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NO OLHAR DOS SEUS DEDOS

Daiane dos Santos Monteiro¹


Deborah Carvalho Nobre Morete¹
Eline Amor de Souza Morais¹
Rebecca Cristinne Araujo Leal¹
Rhaysa Rayra Santos do Nascimento¹
Janete Soares Conceição Klitzke²

1. INTRODUÇÃO

Nesse Paper será abordado a criação de uma saia, partindo da história dessa peça de vestuário,
avançando pelos métodos de criação, até, por fim, chegarmos a confecção e demonstração da peça
pronta. Também será abordado um método de inclusão para deficientes visuais, que auxilia na escolha
de suas peças através de uma etiqueta tecnológica.

PALAVRAS- CHAVE: Moda Inclusiva, Deficiência Visual, Inclusão Social, Acessibilidade, Moda
Para Todos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Apesar de ser uma peça ligada ao vestuário feminino e ser indispensável para este público nos
dias atuais, a saia é uma das vestimentas mais antigas da história; já sendo encontrada desde o período
mesolítico, ela era muito mais utilizada por homens do que por mulheres.

Os homens usam saias desde tempos imemoriais, há mais de 3.000 anos os sumérios já usavam um tecido
para cobrir as partes baixas; os antigos gregos usavam a toga e seus gladiadores usavam saias; para um
Romano as calças eram um insulto, pois ocultavam suas pernas musculosas que eram consideradas os pilares
da força e da virilidade; os antigos egípcios usavam uma saia semelhante ao sarongue, presa com amarrações.
A saia era uma peça do vestuário que não delimitava território masculino ou feminino. (SANA, 2010).

As diferenciações de vestuário entre os gêneros eram poucas, enquanto as vestimentas


femininas eram mais justas e longas, as masculinas eram mais frouxas e curtas.
Foi somente no século XII que a saia começou a ser vista predominante voltada ao público
feminino.
Elas ficaram ainda mais compridas, ganharam caldas, franzidos e volumes, e geralmente eram
acompanhadas de um corpete para acentuar a cintura. A partir desse período que o conceito de moda
começou a surgir e a indumentária acompanhar as tendências e contextos históricos de cada década.
Desde então, a saia passou por muitas transformações; surgiram outros formatos,
comprimentos, modelos e estilos bem variados; sem contar a diversidade de tecidos em que ela pode

1 Nome dos acadêmicos


2 Nome do Professor tutor externo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso (0481MOD /4) – Prática do Módulo IV - 10/07/2022
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ser confeccionada. Podemos encontrar saias feitas em viscose, brim, lycra, malha, oxford, entre
outros.
Bem diferente do início dos tempos, em que ela era feita apenas de peles de animais. Outro
ponto importante a ser mencionado, é a forma como essa peça pode ser costurada. Hoje a costura
pode ser feita de forma artesanal ou em máquinas de costuras, com métodos e planejamentos próprios
para cada forma de confecção. Alguns exemplos de saias a serem citados são: longa, mídi, plissada,
estampada, de prega, baloê, minissaia etc. Veja a seguir alguns modelos:

FIGURA 1 – Tipos de Saias.

Fonte: Disponível em: https://blog.modacolmeia.com/dicionario-completo-das-saias-entenda-cada-modelo/ Acessado


em 04/07/2022

A saia é só um dos exemplos de como a indústria da moda evoluiu, trazendo-nos a reflexão


de como as roupas passaram de uma ferramenta para ocultação de nudez e proteção de mudanças
climáticas, para formas de representações culturais, religiosas e principalmente de expressão das
nossas identidades.
Sabemos que o ato de nos vestirmos é algo comum do nosso cotidiano, mas a obtenção de
uma peça é pensada. Visualizamos as opções e escolhemos o que melhor nos representa, mas para
quem não pode literalmente visualizar essas opções, como a escolha é feita? Pensando na importância
da moda para todas as pessoas, abordaremos a problemática da falta de inclusão com deficientes
visuais e uma das formas de amenizar este problema.
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Os deficientes visuais representam uma grande parcela da nossa sociedade. Segundo Wendel
(2014) o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só no Brasil existem
mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual severa, sendo 582 mil cegas e 6 milhões com
baixa visão, isso sem nem mencionar o restante do mundo.
A falta de inclusão com deficientes visuais é reflexo de um preconceito enraizado desde os
primórdios dos tempos. A cegueira sempre esteve atrelada a religiosidade, intolerância e preconceitos.
Povos como hebreus consideravam as pessoas cegas indignas, porque acreditavam que a cegueira se
originava dos pecados cometidos, evidenciando, assim, como uma forma de castigo.
“No processo cultural da antiga sociedade a rejeição era contemplada e o sacrifício de pessoas
cegas era comum, pois as mesmas eram consideradas inúteis para o trabalho e não atendiam às
exigências sociais daquela época” (CASTRO, 2018, p.2)
Somente em 1260, quando Luís XIII fundou em Paris o asilo de Quinze-Vingts, destinado
exclusivamente à assistência às pessoas cegas, que a cegueira passou a ser considerada uma patologia;
e somente há 200 anos que a sociedade começou a ter a percepção de que pessoas cegas e com baixa
visão poderiam ser educadas e ter uma vida independente. Por isso, ainda hoje, muitas pessoas
enxergam o deficiente visual como uma pessoa dependente e até mesmo inferior; negligenciando suas
necessidades e os abdicando de suas decisões em vez de pensar soluções que facilitariam suas vidas
e essa falta de autonomia impacta diretamente a autoestima do deficiente visual.
Felizmente essa problemática vem sendo abordada cada vez mais e estudos para ferramentas
facilitadoras estão sendo desenvolvidos. Trazendo isso para o mundo da moda, um estudo
desenvolvido por nosso grupo de acadêmicas da Instituição Uniasselvi, indagou a dificuldade em
deficientes visuais escolherem suas roupas. Uma das soluções desenvolvidas foi a criação de uma
etiqueta em braile, que inclui detalhamentos completos como: cor, tamanho, modelagem e biótipo.
Somando com uma etiqueta física em alto-relevo usando os símbolos carácter informativo e prático,
mas em tamanho reduzido.
A substituição global das etiquetas comuns para essa etiqueta multissensorial, já seria um
pequeno grande passo para a inclusão.
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3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a construção deste trabalho foi a de pesquisa bibliográfica e os


materiais utilizados para estudos foram: artigos científicos, sites jornalísticos e blogues, todos de
forma on-line.
A pesquisa foi construída em cima da problemática de falta de acessibilidade para deficientes
visuais e como a indústria da moda poderia colaborar com essa inclusão. Sendo assim, foi levantada
uma pesquisa sobre a peça escolhida, sobre a problemática da acessibilidade e sobre uma solução,
que provém de etiquetas inteligentes. A pesquisa foi iniciada em março de 2022 e terminou em junho
de 2022.
Seguindo o desenvolvimento do semestre, deveríamos criar uma peça, baseada no tema
escolhido de forma a abrangê-lo. A peça escolhida, foi uma saia, destinada ao tema de inclusão social
na moda, para o grupo de deficientes visuais, teria que suprir a necessidade desse consumidor, e
facilitar sua vida, no seu dia, a indumentária teria que ter carácter de estilo, e transmitir jovialidade,
utilizamos o tecido de crepe alfaiataria, na cor vermelho vivo, e optamos pelo comprimento mídi para
completar o conjunto. Para confecção da peça Começou calculando o raio da saia godê: 65 cm de
cintura + 4 cm para colocar os botões = 69 cm ÷ por 6,28 = 10,98 arredondado para 11. Com a fita
métrica marca-se a medida do cumprimento da saia a medida de 36,5 cm. Para o Cós, dobrou-se o
papel em 2 partes e marcou-se 35 cm de comprimento e 4 cm de largura. No corte da saia godê,
dobrou-se o tecido em 4 partes com a ourela para a lateral e alfinete com agulhas para que o tecido
não saia do lugar. A costura da saia, começou pela costura do cós, coleou-se a entretela no cós e
marcou-se a costura com o ferro, costurou-se um lado do cós na saia, lado avesso com avesso, tira-se
o excesso de tecido e costura-se a outra parte do cós dobrando-a 1 cm para dentro, e finaliza-se o cós.
Para o fecho na lateral, marcou-se a lateral com 13,5 cm de comprimento e dobrou-se 2 cm
duas vezes e fez-se duas costuras, repetindo na outra lateral da saia. Para fechar a saia na parte de
baixo utilizou-se a costura francesa: juntei às duas partes e fiz uma costura, lado direito com direito.
Virei do lado avesso, tirei o excesso e passei para abrir a costura, outra costura de 1 cm. Para finalizar
a parte interna deu-se o retrocesso abaixo do fecho lateral, unindo às duas partes. Para a barra foi
marcando abaixo do cós a medida da saia desejada da saia com um lápis mágico e corta-se o restando
do tecido. Dobrando 1 cm para dentro, uma costura bem na beirada da dobra, tirando o excesso de
tecido. Virasse do outro lado e faz uma costura bem em cima da outra costura.
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Figura 2: Alfabeto em braile Figura 3: Sistema de cor Figura 4: Símbolos de indumentária.


brasileiro. para cegos.

Fonte: https://www.deficienciavisual.pt/r-
LouisBraille-invencao_do_braille-
Fonte: https://feelipa.com/pt/par Fonte: https://pt.depositphotos.com/vector-
JoseAntonioBaptista.htm Acessado em 04/07/2022 a-deficientes-visuais/ Acessado em
images/roupas.html Acessado em
04/07/2022
04/07/2022

Figura 6: Quadro de inspiração da peça.

Figura 5: Etiqueta com QR.

Fonte: https://www.cinemacego.
com/qr-code-no-mercado-damoda/
Acessado em 04/07/2022
Fonte: Acervo Pessoal
Acessado em
04/07/2022
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Figura 7: Ficha Técnica da Saia.

Fonte: Acervo Pessoal

Figura 8: Processo de montagem saia.

Fonte: Acervo Pessoal


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A concepção da saia e da etiqueta surgiu na ideia de integrar a peça a ser desenvolvida, que
ambos não segregassem grupo de consumidores deficientes visuais dos não deficientes, mas unissem
para possibilitar que uma mesma peça pudesse ser usada pelos dois grupos sem distinção. O objetivo
é que tanto a peça como a etiqueta, pudessem garantir autoestima e autonomia ao usuário, dessa forma
com o projeto de pesquisa, se desenvolveu a etiqueta multissensorial, que agregaria projetos já
existentes no mercado em uma única etiqueta, respeitando características de uma etiqueta comum
(tamanho reduzido, objetividade, especificações do produto). O material agregado, deveria trazer
aspectos do alfabeto brasileiro de letras, somado ao alfabeto em braile brasileiro, e ícones
representativos trazendo assimilação de cor e modelagem. As informações escolhidas para etiqueta
foram: cor, tamanho, modelagem, e QR code. Para cor utilizamos a representação projetada pela
empresa Feelipa, que tem um sistema de cor que procura torna mais simples, e de fácil manuseio para
deficientes visuais, utilizando-a de combinações geométricas. Para o tamanho foi utilizado a letra P
do alfabeto em braile já de compreensão e uso mundial. Na representação da modelagem, buscamos
algo ainda não inventado, partindo da ideia de que todos os símbolos fossem reproduzidos na peça
em alto-relevo, e lido pelo toque, de que representasse o desenho da peça, no caso uma saia com
apresentação geometria semelhante ao desenho técnico, para que o deficiente ao tocar na etiqueta não
precisasse apalpar a peça por todos os lados, para ter a noção de seus detalhes, evitando também que
alguém interferisse tirando a autonomia do momento. Buscamos trazer um QR para conter as
informações adicionais, como lavagem e especificações do tecido, para os que já se utilizam de
tecnologia. Para completar o projeto, foram colocadas as representações, de: tamanho, cor e
modelagem usando o alfabeto brasileiro de letras, para que dessa forma fosse compreendida pelos
dois grupos, em baixo de cada figura, de forma minimalista e funcional. Para fabricação da etiqueta,
cortou-se dois quadrados de tecido com a medida 6 cm por 6, e com 1 cm de margem de costura.
Redimensionei a imagem na medida 6 por 6 cm. E imprenso o molde em papel sulfite, separando o
QR. E Com o carbono marcando os símbolos no tecido passando cola. Juntaram-se as partes da
etiqueta e pregou-se na saia. Para os símbolos em alto-relevo foi utilizado cola para tecido, utilizando
o molde e fazendo camadas, já seco, criaram o relevo que seria lido pelo deficiente visual, finalizado
e seco costurou-se sobre a saia.
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Figura 9: Processo de fabricação etiqueta


multissensorial.

Fonte: Acervo Pessoal

Figura 11: Etiqueta multissensorial em


modo de leitura virtual.

Figura 10: QR code etiqueta.


multissensorial

Fonte:
https://drive.google.com/file/d/1NvG7zMevEf6t
titHYwbNV2S0pVVGEOr8/view? Acessado em
Fonte: Acervo Pessoal
04/07/2022
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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com base no exposto ao longo da pesquisa, foi possível observar como a moda evoluiu,
acompanhando a mudança de cada período histórico e se tornando a maior expressão de identidade
de um indivíduo.
Chegando a essa conclusão, foi levantada a problemática da dificuldade de um deficiente
visual em adquirir uma peça sem a ajuda de terceiros, pois, apesar de conseguir identificar a peça
através do tato, algumas informações, como cor, são impossíveis de serem identificadas sozinhas.
Como meio de resolução para problemática, foi criada uma peça com uma etiqueta em brille
e QR code, onde é possível ver todas as informações da peça de uma forma mais prática e autônoma.
A implementação dessa etiqueta traz independência para o deficiente visual na hora de fazer suas
escolhas, garantindo o direito de conseguir se expressar através de suas vestes.

Figura 12: Saia Finalizada.

Fonte: Acervo Pessoal


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REFERÊNCIAS

ROMA, Adriana de Castro. Breve histórico do processo cultural e educativo dos deficientes visuais
no Brasil. Revista Ciência Contemporânea, Guaratinguetá / SP, v. 4, n. 1, p. 1-15, jun./dez. 2018.
Disponível em: https://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20190426090505.pdf. Acesso em: 4
jul. 2022.

SANA. Homens de Saia. [S. l.]: Moda de Subculturas, 1 set. 2010. Disponível
em: http://www.modadesubculturas.com.br/2010/09/homens-de-saia.html?m=1. Acesso em: 10 jul.
2022

WENDEL, Professor. Um olhar mais inclusivo. [S. l.]: Jornal Hoje em Dia, 14 nov. 2021. Disponível
em: https://www.hojeemdia.com.br/opiniao/professor-wendel/um-olhar-mais-inclusivo-1.867199.
Acesso em: 10 jul. 2022.

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