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MACROECONOMIA II

NATHALIE TELLEZ MARINS

WAS KEYNESIAN ECONOMICS EVER DEAD? IF


SO, HAS IT BEEN RESURRECTED?

Steven M. Fazzari
MACROECONOMIA II

Sumário
1. Um Breve Histórico Intelectual.
2. A Macroeconomia Keynesiana Estava Realmente
“Morta”?
3. Preços, Salários e Política Monetária: a Sabedoria
Convencional em 2007.
4. A Crise Encontra o Limite Inferior Zero.
5. Demanda além do Curto Prazo.
6. Macroeconomia Keynesiana sem a Taxa Natural:
Ainda Está “Morta”?
7. A Demanda Lidera a Oferta.
8. Conclusão.
Steven M. Fazzari
MACROECONOMIA II

Um Breve Histórico Intelectual.


Contexto Histórico:
A macroeconomia keynesiana foi dominante no início do século XX, mas foi rejeitada pela revolução neoclássica da
década de 1970.
A abordagem neoclássica adotou expectativas "racionais" e equações "estruturais".
O termo "keynesiano" tornou-se pejorativo e a macroeconomia keynesiana foi considerada ultrapassada.

O Ressurgimento da Macroeconomia Keynesiana


A Grande Recessão levou a um ressurgimento da macroeconomia keynesiana.
Macroeconomistas proeminentes começaram a adotar uma perspectiva keynesiana.
A macroeconomia keynesiana intrínseca, que enfatiza a demanda como a força motriz da dinâmica macroeconômica,
começou a ganhar força.

Os Limites do Ressurgimento
O ressurgimento da macroeconomia keynesiana foi limitado.
A abordagem convencional ainda se baseia na taxa de juros natural e no limite inferior zero (ZLB).
O conceito de taxa de juros natural é problemático e impede uma compreensão totalmente keynesiana da
macroeconomia.
MACROECONOMIA II

A MACROECONOMIA KEYNESIANA ESTAVA REALMENTE "MORTA"?


A ascensão dos métodos neoclássicos:
A macroeconomia keynesiana foi considerada "morta" devido à ascensão dos métodos da contra revolução neoclássica.
A contra revolução neoclássica passou a ser vista como a abordagem correta na macroeconomia convencional.

Sobrevivência da Macroeconomia Keynesiana:


The Wall Street Journal mostra explicações keynesianas básicas para os acontecimentos macroeconômicos aparecendo
regularmente nas análises das notícias.
A linha teórica keynesiana sobreviveu à revolução pós-Lucas através do uso da rigidez nominal nos modelos, gerando a não
neutralidade monetária. Que apresenta respostas da produção real e do emprego aos choques de demanda,
Modelos neoclássicos adaptados pelos "novos" keynesianos incluem respostas da produção e emprego a choques de
demanda, embora os mecanismos sejam indiretos e envolvem rigidezes e atritos nos modelos.
MACROECONOMIA II

PREÇOS, SALÁRIOS E POLÍTICA MONETÁRIA: A SABEDORIA CONVENCIONAL EM 2007.


Base da Macroeconomia na Década de 1970:
Síntese neoclássica de Samuelson prevalecia antes da ascensão do Novo Clássico.
Efeitos keynesianos da demanda Impulsiona as flutuações de curto prazo, mas o lado clássico da oferta governa o longo
prazo.
Ponte entre os horizontes é o Tempo de ajuste: Salários e preços para equilíbrio.

Ajuste de salários e preços é a ponte entre horizontes temporais.


Apesar da ideia amplamente aceita de rigidez nominal como fonte da doença keynesiana, os macroeconomistas práticos
não acreditam que ajustes rápidos de salários e preços sejam a cura.
A macroeconomia prática moderna foca na identificação dos perigos da deflação para a demanda agregada.

Solução para Demanda Insuficiente:


Desde o experimento de Volcker, a solução prática não é a desinflação/deflação, mas uma política monetária inteligente.
Orientar as taxas de juros para o nível "natural" é visto como a abordagem sensata para restaurar o pleno emprego.
Discussões acadêmicas sugerem regras de Taylor ou regimes de metas de inflação, mas o mecanismo real depende do
bom senso dos formuladores de políticas.
MACROECONOMIA II

PREÇOS, SALÁRIOS E POLÍTICA MONETÁRIA: A SABEDORIA CONVENCIONAL EM 2007.


O Novo Consenso:
Domina o pensamento convencional até a crise financeira global de 2008-2009.
Choques de demanda podem desviar a economia da trajetória potencial.
Eficácia da política monetária é enfatizada, restaurando uma versão da síntese neoclássica com a política monetária como
ponte entre horizontes de curto e longo prazo.

Evolução até 2007:


Evidências históricas dos EUA de meados da década de 1980 a 2007 aparentemente apoiaram o Novo Consenso.
Política monetária ativa em resposta a recessões e crescimento lento.
Discussão sobre histerese do desemprego, principalmente na Europa.
"Grande Moderação" - recessões superficiais e crescimento estável - justificava o Novo Consenso.

Macroeconomia Keynesiana:
Algumas partes da macroeconomia keynesiana estavam vivas e funcionando bem.
Parte significativa do que os keynesianos heterodoxos exploravam estava efetivamente morta no mainstream.
A Grande Recessão trouxe mudanças significativas na perspectiva macroeconômica.
MACROECONOMIA II

A CRISE ENCONTRA O LIMITE INFERIOR ZERO.


Introdução da Crise:
A Grande Recessão foi severa e pegou o establishment macroeconômico convencional de surpresa.
Existe quase um consenso de que a crise foi causada por um grande choque de demanda, desencadeado por excessos financeiros nos
mercados imobiliários.

Reconhecimento da Crise:
Em 2008, a maioria reconheceu a crise como explicada pelos princípios keynesianos básicos.
Líderes políticos trabalharam para conter a crise, com o Federal Reserve dos EUA levando rapidamente as taxas de juros a zero e
implementando medidas de empréstimo de última instância.
American Reinvestment and Recovery Act (o "estímulo Obama") foram grandes para os padrões históricos, o déficit em relação ao PIB
em 2009 (9,8%) foi a mais alta do período pós-guerra, 71% acima do segundo valor mais alto em 1983 (5,7%).
A taxa de juros real "natural" necessária para restaurar a demanda estava muito abaixo de zero, tornando a política monetária
convencional limitada pelo ZLB (Zero Lower Bound) nas taxas de juros nominais.

Mudança na Visão Dominante:


Apesar da análise convencional falar de salários ou preços rígidos como a causa dos efeitos reais do choque de demanda, a ênfase
estava na necessidade de evitar a deflação.
Mudança notável na visão sobre a eficácia de reduções rápidas de salários ou preços na crise keynesiana.
MACROECONOMIA II

A CRISE ENCONTRA O LIMITE INFERIOR ZERO.


Ressurgimento Keynesiano:
Após a crise, houve um ressurgimento da macroeconomia keynesiana.
Reconhecimento de que choques de demanda podem ter efeitos reais graves e que a política fiscal pode ser necessária em
tempos "anormais".

Limites da Política Monetária:


A persistência da crise foi atribuída à política monetária limitada pelo ZLB em taxas de juros nominais.
Houve uma percepção geral de que outras ferramentas de política monetária são minimamente eficazes quando a taxa de
juros natural é significativamente negativa.

Recuperação Mais Fraca:


A recuperação foi mais fraca do que o esperado, levando a perguntas sobre a possibilidade de uma estagnação secular.
Desafios para a Macroeconomia Keynesiana:
Mesmo com o ressurgimento keynesiano, o Novo Consenso continuou sendo a visão dominante em tempos "normais".
A questão permanece sobre se a economia keynesiana estava "morta" e se foi verdadeiramente ressuscitada após a crise.
MACROECONOMIA II

DEMANDA ALÉM DO CURTO PRAZO.


Desafio na Recuperação Pós-Crise:
A economia dos EUA não se recuperou da Grande Recessão de acordo com as expectativas convencionais.
As previsões iniciais de retorno progressivo às tendências anteriores nunca se concretizaram.

Ausência de Recuperação da Tendência:


Historicamente, recessões eram seguidas por períodos de crescimento mais rápido do que o normal, mas desde 2007, não
houve tendência de recuperação.
As estimativas de produção potencial pelo Congressional Budget Office (CBO) indicam uma lacuna significativa em relação às
previsões pré-crise.

Interpretação Não Keynesiana Inicial:


A interpretação dominante atribui a estagnação a fatores do lado da oferta, desconsiderando a demanda.
O modelo do Novo Consenso não admitia estagnação de longo prazo devido à demanda fraca.

Exploração de Explicações Keynesianas:


Surgiu uma explicação keynesiana mais intrínseca, destacando a demanda como um fator para a década de crescimento lento.
Lawrence Summers ressuscitou o conceito de "estagnação secular" causada por uma demanda agregada fraca.
MACROECONOMIA II

DEMANDA ALÉM DO CURTO PRAZO.


MACROECONOMIA II

DEMANDA ALÉM DO CURTO PRAZO.


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DEMANDA ALÉM DO CURTO PRAZO.


Forças Dinâmicas na Estagnação:
Summers identifica forças dinâmicas que comprometem a geração de demanda, incluindo dependência de bolhas
insustentáveis, mudanças tecnológicas e demográficas.
A desigualdade de renda e a participação crescente da renda do capital contribuem para a estagnação.

Visão Mais Keynesiana na Corrente Dominante:


Líderes do pensamento dominante, incluindo Olivier Blanchard, Paul Krugman e Joseph Stiglitz, adotam parcialmente a
visão de que a demanda pode restringir a economia além do curto prazo.
Essa mudança de perspectiva sugere um ressurgimento de uma economia keynesiana mais profunda.

Discussões sobre Restrições de Demanda:


A noção de que as restrições de demanda vão além do curto prazo está sendo discutida seriamente nas principais
publicações.
A visão não é majoritária, mas a discussão ocorre de forma mais significativa do que nas décadas anteriores.

Referência à Taxa de Juros "Natural":


Mesmo com a mudança de perspectiva, as discussões frequentemente fazem referência à consagrada taxa de juros
"natural" da macroeconomia não tão keynesiana pré-crise
MACROECONOMIA II

MACROECONOMIA KEYNESIANA SEM A TAXA NATURAL: AINDA ESTÁ "MORTA"?


Desafio da Taxa Natural na Política Monetária:
Discussões pós-Grande Recessão focam em ressuscitar uma perspectiva keynesiana mais fundamental.
Desafio central: alcançar a taxa natural de juros que equilibra investimento e poupança desejada em pleno emprego.

Crítica de Keynes à Taxa Natural:


Capítulo 14 da Teoria Geral destaca crítica à teoria dos fundos emprestáveis, base da taxa natural.
Keynes argumenta que a ênfase na taxa natural é inconsistente com a teoria keynesiana, pois negligencia a dependência
da função de poupança real em relação à renda e ao emprego.

Natureza da Taxa Natural:


Economistas práticos aceitam o conceito como meta para a política, não teoria real de equilíbrio.
A política monetária busca atingir essa meta, mas se as taxas nominais atingirem o limite inferior, a política fiscal deve visar
aumentar a taxa natural.

Dúvidas sobre a Meta da Taxa Natural:


Duas questões: a meta da taxa natural existe e é um guia prático para a política macroeconômica?
Discussão sobre a elasticidade da demanda agregada em relação à taxa de juros real.
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MACROECONOMIA KEYNESIANA SEM A TAXA NATURAL: AINDA ESTÁ "MORTA"?


Volatilidade e Instabilidade Financeira:
Se existir, a taxa natural é provavelmente volátil e pode ser afetada por pequenos deslocamentos nas curvas de oferta e demanda.
Crítica à utilidade prática devido à dinâmica da instabilidade financeira, exemplificada por bolhas que sustentaram o crescimento
insustentável antes da Grande Recessão.

Reorientação para a Geração de Demanda:


Necessidade de abandonar a taxa natural como guia suficiente para a política.
Ênfase na compreensão dos fundamentos da geração de demanda, destacando a teoria do crescimento liderado pela demanda.

Perspectiva Teórica Promissora:


Exploração da teoria do crescimento liderado pela demanda, onde a demanda agregada é a principal restrição ao crescimento
econômico.
Destaque para análises que consideram forças estruturais que impulsionam a demanda ao longo do tempo.

Considerações Além das Taxas de Juros:


As taxas de juros são apenas um fator entre muitos que determinam a geração de demanda.
O foco exclusivo na taxa natural e na ZLB é visto como uma perspectiva restrita da macroeconomia keynesiana ressuscitada no
século XXI.
MACROECONOMIA II

A Demanda Lidera a Oferta.


Problema com o Conceito de Taxa Natural:
Suposição da taxa natural implica um nível independente de pleno emprego, desconsiderando o estado da demanda.
Compatível com visão neoclássica, onde efeitos keynesianos são apenas no curto prazo, com oferta dominando a dinâmica
macroeconômica de longo prazo.

Perspectiva Keynesiana Intrínseca:


Economia keynesiana intrínseca implica que a demanda impulsiona a economia além do curto prazo.
A demanda conduz a oferta; não há nível de produção potencial independente da demanda.

Ligação entre Demanda e Oferta:


Pesquisa keynesiana heterodoxa estabelece ligação entre dinâmica da demanda e evolução da oferta.
Retornos crescentes dinâmicos de escala conectam expansão da demanda e tamanho dos mercados.

Modelo de Crescimento Orientado pela Demanda:


Modelo apresentado mostra que a demanda impulsiona nível e taxa de crescimento da produção.
Oferta está endogenamente ligada à demanda, com convergência forte da oferta para trajetória dinâmica do crescimento da demanda.

Implicações Empíricas:
Aceleração do crescimento da demanda pode ser acompanhada pelo crescimento da oferta.
Demandas lentas resultam em crescimento medíocre e afetam negativamente o lado da oferta.
MACROECONOMIA II

A Demanda Lidera a Oferta.


Desafio à Taxa de Juros "Natural":
Resultados invalidam a taxa de juros "natural" como estatística suficiente, pois produção potencial depende do estado da
demanda.
Demanda fraca arrasta oferta para baixo, questionando a visão convencional.

Histerese e Análise Convencional:


Conexão com a análise da histerese, onde a demanda fraca afeta a oferta e vice-versa.
Maioria da corrente dominante não reconhece que crescimento da demanda é crucial para o progresso econômico em
horizontes além do curto prazo.

Desafio à Compreensão Keynesiana:


Mesmo com evidências de histerese, compreensão intrínseca keynesiana não está plenamente aceita no mainstream.
Risco de estagnação nos padrões de vida e poder de barganha dos trabalhadores se a compreensão keynesiana básica não
for totalmente incorporada
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Conclusão.
A macroeconomia keynesiana nunca esteve realmente morta, mas esteve em suporte de vida até a Grande
Recessão.
Após a crise, a visão dominante da análise keynesiana intrinseca, que enfatiza a importância da demanda
agregada, começou a ganhar mais aceitação no mainstream.
Apesar do ressurgimento da macroeconomia keynesiana, ainda há uma forte tendência na corrente
dominante de recorrer à história de que, se a estagnação persistir, ela deve ser vista pelas lentes do longo
prazo clássico e, portanto, a estagnação vem de algum tipo de fenômeno de oferta desfavorável
independente da dinâmica da demanda.
Essa interpretação persiste apesar do fato de que não há nenhum "choque" de oferta óbvio no mundo real
que possa explicar uma mudança tão significativa na tendência do produto potencial.
A estagnação contínua pode continuar virando o enorme navio do pensamento macroeconômico
dominante na direção de uma compreensão keynesiana heterodoxa e intrínseca do mundo em que
vivemos.
Um recente artigo de opinião de Lawrence Summers e Anna Stansbury sugere que a mudança nessa
direção continua a ocorrer
CRISLY MARIA ALVES DONDONI
@graduacao.ie.ufrj.br

HEVELYN BRAGA
@graduacao.ie.ufrj.br

OBRIGADO!

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