão apertar minha bunda forte, me
fazendo gemer com seu pau dentro da minha boca. Volto a chupa-lo, deslizando
minha língua sobre sua extensão, fazendo seus gemidos continuarem e seu
membro pulsar dentro da minha boca, parecendo que ele vai explodir a
qualquer momento, até que de uma forma brusca ele me afasta e manda tirar a
camisola, então assim faço. Ainda de joelhos na sua frente, me sento sobre
minhas pernas e ele tomba a cabeça para trás, bombeando seu pau por alguns
segundos e rosna rouco quando goza em meus peitos. Meu olhar não sai do seu
rosto nem por um momento. Saber que foi eu quem o fez ofegar e sentir prazer
me deixa acesa. Eu o quero a cada dia mais.
Ele se abaixa um pouco e com o polegar acaricia minha bochecha e meu
lábio. Gemo quando ele puxa meu cabelo novamente em um rabo de cavalo,
deslizando seu olhar por meu corpo sujo pelo seu gozo, parecendo admirar sua
obra. Depois me ajuda a levantar e se posiciona atrás de mim, grudando minhas
costas em seu peito.
— Você fica maravilhosamente mais gostosa assim, mia dea. — Ele passa
a mão na minha cintura.
— Assim como? — Me viro de frente e rapidamente ele me pega no colo e
eu envolvo minhas pernas em torno da sua cintura.
— Marcada com minha porra. Você é perfeita para mim em todos os
sentidos. — Sua fala me faz sorrir. Ele pode não ser um homem perfeito, mas
eu sinto que é perfeito para mim.
Seu pau, mesmo tendo gozado recentemente, já dá indícios de vida
novamente contra minha barriga. Ele é insaciável.

Chegamos na clínica da médica cedo. Estamos na sala da recepção


esperando para sermos chamados. Ottavio está sentado ao meu lado mexendo
no celular e minha atenção está voltada para a recepcionista que não tira os
olhos do meu marido. Olho de lado para confirmar se ele não retribui as
olhadas, mas ele parece alheio a tudo, ou está se fazendo.
Fulmino a mulher com o olhar e ela sorri de lado para mim.
— Está demorando demais. — Falo irritada e me levanto. Ottavio tira os
olhos do celular, passa seu olhar pelo meu corpo e sorrio por isso.
Essa manhã ele quase caiu para trás quando me viu com meus cabelos
naturais. Segundo ele, eu sou mais sexy assim e me proibiu de usar chapinha.
Aproveitando o momento, resolvi colocar um cropped branco com uma saia
lápis vermelho sangue e um blazer na mesma cor, meu marido não resistiu e me
jogou na parede do corredor que leva até a sala da mansão e me tomou lá
mesmo. Rápido, forte e duro.
Após poucos minutos, Marisa, a médica mais indicada que encontrei,
aparece e nos chama para entrar. Nervosa, conto tudo que ando sentindo e
minhas suspeitas sob os olhares atentos de Ottavio. Quando a médica pede para
eu me trocar e colocar uma camisola do hospital, sinto um frio na barriga.
Me deito na cama confortável com a ajuda de Ottavio, que permanece
calado desde a hora que entramos no consultório.
— Muito bem, Allegra. Vamos ver se realmente tem um bebê a caminho.
— Marisa diz sorridente e coloca um gel gelado na minha barriga. De braços
cruzados, meu marido me olha e sorri de lado, talvez percebendo meu
nervosismo. — Não acredito. — Tensiono os ombros com a fala dela e olho
para tela do ultrassom, mas tudo que vejo são borrões.
— O que houve? Está tudo bem comigo? — Minha fala denota
preocupação e quando ela olha para Ottavio, reparo que ele uma veia saltando,
mas continua calado. Percebo mais ainda que tem algo de errado.
— Você está grávida mesmo, Allegra. Parabéns aos novos papais. Mas a
minha surpresa é que você está esperando gêmeos. — Arfo e meus olhos se
arregalam enquanto a médica sorri para mim. Ottavio encara fixamente a tela
onde a médica aponta os dois pontos dentro de mim, indicando os dois sacos
fetais. — Estão vendo? — Ela aponta na tela. — São gêmeos, e univitelinos.
Portanto, serão idênticos.
Olho para Ottavio e ele sorri de lado, olhando a imagem à sua frente.
— E já dá para saber o sexo? — Ele pergunta, colocando as mãos no bolso
da calça. Provavelmente deve estar pensando no tratado silencioso sobre nossos
filhos serem capos das duas organizações.
— Ainda é cedo, ela está com seis semanas completas. Quando chegar a
oitava, podemos fazer um exame de sexagem fetal. — Ele assente e me olha.
Não consigo descrever seu olhar, mas parece um misto de alegria, orgulho e
preocupação.
Troco de roupa e volto para o lado de Ottavio no consultório e depois de
pegar todas as indicações de Marisa e vitaminas para tomar, saímos para a
recepção, mas quando coloco meus olhos na recepcionista e ela sorri para
Ottavio, fúria me domina e sem pensar muito, solto a mão dele e me aproximo
sorrindo para ela.
— Posso ajudar, senhora? — Ela me pergunta sorrindo e me olha de cima a
baixo.
— Sim, pode. — Respondo ainda sorrindo. — Pode começar parando de
encarar meu marido. Se eu pegar mais uma vez seu olhar nele, eu vou te pegar
e te torturar com minhas próprias mãos. Vai por mim, querida, eu sei fazer
maravilhas! — Minha fala calma e contida a faz arregalar os olhos. — Espero
que o nome Allegra Ruggero te lembre algo. — Termino a fala dando meia
volta e encontrando Ottavio na porta, que viu tudo calado e com um sorriso
divertido no rosto.
— Ciúmes? — Ele pergunta sarcástico e eu faço uma careta.
— Só cuidando do que é meu.
Entramos no carro em silêncio e caio em meus pensamentos sobre a
gravidez. Nossos herdeiros estão a caminho em um momento de guerra. Talvez
seja a hora de voltar a treinar, pelo menos as coisas leves, porque eu não vou
hesitar em matar seja quem for que queira colocar meus filhos em perigo. Que
nossos inimigos temem meu marido, eu já sei, mas eles vão descobrir que
deverão temer Allegra Ruggero da mesma forma.
Há dois dias descobri minha gravidez gemelar e são poucas as pessoas que
sabem. Ottavio achou melhor esconder até onde pudermos, para que eu não
corra mais perigo do que já estou. Ontem meu pai me fez uma visita e ficou
extremamente feliz quando soube que será avô, isso é tudo o que ele mais
queria. Apesar de ter notado ele mais magro e abatido, não comentei nada. Pelo
o que Ottavio me disse, papai está tendo problemas em seu território por conta
do capo da Outfit que não aceitou muito bem nosso casamento, por isso está
trabalhando em dobro.
Quem ficou extremamente emocionada e feliz com a notícia foi Elisa.
Minha sogra se ajoelhou e beijou tanto minha barriga enquanto chorava, que
acabei chorando junto. Ela me disse que eu e meus filhos trouxemos esperança
e felicidade de volta a vida dela e parece que isso a animou realmente, porque
hoje ela saiu com seu soldado e deixou um recado dizendo que foi às compras,
coisa que ela não fazia desde o ocorrido na loja de tecidos.
Mal posso esperar até poder contar para Cosima, ela vai surtar com a
notícia de que vou ter dois bebês ao mesmo tempo. Meus pensamentos são
interrompidos quando meu celular toca e sorrio ao ver o nome de meu marido
aparecer.
— Alô!
— Por que demorou tanto? — Ele pergunta aborrecido. Se tem algo que
Ottavio não sabe nessa vida, é esperar.
— Estava perdida nos meus pensamentos. Está tudo bem?
— Sim, só liguei para informar que Piero vai levar você até Cosima hoje à
tarde. — Enfim vou poder sair de casa.
— Por que Piero e não o soldado que você designou para cuidar da minha
segurança desde que nos casamos? — Pergunto confusa e ao mesmo tempo
curiosa pela escolha.
— Porque você é o meu bem mais precioso e está carregando outras duas
pessoas preciosas e precisa ser protegida pelos meus melhores homens. Além
disso, talvez Cosima goste de reencontrar Piero.
— Como assim goste? O que você não está me contando, Ottavio?
— Pergunte a ela mais tarde. — Sua fala sarcástica me diz que tem algo
acontecendo e eu vou fazer Cosima me contar tudo.
— Tudo bem, vou me arrumar e já saio.
— Tome cuidado, Allegra. A cafeteria foi fechada somente para receber
vocês duas.
— Você está muito prestativo, marido.
— Só cuidando do que me é meu. — Fala e desliga o celular, enquanto eu
caio na gargalhada por ele ter usado minhas palavras contra mim
Tomo banho e coloco um vestido longo que fica solto em meu corpo.
Minha barriga ainda não se nota, mas já está um pouco inchada e dá para
perceber se eu usar algo mais apertado na região, mas quero evitar comentários.
Desço e encontro Piero me esperando ao lado do carro, me surpreendendo
quando vejo que é um dos SUVs blindados de Ottavio.
— Ele não está exagerando? — Pergunto para o soldado ao lado da porta
aberta, esperando que eu entre.
— Não, senhora. Mulheres e crianças podem ser descuidadas, homens não.
— Arqueio a sobrancelha pela ousada fala de Piero e entro sem falar mais nada.
Durante o caminho, fico me perguntando se devo ou não perguntar a ele o que
está acontecendo com Cosima, mas decido guardar para mim e perguntar
diretamente a minha amiga.
Quando o carro para em frente a Forno Becagli, salivo só de ver a vitrine
expondo vários tipos de doces. Assim que entro no local fechado
exclusivamente para mim e Cosima, sorrio ao vê-la já devorando um cannoli.
— Então você nem me esperou! — Finjo estar zangada, mas acabo
sorrindo quando ela se levanta animada e me abraça apertado.
— Olha só para você! Está linda, senhora Ruggero. — Ela fala meu novo
sobrenome sarcástica, me fazendo rir.
Cosima perde uma amiga, mas nunca a piada. Eu sempre a tive como uma
irmã, fomos criadas juntas apesar de ela ser filha de Carla, a antiga empregada
de papai, que morreu em um atentado à nossa casa há quatro anos.
— E você pelo visto andou aprontando, senhorita. — Ela faz uma careta
para a minha fala e nos sentamos quando o garçom se aproxima. Eu peço dois
dos zeppole que vi na vitrine e um suco de laranja.
— Você não brincou quando disse que estava com vontade de comer
doces. — Ela diz com olhos arregalados por causa do meu pedido.
— Então, vamos às novidades antes que Ottavio apareça e me leve de volta
para a casa. — Reviro os olhos, a fazendo rir. — Me diga, Cosima. O que tem
entre você e Piero? — Aponto com a cabeça para o homem na porta e notei ele
olhar de lado algumas vezes para minha amiga. Cosima, por sua vez, fica
vermelha e abaixa a cabeça, mas quando volta a levantar, tem um sorriso tenso
no rosto.
— Eu fiquei com ele no seu casamento. — Minha boca se abre, em
choque.
— Cosima, sua doida! Se papai te pega fazendo isso, ele te mata. Sabe que
ele tem um carinho enorme por você. — Falo baixo para que Piero não nos
escute.
— Eu sei, mas olhe só para ele. — Ela fala com um sorriso idiota no rosto.
— Vocês só se beijaram, né? — Os olhos arregalados da minha amiga me
dão a resposta que preciso para respirar aliviada.
— Sim. Deus, que vergonha. — Ela coloca as mãos no rosto e eu sorrio.
Meu pedido chega e assim que o garçom se afasta, volto ao assunto.
— E por que Ottavio sabia sobre vocês dois e eu não? — Ela me olha
incerta e morde o lábio como se estivesse procurando as palavras certas para
dizer.
— Porque não ficamos somente no seu casamento. Nos encontramos na
folga dele e Ottavio nos viu juntos. — Mas que merda, Ottavio me paga por
não ter me dito antes.
— Vocês estão namorando? — A fito olhar para Piero, que está com a
atenção voltada para a rua.
— Ottavio deu uma dura nele, mas disse que já está na hora de Piero se
casar. Ele vai falar com seu pai como chefe da família de Piero, para pedir
minha mão. — Dou um grito e bato palmas e minha amiga cora, olhando para
Piero.
— Olha só para você, vai se casar! Vamos morar perto uma da outra, isso é
uma ordem. OUVIU PIERO? — Grito a última frase, fazendo o homem
suspirar e acenar com a cabeça.
— E você? Como anda a vida de casada? — Sua pergunta me faz sorrir
mais ainda.
— Produtiva, eu diria.
— Como assim? — Ele retruca, mordendo outro pedaço de cannoli,
fazendo minha boca salivar por um pedaço
— Eu e Ottavio estamos indo bem. Você sabe que eu estava esperando ser
agredida diariamente e até mesmo estuprada. Mas a verdade é que eu me impus
desde nossa noite de núpcias. Claro que ele não me prometeu amor, e nem
espero isso, porque não é da natureza de Ottavio. Mas ele cuida de mim e
quando estamos sozinhos... Oh, Cosima, ele é o homem mais carinhoso e bruto
ao mesmo tempo. — Meu coração está acelerado e sinto vontade de chorar.
Ainda bem que posso culpar a gravidez por isso.
— Você está apaixonada por ele. — Sua afirmação me faz virar o rosto e
olhar a rua através da vitrine.
— Ainda é cedo. Você sabe tão bem quanto eu que isso no mundo em que
vivemos representa perigo. Além disso, eu não posso achar que só porque ele
me trata bem, seja motivo para eu me apaixonar. — Ela assente e volta a comer
quando eu mordo meu doce. Ultimamente, eu venho me perguntando o que
anda acontecendo entre nós dois. Não posso negar que ele mexe comigo e faz
eu me sentir uma mulher desejada, mas afirmar que estou apaixonada seria
tolice da minha parte. Eu tenho que manter meus pés no chão.
O fato do meu corpo se acender quando ele está perto já é um sinal de
alerta, do qual preciso dar um jeito.
— Você está calada.
— Eu estou grávida. — Falo rápido e levanto meu olhar para encontrar
minha amiga de olhos arregalados.
— Isso é uma piada? — Nego com a cabeça, então ela pula da cadeira e
vem me abraçar.
— Eu não acredito que você já está grávida, sua safada.
— Vai por mim, quando você se casar vai me dar razão. — Ela cora e olha
para Piero, que tem seus olhos nela como um falcão.
Estamos em pé, abraçadas, quando o barulho de uma batida de carro na rua
chama nossa atenção e então tudo acontece muito rápido quando Piero se
aproxima e nos joga no chão ao mesmo tempo em que tiros começam a ser
disparados, quebrando as vitrines. Cosima começa a gritar, tampando os
ouvidos enquanto eu tento alcançar minha bolsa para pegar minha arma, mas
Piero me prende debaixo dele, ao mesmo tempo em que segura minha amiga.
— Senhora, fique assim, nossos homens estão cuidando disso.
Os tiros cessam quando o carro parece se afastar e Piero se levanta, vai até
a porta e passa pelo mar de cacos de vidro. Mais soldados entram armados, nos
encarando e suspiro aliviada quando um deles me ajuda a levantar. Olho para o
lado e vejo Cosima com a mão apoiada na barriga, gemendo enquanto uma
lágrima escorre pelo seu rosto.
— Co-Cosima. Pierooooo! — Grito o homem e ele vem correndo, quando
a encontra, se abaixa e pressiona o ferimento, gritando por um médico. Ela
tenta dizer algo quando me ajoelho ao seu lado. — Shhh... Vai ficar tudo bem
com você. Nós vamos te levar para o hospital.
— Fique calma, principessa. Eu estou aqui. — Ele diz e beija sua testa. Os
paramédicos chegam e a levam para o hospital depois de uma espera
agonizante. Sinto meu celular vibrar em minha bolsa, mas não sou capaz de
atender, meus olhos estão em Cosima e Piero de mãos dadas. O soldado a beija
devagar antes dela ser colocada dentro da ambulância.
Outro soldado se aproxima e me leva até o carro, rumo ao hospital e deixo
lágrimas rolarem pelo meu rosto. Os minutos até chegar pareceram horas e
assim que entro pela porta da recepção, sou levada para fazer exames. Tento
negar e ir atrás de notícias da minha amiga, mas as enfermeiras são diretas
quando dizem que foi uma ordem do Don e que ele está a caminho.
Me deito na cama no automático, então a porta é aberta bruscamente e
Ottavio passa por ela como uma bala. Ele se aproxima e seu olhar caminha por
todo meu corpo, procurando machucados.
— Eu estou bem. — Resmungo, segurando o choro e suspiro quando um
médico aparece para fazer um ultrassom em mim.
Cinco minutos depois, o médico termina o exame e fala que eu e os bebês
estamos bem. Ottavio o lembra de manter minha gravidez em segredo e o
homem assente, afirmando que depois vai voltar para checar minha pressão.
Quando ele sai e me deixa sozinha com meu marido, me levanto as presas.
— Onde você vai? — Ele bufa e me segura pelo braço.
— Eu vou ver como Cosima está. Ela tomou um tiro.
— Você precisa se acalmar. Ela está em cirurgia. — Sinto meu corpo
tensionar e meus olhos se enchem de lágrimas quando o encaro. Geralmente,
me orgulho de conseguir ler as pessoas, mas Ottavio é algo indecifrável. Seus
olhos azuis frios me encaram enquanto ele contrai o maxilar.
— Você não vai me impedir. — Falo e me solto do seu toque, saindo
rapidamente do consultório com ele me seguindo.
Depois de me informar com uma enfermeira no corredor, chego na sala de
espera do bloco cirúrgico e encontro Piero sentado e sua camisa coberta de
sangue. Um arrepio me toma quando me lembro que aquele sangue é da minha
amiga. Ele levanta seu olhar, mas não diz nada, apenas encara através do meu
ombro e quando Ottavio passa a minha frente indo até ele, os dois conversam
algo sussurrado.
O olhar de Piero recai em mim enquanto ainda estou de pé vendo a cena,
tentando entender o que está acontecendo. Meu marido se vira e olha para mim,
mas pela primeira vez eu queria não decifrar seu olhar.
Pesar.
É o que ele transmite. Sem me dar conta, solto um soluço e dou um passo
para trás, negando com a cabeça.
— Ela está bem, não está? — Pergunto incerta. Ele abaixa a cabeça e
aperta a ponta do nariz.
— Anda Ottavio, diz que ela está bem! — Grito. Meu coração está
acelerado e percebo tarde demais que não estava pronta para ouvir suas
próximas palavras.
— Você é forte, Allegra. — As palavras são o estopim para as lágrimas
rolarem pelo meu rosto. Ottavio me abraça e só então percebo que estou
ajoelhada no chão.
Ele diz algo, mas eu estou perdida em meio a minha dor para compreender.
Eu perdi minha mãe sem nunca a conhecer e estava praticamente sozinha no
mundo quando conheci uma garotinha atrevida, que adorava brincar de se
esconder pela casa enquanto a mãe cozinhava. Cosima. Crescemos juntas, ela
sempre esteve ao meu lado e por mais que não fosse de sangue, sentíamos que
éramos irmãs. Quando Carla morreu e papai a pegou para criar, fomos uma
para a outra à força para seguir em frente, mas agora tiraram um pedaço de
mim. Minha irmã morreu e eu vou cobrar esse sangue.
Fomos feitos para dizer adeus. Foi o que meu pai me disse no dia do
enterro de Cosima e agora vivo me perguntando quantos "adeus" eu vou
precisar dizer mais e mais. Um pedaço meu morreu com minha amiga. Quando
fecho os olhos, ainda posso vê-la caída, ensanguentada, com os olhos em mim,
cheios de lágrimas não derramadas e quando ela... Por Deus, quando ela olhou
para Piero, eu posso jurar que vi o seu coração se quebrando ali, porque ela
percebeu que não viveria o grande amor que ela sempre sonhou em viver.

— Já comeu? — Ottavio me pergunta quando volta do closet, já vestido


após o banho.
— Estava te esperando. — Ele avalia minha resposta, sabendo que é
mentira. Desde o enterro, eu venho me alimentando mal, deixando minha
médica e todos ao meu redor preocupados.
— Uma semana, Allegra. Já faz uma semana. Você precisa encarar o seu
luto e se cuidar melhor. Você está grávida dos nossos filhos.
— Não venha me dizer o que devo fazer, porque eu não estou te dizendo
que você precisa achar o filho da puta daquele executor, Ottavio. — Grito e me
levanto da cama arfando. Minha raiva por aquele homem ter matado minha
amiga está difícil de controlar, Cosima era inocente.
— Está me culpando? — Ele pergunta com o semblante fechado.
— Não, eu não estou te culpando. Mas eu o quero morto. — Digo firme.
— Você o terá. — Ele garante e assente, então me puxa pela cintura e me
dá um beijo na testa, mas me afasto e encaro seus olhos.
— Eu quero a cabeça dele e não estou brincando. — Ele sorri de lado,
passando o dedão nos meus lábios.
— E você terá, mia dea. — Sorrio pela sua afirmação. Eu tenho a absoluta
certeza de que meu marido não poupará esforços para trazer o que eu pedi.
Isso não vai trazer Cosima de volta, mas fará com que a justiça seja feita.
Descemos para jantar e encontramos minha sogra na mesa, a nossa espera.
Elisa sorri de lado e encara fixamente minha barriga, como faz todas às vezes
que me vê.
— Ottavio, eu preciso falar com você após o jantar. — Ela fala séria e ele
assente ao se sentar.
— Devo me preocupar? — Ele pergunta depois de alguns minutos calado.
— Não necessariamente. — Ela responde e se vira para mim. — Allegra,
minha filha, coma mais um pouco do assado de carne que mandei preparar,
você adora. — Minha vontade é de recusar imediatamente, mas sinto os olhos
de águia de Ottavio em mim, então eu suspiro e acabo pegando um pequeno
pedaço da carne, fazendo-os sorrir.
— Eu já terminei. Quando quiser, Elisa. — Ele nem esconde que está
interessado no que minha sogra tem a dizer.
Elisa, no entanto, termina sua refeição calmamente e quando enfim acaba,
os dois se levantam. Quando estão quase saindo da sala de jantar, ela se vira e
diz que acha melhor que eu os acompanhe. Ottavio a olha por alguns minutos e
depois assente. Eles seguem para o escritório, comigo logo atrás.
Fecho a porta e me sento confortavelmente no sofá do escritório. Meu
marido está sentado na sua cadeira atrás da mesa e tamborila os dedos na
mesma, um sinal claro que não está confortável.
Elisa está de pé na sua frente. Ela olha para trás parecendo procurar meu
olhar e quando acha, encara minha barriga e respira fundo, voltando a atenção
para seu filho.
— Eu sei que não estava bem esses dias e me desculpem por preocupá-los.
— Está pronta para dizer o que houve com você? — Ottavio pergunta
sério.
— Não há uma razão, meu filho. Eu acho que o luto pela morte de seu pai
veio agora. Você sabe o quanto tenho me mantido forte após tê-lo perdido. —
Soltando um longo suspiro, ele se levanta, vai até ela e deposita um beijo em
sua testa. Sorrio de lado, porque essa foi a coisa mais fofa que eu já o vi
fazendo.
— Escute bem, Elisa. Eu sempre estarei aqui para quando quiser me contar
a verdade, você é minha mãe e eu a respeito como tal, mas convenhamos que
suas desculpas vão acabar e você precisará arcar com as consequências. — A
fala firme, mas baixa de Ottavio me faz pensar nos motivos para ele ter tanta
certeza que sua mãe lhe esconde algo. Pelo o pouco que conheço, Elisa parece
ser uma senhora fácil de decifrar, ou foi o que eu imaginei.
— Está tudo bem, meu filho. — Ela responde, lhe dando um beijo na
bochecha e logo em seguida pede licença.
Meus olhos acompanham meu marido enquanto ele pega uma dose de
whisky e se senta novamente em sua cadeira.
— Por que tem tanta certeza que ela está escondendo algo? — Pergunto,
ganhando sua atenção.
— Eu não estaria onde estou, se me deixasse ser enganado tão facilmente.
Sua fala acende uma dúvida em minha mente. Elisa vem tendo esse
comportamento desde o dia que estávamos na loja de Olga. O que ela viu que a
fez ficar assim? Qual segredo minha sogra pode estar escondendo?
— Vamos fazer uma pequena viagem! — Arqueio a sobrancelha pela fala
repentina. Ottavio tem seus olhos fixos em mim e apesar do semblante cansado
das noites mal dormidas ele continua sendo o homem mais sexy que já coloquei
meus olhos.
— Para onde e porquê? Pensei que estive com muitos problemas, se
ausentar agora é mesmo a melhor opção? — pergunto curiosa. Meu marido não
faz do tipo que se afasta dos problemas.
Ele suspira largando o copo de whisky em cima da mesa ao mesmo tempo
em que se levanta e caminha até mim. Quando se senta ao meu lado, pega
minhas pernas as colocando em seu colo. Sua mão quente começa a pressionar
meu pé esquerdo em uma massagem gostosa que me faz fechar os olhos em
apreciação.
— Você pode usar uma faixada para esconder suas dores das outras
pessoas, mas não de mim mia dea. Para mim suas emoções são tão claras como
um rio cristalino. Você perdeu uma pessoa importante. — Meus olhos se
enchem de lágrimas com sua fala.
Passei todos esses dias chorando pelos cantos do nosso quarto e em todas
as vezes em que ele chegava em casa eu podia ver em seus olhos que sabia
apesar de toda a maquiagem que usei para esconder.
Ele me enxerga e a constatação me emociona.
— É só uma fase, logo aprendo a lidar com toda a dor. — Falo dando de
ombros como se isso nada. — Você não precisa se ausentar por minha causa, as
pessoas precisam de você aqui.
— Minha esposa grávida precisa mais de mim. Guerras, problemas e
conflitos sempre vão existir. Não é como se o mundo fosse acabar com minha
ausência. — Afira firme.
Ele levanta minha perna ao mesmo tempo em que abaixa a cabeça e
deposita um beijo no peito do meu pé. Quando volta a me olhar um sentimento
novo está presente em seus olhos, quase como uma admiração.
Me entregando aos meus desejos, tiro minhas pernas de cima do seu colo e
me jogo em cima dele que logo rodeia os braços em minha cintura. Minhas
mãos vão desenhando o contorno do seu rosto sobe seu olhar atento em meus
olhos.
— Me faça esquecer a dor marido. — Peço sussurrando. Neste momento
eu não me importo de que ele me ache fraca, eu preciso que ele seja a força por
mim, por nós.
Gemo quando sua mão possessiva me prende pela nuca. A forma bruta
com que ele sempre toma tudo do meu corpo me excita.
— Eu prometo que você irá esquecer qualquer dor. — Responde me
olhando intensamente.
Seus lábios tomam os meus. O beijo é urgente, doloroso e ao mesmo
tempo uma promessa.
Assim que coloco meus pés dentro do apartamento com vista para o porto de
Monte Carmo fico surpresa. Não por conta do lugar, mas sim por não haver
móveis no lugar. Olho para trás com cara de espanto para Ottavio que tem um
sorriso no rosto.
— Eu comprei a poucos dias, pensei que talvez você quisesse decorar ao seu
gosto. O quarto já está mobiliado. — Fala dando de ombros e andando pelo
local.
— Vou adorar gastar alguns milhares de euros aqui. — Respondo ganhando
um sorriso seu como resposta.
A cobertura triplex tem cinco quartos, quatro banheiros, uma sala ampla e
cozinha estilo americana com ilha. O último andar com uma piscina em
formato retângulo de onde se tem sem sombras de dúvidas uma das vistas mais
lindas de Mônaco.
Já passa das seis quando me pego olhando o horizonte lindo, a cidade é
calma e as luzes da noite parecem deixar tudo mais aconchegante.
— Se essa visão fosse um quadro, eu não perderia a chance de perder horas
a admirando a cada dia. — A voz de Ottavio me faz virar e pega-lo me olhando
com um sorriso sexy e duas taças na mão. Meus olhos vagueiam por seu corpo,
ele está sem camisa e a bermuda branca dá um contraste lindo com sua pele
morena. Mordo o canto dos meus lábios já sentindo meu corpo se esquentar. A
necessidade que eu adquiri de ter sempre suas mãos em cima de mim me deixa
quase refém.
— O que fez com meu marido? — Pergunto sorrindo de lado aceitando a
taça com suco que me estende. Ele solta uma risada frouxa e toma um gole do
seu vinho com os olhos em mim.
— Sabe que me dei conta de que é a primeira vez desde que nos casamos
que temos algo parecido como uma lua de mel. Então pensei em transformar
esses dias aqui em algo mais romântico, mas não se deslumbre muito. —
Gargalho por sua fala. — Eu nunca fiz nada romântico nessa vida e
provavelmente te deixarei uma fera se errar em algo.
Ele deixa a taça em cima da mesa ao nosso lado e me puxa para seus braços.
Sua boca toma a minha em um beijo lento como se estivesse me enfeitiçando.
Sua língua macia, inspeciona com calma minha boca trazendo o gosto
adocicado do vinho que estava saboreando a minutos atrás.
Ele me prensa entre seu corpo e a mesa. Gemo quando seus dentes resvalam
em meu pescoço ao mesmo tempo em que sua mão aperta meu seio. Ottavio
sabe exatamente o que fazer para deixar meu corpo a sua mercê.
Quando se afasta um pouco antes que eu posso reclamar da ausência de suas
mãos em mim, ele me vira me deixando de costas para ele, empurra minhas
costas me fazendo se inclinar na mesa. Meus seios colam no objeto frio
enquanto tenho meu vestido sendo embolado na cintura. Solto um gemido
rouco quando recebo um tapa na bunda, instintivamente rebolo ansiando por
mais.
— Quando eu acabar com você, espero que durma feito um anjo. A única
coisa que você vai sentir amanhã vai ser a sensação de mim te comendo duro.
— A voz rouca perto do meu ouvido faz os pelos do meu corpo se arrepiarem
tão logo sinto seus dedos ágeis em minha boceta.
— Não me torture. — Peço assim que percebo que não vou aguentar muito
tempo. Os hormônios da gravidez estão me deixando mais sensível e Ottavio
parece saber disso.
Com o rosto e meu torso colados na mesa, fecho os olhos escutando minha
calcinha sendo rasgada. Minha respiração fica forte enquanto a antecipação
toma conta do meu corpo já em chamas. Ottavio abre minha bunda soltando um
gemido em apreciação.
— Ainda vou enfiar meu pau todo nessa bunda gostosa do caralho. —
Afirma passando o dedo e me fazendo retrair. Esse ainda é um lugar
inexplorado por ele, mas tenho certeza de que ele irá mudar isso em breve.
Passando sua língua devagar em minha intimidade já molhada ele parece
saber os lugares certos para fazer meus olhos se revirarem. Seguro as bordas da
pequena mesa quadrada quando sinto meu clitóris sendo puxado pelos dentes
de meu marido.
— Oh... cazzo Ottavio, não para! — Grito entre gemidos quase sem folego.

Allegra se contorce e rebola sem perceber quando chupo e mordisco seu


pequeno clitóris. Essa mulher é a porra de uma deusa em todos os sentidos. Seu
corpo já em mudança por conta da gravidez me chama quase como uma
perdição.
Abro as bandas da sua bunda o quanto posso e de modo lento vou
acariciando a boceta com minha língua, lambendo cada resquício de líquido
pelo caminho. Meu pau dói de tão duro com os gemidos e a cena dela exposta.
Introduzo um dedo em seu buraco e devagar faço movimentos de vai e vem,
minha boca se enche de água observando a boceta gulosa sugar meu dedo.
Cazzo. Dou um tapa estralado em sua bunda com a outra mão quando sinto
meu dedo sendo esmagado pelo seu canal.
— Sua boceta gulosa está apertando meu dedo, quero ver quando meu pau
estiver metendo forte. — Falo aumentando as estocadas com meu dedo. Allegra
parece estar perto de gozar e para prolongar ainda mais o momento tiro meu
dedo completamente ouvindo seu resmungo. Sorrio quando levanta a cabeça e
me olha sobe seus ombros. Seu rosto esta vermelho e a respiração ofegante.
— Ottavio Ruggero, não se atreva a me deixar assim. Termine o que
começou. — O tom autoritário é recebido por mim como um desafio.
— Não tenha pressa mia dea — Afirmo passeando minha mão na bunda já
marcada pelo tapa que dei.
Visão linda do caralho.
Desabotoou minha bermuda fazendo com que meu pau pule para fora. Nem
me preocupei em colocar uma cueca depois do banho que tomei quando
chegamos. Suspiro quando a cabeça do meu pênis resvala na bunda de Allegra,
ele está duro, babado e pronto para se enterrar nessa mulher.
Seguro meu pau espalhando todo a lubrificação da boceta e sem aviso entro
até o talo.
Allegra arfa e eu fecho os olhos com a sensação de estar em casa. Jamais
vou me cansar desse sentimento.
— Ottavio... quero tudo! — Fala rouca de tesão.
Retiro meu pau para voltar a meter de volta fazendo com que seu corpo
impulsione um pouco para frente. Seguro sua cintura com as duas mãos e enfim
a castigo sem piedade. Os únicos sons do ambiente são dos nossos gemidos e
do encontro de nossos corpos. Acerto mais um tapa na bunda e mais outro
ensandecido pelos tons avermelhados em contraste com a pele clara.
Minhas metidas são intensas e furtivas, a safada parece nem se dar conta de
que rebola uma vez ou outra no meu pau que já está todo babado enquanto
geme e grita pedindo por mais. Coloco-a sentada na mesa de frente para mim.
Seu olhar inebriado de desejo se encontra com o meu, beijo seus lábios
enquanto nós dois buscamos fôlego ao mesmo tempo. Seguro suas pernas me
posicionando entre elas e volto a meter duro, Allegra joga a cabeça para trás e
seus cabelos se balançam freneticamente no ritmo das metidas.
— Isso...ah! Não paraaa... — Pedi de olhos fechados.
Meus olhos focam nos seios ainda cobertos pelo vestido.
— Prenda as pernas em minha cintura. — Quando faz o que peço, puxo o
tecido para baixo deixando seus peitos livres, me inclino colocando um na boca
enquanto acaricio o outro com a mão. Chupo o bico rosado escutando seus
gritos, o que me deixa ainda mais possessivo.
— Meu Allegra, cada parte desse corpo me pertence. Você, seus
pensamentos, absolutamente tudo me pertence. — Pela primeira digo o
sentimento que venho guardando.
Quando me casei, achei que seria fácil manter relações sexuais sem qualquer
tipo de sentimento. O casamento era apenas um meio para um fim e a
continuação do império através de herdeiros, mas Allegra parece me empurrar
todo maldito dia. A mulher com o jeito mandão, mas ao mesmo tempo entregue
vem dominando partes de mim.
— Oh...sii...sim Ottavio. — Ela revira os olhos e sei que não está pensando
com clareza, porque se estivesse logo iria protestar afirmando que eu também
sou dela, mas ela ainda não sabe que nem precisa perguntar. Essa mulher
dominou tudo de mim em pouco tempo.
Volto a chupar seu seio, mas logo paro quando se deita na mesa. Observo
sua mão indo em direção ao seu clitóris e seguro impedindo.
— Não toque no que é meu mia dea, eu sou o único que pode te dar prazer.
— Afirmo levando minha mão ao botão inchado. Em poucos movimentos,
sinto o canal dela esmagando meu pau. Solto um gemido rouco porque a
sensação é mais do que prazerosa. Suas pernas que ainda rodeiam minha
cintura começam a tremerem e eu logo as seguro, seu corpo se convulsiona
diante dos meus olhos me fazendo aumentar meus movimentos.
Um.
Dois.
Três.
Olho para baixo e solto um rosnado quando vejo o líquido sendo expelido de
sua boceta enxarcando meu pau. Allegra grita ensandecida e suas pernas
parecem fora de controle. Tiro meu pau para fora e depois de bombeá-lo
algumas vezes deixo meu gozo jorrando em cima da boceta vermelha.
Ainda ofegantes, eu a ajudo a descer da mesa e a pego no colo quando
percebo que suas pernas parecem duas massas de gelatina.
— Só preciso de cinco minutos. — Ela murmura com um sorriso de lado e
os olhos fechados enquanto caminho em direção ao nosso quarto.
Assim que a coloco deitada já adormecida na cama, cubro seu corpo pelado
e sigo para o banheiro tomando uma ducha rápida e logo em seguida me junto a
ela na cama.
O barulho do meu celular me desperta e para que Allegra não acorde sou
rápido em atende-lo. De pé saio do quarto em direção a cozinha.
— Diga.
— Espero que as férias estejam boas! — Estanco no lugar quando
reconheço a voz. Isso nunca é um bom sinal. Ele só entra em contato quando os
problemas estão difíceis demais para serem resolvidos.
— O que aconteceu? — Pergunto logo, cortando o papo furado.
— Luigi está piorando. Com toda essa guerra com a Outfit ele está saindo
do controle.
— Você deve continuar o protegendo, e não se deixe ser visto! — Ordeno.
Com toda a situação da guerra eu sabia que Luigi alguma hora poderia me
trazer problemas.
— Ele anda fazendo perguntas Don e em algum momento encontrará as
respostas de que precisa.
— É o seu dever protegê-lo. Eu não quero que ele descubra absolutamente
nada antes da hora.
— Você não pode esconder isso por mais tempo. — Afirma.
— Só faça o que foi mandado e não pegue serviços extras. Toda atenção
somente nele. — Respondo e desligo a ligação.
Respiro fundo e praguejo quando uma dor de cabeça filha da puta ameaça
começar. Uma semana. Eu disse que ficaria fora por uma semana e os
problemas que já eram grandes parecem ter dobrado de tamanho.
Luigi é meu amigo desde que me entendo por gente, mas se ele começar a
ser uma pedra em meu sapato temo que precisarei chegar a medidas drásticas.
Se ele ou outra pessoa descobrir o que sei, ninguém da família Collalto estará a
salvo.

— O que faremos hoje? — Allegra pergunta enquanto termina de colocar


um brinco na orelha. Encosto no batente da porta cruzando meus braços
observando-a.
— Pensei em só andarmos por aí, achei que quisesse decorar o apartamento
ao seu gosto. — Digo dando de ombros.
Quando resolvi afasta-la da Itália estava pensando no seu bem estar e no
emocional abalado. Mia dea estava se afogando na tristeza do seu luto não me
deixando outra escolha se não intervir.
Apesar de todo o caos do momento, não foi difícil priorizar minha esposa.
Ela é a porra da minha rainha e merece toda a atenção que eu puder dar.
— Tem certeza de que está bem? — Diz me olhando desconfiada. —
Ottavio Ruggero andando por aí, no meio da semana enquanto está em guerra
com a Outfit. O inferno deve ter congelado. — Zomba me fazendo sorrir de
lado.
— Sua boca petulante ainda vai te meter em problemas, mia cara. —
Respondo me aproximando. — Além de conhecer a cidade temos um
compromisso inadiável. Monaco é onde está a segunda maior filial da La Cittá.
Vou te levar na fábrica. — Seu sorriso se ilumina com minha fala. Allegra não
é do tipo de mulher se encanta com uma tarde de compras, minha esposa gosta
do novo e mais do que isso, do perigoso.
Assim que chegamos no galpão de montagem dos aviões somos
recepcionados por Adrian Vitali, o responsável pela cede. Além de ser jovem e
dedicado ao trabalho tem toda a minha confiança. Ele é filho de um dos nossos
antigos associados da região e sempre foi um menino inteligente, quando
completou dezoito anos, vi nele o potencial para cuidar da fábrica aqui em
Mônaco. Então o mandei para faculdade de administração e arquei com seus
estudos em troca de lealdade e de sua liderança aqui.
Adrian nunca tentou passar da linha. Eu mantenho sua identidade bem
escondida de todos, tê-lo as sombras é uma carta que possuo na manga. O
garoto agora com 24 anos é um gênio com números e letal com uma arma na
mão.
— É sempre bom revelo, Ottavio. — Adrian, estende a mão e nos
cumprimentamos em um aperto firme.
— Eu precisava tirar uns dias de folga e vim a passeio, mas pretendo
mostrar a fábrica para minha esposa. Está é Allegra Ruggero. — Apresento
Allegra a ele.
— Prazer em conhece-la senhora. — Adrian diz, mas Allegra faz uma
careta, provavelmente por ter sido chamada de senhora.
— Apenas Allegra por favor! Vamos deixar o “senhora” para Elisa.
Com as apresentações feitas, começamos um tour pela montadora. Observo
com orgulho toda a produção sendo feita com zelo em cada detalhe, Allegra
fica admirada e enche Adrian com perguntas sobre cada etapa que a responde
mostrando a mesma empolgação de sempre.
— Isso é impressionante! Eu jamais poderia imaginar esse tipo de produção,
a La Città é realmente uma caixinha de surpresas. — Allegra comenta
sarcástica quando chegamos em uma parte quase isolada da produção onde é
montado o compartimento de fundo falso onde transportamos produtos ilícitos
sempre que necessário.
— Somos bons no que fazemos mia dea. — Respondo dando de ombros.
— Também fiquei impressionado na primeira vez que conheci a fábrica. Eu
era um garoto nerd esquisito e mesmo assim Ottavio viu potencial em mim.
— Nós só temos cinco anos de diferença, mas você me fez parecer muito
mais velho. Mas não posso negar que sua versão mirim era bastante peculiar
caro mio. — Respondo dando de ombros e sorrio.
— Vocês se conhecem bem assim? — Minha esposa pergunta trocando
olhares entre nós.
Adrian solta uma risada anasalada colocando as mãos no bolso da calça.
— Se quer saber se ele era um adolescente que deixava as meninas com
corações quebrados, não vou dizer nada. — Figlio di puttana.
— Oh, vai por mim. Não quero saber mesmo, talvez eu me pegue matando
meu marido enquanto ele dorme ao meu lado. — A resposta faz Adrian soltar
uma sonora gargalhada e eu sorrio de lado. Allegra fica sexy como um inferno
com ciúmes.
— Vamos voltar aos assuntos onde eu não esteja sendo ameaçado. —
Murmuro descontraído.
Subimos para os escritórios onde Adrian me entrega alguns papeis para que
eu assine. Geralmente são enviados para a Itália, mas decide fazer agora
enquanto minha esposa faz uma nova amizade com a secretaria do meu amigo.
— Acabo de me arrepender de não ter ido no seu casamento. Allegra é uma
força da natureza.
— Eu achei que teria uma vida pacata depois de casado, mas acho que
venho ganhando cabelos brancos mais rápido do que o esperado. — Respondo
sendo franco.
Apesar de morarmos longe, Adrian e eu temos uma certa amizade. Claro que
sabemos separar as coisas quando necessário.
— E como anda a Itália? — Pergunta mudando a postura.
— A guerra com a Outfit está atrasando nossos carregamentos de drogas. Os
colombianos me fizeram pagar muito por uma nossa remessa. Preciso que
encontre outro fornecedor. Se eu precisar negociar com Camilo mais uma vez,
vou mata-lo. — Afirmo fechando o semblante.
— Irei ver o que posso fazer. Sobre a Outfit, as notícias que chegaram são
de que a Bratva negou o pedido de aliança que Cesare ofereceu, mas fiquei
intrigado. O que Cesare está oferecendo? Os russos não são de recusar qualquer
merda! — Escuto quieto enquanto Adrian divaga, mas eu posso imaginar o que
aquele carcamano está oferecendo em troca.
— Maksim tem outras prioridades no momento. — Minha resposta o faz
arquear a sobrancelha.
— Entrou em contato com ele? — Adrian pergunta curioso.
— Não precisei. Assim como eu, Maksim herdou a cadeira cedo demais.
Mas ao contrário de mim, que sempre estive ao lado de Carlo impondo minha
presença, o garoto estava fugido com a mãe. Agora ele precisa correr atras do
tempo perdido.
Já passa da hora do almoço quando vamos embora da fábrica, Allegra
reclama de fome o que me deixa aliviado já que ela vem se alimentando mal
nos últimos dias.
A levo para comer no Le Salon Rose, um dos restaurantes luxuosos da
família de Adrian.
— Obrigada por tudo isso. — Ela diz enquanto termina de comer.
— Você não tem que me agradecer por eu fazer coisas que são minha
obrigação. — Respondo firme. Seus olhos brilham enquanto me escuta calada.
— Parece que estamos conseguindo. — Fala sorrindo, mas quando percebe
que não entende prossegue. — Levar um casamento de verdade.
— Nunca duvidei que não seria assim mia dea.
Passamos a tarde passeando pela cidade e ao anoitecer apresentei Allegra ao
meu iate. Ela ficou deslumbrada quando me perguntou qual das embarcações
ancoradas no porto era a minha e apontei para o único iate preto, se destacando
entre os demais.
— Porque não estou surpresa por isso! — Ela disse revirando os olhos
subindo enquanto eu sorria logo atrás.
A semana passou mais rápido do que tinha planejado, acabei percebendo
que precisava dos dias de descanso com minha esposa. Allegra é uma mulher
fascinante. Observei como em tão pouco tempo sua barriga desenvolveu mais,
o que confesso me deixou em êxtase para vê-la maior.
Foi só chegarmos em casa que os problemas me encontraram. Intensifiquei
a caça ao executor no meu território. Como eu esperava, ele não reagiu bem
quando encontrou seu amigo empalado, principalmente porque ordenei que a
estaca não fosse removida, para causar um impacto maior.
O problema é que Allegra acha que foi o executor quem causou a morte de
Cosima, mas depois de investigar, Franco descobriu que o ataque partiu de
Murilo, seu tio, irmão de Humberto, visando acertar minha esposa. Segundo o
que descobrimos, muitos membros do conselho camorrista já estão sabendo da
possível doença do capo e Murilo, o mais interessado na morte da sobrinha, se
juntou com outros conselheiros e estão tentando tirar Allegra do caminho e
depois acelerar a ida de Humberto para o inferno. O que eles não sabem, é que
talvez o futuro dono daquela cadeira já esteja na barriga da minha esposa. Isso
é mais um motivo para que eu cuide ainda mais para não deixar vazar a
informação da sua gravidez.
Me arrumo para ir para o escritório e a deixo dormindo. Quando estou
prestes a sair de casa, vejo Elisa entrar no seu carro com Renzo, o soldado que
eu designei para cuidar da sua segurança. A pergunta que me vem a mente é
onde ela está indo a essa hora da manhã. Ela provavelmente acha que eu caí
naquela desculpa de que está sofrendo a morte de meu pai, mas eu não estaria
onde estou agora se me deixasse ser passado para trás dessa maneira. Elisa está
escondendo alguma coisa e preciso descobrir logo, seja lá o que for.
Chego ao escritório já mandando uma mensagem para que Luigi venha até
minha sala e como se estivesse esperando meu chamado, ele aparece
rapidamente. Olho seu terno amassado e depois seu olho vermelho.
Provavelmente veio para o trabalho direto da farra, como sempre. Mas ele só ri
de lado e dá de ombros.
— Eu tive uma noite do cão.
— Ainda pulando de boceta em boceta?
— Sim, só não comente com sua mãe. Elisa está meio que querendo casar
todo mundo ao seu redor. — De todos os homens que eu conheço, Luigi talvez
seja o único que eu não veja casado. Ele adora um rabo de saia e ser fiel ao
casamento pode ser um problema para ele.
— Por falar nisso... — Me sento em minha cadeira e ele senta na minha
frente. — Você não tem notado Elisa diferente? — Ele me olha e analisa minha
pergunta.
— Não que eu tenha visto muito ela depois daquele episódio que você
relatou que ela passou com a Allegra. Só a vi no enterro de Cosima e achei ela
normal.
— Ela anda com o olhar perdido e calada há dias. Além de não sair do
quarto. Só que ontem me chamou para conversar e disse que parece que agora
que está sentindo a perda do meu pai. — Ele levanta as sobrancelhas, surpreso.
O que não é de se estranhar, como Elisa acha que vou cair em um argumento
desse?
— O que você acha que ela está escondendo? — Sua pergunta me faz virar
o rosto para a vista que tenho do centro de Palermo.
Eu não faço a menor ideia.
— Eu não sei, mas você vai descobrir. — Ele faz uma careta, mas assente.
Lina, minha secretária, bate na porta e logo em seguida entra com meu
café. A loira me lança um sorriso matador e anda sensualmente em minha
direção. Escuto Luigi rir baixo e direciono meu olhar para ele.
— Trouxe seu café, senhor Ruggero. — A fala doce da mulher pode passar
como gentil, se eu não soubesse que a sua intenção é de abrir as pernas para
mim. Lina é uma mulher linda que começou a trabalhar aqui comigo uns três
meses atrás, depois que minha antiga secretária se aposentou. Mas eu não lhe
dei nenhuma chance no início e muito menos agora que estou casado.
— Obrigada, Lina. Assim que Franco chegar, peça para ele vir até aqui. —
Quando ela fecha a porta, Luigi cai na gargalhada, me fazendo revirar os olhos.
— Senhor Ruggero. — Fala sarcástico. — Se sua doce Allegra descobre
que sua secretária está dando em cima de você assim… Depois do que me
contou da sua esposa eu tenho quase certeza de que ela vai matar Lina. —
Sorrio com o comentário e bebo meu café.
— Deixa de ser idiota. Allegra até hoje não veio na empresa e nem tem
motivos. Além do mais, eu lhe dei minha palavra de que me manteria fiel ao
nosso casamento e é isso que vou fazer.
Estamos há algumas horas conversando sobre os próximos carregamentos
quando Franco chega, nos informando que Humberto está do lado de fora,
querendo conversar comigo.
— O velho está morrendo. — Luigi murmura, dando de ombros. Dispenso
os dois e quando meu sogro surge em meu campo de visão, sei que não vou
gostar do que ele tem a dizer.
— Buon giorno! — Me cumprimenta e senta depois de eu indicar o lugar.
— Não sabia que você apreciava tanto a ilha. Mal foi embora e já voltou.
— Comento, não disfarçando meu descontentamento, mas ele sorrir
abertamente.
— Palermo é linda, um lugar encantador! Mas eu vim porque eu sei que
descobriu que a morte de Cosima foi a mando de Murilo.
— Não poderia deixar de investigar, Humberto. Sua filha, que por acaso é
a minha esposa, quase morreu naquele dia. — Falo duramente e ele assente.
— Sim, eu sei que o risco que ela correu foi muito, mas o que vim fazer
aqui foi pedir para que ainda não fale sobre isso com ela. Pelo menos não por
enquanto. — Sua fala me faz perceber duas coisas.
Ele está com medo e desesperado.
— Por que não agora? — Pergunto calmamente, mantendo o olhar
analítico.
— Nós dois sabemos que eu estou morrendo. — Dispara e eu balanço a
cabeça.
— Sim, eu sei disso, mas não de tudo. Só sei a parte que está com os dias
contados.
— Eu descobri há alguns anos que estou com câncer. — Ele fala, me
deixando surpreso, mas agora tudo faz sentido. Se ele está doente há anos, esse
deve ter sido o motivo para ter procurado meu pai para fazerem um acordo.
— Por isso você propôs o acordo através do casamento. — Ele sorri,
assentindo.
— Allegra não poderia nunca sentar em minha cadeira e eu não posso
deixar que outro pegue a cadeira que sempre pertenceu a nossa família.
— Justo. Agora me diga por que sua filha não sabe. — Ele pondera a
resposta.
— Porque ela nem sequer conheceu a mãe. Eu não fui o melhor pai do
mundo para minha filha, mas eu a amo e não quero vê-la sofrer. — Sua fala
parece sincera. — Além disso, agora ela está grávida e nossos herdeiros podem
estar a caminho.
— Você já pensou na possibilidade de vir duas meninas, Humberto? —
Minha pergunta parece o deixar confuso.
— Vocês já confirmaram? — Pergunta ansioso.
— Ainda é cedo, mas fico me perguntando qual é seu plano B caso meus
bebês sejam duas meninas. — Aproximo meu corpo, apoiando meus braços na
mesa e o fito. — E você também sabe que o primeiro homem que vier será meu
herdeiro.
— Vocês sempre vão ter a chance de tentar de novo. — Ele responde sério.
— Aí que você se engana. A mãe dela morreu no parto e eu não faço a
menor ideia do porquê. Não vou colocar a vida da minha esposa e dos meus
filhos em risco só porque você quer um herdeiro para a sua cadeira. — Posso
ver a veia em sua testa pulsar de raiva, mas já passou da hora de deixar claro
para esse velho que eu não vou me sujeitar a um capricho seu.
— Eu tenho certeza de que terei meu neto como herdeiro. — Sua fala
segura e convicta me surpreende.
— Se veio pedir para que eu não diga nada a ela, já fez isso. Posso te
ajudar com mais alguma coisa? — Não escondo que não quero mais conversar,
mas o velho se recosta ainda mais na cadeira e eu suspiro. Cazzo.
— Agora vamos falar dos problemas que Cesare e seu executor tem nos
causando.
— O que você quer saber? — Pergunto, perdendo minha paciência.
Humberto tem o dom de fazê-la sumir rapidamente.
— Eu quero uma solução. Estou velho demais para continuar com essa
guerra.
Passamos algum tempo conversando sobre como pegar o executor e sobre
alguns negócios importantes. Quando Humberto se despede, logo Franco volta
ao meu escritório.
— Prepare os homens, Franco. Nós vamos à caça em dois dias. — O
homem sorri de lado. Minha mente volta para as informações de Humberto.
Caso ele esteja certo, vou matar Cesare e seu homem em uma única jogada.

Coloco a arma no coldre, depois de conferir se está carregada. Luigi


aparece na minha frente com o semblante fechado, pois assim como Franco, ele
acha o plano de Humberto falho, mas até agora é o único que pode vir a calhar.
Cesare está desfalcado depois que Marcello o atacou e depois de muito
procurar, um dos homens do meu sogro parece ter descoberto o esconderijo
onde o rato do executor está escondido.
Olho ao redor da rua quase deserta perto do porto e depois levo meu olhar
ao prédio abandonado, de onde vem a localização do homem. Com o sol
prestes a nascer, o elemento surpresa será crucial.
— Ainda não gosto disso. — Luigi diz e suspira, parando ao meu lado e
olhando ao redor.
— Ele não teria motivos para nos enganar, porque ele sabe que o único a
perder com minha morte, é ele.
Meu capitão me avisa que estão todos em formação ao redor do prédio.
Confiro a hora e vejo que temos quarenta minutos, aproximadamente, antes que
o sol nasça. Nos dividimos em cinco equipes: eu, Franco, meu capitão e quatro
soldados começamos a caminhar até uma porta lateral e assim que passamos
por ela, a escuridão do local se faz presente. Acendemos as lanternas e o mais
silenciosamente possível começamos a vasculhar o local. Pelo que
investigamos, Otto é experiente e tem treinamento militar. Começamos a subir
as escadas que dão acesso aos andares e quando chegamos no quarto andar, um
barulho em um dos apartamentos desocupados nos chama a atenção.
— Fiquem atrás de mim. — Franco toma a frente e caminha lentamente.
Dando um chute na porta, ele a abre rapidamente e é nesse momento que
entramos no local. Computadores ligados, uma cama desarrumada, além de
mapas da cidade estão espalhados por todos os lados, mas o que me chama
atenção, é o homem sentado, me encarando com as mãos para cima e sorrindo
de lado.
— Acho que você me pegou. — Sua fala me faz semicerrar os olhos e
procurar por alguma armadilha. Me aproximo a passos lentos.
— Você achou que poderia vir ao meu território e fazer a bagunça que fez,
sem sofrer as consequências? — Pergunto enquanto guardo minha arma.
— Eu só estava cumprindo ordens. Pelo menos até você matar um dos
meus homens. — Sorrio vitorioso. Eu sabia que ele ia levar para o lado pessoal
a morte do amigo e mais uma vez estava certo em esperar por um erro seu. O
que me deixa intrigado é ele não estar surpreso pela nossa chegada.
— Isso quer dizer que agora está por conta própria. — Afirmo e sem
esperar sua resposta dou um soco em seu rosto, o fazendo cair no chão. —
Levanta! Você matou meu pai e tem me causado muitos problemas. Então vou
aproveitar cada segundo empalando você. — Digo calmamente. O homem se
levanta com fúria e antes que venha para cima de mim, meus soldados o
seguram.
— O grande Don, não é homem o suficiente para me encarar no mano a
mano? — Ele cospe as palavras com fúria.
— Disse o homem que vem me atacando e se escondendo como um rato.
— Mando que o levem para o subsolo. Então, junto com Luigi, Franco e alguns
homens, vasculhamos o local.
Tenciono o corpo quando encontro várias fotos de Allegra, inclusive do dia
que fomos ao médico.
— Ele estava de olho em vocês há muito tempo. — Franco fala, segurando
um caderno com algumas anotações. Pego-o e folheio algumas páginas, ficando
surpreso quando vejo datados dias e horários meus e de minha esposa de
quando nem éramos casados ainda.
— O que você quis dizer com ele estar por conta própria? — Olho para
meu consigliere, que está com uma expressão confusa.
— Humberto descobriu que depois do segundo ataque sofrido, Cesare
ordenou que ele voltasse, mas a essa altura eu já tinha matado seu amigo e para
ele se tornou algo pessoal. Então Cesare lhe disse que agora ele estava por
conta própria em meu território.
— Aquele velho filho da puta já correu assim?
— Claro que não, Luigi. Cesare só está se reestruturando após muitas
baixas, mas não quer dizer que vá parar. Até mesmo porque eu vou garantir que
essa guerra só termine quando ele estiver morto.
Mando que recolham tudo que tem no cômodo e vou para o subsolo, para
ter meu momento com meu mais novo prisioneiro.
A chegada a Trentotto é rápida. Assim que entro na sala, sorrio ao
encontrar Otto sem camisa e amarrado com os braços para trás, sentado em
uma cadeira.
— Enfim, estamos frente a frente. — Minha fala faz o homem levantar a
cabeça para me encarar.
— Achei que você só fosse capaz de enfiar pauzinhos nas pessoas. —
Sorrio de lado por sua fala e me aproximo mais ainda.
— Com você, vou deixar o empalamento por último. Agora me diga, Otto,
foi você quem matou meu pai? — Claro que eu sei que foi ele, mas quero ouvir
de sua boa, com ele me olhando nos olhos. Minha vontade é de o torturar
lentamente.
Ele sorri para mim e depois começa a gargalhar.
— Claro que foi eu quem o matei. Vamos pular a parte do interrogatório,
Don. — Me viro para a mesa ao seu lado com muitos objetos para tortura em
cima. Luigi é um sádico filho da puta que adora trazer esse tipo de novidade,
então decidi usá-los, já que pretendo prolongar meu momento com ele.
Pego uma das adagas afiadas e me viro para encará-lo. Mando todos
saírem e mesmo contrariados, eles obedecem, me deixando sozinho com Otto.
— Você vai me matar com essa faca? — Ele pergunta divertido.
— No relatório que recebi sobre você, não estava escrito que tem bom
humor. Na verdade, eu até gosto. — Falo calmamente, andando ao seu redor.
— Eu tenho algumas perguntas.
— Claro que tem. — Paro atrás dele e devagar passo a lâmina no lado
direito de seu ombro, fazendo com que o ferimento aberto escorra sangue e
imediatamente ele solta um pequeno gemido de dor.
— Só aquecendo. — Falo, voltando a ficar na frente dele.
— Vai ter que fazer melhor que isso.
— Eu sei que Cesare não queria meu casamento, mas eu não caí nessa de
que ele só estava com medo de que a Famiglia americana se juntasse a Camorra
também. Então me diz, qual é o real motivo dele ter te mandado há tanto tempo
para nos vigiar?
O homem mantém uma expressão neutra sem tirar os olhos de mim e
depois de um longo suspiro começa a falar.
— Cesare está em busca de vingança. Por algo que aconteceu anos atrás.
— Aperto o olhar em sua direção enquanto processo a informação.
— Contra meu pai?
— Contra sua família. Depois que ele descobriu do acordo com a Camorra,
decidiu agir.
— Por que eu devo acreditar em você? Não ache que sou imbecil. Desde o
momento que te achamos, até agora, eu sinto que você quis isso. Também não
podemos esquecer que você falou fácil demais.
— Eu aprendi a nunca subestimar meu inimigo, Ottavio. Eu sou leal aos
meus. James era como um irmão e Cesare me deixou quando você conseguiu
que o atacassem. — Faz sentido. Cesare não deve ter ficado feliz quando seu
executor disse que não voltaria enquanto não me matasse. Me abaixo um
pouco, ficando cara a cara com ele e volto a passar a lâmina no seu antebraço,
fazendo uma fina camada de sangue escorrer de novo.
— Eu não acredito em você.
— Eu sabia que uma hora ou outra você me pegaria, por isso sempre tenho
um plano B. — Me afasto, coloco a faca na mesa e volto a olhá-lo.
— Qual é o teor da vingança? — Ele dá de ombros, como se dissesse que
não sabe. Olho o conjunto de agulhas finas dispostas na mesa e pego algumas,
sob o olhar atento dele. Me aproximo e ele semicerra os olhos.
— Sério? — Ele arqueia uma das sobrancelhas.
— Algo me diz que hoje será um dia cheio, então não vou perder muito o
meu tempo. — Em suas costas, com suas mãos ainda amarradas, pego uma das
agulhas e começo a introduzir em sua unha. Ele pragueja e sua respiração fica
acelerada, mas em nenhum momento grita. — Pensando bem, eu posso fazer
isso o dia todo. — Falo e continuo enfiando duas agulhas, agora no seu dedo do
meio.
Depois de enfiar duas agulhas em cada unha de suas mãos, me levanto
satisfeito e volto a ficar de frente para ele. Suor desce por seu rosto enquanto
pego um soco inglês e começo a desferir socos em seu abdômen. Quando
começo a sentir algumas costelas quebrando, eu paro os golpes, para que
nenhuma delas perfure um de seus órgãos vitais.
— Vo-Você bate como uma moça. — Ele provoca, gemendo de dor e se
vira para o lado, cuspindo sangue.
— Eu ainda nem comecei. — Dou mais socos em seu rosto e quando acho
que ele vai ficar inconsciente pelas pancadas, o homem começa a rir como uma
hiena. — Solte ele ítalo. — Ordeno ao soldado que me olha com os olhos
arregalados, mas obedece.
Quando solto, Otto, vem para cima de mim tentando me pegar
desprevenido, mas uso de sua força para joga-lo no chão. Chuto sua costela
quando ainda está caído, contudo, travo quando segura minha perna me
fazendo cair. Logo estamos trocando socos no chão. Em meio a briga me
posiciono para um mata-leão, mas o figlio di puttana me acerta em cheio uma
cabeça no nariz.
— Eu vou adorar fazer com você o mesmo que fez com Carlo. Vai me
pagar com seu sangue.
— Pare de chorar, ele pelo menos morreu com certa honra. — Fala me
olhando firme. Estamos em pé um de frente para o outro a um metro de
distância, nos encarando.
— Não existe honra morrer pelas suas mãos. — Retruco.
— Ottavio, Ottavio… Você não deveria estar em outro lugar? — Fico
olhando para ele processando sua pergunta, mas nada me vem à mente.
— Eu estou onde devo estar. — O pego de surpresa me aproximando
rápido e aperto seu pescoço fazendo-o levantar a cabeça para me olhar nos
olhos. — Agora me diga, por que Cesare quer vingança?
— Não seja esse homem, Ottavio. Vamos lá, pense. Já estamos aqui há
quanto tempo? Duas... Três horas?
— Não me faça perder a paciência, Otto. Você vai me dizer o que eu quero
saber. — Prestes a dar mais um soco em sua cara, paro quando a porta é aberta
bruscamente e Luigi passa com o rosto sério. Ítalo logo toma a frente puxando
Otto para algema-lo novamente.
— Ottavio. — Ele me chama e faz sinal para que eu o acompanhe.
— Eu avisei, Don. Eu disse que era para estar em outro lugar. — Olho o
sorriso de lado do executor e encaro Luigi, que suspira passando as mãos no
rosto.
— O que está acontecendo? — Pergunto, sentindo meu sangue ferver
ainda mais com essa situação filha da puta.
— Piero foi atacado. — Semicerro os olhos para Luigi e quando me
recordo do meu compromisso de hoje, sinto meu corpo tensionar.
Acho que pela primeira vez na vida meu coração está acelerado. Medo, a
porra do medo parece me tomar. Viro para o homem sentado na cadeira, me
olhando com um sorriso de merda.
— O que você fez? — Rujo, indo para cima dele, mas Luigi me segura.
— Eu estou com sua esposa, então seja bonzinho e me solte. — A fala
sarcástica desperta algo em mim.
Sentada de frente para o relógio na parede da sala de estar, me divido entre
raiva e chateação. Ottavio está atrasado. Hoje é meu ultrassom para saber o
sexo dos bebês e meu marido disse que faz questão de me acompanhar, mas ele
está quase uma hora atrasado.
Cansada de esperar, me levanto, ando em direção a porta e vejo Piero
parado ao lado do carro. Pelo menos ele está ciente da minha consulta e não vai
criar caso por eu estar indo sozinha.
— Vamos para a clínica, Piero. — Ele me olha duramente e acena em
concordância. O caminho é feito em silêncio e vez ou outra fito o homem
dirigindo. Desde que Cosima morreu, ele mudou completamente. Está com a
feição mais fechada do que antes, além da barba que agora já não é mais feita.
Parece que o amor que sentia pela minha amiga era forte, pude perceber isso no
dia do enterro.
Como um bom soldado da máfia, Piero não derramou uma lágrima, ele se
manteve de pé e cabeça erguida a todo momento, mas seu olhar não poderia
mentir, a tristeza e a dor que transmitiam me deixaram no chão e se não fosse
por Ottavio me puxar para o carro, provavelmente eu teria desmoronado em
frente a todas aquelas pessoas.
Fito mais uma vez o homem pelo espelho retrovisor e ao mesmo tempo ele
também me olha.
— Diga o que quer logo, senhora. — Sua fala rouca e baixa me fazem
repensar se devo, ou não.
— Ainda dói? — Por um breve momento ele tira a atenção do trânsito e
me olha com uma sobrancelha erguida, mas depois volta a olhar a rua e suspira
pesadamente.
— Nunca para de doer, você só se acostuma com a dor e a ausência.
— Você a amava de verdade, não é?
— Desde a primeira vez que a vi com a senhora, quando ainda era solteira
e organizava seu casamento. — Fico surpresa com seu comentário, pois achei
que tudo havia começado no dia do meu casamento.
— Espero que você possa se sentir melhor algum dia, Piero. — Ele não diz
nada, apenas levanta o olhar para o retrovisor, mas percebo que não é em mim
que presta atenção, então viro para trás e percebo que tem dois carros pretos
nos seguindo.
— Se abaixe. — Sua fala denota preocupação e enquanto faço o que ele
me pediu, vejo-o apertar um botão no painel do carro e percebo que está
ligando para alguém.
Antes que a pessoa do outro lado atenda, sentimos uma batida na traseira
do nosso carro.
— Piero! — Exclamo assustada, mas tento manter a calma.
— Estou com a senhora Ruggero e estamos sendo atacados. — A voz dele
sai como um rugido enquanto ele tenta controlar o carro por causa das batidas e
falar com a outra pessoa que está na linha. Abaixada, vejo o momento em que
outro carro entra na frente do nosso e a batida brutal me faz chacoalhar no
banco traseiro.
— Piero. — O chamo, mas ele parece estar desmaiado, ou eu espero que
esteja.
Grito assustada quando um homem começa a bater no vidro e ele logo
trinca.
Péssimo dia para não ter usado um dos blindados do Ottavio.
Tento alcançar minha bolsa que caiu embaixo do banco do passageiro na
batida e eu olho assustada para o homem que continua batendo no vidro. Me
soltando do cinto, puxo a bolsa e a arma ao mesmo tempo que o vidro se
quebra e o homem coloca a mão para dentro, me puxando pelo cabelo. Sem
pensar em mais nada, eu viro a arma na sua direção e atiro nele.
O disparo pega em seu ombro e ele me solta, gritando. Aproveito a deixa e
tento sair pela outra porta, tiro meus sapatos de saltos para não me
atrapalharem na corrida, olho para o homem do lado de fora, com uma das
mãos no ombro e o vejo gritar algo, mas não espero mais, destranco a porta e
saio correndo. Não dou cinco passos e sinto seus braços passarem ao redor da
minha cintura. Me debatendo, tento me soltar e quando levanto minha mão com
a arma, ela cai no chão.
— Quieta, puta! — O homem rosna, me prendendo em seus braços. Paro
de me debater quando sinto o cano de uma arma apontando para minha barriga.
— Bem melhor assim.
— Você pegou a pessoa errada. — É tudo que digo enquanto sou arrastada
para um carro.
— Pois eu acho que você é exatamente quem nós queremos. Allegra
Ruggero e os bebês herdeiros. — Tenciono o corpo quando ele menciona meus
bebês.
Como ele sabe? Poucas pessoas sabem da minha gravidez.
Sou colocada dentro de um carro ao mesmo tempo em que sinto uma
picada de agulha no meu pescoço, me fazendo gritar, mas perco minhas forças
e caio no sono rapidamente.
Antes de abrir os olhos, sinto que estou deitada em algo macio e
instintivamente levo a mão até minha barriga pouco perceptível. Abro os olhos
e antes de me levantar, olho ao redor. Estou deitada na cama de um quarto
simples. Devagar, levanto e vou até a janela, que está trancada e com grades
impedindo de sair, mas me dá a visão do dia lá fora.
Olho ao redor, procurando algo que eu possa usar para me proteger, mas
não encontro nada. Reviro as gavetas da escrivaninha e suspiro, derrotada.
Merda.
Viro minha atenção para a porta quando ela se abre bruscamente e vejo um
homem moreno careca passar por ela com um prato de comida e um copo de
água nas mãos.
— Boa tarde, senhora. — Sua fala sarcástica me faz dar dois passos para
trás.
— Fique longe de mim. — Digo entre dentes quando percebo que ele vem
em minha direção, mas ele para quando coloca a comida em cima da cama.
— Você precisa se alimentar. O sol já vai se pôr e nós dois sabemos que
não pode ficar tanto tempo sem comer. — Semicerro os olhos para ele, olho
para a comida e meu estômago ronca alto, fazendo-o levantar a sobrancelha.
— O que você quer comigo? — Pergunto desconfiada.
— Na verdade, queremos com seu marido. Mas se tudo sair bem, logo
você estará livre.
— Ottavio vai matar vocês por ter me pego. — Digo ríspida e ele arqueia a
sobrancelha, como se estivesse achando graça da minha fala.
— Não se o matarmos primeiro, senhora. — Falando isso, ele sai.
Quando escuto o barulho da porta sendo trancada, me aproximo da comida.
Penso por alguns minutos se devo ou não a comer, mas meu estômago
roncando é um sinal que não posso deixar passar despercebido. Rezando a
Deus, peço para que eu não passe mal.
Após longas horas e com o cair da noite lá fora, fico frustrada, sem saber o
que está acontecendo e meu coração se aperta quando penso em Ottavio. Eu sei
que ele deve estar louco com meu rapto e temo que faça algo estúpido.
O silêncio do lugar é interrompido por barulhos de passos e gritos. Corro
até a porta e coloco os ouvidos na madeira fria para tentar escutar algo.
Começo a gritar pedindo socorro, batendo na madeira e quando escuto passos
se aproximando, me afasto da porta, indo para o outro lado do quarto.
Um tiro na maçaneta e a porta abre facilmente. Suspiro aliviada quando um
Ottavio com o olhar duro e rosto machucado passa por ela, olhando para os
lados até parar seu olhar em mim e instintivamente corro até ele, que me pega
em seus braços e solta um suspiro.
— Você está bem? — Ele pergunta, olhando nos meus olhos e com suas
mãos em minha barriga.
— Sim, estamos bem. — Ele fecha os olhos, como se só agora estivesse
aliviado.
— Precisamos sair daqui. Em casa conversaremos, mas antes vou te levar
ao hospital. — Assinto e o sigo pela casa, só agora percebendo ser um casebre.
Chegamos na sala e quando olho para os cacos de vidro no chão, ele me pega
no colo para que eu não corte os pés descalços.
Ao me colocar dentro do carro e se sentar ao meu lado, partimos rumo ao
hospital. No caminho, eu conto como tudo aconteceu e pergunto por Piero. Fico
aliviada quando ele diz que o soldado está vivo e só vai precisar de repouso, já
que quebrou uma perna na batida.
Ottavio nem por um segundo tira suas mãos de mim. É como se ele
estivesse se certificando de que eu realmente estou a salvo e ao seu lado.
— Quem fez isso? — Pergunto, com minha cabeça apoiada em seu peito,
dentro do carro em movimento e logo sinto seu corpo se tencionar.
— Um erro meu. Depois conversamos. — É tudo que ele se limita a dizer e
eu fico em silêncio.
A chegada ao hospital é tumultuada, porque meu marido parece ter
arrastado junto de si um pequeno exército de homens.
— Para que tantos soldados assim? — Pergunto em um murmúrio, sendo
carregada por ele até a recepção.
— Eu não vou mais arriscar um fio de cabelo seu. — Sua fala dura me faz
arrepiar.
O médico, que presumo ter sido obrigado a me atender em tempo recorde,
fere minha pressão e diz que apesar do trauma, eu estou bem. Quando
comunica que fará um ultrassom para saber como estão os bebês, sorrio e olho
para meu marido, que está com uma carranca e de braços cruzados, me
encarando. Assim que chegarmos em casa ele terá que me explicar onde
conseguiu tantos hematomas.
— Eu estou bem. — Falo, tentando o tranquilizar.
— Como pode estar bem? Se fosse outra em seu lugar teria surtado. —
Sorrio pelo seu comentário.
— Mas eu não sou qualquer uma. Eu sou uma Ruggero agora e antes era
uma Cattaneo. Fui criada sabendo dos riscos e treinada para alguns tipos de
situação. — O homem me olha admirado, mas nem assim desfaz a carranca. O
doutor volta para a sala, avisando que vai começar o ultrassom.
Os minutos seguintes parecem horas. Ele analisa minuciosamente as
imagens a sua frente, o que faz Ottavio bufar a cada minuto.
— Então…? — Ottavio pergunta impaciente.
— Eles estão ótimos. Pelas oito semanas de gestação, eu diria que serão
bebês grandes. — Arqueio a sobrancelha no mesmo instante em que Ottavio
descruza os braços e encara a tela à nossa frente.
— E já dá para saber o sexo? — Ele pergunta ao médico, mas ele nega
com a cabeça.
— Ainda é cedo.
— Hoje eu faria uma coleta de sangue para fazer a sexagem fetal. — Falo
e Ottavio me olha tenso. Acho que ele nem se lembrava do meu exame.
— Se vocês quiserem, podemos realizar o exame agora. Em seguida você
terá alta e mandarei o resultado por e-mail. — Sorrio e assinto para o médico,
que sai em busca de uma enfermeira para fazer a coleta do sangue.
Quando estamos a sós, Ottavio se senta na cadeira ao lado da maca que
estou, pega em minha mão e deposita um beijo, enquanto me olha.
— Me desculpe, eu não me lembrei. — Sua voz rouca e culpada faz meu
coração disparar.
— Está tudo bem. Mas você ainda vai precisar me dizer o que foi que
aconteceu de verdade. — Suspirando derrotado, ele revira os olhos ao mesmo
tempo que uma batida na porta anuncia a entrada da enfermeira.
Algumas horas depois e já deitada no conforto da minha cama, sorrio com
o aparente nervosismo que meu marido apresenta. Desde que cheguei, ele me
ajudou a tomar banho e não saiu mais do meu lado.
— Pronta para saber o que foi que aconteceu. — Falo, me sentando
encostada na cabeceira da cama e ele continua sentado na poltrona a poucos
metros de distância. Ele me olha nos olhos por um longo tempo, provavelmente
ponderando se deve ou não me contar.
— Eu peguei o executor da Outfit hoje. — Arregalo os olhos. — Mas ele
tinha um plano caso isso acontecesse. — Ele suspira e desvia o olhar do meu.
— Você. — Volta a me olhar. — Ele sabia que se eu o pegasse, eu ia soltá-lo
em troca da sua vida. — Arfo com sua fala.
Meu coração está acelerado. É claro que eu não deveria ficar surpresa com
tal ato, mas estou. Apesar de Ottavio sempre prometer me proteger, me colocar
acima da cabeça do homem que matou seu pai me deixou desconcertada.
Ele se levanta e vem até mim, se sentando na minha frente na cama. Sua
mão começa uma carícia no meu cabelo, que ultimamente deixo os cachos
naturais.
— Eu pensava que não tinha uma fraqueza, mia dea. Mas aí você chegou
com sua garra e delicadeza ao mesmo tempo e a cada dia dominou meus
pensamentos. — Meus olhos lacrimejam ao escutá-lo.
Sua mão desce para minha bochecha e recomeça as carícias, e como uma
gata manhosa inclino minha cabeça ainda mais para seu toque. Como se fossem
imãs, nossos olhares estão um no outro. Seu olhar fascinado aquece meu
coração e me faz imaginar como seria se nós tivéssemos um casamento de
verdade.
Mas isso vocês já têm!
Mas não está sendo o suficiente!
— Obrigada por me escolher. — Coloco a mão na barriga e suspiro. — Por
nos escolher.
— Eu queimaria esse mundo se algo acontecesse com você. Não só porque
está carregando duas partes de mim, mas porque no momento que soube que
estava em perigo, eu percebi que não sei mais existir sem você ao meu lado. Eu
sou um homem de muitas falhas, não sou bom, mas se eu tiver um coração, ele
é seu. — Deixando minhas emoções aflorar, me jogo em seu colo e colo nossos
lábios em um beijo lento, quase como se estivéssemos selando o início do
nosso amor. Sim, Ottavio acabou de se declarar para mim e ele nem sequer se
deu conta disso.
Interrompo o beijo, o que faz com que ele me encare confuso.
— Eu sei que você disse que não poderia me dar mais do que proteção e
fidelidade, mas eu quero que saiba que eu vou lutar todos os dias para o nosso
casamento dar certo. — Seu olhar muda de carinhoso para possessivo e eu
coloco as duas mãos em seu rosto, prendendo seu olhar ao meu. — Eu vou lutar
todos os dias da minha vida para defendê-los. — Sem dizer mais nada, ele volta
a me beijar, bruto como ele sempre gosta.
Ele me deita com gentileza e distribui beijos pelo meu pescoço, fazendo
meu corpo acender com as sensações. As vezes fico impressionada com o
quanto meu corpo se agita e o reconhece como se estivesse sempre à sua
espera.
Sem parar com as mordidas e lambidas no meu pescoço, sua mão alcança
meu mamilo escondido pela fina camisola e ele logo a afasta para o lado.
Quando a boca quente entra em contato com o bico, gemo e sem perceber
levanto meu corpo para dar mais acesso. A outra mão de Ottavio está dentro da
minha calcinha, com um de seus dedos fazendo leves carícias no meu clitóris e
reviro os olhos pelo conjunto de sensações. Percebendo meu estado, ele me
ajuda a tirar minha camisola e sorrio quando rasga minha minúscula calcinha e
rapidamente cai de boca em minha intimidade.
Passando a língua de baixo para cima devagar, sem tirar os olhos de mim,
faz com que os arrepios pelo meu corpo se intensifiquem. Me contraio por
dentro, já a espera de poder senti-lo e gemo alto quando ele começa a chupar
rápido minha boceta, com cada uma de suas mãos em minhas coxas,
separando-as o máximo possível, me deixando totalmente aberta, a sua mercê.
Chupando e lambendo, nessa sequência. Ottavio faz eu me contorcer e gritar
palavras desconexas e rebolo em sua boca enquanto ele enfia dois dedos em
mim. A sensação das chupadas vai se intensificando, me fazendo puxar os
lençóis, chamando seu nome. Sinto meu clitóris sensível e quando ele volta a
chupar, ao mesmo tempo que faz movimentos de vai e vem com os três dedos
dentro de mim, coloco a mão em sua cabeça, o prendendo e meu corpo
convulsiona, meus pés ficam tensos e levanto o troco.
— Ottaviooo! — Grito seu nome sem saber ao certo o que quero.
— Goza, gostosa. Goza, porque eu quero sugar cada gota do seu mel. —
Convulsionando ainda mais com suas chupadas, meu corpo o obedece e sinto
meu fluído descer ao mesmo tempo que Ottavio suga, fazendo meu corpo ficar
mole.
Tomando completamente o controle da situação, ele tira sua roupa
rapidamente e vem por cima de mim, pedindo espaço entre minhas pernas e eu
as abro o quanto posso, ao mesmo tempo que ele me penetra fundo. Metendo
forte ele, me faz revirar os olhos. Sua boca toma a minha em um beijo
selvagem, o barulho das metidas e dos meus gemidos ecoam pelo quarto e
posso afirmar que todos na casa podem nos escutar. Passo minhas mãos nele e
sem controle, arranho suas costas.
— Cazzo. Com você isso fica cada vez melhor. — Ele diz com a voz
rouca, sai de dentro de mim e me faz ficar de quatro. Suspiro com o estalo do
tapa que recebo na bunda. — Perfeitamente gostosa, mia dea.
— Ottavio... Eu... Eu quero mais. — Peço manhosa, rebolando minha
bunda. Eu preciso dele. Eu preciso senti-lo mais e mais. — Enquanto ele me
penetra devagar, suas mãos estão em minha cintura, apertando-a e empurro meu
corpo de encontro ao final do seu pau, o fazendo praguejar e me acertar outro
tapa na bunda.
Logo as estocadas voltam a ser rápidas, assim como os tapas. Sinto um
dedo entrando no meu ânus e tenciono os movimentos.
— Relaxa. Hoje é meu dedo, mas em breve eu vou enfiar meu pau nesse
buraquinho. — Ele volta às estocadas ao mesmo tempo em que vai enfiando
dois dedos no meu outro buraco. De início incomoda, mas quando ele me pede
para acariciar meu clitóris, a sensação de estar preenchida e saciada me faz
gemer e gozar. Escuto ao fundo Ottavio rugir quando percebe que estou
gozando e ele sai de mim quando minhas pernas começam a tremer e eu me
viro, deitando e ficando de frente para ele enquanto ele manuseia seu pau em
cima de mim e segundos depois goza, jogando tudo em minha boceta para em
seguida cair ao meu lado arfando.
Olho para o teto com um sorriso de satisfação no rosto, pois é assim que
me encontro agora. Viro meu olhar para meu marido e ele está com os olhos
fechados, enquanto controla sua respiração, mas ao sentir meu olhar, ele abre os
olhos e me encara sorrindo.
— Você tem 5 minutos para descansar até a próxima rodada. — Solto uma
gargalhada com seu comentário, mas o toque do seu celular chama a nossa
atenção. Ainda pelado, ele se levanta e vai até a mesa onde o aparelho está e eu
aprecio a vista da bunda grande e dura do meu marido.
De costas, ele lê seja lá o que for e se vira para mim sorrindo de lado, me
fazendo corar por ter sido pega no flagra.
— O que foi? — Pergunto enquanto ele se aproxima balançando o celular.
— O resultado do seu exame. — Arregalo os olhos e me sento na cama.
— O quê? — Não escondo a minha euforia, pois finalmente vou saber o
sexo dos meus bebês.
— Mande preparar uma festa, mia dea. — Arqueio a sobrancelha pelo seu
comentário. — Os herdeiros da Cosa Nostra e da Camorra estão a caminho. —
Coloco as mãos na boca, emocionada.
Meus bebês. Meus meninos! Predestinados a serem herdeiros de dois
impérios.
Feliz por saber o sexo dos meus bebês, me arrumo para descer para o
almoço. Quando recebemos a notícia, já era madrugada e eu acabei dormindo
além da conta, só acordei quando Ottavio entrou no quarto para me chamar.
Desde a hora que descobrimos que são dois meninos, meu marido está
cheio de si e ligou para Luigi e Franco, convidando-os para dar a notícia.
Segundo Ottavio, por enquanto eles serão os únicos a saber da novidade, além é
claro, da minha sogra, que está um pouco melhor.
Entro na sala de jantar e encontro todos à minha espera. Os cumprimento
enquanto tomo meu lugar ao lado direito de meu marido e sorrio para Elisa, ela
retribui o gesto.
— Então, Allegra chegou, já podem acabar com o mistério. — Luigi fala
animado. Ottavio me olha, lançando um dos sorrisos de lado que ele dá quando
não estamos sozinhos e aceno com a cabeça, concordando para que ele conte.
— Que vamos ter gêmeos, está claro para todos. Mas agora sabemos que
serão dois meninos. — O barulho de um copo se quebrando nos faz olhar para
minha sogra, que está pálida, me encarando com os olhos cheios de lágrimas.
Ela leva as mãos à boca, então eu levanto e vou até ela.
— Elisa, você está bem? — Pergunto, colocando uma mão em seu ombro.
Ela, por sua vez l, encara minha barriga e depois joga seus braços, me
abraçando pela cintura.
— Oh, meu Deus! Eu vou ser avó de dois meninos. — Ela murmura entre
lágrimas e olho para Ottavio, que encara a mãe com um olhar interrogativo, por
causa da sua reação.
— Sim, você vai ser vovó de dois príncipes. — Digo enquanto acaricio
seus cabelos.
— Ottavio acertou a veia mesmo, hein. — Coro com o comentário de
Luigi e ele ganha um cutucão de Franco, que está sentado ao seu lado.
— Mais uma dessas e eu corto sua língua. — Ottavio o repreende. Volto a
me sentar no meu lugar e Elisa se recompõe da notícia, então a comida é
servida
Durante a refeição, percebo os olhares enigmáticos que Ottavio lança para
a mãe, que parece estar perdida em seu próprio mundo enquanto mastiga a
comida.
— Agora que sei o sexo, vou começar a montar o enxoval. — Minha fala
quebra o silêncio perturbador do local.
— Mande providenciar tudo, mas eu não quero que saia de casa ainda. —
Ottavio comenta.
— Vocês já escolheram os nomes? — A pergunta de Franco me faz
suspirar.
É claro que eu andei pensando em nomes, mas primeiro tenho que
convencer meu marido.
— Ainda não, mas em breve. — Ottavio responde com o olhar em mim.
— Essas crianças antes mesmo de nascer já são importantes e carregam um
grande fardo nas costas. Estão cientes disso? — Franco indaga, fazendo eu e
Ottavio trocar um olhar silencioso.
— Sim, sabemos! Mas antes que alguém toque em um fio de cabelo de
alguém da minha família, eu queimo esse país. — A fala de Ottavio me faz
assentir, porque esta é a única certeza que temos.
Vamos proteger nossos filhos, custe o que custar.
Depois de passar o dia fazendo planos para o quarto dos meninos e
comprando on-line as primeiras peças para o enxoval, me sinto ainda cheia de
energia, então decido gastá-la dançando. No caminho para meu ateliê, me
deparo com Elisa perto da piscina, conversando com Renzo, seu segurança.
Minha sogra parece nervosa, passando a mão no rosto enquanto o homem fala
algo e depois nega. Vou me aproximando a passos lentos e quando sou notada,
Elisa enxuga o rosto e Renzo sai, nos deixando sozinhas.
— Você está bem? — Pergunto, passando a mão no seu ombro, como se eu
já não tivesse feito isso mais cedo. Elisa anda tão estranha.
— Sim, querida. — O sorriso que ela me lança não chega aos olhos, mas
eu decido não forçar. — E como vocês estão? — Pergunta, passando a mão na
minha barriga e me arrancando um sorriso.
— Estamos bem. Ainda nem acredito que vou ser mãe de dois, de uma só
vez.
— Quando eles nascerem sua vida vai mudar, minha menina. — Franzo o
cenho pelo seu comentário e ela olha no fundo dos meus olhos.
— Eu sei. Não terei tempo para mais nada. Sinto que vou ter três homens
bastante ciumentos na minha vida. — Ela solta uma risada e vira a cabeça para
olhar o mar a nossa frente.
— A maternidade é a coisa mais linda que uma mulher pode viver.
Aproveite cada momento da sua gestação. — Seus olhos estão voltados para o
mar enquanto fala.
Me pergunto o que pode ter acontecido para ter desestabilizado uma
mulher como Elisa.
— Obrigada! Eu ainda estou com medo de como lidar quando eles
nascerem.
— Não pense muito nisso. Mesmo você achando que não vai dar conta e
que não sabe como cuidar, depois que você pega seu filho nos braços, o extinto
de mãe aflora e quando você perceber, vai estar fazendo o possível e o
impossível pelo seu filho. — Relaxo meus ombros com sua tentativa de me
acalmar, afinal, ela já esteve em meu lugar um dia. Mas apesar disso, eu não
consigo parar de imaginar como vai ser cuidar de dois bebês ao mesmo tempo.
Se ao menos eu tivesse minha mãe comigo...
— Você nunca quis ter outros filhos? — Pergunto e ela fecha os olhos.
— Não. — Sua resposta seca e firme me faz calar.
Me dando um beijo na bochecha, ela passa por mim e entra em casa.

Meu pai sempre me dizia para confiar na minha intuição.


“Um verdadeiro chefe não necessita de testes psicológicos, nem de
informações para saber a hora de agir, ou quem está o enganando.”
Ultimamente, nas poucas oportunidades que tive a chance de olhar nos
olhos de Elisa, minha intuição me diz que ela está me escondendo algo
importante. Não que eu não confie em minha mãe, mas eu não confio em seu
julgamento de saber o que é bom ou ruim. A mulher é um poço de
sentimentalismo e no nosso mundo isso pode ser a destruição de alguém. A
minha intuição me diz que o segredo que minha mãe esconde pode ser o
motivo para toda essa guerra.
Meus pensamentos me lembram das palavras do executor, de que Cesare
busca vingança contra algo do passado. E se isso tiver a ver com minha mãe? E
se a guerra declarada que estamos vivendo seja fruto de um erro de algum dos
meus pais?
Minha cabeça não para nem por um segundo, tentando ligar as peças desse
quebra cabeça. Também estou tentando me controlar ainda pela raiva de ter tido
que soltar aquele filho da puta para conseguir encontrar Allegra antes que
alguma coisa realmente séria acontecesse.
— O plano é simples, Ottavio. Você vai me soltar e me deixar sair pela
porta da frente tranquilamente. Cinco minutos depois que eu tiver saído, você
vai receber uma mensagem com o endereço onde sua esposa está. — Ele fala
com um sorriso de lado e minha vontade é esmagar sua cabeça, mas sei que
preciso me controlar para não colocar a vida da minha esposa e dos meus
filhos em risco.
— Você vai fugir? — Provoco e ele dá de ombros.
— Nós jogamos como podemos. Eu não vim para esse país de merda para
ser morto assim, Don!
Contrariado e ao mesmo tempo ciente de que nós ainda não acabamos e
que em breve nos encontraremos de novo, solto e acompanho o homem
mancando e bastante machucado até a saída. Meus homens automaticamente
ficam em alerta, mas com minha ordem, o deixam passar. Antes de atravessar
as portas, ele olha para trás sorrindo, acenando com a cabeça e parte.
Luigi e Franco me olham de olhos arregalados enquanto conto o que
aconteceu e que preciso ir atrás da minha esposa.
Assim que a mensagem chegou, eu já estava dentro do meu carro
esperando para seguir a direção. No caminho, tive que escutar, sem paciência,
Luigi reclamando de que eu não deveria tê-lo soltado e que eles iam achar
Allegra perfeitamente. O que ele não entende é que eu não poderia arriscar,
pois tenho muito a perder. A essa altura, Allegra já domina cada célula do meu
corpo. Aquela pequena feiticeira além de viciar meu pau em sua buceta, está
aos poucos me fazendo acreditar que eu posso sentir algo a mais do que o
vazio. Com Allegra grávida e correndo perigo, percebi que com ela, mesmo
sem querer, eu tenho tudo o que jurei nunca precisar. Eu tenho tudo, mas sem
ela eu não teria nada!
Quando chegamos tarde da noite na área deserta perto do mar Tirreno,
reúno os soldados e entramos na pequena casa, grito mandando que todos
revistem tudo quando escuto um grito de socorro vindo de um dos corredores.
— A casa não tem ninguém. — Franco diz ao se aproximar, mas não lhe
dou atenção e sigo em direção aos gritos. Quando estou perto, reconheço a voz
da minha esposa. Tiro minha arma do coldre, miro na fechadura e um tiro é o
bastante para que a porta se abra. Olho ao redor até parar na mulher no canto
do quarto com os olhos cheios de lágrimas.
O olhar de alívio que ela me direciona é algo que jamais vou esquecer.
Talvez porque eu também esteja compartilhando esse sentimento pela primeira
vez.
— Temos um problema. — Saio dos meus pensamentos e olho para
Franco. Nem percebi ele entrar.
— E quando nós não temos? — Suspiro, me ajeitando na cadeira do meu
escritório na empresa.
— Humberto está perdendo força no conselho. Murilo quer reivindicar a
cadeira de capo.
Murilo Cattaneo. O irmão mais novo de Humberto é um filho da puta que
preciso tirar do meu caminho antes que a notícia sobre meus filhos se espalhe.
— E o que você sugere que eu faça? — Franco suspira e senta na minha
frente.
— Você está prestes a dar o herdeiro para aquela cadeira e sabe tão bem
quanto eu que se Murilo tomar o lugar de Humberto, seu filho nunca vai ocupar
aquele lugar. — Sorrio de lado pelo seu comentário.
— Franco, meu caro… É claro que um dos meus filhos vai ocupar aquela
cadeira quando chegar a hora. Mas até lá, eu não tenho muito o que fazer além
de prestar meu apoio ao velho Humberto. Só que é fato que preciso tirar Murilo
da jogada, ele sempre vai representar perigo.
— Você quer atacar às cegas? Posso organizar isso! — Sua fala animada
mostra o quanto ele está querendo ação. Desde que se tornou meu subchefe,
vem desempenhando mais trabalhos administrativos como eu e ficando de fora
da ação.
— Vamos pensar em algo. — Ele concorda e suspira.
— Seus filhos serão príncipes, Ottavio. Provavelmente o que assumir a
Camorra terá uma grande guerra pela frente.
— Se ele não lutar para consegui-la, é porque não a merece. Nem mesmo
meu primogênito terá descanso. Eu vou me encarregar de que eles tenham o
melhor treinamento possível, mas só. O caminho até as cadeiras, tanto da Cosa
Nostra quanto da Camorra, eles terão que trilhar sozinhos, fazendo por merecer.
— Franco assente e volta ao assunto do meu sogro.
— Allegra já sabe da doença? — Nego e fico nervoso.
— Com tanta coisa acontecendo ultimamente, eu acabei me esquecendo de
contar, mas farei isso agora. Mais para frente eu não quero aborrecê-la. A
gravidez ficará mais difícil por ser gemelar.
— Então suponho que ainda não contou sobre Cosima também. — Sua
fala me faz lembrar de Piero, um dos meus soldados mais fiéis que cresceu
junto comigo, assim como Franco e por isso o conheço bem para saber que a
morte daquela mulher está mexendo com ele. Nem ele e muito menos Allegra
sabem que a morte dela não foi causada pela Outfit e sim por um homem que
deveria estar a protegendo.
Com o ataque sofrido no sequestro de Allegra, Piero quebrou uma das
pernas e está um tempo de molho, mas isso não o impediu de continuar
trabalhando. Atualmente, ele está de vigia nas câmeras de segurança da
mansão.
— Não. Também não disse para Piero. — Luigi entra na sala sem bater,
com um sorriso de merda no rosto, chamando a nossa atenção.
— Tudo certo com o carregamento para a América. — Ele diz, se
sentando.
— Não quero contratempos com isso. Ligue para Ângelo e peça para ele
disponibilizar mais homens para pegarem o mesmo voo.
— Desde que você matou Aldo e o colocou no comando do Napoli, ele
está mais sobrecarregado. Talvez seja melhor falar com Lucchese para
disponibilizar os homens. — Franco fala calmamente. O problema é que não
sei se posso confiar em Fabio.
— Ângelo é um filho da puta ganancioso. Ele vai dar conta. — Respondo.
— Além disso, se ele continuar se saindo bem, talvez eu dê o território para ele.
— Sorrio para ambos, fazendo Luigi semicerrar os olhos.
— Se eu não te conhecesse, diria que você tem um bom coração. Mas eu te
conheço muito bem e sei que não irá dar Napoli tão facilmente assim para
Ângelo. — Luigi fala num tom sério.
— Tem razão, eu não vou dar de mão beijada. — Os encaro, sabendo que
ambos vão negar meu pedido a princípio, até que vire uma ordem direta.
— O que você está aprontando? — Luigi pergunta, se agitando.
— Casamento, mio caro. Um de vocês vai se casar com Annamaria
Santoro. — Termino minha fala e ambos estão de olhos arregalados, se
encarando. — Esse casamento vai ser benéfico para mim, porque preciso
estreitar os laços com os capos da minha confiança. Há alguns dias recebi o
telefonema de Ângelo, dizendo que ia começar a procurar um casamento para
sua irmã mais nova. Eu logo indiquei vocês dois e ele disse que confiaria na
minha escolha. Ele quer Napoli e eu preciso que um de vocês se case com
aquela garota. Os conservadores da Famiglia agradecem. — Falo debochado.
— Franco vai adorar se casar. Ele é mais velho que eu, já está na idade. —
Luigi se levanta e engole em seco.
Eu já esperava esse seu comportamento, por isso pensei em Franco. Ele
acabou de subir para um cargo de destaque e sabe o quanto é importante o
casamento na sua posição de subchefe. Tiro os olhos de Luigi, que nega com a
cabeça e olho para Franco, sentado relaxado na cadeira, com sua atenção em
mim.
— Então, eu vou me casar? — Ele pergunta e suspira.
— Parece que sim. Parabéns! — Respondo firme, dando um sorriso de
lado quando Luigi solta o ar que acho que nem ele percebeu estar prendendo.
— Luigi, sua solteirice não vai durar tanto. Em breve você precisará procurar
uma esposa. — Fazendo uma careta, ele se levanta e sai sem me responder.
— Por que eu? — Volto minha atenção para Franco.
— Porque você é meu homem de confiança e porque esse casamento será
um bom negócio político para mim e para você. Annamaria é uma jovem que
muitos capos querem casar seus filhos. Ela vem de boa família e é muito
bonita.
— Eu sou só um soldado. — Fala e abaixa a cabeça.
— Errado, Franco. — Levanta o olhar para o meu novamente. — Você é o
subchefe da Cosa Nostra. — Minha fala firme faz o homem acenar com a
cabeça. — Não foi à toa que eu te coloquei nessa posição. Você é um homem
esperto demais para cair na pilha desses filhos da puta.
— Quantos anos ela tem? — Me pergunta, afrouxando a gravata.
— 19 anos, está na idade certa para se casar. Prepare-se, amigo, dentro de
quatro meses estará casado.
— Tomou gosto pelo casamento e agora quer nos casar, é? — Fala, me
fazendo rir.
— Espero que você tenha a sorte de ter uma esposa como a minha. — Ele
assente. — Vou comunicar Ângelo sobre a escolha. Em cinco dias ele chega em
Sicília para assinar o acordo. Além disso, precisamos conversar com calma
sobre Napoli.
— Você vai mesmo dar a ele?
— Sim. Não vou colocar ninguém que teve contato com Aldo e Ângelo
está se saindo bem. Por falar em se sair bem, não esqueça de comprar um anel
de noivado. — Ele passa a mão na testa e suspira. — Sua noiva virá para você
poder conhecê-la.
— Acho que preciso me acostumar com essa palavra. — Fala e faz uma
careta.
— Mas, voltando ao assunto Murilo... O que você quer fazer? — Muda de
assunto rápido, me fazendo sorrir.
— Eu vou ligar para Humberto. Talvez eu precise ir até Calabria para
conversar pessoalmente com aqueles velhos idiotas.
— Seria bom se você fosse! Assim teria um álibi para o sumiço de Murilo.
— Ela fala e dá de ombros. — Caso ele descubra a gravidez da sobrinha, pode
ver ainda mais como uma ameaça. Precisamos agir rápido. — Suas palavras
ligam meu alerta. Assim que Murilo descobrir que são meninos, ele não vai
descansar até tirar minha esposa do caminho.
— Depois do seu noivado, eu vou até Calabria pessoalmente.
— Dicas de onde eu devo fazer esse jantar?
— Talvez em um bom restaurante. Peça ajuda a Allegra! Isso vai distrair
ela, assim eu terei como agir sem me preocupar.
Ajeito mais uma vez a posição da taça na mesa de jantar impecável. Hoje,
pela primeira vez desde que nos casamos, vamos receber alguns capos para
jantar. Eu gostaria de dizer que não estou nervosa, mas é impossível. Primeiro,
porque eu quero que tudo saia perfeito e segundo, porque eu sei que muitos dos
que vou receber hoje ainda me acham indigna de ter casado com Ottavio. Claro
que eu sei que no fundo é somente despeito pelo fato de terem perdido a chance
de casar uma de suas filhas com o Don.
Ottavio me disse que o capo de Potenza e Napoli está na Sicília para tratar
de assuntos da máfia e trouxe sua irmã e esposa para conhecerem a ilha
enquanto isso. Quando comentou que precisava de uma conversa mais informal
com Ângelo Santoro, eu dei a ideia do jantar e ele logo concordou, mas me
confidenciou que o evento se transformaria em um noivado e fiquei em choque
quando me disse que Franco vai se casar com a jovem Annamaria Santoro.
— Perfetto! — Ottavio diz ao entrar na sala de estar.
Seu terno azul marinho colado no corpo deixa evidente seus músculos, me
fazendo morder os lábios. Ele é uma tentação! Sorrio e olho para a mesa posta.
— Sì. — Respondo e olho para ele.
— Não estava falando da mesa, mia dea. — Ele fala, me abraça por trás e
pousa as duas mãos na minha barriga, que está maior a cada dia.
— Não começa, não temos tempo, apesar de eu estar com tesão. — Falo,
olhando para os lados para me certificar de que estamos realmente sozinhos.
Ele dá uma risada rouca enquanto beija meu pescoço, me fazendo suspirar.
— Prometo não demorar. Hoje tenho planos para a noite toda. — Esfrega
sua ereção no meu bumbum.
— Ottavio, para! Alguém pode entrar. — Tento me afastar, mas suas mãos
me prendem pela cintura.
— Hoje eu vou te foder... — Ele para de falar e se afasta quando a
campainha anuncia a chegada dos nossos convidados. Ele vai em direção a
entrada de casa e eu ainda tento recuperar o fôlego.
Puta merda, devo estar corada!
Ando na mesma direção e quando entro na sala, encontro Franco
cochichando algo com meu marido. Quando notam minha presença, eles se
afastam.
— Boa noite, senhora. — Ele cumprimenta, enquanto me aproximo os
encarando.
— Parabéns pelo casamento, Franco. Soube que sua noiva é muito linda.
— Ele sorri de lado e tira do bolso do paletó uma caixinha preta de veludo.
— Eu nunca comprei uma joia na vida, preciso que me diga o que acha. —
Ele diz e abre a caixinha. Arregalo os olhos para o anel com uma enorme pedra
de diamante e ao redor algumas safiras. É um clássico belíssimo.
— Fique tranquilo, Franco, esse anel é maravilhoso. — Minha fala o faz
relaxar os ombros tensos. Ottavio o encara e antes que possa dizer algo, a
campainha toca de novo.
— Devem ser os convidados. — Digo, indo até a entrada com ambos logo
atrás.
Assim que o mordomo – que é contratado somente em eventos na mansão,
abre a porta – um casal jovem e surpreendentemente bonito passa por ela e logo
em seguida uma mulher que presumo ser Annamaria.
Confesso que esperava um velho babão, com uma esposa com idade para
ser sua filha.
— Boa noite. — Os cumprimento ao lado de Ottavio.
— Boa noite, senhora. — O homem me cumprimenta e logo em seguida
meu marido. — Esta é minha esposa, Katarina. — A loira ao seu lado me lança
um sorriso contido, mas caloroso. — E esta é minha irmã, Annamaria. — A
jovem tem sua atenção voltada para Franco, mas toma consciência da
pronúncia do seu nome e direciona seu olhar para mim e Ottavio.
— Muito prazer. — Ela murmura e eu lhe dou um abraço, no qual ela
retribui um pouco tensa. Em seguida, vamos recepcionando alguns dos capos
com suas esposas e filhos. Algumas me olham com desdém, mas tomando
cuidado para não serem pegas pelo olhar de águia de meu marido.
Com o decorrer da noite, percebo os olhares que Franco e Annamaria
trocam, quase como se estivessem se estudando. A diferença gritante entre os
dois me faz rir. Enquanto Franco é um loiro de olhos verdes com quase dois
metros de altura e músculos por todo o corpo, sua noiva é baixa e com curvas
delicadas, com cabelos pretos como a noite e olhos tão escuros quanto, fazendo
com que sua pele branca tenha um contraste gritante, a deixando com uma
aparência de boneca.
— Então… Já sabem o sexo dos bebês? — Katarina pergunta quando me
aproximo de onde ela está com o marido e mais alguns casais.
— Ainda não. O médico disse que está cedo. — Respondo sorrindo e eu
logo troco um olhar com Ottavio, que acena com a cabeça, mostrando que me
saí bem em minha mentira. Segundo ele, ainda não podemos revelar o sexo dos
bebês, por questões de segurança. Claro que ele não quis entrar em detalhes,
mas eu ainda vou arrancar dele.
Como se notasse os olhares entre Franco e Anna, Ottavio me guia até o
centro da sala, ganhando a atenção de todos ao redor.
— Não vamos prolongar mais isso. — Ele fala, abotoando o terno.
Franco parece entender o recado e se aproxima de Annamaria, tirando do
bolso a caixa de veludo. Ele olha para ela intenso e fixamente, fazendo com
que a pobre garota core. Olho para Ângelo e por incrível que pareça ele tem um
sorriso de lado no rosto.
— Annamaria Santoro, gostaria de se casar comigo? — Claro que a
pergunta é mera formalidade, no fundo ela não tem esse poder de escolha, mas
as pessoas ainda gostam de passar a ilusão de que as mulheres em nosso mundo
têm.
— Sim. — Ela responde com um sorriso pequeno, estendendo a mão
trêmula para que Franco coloque o anel em seu dedo. Ottavio faz um aceno
para Ângelo e ele retribui o gesto.
Com a aliança brilhando no dedo de Anna, as mulheres a rodeiam para ver
a peça. Elisa entra na sala para dizer que o jantar logo será servido e se
aproxima rapidamente da noiva, a fim de ver o anel, e com um sorriso largo,
olha para Franco.
— Esse anel é perfetto, Franco. — O homem acena com a cabeça.
— Estou surpresa por alguém de sua classe ter conseguido comprar algo
assim. — Stella, esposa do capo de Bari, destila seu veneno. Desde que chegou,
a todo momento anda com o nariz plastificado em pé.
— Claro que conseguiu, ainda mais porque ele ganha mais do que o seu
marido. — Respondo, fazendo com que todos na roda fiquem calados e Ottavio
aumenta o aperto em minha cintura.
— Eu quis dizer que ele veio de uma classe de sold... — Ela não termina
sua fala, porque meu marido logo a corta.
— Disse corretamente, veio. Franco é meu subchefe. Pasquale, se não
quiser que sua esposa perca a língua está noite, a controle. — Ottavio fala
calmamente, a ameaça fazendo a mulher arregalar os olhos.
— Me desculpem por isso. Stella não sabe o momento de ficar calada e
guardar para ela seus pensamentos. — O homem se desculpa e sai de perto,
puxando sua mulher pelo braço.
Olho para Anna, que está calada, mas vez ou outra morde os lábios como
se em sua cabeça estivesse se passando mil coisas ao mesmo tempo.
— Não se preocupe, eu ganho o suficiente para você continuar tendo a
vida de princesa que tem hoje. — Franco fala firme, mas percebo que ficou
chateado com o comentário de Stella. Annamaria prende seu olhar nele e todos
ficamos quietos, os olhando.
— Eu não me importo com sua conta bancária. — A menina diz e abaixa a
cabeça, como se estivesse arrependida de ter dito tais palavras.
— E você está certa, Anna. Casamento é muito mais do que isso. — Falo e
ela me olha sorrindo.
Com Ottavio, Ângelo e Franco conversando sobre coisas do trabalho, eu e
as meninas nos afastamos para poder conversar à vontade. Katarina vai ao
banheiro, me deixando sozinha com uma Anna me olhando inquieta.
— Algum problema? — Pergunto, arqueando minha sobrancelha.
— Eu gostaria de perguntar algo, mas não sei se seria de bom tom.
— Não se preocupe, nós temos a mesma idade, Anna, podemos ser
amigas! Ainda mais agora que depois de casada você provavelmente irá morar
perto daqui. Ottavio e Franco não se desgrudam. — Falo, rolando os olhos e ela
ri. Pela primeira vez na noite a menina se solta.
— Eu gostaria de saber se ele é uma boa pessoa. — Ela pergunta com sua
atenção voltada para Franco de pé a poucos metros de distância.
— Para ser bem sincera, Anna, faz pouco tempo que me casei e estou
convivendo com todos. Mas o que sei, é que Franco agora exerce um cargo de
destaque por honra e merecimento. Ottavio confia muito nele e pelo o que
entendi, são amigos desde pequenos. — Ela suspira derrotada.
— Eu estou com medo. — Sua afirmação me faz lembrar do dia do meu
casamento.
É claro que eu estava com medo, mas óbvio que guardei para mim. Anna
parece ser extremamente sensível, e penso que Franco terá que ir com muita
calma.
— É normal, querida. — Falo, colocando minha mão em cima da sua. —
Eu também estava com muito medo. — Confesso, ganhando sua total atenção.
— Mas não podemos deixar que o medo nos consuma ou nos impeça de fazer
algo, Anna. Ele só vai te dominar se você deixar. Tenha coragem, vai dar tudo
certo, e se não der, me avise que eu vou chutar o traseiro do Franco. — Ela
solta uma gargalhada e coloca a mão na boca, para se conter. Olho para Ottavio
e vejo-o me encarando de longe com os olhos semicerrados e dou de ombros
para ele.
— Eu fui preparada para ser a esposa perfeita. — Ela fala me olhando. —
Você sabe... Cozinhar, lavar, passar e ser a melhor mãe possível além disso eu
estudei enfermagem. Meu irmão disse que um dia isso poderia ser de grande
ajuda.
— Todas nós fomos, mas quando estamos morando debaixo do mesmo
teto, a coisa muda. A primeira lição que te dou, é que arrume logo uma
empregada de confiança para os serviços domésticos e fique só com a parte da
comida. — Ela sorri, vermelha.
Com todos sentados a mesa, o jantar é servido. Olho para Stella e vejo que
está com a cara emburrada. Sorrio.
— Devo me preocupar com sua conversa com a pequena Santoro? —
Ottavio murmura no meu ouvido. Estamos sentados lado a lado na cabeceira da
mesa.
— Você me conhece, marido. Eu só estava tentando acalma-la. — Sorrio
de lado.
— Já estou com pena de Franco. Annamaria e você próximas será algo
estrondoso.
O jantar é chato como costumavam ser os da Camorra, onde a única parte
boa eram as minhas conversas com Cosima. Lembrar da minha amiga me faz
suspirar. Minha vontade é de matar aquele executor com minhas próprias mãos.
Depois de comer, vamos todos para a sala de estar. Não demora e alguns já
se levantam para irem embora, restando apenas Ângelo, Katarina, Annamaria e
Franco. Elisa já se recolheu.
— Vocês já definiram uma data? — Pergunto para Franco.
— Daqui a quatro meses. — Anna se engasga com o suco que estava
tomando e eu arregalo os olhos.
— Vocês não acham que é pouco tempo para preparar um casamento
grande? — Katarina pergunta.
— Mais do que suficiente. Além disso, com os contatos certos e dinheiro,
as coisas vão andar rapidamente. — Ottavio dita tranquilamente. — Vocês dão
conta. — Fala me olhando e sorrindo de lado.
— Eu vou ajudá-las, Anna. Não se preocupe. — Tranquilizou ela.
— Façam de acordo com o gosto da senhorita Santoro. — Franco, que
estava calado até então, fala, me fazendo arquear a sobrancelha.
— Não importa o preço? — Pergunto, o provocando.
— Não importa o preço. — Ele confirma.
— Não deveria ter dito isso a ela, Franco. Talvez você perca uma pequena
fortuna com esse casamento.
— Nem me diga. Só depois que me casei descobri que minha esposa é uma
consumista nata! — Ângelo murmura, fazendo todos rirem. Olho para Franco e
mais uma vez o pego olhando Anna.
— Bom, já tivemos muito o que conversar e vamos dar essa noite por
encerrada. — Ângelo fala e se levanta.
— Allegra, vamos nos falando por telefone para a organização de tudo. —
Katarina fala enquanto me abraça.
— Vamos sim. Eu vou olhar junto com Elisa um local adequado para a
festa. — Respondo e me volto para Anna. — Vamos nos falar também, Anna.
Quando decidir sobre onde comprar seu vestido, quero estar presente.
— Obrigada por tudo. — Ela agradece e então partem.
Ottavio e Franco logo se enfiam no escritório, falando que vai ser rápido.
Cansada, decido ir deitar, mas ao subir a escada, escuto um choro vindo da ala
de Elisa e sigo o barulho até a porta de seu quarto.
— Elisa? — Chamo, batendo na porta. Sem uma resposta, eu decido abrir
mesmo assim. — Elisa... Elisa o que houve? — Pergunto quando entro e a
encontro sentada em sua penteadeira. Os soluços altos se tornam sem controle
quando eu me aproximo e a amparo em meus braços.
— Odeio chorar. — Ela se afasta e respira fundo depois de um tempo sem
dizer nada.
Puxo uma cadeira para perto dela e me sento. Pego sua mão entre as
minhas e encaro seus olhos.
— O que você tem? Elisa, eu nunca tive uma mãe, o que tive foram babás
querendo esquentar a cama de meu pai, ao invés de cuidar de mim. Desde que
te conheci você vem sendo a mãe que eu nunca tive, mas de uns tempos para cá
você se afastou. O que está acontecendo com você?
Carinhosamente, ela circula minha bochecha com os dedos trêmulos e me
lança um sorriso triste entre as lágrimas.
— Eu nunca disse isso em voz alta. — Seu tom sofrido me dói.
— Talvez seja disso que você precise.
— Você e Ottavio estão muito bem, não precisam das minhas lembranças
do passado os atormentando.
— Na verdade, estou bem interessado nessas suas lembranças. — A voz
grossa de Ottavio me assusta e olho para a porta aberta, o encontrando com um
olhar duro em cima da mãe. Suas mãos estão nos bolsos da calça social e sua
postura me diz que ele está tenso.
— Ottavio… — Tento fazer com que ele pare de pressioná-la, mas ele
levanta a mão em um sinal para que eu me cale e se aproxima a passos lentos
de nós
— Sabe, Elisa, talvez seja essa a hora da verdade. Eu estou muito
interessado no que você tem a dizer. — Ele fala contido e para, encarando-a.
Os olhos de Elisa voltam a se encher de lágrimas e com um suspiro, ela
limpa o rosto com as mãos e levanta, se afastando.
— Eu não sei por onde começar. — Ela murmura, andando de um lado
para o outro. Claramente desnorteada, ela agita as mãos e depois nos olha.
— Comece pelo começo.
— Ottavio! — Repreendo, mas acho que ele sequer está notando isso
agora. Seu olhar em cima da mãe seria capaz de a incinerar se fosse possível.
— Quando eu descobri que estava grávida, eu e seu pai ficamos muito
felizes. — Seu olhar, uma mistura de carinho e tristeza, é dirigido ao filho. —
Passei a gravidez em um misto de emoções e foi maravilhosa cada sensação.
Até o dia do parto. — Eu me levanto quando ela me dirige um olhar triste. —
Vocês eram lindos. — Ela fala sorrindo e volta a chorar.
Eu estou congelada, tentando processar a palavra "vocês". Olho para
Ottavio e ele está estático, só encarando a mãe.
— Vocês? — Ele pergunta, como se só agora tivesse coragem.
— Você era gêmeo, meu filho. — Ela fala entre lágrimas, se aproximando
dele e colocando as duas mãos em seu rosto carinhosamente. — Eu passei
meses a espera de vocês dois, mas seu irmão morreu minutos depois de nascer,
por conta de uma complicação. — Dando um passo para trás, Ottavio se
desvencilha do toque dela e eu estou de olhos arregalados com a revelação. Por
instinto, coloco as mãos em minha barriga.
— Por que nunca me contaram isso?
— Como seu irmão tinha morrido, Carlo achou melhor assim. Foi uma dor
terrível durante muito tempo, então eu me apeguei em você ainda mais. Você
era meu mundo. Ainda é. — Elisa senta na ponta da cama.
— E por que vem agindo estranha nos últimos dias? — Ottavio faz a
pergunta enquanto ela tenta se recompor.
— Eu sempre tive essas crises, você só não percebia porque seu pai sabia
esconder muito bem. Eu ainda sinto a dor da perda de um dos meus filhos. Eu
não sei seguir. — Ela chora copiosamente, me fazendo ir até ela e abraçá-la.
— Calma, vai ficar tudo bem. — Falo, tentando consolar ela e viro meu
olhar para Ottavio, que a fita em choque.
— Me perdoa, meu filho! Isso era um segredo que seu pai quis guardar. —
Ela fala e quando não tem resposta, encara Ottavio e ele sai marchando feito
louco do quarto. — Ele nunca vai me perdoar. — Ela murmura.
— Dê um tempo a ele. Se para mim já é um choque, para ele deve ser
ainda pior. — Ela assente e se levanta. — É por isso que ficou daquele jeito
quando soube que eu estou grávida de gêmeos homens?
— Sim, eu me lembrei do meu bebê e foi cada vez pior. Mas eu não quero
que se preocupe comigo, cuide dos meus netos, eu quero poder segurá-los
muito. — Ela diz, secando o rosto.
— Eu sinto muito. — Falo e ela me lança um sorriso triste.
— Eu sei, mas não pense nisso, os bebês sentem tudo que as mães sentem.
Agora eu preciso ficar um pouco sozinha. — Entendo seu pedido. Eu sei a dor
que é não ter mãe, não posso e nem quero imaginar como seria a perda de um
filho.
Saio do quarto de Elisa e vou para o meu. Os acontecimentos pesando
minha cabeça durante o caminho me fazem pensar em Ottavio. Entro no nosso
quarto e o encontro sentado no sofá da sacada, descalço e sem camisa, suas
tatuagens pelos braços e peito parecem ganhar vida com a penumbra da noite.
Tiro meu vestido e gemo de satisfação quando tiro meus saltos. Ando até
ele usando somente meu conjunto de lingerie preta e seus olhos de águia logo
me notam, e queimam quando vê meu corpo quase nu. Me sento com uma
perna de cada lado em seu colo e suas mãos automaticamente vão para meu
bumbum em um aperto firme.
— Como você está? — Pergunto e entrelaço minhas mãos em seu pescoço.
— Duro. — Responde, olhando em meus olhos.
— Ottavio! — Repreendo, o fazendo revirar os olhos.
— O que quer que eu diga? Eu não sinto nada em relação a isso. Só não
gosto da mentira. Eles não poderiam ter escondido de mim algo como isso, eu
tive um irmão e nem sabia.
— Eles tiveram a razão deles.
— Mia dea, você precisa entender que eu desde novo carreguei a
responsabilidade e o fardo de assumir a Famiglia. Eles não podiam ter
escondido uma informação dessas de mim. — Sua mão sobe pelas minhas
costas, me fazendo ter leves arrepios. Fecho os olhos quando sinto a
aproximação de sua boca no meu pescoço.
— Eu preciso de você.
Mal termino de dizer e ele me levanta em seus braços e anda em direção a
nossa cama. Por horas durante a noite Ottavio e eu nos perdemos um no outro.
Saber que eu tinha um irmão gêmeo não me faz sentir nada, entretanto, me
faz questionar se Elisa disse toda a verdade. Se ela e meu pai foram capazes de
esconder que eu tinha um irmão que morreu no parto durante anos, o que mais
eles não esconderam?
Agora que sei que Cesare busca vingança de algo, tenho quase certeza que
é sobre meus pais.
Elisa parece mais aliviada depois de ter me contado o segredo, mas ainda
continua tensa, pisando em ovos ao meu redor. Ela me confidenciou que achava
que eu ia ficar com ciúmes quando a procurei para conversarmos melhor, dois
dias depois de sua revelação.
Levei dois dias para procurá-la porque estava processando momentos de
toda a minha vida, tentando achar alguma lacuna que eu tivesse deixado passar,
ou uma pista sobre o meu irmão, mas nada que eu me lembre foi estranho, a
não ser as crises de Elisa.
Quando eu era pequeno, me lembro vagamente de meu pai sempre me
dizer que o sumiço de minha mãe era porque ela estava doente, mas agora sei
que eram desculpas para suas crises.
Elisa esperava que eu me sentisse mal pela morte do meu gêmeo, mas eu
não tenho o que sentir. Além disso, não sei se gosto de saber que poderia ter
existido outro com a mesma fisionomia que a minha andando por aí.
— Senhor Ottavio! — Lina bate na porta e em seguida entra com um
sorriso no rosto e a saia mais curta que de costume. Ela me encara depois de
morder os lábios com batom um vermelho. — Aqui estão os novos projetos de
boeing que o senhor solicitou para o engenheiro. Além disso, eu já trouxe junto
sua agenda da semana que vem, para o senhor analisar.
— Deixe aqui em cima, Lina. — Aponto a mesa enquanto me levanto, vou
até o bar no canto do meu escritório e me sirvo de duas doses de whisky.
Quando me viro de frente para minha mesa, sorrio de lado ao encontrá-la sem a
blusa, expondo seus seios com bicos rosados. Em outra época, eu teria a fodida
em pé nessa sala.
Em outra época!
— Eu sei que quer também, senhor Ottavio. — Bufo uma risada e giro o
líquido dentro do copo.
— Tenho que admitir que você é uma mulher de coragem. — Falo e ela
coloca as mãos no zíper da saia, começando a descer.
— Sim, ela tem muita coragem. — A fala me faz olhar para a porta e
encontrar Allegra olhando Lina com fúria. Quando seu olhar se encontra com o
meu, sorrio para minha esposa e ela semicerra os olhos.
— Eu não tive culpa. — É o que digo quando ela entra e fecha a porta atrás
de si.
Lina está com a blusa tampando os seios e olha minha esposa com os olhos
arregalados. Me sento no sofá do escritório e sorvo o líquido enquanto
acompanho a cena.
— Eu deveria estar surpresa, mas não estou. — Allegra diz e anda devagar
em torno da minha secretária.
Olho os saltos finos da minha esposa, subindo o olhar pelas pernas grossas
até o vestido creme colado que começa acima de seus joelhos e deixa evidente
a barriga de três meses. Linda e gostosa.
Como sempre!
O olhar ferino que ela lança a Lina me deixa excitado.
— Me perdoe, senhora, não foi minha intenção desrespeitá-la. — Allegra
dá uma gargalhada, me fazendo arquear a sobrancelha e ela se inclina para
frente, ainda rindo.
— Você deve me achar uma piada, não é mesmo?
— Não, senhora. — Allegra para em frente a Lina, que engole em seco.
— Está vendo essa barriga aqui? — Ela passa a mão na mesma e Lina
assente. — Eu estou carregando os filhos dele. Eu sou a única mulher que está
na cama dele e não vou admitir que você me falte com respeito. Quer um
homem rico para chamar de seu? Procure em outro lugar. — Dizendo isso, ela
faz um sinal com a cabeça mandando a mulher sair e logo estamos sozinhos.
— Quando me disse que era ciumenta, achei que estivesse brincando. —
Comento, a fazendo fechar os olhos e respirar fundo. Quando os abre, as duas
esmeraldas me encaram de forma dura.
— Há quanto tempo você está aceitando as investidas da sua secretária?
— Mia dea. Que eu me lembre, te fiz uma promessa de ser fiel e eu sou um
homem de honra, Allegra. Minha palavra basta. — Ela se aproxima de mim
como se estivesse desfilando, para em minha frente e se inclina na minha
direção, ficando cara a cara comigo. Uma de suas mãos vai até meu pescoço e
faz uma leve pressão.
— Ottavio, eu não tenho vocação para ser a dona de casa corna que cuida
dos filhos e deixei isso claro no início. Se me trair, lembre-se que você dorme
ao meu lado todos os dias. — Ela sorri de lado, apertando ainda mais o meu
pescoço e me deixando mais duro por ver seu lado descontrolado. — Eu jogo
água quente nos seus ouvidos enquanto estiver dormindo, para aprender escutar
as coisas que falo. — Passo as mãos em torno da sua cintura, a trazendo para
mais perto, o que faz com que ela solte meu pescoço. Por ela estar em pé e eu
sentado, sua barriga fica bem em minha cara, então coloco as duas mãos no
ventre que está gerando meus herdeiros e a olho nos olhos.
— Eu não preciso de mulheres na rua quando eu tenho tudo que procuro
em casa. — Guio minha mão por baixo do seu vestido, subindo lentamente
pelas suas coxas e meus dedos roçam a calcinha de renda, a fazendo suspirar.
— Não vem, que não tem. — Retruca, se afastando. — Eu vim porque
quero sair para jantar fora.
— Por que não fui informado da sua vinda? — Pergunto frustrado e pego
meu celular, checando as mensagens.
— Porque eu ameacei aquele soldado que você designou para mim, caso
ele falasse. — A olho de olhos semicerrados. — Queria te fazer uma surpresa.
— Como você conseguiu ameaçar um homem com o dobro do seu
tamanho? — Pergunto enquanto ela vai se sentar na minha cadeira da
presidência. Coloca os pés em cima da mesa e os cruza, me olhando sorrindo.
— Eu disse que te deixaria enfurecido se eu ficasse com raiva, minha
pressão poderia subir e você ia matá-lo por isso. — Fala tranquilamente e pega
alguns papéis em cima da mesa, fingindo os ler.
— Você está me saindo muito astuta, mia dea.
— Os seus soldados é que são idiotas. — Ela murmura com a cara sapeca.
Me aproximo e passo a mão em sua coxa exposta pelo vestido e para meu
delírio, ela abre as pernas, me dando a visão da sua calcinha branca.
Automaticamente passo meu dedo no pedaço de pano, confirmando como ela já
está encharcada.
— Pronta, dea? — Ela assente. Puxo-a para que levante e a viro de frente
para minha mesa, deixando minha ereção no rumo da sua bunda empinada. Ela
geme com o tapa que desfiro depois de subir seu vestido até o quadril.
— Não rasgue minha calcinha. — Ela fala, soltando um sorrisinho baixo.
Aproximo minha boca do seu ouvido e mordo o lóbulo da sua orelha, fazendo-a
suspirar.
— Empina para mim, vai. Porque agora eu vou te comer, senhora Ruggero.
— Minha fala a faz gemer. Abro meu cinto e a calça, colocando meu pau duro
para fora e então afasto a calcinha dela para o lado.
— Forte. — Ela pede.
— Como sempre. — Enfio meu pau de uma só vez na boceta molhada, que
o engole com facilidade.
Ela segura firme nas bordas da mesa enquanto eu meto forte. Seus gemidos
altos preenchem o ambiente, fazendo meu tesão aumentar, ainda mais com a
visão da sua bunda. Desfiro um tapa, fazendo-a arfar. — Porra de mulher
gostosa!
Saio de dentro dela e a coloco com cuidado sentada na mesa, de frente para
mim. Minha esposa vem se mostrando uma devassa, mesmo que culpe os
hormônios da gravidez às vezes.
— Sua secretária vai nos ouvir. — Ela geme quando volto a meter, olhando
em seus olhos. A pequena barriga ainda não é empecilho na hora do sexo, mas
sei que em breve se tornará um obstáculo.
— Como se você se importasse. — Respondo, ganhando um sorriso
travesso em resposta.
Com suas pernas totalmente abertas para mim, levo uma das mãos ao seu
pescoço, o prendendo e começo uma sequência de metidas que a faz gritar alto,
fazendo com que eu feche meus olhos, tentando controlar a ânsia de tê-la mais
brutalmente, mas não posso me esquecer de que ela está grávida e até pouco
tempo era virgem. Seus gemidos estão tão altos que provavelmente todo o
escritório já sabe o que nós estamos fazendo.
Que se fodam, eu sou o chefe!
Me sento na cadeira e com Allegra ainda de pernas abertas, a minha mercê
em cima da minha mesa, começo a chupa-la. Minha língua entra em um vai e
vem viciante no seu buraquinho. Ao mesmo tempo em que ela rebola e diz
coisas desconexas, suas mãos puxam os meus cabelos à medida que seu clímax
se aproxima. Quando paro, ela geme frustrada.
— Ohh... Ottavio!
— Calminha, dea. — Me encosto, manuseando meu pau de cima para
baixo. — Vem aqui me chupar, gostosa! — Seus olhos brilham com meu
pedido.
Deixando o resto de timidez de lado, ela se ajoelhou na minha frente, me
fazendo fechar os olhos ao senti-la me colocar inteiro em sua boca.
Levo minhas mãos ao seu cabelo, segurando em um rabo de cavalo ao
mesmo tempo em que comando seus movimentos.
— Hmmm… Boca gostosa do caralho! — Um arrepio passa em meu
corpo, me fazendo sair de sua boca e tomar o lugar do meu pau. O beijo urgente
e erótico nos faz gemer ao mesmo tempo. A pego no colo e ando sem quebrar o
contato do beijo até o sofá. Me deito atrás dela, suspendendo uma de suas
pernas para o encaixe perfeito do meu membro na sua entrada completamente
encharcada.
— Eu preciso gozar. — Ela pede, se esfregando em mim.
Pegando impulso, meto de lado ao mesmo tempo em que passo os dedos
no seu clitóris e chupo um de seus seios. O suor escorre dos nossos corpos e o
cheiro de sexo em minha sala deixa tudo mais intenso a medida que vou
chupando e metendo.
— Ahhhh! E-eu vou gozar. — Ela fala gemendo, buscando minha boca
para um beijo e logo ela se rende, gozando no meu pau. Sinto meu coração
acelerar e meu pau inchar, se rendendo logo em seguida.

Tomo mais um gole do vinho enquanto observo as bochechas coradas de


Allegra. Ela está parecendo uma tigresa com seus cabelos cacheados em uma
bagunça meio arrumada.
— Pare de ficar me olhando como se fosse me comer. — Ela sussurra
enquanto bebe água.
— Mas eu acabei de comer. — Respondo sarcástico, a fazendo suspirar. —
E eu ainda preciso de mais.
— Nem pensar. Eu preciso comer e alimentar seus filhos. — Se encosta no
assento e abana o rosto corado.
Com o clima descontraído e leve, decido que é um bom momento para
falar sobre a morte de Cosima e a doença de Humberto.
O garçom chega com nosso pedido e quando nos deixa a sós, começo a
falar.
— Precisamos conversar algo importante.
— Por favor, seja o que for, pode esperar. Eu preciso comer esse ravióli!
Passei o dia louca por um.
— E por que não pediu para os empregados fazerem? — Pergunto
curioso.
— E perder a chance de conhecer seu escritório e pegar você no flagra? —
Reviro os olhos para a sua fala.
— Allegra, pare com isso! Lina é só minha secretária, eu nunca tive nada
com ela.
— Que bom.
— Mas confesso que você me surpreendeu. Estava esperando um chilique,
ou agressão da sua parte. — Ela suspira, para de comer e me olha com um
sorriso de lado.
— Marido, eu sou sua esposa! Não uma das putas que você teve quando
estava solteiro. Eu não vou me rebaixar tanto para mostrar a outra mulher meu
lugar e o lugar dela. — Não consigo esconder a admiração. Apesar da idade,
Allegra mostra maturidade nos momentos em que é colocada a teste. Uma
mulher firme e que realmente é digna de ser a rainha da Famiglia.
— Isso me deixa tranquilo, dea. — Tomo mais uma dose de vinho e mal
termino o prato principal quando ela pede uma sobremesa, me fazendo arquear
a sobrancelha.
— Não me olhe assim, eu estarei enorme em breve, venho comendo mais a
cada dia.
— Quero que se alimente bem, meus filhos precisam nascer fortes e
saudáveis. — Ela revira os olhos, o que me dá vontade de colocá-la de quatro e
lhe dar uns tapas na bunda empinada pela ousadia.
— Precisamos conversar sobre nomes, Ottavio. — Analiso sua fala. Até o
momento, eu não tinha parado para pensar sobre os possíveis nomes dos meus
filhos.
— Faça uma lista, me entregue e eu escolho.
— Você não vai escolher os nomes dos nossos filhos como se fosse um
negócio. — Suspiro, pois ela consegue ser teimosa quando quer.
— Depois falamos sobre isso. O que eu realmente quero te falar é sério,
Allegra. — Meu tom deixa claro que não estou brincando e nem vou adiar a
conversa.
— Então vamos embora e conversar em casa.
Saímos do restaurante de mãos dadas e opto por voltarmos com o
motorista no carro blindado que ela usa. O caminho é feito em silêncio e
enquanto observo a estrada no banco de trás ao lado de Allegra, me pergunto o
quanto ela ama o pai. Será que eu devo ir com mais calma? Talvez eu já deva
chamar a médica dela, para o caso de sua pressão subir.
Cazzo. O que há de errado comigo quando se trata dessa mulher?
Quando passamos pelos portões da mansão, escuto seu suspiro ao meu
lado e fico surpreso, pois assim que o carro, Allegra abre a porta com rapidez e
corre desesperada para dentro, me deixando confuso pelo motivo, mas assim
que entro em casa e Elisa aponta sorrindo para o banheiro social, percebo que a
pressa foi enjoo.
Caminho lentamente para o cômodo, encontrando a porta entre aberta e
sem bater, eu entro e logo a vejo com a cabeça quase dentro do vaso sanitário,
colocando para fora todo seu jantar.
— Precisa de alguma coisa? — Pergunto enquanto me abaixo, prendendo
seus cabelos com minha mão.
— Isso é nojento, Ottavio. Me deixa sozinha. — Ela fala entre uma ânsia e
outra.
— Se eu me lembro bem, os votos eram na saúde e na doença. —
Murmuro e ela me encara, seus olhos estão vermelhos e lacrimejados, talvez
pela força dos vômitos. Ela me fuzila com o olhar e eu sorrio de lado.
Quando aparentemente ela se sente melhor para se levantar, eu passo as
mãos em sua cintura, ajudando-a a andar até a escada.
— Você precisa de algo? — Elisa pergunta quando nos vê.
— Talvez um copo de leite gelado. — Allegra fala e dá um sorriso
envergonhado.
Passando meus braços por baixo dos seus joelhos, a pego no colo e ela
encosta a cabeça em meu peito, quando chego em nosso quarto, coloco ela
deitada na cama e tiro seus saltos altos, percebendo seus pés inchados.
— Você não vai mais usar essa merda, Allegra. — Falo firme, enquanto
sua atenção está em seus pés.
— Provavelmente eu não usarei um salto tão cedo. — Antes que eu tenha
tempo de respondê-la, uma batida na porta me faz calar. Elisa logo entra com
um copo de leite, um prato com biscoitos e deposita no criado ao lado da
cama.
— Minha querida, tome esse leite e coma uns biscoitinhos, talvez ajude!
— Ela fala carinhosamente enquanto acaricia o cabelo da minha esposa, que
sorri feito uma criança para o gesto. Isso me faz perceber mais uma vez o
quanto Allegra é carente de afeto maternal e muito provavelmente vê em Elisa
uma mãe para tapar o buraco de nunca ter tido uma e ela não poderia estar mais
certa. Definitivamente, quando não está mentindo, Elisa é uma ótima mãe.
— Eu assumo daqui, pode ir Elisa. — Ela me olha com um sorriso tenso,
provavelmente ainda pisando em ovos ao meu redor e depois de depositar um
beijo na testa de Allegra, ela se aproxima de mim, me dá um tapa carinhoso na
bochecha e se vai.
— Você poderia tentar ser mais carinhoso com ela. — Semicerro os olhos
para minha esposa.
— Poderia pensar nisso, se tivesse certeza que ela não está mentindo para
mim.
— Ela te disse a verdade. — Retruca enquanto tiro minha roupa.
— Ela disse meia verdade, mas chega desse assunto. Antes de eu começar
a falar o que quero, preciso saber se você está bem.
— Eu só fiquei enjoada e vim segurando durante o caminho, estou ótima,
vá em frente.
— Ótimo, vamos tomar um banho e depois conversamos.
Tomo mais um gole de leite sob o olhar atento do meu marido. Desde que
estávamos no restaurante, ele está falando que quer conversar e estou me
perguntando que tipo de conversa é essa que Ottavio quer ter. Faço buscas
mentais nos meus últimos dias e não me lembro de ter feito nada de errado, o
que me faz deduzir que a conversa não é sobre nós.
— Pronto, satisfeito? — Pergunto quando termino de beber o líquido e ele
assente.
— Venha até aqui. — Ele me chama, apontando para o vazio ao seu lado
no sofá de dois lugares, onde está sentado somente de cueca box vermelha.
Céus, como é gostoso. Sem pensar duas vezes, me sento ao seu lado e surpresa,
semicerro os olhos quando ele pega meus pés, os coloca em seu colo e começa
a massageá-los.
— Se você estiver me adulando para depois dizer que me traiu, saiba que
eu ainda vou te matar. — Falo ríspida e ele joga a cabeça para trás e gargalha.
— Por Dio, mulher. Pare de pensar tantas besteiras.
— O que está acontecendo? — Ele me olha cautelosamente, sem parar a
massagem. Eu até estaria relaxada, se não soubesse que algo ruim logo viria.
— O seu pai está morrendo, mia dea. — Arregalo os olhos e prendo a
respiração.
— E você só me fala isso agora? Vamos para Calabria, já! — Faço menção
de me levantar, mas ele prende meus pés e me olha duramente.
— Você me entendeu errado, Allegra. Ela tem um câncer e já está
avançado demais. Não tem muito tempo de vida. — Uma lágrima escorre pelo
meu rosto e tento digerir o que escutei.
É claro que meu pai não foi um exemplo para mim, mas ele fez o melhor
que pôde. Além disso, é a única família que me resta e agora eu vou ficar
sozinha.
Pensando sobre isso, me vem à mente a última vez que o vi. Ele estava
mais magro e pálido, longe de ser aquele homem forte que um dia foi. Olho
para Ottavio e ele me analisa calado.
— Desde quando você sabe disso? — Pergunto, olhando em seus olhos.
— Desde o dia do nosso casamento. — Fecho os olhos.
— Cazzo. Como você me escondeu isso? Pensei que estivéssemos
trabalhando a confiança em nosso casamento.
— Antes era uma dúvida e as especulações de todos os lados, Allegra. Só
tive a confirmação quando o próprio me disse. Além disso, ele pediu para ele
mesmo te dizer e é por estar trabalhando nossa confiança que estou lhe
contando agora. — Suas palavras soam verdadeiras, mas não muda o fato de
que me escondeu algo dessa magnitude.
— Eu quero ir vê-lo. — Automaticamente percebo seus ombros tensos. —
O que você ainda não está me contando?
— Seu tio Murilo está tentando tomar o poder a força, com seu pai ainda
vivo. — Fico rígida com a menção do meu tio. Percebendo meu estado, Ottavio
estreita o olhar na minha direção.
— Quer me contar algo também, mia dea? — Sua pergunta soa baixa e me
faz arrepiar.
Eu nunca contei para ninguém, além de Cosima, sobre aquele dia. Murilo é
uma pessoa que me causa nojo, mas quando criança, eu tinha medo dele. Até
aprender que para andar com a matilha de lobos, você precisa uivar como um
lobo. Ou seja, se eu queria ser uma mulher diferente na Camorra, eu teria que
aprender a me defender de homens como Murilo.
— Allegra. — A voz ameaçadora e firme de Ottavio diante do meu
silêncio me faz suspirar.
— Uma vez ele tentou passar a mão em mim. — Conto rápido, vendo raiva
inflamar nos olhos do meu marido. Ele fecha as mãos em punhos, que chegam
a tremer enquanto ele me encara. Sua respiração fica forte e as veias em seu
pescoço pulsam.
— Como? — Pergunta entre os dentes, me fazendo encolher diante do
tom. Eu nunca tinha visto Ottavio assim.
— Eu tinha 12 anos e estava brincando em casa. Ele chegou procurando
meu pai e quando eu disse que não sabia onde ele estava, me convidou para ir
até a piscina com ele. Chegando lá, ele me sentou em seu colo e logo senti a
sua ereção em meu bumbum. Eu era uma criança esperta, além disso, a mãe de
Cosima já havia conversado comigo sobre algumas coisas depois de eu ter
menstruado pela primeira.
— O que ele fez, Allegra? Não me teste, per l'amor di Dio.
— Quando senti sua ereção, pulei do seu colo. Ele passou a língua nos
lábios e me disse que estava tudo bem e que se eu quisesse, poderia tocar, mas
eu lhe disse que contaria para meu pai. Pude ver em seus olhos o medo que
sentiu, foi quando Cosima chegou para brincar comigo, então ele se levantou e
saiu sem olhar para trás. Depois disso, se afastou de mim completamente. — A
lembrança faz meu estômago embrulhar. Eu era uma criança e podia ter
acontecido o pior se minha doce Tina não tivesse me alertado sobre algumas
coisas.
— Agora, mais do que nunca, eu vou matá-lo. Eu terei meu tempo lento
com ele. — A promessa velada de meu marido não me fez duvidar nem por um
segundo que ele realmente fará isso.
Neste momento, Ottavio exala sua natureza que ele luta para me esconder
sempre que chega em casa. O desejo de matar cintila em seus olhos azuis frios,
mas ao mesmo tempo capazes de queimar, se tocados. É nesse momento que
percebo que ele realmente queimaria o mundo por mim e nada foi mais intenso
do que o pensamento e a certeza de que eu faria o mesmo por ele.
— Já passou. — Falo calmamente e aliso seu braço, mas seu olhar intenso
me diz o contrário. Ele não vai ter pena de Murilo e isso ainda não passou para
ele. — Eu quero saber o que ele está fazendo contra o meu pai! — Respirando
fundo, ele fecha os olhos, como se assim conseguisse colocar seus pensamentos
em ordem.
— Ele está tentando matar seu pai e tirar você do caminho para assim ser o
único herdeiro direto. Ele até conseguiu apoio de alguns homens do conselho.
— O que você quer dizer com me tirar do caminho? — Pergunto, ainda
incerta se quero saber a resposta.
Ottavio fecha os olhos e respira fundo mais uma vez.
— Foi ele quem ordenou o ataque que matou Cosima. — As batidas do
meu coração parecem ser o único som que sou capaz de escutar. Um bolo se
forma na minha garganta, me impedindo de chorar, por mais que eu queira.
— Não foi a Outfit. — Minha afirmação sai em um sussurro, porque no
fundo, era o que eu queria. Era mais fácil quando eu achava que minha amiga
tinha morrido pelas mãos do nosso inimigo e não a mando do homem que
deveria nos proteger.
— Allegra. — Escuto ele chamar meu nome, mas as lembranças de
Cosima caída e a lágrima escorrendo do seu olho já sem vida voltam em minha
mente.
— Ele vai me pagar. — Falo, sentindo minhas lágrimas rolarem pelo meu
rosto.
As mãos de Ottavio logo estão me segurando, fazendo eu olhar para ele
fixamente. Suas íris azuis me olham intensamente, fazendo promessas de
sangue que sei que serão cumpridas, ao mesmo tempo em que seus dedões
enxugam as lágrimas do meu rosto carinhosamente.
— Ele vai sangrar, isso é uma promessa. — Chame de doença, mas sua
fala me faz queimar por dentro e antes que eu perceba já tenho meus lábios
colados nos seus.
Pensando bem, chame de cura. Ottavio é a cura para todos os demônios da
minha vida. Ironicamente, o homem que o diabo deve temer, é o mesmo que
me traz paz.
Meu coração acelera, pois acabo de perceber que eu o amo. Ottavio
Ruggero já se instalou em mim e pegou para si o meu coração. O que ele fará
quando descobrir que me tem, é o que decidirá o rumo das nossas vidas para
sempre.

Assim que coloco meus pés em Calabria, fecho os olhos, buscando a


sensação de estar em casa, mas não a sinto.
Uma vez li que são as pessoas que fazem você se sentir em casa, e a frase
não poderia estar mais correta. Antes, eu sentia que pertencia a este lugar, mas
porque eu sabia que Cosima estaria aqui a minha espera, mas agora, o único
lugar que chamo de lar, é em Sicília, ao lado do meu marido.
— Vamos. — Sua voz grossa me faz olhá-lo.
Ele está com a mão estendida, enquanto olha ao redor da pista de pouso
improvisada. Cauteloso como é, Ottavio preferiu pousar no local menos
provável, para não chamar atenção. Felizmente, o local nos deixou mais perto
da casa onde papai mora.
Pego sua mão e o acompanho até a SUV à nossa espera. Os soldados que
nos acompanham estão por perto, logo atrás de mim. Piero, já recuperado, é
quase a minha sombra.
No caminho até a casa de papai, fico em silêncio. Ottavio e Franco
discutem sobre como achar o buraco em que Murilo está. Vê-los focados e
determinados a encontrar aquele idiota, me deixa mais tranquila.
Trinta minutos depois, me vejo encarando a casa onde nasci e cresci.
Engulo em seco quando me pego na esperança de ver Cosima passar pela porta
da frente, gritando pela minha chegada ou até mesmo por Tina, mandando ela
calar a boca.
Silêncio…
É tudo o que tem.
A forma magra e frágil de meu pai aparece em meu campo de visão e sem
pensar muito, meus passos me levam até ele, na porta de entrada. A ele
apertado e seguro as lágrimas quando ele retribui o gesto.
— Então você já sabe! — Afirma, me dando um tapinha nas costas.
— Sim, eu sei! — Ele olha para trás de mim e nem preciso olhar para saber
que ele e Ottavio estão se encarando, cada um com uma carranca.
— Humberto. — Ottavio cumprimenta, se colocando ao meu lado.
— Deveria saber que você não ficaria calado. — Papai fala e suspira.
— Sim. Deveria saber que sua filha é grande e forte o bastante para lutar
suas próprias batalhas. — Fico tensa com o comentário de Ottavio. Ele está se
referindo ao que lhe contei sobre meu tio. Eu nunca contei isso ao meu pai e
meu marido parece estar louco para fazer.
— Ottavio, agora não! — O repreendo, recebendo seu olhar de aviso, me
pedindo para ficar calada.
— O que ele está querendo dizer, Allegra? — Papai pergunta, nos dando as
costas e indo se sentar na sala de estar, que por sinal continua a mesma desde
que parti.
— Na...
— Eu quero dizer que vou matar Murilo por ter tocado ela. — O silêncio
da sala é sufocante. Meu pai me olha nos olhos duramente e quando olha para
meu marido, percebendo que não é brincadeira, fecha os olhos e pragueja.
Calmamente, conto como tudo aconteceu para papai, que assim como
Ottavio, fica fora de si.
— Por que nunca me disse isso, Allegra? Eu teria o matado e nós teríamos
evitado muitas coisas.
— Eu era uma criança, papai. E apesar de saber na época o que aconteceu,
escolhi deixar para lá, ainda mais porque ele nunca mais tentou se aproximar de
mim para nada. — Ottavio aperta minha mão, que não soltou desde a hora em
que sentamos.
— Enfim, motivos mais que suficientes para Murilo morrer pelas minhas
mãos. — Ele fala e se levanta, colocando as mãos nos bolsos da calça do seu
terno. Por Dio, deveria ser proibido Ottavio se vestir assim. O terno Armani
azul escuro ajustado ao seu corpo, mostrando os braços fortes e as pernas
torneadas chega a ser obsceno. Meu olhar encontra com o seu e eu coro quando
ele arqueia uma sobrancelha para mim e sorri de lado, como se soubesse o que
eu estava pensando.
Dio, eu estou virando uma pervertida.
— Você não vai chegar no meu território achando que manda, Ruggero. Eu
sou o capo aqui e eu vou matar meu irmão por ter feito isso com minha filha.
— Meu pai fala alterado, enquanto meu marido direciona um olhar raivoso para
ele.
— Eu vou tratar disso. Além do mais, ela agora é minha mulher e eu cuido
do que é meu.
— Por favor, só parem. — Peço me levantando e eles me encaram
passando a mão na minha barriga, que já está grande para 3 meses. — Eu só
quero que o peguem e façam pagar pela morte de Cosima. — Termino de dizer
e me arrependo quando vejo Piero parado na porta, ao lado de Franco. Eu não
tinha notado que ambos estavam entrando. Olho para Ottavio, que não esboça
nenhuma reação enquanto encara seu soldado, mas sei que agora deve estar
achando que trazê-lo foi uma escolha errada. Negócios e sentimentos
misturados nunca são uma boa ideia, segundo meu marido.
— Precisamos falar com você, Don. — O silêncio é cortado quando
Franco chama meu marido e ele vai para fora, levando os seus dois homens.
— O rapaz parece que gostava mesmo dela. — Meu pai murmura, se
sentando novamente.
— Sim, ele a amava! — É tudo que digo.
— E como está sendo ser a rainha daquela coisa toda? — Rolo os olhos
para o seu comentário.
— Não é nada demais. Vivo trancada dentro de casa porque tenho um alvo
pintado nas costas. — Respondo, o fazendo sorrir.
— Você está linda grávida! — Observo meu pai olhando para a minha
barriga. Provavelmente, satisfeito por ter netos homens.
— Obrigada! Mas agora, eu quero saber mais sobre sua doença.
— Não tem nada para saber, Allegra. Eu estou doente há bastante tempo,
para começar a me preocupar com quem vai ficar em meu lugar até seu filho ter
a idade certa. — Fico rígida com sua fala. Meus filhos ainda mal se formaram
na minha barriga e já carregam tamanho peso nas costas.
— E o que você pensa em fazer a respeito disso?
— Vou nomear Frederico como capo até seu filho atingir 20 anos.
— Você quer que meu filho assuma a Camorra com 20 anos de idade? Por
Dio, papa. Ele ainda não estará pronto. — Sem querer, acabo gritando com ele,
que me encara de olhos semicerrados. Eu nunca tinha passado dos limites
assim.
— Ele terá tempo. Ruggero saberá como direcioná-lo. Já escolheram os
nomes? — Ele pergunta calmamente, como se eu não tivesse surtado poucos
minutos atrás. Papai sempre foi especialista em me deixar fora de conversas
importantes, por me achar inferior só pelo fato de eu ser mulher, apesar de ter
me criado para ser mais do que uma dona de casa.
Ainda bem que Ottavio não compartilha o mesmo pensamento, caso
contrário, teríamos muitos problemas.
— Ainda não nos decidimos. — Porque meu marido quer tratar disso
como se fosse um negócio. Digo em pensamentos.
Ottavio volta com Franco e juntamente com meu pai vão para o escritório
conversar por vídeo conferência com os velhos decrépitos do conselho da
Camorra.
Aproveito que estou sozinha e procuro por Piero. O encontro parado com
os ombros rígidos, olhando algo à sua direita, quando sigo seu olhar, vejo que é
uma foto minha e de Cosima, onde estamos abraçadas e sorrindo. Fecho os
olhos e suspiro, tentando controlar a vontade de chorar.
— Piero. — Como se estivesse saindo de um transe, ele balança a cabeça e
me olha. Por alguns segundos, vejo a dor em seus olhos, até que ele volta para a
postura fria que os homens de honra sempre usam, mas que na maioria das
vezes é só uma fachada. — Você está bem?
— Sim, senhora. — Rolo os olhos, pois parece que vai ser mais difícil
ainda conversar com ele.
— Preciso ir lá em cima, pode me acompanhar por favor? — Peço e me
viro antes que ele responda, mas logo escuto seus passos me seguindo.
Subo as escadas me sentindo estranha e quando viro o corredor que dá
acesso ao meu antigo quarto e ao de Cosima, suspiro. Chego em frente à porta
do quarto dela e abro devagar, com meu coração apertando a cada ranger da
porta. Quando passo por ela, enxugo rápido uma lágrima que rola e me viro,
vendo Piero parado no batente, olhando para os lados ao perceber onde está.
— Pode entrar. — Autorizo num sussurro.
— Não posso. — Responde firme.
— Meu marido vai entender, Piero. Não se preocupe.
— Não tem a ver com o Don, senhora. — Entendimento me toma.
Ele não consegue. Não consegue porque ainda a ama e está sofrendo por
estar aqui, vendo-a em todas as fotos espalhadas.
— Está sendo difícil, não é mesmo? — Pergunto, vendo sua postura tensa.
Abaixo a cabeça e fito o chão. — Me perdoe, aquele tiro era para mim. — Não
consigo encará-lo, sabendo que ele perdeu a mulher que amava por minha
culpa.
— Não deveria abaixar a cabeça, senhora Ruggero. Segundo o que ela
dizia, você nasceu para ser a rainha que é, e pelo o que eu saiba, uma rainha só
abaixa a cabeça para rezar. — Levanto minha cabeça e olho para o homem na
minha frente. Ele acabou de dizer o que Cosima vivia dizendo desde que
soubemos que eu me casaria com Ottavio e me tornaria a primeira dama da
Cosa Nostra.
— Vocês viveram tão pouco! — Digo em um lamento.
— Vivemos o tempo necessário para ser épico. — Piero fala sério, com sua
postura ainda rígida.
Pego um porta retrato com uma foto que Cosima está sozinha com seus
cabelos loiros ao vento e sorrindo, ando em passos lentos e fico de frente para
ele, que não saiu um centímetro da porta.
— Ela diria para eu ficar quieta e deixar essa coisa de vingança para lá. —
Falo, olhando a foto em minhas mãos e depois levanto meu olhar até o seu, que
também está focado na foto. — Mas eu não posso. Nunca fui sonhadora e
romântica como ela. — Estendo o objeto para Piero e ele não hesita em pegar,
então digo: — Vou me encarregar de que você tenha sua chance com Murilo.
Faça-o pagar, soldado. — Meu olhar de ordem o faz assentir. Dando um passo
para o lado, ele me dá passagem e eu saio do cômodo sabendo que Piero vai
vingar minha amiga. O prato da vingança pode até estar frio, mas com certeza é
o mais saboroso.
Eu sabia que vir até Cosenza seria uma pedra no meu sapato, mas com o
câncer de Humberto avançado, decidi vir para saber em que pé está a Camorra,
por conta do problema chamado Murilo.
Estamos em Calabria há um dia e eu já sinto falta de casa. A verdade é que
o velho Cattaneo não é mais o mesmo e os conselheiros já estão o rondando
como urubus em cima da carniça, prontos para a sua morte. Outro ponto que
percebi, foi que o escolhido para ficar no lugar de Humberto até a posse do
meu herdeiro, não entregará a cadeira facilmente. Frederico, o mais indicado
para o cargo, já anda fazendo alianças por baixo dos panos, onde não pretende
honrar nada que o velho capo pedir, segundo o que Franco descobriu.
Não que eu faça questão que um dos meus filhos fique com esse território
de merda, mas eu não posso tirar sua escolha. Se quando for maior, ele decidir
tomar o que é seu por direito, terá o apoio da Cosa Nostra.
Descarto o charuto quando percebo minha esposa vindo em minha direção
de dentro do quarto.
— Sem sono? — Pergunta e se senta de frente para mim na mesa da sacada
do seu antigo quarto.
— Pensando. — Respondo, notando a inquietude de suas mãos enquanto
olha para a lua cheia no céu.
— Sabe, meu pai me disse uma vez que quando eu me casasse, era meu
dever zelar por minha esposa. Ele sempre foi um homem cruel fora de casa,
mas sempre observou bem minha mãe. Meu pai zelava por Elisa observando-a
e entendendo antes dela o que ela precisava. E com pouco tempo de casados,
posso dizer que fiz meu trabalho de casa, porque eu te conheço bem e sei
quando está prestes a pedir algo que sabe que não vou gostar. — Arqueando
uma sobrancelha para mim, ela sorri nervosa. — Diga, mia dea. Saiba que o
não, você já tem.
— Eu estava no quarto de Cosima hoje e Piero estava lá, como a boa
sombra que é. — Assinto com a cabeça e espero que ela continue. — Eu sei
que você vai achar Murilo, mas eu quero que deixe Piero matá-lo. — Não
esboço nenhuma reação, apenas fico tentando entender seu pedido. Na verdade,
saber o porquê.
— Te conhecendo bem, você já deve ter prometido isso a ele. — Afirmo,
me recostando na cadeira enquanto ela me olha sorrindo de lado e com isso
nem precisa dizer mais nada.
Sim, ela prometeu!
— Ele está sofrendo, Ottavio. Talvez isso o ajude a seguir em frente. —
Sussurra, me olhando com suas esmeraldas grandes e pidonas.
— Sabe que eu não tinha tanto ódio de Murilo até você me contar o que ele
fez, não é? — Ela assente em expectativa. — Piero é um bom soldado. Eu
tenho planos para ele e por esse motivo, não vou negar isso. — Ela levanta
sorrindo. — Mas eu ainda vou ter meu tempo com o morto vivo do Murilo.
— Fechado. — Responde animada e se joga em meu colo.
— Per Dio, mulher, você ainda vai me causar um infarto. — Ela esconde o
rosto envergonhada no meu pescoço.
— Vou descer para pegar algo para beber, estou com sede. — Ela se vai e
eu fico olhando o quarto estranho. Eu concordei em ficar na casa do pai dela
por ser um dos locais mais seguros no momento, já que com Murilo a solta e
querendo a cabeça de minha esposa, é um perigo.
Saio do quarto e desço a escada sem encontrar ninguém no caminho.
Conferindo o relógio, vejo que já são quase duas da manhã. Allegra vem em
minha direção com um copo de água e sorri quando me nota. Ela está sexy pra
caralho na camisola de cetim preta comprida, com duas fendas em cada lado
das pernas. Sem pensar muito, puxo-a pelo braço e faço ela entrar na primeira
porta que vejo, logo percebo que é o banheiro.
— O que você está fazendo? — Ela pergunta rindo quando tranco a porta.
Tiro o copo de sua mão, coloco em cima da pia e vejo seu olhar mudar
para entendimento,
— Não podíamos fazer isso no quarto?
— E perder a chance de foder a filha do capo no banheiro da casa dele? —
Retruco, virando-a de frente para o espelho da pia. — Quero que veja o quanto
nossos corpos são bons juntos, não feche os olhos. — Falo em seu ouvido.
Passo minhas mãos por suas costas até chegar na bunda gostosa e
empinada e dou um tapa forte, fazendo-a pular de surpresa.
Seus olhos verdes me observam através do espelho enquanto eu subo sua
camisola e passo pelos seus braços, deixando-a somente com uma calcinha
minúscula no corpo. Beijo seu ombro nu, levo minhas mãos até a calcinha preta
e a rasgo em seu corpo.
— Ottavio… — Allegra ronrona quando eu levo meus dedos até sua
boceta, encontrando-a pronta para mim, completamente molhada. Círculo seu
clitóris e ela joga a cabeça no meu peito, fechando os olhos.
— Olhos abertos, mia dea. — Seguindo a ordem, ela os abre e eu vejo seu
olhar de luxúria através do nosso reflexo.
— Ohhh! Per favore, amore mio! — Pede com os olhos quase fechados,
sua boca entreaberta ofega a cada vez que eu estímulo seu botão sensível.
Abaixo minhas calças, as tirando de qualquer jeito e logo a camisa tem o
mesmo destino. Allegra se empina e eu roço a cabeça do meu pau na sua
entrada, recebendo um gemido em resposta ao mesmo tempo em que ela fica na
ponta dos pés, me dando melhor acesso a ela.
Seguro em sua cintura e empurro suas costas mais para baixo, para que ela
se empine bem para mim. Allegra é bem mais baixa, mas para matar nossa
vontade, tudo tem um jeito. Pego uma de suas pernas, a abrindo e suspendendo
enquanto entro lentamente nela. Seu corpo fraqueja quando entro todo nela. O
pé que a sustenta não aguentaria muito, mas com o tesão de ambos agora, não
vamos precisar de muito para gozar.
— Dio perfetto. — Sussurro em seu ouvido enquanto ela ofega de prazer.
Os movimentos de entra e sai são lentos e torturantes, mas ao mesmo tempo
viciosos. Estou descobrindo que me perder dentro do corpo de Allegra será
minha ruína, essa mulher já me tem nas mãos sem precisar de muito. Nosso
olhar em nenhum momento se desvia do espelho enquanto eu a fodo
lentamente.
Sinto sua boceta deslizar pelo meu pau e passo a dar estocadas mais fortes,
fazendo minha pélvis bater contra sua bunda macia e seus gemidos são como
uma válvula de escape para mim. Quanto mais eu os ouço, mais eu quero
escutar.
Seguro seus cabelos, os puxando devagar e deposito um beijo em seu
pescoço. Poucos minutos depois, ela começa a tremer e eu a seguro pela cintura
para não cair.
— Goza para mim. — Peço, sabendo que eu também não aguentaria muito.
Quando sinto seu canal me apertando, me deixo levar, segurando-a forte e
gozando junto. Estamos suados e ofegantes, nos encarando pelo espelho. Porra!
Nada é mais sexy do que sua entrega na hora do sexo.

— Bom dia! — Allegra cumprimenta seu pai quando nos sentamos para
tomar café e sua cara de cansaço é um lembrete da noite de sexo que tivemos.
Depois de fodermos no banheiro, subimos para o quarto, e cazzo, fizemos sexo
até o nascer do sol. Mesmo com a barriga maior, ela vem se superando a cada
foda!
— Espero que tenham dormido bem! — Sorrio pelo comentário de
Humberto, mas minha esposa ao meu lado está claramente constrangida.
— Perfeitamente. — Respondo e Franco se junta a nós para o café.
Mais tarde, deixo Allegra descansando e vou com Humberto e Franco até o
escritório para continuarmos às buscas por Murilo.
— Como pensa em controlar seus homens depois da morte de Murilo? —
Pergunto ao velho Cattaneo sentado na sua cadeira, enquanto aguardamos o
retorno do meu hacker. Mesmo contra o agrado de Humberto, eu decidi usar
meus homens, invés dos seus. Só um cego não vê que seu poder já está com os
dias contados e depois que cheguei e vi em que pé anda, não posso confiar em
ninguém. Esse é um dos motivos pelo qual ordenei ontem mesmo que Luigi
mandasse mais homens para a segurança de Allegra.
— Se não percebeu, eu ainda não morri, Ruggero. Ainda sou o capo e
comando tudo isso. — A arrogância é um defeito que nos torna cegos. Algo me
diz que Humberto vai descobrir isso de uma maneira trágica.
— Se você diz. — Respondo, sorvendo o whisky.
— O que pretende fazer com Murilo? — Sua pergunta me faz fita-lo.
— Pensei que não se importasse com o bastardo do seu irmão. — Minha
fala faz ele me encarar duramente e semicerrar os olhos.
— Como sabe que Murilo é um bastardo? — Me pergunta e depois olha
para Franco sentado ao meu lado, mexendo no celular.
— Eu não seria o chefe se não soubesse de tudo, Cattaneo. Além disso, as
diferenças físicas entre vocês é mais um indicativo. — Enquanto o velho tem
resquícios de cabelos que um dia foram pretos e olhos verdes, Murilo é loiro e
de olhos bem azuis, se eu me lembro bem. Foi preciso uma rápida busca para
descobrir que o pai de ambos teve um filho com uma Russa e depois que o
próprio a matou, trouxe o filho para a Itália e obrigou sua esposa a criá-lo como
seu.
— Existem segredos que jamais podem ser revelados, Ruggero. — Ligo
um alerta com o tom usado por ele. Será que quer dizer algo?
No mesmo instante, o fato de eu ter tido um irmão gêmeo me vem à mente.
Será que ele também sabe? Elisa não me disse ao certo quem sabe dessa
história. Com isso, faço uma anotação mental para quando chegar em casa, ir
atrás de respostas.
— Quer me falar algo? — Pergunto, ainda o encarando.
— Não. Foi só um comentário e mais nada! — Ele responde calmamente.
— Sabe, Humberto, eu nunca gostei de você. — Minha fala faz com que
Franco enfim tire os olhos do celular e me olhe de lado. — Apesar de ser
casado com sua filha, continuo não gostando. Então guarde minhas palavras...
— Me inclino para frente, deixando o copo em cima da mesa de centro e apoio
meus cotovelos nos joelhos, sem perder contato visual com o velho sentado à
minha frente. — Se eu descobrir que você me esconde algo importante, eu vou
matá-lo e depois vou consolar sua filha, dizendo como o acidente que matou
seu pai foi trágico.
Minhas palavras o fazem sorrir abertamente.
— Você puxou seu pai em tudo, Ruggero! — Fala sarcástico. — Mas eu
não tenho nada a te dizer. E mesmo se tivesse, não seriam meus segredos, para
revelá-los a você.
Antes que eu tenha tempo de retrucar, Piero entra no escritório com o
telefone em mãos e sem dizer uma palavra, me entrega.
— Sim.
— Don, ele foi visto pela última vez em um bairro da periferia chamado
Tivolille. Mas o que me chamou atenção, foi ver dois dos conselheiros que
estavam na videoconferência da reunião do senhor de ontem com ele pelas
câmeras de segurança que consegui acesso. — A fala de Ciro me faz olhar
para Humberto e ele já me encara.
Eu estava certo! A Camorra está infestada de ratos e talvez eu devesse
deixá-los brigarem até a morte, me pouparia tempo.
— Ele ainda está lá?
— A última vez que consegui vê-lo, foi há quatro horas.
— Quero uma certeza. — Ordeno, desligo e entrego o celular a Piero, que
me olha ansioso.
— Espere lá fora. — Ordeno e ele assente, saindo.
Humberto me olha calado, enquanto Franco se levanta calmamente com as
mãos no bolso e anda para trás do sofá.
— E então? — O velho pergunta, sem esconder a expectativa.
— Ele está em um bairro da periferia. — Tem algo errado. Minha intuição
me diz e eu costumo ouvi-la muito bem.
— Vou mandar meus homens até lá.
— Poupe seu tempo, Cattaneo! — Uma hora dessas, ele já deve estar
longe. Oculto a informação de que ele estava com alguns de seus conselheiros.
Humberto está velho e cego demais para conseguir agir com a firmeza e frieza
que a situação pede. — Vamos aguardar enquanto meu soldado faz o trabalho
direito. Eu quero ter certeza de que ele continua lá, antes de atacar.
Saio da sala, fazendo sinal para que Franco me acompanhe, passamos pela
porta, a fechando atrás de nós e olho ao redor para ter certeza de que estamos
sozinhos. Piero se aproxima e Franco me olha, então eu repasso todas as
informações.
— Tem algo errado! Murilo estava muito bem escondido esse tempo todo
por conselheiros do velho. — Falo, fazendo os dois homens na minha frente
apertarem os olhos.
— Humberto está sendo traído! — Franco diz o óbvio.
— Aí é que está, meu caro. Pelo o que sabemos, Frederico já tem seus
aliados e parece que Murilo também. — Falo calmamente, enquanto o
entendimento cai em ambos.
— Eles já estão entrando em guerra para decidir quem vai ficar na cadeira
do capo. — Piero murmura.
— Exato. O que me leva a crer que ninguém mais nessa merda de máfia é
confiável. Os dias de Humberto estão contados, só nos resta saber quem é que
vai atacar primeiro. Frederico ou Murilo. — Falo baixo, mas olhando ao redor.
— Preciso tirar Allegra daqui. — Olho para Piero e ele entende a ordem
silenciosa, saindo em direção as escadas.
— Quem você acha que vai atacar primeiro? — Franco pergunta, me
fazendo olhar para ele.
— O que não tem nada a perder.
Murilo.
— Seja sorrateiro e posicione nossos homens perto do carro. Quando
Allegra sair pelos portões, vão embora sem olhar para trás.
— Eu não vou deixar você aqui. — Fala tenso.
— Piero estará comigo. Preciso fazer algo antes, depois os alcanço.
Em uma corrida contra o tempo, subo as escadas, indo para o quarto e
quando abro a porta, me deparo com Piero jogando as coisas da minha esposa
dentro da mala enquanto a mesma olha para ele com raiva e de braços
cruzados.
— Vamos embora, Allegra. — Minha fala a faz se virar e me olhar.
— O que está acontecendo, Ottavio? Tenho o direito de saber.
— Depois. Agora quero você fora daqui, não é mais seguro. — Respondo,
lhe dando um beijo na testa e olho para Piero saindo com a mala, nos deixando
sozinhos.
— Papai está bem? — Ela me pergunta tensa.
— A Camorra não é mais segura! É tudo o que você precisa saber. —
Engolindo em seco, ela assente e de mãos dadas nós descemos as escadas.
Quando ela faz menção de ir pela porta da frente, a seguro pelo braço e aceno
com a cabeça para que pegue o caminho para a cozinha.
— A casa está vazia. — Ela murmura durante o caminho. — Onde está
papai?
— Allegra, sem perguntas agora. Anda! — Falo firme, fazendo ela apertar
os passos.
Na parte de trás da casa, vejo Franco e Piero ao lado de um carro e ao
redor, os trinta homens que Luigi mandou.
— Tudo certo. — Franco fala no mesmo instante que Allegra estanca no
lugar e me olha.
— Eu não dou mais nenhum passo até você me dizer o que está
acontecendo. — Ela sussurra para que ninguém mais ouça.
— Seu pai foi traído, você mesma disse que a casa está vazia. É uma
armadilha para que matem todos nós. — Seus olhos se arregalam e ela dá um
passo para trás.
— Não, eu preciso ir até ele. — Fala, mas eu a seguro antes que se afaste
mais.
— Porra nenhuma. Você vai sair daqui agora. — Brado, a fazendo me
olhar com os olhos lacrimejando.
— Mas e você?
— Eu preciso fazer uma coisa com Piero antes, depois vamos alcançar
vocês.
— Eu não...
— Vai sim. — A olho firme e depois aceno com a cabeça para Franco a
pegar dos meus braços e colocar no carro. Com ela dentro do carro, ele vem até
mim demonstrando o quanto está tenso.
— Alguns homens vão ficar com vocês. — Ele diz.
— Cuide dela. — É tudo o que eu digo.
Olho mais uma vez para minha esposa sentada no banco de trás do carro.
Seus olhos estão tristes, mas ela não chora. Seu olhar diz todas as palavras que
o momento não permite serem ditas.
Aceno silenciosamente para ela em resposta.
Porque sim, eu vou voltar para ela sempre!
Com o carro longe e a casa ainda sem nenhum funcionário a vista, saco
minha arma no mesmo instante que escutamos um tiro vindo de dentro.
— Você estava certo! — Piero murmura enquanto seguimos o barulho do
disparo.
— Eu sempre estou!
Passamos pela cozinha e entramos no corredor que dá acesso a sala e ao
escritório. Piero vai na frente e eu o sigo, com dez dos meus soldados logo
atrás.
Antes que possamos apontar na sala, um disparo acerta a parede na frente
de Piero e o caos se instala. Mais tiros nos seguem enquanto estamos no
corredor, nos protegendo. Piero e mais dois homens tomam a frente atirando
enquanto eu e o restante voltamos pelo caminho, para entrar pela porta
principal.
Já nas escadas da entrada, encontramos dois homens de vigia e
rapidamente eu atiro em um e meu soldado acerta o outro ao seu lado. Subo os
degraus escutando os tiros do lado de dentro da casa, abro a porta devagar, atiro
na cabeça do homem abaixado atrás do grande sofá de couro marrom que
estava atirando na direção do corredor onde Piero está junto do restante. Dois
homens que estavam com o agora morto se levantam de trás do sofá e
começam a atirar em minha direção, mas são pegos por Piero e os meus
soldados.
— Já disse que odeio essa cidade? — Falo enquanto Piero e o resto se
juntam a mim e vamos em direção ao escritório do imbecil do Cattaneo.
— Não tem soldados do capo na casa. — Um dos meus homens fala alto.
— Eles traíram o seu capo, ratos camorristas. — Piero diz e se cala quando
chegamos em frente a porta fechada.
Olho para meu homem de confiança e balanço a cabeça, em ordem para
que ele abra a porta na sua frente.
Mal passo por ela e sorrio de lado.
— Estava me perguntando se você teria ido embora! — Murilo fala
sarcástico.
— Eu estava fazendo hora por aí... — Retruco e guardo minha arma no
coldre. Meus homens se posicionam ao meu redor com as armas em punho,
apontadas para Murilo, que tem sua arma apontada na cabeça do velho
Humberto.
Patéticos!
— Eu serei o capo da Camorra. — Coloco minhas mãos no bolso,
analisando o nervosismo do homem a minha frente!
— Da última vez que soube, você não estava na lista de sucessão. — Falo
firme.
— Depois que ele morrer. — Aperta a arma na têmpora de Humberto. —
Eu serei o chefe. Allegra não tem nada o que procurar aqui. — A menção ao
nome da minha esposa me faz enxergar vermelho e lembrar do real motivo de
ainda estar nessa cidade.
— Você é um morto vivo andando pelo mundo, Murilo. Nunca deveria tê-
la tocado. — Sinto a veia da minha testa pulsar de ódio ao me lembrar do
relado dela.
Ele sorri de lado, me olhando atentamente.
— Aquela putinha contou! — Cai na gargalhada. Olho para Humberto
imóvel. Ele não disse uma palavra desde que entrei no cômodo, provavelmente
deve ter se surpreendido por ter sido pego facilmente dentro da própria casa.
— Mais uma palavra e eu não terei pena de você, seu bastardo maldito! —
Minha fala fria o faz apertar o olhar para mim.
— Ela nem é do meu sangue. Eu não me importo. — Não o respondo,
porque enfim Humberto resolve se mexer, pegando seu irmão de surpresa e o
acertando com um canivete no braço esquerdo.
Com a distração, a arma de Murilo dispara quando os dois caem no chão e
me aproximo com Piero dos dois homens.
Pego Murilo pelo colarinho e lhe acerto um soco, fazendo seu nariz sangrar
rapidamente. Ele tenta esboçar reação, mas assim como seu irmão, não passa de
um velho gagá.
— Eu te falei para não falar dela. — Brado, o enforcando com minhas
mãos. O desejo de sentir seu pescoço se quebrar entre elas quase me faz perder
o controle e esquecer meus reais planos para a sua morte!
— Don. — Saio do meu transe quando um dos homens me chama em
direção ao sofá onde Humberto está sentado. — Não o mate ainda! — Falo
para Piero e deixo Murilo quase desacordado nas mãos dele.
Me aproximando do velho, percebo que ele foi atingido por uma bala na
barriga.
— Morrer assim é melhor do que morrer por um maldito câncer. — Ele
murmura quando chego a sua frente.
— Parece que seu tempo está acabando, Cattaneo. — Respondo, vendo o
sangue escorrendo pelo sofá.
— Se encarregue de deixar meu neto no comando quando for a hora. —
Fala baixo. — E diga a minha filha que sinto muito. Agora vá embora e faça o
que tem que ser feito. — Ele suspira, jogando a cabeça para trás.
— Vamos embora. — Ordeno, já saindo do escritório. Piero entrega Murilo
a dois soldados, que saem na frente o levando para o carro.
— E quanto a cadeira de capo? O senhor não vai fazer nada a respeito? —
Piero pergunta enquanto andamos.
Eu o olho e depois dou uma olhada ao redor.
— Que eles se matem por essa cadeira de merda!
— O Don não quer que seu filho fique com ela no futuro?
— Você disse tudo! Futuro. Até lá, meu filho irá decidir por si só se quer
esse território, e se for de sua vontade, nós vamos voltar e tomar o que é dele
por direito.
Olho pela janela do jatinho, prendendo o fôlego. A tensão de todos à
espera da volta de Ottavio e de Piero é palpável. Franco está andando de um
lado para outro, enquanto os soldados estão ao redor do jato no lado de fora,
armados até os dentes.
— Cazzo. — Ele xinga, olhando para o relógio. Parei de contar esse ato
depois da quarta vez.
— Desse jeito eu não vou conseguir me acalmar! — Digo e ele me olha,
suspira e senta na minha frente, mas fica mexendo a perna impaciente.
Olho para o lado de fora, me encostando na poltrona.
— Ele vai voltar! — Falo firme.
— Eu não estou duvidando disso, só não gostei do fato de ter que deixá-lo.
— Me olha, dando de ombros. — Sem ofensas.
— Eu acho que estaria mais tranquila se você estivesse com ele também.
— Você está bem, não é mesmo? — Me pergunta e olha para minha
barriga, onde tenho uma das mãos em cima.
— Sim, só ansiosa, assim como todos. — Respondo e seu celular escolhe
essa hora para tocar. Quando olha o visor, suspira e desliga sem atender.
— Eu não me importo. Pode atender a chamada.
— Não é importante! — Fala, fitando os sapatos e eu analiso sua postura.
— Era a Annamaria? — Pergunto, tentando tirar o foco da situação que
estamos.
— Claro que não! Eu não tenho o número dela e duvido que Ângelo tenha
dado o meu para ela.
— Como se a situação já não fosse constrangedora. Por Deus! Vocês já são
noivos, o que custa trocar mensagens. — Reviro os olhos com a atenção
voltada para o lado de fora.
— Por acaso, a senhora trocou mensagens com o Don escondido do seu
pai? — Sua fala me faz encará-lo e semicerrar os olhos.
— Não me chame de senhora. E não, Franco! Mas isso não quer dizer que
eu não quisesse. Se na época Ottavio tivesse demonstrando interesse nisso,
provavelmente estaríamos muito mais familiarizados hoje. — Seus olhos
verdes olham para o lado como se estivesse pensando na possibilidade. — Me
diga uma coisa? — Peço e ele me olha desconfiado. — Você gosta dela, não é
mesmo?
Sua postura fica ainda mais ereta depois da minha fala e ele engole em
seco.
— Amar em nosso mundo significa fraqueza. — Sorrio de lado, pela sua
resposta.
Tolos são os homens que pensam assim, o que seriam deles sem uma
família para voltar?
— Depois que casar, podemos voltar a conversar sobre isso. — Ele
concorda com um aceno e eu me levanto para ir até o banheiro.
Olho minha aparência pálida no espelho e me apoio na parede quando
tenho uma vertigem. Passo alguns minutos respirando fundo de olhos fechados,
mas assim que os abro, escuto uma movimentação do lado de fora.
Abro a porta e dou de cara com meu marido me olhando intensamente e
sem me conter pulo no seu colo, passando minhas mãos pelo seu pescoço.
— Você está aqui! — Exclamo, sem me afastar.
Suas mãos rodeiam minha cintura em um aperto firme, enquanto sinto seu
nariz roçar em meus cabelos, como se ele estivesse o cheirando.
— Eu sempre vou voltar! — Me afasto dele e sorrio de lado, olhando por
cima de seus ombros.
— Onde está papai? —Solto ele e tomo a frente no corredor, mas não o
vejo entre Franco e Piero, só alguns soldados.
Me viro para Ottavio e ele me olha com as mãos nos bolsos da calça do
terno.
— Ele não resistiu, Allegra. Seu pai foi traído.
Suas palavras me fazem suspirar e meus olhos se enchem de lágrimas, mas
não permito que nenhuma role.
“Não quero que chore quando eu morrer, Allegra! Saiba que quando esse
dia chegar, eu estarei em paz. Além disso, você se tornará uma rainha um dia e
rainhas não demostram fraqueza.”
A sua fala vem como um lembrete de como agir nesse momento.
Meu pai morreu, me deixando como a última herdeira viva da Camorra.
Pelo menos até que meus filhos nasçam.
— O que acontece agora? — Minha pergunta quebra o silêncio que tinha
se instalado no local.
— Vamos embora! Você provavelmente não é mais bem-vinda aqui. — Ele
fala, pegando minha mão e me guia até os dois últimos assentos, longe de
todos.
— Eu sou a herdeira disso. — Falo firme, recebendo um olhar atravessado.
— Você é tudo nesse momento, menos a herdeira da Camorra. Mas se te
deixa tranquila, se nosso filho quiser este lugar, nós vamos voltar e reivindicar
o que é dele por direito.
Sem falar mais nada, ele prende meu cinto e se senta ao meu lado quando o
piloto avisa que vamos decolar.
Em minhas aulas quando pequena, eu aprendi que o conceito de família
são pessoas unidas por laços afetivos. Durante minha adolescência, eu vivia
imaginando como era ter uma mãe e um pai que fossem presentes em minha
vida.
Eu sonhava acordada com momentos clichês que lia e via nos filmes, mas
quando eu voltava para a realidade, era assombrada pela vida vazia. A não ser
quando estava com Cosima, que conseguia preencher uma parte importante em
minha vida.
Família...
A realidade me toma e olho para o lado, encarando meu marido de olhos
fechados e com a cabeça encostada no banco.
Ele e nossos filhos são minha chance de ter uma família de verdade e eu
não vou abrir mão de protegê-los. Olho para o lado e me despeço da terra que
um dia chamei de lar.
— Eu vou, mas eu volto! — Falo, olhando a cidade que fica para trás e
olho para o lado quando sinto um aperto em minhas mãos.
— Isso é uma promessa! — Ottavio fala por mim.

Já eram 14h quando chegamos e desde então Ottavio, Piero e Franco estão
sumidos. Provavelmente devem estar com Murilo!
Durante o voo, Ottavio me disse que o trouxe conosco para poder
interrogar ele e depois entregar para Piero. Quão ruim eu sou por não estar
sentindo nada sabendo que meu tio vai morrer? Talvez, outra pessoa em meu
lugar ficaria com a consciência pesada e teria pesadelos, mas eu não sinto nada!
Murilo é um homem desprezível que merece morrer, principalmente depois do
que ele fez a Cosima e ao meu pai. Merece o fim que vai ter e provavelmente
não será nada bonito.
Olho o relógio marcando 23h e cansada de esperar Ottavio para saber o
que aconteceu, saio do quarto para comer algo.
— Olá, querida! — A saudação de Elisa me faz virar para o lado e a ver
sentada no sofá da sala de estar.
— Boa noite. — Cumprimento meio incerta. Ela vem se afastando mais a
cada dia e já não sei como agir em sua presença.
— Eu soube o que aconteceu! — Suspiro com sua fala. — Você quer
conversar a respeito disso?
— Não há o que conversar, eu sou órfã agora.
— Mas não quer dizer que está sozinha. Você tem seu marido e a mim. E
seus filhos muito em breve vão preencher esse vazio na sua vida e no seu
coração! — Concordo balançando a cabeça e ela se levanta, vindo ao meu
encontro para me dar um abraço.
— Eu estava indo comer algo, parece que Ottavio não volta tão cedo. —
Ela sorri tensa.
— Venha, eu vou te fazer companhia.
Com um sanduíche e um copo de suco na mão, me sento na cadeira da
mesa da cozinha com Elisa ao meu lado, tomando uma xícara de chá.
— E como você está? — Pergunto, tirando o foco da morte do meu pai.
— Eu estou bem. Perder um filho é algo difícil. A dor nunca vai embora,
você só aprende a lidar com ela. — Ela me responde com o semblante cansado.
— Eu sinto muito! Se tiver algo que eu possa fazer por você, não hesite em
me pedir. — Ela coloca a mão em cima da minha sobre a mesa e sorrir de lado.
— Você já vem fazendo muito por mim, não se preocupe. — Eu franzo o
cenho, sem entender sua fala.
— O quê? — Arqueio a sobrancelha.
— Meu amor, você vem amando meu filho intensamente! pode não ter
percebido, Allegra, mas todas às vezes que o olha, transmite todo amor e
carinho que tem por ele. Como mãe, eu só posso te agradecer. Eu sei que
Ottavio é muito difícil de lidar. — Fico calada, digerindo sua fala.
Não que seja errado me apaixonar por meu marido, mas porque eu não sei
como ele irá agir quando souber que eu o amo, quando já deixou claro que
jamais poderia me amar. Será que eu seria capaz de amar por nós dois?
Fecho os olhos e suspiro, deixando o lanche de lado.
— Será que ele já percebeu? — Pergunto, encarando seus olhos pretos.
Seu sorriso aumenta enquanto dá tapinhas na minha mão.
— Não, porque ele está ocupado demais sentindo o mesmo por você e
tentando deixar de lado. — Arregalo os olhos, surpresa.
— Ele me ama?
— Claro que ama, só não se deu conta ainda. Eu conheço bem meu filho e
todo cuidado e zelo por você não tem a ver com a gravidez, e sim com fato de
ele realmente sente algo por você. — Meu sorriso me denuncia, mas como não
conter a emoção de saber que talvez Ottavio possa estar aberto para me
escutar?
— Não sei o que fazer. — Confesso baixo. — Eu perdi muitas pessoas em
pouco tempo. Além de estar grávida. Sinto como se estivesse acontecendo tudo
ao mesmo tempo e tivesse perdido o controle.
— Você é uma mulher extraordinária, vai achar um caminho e um modo de
lidar com tudo isso. — Assinto com suas palavras tranquilizadoras. — Mas eu
preciso lhe perguntar algo.
— Diga. — Respondo e mordo um pedaço do meu sanduíche.
— Ottavio não disse mais nada em relação ao irmão? — Sua pergunta
incerta me faz mastigar mais calmamente para ganhar tempo para formar uma
resposta sem que a machuque.
Como dizer a ela que Ottavio está aliviado de não ter alguém como ele
andando por aí e que ele não sente nada a respeito? O que não é de estranhar, já
que até pouco tempo ele achava que era filho único e nada muda o fato de que
mesmo sabendo que tem um irmão, ele está morto há muito tempo.
— Ele não é de falar sobre esse tipo de coisas. — Falo firme. — Você o
conhece, ele se fecha e só fala quando lhe é conveniente, mas ele não disse
nada para mim. Não se preocupe, ainda deve estar remoendo isso dentro dele.
— Ela assente, mas parece não estar satisfeita com minha fala.
— Às vezes eu acho que Carlo e eu erramos em não termos sido
totalmente verdadeiros com ele.
— Você não pode pensar assim. Ottavio é cabeça dura demais, além disso,
vocês fizeram o que achavam certo na época. — Ela engole em seco, olhando
para um ponto fixo na parede a sua frente.
— Só espero que ele não resolva mexer em coisas do passado. — Fala,
ainda perdida em seus pensamentos.
— E o que seria mexer em coisas do passado? — Minha pergunta faz ela
me encarar firme.
— O passado tem uma razão para ser chamado assim. O que aconteceu
anos atrás não pode ser mudado e meu filho vai querer reverter os erros do seu
pai, assim como os meus. — Sua fala enigmática e cheia de mistérios me
deixam em alerta.
Elisa é uma mulher que pelo visto carrega segredos demais para serem
revelados de uma só vez. O que me leva a uma pergunta: O que acontecerá com
todos ao redor quando os segredos que essa mulher guarda começarem a ser
revelados?
Algo me diz que estamos prestes a cutucar feridas que apesar do tempo,
não foram cicatrizadas e provavelmente abrirá novas.
O passado é um peso que só quem carrega, não sonha com o futuro, mas
Elisa Ruggero parece carregar toda a carga de um, ao mesmo tempo em que
almeja um futuro de paz. O sinal de alerta apita em minha cabeça. Preciso
descobrir o que ela ainda esconde de Ottavio e tentar ao máximo neutralizar os
danos.
O barulho da porta da entrada chama nossa atenção e alguns minutos
depois suspiro audivelmente quando Ottavio aparece em meu campo de visão
com a camisa que um dia foi branca, toda vermelha. Nem preciso chegar perto
para saber que é sangue seco.
— Boa noite! — É tudo que ele diz enquanto troca um olhar intenso
comigo, que me faz arrepiar e perceber que esse é um dos momentos onde ele
ainda precisa de tempo para voltar a si depois de um dia tenso de trabalho. E
quando digo tenso, me refiro a alguém provavelmente morto no final. Isso me
leva a pensar como o fim de Murilo deve ter sido trágico, a julgar pelas roupas
de meu marido.
— Boa noite, filho. — Minha sogra cumprimenta e quando fazemos
menção de levantar, ele levanta a mão nos interrompendo.
— Continuem, eu vou tomar um banho.
— Eu subo com algo para você comer. — Respondo, fazendo-o assentir e
sair em passos rápidos.
— Você não tem medo dele! — Elisa afirma com um sorriso de lado.
— Deveria? — Devolvo a pergunta com outra, a fazendo ampliar o sorriso.
— Quando eu conheci o pai de Ottavio, eu era uma menina romântica
estudando moda e que queria abraçar o mundo! — Sua fala me faz arquear a
sobrancelha. — Ele dizia que me olhar depois que chegava em casa em dias
difíceis, era como se eu colorisse o mundo dele novamente. Carlo era o homem
mais temido de toda a Itália e mais, só que comigo era apenas meu Carlo. —
Quando percebe que não sei onde ela quer chegar, se levanta e vai até a ilha da
cozinha e começa a preparar um sanduíche. — Você é a Elisa do meu filho. —
Ela afirma, me fazendo parar e analisar.
Eu não tenho medo dele.
Eu amo todos os lados do meu marido e estaria mentindo se dissesse que
seu lado brutal também não me atrai. Ver Ottavio com o semblante fechado,
como se fosse matar alguém a qualquer momento, faz meu corpo se arrepiar e o
sentimento de antecipação ganha vida à espera de seus toques brutos. Porque é
isso que acontece, ele me possui bruto e forte, mostrando o quão dominante é,
mas ao mesmo tempo o sinto venerar meu corpo como se fosse algo precioso e
fácil de se quebrar.
— Sim, eu acho que sou. — Concordo e levanto quando ela me entrega um
prato com o sanduíche e aponta para a escada, sem pensar muito eu sigo para o
nosso quarto.
Abro a porta no mesmo instante em que Ottavio sai do banheiro com uma
toalha enrolada na cintura.
— Eu trouxe para você comer. — Ele anda até a mesa do quarto, senta e eu
coloco o lanche na sua frente. Calado, ele come e mastiga sem me direcionar
um olhar, enquanto eu o espero, sentada na sua frente.
— Você não vai perguntar? — Pergunta depois que come o último pedaço
do sanduíche.
— Ele está morto? — Pergunto, entrelaçando os dedos das mãos.
— Até a última vez que o vi, não. Mas Piero já deve ter feito. — Ele
cumpriu o que me prometeu. Entregou Murilo para que Piero o matasse.
— E ele disse algo importante? — Ele me olha e depois se encosta na
cadeira.
— O que eu já sabia e mais algumas coisas.
— Devo me preocupar com algo? — Ele murmura um não, se levanta e me
puxa para fazer o mesmo.
Me toma em um abraço forte, me deixando totalmente aninhada em seus
braços, um dos meus lugares preferidos ultimamente. Meu coração acelera
quando me lembro da minha conversa com Elisa.
Tomando toda a coragem que tenho, afasto minha cabeça do seu peito e
encaro seus olhos vidrados em mim.
— Preciso confessar algo. — Apertando o olhar e suspirando, ele fica
calado e percebo a deixa para continuar. — Eu sei que já conversamos sobre
isso antes, mas é algo que quero falar, porque eu não tenho medo. — Ele se
afasta de mim tenso.
— O que você fez? — Sua pergunta me faz sorrir. Ele sempre espera que
eu tenha feito algo de errado.
— Eu não fiz nada, pelo menos ainda. — Ele cruza os braços e eu fico
ainda mais nervosa. — Eu sei que disse que não me importava, e realmente não
me importo, desde que você saiba a verdade e me respeite por isso. Nosso
casamento desencadeou uma avalanche de acontecimentos nos quais eu não
estava preparada para lidar, mas acabei enfrentando cada um deles com você ao
meu lado, sendo minha força. Você foi inevitável, marido. Eu amo você.
Quando chegamos a Trentotto, o local já tinha sido esvaziado.
Para o que vai acontecer hoje, a boate aberta seria um empecilho e eu
não quero nenhum tipo de distração que possa aparecer.
— Tudo pronto! — Franco me avisa assim que entro no subsolo. O
cheiro de mijo e podridão me dão boas-vindas. A lâmpada acesa mal
ilumina o lugar, mas para mim nem é preciso, conheço cada parte desse
cômodo perfeitamente, posso apontar em cada canto das celas sujas quem
matei e como.
Na parede mofada de frente para a porta, sorrio quando vejo Murilo nu
em pé, com braços e pernas amarrados separadamente em uma cruz de
Santo André, formando um X. Trouxeram a bugiganga a meu pedido. Ela é
revestida de couro e suas amarras em cada uma das quatro pontas tem
correntes com arame farpado.
— A vida é mesmo uma caixinha de surpresas, não é mesmo? — Falo,
me aproximando e tiro meu blazer, mas seu olhar não demonstra nada
enquanto me olha. — Em uma rápida busca pela sua vida insignificante,
descobri que você é apto ao BDSM e que usa dessa prática para dopar e
estuprar mulheres e as coloca em uma cruz como essa. Espero que aproveite
sua estadia. Uma coisa que aprendi, é que tudo que fazemos nessa vida,
também pagamos nela.
— Sua hora também vai chegar. — Ele responde, se debatendo como
se fosse conseguir se soltar das amarras.
— A hora de todos sempre chega, a diferença é a sua postura em
relação a isso. — Seu olhar de raiva desvia do meu.
— Você acha que vai me intimidar falando assim e me prendendo aqui?
Eu não tenho medo de você, Ottavio. Não vou implorar. — Diz, com um
sorriso de lado quando estou cara a cara com ele.
— Eu ficaria decepcionado se você fizesse isso. — Termino de dizer e
lhe acerto um soco, sentindo o estalo do seu nariz se quebrando com meu
punho. — E se serve de consolo, eu não pararia. Aposto que nenhuma das
mulheres que você estuprou foram ouvidas.
— Deveria ter pego aquela putinha da Allegra. — Mesmo com o
sangue saindo do seu nariz e escorrendo pelo corpo, ele parece não estar
com medo suficiente e eu vou adorar fazer com que seu olhar se torne algo
com puro terror. Escutar sua fala sobre minha esposa faz os demônios em
mim serem soltos.
Desfiro uma sequência brutal de socos em seu rosto e abdômen,
fazendo-o arfar e seu corpo ser tomado ainda mais por sangue. Minha
camisa está completamente manchada pelo líquido vermelho quando me
sinto um pouco satisfeito e me afasto. Olhando em seus olhos, o direito nem
consegue se manter aberto por causa do inchaço, enquanto o outro pisca
mais do que o normal.
— Fale o nome dela só mais uma vez e você vai conhecer uma parte de
mim que poucos conheceram, mas nenhum saiu vivo para contar história.
— Falo entre dentes e pela minha visão periférica, vejo Piero e Luigi
entrando na sala.
— Já começou a festa sem nós!? — Luigi fala, fazendo cara de
ofendido quando chega perto da cruz e assobia, vendo a aparência do
homem.
Murilo começa a tossir sangue no chão.
— Eu acho que você quebrou uma costela dele. — Franco murmura,
senta e começa a mexer no celular.
— Não se preocupe, ele vai sobreviver. — Respondo sarcástico e ele
sorri de lado, sem tirar a atenção do maldito aparelho.
Me viro para Piero observando-o encarar o homem amarrado sem nem
piscar. Piero é um soldado fiel, eu sempre tive planos para ele e estava só
esperando ganhar mais experiência, mas a morte de Cosima acelerou o
processo. Seu olhar prometendo uma tortura lenta a Murilo é algo de se
admirar e se alimentar e eu vou usar isso a favor da famiglia muito em
breve.
— Vocês são patéticos. Enquanto estão aqui, a Camorra já deve ter um
novo capo e duvido que ele irá ceder seu lugar para um bastardo da
Famiglia. — Murilo fala, puxa o fôlego e começa a rir como uma hiena.
— Acha que eu ligo para aquela merda? — Respondo firme, segurando
o desejo de cortar cada membro dele para uma morte rápida, mas ele não
merece algo rápido. — Por mim eles podem se explodir, mas eu não fugirei
da guerra se meu filho quiser seu lugar de direito.
— Ele nunca vai assumir aquela cadeira. Não se puderem impedir. —
O homem fala ofegante, fazendo com que meus homens ao redor fiquem
ainda mais atentos as palavras do verme.
— O que você quer dizer com isso? — Pergunto, apertando seu
pescoço e fazendo-o me olhar nos olhos. Sinto cada veia do meu corpo
pulsar enquanto o aperto. Sentir a vida de alguém se esvaindo em suas mãos
é uma das melhores sensações que alguém pode desfrutar.
Ele não responde, o que me deixa mais puto e eu aperto ainda mais.
Após alguns minutos de tensão, onde só o que se escuta é o engasgo de
Murilo, Luigi coloca uma mão no meu ombro, tirando minha atenção do
homem.
— Assim ele vai morrer. — Fala e se afasta. Olho o homem na minha
frente e contra minha vontade, solto ele. Seu pescoço tem marcas da minha
mão e ele tosse descontroladamente.
— Já que não tem nada a falar, não tem serventia para mim.
— Eu vou morrer de qualquer jeito. — Ele fala e abaixa a cabeça.
— Exatamente! Viveu como um verme durante toda a vida e vai morrer
como um rato. Você não é um homem de honra. — Respondo, segurando-o
pelo rosto para que me olhe nos olhos.
— Não há honra em morrer em suas mãos, Ruggero. — Ele retruca
com a respiração rápida.
— Você deveria ter aprendido que aquele que vive a vida sem honra,
tem uma morte sem glória! — Me afasto dele e pego uma cadeira velha,
colocando no centro da sala, onde a iluminação é melhor. — Mudei de
ideia, coloquem ele aqui. — Aponto a cadeira. Franco e Piero desamarram
os pés e as mãos do homem e o colocam sentado. Murilo tem uns quarenta
e cinco anos. Sua forma física impecável me deixa contente, pois ele vai
aguentar muito bem tudo que eu tenho guardado para ele.
Meu olhar encontra o de Piero, imóvel em frente a porta, olhando para
o prisioneiro sem ao menos piscar.
— Logo você terá o que quer, mas antes eu vou brincar com o
convidado. — Pego uma das estacas que uso para o empalamento e vejo o
exato momento em que Murilo engole em seco e seus olhos se arregalam
quando toma consciência do que estou prestes a fazer.
— Não seja covarde. Se eu me lembro bem, você disse que não ia
implorar. — Falo sarcástico.
Franco empurra a cadeira para trás, deitando-a e como o fundo dela é
revestido de uma tela fina transparente e velha, consigo ver a bunda do
infeliz.
— Filho da puta, não faz isso! — Ele grita e Luigi se aproxima,
colocando seus pés na cabeça dele, apertando-a contra o chão.
— Cala a boca. — Meu consigliere fala entredentes.
Cuspo na ponta fina da estaca e a posiciono na tela no fundo da cadeira
e quando forço, rapidamente se abre um buraco penetrando o cu do filho da
puta.
Seus gritos são o alimento para que eu continue mais e mais, só
tomando cuidado para não enfiar muito e acabar perfurando algum órgão
vital.
— Seja homem, porra! — Falo calmamente.
— Está doendo? — Luigi pergunta, aumentando o aperto dos seus pés
na cabeça dele.
— Vão se foder. — Murilo geme e eu enfio mais um pouco da estaca.
Quando acho que já enfiei o bastante, eu começo a girar o pedaço de pau
dentro dele, fazendo com que sangue comece a escorrer.
— Acho que suas pregas não existem mais. — Cantarolo enquanto ele
grita e percebo seu corpo dar uma leve tremida.
— Vo-vocês vão se arrepender!
— Está pronto para falar algo útil? — Franco pergunta, com uma cara
de entediado ao lado de Piero.
— Podem me matar, mas tudo que precisam saber, é que o fim de
vocês está próximo. A vingança demorou, mas será cobrada muito em
breve. — Minha ira aumenta no mesmo instante e novamente enfio
bruscamente o pedaço de pau dentro dele, que grita.
— Eu me cansei de você. Franco, traga uma bacia com água.
Meu subchefe volta minutos depois com uma bacia grande e funda com
água e coloca na frente do rosto de Murilo, que continua praticamente com
a cara no chão. A estaca ainda está dentro dele e por isso ele evita se mexer,
com a bunda para cima.
Vejo um flash e olho em direção a Luigi. Ele está tirando fotos da
posição do homem, então olha para mim e dá de ombros.
— Acho que seria legal enviar uma foto assim para o novo capo da
Camorra. — Fala tranquilamente e escuto Franco murmurar um "maluco"
ao meu lado.
Me abaixo, levanto a cabeça de Murilo pelos cabelos e a afundo na
bacia. Quando estou satisfeito, solto e ele suspende a cabeça buscando ar.
Me levanto e vou até a mesa perto da cruz, que tem algumas facas e pego o
pó branco, fazendo Luigi rir.
— Porra! Você vai mesmo fazer isso? — Pergunta animado, como se
fosse uma criança e tivesse acabado de ganhar um presente.
Jogo a soda cáustica na água, fazendo a mesma borbulhar
instantaneamente. Os ombros de Murilo tensionam e quando ele tenta se
mexer para levantar o corpo, Piero se aproxima e gira à estaca, fazendo o
homem gritar de dor e com isso, enfim eu consigo um olhar de pânico do
filho da puta. Ele me olha, com a cabeça a centímetros da água com o
produto corrosivo e balança em negativa.
— Você não deveria ter falado da minha esposa. — Aviso, me
abaixando ao lado dele.
Sem que esperasse ou respondesse, eu seguro seus cabelos e afundo sua
cabeça na água com a soda. Conto até dez e o puxo de volta.
— Ottavio, seu fodido. — Luigi fala fazendo uma careta e Franco o
acompanha.
O rosto de Murilo está desfigurado e se desfazendo, sua boca aberta
parece querer falar algo, mas os sons são apenas gemidos. Quando levando
sua cabeça para olhar mais de perto, sorrio ao ver sua língua parcialmente
derretida.
— Teve sua chance de falar algo útil, agora não tem mais.
O jogo de lado e ele continua gemendo. Olho para Piero.
— Ele é todo seu! Quando acabar, vamos conversar. — Ele assente
ansiosamente e se aproxima de Murilo.
Geralmente, eu passo um tempo dirigindo pela cidade antes de ir para
casa quando ainda estou com a adrenalina alta, mas depois de dias
cansativos, tudo o que eu quero é ir embora, tomar um banho e me enterrar
dentro do corpo da minha mulher.
Deixar que Allegra me veja nesse estado é uma coisa que não estava
em meus planos quando nos casamos, mas se tratando dela, nada sai como
esperado. Minha esposa demonstrou não sentir medo de mim mesmo
quando estou sujo de sangue que sabe não ser meu, da cabeça aos pés. E
hoje eu estou com sangue de alguém que ela pensa ser da sua família,
apesar de ter deixado claro que o quer morto.
Quando passo pela porta da frente, encontro a sala escura, mas no
momento em que estou prestes a subir as escadas, vejo a luz da cozinha
acesa e decido ir até lá. Assim que paro na porta, encaro minha esposa
sentada ao lado de minha mãe. Seu olhar se encontra com o meu e percebo
o exato momento em que desce seu olhar para minha blusa manchada com
sangue.
— Boa noite. — Cumprimento elas, sem tirar os olhos de Allegra.
Quando fazem menção de se levantar, eu digo para continuarem onde
estão, porque vou me retirar para um banho e só balanço a cabeça em
concordância quando Allegra diz que vai preparar algo para eu comer.
Volto e subo as escadas rapidamente, indo direto para o banheiro do
meu quarto. Tiro minhas roupas e analiso meus dedos machucados,
resultado dos socos que dei. Minhas mãos sujas de sangue me fazem pensar
em Cesare e algo me diz que Murilo estava se referindo a ele quando falou
sobre vingança.
Faço um lembrete mental de colocar em ordem os fatos de tudo que
vem acontecendo desde a morte de meu pai. Tem que haver alguma ligação
que eu deixei passar.
Com esse pensamento na cabeça, ligo o chuveiro e vou tirando todo o
sangue do meu corpo antes de usar um dos sabonetes líquidos de Allegra.
Quando estou limpo, saio e enrolo uma toalha na cintura. Assim que volto
para o quarto, os olhos famintos da mia dea me encontram e seu olhar
repleto de luxúria faz com que meu pau ganhe vida.
Ando até a mesa do quarto quando ela me mostra uma bandeja com
sanduíche e enfim meu estômago reclama pelas horas sem comer nada.
Sentado, como calmamente meu lanche, contando os minutos para saber
quando tempo demorará para que suas perguntas comecem.
— Você não vai perguntar? — Pergunto e arqueio a sobrancelha depois
de engolir o último pedaço do sanduíche.
— Ele está morto? — Sua postura ereta e os ombros tensos mostram
que está nervosa.
— Até a última vez que o vi, não. Mas Piero já deve ter feito. — Seus
olhos brilham como se estivessem admirados pela minha fala, talvez
percebendo que eu fiz o que ela me pediu, o que me deixa inquieto, porque
mais uma vez percebo que não há nada que ela me peça, que eu não seja
capaz de fazer.
— E ele disse algo de importante? — Pergunta e suspira.
— O que eu já sabia e mais algumas coisas. — É tudo o que digo e ela
assente.
— Devo me preocupar com algo? — Digo que não, me levanto e a
puxo para um abraço.
Allegra se tornou meu ponto de paz em meio a vida que levo. Estar
com ela em meus braços faz com que eu relaxe e deixe para depois os
problemas da Famiglia.
Ela afasta a cabeça do meu peito e me olha nos olhos quando fala que
quer me contar algo. Aperto o olhar em sua direção, perguntando o que foi
que ela fez.
Eu simplesmente mal escuto direito até ouvir as palavras.
"Eu amo você."
Fico olhando nos seus olhos por longos segundos. Seu corpo tenciona
em meus braços e pela primeira vez na vida não sei como agir, mas a
verdade é que eu a amo também. Eu amo a mulher forte e decidida que ela é
e sua força para enfrentar tudo sem medo.
— Não vai dizer nada? — Ela tenta se afastar, mas eu não a deixo.
— Eu não sou idiota para não perceber que as coisas no nosso
casamento mudaram há muito tempo. Amar em nosso mundo pode
significar fraqueza, mia dea. Mas você é algo inevitável. — Seus olhos
verdes se arregalam quando ela processa minha fala.
— Eu não quero te pressionar, mas precisava ser verdadeira com você.
— Fala, passando os braços ao redor do meu pescoço e se colocando na
ponta dos pés.
— Um homem como eu deveria ter medo de ter algo precioso como
você, porque a primeira coisa que irão fazer para tentar me machucar, é te
usar e não há nada que eu não faça nesse mundo para te ter bem e salva,
Allegra. — Minhas palavras a fazem engolir em seco e eu aumento meu
aperto ao redor da sua barriga.
— Eu não tenho medo se você estiver ao meu lado.
— Eu sempre estarei, é uma promessa. — Eu nunca fui um homem de
promessas, mas desde que me casei fazer promessas a ela se tornou
corriqueiro.
— E quanto aos nossos inimigos? A Outfit ainda é um perigo. — Sua
preocupação faz meu coração se apertar e as veias do meu corpo pulsar.
— Que Deus proteja quem tentar te machucar, porque eu não vou ter
piedade. — Falo com firmeza, sem desviar de seu olhar. Se eu tenho uma
certeza nessa vida que levo, é que eu jamais vou deixar que algo aconteça
com ela.
As írises verdes dilatadas me olham intensamente. Existem as mulheres
fortes e as que ainda não descobriram sua força. Allegra sem dúvida está
descobrindo a sua a cada dia, fazendo com que eu sinta orgulho dela, e mais
uma vez, eu vejo a rainha predestinada que ela é.
Pela primeira vez desde que assumi o cargo de Don, tivemos meses
calmos. Cesare e o seu executor sumiram do mapa, ocupados em arrumar
Chicago depois da destruição que De Luca causou com vários ataques. Eu sei
que mais cedo ou mais tarde o capo de Nova York vai cobrar o favor, mas eu
não estou preocupado com isso agora e apesar de não gostar de estar em dívida,
o resultado foi bastante satisfatório.
Depois da morte de Murilo, o novo capo da Camorra cortou relações com a
Famiglia, deixando claro que não cederia seu lugar para o neto do velho
Cattaneo. Allegra se mostrou possessa com a situação, como era de se esperar e
quando finalmente a notícia de que estamos esperando os herdeiros foi
revelada, fomos ainda mais enaltecidos.
Claro que passei os últimos três meses formando novas alianças e
estreitando outras importantes dentro e fora da Famiglia. Além disso, permiti a
entrada de novos associados que tem muita influência na política e isso será de
grande ajuda futuramente. Também tratei de cuidar da segurança de minha
família. Com seus seis meses completos de gravidez e uma barriga enorme,
Allegra está fazendo mais repouso para que não tenha complicações com os
bebês, mas hoje, por ser o casamento de Franco, depois de adiantarmos a data
para que ela participe sem maiores problemas, minha esposa está feliz e para a
sua segurança eu decidi realizar o casamento no jardim da mansão, onde eu
posso ter mais controle de todos que entram e saem.
— Os convidados já estão chegando. — Me viro quando escuto sua voz e
fico hipnotizado quando a vejo em um vestido preto de cetim, em um estilo
mais solto nos quadris, deixando marcada sua barriga. O decote generoso vai
até abaixo dos seios e as tiras grossas passam pelos seus ombros. A mulher é a
porra da perfeição de qualquer jeito.
— Belíssima! — Falo, indo ao seu encontro na porta do meu escritório.
Passo as mãos pela sua cintura e lhe dou um beijo na testa.
— Já estão nos esperando.
— Eles podem esperar. — A puxo para dentro do escritório, fecho a porta
e recebo um sorriso travesso.
— Senhor Ruggero, não somos os noivos para nos atrasar. — Diz, me
olhando intensamente com um sorriso de lado.
— Eu sou o Don, foda-se o resto. — Antes que eu possa a tomar em meus
braços, batidas na porta me fazem bufar.
— Eu disse. — Ela murmura.
Quando a porta se abre, Luigi e minha mãe entram no escritório
sorridentes.
— Filho, os convidados estão esperando. — Elisa fala, trocando olhares
entre mim e Allegra.
— Acho que eles estavam ocupados, Elisa! — O bastardo murmura,
tentando segurar o riso e Allegra fica vermelha.
— Nós já estávamos indo, só estava me certificando que minha esposa está
bem. — Ganhando um sorriso cúmplice de Allegra, saímos todos do escritório
direto para o jardim, onde de longe avisto Ângelo conversando com Franco e
os dois parecem tensos.
— Acho que Franco já está levando uma dura do cunhado. — Luigi fala
sarcástico, também olhando para os dois.
— Não fique muito animado. — Falo e vou até os dois, mas não sem antes
me certificar de que Allegra está bem e sentada ao lado de Elisa em uma das
mesas dispostas embaixo da tenda.
Assim que percebem minha aproximação, os dois se calam e esperam
minha chegada.
— Algum problema? — Pergunto, olhando de um para outro.
— Estava conversando com Franco sobre como deve tratar minha irmã. —
As palavras de Ângelo me fazem arquear a sobrancelha.
— E eu apenas disse que ele não vai me dizer como devo tratar minha
esposa. — O tom áspero de Franco não passa despercebido.
— Ângelo, depois de casada, sua irmã não é mais sua responsabilidade. —
Olho para Franco, que fulmina o futuro cunhado com os olhos. — E Franco,
isso não quer dizer que Annamaria não terá minha proteção. — Meu subchefe
assente quando entende minhas palavras. Caso ele faça algo contra a moça, vai
se ver comigo!
— Já pararam de tentar medir os egos? — Luigi, que estava calado até
então, pergunta. — Precisamos ir, Allegra está acenando para nós.
Olhamos todos para minha esposa já de pé no altar. Rapidamente olho ao
redor e percebo os olhares de muitos homens em cima dela. Apesar de estar
grávida de gêmeos, Allegra está mais sexy do que nunca, com os seios fartos e
uma bunda que me faz querer enterrar meu pau dentro sempre. Também
percebo os olhares de algumas mulheres em cima dela, o que é normal, a
maioria das mulheres presente só pensam em status, dinheiro e na cadeia de
membros da máfia. Allegra Ruggero está no topo, ao meu lado. Eu nunca tinha
visto uma mulher que tivesse nascido para ser uma rainha, até Allegra. Sua
postura é a personificação do poder enquanto distribuí seu olhar frio e
desinteressado para todos que seu olhar cruza.
Mia dea é alguém que pode colocar medo até nos homens mais corajosos.
Me coloco ao seu lado no altar e levo minhas mãos possessivas para sua
cintura, sentindo os pelos do seu corpo se arrepiarem.
— Com frio? — Pergunto perto de sua orelha, sem tirar minha atenção de
todos ao redor.
— Talvez com outra coisa. — Seu olhar se encontra com o meu, me
dizendo que frio é a última coisa que ela está sentindo.
— Provavelmente, vamos sumir durante a festa.
— Mal posso esperar para isso.
Nos calamos quando Franco ocupa seu lugar alguns degraus abaixo e
nossa atenção se volta para a entrada da tenda, onde Ângelo aparece de braços
dados com sua irmã. Allegra suspira ao meu lado, apertando sua mão mais
ainda no meu braço.
— Ela está tão linda! — Murmura, talvez para si mesma, porque seu olhar
não se desprende da noiva entrando com um sorriso no rosto.
— Você estava mais. — Minha fala a faz virar o rosto e me olhar, sorrindo
ainda mais largo.
A cerimônia aconteceu sem qualquer imprevisto, a não ser quando Franco
beijou Annamaria. Achei que Ângelo fosse sacar sua arma para atirar em meu
subchefe, mas foi contido por sua esposa.
Allegra e eu passamos rapidamente para cumprimentar os noivos e
caminhamos para nossa mesa para nos sentar.
— Ver o casamento deles me fez lembrar do nosso.
— O que exatamente?
— O casamento arranjado. Não que eu seja romântica, mas Franco e
Annamaria desde que colocaram os olhos um no outro, foi química à primeira
vista. Eles serão felizes, tenho certeza. — Afirma, depois pega uma taça com
água e toma pequenos goles.
— Quando exatamente nos vimos e você percebeu que teríamos química?
— Minha pergunta a faz corar, porque se eu bem me lembro, eu a vi poucas
vezes antes do nosso casamento acontecer e não me recordo de receber nenhum
olhar dela.
— Eu era uma menina boba, Ottavio. Mas assim que vi você quando vim
tratar do casamento com Elisa pela primeira vez, eu soube que química seria
algo que não nos faltaria.
— Eu sempre a olhei de longe, sabia? — O clima descontraído ao redor e a
conversa leve com minha esposa me faz relaxar, apesar de ainda manter o
semblante fechado.
— Como assim? — Me olha de olhos arregalados.
— Mia dea, eu sou um possessivo bastardo! Desde que ficamos noivos eu
tinha alguém tomando conta de você, me reportando tudo o que fazia. — A
surpresa em seus olhos me faz sorrir de lado e olhar ao redor para ter certeza de
que ninguém tem a atenção em cima de nós dois.
— Mas como eu nunca vi isso?
— Meus homens são bons no que fazem. Proteger a futura esposa do Don
era uma questão de honra. — Os olhos dela brilham com minhas palavras e não
perco quando ela tritura o lábio inferior.
— Eu acho que você merece até um agrado por isso. — Sua fala maliciosa
me faz sorrir de lado.
— Eu não acho que você aguente muito com essa barriga. — Ela aperta os
olhos, brava com minha provocação. Mas infelizmente é inevitável, já que
Allegra às vezes se esquece que carrega dois bebês dentro dela e acaba
extrapolando em nossos momentos íntimos, fazendo com que eu seja o sensato
e fuja dela. Dio mio, como tem sido difícil. Elisa se aproxima, senta ao meu
lado me deixando entre as duas.
— Cansada? — Pergunta, abaixando a cabeça para falar com Allegra, que
responde um mais ou menos. Com a aproximação de Annamaria e Katarina, me
retiro e deixo o quarteto conversando. Um garçom passa e me serve uma dose
generosa de whisky, ao mesmo tempo em que Fabio Lucchese se aproxima e
me cumprimenta.
— Um belo casamento! — Olho o homem na minha frente, sem responder,
mantendo minha cara de indiferença, mas por dentro me perguntando onde ele
quer chegar com isso.
— Querendo se casar? — Ele dar de ombros e tomo um gole da minha
bebida.
— Eu acho que chegou a hora. Estou comandando Ancona muito bem,
meu território está tranquilo, talvez casando eu consiga fortes emoções. — Ele
sorri de lado pelo seu próprio comentário.
— Se você teve o trabalho de vir falar comigo, é porque já escolheu sua
noiva!
— Sim, e não. — Ele afrouxa a gravata no pescoço.
— Vou perder minha paciência. — Aviso, suspirando. Odeio pessoas que
tem dificuldades de irem direto ao assunto.
— Eu quero me casar com a Sabrina Collalto. — Poucas coisas conseguem
me surpreender e esse é um dos raros momentos. Fabio é um dos poucos capos
jovens da Famiglia. Aos 29 anos ele conseguiu colocar em ordem um território
que sofria ataques de gangues pequenas. Com um trabalho duro e muito sangue
derramado, ele limpou Ancona e a fez se transformar de uma cidade falida, a
uma das mais prósperas e ricas da Famiglia.
Apesar do trabalho excepcional, Fabio sempre me deixou com o pé atras.
Ele é uma pessoa curiosa demais que esta sempre presente nos territórios ao seu
redor oferecendo ajuda. Dizem que quando a esmola é demais o santo
desconfia e isso tem alguma certa razão.
— Por que ela? — Minha pergunta é válida, desde que a menina só tem 17
anos e é uma das moças mais protegidas da Famiglia.
Luigi é protetor quando se trata da irmã mais nova e duvido que ele fique
satisfeito com o pedido de Fabio. O que me leva a entender o motivo dele ter
vindo falar comigo, ele sabe que se eu ordenar e disser sim ao noivado, Luigi
não pode fazer nada a respeito, a não ser aceitar minha decisão.
Não passa despercebido os ombros tensionados de Fabio, além das olhadas
sobre meus ombros, me fazendo olhar para trás e encontrar Sabrina com sua
atenção voltada para nós dois.
Me viro de frente para o homem, mantendo meu olhar analítico.
— Eu a vi no seu casamento e procurei saber mais, desde então achei uma
boa possibilidade. Além disso, está com a idade para firmar um noivado. —
Sua voz firme não me deixa dúvidas de que ele está certo sobre isso. No
entanto, Sabrina é uma pessoa importante para Luigi e se eu quero manter meu
consigliere sossegado não é dando sua irmã mais nova em casamento que irei
conseguir.
— Pelo o que eu percebi, você já falou com ela. — Ele olha sobre meus
ombros e depois encontra meu olhar firme.
— Nos encontramos uma vez por coincidência e eu perguntei se era noiva,
ela disse que não e se mostrou interessada.
— Lucchese, caro mio! Você acha que vai me enganar com esse papo
furado? — Arqueio a sobrancelha e ele finge não entender minhas palavras. —
Só preciso saber se ela está grávida, ou não! Porque se bem me lembro, Sabrina
tem 17 anos e isso seria um escândalo, do qual Luigi poderia pedir sua cabeça
em uma bandeja de prata e com certeza eu não iria me opor.
Sua postura corporal me diz que ele vai mentir e eu me preparo
mentalmente para não esfolar meu capo no meio do salão de festas. Pela visão
periférica, vejo Franco se aproximando calmamente com as mãos no bolso,
fazendo com que Fabio mais uma vez afrouxe a gravata no pescoço.
— Acho melhor termos essa conversa amanhã no meu escritório na La
Citta, Lucchese. — Meu tom não deixa brecha para uma recusa, faço um sinal
com a cabeça para que Franco me siga e saio de perto de Fabio.
— O que está acontecendo? — Meu subchefe pergunta quando estamos
sozinhos perto da mesa de doces, tendo uma visão ampla da mesa onde nossas
mulheres estão sentadas, conversando.
— Fabio quer a mão de Sabrina em casamento e dada a troca de olhares
que presenciei, posso afirmar que eles já têm algo. — Informo enquanto olho
Allegra passar a mão na barriga. Quando volto minha atenção para Franco,
vejo-o de olhos arregalados e com a cara de surpresa.
— Quando Luigi souber...
— Ele vai pedir a cabeça do Lucchese em uma bandeja, eu sei! — Coloco
o copo vazio em cima da mesa ao meu lado e encaro meu subchefe. — Ele não
disse com todas as letras, mas pediu permissão para casar com a garota e ela a
todo momento nos encarava a distância, parecendo ansiosa por isso.
— Você acha que eles já estão se encontrando às escondidas.
— Sim, eu acho isso, acontece que não é a melhor hora para arranjar
problemas internos e Luigi vai fazer disso uma tempestade no copo d’agua.
Além do mais, Fabio tem algo que me incomoda muito. — Franco me olha
confuso. Talvez por saber de todos os feitos de Lucchese em seu território.
— Que seria?
— Ele está em todo lugar a todo momento. Você nunca se perguntou como
ele consegue ser sempre o primeiro a chegar quando um carregamento nosso é
roubado ou apreendido? Longe ou perto, não importa. Fabio sempre chega
primeiro. Com o passar dos tempos isso vem despertando minha curiosidade.
— Será que ele está nos traindo? Entregando nossas rotas? — A pergunta
me faz refletir. Sem dúvidas Fabio poderia estar sim fazendo isso.
— Eu preciso ter certeza, mas de uma coisa eu sei. — Olho para Sabrina
sentada na mesa ao lado de Luigi. A garota é ingênua demais e me pergunto se
ela sabe o problema que pode ter se metido. — Fabio não vai ter Sabrina.
— Não imaginei que meu casamento seria tão movimentado. — Franco
fala descontraído, quebrando a tensão.
— Daqui uma semana me conte como anda seu casamento movimentado.
— Digo, o que faz com que ele sorria largamente.
— No dia que estávamos te esperando na Catania, Allegra disse a mesma
coisa. — Minha atenção se volta para minha esposa conversando seriamente
com Annamaria.
— E as coisas devem ficar bastante animadas para seu lado, tendo em vista
que Allegra deve estar, nesse momento, dando conselhos para a sua esposa. —
Meu tom de deboche faz Franco me olhar com os olhos apertados e depois
olhar para as mulheres conversando.
— Elas se aproximaram muito nesses meses! Devo me preocupar com a
influência de Allegra?
— Oh, meu caro! Conhecendo minha esposa como eu conheço, eu diria
que você está ferrado!
Chego a Lá Citta cedo, apesar de ser domingo e de eu ter deixado uma
esposa grávida e emburrada em casa não podia cancelar minha conversa com
Fabio. Seu comportamento ontem no casamento de Franco me chamou a
atenção para coisas que estava deixando para depois, mas que agora não da
mais para fingir que não está acontecendo.
— Bom dia! — Franco, adentra meu escritório. Ele sabia da minha
conversa e mesmo em lua de mel quis vir. Observo seu semblante cansado e
aperto meu olhar quando percebo que está tenso.
— Deveria estar com sua esposa agora! — Digo e arqueio uma
sobrancelha.
— Você também deveria e se me lembro bem o Don também trabalhou no
dia seguinte do seu casamento. — A resposta é direta e com ironia. Tamborilo
meus dedos na mesa observando sua postura. Definitivamente há algo de
errado com ele.
— Noite difícil? — Pergunto decidindo ir para outro caminho. Franco
sempre foi um homem reservado, guardando pra si tudo que escuta e vê ao
redor, mas desde que se tornou meu subchefe ele vem tendo mudanças sutis.
— Minha esposa ficou um pouco histérica com a nossa noite de núpcias,
então eu prometi que não iria toca-la ate que estivesse pronta, dormi no sofá de
dois lugares do meu quarto porque não queria que a família dela que esta
hospedada em minha casa soubesse disso. Sim, minha noite foi difícil. — A
resposta franca me pega de surpresa. Eu não imaginava algo do tipo.
Annamaria foi criada pelos princípios da máfia e sabe perfeitamente o papel
que uma esposa deve cumprir.
— Você tem sorte que a tradição dos lençóis foi extinta por Carlo. —
Afirmo sorrindo de lado.
A anos meu pai acabou com aquela merda de tradição arcaica, no inicio os
conservadores da famiglia não aceitaram muito bem, aqueles velhos idiotas
gostavam de contar vantagem sobre os lençóis em competições sobre qual
mulher sangrou mais. Aquilo era deplorável e se Carlo não tivesse extinto, eu
teria.
— Tenha paciência mio caro, ela vai te procurar no momento certo. —
Respondo dando de ombros, mas agradecendo por Allegra não ter feito algo do
tipo. Eu teria a matado no momento em que me negasse.
— Até lá, fazer voto de castidade é minha única opção. — Murmura
soltando um suspiro cansado.
— Não se da segunda chance para traições meu amigo. Seja nos negócios
ou no casamento! — Afirmo sério. Franco conhece como ninguém nossos
mandamentos. Trair, mesmo que a esposa lhe negue é uma traição imperdoável.
Outros podem fingir que não fazem nada, mas eu não lido bem com traições de
nenhum tipo.
Nossa conversa é interrompida quando Fabio manda uma mensagem
dizendo que já chegou e Franco se levanta para recebe-lo.
— Buongiorno! — Fabio entra e logo se senta na cadeira a frente da minha
mesa. Franco está sentado ao seu lado.
— Buongiorno, Fabio. Não vamos nos demorar. Eu tenho uma esposa
grávida em casa para lidar. — Sou direto ao ponto. Não quero dar a chance para
que ele me enrole.
Fabio sorri de lado ajeitando a postura na cadeira.
— Como eu disse ontem, gostaria de pedir a família Collalto a mão de
Sabrina em casamento. — Afirma me olhando nos olhos. Fabio está decido,
decidido ate demais eu diria.
Me recosto na minha cadeira ficando em silêncio por alguns minutos,
apenas o encarando.
— Sabrina é uma moça importante para nossa famiglia, Lucchese. Eu não
havia recebido pedidos pela sua mão ainda apesar de já estar com dezessete
anos. Luigi é um tanto protetor com ela. — O sorriso de lado que ele me lança
me deixa irritado. — Sabe, Sabrina é a única jovem com idade para se casar,
deveria ser usada em outras oportunidades. Você quer se casar? Ótimo! Mas
escolha outra moça. — Aos poucos o sorriso vai morrendo enquanto me escuta.
— Mas eu quero Sabrina. — Afirma convicto fechando as mãos em
punhos. Inclino a cabeça para o lado observando sua reação e me deliciando
com a percepção de que estou enfim o descontrolando.
— Querer não significa que pode ter. Sabrina terá sua hora em breve.
— O Don já escolheu alguém para ela? — A pergunta sai ríspida e quando
percebe isso, engole seco desviando o olhar do meu.
Me levanto e dou a volta me recostando na mesa para ficar a sua frente.
Cruzo os braços e solto um suspiro audível. Olho para Franco que balança a
cabeça rapidamente deixando claro para mim que também percebeu que Fabio
está alterado.
— Talvez se falar a verdade eu posso pensar na possibilidade de um
casamento entre vocês. — Ele volta a me olhar e posso ver em seus olhos que
em uma luta interna. — Você é um bom homem Fabio. Sempre presente,
sempre pronto para ajudar os outros capos. Vem cuidando muito bem do meu
território e sou grato por isso, mas isso não significa que você pode ter tudo.
Tire Sabrina da cabeça. Escolha outra moça, você tem quatro meses, depois
disso eu mesmo farei a escolha por você.
— Eu tenho sentimentos por Sabrina. — A fala me faz apertar o olhar. Me
inclino para frente ficando cara a cara com ele.
— Tocou naquela garota, Lucchese? Se eu mandar Sabrina fazer alguns
exames para comprovar que ainda é virgem, terei aborrecimentos com o
resultado? — Pergunto num sussurro observando a tensão espalhando pelo seu
corpo. Seus olhos dão uma leve arregalada enquanto ele parece nem respirar.
— Eu não toquei em nenhum fio de cabelo dela. — Mentira. Posso ver em
seus olhos que isso não é verdade. Fabio é um mentiroso por natureza e agora
que sei disso, vou deixa-lo sob vigilância constante.
— Perfeito! — Me afasto voltando a me sentar na minha cadeira. — Agora
que já terminamos a reunião pode ir Fabio. — Ele assente e se levanta, quando
abre a porta eu o chamo e me olha. — Fique longe da Sabrina, se eu souber que
você está colocando ideias erradas na cabeça daquela menina vamos ter um
problema enorme. — A ameaça velada é recebida.
Quando já estamos a sós Franco solta um suspiro afrouxando a gravata.
— Ele está mentindo. Você vai querer mandar Sabrina para algum exame?
— Pergunta.
— Não quero expor a situação ainda. Pedir exames iria gerar
questionamentos demais. — Respondo dando de ombros. — Quero que fique
de olho nele, mande dois soldados da nossa confiança o vigiar dia e noite,
relatórios diários nada pode passar.
— Considere feito.
Franco se despede e aproveito o momento sozinho para fazer uma ligação.
— Algum problema? — A voz grossa me atende do terceiro toque.
— Isso é você quem vai me dizer! Luigi sumiu ontem depois do
casamento. Onde ele está? — Pergunto acendendo o charuto.
— Bebeu ate cair, ele vai ficar bem.
— Você sabe alguma coisa sobre Sabrina? A menina está prestes a
explodir a porra de um problema em nossas cabeças. Preciso que fique de olho
nela.
— Quando eu disse que cuidaria de Luigi a irmã pirralha não estava no
pacote Ottavio, eu tenho uma vida para cuidar e trabalhos fora para realizar.
Não sou seu cão de guarda. — Rosna. Sorrio tragando o charuto deixando toda
a nicotina fazer seu efeito enquanto penso na sua fala.
— Sabe, eu poderia ter te trancado na minha masmorra para você
apodrecendo lá, mas eu fui benevolente em te deixar solto apenas com a missão
de o vigiar. Permite que entrasse para a agência e ainda forneci informações
que te ajudaram a subir de cargo. Não teste até onde minha paciência com essa
situação pode chegar. Luigi não é descartável ao contrário de você.
— O que a pirralha fez? — Sorrio.
— Ela está se envolvendo com Fabio Lucchese. O problema que ele não é
de confiança e tenho planos onde esse casamento não está incluso.
— Vou investigar. — Afirma e desliga.
Me recosto na cadeira apreciando o silêncio. Apesar de alguns imprevistos
tudo está saindo exatamente como planejei.
DIA DA LOJA

Me despeço da minha amiga com um sorriso e saio ao lado de Allegra.


Paramos na calçada para esperar os soldados chegarem com o carro, olho para
Piero tenso ao meu lado desde que descobriu, alguns dias atrás, que eu quero
casá-lo. Eu o vi crescer e junto com meu falecido marido, Carlo, somos seus
padrinhos. Quando ele se tornou um dos fiéis soldados de Ottavio, me encheu
de orgulho.
Sinto que estou sendo observada e começo a olhar para os lados,
procurando algum conhecido. Meus olhos viajam para todos os cantos, mas
param em um homem me encarando e eu perco o ar dos pulmões. Per l'amor di
Dio, estou vendo Carlo mais novo! O homem me olha intensamente com as
mãos no bolso, sua roupa casual com camisa polo azul e calça jeans, deixam
evidentes as tatuagens pelo pescoço e braços. Quando ele se vira, me dando as
costas e começa a andar por entre a multidão, eu sem perceber me vejo
correndo atrás. Grito, pedindo que ele pare, mas não obtenho resultados e com
isso o homem acaba desaparecendo entre as pessoas quando um dos soldados
conseguem me segurar e me puxar de volta para o carro.
A chegada em casa é silenciosa e antes que Allegra fale algo ou Ottavio
apareça, saio e sigo para meu quarto. Jogo minha bolsa na cama e nervosa,
ando de um lado para o outro, roendo minhas unhas como há muito tempo não
fazia.
Aqueles olhos, o semblante fechado... O olhar, por Deus, aquele olhar!
Foi como se eu tivesse voltado no tempo e visto Carlo pela primeira vez.
— Não é possível, eu estou ficando louca! — A inquietude não me deixa.
Cansada de andar de um lado para outro, tiro meus sapatos e me deito na
cama, olhando fixamente o teto e colocando minhas ideias em ordem.
Eu não vi o que vi. Não pode ser!
Uma batida na porta me faz olhar quando Allegra entra em meu quarto.
Essa menina tem um lugar em meu coração desde que a vi pela primeira vez.
— Você está melhor? — Sua voz doce me pergunta enquanto se senta ao
meu lado na cama. Seus movimentos contidos expressam que ela parece incerta
de estar aqui.
— Eu acho que vou morrer. — Pela primeira vez depois do acontecimento,
deixo minhas emoções virem à tona.
Pois é isso que acontecerá comigo se eu tiver certeza que o que eu vi é real.
Minhas lágrimas rolam sem controle e me sento, tentando me recompor.
— Co-Como assim? — A olho e meu coração se aperta ao ver a menina
com os olhos lacrimejando.
Allegra tem carência de afeto de mãe e venho tentando dar tudo aquilo que
eu achei que faltou durante muito tempo, mas agora eu sou uma completa
bagunça.
— Eu vou morrer, Allegra! Quantas vezes uma pessoa pode morrer em
uma única vida? — Minha fala é carregada de dor. A dor de ser dilacerada e de
viver com um lado morto dentro de si por anos, às vezes cobra um preço alto.
Eu não vou aguentar!
— Por favor, tenha calma. Você está bem e não vai morrer coisa nenhuma.
Você me disse que seria para mim a mãe que eu nunca tive e eu não posso
sofrer a perda de outra mãe. — Sua voz é quebrada por soluços de desespero e
acabamos chorando as duas.
— Eu fui quebrada duas vezes na vida, minha querida. E nas duas eu juntei
meus cacos espalhados no chão, mas não terá uma terceira vez, porque eu não
vou suportar. — Falo baixo, fungando e acaricio seus cabelos quando ela deita
em meu colo, procurando por carinho, no qual eu dou com amor.
— Me diga o que você tem, nós podemos resolver. — Quem me dera.
Digo em pensamentos
— Não posso, porque nem eu sei direito o que vi. — Como dizer que vi
alguém que achei estar morto há muito tempo?

Os dias passam no automático depois do ocorrido. Eu não consigo colocar


minhas ideias em ordem, porque tudo que penso é nos olhos frios daquele
homem. Cheguei a ter pesadelos com as lembranças do dia da sua morte. É sem
dúvidas um dos meus maiores tormentos.
Decidida a dar um basta nessa situação, me levanto da cama e me arrumo
como não me arrumava desde aquele dia. Um vestido preto até os joelhos e
scarpins baixos da mesma cor, deixo meus cabelos presos em meu costumeiro
coque e preparo minha bolsa. Saio do quarto, olhando para os lados para ter
certeza de que não encontrarei meu filho ou nora até a garagem. Assim que
entro na garagem, avisto meu segurança, Renzo.
Quando assumiu a cadeira de Don, Ottavio designou Renzo para minha
escolta particular, e apesar de ser um bom menino, não sei se poderei contar
com sua descrição para não reportar ao meu filho o que farei. Pelo menos por
enquanto.
— Bom dia, senhora! — Me cumprimenta calmamente, indo abrir a porta,
mas eu levanto a mão e ele para, me olhando.
— Eu o vi nascer, menino. Você se tornou um homem de honra de
verdade! Desde que foi designado para me proteger, vem desempenhando o
papel com maestria! — Ele agradece quando abaixa a cabeça. — Mas eu
preciso ser franca com você, Renzo. Você é um bom rapaz, mas eu estou
prestes a remexer o passado de muitas pessoas e eu preciso que pelo menos por
enquanto, você deixe isso de fora dos relatórios diários que faz a meu filho. —
Meu olhar não vacila e ele semicerrou o olhar para mim, engolindo em seco.
— Você vai trair o Don? — Pergunta firme, olhando para os lados.
— Não, filho! Eu vou ir de encontro com meu passado e pelo menos agora,
gostaria de manter isso longe dos ouvidos do meu filho. Não se preocupe, você
não estará traindo seu chefe. — Automaticamente o homem relaxa os ombros
tensos. — Preciso que me leve a um lugar e no caminho eu serei franca com
você, porque eu confio que você guardará meu segredo!
Eu não tenho escolha, então vou me apegar a Renzo para me ajudar. Darei
a ele a verdade e pedirei a discrição que o assunto pede.
Passo o caminho todo contando cada parte de tudo o que aconteceu no
passado, para Renzo, que hora ou outra me olha surpreso pelo retrovisor
— Isso é impossível. — São as palavras que escuto quando termino de
contar minha suspeita.
— Eu também achava isso no início, mas depois do susto, passou a ser
uma possibilidade.
Ele estaciona o carro e quando abre a porta, me ajuda a descer. Um frio na
barriga me passa ao encarar o lugar que foi palco de um dia terrível. Eu nunca
mais voltei aqui depois daquele dia, mas por obra do destino, aqui estou eu,
buscando respostas.
— O que exatamente nós vamos fazer, senhora? — Olho meu soldado
fixamente e depois foco na entrada do hospital.
— Respostas, Renzo. Vamos colocar este lugar abaixo se for preciso, mas
eu terei as respostas para as minhas perguntas.
Acompanhada dele e mais quatro soldados, entramos no hospital, fecho os
olhos e suspiro. Peço para falar com o diretor do hospital, que a princípio não
quis me atender, mas eu lembrei a sua secretária o que o nome Ruggero
significa e após alguns minutos sou atendida. Quando entro na sala, o homem
me encara com os ombros tensos e um vinco no meio da testa. Sem esperar que
ele diga nada, eu entro sozinha, deixando Renzo na porta do lado de fora e me
sento na cadeira de frente para o velho médico.
— Boa tarde, senhor Stenio. Obrigada por me atender. — Alfineto o
homem e ele suspira.
— Não tem de quê, senhora Ruggero. Em que posso ser útil? — O homem
de idade me olha atentamente enquanto eu refaço mentalmente cada palavra
que direi a partir de agora.
— Há mais de 25 anos eu dei à luz neste hospital e tive algumas
complicações, por isso foi um parto difícil! Eu perdi a consciência e não
deixaram meu falecido marido acompanhar nada. Então, quando eu acordei, fui
informada que um dos meus bebês veio a óbito. — Paro a fala e suspiro. — Foi
um choque, mas aceitamos e enterramos nosso filho, optando por manter esse
assunto em segredo. O que me traz aqui, senhor Stenio, é a dúvida. Mas se
quiser, pode chamar de instinto. — Me levanto e ando de um lado para o outro
calmamente. — Eu quero falar com todos que já trabalham neste hospital desde
essa época. Que fique claro que eu não estou pedindo. — Paro de andar,
encarando de frente o homem calado, me escutando.
Eu não vim aqui para pedir nada. Eu quero respostas e eu as terei, nem que
para isso eu coloque abaixo esse lugar.
— Isso é difícil, senhora. Tendo em vista que já faz muitos anos. —
Arqueio minha sobrancelha e sorrio friamente.
— Você tem meia hora para colocar no refeitório deste hospital todos os
funcionários com mais de 25 anos de trabalho aqui. Depois, vou querer os
históricos dos que não estão mais presentes e não esqueça do meu prontuário
daquele dia. Senhor Stenio, meu nome é Elisa Ruggero, espero que esse nome
te lembre algo importante. — Ele se levanta, engole em seco e sai, me deixando
sozinha. Renzo entra perguntando se estou bem e eu balanço a cabeça
confirmando. Mas a verdade é que por dentro, meu coração está apertado com
qualquer que seja as respostas que vou encontrar.
Eu encarei e conversei com os sete funcionários mais antigos do hospital e
não obtive sucesso algum. Quando estava quase perdendo as esperanças
novamente, uma senhora que aparentemente trabalha na limpeza, se aproxima
com o olhar aflito.
— Eu gostaria de falar algo que me lembrei daquele dia. — Ela fala,
olhando ao redor e depois volta a me encarar. — A antiga enfermeira chefe
naquele dia pediu para cuidar especificamente de um dos bebês que nasceram.
Eu ainda era jovem aqui e estava limpando o berçário quando ela entrou junto
com um homem. Ela segurava um bebê e o colocou em um berço, depois pegou
outro que estava ao lado e entregou ao homem que saiu. — Meu coração
acelera, fico tonta e me sento com a ajuda de Renzo, que está ao meu lado todo
esse tempo.
— Co-como?
— Ela não me viu e eu não dei importância, senhora. Mas eu sempre fui
franzina e estava abaixada, limpando o chão. Nunca achei estranho esse ato, até
hoje, quando a senhora me perguntou se eu me lembrava de algo daquela
época. — Sinto minhas mãos suar frias e meu corpo treme, pensando em mil
possibilidades e nenhuma termina de um jeito bom.
— Quem é ela. Quem é!? — Me levanto e sacudo a senhora que me olha
apavorada.
— Ela se chamava Madalena, mas eu não sei mais onde a encontrar, eu
juro. — Paro estática, de olhos arregalados.
Como deixamos isso passar? Como ninguém percebeu que Madalena, a
noiva que Carlo deixou para ficar comigo, trabalhava neste hospital.
— Renzo, ela pegou o meu filho. Renzooo! — Me desespero e meu
segurança me ampara em seus braços.
— Nós vamos achá-la, senhora.
— Eu a quero viva, me ouviu? Eu quero quel dannato viva.
Com Franco e Annamaria morando algumas casas abaixo de nós, minha
vida se tornou menos entediante, já que Anna vem me fazendo companhia
quase todos os dias. Ela é doce e uma boa ouvinte, apesar de ser quase uma
dona de casa dos anos 80, com o pensamento de sempre servir o marido. Com
poucos dias de casada, ela já está completamente apaixonada por Franco, ela
me contou sobre a noite de núpcias fracassada, mas o melhor foi ouvir que no
dia seguinte ela não resistiu quando o viu tomando banho e agora o homem não
consegue esconder o desejo toda vez que vem buscá-la.
A gravidez gemelar vem cobrando seu preço. Ando mais cansada do que o
normal e as dores na coluna estão me matando. Os meninos, que até hoje não
tem nome, mexem muito, principalmente quando escutam a voz de Ottavio,
que desenvolveu uma rotina de ficar alisando minha barriga por horas antes de
resolver dormir. Algumas noites atrás, quando ele achou que eu já estava
dormindo, mas eu estava somente de olhos fechados, escutei quando prometeu
aos nossos filhos protegê-los até onde puder e que vai ensiná-los tudo que
precisam saber para serem homens honrados. O momento fez meu coração
acelerar, pois eu não imaginava tal ato vindo dele, mas depois não demonstrei
que eu tinha ouvido, para evitar qualquer constrangimento.
— Cheguei! Que calor que está hoje. — Sorrio quando Anna entra na sala
de estar animada. Seu vestido rodado florido combina com o clima fresco de
final de tarde e reflete seu aparente bom humor.
— Você demorou. — Acuso no mesmo momento em que ela me olha
culpada e cora.
— Me desculpa, eu tive que resolver um problema. — Murmura, se
sentando ao meu lado no sofá, mas sua cara denúncia o que ela estava
aprontando.
— Se continuarem assim, logo terão filhos. — Eu falo sarcástica e dou um
sorriso.
— Até que não seria uma má ideia. — Sorri tímida. — A propósito, eu vi
Elisa chegando na minha frente e ela tinha uma cara de choro. Ela está bem? —
Eu gostaria de entender o que está acontecendo com minha sogra. A cada dia
que passa ela vem se mantendo mais afastada do que de costume. Além disso,
ela acha que não venho percebendo as conversas sussurradas com o soldado
encarregado de protegê-la. Cheguei até a pensar que eles estavam tendo um
caso, mas acabei descartando essa tolice pelo fato de Ottavio sempre mencionar
o quanto a mãe amava o pai.
— Mais tarde vou ir ver o que aconteceu. — Somos interrompidas pelo
barulho de algo se quebrando e mesmo assustada eu sigo em direção aos
barulhos. Quando percebo que vem do escritório de Ottavio, ando depressa.
Antes que eu abra a porta, escuto quando Franco pede calma, provavelmente ao
meu marido e Luigi pragueja palavrões.
Coloco o dedo nos lábios, sinalizando para que Anna faça silêncio ao meu
lado e grudo meu ouvido na porta para escutar.
— Desde o dia que você me pediu para vigia-la de perto, eu fiz isso
pessoalmente. Hoje, quando ela esteve naquele hospital, eu soube que tinha
algo haver com o seu nascimento e o do seu irmão morto. — Meus olhos se
arregalaram com a fala de Luigi.
Anna está me olhando confusa e eu mexo a boca sem soltar som, pedindo
calma e dizendo que depois explico tudo.
— Como isso aconteceu bem debaixo do nariz de Carlo? — Meu marido
pergunta com a voz grossa.
— Eu não sei, Ottavio. Mas eu cheguei a tempo de escutar que seu irmão
está vivo. — Coloco minha mão na boca para impedir que meu grito de
assombro saia.
O irmão gêmeo de Ottavio está vivo. E pelo o que entendi, Elisa acabou de
descobrir.
Saio às pressas pelo corredor, puxando Anna junto comigo. Subo as
escadas o mais rápido que minha barriga permite, vou para meu quarto e
quando entro, tranco a porta e Anna se vira para mim com os olhos arregalados.
— Ottavio tem um irmão? — Ela pergunta, meio incerta. Talvez, achando
que escutou errado.
Minha cabeça está dando voltas enquanto tento colocar os acontecimentos
em ordem.
— Há pouco tempo, Elisa confidenciou a mim e ao Ottavio que ele tinha
um irmão gêmeo, mas que morreu no parto. — Ela suspira audivelmente e
depois olha para a minha barriga.
— Agora faz sentido você estar grávida de gêmeos. — Conclui e se senta
na cadeira da pequena mesa do meu quarto.
Sem conseguir me manter calma, ando de um lado para o outro, passando a
mão na minha barriga enquanto penso.
— Eu não entendi errado, não é? O irmão dele está vivo! — Eu a olho no
mesmo momento em que ela balança a cabeça, confirmando minha fala. — Oh,
meu Deus! Que tragédia. — Coloco as mãos no rosto, sentindo meu corpo
mole. Sinto Anna vir ao meu encontro e ela me abraça, pedindo para que eu
tenha calma, só que a última coisa que escuto antes de apagar, é o grito de
socorro dela.

Sinto que estou deitada em algo confortável e presumo ser minha cama. A
primeira coisa que vejo quando abro os olhos, é Ottavio em pé de frente para a
janela do nosso quarto. Seus ombros tensos são perceptíveis, suas mãos nos
bolsos da calça do terno cinza e a veia pulsando em sua testa são indicativos
que ele está em uma luta para não perder a cabeça.
Como se sentisse meu olhar, ele vira a cabeça em minha direção e por
longos segundos ficamos nos encarando. Engulo em seco quando ele vem
andando a passos calmos para ficar perto de mim.
— Está sentindo algo? — Sua pergunta soa calma, mas ele trava a
mandíbula como se estivesse sendo difícil falar.
— Eu estou bem. — Respondo baixo e sorrio de lado para tentar quebrar o
clima estranho.
— O médico veio examiná-la e disse que você está bem, deve ter sido
somente um susto. — Fala, me olhando nos olhos.
— Foi só um mal-estar.
— Annamaria disse a Franco que vocês nos ouviram no escritório. —
Fecho os olhos e suspiro com a acusação. Quando os abro, olhos azuis intensos,
capazes de queimar, me encaram afiadamente.
— Eu fiquei assustada com o barulho de algo se quebrando e quando fui
abrir a porta, eu ouvi Luigi falar. — Termino de falar, ele tira o olhar de mim e
encara a vista do lado de fora. Sua veia na testa pulsa enquanto a mandíbula se
contrai. Sua postura ainda está rígida e ele com as mãos ainda nos bolsos deixa
claro que está lutando para não brigar comigo.
— Percebe a sucessão de erros que você cometeu? — Fala e me olha
duramente, me fazendo encolher.
— Eu... — Tento argumentar, mas sou interrompida.
— Allegra, eu não sou seu pai para te dar broncas, mas parece que não
tenho saída! — Ele tenta falar baixo, mas saiu como um rugido. Suspirando, ele
me dá as costas e tira o paletó, o jogando em cima da cama.
— Eu fiquei preocupada com você! Achei que poderia te ajudar em algo.
— Me ajudar em que, mulher? — Fala e aponta para minha barriga. —
Você está carregando nossos dois filhos dentro de si. Quando você escuta
algum barulho suspeito, você corre na direção oposta desse barulho, Allegra.
— Irritado, ele anda de um lado para o outro, tirando o relógio do pulso e
jogando no sofá, depois para de frente pra cama e me olha frustrado. — Per
l'amor di Dio.
— Ottavio. — Ele me olha e suspira, colocando as mãos na cintura. — Eu
me preocupo com você. Só de imaginar que algo possa te acontecer, eu fico
sem chão. — Suspirando derrotado com minha teimosia, ele desabotoa a blusa
sem tirar os olhos de mim e quando tira, joga na cama. Ele vem até mim e se
abaixa, colocando um dos joelhos no chão para ficar da minha altura.
— Eu não posso pensar com clareza e ao mesmo tempo estar preocupado
com suas ações, mia dea! — Fala, passeando a mão sobre meu rosto.
Seu olhar duro, transmite carinho ao mesmo tempo. Meu coração acelera e
quando percebo, estou tombando a cabeça para receber mais do seu toque.
— Me desculpe? — Peço, fechando os olhos. O toque dele sempre é rude,
mas meu corpo já se acostumou e fica em êxtase com a expectativa.
— Não faça mais isso. — A mão em meu rosto desce para minha barriga,
fazendo com que nossos bebês se agitem, como se já sentisse o toque do pai. —
Não se coloque mais em perigo, dea. — Seu pedido parece uma súplica.
— Não vou fazer mais, prometo. Mas precisamos falar sobre seu irmão. —
Automaticamente ele tira as mãos da minha barriga e se levanta, indo em
direção a sacada. Sem esperar, me levanto com cuidado e ando devagar até ele.
— Ele está vivo. — Fala, olhando para o nada. — Há alguns meses pedi
Luigi para vigiar os passos de Elisa. Ela passou muito tempo quieta pelos
cantos, até hoje! — Vira para me olhar e sua postura é indecifrável. — Ela foi
até o hospital e pediu para falar com o diretor, que logo depois a colocou para
conversar com alguns funcionários. Luigi estava longe e quando conseguiu se
aproximar para escutar, ouviu quando uma velha disse que um homem tinha
levado seu bebê e que uma tal de Madalena o ajudou!
Ottavio relata tudo isso friamente, me deixando espantada.
— E o que você vai fazer agora?
— Eu vou achar ele e se for uma ameaça, vou matá-lo.
— Mas é seu irmão. — Falo assustada.
— Eu fiquei 29 anos sem um irmão. Se ele representar um perigo para tudo
aquilo que eu sou e represento, não hesitarei em tirá-lo do meu caminho.
Poucas foram às vezes que eu o vi tão sério, mas olhando em seus olhos
agora, eu pude ver um pouco de emoção cintilar. Ottavio não está sabendo lidar
com a ideia de ter um irmão gêmeo andando por aí, porque até então, esse
irmão em questão estava morto para ele.
— E se ele não for uma ameaça? — Pergunto incerta, recebendo um
semicerrar de seus olhos.
— Eu poderei sentar e conversar civilizadamente. — Sua fala fria me diz
que ele até poderia fazer isso, mas não estaria confortável. — Mas por hora,
mantenha isso para si. Elisa não sabe que eu sei de tudo. — Apesar de achar o
pedido estranho, decido não retrucar para não o irritar mais ainda. Quando ele
entra no banheiro para tomar banho, aproveito para ir até o quarto de Elisa.
— Elisa? — Chamo e abro a porta sem bater, me surpreendendo por
encontrar ela sentada no sofá perto da janela aberta. Seu olhar está focado na
lua cheia no céu, mas surpresa me invade quando a vejo virar uma dose do que
parece ser whisky.
— Carlo foi um homem temível e respeitado pelos seus inimigos, mas para
mim ele foi um bom marido. Todas às vezes em que eu entrava em uma crise
por causa da perda do meu outro bebê, ele me dizia que a passagem do tempo
curava todas as feridas. Mas quanto maior a perda, mais fundo é o corte, e com
isso mais difícil o processo para ficar bem. — Sua fala transmite a dor visível
que está sentindo. Me aproximo dela, ficando em pé ao lado do sofá enquanto
ela mantém o olhar na lua. — Ele dizia que no meu caso, a cicatriz poderia
demorar meses ou talvez anos, mas ela ia cicatrizar e me serviria como um
lembrete do quanto é importante viver.
— Ele parecia ser um homem sábio. — Murmuro.
— Ele era. — Confirma e vira a cabeça para me olhar. Seus olhos tem um
olhar duro e nenhum sinal de lágrimas, só o vazio e a raiva estão presentes. —
Precisa de alguma coisa?
Sem saber o que falar, nervosa, cruzo meus dedos das mãos e os estalo. Ela
arqueia uma sobrancelha, como se me perguntasse o que estou fazendo.
— Anna me disse que viu você chegar chorando. Vim saber se está tudo
bem. — Escolho o lado seguro da conversa, quem sabe assim ela se sinta
confortável para se abrir comigo.
— O tempo de chorar acabou, minha querida. — Seu olhar volta para o
lado de fora e sua voz soa ameaçadora.
— O que quer dizer com isso? — Pergunto sem entender. Afinal, ela
acabou de descobrir que o filho que pensava estar morto, na verdade está vivo.
— Que agora eu vou em busca de vingança. — Sua fala afiada me faz
arrepiar e a lembrança do nome da mulher que Ottavio mencionou me vem à
mente.
Será que Elisa a conhece? Mas antes que diga algo, Ottavio solta um
pigarro, chamando nossa atenção. Ele olha para mãe por alguns segundos e
depois eu sou alvo dos seus olhos cerrados.
— Eu estava te procurando. — Continua parado na porta.
— Eu vim ver como sua mãe está.
— Eu estou ótima, querida. Vá dormir com seu marido. — Elisa fala com
um sorriso que não alcança os olhos, mas decido não retrucar.
O caminho de volta para o quarto é feito em silêncio, mas eu posso sentir a
respiração pesada de Ottavio em minhas costas. Assim que passo e ele fecha a
porta passando o trinco, viro para olhá-lo.
— O que eu faço com você? — Pergunta sem paciência, colocando as
mãos na cintura.
Seu peito está nu e gotas de água descem preguiçosamente pelo seu
tanquinho. Ele usa calça de moletom cinza clara e os pés descalços o deixam
sexy. Sem perceber, me vejo mordendo o lábio com os dentes, deslumbrada
com a cena.
Percebendo meu olhar, ele suspira e aponta para o banheiro.
— Eu coloquei a banheira para encher, vou te dar banho. — Mas do que
depressa, ando para o banheiro e lá tiro meu vestido, ficando apenas com a
calcinha que não é pequena como as que eu costumava usar antes de
engravidar.
Ottavio tem sua atenção na temperatura da água e quando se vira de frente,
passeia o olhar guloso pelo meu corpo.
— Eu sei, minha calcinha é enorme. — Faço um bico. Ele se aproxima e
sem pudor algum, passa a ponta dos dedos em um dos bicos do meu seio,
fazendo o broto enrijecer pelo toque.
— Quem liga para a embalagem, quando sabe que o produto é de
qualidade. — Percebo que não foi uma pergunta e jogo a cabeça para trás,
gargalhando. — Você está mais do que perfeita. Eu vejo uma mulher forte,
carregando dentro dela todos os dias nossos dois filhos, que já provaram não
serem pequenos.
— Sim, eles estão bem grandes. Acho que em breve vou colocar a
plaquinha de despejo para os dois.
Sorrindo de lado, ele se abaixa e me olha de cima a baixo, coloca as mãos
de cada lado da minha cintura e começa a descer a calcinha. Nua, ele pega
minha mão e me guia até a banheira, me ajuda a entrar e me senta
confortavelmente, enquanto me olha sentado na borda.
— Tem espaço para mais um! — Falo manhosa e sorrio quando ele se
levanta e abaixa a calça, deixando seu pênis ereto à mostra.
Ele entra na água, me fazendo ir para frente e quando se posiciona atrás de
mim, me puxa e eu encosto, ajeitando minhas costas em seu peito e gemo
quando sinto seu pau cutucando meu bumbum.
— Você está mais sensível que o normal. — Murmura, despejando
sabonete líquido em minha barriga. Com minha posição, fico quase que deitada
em cima dele. Ele começa a passear suas mãos grandes, espalhando o líquido
pela minha barriga e me fazendo fechar os olhos pela sensação boa. Sua boca
começa a espalhar beijos pelo meu pescoço carinhosamente.
— Achei que estava bravo comigo. — Falo, ainda de olhos fechados,
aproveitando a sensação do seu toque.
— E estou. — Fala baixo no meu ouvido. — Sua sorte é estar bastante
grávida, porque não ia escapar de umas boas palmadas. — Sua fala vai direto
para o meu sexo, me fazendo contrair só com o pensamento de um sexo bruto
com ele.
— Se você não vai fazer isso, vamos mudar de assunto. — Falo, abro os
olhos e suspiro.
— Podemos falar sobre os nomes deles. Eu escolhi! — Viro minha cabeça
para olhar em seus olhos e sorrio.
— Ai meu Deus, até que enfim! — Ele rola os olhos.
— Eu vi sua lista e gostei de um.
— E qual foi? — Pergunto, me aninhando novamente em seu peito.
— Massimo. Em latim significa o maior, então combina com um nome
que eu gosto.
— Você realmente pesquisou os nomes daquela lista, não é mesmo? —
Falo rindo e ganho um beijo no pé do ouvido.
— Sim, mia dea.
— E qual é o outro nome que você gosta?
— Maximiliano. Foi o nome de um imperador romano esperto, que
expandiu o seu império e anos depois foi coroado rei da Germânia. — Me viro
para olhá-lo, impressionada com sua explicação.
— Não sabia que gostava de história! — Ele passa o dedo entre o vão das
minhas sobrancelhas franzidas, sorrindo de lado.
— Eu gosto de estudar grandes líderes. — Faz sentido.
Não precisa ir a fundo para saber que Ottavio além de ser letal, é um
grande líder. Seus homens o olham com admiração e respeito.
— Massimo e Maximiliano — Repito, testando os nomes. — Gostei! —
Ottavio leva as mãos de volta para a minha barriga, acariciando no momento
que os gêmeos chutam ao mesmo tempo.
— Dói? — Pergunta, fazendo uma careta.
— Só quando estão brigando aí dentro. — Brinco e o olho sobre os
ombros. Sorrio ao ver seu sorriso enquanto sente os filhos fazerem
malabarismo. — Qual vai ser a ordem dos nomes? — Ele vira o olhar para o
meu.
— Não importa a ordem, os dois vão nascer para serem os maiores líderes
de toda a Itália. Porque é isso que seus nomes significam: GRANDEZA.
Quando o cansaço vence Allegra e ela adormece em um sono pesado, eu
aproveito para me levantar e ir até o escritório. Visto uma calça de moletom por
cima da cueca e sai do nosso quarto sem camisa e descalço.
No caminho, eu pego o telefone e vejo a hora. Apesar de ser quase
madrugada, mando uma mensagem para Franco e Luigi virem até minha casa
para podermos terminar nossa conversa de hoje à tarde.
Quando Annamaria gritou pedindo socorro, Franco na mesma hora
reconheceu sua voz e saiu às pressas, comigo e Luigi logo atrás, mas quando
chegamos em meu quarto, meu coração se apertou e o pânico quase me fez
travar, coisa que nunca tinha acontecido. Só que ao ver Allegra caída nos
braços de Anna, que chorava e pedia socorro, eu pensei que algo mais grave
tivesse acontecido. Assim que fui capaz de esboçar uma reação, peguei minha
mulher nos braços e ordenei que chamassem um médico. Com cuidado,
coloquei o corpo mole na cama e cobri suas pernas com uma manta.
Por alguns minutos o mundo ao meu redor pareceu não existir, a não ser
aquele momento em que eu pedia para Allegra abrir seus grandes olhos verdes
para mim.
— Ottavio, olhe a pulsação dela. — Luigi me orientou depois que Franco
saiu do quarto com Annamaria aos prantos.
Com minha mão em seu pulso direito, constato que a pulsação não está
lenta.
— Cadê a porra do médico? — Rujo, fazendo Luigi levantar as mãos e se
afastar.
Dez minutos depois, o médico da Famiglia chegou, aferiu sua pressão e
usou um aparelho pequeno, pelo qual disse ter escutado os batimentos dos
bebês e achou tudo certo. Segundo ele, como ela está em uma gravidez de risco
por ser gemelar, pode ter se alterado, então pediu repouso e nada de fortes
emoções, mas se tratando da mulher deitada na cama, seria algo extremamente
difícil.
— A pressão está ótima e os batimentos dela e dos bebês estão normais.
Caso ela acorde e se queixe de algo, leve-a para a médica dela. — Assinto com
o homem e ele sai depois de pedir licença.
Abro a porta do escritório e vou direto para o bar, sirvo meu copo até a
metade e me sento em minha cadeira de couro.
Encosto a cabeça no assento e fecho os olhos, tentando colocar em ordem
tudo que descobri hoje.
Eu tenho um irmão com minha cara andando por aí. Elisa está escondendo
a informação de mim. E o mais importante: quem é Madalena? — Minha
cabeça dá voltas sobre todas as perguntas sem respostas. Tomo mais um gole
do líquido e viro a cadeira para olhar a vista do mar revolto da noite.
— Boa noite! — Me viro, vendo Franco chegar e logo atrás Luigi.
— Cadê aquela garrafa do Master of Malt 105 anos? — Pergunta, indo até
o bar e abrindo as portas de baixo.
— Você não vai abrir meu Master of Malt. — Falo com o olhar cerrado em
sua direção.
— Meu pau que não vou! Eu acabei de descobrir que você tem um irmão e
para piorar gêmeo, andando por aí e fazendo só Deus sabe o quê. — O bastardo
fala, abrindo meu melhor whisky, mas dou razão. O dia de hoje pede algo mais
forte.
Ele e Franco se acomodam no sofá e eu me junto a eles, me sentando na
poltrona na frente.
— Como está Allegra? — Franco pergunta entre um gole e outro.
Sem tirar os olhos do copo cheio em minhas mãos, digo que ela está bem.
— Qual é o primeiro passo? — Luigi pergunta. Levanto meu olhar até ele
e penso no que eu farei.
— Você vai continuar seguindo Elisa. Peça ao Ciro para investigar todas as
Madalenas da Famiglia na época de Carlo. E você... — Aponto para Franco que
tem sua atenção voltada a mim. — Reforce a segurança da casa. Eu não quero
soldados novos, coloque os que foram treinados por mim no penúltimo
recrutamento.
Ele balança a cabeça, como se dissesse que está feito.
— Ottavio, dá para acreditar, porra!? Você tem um irmão com a mesma
cara feia que a sua andando por aí. — Luigi solta suas pérolas.
— Para falar a verdade, eu gostava quando achávamos que ele estava
morto! — Encaro os dois homens a minha frente, sério. — Mortos não trazem
problemas, e algo me diz que meu querido irmão perdido trará uma tonelada
deles.
— Você acha que essa tal de Madalena está com ele? — A pergunta de
Franco é uma das várias que rondam minha cabeça. Viro o líquido e ele desce
queimando pela minha garganta, então me sirvo mais duas doses.
— Eu não faço ideia. São muitas perguntas sem respostas, além do fato de
estar sendo traído pela minha própria mãe. — Os olhares que recebo são de
espanto. Pelo jeito, eu fui o único a pensar que Elisa está me traindo, mas
afinal, não posso abrir uma exceção só pelo fato dela ser minha mãe.
Esconder fatos importantes como este do seu Don é um ato de traição e por
mais que seja algo do passado, poderá afetar seriamente nosso presente e
futuro.
— Mas ela é sua mãe, Ottavio! — Luigi fala duramente, me fazendo
arquear a sobrancelha pelo seu tom usado.
— E somente por isso terá a chance de se explicar. — Respondo, sem
desviar meu olhar do seu.
Franco pigarra, chamando nossa atenção.
— Com tudo o que aconteceu essa tarde, não tive a oportunidade de te
dizer que Marcelo mandou um recado, dizendo que o Galaretto está
praticamente liquidado. Marcelo confirmou que com seus ataques, Chicago
perdeu muitos apoiadores e aliados importantes.
A menção de Cesare me faz pensar em sua vingança pessoal. O que
aconteceu no passado, além do roubo do bebê, para que ele queira se vingar?
As peças do quebra cabeça ainda não se encaixam, mas é questão de tempo
até que eu possa solucioná-lo.
— Ele disse mais alguma coisa? — Pergunto e Franco fala que não, mas
por cordialidade pego meu celular e depois de confirmar que pelo fuso horário
ainda é dia em Nova York, faço a ligação.
Depois de alguns toques, ele me atende.
— Estava me perguntando quando você ia ligar! — Fala sarcasticamente.
Marcelo é um bom homem que esconde um passado sangrento e que
comando a Famiglia ítalo-americana com punhos de ferro, sem deixar os
costumes para trás.
— Eu ando ocupado cavando covas. — Ele solta uma gargalhada do outro
lado da linha.
— Galaretto está sem credibilidade. A Outfit está praticamente em guerra
entre si.
— Isso é uma ótima notícia, mio caro. Então me diga, o que é que quer em
troca? — Tudo na máfia tem um preço e obviamente De Luca não me fez esse
favor por gostar dos meus olhos azuis.
— Não se preocupe, na hora certa você saberá.
Falamos sobre mais algumas coisas sob os olhares atentos de Franco e
Luigi. Quando desligo, Luigi murmura um idiota, me fazendo sorrir de lado.
—Ainda tem raiva por ele ter olhado Sabrina demais? — Minha pergunta
faz Franco me fitar e depois olhar de lado para Luigi.
— Aquele velho filho da puta não merece Sabrina. Aliás, ninguém a
merece, minha irmã é boa demais para esses idiotas. — Sorrio sarcástico pela
sua fala.
Talvez eu devesse contar que Lucchese já está mais do que envolvido com
sua irmã.
— A festa de amanhã está confirmada! Pasquale está bastante animado
com a presença de nós três. — Falo e ambos assentem. — Esse será meu último
evento antes de Allegra dar à luz, então todo cuidado é pouco.
Com o passar da madruga, ambos se vão, me deixando novamente com
meus pensamentos.

Desço do carro e olho o extensivo castelo, cercado de grandes janelas e


uma porta com quase 10 metros de altura. Algo velho e antiquado, como o
dono. Pasquale e sua mulher não conhecem a palavra limite quando se trata de
gastar dinheiro com coisas fúteis.
Olho para Piero e Italo, esperando que confirmem que o perímetro está
seguro para que eu possa abrir a porta para Allegra descer. Com um aceno de
cabeça, Italo confirma, então eu abro a porta e ajudo minha esposa, que desce
fazendo uma careta.
— Algum problema? — Pergunto quando sua atenção está focada no
castelo a sua frente.
— Sim. Eles precisam de uma decoradora urgente. — Sua fala me faz
sorrir de lado.
Entrelaço nossas mãos e juntos seguimos para a entrada da festa. Por ser
um dos capos mais antigos, eu gostando ou não, Pasquale é influente. E apesar
de não me importar com essa idiotice de festa, segui o conselho de Luigi, já que
há muito tempo não apareço em reuniões festivas.
Assim que passamos pela porta da frente, somos recebidos por Pasquale e
Stella, que mais parece uma das prostitutas das nossas boates com seu vestido
curto e transparente.
— É uma honra recebê-los em nossa casa. — O capo abre os braços e faz
menção de se aproximar, mas eu ergo a mão, parando sua ação.
— Por favor, sem contatos desnecessários. — Falo firme e ele dá um passo
para trás.
— Allegra, querida, sua barriga está enorme. — Stella fala, olhando de
cima a baixo para minha esposa, que sorri de lado pelo comentário.
— Sim, Stella, querida! Eu carrego dois bebês fortes e saudáveis. — Não
perco o tom de sarcasmo e decido deixar para lá.
Deixamos o casal para trás e seguimos para nossa mesa. No caminho, a
atenção está toda em nós dois. Cumprimento com um aceno de cabeça alguns
conhecidos, enquanto Allegra presenteia a todos com seu melhor olhar de
indiferença, com a cabeça erguida. Nossa mesa fica quase no meio do enorme
salão decorado com flores vermelhas e estátuas douradas da cara feia de
Pasquale.
— Será que ninguém nunca disse a ele que isso é horrível? — Allegra
pergunta ao meu lado.
— Ele não tem amigos leais para tal ato. — Respondo quando chegamos a
mesa, onde Franco e Anna já se encontram sentados.
— Você está linda! — Anna fala, sorrindo abertamente para minha esposa.
Elas sentam uma ao lado da outra, enquanto eu e Franco nos posicionamos em
pé ao lado da mesa.
— Tudo certo? — Sabendo do que me refiro, ele apenas assente.
— Trouxe nossos homens de confiança, estão posicionados nas saídas e
existe um carro reserva que ninguém sabe. Está tudo tranquilo. — Responde,
olhando ao redor.
A segurança para esse evento foi reforçada, não poderia arriscar, já que
Allegra se torna um alvo fácil quase no fim da gestação.
Minha atenção se volta para a entrada, onde Luigi aparece ao lado de uma
mulher loira, me fazendo cerrar os olhos.
— Desde quanto ele traz mulheres para eventos assim? Quem é a garota?
— E por que quer saber? — A fala me faz olhar para minha esposa, que
me olha friamente. Ciumenta do caralho.
— Só estou surpreso, Allegra. Luigi não me disse que tinha alguém.
— Não é ninguém importante! É uma acompanhante de lu... — Franco
para sua fala quando percebe que a atenção de ambas as mulheres está voltada
para nós dois.
— Mantenha ela longe de mim. — Allegra fala com uma falsa calma.
Mas é em vão. Quando dou por mim, Luigi está na minha frente com a
mulher sorridente ao seu lado.
— Cheguei. — Ele cumprimenta.
— Percebemos. — Allegra responde, se levantando junto com Annamaria,
que assim como minha esposa, se posiciona ao lado do marido.
Luigi apresenta a mulher que se chama Amélia, para todos. Ângelo chega
com Katarina para a roda de conversa e eu percebo uma e outra olhada da
mulher para Franco, que tenta, mas não consegue esconder o embaraço.
— Se me dão licença. — Faço um sinal para que Franco me acompanhe,
para saber o que está acontecendo, mas antes de me afastar, não perco o olhar
que Annamaria lança ao marido. Andamos lado a lado pelo salão, até chegar
em frente a uma das janelas com vista para o jardim.
— Você percebeu. — Afirma, suspirando ao meu lado e contraindo a
mandíbula.
— De onde conhece aquela mulher?
— Ela é da agência que eu costumava ligar para pedir putas de luxo. Ela
era minha fixa. — Coloco as mãos no bolso, sorrindo de lado.
— E pelo jeito, Luigi não sabe. — Ele nega com a cabeça, levantando a
mão para chamar a atenção de um dos garçons, que logo traz bebidas para nós
dois.
— Não precisa ficar assim, ela é só uma puta. Anna sabe que você não era
santo antes do casamento, mas isso não a impedirá de arrancar seu pau quando
souber! — Falo sarcástico e tomo um gole da bebida.
Pela visão periférica, percebo Pasquale se aproximar.
— Estão aproveitando? — O velho, que tem um dente canino ridículo de
ouro, pergunta.
— Tudo ótimo. — Respondo e Franco assente.
— Eu preciso falar com você, Ottavio. — Automaticamente o sorriso some
de seu rosto e sua postura fica tensa.
Ele olha para meu subchefe, dando a entender que quer conversar a sós,
mas eu nego.
— Não tem nada você tenha a me dizer, que meu subchefe não possa saber.
— Contrariado, ele me olha e pensa por alguns segundos antes de começar a
falar.
— Alguns dos meus soldados andam inquietos com a guerra contra a
Outfit! — Me mantenho quieto, escutando, mas tentando imaginar em que
passo ele quer chegar com isso. Até onde eu sei, Cesare não atacou nenhum dos
meus capos diretamente.
— E o que isso significa? — Franco pergunta, ganhando um olhar de lado.
— Significa que precisamos agir o quanto antes. — Ele se vira totalmente
para mim e eu o fito impassível. — Coloque nossos melhores homens em
aviões amanhã mesmo, com destino a Chicago. Cesare não vai esperar um
ataque dessa magnitude, o fator surpresa vai estar ao nosso lado e com isso
vamos acabar de vez com toda essa situação. Temos poder para isso.
Com minhas mãos nos bolsos na calça, analiso a postura tensa, mas
decidida do homem à minha frente, e sei que há algo muito errado aqui.
Pasquale é um velho covarde demais para tomar uma decisão dessa magnitude,
ainda mais sabendo que ele perderá muitos de seus homens.
— E posso saber o porquê desse pedido tão urgente? — Arqueio uma
sobrancelha quando o homem me encara.
— Essa é a maneira que eu encontrei para conseguirmos parar os ataques.
— Franco, da última vez que soube, a Outfit nos atacou meses atrás, ou
estou enganado? — Faço a pergunta sem desviar meus olhos de Pasquale, que
retoma a postura tensa ao meu lado.
— Desde que Marcelo De Luca começou os ataques, Cesare não move um
dedo contra nós. — Meu subchefe responde e eu sorrio de lado para o capo.
— Sabe, Pasquale… Não é o poder que faz a diferença, mas sim a
liderança. Eu lidero muitas pessoas e sei do que meu poder é capaz. Eu não
estaria onde estou hoje, se agisse pelas ideias erradas de velhos decrépitos. —
Minha fala é baixa, mas ríspida, fazendo o homem arregalar os olhos e engolir
em seco.
— Eu só estava querendo ajudar. — Responde, dando um passo para trás,
tomando uma distância segura de mim.
— Ajude em não foder prostitutas por aí e depois matá-las. — O olhar de
entendimento que ele dá, faz o clima pesar ainda mais. — O que foi? Hum?
Acha que eu não sei que você pega as prostitutas de Bari, as usa sem proteção e
quando elas engravidam as matam? — Me aproximo do homem, ficando cara a
cara com ele. — Saiba que eu estou de olho em você!
Termino minha fala e saio, deixando o homem para trás.
— Ele está aprontando alguma coisa. — Franco fala enquanto andamos até
nossas esposas.
— Vamos embora daqui, tem algo de errado!
Mal acabo de falar e o barulho de bombas explodindo do lado de fora soa
alto, fazendo os vidros das janelas ao redor do salão estilhaçar pelo chão. Logo
em seguida, uma chuva de balas começa me fazendo sacar a arma e correr até
Allegra que está abaixada com Piero e Ítalo a protegendo.
Corro o mais rápido que posso entre o caos que se espalhou no lugar,
desvio de mulheres gritando histéricas e soldados correndo na direção da
entrada.
— Vamos sair daqui! — Falo quando chego perto de minha esposa e a
levanto.
— Façam um escuto para o Don. — Franco manda ao mesmo tempo que
ampara Annamaria em seus braços.
— Franco, tire elas daqui. — Grito, ao passo que estamos andando rápido
até uma das saídas que Piero marcou nesta tarde, quando veio mapear o local
para garantir nossa segurança.
— Eu não vou embora sem você. — Allegra grita, prendendo as mãos em
meu paletó enquanto tento fazer com que aperte os passos.
Mais tiros ecoam e os barulhos vão ficando cada vez mais perto.
Chegamos em um lance de escadas para descer e Allegra geme ao meu lado,
me fazendo olhá-la.
— Meus saltos. Não dá!
— Cazzo. — A pego nos braços e desço as escadas. Quase no fim, escuto
o grito de Anna e antes que eu possa me virar, Ítalo cai ao meu lado.
— Ottavio. — Allegra geme, e sem saber o motivo, eu aperto os passos.
— Por aqui. — Piero grita e quando passamos por uma porta, nosso carro
já está estacionado. Coloco Allegra no banco de trás e quando me viro para
olhar Franco ou Annamaria, não os acho.
Então tudo acontece muito rápido. Ainda virado para a porta, vejo o exato
momento em que uma luz de infravermelho acende em meu peito e um tiro é
disparado, me fazendo dar um passo para trás, ao mesmo tempo que escuto os
gritos de Allegra e a aproximação de meus soldados, atirando na direção que o
disparo veio.
— Ottavio... — Sentado no chão e com a mão no peito, fixo o olhar nos
olhos banhados de lágrimas da minha mulher. Aquela que jurei defender, mas
estou falhando miseravelmente.
— Shhh... Vai ficar tudo bem. — Respondo quando Allegra parece sem
forças para falar.
— Por favor, não feche os olhos. — Ela pede chorando quando se abaixa a
minha frente. Levo minha mão ao seu cabelo solto e com os cachos naturais.
— Está tudo bem, entre no carro. — O barulho cessa e a última coisa que
vejo antes de apagar é Franco chegando com Annamaria em seus braços.
A festa sem graça e regada de velhos com esposas muito mais novas está
me dando nos nervos. Minha barriga pesa, meus saltos estão me matando e a
vontade de matar metade dos convidados só aumenta. Estou ao lado de Anna e
Katarina quando escutamos os barulhos de bomba e os vidros das janelas se
espalham pelo chão, Piero grita para eu me abaixar e como em um déjà vu, me
lembro do dia da morte de Cosima, o que me faz travar no lugar.
Ainda abaixada, sinto quando Ottavio chega ao meu lado e me puxa para
andar na direção oposta do tiroteio que começou. No automático, eu me deixo
ser conduzida por ele, sua mão está em minha cintura, me prendendo perto do
seu corpo. Os passos rápidos e os gritos ao redor me deixam assustada, com
medo de que algo aconteça com meus filhos e instintivamente coloco uma das
mãos na barriga, porque os meninos começaram a se agitar, além dos saltos um
pouco altos estarem matando meus pés.
Quando Piero aponta um lance de escadas para descermos, eu gemo em
desgosto e falo a Ottavio sobre meus pés, ele solta um palavrão e na pressa, me
pega no colo e desce cada degrau cuidadosamente. No meio do caminho, uma
dor forte em minha barriga me faz gemer e chamá-lo. Quando percebo, ele está
me colocando no banco de trás do nosso carro.
Ele se vira dando ordens e acho que procurando Franco e Annamaria, que
estavam logo atrás de nós. Respiro fundo quando escuto o barulho de um tiro e
os soldados se posicionam ao redor do carro, procurando pelo atirador. Quando
olho para o meu marido, ele dá um passo para trás e eu grito desesperada. Saio
do carro quando ele cai sentado, encostado no automóvel.
— Ottavio! — Eu o chamo incerta. Meu coração se aperta quando vejo sua
mão tampando a ferida no peito e meus olhos nublam de lágrimas.
— Shhh... Vai ficar tudo bem. — Ele fala quando começo a chorar e me
abaixo, o olhando apavorada.
— Por favor, não feche os olhos. — Peço quando percebo que está
perdendo a consciência.
— Está tudo bem. Entre no carro. — Aponta com a cabeça, mas antes que
eu perceba, ele desmaia em meus braços.
— Ottavio... Ottavio, acorda! Socorrooo. — Meus gritos de socorro ecoam
por toda a parte, Piero e outro soldado tiram Ottavio dos meus braços e o
colocam no carro. Sinto as mãos me levantando e quando olho para ver quem é,
encontro Luigi me olhando tenso.
— Eu preciso que você respire, você está em estado de choque, Allegra. —
Eu escuto suas palavras, mas não sou capaz de formular uma frase para
respondê-lo.
— Vamos logo. — Escuto alguém gritar e Luigi me coloca dentro do carro
ao lado do corpo desacordado do meu marido. Piero está sentado do outro lado,
pressionando a ferida e eu permaneço imóvel, somente olhando o corpo grande
desacordado.
Ele não pode me deixar!
Ele não pode fazer isso comigo!
Um soluço escapa e logo mais lágrimas descem quando coloco minhas
mãos trêmulas no rosto dele.
— Se controle, Allegra, por Deus. — Piero pede friamente, me fazendo
levantar os olhos para ele.
O motorista está em alta velocidade, mas isso não impede que eu sinta que
estou passando os minutos mais longos da minha vida.
— Como estamos, Piero? — Luigi pergunta, nos olhando do banco da
frente.
— Ele está perdendo muito sangue, precisamos chegar logo.
— Porra! — Ele ruge.
O carro para bruscamente, então olho pela janela e percebo que estamos na
porta de um hospital. Quando a porta de trás é aberta pelo outro lado, dois
soldados tiram Ottavio cuidadosamente e o colocam em uma maca. Abro a
porta do meu lado e saio me assustando com a quantidade de soldados armados
com metralhadoras e rifles espalhados pela entrada e rua do hospital.
— Venha, Allegra. — Luigi me chama, colocando um paletó sobre meus
ombros e me levando para dentro, a tempo de ver alguns metros na frente os
médicos atravessando uma porta com a maca onde meu marido está.
Minhas pernas estão quase cedendo, meus ouvidos zumbindo e minha
cabeça dando voltas!
Eu já perdi pessoas demais, não posso perdê-lo também!
Luigi me ajuda a sentar em uma cadeira e diz algo que eu não escuto, pois
estou focada na porta por onde Ottavio passou. Aperto os dedos segurando o
paletó em meus ombros e fecho os olhos, tentando controlar as batidas do meu
coração.
Respira, Allegra.
Só respira.
— Boa noite, senhora Ruggero! Sou enfermeira e gostaria de levá-la para
ser examinada. — Uma senhora que nem notei se aproximar fala, me fazendo
abrir os olhos para a encarar em pé a minha frente.
— Ninguém vai tocar em mim. — Falo friamente, a fazendo arregalar os
olhos.
— Nós só queremos verificar como os bebês estão. — Sua menção aos
meus filhos me deixa tensa.
— Eu... Eu...
— Vai ficar tudo bem, senhora! Vamos ver como eles estão enquanto o
médico examina o Don. — Sua voz suave tenta passar segurança.
Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos como Ottavio estava,
poderia acreditar na mulher à minha frente.
Me levanto, concordando com a cabeça na mesma hora que Elisa passa
pela porta da frente com os olhos banhados em lágrimas, vindo em minha
direção e como se fosse um gatilho, começo a chorar sem controle quando ela
me abraça.
— Ah, minha querida, ele vai ficar bem! Meu menino é forte. — Me
consola em meio ao nosso choro.
Suas mãos sobem e descem em uma carícia nas minhas costas, minha
cabeça está grudada ao seu pescoço sem qualquer vergonha de estar me
desmoronando. Não quando o homem que eu amo está entre a vida e a morte.
— Ele perdeu muito sangue. — Murmuro quando ela se afasta e limpa
meu rosto.
— Não podemos ficar preocupados com Ottavio e ao mesmo tempo com
você! Eu, mais do que ninguém sei o quanto isso é difícil, mas você tem que
ser forte, Allegra. Você está grávida e se algo lhe acontecer, quando Ottavio
acordar ele vai ficar louco. — Elisa tem uma falsa calma, mas que surte efeito.
Eu preciso me cuidar, porque ele vai voltar para mim. Ele tem que voltar para
nós.
— Eu estava indo levá-la para fazer um ultrassom e aferir a pressão. — A
enfermeira fala ao nosso lado.
— Vá, querida! Eu vou procurar por notícias e depois ir ao seu encontro.
Minhas pernas parecem sair do estado inerte que se encontravam e sigo a
enfermeira devagar.
Todos os exames feitos comprovam que estou bem, a não ser pela pressão
um pouco alta. Por recomendações médicas, eu deveria ir embora e esperar
notícias, mas eu ameacei todos que tentarem me tirar desse hospital.
Sendo assim, me colocaram de repouso em um quarto para aguardar junto
com Elisa o fim da cirurgia de Ottavio.
Até o momento, a única notícia que tivemos foi que ele perdeu muito
sangue e precisou ser operado às pressas para extrair a bala.
— Alguma notícia? — Luigi, seguido de Franco, entram no quarto.
Assim que eles passam pela porta, me levanto e encaro ambos.
— Já sabemos quem fez isso? — Minha fala faz com que eles e Elisa me
olhem surpresos.
— Ainda não, estamos trabalhando para descobrir. — Luigi responde.
— Mas já temos nossos suspeitos! — Franco fala, me fazendo concordar.
— Ouçam os dois. — Falo firme, ganhando toda a atenção de ambos. —
Eu quero o mandante e quem atirou vivos! As pessoas que fizeram isso com
meu marido vão pagar, mas só depois que ele acordar e puder cuidar disso
pessoalmente.
— Podemos ver o que fazer sobre isso. — Luigi diz, colocando as mãos
nos bolsos.
— Isso não foi um pedido, Luigi. — Minha voz cortante faz o homem
arquear a sobrancelha. — Você pode ser o consigliere, mas eu ainda sou a
mulher dele e ele ainda é o Don. Eu não pedi!
— Tudo bem, querida! Ele entendeu. — Elisa coloca a mão no meu braço,
me chamando a atenção.
Franco dá um passo para frente, me entregando uma bolsa com roupas para
que eu me troque.
— Estaremos do lado de fora se precisarem. — Franco fala e sai, puxando
Luigi consigo.
— Você está diferente. — Suspiro quando Elisa fala. Pego o vestido longo
vermelho dentro da bolsa e a rasteirinha para calçar.
— Depois que você perde muitas pessoas, ou você muda ou se entrega
para a dor. — Respondo.
— Tem razão! — É tudo o que ela diz enquanto me troco.
A madruga é infernal, sem qualquer tipo de notícia. O cansaço me faz
dormir na cama do quarto e acordar várias vezes assustada. Passa das 5 da
manhã quando o médico entra no quarto, fazendo com que eu me levantasse em
um pulo, junto com Elisa.
— Como ele está? — Pergunto aflita.
Luigi e Franco entram logo atrás e todos se posicionam na frente do
médico, que tem um semblante sério.
— Ele perdeu muito sangue e na mesa de cirurgia teve duas paradas
cardíacas. — Levo uma mão a boca e outra ao peito, meu coração se aperta. —
Mas conseguimos trazê-lo de volta e extrair a bala. — Levanta o saco pequeno
transparente com o projétil de uma bala dentro. — A bala atingiu o tórax e por
pouco não chegou no coração. O quadro dele é estável, mas vou deixá-lo na
UTI por 24 horas, como manda o protocolo.
— Ele está fora de perigo, então? — Elisa pergunta.
— O pior já passou, podem ficar tranquilos. Senhor Ruggero é um homem
forte e saudável, isso ajuda no processo de cura do corpo.
O alívio me faz suspirar e sentar na poltrona. Em seguida, o médico sai,
falando que em breve poderemos vê-lo através do vidro da UTI.
— Já fechamos o perímetro do hospital e vou solicitar o último andar para
que ele fique lá. — Franco fala e eu concordo.
Mais tarde, quando é autorizado, vou vê-lo ansiosa, mas não estava
preparada para o que vi. O homem sempre forte e que nunca dormia, deitado
em uma cama cercado de aparelhos.
Coloco minhas mãos no vidro de proteção do quarto, deixando as lágrimas
rolarem pelo meu rosto. Sua aparência pálida e o curativo no peito deixam
evidente o quanto ele lutou para ficar vivo.
— Não se preocupe, o pior já passou. Agora a senhora precisa descansar
para quando ele acordar e não ficar bravo por te ver assim. — Olho para a
enfermeira ao meu lado.
Provavelmente reparando minha aparência cansada. Minhas olheiras estão
evidentes, meus pés inchados e os cabelos presos em um coque desarrumado
devem estar assustando todos ao meu redor.
— Quanto tempo até que ele acorde? — Pergunto, sem desviar a atenção
dele.
— Ele ainda está sedado. Assim que o médico suspender o medicamento,
vai ser questão de horas ou minutos para que ele acorde.
Concordo com a cabeça e antes de voltar para o quarto que estou, dou uma
última olhada para meu homem.
De olhos fechados, sinto que estou sendo observada, o que deixa meu
corpo todo em alerta, mas assim que eu abro os olhos, vejo Anna sentada na
poltrona a frente.
— Olá. — Ela sorri de lado, se levanta e vem sentar na cama quando me
sentei, encostando na cabeceira.
— Oi! — A observo melhor de perto e percebo um curativo no antebraço.
— O que aconteceu? — Pergunto, apontando para seu braço, a fazendo
tensionar.
— Ontem quando estávamos correndo, você e Ottavio se distanciaram
porque um homem me puxou pelo braço e me feriu com uma faca. — Arregalo
os olhos.
— Por Dio, Anna! Me desculpe por não ter te procurado, eu... Dio! —
Coloco as mãos no rosto cansada, deixando o sentimento de culpa me dominar.
Que péssima amiga eu sou!
— Não se preocupe, Franco me salvou! — Concordo com a cabeça quando
ela suspira olhando para o ferimento. — Você precisava vê-lo, Allegra! Em
segundos a sua fisionomia mudou de calmo, para algo letal. Eu sei que estamos
casados há pouco tempo, mas eu nunca pensei que o veria daquele jeito. Sem
pestanejar, quando o homem que me segurava me cortou e gritou para que ele
se afastasse, foi como se aquilo tivesse soltado o lado ruim dele. Ele arrancou a
arma do coldre e atirou, acertando em cheio o meio da testa do homem.
Ela me conta meio atordoada, com o olhar vago em direção a janela do
lado da minha cama.
— Anna, eles são letais a maior parte do tempo. Quando estão conosco
eles apenas escondem sua verdadeira natureza. — Infelizmente essa é a
realidade de homens de honra. Por muitas vezes eu vi o lado letal de meu
marido quando chegava em casa sujo de sangue ou com aquele olhar de que se
poderia destruir algo. — Me desculpe por não ter visto!
— Está tudo bem. Além disso, vocês eram o alvo, pelo o que entendi. —
Sua mão pousa em minha barriga, fazendo uma carícia leve. Anna tem uma
natureza calma. Ela foi criada em uma bolha construída por seu irmão.
— Eu quase o perdi. — Me vejo falando, fechando os olhos e controlando
meus nervos.
— Mas agora ele vai ficar bem, por isso precisamos cuidar de você. Já
imaginou o caos que vai ser quando ele acordar e te ver assim? — Aponta
sorrindo para mim. — Eu trouxe mais uma muda de roupas, suas maquiagens e
a arma.
— Você se lembrou, não é mesmo? — Ela assente.
Quando contei para Anna a forma como Cosima foi morta e minha neura
por sempre andar armada, ela entendeu e graças a Deus deduziu que eu estaria
sem minha arma e a trouxe para mim.
— Vá tomar um banho e passe bastante maquiagem nessas olheiras.
Quando sair, seu almoço vai estar aqui te esperando. — Faço uma careta com a
menção da refeição.
— Por quanto tempo eu dormi?
— Menos do que deveria, se quer saber. Agora já são quase três da tarde!
— Ele ainda não acordou? — Ela nega com a cabeça e eu me levanto, indo
para o banheiro.
De banho tomando, maquiada e usando um vestido longo preto, com as
alças caídas no ombro, saio do banheiro me sentindo renovada. Assim que me
veem, Anna e Elisa sorriem.
— Agora sim! — Anna bate palmas.
— Agora coma! Meus netos e você precisam se alimentar. — Elisa aponta
a bandeja com comida na mesa pequena perto da porta do quarto. Me sento em
frente a comida e só percebo a fome que estou quando começo a comer.
— Alguma novidade de quem fez isso? — Pergunto entre uma garfada e
outra.
— Franco e Luigi já acharam o mandante! — Paro de comer e olho para
minha sogra, que falou isso tranquilamente.
— Quem foi? — Me levanto, a encarando.
— Quel maledetto do Pasquale. — Arregalo os olhos e olho para Anna,
que confirma a fala. Como se soubesse do que estamos conversando, Luigi
entra no quarto e me olha sorrindo.
— Pela sua cara, já sabe que pegamos o imbecil do Pasquale.
— Por que ele fez isso? — Pergunto quando ele senta na outra cadeira
vaga da mesa e rouba uma das batatas fritas do meu prato.
— Ele queria atacar a Outfit e estava achando que Ottavio estava sendo
mole em relação a isso. Conseguimos pegar dois dos soldados que estavam nos
atacando ontem e passamos a manhã os interrogando! — Não passa
despercebido o tom usado quando fala que estavam “interrogando os homens”
— O que ele queria, exatamente? — Elisa pergunta.
— Ele queria que Ottavio morresse, para culpar a Outfit pelo ataque e
assim nos obrigaria a atacar Chicago. Ele ganharia muito com isso, já que
descobrimos que estava desviando dinheiro da Famiglia. Com uma guerra,
ninguém notaria suas retiradas altas que poderiam ser colocadas como despesas
de armas e tudo mais.
— Onde ele está?
— Na Trentotto. Não se preocupe, sua ordem vai ser acatada. Ele vai ter
tratamento especial até que Ottavio esteja pronto para cuidar dele
pessoalmente. — Balanço a cabeça em concordância.
— Obrigada, vocês têm sido ótimos.
— É o nosso trabalho garantir a segurança dele e a de vocês. — Franco
aponta para minha barriga.
Logo todos saem e eu me vejo indo mais uma vez verificar como meu
marido está.
O médico me diz que ainda hoje irá transferi-lo para um quarto mais
equipado no último andar e que vai suspender em breve a sedação para esperar
que Ottavio acorde naturalmente.
Eu nunca fui uma mulher de muita fé, mas olhando meu marido vivo
depois de tomar um tiro, me sinto grata por ainda tê-lo.
Abro os olhos e encaro o teto branco e as luzes fortes da mesma cor. Sinto
meu corpo dolorido e o lado esquerdo do meu peito queimando como um
inferno. Abaixando a cabeça, vejo o curativo no meu tórax e a lembrança me
vem à mente imediatamente.
A festa de Pasquale, as bombas, eu correndo com Allegra e a última coisa
que me lembro foi de ter tomado um tiro. Olho ao redor, percebendo que estou
em um quarto de hospital, com duas portas, além de uma poltrona ao lado da
cama. Tento me levantar, mas ao me movimentar, a dor na ferida faz com que
eu desista. Essa não é a primeira e provavelmente nem a última vez que vou
tomar um tiro, mas não me lembrava que essa merda doía tanto!
A porta é aberta devagar e levo meu olhar até ela, para encontrar a pessoa
que faz com que eu tenha a certeza de que ainda tenho um coração que só é
usado com ela.
Allegra me olha de olhos arregalados em surpresa, mas logo muda para dar
um sorriso aberto. Seus cabelos estão soltos, deixando seus cachos naturais à
mostra. O vestido branco longo de alças finas e flores coloridas a deixa ainda
mais linda do que Hera. Sem dúvidas, Allegra está no topo das deusas. Mia
dea.
Ela se aproxima em passos rápidos e depois de apertar um botão ao lado da
cama, me olha com lágrimas nos olhos.
— Você voltou para mim! — Fala emotiva, com a voz embargada.
— Eu sempre volto! — Minha voz sai rouca, mas ela me entende
perfeitamente.
A porta volta a se abrir e reconheço o médico da Famiglia entrar junto com
Franco, Luigi e Elisa, que corre até mim e deita a cabeça no meu peito.
— Ah! Figlio, que susto você me deu, meu amor! — Elisa sempre foi uma
mãe exemplar, mas desde que eu me tornei um homem feito, ela já não fazia
cenas de afeto como a de agora. Com isso, percebo que o ocorrido deve ter sido
grave.
— Estou bem. — Digo, levando uma mão até sua cabeça. Ela se afasta
sorrindo quando o médico começa a falar.
— Senhor Ruggero, bem-vindo de volta.
— Quanto tempo estou aqui? — Pergunto e eles se entreolham.
— Três dias. — O médico responde enquanto me examina.
— Bom, está tudo dentro do previsto, senhor Ruggero. O projétil acertou
seu tórax e apesar de você ter perdido muito sangue, nós retiramos a bala e o
pior já passou. O senhor vai sentir o corpo um pouco letárgico, mas é normal.
— Quanto tempo até ele receber alta? — Allegra pergunta ao médico, com
nossas mãos entrelaçadas.
Eu nunca pensei que fosse precisar tanto de um contato até me ver
ansiando para sentir minha pele e a dela juntas.
— Nós ainda precisamos mantê-lo por mais 3 ou 4 dias, depois disso, se
estiver tudo ok, ele terá alta!
— Em 3 dias eu estarei em casa! — O homem me olha e suspira, mas
assente e sai, nos dando privacidade.
— Já pegaram quem fez isso? — Olho para Franco e Luigi, que balançam
a cabeça confirmando.
— Per l’amor di Dio! Ottavio, você acabou de acordar, descanse, pelo
menos. O idiota do Pasquale está preso, esperando o fim bem feio que sei que
dará a ele. — Aquilo me chama a atenção e encaro os dois homens me olhando
firmemente.
— Deixem-nos a sós. — Falo para Allegra, que revira os olhos e sai logo
em seguida com Elisa.
— Bom ter você de volta. — Franco fala com as mãos nos bolsos,
esbanjando sua tranquilidade.
— O que ela disse é verdade?
— Sim. Aliás, você criou um monstro, só para avisar. — Luigi fala,
fazendo uma careta e eu arqueio a sobrancelha.
— Allegra deu um ultimato para ele enquanto você estava desacordado! —
Franco fala sarcástico.
— O que ela disse? — Olho para Luigi e ele fecha a cara.
— Ela disse para acharmos os culpados do atentado e para prendê-los até
que você estivesse acordado para cuidar pessoalmente dos infelizes.
— Mas ela não pediu! — Franco diz rindo.
— Ela ordenou. — Luigi faz careta e eu sorrio de lado.
— Ela sabe o poder que tem e sempre o usa quando necessário. O que
posso fazer se minha esposa é perfeita? — Fico orgulhoso de saber que ela
tomou as rédeas da situação em minha ausência.
— Fico impressionado em como vocês dois foram feitos um para o outro.
— Sorrio para Luigi.
— Agora vamos ao que realmente interessa. — Olho firmemente para os
dois. — Por que Pasquale fez isso?
— Ele estava roubando você. — Luigi começa. — Estava maquiando os
livros caixas das drogas e armas. Ele queria que você morresse para obrigar
quem fosse assumir o seu cargo, no caso eu, a ir atrás da Outfit para se vingar e
assim poderia maquiar ainda mais a última retirada dele.
— Isso explica o fato dele viver de forma ostensiva. — Franco murmura.
— Onde ele está?
— Na Trentotto, recebendo pão e água até que você esteja pronto para vê-
lo, como Allegra ordenou. — Assinto com a cabeça.
— Assim que eu sair daqui a primeira coisa que farei é isso. Tivemos
muitas baixas?
— Não, as bombas eram uma distração, só feridos! — Franco fala tenso e
eu mantenho meu olhar nele até que ele conte o motivo da mudança de postura.
— Annamaria foi atacada quando estávamos atrás de vocês.
— Ela está bem? — Pergunto sério. Franco é meu homem de confiança e
um ataque a ele e a sua esposa é um ataque contra mim, e isso eu nunca irei
permitir.
— Está, mas ela ficou em choque porque me viu matar o homem que a
cortou. — Suspira, abaixa a cabeça e logo entendo o motivo da tensão.
Assim como eu no início do meu casamento, Franco não queria que
Annamaria visse a sua verdadeira personalidade por baixo dos ternos caros,
mas parece que assim como foi comigo, ele não teve escolha.
— Logo ela se acostuma. — É tudo o que digo.
— Falando em se acostumar, Ottavio. — Olho para Luigi, que estava
calado esse tempo todo. — Allegra está nesse hospital desde o dia do atentado.
Ela está se fazendo de forte, mas a mulher está um caco. Você precisa ver os
pés dela, acho que podem explodir a qualquer momento. — A careta dele me
faz suspirar, porque quando ela chegou mais perto de mim, eu pude perceber as
olheiras e a sua aparência cansada.
— Darei um jeito nisso! — Falo firme. — Mais alguma coisa que preciso
saber? — Eles negam e saem, me deixando sozinho para que Allegra entre.
Ela caminha decidida até meu lado e passa carinhosamente a mão nos
meus cabelos.
— Eu tive muito medo. — Me olha nos olhos. — Quando você desmaiou
nos meus braços, eu achei que tivesse te perdido.
— Já passou. — Pego sua mão que estava em meu cabelo e a beijo. —
Fiquei sabendo que andou distribuindo ordens por aí. — Ela sorri de lado,
dando de ombros.
— Se tem uma coisa que odeio, é quando me subestimam. Eu só deixei
clara a minha posição! — Fala firme, sem tirar os olhos dos meus. Sua postura
ereta apesar do evidente cansaço é algo a se admirar.
— Também fiquei sabendo que não saiu daqui. — Ela revira os olhos,
frustrada.
— Vejo que as fofocas já chegaram até você. — Faz um bico em
desagrado.
Ainda segurando firme suas mãos, eu a olho intensamente, fazendo-a
engolir seco.
— Não existe nada que eu não saiba, mia dea. Você acha que eu não
percebi o quanto está cansada? Não precisei te olhar por 5 minutos para chegar
a essa conclusão!
— Eu não podia te deixar aqui sozinho, Ottavio! — Uma das maiores
qualidades de minha esposa é a lealdade e em pequenos gestos como esse,
mesmo sem querer ela a mostra.
— E eu não posso me recuperar tranquilo, com você se colocando em
perigo. Nossos filhos estão prestes a nascer.
— Eu sei! Mas não pode me culpar por ter ficado preocupada.
Com dificuldade, chego para o lado na cama e a chamo para se deitar ao
meu lado.
— Eu não vou deitar aí, eu estou imensa e posso te machucar.
— Deite-se aqui agora, Allegra e traga essa barriga com meus filhos para
que eu possa senti-los. — Ela aperta os olhos pelo meu tom, mas acaba
cedendo. A cama que estou é uma das mais espaçosas, mas para um homem
grande e uma grávida com uma barriga enorme, se torna pequena. Ela deita de
barriga para cima no meu lado direito, o contrário do ferimento, e eu
permaneço na mesma posição. Com a cabeça encostada em meu ombro, ela
coloca uma das mãos na minha barriga e eu levo a minha até a sua, logo sou
recebido com um chute.
— Eles estavam tão quietos esses dias, até parece que sabiam que tinha
algo errado. — Murmura.
Não posso ver seu rosto, mas a julgar pelo tom da voz, sei que está de
olhos fechados e lutando para não se render ao cansaço.
— Passou, eu estou aqui e inteiro. Só preciso que vocês descansem agora.
Depois de minutos em silêncio, percebo que ela acabou dormindo. Viro
devagar e beijo sua cabeça repousada em meu ombro.
Antes de Allegra, eu não tinha medo da morte, pois não tinha nada a
perder. Mas saber que eu quase morri sem ao menos conhecer meus filhos, fez
com que algo mudasse dentro de mim.
Eu preciso limpar meu território, ao menos dos perigos que nos cercam e
garantir uma vida mais tranquila dentro do possível para os três.

Beijo os lábios de Ottavio dormindo um sono pesado e saio para poder


comer algo, deixando dois soldados na porta do quarto. O andar foi todo
fechado para que nós pudéssemos ter mais segurança enquanto ele não ganha
alta. Minha barriga pesa e as dores por enquanto são suportáveis. No elevador,
a caminho da lanchonete, leio a mensagem de Anna avisando que já chegou. Às
portas do elevador se abrem e quando dou dois passos, sinto uma tontura e
paraliso, respiro fundo e devagar volto a andar até a lanchonete, me sento na
primeira mesa vaga que encontro, gemo relaxando na cadeira e sorrio quando
Anna entra no espaço e seu olhar se encontra com o meu.
— Allegra, você precisa ir para a casa descansar. — Reviro os olhos com
sua fala. Será que ninguém percebe que não adianta tentar me tirar de perto de
Ottavio? — Olha só o tamanho dessa barriga, seus bebês devem ser cabeçudos
igual o pai. — Faço uma careta.
— Pare de chamar meus bebês de cabeçudos. — Ela sorri, pega minha mão
e dá um beijo.
— Ottavio tem que beijar o chão que você pisa. Você está nesse hospital há
dias, sem arredar o pé. — Faz dois dias que Ottavio acordou e está se
recuperando bem. Estou ansiosa para sua alta.
— Você viu Elisa? — Minha sogra não aparece no hospital faz exatos dois
dias, o que é muito estranho, já que ela não saia daqui.
Ottavio não diz, mas sei que deve estar curioso para saber por que a mãe
não veio mais vê-lo.
— Não, mas se quer saber, ela está bem estranha. — Anna murmura como
se fosse um segredo, mas a verdade é que todos já perceberam que Elisa está
escondendo algo. O que a própria não imagina, é que esse segredo nós já
sabemos!
— Sim, eu acredito. — A garçonete chega, trazendo meu lanche de
sempre: salada de frutas e suco de laranja. Eu agradeço e volto minha atenção
para Anna. — Provavelmente, ela deve estar atrás do filho. Ottavio não me
disse mais nada sobre o assunto, mas ele também deve ter alguém atrás do
irmão.
— Isso vai ser uma loucura quando todos descobrirem. Será que Elisa já
sabe quem é? Porque se eles são gêmeos, provavelmente o outro deve ser a cara
do Ottavio.
— Eu não tinha pensado nisso, mas não sei. Tudo que penso no momento,
é em ir embora com meu marido ao meu lado. — Termino de comer e me
despeço de Anna quando ela fala que precisa ir embora antes que Franco
chegue em casa.
Satisfeita, me levanto e sigo de volta para encontrar Ottavio. Assim que as
portas do elevador se abrem no andar do quarto, percebo que tem algo errado.
O soldado que estava próximo ao elevador, não está mais e quando eu viro no
corredor para entrar, tenho a certeza de que está acontecendo algo.
Subo meu vestido longo para conseguir sacar minha arma presa no
tornozelo e devagar ando até a porta, observando ao redor. Antes de chegar em
frente à entrada, percebo que a porta está entreaberta e com a arma, empurro e
ela se abre lentamente, me fazendo arfar com a visão.
Um homem tem sua arma apontada para a cabeça de Ottavio, que o olha
friamente. Assim que passo pela porta, ganho a atenção de ambos os homens
— Se afaste dele agora. — Falo entre dentes, me aproximando devagar do
homem grande e coberto de tatuagens. Suas roupas todas pretas o deixam ainda
mais intimidante, mas eu não vou ceder. Não quando Ottavio está em perigo.
Sinto meu sangue esquentar e minhas mãos tremem quando reconheço a
tatuagem da Outfit em seu braço.
Ele é o executor da Outfit!
— Se você atirar nele, eu atiro em você. — Falo friamente, o encarando e
ele sorri de lado, como se duvidasse que eu sou capaz.
— Allegra, saia daqui. — Ottavio ruge com o semblante sério.
— Não mesmo. — Retruco com a arma em punho, mirando no homem.
Me aproximo devagar e coloco a arma na cabeça dele.
— Eu sempre soube que sua mulher tinha garras. — Ele fala rindo. — Vai
fazer o quê? Acha que pode contra mim com essa barriga? Aliás, devo dar
parabéns pelos herdeiros? — Ele fala sarcástico, me fazendo engatilhar minha
arma.
— SOLTA. A. PORRA. DA. ARMA. — Rosno, enquanto Ottavio
pragueja. Um alarme dispara e percebo ser do relógio do executor e ele suspira.
— Merda de mulher. — Em um movimento rápido, ele bate na minha mão,
fazendo a arma cair no chão e me prende em seus braços, apontando a arma na
minha cabeça enquanto Ottavio se levanta, gemendo de dor, a tempo de pegar a
arma do chão e mirar no executor.
— Larga ela. — Meu marido fala enquanto o homem me aperta ainda
mais.
— Você matou meu amigo. Justo seria se eu a matasse também. Eu
pouparia o esforço de ir atrás dela depois, porque nós dois sabemos que a
cabeça dela e a dos bebês estarão a prêmio logo logo.
O barulho das armas de ambos sendo engatilhadas ao mesmo tempo me
deixa tensa e gemo quando a dor em minha barriga volta com tudo.
— Ottavio. — O chamo por instinto e suspiro. Seu olhar está no homem
que me faz de escudo.
— Solte-a e você terá sua vingança. — Ottavio diz, mas não abaixa sua
arma.
— Não, Ottavio. Não se atreva. — Suspiro quando sinto o cano da arma se
apertar em minha cabeça.
— O grande Don Ottavio Ruggero se entregando facilmente! Quem diria,
em Ottavio, bem que dizem que o amor deixa os homens tolos.
— Vá a merda, filho da puta. Solte minha mulher! — Meu marido grita e
pela primeira vez nossos olhares se encontram e engulo em seco quando vejo o
medo passar rapidamente em seu olhar.
— Vou te dar algumas opções, Ruggero. Solte a arma, eu a liberto e a
deixo assistir seu fim. Prometo ser rápido, um tiro limpo no meio da sua
cabeça. — A voz do homem me faz tremer. — Ou eu posso matar ela primeiro
e te deixar assistir, depois acabo com você.
— Não faça isso, Ottavio. Ahhh! — Grito quando sinto outra pontada mais
forte. Acho que estou tendo contrações.
— O que está sentindo, Allegra? — Com o olhar e a arma apontada para o
executor, Ottavio me pergunta.
— Eu acho que estou tendo os bebês. — Suspiro, sentindo o corpo do
homem que me prende tensionar pela primeira vez
— Eu vou matar você lentamente, Otto. — Ottavio fala baixo. — Depois
eu vou dizimar a Outfit da terra. Vou matar Cesare e nada será mais prazeroso
do que isso!
— Assim como matei seu pai? — A fala sarcástica do homem me faz
arregalar os olhos e automaticamente vejo os olhos de Ottavio mudar para algo
letal, mas antes que ele diga ou faça algo, nós viramos para a porta quando
Elisa entra desesperada.
— NÃOOO. — Elisa entra aos prantos no quarto, vindo em nossa direção.
Ela se enfia na frente da arma que Ottavio aponta para Otto e seu olhar cai em
mim e depois no homem que me prende. Seus olhos estão vermelhos e as
lágrimas descem pelo seu rosto sem parar.
— Sai da frente, Elisa. — Ottavio tenta puxá-la, mas ele ainda está fraco e
seus movimentos não estão ágeis.
— Vocês não podem fazer isso. — Ela fala, intercalando seu olhar entre os
dois homens.
Depois prende seu olhar em Otto, que está calado atrás de mim.
— Largue ela, por favor, querido. — Sinto a mão que está no meu pescoço
vacilar com as palavras de minha sogra.
— Elisa, o que pensa que está fazendo? Saia da minha frente! — Ottavio
grita.
— Vocês não podem se matar, vocês... Vo-vocês são irmãos! — Arregalo
os olhos para Elisa que está aos prantos no meio de nós. Ottavio a olha confuso,
enquanto Otto me solta e me empurra para o lado, me fazendo apoiar na cama.
Ele se aproxima de Elisa como um leão feroz, mas minha sogra só levanta seu
olhar para o dele. O homem tem a respiração acelerada e posso jurar que ele vai
matá-la pelo modo com que a olha.
Olho para Ottavio, que encara o homem à frente, visivelmente em choque.
— Ficou louca, mulher? — Otto fala entre dentes, olhando nos olhos de
Elisa, que abaixa a cabeça e nega. Ela se posiciona no meio dos dois homens e
intercala o olhar para ambos.
O silêncio que se instala no quarto é massacrante. Elisa tenta formar
palavras em meio ao choro enquanto os dois se encaram em choque. Eu quero
me mexer e ir até meu marido, mas minhas pernas não me obedecem. Com as
mãos apoiadas na cama, a informação passa em minha mente várias vezes.
Otto é o irmão perdido de Ottavio. Meu marido estava buscando uma
vingança pela morte do pai, contra o próprio irmão.
Antes de sair em busca de uma vingança, cave duas covas!
Isso nunca foi tão certo. A tragédia sobre a família Ruggero era algo
inevitável desde o início.
Otto matou o próprio pai e Ottavio vai matar o próprio irmão!
Com Ottavio acordado e fora de perigo, respiro aliviada depois que o peso
foi tirado do meu peito. Porque eu nunca me acostumei com as perdas que uma
vida assim traz. Eu não era da máfia quando conheci Carlo, era uma jovem
americana estudando moda em Florença. Meus pais eram de uma família
tradicional de Chicago e quando eu disse que queria ser a melhor estilista, eles
não pouparam esforços para realizar meu sonho e me mandaram para Sarteco,
uma das melhores escolas de moda do mundo, e depois de pouco mais de oito
meses estudando, eu conheci o homem que veio e mudou a minha vida.
Eu estava na Piazza della Signoria com algumas amigas, era uma noite de
verão e estávamos escutando um cantor na praça quando me senti sendo
observada, então olhei para os lados e não encontrei ninguém conhecido, mas
continuei com a sensação até que – segundo o que ele me contou – ele tomou
coragem para conversar com a ragazza mais linda que já tinha colocado os
olhos. De imediato, seus olhos azuis me chamaram a atenção e depois daquela
primeira conversa passamos a nos ver e conversar todos os dias, durante
semanas. Eu me apaixonei por ele e quando ele me disse que sentia o mesmo
por mim, eu me entreguei a ele de corpo e alma.
Ficamos meses vivendo um amor quase que às escondidas, segundo ele era
o melhor no momento. Mas com suas viagens misteriosas e sumiços, eu decidi
colocar um fim em tudo, caso ele não me contasse a verdade que eu sabia
esconder. Foi então que pela primeira vez eu escutei sobre a máfia e todo o
peso que seu cargo como herdeiro trazia, pois seu pai estava morrendo de
câncer e com isso ele estava assumindo os negócios da família. O pior foi saber
que ele estava noivo!
No início, eu não acreditei quando ele me disse que era um casamento por
conveniência com a filha de um dos associados da Famiglia, porque eu não
entendia como esse mundo funcionava. Eu o mandei embora e passamos meses
distantes, até que em uma tarde de inverno, ele bateu em minha porta dizendo
que tinha rompido com Madalena, a até então noiva, para ficar comigo, e pela
primeira e única vez eu vi aquele homem implorar por algo e foi por mim, pelo
o meu amor!
Eu aceitei. Também aceitei meu destino dentro da organização. Mas meus
pais jamais aceitaram, então por amor, eu rompi com qualquer pessoa do meu
passado para viver um presente e ter um futuro ao lado do homem que eu
amava.
Foi um início difícil de aprendizado sobre tudo da máfia e Madalena
fazendo pressão para conseguir de volta o noivo, mas assim que nos casamos e
eu engravidei dos gêmeos, que já sabíamos não serem idênticos, ela parou de
nos importunar e se afastou. Mas arrancou uma parte de mim.
— Senhora? — Saio dos meus pensamentos quando Renzo me chama. Seu
semblante sério e tenso me faz levantar e olhar para os lados do corredor do
hospital para ver se estamos sozinhos.
— O que foi? — Pergunto apressada.
— Eu a encontrei. — Ao ouvir as três palavras, sinto cada músculo do meu
corpo se enrijecer.
Ele encontrou Madalena! Enfim, vou saber onde meu filho está e se ele
sabe de mim.
— Aguarde um momento. — Entro no quarto e percebo que Ottavio e
Allegra estão dormindo na cama e saio sem me despedir. Com um sinal, Renzo
me segue e eu peço para que me leve de volta para casa, onde podemos
conversar tranquilamente.
O caminho é feito em silêncio, porque eu ainda estou tentando assimilar
que estou perto das respostas que procuro. Quando o carro estaciona em frente
a mansão, subo as escadas e nem espero mais quando chegamos na sala de estar
e viro para Renzo, pedindo que ele me conte tudo.
— Nós localizamos a mulher. Ela não mora mais na ilha, atualmente reside
em Roma. Se aposentou e tem uma pensão para turistas. — Ela foi embora!
Provavelmente depois que o pai perdeu tudo que tinha nas mesas de jogos nos
cassinos.
— Ela se casou, ou teve filhos?
— Não, senhora. Ela viveu sozinha durante todos esses anos. Pelo que
pesquisei, só teve dois namorados, nada mais do que isso. — Fecho os olhos,
controlando minha raiva. Se o que aquela senhora no hospital disse for verdade,
Madalena me tirou meu filho e agora eu irei tirar tudo dela, mas antes ela vai
sofrer por ter cruzado meu caminho novamente.
— Prepare tudo, Renzo. Nós vamos a Roma.
— O que eu digo ao Don, senhora?
— Deixe que eu cuido disso, prepare o jato e homens para nos
acompanhar. — Ele assente e se vai, enquanto eu subo depressa e preparo uma
pequena mala com roupas para dois dias, no máximo. Vou aproveitar que
Ottavio está fora de perigo e Allegra não está em casa para ir e se tudo der
certo, eu vou voltar com respostas e a localização do meu filho.
Passa da hora do almoço quando pousamos em Roma, e sem perder tempo
seguimos até o endereço da pensão de Madalena. Quando o carro para, fico
olhando por um tempo a faixada amarela de dois andares com flores nas
janelas. Meu coração apertado e minhas mãos trêmulas são sinais do medo que
sinto. Essa mulher destruiu minha vida, e Deus sabe o que ela fez com meu
filho. Minhas pernas fraquejam e o aperto no meu peito só aumenta a cada
segundo que estou chegando perto da verdade.
Antes que eu possa sair do carro, vejo uma mulher quase da minha idade,
com cabelos castanhos curtos tingidos sair da pensão e estanco meus
movimentos. É ela... Mesmo depois de anos, eu ainda conseguiria reconhecer
Madalena. Ela está com algumas correspondências nas mãos e acena para
algumas pessoas que passam na rua. Seu sorriso alegre me embrulha o
estômago e uma fúria se apossa do meu corpo, porque ela não tem o direito de
sorrir. Não depois de ter roubado meu filho.
— Mudança de planos, Renzo. — Falo, sem tirar meu olhar da mulher
sorridente. — Quero que a pegue e leve para um dos nossos armazéns
afastados. — Meu soldado assente e sai do automóvel, me deixando sozinha.
Vejo o momento em que ele e outro soldado se aproximam, tendo o cuidado de
não serem vistos e rapidamente a cercam, que por sua vez arregala os olhos e
tenta fugir, mas Renzo injetou algo em seu pescoço que a faz desmaiar
rapidamente.
Sem chamar muita atenção, eles a colocam no porta malas do carro e
depois seguimos até o armazém.
Quando o carro para, continuo sentada no banco de trás enquanto os vejo
carregar a mulher como se ela fosse um saco de batatas para dentro do que um
dia foi uma fábrica de sapatos. Alguns minutos depois, Renzo aparece dizendo
que está tudo pronto.
Com uma falsa calma, saio do carro e entro no local ao lado do meu
soldado. A primeira coisa que eu vejo é Madalena sentada com as mãos
amarradas para trás. Um soldado está abaixado ao seu lado conferindo as
amarras das mãos, então ele levanta e dá pequenos tapinhas em seu rosto, para
que acorde. Me aproximo devagar e sento na cadeira vazia à sua frente.
Queria dizer que o medo de enfrentar meu passado me paralisou nesse
momento, mas a verdade é que sentada aqui, diante da mulher que pode ter me
causado uma das maiores dores que já senti na vida, só consigo sentir ódio e
desejo de vingança.
Ela dá sinais de que está acordando, fazendo com que o soldado se afaste.
Enquanto ela recobra a consciência, aproveito para voltar a usar minha máscara
de frieza que aprendi a ter durante anos.
— Olá, Madalena. — Falo quando a mulher ergue o olhar para o meu.
Sorrio friamente quando vejo seus olhos cintilarem de fúria.
— A cadela do Carlo. — Fala sarcástica. — O que foi, Elisa? Já não basta
ter roubado meu homem, quer mais o que? — Grita agressiva, tentando se
soltar.
— Eu não vou fazer rodeios, pois estou 29 anos atrasada. — Minha fala
chama sua atenção. Seus olhos semicerrados olham ao redor para meus 4
soldados e depois volta a me fitar.
— Como assim? — Aumento meu sorriso frio quando percebo que ela
quer jogar.
— Madalena, Madalena… Eu ando com minha paciência por um fio
nesses últimos meses. Não seria sábio da sua parte querer jogar comigo! —
Falo firme, sem desviar meu olhar do seu.
Sua postura se torna tensa e eu percebo o momento em que ela sabe o
motivo da minha vinda.
— Pelo o que eu vejo, aprendeu muito com Carlo. — Me levanto e fico em
pé à sua frente. Levo minha mão ao seu queixo, fazendo com que levante o
rosto para me olhar.
— Você não faz ideia do quanto, querida! Mas se quer mesmo saber, tudo
que acontecer aqui hoje será fruto dos meus pensamentos. Eu matei você de
várias maneiras em minha mente desde que descobri o que você fez.
— O que você quer, Elisa? — Grita, tentando se afastar do meu aperto.
— Eu passei 29 anos achando que enterrei meu filho. — A olho, mas sua
postura é indecifrável. Lentamente dou voltas ao seu redor. — Você não pode
imaginar o que senti quando descobri que meu filho está vivo e que você o
trocou por um bebê morto. — Volto a me sentar à sua frente e cruzo as pernas.
— Eu não sei do que você está falando. — Vira o olhar para o lado.
— Oh! Madalena, querida, eu não vim para jogar esse tipo de jogo. — Ela
volta a me olhar, sem entender minha fala. — Vamos pular a parte onde você
nega o que fez, e fala de uma vez onde está o meu filho! — Descanso minhas
mãos no colo.
— O que foi, Elisa? Depois de anos veio me procurar achando que sei algo
do seu filho? Pouco me importa o que aconteceu com ele. — Suspiro cansada e
ao mesmo tempo nervosa com a situação. Chamo Renzo e ele se aproxima e
espera minhas ordens.
— Faça ela falar! — Minha ordem faz a mulher arregalar os olhos e o resto
dos soldados nos cercam. — Ela quer brincar, Renzo! Mas eu estou sem tempo.
— Falo entediada e Madalena se debate e grita ofensas a mim.
Pela visão periférica, vejo um soldado andar para debaixo de uma escada
enferrujada para ligar um hidrante e logo em seguida começa a sair água,
enchendo um tambor
— Última oportunidade! — Arqueio a sobrancelha, mas ela permanece
calada. — Leve-a.
Renzo e mais outro levantam Madalena, esperneando tanto que seus saltos
acabam saindo dos pés durante o pedaço até o tambor.
É claro que eu sei o que eles irão fazer, mas pouco me importa. Eu quero o
paradeiro do meu filho e eu vou passar por cima de todos que se colocarem em
meu caminho.
— Puttana, Cagna... — Ela grita palavrões como se eu fosse me importar.
Em frente ao tambor com a água já transbordando, me posiciono do outro
lado, também de frente, tendo uma visão privilegiada. Renzo tem uma das
mãos segurando forte os cabelos dela.
Coloco um dedo na água e suspiro.
— Está bem gelada! Acho que você vai sair gripada. — Falo sarcástica.
— Você não era assim! — É tudo que ela diz, de olhos arregalados.
— Eu não era, mas me tornei. E você vai se arrepender do que fez. —
Aceno para Renzo e ele mergulha a cabeça da mulher na água extremamente
gelada, deixa alguns segundos e levanta.
Ela tosse e busca o ar.
— Onde está meu filho? — Pergunto séria.
— Vai se ferrar. — Renzo abaixa de novo e quando faz menção de
levantar, me vejo colocando a mão para impedir. Conto mentalmente até 10 e
tiro minha mão.
Madalena tosse e respira fundo, seus cabelos estão grudados no rosto.
— Eu estou perdendo minha paciência, Madalena! EU QUERO O MEU
FILHO! — Grito e ela começa a chorar.
Mais uma vez sua cabeça é mergulhada na água, só que por mais tempo.
Seus braços se agitam tentando tirar a mão prendendo sua cabeça na água, mas
é em vão. Quando parece estar perdendo a consciência, Renzo a ergue
novamente.
— E-eu... EU FALO, SUA PUTA! — Ela grita entre o choro e uma crise
de tosse.
Meu coração acelera enquanto me afasto e sento na cadeira colocada ao
meu lado. Puxando seus cabelos, Renzo a faz se ajoelhar a minha frente.
— Pouco tempo depois que vocês anunciaram sua gravidez, eu fui
procurada por um homem! — Ela pausa e suspira. — Ele me fez a proposta de
me vingar de Carlo por ter me deixado. Me prometeu assistência em tudo que
precisasse para roubar os bebês.
— Quem era esse homem? — Pergunto, sem controlar a tensão que se
espalha pelo meu corpo.
— Na época eu não o conhecia, nem sabia quem era. Estava cega,
buscando uma forma de fazer vocês dois pagarem pelo o que me fizeram. —
Sua fala me deixa fervendo de ódio. Ela não tinha o direito, não tinha!
— ONDE ESTÁ MEU FILHO!? — Grito e no meu descontrole, lhe acerto
um tapa na cara, fazendo-a cair para o lado. Quando levanta a cabeça, seus
olhos em fúria me encaram.
— O plano era pegar os dois herdeiros. — Fala sarcástica. — Mas eu só
consegui o corpo de um bebê morto. — Ouvir isso faz meu coração se quebrar
em pedaços. Como se ainda fosse possível.
Ela se levanta e fica sentada sobre as pernas, na minha frente.
— Com sua pressão alta e todos preocupados com isso, foi fácil entrar no
berçário e trocar os bebês. — Meus olhos nublam de lágrimas ao mesmo tempo
em que me levanto bruscamente e parto para cima dela, que cai de costas no
chão com suas mãos ainda amarradas, dificultando que ela possa se defender
dos meus tapas.
— VOCÊ PEGOU O MEU FILHO! ONDE ELE ESTÁ? EU QUERO
MEU FILHOOOO! — Sacudo ela.
Vendo meu descontrole, Renzo me tira de cima da mulher, que geme de
dor quando um dos soldados a ajoelha de novo.
— Continue. — Renzo ruge para ela, enquanto me sento na cadeira
arfante.
— Eu o entreguei para o homem e depois de meses, por curiosidade, entrei
em contato para saber o fim da criança e acabei descobrindo que ele tinha sido
mandado para os Estados Unidos.
— Quem era o homem? — Faço a pergunta novamente.
— Cesare Galaretto. Mas você o conheceu como Cesare Johnson. — Arfo,
levando minhas mãos à boca, em choque.
Cesare Johnson foi um amigo durante a minha infância em Chicago.
Nossas famílias eram amigas e dias antes de eu viajar para Florença, ele se
declarou e me pediu em casamento. Eu recusei o pedido, dizendo que não
sentia nada por ele e que ia estudar na Itália.
Ele ficou transtornado e saiu da minha casa jurando que eu ia me
arrepender.
— Senhora! — Olho para Renzo e vejo-o tenso. — Cesare Galaretto é o
capo da Outfit. — Arfo com a descoberta.
— Vo-você entregou meu filho para a máfia rival? — Ameaço ir para cima
dela novamente, mas meu soldado me segura.
— Eu só soube depois, mas confesso que gostei. Se quer saber, Elisa, eu
sei o que foi feito com seu filho durante todos esses anos em Chicago.
— O que fizeram com ele? — As lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Ele se tornou um homem frio e implacável. A pessoa que faz os
serviços sujos do Cesare. Elisa, você precisa vê-lo, ele se parece tanto com
Carlo! Eu o vi uma única vez e fiquei em choque com a semelhança.
O homem!
O homem que eu vi aquele dia na loja é meu filho! Eu tenho certeza disso.
— Seu filho se tornou o executor da Outfit! — Minhas pernas perdem
força e sou amparada por Renzo, que me coloca sentada. — Mas não se
preocupe, Cesare teve o cuidado de colocar o nome que você tinha escolhido
para ele. Estava na pulseira de identificação do hospital.
Otto Ruggero
Sinto minha visão embaçar, mas volto a realidade com o barulho das
gargalhadas de Madalena. Por reflexo, pego a arma do coldre de Renzo e eu
atiro na cabeça da vagabunda. Seu corpo pende para trás sem vida, deixando
todos os soldados ao redor de olhos arregalados.
— Tirem esse lixo daqui e me consigam o contato do capo da Outfit.
— Senhora, não seria melhor avisar o Don de uma vez? — Um soldado me
pergunta e eu o olho.
— Primeiro o contato, soldado. Depois vamos voltar e falar com meu
filho.
Assentindo, ele se afasta. Renzo estão ao meu lado, me olhando.
— As coisas estão fugindo do controle, senhora!
— Eu sei, mas eu não vou parar.
Algumas horas depois, saio do galpão e contemplo o céu estrelado de
Roma. Eu pensei que saber a verdade me traria algum alento, mas me deixou
em pedaços! Meu pequeno Otto se tornou o executor da nossa máfia inimiga.
Me pergunto como foi sua infância, quem o criou, ou até mesmo em quais
condições.
Fecho os olhos com força quando uma dor de cabeça ameaça começar.
— Senhora Ruggero. — Viro para trás e fito o celular que Renzo me
estende. — Só colocar para chamar. — Pego o aparelho incerta, mas coloco
para chamar enquanto o soldado se afasta.
— Soube que quer falar comigo. — A voz sarcástica do outro lado da
linha faz meu estômago embrulhar.
— Como eu nunca soube de você? — É a primeira coisa que me vejo
perguntar.
— Minha família era muito reservada, mas seus pais sabiam que era a
gente que comandava Chicago. — Escuto-o suspirar do outro lado da linha. —
Quando eu descobri que você não ia voltar porque estava casada com o
maldito do Ruggero, eu jurei me vingar de você. Foi fácil matar seus pais, e
mais fácil ainda pegar seu filho para criar. — As lágrimas rolam sem parar ao
escutar suas palavras cruéis.
— Você não podia ter feito isso! Eu não tive culpa e meu filho muito
menos. Eu me apaixonei, seu doente.
— E tudo tem uma consequência. Mas não se preocupe. Eu criei Otto
muito bem. Ele se tornou um ótimo cão de caça.
— Seu maldito! Meus filhos irão atrás de você. Eu irei atrás de você,
Cesare e então vai pagar por isso. Eu juro. — Sua risada faz meu sangue ferver.
— O que tinha que ser feito, foi feito! Otto matou Carlo, e nesse momento,
pelas minhas contas, deve estar prestes a matar Ottavio.
Arregalo os olhos com sua fala.
— Maldito.
— Ah, Elisa! Cuidado para as coisas não se repetirem de novo. —
Dizendo isso, ele desliga a chamada e eu me viro correndo e gritando pelos
meus homens.
— Precisamos ir embora agora, preparem tudo. Ottavio está em perigo
novamente. — Ouvindo a gravidade da situação, todos vão em direção aos
carros e logo partimos para a pista onde está o jatinho.
Otto já matou o pai sem saber. Não posso deixar que ele caia ainda mais
em um abismo, matando o próprio irmão.
Tudo que se escuta no quarto neste momento é o choro de Elisa. Seus
soluços desesperados e sofridos me fazem olhar para ela sem reação. Eu ainda
não sabia nem como lidar com a notícia de que eu tenho um irmão, agora saber
que esse irmão é o homem que eu venho tentando matar há meses, deixa tudo
ainda mais estranho e confuso. Sinto meu coração acelerar quando olho para o
lado e percebo que Otto me encara com o semblante fechado. Contraindo a
mandíbula, eu o encaro sem reação.
Meu irmão!
Minha ferida no peito dói pelos movimentos bruscos que fiz e levo uma
mão até ela, só para constatar que estou sangrando. Tenso, sinto os braços
pequenos rodearem minha cintura e logo reconheço o toque de Allegra.
— Ottavio, filho, você está sangrando. — Escuto Elisa falar e fungar, mas
não consigo desviar os olhos do homem ao meu lado. Assim como ele também
não consegue.
Estamos nos medindo. Provavelmente ele deve estar analisando nossa
semelhança quase inexistente. Como podemos ser gêmeos, se nem somos
parecidos?
— Ottavio! — Allegra coloca a mão no meu rosto e me vira para que eu a
olhe. — Você precisa deitar, por favor. — Seus olhos estão focados em mim
enquanto fala firme. Eu a olho, mas não consigo formar uma frase sequer para
dizer. É como se o mundo que eu conhecesse estivesse desmoronando em cima
de uma teia de mentiras e segredos que não são meus, mas que serei eu a pagar
por eles.
— Isso não é possível. — Pela primeira vez, Otto fala, fazendo todos o
olhar. Ele vê Elisa dando passos até ficar a sua frente e assim como comigo, seu
olhar para ele é terno e carregado de carinho. — Não é possível, você está
louca! — Ele repete, sem levantar a voz. Elisa, por sua vez, leva a mão ao seu
rosto, fazendo-o dar um passo para trás para repelir o toque.
— Elisa! — Chamo tenso, mas ela finge não me ouvir.
— Você é meu filho! Você nasceu de mim, Otto. Oh, meu Deus! Como eu
chorei por sua morte todos os dias, meu filho. — Fala, voltando a chorar e
estende a mão para o rosto do homem, mas dessa vez ele não foge do toque. —
Meu Otto! Meu caçula! Seu nome significa prosperidade, sabia disso? —
Pergunta emocionada. — Quando descobrimos sobre vocês dois, soubemos
naquele instante que nossa vida seria próspera. Você nasceu um minuto e
quarenta e sete segundos depois do Ottavio. — Me olha e sorri entre lágrimas.
— Não vá por este caminho! — Repreendendo e ela volta sua atenção para
o homem à sua frente.
— Nós não somos nem parecidos. — A voz dura de Otto a faz sorrir e
enxugar algumas de suas lágrimas.
— Vocês são gêmeos bivitelinos! — Responde rápido. — Mas se quer
saber, você se parece com seu pai! — Olho para Otto, me surpreendendo com
as palavras de Elisa. Sim, ele lembra meu pai.
Os olhos azuis e o cabelo são idênticos! Como eu não percebi isso bem
debaixo do meu nariz?
Ouvir tudo que ela disse, de como o bebê foi roubado e quem fez, termina
de montar o quebra cabeça do porquê Cesare busca vingança.
— Onde está a enfermeira, Elisa? — Pergunto, ganhando um olhar gelado
dela. Sua raiva ao se lembrar da mulher é nítida.
— Eu a matei. — E mais uma vez sou pego de surpresa. Aperto meu olhar
em sua direção e ela me encara de voltar sem piscar.
— Dio santo! — Allegra murmura tensa, ainda com os braços ao redor da
minha cintura, deitando a cabeça no meu peito.
— Por que a matou? — Otto pergunta, aparentemente com raiva.
Nem posso julgá-lo, já que tínhamos o direito de buscar mais respostas,
mas com a vagabunda morta só me resta ir atrás de Cesare.
— Ela tirou você de mim. E se querem saber, não me arrependo! —
Responde firme.
— O que... — Luigi aparece na porta do quarto e quando olha para Otto,
saca a arma e aponta para ele.
Elisa grita e se coloca na frente de Otto, fazendo Luigi me olhar tenso.
— Mas que merda. — Rujo e prendo meu olhar em Elisa. — Saia da
frente, Elisa! — Ordeno e ela nega com a cabeça enquanto prende às costas no
peito do homem atrás de si.
— Você não pode fazer isso, Ottavio. Eu não vou aguentar viver sem meu
filho. — Levanto meu olhar para Otto enquanto ele escuta tudo calado. Quando
seu olhar se encontra com o meu, enxergo a confusão de sentimentos que o
momento nos trouxe.
— Elisa. — Luigi fala, rangendo os dentes, ainda com a arma apontada.
Ela me olha, pedindo por favor entre lágrimas. Quando Otto se mexe,
levantando as mãos e colocando nos braços de Elisa para afastá-la da mira da
arma, Luigi dá um passo à frente.
— Não, Luigi. — Elisa grita. Ainda com os olhos em Otto.
Eu o estudo de cima a baixo.
— Ottavio. — Luigi me chama entre dentes, sem saber o que fazer.
— Deixe-o passar. — Luigi me olha confuso, com o semblante sério e eu
só confirmo com a cabeça. — Agora! — Ouvindo minha ordem, ele se afasta e
abaixa a arma.
Quando Otto se afasta de Elisa, ela o segura pelo braço desesperada.
— Por favor, não vai. Por favor! — Pede chorando. O homem contrai a
mandíbula, dá um passo para trás e sai pela porta, mas não sem antes olhar uma
última vez.
— Mas que porra é essa? — Luigi pergunta tenso, guardando a arma.
— Ottavio, chega! Você precisa deitar agora! — Allegra me empurra para
a cama e eu deito, suspirando.
Olho para Elisa que está chorando e ela se aproxima de mim e segura meu
rosto entre as mãos.
— Eu passei 29 anos achando que ele estava morto. Por Deus, ele é seu
irmão, Ottavio! Não o afaste, eu preciso do meu filho comigo. — Pede entre
soluços.
Tiro suas mãos do meu rosto, a olhando nos olhos. Viro a palma de suas
mãos e beijo cada uma, ainda a olhando.
— Você só esqueceu de um detalhe, mama. Ele matou o próprio pai! —
Minha fala faz Luigi praguejar ao lado de Elisa.
— Ele não sabia, figlio! Ele não pode ser condenado por um ato assim. Se
quer culpar alguém, culpe Cesare, que armou tudo isso! Traga a cabeça daquele
homem para mim, Ottavio.
— Cazzo! O executor é o seu irmão? — Luigi está de olhos arregalados.
— Ao que parece, sim! Solte um alerta para nossos capos, Luigi. Estamos
em guerra com a Outfit a partir deste momento.
— E Otto? — Elisa pergunta.
— Eu ainda o quero morto, nada mudou. — Ouvindo isso, ela se afasta de
mim e sai do quarto quase que correndo. Faço um sinal para Luigi ir atrás dela.
Sozinho com Allegra, me deito na cama enquanto ela chama uma
enfermeira para olhar meu curativo. Nenhum dos dois fala nada. Cada um
perdido nos próprios pensamentos depois de todos esses acontecimentos.
A única certeza que tenho, é que agora mais do que nunca vou atrás de
Cesare e farei com que pague todo mal que fez a minha família.
A enfermeira chega e parece notar a tensão no ambiente, pois assim que
limpa meu ferimento, ela sai rapidamente, me deixando com Allegra, que está
sentada na poltrona ao lado da cama. Ela tem o olhar perdido e passa devagar a
mão em sua barriga.
— Você está bem? — Pergunto, fazendo com que vire a cabeça para me
olhar.
— E você, está? — Devolve a pergunta.
— Eu não imaginava isso. Eu sabia que eu jamais ia abraçar meu irmão
quando o encontrasse e que provavelmente não seríamos melhores amigos, mas
saber que ele é o homem que tentou me matar e vice-versa, é demais. Essa
porra é mais fodida do que eu poderia imaginar.
— Sua mãe está sofrendo! — É tudo o que diz enquanto me olha com suas
esmeraldas brilhantes.
Olho para frente, me aconchegando na cama e suspiro.
— Todo mundo perde alguma coisa no caminho.
— Você tem noção disso? Ela achou que ele estava morto e depois de
descobrir que foi enganada, descobre que o filho foi criado pelo seu inimigo. —
A tensão das palavras de Allegra me faz avaliar a gravidade da situação.
Ainda mais pelo fato de que Otto matou Carlo. Claro que eu sei e não
posso passar por cima do fato de que ele não sabia, mas ainda assim matou.
— Você não sabe o que fazer, não é? — Escuto a pergunta de Allegra, que
se levanta e fica de pé ao meu lado.
Passo a mão em sua barriga, em silêncio, olhando para o ventre que
carrega meu legado.
— Não, eu não sei! — Admito quando sinto um dos meninos chutarem.
— Dê tempo a eles. — Arqueio a sobrancelha para seu pedido.
— Que eu me lembre bem, você era uma das que queria o executor morto.
— Ela faz uma careta.
— Eu achava que ele tivesse matado Cosima, mas nós sabemos que não
foi! Além disso, ele é seu irmão, Ottavio. Imagina as condições em que
cresceu? O mais prejudicado nessa história é ele.
— Já está o defendendo, mia dea? — Ela sorri e se abaixa, me dando um
beijo nos lábios.
— Só estou sendo a razão, quando sua emoção está falando mais alto.

Dois dias depois e já em casa, ainda estou remoendo tudo o que aconteceu
e tentando entender como as coisas chegaram a este ponto.
Elisa está trancada no quarto, desesperada pelo sumiço de Otto. Allegra
recebeu a visita da médica e ela nos disse que a qualquer momento os gêmeos
podem nascer, então mesmo contra a sua vontade, está de repouso.
— Ainda bem que está aqui, não queria topar com Allegra. — Franco entra
no meu escritório e fecha a porta. Sentado na minha cadeira atrás da mesa,
arqueio a sobrancelha enquanto ele faz uma careta, se sentando na minha
frente. — Ela está com um humor, que sem ofensas...
— Sim, ela está terrível desde que a coloquei de cama. — Sorrio ao
lembrar a cara de desgosto que ela fez quando eu ordenei que ela não saísse do
quarto.
— Como anda o ferimento? — Aponta para meu peito.
— Melhor. Quase pronto para outra!
— Então podemos falar sobre Pasquale! Ele está na Trentotto, a pão e água
desde que o pegamos.
— E o que fizeram com Stella? — Pergunto, vendo-o suspirar.
— Ela sabia de tudo e compactuou. Luigi a mandou para um dos nossos
puteiros na Catânia.
— Tem certeza de que ele não teve ajuda de outros capos? — Minha morte
seria algo benéfico para muitos.
— Sim. Mas de qualquer jeito, ele ainda está lá à sua espera. — Confirmo
com a cabeça e pego o charuto aceso no cinzeiro em cima da mesa.
Fico em silêncio por alguns minutos, torcendo para que o tabaco faça sua
parte ao tirar um pouco da minha tensão. Sinto o olhar de Franco em cima de
mim enquanto relaxo.
— Como tem lidado com tudo isso? — Quando contei a ele e Luigi toda a
história por trás do sumiço do meu irmão, o choque foi unânime, além da
indignação.
Cesare articulou por anos sua vingança contra meus pais. Criar Otto e fazer
dele um executor, para então mandar em uma missão para matar o Don, homem
esse que era seu próprio pai, foi algo friamente calculado. O figlio di puttana,
soube conduzir tudo perfeitamente, só se esqueceu do instinto materno de Elisa,
que falou mais alto quando viu Otto pela primeira vez.
Saber que ele esteve tão perto dela e de Allegra, me deixou mais tenso. Ele
poderia tê-las sequestrado e usado disso para me matar, e eu não teria pensado
duas vezes antes de me colocar em seus lugares.
— Eu ainda quero matá-lo! — Dou um trago e depois de soltar a fumaça
para cima, continuo falando. — Apesar de saber que o culpado de tudo é
Cesare.
— Isso é compreensível. — Somos interrompidos quando Annamaria bate
na porta, dizendo estar pronta para ir embora. Me despeço dos dois e sigo para
o quarto, sabendo que encontrarei minha esposa uma fera.
Meu corpo anda cobrando o preço de tanta agitação e tudo que eu quero é
uma boa noite de sono. Entro no quarto e admiro mia dea em pé ao lado da
cama!
A visão de Allegra grávida é algo que me agrada muito. Ela sempre foi
linda, mas saber que carrega meus filhos – meus futuros herdeiros – me deixa
completamente insano. Não deveria pensar em sexo com ela podendo dar à luz
a qualquer momento, mas ela não facilita para mim quando deita de lado, com
a bunda virada para mim, mostrando a calcinha vermelha minúscula quase
sumindo dentro de sua bunda redonda. Meu pau sacode dentro da calça.
Me aproximo da cama e deixo um beijo em seu pescoço, notando seu
corpo estremecer levemente e arrepiar. Um gemido baixo saiu de sua boca e ela
empina ainda mais a bunda em minha direção. Eu deslizo uma mão pela sua
coluna, sentindo o tecido fino da sua camisola até alcançar sua calcinha já
molhada de excitação. Minha mulher está com os hormônios em ebulição,
então o mínimo toque já a deixa completamente encharcada e eu não consigo
simplesmente ignorar, por isso levo minha mão até sua boceta, a apertando e
esfregando seu clitóris com o dedo.
― Ottavio... ― Geme, rebolando em minha mão.
― Sim, mia dea? ― Murmuro, já subindo na cama. Ela sorri e se levanta,
ajoelha e fica de costas para mim. Para ter mais firmeza, ela se inclina ainda
mais para frente e apoia ambas as mãos na cabeceira da cama, ficando
praticamente de quatro.
Mordo sua nuca e outro gemido vem do fundo de sua garganta. Allegra
remexe a bunda até ter meu pau encaixado nela e mesmo com minha calça,
consigo sentir o quanto está molhada. Desço distribuindo beijos em sua coluna,
até alcançar sua calcinha. Nem mesmo a tiro, só puxo para o lado antes de
abocanhar com facilidade sua boceta, já que ela está completamente empinada
para mim.
Passo minha língua de baixo para cima, sentindo seu sabor em minha
língua e sou eu quem geme dessa vez, completamente insano, com a porra do
meu pau latejando, quase implorando para invadir seu corpo.
― Por favor. ― Ela rebola em minha boca.
Ajoelho na cama, rasgo sua calcinha e ouço sua respiração falhar, mas nem
dou tempo para outra reação dela, pois tomo sua boceta em minha boca
novamente, chupando, lambendo e mordendo, tirando tudo dela.
Completamente perdido no quanto é delicioso senti-la assim.
Passo meus dentes levemente em seu clitóris e coloco um dedo em seu
canal, sentindo ela o esmagar com suas paredes encharcadas. Fazendo
movimentos de vai e vem, tiro meu dedo e levo seus fluídos até seu ânus. Sinto
ela contrair levemente, mas massageio o local e continuo trabalhando com
minha língua até senti-la relaxar novamente. Introduzo com calma meu dedo e
mais uma vez a sinto contrair.
― Relaxe, mia dea. ― Murmuro contra seu clitóris e ela continua
gemendo, então mais uma vez relaxa.
Volto com os movimentos de vai e vem e logo tenho minha mulher
gritando completamente em êxtase e gozando em minha boca. Tomo tudo dela,
lambendo e me lambuzando de seu gozo.
Me levanto da cama para tirar a calça e a visão que tenho dela ainda de
quatro, relaxada e sua boceta e cuzinho brilhando com seu gozo me faz gemer
alto. Isso parece acender ainda mais sua fome, porque ela leva sua mão por
baixo do seu corpo e se toca. Acelero em tirar minha roupa e logo estou em
cima dela mais uma vez.
― Esse trabalho é meu, Allegra. Tire a porra da mão daí. ― Geme em
protesto, mas tira a mão.
Segurando meu pau, esfrego-o de cima a baixo na sua boceta, molhando a
cabeça com seu gozo. A sensação me faz jogar a cabeça para trás e gemer.
Antes que eu consiga pensar, Allegra se empurra contra mim, fazendo meu
pau a invadir com tudo. Ela grita com a invasão e joga a cabeça para trás.
― Dio... ― arfo. ― Allegra, porra!
― Me foda, marido.
Eu odeio negar qualquer pedido à minha mulher, ainda mais um pedido
assim, por isso a como sem dó.
O barulho da minha pélvis batendo em sua bunda enche o quarto, o cheiro
de sexo e suor já se faz presente e isso parece que só a deixa ainda mais insana,
porque a cada arremetida que dou dentro dela, ela vem contra mim.
Suas paredes internas me esganam como se quisessem sugar minha porra
para fora de mim de qualquer jeito. Minhas mãos em sua cintura tentam
acalmar o movimento dela, mas ela parece querer mais bruto a cada minuto.
Levo uma das minhas mãos para o seu clitóris novamente e manuseio o
brotinho duro e latejante. Os gritos de Allegra aumentam e isso só me faz ir
ainda mais forte contra seu corpo. Quando sinto que ela está chegando ao
limite, saio de dentro dela, ouvindo seu protesto.
Deito de lado na cama e trago seu corpo para frente do meu, encaixando-a
em mim. Allegra ergue uma de suas pernas, me dando fácil acesso. Seguro meu
pau, escorregando-o da sua boceta encharcada até seu ânus. Seus gemidos são
altos e ela não para de rebolar, praticamente me implorando por uma invasão.
Volto minha mão ao seu clitóris, manipulando o brotinho latejante até que ela
esteja relaxada o suficiente. Forço meu pau em seu cu aos poucos, sentindo-a
contrair a cada vez que me sente invadindo mais.
Quando estou completamente dentro dela, gememos em uníssono. Meu
pau está sendo estrangulado pelo canal apertado.
― Porra, Allegra. Apertada pra caralho!
Ela geme alto e murmura palavras ilegíveis. Fico parado por um tempo
tentando me controlar e deixando-a se acostumar, mas logo minha mulher volta
a rebolar, pedindo mais.
― Por favor, Ottavio... ― Pede ofegante.
Começo os movimentos devagar, mas logo estou metendo com força,
sentindo o aperto me levar ao limite. Seus gritos, seu suor escorrendo pelas
costas, seu aperto em meu pau... Tudo me deixa pronto para esvaziar toda a
minha porra dentro dela.
Com a mão livre, seguro seu cabelo com força, deixando seu rosto
próximo do meu.
― Você deveria estar descansando, mia dea. ― Falo em seu ouvido e ela
geme, rebolando com mais veemência em meu pau.
― Eu vou gozar. ― Avisa.
Bato mais fundo dentro de seu cu e ela grita quando goza, se contorcendo e
molhando meu dedo na sua boceta. Logo a sigo, gozando dentro dela e
gemendo contra seu pescoço.
Levamos um tempo até nos acalmar. Saio de dentro dela com calma, e
antes que eu saia da cama para nos limpar, ela se aconchega em mim com o
semblante sereno, não lembrando em nada a mulher que estava pegando fogo
na cama comigo até agora.
― Agora sim posso descansar, marido. ― Diz sorridente e deixa um beijo
em meu peito.
Me pego sorrindo por esse momento terno. Allegra é uma caixinha de
surpresas! A menina que um dia me casei ficou para trás, dando espaço para
uma mulher que não excita só o meu corpo, mas também uma alma que achei
que não tinha mais.
O ambiente familiar é algo que me agrada. Estar no subsolo da Trentotto é
como estar em casa! O cheiro de mijo, mofo e sangue misturados tem o poder
de soltar minha verdadeira natureza, aquilo que eu nasci para fazer e me traz
prazer.
Em passos calculadamente lentos e com as mãos nos bolsos, sigo até a
última cela, das cinco existentes. A luz fraca vinda da única lâmpada disponível
ainda não dá a visão do meu prisioneiro, mas eu posso sentir seu medo daqui.
Enquanto me aproximo, eu começo a assobiar e quando paro em frente a
cela, olho Pasquale, ainda assobiando. Ele está sentado no canto, em cima de
um colchão velho, suas pernas estão esticadas e seus braços cruzados, vestindo
somente uma calça. Ele me olha de olhos arregalados e quando engole em seco,
sorrio de lado.
— Pasquale, Pasquale... Eu realmente pensei que você não fosse tolo o
bastante para um dia me trair. — Falo baixo, mas minha voz é letal. — Não
satisfeito em me roubar, ainda tramou minha morte! Duplamente tolo.
— Me mate de uma vez, Ottavio. — Suspira.
— E perder a oportunidade de passar meu recado a todos? Não, meu caro.
Você servirá como exemplo!
Deixo o homem na cela e volto para o andar de cima, encontrando meus
soldados.
— Tudo pronto, Don! — Aceno para Piero.
A traição de Pasquale me acendeu um alerta. Se esse idiota pensou que
poderia me trair e fez o que fez, outros podem pensar o mesmo, então hoje
tenho uma surpresa para eles. Por esse motivo, eu convoquei uma reunião com
meus capos e ordenei que todos estivessem presentes para que pudessem ver o
que acontece com quem decide trair o Don e a organização que um dia juraram
ser fiéis.
Entro no meu carro e eu mesmo dirijo até meu novo cassino que está sendo
reformado. Escolhi esse local porque além de acomodar todos perfeitamente
bem para o que vai acontecer, terei controle das saídas para qualquer tipo de
contratempo que possa vir a acontecer.
Estaciono minha Ferrari preta na frente do local e saio, cumprimentando
Franco e Luigi já à minha espera na entrada.
— Um bom dia para matar ratos! — Luigi diz e dá um sorriso largo, me
fazendo apertar meus olhos para ele.
— Se comporte. Lembre-se que preciso saber se Pasquale estava com mais
homens ao seu lado, além do que já sabemos. Quanto antes terminar, mais cedo
volto para a casa.
— Fico impressionado em como Allegra conseguiu te domar. O Don
temido, o homem conhecido como o empalador, com medo da sua mulher de
um metro e meio de altura.
— Você deveria tomar cuidado! — Falo e dou um sorriso para ele, que
agora me fita desconfiado.
— É! Quando você casar, vai entender que certas coisas não tem discussão.
— Franco se pronuncia, fazendo uma careta com sua própria fala.
— O inferno vai congelar antes que eu me case. E se eu chegar a me casar,
espero que minha senhora, esteja ciente de que talvez eu não me mantenha fiel.
— Vou me lembrar disso! — Franco diz sarcástico e entra.
Assim que entro no grande salão, observo o lugar que futuramente terá
mesas de blackjack, poker e roleta, mas que hoje abriga cadeiras ocupadas
pelos meus capos. Todos, sem exceções, se encontram aqui. Ando pelo
corredor que se formou entre as cadeiras, tendo a atenção de todos em mim.
Encaro alguns com o olhar frio e gosto do que vejo de volta em seus olhos.
Um Don sem o respeito dos seus subordinados, é um homem em ruínas.
Eu gosto de ser temido por meus inimigos e respeitado pelos meus homens,
pelo simples fato de que o respeito faz com que te vejam e se espelham em
você. Automaticamente, faz com que queiram estar ao seu lado, assim não
cometem idiotices. Já o temer, bom… esse na maioria das vezes faz com que
mesmo temendo, se sinta corajoso o bastante para cometer algum tipo de
traição, como Pasquale.
O imbecil mal conseguia me olhar nos olhos de tanto temor, mas mesmo
assim se achou inteligente o bastante para me trair e agora servirá de exemplo
para os gatos pingados entre nós que também se acham espertos.
Me posiciono na frente dos capos sentados e ainda de pé, dou uma olhada
ao redor.
— Muitos já sabem o motivo de estarem aqui hoje. Pasquale se achou
inteligente o bastante para me roubar e planejar minha morte. — Olho
friamente para todos. — O que vai acontecer aqui hoje, é um aviso do que vou
fazer com quem tentar novamente tal ato contra a Famiglia. Lembrem-se,
senhores, sou eu que represento a Cosa Nostra, um ato contra mim é um ato
contra as leis que um dia vocês juraram seguir. Vocês foram forjados para
serem homens de honra e não ratos traidores.
Faço um sinal para Franco, ele assente e abre uma porta ao fundo, onde um
dia será a cozinha. Todos olham para trás e logo Pasquale passa pela porta sem
roupas. Enquanto caminha até mim de cabeça baixa e algemado, aproveito para
olhar alguns homens. Noto a tensão evidente de alguns e faço uma anotação
mental de ir mais afundo na vida destes.
Franco coloca Pasquale sentado na cadeira atrás de uma mesa de blackjack
ao meu lado e todos têm a atenção em mim.
Ângelo me olha com um sorriso zombeteiro de lado, assim como Lucchese
ao seu lado. Os outros capos nem parecem respirar.
— Eu já disse e volto a repetir: a arrogância torna um homem cego.
Pasquale não foi a mente por trás do atentado contra a minha vida. — Minha
afirmação faz todos se entreolharem confusos. — Pasquale é um arrogante e
com isso não percebeu que estava sendo manipulado. Olhem ao redor! Eu
mandei que todos os meus capos viessem, mas está faltando um em especial:
aquele que influenciou Pasquale!
O burburinho começa, enquanto eles olham para os lados procurando o
culpado. Eu olho para Pasquale e o pego me olhando.
— Vocês acharam mesmo que eu não iria descobrir? — Pergunto. — Foi
só eu dizer que tiraria aquela puta que você chamava de esposa do bordel
imundo que ela está, para ela começar a falar coisas interessantes. — Assim
que soube o que tinham feito com Stella, pedi para Luigi ir a sua procura e
tentasse descobrir informações sobre Pasquale e possíveis aliados no atentado.
Não me surpreendeu quando Luigi voltou dando um nome e contando tudo
que estava acontecendo com Stella, que era a boceta sensação dos soldados
naquele lugar de quinta.
Quando percebo que o local ficou totalmente em silêncio, olho para frente
e vejo Luigi trazendo Antônio Barese.
— Meu outro convidado chegou, enfim. — Falo sarcástico.
Luigi coloca Barese sentado no meu outro lado, me deixando entre os dois
ratos.
— Uma nova era começou para todos nós. Estamos em uma guerra
declarada contra a Outfit e eu não vou tolerar fracos e traidores. — Minha voz
afiada como navalha direcionada a todos no local faz o ambiente se tornar
tenso. — Pasquale e Barese vão morrer, mas podem não ser os únicos hoje!
Franco se aproxima e empurra Pasquale para frente, o tombando na mesa
de blackjack.
— Quietinho aí, velho. — Ele repreende o imbecil quando ameaçou se
levantar.
Com as mãos amarradas para trás, cabeça e tórax apoiados na mesa e em
pé, me aproximo por trás e escuto os suspiros quando pego minha Magno .50,
pois todos os presentes já sabem o que vai acontecer.
— Você deveria ter continuado quieto, Pasquale. De todas, sua maior
estupidez foi tentar me matar e achar que se safaria.
Passo o cano da arma em suas costas e ele grita, implorando para eu não
fazer isso. Olho para Barese a frente e lhe presenteio com meu sorriso sádico.
— Diga, Barese, como foi comer a puta da Stella e depois planejar minha
morte com o marido dela? — O homem me olha de olhos arregalados e quando
abre a boca para falar, levanto a mão, o calando. — Quer saber de uma coisa?
Eu não me importo, não me interessa. Você tramou minha morte, porque desde
que assumi, vem mandando as localizações dos nossos carregamentos para a
Outfit. Você queria mais do que nós tínhamos a oferecer e achou que jogando
nos dois lados, teria o que queria. Você pode até ser um homem milionário
hoje, mas não viverá para desfrutar de um só centavo!
Coloco minha mão na cabeça de Pasquale, prensando na mesa e abaixo
para falar em seu ouvido.
— Não se preocupe com Stella, caro amigo, ela está sendo bem fodida
pelos nossos soldados.
— Ottavio, não faz isso, por Dio... Me perdoa, eu não sabia do que Barese
vinha fazendo com a Outfit. — E aí está! Ratos acuados sempre se desesperam
quando sabem que chegaram no fim.
— Assim fico desapontado, Pasquale. Querendo estragar minha diversão?
— Me levanto quando Luigi e Franco se aproximam e seguram o homem
curvado na mesa. Piero está com uma arma apontada para a cabeça de Barese,
que tem os olhos arregalados e está imóvel.
Dou uma outra olhada para os homens sentados, calados e atentos a tudo
que está acontecendo. Com minha Magno em mãos, a posiciono no cu de
Pasquale, que tenta se mover, mas está sendo muito bem segurado.
— Prefere com lubrificante? — Pergunto sarcástico, o fazendo gritar.
Sem mais, enfio de uma vez só o cano longo da arma pelo seu orifício. O
grito estridente dele me faz sorrir e encarar meus capos. Ângelo tem uma careta
no rosto, enquanto os outros olham para os lados tentando não focar na cena de
Pasquale com uma arma no cu.
— Infelizmente estou sem tempo para brincar com vocês! Mas quero
deixar claro que isso não é nada comparado ao que vou fazer se um de vocês
ousarem me trair. — Falo, olhando os homens calados na minha frente.
Barese se remexe na cadeira, ganhando minha atenção.
— Eu não acabei com você, Barese. Mas preciso que me diga uma coisa
antes de morrer. — Engolindo em seco, ele assente.
— Há quanto tempo você está nos traindo? — Pergunto, girando a arma e
fazendo com que Pasquale grite mais ainda.
— Desde que você assumiu. — Assim que ele termina de falar, eu
engatilho a arma e disparo.
Os praguejos são altos. A bala perfurou o corpo de Pasquale e terminou
sua jornada bem no peito de Barese. Largo a arma e ando até a frente do
cadáver de Pasquale, olhando o buraco que se formou no que um dia foi o nariz
do infeliz. Seus olhos ainda abertos, rodeados de veias vermelhas é uma bela
visão.
Foco em meus capos e continuo falando friamente.
— Aviso dado. Agora cada um irá fazer o juramento novamente na minha
frente. E que todos saibam que eu sempre estou no controle do meu território e
que sei o que acontece na casa de todos vocês. Desde as amantes escondidas,
até mesmo dos filhos bastardos. Eu sei de tudo!
O primeiro a se colocar em minha frente com uma imagem de santa na
mão, é Piero. Me olhando nos olhos, ele fura seu dedo e eu pego minha faca,
fazendo o mesmo, e nos encarando, juntos deixamos nosso sangue pingar na
imagem. Ele ateia fogo e não desvia nem por um minuto o olhar do meu.
— Que minha carne queime como este santo se eu falhar em manter meu
juramento. — Ele profere o juramento enquanto a imagem queima na palma de
sua mão.
Seguindo seu exemplo, Franco, Luigi, Ângelo, Lucchese e alguns outros
capos e soldados presentes fazem o mesmo. Um a um, eles vêm e fazem seus
juramentos diante de mim. Os maiores impérios não são feitos de cimento ou
dinheiro, mas sim de respeito! E nesse momento, em cada um dos meus
homens, eu o vejo e nesse momento sei que a guerra com a Outfit já está
ganha!
Com todos sentados em seus lugares, decido que é o melhor momento para
falar de Otto. Eu sei que vai levantar muitas discussões, mas preciso falar eu
mesmo para não levantar questionamentos depois. Decido ir pelo caminho mais
fácil e só deixar claro sobre eu ter um irmão, deixando os detalhes para os
íntimos, por enquanto.
— Com esse assunto resolvido, agora preciso falar sobre algo que
aconteceu anos atrás e é um dos motivos da guerra contra Cesare. Eu tenho um
irmão que foi roubado quando nasceu! Somos gêmeos bivitelinos e eu sou o
mais velho por questão de minutos! Anos atrás, Cesare mandou que meu irmão
fosse trocado por um bebê morto e com isso, Carlo e Elisa o declararam morto
e abafaram o caso, achando ser o melhor! Recentemente, descobrimos que ele
está vivo.
Os olhares de espanto que recebo me deixam ainda mais tenso com toda
essa situação ridícula. Não digo mais nada. Alguns até me perguntam se eu
estou a procura ou se já sei quem é, mas digo apenas que estou investigando.
Preciso pensar com calma no que farei quando todos souberem sobre Otto.
Muitos vão pedir sua cabeça, e mesmo sabendo que é o certo a se fazer, eu não
sei se darei a ordem.
Chego em casa tarde da noite e antes que possa subir para o quarto,
encontro Elisa me esperando na sala.
— Precisamos conversar. — Seu olhar cansado e corpo tenso mostra que
não tem dormindo bem.
— Só preciso verificar Allegra antes.
— Eu acabei de vê-la. Ela está dormindo, não quis comer, mas eu insisti
para tomar um copo de leite. — Aceno com a cabeça e me sento na poltrona ao
meu lado, ficando de frente para ela.
— Diga. — Tento não soar rude, mas como sei o assunto que ela vai
levantar, é quase impossível não me alterar.
— Tem notícias dele? — Ela pergunta incerta, quase em um sussurro.
— Não. — Seus olhos se enchem de lágrimas enquanto me olha.
— Ele é meu filho, assim como você! Eu o amo Ottavio, e já te disse isso.
— Desvio meu olhar do dela, focando na lareira acesa.
— Você já se esqueceu que ele matou meu pai, o seu marido?
— E você já parou para pensar em como ele deve estar destruído ao saber
que matou o próprio pai sem saber? — Suas palavras me atingem em cheio.
Apesar de ter se tornado o executor, Otto estava cumprindo ordens quando
veio para Itália matar Carlo. Ele não sabia que se tratava do próprio pai, mas eu
não posso deixar que isso influencie demais nas minhas decisões em relação a
ele. Eu não sei se ele ainda é uma ameaça e seu sumiço me deixa inquieto.
— O que você quer de mim, mama? — A olho intensamente. — Quer que
eu o receba e mande preparar uma festa de boas-vindas? Quer que eu aperte a
mão dele? As mesmas mãos que mataram o meu pai? — Minha voz fica alta
sem que eu perceba, fazendo com que Elisa se encolha no lugar.
— Eu só quero abraçar meu filho! — Grita e começa a chorar.
— Eu não sei o que fazer! — Ela se levanta e caminha até mim, e como
quando eu era criança, acaricia meus cabelos, me olhando com carinho, apesar
das lágrimas.
— Figlio mio, vocês dois são parte de mim. Eu vivi anos achando que
tinha perdido metade do meu coração e agora que sei que essa parte estava por
aí perdida, eu preciso recuperar o tempo perdido. Eu amo você filho, mas eu
também amo o seu irmão. — Dizendo isso, ela se vira e sobe as escadas, me
deixando com os sentimentos confusos e conflitantes.
Irmãos.
Um irmão criado pelo meu inimigo!
— Você deveria dar espaço para ela. — Tiro meus olhos do fogo e sigo a
voz que tem o poder de me acalmar.
— Mia dea, pensei que estivesse dormindo. — Ela sorri e se aproxima.
A primeira coisa que faço quando ela se coloca em minha frente, é beijar
sua barriga. Tentando me controlar, fecho meus olhos e colo minha testa nela,
sentindo meus filhos chutarem. Logo, as mãos de Allegra em meus cabelos
começam uma carícia.
— Acordei e resolvi vim ver se você já tinha chegado, aí acabei escutando
tudo.
— Eu não sei o que Elisa quer. — Falo frustrado.
— Oh! Você sabe, meu amor, só não quer admitir. Ele não teve culpa do
destino dele, assim como você também não. Ela só quer um tempo para tentar
conhecê-lo.
— Eu não sei se ele ainda é uma ameaça!
— Ottavio! — Ela me faz abrir os olhos para encará-la. — Ele se mostrou
bastante abalado com tudo o que aconteceu. Estamos em guerra e prestes a ter
dois bebês de uma vez, você precisa trazer seu irmão para o nosso lado. E sobre
seu pai, bom… precisam lidar com isso. O passado não pode ser mudado, então
lide com tudo isso.
Cansado, decido colocar um fim no dia de hoje e ir me deitar com minha
esposa. Assim que nos deitamos e que eu coloco minha mão em sua barriga,
meus filhos começam a se mexer, me dando uma sensação de paz.
O sino da lanchonete toca, anunciando a entrada de alguém. Foco os olhos
na porta e suspiro quando vejo Otto passar. Meu coração acelera com a visão
dele de calça jeans, blusa e jaqueta de couro e todo de preto. Passando os olhos
pelo local, ele olha para mim e o vejo contrair a mandíbula, com o semblante
fechado.
Caminhando a passos lentos até a mesa onde estou, perto do banheiro, ele
parece travar uma batalha consigo mesmo só pela forma que me olha. Assim
que ele se aproxima, me levanto nervosa e abro um sorriso largo, tentando
segurar as lágrimas de felicidade.
— Eu não acreditei quando recebi a mensagem no celular. — Falo animada
quando ele para na minha frente.
Seus olhos azuis como os de Carlo e de Ottavio me analisam brevemente.
— Ele sabe que está você aqui? — Nem precisa dizer a quem se refere,
porque eu entendo perfeitamente que é de Ottavio. Vai ser um caminho longo e
difícil fazer com que os dois pelo menos estejam no mesmo local sem brigar.
— Não, eu saí e ele não estava em casa. Venha, vamos sentar. — Nos
acomodamos nas cadeiras, então a garçonete se aproxima para anotar nossos
pedidos e quando sai, coloco minha mão em cima da dele descansando em
cima da mesa. Seus olhos fitam o contato calado. — Eu sei que deve estar
sendo muito confuso para lidar com os últimos acontecimentos, mas quero que
saiba que estarei sempre aqui por você. Eu... Desde que te vi aquele dia na rua,
eu senti que você era meu filho e corri muito atrás da verdade. — Minhas
lágrimas rolam pelo rosto e não perco seu olhar desconfiado enquanto me fita
calado.
— Eu sou filho do homem que matei? — Sua voz fria me faz arrepiar e eu
o encaro surpresa.
Eu sabia que ele iria chegar a esse questionamento, mas não imaginei que
seria rápido assim.
Abaixo a cabeça ainda mantendo a mão em cima da sua.
— Me olhe nos olhos quando estiver falando comigo. — Fala calmamente,
retirando a mão de debaixo da minha. Levo meu olhar ao seu e as lágrimas só
aumentam.
— Sim. Carlo era o seu pai, o pai de vocês dois. — Ouvindo minha
resposta, Otto fecha os olhos e contrai novamente a mandíbula, respirando
fundo. — Ele e eu na época achamos melhor poupar Ottavio de uma possível
dor por crescer sem o irmão. Então achamos melhor deixar esse assunto no
passado. Eu preciso que você acredite em mim, figlio. — Falo ofegante,
sentindo minha cabeça doer. Cada centímetro do meu corpo treme.
Percebendo meu descontrole, Otto se levanta, joga uma nota em cima da
mesa e me olha.
— Venha comigo. — Acena para a saída e eu o sigo.
Ando atrás dele até um terreno baldio, cheio de mato e mais nada.
Provavelmente, nesse momento Renzo, deve estar à minha procura, já que eu
entrei na loja de Olga dizendo que iria ficar por lá, mas sai pelas portas dos
fundos para vir ao encontro com Otto.
Ele está de costas para mim e respira pesadamente enquanto eu solto um
soluço alto.
— Eu chorei por você todos esses anos e todas as vezes em que pegava
Ottavio nos braços quando bebê, me sentia incompleta. Eu achei que tivesse
enterrado uma parte de mim naquele caixão tão pequeno. — Minha fala se
mistura a soluços agonizantes e choro.
— Tem certeza de que Cesare sabia disso antes de me mandar para esse
país de merda? — Ele pergunta, ainda de costas.
— Sim, ele próprio me confirmou. Aquele maldito me tirou você só
porque o rejeitei quando mais nova, mas eu não sabia sobre a família dele. Eu
nem era da máfia, foi Carlo quem me contou sobre esse mundo e por amor a ele
eu larguei tudo e me casei.
Ele se vira para mim e com isso crio coragem para contar todos os detalhes
do meu passado. Como conheci Carlo, sobre Madalena e Cesare e sua obsessão
em uma vingança na qual eu nem tinha conhecimento. Ele escuta tudo estático,
mas posso ver em seus olhos o quanto sente raiva por tudo isso.
— Ele planejou tudo perfeitamente! — Otto murmura quando eu termino,
seus olhos focados no nada, vazios.
— Co-como assim?
— Eu já era o melhor executor então ele me disse que para crescer mais eu
precisaria realizar uma missão com maestria. Essa era a minha missão: matar o
Don e seu único filho. Depois disso eu seria o número um, poderia fazer os
trabalhos que eu quisesse dentro da organização. — Levo minhas mãos a
cabeça, sacudindo de um lado para o outro.
— Oh, meu Deus! Como ele pôde ser tão covarde? — De olhos fechados,
sinto mãos tocarem meu braço e quando abro, Otto está cara a cara comigo.
— Eu matei seu marido sem saber quem vocês eram. — Afirma.
— Eu sei, meu amor. Eu sei. — Sem controle dos meus atos, levo minhas
duas mãos até seu rosto, sentindo necessidade de tocá-lo.
Sentir seu cheiro para poder gravar na memória, assim como sinto de longe
o cheiro de Ottavio.
— Nós vamos lidar com tudo. Eu vou lidar. Mas por favor, não se afaste de
mim. E-eu preciso de você comigo, figlio. — Dou um abraço desesperado nele.
No início ele não faz nada, mas depois, talvez vencido pelo cansaço,
retribui o abraço, me apertando em seus braços grandes. Otto é alto e grande
como o irmão. Ambos têm o poder de me tranquilizar em seus braços.
Repouso minha cabeça em seu peito, escutando seu coração bater
acelerado e a sensação de bem estar me toma.
— Eu sei que é difícil, mas por favor, você e Ottavio precisam conversar.
Vocês são irmãos, Otto, por favor. — Me afasto do seu corpo e ele me olha
fixamente.
— Eu vou me ausentar. Preciso resolver tudo com Cesare, mas quando eu
estiver de volta você saberá. — Tenta se afastar, mas eu o seguro.
— NÃOOO. Não, por favor! Não vai, meu filho! Ele vai te tirar de mim de
novo e eu não vou aguentar isso mais uma vez. Por favor!
— É preciso, Elisa! — Escutar meu nome saindo de sua boca pela primeira
vez me aquece o coração, mas antes que eu diga algo, uma tontura me faz
fraquejar e só não caio no chão porque seus braços envolveram meu corpo. —
O que você tem? — Sua fala é grave e aflita.
— Eu estou bem, deve ter sido só a pressão. — Foco em sua boca quando
diz algo, mas minha visão escurece e o rosto de desespero do meu filho é a
última coisa que vejo antes de tudo apagar.

Quando Renzo me ligou dizendo que Elisa tinha fugido da sua segurança,
eu soube com que ela foi se encontrar. Passei horas esperando-a chegar, mas
quando a noite caiu comecei a me preocupar com a possibilidade de Otto ter
feito algo a ela.
— Ainda sem notícias? — Luigi pergunta, dando tacadas na mesa de
bilhar.
— Sim.
Depois de mais alguns minutos, meu celular notifica uma mensagem com
remetente desconhecido e um endereço junto de uma frase: “ela está neste
endereço”.
Levanto rapidamente, pego meu terno e Luigi me olha tenso.
— O que aconteceu?
— Eu estou indo buscar Elisa! Fique aqui e proteja Allegra, volto em
algumas horas. — Sem dar chance para retrucar, saio às pressas, dispensando
minha escolta e sigo sozinho pelas ruas de Palermo até o endereço da
mensagem.
Fico surpreso quando vejo que o endereço se trata de uma casa um pouco
afastada do centro. A casa por fora não parece ser abandonada e sim uma de
alto padrão. Antes de descer do carro, verifico minha arma e as munições.
Faço o caminho até o portão analisando ao redor e antes de tocar a
campainha, ele se abre. Olho para cima, notando a câmera focada em mim.
Entro no local sacando minha arma e ando em alerta, a porta da casa está aberta
e as luzes acesas. Assim que entro, levanto minha arma para Otto, que está
parado alguns metros de distância, com as mãos nos bolsos e olhar mortal.
— Onde ela está? — Pergunto, sem abaixar a arma.
— Ela desmaiou. O médico que a atendeu disse que ela está com o
emocional abalado e com a saúde fraca. — Suspiro com a informação.
Os últimos dias não têm sido fáceis para ninguém, especialmente para ela.
— Onde ela está? — Pergunto mais uma vez.
— Pode abaixar a arma, Ruggero. Eu não quero derramar seu sangue, pelo
menos por enquanto! — Aperto meu olhar para ele, que me dá as costas, indo
em direção a uma porta perto da cozinha. Abaixo minha arma, mas a mantenho
em minhas mãos e o sigo a passos calculados.
Quando ele passa pela porta e se coloca perto da janela, ao lado da cama,
tenciono meu corpo. Elisa está desacordada em uma grande cama. Seus
cabelos, antes sempre presos fielmente em um coque, agora estão soltos e seu
corpo coberto por uma coberta até a cintura.
— Se você tiver feito algo para machucá-la....
— Vamos pular essas frases de ameaça, Don. Nós dois sabemos que eu não
vou machucá-la.
— Não, eu não sei disso! Até porque você não deixou claro suas intenções
com a gente. — Ele olha para Elisa por longos minutos e depois volta a me
encarar.
— Eu fui usado durante anos. Tratado como um nada, comendo sobras dos
outros e sendo feito de escravo por Cesare. — Seu corpo está tenso e seu olhar
vazio enquanto fala. — Aos 7 anos eu experimentei o pior que uma criança
nessa idade pode sentir. Eu não tive uma mãe, mas eu sei o quão importante e
sagrado deve ser ter uma. — Volta seu olhar para Elisa e contrai a mandíbula.
— Eu nunca vou machucá-la.
— O que você pretende fazer? — Ando até parar ao lado da cama, o
encarando.
Nós estamos frente a frente, sem qualquer arma apontada, separados
apenas pela cama onde nossa mãe dorme nesse momento. Pela primeira vez
enxergo Otto de verdade e posso afirmar que sua alma já não existe mais. Em
uma única vida podemos ser quebrados de muitas maneiras e Otto com certeza
já experimentou o pior.
— Eu vou me vingar de Cesare por tudo. — Me olha friamente e eu
assinto. — Por ela, por mim e por ele. — O fito atentamente, entendendo a
quem se refere.
Carlo.
Otto está nitidamente sendo consumido pelo remorso de ter matado ele.
— Não seremos grandes amigos, se quer saber. — Falo firme, o fazendo
sorrir de lado.
— Ainda bem! Cuide dela. Eu vou, mas quando retornar eu a procuro. —
Confirmo com a cabeça ao mesmo tempo em que ele sai do quarto sem dizer
nada.
Olho Elisa dormindo tranquilamente e me abaixo para dar um beijo em sua
testa.

Pela manhã, a primeira coisa que faço é ir ao quarto de Elisa para vê-la.
Ontem ela ainda dormia quando a trouxe, então decidi esperar para
conversarmos novamente hoje.
Bato na porta e quando ela me manda entrar, vejo-a ainda deitada. Seu
rosto abatido e agoniado me olhando.
— Bom dia!
— Bom dia! Não vai tomar café conosco? — Pergunto e me sento na ponta
da cama.
— Eu acho que prefiro ficar aqui hoje, não estou me sentindo bem. — Me
olha e sorri triste. — Você me trouxe ontem, não é mesmo? — Confirmo com a
cabeça.
— Eu o vi, se isso te faz ficar mais tranquila. — Seus olhos surpresos me
fitam, esperando que eu continue.
— O que aconteceu?
— Ele disse que partiria e que em breve retornará. Elisa, escute com
atenção, porque eu não vou repetir. — Ela assente e eu me levanto, colocando
as mãos nos bolsos e ando escolhendo mentalmente as melhores palavras para
dizer neste momento.
— Vocês dois têm o mesmo porte, e quando estão pensando contraem a
mandíbula. — Paro estático e a olho, observando seu sorriso triste.
— Nós dois não somos mais crianças e depois de tudo, não será possível
criar um laço que provavelmente já exista em sua cabeça. Em breve, todos
saberão da verdade e muitos vão pedir a cabeça de Otto pela morte de Carlo,
mesmo sabendo que somos irmãos. É meu dever vingar Carlo, Elisa. E mesmo
sabendo que ele não tinha ciência do que aconteceu, ainda assim terei que
tomar uma decisão. — Elisa se levanta da cama e vem até mim.
— Eu espero que você dê a ele a chance de se redimir. Eu daria minha vida
para que vocês pudessem ao menos um dia não se odiarem. Seus filhos estão
prestes a nascer, Ottavio, e quando você os pegar no colo, vai conhecer um
amor maior que tudo que já viu. Seus extintos de proteção dobrarão e você se
verá paranoico com a aproximação de qualquer um perto deles! Eu ninei você
todas as noites quando bebê e depois de grande eu velei seu sono após os
pesadelos e gritos que você tinha sempre que chegava dos treinamentos. Foda-
se qualquer um que queira a cabeça do meu Otto, eles não o conhecem, mas eu
o vi ontem. Eu vi o menino quebrado que ele já foi um dia e também vi o
homem sem alma em que ele se tornou, mas é o meu filho e eu vou matar
qualquer um que se levantar contra ele. — Sem vacilar, sem medir
consequências, Elisa ruge feito uma leoa pronta para defender um de seus
filhotes.
— Por hora, descanse. Em breve ele retornará. — Saio de seu quarto ainda
digerindo suas palavras e vou até meu quarto.
Encontro Allegra fazendo uma careta em pé perto do banheiro.
— O que foi? — Me aproximo e a amparo para se sentar no sofá.
— Eu estou sentindo uma dor chata no pé da barriga.
— Quer ir ao médico? — Ela nega, fechando os olhos.
— Só preciso tomar café da manhã, estou faminta. — Confirmo e saio para
buscar algo para ela comer, a deixando sentada no sofá.
Assim que desço as escadas, Franco e Annamaria passam pela porta,
desejando bom dia.
— Onde está Allegra? — Anna pergunta.
— No quarto. Antes de ir, peça para prepararem algo para ela comer. —
Ela assente e vai em direção a cozinha, então chamo Franco para me seguir até
o escritório.
De portas fechadas, conto para Franco sobre a partida de Otto e ele que se
mostra surpreso.
— Você acha que ele vai matar Cesare? — Sua pergunta é uma incógnita,
já que ao mesmo tempo em que ele disse ter sido maltrato na Outfit, ainda
assim decidiu permanecer depois de grande e fazer um juramento.
— Eu não sei, mas preciso estar preparado para tudo. A leoa lá em cima
está pronta para matar de novo, se for preciso. — Digo, me referindo a Elisa.
— Ainda custo a acreditar que ela matou aquela mulher! Renzo disse que
ela não hesitou nem por um momento.
— Carlo a treinou bem para se defender. O problema é lidar com seu
sentimentalismo materno querendo fazer de nós uma grande família feliz.
— E você não quer isso? — Encaro Franco enquanto viro um gole de
whisky.
— O que eu quero é a cabeça de Cesare em uma bandeja de prata. Talvez
eu mande empalha-la e coloque no meu escritório no cassino, para que todos
que entrarem lá, vejam o que acontece com quem fica no meu caminho.
— Não seria má ideia! — Fala sarcástico.
Somos interrompidos quando Anna abre a porta sem bater, de olhos
arregalados. Nos levantamos e ficamos em alerta quando ela se aproxima.
— O que houve? — Franco corre ao seu encontro.
— A bolsa estourou. Allegra vai ter os bebês!
Saio às pressas para meu quarto e encontro Allegra em pé em uma poça de
água, fazendo caretas.
— Dessa vez é pra valer. — Fala entre respirações ofegantes.
— Franco, mande preparar o carro. Anna, pegue as bolsas no quarto dos
bebês. — Termino de dar as ordens e pego minha esposa gemendo de dor no
colo e desço cuidadosamente as escadas.
Entrando no carro, topo com Elisa e ela diz que vai em seguida.
— Eu não sabia que isso doía tanto. — Allegra geme, sentada ao meu lado.
Piero anda o mais rápido possível pelas ruas de Palermo.
— Respire fundo, mia dea. Logo chegaremos! — Tiro algumas mechas de
cabelo do seu rosto suado.
Ter minha esposa ofegante e tão vulnerável me faz perceber o quanto
preciso me manter vigilante com sua proteção e a dos nossos filhos.
— Eu preciso que você mantenha a calma. Nós já esperávamos que ia ser
uma cesariana. — Apesar de estar sentindo dores insuportáveis e ter um
Ottavio a ponto de colocar o hospital abaixo, rosnando para todas as
enfermeiras por eu estar sentindo dor, tento manter o controle e não surtar de
vez.
Olho para minha médica, Marisa, conversando calmamente comigo.
— Eu quero a anestesia agora. Eu não vou ficar aqui sofrendo, já que vão
fazer uma cesárea. — Falo ofegando e sinto quando meu marido aperta minha
mão, me dando apoio.
— Eu vou preparar tudo, o anestesista deve vir em breve.
— Ele tem 3 minutos, antes que eu saia a sua procura. — Ottavio responde
friamente, fazendo ela apertar o olhar para ele.
— Senhor Ruggero, controle-se, não queremos ninguém nervoso aplicando
uma agulha na coluna de sua esposa.
— Ottavio! — Ralho, ganhando seu olhar.
Marisa sai do quarto para preparar o procedimento.
— Eu deveria cortar a língua dela. — Suspiro com a fala de Ottavio e
gemo quando sinto mais uma contração.
O aparelho ao redor da minha barriga monitora os batimentos cardíacos
dos bebês, me deixando ainda mais nervosa.
— Você pode, por favor, parar de ameaçar todo mundo? — Pergunto de
olhos fechados, respirando fundo.
— Já faz duas horas que estamos aqui e nada de você ser atendida. Vou me
lembrar disso quando me pedirem mais verba para o hospital.
— Ottavio, só cala a boca! — Não controlo minha fala e mais uma vez
gemo.
Passados alguns minutos, o anestesista passa pela porta e tenciona o corpo
quando cruza o olhar com Ottavio, me fazendo suspirar. Me colocando sentada
de frente para Ottavio, o homem pede cautelosamente para eu não me mexer e
que eu coloque minhas mãos nos joelhos.
Após sentir uma picada, fecho os olhos, sentindo uma leve pressão no local
da agulha. Antes que perceba, Ottavio aperta as mãos em meus ombros e eu
levanto a cabeça para olhar para ele.
— Acabou! — Fala baixo e calmo.
— O senhor pode ir se preparar para o procedimento!
— Nem fodendo vou deixar minha mulher aqui indefesa! O que precisar
que seja feito, façam comigo aqui! — Concordando com a cabeça, o homem sai
do quarto ao mesmo tempo que Anna e Elisa entram com sorrisos largos.
— Oh, minha querida! Tudo vai ficar bem, mantenha a calma. Logo meus
netos estarão aqui. — Elisa fala tranquilamente, visivelmente emocionada
enquanto passa a mão em meus cabelos.
— Mal posso esperar para pegá-los no colo! — Anna murmura
animadamente, ganhando meu sorriso.
— Obrigada por estarem aqui! — Agradeço com lágrimas nos olhos.
— Não está sentindo mais dor? — Ottavio me olha preocupado e eu nego
com a cabeça.
— A anestesia já deve estar fazendo efeito. — Elisa o tranquiliza.
Marisa entra com um sorriso aberto e entrega para Ottavio roupas azuis
cirúrgicas e com um olhar para mãe, ele diz muito “não saia daqui”. Cinco
minutos depois estou sendo levada em cima de uma maca para a sala de
cirurgia, com Ottavio ao meu lado o momento todo.
Com um pano tampando minha visão, não enxergo nada abaixo dos seios.
Olho para Ottavio enquanto ele presta atenção em todo o procedimento sem
piscar e faço uma careta.
— Não olhe. — Falo e sua atenção se volta para mim.
— Eu já matei vários homens em minha vida. Já estudei formas e estilos
de tortura incalculáveis. — Seus olhos azuis intensos me olham admirados. —
Eu não tenho qualquer problema em ver o corpo da minha mulher sendo
preparado para me dar aquilo que um homem de honra sempre sonha.
Sorrio como uma boba, talvez por causa do momento de emoção.
Com minha atenção em Ottavio enquanto ele olha tudo, fecho os olhos
quando escuto um choro alto na sala. As lágrimas rolam ao mesmo tempo
quando abro os olhos e Ottavio está com um dos sorrisos que ele me dá quando
estamos sozinhos.
Uma enfermeira se aproxima, coloca o primeiro bebê em meu seio e choro
copiosamente, segurando meu primogênito nos braços pela primeira vez.
— Maximiliano. — Murmuro para meu bebê, sorrindo entre lágrimas e
logo outro choro preenche a sala, me deixando eufórica.
Ottavio deposita um beijo em minha testa quando colocam meu outro filho
em meu colo também.
— Massimo! — Ottavio fala orgulhoso, olhando para nós três.
Olho meus filhos em meu colo entre lágrimas, me dando conta que eu não
sabia o que era ter meu coração fora do peito até este momento.
— Eles são perfeitos. — Falo, olhando para Ottavio, que retribui o olhar
admirado.
— Grazie per quello. — Fala no meu ouvido, me fazendo fechar os olhos.
— Precisamos levá-los para fazer exames. — Marisa fala, se aproximando
com um sorriso no rosto.
— Você não vai tirar meus filhos das minhas vistas! — Ottavio ruge,
olhando ferozmente para a médica e ela arqueia a sobrancelha.
— Ottavio. — Chamo, fazendo-o me olhar. — Está tudo bem, meu amor.
Vá com eles e depois volte os três para mim! — Percebo o seu receio em nos
deixar sozinhos por conta de tudo que aconteceu com sua mãe e irmão.
Contrariado, ele se levanta e me dá um beijo nos lábios, ao mesmo tempo
em que duas enfermeiras se aproximam, pegando meus bebês do meu seio, me
fazendo fechar os olhos, já sentindo falta do calor de seus corpos.
— Guarda solo questo! (Vejam só isso) — Sorrio quando Elisa abre a
porta e fala com Franco, Anna e Luigi logo atrás.
Estou segurando Maximiliano e Massimo e Ottavio está sentado ao meu
lado na cama, com seu braço protetor me abraçando pelos meus ombros.
— Ai meu Deus, eles são perfeitos! — Anna sorri quando se aproxima.
— Você quer pegar? — Ela concorda e eu lhe entrego Max, que tem seus
olhos abertos, presenteando a todos com o azul cristalino de suas írises. Assim
como o pai, os filhos têm o mesmo tom, o que parece ser uma marca registrada
dos homens da família Ruggero.
— Franco, meu amigo, acho que ela já está pensando em ter um. — Luigi
fala sarcástico, fazendo Franco encarar a cena de Anna com o bebê nos braços
intensamente, e pelo o que pude perceber, ele parece se agradar.
— Será que nem aqui você consegue se manter sério? — Ottavio sai em
defesa de Franco.
Luigi ainda sorri quando se aproxima de mim e estica o pescoço para ver
Massimo olhando vidrado para o pai.
— Per l’amor di Dio! Ele é a sua cara, Ottavio. — Fala, fazendo uma
careta
— Eles! Os dois são idênticos. — A voz de orgulho de meu marido me faz
sorrir.
— Saia, Luigi, eu quero pegar meu neto. — Elisa tem um sorriso no rosto
que há muito tempo eu não via e quando pega Massimo de meus braços, o
sorriso parece dobrar de tamanho.
— Dio santo! Eles são Ottavio escrito. Oh, meu filho, é como olhar para
você bebê. — Diz emocionada, fazendo todos sorrirem.
— Dá para acreditar? Eu os carreguei durante meses, sofri dores e eles
tiveram a ousadia de sair a cara do pai! — Murmuro, fazendo um bico e ganho
um beijo de Ottavio na cabeça.
O clima descontraído dura por alguns minutos até Marisa chegar e expulsar
minhas visitas, cobrando descanso. Ottavio rapidamente convidou todos a se
retirarem e depois de eu dar mama aos gêmeos, ele me ajuda a deitar na cama.
— Está sentindo alguma dor? — Afaga meu cabelo, sentado em uma
cadeira do lado da cama.
— Sono, e eu acho que vou aproveitar. — Falo já de olhos fechados,
aproveitando o silêncio
Olho meus filhos dormindo nos pequenos berços dentro do quarto de
hospital. Com as mãos no bolso, suspiro, já imaginando tudo que está por vir
nos próximos anos. Agora Massimo e Maximiliano são bebês, mas já começo a
imaginar quando chegar a hora de iniciá-los, além de preparar ambos para
serem chefes, porque algo me diz que Allegra não vai desistir de recuperar o
poder da Camorra. E pelo tratado com o falecido Cattaneo, Massimo é o dono
daquela cadeira.
Como se sentisse que estou pensando em como será seu caminho,
Massimo começa a se revirar no berço e eu olho para cama, notando que
Allegra ainda dorme pesado. Sem alternativas, pego desajeitado o bebê que
ameaça chorar, mas quando o amparo em meus braços e aproximo sua cabeça
do meu peito, ele logo se cala.
Nino o bebê da maneira que acho correta e sinto meu coração acelerar. Eu
pensei que era completo sozinho, mas hoje percebo que apesar de viver em um
mundo incerto, não há nada que eu pudesse querer mais nesse momento.
— Eu poderia ficar o dia todo vendo você ninar ele. — Olho para trás ao
ouvir a voz rouca de Allegra e ela sorri de lado.
— Eu não queria que ele te acordasse. — Me aproximo e entrego o bebê
para ela, que o recebe de braços abertos.
— Eles não são a coisa mais linda que você já viu? — Pergunta, sem
desviar a atenção do nosso filho.
— Sim.
Batidas na porta nos fazem olhar e logo Elisa entra sorridente.
— Eu mal pude ficar em casa, preciso dos meus netos. — Seu humor
melhorou muito depois que os meninos nasceram. É isso, ou está escondendo
muito bem o sofrimento de dias atrás.
Observo quando ela pega Maximiliano nos braços e sorri amplamente.
Percebendo meu olhar, ela ergue a cabeça e me olha, não me diz nada, mas em
seus olhos eu consigo enxergar exatamente o que se passa em sua cabeça.
Ter os gêmeos perto assim, é como poder viver o que ela não pôde anos
atrás, quando seu filho foi roubado. Maximiliano resmunga em seu colo,
chamando nossa atenção.
— Ele está com fome, querida! — Ela vem até minha esposa e com
maestria troca os bebês para que Allegra alimente nossos filhos.
— A arrumação do quarto ficou pronta? — Elisa murmura um sim para
minha pergunta, ainda com os olhos focados no neto.
— Será que Marisa vai demorar a me dar alta? Quero ir embora logo, estou
cansada dos hospitais!
— Você fez uma cesárea há 24 horas, Allegra. O correto é que fique ao
menos 72 horas, por precaução. — Elisa diz.
— Fique calma, vou providenciar para que você saia o mais rápido
possível. — Digo, lendo a mensagem que acabei de receber de Luigi e ela sorri
pela minha fala.
Saio do quarto, as deixando sozinhas e no corredor encontro Piero e Hugo
fazendo a escolta.
Quando paro na frente deles, agradeço suas felicitações. Olho para Piero,
que depois de toda a tragédia envolvendo Cosima, se tornou outro homem.
Além de estar mais duro, antes ele às vezes conseguia sorrir ou relaxar, agora
sua postura sempre está tensa e ele parece sempre pronto para uma batalha.
— Os outros estão em todos os andares, como mandei?
— Sim, Don. — Assinto para eles.
— Eu vou descer e me encontrar com Luigi. Ninguém além da médica ou
enfermeira entram no quarto. Minha família está lá dentro. — Aperto o olhar
para ambos e eles assentem.
Entro no elevador e mando uma mensagem para Luigi avisando que estou
descendo e é para ele me esperar.
Eu sabia que não ia demorar para que algo acontecesse. Assim que saio do
elevador, Luigi e Franco me esperam tensos, então indico com a cabeça uma
porta onde sei que teremos privacidade para conversar. Entro na sala olhando
ao redor para os vários tipos de remédios arrumados em prateleiras do teto ao
chão, espero que fechem a porta e me viro para ambos.
— O que foi dessa vez? — Pergunto, colocando minhas mãos nos bolsos e
fitando um de cada vez.
— De Luca ligou — Luigi diz tenso. — Ele disse que Cesare está sem
aliados na própria Outfit e que o homem enlouqueceu, seu consigliere está
pronto para assumir tudo.
— Então vamos atacar. — Falo o óbvio. — Eu o quero morto. Enquanto
Cesare estiver vivo, ele será uma ameaça para toda a minha família.
— Você acha que ele fará alguma coisa? — Levo minha mão a barba
grande e a coço.
Franco não precisou citar o nome para saber que ele se refere a Otto.
— Eu não sei. Ele pareceu seguro quando disse que ia atrás de Cesare, mas
ainda é nosso inimigo. — Respondo sério.
— Qual vai ser o plano?
— Cruzar o pacífico, desembarcar em Nova York, reunir o máximo de
homens possível e atacar Chicago. Eu não quero pedra sobre pedra. — Falo
firme para Luigi e ele sorri como se tivesse acabado de ganhar na loteria.
— Eu estava louco para uma diversão.
— Um de vocês dois tem que ficar. — Falo, fazendo ambos se entreolhar e
Luigi rolar os olhos.
— Eu vou. Vocês dois tem esposas aqui para cuidar, ficarei bem sozinho
com De Luca. — Fala sarcástico.
Antes de responder, sinto meu celular vibrar com a chegada de uma nova
mensagem. Pensando ser algo com Allegra e os bebês, pego o aparelho
rapidamente e abro a mensagem.

“Eles vão atacar o


hospital, tire ela daí”

Tenciono os músculos enquanto leio mais algumas vezes a mensagem,


tentando entender quem é que mandou e que talvez possa ser uma armadilha,
mas quando entendimento me cai, levanto meu olhar para os homens à minha
frente.
— Vamos ser atacados. Vão para a saída dos fundos, eu quero todos os
soldados disponíveis naquela saída em 10 minutos.
— Mas que porra! O que está acontecendo, Ottavio?
— Cazzo. Faz o que mandei, Luigi. — Mando, abrindo a porta e saindo às
pressas do local.
Sigo para o elevador olhando ao redor, atento a qualquer sinal de algo fora
do normal.
Com o barulho das portas se abrindo, eu entro e aperto sem cessar o botão
do andar de Allegra. Leio mais uma vez a mensagem. Sem dúvida nenhuma
que foi Otto que a enviou. Ele deixou claro para tirar Elisa daqui e depois do
que vi na última vez, ele não seria capaz de colocar a vida dela em risco e agora
eu tenho uma família para proteger, não posso pagar para ver. Assim que saio
apressado do elevador, paro na frente de Piero.
— Me esperem aqui, precisamos sair o mais rápido possível. —
Percebendo minha fala urgente, ele assente e eu passo, abrindo a porta do
quarto e encontrando Marisa conversando com Allegra.
Os bebês estão dormindo e Elisa está sentada na poltrona.
— Vamos embora! — Meu tom faz com que todas me encarem. Troco um
olhar com Allegra e ela arregala os olhos quando percebe que não estou
brincando.
— Ela não pode se mexer ainda, senhor Ruggero. — A médica retruca,
mas eu nem ao menos lhe dou atenção quando coloco a cabeça no corredor e
chamo por Piero, que vem correndo.
— Piero, ajude Elisa com os bebês. Eu vou pegar Allegra e vamos descer
pelas escadas até a saída de emergência. Franco e Luigi já devem estar lá.
— Ottavio, o que está acontecendo? — Elisa pergunta
— Depois. Primeiro preciso tirar vocês daqui.
— Mas Allegra não pode andar.
— Você será bem-vinda em minha casa, doutora, mas aqui minha mulher
não fica mais.
Arregalando os olhos pelo meu tom seco, a mulher sai dizendo que mais
tarde irá nos fazer uma visita. Quando pego Allegra nos braços, sinto seu corpo
estremecer e um gemido escapa de seus lábios quando começo a caminhar.
— Meu Deus, eu não sabia que doía tanto assim após uma cesárea. —
Murmura, fazendo uma careta.
Dou uma olhada para trás, vendo Elisa carregar os gêmeos, um em cada
braço, com os olhos arregalados. Piero e Hugo estão logo atrás com armas em
punho.
Descemos cinco andares cuidadosamente e em alerta até chegar na saída de
emergência atrás do hospital. Com Allegra, Elisa e os gêmeos dentro do carro a
salvo, dou a ordem para que os levem direto para a mansão.
— Ottavio. — Allegra tenta protestar, mas meu olhar a faz mudar de ideia.
Olho para Hugo no banco do motorista da SUV.
— Direto para casa com o comboio, assim que chegarem eu quero todos
em alerta máximo. — O soldado assente e depois de uma última olhada para
todos lá dentro, eu fecho a porta na mesma hora em que o carro arranca,
seguido por mais cinco carros que farão a proteção.
— Ok. Qual é a situação? — Luigi se aproxima de mim enquanto observo
os carros se afastarem.
— Cesare vai atacar o hospital. — O olho sério e depois fito Franco, Piero
e mais oito soldados que ficaram. — Eu não quero um confronto direto hoje,
mas quero ter certeza de que Cesare não está entre eles.
Os soldados logo se espalham em posições estratégicas nas entradas e
saídas do prédio. Juntamente com Franco e Luigi, nos escondemos atrás de
grandes caçambas que contém algum tipo de lixo hospitalar, mas que nos dá
visão da saída de emergência por onde eu passei com minha família.
— Como você soube? — Olho para Franco e o encontro me olhando
cautelosamente.
— Eu recebi uma mensagem no meu celular avisando.
— Porra, Ottavio! Você está me dizendo que por causa de algo que pode
ser um trote, estamos aqui no meio do lixo? — Olho duro para Luigi.
— Trote ou não, eu não ia pagar para ver com minha família.
— Você acha que... — Franco solta um pigarro abaixado ao meu lado. —
Otto?
— Sem dúvidas. — Respondo firme.
— E desde quando acreditamos nesse filho da puta? — Olho para Luigi e
aperto o olhar.
Quando se dá conta que está xingando minha mãe, ele murmura um pedido
de desculpas, ainda puto.
— Pelo simples fato de que ele não quer o mal de Elisa e a mensagem foi
clara quanto a tirá-la daqui.
Uma movimentação de carros nos chama atenção, deixando todos em
alerta. Uma Ranger preta para, seguida de outra, e homens encapuzados descem
dos carros fortemente armados.
— Desgraçados. — Franco pragueja.
Aperto o olhar, analisando ao redor para saber se existem mais homens à
espreita. Pego meu celular e mando uma mensagem para que o pequeno grupo
de Piero se movimente para atacar todos, mas deixo claro que quero um vivo
para tentar tirar informações.
Por conta dos silenciadores, o ataque ainda na porta da saída de
emergência é feito em um silêncio frio.
Com um aceno, Piero confirma que o local está limpo e me aproximo
enquanto observo ele mirando sua arma na cabeça de um homem ajoelhado.
Assim que nota minha presença, o rosto do homem se transforma em pedra.
— Você está muito longe de casa. — Falo sarcástico quando fico na frente
do homem.
— E você vai morrer em breve, como aquele traidor. — Aperto o olhar
para ele.
— Do que você está falando? — Luigi pergunta, dando um tapa em sua
cabeça.
Olho atentamente o homem alto fazer uma careta e depois fuzilar meu
consigliere com os olhos.
— Otto. E pode ter certeza de que ele pagou caro pela sua traição. — Sua
fala me faz tencionar o corpo e o encarar estático.
Isso me confirma que foi Otto quem me enviou a mensagem. Olho para
Franco e ele também me olha em confusão.
— Ele morreu? — Pergunto firme.
Com uma cara de deboche e um sorriso de lado, ele olha para todos ao
redor.
— Ele ainda respirava quando viemos para cá, mas agora não tenho
certeza.
Nesse momento, sinto os olhares de todos que sabem do meu grau de
parentesco com Otto, me encarando.
Um sentimento estranho me domina por dentro, enquanto a gargalhada do
homem na minha frente faz meu sangue ferver e sem titubear saco minha arma
e dou um tiro em sua cabeça, fazendo Luigi praguejar.
Minha cabeça dá voltas enquanto penso em como dizer a Elisa que seu
filho agora sim está morto.
Deixo Allegra dormindo, com os bebês no moisés ao seu lado e desço para
descansar. Desde que Maximiliano e Massimo nasceram eu não consigo tirar
meu sorriso do rosto. Ter meus netos nos braços me leva ao tempo em que eu
tinha Ottavio, mas ao mesmo tempo um amargo por terem tirado de mim a
chance de ter pegado meu Otto no colo.
Lembrar de seu nome me faz suspirar e meu coração automaticamente se
aperta.
Quando chego a cozinha, peço para Maria me servir um café da tarde na
beira da piscina e logo vou em direção a mesa do lado de fora. Vou aproveitar o
dia lindo e me sentar para apreciar o pôr do sol que acontecerá em instantes.
Ter a vista do mar Tirreno é esplêndido e sempre a usei para me fazer parar
e pensar em tudo com clareza. Me sento à mesa, fecho os olhos e tombo a
cabeça para trás, deixando que o sol do fim de tarde faça seu milagre.
Meus pensamentos me levam ao momento em que Ottavio nos tirou do
hospital às pressas. Desde de que se tornou um homem de honra, eu nunca
tinha visto aquele medo em seus olhos. Pelo visto, a chegada de Allegra e dos
gêmeos mostrou ao meu filho que ele agora tem mais motivos para lutar nesse
mundo caótico em que vivemos.
O barulho de xícara balançando me faz abrir os olhos e vejo nossa
empregada, Maria, colocando meu lanche cuidadosamente, como faz quase
todas as tardes. Ela me olha com carinho quando termina e eu retribuo o olhar.
— Se me permite dizer, senhora, o ar da casa mudou desde que os
pequenos chegaram, tudo parece mais leve.
— Sim, Maria. Meus netos mudaram tudo, inclusive meu filho! Você
precisa vê-lo segurando os filhos. — O sorriso contente que ela dá me mostra
que sempre estive certa em manter durante todos esses anos a mulher que um
dia foi a babá de Ottavio.
— Ele será um bom pai, assim como está sendo um ótimo marido. — Ela
diz num tom de orgulho.
— Não tenho dúvidas disso. — Ela assente e sai, me deixando sozinha.
Tomo o café fumegante e aprecio quando o céu se torna laranja e nuvens
encobrem o sol se pondo.
Perfeito!
Distraída com a vista, só percebo que Ottavio está aqui quando se senta ao
meu lado. Seus olhos azuis me olham indecifráveis.
— Chegou agora pouco?
— Sim, fui ver Allegra e os meninos! — Assinto para ele e volto a olhar
para a vista.
— Eles estão bem! Conseguiu resolver o problema de mais cedo? — O
suspiro que ele dá me faz fitá-lo. — O que aconteceu?
Ele passa uma mão na barba grande e depois desvia o olhar e eu engula em
seco, com uma grande sensação de que não irei gostar do que ele tem a dizer.
Meu coração se aperta quando percebo que talvez ele tenha algo a me dizer
sobre Otto. Perdendo toda a calma, eu me viro totalmente para ficar de frente
para ele.
— Ottavio. — Chamo, fazendo com que me olhe.
— Eu fui avisado de que seríamos atacados no hospital. Por isso tirei vocês
às pressas! — Ele fala e depois se cala.
— E quem é que iria nos atacar? — Arrumo coragem para perguntar,
mesmo lá no fundo já sabendo a resposta.
— Outfit. — Seu olhar duro me encara e por um momento ele me deixa
ver seu receio.
Ottavio está com receio de me contar algo e isso me apavora. Nossa troca
de olhares me faz querer perguntar.
Eu preciso perguntar.
— Otto?
— Não estava com eles, Elisa. — Solto o ar que mantinha preso e meu
corpo automaticamente relaxa. — Mas segundo o que me foi dito, ele morreu!
As palavras são como socos em meu corpo. Nesse momento, receber uma
facada doeria menos.
— Co-como? — Minha cabeça roda, mas eu não tiro os olhos de Ottavio
enquanto ele me olha firme.
As lágrimas enchem meus olhos, embaçando minha visão, mas eu não
permito que caiam.
Eu não posso estar chorando a morte dele novamente. Isso é mentira.
Tem que ser mentira
— Foi ele que me avisou sobre o ataque. Eu recebi uma mensagem e não
me pergunte o porquê, nem como, Elisa, mas eu soube que era dele e não
hesitei em tirar vocês de lá.
— Ele salvou todos nós? — Pergunto num sussurro, ainda não acreditando
em minhas próprias palavras. Sinto quando a primeira lágrima rola pelo meu
rosto. — Ele... Ele morreu por ter te avisado?
Exasperado, Ottavio se levanta, colocando as mãos nos bolsos enquanto eu
encaro suas costas tensas.
— Tudo indica que sim.
Então ela vem, a dor de perder um filho novamente vem rasgando meu
peito e levando minha alma. Escuto um grito que faz com que meu coração se
parta em pedaços, mas acabo percebendo que fora o meu próprio grito.
O grito de uma mãe que acabou de perder o mesmo filho pela segunda vez.
Eu sinto dor em cada parte do meu corpo, em cada célula viva.
— Eu mal o vi e já o perdi. DEUS, EU NÃO MEREÇO ISSO. — Grito,
olhando para o céu.

Seguro Elisa em meus braços quando ela grita mais uma vez e suas pernas
parecem perder as forças. Nego ajuda quando Renzo e Piero aparecem correndo
juntos de outros soldados após os gritos dela.
— EU NÃO POSSO! EU NÃO VOU AGUENTAR! — Seu descontrole
me deixa tenso e sem reação, porque eu não sei como, mas me sinto estranho
desde o momento que soube que ele estava morto.
Uma porra de uma aflição sem fim. É como se algo me atraísse para Otto e
me fizesse acreditar que ele não esteja morto.
Eu não sei como, mas eu só sei.
— Elisa, se controle. — A coloco sentada na cadeira e me abaixo,
colocando minhas mãos em seu rosto para que me olhe nos olhos.
— Luigi e Franco estão neste momento tentando localizar algo. — Nem
que seja um corpo. Penso.
— Não pode ser. Eu quero meu filho, Ottavio. — Nega.
Eu a abraço como há muito tempo não fazia. Na verdade, nem me lembro a
última vez em que a abracei. Fitando Piero e Renzo enquanto ela chora em
meus braços, vejo o exato momento em que os dois escutam algo no
comunicador, se entreolham e saem correndo em direção a entrada da mansão.
O movimento me chama a atenção, me fazendo afastar um pouco de Elisa.
— Fique aqui. — Peço e me levanto, andando o mais rápido possível até a
entrada da mansão, passando pelo jardim.
Assim que tenho visão da entrada, o amontoado de soldados com armas
em punho apontando para algo na rua me chama a atenção.
— O que está acontecendo? — Pergunto alto, me aproximando do portão
e quando tenho a visão que todos tem, minhas pernas paralisaram no lugar.
Meus ombros tencionam ao mesmo tempo em que minha respiração fica
mais pesada. A porra das minhas pernas não se mexem mesmo com meu
cérebro dizendo para saírem do lugar.
Ver Otto parado ainda na rua, em frente ao portão, coberto de sangue da
cabeça aos pés, com a calça completamente rasgada em um dos lados, sem
camisa e de onde estou é possível notar todos os machucados sangrando. Ele
segura um dos braços e quando enfim consigo andar, à medida que me
aproximo, percebo que o osso do braço que segura está exposto. Seu rosto se
encontra completamente desfigurado e roxo.
Um dos soldados faz menção em se aproximar dele.
— Não se aproxime dele. — Me pego dizendo enquanto ando.
Passo o soldado e quando paro, fico frente a frente com o homem que
procurei por tanto tempo e que agora sei que é meu irmão. Troco um olhar que
faz meu estômago embrulhar.
— E-eles vã-vão.. — Antes que termine a fala, Otto caí e eu o seguro em
meus braços no automático, ainda tentando digerir os últimos acontecimentos.
— NÃOOOOO. OTTOOOOO! — Saio do transe quando escuto o grito
cheio de dor de Elisa.
Em poucos segundos a tenho ao meu lado chorando e tentando pegar o
homem.
— Piero, me ajude a levá-lo para dentro. — Sem hesitar, Piero se aproxima
quando Elisa dá passagem e com cuidado passa um braço de Otto pelos
ombros. Eu deixo o braço com parte do osso exposto quieto e o pego
desajeitado pela cintura. — Renzo, chame o médico. O resto, ao trabalho! Eu
quero saber como ele chegou aqui. — Dou a ordem e continuo entrando com
Otto.
— Para onde, Don? — Piero pergunta.
— Para o meu quarto. Leve ele para o meu quarto. — Elisa é rápida na
resposta e no calor do momento apenas confirmo.
Subindo as escadas o mais rápido que podemos, entramos no quarto de
Elisa e colocamos Otto desacordado na cama.
Elisa funga ao se aproximar, enquanto eu olho para Piero e peço que
apresse o médico e mande que todos fiquem calados com a chegada repentina
do executor.
Quando ficamos sozinhos, Elisa corre para o banheiro, volta com toalhas e
começa a passar pelo rosto de Otto.
Enquanto faz isso, chora e reza sem parar.
Eu olho a cena sem me mexer. Não sei o que anda acontecendo com meus
nervos, mas sinto que estão à margem do colapso. Olhar Otto nesse estado me
faz querer sair e matar todos os filhos da puta que o deixaram assim, como se
eu me importasse. Mas de uma maneira estúpida, eu me importo e isso me
deixa sem reação.
— Onde está o médico? Pelo amor de Deus, meu menino não tem muito
tempo. — Ela pede assustada enquanto tenta, em vão limpar, o sangue,
deixando a toalha que um dia foi branca, vermelha.
Não digo nada. Ainda quieto, escuto batidas na porta e logo Franco e Luigi
entram e paralisam, olhando a cena de Elisa tentando limpar Otto.
— Ele está morto? — A pergunta de Luigi faz Elisa o encarar com fúria e
ao mesmo tempo reticente.
— Se não for ajudar, não atrapalhe. — Ela fala ríspida.
Seu rosto está borrado de maquiagem devido as lágrimas e ela parece
totalmente alheia a isso.
Franco, sempre o mais centrado de nós três, se aproxima devagar dela e
coloca as mão em cima da de Elisa, que está trêmula passando a toalha no rosto
de Otto.
— Anna está com Allegra. Por que você não vai esperar com elas? —
Pergunta calmamente, olhando nos olhos dela
— Eu não saio daqui enquanto o médico não o examinar.
— Anna vai ajudá-lo enquanto o médico não chega! — A voz de Allegra,
faz todos se virarem para a porta e a encararem vestida com um hobby preto até
os pés. Seus cabelos estão soltos e ela tem a aparência cansada.
— Porra nenhuma. — Me viro para Franco, que encara sua esposa de olhos
apertados.
— Anna não é médica. — Respondo. — E você deveria estar deitada,
junto com os nossos filhos. — Com um sorriso de lado, ela anda devagar com
Anna a amparando até mim e quando me alcança, se apoia em mim e eu passo
um braço pela sua cintura.
— Maria está cuidando deles enquanto Anna vai fazer os primeiros
atendimentos em Otto. Ela fez um curso de enfermagem, se eu bem me lembro.
— Sua fala firme me faz perceber que ela está tomando o controle da situação,
talvez por perceber que eu já não posso.
Me viro e vejo Anna se aproximar de Otto. O olhar tenso de Franco não
me passa despercebido.
— Por favor, Anna. — Elisa murmura quando a mulher começa a
examinar o braço e olhar o pulso.
— A pulsação está bem lenta. O melhor é levá-lo para um hospital. — Ela
fala enquanto pega a caixa de primeiros socorros que Luigi entrega.
— Ele não sairá deste quarto. — Falo firme e ela assente.
Calados, observamos Anna analisar os vários ferimentos, provavelmente
de facas pelo tórax e barriga de Otto. Quando ela olha o antebraço com o osso
exposto, seu suspiro é audível.
Mario, nosso médico, chega nesse momento. Ele sequer nos cumprimenta
quando vê a situação do homem na cama e já vai ao atendimento.
— A senhorita é médica? — Pergunta para Anna quando ela fala que pode
ajudá-lo.
— Senhora, para você. — Franco rosna ao lado de sua esposa.
— Eu estudei enfermagem, mas nunca exerci a profissão.
— Vai servir.
Mario e Anna passam as próximas horas cuidando dos ferimentos de Otto,
sob o olhar atento de Elisa.
Quando escutamos um choro de longe, eu e Allegra nos retiramos, indo em
direção ao nosso quarto.
Abrimos a porta e encontramos Maria ninando um dos bebês que chora
sem parar.
— Acho que o que ele quer, só a mãe tem. — Fala com carinho para
Allegra, que senta na poltrona perto do pequeno berço e logo recebe o bebê nos
braços.
— Já está na hora da mamada deles. Obrigada, Maria. — A mulher sorri e
se retira, fechando a porta.
Eu permaneço de pé, olhando uma das cenas mais lindas que já vi, mas
com a mente em Otto.
Se dando conta do meu estado, Allegra fixa os olhos nos meus e sorri
carinhosamente enquanto alimenta nosso filho.
— Você está bem? — A pergunta me faz parar e analisar.
Eu estou bem?
Definitivamente não.
Eu não chego nem perto de estar bem. Minha cabeça pensa uma coisa,
enquanto meu instinto quer fazer outra.
Eu não tenho controle da porra do meu corpo.
— Eu não sei. — Sou sincero em minha resposta, porque se existe alguém
em que eu confie para me abrir e mostrar a confusão que me encontro, este
alguém é minha esposa.
— O que está sentindo em relação a ele estar aqui, tão perto de você?
— Eu não sei, Allegra. Mas se posso continuar sendo sincero, depois de
vê-lo nesse estado, minha vontade de ir atrás de Cesare pessoalmente e matá-lo,
triplicou.
Me aproximo do berço e percebo que Massimo está acordando, olhando
tudo ao redor e quando foca os olhos em mim, sorri, abrindo a boca, me
arrancando um sorriso também e sem resistir o pego no colo e levo para
Allegra, que o coloca para mamar no outro peito.
— Eu não posso julgá-los, se pudesse também estaria mamando.
— Ottavio! — Allegra ralha e eu rio.
— Quando eu era criança, às vezes eu sentia umas coisas estranhas. — Me
pego dizendo, ganhando sua atenção.
Sento na outra poltrona diante dela e apoio os cotovelos no joelho, de
cabeça baixa.
— Às vezes eu sentia calafrios e algumas dores inexplicáveis pelo corpo.
Eu achava que era normal. Mas com o tempo só piorou, principalmente quando
fui iniciado aos 13 anos. Houve uma noite em que eu acordei com falta de ar,
acho que tinha uns 7 anos, meu coração acelerado doía e eu cheguei a pensar
que estava infartando. Com o passar dos anos, fui me acostumando a sentir
arrepios aqui, ou calafrios alí. Sempre fizeram parte de mim. — Termino minha
fala e enfim encaro Allegra, que está de olhos arregalados me olhando.
— Você o sentia! — Ela afirma, engolindo em seco.
— Eu nunca vou admitir isso para outra pessoa, Allegra. Mas desde que eu
soube que tinha um irmão gêmeo, esses episódios me vieram como um clarão
na cabeça. Eu acredito em instinto, e por acreditar nisso… Sim, eu acho que
sempre o senti, mesmo nunca tendo ciência da sua existência.
— Ottavio, eu não sei o que dizer. — Ela fala ainda sem poder acreditar
em minhas palavras.
— Quando o homem que eu matei hoje me disse que Otto estava morto, eu
não sei explicar como, mas eu sabia que era mentira, e com raiva de saber que
não era verdade, o matei rápido.
— Olhe para eles. — Olho para Allegra, olhando para nossos filhos em
seus braços, um de cada lado. — Eles passaram semanas dentro de mim, juntos.
Vão descobrir a vida juntos agora. Crescer juntos. Você não acha que a ligação
deles irá ser forte? Que o vínculo que criaram já em meu ventre, é um
sentimento inexplicável e que provavelmente os dois serão cúmplices pelo
resto da vida?
Entendo o que ela quer dizer e nego com a cabeça.
— Ele matou o meu pai, Allegra. E tentou me matar. — Falo friamente.
— Ele matou o próprio pai, meu amor. E depois tentou matar o próprio
irmão. Sem saber. Isso tudo que você cresceu sentindo, Ottavio, só me faz
pensar em como a vida dele deve ter sido difícil vivendo com aquele monstro
do Cesare. Se você sentiu essas coisas de longe, imagina o que ele deve ter
sentido?
— Você está delirando. — Me levanto tenso e apoio os braços no encosto
da poltrona.
— Vocês tiveram uma conexão ainda no ventre da mãe de vocês e isso
falou mais alto. Você o sentia e provavelmente ele também te sentia, Ottavio.
Aquele homem quase morrendo naquele quarto é seu irmão e você não pode
virar as costas para esse fato. Eu não estou dizendo para que passe por cima de
tudo, mas que você saiba que ele não tinha ciência de nada.
A fala dura dela me faz sair do quarto sem dizer mais nada.
Desço as escadas rapidamente para não ter que me encontrar com ninguém
e me tranco no escritório.
Pego uma garrafa de whisky e tomo um gole, dispensando o copo.
Inferno de situação!
— Mais problemas? — Fecho os olhos com força, tentando controlar a
raiva.
Eu só queria ficar sozinho nesse inferno de casa!
— O que você quer, Luigi? — Pergunto, indo me sentar em minha cadeira.
— Nós dois sabemos que sua cabeça deve estar fodida com toda essa
situação. — Me balanço de um lado para o outro na cadeira, encarando o teto.
— O médico já terminou com o... Sei lá que porra devo chamá-lo. — Ele
grunhi. — E aparentemente Franco tem ciúmes até mesmo da sombra da
Annamaria.
— Se não percebeu, eu gostaria de ficar sozinho, Luigi. — Falo sem olhá-
lo.
— Como seu consigliere, eu devo te aconselhar a convocar todos para uma
reunião e informar que você achou seu irmão e que ele é o executor da Outfit.
— Levo meu olhar a ele, tentando entender se ele está brincando. — Diga que
tudo não passou de um plano e que Otto era seu informante na Outfit.
— E quanto a morte de Carlo? Gênio. — Pergunto sarcástico.
— Você dirá que escondeu o fato de que foi Cesare que o matou e que Otto
aceitou levar a culpa para tentar se aproximar de Cesare para que assim vocês
dois tivessem a chance de se vingar.
Volto a olhar para o teto com a cabeça apoiada no encosto. Essa seria uma
das saídas para a história de Otto, pelo menos por enquanto, até que ele se cure,
para assim resolvermos entre nós dois toda essa bagunça depois.
Além disso, eu posso mantê-lo preso e de bom grado ou não, o obrigar a
me contar tudo sobre a Outfit e como consigo achar um ponto fraco no infeliz
do Cesare.
Tudo seria simples, se não fosse o gosto amargo de derrota que sinto agora.
Mas eu preciso admitir que pode parecer medo, covardia, conformismo,
mas às vezes é preciso saber a hora de recuar. O que não significa desistir.
Olho para Luigi e ele me encara com as mãos nos bolsos, esperando uma
resposta.
— Convoque os capos para uma reunião, Luigi. Parece que meu querido
irmão apareceu
Vou dar a todos uma história para se prenderem, enquanto faço a jogada
final para destruir a Outfit por dentro, usando Otto.
DOIS MESES DEPOIS

Olho para o homem sentado na cama de sua cela na masmorra da mansão.


Ninguém além de Franco, Luigi, Allegra e Elisa sabem desse lugar. Por isso
achei ideal colocar Otto aqui enquanto não sei o que fazer com ele.
Elisa ficou desesperada quando eu falei que ia prendê-lo depois que ele se
recuperou da surra que levou. Depois de ficar inconsciente por sete dias,
quando acordou tentou ir embora várias vezes, mas com a persuasão de Elisa,
resolveu ficar. O surpreendente, foi o fato de que ele não reagiu da maneira que
eu esperava com sua prisão. Em nenhum momento, Otto reagiu mal.
— Qual é a pergunta de hoje? — Pergunta sarcástico, me olhando.
Quando contei a todos os capos a identidade do meu irmão, o assombro foi
geral. Claro que na primeira oportunidade todos pediram a cabeça de Otto pela
a morte de Carlo, mas a ideia de Luigi em colocar Otto como um informante
meu o tempo todo e que ele só assumiu a autoria do assassinato de Carlo para
se aproximar e ganhar confiança do capo da Outfit, foi a saída que encontrei,
por isso consegui que todos direcionassem a culpa de tudo para Cesare, que
está desaparecido há quinze dias depois do último ataque que eu ordenei contra
ele.
Ele perdeu a cadeira de capo depois que foi descoberto alguns golpes que
ele estava aplicando em todos e correu como um rato. Foi por pouco, mas
infelizmente o filho da puta conseguiu escapar dos meus melhores homens, que
o pegariam e o trariam para que eu pudesse ter todo o tempo do mundo com
ele.
Agora ele está sendo caçado por todos os lados. O cerco está se fechando
para ele e eu sinto que em breve minha vingança estará completa.
— Hoje não tenho nenhuma pergunta, só uma dúvida! — Desde que o
trouxe, todos os dias eu venho e me sento na frente da sua cela e faço uma ou
duas perguntas.
No começo ele estava reticente em me responder, mas com o passar dos
dias, ele acabou falando sem que eu precisasse fazer nada contra sua
integridade física, o que foi um alívio para Elisa.
— Onde estão todos? — Sinto verdade em sua preocupação e entendo
quando se refere não somente a Elisa, mas também a Allegra, Maximiliano e
Massimo.
Mesmo contra minha vontade, Allegra e Elisa trouxeram os gêmeos aqui
embaixo uma tarde e depois disso descobri que as visitas ficaram diárias. Em
uma delas, eu vim pessoalmente ver a interação e fiquei distante para que
ninguém me visse.
Por incrível que pareça, Otto parece gostar dessa aproximação e mesmo
meu instinto filho da puta gritando que ele não representa perigo, ainda assim
mantenho um pé atrás.
— Bem. — Respondo firme, o encarando.
— Qual é a dúvida?
— Nós dois sabemos que você é capaz e inteligente o suficiente para fugir
daqui. Por que ainda não fez isso?
Seu olhar vazio me analisa por minutos, em silêncio. Sua mandíbula
contrai quando se levanta e chega próximo da grade. É a primeira vez que ele
chega tão perto de mim estando preso.
— Não queira estar na minha cabeça fodida, Don! Ela não é o melhor lugar
para se estar. Eu passei dias tentando me manter longe dela. — Por um breve
momento sua voz vacila, mas logo se recompõe.
Seu olhar é algo que me intriga. Ao mesmo tempo em que vejo o quanto
ele é um homem frio e calculista, ainda consigo enxergar uma criança ferida.
Ele ainda não consegue dizer o nome de Elisa ainda e mesmo assim também
não se mantém longe dela.
— Mas isso não significa que eu não vou atrás de Cesare, já que você não
está tendo sucesso nas suas tentativas. — Sua fala sarcástica me faz apertar o
olhar para ele, que sorri de lado.
Bastardo filho da puta!
A verdade é que pelo comportamento de Otto com Elisa, deu para perceber
que ele nunca teve o afeto e carinho que ela lhe dá.
Claro que Cesare não deve ter facilitado as coisas para ele. Meu gêmeo
teve uma vida difícil em Chicago e agora parece querer um pouco do carinho
que lhe foi roubado. No fundo, Otto é apenas uma criança que foi quebrada e
moldada para ser usada em uma vingança.
Os olhos azuis como os meus, me olham intensamente, então me levanto
da cadeira onde estou e me coloco em pé, ficando cara a cara com ele.
— Foi fácil matar Carlo? — Minha pergunta faz o homem tensionar. Suas
mãos apertam as grades da cela, deixando os nós esbranquiçados.
— Foi fácil enquanto eu não sabia de tudo que sei agora.
Então eu vejo. Pela primeira vez, eu vejo o remorso pela morte de nosso
pai em cada ação dele, ao desviar do olhar e engolir em seco. É tudo que eu
precisava saber, e é claro que eu ainda posso usar dessa situação ao meu favor.
Assinto com a cabeça e me afasto, deixando-o para trás lambendo suas feridas.
Subo a rampa, saindo perto do jardim e tomando o cuidado de não ser visto
por nenhum dos empregados ou soldados. A música vinda do ateliê me chama
a atenção e decido ir ver o que minha esposa anda aprontando. Paro na porta
com as mãos nos bolsos e ver a figura pequena da minha mulher rodopiando
pela sala me deixa hipnotizado, completamente encantado com seus
movimentos leves e calmos.
Seu collant branco transmite toda a inocência que ela ainda tem e me deixa
ainda mais excitado. De repente, ela para em frente a parede espelhada e seus
olhos encontram o meu. Seu peito sobe e desce com a respiração acelerada.
― Não pare. ― Digo firme, minha voz sai grossa pela excitação.
Allegra não diz nada, só volta a ficar na ponta dos pés e erguer os braços
acima da cabeça, girando e girando várias vezes. Quando ela para na minha
frente, seus olhos se fixam nos meus e em seu rosto há um sorriso de lado. Não
tenho nem tempo de pensar no que está passando em sua cabeça, porque ela
abaixa as alças da sua roupa e expõe os seios para mim, me fazendo salivar.
― Alguém poderia entrar aqui agora e te ver assim. ― Digo, apenas para
testar sua reação.
― Então você arrancaria os olhos dele e o mataria. ― Ela fala e sorri. Fica
na ponta dos pés, apoia as mãos em meu peito e se aproxima da minha boca,
que estampa um sorriso cruel.
― Eu mataria! ― Desço minhas mãos pela lateral do seu corpo até
alcançar a base das suas costas. ― Eu mataria qualquer um por você, mia dea.
Quando vou beijá-la, ela se afasta rindo e sai dando saltos pela sala,
voltando a dançar e a brincar comigo enquanto os seios saltam livres e minha
boca saliva, louco para sentir a textura.
Allegra sabe o poder que tem sobre mim e não tem medo ou vergonha de o
usar sempre. Minha mulher para de frente para a parede espelhada novamente e
vai abaixando o tronco e levando o collant junto, o passando pelas pernas
torneadas, então fica completamente nua no meio do seu ateliê.
Meu pau pulsa com a visão, se tornando ainda maior, fazendo o tecido me
apertar. Me aproximo em passos rápidos, tiro minha camisa e antes que ela
proteste, seguro seu corpo contra o espelho, amassando seus peitos e colando
suas costas no meu peito nu.
Sinto o corpo pequeno e quente dela completamente encaixado em mim.
Mordo o lóbulo de sua orelha e passo a língua no local.
― Você está me testando, mia dea? ― Ela resmunga algo que não
entendo, mas não paro de morder e lamber seu pescoço. ― Eu sou ótimo em
manter o controle, mas você torna isso difícil demais.
Allegra dá uma risadinha e esfrega a bunda no meu pau pulsante. Acerto
um tapa e ela geme alto, enquanto acaricio para aliviar a dor.
Me afasto apenas para desafivelar o cinto e tirar minha calça, jogando-a
para o lado. Me ajoelho no chão e olho para cima, encontrando uma Allegra me
encarando sobre os ombros com o rosto corado, mordendo o lábio e ofegante.
Pego uma de suas coxas e seguro para cima, deixando-a aberta e exposta para
mim. Sua lubrificação brilha em toda sua boceta e rapidamente passo a língua,
ela estremece e solta um gemido alto.
― Oh! Ottavio… ― Ofega.
― Sim, mia dea, estou aqui. ― Passo a língua mais uma vez em sua
boceta, mas a minha vontade de comer minha mulher em pé de frente para o
espelho não me deixa prolongar mais a tortura.
Levanto, puxo seu quadril um pouco para trás e empurro seu tronco contra
o espelho, ela logo espalma suas mãos, se apoiando como pode. Volto a segurar
sua coxa para facilitar minha invasão e a umidade me faz escorregar para
dentro dela de uma vez.
Nós dois gememos juntos.
― Cazzo. ― Murmuro.
Deslizo para fora do seu corpo e logo coloco para dentro mais uma vez,
sentindo sua bunda bater contra minha pélvis a cada arremetida funda que dou.
Allegra rebola no meu pau, me fazendo sentir suas paredes me apertarem
ainda mais. Puxo seus cabelos soltos, trazendo suas costas para a minha frente,
encaixando meu rosto em seu pescoço, mordendo e chupando. Marcando-a.
Seus gemidos e gritos ecoam no ateliê. Nossos corpos cobertos de suor refletem
pelo espelho. É a coisa mais fodidamente erótica que já vi.
Fodo seu corpo sem dó, sem parar por nem um segundo. Abraço sua
cintura com a mão livre e com os dedos, brinco com seu clitóris e logo ela está
tremendo contra o meu corpo, gritando e molhando meu pau com o seu
orgasmo.
Suas paredes contraindo e me apertando me levam ao limite, me fazendo
jorrar dentro dela. Solto sua perna devagar depois de sair de dentro dela, mas
não a solto de imediato, sentindo seu corpo mole pela força do orgasmo.

UMA SEMANA DEPOIS

Seguro Max agitado no colo enquanto Massimo está sentado no carrinho,


presenteando Otto com sorrisos desdentados.
Desde que Ottavio o colocou aqui, pois no fundo não sabe o que fazer com
o irmão, eu costumo vir e trazer os meninos para conhecerem e se aproximarem
do tio e mesmo não querendo dar o braço a torcer, Ottavio está cada dia mais
disposto a soltar o irmão e, quem sabe, passar uma borracha no que aconteceu
entre eles. Mas talvez seja mais difícil para Otto, porque tenho certeza de que
ele sempre irá se lembrar de que matou o próprio pai.
Max deita a cabeça em meu ombro enquanto eu bato devagar em suas
costas.
— Você deveria parar de trazê-los aqui! — Otto murmura, sentado na
cama.
Ele tenta manter certa distância, mas no fim acaba cedendo e se
aproximando dos sobrinhos. Não posso culpá-lo, meus filhos são as coisas mais
lindas do mundo, com os olhos azuis e cabelos pretos como os do pai.
— O tio deles está aqui. Eu os trago para que se acostumem com você. —
Ele levanta da cama e vem em nossa direção, passa uma das mãos pela grade e
toca a cabeça de Massimo, que sorri para ele. Otto o encara e acho que nem
percebe que tem um sorriso torto no rosto enquanto faz isso.
— Por que você insiste nessa aproximação? Sabe que não seremos uma
família feliz nessa vida! — Fala sarcástico, sem tirar os olhos de Massimo.
— A única coisa que eu sei, é que você é o tio deles e que um dia poderá
estar mais presente. — Ele me olha apertando o olhar.
— Pensei que você me odiasse! — Afirma sem me olhar, se abaixando
para ficar cara a cara com meu bebê no carrinho.
Mesmo com a grade no meio, não é empecilho para que ele brinque com os
pés gorduchos de Massimo.
— Eu achei que você tinha matado minha amiga e quando apontei aquela
arma na sua cabeça foi para defender meu marido. Nada pessoal! — Respondo,
dando de ombros e o fazendo gargalhar.
— Você é uma mulher diferente, Allegra! Ele tem sorte por tê-la. — Fala
ainda rindo.
— Eu sei. — Respondo, arqueando uma sobrancelha.
— E eu não sei de que amiga está falando. — Me olha de lado, talvez
esperando que eu diga algo.
— Cosima cresceu comigo. Éramos inseparáveis. Quando me casei e vim
para a Sicília, pouco tempo depois ela veio me visitar, foi quando fomos
atacadas em uma doceria. — Engulo em seco. Lembrar daquele dia ainda faz
meu coração doer. — Ela morreu em um ataque contra mim e como você
estava no encalço de Ottavio, no início pensamos que tivesse sido você, mas
depois descobrimos que foi meu tio, irmão do meu pai que estava traindo ele.
— Otto me olha e apenas assente com a cabeça.
Max ensaia um choro no meu colo, chamando a atenção de Otto.
— Leve-os, aqui não é lugar para eles.
Me despeço, então com Max nos braços, empurro o carrinho para a rampa
de saída. Passo pelo jardim e assim que entro na sala de estar, encontro Ottavio
voltando do escritório. Provavelmente estava vendo minha conversa com Otto.
Meu marido acha que não notei as câmeras espalhadas na cela.
— O que nós conversamos sobre não ir lá embaixo? — Pergunta,
arqueando a sobrancelha e me fazendo revirar os olhos.
— Não conversamos nada, você disse suas razões e eu fiquei calada! —
Soltando um suspiro pesado, Ottavio pega Massimo e depois se aproxima de
mim para dar um beijo na cabeça de Max.
— Você precisa se arrumar. A inauguração do cassino vai ser importante.
Hoje é a inauguração do mais novo cassino de Ottavio. Com o faturamento
ilícito aumentando, o cassino será bem-vindo para a lavagem de dinheiro.
— Estarei pronta! Anna logo vai chegar.
Subo as escadas e corro contra o tempo para não me atrasar. Coloco a
banheira deles para encher e Max reclama, meio inquieto em meu colo, então o
coloco deitado em seu berço e depois pego Massimo, que é mais calmo e tiro
sua roupinha primeiro.
Geralmente, Elisa ou Maria me ajudam, então em breve uma delas deve
aparecer. No começo, Ottavio disse que ia contratar uma babá, mas eu recusei
de imediato. Só de imaginar o que eu passei nas mãos das minhas, meu
estômago embrulha. Meus filhos não precisam de uma babá quando eles têm
uma mãe.
Dou banho em Massimo enquanto ele rir sem vergonha. Dos dois, ele é o
mais calmo e é só sorrisos, enquanto Maximiliano vive de cara fechada e é
desprovido de qualquer paciência.
Quando fecho o último botão do macacão, a porta do quarto deles é aberta
e uma Anna descabelada e com o rosto corado passa por ela. Com a pressa,
decido deixar de lado o comentário sobre o motivo do atraso da minha amiga.
— Ainda bem que você chegou, Anna! Eu preciso dar banho no Max.
Tome o Massimo. — Anna sorri quando lhe entrego meu bebê, que retribui o
sorriso quando a vê.
Meus filhos adoram Anna, que por sua vez não esconde o amor que sente
por eles.
— Eu não sei como você consegue saber quem é quem, eles são idênticos!
— Fala, fazendo uma careta engraçada para Massimo em seu colo.
— Eu apenas sei. Massimo tem sempre um sorriso no rosto, enquanto Max
tem a carranca de Ottavio 24 horas por dia.
— Eu vou descer com ele. — Ela sai e me deixa com meu bebê mal
humorado.
Com seu corpo dentro da água morna, Max me presenteia com um sorriso
tímido e eu sorrio também. Devagar, vou passando a mão pelo seu corpinho, o
limpando sob seu olhar atento. Quando termino o banho, levo ele para a cama
de solteiro do quarto e o seco, em seguida o visto com um macacão preto.
Sorrio quando me lembro do dia em que Luigi chegou com um par deles e me
entregou, dizendo para já o acostumá-los a usar preto.
— Cheirosinho e pronto para dormir e deixar a mamãe e o papai se
divertirem hoje. — Falo para ele, que me olha com o semblante sério.
O levanto e não resisto em me aproximar para dar um cheiro nele.
— Eu te amo. — Falo para ele, que parece entender e resmunga.
O coloco no berço e vou até o banheiro para ajeitar a bagunça. Quando
penduro a toalha no gancho, um barulho no quarto me chama a atenção e em
passos lentos vou até a porta e meu coração acelera quando vejo um homem
vestido de preto e com capuz segurando Maximiliano nos braços.
Sem pestanejar, saco minha arma no cós da calça e o barulho da arma
engatilhando faz o homem se virar e me olhar.
— Larga meu filho.
Mas antes de escutar qualquer outra coisa, sinto quando algo me golpeia na
cabeça e a última coisa que vejo é meu filho sendo levado.
Grito mais uma vez, chamando por meu filho. Desde que acordei com
Ottavio me levantando do chão, estou vivendo o inferno na terra.
Nós fomos atacados dentro da nossa própria casa, pelo filho da puta do
Cesare que conseguiu comprar dois soldados que facilitaram a entrada dele e de
seus homens. Mesmo não estando mais à frente da Outfit ele ainda tem aliados
importantes que o ajudaram a nos atacar e levar um dos nossos filhos. O celular
de Ottavio toca, fazendo com que todos na sala da mansão se calem.
Elisa está aos prantos, Luigi está estranhamente calado, olhando para o
meu marido enquanto Franco envolve Anna chorando em seus braços enquanto
segura Massimo. Eu não consigo segurar meu outro filho, meus braços tremem
e não me sinto capaz. Pegando o celular e ao mesmo tempo com os olhos em
mim, Ottavio atende e escuta calado o que a outra pessoa diz.
— Você passou de todos os limites, Cesare. Você é um homem morto
andando pelo mundo. — Fecho meus olhos com força, escutando a voz fria de
meu marido.
Meu bebê. Eu só preciso do meu bebê de volta. Levanto do sofá e vou até
Ottavio, tentando tirar o celular do seu ouvido, mas Luigi me segura.
— Eu vou ter meu filho de volta. — Ottavio fala quando tira o celular do
ouvido e pela primeira vez se descontrola na frente de todos e joga o celular na
parede, que se quebra em mil pedaços.
Meu marido ruge e desfere um soco no espelho pendurado na parede ao
seu lado, rapidamente o sangue começa a escorrer pelas suas juntas. Mas o
barulho acorda Massimo, que começa a chorar.
— Anna, por favor, tire ele daqui. — Peço a minha amiga e ela sai junto
com o marido.
— Ele quer jogar, quer brincar comigo. Aquele velho filho da puta! —
Ottavio grita.
— Nós vamos achá-lo, Don. — Luigi se aproxima e coloca a mão no
ombro dele para tentar acalmar.
Eu vejo toda a cena calada e ainda processando todos os acontecimentos.
Sem perceber, me pego saindo da sala sem olhar para trás, rumo a única pessoa
que pode nos ajudar a ter meu filho de volta. Correndo pelo jardim, desço a
rampa de acesso a cela e assim que me coloco em frente a ela, Otto me
pergunta o que aconteceu. Não respondo, só saco minha arma, o fazendo dar
um passo para trás, então eu atiro no cadeado da cela, abrindo-a. Seu olhar é
um misto de espanto e cautela enquanto me olha.
— Ele... Ele levou o meu filho e você vai trazê-lo de volta pra mim. —
Tento soar firme, mas minha fala sai entrecortada e trêmula, o fazendo apertar o
olhar para mim.
— Do que você está falando? — Me pergunta, se aproximando de mim.
— Cesare atacou a mansão e levou Max. Eu quero meu filho, me ouviu?
— Grito na sua cara. Otto me olha espantado e dá um passo para trás. Seu
corpo tenciona quando cruzo meu olhar no dele, que parece sem vida e ao
mesmo tempo transmite medo. — Você o conhece, cresceu com ele, eu preciso
saber de tudo. Eu quero meu filho de VOLTAAAA! — Minhas pernas cedem e
me deixo cair ajoelhada, chorando copiosamente. Meu coração está apertado
enquanto eu lembro dos meus últimos momentos com meu filho. Seu sorriso
tímido no banho.
— Allegra. — Sinto braços passarem pelos meus ombros e me viro para
ver Elisa me amparando, também ajoelhada.
— Eu não vou descansar. Eu vou queimar o mundo até achar meu filho e
trazê-lo de volta. — Falo firme e ergo meu olhar para Otto, que está com os
punhos cerrados e pela primeira vez vejo fúria em seu olhar. Sua respiração
está acelerada enquanto me encara de volta.
— Você tem certeza de que foi ele? — Sua pergunta faz eu me afastar de
Elisa, levantar e ficar de frente para ele.
— Sim. Eu o quero Otto. Me ouviu? Eu quero esse homem vivo, porque eu
quero ter o prazer de matá-lo. Ninguém mexe com meus filhos e sai ileso. Você
vai atrás do meu filho e vai voltar com ele nos braços. Eu não me importo com
quem você tenha que matar, subornar ou destruir. Queime o mundo se preciso
for. — Minha fala firme e decidida parece alimentar o animal preso dentro dele,
pois ela dá um sorriso frio de lado.
— Meu filho, por favor, traga nosso menino de volta para nós. Aquele
monstro vai destruir meu neto. — Elisa implora, o abraçando, mas Otto não faz
qualquer movimento, ele só me encara sobre os ombros da minha sogra.

Desligo o telefone e suspiro.


— Estamos prontos. — Luigi entra em meu escritório e me levanto na
mesma hora.
Eu vou atrás daquele filho da puta e trarei meu filho de volta, nem que eu
tenha que morrer no processo.
— Você fica. O comando é seu até que eu volte. Franco e eu daremos conta
juntos dos outros soldados. Já temos a localização da garota?
— Marcelo nos enviou a localização e também estará lá te esperando.
Todo mundo tem um ponto fraco. No nosso mundo, uma das primeiras
coisas que aprendemos na vida é que se tivermos um e para aprender a
escondê-lo bem se não quiser que isso seja usado contra você. Mexer com a
família de um homem é uma das coisas mais desonrosas que alguém pode
fazer. Cesare, sendo o filho da puta que é, não tem limites. Então será olho por
olho.
Dou dois passos rumo a saída e antes que eu consiga sair do escritório,
Allegra entra como um furacão e por reflexo saco a arma quando vejo quem
está atrás dela.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto irritado para Otto.
Essa merda só piora. Cazzo.
— Eu o trouxe aqui. — Desvio meu olhar para minha esposa e ela está de
cabeça erguida, me encarando e devagar se posiciona na frente da minha arma.
— Ele vai trazer nosso filho de volta!
— Ficou louca, mulher? — Rosno e seu olhar se aperta. — Ele conhece
Cesare bem, pode ser de grande ajuda. Ele vai trazer o sobrinho de volta,
Ottavio. — Tenciono meu corpo com a menção do parentesco do maldito com
o meu filho.
— Eu vou atrás dele e trarei seu filho. Eu prometo. — Abaixo minha arma
e encaro Otto com um semblante fechado. Desvio de Allegra e ando até ele,
ficando cara a cara. O homem com os mesmos olhos que os meus me olha na
mesma intensidade.
— Eu não confio em você. — Falo a verdade.
— Eu tenho palavra e quero a morte de Cesare mais do que você. — Fala e
trinca o maxilar.
Olho para Allegra ao meu lado e ela assente. Meu coração se aperta
quando percebo o quanto ela está abalada com a situação. Seus olhos
vermelhos e fundos por causa do choro e estresse, além do sangue já seco do
machucado na cabeça que fizeram quando levaram nosso filho.
— Ottavio. — Luigi chama, me fazendo perceber que não estamos
sozinhos no escritório, então olho para meu consigliere. — Pode ser de extrema
ajuda. Ele conhece o território da Outfit e a garota está lá.
— Que garota? — Allegra pergunta, trocando olhares entre mim e Luigi.
— Depois, Allegra. — Respondo, olhando Luigi.
Elisa entra no cômodo carregando uma mochila que parece estar pesada.
— Suas coisas estão prontas, meu filho! — A fito quando estende a
mochila para Otto, que hesita, mas acaba pegando. — Aí tem mudas de roupas
que eu comprei para você. Acho que vai servir, você e seu irmão tem a mesma
estatura.
— Saiam todos, eu quero conversar com o Sr. Ross sozinho. — Falo firme,
a fazendo arregalar os olhos.
Todos saem e Elisa é a última a passar, nos olhando tristemente antes de
fechar a porta.
— E mais uma vez, aqui estamos nós dois, cara a cara. — Falo, sem tirar
meus olhos dele.
— Eu vou trazer seu filho de volta. Ele não vai passar pelo mesmo que eu
passei. — Determinação é tudo o que ele me mostra. Olhando nos mesmos
olhos que os meus, eu enxergo o desejo de vingança e a promessa de que ele irá
me ajudar a trazer meu filho de volta.
— Buscando redenção? — Pergunto sarcástico.
Sem desviar do meu olhar, Otto nega com a cabeça.
— Não existe redenção para mim. Não mais!
Nesse momento a decisão está tomada. Eu vou levá-lo para podermos
descobrir onde aquele rato se escondeu com meu filho. Mais uma vez, o
instinto filho da puta falou mais alto e cá estou eu, confiando no homem que eu
procurei por meses e jurei matar pela morte do meu pai.
Olhar para Otto me faz perceber que eu deveria ter cavado mais covas
antes de sair em busca de vingança contra a morte de Carlo. Porque uma parte
de mim está morrendo por não conseguir matá-lo e a outra parte vibrando por
sangue.
Saio do escritório com ele logo atrás e paramos na sala, onde Allegra está
em pé, com Massimo em seus braços. Minha rainha me olha com olhos de
águia à medida que eu me aproximo dela.
— Traga ele de volta. — Fala, me olhando nos olhos.
— Eu o trarei, e todos que o tocaram irão pagar. — Afirmo, passando a
mão na cabeça do bebê em seus braços, alheio a todo o caos ao redor.
— Queime o mundo se for preciso, Ottavio. — Mia dea faz a sentença
final quando me afasto.
Não vai sobrar pedra sobre pedra no caminho que seguirei até Cesare.

FIM ou até breve...


Skarlat Gomes é uma mineira nascida nos anos 90, solteira e mãe de
uma linda menina chamada Isadora.
Apaixonada por livros de máfia começou sua trajetória na escrita em
2021 usando o pseudônimo de Autoras LIS juntamente com uma amiga.
Juntas tem livros de sucesso como: À PRIMEIRA VISTA, O PRIMEIRO
AMOR E A PRIMEIRA VEZ.
Hoje possui projetos solo e desenvolveu o SKARVERSO. Sua marca
registrada são as histórias de máfia recheadas de reviravoltas com muito
drama e cenas eróticas que te prendem.
Gostaria de agradecer as autoras Juliana Souza e Dani Moraes por
aguentarem meus surtos. Vocês são profissionais e amigas incríveis e é uma
honra ter as duas ao meu lado.
Não podia deixar de agradecer as meninas do cabaré: Lorena, Daiane e Isis
por todo incentivo. As minhas betas MARAVILHOSAS: Adriana (mas pra
mim sempre será A1) Dry, Renata e minha diva Paula. Eu amo vocês e muito
obrigada por toda paciência comigo.
As minhas leitoras e futuras leitoras que contribuem para que meu sonho
se torne realidade, vocês não imaginam o quanto sou grata por tudo que fazem
por mim.

Você também pode gostar