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OS TRÊS PILARES DA METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA: O ESTADO DA

ARTE

Álaze Gabriel do Breviário

BREVE CURRÍCULO:

Masters student in Administration, advanced corporate finance research line (Must University-
2025). Especializando em Gestão Tributária (USP-2025), com bolsa integral. Especilizando em
Tesouraria Corporativa (USP-2025), com bolsa integral. Especializando em Uso Educacional da
Internet (UFLA-2025). Especializando em Neurociências, Comportamento e Psicopatologia (PUC-PR-
2025). Especialista em Finanças e Controladoria (USP-2023), com bolsa integral. Especialista em
Gestão Financeira (UNINTER-2022). Especialista em Docência e Pesquisa para o Ensino Superior
(UNIMES-2015). Especialista em Finanças e Controladoria (UBC-2014). Bacharel em Ciências
Contábeis (UNIMES-2019). Cursou Bacharelado em Estatística incompleto (UFSCar-2013-2017).
Tecnólogo em Gestão de Negócios (UBC-2012). Autor de uma TEORIA DA PREDESTINAÇÃO cem
por cento original, sem envolvimento com outras teorias predesinatórias, reencarnacionistas, e não
científicas - embora essa teoria precise de refinamentos, e teste de hipóteses para corroborar suas
conclusões. Produz pesquisas científicas sobre: paradigmas científicos; teorias organizacionais;
metodologia da pesquisa científica; docência no ensino superior; Educação a Distância (EaD); Fluxo de
Caixa Descontado (FCD); sinergias; Fusões e Aquisições (FA). Administrador de blogs. Atua como
escritor, palestrante, consultor e mentor. Concurseiro. Possui trajetórias acadêmica e profissional
bastante fragmentadas e diversificadas com concentração nas áreas administrativa e contábil. Participou
do curso de extensão FORMAÇÃO PRÉ-ACADÊMICA: AFIRMAÇÃO NA PÓS UFPR TURMA
2022 (UFPR-2022). Participou do curso de curta duração VALUATION E MODELAGEM
FINANCEIRA (FreeHelper-2021). Participou do curso de atualização VALUATION E MÉTRICAS
DE VALOR (USP-2021), com bolsa integral. Participou do curso de extensão EQUIDADE NO
ACESSO À PÓS-GRADUAÇÃO PARA POPULAÇÕES SUB-REPRESENTADAS A CURSOS DE
MESTRADO (UFSCar-2013).
Orcid: 0000-0002-9480-6325.

SINOPSE:

O presente trabalho aborda qualitativamente os três pilares constituintes da metodologia da


pesquisa científica, quais sejam: o epistemológico, o lógico e o técnico. Visto que a vasta literatura
desse tema contradiz-se sobremaneira ao se tratar de seus pilares constituintes, esse trabalho realiza, de
forma bastante abrangente, porém não exaustiva, uma revisão da literatura crítica, e de outros
documentos, sobre o tema, com o objetivo de clarear a sua correta compreensão e o seu adequado uso.
Desse modo, este livro é destinado prioritariamente aos universitários. Para tanto, utiliza: o paradigma
neoperspectivista, como seu eixo epistemológico; o método hipotético-dedutivo, como a base da sua
estrutura de pensamento; e o método observacional não participante, do tipo bibliográfico e
documental, como a base procedimental da sua investigação. Discute os óbices para o progresso
científico, dentre os principais, as imperfeitas interpretações humanas e as más adequações e ou
aplicações dos métodos de pesquisa por parte do pesquisador. Considera e apresenta a ética como
elemento propulsor da autêntica cientificidade. Conclui-se que este trabalho traz avanços
terminológicos, conceituais, taxonômicos e conteudais significativos para a temática investigada.
Dedico este trabalho à minha família carnal (a mãe, o
Éric, a Érica e o Igor) e à minha família espiritual, isto
é, aos irmãos e irmãs na fé.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, eu agradeço a Jeová Deus pelas dádivas da vida, da inteligência, da consciência,


do entendimento, da sabedora e da ciência e, mormente, porque sem Ele nada é possível.
À minha família, em especial à minha mãe, Sônia, e ao meu irmão caçula, Igor, que sempre me
apoiaram no que foi necessário para eu elaborar o presente trabalho.
Aos meus professores de graduação e de pós-graduação, por meio dos quais eu aprendi a
pesquisar e dos quais eu absorvi o máximo possível de conhecimentos e experiências, que foram,
indubitavelmente, imprescindíveis para a produção deste livro.
Aos irmãos e às irmãs na fé que eu tenho, na Organização de Jeová, que me apoiaram moral e
financeiramente para eu conseguir publicar este livro pela editora Appris.
Aos profissionais da Editora e Livraria Appris, que muito me ajudaram, no que foi necessário,
para a editoração completa deste livro.
A todas as pessoas cujos nomes não se encontram aqui, mas que, de algum modo, contribuíram
para que este trabalho se realizasse.

Para todas as coisas tenho forças graças Àquele que


me dá poder.
(Filipenses 4:13)
APRESENTAÇÃO

Para a elaboração deste trabalho, focado na metodologia da pesquisa científica, buscando-se


uma classificação coerente para os diversos tipos de conhecimentos existentes, eu li muitos livros,
manuais, artigos, teses, dissertações. Observei algum tipo de incoerência em todo o conteúdo que
analisei, desde a menos até a mais rigorosa pesquisa científica, chegando à conclusão de que as
incoerências observadas se deram por causa das imperfeições humanas, razão pela qual acredito – e
digo desde já – que nem este meu trabalho nem qualquer outro, apesar das melhorias trazidas, chegarão
a eliminá-las por completo.
Entretanto, não é necessário desanimar, porque a ciência avança aos poucos, devagar, bem
menos rápido do que a tecnologia, que muda a cada instante. Por essa razão, continuei arduamente em
meus levantamentos bibliográficos e documentais procurando uma ou algumas classificações que
pudessem abarcar, com mais coerência, os diversos tipos de conhecimentos existentes. Após anos de
investigação, eu cheguei a propor algumas, uma das quais eu apresento a seguir:

Quadro 1 – Uma classificação mais coerente dos diversos tipos de conhecimentos existentes

Factual
Religioso
Cientifico
Artístico
Físico Filosófico
(natural) Não Factual
Religioso
Científico
Artístico
(senso comum) Filosófico

Cientifico Parapsicológico
Metafísico
(sobrenatural) Não
Mediúnico
Científico
Clarividente
(senso comum)

Fonte: elaborado pelo autor

Essa classificação é mais coerente porque categoriza os diversos tipos de conhecimentos


existentes de forma mais organizada, clara e ampla, levando em consideração o surgimento de novos
métodos e técnicas científicos para a obtenção e o tratamento de dados, isto é, de construção do
conhecimento. Nesse quadro, observamos 11 tipos de conhecimento, levando-se em consideração
apenas três critérios, se é natural ou sobrenatural, se são científicos ou não os métodos e as técnicas
utilizadas para a sua construção, e a origem do conhecimento.
Não obstante, poderíamos continuar categorizando-o, por exemplo, pelo seu foco: se focado na
técnica, então é tecnicista; se focado nas abstrações, então é teoricista; se focado em ambos, então é
historicista. Assim, teríamos multiplicada por três a quantidade de conhecimentos, isto é, 33 tipos. A
cada critério de classificação adicionado, aumentamos a complexidade da classificação e a quantidade
dos tipos de conhecimentos apresentados. Mas vale a pena brincarmos de categorizá-lo para aumentar a
compreensão e o uso dos conhecimentos humanos.
Ainda após esse último critério, poderíamos tipificá-lo por área de concentração (sociais,
humanas, exatas, engenharias, biológicas) e por subárea de concentração (o tipo de ciência social, por
exemplo, aplicada ou não aplicada, o tipo de ciência humana etc.). Enfim, são muitos os critérios
utilizados na vasta literatura sobre metodologia da pesquisa científica, mas nenhuma que apresente de
forma mais clara, organizada e ampla como essa que eu apresento.
Além disso, este trabalho não exaure o tema, por duas principais razões, quais sejam:

1. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Em outras palavras, ao investigar um determinado


tema, o investigador enxerga de um ângulo. Cada investigador enxerga de ângulos diferentes de seus
pares, e de forma imperfeita, ou seja, incompleta, não íntegra. Desse modo, por melhor que fique o
trabalho, sempre há campos para melhoras.

2. Não existe tema esgotado, mas sim pesquisador esgotado em algum tema. Em outras
palavras, o investigador pode dar o seu melhor na investigação de um determinado tema, pode
pesquisá-lo a vida toda, pode dedicar toda a sua carreira em torno do tema, que nunca vai esgotá-lo,
seja porque outras descobertas o tornam obsoleto, seja porque outros investigadores enxergam-no de
outros ângulos capazes de ampliá-lo, aprofundá-lo ou mesmo modificá-lo. Enfim, por essa razão,
sempre existem margens para ulteriores aprofundamentos dos conteúdos de quaisquer investigações.

Este trabalho apresenta um arcabouço teórico-metodológico mais completo, abrangente, claro e


fidedigno da grande temática: metodologia da pesquisa científica. Sobre o pilar epistemológico,
apresenta os principais paradigmas e teorias desenvolvidas até o presente momento – inclusive um
novo paradigma, até mesmo citado na sinopse deste compêndio, que pode representar um grande
avanço na forma como enxergamos a ciência, o mundo, o homem, a vida e a ética. Sobre o pilar lógico,
apresenta os principais métodos lógicos, ou bases estruturais do pensamento científico – inclusive
alguns pouco ou nada citados pelos clássicos da temática. Sobre o pilar técnico, apresenta as principais
técnicas da pesquisa científica, classificando-as em categorias muito bem pensadas e organizadas, de
modo a facilitar o seu entendimento e o seu adequado uso por parte de qualquer investigador nesse
tema interessado.
Tendo isso em mente, convido-lhe, caro leitor, a embarcar nessa fantástica viagem de
descobertas do mundo científico, que, indubitavelmente, em muito enriquecerá a sua trajetória
acadêmica, profissional e humana.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a. C. = antes do nascimento de Jesus Cristo infra = abaixo

AEC = antes da Era Comum (de Cristo) introd. = introdução

ad hoc = para este caso específico ip. v. (ipsis verbi) = letra por letra,
textualmente

ad lit. (ad litteram) = ao pé da letra ip. lit. (ipsis literis) = literalmente

amp. = ampliada loc. cit. (locus citatum) = lugar citado

apud = citado por, conforme, segundo ms. = manuscrito

art. = artigo n. ou nº = número

atual. = atualizado (a) N.A. = Nota do Autor

aum. = aumentado (a) n.b. = note bem, observe bem

bibliogr. = bibliografia N. E. = Nota do Editor

bibl. = biblioteca N. R. = Nota da Redação

c. = capítulo N. Red. = Nota do Redator

ca. = aproximadamente, para datas N. T. = Nota do Tradutor

CA = caixa alta op. cit. (opus citatum) = na obra citada

Cb = caixa baixa obs. = observação

cap. = capítulo org. = organizador

c. geogr. = carta geográfica orig. = original

c. topogr. = carta topográfica p., pp. = página, páginas

cf., cp. = conforme-confira, compare pág. = paginação

cf. infra = conferir linha, página abaixo passim = aqui e ali; em vário lugares

cit. = citação p. ex. = por exemplo

cit. = citado (a) prof. = Professor(a)

cm = centímetro q. v. = que se veja, queira ver

Coord. = Coordenador, coordenação reimpr. = reimpressão

compr. = comprimento reprod. = reprodução


dep. = departamento rev. = revisado, revisão, revisto

d. c. = depois do nascimento de Jesus resp. = responsável


Cristo

Dir. = Direção, diretor rev. = revista

diss. = dissertação s. = segundo

div. = divisão s. ou ss. = seguinte ou seguintes

doc. = documentação/documentos S. = São

Dr. = Doutor, doutor séc. = século

e. g. (exempli gratia) = por exemplo, a saber seg. = seguinte

ed. = edição s. d. (sine data) = sem data

Ed. = Editora s. e. (sine editor) = sem editora

et al (et alli) = e outros s. l. (sine loco) = sem local

et seq. = seguinte ou que se segue s. n. (sine nomine) = sem editor

etc (et cetera) = e outros s. n. t. = sem notas tipográficas

ex. = exemplo sequentia ou seq. = seguinte ou que


segue

fasc. = fascículo sep. = separata

f. = folha sic ou sic? = assim, é assim mesmo?

fig. = figura(s) Sto = santo

folh. = folheto sum. = sumário

gov. = governo supra, vide supra = acima, veja acima

grav. = gravura t. = tomo

i. e. (id est) = isto é tab. = tabela (s)

ibibem ou ibid = no mesmo lugar trad. = tradução, tradutor

id. (idem) = mesmo autor, igual anterior v., vol., vols. = volume (s)

il. = ilustrações v. g. (verbi gratia) = por exemplo

in. = em v. tb. = veja também

in-fine = no fim xerogr. = xerografia


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................................15
2. REVISÃO DA LITERATURA........................................................................................16
2.1 Introdução..................................................................................................................17
2.2 Epistemologia científica.......................................................................................... .18
2.2.1 Resumo histórico da teoria da ciência............................................................ .19
2.2.2 Critérios ou mecanismos de cientificidade ou verdade.................................. .20
2.3 Gnosiologia científica................................................................................................21
2.3.1 Os pesquisadores..............................................................................................22
2.3.2 Os examinadores...............................................................................................23
2.3.3 Os auxiliares.....................................................................................................24
2.3.4 O público-alvo..................................................................................................25
2.4 Ontologia científica...................................................................................................26
2.4.1 Delimitação do objeto científico.......................................................................27
2.4.2 Caracterização do objeto científico..................................................................28
2.5 Referencial teórico científico.....................................................................................29
2.5.1 A validade das fontes de pesquisa científica.....................................................30
2.5.2 A pertinência das informações para o estudo científico....................................31
2.5.3 As contribuições do material bibliográfico.......................................................32
2.6 A ética científica........................................................................................................59
2.7 Conclusões.................................................................................................................100
3. OS PILARES METODOLÓGICOS................................................................................101
3.1 Introdução..................................................................................................................102
3.2 O pilar epistemológico...............................................................................................103
3.2.1 Introdução.........................................................................................................104
3.2.2 O método, enfoque ou paradigma fenomenológico-hermenêutico...................105
3.2.3 O método, enfoque ou paradigma empírico-analítico......................................106
3.2.4 O método, enfoque ou paradigma crítico-dialético (histórico-estrutural)........107
3.2.5 Outros paradigmas e as teorias.........................................................................108
3.2.6 Conclusões........................................................................................................109
3.3 O pilar lógico.............................................................................................................109
3.3.1 As fases da pesquisa científica..........................................................................109
3.3.1.1 Elaboração do anteprojeto de pesquisa
3.3.1.1.1 Planejamento da pesquisa
3.3.1.1.1.1 Delimitação e caracterização do objeto
3.3.1.1.1.2 Determinação da pertinência
3.3.1.1.1.3 Determinação da viabilidade
3.3.1.1.1.4 Planificação do anteprojeto
3.3.1.1.2 Organização da pesquisa
3.3.1.1.2.1 Localização dos instrumentos
3.3.1.1.2.2 Separação dos instrumentos
3.3.1.1.2.3 Manuseio dos instrumentos
3.3.1.1.2.4 Manutenção dos instrumentos
3.3.1.1.2.5 Busca prévia das fontes da pesquisa
3.3.1.1.3 Execução da pesquisa
3.3.1.1.3.1 Contato com todos os sujeitos
3.3.1.1.3.2 Deslocamento entre os lócus
3.3.1.1.3.3 Contato com os componentes do objeto
3.3.1.1.3.4 Acidentes e incidentes
3.3.1.1.3.5 Planificação dos resultados produzidos
3.3.1.1.4 Controle da pesquisa
3.3.1.1.4.1 Revisões da execução da pesquisa
3.3.1.1.4.2 A entrevista
3.3.1.2 Transformação do anteprojeto em projeto de pesquisa final
3.3.1.2.1 Replanejamento da pesquisa
3.3.1.2.1.1 Aprofundamento caracterizatório do objeto
3.3.1.2.1.2 Aprofundamento determinatório da pertinência
3.3.1.2.1.3 Aprofundamento explanatório da viabilidade
3.3.1.2.1.4 Planificação do projeto
3.3.1.2.2 Reorganização da pesquisa
3.3.1.2.2.1 Localização dos instrumentos
3.3.1.2.2.2 Separação dos instrumentos
3.3.1.2.2.3 Manuseio dos instrumentos
3.3.1.2.2.4 Manutenção dos instrumentos
3.3.1.2.2.5 Busca prévia das fontes da pesquisa
3.3.1.2.3 Re-execução da pesquisa
3.3.1.2.3.1 Contato com todos os sujeitos
3.3.1.2.3.2 Deslocamento entre os lócus
3.3.1.2.3.3 Contato com os componentes do objeto
3.3.1.2.3.4 Acidentes e incidentes
3.3.1.2.3.5 Planificação dos resultados produzidos
3.3.1.2.4 Recontrole da pesquisa
3.3.1.2.4.1 Reelaborações e revisões
3.3.1.2.4.2 A defesa pública
3.3.2 As bases estruturais do pensamento científico
3.3.2.1 A base estrutural indutiva
3.3.2.1.1 Silogístico-indutiva
3.3.2.1.2 Semântico-indutiva
3.3.2.1.3 Pragmático-indutiva
3.3.2.2 A base estrutural dedutiva
3.3.2.2.1 Axiomático-dedutiva
3.3.2.2.2 Hipotético-dedutiva
3.3.2.2.3 Silogístico-dedutiva
3.3.2.3 A base estrutural abdutiva
3.4 O pilar técnico .......................................................................................................... xxx
3.4.1 As abordagens da pesquisa científica
3.4.1.1 A abordagem quantitativa
3.4.1.2 A abordagem qualitativa
3.4.1.3 A abordagem mista
3.4.1.3.1 Estratégia explanatória sequencial
3.4.1.3.2 Estratégia exploratória sequencial
3.4.1.3.3 Estratégia transformativa sequencial
3.4.1.3.4 Estratégia de triangulação concomitante
3.4.1.3.5 Estratégia incorporada concomitante
3.4.1.3.6 Estratégia transformativa concomitante
3.4.2 As bases procedimentais de investigação científica
3.4.2.1 A base procedimental observacional
3.4.2.2 A base procedimental experimental
3.4.2.3 A base procedimental estatística
3.4.2.4 A base procedimental clínica
3.4.3 As técnicas da pesquisa científica
3.4.3.1 Técnicas gerais para coleta e tratamento dos dados
3.4.3.1.1 Experimentação
3.4.3.1.2 Observação
3.4.3.1.2.1 Observação Participante (OP)
3.4.3.1.2.1.1 Pesquisa-ação
3.4.3.1.2.1.2 Estudos de caso in loco
3.4.3.1.2.1.3 Pesquisa de Survey in locoEntrevista in loco
3.4.3.1.2.2 Observação Não Participante (ONP)
3.4.3.1.2.2.1 Levantamento bibliográfico
3.4.3.1.2.2.1.1 RBI
3.4.3.1.2.2.1.2 RBN
3.4.3.1.2.2.1.3 RBS
3.4.3.1.2.2.1.4 MBS
3.4.3.1.2.2.2 Levantamento documental
3.4.3.1.2.2.3 Estudos de caso ex loco
3.4.3.1.2.2.4 Pesquisa de Survey ex locoEntrevista ex loco
3.4.3.1.3 Amostragem
3.4.3.1.3.1 Amostragem probabilística
3.4.3.1.3.2 Amostragem não probabilística
3.4.3.1.4 Testagem
3.4.3.2 Técnicas específicas para a coleta dos dados
3.4.3.2.1 Leitura científica
3.4.3.2.2 Protocolagem observacional
3.4.3.2.3 Entrevista
3.4.3.3 Técnicas específicas para o registro dos dados
3.4.3.3.1 Planificação manual
3.4.3.3.2 Planificação eletrônica
3.4.3.4 Técnicas específicas para a sistematização dos dados
3.4.3.4.1 Busca simples de strings
3.4.3.4.2 Busca avançada de strings
3.4.3.4.3 Fatores de inclusão/exclusão
3.4.3.5 Técnicas específicas para a organização dos dados
3.4.3.5.1 Leitura científica
3.4.3.5.2 Codificação
3.4.3.5.3 Categorização
3.4.3.5.4 Tabulação
3.4.3.6 Técnicas específicas para a análise ou interpretação dos dados
3.4.3.6.1 Leitura científica
3.4.3.6.2 Análise Bibliométrica (AB)
3.4.3.6.3 Análise de Conteúdo (AC)
3.4.3.6.4 Análise de Discurso (AD)
3.4.3.6.5 Exegese bíblica
3.4.3.6.6 Metanálise
3.4.3.7 Técnicas específicas para a formalização dos dados
3.4.3.7.1 Resumo científico
3.4.3.7.2 Resenha científica
3.4.3.7.3 Banner ou pôster
3.4.3.7.4 Maquete
3.4.3.7.5 Obra de arte
3.4.3.7.6 Máquina
3.4.3.7.7 Dispositivo eletrônico
3.4.3.7.8 TCC - Dissertação - Tese - Livro
3.4.3.7.9 Plano de Negócios
3.4.3.7.10 Projeto Político Pedagógico
3.4.3.7.11 Software
3.4.3.7.12 Edificação
3.4.3.7.13 Artigo científico
3.4.3.7.14 Exposição cultural ou- Museu
3.4.3.8 Técnicas específicas para apresentação dos dados
3.4.3.8.1 Exposição oral
3.4.3.8.2 Exposição visual
3.4.3.8.3 Exposição mista
3.4.4 As espécies de pesquisa científica..................................................................... xxx
3.4.4.1 Pesquisa de campo................................................................................. xxx
3.4.4.2 Pesquisa teórica ou básica
3.4.4.3 Pesquisa prática ou aplicada
3.4.4.4 Pesquisa original
3.4.4.5 Pesquisa exploratória
3.4.4.6 Pesquisa analítica
3.4.4.7 Pesquisa sintética
3.4.4.8 Pesquisa descritiva
3.4.4.9 Pesquisa explicativa
3.4.4.10 Pesquisa compreensiva
3.4.4.11 Pesquisa in victro
3.4.4.12 Pesquisa ex-post-facto
3.4.4.13 Pesquisa de mercado
3.4.4.14 Pesquisa e desenvolvimento
3.4.4.15 Pesquisa oral

3.4.5 Os instrumentos da pesquisa científica


3.4.5.1 Protocolo observacional
3.4.5.1 Protocolo de entrevista
3.4.5.2 Questionário
3.4.5.3 Formulário
3.4.5.4 Diário de campo
3.4.5.5 Testes
3.4.5.6 Escalas sociais
3.4.5.7 Bibliografias
3.4.5.8 Documentos
3.5 Conclusões
4 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
4.1 Conclusões finais
4.2 Considerações finais
5 REFERÊNCIAS
5.1 Corpus de execução de ensaio
5.2 Corpus de execução definitivo
GLOSSÁRIO CIENTÍFICO
ANEXO ÚNICO: Estrutura do trabalho científico
APÊNDICE 1: Bases fundantes das principais abordagens paradigmáticas em EO
APÊNDICE 2: Levantamentos bibliográficos e documentais
1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como tema a Metodologia da Pesquisa Científica. A importância desse tema é
notória no meio acadêmico em geral, pois desse conteúdo os cientistas, bem como os aspirantes a
cientistas, devem valer-se a partir do momento em que decidem investigar cientificamente algum
objeto.
Esse tema justifica-se devido à necessidade de um arcabouço teórico-metodológico mais
completo, que elimine em partes as contradições existentes na vasta literatura crítica da temática bem
como promova as suas complementaridades.
A questão-problema que move esta pesquisa é discutir quais são os pilares fundamentais da
metodologia da pesquisa científica, classificando-os adequadamente, clarificando a sua correta
compreensão e o seu adequado uso. Nesse diapasão, o seu objetivo geral é fornecer à comunidade
acadêmica um manual da temática mais completo, coerente e abrangente que clarifique a correta
compreensão e o adequado uso dos três pilares da metodologia da pesquisa científica. E tem também os
seguintes objetivos específicos: a) propor uma nova taxonomia do conhecimento; b) eliminar em partes
a imensa imprecisão terminológica, conceitual, taxonômica e conteudal presente na vasta literatura
crítica da temática investigada.
Por essa razão, são duas as hipóteses originárias desta pesquisa, quais sejam: 1. por meio de um
bom levantamento bibliográfico e documental, é possível eliminar grande parte da referida imprecisão
encontrada na literatura da referida temática, bem como promover as suas complementaridades; e, 2.
por meio do estudo pormenorizado das principais bibliografias e documentos de uma determinada
temática, é possível alcançar o seu estado da arte, isto é, seu estado atual.
Para tanto, realiza-se uma revisão bibliográfica e documental abrangente sobre o tema. Os seus
fundamentos gerais encontram-se em Barros e Lefheld (2000; 2007), e em Köche (1997; 2011); os seus
fundamentos epistemológicos encontram-se em Vasconcellos (2010), Teixeira (2012), Vergara (2012),
Bêrni e Fernandez (2012), Menezes (1938), Piaget (1973) e Giles (1979); os seus fundamentos lógicos
encontram-se em Popper (1972), Bacha (1999), Débora et al. (2020), em Kant (2001), e em Pereira
(2009); os seus fundamentos técnicos encontram-se em Creswell (2010), Gil (1999; 2010), Marconi e
Lakatos (2003; 2007; 2008), Luna (2011), Eco (2012), Martins (2008), Moura e Ferreira (2005),
Oliveira (1997), Severino (2007), Soares (2003), Thiollent (2003), Yin (2010), Rodrigues (2006),
Castro (1978), Acevedo e Nohara (2010), Rodrigues (2007), Sampieri, Collado e Lucro (2006), dentre
muitos outros.
A Metodologia, enquanto disciplina, preocupa-se, a priori, com o estudo das fases, das
abordagens e dos meios lógicos de investigação de um determinado objeto. O termo metodologia
deriva-se da expressão latina methodus que significa caminho ou meio para a realização de algo, e da
expressão grega logos que significa estudo, análise. Logo, metodologia da pesquisa vem a ser, a priori,
o estudo dos meios ou caminhos adequados para se investigar um objeto (BARROS; LEHFELD,
2000).
Existem vários critérios para se classificar ou se caracterizar a pesquisa científica, dentre eles, a
natureza, o modo da obtenção das informações, a abordagem e os objetivos (RODRIGUES, 2006; GIL,
2010). Por exemplo, quanto à natureza, a pesquisa científica pode ser um trabalho original, primário,
ou um resumo ou uma resenha de assuntos, secundário; quanto à obtenção de informações, ela pode ser
bibliográfica, documental, de campo ou de laboratório; quanto à abordagem, ela pode ser quantitativa,
qualitativa ou mista; quanto aos objetivos, ela pode ser exploratória, descritiva ou explicativa
(CRESWELL, 2010; RODRIGUES, 2006).
O que Gil (1999) denomina métodos que determinam as bases lógicas de investigação e métodos
que indicam os meios técnicos de investigação, o geógrafo Rodrigues (2006) denomina métodos de
abordagem e métodos de procedimento, respectivamente.
Sinteticamente, os cinco métodos de abordagens apresentados por Rodrigues (2006, p. 137-143.
Grifos meus) são:

O método indutivo é aquele pelo qual uma lei geral é estabelecida a partir da observação e da
repetição de regularidades em casos particulares, isto é, por meio de observações particulares,
chega-se à afirmação de um princípio geral. [...]
Ao contrário da indução, o método dedutivo é um processo de raciocínio lógico que, a partir de
princípios e proposições gerais ou universais, chega a conclusões menos universais ou
particulares. [...]
O método hipotético-dedutivo [...] consiste na formulação da noção de falseabilidade como
critério fundamental para a explicação das teorias científicas. [...]
O método dialético procura contestar uma realidade posta, enfatizando as suas contradições.
Para toda tese, existe uma antítese que, quando contraposta, tende a formar uma síntese. [...]
O método fenomenológico é o estudo dos fenômenos, em si mesmos, apreendendo sua
essência, estrutura de sua significação. [...] A fenomenologia consiste na descrição de todos os
fenômenos [...]

Nesse mesmo diapasão, Rodrigues (2006, p. 143-149. Grifos meus) apresenta oito métodos de
procedimento, que, sinteticamente, são:

O método estatístico fundamenta-se na utilização da estatística para a investigação de um


fenômeno ou objeto de estudo. Esse método contribui para a coleta, a organização, a descrição,
a análise e a interpretação de dados, e para a utilização desses dados na tomada de decisões. [...]
O método comparativo conduz à investigação por meio da análise de dois ou mais fatos ou
fenômenos, procurando ressaltar as diferenças e similaridades entre eles. [...]
O método experimental consiste em submeter o fenômeno estudado à influência de certas
variáveis, em condições controladas e conhecidas pelo pesquisador, para verificar os resultados
que essas variáveis produzem no objeto. [...]
O método tipológico consiste na elaboração de modelos ideais que servem para análise ou
avaliação de uma realidade concreta. [...]
O método histórico conduz à investigação a partir do estudo dos acontecimentos, dos
processos e das instituições do passado, procurando explicar sua influência na vida social
contemporânea. [...]
O método funcionalista estabelece uma analogia entre a sociedade e o organismo. Estuda os
fenômenos sociais a partir de suas funções, analisando as partes inter-relacionadas e
interdependentes para compreender o funcionamento do todo, isto é, o sistema social total. [...]
O método estruturalista é utilizado para o estudo de culturas, linguagens, etc., como um
sistema em que os elementos constituintes mantém, entre si, relações estruturais. [...]
O método clínico é usado principalmente por psicólogos em uma relação entre o pesquisador e
o pesquisado. [...]

Com base nesses pressupostos apresentados por Gil (1999; 2010) e por Rodrigues (2006),
percebe-se que essas maneiras exemplificadas de dimensionar a Metodologia são bastante confusas,
imprecisas, incoerentes, visto que, valendo-se do princípio lógico da não contradição, os pilares
epistemológico, lógico e técnico diferem entre si, não podendo ser partes integrantes um do outro,
embora os três componham os pilares fundamentais da metodologia da pesquisa científica. Inobstante,
não somente essa, mas as divisões em geral adotadas para os pilares metodológicos da pesquisa
científica são igualmente confusas e longe passam de abarcar todos os seus principais aspectos e,
amiúde, não facilitam o trabalho do pesquisador quando de sua investigação (TEIXEIRA, 2012;
BARROS; LEHFELD, 2000; GIL, 1999, 2010; RODRIGUES, 2006).
A percepção que tive da imensa imprecisão terminológica, conceitual, taxonômica e conteudal
presente na vasta literatura crítica que consultei sobre a metodologia da pesquisa científica – consoante,
pode-se conferir nas referências alistadas nas páginas finais desse presente trabalho – foi a minha
primeira motivação para a construção desse compêndio. Então, quando eu observei atentamente as
palavras de Barros e Lehfeld (2000, 2007), eu constatei que elas deixam facilmente compreendido que
os pilares metodológicos da metodologia da pesquisa científica consistem em três eixos fundamentais:
a base epistemológica de investigação, que indica a forma de conceber a ciência, a verdade, a vida, o
homem e o mundo em que ela é produzida; a base lógica de investigação, que indica a estrutura dos
pensamentos e a sequência das fases da pesquisa; e a base técnica de investigação, que indica os ritos
procedimentais, no que concerne à(s) abordagem(ns), à(s) técnica(s) e aos instrumentos utilizados. Na
perspectiva de dimensionar a divisão da Metodologia de uma maneira mais precisa, coerente e
consistente, considero os seus dizeres (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 13. Grifos meus) como
fundantes do presente trabalho:
[…] é possível dimensionar a divisão da Metodologia em três aspectos interconectados, ou seja,
o epistemológico, o lógico e o técnico, elementos necessários à construção da Ciência:
a) Epistemológico: refere-se ao estudo das questões que se pode levantar na procura da
verdade, discussão dos limites, alcance e valor dos métodos científicos (estudo crítico dos
métodos científicos);
b) Lógico: supõe a organização lógica do raciocínio na prática da investigação e da ação
científica;
c) Técnico: é o científico das técnicas e procedimentos específicos utilizados e contextos
particulares das pesquisas temáticas problematizadas nas diferentes ciências.

Porém, as minhas motivações foram também outras duas. Como segunda motivação para as
elaborações e reelaborações do presente trabalho, foi a percepção que tive, por meio do intercâmbio
que fiz com outros acadêmicos, pesquisadores e profissionais, quer em várias empresas que trabalhei,
quer em várias universidades onde estudei, quer em vários eventos científicos que assisti e ou dos quais
participei, da imensa dificuldade por parte dos pesquisadores em geral em compreender e utilizar
adequadamente a metodologia da pesquisa científica. Por exemplo, nos primeiros 15 anos de atuação
no mercado de trabalho, eu vivi bastante desvalorização enquanto pesquisador pobre, em situação de
vulnerabilidade socioeconômica de alto grau de complexidade. Muitos colegas de trabalhos diziam:
“Você pesquisador e ainda trabalhando aqui!?! Para quê? Nossos superiores hierárquicos não
estudaram nem estudam, ou sabem tudo o que você sabe e estão numa situação social e econômica
melhor que a sua ou a minha.”, coisas nesse sentido. Outro exemplo foi em congressos e encontros
científicos que me fiz presente e ouvi dizer: “Usei a análise de discurso nas minhas pesquisas
quantitativas.”, ou “Usei a análise de conteúdo nas minhas pesquisas qualitativas.”, ou “Adotou-se o
método indutivo silogístico.”, ou “A filosofia não é ciência, e nem a ciência é filosofia.”, ou “A
epistemologia estuda a metodologia da pesquisa científica.”, ou “O pesquisador precisa ser neutro na
investigação de seu objeto.”, não exatamente com essas palavras, mas coisas nesse sentido.
Dificuldade essa que percebi ser resultante da imensa imprecisão terminológica, conceitual,
taxonômica e conteudal presente na literatura crítica sobre o tema, e que atemoriza os pesquisadores
quando de suas investigações científicas, fazendo-os sentirem-se incapazes de cimentá-las, o que, para
muitos, inclusive eu, consiste na realização de um sonho. Tanto é que, aos meus sete anos de idade,
quando eu comecei a elaborar a minha autobiografia em um caderninho que eu utilizava como um
diário, eu falava para mim mesmo que um dia eu queria fazer um livro sobre ciência, época essa em
que eu nem sabia o que era de fato ciência ou fazer um livro. Mas minha vontade permaneceu e
culmina no presente compêndio, que eu uso para ajudar todo aquele que, assim como eu, enxergue na
pesquisa científica um caminho para a realização de sonhos, para a transformação da realidade ao nosso
redor e para a autorrealização em todos os campos da vida. Bastante satisfeito vou ficar ao perceber o
conteúdo deste trabalho beneficiando todas as pessoas que dele usufruírem nas suas investigações
científicas.
A terceira motivação para a construção do presente compêndio foi a percepção que tive, no
decorrer das elaborações e das reelaborações das pesquisas científicas que realizei, da minha
ultrapassagem existencial, ou seja, das mudanças dos meus próprios paradigmas de homem, de vida, de
ciência, de mundo e de sua formação espaço-temporal, levaram-me à conclusão da existência de três
trajetórias, ou direções, ou, por preferência, eixos epistemológicos, isto é, três caminhos distintos para
se construir o conhecimento, quais sejam: [1] o cientificista, direcionado para o campo abstrato,
teórico, fenomenológico; [2] o tecnicista, direcionado para o campo concreto, prático, empírico; e, [3]
um caminho apontado numa direção entre o abstrato e o concreto, em partes teórico, em partes prático,
tanto fenomenológico quanto empírico, que preferi denominar historicista, por retratar melhor a
maneira como são construídas as ciências humanas e sociais no decorrer do próprio processo de
formação espaço-temporal do mundo. Sobre esses aspectos da ultrapassagem, Vasconcellos (2010, p.
163) corrobora:

Feita a ultrapassagem, ou seja, a mudança de paradigma, o cientista sistêmico amplia o foco,


resgata e integra a ciência tradicional. Entretanto, o que ele resgata não é mais a mesma ciência
tradicional, porque ele próprio não é mais o mesmo, reviu seus pressupostos, tem um novo
modo de estar no mundo. Este sim, o cientista, e não a ciência, passou por uma metamorfose e
agora viverá seus acoplamentos estruturais a partir dessa sua nova estrutura.
A meu ver, o cientista não pode resgatar a epistemologia da ciência tradicional. Pode resgatar
apenas suas teorias, suas técnicas. Mas essas já não serão as mesmas, uma vez que também se
transformaram na relação com esse novo cientista, que agora tem um olhar novo sobre elas.
Costumo dizer que o cientista novo-paradigmático carrega, numa sacola a tiracolo, as técnicas,
os recursos e os conhecimentos desenvolvidos pela ciência tradicional e sente-se livre para usá-
los quando quiser. Porém, usá-los-á de modo completamente diferente de como o fazia antes
dessa ultrapassagem. Por exemplo, um psicólogo sistêmico novo-paradigmático poderá usar um
teste psicológico, mas suas crenças a respeito do papel do teste no trabalho que está
desenvolvendo com o cliente já serão radicalmente diferentes, como também a forma como
contextualizará e desenvolverá esse novo uso. Ou um administrador sistêmico novo-
paradigmático poderá usar, nas atividades de treinamento, técnicas desenvolvidas pela ciência
tradicional, mas já não terá as mesmas expectativas sobre seus efeitos. Em resumo, depois que
se conhecem as regras do jogo, já não se pode jogar ingenuamente.

A partir das três motivações supracitadas, que eu tive no ano 2015, aos meus 25 anos de idade,
levei em torno de cinco anos completos para elaborar este trabalho. Na medida em que eu lia mais e
mais trabalhos sobre a temática, eu a refinava. Desse modo, consegui montar um quadro mais
completo, coerente e abrangente, sem deixar de lado a essência de cada trabalho investigado. Dezenas
de vezes, li, reli, organizei, reorganizei, até que este trabalho cumprisse plenamente os objetivos para os
quais ele foi elaborado.
Este trabalho foi organizado em cinco capítulos. O primeiro capítulo refere-se à introdução, que
especifica o tema, a justificativa, a questão-problema, as hipóteses, os objetivos, uma introdução
teórica do tema, o percurso do investigador, e a estrutura deste trabalho. O segundo capítulo refere-se à
revisão da literatura, realizada de forma bastante abrangente, englobando a epistemologia científica, a
gnosiologia científica, a ontologia científica, o referencial teórico científico e a ética científica; engloba
também uma pequena introdução e conclusões deste capítulo. O terceiro capítulo refere-se aos três
pilares metodológicos propriamente ditos, constituindo-se no maior capítulo, por ser o mais importante
deste trabalho; engloba as fases da pesquisa científica, o pilar epistemológico, o pilar lógico, o pilar
técnico, as técnicas gerais e específicas empregadas na investigação cientifica, os instrumentos
utilizados nela, além de uma pequena introdução e conclusões deste capítulo. O quarto capítulo se
refere às conclusões e às considerações finais deste trabalho, sintetizando os principais termos,
conceitos, taxonomias e conteúdos desenvolvidos no seu decorrer. O quinto capítulo refere-se às
referências utilizadas na elaboração deste compêndio, separadas em dois grupos: o corpus de execução
de ensaio e o corpus de execução definitivo, conceitos esses explanados ao longo do capítulo 3. Por
fim, mas não menos importante, apresenta-se um glossário científico, um anexo único e dois apêndices,
úteis para a adequada compreensão dos conteúdos constantes neste compêndio.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Introdução

Na tentativa de se definir o conhecimento, epistemologistas buscaram esclarecimentos, ao


comparar e analisar tanto as diversas ciências quanto as suas respectivas histórias, encontrando como
respostas plausíveis que se trata de um processo. Por exemplo, a literatura de epistemologia científica
ressalta que, embora por um tempo, muitos cientistas, sobretudo matemáticos e físicos, tenham
acreditado na infalibilidade do conhecimento científico, ou mesmo que algum conhecimento pudesse
ser considerado absoluto, irrefutável ou inquestionável, a própria história do conhecimento prova o
contrário (PIAGET, 1973). Corroborando tais afirmações, Piaget (1973, p. 8) enfatiza:

[…] os matemáticos, variando de opinião sobre a natureza dos “seres” matemáticos,


permanecerem, até há pouco tempo, impermeáveis às ideias de revisão e de reorganização
reflexiva; a lógica foi por muito tempo considerada concluída e foi preciso esperar os teoremas
de Goedel para obrigá-la a reexaminar os limites de seus poderes; a física, após as vitórias
newtonianas, acreditou até o início deste século [Piaget se refere ao século XIX] no caráter
absoluto de importante número de princípios; mesmo ciências tão jovens quanto a sociologia ou
a psicologia, se não puderam vangloriar-se de um saber sólido, não hesitaram até recentemente
em atribuir aos seres humanos e, portanto, aos sujeitos pensantes que estudavam, uma “lógica
natural” imutável, como o queria Comte (apesar da sua lei dos três estados e ao insistir em seus
processos comuns e constantes de raciocínio) ou instrumento invariáveis de conhecimento.

No entanto, além da ciência, existem outros tipos de conhecimento, tais como o filosófico, o
religioso e o de senso comum, sendo que suas respectivas peculiares exigem métodos, ou caminhos
lógicos de investigação, específicos e diferentes uns dos outros. Daí a existência de diversas
epistemologias, tais como a científica, a filosófica, a lógica, a matemática, a física, a religiosa, a
genética etc., cada qual com as suas características próprias (PIAGET, 1973). É bem por essa razão que
Piaget (1973, p. 14) define a epistemologia como sendo:

[…] a teoria do conhecimento válida e, mesmo que esse conhecimento não seja jamais um
estado e constitua sempre um processo, esse processo é essencialmente a passagem de uma
validade menor para uma validade superior. Resultado disso é que a epistemologia é
necessariamente de natureza interdisciplinar, uma vez que tal processo suscita, ao mesmo
tempo, questões de fato e de validade. […]

Em seguida, o referido autor (1973, p. 14) destaca que a epistemologia vai muito além do que a
lógica e do que a psicologia das funções cognitivas, sendo, desse modo, dessemelhante dessas,
conforme passa a dizer:

[…] Se se tratasse apenas de validade, a epistemologia se confundiria com a lógica: o problema,


entretanto, não é puramente formal, mas chega a determinar como o conhecimento atinge o real,
portanto quais as relações entre o sujeito e o objeto. Se se tratasse apenas de fatos, a
epistemologia se reduziria a uma psicologia das funções cognitivas e esta não é competente para
resolver as questões de validade. […]

Trocando em miúdos, a epistemologia é a ciência que estuda o processo de construção de


conhecimento válido, fornecendo, para tanto, os esclarecimentos necessários quanto aos critérios de
cientificidade, ou de verdade, quanto à história e à evolução do conhecimento, quanto às relações entre
sujeito e objeto bem como quanto aos critérios para a adequada interpretação da realidade (PIAGET,
1973).
Outra questão relevante a considerar sobre os estudos epistemológicos é que é complexa a
delimitação das fronteiras existentes entre a filosofia e as ciências, consoante Piaget (1973, p. 97-98):
Dir-se-á que a ciência se reserva o domínio da realidade experimental e que a filosofia é
dedução pura? Mas a matemática aqui está para mostrar o papel propriamente científico de uma
dedução bem conduzida. Dir-se-á que a ciência é conhecimento a posteriori e que a filosofia se
reserva o a priori? […] A ciência é então, como o queria Brunschvicg, o próprio saber e a
filosofia a “análise reflexiva” ou reflexão sobre as condições deste saber? De acordo, porém,
com uma das fórmulas profundas deste mestre, o processo científico também é, às vezes,
reflexivo […]

Logo, o referido autor (1973, p. 83-100), após analisar os prós e os contras sobre as fronteiras
dos conhecimentos científicos, alicerçado nos melhores estudiosos epistemologistas, apresenta suas
conclusões com as seguintes palavras:

Não vejo, pois, em definitivo, senão um critério distintivo entre as ciências e a filosofia; aquelas
se ocupariam das questões particulares, enquanto esta tenderia ao conhecimento total. […] o
que é um problema científico formulado e como é tomado para dissociar uma questão do campo
da filosofia? Duas condições nos parecem necessárias e suficientes a este respeito. A primeira
vem simplesmente delimitar o domínio a estudar, abatendo-se por método, por convenção e
quase por uma espécie de gentleman's agreement, de discutir todas as outras questões com o
sujeito. Poder-se-ia dizer com familiaridade (e eu me escuso perante os metafísicos aqui
presentes) que o filósofo se reconhece pelo fato de falar de tudo ao mesmo tempo – e é forçado
a isso pela superposição mútua das questões preliminares – enquanto que o homem de ciência
se esforça em só se ocupar de uma coisa após outra. A segunda condição deriva
psicologicamente desta delimitação mesmo: decidido a não queimar as etapas, o homem de
ciência se sujeita, em cada questão particular, a acumular fatos de experiência ou a penetrar
axiomaticamente seu raciocínio, até o acordo de todos os pesquisadores sobre os fatos ou as
deduções; proíbe-se, por conseguinte, por contrário a sua moral da objetividade, toda
sistematização prematura. […]

Nesse diapasão, ao tentar diferir o conhecimento científico, ou das denominadas ciências


particulares, do conhecimento filosófico, Giles (1979, p. 106) pontua:

O saber filosófico e científico é fundado sobre o fato irrecusável de que não estamos na
situação de fatos como um objeto no espaço objetivo, pois ela é para nós princípio de
curiosidade, de investigação, de interesse para outras situações, enquanto variantes da situação
atual. Chamar-se-á ciência à tentativa de construir variáveis ideais que objetivem e
esquematizem o funcionamento dessa comunicação efetiva. Chamar-se-á Filosofia à
consciência que nos é necessário manter comunicação aberta e sucessiva de homens que
pensam e falam, uns em presença dos outros e todos em relação com o mundo, tal como o
percebemos atrás de nós, em volta de nós e diante de nós, nos limites do nosso campo histórico,
como da realidade última cuja presença é retraçada pelas nossas construções teóricas, que a ela
não se poderiam substituir.

Percebe-se ainda, desse modo, pouca clareza quanto às fronteiras entre as ciências e a filosofia,
cuja delimitação restringe-se ao fato de a filosofia objetivar conhecer o ser enquanto ser e a ciência os
seres particulares (PIAGET, 1973). Porém, o que dizer sobre o tipo de conhecimento produzido nos
trabalhos acadêmicos dos cursos de graduação, especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado
em Filosofia: é científico ou filosófico? Para respondermos satisfatoriamente a essa questão,
precisamos compreender bem a natureza da ciência e da filosofia, motivo pelo qual é considerada nos
próximos parágrafos.
A ciência é um conhecimento hipotético e, por essa razão, testável e falível, construída
sistematicamente e comprovada factual e empiricamente, que se preocupa em estudar os seres
particulares. A filosofia é um conhecimento não hipotético e, por essa razão, não testável e infalível,
construída também sistematicamente, porém comprovada puramente pela lógica (KÖCHE, 1997;
PIAGET, 1973; GILES, 1979).
Ademais, ciência e filosofia diferem quanto ao sistema de investigação utilizado. Por exemplo,
não se utiliza pesquisa experimental nem a pesquisa quantitativa no processo de investigação filosófica,
uma vez se tratando de conhecimento não hipotético, não testável, exclusivamente qualitativo. Quanto
à estrutura do pensamento filosófico, a técnica utilizada é sempre a dedução. Já no processo de
investigação científica, por sua vez, são utilizadas as abordagens qualitativa, quantitativa ou mista,
além de métodos experimentais, em razão de sua natureza hipotética, isto é, sujeita a testes e, por isso,
falível. Quanto à estrutura do pensamento científico, são várias técnicas utilizadas, dentre as quais a
dedução e a indução (RODRIGUES, 2007; CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2007).

2.2 Epistemologia científica

A denominada teoria do conhecimento científico, ou somente Teoria do Conhecimento,


preocupa-se com os critérios utilizados para se classificar, produzir, avaliar e validar um conhecimento
como sendo válido, confiável, seguro, dentro de certo grau, ou nível, de cientificidade, ou de verdade.
Essa disciplina estuda os diversos tipos de conhecimento, as suas características, os seus usos no
decorrer dos milênios da história da humanidade, bem como a importância de cada um deles para a
nossa vida cotidiana, buscando cada vez mais: maior precisão dos resultados produzidos; maior
fidedignidade dos dados; maior domínio das metodologias empregadas; maior rigor na orientação, na
revisão e no exame da pesquisa científica; maior ética dos sujeitos envolvidos na pesquisa científica.
(TEIXEIRA, 2012; KÖCHE, 1997; SOARES, 2003).

2.2.1 Resumo histórico da teoria da ciência

Em suma, podemos conceber a ciência como o conhecimento baseado em fatos. Desse modo, a
ciência preocupa-se em “conhecer as coisas, os fatos, os acontecimentos e fenômenos, para tentar
estabelecer uma previsão do rumo dos acontecimentos que cercam o homem e controlá-los”. (KÖCHE,
1997, p. 43).
Digno de nota que, embora a aplicação prática das descobertas científicas satisfaça as
necessidades humanas e estabeleça um controle prático sobre a natureza, a ciência não se reduz,
meramente, à atividade de propiciar o controle prático sobre os fenômenos naturais. Sobre esse aspecto,
Köche (1997, p. 43) salienta:

Essa compreensão cientificista e reducionista é errônea e limitada. […] A causa principal que
leva o homem a produzir ciência é a tentativa de elaborar respostas e soluções às suas dúvidas e
problemas e que o levem à compreensão de si e do mundo em que vive.

Ainda que a ciência da forma como é modernamente concebida tenha sua origem no contexto
do Renascimento, ocorrido na França, no século XVI, ela já existia, de outras formas, já no oitavo
século antes de Cristo, no mundo grego, ante os filósofos pré-socráticos. Corroborando tal ponto,
Köche (1997, p. 44) diz-nos:

[…] na Antiguidade, na Grécia, a partir do século VIII a.C. e alcançando a culminância no


século IV a.C., conhecida como filosofia da natureza, tinha como única preocupação a busca do
saber, a compreensão da natureza das coisas e do homem. O conhecimento científico era
desenvolvido pela filosofia. Não havia a distinção que hoje se estabelece entre ciência e
filosofia.

A teoria da ciência, responsável pelo estudo e pela análise da evolução histórica do


conhecimento, preconiza a divisão científica em três períodos históricos distintos, cada um deles com
seus próprios modelos e paradigmas teóricos no que tange à sua visão de mundo, de ciência e de
método. Consoante Köche (1997, p. 44), as três etapas cientificas na história do conhecimento são:
“[…] a ciência grega, que abrange o período que vai do século VIII a.C. até o final do século XVI, a
ciência moderna, do século XVII até o início do século XX, e a ciência contemporânea que surge no
início deste século até nossos dias”.
Na ciência grega, os filósofos eram os produtores da ciência e utilizavam, para tal, métodos
bastante diferentes dos conhecidos. Por exemplo, os filósofos pré-socráticos utilizaram o procedimento
da especulação racional, cuja tarefa de elaboração e de esclarecimento da possível ordem que havia por
trás da aparente desordem dos fenômenos sensíveis e perceptíveis (KÖCHE, 1997).
O pensamento socrático sobre a construção do conhecimento, até então filosófico em sua época,
fundamenta-se numa “arte maravilhosa, capaz de extrair do interlocutor a verdadeira ciência que este já
possui no seu íntimo, sem o saber”, conforme Giles (1979, p. 44. Grifos meus) continua dizendo:

[…] é a maiêutica, a arte da parteira, que ajuda o intelecto a dar à luz criaturas do pensamento.
Por um processo de interrogação contínua, Sócrates leva o interlocutor gradativamente à meta,
que é o conceito, elemento constitutivo da ciência. Com essa ciência, a unidade de visão da
realidade é conseguida sem detrimento da pluralidade e da variedade que o conceito pode
refletir no sensível.
Os momentos essenciais dessa ciência são a definição, que coincide com a própria ideia de
conceito, e a indução – a forma de argumentação que do particular vai ao geral, do indivíduo à
espécie – que contém imanente em si a lei. É essa força dinâmica da ciência que leva daquilo
que é conhecido àquilo que era desconhecido, da verdade conquistada à conquista de novas
verdades.

Mais adiante, no século V a. C. surgiu com Platão (429-348/7 a. C.) o modelo platônico, cuja
“forma, acessível aos sentidos, apenas nos mostra como as coisas são, mas não o que elas são”
(KÖCHE, 1997, p. 45). Como, para Platão, o real é o pensado, é o intuído, então, tal com diz Köche
(1997, p. 46):

O que nos fornece o que são as coisas, o seu verdadeiro conhecimento, a ciência, é a
inteligência, o entendimento, que é o conhecimento racional intuitivo, desenvolvido através da
dialética – intuição dos princípios universais, análise e síntese –, concebido por Platão como um
método científico racional. A essência do mundo só é acessível ao entendimento, pois as ideias,
os modelos de todas as coisas, enquanto entidades reais, eternas, imutáveis, imateriais, perfeitas
e invisíveis, não estão neste nosso mundo de aparências sensíveis e mutáveis, mas num mundo
superior e eterno.

O pensamento platônico fundamenta-se na dialética, haja vista que o pensamento não toma
posse imediata da verdade, mas deve procurá-la. Nas palavras de Giles (1979, p. 46):

O primeiro momento no processo de dialética consiste em criticar as sensações e opiniões.


Responder à pergunta: “Que é tal coisa?” significa ir além das suas aparências fugitivas, à
procura de uma realidade estável. A experiência imediata, longe de possuir a verdade, a
pressupõe, verdade que a vida sensível dissimula da vista, mas que a dialética nos revela. A
racionalidade, a verdade, é o fruto de uma seleção e purificação dialética em que isolamos e
libertamos o sensível de todo o peso da materialidade, para chegar àquilo sobre o que podemos
fixar o olhar com segurança.
A dialética nos revela a profunda oposição que existe entre o sensível e a verdadeira realidade.
Diante da individualidade das sensações, vemos afirmar-se a universalidade das Formas ou
Conceitos; diante da instabilidade e contingência das primeiras, a invariabilidade das segundas.
A dialética também nos mostra qual a relação entre a alma e a ciência. Ela já tinha o saber antes
de se aprisionar ao corpo. Ao entrar em contato com o objeto material deste mundo, ela se
lembra de ter contemplado a Ideia, a Forma, o original deste objeto no mundo das formas. Essa
lembrança, ou reminiscência das formas, pressupõe a imortalidade da alma, que sofrerá o
castigo de se reencarnar até expiar todas as suas faltas. Ora, a arte da maiêutica, habilmente
utilizada, pode extrair da mente essa ciência, que o indivíduo já possuía sem saber.

Em outras palavras, Platão só utilizava o método maiêutico-indutivo e o dialético porque


acreditava na imortalidade da alma, e na reencarnação, razão pela qual, para ele, o ser humano já
conhecia o mundo e tudo o que nela existe antes de nascer, mas o esqueceu ao se aprisionar ao corpo
(GILES, 1979).
Um século mais tarde, surge com Aristóteles (384-322 a. C.), discípulo de Platão, o modelo
aristotélico, que pressupõe a análise da realidade por meio de suas partes e princípios que podem e
devem ser observados, no fito de, em seguida, postular seus princípios universais, expressos na forma
de juízos, encadeados logicamente entre si (KÖCHE, 1997). Sobre tal modelo, Köche (1997, p. 47.
Grifos meus) explana:

Dessa forma o modelo aristotélico propõe uma ciência (episteme) que produz um conhecimento
que pretende ser um fiel espelho da realidade, por estar sustentado no observável e pelo seu
caráter de necessidade e universalidade. Desenvolve um conhecimento da essência das coisas e
das suas causas, respondendo às perguntas o que é? e por que é? A ciência atistótélica
manifesta-se com uma ciência do discurso, qualitativa, que proporciona um conhecimento
universal, estável, certo e necessário, tal qual propunham os pré-socráticos.

Continuando nesse diapasão, o pensamento aristotélico, por sua vez, fundamenta-se na lógica
que, consoante explana Giles (1979, p. 48) é:

[…] o instrumento que nos ajuda a adquirir o conhecimento científico. Ela se inicia pela
classificação fundamental das coisas, classificação essencial para a elaboração de uma
linguagem científica. O que é essencial nessa elaboração é a possibilidade de nomear as coisas,
dando-lhes um sentido estável, nomeá-las univocamente. É assim que podemos formular uma
ciência, isto é, um conjunto de proposições em que certas características essenciais são
predicados, atribuídos a certas classes de coisas sem ambigüidades. Essa univocidade é um fato
no mundo, que o discurso, a linguagem, refletem. Não se trata de palavras enquanto simples
unidades da língua, e sim enquanto meios para a classificação de coisas na medida em que
termos singulares podem designá-las. Trata-se de unidades primárias do discurso científico.

No período histórico-científico grego, que durou mais de 2.300 anos, o mundo era visto pelos
gregos como dotado de uma ordem e estrutura natural que governava o cosmos e que regia todos os
acontecimentos, na qual todo ser adquiria sentido, fitos essenciais da filosofia e da ciência (KÖCHE,
1997). Nesse diapasão, “conhecimento científico era o demonstrado como certo e necessário através
dos argumentos lógicos”, de modo que o “valor de uma explicação estava no seu poder argumentativo
que justificava sua aceitação e plausibilidade” (KÖCHE, 1997, p. 48).
A partir do século XV, todavia, e mormente no século XV, no decorrer do Renascimento, os
modelos platônico e aristotélico foram duramente atacados. Os renascentistas Galileu (1564-1642) e
Bacon (1561-1626) rejeitavam tais modelos filosóficos de produzir ciência, opondo-se à ciência grega e
ao dogmatismo religioso que imperava naquela época. Galileu e Bacon (1620?) introduziram a
experimentação científica, “modificando radicalmente a compreensão e concepção teórica de mundo,
de ciência, de verdade, de conhecimento e de método” (KÖCHE, 1997, p. 49).
A revolução científica ocorrida no século XVII surgiu da exigência de métodos precisos,
quantitativos, de investigação e explicação dos fenômenos naturais. A necessidade de uma relação
numérica para tratar de questões, tais como a velocidade da mudança e do movimento na física,
mostrou o quanto era inadequada a ciência qualitativa grega (KÖCHE, 1997).
Criticando severamente o aristotelismo e o empirismo ingênuo, Bacon (1620?) defende que a
experiência vulgar conduzia a enganos (KÖCHE, 1997). Para ele, “a leviandade com que os
observadores se deixavam levar pelas impressões dos sentidos e concluíam generalizações utilizando
indevidamente a indução”, próprio do método silogístico e da abstração, “não ofereciam um
conhecimento completo do universo” (KÖCHE, 1997, p. 50). Sobre esse aspecto, Köche (1997, p. 50)
acentua:

[…] Bacon propôs a necessidade de se inventar um novo instrumento, um método de invenção e


da validação que desse maior eficácia à investigação. […] Cabia à experiência confirmar a
verdade. Somente ela seria capaz de proporcionar uma verdadeira demonstração sobre o que é
verdadeiro ou falso. A autoridade (do conhecimento religioso e dogmático) podia fazer crer,
porém, não facultava a compreensão da natureza das coisas em que se acreditava. A razão (no
conhecimento filosófico) poderia completar a autoridade; não teria, porém, condições de
distinguir entre o verdadeiro e o falso.

Foram grandes as contribuições baconianas para a concepção científica moderna. Contudo,


foram ainda maiores as galileanas, conforme Köche (1997, p. 51) destaca:

Bacon não conseguiu dar o salto do qualitativo para o quantitativo, como fez Galileu,
verdadeiro pai da evolução científica moderna. No entanto, foi grande a influência do
empirismo e do indutivismo de Bacon sobre a vulgarização do pensamento científico moderno.
E também não foram poucos os cientistas que reafirmaram a ideia de que a ciência deveria
fundamentar-se na pura observação dos fatos e não se deixar levar por hipóteses apriorísticas
para alcançar a objetividade no conhecimento. E entre eles esteve Newton.

O pensamento científico galileano defendia que “a certeza da validação da explicação não


poderia ser fornecia através da simples demonstração utilizando argumentos lógicos (verdade sintática),
de acordo com o modelo aristotélico” (KÖCHE, 1997, p. 51). Contrapondo-se ao método silogístico
grego, meramente qualitativo, Galileu (1620?) introduziu o denominado método científico-
experimental, caracterizado essencialmente pela inserção da matemática e da geometria “como
linguagens da ciência e o teste quantitativo-experimental das suposições teóricas como o mecanismo
necessário para avaliar a veracidade das hipóteses e estipular a chamada verdade científica” (KÖCHE,
1997, p. 51).
Ainda na mesma direção do indutivismo e empirismo baconianos e do método científico-
experimental galileano, Newton vai mais além, introduzindo o modelo popularizado do método
indutivo-confirmável. Recusando-se a admitir que trabalhasse com hipóteses apriorísticas, Newton
“afirmava que suas leis e teorias eram tiradas dos fatos, sem interferência da especulação hipotética”
(KÖCHE, 1997, p. 55).
Entretanto, a visão perfeccionista newtoniana sobre o seu método de fazer ciência, induziu os
cientistas a, erroneamente, tomarem o seu modelo como a verdade absoluta, o conhecimento irrefutável
e inquestionável, raiz do pensamento positivista. Corroborando tais afirmações, Köche (1997, p. 57)
enfatiza:

O paradigma newtoniano, impregnado pelo indutivismo e empirismo, gerou uma cega


confiabilidade na ciência, sem dúvida alguma, sustentada na certeza e exatidão dos resultados
das teorias obtidas por um procedimento julgado perfeito: pensou-se que se poderia, sem
interferências de ordem subjetiva, teórica, ou metafísica, descobrir as leis ou princípios que
comandavam os fenômenos da realidade. A exatidão dos resultados dos experimentos
newtonianos e o acordo perfeito de suas provas com as teorias facilitou a aceitação da crença de
que a física newtoniana, construída com o uso de um método científico-experimental indutivista
e confirmabilista, estava proporcionando ao homem um conhecimento “comprovado”,
“confirmado” definitivamente, inquestionável e desprovido de interferências subjetivas. Era,
portanto, um conhecimento que havia alcançado a “objetividade”, isto é, era um espelho fiel da
realidade, fundamentado nos fatos e não nas suposições da subjetividade humana. O
experimento da física, seguindo a teorização coerente com o paradigma newtoniano, passou a
ser o modelo ideal que deveria ser copiado por todas as outras áreas de conhecimento.

Não obstante, tal confiabilidade cega no poderoso método científico-experimental indutivo


newtoniano culminou no surgimento do cientificismo, isto é, da crença de que o único conhecimento
válido era o científico e de que tudo poderia ser conhecido pela ciência, “fazendo com que outras áreas
do conhecimento, não apenas das ciências naturais, mas também das sociais e das humanas,
procurassem esse ideal científico e o aplicassem para obter resultados teóricos comprovados
experimentalmente”, uma vez que todas queriam gozar do mesmo status de cientificidade granjeado
pela física (KÖCHE, 1997, p. 58).
No início do século XX, entretanto, surge uma nova concepção de ciência. Muitos cientistas,
inclusive físicos, começam a perceber que a ciência até então produzida não era absoluta, na medida
em que novas descobertas científicas derrubaram outras precedentes. Como exemplos dessas
revoluções científicas, temos o advento da mecânica quântica, a partir das teorias dos quanta de Max
Planck (1918), as teorias da relatividade de Einstein (1905), o princípio da complementaridade de Bohr
(1928), o novo modelo de átomo idealizado por Schrodinger (1926), o princípio da incerteza de
Heisenberg (1927), a microfísica e outras teorias relevantes na física. Logo, foi no interior da própria
física que se iniciou a ruptura com o cientificismo (KÖCHE, 1997).
Sobre os motivos das mudanças ideológicas da Filosofia no que concerne ao conhecimento bem
como à concepção científica de modo geral, Chaui (2005, p. 124) explana:

A perspectiva cristã introduziu algumas distinções que romperam com a ideia grega de uma
participação direta e harmoniosa entre o nosso intelecto e a verdade, nosso ser e o mundo, pois
os filósofos antigos consideravam que éramos entes participantes de todas as formas de
realidade: por nosso corpo, participamos da natureza; por nossa alma, participamos da
Inteligência divina.

Dentre as contribuições para a nova concepção científica em que se respalda a visão


contemporânea de ciência e método, as de Einstein foram as maiores, “não apenas pelo conteúdo que
apresentaram, mas pela forma como foram alcançadas” (KÖCHE, 1997, p. 60). Sobre esse aspecto,
Köche (1997, p. 60), relata:

[…] Bacon afirmava que as ideias preconcebidas deveriam ser eliminadas da mente do
investigador. Einstein não as eliminou. Ao contrário, semelhante ao artista, deu asas à
sensibilidade e à imaginação. Projetou subjetivamente um modelo de mundo que não fora
captado registrando passivamente dados sensoriais, mas influenciado por suas emoções, paixão
mística, impulsos de sua imaginação, convicções filosóficas e, como ele próprio afirmou, por
um “sentimento religioso cósmico”. […] Demonstrou que, mais do que uma simples descrição
da realidade, a ciência é a proposta de uma interpretação. O cientista se aproxima mais do
artista que do fotógrafo.

Desse modo, foram duas as contribuições de Einstein para a descoberta da visão moderna de
ciência: uma foi a primeira ruptura que atingiu diretamente esse processo de descoberta da visão
moderna de ciência, e outra foi “a demonstração de que, por maior que seja o número de provas
acumuladas em favor de uma teoria, ela jamais poderá ser aceita como definitivamente confirmada”
(KÖCHE, 1997, p. 60). Satisfeito com essa posição, Köche (1997, p. 60) corrobora com os seguintes
dizeres:

[…] Os esquemas explicativos mais sólidos podem ser substituídos por outros melhores. O
progresso científico, então, deixa de ser acumulativo para ser revolucionário. E o critério até
então adotado para distinguir a ciência da não-ciência, o da confirmabilidade obtida pelo uso do
método experimental indutivo, cai por terra. E uma nova pergunta se coloca: Que critério
utilizar para demarcar e distinguir a ciência de outras formas de conhecer? É possível ter um
procedimento padrão, um método científico, para fazer ciência?

A ciência moderna e as ideologias perspectivistas do conhecimento partiram da indagação de


como nós, seres humanos pervertidos e finitos, podemos conhecer a verdade infinita e divina, tal como
Chauí (2005, p. 125) corrobora:

Para os modernos, a situação é exatamente contrária. Perguntam: “Como o conhecimento da


verdade é possível?” De fato, se a verdade é o que está no intelecto infinito de Deus, então está
escondida de nossa razão finita e não temos acesso a ela. A verdade, portanto, não é o que está
manifesto na realidade, mas depende da revelação divina. Ora, a revelação só é conhecida pela
fé e para esta a verdade é emunah, a confiança que nos leva a dizer “assim seja” e que nossa
razão não pode entender. Por outro lado, visto que nosso intelecto limitado foi pervertido pela
nossa vontade pecadora, como podemos conhecer até mesmo as verdades de razão, isto é, as
que estariam ao nosso alcance sem o auxílio da revelação e da fé? Ou seja, até que ponto
podemos admitir que nossa razão ou luz natural é capaz de um saber verdadeiro?

Destarte, percebe-se claramente que o exame da capacidade humana de conhecer torna-se o


problema crucial do conhecimento, razão alicerce do nascimento da Filosofia moderna e também da
denominada Ciência Moderna (CHAUÍ, 2005).
Na visão contemporânea de ciência, não existe método científico, no sentido de que não há
fórmulas, ou modelos ou receitas mágicas, ou mesmo prescrições dogmáticas de se criar o
conhecimento. Sobre esse aspecto, Köche (1997, p. 68) diz convictamente:

[…] Não existe um modelo com normas prontas, definitivas, pelo simples fato de que a
investigação deve orientar-se de acordo com as características do problema a ser investigado,
das hipóteses formuladas, das condições conjunturais e da habilidade crítica e capacidade
criativa do investigador. Praticamente, há tantos métodos quantos forem os problemas
analisados e os investigadores existentes.

Todavia, existem critérios básicos que precisam ser utilizados no processo de investigação
científica no fito de que o conhecimento possa ser considerado válido, isto é, verdadeiro. São
exatamente esses critérios básicos, ou passos gerais, que orientam e sustentam aquilo que histórica e
epistemologicamente denomina-se “método científico” (KÖCHE, 1997).
É, pois, desse modo de pensar a construção do saber que se descobriu o método científico
hipotético-dedutivo, que propõe nada mais nada menos do que partir de “um questionamento elaborado
pelo sujeito que põe em dúvida o conhecimento já produzido, por percebê-lo ou como teoricamente
inconsistente ou mesmo incompatível com outras teorias, ou como inadequado para explicar os fatos”
(KÖCHE, 1997, p. 71).
Ainda sobre o processo do conhecer a partir da ciência contemporânea, Köche (1997, p. 71)
explana:

[…] Na ciência contemporânea, a pesquisa é um processo decorrente da identificação de


dúvidas e da necessidade de elaborar e construir respostas para esclarecê-las […] porque há a
necessidade de construir e testa uma possível resposta ou solução para um problema, decorrente
de algum fato ou de algum conjunto de conhecimentos teóricos […] O problema de
investigação é aquela dúvida, é aquela pergunta que não consegue ser respondida com o
conhecimento disponível. […] Nesses casos levantam-se perguntas, dúvidas, que estão sem
resposta no quadro do conhecimento disponível. Ou então, à luz de novos referenciais teóricos,
questiona-se a confiabilidade daquelas teorias enquanto explicações válidas para determinados
casos, percebendo nelas inconsistências ou lacunas que devem ser corrigidas ou eliminadas.
[…] O problema de investigação, portanto, surge da crise do conhecimento disponível,
enquanto modelo teórico insuficiente para explicar os fatos.

Via de regra, toda hipótese deve ser testável e rigorosamente testada no fito de ser validada e
qualquer conhecimento considerado cientificamente válido não o é definitivamente, mas
provisoriamente. Dito isso, Köche (1997, p. 74) concorda dizendo que:

[…] Proposta a hipótese, deve-se dela deduzir logicamente consequências expressas em uma
linguagem comum em que predominam temos de observação. Essa tradução proporciona a
passagem da linguagem de um nível mais abstrato da ciência para um menos abstrato que
contenha um conteúdo diretamente empírico que possibilite a observação e a testagem. […] A
hipótese não será rejeitada se agüentar os testes de rejeição e permanecerá provisoriamente
como corroborada. Se no confronto com a base empírica não agüentar às contra-evidências, será
rejeitada.

Haja vista que a história da ciência está repleta de exemplos denominados “recalcitrantes” de
teorias e hipóteses que, apesar de terem provas falseadoras, ainda assim, continuaram a ser aceitas na
comunidade científica, infere-se, então, que apenas submeter uma hipótese a testes isolados,
confrontando-a exclusivamente com a sua base empírica, não é o suficiente (KÖCHE, 1997). Sobre
esse aspecto, Köche (1997, p. 75) elucida:

[…] Essa fase é necessária, mas não é suficiente. Há a necessidade, ainda, de confrontá-la
também com outras hipóteses concorrentes, comparando o seu desempenho com o de outras
hipóteses e teorias. […] Uma vez testada e avaliada a hipótese, não é conveniente afirmar “a
hipótese foi aceita”, ou confirmada, pois jamais um experimento a confirmar, ou a válida em
sentido positivo (i.e., absoluto), por maior severidade, controle e rigor que tenham sido
adotados. Deve-se afirmar “a hipótese não foi rejeitada”, isto é, a partir das provas de não se ter
encontrado algo em contrário quando submetida a testes de falseabilidade e confrontada com o
resultado de outras teorias, ela passa a proporcionar uma aceitação temporariamente válida.
[…]
Destarte, em se tratando de conhecimento produzido por humanos, imperfeitos, não existe(m)
verdade(s) absoluta(s) produzida(s) por humanos. Nesse caso, tal qual aponto Köche (1997, p. 75), “o
valor de uma teoria está em sua corroboração, isto é, no fato de não ter sido ainda rejeitada, após ter
passado por severas provas”.
Com base nesses pressupostos, a ciência não é um sistema de enunciados certos ou bem
estabelecidos, mas sim um processo de investigação, sistemático e contínuo, que utiliza procedimentos
adequados no fito de localizar os possíveis erros de suas teorias, por meio de testes de falseabilidade e
do confronto com outras teorias, para substituí-las por outras que não contenham os erros da anterior e
com maior conteúdo informativo. A ciência, portanto, nunca alcança a verdade, jamais podendo
proclamar tê-la atingido ou um substituto da verdade, como a probabilidade, mas ela tão somente torna
mais clara a compreensão da realidade e menos distante da verdade (i.e., absoluta) a nossa
compreensão.

2.2.2 Critérios ou mecanismos de cientificidade ou verdade

No contexto histórico-evolutivo da Teoria do Conhecimento, surgiram muitas “teorias da


verdade”, no fito de estabelecer critérios confiáveis de verdade, ou cientificidade, dentre as quais se
destacam a “teoria da correspondência”, de Aristóteles, a “teoria da evidência”, de Descartes, e a
“teoria da coerência”, também de Descartes, mas revisada por Hegel (GILES, 1979, p. 126-128). Sobre
essas teorias, Giles (1979, p. 126-129) pontua:

[…] Conforme essa teoria, toda proposição afirma algo como sendo o caso for realmente o
caso; e é falsa se, e só se, aquilo que expressa não for o caso. […]
Conforme a teoria da evidência, uma proposição é verdadeira se, e só se, for evidente por si
ou, embora não sendo evidente por si, seja implicada logicamente por premissas que são
evidentes por si. Essa teoria considera uma convicção ou um sentimento de evidência por si
como condição suficiente de verdade, embora tal convicção ou sentimento possam (e isto
acontece de fato) mudar tanto na mesma pessoa como de pessoa para pessoa. A experiência
mostra que as convicções e os sentimentos de evidência por si podem ser ilusórios e a teoria
não estabelece critérios para distinguir entre aqueles que são e não são ilusórios. […]
A tese fundamental da teoria da coerência é: há um, e só um, conjunto coerente de
proposições. […] Podemos definir a noção de “conjunto coerente de proposições” e de
“proposição verdadeira” em termos da noção de “envolvimento” e formular a tese fundamental
da teoria da coerência da verdade nos seguintes termos: um conjunto de proposições é coerente
se, e só se, (a) cada proposição do conjunto envolver as demais proposições do conjunto; (b)
toda proposição que estiver envolvida por uma proposição que pertence ao conjunto pertence
ela mesma ao conjunto. Uma proposição é verdadeira (no sentido da teoria da coerência) se, e
só se, pertencer a um conjunto coerente. […]
O arquétipo dessa teoria da coerência encontra-se no pensamento de Hegel, embora ele se
referisse não ao envolvimento entre proposições, mas sim entre atributos. Ele procura mostrar
que, a partir do atributo do Ser puro, podemos averiguar como o Ser envolve todos os demais
atributos da realidade e como todos esses atributos se envolvem uns nos outros.
(grifos meus)

Na primeira parte de seu livro, quando trata da teoria da ciência, Köche (1997, p. 27) apresenta
as dessemelhanças entre o conhecimento de senso comum e o conhecimento científico, acentuando que
“a vaguidade da linguagem utilizada no sensu comum conduz a um baixo poder de discriminação entre
os confirmadores e os falseadores potenciais de seus enunciados”, tornando-se, desse modo, quase
impossível o seu controle e a sua avaliação experimental. Por outro lado, o referido autor (1997, p. 30)
pontua que o conhecimento científico, enquanto processo de investigação que age no fito de construir
uma resposta segura para responder às dúvidas existentes, “propõe-se atingir dois ideais: o ideal da
racionalidade e o ideal da objetividade”.
Explanando o ideal da racionalidade, Köche (1997, p. 31) ressalta:

O ideal da racionalidade está em atingir uma sistematização coerente do conhecimento presente


em todas as suas leis e teorias. […] Essa verificação da coerência lógica entre os enunciados, ou
entre teorias e leis, é um dos mecanismos que fornece um dos padrões de aceitação ou rejeição
de uma teoria pela comunidade científica: os padrões da verdade sintática. Os enunciados
científicos devem estar isentos de ambigüidade e de contradição lógica. É uma das condições
necessárias, embora não suficiente. Esse critério de verdade refere-se exclusivamente à forma
dos enunciados e serve para avaliar o acordo que existe entre as diferentes teorias utilizadas
pela comunidade científica, permitindo o seu diálogo intersubjetivo e possível consenso.

Em seguida, o referido autor (1997, p. 32) passa a explanar o ideal da objetividade, com os
seguintes dizeres:

O ideal da objetividade, por sua vez, pretende que as teorias cientificas, como modelos teóricos
representativos da realidade, sejam construções conceituais que representem com fidelidade o
mundo real, que contenham imagens dessa realidade que sejam “cerdadeiras”, evidentes,
impessoais, passíveis de serem submetidas a testes experimentais e aceitas pela comunidade
científica como provadas em sua veracidade. Esse é o mecanismo utilizado para avaliar a
verdade semântica.
A objetividade do conhecimento científico se fundamenta em dois fatores, interdependentes
entre si: (a) a possibilidade de um enunciado poder ser testado através de provas fatuais e (b) a
possibilidade dessa testagem e seus resultados poderem passar pela avaliação crítica
intersubjetiva feita pela comunidade científica.

Já o conhecimento filosófico difere do científico quanto à natureza, ao objeto de investigação, à


abordagem bem como aos meios lógicos e técnicos utilizados na sua produção. O primeiro possui
natureza não hipotética, não testável e, por essa razão, infalível; a filosofia é uma ciência que trata
universalmente do ser como ser; sua abordagem é essencialmente qualitativa, não experimental; os
meios lógicos comumente utilizados são a maiêutica, de Sócrates, a dialética, de Platão, e a lógica, de
Aristóteles, e os meios técnicos comumente utilizados são a indução, a descrição, a generalização. Já o
segundo (o científico) possui natureza hipotética, testável e, por esse motivo, falível; trata-se das
denominadas ciências particulares, cujos objetos de investigação são os seres particulares; as ciências
particulares, por abrangerem os mais diversos temas e áreas de pesquisa, podem valer-se de,
praticamente, todos os meios lógicos e técnicos de investigação, adequando-os sempre, é claro, ao tipo
de pesquisa realizada (GILES, 1979; RODRIGUES, 2007; MENEZES, 1938).
O conhecimento religioso, por sua vez, possui a mesma natureza, abordagem e meios lógicos e
técnicos utilizados do filosófico, diferindo-se dele, entretanto, quanto ao objeto de investigação, que,
nesse caso, trata da relação entre a razão e a fé, cujos pressupostos, já na Idade Média, “Agostinho
procurava entendê-los, pois, se não acreditarmos, não compreenderemos” (GILES, 1979, p. 56).
Apesar de as verdades sintática e semântica, em si só, serem suficientes para a validade do
conhecimento religioso e do filosófico, não garantem a objetividade do conhecimento científico,
motivo pelo qual Köche (1997, p. 32) destaca:

[…] Apesar de a ciência trabalhar com dados, provas fatuais, ela não fica isenta de erros de
interpretação dessas provas. Por mais que se esforce, o cientista, o investigador, estará sempre
sendo influenciado por uma ideologia, por uma visão de mundo, pela sua formação, pelos
elementos culturais e pela época em que vive. Há uma expectativa que orienta a sua visão de
mundo e a busca de explicações. Para minimizar os possíveis erros decorrentes de uma
expectativa subjetiva, é que a ciência exige a intersubjetividade, isto é, a possibilidade de a
comunidade científica ajuizar consensualmente sobre a investigação, seus resultados e métodos
utilizados. A intersubjetividade é o terceiro mecanismo utilizado no conhecimento científico e
que proporciona a verdade pragmática.

Como se percebe, existem três verdades que imperam o processo de investigação científica: a
verdade sintática, a verdade semântica e a verdade pragmática. São essas as principais razões de o
conhecimento científico ser considerado mais seguro, mais correto e mais confiável. Daí que as
principais dessemelhanças entre o conhecimento dito científico do popular são: o seu sistematismo de
investigação, o rigor da sua avaliação e a alta confiabilidade de suas informações e resultados.
Nesse diapasão, para que um conhecimento seja aceito como científico pela comunidade
científica, ele “deverá, necessariamente, satisfazer a critérios que justifiquem a sua aceitação”
(KÖCHE, 1997, p. 34), os quais são resultantes da utilização do denominado método científico, isto é,
do conjunto de “procedimentos não padronizados adotados pelo investigador, orientados por postura e
atitudes críticas e adequados à natureza de cada problema investigado” (KÖCHE, 1997, p. 35).
Especificando os três critérios de cientificidade adotados pela comunidade científica, quando da
validação do conhecimento como científico, Köche (1997. p. 35-36) passa a dizer:

[…] O que se aceita chamar de método científico é a forma crítica de produzir o conhecimento
científico, que consiste na proposição de hipóteses bem fundamentadas e estruturas em sua
coerência teórica (verdade sintática) e na possibilidade de serem submetidas a uma testagem
crítica severa (verdade semântica) avaliada pela comunidade científica (verdade pragmática).
Como se pode constatar, não há apenas um critério de verdade a ser adotado, mas três: o
sintático, o semântico e o pragmático. Mesmo assim, a soma dos três não é suficiente para
demonstrar a verdade de um determinado enunciado e justificar a sua aceitação como um
resultado questionável.
(grifo meu)

Esquematicamente, os três critérios ou mecanismos de cientificidade ou de verdade adotado


pela comunidade científica para determinar se um conhecimento é válido ou não, podem ser
representados do seguinte modo:

Quadro 2 – Critérios de Cientificidade

CRITÉRIOS DE CIENTIFICIDADE

Verdade sintática São enunciados lógicos, coerentes, consistentes e testáveis.


Alude-se à correspondência dos enunciados com os fatos, após a
Verdade semântica
aplicação dos testes de falseabilidade.
Resultante de rigorosa avaliação consensual pela comunidade científica
Verdade pragmática quanto ao processo de investigação, seus resultados e métodos
utilizados.
Fonte: elaborado pelo autor com base em Köche (1997)

Inobstante, infere-se que, no processo de investigação científica, sujeito e objeto são sempre
dependentes e indissociáveis, razão pela qual é estimulada a criação de fundamentos mais sólidos para
a construção do conhecimento e a testagem permanente de suas hipóteses de uma forma mais rígida e
severa, por meio do “uso de enunciados com elevado poder de discriminação de testagem” e do “uso de
métodos de investigação o máximo confiáveis” (KÖCHE, 1997, p. 33).
Em contrapartida, embora o conhecimento científico seja mais seguro que o do senso comum,
ainda assim ele também é falível. Sua natureza hipotética precisa ser continuamente submetida a uma
revisão crítica, tanto na consistência lógica interna das suas teorias, quanto na validade dos seus
métodos e técnicas de investigação, o que, consoante Köche (1997), percebe-se que historicamente já
ocorre.
O maior obstáculo para o progresso científico não é o método nem os seus adequados
procedimentos técnicos, mas sim o grau de confiabilidade da interpretação que o homem tem da
realidade (UBC, 2007). Não obstante, no processo de construção do conhecimento, a sensação e a
percepção humanas, elementos originadores da sua interpretação, são os principais complicadores,
consoante Menezes (1938, p. 25-26) corrobora:

[…] O elemento primário do conhecimento, a sensação, mero sinal de contato com a


objetividade exterior, já implica o desequilíbrio que se propaga como corrente nervosa
suscetível de atingir os centros superiores do indivíduo, onde se registra e organiza sua
experiência consciente.
Claro que essa distinção da sensação como elemento já implica análise artificiosa; como
separar, nitidamente, sensação e percepção, que é o fato mais complexo? Este permite
gradações infinitas. Possui maior conteúdo objetivo. Não é mera justaposição de sensações
adicionadas, mas síntese indecomponível, unidade de fisionomia própria na fenomenologia
psíquica. A experiência, que se organiza nessa trama viva que se constitui pela conexão do ser e
ambiente, é processo dinâmico, de inter-relações sucessivas.

Sobre esse aspecto, Chauí (2005, p. 126) destaca uma teoria conhecida como a crítica dos ídolos
idealizada por Bacon, com os seguintes dizeres:

De acordo com Bacon, existem quatro tipos de ídolos ou de imagens que formam opiniões
cristalizadas e preconceitos, que impedem o conhecimento da verdade:
1. Ídolos da caverna (a caverna de que fala Bacon é a do mito da caverna): as opiniões que se
formam em nós por erros e defeitos de nossos órgãos dos sentidos. São os mais fáceis de serem
corrigidos por nosso intelecto;
2. Ídolos do fórum (o fórum era o lugar das discussões e dos debates públicos na Roma antiga):
são as opiniões que se formam em nós como consequência da linguagem e de nossas relações
com os outros. São difíceis de serem vencidos, mas o intelecto tem poder sobre eles;
3. Ídolos do teatro (o teatro é o lugar em que ficamos passivos, onde somos apenas espectadores
e receptores de mensagens): são as opiniões formadas em nós em decorrência dos poderes das
autoridades que nos impõem seus pontos de vista e os transformam em decretos e leis
inquestionáveis. Só podem ser desfeitos se houver uma mudança social e política;
4. Ídolos da tribo (a tribo é um agrupamento humano em que todos possuem a mesma origem, o
mesmo destino, as mesmas características e os mesmos comportamentos): são as opiniões que
se formam em nós em decorrência da natureza humana. São próprios da espécie humana e só
podem ser vencidos se houver uma reforma da própria natureza humana.
A demolição dos ídolos é, portanto, uma reforma do intelecto, dos conhecimentos e da
sociedade. Para os dois primeiros, Bacon propõe a instauração de um método, definido como o
modo seguro de “aplicar a razão à experiência”, isto é, de aplicar o pensamento lógico aos
dados oferecidos pelo conhecimento sensível.

Desse modo, infere-se que a interpretação humana resulta de suas sensações e percepções para
com o objeto pesquisado. Dito isso, o conhecimento produzido pelo homem é tão coerente, consistente,
correto, confiável ou verdadeiro, quanto o for a sua interpretação da realidade (MENEZES, 1938;
GILES, 1979).

2.3 Gnosiologia científica


A gnosiologia preocupa-se em analisar o ser enquanto sujeito ativo, praticante da ação. Nessa
perspectiva, o aspecto gnosiológico da pesquisa alude-se às relações que os sujeitos da pesquisa
estabelecem com os objetos de suas respectivas investigações. Gnosiologicamente falando, os sujeitos
da pesquisa podem ser classificados em três grandes grupos, a saber: os pesquisadores, os
examinadores e o público-alvo (ECO, 2012).

2.3.1 Os pesquisadores

O pesquisador, seja ele autor ou coautor de uma investigação, é o principal sujeito da pesquisa,
pois é ele o autor, é ele que fala com autoridade sobre um tema. Sua importância no processo de
investigação é maior do que a dos examinadores, haja vista que é ele quem gasta meses, às vezes anos,
lendo, meditando e tirando conclusões sobre tudo o que fora dito sobre seu tema. Nesse diapasão, faço
minhas as palavras de Eco (2012, p. 142) quando salienta:

Como não está à altura? Dedicou-se meses, às vezes anos, ao tema escolhido, leu talvez tudo o
que era preciso ler sobre ele, meditou, tomou notas, e vem agora com essa conversa de não estar
à altura? Mas que diabo esteve fazendo todo esse tempo? Se não se sentia qualificado, não
apresentasse a tese. Se a apresentou, é porque se sentia preparado e, em qualquer caso, não tem
direito a desculpas. Assim, uma vez expostas as opiniões alheias, uma vez expressas as
dificuldades, uma vez esclarecidas se sobre determinado tema são possíveis respostas
alternativas, vá em frente. Diga tranquilamente: “julgamos que” ou “pode-se concluir que”. Ao
falar, você é a autoridade. Se for descoberto que é um charlatão, pior para você, mas não tem o
direito de hesitar. Tem o papel de funcionário da humanidade, falando em nome da coletividade
sobre aquele assunto. Seja modesto e prudente antes de abrir a boca, mas, depois de abri-la, seja
arrogante e orgulhoso.
Fazer uma tese sobre o tema X significa presumir que até então ninguém tivesse dito nada de
tão completo e claro sobre o assunto. O presente livro lhe ensinou que deve ser cauteloso ao
escolher o tema, ser suficientemente perspicaz para optar por algo limitado, talvez muito fácil,
talvez ignobilmente setorial. Mas, sobre o que escolheu, nem que tenha por título Variações na
Venda de Jornais na Esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida São João de 24 a 28 ago.
1976, você deve ser a máxima autoridade viva.
Mesmo que tenha escolhido uma tese de compilação, que resuma tudo quanto foi dito sobre o
assunto sem nada acrescentar de novo, você é uma autoridade sobre o que foi dito por outras
autoridades. Ninguém deve conhecer melhor tudo o que foi dito a respeito.
Naturalmente, deve trabalhar de maneira a não atentar contra a consciência. Mas isso é outra
coisa. A questão aqui é de estilo. Não seja choramingas e complexado. Isso aborrece.

Inobstante, eu defendo tais ideologias gnosiológicas de Eco, ressaltando a relevância e a


autoridade do papel dos pesquisadores no processo investigação, quanto ao tema analisado.

2.3.2 Os examinadores
Os examinadores são todos os sujeitos que avaliam, revisam ou examinam a pesquisa científica.
Podem ser os professores orientadores, os professores revisores do trabalho, ou os professores
componentes da banca examinadora, quer do exame de qualificação, quesito obrigatório nos cursos de
mestrado e doutorado, quer na defesa pública do Trabalho Final de Conclusão de Curso (TFCC). A
atividade de examinar trabalhos científicos requer dos examinadores grande bagagem teórica e prática
do tema examinado. As bancas examinadoras precisam ser compostas por professores doutores
profissionais, gabaritados no tema, autoridades no assunto pesquisado, a fim de que possam não apenas
atuar como peritos, avaliando o trabalho, mas também como orientadores do avaliando, fornecendo-se
dicas para melhorar o seu trabalho produzido e a sua atividade de pesquisa em geral.

2.3.3 Os auxiliares

Os auxiliares são todos os sujeitos que auxiliam o pesquisador no seu processo de investigação.
Podem ser as pessoas que organizam, higienizam, guardam ou fazem alguma manutenção nos lócus de
investigação, de planificação, ou de exame do trabalho. Podem ser os profissionais de uma biblioteca,
de um laboratório onde se realiza um experimento necessário para a pesquisa, ou algum colaborador
que ajuda o pesquisador em alguma etapa da sua pesquisa. Também incluem as pessoas, sejam elas
físicas ou jurídicas, que contribuem financeiramente para a realização do trabalho.

2.2.4 O público-alvo

O público-alvo refere-se aos sujeitos a quem a pesquisa é destinada. A pergunta em cena é: para
quem estou destinando essa pesquisa, ou esse trabalho? Seja para determinados profissionais, seja para
uma comunidade inteira ou um órgão específico, esse é o público-alvo da investigação. É justamente
pensando nas contribuições possíveis a esse público com os resultados do trabalho que o pesquisador o
realiza.

2.4 Ontologia científica

O termo ontologia, originado de duas raízes gregas, principiou a ser utilizado no século XVI,
sendo que, antes disso, era a palavra metafísica a designada para se referir à investigação filosófica que
gira em torno da pergunta “O que é?” (CHAUÍ, 2005).
Explanando sobre as palavras “metafísica” e “ontologia”, Chauí (2005, p. 180-181) chama à
atenção que a primeira possui dois sentidos, quais sejam:

1. Significa “existe”, de modo que a pergunta se refere à existência da realidade e pode ser
transcrita como: “O que existe?”;
2. Significa “natureza própria de alguma coisa”, de modo que a pergunta se refere à essência da
realidade, podendo ser transcrita como: “Qual é a essência daquilo que existe?”
Existência e essência da realidade em seus múltiplos aspectos são, assim, os temas principais da
metafísica, que investiga os fundamentos, os princípios e as causas de todas as coisas e o Ser
íntimo de todas as coisas, indagando por que existem e por que são o que são.

O uso do termo “metafísica” principiou por volta do ano 50 AEC, por Andrônico de Rodes,
quando ele recolheu e classificou as obras de Aristóteles que, durante muitos séculos, haviam ficado
dispersas e perdidas. No entanto, tal termo não era empregado pelos filósofos gregos (CHAUÍ, 2005).
Posteriormente, no século XVII, o filósofo alemão Jacobus Thomasius julgou a palavra
“ontologia” mais adequada do que a palavra “metafísica” para caracterizar sucintamente o estudo do
Ser em si, da sua existência e da sua essência, o que Aristóteles chamou de filosofia primeira (CHAUÍ,
2005).
Sobre a origem do termo ontologia, Chauí (2005, p. 183) explana:

[...] Essa palavra é composta de duas outras: onto e logia. Onto deriva de dois substantivos
gregos, tà onta (“os bens e as coisas realmente possuídas por alguém”; e “as coisas realmente
existentes”). Tà onta deriva do verbo ser, que, em grego, se diz einar. O particípio presente
desse verbo se diz on (“sendo, ente”). Dessa maneira, as palavras tà onta (“as coisas”) e on
(“ente”) levaram a um substantivo: tò on, que significa “o Ser”. O Ser é o que é realmente e se
opõe ao que parece ser, à aparência. Assim, ontologia significa “estudo ou conhecimento do Ser,
dos entes ou das coisas tais como são em si mesmas, real e verdadeiramente, correspondendo ao
que Aristóteles chamara de filosofia primeira, isto é, o estudo do Ser enquanto Ser”.

Sinteticamente, o aspecto ontológico da metodologia da pesquisa científica consiste no estudo


ou conhecimento da existência e da essência do objeto pesquisado, delimitando-o e caracterizando-o
real e verdadeiramente.

2.4.1 Delimitação do objeto

A primeira tarefa do pesquisador quando do planejamento da pesquisa científica é a delimitação


do seu objeto. Delimitar significa, a priori, especificar os seus limites. O pesquisador precisa saber o
que de fato está pesquisando e até que ponto consegue conhecer o objeto da sua investigação.
2.4.2 Caracterização do objeto

Após delimitar o objeto de investigação, o pesquisador precisa caracterizá-lo. Caracterizar


significa, a priori, apresentar as suas características fundamentais. O pesquisador precisa saber qual a
essência do objeto da sua investigação, qual o espaço e qual o tempo em que ele está situado.

2.5 Referencial teórico científico

Na Era Pós-Industrial, o boom de informações bibliográficas e cibernéticas provocou uma


necessidade cada vez maior de critérios mais rigorosos para a seleção de fontes, visando à coleta de
dados de alta qualidade. Disto isso, consoante Rodrigues (2007), podemos destacar três principais
critérios: a validade das fontes, a pertinência das informações para o estudo e a contribuição do
material bibliográfico.

2.5.1 A validade das fontes da pesquisa científica

A validade da fonte é analisada pela técnica denominada validação, a qual, conforme aponta
Rodrigues (2007, p. 22), “consiste no reconhecimento da consistência teórica de um discurso pelo
esforço da falsificação”. Após explanar que a “falsificação é o esforço para infirmar uma teoria,
propondo-lhe problemas ou contrastando-a com a capacidade de resolver impasses de outra teoria”, o
autor (2007, p. 22-23) acentua que “válido é aquilo que continua resistindo ao esforço de falsificação
ou que contém informações fáticas confiáveis, e que continua encontrando aplicação no momento da
pesquisa”.

2.5.2 A pertinência das informações para o estudo científico

Quanto à pertinência das informações para o estudo realizado, precisa-se definir, a priori, o que
vem a ser conteúdo pertinente. Para Rodrigues (2007, p. 20), pertinentes são: “[…] os conteúdos [que]
esclarecem a relação entre os assuntos: ou a obra trata do problema da pesquisa, ou, pelo menos, do
tema, ou não é pertinente. […]” (grifo meu).
Portanto, pertinentes são as informações que esclarecem a questão-problema da pesquisa, ou
pelo menos o seu tema.
2.5.3 As contribuições do material bibliográfico

Em se tratando da contribuição do material bibliográfico, Rodrigues (2007) pontua que estar ou


não diretamente relacionado com o tema ou o problema de pesquisa não é o que determina o quanto o
material contribui para o estudo realizado. Inclusive, o autor (2007, p. 21) salienta que:

[…] embora trate de assunto diferente, pode representar acréscimos de modo indireto para a
investigação em curso, ou até oferecer algum subsídio específico e direto ao pesquisador.
Inversamente, há obras que, embora tratando do assunto visado, podem não acrescentar
absolutamente nada, ou quase nada, ao acervo de conhecimento do pesquisador.

Daí, no fito de exemplificar essa questão contributiva do material bibliográfico, Rodrigues


(2007, p. 21) passa a dizer:

Um livro sobre política pode analisar o sistema familiar e as relações de parentesco de uma
dada sociedade, contribuindo assim para inúmeras outras pesquisas não interessadas em
política, mas voltadas para o estudo de parentelas ou do grupo família, ou para outros temas que
possam incorporar uma contribuição específica nesta área, como uma história social. Este é o
uso de Política e parentela na Paraíba. […] (grifo meu)

O grau de confiabilidade das fontes de uma pesquisa depende do tipo de seus dados. Se os
dados forem primários, isto é, do próprio autor, então estamos falando de uma observação direta e,
portanto, de fontes confiáveis. Se os dados forem secundários (literatura crítica), isto é, manipulados
por terceiros – como numa resenha ou citação, por exemplos –, então estamos falando de uma
observação indireta e, portanto, de fontes não confiáveis. Corroborando tais afirmações, Eco (2012, p.
39) diz:

Quando trabalhamos sobre livros, uma fonte de primeira mão é uma edição original ou uma
edição crítica da obra em apreço.
Tradução não é fonte: é uma prótese, como a dentadura ou os óculos, um meio de atingir de
forma limitada algo que se acha fora do alcance.
Antologia não é fonte: é um apanhado de fontes, que pode ser útil num primeiro momento, mas
fazer uma tese sobre determinado autor significa tentar ver nele coisas que outros não viram, e
uma antologia só me mostra o que ninguém ignora.
Resenhas efetuadas por outros autores, mesmo completadas pelas mais amplas citações, não
são fontes: são, quando muito, fontes de segunda mão.
Uma fonte é de segunda mão por várias razões. Se pretendo fazer uma tese sobre os discursos
parlamentares de Palmiro Togliatti, os discursos publicados pelo Umita constituem fonte de
segunda mão. Ninguém me garante que o relator não tenha feito cortes ou cometido erros.
Fontes de primeira mão serão as atas parlamentares. Caso eu conseguisse obter o texto escrito
diretamente por Togliatti, teria então uma fonte de primeiríssima mão. Se desejo estudar a
declaração de independência dos Estados Unidos, a única fonte de primeira mão é o documento
autêntico. Mas também posso considerar de primeira mão uma boa fotocópia. O mesmo se diga
do texto elaborado criticamente por qualquer historiógrafo de seriedade indiscutível
(“indiscutível”, aqui, quer dizer: jamais discutido pela literatura crítica existente). Vê-se que o
conceito de “primeira” e “segunda” mão depende do ângulo da tese. Se esta intenta discutir 43
edições críticas existentes, é preciso remontar aos originais; se pretende discutir o sentido
político da declaração de independência, uma boa edição crítica é mais que suficiente.

Baseando-se nesses pressupostos, o tema de pesquisa deverá se adequar ao tipo das fontes
selecionadas. Se elas forem “de primeira mão”, isto é, primárias, então meu tema considera os
pensamentos dos próprios autores. Se elas forem “de segunda mão”, isto é, secundárias, então o tema
considera, não os pensamentos, mas as interpretações dos pensamentos do(s) autor(es), de modo que o
foco da pesquisa deixa de ser o que o(s) autor(es) disse(ram) para ser o que outros disseram inspirando-
se neles. São justamente essas as ideias transmitidas por Eco (2012, p. 36) com as seguintes palavras:

[…] Se escolhi como tema O Pensamento Econômico de Adam Smith e me dou conta de que, à
medida que o trabalho avança, envolvo-me na discussão das interpretações de um determinado
autor e descuro a leitura direta de Smith, posso fazer duas coisas: ou retornar à fonte ou
modificar o tema para As Interpretações de Smith no Pensamento Liberal Inglês
Contemporâneo. Isso não me isentará de saber o que disse Smith, mas é claro que a esta altura
meu interesse é o de discutir não tanto o que ele disse, mas o que outros disseram inspirando-se
nele. Contudo, é óbvio que, se pretende criticar em profundidade seus intérpretes, terei de
confrontar suas interpretações com o texto original.

Destarte, o tipo das fontes selecionadas deve sempre se adequar ao tema escolhido no que tange
à profundidade, à qualidade e à amplitude objetivadas.

2.6 A ética científica

A finalidade fundamental da pesquisa científica é a produção do conhecimento válido, seguro,


confiável. Para tanto, faz-se necessário que tal processo siga métodos e procedimentos bem definidos,
cientificamente válidos e que assumam, concomitantemente, questões éticas e morais (SPINK, 2012;
MARCONI; LAKATOS, 2003; MENEZES, 1938; PIAGET, 1973).
A integridade no processo de investigação científica é uma das maiores preocupações de toda a
comunidade científica, e deveria ser também por toda sociedade. Sobre esse aspecto, Booth, Colomb e
Williams (2005, p. 325) dizem:

Tudo o que dissemos sobre a pesquisa começa com nossa convicção de que essa é uma
atividade inteiramente social, que nos une àqueles cuja pesquisa usamos e, da mesma forma,
àqueles que usarão a nossa. É também uma atividade não mais limitada ao pequeno mundo
social acadêmico. A pesquisa acha-se agora no centro da indústria, do comércio, do governo, da
educação, da saúde, das operações militares, até mesmo do entretenimento e da religião. Ela
influencia todos os setores de nossa sociedade e de nossa vida, pública ou privada. [...]

Nesse diapasão, caracterizando o pesquisador ético, Booth, Colomb e Williams (2005, p. 326)
explanam com os seguintes dizeres:

Os pesquisadores éticos não roubam, plagiando ou reivindicando os resultados de outros.


Não mentem, adulterando informações das fontes ou inventando resultados.
Não destroem fontes nem dados, pensando nos que virão depois deles.
Pesquisadores responsáveis não apresentam dados cuja exatidão têm motivos para questionar.
Não encobrem objeções que não podem refutar.
Não ridicularizam os pesquisadores que têm pontos de vista contrários aos seus, nem
deliberadamente apresentam esses pontos de vista de um modo que aqueles pesquisadores
rejeitariam.
Não redigem seus relatórios de modo a dificultar propositalmente a compreensão dos leitores,
nem simplificam demais o que é legitimamente complexo.

É bem por causa do desrespeito à comunidade acadêmica e à sociedade, além de muitos outros
danos causados, que a prática do plágio e outras más condutas como essa são “violentamente”
combatidas, tal como enfatizam Booth, Colomb e Williams (2005, p. 328):

É essa preocupação com a integridade do trabalho da comunidade que explica por que os
pesquisadores condenam o plágio tão violentamente. Quem plagia intencionalmente rouba mais
do que simples palavras. Não identificando uma fonte, o plagiador rouba parte da pequena
recompensa que a comunidade acadêmica tem a oferecer, o respeito que um pesquisador passa a
vida inteira tentando conseguir. O plagiador rouba da comunidade de colegas de classe, fazendo
a qualidade do trabalho deles parecer pior em comparação ao dele, e então talvez roube
novamente ao receber uma das poucas notas boas reservadas para recompensar os estudantes
que fazem um bom trabalho. Quando prefere não aprender as técnicas que a pesquisa pode
ensinar, o plagiador não só compromete sua própria educação, como também rouba da
sociedade em geral, que investe seus recursos na instrução de estudantes que poderão fazer um
bom trabalho mais tarde. Mais importante ainda, o plágio, assim como o roubo entre amigos,
transforma em farrapos o tecido da comunidade.

Por conta da necessidade do combate das más práticas ou condutas quando da investigação
científica, as instituições de ensino bem como os agentes de fomento à pesquisa científica têm
elaborado e disseminado regras de boas práticas ou boas condutas. Nesse diapasão, as práticas mais
adotadas mundialmente são: a) a elaboração e disseminação de Códigos de Ética Científica; b) a
apresentação de conteúdo relacionado ao plágio e outras más condutas nas home pages das
universidades; c) a implantação de centros de integridade acadêmicas nas instituições de ensino
superior e de pesquisa científica; e d) a integração do estudo sobre escrita acadêmica e plágio em
matéria específica da grade dos cursos superiores. No exterior, temos como exemplo as universidades
MIT, Harvard, Stanford, Cambridge, Oxford, Suriss Federal, Inst. of Technology, Tokio, National
Taiwan University, Kyoto, Australian Nacional University, Queensland, Monashi, Cape Town, Prétoria,
Stellenbosch, sendo que todas elas adotam as quatro práticas apresentadas.
No Brasil, as universidades USP, Unicamp e UFSC são as primeiras a adotar alguns dos textos
de combate ao plágio e outras más condutas nas suas home pages. Além disso, existe, por exemplo, no
Brasil, o Código de Boas Práticas Científicas da Fapesp, o qual estabelece diretrizes éticas para as
atividades científicas dos pesquisadores beneficiários de auxílios e bolsas da Fapesp e para o exercício
da função de avaliador científico pelos seus assessores. Nele, são especificados, com base na
experiência internacional no tratamento da questão da integridade ética da pesquisa, critérios bem
definidos no que concerne à concepção, à proposição, à realização, à comunicação dos resultados, à
autoria, ao registro, à conservação, à acessibilidade, ao conflito potencial de interesses, à avaliação
pelos pares e à tutoria das atividades científicas. Também é explanado sobre a alegação, a investigação
e a declaração de más condutas científicas bem como sobre a responsabilidade das instituições de
pesquisa (FAPESP, 2012).
Dentre as más condutas mais graves, são citadas nesse código: a) a fabricação, ou afirmação de
que foram obtidos ou conduzidos, procedimentos ou resultados que realmente não o foram; b) a
falsificação de dados, procedimentos ou resultados de pesquisa de maneira relevantemente modificada,
imprecisa ou incompleta; c) o plágio, ou a utilização de ideias ou formulações, orais ou escritas de
outrem sem dar-lhe por elas, expressa e claramente, o devido crédito; d) a quebra do sigilo concernente
aos dados e informações coletados, aos procedimentos realizados e os resultados parciais obtidos, até a
publicação dos resultados finais da pesquisas (FAPESP, 2012).
Há também aqui no Brasil a Comissão de Integridade da Atividade Científica do CNPQ, criada
pela Resolução Normativa nº 006/12, que se responsabiliza por coordenar ações preventivas e
educativas sobre a integridade da pesquisa realizada e/ou publicada por pesquisadores em atividade no
Brasil e examinar as situações em que haja dúvidas fundamentais quanto à integridade da pesquisa
apoiada pelo CNPQ; estabelece 21 diretrizes básicas para a integridade na atividade científica, dentre
outras normas (CNPQ, 2012).
Defendendo uma visão kantiana de ética e a necessidade dos códigos de ética internacionais, El-
Guindy (2004, p. 101 e 103) salienta:

A ética é universal, prática e soberana, e somente nesses termos os princípios da ética podem
produzir seus efeitos e estabelecer seus valores. A ética não é privilégio especial para uma certa
sociedade ou reserva peculiar de uma única etnia; a ética é o conjunto de elementos que
definem as bases do relacionamento entre as pessoas, as sociedades e os países. [...]
É necessário ter códigos de ética internacionais declarados, é importante que os pesquisadores
conheçam bem essas declarações, mas o essencial é que esses princípios se transformem em
regras de conduta respeitadas e seguidas. Essa, hoje, é a grande responsabilidade dos cientistas,
dos educadores e dos educandos. [...]

Existem vários Códigos Internacionais de Ética1 norteando as descobertas científicas, guiando


seu encaminhamento. Dentre eles, El-Guindy (2004) apresenta oito, quais sejam: o Juramento de
Hipócrates (século V a.C.), a Declaração de Genebra (1948), a Declaração de Mônaco (1983?), o
Código de Ética Médica da Associação Médica Americana (1867?), a Declaração de Helsinque (1964),
a Declaração de Veneza (1986), a Declaração do Havaí (1977?) e a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948).

2.7 Conclusões

De fato, é tarefa difícil demarcar a ciência, separando o que é e o que não é científico, porque as
“demarcações científicas são relativas às concepções de realidade e não podem reclamar
exclusividade”, além de que “nunca encerram a discussão” (DEMO, 2013). Ao explanar
profundamente o assunto da demarcação científica, Demo (2013) apresenta três limites inerentes a tal
processo, sendo um deles a própria definição dos critérios de cientificidade. Utilizando as palavras do
autor (DEMO, 2013, p. 42), segue a transcrição:

Quando falamos de critérios de cientificidade, estamos supondo que temos em nossa frente um
conceito não evidente e que necessita de definição, como é o conceito de ciência.
Apresentemos, então, um critério de definição que consiga dizer o que o conceito é, o que não
é, como se delimita, qual é o seu contexto de vigência. Tomemos o critério de coerência.
Dissemos que é um dos critérios, que é forma, que é interno etc.
No entanto, notamos logo que o conceito de coerência também não é evidente. Precisamos
defini-lo igualmente. E o fizemos apelando para sua característica lógica de falta de
contradição. Mas surge imediatamente a constatação de que nem lógica, nem contradição são
conceitos evidentes. Precisamos, de novo, defini-los.
Ora, de que se trata? Trata-se de uma regressão ao infinito, como dizem os lógicos, o que

1
Além dos Códigos de Ética aqui alistados e transcritos, existem muitos outros, tais como: a) Código de Ética Profissional
do Contabilista; b) Código de Ética Profissional do Administrador; c) Código de Ética e Disciplina Profissional da OAB; d)
Código de Ética Profissional do Psicólogo; e) Código de Ética Profissional do Pedagogo; f) Código de Ética Profissional do
Assistente Social; g) Código de Ética Pastoral da Igreja Metodista etc.
coincide com a ideia de uma discussão interminável. Se não admitimos evidências, ou seja,
coisas que se impõem como definidas de antemão, absolutamente claras para todos: supomos
que se apresentam de forma indistinta, discutível, não evidente. Cada termo terá que ser
definido por um novo termo, e assim indefinidamente.
A discussão não pode ser naturalmente suprimida. O que fazemos é interrompê-la a certa altura,
por convivência externa, nunca por exaustividade interna. Interrompemos, seja porque
cansamos de discutir, seja porque perdemos o fio da meada, seja porque o contexto chega a nos
satisfazer, seja porque combinamos interromper. Tudo isso é conveniência externa, da qual não
escapamos. Assim, a primeira conclusão a ser colhida é a de que a demarcação científica tem
valor certamente relativo; é o caso típico de uma discussão, ou seja, de algo por definição
discutível.

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que os critérios de cientificidade garantem
graus de certeza, ou de segurança, ou de verdade, relativos, uma vez que a ciência é provisória,
incompleta, inacabada, falível. Também concluímos que é interminável a discussão sobre a demarcação
científica, tal qual o é sobre a verdade absoluta.

3. OS PILARES METODOLÓGICOS

3.1 Introdução

Rodrigues (2006, p. 136) explana que “etimologicamente, a palavra método vem do grego metá,
que significa ‘através de’, ‘a seguir’, e hodós, que significa ‘caminho’”. Destarte, o método científico
consiste num caminho razoavelmente seguro para se chegar ao conhecimento da verdade, ainda que
parcialmente. Ou ainda, nas palavras do autor, “consiste num conjunto de procedimentos racionais e
sistemáticos que possibilita alcançar um determinado objetivo” (RODRIGUES, 2006, p. 136).
A Metodologia, enquanto disciplina, preocupa-se, a priori, com o estudo das fases, das
abordagens e dos meios lógicos de investigação de um determinado objeto. O termo metodologia
deriva-se da expressão latina methodus, que significa caminho ou meio para a realização de algo, e da
expressão grega logos, que significa estudo, análise. Logo, metodologia da pesquisa vem a ser, a priori,
o estudo dos meios ou caminhos adequados para se investigar um objeto (BARROS e LEHFELD,
2000).
Existem vários critérios para se classificar ou se caracterizar a pesquisa científica, dentre eles, a
natureza, o modo da obtenção das informações, a abordagem e os objetivos (RODRIGUES, 2006; GIL,
2010). Por exemplo, quanto à natureza, a pesquisa científica pode ser um trabalho original, primário,
ou um resumo ou uma resenha de assuntos, secundário; quanto à obtenção de informações, ela pode ser
bibliográfica, documental, de campo ou de laboratório; quanto à abordagem, ela pode ser quantitativa,
qualitativa ou mista; quanto aos objetivos, ela pode ser exploratória, descritiva ou explicativa
(CRESWELL, 2010; RODRIGUES, 2006).
O que Gil (1999) denomina métodos que determinam as bases lógicas de investigação e métodos
que indicam os meios técnicos de investigação, o geógrafo Rodrigues (2006) denomina métodos de
abordagem e métodos de procedimento, respectivamente.
Sinteticamente, os cinco métodos de abordagens apresentados por Rodrigues (2006, p. 137-143.
Grifos meus) são:

O método indutivo é aquele pelo qual uma lei geral é estabelecida a partir da observação e da
repetição de regularidades em casos particulares, isto é, por meio de observações particulares,
chega-se à afirmação de um princípio geral. [...]
Ao contrário da indução, o método dedutivo é um processo de raciocínio lógico que, a partir de
princípios e proposições gerais ou universais, chega a conclusões menos universais ou
particulares. [...]
O método hipotético-dedutivo [...] consiste na formulação da noção de falseabilidade como
critério fundamental para a explicação das teorias científicas. [...]
O método dialético procura contestar uma realidade posta, enfatizando as suas contradições.
Para toda tese, existe uma antítese que, quando contraposta, tende a formar uma síntese. [...]
O método fenomenológico é o estudo dos fenômenos, em si mesmos, apreendendo sua
essência, estrutura de sua significação. [...] A fenomenologia consiste na descrição de todos os
fenômenos [...]

Nesse mesmo diapasão, Rodrigues (2006, p. 143-149, grifos meus) apresenta oito métodos de
procedimento, que, sinteticamente, são:

O método estatístico fundamenta-se na utilização da estatística para a investigação de um


fenômeno ou objeto de estudo. Esse método contribui para a coleta, a organização, a descrição,
a análise e a interpretação de dados, e para a utilização desses dados na tomada de decisões. [...]
O método comparativo conduz à investigação por meio da análise de dois ou mais fatos ou
fenômenos, procurando ressaltar as diferenças e similaridades entre eles. [...]
O método experimental consiste em submeter o fenômeno estudado à influência de certas
variáveis, em condições controladas e conhecidas pelo pesquisador, para verificar os resultados
que essas variáveis produzem no objeto. [...]
O método tipológico consiste na elaboração de modelos ideais que servem para análise ou
avaliação de uma realidade concreta. [...]
O método histórico conduz à investigação a partir do estudo dos acontecimentos, dos
processos e das instituições do passado, procurando explicar sua influência na vida social
contemporânea. [...]
O método funcionalista estabelece uma analogia entre a sociedade e o organismo. Estuda os
fenômenos sociais a partir de suas funções, analisando as partes inter-relacionadas e
interdependentes para compreender o funcionamento do todo, isto é, o sistema social total. [...]
O método estruturalista é utilizado para o estudo de culturas, linguagens, etc., como um
sistema em que os elementos constituintes mantém, entre si, relações estruturais. [...]
O método clínico é usado principalmente por psicólogos em uma relação entre o pesquisador e
o pesquisado. [...]
Com base nesses pressupostos apresentados por Gil (1999, 2010) e por Rodrigues (2006),
percebe-se que essas maneiras exemplificadas de dimensionar a Metodologia são bastante confusas,
visto que os pilares epistemológico, lógico e técnico diferem entre si, não podendo ser partes
integrantes um do outro, embora os três componham os eixos fundamentais da metodologia da
pesquisa científica. Inobstante, não somente essa, mas as divisões em geral adotadas para os pilares
metodológicos da pesquisa científica são igualmente confusas e longe passam de abarcar todos os seus
principais aspectos e, amiúde não facilitam o trabalho do pesquisador quando de sua investigação
(TEIXEIRA, 2012; BARROS; LEHFELD, 2000; GIL, 1999, 2010; RODRIGUES, 2006).
Entretanto, suas palavras induzem à conclusão unânime de que os pilares metodológicos da
metodologia da pesquisa científica consistem em três eixos fundamentais: a base epistemológica de
investigação, que indica a forma de conceber a ciência, a verdade, a vida, o homem e o mundo em que
ela é produzida; a base lógica de investigação, que indica a estrutura dos pensamentos e a sequência
das fases da pesquisa; e a base técnica de investigação, que indica os ritos procedimentais, no que
concerne à(s) abordagem(ns), à(s) técnica(s) e aos instrumentos utilizados.
Nessa perspectiva, uma forma bastante coerente, consistente e clara de dimensionar a divisão da
Metodologia – e considerada o fundamento do presente trabalho – é tal como Barros e Lehfeld (2000,
p. 13, grifos meus) passam a dizer:

[…] é possível dimensionar a divisão da Metodologia em três aspectos interconectados, ou seja,


o epistemológico, o lógico e o técnico, elementos necessários à construção da Ciência:
a) Epistemológico: refere-se ao estudo das questões que se pode levantar na procura da
verdade, discussão dos limites, alcance e valor dos métodos científicos (estudo crítico dos
métodos científicos);
b) Lógico: supõe a organização lógica do raciocínio na prática da investigação e da ação
científica;
c) Técnico: é o científico das técnicas e procedimentos específicos utilizados e contextos
particulares das pesquisas temáticas problematizadas nas diferentes ciências.

Por essa razão, o presente trabalho dimensiona a Metodologia da pesquisa científica, tal como
Barros e Lehfeld (2007), em três pilares: o epistemológico, o lógico e o técnico. Segue explanação de
cada um deles.

3.2 O pilar epistemológico

3.2.1 Introdução

A epistemologia já foi considerada um mero capítulo ou área da Teoria do Conhecimento.


Paulatinamente, a comunidade científica foi apercebendo-se de que a Ciência tem outras facetas,
subjacentes à epistemologia, mas distintas dela, que com ela fornecem as bases para a construção do
conhecimento. A lógica e a técnica precisam, indubitavelmente, estar adequadamente alinhadas com o
enfoque epistemológico a fim de que se consiga produzir um conhecimento aceitável, confiável,
fidedigno. Sobre esses aspectos, Vasconcellos (2010, p. 40 e 41) pontua:

Originalmente, a epistemologia – que era considerada como um capítulo da teoria do


conhecimento – se ocupava da natureza e do alcance do conhecimento científico, em oposição
ao conhecimento vulgar. Como se pode conhecer cientificamente o mundo, um objeto de
estudo? Em que se distingue o conhecimento obtido por um cientista do conhecimento de um
leigo? Considerava-se que a “maneira de conhecer” cientificamente o objeto – ou seja, esse
“processo de conhecer” – é condicionada pela concepção que se tem do mesmo objeto. Então,
admitia-se que, subjacente à epistemologia, encontrava-se a ontologia, ocupando-se esta dos
estudos ou especulações sobre a natureza ou a “essência do ser” a ser conhecido.
O segundo período da evolução do conceito de epistemologia, Bunge o associa ao Círculo de
Viena, reunião de importantes filósofos e estudiosos do início do século XX, dentre os quais se
destacou Ludwig Wittgenstein. Em 1921, Wittgenstein publicou o Tratactus lógico-
philosophicus. Nesse livro, considerava que as proposições científicas – ou seja, o que é dito na
linguagem, sobre o mundo – refletem de maneira espetacular o mundo. A “filosofia analítica”
ou análise das proposições científicas deveria indicar como reconhecer as proposições
verdadeiras, aquelas que descrevem adequadamente o mundo natural. Então, durante esse
período, a filosofia da ciência, ou epistemologia, ficou reduzida à análise da linguagem da
ciência, das preposições científicas.
Finalmente, num terceiro momento da evolução do conceito, houve um renascimento da
epistemologia como filosofia da ciência – deixando de ser apenas filosofia da linguagem da
ciência – propondo-se a abordar vários dos problemas ou aspectos da ciência e tendo, portanto,
diversos ramos: lógica da ciência, semântica da ciência, teoria do conhecimento científico,
metodologia da ciência, ontologia da ciência, axiologia (estudo dos valores) da ciência, ética da
ciência.

Portanto, a epistemologia é um dos três pilares da metodologia da pesquisa científica, e,


adjacentemente com a lógica e com a técnica, formam o arcabouço fundante do conhecimento
científico. Nesse diapasão, a literatura crítica sobre a metodologia da pesquisa científica é unânime em
considerar um pilar a concepção que o pesquisador tem sobre a ciência bem como sobre a sua natureza
e o seu processo de construção. Pilar esse que a mesma literatura denominada eixo epistemológico,
dividindo-o em três principais enfoques, métodos ou paradigmas: o fenomenológico-hermenêutico, o
empírico-analítico e o crítico-dialético, bastante conhecido também como histórico-estrutural
(TEIXEIRA, 2012; GIL, 2010; BARROS; LEHFELD, 2000, 2007; GIFTED, 2015). Nessa perspectiva,
segue explanações sobre cada um deles.

3.2.2 O método, enfoque ou paradigma fenomenológico-hermenêutico

O enfoque, ou também corretamente denominado método, fenomenológico-hermenêutico, visa


a descrever um fenômeno, demarcá-lo, delimitá-lo, caracterizá-lo. Contudo, não é seu objetivo explorar
as suas causas tampouco seus efeitos. A interpretação como fundamento da compreensão dos
fenômenos investigados é o eixo da explicação científica. Sobre em que tipo de situação utilizá-lo,
Teixeira (2012, p. 127-128, grifo meu) elucida:

Se o problema de pesquisa aponta para uma relação entre o fenômeno e a essência, ou seja, a
relação entre o fenômeno vivido e aquele que vivencia a essência do fenômeno (qual o
significado do fracasso escolar para o aluno, o professor e a família do aluno?), o pesquisador
deverá adotar o enfoque fenomenológico-hermenêutico. A interpretação como fundamento da
compreensão dos fenômenos é o eixo da explicação científica.

O enfoque fenomenológico-hermenêutico possui um conjunto de elementos lógicos e


pressupostos gnosiológicos e ontológicos que precisam ser levados em consideração quando do seu
uso. Sobre esse aspecto, Teixeira (2012, p. 130-131) apresenta o seguinte quadro:

Quadro 3 – Elementos lógicos e pressupostos do enfoque fenomenológico-hermenêutico

Nº Nível/Aspecto Características definidoras

Utilização de técnicas não quantitativas como entrevistas,


1 Nível Técnico depoimentos, vivências, narrações, técnicas bibliográficas,
histórias de vida e análise do discurso.

Nível Teórico (com


2 Privilegia estudos teóricos e a análise de documentos e textos.
relação aos autores)

Explicitam críticas às abordagens fundadas no


Nível Teórico (com
experimentalismo, nos métodos quantitativos e nas propostas
relação ao tipo de
tecnicistas. Fazem denúncias, explicitam ideologias, desvendam
3 críticas e de
e decifram pressupostos implícitos nos discursos, textos e
propostas de
comunicações. As propostas têm um interesse conscientizador e
mudança)
por práticas alternativas e inovadoras.

Nível Epistemológico
Confiam no processo lógico da interpretação e na capacidade de
4 (critérios de
reflexão do pesquisador (racionalidade prático-comunicativa).
cientificidade)

A ciência consiste na compreensão dos fenômenos em suas


Nível Epistemológico diversas manifestações. Os fenômenos objetos da pesquisa
5 (concepção de (palavras, gestos, ações, símbolos, sinais, textos, artefatos, obras,
ciência) discursos) precisam ser compreendidos. Pesquisar é captar o
significado dos fenômenos.
Pressupostos
Gnosiológicos
Processo centralizado no sujeito: subjetividade. Acata a presença
6 (concepção de objeto
marcante do sujeito na interpretação do objeto estudado.
e de sujeito e sua
relação)

Pressupostos O homem é tido como projeto, ser inacabado, ser de relações


7 Ontológicos (noção com o mundo e com os outros. Educá-lo é desenvolver o projeto
de homem) humano numa relação dialófica e concientizadora.

Pressupostos
Transição de uma visão sincrônica (o rx do fenômeno) para uma
8 Ontológicos (noção
visão diacrônica.
de história)

Concepção de
Transcrição de uma visão isolacionista, homogênea, não
9 realidade e visão de
conflitiva para uma visão dinâmica.
mundo

Fonte: elaborado pelo autor, com base em Teixeira (2012, p. 130-131).

3.2.3 O método, enfoque ou paradigma empírico-analítico

O enfoque, ou também corretamente denominado método, empírico-analítico, visa a explorar


um fenômeno, explicando as suas causas por meio das experiências cotidianas e de experimentos
testados e comprovados. A causalidade é o eixo da sua explicação científica. Sobre em que tipo de
situação utilizá-lo, Teixeira (2012, p. 127, grifo meu) salienta:

Se o problema de pesquisa aponta para o conceito de causa (qual a causa do fracasso escolar na
primeira série?) ou para uma relação causal (idade, sexo, escolaridade e experiência no
magistério do professor tem relação com o fracasso escolar?), o pesquisador deverá adotar o
enfoque empírico-analítico. [...] A causalidade é o eixo da explicação científica.

O enfoque empírico-analítico também possui um conjunto de elementos lógicos e pressupostos


gnosiológicos e ontológicos que precisam ser levados em consideração quando do seu uso. Sobre esse
aspecto, Teixeira (2012, p. 129-130) apresenta o seguinte quadro:

Quadro 4 – Elementos lógicos e pressupostos do enfoque empírico-analítico

Nº Nível/Aspecto Características definidoras

1 Nível Técnico Utilização de técnicas de coleta, tratamento e análise de dados


marcadamente quantitativos com uso de medidas e
procedimentos estatísticos. Os dados serão coletados por meio
de testes padronizados e questionários fechados, apresentados
em gráficos ou tabelas.

Privilegia autores clássicos do positivismo e da ciência analítica.


Nível Teórico
A fundamentação teórica aparece na forma de revisões
2 (com relação aos
bibliográficas sobre o tema tratado, de apresentação sucinta dos
autores)
resultados de outras pesquisas.

Nível Teórico Algumas pesquisas excluem qualquer discussão, confronto,


( com relação ao debate ou questionamento, amparadas na neutralidade do método
3 tipo de críticas e científico. Algumas pesquisas apresentam críticas técnicas com
de propostas de interesse específico na recuperação da harmonia e equilíbrio das
mudança) organizações.

Nível
A validação se fundamenta no teste dos instrumentos de coleta e
Epistemológico
4 tratamento dos dados com ênfase no grau de significância
(critérios de
estatística (racionalidade técnico-instrumental).
cientificidade)

Nível A ciência tem como finalidade a procura das causas dos


Epistemológico fenômenos e a explicação dos fatos pelos condicionantes e os
5
(concepção de antecedentes que os geram. Tem que fazer a comprovação
ciência) (obrigatória) de hipóteses.

Pressupostos
Gnosiológicos
(concepção de Processo cognitivo centralizado no objeto: objetividade. Supõe a
6
objeto e de existência do dado imediato despido de conotações subjetivas.
sujeito e sua
relação)

Pressupostos O homem é definido pelo seu perfil. É tido como recurso


Ontológicos humano (imput) ou produto do processo (output), como agente,
7
(noção de funcionário. Educá-lo é treiná-lo por estímulos, reforços e
homem) desenvolvimento de aptidões, habilidades.

Pressupostos
Ontológicos Preocupação sincrônica: visão geral e instantânea do objeto
8
(noção de estudado. A foto do fato.
história)

Concepção de
9 realidade e visão Visão fixista, funcional, predefinida e predeterminada.
de mundo

Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Teixeira (2012, p. 129-130).

3.2.4 O método, enfoque ou paradigma crítico-dialético (histórico-estrutural)


O enfoque, ou também corretamente denominado método, crítico-dialético, também conhecido
como histórico-estrutural, visa a explorar um fenômeno, mas buscando explicar as suas variações,
sejam elas causas ou efeitos, em função das mudanças da sociedade, sejam elas de caráter econômico,
cívico, tecnológico, cultural, político, religioso etc. Por essa razão, esse enfoque considera a ação como
a categoria epistemológica fundamental para a sua explicação científica. Sobre em que tipo de situação
utilizá-lo, Teixeira (2012, p. 127, grifo meu) ressalta:

Se o problema de pesquisa aponta para uma inter-relação do todo com as partes e vice-versa,
dos elementos micro com os macro, os elementos históricos (quais elementos históricos,
políticos e sociais estão implicados no fracasso escolar? Como vem se dando o fracasso escolar
na primeira série?), o pesquisador deverá adotar o enfoque crítico-dialético. Considera a ação
como a categoria epistemológica fundamental para a explicação científica.

Similarmente aos outros dois eixos epistemológicos, o enfoque crítico-dialético, possui um


conjunto de elementos lógicos e pressupostos gnosiológicos e ontológicos que precisam ser levados em
consideração quando do seu uso. Sobre esse aspecto, Teixeira (2012, p. 132-133) apresenta o seguinte
quadro:

Quadro 5 – Elementos lógicos e pressupostos do enfoque crítico-dialético

Nº Nível/Aspecto Características definidoras

Utilização de todas as técnicas do enfoque fenomenológico-


1 Nível Técnico hermenêutico e também a pesquisa-ação e a pesquisa
participante.

Privilegia estudos sobre experiências, práticas pedagógicas,


Nível Teórico (com relação
2 processos históricos, discussões filosóficas ou análises
aos autores)
contextualizadas a partir de um prévio referencial teórico.

Questionam fundamentalmente a visão estática da realidade


Nível Teórico ( com relação implícita nas abordagens anteriores. É marcadamente crítica
3 ao tipo de críticas e de e tem a pretensão de desvendar o conflito dos interesses.
propostas de mudança) Têm um interesse transformador e por práticas
participativas de mudanças social e política.

Fundamentam-se na lógica interna do processo e nos


Nível Epistemológico
4 métodos que explicitam a dinâmica e as contradições
(critérios de cientificidade)
internas (razão transformadora).

5 Nível Epistemológico A ciência, como produto da ação do homem, é tida como


uma categoria histórica e a produção científica uma
(concepção de ciência) construção. Retoma as concepções anteriores (explicação e
compreensão), de forma crítica, para superá-las.

Pressupostos Gnosiológicos
Processo centralizado na relação dinâmica sujeito-objeto:
6 (concepção de objeto e de
concreticidade. Esta se constrói na síntese objeto-sujeito.
sujeito e sua relação)

O homem é tido tanto como ser social e histórico,


Pressupostos Ontológicos determinado pelos múltiplos contextos como criador e
7
(noção de homem) transformador de múltiplos contextos. Educá-lo é formá-lo
socialmente.

Pressupostos Ontológicos Preocupação diacrônica: vê a dinâmica do objeto estudado,


8
(noção de história) o movimento (o filme do real).

9 Visão dinâmica, conflitiva, heterogênea. Uma percepção


Concepção de realidade e organizada da realidade que se constrói por meio da prática
visão de mundo cotidiana do pesquisador e das condições concretas de sua
existência.

Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Teixeira (2012, p. 132-133).

3.2.5 Outros paradigmas e as teorias

Paradigmas são pontos de vista de um determinado objeto. Como todo ponto de vista é a vista de
um ponto, então a visão do investigador, por melhor que seja ele ou ela, é limitada, inacabada,
incompleta, imperfeita, subjetiva, parcial. Ainda assim, os pontos de vistas podem ser mais amplos,
completos, focados, do que outros, mas sempre permitindo margens para ulteriores aprofundamentos
(GIFTED, 2015).
Os métodos fenomenológico-hermenêutico, empírico-analítico e crítico-dialético (ou histórico-
estrutural) são apenas três paradigmas, estando presentes nas áreas de Ciências Humanas e Sociais
(GIFTED, 2015). Em outras áreas científicas, são outros os paradigmas adotados. Por exemplo, nas
pesquisas sobre Estudos Organizacionais2, os paradigmas são o Funcionalista, o Interpretativista, o
Estruturalista Radical, o Humanista Radical, o Perspectivista, e o Neoperspectivista.
Por essas razões, cabe ao investigador procurar conhecer de perto os paradigmas já existentes
nas investigações do tema escolhido, porque cada área do conhecimento possui seus próprios
paradigmas. Cabe também a ele utilizá-los adequadamente, apontando suas lacunas, buscando eliminar

2
Para mais informações sobre os paradigmas nos Estudos Organizacionais, favor consultar o Apêndice 1, intitulado Bases
fundantes das principais abordagens paradigmáticas em EO.
suas contradições e avançando-os na medida em que for possível e necessário.
Outra questão é as teorias escolhidas para se investigar um determinado objeto. Para cada
paradigma escolhido, existem teorias específicas para se investigar uma temática. Por exemplo, em
Estudos Organizacionais, existem várias teorias utilizadas, tais como Teoria da Agência, Teoria das
Redes, Teoria dos Campos, Teoria Institucional, Teoria dos Custos de Transação, Teoria das
Representações Sociais, Teoria Crítica, Teoria da Estruturação, Teoria da Eficiência etc. Os criadores
de cada uma dessas teorias já possuíam seus próprios paradigmas quando da sua construção. Por essa
razão, esses paradigmas precisam ser respeitados quando da escolha da(s) teoria(s) utilizada(s).

3.2.6 Conclusões

Os eixos, ou métodos, ou enfoques, ou paradigmas, nada mais são do que as maneiras tais como
o(s) investigador(es) enxerga(m) o seu objeto de investigação, o mundo, o homem, a vida, a verdade e a
ciência. Eles podem enxergar a investigação como sendo: a) objetiva, ou seja, acabada, completa, sem a
interferência do investigador, neutra; b) subjetiva, ou seja, inacabada, incompleta, com a interferência
do investigador, nunca é neutra; c) objetiva, mas interpretada subjetivamente, ou seja, o conhecimento
do objeto é absoluto, mas as interpretações humanas sobre isso são que são imperfeitas, inacabadas,
incompletas; e, d) intersubjetiva, ou seja, o conhecimento é fruto (resultado) do encontro entre as teses
(asserções, que podem ser afirmações ou negações) e suas contradições (o que produz as sínteses); por
essa razão, para serem validadas, é necessária a avaliação pelos pares.
O paradigma escolhido pelo investigador é o ponto de partida de sua investigação científica. É
ele que vai dirigir o inteiro processo de investigação, a forma como o pesquisador vai tratar o seu tema,
o seu objeto, os demais sujeitos da pesquisa, durante todo o seu trabalho investigativo. Os resultados do
seu trabalho serão avaliados de acordo com os paradigmas de seus pares. Por essas razões, a escolha
paradigmática é muito importante para a condução da pesquisa científica, e o ideal é que ela preceda as
escolhas lógicas e técnicas.
Ademais, a escolha paradigmática está atrelada à escolha teórica, visto que os paradigmas e as
teorias conversam entre si, de modo que tais escolhas precisam ser realizadas em conjunto,
concomitantemente.

3.3 O pilar lógico

O pilar lógico é tático, gerencial; estuda as fases da pesquisa científica e as bases estruturais do
pensamento científico (GIFTED, 2015). Gifted (2015, p. 9) explana esses aspectos do seguinte modo:

O pilar lógico refere-se ao conjunto de pressupostos estruturais do pensamento,


norteadores da pesquisa científica em um nível tático. É, portanto, o pilar tático, ou
gerencial, da pesquisa científica. Considera o ponto exato de partida do raciocínio
utilizado bem como as nuances dos seus avanços. Por essa razão, os seus enfoques
(métodos) podem ser apropriadamente denominados bases táticas da investigação ou bases
estruturais do pensamento da investigação (CRESWELL, 2010; TRIVIÑOS, 1987).

A seguir são minuciosamente explanadas as fases da pesquisa científica e as suas bases


estruturais de pensamento.

3.3.1 As fases da pesquisa científica

São muitas as maneiras para se sequenciar as etapas da elaboração de uma pesquisa (ECO,
2012). Ao longo de suas pesquisas sobre esse assunto, o autor do presente trabalho encontrou na
literatura autoridades sobre o tema que apresentaram as mais variadas maneiras de se organizar
sequencialmente um modo adequado de se pesquisar. Contudo, não objetivando ser exaustivo sobre
esse assunto, mas tão somente apresentar alguns caminhos considerados os mais apropriados para a
pesquisa produzida no ensino superior, apresenta a seguir os principais. Eco (2012, p. 5) diz:

Com efeito, elaborar uma tese significa: (1) identificar um tema precioso; (2) recolher
documentação sobre ele; (3) pôr em ordem estes documentos; (4) reexaminar em primeira mão
o tema à luz da documentação recolhida; (5) dar forma orgânica a todas as reflexões
precedentes; (6) empenhar-se para que o leitor compreenda o que se quis dizer e possa, se for o
caso, recorrer à mesma documentação a fim de retornar o tema por conta própria.

De acordo com o material de apoio da Unimes Virtual (2015), as fases da pesquisa científica
podem ser divididas em três: decisória, construtiva e redacional. A fase decisória refere-se à escolha
do tema da pesquisa, à definição, é nessa fase que é feita a delimitação do problema da pesquisa. A fase
construtiva, como o próprio nome diz, é nesse momento que é elaborada a construção de um plano de
ações e execuções da pesquisa. E a fase redacional envolve a análise dos dados que foram coletados
durante a fase construtiva da pesquisa e a elaboração do relatório final, concluindo a pesquisa.
No mesmo material (UNIMES VIRTUAL, 2015), a pesquisa científica é dividida em 11 etapas,
quais sejam: a) a escolha do tema; b) a revisão da literatura; c) justificativa; d) formulação do
problema; e) determinação de objetivos; f) metodologia; g) coleta de dados; h) tabulação de dados; i)
análise e discussão dos resultados; j) conclusão da análise dos resultados; por fim, k) redação e
apresentação do trabalho científico.
Enfim, da fase exploratória dos dados à fase da divulgação dos resultados, são várias as
possíveis estratégias sequenciais de execução das fases da pesquisa. Entretanto, procurando uma
maneira mais genérica para explanar as fases que norteiam toda e qualquer pesquisa de cunho
científico, o autor do presente trabalho apresenta quatro etapas fundamentais, com base nos princípios
administrativos inerentes à sua formação: o planejamento, a organização, a execução e o controle da
pesquisa. Essa divisão das etapas da pesquisa científica fundamenta-se no famoso PodcODC, isto é, no
sistema que sintetiza as funções do administrador, quais sejam: no Planejar, no Organizar, no Dirigir
(ou liderar) e no Controlar (CHIAVENATO, 2003).
Contudo, no quadro a seguir, são apresentadas sete etapas que, segundo Eco (2012), podem ser
seguidas quando da elaboração de uma investigação científica:

Quadro 6 – Estratégia sequencial para pesquisa qualitativa ou quantitativa

1ª) Definição e caracterização do objeto-tema de pesquisa: nessa primeira etapa,


define-se o problema de pesquisa, no qual se delimita o objeto a ser investigado, e a problemática
da pesquisa, na qual ele é caracterizado.

2ª) Determinação da viabilidade da realização da pesquisa, com base no tipo da


pesquisa e na escolha adequada dos meios lógicos e técnicos de investigação: nessa segunda
etapa, definem-se a revisão da literatura, as metodologias, o cronograma de execução, e o
orçamento para realização da pesquisa, sendo a definição de todos esses elementos necessária para
a determinação da sua viabilidade.

3ª) Determinação da pertinência da pesquisa, com base na seleção das fontes de


pesquisa mais confiáveis: nessa terceira etapa, definem-se os objetivos e a justificativa da
pesquisa. Primeiro deve-se averiguar a viabilidade, antes da pertinência, porque se a realização da
pesquisa for inviável, não adianta que ela seja pertinente, pois não será realizada.

4ª) Investigação do objeto: nessa quarta etapa, define-se a introdução do trabalho, porque
é nessa fase que principia a pesquisa propriamente dita, ou seja, a colega dos dados sobre o objeto
investigado, para ulterior organização, análise e interpretação, também nessa etapa efetuada no
intuito de produzir resultados finais condizentes com os objetivos pré-estabelecidos.

5ª) Planificação dos dados coletados e resultados obtidos: nessa quinta etapa, definem-
se os resultados, a discussão da pesquisa, as conclusões, as considerações finais, e o resumo da
pesquisa, com as palavras-chave. Essa é a etapa redacional da pesquisa, em que todas as ideias
vão para o papel, quer impresso quer virtual.

6ª) Exames da cientificidade da pesquisa: nessa sexta etapa, são realizadas as revisões de
todo o trabalho, com ajuda de um(a) orientador(a) qualificado(a), durante a elaboração do trabalho
e, nas defesas públicas, com base nas orientações fornecidas pela banca examinadora.

7ª) Divulgação dos resultados finais: nessa sétima etapa, o trabalho já completamente
concluído, rigorosamente revisado e cientificamente aprovado, está pronto para ser publicado,
sendo a sua defesa pública, diante de uma banca examinadora, a sua primeira publicação (ECO,
2012).

Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Eco (2012)

3.3.1.1 Elaboração do anteprojeto de pesquisa ou da redação de ensaio de pesquisa

É aqui, nessa fase, que se começa a investigação científica. São dados nessa fase os primeiros
passos para se construir o trabalho científico. É nesse momento que se planeja, organiza, executa e
controla todas as variáveis inerentes à pesquisa científica. O objetivo dessa fase é elaborar um bom
anteprojeto de pesquisa, ou uma boa redação de ensaio.
Administrar significa, segundo estudiosos dessa área, quatro coisas: Planejar, Organizar, Dirigir
(ou Executar) e Controlar (Podc). No caso de administrar o processo de investigação científica, não é
diferente; administrá-lo significa, pois, planejá-lo, organizá-lo, executá-lo (ou dirigi-lo) e controlá-lo.

3.3.1.1.1 Planejamento da pesquisa

O planejamento da pesquisa deve sempre preceder a fase de sua execução. Primeiro, elabora-se
um texto inicial, chamado de anteprojeto de pesquisa, ou de redação de ensaio, no qual são informados
o tema, a questão-problema, a justificativa, o objetivo geral, os objetivos específicos, as hipóteses
(quando houver), o referencial teórico – no qual se apresentam os principais conceitos e teorias a serem
utilizados no trabalho científico – e, por fim, mas não menos importante, as referências utilizadas para
compor o corpus de execução do anteprojeto de pesquisa, o que também podemos denominar
corpus de execução da redação de ensaio, ou apenas corpus de execução de ensaio.
Nessa fase de planejamento, delimita-se o corpus de execução do anteprojeto, ou da redação de
ensaio, delimitando-o espacial e temporalmente, ou seja, estabelecendo um lapso espacial e temporal
para que se possam levantar dados de bibliografias, documentos, entrevistados etc., a fim de se realizar
os objetivos pré-estabelecidos.
3.3.1.1.1.1 Delimitação e caracterização do objeto de pesquisa

O objeto da pesquisa precisa ser bem recortado, simples e objetivo. Bem recortado significa
bem delimitado, bem caracterizado, por exemplo, com um lapso espacial e temporal específico.
Simples significa compreensível seja por um acadêmico seja por uma pessoa comum com pouca
instrução secular. Objetivo significa direto ao ponto, sem rodeios.
Para exemplificar, se meu objetivo é investigar as fusões e aquisições de uma entidade qualquer
do setor bancário brasileiro, o meu objeto de pesquisa são as fusões e aquisições do referido banco; daí,
para ser bem recortado, pode-se estabelecer um lapso espacial, por exemplo, no território nacional, e
um lapso temporal, por exemplo, nos últimos cinco anos da história da instituição escolhida para a
pesquisa. Esse objeto é simples porque é facilmente compreensível para todo tipo de leitor, e é objetivo
porque aponta sem rodeios o norte da investigação, não deixando dúvidas de qual é o caminho
percorrido para se alcançar os objetivos propostos.

3.3.1.1.1.2 Determinação da pertinência da pesquisa

Uma pesquisa pertinente é uma pesquisa importante, saliente, oportuna, própria, relevante, que
se adéqua ao propósito, ou seja, que satisfaz os objetivos propostos. Por exemplo, se o objetivo do
trabalho é conhecer a relação entre as dimensões micro e macroeconômicas das fusões e aquisições
empresariais do setor bancário brasileiro, a pertinência está delimitada no fato de que tais dimensões
ainda não foram classificadas na literatura crítica da temática, e, por essa razão, esta pesquisa é nova,
original, relevante, oportuna, própria, isto é, pertinente.

3.3.1.1.1.3 Determinação da viabilidade da pesquisa

Uma pesquisa viável é uma pesquisa executável, operacionalizável, praticável, exequível,


transitável, vivedoura. Para tanto, deve-se analisar se o investigador possui todos os materiais, tempo e
recursos humanos necessários para o desenvolvimento da investigação científica. Isso envolve saber se
o investigador tem acesso a todos os dados necessários para a execução da pesquisa; se tem acesso a
documentos, bibliotecas, setores, relatórios, demonstrações financeiras, dentre outros materiais. Assim
como, se existe a necessidade de aprovação de um comitê de ética para se investigar seres humanos no
desenvolvimento da pesquisa e, mais importante, se a pesquisa foi ou não aprovada pelo referido
comitê; se o investigador tem total domínio das teorias e técnicas escolhidas para desenvolver o projeto
de investigação científica.

3.3.1.1.1.4 Planificação do anteprojeto de pesquisa

A partir da determinação da pertinência e da viabilidade da investigação científica, o próximo


passo é planificar, isto é, colocar num papel – ou relatório, planilha, ou outro documento eletrônico – o
que se pretende investigar. Deve constar na planificação do anteprojeto de pesquisa – ou da redação de
ensaio – o tema, a questão-problema, a justificativa, o objetivo geral, os objetivos específicos, as
hipóteses (quando houver), o referencial teórico, o cronograma, e as referências do corpus de
planejamento da pesquisa. Tal planificação pode ser realiza a qualquer momento do planejamento, em
um instrumento adequado, tal como o protocolo observacional, que nada mais é do que uma folha,
impressa ou eletrônica, no qual se planifica, toma corpo, o que se pretende investigar.

3.3.1.1.2 Organização da pesquisa

Nessa etapa, acessam-se as bases de dados, ou seja, as suas fontes, fazendo-se uma busca prévia
das bibliografias e ou documentos que comporão o corpus de execução do anteprojeto de pesquisa,
ou corpus de execução da redação de ensaio da pesquisa, ou apenas corpus de execução de ensaio.
São os dados dessas fontes que comporão o referencial teórico, as metodologias, a análise dos dados e
os resultados finais da pesquisa.
Após adequadamente planejada, a pesquisa precisa ser adequadamente organizada. Essa etapa
envolve localizar, separar, manusear e manter os instrumentos de pesquisa, bem como realizar uma
busca prévia no ambiente onde serão coletados e tratados os seus dados. Cada uma dessas etapas é
explanada a seguir:

3.3.1.1.2.1 Localização dos instrumentos de pesquisa

Nessa etapa, devem-se localizar os instrumentos de pesquisa. Quanto mais fácil for o acesso a
tais instrumentos, mais fácil será para investigar o objeto da investigação. Deve-se avaliar se eles são
mesmo adequados para a execução da pesquisa, se serão capazes de ajudar o investigador a alcançar a
todos os objetivos propostos no anteprojeto ou na redação de ensaio.
3.3.1.1.2.2 Separação dos instrumentos de pesquisa

Uma vez localizados os instrumentos de pesquisa, deve-se separá-los para se ter a certeza de que
estarão disponíveis para o uso no momento certo da investigação. Outro fator a observar é se eles foram
guardados em local adequado para o seu manuseio.

3.3.1.1.2.3 Manuseio dos instrumentos de pesquisa

Se os instrumentos de pesquisa foram adequadamente localizados e separados, só resta saber se


eles funcionam no momento adequado. Por exemplo, se tais instrumentos são máquinas e
equipamentos eletrônicos, é necessário verificar se eles encontram-se em perfeito funcionamento, antes
de se começar a executar a pesquisa.

3.3.1.1.2.4 Manutenção dos instrumentos de pesquisa

Se os instrumentos da pesquisa foram adequadamente localizados, separados e guardados


(armazenados), resta saber se será necessária a sua manutenção durante a investigação científica, e se, é
claro, o investigador saberá prestar-lhe a devida manutenção, por exemplo, no caso de máquinas e
equipamentos eletrônicos. Caso contrário, ele deverá contar com o apoio de alguém que saiba oferecer
a sua devida manutenção, para que a investigação não seja barrada, finalizada, inviabilizada durante o
seu curso.

3.3.1.1.2.5 Busca prévia das fontes da pesquisa

É nessa etapa que pode ser realizada estanque ou concomitantemente com as etapas anteriores,
que se acessam as fontes da pesquisa. Por exemplo, pode-se e devem-se acessar bancos de dados, tais
como a Scielo, a Spell, a Capes, ou outra base de dados específica, delimitando um lapso espacial – por
exemplo, no bairro onde o investigador mora, ou numa escola desse bairro – e temporal – por exemplo,
nos últimos três anos – a fim de se conseguir alcançar os objetivos pré-traçados.

3.3.1.1.3 Execução da pesquisa

Uma vez planejada e organizada a investigação científica, passa-se, agora, para a sua etapa mais
trabalhosa, que é a execução da pesquisa. Essa etapa envolve o contato com todos os sujeitos da
pesquisa, o deslocamento entre os lócus da pesquisa, o contato com os componentes do objeto da
pesquisa, possíveis acidentes ou incidentes durante a pesquisa, a elaboração do corpo do trabalho
científico – por exemplo, do referencial teórico, das metodologias, da análise dos dados, e dos
resultados finais da investigação – e a planificação dos resultados produzidos na pesquisa. Cada uma
dessas etapas é explanada a seguir:

3.3.1.1.3.1 Contato com todos os sujeitos da pesquisa

Para se começar a execução do anteprojeto de pesquisa, ou da redação de ensaio, o primeiro


passo é estabelecer o contato com todos os sujeitos da pesquisa, que podem ser investigadores –
orientadores e orientandos –, ou auxiliares – tais como funcionários de bibliotecas, de empresas ou
outras instituições, técnicos, ou outros componentes que vão ajudar a consecução da investigação –
com os investigados –, pessoas que serão entrevistadas ou participarão de alguma dinâmica ou que
possuam alguma participação na pesquisa –, ou mesmo com os examinadores. O contato com esses
sujeitos precisa ser amistoso, e na medida em que houver necessidade no curso da pesquisa, visto que,
sem isso, não há a investigação científica.

3.3.1.1.3.2 Deslocamento entre os lócus da pesquisa

O segundo passo da execução do anteprojeto de pesquisa, ou da redação de ensaio – mas que


pode ser seguido estanque ou concomitantemente com o primeiro –, é a questão do deslocamento entre
os lócus da pesquisa. Esse segundo passo precisa ser levado em consideração por todos os orientadores
e orientandos da pesquisa, por ser de muita importância para sua operacionalidade.
Por exemplo, a coleta dos dados pode ser realizada em uma biblioteca, ou em uma instituição
qualquer (uma empresa, uma ONG, um órgão público); já a organização dos dados pode ser realizada
em uma sala de aula, ou mesmo em um quarto de casa (onde moramos); a análise ou interpretação dos
dados pode ser realizada em uma sala de reuniões, escritório ou na sala do professor da universidade,
conjuntamente ao(s) orientador(es); e assim por diante. Visto que cada etapa da investigação pode ser
realizada em um local específico, é necessário verificar quanto tempo e outros recursos serão utilizados
para se deslocar entre eles, quem fará o deslocamento, quando e como.

3.3.1.1.3.3 Contato com os componentes do objeto da pesquisa


Por componentes do objeto da pesquisa, entendem-se as partes que compõem o objeto
investigado. Por exemplo, se meu objeto é uma turma do ensino fundamental ou ensino médio de uma
escola do município onde eu moro, cada aluno da turma é um componente dela; se meu objeto é o
Sistema de Saúde do bairro onde eu moro, cada Unidade Básica de Saúde (UBS) é um componente
dele, e cada funcionário é um componente da UBS respectiva onde atua; se o meu objeto é uma
máquina, cada sistema interno dela é um componente, e cada peça é um componente do sistema
respectivo do qual faz parte.
O contato com os componentes do objeto da pesquisa precisa ser amistoso, tanto quanto com os
sujeitos da pesquisa, pois deles advém os dados que, depois de organizados, e analisados, serão
transformados em informações que comporão o corpo da investigação científica. É preciso verificar se
haverá ou não a necessidade de algum protocolo – tais como autorizações, formulários, questionários,
relatórios etc. – para se contatar os componentes do objeto da pesquisa.

3.3.1.1.3.4 Acidentes ou incidentes durante a pesquisa

Por acidente entende-se uma ocorrência durante a pesquisa, não programada, inesperada e que
interrompe a investigação, que provoque uma lesão corporal ou qualquer tipo de perturbação funcional
que leve ao desenvolvimento de uma doença, perda ou redução da capacidade de pesquisar ou até
mesmo a morte de algum sujeito da pesquisa (investigadores, auxiliares ou investigados). Por incidente,
por sua vez, entende-se uma ocorrência durante a pesquisa, não planejada, e que poderia levar a um
acidente, e, consequentemente, a uma interrupção da investigação.
Por exemplo, se, ao se deslocar entre os lócus de pesquisa, o investigador, o auxiliar ou o
investigado, carregam algumas caixas e tropeçam, elas podem apenas cair e derrubar o material que
está em seu interior, sem que haja qualquer tipo de dano físico ou material. Após recompor a caixa e o
material caído, o sujeito segue até seu destino. Essa situação caracteriza-se como um incidente durante
a pesquisa, ou quase acidente. Contudo, se o sujeito da pesquisa tropeça, cai sobre as caixas e machuca-
se com o conteúdo que se quebra, então, há um acidente durante a pesquisa, já que a ocorrência causou
lesão física e dano material, fazendo com que o sujeito interrompa o que estava fazendo.
Nesse diapasão, os investigadores – que são os principais sujeitos interessados na pesquisa –
deverão levar em consideração todos os fatos acontecidos ou que poderão ocorrer, acidentes ou
incidentes, buscando-se sempre a sua prevenção, e, quando ela não se aplicar, a remediação, que, nesse
caso, poderia consistir, por exemplo, em uma indenização ao sujeito acidentado e na sua consequente
substituição por outro sujeito capaz de continuar a investigação.
Para ser mais específico, na coleta de dados do Censo Demográfico brasileiro, realizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este indeniza quaisquer acidentes ocorridos
durante as suas pesquisas com os seus investigadores, que são chamados de agentes recenseadores,
agentes de mapeamento, agente censitário supervisor, agente censitário municipal, e outros nomes
desse tipo.

3.3.1.1.3.5 Planificação dos resultados produzidos na pesquisa

Levando-se em consideração as quatro primeiras etapas da execução da pesquisa, essa quinta


etapa também pode ser realizada estanque ou concomitantemente com as demais etapas já citadas e
explanadas. A planificação dos resultados produzidos na pesquisa pode ser realizada a todo o momento
em protocolos observacionais, diários de campo, fichas, formulários, questionários, protocolos de
entrevista, ou outros instrumentos utilizados durante a investigação. As anotações servirão de base para
a organização e análise dos dados, para que se possa formalizar a pesquisa.

3.3.1.1.4 Controle da pesquisa

Após as etapas do Planejamento, Organização e Execução da pesquisa, vem, em seguida, o seu


Controle, conforme explanado nesta seção. De forma geral, controlar significa verificar se as etapas
estão sendo ou não realizadas tal como foi planejado, se cada sujeito de pesquisa está realizando
adequadamente o seu devido papel, se os resultados esperados estão sendo conseguidos.

3.3.1.1.4.1 Revisões da execução da pesquisa

Todos os dados que foram coletados, organizados, analisados e formalizados precisam passar
por revisões. Todas as etapas e subetapas da pesquisa científica precisam ser reavaliadas para se saber o
que foi feito do jeito certo, o que não foi possível realizar, e que correções são necessárias. Pode ser que
tenha se esquecido de investigar um documento importante ou de entrevistar um indivíduo necessário
para a adequada realização da pesquisa. Pode ser que algum protocolo, ou procedimento, da
investigação tenha sido pulado. Ou pode ser que se queira modificar a pesquisa, acrescentando-lhe um
novo objetivo a ser perseguido, por se avaliar que sobraram tempo e outros recursos para a sua
operacionalização.
Por essas razões, as revisões da execução da pesquisa são fundamentais para o sucesso dos
resultados finais do trabalho científico.

3.3.1.1.4.2 A entrevista

Uma vez realizadas todas as etapas da pesquisa científica para a produção do anteprojeto ou da
redação de ensaio, com todos os seus cuidados, chega-se ao momento da entrevista, que ocorre em
processos seletivos de programas de pós-graduação stricto sensu, de mestrado ou de doutorado. É nesse
momento que ocorre a sua primeira revisão por pares. Os resultados e métodos da pesquisa são
julgados por acadêmicos e profissionais experientes na área e temática investigada e, após apreciação
pormenorizada, que envolve confrontação com outras pesquisas já realizadas sobre o mesmo tema, eles
podem aprová-lo ou não, a depender de sua avaliação final. Apesar disso, o trabalho aprovado é apenas
um dos passos necessários para o ingresso no mestrado ou no doutorado.
Os revisores exercem uma função essencial na publicação acadêmica. A revisão por pares
contribui para validar a pesquisa, estabelece um método pelo qual a pesquisa pode ser avaliada e
aumenta a possibilidade de fazer contatos nas comunidades de pesquisa. Apesar das críticas, a revisão
por pares ainda é o único método amplamente aceito para validação de investigações científicas.

3.3.1.2 Transformação do anteprojeto ou redação de ensaio em projeto de pesquisa final

É aqui, nessa fase, que se realizam as etapas de construção de um projeto de pesquisa definitivo,
não querendo dizer perfeito ou sem campos de melhoria, mas sim um projeto de pesquisa bem
elaborado, que satisfaz a todos os objetivos pré-estabelecidos no anteprojeto ou na redação de ensaio,
que responde à questão-problema de pesquisa, satisfazendo ou não as suas hipóteses iniciais. Então, o
objetivo dessa fase é transformar o anteprojeto ou a redação de ensaio em um projeto de pesquisa
final.
Considera-se aqui a mesma explanação sobre o verbo administrar, utilizada no subtópico
3.3.1.1.

3.3.1.2.1 Replanejamento da pesquisa

O planejamento é a etapa de se delinear a questão-problema da pesquisa, seus objetivos gerais e


específicos, suas hipóteses iniciais (quando houver), seu tema, seu referencial teórico, suas referências.
Note-se que no planejamento da pesquisa, quando da elaboração do anteprojeto ou da redação de
ensaio, esses passos são seguidos. Mas, para que ele seja transformado num projeto de pesquisa final,
necessário é que ele seja revisado, ou seja, que todos os passos dados inicialmente, sejam relidos,
reavaliados, reelaborados. É nisso que consiste essa etapa de replanejamento de pesquisa.
Além disso, essa etapa também tem como objetivo central a delimitação do seu corpus de
execução do projeto de pesquisa, o que também podemos denominar de corpus de execução do
projeto de pesquisa, ou corpus de execução da redação definitiva, ou apenas corpus de execução
definitivo.

3.3.1.2.1.1 Aprofundamento caracterizatório do objeto

O objeto da pesquisa precisa ser bem recortado, simples e objetivo. Bem recortado significa
bem delimitado, bem caracterizado, por exemplo, com um lapso espacial e temporal específico.
Simples significa compreensível, seja por um acadêmico seja por uma pessoa comum com pouca
instrução secular. Objetivo significa direto ao ponto, sem rodeios.
Para exemplificar, se meu objetivo é investigar as fusões e aquisições de uma entidade qualquer
do setor bancário brasileiro, o meu objeto de pesquisa são as fusões e aquisições do referido banco; daí,
para ser bem recortado, pode-se estabelecer um lapso espacial, por exemplo, no território nacional, e
um lapso temporal, por exemplo, nos últimos cinco anos da história da instituição escolhida para a
pesquisa. Esse objeto é simples porque é facilmente compreensível para todo tipo de leitor, e é objetivo
porque aponta sem rodeios o norte da investigação, não deixando dúvidas de qual é o caminho
percorrido para se alcançar os objetivos propostos.
Nessa primeira etapa do replanejamento da pesquisa, deve-se avaliar o lapso espacial e temporal
delineado no anteprojeto ou na redação de ensaio. Para tanto, verifica-se se há ou não a necessidade de
novos recortes do tema, delimitando um horizonte menor para ser investigado, o que quase sempre
ocorre, em virtude do tempo, ou de outros recursos disponíveis para a sua operacionalização.

3.3.1.2.1.2 Aprofundamento determinatório da pertinência

Uma pesquisa pertinente é uma pesquisa importante, saliente, oportuna, própria, relevante, que
se adéqua ao propósito, ou seja, que satisfaz os objetivos propostos. Por exemplo, se o objetivo do
trabalho é conhecer a relação entre as dimensões micro e macroeconômicas das fusões e aquisições
empresariais do setor bancário brasileiro, a pertinência está delimitada no fato de que tais dimensões
ainda não foram classificadas na literatura crítica da temática, e, por essa razão, esta pesquisa é nova,
original, relevante, oportuna, própria, isto é, pertinente.
O aprofundamento determinatório da pertinência da pesquisa científica dá-se a partir de uma
reanálise de que motivos o projeto torna-se pertinente, se ele é realmente relevante, próprio, oportuno
ou não. É recomendável discuti-lo com os pares, isto é, com acadêmicos ou profissionais da área, para
se afinar os objetivos gerais e específicos a fim de se executar um projeto que traga novidades,
inovações, resolução de problemas, resultados úteis para a comunidade científica e a sociedade em
geral.

3.3.1.2.1.3 Aprofundamento explanatório da viabilidade

Uma pesquisa viável é uma pesquisa executável, operacionalizável, praticável, exequível,


transitável, vivedoura. Para tanto, deve-se analisar se o investigador possui todos os materiais, tempo e
recursos humanos necessários para o desenvolvimento da investigação científica. Isso envolve saber se
o investigador tem acesso a todos os dados necessários para a execução da pesquisa; se tem acesso a
documentos, bibliotecas, setores, relatórios, demonstrações financeiras, dentre outros materiais; se
existe a necessidade de aprovação de um comitê de ética para se investigar seres humanos no
desenvolvimento da pesquisa, e, mais importante, se a pesquisa foi ou não aprovada pelo referido
comitê; se o investigador tem total domínio das teorias, técnicas e técnicas escolhidas para desenvolver
o projeto de investigação científica.
O aprofundamento explanatório da viabilidade é realizado explanando-se que motivos se levam
a acreditar que a pesquisa é realmente operacionalizável, exequível, executável. Deve-se, pois, conferir,
nessa etapa, se o investigador tem acesso a todos os materiais necessários para a execução do projeto de
pesquisa; se haverá tempo hábil para a coleta e o tratamento dos dados; se existem óbices para a
realização da investigação, como, por exemplo, a aprovação de um comitê de ética etc.

3.3.1.2.1.4 Planificação do projeto

À medida que se planeja o projeto, deve-se sempre planificá-lo, para não se esquecer de nada do
que foi mentalizado ou dito sobre ele. Tal planificação deve ser realizada por escrito, em instrumentos
próprios do tipo de pesquisa que se estiver realizando, tais como o protocolo observacional, que é o
mais utilizado nessa etapa.
3.3.1.2.2 Reorganização da pesquisa

Se organizar significa ajuntar os recursos necessários para a execução de algo, então reorganizar
significa fazer essa operação mais de uma vez. Na verdade, essa denominação dá-se devido ao fato de
que, quando da elaboração do anteprojeto ou da redação de ensaio, já se foi organizada a pesquisa, mas,
nessa fase de transformação, é necessária uma nova organização, a reunião de todos os recursos
próprios da execução do projeto de pesquisa.
Nessa etapa, acessam-se as bases de dados, ou seja, as suas fontes, fazendo-se uma busca prévia
das bibliografias e ou documentos que comporão o corpus de execução do projeto de pesquisa, ou
corpus de execução da redação definitiva da pesquisa, ou apenas corpus de execução definitivo.
São os dados dessas fontes que comporão o referencial teórico, as metodologias, a análise dos dados e
os resultados finais da pesquisa.

3.3.1.2.2.1 Localização dos instrumentos

Nessa etapa, devem-se localizar os instrumentos próprios do tipo de pesquisa que se estiver
realizando, tais como o protocolo observacional, o protocolo de entrevista, o diário de campo, as
bibliografias, os documentos, os testes, as escalas sociais, os formulários, os questionários, dentre
outros. Precisa-se garantir que eles estejam disponíveis sempre que necessário for. Em se tratando de
questionários, testes, escalas sócias, dentre outros, deve-se, primeiro, elaborá-los de acordo com os
objetivos da pesquisa.

3.3.1.2.2.2 Separação dos instrumentos

Uma vez localizados, e elaborados (quando aplicável), os instrumentos que serão utilizados na
investigação científica, devem-se, nessa etapa, separá-los, guardando-os em local adequado, para serem
facilmente encontrados – e em estado de boa conservação – sempre que necessário for.

3.3.1.2.2.3 Manuseio dos instrumentos

Os instrumentos de pesquisa precisam ser adequadamente manuseados, para a sua boa


conservação. Se os instrumentos de pesquisa foram adequadamente localizados e separados, só resta
saber se eles funcionam no momento adequado. Por exemplo, se tais instrumentos são máquinas e
equipamentos eletrônicos, é necessário verificar se eles encontram-se em perfeito funcionamento, antes
de se começar a executar a pesquisa.

3.3.1.2.2.4 Manutenção dos instrumentos

Se os instrumentos da pesquisa foram adequadamente localizados, separados e guardados


(armazenados), resta saber se será necessária a sua manutenção durante a investigação científica, e se, é
claro, o investigador saberá prestar-lhe a devida manutenção, por exemplo, no caso de máquinas e
equipamentos eletrônicos. Caso contrário, ele deverá contar com o apoio de alguém que saiba oferecer
a sua devida manutenção, para que a investigação não seja barrada, finalizada, inviabilizada durante o
seu curso.

3.3.1.2.2.5 Busca prévia das fontes da pesquisa

É nessa etapa, que pode ser realizada estanque ou concomitantemente com as etapas anteriores,
que se acessam as fontes da pesquisa. Por exemplo, pode-se e devem-se acessar bancos de dados, tais
como a Scielo, a Spell, a Capes, ou outra base de dados específica, delimitando um lapso espacial – por
exemplo, no bairro onde o investigador mora, ou numa escola desse bairro – e temporal – por exemplo,
nos últimos três anos – a fim de se conseguir alcançar os objetivos pré-traçados.

3.3.1.2.3 Re-execução da pesquisa

Essa fase trata-se de uma re-execução porque na etapa da elaboração do anteprojeto ou da


redação de ensaio, já se executou o planejamento da pesquisa, uma vez. O corpus de execução do
anteprojeto da pesquisa, ou o corpus de execução de ensaio da pesquisa, ou apenas corpus de
execução de ensaio, foi lido, analisado, tratado de forma a produzir o anteprojeto ou a redação de
ensaio. Já nessa etapa o objetivo é analisar e tratar de forma adequada o corpus de execução do
projeto de pesquisa, ou o corpus de execução da redação definitiva, ou apenas corpus de execução
definitivo, para que seja produzido um projeto de pesquisa final.

3.3.1.2.3.1 Contato com todos os sujeitos

Apenas lembrando que os sujeitos da pesquisa podem ser os investigadores (orientador e


orientandos), os auxiliares (funcionários de bibliotecas, empresas etc.), os investigados, e os
examinadores (os pares).
O contato com e entre os sujeitos da pesquisa é fundamental para a sua consecução. O acesso
aos recursos utilizados na investigação dá-se por meio dos sujeitos dela. O diálogo é imprescindível
para a adequada operacionalização dos objetivos traçados no projeto de pesquisa ou na redação
definitiva. Esse é o primeiro passo da execução do projeto de pesquisa ou da redação definitiva.

3.3.1.2.3.2 Deslocamento entre os lócus

O segundo passo da execução do projeto de pesquisa, ou da redação definitiva, – mas que pode
ser seguido estanque ou concomitantemente com o primeiro – é a questão do deslocamento entre os
lócus da pesquisa. Este segundo passo precisa ser levado em consideração por todos os orientadores e
orientando da pesquisa, por ser de muita importância para a sua operacionalidade.
Por exemplo, a coleta dos dados pode ser realizada em uma biblioteca, ou em uma instituição
qualquer (uma empresa, uma ONG, um órgão público); já a organização dos dados pode ser realizada
em uma sala de aula, ou mesmo em um quarto de casa (onde moramos); a análise ou interpretação dos
dados pode ser realizada em uma sala de reuniões, escritório ou na sala do professor da universidade,
conjuntamente ao(s) orientador(es); e assim por diante. Visto que cada etapa da investigação pode ser
realizada em um local específico, é necessário verificar quanto tempo e outros recursos serão utilizados
para se deslocar entre eles, quem fará o deslocamento, quando e como.

3.3.1.2.3.3 Contato com os componentes do objeto

Por componentes do objeto da pesquisa entendem-se as partes que compõem o objeto


investigado. Por exemplo, se meu objeto é uma turma do Ensino Fundamental ou Ensino Médio de uma
escola do município onde eu moro, cada aluno da turma é um componente dela; se meu objeto é o
Sistema de Saúde do bairro onde eu moro, cada Unidade Básica de Saúde (UBS) é um componente
dele, e cada funcionário é um componente da UBS respectiva onde atua; se o meu objeto é uma
máquina, cada sistema interno dela é um de seus componentes, e cada peça é um componente do
sistema respectivo do qual faz parte.
O contato com os componentes do objeto da pesquisa precisa ser amistoso, tanto quanto com os
sujeitos da pesquisa, pois deles advém os dados que, depois de organizados, e analisados, serão
transformados em informações que comporão o corpo da investigação científica. É preciso verificar se
haverá ou não a necessidade de algum protocolo – tais como autorizações, formulários, questionários,
relatórios etc. – para se contatar os componentes do objeto da pesquisa.

3.3.1.2.3.4 Acidentes e incidentes

Considera-se aqui a mesma explicação de acidentes e incidentes fornecida no subtópico


3.3.1.1.3.4.

3.3.1.2.3.5 Planificação dos resultados produzidos

Levando-se em consideração as quatro primeiras etapas da execução da pesquisa, essa quinta


etapa também pode ser realizada estanque ou concomitantemente com as demais etapas já citadas e
explanadas. A planificação dos resultados produzidos na pesquisa pode ser realizada a todo o momento
em protocolos observacionais, diários de campo, fichas, formulários, questionários, protocolos de
entrevista, ou outros instrumentos utilizados durante a investigação. As anotações servirão de base para
a organização e análise dos dados, para que se possa formalizar a pesquisa.

3.3.1.2.4 Recontrole da pesquisa

Controlar nada mais é do que verificar se os objetivos predelineados foram efetivamente


alcançados, se a questão-problema foi realmente respondida, e se as hipóteses iniciais foram satisfeitas
ou não. O recontrole nada mais é do que a repetição da atividade de controlar na medida em que houver
necessidade.

3.3.1.2.4.1 Reelaborações e revisões

O trabalho de investigação científica envolve constantes reelaborações e revisões. Precisa-se ler


e reler o trabalho vez após vez procurando nele campos para melhorias, que sempre existem, mesmo
depois de finalizado. Para que ele se torne uma pesquisa de boa qualidade, faz-se necessária a avaliação
pelos pares, que nada mais é do que o seu exame minucioso por parte de acadêmicos e profissionais da
temática, que, com sua grande bagagem, fornecem orientações para a sua otimização.
Não há uma quantidade específica de vezes que se deve lê-lo para revisá-lo, mas é sensato fazer
isso até que se tenha segurança de que ele atingiu os objetivos pré-estabelecidos lá no anteprojeto de
pesquisa ou na redação de ensaio. Também é recomendável que o pesquisador tenha adquirido
segurança para fazer a sua defesa pública diante dos pares e de outros interessados. Seguidas essas
recomendações, o trabalho já está pronto para o Exame de Qualificação (EQ) e possivelmente, talvez
bem perto desse, para a defesa final que, no caso do mestrado, é de uma dissertação, e, no caso do
doutorado, é de uma tese.

3.3.1.2.4.2 A defesa pública

Uma vez realizadas todas as etapas da pesquisa científica, com todos os seus cuidados, chega-se
ao momento do Exame de Qualificação (EQ), que é uma defesa pública. É nesse momento que ocorre a
revisão por pares. Os resultados e métodos da pesquisa são julgados por acadêmicos e profissionais
experientes na área e temática investigada, e, após apreciação pormenorizada, que envolve
confrontação com outras pesquisas já realizadas sobre o mesmo tema, eles podem aprová-lo ou não, a
depender de sua avaliação final.
Via de regra, a defesa da dissertação ocorre ao fim do mestrado, e a defesa da tese ocorre ao fim
do doutorado. Mas, existe também a defesa da tese de mestrado. Além disso, em cursos de pós-
graduação lato sensu já não existe mais, desde 2018, a obrigatoriedade de apresentação de um trabalho
de conclusão de curso (TCC), e em se tratando de iniciação científica, a defesa final ocorre na
apresentação do relatório final para a agência de fomento da pesquisa, tais como o CNPq, a Fapesp ou a
Fapemig.
Os revisores exercem uma função essencial na publicação acadêmica. A revisão por pares
contribui para validar a pesquisa, estabelece um método pelo qual a pesquisa pode ser avaliada e
aumenta a possibilidade de fazer contatos nas comunidades de pesquisa. Apesar das críticas, a revisão
por pares ainda é o único método amplamente aceito para validação de investigações científicas.

3.3.2 As bases estruturais do pensamento científico

3.3.2.1 A base estrutural indutiva3

A base estrutural indutiva, bastante conhecida e utilizada desde os antigos filósofos até os
célebres cientistas da atualidade, assim como os demais métodos de estrutura de pensamento, apresenta

3
Busquei, neste tópico, apresentar o estado atual das bases estruturais indutivas, sem, contudo, esgotá-las. Para mais
informações, favor consultar as suas respectivas referências.
vantagens e desvantagens (BÊRNI; FERNANDEZ, 2012). Sobre a adequada utilização desse método,
BÊRNI; FERNANDEZ (2012, p. 35-37) ressaltam três passos essenciais:

De acordo com o relato indutivista, o conhecimento científico começa pela experiência, ou seja,
pela observação livre e sem preconceito dos fatos e fenômenos. [...] Parte-se de observações
singulares, que se referem exatamente àquele fenômeno observado, num lugar e num tempo
específicos. Dessas, extraem-se as afirmações (ou alegações) singulares. [...] Coletadas e
registradas as observações singulares, o segundo passo consistiria em procurar compará-las,
tentando descobrir as relações existentes entre os fatos e os fenômenos observados. O terceiro
passo, que conclui o processo, requer que se proceda à generalização, com base nas relações
verificadas. [...]

Embora bastante utilizado, o método indutivo apresenta um gravíssimo problema para a ciência
e para a filosofia, tanto na teoria do conhecimento como na epistemologia, tal que alguns autores nos
emprestam as suas ideias:

[...] Ora, está longe de ser óbvio, de um ponto de vista lógico, haver justificativa no inferir
enunciados universais de enunciados singulares, independentemente de quão numerosos sejam
estes; com efeito, qualquer conclusão colhida desse modo sempre pode revelar-se falsa:
independentemente de quantos casos de cisnes brancos possamos observar, isso não justifica a
conclusão de que todos os cisnes são brancos.
A questão de saber se as inferências indutivas se justificam e em que condições é conhecida
como o problema da indução. [...]. (POPPER, 1972, p. 27-28).

[...] A indução é um salto não autorizado pela lógica, tendo em vista que absolutamente nada
garante que o passado volte a se repetir no futuro. Não há contradição lógica alguma em se
afirmar, por exemplo, que “o Sol não nascerá amanhã”, muito embora se saiba que ele vem
nascendo há quatro bilhões de anos, todos os dias. De fato, está aberta a possibilidade lógica e
real de que algo inesperado ocorra – um cataclismo, por exemplo – que impeça o nascimento do
Sol amanhã. (BÊRNI; FERNANDEZ, 2012, p. 44).

O método indutivo é resultado da experiência e das impressões dos sentidos, produzindo o que
foi chamado por Kant (2001) de conhecimentos a posteriori, ou conhecimentos empíricos. Na indução,
a conclusão enuncia uma verdade que ultrapassa o conhecimento dado pelas premissas. Se todas as
premissas são verdadeiras, então, a conclusão é provavelmente – mas não necessariamente –
verdadeira.
Para os racionalistas do empreendimento científico, o método indutivo, por não se basear na
razão e sim na crença, não poderia, jamais, servir como um meio para se produzir ciência (BÊRNI;
FERNANDEZ, 2012).
Contudo, a indução encontra espaço na literatura da pesquisa científica na medida em que, por
meio dela, é possível se chegar a um conhecimento razoavelmente verdadeiro, válido, seguro, tal como
as duas bases estruturais de pensamento, a silogística-indutiva e a semântica-indutiva, demonstram a
seguir (BACHA, 1999).

3.3.2.1.1 Silogístico-indutiva

Normalmente, os silogismos são raciocínios dedutivos estruturados formalmente a partir de duas


proposições (premissas), das quais se obtém por inferência, uma terceira conclusão. Por exemplo: 1.
Todos os homens são mortais; 2. Os gregos são homens; 3. Logo, os gregos são mortais. Contudo, os
silogismos também podem ser indutivos, tais como os silogismos estatísticos (BACHA, 1999;
SILOGISMO, 2020).
Silogismos estatísticos podem utilizar palavras qualificadoras, tais como “mais”,
“frequentemente”, "quase nunca", "raramente" etc., ou pode ter uma generalização estatística como de
uma ou de ambas as premissas. Por exemplo: 1. Quase todas as pessoas têm altura maior do que 26
polegadas; 2. Gareth é uma pessoa; 3. Portanto, Gareth tem altura maior do que 26 polegadas. A
Premissa 1 (a premissa maior) é uma generalização, e o argumento é uma tentativa de tirar uma
conclusão a partir dessa generalização. Em contraste com um silogismo dedutivo, as premissas
logicamente embasam ou confirmam a conclusão, em vez de implicarem estritamente nela: é possível
que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa, mas não é provável (BACHA, 1999;
SILOGISMO, 2020).
A forma geral dos silogismos estatísticos é a seguinte: 1. X% de A são B; 2. OI é um A; 3. OI
tem X% de probabilidade de pertencer a B. Na forma resumida descrita, A é chamada de "classe de
referência", B é o "atributo de classe" e OI é o Objeto Individual. Assim, no exemplo anterior, "(as
coisas tem) altura maior do que 26 cm" é o atributo de classe, e "pessoas" é a classe de referência
(BACHA, 1999; SILOGISMO, 2020). Sobre esses e outros aspectos dos silogismos estatísticos, Bacha
(1999, p. 14) explana:

[...] Segundo Da Costa, uma das formas mais elementares de inferência estatística é o chamado
silogismo estatístico, cuja forma é expressa da seguinte forma: k% dos A são B, x é A, logo, x
tem k% de probabilidade de pertencer a B. O peso do silogismo depende do valor de k; quanto
maior, mais forte o argumento.

Ao contrário de muitas outras formas de silogismo, um silogismo estatístico é indutivo,


portanto, ao avaliar esse tipo de argumento, é importante considerar o quão forte ou fraco ele é, junto às
demais regras de indução (em oposição à dedução). No exemplo anterior, se 99% das pessoas tem
altura maior do que de 26 polegadas, então, a probabilidade da conclusão ser verdadeira é de 99%
(BACHA, 1999; SILOGISMO, 2020).
Duas falácias dicto simpliciter podem ocorrer em silogismos estatísticos. Elas são "acidentes" e
"inversão do acidente". Falácias de generalização defeituosas também podem afetar qualquer premissa
do argumento que utiliza uma generalização. Um problema com a aplicação do silogismo estatístico em
casos reais é o problema de classe de referência: dado que um caso particular OI é membro de diversas
classes de referência A, em que a proporção de atributo de B pode diferir bastante, como se deve
decidir qual classe usar na aplicação do silogismo estatístico? (BACHA, 1999; SILOGISMO, 2020).
A importância do silogismo estatístico foi instada por Henry E. Kyburg, Jr. (1955?), que
argumentou que as declarações de probabilidade poderiam ser atribuídas a uma inferência direta. Por
exemplo, quando decolar em um avião, a nossa confiança (mas não a certeza) de que vamos pousar
com segurança é baseada em nosso conhecimento de que a grande maioria dos voos pousa com
segurança (BACHA, 1999; SILOGISMO, 2020).
O uso generalizado de intervalos de confiança em estatísticas é, muitas vezes, justificado
usando uma estatística silogística-indutiva, em palavras como "Se este procedimento fosse repetido em
várias amostras, o intervalo de confiança calculado (que seriam diferentes para cada amostra)
englobaria a verdadeira população de parâmetro de 90% do tempo." (SILOGISMO, 2020, s. p.). A
inferência a partir do que iria maioritariamente acontecer em várias amostras para a confiança que
devemos ter no exemplo específico envolve um silogismo estatístico (BACHA, 1999; SILOGISMO,
2020).
Em outras palavras, a base estrutural silogística-indutiva é muito utilizada quando da Inferência
Estatística, portanto, sobretudo, nas áreas das Ciências Exatas. Mas também pode ser bastante utilizada
nas áreas das Ciências Humanas e Sociais (BACHA, 1999; SILOGISMO, 2020).

3.3.2.1.2 Semânticao-indutiva

A base estrutural semântica-indutiva é baseada unicamente na teoria semântica de verdade,


construída por Alfred Tarski. Uma teoria semântica da verdade é uma teoria da verdade na filosofia da
linguagem que afirma que a verdade é uma propriedade das sentenças (PEREIRA, 2009; TEORIA...,
2020).
A concepção semântica da verdade foi publicada pelo lógico e matemático polonês Alfred
Tarski por volta de 1930. Em On the Concept of Truth in Formal Languages (O conceito de verdade em
linguagens formalizadas), Tarski (1935) tentou formular uma nova teoria a fim de resolver o paradoxo
do mentiroso e, durante essas tentativas, realizou grandes descobertas matemáticas. A mais notável foi
o seu teorema da indefinibilidade, similar ao teorema da incompletude de Gödel, que afirma que o
conceito de "verdade" para as sentenças em uma linguagem dada não pode ser consistentemente
definido dentro dessa mesma linguagem (PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).
Tarski (1935) desenvolveu uma teoria para dar uma definição indutiva de verdade. Ele coloca
várias condições às quais qualquer definição adequada de verdade deve satisfazer. Dentre essas
condições, a principal é aquela referida frequentemente como esquema T (ou Convenção T ou
bicondicional de Tarski): φ ↔ T<φ> para toda e qualquer sentença φ (PEREIRA, 2009; TEORIA...,
2020).
Para formular teorias sobre a linguagem – evitando paradoxos semânticos, como o do mentiroso
–, é necessário, distinguir a linguagem sobre a qual se está falando (linguagem objeto) da linguagem
que se está usando (metalinguagem) (PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020). Nesse diapasão, Pereira
(2009, p. 47) acentua:

Assim, para Tarski, o problema principal é dar uma definição satisfatória da verdade, é construir
uma definição que seja materialmente adequada e formalmente correta, ou seja, que preserve o
real e intuitivo significado da noção de verdade e que respeite as regras formais a que
deveremos submetê-la. Isso levando em consideração a sua adesão ao fisicalismo.

Para exemplificar isso, tomemos uma sentença da linguagem objeto. A condição material da
adequação de Tarski (1935), conhecida como convenção T, afirma que toda teoria viável da verdade
deve seguir, para cada sentença S de uma linguagem, a seguinte condição: "S" é verdadeiro se, e
somente se, S é, realmente, verdadeiro. Por exemplo, "O céu é azul" é verdade, se e somente se o céu é,
realmente, azul. Analisando a sentença, percebemos que a primeira parte discute sobre "O céu é azul" e
a segunda parte discute sobre o céu. Essas sentenças são chamadas sentenças T. Como as linguagens
objeto e a metalinguagem são a mesma, acabamos considerando a sentença como trivial (PEREIRA,
2009; TEORIA..., 2020).
Outro exemplo de uma sentença T, mas agora com linguagem objeto e metalinguagem
diferentes, é: "The sky is blue" é verdade, se e somente se o céu é azul; em que a linguagem objeto é
o inglês, e a metalinguagem é o português (PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).
É importante notar que, tal como foi originalmente formulada por Tarski (1935), essa teoria
aplica-se apenas a linguagens formais, que satisfaçam determinadas exigências que as linguagens
naturais usualmente não satisfazem. Uma das razões para que ele não estendesse sua teoria às línguas
naturais é, por exemplo, que não existe um modo sistemático de decidir se uma dada sentença, em
uma língua natural, é bem formada (PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).
A abordagem de Tarski (1935) foi estendida por Donald Davidson, ainda que de maneira
fragmentada, a teorias do significado para linguagens naturais, o que significa tratar a “verdade” como
um conceito primitivo, mais do que como um conceito definido (PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).
Para uma linguagem contendo os conectivos “não”, “e”, “ou” e os quantificadores “para todo e
qualquer” e “existe”, a definição indutiva de verdade de Tarski (1935) teria que atender às seguintes
condições: 1. A negação de A é verdadeira se e somente se A não é verdadeira; 2. A conjunção de A e B
é verdadeira se e somente se A é verdadeira e B é verdadeira; 3. A disjunção de A e B é verdadeira se e
somente se A é verdadeira ou B é verdadeira; 4. A quantificação universal de A é verdadeira se e
somente se cada objeto satisfaz A(x); 5. A quantificação existencial de A é verdadeira se e somente se
há um objeto que satisfaça a A(x) (PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).
Isso explica como as condições de verdade das sentenças complexas (construídas a partir
dos conectivos e dos quantificadores) podem ser reduzidas às condições de verdade dos seus
constituintes. Os constituintes mais simples são sentenças atômicas. Uma definição semântica
contemporânea da verdade para as sentenças atômicas seria: 6. Uma sentença atômica F (x1, …, xn) é
verdadeira (relativamente a uma atribuição de valores às variáveis x1, …, xn) se os valores
correspondentes das variáveis "comportam" a relação expressa pelo predicado F (PEREIRA, 2009;
TEORIA..., 2020).
O próprio Tarski (1935) definiu a verdade para sentenças atômicas numa variante que não usa
termos técnicos da semântica, tal como foi expresso anteriormente. Isso porque ele quis definir esses
termos semânticos em termos de verdade, pois produziria uma definição circular se ele usasse um
desses termos na definição da própria verdade. A concepção semântica da verdade de Tarski (1935)
desempenha um importante papel na lógica contemporânea e em grande parte da filosofia da
linguagem atual. Uma questão bastante controversa é se a teoria semântica de Tarski (1935) deve ser
considerada como qualquer teoria da correspondência ou como uma teoria deflacionária da verdade
(PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).

3.3.2.1.3 Pragmático-indutiva

A base estrutural Pragmática-indutiva é baseada nas contribuições teóricas de Charles Sanders


Peirce4, William James5, Josiah Royce6 e John Dewey7. Também considerada uma doutrina metafísica,
essa base estrutural de pensamento defende que o sentido de uma ideia corresponde ao conjunto dos
seus desdobramentos práticos; por isso, ela é também denominada lógica prática (GIFTED, 2015).
Sobre estes aspectos, Gifted (2015, p. 9. Grifos meus) pontua:

A base estrutural de pensamento pragmático-indutiva, também denominada lógica prática,


é aquela que parte de um conjunto de preposições que seguem uma ou mais tendências
pragmáticas específicas (particulares) e ruma para conclusões generalizadas (gerais). Por essa
razão ela é mais adequada para estudos tecnicistas, ou seja, aqueles mais voltados para o campo
das técnicas.

O pragmatismo original é contra a Ciência pela própria Ciência: para ele um estudo só se
justifica se tiver alguma utilidade social, ainda que de longo prazo, contudo sempre dando a preferência
ao que tiver utilidade imediata. Concomitantemente, entretanto, ele defende que uma teoria só pode ser
considerada verdadeira por meio das suas evidências práticas, tendo assim muita semelhança com o
empirismo (PRAGMATISMO, 2020).

Essa base estrutural de pensamento é bastante utilizada na área de Ciências Sociais Aplicadas,
tais como Administração, por exemplo, e também na área de Educação. Ela é comumente utilizada nos
estudos de caso, que partem de casos singulares, isto é, específicos (particulares) e rumam para
conclusões genéricas (gerais); por essa razão, ela é mais didática que as demais bases estruturais de
pensamento.

3.3.2.2 A base estrutural dedutiva8

4
Charles Sanders Peirce foi um filósofo, pedagogo, cientista, linguista e matemático americano. Seus trabalhos apresentam
importantes contribuições à lógica, matemática, filosofia e, principalmente, à semiótica.
5
William James foi um filósofo e psicólogo americano e o primeiro intelectual a oferecer um curso de psicologia nos
Estados Unidos. James foi um dos principais pensadores do final do século XIX e é considerado por muitos como um dos
filósofos mais influentes da história dos Estados Unidos enquanto outros o rotulam de “pai da psicologia americana”.
6
Josiah Royce foi um filósofo americano. Royce normalmente é visto sob influência tanto do pragmatismo de seus colegas
William James e Charles Sanders Peirce quanto do idealismo absoluto de Hegel. Em seu pragmatismo absoluto, Royce
incorporou o significado de signo de Peirce, considerando-o uma “teoria geral de interpretação”.
7
John Dewey foi um filósofo e pedagogo americano. Dewey foi um dos principais representantes da corrente pragmatista
inicialmente desenvolvida por Charles Sanders Peirce, Josiah Royce e William James. Ele também escreveu extensivamente
sobre pedagogia, onde é uma referência no campo da educação moderna. Dewey tinha fortes compromissos políticos e
sociais, expressados muitas vezes em publicações do jornal The New Republic..
8
Busquei, neste tópico, apresentar o estado atual das bases estruturais dedutivas, sem, contudo, esgotá-las. Para mais
informações sobre isso, consultar as suas respectivas referências.
A base estrutural dedutiva consiste no método de estrutura de pensamento mais utilizada, aceita,
respeitada e defendida pelos cientistas racionalistas – ou dedutivistas –, devido ao nível de certeza por
ela produzido. Originalmente desenvolvida pelo renomado filósofo Aristóteles, essa base vem sendo
comumente utilizada por meio da estrutura formal do raciocínio silogístico. E, como todos os demais
métodos, apresenta vantagens e desvantagens (BÊRNI; FERNANDEZ, 2012).
Cientificamente, o método dedutivo sempre foi o mais aceito e, em especial, a partir do
surgimento da ciência moderna, com o desenvolvimento do método experimental por Newton.
Historicamente, esse método originou outros dois bem parecidos no que tange à estrutura de
pensamento: o axiomático-dedutivo e o hipotético-dedutivo. Sobre esses aspectos, Bêrni e Fernandez
(2012, p. 49) ratificam:

No método dedutivo, o caminho é inverso àquele seguido no método indutivo, uma vez que,
partindo de alguns enunciados de caráter universal, inferem-se enunciados particulares. Como
fruto do desenvolvimento conjunto da lógica e da matemática, a partir do final do século XIX, o
método dedutivo pode ser aplicado a dois esquemas, historicamente mais recentes, que são o
axiomático-dedutivo e o hipotético-dedutivo.
O primeiro caso é útil quando as premissas de partida são axiomas, não demonstráveis, como no
caso das ciências formais. No segundo, ilustrado pelas ciências empíricas, os melhores
resultados emergem de situações em que as premissas sejam hipóteses que se refiram a algum
aspecto da realidade. [...]

Tanto no caso do modelo axiomático-dedutivo como no modelo hipotético-dedutivo, não mais se


pressupõe que o conhecimento científico se inicie na experiência, tal como Bêrni e Fernandez (2012, p.
50) salientam:

[...] Dados todos os problemas lógicos enfrentados pela ideia de que seria possível acessar o
universal a partir do particular, passou-se a supor que o conhecimento já começa no nível
abstrato e teórico. Ou seja, supõe-se que o ponto de partida da explicação científica seja algum
tipo de conhecimento prévio intelectualmente estruturado sobre o assunto, que pode ser
científico ou não. Popper, por exemplo, quando tratou dessa questão, referiu-se a esse
conhecimento prévio como “nossos mitos e preconceitos”. Sem tal estrutura mentalmente
preconcebida sobre como deve se comportar o mundo, nem sequer seria possível reconhecer
algo na realidade dos fatos como um “problema” a ser explicado, ou como uma sentença do tipo
explanandum. Somando-se a isso, seria necessário também o engenho criativo do cientista, sem
o qual uma hipótese interessante e inovadora jamais poderia ser aventada.

O método dedutivo é resultado independente da experiência e das impressões dos sentidos,


produzindo o que foi chamado por Kant (2001) de conhecimentos a priori, ou conhecimentos puros. Na
dedução, a conclusão apenas explicita ou ratifica o que já havia sido dado a conhecer pelas premissas.
Se todas as premissas são verdadeiras, então as conclusões são necessariamente verdadeiras.
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que, para os racionalistas – ou dedutivistas –,
o método dedutivo é a base mais confiável, razoável e, portanto, segura de se estruturar o pensamento
no processo de produção de conhecimento (BÊRNI; FERNANDEZ, 2012).

3.3.2.2.1 Axiomático-dedutiva

Axiomático é algo evidente, inquestionável, incontestável, é relativo aos axiomas. Axiomático


possui significado em diversas ciências, como Lógica, Matemática, Engenharia, todas com teorias
sobre os axiomas. Em Lógica, existe o sistema axiomático, que é uma forma de teoria dedutiva,
construída a partir de termos iniciais, e que foi desenvolvida por meio de regras de definição. Em
Matemática, existe também um sistema axiomático, que é um conjunto de axiomas, que podem ser
usados para a derivação lógica de teoremas (NAGAFUSHI; BATISTA, 2002; SISTEMA..., 2020).
Na Lógica, axiomática é quando um axioma, também chamado de postulado, é uma sentença
que não foi provada ou demonstrada e, mesmo assim, é considerada como óbvia, é um consenso para
poder aceitar uma teoria. Existe também um livro chamado Os Axiomas de Zurique, escrito por Max
Gunther, que versa sobre as táticas usadas pelos banqueiros suíços para ter sucesso (NAGAFUSHI;
BATISTA, 2002; SISTEMA..., 2020).
Com base nesses pressupostos, a base estrutural axiomática-dedutiva é aquela que parte de
axiomas genéricos, para se chegar a conclusões particulares sobre um determinado objeto de
investigação científica (NAGAFUSHI; BATISTA, 2002; SISTEMA..., 2020).
Em Matemática e em Lógica, uma teoria axiomática é uma teoria baseada num conjunto
de axiomas a partir dos quais são deduzidos teoremas utilizando procedimentos bem definidos (por
exemplo, um conjunto de regras lógicas). Os axiomas são estabelecidos sem dedução e tomados como
ponto de partida para a dedução dos teoremas. Entretanto, os teoremas podem ser utilizados para a
dedução de outros teoremas (NAGAFUSHI; BATISTA, 2002; SISTEMA..., 2020).
Como condição adicional é, geralmente, colocado que o conjunto de axiomas seja decidível no
sentido de ser um conjunto recursivo. Todo conjunto finito de axiomas é decidível e, portanto, aceitável
com essa condição (NAGAFUSHI; BATISTA, 2002; SISTEMA..., 2020).
O método axiomático envolve substituir um corpo coerente de proposições (i.e., uma teoria
matemática) por uma coleção mais simples de proposições (i.e., axiomas). Os axiomas são
desenvolvidos de forma que o corpo original de proposições pode ser deduzido dos axiomas
(NAGAFUSHI; BATISTA, 2002; SISTEMA..., 2020).
A base estrutural axiomático-dedutiva, ou também denominada de método axiomático, trouxe
ao extremo, os resultados no logicismo. No livro Principia Mathematica, Alfred North e Bertrand
Russel tentaram mostrar que toda teoria matemática poderia ser reduzida a uma coleção de axiomas. De
forma mais geral, a redução para um corpo de proposições para uma coleção particular de axiomas
desmente o programa de pesquisa matemática. Essa foi uma maneira proeminente na matemática do
século 21, em particular, em assuntos baseados em torno da álgebra homológica (NAGAFUSHI;
BATISTA, 2002; SISTEMA..., 2020).
A explicação dos axiomas usados em uma teoria pode ajudar a clarear a um nível adequado de
abstração, que o matemático gostaria de trabalhar. Por exemplo, matemáticos optaram que um anel
(matemática) não precisa ser comutativo, o que difere da formulação original de Emmy Noether
(1933). Matemáticos decidiram em considerar espaços topológicos mais geralmente, sem o axioma de
separação que Felix Haudorff originalmente formulou (NAGAFUSHI; BATISTA, 2002; SISTEMA...,
2020).
Os axiomas de Zermelo-Fraenkel (1908), o resultado do método axiomático aplicado a um
conjunto teórico, permitiu a formulação correta de um conjunto de problemas teóricos e ajudou a evitar
os paradoxos da teoria ingênua dos conjuntos. Um dos problemas foi o da hipótese do continuum
(NAGAFUSHI; BATISTA, 2002; SISTEMA..., 2020).

3.3.2.2.2 Hipotético-dedutiva

A base estrutural hipotético-dedutiva, ou também conhecida como o método hipotético-


dedutivo, consiste na construção de conjecturas baseada nas hipóteses, isto é, caso as hipóteses sejam
verdadeiras, as conjecturas também serão. Elas podem, desse modo, aparecer de dois modos: a) o
cruzamento de uma premissa hipotética genérica com outra premissa hipotética particular, levando a
uma conclusão particular; ou b) o cruzamento de duas premissas hipotéticas genéricas, levando a uma
conclusão menos genérica, ou menos universal. Para exemplificar o primeiro caso, tem-se: 1. Todas as
investigações científicas partem de levantamentos bibliográficos e ou documentais (premissa hipotética
genérica); 2. Este trabalho é uma investigação científica (premissa hipotética particular); 3. Logo, este
trabalho parte de levantamentos bibliográficos e documentais (conclusão particular). Nesse caso, como
as duas premissas hipotéticas iniciais são verdadeiras, então a conclusão imediata também o é. Para
exemplificar o segundo caso, tem-se: 1. Todas as investigações cientificas partem de levantamentos
bibliográficos e ou documentais (premissa hipotética genérica); 2. Os levantamentos bibliográficos e
documentais são pesquisas observacionais (premissa hipotética genérica); 3. Logo, todas as
investigações científicas são pesquisas observacionais (conclusão menos genérica). Também nesse
caso, como as duas premissas hipotéticas iniciais são verdadeiras, então a sua conclusão imediata
também o é (GIFTED, 2015; POPPER, 1972; DÉBORA et al., 2020).
O método hipotético-dedutivo foi definido por Karl Popper (1972) – filósofo, matemático e
físico dedutivista – a partir das suas críticas à indução. Basicamente, o método hipotético-dedutivo leva
o pesquisador ao mais alto grau de ceticismo sobre um determinado assunto (DÉBORA et al., 2020).
A base estrutural hipotético-dedutiva possui três momentos durante o processo investigatório,
quais sejam: 1. Problema, que surge, em geral, de conflitos diante de expectativas e teorias já
existentes; 2. Solução proposta consistindo numa conjectura (ou seja, numa nova teoria) e a dedução de
consequências na forma de proposições que sejam possíveis serem testadas; e 3. Testes de falseamento
– tentativa de refutação, a partir de diferentes meios, como a observação e experimentação. É aqui que
se eliminam os possíveis erros da pesquisa (DÉBORA et al., 2020; POPPER, 1972).
Caso a hipótese não seja comprovada pelos testes, ela estará superada, ou seja, será falseada.
Sendo assim, será preciso uma nova reformulação do problema e da hipótese. Caso os testes e as
experiências confirmem a hipótese, ela estará corroborada. Mas atenção! Corroborada provisoriamente,
já que ela poderá ser superada em um eventual outro estudo (DÉBORA et al., 2020; POPPER, 1972).
Isso acontece muito quando nós temos a certeza de algo no presente e, no futuro, mediante
outras técnicas e outras tecnologias essa certeza seja derrubada. Isso é normal nas ciências. A verdade
absoluta e imutável nunca é alcançável a nós seres humanos imperfeitos (DÉBORA et al., 2020;
POPPER, 1972).
Com base nesses pressupostos, infere-se que a base estrutural hipotético-dedutiva é comumente
utilizada nas revisões da literatura, por responderem dedutivamente as hipóteses iniciais da pesquisa.

3.3.2.2.3 Silogístico-dedutiva

Normalmente, os silogismos são raciocínios dedutivos estruturados formalmente a partir de duas


proposições (premissas), das quais se obtém por inferência uma terceira conclusão. Por exemplo: 1.
Todos os homens são mortais; 2. Os gregos são homens; 3. Logo, os gregos são mortais. Contudo, os
silogismos também podem ser indutivos, tais como os silogismos estatísticos, explanados na base
estrutural de pensamento silogística-indutiva (BACHA, 1999; WIKIPEDIA, 2020a).
Nascida com o antigo filósofo grego Aristóteles, essa base estrutural de pensamento é
largamente utilizada em estudos cientificistas, isto é, teoréticos (GIFTED, 2015). Sobre estes aspectos,
Gifted (2015, p. 10. Grifos meus) explana:
A base estrutural de pensamento silogístico-dedutiva é aquela que parte de, e somente de,
duas proposições, uma genérica e uma específica, chamadas de premissas, conduzindo o
raciocínio a uma conclusão particular óbvia. Essa base nasceu com o renomado filósofo
Aristóteles, era em sua época a mais utilizada, tanto na forma dedutiva quando na indutiva,
sendo hoje mais frequente em estudos cientificistas.

Ainda considerado por muitos filósofos como único caminho para se alcançar a verdade, essa
base estrutural de pensamento é, indubitavelmente, a mais utilizada nas Ciências Filosóficas. Contudo,
conforme a explanação de outras bases, concluímos que no mundo nem tudo pode ser deduzido ou
considerado verdade absoluta, quando falamos da complexidade humana, da natureza, dos sentimentos,
do psicológico, da mente, do social, da cultura, da arte, etc. (BACHA, 1999; GIFTED, 2015).

3.3.2.3 A base estrutural abdutiva9

A base estrutural de pensamento abdutiva é apoiada pelos estudos de Charles Sanders Peirce 10
(SERRA, 1995). Ela é uma das três formas de raciocínio em Ciência (MENEGHETTI, 2007; DAVID
ALPA, 2017B).
Podemos exemplificar o raciocínio abdutivo, contrastando-o com o indutivo e o dedutivo, por
meio do exemplo dos feijões dado por Charles Sanders Peirce: 1 – Todos os feijões daquela saca são
brancos. Esses feijões são daquela saca. Logo, esses feijões são brancos (dedução); 2 – Esses feijões
são daquela saca. Esses feijões são brancos. Logo, todos os feijões daquela saca são brancos (indução);
3 – Todos os feijões daquela saca são brancos. Esses feijões são brancos. Logo, esses feijões são
daquela saca (abdução).
Abdução significa determinar a premissa. Usa-se a conclusão e a regra para defender que
a premissa poderia explicar a conclusão. Exemplo: "Quando chove, a grama fica molhada. A grama
está molhada, então pode ter chovido." Associa-se este tipo de raciocínio aos diagnosticistas e detetives
etc. (FNDE, 2017; RACIOCÍNIO..., 2020).
Comumente utilizada na Semiótica e nas Ciências da Comunicação, a abdução atua entre os
dois extremos anteriores, ou seja, a indução e a dedução (ABDUÇÃO, 2020). Ela possui caráter
explicativo, intuitivo, ampliativo, sendo a única a produzir a criatividade e a inovação, tal como diz
David Alpa (2017, s. p.. Grifos meus):
9
Para mais informações sobre a base estrutural abdutiva, favor consultar as suas respectivas referências.
10
Charles Sanders Peirce foi um filósofo, pedagogo, cientista, linguista e matemático americano. Seus trabalhos apresentam
importantes contribuições à lógica, matemática, filosofia e, principalmente, à semiótica.
Já o raciocínio abdutivo atua entre os dois extremos anteriores, o que sempre busca 100% de
confiabilidade e o que busca 100% de validez. Este meio termo se trata pela utilização de
características de ambos, para concluir a melhor explicação de algo. Vale notar que melhor
explicação é diferente de maior probabilidade, a abdução possui caráter explicativo e
intuitivo, procura concluir a melhor explicação, também utilizando o seu conhecimento de
fundo (repertório de conhecimento) e não a melhor probabilidade matemática. O raciocínio
abdutivo é ampliativo, ele busca a validez assim como a indução e busca a melhor explicação
possível assim como a dedução busca a verdade. O interessante é que a Abdução é o único
raciocínio que produz a criatividade e a inovação, por ser a única lógica que introduz uma
nova ideia.

Por fim, podemos concluir que a base estrutural abdutiva serve para a Ciência como um
processo constante de aperfeiçoamento contínuo que busca balancear os resultados obtidos tanto pela
indução, quanto pela dedução. Desse modo, o raciocínio abdutivo deve ser adotado com mais
frequência nos estudos científicos (DAVID ALPA, 2017; SERRA, 1995).

3.4 O pilar técnico

O pilar técnico é o terceiro dos três alicerces, ou colunas, da metodologia da pesquisa científica.
Por técnico, entende-se a base procedimental de investigação, a qual, por sua vez, entende-se por um
método que indica os meios técnicos e instrumentais utilizados na pesquisa (BARROS; LEHFELD,
2007; GIL, 2010). Nesse diapasão, existem três abordagens de pesquisa – a qualitativa, a quantitativa
e a mista – e quatro principais bases procedimentais – a observacional, a experimental, a estatística,
e a clínica. A natureza da pesquisa, levando-se em consideração o objeto investigado, o tempo e os
recursos tecnológicos e financeiros do pesquisador, é que determina qual a base procedimental
adequada (BÊRNI; FERNANDEZ, 2012; RODRIGUES, 2006).

3.4.1 As abordagens11 da pesquisa

Por abordagem de pesquisa, pode-se entender o tipo predominante de linguagem e de dados


11
Importa salientar que o autor do presente trabalho emprega o termo abordagem significando a natureza das informações
quanto à tipicidade predominante da linguagem e dos dados alicerces dos resultados da investigação científica: se
alfabéticos, se numéricos, ou se alfanuméricos. Se, para alcançar os objetivos preestabelecidos, os resultados são
alicerçados, apoiados, em dados predominantemente alfabéticos, então a natureza – ou abordagem – da pesquisa é
denominada qualitativa; se predominantemente numéricos, então ela é dita quantitativa; e se predominantemente
alfanuméricos, então, é considerada mista. Ressalta-se, contudo, que cada abordagem de pesquisa possui suas próprias
finalidades, vantagens e limitações, e para cada uma delas existem os meios lógicos e técnicos de investigação adequados.
empregados na elaboração e apresentação dos resultados de uma investigação científica. Nesse sentido,
existem três tipos de abordagens de pesquisa: a quantitativa, a qualitativa e a mista (CRESWELL,
2010). A seguir, cada um deles são minuciosamente explanados.

3.4.1.1 A abordagem quantitativa

A abordagem quantitativa é aquela que estuda variáveis quantificáveis, tais como renda, idade,
distâncias, tempo, altura, idade, pressão arterial, enfim, medidas em geral. Não significa apenas utilizar
dados quantitativos, tais como números e gráficos, mas apoiar seus resultados predominantemente em
dados de natureza matemática, estatística, física, química etc. (RODRIGUES, 2007; SOARES, 2003).
Sobre esse tipo de abordagem, Rodrigues (2007, p. 34) explana:

Por quantitativa entende-se aquela investigação que se apoia predominantemente em dados


estatísticos. Mais do que isso: referidos dados devem pertencer ao universo da Estatística
inferencial. Não significa não poder incluir dados qualitativos. Também não quer dizer que deva
se filiar à tradição teórico-metodológica positivista. Nem que esteja vinculada ao enunciado de
hipóteses, ou que se destine à experimentação ou deixe de fazê-lo [...]

No que tange aos usos e ao modo correto de utilização dessa abordagem de pesquisa, Soares
(2003, p. 17) elucida:

Para o emprego dessa abordagem, são necessários recursos e técnicas estatísticas, os quais
podem variar em termos de complexidade, que vai desde a mais simples, como porcentagem,
média, moda, mediana e desvio-padrão, até as de uso mais complexo, como coeficiente de
correlação, análise de regressão, etc.
Aconselha-se a utilização da abordagem quantitativa em procedimentos descritivos, nos quais se
procura descobrir e classificar a relação entre variáveis, bem como nas investigações que
procuram determinar relações de causalidade entre fenômenos.

A abordagem quantitativa é largamente utilizada em trabalhos acadêmicos das áreas de Ciências


Exatas e suas Tecnologias, e nas Ciências Sociais Aplicadas (Ciências Contábeis, Economia,
Administração etc.), e bem pouco utilizada nas áreas das Ciências Humanas e Sociais (SOARES, 2003;
TRIVIÑOS, 1987; RODRIGUES, 2007).

3.4.1.2 A abordagem qualitativa

Os resultados dessa abordagem apoiam-se predominantemente em dados de natureza qualitativa,


tais como qualidades, defeitos ou relações causais – desde que se apoiem no estudo de variáveis
qualitativas (ou categóricas), tais como nomes, sexo, cor, fumante/não fumante, sadio/doente, estágio
de uma doença, escolaridade etc. (SOARES, 2003; TRIVIÑOS, 1987; RODRIGUES, 2007).
É importante destacar e conhecer que a abordagem qualitativa recebe vários e diferentes nomes
na vasta literatura sobre a temática (TRIVIÑOS, 1987; RODRIGUES, 2007). Sobre essa abordagem de
pesquisa, autoridades do tema emprestam-nos suas ideias, conforme apresentadas a seguir:

No campo dos que trabalham em enfoques qualitativos estas têm recebido outras denominações,
além de serem conhecidas como estudos etnográficos. A pesquisa qualitativa é conhecida
também como “estudo de campo”, “estudo qualitativo”, “interacionismo simbólico”,
“perspectiva interna”, “intrepretativa”, “etnometodologia”, “ecológica”, “descritiva”,
“observação participante”, “entrevista qualitativa”, “abordagem de estudo de caso”, “pesquisa
participante”, “pesquisa fenomenológica”, “pesquisa-ação”, “pesquisa naturalista”, “entrevista
em profundidade”, “pesquisa qualitativa e fenomenológica”, e outras que apontaremos
posteriormente. Naturalmente, não pretendemos ser exaustivos na busca das denominações da
pesquisa qualitativa. E tampouco vamos definir aquele tipo de pesquisa que melhor
representaria o enfoque qualitativo. Sob esses nomes, em geral, não obstante, devemos estar
alertas em relação, pelo menos, a dois aspectos. Alguns desses enfoques rejeitam total ou
parcialmente o ponto de vista quantitativo na pesquisa educacional; e outros denunciam,
claramente, os suportes teóricos sobre os quais elaboraram seus postulados interpretativos da
realidade. [...] (TRIVIÑOS, 1987, p. 124).

Qualitativa é a pesquisa que – predominantemente – pondera, sopesa, analisa e interpreta dados


relativos à natureza dos fenômenos, sem que os aspectos quantitativos sejam a sua preocupação
precípua, a lógica que conduz o fio do seu raciocínio, a linguagem que expressa as suas razões.
Também não denota filiação teórico-metodológica, nem implica o uso de hipótese, de
experimentação ou de qualquer outro detalhe. Sintetizando: qualitativa é a denominação dada à
pesquisa que se vale da razão discursiva. [...] (RODRIGUES, 2007, p. 38).

São vários os usos desse tipo de abordagem, conforme salienta a vasta literatura dessa temática
(SOARES, 2003; TRIVIÑOS, 1987; RODRIGUES, 2007). Concernente aos usos dessa abordagem de
pesquisa, Soares (2003, p. 19) cita:

a) Descrever a complexidade de determinada hipótese ou problema.


b) Analisar a intenção entre variáveis.
c) Compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais.
d) Apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formulação de opiniões de
determinado grupo.
e) Permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indivíduos.
f) Interpretar dados, fatos, teorias e hipóteses, etc.

Explanando em que situações de pesquisa cabe a abordagem qualitativa, Soares (2003, p. 19)
usa os seguintes dizeres:
1. Situações em que se faz necessário substituir uma informação estatística por dados
qualitativos.
2. Situações em que as observações qualitativas são usadas como indicadores do funcionamento
de estruturas sociais.
3. Situações em que se manifesta a importância de uma abordagem qualitativa para efeito de
compreender aspecto psicológico, cujos dados não podem ser coletados de modo completo por
outros métodos devido à complexidade que envolve a pesquisa.

A abordagem qualitativa é largamente utilizada, especialmente nos trabalhos acadêmicos das


áreas de Ciências Humanas e Sociais, e menos utilizada nas áreas de Ciências Exatas (SOARES, 2003;
TRIVIÑOS, 1987; RODRIGUES, 2007).

3.4.1.3 A abordagem mista

A abordagem de pesquisa mista é aquela em que os resultados da investigação científica


apoiam-se, ou são alicerçados, predominantemente em dados qualitativos e, concomitantemente,
quantitativos. Enquanto os primeiros servem como lente teórica da investigação, os segundos servem
como fundamentos precisos dos resultados produzidos. Essa abordagem é normalmente empregada em
pesquisas cujo objeto é interdisciplinar, como por exemplo, os fenômenos socioeconômicos de uma
forma geral, tais como as fusões, as aquisições, as terceirizações, as quarteirizações e as parcerias
empresariais. Por essa razão, ela é bastante utilizada no campo das Ciências Sociais, e, mais ainda, no
campo das Ciências Sociais aplicadas, tais como Administração, Ciências Contábeis, Ciências
Econômicas e Direito. Não é nem um pouco fácil utilizar tal abordagem, motivo pelo qual Creswell
(2010, p. 243) justifica:

Combinar os dados (e, em um sentido mais amplo, a combinação das questões de pesquisa, da
filosofia, da interpretação) é difícil principalmente quando se considera que os dados
qualitativos consistem de texto e imagens e de dados quantitativos, números. Há duas questões
diferentes aqui: Quando um pesquisador faz a combinação dos dados em um estudo de métodos
mistos? E como ela ocorre? A primeira questão é muito mais fácil de responder do que a
segunda. A combinação dos dois tipos de dados pode ocorrer em diversos estágios: na coleta
dos dados, na análise dos dados, na interpretação dos dados, ou nas três fases. [...]

Na ciência moderna, já existem várias estratégias sequenciais desenvolvidas para a pesquisa de


abordagem mista, objetivando facilitar a sua compreensão e o seu uso (CRESWELL, 2010). Creswell,
professor universitário que ministra cursos e escreve sobre metodologia qualitativa e pesquisa de
métodos mistos há mais de 35 anos (em 2010), apresenta em sua obra seis estratégias sequenciais para
o projeto de métodos mistos, as quais, sinteticamente apresentadas, são:
3.4.1.3.1 Estratégia explanatória sequencial

A estratégia explanatória sequencial é popular, e dá maior peso aos dados quantitativos, que são
coletados numa primeira etapa, sobre a qual são coletados dados qualitativos, em uma fase secundária
(CRESWELL, 2010). Sobre esse tipo de combinação, Creswell (2010, p. 247-248, grifo meu) explana:

A estratégia explanatória sequencial é uma estratégia popular para o projeto de métodos


mistos e com frequência atrai os pesquisadores com fortes inclinações quantitativas. É
caracterizada pela coleta e pela análise de dados quantitativos em uma primeira fase da
pesquisa, seguidas de coleta e análise de dados qualitativos em uma segunda fase que é
desenvolvida sobre os resultados quantitativos iniciais. O peso maior é tipicamente atribuído
aos dados quantitativos, e a combinação dos dados ocorre quando os resultados quantitativos
iniciais conduzem a coleta de dados qualitativos secundária. Assim, as duas formas de dados
estão separadas, porém conectadas. Uma teoria explícita pode ou não informar o procedimento
geral.

Essa técnica de combinação de dados qualitativos e quantitativos é fortemente indicada para


pesquisadores com fortes inclinações quantitativas, ou quando uma teoria explícita informa ser esse o
procedimento geral ideal para a investigação da temática (CRESWELL, 2010).

3.4.1.3.2 Estratégia exploratória sequencial

A estratégia exploratória sequencial dá maior peso aos dados de natureza qualitativa, que são
coletados em uma primeira etapa, sobre a qual são coletados dados de natureza quantitativa, para
apoiar os primeiros (CRESWELL, 2010). Sobre esse tipo de combinação, Creswell (2010, p. 248,
gGrifo meu) acentua:

A estratégia exploratória sequencial envolve uma primeira fase de coleta e de análise de


dados qualitativos, seguida de uma segunda fase de coleta e de análise de dados quantitativos
que é desenvolvida sobre os resultados da primeira fase qualitativa. O peso maior é em geral
atribuído à primeira fase, e os dados são combinados por sua conexão entre a análise dos dados
qualitativos e a coleta dos dados quantitativos.

Essa técnica de combinação é fortemente indicada para pesquisadores com fortes inclinações
qualitativas, ou quando uma teoria explícita informa ser esse o procedimento geral ideal para a
investigação da temática (CRESWELL, 2010).

3.4.1.3.3 Estratégia transformativa sequencial12


12
Foi essa técnica de combinação que eu utilizei para elaborar o TCC do meu MBA, intitulado Análise dos demonstrativos
financeiros no processo de fusões e aquisições empresariais.
A estratégia transformativa sequencial também é um projeto de duas fases: só que na primeira
fase, pesquisam-se dados qualitativos ou quantitativos, para formar uma lente teórica, e, numa segunda
fase, pesquisam-se dados qualitativos ou quantitativos, para complementá-la (CRESWELL, 2010).
Sobre esse tipo de combinação, Creswell (2010, p. 248. G, grifo meu) pontua:

A estratégia transformativa sequencial é um projeto de duas fases, com uma lente teórica (p.
ex., gênero, raça, teoria da ciência social) se sobrepondo aos procedimentos sequenciais. Tem
também uma fase inicial (quantitativa ou qualitativa), seguida de uma segunda fase (qualitativa
ou quantitativa), a qual se desenvolve sobre a fase anterior. A lente teórica é apresentada na
introdução de uma proposta, molda uma questão de pesquisa direcional que visa explorar um
problema (p. ex., desigualdade, discriminação, injustiça), cria sensibilidade à coleta de dados de
grupos marginalizados ou sub-representados e termina com um chamado à ação.

O peso maior dos dados é dado pelo pesquisador a seu gosto: pode ser dado aos dados
qualitativos ou quantitativos, de acordo com os conteúdos investigados e resultados produzidos. Por
exemplo, em uma investigação do tema “Análise dos demonstrativos financeiros no processo de fusões
e aquisições empresariais”, convém-se criar uma lente teórica, composta por dados qualitativos, que
vão explanar o que são fusões e aquisições, a sua história no Brasil e no mundo, as suas etapas, a
legislação nacional e internacional envolvidas etc. Aí, numa fase posterior, convém-se utilizar dados
quantitativos para exemplificar como analisar os demonstrativos financeiros nesse processo.

3.4.1.3.4 Estratégia de triangulação concomitante

A estratégia de triangulação concomitante, também denominada na literatura crítica como


confirmação, desconfirmação, validação cruzada ou corroboração, não prioriza nem os dados
qualitativos nem os dados quantitativos. Ela, na verdade, compara-os no fito de determinar se existe ou
não convergência, diferenças ou alguma combinação entre eles (CRESWELL, 2010). Sobre esse tipo
de técnica, Creswell (2010, p. 249-250. G, grifo meu) ressalta:

A abordagem de triangulação concomitante é provavelmente o mais familiar dos seis


principais modelos de métodos mistos. Em uma abordagem de triangulação concomitante, o
pesquisador coleta concomitantemente os dados quantitativos e os qualitativos e depois
compara os dois bancos de dados para determinar se há convergência, diferenças ou alguma
combinação. Alguns autores se referem a essa comparação como confirmação, desconfirmação,
validação cruzada ou corroboração.

Para Creswell (2010), essa técnica é provavelmente a mais familiar dentre os seis principais
modelos de métodos mistos que ele estuda há mais de 35 anos (com base no ano 2010). Nela, os dados
qualitativos e quantitativos são coletados simultaneamente.

3.4.1.3.5 Estratégia incorporada concomitante

A estratégia incorporada concomitante, assim como a estratégia de triangulação concomitante,


também não prioriza nem os dados qualitativos nem os dados quantitativos. Nela, os dados quali e
quanti também são coletados simultaneamente (CRESWELL, 2010). Sobre esse tipo de técnica,
Creswell (2010, p. 251-253. G, grifo meu) enfatiza:

Assim como a abordagem da triangulação concomitante, a estratégia incorporada


concomitante dos métodos mistos pode ser identificada por seu uso de uma fase de coleta de
dados, durante a qual são coletados, ao mesmo tempo, os dados quantitativos e qualitativos.
Diferentemente do modelo da triangulação tradicional, uma abordagem incorporada
concomitante tem um método principal que guia o projeto e um banco de dados secundário o
qual desempenha um papel de apoio nos procedimentos. [...] (CRESWELL, p. 251-253)

Na utilização dessa técnica, um banco de dados secundário é utilizado como guia do projeto,
desempenhando um papel de apoio nos procedimentos adotados (CRESWELL, 2010).

3.4.1.3.6 Estratégia transformativa concomitante

A estratégia transformativa concomitante utiliza, tal como a estratégia transformativa sequencial,


uma lente teórica, que tanto pode ser composta de dados qualitativos quanto de dados quantitativos
(CRESWELL, 2010). Sobre essa técnica, Creswell (2010, p. 253. G, grifo meu) salienta:

Como acontece com o modelo transformativo sequencial, a abordagem transformativa


concomitante é guiada pelo uso do pesquisador de uma perspectiva teórica específica e
também da coleta concomitante dos dados quantitativos e qualitativos. Ela pode ser baseada em
ideologias, como a teoria crítica, a pesquisa reivindicatória, a pesquisa participatória, ou em
uma estrutura conceitual ou teórica. Essa perspectiva está refletida no objetivo ou nas questões
de pesquisa do estudo. É a força direcionadora que está por trás de todas as escolhas
metodológicas, tais como a definição do problema, a identificação do projeto e das fontes de
dados, a análise, a interpretação e o relato dos resultados. A escolha de um modelo
concomitante, seja ela a triangulação ou o projeto incorporado, é feita para facilitar tal
perspectiva. [...]

A diferença entre essa técnica e a transformativa sequencial é que os seus dados são coletados
concomitantemente, e os dados naquela (transformativa sequencial) são coletados sequencialmente
(CRESWELL, 2010).

3.4.2 As bases procedimentais da pesquisa científica

Consoante explanado anteriormente neste trabalho, com base nos pressupostos apresentados por
Gil (199; 2010), por Rodrigues (2006) e por Barros e Lehfeld (2000), infere-se indutiva e
unanimemente de que os pilares metodológicos da metodologia da pesquisa científica consistem em
três eixos fundamentais: a base epistemológica de investigação, que indica a forma de conceber a
ciência, o homem, a verdade, a vida e o mundo em que ela é produzida; a base lógica de investigação,
que indica a estrutura dos pensamentos e a sequência das fases da pesquisa; e a base técnica de
investigação, que indica os ritos procedimentais, no que concerne à(s) abordagem(ns), à(s) técnica(s) e
aos instrumentos utilizados.
Nesse diapasão, são apresentadas nesse tópico as quatro principais bases procedimentais da
pesquisa científica, quais sejam: a observacional, a experimental, a estatística e a clínica.

3.4.2.1 A base procedimental observacional

A base procedimental observacional indica que o meio técnico utilizado para a coleta de dados é
a observação e os meios instrumentais a ela inerentes. Por observação entende-se a técnica de coleta de
dados em que o pesquisador observa o objeto investigado, quer participe ou não desse processo.
Quando o observador-pesquisador participa do processo de investigação, diz-se que se trata de uma
pesquisa observacional participante; quando, entretanto, o observador-pesquisador não participa do
processo de investigação, diz-se que se trata de uma pesquisa observacional não participante.
A observação participante (OP), também denominada observação direta, realizada in loco (i.e.,
diretamente no local do objeto, presencialmente, em contato direto com o objeto da pesquisa), visa a
coletar, via de regra, ou a priori, dados primários, enquanto a observação não participante (ONP),
também denominada observação indireta, realizada ex loco (i.e., a distância do local do objeto, sem
contato direto com ele), dados secundários. Contudo, em alguns casos, por exemplo, quando da
utilização de um levantamento documental bem conduzido, por meio da ONP, podem-se coletar
também dados primários, mas estabelecendo uma relação indireta entre o sujeito investigador e o
objeto investigado – por isso o levantamento documental é considerado ONP. Por essa razão, na OP
podem ser realizadas a pesquisa-ação, os estudos de caso in loco, as entrevistas in loco, as biografias
participantes e as etnografias participantes13. Já na ONP podem ser realizadas as pesquisas
bibliográficas, as pesquisas documentais, os estudos de caso ex loco, as entrevistas ex loco, as
biografias não participantes e as etnografias não participantes. Nesse diapasão, BÊRNI; FERNANDEZ
(2012, p. 176-177) explanam:

Os dados primários obedecem ao delineamento de um estudo que gerará a base informacional


nos estilos alternativos de condução de experimentos ou de obtenção de informações por meio
do questionamento direto dos agentes envolvidos com o fenômeno. Tal é o caso, seguindo o
exemplo, das testemunhas de um acidente de trânsito.
Entre os dados primários a ser coletados, destacam-se a observação direta ou participante, a
entrevista formal ou informal, a entrevista estruturada por meio de questionário, a entrevista
livre baseada em roteiro, a discussão em grupo (distinguindo-se a construção de grupos focais),
a consulta a documentos pessoais, diários, correspondência ativa e passiva, histórias de vida.
[...]
Se precisar de mais informação secundária, o pesquisador deverá recorrer a estatísticas
previamente disponíveis em livros técnicos, relatórios de pesquisa, artigos em revistas técnicas,
anais de congressos, documentos oficiais (censos, inquéritos, resoluções, informes),
documentos pessoais, correspondência ativa e passiva, história de vida, diários publicados ou
privados, documentos administrativos, contábeis e jurídicos.

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que a base procedimental observacional é
parcialmente empírica (OP) e parcialmente não empírica (ONP), dissemelhantemente das demais bases
procedimentais, que são todas completamente empíricas. Além disso, deduz-se que ela é a mais
utilizada por parte dos pesquisadores em geral, por causa da facilidade da sua compreensão e,
especialmente, do seu uso. Por fim, deduz-se também que toda pesquisa teórica, ou básica, baseia-se
nos procedimentos observacionais, valendo-se de seus meios técnicos e instrumentais.

3.4.2.2 A base procedimental experimental

A base procedimental experimental indica que o meio técnico utilizado para a coleta de dados é
a experimentação e os meios instrumentais a ela inerentes. Por experimentação, entende-se a técnica de
coleta de dados em que o pesquisador experimenta o objeto investigado, quer por meio de testes ou sua
inserção em um ambiente rigorosamente controlado de acordo com as suas vontades e necessidades.
Quando à natureza da experimentação, Rodrigues (2007, p. 42) explana:

Consiste na experimentação, artificialmente provocada pelo pesquisador, e tem os fatores


associados ao fenômeno controlado pelo estudioso. Não é adequada ao estudo de fenômenos
que não possam ser provocados para fins de estudo, ou que sendo passíveis de serem
provocados, resta impossível controlá-los [...]

13
Para sanar eventuais dúvidas sobre as etnografias e sua relação com a observação participante, ler o livro Etnografia e
observação participante, escrito por Michael Angrosino, em 2009, pela editora Artmed, Coleção pesquisa qualitativa.
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que a base procedimental experimental não é
mais fácil de compreender e de se utilizar, porém que é a mais utilizada nas pesquisas cujos objetivos
necessitem de experimentos, ou seja, da submissão do objeto de estudo a condições rigorosamente
testadas ou controladas. Deduz-se também que essa é uma das bases utilizadas nas pesquisas práticas,
ou aplicadas.

3.4.2.3 A base procedimental estatística

A base procedimental estatística indica que o meio técnico utilizado para a coleta de dados é
uma técnica de estatística e os meios instrumentais a ela inerentes. A técnica estatística mais utilizada
na pesquisa científica é a amostragem, também denominada na literatura por levantamento amostral,
por causa da eficácia dos seus resultados, da qualidade das informações produzidas e do baixo grau de
complexidade tanto na sua compreensão como no seu uso.
Por amostragem, ou levantamento amostral, entende-se a técnica de coleta de dados em que o
pesquisador seleciona estrategicamente os componentes do seu objeto de pesquisa. Por exemplo, se seu
objeto de pesquisa é o cidadão de determinado perfil da cidade de São Paulo, é selecionada,
aleatoriamente ou não, uma quantidade n predefinida de cidadãos paulistas desse perfil e, por meio dos
meios instrumentais a essa técnica inerentes, normalmente, questionários ou formulários, os dados são
coletados para ulterior análise e interpretação.
Quando os componentes do objeto de pesquisa são selecionados aleatoriamente, isto é,
probabilisticamente, a técnica é denominada amostragem probabilística. Quando, porém, os
componentes do objeto de pesquisa não são selecionados aleatoriamente, ou seja, quando a pesquisa
define quais componentes quer escolher, essa técnica é denominada amostragem não probabilística.
Já existem vários tipos de amostragens probabilísticas e não probabilísticas, e também várias
distribuições estatísticas desenvolvidas para o seu uso.

3.4.2.4 A base procedimental clínica

A base procedimental clínica indica uma pesquisa clínica, um ensaio clínico ou um estudo
clínico, conforme diferentes denominações encontradas na sua literatura crítica. Segundo a ANVISA, a
base procedimental clínica se refere a "qualquer investigação em seres humanos, objetivando descobrir
ou verificar os efeitos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e/ou outros efeitos de produto(s)
e/ou identificar reações adversas ao produto(s) em investigação com o objetivo de averiguar sua
segurança e/ou eficácia."
A testagem é uma técnica utilizada para coletar dados especialmente em estudos clínicos. É
comum o uso de testes e de escalas sociais em pesquisas das ciências da saúde em geral, tais como
Medicina, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Psicologia, Odontologia, Farmácia, Veterinária,
Nutrição, Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Engenharia Biomédica etc.

3.4.3 As técnicas de pesquisa científica

Técnica é um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou a arte; é a


habilidade para usar esses preceitos ou normas, a parte prática. Toda ciência utiliza inúmeras técnicas
na obtenção de seus propósitos. Elas podem ser classificadas como gerais para a coleta de dados, e
específicas, que podem ser para: a coleta, o registro, a organização, a sistematização, a análise ou
interpretação, a formalização e a apresentação dos dados. A seguir são apresentadas as principais
técnicas científicas:

3.4.3.1 Técnicas para coleta dos dados

3.4.3.1.1 Experimentação

A experimentação visa não apenas a analisar o objeto de pesquisa, compreendendo suas causas e
suas implicações, mas também modificá-lo, por meio da intervenção experimental, que é toda ação
praticada quando de um experimento com o objetivo último de mudar características do objeto
investigado. No que concerne à experimentação como técnica de coleta de dados, alguns autores sobre
o tema emprestam-nos suas ideias:

[...] Em geral, as etapas de um processo de experimentação partem de uma exata formulação do


problema e das hipóteses que permitem uma delimitação precisa das variáveis que atuam sobre
o fenômeno, fixando com exatidão a maneira de controlá-las. A escolha do design apropriado é
fundamental para o êxito do experimento.
A seleção da amostra, de forma aleatória, é essencial para a formação dos grupos experimental
e de controle.
Por outro lado, a elaboração dos instrumentos para a coleta dos dados deve ser cuidadosa. Os
instrumentos devem ser submetidos a repetidos ensaios para assegurar sua eficácia. O momento
da formulação da hipótese nula ou estatística é importante.
Revisado o planejamento, realiza-se, em seguida, o experimento. Os resultados são submetidos
a um adequado teste de hipóteses para determinar sua confiabilidade. [...]. (TRIVIÑOS, 1987,
p. 109).

A experimentação consiste no conjunto de processos utilizados para verificar as hipóteses.


Difere da observação porque obedece a uma ideia diretriz, e não, simplesmente, porque implica
a intervenção do pesquisador em vista de modificar o objeto da pesquisa. [...]
A ideia geral que governa as técnicas de experimentação é a seguinte: consistindo a hipótese,
essencialmente, a respeito de estabelecer uma relação de causa e efeito ou de antecedente e
consequente entre dois fenômenos, trata-se de descobrir se realmente B (suposto efeito ou
consequente) varia cada vez que se faz variar A (suposta causa ou antecedente) e se varia nas
mesmas proporções. (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 29).

Sobre os tipos de experimentação, Cervo e Bervian (2002, p. 29-30, . Grifos meus)14 apresentam
três técnicas:

I. Método das coincidências constantes: tábuas de Bacon


[...] O método das coincidências constantes pode ser assim exposto: posta a causa, dá-se o
efeito; retirada a causa, não se dá o efeito; alterada a causa, altera-se o efeito. [...]
O método das coincidências constantes tem mais valor negativo do que positivo, pois um
antecedente constante, relacionado com um fenômeno, pode muito bem não ser sua causa, mas
apenas uma condição sine qua non ou um efeito concomitante da mesma causa.
[...]
III. Métodos de exclusão, de Stuart Mill
[...] Preconiza quatro processos ou métodos (sentido amplo):
a) Método de concordância: corresponde à tábua de presença de Bacon. Realizam-se duas ou
mais experiências que só concordam entre si pela presença de um único antecedente.
Regra: se vários casos do mesmo fenômeno só têm um antecedente comum, este é a causa
desse fenômeno.
b) Método da diferença: corresponde à tábua de ausência de Bacon. Introduz-se algum
antecedente novo ou elimina-se algum dos existentes. Se em um caso o fenômeno se produz e
em outro não, estamos certos de que esse antecedente único, introduzido ou eliminado, é a
causa do fenômeno.
Regra: se um caso em que o fenômeno se produz e outro caso em que não se produz têm todos
os antecedentes comuns, exceto um, este antecedente é a causa do fenômeno.
c) Método das variações concomitantes: corresponde à tábua dos graus de Bacon. Consiste em
fazer variar a intensidade da suposta causa para ver se o fenômeno varia no mesmo sentido e
nas mesmas proporções.
Regra: se o fenômeno varia, permanecendo invariáveis todos os antecedentes, menos um, este
antecedente que variou é a causa procurada. Esse método supre, frequentemente, o método da
diferença.
d) Método de resíduos: é um caso particular de diferença.
Regra: se separarmos de um fenômeno parte que é o efeito conhecido de determinados
antecedentes, o resíduo do fenômeno é o efeito dos antecedentes que restam.

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que a pesquisa experimental possui maior
grau de complexidade do que a pesquisa observacional, que as técnicas utilizadas nos experimentos
requerem maior experiência e atenção por parte dos sujeitos envolvidos na investigação, e que seus
instrumentos precisam ser testados e adequados a cada tipo experimental.

14
Devido a um erro técnico, cometido quando da protocolagem observacional, a segunda técnica citada foi suprimida. Nesse
caso, para conhecê-la, consultar a referência: Cervo e Bervian (2002, p. 29-30).
3.4.3.1.2 Observação

A observação é a técnica mais utilizada para a coleta de dados, e faz-se presente em toda
pesquisa científica, haja vista que é por meio dela que se realiza a revisão bibliográfica e ou
documental do tema selecionado para investigação. Sobre os tipos de observação, Marconi e Lakatos
(2008, p. 77-80, grifos meus) apresentam oito:

A técnica da observação não estruturada ou assistemática, também denominada espontânea,


informal, ordinária, simples, livre, ocasional e acidental, consiste em recolher e registrar os
fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou precise fazer
perguntas diretas. É mais empregada em estudos exploratórios e não tem planejamento e
controle previamente elaborados. [...]
A observação sistemática também recebe várias designações: estruturada, planejada,
controlada. Utiliza instrumentos para a coleta dos dados ou fenômenos observados. Realiza-se
em condições controladas, para responder a propósitos preestabelecidos. Todavia, as normas
não devem ser padronizadas nem rígidas demais, pois tanto as situações quanto os objetos e
objetivos da investigação podem ser muito diferentes. Deve ser planejada com cuidado e
sistematizada. [...]
Na observação não participante, o pesquisador toma contato com a comunidade, grupo ou
realidade estudada, mas sem integrar-se a ela: permanece de fora. Presencia o fato, mas não
participa dele; não se deixa envolver pelas situações; faz mais o papel de espectador. Isso,
porém, não quer dizer que a observação não seja consciente, dirigida, ordenada para um fim
determinado. O procedimento tem caráter sistemático. [...]
[A observação participante] consiste na participação real do pesquisador com a comunidade
ou grupo. Ele se incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro
do grupo que está estudando e participa das atividades normais deste. [...] Em geral, são
apontadas duas formas de observação participante: a) Natural. O observador pertence à mesma
comunidade ou grupo que investiga; b) Artificial. O observador integra-se ao grupo com a
finalidade de obter informações. [...]
Como o próprio nome indica, [a observação individual] é a técnica de observação realizada
por um pesquisador. Nesse caso, a personalidade dele se projeta sobre o observado, fazendo
algumas inferências ou distorções, pela limitada possibilidade de contato. Por outro lado, pode
intensificar a objetividade de suas informações, indicando, ao anotar os dados, quais são os
eventos reais e quais são as interpretações. É uma tarefa difícil, mas não impossível. Em alguns
aspectos, a observação só pode ser feita individualmente. [...]
A observação em equipe é mais aconselhável do que a individual, pois o grupo pode observar a
ocorrência por vários ângulos. Quando uma equipe está vigilante, registrando o problema na
mesma área, surge a oportunidade de confrontar seus dados posteriormente, para verificar as
predisposições.
Normalmente, as observações [na vida real] são feitas no ambiente real, registrando-se os
dados à medida que forem ocorrendo, espontaneamente, sem devida preparação. A melhor
ocasião para o registro é o local onde o evento ocorre. Isto reduz as tendências seletivas e a
deturpação na reevocação. [...]
A observação em laboratório é aquela que tenta descobrir a ação e a conduta que tiveram lugar
em condições cuidadosamente dispostas e controladas. Entretanto, muitos aspectos importantes
da vida humana não podem ser observados sob condições idealizadas no laboratório. [...]

Todavia, embora a literatura crítica apresente vários tipos de observação, existem basicamente
dois tipos dela: a direta, ou participante, que constitui uma técnica aplicada in loco, ou seja, no local
onde se encontra o objeto do estudo; e a indireta, ou não participante, que constitui uma técnica
aplicada ex loco, ou seja, a distância do local onde se encontra o objeto de estudo.
Quer a observação participante, utilizada, por exemplo, na pesquisa-ação, em estudos de casos
observacionais e na etnografia participante, quer a observação não participante, utilizada, por exemplo,
na pesquisa bibliográfica, na pesquisa documental ou na etnografia não participante, existem cuidados
importantes que precisam ser tomados. Sobre esse aspecto, Martins (2008, p. 109) salienta:

A observação consiste em um exame minucioso que requer atenção na coleta e análise dos
dados. Para tanto, a observação deve ser precedida por um levantamento de referencial teórico e
resultados de outras pesquisas relacionadas ao estudo. Formalmente, é desejável a construção de
um protocolo de observação, que, evidentemente, fará parte do protocolo do Estudo de Caso.
Observar não é apenas ver. A validade (será que se está observando aquilo que de fato se deseja
observar?) e a confiabilidade, ou fidedignidade (será que sucessivas observações do mesmo fato
ou situação oferecem resultados semelhantes?) poderão ser atingidas se a observação for,
rigorosamente, controlada e sistemática. Implica em um planejamento cuidadoso do trabalho e
preparação do observador. O plano delimitará o fenômeno a ser estudado, indicará o que se
deve observar, as maneiras de se observar, a duração, periodicidade, modo de registros e
controles para garantia da validade e confiabilidade.

A observação pode ser direta, denominada observação participante (OP), quando o observador-
pesquisador participa dos eventos a serem estudados, ou pode ser indireta, denominada observação não
participante (ONP), quando o observador-pesquisador se vale somente da literatura crítica sobre os
eventos a serem estudados sem, contudo, deles participar. Distinguindo os dois tipos de observação,
Martins (2008, p. 25) explana:

A OP é uma modalidade especial de observação na qual o pesquisador não é apenas um


observador passivo. Ao contrário, o pesquisador pode assumir uma variedade de funções dentro
de um Estudo de Caso e pode, de fato, participar dos eventos que estão sendo estudados. O
observador-pesquisador precisará ter permissão dos responsáveis para realizar o levantamento e
não ser confundido com elementos que avaliam, inspecionam ou supervisionam atividades. O
grande desafio do investigador é conseguir aceitação e confiança dos membros do grupo social
onde realiza o trabalho de campo [...]

As principais formas da observação participante são a entrevista, bastante utilizada nos estudos
de caso, nas pesquisas de campo em geral, nas biografias e nas etnografias não participantes
(VERGARA, 2012; YIN, 2010), e a intervenção não experimental, utilizada nas pesquisas-ação
(THIOLLENT, 2011). Por sua vez, as principais formas da observação não participante são os
levantamentos bibliográficos (dados secundários) e os levantamentos documentais (dados primários),
utilizados em todas as pesquisas quando da revisão da literatura e outras partes (GIL, 1999, 2010;
SEVERINO, 2007). Nesse diapasão, segue explanação de cada uma dessas formas de OP e de ONP:

3.4.3.1.2.1 Observação participante (OP)

3.4.3.1.2.1.1 Pesquisa-ação

A Pesquisa-ação, também conhecida como intervenção não experimental, configura-se como


uma espécie da pesquisa observacional participante. Intervir significa modificar o meio. Logo, essa
técnica objetiva mudar as características do objeto de investigação, transformá-lo. Por essa razão, a
pesquisa-ação parte de mudanças que precisam ser feitas em determinado meio, seja uma escola, uma
comunidade, uma empresa, uma organização, e busca implementá-las nesse meio, por meio da
participação do pesquisador, junto ao grupo em que se encontra inserido. Difere da intervenção
experimental, típica dos estudos experimentais.
Concernente às definições e objetivos da pesquisa-ação, Thiollent (2011, p. 20) pontua:

Entre as diversas definições possíveis, daremos a seguinte: a pesquisa-ação é um tipo de


pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma
ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou
participativo.

Explanando de forma dessemelhante de Thiollent (2011), Rodrigues (2007, p. 44) diz sobre a
pesquisa ação, comparando-a com a pesquisa participante:

Pesquisa participante é aquela que utiliza como técnica de investigação a observação


participante. Nasceu da crítica ao objetivismo. Enfatiza a ideia de que a realidade é maior do
que os fatos objetivamente observáveis, associando-se, em geral, ao debate de cunho
ideológico. Constitui a proposta de um modelo distinto de pesquisa, indissociável da ação, na
qual os pesquisadores participam da solução de problemas sociais. [...]
Tanto a pesquisa-ação quanto a pesquisa participante se caracterizam pelo envolvimento dos
pesquisadores e dos pesquisados no processo de pesquisa. Neste sentido distanciam-se dos
princípios da pesquisa científica acadêmica. A objetividade da pesquisa empírica clássica não é
observada. Os teóricos da pesquisa-ação propõem sua substituição pela relatividade
observacional. [...]

Importante ressaltar que não há unanimidade quanto às dessemelhanças entre a pesquisa-ação e


a pesquisa participante, sendo “uma questão de terminologia” (THIOLLENT, 2011, p. 21, 2003, p. 15).
Contudo, o autor posiciona-se sobre a questão defendendo que toda pesquisa-ação possui cunho
participativo na medida em que a participação das pessoas implicadas nos problemas investigados faz-
se absolutamente necessária (THIOLLENT, 2011, 2003), embora o que na literatura crítica se
denominada pesquisa participante não seja pesquisa-ação (THIOLLENT, 2011, 2003).
De mais a mais, para uma investigação poder ser considerada uma pesquisa-ação, necessário é
haver a participação ativa tanto do(s) pesquisador(es) como de grupos diretamente envolvidos com o
objeto quando da realização da pesquisa (THIOLLENT, 2011, p. 22, 2003, p. 16). O objetivo de tal
inter-relação participativa desses sujeitos é construir coletivamente os pensamentos sobre o objeto
investigado, tirando conclusões do consenso de todos os participantes.
Sinteticamente, a pesquisa-ação apresenta as seguintes características (THIOLLENT, 2011, p.
22-23, 2003, p. 16):

a) há uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação


investigada;
b) desta interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das
soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta;
c) o objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social e pelos
problemas de diferentes naturezas encontradas nesta situação;
d) o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer os problemas
da situação observada;
e) há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda a atividade
intencional dos atores da situação;
f) a pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo) pretende-se aumentar o
conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou o “nível de consciência” das pessoas e
grupos considerados.

Comumente utilizada na investigação de problemas cotidianos frequentes em empresas e


escolas, a pesquisa-ação depende dos seus objetivos e do contexto no qual é aplicada. Além de
conduzir o(s) pesquisador(es) a experiências extrarrotineiras, muitos são os benefícios dessa
modalidade de pesquisa, consoante apresentados por Thiollent (2011, p. 49, 2003, p. 41), a saber:

a) A coleta de informação original acerca de situações ou de atores em movimento;


b) A concretização de conhecimentos teóricos, obtida de modo dialogado na relação entre
pesquisadores e membros representativos das situações ou problemas investigados;
c) A comparação das representações próprias aos vários interlocutores, com aspecto de cortejo
entre saber formal e saber informal acerca da resolução de diversas categorias de problemas;
d) A produção de guias ou de regras práticas para resolver os problemas e planejar as
correspondentes ações;
e) Os ensinamentos positivos ou negativos quanto à conduta da ação e suas condições de êxito;
f) Possíveis generalizações estabelecidas a partir de várias pesquisas semelhantes e com o
aprimoramento da experiência dos pesquisadores.

A pesquisa-ação pressupõe envolvimento direto entre sujeito investigado e sujeito investigador


e, por essa razão, seus resultados são bastante confiáveis.

3.4.3.1.2.1.2 Estudo de caso in loco


O estudo de caso evidencia-se como um tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho
descritivo e é um dos tipos de pesquisa qualitativa que vem conquistando crescente aceitação na área
da educação (RODRIGO, 2008). Severino, 2007, p. 121, conceitua o estudo de caso como:

Pesquisa que se concentra no estudo de um caso particular, considerado representativo de um


conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo. A coleta dos dados e sua
análise se dão da mesma forma que nas pesquisas de campo, em geral.

Sobre o papel do pesquisador nesse contexto, Rodrigo (2008, p. 3) salienta:

O pesquisador não pretende intervir sobre a situação, mas dá-la a conhecer tal como ela lhe
surge. Pode utilizar vários instrumentos e estratégias. Entretanto, um estudo de caso não
precisa ser meramente descritivo. Pode ter um profundo alcance analítico, pode interrogar a
situação. Pode confrontar a situação com outras já conhecidas e com as teorias existentes. Pode
ajudar a gerar novas teorias e novas questões para futura investigação. As características ou
princípios associados ao estudo de caso se superpõem às características gerais da pesquisa
qualitativa.

Vale ressaltar que o caso selecionado para a pesquisa precisa ser significativo e bem
representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para situações análogas,
autorizando inferências. Devem-se seguir os procedimentos da pesquisa de campo na etapa de coleta e
registro dos dados, os quais devem ser trabalhados, por meio de análise rigorosa, e apresentados em
relatórios qualificados (SEVERINO, 2007).
Ainda sobre a natureza e adequada utilização dessa modalidade de pesquisa, os seguintes autores
emprestam-nos seus conhecimentos com os seguintes dizeres:

O que é o Estudo de Caso? É uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se
analisa aprofundadamente. Esta definição determina suas características que são dadas por duas
circunstâncias, principalmente. Por um lado, a natureza e abrangência da unidade. Esta pode ser
um sujeito. Por exemplo, o exame das condições de vida (nível socio-econômico, escolaridade
dos pais, profissão destes, tempo que os progenitores dedicam diariamente ao filho, orientando-
o nos estudos, tipo de alimentação do aluno, prática de esportes, sono, perspectivas do estudante
e dos pais em relação ao futuro da criança, a opinião dos professores, dos colegas, etc.) que
rodeiam um aluno que repetiu a primeira série do 2º grau, de uma escola pública. No estudo de
uma turma de 8ª série de uma escola particular, de uma comunidade de pescadores, de uma
escola de uma vila popular, etc. é fácil compreender que a análise do ambiente, negativo ou
positivo, que circunda uma pessoa, é muito mais simples que a interpretação dos problemas que
apesenta uma comunidade agícola que pretende organizar uma cooperativa de produção e
consumo.
Em segundo lugar, também a complexidade do Estudo de Caso está determinada pelos suportes
teóricos que servem de orientação em seu trabalho ao investigador. Um enfoque a-histórico,
reduzido às características culturais de um meio específico no qual se insere a unidade em
exame, de natureza qualitativa fenomenológica, é menos complexo, sem dúvida, que uma visão
na qual se observa o fenômeno em sua evolução e suas relações estruturais fundamentais.
(TRIVIÑOS, 1987, p. 133-134).

[...] Trata-se de uma investigação empírica que pesquisa fenômenos dentro de seu contexto real
(pesquisa naturalística), onde o pesquisador não tem controle sobre eventos e variáveis,
buscando apreender a totalidade de uma situação e, criativamente, descrever, compreender e
interpretar a complexidade de um caso concreto. Mediante um mergulho profundo e exaustivo
em um objeto delimitado – problema de pesquisa -, o Estudo de Caso possibilita a penetração
na realidade social, não conseguida plenamente pela avaliação quantitativa. [...]. (MARTINS,
2008, p. xi).

Dentre vários tipos de estudos de caso, Triviños (1987, p. 134-136, grifos meus) apresenta três,
quais sejam:

1º) Estudos de Casos histórico-organizacionais


O interesse do pesquisador recai sobre a vida de uma instituição. A unidade pode ser uma
escola, uma universidade, um clube, etc.. O pesquisador deve partir do conhecimento que existe
sobre a organização que deseja examinar. Que material pode ser manejado, que está disponível,
ainda que represente dificuldades para seu estudo. Isto significa que existem arquivos que
registraram documentos referentes à vida da instituição, publicações, estudos pessoais com os
quais é possível realizar entrevistas etc.. Esta informação prévia necessária é básica para
delinear preliminarmente a coleta de dados.
2º) Estudo de Casos observacionais
Esta é uma categoria típica, poderíamos dizer, de pesquisa qualitativa. A técnica de coleta de
informações mais importante é a observação participante, que, lembramos, às vezes, aparece
como sinônima de enfoque qualitativo. O foco de exame pode ser uma escola, um clube, uma
Associação de Vizinhos, uma Cooperativa de Produção e Consumo etc.. Agora não é a
organização como um todo o que interessa, senão uma parte dela. [...]
É muito interessante salientar que o investigador pode ir às organizações com propósitos muito
definidos. E talvez tudo dê certo. [...] Iso quer dizer que o pesquisador deve entrar em contato
com as organizações e, talvez, com elas resolver o que mutuamente se considere importante
para trabalhar [...]
3º) O Estudo de Caso denominado História de Vida
Geralmente, a técnica utilizada para investigar em “História de Vida” é a entrevista semi-
estruturada que se realiza com uma pessoa de relevo social (escritor famoso, cientista célebre,
filantropo esclarecido, político de renome, erc.), ou com uma pessoa de uma vila popular (como
a antiga professora, presidente da Associação de Mães, operários distintos, uma família
qualquer etc.). A entrevista aprofunda-se cada vez mais na “História de Vida” do sujeito. [...]
(grifos meus)

Caracterizando e tipificando estudos de caso, Yin (2010, p. 38-41) explana sobre os estudos de
caso explanatórios ou causais, os estudos de caso descritivos e os estudos de caso exploratórios,
conforme seus dizeres:

O estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em


profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno
e o contexto não são claramente evidentes. [...]
A investigação do estudo de caso enfrenta a situação tecnicamente diferenciada em que
existirão muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e, como resultado, conta
com múltiplas fontes de evidência, com os dados precisando convergir de maneira triangular, e
como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento anterior das proposições teóricas para
orientar a coleta e a análise de dados. [...]
E, sim, os estudos de caso têm um lugar diferenciado na pesquisa de avaliação [...]. Existem ao
menos quatro aplicações diferentes. O mais importante é explicar os presumidos vínculos
causais nas intervenções da vida real que são demasiado.

Com base em tais pressupostos, percebe-se que existem estudos de caso abordados
qualitativamente, tais como os observacionais e os denominados “História de Vida”, como também
aqueles abordados qualitativa e ou quantitativamente, como os histórico-organizacionais. Uma das
maiores vantagens desse tipo de pesquisa é a profundidade alcançada e, consequentemente, uma
contribuição social mais significativa dos resultados produzidos.
Além de tudo o que já foi explanado sobre estudo de caso, vale ressaltar que ele pode ser
realizado tanto in loco quanto ex loco. Tudo vai depender de como ele é realizado. Por exemplo, se
vamos analisar os relatórios financeiros de uma empresa, uma vez tendo-se acesso a esses relatórios
pela internet, no seu site institucional, e em bibliografias diversas, pode-se e deve-se – para a economia
dos recursos – realizá-lo ex loco; do contrário, se não é possível coletar dados primários pela internet
ou em bibliografias, então pode-se e deve-se realizá-lo in loco, tal como na Pesquisa Urbanística de
Entorno de Domicílio, também denominada de pré-coleta, realizada no Censo Demográfico brasileiro.

3.4.3.1.2.1.3 Pesquisa de SurveyEntrevista in loco

Mineiro (2020) afirma que a palavra Survey não tem termo correspondente em português, mas é
comumente transliterado meramente por “levantamento”, o que, na opinião da autora, não abrange toda
a semântica da expressão, razão pela qual ainda se mentem na literatura crítica a utilização da
expressão inglesa.
De acordo com Mineiro (2020, p. 286), as pesquisas Survey tem como objetivo principal
“fornecer descrições estatísticas de pessoas por meio de perguntas, normalmente aplicadas em uma
amostra”. Por essa razão, elas estão mais alinhadas com a abordagem quantitativa de pesquisa, e com
os enfoques paradigmáticos positivistas e pós positivistas, “por questões de origens históricas, formas
de coleta e análise de dados” (MINEIRO, 2020, p. 286). Contudo, a autora (2020, p. 286) enfatiza:

Entretanto, conhecê-la a fundo pode fazer avançar a ciência, pois com as devidas adequações
epistemológicas e de forma, pode servir à abordagem qualitativa embasada nas perspectivas
paradigmáticas da Teoria Crítica, Construtivista e/ou Participativa (LINCOLN; GUBA, 2010).
Sobre a origem desse tipo de técnica científica, Mineiro (2020) conta que ela surgiu nos censos
demográficos norte-americanos, e na política também, durante o século XIX. Sobre esses aspectos, a
autora (2020, p. 288) empresta-nos seus dizeres:

A história dos Surveys tem seus registros iniciais nos Estados Unidos da América (EUA) para
efeitos de contagens de habitantes (Censo), bem como se confunde com a história da
amostragem. O U.S. Bureau of Census é o responsável pelo recenseamento decenal da
população norte-americana (equivalente ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE) seus dados coletados constituíram um valioso recurso para o desenvolvimento de
desenhos de amostras em Surveys específicos. [...]
Um dos primeiros usos políticos dos Survey ocorreu em 1880 quando o sociólogo político
alemão, Karl Marx, enviou pelo correio 25.000 questionários para trabalhadores franceses no
intuito averiguar em que grau eram explorados pelos seus patrões. Outro usar o Survey foi Max
Weber em seu estudo sobre A Ética Protestante. A maioria das pesquisas de Survey
contemporâneas foi realizada por pesquisadores americanos. Pela constituição dos Estados
Unidos a cada 10 anos deve-se fazer um censo, com
cujas informações é possível identificar a devida representação junto à House of
Representatives (parte do congresso norte-americano equivalente à Câmara dos Deputados)
bem como, coletam-se dados sobre idade, educação, habitação, etc. Como ocorre decenalmente,
acaba por limitar-se no tempo, destarte as pesquisas por amostragem, neste interstício,
tornaram-se parte da vida norte-americana desde os anos de 1930.

Dá para notar pelas palavras supracitadas da autora (2020) que Survey e amostragem não são
sinônimos, embora suas origens remontam a mesma época, e seus usos estejam sensivelmente
interligados na prática da investigação científica.
Sobre os tipos de Surveys, Mineiro (2020) apresenta um quadro, o qual compilo a seguir:

Quadro 7 – Tipos de Surveys


Tipos de Surveys
Há dois tipos de Surveys que se entrecruzam e formam um terceiro:
Neles os dados são colhidos num dado momento, a partir de uma amostra
selecionada para descrever alguma população maior, na mesma ocasião.
1) Surveys Pode ser usado não só para
interseccionais descrever, mas também para determinar relações entre variáveis na época
da coleta.
Neles os dados são coletados em tempos diferentes e relatam mudanças de
descrições e explicações, permitindo a análise de dados ao longo do tempo.
2) Surveys Os principais desenhos longitudinais são estudo de tendência, estudos de
longitudinais coortes e de painel.
São aqueles realizados numa população que pode ser amostrada e estudada
em ocasiões diferentes, ainda que pessoas diferentes sejam estudadas,
acabam por representar a mesma população. Ressalta-se que estudo de
2.1) Estudos de tendência muitas vezes envolvem longos períodos de coleta de dados para
tendência que se possa nas tendências nas relações entre as variáveis.
São aqueles que se baseiam em descrições de uma população geral ao longo
do tempo, tais estudos focalizam a mesma população específica cada vez
que os dados são coletados,
embora as amostras estudadas possam ser diferentes, ou seja, a referência
2.2) Estudos de de tempo é a mesma, variável é a mesma, porém em diferentes amostras.
cortes
São aqueles que envolvem a coleta de dados ao longo do tempo na mesma
amostra de respondentes, a qual se chama painel. Pode-se entrevistar todos
os membros do painel em
intervalos mensais durante a investigação, analisando outras características
de quem muda e talvez fornecer explicações das razões de mudança.
Tendem a ser caros e demorados,
um ponto fraco é que os respondentes podem não querer ou não poder
participar posteriormente, um ponto forte é a capacidade de examinar os
2.3) Estudos de mesmos respondentes em
painel diferentes ocasiões. Seu principal mecanismo analítico é a tabela de
mudanças que faz tabulações cruzadas de algumas características em mais
de uma ocasião, trata-se do
desenho de Survey mais sofisticado e que mais se aproxima de
experimentos em laboratório.
3) Surveys Nele buscam-se relações entre as variáveis para fazer comparações, os
interseccionais respondentes devem fornecer dados relevantes para que se possa aproximar
como aproximação o estudo ou mudança.
de Surveys
longitudinais

Fonte: Mineiro (2020, pp. 290-291). Elaboração própria.

São muitas as técnicas específicas que podem ser utilizadas nas pesquisas Surveys (MINEIRO,
2020). Dentre elas, a autora (2020) destaca as seguintes: a entrevista, o questionário – que é
autoadministrado –, o formulário – que é administrado pelo pesquisador –, a documentação, a
tabulação, a codificação, Análise de Conteúdo, técnicas estatísticas, dentre várias outras.
Sobre as vantagens e desvantagens dos instrumentos de coleta utilizados nas pesquisas Surveys,
Monteiro (2020) apresenta um quadro, o qual compilo a seguir:

TIPO VANTAGENS DESVANTAGENS


Meio eficaz de obter Tomam muito tempo, costumam sair mais caro
cooperação, nela é possível pelo treinamento da equipe, há grupos amostrais
tirar dúvidas dos que não tornam as entrevistas acessíveis (por
respondentes, pode incluir exemplo, condomínios fechados, áreas de alta
outros métodos de coleta (por criminalidade, etc.).
Entrevistas exemplo, a observação) e Permissão legal para gravar, fotografar, filmar
pessoais outros recursos (visuais, pode não ser concedida.
auditivos, vivências, etc.),
permite estabelecimento de
laços de confiança.
Custos relativamente menores; Exclui quem não tem telefone (geralmente fixo)
pode-se usar a discagem ou quem não atende ligações de números
aleatória de números para a não conhecidos, a ausência de resposta é maior,
amostragem; proporciona limita a quantidade de questões/
Entrevistas por melhor acesso alternativas/recursos visuais, não
telefone a certos grupos; período de permite coleta por observação, não é adequado
coleta relativamente menor, para questões delicadas.
não é preciso uma equipe tão
grande, saindo um pouco mais
barato neste sentido.
É possível apresentar recursos Requer uma estruturação e layout
visuais, torna viável respostas cuidadosamente preparados, questões
longas ou complexas, permite abertas/amplas são de difícil tabulação, não
questões similares (que contempla
Questionários servem de dispositivos de analfabetos ou pessoas pouco habilidosas com a
(ditos conferência/segurança), dá leitura e escrita. (Caso não esteja em braile
autoaplicáveis) mais liberdade e oferece também não contempla cegos).
menos constrangimento aos
entrevistados,
consequentemente mais
maior confiabilidade às
respostas.
Custos relativamente baixos, Dificulta a sensibilização para obter a
não requer grande equipe, cooperação do respondente, os endereços
proporciona acesso a podem não ser confiáveis diminuindo ainda
Questionários amostras diversas, mais a taxa de retorno, não oferece maneira de
por proporciona mais esclarecer dúvidas.
correspondência tempo para resposta
permitindo realizar
consultas.
Custo baixo, imediata Quem não tem acesso à internet fica excluído,
obtenção de respostas e bem como, dependendo da plataforma usada
tabulação automática, oferece exclui seus “não usuários”, há o desafio de obter
Questionários mais tempo para o a cooperação dos respondentes, não há como
pela internet respondente que pode esclarecer as dúvidas de pronto,
responder em qualquer lugar e necessita lista de e-mails confiáveis.
com vários
dispositivos.
Fonte: Mineiro (2020, pp. 291-292). Elaboração própria.

Mineiro (2020, p. 299) ressalta que “uma limitação dos Surveys é a taxa de resposta aos
instrumentos de coleta de dados”. A autora (2020) afirma que quando as taxas de resposta são altas,
existe um pequeno potencial de erros pela ausência de respostas; entretanto, quando as taxas de
resposta são baixas, existe um grande potencial para erros, servindo de base a críticas sobre a
verossimilhança dos dados.
Sobre as questões éticas intrínsecas das pesquisas de Surveys, Mineiro (2020) salienta que em
muitos casos faz-se necessária a aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa para aplica-las aos
respondentes, e que, para dar mais credibilidade à investigação científica, o investigador pode buscar a
assinatura de cooperação voluntária dos participantes da pesquisa, quando, é claro, isso for possível
(em Surveys feitos por telefone as assinaturas não são possíveis). Deve-se também deixar claro aos
respondentes sobre o sigilo das informações prestadas, que são asseguradas, na maioria dos países, por
dispositivos legais (é o que ocorre com o Censo Demográfico).
Os Surveys podem ser realizados in loco ou ex loco. Em Censos Demográficos, por exemplo,
nos quais se busca sempre dados diretamente com os respondentes, em suas residências, são realizados
os Surveys in loco. Contudo, em pesquisas eleitoras, por exemplo, ou quando não se pode coletar os
dados diretamente com os respondentes (como durante a pandemia de coronavírus, por exemplo), os
Surveys são realizados ex loco. Contudo, tanto os Surveys in loco quanto os Surveys ex loco, seguem os
mesmos procedimentos científicos nesse tópico explanados.
A entrevista é uma técnica bastante utilizada nas pesquisas observacionais participantes, sendo
também útil em pesquisas clínicas. Sobre sua natureza, alguns autores emprestam-nos suas ideias:

A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a
respeito de determinado assunto, mediante uma conversação, de natureza profissional. É um
procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no
diagnóstico ou no tratamento de um problema social. (MARCONI; LAKATOS, 2008, p. 80)
Trata-se de uma técnica de pesquisa para coleta de dados cujo objetivo básico é entender e
compreender o significado que os entrevistados atribuem a questões e situações, em contextos
que não foram estruturados anteriormente, com base nas suposições e conjecturas do
pesquisador. (MARTINS, 2008, p. 27)

Colocando em pauta ainda outros aspectos sobre essa técnica, Dencker e Viá (2012, p. 158)
ressaltam:

A entrevista desenvolve-se em uma situação social, em que entrevistador e entrevistado


interagem entre si, influenciando um ao outro não apenas por meio das palavras que
pronunciam, mas também por outros sinais, como inflexão da voz, gestos, expressão facial e
outros traços pessoais, além das manifestações de comportamento que acompanham a
comunicação verbal.

Existem vários tipos de entrevista, sendo as principais: o focus group (ou grupo focal), a
entrevista estruturada, a semiestruturada e a não estruturada. Sobre esse aspecto, Marconi e Lakatos
(2008, p. 82) apresentam três tipos:
a. Padronizada ou estuturada. É aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente
estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza de acordo com
um formulário elaborado e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo com
um plano. [...]
b. Despadronizada ou não estruturada. O entrevistado tem liberdade para desenvolver cada
situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de poder explorar mais
amplamente uma questão. Em geral, as perguntas são abertas e podem ser respondidas dentro de
uma conversação informal. [...] Esse tipo de entrevista [...] apresenta três modalidades:
entrevista focalizada [...], entrevista clínica [...] [e] entrevista não dirigida.
c. Painel. Consiste na repetição de perguntas, de tempo em tempo, às mesmas pessoas, a fim de
estudar a evolução das opiniões em períodos curtos. As perguntas devem ser formuladas de
maneira diversa, para que o entrevistado não distorça as respostas com essas repetições.

Ainda no que concerne aos tipos de entrevistas, Vergara (2012) considera dois critérios para a
sua classificação: o número de pessoas nela envolvida e sua estrutura. Quanto ao número de pessoas,
Vergara (2012, p. 6-7) apresenta a entrevista individual e a entrevista coletiva, as quais sintetizando as
suas palavras, são:

Entrevista individual é a que se estabelece entre um entrevistador e um entrevistado. Quanto


ao número de pessoas que podem ser individualmente entrevistadas, existem autores que
consideram 15 um número mínimo para entrevistas e 25 um número máximo adequado. Esses
limites não podem, contudo, ser tomados ao pé da letra. Um pesquisador, por exemplo, pode
desejar (e conseguir) entrevistar ministros de estado. Cinco já parece um número bom, não?
Enfim, tudo depende do problema da investigação, da metodologia escolhida e da
representatividade dos entrevistados. Depende, também, de bom-senso e de domínio de certas
regras científicas, por parte do pesquisador. [...]
Coletiva é aquela entrevista que tem um ou mais entrevistadores e alguns entrevistados. É
também conhecida como grupo focal. Grupo focal, igualmente denominado grupo de foco,
entrevista focalizada de grupo, reuniões de grupos e outras denominações, é aquele no qual as
entrevistas são conduzidas por um entrevistador, designado como moderador, que é o
catalisador da comunicação entre os entrevistados, ou seja, entre os participantes. [...]
Quando se trata de entrevistas grupais, autores consideram que um mínimo de seis e um
máximo de dez pessoas pode ser um limite adequado. Contudo, esses números são arbitrários,
logo, cabe ao pesquisador definir os limites. [...]
(grifos meus)

Quanto à estrutura, por sua vez, Vergara (2012, p. 7-17) apresenta a entrevista fechada, a
entrevista semiaberta e a entrevista aberta, as quais, sintetizando as suas palavras, são:

Um roteiro cuja estrutura seja fechada apresenta perguntas ou tópicos ordenados e,


basicamente, não permite alteração, seja para inclusão, exclusão ou troca de ordem de perguntas
ou de tópicos. [...]
Um roteiro cuja estrutura seja semiaberta, tal como o roteiro de estrutura fechada, é focalizado.
Porém, ao contrário da estrutura fechada, permite inclusões, exclusões, mudanças em geral nas
perguntas, explicações ao entrevistado quanto a alguma pergunta ou alguma palavra, o que lhe
dá um caráter de abertura. [...]
Um roteiro cuja estrutura seja aberta tem o objetivo de buscar explorar de maneira mais ampla
uma situação, seja fazendo perguntas diretas, seja inserindo-as no meio de uma conversa que
inclua outros pontos. Por exemplo, para levantar o que gerentes de uma determinada empresa
pensam acerca da inclusão de pessoas com deficiência física nos quadros da empresa, é possível
conversar com eles sobre assuntos organizacionais e, na conversa, incluir perguntas para o caso
específico dos deficientes físicos. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que tal técnica implica a participação tanto
do entrevistado como do entrevistador, por essa razão, integrando a observação participante.
Quando existe a necessidade de se coletar, por meio da entrevista, dados primários, isto é,
aqueles que ainda não foram manipulados, recomenda-se realizá-la in loco, ou seja, diretamente em
contato com o objeto de pesquisa. Por exemplo, na realização da coleta do Censo Demográfico
brasileiro, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os investigadores –
chamados no Censo de Agentes Recenseadores – coletam os dados, aplicando um Questionário Básico
ou um Questionário de Amostra, diretamente em contato com os moradores, ou seja, in loco.

3.4.3.1.2.2 Observação não participante (ONP)

3.4.3.1.2.2.1 Levantamento bibliográfico15

O levantamento bibliográfico, também denominado pesquisa bibliográfica, revisão bibliográfica


ou revisão literária, visa à coleta de dados secundários, ou seja, aqueles que já foram submetidos a
algum tipo de manipulação, denominados literatura crítica. Ele é utilizado para a revisão da literatura e,
portanto, necessário a todas as espécies de pesquisa. Configura-se na técnica de coleta de dados dos
livros e dos trabalhos acadêmicos em geral, tais como TCCs, monografias, dissertações, teses, artigos
científicos, resenhas científicas etc. Os seus instrumentos fundamentais são as bibliografias.
Na literatura de Metodologia Científica, encontra-se muitos tipos de revisões de literatura.
Contudo, suas classificações/catregorizações se mostram confusas, visto que se misturam
procedimentos gerais com procedimentos específicos de coleta e de tratamento de dados. Por exemplo,
a metanálise é tipificada por Souza et al. (2018) como sendo uma revisão, sendo que, na verdade, ela se
trata de uma técnica específica (estatística, quantitativa) para análise de dados; enquanto isso, o estado
da arte é tipificado pelos mesmos autores como sendo uma revisão, sendo que se trata, na realidade, de
resultados dos estudos investigados, e não de uma técnica de coleta e/ou de tratamento de dados; o
estado da arte de um tema pode ser alcançado por meio de qualquer um dos tipos de levantamento
bibliográfico e/ou documental apresentados e explanados neste tópico.
15
Para mais informações, verificar o Apêndice 2, intitulado Levantamentos bibliográficos e documentais.
Atualmente, os quatro principais tipos de levantamento bibliográfico são: a) a Revisão
Bibliográfica Integrativa (RBI); b) a Revisão Bibliográfica Narrativa (RBN); c) a Revisão Bibliográfica
Sistemática (RBS); e d) o Mapeamento Bibliográfico Sistemático (MBS). A seguir são explanados
esses quatro tipos.

3.4.3.1.2.2.1.1 RBI

A Revisão Bibliográfica Integrativa (RBI) não é sinônimo de Revisão Bibliográfica Sistemática


(RBS), embora sejam muitas as suas semelhanças (ERCOLE; MELO; ALCOFORADO, 2014).
Enquanto a RBI busca responder questões amplas sobre uma temática, a RBS busca responder questões
específicas sobre a mesma. Sobre as principais características da RBI, Ercole, Melo e Alcoforado
(2014, p. 9) dizem:

A revisão integrativa de literatura é um método que tem como finalidade sintetizar resultados
obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e
abrangente. É denominada integrativa porque fornece informações mais amplas sobre um
assunto/problema, constituindo, assim, um corpo de conhecimento. Deste modo, o
revisor/pesquisador pode elaborar uma revisão integrativa com diferentes finalidades, podendo
ser direcionada para a definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica dos
estudos incluídos de um tópico particular.
Esse método permite a inclusão simultânea de pesquisa quase-experimental e experimental,
combinando dados de literatura teórica e empírica, proporcionando compreensão mais completa
do tema de interesse. A variedade na composição da amostra da revisão integrativa em
conjunção com a multiplicidade de finalidades desse método proporciona como resultado um
quadro completo de conceitos complexos, de teorias ou problemas relativos ao cuidado na
saúde, relevantes para a enfermagem.

De acordo com as autoras (2014), tanto a RBI quanto a RBS possuem o mesmo método e rigor.
Ambas são consideradas pesquisas originais, por conseguirem alcançar o estado da arte de uma
temática.
As autoras (2014) afirmam que a RBI deve ser desenvolvida em seis etapas principais, quais
sejam: a) a identificação do tema e a seleção da hipótese ou questão de pesquisa; b) o estabelecimento
de critérios para a inclusão e a exclusão de estudos/ amostragem ou busca na literatura; c) a definição
das informações a serem extraídas dos estudos selecionados, ou categorização dos estudos; d) a
avaliação dos estudos incluídos; e) a interpretação dos resultados; e f) a apresentação da revisão/síntese
do conhecimento.
Por fim, as autoras (2014) salientam que ambos os tipos de revisões (a RBI e a RBS) são os
“pilares da prática baseada em evidências (PBE)”. Afirmam ainda que a partir delas a enfermagem
consegue produzir o conhecimento científico para “fundamentar a tomada de decisão sobre a melhor
assistência prestada ao cliente e fortalecer sua profissão” (ERCOLE; MELO; ALCOFORADO, 2014,
p. 10).
A RBI se assemelha à RBS e ao MBS porque segue exatamente o mesmo protocolo de pesquisa.
A RBI se assemelha ao MBS em mais um aspecto: sua questão-problema também é ampla/abrangente,
porém mais ampla do que no MBS. Contudo, a RBI se diferencia do MBS porque nela se realiza uma
avaliação da qualidade do estudo, enquanto no MBS essa avaliação não é realizada (SOUZA et al.,
2018).
Uma questão-problema de pesquisa para uma RBI poderia ser: “Dentre as pesquisas sobre
sinergias, quantas e quais delas são aplicáveis às Fusões e Aquisições (F&A)?”. Procurando-se no
título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, pelos descritores [(“synerg*”) and (“merger” or
“acquisition” or “M&A”)] na Coleção Principal da Web of Sciense, somente artigos publicados nos
últimos cinco anos (2018 a 2022) em inglês, português ou espanhol, na data de 17.07.22, encontra-se
um corpus de pesquisa composto por 824 resultados; e procurando-se pelos mesmos descritores, no
título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, somente artigos publicados nos últimos cinco anos (2018 a
2022) em inglês, português ou espanhol, na Scopus, na data de 17.07.22, encontra-se um corpus de
pesquisa composto por 1.150 resultados. Somando-se a quantidade de resultados dessas duas maiores
bases de dados do mundo, perfaz-se um total de 1.974 artigos, o que, se for realizado, daria uma
excelente RBI. Entretanto, devido à exiguidade temporal para se fazer uma pesquisa, dependendo do
nível do curso (graduação, especialização, mestrado, doutorado ou pós-doutorado), pode-se filtrar esses
artigos ainda mais, por exemplo por área do conhecimento, para tornar o corpus de pesquisa
operacionalizável dentro do tempo do curso.

3.4.3.1.2.2.1.2 RBN

A Revisão Bibliográfica Narrativa (RBN), também conhecida na literatura como Revisão


Bibliográfica Simples, ou Revisão Bibliográfica Convencional, ou somente Pesquisa Bibliográfica,
oferece meios que auxiliam na definição e resolução dos problemas já conhecidos, como também
permite explorar novas áreas onde ainda não se cristalizaram suficientemente. Permite também que um
tema seja analisado sob novo enfoque ou abordagem, produzindo novas conclusões. Além disso,
permite a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla, mormente, em se tratando de
pesquisa cujo problema requeira a coleta de dados muito dispersos no espaço.
Sobre essa técnica de pesquisa para coleta de dados, Rodrigues (2007, p. 43) assinala:

Bibliográfica é a pesquisa limitada à busca de informações em livros e outros meios de


publicação. É o oposto da pesquisa de campo, distinguindo-se também e igualmente por
oposição da pesquisa in victro. Geralmente, a pesquisa bibliográfica integra o âmbito da
pesquisa ex-post-facto, pelo simples fato de que os livros e artigos de revista ou periódico
qualquer tratam, via de regra, de fatos consumados, não sendo habitual a pesquisa bibliográfica
baseada em leitura do tipo futurologia.

A RBN pressupõe trabalhos anteriores que servem como fonte ou lente teórica para
embasamento de estudos mais abrangentes e ou aprofundados. Sobre esse aspecto, Severino (2007, p.
122) destaca:

A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de


pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc. Utiliza- se de
dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente
registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador
trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos.

Realmente, toda pesquisa acadêmica requer em algum momento a realização de trabalho que
possa ser considerado como levantamento bibliográfico. Prova disso é que nas dissertações e teses da
atualidade, em sua maioria, há um capítulo especial dedicado à revisão bibliográfica cuja finalidade
principal é fundamentar o trabalho acadêmico teórica e consistentemente, identificando, não raro, o
estágio atual do conhecimento referente ao tema. Gil (2010, p. 29) explana sobre tal tipo de pesquisa
com os seguintes dizeres:

A pesquisa bibliográfica é elaborada com base em material já publicado. Tradicionalmente,


esta modalidade de pesquisa inclui material impresso, como livros, revistas, jornais, teses,
dissertações e anais de eventos científicos. Todavia, em virtude da disseminação de novos
formatos de informação, estas pesquisas passaram a incluir outros tipos de fontes, como
discos, fitas magnéticas, CDs, bem como o material disponibilizado pela internet.

Ressaltando a relevância de tal tipo de pesquisa, Gil (2010) destaca que ela permite ao
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia
pesquisar diretamente, em especial quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo
espaço. Entretanto, não se esquece de salientar que, como fontes secundárias, as bibliografias podem
apresentar dados coletados ou processados de forma equivocada, tornando possível a reprodução e/ou
ampliação desses erros em trabalhos nelas fundamentadas. Por essa razão, Gil (2010, p. 30) fornece
sugestões úteis para reduzir tal possibilidade, dizendo:

Para reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das condições em
que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informação para descobrir
possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas, cotejando-as
cuidadosamente.

De acordo com Gil (2010), não existem regras fixas para a realização de pesquisas
bibliográficas, mas algumas tarefas que a experiência demonstra serem importantes. Dessa forma,
seguiu-se o seguinte roteiro de trabalho:

a) Exploração das fontes bibliográficas: livros, revistas científicas, teses, relatórios de pesquisa
entre outros, que contêm não só informação sobre determinados temas, mas indicações de
outras fontes de pesquisa;
b) Leitura do material: conduzida de forma seletiva, retendo as partes essenciais para o
desenvolvimento do estudo, e analítica, avaliando a qualidade das informações coletadas;
c) Elaboração de fichas: foram elaboradas fichas de citações, de resumo e bibliográficas,
contendo as partes mais relevantes dos materiais consultados;
d) Ordenação e análise das fichas: organizadas e ordenadas de acordo com o seu conteúdo,
conferindo sua confiabilidade;
e) Conclusões: obtidas a partir da análise qualitativa e quantitativa dos dados.

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que a RBN é um tipo de levantamento
bibliográfico extremamente útil para se conhecer uma temática a priori desconhecida pelo
investigador, a partir da qual poder-se-á aprofundar nela mediante o uso de técnicas de investigação
mais robustas, tais como, por exemplo, o estudo de caso ou a pesquisa-ação.

3.4.3.1.2.2.1.3 RBS

Surgida no final da década de 1970, por um pesquisador da área de Psicologia chamado de Gene
Glass, a Revisão Bibliográfica Sistemática (RBS) tem o objetivo de diminuir os vieses da Revisão
Bibliográfica Convencional, ou Narrativa, na qual temos a tendência, enquanto pesquisadores
imperfeitos, “de supervalorizar estudos que estejam de acordo com nossas hipóteses iniciais e ignorar
estudos que apontem para outras perspectivas” (COSTA; ZOLTOWSKI, 2014, p. 53).
Revisão Bibliográfica Sistemática e Metanálise não são sinônimos, tal como Costa e Zoltowski
(2014, p. 53) corroboram:
Apesar do termo metanálise ser frequentemente utilizado como sinônimo de revisão
sistemática, quando a revisão inclui uma metanálise, atualmente os dois termos possuem
sentidos distintos (Sousa & Ribeiro, 2009). Metanálise refere-se ao procedimento estatístico de
tratamento de dados de diversos estudos com o objetivo de agrupá-los, enquanto revisão
sistemática se refere ao processo de reunião, avaliação crítica e sintética de resultados de
múltiplos estudos, podendo ou não incluir uma metanálise (Cordeiro, Oliveira, Rentería,
Guimarães, & Grupo de Estudo de Revisão Sistemática do Rio de Janeiro, 2007).

No intuito de ajudar a comunidade acadêmica a produzir um artigo de revisão sistemática de


excelente qualidade, Costa e Zoltowski (2014) apresentam oito passos, quais sejam: a) delimitação da
questão a ser pesquisada; b) escolha das fontes de dados; c) eleição das palavras-chave para a busca; d)
busca e armazenamento dos resultados; e) seleção de artigos pelo resumo, de acordo com critérios de
inclusão e exclusão; f) extração dos dados dos artigos selecionados; g) avaliação dos artigos; e h)
síntese e interpretação dos dados.
Quanto à delimitação da questão a ser pesquisada, Costa e Zoltowski (2014) deixam claro que é
necessário fazer recortes no tema para que a pesquisa seja relevante e viável. É necessário, no geral,
estabelecer um lapso temporal e espacial, para que se consiga encontrar as bibliografias e os
documentos certos para a pesquisa, viabilizando-a. Sobre esses aspectos, Costa e Zoltowski (2014, p.
55) elucidam:

O problema de pesquisa de revisão pode ser decomposto em algumas partes que visam a
facilitar a busca e a organização dos resultados encontrados. Petticrew e Roberts (2006)
sugeriram estratégias facilitadoras para esse processo de desmembramento da questão de
estudo, principalmente no caso de estudos sobre avaliação de eficácia: definição de qual é a
população de interesse (p. ex., crianças, adolescentes, adultos jovens, etc.); de qual é a
intervenção que se pretende avaliar (p. ex., psicoterapia individual, psicoterapia de casal,
cursos, etc.); com o que a intervenção está sendo comparada (p. ex., outro tipo de intervenção,
de curso, etc.); quais os desfechos a serem investigados, tanto positivos quanto negativos; qual
o contexto em que a intervenção foi desenvolvida (p. ex., laboratórios, ambientes naturais, etc.).

Os autores (2014) ainda destacam que a existência de uma revisão do assunto de interesse não
elimina a necessidade da realização de um novo trabalho de revisão, pois as revisões já realizadas
podem estar desatualizadas ou apresentar problemas metodológicos intrínsecos.
Quanto à escolha das fontes de dados, Costa e Zoltowski (2014) ressaltam que se pode realizar
uma busca por bibliografias nas bases de dados especializadas (DARE, Research Evidence in
Education Library, The Campbell Collaboration, etc.) ou mesmo nas convencionais (Banco de Teses
da CAPES, Scopus, Web of Sciense, etc.). Ou pode-se, também, buscar fontes de dados nas referências
de artigos já selecionados para a revisão.
Quanto à eleição das palavras-chave para a busca, Costa e Zoltowski (2014) destacam que:
[...] as palavras-chave precisam ser sensíveis o suficiente para acessar
adequadamente o fenômeno, indicando um número representativo de trabalhos. Porém não
podem ser sensíveis demais, retornando muitos resultados, inviabilizando o projeto de revisão.

Os autores (2014, p. 58) ainda salientam que é possível encontrar palavras-chave apropriadas
em banco de terminologias ou os denominados thesaurus, cujo objetivo principal é “a realização de
uma busca rápida e bem-sucedida de publicações acadêmicas”.
Quanto à busca e o armazenamento dos resultados, Costa e Zoltowski (2014) explanam que é
preciso usar adequadamente as strings, isto é, os conjuntos de descritores com alguns operadores
booleanos (AND, OR, NOT) e símbolos de pontuação (aspas, parênteses, colchetes, chaves, asterisco).
As strings servem para tornar a busca mais específica, sensível, restringindo-a ou ampliando-a, e
também para unificar os procedimentos de busca em diversas bases de dados. Pode-se ainda utilizar
softwares específicos para seleção e extração de dados em revisões sistemáticas, tais como o EndNote,
o Refworks, ou o Start. Ampliando o nosso entendimento sobre o uso das strings, Costa e Zoltowski
(2014, p. 59) emprestam-nos seus dizeres:

Em primeiro lugar, a string utilizada deve ser documentada, bem como o número de artigos
incluídos e excluídos. A utilização de figuras facilita a ilustração do processo [...]. Em segundo
lugar, é importante que a busca seja realizada por pelo menos dois juízes no mesmo intervalo de
tempo, a fim de minimizar o viés no processo de busca. [...]

Quanto à seleção de artigos pelo resumo, de acordo com critérios de inclusão e exclusão, Costa
e Zoltowski (2014) destacam que uma vez formado o corpus de execução da pesquisa, deve-se filtrá-lo
por meio da leitura atenciosa dos resumos dos artigos para selecionar apenas aqueles que aderem aos
critérios de inclusão ou de exclusão previamente determinados. Alguns critérios de inclusão podem ser
o idioma (p. ex., artigos publicados em inglês, ou em português), o lapso temporal (p. ex., artigos
publicados de ano XX até ano YY), as áreas do conhecimento (p. ex., artigos publicados nas áreas de
Administração, Ciências Contábeis e Economia), os critérios metodológicos (p. ex., estudo de caso,
revisão da literatura, etc.), dentre muitos outros. Os autores (2014) afirmam que essa etapa deve, se
possível, ser realizada por dois juízes para minimizar os vieses da pesquisa.
Quanto à extração dos dados dos artigos selecionados, Costa e Zoltowski (2014) salientam que,
para manter um alto grau de qualidade da pesquisa, faz-se necessário ter o acesso aos artigos
selecionados completos. Sobre esses aspectos, os autores (2014, p. 61) corroboram:
Caso haja dificuldade em acessar o texto completo de algum artigo, essa informação deve
constar de maneira clara na seção do método e esse artigo deve ser deixado de fora dos
resultados finais. O trabalho de extração de dados também deve ser realizado por dois juízes,
buscando o consenso, a fim de reduzir vieses.

Ainda sobre esse tópico da extração dos dados, os autores (2014, p. 61) afirmam que é
justamente nessa etapa que se deve categorizar os artigos selecionados, extraindo de cada um deles
informações tais como: “nome do estudo, referencial teórico,
objetivos, localização temporal da intervenção, contexto, instrumentos, descrição
dos participantes, principais achados, entre outros”. A partir dessa categorização, é possível encontrar
os pontos altos (p. ex., achados relevantes) e os pontos baixos (p. ex., limitações metodológicas) dos
artigos.
Quanto à avaliação dos artigos, Costa e Zoltowski (2014) emprestam-se seus seguintes dizeres:

A avaliação dos estudos visa a constatar se eles são ou não pertinentes para responder à
pergunta de pesquisa. Nesse ponto, você se pergunta com mais clareza: Os participantes dos
estudos revisados representam a população que quero estudar? Os estudos apresentam alguma
limitação que pode comprometer a interpretação do seu resultado final?
Uma possibilidade é avaliar os estudos a partir do delineamento utilizado, por exemplo, dando
maior ênfase aos resultados que apresentem delineamentos
experimentais e quase-experimentais. Já para delineamentos qualitativos, você
pode utilizar a estratégia de metassíntese, que envolve a análise da teoria, dos
métodos e dos resultados de estudos qualitativos, levando a uma síntese do fenômeno estudado.
Outra possibilidade é utilizar como critério de avaliação o referencial teórico, classificando os
estudos de acordo com a qualidade da utilização dos construtos adotados. Outros critérios
podem ser evocados no caso de uma revisão de instrumentos. [...]

Os autores (2014, p. 62) afirmam que, dependendo dos objetivos da pesquisa, artigos
problemáticos podem ser mantidos no banco final de dados. Por exemplo, se o objetivo da investigação
científica for o de avaliar a qualidade metodológica das pesquisas em um campo de estudo específico,
“estudos que não atendam satisfatoriamente os critérios de avaliação devem ser mantidos, pois refletem
exatamente a qualidade do campo”.
Quanto à síntese e interpretação dos dados, Costa e Zoltwski (2014) sintetizam o seguinte:

O processo de revisão sistemática pode ser comparado à montagem de um quebra-cabeça


(Petticrew & Roberts, 2006). Os artigos localizados representam as peças, e os processos de
avaliação servem para determinar criticamente se essas peças fazem ou não parte da figura que
se quer montar. Contudo, um quebra-cabeça não é composto apenas por peças individuais. As
peças devem ser organizadas de forma coerente para responder à problemática inicial de
pesquisa. Essa etapa constitui o trabalho de síntese dos resultados.

Os autores (2014) terminam seu artigo dizendo que essas oito etapas comumente são realizadas
antes de se começar a escrever propriamente o artigo de revisão sistemática. Destacam que a redação
necessita ser clara e precisa, pormenorizando todos os passos executados. Pode-se e deve-se utilizar
figuras para melhor ilustrar todo o processo. Para facilitar o processo de redação do artigo, os autores
(2014, p. 65) deixam um checklist resumindo os principais pontos a serem contemplados.
Uma questão-problema de pesquisa para uma RBS poderia ser: “Dentre as pesquisas sobre
sinergias financeiras e operacionais, aplicáveis às Fusões e Aquisições (F&A), quantas e quais delas
utilizam a técnica do Fluxo de Caixa Descontado (FCD) com taxas de desconto adequadas?”.
Procurando-se no título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, pelos descritores [(“financial synerg*”
or “operational synerg*”) and (“merger” or “acquisition” or “M&A”)] na Coleção Principal da Web
of Sciense, somente artigos publicados em inglês, português ou espanhol, na data de 17.07.22,
encontra-se um corpus de pesquisa composto por 26 resultados; e procurando-se pelos mesmos
descritores, no título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, somente artigos publicados em inglês,
português ou espanhol, na Scopus, na data de 17.07.22, encontra-se um corpus de pesquisa composto
por 56 resultados. Somando-se a quantidade de resultados dessas duas maiores bases de dados do
mundo, perfaz-se um total de 82 artigos, e filtrando-se desse montante somente os artigos que
respondem à questão-problema específica da pesquisa, daria para se realizar uma excelente RBS.

3.4.3.1.2.2.1.4 MBS

O Mapeamento Bibliográfico Sistemático (MBS), ou simplesmente Mapeamento Sistemático


(MS), trata-se de um tipo de revisão da literatura, bastante semelhante à RBS e à RBI, mas com
distinções em alguns aspectos (SOUZA et al., 2018). Sobre estes e outros aspectos do MBS, Souza et
al. (2018, p. 50) pontuam:

[O MBS] Permite a contextualização de revisões sistemáticas aprofundadas da literatura dentro


de uma literatura mais ampla e a identificação de lacunas na base de evidências. São uma
ferramenta valiosa para oferecer aos formuladores de políticas, profissionais e pesquisadores
um meio explícito e transparente de identificar questões mais restritas sobre políticas e práticas
relevantes.
Mapas sistemáticos podem caracterizar os estudos de outras maneiras, como na perspectiva
teórica, no grupo populacional ou no contexto em que os estudos foram realizados.
[Os MBSs] São necessariamente restritas no tempo e não possuem a síntese e análise de
abordagens mais sistemáticas. Os estudos podem ser caracterizados num amplo nível descritivo
e, assim, simplificar demais o quadro ou mascarar considerável variação (heterogeneidade)
entre os estudos e suas descobertas. Estas não incluem um processo de avaliação de qualidade;
caracterizando estudos apenas com base no desenho do estudo.
(grifos meus)

Tal como a RBS, o MBS segue um protocolo de pesquisa bastante rigoroso, mas a questão-
problema que o norteia não é específica quanto na RBS e nem tão amplo/abrangente quanto na RBI. A
análise e a síntese dos dados no MBS são gerais, e não detalhadas como na RBS. Além disso, no MBS
não se realiza uma avaliação da qualidade do estudo, enquanto essa avaliação se faz presente na RBI, e
pode ou não se fazer presente na RBS (SOUZA et al., 2018).
Uma questão-problema de pesquisa para um MBS poderia ser: “Dentre as pesquisas sobre
sinergias financeiras e operacionais, quantas e quais delas são aplicáveis às Fusões e Aquisições
(F&A)?”. Procurando-se no título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, pelos descritores [(“financial
synerg*” or “operational synerg*”) and (“merger” or “acquisition” or “M&A”)] na Coleção
Principal da Web of Sciense, somente artigos publicados em inglês, português ou espanhol, na data de
17.07.22, encontra-se um corpus de pesquisa composto por 26 resultados; e procurando-se pelos
mesmos descritores, no título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, somente artigos publicados em
inglês, português ou espanhol, na Scopus, na data de 17.07.22, encontra-se um corpus de pesquisa
composto por 56 resultados. Somando-se a quantidade de resultados dessas duas maiores bases de
dados do mundo, perfaz-se um total de 82 artigos, o que, se for realizado, daria um excelente MBS.
A RBI, a RBS e o MBS podem ser combinados com uma Análise Bibliométrica (AB) dos
dados, pois a AB pressupõe a realizadas de uma pesquisa sistemática dos dados, ou seja, realizada por
meio de um rigoroso protocolo de pesquisa. Essas modalidades de revisão de literatura, podem ainda se
combinar com muitas outras técnicas de análise ou interpretação dos dados, como a Metanálise (análise
quantitativa dos dados), a Metassíntese (análise qualitativa dos dados), a Análise de Conteúdo (análise
quantitativa dos dados), a Análise de Discurso (análise qualitativa dos dados), dentre vários outros. A
RBN, por sua vez, pode ser combinada com uma Análise de Conteúdo ou uma Análise de Discurso.
O levantamento bibliográfico oferece meios que auxiliam na definição e resolução dos
problemas já conhecidos, como também permite explorar novas áreas onde ainda não se cristalizaram
suficientemente. Permite também que um tema seja analisado sob novo enfoque ou abordagem,
produzindo novas conclusões. Além disso, permite a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais
ampla, mormente, em se tratando de pesquisa cujo problema requeira a coleta de dados muito
dispersos no espaço.
Sobre essa técnica de pesquisa para coleta de dados, Rodrigues (2007, p. 43) assinala:
Bibliográfica é a pesquisa limitada à busca de informações em livros e outros meios de
publicação. É o oposto da pesquisa de campo, distinguindo-se também e igualmente por
oposição da pesquisa in victro. Geralmente, a pesquisa bibliográfica integra o âmbito da
pesquisa ex-post-facto, pelo simples fato de que os livros e artigos de revista ou periódico
qualquer tratam, via de regra, de fatos consumados, não sendo habitual a pesquisa bibliográfica
baseada em leitura do tipo futurologia.

O levantamento bibliográfico pressupõe trabalhos anteriores que servem como fonte ou lente
teórica para embasamento de estudos mais abrangentes e ou aprofundados. Sobre esse aspecto,
Severino (2007, p. 122) destaca:

A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de


pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc. Utiliza- se de
dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente
registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador
trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos.

Realmente, toda pesquisa acadêmica requer em algum momento a realização de trabalho que
possa ser considerado como levantamento bibliográfico. Prova disso é que nas dissertações e teses da
atualidade, em sua maioria, há um capítulo especial dedicado à revisão bibliográfica cuja finalidade
principal é fundamentar o trabalho acadêmico teórica e consistentemente, identificando, não raro, o
estágio atual do conhecimento referente ao tema. Gil (2010, p. 29) explana sobre tal tipo de pesquisa
com os seguintes dizeres:

A pesquisa bibliográfica é elaborada com base em material já publicado. Tradicionalmente,


esta modalidade de pesquisa inclui material impresso, como livros, revistas, jornais, teses,
dissertações e anais de eventos científicos. Todavia, em virtude da disseminação de novos
formatos de informação, estas pesquisas passaram a incluir outros tipos de fontes, como
discos, fitas magnéticas, CDs, bem como o material disponibilizado pela internet.

Ressaltando a relevância de tal tipo de pesquisa, Gil (2010) destaca que ela permite ao
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia
pesquisar diretamente, em especial quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo
espaço. Entretanto, não se esquece de salientar que, como fontes secundárias, as bibliografias podem
apresentar dados coletados ou processados de forma equivocada, tornando possível a reprodução e/ou
ampliação desses erros em trabalhos nelas fundamentadas. Por essa razão, Gil (2010, p. 30) fornece
sugestões úteis para reduzir tal possibilidade, dizendo:

Para reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das condições em
que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informação para descobrir
possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas, cotejando-as
cuidadosamente.

De acordo com Gil (2010), não existem regras fixas para a realização de pesquisas
bibliográficas, mas algumas tarefas que a experiência demonstra serem importantes. Dessa forma,
seguiu-se o seguinte roteiro de trabalho:

a) Exploração das fontes bibliográficas: livros, revistas científicas, teses, relatórios de pesquisa
entre outros, que contêm não só informação sobre determinados temas, mas indicações de
outras fontes de pesquisa;
b) Leitura do material: conduzida de forma seletiva, retendo as partes essenciais para o
desenvolvimento do estudo, e analítica, avaliando a qualidade das informações coletadas;
c) Elaboração de fichas: foram elaboradas fichas de citações, de resumo e bibliográficas,
contendo as partes mais relevantes dos materiais consultados;
d) Ordenação e análise das fichas: organizadas e ordenadas de acordo com o seu conteúdo,
conferindo sua confiabilidade;
e) Conclusões: obtidas a partir da análise qualitativa e quantitativa dos dados.

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o levantamento bibliográfico é a técnica
própria e mestra para o embasamento teórico baseado em fontes secundárias.
Além do que já foi mencionado sobre esta a técnica geral de coleta de dados, ressalta-se que
existem atualmente dois principais tipos de levantamentos bibliográficos: a Revisão Bibliográfica
Narrativa (RBN) – ou Revisão Bibliográfica Simples (que foi a utilizada para a realização deste
trabalho) – e a Revisão Bibliográfica Sistemática (RBS). Enquanto por meio da primeira conseguimos
um bom conhecimento de uma área da qual ainda pouco ou nada conhecemos, por meio da segunda
conseguimos alcançar mais facilmente o estado da arte da temática investigada, categorizando todos os
principais autores dela no decorrer do tempo. Na próxima edição deste livro serão melhor explanadas
essas duas formas de levantamento bibliográfico.

3.4.3.1.2.2.2 Levantamento documental16

O levantamento documental, técnica também denominada Revisão Documental, ou


simplesmente documentação, visa à coleta de dados, a priori, primários, ou seja, aqueles que ainda não
foram submetidos a algum tipo de manipulação, e, a posteriori, secundários. Apesar disso, ele é
considerado um tipo de Observação Não Participante (ONP) porque estabelece uma relação indireta
entre o sujeito investigador e o objeto investigado.
O levantamento documental cConfigura-se na técnica de coleta de dados de documentos

16
Para mais informações, verificar o Apêndice 2, intitulado Levantamentos bibliográficos e documentais.
pessoais, registros institucionais, registros estatísticos e da comunicação de massa em geral, isto é, TV,
rádio, jornais, revistas, internet etc. Sobre essa técnica de pesquisa, Gil (1999, p. 160) salienta:

As fontes de “papel” muitas vezes são capazes de proporcionar ao pesquisador dados


suficientemente ricos para evitar a perda de tempo com levantamentos de campo, sem contar
que em muitos casos só se torna possível a investigação social a partir de documentos.

Tipificando os documentos utilizados nesse tipo de técnica, Gil (1999, p. 160-165, grifos meus)
apresenta quatro, quais sejam:

1) Registros estatísticos
[...] Entidades governamentais como a Fundação IBGE dispõem de dados referentes a
características socioeconômicas da população brasileira, tais como: idade, sexo, tamanho da
família, nível de escolaridade, ocupação, nível de renda etc. Os órgãos de saúde fornecem dados
a respeito de incidência de doenças, causas de morte etc. Uma entidade como o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos dispõe de dados sobre desemprego,
salários, greves, negociações trabalhistas etc. Organizações voluntárias têm dados referentes a
seus membros e também às populações que atendem. Institutos de pesquisa vinculados aos mais
diversos campos do conhecimento. Além disso, número cada vez maior de entidades vem-se
preocupando em manter bancos de dados. Isto se verifica em hospitais, escolas, agências de
serviço social, entidades de classe, repartições públicas etc. [...]
2) Registros institucionais escritos
Além dos registros estatísticos, também podem ser úteis para a pesquisa social os registros
escritos fornecidos por instituições governamentais. Dentre esses dados estão: projetos de lei,
relatórios de órgãos governamentais, atas de reuniões de casas legislativas, sentenças judiciais,
documentos registrados em cartórios etc. [...]
3) Documentos pessoais
Há uma série de escritos ditados por iniciativa de seu autor que possibilitam informações
relevantes acerca de sua experiência pessoal. Cartas, diários, memórias e autobiografias são
alguns desses documentos que podem ser de grande valia na pesquisa social. [...]
4) Comunicação de massa
Os documentos de comunicação de massa, tais como jornais, revistas, fitas de cinema,
programas de rádio e televisão, constituem importante fonte de dados para a pesquisa social.
Possibilitam ao pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual e também
lidar com o passado histórico. Neste último caso, com eficiência provavelmente maior que a
obtida com a utilização de qualquer outra fonte de dados. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que os levantamentos documentais são a
técnica própria e mestra para o embasamento teórico baseado em fontes, a priori, primárias e, a
posteriori, secundárias.

3.4.3.1.2.2.3 Estudo de caso ex loco

O estudo de caso evidencia-se como um tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho
descritivo e é um dos tipos de pesquisa qualitativa que vem conquistando crescente aceitação na área
da educação (RODRIGO, 2008). Severino (2007, p. 121) conceitua o estudo de caso como:

Pesquisa que se concentra no estudo de um caso particular, considerado representativo de um


conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo. A coleta dos dados e sua
análise se dão da mesma forma que nas pesquisas de campo, em geral.

Sobre o papel do pesquisador nesse contexto, Rodrigo (2008, p. 3) salienta:

O pesquisador não pretende intervir sobre a situação, mas dá-la a conhecer tal como ela lhe
surge. Pode utilizar vários instrumentos e estratégias. Entretanto, um estudo de caso não
precisa ser meramente descritivo. Pode ter um profundo alcance analítico, pode interrogar a
situação. Pode confrontar a situação com outras já conhecidas e com as teorias existentes. Pode
ajudar a gerar novas teorias e novas questões para futura investigação. As características ou
princípios associados ao estudo de caso se superpõem às características gerais da pesquisa
qualitativa.

Vale ressaltar que o caso selecionado para a pesquisa precisa ser significativo e bem
representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para situações análogas,
autorizando inferências. Devem-se seguir os procedimentos da pesquisa de campo na etapa de coleta e
registro dos dados, os quais devem ser trabalhados, por meio de análise rigorosa, e apresentados em
relatórios qualificados (SEVERINO, 2007).
Ainda sobre a natureza e adequada utilização dessa modalidade de pesquisa, os seguintes autores
emprestam-nos seus conhecimentos com os seguintes dizeres:

O que é o Estudo de Caso? É uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se
analisa aprofundadamente. Esta definição determina suas características que são dadas por duas
circunstâncias, principalmente. Por um lado, a natureza e abrangência da unidade. Esta pode ser
um sujeito. Por exemplo, o exame das condições de vida (nível socio-econômico, escolaridade
dos pais, profissão destes, tempo que os progenitores dedicam diariamente ao filho, orientando-
o nos estudos, tipo de alimentação do aluno, prática de esportes, sono, perspectivas do estudante
e dos pais em relação ao futuro da criança, a opinião dos professores, dos colegas, etc.) que
rodeiam um aluno que repetiu a primeira série do 2º grau, de uma escola pública. No estudo de
uma turma de 8ª série de uma escola particular, de uma comunidade de pescadores, de uma
escola de uma vila popular, etc. é fácil compreender que a análise do ambiente, negativo ou
positivo, que circunda uma pessoa, é muito mais simples que a interpretação dos problemas que
apesenta uma comunidade agícola que pretende organizar uma cooperativa de produção e
consumo.
Em segundo lugar, também a complexidade do Estudo de Caso está determinada pelos suportes
teóricos que servem de orientação em seu trabalho ao investigador. Um enfoque a-histórico,
reduzido às características culturais de um meio específico no qual se insere a unidade em
exame, de natureza qualitativa fenomenológica, é menos complexo, sem dúvida, que uma visão
na qual se observa o fenômeno em sua evolução e suas relações estruturais fundamentais.
(TRIVIÑOS, 1987, p. 133-134).

[...] Trata-se de uma investigação empírica que pesquisa fenômenos dentro de seu contexto real
(pesquisa naturalística), onde o pesquisador não tem controle sobre eventos e variáveis,
buscando apreender a totalidade de uma situação e, criativamente, descrever, compreender e
interpretar a complexidade de um caso concreto. Mediante um mergulho profundo e exaustivo
em um objeto delimitado – problema de pesquisa -, o Estudo de Caso possibilita a penetração
na realidade social, não conseguida plenamente pela avaliação quantitativa. [...]. (MARTINS,
2008, p. xi).

Dentre vários tipos de estudos de caso, Triviños (1987, p. 134-136. Grifos meus) apresenta três,
quais sejam:

1º) Estudos de Casos histórico-organizacionais


O interesse do pesquisador recai sobre a vida de uma instituição. A unidade pode ser uma
escola, uma universidade, um clube, etc.. O pesquisador deve partir do conhecimento que existe
sobre a organização que deseja examinar. Que material pode ser manejado, que está disponível,
ainda que represente dificuldades para seu estudo. Isto significa que existem arquivos que
registraram documentos referentes à vida da instituição, publicações, estudos pessoais com os
quais é possível realizar entrevistas etc.. Esta informação prévia necessária é básica para
delinear preliminarmente a coleta de dados.
2º) Estudo de Casos observacionais
Esta é uma categoria típica, poderíamos dizer, de pesquisa qualitativa. A técnica de coleta de
informações mais importante é a observação participante, que, lembramos, às vezes, aparece
como sinônima de enfoque qualitativo. O foco de exame pode ser uma escola, um clube, uma
Associação de Vizinhos, uma Cooperativa de Produção e Consumo etc.. Agora não é a
organização como um todo o que interessa, senão uma parte dela. [...]
É muito interessante salientar que o investigador pode ir às organizações com propósitos muito
definidos. E talvez tudo dê certo. [...] Iso quer dizer que o pesquisador deve entrar em contato
com as organizações e, talvez, com elas resolver o que mutuamente se considere importante
para trabalhar [...]
3º) O Estudo de Caso denominado História de Vida
Geralmente, a técnica utilizada para investigar em “História de Vida” é a entrevista semi-
estruturada que se realiza com uma pessoa de relevo social (escritor famoso, cientista célebre,
filantropo esclarecido, político de renome, erc.), ou com uma pessoa de uma vila popular (como
a antiga professora, presidente da Associação de Mães, operários distintos, uma família
qualquer etc.). A entrevista aprofunda-se cada vez mais na “História de Vida” do sujeito. [...]

Caracterizando e tipificando estudos de caso, Yin (2010, p. 38-41) explana sobre os estudos de
caso explanatórios ou causais, os estudos de caso descritivos e os estudos de caso exploratórios,
conforme seus dizeres:

O estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em


profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno
e o contexto não são claramente evidentes. [...]
A investigação do estudo de caso enfrenta a situação tecnicamente diferenciada em que
existirão muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e, como resultado, conta
com múltiplas fontes de evidência, com os dados precisando convergir de maneira triangular, e
como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento anterior das proposições teóricas para
orientar a coleta e a análise de dados. [...]
E, sim, os estudos de caso têm um lugar diferenciado na pesquisa de avaliação [...]. Existem ao
menos quatro aplicações diferentes. O mais importante é explicar os presumidos vínculos
causais nas intervenções da vida real que são demasiado.

Com base em tais pressupostos, percebe-se que existem estudos de caso abordados
qualitativamente, tais como os observacionais e os denominados “História de Vida”, como também
aqueles abordados qualitativa e ou quantitativamente, como os histórico-organizacionais. Uma das
maiores vantagens desse tipo de pesquisa é a profundidade alcançada e, consequentemente, uma
contribuição social mais significativa dos resultados produzidos.
Além de tudo o que já foi explanado sobre estudo de caso, vale ressaltar que ele pode ser
realizado tanto in loco quanto ex loco. Tudo vai depender de como ele é realizado. Por exemplo, se
vamos analisar os relatórios financeiros de uma empresa, uma vez tendo-se acesso a esses relatórios
pela internet, no seu site institucional, e em bibliografias diversas, pode-se e deve-se – para a economia
dos recursos – realizá-lo ex loco; do contrário, se não é possível coletar dados primários pela internet
ou em bibliografias, então pode-se e deve-se realizá-lo in loco, tal como na Pesquisa Urbanística de
Entorno de Domicílio, também denominada de pré-coleta, realizada no Censo Demográfico brasileiro.

3.4.3.1.2.2.4 Pesquisa de SurveyEntrevista ex loco

Mineiro (2020) afirma que a palavra Survey não tem termo correspondente em português, mas é
comumente transliterado meramente por “levantamento”, o que, na opinião da autora, não abrange toda
a semântica da expressão, razão pela qual ainda se mentem na literatura crítica a utilização da
expressão inglesa.
De acordo com Mineiro (2020, p. 286), as pesquisas Survey tem como objetivo principal
“fornecer descrições estatísticas de pessoas por meio de perguntas, normalmente aplicadas em uma
amostra”. Por essa razão, elas estão mais alinhadas com a abordagem quantitativa de pesquisa, e com
os enfoques paradigmáticos positivistas e pós positivistas, “por questões de origens históricas, formas
de coleta e análise de dados” (MINEIRO, 2020, p. 286). Contudo, a autora (2020, p. 286) enfatiza:

Entretanto, conhecê-la a fundo pode fazer avançar a ciência, pois com as devidas adequações
epistemológicas e de forma, pode servir à abordagem qualitativa embasada nas perspectivas
paradigmáticas da Teoria Crítica, Construtivista e/ou Participativa (LINCOLN; GUBA, 2010).

Sobre a origem desse tipo de técnica científica, Mineiro (2020) conta que ela surgiu nos censos
demográficos norte-americanos, e na política também, durante o século XIX. Sobre esses aspectos, a
autora (2020, p. 288) empresta-nos seus dizeres:

A história dos Surveys tem seus registros iniciais nos Estados Unidos da América (EUA) para
efeitos de contagens de habitantes (Censo), bem como se confunde com a história da
amostragem. O U.S. Bureau of Census é o responsável pelo recenseamento decenal da
população norte-americana (equivalente ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE) seus dados coletados constituíram um valioso recurso para o desenvolvimento de
desenhos de amostras em Surveys específicos. [...]
Um dos primeiros usos políticos dos Survey ocorreu em 1880 quando o sociólogo político
alemão, Karl Marx, enviou pelo correio 25.000 questionários para trabalhadores franceses no
intuito averiguar em que grau eram explorados pelos seus patrões. Outro usar o Survey foi Max
Weber em seu estudo sobre A Ética Protestante. A maioria das pesquisas de Survey
contemporâneas foi realizada por pesquisadores americanos. Pela constituição dos Estados
Unidos a cada 10 anos deve-se fazer um censo, com
cujas informações é possível identificar a devida representação junto à House of
Representatives (parte do congresso norte-americano equivalente à Câmara dos Deputados)
bem como, coletam-se dados sobre idade, educação, habitação, etc. Como ocorre decenalmente,
acaba por limitar-se no tempo, destarte as pesquisas por amostragem, neste interstício,
tornaram-se parte da vida norte-americana desde os anos de 1930.

Dá para notar pelas palavras supracitadas da autora (2020) que Survey e amostragem não são
sinônimos, embora suas origens remontam a mesma época, e seus usos estejam sensivelmente
interligados na prática da investigação científica.
Sobre os tipos de Surveys, Mineiro (2020) apresenta um quadro, o qual compilo a seguir:

Quadro 8 – Tipos de Surveys


Tipos de Surveys
Há dois tipos de Surveys que se entrecruzam e formam um terceiro:
Neles os dados são colhidos num dado momento, a partir de uma amostra
selecionada para descrever alguma população maior, na mesma ocasião.
1) Surveys Pode ser usado não só para
interseccionais descrever, mas também para determinar relações entre variáveis na época
da coleta.
Neles os dados são coletados em tempos diferentes e relatam mudanças de
descrições e explicações, permitindo a análise de dados ao longo do tempo.
2) Surveys Os principais desenhos longitudinais são estudo de tendência, estudos de
longitudinais coortes e de painel.
São aqueles realizados numa população que pode ser amostrada e estudada
em ocasiões diferentes, ainda que pessoas diferentes sejam estudadas,
acabam por representar a mesma população. Ressalta-se que estudo de
2.1) Estudos de tendência muitas vezes envolvem longos períodos de coleta de dados para
tendência que se possa nas tendências nas relações entre as variáveis.
São aqueles que se baseiam em descrições de uma população geral ao longo
do tempo, tais estudos focalizam a mesma população específica cada vez
que os dados são coletados,
embora as amostras estudadas possam ser diferentes, ou seja, a referência
2.2) Estudos de de tempo é a mesma, variável é a mesma, porém em diferentes amostras.
cortes
São aqueles que envolvem a coleta de dados ao longo do tempo na mesma
amostra de respondentes, a qual se chama painel. Pode-se entrevistar todos
os membros do painel em
intervalos mensais durante a investigação, analisando outras características
de quem muda e talvez fornecer explicações das razões de mudança.
Tendem a ser caros e demorados,
um ponto fraco é que os respondentes podem não querer ou não poder
participar posteriormente, um ponto forte é a capacidade de examinar os
2.3) Estudos de mesmos respondentes em
painel diferentes ocasiões. Seu principal mecanismo analítico é a tabela de
mudanças que faz tabulações cruzadas de algumas características em mais
de uma ocasião, trata-se do
desenho de Survey mais sofisticado e que mais se aproxima de
experimentos em laboratório.
3) Surveys Nele buscam-se relações entre as variáveis para fazer comparações, os
interseccionais respondentes devem fornecer dados relevantes para que se possa aproximar
como aproximação o estudo ou mudança.
de Surveys
longitudinais

Fonte: Mineiro (2020, pp. 290-291). Elaboração própria.

São muitas as técnicas específicas que podem ser utilizadas nas pesquisas Surveys (MINEIRO,
2020). Dentre elas, a autora (2020) destaca as seguintes: a entrevista, o questionário – que é
autoadministrado –, o formulário – que é administrado pelo pesquisador –, a documentação, a
tabulação, a codificação, Análise de Conteúdo, técnicas estatísticas, dentre várias outras.
Sobre as vantagens e desvantagens dos instrumentos de coleta utilizados nas pesquisas Surveys,
Monteiro (2020) apresenta um quadro, o qual compilo a seguir:

Quadro 9 – Tipos, vantagens e desvantagens de Surveys


TIPO VANTAGENS DESVANTAGENS
Meio eficaz de obter Tomam muito tempo, costumam sair mais caro
cooperação, nela é possível pelo treinamento da equipe, há grupos amostrais
tirar dúvidas dos que não tornam as entrevistas acessíveis (por
respondentes, pode incluir exemplo, condomínios fechados, áreas de alta
outros métodos de coleta (por criminalidade, etc.).
Entrevistas exemplo, a observação) e Permissão legal para gravar, fotografar, filmar
pessoais outros recursos (visuais, pode não ser concedida.
auditivos, vivências, etc.),
permite estabelecimento de
laços de confiança.
Custos relativamente menores; Exclui quem não tem telefone (geralmente fixo)
pode-se usar a discagem ou quem não atende ligações de números
aleatória de números para a não conhecidos, a ausência de resposta é maior,
amostragem; proporciona limita a quantidade de questões/
Entrevistas por melhor acesso alternativas/recursos visuais, não
telefone a certos grupos; período de permite coleta por observação, não é adequado
coleta relativamente menor, para questões delicadas.
não é preciso uma equipe tão
grande, saindo um pouco mais
barato neste sentido.
É possível apresentar recursos Requer uma estruturação e layout
visuais, torna viável respostas cuidadosamente preparados, questões
longas ou complexas, permite abertas/amplas são de difícil tabulação, não
questões similares (que contempla
Questionários servem de dispositivos de analfabetos ou pessoas pouco habilidosas com a
(ditos conferência/segurança), dá leitura e escrita. (Caso não esteja em braile
autoaplicáveis) mais liberdade e oferece também não contempla cegos).
menos constrangimento aos
entrevistados,
consequentemente mais
maior confiabilidade às
respostas.
Custos relativamente baixos, Dificulta a sensibilização para obter a
não requer grande equipe, cooperação do respondente, os endereços
proporciona acesso a podem não ser confiáveis diminuindo ainda
Questionários amostras diversas, mais a taxa de retorno, não oferece maneira de
por proporciona mais esclarecer dúvidas.
correspondência tempo para resposta
permitindo realizar
consultas.
Custo baixo, imediata Quem não tem acesso à internet fica excluído,
obtenção de respostas e bem como, dependendo da plataforma usada
tabulação automática, oferece exclui seus “não usuários”, há o desafio de obter
Questionários mais tempo para o a cooperação dos respondentes, não há como
pela internet respondente que pode esclarecer as dúvidas de pronto,
responder em qualquer lugar e necessita lista de e-mails confiáveis.
com vários
dispositivos.
Fonte: Mineiro (2020, pp. 291-292). Elaboração própria.

Mineiro (2020, p. 299) ressalta que “uma limitação dos Surveys é a taxa de resposta aos
instrumentos de coleta de dados”. A autora (2020) afirma que quando as taxas de resposta são altas,
existe um pequeno potencial de erros pela ausência de respostas; entretanto, quando as taxas de
resposta são baixas, existe um grande potencial para erros, servindo de base a críticas sobre a
verossimilhança dos dados.
Sobre as questões éticas intrínsecas das pesquisas de Surveys, Mineiro (2020) salienta que em
muitos casos faz-se necessária a aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa para aplica-las aos
respondentes, e que, para dar mais credibilidade à investigação científica, o investigador pode buscar a
assinatura de cooperação voluntária dos participantes da pesquisa, quando, é claro, isso for possível
(em Surveys feitos por telefone as assinaturas não são possíveis). Deve-se também deixar claro aos
respondentes sobre o sigilo das informações prestadas, que são asseguradas, na maioria dos países, por
dispositivos legais (é o que ocorre com o Censo Demográfico).
Os Surveys podem ser realizados in loco ou ex loco. Em Censos Demográficos, por exemplo,
nos quais se busca sempre dados diretamente com os respondentes, em suas residências, são realizados
os Surveys in loco. Contudo, em pesquisas eleitoras, por exemplo, ou quando não se pode coletar os
dados diretamente com os respondentes (como durante a pandemia de coronavírus, por exemplo), os
Surveys são realizados ex loco. Contudo, tanto os Surveys in loco quanto os Surveys ex loco, seguem os
mesmos procedimentos científicos nesse tópico explanados.
A entrevista é uma técnica bastante utilizada nas pesquisas observacionais participantes, sendo
também útil em pesquisas clínicas. Sobre sua natureza, alguns autores emprestam-nos suas ideias:

A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a
respeito de determinado assunto, mediante uma conversação, de natureza profissional. É um
procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no
diagnóstico ou no tratamento de um problema social. (MARCONI; LAKATOS, 2008, p. 80).

Trata-se de uma técnica de pesquisa para coleta de dados cujo objetivo básico é entender e
compreender o significado que os entrevistados atribuem a questões e situações, em contextos
que não foram estruturados anteriormente, com base nas suposições e conjecturas do
pesquisador. (MARTINS, 2008, p. 27).

Colocando em pauta ainda outros aspectos sobre essa técnica, Dencker e Viá (2012, p. 158)
ressaltam:

A entrevista desenvolve-se em uma situação social, em que entrevistador e entrevistado


interagem entre si, influenciando um ao outro não apenas por meio das palavras que
pronunciam, mas também por outros sinais, como inflexão da voz, gestos, expressão facial e
outros traços pessoais, além das manifestações de comportamento que acompanham a
comunicação verbal.

Existem vários tipos de entrevista, sendo as principais: o focus group (ou grupo focal), a
entrevista estruturada, a semiestruturada e a não estruturada. Sobre esse aspecto, Marconi e Lakatos
(2008, p. 82) apresentam três tipos:

a. Padronizada ou estuturada. É aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente


estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza de acordo com
um formulário elaborado e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo com
um plano. [...]
b. Despadronizada ou não estruturada. O entrevistado tem liberdade para desenvolver cada
situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de poder explorar mais
amplamente uma questão. Em geral, as perguntas são abertas e podem ser respondidas dentro de
uma conversação informal. [...] Esse tipo de entrevista [...] apresenta três modalidades:
entrevista focalizada [...], entrevista clínica [...] [e] entrevista não dirigida.
c. Painel. Consiste na repetição de perguntas, de tempo em tempo, às mesmas pessoas, a fim de
estudar a evolução das opiniões em períodos curtos. As perguntas devem ser formuladas de
maneira diversa, para que o entrevistado não distorça as respostas com essas repetições.

Ainda no que concerne aos tipos de entrevistas, Vergara (2012) considera dois critérios para a
sua classificação: o número de pessoas nela envolvida e sua estrutura. Quanto ao número de pessoas,
Vergara (2012, p. 6-7) apresenta a entrevista individual e a entrevista coletiva, as quais, sintetizando as
suas palavras, são:

Entrevista individual é a que se estabelece entre um entrevistador e um entrevistado. Quanto


ao número de pessoas que podem ser individualmente entrevistadas, existem autores que
consideram 15 um número mínimo para entrevistas e 25 um número máximo adequado. Esses
limites não podem, contudo, ser tomados ao pé da letra. Um pesquisador, por exemplo, pode
desejar (e conseguir) entrevistar ministros de estado. Cinco já parece um número bom, não?
Enfim, tudo depende do problema da investigação, da metodologia escolhida e da
representatividade dos entrevistados. Depende, também, de bom-senso e de domínio de certas
regras científicas, por parte do pesquisador. [...]
Coletiva é aquela entrevista que tem um ou mais entrevistadores e alguns entrevistados. É
também conhecida como grupo focal. Grupo focal, igualmente denominado grupo de foco,
entrevista focalizada de grupo, reuniões de grupos e outras denominações, é aquele no qual as
entrevistas são conduzidas por um entrevistador, designado como moderador, que é o
catalisador da comunicação entre os entrevistados, ou seja, entre os participantes. [...]
Quando se trata de entrevistas grupais, autores consideram que um mínimo de seis e um
máximo de dez pessoas pode ser um limite adequado. Contudo, esses números são arbitrários,
logo, cabe ao pesquisador definir os limites. [...]
(grifos meus)

Quanto à estrutura, por sua vez, Vergara (2012, p. 7-17) apresenta a entrevista fechada, a
entrevista semiaberta e a entrevista aberta, as quais, sintetizando as suas palavras, são:

Um roteiro cuja estrutura seja fechada apresenta perguntas ou tópicos ordenados e,


basicamente, não permite alteração, seja para inclusão, exclusão ou troca de ordem de perguntas
ou de tópicos. [...]
Um roteiro cuja estrutura seja semiaberta, tal como o roteiro de estrutura fechada, é focalizado.
Porém, ao contrário da estrutura fechada, permite inclusões, exclusões, mudanças em geral nas
perguntas, explicações ao entrevistado quanto a alguma pergunta ou alguma palavra, o que lhe
dá um caráter de abertura. [...]
Um roteiro cuja estrutura seja aberta tem o objetivo de buscar explorar de maneira mais ampla
uma situação, seja fazendo perguntas diretas, seja inserindo-as no meio de uma conversa que
inclua outros pontos. Por exemplo, para levantar o que gerentes de uma determinada empresa
pensam acerca da inclusão de pessoas com deficiência física nos quadros da empresa, é possível
conversar com eles sobre assuntos organizacionais e, na conversa, incluir perguntas para o caso
específico dos deficientes físicos. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que tal técnica implica a participação tanto
do entrevistado como do entrevistador, por essa razão, integrando a observação participante.
Quando não existe a necessidade de se coletar, por meio da entrevista, dados primários, isto é,
aqueles que ainda não foram manipulados, recomenda-se realizá-la ex loco, ou seja, sem precisar
estabelecer contato direto com o objeto de pesquisa. Por exemplo, durante a pandemia de coronavírus
no Brasil e no mundo todo, o Datafolha (2020) realizou várias pesquisas entrevistando indivíduos em
todas as Unidades Federativas brasileiras, por meio de telefone, ou seja, ex loco. A entrevista ex loco
também pode ser realizada por meio de questionário eletrônico, sem que seja necessário o contato
direto com o objeto investigado. Em muitos casos, ela se mostra a melhor opção por ser menos onerosa
e mais fácil de aplicar, menos trabalhosa do que a entrevista in loco.

3.4.3.1.3 Amostragem

Por amostragem, ou levantamento amostral, entende-se a técnica de coleta de dados em que o


pesquisador seleciona estrategicamente os componentes do seu objeto de pesquisa. Por exemplo, se seu
objeto de pesquisa é o cidadão de determinado perfil da cidade de São Paulo, são selecionados,
aleatoriamente ou não, uma quantidade n predefinida de cidadãos paulistas desse perfil, e, por meio dos
meios instrumentais a essa técnica inerentes, normalmente questionários ou formulários, os dados são
coletados para ulterior análise e interpretação. Trata-se da técnica estatística mais utilizada na pesquisa
científica, por causa da eficácia dos seus resultados, da qualidade das informações produzidas e do
baixo grau de complexidade tanto na sua compreensão como no seu uso.

3.4.3.1.3.1 Amostragem probabilística

Quando os componentes do objeto de pesquisa são selecionados aleatoriamente, isto é,


probabilisticamente, a técnica é denominada amostragem probabilística (NETQUEST, 2019;
MINEIRO).
Já existem vários tipos de amostragens probabilísticas, tais como a Amostragem Aleatória
Simples, Amostragem Sistemática, Amostragem Estratificada, e Amostragem por Conglomerados ou
Clusters. Também existem várias distribuições estatísticas desenvolvidas para o seu uso (NETQUEST,
2019; MINEIRO, 2020).
Mineiro (2020, p. 297-298) apresenta um quadro que sistetiza as principais ténicas de
amostragem probabilística, o qual compilo a seguir:

Quadro 10 – Amostragem Probabilística


AMOSTRAGEM PROBABILÍSTICA
São amostragens em que a seleção é aleatória de tal forma que cada elemento da lista tem a mesma
possibilidade de ser escolhido. A regra básica da amostragem aleatória é fornecer estimativas para o
parâmetro populacional (ex. Média, Mediana, Moda, Variância). Cada elemento deve aparecer uma
só vez. Deve-se informar ao leitor as deficiências de qualquer moldura de amostragem que se
escolher.
Amostragem Sistemática (AAS)Amostragem Aleatória Simples

Fundamenta-se no princípio de que todos os membros de uma população têm a mesma


probabilidade de serem incluídos na amostra. É indicado para populações homogêneas.
Rotulam-se os elementos da população e sorteiam-se os indivíduos que farão parte da
amostra; uma vez estabelecido uma moldura de amostragem deve-se numerar cada elemento
da lista com números distintos, sem saltar nenhum. É o protótipo da amostragem da
população, os membros são selecionados um de cada vez, independentes um do outro, com
ou sem reposição. Ex.: Aplicar um questionário de satisfação sobre os serviços prestados por
uma empresa, lista de clientes cadastrados. Sorteia-se um quantitativo de clientes para
129esponde-lo.

Aplica-se quando a população homogênea. Para sua execução a população deve ser ordenada
de forma que os elementos sejam identificados pela posição que ocupam na lista e seu sorteio
é feito periodicamente. O elemento da lista é escolhido para inclusão na amostra. Para
garantia contra viés, seleciona-se o primeiro elemento aleatoriamente. Empiricamente, os
resultados são virtualmente idênticos. Em sua elaboração pode-se usar uma lista, para a qual
se determina o número de entradas e de elementos que serão selecionados, então se divide
este último pelo primeiro e tem-se uma fração. Um cuidado que se deve ter é saber se a lista é
ordenada por algumas características, ou tem um padrão recorrente, o que irá afetar
diferencialmente a amostra dependendo do início. Ex.: Aplicar um questionário de satisfação
sobre os serviços prestados por uma empresa, em seu banco de dados de clientes cadastrados.
Fixa-se que de dez em dez (ou outra contagem qualquer), seleciona-se o respondente.
Amostragem Estratificada

Consiste em dividir a população em A estratificação pode ser subdividida em:


subgrupos mais homogêneos Nela sorteia-se igual número de
(estratos), de tal forma que haja uma Uniforme elementos de cada estrato.
homogeneidade dentro e entre os
estratos. Sua definição pode ser de Nela o número de elementos em
acordo com sexo, idade, renda, cada estrato é proporcional ao
grau de instrução, etc. Geralmente, a Proporcional número de elementos existentes no
retirada das amostras nos estratos é estrato.
realizada de forma aleatória
simples. É um método para obter
maior grau de representatividade, Nela toma-se em cada estrato um
reduzindo o provável erro amostral. O número de elementos proporcional
efeito da estratificação é garantir a ao número de elementos do estrato e
representação adequada das variáveis também proporcionalmente a
possibilitando ser mais representativa variação da variável de
que uma amostra aleatória simples. interesse no estrato, medida pelo seu
Ex.: Aplicar um questionário de Ótima desvio padrão.
satisfação sobre os serviços prestados
a dez leitores em uma biblioteca, com
100 leitores cadastrados. Verifica-se
que das 100 pessoas 60% são
mulheres e 40% são homens.
Delimita-se que dos 10 leitores a
serem questionados 6 devem ser
mulheres e 4 homens. Diz se, neste
caso, que o sexo é a variável de
estratificação, ou que a população foi
estratificada por sexo.
Divide-se uma população em pequenos grupos e sorteia-se um número suficiente desses
Amostragem por Conglomerados ou Clusters

pequenos grupos (conglomerados ou clusters), cujos elementos constituirão a amostra. Este


esquema amostral é utilizado quando há uma subdivisão da população em grupos que sejam
bastante semelhantes entre si, mas com fortes discrepâncias dentro dos grupos, de modo que
cada um possa ser uma pequena representação da população de interesse específico. A
amostragem é realizada em cima dos conglomerados, e não mais sobre os indivíduos da
população (pode acontecer de um grupo sorteado
ter mais indivíduos que outro, mas se está comparando o grupo e não o quantitativo de
pessoas). É um método muito utilizado por motivos de ordem prática e econômica, pois ajuda
quando é impossível ou impraticável criar um quadro de amostragem de uma população alvo,
porque ela é
espalhada geograficamente e o custo da recolha de dados é relativamente alta. O
conglomerado ou cluster é um agrupamento natural de unidades. Esta amostragem é
recomendada pela eficiência (capacidade de minimizar a listagem de elementos da
população) embora, à custa de imprecisão (erro
amostral). Babbie (1999) explica que a amostragem por conglomerados é um método difícil,
porém importante, adequado para quando for impossível compilar uma lista de todos os
elementos da população em estudo. Ex:. Conhecer as características dos alunos da UFBA, a
qual é multicampi. Os
cursos serão os grupos (conglomerados), numeram-se os grupos e sorteia-se a quantidade de
grupos para a amostra. Daí questiona-se os alunos pertencentes aos grupos sorteados.
Fonte: Mineiro (2020, p. 297-298). Elaboração própria.

3.4.3.1.3.2 Amostragem não probabilística

Quando, porém, os componentes do objeto de pesquisa não são selecionados aleatoriamente, ou


seja, quando o pesquisador define quais componentes quer escolher, essa técnica é denominada
amostragem não probabilística (NETQUEST, 2019; MINEIRO, 2020).
Hoje, já existem vários tipos de amostragens não probabilísticas, tais como Amostragem por
Acessibilidade ou por Conveniência, Amostragem Intencional ou por “Juris”,Julgamento, Amostragem
por Tipicidadecasos críticos, Amostragem por casos típicos, e Amostragem por Cotas ou Amostragem
Multiestágio, e Amostragem por Bola de Neve. Também existem várias distribuições estatísticas
desenvolvidas para o seu uso (NETQUEST, 2019; MINEIRO, 2020).
Mineiro (2020, p. 296) apresenta um quadro que sistetiza as principais técnicas de amostragem
não probabilística, o qual compilo a seguir:

Quadro 11 – Amostragem não probabilística


AMOSTRAGEM NÃO PROBABILÍSTICA
São amostragens em que há uma escolha deliberada dos elementos da amostra. Depende dos
critérios e julgamento do pesquisador. A população tem uma probabilidade conhecida de fazer parte
da amostra. É aquela em que a probabilidade de seleção não pode ser calculada. Produzem economia
de custos para levantamentos de entrevista pessoal.
Amostragem por Amostragem intencional Amostragem por cotas ou Amostragem
acessibilidade ou ou por julgamento multiestágio (ou multi-etápica ou por etapas)
por conveniência
O menos rigoroso Selecionar um subgrupo Apresenta maior rigor entre as amostragens não
de todos os tipos de da probabilísticas e ocorre por etapas: classificar a
amostragem. A população, com base nas população, determinar a proporção da população
seleção da amostra informações disponíveis, para cada classe, fixar cotas em observância à
é a cargo do que possa ser considerado proporção das classes consideradas. É utilizada
pesquisador e representativo de toda a quando não existe um cadastro da população que
resume-se aos população. Requer possibilite a realização do sorteio necessário à
indivíduos que conhecimento da amostragem aleatória, mas, ao mesmo tempo,
estão disponíveis, população e do subgrupo existe informação suficiente sobre o perfil
sem um selecionado. Aplica-se populacional. Tem início com uma matriz
critério de seleção quando você quer estudar descrevendo as características da população
minimamente um pequeno subconjunto alvo.
justificável. Ex.: de uma população maior Tal Matriz é o conjunto com as características
Entrevistar os cuja enumeração total seria que a cota deve ter. A facilidade e o baixo custo
professores das quase impossível. Ex.: desse
Escolas alfa e beta, Entrevista com método explica sua popularidade, mas este
pois foram os representantes discentes de Survey raramente produz dados com valor
que autorizaram a determinado curso de uma genérico. Ex.:
entrevista. instituição. Em geral é utilizada em pesquisa eleitoral e
pesquisa de mercado.
Amostragem por Amostragem por Bola de Amostragem por casos típicos
casos críticos Neve
Nele os O pesquisador escolhe os Nesta amostragem primeiro faz-se uma
participantes são participantes iniciais da sondagem que permita levantar a moda(podendo
selecionados por amostra e, estes indicam ser obtida também por base de dados, desde que
representar casos outras pessoas para ser com sujeitos
outliers – fora da participantes. O nome identificáveis), para que se consiga inferir quais
normalidade – deriva da metáfora de que respondentes se enquadram no perfil da maioria,
(extremos), muito a bola de neve (a amostra) assim amostra representa a situação
distantes da começa pequena e vai predominante, tendo muita representatividade,
mediana. Exemplo: aumentando à porém
Investigação com medida que gira (a coleta desconsidera perfis diferenciados, pois exclui os
alunos vai sendo feita). Exemplo: extremos. Exemplo: Em uma pesquisa que se
superdotados cuja Amostra de clientes de deseja conhecer a satisfação dos clientes
média global de uma empresa questionados determinada empresa, pode-se buscar no
notas é muito sobre serviços que cadastro
superior à média da poderiam ser ofertados e de clientes aqueles com perfil típico para compor
maioria dos alunos. que ao final de um a
questionário indicam amostra.
outros clientes.

Fonte: Mineiro (2020, p. 296). Elaboração própria.

3.4.3.1.4 Testagem

A testagem é uma técnica utilizada para coletar dados especialmente em estudos clínicos. É
comum o uso de testes e de escalas sociais em pesquisas das ciências da saúde em geral, tais como
Medicina, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Psicologia, Odontologia, Farmácia, Veterinária,
Nutrição, Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Engenharia Biomédica etc. Nesse diapasão,
Gil (1999, p. 150) explana características fundamentais dos testes e das escalas sociais a seguir:

Os testes são aplicados nos mais diversos campos da atividade humana, pois sempre há a
necessidade de se colocar alguma coisa à prova. Nas ciências, particularmente, os testes são
amplamente requeridos. Todavia, neste domínio o significado de teste é bem mais preciso, pois
envolve o sentido de medida. Assim, aplicar um teste significa medir, isto é, comparar um
critério determinado.

São muitos os critérios para se classificar os testes, sendo, consoante Gil (1999, p. 152-153,
grifos meus), os principais:

a) Segundo o uso ou emprego: individuais; coletivos; auto-administrados;


b) Segundo a modalidade de apresentação: de lápis e papel; verbais; não verbais; mistos; de
realização ou execução; com uso de projeções ou televisão.
c) Segundo a abordagem: analíticos; sintéticos; sincréticos.
d) Segundo o objeto: de eficiência (inteligência, aptidões artísticas, motoras, mecânicas,
sensoriais, profissionais, etc.); de personalidade (interesses, atitudes, valores, etc.); de
escolaridade.
e) Segundo a natureza da função: de capacidade; de involução; de deterioração.
f) Segundo a modalidade de construção: f1) com referência à construção interna: testes
constituídos de um só tipo de prova; testes organizados com tarefas, ítens ou provas variadas;
f2) com referência à construção externa: testes isolados; baterias ou escalas.

Por sua vez, as escalas sociais podem e são comumente usadas aos testes e, mais do que isso,
elas são normalmente utilizadas durante a realização do teste, amiúde como o principal instrumento da
testagem. Sobre elas, Gil (1999, p. 139) elucida:

Escalas sociais são instrumentos construídos com o objetivo de medir a intensidade das opiniões
e atitudes da maneira mais objetiva possível. Embora se apresentem segundo as mais diversas
formas, consistem basicamente em solicitar ao indivíduo pesquisado que assinale, dentro de
uma série graduada de ítens, aqueles que melhor correspondem à sua percepção acerca do fato
pesquisado.

Gil (1999) alista seis problemas básicos das escalas sociais, quais sejam: a) definição de um
contínuo; b) fidedignidade; c) validade; d) ponderação dos ítens; e) natureza dos ítens; e f) igualdade
das unidades. Em seguida, o autor (GIL, 1999, p. 143-148. G, grifos meus) apresenta seis tipos de
escalas sociais que, sinteticamente, são:

1. Escalas de ordenação
Estas escalas são constituídas por uma série de palavras ou enunciados que os sujeitos devem
ordenar de acordo com sua aceitação ou rejeição. Por exemplo: pode-se solicitar que as pessoas
ordenem uma série de nacionalidades de acordo com sua preferência em termos de
relacionamento. [...]
2. Escalas de graduação
As escalas de graduação apresentam um contínuo de atitudes possíveis em relação à
determinada questão. Os enunciados de atitudes correspondem a graus, que indicam maior ou
menor favorabilidade. [...]
3. Escalas de distância social
Estas escalas são utilizadas para estabelecer relações de distância entre as atitudes em relação a
determinados grupos sociais. [...]
4. Escala de Thurstone
A escala de Thurstone [...] constitui a primeira experiência de mensuração de atitudes com base
numa escala de intervalos. A despeito das críticas que lhe têm sido formuladas e de ter caído em
desuso, esta escala é tomada frequentemente como a base metodológica para os procedimentos
de mensuração de atitudes [...]
5. Escala de Likert
A escala Likert baseia-se na de Thurstone. É, porém, de elaboração mais simples e de caráter
ordinal, não medindo, portanto, o quanto uma atitude é mais ou menos favorável. [...]
6. Diferencial semântico
O diferencial semântico é uma técnica criada por Osgood, Suci e Tannembaum [...], cujo
objetivo é medir o sentido que determinado objeto tem para as pessoas. Neste sentido pode ser
considerado como uma escala de atitudes. Pode-se avaliar qualquer conceito: uma etnia, uma
pessoa, uma instituição política, uma obra de arte etc.

Dadas essas explanações sobre a testagem, deduz-se dos pressupostos apresentados que ela
configura-sese configura numa das mais importantes técnicas gerais de coleta de dados, tanto quanto a
observação, a experimentação e a amostragem – ou levantamento amostral (GIL, 1999).
No entanto, a seguir, são apresentadas as principais técnicas específicas para coleta de dados,
que em muito clarificam o processo de investigação científica.

3.4.3.2 Técnicas específicas para a coleta dos dados

3.4.3.2.1 Leitura científica17

Sobre essa técnica de pesquisa, Diniz e Da Silva (2008, p. 3) passam a dizer que:

Apesar do avanço tecnológico referente aos recursos audiovisuais, todos precisam ler, porque
o conhecimento é adquirido através da leitura, e para obtê-lo é necessário ler muito e ler bem.
A leitura possibilita a ampliação de conhecimentos e a reflexão sobre o mundo. Para que a
leitura seja proveitosa e eficaz deve-se estar atento ao que está sendo lido, evitando
desconcentração e distração. O leitor deve sentir-se atraído pela leitura e desenvolver uma
velocidade adequada na leitura, não devendo ler vagarosamente, para não esquecer o que foi
lido no final do parágrafo, ou muito veloz propiciando a incompreensão do que foi lido.

Sobre os tipos de leitura, Diniz e Da Silva (2008, p. 5-6) apresentam quatro, quais sejam:

a) pré-leitura ou leitura de reconhecimento, fase preliminar da leitura informativa, a qual


permite ao leitor o documento ou a obra que poderá ser aproveitada no seu trabalho e também
obter uma visão geral do tema abordado.
b) leitura seletiva, que consiste na leitura integral de um livro, tentando selecionar as
informações imprescindíveis, ou seja, escolher o material que realmente interessa à pesquisa.
c) leitura crítica ou reflexiva, que é aquela em que o leitor se concentra nos aspectos mais
relevantes do texto, sendo capaz de separar as ideias secundárias da ideia central.
d) leitura interpretativa, que é uma leitura mais complexa, visando identificar quais as intenções
do autor e o que ele afirma sobre o tema, suas hipóteses, metodologia, resultados, discussões e
conclusões, bem como relacionar as afirmações do autor com os problemas para os quais se está
procurando equacionar.

Em seguida, as autoras (DINIZ; DA SILVA, 2008, p. 7) explanam os procedimentos


necessário para uma leitura adequada de um texto do seguinte modo:

Quando o texto for selecionado, faz-se sua leitura completa, para ter uma visão geral do todo.
Em seguida deve-se reler o texto e assinalar palavras ou expressões desconhecidas, que
devem ser consultadas em dicionário. Esclarecidas as dúvidas, fazer uma nova leitura para a
compreensão do todo.
Tornar a ler, procurando a ideia central, que pode estar implícita ou explícita no texto.
Localizar acontecimentos ou ideias, comparando-as entre si e procurando semelhanças e
diferenças existentes. Agrupá-los pelo menos por semelhança importante e organizá-los por
ordem hierárquica de importância. Interpretar as ideias do autor e descobrir suas conclusões.

17
A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de reconhecimento), a
organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação (leitura interpretativa) dos dados. Por
essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra da pesquisa científica.
A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de
reconhecimento), a organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação
(leitura interpretativa) dos dados. Por essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra
da pesquisa científica.

3.4.3.2.2 Protocolagem observacional

O protocolo observacional é o instrumento próprio das pesquisas observacionais. Trata-se de um


meio para se registrar as informações produzidas durante a observação. Pode ser um caderno, um bloco
de anotações, ou mesmo uma página para rascunho. O objetivo é planificar tudo o que foi observado
sobre o objeto de pesquisa, suas características, suas variações, as possíveis causas e os possíveis
efeitos das variações, o que foi feito durante a observação, o que não foi feito durante ela e o(s) seu(s)
respectivo(s) porquê(s). Comumente, o registro das informações no protocolo observacional é separado
em notas descritivas (aquilo que se observa de fato) e notas reflexivas (as interpretações ou reflexões
daquilo que se observa). Sobre esses aspectos, Creswell (2010, p. 2015. Grifos meus) ratifica:

[...] Os pesquisadores com frequência se engajam em observações múltiplas no decorrer de um


estudo qualitativo e usam um protocolo observacional para registrar as informações. Ele pode
ser de uma única página, com uma linha dividindo-a ao meio no sentido longitudinal para
separar as notas descritivas (retratos dos participantes, reconstrução de diálogo, descrição do
local físico, relatos de determinados eventos ou atividades) das notas reflexivas (os
pensamentos pessoais do observador, tais como “especulação, sentimentos, problemas, ideias,
palpites, impressões e preconceitos” [...]). Também podem ser escritas dessa forma as
informações demográficas sobre o tempo, o local e a data do local de campo onde ocorreu a
observação. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que a protocolagem observacional é a


técnica específica mestra para a coleta de dados nas pesquisas observacionais e que, para não dificultar
ou mesmo impedir a sua adequada execução, o protocolo observacional só pode ser inutilizado quando
substituído por outro instrumento equivalente, tal como o diário de campo.

3.4.3.2.3 Entrevista

A entrevista é uma técnica bastante utilizada nas pesquisas observacionais participantes, sendo
também útil em pesquisas clínicas. Sobre sua natureza, alguns autores emprestam-nos suas ideias:
A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a
respeito de determinado assunto, mediante uma conversação, de natureza profissional. É um
procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no
diagnóstico ou no tratamento de um problema social. (MARCONI; LAKATOS, 2008, p. 80)
Trata-se de uma técnica de pesquisa para coleta de dados cujo objetivo básico é entender e
compreender o significado que os entrevistados atribuem a questões e situações, em contextos
que não foram estruturados anteriormente, com base nas suposições e conjecturas do
pesquisador. (MARTINS, 2008, p. 27)

Colocando em pauta ainda outros aspectos sobre essa técnica, Dencker e Viá (2012, p. 158)
ressaltam:

A entrevista desenvolve-se em uma situação social, em que entrevistador e entrevistado


interagem entre si, influenciando um ao outro não apenas por meio das palavras que
pronunciam, mas também por outros sinais, como inflexão da voz, gestos, expressão facial e
outros traços pessoais, além das manifestações de comportamento que acompanham a
comunicação verbal.

Existem vários tipos de entrevista, sendo as principais: o focus group (ou grupo focal), a
entrevista estruturada, a semiestruturada e a não estruturada. Sobre esse aspecto, Marconi e Lakatos
(2008, p. 82) apresentam três tipos:

a. Padronizada ou estuturada. É aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente


estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza de acordo com
um formulário elaborado e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo com
um plano. [...]
b. Despadronizada ou não estruturada. O entrevistado tem liberdade para desenvolver cada
situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de poder explorar mais
amplamente uma questão. Em geral, as perguntas são abertas e podem ser respondidas dentro de
uma conversação informal. [...] Esse tipo de entrevista [...] apresenta três modalidades:
entrevista focalizada [...], entrevista clínica [...] [e] entrevista não dirigida.
c. Painel. Consiste na repetição de perguntas, de tempo em tempo, às mesmas pessoas, a fim de
estudar a evolução das opiniões em períodos curtos. As perguntas devem ser formuladas de
maneira diversa, para que o entrevistado não distorça as respostas com essas repetições.

Ainda no que concerne aos tipos de entrevistas, Vergara (2012) considera dois critérios para a
sua classificação: o número de pessoas nela envolvida e sua estrutura. Quanto ao número de pessoas,
Vergara (2012, p. 6-7) apresenta a entrevista individual e a entrevista coletiva, as quais sintetizando as
suas palavras, são:

Entrevista individual é a que se estabelece entre um entrevistador e um entrevistado. Quanto


ao número de pessoas que podem ser individualmente entrevistadas, existem autores que
consideram 15 um número mínimo para entrevistas e 25 um número máximo adequado. Esses
limites não podem, contudo, ser tomados ao pé da letra. Um pesquisador, por exemplo, pode
desejar (e conseguir) entrevistar ministros de estado. Cinco já parece um número bom, não?
Enfim, tudo depende do problema da investigação, da metodologia escolhida e da
representatividade dos entrevistados. Depende, também, de bom-senso e de domínio de certas
regras científicas, por parte do pesquisador. [...]
Coletiva é aquela entrevista que tem um ou mais entrevistadores e alguns entrevistados. É
também conhecida como grupo focal. Grupo focal, igualmente denominado grupo de foco,
entrevista focalizada de grupo, reuniões de grupos e outras denominações, é aquele no qual as
entrevistas são conduzidas por um entrevistador, designado como moderador, que é o
catalisador da comunicação entre os entrevistados, ou seja, entre os participantes. [...]
Quando se trata de entrevistas grupais, autores consideram que um mínimo de seis e um
máximo de dez pessoas pode ser um limite adequado. Contudo, esses números são arbitrários,
logo, cabe ao pesquisador definir os limites. [...]
(grifos meus)

Quanto à estrutura, por sua vez, Vergara (2012, p. 7-17) apresenta a entrevista fechada, a
entrevista semiaberta e a entrevista aberta, as quais, sintetizando as suas palavras, são:

Um roteiro cuja estrutura seja fechada apresenta perguntas ou tópicos ordenados e,


basicamente, não permite alteração, seja para inclusão, exclusão ou troca de ordem de perguntas
ou de tópicos. [...]
Um roteiro cuja estrutura seja semiaberta, tal como o roteiro de estrutura fechada, é focalizado.
Porém, ao contrário da estrutura fechada, permite inclusões, exclusões, mudanças em geral nas
perguntas, explicações ao entrevistado quanto a alguma pergunta ou alguma palavra, o que lhe
dá um caráter de abertura. [...]
Um roteiro cuja estrutura seja aberta tem o objetivo de buscar explorar de maneira mais ampla
uma situação, seja fazendo perguntas diretas, seja inserindo-as no meio de uma conversa que
inclua outros pontos. Por exemplo, para levantar o que gerentes de uma determinada empresa
pensam acerca da inclusão de pessoas com deficiência física nos quadros da empresa, é possível
conversar com eles sobre assuntos organizacionais e, na conversa, incluir perguntas para o caso
específico dos deficientes físicos. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que tal técnica implica a participação tanto
do entrevistado como do entrevistador, por essa razão, integrando a observação participante.
Quando existe a necessidade de se coletar, por meio da entrevista, dados primários, isto é,
aqueles que ainda não foram manipulados, recomenda-se realizá-la in loco, ou seja, diretamente em
contato com o objeto de pesquisa. Por exemplo, na realização da coleta do Censo Demográfico
brasileiro, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os investigadores –
chamados no Censo de Agentes Recenseadores – coletam os dados, aplicando um Questionário Básico
ou um Questionário de Amostra, diretamente em contato com os moradores, ou seja, in loco.
Quando não existe a necessidade de se coletar, por meio da entrevista, dados primários, isto é,
aqueles que ainda não foram manipulados, recomenda-se realizá-la ex loco, ou seja, sem precisar
estabelecer contato direto com o objeto de pesquisa. Por exemplo, durante a pandemia de coronavírus
no Brasil e no mundo todo, o Datafolha (2020) realizou várias pesquisas entrevistando indivíduos em
todas as Unidades Federativas brasileiras, por meio de telefone, ou seja, ex loco. A entrevista ex loco
também pode ser realizada por meio de questionário eletrônico, sem que seja necessário o contato
direto com o objeto investigado. Em muitos casos, ela se mostra a melhor opção por ser menos onerosa
e mais fácil de aplicar, menos trabalhosa do que a entrevista in loco.

3.4.3.3 Técnicas específicas para o registro dos dados

3.4.3.3.1 Planificação manual

Na planificação manual, o registro dos dados da pesquisa é realizado por meio de compilação
manual, em que o pesquisador anota à tinta ou a grafite, por exemplo, num papel (GIFTED, 2015; GIL,
1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).
Para aperfeiçoar a gerência do tempo despendido nessa etapa, recomenda-se levar à frente do
computador e da escrivaninha (ou outro ambiente adequado para a compilação) todo o conteúdo que se
vai utilizar no trabalho acadêmico, o que inclui as bibliografias, os documentos e as anotações
(GIFTED, 2015; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).
Trata-se, pois, de uma etapa bastante trabalhosa para se fazer e demanda tempo numa dose
inversamente proporcional às habilidades do pesquisador em utilizar tais metodologias, isto é, quanto
mais habilidoso ele for menor o tempo que ele precisa despender para realizar pesquisas científicas por
meio dessas metodologias, mas não é difícil porque basta saber ler bem e escrever bem (GIFTED,
2015; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).

3.4.3.3.2 Planificação eletrônica

Na planificação eletrônica, o pesquisador digita todas as anotações em um arquivo de texto,


como o do Microsoft Word (aplicativo do pacote padrão Office do sistema operacional Windows) ou o
do Open Writter (aplicado do pacote padrão Open Office do sistema operacional Linux) (GIFTED,
2015; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).
Para aperfeiçoar a gerência do tempo despendido nessa etapa, recomenda-se levar à frente do
computador e da escrivaninha (ou outro ambiente adequado para a digitalização) todo o conteúdo que
se vai utilizar no trabalho acadêmico, o que inclui as bibliografias, os documentos e as anotações
(GIFTED, 2015; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).
Trata-se, pois, de uma etapa bastante trabalhosa para se fazer e demanda tempo numa dose
inversamente proporcional às habilidades do pesquisador em utilizar tais metodologias, isto é, quanto
mais habilidoso ele for menor o tempo que ele precisa despender para realizar pesquisas científicas por
meio dessas metodologias, mas não é difícil porque basta saber digitar bem, digitalizar, imprimir, ler
bem e escrever bem (GIFTED, 2015; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008;
LUNA, 2011; 2012).

3.4.3.4 Técnicas específicas para a sistematização dos dados

3.4.3.4.1 Busca simples de strings

A tradução literal da palavra string vem do inglês e significa corda, ou âncora. Na prática,
strings são os descritores, ou seja, as palavras-chave, utilizadas para filtrar trabalhos acadêmicos nas
mais diversas bases de dados (UFSCar, 2020).
Uma busca simples de strings significa procurar trabalhos acadêmicos, sobre determinado tema
específico, nas bases de dados, no fito de sistematizar a pesquisa. Por exemplo, pode-se procurar no
Google Acadêmico – ou qualquer outra base de dados – trabalhos científicos sobre as Fusões e
Aquisições pelos seguintes descritores: “Fusões e Aquisições”, “F&A”, “Mergers and Acquisitions”,
“M&A”, etc. Observa-se que essas strings são bastante genéricas, o que resultará em uma quantidade
imensa de trabalhos indexados por elas nas bases de dados. No entanto, se em todas as bases de dados
utilizadas na pesquisa procurarmos trabalhos científicos por meio destas mesmas strings, estaremos
sistematizando nossa investigação mesmo que de uma forma simples. Por essa razão, recomenda-se
utilizar esta técnica em toda Revisão Bibliográfica Simples, também denominada na literatura como
Revisão Bibliográfica Narrativa, ou Revisão Bibliográfica Convencional (UFSCar, 2020).

3.4.3.4.2 Busca avançada de strings

Uma busca avançada de strings (descritores, ou palavras-chave) envolve a utilização de termos


bem específicos de um tema, acompanhado por operadores booleanos – que são, em inglês, AND, OR e
NOT, ou, em português, E, OU e NÃO –, e por símbolos de pontuação tais como aspas, parênteses,
colchetes e asterisco (UFSCar, 2020).
Por exemplo, ao se pesquisar sobre Fusões e Aquisições, pode-se realizar uma busca avançada
utilizando-se as seguintes strings, operadores booleanos e símbolos de pontuação: (“Fusões e
Aquisições” OR “F&A” OR “Mergers and Acquisitions” OR “M&A”) AND (“Fluxo de Caixa
Descontado” OR “FCD” OR “Disconted Cash Flow” OR “DCF”). De fato, essa busca avançada
retornará uma quantidade bem menor de trabalhos acadêmicos do que a busca simples realizada no
subtópico imediatamente anterior a este. Ou seja, a busca avançada de strings sistematiza muito mais
do que a busca simples delas (UFSCar, 2020).
Também podemos adicionar o operador booleano NOT para selecionarmos trabalhos que NÃO
contenham alguma palavra que não queremos encontrar neles, ou ainda podemos adicionar o asterisco
após um radical para encontrarmos todas as palavras iniciadas por ele. Por exemplo: (“Valuation” OR
“Avaliação de empresas”) AND (“Fluxo de Caixa Descontado” OR “Disconted Cash Flow”) NOT
(“Clim*”). Note-se que, desta vez, não queremos encontrar palavras começadas pelo radical “Clim”,
tais como Clima, Climático, Climática, Climatizador, etc. Com certeza, a quantidade de trabalhos
retornados por meio desta busca será bem menor do que na busca simples realizada no subtópico
imediatamente anterior a este (UFSCar, 2020).
Contudo, para que a sistematização dos dados seja realizada de forma adequada é necessário
utilizar os mesmos termos, operadores booleanos, e símbolos de pontuação, em todas as bases de dados
utilizadas na pesquisa. Esta técnica é comumente utilizada na Revisão Bibliográfica Sistemática
(UFSCar, 2020).

3.4.3.4.3 Fatores de inclusão/exclusão

Tanto quanto a busca avançada de strings, os fatores de inclusão/exclusão são comumente


utilizados nas Revisões Bibliográficas Sistemáticas (RBS). Quanto mais fatores de inclusão/exclusão
utilizados, mais sistematizados são os dados, mais específica é a pesquisa. O objetivo desta técnica é
filtrar ao máximo possível os trabalhos acadêmicos sobre determinado tema (UFSCar, 2020).
Os fatores de inclusão/exclusão mais utilizados são: área de concentração da pesquisa; idioma;
tipo de trabalho acadêmico (artigo, resumo, tese, livro, dissertação); país; instituição da pesquisa;
pesquisador; lapso temporal (período no tempo em que foi realizada a pesquisa); dentre vários outros
(UFSCar, 2020).
Por exemplo, na busca por trabalhos sobre o Fluxo de Caixa Descontado, na Spell – maior base
de dados brasileira na área de Administração e Negócios –, pode-se filtrá-los selecionando-se apenas
trabalhos nas áreas de Administração, Economia e Ciências Contábeis, publicados em inglês, português
e espanhol, apenas artigos (para encontrar os principais resultados das pesquisas sobre o tema em
questão), que possuam o termo “Fluxo de Caixa Descontado” no título, no resumo e ou nas palavras-
chave, e publicados em qualquer ano, por qualquer instituição ou pesquisador. Ao realizar esta busca, a
Spell retorna 63 trabalhos acadêmicos, um número bastante factível para ser trabalhado na investigação
(UFSCar, 2020).

3.4.3.5 Técnicas específicas para organização dos dados

3.4.3.5.1 Leitura científica18

Sobre essa técnica de pesquisa, Diniz e Da Silva (2008, p. 3) passam a dizer que:

Apesar do avanço tecnológico referente aos recursos audiovisuais, todos precisam ler, porque
o conhecimento é adquirido através da leitura, e para obtê-lo é necessário ler muito e ler bem.
A leitura possibilita a ampliação de conhecimentos e a reflexão sobre o mundo. Para que a
leitura seja proveitosa e eficaz deve-se estar atento ao que está sendo lido, evitando
desconcentração e distração. O leitor deve sentir-se atraído pela leitura e desenvolver uma
velocidade adequada na leitura, não devendo ler vagarosamente, para não esquecer o que foi
lido no final do parágrafo, ou muito veloz propiciando a incompreensão do que foi lido.

Sobre os tipos de leitura, Diniz e Da Silva (2008, p. 5-6) apresentam quatro, quais sejam:

a) pré-leitura ou leitura de reconhecimento, fase preliminar da leitura informativa, a qual


permite ao leitor o documento ou a obra que poderá ser aproveitada no seu trabalho e também
obter uma visão geral do tema abordado.
b) leitura seletiva, que consiste na leitura integral de um livro, tentando selecionar as
informações imprescindíveis, ou seja, escolher o material que realmente interessa à pesquisa.
c) leitura crítica ou reflexiva, que é aquela em que o leitor se concentra nos aspectos mais
relevantes do texto, sendo capaz de separar as ideias secundárias da ideia central.
d) leitura interpretativa, que é uma leitura mais complexa, visando identificar quais as intenções
do autor e o que ele afirma sobre o tema, suas hipóteses, metodologia, resultados, discussões e
conclusões, bem como relacionar as afirmações do autor com os problemas para os quais se está
procurando equacionar.

Em seguida, as autoras explanam os procedimentos necessário para uma leitura adequada de


um texto do seguinte modo:

Quando o texto for selecionado, faz-se sua leitura completa, para ter uma visão geral do todo.
Em seguida deve-se reler o texto e assinalar palavras ou expressões desconhecidas, que
devem ser consultadas em dicionário. Esclarecidas as dúvidas, fazer uma nova leitura para a
compreensão do todo.
Tornar a ler, procurando a ideia central, que pode estar implícita ou explícita no texto.
Localizar acontecimentos ou ideias, comparando-as entre si e procurando semelhanças e

18
A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de reconhecimento), a
organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação (leitura interpretativa) dos dados. Por
essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra da pesquisa científica.
diferenças existentes. Agrupá-los pelo menos por semelhança importante e organizá-los por
ordem hierárquica de importância. Interpretar as ideias do autor e descobrir suas conclusões.
(DINIZ e DA SILVA, 2008, p. 7)

A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de
reconhecimento), a organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação
(leitura interpretativa) dos dados. Por essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra
da pesquisa científica.

3.4.3.5.2 Codificação

A codificação é uma técnica de organização dos dados, em forma de blocos ou segmentos de


texto, com o objetivo de atribuir significado às informações (CRESWELL, 2010; GIL, 1999). Sobre
esse tipo de técnica, alguns autores emprestam-nos seus dizeres:

[...] A codificação é o processo de organização do material em blocos ou segmentos de texto


antes de atribuir significado às informações. Isso envolve manter os dados de texto, ou as
figuras, reunidos durante a coleta de dados, segmentando sentenças (ou parágrafos) ou imagens
em categorias e rotulando essas categorias com um termo, com frequência um termo baseado na
linguagem real do participante (chamado um termo in vivo).
[...] Outra questão sobre a codificação é se o pesquisador deve (a) desenvolver códigos tendo
por base apenas as informações emergentes coletadas dos participantes, (b) utilizar códigos
predeterminados e depois ajustar os dados a eles, ou (c) utilizar alguma combinação de códigos
predeterminados e emergentes. [...]. (CRESWELL, 2010, p. 219-221).

Codificação é o processo pelo qual os dados brutos são transformados em símbolos que possam
ser tabulados.
A codificação pode ser feita anterior ou posteriormente à coleta dos dados. A pré-codificação
ocorre frequentemente em levantamentos em que os questionários são constituídos por
perguntas fechadas, cujas alternativas são associadas a códigos impressos no próprio
questionário. [...]. (GIL, 1999, p. 170).

[...] A abordagem tradicional nas ciências sociais é permitir que os códigos emerjam durante a
análise dos dados. Nas ciências da saúde, uma abordagem comum é usar códigos
predeterminados baseados na teoria que está sendo examinada. Nesse caso, os pesquisadores
podem desenvolver um livro de códigos qualitativo, um quadro ou um registro que contenha
uma lista de códigos predeterminados que os pesquisadores utilizam para codificar os dados.
[...] (CRESWELL, 2010, p. 221).

A codificação é largamente utilizada nas pesquisas científicas, sejam elas de natureza qualitativa
ou quantitativa. Elas visam facilitar a apresentação dos dados e informações, facilita também todo o
processo de tabulação.
3.4.3.5.3 Categorização

A categorização é uma técnica de organização de dados utilizada, comumente, em conjunto à


codificação. Uma vez codificados os dados, eles são agora organizados em categorias, ou
agrupamentos, de dados de acordo com critérios definidos pelo investigador (GIL, 1999; CRESWELL,
2010). Sobre essa técnica, Gil (1999, p. 169) explana:

As respostas fornecidas pelos elementos pesquisados tendem a ser as mais variadas. Para que
essas respostas possam ser adequadamente analisadas, torna-se necessário, portanto, organizá-
las, o que é feito mediante o seu agrupamento em certo número de categorias. Para que essas
categorias sejam úteis na análise dos dados, devem atender a algumas regras básicas [...]:
a) o conjunto de categorias deve ser derivado de um único princípio de classificação;
b) o conjunto de categorias deve ser exaustivo; e
c) as categorias do conjunto devem ser mutuamente exclusivas.
Para que se torne possível o agrupamento de grande número de respostas a determinado ítem
em um pequeno número de categorias, torna-se necessário estabelecer um princípio de
classificação. [...]

Por exemplo, ao classificar as Fusões e Aquisições (F&A) empresariais, devem-se incluir como
categorias todos os tipos de F&A (regra da exaustão); todas elas precisam estar, ao fim da
categorização, em uma só categoria, de modo a não se confundir com nenhuma das demais (regra da
exclusão mútua); as categorias precisam ser derivadas de um único princípio de classificação (por
exemplo, função econômica, ou finalidade da transação comercial, ou ainda relacionamento entre as
empresas; mas apenas um desses critérios apenas, para que cada uma das F&A seja inserida em apenas
uma categoria).

3.4.3.5.4 Tabulação

A tabulação, técnica largamente utilizada tanto em pesquisas qualitativas quanto em pesquisas


quantitativas, nada mais é do que o processo de agrupar dados e informações em tabelas (GIL, 1999).
Esse tipo de técnica é explanado por Gil (1999, p. 169) do seguinte modo:

Tabulação é o processo de agrupar e contar os casos que estão nas várias categorias de análise.
Pode haver tabulação simples e cruzada. A tabulação do primeiro tipo, que também é
denominada marginal, consiste na simples contagem das frequências das categorias de cada
conjunto. A tabulação cruzada, por sua vez, consiste na contagem das frequências que ocorrem
juntamente em dois ou mais conjuntos de categorias por exemplo: tabulação dos casos
referentes às categorias de renda e de escolaridade.

A tabulação pode ser feita manualmente, consistindo no uso do lápis e papel, ou


eletronicamente, consistindo no uso de dispositivos eletrônicos, tais como o computador, o tablet ou o
celular (GIL, 1999).

3.4.3.6 Técnicas específicas para análise ou interpretação dos dados19

3.4.3.6.1 Leitura científica20

Sobre essa técnica de pesquisa, Diniz e Da Silva (2008, p. 3) passam a dizer que:

Apesar do avanço tecnológico referente aos recursos audiovisuais, todos precisam ler, porque
o conhecimento é adquirido através da leitura, e para obtê-lo é necessário ler muito e ler bem.
A leitura possibilita a ampliação de conhecimentos e a reflexão sobre o mundo. Para que a
leitura seja proveitosa e eficaz deve-se estar atento ao que está sendo lido, evitando
desconcentração e distração. O leitor deve sentir-se atraído pela leitura e desenvolver uma
velocidade adequada na leitura, não devendo ler vagarosamente, para não esquecer o que foi
lido no final do parágrafo, ou muito veloz propiciando a incompreensão do que foi lido.

Sobre os tipos de leitura, Diniz e Da Silva (2008, p. 5-6) apresentam quatro, quais sejam:

a) pré-leitura ou leitura de reconhecimento, fase preliminar da leitura informativa, a qual


permite ao leitor o documento ou a obra que poderá ser aproveitada no seu trabalho e também
obter uma visão geral do tema abordado.
b) leitura seletiva, que consiste na leitura integral de um livro, tentando selecionar as
informações imprescindíveis, ou seja, escolher o material que realmente interessa à pesquisa.
c) leitura crítica ou reflexiva, que é aquela em que o leitor se concentra nos aspectos mais
relevantes do texto, sendo capaz de separar as ideias secundárias da ideia central.
d) leitura interpretativa, que é uma leitura mais complexa, visando identificar quais as intenções
do autor e o que ele afirma sobre o tema, suas hipóteses, metodologia, resultados, discussões e
conclusões, bem como relacionar as afirmações do autor com os problemas para os quais se está
procurando equacionar.

Em seguida, as autoras explanam os procedimentos necessário para uma leitura adequada de


um texto do seguinte modo:

Quando o texto for selecionado, faz-se sua leitura completa, para ter uma visão geral do todo.
Em seguida deve-se reler o texto e assinalar palavras ou expressões desconhecidas, que

19
Além das técnicas específicas para análise ou interpretação dos dados apresentadas nesta seção, existem muitas outras,
dentre as quais podemos citar: a) Análise Fatorial; b) Análise de Regressão Linear; c) Análise de Regressão Múltipla; d)
Exegese Bíblica; e) Hermenêutica Jurídica; f) Análise Vertical; g) Análise Horizontal; h) Análise do Tamanho Comum; i)
Análise por Índices e Quocientes; j) Análise SWOT; k) Análise BCG; dentre muitas outras.
20
A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de reconhecimento), a
organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação (leitura interpretativa) dos dados. Por
essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra da pesquisa científica.
devem ser consultadas em dicionário. Esclarecidas as dúvidas, fazer uma nova leitura para a
compreensão do todo.
Tornar a ler, procurando a ideia central, que pode estar implícita ou explícita no texto.
Localizar acontecimentos ou ideias, comparando-as entre si e procurando semelhanças e
diferenças existentes. Agrupá-los pelo menos por semelhança importante e organizá-los por
ordem hierárquica de importância. Interpretar as ideias do autor e descobrir suas conclusões.
(DINIZ; DA SILVA, 2008, p. 7).

A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de
reconhecimento), a organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação
(leitura interpretativa) dos dados. Por essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra
da pesquisa científica.

3.4.3.6.2 Análise Bibliométrica (AB)

A Análise Bibliométrica refere-se a um tipo de mapeamento de bibliografias e documentos em


que vários critérios quantificáveis sobre elas, previamente selecionados, são quantificados, buscando-se
uma compreensão integral e precisa sobre elas. Tais critérios precisam ser organizados em categorias
para facilitar o processo de análise ou interpretação (MATTOS, 2004; MUGNAINI; JANNUZZI;
QUONIAM, 2004).
Entretanto, muitos são os cuidados que se deve tomar quando da operacionalização dessa
técnica de análise ou interpretação no fito de não a invalidar, tais como Mattos (2004, p. 4) salienta
com os seguintes dizeres:

A ambigüidade do significado de certas análises básicas da bibliometria aparece em:


a) Citação. É tomada como apoio ou por oposição? No casso de quem contesta um autor faz
algo para que não venha a ser muito citado na tradição, o contrário de quem nele se apóia.
Como se podem somar coisas tão contrárias? E o que indica ser citado menos? Que sua
produção é menos relevante, ou que se é um dissidente do paradigma de trabalho de um grupo,
ou que há um preconceito excludente? E ser citado mais? Indica que se é preferido a outros ou
que se chegou primeiro, como manual da área, principalmente em língua portuguesa? Qualquer
dessas causas, ou outra? É em dificuldades assim que incorre pôr os fatos adiante das hipóteses
ou não começar pelo que há de essencial no conhecimento, que é a interpretação, e não escolher
um foco para o problema que tal interpretação desperta. Em função disso procuram-se fatos que
corroborem, neguem ou esclareçam.
b) Não-citação. Que significa? Que um autor é desconhecido, rejeitado, ou, ao contrário, que, a
tomar-se pelo conteúdo do que está escrito, quem escreve identifica-se inteiramente com o não-
citado formalmente – porém, de fato, seguido – e que então seria seu mentor?
c) “Idade” da obra citada. Quanto mais recente, melhor, e quanto mais antiga pior? É
insustentável. Em algumas áreas é preciso trabalhar com estudos recentes, em outras, quanto
mais “curtido” – pela sobrevivência à crítica intersubjetiva dos pares – melhor é o “couro” ...
Em outras, ainda, ambos critérios são válidos, ou não cabe isso como critério, de modo que a
discriminação na contagem é certamente enganosa. Sobre esse ponto, os autores parecem algo
advertidos, quando dizem: “É digno de observação que, tal como previam alguns críticos ao
método, a maioria dos autores melhor classificados na amostra tem, de fato, história mais longa
no campo do que os demais. Isso reforça a necessidade de o campo discutir sobre o critério
desse tipo de classificação incluir ou não um ajuste ou uma ponderação em relação à idade da
produção acadêmica do autor, visando à mensuração mais precisa do impacto efetivo de sua
produção científica média”. Mas não me parecem convictos do caráter indefinidamente
recorrente do problema, por ser congênito a essa prática metodológica.
d) Autocitação. Narcisismo? Ou apenas resistência ao pudor tolo de parecer narcisista, quando
se tem, de fato, estudos já elaborados cuidadosamente − e reconhecidos, pois estão publicados −
sobre a matéria? Que deve preferir, então, o autor: simplesmente fazer referência ao que já disse
em outra ocasião, de forma mais detalhada, ou voltar a expor ideias sobre o assunto, como se ali
surgissem pela primeira vez, quando já podem ser de conhecimento do leitor? Ora, parece que a
questão da autocitação está na propriedade ou impropriedade, oportunidade ou inoportunidade
da referência. O fato só se caracteriza qualitativamente. Citar-se por citar-se é tão estranho e
desrespeitoso com o leitor quanto citar por citar, ou seja, de forma supérflua, como cumprindo
alguma praxe formalista em que dizer pela boca de outro – seja qual for esse outro – valesse
mais do que dizer com a própria.
A propósito, cabe distinguir, fundamentalmente, a referência a ensaios argumentativos ou
estudos empíricos concludentes – que se usam em apoio a afirmações – de citações apenas
ilustrativas, quando não se está tomando outro autor como apoio e cuja supressão não mudaria
nada na força do texto. A citação aí é meio sobeja. Há, ainda, referências que são apenas breve
identificação da fonte autoral mais reconhecida de significado de um conceito. Mas,
infelizmente, as estatísticas não distinguem essas e outras diferenças qualitativas. E, de repente,
dão-nos conclusões espetaculares, ou, no mínimo, insinuações intrigantes.

Os critérios mais utilizados nesse tipo de análise são: a) a quantidade de um tipo específico de
trabalho científico (artigo, tese, resenha, dissertação) por: a) ano de publicação, dentro do recorte
temporal do tema de pesquisa; orientador; programa de pós-graduação; linha de pesquisa; instituição de
pesquisa; autor; país, estado, região, cidade; área e subárea de conhecimento; meio de veiculação
científica (revista, periódico, anal de congresso, jornal etc.); enfoque epistemológico; enfoque lógico;
procedimentos técnicos; descritores; b) a produtividade de cada autor consultado, bem como a de seus
respectivos orientadores e instituições de pesquisa; c) a quantidade de citações de cada tipo específico
de trabalha científico nas diversas bases de dados (Scopus, Scielo etc.); d) a quantidade de referências
consultadas por autor e por trabalho, tipificando-as em fundamentais (básicas), metodológicas e
específicas (adicionais); por último, e) fatores de impacto FI e ou JCR; f) Índice H (MATTOS, 2004;
MUGNAINI; JANNUZZI; QUONIAM, 2004).
Com base nestes pressupostos, infere-se que a AB pressupõe a realização de uma revisão
sistematizada da literatura, tal como uma RBI, uma RBS ou um MBS. Contudo, é incorreto afirmam
que esses tipos de revisões e a AB sejam sinônimos, pois não são; enquanto a RBI, a RBS e o MBS são
tipos de ténicas gerais para coleta e tratamento dos dados, a AB é apenas uma técnica específica para
análise ou interpretação dos dados (REIS, 2022). Sobre estes aspectos, Reis (2022, página única)
apresenta:
Quadro 12 – Etapas e sub-etapas de uma Revisão Sistemática com Análise Bibliométrica
Etapa Sub-etapa Descrição
1) Escolha as bases
Escolha aqui:
de
http://www.periodicos.capes.gov.br/index.php?
dados pertinentes
option=com_pbases&controller=pbases&Itemid=320
Teste os componentes do algoritmo um a um no
Google
Scholar ( http://scholar.google.com.br/ ) antes , para
2) Determine um checar se são pertinentes na busca.
algoritmo [strings Exemplo de Algoritmo de busca: (“tangible
de busca] interaction”
OR “tangible interface”) AND autis*
Mais sobre como montar algoritmo com operadores
lógicos: http://www.infowester.com/dicasgoogle.php
3) Realiza a busca, Em todas as bases de dados escolhidas na etapa 1.
usando o algoritmo
Aplique filtros nas buscas feitas na Etapa 3.Exemplos
4) Filtre a busca por de filtros:
critérios pré- a) apenas artigos em periódicos com peer review;
Revisão selecionados. b) apenas publicações entre 2004 e 2014;
Sistemática c) apenas publicações disponíveis grátis na internet
etc..
5) Use o EndNOTE.
Pegue todos os artigos que restaram depois do passo 4,
e baixe o .RIS deles (na base de dados em que o
OBS: O Zotero é
achou). Pegue esse arquivo .RIS contendo os dados de
uma
todos os artigos e abra no EndNOTE. Agora selecione
alternativa Software
os
Livre para o
artigos por: a) título; b) palavras-chave; c) resumo.
EndNOTE.
Faça uma planilha mostrando os artigos que sobraram
depois da etapa 5. Nessa planilha explicite o autor, ano
6) Sistematize a de publicação, título, fonte, etc, de cada artigo. OBS:
bibliografia Destaque itens da planilha como “Temas mais
frequentes”, “Palavras-chaves mais usadas”, “Áreas”,
etc..
Análise 7) Exponha os Na base de dados onde o encontrou. Exemplos de
Bibliométrica indicadores indicadores: número de citações (acha isso na Base de
bibliométricos de Dados usada), impacto do artigo
cada (http://www.plos.org/plos-one-measuring-article-
artigo na planilha da impact/), peso do periódico
etapa 6. (http://www.journalmetrics.com/ e
http://scimagojr.com/), etc..
Crie tabelas e gráficos (histogramas, de pizza,
diagramas, etc), para expressar os dados
bibliométricos
8) Monte gráficos
dos artigos. Ex: principais autores, conexões entre
para
autores via citações, ranking de publicações, regiões
apresentar os
do
resultados
mundo ou centros de pesquisa mais importantes,
timeline de publicações, etc. OBS: seja criativo nesta
etapa!
Escreva um texto integrando dados da planilha (Etapa
6) com os gráficos bibliométricos (Etapa 8), com suas
9) Escreva uma
Resultado análises e interpretações. É esse texto, com esses
relatório
Final elementos todos, que embasará sua pesquisa

Fonte: Reis (2022, página única). Elaborado e adaptado pelo autor.

3.4.3.6.3 Análise de conteúdo (AC)

A análise de conteúdo é a técnica de interpretação de dados específica para a abordagem


quantitativa. Ela está muito atrelada à metodologia das pesquisas estatísticas, sendo bastante utilizada
no campo das Ciências Exatas, visando a uma maior precisão, a inferencial, quando da interpretação
dos dados (SILVA et al., 2004; MARTINS, 2008). Sobre tal técnica, Martins (2008, p. 33) explana:

A Análise de Conteúdo é uma técnica para se estudar e analisar a comunicação de maneira


objetiva, sistemática e quantitativa. Buscam-se inferências confiáveis de dados e informações
com respeito a determinado contexto, a partir dos discursos escritos ou orais de seus autores. A
Análise de Conteúdo pode ser aplicada virtualmente a qualquer forma de comunicação:
programas de televisão, rádio, artigos da imprensa, livros, poemas, conversas, discursos,
cartas, regulamentos, etc. Por exemplo, pode servir para analisar traços de personalidade,
avaliando escritos; ou as intenções de uma campanha publicitária pela análise dos conteúdos
das mensagens veiculadas. [...]

A análise de conteúdo fez-se presente desde as primeiras tentativas da humanidade de


interpretar os antigos escritos, como as tentativas de interpretar os livros sagrados, sendo
sistematizada somente na década de 20, devido aos estudos de Leavell (1920) sobre a propaganda
empregada na Primeira Guerra Mundial, adquirindo, dessa forma, o caráter de método de investigação
(SILVA et al., 2004; MARTINS, 2008). Após muitas tentativas de aprimoramento e aprofundamento
da análise de conteúdo enquanto técnica de pesquisa, Bardin (1960 apud SILVA et al., 2004, p. 4),
passa a defini-la como:

[...] um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que utiliza procedimentos


sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos
ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.

Desse modo, a análise do conteúdo permite ao pesquisador o entendimento das representações


que o indivíduo apresenta em relação à sua realidade e à interpretação que faz dos significados a sua
volta (SILVA et al., 2004). As autoras (2004, p. 6. Grifos meus) apresentam as três etapas básicas da
análise de conteúdo, assinaladas nas obras de Bardin, quais sejam:

A pré-análise: a organização do material, quer dizer de todos os materiais que serão utilizados
para a coleta dos dados, assim como também como outros materiais que podem ajudar a
entender melhor o fenômeno e fixar o que o autor define como corpus da investigação, que
seria a especificação do campo que o pesquisador deve centrar a atenção.
A descrição analítica: nesta etapa o material reunido que constitui o corpus da pesquisa é
mais bem aprofundado, sendo orientado em princípio pelas hipóteses e pelo referencial teórico,
surgindo dessa análise quadros de referências, buscando sínteses coincidentes e divergentes de
ideias.
Interpretação referencial: é a fase de análise propriamente dita. A reflexão, a intuição, com
embasamento em materiais empíricos, estabelecem relações com a realidade aprofundando as
conexões das ideias, chegando se possível à proposta básica de transformações nos limites das
estruturas específicas e gerais.

Com base em tais pressupostos, deduz-se que a Análise de Conteúdo é própria para as pesquisas
quantitativas, utilizando interpretações inferenciais estatísticas dos seus dados (SILVA et al., 2004;
MARTINS, 2008).

3.4.3.6.4 Análise de discurso (AD)

A análise de discurso é a técnica de interpretação de dados específica para a abordagem


qualitativa. Ela está atrelada à metodologia das pesquisas observacionais, sendo bastante utilizada no
campo das Ciências Sociais, visando descobrir fatos e causas do comportamento humano, bem como
compreender as interações humanas. Sobre tal técnica, Martins (2008, p. 55 e 58) elucida:

[...] Ao perseguir o desafio de construir interpretações, a Análise do Discurso (AD) parte do


pressuposto de que em todo discurso há um sentido oculto que pode ser captado, o qual, sem
uma técnica apropriada, permanece inacessível. [...] A AD permite conhecer o significado tanto
do que está explícito na mensagem quanto do que está implícito – não só o que se fala, mas
também como se fala. [...]
A Análise do Discurso pode demonstrar que o que é lido não é a realidade, mas apenas um
relato da realidade propositadamente construído de determinado modo, por determinado sujeito.

Ao longo da história da ciência, na medida em que os métodos e as técnicas de pesquisa foram


evoluindo, a AD foi dividida em duas grandes linhas, a anglo-saxã e a europeia. Sobre esse aspecto,
Martins (2008, p. 56-57, grifos meus) pontua:

A AD pode ser dividida em duas amplas linhas que, embora apresentem diferenças
metodológicas e teóricas, surgem, ambas, da necessidade imposta pela Linguística de definir
uma nova unidade de análise que ultrapasse os limites da frase: o texto. Na linha anglo-saxã, ao
contrário do que ocorre na corrente europeia, a AD não é afetada pela dicotomia saussuriana
[da] língua e [da] fala e constitui, assim, mera extrapolação da gramática. [...]
A linha europeia da AD segue a tradição, mais especificamente francesa, de atrelar uma
perspectiva histórica ao estudo reflexivo dos textos. [...]

A diferença fundamental entre a AD e a AC é que a primeira é utilizada para analisar e


interpretar dados qualitativos, ao passo que a segunda, dados quantitativos (MARTINS, 2008).

3.4.3.6.5 Exegese bíblica

A Exegese Bíblica moderna surgiu no decorrer do século XVII, mas foi modificada na virada do
século XIX para o século XX (ALMEIDA; FUNARI, 2016). Sobre esses aspectos, os autores (2016, p.
49-50) emprestam-nos seus dizeres:

O início da exegese moderna se deu a partir do século XVII. Mas foi na virada do século XIX
para o século XX com a filosofia hermenêutica de Wilhelm Dilthey, Martin Heidegger e Hans-
Georg Gadamer que provocaram mudanças na exegese, de modo especial, pela nova maneira de
se compreender a relação entre o autor, o texto e o leitor. Na sequência, vieram os trabalhos
exegéticos de Karl Barth e de Rudolf Karl Bultmann. Ambos recolocaram a questão
hermenêutica, mas cada um a seu modo. Barth se perguntava sobre o significado do texto
bíblico para o homem moderno. Já Bultmann dizia que a linguagem dos autores bíblicos tinha
deixado de ser compreensível. Era uma linguagem mítica e o homem moderno tinha adquirido
uma visão científica do mundo. Era, pois, preciso retraduzir aquela linguagem nesta outra para
que o texto bíblico voltasse a ter sentido. Pela mesma via, mas em sentido contrário, foram os
trabalhos de Paul Ricoeur2, para quem a linguagem simbólica da Sagrada Escritura precisava
ser reinterpretada, não, porém, substituída (GRECH, 2005, p. 48-9).

Etimologicamente, a palavra Exegese vem do grego e significa “conduzir, guiar, dirigir,


governar, explicar pormenorizadamente, interpretar, ordenar, prescrever, aconselhar, arrancar para fora
do texto” (ALMEIDA; FUNARI, 2016, p. 47). Sobre esses aspectos, os autores (2016, p. 47-48)
afirmam:
A Eisegesis consiste em introduzir em um texto alguma coisa que alguém deseja que esteja ali,
mas que na verdade não faz parte do mesmo. Importante é a distinção entre exegese (condução
para fora) e eisegese (condução para dentro) o que significa, portanto, guiar para fora dos
pensamentos o que o escritor tinha quando escreveu um dado documento, isto é, literalmente
“tirar de dentro para fora” (ex-ago), extrair o significado, interpretar (FREEDMAN, 1992, p.
682-3).

A Exegese Bíblica é, pois, uma técnica científica para a análise (ou interpretação) das Escrituras
Hebraico-Aramaicas (Antigo Testamento) e das Escrituras Gregas (Novo Testamento), cristãs
(ALMEIDA; FUNARI, 2016). Corroborando essa afirmação, os autores (2016) enfatizam:

A exegese é um conjunto de procedimentos destinados a estabelecer o sentido de um texto sob


vários ângulos (textual, literário, dos motivos/temas, do processo de composição e outros) a fim
de extrair dele suas mensagens. Têm-se necessidade dela cada vez que um texto suscita um
interesse durável, ou é sempre considerado importante (LACOSTE, 2004, p. 698). [...]
Demanda a utilização de método científico, além de precisar contar com o auxílio de várias
ciências humanas (história, geografia, arqueologia, paleografia, história das religiões
comparadas, entre outras), visto que há uma enorme distância temporal (em alguns casos,
também espacial) e, sobretudo cultural entre os textos e nós, pessoas de outra época e cultura.

Embora os termos Exegese e Hermenêutica sejam utilizados como sinônimos, na verdade eles
são complementares na busca por uma interpretação bíblica melhor fundamentada. Além disso, ambos
podem ser aplicados a qualquer texto, não apenas à Bíblia (ALMEIDA; FUNARI, 2016). Sobre esses
aspectos, os autores (2016) salientam:

A hermenêutica muitas vezes, é usada como sinônimo de exegese. Etimologicamente,


hermenêutica vem do grego hermeneuein e significa traduzir, interpretar. Atualmente, se
convencionou chamar de exegese a busca do sentido que o autor quer exprimir a seus
contemporâneos e de hermenêutica o sentido que um texto pode adquirir hoje. O termo
hermenêutica provém do nome do deus Hermes da mitologia grega (HEIDEGGER, 2003, p.
73). Em si mesmas, nem a hermenêutica, nem a exegese são próprias da Bíblia. Elas se aplicam
a qualquer tipo de texto e, de um modo especial, aos textos mais antigos. Texto dos filósofos
antigos também é objeto de estudos exegéticos e hermenêuticos, além de textos literários, e
outros. Enfim, qualquer tipo de texto pode ser objeto de estudo exegético.

Gorman (2017) divide a Exegese Bíblica em sete passos fundamentais, quais sejam: a pesquisa;
a análise contextual: o contexto histórico, literário e canônico; a análise formal: forma, estrutura e
movimento do texto; a análise detalhada do texto; a síntese; a reflexão: interpretação teológica, o texto
de hoje; o aprimoramento e ampliação da exegese. Para mais detalhes sobre cada uma dessas etapas,
favor ler Gorman (2017) conforme alistado nas referências desse livro.

3.4.3.6.6 Metanálise

Existe no meio acadêmico quem defenda que Metanálise e Revisão Sistemática são sinônimos;
mas, não são. Enquanto a Metanálise se refere a uma técnica específica para análise (ou interpretação)
dos dados, a Revisão Sistemática é muito mais ampla, referindo-se a uma técnica geral para a coleta
dos dados (COSTA; ZOLTOWSKI, 2014). Sobre estes aspectos, os autores (2014, p. 53) explanam:

Apesar do termo metanálise ser frequentemente utilizado como sinônimo de revisão


sistemática, quando a revisão inclui uma metanálise, atualmente os dois termos possuem
sentidos distintos (Sousa & Ribeiro, 2009). Metanálise refere-se ao procedimento estatístico de
tratamento de dados de diversos estudos com o objetivo de agrupá-los, enquanto revisão
sistemática se refere ao processo de reunião, avaliação crítica e sintética de resultados de
múltiplos estudos, podendo ou não incluir uma metanálise (Cordeiro, Oliveira, Rentería,
Guimarães, & Grupo de Estudo de Revisão Sistemática do Rio de Janeiro, 2007).

Ainda sobre o conceito de Metanálise, o Ministério da Saúde (2012) afirma que ela é uma
técnica estatística de análise de dados e que ela pode ou não ser combinada com uma Revisão
Bibliográfica Sistemática. Nas palavras do Ministério da Saúde (2012, p. 14):

Metanálise é uma análise estatística que combina os resultados de dois ou mais


estudos independentes, gerando uma única estimativa de efeito. A metanálise estima com mais
poder e precisão o “verdadeiro” tamanho do efeito da intervenção, muitas vezes não
demonstrado em estudos únicos, com metodologia inadequada e tamanho de amostra
insuficiente. Uma RS [Revisão Sistemática] não necessariamente precisa apresentar uma
metanálise. Ao contrário, em alguns casos não é apropriado que seja realizada, podendo até
mesmo gerar conclusões errôneas.

A Metanálise pode aumentar ou diminuir a confiabilidade de uma Revisão Bibliográfica


Sistemática (MS, 2012). Sobre estes aspectos, o Ministério da Saúde (2012, p. 14) adverte:

Um exemplo desta situação é quando apenas dois estudos reportaram dados de


um desfecho com estimativas de efeitos opostas, ou seja, um estudo aponta benefício da
intervenção e o outro aponta benefício do controle. Nesse caso, não se deve combinar esses
achados. Quando vários estudos reportam dados de desfechos que divergem em algum grau de
magnitude, deve-se avaliar o grau de similaridade dos efeitos nos estudos, utilizando
ferramentas estatísticas, como teste para inconsistência e heterogeneidade, discutidos
posteriormente.

Com base nesses pressupostos, a Metanálise é uma excelente ferramenta para se analisar (ou
interpretar) os dados da pesquisa; no entanto, para essa finalidade, é necessário que o investigador a
utilize da maneira e no momento adequados, para que ela não produza efeitos contrários aos pré-
objetivados (MS, 2012; COSTA; ZOLTOWSKI, 2014).

3.4.3.7 Técnicas específicas para a formalização dos dados

Após a coleta, a organização e a análise, ou interpretação, dos dados, segue-se a formalização


dos resultados obtidos, que podem ser: resumo científico; resenha científica; banner ou pôster;
maquete; obra de arte; máquina; dispositivo eletrônico; TCC, dissertação, tese ou livro; Plano de
Negócios; Projeto Político Pedagógico; software; edificação; artigo científico; exposição cultural, ou
museu.

3.4.3.7.1 Resumo científico

O resumo científico constitui em um material que pode ou não ser publicável. É publicado
comumente em anais de eventos acadêmicos, tais como congressos, simpósios etc. Mas também pode
ser utilizado apenas como um trabalho apresentado ao(s) professor(es) para adquirir notas em
determinado componente curricular que se esteja cursando.
Existem dois tipos de resumo: o simples e o expandido. Mas a diferença vai muito além da
diferença de tamanho. Por exemplo: enquanto o resumo simples tem cerca de 500 palavras, o
expandido tem no máximo 2000 palavras (4 páginas); no simples não se exige a aplicação de
referências, já no expandido exige-se o uso de referências conceituais; como o resumo simples é
pequeno, faz-se necessário ser muito claro e objetivo, sem rodeios, na apresentação dos dados,
enquanto no expandido pode-se dar mais pormenores da ideia geral da pesquisa e da forma como ela
foi realizada; o resumo simples pede objetivos, resultados, metodologia utilizada e resultados obtidos,
já o expandido pede, além de tudo o que o simples já pede, também título, autor, palavras-chave,
introdução, conclusões, agradecimentos e referências; ambos precisam seguir as normas da ABNT
(NBR 14724, 2002; NBR 6023, 2002; NBR 10520, 2002; NBR 6024, 2003; NBR 6022, 2003).
3.4.3.7.2 Resenha científica

A resenha científica representa uma síntese de um trabalho normalmente não lido ou


desconhecido pelo público leitor. Nela o resenhista, comumente doutor na área da temática investigada,
expõe opiniões bem argumentadas no fito de divulgar as obras novas.
Sobre os tipos de resenhas científicas existentes, o site EVEN3 (2020, s. p., grifos meus)
explana:

A resenha pode ser do tipo descritiva (também chamada de resenha técnica ou resenha
científica), ou então do tipo crítica (também conhecida como resenha opinativa).
A resenha descritiva se concentra na avaliação do conteúdo enquanto conhecimento, ciência
ou verdade, ou seja, ela faz um julgamento de verdades. Já a resenha crítica avalia a obra
considerando valor, estilo, estética, beleza etc. (julgamento de valores). Assim, a resenha
crítica exige maior grau de detalhes para a fundamentação da crítica (seja ela positiva ou
negativa), já que trata de questões menos palpáveis e mais subjetivas.
Existem ainda as chamadas resenhas temáticas. Nesse tipo de resenha, há a apresentação
de vários textos de diferentes autores que tratam de um mesmo tema principal. Na resenha
temática, cada um desses textos é identificado e apreciado em termos de sua real contribuição (e
o grau de qualidade dessa contribuição) para o tema em questão.
Se uma resenha não emitir qualquer avaliação sobre o conteúdo, temos o caso da resenha-
resumo. Esse tipo de resenha limita-se aos dois primeiros passos descritos anteriormente, isto é,
apenas identificar a obra e resumir seu conteúdo. Então, essa modalidade cumpre uma
função meramente informativa, e não busca convencer o leitor sobre a importância ou valor
de ler dada obra ou não.

As resenhas científicas são muito utilizadas em periódicos científicos, visto que as mesmas
representam uma atualização sobre quais publicações estão surgindo na área de interesse do periódico.
Elas mantêm os periódicos atualizados quanto a novas pesquisas feitas sobre temáticas que compõem o
seu escopo. Por essas razões, elas são comumente recentes.

3.4.3.7.3 Banner ou pôster

De acordo com o site Exatamente Publicidade (2020, s.p.), banner ou pôster trata-se de “uma
peça publicitária em forma de bandeira, confeccionada em plástico, tecido ou papel, impressa de um ou
de ambos os lados, geralmente para ser pendurada em postes, fachadas ou paredes, exposta
publicamente, em pavilhões de exposições, pontos de venda etc.”.
O banner ou pôster é muito utilizado em apresentações de trabalhos acadêmicos em eventos
científicos, ou mesmo em apresentações feitas em sala de aula nas principais universidades do Brasil e
do mundo.

3.4.3.7.4 Maquete

De acordo com a Wikipedia (2020, s.p.), maquete, maqueta ou modelo é:


[...] uma representação (completa ou parcial) em escala reduzida de um objeto, sistema ou
estrutura de engenharia ou arquitetura, ou ainda, o esboço. Uma maquete pode ser estática, se
visa a analisar o aspecto físico do que está sendo modelado, ou dinâmica, se visa a analisar o
comportamento funcional do que está sendo modelado.

Sendo assim, a maquete é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se formalizar os dados
de uma pesquisa.

3.4.3.7.5 Obra de arte

De acordo com a Wikipedia (2020, s.p.), uma obra de arte tem as seguintes características:

Obra de arte, trabalho artístico ou somente obra, é uma obra criada ou avaliada por sua função
artística ao invés de prática. Por função artística, entende-se a representação de um símbolo, do
belo. Apesar de não ter isso como principal objetivo, uma obra de arte pode ter utilidade prática.
Pode consistir num objeto, uma composição musical, arquitetura, pintura, um texto,
uma apresentação, um filme, um programa de computador, dentre outros. Entretanto, o que é
considerado uma obra de arte depende do contexto histórico e cultural, e do próprio significado
de arte.
Uma obra de arte, por conseguinte, é um produto que transmite uma ideia ou uma expressão
sensível. Trata-se da criação que projeta ou reflete a intenção de um artista.

Sendo assim, uma obra de arte é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se formalizar os
dados de uma pesquisa.

3.4.3.7.6 Máquina

Consoante a Wikipedia (2020, s. p., grifos meus), uma máquina possui as seguintes
características:

Máquina é um dispositivo que utiliza energia e trabalho para atingir um objetivo


predeterminado. Na Física, é todo e qualquer dispositivo que muda o sentido ou a intensidade
de uma força com a utilização do trabalho.
Máquinas não automáticas: essas máquinas também são chamadas "de alívio periódico". São
todas as máquinas que precisam da ação permanente do operador para executar o trabalho.
Máquinas automáticas: são aquelas cuja energia provém de uma fonte externa, como energia
elétrica, térmica, entre outras. Uma furadeira elétrica em que o operador tem que somente
apertar um botão para que execute o trabalho é uma máquina automática. Com isso, pode-se
dizer também que as máquinas automáticas não precisam da energia permanente do operador,
mas podem precisar do controle permanente do operador, que no caso da furadeira é apertar um
botão. As máquinas automáticas podem ainda ser divididas entre máquinas automáticas
programáveis e máquinas automáticas não programáveis: A máquina automática não
programável executa sempre o mesmo trabalho ao receber energia. A máquina automática
programável tem como característica o fato de que o seu trabalho depende de instruções dadas
pelo operador. Pode-se citar como exemplo de máquina automática programável uma máquina
que realiza seu trabalho conforme a posição de chaves. Pode-se ainda introduzir instruções em
uma máquina automática programável por meio de um computador ou outro tipo de
processador eletrônico, como um microcontrolador ligado a um teclado matricial. Uma máquina
automática com um controle de tempo por meio de um temporizador não pode ser considerada
uma máquina automática programável, pois ela não muda seu trabalho conforme o ajuste do
temporizador, muda apenas o período em que executa o trabalho. Também não pode ser
considerada uma máquina automática programável uma máquina automática que possua um
controle de intensidade que o usuário pode ajustar, pois assim ela também continua executando
o mesmo trabalho apenas com uma intensidade diferente e seu trabalho não depende de
programa algum.

Sendo assim, uma máquina é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se formalizar
os dados de uma pesquisa.

3.4.3.7.7 Dispositivo eletrônico

De acordo com a Wikipédia (2020, s.p.), um dispositivo (ou componente) eletrônico possui as
seguintes características:

Um dispositivo eletrônico é um conjunto de pequenas unidades e atuadores. O equipamento que


fabrica essas unidades também é um conjunto de pequenos atuadores.
Os componentes eletrônicos são a estrutura de um circuito eletrônico, isto é, são os
componentes que fazem parte de qualquer circuito elétrico ou eletrônico (desde os mais simples
aos mais complexos) e que estão interligados entre si. Pode também ser definido como
componente eletrônico todo dispositivo elétrico que transmite a corrente elétrica por meio ou de
um condutor ou semicondutor.
Uma válvula termiônica é um dispositivo formado por uma ampola de vidro onde,
internamente, é criado um vácuo. Um transistor é um dispositivo inteiramente sólido onde
internamente existe um semicondutor. Assim, por definição, ambos são componentes
eletrônicos.
Qualquer dispositivo que utilize outros meios que não o vácuo ou semicondutores para
transmitir a corrente elétrica é denominado componente elétrico.
Componentes podem ser: a) passivos: na indústria elétrica são chamados de componentes
elétricos; e b) ativos: incluem semicondutores e válvulas termiônicas.
Podem ser empregados componentes que atuam de diversas maneiras, como a retificação com o
emprego dos diodos e a conversão da energia elétrica para a energia térmica com o uso
dos resistores de potência. O silício é muito usado para a fabricação desses componentes.

Sendo assim, um dispositivo eletrônico é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se


formalizar os dados de uma pesquisa.

3.4.3.7.8 TCC – Dissertação – Tese – Livro

O trabalho de conclusão de curso, mais conhecido como TCC, a dissertação, a tese e o livro são
materiais publicáveis, isto é, produzidos em condições para serem publicados. Por essa razão, precisam
seguir as normas da ABNT (NBR 14724, 2002; NBR 6023, 2002; NBR 10520, 2002; NBR 6024, 2003;
NBR 6022, 2003), e também as orientações da universidade que o(a) solicita (UB, 2015; UBC, 2012;
UNIMES, 2015).
Comumente, o TCC é requisito parcial obrigatório na conclusão de um curso de graduação, na
modalidade licenciatura ou bacharelado. Nos cursos superiores de Tecnologia, o TCC não é obrigatório,
nem nos cursos de especialização – pós-graduação lato sensu (a partir de 2018). Nos cursos de
mestrado são obrigatórias a apresentação e a aprovação de uma dissertação, e nos cursos de doutorado,
de uma tese. Tanto a dissertação quanto a tese são rigorosamente avaliadas pelos pares (por acadêmicos
e profissionais gabaritados no tema investigado), precisam seguir as normas da ABNT (NBR 14724,
2002; NBR 6023, 2002; NBR 10520, 2002; NBR 6024, 2003; NBR 6022, 2003) e as da universidade
que a solicita (UB, 2015; UBC, 2012; UNIMES, 2015).
No caso específico da elaboração de um livro, temos que ele não é exigido em nenhum curso,
mas sim elaborado e publicado por livre iniciativa do pesquisador. Mesmo assim, para ser considerado
científico, ou literatura crítica de um tema científico, ele precisa seguir as normas da ABNT (NBR
14724, 2002; NBR 6023, 2002; NBR 10520, 2002; NBR 6024, 2003; NBR 6022, 2003) e também o
rigor da metodologia da pesquisa científica. É, nesse diapasão, recomendável que ele seja avaliado e
aprovado pelos pares, por exemplo, por meio de uma boa editora, para que seja publicado (UB, 2015;
UBC, 2012; UNIMES, 2015).

3.4.3.7.9 Plano de Negócios

Consoante a Wikipédia (2020, s.p., grifo meu), o Plano de Negócios possui as seguintes
características:
O Plano de negócios (do inglês Business Plan), também chamado plano empresarial, é um
documento que especifica, em linguagem escrita, um negócio que se quer iniciar ou que já está
iniciado.
Geralmente é escrito por empreendedores, quando há intenção de se iniciar um negócio, mas
também pode ser utilizado como ferramenta de marketing interno e gestão. Pode ser uma
representação do modelo de negócios a ser seguido. Reúne informações tabulares e escritas de
como o negócio é ou deverá ser.
De acordo com o pensamento moderno, a utilização de planos estratégicos ou de negócios é um
processo dinâmico, sistêmico, participativo e contínuo para a determinação dos objetivos,
estratégias e ações da organização; assume-se como um instrumento relevante para lidar com as
mudanças do meio ambiente interno e externo e contribuir com o sucesso das organizações. É
uma ferramenta que concilia a estratégia com a realidade empresarial. O plano de negócio é um
documento vivo, no sentido de que deve ser constantemente atualizado para que seja útil na
consecução dos objetivos dos empreendedores e de seus sócios.
O plano de negócios também é utilizado para comunicar o conteúdo a investidores de risco, que
podem se decidir a aplicar recursos no empreendimento.
Plano de negócio "é uma obra de planejamento dinâmico que descreve um empreendimento,
projeta estratégias operacionais e de inserção no mercado e prevê os resultados financeiros".
Segundo o mesmo autor, a estratégia de inserção no mercado talvez seja a tarefa mais
importante e crucial do planejamento de novos negócios.

Sendo assim, um Plano de Negócios é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se


formalizar os dados de uma pesquisa.

3.4.3.7.10 Projeto Político Pedagógico

De acordo com o site SomosPar (2020, s.p.), um Projeto Político Pedagógico (PPP) possui as
seguintes características:

O Projeto Político Pedagógico (PPP), também conhecido apenas como projeto pedagógico, é
um documento que deve ser produzido por todas as escolas, segundo a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN).
Embora seja amplamente conhecido no meio especializado, muitos diretores pedagógicos e
gestores educacionais têm dúvidas sobre o que o documento deve conter, como ele foi criado e
de que forma ele deve ser implementado nas escolas.
Na prática, o documento estipula quais são os objetivos da instituição e o que a escola, em todas
as suas dimensões, vai fazer para alcançá-los. Nele, serão considerados todos os âmbitos que
compõem o ambiente educacional, como:
– A proposta curricular: deve ficar claro o que será ensinado e qual será a metodologia adotada.
A proposta pedagógica deve trazer, ainda, as diretrizes adotadas pela instituição para avaliação
da aprendizagem, bem como do próprio método de ensino;
– Diretrizes sobre a formação dos professores: o documento deve ser claro sobre a forma como
a equipe docente vai se organizar para cumprir a proposta curricular. Além disso, deve haver um
plano para desenvolvimento e capacitação contínuos da equipe;
– Diretrizes para a gestão administrativa: para que a proposta curricular e as diretrizes sobre o
corpo docente sejam cumpridas é necessário que exista um suporte administrativo bem
organizado. O documento apontará o caminho para que a gestão da escola viabilize os outros
pontos.
Em suma, o documento funciona como um mapa para que a instituição alcance seu potencial
máximo, adequando-se ao contexto no qual está inserida e contribuindo para o crescimento e o
desenvolvimento de seus alunos.
O PPP pode ser apresentado como um trabalho de conclusão de curso (TCC) nos cursos da área
educacional, em especial em Pedagogia, no fito de ser concedido ao aluno o título de
Licenciado, ou Bacharel, na sua respectiva área.

Sendo assim, um PPP é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se formalizar os dados de
uma pesquisa.

3.4.3.7.11 Software

De acordo com o Siteware (2020, s. p.), um software, na verdade, trata-se de um “conjunto de


componentes lógicos de um computador ou sistema de processamento de dados; programa, rotina ou
conjunto de instruções que controlam o funcionamento de um computador; suporte lógico”.
Esse tipo de técnica de formalização de dados pode ser adequadamente apresentado como
trabalho de conclusão de curso (TCC) nos cursos de ciências computacionais, tais como Ciência da
Computação, Engenharia da Computação e Sistemas de Informação.

3.4.3.7.12 Edificação

De acordo com o site Significados (2020, s. p.), em seu sentido lato sensu, o conceito de
edificação “está relacionado com a construção civil, significando as técnicas usadas para a construção
de edifícios, sejam eles direcionados para habitação ou comércio. As técnicas de edificação mudam
conforme o tipo de edifício que está sendo construído”.
A expressão edificação civil indica a construção de infraestruturas para utilização de alguns
elementos da sociedade.
Em seu sentido stricto sensu, o conceito de edificação representa um edifício, uma construção
civil em si mesma. Em cursos de Engenharia ou Arquitetura, o trabalho final para conclusão do curso
pode ser apresentado na forma de um edifício, uma casa, uma ponte, um túnel, um palácio, ou qualquer
outra construção civil adequada.

3.4.3.7.13 Artigo científico


De acordo com o site Monografias (2020, s.p., grifo meu), as principais características de um
artigo científico são:

Segundo a ABNT (NBR 6022, 2003, p.2), o artigo científico pode ser definido como a
“publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos
e resultados nas diversas áreas do conhecimento”. Sua finalidade é apresentar publicamente os
resultados originais de uma dada pesquisa.
Santos (2007, p. 43) afirma que “são geralmente utilizados como publicações em revistas
especializadas, a fim de divulgar conhecimentos, de comunicar resultados ou novidades a
respeito de um assunto, ou ainda de contestar, refutar ou apresentar outras soluções de uma
situação convertida”.
Como antes citado, há a hipótese de que a concisão seja a característica que demarca a diferença
entre a monografia e o artigo. Assim, precisamos compreender acerca de alguns pressupostos, a
fim de que possamos confirmar ou não se tal hipótese é verdadeira.
O primeiro passo é compreendermos que enquanto na monografia existe a possibilidade de se
esmiuçar um determinado assunto, estendendo-o em vários capítulos, no artigo científico tal
aspecto não prevalece.
Como se trata de um texto que prima pela concisão dos dados apresentados, ele precisa passar
por um critério rigoroso de correção, no sentido de verificar a estruturação dos parágrafos e
frases, garantir a clareza e objetividade retratadas pela linguagem, entre outros. Não deixando
de mencionar que, num artigo, o revisor precisa estar livre para se posicionar frente ao objeto de
análise, levando em consideração alguns aspectos voltados para a análise dos argumentos
apresentados, checagem do valor científico atribuído ao texto em questão, verificação da
possibilidade de se tornar público (estar disponível a outras pessoas), confirmação da
possibilidade de abertura a possíveis reavaliações em função de novas descobertas e,
consequentemente, apresentação de melhores resultados etc.

Sendo assim, um artigo científico é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se formalizar
os dados de uma pesquisa.

3.4.3.7.14 Exposição cultural ou– Museu

Consoante o site NovoIdeal (2020, s. p., grifo meu), uma exposição cultural, mostra cultural, ou
um museu, trata-se:

[...] da culminância do Projeto Anual, escolhido criteriosamente pela equipe docente, atribuindo
um subtema para cada turma da universidade, com diferentes desafios. Um evento único,
quando os estudantes têm a oportunidade de socializar seus conhecimentos e produções
construídas, de forma coletiva e individual, aos familiares e comunidade acadêmica como um
todo, com espaços organizados especialmente pelos discentes de forma a atribuir sentido ao que
foi trabalhado.

As produções realizadas pelos discentes podem ser organizados na forma de um museu


itinerante, que é uma forma de expor temporariamente os trabalhos do alunado para que a comunidade
acadêmica e a comunidade em geral tomem ciência.

3.4.3.8 Técnicas específicas para apresentação dos dados

3.4.3.8.1 Exposição oral

A exposição oral é realizada, é claro, pela fala. O pesquisador apresenta a sua pesquisa falando
com a assistência. Ele expõe desde os critérios utilizados para se escolher o tema, até quais
metodologias foram escolhidas, como foram adequadamente aplicadas, explica quem foram os
participantes da pesquisa, quais os desafios existentes no decurso da investigação, quais foram os
resultados pré-objetivados e os efetivamente alcançados. Enfim, o investigador precisa relatar de tudo
um pouco na sua exposição oral, que é muito comum em eventos científicos, tais como congressos,
simpósios, workshops, minicursos etc. (GIFTED, 2015; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS,
2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).

3.4.3.8.2 Exposição visual

A exposição visual é realizada por meio de algum recurso visual, tal como um banner, um
pôster, uma faixa, uma maquete, um relatório impresso ou eletrônico etc. Por meio dela, o investigador
expõe basicamente as mesmas coisas que na exposição oral: os critérios utilizados para se escolher o
tema, até que metodologias foram escolhidas, como foram adequadamente aplicadas; explica quem
foram os participantes da pesquisa, quais os desafios existentes no decurso da investigação, quais foram
os resultados pré-objetivados e os efetivamente alcançados. A diferença consiste em que o investigador
aqui não fala com a assistência, mas deixa exposto o seu trabalho, em um local adequado em um evento
científico, para que ela olhe, veja, leia, e tire as suas próprias conclusões (GIFTED, 2015; GIL, 1999,
2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).

3.4.3.8.3 Exposição mista

A exposição mista, tal como o próprio nome já diz, é uma mistura entre a exposição oral e
visual, um pouco de cada uma. O investigador expõe o seu trabalho, comumente em um evento
científico, tanto falando com a assistência quanto a deixando lê-lo, vê-lo, tocá-lo (quando adequado,
por exemplo, uma maquete), e tirar as suas próprias conclusões (GIFTED, 2015; GIL, 1999, 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).

3.4.4 As espécies de pesquisa científica

Aqui, nesta seção, são apresentados vários tipos de pesquisa científica, de acordo com alguns
diferentes critérios de classificação – tais como, por exemplo, por objetivo –, no intuito de aculturar ao
máximo possível o pesquisador, para que ganhe confiança na sua investigação e na classificação das
metodologias nela empregadas21. Além disso, essas classificações são adicionais, isto é, servem para
complementar aquela classificação apresentada no item 3.4.3 deste livro, mas nunca para substituí-la.

3.4.4.1 Pesquisa de campo

A pesquisa de campo é sempre realizada in loco e objetiva sempre coletar dados primários, ou
seja, dados que ainda não foram sujeitos à manipulação (RODRIGUES, 2007). Sobre esses e outros
aspectos da pesquisa de campo, Rodrigues (2007, p. 42) acentua:

Pesquisa de campo é aquela que busca fontes primárias, no mundo dos acontecimentos não
provocados nem controlados pelo pesquisador, que se caracteriza por desenrolar-se em
ambiente natural. Trata-se de um procedimento baseado na observação direta do objeto
estudado no meio que lhe é próprio, geralmente sem a interferência do pesquisador, ou sem que
esta interferência modifique substancialmente os acontecimentos. Distingue-se da pesquisa
experimental e da pesquisa in vitro. [...] (RODRIGUES, 2007, p. 42)

Portanto, a pesquisa de campo ocorre em um ambiente em que o pesquisador não interfere no


funcionamento do objeto investigado.

3.4.4.2 Pesquisa teórica ou básica

A pesquisa teórica é a mais básica de todas as espécies de pesquisa, consiste em uma revisão da
literatura crítica e ou de documentos que forneçam dados sobre tema investigado. Não possui caráter
prático e, por essa razão, é essencialmente qualitativa. Sobre esses aspectos, Rodrigues (2007, p. 41)
explana:

Teórico ou básico é o estudo que procura estabelecer um sistema coerente de proposições sobre
21
A quantidade exorbitante de nomenclaturas de métodos e técnicas de investigação científica constantes na vasta literatura
da temática não deve, de modo algum, atemorizar o investigador, mas sim aculturá-lo ao máximo possível para que ele seja
capaz de cimentar sua investigação, classificando-a e utilizando-a de modo adequado.
uma zona da realidade [...] é um conjunto de declarações sobre o real [...] uma explicação dos
fatos [...] a teoria procura estabelecer relações funcionais entre variáveis. A pesquisa teórica não
busca a solução de problemas práticos, mas a compreensão da realidade, ou a sua explicação, ou
simplesmente descrevê-la [...]

Inobstante, como base nesses pressupostos, deduz-se que a pesquisa teórica, ou básica, consiste,
na verdade, em uma pesquisa observacional não participante, sendo, inclusive, parte integrante de todas
as pesquisas, com maior ou menor grau de complexidade.

3.4.4.3 Pesquisa prática ou aplicada

A pesquisa prática, ou aplicada, possui grau de complexidade maior que a pesquisa teórica, ou
básica, contrapondo-se a ela no que concerne ao lócus de elaboração, às técnicas de pesquisa, e às
finalidades. Trata-se de pesquisa in loco, isto é, realizada no mesmo local que o objeto investigado.
Pode consistir em uma pesquisa de abordagem qualitativa, quantitativa ou mista. Sobre esses aspectos,
Rodrigues (2007, p. 42) explana:

Prática, também chamada aplicada, é a investigação que procura soluções para problemas
concretos. Não se preocupa com o abstrato. Deve ter fundamentação na pesquisa teórica ou
básica, mas tem existência própria. A vida própria de que goza a pesquisa prática fica
parenteada pelo tempo, muita vez longo, no curso da história da ciência, decorrido desde a
formulação teórica até a sua aplicação [...]

Inobstante, como base nesses pressupostos, deduz-se que a pesquisa prática, ou aplicada,
consiste, na verdade, em uma pesquisa de campo, podendo valer-se das bases procedimentais
observacionais participantes, da experimental, da estatística e da clínica.

3.4.4.4 Pesquisa original

A pesquisa original é aquela que resulta em alguma descoberta científica. Normalmente, essas
pesquisas são realizadas por pesquisadores com longa quilometragem de estudos sobre e convivências
com o tema investigado. É comum em teses de pesquisa, ou em dissertações, de cursos de pós-
graduação stricto sensu – mestrado e doutorado. Isso não quer dizer que não seja possível realizar uma
pesquisa original em um trabalho de conclusão de curso de graduação ou pós-graduação lato sensu,
mas, por requerer grande bagagem acadêmica e profissional por parte do pesquisador, ela é mais
comum nos mestrados e nos doutorados.
3.4.4.5 Pesquisa exploratória

Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa explorar determinado tema. No que
concerne à pesquisa exploratória, alguns autores sobre o tema emprestam-nos suas ideias:

Os estudos exploratórios permitem ao investigador aumentar sua experiência em torno de


determinado tema. O pesquisador parte de uma hipótese e aprofunda seu estudo nos limites de
uma realidade específica, buscando antecedentes, maiores conhecimentos para, em seguida,
planejar uma pesquisa descritiva ou de tipo experimental. Outras vezes, deseja delimitar ou
manejar com maior segurança uma teoria cujo enunciado resulta demasiado amplo para os
objetivos da pesquisa que tem em mente realizar. [...]. (TRIVIÑOS, 1987, p. 109).

A pesquisa exploratória destina-se a esclarecer do que se trata, a reconhecer a natureza


do fenômeno, a situá-lo no tempo e no espaço, a inventariar suas manifestações variadas, seus
elementos constitutivos ou as contiguidades presentes à sua manifestação. [...]. (RODRIGUES,
2007, p. 28).

Por meio da pesquisa exploratória, o investigador conhece de perto o objeto investigado, antes
de avaliar a possibilidade e ou necessidade de um procedimento experimental.

3.4.4.6 Pesquisa analítica

Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa a analisar determinado tema. No
que concerne à pesquisa analítica, Rodrigues (2007, p. 28) explana: “Analítico é o estudo minucioso,
voltado para os detalhes, para a busca de inter-relações do objeto de estudo com outros objetos a ele
relacionados; ou das partes ou fatores internos do dito objeto. [...].”.
A pesquisa analítica separa o objeto (quando possível) em partes menores, e as estuda
minuciosamente para se conhecer o todo em maior profundidade. Por essa razão, ela é largamente
utilizada, em todas as áreas do conhecimento.

3.4.4.7 Pesquisa sintética

Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa a sintetizar determinado tema. No
que concerne à pesquisa sintética, Rodrigues (2007, p. 29) empresta-nos suas ideias:

Sintético é o relatório de pesquisa que, ao contrário do analítico, não busca detalhes, não
desmonta o objeto segundo os seus elementos constitutivos ou intervenientes. O estudo
sintético, como o nome sugere, busca elaborar uma síntese, que pode ser descritiva, explicativa
ou compreensiva, como pode ser teórica ou prática [...]
A pesquisa sintética é utilizada em redações de ensaio, ou anteprojetos de pesquisa, quando se
quer, na verdade, uma síntese (sem detalhes) sobre o fenômeno ou objeto investigado.

3.4.4.8 Pesquisa descritiva

Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa a descrever determinado tema. No
que concerne à pesquisa descritiva, alguns autores sobre o tema emprestam-nos suas ideias:

[...] O foco essencial desses estudos reside no desejo de conhecer a comunidade, seus traços
característicos, suas gentes, seus problemas, suas escolas, seus professores, sua educação, sua
preparação para o trabalho, seus valores, os problemas do analfabetismo, a desnutrição, as
reformas curriculares, os métodos de ensino, o mercado ocupacional, os problemas do
adolescente, etc.
[...] Os estudos descritivos exigem do investigador, para que a pesquisa tenha certo grau de
validade científica, uma precisa delimitação de técnicas, métodos, modelos e teorias que
orientarão a coleta e interpretação dos dados. A população e a amostra devem ser claramente
delimitadas, da mesma maneira, os objetivos do estudo, os termos e as variáveis, as hipóteses,
as questões de pesquisa etc.. [...]. (TRIVIÑOS, 1987, p. 109).

Descritivo é o estudo que apresenta informações, dados, inventários de elementos, constitutivos


ou contíguos ao objeto, dizendo o que ele é, do que se compõe, em que lugar está localizado no
tempo e no espaço, revelando periodicidades, indicando possíveis regularidades ou
irregularidades, mensurando, classificando segundo semelhanças e diferenças, situando-o
conforme as circunstâncias [...]. (RODRIGUES, 2007, p. 29).

Descrever sem analisar profundamente é o foco desse tipo de pesquisa. Mesmo assim, se for
bem realizado, pode gozar de bom status científico.

3.4.4.9 Pesquisa explicativa

Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa a explicar determinado tema. No
que concerne à pesquisa explicativa, Rodrigues (2007, p. 30) empresta-nos suas ideias:

Explicativa é a pesquisa que busca relações do tipo causa e efeito. Não basta que procure
relações de quaisquer espécies. É preciso que vise àquelas relações pertinentes ao nexo de
causalidade. Assim, não basta enfocar, num estudo antropológico, a presença de relações de
parentesco entre nubentes no sertão do Nordeste, com certa frequência, até meados do século
XX. A pesquisa só será explicativa se apontar causas para a aludida endogamia. [...]

Portanto, por meio da pesquisa explicativa, buscam-se as causas do fenômeno investigado, as


suas consequências e suas relações.
3.4.4.10 Pesquisa compreensiva

Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa a compreender determinado tema.
No que concerne à pesquisa compreensiva, Rodrigues (2007, p. 31) acentua:

Compreensiva é a pesquisa que busca o significado da ação social observada, constituindo-se


num exercício de hermenêutica, como expresso. O campo de aplicação da pesquisa
compreensiva, o que vale dizer, do conhecimento interpretativo, é objeto de muita discussão.
[...]

A pesquisa compreensiva é incipiente tal qual o é a pesquisa sintética. Ela busca, sem
aprofundamentos, a compreensão do objeto investigado, em uma fase inicial, tal como quando se
elabora a redação de ensaio, ou o anteprojeto de pesquisa.

3.4.4.11 Pesquisa in vitro

Essa espécie de pesquisa possui maior grau de complexidade, porque requer condicionamento
controlado, sendo normalmente utilizada em estudos experimentais e clínicos. No que concerne à
pesquisa in vitro, Rodrigues (2007, p. 43) ressalta: “Pesquisa in victro, cujo objeto estudado encontra-
se confinado em um ambiente artificial, como um tubo de ensaio. Não tem aplicação no campo das
ciências sociais [...].”.
Com base nesses pressupostos, deduz-se que se refere à pesquisa de campo, à pesquisa de
laboratório, e outras pesquisas.

3.4.4.12 Pesquisa ex-post-facto

No que concerne à pesquisa ex-post-facto, Rodrigues (2007, p. 44) diz:

Ex-post-facto é a investigação pertencente à categoria das pesquisas de campo, mas que tem a
particularidade de centrar as suas observações num fato já consumado. Isto é: consiste na
tentativa de compreender, explicar, ou pelo menos descrever um fenômeno que já se consumou,
que já não está em andamento nem foi provocado. [...]

A pesquisa ex-post-facto diz respeito mais sobre o momento do que sobre a maneira que o fato,
fenômeno, ou objeto, é investigado.
3.4.4.13 Pesquisa de mercado

No que concerne à pesquisa de mercado, Rodrigues (2007, p. 44) salienta: “Pesquisa de mercado
visa ao comportamento do consumidor em face de produtos ou serviços e modalidades de pagamentos,
aspectos ou outros do mundo do consumo. [...]”.
A pesquisa de mercado é bastante utilizada no mundo empresarial, por empresários interessados
em conhecer bem a sua clientela, os seus hábitos de consumo, as suas preferências concernentes aos
produtos e formas de pagamentos, no fito de a fidelizar.

3.4.4.14 Pesquisa e desenvolvimento

No que concerne à pesquisa e desenvolvimento, Rodrigues (2007, p. 44) pontua:

Pesquisa e desenvolvimento objetiva a criação de produtos ou serviços, assim como o seu


aperfeiçoamento. Não é apenas investigativa, caracterizando-se pelo esforço criativo, voltado
para a produção de soluções até então inexistentes para problemas práticos. É o campo por
excelência do desenvolvimento tecnológico. [...]

Largamente utilizada por empresas de grande porte do ramo de tecnologia, esse tipo de pesquisa
visa a criar novos produtos e serviços que venham a solucionar problemas cotidianos de seus clientes,
marcando, desse modo, o mercado.

3.4.4.15 Pesquisa oral

No que concerne à pesquisa oral, Rodrigues (2007, p. 45) explana:

Pesquisa oral, como a denominação sugere, é a que se vale da oralidade como fonte principal,
ou como instrumento de coleta de informações. É uma forma de pesquisa que vive um grande
impulso nos últimos anos. Largamente praticada pelos antropólogos, desde sempre empregada
na investigação forense, a oralidade ganhou a adesão sôfrega de historiadores após a orfandade
a que foram reduzidas as versões mais teoréticas da História, com o advento da crise dos
paradigmas. Outros ramos das ciências sociais estão se voltando para a oralidade. [...]

A pesquisa oral é bastante peculiar às ciências que a utilizam, seja no Direito, em oitivas de
testemunhas, seja na Antropologia, seja em estudos de casos classificados como Histórias de Vida.
3.4.5 Os instrumentos da pesquisa científica

Conforme explanado no tópico anterior, são várias as espécies de pesquisa, variando


principalmente de acordo com as finalidades e ou com as técnicas e os instrumentos utilizados. Por essa
razão, é grande a importância de se compreender bem cada uma delas, bem como as suas respectivas
técnicas e os seus respectivos instrumentos. São vários os instrumentos que podem ser utilizados
quando da investigação científica, sendo que a literatura crítica apresenta alguns em uma bibliografia,
outros em outra. Reunindo, porém, por meio de uma abrangente revisão bibliográfica e documental, os
mais citados, mais importantes ou mais utilizados, apresentam-se oito a seguir:

3.4.5.1 Protocolo observacional

O protocolo observacional é o instrumento próprio das pesquisas observacionais. Trata-se de


um meio para se registrar as informações produzidas durante a observação. Pode ser um caderno, um
bloco de anotações, ou mesmo uma página para rascunho. O objetivo é planificar tudo o que foi
observado sobre o objeto de pesquisa, suas características, suas variações, as possíveis causas e os
possíveis efeitos das variações, o que foi feito durante a observação, o que não foi feito durante ela e o
(s) seu (s) respectivo (s) porquê (s). Comumente, o registro das informações no protocolo observacional
é separado em notas descritivas (aquilo que se observa de fato) e notas reflexivas (as interpretações ou
reflexões daquilo que se observa). Sobre esses aspectos, Creswell (2010, p. 2015, grifo meu) ratifica:

[...] Os pesquisadores com frequência se engajam em observações múltiplas no decorrer de um


estudo qualitativo e usam um protocolo observacional para registrar as informações. Ele pode
ser de uma única página, com uma linha dividindo-a ao meio no sentido longitudinal para
separar as notas descritivas (retratos dos participantes, reconstrução de diálogo, descrição do
local físico, relatos de determinados eventos ou atividades) das notas reflexivas (os
pensamentos pessoais do observador, tais como “especulação, sentimentos, problemas, ideias,
palpites, impressões e preconceitos” [...]). Também podem ser escritas dessa forma as
informações demográficas sobre o tempo, o local e a data do local de campo onde ocorreu a
observação. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o protocolo observacional é instrumento
fundamental nas pesquisas observacionais e que, para não dificultar ou mesmo impedir a sua adequada
execução, ele só pode ser inutilizado quando substituído por outro instrumento equivalente, tal como o
diário de campo.

3.4.5.1 Protocolo de entrevista


O protocolo de entrevista é o instrumento de pesquisa próprio das entrevistas, utilizadas nas
pesquisas observacionais participantes, nas pesquisas estatísticas e nas pesquisas clínicas. Trata-se de
um meio para se registrar as informações produzidas durante as entrevistas. Pode ser um caderno, um
diário, um bloco de anotações, ou mesmo uma página para rascunho. Mas ele difere do protocolo
observacional por incluir os componentes: cabeçalho, instruções gerais para o entrevistador, questões
formuladas para o entrevistado responder, sondagens para a compreensão correta das respostas dadas,
espaço entre as perguntas para registro das respostas e um agradecimento final. O objetivo é planificar
tudo o que foi respondido nas entrevistas, se as respostas foram ou não satisfatórias, se as questões
foram ou não bem formuladas cumprindo os objetivos preestabelecidos, se há a necessidade de
elaboração e aplicação de outras questões para que os objetivos preestabelecidos sejam devidamente
alcançados etc. Sobre esses aspectos, Creswell (2010, p. 216) corrobora:

Use um protocolo de entrevista para formular perguntas e registrar as respostas durante uma
entrevista qualitativa. Esse protocolo inclui os seguintes componentes:
●Um cabeçalho (com data, local, nome do entrevistador e nome do entrevistado).
●Instruções a serem seguidas pelo entrevistador para que procedimentos padrão sejam usados
por vários entrevistadores.
●As questões (geralmente uma questão para quebrar o gelo no início), seguida de quatro a
cinco perguntas que são com frequência as subquestões em um plano de pesquisa qualitativa,
seguidas de alguma declaração conclusiva ou uma pergunta como “Quem devo procurar para
aprender mais sobre minhas perguntas?”
●Sondagens das quatro a cinco perguntas, para o acompanhamento e para pedir aos indivíduos
para explicarem suas ideias mais detalhadamente ou para elaborar sobre o que disseram.
●Espaço entre as perguntas para registrar as respostas.
●Um agradecimento final para reconhecer o tempo que o entevistado gastou durante a
entrevista. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o protocolo de entrevista é instrumento
fundamental nas entrevistas e que, para não dificultar ou mesmo impedir a sua adequada execução, ele
jamais pode ser inutilizado.

3.4.5.2 Questionário

O questionário é o instrumento utilizado nas entrevistas, inerentes às pesquisas de campo, quer


as observacionais e as clínicas. Denomina-se assim porque se refere a um meio de obtenção de
respostas às questões, ou perguntas, previamente elaboradas no fito de sanar as dúvidas do pesquisador
para que ele consiga alcançar os objetivos pré-estabelecidos da sua investigação. Sobre esse
instrumento de pesquisa, alguns autores emprestam-nos suas ideias:

Questionário é um método de coletar dados no campo, de interagir com o campo composto por
uma série ordenada de questões a respeito de variáveis e situações que o pesquisador deseja
investigar. Tais questões são apresentadas a um respondente, por escrito, para que ele responda
também dessa forma, independentemente de ser a apresentação e a resposta em papel ou em um
computador. A escolha do meio é sempre do pesquisador. (VERGARA, 2012, p. 39)

O questionário é a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita medir com melhor
exatidão o que se deseja. Em geral, a palavra questionário refere-se a um meio de obter
respostas às questões por uma fórmula que o próprio informante preenche. Assim, qualquer
pessoa que preencheu um pedido de trabalho teve a experiência de responder a um questionário.
Ele contém um conjunto de questões, todas logicamente relacionadas com um problema central.
[...]
O questionário poderá ser enviado pelo correio, entregue ao respondente ou aplicado por
elementos preparados e selecionados. [...]
Todo questionário deve ter natureza impessoal para assegurar uniformidade na avaliação de
uma situação para outra. Possui a vantagem de os respondentes se sentirem mais confiantes,
dado o anonimato, o que possibilita coletar informações e respostas mais reais (o que pode não
acontecer na entrevista). [...] (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 48).

Quanto às formas de utilização do questionário, Vergara (2012, p. 39-40) destaca:

Se optar pelo uso do correio, o pesquisador deve incluir envelope selado com o nome e o
endereço do pesquisador escrito (destinatário), de maneira a facilitar o retorno do questionário e
não causar ônus financeiro ao respondente. Para garantir o anonimato, é prudente não colocar o
nome do remetente.
Mas o pesquisador pode, também, optar por valer-se de um portador. Nesse caso, também por
este o questionário dese ser devolvido.
Junto com o questionário, deve-se enviar uma nota ou carta explicando a natureza da pesquisa,
sua importância e a necessidade de obter respostas, numa tentativa de despertar o interesse do
recebedor, para que ele preencha e devolva o questionário dentro de um prazo razoável.
Se optar por meio eletrônico, o pesquisador pode enviar o questionário por e-mail, ou
disponibilizá-lo em páginas próprias na Web, usando hypertext markup language (HTML), a
linguagem da Web, e hospedá-lo em um dos diversos sites especializados como, por exemplo, o
<www.vista-survey.com>. [...].

Existem grandes vantagens de se utilizar o meio eletrônico para a obtenção de dados via
questionário (VERGARA, 2012). Dentre as mais importantes podemos citar a facilidade para se
comunicar com os entrevistados e para organizar os dados obtidos, codificando-os, categorizando-os ou
tabulando-os. Além de ser possível ampliar o número de respondentes, por meio de convites virtuais a
outros usuários do mesmo site, também é possível construir caixas protetivas, impedindo o respondente
de marcar mais de uma resposta, quando o pesquisador só quer uma. Eletronicamente, as respostas
podem ser processadas, instantaneamente e organizadas por meio de algum software estatística
apropriado, tal como o SAS, o SPSS e o Minitab, ou mesmo em uma planilha eletrônica como o Excel
ou o Calc.
Os questionários podem ser classificados de acordo com o tipo das perguntas nele contidas. Por
exemplo, se as perguntas forem abertas, então o questionário é denominado aberto ou não padronizado.
Se as perguntas forem fechadas, então o questionário é denominado fechado ou padronizado. E se
houver combinação de perguntas abertas com outras fechadas, então o questionário é denominado
misto (DENCKER; VIÁ, 2012; RICHARDSON, 2007).
Quanto à classificação dos questionários, Vergara (2012) traz à tona que existem os abertos, os
fechados – também denominados surveys e os mistos. Nesse diapasão, sintetizando as palavras da
autora (VERGARA, 2012, p. 40, grifos meus), temos:

Nos primeiros, ou seja, nos abertos, são postas, para o respondente, questões abertas, sem a
apresentação de possíveis respostas. [...]
Nos questionários fechados, são apresentadas questões fechadas nas quais o respondente faz
marcações com um símbolo, por exemplo um X, ou com algarismos. São adequados a um
contingente maior de respondentes e à investigação cuja abordagem seja quantitativa. [...]
Questionários mistos, como o nome está dizendo, apresentam questões abertas e fechadas. [...]

Ressalta-se ainda que os questionários possam ser utilizados conjuntamente às escalas sociais,
por meio de questões fechadas escalonadas (VERGARA, 2012). Com base nos pressupostos
apresentados, deduz-se ainda que o questionário seja instrumento fundamental nas entrevistas e que,
para não dificultar ou mesmo impedir a sua adequada execução, ele só pode ser inutilizado quando
substituído por outro instrumento equivalente, tal como o formulário.

3.4.5.3 Formulário

Formulário é um documento pré-impresso onde são preenchidos os dados e informações, que


permite a formalização das comunicações, o registro e o controle das atividades das organizações,
como empresas ou instituições estatais.
A atividade de organização e métodos é a que fornece os subsídios para a elaboração e o
controle dos formulários. De acordo com a Wikipédia (FORMULÁRIO, 2020, grifos meus), existem os
seguintes tipos de formulários:

a) Planos: são formulários cujos campos são desenhados e pré-impressos em papel padronizado;
b) Contínuos: são também elaborados em papel, e destinados a serem preenchidos
por impressoras de computadores, em grande escala. O desenho desses formulários é realizado
em gabaritos de espaçamento que permitem a impressão de acordo com as características e
necessidades do computador e da respectiva impressora;
c) Eletrônicos: são elaborados por softwares aplicativos, permitindo o trâmite na sua
organização por meio das redes informáticas, e centros de computação, dispensando a utilização
de papel. Esse tipo de formulário é muito difundido pelas organizações que se utilizam dos
recursos da Internet, disponibilizando em seus sites os formulários para serem preenchidos por
seus clientes a fim de efetuar suas compras por meio de seus respectivos computadores
devidamente conectados à rede mundial; e
d) Formulários PDF: são formularios preenchíveis em PDF. Podem ser gerados por um software
profissional (Adobe.com). Existem sites que convertem um PDF regular em formulario
eletronico.

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o formulário é instrumento fundamental
nas entrevistas e que, para não dificultar ou mesmo impedir a sua adequada execução, ele só pode ser
inutilizado quando substituído por outro instrumento equivalente, tal como o questionário.

3.4.5.4 Diário de campo

O diário de campo é o instrumento próprio das pesquisas de campo, sejam elas observacionais
participantes, experimentais, estatísticas ou clínicas. Trata-se de um meio para se registrar as
informações produzidas durante a atuação do pesquisador em campo. Embora seja denominado diário,
ele pode ser, além de um diário, um caderno, um bloco de anotações, ou mesmo uma página para
rascunho. Mas difere do protocolo observacional por duas razões: primeiro, porque não é utilizado nas
pesquisas observacionais não participantes; e segundo, porque, no diário de campo, as informações não
precisam ser, necessariamente, registradas manualmente, podendo ser gravados em CDs, DVDs, fitas,
pendrives, chips, fotografias ou filmagens digitais etc. Entretanto, o objetivo é o mesmo: planificar tudo
o que foi observado sobre o objeto de pesquisa, suas características, suas variações, as possíveis causas
e os possíveis efeitos das variações, o que foi feito durante a atuação em campo, o que não foi feito
durante ela e o(s) seu(s) respectivo(s) porquê(s). Sobre esses aspectos, Barros e Lehfeld (2007, p. 105)
explanam:

Durante o desenvolvimento da pesquisa, nas idas do pesquisador ao campo para a coleta de


dados, é muito importante a utilização de um diário de campo. Ele é o registro de fatos
verificados através de notas e/ou observações.
Atualmente, existem vários procedimentos para realizar esses registros. Podem ser feitos à mão,
gravados em fitas cassete, em fitas de vídeo ou registradas através de fotografias digitais ou não
e em CD-ROMs. Quando não possui muitos recursos técnicos e financeiros para a realização da
pesquisa, o investigador acaba utilizando um caderno de capa dura, que servirá de procedimento
de coleta de dados, pois nele é que se registram as informações gerais que auxiliarão na análise
posterior dos dados gravados, por exemplo.
Necessariamente, o pesquisador deverá sempre anotar em seu diário de campo as atividades
diárias e as não efetivadas, como suas justificativas. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o diário de campo é instrumento
fundamental nas pesquisas de campo e que, para não dificultar ou mesmo impedir a sua adequada
execução, ele só pode ser inutilizado quando substituído por outro instrumento equivalente, tal como o
protocolo observacional.

3.4.5.5 Testes

Os testes são instrumentos de pesquisa próprios das pesquisas clínicas, acompanhando quase
sempre as escalas sociais no processo de testagem. São comumente utilizados nas pesquisas da área das
ciências da saúde, tais como Medicina, Psicologia, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Odontologia,
Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Educação Física, Engenharia Biomédica etc. Sobre esse
instrumento de pesquisa, Gil (1999, p. 150) diz:

Os testes são aplicados nos mais diversos campos da atividade humana, pois sempre há a
necessidade de se colocar alguma coisa à prova. Nas ciências, particularmente, os testes são
amplamente requeridos. Todavia, neste domínio o significado de teste é bem mais preciso, pois
envolve o sentido de medida. Assim, aplicar um teste significa medir, isto é, comparar um
critério determinado.

São muitos os critérios para se classificar os testes. Sobre esse aspecto, Gil (1999, p. 152-153)
alista os principais:

a) Segundo o uso ou emprego: individuais; coletivos; auto-administrados;


b) Segundo a modalidade de apresentação: de lápis e papel; verbais; não verbais; mistos; de
realização ou execução; com uso de projeções ou televisão.
c) Segundo a abordagem: analíticos; sintéticos; sincréticos.
d) Segundo o objeto: de eficiência (inteligência, aptidões artíticas, motoras, mecânicas,
sensoriais, profissionais, etc.); de personalidade (interesses, atitudes, valores, etc.); de
escolaridade.
e) Segundo a natureza da função: de capacidade; de involução; de deterioração.
f) Segundo a modalidade de construção: f1) com referência à construção interna: testes
constituídos de um só tipo de prova; testes organizados com tarefas, ítens ou provas variadas;
f2) com referência à construção externa: testes isolados; baterias ou escalas.

Com base nesses pressupostos, deduz-se que os testes são instrumentos imprescindíveis para os
estudos clínicos, mormente quando do processo de testagem.

3.4.5.6 Escalas sociais

As escalas sociais são instrumentos de pesquisa próprios das pesquisas clínicas, acompanhando
quase sempre os testes no processo de testagem. Mais do que isso, elas são normalmente utilizadas
durante a realização do teste, amiúde como o principal instrumento da testagem. São comumente
utilizadas nas pesquisas da área das ciências da saúde, tais como Medicina, Psicologia, Enfermagem,
Terapia Ocupacional, Odontologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Educação Física,
Engenharia Biomédica etc. Sobre esse instrumento de pesquisa, Gil (1999, p. 139) elucida:

Escalas sociais são instrumentos construídos com o objetivo de medir a intensidade das opiniões
e atitudes da maneira mais objetiva possível. Embora se apresentem segundo as mais diversas
formas, consistem basicamente em solicitar ao indivíduo pesquisado que assinale, dentro de
uma série graduada de ítens, aqueles que melhor correspondem à sua percepção acerca do fato
pesquisado.

As principais escalas sociais, consoante palavras de Vergara (2012), são: a nominal, a ordinal, a
intervalar e a razão. A autora pontua que a escala razão pode ser classificada em sete espécies, quais
sejam: a categoria simples, a múltipla escolha, a resposta múltipla, as escalas de Likert, a diferencial
semântico, as escalas numéricas, as escalas de soma constante e as escalas de ranqueamento. Nesse
diapasão, sintetizando as palavras da autora (VERGARA, 2012, p. 49-60, . Ggrifos meus), apresentam-
se as escalas citadas a seguir:

Escala nominal é aquela na qual números identificam os objetos, como os respondentes ou os


domicílios de uma amostra. Nesse caso, os números são, apenas, rótulos e não têm valor
quantitativo. Mas a operação aritmética possível é a contagem dos membros de cada grupo, ou
seja, a distribuição de frequência. Podem-se classificar estado civil, sexo, faixa etária e outros.
[...]
Escala ordinal é aquela na qual os números indicam a posição relativa dos objetos. Incluem
opiniões e preferência, mas não a magnitude de diferença entre os objetos, ou seja, não indicam
quanto um objeto é preferível ao outro.
Escala intervalar é a que incorpora o conceito de equidade de intervalo e permite comparar
diferenças entre objetos, sem um ponto zero fixo. [...] O ponto zero em uma escala não é o
mesmo que na outra. [...]
Escala de razão é aquela que tem todas as propriedades das escalas nominal, ordinal e
intervalar e um ponto zero absoluto, o que permite ao pesquisador identificar ou classificar
objetos. Escalas de razão são, por exemplo, valores em dinheiro, distancias, índice de
produtividade e outros. [...]

Sobre as desvantagens das escalas sociais, Gil (1999) alista seis problemas básicos, quais sejam:
a) definição de um contínuo; b) fidedignidade; c) validade; d) ponderação dos ítens; e) natureza dos
ítens; e, f) igualdade das unidades. Em seguida, o autor (GIL, 1999, p. 143-148. G, grifos meus)
apresenta seis tipos de escalas sociais que, sinteticamente, são:

1. Escalas de ordenação
Estas escalas são constituídas por uma série de palavras ou enunciados que os sujeitos devem
ordenar de acordo com sua aceitação ou rejeição. Por exemplo: pode-se solicitar que as pessoas
ordenem uma série de nacionalidades de acordo com sua preferência em termos de
relacionamento. [...]
2. Escalas de graduação
As escalas de graduação apresentam um contínuo de atitudes possíveis em relação a
determinada questão. Os enunciados de atitudes correspondem a graus, que indicam maior ou
menos favorabilidade. [...]
3. Escalas de distância social
Estas escalas são utilizadas para estabelecer relações de distância entre as atitudes em relação a
determinados grupos sociais. [...]
4. Escala de Thurstone
A escala de Thurstone [...] constitui a primeira experiência de mensuração de atitudes com base
numa escala de intervalos. A despeito das críticas que lher têm sido formuladas e de ter caído
em desuso, esta escala é tomada frequentemente como a base metodológica para os
procedimentos de mensuração de atitudes [...]
5. Escala de Likert
A escala Likert baseia-se na de Thurstone. É, porém, de elaboração mais simples e de caráter
ordinal, não medindo, portanto, o quanto uma atitude é mais ou menos favorável. [...]
6. Diferencial semântico
O diferencial semântico é uma técnica criada por Osgood, Suci e Tannembaum [...], cujo
objetivo é medir o sentido que determinado objeto tem para as pessoas. Neste sentido pode ser
considerado como uma escala de atitudes. Pode-se avaliar qualquer conceito: uma etnia, uma
pessoa, uma instituição política, uma obra de arte etc.

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que as escalas sociais são instrumentos
imprescindíveis para os estudos clínicos, mormente quando do processo de testagem.

3.4.5.7 Bibliografias

As bibliografias são fontes de dados secundários, ou seja, aqueles que já foram manipulados,
consistindo em interpretações dos dados originais sobre determinado tema, o que se denomina
literatura crítica. São os instrumentos próprios dos levantamentos bibliográficos. Acompanham
principalmente as pesquisas observacionais não participantes, mas se fazem úteis e necessárias com
lentes teóricas de todas as espécies de pesquisa para o levantamento do seu referencial teórico.
Consistem basicamente nos livros e nos trabalhos acadêmicos em geral, tais como TCCs, monografias,
dissertações, teses, artigos científicos, resenhas científicas, projetos de pesquisa etc. (GIL, 1999;
SEVERINO, 2007; RODRIGUES, 2007).
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que as bibliografias são instrumentos
imprescindíveis para os levantamentos bibliográficos, necessárias para todas as espécies de pesquisa.

3.4.5.8 Documentos

Os documentos são fontes de dados primários, ou seja, aqueles que ainda não foram submetidos
a algum tipo de manipulação. São os instrumentos próprios dos levantamentos documentais.
Classificam-se em documentos pessoais, registros institucionais, registros estatísticos e da
comunicação de massa em geral, isto é, TV, rádio, jornais, revistas, internet etc. Sobre esse instrumento
de pesquisa, Gil (1999, p. 160) salienta: “As fontes de ‘papel’ muitas vezes são capazes de
proporcionar ao pesquisador dados suficientemente ricos para evitar a perda de tempo com
levantamentos de campo, sem contar que em muitos casos só se torna possível a investigação social a
partir de documentos.”.
Tipificando os documentos utilizados nesse tipo de técnica, Gil (1999, p. 160-165. Grifos meus)
apresenta quatro, quais sejam:

1) Registros estatísticos
[...] Entidades governamentais como a Fundação IBGE dispõem de dados referentes a
características socioeconômicas da população brasileira, tais como: idade, sexo, tamanho da
família, nível de escolaridade, ocupação, nível de renda etc. Os órgãos de saúde fornecem dados
a respeito de incidência de doenças, causas de morte etc. Uma entidade como o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos dispõe de dados sobre desemprego,
salários, greves, negociações trabalhistas etc. Organizações voluntárias têm dados referentes a
seus membros e também às populações que atendem. Institutos de pesquisa vinculados aos mais
diversos campos do conhecimento. Além disso, número cada vez maior de entidades vem-se
preocupando em manter bancos de dados. Isto se verifica em hospitais, escolas, agências de
serviço social, entidades de classe, repartições públicas etc.
[...]
2) Registros institucionais escritos
Além dos registros estatísticos, também podem ser úteis para a pesquisa social os registros
escritos fornecidos por instituições governamentais. Dentre esses dados estão: projetos de lei,
relatórios de órgãos governamentais, atas de reuniões de casas legislativas, sentenças judiciais,
documentos registrados em cartórios etc. [...]
3) Documentos pessoais
Há uma série de escritos ditados por iniciativa de seu autor que possibilitam informações
relevantes acerca de sua experiência pessoal. Cartas, diários, memórias e autobiografias são
alguns desses documentos que podem ser de grande valia na pesquisa social.
[...]
4) Comunicação de massa
Os documentos de comunicação de massa, tais como jornais, revistas, fitas de cinema,
programas de rádio e televisão, constituem importante fonte de dados para a pesquisa social.
Possibilitam ao pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual e também
lidar com o passado histórico. Neste último caso, com eficiência provavelmente maior que a
obtida com a utilização de qualquer outra fonte de dados. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que os documentos são instrumentos
próprios e, portanto, imprescindíveis para os levantamentos documentais, necessários para todas as
espécies de pesquisa.
Mais do que isso, um levantamento documental bem conduzido pode – tanto quanto um
levantamento bibliográfico conduzido de igual forma – produzir resultados pertinentes, relevantes,
significativos para o avanço da Ciência, tal como este trabalho demonstra do seu início ao seu fim.
3.5 Conclusões22

A pesquisa científica tem grande importância social devido ao seu poder de transformar a
sociedade, resolvendo problemas e reestruturando processos econômicos, políticos, tecnológicos,
culturais, sociais e até mesmo científicos. Por exemplo, as grandes revoluções sociais e industriais
ocorridas nos últimos séculos tiveram a sua base nas descobertas científicas (KÖCKE, 1997).
O método é um elemento muito importante para o desenvolvimento da ciência porque ele,
quando adequado com o objetivo da pesquisa, com o objeto de estudo e com o problema, direciona a
pesquisa da maneira correta para o conhecimento da verdade, maximizando os resultados obtidos e
minimizando tempo empregado na sua obtenção. Nesse diapasão, pode-se levar em conta as seguintes
palavras de Soares (2003, p. 13):

Como exemplo da importância do método para o desenvolvimento da ciência, pode-se lembrar


que, no século XIX, objetivando estudar os neurônios, o médico italiano Camilo Golgi
desenvolveu um método de coloração por prata que, ao microscópio, revelada toda a estrutura
de um neurônio, incluindo o corpo celular e seus dois principais tipos de projeção ou
prolongamento: os dentritos e os axônios. com base no uso do método de coloração por prata de
Golgi, o histologista espanhol Santiago Ramón y Cajal conseguiu marcar as células individuais,
mostrando dessa forma que o tecido neural não era uma massa contínua, mas uma rede de
células distintas.
Hoje, existem inúmeros e avançados métodos de estudo do sistema nervoso, os quais são
utilizados em conformidade com o objetivo da pesquisa, com o objeto de estudo e o problema.
Por exemplo, um dos métodos utilizados para o estudo do sistema nervoso é o método de
produção de lesões seletivas por meio de aplicação múltipla e típica de drogas (neurotoxinas)
ou, ainda, por meio de aplicação de radiação, com a finalidade de estudar os efeitos de
determinada lesão no comportamento de um animal.

Por essas razões, realizar adequadamente a pesquisa científica passou a ser uma tarefa bastante
séria e respeitada, dentro e fora do contexto acadêmico. As instituições de ensino superior e de pesquisa
passaram a adotar métodos mais rigorosos de avaliação de seus pesquisadores bem como de suas
respectivas produções científicas. Os estudos sobre o tema ganharam maior disseminação e destaque
(SOARES, 2003; TEIXEIRA, 2012).
Entretanto, apesar dos grandes avanços da ciência, mormente nos últimos séculos, a sua
natureza hipotética a torna provisória, inacabada e falível, tal como Soares (2003, p. 13-14) pontua:

Assim, pode-se afirmar que o conhecimento científico é uma crença verdadeira e justificada,
fato este que nos leva a acreditar que o conhecimento acha-se essencialmente correlacionado

22
Para mais informações sobre a síntese dos três pilares da metodologia da pesquisa científica, favor verificar o artigo
científico intitulado “Os três pilares da metodologia da pesquisa científica: uma revisão da literatura”, publicado na revista
Ágora, nº 1, de dezembro de 2015, e disponível no site:
https://periodicos.unimesvirtual.com.br/index.php/formacao/article/view/531. Acessado em: 3 maio 2020.
com a verdade.
Apesar dessa afirmação, não se pode esquecer que a ciência não é considerada como algo
pronto, acabado ou definitivo. Não é a posse de verdades absolutas e imutáveis, mas uma busca
constante de explicações e soluções, de revisão de seus resultados.
Dentro desses limites, a justificação das teorias científicas é um elemento da busca da verdade
(mesmo que se saiba que a verdade absoluta das coisas em seu sentido ontológico ou mesmo
empírico nunca será alcançada). Essa justificação só se constrói com base em um caminho
próprio de cada ciência, ou, em outras palavras, no método científico, o qual se apresenta como
um meio, um caminho para a busca da verdade.

A forma como foram abordados os três pilares da pesquisa científica, neste trabalho, formam
um arcabouço teórico-metodológico mais completo, abrangente, claro e fidedigno sobre a temática, de
modo a facilitar a sua compreensão e o seu uso, tal como originalmente planejado.

4. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1 Conclusões

Os pilares da metodologia da pesquisa científica, apresentados no presente trabalho, já foram


explanados, em partes, pela vasta literatura crítica existente sobre esse tema. Mas não há outro trabalho
que, em si mesmo, reúna todos eles de maneira tão coerente, consistente e clara como esse o faz. Razão
essa que, após explanações minuciosas de cada um deles no decorrer deste trabalho, a seguir, são
apresentados alguns quadros que sintetizam as suas conclusões finais:

Quadro 713 – Síntese dos níveis da pesquisa científica e dos seus respectivos focos de estudo

NÍVEIS DA PESQUISA CIENTÍFICA E SEUS RESPECTIVOS FOCOS DE ESTUDO

O NÍVEL EPISTEMOLÓGICO

Considera os critérios ou mecanismos de cientificidade, ou verdade.

Estuda as verdades sintática, semântica e pragmática da ciência.

O NÍVEL GNOSIOLÓGICO

Considera os sujeitos da pesquisa e suas relações com o objeto investigado.

Estuda os sujeitos pesquisadores, examinadores, auxiliares e público-alvo.

O NÍVEL ONTOLÓGICO

Considera os objetos da pesquisa, sua delimitação e sua caracterização.


Estuda os tipos de objetos da pesquisa.

O NÍVEL TEÓRICO

Considera as fontes da pesquisa e as contribuições dos dados coletados.

Estuda a confiabilidade das fontes de pesquisa e a contribuição de seus dados.

O NÍVEL METODOLÓGICO

Considera os três eixos metodológicos fundamentais da pesquisa científica, quais sejam: o


epistemológico, o lógico e o técnico.

Estuda as bases epistemológicas, lógicas e técnicas da investigação científica.

O NÍVEL TÉCNICO

Considera as sete etapas fundamentais da pesquisa científica, quais sejam: a coleta, o registro, a
sistematização, a organização, a análise ou interpretação, a formalização e a apresentação dos dados.

Estuda as técnicas gerais e específicas da pesquisa científica.

O NÍVEL ÉTICO

Considera os princípios e valores dos sujeitos da pesquisa científica.

Estuda as normas inerentes às boas condutas e práticas em todo o processo da pesquisa científica.

Fonte: elaborado pelo autor

Além disso, a clareza aqui apresentada facilita a compreensão e o uso de todas as abordagens,
os métodos, as técnicas e os instrumentos utilizados quando da investigação científica, levando-se
sempre em consideração os seus elementos e pressupostos. Nesse diapasão, as formas de caracterização
da pesquisa científica podem ser sintetizadas conforme o quadro a seguir:

Quadro 812 – Resumo das formas de caracterização da pesquisa científica

OS TRÊS PILARES DA METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA

O PILAR EPISTEMOLÓGICO

As bases epistemológicas principais da investigação científica são três, quais sejam: o método ou
enfoque fenomenológico-hermenêutico, o método ou enfoque empírico-analítico e o método ou
enfoque crítico-dialético (ou histórico-estrutural). Entretanto, cada área de conhecimento tem seus
próprios paradigmas, ou suas próprias bases epistemológicas.

O PILAR LÓGICO
As abordagens de pesquisa científica são: a qualitativa, a quantitativa e a mista.

As bases estruturais de pensamento científico são: o método indutivo, que, por sua vez, se
subdivide em silogístico-indutivo, e semântico-indutivo e pragmático-indutivo; e o método
dedutivo, que, por sua vez, se subdivide em axiomático-dedutivo, e hipotético-dedutivo e
silogístico-dedutivo; e o método abdutivo.

As estratégias sequenciais das fases da pesquisa são:

Na pesquisa qualitativa: ainda não há classificação.


Na pesquisa quantitativa: ainda não há classificação.
Na pesquisa mista: a estratégia explanatória sequencial, a estratégia exploratória sequencial, a
estratégia transformativa sequencial, a estratégia de triangulação concomitante, a estratégia
incorporada concomitante, e a estratégia transformativa concomitante.

O PILAR TÉCNICO

As bases procedimentais da pesquisa são a observacional, a experimental, a estatística e a


clínica, conforme especificadas a seguir:

Observacional: participante (pesquisa-ação, etnografia participante, biografia participante,


estudos de caso in loco, entrevista in loco etc.) ou não participante (levantamento bibliográfico,
levantamento documental, etnografia não participante, biografia não participante, estudos de caso ex
loco, entrevista ex loco etc.).
Experimental: estudos de caso (pesquisa de campo), pesquisa in vitro etc.
Estatística: pesquisa de mercado, etnografia, estudos de caso (pesquisa de campo) etc.
Clínica: pesquisa in vitro, estudos de caso (pesquisa de campo) etc.

As técnicas da pesquisa científica, classificadas de acordo com a finalidade de seu uso,


podem ser gerais ou específicas, quais sejam:

Técnicas gerais de coleta: observação: direta, ou participante (pesquisa-ação, etnografia


participante, biografia participante, estudos de caso in loco, entrevista in loco etc.); indireta, não
participante (levantamento bibliográfico, levantamento documental, etnografia não participante,
biografia não participante, estudos de caso ex loco, entrevista ex loco etc.); experimentação;
amostragem (ou levantamento amostral); testagem etc.
Técnicas específicas de coleta: protocolagem observacional, leitura científica etc.
Técnicas específicas de registro: planificação manual, planificação eletrônica;
Técnicas específicas de sistematização: busca simples de strings, busca avançada de
strings, fatores de inclusão/exclusão, etc.;
Técnicas específicas de organização: leitura científica, codificação, categorização,
tabulação etc.
Técnicas específicas de análise ou interpretação: análise do discurso (AD), análise do
conteúdo (AC), leitura científica, Análise Bibliométrica (AB) etc.
Técnicas específicas de formalização: TCC, dissertação, tese, livro, artigo científico,
resenha científica, resumo científico, edificação, museu, maquete, Plano de Negócios, Projeto
Político Pedagógico, etc.
Técnicas específicas de apresentação: exposição oral, exposição visual, exposição mista.
Os instrumentos da pesquisa científica são: o protocolo observacional, o protocolo de
entrevista, o questionário, o formulário, o diário de campo, as bibliografias, os documentos, os
testes, as escalas sociais etc.

NOTAS TÉCNICAS

1) Todas as pesquisas podem ser explicativas, descritivas, comparativas ou exploratórias.

2) Nem todas as pesquisas são básicas, ou aplicadas, ou sintéticas, ou analíticas, ou originais.

3) Todas as investigações científicas partem de levantamentos bibliográficos e ou


documentais. Os levantamentos bibliográficos e documentais são pesquisas observacionais. Logo,
todas as investigações científicas são pesquisas observacionais, a priori.
Fonte: elaborado pelo autor

As duas hipóteses originárias desta pesquisa foram: 1. por meio de um bom levantamento
bibliográfico e documental, é possível eliminar grande parte da imprecisão terminológica, conceitual,
taxonômica e conteudal encontrada na vasta literatura de metodologia da pesquisa científica, bem como
promover as suas complementaridades; e, 2. por meio do estudo pormenorizado das principais
bibliografias e documentos de uma determinada temática, é possível alcançar o seu estado da arte, isto
é, seu estado atual. Ambas se confirmaram verdadeiras por meio dos resultados alcançados por esse
trabalho.
As modalidades de pesquisa apresentadas neste trabalho – também denominadas na literatura
crítica de meios lógicos de investigação, métodos de procedimento, ou simplesmente métodos de
pesquisa – são as principais citadas pelas maiores autoridades passadas e presentes do tema
metodologia da pesquisa científica. Cabe, sobretudo, ao sujeito pesquisador e, por extensão, a quem
mais da pesquisa participar, a escolha adequada da modalidade da pesquisa, levando-se sempre em
consideração a natureza e as características do seu objeto de investigação, o tempo e o conteúdo a ser
abrangido, bem como a ética em todas as etapas desse processo.
No que tange à ética na pesquisa científica, ela é o elemento propulsor da autêntica
cientificidade. Um trabalho não pautado na ética não merece, não pode e nem deve ser considerado
científico. O respeito pela qualidade da pesquisa produzida só merece o pesquisador ético. A
integridade científica deve ser o principal pilar avaliado pelas instituições de ensino superior (IES) e
pesquisa quando das orientações destinadas a seus pesquisadores discentes ou docentes. Práticas de
combate às más condutas científicas devem ser disseminadas e defendidas pelas IES e pelos
pesquisadores em suas pesquisas. Os Códigos de Ética, tanto os nacionais como os internacionais,
precisam ser respeitados.
A ciência está progredindo. Contudo, há barreiras impeditivas para um maior progresso
científico, dentre as principais as imperfeitas interpretações humanas e as más adequações e ou
aplicações dos métodos de pesquisa por parte dos pesquisadores. O domínio da língua vernácula e do
uso adequado dos três pilares da pesquisa científica, nesse presente trabalho apresentados, cumprem o
papel de facilitar a sua realização e minorar os efeitos torçores da imperfeição humana, maximizando a
qualidade daquilo que se denomina ciência, visando à produção de um conhecimento razoavelmente
seguro, válido, verdadeiro.

4.2 Considerações finais

Digno de nota que, ao se aludir aos pilares da metodologia da pesquisa científica, o autor do
presente trabalho chama à atenção dois aspectos chave: primeiro, as bases constituintes da ciência, tal
como as colunas bem ferramentadas e bem cimentadas que sustentam uma edificação, sem as quais a
sua estrutura enfraquece, ou seja, a cientificidade da pesquisa atenua-se ao ponto de se tornar
vulnerável a qualquer teste de falseabilidade; e segundo, que o conteúdo aqui apresentado não exaure o
tema investigado, consistindo naquilo que o autor considera o mais importante e necessário no
processo de investigação científica, deixando, desse modo, margens para ulteriores aprofundamentos.
Por fim, é indubitável que, ao rever de forma tão abrangente a literatura crítica do tema e ao
apresentá-la com máxima clareza e objetividade, o autor cumpre a sua finalidade de desmistificar o
processo da pesquisa científica, mostrando que, apesar de seu desenvolvimento ser bastante trabalhoso
e rigoroso no que tange às normas técnicas de elaboração e apresentação, consiste em uma tarefa
relativamente simples e completamente realizável a todo(a) pesquisador(a), ainda que incipiente, e que
se torna cada vez mais agradável na medida em que ele(a) ganha quilometragem nessa fantástica
experiência.
5 REFERÊNCIAS

5.1 Corpus de execução de ensaio23

BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de


metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. 158 p.

BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de


metodologia científica: um guia para a iniciação científica. 2. ed. amp. São Paulo: Mackron Books,
2000. 122 p.

BÊRNI, Duilio de Avila; FERNANDEZ, Brena Paula Magro. Métodos e técnicas de


pesquisa: modelando as ciências empresariais. São Paulo: Saraiva, 2012. 440 p.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. 7. impr. São Paulo: Afiliada, 2008. 424 p.

CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto.


Tradução Magda Lopes. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. 296 p.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. 24. ed.
São Paulo: Perspectiva, 2012. 174 p.

EL-GUINDY, Moustafa M. Metodologia e ética na pesquisa científica. São Paulo: Editora


Santos, 2004. 175 p.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 184
p.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 206
p.

GILES, Thomas Ransom. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU/USP, 1979. 324 p.

KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à


pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1997. 182 p.

MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2008. 101 p.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia


científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 311 p.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 6. ed. São
Paulo: Atlas, 2007. 289 p.

23
Essas foram as referências que eu utilizei ao elaborar um artigo, com o mesmo nome deste livro, mas apenas como ensaio
para posterior elaboração deste trabalho.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria.. Técnicas de pesquisa: planejamento
e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de
dados. São Paulo: Atlas, 2008. 277 p.

MENEZES, Djacir. Preparação ao método científico: breve introdução à filosofia moderna, os


problemas epistemológicos, a ciência como processo histórico-cultural de adaptação. Prefácio de
Arthur Ramos. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1938. 342 p.

PIAGET, Jean. Psicologia e epistemologia: por uma teoria do conhecimento. 1. ed. Rio de
Janeiro: Forense Rio, 1973. 158 p

RODRIGUES, Auro de Jesus. Metodologia científica: completo e essencial para a vida


universitária. São Paulo: Avercamp, 2006. 217 p.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho cientifico. 23. ed. São Paulo: Cortez,
2007. 304 p.

SOARES, Edvaldo. Metodologia científica: lógica, epistemologia e normas. São Paulo: Atlas,
2003. 138 p.

TEIXEIRA, Elizabeth. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. 9. ed.


Petrópolis: Vozes, 2012. 203 p.

THIOLLENT, Michael. Metodologia da pesquisa ação. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
(Coleção temas básicos de pesquisa-ação).

THIOLLENT, Michael. Metodologia da pesquisa ação. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011. 136
p.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa


em educação. 1. ed. São Paulo: Atlas, 1987. 175 p.

VANCONCELLOS, Maria Esteves de. Pensamento Sistêmico: o novo paradigma da ciência. 9.


ed. Campinas: Papirus, 2010. 267 p.

VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de coleta de dados no campo. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2012. 98 p.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução de Ana Thorell. Revisão
técnica de Claudio Damacena. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. 248 p.

5.2 Corpus de execução definitivo24

ABDUÇÃO (lógica filosófica). In: Wikipedia. São Paulo: Wikipedia, 2020. Disponível em
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Abdu%C3%A7%C3%A3o_(l%C3%B3gica_ filos%C3%B3fica)>.
Acesso em: 25 set. 2020.

24
Essas foram as referências que utilizei na execução deste livro, adicionalmente àquelas utilizadas na execução do artigo
referido na nota de rodapé anterior.
ALMEIDA, Maria Aparecida de Andrade; FUNARI, Pedro Paulo A.. Exegese Bíblica:
vantagens, desvantagens, limites e contribuições na interpretação moderna da Bíblia. Caminhos,
Goiânia, vol. 14, nº. 1, pp. 45-57, jan./jun. 2016. Disponível em <http://seer.
pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/4823/2690>. Acessado em 15 de agosto de 2021.

ALMEIDA, Mário de Souza. Elaboração de projeto, TCC, dissertação e tese: uma


abordagem simples, prática e objetiva. São Paulo: Atlas, 2011. 80 p.

ANGROSINO, Michael. Etnografia e observação participante. Tradução de José Fonseca.


Porto Alegre: Artmed, 2009. 138 p.

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: informação e


documentação – trabalhos acadêmicos – apresentação. Rio de Janeiro, 2002.

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e


documentação – referências – elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação e


documentação – citações em documentos – apresentação. Rio de Janeiro, 2002.

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6024: informação e


documentação – numeração progressiva das seções de um documento escrito – apresentação. Rio de
Janeiro, 2003.

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: informação e


documentação – artigo em publicação periódica científica impressa – apresentação. Rio de Janeiro,
2003.

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técnica de Claudio Damacena. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. 248 p.
Quadro 149 – Glossário Científico

GLOSSÁRIO CIENTÍFICO

Abordagem: alude-se ao tipo predominante da linguagem e dos dados utilizados na pesquisa: se


alfabéticos, a abordagem é denominada qualitativa; se numéricos, a abordagem é denominada
quantitativa; e se alfanumérica, a abordagem é denominada mista.

Antítese: é o oposto da síntese; é a cisão do todo em partes.

Conceito: expressa uma abstração (ideia), formada mediante a realização de observações


particulares, constructo (DEMO, 2002).

Conhecimento: é o objeto agregado pelo sujeito; é a relação que se estabelece entre sujeito que
conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer.

Definição: explicação clara e concisa sobre alguma coisa, é o seu significado; delimitação exata,
estabelecimento de limites.

Dissertação: é o trabalho final de conclusão de curso de mestrado; examinado com maior rigor que
os trabalhos de conclusão de curso de graduação e pós-graduação lato sensu.

Doutrina: é um encadeamento de correntes, de pensamentos que não se limitam a constatar e a


explicar os fenômenos, mas apreciam-nos em função de determinadas concepções éticas e, à luz
desses juízos, preconizam certas medidas e proíbem outras (DEMO, 2002).

Fato: é qualquer evento que ocorre na realidade, independentemente de ser conhecido ou não,
independentemente de ter sido alguma vez observado ou não.

Fenômeno: é um fato que é percebido por um observador. O mesmo fato pode ser observado de
diferentes maneiras, por diferentes observadores, gerando diferentes fenômenos, segundo cada ponto
de vista.

Ideologia: é “um sistema teórico-prático de justificação política das posições sociais” (DEMO,
2013, p. 67).

Instrumento: é a ferramenta utilizada para a realização da pesquisa científica.

Lei científica: é a relação constante e necessária que deriva da natureza das coisas (DEMO, 2002).

Lócus: é (são) o (s) local (is) da realização da pesquisa científica.

Método: vem do grego méthodos que significa um caminho para se chegar a um fim.

Metodologia: significa estudo dos métodos ou da forma, ou dos instrumentos necessários para a
construção de uma pesquisa científica; é uma disciplina a serviço da Ciência.

Monografia: é o trabalho acadêmico que aborda um único tema.

Objeto: é o ente que é pesquisado.


Objetivação: é “o esforço e o processo interminável e necessário de atingir a realidade, mais do que
retratos fidedignos” (DEMO, 2013, p. 71).

Paradigma: é o ponto de vista sob o qual um fenômeno é visto ou analisado.

Pesquisa: é um processo de investigação; é uma atividade sistemática voltada para a solução de


problemas teóricos ou práticos com o emprego de processos científicos (DEMO, 2002).

Proposição: é um termo utilizado em lógica para descrever o conteúdo das asserções, isto é, de
conteúdos (afirmações ou negações) que podem ser tomados como verdadeiro ou falso.

Procedimento: passo; etapa.

Síntese: é o resumo das ideias; a junção de todas as partes de um todo de maneira sucinta.

Sujeito: é o ente que realiza ou participa da pesquisa científica.

Técnica: conjunto de procedimentos ligados a uma arte ou ciência; maneira de tratar detalhes
técnicos (como faz um escritor) ou de usar os movimentos do corpo (como faz um dançarino).

Teoria científica: é um resultado a que tendem as ciências; é um conjunto de constructos (conceitos)


inter-relacionados, definições e proposições, que apresenta uma concepção sistemática dos
fenômenos mediante a especificação de relações entre variáveis, com o propósito de explicá-lo e
prevê-lo (DEMO, 2002).

Tese: é o trabalho final de conclusão de curso do doutorado; examinado com maior rigor que os
trabalhos de conclusão de curso de graduação, de pós-graduação lato sensu e de mestrado.
Fonte: elaborado pelo autor com base em Demo (2002, 2013) e Eco (2012)
Quadro 105 – Estrutura do trabalho científico

ESTRUTURA DO TRABALHO CIENTÍFICO

1ª PARTE: elementos pré-textuais ou de antetexto/pré-texto

1. Capa (item opcional para trabalhos de pequeno vulto – até 20 páginas; item obrigatório para os
demais trabalhos).

2. Falsa folha/página de rosto – lombada (item opcional).

3. Folha/página de rosto (item obrigatório para todos os tipos de trabalho).

4. Errata (item opcional – de preferência não incluída)

5. Folha/página de aprovação (item necessário somente para os trabalhos de grande expressão, tais
como dissertações e teses de mestrado ou de doutorado).

6. Folha/página de dedicatória (item opcional).

7. Agradecimentos (item opcional).

8. Epígrafe (item opcional).

9. Prefácio (item opcional).

10. Apresentação (item opcional).

11. Resumo na língua vernácula, acrescido das palavras-chave, também em língua vernácula (item
necessário principalmente na divulgação dos trabalhos).

12. Resumo em língua estrangeira, acrescido das palavras-chave, também em língua estrangeira
(item recomendado para a perfeita divulgação do trabalho).

13. Lista de ilustrações (item opcional).

14. Lista de tabelas ou quadros (item opcional).

15. Lista de figuras (item opcional).

16. Lista de abreviaturas e siglas (item opcional).

17. Lista de símbolos (item opcional).

18. Sumário (item obrigatório para Trabalhos de Conclusão de Curso, tais como monografias,
dissertações e teses – usado também na divulgação dos trabalhos)

Observação: os itens obrigatórios dessa 1ª parte são denominados de lauda de identificação, ao


passo que os itens opcionais são denominados de laudas complementares.
2ª PARTE: elementos textuais ou de desenvolvimento (texto)

1. Introdução (item indispensável em todos os tipos de trabalhos científicos – é a apresentação do


assunto).

2. Desenvolvimento (item indispensável – é considerado como o próprio trabalho em si).

3. Conclusão (item também indispensável – é o fechamento dos trabalhos, demonstrando inclusive


as recomendações acerca do assunto abordado).

Observação: são considerados como elementos textuais o corpo do texto e os elementos


complementares, como notas, tabelas, quadros e figuras apresentados separadamente do corpo do
texto para facilitar o trabalho de editoração.

3ª PARTE: elementos pós-textuais (pós-texto)

1. Referências (item obrigatório para todos os tipos de trabalhos científicos).

2. Glossário (item opcional – só elaborado quando justificado pela quantidade de palavras a serem
definidas).

3. Apêndices – adendos (item opcional).

4. Anexos (item opcional).

5. Posfácio (item opcional).

6. Índices (item opcional).

7. Quarta capa (item opcional).


Fonte: elaborado pelo autor com base em Gil (1999; 2010), Severino (2007), Marconi e Lakatos (2003; 2007; 2008),
Bimestre Filho (2003), Barros e Lehfeld (2007), ABNT (NBR 14724, 2002)
APÊNDICE 1 – BASES FUNDANTES DAS PRINCIPAIS ABORDAGENS
PARADIGMÁTICAS EM EO

RESUMO

Este artigo tem como tema os paradigmas nos Estudos Organizacionais (EO). Objetiva
conhecer de perto as suas bases fundantes e a sua evolução. Para tanto, utiliza-se as
metodologias: o enfoque neoperspectivista, como eixo epistemológico de investigação; o
método hipotético-dedutivo, como eixo lógico de investigação; como eixo técnico de
investigação, operacionaliza-se uma revisão bibliográfica, desenvolvida para uma pesquisa de
mestrado, mesclando-se bibliografias clássicas e contemporâneas nos EO, algumas nacionais
outras estrangeiras, tais como Morgan (1980), Willmott (2003), Chia (1998), Donaldson (2003),
Cortese (2016), dentre outros. Conclui-se que as bases fundantes do paradigma funcionalista são
empiristas, positivistas, objetivistas; as do paradigma interpretativista são idealistas,
subjetivistas; as do paradigma humanista radical são materialistas, dialéticos, idealistas,
subjetivistas, intersubjetivistas; as do paradigma estruturalista radical são materialistas,
dialéticos, objetivistas, intersubjetivistas; os paradigmas perspectivista e neoperspectivista são
simultaneamente objetivistas, subjetivistas, intersubjetivistas, consistindo no ponto de equilíbrio
paradigmático desejado nos EO.

BASES OF THE MAIN PARADIGMATIC APPROACHES IN ORGANIZATION


STUDIES

ABSTRACT

This article focuses on the paradigms in Organizational Studies (EO). Aims to get to
know their founding bases and their evolution. Therefore, the methodology is used: the
neoperspectivist approach as an epistemological axis of research; the hypothetical-deductive
method, as a logical axis of research; as technical axis of research, operationalized a literature
review designed for a master's research, mingling classic and contemporary bibliographies in
EO, some national other foreign such as Morgan (1980), Willmott (2003), Chia (2003),
Donaldson (2003), Cortese (2016), among others. It follows that the founding bases of the
functionalist paradigm are empiricists, positivists, objectivist; the the interpretative paradigm
are idealists, subjective; the radical humanist paradigm are materialist, dialectical, idealist,
subjectivist, intersubjectivist; the radical structuralist paradigm are materialist, dialectical,
objectivist, intersubjectivist; the perspectival paradigms and neoperspectivista are
simuntaneamente objectivist, subjectivist, intersubjectivist, consisting of the paradigmatic point
of equilibrium in the desired EO.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem como tema os paradigmas nos Estudos Organizacionais (EO). As
abordagens teóricas e paradigmáticas compõem as discussões denominadas metateóricas, ou
epistemológicas, dos EO. Contudo, a variedade de conceitos para teorias e para paradigmas têm
o poder de condicioná-las umas às outras, enrijecendo o seu uso, tal como o faz Morgan (1980),
ou de diferenciá-las, embora as considerando indissociáveis, flexibilizando, desse modo, o seu
uso, tal como o faz Gifted (2015, 2016).
Este artigo consiste no resultado de uma revisão bibliográfica desenvolvida para uma
pesquisa de mestrado. No fito de escolher a abordagem paradigmática mais adequada para os
estudos das F&A bancárias, que é meu tema de dissertação, foi necessário um aprofundamento
em cada uma das principais abordadas na literatura, buscando conhecer de perto as suas bases
fundantes e a sua evolução. Daí a decisão de se investigar essa temática com o objetivo de
descobrir as bases fundantes das principais abordagens paradigmáticas nos EO.
Para tanto, foram utilizadas as seguintes metodologias: o enfoque neoperspectivista,
como eixo epistemológico de investigação; o método hipotético-dedutivo, como eixo lógico de
investigação, partindo da hipótese que as bases fundantes dos principais paradigmas nos
Estudos Organizacionais (EO) são aquelas que possuem as suas ideias como seus elementos
constitutivos; como eixo técnico de investigação, foi selecionado por conveniência e por
julgamento um corpus de pesquisa bibliográfico que mescla literaturas clássicas e
contemporâneas, algumas nacionais outras estrangeiras, nos EO, tais como Morgan (1980),
Willmott (2003), Chia (2003), Donaldson (1998), Hatch e Yanow (1998), além de manuais de
metodologia da pesquisa científica, tais como Marconi e Lakatos (2003, 2008), Gil (1999;
2010), Luna (2011), Eco (2012), Gifted (2015).
Há vários conceitos para o termo paradigma nos estudos organizacionais, o que provoca
uma ampla e confusa variedade de interpretações (MORGAN, 1980). Por exemplo, consoante
aponta Kuhn (1962), paradigma pode referir-se: (1) a uma completa visão da realidade, ou
modo de ver; (2) à organização social da ciência em termos de escolas de pensamento ligadas a
tipos particulares de realizações científicas; (3) à utilização concreta de tipos específicos de
ferramentas e textos para o processo de solução de quebra-cabeças científicos; (4) às realidades
alternativas.
Um paradigma, em seu sentido stricto sensu, tal como é empregado na literatura crítica
de metodologia da pesquisa científica e epistemologia, consiste em um conjunto de concepções
do investigador, orientadas pelas suas percepções, sensações e valores, sobre a verdade, o
mundo, a vida humana, o conhecimento e a ética (WILLMOTT, 2003; KÖCHE, 1997; CLEGG
et al., 2003).
As discussões sobre abordagens paradigmáticas são frequentes nos EO; elas tentam, não
raro, encontrar caminhos intermediários, menos extremistas, ou que dialoguem com as
principais teorias empregadas nesse campo, atenuando os diescensos entre os cientistas da área
e facilitando o diálogo e o uso dos paradigmas e das teorias. Contudo, tal objetivo tem
culminado ora na multiplicidade teórica e paradigmática excessiva, ora em mais dissensos entre
os cientistas da área, prejudicando os avanços necessários (BARBOSA et al., 2013;
WILLMOTT, 2003; CLEGG et al., 2003). As diferenças terminológicas, conceituais,
taxonômicas e conteudais são as principais barreiras nos referidos avanços (BARBOSA et al.,
2013; MORGAN, 1980; HATCH; YANOW, 1998; CHIA, 2003).
Este artigo foi estruturado em cinco partes. Nessa primeira parte, são apresentados o
tema, os objetivos, as justificativas, uma síntese dos métodos e técnicas empregados, uma breve
introdução do referencial teórico, e a estrutura do conteúdo do trabalho. No capítulo dois, são
apresentados os quatro principais paradigmas nos EO apresentados por Morgan (1980): o
funcionalista, o interpretativista, o humanista radical e o estruturalista radical. A seção três é
dedicada à apresentação e à explanação das metodologias empregadas neste trabalho,
separando-as em três níveis: o epistemológico (metateórico; diretivo; estratégico), o lógico
(gerencial; tático) e o técnico (funcional; operacional). Na seção quatro, são apresentados os
resultados e as discussões deste trabalho, levando-se em consideração as limitações do quadro
paradigmático proposto por Burrel e Morgan (1980), apresentando o paradigma perspectivista e
o neoperspectivista, e propondo um quadro paradigmático mais atualizado e amadurecido,
capaz de flexibilizar o diálogo e o uso dos paradigmas e das teorias nos EO. O quinto capítulo é
dedicado à apresentação das conclusões e das considerações finais. Por último, mas não menos
importante, são apresentadas as referências.

2 OS PRINCIPAIS PARADIGMAS NOS EO

2.1 O funcionalista

No Paradigma Funcionalista, a sociedade tem existência concreta e real; exausta-se a


ordem e a regulação; o cientista distanciado do cenário analisado, de forma objetiva e livre de
valores, usando a rigor as técnicas e métodos científicos (MORGAN, 1980; CHIA, 2003).
As ideias que fundamentam essa abordagem paradigmática são: a existência de uma
realidade (verdade) concreta, real, absoluta, independente da consciência humana; a
neutralidade científica; a possibilidade de se produzir conhecimento sem os vieses provocados
pelas percepções e pelos valores humanos; o conhecimento é um produto acabado, completo.
Suas raízes estão ligadas ao empirismo antigo, mais tarde refinado e transformado por August
Comte no positivismo tal como o conhecemos. Por essas razões, o funcionalismo pode ser
conceituado como uma espécie de positivismo refinado (MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA,
2003; REED, 2003; HATCH e YANOW, 2003; DONALDSON, 2003).
O positivismo prega que a verdade é objetiva, independentemente do ser humano
(mundo objetivo externo independente das percepções humanas, independente do nosso mundo
idealizado no interior das nossas mentes); prega-se uma verdade objetiva externa. Sobre a sua
origem e a sua evolução, Medeiros (2010, p. 9) explana que suas raízes podem ser encontradas
no empirismo antigo, mas que “as bases concretas e sistematizadas dele estão, seguramente, nos
séculos XVI, XVII e XVIII, com Bacon, Descartes, Hobbes e Hume” (STARBUCK, 2003, s.p.).
Mais tarde, porém, no século XIX, as ideologias empiristas, aquelas que exaltam,
sobretudo, os fatos, foram refinadas por August Comte, que as transformou no positivismo tal
como o conhecemos (MEDEIROS, 2010). Reorganizando as informações sobre a origem e a
evolução da abordagem paradigmática funcionalista, com base em Medeiros (2010, p. 12),
conclui-se que suas principais características são:

[...] considera a realidade constituída por partes isoladas; não aceita outra realidade que
não sejam os fatos, fatos que possam ser observados; não interessavam as causas dos
fenômenos, mas as relações entre as coisas; não há interesse em conhecer as
consequências dos achados, o que fortaleceu a ideia de "neutralidade das ciências”;
rejeição ao conhecimento metafísico, à metafísica; considera verdadeiro aquilo que
empiricamente é verdadeiro (formulou o princípio da verificação); ideia de unidade
metodológica para investigação dos dados naturais e sociais; utilização do emprego da
"variável‟ no processo de quantificação dos fatos sociais (as técnicas de amostragem,
os tratamentos estatísticos e os estudos experimentais severamente controlados foram
instrumentos usados para concretizar estes propósitos); busca de uma linguagem única,
comum para todas as ciências (fisicalismo); se o que reconhecemos como
conhecimento é aquilo que pode ser testado empiricamente, não há possibilidade de
conhecimento elaborado "a priori” (crítica à tese Kantiana); distinção entre valor e fato,
sendo o primeiro entendido como objetos da ciência, e o segundo como expressões
culturais, ficaram de fora da análise positivista; reconheciam apenas dois tipos de
conhecimento científico: o empírico e o lógico.

Portanto, é correto afirmar que o positivismo teve seu início em meados do século XIX,
com August Comte, com a concepção de que conhecer significa somente mensurar e quantificar.
Para eles, o único meio para se conhecer um objeto de investigação é a experiência.
Entretanto, ele “avançou até o século XXI com novas faces, mas mantendo seu cerne.
Traz, em sua base epistemológica, elementos conceituais de duas principais linhas filosóficas do
século XX, quais sejam, a lógica empirista e o positivismo lógico” (BARBOSA et al., 2013, p.
6).
Sobre a evolução das ideologias positivistas, Triviños (1987, p. 33) divide-a em três
momentos distintos, quais sejam:

Uma primeira fase, que é chamada de positivismo clássico, na qual, além de fundador
Comte, sobressaem os nomes de Litté, Spencer e Mill. Em seguida, ao final do século
19 e princípios do século 20, o empiriocriticismo de Avenarius (1843 -1896) e Mach
(1838-1916). A terceira etapa denomina-se, em geral, neopositivismo e compreende
uma série de matizes, entre os quais se podem anotar o positivismo lógico, o
empirismo lógico, estreitamente vinculados ao Círculo de Viena (Carnap, Schlick,
Frank, Neurath, etc.); o atomismo lógico (Russel, 1872-1970, e Wittgens-tein 1889-
1951); a filosofia analítica (Wittgenstein e Ayer, 1910) que acha que filosofia deve ter
por tarefa elucidar as formas de linguagem em busca da essência dos problemas; o
behaviorismo (Watson, 1878-1958) e o neobehaviorismo (Hull, 1884-1952), e
Skinner, (1904).

Por ter herdado os elementos do positivismo, isto é, a sua concepção de verdade, de


vida, de mundo, de conhecimento e de ética, para o paradigma funcionalista, a realidade,
objetiva, absoluta, por ser concebida como sendo independente das interpretações humanas,
pode ser completamente apreendida e compreendida a partir do estudo das relações entre
variáveis por meio de métodos estatísticos (BARBOSA et al., 2013; TRIVIÑOS, 1987;
MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003; HATCH; YANOW, 2003;
DONALDSON, 2003).

2.2 O interpretativista

No Paradigma Interpretativista, não existe uma realidade concreta, mas sim experiências
subjetivas e intersubjetivas entre os indivíduos; o investigador influencia e é influenciado pelo
seu objeto de investigação; o conhecimento científico é tão problemático quanto o senso comum
(MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003; HATCH; YANOW, 2003;
DONALDSON, 2003).
As ideias que fundamentam essa abordagem paradigmática são: a inexistência de uma
realidade objetiva, quer externa quer interna; a existência de uma realidade subjetiva; a
intersubjetividade dos indivíduos; a indissociabilidade entre o sujeito investigador e o objeto-
problema investigado; a parcialidade do conhecimento científico (MORGAN, 1980;
WILLMOTT, 2003).
Então, suas raízes estão ligadas, por um lado, ao idealismo socrático, platônico e
aristotélico, posteriormente refinado por Kant e Hegel, e, por outro lado, agrega a
intersubjetividade do materialismo dialético marxista. Por essas razões, o interpretativismo pode
ser conceituado como uma espécie de idealismo refinado (MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA,
2003; REED, 2003; HATCH; YANOW, 2003; DONALDSON, 2003; WILLMOTT, 2003).
O idealismo nega a verdade objetiva, um mundo externo independente das percepções
humana; a verdade é a união da essência e da aparência das coisas; o pensamento é
independente da matéria; quando morremos, o nosso espírito prevalece vivo; somos a nossa
essência, a nossa existência carnal é passageira, mortal, finita, mas nossa existência espiritual é
eterna, imortal, infinita (MORGAN, 1980; REED, 2003; HATCH; YANOW, 2003;
DONALDSON, 2003).

2.3 O humanista radical

No Paradigma Humanista Radical, existe a característica alienadora de uma realidade


socialmente construída e sustentada em relação às potencialidades (o poder) do ser humano.
Nesse sentido, as ideologias dominantes são as da elite capitalista (MORGAN, 1980;
CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003; HATCH; YANOW, 2003; DONALDSON, 2003).
As ideias que fundamentam essa abordagem paradigmática são: enfatiza como a
realidade é socialmente criada e socialmente sustentada; a realidade é subjetiva, criada por
interpretações humanas dentro de determinadas restrições criadas e sustentadas pelo ser
humano, e que os aprisiona; a sociedade é uma força potencialmente dominadora; o processo de
criação da realidade pode ser influenciado por processos psíquicos e sociais que canalizam,
restringem e controlam as mentes dos seres humanos de maneira a aliená-los em relação às
potencialidades à natureza humana; os blocos de construção da ordem social e da liberdade
humana são, para o humanista radical, modos de dominação ideológica; o humanista radical
está interessado em descobrir como as pessoas podem pensamentor e agirção (práxis) como um
meio para transcender a sua alienação (MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA, 2003; REED,
2003; HATCH; YANOW, 2003; DDONALDSON, 2003).
Suas raízes estão ligadas ao materialismo dialético marxista e abarca o elemento
subjetividade presente também nas ideologias idealistas. Por essas razões, o humanismo radical
pode ser conceituado como uma espécie de materialismo dialético idealista (MORGAN, 1980;
CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003; HATCH; YANOW, 2003; DDONALDSON, 2003).
Na sua essência, o materialismo dialético marxista, investigado a fundo pela Escola de
Frankfurt: não nega a verdade objetiva; a verdade é a unidade da diversidade; prega-se uma
verdade objetiva interna, dependente das interpretações humanas, consistindo no resultado da
síntese de múltiplas determinações, e é tão parcial quando as verdades subjetivas humanas;
concomitantemente, não se nega uma verdade objetiva externa; o pensamento é resultado da
matéria; a consciência é consequência das experiências, e não o inverso; quando morremos
nossa vida acaba; somos a nossa existência (mundo objetivo externo resultante do mundo
interno, criado pela nossa mente) (MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003;
HATCH; YANOW, 2003; DONALDSON, 2003).
O paradigma humanista radical herda todos os elementos da concepção de verdade
subjetiva e intersubjetiva do materialismo dialético marxista, tal como Novelli (2013, p. 9)
explana:

A diferença entre a verdade absoluta e a relativa reside no grau de precisão com que
cada uma reflete o mundo objetivo. Porém, ambas sempre são momentos da verdade
objetiva que acontece como processo, como movimento. A soma de verdades relativas
contribui para a formação da verdade absoluta, mas isso não se dá de forma mecânica.
Não se trata da construção de verdades acabadas, mas da verdade como um processo de
pensamento nutrido pelo movimento para o objetivo e para o absoluto.

Necessário ressaltar aqui que a verdade objetiva defendida nesse paradigma é interna,
fruto do encontro das verdades subjetivas humanas. Alude-se à síntese, que, segundo Marx, é
produto do encontro da tese e sua respectiva antítese; a síntese, desse modo, é um conhecimento
mais amadurecido, refinado, confiável, fidedigno. O paradigma humanista radical é, desse
modo, uma espécie de materialismo dialético idealista, subjetivista, relativista.

2.4 O estruturalista radical

No Paradigma Estruturalista Radical, a realidade é concreta e real, sua existência é


independente do modo como é percebida e reafirmada pelas pessoas em suas atividades diárias
(MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003; HATCH; YANOW, 2003;
DONALDSON, 2003).
As ideias que fundamentam essa abordagem paradigmática são: a existência de uma
realidade concreta, real, objetiva, absoluta, independente da consciência humana; a sociedade é
uma força potencialmente dominadora; defende a existência de uma realidade concreta,
objetiva: concepção materialista do mundo social, definida por estruturas sólidas, concretas e
ontologicamente reais; defende que a realidade caracteriza-se por tensões e contradições
intrínsecas entre elementos antagônicos, o que, inevitavelmente, leva a uma mudança radical no
sistema como um todo; o estruturalista radical está interessado em compreender essas tensões
intrínsecas e a maneira como os detentores do poder na sociedade procuram controlá-las por
meio de vários modos de dominação; põe-se a ênfase sobre a importância da práxis como meio
de transcender essa dominação (MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003;
HATCH; YANOW, 2003; DONALDSON, 2003). Então, suas raízes estão ligadas ao
materialismo dialético marxista e abarca o elemento objetividade presente também nas
ideologias positivistas.
Na sua essência, o materialismo dialético marxista, investigado a fundo pela Escola de
Frankfurt: não nega a verdade objetiva; a verdade é a unidade da diversidade; prega-se uma
verdade objetiva interna, dependente das interpretações humanas, consistindo no resultado da
síntese de múltiplas determinações, e é tão parcial quanto as verdades subjetivas humanas;
concomitantemente, não nega-se uma verdade objetiva externa; o pensamento é resultado da
matéria; a consciência é consequência das experiências, e não o inverso; quando morremos
nossa vida acaba; somos a nossa existência (mundo objetivo externo resultante do mundo
interno, criado pela nossa mente) (MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003;
HATCH; YANOW, 2003; DONALDSON, 2003).
O paradigma estruturalista radical herda alguns elementos da concepção de verdade
subjetiva e intersubjetiva do materialismo dialético marxista, tal como Novelli (2013, p. 9)
explana:

A diferença entre a verdade absoluta e a relativa reside no grau de precisão com que
cada uma reflete o mundo objetivo. Porém, ambas sempre são momentos da verdade
objetiva que acontece como processo, como movimento. A soma de verdades relativas
contribui para a formação da verdade absoluta, mas isso não se dá de forma mecânica.
Não se trata da construção de verdades acabadas, mas da verdade como um processo
de pensamento nutrido pelo movimento para o objetivo e para o absoluto.

Necessário, ressaltar aqui, que o paradigma estruturalista radical defende duas verdades:
uma objetiva externa, independente das interpretações humanas; e uma verdade objetiva interna,
fruto do encontro das verdades subjetivas humanas – a síntese, tal como é defendida por Marx.
O paradigma estruturalista radical é, desse modo, uma espécie de materialismo dialético
objetivista, determinista, positivista (MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003;
HATCH; YANOW, 2003; DONALDSON, 2003; TSOUKAS; KNUDSEN, 2003).

3 METODOLOGIA

3.1 Pilar epistemológico

O pilar epistemológico refere-se ao conjunto de pressupostos ontológicos, morfológicos,


gnosiológicos, teóricos e éticos, norteadores da pesquisa científica em um nível estratégico. É,
portanto, o pilar estratégico, ou diretivo, da pesquisa científica. Considera sensivelmente a
concepção de homem, de vida, de mundo, de ciência e de ética que o pesquisador tem tanto
quanto as suas relações com o objeto da sua investigação (GILES, 1979; PIAGET, 1973;
KÖCHE, 1997; TEIXEIRA, 2012; EL-GUINDY, 2004; VERGARA, 2012; KUNH, 1967). Por
essas razões, os seus enfoques (métodos) podem ser apropriadamente denominados bases
estratégicas da investigação ou bases diretivas constitucionais da investigação (GIFTED, 2015).
Enquanto um espistemólogo neoperspectivista, e estudante do componente curricular
Tópicos Avançados em Teoria das Organizações, do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção (PPGEP) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), utilizo,
nesta pesquisa, a abordagem paradigmática neoperpectivista, com os seguintes pressupostos: o
investigador interpreta subjetivamente um objeto (a mônada; a organização) objetivo, concreto,
real, absoluto, porém subjetiva e parcialmente cognoscível de acordo com o ponto de vista de
quem o investiga; as verdades científicas, após sintática, semântica e pragmaticamente
validadas, podem ser consideradas verdades “objetivas”, por serem mais seguras, amadurecidas,
confiáveis, fruto das verdades subjetivas, tal como Marx aponta a síntese como sendo fruto do
encontro da tese e da sua respectiva antítese (BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016).

3.2 Pilar lógico

O pilar lógico refere-se ao conjunto de pressupostos estruturais do pensamento,


norteadores da pesquisa científica em um nível tático. É, portanto, o pilar tático, ou gerencial, da
pesquisa científica. Considera o ponto exato de partida do raciocínio utilizado bem como as
nuances dos seus avanços. Por essa razão, os seus enfoques (métodos) podem ser
apropriadamente denominados bases táticas da investigação ou bases estruturais do pensamento
da investigação (CRESWELL, 2010; TRIVIÑOS, 1987; GIFTED, 2015; KUNH, 1967).
A base estrutural de pensamento hipotético-dedutiva, utilizada nesta pesquisa, partindo-
se das hipóteses genéricas que o uso das técnicas de amostragem estatística na pesquisa em
ensino é escasso, mas que culmina em grandes benefícios, rumando, desse modo, para
conclusões particulares sobre a temática investigada. (CRESWELL, 2010; GIL, 1999, 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2003, 2008; POPPER, 1972; KANT, 2001, 2004).

3.3 Pilar técnico

O pilar técnico refere-se ao conjunto de pressupostos de abordagem, de modalidade


sequencial (pesquisa mista), de base e sub-base procedimentais (pesquisa observacional), de
técnicas e técnicas, de instrumentos, de recursos (inclusive o tempo) e de lócus, norteadores da
pesquisa científica em um nível operacional. É, portanto, o pilar operacional, ou funcional, da
pesquisa científica.
Considera as fases pré-implementatória (trabalho ou redação de ensaio), implementatória
(execução do trabalho ou da redação de ensaio) e pós-implementatória (publicação dos
resultados finais) da investigação científica (MARCONI; LAKATOS, 2003; 2008; GIL, 1999,
2010; ECO, 2012; THIOLLENT, 2003; 2011; YIN, 2010; MARTINS, 2008; SOARES, 2003).
Por essa razão, os seus enfoques (métodos) podem ser apropriadamente denominados bases
operacionais da investigação ou bases funcionais da operação de investigação (GIFTED, 2015).
As abordagens de investigação podem ser: quantitativa, quando traduz em números tudo o que
quantificável; qualitativa, quando traduz em texto tudo o que é qualificável; e mista (um pouco
quali, um pouco quanti) (CRESWELL, 2010; RODRIGUES, 2006; TRIVIÑOS, 1987;
TSOUKAS; KNUDSEN, 2003).
As modalidades sequenciais, inerentes aos métodos mistos de investigação, podem ser:
estratégia explanatória sequencial; estratégia exploratória sequencial; estratégia transformativa
sequencial; estratégia de triangulação concomitante; estratégia incorporada concomitante e
estratégia transformativa concomitante (CRESWELL, 2010; GIFTED, 2015).
Nesta pesquisa, foram utilizados(as): abordagem qualitativa visto que foram investigadas
apenas variáveis não quantificáveis; a base procedimental observacional, visto que toda
pesquisa é observacional; foi realizado um levantamento bibliográfico de um corpus de
planejamento de pesquisa, e apenas levantamento bibliográfico, censitário, para análise do
corpus de execução da pesquisa;

3.3.1 Levantamento bibliográfico

O levantamento bibliográfico busca mapear um conjunto de bibliografias previamente


selecionadas para análise. A metodologia bibliográfica oferece meios que auxiliam na definição
e resolução dos problemas já conhecidos, permitindo tanto explorar novas áreas onde ainda não
se cristalizaram suficientemente como também analisar um tema sob novo enfoque ou
abordagem, produzindo novas conclusões (SEVERINO, 2007).
De acordo com Gil (1999; 2010), não existem regras fixas para a realização de pesquisas
bibliográficas, mas existem algumas tarefas que a experiência demonstra serem importantes.
Dessa forma, este trabalho segue o seguinte roteiro:

– Exploração das fontes bibliográficas: foram examinadas bibliografias recomendadas


pelo professor de Tópicos Avançados em Teorias das Organizações (mestrado), além de outras
que tive que consultar para elaborar minha proposta de dissertação.

– Leitura do material: conduzida de forma informativa, seletiva, reflexiva e


interpretativa, objetivado reconhecer, reter, criticar construtivamente e avalizar as partes
essenciais para o desenvolvimento do estudo.

– Elaboração de fichas: como de costume, eu elaborei de fichas de citações, de resumo


e bibliográfica, sobre as bibliografias clássicas, contendo as partes mais relevantes dos materiais
consultados.

– Ordenação e análise das fichas: uma vez organizadas e ordenadas de acordo com o
seu conteúdo, eu resenhei sobre cada uma das bibliografias consultadas, anotando minhas
observações nas fichas.

- Conclusões: foram obtidas, após análises das bibliografias, e sínteses de debates


construtivos realizados nas aulas com pesquisadores e profissionais da temática.

Foi operacionalizada uma revisão bibliográfica, desenvolvida para uma pesquisa de


mestrado, mesclando-se bibliografias clássicas e contemporâneas nos EO, algumas nacionais
outras estrangeiras, tais como Morgan (1980), Willmott (2003), Chia (1998), Astley e Van de
Ven (2005), dentre outros.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Quadro paradigmático comparativo em EO proposto por Burrell e Morgan


(1980)

O quadro paradigmático proposto por Burrel e Morgan (1980) restringe os modos de


interpretar o mundo, tornando-os mutuamente exclusivos, na medida em que os autores não
distinguem os paradigmas das teorias, vinculando-as a eles. Desse modo, tal como salienta
Barbosa et al. (2013, p. 5) “ao evidenciar diferenças elementares, o trabalho dos autores
promoveu a segregação das perspectivas, dificultando o diálogo e o crescimento
interparadigmático”. Portanto, a não distinção conceitual entre paradigma e teoria foi capaz de
enrijecer o seu diálogo e o seu uso nos EO (TSOUKAS; KNUDSEN, 2003).

Tabela 1 – Quadro paradigmático proposto por Burrell e Morgan (1980)

Regulação

FUNCIONALISMO: INTERPRETATIVISMO:
É uma espécie de positivismo refinado É uma espécie de idealismo refinado (realidade subjetiva,
(realidade objetiva, sistêmica e sistêmica e não determinística).
determinística). Principais pensadores: Dilthey, Husserl, Weber,
Principais pensadores: Comte, Durkheim, Gadamer, Schutz, Scheller, Heidegger, Sartre etc.
Malinowski, Radchiffe Brown, Simmel, G.
H. Mead, Weber etc.
Objetivismo Subjetivismo
ESTRUTURALISMO RADICAL: HUMANISMO RADICAL:
É uma espécie de materialismo dialético É uma espécie de materialismo dialético idealista
positivista (realidade objetiva, alienada e (realidade subjetiva, alienada e alienante).
alienante). Principais pensadores: Sartre, Luckacs,
Principais pensadores: Marx, Engels, Horkheimer, Adorno, Fromm, Marcuse,
Plekhanov, Lênin, Bukharin, Althusser, Habermas etc.
Poulantzas, Rex, Dahrendorf etc.
Mudança Radical

Fonte: elaborada e adaptada pelo autor


Na concepção dos autores, não se pode usar uma teoria de uma paradigma em outro, ou
seja, cada teoria está atrelada a apenas um paradigma, e não pode nem deve ser utilizada em
outro (MORGAN, 1980; BARBOSA et al., 2013; TSOUKAS; KNUDSEN, 2003). Essa posição
de Morgan revela que o debate dos paradigmas é mais do que disputas acerca de epistemologia,
de lógica ou de teoria linguística, mas sim “uma luta por espaço acadêmico entre indivíduos e
grupos com opções axiológicas, ontológicas e epistemológicas, hipóteses e agendas de pesquisa
distintas” (BARBOSA et al., 2013, p. 5).

4.2 O paradigma perspectivista

O paradigma perspectivista nasceu com Gerard Desargues, matemático, arquiteto e


engenheiro militar francês, precursor da Geometria Projetiva, que na sua época ainda não era
conhecida por esse, e Blaise Pascal, físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês, nos
seus estudos das seções cônicas e da possibilidade de elas “ultrapassarem o cone” (BONNEAU,
2010; CORTESE, 2016, p. 11).
Eles foram os primeiros matemáticos a conceberem uma perspectiva linear em que duas
retas paralelas encontram-se em um ponto infinito, modificando, desse modo, a forma de
representação geométrica: “nela as retas paralelas são representadas como se encontrando em
um ponto que, aparente na tela, estaria a uma distância infinita na cena representada – aquele
que seria mais tarde chamado o ‘ponto de fuga’” (CORTESE, 2016, p. 11).
Em Gottfried Wilhelm Leibniz, filósofo, cientista, matemático, diplomata e bibliotecário
alemão, a perspectiva significa ponto de vista e a mônada significa um átomo, uma substância
simples, representativa da integralidade de todas as coisas, que concebemos por Universo.
A mônada, da palavra grega monas, que significa unidade, e a perspectiva, são os seus
conceitos fundantes. Leibnz concebe um sistema de mônadas porque acredita existência de
vários Universos criados por um Deus Criador (BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016).
Cortese (2016, p. 18) afirma ter encontrado “no manuscrito Scientia Perspectiva indícios
de que Leibniz desenvolveu um método de perspectiva mais geral do que aquele de Desargues e
de Pascal”. Sobre esses aspectos, Cortese (2016, p. 11 -12) pontuam:

A geometria de Desargues será a primeira a postular a possibilidade de que quaisquer duas retas
num plano se encontram. Ou elas são concorrentes com uma intersecção a uma distância finita,
ou então são paralelas, e neste caso seu ponto de encontro está a uma distância infinita (em ambos
os casos, Desargues diz que as retas são de mesma “ordonnance”).
Cada mônada é, no entanto, distinguível das outras, possuindo qualidades que variam
unicamente por princípio interno, visto que, enquanto substância pura, nenhuma causa exterior
pode influir no seu interior, isto é, enquanto realidade concreta, absoluta, real, objetiva, a sua
substância é independente das percepções humanas.
Contudo, como ela é interpretada sob um ponto de vista, ela é dotada de percepção.
Não havendo partes em uma mônada, ela possui um detalhe múltiplo, isto é, envolve uma
multiplicidade na unidade (BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016).
Uma mônada não pode exercer qualquer efeito sobre a outra pois entre elas ocorre
uma acomodação, mediante Deus, que, ao fazer cada uma, teve em conta todas as outras. Em
Leibniz, dado que cada mônada possui em si a representação de todo o Universo e da relação
entre todas as mônadas, um espírito absoluto – Deus – pode, segundo Leibniz, a partir do que se
passa em cada uma, inferir por mero cálculo o que se passa, o que se passou ou passar-se-á em
todo o Universo (BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016).
Por essas razões, afirma-se que o paradigma perspectivista diferencia-se do
paradigma funcionalista e do interpretativista, apesar de semelhanças pontuais com um e outro.
Tal como o paradigma funcionalista, o perspectivista defende que há uma única realidade, mas
acrescenta a essa tese metafísica (pois se trata de uma tese sobre a realidade) a tese
epistemológica sobre a perspectiva de cada um frente a realidade.
Tal como o paradigma interpretativista, o perspectivista defende que diferentes
indivíduos percebem a realidade diferentemente, mas ao contrário dele, o perspectivista não
defende que há tantas realidades quanto percepções (BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016).
Outro caminho que leva Leibniz a concluir que a realidade é objetiva, que existe sim
um todo independente do ser humano, é refletir sobre a onisciência divina. Ele raciocina que
Deus conhece tudo, o todo, todos os pontos de vistas sobre tudo, todas as coisas, toda a verdade,
absoluta e integralmente (BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016).
Portanto, conclui ele, o todo existe, ainda que nós seres humanos não o conheçamos
(BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016). Sobre esses aspectos, Cortese (2016, p. 24) corrobora:

[...] em 1712 Leibniz atribui à visão divina dois modos pelos quais ela é, por assim
dizer, completa: ela se dá tanto pelo bom tipo de representação icnográfica, não
padecendo da parcialidade da cenografia, quanto pela ciência divina do conjunto de
parcialidades relacionadas a cada situs. Digamos que Deus possui assim a visão do
todo, ao mesmo tempo em que a visão de todos os pontos de vista. Leibniz pensa numa
superação da parcialidade do ponto de vista ao associar à visão divina tanto ao ponto
de vista (parcial) quanto à ubiquidade.
Reorganizando as ideias, em suma, o perspectivismo prega a existência de uma verdade
objetiva, concreta, real, absoluta, independente das interpretações humanas, completa; nossas
interpretações sobre ela é que são subjetivas; o mundo é externo, mas interpretado internamente,
isto é, com base nas percepções, sensações e valores humanos (BONNEAU, 2010; CORTESE,
2016).

4.3 O paradigma neoperspectivista

Ao estudar em profundidade os quatro paradigmas em EO apresentados em 1980 por


Morgan, Gifted (2016) percebe que eles não conseguem fazer a integração paradigmática
intentada, propiciando um paradigma que dialogue com e sintetize os demais, favorecendo uma
visão mais amadurecida sobre as organizações.
A concepção neoperspectivista de verdade partiu, então, da necessidade de se suplantar
as dificuldades apresentadas de se montar um quadro paradigmático atualizado e mais
amadurecido, que consiga atender melhor às atuais demandas apresentadas nos EO. Ela consiste
em refinamentos pontuais feitos por Gifted (2016) no paradigma perspectivista leibniziano,
trazendo grandes contribuições para os avanços nos EO. Nesse diapasão, Álaze Gabriel do
Breviário, também conhecido na literatura como Gited (2016), propõe o seguinte quadro
paradigmático:
Tabela 2 – Quadro paradigmático proposto por Gifted (2016)

Regulação

FUNCIONALISMO: INTERPRETATIVISMO:
É uma espécie de positivismo refinado É uma espécie de idealismo refinado
(realidade objetiva, sistêmica e (realidade subjetiva, intersubjetiva,
determinística). sistêmica e não determinística).
Principais pensadores: Comte, Durkheim, Principais pensadores: Dilthey, Husserl,
Malinowski, Radchiffe Brown, Simmel, Weber, Gadamer, Schutz, Scheller,
G. H. Mead, Weber etc. Heidegger, Sartre etc.
NEOPERSPECTIVISMO:
Baseia-se no conceito da mônada e da perspectiva
Concebe a coexistência de duas realidades completamente
distintas e, concomitantemente, indissociáveis: uma
realidade objetiva, concreta, real, absoluta, independente
das interpretações humanas (a mônada), que representa a
Objetivismo Subjetivismo
integralidade de todos os pontos de vistas sobre todas as Subjetivismo
coisas; e uma realidade subjetiva, parcial, construída por
meio das imperfeitas interpretações humanas sobre a
realidade objetiva que o cerca (a perspectiva).

Principais pensadores: Giordano Bruno, Gottfried


Wilhelm Leibniz, Gerard Desargues, Friedrich Nietzche,
Álaze Gabriel do Breviário.

ESTRUTURALISMO RADICAL: HUMANISMO RADICAL:


É uma espécie de materialismo dialético É uma espécie de materialismo dialético
positivista (realidade objetiva externa, idealista (realidade subjetiva externa,
alienada e alienante; realidade objetiva alienada e alienante; realidade objetiva
interna, fruto do encontro das verdades interna, fruto do encontro das verdades
subjetivas). subjetivas).

Principais pensadores: Marx, Engels, Principais pensadores: Sartre, Luckacs,


Plekhanov, Lênin, Bukharin, Althusser, Horkheimer, Adorno, Fromm, Marcuse,
Poulantzas, Rex, Dahrendorf etc. Habermas etc.
Mudança Radical

Fonte: elaborada pelo autor, com base em Gifted (2016)


Na concepção de Gifted (2016), existe a flexibilidade na utilização das teorias em EO
em algum dos paradigmas no quadro apresentados, cuja escolha fica a critério do pesquisador.
Em outras palavras, Gifted (2016) concebe paradigmas como sendo distintos de teorias,
embora sejam indissociáveis: as primeiras significam o conjunto das concepções individuais do
investigador, baseadas em seus valores, do mundo, da vida, da verdade, do conhecimento e da
ética; as segundas significam o arcabouço de preposições, particulares e ou genéricas,
construídas em constructos fundamentais, que fornecem respostas a determinados aspectos de
determinadas dimensões de determinados tipos de organizações.
Desse modo, na concepção gitdeana, o investigador tem a liberdade para utilizar todas as
teorias em EO que sejam adequadas à investigação do seu objeto-problema, sejam quais forem
os seus paradigmas. Admite-se, então, a possibilidade de se combinar os paradigmas do
investigador com toda teoria que seja adequada ao objeto-problema da sua investigação.
Em Álaze Gabriel do Breviário, Gifted (2016), os conceitos de mônada e perspectiva,
bem como as suas relações, são refinados. Gifted (2016) concebe a coexistência de duas
realidades completamente distintas e, concomitantemente, indissociáveis: uma realidade
objetiva, concreta, real, absoluta, independente das interpretações humanas (a mônada), que
representa a integralidade de todos os pontos de vistas sobre todas as coisas; e uma realidade
subjetiva, parcial, construída por meio das imperfeitas interpretações humanas sobre a realidade
objetiva que o cerca (a perspectiva).
A abordagem paradigmática neoperspectivista gitdeana traz grandes contribuições para
todas as áreas do conhecimento na medida em que considera um fim concreto, real, mas que
dista do ser humano o tanto quanto somos incapazes de alcançá-lo; por essa razão, os caminhos
percorridos para se chegar a esse fim são muito mais importantes no processo de construção do
conhecimento, do que o fim em si mesmo. Gifted (2016) defende ainda que gestores guiados
por essa abordagem paradigmática são mais amadurecidos, holísticos, empáticos, genuinamente
compromissados com o progresso científico e social; educadores dirigidos por essa abordagem
paradigmática focam no efetivo aprendizado do aluno, e não meramente na transmissão dos
conhecimentos, no seu trabalho, na sua remuneração, ou seja, são mais humanos, solidários,
justos, honestos, compreensivos. Daí a grande importância da abordagem paradigmática na
gestão de todo e qualquer projeto (GIFTED, 2015; 2016).
5 CONCLUSÕES

Conclui-se que as bases fundantes do paradigma funcionalista são empiristas,


positivistas, objetivistas; as do paradigma interpretativista são idealistas, subjetivistas; as do
paradigma humanista radical são materialistas, dialéticos, idealistas, subjetivistas,
intersubjetivistas; as do paradigma estruturalista radical são materialistas, dialéticos,
objetivistas, intersubjetivistas; os paradigmas perspectivista e neoperspectivista são
simultaneamente objetivistas, subjetivistas, intersubjetivistas, consistindo no ponto de equilíbrio
paradigmático desejado nos EO, apesar de serem ainda pouco conhecidos e, por esse motivo,
pouco utilizados.
Os principais pressupostos metateóricos delineadores das abordagens paradigmáticas
empregadas nos Estudos Organizacionais são: subjetividade-objetividade, sociologia da
regulação (ordem) – sociologia da mudança radical (liberdade).
Ao passo que o quadro paradigmático proposto por Burrel e Morgan (1980) restringe os
modos de interpretar o mundo, tornando-os mutuamente exclusivos, segregando as perspectivas,
dificultando o diálogo, o uso e o crescimento interparadigmático, o quadro paradigmático
giftedeano, por outro lado, ao defender e promover a abordagem paradigmática
neoperspectivista, e ao diferenciar os conceitos paradigma e teoria, fornece ao investigador a
liberdade para utilizar todas as teorias em EO que sejam adequadas à investigação do seu
objeto-problema, sejam quais forem os seus paradigmas, admitindo-se, então, a possibilidade de
se combinar os paradigmas do investigador com toda teoria que seja adequada ao objeto-
problema da sua investigação.
Por essas razões, o quadro paradigmático proposto por Gifted (2016) representa grandes
avanços nos debates paradigmáticos nos Estudos Organizacionais. Em suma, ela flexibiliza a
escolha paradigmática e teórica por parte do investigador, facilitando os seus estudos e
pesquisas sobre as organizações; e propõe à comunidade científica a inserção na sua literatura
bem como a utilização nos EO da abordagem paradigmática neoperspectivista, que consiste em
refinamentos pontuais que o autor realiza no perspectivismo leibniziano, acrescendo a ele o
elemento da intersubjetividade tal como concebido no materialismo dialético marxista.
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APÊNDICE 2 – Levantamentos bibliográficos e documentais

OS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA A ADEQUADA


OPERACIONALIZAÇÃO DOS LEVANTAMENTOS BIBLIOGRÁFICOS E
DOCUMENTAIS: O ESTADO DA ARTE

RESUMO

O trabalho reflete sobre o tema levantamentos bibliográficos e documentais. Busca alcançar o estado da
arte sobre os procedimentos técnicos para a sua adequada operacionalização, esclarecendo-os o
suficiente para facilitar a sua compreensão e o seu uso. Para tanto, realiza de forma bastante
abrangente, porém não exaustiva, uma revisão bibliográfica e documental da sua literatura crítica,
buscando clarear a sua correta compreensão e o seu adequado uso. Utiliza o método neoperspectivista
como a base lógica da sua investigação e o método hipotético-dedutivo, como a base da sua estrutura
de pensamento. Discute que um levantamento bibliográfico e documental bem realizado é uma
excelente porta de entrada em uma área de pesquisa, consistindo em um mapa completo do seu
território, apontando e explanando o seu estado atual, as suas teorias, os seus conceitos fundantes e as
suas lacunas. Conclui que: o fluxograma da pesquisa científica é sistemático e flexível, admitindo
etapas que podem ser operacionalizadas estanques ou concomitantes, de acordo com os hábitos do
pesquisador; esse tipo de pesquisa é fundamental para o início de toda e qualquer investigação
científica; e, a sua qualidade é diretamente proporcional ao nível de especificidade do problema-objeto
de pesquisa, do nível de conhecimento do pesquisador sobre o objeto investigado e de sua experiência
em operacionalizar tais metodologias.

TECHNICAL PROCEDURES FOR THE PROPER OPERATION SURVEYS


BIBLIOGRAPHICAL AND DOCUMENTARY: THE STATE OF THE ART

ABSTRACT

The work reflects on the theme bibliographic and documentary surveys. Seeks to achieve the state of
the art technical procedures for its proper implementation, clarifying them enough to facilitate their
understanding and use. The study presents quite comprehensive, but not exhaustive literature review
and document its critique literature, seeking to lighten their correct understanding and proper use. Uses
neoperspectivist method as the rationale of its research and the hypothetical-deductive method as the
basis of the structure of thought. It argues that a bibliographic and documentary survey done well is an
excellent gateway into a research area, consisting of a complete map of its territory, pointing and
explaining its current state, its theories, its fundamental concepts and their shortcomings . Concludes
that: the flowchart of scientific research is systematic and flexible, admitting steps that can be
operationalized watertight or concomitant, according to the researcher's habits; this type of research is
critical to the beginning of any scientific research; and its quality is directly proportional to the level of
specificity of the problem object of research, the researcher's level of knowledge about the investigated
object and its operational experience in such methodologies.
PROCEDIMIENTOS TÉCNICOS PARA EL ADECUADO FUNCIONAMIENTO
DE ENCUESTAS BIBLIOGRÁFICO Y DOCUMENTAL: EL ESTADO DEL
ARTE

RESUMEN

El trabajo reflexiona sobre el tema bibliográfico y documental encuestas. Busca alcanzar el estado de
los procedimientos técnicos de última generación para su correcta aplicación, aclarando lo suficiente
para facilitar su comprensión y uso. El estudio presenta revisión bastante amplia, aunque no exhaustiva,
la literatura y documentar su literatura crítica, tratando de aligerar su comprensión y la correcta
utilización. Utiliza método neoperspectivista como la razón fundamental de su investigación y el
método hipotético-deductivo como la base de la estructura del pensamiento. Se argumenta que una
encuesta bibliográfica y documental hecho bien es una excelente puerta de entrada a un área de
investigación, que consiste en un mapa completo de su territorio, señalando y explicando su estado
actual, sus teorías, sus conceptos fundamentales y sus deficiencias. Concluye que: el diagrama de flujo
de la investigación científica es pasos sistemáticos y flexibles, admitiendo que pueden ser en operación
los estancos o concomitantes, de acuerdo con los hábitos del investigador; ese tipo de investigación es
fundamental para el inicio de cualquier investigación científica; y su calidad es directamente
proporcional al nivel de especificidad del objeto problema de la investigación, el nivel de conocimiento
sobre el objeto investigado y su experiencia operativa en tales metodologías del investigador.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho reflete sobre o tema levantamentos bibliográficos e documentais. Busca alcançar o
estado da arte quanto os procedimentos técnicos para a sua adequada operacionalização. Essas técnicas
científicas, próprias do processo de revisões da literatura, são uma excelente porta de entrada em uma
área de pesquisa, consistindo em uma mapa completo do seu território, apontando e explanando o seu
estado atual, as suas teorias, os seus conceitos fundantes e as suas lacunas (KÖCHE, 1997, 2011; GIL,
1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; SAMPIERI; COLLADO;
LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978;
PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES, 1979; CHAUI, 2008).
Esse tema justifica-se pela necessidade de esclarecimentos sobre os passos adequados para a
operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais, levando-se em consideração seus
aspectos estruturais e éticos. Existem pesquisadores que tratam a revisão da literatura como uma
questão de mera reprografia daquilo que já foi produzido sobre um tema, hesitando de se posicionar
contra ou a favor de determinada linha ideológica, filosófica ou científica, ação fundamental no
processo de se fazer ciência. Não se pode favorecer tudo o que foi estudado e produzido sobre um
tema, porque é antiético, uma vez que a ciência, ainda que razoavelmente segura e confiável, é
inacabada, é hipotética, é falível, é tão imperfeita quanto os seus produtores. Por essa razão, o cientista
precisa desenvolver o seu senso crítico para avaliar e julgar sentenças de acordo com o seu nível de
confiabilidade, justificando cada um dos seus pareceres, visto que se torna responsável, tanto diante da
comunidade científica quanto perante a sociedade civil em geral, por cada partícula de cada letra de
cada palavra que eu seus trabalhos se insere. Deduz-se, incontinenti, que o pesquisador precisa tomar
cuidado com cada detalhe de tudo o que fala, escreve ou expõe sobre algum autor ou alguma obra
(KÖCHE, 1997, 2011; ECO, 2012; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008;
LUNA, 2011; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA;
FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978; PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES, 1979; CHAUI, 2008).
A questão que move essa pesquisa é esclarecer minuciosamente os passos necessários para a
adequada operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais, exposto o seu
sistematismo, sem, contudo, fazer-lhe parecer inflexível. Também trabalha a questão da ética em todo o
processo de investigação científica que, mesmo em uma pesquisa básica, traz grandes
responsabilidades para o sujeito pesquisador, tanto diante da comunidade científica quanto perante a
sociedade civil em geral (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007,
2008; LUNA, 2011; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010;
MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978; PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES, 1979;
CHAUI, 2008).
Para tanto, foram selecionados quarenta trabalhos acadêmicos específicos sobre a metodologia
da pesquisa científica, buscando nelas os conteúdos mais esclarecedores sobre os procedimentos
técnicos para a operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais (GIL, 1999, 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2007; RODRIGUES, 2007; BÊRNI; FERNANDEZ, 2012; SAMPIERI;
COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO,
1978; PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES, 1979; CHAUI, 2008).
Para a escolha das fontes selecionadas, foram considerados os seguintes critérios: a) conteúdo
específico sobre a metodologia da pesquisa científica; b) viabilidade de acesso e análise dos materiais
selecionados. Todas as fontes foram observadas; os dados foram coletados, organizados,
sistematizados, analisados, e apresentados de acordo com os procedimentos técnicos de pesquisa para
levantamento bibliográfico e documental apresentados por Gil (1999, 2010), Marconi e Lakatos (2007),
Rodrigues (2007), Luna (2011) e Köche (2011). Buscou-se nelas alcançar o estado da arte do tema
levantamentos bibliográficos e documentais.
Meu interesse por pesquisar esse tema nasceu da minha percepção da imensa dificuldade que
pesquisadores iniciantes possuem de operacionalizar levantamentos bibliográficos e documentais,
pesquisa básica imprescindível para a realização de toda e qualquer investigação científica, e, portanto,
indispensável entrada na carreira científica. Tal percepção da minha parte deu-se no decorrer dos meus
estudos e vivências universitárias. Além disso, o meu interesse em me tornar um excelente docente e
pesquisador, aliado às minhas percepções sobre os obstáculos existentes para o progresso da ciência e
da docência universitária, inquietaram-me o suficiente para eu contribuir significativamente em seu
prol. Ressalto ainda que eu cursei um componente curricular específico sobre metodologia da pesquisa
científica nas duas graduações e em duas pós-graduações lato sensu que eu concluí na modalidade
EaD. A minha carreira acadêmica completa mais de 10 anos de estudos e vivências em Ambientes
Virtuais de Aprendizagem, fazendo pesquisas em bibliotecas virtuais, participando de eventos
científicos virtuais realizados por meio de videoconferências ao vivo, dentre outras atividades online.
Minhas vivências permitiram que eu percebesse diferentes metodologias de educação a distância, bem
como falhas em cada uma delas, que com pesquisas específicas, e com a articulação e ou o
desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação a distância, podem ser eliminadas, culminando
em maior qualidade para essa modalidade de ensino.
A revisão da literatura de um tema é o início de toda investigação científica. Somente se
conhecendo o que já foi estudado e produzido sobre ele é que se pode revisar os seus resultados. É
desse modo que há vários temas que já são pesquisados há séculos, outros, menos antigos, há décadas,
e ainda outros, incipientes, há alguns anos. Contudo, ao se investigar um objeto cuja literatura é vasta,
o pesquisador depara-se com a necessidade de se fazer um recorte espacial e temporal da realidade a
fim de que seu trabalho seja viável e, então, faça algum sentido. É daí a conclusão de que são
necessários procedimentos técnicos bem planejados e sistemáticos, ainda que possam admitir certa
flexibilidade, para a adequada operacionalização da investigação científica (KÖCHE, 1997, 2011; GIL,
1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; SAMPIERI; COLLADO;
LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978;
PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES, 1979; CHAUI, 2008). Sobre esses aspectos, Luna (2011, p.
19) corrobora:

[…] Não vejo como uma pesquisa possa dispensar procedimentos, e a razão para isso é simples.
Se o problema que gera a pesquisa não pode ser respondido diretamente (caso contrário não
teríamos um problema!), isso significa que a realidade não pode ser apreendida diretamente,
mas depende de um recorte dela que faça sentido. Esse recorte é garantido pelo procedimento
que seleciona as informações necessárias para uma leitura pelo pesquisador. Diferentes
tendências farão recortes diferentes, mas não poderão prescindir de procedimentos de coleta de
informações.
Os levantamentos bibliográficos e documentais oferecem meios que auxiliam na definição e
resolução dos problemas já conhecidos, como também permitem explorar novas áreas onde ainda não
se cristalizaram suficientemente. Permitem também que um tema seja analisado sob novo enfoque ou
abordagem, produzindo novas conclusões. Além disso, eles permitem a cobertura de uma gama de
fenômenos muito mais ampla, mormente em se tratando de pesquisa cujo problema requeira a coleta de
dados muito dispersos no espaço (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS,
2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007; PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES,
1979; CHAUI, 2008).
Embora a pesquisa bibliográfica e a documental possuam aspectos comuns, por exemplo ambas
se respaldam em materiais elaborados e já publicados, elas são distintas. A pesquisa documental
consiste na análise de fontes, a priori, primárias, isto é, elaboradas pelo próprio autor, enquanto a
pesquisa bibliográfica consiste na análise de fontes secundárias, isto é, transcritas de fontes primárias
contemporâneas ou retrospectivas. Na literatura crítica sobre a metodologia da pesquisa científica,
existem muitas definições para o que vem a ser o levantamento bibliográfico e o documental (KÖCHE,
1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011;
RODRIGUES, 2007). Para não ser exaustivo, eu transcrevo algumas, tal como se segue:

Bibliográfica é a pesquisa limitada à busca de informações em livros e outros meios de


publicação. É o oposto da pesquisa de campo, distinguindo-se também e igualmente por
oposição da pesquisa in victro. Geralmente, a pesquisa bibliográfica integra o âmbito da
pesquisa ex-post-facto, pelo simples fato de que os livros e trabalhos de revista ou periódico
qualquer tratam, via de regra, de fatos consumados, não sendo habitual a pesquisa bibliográfica
baseada em leitura do tipo futurologia. (RODRIGUES, 2007, p. 43).

A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de


pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, trabalhos, teses, etc. Utiliza- se de
dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente
registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha
a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos.
(SEVERINO, 2007, p. 122).

A pesquisa bibliográfica é elaborada com base em material já publicado. Tradicionalmente, esta


modalidade de pesquisa inclui material impresso, como livros, revistas, jornais, teses,
dissertações e anais de eventos científicos. Todavia, em virtude da disseminação de novos
formatos de informação, estas pesquisas passaram a incluir outros tipos de fontes, como discos,
fitas magnéticas, CDs, bem como o material disponibilizado pela internet. (GIL, 2010, p. 29).

A pesquisa bibliográfica é a que se desenvolve tentando explicar um problema, utilizando o


conhecimento disponível a partir das teorias publicadas em livros ou obras congêneres. Na
pesquisa bibliográfica o investigador irá levantar o conhecimento disponível na área,
identificando as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para auxiliar a
compreender ou explicar o problema objeto da investigação. O objetivo da pesquisa
bibliográfica, portanto, é o de conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes
sobre um determinado tema ou problema, tornando-se um instrumento indispensável para
qualquer tipo de pesquisa.
Pode-se utilizar a pesquisa bibliográfica com diferentes fins: a) para ampliar o grau de
conhecimento em uma determinada área, capacitando o investigador a compreender ou
delimitar melhor um problema de pesquisa; b) para dominar o conhecimento disponível e
utilizá-lo como base ou fundamentação na construção de um modelo teórico explicativo de um
problema, isto é, como instrumento auxiliar para a construção e fundamentação de hipóteses; c)
para descrever ou sistematizar o estado da arte, daquele momento, pertinente a um determinado
tema ou problema. (KÔCHE, 2011, p. 122).

A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a


documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem
ser recolhidas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois. (MARCONI;
LAKATOS, 2007, p. 62).

Pesquisa documental é a que se vale, se não unicamente, pelo menos básica ou


predominantemente de documentos como fontes de informação. Por documentos entendem-se
não apenas papeis oficiais, autenticados ou assemelhados. Um texto como uma carta particular
pode ser um documento histórico. Uma fotografia é um documento de que se valem
antropólogos e pesquisadores forenses. Uma fita gravada é um documento. Logo, documento é
uma fonte material de informações. A materialidade do documento não se restringe ao papel.
(RODRIGUES, 2007, p. 45).

Ressaltando especificamente a relevância dos levantamentos bibliográficos e documentais, Gil


(2010) destaca que ela permite ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais
ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente, em especial, quando o problema de pesquisa
requer dados muito dispersos pelo espaço. Entretanto, não se esquece de salientar que, como são
fontes de dados secundários25, tanto as bibliografias quanto os documentos podem apresentar dados
coletados ou processados de forma equivocada, tornando possível a reprodução e/ou ampliação desses
erros em trabalhos neles fundamentados. Por essa razão, Gil (2010, p. 30) fornece sugestões úteis para
reduzir tal possibilidade, dizendo:

Para reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das condições em
que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informação para descobrir
possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas, cotejando-as cuidadosamente.

A literatura crítica sobre a metodologia da pesquisa científica é unânime em esclarecer que não
existe um código normativo que estabeleça quantos, quais e em que sequência devam ser executados
os passos para a operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais, mas sim critérios,
diretrizes, princípios que a orientam sistematicamente. Desse modo, os passos para a sua
operacionalização ocorrem de acordo com o nível de conhecimento e o grau de experiência

25
As bibliografias são fontes de dados secundários. Os documentos são fontes de dados que podem ser primários ou
secundários (LUNA, 2011; GIL, 1999, 2010).
metodológica do pesquisador. Entretanto, a pesquisa científica exige um planejamento prévio e
sistemático e, por essa razão, existem várias sugestões de seu fluxograma no intuito de auxiliar os
pesquisadores iniciantes (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003,
2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006;
ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978).
Este trabalho foi organizado em sete partes. A primeira refere-se à introdução, na qual são
apresentados o tema, a justificativa, o problema, os objetivos, a contribuição, a metodologia, o percurso
do aluno, o referencial teórico e a organização do trabalho. Da segunda à sexta parte, o tema é
desenvolvido, apresentando-se no segundo a formulação do problema-objeto da pesquisa, no terceiro a
formulação das hipóteses e dos objetivos da pesquisa, no quarto a explicitação das fontes de
informação, no quinto a coleta dos dados da pesquisa, e no sexto o tratamento dos dados da pesquisa.
Na sétima seção, são apresentadas as conclusões e as considerações finais. Daí, por último, mas não
menos importante, no intuito de finalizar de forma completa, o trabalho apresenta as referências
consultadas.

2 A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA-OBJETO DA PESQUISA

A etapa da formulação do problema-objeto da pesquisa precisa preceder às etapas da


explicitação das fontes de informação, da coleta e do tratamento dos dados, porque é ela quem recorta
espacial e temporalmente que ou aquilo que se pretende pesquisar, orientando, então, desse modo, todo
o processo de investigação científica. É justamente por essa razão que a literatura crítica sobre a
metodologia da pesquisa científica é unânime em defender que essa etapa deva ser sempre a primeira
(KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011;
RODRIGUES, 2007; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010;
MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978). Sobre esses aspectos, alguns autores emprestam-nos
suas ideias tal como se segue:

Um problema de investigação delimitado expressa a possível relação que possa haver entre, no
mínimo, duas variáveis conhecidas. Dever ser uma pergunta inteligente, isto é, que indique os
possíveis caminhos que devem ser seguidos pelo investigador. Para isso, no entanto, é
necessário que o investigador elimine a incógnita introduzindo no seu lugar alguma outra
variável que a substitua. Essa tarefa requer o uso de duas competências por parte do
pesquisador: da imaginação criativa e do conhecimento disponível. O pesquisador deve, à luz
do conhecimento disponível, conjecturar sobre os possíveis fatores que podem se relacionar
com a variável em estudo. A pergunta que ele formula sempre questionará, em nível hipotético,
a possível relação proposta pelo investigador, como uma pergunta inteligente, em substituição à
ignorante, que endereçará à natureza, aos fatos, às coisas, para que seja respondida no decorrer
da pesquisa. […] A pergunta inicial (a) que Rosenberg formulou para o fato que o intrigava foi:
O desaparecimento espontâneo do câncer do seu paciente foi provocado pelo seu sistema imune
inato? O conhecimento disponível na área da imunologia o levou a acreditar nessa suposição e a
utilizá-lo para delimitar o problema principal de sua pesquisa. Agregando a esses
conhecimentos os já produzidos na área de engenharia genética, pôde, então, Rosenberg,
elaborar uma pergunta que até então nenhum pesquisador ousara fazer, a respeito da
possibilidade de manipular o potencial imune inato, existente no organismo, para combater o
câncer. Assim, a pergunta completa (b), de caráter conjectural, que orientou toda sua
investigação posterior, foi: É possível desenvolver uma imunoterapia para o câncer, isto é, um
tratamento que permita incrementar (no organismo humano) o potencial (latente) inato do
sistema imune para eliminar as células cancerígenas? (KÖCHE, 2011, p. 106-107).

O ponto de partida de uma pesquisa pode constituir-se de uma intenção ainda imprecisa. O
pesquisador pode ter decidido trabalhar com deficientes mentais ou estudar a escola de primeiro
grau. É possível que tenha se associado a um grupo que vem estudando a psicologia das
organizações ou, mais especificamente, as relações sociais dentro de empresas. Nenhuma dessas
especificações delimita um problema de pesquisa, embora o pesquisador esteja um ou mais
passos adiante de quem não tenha ainda ideia do que pretende estudar.
De fato, “deficientes mentais” delimita um tipo de sujeito (embora a deficiência mental seja
melhor caracterizada como um tema). A escola de primeiro grau (ou qualquer outra)
circunscreve uma instituição dentro da qual se pretende trabalhar. A psicologia social ou das
organizações configura uma área de pesquisa e a especificação de que se pretende tratar das
relações sociais dentro das empresas já implica a seleção de um tema de uma área, mas não
ainda um problema de pesquisa.
Da mesma forma, por mais informativo que seja o título de um trabalho (e ele deveria) sê-lo),
raramente ele se constitui em uma boa formulação de problema de pesquisa (até porque títulos
não deveriam ser longos). “Estado, Sociedade e Marginalidade” pode ser um ótimo título para
um trabalho, mas certamente não constitui uma boa formulação para um problema. Em
qualquer das situações acima, o pesquisador estará apenas em uma fase preliminar do processo
de pesquisar, que pode ser uma etapa inevitável do pesquisar, especialmente se o pesquisador
estiver entrando em uma área nova para ele (aliás, condição comum entre os pesquisadores
iniciantes). O risco dela está no fato de uma formulação tão inicial ser tomada como o problema
de pesquisa, gerando o desencadeamento das demais decisões (escolha de procedimentos, das
características dos participantes da pesquisa, etc.). Já foi dito aqui que quanto mais claramente
um problema estiver formulado, mais fácil e adequado será o processo de tomada das decisões
posteriores, mas deve ficar claro que essa clareza não significa que o pesquisador não
decida/prefira/precise reformular o problema posteriormente. O processo de pesquisa é
essencialmente dinâmico. (LUNA, 2011, p. 29-31).

Inobstante, vários cuidados precisam ser tomados ao se formular o problema-objeto da pesquisa.


No estágio atual da ciência, visto que muito já foi pesquisado e publicado sobre muitos temas, é
bastante comum ao se investigar um determinado objeto descobrirmos que sobre ele “quase tudo”, ou
“praticamente tudo”, já foi pesquisado (ECO, 2012; VERGARA, 2012; TEIXEIRA, 2012; GIFTED,
2015; BÊRNI; FERNANDEZ, 2012). Nesses casos, conhecer o que já foi estudado sobre um assunto,
aconselhável é que a sua delimitação seja a mais focada quanto possível (SAMPIERI; COLLADO;
LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978; GIL,
1999, 2010; SEVERINO, 2007; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; ECO, 2012). Sobre esses
aspectos, Moura e Ferreira (2005, p. 24) assinalam:

Para se preparar um pesquisador precisa acompanhar o desenvolvimento do conhecimento. […]


Para tanto, […], deve-se estar habituado a ler periódicos científicos, da mesma forma que se
lêem diariamente os jornais. O autor aponta que a edição de 1952 do World List of Scientific
Periodicals listava mais de 50 mil periódicos. Por seus cálculos, isso envolvia o equivalente a
mais de 2 milhões de artigos por ano, ou 40 mil por semana! Embora esses cálculos incluam
todas as áreas do conhecimento, pode-se imaginar que, quarenta anos depois, mesmo
considerando apenas a psicologia, só é possível acompanhar uma pequena fração do que se
publica nas línguas em que se sabe ler. Adair e Vohra (2003) confirmam essa suposição
apresentando números impressionantes. Segundo os autores, o número de resumos publicados
por algumas entidades de psicologia, como a American Psychological Association (APA),
aumentou de 555 mil em 1957 para 3,7 milhões em 1997. Os autores ainda citam Thorngate
(1990), que estimou há quase quinze anos que “os psicólogos estavam publicando artigos num
ritmo de cem por dia, mais ou menos um a cada quinze minutos”.

Quanto mais focado, específico, afunilado, for o problema-objeto de pesquisa, maior a


facilidade de se descobrir as suas variáveis, as suas soluções hipotéticas, de se estabelecer os seus
objetivos e de, portanto, investigá-lo. Por exemplo, ao se realizar um levantamento bibliográfico e
documental sobre a gestão universitária, naturalmente o pesquisador vai encontrar vários levantamentos
já realizados sobre esse tema, talvez alguns explanando sobre a gestão universitária norte-americana na
década de 1980, ou sobre a gestão universitária brasileira pós-Carga Magna, de 5 de outubro de 1988,
que dispõe sobre a Constituição da República Federativa Brasileira (BRASIL, 1988), ou pós Lei 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e as bases da Educação Nacional (BRASIL,
1996).
Daí, muito melhor do que pesquisar genericamente sobre a gestão universitária, é recortar esse
tema, especificando um espaço geográfico, por exemplo, o estado de São Paulo, e um lapso temporal,
por exemplo a última década. Para tornar o tema mais específico ainda, pode-se selecionar somente a
gestão universitária pública, ou somente a particular, ou escolher exatamente a(s) instituição(ões) de
ensino superior em que se pretende investigar a sua gestão. Enquanto mais complexo for ou parecer um
problema-objeto de pesquisa, mais partes ele deve ser subdividido para alcançar a profundidade
necessária para a sua solução. Relembrando que, enquanto mais focado for o problema-objeto, mais
fácil é para investigá-lo e maior é a qualidade dos seus resultados. Portanto, é o nível de especificidade
de um problema-objeto o fator determinante do grau de simplicidade ou complexidade de sua
investigação bem com do nível de qualidade dos seus resultados finais (KÖCHE, 1997, 2011; GIL,
1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007; ECO,
2012; VERGARA, 2012; TEIXEIRA, 2012; VASCONCELLOS, 2010; BÊRNI; FERNANDEZ, 2012).
3 A FORMULAÇÃO DAS HIPÓTESES E DOS OBJETIVOS DA
PESQUISA

A formulação das hipóteses e dos objetivos da pesquisa e realizadas, em geral, na prática


investigativa científica, previamente à formulação do seu problema-objeto de pesquisa (LUNA, 2011),
mas pode-se realizá-las concomitantemente, a critério do pesquisador, de acordo com o seu
conhecimento sobre o tema e a sua experiência em fazer levantamentos bibliográficos e documentais.
Essas duas etapas preliminares são completamente teóricas, ou seja, abstratas, resultado de um trabalho
mental que tem por finalidade a estruturação das peças soltas do quebra-cabeças. Então, são nessas
etapas que se levantam todas – ou pelo menos as principais – variáveis do objeto de pesquisa, todas –
ou pelo menos as principais – as soluções hipotéticas correlacionam-se as variáveis e hipóteses entre si
e com o todo buscando montar um quadro teórico completo capaz de nortear toda a investigação e, com
base nesses passos, definem-se os objetivos da pesquisa (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012). Sobre
esses aspectos, Köche (2011, p. 108) assinala:

A delimitação do problema define, então, os limites da dúvida, explicitando quais variáveis


estão envolvidas na investigação e como elas se relacionam. O problema delimitado é uma
pergunta inteligente que contém as possíveis relações de uma possível resposta. O planejamento
da sequência da pesquisa é feito para testar se as relações propostas são ou não pertinentes,
tornando-se, pois, impossível planejar observações ou testes sem que o problema e suas
variáveis estejam delimitados. O problema é, portanto, um enunciado interrogativo que
questiona sobre a possível relação que possa haver entre (no mínimo) duas variáveis,
pertinentes ao objeto de estudo investigado e passível de testagem ou observação empírica. [...]
Ao iniciar uma pesquisa, juntamente com a delimitação do problema, o investigador propõe a
possível explicação que norteará todo o processo de investigação, sugerindo a possível relação
existente entre os aspectos dos fenômenos que está estudando. As hipóteses, enquanto
enunciados conjeturais, são os instrumentos de trabalho do pesquisador.

Toda investigação parte – ou pelo menos deve partir – de um conjunto de hipóteses, isto é, de
suposições de solução para o problema-objeto proposto. Somente a partir desse passo é possível a
determinação do seu nível de relevância científica e social bem como dos caminhos adequados para
coletar e tratar os dados necessários para a sua solução. Dissemelhantemente do que acreditavam, na
fase primitiva da ciência, os indutivistas e os empiricistas, “que as explicações científicas provinham da
pura observação dos fatos ou dos fenômenos”, toda e qualquer investigação precisa de ideias
preconcebidas – as quais, decerto, provêm de nossos parâmetros e referenciais teóricos, os quais, por
sua vez, são construídos histórica, cultural e subjetivamente – para ser desencadeada (KÖCHE, 1997,
2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES,
2007; ECO, 2012; VERGARA, 2012; TEIXEIRA, 2012; VASCONCELLOS, 2010). Corroborando
essas ideias, Luna (2011, p. 34 a 36) explicita alguns aspectos dessa etapa com os seguintes dizeres:

No sentido mais leigo do termo, hipótese significa uma suposição, uma conjectura e, quando
aplicada à pesquisa, implica conjectura quanto aos possíveis resultados a serem obtidos. Desse
ponto de vista, hipóteses são quase inevitáveis, sobretudo para quem é estudioso da área que
pesquisa e, com base em análises do conhecimento disponível, acaba “apostando” naquilo que
pode surgir como produto final do estudo.
Mas hipótese sempre teve um significado e uma função bem mais precisos, especialmente no
que se refere à pesquisa quantitativa conduzida segundo delineamentos estatísticos. De fato, a
estatística inferencial responde a perguntas específicas sobre relações entre conjuntos de dados.
Durante muitos anos, a primazia quase absoluta da pesquisa quantitativa tornou impensável que
se dispensasse o uso de testes estatísticos para encaminhar os resultados da pesquisa. Nesse
contexto, hipóteses eram derivadas do problema formulado e faziam parte indispensável do
projeto e do relatório de pesquisa.
Particularmente nas ciências humanas, quando começaram a ser introduzidos novos modelos de
pesquisa, a estatística inferencial teve seu uso drasticamente reduzido e, em decorrência,
evidenciou-se a existência de uma confusão estabelecida entre problema e hipótese. Por um
lado, falar em problema de pesquisa parece evocar, para muitas pessoas, ecos estatísticos; ou
seja, problema de pesquisa confunde-se com hipótese estatística. Como um outro lado dessa
mesma moeda, parece persistir a ideia de que, se não se pretender empregar estatística
inferencial, é desnecessária a preocupação com a precisão da formulação do problema de
pesquisa.
Hipótese, nesse sentido, não pode e nem deve confundir-se com problema de pesquisa. Em
primeiro lugar, porque a formulação de hipóteses de pesquisa deriva necessariamente do
problema. Em segundo, porque, ao contrário do que ocorre com as demais formulações de
problema tomadas como exemplo, a hipótese representa uma formalização do problema e,
como tal, é muito mais específica do que este. De fato, uma hipótese bem estruturada depende
de um problema claro e sem ambiguidades.

Ressalta-se que Luna (2011) afirma que a formulação das hipóteses e dos objetivos da pesquisa
depende da prévia formulação do problema-objeto da pesquisa porque esse é o seu hábito
procedimental a realizar levantamentos bibliográficos e documentais. Contudo, não há passos tão
rígidos assim para metodologias, visto que a ordem de tais passos não prejudica o processo de
investigação científica. Por essa razão, o pesquisador tem a liberdade de escolher fazer uma etapa,
primeiro, e, depois, a outra, ou simultaneamente as duas, de acordo com o nível do seu conhecimento
sobre o tema e o nível de sua experiência em fazer levantamentos bibliográficos e documentais
(KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011;
RODRIGUES, 2007; ECO, 2012; GIFTED, 2015; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006;
ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978).
Nesse diapasão, importante destacar que as hipóteses possuem características fundamentais,
sem as quais não é possível a confrontação empírica necessária para que as informações produzidas por
meio da investigação científica satisfaçam não somente a verdade sintática26, mas também a verdade
semântica27 e a verdade pragmática28 e, então, possam ser consideradas científicas. Inobstante, as
variáveis são tipificadas para esse mesmo fim (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI;
LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012; VERGARA, 2012;
TEIXEIRA, 2012; VASCONCELLOS, 2010). Köche (2011, p. 109, 113-114) as apresenta
integralmente do seguinte modo:

A primeira é a de ser um enunciado de redação clara, sem ambiguidades e em forma de


sentença declarativa.
A segunda é a de estabelecer relações entre duas ou mais variáveis. Na hipótese a habilidade
de distinguir as categorias gramaticais aumenta com a idade cronológica e com o nível
educacional; as duas primeiras variáveis, idade cronológica e nível educacional, se relacionam
com a terceira, habilidade de distinguir as categorias gramaticais. Aumentando uma, ou as duas
primeiras, aumenta a outra e vice-versa.
Na redação da hipótese aparecem termos de relação que unem as variáveis. Há várias formas de
enunciar essa relação. Dependendo da hipótese e do tipo de relações, podem ser usadas as
expressões: é diretamente proporcional, está inversamente relacionado, produz, se … então …,
resulta, há relação significativa entre e outras.
A terceira característica é que a hipótese deverá ser testável, isto é, passível de ser traduzida em
consequências empíricas que possam ser submetidas a testes, contrastáveis com a realidade. Da
hipótese anterior podemos extrair como consequência lógica que um aluno de 17 anos de idade
e que esteja cursando a terceira série do segundo grau distinga com melhor propriedade o
substantivo do adjetivo, do pronome, do advérbio, do verbo, do que um aluno de 12 anos de
idade e que esteja cursando a segunda série do primeiro grau. Essas consequências podem ser
testadas na prática dando-se uma frase a alunos de diferentes idades e níveis de instrução,
solicitando-lhes que distingam essas categorias gramaticais. O desempenho desses alunos pode
ser medido e colocado em diferentes faixas. A análise dessas diferenças permitirá a avaliação da
hipótese. […]
Variável independente: é aquela que é fator determinante para que ocorra um determinado
resultado. É a condição ou a causa para um determinado efeito ou consequência. É o estímulo
que condiciona uma resposta. A variável independente, em uma pesquisa experimental, é aquela
que é manipulada pelo investigador, para ver que influência exerce sobre um possível resultado.
Variável dependente: é aquele fator ou propriedade que é efeito, resultado, consequência ou
resposta de algo que foi estimulado. A variável dependente não é manipulada, mas é o efeito
observado como resultado da manipulação da variável independente. […]
Variável moderadora: é aquele fator ou propriedade que também é causa, condição, estímulo ou
determinante para que ocorra determinado efeito. Porém, situa-se a um nível secundário, de
menor importância que a variável independente. Seria, praticamente, uma variável independente
secundária. O valor da variável moderadora se evidencia em pesquisas cujos problemas são
complexos, com interferência de vários fatores inter-relacionados. Nesses casos, ela serve para
analisar até que ponto esses fatores têm importância na relação entre a variável independente e a
dependente. […]

26
A verdade sintática refere-se a enunciados lógicos, coerentes.
27
A verdade semântica refere-se à consistência na literatura crítica e nos fatos.
28
A verdade pragmática refere-se ao exame pareado, isto é, avaliação e aprovação por uma banca examinadora composta
por pesquisadores profissionais do e no tema.
Variável de controle: é aquele fator ou propriedade que poderia afetar a variável dependente,
mas que é neutralizado ou anulado, através de sua manipulação deliberada, para não interferir
na relação entre a variável independente e a dependente.
Geralmente, na investigação de uma situação complexa, um efeito observado não é resultado de
somente uma causa. Não é possível, porém, em um só experimento, analisá-las todas ao mesmo
tempo. Alguns fatores, então, são neutralizados para que não tenham efeito sobre o fenômeno
estudado. Assim, no exemplo anterior, idade e inteligência, são variáveis de controle. Se não
fossem neutralizadas, não se poderia analisar e avaliar a relação entre o número de treinos
práticos e o desempenho de habilidades. […]
Variável interveniente: é aquele fator ou propriedade que teoricamente afeta o fenômeno
observado. Esse fator, no entanto, ao contrário das outras variáveis, não pode ser manipulado ou
medido. É um fator hipotético, teórico, não concreto. Ele é inferido a partir da variável
independente ou da moderadora. Geralmente essa variável não é muito considerada pelos
pesquisadores.

Apesar de ser possível fugir da testabilidade das hipóteses de uma investigação, numa tentativa
de facilitar o seu andamento, na verdade, o que ocorre é o contrário, ou seja, o foco investigativo sai do
campo científico e passa a rumar para o campo do senso comum, quando o pesquisador abstém-se de
formular qualquer suposição, ou mesmo para o campo metafísico, quando as suas hipóteses são muito
vagas, fruto de suas credulidades pessoais (BARROS; LEHFELD, 2000, 2007; KÖCHE, 1997, 2011;
GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007;
ECO, 2012).

4 A EXPLICITAÇÃO DAS FONTES DE INFORMAÇÃO

Basicamente, as fontes de informação podem ser primárias (diretas) ou secundárias (indiretas).


Pode-se dizer que, em um primeiro momento, ou a priori, os dados coletados nos levantamentos
documentais são primários, ou seja, os fatos são observados originalmente pelo pesquisador, são
coletados os dados originais do autor; as informações são sempre factuais, ou seja, que dependem de
pouca ou de nenhuma interpretação (LUNA, 2011; KÖCHE, 1997, 2011; ECO, 2012; GIL, 1999,
2010). Já em um segundo momento, ou a posteriori, os dados coletados nos levantamentos
bibliográficos e documentais são secundários, ou seja, trata-se de traduções ou de interpretações sobre
os originais, tais como as resenhas científicas ou as bibliografias da literatura; ou ainda são as notas
explicativas de demonstrativos administrativos ou contábeis; as informações são sempre opinativas, ou
seja, que se referem a opiniões, interpretações, suposições, crenças, valores etc. (LUNA, 2011;
KÖCHE, 1997, 2011; ECO, 2012; GIL, 1999, 2010).
As bibliografias, instrumentos de pesquisa próprios dos levantamentos bibliográficos, são
compostas por informações interpretativas das palavras de um autor sobre um tema e, portanto,
secundárias. Elas acompanham principalmente as pesquisas observacionais não participantes, mas se
fazem úteis e necessárias com lentes teóricas de todas as espécies de pesquisa para o levantamento do
seu referencial teórico. Consistem basicamente nos livros e nos trabalhos acadêmicos em geral, tais
como TCCs, monografias, dissertações, teses, trabalhos científicos, resenhas científicas, projetos de
pesquisa etc. Com base nesses pressupostos, deduz-se que as bibliografias são instrumentos
imprescindíveis para os levantamentos bibliográficos, necessárias para todas as espécies de pesquisa
(GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; KÖCHE, 1997, 2011; LUNA, 2011;
SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005;
CASTRO, 1978). Sobre esses e outros aspectos das bibliografias e dos levantamentos nelas baseados,
Moura e Ferreira (2005, p. 25 e 26) pontuam:

Na etapa de consulta à literatura, são úteis as dissertações e teses, que muitas vezes fazem boas
revisões, assim como os artigos que têm como objetivo a revisão dos estudos sobre um tema ou
problema. Um periódico em que esses artigos são publicados é o Annual Review of Psychology.
A revista American Psychologist também apresenta artigos que analisam criticamente temas
relevantes e por vezes polêmicos na psicologia contemporânea. Uma de suas seções se dedica
especificamente à análise dessa natureza: a “Science Watch”.
Além da busca por temas, é útil consultar nas bibliotecas as listas de periódicos e localizar os
que tratam do assunto ou os que foram indicados por pesquisadores consultados. O próximo
passo é a consulta a seus últimos números, ou aos números de um certo período, conforme o
tipo de trabalho que se tem em mente realizar (por exemplo, os últimos cinco ou dez anos).
Finalmente, o exame do conteúdo desses periódicos pode levar à seleção de trabalhos sobre o
tema.
Depois de localizados livros e artigos, é interessante proceder a uma seleção do que se vai
retirar por empréstimo, ou do que se vai reproduzir em xerox, lembrando sempre as leis de
direitos autorais e os limites para esse tipo de cópia. Muitas vezes já é adequado organizar o
material tal como apresentado na revista, enriquecendo de comentários pessoais. Uma sugestão
é criar um banco de dados no programa Acess ou similar. O trabalho e o tempo despendidos na
criação de um sistema próprio de organização de material consultado serão compensados com
menos dificuldade no momento de redação do projeto.
Paralelamente à pesquisa manual nas bibliotecas por meio da consulta de seus catálogos, pode
ser realizada uma busca eletrônica em bases computadorizadas de dados. Algumas bibliotecas
dispõem de assinaturas desses sistemas que armazenam enorme quantidade de informações e
que permitem ao usuário ter acesso a arquivos de dados, fazendo buscas por assunto, uma ou
mais palavras-chave, autores ou publicações. Tais buscas podem ser limitadas por períodos,
faixas etárias dos sujeitos, língua em que o trabalho foi publicado etc. Antes, esses bancos
estavam disponíveis em CD-ROM, em bibliotecas que tinham sua assinatura; hoje a consulta
pode ser feita pela internet, em bibliotecas ou instituições. […]

Os documentos, instrumentos de pesquisa próprios dos levantamentos documentais, são


comumente compostos, a priori, por informações originais do autor – e é exatamente o tipo delas que
diferem os levantamentos documentais dos bibliográficos, e, portanto, primárias, tais como as
encontradas em um prontuário médico, na legislação, nos demonstrativos financeiros e contábeis de
uma empresa ou de uma instituição etc. Entretanto, os documentos podem conter informações
interpretativas dos originais, tais como nas notas explicativas e comentários realizados, por terceiros
nos mesmos documentos citados, ou a eles anexados (LUNA, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI;
LAKATOS, 2003, 2007, 2008; KÖCHE, 1997, 2011). Sobre esses aspectos dos documentos, Luna
(2011, p. 56) empresta-nos as suas ideias tal como segue:

O documento, como fonte de informação, assume diferentes formas: literatura pertinente a um


assunto, anuários estatísticos e censos, prontuários médicos, legislação, etc. São todos exemplos
de fontes documentais. Como ocorre em relação às demais fontes, as informações obtidas em
documentos podem ser diretas e indiretas. No caso particular de documentos, essa distinção
costuma assumir a denominação de fontes primárias (diretas) e secundárias (indiretas). As obras
originais de um autor são consideradas como primárias, enquanto as traduções e comentários
sobre esse autor já são consideradas fontes secundárias.
De um modo geral, quanto mais “oficial” for um documento, mais primária será a fonte.

O levantamento documental visa a coleta de dados, a priori, primários, ou seja, aqueles que
ainda não foram submetidos a algum tipo de manipulação, enquanto o levantamento bibliográfico visa
a coleta de dados secundários sobre um tema, quando não existem dados primários sobre ele ou quando
a sua coleta é comprovadamente inviável. Entretanto, vale destacar que nos documentos, ou em anexo,
podem haver dados secundários; por essa razão, correto afirmar que os documentos são fontes de dados
primários ou secundários. Sobre esse instrumento de pesquisa, Gil (1999, p. 160) salienta:

As fontes de “papel” muitas vezes são capazes de proporcionar ao pesquisador dados


suficientemente ricos para evitar a perda de tempo com levantamentos de campo, sem contar
que em muitos casos só se torna possível a investigação social a partir de documentos.

Os documentos são tipificados por Gil (1999, p. 160-165. Grifos meus) em documentos
pessoais, registros institucionais, registros estatísticos e da comunicação de massa em geral, isto é, TV,
rádio, jornais, revistas, internet etc., tal como se segue:

1) Registros estatísticos
[...] Entidades governamentais como a Fundação IBGE dispõem de dados referentes a
características socioeconômicas da população brasileira, tais como: idade, sexo, tamanho da
família, nível de escolaridade, ocupação, nível de renda etc. Os órgãos de saúde fornecem dados
a respeito de incidência de doenças, causas de morte etc. Uma entidade como o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos dispõe de dados sobre desemprego,
salários, greves, negociações trabalhistas etc. Organizações voluntárias têm dados referentes a
seus membros e também às populações que atendem. Institutos de pesquisa vinculados aos mais
diversos campos do conhecimento. Além disso, número cada vez maior de entidades vem-se
preocupando em manter bancos de dados. Isto se verifica em hospitais, escolas, agências de
serviço social, entidades de classe, repartições públicas etc.
[...]
2) Registros institucionais escritos
Além dos registros estatísticos, também podem ser úteis para a pesquisa social os registros
escritos fornecidos por instituições governamentais. Dentre esses dados estão: projetos de lei,
relatórios de órgãos governamentais, atas de reuniões de casas legislativas, sentenças judiciais,
documentos registrados em cartórios etc. [...]
3) Documentos pessoais
Há uma série de escritos ditados por iniciativa de seu autor que possibilitam informações
relevantes acerca de sua experiência pessoal. Cartas, diários, memórias e autobiografias são
alguns desses documentos que podem ser de grande valia na pesquisa social.
[...]
4) Comunicação de massa
Os documentos de comunicação de massa, tais como jornais, revistas, fitas de cinema,
programas de rádio e televisão, constituem importante fonte de dados para a pesquisa social.
Possibilitam ao pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual e também
lidar com o passado histórico. Neste último caso, com eficiência provavelmente maior que a
obtida com a utilização de qualquer outra fonte de dados. [...]

Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o levantamento bibliográfico, enquanto
um tipo de observação indireta, consiste na coleta e no tratamento sistematizado de dados secundários,
e que o levantamento documental, enquanto um tipo de observação que tanto pode ser direta (dados
primários) quanto indireta (dados secundários), consiste na coleta e no tratamento sistematizado de
dados híbridos, isto é, tanto primários quanto secundários (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012).
Que tipo de fontes de informação escolher? Essa é a questão fundamental dessa etapa de
pesquisa e precisa ser respondida levando-se em consideração a natureza do problema-objeto da
pesquisa, da habilidade do pesquisador e dos recursos disponíveis para a execução da investigação, o
que inclui o tempo nela gasto. Factualmente, Luna (2011, p. 57, 58 e 109) ajuda-nos a compreender
esses aspectos com os seguintes dizeres:

Certos problemas de pesquisa – quer pela sua própria natureza, quer pela habilidade do
pesquisador na delimitação do problema de pesquisa – não deixam muita margem de escolha
quanto às fontes a serem consultadas. Se minha pesquisa propõe-se a comparar o nível de
aprovação no vestibular dos alunos oriundos de escolas particulares e de escolas públicas, não
há muita escolha: preciso consultar documentos nas secretarias das universidades e registrar as
informações na forma cruzada. Se uma pesquisa pretende avaliar as interações entre a
professora e seus alunos, a fonte mais direta possível é a observação em sala de aula.
Finalmente, se a intenção for a de avaliar as sugestões e críticas do usuário de um serviço
qualquer (digamos, um posto de saúde ou uma biblioteca), o melhor recurso é o relato verbal
(oral ou escrito). […]
É verdade que nosso acesso à bibliografia internacional está aquém do desejável. Da mesma
forma, determinados documentos podem ser acessíveis apenas in loco, o que pode dificultar sua
leitura. Em condições como estas, um autor pode ser autorizado a recorrer a fontes secundárias.
Mas apenas em condições como estas!

Portanto, a escolha de se operacionalizar um levantamento bibliográfico ou documental depende


do tipo de dados ou informações necessárias para responder adequadamente à questão de pesquisa,
descobrir as suas variáveis, testar as suas hipóteses, cumprir os objetivos preestabelecidos. Se somente
dados primários atenderem a esses quesitos, então se precisa realizar um levantamento documental; se
não for possível a coleta de dados primários, ou se dados secundários forem capazes de atender aos tais
quesitos, então se precisa realizar um levantamento bibliográfico (LUNA, 2011; BARROS; LEHFELD,
2000, 2007; KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008;
RODRIGUES, 2007; ECO, 2012; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA,
2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978 ).

5 A COLETA DOS DADOS DA PESQUISA

A coleta dos dados da pesquisa principia com a definição inicial de palavras-chave, também
denominadas descritores, que são os termos pelos quais se consegue acesso às fontes de pesquisa
explicitadas, bem como de suas respectivas localizações, por exemplo em bancos de dados, em
bibliotecas físicas ou virtuais (LUNA, 2011; BARROS; LEHFELD, 2000, 2007; KÖCHE, 1997, 2011;
GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012). Sobre
todos esses aspectos, Luna (2011, p. 100 e 101) salienta:

Um dos subprodutos da atividade constante de um pesquisador em uma mesma área é a


familiaridade que adquire com instituições, pesquisadores e periódicos associados à área. Ou
seja, ele passa a discriminar material potencialmente relevante pelo nome do autor, da sua
instituição e/ou periódico no qual o trabalho foi publicado. Até que você chegue lá, o seu
melhor ponto de partida ainda é a consulta direta aos trabalhos, fichários de bibliotecas,
sumários de publicações e bancos de teses e dissertações. Contudo, há duas coisas que você
pode fazer para facilitar essa tarefa.
Levantamento inicial de palavras-chave.
Com esse levantamento, você poderá proceder à consulta às fontes com algum critério de
seleção. (É verdade que esse procedimento pressupõe que os autores intitulem seus trabalhos da
maneira mais descritiva possível, o que nem sempre é verdade!)
Proceder à consulta na seguinte ordem: Título – Resumo – Leitura do Texto.
Se o título, de alguma forma, sugerir interesse para o seu trabalho, vale à pena ler o resumo.
Com essa leitura, será possível decidir se compensa ou não a leitura do texto.

Por exemplo, na etapa da coleta de dados para este trabalho, em selecionei as seguintes
palavras-chave: levantamento bibliográfico, levantamento documental, metodologia científica. As
localizações nas quais eu utilizei as palavras-chave na busca das minhas fontes de pesquisa foram o
Banco de Dados da CAPES, bibliotecas físicas da Universidade Mackenzie, da Universidade Federal
de São Carlos, da Universidade Bráz Cubas, da Universidade Federal de São Paulo, do Parque da
Juventude, do Parque Villa-Lobos, da Universidade Federal do ABC, da Mário de Andrade, da
Universidade de São Paulo, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, do Arsenal da
Esperança, da Rede Municipal de Bibliotecas do Município de São Paulo, do Município de São
Lourenço, e a Biblioteca Virtual 3.0 da Pearson, com a qual tem convênio a Universidade
Metropolitana de Santos (GIFTED, 2015).
Daí eu encontrei, em cada localização em que eu pesquisei, uma lista com todas as fontes de
pesquisa indexadas pelos descritores que eu utilizei, fiz um recorte delas, selecionando para o
tratamento dos dados apenas publicações cujo resumo fosse claro e objetivo o suficiente para facilitar a
compreensão e o uso dos levantamentos bibliográficos e documentais. Dentre essas fontes, algumas da
década de 1970, outras da de 1990, algumas da década de 2000, e outras mais recentes, publicadas nos
últimos cinco anos, por meio das quais eu busquei alcançar o estado da arte desse tema (GIFTED,
2015).
Em seguida, eu procedi à consulta de todas as fontes de pesquisa acessadas, analisando o seu
título, o seu resumo, os seus descritores, o seu sumário, as suas referências, e, então, lendo do texto os
trechos mais importantes que eu seleciono do seu sumário, ou, algumas obras, lendo-as integralmente
(GIFTED, 2015; LUNA, 2011; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA,
2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978; VASCONCELLOS, 2010; ECO, 2012). Quando
me vem às mãos um livro científico, cujo tema me desperta o interesse, eu sigo um itinerário
procedimental de leitura científica: primeiro eu observo o sumário, com atenção, avaliando como o
autor estruturou a sua obra e em que aspectos do tema focou, de tal modo que já de início eu consigo
perceber o seu domínio com a metodologia da pesquisa científica, em que aspectos tem facilidade ou
dificuldade; em seguida, eu costumo passar diretamente à seção das referências, onde eu avalio o nível
da consistência do seu trabalho e, portanto, se ele merece ser aproveitado ou não; em caso positivo, ou
seja, se o livro científico, além de atualizado, é também consistente, eu costumo percorrer os tópicos
em que eu mais me interesso, avaliando as gravuras (desenhos), as tabelas (quadros), os títulos e os
subtítulos, e alguns trechos textuais nucleares29, avaliando o nível de coerência e de coesão textual, e
se, de fato, o livro for coerente, então eu o considero digno das minhas investigações científicas
(NICOLA; TERRA, 2007; VASCONCELLOS, 2010; LUNA, 2011; GIFTED, 2015).
Vale destacar aqui o protocolo observacional, instrumento próprio das pesquisas
observacionais. Trata-se de um meio para se registrar as informações produzidas durante a observação.
Pode ser um caderno, um bloco de anotações, ou mesmo uma página para rascunho. O objetivo é
planificar tudo o que foi observado sobre o objeto de pesquisa, suas características, suas variações, as
29
Por trechos textuais nucleares, quero dizer o encadeamento das frases e parágrafos que sucedem o nível mais profundo
da estrutura do trabalho. Por exemplo, se esse nível mais profundo é o subsubtítulo, leio os parágrafos que imediatamente o
sucedem.
possíveis causas e os possíveis efeitos das variações, o que foi feito durante a observação, o que não foi
feito durante ela e o (s) seu (s) respectivo (s) porquê (s). Comumente, o registro das informações no
protocolo observacional é separado em notas descritivas (aquilo que se observa de fato) e notas
reflexivas (as interpretações ou reflexões daquilo que se observa). Sobre esses aspectos, Creswell
(2010, p. 2015) ratifica:

[...] Os pesquisadores com frequência se engajam em observações múltiplas no decorrer de um


estudo qualitativo e usam um protocolo observacional para registrar as informações. Ele pode
ser de uma única página, com uma linha dividindo-a ao meio no sentido longitudinal para
separar as notas descritivas (retratos dos participantes, reconstrução de diálogo, descrição do
local físico, relatos de determinados eventos ou atividades) das notas reflexivas (os
pensamentos pessoais do observador, tais como “especulação, sentimentos, problemas, ideias,
palpites, impressões e preconceitos” [...]). Também podem ser escritas dessa forma as
informações demográficas sobre o tempo, o local e a data do local de campo onde ocorreu a
observação. [...]

Deduz-se dessa experiência que o protocolo observacional é instrumento fundamental nas


pesquisas observacionais, em especial, dos levantamentos bibliográficos e documentais, e que, para não
dificultar ou mesmo impedir a sua adequada execução, ele só pode ser inutilizado quando substituído
por outro instrumento equivalente, tal como o diário de campo (GIFTED, 2015; LUNA, 2011;
KÖCHE, 1997, 2011; ECO, 2012; CRESWELL, 2010; ECO, 2012; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO,
2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978).

6 O TRATAMENTO DOS DADOS DA PESQUISA

Os dados da pesquisa, após coletados, precisam ser tratados. O tratamento dos dados da
pesquisa inclui: o seu registro, que pode ser operacionalizado por meio da planificação manual ou
eletrônica; a sua sistematização, que precisa explanar exploratória e descritivamente a sequência
lógica da investigação científica (o seu ponto de partida, cada um dos passos intermediários, e o seu
desfecho, considerando as suas suposições, hipóteses, indagações, suspeitas, curiosidades, ou
conjecturas); pode ser a busca simples de strings, a busca avançada de strings, e ou os fatores de
inclusão/exclusão; a sua organização, que pode ser operacionalizada, por exemplos, por meio da
categorização, da codificação ou da tabulação; a sua análise ou interpretação, que pode ser realizada,
por exemplo, por meio da Análise Bibliométrica, Análise de Discurso, Análise de Conteúdo ou
Exegese/Hermenêutica; a sua formalização, que comumente é cimentada como TCC, dissertação,
tese, trabalho, resenha, periódico, revista, software, patente, obra de arte; a sua apresentação, que
pode ser realizada, por exemplo, por meio de uma exposição oral, ou uma exposição visual, ou uma
exposição mista (GIFTED, 2015; SEVERINO, 2007; GIL, 1999, 2010; LUNA, 2011; BARROS;
LEHFELD, 2000, 2007; KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007,
2008; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012).
O registro dos dados da pesquisa pode ser realizado por meio de compilação manual, em que o
pesquisador anota a tinta ou a grafite, por exemplo, num papel, ou eletrônica, em que o pesquisador
digita todos as anotações em um arquivo de texto, como o do Microsoft Word (aplicativo do pacote
padrão Office do sistema operacional Windows) ou o do Open Writter (aplicado do pacote padrão Open
Office do sistema operacional Linux). Para otimizar a gerência do tempo despendido nessa etapa,
recomenda-se levar para frente do computador e da escrivaninha (ou outro ambiente adequado para a
digitalização) todo o conteúdo que se vai utilizar no trabalho acadêmico, o que inclui as bibliografias,
os documentos e as anotações. Trata-se, pois, de uma etapa bastante trabalhosa para se fazer e demanda
tempo numa dose inversamente proporcional às habilidades do pesquisador em utilizar tais
metodologias, isto é, quanto mais habilidoso ele for menor o tempo que ele precisa despender para
realizar pesquisas científicas por meio dessas metodologias, mas não é difícil porque basta saber digitar
bem, digitalizar, imprimir, ler bem e escrever bem (GIFTED, 2015).
A sistematização dos dados da pesquisa trata-se da explanação descritiva da sequência lógica
da pesquisa, ou seja, o seu ponto de partida, cada um dos seus passos intermediários e o seu desfecho.
Por exemplo, este trabalho (apêndice) foi sistematizado do seguinte modo: partiu-se do problema da
dificuldade dos pesquisadores iniciantes em se operacionalizar levantamentos bibliográficos e
documentais, bem como da hipótese de que a eliminação da imensa imprecisão terminológica,
conceitual, taxonômica e conteudal sobre esse tema encontrada na vasta literatura crítica sobre
metodologia da pesquisa científica é capaz de solucionar o problema, facilitando tanto a compreensão
quanto o uso de tais técnicas científicas fundamentais; daí, partiu-se para a definição de seu objetivo
principal que é o de esclarecer os procedimentos técnicos necessários para a adequada
operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais, facilitando o trabalho do
pesquisador; depois, passou-se para a escolha do enfoque para cada um dos três pilares fundamentais
da metodologia da pesquisa científica, adotando-se o neoperspectivista como o seu eixo epistemológico
de investigação, o hipotético-dedutivo como o seu eixo lógico de investigação, e a base procedimental
observacional não participante, dos tipos bibliográfico e documental, como o seu eixo técnico de
investigação; depois, ainda, foi escolhida a abordagem qualitativa, o protocolo observacional como o
seu instrumento de pesquisa, e foi desenhado o fluxo logístico cronológico investigativo, isto é, uma
tabela na qual contavam as atividades diárias necessárias para se concretizar esse trabalho dentro do
espaço de tempo de 15 dias, que eu escolhi; na tabela, por exemplo, na segunda-feira, após tomar o café
da manhã, eu deslocava-me até a biblioteca do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da
USP, em São Carlos, SP, acessava o livro de Popper, lia-o completamente, depois ia à Biblioteca
Comunitária (BCo), da UFSCar, acessava os livros de Marconi e Lakatos (2003; 2007; 2008), Gil
(1999; 2010), Castro (1978), Moura e Ferreira (2005), Sampieri et al. (2010), lia deles os trechos mais
pertinentes para a elaboração deste trabalho, fazia minhas anotações sobre eles em folhas de caderno
avulsas, citando as referências já dentro das normas da ABNT (ou outra, quando necessário, tais como
as da Associação Psiquiátrica Americana, ou as da Vancouver), para facilitar o registro dos dados
quando da sua planificação. Escolhi a busca simples de strings como técnica de sistematização
(GIFTED, 2015).
A organização dos dados da pesquisa objetiva facilitar a compreensão do seu conteúdo,
principalmente por parte dos seus leitores. Desse modo, termos pouco utilizados precisam ser
explicados no corpo do texto ou em alguma nota de rodapé, recomenda-se resumir as conclusões de
cada capítulo ou tópico (caso não desatenda as normas da instituição onde se pretende apresentá-las)
em tabelas, quadros, figuras, gravuras, ou notas de recapitulação. As técnicas científicas mais utilizadas
para tal fim são a tabulação (construção de tabelas, quadros ou equivalentes), a codificação (construção
de listas explicativas de siglas e de símbolos, ou equivalentes) e a categorização (divisão dos aspectos
sobre o tema em tópicos e subtópicos, capítulos e subcapítulos, às vezes subsubtópico ou
subsubcapítulo) (GIFTED, 2015). Existem várias maneiras de se organizar e sistematizar os dados, mas
eu destaco as palavras de Luna (2011, p. 101-103), quando ele diz:

A melhor maneira de se organizar um texto é, indiscutivelmente, por meio de um planejamento


prévio da sequência de tópicos dentro do tema e das informações a serem oferecidas dentro de
cada tópico. Ou seja, trata-se de organizar uma sinopse ampliada do texto, antes de ele ser
escrito (sempre é possível reformulá-la posteriormente). Entretanto, o que é melhor do ponto de
vista lógico nem sempre corresponde aos estilos pessoais. Para algumas pessoas, parece
preferível sentar e ir escrevendo. O processo é, sem dúvida, mais penoso e mais custoso, na
medida em que o texto final sai como resultado de tentativas e erros, com muitas páginas
jogadas fora e outras tantas “guardadas” para um eventual aproveitamento futuro. […]
Qualquer que seja o procedimento adotado, o sucesso do texto final, em termos de
comunicação, dependerá de quanto o leitor for capaz de encontrar o fio condutor do trabalho.
Por essa razão, é extremamente conveniente que o texto apresente subtítulos que indiquem o
que será tratado em cada subdivisão. Se se adotar o procedimento de organizar previamente o
texto, a sequência já estará pronta. Se se preferir escrever sem um plano prévio, este poderá ser
feito após a conclusão do texto.
Para que não se pense que a função de organizar o texto com subtítulos é apenas de ser gentil
com o leitor, é conveniente ressaltar um aspecto comum em textos escritos sem planejamento. É
provável que o indivíduo que prefere escrever sem um plano prévio esteja à espera do feedback
daquilo que já está produzido para continuar produzindo, de tal forma que certas análises deem
“dicas” de como prosseguir. Como consequência, é frequente que o resultado final seja uma
longa sequência de análises que não se fecham e no qual o final tem pouca ou nenhuma relação
com o início. Retornar o texto e organizá-lo em tópicos é uma forma de avaliar essa sequência.
E, se elos dessa sequência parecerem não caber nos tópicos levantados ou resistirem à inclusão
em novos tópicos, é bom repensar se as informações são realmente pertinentes.
Outro procedimento importante para melhor controlar a adequação das informações do texto e,
consequentemente, para maior compreensão do leitor é garantir a existência de “abertura” e
“fechamento” para cada tópico. Em outras palavras, anunciar diretamente o que se pretende
fazer naquele tópico e concluir dizendo o que espera que o leitor tenha extraído dele. O
julgamento último dessa adequação, porém, certamente caberá ao leitor.

A análise ou interpretação dos dados da pesquisa é a etapa responsável por transformar os


dados em informações, ou seja, é nessa etapa que o pesquisador pensa e repensa sobre os dados
coletados, encontra suas incoerências e elimina todas as que ele consegue, buscando com esses
procedimentos conclusões que melhor esclareçam o tema, soluções para o problema investigado,
lacunas teóricas e metodológicas que possam ser preenchidas por ulteriores aprofundamentos advindos
de revisões do seu trabalho e ou de novas investigações (GIFTED, 2015). Comumente, são utilizadas
como técnicas científicas nessa etapa a Análise Bibliométrica, que busca analisar/ interpretar
quantitativamente a produção científica sobre um tema num dado momento e num dado espaço
geográfico, apresentando-as estatisticamente, a Análise de Discurso, que busca analisar/interpretar
qualitativamente os dados da pesquisa de acordo com o que o seu autor quis dizer de fato, a Análise de
Conteúdo, que busca analisar/ interpretar quantitativamente os dados da pesquisa, aplicando a
inferência estatística para se chegar às suas conclusões finais, e a Exegese30, trabalho em que se estuda,
em especial, a etimologia e a lexicologia dos termos utilizados nas fontes consultadas, bem como os
idiomas originais em que elas foram escritas e da forma como eles eram utilizados na época de sua
elaboração, produzindo como resultado interpretações chamadas de Hermenêutica (GIFTED, 2015).
A formalização dos resultados finais da pesquisa precisa obedecer às normativas da instituição
de ensino superior (IES), caso o trabalho final de conclusão de curso (TFCC) consista em TCC, TGI,
dissertação, tese, monografias em geral. Algumas IES solicitam que esses trabalhos obedeçam às
normas técnicas do país; no caso brasileiro, costuma-se seguir as normas para trabalhos acadêmicos da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), no caso canadense a Vancouver, bastante aceita
em todo o mundo, e ainda, especificamente em algumas áreas de conhecimento, como a Psicologia, por
exemplo, existem normativas próprias para a formalização de trabalhos tais como as da American
Pysichological Association (APA). Nas áreas e subáreas das engenharias, é bastante comum que o
TFCC seja formalizado como uma patente, uma marca, um software, um novo produto específico para
determinado nicho de mercado. Em cursos como Artes, por exemplo, o TFCC pode ser formalizado
como uma obra de arte, como, por exemplo, uma pintura, uma escultura, um filme, uma composição
30
A Exegese é bastante utilizada no campo das Ciências da Religião e das Ciências Jurídicas (GIFTED, 2015).
musical, um novo instrumento musical, um artefato decorativo, uma obra artesanal, uma peça teatral. O
TFCC pode ser formalizado ainda como uma revista, um periódico, um hino, um poema. Percebe-se,
então, que a forma do TFCC precisa adequar-se ao seu conteúdo; contudo, existe flexibilidade na sua
escolha, sendo todas elas, em geral, permitidas em toda e qualquer área do conhecimento (GIFTED,
2015).
A apresentação dos resultados finais da pesquisa é a última etapa do tratamento dos dados e da
investigação científica no geral. Ela precisa ser pública, porque a Ciência não é – e nem pode ser –
patrimônio particular. Logo, ela é um patrimônio público que precisa ser publicado, isto é,
disponibilizado, ainda que sem solicitação de alguém, a toda e qualquer pessoa da sociedade que a
queira conhecer (GIFTED, 2015; ECO, 2012; VERGARA, 2012; GIL, 1999, 2010; MARCONI;
LAKATOS, 2003, 2007, 2008). No Brasil, em cursos de graduação e de pós-graduação lato sensu, a
primeira apresentação do TFCC normalmente acontece no dia da sua defesa pública e solene diante de
uma banca examinadora composta por professores profissionais da sua respectiva área de
conhecimento, o que chamamos de avaliação pareada (ECO, 2012; SEVERINO, 2007; ACEVEDO;
NOHARA, 2010; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006). Já nos cursos de pós-graduação stricto
sensu, tais como no mestrado e no doutorado, o TFCC normalmente acontece em uma fase preliminar
denominada Exame de Qualificação, após a qual, se o candidato for qualificado (aprovado), ele pode
defender o seu trabalho diante de uma banca examinadora composta por professores doutores da sua
respectiva área de conhecimento; no mestrado, defende-se uma dissertação e no doutorado, uma tese,
que pode ser de pesquisa, quando há alguma descoberta, ou de compilação, quando objetiva realizar
uma revisão sistemática abrangente da literatura (ECO, 2012; SEVERINO, 2007; GIFTED, 2015;
ACEVEDO; NOHARA, 2010; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006). Operacionalmente, a
apresentação do TFCC pode ser basicamente de três tipos, quais sejam: a exposição oral, na qual o
acadêmico expõe oralmente o seu trabalho, após o que é arguido pela banca examinadora quanto aos
seus aspectos teóricos, empíricos e metodológicos; a exposição visual, na qual o acadêmico expõe
visualmente o seu trabalho, na forma de pôster, painel, banner, faixa, quadro, escultura etc., após o que
é arguido pela banca examinadora quanto aos mesmos aspectos citados no caso anterior; e a exposição
mista, na qual o acadêmico expõe o seu trabalho tanto oral quanto visualmente, após o que também é
arguido quanto aos mesmos aspectos já citados (GIFTED, 2015; ECO, 2012; VERGARA, 2012; GIL,
1999, 2010; SEVERINO, 2007).
Muito importante considerar, nessa etapa, tanto quanto na coleta, todos os recursos disponíveis
e a logística da investigação científica, buscando responder se é ou não viável. Os recursos tratam-se
dos requisitos necessários à viabilidade da investigação científica. Podem ser: 1. Tecnológicos:
hardware, software, materiais escolares, laboratórios de informática, bibliotecas; 2. Financeiros:
valores monetários, bolsas de estudo, ajudas de custo, premiações; 3. Humanos: grupos de pesquisa,
orientadores, coorientadores, coautores, examinadores, colaboradores, normas justas; e 4. Tempo:
cronogramas executáveis, metas alcançáveis. Os lócus tratam-se dos espaços físicos, isto é, os lugares
onde são realizadas as etapas da investigação científica; eles podem ser de: 1. Coleta: uma biblioteca,
uma sala de estudos, um laboratório, uma instituição, um clube, uma empresa etc.; 2. Registro: um
telecentro, um laboratório de informática, um quarto da casa da gente etc.; 3. Sistematização: uma
biblioteca, uma praça, um laboratório, uma sala de estudos etc.; 4. Organização: um albergue, um
telecentro, uma sala de estudos, um laboratório etc.; 5. Análise ou interpretação: uma feira de
domingo, uma praça, um albergue, uma sala de estudos, um telecentro, uma universidade, um grupo de
pesquisa etc.; 6. Formalização: uma universidade, um centro de pesquisa, um laboratório etc.; 7.
Apresentação: um encontro universitário, um grupo de pesquisa, um seminário, uma conferência, um
congresso, uma assembleia, um workshop, uma palestra etc. (GIFTED, 2015; SEVERINO, 2007; GIL,
1999, 2010; LUNA, 2011; BARROS; LEHFELD, 2000, 2007; KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012).
Por fim, vale a pena destacar que essas seis etapas apresentadas e explanadas não
necessariamente ocorrem de modo estanques, podendo ser operacionalizadas concomitantemente. Na
prática, o fluxo de informações da investigação científica é contínuo do seu início ao seu final, razão
pela qual fica difícil, algumas vezes, operacionalizar cada etapa na ordem apresentada, ou mesmo
separada uma da outra. O que é mais comum, e a meu ver é mais fácil de operacionalizar, é a coleta dos
dados junto ao seu registro; a sistematização dos dados junto à sua organização; a análise ou
interpretação eu costumo fazer separado das demais etapas, mas tem pesquisador que a faz junto a
outras etapas; a formalização eu também faço separado das demais etapas, e, por último, eu faço a
apresentação dos resultados finais, considerando-a a etapa mais importante da investigação científica,
por ser a mais buscada e exatamente a objetivada desde o seu início (GIFTED, 2015; SEVERINO,
2007; GIL, 1999, 2010; LUNA, 2011; BARROS; LEHFELD, 2000, 2007; KÖCHE, 1997, 2011; GIL,
1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012).

7 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os levantamentos bibliográficos e documentais são as técnicas científicas próprias da revisão da


literatura de um tema, e, portanto, peça fundamental e todo o trabalho científico. Nas dissertações de
mestrado e nas teses de doutorado ela consiste em tópico preliminar do trabalho, visando alcançar, a
priori, o estado da arte do tema, antes de investigá-lo por quaisquer outras metodologias. Ressalta-se
que uma revisão de literatura bem-feita é uma excelente porta de entrada em uma área de pesquisa,
consistindo em um mapa completo do seu território, apontando e explanando o seu status quo, isto é, o
seu estado atual, as suas teorias, os seus conceitos e constructos fundantes, as suas lacunas. Sobre todos
esses aspectos, Luna (2011, p. 111) ratifica:

O fechamento mais importante para este texto é a ênfase na importância das revisões de
literatura. Quer como peça fundamental na definição/detalhamento de um problema de
pesquisa, quer como um trabalho solo de pesquisa, uma revisão de literatura bem feita constitui
um passo decisivo para quem quer que pretenda entrar em uma área de pesquisa.
Além da contribuição que ela pode trazer na produção de conhecimento, uma revisão de
literatura constitui um respeito ao trabalho de outros pesquisadores e um compromisso com a
crítica contínua ao produto deles e, portanto, com o aprimoramento da ciência.

Entretanto, necessita-se salientar a responsabilidade do pesquisador sobre os dados que ele


apresenta e, mormente, sobre as conclusões que faz sobre eles. Tudo o que o pesquisador cita,
apresenta, explana ou conclui lhe empossa da responsabilidade de defesa ou de discordância tanto
diante a comunidade científica quanto perante a sociedade civil em geral. Ele deve tomar o cuidado de
não atribuir a algum autor alguma característica que o desmereça ou o desrespeite. Ao falar sobre
alguma obra de um autor, o pesquisador deve ser o mais claro e objetivo possível, atribuindo a ele as
suas respectivas ideias, metodologias e finalidades, evitando, desse modo, incorrer em alguma violação
administrativa, cível ou criminal. Junta-se a essas questões o cuidado que se deve tomar com o plágio e
o autoplágio; ao citar um autor, mesmo que seja a si próprio, sobre um trabalho já publicado, deve-se
sempre referenciá-lo adequadamente de acordo com as normas institucionais de onde se pretende
apresentá-lo.
A literatura crítica sobre a metodologia da pesquisa científica é unânime em esclarecer que não
existe um código normativo que estabeleça quantos, quais e em que sequência devem ser executados
os passos para a operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais, mas sim critérios,
diretrizes, princípios que a orientam sistematicamente. Desse modo, os passos para a sua
operacionalização ocorre de acordo com o nível de conhecimento e o grau de experiência
metodológica do pesquisador. Entretanto, a pesquisa científica exige um planejamento prévio e
sistemático e, por essa razão, existem várias sugestões de fluxograma da pesquisa científica no intuito
de auxiliar os pesquisadores iniciantes.
Quanto mais focado, específico, afunilado, for o problema-objeto de pesquisa, maior a
facilidade de se descobrir as suas variáveis, as suas soluções hipotéticas, de se estabelecer os seus
objetivos e de, portanto, investigá-lo. Por exemplo, ao se realizar um levantamento bibliográfico e
documental sobre a gestão universitária, naturalmente o pesquisador vai encontrar vários levantamentos
já realizados sobre esse tema, talvez alguns explanando sobre a gestão universitária norte-americana na
década de 1980, ou sobre a gestão universitária brasileira pós-Carga Magna, de 5 de outubro de 1988,
que dispõe sobre a Constituição da República Federativa Brasileira (BRASIL, 1988), ou pós Lei 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e as bases da Educação Nacional (BRASIL,
1996).
Daí, muito melhor do que pesquisar genericamente sobre a gestão universitária, é recortar esse
tema especificando um espaço geográfico, por exemplo, o estado de São Paulo, e um lapso temporal,
por exemplo, a última década. Para tornar o tema mais específico ainda, pode-se selecionar somente a
gestão universitária pública, ou somente a particular, ou escolher exatamente a (s) Instituição (ões) de
Ensino Superior em que se pretende investigar a sua gestão. Enquanto mais complexo for ou parecer
um problema-objeto de pesquisa, mais partes ele deve ser subdividido para alcançar a profundidade
necessária para a sua solução. Relembrando que enquanto mais focado for o problema-objeto, mais
fácil é para investigá-lo e maior é a qualidade dos seus resultados. Portanto, é o nível de especificidade
de um problema-objeto o fator determinante do grau de simplicidade ou complexidade de sua
investigação bem com do nível de qualidade dos seus resultados finais.
A formulação das hipóteses e dos objetivos da pesquisa depende da prévia formulação do
problema-objeto da pesquisa porque esse é o seu hábito procedimental a realizar levantamentos
bibliográficos e documentais. Contudo, não há passos tão rígidos assim para metodologias, visto que a
ordem de tais passos não prejudica o processo de investigação científica. Por essa razão, o pesquisador
tem a liberdade de escolher fazer uma etapa, primeiro, e, depois, a outra, ou simultaneamente as duas,
de acordo com o nível do seu conhecimento sobre o tema e o nível de sua experiência em fazer
levantamentos bibliográficos e documentais.
Toda investigação parte – ou pelo menos deve partir – de um conjunto de hipóteses, isto é, de
suposições de solução para o problema-objeto proposto. Somente a partir desse passo é possível a
determinação do seu nível de relevância científica e social bem como dos caminhos adequados para
coletar e tratar os dados necessários para a sua solução. Dissemelhantemente do que acreditavam, na
fase primitiva da Ciência, os indutivistas e os empiricistas, “que as explicações científicas provinham
da pura observação dos fatos ou dos fenômenos”, toda e qualquer investigação precisa de ideias
preconcebidas – as quais decerto provêm de nossos parâmetros e referenciais teóricos, os quais, por sua
vez, são construídos histórica, cultural e subjetivamente – para ser desencadeada.
As bibliografias, instrumentos de pesquisa próprios dos levantamentos bibliográficos, são
compostas por informações interpretativas das palavras de um autor sobre um tema e, portanto,
secundárias. Elas acompanham principalmente as pesquisas observacionais não participantes, mas se
fazem úteis e necessárias com lentes teóricas de todas as espécies de pesquisa para o levantamento do
seu referencial teórico. Consistem basicamente nos livros e nos trabalhos acadêmicos em geral, tais
como TCCs, monografias, dissertações, teses, trabalhos científicos, resenhas científicas, projetos de
pesquisa etc. Os documentos, por sua vez, instrumentos de pesquisa próprios dos levantamentos
documentais, são comumente compostos por informações originais do autor – e é exatamente o tipo
delas que diferem os levantamentos documentais dos bibliográficos, e, portanto, primárias, tais como as
encontradas em um prontuário médico, na legislação, nos demonstrativos financeiros e contábeis de
uma empresa ou de uma instituição etc. Entretanto, os documentos podem conter informações
interpretativas dos originais, tais como nas notas explicativas e comentários realizados, por terceiros
nos mesmos documentos citados, ou a eles anexados.
A coleta dos dados da pesquisa principia com a definição inicial de palavras-chave, também
denominadas descritores, que são os termos pelos quais se consegue acesso às fontes de pesquisa
explicitadas, bem como de suas respectivas localizações, por exemplo, em bancos de dados, em
bibliotecas físicas ou virtuais. Por exemplo, na etapa da coleta de dados para este trabalho, selecionei as
seguintes palavras-chave: levantamento bibliográfico, levantamento documental, metodologia
científica.
Os dados da pesquisa, após coletados, precisam ser tratados. O tratamento dos dados da
pesquisa inclui: o seu registro, que pode ser operacionalizado por meio da planificação manual ou
eletrônica; a sua sistematização, que precisa explanar exploratória e descritivamente a sequência
lógica da investigação científica: o seu ponto de partida, cada um dos passos intermediários, e o seu
desfecho, considerando as suas suposições, hipóteses, indagações, suspeitas, curiosidades, ou
conjecturas; pode ser a busca simples de strings, a busca avançada de strings, e ou os fatores de
inclusão/exclusão; a sua organização, que pode ser operacionalizada, por exemplos, por meio da
categorização, da codificação ou da tabulação; a sua análise ou interpretação, que pode ser realizada,
por exemplo, por meio da Análise Bibliométrica, Análise de Discurso, Análise de Conteúdo ou
Exegese/Hermenêutica; a sua formalização, que comumente é cimentada como TCC, dissertação,
tese, trabalho, resenha, periódico, revista, software, patente, obra de arte; a sua apresentação, que
pode ser realizada, por exemplo, por meio de uma exposição oral, ou uma exposição visual, ou uma
exposição mista.
O registro dos dados da pesquisa pode ser realizado por meio de compilação manual, em que o
pesquisador anota a tinta ou a grafite, por exemplo, num papel, ou eletrônica, em que o pesquisador
digita todos as anotações em um arquivo de texto, como o do Microsoft Word (aplicativo do pacote
padrão Office do sistema operacional Windows) ou o do Open Writter (aplicado do pacote padrão Open
Office do sistema operacional Linux). Para aperfeiçoar a gerência do tempo despendido nessa etapa,
recomenda-se levar para frente do computador e da escrivaninha (ou outro ambiente adequado para a
digitalização) todo o conteúdo que se vai utilizar no trabalho acadêmico, o que inclui as bibliografias,
os documentos e as anotações. Trata-se, pois, de uma etapa bastante trabalhosa para se fazer e demanda
tempo numa dose inversamente proporcional às habilidades do pesquisador em utilizar tais
metodologias, isto é, quanto mais habilidoso ele for menor o tempo que ele precisa despender para
realizar pesquisas científicas por meio dessas metodologias, mas não é difícil porque basta saber digitar
bem, digitalizar, imprimir, ler bem e escrever bem.
A sistematização dos dados da pesquisa trata-se da explanação descritiva da sequência lógica
da pesquisa, ou seja, o seu ponto de partida, cada um dos seus passos intermediários e o seu desfecho.
Por exemplo, esse trabalho foi sistematizado do seguinte modo: partiu-se do problema da dificuldade
dos pesquisadores iniciantes em se operacionalizar levantamentos bibliográficos e documentais bem
como da hipótese de que a eliminação da imensa imprecisão terminológica, conceitual, taxonômica e
conteudal sobre esse tema encontrada na vasta literatura crítica sobre metodologia da pesquisa
científica é capaz de solucionar o problema, facilitando tanto a compreensão quanto o uso de tais
técnicas científicas fundamentais; daí, partiu-se para a definição de seu objetivo principal que é o de
esclarecer os procedimentos técnicos necessários para a adequada operacionalização dos levantamentos
bibliográficos e documentais, facilitando o trabalho do pesquisador; depois, passou-se para a escolha
do enfoque para cada um dos três pilares fundamentais da metodologia da pesquisa científica,
adotando-se o crítico-dialético como o seu eixo epistemológico de investigação, o hipotético-dedutivo
como o seu eixo lógico de investigação, e a base procedimental observacional não participante, dos
tipos bibliográfico e documental, como o seu eixo técnico de investigação; depois ainda, foi escolhida a
abordagem qualitativa, o protocolo observacional como o seu instrumento de pesquisa, e foi desenhado
o fluxo logístico cronológico investigativo, isto é, uma tabela na qual contavam as atividades diárias
necessárias para se concretizar esse trabalho dentro do espaço de tempo de 15 dias, que eu escolhi; na
tabela, por exemplo, na segunda feira, após eu tomar o café da manhã, eu me desloco até a biblioteca
do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP, em São Carlos, SP, acesso o livro de
Popper, leio-o completamente, depois vou à Biblioteca Comunitária (BCo) da UFSCar, acesso os livros
de Marconi e Lakatos (2003, 2007, 2008), Gil (1999, 2010), Castro (1978), Moura e Ferreira (2005),
Sampieri et al. (2010), leio deles os trechos mais pertinentes para a elaboração deste trabalho, faço
minhas anotações sobre eles em folhas de caderno avulsas, citando as referências já dentro das normas
da ABNT (ou outra, quando necessário, tais como as da Associação Psiquiátrica Americana, ou as da
Vancouver), para facilitar o registro dos dados quando da sua planificação.
A organização dos dados da pesquisa objetiva facilitar a compreensão do seu conteúdo
principalmente por parte dos seus leitores. Desse modo, termos pouco utilizados precisam ser
explicados no corpo do texto ou em alguma nota de rodapé, recomenda-se resumir as conclusões de
cada capítulo ou tópico (caso não desatenda as normas da instituição onde se pretende apresentá-las)
em tabelas, quadros, figuras, gravuras, ou notas de recapitulação. As técnicas científicas mais utilizadas
para tal fim são a tabulação (construção de tabelas, quadros, ou equivalentes), a codificação (construção
de listas explicativas de siglas e de símbolos, ou equivalentes) e a categorização (divisão dos aspectos
sobre o tema em tópicos e subtópicos, capítulos e subcapítulos, às vezes subsubtópico ou
subsubcapítulo).
A análise ou interpretação dos dados da pesquisa é a etapa responsável por transformar os
dados em informações, ou seja, é nessa etapa que o pesquisador pensa e repensa sobre os dados
coletados, encontra suas incoerências e elimina todas as que ele consegue, buscando com esses
procedimentos conclusões que melhor esclareçam o tema, soluções para o problema investigado,
lacunas teóricas e metodológicas que possam ser preenchidas por ulteriores aprofundamentos advindos
de revisões do seu trabalho e ou de novas investigações (GIFTED). Comumente são utilizadas como
técnicas científicas nessa etapa a Análise Bibliométrica, que busca analisar/ interpretar
quantitativamente a produção científica sobre um tema num dado momento e num dado espaço
geográfico, apresentando-as estatisticamente, a Análise de Discurso, que busca analisar/interpretar
qualitativamente os dados da pesquisa de acordo com o que o seu autor quis dizer de fato, a Análise de
Conteúdo, que busca analisar/ interpretar quantitativamente os dados da pesquisa, aplicando a
inferência estatística para se chegar às suas conclusões finais, e a Exegese31, trabalho em que se estuda,
em especial, a etimologia e a lexicologia dos termos utilizados nas fontes consultadas, bem como os
idiomas originais em que elas foram escritas e da forma como eles eram utilizados na época de sua
elaboração, produzindo como resultado interpretações chamadas de Hermenêutica (GIFTED, 2015).
A formalização dos resultados finais da pesquisa precisa obedecer às normativas da instituição
de ensino superior (IES), caso o trabalho final de conclusão de curso (TFCC) consista em TCC, TGI,
31
A Exegese é bastante utilizada no campo das Ciências da Religião e das Ciências Jurídicas (GIFTED, 2015).
dissertação, tese, monografias em geral. Algumas IES solicitam que esses trabalhos obedeçam às
normas técnicas do país; no caso brasileiro, costuma-se seguir as normas para trabalhos acadêmicos da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), no caso canadense a Vancouver, bastante aceita
em todo o mundo, e ainda, especificamente em algumas áreas de conhecimento, como a Psicologia, por
exemplo, existem normativas próprias para a formalização de trabalhos tais como as da American
Pysichological Association (APA). Nas áreas e subáreas das engenharias, é bastante comum que o
TFCC seja formalizado como uma patente, uma marca, um software, um novo produto específico para
determinado nicho de mercado. Em cursos como Artes, por exemplo, o TFCC pode ser formalizado
como uma obra de arte, como, por exemplo, uma pintura, uma escultura, um filme, uma composição
musical, um novo instrumento musical, um artefato decorativo, uma obra artesanal, uma peça teatral. O
TFCC pode ser formalizado ainda como uma revista, um periódico, um hino, um poema. Percebe-se,
então, que a forma do TFCC precisa adequar-se ao seu conteúdo; contudo, existe flexibilidade na sua
escolha, sendo todas elas, em geral, permitidas em toda e qualquer área do conhecimento.
A apresentação dos resultados finais da pesquisa é a última etapa do tratamento dos dados e da
investigação científica no geral. Ela precisa ser pública, porque a Ciência não é – e nem pode ser –
patrimônio particular. Logo, ela é um patrimônio público que precisa ser publicado, isto é,
disponibilizado, ainda que sem solicitação de alguém, a toda e qualquer pessoa da sociedade que a
queira conhecer. No Brasil, em cursos de graduação e de pós-graduação lato sensu, a primeira
apresentação do TFCC normalmente acontece no dia da sua defesa pública e solene diante de uma
banca examinadora composta por professores profissionais da sua respectiva área de conhecimento, o
que chamamos de avaliação pareada. Já nos cursos de pós-graduação stricto sensu, tais como no
mestrado e no doutorado, o TFCC normalmente acontece em uma fase preliminar denominada Exame
de Qualificação, após a qual, se o candidato for qualificado (aprovado), ele pode defender o seu
trabalho diante de uma banca examinadora composta por professores doutores da sua respectiva área de
conhecimento; no mestrado, defende-se uma dissertação e no doutorado, uma tese, que pode ser de
pesquisa, quando há alguma descoberta, ou de compilação, quando objetiva realizar uma revisão
sistemática abrangente da literatura. Operacionalmente, a apresentação do TFCC pode ser basicamente
de três tipos, quais sejam: a exposição oral, na qual o acadêmico expõe oralmente o seu trabalho, após
o que é arguido pela banca examinadora quanto aos seus aspectos teóricos, empíricos e metodológicos;
a exposição visual, na qual o acadêmico expõe visualmente o seu trabalho, na forma de pôster, painel,
banner, faixa, quadro, escultura etc., após o que é arguido pela banca examinadora quanto aos mesmos
aspectos citados no caso anterior; e a exposição mista, na qual o acadêmico expõe o seu trabalho tanto
oral quanto visualmente, após o que também é arguido quanto aos mesmos aspectos já citados.
Muito importante considerar nessa etapa, tanto quanto na coleta, todos os recursos disponíveis e
a logística da investigação científica, buscando responder se é ou não viável. Os recursos tratam-se dos
requisitos necessários à viabilidade da investigação científica. Podem ser: 1. Tecnológicos: hardware,
software, materiais escolares, laboratórios de informática, bibliotecas; 2. Financeiros: valores
monetários, bolsas de estudo, ajudas de custo, premiações; 3. Humanos: grupos de pesquisa,
orientadores, coorientadores, coautores, examinadores, colaboradores, normas justas; e 4. Tempo:
cronogramas executáveis, metas alcançáveis. Os lócus tratam-se dos espaços físicos, isto é, os lugares
onde são realizadas as etapas da investigação científica; eles podem ser de: 1. Coleta: uma biblioteca,
uma sala de estudos, um laboratório, uma instituição, um clube, uma empresa etc.; 2. Registro: um
telecentro, um laboratório de informática, um quarto da casa da gente etc.; 3. Sistematização: uma
biblioteca, uma praça, um laboratório, uma sala de estudos etc.; 4. Organização: um albergue, um
telecentro, uma sala de estudos, um laboratório etc.; 5. Análise ou interpretação: uma feira de
domingo, uma praça, um albergue, uma sala de estudos, um telecentro, uma universidade, um grupo de
pesquisa etc.; 6. Formalização: uma universidade, um centro de pesquisa, um laboratório etc.; 7.
Apresentação: um encontro universitário, um grupo de pesquisa, um seminário, uma conferência, um
congresso, uma assembleia, um workshop, uma palestra etc.
Por fim, vale a pena destacar que essas seis etapas apresentadas e explanadas não
necessariamente ocorrem de modo estanques, podendo ser operacionalizadas concomitantemente. Na
prática, o fluxo de informações da investigação científica é contínuo do seu início ao seu final, razão
pela qual fica difícil, algumas vezes, operacionalizar cada etapa na ordem apresentada, ou mesmo
separada uma da outra. O que é mais comum, e a meu ver é mais fácil de operacionalizar, é a coleta dos
dados junto ao seu registro; a sistematização dos dados junto à sua organização; a análise ou
interpretação eu costumo fazer separado das demais etapas, mas tem pesquisador que a faz junto a
outras etapas; a formalização eu também faço separado das demais etapas, e, por último, eu faço a
apresentação dos resultados finais, considerando-a a etapa mais importante da investigação científica,
por ser a mais buscada e exatamente a objetivada desde o seu início. Portanto, vale a pena atentar-se ao
inteiro conteúdo aqui apresentado e explanado quanto aos procedimentos técnicos para a adequada
operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais.
REFERÊNCIAS

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guia completo de conteúdo e forma: inclui normas atualizadas da ABNT, TCC, TGI, trabalhos de
estágio, MBA, dissertações, teses. 3. ed. 3. reimp. São Paulo: Atlas, 2010. 192 p.

BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de


metodologia científica: um guia para a iniciação científica. 2. ed. amp. São Paulo: Mackron Books,
2000. 122 p.

BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de


metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. 158 p.

BÊRNI, Duilio de Avila; FERNANDEZ, Brena Paula Magro. Métodos e técnicas de pesquisa:
modelando as ciências empresariais. São Paulo: Saraiva, 2012. 440 p.

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http: //www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm. Acesso em: 22 fev.
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nacional. Brasília, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ CCIVIL_03/leis/L9394.htm.
Acesso em: 22 fev. 2016.

CASTRO, Cláudio de Moura. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1978. 156 p.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. 7. imp. São Paulo: Afiliada, 2008. 424 p.

CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Tradução de


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ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. 24. ed. São
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GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 206 p.

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KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à


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KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à


pesquisa. 29. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. 182 p.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5.


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MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2007. 289 p.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e


execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de
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MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. 2. ed. São Paulo: Atlas,
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MENEZES, Djacir. Preparação ao método científico: breve introdução à filosofia moderna, os


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MOURA, Maria Lucia Seidl de; FERREIRA, Maria Cristina. Projetos de pesquisa: elaboração,
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OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de Metodologia Científica. São Paulo: Pioneira, 1997.

PIAGET, Jean. Psicologia e epistemologia: por uma teoria do conhecimento. 1. ed. Rio de Janeiro:
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RODRIGUES, Auro de Jesus. Metodologia científica: completo e essencial para a vida universitária.
São Paulo: Avercamp, 2006. 217 p.

SAMPIERI, Roberto Hernández; COLLADO, Carlos Fernández; LUCRO, Pilar Baptista. Metodologia
de pesquisa. Tradução de Fátima Conceição Murad, Melissa Kassner, Sheila Clara Dystyler Ladeira.
Revisão técnica e adaptação de Ana Gracinda Queluz Garcia e Paulo Heraldo Costo do Valle. 3. ed. São
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SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho cientifico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
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SOARES, Edvaldo. Metodologia científica: lógica, epistemologia e normas. São Paulo: Atlas, 2003.
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TEIXEIRA, Elizabeth. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. 9. ed. Petrópolis:


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TERRA, Ernani; NICOLA, José de. Gramática de hoje. São Paulo: Scipione, 2007. 384 p.

THIOLLENT, Michael. Metodologia da pesquisa ação. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2003. (Coleção
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VANCONCELLOS, Maria Esteves de. Pensamento Sistêmico: o novo paradigma da ciência. 9. ed.
Campinas: Papirus, 2010. 267 p.

VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de coleta de dados no campo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
98 p.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução de Ana Thorell. Revisão técnica de
Claudio Damacena. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. 248 p.
ÍNDICE REMISSIVO:

A
Abdução
Acidentes
Amostragem
Análise Bibliométrica
Análise de Conteúdo
Análise de Discurso
Anteprojeto de pesquisa
Artigo científico
Axiomática-dedutiva
B
Banner ou pôster
Base estrutural dedutiva
Base estrutural indutiva
Base procedimental clínica
Base procedimental estatística
Base procedimental experimental
Base procedimental observacional
Bibliografias
C
Categorização
Cientificidade
Codificação
Corpus de execução de ensaio
Corpus de execução definifivo
D
Dedução
Diário de campo
Dispositivo eletrônico
Documentos
E
Edificação
Entrevista ex loco
Entevista in loco
Epistemologia científica
Escalas sociais
Estratégia de triangulação concomitante
Estratégia explanatória sequencial
Estratégia exploratória sequencial
Estratégia incorporada concomitante
Estratégia transformativa concomitante
Estratégia transformativa sequencial
Estudo de caso ex loco
Estudo de caso in loco
Ética científica
Exegese bíblica
Experimentação
Exposição cultural ou museu
Exposição mista
Exposição oral
Exposição visual
F
Fatores de inclusão/exclusão
Fichamento
Filme, teatro, dança ou concerto
Fluxo Logístico Cronológico Investigativo
Formulário
G
Gnosiologia científica
H
Hipotética-dedutiva
I
Incidentes
Indução
J
K
L
Leitura científica
Levantamento bibliográfico
Levantamento documental
M
Maquete
Máquina
MBS
Metanálise
N
O
Obra de arte
Observação
Ontologia científica
P
Paradigma crítico-dialético
Paradigma empírico-analítico
Paradigma fenomenológico-hermenêutico
Paradigma neoperspectivista
Pesquisa analítica
Pesquisa compreensiva
Pesquisa de campo
Pesquisa de mercado
Pesquisa de Survey ex loco
Pesquisa de Survey in loco
Pesquisa descritiva
Pesquisa e desenvolvimento
Pesquisa explicativa
Pesquisa exploratória
Pesquisa ex-post-facto
Pesquisa in victro
Pesquisa oral
Pesquisa original
Pesquisa prática ou aplicada
Pesquisa sintética
Pesquisa teórica ou básica
Pesquisa-ação
Pilar epistemológico
Pilar lógico
Pilar técnico
Planificação eletrônica
Planificação manual
Plano de Negócios
Pragmática-indutiva
Projeto de pesquisa
Projeto Político Pedagógico
Protocolagem observacional
Protocolo de entrevista
Protocolo observacional
Q
Questionário
R
RBI
RBN
RBS
Redação de ensaio
Referencial teórico
Resenha científica
Resumo científico
S
Semântica-indutiva
Silogística-indutiva
Silogística-dedutiva
Software
T
Tabulação
TCC, dissertação, tese ou livro
Teoria da ciência
Testagem
Testes
U
V
W
X
Y
Z

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