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COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO DE SEIS FÓRUNS MUNICIPAIS

BRASILEIROS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

Álaze Gabriel Gifted1

SÃO PAULO,
2016
1
Pós-graduado no MBA em finanças e controladoria (2014). Graduado em Gestão Empresarial (2012). Universidade
Bráz Cubas. Pós-graduado em Docência e Pesquisa para o Ensino Superior (2015). Bacharelando em Ciências
Contábeis. Universidade Metropolitana de Santos. Bacharelando em Estatística. Universidade Federal de São Carlos.
Bacharel e Mestre em Teologia. Universidade da Bíblia.
E-mail: alaze_p7sd8sin5@yahoo.com.br
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – UFSCar
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO
NÚCLEO MULTIDISCIPLINAR INTEGRADO DE ESTUDOS, FORMAÇÃO
E INTERVENÇÃO EM ECONOMIA SOLIDÁRIA - NuMI-EcoSol
CURSO DE EXTENSÃO

COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO DE SEIS FÓRUNS MUNICIPAIS


BRASILEIROS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

Álaze Gabriel Gifted

Trabalho apresentado digital e oralmente


ao Núcleo Multidisciplinar Integrado de
Estudos, Formação e Intervenção em
Economia Solidária – NuMI-EcoSol –
como requisito parcial para aprovação
no Curso de Extensão Cooperativas
Populares e Economia Solidária:
produção de conhecimento, intervenção
social e formação de profissionais, da
Universidade Federal de São Carlos
campus São Carlos.

SÃO CARLOS
2016
RESUMO

Este trabalho busca comparar o desempenho de seis fóruns municipais brasileiros de


Economia Solidária. Consiste em um trabalho pioneiro, realizado no curso de extensão do Núcleo
Multidisciplinar Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária – NuMI-
EcoSol – da Universidade Federal de São Carlos. Tem como objetivo subsidiar o desenvolvimento
de fóruns municipais brasileiros já existentes, e a criação de outros que neles possam se espelhar.
Para tanto, utiliza as seguintes metodologias: como eixo epistemológico o método crítico-dialético,
historicizando o tema; como eixo lógico de investigação, o hipotético-dedutivo, partindo da
hipótese principal de que um banco nacional representa mais benefícios em sentido social e
econômico para o país do que um banco estrangeiro; como eixo técnico de investigação, a pesquisa
observacional não participante, dos tipos bibliográfico e documental. A Economia Solidária trata-se,
a priori, de uma alternativa de trabalho, de renda e de inclusão social, e, a posteriori, um trabalho
autogestionário pautado na solidariedade, na valorização do trabalho humano e no desenvolvimento
sustentável capaz de devolver aos seus membros parte da dignidade extraída por meio da
marginalização e da segregação provocadas pelas forças produtivas capitalistas acentuadamente
competitivas e excludentes do século XXI. Os fóruns municipais brasileiros de Economia Solidária
são espaços organizados democraticamente, em âmbito municipal, por atores da Economia Solidária
para: a) a aproximação e a integração dos empreendimentos econômicos solidários; b) a discussão,
organização, formulação, implementação, monitoramento e representação deste movimento; b) a
articulação com as outras instâncias regionais, nacionais e internacionais do mesmo.

Palavras-chave: Economia Solidária. Fórum Municipal de Economia Solidária.


ABSTRACT

This paper seeks to compare the performance of six Brazilian municipal forums Solidarity
Economy. It consists of a pioneering work done in the course of extension of the Integrated
Multidisciplinary Center for Studies, Training and Intervention in Solidarity Economy - Numi-
ECOSOL - Federal University of São Carlos. It aims to support the development of existing
Brazilian municipal forums, and the creation of others that they contain up to. To do so, use the
following methods: as an epistemological axis critical-dialectical method, historicizing the theme;
as a logical axis of research, hypothetical-deductive, based on the main assumption that a national
bank is more benefit in social and economic sense for the country than a foreign bank; as technical
axis of research, observational research nonparticipating, of bibliographic and document types. The
Solidarity Economy it is, a priori, an alternative work, income and social inclusion, and,
subsequently, a self-managed work outlined in solidarity, appreciation of human labor and
sustainable development capable of returning to its members of the dignity extracted through
marginalization and segregation caused by sharply competitive capitalist productive forces and
excluding the twenty-first century. Brazilian municipal forums Solidarity Economy are organized
democratically spaces, at the municipal level, by actors of the Solidarity Economy: a) the approach
and the integration of solidary economic enterprises; b) discussion, organization, design,
implementation, monitoring and representation of this movement; b) coordination with other
regional bodies, national and international of the same.

Keywords: Economia Solidária. Fórum Municipal de Economia Solidária.


RESUMEN

Este documento trata de comparar el rendimiento de seis foros municipales brasileños


Economía Solidaria. Consiste en un trabajo pionero realizado en el curso de extensión del Centro
Integrado Multidisciplinar para el Estudio, Formación e Intervención en la Economía Solidaria -
Numi-EcoSol - Universidad Federal de San Carlos. Su objetivo es apoyar el desarrollo de foros
municipales brasileñas existentes, y la creación de otros que contienen hasta. Para ello, utilice los
métodos siguientes: como un método crítico-dialéctica eje epistemológico, historizar el tema; como
eje lógica de la investigación, el hipotético deductivo, basado en la suposición principal que un
banco nacional es más beneficioso en el sentido social y económico para el país que un banco
extranjero; como eje de la investigación técnica, la investigación de observación no participante, de
los tipos bibliográficos y documentales. La Economía Solidaria es, a priori, un trabajo alternativo, el
ingreso y la inclusión social, y un trabajo autogestionado posteriori se indica en la solidaridad, la
apreciación del trabajo humano y el desarrollo sostenible capaz de retornar a sus miembros de la
dignidad extraída a través de la marginación y la segregación provocada por las fuerzas productivas
capitalistas fuertemente competitivos y excluyendo el siglo XXI. foros municipales brasileñas de
economía solidaria se organizan espacios democráticamente, a nivel municipal, por los actores de la
economía solidaria: a) el enfoque y la integración de las empresas económicas solidarias; b) la
discusión, organización, diseño, implementación, monitoreo y representación de este movimiento;
b) la coordinación con otros organismos regionales, nacionales e internacionales de la misma.

Palabras clave: Economía Solidaria. Foro Municipal de la economía solidaria.


LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Teresina – PI.


Página 51.
TABELA 2 – Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Belo
Horizonte – MG. Página 51.
TABELA 3 – Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Novo
Hamburgo – RS. Página 51.
TABELA 4 – Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Canoas – RS.
Página 51.
TABELA 5 – Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Contagem –
MG. Página 51.
TABELA 6 – Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de São Carlos –
SP. Página 51.
FIGURAS

FIGURA 1 – A Bandeira do Cooperativismo. Página 41.


FIGURA 2 – O Emblema do Cooperativismo. Representação 1. Página
42. FIGURA 3 – O Emblema do Cooperativismo. Representação 2.
Página 42. FIGURA 4 – Significados da Bandeira do Cooperativismo.
Página 43.
FIGURA 5 – Significados do Emblema do Cooperativismo. Página 43.
FIGURA 6 – Trinômio Fundamental da Economia Solidária. Página 50.
FIGURA 7 – A Economia Solidária no Brasil. Página 51.
LISTA DE ANEXOS

ANEXO 1. O Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES). Página .


ANEXO 2. Carta de Princípios da Economia Solidária. Página .
ANEXO 3. Plataforma da Economia Solidária. Página .
LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE 1. Teoria das Organizações: abordagens mecanicista e organicista. Página 118.


APÊNDICE 2. Abordagem organicista de organização. Página 119.
APÊNDICE 3. A abordagem cerebral de organização. Página 121.
APÊNDICE 4. A organização como cultura. Página 122.
APÊNDICE 5. A organização como um sistema político. Página 125.
APÊNDICE 6. Teorização organizacional: um campo historicamente contestado. Página 128.
APÊNDICE 7. Focalizando a mudança: teorias e modelos. Página 130.
APÊNDICE 8. Notas especiais sobre a legislação trabalhista brasileira. Página 151.
APÊNDICE 9. Notas especiais sobre a legislação previdenciária brasileira. Página 156.
APÊNDICE 10. Notas especiais sobre a legislação assistencial brasileira. Página 159.
APÊNDICE 11. Ergonomia e inovação. Página 161.
APÊNDICE 12. A precarização econômica do trabalho. Página 163.
APÊNDICE 13. A precarização social do trabalho. Página 168.
APÊNDICE 14. A precarização ambiental do trabalho. Página 179.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................21
1.1 Justificativa...............................................................................................................................21
1.2 Problematização......................................................................................................................21
1.3 Objetivos...................................................................................................................................21
1.3.1 Geral................................................................................................................................21
1.3.2 Específicos.......................................................................................................................21
1.4 Hipóteses da pesquisa..............................................................................................................22
1.5 Critérios para a seleção das fontes de pesquisa....................................................................22
1.6 Estrutura do trabalho.............................................................................................................22

2 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO....................................................................23
2.1 Pilar epistemológico.................................................................................................................23
2.2 Pilar lógico................................................................................................................................23
2.3 Pilar técnico..............................................................................................................................23
2.3.1 Abordagem mista............................................................................................................24
2.3.2 Base procedimental observacional................................................................................25
2.3.3 Técnicas gerais de pesquisa...........................................................................................28
2.3.3.1 Levantamento bibliográfico...............................................................................28
2.3.3.2 Levantamento documental................................................................................30
2.3.4 Técnicas específicas de pesquisa....................................................................................32
2.3.4.1 Coleta...................................................................................................................32
2.3.4.2 Registro................................................................................................................32
2.3.4.3 Organização........................................................................................................33
2.3.4.4 Sistematização.....................................................................................................34
2.3.4.5 Análise ou interpretação....................................................................................35
2.3.4.6 Formalização.......................................................................................................36
2.3.4.7 Apresentação.......................................................................................................37

3 REFERENCIAL TEÓRICO-TEMÁTICO.................................................................................38
3.1 O surgimento do cooperativismo...........................................................................................38
3.2 O cooperativismo no Brasil.....................................................................................................44
3.3 A Economia Solidária no Brasil.............................................................................................46

4 FÓRUNS MUNICIPAIS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA.........................................................56


4.1 Teresina (PI).............................................................................................................................56
4.1.1 Fundação.........................................................................................................................56
4.1.2 Participantes...................................................................................................................56
4.1.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária......................................57
4.1.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento................................................58
4.1.5 Avanços e desafios...........................................................................................................59
4.2 Belo Horizonte (MG)...............................................................................................................60
4.2.1 Fundação.........................................................................................................................60
4.2.2 Participantes...................................................................................................................61
4.2.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária......................................62
4.2.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento................................................63
4.2.5 Avanços e desafios...........................................................................................................64
4.3 Novo Hamburgo (RS).............................................................................................................66
4.3.1 Fundação.........................................................................................................................66
4.3.2 Participantes...................................................................................................................67
4.3.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária......................................67
4.3.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento................................................70
4.3.5 Avanços e desafios...........................................................................................................72
4.4 Canoas (RS)..............................................................................................................................74
4.4.1 Fundação.........................................................................................................................74
4.4.2 Participantes...................................................................................................................75
4.4.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária......................................75
4.4.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento................................................76
4.4.5 Avanços e desafios...........................................................................................................77
4.5 Contagem (MG).......................................................................................................................79
4.5.1 Fundação.........................................................................................................................79
4.5.2 Participantes...................................................................................................................80
4.5.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária......................................81
4.5.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento................................................82
4.5.5 Avanços e desafios...........................................................................................................83
4.6 São Carlos (SP)........................................................................................................................84
4.6.1 Fundação.........................................................................................................................84
4.6.2 Participantes...................................................................................................................85
4.6.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária......................................86
4.6.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento................................................87
4.6.5 Avanços e desafios...........................................................................................................88
4.7 Comparação dos fóruns apresentados......................................................................................92

5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................105


5.1 Conclusões..............................................................................................................................105
5.1.1 Gerais.............................................................................................................................105
5.1.2 FMEPS de Teresina (PI)..............................................................................................105
5.1.3 FMEPS de Belo Horizonte (MG)................................................................................106
5.1.4 FMEPS de Novo Hamburgo (RS)...............................................................................108
5.1.5 FMEPS de Canoas (RS)...............................................................................................109
5.1.6 FMEPS de Contagem (MG).........................................................................................111
5.1.7 FMEPS de São Carlos (SP)..........................................................................................112
5.2 Considerações finais..............................................................................................................115
5.2.1 Outros FMEPS brasileiros...........................................................................................116
5.2.2 Leis Municipais brasileiras de EcoSol........................................................................116
5.2.3 EcoSol versus capitalismo............................................................................................116

REFERÊNCIAS..............................................................................................................................117
ANEXO 1:.......................................................................................................................................127
ANEXO 2:.......................................................................................................................................133
ANEXO 3:.......................................................................................................................................137
APÊNDICE 1:.................................................................................................................................143
APÊNDICE 2:.................................................................................................................................144
APÊNDICE 3:.................................................................................................................................146
APÊNDICE 4:.................................................................................................................................147
APÊNDICE 5:.................................................................................................................................150
APÊNDICE 6:.................................................................................................................................153
APÊNDICE 7:.................................................................................................................................155
APÊNDICE 8:.................................................................................................................................157
APÊNDICE 9:.................................................................................................................................162
APÊNDICE 10:...............................................................................................................................165
APÊNDICE 11:...............................................................................................................................166
APÊNDICE 12:...............................................................................................................................168
APÊNDICE 13:...............................................................................................................................172
APÊNDICE 14:...............................................................................................................................182
21

1 INTRODUÇÃO

1.1 Justificativa

Esse tema se justifica devido à necessidade de um estudo sobre os fóruns municipais


brasileiros de Economia Solidária, tema este ainda não pesquisado antes deste trabalho. A
Economia Solidária trata-se, a priori, de uma alternativa de trabalho, de renda e de inclusão social,
e, a posteriori, um trabalho autogestionário pautado na solidariedade, na valorização do trabalho
humano e no desenvolvimento sustentável capaz de devolver aos seus membros parte da dignidade
extraída por meio da marginalização e da segregação provocadas pelas forças produtivas capitalistas
acentuadamente competitivas e excludentes do século XXI.
Fortalecer o movimento de Economia Solidária significa dar uma chance à ressignificação
identitária de milhões de famílias marginalizadas e ou segregadas pelo sistema capitalista,
concedendo-lhe um trabalho humano, digno, solidário, em que elas são devidamente valorizadas e
ainda auferem renda para a sua subsistência. Por essa razão este movimento merece reconhecimento
social, apoio de entes estatais e empresariais, políticas públicas melhor elaboradas e implementadas
em seu favor.
Esta pesquisa justifica-se também pela urgência da necessidade de se encontrar uma
alternativa de trabalho, de renda e de inclusão social em meio à crise econômica e à conjuntura
política exacerbadamente conflituosa por que passa a nação brasileira, e que culminou no aumento
excessivo da taxa de juros, no aumento dos índices financeiros inflacionários, na atenuação da
produtividade e, consequentemente, na elevação do desemprego, com o fechamento em massa de
postos de trabalho em vários setores do mercado, prejudicando milhões de famílias, em sua maioria
de baixa renda e com pouca escolaridade, sobretudo em sentido financeiro.

1.2 Problematização

Os fóruns municipais brasileiros de Economia Solidária são espaços organizados


democraticamente, em âmbito municipal, por atores da Economia Solidária para: a) a aproximação
e a integração dos empreendimentos econômicos solidários; b) a discussão, organização,
formulação, implementação, monitoramento e representação deste movimento; b) a articulação com
as outras instâncias regionais, nacionais e internacionais do mesmo.
Entretanto, os fóruns municipais brasileiros de Economia Solidária são ainda escassos e
pouco estruturados devido à incipiência da regulação que paulatinamente se constrói sobre este
movimento na nação brasileira, e carecem, em sua maioria, para a sua adequada estruturação, de um
Regimento Interno adequadamente elaborado e aplicado, reuniões regulares e significativas com os
membros, participação ativa de todos ou pelo menos da maioria, instalações físicas com recursos
tecnológicos e espaços apropriados para sediar eventos municipais do movimento, e apoio do
governo municipal (prefeitura, câmara dos vereadores).

1.3 Objetivos

1.3.1 Geral: caracterizar e comparar vários fóruns municipais brasileiros de Economia


Solidária, por meio de levantamento bibliográfico e documental.

1.3.2 Específicos:

1. Discutir o valor social e econômico do trabalho autogestionário;


2. Discutir a Política Nacional de Economia Solidária;
22

1.4 Hipóteses da pesquisa

Parte das seguintes hipóteses:

a) os fóruns municipais brasileiros de Economia Solidária, ainda escassos e pouco


estruturados devido à incipiência da regulação que paulatinamente se constrói sobre este movimento
na nação brasileira, precisam, para a sua adequada estruturação, de um Regimento Interno
adequadamente elaborado e aplicado, reuniões regulares e significativas com os membros,
participação ativa de todos ou pelo menos da maioria, instalações físicas com recursos tecnológicos
e espaços apropriados para sediar eventos municipais do movimento, e apoio do governo municipal
(prefeitura, câmara dos vereadores);
b) a priori, os ingressantes na Economia Solidária a buscam como meramente uma
alternativa de trabalho, de renda e de inclusão social;
c) a posteriori, os membros da Economia Solidária a reconhecem como trabalho
augestionário promotor da valorização do trabalho humano, do desenvolvimento sustentável e da
solidariedade;
d) a Economia Solidária não tem forças para eliminar o capitalismo, mesmo porque, se em
algum momento ela representar uma ameaça para ele, certamente será engolida como o foi o
socialismo da antiga URSS pelos EUA, na Guerra Fria (1945-1991).

1.5 Critérios para a seleção das fontes de informação da pesquisa

Para a escolha das fontes selecionadas foram considerados os seguintes critérios: a)


viabilidade de acesso e análise dos materiais selecionado; b) conteúdos fundamentais sobre o
cooperativismo e a Economia Solidária; c) conteúdos específicos sobre vários fóruns municipais
brasileiros de Economia Solidária; d) conteúdo sobre a metodologia da pesquisa científica. Todas as
fontes selecionadas foram observadas, após o que foram registradas, organizadas, sistematizadas,
analisadas, formalizadas e apresentadas de acordo com os procedimentos técnicos de pesquisa para
levantamento bibliográfico e levantamento documental apontados por Gil (1999; 2010), Marconi e
Lakatos (2007), Rodrigues (2007), Luna (2011; 2012), Correa (2003), Köche (1997; 2011), Gifted
(2015), dentre vários outras autoridades sobre a metodologia da pesquisa científica.

1.6 Estrutura do trabalho

Este trabalho está estruturado em seis capítulo. Este primeiro capítulo é dedicado à
introdução, que apresenta o tema, a justificativa, a problematização, os objetivos, as hipóteses de
pesquisa, os critérios para a seleção das fontes de informação da pesquisa. No segundo capítulo, são
apresentados e explanados os fundamentos teórico-metodológicos epistemoló-gicos, lógicos e
técnicos. No terceiro são apresentados e explanados os fundamentos teórico-temáticos, ou seja, uma
revisão da literatura crítica sobre o surgimento do cooperativismo, o surgimento do trabalho
autogestionário, e a Economia Solidária no Brasil. O quarto capítulo é dedicado a apresentar vinte e
cinco fóruns municipais brasileiros de Economia Solidária, caracterizando-os e comparando-os. O
quinto capítulo é destinado à apresentação das conclusões e das considerações finais. Em seguida,
são apresentadas todas as referências teórico-temáticas e teórico-metodológicas que embasaram esta
pesquisa. Por fim, mas não menos importante, são acrescentados anexos e adendos (apêndices)
como materiais adicionais de pesquisa, para a realização de estudos complementares a critério do(a)
leitor(a).
23

2 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

2.1 Pilar epistemológico

O pilar epistemológico refere-se ao conjunto de pressupostos ontológicos, morfológicos,


gnosiológicos, teóricos e éticos, norteadores da pesquisa científica em um nível estratégico. É,
portanto, o pilar estratégico, ou diretivo, da pesquisa científica. Considera sensivelmente a
concepção de homem, de vida, de mundo, de ciência e de ética que o pesquisador tem tanto quanto
as suas relações com o objeto da sua investigação (GILES, 1979; PIAGE, 1973; KÖCHE, 1997;
TEIXEIRA 2012; EL-GUINDY, 2004; VERGARA, 2012; SPINK, 2012; BRASIL, 2012). Por essas
razões, os seus enfoques (métodos) podem ser apropriadamente denominados bases estratégicas da
investigação ou bases diretivas constitucionais da investigação (GIFTED, 2015).
Esta proposta de trabalho de pesquisa caracteriza-se como um estudo crítico-dialético:
concebe a ciência como produto da ação do homem e, portanto, tida como uma categoria histórica e
a produção científica uma construção; o homem é tido tanto como ser social e histórico,
determinado pelos múltiplos contextos como criador e transformador de múltiplos contextos;
defende uma preocupação diacrônica: vê a dinâmica do objeto estudado, o movimento (o filme do
real); defende um visão dinâmica, conflitiva, heterogênea, ou seja, uma percepção organizada da
realidade que se constrói através da prática cotidiana do pesquisador e das condições concretas de
sua existência. Seu caráter é historicista, ou seja, situado entre o caráter cientificista e o caráter
tecnicista. Ela tem como objetivo a historicização do objetivo investigado, levando-se em
consideração as suas causas e os seus efeitos nos campos cívico, moral, econômico, sociológico,
tecnológico, religioso, político e científico da vida humana. Por essa razão, o grau de aproximação
entre sujeito pesquisador e objeto investigado por uma pesquisa dirigida por essa base é
moderadamente sensível, e ela é bastante comum nos estudos interdisciplinares (TEIXEIRA 2012;
VERGARA, 2012; GIFTED, 2015; EL-GUINDY, 2004; SPINK, 2012).

2.2 Pilar lógico

O pilar lógico refere-se ao conjunto de pressupostos estruturais do pensamento, norteadores


da pesquisa científica em um nível tático. É, portanto, o pilar tático, ou gerencial, da pesquisa
científica. Considera o ponto exato de partida do raciocínio utilizado bem como as nuances dos seus
avanços. Por essa razão, os seus enfoques (métodos) podem ser apropriadamente denominados
bases táticas da investigação ou bases estruturais do pensamento da investigação (CRESWELL,
2010; TRIVIÑOS, 1987; GIFTED, 2015). A base estrutural de pensamento hipotético-dedutiva,
utilizada neste trabalho, é aquela que parte de um conjunto de hipóteses (possibilidades) genéricas e
ruma para conclusões específicas (particulares). Essa base é bastante comum tanto nos estudos
historicistas, quanto nos tecnicistas e nos cientificistas, sejam eles das ciências humanas, exatas,
sociais, da vida, da natureza, etc. (CRESWEL, 2010; GIL, 1999; 2010; MARCONI; LAKATOS,
2003; 2007; 2008; POPPER, 1972; KANT, 2001; 2004).

2.3 Pilar técnico

O pilar técnico refere-se ao conjunto de pressupostos de abordagem, de modalidade


sequencial (pesquisa mista), de base e subbase procedimentais (pesquisa observacional), de técnicas
e subtécnicas, de instrumentos, de recursos (inclusive o tempo) e de lócus, norteadores da pesquisa
científica em um nível operacional. É, portanto, o pilar operacional, ou funcional, da pesquisa
científica. Considera as fases pré-implementatória (trabalho ou redação de ensaio), implementatória
(execução do trabalho ou da redação de ensaio) e pós-implementatória (publicação dos resultados
24

finais) da investigação científica (MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007; 2008; GIL, 1999; 2010;
ECO, 2012; THIOLLENT, 2003; 2011; YIN, 2010; MARTINS, 2008; SOARES, 2003). Por essa
razão, os seus enfoques (métodos) podem ser apropriadamente denominados bases operacionais da
investigação ou bases funcionais da operação de investigação (GIFTED, 2015). As abordagens de
investigação podem ser: quantitativa, quando traduz em números tudo o que quantificável;
qualitativa, quando traduz em texto tudo o que é qualificável; e mista (um pouco quali, um pouco
quanti) (CRESWELL, 2010; RODRIGUES, 2006; TRIVIÑOS, 1987). As modalidades sequenciais,
inerentes aos métodos mistos de investigação, podem ser: estratégia explanatória sequencial;
estratégia exploratória sequencial; estratégia transformativa sequencial; estratégia de triangulação
concomitante; estratégia incorporada concomitante e estratégia transformativa concomitante
(CRESWELL, 2010; GIFTED, 2015).
As bases procedimentais de investigação podem ser: a observacional ou a experimental. A
base procedimental de investigação observacional pode ser: participante – por exemplo a pesquisa
de campo; ou não participante – pesquisa bibliográfica, documental ou artificial (CRESWELL,
2010; GIFTED, 2015; GIL, 1999; 2010). Cada uma delas é classificada de acordo com as técnicas
de tratamento de dados utilizadas. As técnicas de investigação podem ser de coleta (amostragem,
inquérito, etc.), de registro (protocolagem observacional, protocolagem experimental, etc.), de
sistematização (cronológica horária ou antihorária, uni/bi/tri/polidimensional, propedêutica ou
perorativa), de organização (categorização, codificação, tabulação), de análise ou interpretação
(análise artificial, análise bibliométrica, análise de conteúdo, análise de discurso, análise fatorial,
análise correlacional, análise de regressão, análise de riscos, exegese-hermenêutica, etc.), de
formalização (TCC, dissertação, tese, artigo, resumo, tutorial, relatório, periódico, revista, software,
patente, obra de arte) e de apresentação (exposição oral, exposição visual, exposição mista)
(GIFTED, 2015; SEVERINO, 2007; GIL, 1999; 2010).
Os instrumentos de investigação tratam-se dos materiais utilizados para a coleta dos dados.
Podem ser o protocolo observacional (de entrevista, amostral, etc.), o protocolo experimental, o
diário de campo, as escalas sociais, os testes, o questionário, o formulário (MARCONI; LAKATOS,
2003; 2007; 2008; CORREA, 2003; MORETTIN; BUSSAB, 2010).
Os recursos tratam-se dos requisitos necessários à viabilidade da investigação científica.
Podem ser tecnológicos (hardware, software, materiais escolares, laboratórios de informática,
bibliotecas), financeiros (valores monetários, bolsas de estudo, ajudas de custo, premiações),
humanos (grupos de pesquisa, orientadores, coorientadores, coautores, examinadores,
colaboradores, normas justas) e tempo (cronogramas executáveis, metas alcançáveis) (MARCONI;
LAKATOS, 2003; 2007; 2008; GIL, 1999; 2010; CRESWELL, 2010; RODRIGUES, 2006;
TRIVIÑOS, 1987).
Os lócus tratam-se dos espaços físicos, isto é, os lugares onde são realizadas as etapas da
investigação científica. Podem ser de coleta (uma biblioteca), de registro (um telecentro), de
sistematização (uma praça), de organização (um albergue), de análise ou interpretação (uma feira de
domingo), de formalização (uma universidade) e de apresentação (um encontro universitário)
(MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007; 2008; GIL, 1999; 2010; CRESWELL, 2010; RODRIGUES,
2006; TRIVIÑOS, 1987).

2.3.1 Abordagem mista

A abordagem de pesquisa mista é aquela que utiliza tanto a linguagem quanto os dados
predominantemente utilizados são os qualitativos e, concomitantemente, os quantitativos. Enquanto
os primeiros servem como lente teórica da investigação, os segundos servem como fundamentos
precisos dos resultados produzidos. Essa abordagem já é hoje bastante comum em estudos inter e
multidisciplinares, e seu uso na área da Educação é crescente (DAL-FARRA; LOPES, 2014;
25

CRESWELL, 2010). Como modalidade sequencial de pesquisa, foi selecionada para a execução
desta proposta de trabalho de pesquisa a estratégia transformativa sequencial de métodos mistos,
que Creswell (2010, p. 248) explana do seguinte modo:

[...] A estratégia transformativa sequencial é um projeto de duas fases, com uma lente
teórica (p. ex., gênero, raça, teoria da ciência social) se sobrepondo aos procedimentos
sequenciais. Tem também uma fase inicial (quantitativa ou qualitativa), seguida de uma
segunda fase (qualitativa ou quantitativa), a qual se desenvolve sobre a fase anterior. A
lente teórica é apresentada na introdução de uma proposta, molda uma questão de pesquisa
direcional que visa explorar um problema (p. ex., desigualdade, discriminação, injustiça),
cria sensibilidade à coleta de dados de grupos marginalizados ou sub-representados e
termina com um chamado à ação. [...]

Não é nem um pouco fácil utilizar tal abordagem, motivo pelo qual Creswell (2010, p. 243)
justifica:

Combinar os dados (e, em um sentido mais amplo, a combinação das questões de pesquisa,
da filosofia, da interpretação) é difícil principalmente quando se considera que os dados
qualitativos consistem de texto e imagens e de dados quantitativos, números. Há duas
questões diferens aqui: Quando um pesquisador faz a combinação dos dados em um estudo
de métodos mistos? E como ela ocorre? A primeira questão é muito mais fácil de responder
do que a segunda. A combinação dos dois tipos de dados pode ocorrer em diversos
estágios: na coleta dos dados, na análise dos dados, na interpretação dos dados, ou nas três
fases. [...]

Hoje, na ciência moderna, já existem várias estratégias sequenciais desenvolvidas para a


pesquisa de abordagem mista, objetivando facilitar a sua compreensão e o seu uso (CRESWELL,
2010). Creswell (2010), professor universitário que ministra cursos e escreve sobre metodologia
qualitativa e pesquisa de métodos mistos há mais de 35 anos, apresenta em sua obra seis estratégias
sequenciais para as pesquisas científicas de métodos mistos, cujo uso já se faz crescente em várias
áreas do conhecimento, em especial a das Ciências Exatas, a das Ciências Sociais Aplicadas e da
Educação.

2.3.2 Base procedimental observacional

A observação é o método mestre de investigação científica. Quer seja participante ou não, a


base procedimental observacional se faz presente em toda pesquisa científica, haja vista que é
observando atentamente o objeto de pesquisa, sob condições controladas ou não, que somos capazes
de explorá-lo (GIL, 1999; 2010; CRESWELL, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007; 2008;
GIFTED, 2015). Sobre os tipos de observação, Marconi e Lakatos (2008, p. 77-80) apresenta oito:

A técnica da observação não estruturada ou assistemática, também denominada espontânea,


informal, ordinária, simples, livre, ocasional e acidental, consiste em recolher e registrar os
fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou precise fazer
perguntas diretas. É mais empregada em estudos exploratórios e não tem planejamento e
controle previamente elaborados. [...]
A observação sistemática também recebe várias designações: estruturada, planejada,
controlada. Utiliza instrumentos para a coleta dos dados ou fenômenos observados.
Realiza-se em condições controladas, para responder a propósitos preestabelecidos.
26

Todavia, as normas não devem ser padronizadas nem rígidas demais, pois tanto as situações
quanto os objetos e objetivos da investigação podem ser muito diferentes. Deve ser
planejada com cuidado e sistematizada. [...]
Na observação não participante, o pesquisador toma contato com a comunidade, grupo ou
realidade estudada, mas sem integrar-se a ela: permanece de fora. Presencia o fato, mas não
participa dele; não se deixa envolver pelas situações; faz mais o papel de espectador. Isso,
porém, não quer dizer que a observação não seja consciente, dirigida, ordenada para um fim
determinado. O procedimento tem caráter sistemático. [...]
[A observação participante] consiste na participação real do pesquisador com a comunidade
ou grupo. Ele se incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um
membro do grupo que está estudando e participa das atividades normais deste.
[...] Em geral, são apontadas duas formas de observação participante: a) Natural. O
observador pertence à mesma comunidade ou grupo que investiga; b) Artificial. O
observador integra-se ao grupo com a finalidade de obter informações. […]
Como o próprio nome indica, [a observação individual] é a técnica de observação realizada
por um pesquisador. Nesse caso, a personalidade dele se projeta sobre o observado, fazendo
algumas inferências ou distorções, pela limitada possibilidade de contato. Por outro lado,
pode intensificar a objetividade de suas informações, indicando, ao anotar os dados, quais
são os eventos reais e quais são as interpretações. É uma tarefa difícil, mas não impossível.
Em alguns aspectos, a observação só pode ser feita individualmente. [...]
A observação em equipe é mais aconselhável do que a individual, pois o grupo pode
observar a ocorrência por vários ângulos. Quando uma equipe está vigilante, registrando o
problema na mesma área, surge a oportunidade de confrontar seus dados posteriormente,
para verificar as predisposições.
Normalmente, as observações [na vida real] são feitas no ambiente real, registrando-se os
dados à medida que forem ocorrendo, espontaneamente, sem devida preparação. A melhor
ocasião para o registro é o local onde o evento ocorre. Isto reduz as tendências seletivas e a
deturpação na reevocação. [...]A observação em laboratório é aquela que tenta descobrir a
ação e a conduta que tiveram lugar em condições cuidadosamente dispostas e controladas.
Entretanto, muitos aspectos importantes da vida humana não podem ser observados sob
condições idealizadas no laboratório. [...]
(grifos meus)

Todavia, embora a literatura crítica apresente vários tipos de observação, existem


basicamente dois tipos dela: a direta, ou participante, que constitui uma técnica aplicada in loco, ou
seja, no local onde se encontra o objeto do estudo; e a indireta, ou não participante, que constitui
uma técnica aplicada à distância do local onde se encontra o objeto de estudo. Quer a observação
participante, utilizada por exemplo na pesquisa-ação, em estudos de casos observacionais e na
etnografia participante, quer a observação não participante, utilizada por exemplo na pesquisa
bibliográfica, na pesquisa documental ou na etnografia não participante, existem cuidados
importantes que precisam ser tomados. Sobre esse aspecto, Martins (2008, p. 109) salienta:

A observação consiste em um exame minucioso que requer atenção na coleta e análise dos
dados. Para tanto, a observação deve ser precedida por um levantamento de referencial
teórico e resultados de outras pesquisas relacionadas ao estudo. Formalmente, é desejável a
construção de um protocolo de observação, que, evidentemente, fará parte do protocolo do
Estudo de Caso. Observar não é apenas ver. A validade (será que se está observando aquilo
que de fato se deseja observar?) e a confiabilidade, ou fidedignidade (será que sucessivas
observações do mesmo fato ou situação oferecem resultados semelhantes?) poderão ser
atingidas se a observação for, rigorosamente, controlada e sistemática. Implica em um
planejamento cuidadoso do trabalho e preparação do observador. O plano delimitará o
fenômeno a ser estudado, indicará o que se deve observar, as maneiras de se observar, a
duração, periodicidade, modo de registros e controles para garantia da validade e
confiabilidade. [...]
27

A observação pode ser direta, denominada observação participante (OP), quando o


observador-pesquisador partipa dos eventos a serem estudados, ou pode ser indireta, denominada
observação não participante (ONP), quando o observador-pesquisador se vale somente da literatura
crítica sobre os eventos a serem estudados sem, contudo, deles participar. Distinguindo os dois tipos
de observação, Martins (2008, p. 25) explana:

[...] A OP é uma modalidade especial de observação na qual o pesquisador não é apenas um


observador passivo. Ao contrário, o pesquisador pode assumir uma variedade de funções
dentro de um Estudo de Caso e pode, de fato, participar dos eventos que estão sendo
estudados. O observador-pesquisador precisará ter permissão dos responsáveis para realizar
o levantamento e não ser confundido com elementos que avaliam, inspecionam ou
supervisionam atividades. O grande desafio do investigador é conseguir aceitação e
confiança dos membros do grupo social onde realiza o trabalho de campo [...]

As principais formas da observação participante são a entrevista, bastante utilizada nos


estudos de caso, nas pesquisas de campo em geral, nas biografias e nas etnografias participantes
(VERGARA, 2012; YIN, 2010), e a intervenção, utilizada nas pesquisas-ação (THIOLLENT,
2011). Por sua vez, as principais formas da observação não participante são os levantamentos
bibliográficos (dados secundários), e os levantamentos documentais (dados primários), utilizados
em todas as pesquisas quando da revisão da literatura e outras partes (GIL, 1999; 2010;
SEVERINO, 2007).
A base procedimental observacional indica que o meio técnico utilizado para a coleta
dedados é a observação e os meios instrumentais a ela inerentes. Por observação entende-se a
técnica de coleta de dados em que o pesquisador observa o objeto investigado, quer participe ou não
desse processo. Quando o observador-pesquisador participa do processo de investigação, diz-se que
se trata de uma pesquisa observacional participante; quando, entretanto, o observador-pesquisador
não participa do processo de investigação, diz-se que se trata de uma pesquisa observacional não
participante.
A observação participante (OP) visa coletar dados primários, enquanto a observação não
participante (ONP), dados secundários. Por essa razão, na OP podem ser realizadas a pesquisa-ação,
os estudos de caso, as biografias participantes e as etnografias participantes. Já na ONP podem ser
realizadas as pesquisas bibliográficas, as pesquisas documentais, as biografias não participantes e as
etnografias não participantes. Neste diapasão, Bêrni e Fernandez (2012, p. 176-177) explanam:

Os dados primários obedecem ao delineamento de um estudo que gerará a base


informacional nos estilos alternativos de condução de experimentos ou de obtenção de
informações por meio do questionamento direto dos agentes envolvidos com o fenômeno.
Tal é o caso, seguindo o exemplo, das testemunhas de um acidente de trânsito. Entre os
dados primários a ser coletados, destacam-se a observação direta ou participante, a
entrevista formal ou informal, a entrevista estruturada por meio de questionário, a entrevista
livre baseada em roteiro, a discussão em grupo (distinguindo-se a construção de grupos
focais), a consulta a documentos pessoais, diários, correspondência ativa e passiva, histórias
de vida. [...]

Se precisar de mais informação secundária, o pesquisador deverá recorrer a estatísticas


previamente disponíveis em livros técnicos, relatórios de pesquisa, artigos em revistas técnicas,
anais de congressos, documentos oficiais (censos, inquéritos, resoluções, informes), documentos
28

pessoais, correspondência ativa e passiva, história de vida, diários publicados ou privados,


documentos administrativos, contábeis e jurídicos.
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que a base procedimental observacional
é parcialmente empírica (OP) e parcialmente não empírica (ONP), dessemelhantemente das demais
bases procedimentais, que são todas completamente empíricas. Além disso, deduz-se que ela é a
mais utilizada por parte dos pesquisadores em geral, por causa da facilidade da sua compreensão e,
especialmente, do seu uso. Porfim, deduz-se também que toda pesquisa teórica, ou básica, baseia-se
nos procedimentos observacionais, valendo-se de seus meios técnicos e instrumentais.

2.3.3 Técnicas gerais de pesquisa

2.3.3.1 Levantamento bibliográfico

O levantamento bibliográfico busca mapear um conjunto de bibliografias previamente


selecionadas para análise. A metodologia bibliográfica oferece meios que auxiliam na definição e
resolução dos problemas já conhecidos, permitindo tanto explorar novas áreas onde os mesmos
ainda não se cristalizaram suficientemente como também analisar um tema sob novo enfoque ou
abordagem, produzindo novas conclusões. (SEVERINO, 2007). Ele é utilizado para a revisão da
literatura e, portanto, necessário a todas as espécies de pesquisa. Configura-se na técnica de coleta
de dados dos livros e dos trabalhos acadêmicos em geral, tais como TCC’s, monografias,
dissertações, teses, artigos científicos, resenhas científicas, etc. Os seus instrumentos fundamentais
são as bibliografias.
O levantamento bibliográfico oferece meios que auxiliam na definição e resolução dos
problemas já conhecidos, como também permite explorar novas áreas onde os mesmos ainda não se
cristalizaram suficientemente. Permite também que um tema seja analisado sob novo enfoque ou
abordagem, produzindo novas conclusões. Além disso, permite a cobertura de uma gama de
fenômenos muito mais ampla, mormente em se tratando de pesquisa cujo problema requeira a coleta
de dados muito dispersos no espaço. Sobre essa técnica de pesquisa para coleta de dados, Rodrigues
(2007, p. 43) assinala:

Bibliográfica é a pesquisa limitada à busca de informações em livros e outros meios de


publicação. É o oposto da pesquisa de campo, distinguindo-se também e igualmente por
oposição da pesquisa in victro. Geralmente, a pesquisa bibliográfica integra o âmbito da
pesquisa ex-post-facto, pelo simples fato de que os livros e artigos de revista ou periódico
qualquer tratam, via de regra, de fatos consumados, não sendo habitual a pesquisa
bibliográfica baseada em leitura do tipo futurologia.

O levantamento bibliográfico pressupõe trabalhos anteriores que servem como fonte ou lente
teórica para embasamento de estudos mais abrangentes e ou aprofundados. Sobre esse aspecto,
Severino (2007, p. 122) destaca:

A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente


de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc. Utiliza-
se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e
devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O
pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes
dos textos.
29

Realmente, toda pesquisa acadêmica requer em algum momento a realização de trabalho


que possa ser considerado como levantamento bibliográfico. Prova disso é que nas dissertações e
teses da atualidade, em sua maioria, há um capítulo especial dedicado à revisão bibliográfica cuja
finalidade principal é fundamentar o trabalho acadêmico teórica e consistentemente, identificando,
não raro, o estágio atual do conhecimento referente ao tema. Gil (2010, p. 29) explana sobre tal tipo
de pesquisa com os seguintes dizeres:

A pesquisa bibliográfica é elaborada com base em material já publicado. Tradicionalmente,


esta modalidade de pesquisa inclui material impresso, como livros, revistas, jornais, teses,
dissertações e anais de eventos científicos. Todavia, em virtude da disseminação de novos
formatos de informação, estas pesquisas passaram a incluir outros tipos de fontes, como
discos, fitas magnéticas, CDs, bem como o material disponibilizado pela internet.
Ressaltando a relevância de tal tipo de pesquisa, Gil (2010) destaca que ela permite ao
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que
poderia pesquisar diretamente, em especial quando o problema de pesquisa requer dados
muito dispersos pelo espaço. Entretanto, não se esquece de salientar que, como fontes
secundárias, as bibliografias podem apresentar dados coletados ou processados de forma
equivocada, tornando possível a reprodução e/ou ampliação desses erros em trabalhos nelas
fundamentadas.

Por essa razão, Gil (2010, p. 30) fornece sugestões úteis para reduzir tal possibilidade,
dizendo:

Para reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das condições
em que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informação para descobrir
possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas, cotejando-as
cuidadosamente.

De acordo com Gil (1999; 2010), não existem regras fixas para a realização de pesquisas
bibliográficas, mas existem algumas tarefas que a experiência demonstra serem importantes.
Dessaforma, este trabalho segue o seguinte roteiro:

Exploração das fontes bibliográficas: primeiro, na fase de elaboração desta proposta de


trabalho, foram examinadas bibliografias fundamentais sobre a metodologia da pesquisa científica,
e sobre fusões e aquisições bancárias brasileiras; depois, na fase de execução, serão examinados
conteúdos específicos sobre os efeitos sinérgicos da fusão Itaú-Unibanco e da incorporação Real-
Santander.

Leitura do material: conduzida de forma informativa, seletiva, reflexiva e interpretativa,


objetivado reconhecer, reter, criticar construtivamente e avalizar as partes essenciais para o
desenvolvimento do estudo.

Elaboração de fichas: como de costume, eu elaborei de fichas de citações, de resumo e


bibliográfica, sobre as bibliografias clássicas, contendo as partes mais relevantes dos materiais
consultados;

Ordenação e análise das fichas: uma vez organizadas e ordenadas de acordo com o seu
conteúdo, conferindo sua confiabilidade, eu apliquei a Análise de Discurso produzindo um resenha
30

crítica de cada uma delas;

Conclusões: serão obtidas, durante e após a execução desta proposta de trabalho, por meio
de Análise de Conteúdo.

Para a execução desta proposta de trabalho, os levantamentos do tipo bibliográfico,


documental e amostral contornarão problemas relacionados a tempo e recursos financeiros, uma vez
que um estudo dessa natureza necessariamente envolveria pesquisa de campo e mais tempo para a
coleta e análise de dados, mais característicos a um estudo de caso. Ressalta-se ainda que os
materiais assim selecionados e organizados constituem uma base de dados consistente para a
elaboração de estudos mais avançados dentro dessa área e temática.

2.3.3.2 Levantamento documental

O levantamento documental, visa a coleta de dados primários, ou seja, aqueles que ainda não
foram submetidos a algum tipo de manipulação, embora possa coletar também dados secundários,
como, por exemplos, comentários de terceiros em um documentos em que conste a legislação
aplicável a algum tema, etc.. Configura-se na técnica de coleta de dados de documentos pessoais,
registros institucionais, registros estatísticos e da comunicação de massa em geral, isto é, tv, rádio,
jornais, revistas, internet, etc. Sobre essa técnica de pesquisa, Gil (1999, p. 160) salienta:

As fontes de “papel” muitas vezes são capazes de proporcionar ao pesquisador dados


suficientemente ricos para evitar a perda de tempo com levantamentos de campo, sem
contar que em muitos casos só se torna possível a investigação social a partir de
documentos.

Os documentos, instrumentos de pesquisa próprios dos levantamentos documentais, são


comumente compostos por informações originais do autor – e é exatamente o tipo delas que diferem
os levantamentos documentais dos bibliográficos, e, portanto, primárias, tais como as encontradas
em um prontuário médico, na legislação, nos demonstrativos financeiros e contábeis de uma
empresa ou de uma instituição, etc.. Entretanto, os documentos podem conter informações
interpretativas dos originais, tais como nas notas explicativas e comentários realizados, por terceiros
nos mesmos documentos citados, ou a eles anexados (LUNA, 2011; 2012; GIL, 1999; 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007; 2008; KÖCHE, 1997; 2011; SOARES, 2003). Sobre estes
aspectos dos documentos, Luna (2011, p. 56; 2012) nos empresta as suas ideias tal como segue:

O documento, como fonte de informação, assume diferentes formas: literatura pertinente a


um assunto, anuários estatísticos e censos, prontuários médicos, legislação, etc. São todos
exemplos de fontes documentais. Como ocorre em relação às demais fontes, as informações
obtidas em documentos podem ser diretas e indiretas. No caso particular de documentos,
essa distinção costuma assumir a denominação de fontes primárias (diretas) e secundárias
(indiretas). As obras originais de um autor são consideradas como primárias, enquanto as
traduções e comentários sobre esse autor já são consideradas fontes secundárias. De um
modo geral, quanto mais “oficial” for um documento, mais primária será a fonte.

O levantamento documental visa a coleta de dados primários, ou seja, aqueles que ainda não
foram submetidos a algum tipo de manipulação, enquanto o levantamento bibliográfico visa a
31

coletade dados secundários sobre um tema, quando não existem dados primários sobre ele ou
quando a sua coleta é comprovadamente inviável. Entretanto, vale destacar que nos documentos, ou
em anexo aos mesmos, podem haver dados secundários; por essa razão, correto afirmar que os
documentos são fontes de dados primários ou secundários. Os documentos são tipificados por Gil
(1999, p. 160-165) em documentos pessoais, registros institucionais, registros estatísticos e da
comunicação de massa em geral, isto é, TV, rádio, jornais, revistas, internet, etc., tal como se segue:

1) Registros estatísticos
[...] Entidades governamentais como a Fundação IBGE dispõem de dados referentes a
características socioeconômicas da população brasileira, tais como: idade, sexo, tamanho da
família, nível de escolaridade, ocupação, nível de renda etc. Os órgãos de saúde fornecem
dados a respeito de incidência de doenças, causas de morte etc. Uma entidade como o
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos dispõe de dados
sobre desemprego, salários, greves, negociações trabalhistas etc. Organizações voluntárias
têm dados referentes a seus membros e também às populações que atendem. Institutos de
pesquisa vinculados aos mais diversos campos do conhecimento. Além disso, número cada
vez maior de entidades vem-se preocupando em manter bancos de dados. Isto se verifica
em hospitais, escolas, agências de serviço social, entidades de classe, repartições públicas
etc. [...]
2) Registros institucionais escritos
Além dos registros estatísticos, também podem ser úteis para a pesquisa social os registros
escritos fornecidos por instituições governamentais. Dentre esses dados estão: projetos de
lei, relatórios de órgãos governamentais, atas de reuniões de casas legislativas, sentenças
judiciais, documentos registrados em cartórios etc. [...]
3) Documentos pessoais
Há uma série de escritos ditados por iniciativa de seu autor que possibilitam informações
relevantes acerca de sua experiência pessoal. Cartas, diários, memórias e autobiografias são
alguns desses documentos que podem ser de grande valia na pesquisa social. [...]
4) Comunicação de massa
Os documentos de comunicação de massa, tais como jornais, revistas, fitas de cinema,
programas de rádio e televisão, constituem importante fonte de dados para a pesquisa
social. Possibilitam ao pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual e
também lidar com o passado histórico. Neste último caso, com eficiência provavelmente
maior que a obtida com a utilização de qualquer outra fonte de dados. [...] (grifos meus)

Embora a pesquisa bibliográfica e a documental sejam bastante semelhantes, por ambas se


respaldarem em materiais elaborados e já publicados, Gil (2010) aponta que a principal diferença
entre elas encontra-se na natureza das fontes. Sobre a identificação das mesmas, Gil, 2010, p. 31,
elucida dizendo que “o que geralmente se recomenda é que seja considerada fonte documental
quando o material consultado é interno à organização, e fonte bibliográfica quando for obtido em
bibliotecas ou bases de dados”. Para Marconi e Lakatos (2007), a pesquisa documental consiste na
análise de fontes primárias, isto é, elaboradas pelo próprio autor, enquanto a pesquisa bibliográfica
consiste na análise de fontes secundárias, isto é, transcritas de fontes primárias contemporâneas ou
retrospectivas.
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o levantamento bibliográfico,
enquanto um tipo de observação indireta, consiste na coleta e no tratamento sistematizado de dados
secundários, e que o levantamento documental, enquanto um tipo de observação que tanto pode ser
direta (dados primários) quanto indireta (dados secundários), consiste na coleta e no tratamento
sistematizado de dados híbridos, isto é, tanto primários quanto secundários (KÖCHE, 1997, 2011;
GIL, 1999; 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007; 2008; LUNA, 2011; 2012; RODRIGUES,
2007; ECO, 2012; SOARES, 2003).
32

2.3.4 Técnicas específicas de pesquisa:

2.3.4.1 Coleta: protocolagem observacional

O protocolo observacional é o instrumento próprio das pesquisas observacionais. Trata-se de


um meio para se registrar as informações produzidas durante a observação. Pode ser um caderno,
um bloco de anotações, ou mesmo uma página para rascunho (LUNA, 2011; 2012; GIL, 1999;
2010; MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007; 2008). O objetivo é planificar tudo o que foi observado
sobre o objeto de pesquisa, suas características, suas variações, as possíveis causas e os possíveis
efeitos das variações, o que foi feito durante a observação, o que não foi feito durante ela e o (s) seu
(s) respectivo (s) porquê (s) (LUNA, 2011; 2012; GIL, 1999; 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003;
2007; 2008). Comumente, o registro das informações no protocolo observacional é separado em
notas descritivas (aquilo que se observa de fato) e notas reflexivas (as interpretações ou reflexões
daquilo que se observa). Sobre esses aspectos, Creswell (2010, p. 2015) ratifica:

[...] Os pesquisadores com frequência se engajam em observações múltiplas no decorrer de


um estudo qualitativo e usam um protocolo observacional para registrar as informações.
Ele pode ser de uma única página, com uma linha dividindo-a ao meio no sentido
longitudinal para separar as notas descritivas (retratos dos participantes, reconstrução de
diálogo, descrição do local físico, relatos de determinados eventos ou atividades) das notas
reflexivas (os pensamentos pessoais do observador, tais como “especulação, sentimentos,
problemas, ideias, palpites, impressões e preconceitos” [...]). Também podem ser escritas
dessa forma as informações demográficas sobre o tempo, o local e a data do local de campo
onde ocorreu a observação. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o protocolo observacional é


instrumento fundamental nas pesquisas observacionais e que, para não dificultar ou mesmo impedir
a sua adequada execução, ele só pode ser inutilizado quando substituído por outro instrumento
equivalente, tal como o diário de campo.

2.3.4.2 Registro: planificação manual e eletrônica

O registro dos dados da pesquisa podem ser realizado por meio de compilação manual, em
que o pesquisador anota à tinta ou à grafite, por exemplo, num papel, ou eletrônica, em que o
pesquisador digita todos as anotações em um arquivo de texto, como o do Microsoft Word
(aplicativo do pacote padrão Office do sistema operacional Windows) ou o do Open Writter
(aplicado do pacote padrão Open Office do sistema operacional Linux). Para otimizar a gerência do
tempo despendido nesta etapa, recomenda-se levar para a frente do computador e da escrivaninha
(ou outro ambiente adequado para a digitalização) todo o conteúdo que se vai utilizar no trabalho
acadêmico, o que inclui as bibliografias, os documentos e as anotações. Trata-se, pois, de uma etapa
bastante trabalhosa para se fazer e demanda tempo numa dose inversamente proporcional às
habilidades do pesquisador em utilizar tais metodologias, isto é, quanto mais habilidoso ele for
menor o tempo que ele precisa despender para realizar pesquisas científicas por meio destas
metodologias, mas não é difícil porque basta saber digitar bem, escanear, imprimir, ler bem e
escrever bem (GIFTED, 2015; GIL, 1999; 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007; 2008;
LUNA, 2011; 2012).
33

2.3.4.3 Organização: codificação, categorização e tabulação

A organização dos dados da pesquisa objetiva facilitar a compreensão do seu conteúdo


principalmente por parte dos seus leitores. Deste modo, termos pouco utilizados precisam ser
explicados no corpo do texto ou em alguma nota de rodapé, recomenda-se resumir as conclusões de
cada capítulo ou tópico (caso não desatenda as normas da instituição onde se pretende apresentá-
las) em tabelas, quadros, figuras, gravuras, ou notas de recapitulação. As subtécnicas científicas
mais utilizadas para tal fim são a tabulação (construção de tabelas, quadros, ou equivalentes), a
codificação (construção de listas explicativas de siglas e de símbolos, ou equivalentes) e a
categorização (separação em categorias dos dados coletados e ou das informações produzidas como
resultados da pesquisa) (GIFTED, 2015; GIL, 1999; 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007;
2008; LUNA, 2011; 2012; FERREIRA, 2002). Existem várias maneiras de se organizar e
sistematizar os dados, mas eu destaco as palavras de Luna (2011, p. 101 a 103), quando ele diz:

A melhor maneira de se organizar um texto é, indiscutivelmente, por meio de um


planejamento prévio da sequência de tópicos dentro do tema e das informações a serem
oferecidas dentro de cada tópico. Ou seja, trata-se de organizar uma sinopse ampliada do
texto, antes de ele ser escrito (sempre é possível reformulá-la posteriormente). Entretanto, o
que é melhor do ponto de vista lógico nem sempre corresponde aos estilos pessoais. Para
algumas pessoas, parece preferível sentar e ir escrevendo. O processo é, sem dúvida, mais
penoso e mais custoso, na medida em que o texto final sai como resultado de tentativas e
erros, com muitas páginas jogadas fora e outras tantas “guardadas” para um eventual
aproveitamento futuro. [...]
Qualquer que seja o procedimento adotado, o sucesso do texto final, em termos de
comunicação, dependerá de quanto o leitor for capaz de encontrar o fio condutor do
trabalho. Por essa razão, é extremamente conveniente que o texto apresente subtítulos que
indiquem o que será tratado em cada subdivisão. Se se adotar o procedimento de organizar
previamente o texto, a sequência já estará pronta. Se se preferir escrever sem um plano
prévio, este poderá ser feito após a conclusão do texto.
Para que não se pense que a função de organizar o texto com subtítulos é apenas de ser
gentil com o leitor, é conveniente ressaltar um aspecto comum em textos escritos sem
planejamento. É provável que o indivíduo que prefere escrever sem um plano prévio esteja
à espera do feedback daquilo que já está produzido para continuar produzindo, de tal forma
que certas análises deem “dicas” de como prosseguir. Como consequência, é frequente que
o resultado final seja uma longa sequência de análises que não se fecham e no qual o final
tem pouca ou nenhuma relação com o início. Retornar o texto e organizá-lo em tópicos é
uma forma de avaliar essa sequência. E, se elos dessa sequência parecerem não caber nos
tópicos levantados ou resistirem à inclusão em novos tópicos, é bom repensar se as
informações são realmente pertinentes.
Outro procedimento importante para melhor controlar a adequação das informações do
texto e, consequentemente, para maior compreensão do leitor é garantir a existência de
“abertura” e “fechamento” para cada tópico. Em outras palavras, anunciar diretamente o
que se pretende fazer naquele tópico e concluir dizendo o que espera que o leitor tenha
extraído dele. O julgamento último dessa adequação, porém, certamente caberá ao leitor.

Sobre a codificação e a categorização, alguns autores consagrados nos emprestam suas


ideias ao explanar:

(CRESWELL, 2010, p. 219 e 221):

[...] A codificação é o processo de organização do material em blocos ou segmentos de


texto antes de atribuir significado às informações. Isso envolve manter os dados de texto,
34

ou as figuras, reunidos durante a coleta de dados, segmentando sentenças (ou parágrafos)


ou imagens em categorias e rotulando essas categorias com um termo, com frequência um
termo baseado na linguagem real do participante (chamado um termo in vivo).
[...] Outra questão sobre a codificação é se o pesquisador deve (a) desenvolver códigos
tendo por base apenas as informações emergentes coletadas dos participantes, (b) utilizar
códigos predeterminados e depois ajustar os dados a eles, ou (c) utilizar alguma
combinação de códigos predeterminados e emergentes. […]

(GIL, 1999, p. 170):

Codificação é o processo pelo qual os dados brutos são transformados em símbolos que
possam ser tabulados. A codificação pode ser feita anterior ou posteriormente à coleta dos
dados. A pré- codificação ocorre frequentemente em levantamentos em que os
questionários são constituídos por perguntas fechadas, cujas alternativas são associadas a
códigos impressos no próprio questionário. [...]

(CRESWELL, 2010, p. 221):

[...] A abordagem tradicional nas ciências sociais é permitir que os códigos emerjam
durante a análise dos dados. Nas ciências da saúde, uma abordagem comum é usar códigos
predeterminados baseados na teoria que está sendo examinada. Nesse caso, os
pesquisadores podem desenvolver um livro de códigos qualitativo, um quadro ou um
registro que contenha uma lista de códigos predeterminados que os pesquisadores utilizam
para codificar os dados. […]

(GIL, 1999, p. 169):

As respostas fornecidas pelos elementos pesquisados tendem a ser as mais variadas. Para
que essas respostas possam ser adequadamente analisadas, torna-se necessário, portanto,
organizá-las, o que é feito mediante o seu agrupamento em certo número de categorias.
Para que essas categorias sejam úteis na análise dos dados, devem atender a algumas regras
básicas [...]:
a) o conjunto de categorias deve ser derivado de um único princípio de classificação;
b) o conjunto de categorias deve ser exaustivo; e
c) as categorias do conjunto devem ser mutuamente exclusivas.
Para que se torne possível o agrupamento de grande número de respostas a determinado
ítem em um pequeno número de categorias, torna-se necessário estabelecer um princípio de
classificação. [...]

Já a tabulação, por sua vez, pode ser feita manualmente, consistindo no uso do lápis e papel,
ou eletronicamente, consistindo no uso de dispositivos eletrônicos, tais como o computador (GIL,
1999). Sobre esta técnica de organização de dados, Gil (1999, p. 169) acentua:

Tabulação é o processo de agrupar e contar os casos que estão nas várias categorias de
análise. Pode haver tabulação simples e cruzada. A tabulação do primeiro tipo, que também
é denominada marginal, consiste na simples contagem das frequências das categorias de
cada conjunto. A tabulação cruzada, por sua vez, consiste na contagem das frequências que
ocorrem juntamente em dois ou mais conjuntos de categorias por exemplo: tabulação dos
casos referentes às categorias de renda e de escolaridade.

2.3.4.4 Sistematização: cronológica horária; polidimensional; propedêutica (próloga)

A sistematização dos dados da pesquisa trata-se da explanação descritiva da sequência


lógica da pesquisa, ou seja, o seu ponto de partida, cada um dos seus passos intermediários e o seu
35

desfecho. Quanto ao ordenamento temporal dos enunciados lógicos, ela pode ser: cronológica
horária, a qual ordena primeiro os dados mais antigos e depois os mais recentes; cronológica anti-
horária, a qual ordena primeira os dados mais recentes e depois os mais antigos; ou anacrônica
sequencial, a qual mescla os dados antigos e os recentes, sem priorizar uma ordenação cronológica,
mas formando uma sequência; ou ainda anacrônica não sequencial, a qual mescla os dados antigos e
os recentes, sem priorizar uma ordenação cronológica e sem formar uma sequência (GIFTED, 2015;
GIL, 1999; 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007; 2008; LUNA, 2011; 2012).
Quanto ao ordenamento estrutural dos enunciados lógicos, ela pode ser: capitular, ou
unidimensional, a qual estrutura os dados em capítulos ou tópicos, mas sem subdivisões, por essa
razão considerada como sendo unidimensional; subcapitular, ou bidimensional, a qual estrutura os
dados em subcapítulos ou subtítulos; subsubcapitular, ou tridimensional, a qual estrutura os dados
em subsubcapítulos ou subsubtítulos; ou multicapitular, ou polidimensional, a qual estrutura os
dados subdividindo-os em quatro ou mais níveis de profundidade (GIFTED, 2015; GIL, 1999;
2010; MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007; 2008; LUNA, 2011; 2012).
Quanto ao ordenamento conteudal dos enunciados lógicos, ela pode ser: propedêutica 2, ou
próloga, agrupando os dados numa sequência lógica detalhada passo a passo, priorizando uma
explicação introdutória do tema, facilmente compreensível, normalmente destinada a estudantes
iniciantes; perorativa3, ou epíloga, a qual não prioriza uma estrutura introdutória, ou seja, prioriza as
explicações mais genéricas possíveis, normalmente destinada a pesquisadores e a profissionais
seniores no tema (GIFTED, 2015; GIL, 1999; 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003; 2007; 2008;
LUNA, 2011; 2012).

2.3.4.5 Análise ou interpretação: Análise de Conteúdo (AC)

A análise de conteúdo é a técnica de interpretação de dados específica para a abordagem


quantitativa. Ela está muito atrelada à metodologia das pesquisas estatísticas, sendo bastante
utilizada no campo das ciências exatas, visando uma maior precisão, a inferencial, quando da
interpretação dos dados. Porém não se restringe a este campo, podendo ser utilizadas em todas as
áreas do conhecimento, inclusive na pesquisa educacional. A análise de conteúdo se fez presente
desde as primeiras tentativas da humanidade de interpretar os antigos escritos, como as tentativas de
interpretar os livros sagrados, sendo sistematizada somente na década de 20, devido aos estudos de
Leavell sobre a propaganda empregada na primeira guerra mundial, adquirindo dessa forma, o
caráter de método de investigação (SILVA; GOBBI; SIMÃO, 2004; FERREIRA, 2002). Ainda
sobre sua natureza e o seu uso, Martins (2008, p. 33) elucida um pouco mais:

A Análise de Conteúdo é uma técnica para se estudar e analisar a comunicação de maneira


objetiva, sistemática e quantitativa. Buscam-se inferências confiáveis de dados e
informações com respeito a determinado contexto, a partir dos discursos escritos ou orais de
seus autores. A Análise de Conteúdo pode ser aplicada virtualmente a qualquer forma de
comunicação: programas de televisão, rádio, artigos da imprensa, livros, poemas, conversas,
discursos, cartas, regulamentos, etc. Por exemplo, pode servir para analisar traços de
personalidade, avaliando escritos; ou as intenções de uma campanha publicitária pela análise
dos conteúdos das mensagens veiculadas. [...]
2
Propedêutica quer dizer introdutória, a parte inicial de um discurso, o seu passo a passo. Então, a sistematização
propedêutica é aquela que busca ser o mais didática possível, objetivando ensinar cada pedacinho de cada caminho
percorrido para se chegar aos resultados finais do estudo de um determinado tema.
3
Peroração é a última parte do discurso, a sua conclusão, os seus resultados finais. Então, a sistematização perorativa
trata-se de uma maneira de estruturar o conteúdo com informações genéricas, apresentando os resultados finais de um
estudo, sem detalhar o suficiente para se compreender integralmente os caminhos percorridos para se chegar a eles.
Nela, não raro a linguagem é mais técnica, utilizada, sobretudo, na elaboração de papers para periódicos especializados.
36

Após muitas tentativas de aprimoramento e aprofundamento da análise de conteúdo


enquanto técnica de pesquisa, a mesma passa a ser definida como:

[...] um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que utiliza procedimentos


sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores
(quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições
de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (BARDIN apud SILVA;
GOBBI; SIMÃO, 2004, p. 4).

Deste modo, a análise do conteúdo permite ao pesquisador o entendimento das


representações que o indivíduo apresenta em relação a sua realidade e a interpretação que faz dos
significados a sua volta (SILVA; GOBBI; SIMÃO, 2004; FERREIRA, 2002). As autoras (2004, p.
6) apresentam as três etapas básicas da análise de conteúdo, assinaladas nas obras de Bardin, quais
sejam:

A pré-análise: a organização do material, quer dizer de todos os materiais que serão


utilizados para a coleta dos dados, assim como também como outros materiais que podem
ajudar a entender melhor o fenômeno e fixar o que o autor define como corpus da
investigação, que seria a especificação do campo que o pesquisador deve centrar a atenção.
A descrição analítica: nesta etapa o material reunido que constitui o corpus da pesquisa é
mais bem aprofundado, sendo orientado em princípio pelas hipóteses e pelo referencial
teórico, surgindo dessa análise quadros de referências, buscando sínteses coincidentes e
divergentes de ideias.
Interpretação inferencial: é a fase de análise propriamente dita. A reflexão, a intuição,
com embasamento em materiais empíricos, estabelecem relações com a realidade
aprofundando as conexões das ideias, chegando se possível à proposta básica de
transformações nos limites das estruturas específicas e gerais.

Nesta proposta de trabalho, tal técnica foi utilizada quando da interpretação do conteúdo de
livros e documentos aplicáveis ao tema investigado, sem o uso de software específico para tal fim,
mas levando-se sempre em conta o ponto de vista dos seus respectivos autores.

2.3.4.6 Formalização: monografia

A formalização dos resultados finais da pesquisa precisa obedecer às normativas da


Instituição de Ensino Superior (IES), caso o Trabalho Final de Conclusão de Curso (TFCC) consista
em TCC, TGI, dissertação, tese, monografias em geral. Algumas IES solicitam que estes trabalhos
obedeçam às normas técnicas para trabalhos acadêmicos do seu país; no caso brasileiro, costuma-se
seguir as normas para trabalhos acadêmicos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
no caso canadense a Vancouver, bastante aceita em todo o mundo, e ainda, especificamente em
algumas áreas de conhecimento, como a Psicologia, por exemplo, existem normativas próprias para
a formalização de trabalhos tais como as da American Pysichological Association (APA) (ALVES;
ARRUDA, 2007; GIFTED, 2015). Nas áreas e subáreas das Engenharias, é bastante comum que o
TFCC seja formalizado como uma patente, uma marca, um software, um novo produto específico
para determinado nicho de mercado. Em cursos como Artes, por exemplo, o TFCC pode ser
formalizado como uma obra de arte, como, por exemplo, uma pintura, uma escultura, um filme,
uma composição musical, um novo instrumento musical, um artefato decorativo, uma obra
37

artesanal, uma peça teatral. O TFCC pode ser formalizado ainda como uma revista, um periódico,
um hino, um poema. Percebe-se, então, que a forma do TFCC precisa se adequar ao seu conteúdo;
contudo, existe flexibilidade na sua escolha, sendo todas elas, em geral, permitidas em toda e
qualquer área do conhecimento (GIFTED, 2015; GIL, 1999; 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003;
2007; 2008; LUNA, 2011; 2012; MOURA; FERREIRA, 2006; FERREIRA, 2002).

2.3.4.7 Apresentação: tutorial

A apresentação do resultados finais da pesquisa é a última etapa do tratamento dos dados e


da investigação científica no geral. Ela precisa ser pública, porque a Ciência não é – e nem pode ser
– patrimônio particular. Logo, ela é um patrimônio público que precisa ser publicado, isto é,
disponibilizado, ainda que sem solicitação de alguém, a toda e qualquer pessoa da sociedade que a
queira conhecer (GIFTED, 2015; ECO, 2012; VERGARA, 2012; GIL, 1999; 2010; MARCONI;
LAKATOS, 2003; 2007; 2008). No Brasil, em cursos de graduação e de pós-graduação lato sensu, a
primeira apresentação do TFCC normalmente acontece no dia da sua defesa pública e solene diante
de uma banca examinadora composta por professores profissionais da sua respectiva área de
conhecimento, o que chamamos de avaliação pareada (ECO, 2012; SEVERINO, 2007; ACEVEDO;
NOHARA, 2010; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; ALVES; ARRUDA, 2007). Já nos
cursos de pós-graduação stricto sensu, tais como no mestrado e no doutorado, o TFCC normalmente
acontece em uma fase preliminar denominada Exame de Qualificação, após a qual, se o candidato
for qualificado (aprovado), ele pode defender o seu trabalho diante de uma banca examinadora
composta por professores doutores da sua respectiva área de conhecimento; no mestrado, defende-
se uma dissertação e no doutorado, uma tese, que pode ser de pesquisa, quando há alguma
descoberta, ou de compilação, quando objetiva realizar uma revisão sistemática abrangente da
literatura (ECO, 2012; SEVERINO, 2007; GIFTED, 2015; ACEVEDO; NOHARA, 2010;
SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; MOURA; FERREIRA, 2006). Operacionalmente, a
apresentação do TFCC pode ser basicamente de três tipos, quais sejam: a exposição oral, na qual o
acadêmico expõe oralmente o seu trabalho, após o que é arguido pela banca examinadora quanto
aos aspectos teóricos, empíricos e metodológicos do mesmo; a exposição visual, na qual o
acadêmico expõe visualmente o seu trabalho, na forma de pôster, painel, banner, faixa, tutorial,
quadro, escultura, etc., após o que é arguido pela banca examinadora quanto aos mesmos aspectos
citados no caso anterior; e a exposição mista, na qual o acadêmico expõe o seu trabalho tanto oral
quanto visualmente, após o que também é arguido quanto aos mesmos aspectos já citados
(GIFTED, 2015; ECO, 2012; VERGARA, 2012; GIL, 1999; 2010; SEVERINO, 2007; ALVES;
ARRUDA, 2007).
38

3 REFERENCIAL TEÓRICO-TEMÁTICO

3.1 O surgimento do cooperativismo

As formas de cooperação são muito antigas na história da humanidade. Existem registros


sobre a cooperação e a associação solidária desde a Pré-História da civilização, em tribos indígenas
ou em antigas civilizações como, por exemplo, a Babilônia (SALES, 2010; COOPECIC, 2008;
COOPEDER, 2011; OCB, 2008). O objetivo da associação cooperativa entre as pessoas é produzir
em quantidade e qualidade maior do que a soma daquilo que conseguiriam produzir
individualmente, tal como Sales (2010, p. 2) exemplifica:

As pessoas quando se juntam, produzem muito mais que a soma do que produziriam
individualmente. Um grupo sempre tem força, na vivência nos antigos feudos, quando as
pessoas aquartelavam-se em torno de um senhor feudal que, poderoso, possuidor de bens,
dava guarita e proteção dentro seus muros, em troca de vassalagem. A convivência entre
eles era, acima de tudo, garantia de sobrevivência.
[…]
O cooperativismo é uma forma de somar capacidade dentro de um mundo de concorrência.
É uma forma de preservar a força econômica e de vida dos indivíduos de um mesmo padrão
e tipo, com objetivos comuns e com as mesmas dificuldades. A cooperativa quase sempre
surge em momentos de dificuldades e da consciência de fragilidade do homem dentro do
mundo em que atua.

Baseada em princípios iluministas, pesquisadores e profissionais europeus, sobretudo


franceses e ingleses, desenvolveram técnicas e tecnologias, tais como maquinários mais eficiente,
dentre eles se destacando a máquina a vapor, provocando, então, um conjunto de mudanças na
produção, no trabalho, na economia, consequentemente na política, na cultura e na vida cívica das
pessoas (SALES, 2010; COOPECIC, 2008; COOPEDER, 2011; OCB, 2008). Esta foi a
denominada Primeira Revolução Industrial. De modo análogo a este foram provocadas a Segunda, a
Terceira e a Quarta Revolução Industrial e Tecnológica, que, teoreticamente, podem ser explanadas
do seguinte modo:

- 1ª Revolução Industrial e Tecnológica: ocorrida entre 1760 a 1860, a Revolução Industrial


ficou limitada, primeiramente, à Inglaterra. Houve o aparecimento de indústrias de tecidos de
algodão, com o uso do tear mecânico. Nessa época o aprimoramento das máquinas a vapor
contribuiu para a continuação da Revolução.

- 2ª Revolução Industrial e Tecnológica: ocorrida no período de 1860 a 1900, ao contrário da


primeira fase, países como Alemanha, França, Rússia e Itália também se industrializaram. O
emprego do aço, a utilização da energia elétrica e dos combustíveis derivados do petróleo, a
invenção do motor a explosão, da locomotiva a vapor e o desenvolvimento de produtos químicos
foram as principais inovações desse período.

- 3ª Revolução Industrial e Tecnológica: ocorrida entre 1970 e 1990; marcada pelos


seguintes avanços tecnológicos: o computador, o fax, a engenharia genética, o celular, a tecnologia
HIGH-TECH, a microeletrônica, a informática, a máquina CNC (Controle Numérico
Computadorizado), o robô, o sistema integrado à telemática (telecomunicações informatizadas), a
biotecnologia, a engenharia genética.
39

- 4ª Revolução Industrial e Tecnológica: ocorrida a partir de 1990, no fim da Guerra Fria, e


criação da World Wide Web, uma teia que interligou os computadores do mundo todo, sendo
denominada internet, propulsionando o boom informacional, a sociedade em rede, as alianças
estratégicas comerciais, enfim, o mundo globalizado em que vivemos atualmente.
Pós-modernamente falando, o cooperativismo surgiu como uma resposta às atrocidades do
capitalismo, na Inglaterra, em Manchester, em 1844, no bairro de Rochdale, por 27 tecelões e 1
tecelã, que, na época, procuravam alguma atividade econômico que pudessem exercer no mercado
como alternativa ao ganancioso capitalismo que lhes exploravam com inflações exorbitantes,
jornadas de trabalho excessivas, e o desemprego (SALES, 2010; COOPECIC, 2008; COOPEDER,
2011). Todos estes aspectos são corroborados pelas seguintes citações Sales (2010, p. 4) acentua:

(SALES, 2010, p. 4):

O cooperativismo foi idealizado por vários precursores, mas aconteceu de fato em 1844,
como registra (REIS JÚNIOR 2006), em pleno regime de economia liberal, com a fundação
da Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale (Rochdale Society of Equitable Pioneers),
em Manchester na Inglaterra; associação que, mais tarde, seria chamada de Cooperativa.
[…]
Aconteceu em Rochdale, onde 28 operários, que eram em maioria tecelões, fundamentados
no sentimento de cooperação e mutualidade pregados por Robert Owen e Fourier, dentre
outros; finalmente conseguiu colocar em funcionamento um empreendimento, que a
história registra como marco inicial do cooperativismo.

(COOPECIC, 2008, s. p.):

O desemprego era crescente advindo da revolução industrial. A partir destas dificuldades,


um pequeno grupo de tecelões, resolveu então reivindicar melhores condições de trabalho,
que lhes proporcionassem uma vida digna. E em 21 de dezembro de 1844 no Bairro de
Rochdale, em Manchester na Inglaterra, com a união de 28 tecelões nascia a primeira
cooperativa de consumo, no então chamado "Beco do Sapo" (Toad Lane) estaria mudando
os padrões econômicos da época e dando origem ao movimento cooperativista.

(COOPEDER, 2011, s. p.):

Com a fundação da “Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale”, em 21 de dezembro de


1844 no bairro de Rochdale, em Manchester (Inglaterra), 27 tecelões e uma tecelã
procuravam, na época, uma alternativa econômica para atuarem no mercado, frente ao
capitalismo ganancioso que os submetiam a preços abusivos, exploração da jornada de
trabalho de mulheres e crianças (que trabalhavam até 16h) e do desemprego provocado
revolução industrial.

Mais precisamente, os tecelões criaram a Rochdale Society of Equitable Pionner, uma


cooperativa de consumo de operários têxteis que se expandiu rapidamente com a abertura, em,
1850, de uma cooperativa de produção industrial – um moinho – e, em 1854, uma tecelagem e
fiação (LIMA, 2004). Em 1852, oito anos depois, na Inglaterra, foi promulgada a Lei das
Sociedades Industriais e Cooperativas, que passou a regular as ações das cooperativas com o Estado
(LIMA, 2004).
Os mentores do cooperativismo desta época eram pessoas com mentalidade bem à frente da
sua época que buscavam incessantemente os meios necessários para melhorar as suas condições
sociais e econômicas. Devido às condições políticas desfavoráveis, o surgimento do cooperativismo
foi repleto de dificuldades. Ao passo que a produção industrial (mecanizada) aumentava, a
produção artesanal diminuía, a mão de obra era exacerbadamente explorada. Tais transformações
inquietaram
40

os criadores da Rochdale, que, mesmo diante de muitos obstáculos, avançaram na implementação


de cooperativas no fito de tentar amenizar os traumas econômicos e sociais desta época (SALES,
2010; COOPECIC, 2008; COOPEDER, 2011; OCB, 2008).
A abnegação dos tecelões foi tanta, que o cooperativismo mostrou ser uma alternativa eficaz
para a conquista de trabalho, de renda e de inclusão social, consistindo em uma iniciativa capaz de
modificar para melhor a forma humana de pensar, de produzir, de se relacionar, de comercializar,
de administrar, de viver (SALES, 2010; COOPECIC, 2008; COOPEDER, 2011; OCB, 2008).
Gradualmente os obstáculos foram sendo vencidos, um a um. Os tecelões não olharam para
o passado; ao contrário, eles focaram no seu presente momento, com pés bem firmes no chão,
enxergando claramente uma gigante oportunidade de crescimento em meio as tenebrosas forças
produtivas capitalistas. Então, outros cooperativas foram sendo formadas, por se espelharem na
Rochdale, provocando a expansão do cooperativismo ao redor do mundo (SALES, 2010;
COOPECIC, 2008; COOPEDER, 2011; OCB, 2008). Sobre estes aspectos, alguns autores nos
emprestam os seus dizeres:

(COOPEDER, 2011, s. p.):

Naquele momento, aquelas pessoas mudavam os padrões econômicos da época e davam


origem ao movimento cooperativista. No início, foram alvo de muitas críticas e ironias por
parte dos comerciantes locais. No entanto, logo no primeiro ano de funcionamento da
sociedade, o seu capital aumentou para 180 libras; cerca de dez anos mais tarde, o
“Armazém de Rochdale” já contava com 1.400 cooperantes. Com isso, o sucesso do
empreendimento passou a ser um exemplo para outros grupos.
O cooperativismo acabou evoluindo e conquistando um espaço próprio, definido por uma
nova forma de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento social. Por sua forma
igualitária e social, o cooperativismo é aceito por todos os governos e reconhecido como
fórmula democrática para a solução de problemas sócio-econômicos.

(COOPECIC, 2008, s. p.):

O cooperativismo evoluiu e conquistou um espaço próprio, definido por uma nova forma de
pensar do homem, sobre seu trabalho e desenvolvimento social. Por sua forma igualitária e
social o cooperativismo é aceito por todos os governos e reconhecido como fórmula
democrática para a solução de problemas sócio-econômicos.

Fundada em 1895, por iniciativa de líderes cooperativistas ingleses, franceses e alemães,


com o objetivo de criar um órgão representativo mundial, que intensificasse o intercâmbio entre as
cooperativas dos diversos países, nos campos doutrinários, educativo e técnico, a Aliança
Cooperativa Internacional (ACI) fortaleceu bastante o movimento em âmbito internacional,
disseminando suas ideologias e práticas, articulando profissionais e entidades cooperativas,
confraternizando todos os povos ligados pelo cooperativismo (SALES, 2010; COOPECIC, 2008;
COOPEDER, 2011; OCB, 2008).
Por meio da ACI foi criada, em 2001, a simbologia do cooperativismo, que inclui: a) sua
Bandeira (Figura 1), composta por um logotipo da Aliança Cooperativa Internacional e um arco-
íris, de onde emergem pombas da paz; b) o seu símbolo, também denominado emblema, formado
por um círculo abraçando dois pinheiros para indicar a união do movimento; e c) o Dia
Internacional do Cooperativismo, comemorado no primeiro sábado de julho de cada ano
(COOPEDER, 2011; OCB, 2008; COOPECIC, 2008). Sobre esta simbologia, Coopeder (2011, s.
p.) explana:

Pinheiros – Antigamente o pinheiro era tido como um símbolo da imortalidade e da


41

fecundidade, pela sua sobrevivência em terras menos férteis e pela facilidade na sua
multiplicação. Os pinheiros unidos são mais resistentes e ressaltam a força e a capacidade
de expansão.
Verde: Lembra as árvores – princípio vital da natureza e a necessidade de se manter o
equilíbrio com o meio-ambiente .
Amarelo: simboliza o sol, fonte permanente de energia e calor.
Dia Internacional do Cooperativismo: comemorado no primeiro sábado de julho de cada
ano, foi instituído em l923 no Congresso da ACI (Aliança Cooperativa Internacional),
como a confraternização de todos os povos ligados pelo cooperativismo.
[Símbolo/Emblema:] Assim nasceu o símbolo mundialmente conhecido do
cooperativismo: um círculo abraçando dois pinheiros para indicar a união do movimento, a
imortalidade de seus princípios, a fecundidade de seus ideais e a vitalidade de seus adeptos.
Tudo isso marcado pela trajetória ascendente dos pinheiros que se projetam para o alto,
procurando subir cada vez mais.
Bandeira: O cooperativismo possui uma bandeira formada pelas sete cores do arco-íris,
aprovada pela ACI em 1932, que significa a unidade na variedade e um símbolo de paz e
esperança. Cada uma das cores tem um significado específico, conforme demonstrado no
quadro:
(acréscimos e grifos meus)

A Figuras 1 apresenta a Bandeira do Cooperativismo. As Figuras 2 e 3 apresentam,


respectivamente, duas representações do Emblema do Cooperativismo.

Figura 1. A Bandeira do Cooperativismo.


42

Figura 2. O Emblema do Cooperativismo. Representação 1.

Figura 3. O Emblema do Cooperativismo. Representação 2.


43

As Figuras 4 e 5 apresentam os significados da Bandeira do Cooperativismo e do Emblema


do Cooperativismo, respectivamente.

Figura 4. Significados da Bandeira do Cooperativismo.

Figura 5. Significados do Emblema do Cooperativismo.


44

3.2 O cooperativismo no Brasil

No Brasil, o cooperativismo, em seu sentido lato sensu, já se fazia presente desde 1610, com
a fundação das primeiras reduções jesuíticas provenientes de Portugal, no fito de tentar impedir a
expansão das correntes religiosas protestantes desencadeadas por João Calvino e Martinho Lutero.
Fundamentando-se no trabalho humano coletivo e solidário como sendo superior à obtenção do
lucro, este estado solidário deu exemplo de sociedade solidária por mais de 150 anos (COOPEDER,
2011). Entretanto, o cooperativismo, em seu sentido stricto sensu, só começou na nação brasileira,
conforme documentos das próprias cooperativas reunidos em algumas pesquisas apresentam, em
1847, tal como Coopeder (2011, s. p.) ressalta:

[…] somente dois séculos depois, em 1847, é que a história registra o início do movimento
cooperativista no Brasil. Foi quando o médico francês Jean Maurice Faivre, adepto das
idéias reformadoras de Charles Fourier, fundou nos sertões do Paraná, juntamente com um
grupo de europeus, a colônia Tereza Cristina, organizada em bases cooperativas. Apesar de
sua breve existência, essa organização contribuiu na memória coletiva como elemento
formador do florescente cooperativismo brasileiro.

A primeira cooperativa de consumo no Brasil foi criada na cidade de Ouro Preto (MG), em
1889. Deste segmento, foi a primeira cooperativa de que se tem registro no Brasil, embora antes
dela já houvessem em operação cooperativas de outros segmentos, tais como o de crédito, o de
habitação e o de agricultura (COOPEDER, 2011; COOPECIC, 2008; OCB, 2008; LIMA, 2004;
SALES, 2010). Sobre estes aspectos e sobre as nuances da evolução do cooperativismo brasileiro,
Coopeder (2011, s. p.) enfatiza:

No Brasil, a cultura da cooperação é observada desde a época da colonização portuguesa.


Esse processo emergiu no Movimento Cooperativista Brasileiro surgido no final do século
19, estimulado por funcionários públicos, militares, profissionais liberais e operários, para
atender às suas necessidades.
O movimento iniciou-se na área urbana, com a criação da primeira cooperativa de consumo
de que se tem registro no Brasil, em Ouro Preto (MG), no ano de 1889, denominada
Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto. Depois, se
expandiu para Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, além de se
espalhar em Minas Gerais.
Em 1902, surgiram as cooperativas de crédito no Rio Grande do Sul, por iniciativa do padre
suíço Theodor Amstadt. A partir de 1906, nasceram e se desenvolveram as cooperativas no
meio rural, idealizadas por produtores agropecuários. Muitos deles de origem alemã e
italiana. Os imigrantes trouxeram de seus países de origem a bagagem cultural, o trabalho
associativo e a experiência de atividades familiares comunitárias, que os motivaram a
organizar-se em cooperativas.
Com a propagação da doutrina cooperativista, as cooperativas tiveram sua expansão num
modelo autônomo, voltado para suprir as necessidades dos próprios membros e assim se
livrarem da dependência dos especuladores.
Embora houvesse o movimento de difusão do cooperativismo, poucas eram as pessoas
informadas sobre esse assunto, devido à falta de material didático apropriado, imensidão
territorial e trabalho escravo, que foram entraves para um maior desenvolvimento do
sistema cooperativo.
Em 2 de dezembro de 1969 foi criada a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e
no ano seguinte, a entidade foi registrada em cartório. Nascia formalmente aquela que é a
única representante e defensora dos interesses do cooperativismo nacional. Sociedade civil
e sem fins lucrativos, com neutralidade política e religiosa.
45

Outrossim, até a década de 1980, o seu crescimento e o seu desenvolvimento foi lento,
quando comparado àquele presenciado dos idos de 1980 em diante. Por exemplo, no que tange à
regulação do cooperativismo brasileiro, a Constituição Federal de 1988 (Carta Magna) superou a
limitação da Lei 55764/71, que disciplinou a criação de cooperativas, porém restringiu a autonomia
dos associados, interferindo na criação, funcionamento e fiscalização do empreendimento
cooperativo. A Carta Magna de 1988 proibiu a interferência do Estado nas associações, dando início
à autogestão do cooperativismo (COOPEDER, 2011; COOPECIC, 2008; OCB, 2008; LIMA, 2004;
SALES, 2010). Portanto, o trabalho autogestionário brasileiro principiou 141 anos após o advento
do cooperativismo brasileiro.
Não obstante, dos idos de 80 em diante, o cooperativismos tomou impulso, conforme
corroboram alguns autores, que nos emprestam os seus dizeres:

(LIMA, 2004, p. 6):

No Brasil, no período anterior à década de 1980, existiram várias experiências de


cooperativas de crédito, habitacional e agrícola. Será a partir da segunda metade dessa
década, contudo, que as cooperativas de trabalho e de produção começarão a organizar-se e
a ganhar visibilidade. A sucessão de crises econômicas do final do período militar, as
primeiras manifestações internas das mudanças econômicas com a reestruturação produtiva
de fábricas e empresas, a adoção de políticas neoliberais no final da década constituem o
cenário do incremento do cooperativismo de trabalho no país.
O fechamento de fábricas e as tentativas de recuperação foram documentados por diversos
autores. Holzmann (2001) retratou o caso da fábrica de fogões Wallig, no Rio Grande do
Sul, que suspendeu suas atividades em 1984 e, a partir de forte mobilização dos
trabalhadores, constituiu duas cooperativas: uma mecânica e uma fundição. Essas
cooperativas foram viabilizadas após parte dos trabalhadores se convencer das vantagens de
abrir mão de direitos trabalhistas, tornar-se patrões e, dessa forma, manter os empregos. Na
fundição ficaram os trabalhadores menos qualificados e, na mecânica, permaneceram os
mais qualificados. Em 1991, quando os proprietários ganharam judicialmente a posse dos
prédios, apenas a cooperativa mecânica permaneceu. Essa permanência pode ser atribuída à
maior escolaridade dos trabalhadores da mecânica e à situação de mercado mais favorável,
o que permitiu um melhor desempenho econômico da cooperativa e uma maior adesão dos
trabalhadores.
Outra situação de recuperação fabril desse período foi retratada por Nascimento (1993)
sobre a Tecelagem Mandacaru, em João Pessoa, Paraíba. Resultado de grande mobilização
social dos trabalhadores, o estado assumiu o controle da empresa formando uma
cooperativa e garantindo seu funcionamento (precário) até seu fechamento no começo dos
anos de 1990. Problemas de comercialização, obsoletismo de equipamentos e ausência de
cultura associativa condenaram o empreendimento.
Além dessas experiências, que, embora não tenham sido únicas, estão documentadas, outras
cooperativas de geração de renda e recuperação de fábricas foram organizadas com apoio
de agências de desenvolvimento a partir do final da década de 1970. Destas, destacamos
dez cooperativas apoiadas pela Inter Americam Fundation (IAF) no Norte e no Nordeste do
país (Cavalcanti, 1988). A maioria dos projetos poderia ser classificada como cooperativa
de geração de renda em comunidades sem alternativas de trabalho no Pará, Piauí, Ceará e
Rio Grande do Norte. Apenas uma delas, a COMTERN, no Rio Grande do Norte, foi
constituída com o fechamento de uma fábrica têxtil quando, influenciados pela experiência
da fábrica paraibana já mencionada, os trabalhadores organizaram uma cooperativa por
intermédio do sindicato.

(COOPEDER, 2011, s. p.):

Em 1995, o cooperativismo brasileiro ganhou o reconhecimento internacional. Roberto


Rodrigues, ex-presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, foi eleito o primeiro
46

não europeu para a presidência da Aliança Cooperativista Internacional (ACI). Este fato
contribuiu também para o desenvolvimento das cooperativas brasileiras.
No ano de 1998 nascia o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop).
A mais nova instituição do Sistema “S” veio somar à OCB com o viés da educação
cooperativista. É responsável pelo ensino, formação, profissional, organização e promoção
social dos trabalhadores, associados e funcionários das cooperativas brasileiras.
O cooperativismo brasileiro entrou no século 21 enfrentando o desafio da comunicação.
Atuante, estruturado e fundamental para a economia do País tem por objetivo ser cada vez
mais conhecido e compreendido como um sistema integrado e forte.

Hoje, as iniciativas cooperativistas brasileiras são bastante diversificadas, fazendo-se


presente em vários ramos da atividade econômica, tais como eletrificação, telefonia, indústria,
saúde, consumo, transporte, turismo, educação, habitação, mineração e crédito, dentre outros
(COOPEDER, 2011; COOPECIC, 2008; OCB, 2008; LIMA, 2004; SALES, 2010). Vale ressaltar
que o fato de as cooperativas serem compostas por associados que desempenham, ao mesmo tempo,
o papel de proprietários e de usuários dos produtos e serviços por elas oferecidos, gera um alto grau
de fidelidade e integração dos profissionais envolvidos com a entidade (COOPEDER, 2011;
COOPECIC, 2008; OCB, 2008; LIMA, 2004; SALES, 2010).

3.3 A Economia Solidária no Brasil

Nos idos de 1980, a nação brasileira atravessava forte crise econômica, marcada por um
período de estagnação formado com uma retração agressiva da produção industrial. Nesta época
foram verificadas reduções no PIB, sendo que o crescimento médio que era de 7% (anos 70) caiu
para 2% na década de 80. A dívida pública brasileira com os EUA, bem como as taxas
internacionais de juros cresceram vertiginosamente. A política fiscal expansionista adotada no
governo brasileiro aumentava continuamente a dívida pública interna. Por essas razões, esta fase da
economia brasileira foi denominada “a década perdida”. Seus efeitos estrondosamente negativos se
alastraram rapidamente por toda a América Latina.
Neste diapasão, o enxutamento dos postos de trabalho, aliado à complexidade dos conselhos
de fábrica e dos conselhos populares, forçou milhões de famílias a procurarem algum caminho
alternativo que fornecesse os meios necessários para a sua subsistência. Daí, o cooperativismo
inglês, que já se principiava na nação brasileira, começou a ganhar formas distintas visando atender
às necessidades de grupos de famílias de baixa e de baixíssima renda desempregadas (SOUZA et al,
2015). Sobre o seu advento na nação brasileira, Souza et al (2015, p. 3) e Lima (2004, p. 14)
salientam:

(SOUZA et al, 2015, p. 3):

No Brasil, a Economia Popular Solidária tem sua origem histórica nas práticas produtivas
associativas e solidárias entre membros de uma mesma comunidade, etnia ou classe social.
O Estado brasileiro vivencia visível transformação social em virtude da ampla e crescente
crise do trabalho intensificada a partir dos anos 80, notadamente em função da
desindustrialização que implica a perda de milhões de postos de trabalho; a abertura do
mercado, que acirra a competência global e o desassalariamento em massa; o desemprego
maciço e de longa duração. Diante de tantas mudanças, o Governo brasileiro assume
compromissos diversificados no tocante à participação social, destacando-se o seu
reconhecimento como direito legítimo, à luz da Declaração Universal dos Direitos
Humanos e da Constituição da República Federativa do Brasil, ano 1988.
De fato, desde 2003, o Governo Federal passa a investir na construção de uma política
nacional de Economia Solidária, reconhecendo o acúmulo de esforços de milhares de
47

organizações da sociedade civil e de governos estaduais e municipais. Para viabilizar tal


intento, o Governo institui a Secretaria Nacional de Economia Solidária, vinculada ao
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Quer dizer, a trajetória da política pública de ES
é percebida como conquista social genuína e legítima.

(LIMA, 2004, p. 14):

No Brasil, as cooperativas de produção industrial crescem em todos os formatos a partir do


final dos anos de 1980 e início da década seguinte.
Parte delas está completando dez anos de funcionamento com êxitos diferenciados, o que
dificulta as considerações sobre a viabilidade ou não de sua continuidade. Entretanto,
devemos destacar que esses empreendimentos têm recebido apoio cada vez maior de
instituições sociais, de ONGs, do Estado e até de empresas (embora com objetivos
diferenciados) diante do novo quadro econômico, o que pode indicar uma tendência de
crescimento.

Não obstante, analisamos dois grupos de cooperativas das mudanças do capitalismo


contemporâneo. No primeiro grupo, estão as cooperativas “pragmáticas” (que podem incluir as
chamadas “falsas cooperativas”), que funcionavam como terceirizações para empresas, e, em geral,
foram organizadas por essas mesmas empresas, ou ainda, integravam programas estatais de geração
de renda, desvinculadas dos princípios do movimento (LIMA, 2004). No segundo grupo, estão as
cooperativas “defensivas”, formadas a partir de movimentos de trabalhadores para a manutenção do
emprego em fábricas em situação falimentar, ou de programas governamentais de geração de renda
para populações pobres. Estas são as que se enquadram-se na proposta de Economia Solidária, na
qual os valores da autogestão dos trabalhadores, o combate ao desemprego e o desenvolvimento
sustentável são norteadores (LIMA, 2004). Em ambos os grupos, predomina-se uma grande
dependência, seja de redes empresariais de órgãos públicos de fomento e instituições da sociedade
civil – nos chamados Empreendimentos Econômicos Solidários (EES). Tal dependência afeta
diretamente a percepção dos trabalhadores sobre o trabalho autogestionário e suas perspectivas
futuras (LIMA, 2004). Sobre todos estes aspectos, Lima (2004, p. 7) ratifica e amplia com as
seguintes palavras:

A partir dos anos de 1990, temos a multiplicação de cooperativas “defensivas”, “fênix” ou


com outras denominações para projetos de recuperação de empresas. A diferença do
período é o caráter de rede proposto pela associação, a assessoria especializada e a adesão
aos princípios de autogestão e democracia no trabalho (ANTEAG, 2000; Sola, 2000;
Nakano, 2000). Posteriormente, a ANTEAG começou a trabalhar juntamente com o
governo do Rio Grande do Sul na organização de cooperativas resultantes do deslocamento
e do fechamento de fábricas de calçados, e com prefeituras como a de São Paulo.
Ao lado das propostas autogestionárias com fundamentação no movimento sindical, na
década de 1990, multiplicou-se também o que foi chamado de “falsas cooperativas”,
cooperativas tradicionais ou cooperativas pragmáticas. Para efeito deste artigo, as
denominaremos “pragmáticas”. As empresas capitalistas regulares perceberam que
poderiam terceirizar suas atividades de forma bastante vantajosa se organizassem
cooperativas para seus trabalhadores. Fazendas produtoras de laranja no estado de São
Paulo foram as primeiras a serem denunciadas por essa prática. Do dia para a noite,
surgiram cooperativas com mais de mil trabalhadores para colher laranjas. Conhecidas
como “coopergatos”, essas empresas utilizavam o intermediário – o gato, aliciador de
trabalhadores – para organizar empresas cooperativas que as livrassem dos encargos
trabalhistas. A justiça interveio e esse procedimento foi abandonado. Entretanto, com o
crescimento da focalização das empresas (processo no qual passam a dedicar-se ao produto
principal, terceirizando os demais), inúmeras empresas industriais e de serviços passaram a
sugerir que seus trabalhadores organizassem cooperativas para a realização de tarefas que
48

elas deixariam de realizar diretamente. Isto aconteceu com empresas elétricas, telefônicas,
bancos e indústrias. Mais que cooperativas com propostas autogestionárias de autonomia
dos trabalhadores, elas podem ser chamadas de “pragmáticas” ou, em outros termos,
voltadas à terceirização de atividades com o objetivo de reduzir custos com a força de
trabalho. E a aceitação pelos trabalhadores é igualmente “pragmática”: a manutenção de
emprego.

São variadas as definições de Economia Solidária. O Fórum Brasileiro de Economia


Solidária (FBES) a define em três dimensões: a econômica, a cultura e a política (FBES, 2016a;
2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f). Segue a sua definição:

Economicamente, é um jeito de fazer a atividade econômica de produção, oferta de


serviços, comercialização, finanças ou consumo baseado na democracia e na cooperação, o
que chamamos de autogestão: ou seja, na Economia Solidária não existe patrão nem
empregados, pois todos os/as integrantes do empreendimento (associação, cooperativa ou
grupo) são ao mesmo tempo trabalhadores e donos.
Culturalmente, é também um jeito de estar no mundo e de consumir (em casa, em eventos
ou no trabalho) produtos locais, saudáveis, da Economia Solidária, que não afetem o meio-
ambiente, que não tenham transgênicos e nem beneficiem grandes empresas. Neste aspecto,
também simbólico e de valores, estamos falando de mudar o paradigma da competição para
o da cooperação de da inteligência coletiva, livre e partilhada.
Politicamente, é um movimento social, que luta pela mudança da sociedade, por uma
forma diferente de desenvolvimento, que não seja baseado nas grandes empresas nem nos
latifúndios com seus proprietários e acionistas, mas sim um desenvolvimento para as
pessoas e construída pela população a partir dos valores da solidariedade, da democracia, da
cooperação, da preservação ambiental e dos direitos humanos.

Outra definição é a do filósofo e professor universitário australiano Peter Albert David


Singer, hoje com 69 anos, casado com Renata Singer desde 1968, e atua como professor
universitário na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, na área de ética prática, tratando
questões de Ética de uma perspectiva utilitarista (SOUZA et al, 2015). Consoante apontado por
Souza et al (2015, p. 5):

Para o filósofo australiano Peter Albert David Singer, a ES consiste em outro modo de
produção, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou associada do capital e o
direito à liberdade individual. Baseia-se, ainda, na autogestão e, sobretudo, em lutas
emancipatórias que modifiquem as instituições para a concretização de práticas
democráticas e constituição de redes cooperativas. Tal confronto torna-se mais e mais
comprometedor, uma vez que o capitalismo prevalece há tanto tempo que paira certa
tendência para considerá-lo “normal ou natural.” Neste sentido, a economia de mercado
deve ser cada vez mais competitiva face à existência de sociedades profundamente
desiguais.

Pensando na variedade de definições que se apresentam para o termo Economia Solidária,


Lima (2004, p. 9) salienta:

Segundo Singer, o conceito de Economia Solidária possui diversas acepções (Economia


Social, Economia Popular), mas conserva, em comum, a contraposição entre a
solidariedade e o individualismo competitivo predominante na sociedade capitalista. Trata-
49

se de organizações de produtores em forma de autogestão: na igualdade de direitos de todos


os membros; na propriedade comum do capital, numa distribuição mais igualitária, bem
como em sua gestão democrática. A cooperativa seria, por excelência, o tipo ideal de
empreendimento solidário, voltado aos desempregados, aos trabalhadores em via de perder
o emprego e aos pobres. Constitui-se resposta à reestruturação econômica capitalista e às
suas conseqüências na precarização do trabalho e da vida social (Singer, 2000, 2002, 2003).

De mais a mais, a Economia Solidária pode ser entendida como um conjunto de ações
produtivas realizadas coletivamente que, a priori, tratam-se de uma alternativa de trabalho, de renda
e de inclusão social, e, a posteriori, de um trabalho autogestionário pautado na solidariedade, na
liberdade individual e coletiva, na valorização do trabalho humano e no desenvolvimento
sustentável capaz de devolver aos seus membros parte da dignidade extraída por meio da
marginalização e da segregação provocadas pelas forças produtivas capitalistas acentuadamente
competitivas e excludentes do século XXI (SOUZA et al, 2015).
Fortalecer o movimento de Economia Solidária significa dar uma chance à ressignificação
identitária de milhões de famílias marginalizadas e ou segregadas pelo sistema capitalista,
concedendo-lhe um trabalho humano, digno, solidário, em que elas são devidamente valorizadas e
ainda auferem renda para a sua subsistência. Por essa razão este movimento merece reconhecimento
social, apoio de entes estatais e empresariais, políticas públicas melhor elaboradas e implementadas
em seu favor (SOUZA et al, 2015). É por essa razão, que os Empreendimentos Econômicos
Solidários mantêm-se ininterruptamente na busca por apoio do Estado para o crescimento e o
desenvolvimento do movimento de Economia Solidária. E com bons resultados, tais como Lima
(2004, p. 10) explana o mais pormenorizadamente possível:

A proposta de Economia Solidária foi incorporada ao movimento sindical. Em 1999, a CUT


organizou em São Paulo, um seminário internacional sobre desenvolvimento solidário, que
culminou na criação da Agência de Desenvolvimento Solidário, ADS, cujos objetivos eram
criar novas oportunidades de renda e trabalho em organizações de caráter solidário,
contribuindo com alternativas para um desenvolvimento social e sustentável, além de criar
um Sistema Nacional de Crédito Cooperativo, educar trabalhadores na perspectiva
solidária, viabilizar a inserção dos empreendimentos solidários no mercado, difundir os
princípios da economia solidária no mercado e criar um novo cooperativismo (combatendo
as falsas cooperativas). O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em seu terceiro congresso,
realizado no ano 2000, aprovou resolução de incentivo ao cooperativismo como alternativa
de trabalho e renda, aprovou a associação dos cooperados ao sindicato e se propôs a apoiar
a criação de cooperativas de produção. A partir dos dois eventos, o movimento sindical
passou a responder a uma situação de fato: a multiplicação da produção na forma de
trabalho cooperado, na qual, em tese, o trabalhador desempenharia papel central. Além
disso, o Sindicato dos Químicos do ABC e um grupo de cooperativas formaram a Unisol
Cooperativas – associação de defesa e apoio desses empreendimentos por meio da busca de
linhas de financiamento e promoção de qualificação e requalificação profissional, voltadas
ao trabalho associado e a funções de assessoria semelhantes às da ANTEAG (Magalhães,
2001; Magalhães e Todeschini, 2000; Singer, 2002).
Outra proposta implementada foi da formação das Incubadoras Tecnológicas de
Cooperativas Populares, criadas pela Coppe/UFRJ, com apoio da Finep e do Banco do
Brasil, voltadas à organização de empreendimentos comunitários. Em 1998, foi lançado o
PRONINC (Programa Nacional de Incubadora de Cooperativas), para ampliar o número de
incubadoras nas universidades e, a partir de 1999, foi criada a rede de incubadoras
vinculada à Fundação Unitrabalho. Esses programas contaram com forte apoio da rede
Cáritas brasileira e internacional, instituição católica de apoio à ação social da Igreja
(Singer, 2002).
Nesta perspectiva, o governo petista do Rio Grande do Sul criou, em 1999, o Programa de
Economia Popular e Solidária, dirigido pela Coordenação de Economia Popular e Solidária
(ECOPOP-SOL), da Secretaria do Desenvolvimento e Assuntos
50

Internacionais (SEDAI), com apoio da ANTEAG.


Desde então, foram criadas em torno de 120 cooperativas, nos diversos ramos da produção
e serviços. O programa passou a apoiar cooperativas de produção industrial calçadistas do
“Vale dos Sinos”, de pequenos produtores e agricultores, de
assentados do MST, redes de pequenos proprietários de comércio e serviços, e cooperativas
defensivas formadas por antigas indústrias que faliram (Cruz, 2001). Entretanto, com a
saída do Partido dos Trabalhadores do governo estadual do Rio Grande do Sul, o programa
perdeu prioridade.

Os fóruns municipais brasileiros de Economia Solidária são espaços organizados


democraticamente, em âmbito municipal, por atores da Economia Solidária para: a) a aproximação
e a integração dos empreendimentos econômicos solidários; b) a discussão, organização,
formulação, implementação, monitoramento e representação deste movimento; b) a articulação com
as outras instâncias regionais, nacionais e internacionais do mesmo (SOUZA et al, 2015).
Entretanto, os fóruns municipais brasileiros de Economia Solidária são ainda escassos e
pouco estruturados devido à incipiência da regulação que paulatinamente se constrói sobre este
movimento na nação brasileira, e carecem, em sua maioria, para a sua adequada estruturação, de um
Regimento Interno adequadamente elaborado e aplicado, reuniões regulares e significativas com os
membros, participação ativa de todos ou pelo menos da maioria, instalações físicas com recursos
tecnológicos e com espaços apropriados para sediar eventos municipais do movimento, apoio do
poder público, em especial do governo municipal (prefeitura, câmara dos vereadores) e participação
social (SOUZA et al, 2015). Podemos resumir todas estas necessidades no trinômio Economia
Solidária, Poder Público e Participação Social, representado a seguir:

ECONOMIA SOLIDÁRIA PODER PÚBLICO

PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Figura 6. Trinômio Fundamental da Economia Solidária.


Elaborada pelo autor.

Hoje, o FBES4 está organizado em todo o país em mais de 160 Fóruns Municipais,
Microrregionais e Estaduais, envolvendo diretamente mais de 3.000 empreendimentos de economia
solidária, 500 entidades de assessoria, 12 governos estaduais e 200 municípios pela Rede de
4
Vide anexo 1 intitulado O FÓRUM BRASILEIRO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA (FBES), na página 103.
51

Gestores em Economia Solidária. Fruto do processo histórico que culminou no I Fórum Social
Mundial (I FSM), o FBES contou com a participação de 16 mil pessoas vindas de 117 países, nos
dias 25 a 30 de janeiro de 2001. Dentre as diversas oficinas, que promoviam debates e reflexões,
1.500 participantes acotovelam-se na oficina denominada “Economia Popular Solidária e
Autogestão” onde se tratava da auto-organização dos/as trabalhadores/as, políticas públicas e das
perspectivas econômicas e sociais de trabalho e renda. De modo sintético, a Economia Solidária
brasileira pode ser esquematizada do seguinte modo:

Figura 7. A Economia Solidária no Brasil. Fonte: FBES, 2016.

Foi concluída recentemente a Pesquisa Amostral de Sócios e Sócias de EES no Brasil 5, parte
integrante do Projeto SIES. As cinco regiões do Brasil foram percorridas por 60 entrevistadores, que
5
Mais informações podem ser obtidas no site http://acesso.mte.gov.br/data/files/FF80808148EC2E5E014A394E
6975707C/Acontece%20SENAES%202014%20-%20SES%20e%20Atlas.pdf.
52

durante três meses aplicaram quase 3 mil questionários, com integrantes de 510 empreendimentos
econômicos solidários sorteados. A Pesquisa de Sócios e Sócias procurou conhecer mais
profundamente os integrantes do quadro social dos empreendimentos solidários, saber as razões de
sua opção pela Economia Solidária, os benefícios que a mesma lhes traz, suas expectativas e
aspirações. Assim, buscou-se compreender a economia solidária de um ponto de vista fundamental:
seus protagonistas. Através desses novos dados, será possível ver a trajetória destes atores, avançar
no entendimento sobre as suas condições de vida e as mudanças provocadas pela participação na
Economia Solidária. A seguir, apresentamos alguns dados gerais da pesquisa (MTE, 2013).
De acordo com referida pesquisa, do total de sócios e sócias dos EES brasileiros
quantificados até 2013, 11,8% pertenciam à faixa etária de 29 anos ou menos, 20,2% entre 30 e 39
anos, 26,8% entre 40 e 49 anos, 23,8% entre 50 e 59 anos, 17,4% com 60 anos ou mais. Deste total,
47% pertencem à categoria social dos agricultores e familiares, 14% à categoria social dos
assentados na Reforme Agrária, 12% à dos artesãos, 5% à dos catadores, 3% à dos técnicos ou
profissionais de nível superior, 3% à dos pescadores ou marisqueiros, 6% à dos outros trabalhadores
autônomos, 7% à dos sócios e sócias que nenhuma categoria social declararam, e 3% à outra
categoria social, diferente das escolhas oferecidas como opção de resposta no questionário (MTE,
2013).
Como principal atividade econômica exercida no EES, 47% apontaram a comercialização de
produtos de sua unidade econômica, 17% apontaram o trabalho remunerado na produção, prestação
de serviços ou administração, 16% apontaram o consumo, o uso de infraestrutura ou de bens e
serviços, 1% apontou a troca de produtos ou serviços, 1% apontou a poupança, o crédito ou as
finanças solidárias, 15% apontaram nenhuma atividade econômica e 3% apontaram outra resposta,
diferente das escolhas oferecidas como opção de resposta no questionário (MTE, 2013).
Da referida entrevista, 93% dos entrevistados informaram que já frequentaram a escola, 7%
informam que não a frequentaram, 49% informam ter ensino fundamental incompleto, 13% o
ensino fundamental completo, 24% o ensino médio completo, 5% o ensino superior completo e 2%
a pós-graduação completa (MTE, 2013).
Quanto à importância do empreendimento solidário como fonte de renda, 33% informaram
que a renda é complementar em relação aos rendimentos principais, 35% informaram que sua renda
não depende do EES, 29% informaram que o EES é fonte principal de renda, 1% não souberam
responder, 2% informaram outra resposta, diferente das escolhas oferecidas como opção de resposta
no questionário e 0% não declarou (MTE, 2013).
Quanto à renda média dos que exercem atividades de comercialização, em reais (R$), foi
apurado R$416,76 para os catadores, R$1.145,47 para os assentados, R$1.212,72 para os
agricultores familiares, R$516,17 para os artesãos, R$455,30 para os pescadores artesanais,
R$928,59 para os outros trabalhadores autônomos e R$1.003,07 como a renda média geral dos
sócios e sócias dos EES brasileiros quantificados até 2013 (MTE, 2013).
Quanto aos motivos que pesam mais fortemente para o sócio ou a sócia continuar no EES 6,
82,4% informaram que é para participar de uma atividade coletiva, 79,4% para fortalecer a
comunidade ou movimentos sociais, 76,6% para trabalhar no que gosta, 74,2% para melhorar a sua
renda ou o seu nível de vida, 68,8% para para acreditar na ES, 55,3% para trabalhar com mais
comodidade, quanto ao horário ou local, 46,9% para receber apoio de entidades ou do governo,
46,8% para evitar o desemprego, 15,3% outro motivo (MTE, 2013).
De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária,
vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego (SIES-MTE), no Brasil, até 2014, foi quantificado
um total de 19.708 Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), compostos por um total de
1.423.631 sócios. Sua distribuição geográfica foi retratada do seguinte modo: 16% na região Norte,
compostos por 20% do total de sócios; 10% na região Centro-Oeste, compostos por 8% do total dos
6
Foi permitido marcar mais de uma opção.
53

sócios; 17% na região Sul, compostos por 27% dos sócios; 16% na região Sudeste, compostos por
8% do total de sócios; e 41% na região Nordeste (a maior parcela), compostos por 37% do total de
sócios. Do total de sócios foram quantificados que 44% é composto por mulheres e 56% por
homens. Do total de EES, 60% são organizados na forma de associação, 30,5% na forma de grupo
informal, 8,9% na forma de cooperativa, e 0,6% na forma de sociedade mercantil (MTE, 2014).
No grupo das associações solidárias, foram quantificados 8.229 (69%) EES atuando no meio
rural, 2.443 (21%) EES atuando no meio urbano e 1.150 (10%) EES em ambos os meios (urbano e
rural). No grupo dos grupos informais solidários, foram quantificados 1.926 (32%) EES atuando no
meio rural, 3.538 (59%) EES no meio urbano e 554 (9%) EES em ambos os meios (urbano e rural).
No grupo das cooperativas solidárias, foram quantificados 598 (34%) EES atuando em meio rural,
804 (46%) EES atuando em meio urbano e 338 (20%) EES atuando em ambos os meios (urbano e
rural). No grupo das sociedades mercantis solidárias, foram quantificados 40 (31%) atuando em
meio rural, 71 (56%) atuando em meio urbano e 16 (13%) atuando em ambos os meios (urbano e
rural) (MTE, 2014).
Do total dos EES quantificados na nação brasileira até 2014, 56,2% indicaram a produção
como sendo a sua atividade econômica principal, 20% indicaram o consumo como atividade
econômica principal, 13,3% indicaram a comercialização, 6,6% a prestação de serviços ou trabalho
a terceiros, 2,2% a troca e 1,7% a poupança, crédito ou finanças solidárias (MTE, 2014).
No grupo dos EES produtivos, foram quantificados 5.737 (82%) EES atuando no meio rural,
4.183 (43%) atuando no meio urbano e 1.160 (10%) atuando em ambos os meios (urbano e rural).
No grupo dos EES consumistas, foram quantificados 3.336 (85%) EES atuando no meio rural, 400
(10%) EES atuando no meio urbano e 209 (5%) EES atuando em ambos os meios (urbano e rural).
No grupo dos EES comerciantes, foram quantificados 983 (37%) EES atuando no meio rural, 1.259
(48%) EES atuando no meio urbano e 386 (15%) EES atuando em ambos os meios (urbano e rural).
No grupo dos EES prestadores de serviços ou trabalho a terceiros, foram quantificados 251 (19%)
EES atuando no meio rural, 825 (64%) EES atuando no meio urbano e 220 (17%) EES atuando em
ambos os meios (urbano e rural). No grupo dos EES trocadores, foram quantificados 281 (65%)
EES atuando no meio rural, 125 (29%) EES atuando no meio urbano e 24 (6%) EES atuando em
ambos os meios (urbano e rural). No grupo dos EES poupadores ou concessores de créditos ou de
finanças solidárias, foram quantificados 205 (62%) EES atuando no meio rural, 64 (20%) EES
atuando no meio urbano e 59 (18%) EES atuando em ambos os meios (urbano e rural) (MTE,
2014).
Quanto ao motivo da criação7 dos EES, 46,2% indicaram alternativa ao desempenho, 48,8%
indicaram fonte complementar de renda, 43% para obter maiores ganhos associativamente, 40,7%
para formar atividades onde todos são donos, 14,3% para atuar profissionalmente, 21% para acessar
financiamentos e apoios, 3% para recuperar empresa falida, 19,3% por motivação social,
filantrópica ou religiosa, 28,6% para desenvolvimento comunitário, 16% para alternativa
organizativa e de qualificação, 15,8% para receber os incentivos de políticas públicas, 7,7% para
formar organização econômica de beneficiários de políticas públicas, 9,7% para fortalecer seu
grupo étnico, 8,2% para produzir e comercializar produtos orgânicos ou ecológicos (MTE, 2014)8.
O Governo Federal, interessado em erradicar a extrema pobreza da nação brasileira,
desenvolveu por meio de articulações interministeriais, o Projeto Brasil Local, voltado para o
desenvolvimento local, o fortalecimento comunitário e a geração de trabalho e renda por meio da
Economia Solidária tendo como fio condutor a atuação de Desenvolvimento Solidário (CÁRITAS,
2009; 2010; 2012; 2016; MTE, 2013; AACC, 2010). Em 2009 foi celebrado o Convênio nº
723.610,
7
Foi permitido marcar mais de uma opção.
8
Mais informações podem ser obtidas no site http://acesso.mte.gov.br/ecosolidaria/sistema-nacional-de-informacoes-
em-economia-solidaria/ clicando-se no link Estudos e publicações gerados com os dados do SIES, e, em seguida, em
Acesse aqui o livro "A Economia Solidaria no Brasil: uma análise dos dados nacionais" e o álbum "Faces da Economia
Solidária no Brsasil, onde é permitido o seu download.
54

entre a Cáritas Brasileira9 e a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), no fito de


implementar a Articulação Nacional do Projeto Brasil Local, assumido por ela e por mais oito
entidades parceiras, quais sejam: a Associação de Apoio às Comunidades do Campo do Rio Grande
do Norte (AACC-RN)10, a Associação de Desenvolvimento Solidário e Sustentável de Marituba
(ADSMAR)11, a Associaço do Voluntariado e da Solidariedade (AVESOL)12, a Fundação
Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (COPPETEC) 13, o Guayí – Democracia
Participação e Solidariedade14, o Instituto de Tecnologia para o Agronegócio e Meio Ambiente
Amazônico (ITASA)15, a Unisol Brasil – Centro de Cooperativas e Empreendimentos Solidários 16, e
a Via do Trabalho17 (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016; MTE, 2013; AACC, 2010; AVESOL,
2016).
Com esta parceria, em 2009, foram iniciadas as atividades do Centro Nacional de Formação
em Economia Solidária (CFES), cujo objetivo é especificado em Cáritas (2012, p. 5), conforme
passa a nos dizer:

O CFES Nacional iniciou suas atividades em 2009, tendo como objetivo formar
educadores(as) da e para a Economia Solidária na perspectiva de fortalecer o projeto de
sociedade justa, sustentável e solidária. E o Brasil Local é um projeto voltado para o
desenvolvimento local, o fortalecimento comunitário e a geração de trabalho e renda por
9
A Cáritas Brasileira é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e integra a rede Cáritas
Internationallis. Ela é “uma entidade de promoção e atuação social que trabalha na defesa dos direitos humanos, da
segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável solidário. Sua atuação é junto aos excluídos e excluídas em
defesa da vida e na participação da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural” (CÁRITAS, 2009;
2010; 2012; 2016).
10
Uma organização social de interesse público (Oscip), com sede em Natal-RN, que tem como missão "contribuir com a
autodeterminação das agricultoras e agricultores familiares do Rio Grande do Norte através dos processos de
agroecologia, economia solidária e convivência com o semiárido" (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016).
11
É formada por empreendedores(as) que buscam produzir, comercializar, consumir e ter acesso ao crédito, com
relações justas de parcerias, para a inclusão social (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016).
12
É uma entidade de assistência social, sem fins lucrativos e tem como missão promover ações de voluntariado e de
solidariedade, apoiando grupos e comunidades organizadas em busca da transformação e justiça social. Sua atuação é
fundamentada na educação popular, possui como campo preferencial de trabalho a economia solidária, o voluntariado e
a assessoria a projetos sociais (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016).
13
É uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos, destinada a apoiar a realização de projetos de
desenvolvimento tecnológico, de pesquisa, de ensino e de extensão, da COPPE e demais unidades da UFRJ. Seu
público é composto por órgãos governamentais, privados, entidades multilaterais e empresas privadas nacionais e
estrangeiras (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016).
14
Guayí significa "semente", no idioma Guarani (grupo indígena da região Sul do Brasil). Tem como objetivo estimular
a auto-organização da sociedade para a defesa de seus direitos, na perspectiva generosa e solidária de um outro mundo
possível, onde haja socialização dos frutos do desenvolvimento e de todas as dimensões do poder, com respeito às
diferenças, não sendo estas motivo de desigualdade social (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016).
15
Entidade privada sem fins lucrativos, que desenvolve serviços de consultorias e pesquisas em agronegócio, meio
ambiente, agricultura familiar, e fornece suporte técnico e institucional às ações governamentais para a formulação e
avaliação de políticas e programas de desenvolvimento (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016).
16
É uma associação civil com fins não econômicos, de âmbito nacional, de natureza democrática, cujos fundamentos são
o compromisso com a defesa dos reais interesses da classe trabalhadora, a melhoria das condições de vida e de trabalho
das pessoas, a eficiência econômica e o engajamento no processo de transformação da sociedade brasileira, com base
nos valores da democracia e da justiça social (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016).
17
É uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, sediada em Recife - PE. Possui núcleos operacionais nos
estados do Piauí, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Goiás. Constitui-se como instrumento para ressaltar
a força positiva do trabalho, como agente real da produção e, deste modo, fortalecer a participação estrutural do mundo
do trabalho, no controle político e profisisonal de processos sócio-produtivos, através da constituição de
empreendimentos solidários que impulsionem um novo tipo de desenvolvimento que possibilite o exercício da
sociabilidade do trabalho (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016).
55

meio da economia solidária, tendo como o condutor a atuação de Agentes de


Desenvolvimento Solidário.

Então, são nove as entidades promotoras do Projeto Brasil Local: a Cáritas Brasileira, que o
implementa em âmbito nacional, e as demais oito entidades citadas, que o implementa nas
diferentes regiões da nação brasileira, realizando ações temáticas voltadas para a consolidação dos
princípios da Economia Solidária brasileira (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016; MTE, 2013;
AACC, 2010; AVESOL, 2016). Sobre estes aspectos, Cáritas (2010, p. 5) acentua:

Com base numa diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas na cooperação,


autogestão, solidariedade, sustentabilidade e na interrelação em redes de informações,
produção, comercialização e consumo. Em âmbito nacional, trazem outras dimensões e
diferenciais expressos na Economia Solidária e Feminista e no Etnodesenvolvimento. O
Brasil Local realiza iniciativas articuladas, buscando garantir as especificidades de cada
projeto e de cada território. Além disso, aposta na descentralização e autonomia das
entidades da sociedade civil parceiras no desenvolvimento de seus planos de trabalhos e
projetos.

Em se tratando da trajetória do Projeto Brasil Local, vale ressaltar que antes de sua
implementação definitiva em 2009, o Governo Federal implementou, como de praxe, projeto pilotos
testando a sua viabilidade e utilidade pública (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016; MTE, 2013;
AACC, 2010; AVESOL, 2016).
Por exemplo, em 2005, a SENAES e outros parceiros do governo federal iniciaram um
projeto-piloto, denominado Projeto de Etnodesenvolvimento Econômico Solidário, de
desenvolvimento local, direcionado a 155 comunidades quilombolas de diferentes territórios
brasileiros (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016; MTE, 2013; AACC, 2010; AVESOL, 2016). Por
meio da utilização de instrumentos específicos de planejamento, de ferramentas e de metodologias
para conhecimento mais amplo da realidade local, foram identificadas nestas localidades
“potencialidades e necessidades reais, técnicas e materiais, mapeada a situação de iniciativas
coletivas já existentes e realizadas atividades de apoio à organização de novos núcleos para
potencialização da produção local”. Este projeto-piloto foi bem sucedido, razão pela qual o Governo
Federal decidiu ampliá-lo para outros segmentos, além dos quilombolas (CÁRITAS, 2009; 2010, p.
6; 2012; 2016; MTE, 2013; AACC, 2010; AVESOL, 2016).
Daí, em 2006, foi implementado o Projeto de Promoção de Desenvolvimento Local e
Economia Solidária (PPDLES), ampliando, então, o projeto-piloto anterior a outros segmentos,
além dos quilombolas. Foi constituída uma rede de Agentes de Desenvolvimento Solidário, a priori,
contando com 252 agentes, e, a posteriori, em 2007, com mais de 331 agentes. Desde 2006, o
PPDLES apoiou mais de 1500 iniciativas e Empreendimentos Econômicos Solidários, alcançando
cerca de 138 mil pessoas (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016; MTE, 2013; AACC, 2010;
AVESOL, 2016).
Foi em 2008 que, tendo sido bem sucedida a implementação dos projetos-piloto
mencionados, o Governo Federal reformulou interministerialmente a estratégia do Projeto, focando-
a cada vez mais no empoderamento das comunidades locais enquanto tarefa de reafirmação do
desenvolvimento local, decidiu alterar e alterou a denominação do PPDLES para Projeto Brasil
Local – Desenvolvimento e Economia Solidária (CÁRITAS, 2009; 2010; 2012; 2016; MTE, 2013;
AACC, 2010; AVESOL, 2016).
56

4 FÓRUNS MUNICIPAIS BRASILEIROS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

4.1 Teresina (PI)

4.1.1 Fundação

O Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Teresina (FMEPS-TE), capital do


Estado do Piauí, foi instituído em 21 de fevereiro de 2014, após muitos esforços dos atores de
Economia Solidária locais desta cidade, contando com a adesão de 40 entidades no ato (SOUZA et
al, 2015; PORTAL PMT, 2015). Baseado no trinômio fundamental da Economia Solidária, isto é, na
integração e na articulação entre este movimento, o poder público e a participação social, o FMEPS
já teve alguns avanços, dentre os quais a realização da I Conferência Municipal de Economia
Solidária, que articulou e integrou “as diferentes políticas públicas que abrangem Economia
Solidária e elaborou um plano estadual, que foi levado para a Conferência Nacional de Economia
Solidária no final de 2014” (PORTAL PMT, 2015, s. p.; FBES, 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e;
2016f; SOUZA et al, 2015). Sobre estes aspectos, Souza et al (2015, p. 6 e 7) salientam:

Diante do cenário exposto, e ancorados na tese proposta por Demo (1988), para quem
“participação é conquista”, os movimentos organizados na área de ES, em Teresina, sempre
defenderam a criação de um espaço aglutinador dos setores sensíveis à estruturação de uma
política pública nesse âmbito, o que, efetivamente, se dá no município graças à instalação
do FMEPS – TE, em 21 de fevereiro de 2014, contando com a solicitação de adesão de 40
entidades no referido ato (SOUSA; TEIXEIRA, 2015).
Em tão importante espaço, concentram-se, a partir de então, os principais atores
responsáveis pelo movimento na capital, juntamente com as respectivas instâncias
representativas. Ocorre, ainda, o fortalecimento do diálogo com as organizações
governamentais e da sociedade civil em geral, como forma de reconhecimento e de
valorização das políticas públicas de ES, as quais, em conjunto, aglutinam forças para a
criação de espaços legítimos de diálogo, participação cidadã e controle social, visando à
institucionalização da ES na capital.

O FMPES-TE atua em articulação com o Fórum Estadual do Piauí, instalado em 13 de


fevereiro de 2004, com a integração de seis organizações envolvidas com o tema. Seus membros
participam de eventos da área, como, por exemplo, o I Fórum Estadual de Economia Solidária,
criado em 13 de fevereiro de 2004, com a participação de seis entidades que já trabalhavam com
Economia Solidária, dentre elas a Delegacia Regional do Trabalho do Piauí (DRT-PI) e a Secretaria
Nacional de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho (SENAES-MTE (SOUZA et al, 2015;
FBES, 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f; PORTAL PMT, 2015, s. p.).

4.1.2 Participantes

Participam do FMEPS-TE representantes dos Empreendimentos Econômicos Solidários da


localidade, do governo local e da sociedade civil. Dentre estes representantes, destacam-se
membros de vários segmentos de artesanato, pequenos produtores rurais, grupos ligados à cultura, à
assessoria e ao fomento de políticas sociais (SOUZA et al, 2015; PORTAL PMT, 2015, s. p.; FBES,
2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f). Sobre este aspecto, Souza et al (2015, p. 7) explana:

Dentre os principais envolvidos na consolidação do FMEPS – TE, ganha força a


participação de movimentos sociais e de setores produtivos, a exemplo de vários segmentos
57

de artesanato, pequenos produtores rurais, grupos ligados à cultura, associações e


cooperativas de pequenos produtores, além de entidades ligadas à assessoria e fomento de
políticas sociais e da atuação da SENAES e da Secretaria Municipal de Economia Solidária
de Teresina (SEMEST).

Seus participantes buscam o interesse comum de fortalecer o movimento, por meio do


intercâmbio de seus saberes teóricos e práticos sobre a Economia Solidária, da participação de
eventos direta ou indiretamente ligados ao movimento e de ações pontuais em cada um de seus EES
(SOUZA et al, 2015; FBES, 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f; PORTAL PMT, 2015, s.
p.).

4.1.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária

O Regimento Interno do FMEPS-TE foi elaborado pelos seus participantes levando-se em


consideração que: a) a necessidade de normas de relacionamento entre os participantes nas reuniões
realizadas em prol do movimento local de Economia Solidária; b) a necessidade de um espaço
adequado para intercâmbio e troca de saberes teóricos e práticos sobre a ES; c) a região nordeste
concentra o maior percentual de EES do país; d) Piauí e Teresina, tal como a região Nordeste, tem
um número substancial desses empreendimentos (SEMPLAN, 2010; SOUZA et al, 2015;
MIRANDA; FREITAS; LIMA, 2011). Sobre o Regimento Interno do FMEPS-TE, Souza et al
(2015, p. 7 e 5) pontua:

Em síntese, a existência e dinâmica de funcionamento do FMEPS – TE está disciplinada em


seu Regimento Interno, aprovado pelos pares quando de sua instalação, assim como sua
legitimidade está garantida, sobretudo, graças ao Fórum Brasileiro e ao Fórum Estadual da
área. Ambos se destacam por sua atuação relevante, inclusive com a realização de três
conferências nacionais com a respectiva etapa estadual, sendo a III e última Conferência
realizada em 2014, intitulada “Construindo um Plano Nacional da Economia Solidária para
Promover o Direito de Produzir e Viver de Forma Associativa e Sustentável.”
[…]
Por oportuno, explica-se que o FMEPS-TE, conforme explicitado em seu Regimento
Interno, Art. 1o, apresenta-se como campo privilegiado de estudo na condição de “espaço
permanente de representação, interlocução, articulação, discussão, proposição, troca de
saberes e fomento ao apoio para o desenvolvimento da ES na cidade, congregando
empreendedores solidários, gestores públicos e entidades de assessoria e fomento”
(TERESINA, 2014, não paginado). Isto reforça o FMEPS – TE como canal legítimo de
vocalização de demandas e manifestações dos cidadãos, acarretando transformações na
inter-relação Estado x sociedade, além de representar abertura como canal de participação
social no poder decisório, também é fruto de luta social em prol de uma sociedade mais
justa e uma legislação mais participativa.

A Lei Municipal de Economia Solidária de Teresina foi elaborada por seus legisladores
locais (vereadores) com base em reuniões realizadas com participantes dos EES e do FMEPS-TE, e
aprovado por seu Executivo local, levando-se em consideração os seguintes fatos: a) a região
nordeste concentra o maior percentual de EES do país; b) Piauí e Teresina, tal como a região
Nordeste, tem um número substancial desses empreendimentos c) em 2005, o Estado do Piauí
contava com 1.066 empreendimentos de Economia Solidária (7,1% do EES brasileiros), espalhados
por 224 municípios; d) em 2007, Teresina contava com 124 EES registrados no SIES (Sistema
Nacional de Economia Solidária); e) a Secretaria Municipal de Economia Solidária de Teresina
(SEMEST) atualmente acompanha 10.000 (dez mil) EES, que realizam atividades formais e
58

informais nos mais diversos setores de produção e serviços (SEMPLAN, 2010; SOUZA et al,
2015). Sobre esta Lei e sobre as iniciativas públicas municipais em Teresina em prol do movimento
de ES local, alguns autores nos emprestam os seus dizeres:

(SOUZA et al, 2015, p. 6):

Questão importante refere-se, também, à aprovação e à sanção da Lei Ordinária n. 6.057, de


17 de janeiro de 2011, que institui a Política Estadual de Fomento à Economia Solidária no
Estado do Piauí, cuja diretriz máxima é a promoção da ES e o desenvolvimento de grupos
organizados autogestionários de atividades econômicas. Acrescenta-se que a Lei em pauta
está regulamentada pelo Decreto n. 14.748, de 10 de fevereiro de 2012. Por fim, foi
importante a instalação do Conselho Estadual de Economia Solidária do Piauí, em 2013.

(SEMPLAN, 2010, p. 29 e 30):

A Prefeitura Municipal de Teresina tem priorizado o incentivo aos pequenos


empreendimentos através de programas de geração de trabalho e renda, elaborado e
executado pela Prefeitura Municipal, como o FUNGER (atualmente Banco Popular),
Centros de Produção, ampliação da rede de lavanderias comunitárias e das hortas
comunitárias, Shopping Natureza, Polo Cerâmico do Poti Velho além do apoio na
constituição de associações e cooperativas.
Com as iniciativas desenvolvidas pela Prefeitura e a implantação dos programas federais de
Economia Solidária, grande parte dos empreendimentos informais existentes no início dos
anos 2000 passaram de empreendimentos individuais a empreendimentos coletivos,
denominados posteriormente de Empreendimentos Econômicos Solidários, por
apresentarem em sua estrutura características como organização coletiva do trabalho,
autogestão, autonomia, solidariedade, cooperação, dentre outros. […]
Além da Secretaria Municipal de Economia Solidária de Teresina, a Secretaria de
Desenvolvimento Econômico, a Fundação Wall Ferraz e ONGs, também denominadas IAFs
(Instituições de Apoio e Fomento) prestam apoio logístico e de capacitação a este segmento
de atividade econômica em Teresina. No nível estadual, o principal órgão de apoio é a
Secretaria Estadual de Assistência Social e Cidadania (SASC).

Dentre os EES de Teresina estão associações e cooperativas, além de grupos informais ou


ainda em processo de formalização de bordadeiras, ceramistas, produtores no ramos de confecções
têxteis, decoração, artesanato em madeira, fibras naturais, comércio informal, além dos inseridos no
âmbito da economia criativa (SEMPLAN, 2010; MIRANDA; FREITAS; LIMA, 2011).

4.1.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

As vivências coletivas possibilitadas pela criação do FMEPS-TE são tidas como importantes
para todos os participantes do movimento, que, juntos e alinhados com os princípios de Economia
Solidária e normas do regimento interno do fórum, discutem as políticas públicas para o
movimento, mediam e articulam experiências, recebem capacitação específica de acordo com as
necessidades de cada EES, e contatam gestores públicos conscientizando-os da importância da ES
para a economia local e solicitando apoios pontuais (SOUZA et al, 2015; PORTAL PMT, 2015, s.
p.; FBES, 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f). Sobre estes aspectos, Souza et al (2015, p.
9) salienta:

No tocante ao item estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento, registram-se


depoimentos que demonstram a importância da vivência junto ao Fórum Estadual para a
articulação do FMEPS – TE, a saber: “A experiência junto ao Fórum do Estado, foi
decisiva
59

para a estruturação do municipal. Ali vimos como era importante o estar junto. Então,
começamos a ter iniciativa de pensar algo semelhante para Teresina. Nós, sociedade civil,
tínhamos a necessidade de um espaço onde os movimentos pudessem discutir as políticas.
Um local onde se pudesse mediar e articular; local que servisse de ponte entre
empreendimentos, capacitadores e gestores públicos, ou seja, de interlocutor para essas
entidades.”
Ainda a respeito do item em pauta, os membros ouvidos no estudo ressaltam, com certa
frequência, a importância de registrar sua própria história e documentar sua caminhada.
Nesse momento, insistem na importância de possuírem instrumentos normativos
construídos por eles: “Alegra-nos saber que já construímos alguma coisa, isto é, já temos
nosso Regimento Interno, com as regras como vamos nos relacionar. Temos, inclusive, ata
de fundação do Fórum” (representante de EES). Acrescentam também: “Nós mesmos
decidimos que queremos nos encontrar a cada dois meses, em reunião. Também falamos
que a Coordenação Geral deve se reunir todo mês. Para dizer a verdade, isto não está sendo
bem seguido, mas para melhorar só depende de nós” (representante de AF).

Então, percebe-se que são ricas as experiências compartilhadas no FMEPS-TE por seus
participantes bem como os treinamentos que neles são oferecidos para todos aqueles que já fazem
parte do movimento ou se interesse a ele pertencer (SOUZA et al, 2015). A Coordenação Geral do
FMEPS-TE reúne-se uma vez por mês, e convoca uma reunião com todos os participantes uma vez
a cada dois meses (SOUZA et al, 2015). Ás vezes, a convocação para a reunião geral é
negligenciada, mas os coordenadores buscam contornar esta situação incentivando os participantes,
mostrando para eles os benefícios oriundos desta participação coletiva geral em prol dos avanços
locais do movimento em geral e de cada um dos seus EES em específico (PORTAL PMT, 2015, s.
p.; FBES, 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f; SOUZA et al, 2015).
Digno de nota, que toda a trajetória dos EES de Teresina são documentados por meio do e
no FMEPS-TE (SOUZA et al, 2015). A documentação da caminhada do Movimento de Economia
Solidária teresinense é realizada por meio de: a) atas da fundação do fórum e das suas reuniões; b)
relatórios de desempenho dos EES, caracterizando os seus avanços e seus desafios peculiares, e
traçando planos de ação concretos em busca de melhorias; c) regimento interno elaborado pela
Coordenação Geral e unanimemente aprovado em reunião com todos os participantes (SOUZA et
al, 2015; FBES, 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f; PORTAL PMT, 2015, s. p.).

4.1.5 Avanços e desafios

Por meio das entrevistas que Souza et al (2015) realizaram com membros de
Empreendimentos Econômicos Solidários participantes do FMEPS-TE, foram constatados avanços,
no que concerne ao fortalecimento do movimento, por meio da troca de saberes teóricos e práticos,
articulação com a esfera pública e a sociedade civil na busca por apoio, mas também desafios, no
que diz respeito à infraestrutura física das suas instalações, a dinâmica do seu funcionamento, pouca
capacitação de seus membros e pouco apoio estatal. Nas palavras de Souza et al (2015, p. 12):

Em síntese, no aspecto – desafios –, as colocações principais e mais recursivas dizem


respeito aos temas seguintes: comercialização justa; capacitação; relacionamento entre as
diferentes esferas e as entidades; infraestrutura compatível com as demandas; local
adequado para funcionamento; e disponibilidade para participação efetiva. Quanto ao item
– avanços –, os pontos mais citados referem-se à própria existência do Fórum e às relações
com as esferas administrativas e com as organizações da sociedade civil, incluindo a
instalação da Secretaria Executiva, sob a responsabilidade da mencionada SEMEST, que
apoia o Fórum em diferentes momentos. Eis algumas falas: “É quase inacreditável que já
tenhamos uma Secretaria Executiva para cuidar de nossas coisas” (representante de EES);
60

“Não temos sede, por enquanto, mas temos local de referência onde nos encontramos [no
caso, as instalações da SEMEST]” (representante de AF).

Os desafios e os avanços do FMEPS-TE marcam a história de lutas e conquistas do


Movimento de Economia Solidária brasileiro e de todos os movimentos sociais a ele articulados.
Reafirma a relevância da discussão acerca de experiências populares como
importante contributo para análise e compreensão da sua história (SOUZA et al, 2015). Sobre estes
aspectos, Souza et al (2015, p. 13) conclui:

Apesar de ainda persistirem lacunas, importantes passos já estão concretizados, em


especial, no que concerne ao fortalecimento do diálogo e da participação tão caros à luta da
ES em Teresina. É incontestável que o aprendizado principal se dá com a fixação de
parcerias com as organizações de ES da capital, estado e esfera federal (organizações
governamentais e não governamentais), de forma dialogada e participativa. Dito de outro
modo, o Fórum propicia o estreitamento da relação entre movimento e Poder Público,
ocorrendo também aproximação maior com instituições públicas, a exemplo da SRTE, da
SASC, da SENAES e, portanto, do MTE, contribuindo com a construção de nova visão de
produção e de relações de trabalho, reforçando a premência de uma economia baseada na
solidariedade, na cooperação, na autogestão, no respeito ao meio ambiente e no bem-estar
do ser humano.

Portanto, apesar dos desafios vencidos, o FMEPS-TE tem se mostrado como uma conquista
fundamental para os referidos movimentos sociais no fito de promover o incremento tanto para
Empreendimentos Econômicos e Solidários quanto para entidades de apoio e fomento e instâncias
governamentais, o que “conduz, sempre, à consolidação da economia local e sustentável” (SOUZA
et al, 2015, p. 13; FBES, 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f; SEMPLAN, 2010).

4.2 Belo Horizonte (MG)

4.2.1 Fundação

O Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Belo Horizonte – FEPS-BH – foi


fundado no dia 13 de dezembro de 2011 (FBES, 2012a; 2012b). Tal como outros Fóruns Municipais
brasileiros de Economia Solidária, ele foi criado como um espaço permanente de representação,
diálogo, articulação, discussão, proposição, troca de saberes, formação, deliberação, fomento e
desenvolvimento da Economia Popular Solidária (FBES, 2012a; 2012b). São objetivos geral e
específicos do FEPS-BH (FBES, 2012a; 2012b), respectivamente, consoante reza os artigos 3º e 4º
do seu Regimento Interno:

Art. 3º. Objetivo Geral:


Fortalecer o Movimento da Economia Solidária, difundindo seus princípios e prática,
representando-o frente à sociedade e aos Poderes Públicos e articulando-o no município de
Belo Horizonte.
Art. 4º. Objetivos Específicos:
Desenvolvimento sustentável solidário
4.2.1.1 Promover estratégias de desenvolvimento através de planos, programas,
projetos e ações voltados para a criação e fortalecimento de Empreendimentos Econômicos
Solidários / EES;
4.2.1.2 Apoiar a formação de cooperativas, associações e empreendimentos
autogestionários.
61

4.2.1.3 Fomentar redes de produção, distribuição, comercialização, consumo e


compras coletivas;
4.2.1.4 Contribuir para a criação de políticas públicas tributárias diferenciadas e
buscar tratamento especial para registro de licenças, taxas, alvarás, para os
Empreendimentos Econômicos Solidários - EES.
4.2.1.5 Estimular a criação de espaços permanentes de comercialização de produtos e
serviços da economia solidária;
4.2.1.6 Promover a realização de feiras locais, regionais de Belo Horizonte e
participar do programa estadual e nacional de feiras da economia solidária;
Formação
4.2.1.7 Promover a formação humana, social, econômica, técnica, ética, cultural, de
valores,princípios e política dos EES e seus integrantes;
4.2.1.8 Educar para a solidariedade e cooperação na produção, comercialização e
consumo justos, éticos e solidários.
4.2.1.9 Estimular a capacitação de gestores públicos com atuação em economia solidária;
4.2.1.10 Participar do Coletivo Metropolitano de Formação;
Financiamento
4.2.1.11 Identificar fontes de financiamento e divulgá-las;
4.2.1.12 Incentivar a criação e desenvolvimento e permanência de fundos de Economia
Solidária;
4.2.1.13 Articular com agentes públicos e financeiros o acesso ao crédito e apoiar a
criação de bancos comunitários de desenvolvimento;
Cidadania e construção social alternativa
4.2.1.14 Incentivar a participação da sociedade nas ações do FEPS-BH;
4.2.1.15 Propor e acompanhar a criação de legislações municipais de incentivo e
fomento a economia popular solidária;
4.2.1.16 Fomentar diálogo, intercâmbio e articulação com outros Movimentos Sociais.
4.2.1.17 Promover o fortalecimento político da Economia Solidária. (grifos meus)

Percebe-se, então, a articulação entre os princípios do FEPS-BH, delineados nos campos


Desenvolvimento Sustentável e Solidário, Formação, Financiamento, Cidadania e construção social
alternativa (FBES, 2012a; 2012b).

4.2.2 Participantes

O Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Belo Horizonte – FEPS-BH –


congrega empreendimentos solidários, entidades de assessoria e fomento, gestores públicos e outras
pessoas comprometidas com os princípios e valores da Economia Popular Solidária – EPS – e com
objetivos e princípios do Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES –, constituindo-se um
instrumento do Movimento da Economia Solidária (FBES, 2012a; 2012b). Sobre este aspecto, o 6º
artigo do seu Regimento Interno (FBES, 2012a, p. 2) reza:

Art. 6º. Poderão participar do FEPS-BH:


I – Representantes de Empreendimentos Econômicos Solidários (cooperativas, associações
de trabalho, empresas autogestionárias e grupos informais em vista de geração de trabalho e
renda) com direito a voz;
II – Representantes de Entidades de assessoria e fomento com direito a voz;
III – Representantes de Gestores Públicos municipais com direito a voz.
lV – Representantes do Governo Estadual e Federal com direito a voz.
§ 1º - para fazerem parte efetiva do FEPS-BH, com direito a voto, os empreendimentos com
sede em Belo Horizonte, entidades e gestores municipais, estadual e federal, terão que ter
participação frequente nas atividades do FEPS-BH e apresentar à coordenação executiva
carta de adesão, indicando seus/suas representantes, titulares e suplentes para os processos
de votação. São esses membros efetivos que exercem o poder de voto nas reuniões e
plenárias do FEPS-BH.
62

§ 2º - O empreendimento, entidade e gestor – membro efetivo - poderá, a qualquer tempo,


se desligar do FEPS-BH, mediante comunicação, por escrito, à Coordenação.
§ 3° - Os membros efetivos do FEPS-BH, especialmente os EES, serão prioritariamente o
público beneficiado de suas ações.

Conforme se lê no seu 6º artigo, podem se filiar ou se desligar do FEPS-BH, espontânea e


livremente, representantes de EES, entidades de assessoria e fomento, gestores públicos de qualquer
esfera do governo, desde que atendam aos requisitos estabelecidos pelo seu Regimento Interno,
sendo indispensável a sua frequência nas atividades promovidas pelo Fórum (FBES, 2012a; 2012b).

4.2.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária

O Regimento Interno do Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Belo


Horizonte – FEPS-BH – foi discutido, lido por completo e aprovado, no dia 28 de fevereiro de
2012, pela maioria absoluta (dois terços) dos seus participantes da Plenária de Fundação (FBES,
2012a; 2012b). O FEPS-BH é sustentado, consoante o que é dito no artigo 31º do seu Regimento
Interno (FBES, 2012a; 2012b), que reza:

Art. 31º. – A sustentabilidade do FEPS-BH se dará através de taxa de contribuição mensal


de empreendimentos econômicos solidários e entidades de assessoria e fomento que
fizerem adesão ao fórum, no valor de um e meio por cento (1, 5 %) do salário mínimo como
referência, através de seu representante, e de verbas procedentes de projetos para ações
específicas, elaborados e propostos pelas entidades de apoio e fomento do FEPS-BH ou
outra entidade que possa oferecer este suporte e que tenha atuação em EPS.
Parágrafo único: Os gestores públicos contribuirão com o FEPS-BH por meio da execução
da política pública municipal (programas, projetos e ações relacionados à temática da
Economia Solidária).

Em 24 de março de 2011, foi decretada e sancionada a Lei Municipal nº 10.152, dispõe


sobre a Política Municipal de Fomento à Economia Popular Solidária, cria o Conselho Municipal de
Economia Popular Solidária e o Fundo Municipal de Economia Popular Solidária no Município de
Belo Horizonte, e dá outras providências (CMBH, 2011; PREFEITURA DE BH, 2011). A
implementação de suas diretrizes, princípios e objetivos fundamentais integram às estratégias gerais
de desenvolvimento sustentável do município de Belo Horizonte e têm por finalidade
(PREFEITURA DE BH, 2011, s. p.) a:

[…] implementação de políticas que visem à promoção de atividades econômicas


autogestionárias, ao incentivo aos empreendimentos econômicos solidários, bem como à
criação de novos grupos e sua integração a redes associativistas e cooperativistas de
produção, comercialização e consumo de bens e serviços.

Os princípios da Política de Fomento à Economia Popular Solidária de Belo Horizonte são:


a) o bem-estar e a justiça social; b) a primazia do trabalho, com o controle do processo produtivo
pelos trabalhadores; c) a valorização da autogestão, da cooperação e da solidariedade; d) o
desenvolvimento sustentável; e) o comércio justo; f) o consumo ético (CMBH, 2011;
PREFEITURA DE BH, 2011).
63

4.2.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

Buscando cimentar os princípios de Economia Solidária, o Fórum Municipal de Economia


Popular Solidária de Belo Horizonte – FEPS-BH – foi estruturado em Grupos de Trabalho e
comissões, no fito de executar as deliberações de suas Plenárias e reuniões, o Plano de Ações, a
definição de Ações Prioritárias de seus EESs locais bem como efetivar parcerias capazes de atender
seus objetivos e demandas (FBES, 2012a; 2012b). Neste sentido, o artigo 5º do seu Regimento
Interno (FBES, 2012a, p. 2) reza:

Art. 5º. O FEPS-BH tem como estratégias:


4.2.4.1 Plenárias e reuniões, para dar encaminhamentos dentro dos objetivos;
4.2.4.2 Plano de Ações e definição de Ações Prioritárias a partir das necessidades
levantadas e avaliação das ações realizadas.;
4.2.4.3 Grupos de trabalho e comissões, quando necessários, para a execução das
deliberações;
4.2.4.4 Parcerias para atender aos objetivos e demandas do FEPS-BH. Assegurar a
articulação, acompanhamento e continuidade das parcerias.

Os participantes do FEPS-BH reúnem-se mensalmente, na terceira terça feira de cada mês


das 14hs às 17hs, preferencialmente no no Centro Público de Economia Solidária de Belo
Horizonte, com pauta preparada pela sua Coordenação. Suas reuniões mensais são públicos, abertas
à participação pessoas físicas, entidades públicas e privadas, mesmo que não sejam membros
efetivos do seu Fórum, com direito a voz, mas sem direito a voto (FBES, 2012a; 2012b). São três as
atribuições estabelecidas para as suas reuniões mensais: a) aprovar o plano de despesa e a prestação
de contas do FEPS-BH; b) elaborar plano de trabalho, considerando deliberações da plenária; c)
discutir outros assuntos pertinentes ao movimento EcoSol não incluídos na pauta, por meio de
análise e aprovação da sua Coordenação, desde que apresentados antes da reunião (FBES, 2012a;
2012b). Estes aspectos são corroborados pelos dizeres do artigo 7º ao 17º (FBES, 2012a, p. 3 e 4),
que, na íntegra, rezam:

Art. 7º. – A Plenária é o órgão máximo de deliberação do FEPS-BH.


Art. 8º. – São atribuições da plenária, entre outras:
§1 °- Eleger a coordenação do FEPS-BH.
§2° - Dar encaminhamentos dentro do plano de trabalho do FMEPS-RMBH, FMEPS e
FBES.
Art. 9º. – A reunião mensal é a segunda instância de deliberação do FEPS-BH.
Art. 10º. - A reunião mensal acontecerá na terceira terça feira de cada mês de 14:00 às
17:00 horas com pauta preparada pela coordenação. Serão públicas, abertas à participação
de pessoas físicas, entidades públicas e privadas, mesmo que não sejam membros efetivos
do Fórum Municipal de Economia Solidária de Belo Horizonte - FEPSBH, com direito a
voz, mas sem direito a voto.
Parágrafo único: A participação na reunião mensal do FEPS-BH não tem restrição de
número de pessoas.
Art. 11º. – São atribuições da reunião mensal, entre outras:
§1° - Aprovar o plano de despesa e a prestação de contas do FEPSBH.
§2°- Elaborar plano de trabalho, considerando deliberações da plenária;
§ 3º. - Outros assuntos não incluídos na pauta serão discutidos mediante análise e
aprovação da coordenação, desde que apresentados antes da reunião;
Art. 12º. - O não-comparecimento do(a) titular ou suplentes às reuniões mensais, por três
vezes consecutivas ou cinco alternadas durante um ano, sem qualquer justificativa,
implicará em comunicação à organização para que seja providenciada a substituição dos(as)
representantes indicados(as).
64

Parágrafo único - A não-indicação do(a) representante ou o seu não-comparecimento às


duas reuniões seguintes, implicará no desligamento automático da organização, que
somente poderá pleitear seu retorno ao FEPS-BH, mediante nova carta de adesão.
Art. 13º. - A convocação de plenárias extraordinárias e reuniões extraordinárias, somente
para tratar de assuntos urgentes, será feita pela coordenação ou um terço dos membros
efetivos do fórum, por mensagem enviada a todos os membros efetivos, com um prazo
mínimo de uma semana.
§ 1º: constará da convocação a pauta, o local e horário.
§ 2º: assuntos não incluídos na mensagem serão discutidos mediante apresentação e
aprovação por maioria dos membros efetivos presentes à plenária ou reunião.
Art. 14º. – FEPS-BH se reunirá todo mês, em caráter ordinário e extraordinariamente,
quando convocado pela Coordenação ou pela maioria simples dos membros efetivos.
Art. 15º. - O local das reuniões será, preferencialmente, no Centro Público de Economia
Solidária de Belo Horizonte.
Art. 16º. - O FEPS-BH constituirá grupos de trabalho e comissões, quando necessário.
§ 1º - Os Grupos de Trabalho serão coordenados por membros efetivos do FEPS-BH.
§ 2º - As sínteses dos encaminhamentos das reuniões dos Grupos de Trabalhos serão
registradas e encaminhadas para a Coordenação que deverá apresentá-las em plenária ou
reunião mensal.
Art. 17º - As decisões do FEPS-BH serão deliberadas em Plenária ou reunião mensal, por
maioria simples (metade mais um) dos membros efetivos presentes.

A Coordenação do FEPS-BH é composta por 20 membro, sendo: 60% de Empreendimentos


Econômicos Solidários (doze), 20% de Entidade de Apoio e Fomento (quatro) e 20% de Gestores
Públicos (quatro) (FBES, 2012a; 2012b). Entre seus membros, há 4 representantes titulares e 04
suplentes, 1 secretário executivo, 2 secretários administrativos (1º e 2º), 2 tesoureiros (1º e 2º)
(FBES, 2012a; 2012b).

4.2.5 Avanços e desafios

A Economia Solidária de Belo Horizonte cresceu bastante. Dentre os seus principais


avanços estão a criação e o funcionamento de: a) o seu Fórum Municipal de Economia Solidária; b)
o seu Centro Público de Economia Solidária (CPES-BH); c) as suas Feiras Permanentes de
Economia Solidária (PREFEITURA DE BH, 2016; BRASIL DE FATO, 2016; REVISTA
FÓRUM, 2016;
FACES DO BRASIL, 2016). Por meio da implementação do Programa de Emprego, Trabalho e
Renda, o poder público municipal de Belo Horizonte proporciona ao trabalhador, em especial aos
beneficiários de programas sociais, condições de igualdade de oportunidade ampliando a
acessibilidade às vagas de emprego e aos benefícios do desenvolvimento econômico, tecnológico e
social, proporcionando a (re) construção de sua cidadania (PREFEITURA DE BH, 2016; BRASIL
DE FATO, 2016; REVISTA FÓRUM, 2016; FACES DO BRASIL, 2016). Sobre este e outros
aspectos representativos de avanços da EcoSol belorizontina, a Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte (2016, s. p.) e o blog Brasil de Fato (2016, s. p.) explanam:

(BRASIL DE FATO, 2016, s. p.):

Poucas pessoas sabem, mas Belo Horizonte e a região metropolitana da capital possuem
uma rede de economia popular solidária, com produtos de alimentação, cosméticos,
confecções e artesanato. Todos os anos os comerciantes organizam uma feira de natal, e
também atuam semanalmente na Feira Hippie.
"Os empreendimentos de economia solidária - que podem ser associações, cooperativas ou
empresas que têm no estatuto a questão da gestão coletiva - não possuem patrão, os
trabalhadores têm o mesmo tempo de trabalho e, ao final do mês, recebem o mesmo salário.
65

Além disso, nos preocupamos com a questão da preservação do meio ambiente", explica
Rodrigo Pires Vieira, Secretário Regional da Cáritas de Minas Gerais. Em média, 500
pessoas participam da rede na região de BH (cerca de 110 empreendimentos). E aqui
também são realizados o Fórum Mineiro de Economia Popular Solidária, o Fórum
Metropolitano de Economia Popular Solidária e fóruns municipais semanais.
"Também é visada a flexibilidade de horários. Uma mulher que trabalha na rede e tem filho,
por exemplo, pode chegar depois de levar a criança na escola. Existe a preocupação com o
preço justo dos produtos", comenta Rodrigo. Ele também ressalta a importância da intenção
de construir um movimento de resistência ao capitalismo.
Alternativa à economia capitalista
O secretário executivo do Fórum Metropolitano, Belmiro Alves de Freitas, deixa claro que
as redes são instrumentos utilizados para manutenção e fortalecimento do movimento e
afirma que são quatro as principais reivindicações da Economia Solidária: capacitação e
formação política, comercialização de produtos e serviços, criação do marco regulatório e
jurídico e financiamento.
Como participar
Uma das principais referências em economia solidária na capital é loja Arte Mostra
Solidária, composta por 21 empreendimentos que produzem artesanato de diversas matérias
primas. Ela funciona desde 2007 na Av. dos Andradas (nº 367, Edifício Central).
Os interessados em participar da rede devem se auto-organizar - são necessárias, no
mínimo, cinco pessoas para compor o coletivo. As reuniões do fórum municipal são
realizadas durante todas as segundas e terças-feiras, no Centro Público da Praça da Estação.

(PREFEITURA DE BH, 2016, s. p.):

[…] Faz parte, também, da política de geração de renda da PBH, o apoio à Economia
Popular Solidária, que é dado através do Centro Público de Economia Solidária-BH (CPES-
BH), inaugurado em 2007. Em 2008 foi responsável pelo atendimento especializado a
1.164 pessoas e a 229 grupos produtivos; pela divulgação, promoção e apoio de 618
oportunidades de formação e de 446 oportunidades de produção-comercialização-consumo
solidários, entre estas a participação em eventos e organização de feiras para fomentar a
comercialização de produtos da EPS.
O Centro Público é um espaço multifuncional criado para promover, apoiar e agregar as
diversas iniciativas no campo da economia solidária, e onde são abrigadas e desenvolvidas
um conjunto de atividades de articulação, assessoramento, formação e capacitação,
produção e comercialização tanto de organismos governamentais, quanto de organizações
não governamentais e de empreendimentos econômicos solidários de Belo Horizonte.
A implantação do Programa Municipal de Qualificação (PMQ) foi um grande avanço em
2007, no sentido da unificação das ações de qualificação profissional desenvolvidas pelos
diversos órgãos do município. As ações desse Programa destinam-se a pessoas com mais de
16 anos, que se encontram em situação de vulnerabilidade social, beneficiários dos
programas sociais desenvolvidos no âmbito da PBH, e desempregados cadastrados no Sine
Centro – NIAT, SINE Barreiro e no SINE Venda Nova. Em 2008 foram atendidos 3.263
trabalhadores, por meio de cursos de aperfeiçoamento profissional, cursos técnicos e
formação básica. E mais 32.614 trabalhadores receberam treinamentos psicoprofissionais.

O Centro Público de Economia Solidária de Belo Horizonte – CPES-BH – possui uma


administração participativa entre os seus gestores públicos, as suas entidades de apoio e fomento e
os seus Empreendimentos Econômicos Solidários, por meio do seu Comitê Gestor e da sua
Coordenação Executiva. Ele abriga um núcleo de documentação e informação, onde
empreendedores e interessados na economia solidária podem consultar um acervo de publicações e
vídeos sobre o tema e assuntos relacionados, e oferece ainda um núcleo de articulação de
oportunidades e para a troca de experiências entre empreendimentos. Belo Horizonte tem
aproximadamente 230 empreendimentos produtivos ligados a programas de economia solidária,
desde a produção de artesanato à prestação de serviços. Só a reciclagem de resíduos sólidos como
papel, metal, plástico e resíduos da construção envolve cerca de 2.100 pessoas. Além disto, BH
66

possui também uma rede formada por 50 organizações da sociedade civil, filantrópicas e
assistenciais, que atuam na formação social, cultural, política, econômica e profissional dos
trabalhadores e no apoio, fomento e assessoramento dos empreendimentos. Em todo o Brasil, mais
de 20 centros solidários são vinculados ao Governo Federal (PREFEITURA DE BH, 2016;
BRASIL DE FATO, 2016; REVISTA FÓRUM, 2016; FACES DO BRASIL, 2016).
Os desafios no desenvolvimento da EcoSol de BH estão atrelados aos dos seus
Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs), dentre os quais encontram-se: a) a rotatividade
da força de trabalho; b) as dificuldades de gestão, ligadas à falta de capacidade técnica e ausência
de sucessores líderes na diretoria dessas organizações; c) os desafios contábeis e financeiros no que
diz respeito ao manuseio das informações; e d) os obstáculos enfrentados durante a formalização
dos Empreendimentos Solidários (SOUZA et al, 2014). Além destes, Souza et al (2014, p. 10)
acentuam:

Além disso, a dificuldade de aquisição de financiamentos e créditos bancários resultantes


tanto da falta de conhecimento quanto da própria informalidade do empreendimento se
torna também um grande obstáculo para esses empreendedores solidários. Observou-se que
essas dificuldades financeiras ocorrem devido à deficiente administração dos recursos
financeiros e à falta de planejamento efetivo. Ademais, a ausência de perspectiva de
crescimento e a falta de controle tanto dos recursos materiais quanto dos recursos humanos
dos Empreendimentos Solidários, resultam na alta rotatividade de colaboradores, vista
pelos entrevistados como um grande desafio no âmbito da gestão.

Souza et al (2014) terminam o seu trabalho sugerindo novos estudos na área de Economia
Solidária que investiguem os Empreendimentos Econômicos Solidários não formalizados, de
diferentes atividades, no fito de comparar as dificuldades entre as organizações informais e as
formais.

4.3 Novo Hamburgo

4.3.1 Fundação

O Fórum Municipal de de Economia Popular Solidária de Novo Hamburgo – FMEPS/NH18


foi fundado em maio de 2006 como um espaço permanente de interlocução, articulação, debate,
proposição, assessoria, formação e troca de saberes acerca da economia popular solidária no
município (CIRANDAS, 2016). Sobre a sua fundação, Rosa (2013, p. 93) explana:

O Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Novo Hamburgo foi fundado em


maio de 2006 com apoio da Incubadora de Economia Solidária da Universidade Feevale.
Atualmente, o Fórum Municipal congrega empreendimentos econômicos solidários,
entidades de apoio e fomento, movimentos sociais, redes e gestores públicos, que atuam em
consonância com os princípios e os objetivos do Fórum Brasileiro de Economia Solidária
(FBES, 2012).

O objetivo do Fórum é articular, fortalecer e representar o movimento da Economia Popular


Solidária do Município frente a sociedade e aos Poderes Públicos, contribuindo na construção de
um novo modelo socioeconômico através da orientação de ações e mobilizações em torno das
18
Contato do Fórum: ecosolnh.2006@gmail.com; contato do Conselho: comes.nh@hotmail.com.
67

bandeiras de luta, que são produção, comercialização, consumo solidário, finanças solidárias,
formação e marco legal (PREFEITURA NOVO HAMBURGO, 2016).

4.3.2 Participantes

Participam do Fórum empreendimentos de artesanato, alimentação e prestação de serviços,


organizações de assessoria e fomento à economia solidária e a gestão pública municipal. O Fórum
tem sido espaço de acolhida de trabalhadoras/es que desejam se organizar coletivamente para
produzir e comercializar em feiras locais de economia solidária (CIRANDAS, 2016).
Conforme reza o artigo 7º do seu Regimento Interno, os seus participantes são:

Art. 7º. Compõem o Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Novo Hamburgo:
I. Empreendimentos econômicos solidários urbanos e rurais (redes, cooperativas,
associações, empresas de autogestão, segmentos das trocas solidárias, grupos informais e
empreendimentos individuais consolidados) com direito a voz e voto;
II. Consideram-se as seguintes categorias de empreendimentos econômicos solidários:
grupo familiar – formado por dois ou mais componentes de uma mesma família,
independente do que for produzido; - grupo informal – junção de dois ou mais
empreendimentos que visam, em conjunto, a comercialização, mas com produção
independente; - grupo informal e coletivo – aquele grupo que vivencia as etapas da
organização, produção e comercialização de modo coletivo; grupo social – seus integrantes
são oriundos de atividades fomentadas por órgãos públicos, organizações não-
governamentais, e outras instituições sociais, e vivenciam as etapas da organização,
produção e comercialização de modo coletivo.
III. Especialmente para os grupos sociais – destaca-se que o voto deve ser dos integrantes
dos empreendimentos, e não de seus representantes institucionais.
IV. Empreendimentos econômicos solidários em potencial (familiares, e grupos vinculados
ao poder público), buscando aos poucos sua autogestão e autonomia, com direito a voz e
voto;
V. Entidades de apoio, fomento e assessoria, movimentos sociais, gestores públicos
municipais, estaduais e federais parceiros e apoiadores com direito a voz e a voto, desde
que tenham participação e presença efetiva nas reuniões do FMEPS/NH.
§ 1o Os empreendimentos, entidades e gestores interessados em participar do FMEPS/NH
deverão apresentar à coordenação sua carta de adesão e relação dos seus membros bem
como amostra de seus produtos no local pré-determinado (no caso específico dos
empreendimentos) e um relato de sua experiência.
§ 2o Os empreendimentos, entidades e gestores participantes poderão, a qualquer tempo, se
desligar do FMEPS/NH, mediante comunicação, por escrito, à Secretaria Executiva.
§ 3o Poderão participar das reuniões do FMEPS/NH como observadores, pessoas físicas
convidadas com direito a voz e não a voto, e nem a ser votado, desde que previamente
agendado com a coordenação do Fórum.
§ 4o Cabe às entidades de assessoria e fomento desenvolver ações em várias modalidades,
como capacitação, assessoria, incubação, pesquisa, acompanhamento e fomento a crédito,
respeitando a autonomia do FMEPS. Estas entidades devem incluir em seus projetos anuais
ações dirigidas ao fortalecimento do Fórum Local, subsidiarem o Fórum na elaboração e
fomento de políticas públicas.

Percebe-se, portanto, ampla participação de representantes da sociedade civil, da


Administração Pública e dos EES no FMEPS-NH.

4.3.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária

Apesar de o Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Novo Hamburgo –


FMEPS/NH – ter sido fundado em maio de 2006 (há mais de 10 anos), o seu Regimento Interno foi
68

criado somente em 2011 (há cerca de 5 anos), objetivando, consoante o seu artigo 4º e 5º:

Artigo 4º. Objetivo Geral:


Articular, fortalecer e representar o movimento da Economia Popular Solidária de Novo
Hamburgo frente à sociedade e aos Poderes Públicos, contribuindo na construção de um
novo modelo sócio econômico através da orientação de ações e mobilizações em torno das
bandeiras de luta do FBES.
Parágrafo único: As bandeiras do Fórum Brasileiro de Economia Popular Solidária são:
produção, comercialização, consumo solidário, finanças solidárias, formação e marco legal.
Artigo 5º. Objetivos Específicos:
4.3.3.1 Representar o movimento da Economia Popular Solidária frente á sociedade
e aos Poderes Públicos;
4.3.3.2 Promover estratégias de desenvolvimento sustentável através de planos,
projetos e ações voltados para a criação e fortalecimento de Empreendimentos de Economia
Popular Solidária;
4.3.3.3 Promover a formação pessoal, social, econômica, ambiental, técnica e
política de trabalhadores e trabalhadoras dos Empreendimentos Economia Popular
Solidária;
4.3.3.4 Promover e estimular ações que contribuam para a formação de uma
consciência social sobre a Economia Popular Solidária, tendo como uma das estratégias a
busca de inclusão da temática nos espaços escolares;
4.3.3.5 Estimular a participação no Fórum Municipal, Regional, Estadual e Brasileiro;
4.3.3.6 Estimular a construção e reflexão sobre o tema Economia Popular Solidária;
4.3.3.7 Articular com agentes públicos e financeiros o acesso facilitado a informação
sobre linhas de crédito e como acessá-las e divulgá-las;
4.3.3.8 Apoiar a criação de instituições de finanças, moedas sociais, mercados e
clubes de trocas solidárias;
4.3.3.9 Apoiar a formação de cooperativas, associações e empresas de autogestão
municipal, com vistas à geração de trabalho e renda, emancipação política dos
empreendimentos e sustentabilidade ambiental;
4.3.3.10 Estimular o envolvimento, comprometimento e a formação dos gestores
públicos municipais com a economia popular solidária;
4.3.3.11 Incentivar a participação da sociedade nas ações do FMEPS/NH;
4.3.3.12 Atuar na implementação e funcionamento de instâncias de controle social de
políticas publicas;
4.3.3.13 Educar para a solidariedade, trabalho emancipado, combate a discriminação
de desigualdades de gênero, raça, etnia, segmentos religiosos e comunidades ribeirinhas e
quilombolas;
4.3.3.14 Estimular, fomentar e divulgar a prática da solidariedade, do consumo ético e
do comercio justo e solidário;
4.3.3.15 Propor a construção de políticas públicas através de um diálogo permanente
com o poder público, voltadas para o apoio e fomento da Economia Popular Solidária;
4.3.3.16 Acompanhar a implementação de legislação municipal de Economia Popular
Solidária, contribuindo para a criação de uma legislação tributária diferenciada que busque
um tratamento especial para o registro de empreendimentos, com isenção de pagamento de
licenças, taxas, alvarás e redução de impostos;
4.3.3.17 Estimular a criação de espaços públicos e potencializar os já existentes para a
comercialização e produção de produtos e serviços da Economia Popular Solidária;
4.3.3.18 Promover eventos culturais conjuntamente com os espaços de
comercialização que promovam a cultura da solidariedade e da cooperação;
4.3.3.19 Fomentar a criação e manutenção de feiras municipais, regionais e estaduais
incentivando a participação dos empreendimentos, da comunidade, dos órgãos públicos e
entidades de apoio;
4.3.3.20 Fomentar redes municipais de produção, distribuição, comercialização,
consumo e compra coletiva por segmento;
4.3.3.21 Incentivar a criação de um fundo municipal de Economia Popular Solidária;
4.3.3.22 Apoiar e buscar recursos financeiros para a participação em feiras,
exposições, cursos de formação e outros eventos para os empreendimentos econômicos
69
solidários, em nível local, regional, estadual, nacional e internacional.
4.3.3.23 Entende-se como recursos financeiros desde a arrecadação de taxas solidárias, por
70

participação dos empreendimentos no FMEPS, até as taxas de doações, patrocínio, e/ou


fomentos de financiamento a fundo perdido, bem como aqueles financiamentos oriundos de
políticas públicas.
4.3.3.24 Educar os envolvidos no movimento para o consumo justo e solidário.

O Regimento Interno foi estudado, discutido, realizado, analisado e aprovado pelos


participantes da diretoria do FMEPS/NH, e colocado em votação em plenária do próprio Fórum,
para aprovação, após a leitura em todos os itens, por todos os participantes que estiveram presentes
na reunião do dia 20 de abril de 2011.
A Lei Municipal de Economia Solidária de Novo Hamburgo, Lei 2246, foi criada em 29 de
dezembro de 2010. Ela dispõe sobre a Política Municipal de Fomento à Economia Solidária, cria o
Conselho Municipal de Economia Solidária e o Fundo Municipal de Economia Solidária no
Município de Novo Hamburgo, e dá outras providências (PREFEITURA NOVO HAMBURGO,
2010). Sobre esta Lei, Rosa (2013, p. 93) salienta:

Em janeiro de 2009, no início da gestão de Tarcísio Zimmermann (PT), foi instituída a


Diretoria de Economia Solidária e Apoio a Microempresas, vinculada à Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Tecnologia e Turismo, com o
objetivo de implementar o programa municipal de fomento à economia solidária no
município. Desde então, a Diretoria, coordenada pelo Sr. Ênio Brizola, vem atendendo a
aproximadamente 40 empreendimentos locais, que geram renda para cerca de 400
trabalhadores. No final de 2010 foi aprovada a Lei Municipal de Economia Solidária pela
Câmara Municipal, por unanimidade, em primeiro turno durante sessão extraordinária. A
Lei Municipal no 2.245/2010, de 29 de dezembro de 2010 (ver anexo III), “dispõe sobre a
Política Municipal de Fomento à Economia Solidária, cria o Conselho Municipal de
Economia Solidária e o Fundo Municipal de Economia Solidária no Município de Novo
Hamburgo”. Para o gerenciamento técnico das políticas de economia solidária no município
foi criado, em junho de 2009, o cargo de Gerente de Economia Solidária. Para esta função
foi indicada Maria Isabel Rodrigues Lima, integrante do Fórum Municipal de Economia
Solidária. Lima é psicóloga e desenvolveu sua pesquisa de mestrado relacionando temas
como economia solidária, psicologia e gestão. A tarefa inicial de Lima foi organizar as
diversas ações pretendidas pela Diretoria dentro de um Programa Municipal de Economia
Solidária. Segundo Lima, a principal preocupação nesse momento foi a elaboração de
programa de forma coletiva, com participação efetiva do movimento local na sua definição.
O projeto de lei foi elaborado pelo Executivo com base em legislações de outros estados e
municípios, e após ampla discussão junto aos empreendimentos participantes do Fórum
Municipal de Economia Solidária. Participaram também da elaboração do projeto de lei a
Universidade Feevale e outras entidades de apoio à economia solidária do município. Os
princípios estabelecidos pela Lei Municipal de Economia Solidária são a primazia do
trabalho, com o controle do processo produtivo pelos trabalhadores; a valorização da
autogestão, da cooperação e da solidariedade; o desenvolvimento sustentável; o comércio
justo; e o consumo ético.
Foram englobados pela legislação empreendimentos de diversos segmentos produtivos,
como alimentação, artesanato, reciclagem, confecção, calçados, artefatos em couro e
agricultura familiar.

Em seguida, Rosa (2013) deixa claro que, atualmente, as políticas públicas de Economia
Solidária implementadas em Novo Hamburgo estão estruturadas em cinco eixos, quais sejam: 1)
apoio à comercialização: com a realização de feiras coletivas e a criação de uma loja para a
economia solidária, localizada no centro da cidade, e administrada de forma autogestionária por 17
empreendimentos locais; 2) formação em economia solidária e constituição de novos
empreendimentos: foi estabelecido um grupo de trabalho municipal para formação em autogestão e
economia solidária. Este grupo é responsável pela elaboração de cursos e oficinas que são
71

realizados quinzenalmente, durante as reuniões do Fórum Municipal de Economia Solidária, e


eventualmente, nos bairros, junto a coletivos de geração de renda com potencial para organização
autogestionária; 3) articulação com fóruns, rede de gestores e incubadoras: além da atuação junto ao
Fórum Municipal de Economia Solidária, a Diretoria de Economia Solidária de Novo Hamburgo
participa também das reuniões do Fórum Regional de Economia Solidária do Vale dos Sinos, do
Fórum Regional de Recicladores e da Rede de Gestores de Políticas Públicas de Economia
Solidária; 4) legislação para a economia solidária: foi criado um grupo de trabalho para elaboração e
acompanhamento da tramitação da Lei Municipal de Economia Solidária na Câmara de Vereadores;
5) programa de microcrédito: foi disponibilizada uma linha de crédito especial para os
empreendimentos, com taxas de juros mais baixas e condições de financiamento flexíveis, no
entanto, a própria Diretoria reconhece que as condições exigidas para entrada no programa ainda
não são suficientes para atendimento a demanda grande parte das iniciativas locais de economia
solidária, devido a condição de informalidade dos empreendimentos.

4.3.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

O Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Novo Hamburgo – FMEPS/NH


reúne-se mensalmente, na primeira segunda de cada mês, das 14h-17h, no Espaço da Diretoria
Municipal da Economia Solidária que fica na Rodoviária de Novo Hamburgo (CIRANDAS, 2016).
O Fórum participa do Conselho Municipal de Economia Solidária com sete representantes de
empreendimentos (CIRANDAS, 2016).
No que concerne à estrutura organizativa e à dinâmica de funcionamento das reuniões do
FMEPS/NH e das suas plenárias municipais, os artigo 8º a 12º do seu Regimento Interno
(CIRANDAS, 2016, p. 2 e 3) rezam:

Art. 8º. Estabelece-se uma rotina de realização de reuniões, de acordo com os interesses e a
necessidade dos empreendimentos vinculados ao Fórum.
I. Prevê-se um calendário com reuniões dos participantes do FMEPS/NH quinzenalmente,
com duas horas de duração, cada uma.
II. Uma reunião será destinada à formação sobre Economia Solidária e outros temas de
importância para o Movimento local, e outra reunião para assuntos gerais, administrativos e
de esclarecimentos sobre a organização dos empreendimentos e seus processos diversos.
III. É obrigatória a participação mínima de representantes dos grupos de acordo com as
seguintes categorias: grupo familiar – formado por dois ou mais componentes de uma
mesma família, – um representante, independente do material e do modo de produção; -
grupo informal – junção de dois ou mais empreendimentos que visam, em conjunto, a
comercialização, mas com produção independente – todos devem estar presentes às
reuniões; - grupo informal coletivo – aquele grupo que vivencia as etapas da organização,
produção e comercialização de modo coletivo – um representante por grupo; grupo social –
seus integrantes são oriundos de atividades fomentadas por órgãos públicos, organizações
não-governamentais, e outras instituições sociais, e vivenciam as etapas da organização,
produção e comercialização de modo coletivo – um representante por grupo.
IV. Ressalte-se que para aqueles empreendimentos de distritos distantes do local das
reuniões, que normalmente acontecem no centro da cidade de Novo Hamburgo, é
necessária a representação dos mesmos por um ou mais participantes.
V. É obrigatória a participação de representantes dos empreendimentos em 80% das
reuniões do FMEPS/NH, tendo em vista a potencialidade de participação em outras
atividades fora do município.
VI. As ausências às reuniões devem ser justificadas por escrito à coordenação do
FMEPS/NH.
VII. Os integrantes dos empreendimentos vinculados ao Fórum Municipal devem contribuir
com uma taxa mensal, que reverterá na aplicação de atividades da própria organização do
Fórum e suas reuniões, além da aplicação dos valores recolhidos para benefícios na
organização de outras atividades.
72

VIII. Os valores serão estabelecidos em reunião com pauta indicativa, no início de cada
ano, e deverão seguir a seguinte especificação: grupo familiar – por indivíduo; - grupo
informal – por indivíduo de cada empreendimento que participar da reunião; - grupo
informal coletivo – por indivíduo de cada empreendimento que participar da reunião; grupo
social – por indivíduo. Esta deliberação contemplará, inclusive, aqueles casos de grupo
informais de distritos mais distantes do local das reuniões.
IX. Cada participante deve assinar em sua ficha cadastral, confirmando sua presença na
reunião.
X. Para cada reunião deverá ser produzida uma ata, como registro oficial das deliberações
tomadas pelo conjunto de participantes presentes.
Art. 9º. A Plenária Municipal é a instância máxima de deliberação do FMEPS/NH e
acontecerá, ordinariamente, uma vez ao ano no mês de Março. E, sempre que for
necessária, será realizada uma plenária municipal extraordinariamente.
Parágrafo único: As deliberações da plenária só poderão acontecer com a presença mínima
de 50% + 1 de representantes dos empreendimentos econômicos solidários, membros
efetivos do fórum. OBS: Plenária aberta a todos os membros do FMEPS/NH;
Art. 10º. São atribuições da Plenária Municipal:
III. Consolidar e aprovar o planejamento e a avaliação das ações anuais do FMEPS/NH no
município.
IV. Aprovação das indicações para os Encontros Regionais e para o Fórum Vale dos Sinos,
e representantes para a Feira Estadual de Economia Solidária, que ocorre uma vez ao ano;
V. Constituição de Grupos de Trabalho temáticos de acordo com as demandas, como os
GTs de Formação, de Cultura, de Comercialização;
VI. Avaliar a atuação de seus integrantes, tendo como referência os princípios e os objetivos
da economia popular solidária e definir medidas necessárias para a correção das falhas
existentes.
Art. 11°. A convocação da Plenária Municipal será feita pela Coordenação por edital,
enviado a todos os participantes por intermédio de correios eletrônicos, telefone e, ainda,
através da reunião que antecederá a plenária, com um prazo mínimo de 15 dias corridos.
§1º Constará na convocação dos participantes do FMEPS, a pauta, o local, a data e horário
de realização da Plenária Municipal.
§2º Assuntos não incluídos no edital serão discutidos mediante apresentação e aprovação
por maioria absoluta dos participantes da Plenária Municipal.
Art. 12°. As Plenárias Municipais serão abertas à participação de pessoas físicas e
entidades públicas ou privadas, que não são participantes efetivos do fórum, mediante
agendamento prévio, com a Coordenação, ou aprovação por maioria dos presentes no local
da realização da plenária;
§1º O solicitante aprovado participará da Plenária Municipal com direito a voz, mas não a
voto, e nem a ser votado.

Sua estrutura organizativa é composta por uma Coordenação Municipal, formada por
representantes de todos os segmentos que integrarem as atividades efetivas do FMEPS, por um
secretário e por um tesoureiro, tal como os artigos 14º a 20º de seu Regimento Interno
(CIRANDAS, 2016, p. 4) rezam:

Art. 14 - A Coordenação Municipal do FEPS/NH é composta por:


I. Representantes de todos os segmentos que integrarem as atividades efetivas do FMEPS;
Art. 15 - O mandato da Coordenação Municipal será de 2 (dois) anos, sem remuneração
pelo exercício da função, permitida a recondução parcial por mais um mandato consecutivo
garantindo a renovação de no mínimo 1/3 de seus membros.
§ 1º Se por motivos pessoais algum membro necessitar exonerar-se, o mesmo deverá
encaminhar um ofício comunicando seu afastamento, bem como, comunicar publicamente
na reunião ordinária quinzenal onde será realizada uma nova eleição.
Parágrafo único – No caso de o membro da coordenação municipal deixar de cumprir com
os deveres inerentes à sua função, compete à plenária municipal destituí-lo e indicar novo
representante.
Art. 16 – A Coordenação Municipal reunir-se-á, ordinariamente, de quinze em quinze dias
73

e, extraordinariamente, sempre que necessário.


Art. 17 - Compete à Coordenação Municipal:
I. Cumprir e fazer cumprir o presente Regimento.
II. Criar condições para o desenvolvimento de ações conjuntas, trocas de experiências e
informações entre os componentes do FEPS/NH.
III. Organizar e coordenar a execução das ações assumidas pelo FEPS∕NH.
IV. Coordenar e acompanhar as ações prioritárias do FEPS/NH definidas em Plenária
Municipal.
V. Buscar, receber e divulgar informações de todos os segmentos envolvidos no fomento da
economia popular solidária, mantendo atualizadas as informações em âmbito Nacional.
VI. Convocar Plenárias Municipais extraordinárias sempre que necessário.
Art. 18 A Secretaria(o) será composta por um representante de um empreendimento.
Art. 19 Compete à Secretaria:
I. Elaborar a pauta providenciando sua distribuição em até cinco dias antes da Reunião do
FMEPS/NH para todos os grupos cadastrados no Fórum através de endereço eletrônico.
II. Secretariar as Reuniões do FMEPS/NH e as reuniões da Coordenação Municipal.
III. Elaborar as atas das Reuniões do FMEPS/NH, providenciando sua distribuição através
de endereço eletrônico em até cinco dias após a reunião para todos os grupos cadastrados
no Fórum, e arquivo.
IV. Buscar, receber e divulgar informações de todos os segmentos envolvidos no fomento
da economia popular solidária, mantendo atualizadas as informações da Coordenação
Municipal e do Fórum Regional e Estadual.
V. Manter, em arquivo próprio, documentos, recortes de jornais e outros periódicos sobre
questões de interesse da temática da Economia Popular Solidária.
VI. Ter e manter atualizado os cadastros dos grupos deste Fórum.
Parágrafo único – O arquivo da(o) Secretária(o) Executiva(o) será mantido em uma das
entidades componentes da mesma, com acesso livre a todos os componentes do fórum.
Art. 20 Compete à tesouraria:
I. Administrar a entrada e saída das taxas mensais dos empreendimentos.
II. Realizar a prestação de contas em reunião ordinária do Fórum a cada seis meses, com
detalhamento de entradas e saídas a ser entregue aos empreendimentos.
III. Responsável por realizar o levantamento de no mínimo 3 orçamentos para cada
aquisição.
IV. Organizar uma rifa anual para arrecadação de verbas em benefício do Fórum (sugestão
de datas: mês das mães ou Natal).
V. Investimentos e/ou despesas acima de R$ 50,00 deverá ter aprovação dos
empreendimentos do Fórum em reunião ordinária.
VI. Fazer o ressarcimento das despesas de deslocamento do representante do Fórum quando
se fizer necessário, mediante comprovação, ou contratar transporte coletivo com custeio do
Fórum e/ou parceiros.
VII. O tesoureiro deverá informar mensalmente através de leitura do livro caixa as entradas,
saídas e saldo total nas reuniões do Fórum.

Percebe-se, portanto, melhorias na estrutura organizativa e na dinâmica de funcionamento


do Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Novo Hamburgo.

4.3.5 Avanços e desafios

Desde maio de 2006, em que foi fundado o FMEPS-NH, até o presente momento, muitos
avanços e desafios marcaram a sua trajetória. Dentre os principais avanços estão as parcerias
efetivadas com o poder público e privado, dentre as quais destacam-se: a Associação Beneficente
Evangélica da Floresta Imperial (ABEFI), a Cáritas Diocesana de Novo Hamburgo, a Secretaria de
Economia Solidária e Apoio à Micro e Pequena Empresa (SESAMPE), a Prefeitura Municipal de
Novo Hamburgo e a Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS). Sobre todos estes
aspectos, Rosa (2013, p. 95) informa:
74

Em 2012 foi firmada uma parceria com a SESAMPE para implantação em Novo Hamburgo
de uma unidade do Polo da Cadeia Bi-Nacional do PET. Como parte do acordo, a prefeitura
ficou encarregada da construção do prédio que abrigará as atividades da unidade e a
SESAMPE fornecerá todo o maquinário para o recebimento e o processamento das garrafas
PET, que serão enviadas das cidades da região metropolitana de Porto Alegre.
Além da cooperação com poder público, a Diretoria de Economia Solidária possui também
alguns parceiros privados, como a Associação Beneficente Evangélica da Floresta Imperial
(ABEFI), que apoia grupos de costureiras no bairro Santo Afonso, através da cessão de
espaços para produção e maquinário. A prefeitura, por sua vez, fornece assessoria técnica
para as costureiras e está organizando uma rede intermunicipal de costura. Outro parceiro
importante, de acordo com Lima, é a Cáritas Diocesana de Novo Hamburgo, que além de
contribuir com a mobilização comunitária, fornece equipamentos de reciclagem aos
catadores do programa Catavida. Existe também uma parceria estratégica com a Feevale
para a incubação de grupos de economia solidária e com a Unisinos para a articulação
regional de grupos de outros municípios, através do Fórum Metropolitano de Economia
Solidária.
O orçamento da Prefeitura de Novo Hamburgo destinado a implementação da política
pública municipal de economia solidária previsto para 2012 foi de R$ 340 mil. Na metade
de 2012 a prefeitura foi contemplada por dois editais sendo um da SENAES no valor de R$
500 mil, com R$ 50 mil de contrapartida da prefeitura, e outro edital da Fundação Gaúcha
do Trabalho e Ação Social (FGTAS), no valor de R$ 80 mil, com R$ 12 mil de
contrapartida da prefeitura, para a realização de cursos de capacitação dos artesão do
município. Esses recursos devem potencializar as ações de fomento a economia solidária no
município.

Então, infere-se que as parcerias efetivadas com o poder público e privado em prol do
fomento ao Movimento da Economia Solidária de Novo Hamburgo impulsionaram os seguintes
avanços: atraíram maiores investimentos públicos e privados, tornando-o mais visível para a
comunidade ao entorno e propiciando a criação e o desenvolvimento de novos Empreendimentos
Econômicos Solidários (ROSA, 2013).
Entretanto, não se pode negligenciar os desafios no tocante ao desenvolvimento do
Movimento de Economia Solidária em Novo Hamburgo: a quantidade elevada e crescente de
resíduos sólidos não reciclados, a violação de direitos dos trabalhos em Economia Solidária, a
resistência da classe empresarial ao crescimento e ao desenvolvimento de determinados projetos ou
programa de Economia Solidária, como, por exemplo, o Programa Catavida (GUTBIER; GOETZ;
RAMBO, 2014). Sobre estes aspectos, Gutbier, Goetz e Rambo (2014, p. 2, 4-6) salientam:

A produção mensal de resíduos em Novo Hamburgo é de aproximadamente 5 mil


toneladas; destas, cerca de 300 toneladas, – o que representa 6% do total de resíduos
gerados –, são recicladas. Esta proporção está diretamente relacionada à efetivação de um
trabalho balizado na política pública de economia solidária e, sobretudo, condicionado à
Política de Assistência Social e Política de Meio Ambiente.
O contexto atual apresenta perversas formas de violação de direitos, potencializadas pela
lógica do capital na sociedade contemporânea. A permanência de ideologias neoliberais,
com a crescente precarização do mundo do trabalho, tem reflexos diretos na vida das
populações mais empobrecidas, que se agarram à atividade de catação de materiais
recicláveis como a sua última possibilidade de trabalho e geração de renda.
É um contingente de pessoas que já não se sente parte da sociedade. Muitos não possuem
documentos, nem crédito, nem sonhos. Nem autoestima. Há, neste patamar, instrumentos
legais, que visam à alteração desse contexto, superando os processos de vulnerabilidade e
risco social. Assim, as políticas públicas constituem-se meios que possibilitam a
materialização dos direitos conquistados historicamente por meio de inúmeras lutas
travadas por diversos segmentos sociais. A política pública aqui em debate é o fomento à
constituição de empreendimentos de economia solidária (ES) para organização dos
catadores na gestão de resíduos sólidos. […]
75

O Programa Catavida contempla hoje aproximadamente 85 trabalhadores, divididos em


duas unidades de trabalho. Uma delas atua no âmbito da reciclagem realizada com os
resíduos coletados mecanicamente, com produção média de 240 toneladas/mês. A unidade
estabelecida no âmbito central atua na perspectiva da CSS e realiza também triagem de
aproximadamente 60 toneladas/mês. Este processo operativo é de extrema importância
ambiental, mas, sobretudo pessoal, já que vem gerando trabalho e ampliação significativa
de renda aos trabalhadores. […]
O que se percebe no contexto do Programa Catavida e na elucidação de respostas às
demandas colocadas é que os aspectos sociais e ambientais são inerentes à gestão de
resíduos sólidos, sendo inviável o atendimento destas questões de forma isolada. Desse
modo, na busca pela superação de práticas fragmentadas e frente à construção de uma
política pública local voltada ao gerenciamento dos resíduos sólidos, a gestão intersetorial
dos programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado se torna essencial. […]
Um grande desafio da prática tem sido a mediação das relações de poder presentes no
contexto social do município, que trazem à tona os interesses de empresas privadas
envolvidas no processo de gestão de resíduos sólidos, além de sucateiros clandestinos e
legalizados que de alguma forma tornavam os catadores reféns de sua comercialização.
Estes são desafios que demandam interconexões e multilateralidade da prática profissional
do assistente social e dos demais profissionais do coletivo gestor. Assim, a compreensão
das questões em jogo, sob o olhar multidimensional, buscando, com base na criticidade,
reconhecer, no cenário, parceiros e redes que possam apoiar o fomento da autogestão,
tornou-se essencial para a implantação do programa.

Vale destacar ainda que, segundo dados do SIES (MTE, 2013), o Estado do Rio Grande do
Sul representa 9,5% dos empreendimentos do País. O Vale do Rio dos Sinos representa 0,4% do
total do País e 4,9% do total do Estado. Os Municípios de São Leopoldo, Canoas e Novo Hamburgo
representam 70,8% dos empreendimentos de economia solidária da Região.

4.4 Canoas (RS)

4.4.1 Fundação

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas foi fundado no início dos anos 2000,
há dezesseis anos, consoante Rosa (2013, p. 89) passa a nos dizer:

A economia solidária no município de Canoas começou a se organizar no início dos anos


2000, a partir da iniciativa de associações e cooperativas que, com apoio de organizações da
sociedade civil, fundaram o Fórum Municipal de Economia Solidária. A falta de apoio do
poder público municipal até então gerava dificuldades aos empreendimentos para ter acesso
às políticas de incentivo à economia solidária que vinham sendo desenvolvidas pelo
governo do estado.

A partir da formalização da sua criação, e da Cooperativa dos Trabalhadores Metalúrgicos


de Canoas (CTMC), originada da luta dos trabalhadores da empresa Vogg S.A. Indústria
Metalúrgica que, em março de 2001, uma longa trajetória de desafios e avanços principiou para o
Movimento da Economia Solidária de Canoas (ROSA, 2013; PREFEITURA DE CANOAS, 2015).

4.4.2 Participantes

Participam do Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas muitas dezenas de


pessoas, dentre elas integrantes de empreendimentos da alimentação, artesanato, pesca e agricultura
familiar, integrantes de organizações de assessoria e gestores públicos (PREFEITURA DE
CANOAS, 2015). Ele é atualmente composto por 56 grupos, dentre os quais 4 de alimentação, 2 de
76

agricultura familiar urbana e 50 de artesãos (PREFEITURA DE CANOAS, 2014). Sobre este


aspecto, encontramos mais informações no site da Prefeitura Municipal de Canoas (PREFEITURA
DE CANOAS, 2015, s. p.) que explana:

Composto por 56 grupos de artesãos e de produtores de alimentos, o Fórum da Economia


Solidária conta com espaços de comercialização dos produtos, oportunizados pelo
Município. Estes, funcionam na Loja da Economia Solidária, situada na Estação Canoas, e
nas feiras temáticas, como a Feira do Peixe, evento que acontece em todos os quadrantes da
cidade, em frente à Praça da Bandeira; na Feira do Dia das Mães, que ocorre no Calçadão;
no Dia do Trabalhador, realizado no Parque Eduardo Gomes; na Semana Farroupilha, no
Parque Eduardo Gomes; e na Feira do Natal, no Calçadão, além da Feira do Dia dos Pais.
[…]

Como se percebe, é a rede formada pelos participantes de Economia Solidária de Canoas que
promovem a organização e o funcionamento do seu movimento (PREFEITURA DE CANOAS,
2015; 2016; FBES, 2015; 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f; ROSA, 2013).

4.4.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas se reuniu no dia 5 de agosto de 2014


com o objetivo de eleger um coordenador que, dentre as suas atividades, seria responsável pela
elaboração de uma proposta de estatuto e regimento interno para o Fórum. Ou seja, até esta data,
com mais de 13 anos de existência, o seu Fórum ainda não tinha nem estatuto nem regimento
interno. Desde então eles encontram-se em fase de elaboração (FBES, 2016a; 2016b; 2016c; 2016d;
2016e; 2016f; PREFEITURA DE CANOAS, 2014; 2016).
Em 18 de dezembro de 2012, foi sancionada e promulgada pelo poder público municipal de
Canoas a Lei 5717, que institui a política de fomento à Economia Popular Solidária no município,
estabelece o programa Centros de Economia Solidária e dá outras providências (PREFEITURA DE
CANOAS, 2016).
Para a criação desta lei, foram levados em consideração os seguintes fatores: a) Canoas é o
segundo município mais populoso da Região Metropolitana de Porto Alegre; b) Canoas ocupa a
quarta posição entre os municípios com maior população no Estado: com 323.827 habitantes
atualmente, fica atrás apenas da capital, Porto Alegre, de Pelotas e de Caxias do Sul; c) O PIB do
município em 2009 R$16.547.966.000, sendo o seu PIB per capita de R$51.070; d) O município de
Canoas foi fundado em 1939 e é atualmente sede de grandes empresas nacionais e multinacionais,
com destaque para os setores metal-mecânico, gás e elétrico; e) Canoas tem a segunda maior rede
de ensino do Estado, contando com a Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) e dois centros
universitários, a Unilasalle e a Uniritter (ROSA, 2013; PREFEITURA DE CANOAS, 2016).
Sobre a sua instituição, articulação com outras políticas públicas de Canoas, ações,
princípios e objetivos primordiais, vale ressaltar na íntegra o que dizem os seus artigos 1º a 4º:

Art. 1º Fica instituída a Política Municipal de Fomento à Economia Popular Solidária no


Município, que se integra às estratégias gerais de desenvolvimento da cidade e se articula
com as demais políticas sociais vigentes, com a incumbência de implantar ações concretas
voltadas à economia popular e solidária.
Parágrafo Único - A Política Municipal de Fomento à Economia Popular Solidária ficará a
cargo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE), através da
Diretoria de Economia Solidária, a quem caberá estabelecer normas e procedimentos para a
sua execução.
Art. 2º A Política de Fomento à Economia Popular Solidária do Município reger-se-á pelos
77

princípios e regras previstos nesta Lei, levando em consideração o conjunto de ações


públicas destinadas a auxiliar a criação, o desenvolvimento e a consolidação de
empreendimentos solidários, redes e outras formas de integração e cooperação.
Art. 3º São princípios da Política Municipal de Fomento à Economia Popular Solidária:
I - o bem-estar e a justiça social;
II - a valorização do trabalho;
III - o incentivo à autogestão, à cooperação e à solidariedade;
IV - o desenvolvimento sustentável;
Art. 4º São objetivos primordiais da Política Municipal de Fomento à Economia Solidária:
I - contribuir para a erradicação da pobreza e da marginalização, reduzindo as
desigualdades sociais no Município;
II - contribuir para o acesso dos cidadãos ao trabalho e à renda, como condição essencial
para a melhoria da qualidade de vida;
III - fomentar o desenvolvimento de uma nova cultura empreendedora, de novos modelos
sócio-produtivos coletivos e autogestionários, e estimulando o desenvolvimento de
tecnologias adequadas a essas inovações;
IV - incentivar e apoiar a criação e o desenvolvimento de empreendimentos solidários,
organizados em cooperativas ou sob outras formas associativas, bem como fomentar a
criação de redes e cadeias produtivas de empreendimentos econômicos solidários;
V - estimular a produção e o consumo de bens e serviços oferecidos pelo setor da economia
solidária, incluindo a possibilidade de compras institucionais pelo governo local;
VI - estimular o comércio justo e solidário e o consumo sustentável;
VII - promover os princípios do cooperativismo;
VIII - contribuir para a equidade de gênero e raça;
IX - promover ações de integração intersetorial entre órgãos do Poder Público Municipal
que possam contribuir para a concretização dos princípios e objetivos estabelecidos nesta
Lei;
X - criar e dar efetividade a mecanismos institucionais que facilitem sua implementação.

Consoante reza o oitavo artigo desta lei, são três os instrumentos da Política Municipal de
Fomento à Economia Solidária, quais sejam: a) o Programa Centros de Economia Solidária, cujo
objetivo é o de possibilitar oportunidades de venda de produtos e serviços de economia solidária; b)
o Programa Municipal de Comercialização, cujo objetivo é o de fomentar o surgimento de novos
empreendimentos associativos e qualificar os já existentes; c) o Conselho Municipal de Economia
Solidária (CMES), composto, na sua organização, pelo Órgão Pleno e pelos Fóruns Regionais; o
CMES é o órgão de participação que integra o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP),com
poder deliberativo sobre a política municipal de segurança pública. Ademais, foi instituído o dia 22
de março como sendo o Dia Municipal da Economia Solidária (PREFEITURA DE CANOAS,
2016).

4.4.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas reúne-se mensalmente com os seus


participantes para promover discussões que giram em torno dos seguintes temas: a) necessidades,
avanços e desafios dos Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs) locais existentes, e a
criação de novos EESs; b) participação de seus EESs locais nas suas feiras anuais e na festa de
aniversário do município; c) a efetivação e a manutenção das parcerias realizadas com o poder
público municipal e com entidades privadas, dentre elas associações, empresas e universidades; d)
aplicação e necessidade de reelaboração da Lei Municipal de Economia Solidária de Canoas
(PREFEITURA DE CANOAS, 2016).
A cooperação entre os seu participantes tem sido a força da EcoSol canoense. Nas suas
reuniões mensais são preparadas as suas feiras anuais em todos os seus aspectos. O município de
Canoas promove anualmente cinco feiras. São elas: a da Páscoa, a do Peixe, a do Dia das Mães, a
do Dia dos Pais, a da Semana Farroupilha e a de Natal (PREFEITURA DE CANOAS, 2015; 2016).
78

Sobre estes aspectos, vale destacar:

As feiras têm se mostrado um importante instrumento para economia solidária,


propiciando a troca de experiência entre empreendimentos, divulgando os produtos,
os grupos e a proposta do trabalho coletivo e principalmente efetivando um
importante espaço de comercialização. Várias cidades em nosso estado têm
iniciativas voltadas à criação de espaços e feiras. A de Santa Maria já é inclusive,
reconhecida como uma feira da América Latina. Inúmeros municípios como Porto
Alegre, Caxias do Sul e São Leopoldo, entre outros, organizam feiras para mostrar a
produção de seus grupos de economia solidária.
O crescimento das feiras organizadas pelo Fórum Municipal de Economia Popular
Solidária: a Feira de Natal 2007 envolveu 10 grupos, a Feira de Dia das Mães de
2008 igualmente, na Feira de Natal de 2008 houve a participação de 18 grupos, já na
Feira das Mães de 2009, que ocorreu em parceria do poder público municipal,
conseguiu alcançar a participação de 29 grupos. Neste ano também estão sendo
abertos outros espaços de comercialização para empreendimentos em eventos
municipais como: carnaval, dia do trabalhador, aniversário da cidade.
[…]
A Prefeitura oferece, ainda, cursos gratuitos de qualificação em técnicas tradicionais
de artesanato nos bairros Mathias Velho e Guajuviras. São cinco cursos com turnos
pela manhã e à tarde, em cada Centro de Capacitação e Produção em Economia
Solidária. Nos centros, são desenvolvidos cursos de técnicas artesanais em matéria
prima diversificada couro, vidro fusing, papel machê, barro, madeira, tecidos, técnicas
em tecelagem, pinturas, encadernação e desenho. As inscrições para os cursos de
capacitação, no segundo semestre, acontecerão no final de agosto.

De fato, estas ações do Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas, congregando os


seus Empreendimentos Econômicos Solidários, a assessoria e a gestão públicas, tem promovido
reconhecimento das potencialidades de seus vários grupos bem como o surgimento de novos
empreendimentos (PREFEITURA DE CANOAS, 2016).

4.4.5 Avanços e desafios

No início dos anos 2000, contexto em que foi criado o Fórum Municipal de Economia
Solidária de Canoas, seus participantes recebiam pouco apoio do poder público municipal. Foi um
grande desafio vencer as primeiras resistências por parte de vereadores, de secretários municipais e
do prefeito ao avanço do Movimento da Economia Solidária nesta cidade (ROSA, 2013). Dito no
início dos anos 2000 se quer dizer nos anos iniciais da década de 2000. Por exemplo, a fundação da
Cooperativa dos Trabalhadores Metalúrgicos de Canoas (CTMC), do seu Fórum Municipal de
Economia Solidária e do seu Departamento Municipal de Economia Solidária, vinculado à
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico foram os principais avanços conquistados
neste período (ROSA, 2013). Sobre estes aspectos, Rosa (2013, p. 89 e 90) nos diz:

A economia solidária no município de Canoas começou a se organizar no início dos anos


2000, a partir da iniciativa de associações e cooperativas que, com apoio de organizações da
sociedade civil, fundaram o Fórum Municipal de Economia Solidária. A falta de apoio do
poder público municipal até então gerava dificuldades aos empreendimentos para ter acesso
às políticas de incentivo à economia solidária que vinham sendo desenvolvidas pelo
governo do estado.
Em 2001 foi fundada a Cooperativa dos Trabalhadores Metalúrgicos de Canoas (CTMC),
originada da luta dos trabalhadores da empresa Vogg S.A. Indústria Metalúrgica que, em
março de 2001, iniciaram o processo de mobilização para garantir seus direitos de trabalho,
que culminou com a alternativa de assumir a empresa e transformá-la em uma cooperativa
79

autogestionária de produção. Apesar de não ter preservado os vínculos com o movimento


da economia solidária, a CTMC é considerada por alguns autores um dos grandes casos de
indústria autogestionária no estado e atua no ramo metal-mecânico (FBES, 2012).
Uma das principais reinvindicações do Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas
foi atendida em janeiro de 2009, após a eleição do Prefeito Jairo Jorge da Silva (PT), com a
criação do Departamento Municipal de Economia Solidária, vinculado à Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Econômico. Uma das primeiras ações da política pública
municipal foi a realização do mapeamento dos empreendimentos de economia solidária em
atividade em Canoas. No levantamento mais recente, foram identificados 58
empreendimentos solidários atuando no município, compostos por aproximadamente 600
trabalhadores organizados de forma autogestionária. Após o mapeamento dos
empreendimentos de economia solidária em Canoas, estes foram classificados e agrupados
em três públicos-alvo para implementação da política pública municipal, de acordo com os
seguintes segmentos: i) economia solidária: artesãos, alimentação, confecção, e catadores;
ii) agricultores; iii) feiras de abastecimento: 25 pontos de feiras organizados em núcleos ou
grupos.

Com base nestes pressupostos, infere-se cresceu bastante a comunidade da Economia


Solidária na cidade de Canoas, conquistando vários espaços para o seu desenvolvimento. Parcerias
públicas e privadas impulsionaram a criação e o desenvolvimento de seus Empreendimentos
Econômicos Solidários (EESs), de seus eventos, de suas atividades em geral. Por meio das feiras
temáticas na cidade, foram conquistados espaços para a venda de seus produtos artesanais. Em 12
de junho de 2014, hoje já com dois anos de existência, foi fundada a Loja da Economia Solidária de
Canoas, empreendimentos já consolidado e de sucesso que contribui significativamente para a
cidadania e a qualidade na vida das pessoas que ali vivem (ROSA, 2013). Ela está localizada na
Estação Canoas/La Salle, junto ao Centro de Informações Turísticas, e seu espaço é destinado à
exposição e ao comércio de artesanatos e alimentos produzidos por grupos integrados ao Fórum de
Economia Solidária de Canoas. Segundo o secretário adjunto municipal de Desenvolvimento
Econômico de Canoas, Francisco Valmor Marques de Ávila, a cidade é uma das maiores do grupo
de Economia Solidária do Brasil, sendo ao todo 56 grupos do seu Fórum Municipal de Economia
Solidária, contemplando atualmente mais de 300 famílias canoenses; e é a maior do Estado do Rio
Grande do Sul que integra a EcoSol (ROSA, 2013).
Recentemente, foi firmada uma parceria entre a Diretoria de Economia Solidária de Canoas
e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, liderada pelo secretário Adair Barcelos,
professor de história do município de Porto Alegre, no intuito de ampliar a quantidade de
beneficiários das suas políticas. Atualmente, ela realiza ações de assistência e capacitação
profissional direcionadas às camadas mais pobres da população. Muitos foram os resultados
benéficos desta parceria conjunta para o desenvolvimento da Economia Solidária de Canoas, dentre
os quais: a) a criação de uma cooperativa de prestadores de serviços e a organização de cooperativas
de catadores para realização de coleta seletiva no município; b) o apoio da Secretaria Municipal do
Meio Ambiente; c) uma parceria com o governo estadual para implantação de uma unidade fabril
para processamento de plástico em Canoas, que deverá receber parte dos resíduos produzidos pela
Cadeia Binacional do PET, organizada da SESAMPE; d) uma parceria com a Unilassale,
universidade que possui um programa de incubação de empreendimentos dentro das suas
dependências físicas e realiza a captação de recursos externos para o desenvolvimento de outros
projetos de economia solidária em conjunto com a Prefeitura Municipal (ROSA, 2013). Neste
diapasão, Rosa (2013, p. 91 e 92) ainda destaca que:

Outras entidades privadas desenvolvem projetos de apoio à economia solidária em Canoas,


como a OSCIP Guayí, que implementa no bairro Guajuviras ações do Projeto Economia
Solidária na Prevenção à Violência, em parceria com a SENAES e o Programa Nacional de
Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI). Este programa visa a reinserção social e
80

profissional de ex-detendos através da economia solidária. A Associação do Voluntariado e


da Solidariedade (Avessol) desenvolve no município o Projeto Brasil Local, de iniciativa da
SENAES, que tem o objetivo de “promover o desenvolvimento local através do fomento e
da constituição de empreendimentos de economia solidária”. É possível perceber que a
articulação das políticas federais de economia solidária se dá mais em conjunto com
organizações privadas do que com o poder público local. Na avaliação de Barcelos o
trabalho desenvolvido por essas entidades é pouco efetivo e não se relaciona com as ações
desenvolvidas pelo Departamento de Economia Solidária.

Em seguida, Rosa (2013) salienta que orçamento da Prefeitura Municipal de Canoas


destinado à implementação da política municipal de Economia Solidária em 2011 foi de R$300 mil,
de R$560 mil em 2012, e que foi formada uma parceria conjunta entre a Unilasalle, a prefeitura
municipal, a Comunidad Autónoma de Murcia (espanhola) e a Fundación La Salle Madrid, que
viabilizou a inauguração, em maio de 2012, de dois Centros de Capacitação e Produção em
Economia Solidária (CCPES). Apesar dos avanços, em contrapartida a conquista de apoio do poder
público municipal é mantida por esforços árduos e contínuos por parte dos participantes dos EESs
de Canoas e do seu Fórum Municipal de Economia Solidária (PREFEITURA DE CANOAS, 2016).
Resultados de crescimento e desenvolvimento da economia solidária local são cobrados
constantemente por parte das secretarias municipais ligadas ao movimento EcoSol. Então, para
manter as parcerias realizadas com o poder público municipal as lideranças da EcoSol canoense
precisam se estar sempre acompanhando de perto a atuação de cada um dos seus EES, verificando
as suas necessidades, fornecendo-lhes todos os meios necessários para o seu adequado
funcionamento, crescimento e desenvolvimento (PREFEITURA DE CANOAS, 2016).

4.5 Contagem (MG)

4.5.1 Fundação

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem (MG) foi fundado no dia 13 de


junho de 2011. Conforme reza o primeiro artigo do seu Regimento Interno (FICKER et al, 2012, s.
p.), ele é:

[…] um espaço permanente de representação, diálogo, articulação, posição, troca de


saberes, formação, deliberação, fomento e desenvolvimento da Economia Solidária.
Congrega empreendimentos solidários, entidades de assessoria e fomento, gestores públicos
e outras pessoas comprometidas com os princípios e valores da Economia Solidária (ES) e
com objetivos e princípios do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES). O Fórum é
um Instrumento do Movimento da Economia Solidária.

Ele foi criado com o objetivo geral de fortalecer o Movimento da Economia Solidária,
difundindo seus princípios e prática, representando-o frente à sociedade e aos Poderes Públicos e
articulando-o no município Contagem (FICKER et al, 2012).
O Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem (MG) tem está norteado por quatro
estratégias principais, quais sejam: a) Plenárias e Reuniões para dar encaminhamentos dentro dos
objetivos; b) Plano de Ações e definição de Ações Prioritárias a partir das necessidades levantadas e
avaliação das ações realizadas; c) Grupos de trabalho e comissões, quando necessários, para a
execução das deliberações; d) Parceiras para atender aos objetivos e demandas do Fórum Municipal
81

de Economia Solidária de Contagem/MG. Assegurar a articulação, acompanhamento e continuidade


das parceiras (FICKER et al, 2012).

4.5.2 Participantes

Dentre os participantes do Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem/MG


estão: a) representantes de seus Empreendimentos Econômicos Solidários, dentre eles associações
de trabalho, cooperativas, empresas de autogestão e grupos informais em vista de geração de
trabalho e renda; b) representantes de entidades de assessoria e fomento; c) representantes do poder
público; d) pessoas físicas que assumem a causa da Economia Solidária ou simpatizam com o
Movimento (FICKER et al, 2012). Estes aspectos são corroborados pelo seu artigo sexto (FICKER
et al, 2012, s. p.), que, na íntegra, reza:

Art. 6º. Poderão participar do Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem/MG:


I – Representantes de Empreendimentos Econômicos Solidários (cooperativas, associações
de trabalho, empresas de autogestão e grupos informais em vista de geração de trabalho e
renda) com direito a voz e voto;
II – Representantes de Entidade de assessoria e fomento com direito a voz e voto;
III – Representantes de Gestores Públicos com direito a voz e voto;
IV – Pessoas físicas que assumem a causa da Economia Solidária ou simpatizam com o
Movimento, sem direito a voto.
 1º – para fazerem parte efetiva do Fórum Municipal de Contagem/MG os
empreendimentos, entidades e gestores terão que apresentar á coordenação carta adesão,
indicando seus/suas representantes, titulares e suplentes para os processos de votação. São
esses representantes que exercem o poder de voto nas reuniões e plenárias do Fórum
Municipal de Economia Solidária de Contagem/MG.
 2º – O empreendimento, entidade e gestor – membro efetivo – poderá, a qualquer
tempo, se desligar do Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem/MG, mediante
comunicação, por escrito, à Coordenação.
 3º – Os empreendimentos efetivos do Fórum Municipal de Economia Solidária de
Contagem/MG, especialmente os EES, serão prioritariamente o público beneficiado de suas
ações.

Percebe-se, pois, que o Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem (MG)


prioriza os entes públicos e privados que fomentam o seu Movimento no município, concedendo-
lhes direito a voz e voto; aos demais não é concedido o direito a voz e a voto (FICKER et al, 2012).

4.5.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária

O Regimento Interno do Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem (MG) foi


aprovado, pela maioria absoluta (dois terços) dos participantes da Assembleia de Fundação, em
Plenária Mensal em 11 de setembro de 2012 (FICKER et al, 2012). Nesta mesma reunião foi
estabelecido que a sua sustentabilidade é dada por uma taxa de contribuição mensal dos membros
efetivos no valor monetário de R$5,00 (cinco reais), por meio de seu representante, e de verbas
procedentes de projetos para ações específicas, elaborados e propostos pelas entidades que o apoiam
e ou o fomentam, ou outra entidade que lhe possa oferecer este suporte e que tenha atuação em
Economia Popular Solidária (FICKER et al, 2012).
Consoante apresentado no seu artigo quarto (FICKER et al, 2012, s. p.), seus objetivos
específicos são:
82

Art. 4º. Objetivos Específicos:


Desenvolvimento e sustentabilidade
1. Promover estratégias de desenvolvimento através de planos, programas, projetos e
ações voltadas para a criação, fortalecimento de Empreendimentos Econômicos Solidários
(EES);
2. Apoiar a formação de cooperativas, associações e empreendimentos autogestionários;
3. Fomentar redes de produção, distribuição, comercialização, consumo e compras
coletivas;
4. Contribuir para a criação de políticas públicas tributárias diferenciadas e buscar
tratamento especial para registro de licenças, taxas, alvarás, para os Empreendimentos
Econômicos Solidários (EES);
5. Estimular a criação de espaços permanentes de comercialização de produtos e serviços
da Economia Solidária;
6. Promover a realização de feiras locais, municipais, regional e participar do programa
nacional de feiras da Economia Solidária;
Formação
1. Promover a formação humana, social, econômica, técnica, ética, cultural, de valores e
políticas dos EES e seus integrantes;
2. Educar para a solidariedade e cooperação na produção, comercialização e consumo
justos, éticos e solidários;
3. Estimular a capacitação de gestores públicos com atuação em Economia Solidária;
Financiamento
1. Identificar fontes de financiamento e divulgá-las;
2. Incentivar a criação de desenvolvimento e permanência de Fundos Regionais e
Municipais de Economia Solidária;
3. Articular com agentes públicos e financeiros o acesso ao crédito e apoiar a criação de
bancos comunitários;
Cidadania e construção social alternativa
1. Incentivar a participação da sociedade nas ações do Fórum Municipal de Economia
Solidária de Contagem/MG;
2. Propor e acompanhar a criação de legislações municipais de incentivo e fomento a
Economia Popular Solidária;
3. Fomentar diálogo, intercâmbio e articulação com outros Movimentos Sociais;
4. Promover o fortalecimento político da Economia Solidária.

Além disto, foi estabelecido democraticamente também que “as alterações do presente
Regimento, quando necessárias, serão aprovadas por dois terços dos presentes na reunião mensal
ordinária, constando em ata como encaminhamento da reunião anterior”, conforme consta no seu
artigo 32º (FICKER et al, 2012, s. p.).

4.5.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem (MG) foi estruturalmente


organizado em grupos de trabalho, elegendo-se de seus participantes uma coordenação, composta
por 05 (cinco) membros eleitos pela Plenária, por um período de 01 ano permitida a recondução por
processo eletivo, sendo 03 (três) EES – Empreendimentos Econômicos Solidários, 01 (um) EAF –
Entidade de Apoio e Fomento e 01 (um) GP – Gestor Público (FICKER et al, 2012). Para melhor
orientar as suas atividades, dentre os seus membros eleitos, foram elegidos: um secretário e seu
vice, e um tesoureiro e seu vice (FICKER et al, 2012).
No que toca às competências da sua Coordenação, o artigo 21º de seu Regimento Interno
(FICKER et al, 2012, s. p.) reza:
83

Art. 21º. Compete à Coordenação:


1. Convocar as plenárias mensais, constando na convocação a pauta, o local e o horário.
2. Convocar as plenárias extraordinárias e reuniões extraordinárias, somente para tratar de
assuntos urgentes. Esta convocação poderá será feita pela coordenação ou por um terço dos
membros efetivos do fórum, através de edital enviado a todos os membros efetivos, com
um prazo mínimo de uma semana.
3. Cumprir e fazer cumprir o presente Regimento;
4. Manter a articulação das entidades em torno das ações internas ou externas que tenham
as mesmas finalidades;
5. Organizar e coordenar a execução das ações assumidas pelo Fórum Municipal de
Contagem/MG.
6. Elaborar a pauta das reuniões e plenárias mensais;
7. Deliberar sobre os casos omissos neste Regimento;
8. Coordenar os grupos de Trabalho.
9. Buscar, receber e divulgar informações de órgãos e entidades engajados no fomento da
economia solidária;
10. Fazer as comunicações das reuniões e eventos aos/às integrantes do Fórum Municipal
de Contagem/MG
Parágrafo único: Assuntos não incluídos na pauta serão discutidos mediante apresentação
e aprovação por maioria absoluta (membros efetivos) dos participantes da plenária ou da
reunião.

No que toca às competências da seu tesoureiro, o artigo 22º de seu Regimento Interno
(FICKER et al, 2012, s. p.) reza:

Art. 22º – Compete ao tesoureiro(a):


1. Receber as taxas de contribuição, receber doações, com discernimento da origem;
autorizar o custeio das atividades e de serviços do Fórum Municipal de Contagem/MG, e
prestar contas destas entradas e saídas nas plenárias mensais.
2. Manter sintonia com a coordenação sobre todas as tramitações.
3. Executar todas as tramitações emitindo recibo numerado ou documento fiscal, quando
possível.
4. Ter conhecimento das áreas econômicas, produtos e serviços onde atuam os EES
membros do Fórum Municipal de Contagem/MG e solicitar deles orçamentos para produtos
e serviços requeridos pelo Fórum Municipal de Contagem/MG. Apresentar orçamento de
despesas previstas.

No que concerne à sua dinâmica de funcionamento, o Fórum Municipal de Economia


Solidária de Contagem (MG) reúne-se mensalmente, em caráter ordinário e extraordinário, quando
convocado pela Coordenação ou pela maioria simples dos membros efetivos (FICKER et al, 2012).
Sua Plenária, seu órgão máximo de deliberação, acontece no Centro de Formação do Trabalhador
de Contagem (CEFORT) toda segunda-feira de cada mês, iniciando pontualmente às 14h30, e tem a
pauta preparada pela coordenação. São públicas, abertas à participação de pessoas físicas, entidades
públicas e privadas que não sejam seus membros efetivos do Fórum Municipal de Economia
Solidária de Contagem/MG, com direito a voz, mas sem direito a voto. Apesar de nem sempre se
fazerem presentes todos os membros, esforços são feitos pela sua Coordenação no sentido de
manter ativos todos os seus membros, sobretudo os de seus Grupos de Trabalho (FICKER et al,
2012).
A Lei Municipal de Economia Solidária de Contagem, Lei número 4025, de 18 de junho de
2006, cria diretrizes e estabelece princípios fundamentais e objetivos da Política Municipal de
fomento à Economia Popular e Solidária de Contagem, e dá outras providências (PREFEITURA
DE CONTAGEM, 2006). Nela, é designada a Secretaria Municipal de Trabalho e
Desenvolvimento
84

Social – SMTDS, para estabelecer procedimentos para a implementação, controle, acompanhamen-


to, monitoramento e avaliação da sua lei municipal de Economia Solidária (PREFEITURA DE
CONTAGEM, 2006).

4.5.5 Avanços e desafios

No início de 2014, foi reativado o Centro Público de Economia Popular Solidária do


Município de Contagem, antigo Centro de Formação do Trabalhador (CEFORT) (PREFEITURA
DE CONTAGEM, 2010; 2013; 2014; JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014). Conforme
informações disponível no site da Prefeitura Municipal de Contagem (2010, s. p.) suas característica
são:

O Cefort possui 26 salas de formação equipadas, nas quais estão instaladas Padaria Escola,
Escola de Beleza e Estética; Cozinha Pedagógica; e Central do Artesão, entre outras
unidades de formação. Com essa estrutura, a capacidade de atendimento é estimada em 200
pessoas por turno. As aulas poderão ser realizadas nos períodos matutino, vespertino e
noturno, conforme a demanda. Os cursos serão ministrados através de convênios entre
Prefeitura de Contagem, Ministério do Trabalho e entidades eduacionais - Funec,
Sest/Senat e Senac - e do setor produtivo
De acordo como coordenador do espaço, José Doniseti Silva, o Cefort é um local
privilegiado para realização de várias atividades e grandes eventos, como feiras e
seminários. "Além dos cursos, pretendemos promover palestras sobre empreendedorismo,
autogestão, serviços contábeis básicos, direitos e deveres do trabalhador, ética profissional,
entre outras.

Ele representa grandes avanços ao Movimento de EcoSol em Contagem porque é o espaço


onde se realizam as reuniões mensais do seu Fórum, momento de rico intercâmbio de experiências,
delineamento de estratégias de crescimento e de desenvolvimento para a EcoSol do município
(PREFEITURA DE CONTAGEM, 2010; 2013; JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014).
Ademais, no CEFORT são prestados vários serviços à comunidade, dentre eles o cadastramento
para o SINE, orientações para a elaboração de currículos, oferta 20 a 25 vagas para os cursos de
Estética & Beleza, Corte & Costura, Manicure & Pedicure, Confecção de calçados, Confecção de
roupas, Fabricação de produtos de limpeza (PREFEITURA DE CONTAGEM, 2010; 2013;
JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014).
A Economia Solidária se faz presente em Contagem há algumas décadas, mas desde o seu
princípio muitos foram os desafios enfrentados para se conquistar todos os seu espaços
(PREFEITURA DE CONTAGEM, 2010; 2013; JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014). Por
exemplo, por causa da grande dificuldade em se manter o apoio do poder público municipal, diante
das exigências e resistências por ele impostas, o Centro Público de Economia Popular Solidária de
Contagem foi desativado por seis anos, sendo, com muitos esforços de seus participantes, com
muito diálogo com vereadores, secretários municipais e lideranças empresariais do município,
reativado no início de 2014, voltando a beneficiar centenas de milhares de seus habitantes
(PREFEITURA DE CONTAGEM, 2010; 2013; JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014).
Devido a esta experiência, a esta falta de Centro Público durante seis anos, tempo
significativo, que representou gigante retrocesso para a EcoSol do município, mas que agora é
recuperado, compensado com muito mais atividades e serviços oferecidos em prol da sua
população, os participantes de EcoSol de Contagem redobraram seus esforços nos sentido de
cumprir com todas as exigências impostas pelo poder público municipal, mas sempre priorizando os
princípios e objetivos da EcoSol, ou seja, não cedendo às resistências impostas pelo sistema
capitalista ao seu crescimento e desenvolvimento (PREFEITURA DE CONTAGEM, 2010; 2013;
85

JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014).

4.6 São Carlos (SP)

4.6.1 Fundação

O Fórum Municipal de Economia Solidária de São Carlos foi criado em 2005, constituindo-
se o responsável, consoante informa o blog denominado Economia Solidária em São Carlos
(ECOSOL, 2012, s. p.) pela implementação de atividades como:

 Discussão, troca de ideias e informações sobre os empreendimentos e sobre Economia


Solidária;
 Organização de eventos relacionados à Economia Solidária;
 Formulação, implementação e monitoramento de propostas para o fortalecimento das
iniciativas de Economia Solidária;
 Representação de São Carlos em outros espaços de discussão de Economia Solidária;
 Aproximação e integração entre os empreendimentos.

Ele é uma organização democrática dos atores da Economia Solidária sãocarlense para o
desenvolvimento deste movimento no município e para a articulação com as outras instâncias
regionais, nacionais e internacionais de Economia Solidária (ECOSOL, 2012). Reza o artigo 1º do
seu Regimento Interno (NuMI-EcoSol, 2016b, p. 1):

Art. 1º. O Fórum Municipal de Economia Solidária de São Carlos (FMES


São Carlos) criado em 2005 é uma organização democrática e apartidária dos
atores da Economia Solidária para o desenvolvimento desse movimento no
município como uma instância permanente de articulação, mobilização, debate,
troca de saberes e deliberação do movimento de Economia Solidária no
município de São Carlos-SP, destinado à articulação com outras instâncias
regionais, nacionais e internacionais de Economia Solidária e responsável pela
implementação de atividades como:
I. Discussão, deliberação, troca de ideias e informações sobre os
empreendimentos e sobre Economia Solidária;
II. Organização de eventos relacionados à Economia Solidária;
III. Formulação, implementação, monitoramento e avaliação de propostas para o
fortalecimento das iniciativas de Economia Solidária;
IV. Representação de São Carlos em outros contextos de discussão de Economia
Solidária;
V. Aproximação e integração entre os empreendimentos e demais iniciativas de
Economia Solidária;
VI. Aproximação, integração e interlocução permanente com o Conselho
Municipal de Economia Solidária (COMESOL).

O objetivo geral do Fórum Municipal de Economia Solidária de São Carlos (artigo 4º)
consiste em promover, articular, fortalecer, difundir o conceito e as práticas de Economia
Solidária, bem como representar o movimento frente à sociedade e aos Poderes Públicos,
contribuindo na construção de um novo modelo socioeconômico por meio da orientação de ações e
mobilizações em torno das bandeiras de luta do FBES, decididas em plenárias nacionais (NuMI-
EcoSol, 2016a; 2016b; 2016c).

4.6.2 Participantes
86

Participam e podem participar do Fórum de Economia Solidária de São Carlos, por meio
deadesão à sua Carta de Princípios, consoante informa o blog denominado Economia Solidária em
São Carlos (NuMI-EcoSol, 2016a; 2016b; 2016c; ECOSOL, 2012, s. p.):

 Empreendimentos populares com diferentes arranjos e tamanhos como cooperativas


populares, associações, empresas autogestionárias;
 Empreendimentos autogestionários provenientes de empresas em situação falimentar;
 Entidades de fomento (incubadoras de cooperativas, etc.)
 Rede de gestores de políticas públicas de Economia Solidária;
 Frente parlamentar;
 Movimentos sociais;
 Organizações coletivas, como Redes de cooperação de iniciativas individuais ou
coletivas, consumo justo, ético e solidário, cadeias produtivas solidárias, clubes de trocas,
crédito produtivo e popular, entre outros.

Vale ressaltar, entretanto, que os atores e setores participantes comprometem-se a seguir os


princípios da Economia Solidária (ECOSOL, 2012; PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010;
2015). Na dissertação de mestrado intitulada Redes de cooperação para desenvolvimento em
economia solidária: estudo de caso no município de São Carlos – SP, elaborada por Bianca
Polotto Cambiaghi, defendida e aprovada em 2012 (p. 85), no mestrado em Administração de
Organizações da FEA-USP, ela retrata os Empreendimentos Econômicos Solidários sãocarlenses do
seguinte modo:

Do total de 18 empreendimentos contemplados pela pesquisa, 69% atuam no ramo do


comércio (produtos artesanais, alimentos orgânicos, vestimentas) e 31% no de serviços (de
limpeza, coleta de resíduos, alimentício, segurança e vigilância). Em seu conjunto, os
empreendimentos contemplam cerca de 600 trabalhadores, sendo que 83,3% deles foram
formados a partir do ano de 2001 (PMSC, 2008a).

Até 2012, mais de 30 Empreendimentos Econômicos Solidários participavam da Economia


Solidária de São Carlos, consoante Cambiaghi (2012) informa, a saber: Aparelho Coletivo,
Araucarte – Criações Artesanais; ArtenaAtiva; Artesanato Amor & Arte; Associação Amigo
Carroceiro e Cavaleiro de São Carlos – AACCSC; Associação Cultural Raízes Sertanejas;
Associação de Microempreendedores Individuais – AMEI; Associação do Comércio Alternativo de
São Carlos – ACASC; Associação dos Artesãos e Artistas de São Carlos – AARTESCAR;
Associação Maria Fuxico; Ateliê Caminho das Artes; Ateliê Coletivo; Casa Fora do Eixo São
Carlos; Coletivo Terra a Terra Arquitetura; ConsumoSol – Articulação Ética e Responsável para um
Consumo Solidário; Cooperativa das Artistas em Trabalhos Manuais – COART'M; Cooperativa de
Coletores de Materiais Recicláveis de São Carlos – Coopervida; Cooperativa de Produção de Mudas
de Santa Eudóxia – COOPERMUDAS; Cooperativa de Serviços Turísticos – TURÍSTICA;
Cooperativa de Trabalho Pioneira e Realizadora de Entregas Xeque-Mate de São Carlos –
COOPERDEX; Cooperativa dos Trabalhadores em Confecções São Carlos – COOSTURARTE;
Grupo do Assentamento Santa Helena; Grupo Frutos da Terra; Grupo Natuarte; Grupo 'Raízes do
Café' – resgate cultural do artesanato; Grupo Tecelagem; Horta Orgânica Comunitária Aracy; Janela
Aberta – Associação Instituto Cultural Janela Aberta; Kooperi; Magia do Artesanato; RECRIART;
Solaris Artesanato; Trabalhadores da Central de Triagem de Resíduos de Construção de Demolição;
Unidos pela Arte – Associação Cultural dos Artesãos e Artistas de São Carlos – UNIARTE.
Cambiaghi (2012) faz questão de mencionar em seu trabalho que 94% dos EESs
87

sãocarlenses utilizam instalações físicas de administração, de produção e de comercialização de


terceiros, ao passo que nenhum possui instalações integralmente próprias.

4.6.3 Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária

No dia 10 de agosto de 2013 foi discutido, lido por completo e aprovado o Regimento
Interno do Fórum Municipal de Economia Solidária de São Carlos – FMES, numa assembleia de
aprovação para a qual todos os Empreendimentos Econômicos Solidários locais, entidades de apoio
e fomento e gestores públicos do município foram convidados (FBES, 2013; CIRANDAS, 2013;
NuMI-EcoSol, 2016a; 2016b; 2016c). Os princípios adotados pelo FMES de São Carlos, conforme
acordo coletivo, são (NuMI-EcoSol, 2016b, p. 2 a 4):

Art. 2º. […]


I. A valorização social do trabalho humano;
II. A não exploração e não precarização do trabalho humano;
III. A satisfação plena das necessidades de todos como eixo da criatividade
tecnológica e da atividade econômica;
IV. O reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa
economia fundada na solidariedade;
V. O favorecimento da inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade
social em uma economia fundada na solidariedade;
VI. A valorização da diversidade e estímulo a convivência harmônica na
diversidade;
VII. A busca pelo respeito à natureza, pela cooperação, equidade e
solidariedade;
VIII. A valorização do trabalho, do saber e da criatividade de todos os seres
humanos e não o capital e sua acumulação;
IX. O direito à produção e ao acesso aos benefícios dos produtos;
X. A melhor qualidade de vida dos seres humanos a partir da solidariedade
entre trabalhadores e trabalhadoras e de formas de comércio justo e consumo ético,
solidário e responsável;
XI. A preconização da eficiência com base não apenas nos benefícios materiais de
um empreendimento, mas também como eficiência social, em função da qualidade de
vida e da felicidade de seus membros e, ao mesmo tempo, da natureza;
XII. A admissão da Economia Solidária como instrumento de combate à exclusão
social;
XIII. O estabelecimento da Economia Solidária como alternativa viável para a
geração de trabalho e renda e para a satisfação direta das necessidades de todos;
XIV. O respeito aos princípios cooperativistas internacionais, baseados em:
a) Associação voluntária, livre e esclarecida.
b) Controle democrático, com participação igualitária dos membros.
c) Participação econômica dos membros.
d) Autonomia e independência.
e) Educação, treinamento e informação.
f) Cooperação entre EES.

No que tange à sua Lei Municipal de Economia Solidária, ela foi aprovada e sancionada no
dia 26 de fevereiro de 2010, Lei nº 15.196, que dispões sobre o Programa de Fomento à Economia
Solidária e dá outras providências (PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010; 2015). Sua execução
foi incumbida, consoante explana a referida lei, pela Secretaria Municipal de Trabalho, Emprego e
Renda, responsável por estabelecer normas e procedimentos para a sua implementação,
acompanhamento, monitoramento e avaliação. Além disto, ela cria o seu Centro Público de
Economia Solidária e o seu Centro de Comércio Justo e Solidário (PREFEITURA DE SÃO
CARLOS, 2010). Estes aspectos são ratificados nos artigos 1º e 2º da referida Lei, cujas palavras
88

(PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010; 2015), na íntegra, dizem:

Art. 1º Fica instituído no âmbito do Município o Programa de Fomento à Economia


Solidária, que tem como objetivo implantar a Política Municipal de Fomento à Economia
Solidária, contribuindo na integração das estratégias gerais de desenvolvimento sustentável.
Parágrafo único. A execução do Programa, previsto no caput será de responsabilidade da
Secretaria Municipal de Trabalho, Emprego e Renda, que estabelecerá normas e
procedimentos para a sua implementação, acompanhamento, monitoramento e avaliação.
Art. 2º Fica criado, no âmbito do Programa de Fomento à Economia Solidária, os seguintes
órgãos:
I - o Centro Público de Economia Solidária;
II - o Centro de Comércio Justo e Solidário.
§ 1º Os órgãos mencionados nos incisos deste artigo constituirão espaços públicos
destinados à implantação das ações previstas no Capítulo III desta Lei, e deverão ser
instalados em imóveis adequados, dispondo da infraestrutura pública necessária a seu pleno
funcionamento, cabendo a gestão administrativa ao Poder Executivo.
§ 2ºPara implementação e suas respectivas ações, o Poder Público poderá estabelecer
parceria com as entidades públicas e privadas.
§ 3º A Secretaria Municipal de Trabalho, Emprego e Renda, constituirá um Comitê Gestor,
representado por uma instância colegiada, de caráter propositivo, consultivo e deliberativo.
§ 4º O Comitê Gestor será composto por representantes do Poder Público e da sociedade
civil, com as funções de planejamento, monitoramento e avaliação das ações desenvolvidas.

A Política Municipal de Fomento à Economia Solidária de São Carlos foi criada com o
objetivo geral de atender aos cidadãos que desejem se organizar, dentro do Município, em novos
Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs) e ou consolidar os já constituídos (PREFEITURA
DE SÃO CARLOS, 2010; 2015)19.

4.6.4 Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

O Fórum Municipal de Economia Solidária de São Carlos encontra-se estruturado em uma


Comissão Executiva e uma Comissão de Comunicação. A primeira é composta por: 2
representantes titulares dos Empreendimentos; 2 representantes suplentes dos Empreendimentos; 1
representante titular de entidade de apoio e fomento; 1 representante suplente de entidade de apoio e
fomento; 1 representante titular da gestão pública; 1 representante suplente da gestão pública. A
segunda é composta por: 3 membros titulares e 3 suplentes, sendo necessariamente um
representante titular e outro suplente de Empreendimento (NuMI-EcoSol, 2016c, p. 5 e 7).
O FMES de São Carlos se reúne mensalmente e, extraordinariamente, quando convocado
pela Comissão Executiva ou pela maioria (dois terços) dos seus membros efetivos. Todas as suas
decisões são tomadas em coletivo, em suas instâncias de deliberação, em consenso entre os seus
membros com direito a voto (NuMI-EcoSol, 2016a). Sobre estes aspectos, os artigos 11º, 17º a 19º
do seu Regimento Interno (NuMI-EcoSol, 2016b, p. 16 e 19) corroboram:

Art. 11º. A Plenária Municipal é a instância máxima de deliberação do FMES São Carlos e
acontecerá, ordinariamente, uma vez ao ano, e extraordinariamente, sempre que necessário.
Parágrafo único – As deliberações da Plenária só poderão acontecer com a presença mínima
de 50% dos EES membros efetivos do Fórum.
[…]
Art. 17º. As reuniões ordinárias do FMES São Carlos serão de periodicidade mensal, e
extraordinariamente quando convocado pela Comissão Executiva ou pela maioria simples
19
A Lei Municipal de Economia Solidária de São Carlos pode ser baixada do site http://www.economiasolidariasp.org. br/?
pg=leis_municipais_ecosol.
89

dos membros efetivos.


Art. 18º. As decisões do coletivo do FMES São Carlos, em suas instâncias de deliberação,
serão tomadas preferencialmente pelo consenso entre os membros com direito a voto.
Parágrafo único – Havendo necessidade de votação, 60% dos votos serão dos EES, 20%
das EAF, 20% dos gestores públicos, sendo que cada segmento poderá tomar sua decisão
da maneira como preferir e distribuir seus votos pelas propostas conforme pareça melhor.
Art. 19º. O local das reuniões será, preferencialmente, o Centro Público de Economia
Solidária Herbert de Souza.

No fito de resolver demandas específicas, o FMES de São Carlos constitui Comissões


Temporárias, caso necessário, compostas dentre seus membros efetivos. As sínteses de suas
reuniões são registradas e apresentadas nas reuniões ordinárias e extraordinárias do Fórum (NuMI-
EcoSol, 2016b).

4.6.5 Avanços e desafios

A Economia Solidária de São Carlos surgiu por meio a atuação de um grupo de professores
e pesquisadores do Núcleo de Pesquisa e Documentação do Departamento de Ciências Sociais da
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – como resposta a uma investigação científica
realizada com o objetivo de mapear os bolsões de pobreza contidos na cidade (CAMBIAGHI,
2012). Sobre estes e outros aspectos da origem da EcoSol sãocarlense, Cambiaghi (2012, p. 83)
explana:

[...] O estudo “Condições de vida e pobreza em São Carlos: a questão da pobreza – uma
abordagem interdisciplinar”, iniciado em 1994 pelo Núcleo de Pesquisa e Documentação do
Departamento de Ciências Sociais da UFSCar, serviu para identificar a segregação espacial
entre os bairros com melhores e piores índices socioeconômicos da cidade (DOZENA,
2001). Com base nesse mapeamento, professores de diversos núcleos de extensão deram
início a um trabalho em um dos bolsões de pobreza da cidade, o bairro Jardim Gonzaga,
detectado como uma região de alta vulnerabilidade social dos moradores. Em paralelo, o
crescente movimento das ITCPs iniciado em 1995 com a pioneira criação da ITCP da
COPPE/UFRJ, foi potencializado em 1997 com a criação do Programa Nacional de
Incubadoras de Cooperativas Populares (PRONINC) do governo federal. Neste contexto, os
professores envolvidos na intervenção no bairro Jardim Gonzaga de São Carlos,
propuseram a criação da Incubadora Regional de Cooperativas Populares em 1998.
Juntamente com a criação da INCOOP, nasceu também a Cooperativa de Limpeza Jardim
Gonzaga (Cooperlimp) e outros grupos que futuramente se tornariam a Cooperativa de
Prestação de Serviços em Culinária de São Carlos (Coopercook) e a Cooperativa dos
Trabalhadores em Confecções São Carlos (Costurarte). Das três cooperativas pioneiras,
somente a Coopercook não passou a ser incubada pela INCOOP.

A Ecosol de São Carlos tomou impulso a partir da posse de Newton Lima Neto, ex-reitor da
UFSCar, como o prefeito do município. Na sua gestão foi dado início às atividades de construção de
uma política pública de economia solidária por meio do Programa de fomento à Economia
Solidária. Inicialmente, as atividades eram desenvolvidas sob o Departamento de Desenvolvimento
Sustentável e Tecnológico (DDST), vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Sustentável, Ciência e Tecnologia (SMDSCT). Em 2002, Newton aprova a criação da Seção de
Fomento à Economia Solidária, subordinada ao DDST. Por meio de processo licitatório, a
Cooperlimp foi contratada para serviços de limpeza e a Coopercook para assumir a cozinha
industrial para abastecimento do restaurante popular municipal (CAMBIAGHI, 2012).
Ainda na gestão municipal sãocarlense 2001-2004, precisamente em 2002, foi proibido o
90

acesso ao aterro sanitário municipal, oportunidade esta que contribuiu para a formação, a priori, da
Cooperativa dos Coletores de Materiais Recicláveis de São Carlos (Ecoativa), da Cooperativa de
Coletores de Materiais Recicláveis de São Carlos (Coopervida), e, a posteriori, da Cooperativa de
Coletores de Materiais Recicláveis do Jardim Gonzaga (Cooletiva), cuja infraestrutura passou a ser
mantida pela prefeitura municipal (CAMBIAGHI, 2012).
Na gestão municipal seguinte, 2005-2008, Newton foi reeleito, e institucionalizou a EcoSol
no município, por meio da criação do Departamento de Apoio à Economia Solidária (DAES),
vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia pela Lei
municipal no 13.486 de 16 de dezembro de 2004, o que, consoante Cambiaghi (2012, p. 84)
“permitiu um maior reconhecimento da economia solidária no município, estando de fato no
organograma da prefeitura e com suas atribuições e responsabilidades definidas”.
Em outubro de 2004 foi organizada uma comissão para elaboração da proposta do Centro
Público. Em abril de 2005 foi realizada uma oficina de diretrizes para formulação e implementação;
em outubro foi formada uma comissão para elaboração da proposta de seu Centro Público; em
novembro foi realizada uma audiência pública para discussão da instalação do Centro Público. Em
junho de 2006 foi assinado o Convênio; em em agosto foi realizada uma reunião preparatória para a
instalação e lançamento do Centro Público; em novembro foi realizado o III Encontro de EcoSol no
município, que resultou nos encaminhamentos necessários sobre a instalação e funcionamento do
Centro Público. De janeiro a dezembro de 2007 ocorreu a operacionalização das compras, das
licitações e das instalações do Centro Público bem como a aprovação do seu Regimento Interno.
Em 2008 foi, então, inaugurado o tão almejado Centro Público de Economia Solidária “Herbert de
Souza – Betinho” (CAMBIAGHI, 2012).
Todos estes grandes avanços do movimento de Economia Solidária no município de São
Carlos tiveram a participação do seu poder público municipal, dos Empreendimentos Econômicos
Solidários sãocarlenses, do Departamento de Apoio de Economia Solidária de São Carlos, do
Núcleo Multidisciplinar Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária –
NUMI-ECOSOL, mantido pela UFSCar, de organizações da sociedade civil (CAMBIAGHI, 2012;
ECOSOL, 2012; PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010; 2015).
O Núcleo Multidisciplinar Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia
Solidária – NuMI-EcoSol20 – é uma unidade de ensino, pesquisa e extensão criada pela Resolução
ConsUni 698, de 12 de Agosto de 2011, vinculada diretamente à Reitoria da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar) e sucessora do Programa de Extensão Incubadora Regional de
Cooperativas Populares da Universidade Federal de São Carlos (INCOOP-UFSCar) (NuMI-EcoSol,
2016). Sua missão, conforme prevista em seu Regimento Interno e informada em seu site (NUMI-
ECOSOL, 2016, s. p.) é:

 Prestar atendimento qualificado e gratuito a grupos de pessoas em situação de


vulnerabilidade social, para constituição de empreendimentos e iniciativas econômicas em
Economia Solidária;
 Colaborar com a formação e qualificação de profissionais para atuar e para produzir
conhecimento no campo da Economia Solidária;
 Implementar e favorecer a implementação de processos de produção de conhecimento e
tecnologia no campo da Economia Solidária;
 Divulgar o conhecimento produzido, tornando-o acessível a quem de interesse.

20
O NuMI-EcoSol, enquanto Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, desde sua criação, empenha-se em
buscar financiamento externo, por meio de editais e convênios, a fim de desenvolver seus projetos e contratar pessoal
capacitado e bolsistas para desenvolverem estas atividades. Vários destes projetos e convênios que o NuMI-EcoSol já
participou e executou podem ser consultados em <http://www.numiecosol.ufscar.br/extensao/projetos-encerrados>.
91

Desde a criação do Centro Público de Economia Solidária “Herbert de Souza – Betinho” já


foram realizadas até este ano três Conferências Municipais de Economia Solidária, nas quais
resultados significativos foram produzidos (CAMBIAGHI, 2012; ECOSOL, 2012; PREFEITURA
DE SÃO CARLOS, 2010; 2015; 2016).
A I Conferência Municipal de Economia Solidária de São Carlos ocorreu no dia 5 de maio
de 2012 no Centro Público de Economia Solidária de São Carlos Herbert de Souza (Betinho), com o
tema “Participação e Controle Social: eleição do Conselho Municipal de Economia Solidária”,
evento” (PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010; 2012; 2015; 2016; ECOSOL, 2012).
Especificamente sobre esta, encontramos maiores informações no site da Prefeitura Municipal de
São Carlos (2012, p. 1), que, na íntegra, diz:

A cerimônia contou ainda com a presença do vice-prefeito Emerson Leal, do presidente da


Câmara Municipal, Edson Fermiano, dos vereadores Lineu Navarro, líder do Governo na
Câmara, e Ronaldo Lopes, de Paulo de Tarso, representante do deputado federal, Newton
Lima, do secretário municipal de Trabalho, Emprego e Renda, Emerson Domingues, da
diretora do Departamento de Apoio à Economia Solidária, Rita de Cássia Fajardo, e de
Cândida dos Santos, representante do Fórum Municipal de Economia Solidária.
Com ênfase na importância da participação democrática na formulação e execução de
políticas públicas, a Conferência promoveu a palestra da educadora Cláudia Medianeira
Machado e elegeu os representantes da sociedade civil para o Conselho Municipal de
Economia Solidária.
A palestra de Cláudia Medianeira Machado abordou com bastante profundidade a
experiência do Conselho Municipal de Economia Solidária do município de Santa
Maria/RS, cujos objetivos são a articulação de ações e projetos, a formação de fóruns
consultivos, criação de diretrizes para aplicação de recursos do Programa Municipal de
Economia Solidaria, entre outros.
A palestrante encerrou a apresentação e abriu o debate com uma frase motivadora para o
público: “muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas,
mudarão a face da terra” (Provérbio Africano).
A construção da I Conferência de Economia Solidária se deu no processo de realização de
quatro Encontros Municipais de Economia Solidária (2004, 2005, 2006 e 2009), sendo que
no último houve aprovação do marco legal com o conjunto de diretrizes e prioridades para
a execução de uma política pública de economia solidária, o que culminou na aprovação da
Lei Municipal nº 15.196/2010, instituindo as diretrizes para o Programa Municipal de
Fomento à Economia Solidária.

A II Conferência Municipal de Economia Solidária de São Carlos ocorreu em 31 de maio de


2014, tendo como tema “Construindo um Plano Municipal de Economia Solidária para Promover o
Direito de Produzir e Viver de Forma Associativa e Sustentável” (PREFEITURA DE SÃO
CARLOS, 2010; 2015; 2016; ECOSOL, 2012). Seu objetivo, conforme informado no site da
Prefeitura Municipal de São Carlos (2014, s. p.) foi:

[...] analisar os avanços, limites e desafios da Economia Solidária no município, bem como
as estratégias para a implantação das políticas públicas, considerando as deliberações da
Conferência Regional e Estadual, promover o debate sobre o processo de integração das
ações de apoio à Economia Solidária fomentada no governo e na sociedade civil, debater
sobre participação da sociedade civil no conselho e eleger os representantes da sociedade
civil que farão parte do Conselho Municipal de Economia Solidária de São Carlos, além de
debater e subsidiar com propostas, eixos estratégicos de ação, programas e projetos, futuros
do Conselho Municipal de Economia Solidária.

A III Conferência Municipal de Economia Solidária de São Carlos ocorreu nos dias 20 e 21
92

de maio de 2016, tendo como tema “Pensando a representação no contexto da autogestão: superar o
individualismo para construir a representação de fato”. Ela foi realizada no Centro Público de
Economia Solidária “Herbert de Souza”, localizado na Rua José Bonifácio, número 885, no centro
de São Carlos, em frente ao Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região. Ela foi organizada e
patrocinada pela prefeitura municipal de São Carlos, por meio do Departamento de Apoio à
Economia Solidária da Secretaria Municipal de Trabalho, Emprego e Renda e do Conselho
Municipal de Economia Solidária (PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010; 2015; 2016;
ECOSOL, 2012).
Ainda sobre os avanços da EcoSol em São Carlos, a Prefeitura Municipal de São Carlos
(2012, p. 2) explana:

Em 2011 foram aprovadas as Leis Municipais nº 15.779 e nº 15.853, que instituíram,


respectivamente, a realização da Conferência Municipal de Economia Solidária e as
diretrizes para o Conselho Municipal de Economia Solidária e para o Fundo Municipal de
Fomento à Economia Solidária.
Rita Fajardo, diretora do Departamento de Apoio à Economia Solidária, disse que a eleição
do Conselho de Economia Solidária faz parte de um processo que consolida a política
pública de economia solidária no município.
“O espaço do Conselho Municipal será de muito diálogo e construções coletivas, o que vai
fortalecer a economia solidária em São Carlos”, comentou Rita, ao mencionar a
participação de 110 pessoas credenciadas na Conferência.
De acordo com o prefeito Oswaldo Barba, a política de economia solidária foi implantada
em São Carlos a partir de 2001, quando ele era reitor da UFSCar, na administração do ex-
prefeito Newton Lima, por meio de uma parceria entre a Prefeitura e a Incubadora Regional
de Cooperativas Populares da Universidade Federal de São Carlos (Incoop/UFSCar).
Ao destacar as ações e projetos da Prefeitura nesta área, Barba mencionou investimentos
como: a implantação do Centro Público de Economia Solidária Herbert de Souza (Betinho);
a construção em andamento do Centro Público de Produção em Economia Solidária, no
Santa Felícia, o curso de construção civil para mulheres que conta atualmente com 200
alunas; o assessoramento de 23 empreendimentos econômicos solidários em diversas
atividades econômicas e estágios de desenvolvimento, envolvendo mais de 600
trabalhadores; entre outros.

Vale ressaltar que os Empreendimentos Econômicos Solidários movimentam em São Carlos


anualmente cerca de 5 milhões de reais, razão pela a qual a Prefeitura Municipal de São Carlos tem
apoiado cada vez mais a esse segmento (PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010; 2012; 2015;
2016; ECOSOL, 2012).
O Regimento Interno da Feira Municipal de Economia Solidária 21 foi aprovado no dia 11 de
abril de 2014, por meio do Decreto nº. 94, conforme o que é especificado nos seus artigos 1º a 4º
(PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010; 2015; 2016; ECOSOL, 2012):

Art. 1º. Este Regimento Interno regula o funcionamento da Feira de Economia Solidária da
Praça XV de São Carlos.
Art. 2º. A Feira de Economia Solidária da Praça XV de São Carlos funcionará na Praça Dr.
Christiano Altenfelder Silva (conhecida popularmente como Praça XV), localizada no
quadrilátero das ruas XV de Novembro, Carlos Botelho, Riachuelo e Aquidaban em São
Carlos, SP, aos domingos.
§ 1º O horário de funcionamento da Feira Permanente de Economia Solidária é das
15h00min às 21h00min, com tolerância máxima de 30 (trinta) minutos.
§ 2º Só poderão participar da Feira Permanente de Economia Solidária os empreendimentos
devidamente cadastrados no Conselho Municipal de Economia Solidária (COMESOL).
21
O Regimento Interno da Feira Municipal de Economia Solidária de São Carlos pode ser baixado em http://www.sao
carlosoficial.com.br/diariooficial/001/DO_15042014_NH61QK.pdf.
93

Art. 3º. A Feira de Economia Solidária da Praça XV de São Carlos compreende espaço
físico, infraestrutura e equipamentos apropriados para abrigar iniciativas que cooperem
para o desenvolvimento da economia solidária em São Carlos.
Art. 4º. A Feira de Economia Solidária da Praça XV de São Carlos não detém
personalidade jurídica própria, sendo representada por uma Comissão Organizadora.

Dentre os maiores desafios para o desenvolvimento da EcoSol sãocarlense, apurados na


análise da sua trajetória, encontram-se: a grande dificuldade de financiamento dos EES locais com
recursos próprios; a necessidade de melhoria na articulação interna entre os membros em vários dos
seus EES locais; a não concretização da elaboração de um Regimento Interno para o seu Fórum
Municipal de Economia Solidária; a não concretização da elaboração de um projeto político-
pedagógico para a sua linha de ação Fomento ao Movimento de Economia Solidária, o que, sem
dúvida, tão logo que for elaborado e implementado articulará todas as suas linhas de ação dentro do
mesmo escopo, princípios, estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento, facilitando a
identificação das suas necessidades e a consecução das suas atividades, indicando os melhores
caminhos para o seu desenvolvimento.

4.7 Comparação dos fóruns apresentados

Ao todo, foram investigados 6 (seis) fóruns municipais brasileiros de Economia Solidária, e


sobre os mesmos foram avaliados cinco aspectos, quais sejam: 1) a sua Fundação; 2) os seus
participantes; 3) o seu Regimento Interno e sua Lei Municipal de Economia Solidária (aos que já a
possuem); 4) a sua estrutura organizativa e a sua dinâmica de funcionamento; e 5) os seus avanços e
os seus desafios. São expostas a seguir seis tabelas apresentando uma síntese de cada um destes
aspectos de cada um dos fóruns investigados. Cada tabela informa em seu título a localidade do
Fórum Municipal de Economia Solidária. Na primeira coluna, são identificadas as variáveis de
interesses investigadas em cada um deles. Na segunda coluna, é apresentada uma síntese
exploratória descritiva do desempenho de cada fórum, em cada uma das variáveis de interesse
analisadas.
FÓRUM MUNICIPAL DE ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA DE TERESINA - PIAUÍ
Variáveis de
Desempenho
interesse
O Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Teresina (FMEPS-
TE), capital do Estado do Piauí, foi instituído em 21 de fevereiro de 2014,
após muitos esforços dos atores de Economia Solidária locais desta cidade,
contando com a adesão de 40 entidades no ato (SOUZA et al, 2015;
PORTAL PMT, 2015). Baseado no trinômio fundamental da Economia
1. Fundação Solidária, isto é, na integração e na articulação entre este movimento, o
poder público e a participação social, o FMEPS já teve alguns avanços,
dentre os quais a realização da I Conferência Municipal de Economia
Solidária, que articulou e integrou “as diferentes políticas públicas que
abrangem Economia Solidária e elaborou um plano estadual, que foi levado
para a Conferência Nacional de Economia Solidária no final de 2014”.
2. Participantes Participam do FMEPS-TE representantes dos Empreendimentos
Econômicos Solidários da localidade, do governo local e da sociedade civil.
Dentre estes representantes, destacam-se membros de vários segmentos de
artesanato, pequenos produtores rurais, grupos ligados à cultura, à
assessoria e ao fomento de políticas sociais.
94

A Coordenação Geral do FMEPS-TE reúne-se uma vez por mês, e convoca


uma reunião com todos os participantes uma vez a cada dois meses. Ás
vezes, a convocação para a reunião geral é negligenciada, mas os
coordenadores buscam contornar esta situação incentivando os
participantes, mostrando para eles os benefícios oriundos desta participação
coletiva geral em prol dos avanços locais do movimento em geral e de cada
um dos seus EES em específico.
O seu Regimento Interno foi elaborado pelos seus participantes levando-se
em consideração que: a) a necessidade de normas de relacionamento entre
os participantes nas reuniões realizadas em prol do movimento local de
Economia Solidária; b) a necessidade de um espaço adequado para
intercâmbio e troca de saberes teóricos e práticos sobre a ES; c) a região
nordeste concentra o maior percentual de EES do país; d) Piauí e Teresina,
tal como a região Nordeste, tem um número substancial desses
empreendimentos.
A Lei Municipal de Economia Solidária de Teresina foi elaborada por seus
3. Regimento legisladores locais (vereadores) com base em reuniões realizadas com
Interno e Lei participantes dos EES e do FMEPS-TE, e aprovado por seu Executivo local,
Municipal de levando-se em consideração os seguintes fatos: a) a região nordeste
Economia Solidária concentra o maior percentual de EES do país; b) Piauí e Teresina, tal como a
região Nordeste, tem um número substancial desses empreendimentos c) em
2005, o Estado do Piauí contava com 1.066 empreendimentos de Economia
Solidária (7,1% do EES brasileiros), espalhados por 224 municípios; d) em
2007, Teresina contava com 124 EES registrados no SIES (Sistema
Nacional de Economia Solidária); e) a Secretaria Municipal de Economia
Solidária de Teresina (SEMEST) atualmente acompanha 10.000 (dez mil)
EES, que realizam atividades formais e informais nos mais diversos setores
de produção e serviços.
As vivências coletivas possibilitadas pela criação do FMEPS-TE são tidas
4. Estrutura como importantes para todos os participantes do movimento, que, juntos e
organizativa e alinhados com os princípios de Economia Solidária e normas do regimento
dinâmica de interno do fórum, discutem as políticas públicas para o movimento, mediam
funcionamento e articulam experiências, recebem capacitação específica de acordo com as
necessidades de cada EES, e contatam gestores públicos conscientizando-os
da importância da ES para a economia local e solicitando apoios pontuais.
Avanços: relações com as esferas administrativas e com as organizações da
sociedade civil, incluindo a instalação da Secretaria Executiva, sob a
responsabilidade da mencionada SEMEST, que apoia o Fórum em
5. Avanços e diferentes momentos.
desafios Desafios: comercialização justa; capacitação; relacionamento entre as
diferentes esferas e as entidades; infraestrutura compatível com as
demandas; local adequado para funcionamento; e disponibilidade para
participação efetiva.
Tabela 1. Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Teresina - Piauí.

FÓRUM MUNICIPAL DE ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA DE


BELO HORIZONTE – MG
95

Variáveis de
Desempenho
interesse
O Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Belo Horizonte –
FEPS-BH – foi fundado no dia 13 de dezembro de 2011 (FBES, 2012a;
2012b). Tal como outros Fóruns Municipais brasileiros de Economia
1. Fundação Solidária, ele foi criado como um espaço permanente de representação,
diálogo, articulação, discussão, proposição, troca de saberes, formação,
deliberação, fomento e desenvolvimento da Economia Popular Solidária
(FBES, 2012a; 2012b).
O Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Belo Horizonte –
FEPS-BH – congrega empreendimentos solidários, entidades de assessoria e
fomento, gestores públicos e outras pessoas comprometidas com os
princípios e valores da Economia Popular Solidária – EPS – e com objetivos
e princípios do Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES –,
constituindo-se um instrumento do Movimento da Economia Solidária
2. Participantes (FBES, 2012a; 2012b).
Conforme se lê no seu 6º artigo, podem se filiar ou se desligar do FEPS-BH,
espontânea e livremente, representantes de EES, entidades de assessoria e
fomento, gestores públicos de qualquer esfera do governo, desde que
atendam aos requisitos estabelecidos pelo seu Regimento Interno, sendo
indispensável a sua frequência nas atividades promovidas pelo Fórum
(FBES, 2012a; 2012b).
O Regimento Interno do Fórum Municipal de Economia Popular Solidária
de Belo Horizonte – FEPS-BH – foi discutido, lido por completo e
aprovado, no dia 28 de fevereiro de 2012, pela maioria absoluta (dois
terços) dos seus participantes da Plenária de Fundação (FBES, 2012a;
2012b). Em 24 de março de 2011, foi decretada e sancionada a Lei
Municipal nº 10.152, dispõe sobre a Política Municipal de Fomento à
Economia Popular Solidária, cria o Conselho Municipal de Economia
3. Regimento
Popular Solidária e o Fundo Municipal de Economia Popular Solidária no
Interno e Lei
Município de Belo Horizonte, e dá outras providências (CMBH, 2011;
Municipal de
PREFEITURA DE BH, 2011).
Economia Solidária
Os princípios da Política de Fomento à Economia Popular Solidária
de Belo Horizonte são: a) o bem-estar e a justiça social; b) a primazia do
trabalho, com o controle do processo produtivo pelos trabalhadores; c) a
valorização da autogestão, da cooperação e da solidariedade; d) o
desenvolvimento sustentável; e) o comércio justo; f) o consumo ético
(CMBH, 2011; PREFEITURA DE BH, 2011).
Buscando cimentar os princípios de Economia Solidária, o Fórum
4. Estrutura Municipal de Economia Popular Solidária de Belo Horizonte – FEPS-BH –
organizativa e foi estruturado em Grupos de Trabalho e comissões, no fito de executar as
dinâmica de deliberações de suas Plenárias e reuniões, o Plano de Ações, a definição de
funcionamento Ações Prioritárias de seus EESs locais bem como efetivar parcerias capazes
de atender seus objetivos e demandas (FBES, 2012a; 2012b).
Os participantes do FEPS-BH reúnem-se mensalmente, na terceira
terça feira de cada mês das 14hs às 17hs, preferencialmente no no Centro
Público de Economia Solidária de Belo Horizonte, com pauta preparada
pela sua Coordenação. Suas reuniões mensais são públicos, abertas à
96

participação pessoas físicas, entidades públicas e privadas, mesmo que não


sejam membros efetivos do seu Fórum, com direito a voz, mas sem direito a
voto (FBES, 2012a; 2012b). São três as atribuições estabelecidas para as
suas reuniões mensais: a) aprovar o plano de despesa e a prestação de
contas do FEPS-BH; b) elaborar plano de trabalho, considerando
deliberações da plenária; c) discutir outros assuntos pertinentes ao
movimento EcoSol não incluídos na pauta, por meio de análise e aprovação
da sua Coordenação, desde que apresentados antes da reunião (FBES,
2012a; 2012b).
A Coordenação do FEPS-BH é composta por 20 membro, sendo:
60% de Empreendimentos Econômicos Solidários (doze), 20% de Entidade
de Apoio e Fomento (quatro) e 20% de Gestores Públicos (quatro) (FBES,
2012a; 2012b). Entre seus membros, há 4 representantes titulares e 04
suplentes, 1 secretário executivo, 2 secretários administrativos (1º e 2º), 2
tesoureiros (1º e 2º) (FBES, 2012a; 2012b).
Avanços: A Economia Solidária de Belo Horizonte cresceu bastante. Dentre
os seus principais avanços estão a criação e o funcionamento de: a) o seu
Fórum Municipal de Economia Solidária; b) o seu Centro Público de
Economia Solidária (CPES-BH); c) as suas Feiras Permanentes de
Economia Solidária (PREFEITURA DE BH, 2016; BRASIL DE FATO,
2016; REVISTA FÓRUM, 2016; FACES DO BRASIL, 2016). Por meio da
implementação do Programa de Emprego, Trabalho e Renda, o poder
público municipal de Belo Horizonte proporciona ao trabalhador, em
especial aos beneficiários de programas sociais, condições de igualdade de
oportunidade ampliando a acessibilidade às vagas de emprego e aos
benefícios do desenvolvimento econômico, tecnológico e social,
proporcionando a (re) construção de sua cidadania (PREFEITURA DE
BH, 2016; BRASIL DE FATO, 2016; REVISTA FÓRUM, 2016; FACES
5. Avanços e
DO BRASIL, 2016).
desafios
Desafios: Os desafios no desenvolvimento da EcoSol de BH estão atrelados
aos dos seus Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs), dentre os
quais encontram-se: a) a rotatividade da força de trabalho; b) as dificuldades
de gestão, ligadas à falta de capacidade técnica e ausência de sucessores
líderes na diretoria dessas organizações; c) os desafios contábeis e
financeiros no que diz respeito ao manuseio das informações; e d) os
obstáculos enfrentados durante a formalização dos Empreendimentos
Solidários (SOUZA et al, 2014). Souza et al (2014) terminam o seu
trabalho sugerindo novos estudos na área de Economia Solidária que
investiguem os Empreendimentos Econômicos Solidários não formalizados,
de diferentes atividades, no fito de comparar as dificuldades entre as
organizações informais e as formais.
Tabela 2. Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Belo Horizonte - MG.

FÓRUM MUNICIPAL DE ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA DE NOVO


HAMBURGO – RS
Variáveis de
Desempenho
interesse
97

O Fórum Municipal de de Economia Popular Solidária de Novo Hamburgo


– FMEPS/NH22 foi fundado em maio de 2006 como um espaço permanente
de interlocução, articulação, debate, proposição, assessoria, formação e
troca de saberes acerca da economia popular solidária no município
(CIRANDAS, 2016; ROSA, 2013).
O objetivo do Fórum é articular, fortalecer e representar o movimento da
1. Fundação Economia Popular Solidária do Município frente a sociedade e aos Poderes
Públicos, contribuindo na construção de um novo modelo socioeconômico
através da orientação de ações e mobilizações em torno das bandeiras de
luta, que são produção, comercialização, consumo solidário, finanças
solidárias, formação e marco legal (PREFEITURA NOVO HAMBURGO,
2016).
Conforme reza o artigo 7º do seu Regimento Interno, os seus participantes
são:
I. Empreendimentos econômicos solidários urbanos e rurais (redes,
cooperativas, associações, empresas de autogestão, segmentos das trocas
solidárias, grupos informais e empreendimentos individuais consolidados)
com direito a voz e voto;
II. Consideram-se as seguintes categorias de empreendimentos econômicos
solidários: grupo familiar – formado por dois ou mais componentes de uma
mesma família, independente do que for produzido; - grupo informal –
junção de dois ou mais empreendimentos que visam, em conjunto, a
comercialização, mas com produção independente; - grupo informal e
coletivo – aquele grupo que vivencia as etapas da organização, produção
e comercialização de modo coletivo; grupo social – seus integrantes são
oriundos de atividades fomentadas por órgãos públicos, organizações não-
governamentais, e outras instituições sociais, e vivenciam as etapas da
2. Participantes organização, produção e comercialização de modo coletivo.
III. Especialmente para os grupos sociais – destaca-se que o voto deve ser
dos integrantes dos empreendimentos, e não de seus representantes
institucionais.
IV. Empreendimentos econômicos solidários em potencial (familiares, e
grupos vinculados ao poder público), buscando aos poucos sua autogestão e
autonomia, com direito a voz e voto;
V. Entidades de apoio, fomento e assessoria, movimentos sociais, gestores
públicos municipais, estaduais e federais parceiros e apoiadores com direito
a voz e a voto, desde que tenham participação e presença efetiva nas
reuniões do FMEPS/NH.
O Regimento Interno foi estudado, discutido, realizado, analisado e
3. Regimento aprovado pelos participantes da diretoria do FMEPS/NH, e colocado em
Interno e Lei votação em plenária do próprio Fórum, para
Municipal de aprovação, após a leitura em todos os itens, por todos os participantes que
Economia Solidária estiveram presentes na reunião do dia
20 de abril de 2011.
A Lei Municipal de Economia Solidária de Novo Hamburgo, Lei 2246, foi
criada em 29 de dezembro de 2010. Ela dispõe sobre a Política Municipal
de Fomento à Economia Solidária, cria o Conselho Municipal de Economia
Solidária e o Fundo Municipal de Economia Solidária no Município de
22
Contato do Fórum: ecosolnh.2006@gmail.com; contato do Conselho: comes.nh@hotmail.com.
98

Novo Hamburgo, e dá outras providências.


O Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Novo Hamburgo –
FMEPS/NH reúne-se mensalmente, na primeira segunda de cada mês, das
14h-17h, no Espaço da Diretoria Municipal da Economia Solidária que fica
na Rodoviária de Novo Hamburgo (CIRANDAS, 2016). O Fórum
4. Estrutura participa do Conselho Municipal de Economia Solidária com sete
organizativa e representantes de empreendimentos (CIRANDAS, 2016).
dinâmica de Sua estrutura organizativa é composta por uma Coordenação Municipal,
funcionamento formada por representantes de todos os segmentos que integrarem as
atividades efetivas do FMEPS, por um secretário e por um tesoureiro, tal
como consta nos artigos 14º a 20º de seu Regimento Interno (CIRANDAS,
2016, p. 4).
Avanços: Desde maio de 2006, em que foi fundado o FMEPS-NH, até o
presente momento, muitos avanços e desafios marcaram a sua trajetória.
Dentre os principais avanços estão as parcerias efetivadas com o poder
público e privado, dentre as quais destacam-se: a Associação Beneficente
Evangélica da Floresta Imperial (ABEFI), a Cáritas Diocesana de Novo
Hamburgo, a Secretaria de Economia Solidária e Apoio à Micro e
5. Avanços e Pequena Empresa (SESAMPE), a Prefeitura Municipal de Novo
desafios Hamburgo e a Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS).
Desafios: a quantidade elevada e crescente de resíduos sólidos não
reciclados, a violação de direitos dos trabalhos em Economia Solidária, a
resistência da classe empresarial ao crescimento e ao desenvolvimento de
determinados projetos ou programa de Economia Solidária, como, por
exemplo, o Programa Catavida (GUTBIER; GOETZ; RAMBO, 2014).
Tabela 3. Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Novo Hamburgo – RS.

FÓRUM MUNICIPAL DE ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA DE CANOAS – RS


Variáveis de
Desempenho
interesse
O Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas foi fundado no início
dos anos 2000, há dezesseis anos.
A partir da formalização da sua criação, e da Cooperativa dos Trabalhadores
Metalúrgicos de Canoas (CTMC), originada da luta dos trabalhadores da
1. Fundação empresa Vogg S.A.
Indústria Metalúrgica que, em março de 2001, uma longa trajetória de
desafios e avanços principiou para o Movimento da Economia Solidária de
Canoas (PREFEITURA DE CANOAS, 2015; 2016; FBES, 2015; 2016a;
2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f).
Participam do Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas muitas
dezenas de pessoas, dentre elas integrantes de empreendimentos da
alimentação, artesanato, pesca e agricultura familiar, integrantes de
organizações de assessoria e gestores públicos (PREFEITURA DE
2. Participantes
CANOAS, 2015). Ele é atualmente composto por 56 grupos, dentre os quais
4 de alimentação, 2 de agricultura familiar urbana e 50 de artesãos
(PREFEITURA DE CANOAS, 2015; 2016; FBES, 2015; 2016a; 2016b;
2016c; 2016d; 2016e; 2016f).
99

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas se reuniu no dia 5 de


agosto de 2014 com o objetivo de eleger um coordenador que, dentre as
suas atividades, seria responsável pela elaboração de uma proposta de
estatuto e regimento interno para o Fórum. Ou seja, até esta data, com mais
de 13 anos de existência, o seu Fórum ainda não tinha nem estatuto nem
3. Regimento regimento interno. Desde então eles encontram-se em fase de elaboração
Interno e Lei (FBES, 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f; PREFEITURA DE
Municipal de CANOAS, 2014; 2016).
Economia Solidária Em 18 de dezembro de 2012, foi sancionada e promulgada pelo poder
público municipal de Canoas a Lei 5717, que institui a política de fomento à
Economia Popular Solidária no município, estabelece o programa Centros
de Economia Solidária e dá outras providências (PREFEITURA DE
CANOAS, 2016).
O Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas reúne-se
mensalmente com os seus participantes para promover discussões que giram
em torno dos seguintes temas: a) necessidades, avanços e desafios dos
Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs) locais existentes, e a
4. Estrutura
criação de novos EESs; b) participação de seus EESs locais nas suas feiras
organizativa e
anuais e na festa de aniversário do município; c) a efetivação e a
dinâmica de
manutenção das parcerias realizadas com o poder público municipal e com
funcionamento
entidades privadas, dentre elas associações, empresas e universidades; d)
aplicação e necessidade de reelaboração da Lei Municipal de Economia
Solidária de Canoas (PREFEITURA DE CANOAS, 2015; 2016).
5. Avanços e Avanços: Parcerias públicas e privadas impulsionaram a criação e o
desafios desenvolvimento de seus Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs),
de seus eventos, de suas atividades em geral. Por meio das feiras temáticas
na cidade, foram conquistados espaços para a venda de seus produtos
artesanais. Em 12 de junho de 2014, hoje já com dois anos de existência, foi
fundada a Loja da Economia Solidária de Canoas, empreendimentos já
consolidado e de sucesso que contribui significativamente para a cidadania
e a qualidade na vida das pessoas que ali vivem (ROSA, 2013).
Desafios: Foi um grande desafio vencer as primeiras resistências por parte
de vereadores, de secretários municipais e do prefeito ao avanço do
Movimento da Economia Solidária nesta cidade (ROSA, 2013). Resultados
de crescimento e desenvolvimento da economia solidária local são cobrados
constantemente por parte das secretarias municipais ligadas ao movimento
EcoSol. Então, para manter as parcerias realizadas com o poder público
municipal as lideranças da EcoSol canoense precisam se estar sempre
acompanhando de perto a atuação de cada um dos seus EES, verificando as
suas necessidades, fornecendo-lhes todos os meios necessários para o seu
adequado funcionamento, crescimento e desenvolvimento (PREFEITURA
DE CANOAS, 2016).
Tabela 4. Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Canoas – RS.

FÓRUM MUNICIPAL DE ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA DE CONTAGEM – MG


Variáveis de
Desempenho
interesse
100

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem (MG) foi fundado


no dia 13 de junho de 2011, como um espaço permanente de representação,
diálogo, articulação, posição, troca de saberes, formação, deliberação,
fomento e desenvolvimento da Economia Solidária. Congrega
empreendimentos solidários, entidades de assessoria e fomento, gestores
públicos e outras pessoas comprometidas com os princípios e valores da
1. Fundação Economia Solidária (ES) e com objetivos e princípios do Fórum Brasileiro
de Economia Solidária (FBES). O Fórum é um Instrumento do Movimento
da Economia Solidária.
Ele foi criado com o objetivo geral de fortalecer o Movimento da Economia
Solidária, difundindo seus princípios e prática, representando-o frente à
sociedade e aos Poderes Públicos e articulando-o no município Contagem
(FICKER et al, 2012).
Dentre os participantes do Fórum Municipal de Economia Solidária de
Contagem/MG estão: a) representantes de seus Empreendimentos
Econômicos Solidários, dentre eles associações de trabalho, cooperativas,
empresas de autogestão e grupos informais em vista de geração de trabalho
2. Participantes
e renda; b) representantes de entidades de assessoria e fomento; c)
representantes do poder público; d) pessoas físicas que assumem a causa da
Economia Solidária ou simpatizam com o Movimento (FICKER et al,
2012).
O Regimento Interno do Fórum Municipal de Economia Solidária de
Contagem (MG) foi aprovado, pela maioria absoluta (dois terços) dos
participantes da Assembleia de Fundação, em Plenária Mensal em 11 de
setembro de 2012 (FICKER et al, 2012). Nesta mesma reunião foi
3. Regimento
estabelecido que a sua sustentabilidade é dada por uma taxa de contribuição
Interno e Lei
mensal dos membros efetivos no valor monetário de R$5,00 (cinco reais),
Municipal de
por meio de seu representante, e de verbas procedentes de projetos para
Economia Solidária
ações específicas, elaborados e propostos pelas entidades que o apoiam e ou
o fomentam, ou outra entidade que lhe possa oferecer este suporte e que
tenha atuação em Economia Popular Solidária (FICKER et al, 2012).
O Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem (MG) foi
4. Estrutura estruturalmente organizado em grupos de trabalho, elegendo-se de seus
organizativa e participantes uma coordenação, composta por 05 (cinco) membros eleitos
dinâmica de pela Plenária, por um período de 01 ano permitida a recondução por
funcionamento processo eletivo, sendo 03 (três) EES – Empreendimentos Econômicos
Solidários, 01 (um) EAF – Entidade de Apoio e Fomento e 01 (um) GP –
Gestor Público (FICKER et al, 2012). Para melhor orientar as suas
atividades, dentre os seus membros eleitos, foram elegidos: um secretário e
seu vice, e um tesoureiro e seu vice (FICKER et al, 2012).
No que concerne à sua dinâmica de funcionamento, o Fórum Municipal de
Economia Solidária de Contagem (MG) reúne-se mensalmente, em caráter
ordinário e extraordinário, quando convocado pela Coordenação ou pela
maioria simples dos membros efetivos (FICKER et al, 2012). Sua Plenária,
seu órgão máximo de deliberação, acontece no Centro de Formação do
Trabalhador de Contagem (CEFORT) toda segunda-feira de cada mês,
iniciando pontualmente às 14h30, e tem a pauta preparada pela
coordenação. São públicas, abertas à participação de pessoas físicas,
entidades públicas e privadas que não sejam seus membros efetivos do
101

Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem/MG, com direito a


voz, mas sem direito a voto. Apesar de nem sempre se fazerem presentes
todos os membros, esforços são feitos pela sua Coordenação no sentido de
manter ativos todos os seus membros, sobretudo os de seus Grupos de
Trabalho (FICKER et al, 2012).
A Lei Municipal de Economia Solidária de Contagem, Lei número 4025, de
18 de junho de 2006, cria diretrizes e estabelece princípios fundamentais e
objetivos da Política Municipal de fomento à Economia Popular e Solidária
de Contagem, e dá outras providências (PREFEITURA DE CONTAGEM,
2006).
Avanços: No início de 2014, foi reativado o Centro Público de Economia
Popular Solidária do Município de Contagem, antigo Centro de Formação
do Trabalhador (CEFORT) (PREFEITURA DE CONTAGEM, 2010;
2013;
2014; JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014). Ele representa grandes
avanços ao Movimento de EcoSol em Contagem porque é o espaço onde se
realizam as reuniões mensais do seu Fórum, momento de rico intercâmbio
de experiências, delineamento de estratégias de crescimento e de
desenvolvimento para a EcoSol do município (PREFEITURA DE
CONTAGEM, 2010; 2013; JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014).
Ademais, no CEFORT são prestados vários serviços à comunidade, dentre
eles o cadastramento para o SINE, orientações para a elaboração de
currículos, oferta 20 a 25 vagas para os cursos de Estética & Beleza, Corte
& Costura, Manicure & Pedicure, Confecção de calçados, Confecção de
roupas, Fabricação de produtos de limpeza (PREFEITURA DE
5. Avanços e CONTAGEM, 2010; 2013; JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014).
desafios Desafios: Manter o apoio do poder público municipal. Por exemplo, por
exemplo, por causa da grande dificuldade em se manter o apoio do poder
público municipal, diante das exigências e resistências por ele impostas, o
Centro Público de Economia Popular Solidária de Contagem foi desativado
por seis anos, sendo, com muitos esforços de seus participantes, com muito
diálogo com vereadores, secretários municipais e lideranças empresariais do
município, reativado no início de 2014, voltando a beneficiar centenas de
milhares de seus habitantes (PREFEITURA DE CONTAGEM, 2010; 2013;
JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014).
Tabela 5. Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Contagem – MG.

FÓRUM MUNICIPAL DE ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA DE SÃO CARLOS – SP


Variáveis de
Desempenho
interesse
O Fórum Municipal de Economia Solidária de São Carlos foi criado em
2005, constituindo-se o responsável, consoante informa o blog denominado
Economia Solidária em São Carlos (ECOSOL, 2012).
1. Fundação Ele é uma organização democrática dos atores da Economia Solidária
sãocarlense para o desenvolvimento deste movimento no município e para a
articulação com as outras instâncias regionais, nacionais e internacionais de
Economia Solidária (ECOSOL, 2012).
2. Participantes Do total de 18 empreendimentos contemplados pela pesquisa de Cambiaghi
102

(2012, p. 85), “69% atuam no ramo do comércio (produtos artesanais,


alimentos orgânicos, vestimentas) e 31% no de serviços (de limpeza, coleta
de resíduos, alimentício, segurança e vigilância)”. Em seu conjunto, “os
empreendimentos contemplam cerca de 600 trabalhadores, sendo que 83,3%
deles foram formados a partir do ano de 2001”.
Participam e podem participar do Fórum de Economia Solidária de São
Carlos, por meio de adesão à sua Carta de Princípios (ECOSOL, 2012): a)
Empreendimentos populares com diferentes arranjos e tamanhos como
cooperativas populares, associações, empresas autogestionárias; b)
Empreendimentos autogestionários provenientes de empresas em situação
falimentar; c) Entidades de fomento (incubadoras de cooperativas, etc.); d)
Rede de gestores de políticas públicas de Economia Solidária; e) Frente
parlamentar; f) Movimentos sociais; g) Organizações coletivas, como
Redes de cooperação de iniciativas individuais ou coletivas, consumo justo,
ético e solidário, cadeias produtivas solidárias, clubes de trocas, crédito
produtivo e popular, entre outros.
Até 2012, mais de 30 Empreendimentos Econômicos Solidários
participavam da Economia Solidária de São Carlos, consoante Cambiaghi
(2012) informa, a saber: Aparelho Coletivo, Araucarte – Criações
Artesanais; ArtenaAtiva; Artesanato Amor & Arte; Associação Amigo
Carroceiro e Cavaleiro de São Carlos – AACCSC; Associação Cultural
Raízes Sertanejas; Associação de Microempreendedores Individuais –
AMEI; Associação do Comércio Alternativo de São Carlos – ACASC;
Associação dos Artesãos e Artistas de São Carlos – AARTESCAR;
Associação Maria Fuxico; Ateliê Caminho das Artes; Ateliê Coletivo; Casa
Fora do Eixo São Carlos; Coletivo Terra a Terra Arquitetura; ConsumoSol
– Articulação Ética e Responsável para um Consumo Solidário;
Cooperativa das Artistas em Trabalhos Manuais – COART'M; Cooperativa
de Coletores de Materiais Recicláveis de São Carlos – Coopervida;
Cooperativa de Produção de Mudas de Santa Eudóxia – COOPERMUDAS;
Cooperativa de Serviços Turísticos – TURÍSTICA; Cooperativa de
Trabalho Pioneira e Realizadora de Entregas Xeque-Mate de São Carlos –
COOPERDEX; Cooperativa dos Trabalhadores em Confecções São Carlos
– COOSTURARTE; Grupo do Assentamento Santa Helena; Grupo Frutos
da Terra; Grupo Natuarte; Grupo 'Raízes do Café' – resgate cultural do
artesanato; Grupo Tecelagem; Horta Orgânica Comunitária Aracy; Janela
Aberta – Associação Instituto Cultural Janela Aberta; Kooperi; Magia do
Artesanato; RECRIART; Solaris Artesanato; Trabalhadores da Central de
Triagem de Resíduos de Construção de Demolição; Unidos pela Arte –
Associação Cultural dos Artesãos e Artistas de São Carlos – UNIARTE.
No dia 10 de agosto de 2013 foi discutido, lido por completo e aprovado o
3. Regimento Regimento Interno do Fórum Municipal de Economia Solidária de São
Interno e Lei Carlos, numa assembleia de aprovação para a qual todos os
Municipal de Empreendimentos Econômicos Solidários locais, entidades de apoio e
Economia Solidária fomento e gestores públicos do município foram convidados (FBES, 2013;
CIRANDAS, 2013).
No que tange à sua Lei Municipal de Economia Solidária, ela foi
aprovada e sancionada no dia 26 de fevereiro de 2010, Lei nº 15.196, que
dispões sobre o Programa de Fomento à Economia Solidária e dá outras
103

providências (PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010). Sua execução foi


incumbida, consoante explana a referida lei, pela Secretaria Municipal de
Trabalho, Emprego e Renda, responsável por estabelecer normas e
procedimentos para a sua implementação, acompanhamento,
monitoramento e avaliação. Além disto, ela cria o seu Centro Público de
Economia Solidária e o seu Centro de Comércio Justo e Solidário
(PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010).
O Fórum Municipal de Economia Solidária de São Carlos encontra-se
estruturado em uma Comissão Executiva e uma Comissão de Comunicação.
A primeira é composta por: 2 representantes titulares dos
Empreendimentos; 2 representantes suplentes dos Empreendimentos; 1
representante titular de entidade de apoio e fomento; 1 representante
suplente de entidade de apoio e fomento; 1 representante titular da gestão
pública; 1 representante suplente da gestão pública. A segunda é composta
por: 3 membros titulares e 3 suplentes, sendo necessariamente um
4. Estrutura representante titular e outro suplente de Empreendimento (NuMI-EcoSol,
organizativa e 2016c, p. 5 e 7).
dinâmica de O FMES de São Carlos se reúne mensalmente e,
funcionamento extraordinariamente, quando convocado pela Comissão Executiva ou pela
maioria (dois terços) dos seus membros efetivos. Todas as suas decisões são
tomadas em coletivo, em suas instâncias de deliberação, em consenso entre
os seus membros com direito a voto (NuMI-EcoSol, 2016a).
No fito de resolver demandas específicas, o FMES de São Carlos
constitui Comissões Temporárias, caso necessário, compostas dentre seus
membros efetivos. As sínteses de suas reuniões são registradas e
apresentadas nas reuniões ordinárias e extraordinárias do Fórum (NuMI-
EcoSol, 2016b).
Avanços: A Ecosol de São Carlos tomou impulso a partir da posse de
Newton Lima Neto, ex-reitor da UFSCar, como o prefeito do município.
5. Avanços e Na sua gestão foi dado início às atividades de construção de uma política
desafios pública de economia solidária por meio do Programa de fomento à
Economia Solidária. Inicialmente, as atividades eram desenvolvidas sob o
Departamento de Desenvolvimento Sustentável e Tecnológico (DDST),
vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência
e Tecnologia (SMDSCT). Em 2002, Newton aprova a criação da Seção de
Fomento à Economia Solidária, subordinada ao DDST. Por meio de
processo licitatório, a Cooperlimp foi contratada para serviços de limpeza e
a Coopercook para assumir a cozinha industrial para abastecimento do
restaurante popular municipal (CAMBIAGHI, 2012).
Ainda na gestão municipal sãocarlense 2001-2004, precisamente em
2002, foi proibido o acesso ao aterro sanitário municipal, oportunidade esta
que contribuiu para a formação, a priori, da Cooperativa dos Coletores de
Materiais Recicláveis de São Carlos (Ecoativa), da Cooperativa de
Coletores de Materiais Recicláveis de São Carlos (Coopervida), e, a
posteriori, da Cooperativa de Coletores de Materiais Recicláveis do Jardim
Gonzaga (Cooletiva), cuja infraestrutura passou a ser mantida pela
prefeitura municipal (CAMBIAGHI, 2012).
Na gestão municipal seguinte, 2005-2008, Newton foi reeleito, e
institucionalizou a EcoSol no município, por meio da criação do
Departamento de Apoio à Economia Solidária (DAES), vinculado à
104

Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e


Tecnologia pela Lei municipal no 13.486 de 16 de dezembro de 2004, o
que, consoante Cambiaghi (2012, p. 84) “permitiu um maior
reconhecimento da economia solidária no município, estando de fato no
organograma da prefeitura e com suas atribuições e responsabilidades
definidas”. Em outubro de 2004 foi organizada uma comissão para
elaboração da proposta do Centro Público. Em abril de 2005 foi realizada
uma oficina de diretrizes para formulação e implementação; em outubro foi
formada uma comissão para elaboração da proposta de seu Centro Público;
em novembro foi realizada uma audiência pública para discussão da
instalação do Centro Público. Em junho de 2006 foi assinado o Convênio;
em em agosto foi realizada uma reunião preparatória para a instalação e
lançamento do Centro Público; em novembro foi realizado o III Encontro de
EcoSol no município, que resultou nos encaminhamentos necessários sobre
a instalação e funcionamento do Centro Público. De janeiro a dezembro de
2007 ocorreu a operacionalização das compras, das licitações e das
instalações do Centro Público bem como a aprovação do seu Regimento
Interno. Em 2008 foi, então, inaugurado o tão almejado Centro Público de
Economia Solidária “Herbert de Souza – Betinho” (CAMBIAGHI, 2012).
Todos estes grandes avanços do movimento de Economia Solidária
no município de São Carlos tiveram a participação do seu poder público
municipal, dos Empreendimentos Econômicos Solidários sãocarlenses, do
Departamento de Apoio de Economia Solidária de São Carlos, do Núcleo
Multidisciplinar Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em
Economia Solidária – NUMI-ECOSOL, mantido pela UFSCar, de
organizações da sociedade civil (CAMBIAGHI, 2012; ECOSOL,
2012; PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010; 2015).
O Núcleo Multidisciplinar Integrado de Estudos, Formação e
Intervenção em Economia Solidária – NuMI-EcoSol23 – é uma unidade de
ensino, pesquisa e extensão criada pela Resolução ConsUni 698, de 12 de
Agosto de 2011, vinculada diretamente à Reitoria da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar) e sucessora do Programa de Extensão Incubadora
Regional de Cooperativas Populares da Universidade Federal de São Carlos
(INCOOP-UFSCar) (NuMI-EcoSol, 2016). Desde a criação do Centro
Público de Economia Solidária “Herbert de Souza – Betinho” já foram
realizadas até este ano três Conferências Municipais de Economia Solidária,
nas quais resultados significativos foram produzidos (CAMBIAGHI, 2012;
ECOSOL, 2012; PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010; 2015; 2016).
Desafios: a grande dificuldade de financiamento dos EES locais com
recursos próprios; a necessidade de melhoria na articulação interna entre os
membros em vários dos seus EES locais; a não concretização da elaboração
de um Regimento Interno para o seu Fórum Municipal de Economia
Solidária; a não concretização da elaboração de um projeto político-
pedagógico para a sua linha de ação Fomento ao Movimento de Economia
Solidária, o que, sem dúvida, tão logo que for elaborado e implementado

23
O NuMI-EcoSol, enquanto Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, desde sua criação, empenha-se em
buscar financiamento externo, por meio de editais e convênios, a fim de desenvolver seus projetos e contratar pessoal
capacitado e bolsistas para desenvolverem estas atividades. Vários destes projetos e convênios que o NuMI-EcoSol já
participou e executou podem ser consultados em <http://www.numiecosol.ufscar.br/extensao/projetos-encerrados>.
105

articulará todas as suas linhas de ação dentro do mesmo escopo, princípios,


estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento, facilitando a
identificação das suas necessidades e a consecução das suas atividades,
indicando os melhores caminhos para o seu desenvolvimento.
Tabela 6. Desempenho do Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de São Carlos – SP.
106

5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 Conclusões

5.1.1 Gerais

Os Fóruns Municipais brasileiros de Economia Popular Solidária (FMEPS) são espaços


organizados democraticamente, em âmbito municipal, por atores da Economia Solidária para: a) a
aproximação e a integração dos empreendimentos econômicos solidários; b) a discussão,
organização, formulação, implementação, monitoramento e representação deste movimento; b) a
articulação com as outras instâncias regionais, nacionais e internacionais do mesmo.
Entretanto, os fóruns municipais brasileiros de Economia Solidária são ainda escassos e
pouco estruturados devido à incipiência da regulação que paulatinamente se constrói sobre este
movimento na nação brasileira, e carecem, em sua maioria, para a sua adequada estruturação, de um
Regimento Interno adequadamente elaborado e aplicado, reuniões regulares e significativas com os
membros, participação ativa de todos ou pelo menos da maioria, instalações físicas com recursos
tecnológicos e espaços apropriados para sediar eventos municipais do movimento, e apoio do
governo municipal (prefeitura, câmara dos vereadores).
De mais a mais, dos seis FMEPS investigados, o de São Carlos está, a meu ver, melhor
estruturado que os demais. Sua atuação é mais focada, as contribuições do NuMI-EcoSol são
significativamente benéficas, por meio da Atividade Curricular de Integração de Ensino, Pesquisa e
Extensão (ACIEPE) e cursos de extensão ofertados, além de funcionar como uma Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), prestando assessoria aos Empreendimentos
Econômicos Solidários de São Carlos.

5.1.2 FMEPS de Teresina – PI

Fundação

O Fórum Municipal de Economia Popular e Solidária de Teresina (FMEPS-TE), capital do


Estado do Piauí, foi instituído em 21 de fevereiro de 2014, após muitos esforços dos atores de
Economia Solidária locais desta cidade, contando com a adesão de 40 entidades no ato (SOUZA et
al, 2015; PORTAL PMT, 2015). Baseado no trinômio fundamental da Economia Solidária, isto é, na
integração e na articulação entre este movimento, o poder público e a participação social, o FMEPS
já teve alguns avanços, dentre os quais a realização da I Conferência Municipal de Economia
Solidária, que articulou e integrou “as diferentes políticas públicas que abrangem Economia
Solidária e elaborou um plano estadual, que foi levado para a Conferência Nacional de Economia
Solidária no final de 2014”.

Participantes

Participam do FMEPS-TE representantes dos Empreendimentos Econômicos Solidários da


localidade, do governo local e da sociedade civil. Dentre estes representantes, destacam-se membros
de vários segmentos de artesanato, pequenos produtores rurais, grupos ligados à cultura, à
assessoria e ao fomento de políticas sociais. A Coordenação Geral do FMEPS-TE reúne-se uma vez
por mês, e convoca uma reunião com todos os participantes uma vez a cada dois meses. Ás vezes, a
convocação para a reunião geral é negligenciada, mas os coordenadores buscam contornar esta
situação incentivando os participantes, mostrando para eles os benefícios oriundos desta
participação coletiva geral em prol dos avanços locais do movimento em geral e de cada um dos
seus EES em específico.
107

Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária

O seu Regimento Interno foi elaborado pelos seus participantes levando-se em consideração
que: a) a necessidade de normas de relacionamento entre os participantes nas reuniões realizadas em
prol do movimento local de Economia Solidária; b) a necessidade de um espaço adequado para
intercâmbio e troca de saberes teóricos e práticos sobre a ES; c) a região nordeste concentra o maior
percentual de EES do país; d) Piauí e Teresina, tal como a região Nordeste, tem um número
substancial desses empreendimentos.
A Lei Municipal de Economia Solidária de Teresina foi elaborada por seus legisladores
locais (vereadores) com base em reuniões realizadas com participantes dos EES e do FMEPS-TE, e
aprovado por seu Executivo local, levando-se em consideração os seguintes fatos: a) a região
nordeste concentra o maior percentual de EES do país; b) Piauí e Teresina, tal como a região
Nordeste, tem um número substancial desses empreendimentos c) em 2005, o Estado do Piauí
contava com 1.066 empreendimentos de Economia Solidária (7,1% do EES brasileiros), espalhados
por 224 municípios; d) em 2007, Teresina contava com 124 EES registrados no SIES (Sistema
Nacional de Economia Solidária); e) a Secretaria Municipal de Economia Solidária de Teresina
(SEMEST) atualmente acompanha 10.000 (dez mil) EES, que realizam atividades formais e
informais nos mais diversos setores de produção e serviços.

Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

As vivências coletivas possibilitadas pela criação do FMEPS-TE são tidas como importantes
para todos os participantes do movimento, que, juntos e alinhados com os princípios de Economia
Solidária e normas do regimento interno do fórum, discutem as políticas públicas para o
movimento, mediam e articulam experiências, recebem capacitação específica de acordo com as
necessidades de cada EES, e contatam gestores públicos conscientizando-os da importância da ES
para a economia local e solicitando apoios pontuais.

Avanços e desafios

Avanços: relações com as esferas administrativas e com as organizações da sociedade civil,


incluindo a instalação da Secretaria Executiva, sob a responsabilidade da mencionada SEMEST,
que apoia o Fórum em diferentes momentos.

Desafios: comercialização justa; capacitação; relacionamento entre as diferentes esferas e as


entidades; infraestrutura compatível com as demandas; local adequado para funcionamento; e
disponibilidade para participação efetiva.

5.1.3 FMEPS de Belo Horizonte – MG

Fundação

O Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Belo Horizonte – FEPS-BH – foi


fundado no dia 13 de dezembro de 2011 (FBES, 2012a; 2012b). Tal como outros Fóruns Municipais
brasileiros de Economia Solidária, ele foi criado como um espaço permanente de representação,
diálogo, articulação, discussão, proposição, troca de saberes, formação, deliberação, fomento e
desenvolvimento da Economia Popular Solidária (FBES, 2012a; 2012b).

Participantes
108

O Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Belo Horizonte – FEPS-BH –


congrega empreendimentos solidários, entidades de assessoria e fomento, gestores públicos e outras
pessoas comprometidas com os princípios e valores da Economia Popular Solidária – EPS – e com
objetivos e princípios do Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES –, constituindo-se um
instrumento do Movimento da Economia Solidária (FBES, 2012a; 2012b).
Conforme se lê no seu 6º artigo, podem se filiar ou se desligar do FEPS-BH, espontânea e
livremente, representantes de EES, entidades de assessoria e fomento, gestores públicos de qualquer
esfera do governo, desde que atendam aos requisitos estabelecidos pelo seu Regimento Interno,
sendo indispensável a sua frequência nas atividades promovidas pelo Fórum (FBES, 2012a; 2012b).

Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária

O Regimento Interno do Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Belo


Horizonte – FEPS-BH – foi discutido, lido por completo e aprovado, no dia 28 de fevereiro de
2012, pela maioria absoluta (dois terços) dos seus participantes da Plenária de Fundação (FBES,
2012a; 2012b). Em 24 de março de 2011, foi decretada e sancionada a Lei Municipal nº 10.152,
dispõe sobre a Política Municipal de Fomento à Economia Popular Solidária, cria o Conselho
Municipal de Economia Popular Solidária e o Fundo Municipal de Economia Popular Solidária no
Município de Belo Horizonte, e dá outras providências (CMBH, 2011; PREFEITURA DE BH,
2011). Os princípios da Política de Fomento à Economia Popular Solidária de Belo Horizonte são:
a) o bem-estar e a justiça social; b) a primazia do trabalho, com o controle do processo produtivo
pelos trabalhadores; c) a valorização da autogestão, da cooperação e da solidariedade; d) o
desenvolvimento sustentável; e) o comércio justo; f) o consumo ético (CMBH, 2011;
PREFEITURA DE BH, 2011).

Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

Buscando cimentar os princípios de Economia Solidária, o Fórum Municipal de Economia


Popular Solidária de Belo Horizonte – FEPS-BH – foi estruturado em Grupos de Trabalho e
comissões, no fito de executar as deliberações de suas Plenárias e reuniões, o Plano de Ações, a
definição de Ações Prioritárias de seus EESs locais bem como efetivar parcerias capazes de atender
seus objetivos e demandas (FBES, 2012a; 2012b).
Os participantes do FEPS-BH reúnem-se mensalmente, na terceira terça feira de cada mês
das 14hs às 17hs, preferencialmente no no Centro Público de Economia Solidária de Belo
Horizonte, com pauta preparada pela sua Coordenação. Suas reuniões mensais são públicos, abertas
à participação pessoas físicas, entidades públicas e privadas, mesmo que não sejam membros
efetivos do seu Fórum, com direito a voz, mas sem direito a voto (FBES, 2012a; 2012b). São três as
atribuições estabelecidas para as suas reuniões mensais: a) aprovar o plano de despesa e a prestação
de contas do FEPS-BH; b) elaborar plano de trabalho, considerando deliberações da plenária; c)
discutir outros assuntos pertinentes ao movimento EcoSol não incluídos na pauta, por meio de
análise e aprovação da sua Coordenação, desde que apresentados antes da reunião (FBES, 2012a;
2012b).
A Coordenação do FEPS-BH é composta por 20 membro, sendo: 60% de Empreendimentos
Econômicos Solidários (doze), 20% de Entidade de Apoio e Fomento (quatro) e 20% de Gestores
Públicos (quatro) (FBES, 2012a; 2012b). Entre seus membros, há 4 representantes titulares e 04
suplentes, 1 secretário executivo, 2 secretários administrativos (1º e 2º), 2 tesoureiros (1º e 2º)
(FBES, 2012a; 2012b).

Avanços e desafios
109

Avanços: A Economia Solidária de Belo Horizonte cresceu bastante. Dentre os seus


principais avanços estão a criação e o funcionamento de: a) o seu Fórum Municipal de Economia
Solidária; b) o seu Centro Público de Economia Solidária (CPES-BH); c) as suas Feiras
Permanentes de Economia Solidária (PREFEITURA DE BH, 2016; BRASIL DE FATO, 2016;
REVISTA FÓRUM, 2016; FACES DO BRASIL, 2016). Por meio da implementação do Programa
de Emprego, Trabalho e Renda, o poder público municipal de Belo Horizonte proporciona ao
trabalhador, em especial aos beneficiários de programas sociais, condições de igualdade de
oportunidade ampliando a acessibilidade às vagas de emprego e aos benefícios do desenvolvimento
econômico, tecnológico e social, proporcionando a (re) construção de sua cidadania (PREFEITURA
DE BH, 2016; BRASIL DE FATO, 2016; REVISTA FÓRUM, 2016; FACES DO BRASIL, 2016).

Desafios: Os desafios no desenvolvimento da EcoSol de BH estão atrelados aos dos seus


Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs), dentre os quais encontram-se: a) a rotatividade
da força de trabalho; b) as dificuldades de gestão, ligadas à falta de capacidade técnica e ausência
de sucessores líderes na diretoria dessas organizações; c) os desafios contábeis e financeiros no que
diz respeito ao manuseio das informações; e d) os obstáculos enfrentados durante a formalização
dos Empreendimentos Solidários (SOUZA et al, 2014). Souza et al (2014) terminam o seu trabalho
sugerindo novos estudos na área de Economia Solidária que investiguem os Empreendimentos
Econômicos Solidários não formalizados, de diferentes atividades, no fito de comparar as
dificuldades entre as organizações informais e as formais.

5.1.4 FMEPS de Novo Hamburgo – RS

Fundação

O Fórum Municipal de de Economia Popular Solidária de Novo Hamburgo – FMEPS/NH24


foi fundado em maio de 2006 como um espaço permanente de interlocução, articulação, debate,
proposição, assessoria, formação e troca de saberes acerca da economia popular solidária no
município (CIRANDAS, 2016; ROSA, 2013). O objetivo do Fórum é articular, fortalecer e
representar o movimento da Economia Popular Solidária do Município frente a sociedade e aos
Poderes Públicos, contribuindo na construção de um novo modelo socioeconômico através da
orientação de ações e mobilizações em torno das bandeiras de luta, que são produção,
comercialização, consumo solidário, finanças solidárias, formação e marco legal (PREFEITURA
NOVO HAMBURGO, 2016).

Participantes

Conforme reza o artigo 7º do seu Regimento Interno, os seus participantes são:

I. Empreendimentos econômicos solidários urbanos e rurais (redes, cooperativas,


associações, empresas de autogestão, segmentos das trocas solidárias, grupos informais e
empreendimentos individuais consolidados) com direito a voz e voto;
II. Consideram-se as seguintes categorias de empreendimentos econômicos solidários: grupo
familiar – formado por dois ou mais componentes de uma mesma família, independente do que for
produzido; - grupo informal – junção de dois ou mais empreendimentos que visam, em conjunto, a
comercialização, mas com produção independente; - grupo informal e coletivo – aquele grupo que
vivencia as etapas da organização, produção e comercialização de modo coletivo; grupo social –
seus integrantes são oriundos de atividades fomentadas por órgãos públicos, organizações não-
24
Contato do Fórum: ecosolnh.2006@gmail.com; contato do Conselho: comes.nh@hotmail.com.
110

governamentais, e outras instituições sociais, e vivenciam as etapas da organização, produção e


comercialização de modo coletivo.
III. Especialmente para os grupos sociais – destaca-se que o voto deve ser dos integrantes
dos empreendimentos, e não de seus representantes institucionais.
IV. Empreendimentos econômicos solidários em potencial (familiares, e grupos vinculados
ao poder público), buscando aos poucos sua autogestão e autonomia, com direito a voz e voto;
V. Entidades de apoio, fomento e assessoria, movimentos sociais, gestores públicos
municipais, estaduais e federais parceiros e apoiadores com direito a voz e a voto, desde que tenham
participação e presença efetiva nas reuniões do FMEPS/NH.

Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária

O Regimento Interno foi estudado, discutido, realizado, analisado e aprovado pelos


participantes da diretoria do FMEPS/NH, e colocado em votação em plenária do próprio Fórum,
para aprovação, após a leitura em todos os itens, por todos os participantes que estiveram presentes
na reunião do dia 20 de abril de 2011. A Lei Municipal de Economia Solidária de Novo Hamburgo,
Lei 2246, foi criada em 29 de dezembro de 2010. Ela dispõe sobre a Política Municipal de Fomento
à Economia Solidária, cria o Conselho Municipal de Economia Solidária e o Fundo Municipal de
Economia Solidária no Município de Novo Hamburgo, e dá outras providências.

Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

O Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Novo Hamburgo – FMEPS/NH


reúne-se mensalmente, na primeira segunda de cada mês, das 14h-17h, no Espaço da Diretoria
Municipal da Economia Solidária que fica na Rodoviária de Novo Hamburgo (CIRANDAS, 2016).
O Fórum participa do Conselho Municipal de Economia Solidária com sete representantes de
empreendimentos (CIRANDAS, 2016). Sua estrutura organizativa é composta por uma
Coordenação Municipal, formada por representantes de todos os segmentos que integrarem as
atividades efetivas do FMEPS, por um secretário e por um tesoureiro, tal como consta nos artigos
14º a 20º de seu Regimento Interno (CIRANDAS, 2016, p. 4).

Avanços e desafios

Avanços: Desde maio de 2006, em que foi fundado o FMEPS-NH, até o presente momento,
muitos avanços e desafios marcaram a sua trajetória. Dentre os principais avanços estão as parcerias
efetivadas com o poder público e privado, dentre as quais destacam-se: a Associação Beneficente
Evangélica da Floresta Imperial (ABEFI), a Cáritas Diocesana de Novo Hamburgo, a Secretaria de
Economia Solidária e Apoio à Micro e Pequena Empresa (SESAMPE), a Prefeitura Municipal de
Novo Hamburgo e a Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS).

Desafios: a quantidade elevada e crescente de resíduos sólidos não reciclados, a violação de


direitos dos trabalhos em Economia Solidária, a resistência da classe empresarial ao crescimento e
ao desenvolvimento de determinados projetos ou programa de Economia Solidária, como, por
exemplo, o Programa Catavida (GUTBIER; GOETZ; RAMBO, 2014)

5.1.5 FMEPS de Canoas – RS

Fundação

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas foi fundado no início dos anos 2000,
111

há dezesseis anos. A partir da formalização da sua criação, e da Cooperativa dos Trabalhadores


Metalúrgicos de Canoas (CTMC), originada da luta dos trabalhadores da empresa Vogg S.A.
Indústria Metalúrgica que, em março de 2001, uma longa trajetória de desafios e avanços principiou
para o Movimento da Economia Solidária de Canoas (PREFEITURA DE CANOAS, 2015; 2016;
FBES, 2015; 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f).

Participantes

Participam do Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas muitas dezenas de


pessoas, dentre elas integrantes de empreendimentos da alimentação, artesanato, pesca e agricultura
familiar, integrantes de organizações de assessoria e gestores públicos (PREFEITURA DE
CANOAS, 2015). Ele é atualmente composto por 56 grupos, dentre os quais 4 de alimentação, 2 de
agricultura familiar urbana e 50 de artesãos (PREFEITURA DE CANOAS, 2015; 2016; FBES,
2015; 2016a; 2016b; 2016c; 2016d; 2016e; 2016f).

Regimento Interno e Lei Municipal de Economia Solidária

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas se reuniu no dia 5 de agosto de 2014


com o objetivo de eleger um coordenador que, dentre as suas atividades, seria responsável pela
elaboração de uma proposta de estatuto e regimento interno para o Fórum. Ou seja, até esta data,
com mais de 13 anos de existência, o seu Fórum ainda não tinha nem estatuto nem regimento
interno. Desde então eles encontram-se em fase de elaboração (FBES, 2016a; 2016b; 2016c; 2016d;
2016e; 2016f; PREFEITURA DE CANOAS, 2014; 2016). Em 18 de dezembro de 2012, foi
sancionada e promulgada pelo poder público municipal de Canoas a Lei 5717, que institui a política
de fomento à Economia Popular Solidária no município, estabelece o programa Centros de
Economia Solidária e dá outras providências (PREFEITURA DE CANOAS, 2016).

Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Canoas reúne-se mensalmente com os seus


participantes para promover discussões que giram em torno dos seguintes temas: a) necessidades,
avanços e desafios dos Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs) locais existentes, e a
criação de novos EESs; b) participação de seus EESs locais nas suas feiras anuais e na festa de
aniversário do município; c) a efetivação e a manutenção das parcerias realizadas com o poder
público municipal e com entidades privadas, dentre elas associações, empresas e universidades; d)
aplicação e necessidade de reelaboração da Lei Municipal de Economia Solidária de Canoas
(PREFEITURA DE CANOAS, 2015; 2016).

Avanços e desafios

Avanços: Parcerias públicas e privadas impulsionaram a criação e o desenvolvimento de


seus Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs), de seus eventos, de suas atividades em
geral. Por meio das feiras temáticas na cidade, foram conquistados espaços para a venda de seus
produtos artesanais. Em 12 de junho de 2014, hoje já com dois anos de existência, foi fundada a
Loja da Economia Solidária de Canoas, empreendimentos já consolidado e de sucesso que contribui
significativamente para a cidadania e a qualidade na vida das pessoas que ali vivem (ROSA, 2013).

Desafios: Foi um grande desafio vencer as primeiras resistências por parte de vereadores, de
secretários municipais e do prefeito ao avanço do Movimento da Economia Solidária nesta cidade
(ROSA, 2013). Resultados de crescimento e desenvolvimento da economia solidária local são
112

cobrados constantemente por parte das secretarias municipais ligadas ao movimento EcoSol. Então,
para manter as parcerias realizadas com o poder público municipal as lideranças da EcoSol
canoense precisam se estar sempre acompanhando de perto a atuação de cada um dos seus EES,
verificando as suas necessidades, fornecendo-lhes todos os meios necessários para o seu adequado
funcionamento, crescimento e desenvolvimento (PREFEITURA DE CANOAS, 2016).

5.1.6 FMEPS de Contagem – MG

Fundação

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem (MG) foi fundado no dia 13 de


junho de 2011, como um espaço permanente de representação, diálogo, articulação, posição, troca
de saberes, formação, deliberação, fomento e desenvolvimento da Economia Solidária. Congrega
empreendimentos solidários, entidades de assessoria e fomento, gestores públicos e outras pessoas
comprometidas com os princípios e valores da Economia Solidária (ES) e com objetivos e
princípios do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES). O Fórum é um Instrumento do
Movimento da Economia Solidária. Ele foi criado com o objetivo geral de fortalecer o Movimento
da Economia Solidária, difundindo seus princípios e prática, representando-o frente à sociedade e
aos Poderes Públicos e articulando-o no município Contagem (FICKER et al, 2012).

Participantes

Dentre os participantes do Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem/MG


estão: a) representantes de seus Empreendimentos Econômicos Solidários, dentre eles associações
de trabalho, cooperativas, empresas de autogestão e grupos informais em vista de geração de
trabalho e renda; b) representantes de entidades de assessoria e fomento; c) representantes do poder
público; d) pessoas físicas que assumem a causa da Economia Solidária ou simpatizam com o
Movimento (FICKER et al, 2012).

Regimento Interno e dinâmica de funcionamento

O Regimento Interno do Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem (MG) foi


aprovado, pela maioria absoluta (dois terços) dos participantes da Assembleia de Fundação, em
Plenária Mensal em 11 de setembro de 2012 (FICKER et al, 2012). Nesta mesma reunião foi
estabelecido que a sua sustentabilidade é dada por uma taxa de contribuição mensal dos membros
efetivos no valor monetário de R$5,00 (cinco reais), por meio de seu representante, e de verbas
procedentes de projetos para ações específicas, elaborados e propostos pelas entidades que o apoiam
e ou o fomentam, ou outra entidade que lhe possa oferecer este suporte e que tenha atuação em
Economia Popular Solidária (FICKER et al, 2012).

Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

O Fórum Municipal de Economia Solidária de Contagem (MG) foi estruturalmente


organizado em grupos de trabalho, elegendo-se de seus participantes uma coordenação, composta
por 05 (cinco) membros eleitos pela Plenária, por um período de 01 ano permitida a recondução por
processo eletivo, sendo 03 (três) EES – Empreendimentos Econômicos Solidários, 01 (um) EAF –
Entidade de Apoio e Fomento e 01 (um) GP – Gestor Público (FICKER et al, 2012). Para melhor
orientar as suas atividades, dentre os seus membros eleitos, foram elegidos: um secretário e seu
vice, e um tesoureiro e seu vice (FICKER et al, 2012).
No que concerne à sua dinâmica de funcionamento, o Fórum Municipal de Economia
113

Solidária de Contagem (MG) reúne-se mensalmente, em caráter ordinário e extraordinário, quando


convocado pela Coordenação ou pela maioria simples dos membros efetivos (FICKER et al, 2012).
Sua Plenária, seu órgão máximo de deliberação, acontece no Centro de Formação do Trabalhador
de Contagem (CEFORT) toda segunda-feira de cada mês, iniciando pontualmente às 14h30, e tem a
pauta preparada pela coordenação. São públicas, abertas à participação de pessoas físicas, entidades
públicas e privadas que não sejam seus membros efetivos do Fórum Municipal de Economia
Solidária de Contagem/MG, com direito a voz, mas sem direito a voto. Apesar de nem sempre se
fazerem presentes todos os membros, esforços são feitos pela sua Coordenação no sentido de
manter ativos todos os seus membros, sobretudo os de seus Grupos de Trabalho (FICKER et al,
2012).
A Lei Municipal de Economia Solidária de Contagem, Lei número 4025, de 18 de junho de
2006, cria diretrizes e estabelece princípios fundamentais e objetivos da Política Municipal de
fomento à Economia Popular e Solidária de Contagem, e dá outras providências (PREFEITURA
DE CONTAGEM, 2006).

Avanços e desafios

Avanços: No início de 2014, foi reativado o Centro Público de Economia Popular Solidária
do Município de Contagem, antigo Centro de Formação do Trabalhador (CEFORT) (PREFEITURA
DE CONTAGEM, 2010; 2013; 2014; JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014). Ele representa
grandes avanços ao Movimento de EcoSol em Contagem porque é o espaço onde se realizam as
reuniões mensais do seu Fórum, momento de rico intercâmbio de experiências, delineamento de
estratégias de crescimento e de desenvolvimento para a EcoSol do município (PREFEITURA DE
CONTAGEM, 2010; 2013; JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014). Ademais, no CEFORT são
prestados vários serviços à comunidade, dentre eles o cadastramento para o SINE, orientações para
a elaboração de currículos, oferta 20 a 25 vagas para os cursos de Estética & Beleza, Corte &
Costura, Manicure & Pedicure, Confecção de calçados, Confecção de roupas, Fabricação de
produtos de limpeza (PREFEITURA DE CONTAGEM, 2010; 2013; JORNAL REGIONAL
CONTAGEM, 2014).

Desafios: Manter o apoio do poder público municipal. Por exemplo, por exemplo, por causa
da grande dificuldade em se manter o apoio do poder público municipal, diante das exigências e
resistências por ele impostas, o Centro Público de Economia Popular Solidária de Contagem foi
desativado por seis anos, sendo, com muitos esforços de seus participantes, com muito diálogo com
vereadores, secretários municipais e lideranças empresariais do município, reativado no início de
2014, voltando a beneficiar centenas de milhares de seus habitantes (PREFEITURA DE
CONTAGEM, 2010; 2013; JORNAL REGIONAL CONTAGEM, 2014).

5.1.7 FMEPS de São Carlos – SP

Fundação

O Fórum Municipal de Economia Solidária de São Carlos foi criado em 2005, constituindo-
se o responsável, consoante informa o blog denominado Economia Solidária em São Carlos
(ECOSOL, 2012). Ele é uma organização democrática dos atores da Economia Solidária
sãocarlense para o desenvolvimento deste movimento no município e para a articulação com as
outras instâncias regionais, nacionais e internacionais de Economia Solidária (ECOSOL, 2012).

Participantes
114

Do total de 18 empreendimentos contemplados pela pesquisa de Cambiaghi (2012, p. 85),


“69% atuam no ramo do comércio (produtos artesanais, alimentos orgânicos, vestimentas) e 31% no
de serviços (de limpeza, coleta de resíduos, alimentício, segurança e vigilância)”. Em seu conjunto,
“os empreendimentos contemplam cerca de 600 trabalhadores, sendo que 83,3% deles foram
formados a partir do ano de 2001”.
Participam e podem participar do Fórum de Economia Solidária de São Carlos, por meio de
adesão à sua Carta de Princípios (ECOSOL, 2012): a) Empreendimentos populares com diferentes
arranjos e tamanhos como cooperativas populares, associações, empresas autogestionárias; b)
Empreendimentos autogestionários provenientes de empresas em situação falimentar; c) Entidades
de fomento (incubadoras de cooperativas, etc.); d) Rede de gestores de políticas públicas de
Economia Solidária; e) Frente parlamentar; f) Movimentos sociais; g) Organizações coletivas, como
Redes de cooperação de iniciativas individuais ou coletivas, consumo justo, ético e solidário,
cadeias produtivas solidárias, clubes de trocas, crédito produtivo e popular, entre outros.
Até 2012, mais de 30 Empreendimentos Econômicos Solidários participavam da Economia
Solidária de São Carlos, consoante Cambiaghi (2012) informa, a saber: Aparelho Coletivo,
Araucarte – Criações Artesanais; ArtenaAtiva; Artesanato Amor & Arte; Associação Amigo
Carroceiro e Cavaleiro de São Carlos – AACCSC; Associação Cultural Raízes Sertanejas;
Associação de Microempreendedores Individuais – AMEI; Associação do Comércio Alternativo de
São Carlos – ACASC; Associação dos Artesãos e Artistas de São Carlos – AARTESCAR;
Associação Maria Fuxico; Ateliê Caminho das Artes; Ateliê Coletivo; Casa Fora do Eixo São
Carlos; Coletivo Terra a Terra Arquitetura; ConsumoSol – Articulação Ética e Responsável para um
Consumo Solidário; Cooperativa das Artistas em Trabalhos Manuais – COART'M; Cooperativa de
Coletores de Materiais Recicláveis de São Carlos – Coopervida; Cooperativa de Produção de Mudas
de Santa Eudóxia – COOPERMUDAS; Cooperativa de Serviços Turísticos – TURÍSTICA;
Cooperativa de Trabalho Pioneira e Realizadora de Entregas Xeque-Mate de São Carlos –
COOPERDEX; Cooperativa dos Trabalhadores em Confecções São Carlos – COOSTURARTE;
Grupo do Assentamento Santa Helena; Grupo Frutos da Terra; Grupo Natuarte; Grupo 'Raízes do
Café' – resgate cultural do artesanato; Grupo Tecelagem; Horta Orgânica Comunitária Aracy; Janela
Aberta – Associação Instituto Cultural Janela Aberta; Kooperi; Magia do Artesanato; RECRIART;
Solaris Artesanato; Trabalhadores da Central de Triagem de Resíduos de Construção de Demolição;
Unidos pela Arte – Associação Cultural dos Artesãos e Artistas de São Carlos – UNIARTE.

Regimento Interno e dinâmica de funcionamento

No dia 10 de agosto de 2013 foi discutido, lido por completo e aprovado o Regimento
Interno do Fórum Municipal de Economia Solidária de São Carlos, numa assembleia de aprovação
para a qual todos os Empreendimentos Econômicos Solidários locais, entidades de apoio e fomento
e gestores públicos do município foram convidados (FBES, 2013; CIRANDAS, 2013).
No que tange à sua Lei Municipal de Economia Solidária, ela foi aprovada e sancionada no
dia 26 de fevereiro de 2010, Lei nº 15.196, que dispões sobre o Programa de Fomento à Economia
Solidária e dá outras providências (PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010). Sua execução foi
incumbida, consoante explana a referida lei, pela Secretaria Municipal de Trabalho, Emprego e
Renda, responsável por estabelecer normas e procedimentos para a sua implementação,
acompanhamento, monitoramento e avaliação. Além disto, ela cria o seu Centro Público de
Economia Solidária e o seu Centro de Comércio Justo e Solidário (PREFEITURA DE SÃO
CARLOS, 2010).

Estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento

O Fórum Municipal de Economia Solidária de São Carlos encontra-se estruturado em uma


115

Comissão Executiva e uma Comissão de Comunicação. A primeira é composta por: 2


representantes titulares dos Empreendimentos; 2 representantes suplentes dos Empreendimentos; 1
representante titular de entidade de apoio e fomento; 1 representante suplente de entidade de apoio e
fomento; 1 representante titular da gestão pública; 1 representante suplente da gestão pública. A
segunda é composta por: 3 membros titulares e 3 suplentes, sendo necessariamente um
representante titular e outro suplente de Empreendimento (NuMI-EcoSol, 2016c, p. 5 e 7).
O FMES de São Carlos se reúne mensalmente e, extraordinariamente, quando convocado
pela Comissão Executiva ou pela maioria (dois terços) dos seus membros efetivos. Todas as suas
decisões são tomadas em coletivo, em suas instâncias de deliberação, em consenso entre os seus
membros com direito a voto (NuMI-EcoSol, 2016a).
No fito de resolver demandas específicas, o FMES de São Carlos constitui Comissões
Temporárias, caso necessário, compostas dentre seus membros efetivos. As sínteses de suas
reuniões são registradas e apresentadas nas reuniões ordinárias e extraordinárias do Fórum (NuMI-
EcoSol, 2016b).

Avanços e desafios

Avanços: A Ecosol de São Carlos tomou impulso a partir da posse de Newton Lima Neto,
ex-reitor da UFSCar, como o prefeito do município. Na sua gestão foi dado início às atividades de
construção de uma política pública de economia solidária por meio do Programa de fomento à
Economia Solidária. Inicialmente, as atividades eram desenvolvidas sob o Departamento de
Desenvolvimento Sustentável e Tecnológico (DDST), vinculado à Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia (SMDSCT). Em 2002, Newton aprova a
criação da Seção de Fomento à Economia Solidária, subordinada ao DDST. Por meio de processo
licitatório, a Cooperlimp foi contratada para serviços de limpeza e a Coopercook para assumir a
cozinha industrial para abastecimento do restaurante popular municipal (CAMBIAGHI, 2012).
Ainda na gestão municipal sãocarlense 2001-2004, precisamente em 2002, foi proibido o
acesso ao aterro sanitário municipal, oportunidade esta que contribuiu para a formação, a priori, da
Cooperativa dos Coletores de Materiais Recicláveis de São Carlos (Ecoativa), da Cooperativa de
Coletores de Materiais Recicláveis de São Carlos (Coopervida), e, a posteriori, da Cooperativa de
Coletores de Materiais Recicláveis do Jardim Gonzaga (Cooletiva), cuja infraestrutura passou a ser
mantida pela prefeitura municipal (CAMBIAGHI, 2012).
Na gestão municipal seguinte, 2005-2008, Newton foi reeleito, e institucionalizou a EcoSol
no município, por meio da criação do Departamento de Apoio à Economia Solidária (DAES),
vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia pela Lei
municipal no 13.486 de 16 de dezembro de 2004, o que, consoante Cambiaghi (2012, p. 84)
“permitiu um maior reconhecimento da economia solidária no município, estando de fato no
organograma da prefeitura e com suas atribuições e responsabilidades definidas”. Em outubro de
2004 foi organizada uma comissão para elaboração da proposta do Centro Público. Em abril de
2005 foi realizada uma oficina de diretrizes para formulação e implementação; em outubro foi
formada uma comissão para elaboração da proposta de seu Centro Público; em novembro foi
realizada uma audiência pública para discussão da instalação do Centro Público. Em junho de 2006
foi assinado o Convênio; em em agosto foi realizada uma reunião preparatória para a instalação e
lançamento do Centro Público; em novembro foi realizado o III Encontro de EcoSol no município,
que resultou nos encaminhamentos necessários sobre a instalação e funcionamento do Centro
Público. De janeiro a dezembro de 2007 ocorreu a operacionalização das compras, das licitações e
das instalações do Centro Público bem como a aprovação do seu Regimento Interno. Em 2008 foi,
então, inaugurado o tão almejado Centro Público de Economia Solidária “Herbert de Souza –
Betinho” (CAMBIAGHI, 2012).
Todos estes grandes avanços do movimento de Economia Solidária no município de São
116

Carlos tiveram a participação do seu poder público municipal, dos Empreendimentos Econômicos
Solidários sãocarlenses, do Departamento de Apoio de Economia Solidária de São Carlos, do
Núcleo Multidisciplinar Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária –
NUMI-ECOSOL, mantido pela UFSCar, de organizações da sociedade civil (CAMBIAGHI, 2012;
ECOSOL, 2012; PREFEITURA DE SÃO CARLOS, 2010; 2015).
O Núcleo Multidisciplinar Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia
Solidária – NuMI-EcoSol25 – é uma unidade de ensino, pesquisa e extensão criada pela Resolução
ConsUni 698, de 12 de Agosto de 2011, vinculada diretamente à Reitoria da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar) e sucessora do Programa de Extensão Incubadora Regional de
Cooperativas Populares da Universidade Federal de São Carlos (INCOOP-UFSCar) (NuMI-EcoSol,
2016). Desde a criação do Centro Público de Economia Solidária “Herbert de Souza – Betinho” já
foram realizadas até este ano três Conferências Municipais de Economia Solidária, nas quais
resultados significativos foram produzidos (CAMBIAGHI, 2012; ECOSOL, 2012; PREFEITURA
DE SÃO CARLOS, 2010; 2015; 2016).

Desafios: a grande dificuldade de financiamento dos EES locais com recursos próprios; a
necessidade de melhoria na articulação interna entre os membros em vários dos seus EES locais; a
não concretização da elaboração de um Regimento Interno para o seu Fórum Municipal de
Economia Solidária; a não concretização da elaboração de um projeto político-pedagógico para a
sua linha de ação Fomento ao Movimento de Economia Solidária, o que, sem dúvida, tão logo que
for elaborado e implementado articulará todas as suas linhas de ação dentro do mesmo escopo,
princípios, estrutura organizativa e dinâmica de funcionamento, facilitando a identificação das suas
necessidades e a consecução das suas atividades, indicando os melhores caminhos para o seu
desenvolvimento.

5.2 Considerações finais

5.2.1 Outros FMEPS no Brasil

No decorrer da elaboração deste trabalho, dez outros Fóruns Municipais brasileiros de


Economia Popular Solidária (FMEPS) foram encontrados, quais sejam: do Rio de Janeiro (RJ), de
Irati (PR), de Balneário Camboriú (SC), Belford Roxo (RJ), de Manaus (AM), de São José dos
Pinhais (PR), de Limeira (SP), de São Gonçalo (RJ), de Dourados (MS), de São Bernardo do
Campo (SP). Contudo, devido ao fato de eu estar focalizando o meu tempo na realização de dois
bacharelados, o de Ciências Contábeis pela UNIMES Virtual e o de Estatística pela UFSCar, além
do curso de extensão em Economia Solidária e Cooperativas Populares oferecido pelo NuMI-
EcoSol UFSCar este semestre, foi exíguo o tempo que eu consegui destinar à elaboração deste
trabalho. Deste modo, eu investiguei, a piori, apenas seis FMEPS. Daí, na medida em que eu for
percebendo que o conteúdo deste trabalho trouxe benefícios para o FMEPS de São Carlos, dentre
outros que a ele tiverem acesso, eu certamente hei de encontrar uma lacuna na minha agenda. Se
forem significativos os proveitos tirados deste trabalho, fará sentido que as metodologias aqui
utilizadas sejam reproduzidas na investigação dos demais FMEPS neste parágrafo citados, e ainda
outros, no fito de contribuir com o desenvolvimento do desempenho de cada um deles,
promovendo, então, a Economia Solidária em âmbito municipal.

25
O NuMI-EcoSol, enquanto Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, desde sua criação, empenha-se em
buscar financiamento externo, por meio de editais e convênios, a fim de desenvolver seus projetos e contratar pessoal
capacitado e bolsistas para desenvolverem estas atividades. Vários destes projetos e convênios que o NuMI-EcoSol já
participou e executou podem ser consultados em <http://www.numiecosol.ufscar.br/extensao/projetos-encerrados>.
117

5.2.2 Leis brasileiras de EcoSol

O processo de regulamentação da Economia Solidária está se desenvolvendo no Brasil,


paulatinamente. Uma Lei Municipal aqui outra ali dentro de uma Unidade Federativa brasileira, aí
outros municípios circunvizinhos percebem os benefícios resultantes para a economia local e
regional, e, por essa razão, aderem ao Movimento EcoSol, e buscam a regulamentação em seu
próprio município, culminando, então, na expansão das Leis Municipais, Estaduais, Nacionais e
Internacionais de EcoSol.
Bons sites para se consultar à regulamentação da EcoSol no Brasil sâo:

a) <http://www.economiasolidariasp.org.br/?pg=leis_municipais_ecosol>;
b) <http://rededegestores ecosol.org.br/legislacoes/municipal/>;
c) <http://saudeecosol.org/biblioteca/biblioteca-de-leis-da-ecosol/>.

5.2.3 EcoSol versus capitalismo

A Economia Solidária trata-se, a priori, de uma alternativa de trabalho, de renda e de


inclusão social, e, a posteriori, um trabalho autogestionário pautado na solidariedade, na
valorização do trabalho humano e no desenvolvimento sustentável capaz de devolver aos seus
membros parte da dignidade extraída por meio da marginalização e da segregação provocadas pelas
forças produtivas capitalistas acentuadamente competitivas e excludentes do século XXI.
Fortalecer o movimento de Economia Solidária significa dar uma chance à ressignificação
identitária de milhões de famílias marginalizadas e ou segregadas pelo sistema capitalista,
concedendo-lhe um trabalho humano, digno, solidário, em que elas são devidamente valorizadas e
ainda auferem renda para a sua subsistência. Por essa razão este movimento merece reconhecimento
social, apoio de entes estatais e empresariais, políticas públicas melhor elaboradas e implementadas
em seu favor. Contudo, a Economia Solidária não tem forças para eliminar o capitalismo, mesmo
porque, se em algum momento ela representar uma ameaça para ele, certamente será engolida como
o foi o socialismo da antiga URSS pelos EUA, na Guerra Fria (1945-1991).
118

REFERÊNCIAS

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. Contagem é referência nacional em Economia Solidária: programa contempla


mais de 400 pessoas em todo o município. Contagem-MG: Prefeitura, 2014. Disponível em
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. II Conferência Municipal de Economia Solidária de São Carlos acontece


neste sábado. São Carlos: Prefeitura Municipal de São Carlos, 2016a. Disponível em
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. Prefeitura e Conselho realizam III Conferência Municipal de Economia


Solidária. São Carlos: Prefeitura Municipal de São Carlos, 2016b. Disponível em <http://www.
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TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em


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VANCONCELLOS, Maria Esteves de. Pensamento Sistêmico: o novo paradigma da ciência. 9a


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VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de coleta de dados no campo. 2a edição. São Paulo: Atlas,
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128

ANEXO 1

O Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES)26

O FBES, Fórum Brasileiro de Economia Solidária, está organizado em todo o país em mais
de 160 Fóruns Municipais, Microrregionais e Estaduais, envolvendo diretamente mais de 3.000
empreendimentos de economia solidária, 500 entidades de assessoria, 12 governos estaduais e 200
municípios pela Rede de Gestores em Economia Solidária.
O FBES é fruto do processo histórico que culminou no I Fórum Social Mundial (I FSM),
que contou com a participação de 16 mil pessoas vindas de 117 países, nos dias 25 a 30 de janeiro
de 2001. Dentre as diversas oficinas, que promoviam debates e reflexões, 1.500 participantes
acotovelam-se na oficina denominada “Economia Popular Solidária e Autogestão” onde se tratava
da auto-organização dos/as trabalhadores/as, políticas públicas e das perspectivas econômicas e
sociais de trabalho e renda.

Histórico

A manifestação de interesses e a necessidade de articular a participação nacional e


internacional do I FSM propiciaram a constituição do Grupo de Trabalho Brasileiro de Economia
Solidária (GT- Brasileiro), composto de redes e organizações de uma diversidade de práticas
associativas do segmento popular solidário: rural, urbano, estudantes, igrejas, bases sindicais,
universidades, práticas governamentais de políticas sociais, práticas de apoio ao crédito, redes de
informação e vínculo às redes internacionais. As doze entidades e redes nacionais que em
momentos e níveis diferentes participavam do GT-Brasileiro eram: Rede Brasileira de
Socioeconomia Solidária (RBSES); Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS);
Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional (FASE); Associação Nacional dos
Trabalhadores de Empresas em Autogestão (ANTEAG); Instituto Brasileiro de Análises Sócio-
Econômicas (IBASE); Cáritas Brasileira; Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
(MST/CONCRAB); Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares
(Rede ITCPs); Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS/CUT); UNITRABALHO; Associação
Brasileira de Instituições de Micro-Crédito (ABICRED); e alguns gestores públicos que
futuramente constituíram a Rede de Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária.
O GT-Brasileiro buscou a unidade na diversidade, favorecendo a construção da identidade
do campo da denominada “Economia Solidária”, graças à prática de respeitar as contribuições
diversas de cada região e especificidades de suas organizações. Não apenas isso. Sabia que era
necessário investir na divulgação, caracterizar suas atividades e se constituir como uma articulação
de dimensão nacional. É a partir deste grupo que se propõe a constituição de um fórum em
dimensão nacional. Nisso, tanto a realização das plenárias quanto a elaboração dos Princípios da
Economia Solidária foram decisivas para ampliar e, ao mesmo tempo, caracterizar seu campo de
ação. O movimento que vinha sendo articulado pelo GT-Brasileiro era constituído principalmente
por entidades de assessoria/ fomento e por um segmento de gestores públicos e apontava, desde o
início, para a necessidade de combinar a ampliação regional com o investimento em empresas e
empreendimentos do campo da denominada “Economia Solidária”. Faltava uma política pública
nacional de Economia Solidária e um processo de enraizamento, constituído principalmente através
de empreendimentos de economia solidária e empresas de autogestão nas di ersas regiões do país.
No final de 2002, decorrente do processo eleitoral que culminou com a vitória do Governo
Lula, o GT-Brasileiro elaborou a Carta ao Governo Lula intitulada “Economia Solidária como
Estratégia Política de Desenvolvimento”. Aquele documento de interlocução com o futuro governo
26
Texto extraído na íntegra do endereço eletrônico http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task
=view&id=61&Itemid=57.
129

apresentava as diretrizes gerais da Economia Solidária e reivindicava a criação da Secretaria


Nacional de Economia Solidária (SENAES). Durante a I Plenária Brasileira de Economia Solidária,
realizada em São Paulo, nos dia 9 e 10 de dezembro de 2002, contando com mais de 200 pessoas -
entre trabalhadoras/es de empreendimentos associativos, entidades de representação, entidades de
assessoria/ fomento e gestores de políticas públicas – foi aprovada e encaminhada a Carta.
A II Plenária, realizada durante o FSM de janeiro de 2003, em Porto Alegre, foi aberta pelo
GT-Brasileiro e presidida pelo professor Paul Singer. Neste evento foi publicado e distribuído o
livro: “Do Fórum Social Mundial ao Fórum Brasileiro de Economia Solidária” para as/os 800
participantes, constituídos principalmente por representantes de empreendimentos, entidades de
fomento e redes internacionais. A Plenária definiu agenda de mobilização de debates e
sensibilização pelas regiões do país e legitimou o GT-Brasileiro como promotor do processo de
mobilização da Economia Solidária.
Em junho de 2003 realizou-se a III Plenária Brasileira de Economia Solidária, que contou
com um processo preparatório de mobilização em 17 estados, e teve a participação de 900 pessoas
de diversas partes do país. Foi neste evento que foi criada, de forma definitiva, a denominação
Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES). A SENAES foi constituída pouco antes deste
evento. O FBES saiu desta III Plenária com a incumbência de articular e mobilizar as bases da
Economia Solidária pelo país em torno da Carta de Princípios e da Plataforma de Lutas aprovadas
naquela oportunidade. Além de se definir a composição e funcionamento do FBES, foi iniciado um
processo interlocução do FBES com a SENAES com o compromisso de promover um intercâmbio
qualificado de interesses econômicos, sociais e políticos, numa perspectiva de superar práticas
tradicionais de dependência, que tanto têm comprometido a autonomia necessária ao
desenvolvimento das organizações sociais. Outro fruto decorrente daquele evento foi o
desencadeamento da criação dos fóruns estaduais e regionais que puderam garantir, por sua vez, a
realização do I Encontro Nacional de Empreendimentos de Economia Solidária com
trabalhadoras/es advindos de todos os estados. Este encontro teve um total de 2 500 pessoas e
aconteceu nos dias 13, 14 e 15 de agosto de 2004.
Neste processo, a Economia Solidária foi desafiada a gerir abastecimento, comercialização,
trabalhar com moeda social, promover rodadas de negócio, realizar feiras em todos os estados, fazer
campanha de consumo consciente, comércio justo e solidário, constituir redes, cadeias produtivas,
finanças solidárias, trabalhar no campo do marco legal (especialmente: lei geral do cooperativismo
e cooperativa de trabalho).
Durante o III FSM, em Porto Alegre, realizou-se uma reunião de dezenas de representantes
da América Latina, o que promoveu, por meio de seminários, encontros e feiras, a ampliação das
perspectivas de integração regional do movimento de Economia Solidária e, com isso, o trabalho de
articulação com a América Latina entrou definitivamente na agenda do FBES.
Em 2006, após a realização das Conferências Estaduais, quando foram escolhidos as/os
delegadas/os e definidas as reivindicações e propostas, realizou-se a I Conferência Nacional de
Economia Solidária, em Brasília, no período de 26 a 29 de junho. Na Conferência foram discutidas
as resoluções voltadas à participação no Conselho Nacional de Economia Solidária e propostas para
políticas públicas para a Economia Solidária.
Quanto à organização e funcionamento, integram o FBES os três segmentos do campo da
Economia Solidária: empreendimentos da economia solidária, entidades de assessoria e/ou de
fomento e gestores públicos.

 Empreendimentos Econômicos Solidários são organizações com as seguintes


características: 1) Coletivas (organizações suprafamiliares, singulares e complexas, tais como
associações, cooperativas, empresas autogestionárias, clubes de trocas, redes, grupos produtivos,
etc.); 2) Seus participantes ou sócias/os são trabalhadoras/es dos meios urbano e/ou rural que
exercem coletivamente a gestão das atividades, assim como a alocação dos resultados; 3) São
130

organizações permanentes, incluindo os empreendimentos que estão em funcionamento e as que


estão em processo de implantação, com o grupo de participantes constituído e as atividades
econômicas definidas; 4) Podem ter ou não um registro legal, prevalecendo a existência real; 5)
Realizam atividades econômicas que podem ser de produção de bens, prestação de serviços, de
crédito (ou seja, de finanças solidárias), de comercialização e de consumo solidário;

 Entidades de assessoria e/ou fomento são organizações que desenvolvem ações nas
várias modalidades de apoio direto junto aos empreendimentos solidários, tais como: capacitação,
assessoria, incubação, pesquisa, acompanhamento, fomento à crédito, assistência técnica e
organizativa;

 Gestores públicos são aqueles que elaboram, executam, implementam e/ou coordenam
políticas de economia solidária de prefeituras e governos estaduais.

Até a IV Plenária do FBES, em março de 2008, a representação nacional era composta por
16 entidades nacionais, de diferentes naturezas: de representação de empreendimentos (Abcred,
Anteag, Concrab, Ecosol, Unicafes, Unisol Brasil); entidades e redes nacionais de assessoria,
pesquisa e fomento (ADS/CUT, Cáritas Brasileira, FASE Nacional, Ibase, IMS, PACS, Rede ITCPs,
Rede Unitrabalho); redes mistas (Rede Brasileira de Socioeconomia Solidária); e a Rede de
Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária.
A Rede Nacional de Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária é uma articulação
de gestores e gestoras de políticas de economia solidária de Prefeituras, Governos Estaduais e do
Governo Federal que surgiu por iniciativa de gestores e gestoras de políticas públicas que
participaram do processo de criação do FBES desde 2001, com a missão de ampliar cada vez mais o
debate e a proposição de ferramentas adequadas dentro do Estado brasileiro para o fomento ao
desenvolvimento da economia solidária, bem como estimular e fortalecer a organização e
participação social deste segmento nas decisões sobre as políticas públicas.
A articulação e representação nacional se dava então através da Coordenação Nacional, com
as 16 entidades e redes nacionais, além de 3 representantes de cada Fórum Estadual de Economia
Solidária (FEES), sendo que 2 são trabalhadoras/es de empreendimentos (buscando contemplar o
setor rural e o urbano) e 1 de entidade ou de rede de gestores.
Neste período de apenas alguns anos de vida do FBES, vimos um expressivo crescimento da
Economia Solidária e de sua organização. Se em 2002 a organicidade da Economia Solidária se
manifestava em apenas cinco estados, em 2003 as plenárias estaduais foram realizadas em 17
estados. A partir de 2006, os Fóruns Estaduais estão presentes em todos os 27 estados do Brasil. O
crescimento também tem promovido articulações e intercâmbios internacionais, especialmente com
América Latina na Rede Intercontinental para a Promoção da Economia Solidária (RIPESS).
Contudo, os avanços e a institucionalização, especialmente, através da criação da SENAES e do
Conselho Nacional, requeriram uma definição cada vez maior do papel político e estratégico do
FBES na luta e construção de um projeto de sociedade.
Caracterizar e identificar o FBES foram ações prioritárias no sentido de demarcar e
qualificar o campo da denominada Economia Solidária, através do Mapeamento da Economia
Solidária e da elaboração do Atlas da Economia Solidária no Brasil, frutos de uma política de
integração do movimento da ES com o governo (Ministério do Trabalho e Emprego, através da
SENAES). Numa breve avaliação deste processo de constituição, pode-se dizer que o movimento de
Economia Solidária alcançou, em parte, o reconhecimento, a visibilidade e a legitimidade
necessária.

A IV Plenária do FBES
131

A partir de 2006 inicia-se o processo de mobilização rumo a IV Plenária Nacional de


Economia Solidária, objetivando a reestruturação do FBES, partindo de encontros estaduais, depois
com encontros regionais cujo tema era "Por um novo modelo de organização da Economia
Solidária"; o que caracterizou a primeira fase deste processo. A segunda fase consistiu na
sistematização dos resultados obtidos na primeira fase, pela Comissão de Reestruturação, formada
na VI Reunião da Coordenação Nacional em 2006, preparando a estrutura e os eixos que seriam
definidos na IV Plenária. A terceira fase foi marcada pelas "Caravanas Rumo a IV Plenária", com 5
Seminários Regionais, quando foram aprofundados as questões prioritárias. E a quarta fase consistiu
nas plenárias estaduais, de dezembro/2007 a fevereiro/2008, subsidiadas por um documento de
aprofundamento dos debates que continha os eixos e questões para o FBES, as discussões estaduais
deram origem ao documento-base para a IV Plenária.
Como resultado de todo este processo de construção coletiva, o FBES se define como um
instrumento do movimento da Economia Solidária, um espaço de articulação e diálogo entre
diversos atores e movimentos sociais pela construção da economia solidária como base fundamental
de outro desenvolvimento sócio econômico do país que queremos. Para isso, duas são as atividades
principais: 1. Representação, articulação e incidência na elaboração e acompanhamento de políticas
públicas de Economia Solidária e no diálogo com diversos atores e outros movimentos sociais
ampliando o dialogo e se inserindo nas lutas e reivindicações sociais. 2. Apoio ao fortalecimento do
movimento de Economia Solidária, a partir das bases.
Na construção do desenvolvimento de queremos foram definidas as bandeiras e estratégias
de ação, para cada um dos eixos de Produção, Comercialização e Consumo Solidários; Formação;
Sistema Nacional de Finanças Solidárias e Marco Legal.
Com relação a estrutura e forma de funcionamento, manteve-se os segmentos de
representação: Empreendimentos de Economia Solidária; Entidades de Assessoria e Gestores
Públicos; definiu-se as instâncias constituintes: os fóruns locais (estaduais, microrregionais e
muncipais) com critérios obrigatórios para seu reconhecimento, além de critérios de avaliação; e
ainda, foram definidas as instâncias deliberativas, de gestão e apoio.
A Plenária Nacional é a instância máxima de deliberação do FBES, dando as diretrizes
políticas para orientar a Coordenação Nacional e a Coordenação Executiva.
A Coordenação Nacional (re)orienta as ações da Coordenação Executiva, deliberando em
última instância sobre decisões políticas, operacionais e administrativas do FBES. É composta pelas
entidades nacionais (no limite de até 12 representantes, a partir da comprovação de atuar em, no
mínimo, 7 fóruns estaduais), pela representação dos fóruns estaduais (3 por estado: 2 EES e 1
entidade de apoio local) e da indicação da rede de gestores (2 por região e 2 nacionais)
Para o trabalho de interlocução com movimentos sociais e instituições privadas e públicas
além de gestão política do cotidiano, existe a Coordenação Executiva Nacional, composta por 13
representantes: 7 representantes de empreendimentos das regiões do país (2 do Norte, 2 do
Nordeste, 1 do Sul, 1 do Sudeste e 1 do Centro-oeste); 5 representantes das Entidades e Redes
nacionais e 1 representante da Rede de Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária. Além
disso, a Coordenação Executiva tem a função de acompanhar os trabalhos da Secretaria Executiva
Nacional, sediada em Brasília.
A partir de agosto de 2011, na estrutura atual das instâncias nacionais do FBES, as entidades
nacionais são as seguintes: Unicafes, Cáritas Brasileira, IMS, Rede ITCPs e Rede Unitrabalho.
Em novembro de 2008, na VIII Reunião da Coordenação Nacional foi definido o Plano de
Ação para o triênio (2009-2011):

I. Fortalecimento político e organizacional dos Fóruns Estaduais, consolidação/constituição


de Fóruns microrregionais e municipais para maior integração e interiorização do FBES, e
articulação macrorregional entre Fóruns Estaduais;
132

II. Fortalecimento dos empreendimentos solidários como atores econômicos nos territórios,
buscando sua organização em redes e cadeias nos campos da produção, comercialização, logística,
consumo e finanças solidárias como estratégia para um outro modelo de desenvolvimento;

III. Proposição, mobilização e incidência para políticas públicas de reconhecimento e


fomento da economia solidária como estratégia para um outro modelo de desenvolvimento.
Também com incidência regional. IV. Divulgação da Economia Solidária junto à sociedade pela
construção de outro modelo de desenvolvimento;

V. Articulação com outros movimentos sociais e atores da sociedade civil organizada


alinhados na construção de outro modelo de desenvolvimento e criação de espaços de articulação e
alianças internacionais para o fortalecimento da Economia Solidária mundialmente, em especial na
América Latina;

VI. Estratégias para a sustentabilidade e autonomia financeira dos Fóruns Nacional e Locais,
nas dimensões: auto-financiamento; captação de recursos públicos; e cooperação internacional.

Estas linhas de ação, em conjunto com as bandeiras de ação, norteiam a atuação e o


fortalecimento do FBES. A partir de agosto de 2011, está em andamento a V Plenária Nacional de
Economia Solidária cujo tema é bem viver, cooperação e autogestão para um desenvolvimento
justo e sustentável.
O Fórum Brasileiro de Economia Solidária consiste fundamentalmente na articulação entre
três segmentos do movimento de ES: empreendimentos solidários, entidades de assessoria e
fomento, e gestores públicos. A sua principal instância de decisão é a Coordenação Nacional, que
consiste nos representantes das entidades e redes nacionais de fomento, além de 3 representantes
por estado indicadas pelos Fóruns Estaduais de Economia Solidária. Destes 3 representantes por
estado, 2 são empreendimentos e 1 é entidade de assessoria. Compõe também a Coordenação
Nacional dois gestores por região e mais dois gestores em nível nacional, ambos indicados pela
Rede de Gestores A Coordenação Nacional reúne-se 2 vezes ao ano.
Até agosto de 2011 eram 7 as entidades nacionais do FBES: representação de
empreendimentos: Unisol, Anteag e Unicafes; Entidades de apoio e fomento: Cáritas Brasileira,
IMS, Rede de ITCPs e Rede Unitrabalho.
Apartir da X Reunião da Coordenação Nacional do FBES, em agosto de 2011, foi realizada
a redefinição das entidades nacionais do FBES, permanecendo aquelas com participação efetiva em
pelo menos 7 fóruns estaduais (definição da IV Plenária Nacional), sendo então as atuais entidades
nacionais do FBES: Unicafes, Cáritas Brasileira, IMS, Rede de ITCPs e Rede Unitrabalho.
Para a gestão política cotidiana, interlocução com outros movimentos e com o governo
federal, e acompanhamento da Secretaria Executiva Nacional, há uma Coordenação Executiva
Nacional, composta por 13 pessoas, sendo 7 representantes de empreendimentos (2 do norte, 2 do
nordeste, e 1 representante para cada uma das demais regiões), 5 representantes das Entidades e
Redes Nacionais de promoção à Economia Solidária, e 1 representante da Rede Nacional de
Gestores Públicos. Por fim, para dar suporte aos trabalhos do FBES, propiciar a comunicação entre
as instâncias e operacionalizar reuniões e eventos, há a Secretaria Executiva Nacional.
Existem ainda Grupos de Trabalho (GT's) que se conformam conforme a demanda de ações
específicas do FBES, e para o avanço na implantação da Plataforma da ES. Os GT's definidos na X
Reunião da Coordenação Nacional do FBES são:

 Educação e Cultura;
 Marco legal e Politicas Publicas: campanha da lei;
 Estratégias Econômicas: Produção, Comercialização e Consumo Solidários e Finanças;
133

 Comunicação e Articulação com Movimentos Sociais;


 Raça e Etnia e Povos e Comunidades Tradicionais;
 Mulheres (antigo Gt de Gênero).
134

ANEXO 2

Carta de Princípios da Economia Solidária27

1 Origem e cenário atual

A Economia Solidária ressurge hoje como resgate da luta histórica dos(as) trabalhadores(as),
como defesa contra a exploração do trabalho humano e como alternativa ao modo capitalista de
organizar as relações sociais dos seres humanos entre si e destes com a natureza.
Nos primórdios do capitalismo, as relações de trabalho assalariado - principal forma de
organização do trabalho nesse sistema - levaram a um tal grau de exploração do trabalho humano
que os(as) trabalhadores(as) organizaram-se em sindicatos e em empreendimentos cooperativados.
Os sindicatos como forma de defesa e conquista de direitos dos/as assalariados/as e os
empreendimentos cooperativados, de auto-gestão, como forma de trabalho alternativa à exploração
assalariada.
As lutas, nesses dois campos, sempre foram complementares; entretanto a ampliação do
trabalho assalariado no mundo levou a que essa forma de relação capitalista se tornasse
hegemônica, transformando tudo, inclusive o trabalho humano, em mercadoria.
As demais formas (comunitárias, artesanais, individuais, familiares, cooperativadas, etc.)
passaram a ser tratadas como "resquícios atrasados" que tenderiam a ser absorvidas e transformadas
cada vez mais em relações capitalistas.
A atual crise do trabalho assalariado, desnuda de vez a promessa do capitalismo de
transformar a tudo e a todos/as em mercadorias a serem ofertadas e consumidas num mercado
equalizado pela "competitividade". Milhões de trabalhadores/as são excluídos dos seus empregos,
amplia-se cada vez o trabalho precário, sem garantias de direitos. Assim, as formas de trabalho
chamadas de "atrasadas" que deveriam ser reduzidas, se ampliam ao absover todo esse contingente
de excluídos.
Hoje, no Brasil, mais de 50% dos trabalhadores/as, estão sobrevivendo de trabalho à
margem do setor capitalista hegemônico, o das relações assalariadas e "protegidas". Aquilo que era
para ser absorvido pelo capitalismo, passa a ser tão grande que representa um desafio cuja
superação só pode ser enfrentada por um movimento que conjugue todas essas formas e que
desenvolva um projeto alternativo de economia solidária.
Neste cenário, sob diversos títulos - economia solidária, economia social, socioeconomia
solidária, humanoeconomia, economia popular e solidária, economia de proximidade, economia de
comunhão etc, têm emergido práticas de relações econômicas e sociais que, de imediato, propiciam
a sobrevivência e a melhora da qualidade de vida de milhões de pessoas em diferentes partes do
mundo.
Mas seu horizonte vai mais além. São práticas fundadas em relações de colaboração
solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da
atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em geral e de capital em particular.
As experiências, que se alimentam de fontes tão diversas como as práticas de reciprocidade
dos povos indígenas de diversos continentes e os princípios do cooperativismo gerado em Rochdale,
Inglaterra, em meados do século XIX, aperfeiçoados e recriados nos diferentes contextos
socioculturais, ganharam múltiplas formas e maneiras de expressar-se.

27
Texto extraído na íntegra do endereço eletrônico http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task
=view&id=63&Itemid=60.
135

2 Convergências - O que é a Economia Solidária

2.1 Princípios gerais

Apesar dessa diversidade de origem e de dinâmica cultural, são pontos de convergência:

1. A valorização social do trabalho humano,


2. A satisfação plena das necessidades de todos como eixo da criatividade tecnológica e da
atividade econômica,
3. O reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa economia fundada
na solidariedade,
4. A busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza, e
5. Os valores da cooperação e da solidariedade.

A Economia Solidária constitui o fundamento de uma globalização humanizadora, de um


desenvolvimento sustentável, socialmente justo e voltado para a satisfação racional das
necessidades de cada um e de todos os cidadãos da Terra seguindo um caminho intergeracional de
desenvolvimento sustentável na qualidade de sua vida.

1. O valor central da economia solidária é o trabalho, o saber e a criatividade humanos e não


o capital-dinheiro e sua propriedade sob quaisquer de suas formas.
2. A Economia Solidária representa práticas fundadas em relações de colaboração solidária,
inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade
econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em geral e de capital em particular.
3. A Economia Solidária busca a unidade entre produção e reprodução, evitando a
contradição fundamental do sistema capitalista, que desenvolve a produtividade mas exclui
crescentes setores de trabalhadores do acesso aos seus benefícios.
4. A Economia Solidária busca outra qualidade de vida e de consumo, e isto requer a
solidariedade entre os cidadãos do centro e os da periferia do sistema mundial.
5. Para a Economia Solidária, a eficiência não pode limitar-se aos benefícios materiais de
um empreendimento, mas se define também como eficiência social, em função da qualidade de vida
e da felicidade de seus membros e, ao mesmo tempo, de todo o ecossistema.
6. A Economia Solidária é um poderoso instrumento de combate à exclusão social, pois
apresenta alternativa viável para a geração de trabalho e renda e para a satisfação direta das
necessidades de todos, provando que é possível organizar a produção e a reprodução da sociedade
de modo a eliminar as desigualdades materiais e difundir os valores da solidariedade humana.

2.2 Princípios específicos

2.2.1 Por um sistema de finanças solidárias

1. Para a Economia Solidária o valor central é o direito das comunidades e nações à


soberania de suas próprias finanças. São alguns dos elementos fomentadores de uma política
autogestionária de financiamento do investimento do nível local ao nacional:
2. A nível local, micro, territorial: os bancos cooperativos, os bancos éticos, as cooperativas
de crédito, as instituições de microcrédito solidário e os empreendimentos mutuários, todos com o
objetivo de financiar seus membros e não concentrar lucros através dos altos juros, são
componentes importantes do sistema socioeconômico solidário, favorecendo o acesso popular ao
crédito baseados nas suas próprias poupanças.
136

3. A nível nacional, macro, estrutural: a descentralização responsável das moedas circulantes


nacionais e o estímulo ao comércio justo e solidário utilizando moedas comunitárias; o conseqüente
empoderamento financeiro das comunidades; o controle e a regulação dos fluxos financeiros para
que cumpram seu papel de meio e não de finalidade da atividade econômica; a imposição de limites
às taxas de juros e aos lucros extraordinários de base monopólica, o controle público da taxa de
câmbio e a emissão responsável de moeda nacional para evitar toda atividade especulativa e
defender a soberania do povo sobre seu próprio mercado.

2.2.2 Pelo desenvolvimento de Cadeias Produtivas Solidárias

A Economia Solidária permite articular solidariamente os diversos elos de cada cadeia


produtiva, em redes de agentes que se apóiam e se complementam:

1. Articulando o consumo solidário com a produção, a comercialização e as finanças, de


modo orgânico e dinâmico e do nível local até o global, a economia solidária amplia as
oportunidades de trabalho e intercâmbio para cada agente sem afastar a atividade econômica do seu
fim primeiro, que é responder às necessidades produtivas e reprodutivas da sociedade e dos próprios
agentes econômicos.
2. Consciente de fazer parte de um sistema orgânico e abrangente, cada agente econômico
busca contribuir para o progresso próprio e do conjunto, valorizando as vantagens cooperativas e a
eficiência sistêmica que resultam em melhor qualidade de vida e trabalho para cada um e para
todos.
3. A partilha da decisão com representantes da comunidade sobre a eficiência social e os
usos dos excedentes, permite que se faça investimentos nas condições gerais de vida de todos e na
criação de outras empresas solidárias, outorgando um caráter dinâmico à reprodução social.
4. A Economia Solidária propõe a atividade econômica e social enraizada no seu contexto
mais imediato, e tem a territorialidade e o desenvolvimento local como marcos de referência,
mantendo vínculos de fortalecimento com redes da cadeia produtiva (produçáo, comercialização e
consumo) espalhadas por diversos países, com base em princípios éticos, solidários e sustentáveis.
5. A economia solidária promove o desenvolvimento de redes de comércio a preços justos,
procurando que os benefícios do desenvolvimento produtivo sejam repartidos mais eqüitativamente
entre grupos e países.
6. A economia solidária, nas suas diversas formas, é um projeto de desenvolvimento
destinado a promover as pessoas e coletividades sociais a sujeito dos meios, recursos e ferramentas
de produzir e distribuir as riquezas, visando a suficiência em resposta às necessidades de todos e o
desenvolvimento genuinamente sustentável.

2.2.3 Pela construção de uma Política da Economia Solidária num Estado Democrático

1. A Economia Solidária é também um projeto de desenvolvimento integral que visa a


sustentabilidade, a justiça econômica, social, cultural e ambiental e a democracia participativa.
2. A Economia Solidária estimula a formação de alianças estratégicas entre organizações
populares para o exercício pleno e ativo dos direitos e responsabilidades da cidadania, exercendo
sua soberania por meio da democracia e da gestão participativa.
3. A Economia Solidária exige o respeito à autonomia dos empreendimentos e organizações
dos trabalhadores, sem a tutela de Estados centralizadores e longe das práticas cooperativas
burocratizadas, que suprimem a participação direta dos cidadãos trabalhadores.
4. A economia solidária, em primeiro lugar, exige a responsabilidade dos Estados nacionais
pela defesa dos direitos universais dos trabalhadores, que as políticas neoliberais pretendem
eliminar.
137

5. Preconiza um Estado democraticamente forte, empoderado a partir da própria sociedade e


colocado ao serviço dela, transparente e fidedigno, capaz de orquestrar a diversidade que a constitui
e de zelar pela justiça social e pela realização dos direitos e das responsabilidades cidadãs de cada
um e de todos.
6. O valor central é a soberania nacional num contexto de interação respeitosa com a
soberania de outras nações. O Estado democraticamente forte é capaz de promover, mediante do
diálogo com a Sociedade, políticas públicas que fortalecem a democracia participativa, a
democratização dos fundos públicos e dos benefícios do desenvolvimento.
7. Assim, a Economia Solidária pode constituir-se em setor econômico da sociedade,
distinto da economia capitalista e da economia estatal, fortalecendo o Estado democrático com a
irrupção de novo ator social autônomo e capaz de avançar novas regras de direitos e de regulação da
sociedade em seu benefício.

3 A Economia Solidária não é:

1. A economia solidária não está orientada para mitigar os problemas sociais gerados pela
globalização neoliberal.
2. A Economia solidária rejeita as velhas práticas da competição e da maximização da
lucratividade individual.
3. A economia solidária rejeita a proposta de mercantilização das pessoas e da natureza às
custas da espoliação do meio ambiente terrestre, contaminando e esgotando os recursos naturais no
Norte em troca de zonas de reserva no Sul.
4. A economia solidária confronta-se contra a crença de que o mercado é capaz de auto-
regular-se para o bem de todos, e que a competição é o melhor modo de relação entre os atores
sociais.
5. A economia solidária confronta-se contra a lógica do mercado capitalista que induz à
crença de que as necessidades humanas só podem ser satisfeitas sob a forma de mercadorias e que
elas são oportunidades de lucro privado e de acumulação de capital.
6. A economia solidária é uma alternativa ao mundo de desemprego crescente, em que a
grande maioria dos trabalhadores não controla nem participa da gestão dos meios e recursos para
produzir riquezas e que um número sempre maior de trabalhadores e famílias perde o acesso à
remuneração e fica excluído do mercado capitalista.
7. A economia solidária nega a competição nos marcos do mercado capitalista que lança
trabalhador contra trabalhador, empresa contra empresa, país contra país, numa guerra sem tréguas
em que todos são inimigos de todos e ganha quem for mais forte, mais rico e, freqüentemente, mais
trapaceiro e corruptor ou corrupto.
8. A economia solidária busca reverter a lógica da espiral capitalista em que o número dos
que ganham acesso à riqueza material é cada vez mais reduzido, enquanto aumenta rapidamente o
número dos que só conseguem compartilhar a miséria e a desesperança.
9. A economia solidária contesta tanto o conceito de riqueza como os indicadores de sua
avaliação que se reduzem ao valor produtivo e mercantil, sem levar em conta outros valores como o
ambiental, social e cultural de uma atividade econômica.
10. A Economia solidária não se confunde com o chamado Terceiro Setor que substitui o
Estado nas suas obrigações sociais e inibe a emancipação dos trabalhadores enquanto sujeitos
protagonistas de direitos. A Economia Solidária afirma, a emergência de novo ator social de
trabalhadores como sujeito histórico.
138

ANEXO 3

A Plataforma da Economia Solidária28

A construção da Plataforma da Economia Solidária foi iniciada na I Plenária Nacional (em


dezembro de 2002 em São Paulo), até chegar à versão que apresentamos abaixo, em 7 eixos, que é
resultado da III Plenária Nacional de Economia Solidária, a mesma que criou o Fórum Brasileiro de
Economia Solidária. O I Encontro Nacional de Empreendedores Solidários, ocorrido em agosto de
2004, enriqueceu e aprofundou aspectos dessa Plataforma, que está disponível nos Fóruns Estaduais
e na secretaria executiva nacional.

1 Finanças Solidárias

1. O Estado deve, no âmbito de suas políticas públicas, criar um fundo nacional para o
fortalecimento e apoio dos empreendimentos da Economia Solidária, com uma gestão
descentralizada, participação popular, respeito às diferenças regionais e sobre controle social. O
Fundo deve ser constituído por fontes diversas: local, regional, nacional, internacional com recursos
públicos e privados.
2. Destacar linhas que apõem as comunidades de baixa renda, negras, indígenas, mulheres
em risco social e portadores de necessidades especiais. Fortalecer ainda linhas especiais para
empreendimentos de autogestão em sua fase inicial ou já estruturado, bem como para
comercialização de produtos.
3. Consolidar e ampliar as experiências dos fundos rotativos no Brasil, tendo o crédito
solidário como um dos modelos incentivadores dos empreendimentos solidários com base na
devolução de pagamentos não financeiros (banco de horas, equivalência produto/serviços etc).
4. Fortalecer uma rede de instituições financeiras locais como cooperativas de créditos,
Bancos Cooperativos, ONGs, OSCIPs, Banco do Povo e programas governamentais com base em
serviços financeiros adequados as realidades dos empreendimentos de caráter popular e solidário,
destacando as moedas sociais, clubes de trocas, modalidades de aval comunitário e solidário.
5. Revogar as limitações legais impostas às instituições operadoras de crédito popular,
como ONGs e OSCIPs, para que possam oferecer outros serviços financeiros além do crédito, tais
como seguros, poupança, títulos de capitalização, entre outros.
6. Possibilitar o recolhimento de poupança por parte das ONGs de crédito, potencializando
as atividades de microfinanças solidárias e viabilizando que as comunidades utilizem seus próprios
recursos para promover seu desenvolvimento.
7. Ampliar o repasse de fundos públicos para instituições de finanças
solidárias/microfinanças, inclusive de crédito popular solidário, visando fomentar o
desenvolvimento local com um sistema que assegure autonomia para os empreendimentos.
8. Alterar a política de concessão de créditos para empresas em situação pré-falimentar
condicionando mudanças na gestão, facilitando assim, a participação de trabalhadores e
trabalhadoras no controle do passivo dessas empresas.
9. Criar linhas de crédito adequado e ajustado culturalmente para empreendimentos de
Economia Solidária, facilitar aos empreendimentos populares o acesso ao crédito e, particularmente,
a empreendimentos autogeridos que surgem de processos falimentares, abolindo exigências que são
impraticáveis para a Economia Solidária.
10. Assegurar que partes dos recursos dos bancos públicos e privados sejam destinados à
Economia Solidária.
28
Texto extraído na íntegra do endereço eletrônico http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task
=view&id=62&Itemid=59.
139

11. Possibilitar a organização aberta e o fomento de cooperativas de crédito, revendo


restrições legais sobre a mesma e ampliando sua articulação em complexos e redes.
12. Modificar as regras de acesso ao Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar) e
do Proger (Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda), reduzindo os valores que são
consumidos pelas taxas de transação bancárias.
13. Criar programa de fomento à constituição e fortalecimento de instituições de
microfinanças e finanças solidárias, assegurar maior volume de recursos para os bancos populares e
outras formas de microfinanças solidárias.
14. Que o crédito solidário seja articulado de maneira transversal nas diversas políticas,
disponibilizando mais recursos do sistema financeiro "oficial" as microfinanças solidárias.
15. Apoio do poder público para iniciativas de empreendimento solidário, sob a forma de
uma renda mínima para grupos que estão começando suas atividades de produção, comércio ou
serviço.
16. A dimensão das finanças solidárias deve ser incorporada ao Projeto Fome Zero como
um elemento fundamental a permitir a necessária vinculação entre as imprescindíveis políticas
compensatórias e políticas estruturais, por trazer em sua concepção, além do acesso ao crédito,
elementos decisivos a democratização da pequena produção, à consolidação do trabalho
cooperativo, ao estímulo à autogestão e às formas diferenciadas de produção de riquezas voltadas
ao interesse comum.
17. Constituir um sistema nacional de Finanças Solidárias, relacionando-o com uma política
voltada ao desenvolvimento territorial local.
18. Construir programas que fortaleçam e ampliem a rede nacional de trocas solidárias com
critérios definidos de paridades e lastros baseado nas moedas sociais.
19. Garantir critérios de financiamentos, valores, juros, carências, prazos, garantia e sistema
de cobrança e devolução, adequando as condições socioeconômicas e culturais dos
empreendimentos de caráter popular e solidário, ampliando os critérios por limites de créditos
estabelecidos em cálculo per capita por posto de trabalho gerado e não por empreendimento.

2 Marco Legal

1. Que o Fórum Brasileiro de Economia Solidária articule, junto ao governo e a sociedade


civil, políticas de interesse do movimento da Economia Solidária nas diversas reformas que se
seguirão, a Tributária, Previdenciária, Trabalhista, Fiscal etc, criando e/ou atualizando leis
específicas nestas áreas.
2. Reconhecer legalmente e promover a difusão das diversas formas de Economia
Solidária , tais como compras coletivas, lojas solidárias, cartões de crédito solidários, feiras,
sistemas de trocas com moeda social, agricultura familiar orgânica, comércio justo etc.
3. Tributação específica para os empreendimentos de Economia Solidária, considerando a
escala de produção, número de trabalhadores envolvidos, tipos de produtos e bens, classificando-os
como essenciais, semi essenciais e não essenciais.
4. Isenção de impostos municipais, estaduais e nacionais para a compra de matéria-prima,
equipamentos, máquinas, veículos etc.
5. Rediscutir a legislação em vigor que incide sobre algumas iniciativas solidárias, criando
condições especiais de sustentação e apoio para esses empreendimentos, através de ações como a
alteração da Lei das Licitações, 8.666, que impossibilita a compra e venda de produtos da Economia
Solidária e estabelecer critérios diferenciados para os empreendimentos de Economia Solidária.
6. Estabelecer um marco jurídico adequado para a Economia Solidária, pensando-a como
um sistema próprio, reconhecendo legalmente suas diferenças frente o setor estatal e o setor privado
mercantil.
7. Conceituar normativamente empresas de autogestão, cooperativas populares, bem como
140

aquelas organizações de economia familiar.


8. Elaboração de uma nova legislação para o cooperativismo (lei 5.764) e empresas
autogestionadas, considerando aspectos como o número de participantes, não-obrigatoriedade da
unicidade da representação, acesso ao crédito, diferenciação tributária, mudança no caráter do
benefício do INSS para quem é cooperado e ao mesmo tempo respeitando as diferentes concepções
de cooperativismo.
9. Que o Estado reconheça formalmente as outras formas de organização para o trabalho,
fundadas em princípios populares e solidários, elaborando Projeto de Lei que facilite a o apoio e
desenvolvimento de experiências no campo da Economia Solidária.
10. Aperfeiçoamento da fiscalização dos empreendimentos autogestionários, buscando
evitar fraudes que visam terceirização de mão-de-obra e redução de encargos legais.
11. Assegurar o cumprimento efetivo no Brasil das Convenções No. 100 e No. 111 da OIT
(Organização Internacional do Trabalho) e a ratificação da Convenção No. 156 (Trabalhadores com
responsabilidades familiares) pelo governo brasileiro.
12. Definir zonas especiais de interesse e de implantação de projetos de Economia Solidária
a serem definidos no Plano Diretor Urbano – PDU e Estatuto das Cidades.
13. Que o Estado garanta a contratação de cooperativas para prestação de serviços nas
esferas municipais, estaduais e nacional.
14. Regularização das atividades dos empreendedores populares com a emissão de um
CNPJ e nota de venda especial para viabilizar a participação em licitações.
15. Pressionar os poderes competentes para que a Lei de Falências favoreça a aquisição das
empresas por parte dos trabalhadores sem obter as dívidas da empresa (passivo da massa
falimentar).
16. Criar legislação sobre políticas de cotas para o acesso ao mercado de trabalho, visando
combater as discriminações de gênero, raça, etnia e promover a igualdade no acesso e na
permanência no emprego.

3 Educação

1. Promover a educação de novas gerações através da incorporação de programas sobre a


Economia Solidária junto ao MEC, da pré-escola, passando pelo ensino fundamental, médio,
superior e pós-graduação, introduzindo valores da cultura solidária e pedagogias que favoreçam a
solidariedade e a construção de um novo modelo de sociedade.
2. Financiar com linhas especiais de créditos, estudos e pesquisas mais gerais sobre o tema
da Economia Solidária, além de trabalhos voltados ao desenvolvimento de metodologias de gestão e
outras tecnologias apropriadas à realidade da mesma.
3. Estímulo à extensão universitária junto ao MEC, com atuação frente às questões da
Economia Solidária, privilegiando a pesquisa, a formação e também trabalhos interdisciplinares que
envolvam todos os conteúdos da Economia Solidária.
4. Formação e capacitação de profissionais membros ou não de iniciativas solidárias para a
sua atuação na Economia Solidária, com financiamento público (convênios) destinadas àquelas
entidades que possuem proficiência na área de Economia Solidária.
5. Subordinar o Sistema S a mecanismos de controle e estratégias tripartites, revendo suas
prioridades, redirecionando recursos para a produção e sistematização de conhecimentos e
tecnologias adequadas à perspectiva da Economia Solidária.
6. Adequar os programas de formação e qualificação profissional às necessidades das
mulheres, tanto em termos de locais e horários de realização, como também de oferta/conteúdo de
cursos oferecidos, de forma a oferecer novas perspectivas profissionais para as mulheres.
7. Elaborar uma política específica que vise estimular as meninas e as jovens para as
carreiras científicas e tecnológicas, bem como garantir o apoio social e material para assegurar a
141

permanência das mulheres pesquisadoras nas comunidades científicas em condições de equidade.


8. Garantir centros de referência públicos, onde sejam ofertados cursos e meios de
treinamento e aprendizagem específica para agentes e atores do associativismo/cooperativismo na
perspectiva da Economia Solidária, assegurando formação, capacitação e assistência técnica
adequada às características organizacionais dos empreendimentos e práticas de Economia Solidária.
9. Utilizar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador para realização de cursos
profissionalizantes, com a participação não só de técnicos e empreendedores, mas também de
multiplicadores e agentes da Economia Solidária, bem como obter apoio do SEBRAE como agente
formador.
10. Estimular os trabalhadores e trabalhadoras da Economia Solidária a entrarem nos
programas de capacitação e alfabetização de jovens, adultos e comunidades que não tenham acesso
ao ensino formal.
11. Criação de um grupo de formadores para conscientização do cooperativismo e sua
importância na atualidade.
12. O ensino da Economia Solidária deve contemplar temas transversais como gênero, raça,
etnia e fazer parte dos programas de Ministérios como o da Saúde, Trabalho e Meio Ambiente.
13. Adotar uma estratégia de formação e capacitação articulando as atividades da Economia
Solidária, com estrutura metodológica que leva em consideração as diversidades culturais e o
acompanhamento das novas tecnologias.
14. Criação de uma Escola Nacional de Cooperativismo.

4 Comunicação

1. Utilização dos meios de comunicação já existentes ou a criação de um sistema de


comunicação que cubra, divulgue e sensibilize a sociedade para os valores da Economia Solidária,
utilizando linguagem apropriada através de recursos como o ensino à distância, vídeos, cartilhas
informativas, livros didáticos, criação de sites na internet, a criação de um disque Economia
Solidária etc, garantindo a horizontalidade da informação.
2. Criar um banco nacional de políticas públicas e experiências bem sucedidas na área da
Economia Solidária, de fácil acesso na internet, a ser alimentado por administradores que
desenvolvem programas de Economia Solidária, facilitando a organização e extensão dessas
políticas.
3. Difusão das experiências e intercâmbio de informações entre os agentes da Economia
Solidária e a sociedade, mostrando as experiências que obtiveram êxito nas diversas áreas de
atuação.
4. Facilitar a concessão de rádios e TVs comunitárias e autogestionárias, jornais, revistas
etc., melhorando o acesso da população às informações sobre a Economia Solidária, bem como o
estímulo à produção de programas, pelas TVs e rádios comunitárias com o tema da Economia
Solidária.
5. Divulgar continuamente a cultura, as idéias e práticas da Economia Solidária junto à
população, particularmente no que se refere ao consumo solidário (como modelo de educação), das
vantagens sociais e éticas deste consumo quando os produtos são oriundos de empreendimentos
solidários.

5 Redes de Produção, Comercialização e Consumo

1. Desenvolver, fortalecer e articular as redes de produção e consumo em nível local,


regional, nacional e internacional, com base nos princípios da Economia Solidária, propiciando
auto-sustentabilidade as mesmas, respeitando a regionalidade dos empreendimentos e estabelecendo
a equidade entre os pares, como a igualdade de gênero, raça, etnia, idade etc., garantindo a
142

emancipação dos grupos que ainda são descriminados dentro da Economia Solidária.
2. Na implementação do programa Fome Zero, priorizar ações regionalizadas de
Economia Solidária na produção e comercialização de bens e serviços a serem consumidos com
recursos disponibilizados pelo programa, projetando a produção para atender ao conjunto das
demandas reais de consumo popular, entre as quais se incluem alimentação, higiene, limpeza e
vestuário.
3. Criar o portal brasileiro de Economia Solidária, apoiando a estruturação de redes
nacionais de comercialização e de intercâmbio de informações, localização de produtos e serviços,
diagnósticos de cadeias produtivas e transferência de tecnologia, facilitando parcerias, negócios e
investimentos coletivos entre os empreendimentos de Economia Solidária, dando-lhes visibilidade e
projeção nacional e internacional, facilitando a elaboração de catálogos e o contato mais direto entre
produtores e consumidores e a integração entre cidade/campo.
4. Garantir recursos para a construção, articulação e monitoramento das redes de
Economia Solidária, viabilizando assim, sua integração, inclusive entre cidade e campo.
5. Aprofundar o debate sobre marcas e selos de certificação em sistemas participativos e o
seu emprego, adaptável às realidades locais e regionais do país, facilitando o processo de
identificação dos produtos e serviços da Economia Solidária para consumidores e consumidoras em
seu ato de compra alavancando a comercialização desses produtos no mercado nacional e
internacional.
6. Criar mecanismos que possibilitem compras governamentais dos produtos e serviços
solidários e regionalizados, com preferência em licitações e estabelecendo cotas para compras
governamentais de produtos da Economia Solidária, como forma de incentivo a Economia Solidária
e possibilitando maior distribuição de renda.
7. Defender a produção familiar da competição desigual , por meio de uma adequada
política de preços mínimos e de compras privilegiadas da produção familiar agroecológica e
solidária.
8. Organização de cooperativas de consumo e central de compras coletivas.
9. Investir na formação de redes regionais de comercialização e consumo que congreguem
os vários tipos de cooperativas, como exemplo, central de cooperativas coletivas.
10. Utilização de espaços públicos ociosos ou a construção de espaços como locais de
trocas, comercialização de produtos da Economia Solidária e armazenamento de materiais
reciclados.

6 Democratização do Conhecimento e Tecnologia

1. Promover o desenvolvimento de tecnologias apropriadas à Economia Solidária, com


vistas ao desenvolvimento e qualificação contínua de produtos, respeitando a cultura e os saberes
locais agregando-lhes maior valor, e a melhoria das condições de trabalho, de saúde e de
sustentabilidade ambiental dos empreendimentos.
2. Orientar as ações de pesquisa e os programas de extensão das Universidades para a
produção de tecnologias alternativas adequadas à Economia Solidária, bem como para a difusão e
qualificação das suas diversas práticas e saberes, avaliando o trabalho realizado nestas áreas,
mensurando acertos e erros, visando ao seu aperfeiçoamento na perspectiva do desenvolvimento
sustentável.
3. Orientar Ministérios e organismos federais (Ciência e Tecnologia, Educação, Trabalho,
FAT, Finep, BNDES, CNPq etc.) a fomentarem o desenvolvimento, qualificação e expansão da
Economia Solidária.
4. Descentralização da tecnologia e da informação resgatando e valorizando o
conhecimento acumulado pelas experiências de Economia Solidária, bem como mapeando e
sistematizando esse conhecimento.
143

5. Criar programas de financiamentos voltados as ONGs, ITCPs, Rede Unitrabalho e outras


organizações que atuam na área de formação e capacitação tecnológica de empreendimentos de
Economia Solidária.
6. Criar centros solidários de desenvolvimento tecnológico, visando à promoção de
processos produtivos que sejam adequados a como produzir, considerando as diversidades regionais
do país, sua necessária sustentabilidade social e ecológica, às peculiaridades do público a quem se
destinam essas tecnologias e às finalidades para as quais são desenvolvidas, gerando produtos,
serviços, processos, máquinas, equipamentos e técnicas adequados aos desafios atuais da Economia
Solidária no país, visando superar as dificuldades dos empreendimentos de Economia Solidária em
ser eficientes, terem viabilidade e sustentabilidade.
7. Ampliar Fóruns de ciência e tecnologia para contemplar os desafios da autogestão.
8. Redefinir política de assistência técnica para os empreendedores da área urbana e da área
rural.
9. Mobilizar o potencial criativo de inventores (as) e pesquisadores (as), orientando a
organizarem-se em cooperativas para trabalhar a Economia Solidária e colaborar em suas áreas
específicas, como vem ocorrendo no campo das tecnologias da agricultura orgânica, das cisternas e
preservação de recursos hídricos, dos softwares livres etc.
10. Proporcionar meios para que as novas tecnologias sejam acessíveis aos empreendimentos
solidários, valorizando sua função social em relação à visão predominante que é dada a sua função
econômica.
11. Garantir que Estados e Municípios possam desenvolver discussões temáticas e
conceituais sobre a Economia Solidária.
12. Difundir e ampliar a troca de experiências entre os grupos participantes da Economia
Solidária, garantindo a transversalidade dessas ações, através de uma rede de articulação utilizando,
por exemplo: materiais didáticos de apoio, conhecimentos técnicos específicos ao cooperativismo,
como noções na área de comercialização, contábil, jurídica, administrativa etc.

7 Organização Social de Economia Solidária

1. Criar uma Secretaria Nacional de Economia Solidária, responsável por – em diálogo com
o Fórum Brasileiro de Economia Solidária – elaborar políticas de forma interdisciplinar, transversal,
intersetorial, adequadas à expansão e fortalecimento da Economia Solidária no país e executá-las de
maneira estratégica, particularmente no que se refere ao marco legal, finanças solidárias, redes de
produção, comercialização e consumo, democratização do conhecimento e tecnologia, educação e
comunicação.
2. Assegurar a representação da Economia Solidária no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Econômico e nos conselhos estaduais e municipais que vierem a serem
organizados.
3. Sistematizar os mecanismos institucionais já implementados em diversos âmbitos que
possuem interface com a Economia Solidária, visando divulgá-los e aprimorá-los.
4. Fortalecer as bases através de redes por segmentos e por territórios.
5. Organizar fóruns por unidades federativas como formas de mobilização social para criar
as condições socioeconômicas e jurídicas que venham a fortalecer a Economia Solidária.
144

APÊNDICE 1

Teoria das Organizações: abordagens mecanicista e organicista

As metáforas da máquina e do organismo aplicados à organização ampliam nossa visão


sobre administração sugerindo ações que antes não teriam sido possíveis. Novos pontos de vista,
concorrentes e complementares, apesar de não serem perfeitos, são incrivelmente práticos e
influenciam significativamente nos resultados obtidos por meio da prática gerencial e
organizacional.
A imagem mecanicista nos estimula a estruturar e racionalizar tudo que fazemos, ao passo
que a imagem orgânica estimula-nos a enfatizar a adaptação e a satisfação das necessidades. Ao
pensar a organização como uma máquina, tendemos a estabelecer metas e objetivos precisos,
regulamentos rígidos, processos padronizados, tarefas rotinizadas, o que aumenta a eficiência e a
produtividade, mas deixa a desejar no que tange à satisfação das necessidades humanas,
desumanizando os funcionários, como se fossem engrenagens ou peças inanimadas, para atingir os
objetivos corporativos. Ao pensar a organização como um organismo, focamos nossa atenção à
flexibilidade dos processos, regulamentos e atividades, bem como na satisfação das necessidades
humanas, o que favorece a adaptação organizacional em ambientes complexos e turbulentos; em
contrapartida, a organização tende a se manter pouco estruturada e seus processos pouco
racionalizados, o que culmina em perda de eficiência e produtividade.
Ambas as abordagens, mecanicista e organicista, apresentam suas vantagens e desvantagens;
cada uma é mais adequada para determinado cenário socioeconômico. Pode-se dizer que num
ambiente socioeconômico relativamente estável, com condições tecnológicas de mercado bem
compreendidas, o modelo de organização mecanicista tenderá a beneficiar mais que o organicista; já
em um ambiente socioeconômico altamente imprevisível, com avanço tecnológico rápido e
oportunidades de mercado ilimitadas, o modelo de organização precisará da flexibilidade do modelo
organicista para se adequar às exigências do mercado, sendo o mecanicista inapropriado para esse
cenário.
Estudos de Burns e Stalker (1961) evidenciaram que a organização eficaz depende de se
conseguir um equilíbrio ou compatibilidade entre estratégia, estrutura, tecnologia, compromissos e
necessidades das pessoas e o ambiente externo. Ademais, os estudos de Lawrence e Lorsch (1962)
comprovaram que em ambientes relativamente estáveis, os modos de integração burocráticos
convencionais, tais como hierarquia e regras, pareciam funcionar muito bem. Mas em ambientes
mais turbulentos, eles precisavam ser substituídos por outros modos, tais como o uso de equipes
multidisciplinares e a indicação de pessoal qualificado na arte da coordenação e resolução de
conflitos.
Por exemplo, a Apple e a Google são exemplos de organizações com gestão flexível, que
sabem se adequar bem em cada cenário socioeconômico. São inovadoras, sabem que não existe um
modelo definitivo de gestão padronizado para todos os ambientes e cenários, ou seja, é necessário
os gestores “dançarem conforme a música” para serem bem sucedidos ao administrar uma
organização. Ambas as empresas são organicistas, valorizam a inovação, buscam se preparar hoje
para o dia de amanhã prevendo, com base na sua própria história e na história do seu respectivo
setor econômico, as necessidades e tendências comerciais futuras.
Desse modo, infere-se que certas organizações precisam ser mais orgânicas do que outras,
sugerindo que o grau de organicidade requerido varia de uma subunidade organizacional para outra
e de um cenário socioeconômico para outro e que algumas organizações perduram ao longo do
tempo exatamente porque sabem flexibilizar o seu modo de gestão seguindo estes critérios.
145

APÊNDICE 2

Abordagem organicista de organização

Enquanto a abordagem mecanicista de organização foca nas tarefas, a abordagem organicista


foco nas necessidades humanas. Dito isto, foi a descoberta das necessidades humanas dentro do
contexto organizacional, que fez surgiu a abordagem organicista, a qual estuda a organização como
um sistema biológico vivo, aberto, que interage constantemente com o meio ambiente. Ao pensar a
organização como um organismo, focamos nossa atenção à flexibilidade dos processos,
regulamentos e atividades, bem como na satisfação das necessidades humanas, o que favorece a
adaptação organizacional em ambientes complexos e turbulentos; em contrapartida, a organização
tende a se manter pouco estruturada e seus processos pouco racionalizados, o que culmina em perda
de eficiência e produtividade.
O foco nas necessidades humanas encoraja a ver as organizações como um processo de
interação que deve ser internamente balanceado, assim como com relação ao ambiente, de tal modo
que a estrutura, a tecnologia, a estratégia e a dimensão humana passam a ser vistas como
subsistemas com necessidades vivas que precisam ser satisfeitas de maneira mutuamente aceitável,
senão a abertura e a saúde do sistema como um todo sofrem.
Insatisfeitos com a abordagem mecanicista, e buscando resolver os problemas cada vez mais
complexos das organizações, os teóricos organizacionais encontraram na Biologia, conceitos,
padrões, e comparações úteis para se pensar e se compreender a organização. As distinções e as
relações entre moléculas, células, organismos complexos, espécies e ecologia são colocadas em
paralelo com aquelas entre indivíduos, grupos, organizações, populações (espécies) de organizações
e a sua ecologia social, trouxeram luz para a emissão de muitas ideias, por parte dos teóricos
organizacionais, para a compreensão dos fatores no funcionamento das organizações.
Tais estudos que, no início, estavam preocupados sobretudo com as relações entre as
condições de trabalho e a incidência de fadiga e de monotonia entre os empregados, na medida que
foram progredindo, abandonaram esta perspectiva taylorista e se focalizaram nas necessidades
humanas dos trabalhadores, incluindo as suas atitudes, preocupações, e fatores do ambiente social
fora do trabalho. Daí, os estudos caminharam para a busca da compreensão dos fatores que motivam
o ser humano a trabalhar bem, a se sentir satisfeito na e com a organização do trabalho, a se
autorrealizar profissional e pessoalmente por meio do trabalho. Foi desta busca que surgiram várias
teorias da motivação humana, tais como a do pioneiro Abraham Maslow, que apresentou o ser
humano como um tipo de organismo psicológico que luta para satisfazer as suas necessidades no
fito de alcançar o seu completo crescimento e desenvolvimento. Dentre os teóricos organizacionais,
destacaram-se administradores e psicólogos, dentre os quais Abraham Maslow, Chris Argyris,
Frederick Herzberg e Douglas McGregor, começaram as mostrar alternativas ao modelo burocrático
de organização para a criação de cargos “enriquecidos” e motivadores que encorajariam as pessoas
no exercício das suas capacidades de autocontrole e criatividade.
Os gestores das organizações, no seu dia a dia profissional, passaram a focar mais nas
necessidades dos seus subordinados, dando a eles cargos mais significativos, mais autonomia, mais
responsabilidade e mais reconhecimento, tanto quanto possível, buscando, com estas ações, um
envolvimento maior por parte deles com o seu trabalho. Estas experiências enriqueceram o seu
trabalho, combinando-o com um estilo de liderança mais participativo, democrático e centrado no
empregado, surgindo como uma alternativa à orientação excessivamente estreita, desumana e
autoritária provocada pela administração científica e pela teoria clássica de administração.
Melhorias significativas foram obtidas, tais como o aumento da produtividade e da satisfação do
trabalhador, bem como a redução do absenteísmo e da rotatividade do pessoal, e, obviamente, dos
seus respectivos efeitos consequentes.
Contudo, vale ressaltar que ambas as abordagens, a mecanicista e a organicista, apresentam
146

suas vantagens e desvantagens; cada uma é mais adequada para determinado cenário
socioeconômico. Pode-se dizer que num ambiente socioeconômico relativamente estável, com
condições tecnológicas de mercado bem compreendidas, o modelo de organização mecanicista
tenderá a beneficiar mais que o organicista; já em um ambiente socioeconômico altamente
imprevisível, com avanço tecnológico rápido e oportunidades de mercado ilimitadas, o modelo de
organização precisará da flexibilidade do modelo organicista para se adequar às exigências do
mercado, sendo o mecanicista inapropriado para esse cenário.
Estudos de Burns e Stalker (1961) evidenciaram que a organização eficaz depende de se
conseguir um equilíbrio ou compatibilidade entre estratégia, estrutura, tecnologia, compromissos e
necessidades das pessoas e o ambiente externo. Ademais, os estudos de Lawrence e Lorsch (1962)
comprovaram que em ambientes relativamente estáveis, os modos de integração burocráticos
convencionais, tais como hierarquia e regras, pareciam funcionar muito bem. Mas em ambientes
mais turbulentos, eles precisavam ser substituídos por outros modos, tais como o uso de equipes
multidisciplinares e a indicação de pessoal qualificado na arte da coordenação e resolução de
conflitos.
Desse modo, infere-se que certas organizações precisam ser mais orgânicas do que outras,
sugerindo que o grau de organicidade requerido varia de uma subunidade organizacional para outra
e de um cenário socioeconômico para outro e que algumas organizações perduram ao longo do
tempo exatamente porque sabem flexibilizar o seu modo de gestão seguindo estes critérios.
147

APÊNDICE 3

A abordagem cerebral de organização

O cérebro humano é um organismo incomparável, insubstituível, irreproduzível por nós


seres humanos, de tal modo que enxergar uma organização como um cérebro, vai muito mais além
do que enxergá-la como um mero organismo. Experiências de remoção de partes significativas do
cérebro de animais e de seres humanos, acompanhadas do funcionamento normal destes seres, sem
reduções significativas na sua capacidade, mostraram, que o todo deste organismo está presente em
cada uma de suas partes, ou seja, capa um dos neurônios possui o gene completo do funcionamento
cerebral, de modo que para eliminá-lo se faz necessário destruir todos os neurônios, ou ainda,
enquanto ainda restam algum neurônio, ainda existe a possibilidade do seu funcionamento normal.
Este fato é simplesmente impressionante! Foi com base nesta constatação que os
comentários de Taylor levaram a uma instigante questão: será possível planejar organizações de tal
forma que tenham a capacidade de ser tão flexíveis, resistentes e engenhosas como o funcionamento
do cérebro? A resposta é sim, se houver um meio que seja possível fazer com que a organização
como um todo, isto é, sua missão, sua visão, seus valores, sua cultura, seu modo de funcionamento,
enfim, toda a sua essência, esteja presente em cada uma das suas partes, fazendo parte da vida de
cada um de seus membros. Isto implica todos os seus stakeholders a conhecerem como um todo, a
sua história, a sua evolução, a sua saúde administrativa e contábil, etc., de modo, que na ausência de
um, outros possam dar continuidade às suas atividades, mantendo-a integralmente em pé, viva,
funcionante. Mais do que isso, a abordagem cerebral de organização implica que os seus membros
se autoorganizem de tal modo que consigam satisfazer as suas próprias necessidades.
Mais precisamente, o cérebro pode ser comparado a um sistema holográfico, uma das
maravilhas da ciência do laser, cuja invenção data de 1948 por Dennis Gabor, usando uma câmera
sem lentes para registrar informação de maneira a armazenar o seu todo em cada uma de suas
partes. Deste modo, a holografia demostra, de forma muito concreta, que é possível criar processos
nos quais o todo pode ser contido em todas as partes, de tal forma que cada uma e todas as partes
representem o todo.
Transformar uma organização em sistema holográfico organizacional implica fazer com que
cada um de seus membros consiga processar todas as informações necessárias para a adequada
tomada de decisões concernentes à sua sobrevivência, à sua consecução e ao seu progresso. É,
portanto, uma tarefa bastante complexa, que exige bastante trabalho, comprometimento e
flexibilidade, especialmente dos gestores organizacionais, na transferência do clima, da cultura e da
tecnologia organizacional para cada um de seus membros, tal como necessariamente precisa ser
operacionalizado no processo das fusões e aquisições empresariais. Ainda assim, tal tarefa é
possível, viável, operacionalizável, desde que haja na organização profissional instruídos e
experientes o suficientes em matéria de teorias organizacionais que se comprometa em dirigir este
processo de transferência.
Entretanto, vale à pena destacar que, tal qual no caso de outras abordagens de organização, a
abordagem cerebral também tem suas limitações. Ela otimiza todos os processos organizacionais,
faz uma espécie de “transposição genética organizacional” para cada um de seus membros, setores,
unidades e subunidades organizacionais, mas não é capaz de torná-la perfeita, por causa da
imperfeição do seu sistema, criado e mantido por seres humanos imperfeitos. Portanto, no processo
de transformação de uma organização para um sistema holográfico organizacional não há espaço
para dogmatismo, fanatismo, ortodoxismo exacerbado, nem burocracia excessiva.
148

APÊNDICE 4

A organização como cultura

Cultura Organizacional é, segundo Gareth, um conjunto de indivíduos com diferenças de


personalidades compartilhando de muitas causas comuns. Tais padrões de crenças ou significados
compartilhados, fragmentados ou integrados, apoiados em várias normas operacionais e rituais,
podem exercer influência decisiva na habilidade total da organização em lidar com os desafios que
enfrenta. A cultura organizacional Ela. Quando o teórico organizacional e professor universitário
Gareth Morgan comparara a organização a uma cultura, ele traz à tona alguns aspectos
fundamentais das organizações: a) que elas são construídas individual e coletivamente por seus
stakeholders e suas respectivas idiossincrasias, que envolvem suas crenças, formações,
personalidades, valores e comportamentos; b) que elas são constantemente influenciada por
variáveis controláveis, semicontroláveis e incontroláveis, provenientes tanto do seu ambiente
interno quanto do seu ambiente externo; c) que as estratégias, táticas e técnicas organizacionais são
resultados da sua cultura; neste caso, mudá-las implica necessariamente mudar a sua cultura
organizacional por completo; é por essa razão, que implementar um novo modelo de gestão, ou
reestruturar seus processos, seja em nível macro ou em nível micro, implica em mudanças culturais
organizacionais, o que envolve reuniões regulares pautadas em conversas significativas no sentindo
de identificar necessidades da organização e desenhar uma solução viável para seus problemas; d)
que elas são dinâmicas, precisam ser flexíveis para se adaptar ao cenário socioeconômico em que se
insere, mas, não raro, podem se mostrar rígidas, como no caso das organizações com culturas
familiares, tradicionais, com pensamentos estratégicos, táticos e operacionais passados de pais para
filhos, e, portanto, bastante conversadoras, fechadas a mudanças culturais, muitas vezes dificultando
ou até mesmo impossibilitando um crescimento e um desenvolvimento bem maior do que
comumente consegue fazer.
Em síntese, o autor inicia o capítulo cinco fazendo um paradoxo entre a cultura
organizacional americana que detinha a liderança nos anos 60 e se vê, a partir dos anos 70,
ameaçada com a hegemonia do Japão (que ressurge das cinzas após a 2ª Guerra Mundial). O estilo
de transformar o difícil no possível fez com que os japoneses pudessem dar um passo gigantesco na
qualidade e confiabilidade dos seus produtos. A cultura e a forma de vida japonesa foram fatores
preponderantes para essa ressurreição, tornando-se uma potência mundial, não inferior a qualquer
outra. Daí, desse período os teóricos e administradores dão maior ênfase a diversos estudos sobre
cultura e organizações, cremos que para entender esse fenômeno chamado Japão. Metaforicamente
a palavra cultura vem de cultivo, de plantar, no entanto refere-se ao padrão de ideologias, crenças,
leis e ritos cotidianos, hoje em dia, cultura nos faz ver que diferentes grupos de pessoas têm
diferentes estilos de vida.
Em seguida, Gareth Morgan cita importantes teóricos organizacionais. Primeiramente, o
cientista político Robert Presthus que nos fala da “Sociedade Organizacional”, onde grandes
organizações podem interferir no dia a dia das pessoas de forma peculiar e bem diferentes, levando-
se em conta o meio onde estão inseridas. Essas organizações têm rotinas e rituais que as identificam
como uma vida cultural distinta quando comparada com aquela em sociedades mais tradicionais.
Trabalhadores do Século XVIII têm culturas e rotinas diferentes dos trabalhadores do Século XIX, e
assim por diante. Mudam-se os contextos, mudam-se as culturas. Depois, ele apresenta o sociólogo
francês Emile Durkheim, o qual diz que o desenvolvimento das sociedades organizacionais é
acompanhado por uma desintegração dos padrões tradicionais de ordem social, em termos de ideais
comuns, crenças e valores, dando lugar a padrões fragmentados e diferenciados de crença e prática
baseada na estrutura ocupacional da nossa sociedade. O sistema paternalista está enraizado nas
organizações japonesas cujo conceito é de coletividade, ou seja, seus membros atuam como
colaboradores do processo e desempenham suas funções com essa visão. Existe um total
149

comprometimento entre as organizações e seus trabalhadores.


Morgan cita vários outros teóricos, tais como Murray Soyle, um especialista australiano em
Japão que acredita haver uma ligação entre os valores culturais dos campos de arroz com o espírito
servil dos samurais; o escritor Charles Hondy que nos fala do antagonismo que ocorre
frequentemente nas situações de trabalhadores britânicos onde predomina a ética protestante do
trabalho (paternalista e condescendentes), e dos americanos cuja ética é a do individualismo
competitivo.
Já o especialista americano a respeito do Japão, Ezra Vogel, nos demonstra que as
orientações são para jogar o jogo pra valer: com objetivos, responsabilidade, punindo ou premiando
aqueles que o fizerem por merecer. E, ainda, o antropologista Gregory Bateson nos fala sobre as
diferenças nas relações entre pais e filhos. Para os americanos as crianças são incentivadas a “ser o
número 1”; já os ingleses orientam para que sejam “vistos, mas não ouvidos”. No primeiro caso
estimula-se a independência e a força, no segundo, a serem expectadores e submissos.
Thomas Peterns e Robert Waterman enfatizam o uso do reforço positivo (Skinner) nas
organizações como forma de moldar o comportamento dos seus empregados, tal teoria que por nós
já foi estudada é válida em momentos que requerem resultados rápidos, porém existem críticas a
respeito dessa técnica uma vez que trabalha o empregado como se estivesse adestrando, o que levou
a ser mais utilizado em animais.
Linda Smircich, em seu estudo, nos fala que a cultura organizacional nem sempre é igual nos
ambientes externos e internos, onde a organização publicamente tem uma cultura de total
cooperação e no seu interior de total rivalidade entre seus membros e a organização. Várias
abordagens foram explicitadas nesse capítulo, umas um tanto agressivas como a de Geneen que
motiva as pessoas pelo terror, outras pelo exemplo como o caso da HP.
W. F. Whyte, sociólogo, fala dos status que as funções têm dentro das organizações, muitas
vezes fonte de conflitos. Harold Garfinkel demonstrou que as nossas habilidades são automáticas e
que o caos se apresenta quando tentamos mudar o padrão. Percebesse que as diferenças são muito
repudiadas nas sociedades e muitas vezes incompreendidas. O psicólogo organizacional Karl Weich
diz que configuramos e estruturamos a nossa realidade como um processo de representação, e tantos
outros...
Cabe-nos a compreensão de que as organizações sofrem influência das culturas e subculturas
que interagem com elas, de forma isolada e em conjunto. São influenciadas pelos contextos e pelas
mudanças que sofrem as populações. Percebe-se que cada indivíduo tem suas próprias crenças e
valores e isso interage com o meio onde vive, fazendo uso de seus raciocínios limitados atentos
aquilo que assimilou durante sua vida, o que torna as culturas organizacionais ímpares, visto que
são formadas pelos seus membros e suas peculiaridades.
Analisando mais de perto a história e a evolução das Teorias das Organizações, percebemos
claramente que este processo foi resultante de bastante diálogos, vivências e pesquisas realizadas
principalmente pelos teóricos organizacionais, e, em especial, pelas mudanças culturais, que
podemos demoninar, neste diapasão, paradigmáticas, que os mesmos fizeram, a priori, em si
mesmos, e, a posteriori, nos espaços laborais onde atuaram. Por exemplo, a começar por Frederick
Wislow Taylor, engenheiro mecânico estadounidense, conhecido como o pai da Administração
Científica, que mudou o seu modo de conceber o operário no sistema produtivo de sua época,
afirmando que ele não precisava mais conhecer todo o processo de produção, mas tão somente a
parte do mesmo que ele executava. Deste modo, não mais era necessária uma visão holística,
integrada e total da organização da sua parte, mas sim a especialização do pedaço do processo
produtivo do qual fazia parte. Foi daí, que, ao implantar este modo de pensar no processo produtivo
nas indústrias onde trabalhou como supervisor, e gerente, que este campo do conhecimento
começou a ganhar impulso, despertando o interesse de vários outros engenheiros, gestores e
empregadores. Daí, Henry Ford, baseando-se nos preceitos tayloristas, e aliando-os à automação
industrial de sua época, implementou na Ford Motor Company, produtora de automóveis
150

estadounidense, uma das maiores do mundo, fundada por ele mesmo em 1903, o modelo de
produção fordista, cujas característica centravam em: a) automação rígida; b) especialização
unifuncional operária; c) grandes estoques; d) jornada de trabalho de oito horas diárias, cinco dias
por semana, e cinco dólares por dia; e) relação um homem para uma máquina; f) relação autoritária
entre gerentes e operários. Posteriormente, o engenheiro japonês Taiichi Ohno, concebeu e
implementou na Toyota, produtora de automóveis japonesa, uma nova cultura organizacional
produtiva, o denominado toyotismo, ou ohnismo, pautado na eliminação dos estoques parados
(gestão de estoques Just In Time) e, portanto, do lead-time, na especialização multifuncional e bem
qualificada dos operários, na relação cooperativa entre gerentes e operários, na automação flexível,
e na implantação do sistema de qualidade total. Este modelo se popularizou na expansão que teve ao
redor do mundo todo nos idos de 1970. Enfim, estes três primeiros modos de produção foram os
principais nos séculos XIX e XX. Todos eles marcaram mudanças significativas de culturas
organizacionais, desencadeadas por diálogos, vivências e pesquisas, sobretudo por parte dos
teóricos organizacionais.
151

APÊNDICE 5

A organização como um sistema político

Por política pode-se compreender um conjunto de diretrizes, valores, sentimentos,


princípios, normas, leis, regras que regem a direção, a ordem, o funcionamento, o governo, a
administração de uma organização. Um sistema político é, destarte, um conjunto de pessoas,
instituições, materiais, equipamentos e outros elementos necessários à elaboração e à
implementação das políticas organizacionais. As ações antrópicas são políticas na medida que
revelam as diretrizes, normas, princípios, valores, crenças e sentimentos que regem o
comportamento humano. A organização pode ser vista – e o é no capítulo seis de Imagens de
Organização – como um sistema político porque é formada com base em um conjunto de diretrizes,
valores, sentimentos, princípios, normas de conduta, leis, estabelecidas pelo todo ou por parte de
seus stakeholders, normalmente os gestores, que incluem diretores, presidentes, acionistas, gerentes,
coordenadores, e seus vices, às vezes supervisores e seus subordinados.
Entretanto, conforme apresentado no parágrafo anterior, cada um dos stakeholders possuem
e são influenciados pelas suas próprias políticas de vida, e, no contexto organizacional, estão
submetidos a todas as políticas organizacionais. Ou seja, quando há divergência entre as políticas
organizacionais e as políticas particulares de seus membros, instauram-se conflitos, que, não raro,
são “resolvidos” com base no autoritarismo. “O incomodado que se mude.”, “Manda quem pode,
obedece quem tem juízo.”, “Se não quiser ficar, basta ir embora.”, são os adágios populares mais
comuns presentes exatamente neste contexto, são comumente pronunciados pelos superiores
hierárquicos aos seus subordinados quando os mesmos revelam algum tipo de discordância com as
políticas organizacionais. Em outras palavras, a organização nunca está errada, nunca precisa fazer
mudanças em suas políticas, é o subordinado que, ou segue as políticas organizacionais do jeito que
elas são, ainda que haja motivos para não seguir, ou então “cai fora”, porque a fila para
recrutamento e seleção é grande, de modo que o ele “não faz a mínima diferença”.
O autor nos relata casos onde a influência da política está presente nas organizações, seja
pelo ponto de vista dos empregados ou do empregador. Não importa qual o lado, ela está presente.
Isso ocorre porque o ser humano coloca suas filosofias em tudo aquilo que participa e não seria
diferente nas organizações. A personalidade e desejos de cada um são aliados a filosofia da
empresa, e onde elas divergem dá-se origem a uma “guerra” às vezes não declarada e, mas raro,
bem acirrada. Estas situações são mais visíveis em empresas familiares, onde o proprietário coloca
sua vontade acima de tudo, até mesmo dos interesses da organização na clássica frase: eu mando e
quem tem juízo obedece. Gareth cita exemplos como a demissão de Lee Iacocca, um executivo
muito bem sucedido da Ford, pelo seu presidente Henry Ford II por “divergências no modo de
pensar”, porém cogita-se a possibilidade de Iacocca ter ficado “importante” demais, desviando os
holofotes de Henry.
Vê-se no texto que a política não é específica das empresas administradas pelos seus
proprietários está presente nos sistemas de co-gestão também, que é quando os empregados
adquirem o poder através da aquisição da massa falida e resolvem, eles mesmos, administrar. Por
vezes com sucesso. A competição acirrada provoca atitudes que muitas vezes está pautada em
interesses pessoais. Os protagonistas usam de suas habilidades políticas, nem sempre tão éticas,
para alcançar os objetivos. O Poder na política é quem resolve os conflitos, e assim, os interesses
giram em torno dele, de presidentes a operários, todos fazem política a fim de sobreviverem e
progredirem em suas atividades.
Gareth cita o cientista político americano Robert Dahl, “sugerindo que o poder envolva
habilidade para conseguir que outra pessoa faça alguma coisa que, de outra forma, não seria feita”.
Daí surge várias fontes de poder, entre elas, a autoridade formal, a primeira e clara fonte de poder
numa organização por ser legitimado é respeitado e conhecido por aqueles com quem se interage.
152

Segundo Weber, a legitimidade é uma forma de aprovação social essencial para estabilização das
relações do poder.
Morgan nos fala, também, das organizações pluralistas: caracterizadas por tipos idealizados
de democracias liberais em que, potencialmente, as tendências autoritárias são mantidas sob
controle pelo livre jogo de grupos de interesses que têm alguma semelhança com governo político.
Ou seja, a negociação é parte importante para criar uma unidade a partir da adversidade, como
pregava Aristóteles, como ideal político.
Ao encontrar a fonte do problema cabe ao administrador junta forças para resolvê-lo, para
isso deverá imbuir à equipe num só objetivo. Trata-se de uma ideologia unicista de equipe, onde
todos devem contribuir para não dar lugar aos conflitos. Morgan cita os cinco estilos de resoluções
de conflito: Competitivo; Colaborador; Compreensivo; Impeditivo e Acomodador.
Existe uma tendência a associação de política com algo ruim, deve ser por causa da visão
negativa que se têm dos políticos, mas não é bem assim, a política não tem esse caráter tão
medonho, são as pessoas que desvirtuam as características para alcançar seus objetivos a qualquer
preço. Mas é possível a política e a ética co-habitarem, difícil, mas possível. Tudo depende do
caráter de quem faz e do meio em que se faz política.
Segundo Nietzsche, os seres humanos têm o desejo de poder, de dominação e controle, mas
é obrigatório reconhecer que as tensões entre os indivíduos particulares e organizacionais
promovem incentivo para os indivíduos agirem politicamente. Nesse artigo passasse a ver política
em todos os ambientes, quer sejam organizações quer seja em particular, onde atos inocentes como
servir um café ao amigo possa ser visto como um ato político de alguém que quer tirar proveito
dessa gentileza posteriormente, mas não é bem assim. A competição acirrada nos leva a pensar
dessa forma, porém é salutar que possamos ter uma visão mais ampla do que é política e como
poderemos utilizar esse mecanismo a nosso favor. Pois dos conflitos podemos tirar ensinamentos e
das vitórias podemos nos brindar pelos nossos méritos.
Vale salientar que a política e o jogo político, tal como aponta Morgan, podem ser um
aspecto essencial da vida organizacional e não necessariamente algo disfuncional, ou ainda aspectos
em relação aos quais só se tem a opção de aceitar ou rejeitar. As organizações são compostas por
seres humanos, pensantes, capazes de construírem juntos as suas políticas. Para tanto, necessário é
haver a participação de todos os membros da organização no processo de elaboração e
implementação das suas políticas, de acordo com o seu nível profissional na mesma. Isto é, em cada
setor operacional, todos os seus operários precisam participar na elaboração e implementação de
todas as políticas organizacionais operacionais do seu setor. Em cada setor tático, todos os
stakeholders nele envolvidos, precisam participar de todas as etapas do processo de elaboração e de
implementação das políticas organizacionais táticas dos processos do seu setor. No nível
estratégico, todos os stakeholders nele envolvidos, precisam participar de todas as etapas do
processo de elaboração e de implementação das políticas organizacionais estratégicas dos processos
do seu setor. Lembrando, que para a atuação no nível estratégicos, é preciso um dominar, em um
grau mais elevado, todas as habilidades conceituais (teoréticas) gerais e específicas do seu ramo
organizacional, ao passo que no nível tático, é preciso dominar, em um grau mais elevado, todas as
habilidades humanas (atitudinais) gerais e específicas do seu ramo organizacional, e no nível
operacional, é preciso dominar, em um grau mais elevado, todas as habilidades procedimentais
(técnicas) do seu ramo organizacional.
As políticas, quando flexíveis (i.e., adaptáveis), cujas ultimato decisório não se concentra na
mão de um único indivíduo ou de um grupo que tipicamente tomam as decisões importantes,
deixando as demais para os seus subordinados, tendem a ser predominantemente democráticas.
Todavia, este tipo de gestão organizacional, comum na literatura crítica sobre liderança, faz-se
pouco presente no cotidiano organizacional, em que tipicamente o ultimato para delineamento de
políticas e ações se concentra na mão de um único indivíduo ou de um grupo seleto, a elite
organizacional, tipicamente formada pelo(s) dono(s). Conforme relata Morgan, a gestão praticada
153

por Henry I e Henry II, dentre outros gestores da Ford Motor Company, mostrou-se
exacerbadamente autocrática, tanto que, ao demitirem o gestor Iacocca, especulou-se que o destino
dele for selado pelo fato de que ele havia tornado poderoso demais dentro da companhia. Esta
prática é comum nas organizações do cenário socioeconômico atual, marcado pela exacerbação do
processo de reestruturação do mercado de trabalho resultante das forças produtivas capitalistas
acentuadamente competitivas e excludentes do século XXI.
A lógica organizacional do século XXI é, não apenas a acumulação de capital, mas também
a acumulação do poder, de modo que a gestão autocrática, com maior ou menor “sutileza”, é a que
tem imperado em todo o mundo, sobretudo nas grandes combinações de negócios, em sua maioria
sociedades anônimas com capital aberto.
154

APÊNDICE 6

Teorização organizacional: um campo historicamente contestado

Michel Reed introduz este capítulo mencionando as origens históricas dos estudos
organizacionais com os escritos de pensadores do século XIX, tais como Saint-Simon. Ele explana
que tais pensadores tentaram antecipar e interpretar as nascentes transformações ideológicas e
estruturais resultantes do capitalismo industrial. Desde o advento e a expansão do sistema capitalista
ao redor do globo terrestre, as organizações cresceram em complexidade e em intensidade da
atividade coletiva, difundindo-se tão amplamente que chegaram ao ponto de dominar as esferas
econômica, cívica e política, modificando-as. Por exemplo, no campo cívido, o crescimento de uma
“sociedade organizacional” representou um avanço inexorável da razão, da liberdade e da justiça
bem como da possibilidade de erradicação da ignorância, da coerção e da pobreza. No campo
político, as organizações desfrutaram dos benefícios dos estudos organizacionais na execução de
projetos, racionalmente elaborados, para resolverem conflitos permanentes entre as necessidades
coletivas e as vontades individuais que vinham obstruindo o progresso social desde os dias da
Grécia Antiga. No campo econômico, a intensificação e a expansão comercial, gerada inicialmente
pelo aumento exponencial da população mundial, e também pelos estragos causados pelas grandes
guerras mundiais, aumentaram significativamente a produtividade, gerando maior riqueza
organizacional e para o país, aumentando os postos de trabalho, gerando mais renda; além disto, o
compasso empresarial passou a ser a principal base das mudanças legislativas, da reorganização do
Estado, dos investimentos estatais, o que inclui o modelo de plano econômico nacional adotado para
combater a inflação, as elevadas taxas de juros, o desemprego, a fome, a miséria, dentre outras
mazelas sociais.
Objetivando mapear a Teoria das Organizações como um campo de conflitos históricos em
que diferentes línguas, abordagens e filosofias lutam por reconhecimento e aceitação, Reed examina
seis modelos interpretativos que estruturam o desenvolvimento do campo ao longo do último
século, bem como os contextos histórico-sociais em que eles atingiram certo grau de predominância
intelectual. Em seguida, ele considera as exclusões ou omissões mais significativas que se
evidenciam nessas principais tradições narrativas e conclui o capítulo com uma avaliação de
desenvolvimentos intelectuais futuros, contextualizando-os dentro das formas narrativas
previamente esboçadas.
O primeiro modelo interpretativo das organizações é o da racionalidade, cuja problemática
principal é a ordem. As perspectivas ilustrativas (exemplos) são a Teoria Clássica das Organizações,
a Administração Científica e a Teoria da Decisão. Seus principais teóricos foram Taylor, Fayol e
Simon. Ocorreram as transições contextuais de Estado guarda-noturno a Estado industrial.
O segundo modelo interpretativo das organizações é o da integração, cuja problemática
principal é o consenso. As perspectivas ilustrativas (exemplos) são a Teoria das Relações Humans, a
Neo-RH, o Funcionalismo, a Teoria da Contingência Sistêmica e a Cultura Corporativa. Seus
principais teóricos foram Durkheim, Barnard, Mayo e Parsons. Ocorreram as transições contextuais
de capitalismo empresarial a capitalismo do bem-estar.
O terceiro modelo interpretativo das organizações é o do mercado, cuja problemática
principal é a liberdade. As perspectivas ilustrativas (exemplos) são a Teoria da Firma, a Economia
Instirucional, os Custos de Transação, a Teoria da Atuação, a Dependência de Recursos, a Ecologia
Populacional e a Teoria Organizacional Liberal. Ocorreram as transições contextuais de capitalismo
gerencial a capitalismo neoliberal.
O quarto modelo interpretativo das organizações é o do poder, cuja problemática principal é
a dominação. As perspectivas ilustrativas (exemplos) são a Teoria Institucional, o Marxismo
Crítico-estrutural, o Processo de trabalho e o Radicalismo weberiano. Ocorreram as transições
contextuais de coletivismo liberal a corporativismo negociado.
155

O quinto modelo interpretativo das organizações é o do conhecimento, cuja problemática


principal é o controle. As perspectivas ilustrativas (exemplos) são o Etnométodo, o Símbolo
(cultura) Organizacional, a Teoria Pós-estruturalista, a Teoria Pós-industrialista, a Teoria Pós-
fordista (moderno) e a Teoria do ator-rede. Seus principais teóricos foram Foucault e Garfinkel.
Ocorreram as transições contextuais de industrialismo (modernidade) a pós-industrialismo (pós-
modernidade).
O sexto modelo interpretativo das organizações é o da justiça, cuja problemática principal é
a participação. As perspectivas ilustrativas (exemplos) são a Ética de Negócios, a Moralidade e OB,
a Democracia Industrial, a Teoria Participativa, a Teoria Crítica. O seu principal teórico foi
Habermas. Ocorreram as transições contextuais de democracia repressiva a democracia
participativa.
Cada um dos modelos interpretativos apresentados por Reed formam o campo intelectual de
conflitos históricos em que a análise organizacional se desenvolveu – um campo que deve ser
mapeado e atravessado levando-se em consideração as inter-relações entre os fatores processuais e
contextuais em torno dos quais essa área do conhecimento emergiu.
156

APÊNDICE 7

Focalizando a mudança: teorias e modelos

Paulo Roberto Motta introduz este capítulo ressaltando a importância das teorias para a
construção de um arcabouço teórico capaz de nortear a transformação organizacional. Teorias tanto
são geradas por experiências quanto geram novas possibilidades de experiências ainda não
vivenciadas ou não observadas adequadamente. Sobre estes aspectos, o autor (2001, p. 70 e 71) diz
na íntegra:

Teorias são sistematizações mais rigorosas e coerentes sobre experiências e ideias


administrativas. Para se construir uma teoria é necessário definir a essência de seu objeto,
singularizá-lo e definir causalidades, significados e interpretações sobre sua existência. A
ciência administrativa ainda se digladia sobre objetos e métodos de construção teórica.
[…]
As teorias se justificam pela capacidade de explicar a realidade e, principalmente, pela
aplicação prática na solução de problemas administrativos. Pela teoria se aprende maneiras
diversas de pensar, de se construir algo novo e de acreditar na mudança. O pensamento
teórico sobrepõe-se, complementa e aperfeiçoa a perspectiva prática.
O pensamento teórico valoriza a compreensão da organização em seu todo e como parte de
uma estrutura social maior; procura causalidades, inter-relações e significados capazes de
formar uma coerência de pensamento sobre seu objeto de análise. O pensamento prático
valoriza instrumentos para a ação inovadora: preocupa-se com a utilidade e a eficácia dos
meios em relação aos fins e com os significados individuais e coletivos da mudança.

Em seguida, Motta apresenta os seis principais modelos conceituais de organização e as


respectivas formas e instrumentos de mudança que lhes são associados. Tais modelos são
perspectivas de análise organizacional focados em temas e unidades organizacionais específicas e
prioritárias. São elas: a estratégica, a estrutural, a tecnológica, a humana, a cultural e a política.
A perspectiva organizacional estratégica tem como tema prioritário as interfaces da
organização com o meio ambiente, a decisão (interfaces ambientais) é a sua unidade básica de
análise, a coerência da ação organizacional é o seu objetivo prioritário de mudança, a sua
problemática focal é a vulnerabilidade da organização às mudanças sociais, econômicas e
tecnológicas, a sua proposição principal para ação inovadora é desenvolver novas formas de
interação da organização com o seu ambiente.
A perspectiva organizacional estrutural tem como tema prioritário a distribuição de
autoridade e responsabilidade, suas unidades básicas de análise são os papéis e os status, seu
objetivo prioritário de mudança é a adequação da autoridade formal, sua problemática principal é a
redistribuição de direitos e deveres, sua proposição principal para ação inovadora é redefinir e
flexibilizar os limites formais para o comportamento administrativo.
A perspectiva organizacional tecnológica tem como temas prioritários os sistemas de
produção e os recursos naturais e “intelectuais” para desempenho das tarefas, suas unidades básicas
de análise são os processos, as funções e as tarefas, seu objetivo prioritário de mudança é a
modernização das formas de especialização do trabalho de tecnologia, sua problemática principal é
a adequação da tecnologia e possibilidade de adaptação, sua proposição principal para ação
inovadora é introduzir novas técnicas e novo uso da capacidade humana.
A perspectiva organizacional humana tem como temas prioritários a motivação, as atitudes,
as habilidades, os comportamentos individuais, a comunicação e o relacionamento grupal, suas
unidades básicas de análise são os indivíduos e os grupos de referência, seu objetivos prioritários de
mudança são a motivação, a satisfação pessoal e profissional e maior autonomia no desempenho das
tarefas, suas problemáticas principais são a aquisição de habilidades, o desenvolvimento individual
157

e a aceitação de novos grupos de referência, sua proposição principal para ação inovadora é instituir
um novo sistema de contribuição e de redistribuição.
A perspectiva organizacional cultural tem como tema prioritário as características de
singularidade que definam a identidade ou programação coletiva de uma organização, suas unidades
básicas de análise são os valores e os hábitos compartilhados coletivamente, seus objetivos
prioritários de mudança são a coesão e a identidade interna em termos de valores que reflitam a
evolução social, sua problemática principal é o fato das ameças à singularidade e aos padrões de
identidade organizacionais, sua proposição principal para ação inovadora é preservar a
singularidade organizacional, ao mesmo tempo em que se desenvolve um processo transparente e
incremental de introduzir novos valores.
A perspectiva organizacional política tem como tema prioritário a forma pela qual os
interesses individuais e coletivos são articulados e agregados, suas unidades básicas de análise são
os interesses individuais e coletivos, seu objetivo prioritário de mudança é a redistribuição dos
recursos organizacionais segundo novas prioridades, sua problemática principal é a questão dos
conflitos de interesses por alteração nos sistemas de ganhos e perdas, sua proposição principal para
ação inovadora é estabelecer um novo sistema de acesso aos recursos disponíveis.
Motta conclui que as teorias sobre a transformação organizacional formam um conjunto
confuso e de difícil compreensão mesmo para pessoas mais avisadas, porque tendem a privilegiar
algumas dimensões organizacionais em detrimento de outras, de acordo com a perspectiva de
análise ou a teoria substantiva em que se baseiam.
158

APÊNDICE 8

Notas especiais sobre a legislação trabalhista brasileira

O salário é o valor monetário mínimo (piso) fixado entre empregador e empregado,


observados os dispositivos legais trabalhistas, referente à contraprestação devida ao empregado pela
prestação de serviços, em decorrência do contrato de trabalho. Justo é que o salário seja
proporcional à complexidade das funções exercidas e ao perfil do funcionário, ou seja, seu nível de
instrução, seu tempo de atuação no mercado de trabalho, e o seu domínio dos conteúdos
conceituais, procedimentais e atitudinais necessários à sua adequada atuação profissional (BRASIL,
1943; 1988).
A remuneração é a soma dos proventos totais oriundos das atividades profissionais
realizadas sob vínculo empregatício, antes dos descontos cabíveis em lei ou equivalente. Compõem
a remuneração: o SALÁRIO e os ACRÉSCIMOS, que correspondem a: as COMISSÕES, as
AJUDAS DE CUSTO, as HORAS EXTRAS, os ADICIONAIS, os proventos IN NATURA, os
GORJETAS, os PRÊMIOS, o 13º SALÁRIO, os PRÊMIOS, as FÉRIAS, as RESCISÕES, as
GRATIFICAÇÕES, as DIÁRIAS PARA VIAGENS, as PARTICIPAÇÕES NOS LUCROS E NOS
RESULTADOS (BRASIL, 1943; 1988). Então:

A base de cálculo dos acréscimos é sempre o salário. Consta o art. 462 da CLT (BRASIL,
1943) que “aoREMUNERAÇÃO = SALÁRIO
empregador é vedado FIXO +desconto
efetuar qualquer ACRÉSCIMOS FIXOS
nos salários E
do empregado, salvo
quando este resultar de adiantamentos, de VARIÁVEIS
dispositivos de lei ou de contrato coletivo”. No entanto,
há descontos previstos em lei que o empregador pode fazer na folha de pagamento do empregado,
alguns deles precisando de anuência dele (BRASIL, 1943; 1988). São os descontos principais:

Faltas (dias): São os dias que efetivamente o empregado não compareceu e não houve
nenhuma forma que autorizasse o pagamento. Esses dias são utilizados para dedução da base de
cálculo do INSS, IRRF e FGTS, também prejudicam no escalonamento das férias e 13º salário
(BRASIL, 1943; 1988).

Atrasos (horas): essas horas são as que efetivamente o empregado não compareceu e não
houve nenhuma forma que autorizasse o pagamento (BRASIL, 1943; 1988).

Vale Refeição: Apesar de não ser uma obrigatoriedade perante a lei, é muito comum
encontrar empresas que forneçam o vale refeição ao empregado. Seu desconto é limitado por lei a
20% do valor entregue (BRASIL, 1943; 1988).

Vale Transporte: é um benefício entregue por força de lei, do valor entregue ao empregado,
o empregador pode descontar no máximo 6% do salário base, isso se o valor entregue for maior,
caso contrário, descontar o valor entregue (BRASIL, 1943; 1988).

Adiantamento Salarial: Qualquer adiantamento deve ser descontado na Folha de


Pagamento (BRASIL, 1943; 1988).

Contribuição Sindical: é devida pelo empregado a contribuição de 01 dia de trabalho no


exercício anual de sua atividade, normalmente ocorre o desconto em março de cada ano, porém caso
não tenha sido descontada deverá ser feita no mês seguinte à admissão (BRASIL, 1943; 1988).
159

INSS: A contribuição destinada ao INSS obedece a tabela correspondente ao mês em que o


serviço foi prestado, além disso, varia de acordo com o SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO
(BRASIL, 1943; 1988).

FGTS: O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço também é descontando da folha de


pagamento. O valor é formado pelas contribuições compulsórias do empregador e a alíquota é de
8% em cima do valor total da folha de pagamento - REMUNERAÇÃO. Vale ressaltar que o valor
correspondente ao FGTS deve ser depositado pelo empregador na conta do empregado na Caixa
Econômica Federal (BRASIL, 1943; 1988).

Imposto de Renda: desconto compulsório determinado pelo Governo sobre o rendimento


assalariado, depende do evento pago no recibo de pagamento; após o desconto, o valor é recolhido
aos cofres públicos da União no terceiro dia útil da semana seguinte ao pagamento, através da guia
DARF (BRASIL, 1943; 1988).

A base de cálculo das demais deduções (descontos) da folha de pagamento, é sempre a


remuneração. Por exemplo, descontos de salário-família, salário-maternidade, pensão alimentícia.
Justo é que a remuneração seja proporcional à complexidade das funções exercidas e ao perfil do
funcionário, ou seja, seu nível de instrução, seu tempo de atuação no mercado de trabalho, e o seu
domínio dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais necessários à sua adequada atuação
profissional (BRASIL, 1943; 1988).
O nível hierárquico é uma importante forma de definição de escopo administrativo, ou seja,
é responsável pela definição estratégica do administrador dentro da instituição. Os administradores
são classificados em três níveis hierárquicos: estratégico, tático e operacional (BRASIL, 1943;
1988). Estratégico: é o nível mais elevado da hierarquia, compreende presidentes, diretores e
demais gestores da alta cúpula e decidem os objetivos globais da empresa. As tendências do
mercado, a situação financeira do mesmo e a sua influência na organização, analisam as mudanças
de comportamento do consumidor e qual serão as estratégias políticas e financeiras para adaptar-se
as adversidades encontradas. Tático: nesse nível estão inclusos os chefes de cada sessão e os
gerentes. Nessa posição as tarefas a serem desempenhadas são todas da área organizacional
(financeiro, recursos humanos, linhas diferenciadas de produtos e etc). Esse nível administrativo é
também responsável pela implementação das decisões estratégicas tomadas pelo nível acima.
Operacional: Nesse nível os administradores devem extrair o máximo das potencialidades do
colaborador através das ferramentas administrativas que lhe são concedidas, seu papel é aperfeiçoar
a produção de bens e serviços de maneiras satisfatórias em curto prazo, sempre seguindo as
diretrizes estabelecidas no nível tático. Dentre os cargos inerentes a essa posição podemos citar os
chefes de equipe e supervisores. Justo é que o nível hierárquico seja proporcional à complexidade
das funções exercidas e ao perfil do funcionário, ou seja, seu nível de instrução, seu tempo de
atuação no mercado de trabalho, e o seu domínio dos conteúdos conceituais, procedimentais e
atitudinais necessários à sua adequada atuação profissional (BRASIL, 1943; 1988).
Conhecer os dispositivos legais que disciplinam cada um dos direitos trabalhistas,
previdenciários e assistenciais facilita a compreensão da essência dos direitos dos trabalhadores e
contribui para a promoção da dignidade humana, combatendo a precarização das e nas relações do
trabalho. Por essa razão, eu os transcrevo sinteticamente a seguir:

Salário => artigo 7º CF/88.

VT => 6% do salário por conta do empregado, com a sua anuência; restante por parte do
empregador; proporcional aos dias trabalhados.
160

VR/VA => 20% do salário por conta do empregado, com a sua anuência; restante por parte
do empregador; proporcional aos dias trabalhados.

AO/AM => até 20% de desconto nos serviços utilizados; tarifa mensal variável de cada
empresa prestadora dos serviços médicos e/ou odontológicos.

SEGURO DE VIDA => artigo 462 CLT; à luz do enunciado 342 do TST, o SV, o PO e a
AM só podem ser descontadas pelo empregador a autorização prévia e por escrito por parte do
empregador.

FGTS => 8% sobre a remuneração.

INSS => Portaria interministerial MPS/MF 13/2015. Sobre o salário. Tabela para
empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso: a) até 1399,12: 8%; b) de 1399,13 a
2331,88: 9%; c) de 2331,89 a 4663,75: 11%. Tabela para contribuinte individual e facultativo: a)
MEI e Facultativo de Baixa Renda, base em 788: 5%; b) Plano Simplificado de Previdência: 11%;
c) de 788 a 4663,75: 20%.

Assistência e homologação na rescisão de contrato de trabalho => Instrução Normativa


SRT/TEM, de 14 de julho de 2010. Estabelece a sua necessidade em caso de contrato por mais de
um ano de trabalho.

Empregado doméstico => Lei Complementar 150/2015 e Emenda Constitucional – EC


72/2013.

Licença maternidade => Lei 11770/2008.

Imposto de Renda Retido na Fonte => Medida Provisória 670/2015; Lei 13149/2015.
Sobre a remuneração. Segue tabela anual elaborada pela Secretaria da Receita Federativa Brasileira
(SRFB) e disponibilizada no seu sítio eletrônico oficial.

Salário família => artigo 7º, XII, da CF/88; artigo 444 da CLT. Portaria interministerial
MPS/MF 13/2015. O salário-família é um valor pago ao empregado e ao trabalhador avulso, de
acordo com o número de filhos ou equiparados que possua. Filhos maiores de quatorze anos não
tem direito, exceto no caso dos inválidos (para quem não há limite de idade). Para ter direito, o
cidadão precisa enquadrar-se no limite máximo de renda estipulado pelo governo federal. Quem
possui remuneração mensal de até R$ 725,02 recebe R$ 37,18 por dependente. Já quem possui
remuneração mensal entre R$ 725,03 e R$ 1.089,72 recebe R$ 26,20 por dependente. O empregado
deve requerer o salário-família diretamente ao empregador. Já o trabalhador avulso deve requerer o
benefício ao sindicato ou órgão gestor de mão-de-obra ao qual está vinculado. Casos estes
trabalhadores estejam recebendo auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e aposentadoria por
idade rural, devem realizar o seu requerimento no INSS. O mesmo vale para os demais aposentados,
que também tem direito ao salário-família caso tenham mais de 65 anos de idade, se homem, ou 60
anos de idade, se mulher, e possuam filhos que se enquadrem nos critérios para a concessão.

Estagiário => Lei 11788/2008.

Contribuição Sindical => A Contribuição Sindical dos empregados, devida e obrigatória,


será descontada em folha de pagamento de uma só vez no mês de março de cada ano e
corresponderá à remuneração de um dia de trabalho. O artigo 149 da Constituição Federal prevê a
161

contribuição sindical, concomitantemente com os artigos 578 e 579 da CLT, os quais preveem tal
contribuição a todos que participem das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões
liberais.

Contribuição Confederativa => A Contribuição Confederativa, cujo objetivo é o custeio


do sistema confederativo, poderá ser fixada em assembleia geral do sindicato, conforme prevê o
artigo 8º inciso IV da Constituição Federal, independentemente da contribuição sindical citada
acima.

Contribuição Assistencial => A Contribuição Assistencial, conforme prevê o artigo 513 da


CLT, alínea "e", poderá ser estabelecida por meio de acordo ou convenção coletiva de trabalho, com
o intuito de sanear gastos do sindicato da categoria representativa.

Mensalidade Sindical => A mensalidade sindical é uma contribuição que o sócio


sindicalizado faz, facultativamente (conforme art. 5º, inciso XX da CF), a partir do momento que
opta em filiar-se ao sindicato representativo. Esta contribuição normalmente é feita através do
desconto mensal em folha de pagamento, no valor estipulado em convenção coletiva de trabalho.

Adicional noturno => artigo 73 da CLT. Fixado em 20% do salário. Considera-se noturno,
nas atividades urbanas, o trabalho realizado entre as 22:00 horas de um dia às 5:00 horas do dia
seguinte. Nas atividades rurais, é considerado noturno o trabalho executado na lavoura entre 21:00
horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte, e na pecuária, entre 20:00 horas às 4:00 horas do dia
seguinte.

Adicional de insalubridade => Pela redação dada pelo art. 192 e 194 da CLT, a
insalubridade pode ser fixada pelo perito em grau mínimo, médio ou máximo, logo, é certo que o
empregado tem direito à percepção de 10%, 20% ou 40%, respectivamente.

Adicional de periculosidade => Artigo 193 da CLT e Enunciado 191 do TST. Fixado em
30% do salário mínimo.

Adicional de horas extras => artigo 7º CF/88; artigo 99 da CLT; artigo 791 da CLT.
Estabelecem no máximo 2 horas por dia e 60 horas mensais.

Adicional de transferência => artigo 469 da CLT. Pagamento suplementar de no mínimo


25% do salário percebido na localidade da qual foi transferido, enquanto durar a situação.

Horários da jornada dos trabalhadores de telemarketing => artigos 57 a 75 da CLT;


anexo II da NR 17 SRT/TEM. Especifica máximo de 6 horas diárias, que incluem duas pausas cada
uma de 10 minutos para água e banheiro, acrescido de 20 minutos para lanche, total de 44 horas
semanais e 220 horas mensais.

Férias e férias proporcionais => artigo 142 da CLT. Corresponde ao valor do salário
acrescido de 1/3. O artigo 175 da Lei 59/2008 proíbe.

Décimo terceiro salário => Lei 4090/62, Lei 4749/65; artigo 482 da CLT. A primeira
parcela precisa ser quitada até o mês de novembro; a segunda parcela precisa ser quitada até o dia
20 de dezembro.

Aviso prévio => artigo 483, 487 e 489 da CLT. Há previsão legal para revogação do aviso
162

prévio anterior ao 30º dia e para continuação dos serviços prestados pelo funcionário casa haja
consenso entre as partes.

TRCT => devida em caso de término de contrato de trabalho. A assistência e a


homologação da rescisão do contrato de trabalho está normatizada pela IN SRT/TEM 15/2010.

Multa de FGTS => equivale a 50% do valor saldo do FGTS, informado por declaração da
CEF, sendo que 10% o empregador paga aos cofres públicos (CEF) e 40% para o empregado.

Seguro desemprego => Lei 13134/2015, que estabeleceu três novas formas de solicitação
do benefício. Varia de 4 a 5 parcelas para 1ª solicitação (mínimo de 12 meses de trabalho), de 3 a 5
parcelas para 2ª solicitação (mínimo de 9 meses de trabalho) e de 3 a 5 parcelas para 3ª solicitação
(mínimo de 6 meses de trabalho).

Anotações na CTPS => artigo 53 da CLT determina devolução da CTPS em, no máximo,
48 horas.
163

APÊNDICE 9

Notas especiais sobre a legislação previdenciária brasileira

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes


públicos e da sociedade, destinado a assegurar o direito relativo à saúde, à previdência e à
assistência social. As fontes diretas ou imediatas do direito previdenciário são aquelas que, por si
só, pela sua própria força, são suficientes para gerar a regra jurídica. São as Leis e os costumes. Por
exemplo: Constituição Federal de 1988 (CF/88): art. 6º; art. 7º incisos 2, 8, 10, 13, 25 e 28; art.
10º; art. 195, c/c art. 149; art. 194 a 204; Emendas Constitucionais EC): EC 20/98, reforma da
Previdência Social; EC 12/96, criação da CPMF para ajudar a financiar programas de saúde; EC
21/99, prorrogação da CPMF; EC 32/01, criou o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza; Lei
Complementar (LC): LC 7, criação do PIS; LC 8, criação do PASEP: estas leis foram
transformadas e hoje temos, em seu lugar, o Programa do seguro desemprego e o programa do
abono anual; LC 108 e 109/2001, regulou a Previdência Privada (complementação à Previdência
Social  a previdência social garante uma renda vital mínima); LC 111, destinada a disciplinar o
Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza; LC 70/91, criação do COFINS. Legislação
Ordinária leis comuns): Leis ordinárias; Lei 8080 – Lei Orgânica da Saúde; Lei 8212 – Lei da
Organização e Custeio da Seguridade Social; Lei 8213/91 - Plano de Benefícios da Previdência
Social; Lei 8742/92 - Lei da Organização da Assistência Social; Leis Delegadas; Decretos
Legislativos; MP – Medidas Provisórias; MP 2143 – extinção do CNSS – Conselho Nacional de
Seguridade Social. Já as fontes indiretas ou mediatas do direito previdenciário são as que não tem a
virtude de gerarem a regra jurídica, porém, encaminham os espíritos, mais cedo ou mais tarde, à
elaboração da norma. São a doutrina e a jurisprudência.
São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social as pessoas físicas classificadas
como segurados e dependentes. Por exemplo: I - como empregado: a) trabalhador urbano ou rural,
em caráter não eventual, subordinado e remunerado, inclusive o diretor empregado; b) trabalhador
temporário; c) brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como
empregado no exterior, em sucursal ou agência de empresa constituída sob as leis brasileiras e que
tenha sede e administração no País; d) trabalhador em missão diplomática ou repartição consular de
carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados; e) trabalhador da União no exterior, em
organismos oficiais internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, salvo se amparado por
regime próprio de previdência social; f) o bolsista e o estagiário que prestam serviços a empresa; g)
o servidor público da Administração Direta e Indireta, ocupante, exclusivamente, de cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; h) o servidor do Estado, Distrito
Federal ou Município, bem como o das respectivas autarquias e fundações, ocupante de cargo
efetivo, desde que, nessa qualidade, não esteja amparado por regime próprio de previdência social;
i) o servidor contratado pela Administração Direta ou Indireta, por tempo determinado; j) o servidor
público, ocupante de emprego público; k) o servidor civil ocupante de cargo efetivo ou o militar da
União, Estado, Distrito Federal ou Município, amparados por regime próprio de previdência social,
quando requisitados para outro órgão ou entidade cujo regime previdenciário não permita filiação
nessa condição, relativamente à remuneração recebida do órgão requisitante; l) o escrevente e o
auxiliar contratados por titular de serviços notariais e de registro a partir de 21 de novembro de
1994, bem como aquele que optou pelo Regime Geral de Previdência Social; m) o exercente de
mandato eletivo federal, estadual, distrital ou municipal, desde que não amparado por regime
próprio de previdência social; II - como empregado doméstico: aquele que presta serviço de
natureza contínua, mediante remuneração, a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em
atividade sem fins lucrativos; III - como empresário: a) o titular de firma individual urbana ou
rural; b) o diretor não empregado e o membro de conselho de administração, na sociedade anônima;
c) todos os sócios na sociedade em nome coletivo e na sociedade de capital e indústria; d) o sócio
164

quotista que participa da gestão ou que recebe remuneração decorrente de seu trabalho, na
sociedade por cotas de responsabilidade limitada, urbana ou rural; e) o associado eleito para cargo
de direção, na cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o
síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial remunerada; IV -
como trabalhador autônomo: a) trabalhador urbano ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais
empresas, sem relação de emprego; e aquele que exerce, por conta própria, atividade econômica
remunerada de natureza urbana, com fins lucrativos ou não; b) como equiparadoatrabalhador
autônomo, entre outros: b.1: a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade
agropecuária, pesqueira ou de extração mineral - garimpo - em caráter permanente ou temporário,
diretamente ou por intermédio de prepostos e com auxílio de empregados, utilizados a qualquer
título, ainda que de forma não contínua; b.2: o ministro de confissão religiosa e o membro de
instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa, quando mantidos pela entidade
a que pertencem; b.3: o empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em
funcionamento no Brasil, salvo quando amparado por regime próprio de previdência social; b.4: o
brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil seja
membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando amparado por sistema de
previdência social do país do domicílio ou por sistema previdenciário do respectivo organismo
internacional; e o aposentado de qualquer regime previdenciário nomeado magistrado classista
temporário da Justiça do Trabalho, ou nomeado magistrado da Justiça Eleitoral; VI - como
trabalhador avulso: a) aquele que, sindicalizado ou não, presta serviço de natureza urbana ou
rural, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a intermediação obrigatória do órgão
gestor de mão de obra, ou do sindicato da categoria, assim considerados: a.1: o trabalhador que
exerce atividade portuária de capatazia, estiva, conferência e conserto de carga, vigilância de
embarcação e bloco; a.2: o amarrador de embarcação; a.3: o ensacador de café, cacau, sal e
similares; a.4: o carregador de bagagem em porto; a.5: o prático de barra em porto; a.6: o
guindasteiro; e a.7: o classificador, o movimentador e o empacotador de mercadorias em portos; b)
o trabalhador na indústria de extração de sal; VII - como segurado especial: a) o produtor rural; b)
o parceiro rural; c) o meeiro rural; d) o arrendatário rural; e) o pescador artesanal: aquele que,
individualmente ou em regime de economia familiar, faz da pesca sua profissão habitual ou meio
principal de vida, desde que: utilize embarcação de até seis toneladas de arqueação bruta, ainda que
com auxílio de parceiro; ou na condição, exclusivamente, de parceiro outorgado, utilize embarcação
de até dez toneladas de arqueação bruta.
O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social que voltar a exercer atividade
abrangida por este regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade, ficando sujeito às
contribuições de que trata este Regulamento. É segurado facultativo o maior de 16 anos de idade
que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, desde que não esteja
exercendo atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório da previdência social.
Por exemplo: I - a dona-de-casa; II - o síndico de condomínio, quando não remunerado; III - o
estudante; IV - o brasileiro que acompanha cônjuge que presta serviço no exterior; V - aquele
que deixou de ser segurado obrigatório da previdência social; VI - o membro de conselho tutelar,
quando não esteja vinculado a qualquer regime de previdência social; VII - o bolsista e o estagiário
que prestam serviços a empresa; VIII - o bolsista que se dedique em tempo integral a pesquisa,
curso de especialização, pós graduação, mestrado ou doutorado, no Brasil ou no exterior, desde
que não esteja vinculado a qualquer regime de previdência social; IX - o presidiário que não
exerce atividade remunerada nem esteja vinculado a qualquer regime de previdência social; e X -
o brasileiro residente ou domiciliado no exterior, salvo se filiado a regime previdenciário de país
com o qual o Brasil mantenha acordo internacional.
Os empregadores brasileiros estão obrigados a seguir as Normas Regulamentadoras (NRs)
aplicáveis às atividades exercidas em sua organização do trabalho, dentre as quais a NR 5, que
disciplina a constituição e funcionamento da (CIPA), a NR 7, que disciplina a constituição e
165

funcionamento da (PCMSO), a NR 9, que disciplina a constituição e o funcionamento da (PPRA), a


NR 17, que disciplina os princípios ergonômicos gerais e, em especial, aqueles aplicáveis a
operadores de checkouts e call centers. Além dessas normas, precisam, é claro, respeitar a
Constituição Federal (CF), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o Decreto SAC (quando
aplicável). Também é necessário cumprir com suas obrigações trabalhistas e previdenciárias
acessórias, tais como: a informação adequada no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(CAGED), que precisa ser até o dia 7 do mês seguinte ao da movimentação da folha de pagamento;
a informação adequada na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que precisa ser no prazo
de três meses consecutivos, normalmente de janeiro a março de cada ano civil, informado pelo
INSS; a emissão da SEFIP/GEFIP; a elaboração e a emissão da Folha de Pagamento mensal, que
precisa ser feita até o quinto dia útil de cada mês, então necessário estar pronta até, no máximo, o
dia 8, se o mês iniciar com um sábado, um domingo e um feriado, e até dia 7, nos demais casos;
registro no Livro de Registro de Empregados (LRE). As organizações do trabalho
socioambientalmente responsáveis podem, se quiser, cumprir normas de certificação de qualidade
tais como a série ISO 9000 (a empresa, normas de certificação de responsabilidade social tais como
a série ISO 14000, dentre outras.
No Brasil, os benefícios previdenciários são dez, quais sejam:

Aposentadoria por invalidez => art. 42 a 47 da Lei nº 8.213/91;


Aposentadoria por idade => art. 48 a 51 da Lei nº 8.213/91;
Aposentadoria por tempo de contribuição => art. 52 a 56 da Lei nº 8.213/91;
Aposentadoria especial => art. 57 a 58 da Lei nº 8.213/91;
Auxílio-doença => art. 59 a 64 da Lei nº 8.213/91;
Auxílio-acidente => art. 86 da Lei nº 8.213/91;
Auxílio-reclusão => art. 80 da Lei nº 8.213/91;
Salário maternidade => art. 71 a 73 da Lei nº 8.213/91;
Salário família => art. 65 a 70 da Lei nº 8.213/91;
Pensão por morte => art. 74 a 79 da Lei nº 8.213/91;
Abono anual previdenciário (13º salário) => art. 40 da Lei nº 8.213/91.

Benefício de Prestação Continuada (BPC): também conhecido como benefício


assistencial. Direito garantido pela Constituição Federal de 1988, regulamentado pela Lei Orgânica
da Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742/93 e pelas Leis nº:12.435/2011 e nº 12.470/2011, que
alteram dispositivos da LOAS; e pelos Decretos nº 6.214/2007, nº 6.564/2008 e nº 7.617/2011,
assegura 1 (um) salário mínimo mensal ao idoso, com idade de 65 anos ou mais, e à pessoa com
deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, que comprove não possuir meios de garantir o próprio sustento, nem tê-lo
provido por sua família. Em ambos os casos, é necessário que a renda mensal bruta familiar per
capita seja inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo vigente.
166

APÊNDICE 10

Notas especiais sobre a legislação assintencial brasileira

Legislação assistencial: CF/88; Lei 8742/93: LOAS, NOB/SUAS, CMAS; Lei 12435/11:
alterações à Lei 8742/93; Lei nº 7644, de 18 de dezembro de 1987 (menor abandonado); Lei nº
9637, de 15 de maio de 1998 (OS); Lei nº 8069, de 13 de julho de 1990 (ECA - artigos 92, 94, 97,
101, 129); CNAS: resoluções 109/2009 (Proteção Social Básica, Proteção Social Especial, direitos
dos usuários do SUAS), 16/2010, 17/2011.

Benefício de Prestação Continuada (BPC): também conhecido como benefício


assistencial. Direito garantido pela Constituição Federal de 1988, regulamentado pela Lei Orgânica
da Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742/93 e pelas Leis Nº 12.435/2011 e nº 12.470/2011, que
alteram dispositivos da LOAS; e pelos Decretos nº 6.214/2007, nº 6.564/2008 e nº 7.617/2011,
assegura 1 salário mínimo mensal ao idoso, com idade de 65 anos ou mais, e à pessoa com
deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, que comprove não possuir meios de garantir o próprio sustento, nem tê-lo
provido por sua família. Em ambos os casos, é necessário que a renda mensal bruta familiar per
capita seja inferior a ¼ do salário mínimo vigente;

Renda Cidadã: é um programa de transferência de renda do Governo do Estado de São


Paulo, instituído pela Resolução SEADS – 1, 2 de março de 2005. Esta Resolução foi alterada pela
Resolução SEADS – 4, de 16 maio de 2005 e pela Resolução – 010, de 29 de junho de 2010, que
dispõe sobre o atual Programa Renda Cidadã;

Renda Mínima: é um programa de transferência de renda que assegura a melhoria das


condições de vida do grupo familiar, por meio da concessão de benefício financeiro. Tem como
objetivos promover o acesso do grupo familiar à rede socioassistencial do território do Município;
estimular a frequência escolar e fortalecer os vínculos familiares e a convivência comunitária;

Bolsa Família: é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em


situação de pobreza extrema (até R$ 70,00 per capita) e de pobreza (R$ 70,01 a R$ 140,00 per
capita). É um programa do Governo Federal com condicionalidade nas áreas de saúde e educação.
Sua gestão é descentralizada e compartilhada entre a União, estados e municípios e o Distrito
Federal;

Programa de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (PETI): tem como


pressuposto a promoção, garantia e defesa dos direitos da criança e do adolescente em situação de
exploração e trabalho infantil. Benefício concedido apenas nas regiões mais necessitadas neste
sentido, como, por exemplo, a Grande Região Metropolitana de São Paulo, cuja complexidade tanto
em termos de seu tamanho territorial quanto em relação às suas peculiaridades regionais, apresenta
diversidade nas formas e causas para as situações de exploração e trabalho infantil, bem como a
heterogeneidade nos grupos sociais que habitam a cidade;

Programa Ação Jovem: é um programa de transferência de renda do Governo do Estado de


São Paulo, instituído pelo Decreto Nº 56.922, de abril de 2011. Tem por objetivo promover a
inclusão social de jovens de 15 (quinze) a 24 (vinte e quatro), que vivem em áreas de concentração
da pobreza extrema e pobreza, pertencem a famílias com renda per capita mensal de até meio
salário mínimo e que estejam frequentando o EF e/ou EM, ou frequentam o EJA.
167

APÊNDICE 11

Ergonomia e inovação

A organização do trabalho só funciona bem quando há a articulação entre os conceptores


(líderes) e operadores (usuários) organizacionais, ou seja, a “renovação da atividade não é contudo
possível a não ser no âmbito de uma dinâmica coletiva de reorganização do trabalho” (CAROLY;
DE PINCÉ; LECAILE, 2008, p. 34).
Neste diapasão, as condições de trabalho é um tema que precisa ser discutidas entre
empregadores e trabalhadores, buscando adequá-las às necessidades e objetivos de cada uma das
partes. Em outras palavras, ainda que o objetivo central dos empregadores seja o lucro, este não
pode e nem deve estar acima da dignidade humana. Por essa razão, os direitos humanos dos
trabalhadores precisam ser respeitados, dentre eles os trabalhistas e previdenciários, que incluem
assinatura na Carteira de Trabalho e Previdência Social, recolhimento mensal do INSS e do FGTS,
pagamento pontual do salário e dos benefícios acordados, respeito às Convenções Coletivas de
Trabalho da categoria profissional, treinamentos contínuos adequados ao correto exercícios das
funções laborais, respeito às Normas Regulamentares do Ministério de Trabalho e Emprego,
adequação do nível hierárquico e da remuneração ao perfil do trabalhador, respeito às condições
físicas e mentais do trabalhador no que diz respeito às suas condições para ingresso e permanência
no mercado de trabalho, por exemplo e em especial os deficientes (SIMONELLI; CAMAROTTO,
2011. Vale destacar aqui é justo é que o nível hierárquico e a remuneração de um funcionário em
uma organização do trabalho seja proporcional ao seu domínio dos conteúdos conceituais,
procedimentais e atitudinais necessários à adequada realização das suas funções, cuja execução ele
for capaz (FARAGO; BARBIERI, 2010; CAROLY; DE PINCÉ; LECAILE, 2008). Para tanto,
necessário é o adequado papel do ergonomista, a quem cabe, naturalmente, a construção da ação
participativa, do seu acompanhamento e da análise dos dados com os usuários e os conceptores.
Sobre esse aspecto, Darses e Reuzeau (2007, p. 352 e 353), pontuam:

A participação direta é uma modalidade de ação atraente e com frequência apropriada, mas
os ergonomistas devem estar atentos aos limites dessa metodologia […] O acesso dos
usuários aos processos de decisão é una condição sine qua non da concepção participativa,
mas seu perímetro deve ser anteriormente delimitado, pois os usuários não devem arcar
com responsabilidades excessivas, nem pretender participar em decisões que ultrapassam o
quadro do uso […]

Ao ergonomista compete intervir no processo de concepção de um artefato, antecipando


uma parte de sua ação, a partir dos conhecimentos iniciais de que dispõe e controlando a sua
implementação com base nos resultados obtidos, em parte confirmando essa antecipação, em parte
através da aparição e eventos inesperados. A excessiva competitividade nas organizações do
trabalho, oriunda da escassez de recursos, tem provocado um elevado nível de estresse, cujos
sintomas podem ser descritos como: a) esgotamento emocional, em que os indivíduos têm a
sensação de terem esgotado seus recursos emocionais; b) desumanização, ou esvaziamento afetivo
da relação; os indivíduos se distanciam das pessoas que deveriam assistir, pelas quais experimentam
sentimentos negativos; c) baixa do sentimento de realização pessoal no trabalho; os indivíduos
avaliam negativamente seu próprio desempenho no trabalho, percebido como um fracasso
(FALZON; SAUVAGNAC, 2007). Consequentemente, o burn out tem se mostrado presente nas
organizações do trabalho, caracterizando-se tal como Falzon, Sauvagnac (2007, p. 149) enfatiza:
168

O que caracteriza o burn out é uma ruptura, interna ao sujeito, com a ética do ofício. O
comportamento dos sujeitos é de fato o inverso do comportamento desejável e valorizado
pelo ofício. […] o burn out surge como uma consequência possível, específica, do estresse
no trabalho.

Inobstante, quatro grandes pressupostos podem ser enunciados sobre as medidas – em sua
maioria organizacionais – que reduzem as causas do estresse: uma boa gestão do tempo; uma
medida realista da carga de trabalho; uma prescrição clara; e o lugar reservado aos coletivos de
trabalho (FALZON; SAUVAGNAC, 2007). Contudo, a implementação de tais medidas só é mesmo
possível por meio de um processo de inovação, que consiste em um desenho criativo de um
processo organizacional que objetiva as melhorias das condições do trabalho (BÉGUIN, 2008).
Sobre este aspecto, Béguin (2008, p. 72) explana:

Falar de inovação é, de fato, desenhar um processo criativo em situação, durante o qual a


novidade técnica, oriunda do meio da pesquisa ou dos escritórios de projeto, será submetida
ao movimento na atividade daqueles que a utilizam, gerando uma mudança concreta.

A concepção de um artefato, compreendido como uma máquina, uma ferramenta ou um


processo de produção, é primeira e fundamental fase do processo de inovação. Para tanto,
importante é a adaptação dos instrumentos ao modo de pensar e de agir dos conceptores e dos
usuários (instrumentalização), bem como a acomodação dos instrumentos, especificando,
enriquecendo ou conformando as maneiras de fazer e de pensar dos mesmos (instrumentação)
(BÉGUIN, 2008).
Neste diapasão, Béguin (2008, p. 74) salienta: “para que um artefato ou processo produtivo
seja utilizado ou operado são necessárias maneiras de fazer e de agir, formas de pensar, conceitos
operativos, competências e valores que permitem ou que são associados a essa utilização”. Com
base em tais pressupostos, a concepção é formada não somente na fase do projeto do trabalho, mas
também na fase de sua implementação, ou uso (BÉGUIN, 2008). Por essa razão, é que se afirma
que “a concepção continua no uso”, tal como Béguin (2008, p. 75) assinala:

Dizer que a concepção continua no uso é afirmar que o operador recoloca em movimento,
re-interroga o resultado do trabalho dos projetistas […] É necessário, portanto, […] centrar
o foco […] sobre a dinâmica das trocas que operadores e projetistas efetuam sobre os
rascunhos e esboços múltiplos do objeto em curso de concepção. […]. Contudo, a inovação
é um plano de análise da concepção, ou seja, da criação de algo que ainda não existe, em
vez da descoberta, isto é, da identificação do que já existe, mas que não ou mal se
compreende (BÉGUIN, 2008).

Portanto, a inovação de um processo produtivo trata-se, na verdade, de um resultado de uma


atividade coletiva entre os líderes de equipe, considerados por Béguin (2008) como conceptores, e
dos usuários do artefato (os operadores) da organização do trabalho (BÉGUIN, 208).
169

APÊNDICE 12

A precarização econômica do trabalho

A precarização econômica do trabalho é aquela que se origina do empregador e prejudica o


trabalhador economicamente, isto é, que o faz perder ou não receber os valores monetários justos
pelo seu exercício laboral. Ela representa irregularidade no recebimento dos vencimentos, ou
remuneração inferior ao da categoria profissional em que se atua, inadequação do vínculo
empregatício, por exemplo um funcionário habitual sendo pago como se fosse um autônomo (com
RPA), informalidade da relação de trabalho, por exemplo sem o registro na Carteira de Trabalho e
Previdência Social (CTPS), o que visa desonerar o empregador das suas obrigações trabalhistas e
previdenciárias para com o empregado, ou mesmo negligência do cumprimento de suas obrigações
acessórias (DRUCK, 2011; SCOMPARIM, 2009). Esquematicamente, este tipo de precarização do
trabalho pode ser apresentado do seguinte modo:

PRECARIZAÇÃO ECONÔMICA DO TRABALHO


TIPO DESCRIÇÃO
O empregador paga para seus funcionários um valor monetário
Remuneração inferior
salarial menor do que aquele especificado por lei, ou por acordo ou
ao da categoria
convenção coletiva do trabalho, que possuem força de lei. Esta prática
profissional
desonera o empregador em detrimento dos vencimentos do empregado.
O empregador contrata como autônomo um trabalhador que lhe
presta serviços habitualmente, configurando o vínculo empregatício, mas
sem lhe registrar. Essa prática é bastante comum em restaurantes, bares,
pizzarias, lanchonetes, sorveterias, fábricas de doces, que, em períodos
Inadequação do vínculo sazonais, contratam funcionários “extras”, que trabalham habitualmente,
empregatício mas são considerados autônomos, evidentemente com vencimentos bem
menores do que o especificado em lei, gerando prejuízos financeiros ao
funcionário. Comumente se paga estes funcionários com o Recibo de
Pagamento de Autônomo (RPA), não se recolhe o FGTS, o
recolhimento do INSS é menor porque a base de cálculo é menor
também.
O empregador não registra na carteira de seus funcionários o
vínculo empregatício entre eles. Deste modo, o funcionário “perde” seus
Informalidade da
direitos trabalhistas e previdenciários, que, embora resguardados por lei,
relação de trabalho
normalmente não são cobrados pelos funcionários, que normalmente
possuem baixo nível de instrução e poder na sociedade.
O empregador deixa de informar corretamente a Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS) ao Instituto Nacional da Seguridade Social
Negligência do
(INSS), ou mesmo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
cumprimento de
(CAGED) para o Ministério de Trabalho e Emprego (MTE), o que
obrigações acessórias
prejudica o funcionário no recebimento do seu abono salarial (PIS) e o
seu seguro desemprego, respectivamente.
Tabela 1. Tipificação da precarização econômica do trabalho. Elaborada pelo autor.
Fonte: Revisão bibliográfica feita pelo autor.

Para exemplificar um situação que aponta casos clássicos de precarização econômica, vale
170

apresentar, ainda que em partes, o relatório disponibilizado pelo Grupo Cipa Fiera Milano, na
Revista Cipa (BRASIL, 2015), em que uma ação de fiscalização, de autuação e de interdição de
atividades de empresas de telemarketing, que teve início após uma fiscalização realizada em Minas
Gerais, resultou em 900 autos de infração e R$ 300 milhões em multas em sete estados brasileiros.
Sem citar o nome das empresas, transcrevo o trecho específico que corrobora a precarização
econômica a que elas expuseram os seus trabalhadores (BRASIL, 2015, s. p.) conforme exposto a
seguir:

As empresas (tomadoras de serviço), que contratavam os serviços de uma empresa de


telemarketing, foram autuadas por terceirização ilícita e descumprimento do Anexo II da
Norma Regulamentadora NR 17, que regula vários aspectos da atividade, somando um total
de 900 autos de infração, somando um total de R$ 300 milhões em multas. Entre as
irregularidades encontradas estão diferenças salariais que geraram débito de R$ 1,2 bilhão,
valor devido aos trabalhadores que deveriam ter sido contratados como bancários e
funcionários de teles.
A fiscalização foi desencadeada por uma ação fiscal realizada em 2013 pela SRTE/MG, por
meio do projeto Prevenção de Acidentes e Doenças do Trabalho, quando foram autuadas
três unidades de uma empresa de telemarketing localizadas em Belo Horizonte e abrangeu
cerca de 11 mil trabalhadores, resultando na lavratura de 246 Autos de Infração.
Auditora fiscal que participou da fiscalização em Minas Gerais e que também fez parte da
Comissão criada para fiscalizar a empresa a nível nacional, Odete Cristina Pereira Reis,
conta que quando a ação foi iniciada no estado, ocorria, simultaneamente, a fiscalização em
outra unidade da mesma empresa, localizada em Pernambuco. “E, devido à repetição das
irregularidades na empresa em todo o país, foi criado um grupo, subordinado à Secretaria e
Inspeção do Trabalho (SIT/MTE), para fiscalizar a instituição a nível nacional, destaca. Em
Pernambuco, o “Site”, como são chamadas essas unidades, abrange cerca de 14 mil
operadores.

A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais (SRTE/MG)


promoveu uma audiência no dia 11 de março de 2015, em suas dependências, para apresentar os
dados da referida ação fiscal, que foi realizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)
concomitantemente em sete estados do país, quais sejam: Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio de
Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A referida operação fiscal, que durou mais
de um ano, teve por resultados, além dos dados apresentados na transcrição anterior, a autuação de
quatro grandes bancos e três empresas de telefonia (BRASIL, 2015). Nela estiveram presentes
representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT), do Ministério Público Federal (MPF), do
Sindicato dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), do
Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações de Minas Gerais (Sinttel-MG), da Federação
Interestadual dos Trabalhadores e Pesquisadores em Serviços de Telecomunicações (FITRATELP),
da Chefia da Perícia Médica do Instituto Nacional do Seguro Social de Minas Gerais (INSS/MG) ,
além de outros convidados (BRASIL, 2015). Neste diapasão, vale salientar que essa é a realidade do
ambiente de trabalho brasileiros em várias categorias profissionais, especialmente no setores
bancário, no de telecomunicações, no de segurança, no de limpeza e no de iluminação (FILHO,
2011; GIFTED, 2015).
Tal realidade capitalista alienada e alienante é comparada a um câncer que se alastra
velozmente pelo planeta há alguns séculos, “destruindo meios de vida, deslocando povos, tornando
impotentes as instituições democráticas, alimentando-se de vidas humanas, justificando o 'tudo por
dinheiro'” (JADON, 2005, p. 163; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 2006; MARX, 1982). Nesse
respeito, Jadon (2005, p. 163) conclui que “com essa dinâmica poderosa e perversa, tornando
imperativo duplicar o dinheiro investido, trata as pessoas como fonte de ineficiências ao torná-las
descartáveis sem se importar com o interesse público e os valores morais e éticos”. Sobre estes
171

absurdos cometidos por parte do empregador para com seus funcionários, Silva, Araújo e Barbosa
(2014, p. 553 e 554) acentuam:

O trabalhador se torna dependente do sistema, e esta situação contribui para a precarização


do trabalho, pois o seu salário é de subsistência, o que proporciona minimamente as
condições básicas de sobrevivência. É interesse do capitalista que o trabalhador consiga
sobreviver minimamente, pois precisa da sua força do trabalho e da reprodução dos
trabalhadores para atender a ordem das transições diárias do capitalismo.

Por essa razão, o trabalhador economicamente fragilizado, busca estratégias para sobreviver,
contornando os efeitos devastadores da precarização. Uma delas são as cooperativas formadas
solidariamente, conhecidas também como Empreendimentos Econômicos Solidários (EESs), em
que um grupo de trabalhadores se organizam cooperativamente em grupo autogerido por cada um
de seus membros para executar determinadas atividades econômicas sustentáveis, em que todos são
simultaneamente trabalhadores e donos (MELO, 2011; SILVA; ARAÚJO; BARBOSA, 2014;
BRASIL, 2016). Sobre estes aspectos, vale resgatar os conceitos apresentados no Fórum Brasileiro
de Economia Solidária (BRASIL, 2016, s. p.) bem como as palavras que Silva, Araújo e Barbosa
(2014, p. 554) e Melo (2011, p. 23, 24 e 28) salientam:

(BRASIL, 2016, s. p.):

Economicamente, é um jeito de fazer a atividade econômica de produção, oferta de


serviços, comercialização, finanças ou consumo baseado na democracia e na cooperação, o
que chamamos de autogestão: ou seja, na Economia Solidária não existe patrão nem
empregados, pois todos os/as integrantes do empreendimento (associação, cooperativa ou
grupo) são ao mesmo tempo trabalhadores e donos.
Culturalmente, é também um jeito de estar no mundo e de consumir (em casa, em eventos
ou no trabalho) produtos locais, saudáveis, da Economia Solidária, que não afetem o meio-
ambiente, que não tenham transgênicos e nem beneficiem grandes empresas. Neste aspecto,
também simbólico e de valores, estamos falando de mudar o paradigma da competição para
o da cooperação de da inteligência coletiva, livre e partilhada.
Politicamente, é um movimento social, que luta pela mudança da sociedade, por uma
forma diferente de desenvolvimento, que não seja baseado nas grandes empresas nem nos
latifúndios com seus proprietários e acionistas, mas sim um desenvolvimento para as
pessoas e construída pela população a partir dos valores da solidariedade, da democracia, da
cooperação, da preservação ambiental e dos direitos humanos.

(SILVA; ARAÚJO; BARBOSA, 2014, p. 554):

Na perspectiva da Economia Solidária, surgem grupos de trabalhadores que buscam


alternativas para a geração de renda através da associação e das práticas coletivas. São
denominados de Empreendimento Econômico Solidário – EES, onde a administração é
feita de forma coletiva pelos próprios trabalhadores, por meio de uma gestão participativa e
democrática. Para além destas relações de trabalho e produção, se articulam com as
questões políticas, sociais, ambientais, tanto no campo comunitário como das redes sociais.
[…] a economia solidária, por meio do seu surgimento, reforça o poder de luta de todos os
trabalhadores assalariados diante da exploração capitalista, visto que diminui o exercito de
reserva de mão de obra. Assim, demonstra através de novos princípios a luta contra o
capitalismo e as suas ideologias. Trata-se de um fenômeno novo, baseado numa outra
lógica econômica, fundamentada na busca de novas relações de trabalho, e numa sociedade
que não seja marcada pelo individualismo contemporâneo.
Esta iniciativa se desenvolve pelas classes populares, como alternativas coletivas para
sobrevivência, e se amplia na medida em que seus atores aprendem e desenvolvem novas
relações de trabalho na prática diária no âmbito pessoal e coletivo tanto no meio urbano
172

quanto rural.

(MELO, 2011, p. 23, 24 e 28):

Portanto, o desenvolvimento nos empreendimentos solidários está inextricavelmente


associado à produção local de produtos e bens coletivos (desenvolvimento local) e às
formas ambientalmente saudáveis de produção e consumo (desenvolvimento sustentável),
como princípios de uma sociedade mais justa e igualitária, produzida através da
cooperação, da associação e da solidariedade entre os trabalhadores nos empreendimentos e
iniciativas solidárias de produção, troca e consumo.
Em síntese, a economia solidária tem como características fundamentais os valores de
produção econômica permeados pelos princípios da solidariedade (entre os trabalhadores na
produção de bens e serviços e na justa distribuição dos rendimentos), da cooperação
(propriedade coletiva dos meios de produção, partilha dos resultados e esforços comuns na
produção de bens e serviços) e da autogestão (participação democrática e igualitária nas
discussões e decisões dos empreendimentos solidários e na distribuição dos rendimentos e
excedentes de produção) como pressupostos para a articulação e formação de outro modo
de produção, contraposto e alternativo ao capitalismo competitivo e excludente deste início
de século XXI.
No Brasil, os projetos de economia solidária ganharam destaque com a criação da
Secretaria Nacional de Economia Solidária, em 2003 pelo Governo Federal, com o intuito
de fomentar e divulgar as iniciativas associativas comunitárias baseadas nas cooperativas
populares, redes de produção e comercialização, feiras de cooperativismo, clubes de troca,
entre outras formas solidárias de associação (FÓRUM BRASILEIRO DE ECONOMIA
SOLIDÁRIA, 2009).
[…] a economia solidária funciona como um instrumento de contenção das contradições
sociais ao impulsionar a união dos trabalhadores em empreendimentos em que eles próprios
são ao mesmo tempo “empregados” e “donos”, resultando numa estagnação da luta de
classes e do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, ao mesmo tempo em que
serve aos interesses de manutenção do status quo articulados ao movimento de
reestruturação capitalista e a busca de taxas de mais-valia cada vez mais ampliadas, tendo
como base a exploração intensiva da força de trabalho na sociedade capitalista globalizada
atual.
Em suma, a economia solidária representa apenas iniciativas pontuais e localizadas de
geração de trabalho e renda na escala local, que não tem o poder de se generalizar para toda
a economia e nem representar significativamente uma nova forma de organização
econômica, com base na solidariedade e na cooperação entre os trabalhadores, não
representando, por conseguinte, um importante fator de desenvolvimento econômico e
social em Presidente Prudente neste início de século XXI.

Os direitos dos trabalhadores precisam ser respeitados 29. O registro correto na Carteira de
Trabalho e Previdência Social (CTPS), com Código Brasileiro de Ocupação (CBO) adequado às
funções exercidas pelo funcionário, o pagamento pontual, até o quinto dia útil de cada mês, do
salário, o recolhimento mensal do FGTS e do INSS, o pagamento pontual dos benefícios (horas
extras, insalubridade, periculosidade, adicional noturno, adicional de transferência, vale refeição,
vale alimentação, vale transporte, salário maternidade, seguro de vida, assistência média e
odontológica, cesta básica, premiações, comissões, dentre outros), o pagamento adequado do
Descanso Semanal Remunerado (DSR) – que infelizmente muitos empregadores hesitam de pagar
aos seus funcionários, a adequação da remuneração ao perfil do funcionário, levando-se em
consideração sua capacidade funcional, o seu nível de instrução, e suas necessidade pessoais, são
medidas honestas nas relações de trabalho, que respeitam e promovem a dignidade humana do
trabalhador e, ao mesmo tempo, combatem a precarização econômica do trabalho (BRASIL, 1943;
1988; 2016; MELO, 2011; SILVA; ARAÚJO; BARBOSA, 2014).

29
Vide os anexos e o apêndice deste trabalho.
173

APÊNDICE 13

A precarização social do trabalho

A precarização social do trabalho é aquela que se origina da cultura social e prejudica o


trabalhador socialmente, isto é, que não o permite alcançar o patamar aceitável de dignidade
humana, sendo respeitado, valorizado, reconhecido, adequadamente incluído na sociedade, de
acordo com as suas respectivas necessidades. Ela representa o não reconhecimento do seu valor
profissional para a empresa e para a sociedade em geral, comumente visto no caso de catadores de
lixo, auxiliares de limpeza, recicladores, e empregos braçais em geral (trabalhadores de carga e
descarga, montadores e desmontadores de circo, carpinadores, etc.), metas inalcançáveis, a
dificultação na inserção e na permanência de deficientes no mercado de trabalho, a polivalência,
pressões exacerbadas, a extensão da jornada de trabalho por período superior ao permitido em lei
para a categoria profissional específica de cada trabalhador, a falta de materiais fundamentais para a
adequada execução do trabalho, a competitividade contenciosa, a inexistência de uma política
gestora do seu fluxo informacional, a falta de ética e o assédio moral (DRUCK, 2011;
SCOMPARIM, 2009; COSTA; CHAVES, 2012; GIFTED, 2014). Esquematicamente, este tipo de
precarização do trabalho pode ser apresentado do seguinte modo:

PRECARIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO


TIPO DESCRIÇÃO
Os cargos de auxiliar de limpeza, servente de limpeza, servente
de obras, catadores, recicladores, ambulantes, carpinadores,
Cargo discriminado panfleteiros, dentre outros trabalhos braçais, são discriminados por não
possuírem status social de quem pensa, de quem manda ou de quem
tem poder econômico.
É comum no setor de serviços, por exemplo na categoria dos
operadores de telemarketing, dos quais são exigidas metas tais como
determinada quantidade de vendas, ou determinado valor monetário de
Metas inalcançáveis
recuperação de créditos, em detrimento de suas rendas variáveis, tais
como comissões, premiações, etc., às vezes até promoções
profissionais.
Determinadas parcelas da sociedades, tais como os deficientes,
os negros, os índios, parte dos superdotados, parte das mulheres
(porque hoje as mulheres brancas já conseguem obter e se manter no
Dificultação na
mercado de trabalho, restante dificuldade especificamente para as
obtenção e na
mulheres negras), são rejeitados com facilidade em entrevistas de
permanência de um
trabalhos simplesmente por pertencerem a tais grupos sociais
emprego
historicamente discriminados, e se conseguem obter emprego são, não
raro, marginalizados dentro do ambiente do trabalho até pedirem
demissão, ou mesmo segregados sendo demitidos sem justa causa.
É o acúmulo de várias funções, inerentes a vários postos de
trabalhos, por apenas um funcionário. O empregador sobrecarrega
Polivalência alguns funcionários com todas as tarefas, funções e atividades
organizacionais no fito de se desonerar da contratação de mais
funcionários, diminuindo os seus “gastos”, tendo, consequentemente,
174

um lucro maior, que, normalmente, não é repassado para estes


trabalhadores super explorados.
Ocorre quando um superior hierárquico intimida os seus
subordinados inculcando-lhes medo de perder o seu emprego se não
Pressões exacerbadas alcançarem determinadas metas, ou quando fiscalizam demasiadamente
a execução das funções dos seus subordinados, ou quando são ríspidos
ao falar com eles sobre o seu desempenho profissional.
A CLT determina o quantitativo de 8 horas diárias, 44 horas
semanais e, no máximo, 2 horas extras diárias e 40 horas extras
mensais, no geral. Para alguns cargos, como a dos operadores de
telemarketing, o quantidade é de 6 horas diárias (acrescidas de 20
Extensão da jornada de
minutos para descanso), 36 horas semanais, 2 horas extras diárias e 40
trabalho
horas extras mensais. Os funcionários celetistas em empresas públicas,
tais como os Correios, possuem jornada diferenciada, 8 horas diárias,
40 horas semanais. Enfim, entende-se por extensão da jornada de
trabalho aquela superior à especificação legal.
O empregador precisa disponibilizar a seus funcionários todos
os materiais necessários à adequada operacionalização das suas
Falta de materiais funções. Deste modo, a falta de Equipamentos de Proteção Individuais
(EPIs), materiais de limpeza, materiais de escritório, etc., descumpre a
lei, gera ócio no ambiente de trabalho e onera o empregador.
Nas combinações de negócios, por exemplo nas empresas
formadas por fusões e aquisições, a competitividade tende a ser
contenciosa, não raro havendo superiores hierárquicos que utilizam os
Competitividade resultados do desempenho de alguns funcionários para intimidarem ou
contenciosa invejarem outros. Deste modo, o clima do ambiente de trabalho se
torna contencioso, repleto de conflitos interpessoais, dificultando o
exercício profissional o adequado funcionamento da organização do
trabalho.
O fluxo informacional da organização de trabalho precisa ser
controlado. Murais informativos, treinamentos adequados, feedbacks
por parte de superiores hierárquicos são fundamentais. A
Inexistência de uma
conscientização dos tipos de conversas permitidas dentro do ambiente
política gestora de seu
de trabalho é necessária para se evitar fofocas capazes de denegrir a
fluxo informacional
imagem dos funcionários, dos empregadores e da empresa. Por essa
razão, é necessária a existência de uma politica gestora do seu fluxo
informacional.
O empregador quando deixa de cumprir as regras de seu
regimento interno, ou quando algum de seus funcionários deixa de
cumprir alguma normativa do código de ética da sua categoria
profissional, comete falta de ética. Por essa razão, os contadores, os
Falta de ética
administradores, os pedagogos, os médicos, todas as categorias
profissionais atuantes em uma organização do trabalho precisam
conhecer bem o Código de Ética da sua categoria e cumprí-lo
atentamente.
Assédio moral O assédio moral se concretiza na organização do trabalho
quando ocorre injúria, calúnia, difamação ou coerção de caráter sexual
175

entre os seus stakeholders, isto é, os seus públicos de interesse, que


incluem funcionários, empregadores, fornecedores, consumidores,
governo, acionistas, mídia, etc..
Tabela 2. Tipificação da precarização social do trabalho. Elaborada pelo autor.
Fonte: Revisão bibliográfica feita pelo autor.

Para exemplificar, em 2005, segundo o Centro de Desenvolvimento Sustentável da


Universidade de Brasília através do artigo Resíduos sólidos estão entre os problemas
emergenciais dos futuros prefeitos, haviam no Brasil mais de um milhão de trabalhadores que
exerciam a catação de materiais recicláveis (COSTA; CHAVES, 2012). Apropriando-se das ideias
presentes na literatura crítica sobre precarização, em especial ao que concerne aos recicladores,
Costa e Chaves (2012, p. 5-7) destacam:

[…] o catador como o elo mais frágil da corrente que une o setor da reciclagem. […] os
catadores insere-se a uma massa de trabalhadores sem unidade significativa, organização
coletiva ainda embrionária para o trabalho (cooperativas e associações), cujos aspectos
como exploração da força de trabalho e o subemprego são as características marcantes na
constante busca de assegurar as condições mínimas de sobrevivência através da realização
diária de formas de trabalho, em geral, extremamente precarizadas. […]
Assim, na atual conjuntura de crise e reestruturação do capital e da metamorfose do mundo
do trabalho fruto deste período, os trabalhadores que não se “enquadram” nas
especificações e exigências cada vez maiores do mercado de trabalho podem e são
reinseridos na lógica de reprodução do capital, como catadores.
Desse modo, a organização dos trabalhadores catadores em associações e cooperativas pode
ser entendida como uma forma de empenho coletivo de amenizar a precariedade e
insegurança do trabalho na lógica desleal da reprodutividade do capital que apoiada na
informalidade o espaço ideal para a ampliação dos ganhos com a recuperação dos materiais
inutilizáveis e reintrodução dos mesmos no circuito produtivo via barateamento da matéria-
prima. Tal possibilidade se dá graças ao trabalho de inúmeros trabalhadores catadores pelas
ruas, lixões e aterros pelas cidades brasileiras.

O grau ilimitado da monetarização30 e da mercantilização31 do trabalho e da vida é o que


explica a estrutura capitalista atual. No fito de enriquecer, o capitalista banaliza os riscos, os
acidentes e a saúde dos trabalhadores, desrespeitando normas fundamentais das relações de
trabalho. As lideranças sindicais tornam-se fragilizadas na medida em que ideologias capitalistas
tornam-se a sua lógica de funcionamento; muitas vezes, elas temem represálias da classe
empresarial e, por essa razão, prefere acordos entre empregadores e trabalhadores mesmo quando
existe a necessidade de reclamações trabalhistas e previdenciárias, bem como autuações por
auditores fiscais do trabalho. O foco no capital faz com que funcionários tornem-se peças
inanimadas, que geram “custos”, apenas necessárias para encher os bolsões de riqueza do
empregador. No Brasil, a precarização se faz presente em todos os seus Estados, em todas as
categorias profissionais; o empresário tem desrespeitado a legislação trabalhista, a legislação
previdenciária, os direitos constitucionais dos trabalhadores, além de normas de segurança de
trabalho expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (DRUCK, 2011; FILHO, 2011;
SCOMPARIM, 2009).
Tal realidade capitalista alienada e alienante é comparada a um câncer que se alastra
30
Entende-se por monetarização do trabalho e da vida a transformação deles em capital, ativos financeiros, dinheiro,
valor monetário, moeda.
31
Entende-se por mercantilização do trabalho e da vida a transformação deles em mercadoria, algo comercializável,
vendível, substituível, trocável, descartável, um mero instrumento de venda.
176

velozmente pelo planeta há alguns séculos, “destruindo meios de vida, deslocando povos, tornando
impotentes as instituições democráticas, alimentando-se de vidas humanas, justificando o 'tudo por
dinheiro'” (JADON, 2005, p. 163; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 2006; MARX, 1982). Nesse
respeito, Jadon (2005, p. 163) conclui que “com essa dinâmica poderosa e perversa, tornando
imperativo duplicar o dinheiro investido, trata as pessoas como fonte de ineficiências ao torná-las
descartáveis sem se importar com o interesse público e os valores morais e éticos”. Outras reflexões
sobre esta realidade são aquelas cujas palavras Mészaros (2006, p. 113), Marx (1982, p. 138),
Mandel (1967, p. 185 e 196) e Druck (2011, p. 55) nos emprestam, conforme transcritas a seguir:

(MARX, 1982, p. 138):

Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que
possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar o seu
poder, os limites desse poder e o caráter desses limites.

(MANDEL, 1967, p. 185 e 196):

A abolição do regime capitalista torna então possível o enfraquecimento progressivo da


produção mercantil, da divisão social do trabalho e da mutilação dos homens. A alienação
não é 'suprimida' por um acontecimento único, assim como não apareceu de um só golpe.
Ela se enfraquece progressivamente, assim como apareceu progressivamente. Ela não está
de qualquer maneira ancorada na 'natureza humana' ou na 'existência humana', mas nas
condições específicas do trabalho, da produção e da sociedade humanas. Pode-se pois
entrever e precisar as condições necessárias a seu desaparecimento.
[…] Deve-se também compreender que essa impotência não é superada na prática senão
quando os indivíduos realizam sua identidade com a sociedade através de uma atividade
social fundada sobre uma ampla medida de decisões livres. Isso implica não somente uma
autogestão integral do Trabalho ao nível da economia tomada no seu conjunto (não
somente no processo de produção, mas ainda no de distribuição e de consumo), mas ainda
um enfraquecimento do Estado e o desaparecimento de todas as relações humanas fundadas
na coação e na opressão.

(MÉSZÁROS, 2006, p. 113):

Mas o uso da força de trabalho, o trabalho, é a própria atividade vital do trabalhador, a


manifestação de sua própria vida. E ele vende essa atividade a outra pessoa para conseguir
os meios de subsistência necessários. Assim, sua atividade é para ele apenas um meio que
lhe permite existir. Ele trabalha para viver. Não considera nem mesmo o trabalho como
parte de sua vida, é antes o sacrifício de sua vida. É uma mercadoria, que ele transferiu a
outro. Daí, também, não ser o produto de sua atividade o objeto dessa atividade. O que ele
produz para si mesmo não é a seda que tece, nem o outro que arranca do fundo da mina,
nem o palácio que constrói. O que ele produz para si são os salários, e a seda, o ouro e o
palácio se resolvem, para ele, numa quantidade definida dos meios de subsistência, talvez
num paletó de algodão, algumas moedas de cobre e um quarto num porão. E o trabalhador,
que durante doze horas tece, fura, drila, constrói, quebra pedras, carrega pesos etc.,
considera essas doze horas como uma manifestação de sua vida, como vida? Ao contrário, a
vida começa para ele quando essa atividade cessa; começa na mesa, no bar, na cama. As
doze horas de trabalho, por outro lado, não têm significado para ele como tecelagem,
mineração etc., mas como ganho, que o leva à mesa, ao bar, à cama. Se o bicho da seda
tivesse de tecer para continuar sua existência como lagarta, seria um trabalhador assalariado
completo.

(DRUCK, 2011, p. 55):

Na perspectiva do capital, a monetarização e a mercantilização das relações de trabalho


transformam os direitos dos trabalhadores em “custos” (o “custo Brasil”, o “custo China”) e
invadem também o ideário dos trabalhadores e de suas lideranças sindicais, que passam a
177

interiorizar a lógica do mercado, tomando-a como sua. Isso é estimulado ainda pela
concorrência entre os próprios trabalhadores, expressa em disputas regionais, a exemplo da
guerra fiscal no país, que faz competir não somente os estados, através da ação de seus
governos, mas também os trabalhadores de uma região com os de outra região.
Tais transformações, ao tempo que reafirmam a essência do capitalismo, que transformou o
trabalho em mercadoria, dão outra amplitude a essa relação social, ao enfraquecerem a
capacidade de resistir e de questionar as novas condições impostas pelo capital, numa clara
demonstração de uma atitude de resignação que, aos poucos, contamina até mesmo a
capacidade de indignação diante das injustiças sociais, da negação dos direitos e da
proteção social, encaradas como uma “fatalidade econômica”.

Na conjuntura socioeconômica atual, as combinações de negócios, enquanto novas


estruturas de produção e de trabalho, apoderam-se não somente do trabalho mas da vida dos
trabalhadores, coisificando-os, fazendo-os trabalhar em prol dos seus objetivos capitalistas,
extraindo todas as suas forças e capacidades egoisticamente, tirando não raro o seu tempo de lazer,
de descanso, de espiritualidade, e até mesmo de vida cívica, fragilizando a sua saúde (DRUCK,
2011; MARX, 1982; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 2006; JADON, 2005; FILHO, 2011;
SCOMPARIM, 2009; SOUTO, 2001; SIGNINI, 1999; RUSSO, 2010). Sobre estes aspectos, Silva,
Araújo e Barbosa (2014, p. 548) têm a dizer que “diversas transformações ocorreram no mundo do
trabalho, e este por sua vez, perde o seu caráter de emancipação, socialização e humanização do
homem, para então significar a condição de sua subsistência e sobrevivência”.
Maria da Graça Druck de Faria (2011), graduada em Economia pela UFRGS, mestre em
Ciência Política e doutora em Ciências Sociais pela UNICAMP, professora universitária do
Departamento de Sociologia da UFBA, pesquisadora do CNPq e da UFBA, atua principalmente nos
seguintes temas: trabalho, flexibilização, precarização, reestruturação produtiva, terceirização,
informalidade e sindicatos. No seu trabalho intitulado Trabalho, precarização e resistências:
novos e velhos desafios?32, ela apresenta com detalhes seis tipos de precarização social do trabalho
no Brasil, quais sejam: a) A vulnerabilidade das formas de inserção e desigualdades sociais; b) A
intensificação do trabalho e a terceirização; c) A insegurança e saúde no trabalho; d) A perda das
identidades individual e coletiva; e) A fragilização da organização dos trabalhadores; f) a
condenação e o descarte do Direito do Trabalho.
Sobre o primeiro tipo de precarização social do trabalho, a vulnerabilidade das formas de
inserção e desigualdades sociais, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio
da inserção informal no mercado de trabalho, isto é, sem registro na carteira, do desemprego, da
dificuldade de inserção no mercado por parcelas da população em determinadas ocupações de
determinados nichos de mercado, tais como dos deficientes, dos aprendizes, dos negros, dos índios,
de estrangeiros, etc.; em cargos de liderança, estas parcelas raramente se posicionam. Druck (2011,
p. 47) enfatiza:

As formas de mercantilização da força de trabalho produziram um mercado de trabalho


heterogêneo, segmentado, marcado por uma vulnerabilidade estrutural e com formas de
inserção (contratos) precários, sem proteção social, cujas formas de ocupação e o
desemprego ainda revelam, em 2009, um alto grau de precarização social.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios – PNAD 2009,
havia 101,1 milhões de pessoas economicamente ativas no Brasil, com 8,4 milhões de
desempregados e mais 8,2 milhões de pessoas com ocupações sem remuneração. Ou seja,
são 16,6 milhões de pessoas (16,4%) economicamente ativas que estavam fora do mercado
de trabalho.

32
DRUCK, Graça. Trabalho, precarização e resistências: novos e velhos desafios?. CADERNO CRH, Salvador, v. 24,
n. spe 01, p. 37-57, 2011. Disponível em <www.scielo.br/ pdf/ccrh/v24nspe1/a04v24nspe1.pdf>. Acessado em 05 de
março de 2016.
178

Sobre o segundo tipo de precarização social do trabalho, a intensificação do trabalho e a


terceirização, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio de imposição de
metas inalcançáveis, da extensão da jornada de trabalho e da polivalência33. Druck (2011, p. 48 e
49) salienta que ele:

[…] é encontrado nos padrões de gestão e organização do trabalho – o que tem levado a
condições extremamente precárias, através da intensificação do trabalho (imposição de
metas inalcançáveis, extensão da jornada de trabalho, polivalência, etc.) sustentada na
gestão pelo medo, na discriminação criada pela terceirização, que tem se propagado de
forma epidêmica, e nas formas de abuso de poder, através do assédio moral, que tem sido
amplamente denunciado e objeto de processos na Justiça do Trabalho e no Ministério
Público do Trabalho.
[…]
Essa “epidemia” da terceirização, como uma modalidade de gestão e organização do
trabalho, explica-se pelo ambiente comandado pela lógica da acumulação financeira que, no
âmbito do processo de trabalho, das condições de trabalho e do mercado de trabalho, exige
total flexibilidade em todos os níveis, instituindo um novo tipo de precarização que passa a
dirigir a relação entre capital e trabalho em todas as suas dimensões. E, num quadro em que
a economia está toda contaminada pela lógica financeira, sustentada no curtíssimo prazo,
mesmo as empresas do setor industrial buscam garantir os rendimentos, exigindo e
transferindo aos trabalhadores a pressão pela maximização do tempo, pelas altas taxas de
produtividade, pela redução dos custos com o trabalho e pela “volatilidade” nas formas de
inserção e de contratos. E a terceirização corresponde, como nenhuma outra modalidade de
gestão, a essas exigências.

Sobre o terceiro tipo de precarização social do trabalho, a insegurança e saúde no trabalho,


Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio de desrespeito por parte do
empregador ao necessário treinamento dos trabalhadores, fornecendo-lhes todas as informações
necessárias sobre a adequada execução das suas funções, sobre os riscos de acidentes no trabalho,
sobre os seus direitos conquistados dentro da categoria profissional, sobre as medidas preventivas
coletivas de acidentes no trabalho. Sobre este tipo, Druck (2011, p. 49) explana:

[…] Um importante indicador dessa precarização é a evolução do número de acidentes de


trabalho no país, mesmo que reconhecidamente sejam estatísticas subregistradas. Em 2001,
foram registrados 340,3 mil acidentes no país e, em 2009, eles atingiram o número de
723,5, ou seja, um aumento de 126% em 9 anos. É interessante observar que, a partir de
2007, o INSS passou a contabilizar os acidentes sem registro no Cadastro de Acidentes do
Trabalho (CAT), que representaram para cada um dos últimos 3 anos (2007, 2008 e 2009)
27% do número total de acidentes.
Além desse quadro, os estudos microssociais em empresas e organizações, no campo da
Saúde Mental Relacionada ao Trabalho, definem uma “psicopatologia da precarização”,
produto da violência no ambiente de trabalho, gerada pela imposição da busca de
excelência como ideologia da perfeição humana, que pressiona os trabalhadores ignorando
seus limites e dificuldades, junto a uma radical defesa e implementação da flexibilidade
como “norma” do presente. Isso exige uma adaptação contínua a mudanças e novas
exigências de polivalência, de um indivíduo “volátil”, sem laços, sem vínculos e sem
caráter, isto é, flexível. Essa condição, agravada por outros imperativos típicos dos
chamados padrões modernos de organização empresarial (competitividade exacerbada,

33
Entende-se por polivalência o acúmulo indevido de várias funções em um mesmo emprego, utilizado como estratégia
administrativa de desoneração da contratação de novos funcionários em detrimento do sobrecarregamento de atividades
por parte dos funcionários membros.
179

rapidez ou velocidade ilimitada), tem gerado um cenário de adoecimento mental com


expressões diversas, inclusive os suicídios.

Sobre o quarto tipo de precarização social do trabalho, a perda das identidades individual e
coletiva, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio da ameaça permanente
da perda de emprego resultante da descartabilidade promovida pelas forças exploradoras
capitalistas, que não hesitam de demitir funcionárias grávidas, funcionários do grupo LGBT,
deficientes, funcionários que por falta ou inadequado treinamento não conseguem alcançar as
metas, funcionários que por motivos de força maior, por exemplo morte de ente querido ou
problemas de saúde precisem se ausentar do seu labor, dentre outros casos. Com toda razão, Druck
(2011, p. 50) faz questão de apontar que:

O isolamento e a perda de enraizamento, de vínculos, de inserção, de uma perspectiva de


identidade coletiva, resultantes da descartabilidade, da desvalorização e da exclusão, são
condições que afetam decisivamente a solidariedade de classe, solapando-a pela brutal
concorrência que se desencadeia entre os próprios trabalhadores (Druck; Oliveira; Silva,
2010). Essa condição de “desfiliação” ou de “inúteis para o mundo”, a que se refere Castel
(1998), explica esse segundo tipo de precarização do trabalho: a perda das identidades
individual e coletiva, fruto da desvalorização simbólica e real, que condena cada
trabalhador a ser o único responsável por sua empregabilidade, deixando-o subjugado à
“ditadura do sucesso” em condições extremamente adversas criadas pelo capitalismo
flexível (Appay, 2005).

Especificamente sobre o caso dos deficientes, Simonelli e Camarotto (2011) explanam sua
grande dificuldade de acesso e permanência no mercado de trabalho, devido á discriminação.
Baseado em vasta literatura crítica sobre a relação da pessoa com deficiência e o mercado de
trabalho, estes autores afirmam que ela evoluiu, passando por uma fase inicial de exclusão, “quando
se considerava uma crueldade que deficientes trabalhassem, prevalecendo o protecionismo e a visão
de que os deficientes não tinham capacidade laborativa”, depois pela fase de segregação, “quando
as pessoas com deficiência ficavam internadas em instituições e ali trabalhavam, com remuneração
baixa e sem vínculo de emprego, ainda prevalecendo o elo paternalista”, seguida de uma fase de
integração, quando as pessoas já obtêm vínculo de emprego, mas não se faz qualquer adaptação nas
empresas, salvo pequenos ajustes nos postos de trabalho e com frequência são criados setores
exclusivos de deficientes”, e mais recentemente por uma fase de inclusão, “em que o mundo do
trabalho tende a considerar os dois lados, o da pessoa com deficiência e o da empresa, que precisam
ser preparados para uma nova relação de convívio, uma situação de inclusão” (SIMONELLI;
CAMAROTTO, 2011, p. 14). Contudo, apesar dos direitos resguardados na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, na Convenção 159 sobre Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas
com Deficiência, convertida no Decreto número 129 de 1991, na Constituição Federal de 1988, na
Consolidação das Leis do Trabalho de 1943, no Decreto número 3.298 de 1999, na Lei número
8.213 de 1991 (Lei de Cotas), são recorrentes as dificuldades enfrentadas pelos deficientes tanto na
obtenção quanto na permanência de um emprego (BRASIL, 2016; SIMONELLI; CAMAROTTO,
2011). Sobre estes aspectos, Simonelli e Camarotto (2011, p. 14) corroboram com os seguintes
dizeres:

As políticas públicas brasileiras são marcadas pela introdução do respeito aos direitos de
pessoas com deficiência. A ação organizada dessa parcela da população gerou conquistas
importantes no setor institucional, essencialmente no tocante à legislação. Não conseguiu,
entretanto, vencer o avanço dos processos de exclusão social que, em movimento oposto,
180

aprofundou as contradições na sociabilidade desse segmento (ALMEIDA, 2000).


A Convenção 159 sobre Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas com Deficiência,
da Organização Internacional do Trabalho (OIT, 1983), aprovada em 1983, considera
deficientes para o trabalho todas as pessoas cujas possibilidades de obter e conservar um
emprego adequado e de progredir nele fiquem substancialmente reduzidas devido a uma
deficiência de caráter físico ou mental devidamente comprovada.
Esta norma internacional, incorporada pelo Brasil por meio do decreto 129/91 (BRASIL,
1991b), ressalta que devem ser adotadas medidas, pelos países signatários, com a finalidade
de atingir igualdade efetiva de oportunidades e de tratamento entre trabalhadores com
deficiência e os demais trabalhadores.
Desde a elaboração da Constituição de 1988, os direitos dos cidadãos brasileiros estão
legalmente resguardados, porém, as dificuldades enfrentadas por segmentos populacionais,
como por exemplo, as pessoas com deficiência e a obtenção e permanência em um
emprego, são recorrentes.
Com a regulamentação pelo Decreto 3298/99 (BRASIL, 1999), a Lei de Cotas (Lei
8213/91) (BRASIL, 1991a) fixa percentual de vagas em empresas do setor privado que
devem ser preenchidas por pessoas com deficiência. O percentual fixado por esta Lei
estabelece que as empresas com 100 a 200 funcionários são obrigadas a reservar 2% de
seus postos de trabalho, as empresas que empregam de 201 a 500 devem reservar 3%, nas
empresas com 501 a 1.000 funcionários a cota exigida é de 4% e aquelas com mais de
1.000, 5%.
[…]
Segundo dados da RAIS 2001 e 2002 (BRASIL, 2002) as pessoas com deficiência
empregadas representam 3,25% (533 mil) dos 16,5 milhões de PCDs em idade de trabalhar,
o que revela baixa empregabilidade. Estes trabalhadores estão mais presentes nos setores
industrial e de serviços, e estão bem abaixo na proporção de empregados na agricultura e na
construção civil.
Em média, apenas 14% das empresas com 100 a 200 empregados cumprem a cota legal, e
86% das empresas desse grupo não apenas descumprem a norma, como não têm nenhum
empregado com deficiência. Em todas as faixas de estabelecimentos, 75% das empresas
não empregaram nenhuma pessoa com deficiência e apenas um pequeno grupo de
empresas, em todas as faixas cumpre a cota e chegam a ter mais de 5% de empregados com
deficiência (BRASIL, 2002).

Sobre o quinto tipo de precarização social do trabalho, a fragilização da organização dos


trabalhadores, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio das dificuldades
da organização sindical, das formas de luta e representação dos trabalhadores de determinada
categoria profissional e das pressões por parte de empresários antagonistas às lideranças sindicais.
Explanando analiticamente estes aspectos, Druck (2011, p. 50) ratifica:

O quinto tipo de precarização pode ser identificado nas dificuldades da organização sindical
e das formas de luta e representação dos trabalhadores, decorrentes da violenta
concorrência entre eles próprios, da sua heterogeneidade e divisão, implicando uma
pulverização dos sindicatos, criada, principalmente, pela terceirização. Dados sobre número
de greves, sindicatos, sindicalização, acordos, etc. são importantes, mas não explicam tudo.
Indicam tendências, mudanças e redefinições que também precisam ser explicadas. O
menor número de greves nos anos 2000 em relação às duas décadas anteriores, o
crescimento do número de centrais sindicais – são hoje 11 centrais, 8 delas formadas nos
anos 200014 –, a permanência ou mesmo queda das taxas de sindicalização, como ocorreu
em 2009 em relação a 2008 (16,5 milhões de sindicalizados contra 17,5 milhões, cf. dados
IBGE/PNAD, 2009), o tipo de estratégia de ação da maioria das direções sindicais, tudo
isso só pode ser compreendido no contexto da “perplexidade ideológica”, conforme já foi
referido anteriormente e que será mais explicitado a seguir.
181

Sobre o sexto tipo de precarização social do trabalho, a condenação e o descarte do Direito


do Trabalho, Druck (2011, p. 52) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio de ataques
violentos às formas de regulamentação do Estado, “cujas leis trabalhistas e sociais têm sido
violentamente condenadas pelos “princípios” liberais de defesa da flexibilização, como processo
inexorável trazido pela modernidade dos tempos de globalização”. Sobre estes aspectos, Druck
(2011, p. ) ainda assinala que:

O debate entre os profissionais e especialistas do setor reflete opiniões que se dividem: há


os que sustentam a defesa do Direito do Trabalho e seu princípio protetor, reconhecendo a
desigualdade e a inferioridade econômica dos trabalhadores na sociedade capitalista, mais
forte na era atual, o que exige, portanto, mais direitos e proteção social; e há aqueles que,
em nome dos princípios liberais, afirmam o respeito à individualidade do trabalhador, que,
ao “depender” do Estado (pela estrutura dos direitos sociais), estaria supostamente
impedido de desenvolver as suas qualidades e atributos livremente no trabalho,
dificultando, dessa forma, o próprio desenvolvimento do mercado capitalista na atual
conjuntura de desregulamentação mundial.
No Brasil, as alterações já realizadas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), nos anos
1990, e a defesa atual de uma reforma trabalhista “moderna”, que corresponda “às
mudanças no mundo do trabalho”, enquadram-se nessa segunda defesa, isto é, que, para o
livre funcionamento do mercado, seria preciso retirar os limites, ou seja, retirar os encargos
sociais elevados (direitos sociais e trabalhistas), considerados como entulhos da velha e
ultrapassada CLT, que já teria cumprido a sua função num momento histórico já superado.
Num outro campo – o da ação do poder público –, a disputa em torno do fim do Direito do
Trabalho ou da sua manutenção se intensifica através do papel que jogam ou podem jogar
alguns órgãos ou instituições públicas, que têm como função primordial assegurar a
aplicação e o respeito à legislação em vigor. No caso do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), a ação dos auditores fiscais – com a liberdade e independência hierárquica que lhes
é de direito, ao fiscalizar, autuar e multar as empresas e instituições, respaldados na lei –
tem sido motivo de questionamento e já foi objeto de projeto de lei voltado para lhes retirar
esse poder, o que gerou ampla mobilização dos agentes de fiscalização e dos sindicatos, que
fizeram retroceder tal proposta.
O Ministério Público do Trabalho (MPT), por sua vez, tem sido objeto de fortes críticas
veiculadas pela grande imprensa, na voz de empresários e até mesmo de sindicalistas, que
acusam os promotores de atuarem como empecilhos para a abertura de novos empregos, ao
exigirem respeito à legislação, já que estariam dificultando a ação empresarial.
Na realidade, são instituições que têm um papel fundamental como agentes dotados de
poderes para colocar limites à ação do capital – através da regulamentação – na relação de
mercantilização do trabalho, a qual, nos últimos tempos, tem ido mais além da compra e
venda da força de trabalho através do assalariamento, pois vem se utilizando de outras
formas que pareciam estar superadas, a exemplo do trabalho infantil e do trabalho análogo
ao escravo.

A quantidade insuficiente de auditores fiscais do trabalho no Brasil para atender à demanda


brasileira de inspeção do trabalho é um dos principais fatores que contribuem para o descarte do
Direito do Trabalho em todo o território nacional (BRASIL, 2014; 2016). Este fato desrespeita o
artigo 10º da Convenção nº 81 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), aprovada na 30ª
reunião da Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, cidade suíça, em 1947, e que entrou
em vigor no plano internacional em 7 de abril de 1950 (BRASIL, 2014; 2016). Ela, apesar de não
determinar um número exato de fiscais trabalhistas que devem ser mantidos em cada país que o
ratificou, especifica:

Art. 10 — O número de inspetores de trabalho será o suficiente para permitir o exercício


eficaz das funções de serviço de inspeção e será fixado tendo-se em conta:
182

a) a importância das tarefas que os inspetores terão de executar, notadamente:


I) o número, a natureza, a importância e a situação dos estabelecimentos sujeitos ao
controle da inspeção;
II) o número e a diversidade das categorias de trabalhadores ocupados nesses
estabelecimentos;
III) o número e a complexidade das disposições legais cuja aplicação deve ser assegurada;
b) os meios materiais de execução postos à disposição dos inspetores;
c) as condições práticas nas quais as visitas de inspeção deverão se efetuar para ser
eficazes.

Uma análise atenta da evolução da quantidade da população economicamente ativa brasileira


e da quantidade dos auditores fiscais do trabalho aqui no Brasil, deixa evidente que a auditoria fiscal
do trabalho brasileira sempre foi insuficiente para atender a sua demanda de inspeção do trabalho.
Dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios (PNAD), realizada pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que visa produzir informações básicas para
o estudo do desenvolvimento socioeconômico do País e permitir a investigação contínua de
indicadores sobre trabalho e rendimento, expõe que nos anos 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998,
1999, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2011 e 2012,
a População Economicamente Ativa (PEA) brasileira era, respectivamente, de 65.152.614,
66.304.454, 69.438.576, 67.920.787, 69.331.507, 69.963.113, 73.345.531, 76.936.438, 79.708.522,
80.775.414, 85.245.933, 87.695.271, 89.636.973, 90.854.655, 93.420.362, 94.763.220, 94.763.220,
96.097.842. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), expõe que a quantidade de
auditores fiscais do trabalho no Brasil em cada um dos anos no período de 1990 a 2014, era,
respectivamente, de 3.285, 2.948, 2.703, 2.708, 2.720, 3.089, 3.464, 3.242, 3.101, 3.169, 3.131,
3.080, 3.044, 2.837, 2.927, 2.935, 2.873, 3.174, 3.112, 2.949, 3.061, 3.042, 2.875, 2.740 e 2.782.
Calculando-se, com base nestes dados, a razão entre quantidade de auditores fiscais do trabalho por
quantidade de pessoas ocupadas, temos que nos anos 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999,
2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2011 e 2012, ela era, respectivamente,
0,415, 0,408, 0,445, 0,51, 0,468, 0,443, 0,432, 0,4, 0,382, 0,351, 0,343, 0,335, 0,321, 0,349, 0,333,
0,314, 0,321, e 0,299. Então, a proporção de auditores fiscais do trabalho por quantidade de pessoas
ocupadas no país diminui consideravelmente no período de 1990 a 2014 (BRASIL, 2014; 2016).
183

APÊNDICE 14

A precarização ambiental do trabalho

A precarização ambiental do trabalho, é aquela que se origina de um ambiente que oferece


riscos para a saúde do trabalhador. Ela se manifesta por meio da inobservância no que concerne à
aplicação das normas de segurança do trabalho e meio ambiente no que concerne aos riscos
ambientais. Consideram-se riscos ambientais os agentes químicos, físicos, biológicos, ergonômicos
e os riscos de acidentes de trabalho. Eles são capazes de causar danos à saúde e à integridade física
do trabalhador em função de sua natureza, concentração, intensidade, suscetibilidade e tempo de
exposição. Os riscos ambientais ou profissionais estão divididos em cinco grupos: 1) Físicos: são
efeitos gerados por máquinas, equipamentos e condições físicas, características do local de trabalho
que podem causar prejuízos à saúde do trabalhador; 2) Químicos: são representados pelas
substâncias químicas que se encontram nas formas líquida, sólida e gasosa. Quando absorvidas pelo
organismo, podem produzir reações tóxicas e danos à saúde. Há três vias de penetração no
organismo: - via respiratória: inalação pelas vias aéreas; - via cutânea: absorção pela pele; - via
digestiva: ingestão; c) Biológicos: são aqueles causados por micro-organismos como bactérias,
fungos, vírus, bacilos e outros. São capazes de desencadear doenças devido à contaminação e pela
própria natureza do trabalho; d) Ergonômicos: são contrários às técnicas de ergonomia, que
propõem que os ambientes de trabalho se adaptem ao homem, proporcionando bem-estar físico e
psicológico; e) De acidentes: ocorrem em função das condições físicas (do ambiente físico e do
processo de trabalho) e tecnológicas, impróprias, capazes de provocar lesões à integridade física do
trabalhador (BRASIL, 2014; 2015; 2016; MELO, 2011). Ambientes de trabalho com características
ergonômicas fora do padrão especificado em lei, por negligência, imprudência ou violação, é o que,
não raro, se presencia no mercado de trabalho brasileiro, causando uma grande quantidades de
acidentes do trabalho por ano no Brasil (DRUCK, 2011; SCOMPARIM, 2009; BRASIL, 2014;
MELO, 2011). Esquematicamente, este tipo de precarização do trabalho pode ser apresentado do
seguinte modo:

PRECARIZAÇÃO DO AMBIENTE DO TRABALHO


TIPO DESCRIÇÃO
São aqueles decorrentes de processos e equipamentos produtivos
Riscos físicos e podem ser: a) ruído e vibrações; b) pressões anormais em relação à
(grupo 1: verde) pressão atmosférica; c) temperaturas extremas (altas e baixas); d)
radiações ionizantes e radiações não ionizantes.
São aqueles oriundos da manipulação, transformação e
modificação de seres vivos microscópicos, dentre eles: genes, bactérias,
fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, e outros. Por exemplo: a)
Riscos químicos
poeiras minerais: sílica, asbesto, carvão, minerais; b) poeiras vegetais:
(grupo 2: vermelho)
algodão, bagaço de cana-de-açúcar; c) poeiras alcalinas: calcário, fumos
metálicos; d) névoas, gases e vapores (substâncias compostas,
compostos ou produtos químicos em geral).
São aqueles decorrentes da manipulação e processamento de
Riscos biológicos
matérias-primas e destacam-se: a) poeiras e fumos; b) névoas e
(grupo 3: marrom)
neblinas; c) gases e vapores.
Riscos ergonômicos Estes riscos são contrários às técnicas de ergonomia, que
(grupo 4: amarelo) propõem que os ambientes de trabalho se adaptem ao homem,
184

proporcionando bem-estar físico e psicológico. Os riscos ergonômicos


estão ligados também a fatores externos (do ambiente) e internos (do
plano emocional), em síntese, quando há disfunção entre o indivíduo e
seu posto de trabalho. Por exemplo: a) esforço físico, levantamento e
transporte
manual de pesos, exigências de postura; b) ritmos excessivos,
trabalho de turno e noturno, monotonia e repetitividade, jornada
prolongada, controle rígido de produtividade, outras situações
(conflitos, ansiedade, responsabilidade).
Os riscos de acidentes ocorrem em função das condições físicas
(do ambiente físico e do processo de trabalho) e tecnológicas,
impróprias, capazes de provocar lesões à integridade física do
Riscos de acidentes trabalhador. Por exemplo: a) arranjo físico inadequado; b) máquinas
(grupo 5: azul) sem proteção; c) iluminação deficiente; d) ligações elétricas deficientes;
e) armazenamento inadequado; f) ferramentas defeituosas ou
inadequadas; g) equipamentos de proteção individual inadequado; h)
animais peçonhentos (escorpiões, aranhas, cobras).
Tabela 3. Tipificação da precarização ambiental do trabalho.
Fonte: Revisão bibliográfica feita pelo autor.

Segundo o Ministério da Previdência Social, o Brasil é um dos países onde mais se ocorrem
acidentes do trabalho no mundo; em 2011, 2012 e 2013, ocorrem o total de 720.629, 713.984,
717.911 acidentes do trabalho, respectivamente (BRASIL, 2014). A região sudeste concentra mais
da metade destes resultados, tendo ocorrido, em cada um dos anos mencionados, respectivamente,
401.220, 400.932 e 399.970 acidentes. Ainda destes resultados, o Estado de São Paulo é
responsável por cerca de 5/8 do total estadual e quase 1/3 do total nacional, tendo ocorrido, em cada
um dos anos mencionados, respectivamente 256.423, 253.870 e 254. 208 acidentes (BRASIL,
2014). O setor industrial brasileiro representa cerca metade dos acidentes do trabalho ocorridos em
todo o território nacional anualmente; neste setor, as atividades em que eles mais ocorrem são o da
construção civil, seguido pelo da produção de alimentos e bebidas, depois o da produção de
veículos e equipamentos de transporte e o da produção têxtil (BRASIL, 2014). O comércio
brasileiro é responsável por cerca de 100 mil acidentes de trabalho por ano, e o setor de saúde e
serviços sociais por cerca de 67 mil, e do total de acidentes ocorridos anualmente no Brasil cerca de
10% deles são devido a algum ferimento do punho e da mão (BRASIL, 2014).
No Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego elaborou trinta e cinco Normas Regulamen-
tadoras (Nrs) objetivando assegurar ao trabalhador, em cada unidade laboral, as condições
ambientais mínimas necessárias ao seu adequado exercício profissional. Todas as empresas e
instituições regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho são obrigadas a aplicá-las. Ela também
estabelece as competências de fiscalização interna e externa destas organizações do trabalho,
algumas delas da de comissões e departamentos específicos da própria organização, outras da
Delegacia Regional do Trabalho, outras do Ministério Público do Trabalho. Vale ressaltar aqui que
a inobservância destas diretrizes já custa a vida de milhares de trabalhadores brasileiros anualmente.
Por essa razão, vale à pena atentar-se a conhecer cada uma delas e, sobretudo, aplicá-las
adequadamente no contexto laboral buscando sempre o maior proveito para a saúde e a segurança
de todos os stakeholders (KOSCHEK; WOLFART; POLACINSKI, 2012). Para tanto, a tabela a
seguir apresenta todas as trinta e cinco NRs em âmbito nacional, descrevendo cada uma delas:

NORMA TÍTULO OBJETIVO PARTICULARIDADE


185

Estabelece as disposições
Disposições gerais das Normas Responsabilidades tanto do
NR 1 Gerais Regulamentadoras de empregador quando do empregado
Segurança e Medicina do no cumprimento de todas as NRs.
Trabalho (NRs).
Estabelece o Certificado de
Toda empresa é obrigada a ter o
Inspeção Aprovação de Instalações –
certificado de aprovação de
NR 2 Prévia CAI antes de um novo
instalações do Ministério do
estabelecimento iniciar suas
trabalho.
atividades.
A Delegacia Regional do
Trabalho, à vista de
Através desta norma o Ministério do
laudo técnico do serviço
Trabalho ao detectar um
competente que demostre grave
risco de acidente, tem o poder de
Embargo ou e iminente risco para o
NR 3 cancelar a atividade, até a
Interdição trabalhador poderá
empresa tomar as medidas
interditar estabelecimento,
necessárias para eliminar a não
setor de serviço, máquina ou
conformidade.
equipamento, ou embargar a
obra.
Diz respeito aos Serviços
Serviços
Especializados em Engenharia
Especializados
de Segurança e em Medicina
em Engenharia O trabalhador deve estar em boas
do Trabalho (SESMT) e tem
NR 4 de condições de saúde para
como finalidade promover a
Segurança e realizar suas atividades.
saúde e proteger a integridade
em Medicina
do trabalhador em seu local de
do Trabalho
trabalho.
As empresas privadas, públicas
e órgãos governamentais que
Alguns trabalhadores são escolhidos
Comissão possuam empregados regidos
entres os demais para
Interna de pela CLT ficam obrigados a
NR 5 representar a CIPA no auxilio da
Prevenção de organizar e manter em
prevenção de acidentes de
Acidentes funcionamento uma Comissão
trabalho.
Interna de Prevenção de
Acidentes (CIPA).
Estabelece parâmetros para o
dimensionamento, fabricação,
importação,
Equipamento Destaca-se principalmente a
cadastramento, uso,
de Proteção importância do uso do EPI na
NR 6 restauração e treinamento dos
Individual – realização das atividades para a
equipamentos de proteção
EPI prevenção de acidentes.
individual e específicos aos
riscos nos ambientes de
trabalho (lista de EPIs).
Programa de Estabelece a obrigatoriedade da No exame médico de mudança de
NR 7
Controle elaboração e implementação, função, será obrigatoriamente
186

por parte de
todos os empregados e
instituições que admitam
trabalhadores como
empregados, do Programa de
Controle Médico de Saúde
Médico de
Ocupacional -
Saúde realizada antes da data da mudança.
PCMSO, cujo objetivo é
Ocupacional
promover e preservar a saúde
do conjunto dos seus
trabalhadores, que deve ser
integrado ao Projeto de Gestão
de Riscos na
empresa.
Estabelece requisitos técnicos
mínimos que devam ser Os pisos e as paredes dos locais de
observados nas edificações trabalho devem ser, sempre
NR 8 Edificações
para garantir a segurança e que necessário, impermeabilizados e
conforto aos que nelas protegidos contra a umidade.
trabalham.
Estabelece a obrigatoriedade da
elaboração e implementação,
por parte de
todos os empregadores e Para efeito desta NR, consideram-se
instituições que admitam riscos ambientais os
trabalhadores como agentes físicos, químicos e
Programa de
empregados, do Programa de biológicos existentes nos ambientes
Prevenção de
NR 9 Prevenção de Riscos de trabalho que, em função de sua
Riscos
Ambientais, através da natureza, concentração ou
Ambientais
antecipação, reconhecimento, intensidade e tempo de exposição,
avaliação e consequente são capazes de causar danos à saúde
controle da ocorrência do trabalhador.
de riscos ambientais existentes
ou que venham existir no
ambiente de trabalho.
Fixa as condições mínimas
exigidas para garantir a
segurança dos empregados que
Segurança em trabalham em instalações É vedado o uso de adornos pessoais
Instalações elétricas, em sua etapas, nos trabalhos com
NR 10
e Serviços em incluindo projeto, execução, instalações elétricas ou em suas
Eletricidade operação, manutenção, reforma proximidades.
e ampliação e ainda, a
segurança de usuários e
terceiros.
Transporte, Estabelece os requisitos de Especial atenção será dada aos cabos
NR 11 Movimentação segurança a serem observados de aço, cordas, correntes,
, nos locais de trabalho, no que roldanas e ganchos que deverão ser
187

se refere ao transporte, à
movimentação, à armazenagem
Armazenagem e ao manuseio de materiais, inspecionados, permanentemente,
e tanto de forma mecânica substituindo-se as suas partes
Manuseios de quanto manual, defeituosas.
Materiais objetivando a prevenção de
infortúnios laborais.
Exige as medidas
prevencionistas de segurança e
higiene do trabalho a serem Os comandos de partida ou
Segurança no
adotadas pelas empresas em acionamento das máquinas devem
Trabalho em
NR 12 relação à instalação, operação e possuir dispositivos que impeçam
Máquinas e
manutenção de máquinas e seu funcionamento automático
Equipamentos
equipamentos, visando à ao serem energizadas.
prevenção de acidentes do
trabalho.
Todos os requisitos técnico-
legais relativos à instalação, Toda caldeira a vapor deve estar
operação e manutenção de obrigatoriamente sob operação
Caldeiras e
caldeiras e vasos de pressão, e controle de operador de caldeira,
NR 13 Vasos de
devem se fazer presente de sendo que o não atendimento
Pressão
modo a se prevenir a a esta exigência caracteriza condição
ocorrência de acidentes do de risco grave e iminente.
trabalho.
Estabelecidas às Os fornos devem ser dotados de
recomendações técnico-legais chaminé, suficientemente
pertinentes à construção, dimensionada para a livre saída dos
NR 14 Fornos
operação e manutenção de gases queimados, de acordo
fornos industriais nos com normas técnicas oficiais sobre
ambientes de trabalho. poluição do ar.
Descreve as atividades,
operações e agentes insalubres,
inclusive seus limites de
tolerância, definindo, assim, as
situações que, quando É obrigatória a realização de uma
Atividades e vivenciadas nos análise preliminar dos riscos à
NR 15 Operações ambientes de trabalho pelos saúde dos trabalhadores para
Insalubres trabalhadores, ensejam a subsidiar a tomada de decisão para
caracterização do exercício implantação de medidas de controle.
insalubre, e também os meios
de proteger os trabalhadores de
tais exposições nocivas à sua
saúde.
Regulamenta as atividades e as
Atividades e operações legalmente O empregado poderá optar pelo
NR 16 Operações consideradas perigosas, adicional de insalubridade que
Perigosas estipulando as recomendações porventura lhe seja devido.
prevencionistas
188

correspondentes.
Estabelecer parâmetros que
permitam a adaptação das
Não deverá ser exigido nem
condições de trabalho
admitido o transporte manual de
às condições psicofisiológicas
NR 17 Ergonomia cargas, por um trabalhador cujo peso
dos trabalhadores, de modo a
seja suscetível de comprometer sua
proporcionar um máximo de
saúde ou sua segurança.
conforto, segurança e
desempenho eficiente.
Estabelece diretrizes de ordem
administrativa, de
Resume-se no elenco de
Condições e planejamento de organização,
providências a serem executadas, em
Meio que objetivem a implementação
função do cronograma de uma obra,
Ambiente de de medidas de
NR 18 levando-se em conta os
Trabalho na controle e sistemas preventivos
riscos de acidentes e doenças do
Indústria da de segurança nos processos,
trabalho e as suas respectivas
Construção nas condições e
medidas de segurança.
no meio ambiente de trabalho
na indústria da construção civil.
O Plano de Emergência e Combate a
Estabelece as disposições Incêndio e Explosão deve ser
regulamentadoras acerca da implantado segundo cronograma
fabricação, armazenamento, detalhado contendo prazos para
manuseio e transporte de execução de todas as etapas,
NR 19 Explosivos
explosivos, objetivando a inclusive treinamento teórico e
proteção da saúde e integridade prático, devendo ser simulado e
física dos trabalhadores em revisado anualmente, com a
seus ambientes de trabalho. participação da - CIPA - e de todos
os trabalhadores.
Estabelece as disposições
regulamentares acerca do Não se aplica: a) às plataformas e
Segurança e armazenamento, manuseio e instalações de apoio
Saúde no transporte de líquidos empregadas com a finalidade de
NR 20 Trabalho com combustíveis e inflamáveis, exploração e produção de
Inflamáveis e objetivando a proteção da petróleo e gás do subsolo marinho;
Combustíveis saúde e a integridade física dos b) às edificações residenciais
trabalhadores m seus ambientes unifamiliares.
de trabalho.
Tipifica as medidas
prevencionistas relacionadas
com a prevenção de
Trabalho a céu É vedada, em qualquer hipótese, a
NR 21 acidentes nas atividades
aberto moradia coletiva da família.
desenvolvidas a céu aberto, tais
como, em minas ao
ar livre e em pedreiras.
Segurança e Tem por objetivo disciplinar os Nas minas de subsolo deve existir
NR 22
Saúde preceitos a serem observados uma área reservada para
189

na organização
e no ambiente de trabalho, de
refúgio, em caso de emergência,
forma a tornar compatível o
devidamente construída e
Ocupacional planejamento e o
equipada para abrigar o pessoal e
na Mineração desenvolvimento da atividade
prestação de primeiros
mineira com a busca
socorros.
permanente da segurança
e saúde dos trabalhadores.
Estabelece as medidas de
proteção contra incêndios que
Proteção Nenhuma saída de emergência
devem dispor os locais de
NR 23 Contra deverá ser fechada à chave ou
trabalho, visando à prevenção
Incêndios presa durante a jornada de trabalho.
da saúde e da integridade física
dos trabalhadores.
Disciplina os preceitos de
higiene e de conforto a serem
observados nos locais As empresas devem garantir,
Condições
de trabalho, especialmente no nos locais de trabalho,
Sanitárias e de
que se refere a: banheiros, suprimento de água potável e
NR 24 Conforto nos
vestiários, refeitórios, cozinhas, fresca em quantidade superior a
Locais de
alojamentos e água potável, 1/4 (um quarto) de litro (250ml)
Trabalho
visando à higiene dos locais de por hora/homem trabalho.
trabalho e a proteção à saúde
dos trabalhadores.
Diz respeito às medidas Os trabalhadores envolvidos em
preventivas a serem atividades de coleta,
observadas, pelas empresas, no manipulação, acondicionamento,
destino final a ser dado aos armazenamento, transporte,
Resíduos
NR 25 resíduos industriais resultantes tratamento e disposição de resíduos
Industriais
dos ambientes de trabalho de devem ser capacitados pela empresa,
modo a proteger a saúde e a de forma continuada, sobre os riscos
integridade física dos envolvidos e as medidas de controle
trabalhadores. e eliminação adequadas.
Tem como objetivo padronizar
e fixar as cores que devem ser
usadas como sinalização de
segurança nos locais de
trabalho e para prevenção de
acidentes, identificando os
O uso de cores deve ser o mais
equipamentos de segurança,
Sinalização de reduzido possível, a fim de não
NR 26 delimitando áreas,
Segurança ocasionar distração, confusão e
identificando as canalizações
fadiga ao trabalhador.
empregadas nas indústrias para
a condução de
líquidos e gases e advertindo
contra riscos, de modo a
proteger a saúde e a integridade
física dos trabalhadores.
190

Registro
REVOGADA pela PORTARIA
Profissional do
nº. 262, de 29 de maio de 2008,
NR 27 Técnico de
publicada no
Segurança do
DOU de 30/05/2008.
Trabalho
Diz respeito aos procedimentos
a serem adotados pela
fiscalização trabalhista de
Segurança e Medicina do
Trabalho, tanto no que diz
A empresa poderá recorrer ou
respeito à concessão de prazos
solicitar prorrogação de prazo de
Fiscalização e às empresas para a correção das
NR 28 cada item notificado até no máximo
Penalidades irregularidades técnicas, como
10 (dez) dias a contar da data de
também, no que diz respeito ao
emissão da notificação.
procedimento de autuação por
infração às Normas
Regulamentadoras de
Segurança e Medicinado
Trabalho.
Tem como objetivo regular a
Norma proteção obrigatória contra
Regulamentad acidentes e doenças Compete ao Órgão Gestor de Mão-
ora profissionais, facilitar os de-obra - OGMO ou
NR 29 de Segurança e primeiros socorros a empregadores: promover cursos de
Saúde no acidentados e alcançar as atualização para os membros
Trabalho melhores condições possíveis da Comissão CPATP;
Portuário de segurança e saúde aos
trabalhadores portuários.
Cabe aos trabalhadores: utilizar
Segurança e Diz respeito a proteção e a corretamente os dispositivos e
Saúde no regulamentação das condições equipamentos de segurança e estar
NR 30
Trabalho de segurança e saúde dos familiarizado com as instalações,
Aquaviário trabalhadores aquaviários. sistemas de segurança e
compartimentos de bordo.
Estabelece os preceitos a serem
observados na organização e no
Segurança e
ambiente
Saúde no
de trabalho, de forma a tornar
Trabalho na É vedada a manipulação de
compatível o planejamento e o
Agricultura, quaisquer agrotóxicos, adjuvantes e
desenvolvimento
NR 31 Pecuária produtos afins por menores de
das atividades da agricultura,
Silvicultura, dezoito anos, maiores de sessenta
pecuária, silvicultura,
Exploração anos e por gestantes.
exploração florestal e
Florestal e
aquicultura com a segurança e
Aquicultura
saúde e meio ambiente do
trabalho.
Segurança e Tem por finalidade estabelecer Os trabalhadores com feridas ou
NR 32
Saúde no as diretrizes básicas para a lesões nos membros superiores
191

implementação de medidas de
proteção à segurança e à saúde só podem iniciar suas atividades
Trabalho em dos trabalhadores dos serviços após avaliação médica
Serviços de de saúde, bem como daqueles obrigatória com emissão de
Saúde que exercem atividades de documento de liberação para o
promoção e trabalho.
assistência à saúde em geral.
Estabelece os requisitos
mínimos para identificação de
espaços confinados e
Segurança e o reconhecimento, avaliação, É vedada a entrada e a realização de
Saúde nos monitoramento e controle dos qualquer trabalho em
Trabalhos em riscos existentes, de forma a espaços confinados sem a emissão da
NR 33
Espaços garantir permanentemente a Permissão de Entrada e
Confinados segurança e saúde dos Trabalho.
trabalhadores que interagem
direta ou indiretamente nestes
espaços.
Condições e Antes do início dos trabalhos deve
Estabelece os requisitos
Meio ser efetuada e registrada a
mínimos e as medidas de
Ambiente de inspeção de todos os EPI a serem
proteção à segurança, à
Trabalho na utilizados, recusando-se os
NR 34 saúde e ao meio ambiente de
Indústria da que apresentem falhas ou
trabalho nas atividades da
Construção e deformações ou que tenham sofrido
indústria de construção e
Reparação impacto de queda, quando se tratar
reparação naval.
Naval de cintos de segurança.
Diz respeito aos requisitos
mínimos e as medidas de
As pessoas responsáveis pela
proteção para o trabalho
execução das medidas de
em altura, envolvendo o
salvamento devem estar capacitadas
planejamento, a organização e a
Trabalho em a executar o resgate,
NR 35 execução, de forma
Altura prestar primeiros socorros e possuir
a garantir a segurança e a saúde
aptidão física e mental
dos trabalhadores envolvidos
compatível com a atividade a
direta ou
desempenhar.
indiretamente com esta
atividade.
Tabela 4. Apresentação das 35 Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego. Elaborada
pelo autor. Fonte: Revisão bibliográfica do autor.

Para exemplificar um situação que aponta casos clássicos de descumprimentos das Normas
Regulamentadoras de Saúde e Segurança no Trabalho, a Revista Cipa (BRASIL, 2015) relata
sinteticamente os resultados de uma ação de fiscalização, de autuação e de interdição de atividades
de empresas de telemarketing, que teve início após uma fiscalização realizada em Minas Gerais,
resultando em 900 autos de infração e R$ 300 milhões em multas em sete estados brasileiros. Sem
citar o nome das empresas, transcrevo os trechos mais relevantes do relatório (BRASIL, 2015, s. p.)
conforme exposto a seguir:
192

Dados da Operação - A empresa fiscalizada possui mais de 100.000 empregados, sendo


uma das maiores prestadoras de serviço de call center do país e atuava como uma
intermediária das contratações para as outras empresas, que são as reais empregadoras.
Principais irregularidades encontradas durante a ação fiscal:
1- Na unidade de Recife, onde foi feita a interdição das atividades no mês de Janeiro, que
conta com 15.000 trabalhadores, a principal causa de afastamento do trabalho por motivo
de doença são as doenças osteomusculares. De janeiro a maio de 2014, foram apresentados
8.687 atestados de afastamento do trabalho por esse motivo, o que corresponde a uma
média de 1.737 ao mês.
2- No ano de 2013 foram 23.554 atestados médicos de afastamentos do trabalho devido a
problemas osteomusculares apresentados nessa mesma unidade, o que corresponde a uma
média de 1.962 atestados ao mês.
3- Dentre as doenças osteomusculares, as maiores causas de afastamento são as sinovites,
tenossinovites e as dorsalgias.
4- Não há emissão de CAT (Comunicação de Acidente do Trabalho) para essas doenças
(osteomusculares) e outras relacionadas ao trabalho, tais como doenças do aparelhos de
fonação, audição e visão, e doenças psíquicas, tais como estresse, depressão, ansiedade e
síndrome do pânico. As sinovites e tenossinovites já possuem, inclusive, nexo técnico
epidemiológico estabelecido com a atividade de teleatendimento pela Previdência Social
(lista “C” do anexo II do Decreto nº 3048/99, que trata da aplicação do NTEP – Nexo
Técnico Epidemiológico Previdenciário).
5- Trata-se de uma população extremamente jovem, a maioria no primeiro emprego, e que
rapidamente se afasta do trabalho devido a doenças ou agravos à saúde, o que torna ainda
mais alarmante a situação.
Fatores de risco - A forma como o trabalho é organizado e a falta de uma gestão adequada
de SST (Saúde e Segurança no Trabalho) se constituem nos principais fatores de risco de
adoecimento, como segue:
1- Organização do trabalho
A organização do trabalho é criteriosamente planejada e implementada visando somente
altos índices de produtividade. As práticas de organização do trabalho encontradas, tais
como supervisão exagerada; nível de cobrança alto e constante; cobrança de metas
inalcançáveis de produtividade com o objetivo de obter melhor desempenho; mais rapidez e
eficiência (“gestão por estresse”) e uso da ameaça, implícita ou explícita, como estímulo
principal para gerar adesão do trabalhador aos objetivos organizacionais (“gestão por
medo”), caracterizam a presença do assédio moral organizacional. A situação é
potencialmente geradora de inúmeros adoecimentos de ordem física (sobretudo
osteomusculares) e psíquica.
As instalações físicas inadequadas e equipamentos deficientes também configuram
situações potenciais de adoecimento (aparelho auditivo, gastrointestinal etc). Não por acaso
são alarmantes os índices de adoecimento verificados, de patologias diretamente
relacionadas às condições organizacionais constatadas.
2- Programas de SST (Saúde e Segurança do Trabalho)
Não há uma gestão adequada de SST, uma vez que os programas não reconhecem os riscos
presentes no ambiente de trabalho e, em alguns casos, os programas – como é o caso do
PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) – são “corporativos”,
sendo replicados em todo o país. A insistência em negar a relação de adoecimento com a
atividade desenvolvida pelos trabalhadores é característica de todos os programas de SST
analisados durante a fiscalização. Logo, como os riscos não são reconhecidos ou abordados,
não são implementadas medidas para seu controle e minimização e nem há medidas
visando à prevenção, ao rastreamento e ao diagnóstico precoce dos agravos à saúde dos
trabalhadores relacionados ao trabalho.
Irregularidades - Durante a ação fiscal realizada em Minas Gerais, as principais
irregularidades verificadas nas unidades da empresa de telemarketing estavam relacionadas
a assédio moral, a doenças relativas à atividade funcional e à cobrança de metas
inatingíveis. “A grande maioria dos trabalhadores, em alguns setores chegando a mais de
90%, não consegue atingir as metas estabelecidas pela empresa. E isso influencia
diretamente no valor da Remuneração Variável paga a eles. Esse adicional salarial depende
de vários outros fatores e sofre redução inclusive se o trabalhador faltar ao serviço, mesmo
que essa falta seja devidamente justificada”, elucida Odete.
193

A auditora ainda confirma o adoecimento e afastamento de muitos trabalhadores das


unidades fiscalizadas. “Os transtornos mentais/comportamentais são a principal causa de
afastamentos do trabalho por período superior a 15 dias. Problemas osteomusculares, na
voz, nos olhos e nos ouvidos também são bastante comuns”, elenca.
Odete ainda enfatiza que o trabalho na empresa é organizado com o único objetivo de obter
uma alta produtividade, sendo utilizadas práticas abusivas de controle do tempo e do
trabalho. “O tempo e outros critérios exigidos no atendimento ao cliente são controlados de
várias formas, inclusive de forma online, pelos monitores, supervisores, coordenadores e
gerentes”, finalizou.

A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais (SRTE/MG)


promoveu uma audiência no dia 11 de março de 2015, em suas dependências, para apresentar os
dados da referida ação fiscal, que foi realizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)
concomitantemente em sete estados do país, quais sejam: Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio de
Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A referida operação fiscal, que durou mais
de um ano, teve por resultados, além dos dados apresentados na transcrição anterior, a autuação de
quatro grandes bancos e três empresas de telefonia (BRASIL, 2015).
Nela estiveram presentes representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT), do
Ministério Público Federal (MPF), do Sindicato dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), do
Tribunal Regional do Trabalho (TRT), do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações de
Minas Gerais (Sinttel-MG), da Federação Interestadual dos Trabalhadores e Pesquisadores em
Serviços de Telecomunicações (FITRATELP), da Chefia da Perícia Médica do Instituto Nacional do
Seguro Social de Minas Gerais (INSS/MG) , além de outros convidados (BRASIL, 2015). Neste
diapasão, vale salientar que essa é a realidade do ambiente de trabalho brasileiros em várias
categorias profissionais, especialmente no setores bancário, no de telecomunicações, no de
segurança, no de limpeza e no de iluminação (FILHO, 2011; GIFTED, 2015).
A mecanização da produção marginaliza o trabalho manual, por um lado atenuando a
quantidade de postos de trabalho artesanais, braçais, não especializados, mas por outro lado,
elevando a quantidade de postos de trabalho mecanizados, maquinais, especializados. Além disso, a
mecanização aumenta a produtividade e acelera o ritmo da produção, o que, novamente, apresenta
vantagens e desvantagens, por exemplo, por um lado, elevando a lucratividade, mas por outro lado
aumentando os riscos físicos, biológicos e ou químicos inerentes às atividades laborais.
Inobstante, o índice de acidentes no trabalho é maior na realização de atividades com
maiores riscos físicos, biológicos e ou químicos, o que gera a necessidade de análise contínua dos
processos organizacionais pelo (s) ergonomista (s), usuários e conceptores (DANIELOU; BÉGUIN,
2007; DARSES; REUZEAU, 2007; DRUCK, 2011; SCOMPARIM, 2009; MELO, 2011; FALZON,
2007).
No fito de diminuir a incidência de acidentes do trabalho sem desmecanizá-lo
completamente e jogar fora os resultados benéficos, várias organizações do trabalho estão
mesclando atividades mecanizadas com atividades manuais para cada funcionário, num processo
conhecido na literatura como rigidização, compreendido como a utilização do potencial flexível do
ser humano.

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