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ARTE
BREVE CURRÍCULO:
Masters student in Administration, advanced corporate finance research line (Must University-
2025). Especializando em Gestão Tributária (USP-2025), com bolsa integral. Especilizando em
Tesouraria Corporativa (USP-2025), com bolsa integral. Especializando em Uso Educacional da
Internet (UFLA-2025). Especializando em Neurociências, Comportamento e Psicopatologia (PUC-PR-
2025). Especialista em Finanças e Controladoria (USP-2023), com bolsa integral. Especialista em
Gestão Financeira (UNINTER-2022). Especialista em Docência e Pesquisa para o Ensino Superior
(UNIMES-2015). Especialista em Finanças e Controladoria (UBC-2014). Bacharel em Ciências
Contábeis (UNIMES-2019). Cursou Bacharelado em Estatística incompleto (UFSCar-2013-2017).
Tecnólogo em Gestão de Negócios (UBC-2012). Autor de uma TEORIA DA PREDESTINAÇÃO cem
por cento original, sem envolvimento com outras teorias predesinatórias, reencarnacionistas, e não
científicas - embora essa teoria precise de refinamentos, e teste de hipóteses para corroborar suas
conclusões. Produz pesquisas científicas sobre: paradigmas científicos; teorias organizacionais;
metodologia da pesquisa científica; docência no ensino superior; Educação a Distância (EaD); Fluxo de
Caixa Descontado (FCD); sinergias; Fusões e Aquisições (FA). Administrador de blogs. Atua como
escritor, palestrante, consultor e mentor. Concurseiro. Possui trajetórias acadêmica e profissional
bastante fragmentadas e diversificadas com concentração nas áreas administrativa e contábil. Participou
do curso de extensão FORMAÇÃO PRÉ-ACADÊMICA: AFIRMAÇÃO NA PÓS UFPR TURMA
2022 (UFPR-2022). Participou do curso de curta duração VALUATION E MODELAGEM
FINANCEIRA (FreeHelper-2021). Participou do curso de atualização VALUATION E MÉTRICAS
DE VALOR (USP-2021), com bolsa integral. Participou do curso de extensão EQUIDADE NO
ACESSO À PÓS-GRADUAÇÃO PARA POPULAÇÕES SUB-REPRESENTADAS A CURSOS DE
MESTRADO (UFSCar-2013).
Orcid: 0000-0002-9480-6325.
SINOPSE:
Quadro 1 – Uma classificação mais coerente dos diversos tipos de conhecimentos existentes
Factual
Religioso
Cientifico
Artístico
Físico Filosófico
(natural) Não Factual
Religioso
Científico
Artístico
(senso comum) Filosófico
Cientifico Parapsicológico
Metafísico
(sobrenatural) Não
Mediúnico
Científico
Clarividente
(senso comum)
2. Não existe tema esgotado, mas sim pesquisador esgotado em algum tema. Em outras
palavras, o investigador pode dar o seu melhor na investigação de um determinado tema, pode
pesquisá-lo a vida toda, pode dedicar toda a sua carreira em torno do tema, que nunca vai esgotá-lo,
seja porque outras descobertas o tornam obsoleto, seja porque outros investigadores enxergam-no de
outros ângulos capazes de ampliá-lo, aprofundá-lo ou mesmo modificá-lo. Enfim, por essa razão,
sempre existem margens para ulteriores aprofundamentos dos conteúdos de quaisquer investigações.
ad hoc = para este caso específico ip. v. (ipsis verbi) = letra por letra,
textualmente
cf. infra = conferir linha, página abaixo passim = aqui e ali; em vário lugares
id. (idem) = mesmo autor, igual anterior v., vol., vols. = volume (s)
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................................15
2. REVISÃO DA LITERATURA........................................................................................16
2.1 Introdução..................................................................................................................17
2.2 Epistemologia científica.......................................................................................... .18
2.2.1 Resumo histórico da teoria da ciência............................................................ .19
2.2.2 Critérios ou mecanismos de cientificidade ou verdade.................................. .20
2.3 Gnosiologia científica................................................................................................21
2.3.1 Os pesquisadores..............................................................................................22
2.3.2 Os examinadores...............................................................................................23
2.3.3 Os auxiliares.....................................................................................................24
2.3.4 O público-alvo..................................................................................................25
2.4 Ontologia científica...................................................................................................26
2.4.1 Delimitação do objeto científico.......................................................................27
2.4.2 Caracterização do objeto científico..................................................................28
2.5 Referencial teórico científico.....................................................................................29
2.5.1 A validade das fontes de pesquisa científica.....................................................30
2.5.2 A pertinência das informações para o estudo científico....................................31
2.5.3 As contribuições do material bibliográfico.......................................................32
2.6 A ética científica........................................................................................................59
2.7 Conclusões.................................................................................................................100
3. OS PILARES METODOLÓGICOS................................................................................101
3.1 Introdução..................................................................................................................102
3.2 O pilar epistemológico...............................................................................................103
3.2.1 Introdução.........................................................................................................104
3.2.2 O método, enfoque ou paradigma fenomenológico-hermenêutico...................105
3.2.3 O método, enfoque ou paradigma empírico-analítico......................................106
3.2.4 O método, enfoque ou paradigma crítico-dialético (histórico-estrutural)........107
3.2.5 Outros paradigmas e as teorias.........................................................................108
3.2.6 Conclusões........................................................................................................109
3.3 O pilar lógico.............................................................................................................109
3.3.1 As fases da pesquisa científica..........................................................................109
3.3.1.1 Elaboração do anteprojeto de pesquisa
3.3.1.1.1 Planejamento da pesquisa
3.3.1.1.1.1 Delimitação e caracterização do objeto
3.3.1.1.1.2 Determinação da pertinência
3.3.1.1.1.3 Determinação da viabilidade
3.3.1.1.1.4 Planificação do anteprojeto
3.3.1.1.2 Organização da pesquisa
3.3.1.1.2.1 Localização dos instrumentos
3.3.1.1.2.2 Separação dos instrumentos
3.3.1.1.2.3 Manuseio dos instrumentos
3.3.1.1.2.4 Manutenção dos instrumentos
3.3.1.1.2.5 Busca prévia das fontes da pesquisa
3.3.1.1.3 Execução da pesquisa
3.3.1.1.3.1 Contato com todos os sujeitos
3.3.1.1.3.2 Deslocamento entre os lócus
3.3.1.1.3.3 Contato com os componentes do objeto
3.3.1.1.3.4 Acidentes e incidentes
3.3.1.1.3.5 Planificação dos resultados produzidos
3.3.1.1.4 Controle da pesquisa
3.3.1.1.4.1 Revisões da execução da pesquisa
3.3.1.1.4.2 A entrevista
3.3.1.2 Transformação do anteprojeto em projeto de pesquisa final
3.3.1.2.1 Replanejamento da pesquisa
3.3.1.2.1.1 Aprofundamento caracterizatório do objeto
3.3.1.2.1.2 Aprofundamento determinatório da pertinência
3.3.1.2.1.3 Aprofundamento explanatório da viabilidade
3.3.1.2.1.4 Planificação do projeto
3.3.1.2.2 Reorganização da pesquisa
3.3.1.2.2.1 Localização dos instrumentos
3.3.1.2.2.2 Separação dos instrumentos
3.3.1.2.2.3 Manuseio dos instrumentos
3.3.1.2.2.4 Manutenção dos instrumentos
3.3.1.2.2.5 Busca prévia das fontes da pesquisa
3.3.1.2.3 Re-execução da pesquisa
3.3.1.2.3.1 Contato com todos os sujeitos
3.3.1.2.3.2 Deslocamento entre os lócus
3.3.1.2.3.3 Contato com os componentes do objeto
3.3.1.2.3.4 Acidentes e incidentes
3.3.1.2.3.5 Planificação dos resultados produzidos
3.3.1.2.4 Recontrole da pesquisa
3.3.1.2.4.1 Reelaborações e revisões
3.3.1.2.4.2 A defesa pública
3.3.2 As bases estruturais do pensamento científico
3.3.2.1 A base estrutural indutiva
3.3.2.1.1 Silogístico-indutiva
3.3.2.1.2 Semântico-indutiva
3.3.2.1.3 Pragmático-indutiva
3.3.2.2 A base estrutural dedutiva
3.3.2.2.1 Axiomático-dedutiva
3.3.2.2.2 Hipotético-dedutiva
3.3.2.2.3 Silogístico-dedutiva
3.3.2.3 A base estrutural abdutiva
3.4 O pilar técnico .......................................................................................................... xxx
3.4.1 As abordagens da pesquisa científica
3.4.1.1 A abordagem quantitativa
3.4.1.2 A abordagem qualitativa
3.4.1.3 A abordagem mista
3.4.1.3.1 Estratégia explanatória sequencial
3.4.1.3.2 Estratégia exploratória sequencial
3.4.1.3.3 Estratégia transformativa sequencial
3.4.1.3.4 Estratégia de triangulação concomitante
3.4.1.3.5 Estratégia incorporada concomitante
3.4.1.3.6 Estratégia transformativa concomitante
3.4.2 As bases procedimentais de investigação científica
3.4.2.1 A base procedimental observacional
3.4.2.2 A base procedimental experimental
3.4.2.3 A base procedimental estatística
3.4.2.4 A base procedimental clínica
3.4.3 As técnicas da pesquisa científica
3.4.3.1 Técnicas gerais para coleta e tratamento dos dados
3.4.3.1.1 Experimentação
3.4.3.1.2 Observação
3.4.3.1.2.1 Observação Participante (OP)
3.4.3.1.2.1.1 Pesquisa-ação
3.4.3.1.2.1.2 Estudos de caso in loco
3.4.3.1.2.1.3 Pesquisa de Survey in locoEntrevista in loco
3.4.3.1.2.2 Observação Não Participante (ONP)
3.4.3.1.2.2.1 Levantamento bibliográfico
3.4.3.1.2.2.1.1 RBI
3.4.3.1.2.2.1.2 RBN
3.4.3.1.2.2.1.3 RBS
3.4.3.1.2.2.1.4 MBS
3.4.3.1.2.2.2 Levantamento documental
3.4.3.1.2.2.3 Estudos de caso ex loco
3.4.3.1.2.2.4 Pesquisa de Survey ex locoEntrevista ex loco
3.4.3.1.3 Amostragem
3.4.3.1.3.1 Amostragem probabilística
3.4.3.1.3.2 Amostragem não probabilística
3.4.3.1.4 Testagem
3.4.3.2 Técnicas específicas para a coleta dos dados
3.4.3.2.1 Leitura científica
3.4.3.2.2 Protocolagem observacional
3.4.3.2.3 Entrevista
3.4.3.3 Técnicas específicas para o registro dos dados
3.4.3.3.1 Planificação manual
3.4.3.3.2 Planificação eletrônica
3.4.3.4 Técnicas específicas para a sistematização dos dados
3.4.3.4.1 Busca simples de strings
3.4.3.4.2 Busca avançada de strings
3.4.3.4.3 Fatores de inclusão/exclusão
3.4.3.5 Técnicas específicas para a organização dos dados
3.4.3.5.1 Leitura científica
3.4.3.5.2 Codificação
3.4.3.5.3 Categorização
3.4.3.5.4 Tabulação
3.4.3.6 Técnicas específicas para a análise ou interpretação dos dados
3.4.3.6.1 Leitura científica
3.4.3.6.2 Análise Bibliométrica (AB)
3.4.3.6.3 Análise de Conteúdo (AC)
3.4.3.6.4 Análise de Discurso (AD)
3.4.3.6.5 Exegese bíblica
3.4.3.6.6 Metanálise
3.4.3.7 Técnicas específicas para a formalização dos dados
3.4.3.7.1 Resumo científico
3.4.3.7.2 Resenha científica
3.4.3.7.3 Banner ou pôster
3.4.3.7.4 Maquete
3.4.3.7.5 Obra de arte
3.4.3.7.6 Máquina
3.4.3.7.7 Dispositivo eletrônico
3.4.3.7.8 TCC - Dissertação - Tese - Livro
3.4.3.7.9 Plano de Negócios
3.4.3.7.10 Projeto Político Pedagógico
3.4.3.7.11 Software
3.4.3.7.12 Edificação
3.4.3.7.13 Artigo científico
3.4.3.7.14 Exposição cultural ou- Museu
3.4.3.8 Técnicas específicas para apresentação dos dados
3.4.3.8.1 Exposição oral
3.4.3.8.2 Exposição visual
3.4.3.8.3 Exposição mista
3.4.4 As espécies de pesquisa científica..................................................................... xxx
3.4.4.1 Pesquisa de campo................................................................................. xxx
3.4.4.2 Pesquisa teórica ou básica
3.4.4.3 Pesquisa prática ou aplicada
3.4.4.4 Pesquisa original
3.4.4.5 Pesquisa exploratória
3.4.4.6 Pesquisa analítica
3.4.4.7 Pesquisa sintética
3.4.4.8 Pesquisa descritiva
3.4.4.9 Pesquisa explicativa
3.4.4.10 Pesquisa compreensiva
3.4.4.11 Pesquisa in victro
3.4.4.12 Pesquisa ex-post-facto
3.4.4.13 Pesquisa de mercado
3.4.4.14 Pesquisa e desenvolvimento
3.4.4.15 Pesquisa oral
Este trabalho tem como tema a Metodologia da Pesquisa Científica. A importância desse tema é
notória no meio acadêmico em geral, pois desse conteúdo os cientistas, bem como os aspirantes a
cientistas, devem valer-se a partir do momento em que decidem investigar cientificamente algum
objeto.
Esse tema justifica-se devido à necessidade de um arcabouço teórico-metodológico mais
completo, que elimine em partes as contradições existentes na vasta literatura crítica da temática bem
como promova as suas complementaridades.
A questão-problema que move esta pesquisa é discutir quais são os pilares fundamentais da
metodologia da pesquisa científica, classificando-os adequadamente, clarificando a sua correta
compreensão e o seu adequado uso. Nesse diapasão, o seu objetivo geral é fornecer à comunidade
acadêmica um manual da temática mais completo, coerente e abrangente que clarifique a correta
compreensão e o adequado uso dos três pilares da metodologia da pesquisa científica. E tem também os
seguintes objetivos específicos: a) propor uma nova taxonomia do conhecimento; b) eliminar em partes
a imensa imprecisão terminológica, conceitual, taxonômica e conteudal presente na vasta literatura
crítica da temática investigada.
Por essa razão, são duas as hipóteses originárias desta pesquisa, quais sejam: 1. por meio de um
bom levantamento bibliográfico e documental, é possível eliminar grande parte da referida imprecisão
encontrada na literatura da referida temática, bem como promover as suas complementaridades; e, 2.
por meio do estudo pormenorizado das principais bibliografias e documentos de uma determinada
temática, é possível alcançar o seu estado da arte, isto é, seu estado atual.
Para tanto, realiza-se uma revisão bibliográfica e documental abrangente sobre o tema. Os seus
fundamentos gerais encontram-se em Barros e Lefheld (2000; 2007), e em Köche (1997; 2011); os seus
fundamentos epistemológicos encontram-se em Vasconcellos (2010), Teixeira (2012), Vergara (2012),
Bêrni e Fernandez (2012), Menezes (1938), Piaget (1973) e Giles (1979); os seus fundamentos lógicos
encontram-se em Popper (1972), Bacha (1999), Débora et al. (2020), em Kant (2001), e em Pereira
(2009); os seus fundamentos técnicos encontram-se em Creswell (2010), Gil (1999; 2010), Marconi e
Lakatos (2003; 2007; 2008), Luna (2011), Eco (2012), Martins (2008), Moura e Ferreira (2005),
Oliveira (1997), Severino (2007), Soares (2003), Thiollent (2003), Yin (2010), Rodrigues (2006),
Castro (1978), Acevedo e Nohara (2010), Rodrigues (2007), Sampieri, Collado e Lucro (2006), dentre
muitos outros.
A Metodologia, enquanto disciplina, preocupa-se, a priori, com o estudo das fases, das
abordagens e dos meios lógicos de investigação de um determinado objeto. O termo metodologia
deriva-se da expressão latina methodus que significa caminho ou meio para a realização de algo, e da
expressão grega logos que significa estudo, análise. Logo, metodologia da pesquisa vem a ser, a priori,
o estudo dos meios ou caminhos adequados para se investigar um objeto (BARROS; LEHFELD,
2000).
Existem vários critérios para se classificar ou se caracterizar a pesquisa científica, dentre eles, a
natureza, o modo da obtenção das informações, a abordagem e os objetivos (RODRIGUES, 2006; GIL,
2010). Por exemplo, quanto à natureza, a pesquisa científica pode ser um trabalho original, primário,
ou um resumo ou uma resenha de assuntos, secundário; quanto à obtenção de informações, ela pode ser
bibliográfica, documental, de campo ou de laboratório; quanto à abordagem, ela pode ser quantitativa,
qualitativa ou mista; quanto aos objetivos, ela pode ser exploratória, descritiva ou explicativa
(CRESWELL, 2010; RODRIGUES, 2006).
O que Gil (1999) denomina métodos que determinam as bases lógicas de investigação e métodos
que indicam os meios técnicos de investigação, o geógrafo Rodrigues (2006) denomina métodos de
abordagem e métodos de procedimento, respectivamente.
Sinteticamente, os cinco métodos de abordagens apresentados por Rodrigues (2006, p. 137-143.
Grifos meus) são:
O método indutivo é aquele pelo qual uma lei geral é estabelecida a partir da observação e da
repetição de regularidades em casos particulares, isto é, por meio de observações particulares,
chega-se à afirmação de um princípio geral. [...]
Ao contrário da indução, o método dedutivo é um processo de raciocínio lógico que, a partir de
princípios e proposições gerais ou universais, chega a conclusões menos universais ou
particulares. [...]
O método hipotético-dedutivo [...] consiste na formulação da noção de falseabilidade como
critério fundamental para a explicação das teorias científicas. [...]
O método dialético procura contestar uma realidade posta, enfatizando as suas contradições.
Para toda tese, existe uma antítese que, quando contraposta, tende a formar uma síntese. [...]
O método fenomenológico é o estudo dos fenômenos, em si mesmos, apreendendo sua
essência, estrutura de sua significação. [...] A fenomenologia consiste na descrição de todos os
fenômenos [...]
Nesse mesmo diapasão, Rodrigues (2006, p. 143-149. Grifos meus) apresenta oito métodos de
procedimento, que, sinteticamente, são:
Com base nesses pressupostos apresentados por Gil (1999; 2010) e por Rodrigues (2006),
percebe-se que essas maneiras exemplificadas de dimensionar a Metodologia são bastante confusas,
imprecisas, incoerentes, visto que, valendo-se do princípio lógico da não contradição, os pilares
epistemológico, lógico e técnico diferem entre si, não podendo ser partes integrantes um do outro,
embora os três componham os pilares fundamentais da metodologia da pesquisa científica. Inobstante,
não somente essa, mas as divisões em geral adotadas para os pilares metodológicos da pesquisa
científica são igualmente confusas e longe passam de abarcar todos os seus principais aspectos e,
amiúde, não facilitam o trabalho do pesquisador quando de sua investigação (TEIXEIRA, 2012;
BARROS; LEHFELD, 2000; GIL, 1999, 2010; RODRIGUES, 2006).
A percepção que tive da imensa imprecisão terminológica, conceitual, taxonômica e conteudal
presente na vasta literatura crítica que consultei sobre a metodologia da pesquisa científica – consoante,
pode-se conferir nas referências alistadas nas páginas finais desse presente trabalho – foi a minha
primeira motivação para a construção desse compêndio. Então, quando eu observei atentamente as
palavras de Barros e Lehfeld (2000, 2007), eu constatei que elas deixam facilmente compreendido que
os pilares metodológicos da metodologia da pesquisa científica consistem em três eixos fundamentais:
a base epistemológica de investigação, que indica a forma de conceber a ciência, a verdade, a vida, o
homem e o mundo em que ela é produzida; a base lógica de investigação, que indica a estrutura dos
pensamentos e a sequência das fases da pesquisa; e a base técnica de investigação, que indica os ritos
procedimentais, no que concerne à(s) abordagem(ns), à(s) técnica(s) e aos instrumentos utilizados. Na
perspectiva de dimensionar a divisão da Metodologia de uma maneira mais precisa, coerente e
consistente, considero os seus dizeres (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 13. Grifos meus) como
fundantes do presente trabalho:
[…] é possível dimensionar a divisão da Metodologia em três aspectos interconectados, ou seja,
o epistemológico, o lógico e o técnico, elementos necessários à construção da Ciência:
a) Epistemológico: refere-se ao estudo das questões que se pode levantar na procura da
verdade, discussão dos limites, alcance e valor dos métodos científicos (estudo crítico dos
métodos científicos);
b) Lógico: supõe a organização lógica do raciocínio na prática da investigação e da ação
científica;
c) Técnico: é o científico das técnicas e procedimentos específicos utilizados e contextos
particulares das pesquisas temáticas problematizadas nas diferentes ciências.
Porém, as minhas motivações foram também outras duas. Como segunda motivação para as
elaborações e reelaborações do presente trabalho, foi a percepção que tive, por meio do intercâmbio
que fiz com outros acadêmicos, pesquisadores e profissionais, quer em várias empresas que trabalhei,
quer em várias universidades onde estudei, quer em vários eventos científicos que assisti e ou dos quais
participei, da imensa dificuldade por parte dos pesquisadores em geral em compreender e utilizar
adequadamente a metodologia da pesquisa científica. Por exemplo, nos primeiros 15 anos de atuação
no mercado de trabalho, eu vivi bastante desvalorização enquanto pesquisador pobre, em situação de
vulnerabilidade socioeconômica de alto grau de complexidade. Muitos colegas de trabalhos diziam:
“Você pesquisador e ainda trabalhando aqui!?! Para quê? Nossos superiores hierárquicos não
estudaram nem estudam, ou sabem tudo o que você sabe e estão numa situação social e econômica
melhor que a sua ou a minha.”, coisas nesse sentido. Outro exemplo foi em congressos e encontros
científicos que me fiz presente e ouvi dizer: “Usei a análise de discurso nas minhas pesquisas
quantitativas.”, ou “Usei a análise de conteúdo nas minhas pesquisas qualitativas.”, ou “Adotou-se o
método indutivo silogístico.”, ou “A filosofia não é ciência, e nem a ciência é filosofia.”, ou “A
epistemologia estuda a metodologia da pesquisa científica.”, ou “O pesquisador precisa ser neutro na
investigação de seu objeto.”, não exatamente com essas palavras, mas coisas nesse sentido.
Dificuldade essa que percebi ser resultante da imensa imprecisão terminológica, conceitual,
taxonômica e conteudal presente na literatura crítica sobre o tema, e que atemoriza os pesquisadores
quando de suas investigações científicas, fazendo-os sentirem-se incapazes de cimentá-las, o que, para
muitos, inclusive eu, consiste na realização de um sonho. Tanto é que, aos meus sete anos de idade,
quando eu comecei a elaborar a minha autobiografia em um caderninho que eu utilizava como um
diário, eu falava para mim mesmo que um dia eu queria fazer um livro sobre ciência, época essa em
que eu nem sabia o que era de fato ciência ou fazer um livro. Mas minha vontade permaneceu e
culmina no presente compêndio, que eu uso para ajudar todo aquele que, assim como eu, enxergue na
pesquisa científica um caminho para a realização de sonhos, para a transformação da realidade ao nosso
redor e para a autorrealização em todos os campos da vida. Bastante satisfeito vou ficar ao perceber o
conteúdo deste trabalho beneficiando todas as pessoas que dele usufruírem nas suas investigações
científicas.
A terceira motivação para a construção do presente compêndio foi a percepção que tive, no
decorrer das elaborações e das reelaborações das pesquisas científicas que realizei, da minha
ultrapassagem existencial, ou seja, das mudanças dos meus próprios paradigmas de homem, de vida, de
ciência, de mundo e de sua formação espaço-temporal, levaram-me à conclusão da existência de três
trajetórias, ou direções, ou, por preferência, eixos epistemológicos, isto é, três caminhos distintos para
se construir o conhecimento, quais sejam: [1] o cientificista, direcionado para o campo abstrato,
teórico, fenomenológico; [2] o tecnicista, direcionado para o campo concreto, prático, empírico; e, [3]
um caminho apontado numa direção entre o abstrato e o concreto, em partes teórico, em partes prático,
tanto fenomenológico quanto empírico, que preferi denominar historicista, por retratar melhor a
maneira como são construídas as ciências humanas e sociais no decorrer do próprio processo de
formação espaço-temporal do mundo. Sobre esses aspectos da ultrapassagem, Vasconcellos (2010, p.
163) corrobora:
A partir das três motivações supracitadas, que eu tive no ano 2015, aos meus 25 anos de idade,
levei em torno de cinco anos completos para elaborar este trabalho. Na medida em que eu lia mais e
mais trabalhos sobre a temática, eu a refinava. Desse modo, consegui montar um quadro mais
completo, coerente e abrangente, sem deixar de lado a essência de cada trabalho investigado. Dezenas
de vezes, li, reli, organizei, reorganizei, até que este trabalho cumprisse plenamente os objetivos para os
quais ele foi elaborado.
Este trabalho foi organizado em cinco capítulos. O primeiro capítulo refere-se à introdução, que
especifica o tema, a justificativa, a questão-problema, as hipóteses, os objetivos, uma introdução
teórica do tema, o percurso do investigador, e a estrutura deste trabalho. O segundo capítulo refere-se à
revisão da literatura, realizada de forma bastante abrangente, englobando a epistemologia científica, a
gnosiologia científica, a ontologia científica, o referencial teórico científico e a ética científica; engloba
também uma pequena introdução e conclusões deste capítulo. O terceiro capítulo refere-se aos três
pilares metodológicos propriamente ditos, constituindo-se no maior capítulo, por ser o mais importante
deste trabalho; engloba as fases da pesquisa científica, o pilar epistemológico, o pilar lógico, o pilar
técnico, as técnicas gerais e específicas empregadas na investigação cientifica, os instrumentos
utilizados nela, além de uma pequena introdução e conclusões deste capítulo. O quarto capítulo se
refere às conclusões e às considerações finais deste trabalho, sintetizando os principais termos,
conceitos, taxonomias e conteúdos desenvolvidos no seu decorrer. O quinto capítulo refere-se às
referências utilizadas na elaboração deste compêndio, separadas em dois grupos: o corpus de execução
de ensaio e o corpus de execução definitivo, conceitos esses explanados ao longo do capítulo 3. Por
fim, mas não menos importante, apresenta-se um glossário científico, um anexo único e dois apêndices,
úteis para a adequada compreensão dos conteúdos constantes neste compêndio.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Introdução
No entanto, além da ciência, existem outros tipos de conhecimento, tais como o filosófico, o
religioso e o de senso comum, sendo que suas respectivas peculiares exigem métodos, ou caminhos
lógicos de investigação, específicos e diferentes uns dos outros. Daí a existência de diversas
epistemologias, tais como a científica, a filosófica, a lógica, a matemática, a física, a religiosa, a
genética etc., cada qual com as suas características próprias (PIAGET, 1973). É bem por essa razão que
Piaget (1973, p. 14) define a epistemologia como sendo:
[…] a teoria do conhecimento válida e, mesmo que esse conhecimento não seja jamais um
estado e constitua sempre um processo, esse processo é essencialmente a passagem de uma
validade menor para uma validade superior. Resultado disso é que a epistemologia é
necessariamente de natureza interdisciplinar, uma vez que tal processo suscita, ao mesmo
tempo, questões de fato e de validade. […]
Em seguida, o referido autor (1973, p. 14) destaca que a epistemologia vai muito além do que a
lógica e do que a psicologia das funções cognitivas, sendo, desse modo, dessemelhante dessas,
conforme passa a dizer:
Logo, o referido autor (1973, p. 83-100), após analisar os prós e os contras sobre as fronteiras
dos conhecimentos científicos, alicerçado nos melhores estudiosos epistemologistas, apresenta suas
conclusões com as seguintes palavras:
Não vejo, pois, em definitivo, senão um critério distintivo entre as ciências e a filosofia; aquelas
se ocupariam das questões particulares, enquanto esta tenderia ao conhecimento total. […] o
que é um problema científico formulado e como é tomado para dissociar uma questão do campo
da filosofia? Duas condições nos parecem necessárias e suficientes a este respeito. A primeira
vem simplesmente delimitar o domínio a estudar, abatendo-se por método, por convenção e
quase por uma espécie de gentleman's agreement, de discutir todas as outras questões com o
sujeito. Poder-se-ia dizer com familiaridade (e eu me escuso perante os metafísicos aqui
presentes) que o filósofo se reconhece pelo fato de falar de tudo ao mesmo tempo – e é forçado
a isso pela superposição mútua das questões preliminares – enquanto que o homem de ciência
se esforça em só se ocupar de uma coisa após outra. A segunda condição deriva
psicologicamente desta delimitação mesmo: decidido a não queimar as etapas, o homem de
ciência se sujeita, em cada questão particular, a acumular fatos de experiência ou a penetrar
axiomaticamente seu raciocínio, até o acordo de todos os pesquisadores sobre os fatos ou as
deduções; proíbe-se, por conseguinte, por contrário a sua moral da objetividade, toda
sistematização prematura. […]
O saber filosófico e científico é fundado sobre o fato irrecusável de que não estamos na
situação de fatos como um objeto no espaço objetivo, pois ela é para nós princípio de
curiosidade, de investigação, de interesse para outras situações, enquanto variantes da situação
atual. Chamar-se-á ciência à tentativa de construir variáveis ideais que objetivem e
esquematizem o funcionamento dessa comunicação efetiva. Chamar-se-á Filosofia à
consciência que nos é necessário manter comunicação aberta e sucessiva de homens que
pensam e falam, uns em presença dos outros e todos em relação com o mundo, tal como o
percebemos atrás de nós, em volta de nós e diante de nós, nos limites do nosso campo histórico,
como da realidade última cuja presença é retraçada pelas nossas construções teóricas, que a ela
não se poderiam substituir.
Percebe-se ainda, desse modo, pouca clareza quanto às fronteiras entre as ciências e a filosofia,
cuja delimitação restringe-se ao fato de a filosofia objetivar conhecer o ser enquanto ser e a ciência os
seres particulares (PIAGET, 1973). Porém, o que dizer sobre o tipo de conhecimento produzido nos
trabalhos acadêmicos dos cursos de graduação, especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado
em Filosofia: é científico ou filosófico? Para respondermos satisfatoriamente a essa questão,
precisamos compreender bem a natureza da ciência e da filosofia, motivo pelo qual é considerada nos
próximos parágrafos.
A ciência é um conhecimento hipotético e, por essa razão, testável e falível, construída
sistematicamente e comprovada factual e empiricamente, que se preocupa em estudar os seres
particulares. A filosofia é um conhecimento não hipotético e, por essa razão, não testável e infalível,
construída também sistematicamente, porém comprovada puramente pela lógica (KÖCHE, 1997;
PIAGET, 1973; GILES, 1979).
Ademais, ciência e filosofia diferem quanto ao sistema de investigação utilizado. Por exemplo,
não se utiliza pesquisa experimental nem a pesquisa quantitativa no processo de investigação filosófica,
uma vez se tratando de conhecimento não hipotético, não testável, exclusivamente qualitativo. Quanto
à estrutura do pensamento filosófico, a técnica utilizada é sempre a dedução. Já no processo de
investigação científica, por sua vez, são utilizadas as abordagens qualitativa, quantitativa ou mista,
além de métodos experimentais, em razão de sua natureza hipotética, isto é, sujeita a testes e, por isso,
falível. Quanto à estrutura do pensamento científico, são várias técnicas utilizadas, dentre as quais a
dedução e a indução (RODRIGUES, 2007; CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2007).
Em suma, podemos conceber a ciência como o conhecimento baseado em fatos. Desse modo, a
ciência preocupa-se em “conhecer as coisas, os fatos, os acontecimentos e fenômenos, para tentar
estabelecer uma previsão do rumo dos acontecimentos que cercam o homem e controlá-los”. (KÖCHE,
1997, p. 43).
Digno de nota que, embora a aplicação prática das descobertas científicas satisfaça as
necessidades humanas e estabeleça um controle prático sobre a natureza, a ciência não se reduz,
meramente, à atividade de propiciar o controle prático sobre os fenômenos naturais. Sobre esse aspecto,
Köche (1997, p. 43) salienta:
Essa compreensão cientificista e reducionista é errônea e limitada. […] A causa principal que
leva o homem a produzir ciência é a tentativa de elaborar respostas e soluções às suas dúvidas e
problemas e que o levem à compreensão de si e do mundo em que vive.
Ainda que a ciência da forma como é modernamente concebida tenha sua origem no contexto
do Renascimento, ocorrido na França, no século XVI, ela já existia, de outras formas, já no oitavo
século antes de Cristo, no mundo grego, ante os filósofos pré-socráticos. Corroborando tal ponto,
Köche (1997, p. 44) diz-nos:
[…] é a maiêutica, a arte da parteira, que ajuda o intelecto a dar à luz criaturas do pensamento.
Por um processo de interrogação contínua, Sócrates leva o interlocutor gradativamente à meta,
que é o conceito, elemento constitutivo da ciência. Com essa ciência, a unidade de visão da
realidade é conseguida sem detrimento da pluralidade e da variedade que o conceito pode
refletir no sensível.
Os momentos essenciais dessa ciência são a definição, que coincide com a própria ideia de
conceito, e a indução – a forma de argumentação que do particular vai ao geral, do indivíduo à
espécie – que contém imanente em si a lei. É essa força dinâmica da ciência que leva daquilo
que é conhecido àquilo que era desconhecido, da verdade conquistada à conquista de novas
verdades.
Mais adiante, no século V a. C. surgiu com Platão (429-348/7 a. C.) o modelo platônico, cuja
“forma, acessível aos sentidos, apenas nos mostra como as coisas são, mas não o que elas são”
(KÖCHE, 1997, p. 45). Como, para Platão, o real é o pensado, é o intuído, então, tal com diz Köche
(1997, p. 46):
O que nos fornece o que são as coisas, o seu verdadeiro conhecimento, a ciência, é a
inteligência, o entendimento, que é o conhecimento racional intuitivo, desenvolvido através da
dialética – intuição dos princípios universais, análise e síntese –, concebido por Platão como um
método científico racional. A essência do mundo só é acessível ao entendimento, pois as ideias,
os modelos de todas as coisas, enquanto entidades reais, eternas, imutáveis, imateriais, perfeitas
e invisíveis, não estão neste nosso mundo de aparências sensíveis e mutáveis, mas num mundo
superior e eterno.
O pensamento platônico fundamenta-se na dialética, haja vista que o pensamento não toma
posse imediata da verdade, mas deve procurá-la. Nas palavras de Giles (1979, p. 46):
Dessa forma o modelo aristotélico propõe uma ciência (episteme) que produz um conhecimento
que pretende ser um fiel espelho da realidade, por estar sustentado no observável e pelo seu
caráter de necessidade e universalidade. Desenvolve um conhecimento da essência das coisas e
das suas causas, respondendo às perguntas o que é? e por que é? A ciência atistótélica
manifesta-se com uma ciência do discurso, qualitativa, que proporciona um conhecimento
universal, estável, certo e necessário, tal qual propunham os pré-socráticos.
Continuando nesse diapasão, o pensamento aristotélico, por sua vez, fundamenta-se na lógica
que, consoante explana Giles (1979, p. 48) é:
[…] o instrumento que nos ajuda a adquirir o conhecimento científico. Ela se inicia pela
classificação fundamental das coisas, classificação essencial para a elaboração de uma
linguagem científica. O que é essencial nessa elaboração é a possibilidade de nomear as coisas,
dando-lhes um sentido estável, nomeá-las univocamente. É assim que podemos formular uma
ciência, isto é, um conjunto de proposições em que certas características essenciais são
predicados, atribuídos a certas classes de coisas sem ambigüidades. Essa univocidade é um fato
no mundo, que o discurso, a linguagem, refletem. Não se trata de palavras enquanto simples
unidades da língua, e sim enquanto meios para a classificação de coisas na medida em que
termos singulares podem designá-las. Trata-se de unidades primárias do discurso científico.
No período histórico-científico grego, que durou mais de 2.300 anos, o mundo era visto pelos
gregos como dotado de uma ordem e estrutura natural que governava o cosmos e que regia todos os
acontecimentos, na qual todo ser adquiria sentido, fitos essenciais da filosofia e da ciência (KÖCHE,
1997). Nesse diapasão, “conhecimento científico era o demonstrado como certo e necessário através
dos argumentos lógicos”, de modo que o “valor de uma explicação estava no seu poder argumentativo
que justificava sua aceitação e plausibilidade” (KÖCHE, 1997, p. 48).
A partir do século XV, todavia, e mormente no século XV, no decorrer do Renascimento, os
modelos platônico e aristotélico foram duramente atacados. Os renascentistas Galileu (1564-1642) e
Bacon (1561-1626) rejeitavam tais modelos filosóficos de produzir ciência, opondo-se à ciência grega e
ao dogmatismo religioso que imperava naquela época. Galileu e Bacon (1620?) introduziram a
experimentação científica, “modificando radicalmente a compreensão e concepção teórica de mundo,
de ciência, de verdade, de conhecimento e de método” (KÖCHE, 1997, p. 49).
A revolução científica ocorrida no século XVII surgiu da exigência de métodos precisos,
quantitativos, de investigação e explicação dos fenômenos naturais. A necessidade de uma relação
numérica para tratar de questões, tais como a velocidade da mudança e do movimento na física,
mostrou o quanto era inadequada a ciência qualitativa grega (KÖCHE, 1997).
Criticando severamente o aristotelismo e o empirismo ingênuo, Bacon (1620?) defende que a
experiência vulgar conduzia a enganos (KÖCHE, 1997). Para ele, “a leviandade com que os
observadores se deixavam levar pelas impressões dos sentidos e concluíam generalizações utilizando
indevidamente a indução”, próprio do método silogístico e da abstração, “não ofereciam um
conhecimento completo do universo” (KÖCHE, 1997, p. 50). Sobre esse aspecto, Köche (1997, p. 50)
acentua:
Bacon não conseguiu dar o salto do qualitativo para o quantitativo, como fez Galileu,
verdadeiro pai da evolução científica moderna. No entanto, foi grande a influência do
empirismo e do indutivismo de Bacon sobre a vulgarização do pensamento científico moderno.
E também não foram poucos os cientistas que reafirmaram a ideia de que a ciência deveria
fundamentar-se na pura observação dos fatos e não se deixar levar por hipóteses apriorísticas
para alcançar a objetividade no conhecimento. E entre eles esteve Newton.
A perspectiva cristã introduziu algumas distinções que romperam com a ideia grega de uma
participação direta e harmoniosa entre o nosso intelecto e a verdade, nosso ser e o mundo, pois
os filósofos antigos consideravam que éramos entes participantes de todas as formas de
realidade: por nosso corpo, participamos da natureza; por nossa alma, participamos da
Inteligência divina.
[…] Bacon afirmava que as ideias preconcebidas deveriam ser eliminadas da mente do
investigador. Einstein não as eliminou. Ao contrário, semelhante ao artista, deu asas à
sensibilidade e à imaginação. Projetou subjetivamente um modelo de mundo que não fora
captado registrando passivamente dados sensoriais, mas influenciado por suas emoções, paixão
mística, impulsos de sua imaginação, convicções filosóficas e, como ele próprio afirmou, por
um “sentimento religioso cósmico”. […] Demonstrou que, mais do que uma simples descrição
da realidade, a ciência é a proposta de uma interpretação. O cientista se aproxima mais do
artista que do fotógrafo.
Desse modo, foram duas as contribuições de Einstein para a descoberta da visão moderna de
ciência: uma foi a primeira ruptura que atingiu diretamente esse processo de descoberta da visão
moderna de ciência, e outra foi “a demonstração de que, por maior que seja o número de provas
acumuladas em favor de uma teoria, ela jamais poderá ser aceita como definitivamente confirmada”
(KÖCHE, 1997, p. 60). Satisfeito com essa posição, Köche (1997, p. 60) corrobora com os seguintes
dizeres:
[…] Os esquemas explicativos mais sólidos podem ser substituídos por outros melhores. O
progresso científico, então, deixa de ser acumulativo para ser revolucionário. E o critério até
então adotado para distinguir a ciência da não-ciência, o da confirmabilidade obtida pelo uso do
método experimental indutivo, cai por terra. E uma nova pergunta se coloca: Que critério
utilizar para demarcar e distinguir a ciência de outras formas de conhecer? É possível ter um
procedimento padrão, um método científico, para fazer ciência?
[…] Não existe um modelo com normas prontas, definitivas, pelo simples fato de que a
investigação deve orientar-se de acordo com as características do problema a ser investigado,
das hipóteses formuladas, das condições conjunturais e da habilidade crítica e capacidade
criativa do investigador. Praticamente, há tantos métodos quantos forem os problemas
analisados e os investigadores existentes.
Todavia, existem critérios básicos que precisam ser utilizados no processo de investigação
científica no fito de que o conhecimento possa ser considerado válido, isto é, verdadeiro. São
exatamente esses critérios básicos, ou passos gerais, que orientam e sustentam aquilo que histórica e
epistemologicamente denomina-se “método científico” (KÖCHE, 1997).
É, pois, desse modo de pensar a construção do saber que se descobriu o método científico
hipotético-dedutivo, que propõe nada mais nada menos do que partir de “um questionamento elaborado
pelo sujeito que põe em dúvida o conhecimento já produzido, por percebê-lo ou como teoricamente
inconsistente ou mesmo incompatível com outras teorias, ou como inadequado para explicar os fatos”
(KÖCHE, 1997, p. 71).
Ainda sobre o processo do conhecer a partir da ciência contemporânea, Köche (1997, p. 71)
explana:
Via de regra, toda hipótese deve ser testável e rigorosamente testada no fito de ser validada e
qualquer conhecimento considerado cientificamente válido não o é definitivamente, mas
provisoriamente. Dito isso, Köche (1997, p. 74) concorda dizendo que:
[…] Proposta a hipótese, deve-se dela deduzir logicamente consequências expressas em uma
linguagem comum em que predominam temos de observação. Essa tradução proporciona a
passagem da linguagem de um nível mais abstrato da ciência para um menos abstrato que
contenha um conteúdo diretamente empírico que possibilite a observação e a testagem. […] A
hipótese não será rejeitada se agüentar os testes de rejeição e permanecerá provisoriamente
como corroborada. Se no confronto com a base empírica não agüentar às contra-evidências, será
rejeitada.
Haja vista que a história da ciência está repleta de exemplos denominados “recalcitrantes” de
teorias e hipóteses que, apesar de terem provas falseadoras, ainda assim, continuaram a ser aceitas na
comunidade científica, infere-se, então, que apenas submeter uma hipótese a testes isolados,
confrontando-a exclusivamente com a sua base empírica, não é o suficiente (KÖCHE, 1997). Sobre
esse aspecto, Köche (1997, p. 75) elucida:
[…] Essa fase é necessária, mas não é suficiente. Há a necessidade, ainda, de confrontá-la
também com outras hipóteses concorrentes, comparando o seu desempenho com o de outras
hipóteses e teorias. […] Uma vez testada e avaliada a hipótese, não é conveniente afirmar “a
hipótese foi aceita”, ou confirmada, pois jamais um experimento a confirmar, ou a válida em
sentido positivo (i.e., absoluto), por maior severidade, controle e rigor que tenham sido
adotados. Deve-se afirmar “a hipótese não foi rejeitada”, isto é, a partir das provas de não se ter
encontrado algo em contrário quando submetida a testes de falseabilidade e confrontada com o
resultado de outras teorias, ela passa a proporcionar uma aceitação temporariamente válida.
[…]
Destarte, em se tratando de conhecimento produzido por humanos, imperfeitos, não existe(m)
verdade(s) absoluta(s) produzida(s) por humanos. Nesse caso, tal qual aponto Köche (1997, p. 75), “o
valor de uma teoria está em sua corroboração, isto é, no fato de não ter sido ainda rejeitada, após ter
passado por severas provas”.
Com base nesses pressupostos, a ciência não é um sistema de enunciados certos ou bem
estabelecidos, mas sim um processo de investigação, sistemático e contínuo, que utiliza procedimentos
adequados no fito de localizar os possíveis erros de suas teorias, por meio de testes de falseabilidade e
do confronto com outras teorias, para substituí-las por outras que não contenham os erros da anterior e
com maior conteúdo informativo. A ciência, portanto, nunca alcança a verdade, jamais podendo
proclamar tê-la atingido ou um substituto da verdade, como a probabilidade, mas ela tão somente torna
mais clara a compreensão da realidade e menos distante da verdade (i.e., absoluta) a nossa
compreensão.
[…] Conforme essa teoria, toda proposição afirma algo como sendo o caso for realmente o
caso; e é falsa se, e só se, aquilo que expressa não for o caso. […]
Conforme a teoria da evidência, uma proposição é verdadeira se, e só se, for evidente por si
ou, embora não sendo evidente por si, seja implicada logicamente por premissas que são
evidentes por si. Essa teoria considera uma convicção ou um sentimento de evidência por si
como condição suficiente de verdade, embora tal convicção ou sentimento possam (e isto
acontece de fato) mudar tanto na mesma pessoa como de pessoa para pessoa. A experiência
mostra que as convicções e os sentimentos de evidência por si podem ser ilusórios e a teoria
não estabelece critérios para distinguir entre aqueles que são e não são ilusórios. […]
A tese fundamental da teoria da coerência é: há um, e só um, conjunto coerente de
proposições. […] Podemos definir a noção de “conjunto coerente de proposições” e de
“proposição verdadeira” em termos da noção de “envolvimento” e formular a tese fundamental
da teoria da coerência da verdade nos seguintes termos: um conjunto de proposições é coerente
se, e só se, (a) cada proposição do conjunto envolver as demais proposições do conjunto; (b)
toda proposição que estiver envolvida por uma proposição que pertence ao conjunto pertence
ela mesma ao conjunto. Uma proposição é verdadeira (no sentido da teoria da coerência) se, e
só se, pertencer a um conjunto coerente. […]
O arquétipo dessa teoria da coerência encontra-se no pensamento de Hegel, embora ele se
referisse não ao envolvimento entre proposições, mas sim entre atributos. Ele procura mostrar
que, a partir do atributo do Ser puro, podemos averiguar como o Ser envolve todos os demais
atributos da realidade e como todos esses atributos se envolvem uns nos outros.
(grifos meus)
Na primeira parte de seu livro, quando trata da teoria da ciência, Köche (1997, p. 27) apresenta
as dessemelhanças entre o conhecimento de senso comum e o conhecimento científico, acentuando que
“a vaguidade da linguagem utilizada no sensu comum conduz a um baixo poder de discriminação entre
os confirmadores e os falseadores potenciais de seus enunciados”, tornando-se, desse modo, quase
impossível o seu controle e a sua avaliação experimental. Por outro lado, o referido autor (1997, p. 30)
pontua que o conhecimento científico, enquanto processo de investigação que age no fito de construir
uma resposta segura para responder às dúvidas existentes, “propõe-se atingir dois ideais: o ideal da
racionalidade e o ideal da objetividade”.
Explanando o ideal da racionalidade, Köche (1997, p. 31) ressalta:
Em seguida, o referido autor (1997, p. 32) passa a explanar o ideal da objetividade, com os
seguintes dizeres:
O ideal da objetividade, por sua vez, pretende que as teorias cientificas, como modelos teóricos
representativos da realidade, sejam construções conceituais que representem com fidelidade o
mundo real, que contenham imagens dessa realidade que sejam “cerdadeiras”, evidentes,
impessoais, passíveis de serem submetidas a testes experimentais e aceitas pela comunidade
científica como provadas em sua veracidade. Esse é o mecanismo utilizado para avaliar a
verdade semântica.
A objetividade do conhecimento científico se fundamenta em dois fatores, interdependentes
entre si: (a) a possibilidade de um enunciado poder ser testado através de provas fatuais e (b) a
possibilidade dessa testagem e seus resultados poderem passar pela avaliação crítica
intersubjetiva feita pela comunidade científica.
[…] Apesar de a ciência trabalhar com dados, provas fatuais, ela não fica isenta de erros de
interpretação dessas provas. Por mais que se esforce, o cientista, o investigador, estará sempre
sendo influenciado por uma ideologia, por uma visão de mundo, pela sua formação, pelos
elementos culturais e pela época em que vive. Há uma expectativa que orienta a sua visão de
mundo e a busca de explicações. Para minimizar os possíveis erros decorrentes de uma
expectativa subjetiva, é que a ciência exige a intersubjetividade, isto é, a possibilidade de a
comunidade científica ajuizar consensualmente sobre a investigação, seus resultados e métodos
utilizados. A intersubjetividade é o terceiro mecanismo utilizado no conhecimento científico e
que proporciona a verdade pragmática.
Como se percebe, existem três verdades que imperam o processo de investigação científica: a
verdade sintática, a verdade semântica e a verdade pragmática. São essas as principais razões de o
conhecimento científico ser considerado mais seguro, mais correto e mais confiável. Daí que as
principais dessemelhanças entre o conhecimento dito científico do popular são: o seu sistematismo de
investigação, o rigor da sua avaliação e a alta confiabilidade de suas informações e resultados.
Nesse diapasão, para que um conhecimento seja aceito como científico pela comunidade
científica, ele “deverá, necessariamente, satisfazer a critérios que justifiquem a sua aceitação”
(KÖCHE, 1997, p. 34), os quais são resultantes da utilização do denominado método científico, isto é,
do conjunto de “procedimentos não padronizados adotados pelo investigador, orientados por postura e
atitudes críticas e adequados à natureza de cada problema investigado” (KÖCHE, 1997, p. 35).
Especificando os três critérios de cientificidade adotados pela comunidade científica, quando da
validação do conhecimento como científico, Köche (1997. p. 35-36) passa a dizer:
[…] O que se aceita chamar de método científico é a forma crítica de produzir o conhecimento
científico, que consiste na proposição de hipóteses bem fundamentadas e estruturas em sua
coerência teórica (verdade sintática) e na possibilidade de serem submetidas a uma testagem
crítica severa (verdade semântica) avaliada pela comunidade científica (verdade pragmática).
Como se pode constatar, não há apenas um critério de verdade a ser adotado, mas três: o
sintático, o semântico e o pragmático. Mesmo assim, a soma dos três não é suficiente para
demonstrar a verdade de um determinado enunciado e justificar a sua aceitação como um
resultado questionável.
(grifo meu)
CRITÉRIOS DE CIENTIFICIDADE
Inobstante, infere-se que, no processo de investigação científica, sujeito e objeto são sempre
dependentes e indissociáveis, razão pela qual é estimulada a criação de fundamentos mais sólidos para
a construção do conhecimento e a testagem permanente de suas hipóteses de uma forma mais rígida e
severa, por meio do “uso de enunciados com elevado poder de discriminação de testagem” e do “uso de
métodos de investigação o máximo confiáveis” (KÖCHE, 1997, p. 33).
Em contrapartida, embora o conhecimento científico seja mais seguro que o do senso comum,
ainda assim ele também é falível. Sua natureza hipotética precisa ser continuamente submetida a uma
revisão crítica, tanto na consistência lógica interna das suas teorias, quanto na validade dos seus
métodos e técnicas de investigação, o que, consoante Köche (1997), percebe-se que historicamente já
ocorre.
O maior obstáculo para o progresso científico não é o método nem os seus adequados
procedimentos técnicos, mas sim o grau de confiabilidade da interpretação que o homem tem da
realidade (UBC, 2007). Não obstante, no processo de construção do conhecimento, a sensação e a
percepção humanas, elementos originadores da sua interpretação, são os principais complicadores,
consoante Menezes (1938, p. 25-26) corrobora:
Sobre esse aspecto, Chauí (2005, p. 126) destaca uma teoria conhecida como a crítica dos ídolos
idealizada por Bacon, com os seguintes dizeres:
De acordo com Bacon, existem quatro tipos de ídolos ou de imagens que formam opiniões
cristalizadas e preconceitos, que impedem o conhecimento da verdade:
1. Ídolos da caverna (a caverna de que fala Bacon é a do mito da caverna): as opiniões que se
formam em nós por erros e defeitos de nossos órgãos dos sentidos. São os mais fáceis de serem
corrigidos por nosso intelecto;
2. Ídolos do fórum (o fórum era o lugar das discussões e dos debates públicos na Roma antiga):
são as opiniões que se formam em nós como consequência da linguagem e de nossas relações
com os outros. São difíceis de serem vencidos, mas o intelecto tem poder sobre eles;
3. Ídolos do teatro (o teatro é o lugar em que ficamos passivos, onde somos apenas espectadores
e receptores de mensagens): são as opiniões formadas em nós em decorrência dos poderes das
autoridades que nos impõem seus pontos de vista e os transformam em decretos e leis
inquestionáveis. Só podem ser desfeitos se houver uma mudança social e política;
4. Ídolos da tribo (a tribo é um agrupamento humano em que todos possuem a mesma origem, o
mesmo destino, as mesmas características e os mesmos comportamentos): são as opiniões que
se formam em nós em decorrência da natureza humana. São próprios da espécie humana e só
podem ser vencidos se houver uma reforma da própria natureza humana.
A demolição dos ídolos é, portanto, uma reforma do intelecto, dos conhecimentos e da
sociedade. Para os dois primeiros, Bacon propõe a instauração de um método, definido como o
modo seguro de “aplicar a razão à experiência”, isto é, de aplicar o pensamento lógico aos
dados oferecidos pelo conhecimento sensível.
Desse modo, infere-se que a interpretação humana resulta de suas sensações e percepções para
com o objeto pesquisado. Dito isso, o conhecimento produzido pelo homem é tão coerente, consistente,
correto, confiável ou verdadeiro, quanto o for a sua interpretação da realidade (MENEZES, 1938;
GILES, 1979).
2.3.1 Os pesquisadores
O pesquisador, seja ele autor ou coautor de uma investigação, é o principal sujeito da pesquisa,
pois é ele o autor, é ele que fala com autoridade sobre um tema. Sua importância no processo de
investigação é maior do que a dos examinadores, haja vista que é ele quem gasta meses, às vezes anos,
lendo, meditando e tirando conclusões sobre tudo o que fora dito sobre seu tema. Nesse diapasão, faço
minhas as palavras de Eco (2012, p. 142) quando salienta:
Como não está à altura? Dedicou-se meses, às vezes anos, ao tema escolhido, leu talvez tudo o
que era preciso ler sobre ele, meditou, tomou notas, e vem agora com essa conversa de não estar
à altura? Mas que diabo esteve fazendo todo esse tempo? Se não se sentia qualificado, não
apresentasse a tese. Se a apresentou, é porque se sentia preparado e, em qualquer caso, não tem
direito a desculpas. Assim, uma vez expostas as opiniões alheias, uma vez expressas as
dificuldades, uma vez esclarecidas se sobre determinado tema são possíveis respostas
alternativas, vá em frente. Diga tranquilamente: “julgamos que” ou “pode-se concluir que”. Ao
falar, você é a autoridade. Se for descoberto que é um charlatão, pior para você, mas não tem o
direito de hesitar. Tem o papel de funcionário da humanidade, falando em nome da coletividade
sobre aquele assunto. Seja modesto e prudente antes de abrir a boca, mas, depois de abri-la, seja
arrogante e orgulhoso.
Fazer uma tese sobre o tema X significa presumir que até então ninguém tivesse dito nada de
tão completo e claro sobre o assunto. O presente livro lhe ensinou que deve ser cauteloso ao
escolher o tema, ser suficientemente perspicaz para optar por algo limitado, talvez muito fácil,
talvez ignobilmente setorial. Mas, sobre o que escolheu, nem que tenha por título Variações na
Venda de Jornais na Esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida São João de 24 a 28 ago.
1976, você deve ser a máxima autoridade viva.
Mesmo que tenha escolhido uma tese de compilação, que resuma tudo quanto foi dito sobre o
assunto sem nada acrescentar de novo, você é uma autoridade sobre o que foi dito por outras
autoridades. Ninguém deve conhecer melhor tudo o que foi dito a respeito.
Naturalmente, deve trabalhar de maneira a não atentar contra a consciência. Mas isso é outra
coisa. A questão aqui é de estilo. Não seja choramingas e complexado. Isso aborrece.
2.3.2 Os examinadores
Os examinadores são todos os sujeitos que avaliam, revisam ou examinam a pesquisa científica.
Podem ser os professores orientadores, os professores revisores do trabalho, ou os professores
componentes da banca examinadora, quer do exame de qualificação, quesito obrigatório nos cursos de
mestrado e doutorado, quer na defesa pública do Trabalho Final de Conclusão de Curso (TFCC). A
atividade de examinar trabalhos científicos requer dos examinadores grande bagagem teórica e prática
do tema examinado. As bancas examinadoras precisam ser compostas por professores doutores
profissionais, gabaritados no tema, autoridades no assunto pesquisado, a fim de que possam não apenas
atuar como peritos, avaliando o trabalho, mas também como orientadores do avaliando, fornecendo-se
dicas para melhorar o seu trabalho produzido e a sua atividade de pesquisa em geral.
2.3.3 Os auxiliares
Os auxiliares são todos os sujeitos que auxiliam o pesquisador no seu processo de investigação.
Podem ser as pessoas que organizam, higienizam, guardam ou fazem alguma manutenção nos lócus de
investigação, de planificação, ou de exame do trabalho. Podem ser os profissionais de uma biblioteca,
de um laboratório onde se realiza um experimento necessário para a pesquisa, ou algum colaborador
que ajuda o pesquisador em alguma etapa da sua pesquisa. Também incluem as pessoas, sejam elas
físicas ou jurídicas, que contribuem financeiramente para a realização do trabalho.
2.2.4 O público-alvo
O público-alvo refere-se aos sujeitos a quem a pesquisa é destinada. A pergunta em cena é: para
quem estou destinando essa pesquisa, ou esse trabalho? Seja para determinados profissionais, seja para
uma comunidade inteira ou um órgão específico, esse é o público-alvo da investigação. É justamente
pensando nas contribuições possíveis a esse público com os resultados do trabalho que o pesquisador o
realiza.
O termo ontologia, originado de duas raízes gregas, principiou a ser utilizado no século XVI,
sendo que, antes disso, era a palavra metafísica a designada para se referir à investigação filosófica que
gira em torno da pergunta “O que é?” (CHAUÍ, 2005).
Explanando sobre as palavras “metafísica” e “ontologia”, Chauí (2005, p. 180-181) chama à
atenção que a primeira possui dois sentidos, quais sejam:
1. Significa “existe”, de modo que a pergunta se refere à existência da realidade e pode ser
transcrita como: “O que existe?”;
2. Significa “natureza própria de alguma coisa”, de modo que a pergunta se refere à essência da
realidade, podendo ser transcrita como: “Qual é a essência daquilo que existe?”
Existência e essência da realidade em seus múltiplos aspectos são, assim, os temas principais da
metafísica, que investiga os fundamentos, os princípios e as causas de todas as coisas e o Ser
íntimo de todas as coisas, indagando por que existem e por que são o que são.
O uso do termo “metafísica” principiou por volta do ano 50 AEC, por Andrônico de Rodes,
quando ele recolheu e classificou as obras de Aristóteles que, durante muitos séculos, haviam ficado
dispersas e perdidas. No entanto, tal termo não era empregado pelos filósofos gregos (CHAUÍ, 2005).
Posteriormente, no século XVII, o filósofo alemão Jacobus Thomasius julgou a palavra
“ontologia” mais adequada do que a palavra “metafísica” para caracterizar sucintamente o estudo do
Ser em si, da sua existência e da sua essência, o que Aristóteles chamou de filosofia primeira (CHAUÍ,
2005).
Sobre a origem do termo ontologia, Chauí (2005, p. 183) explana:
[...] Essa palavra é composta de duas outras: onto e logia. Onto deriva de dois substantivos
gregos, tà onta (“os bens e as coisas realmente possuídas por alguém”; e “as coisas realmente
existentes”). Tà onta deriva do verbo ser, que, em grego, se diz einar. O particípio presente
desse verbo se diz on (“sendo, ente”). Dessa maneira, as palavras tà onta (“as coisas”) e on
(“ente”) levaram a um substantivo: tò on, que significa “o Ser”. O Ser é o que é realmente e se
opõe ao que parece ser, à aparência. Assim, ontologia significa “estudo ou conhecimento do Ser,
dos entes ou das coisas tais como são em si mesmas, real e verdadeiramente, correspondendo ao
que Aristóteles chamara de filosofia primeira, isto é, o estudo do Ser enquanto Ser”.
A validade da fonte é analisada pela técnica denominada validação, a qual, conforme aponta
Rodrigues (2007, p. 22), “consiste no reconhecimento da consistência teórica de um discurso pelo
esforço da falsificação”. Após explanar que a “falsificação é o esforço para infirmar uma teoria,
propondo-lhe problemas ou contrastando-a com a capacidade de resolver impasses de outra teoria”, o
autor (2007, p. 22-23) acentua que “válido é aquilo que continua resistindo ao esforço de falsificação
ou que contém informações fáticas confiáveis, e que continua encontrando aplicação no momento da
pesquisa”.
Quanto à pertinência das informações para o estudo realizado, precisa-se definir, a priori, o que
vem a ser conteúdo pertinente. Para Rodrigues (2007, p. 20), pertinentes são: “[…] os conteúdos [que]
esclarecem a relação entre os assuntos: ou a obra trata do problema da pesquisa, ou, pelo menos, do
tema, ou não é pertinente. […]” (grifo meu).
Portanto, pertinentes são as informações que esclarecem a questão-problema da pesquisa, ou
pelo menos o seu tema.
2.5.3 As contribuições do material bibliográfico
[…] embora trate de assunto diferente, pode representar acréscimos de modo indireto para a
investigação em curso, ou até oferecer algum subsídio específico e direto ao pesquisador.
Inversamente, há obras que, embora tratando do assunto visado, podem não acrescentar
absolutamente nada, ou quase nada, ao acervo de conhecimento do pesquisador.
Um livro sobre política pode analisar o sistema familiar e as relações de parentesco de uma
dada sociedade, contribuindo assim para inúmeras outras pesquisas não interessadas em
política, mas voltadas para o estudo de parentelas ou do grupo família, ou para outros temas que
possam incorporar uma contribuição específica nesta área, como uma história social. Este é o
uso de Política e parentela na Paraíba. […] (grifo meu)
O grau de confiabilidade das fontes de uma pesquisa depende do tipo de seus dados. Se os
dados forem primários, isto é, do próprio autor, então estamos falando de uma observação direta e,
portanto, de fontes confiáveis. Se os dados forem secundários (literatura crítica), isto é, manipulados
por terceiros – como numa resenha ou citação, por exemplos –, então estamos falando de uma
observação indireta e, portanto, de fontes não confiáveis. Corroborando tais afirmações, Eco (2012, p.
39) diz:
Quando trabalhamos sobre livros, uma fonte de primeira mão é uma edição original ou uma
edição crítica da obra em apreço.
Tradução não é fonte: é uma prótese, como a dentadura ou os óculos, um meio de atingir de
forma limitada algo que se acha fora do alcance.
Antologia não é fonte: é um apanhado de fontes, que pode ser útil num primeiro momento, mas
fazer uma tese sobre determinado autor significa tentar ver nele coisas que outros não viram, e
uma antologia só me mostra o que ninguém ignora.
Resenhas efetuadas por outros autores, mesmo completadas pelas mais amplas citações, não
são fontes: são, quando muito, fontes de segunda mão.
Uma fonte é de segunda mão por várias razões. Se pretendo fazer uma tese sobre os discursos
parlamentares de Palmiro Togliatti, os discursos publicados pelo Umita constituem fonte de
segunda mão. Ninguém me garante que o relator não tenha feito cortes ou cometido erros.
Fontes de primeira mão serão as atas parlamentares. Caso eu conseguisse obter o texto escrito
diretamente por Togliatti, teria então uma fonte de primeiríssima mão. Se desejo estudar a
declaração de independência dos Estados Unidos, a única fonte de primeira mão é o documento
autêntico. Mas também posso considerar de primeira mão uma boa fotocópia. O mesmo se diga
do texto elaborado criticamente por qualquer historiógrafo de seriedade indiscutível
(“indiscutível”, aqui, quer dizer: jamais discutido pela literatura crítica existente). Vê-se que o
conceito de “primeira” e “segunda” mão depende do ângulo da tese. Se esta intenta discutir 43
edições críticas existentes, é preciso remontar aos originais; se pretende discutir o sentido
político da declaração de independência, uma boa edição crítica é mais que suficiente.
Baseando-se nesses pressupostos, o tema de pesquisa deverá se adequar ao tipo das fontes
selecionadas. Se elas forem “de primeira mão”, isto é, primárias, então meu tema considera os
pensamentos dos próprios autores. Se elas forem “de segunda mão”, isto é, secundárias, então o tema
considera, não os pensamentos, mas as interpretações dos pensamentos do(s) autor(es), de modo que o
foco da pesquisa deixa de ser o que o(s) autor(es) disse(ram) para ser o que outros disseram inspirando-
se neles. São justamente essas as ideias transmitidas por Eco (2012, p. 36) com as seguintes palavras:
[…] Se escolhi como tema O Pensamento Econômico de Adam Smith e me dou conta de que, à
medida que o trabalho avança, envolvo-me na discussão das interpretações de um determinado
autor e descuro a leitura direta de Smith, posso fazer duas coisas: ou retornar à fonte ou
modificar o tema para As Interpretações de Smith no Pensamento Liberal Inglês
Contemporâneo. Isso não me isentará de saber o que disse Smith, mas é claro que a esta altura
meu interesse é o de discutir não tanto o que ele disse, mas o que outros disseram inspirando-se
nele. Contudo, é óbvio que, se pretende criticar em profundidade seus intérpretes, terei de
confrontar suas interpretações com o texto original.
Destarte, o tipo das fontes selecionadas deve sempre se adequar ao tema escolhido no que tange
à profundidade, à qualidade e à amplitude objetivadas.
Tudo o que dissemos sobre a pesquisa começa com nossa convicção de que essa é uma
atividade inteiramente social, que nos une àqueles cuja pesquisa usamos e, da mesma forma,
àqueles que usarão a nossa. É também uma atividade não mais limitada ao pequeno mundo
social acadêmico. A pesquisa acha-se agora no centro da indústria, do comércio, do governo, da
educação, da saúde, das operações militares, até mesmo do entretenimento e da religião. Ela
influencia todos os setores de nossa sociedade e de nossa vida, pública ou privada. [...]
Nesse diapasão, caracterizando o pesquisador ético, Booth, Colomb e Williams (2005, p. 326)
explanam com os seguintes dizeres:
É bem por causa do desrespeito à comunidade acadêmica e à sociedade, além de muitos outros
danos causados, que a prática do plágio e outras más condutas como essa são “violentamente”
combatidas, tal como enfatizam Booth, Colomb e Williams (2005, p. 328):
É essa preocupação com a integridade do trabalho da comunidade que explica por que os
pesquisadores condenam o plágio tão violentamente. Quem plagia intencionalmente rouba mais
do que simples palavras. Não identificando uma fonte, o plagiador rouba parte da pequena
recompensa que a comunidade acadêmica tem a oferecer, o respeito que um pesquisador passa a
vida inteira tentando conseguir. O plagiador rouba da comunidade de colegas de classe, fazendo
a qualidade do trabalho deles parecer pior em comparação ao dele, e então talvez roube
novamente ao receber uma das poucas notas boas reservadas para recompensar os estudantes
que fazem um bom trabalho. Quando prefere não aprender as técnicas que a pesquisa pode
ensinar, o plagiador não só compromete sua própria educação, como também rouba da
sociedade em geral, que investe seus recursos na instrução de estudantes que poderão fazer um
bom trabalho mais tarde. Mais importante ainda, o plágio, assim como o roubo entre amigos,
transforma em farrapos o tecido da comunidade.
Por conta da necessidade do combate das más práticas ou condutas quando da investigação
científica, as instituições de ensino bem como os agentes de fomento à pesquisa científica têm
elaborado e disseminado regras de boas práticas ou boas condutas. Nesse diapasão, as práticas mais
adotadas mundialmente são: a) a elaboração e disseminação de Códigos de Ética Científica; b) a
apresentação de conteúdo relacionado ao plágio e outras más condutas nas home pages das
universidades; c) a implantação de centros de integridade acadêmicas nas instituições de ensino
superior e de pesquisa científica; e d) a integração do estudo sobre escrita acadêmica e plágio em
matéria específica da grade dos cursos superiores. No exterior, temos como exemplo as universidades
MIT, Harvard, Stanford, Cambridge, Oxford, Suriss Federal, Inst. of Technology, Tokio, National
Taiwan University, Kyoto, Australian Nacional University, Queensland, Monashi, Cape Town, Prétoria,
Stellenbosch, sendo que todas elas adotam as quatro práticas apresentadas.
No Brasil, as universidades USP, Unicamp e UFSC são as primeiras a adotar alguns dos textos
de combate ao plágio e outras más condutas nas suas home pages. Além disso, existe, por exemplo, no
Brasil, o Código de Boas Práticas Científicas da Fapesp, o qual estabelece diretrizes éticas para as
atividades científicas dos pesquisadores beneficiários de auxílios e bolsas da Fapesp e para o exercício
da função de avaliador científico pelos seus assessores. Nele, são especificados, com base na
experiência internacional no tratamento da questão da integridade ética da pesquisa, critérios bem
definidos no que concerne à concepção, à proposição, à realização, à comunicação dos resultados, à
autoria, ao registro, à conservação, à acessibilidade, ao conflito potencial de interesses, à avaliação
pelos pares e à tutoria das atividades científicas. Também é explanado sobre a alegação, a investigação
e a declaração de más condutas científicas bem como sobre a responsabilidade das instituições de
pesquisa (FAPESP, 2012).
Dentre as más condutas mais graves, são citadas nesse código: a) a fabricação, ou afirmação de
que foram obtidos ou conduzidos, procedimentos ou resultados que realmente não o foram; b) a
falsificação de dados, procedimentos ou resultados de pesquisa de maneira relevantemente modificada,
imprecisa ou incompleta; c) o plágio, ou a utilização de ideias ou formulações, orais ou escritas de
outrem sem dar-lhe por elas, expressa e claramente, o devido crédito; d) a quebra do sigilo concernente
aos dados e informações coletados, aos procedimentos realizados e os resultados parciais obtidos, até a
publicação dos resultados finais da pesquisas (FAPESP, 2012).
Há também aqui no Brasil a Comissão de Integridade da Atividade Científica do CNPQ, criada
pela Resolução Normativa nº 006/12, que se responsabiliza por coordenar ações preventivas e
educativas sobre a integridade da pesquisa realizada e/ou publicada por pesquisadores em atividade no
Brasil e examinar as situações em que haja dúvidas fundamentais quanto à integridade da pesquisa
apoiada pelo CNPQ; estabelece 21 diretrizes básicas para a integridade na atividade científica, dentre
outras normas (CNPQ, 2012).
Defendendo uma visão kantiana de ética e a necessidade dos códigos de ética internacionais, El-
Guindy (2004, p. 101 e 103) salienta:
A ética é universal, prática e soberana, e somente nesses termos os princípios da ética podem
produzir seus efeitos e estabelecer seus valores. A ética não é privilégio especial para uma certa
sociedade ou reserva peculiar de uma única etnia; a ética é o conjunto de elementos que
definem as bases do relacionamento entre as pessoas, as sociedades e os países. [...]
É necessário ter códigos de ética internacionais declarados, é importante que os pesquisadores
conheçam bem essas declarações, mas o essencial é que esses princípios se transformem em
regras de conduta respeitadas e seguidas. Essa, hoje, é a grande responsabilidade dos cientistas,
dos educadores e dos educandos. [...]
2.7 Conclusões
De fato, é tarefa difícil demarcar a ciência, separando o que é e o que não é científico, porque as
“demarcações científicas são relativas às concepções de realidade e não podem reclamar
exclusividade”, além de que “nunca encerram a discussão” (DEMO, 2013). Ao explanar
profundamente o assunto da demarcação científica, Demo (2013) apresenta três limites inerentes a tal
processo, sendo um deles a própria definição dos critérios de cientificidade. Utilizando as palavras do
autor (DEMO, 2013, p. 42), segue a transcrição:
Quando falamos de critérios de cientificidade, estamos supondo que temos em nossa frente um
conceito não evidente e que necessita de definição, como é o conceito de ciência.
Apresentemos, então, um critério de definição que consiga dizer o que o conceito é, o que não
é, como se delimita, qual é o seu contexto de vigência. Tomemos o critério de coerência.
Dissemos que é um dos critérios, que é forma, que é interno etc.
No entanto, notamos logo que o conceito de coerência também não é evidente. Precisamos
defini-lo igualmente. E o fizemos apelando para sua característica lógica de falta de
contradição. Mas surge imediatamente a constatação de que nem lógica, nem contradição são
conceitos evidentes. Precisamos, de novo, defini-los.
Ora, de que se trata? Trata-se de uma regressão ao infinito, como dizem os lógicos, o que
1
Além dos Códigos de Ética aqui alistados e transcritos, existem muitos outros, tais como: a) Código de Ética Profissional
do Contabilista; b) Código de Ética Profissional do Administrador; c) Código de Ética e Disciplina Profissional da OAB; d)
Código de Ética Profissional do Psicólogo; e) Código de Ética Profissional do Pedagogo; f) Código de Ética Profissional do
Assistente Social; g) Código de Ética Pastoral da Igreja Metodista etc.
coincide com a ideia de uma discussão interminável. Se não admitimos evidências, ou seja,
coisas que se impõem como definidas de antemão, absolutamente claras para todos: supomos
que se apresentam de forma indistinta, discutível, não evidente. Cada termo terá que ser
definido por um novo termo, e assim indefinidamente.
A discussão não pode ser naturalmente suprimida. O que fazemos é interrompê-la a certa altura,
por convivência externa, nunca por exaustividade interna. Interrompemos, seja porque
cansamos de discutir, seja porque perdemos o fio da meada, seja porque o contexto chega a nos
satisfazer, seja porque combinamos interromper. Tudo isso é conveniência externa, da qual não
escapamos. Assim, a primeira conclusão a ser colhida é a de que a demarcação científica tem
valor certamente relativo; é o caso típico de uma discussão, ou seja, de algo por definição
discutível.
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que os critérios de cientificidade garantem
graus de certeza, ou de segurança, ou de verdade, relativos, uma vez que a ciência é provisória,
incompleta, inacabada, falível. Também concluímos que é interminável a discussão sobre a demarcação
científica, tal qual o é sobre a verdade absoluta.
3. OS PILARES METODOLÓGICOS
3.1 Introdução
Rodrigues (2006, p. 136) explana que “etimologicamente, a palavra método vem do grego metá,
que significa ‘através de’, ‘a seguir’, e hodós, que significa ‘caminho’”. Destarte, o método científico
consiste num caminho razoavelmente seguro para se chegar ao conhecimento da verdade, ainda que
parcialmente. Ou ainda, nas palavras do autor, “consiste num conjunto de procedimentos racionais e
sistemáticos que possibilita alcançar um determinado objetivo” (RODRIGUES, 2006, p. 136).
A Metodologia, enquanto disciplina, preocupa-se, a priori, com o estudo das fases, das
abordagens e dos meios lógicos de investigação de um determinado objeto. O termo metodologia
deriva-se da expressão latina methodus, que significa caminho ou meio para a realização de algo, e da
expressão grega logos, que significa estudo, análise. Logo, metodologia da pesquisa vem a ser, a priori,
o estudo dos meios ou caminhos adequados para se investigar um objeto (BARROS e LEHFELD,
2000).
Existem vários critérios para se classificar ou se caracterizar a pesquisa científica, dentre eles, a
natureza, o modo da obtenção das informações, a abordagem e os objetivos (RODRIGUES, 2006; GIL,
2010). Por exemplo, quanto à natureza, a pesquisa científica pode ser um trabalho original, primário,
ou um resumo ou uma resenha de assuntos, secundário; quanto à obtenção de informações, ela pode ser
bibliográfica, documental, de campo ou de laboratório; quanto à abordagem, ela pode ser quantitativa,
qualitativa ou mista; quanto aos objetivos, ela pode ser exploratória, descritiva ou explicativa
(CRESWELL, 2010; RODRIGUES, 2006).
O que Gil (1999) denomina métodos que determinam as bases lógicas de investigação e métodos
que indicam os meios técnicos de investigação, o geógrafo Rodrigues (2006) denomina métodos de
abordagem e métodos de procedimento, respectivamente.
Sinteticamente, os cinco métodos de abordagens apresentados por Rodrigues (2006, p. 137-143.
Grifos meus) são:
O método indutivo é aquele pelo qual uma lei geral é estabelecida a partir da observação e da
repetição de regularidades em casos particulares, isto é, por meio de observações particulares,
chega-se à afirmação de um princípio geral. [...]
Ao contrário da indução, o método dedutivo é um processo de raciocínio lógico que, a partir de
princípios e proposições gerais ou universais, chega a conclusões menos universais ou
particulares. [...]
O método hipotético-dedutivo [...] consiste na formulação da noção de falseabilidade como
critério fundamental para a explicação das teorias científicas. [...]
O método dialético procura contestar uma realidade posta, enfatizando as suas contradições.
Para toda tese, existe uma antítese que, quando contraposta, tende a formar uma síntese. [...]
O método fenomenológico é o estudo dos fenômenos, em si mesmos, apreendendo sua
essência, estrutura de sua significação. [...] A fenomenologia consiste na descrição de todos os
fenômenos [...]
Nesse mesmo diapasão, Rodrigues (2006, p. 143-149, grifos meus) apresenta oito métodos de
procedimento, que, sinteticamente, são:
Por essa razão, o presente trabalho dimensiona a Metodologia da pesquisa científica, tal como
Barros e Lehfeld (2007), em três pilares: o epistemológico, o lógico e o técnico. Segue explanação de
cada um deles.
3.2.1 Introdução
Se o problema de pesquisa aponta para uma relação entre o fenômeno e a essência, ou seja, a
relação entre o fenômeno vivido e aquele que vivencia a essência do fenômeno (qual o
significado do fracasso escolar para o aluno, o professor e a família do aluno?), o pesquisador
deverá adotar o enfoque fenomenológico-hermenêutico. A interpretação como fundamento da
compreensão dos fenômenos é o eixo da explicação científica.
Nível Epistemológico
Confiam no processo lógico da interpretação e na capacidade de
4 (critérios de
reflexão do pesquisador (racionalidade prático-comunicativa).
cientificidade)
Pressupostos
Transição de uma visão sincrônica (o rx do fenômeno) para uma
8 Ontológicos (noção
visão diacrônica.
de história)
Concepção de
Transcrição de uma visão isolacionista, homogênea, não
9 realidade e visão de
conflitiva para uma visão dinâmica.
mundo
Se o problema de pesquisa aponta para o conceito de causa (qual a causa do fracasso escolar na
primeira série?) ou para uma relação causal (idade, sexo, escolaridade e experiência no
magistério do professor tem relação com o fracasso escolar?), o pesquisador deverá adotar o
enfoque empírico-analítico. [...] A causalidade é o eixo da explicação científica.
Nível
A validação se fundamenta no teste dos instrumentos de coleta e
Epistemológico
4 tratamento dos dados com ênfase no grau de significância
(critérios de
estatística (racionalidade técnico-instrumental).
cientificidade)
Pressupostos
Gnosiológicos
(concepção de Processo cognitivo centralizado no objeto: objetividade. Supõe a
6
objeto e de existência do dado imediato despido de conotações subjetivas.
sujeito e sua
relação)
Pressupostos
Ontológicos Preocupação sincrônica: visão geral e instantânea do objeto
8
(noção de estudado. A foto do fato.
história)
Concepção de
9 realidade e visão Visão fixista, funcional, predefinida e predeterminada.
de mundo
Se o problema de pesquisa aponta para uma inter-relação do todo com as partes e vice-versa,
dos elementos micro com os macro, os elementos históricos (quais elementos históricos,
políticos e sociais estão implicados no fracasso escolar? Como vem se dando o fracasso escolar
na primeira série?), o pesquisador deverá adotar o enfoque crítico-dialético. Considera a ação
como a categoria epistemológica fundamental para a explicação científica.
Pressupostos Gnosiológicos
Processo centralizado na relação dinâmica sujeito-objeto:
6 (concepção de objeto e de
concreticidade. Esta se constrói na síntese objeto-sujeito.
sujeito e sua relação)
Paradigmas são pontos de vista de um determinado objeto. Como todo ponto de vista é a vista de
um ponto, então a visão do investigador, por melhor que seja ele ou ela, é limitada, inacabada,
incompleta, imperfeita, subjetiva, parcial. Ainda assim, os pontos de vistas podem ser mais amplos,
completos, focados, do que outros, mas sempre permitindo margens para ulteriores aprofundamentos
(GIFTED, 2015).
Os métodos fenomenológico-hermenêutico, empírico-analítico e crítico-dialético (ou histórico-
estrutural) são apenas três paradigmas, estando presentes nas áreas de Ciências Humanas e Sociais
(GIFTED, 2015). Em outras áreas científicas, são outros os paradigmas adotados. Por exemplo, nas
pesquisas sobre Estudos Organizacionais2, os paradigmas são o Funcionalista, o Interpretativista, o
Estruturalista Radical, o Humanista Radical, o Perspectivista, e o Neoperspectivista.
Por essas razões, cabe ao investigador procurar conhecer de perto os paradigmas já existentes
nas investigações do tema escolhido, porque cada área do conhecimento possui seus próprios
paradigmas. Cabe também a ele utilizá-los adequadamente, apontando suas lacunas, buscando eliminar
2
Para mais informações sobre os paradigmas nos Estudos Organizacionais, favor consultar o Apêndice 1, intitulado Bases
fundantes das principais abordagens paradigmáticas em EO.
suas contradições e avançando-os na medida em que for possível e necessário.
Outra questão é as teorias escolhidas para se investigar um determinado objeto. Para cada
paradigma escolhido, existem teorias específicas para se investigar uma temática. Por exemplo, em
Estudos Organizacionais, existem várias teorias utilizadas, tais como Teoria da Agência, Teoria das
Redes, Teoria dos Campos, Teoria Institucional, Teoria dos Custos de Transação, Teoria das
Representações Sociais, Teoria Crítica, Teoria da Estruturação, Teoria da Eficiência etc. Os criadores
de cada uma dessas teorias já possuíam seus próprios paradigmas quando da sua construção. Por essa
razão, esses paradigmas precisam ser respeitados quando da escolha da(s) teoria(s) utilizada(s).
3.2.6 Conclusões
Os eixos, ou métodos, ou enfoques, ou paradigmas, nada mais são do que as maneiras tais como
o(s) investigador(es) enxerga(m) o seu objeto de investigação, o mundo, o homem, a vida, a verdade e a
ciência. Eles podem enxergar a investigação como sendo: a) objetiva, ou seja, acabada, completa, sem a
interferência do investigador, neutra; b) subjetiva, ou seja, inacabada, incompleta, com a interferência
do investigador, nunca é neutra; c) objetiva, mas interpretada subjetivamente, ou seja, o conhecimento
do objeto é absoluto, mas as interpretações humanas sobre isso são que são imperfeitas, inacabadas,
incompletas; e, d) intersubjetiva, ou seja, o conhecimento é fruto (resultado) do encontro entre as teses
(asserções, que podem ser afirmações ou negações) e suas contradições (o que produz as sínteses); por
essa razão, para serem validadas, é necessária a avaliação pelos pares.
O paradigma escolhido pelo investigador é o ponto de partida de sua investigação científica. É
ele que vai dirigir o inteiro processo de investigação, a forma como o pesquisador vai tratar o seu tema,
o seu objeto, os demais sujeitos da pesquisa, durante todo o seu trabalho investigativo. Os resultados do
seu trabalho serão avaliados de acordo com os paradigmas de seus pares. Por essas razões, a escolha
paradigmática é muito importante para a condução da pesquisa científica, e o ideal é que ela preceda as
escolhas lógicas e técnicas.
Ademais, a escolha paradigmática está atrelada à escolha teórica, visto que os paradigmas e as
teorias conversam entre si, de modo que tais escolhas precisam ser realizadas em conjunto,
concomitantemente.
O pilar lógico é tático, gerencial; estuda as fases da pesquisa científica e as bases estruturais do
pensamento científico (GIFTED, 2015). Gifted (2015, p. 9) explana esses aspectos do seguinte modo:
São muitas as maneiras para se sequenciar as etapas da elaboração de uma pesquisa (ECO,
2012). Ao longo de suas pesquisas sobre esse assunto, o autor do presente trabalho encontrou na
literatura autoridades sobre o tema que apresentaram as mais variadas maneiras de se organizar
sequencialmente um modo adequado de se pesquisar. Contudo, não objetivando ser exaustivo sobre
esse assunto, mas tão somente apresentar alguns caminhos considerados os mais apropriados para a
pesquisa produzida no ensino superior, apresenta a seguir os principais. Eco (2012, p. 5) diz:
Com efeito, elaborar uma tese significa: (1) identificar um tema precioso; (2) recolher
documentação sobre ele; (3) pôr em ordem estes documentos; (4) reexaminar em primeira mão
o tema à luz da documentação recolhida; (5) dar forma orgânica a todas as reflexões
precedentes; (6) empenhar-se para que o leitor compreenda o que se quis dizer e possa, se for o
caso, recorrer à mesma documentação a fim de retornar o tema por conta própria.
De acordo com o material de apoio da Unimes Virtual (2015), as fases da pesquisa científica
podem ser divididas em três: decisória, construtiva e redacional. A fase decisória refere-se à escolha
do tema da pesquisa, à definição, é nessa fase que é feita a delimitação do problema da pesquisa. A fase
construtiva, como o próprio nome diz, é nesse momento que é elaborada a construção de um plano de
ações e execuções da pesquisa. E a fase redacional envolve a análise dos dados que foram coletados
durante a fase construtiva da pesquisa e a elaboração do relatório final, concluindo a pesquisa.
No mesmo material (UNIMES VIRTUAL, 2015), a pesquisa científica é dividida em 11 etapas,
quais sejam: a) a escolha do tema; b) a revisão da literatura; c) justificativa; d) formulação do
problema; e) determinação de objetivos; f) metodologia; g) coleta de dados; h) tabulação de dados; i)
análise e discussão dos resultados; j) conclusão da análise dos resultados; por fim, k) redação e
apresentação do trabalho científico.
Enfim, da fase exploratória dos dados à fase da divulgação dos resultados, são várias as
possíveis estratégias sequenciais de execução das fases da pesquisa. Entretanto, procurando uma
maneira mais genérica para explanar as fases que norteiam toda e qualquer pesquisa de cunho
científico, o autor do presente trabalho apresenta quatro etapas fundamentais, com base nos princípios
administrativos inerentes à sua formação: o planejamento, a organização, a execução e o controle da
pesquisa. Essa divisão das etapas da pesquisa científica fundamenta-se no famoso PodcODC, isto é, no
sistema que sintetiza as funções do administrador, quais sejam: no Planejar, no Organizar, no Dirigir
(ou liderar) e no Controlar (CHIAVENATO, 2003).
Contudo, no quadro a seguir, são apresentadas sete etapas que, segundo Eco (2012), podem ser
seguidas quando da elaboração de uma investigação científica:
4ª) Investigação do objeto: nessa quarta etapa, define-se a introdução do trabalho, porque
é nessa fase que principia a pesquisa propriamente dita, ou seja, a colega dos dados sobre o objeto
investigado, para ulterior organização, análise e interpretação, também nessa etapa efetuada no
intuito de produzir resultados finais condizentes com os objetivos pré-estabelecidos.
5ª) Planificação dos dados coletados e resultados obtidos: nessa quinta etapa, definem-
se os resultados, a discussão da pesquisa, as conclusões, as considerações finais, e o resumo da
pesquisa, com as palavras-chave. Essa é a etapa redacional da pesquisa, em que todas as ideias
vão para o papel, quer impresso quer virtual.
6ª) Exames da cientificidade da pesquisa: nessa sexta etapa, são realizadas as revisões de
todo o trabalho, com ajuda de um(a) orientador(a) qualificado(a), durante a elaboração do trabalho
e, nas defesas públicas, com base nas orientações fornecidas pela banca examinadora.
7ª) Divulgação dos resultados finais: nessa sétima etapa, o trabalho já completamente
concluído, rigorosamente revisado e cientificamente aprovado, está pronto para ser publicado,
sendo a sua defesa pública, diante de uma banca examinadora, a sua primeira publicação (ECO,
2012).
É aqui, nessa fase, que se começa a investigação científica. São dados nessa fase os primeiros
passos para se construir o trabalho científico. É nesse momento que se planeja, organiza, executa e
controla todas as variáveis inerentes à pesquisa científica. O objetivo dessa fase é elaborar um bom
anteprojeto de pesquisa, ou uma boa redação de ensaio.
Administrar significa, segundo estudiosos dessa área, quatro coisas: Planejar, Organizar, Dirigir
(ou Executar) e Controlar (Podc). No caso de administrar o processo de investigação científica, não é
diferente; administrá-lo significa, pois, planejá-lo, organizá-lo, executá-lo (ou dirigi-lo) e controlá-lo.
O planejamento da pesquisa deve sempre preceder a fase de sua execução. Primeiro, elabora-se
um texto inicial, chamado de anteprojeto de pesquisa, ou de redação de ensaio, no qual são informados
o tema, a questão-problema, a justificativa, o objetivo geral, os objetivos específicos, as hipóteses
(quando houver), o referencial teórico – no qual se apresentam os principais conceitos e teorias a serem
utilizados no trabalho científico – e, por fim, mas não menos importante, as referências utilizadas para
compor o corpus de execução do anteprojeto de pesquisa, o que também podemos denominar
corpus de execução da redação de ensaio, ou apenas corpus de execução de ensaio.
Nessa fase de planejamento, delimita-se o corpus de execução do anteprojeto, ou da redação de
ensaio, delimitando-o espacial e temporalmente, ou seja, estabelecendo um lapso espacial e temporal
para que se possam levantar dados de bibliografias, documentos, entrevistados etc., a fim de se realizar
os objetivos pré-estabelecidos.
3.3.1.1.1.1 Delimitação e caracterização do objeto de pesquisa
O objeto da pesquisa precisa ser bem recortado, simples e objetivo. Bem recortado significa
bem delimitado, bem caracterizado, por exemplo, com um lapso espacial e temporal específico.
Simples significa compreensível seja por um acadêmico seja por uma pessoa comum com pouca
instrução secular. Objetivo significa direto ao ponto, sem rodeios.
Para exemplificar, se meu objetivo é investigar as fusões e aquisições de uma entidade qualquer
do setor bancário brasileiro, o meu objeto de pesquisa são as fusões e aquisições do referido banco; daí,
para ser bem recortado, pode-se estabelecer um lapso espacial, por exemplo, no território nacional, e
um lapso temporal, por exemplo, nos últimos cinco anos da história da instituição escolhida para a
pesquisa. Esse objeto é simples porque é facilmente compreensível para todo tipo de leitor, e é objetivo
porque aponta sem rodeios o norte da investigação, não deixando dúvidas de qual é o caminho
percorrido para se alcançar os objetivos propostos.
Uma pesquisa pertinente é uma pesquisa importante, saliente, oportuna, própria, relevante, que
se adéqua ao propósito, ou seja, que satisfaz os objetivos propostos. Por exemplo, se o objetivo do
trabalho é conhecer a relação entre as dimensões micro e macroeconômicas das fusões e aquisições
empresariais do setor bancário brasileiro, a pertinência está delimitada no fato de que tais dimensões
ainda não foram classificadas na literatura crítica da temática, e, por essa razão, esta pesquisa é nova,
original, relevante, oportuna, própria, isto é, pertinente.
Nessa etapa, acessam-se as bases de dados, ou seja, as suas fontes, fazendo-se uma busca prévia
das bibliografias e ou documentos que comporão o corpus de execução do anteprojeto de pesquisa,
ou corpus de execução da redação de ensaio da pesquisa, ou apenas corpus de execução de ensaio.
São os dados dessas fontes que comporão o referencial teórico, as metodologias, a análise dos dados e
os resultados finais da pesquisa.
Após adequadamente planejada, a pesquisa precisa ser adequadamente organizada. Essa etapa
envolve localizar, separar, manusear e manter os instrumentos de pesquisa, bem como realizar uma
busca prévia no ambiente onde serão coletados e tratados os seus dados. Cada uma dessas etapas é
explanada a seguir:
Nessa etapa, devem-se localizar os instrumentos de pesquisa. Quanto mais fácil for o acesso a
tais instrumentos, mais fácil será para investigar o objeto da investigação. Deve-se avaliar se eles são
mesmo adequados para a execução da pesquisa, se serão capazes de ajudar o investigador a alcançar a
todos os objetivos propostos no anteprojeto ou na redação de ensaio.
3.3.1.1.2.2 Separação dos instrumentos de pesquisa
Uma vez localizados os instrumentos de pesquisa, deve-se separá-los para se ter a certeza de que
estarão disponíveis para o uso no momento certo da investigação. Outro fator a observar é se eles foram
guardados em local adequado para o seu manuseio.
É nessa etapa que pode ser realizada estanque ou concomitantemente com as etapas anteriores,
que se acessam as fontes da pesquisa. Por exemplo, pode-se e devem-se acessar bancos de dados, tais
como a Scielo, a Spell, a Capes, ou outra base de dados específica, delimitando um lapso espacial – por
exemplo, no bairro onde o investigador mora, ou numa escola desse bairro – e temporal – por exemplo,
nos últimos três anos – a fim de se conseguir alcançar os objetivos pré-traçados.
Uma vez planejada e organizada a investigação científica, passa-se, agora, para a sua etapa mais
trabalhosa, que é a execução da pesquisa. Essa etapa envolve o contato com todos os sujeitos da
pesquisa, o deslocamento entre os lócus da pesquisa, o contato com os componentes do objeto da
pesquisa, possíveis acidentes ou incidentes durante a pesquisa, a elaboração do corpo do trabalho
científico – por exemplo, do referencial teórico, das metodologias, da análise dos dados, e dos
resultados finais da investigação – e a planificação dos resultados produzidos na pesquisa. Cada uma
dessas etapas é explanada a seguir:
Por acidente entende-se uma ocorrência durante a pesquisa, não programada, inesperada e que
interrompe a investigação, que provoque uma lesão corporal ou qualquer tipo de perturbação funcional
que leve ao desenvolvimento de uma doença, perda ou redução da capacidade de pesquisar ou até
mesmo a morte de algum sujeito da pesquisa (investigadores, auxiliares ou investigados). Por incidente,
por sua vez, entende-se uma ocorrência durante a pesquisa, não planejada, e que poderia levar a um
acidente, e, consequentemente, a uma interrupção da investigação.
Por exemplo, se, ao se deslocar entre os lócus de pesquisa, o investigador, o auxiliar ou o
investigado, carregam algumas caixas e tropeçam, elas podem apenas cair e derrubar o material que
está em seu interior, sem que haja qualquer tipo de dano físico ou material. Após recompor a caixa e o
material caído, o sujeito segue até seu destino. Essa situação caracteriza-se como um incidente durante
a pesquisa, ou quase acidente. Contudo, se o sujeito da pesquisa tropeça, cai sobre as caixas e machuca-
se com o conteúdo que se quebra, então, há um acidente durante a pesquisa, já que a ocorrência causou
lesão física e dano material, fazendo com que o sujeito interrompa o que estava fazendo.
Nesse diapasão, os investigadores – que são os principais sujeitos interessados na pesquisa –
deverão levar em consideração todos os fatos acontecidos ou que poderão ocorrer, acidentes ou
incidentes, buscando-se sempre a sua prevenção, e, quando ela não se aplicar, a remediação, que, nesse
caso, poderia consistir, por exemplo, em uma indenização ao sujeito acidentado e na sua consequente
substituição por outro sujeito capaz de continuar a investigação.
Para ser mais específico, na coleta de dados do Censo Demográfico brasileiro, realizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este indeniza quaisquer acidentes ocorridos
durante as suas pesquisas com os seus investigadores, que são chamados de agentes recenseadores,
agentes de mapeamento, agente censitário supervisor, agente censitário municipal, e outros nomes
desse tipo.
Todos os dados que foram coletados, organizados, analisados e formalizados precisam passar
por revisões. Todas as etapas e subetapas da pesquisa científica precisam ser reavaliadas para se saber o
que foi feito do jeito certo, o que não foi possível realizar, e que correções são necessárias. Pode ser que
tenha se esquecido de investigar um documento importante ou de entrevistar um indivíduo necessário
para a adequada realização da pesquisa. Pode ser que algum protocolo, ou procedimento, da
investigação tenha sido pulado. Ou pode ser que se queira modificar a pesquisa, acrescentando-lhe um
novo objetivo a ser perseguido, por se avaliar que sobraram tempo e outros recursos para a sua
operacionalização.
Por essas razões, as revisões da execução da pesquisa são fundamentais para o sucesso dos
resultados finais do trabalho científico.
3.3.1.1.4.2 A entrevista
Uma vez realizadas todas as etapas da pesquisa científica para a produção do anteprojeto ou da
redação de ensaio, com todos os seus cuidados, chega-se ao momento da entrevista, que ocorre em
processos seletivos de programas de pós-graduação stricto sensu, de mestrado ou de doutorado. É nesse
momento que ocorre a sua primeira revisão por pares. Os resultados e métodos da pesquisa são
julgados por acadêmicos e profissionais experientes na área e temática investigada e, após apreciação
pormenorizada, que envolve confrontação com outras pesquisas já realizadas sobre o mesmo tema, eles
podem aprová-lo ou não, a depender de sua avaliação final. Apesar disso, o trabalho aprovado é apenas
um dos passos necessários para o ingresso no mestrado ou no doutorado.
Os revisores exercem uma função essencial na publicação acadêmica. A revisão por pares
contribui para validar a pesquisa, estabelece um método pelo qual a pesquisa pode ser avaliada e
aumenta a possibilidade de fazer contatos nas comunidades de pesquisa. Apesar das críticas, a revisão
por pares ainda é o único método amplamente aceito para validação de investigações científicas.
É aqui, nessa fase, que se realizam as etapas de construção de um projeto de pesquisa definitivo,
não querendo dizer perfeito ou sem campos de melhoria, mas sim um projeto de pesquisa bem
elaborado, que satisfaz a todos os objetivos pré-estabelecidos no anteprojeto ou na redação de ensaio,
que responde à questão-problema de pesquisa, satisfazendo ou não as suas hipóteses iniciais. Então, o
objetivo dessa fase é transformar o anteprojeto ou a redação de ensaio em um projeto de pesquisa
final.
Considera-se aqui a mesma explanação sobre o verbo administrar, utilizada no subtópico
3.3.1.1.
O objeto da pesquisa precisa ser bem recortado, simples e objetivo. Bem recortado significa
bem delimitado, bem caracterizado, por exemplo, com um lapso espacial e temporal específico.
Simples significa compreensível, seja por um acadêmico seja por uma pessoa comum com pouca
instrução secular. Objetivo significa direto ao ponto, sem rodeios.
Para exemplificar, se meu objetivo é investigar as fusões e aquisições de uma entidade qualquer
do setor bancário brasileiro, o meu objeto de pesquisa são as fusões e aquisições do referido banco; daí,
para ser bem recortado, pode-se estabelecer um lapso espacial, por exemplo, no território nacional, e
um lapso temporal, por exemplo, nos últimos cinco anos da história da instituição escolhida para a
pesquisa. Esse objeto é simples porque é facilmente compreensível para todo tipo de leitor, e é objetivo
porque aponta sem rodeios o norte da investigação, não deixando dúvidas de qual é o caminho
percorrido para se alcançar os objetivos propostos.
Nessa primeira etapa do replanejamento da pesquisa, deve-se avaliar o lapso espacial e temporal
delineado no anteprojeto ou na redação de ensaio. Para tanto, verifica-se se há ou não a necessidade de
novos recortes do tema, delimitando um horizonte menor para ser investigado, o que quase sempre
ocorre, em virtude do tempo, ou de outros recursos disponíveis para a sua operacionalização.
Uma pesquisa pertinente é uma pesquisa importante, saliente, oportuna, própria, relevante, que
se adéqua ao propósito, ou seja, que satisfaz os objetivos propostos. Por exemplo, se o objetivo do
trabalho é conhecer a relação entre as dimensões micro e macroeconômicas das fusões e aquisições
empresariais do setor bancário brasileiro, a pertinência está delimitada no fato de que tais dimensões
ainda não foram classificadas na literatura crítica da temática, e, por essa razão, esta pesquisa é nova,
original, relevante, oportuna, própria, isto é, pertinente.
O aprofundamento determinatório da pertinência da pesquisa científica dá-se a partir de uma
reanálise de que motivos o projeto torna-se pertinente, se ele é realmente relevante, próprio, oportuno
ou não. É recomendável discuti-lo com os pares, isto é, com acadêmicos ou profissionais da área, para
se afinar os objetivos gerais e específicos a fim de se executar um projeto que traga novidades,
inovações, resolução de problemas, resultados úteis para a comunidade científica e a sociedade em
geral.
À medida que se planeja o projeto, deve-se sempre planificá-lo, para não se esquecer de nada do
que foi mentalizado ou dito sobre ele. Tal planificação deve ser realizada por escrito, em instrumentos
próprios do tipo de pesquisa que se estiver realizando, tais como o protocolo observacional, que é o
mais utilizado nessa etapa.
3.3.1.2.2 Reorganização da pesquisa
Se organizar significa ajuntar os recursos necessários para a execução de algo, então reorganizar
significa fazer essa operação mais de uma vez. Na verdade, essa denominação dá-se devido ao fato de
que, quando da elaboração do anteprojeto ou da redação de ensaio, já se foi organizada a pesquisa, mas,
nessa fase de transformação, é necessária uma nova organização, a reunião de todos os recursos
próprios da execução do projeto de pesquisa.
Nessa etapa, acessam-se as bases de dados, ou seja, as suas fontes, fazendo-se uma busca prévia
das bibliografias e ou documentos que comporão o corpus de execução do projeto de pesquisa, ou
corpus de execução da redação definitiva da pesquisa, ou apenas corpus de execução definitivo.
São os dados dessas fontes que comporão o referencial teórico, as metodologias, a análise dos dados e
os resultados finais da pesquisa.
Nessa etapa, devem-se localizar os instrumentos próprios do tipo de pesquisa que se estiver
realizando, tais como o protocolo observacional, o protocolo de entrevista, o diário de campo, as
bibliografias, os documentos, os testes, as escalas sociais, os formulários, os questionários, dentre
outros. Precisa-se garantir que eles estejam disponíveis sempre que necessário for. Em se tratando de
questionários, testes, escalas sócias, dentre outros, deve-se, primeiro, elaborá-los de acordo com os
objetivos da pesquisa.
Uma vez localizados, e elaborados (quando aplicável), os instrumentos que serão utilizados na
investigação científica, devem-se, nessa etapa, separá-los, guardando-os em local adequado, para serem
facilmente encontrados – e em estado de boa conservação – sempre que necessário for.
É nessa etapa, que pode ser realizada estanque ou concomitantemente com as etapas anteriores,
que se acessam as fontes da pesquisa. Por exemplo, pode-se e devem-se acessar bancos de dados, tais
como a Scielo, a Spell, a Capes, ou outra base de dados específica, delimitando um lapso espacial – por
exemplo, no bairro onde o investigador mora, ou numa escola desse bairro – e temporal – por exemplo,
nos últimos três anos – a fim de se conseguir alcançar os objetivos pré-traçados.
O segundo passo da execução do projeto de pesquisa, ou da redação definitiva, – mas que pode
ser seguido estanque ou concomitantemente com o primeiro – é a questão do deslocamento entre os
lócus da pesquisa. Este segundo passo precisa ser levado em consideração por todos os orientadores e
orientando da pesquisa, por ser de muita importância para a sua operacionalidade.
Por exemplo, a coleta dos dados pode ser realizada em uma biblioteca, ou em uma instituição
qualquer (uma empresa, uma ONG, um órgão público); já a organização dos dados pode ser realizada
em uma sala de aula, ou mesmo em um quarto de casa (onde moramos); a análise ou interpretação dos
dados pode ser realizada em uma sala de reuniões, escritório ou na sala do professor da universidade,
conjuntamente ao(s) orientador(es); e assim por diante. Visto que cada etapa da investigação pode ser
realizada em um local específico, é necessário verificar quanto tempo e outros recursos serão utilizados
para se deslocar entre eles, quem fará o deslocamento, quando e como.
Uma vez realizadas todas as etapas da pesquisa científica, com todos os seus cuidados, chega-se
ao momento do Exame de Qualificação (EQ), que é uma defesa pública. É nesse momento que ocorre a
revisão por pares. Os resultados e métodos da pesquisa são julgados por acadêmicos e profissionais
experientes na área e temática investigada, e, após apreciação pormenorizada, que envolve
confrontação com outras pesquisas já realizadas sobre o mesmo tema, eles podem aprová-lo ou não, a
depender de sua avaliação final.
Via de regra, a defesa da dissertação ocorre ao fim do mestrado, e a defesa da tese ocorre ao fim
do doutorado. Mas, existe também a defesa da tese de mestrado. Além disso, em cursos de pós-
graduação lato sensu já não existe mais, desde 2018, a obrigatoriedade de apresentação de um trabalho
de conclusão de curso (TCC), e em se tratando de iniciação científica, a defesa final ocorre na
apresentação do relatório final para a agência de fomento da pesquisa, tais como o CNPq, a Fapesp ou a
Fapemig.
Os revisores exercem uma função essencial na publicação acadêmica. A revisão por pares
contribui para validar a pesquisa, estabelece um método pelo qual a pesquisa pode ser avaliada e
aumenta a possibilidade de fazer contatos nas comunidades de pesquisa. Apesar das críticas, a revisão
por pares ainda é o único método amplamente aceito para validação de investigações científicas.
A base estrutural indutiva, bastante conhecida e utilizada desde os antigos filósofos até os
célebres cientistas da atualidade, assim como os demais métodos de estrutura de pensamento, apresenta
3
Busquei, neste tópico, apresentar o estado atual das bases estruturais indutivas, sem, contudo, esgotá-las. Para mais
informações, favor consultar as suas respectivas referências.
vantagens e desvantagens (BÊRNI; FERNANDEZ, 2012). Sobre a adequada utilização desse método,
BÊRNI; FERNANDEZ (2012, p. 35-37) ressaltam três passos essenciais:
De acordo com o relato indutivista, o conhecimento científico começa pela experiência, ou seja,
pela observação livre e sem preconceito dos fatos e fenômenos. [...] Parte-se de observações
singulares, que se referem exatamente àquele fenômeno observado, num lugar e num tempo
específicos. Dessas, extraem-se as afirmações (ou alegações) singulares. [...] Coletadas e
registradas as observações singulares, o segundo passo consistiria em procurar compará-las,
tentando descobrir as relações existentes entre os fatos e os fenômenos observados. O terceiro
passo, que conclui o processo, requer que se proceda à generalização, com base nas relações
verificadas. [...]
Embora bastante utilizado, o método indutivo apresenta um gravíssimo problema para a ciência
e para a filosofia, tanto na teoria do conhecimento como na epistemologia, tal que alguns autores nos
emprestam as suas ideias:
[...] Ora, está longe de ser óbvio, de um ponto de vista lógico, haver justificativa no inferir
enunciados universais de enunciados singulares, independentemente de quão numerosos sejam
estes; com efeito, qualquer conclusão colhida desse modo sempre pode revelar-se falsa:
independentemente de quantos casos de cisnes brancos possamos observar, isso não justifica a
conclusão de que todos os cisnes são brancos.
A questão de saber se as inferências indutivas se justificam e em que condições é conhecida
como o problema da indução. [...]. (POPPER, 1972, p. 27-28).
[...] A indução é um salto não autorizado pela lógica, tendo em vista que absolutamente nada
garante que o passado volte a se repetir no futuro. Não há contradição lógica alguma em se
afirmar, por exemplo, que “o Sol não nascerá amanhã”, muito embora se saiba que ele vem
nascendo há quatro bilhões de anos, todos os dias. De fato, está aberta a possibilidade lógica e
real de que algo inesperado ocorra – um cataclismo, por exemplo – que impeça o nascimento do
Sol amanhã. (BÊRNI; FERNANDEZ, 2012, p. 44).
O método indutivo é resultado da experiência e das impressões dos sentidos, produzindo o que
foi chamado por Kant (2001) de conhecimentos a posteriori, ou conhecimentos empíricos. Na indução,
a conclusão enuncia uma verdade que ultrapassa o conhecimento dado pelas premissas. Se todas as
premissas são verdadeiras, então, a conclusão é provavelmente – mas não necessariamente –
verdadeira.
Para os racionalistas do empreendimento científico, o método indutivo, por não se basear na
razão e sim na crença, não poderia, jamais, servir como um meio para se produzir ciência (BÊRNI;
FERNANDEZ, 2012).
Contudo, a indução encontra espaço na literatura da pesquisa científica na medida em que, por
meio dela, é possível se chegar a um conhecimento razoavelmente verdadeiro, válido, seguro, tal como
as duas bases estruturais de pensamento, a silogística-indutiva e a semântica-indutiva, demonstram a
seguir (BACHA, 1999).
3.3.2.1.1 Silogístico-indutiva
[...] Segundo Da Costa, uma das formas mais elementares de inferência estatística é o chamado
silogismo estatístico, cuja forma é expressa da seguinte forma: k% dos A são B, x é A, logo, x
tem k% de probabilidade de pertencer a B. O peso do silogismo depende do valor de k; quanto
maior, mais forte o argumento.
3.3.2.1.2 Semânticao-indutiva
Assim, para Tarski, o problema principal é dar uma definição satisfatória da verdade, é construir
uma definição que seja materialmente adequada e formalmente correta, ou seja, que preserve o
real e intuitivo significado da noção de verdade e que respeite as regras formais a que
deveremos submetê-la. Isso levando em consideração a sua adesão ao fisicalismo.
Para exemplificar isso, tomemos uma sentença da linguagem objeto. A condição material da
adequação de Tarski (1935), conhecida como convenção T, afirma que toda teoria viável da verdade
deve seguir, para cada sentença S de uma linguagem, a seguinte condição: "S" é verdadeiro se, e
somente se, S é, realmente, verdadeiro. Por exemplo, "O céu é azul" é verdade, se e somente se o céu é,
realmente, azul. Analisando a sentença, percebemos que a primeira parte discute sobre "O céu é azul" e
a segunda parte discute sobre o céu. Essas sentenças são chamadas sentenças T. Como as linguagens
objeto e a metalinguagem são a mesma, acabamos considerando a sentença como trivial (PEREIRA,
2009; TEORIA..., 2020).
Outro exemplo de uma sentença T, mas agora com linguagem objeto e metalinguagem
diferentes, é: "The sky is blue" é verdade, se e somente se o céu é azul; em que a linguagem objeto é
o inglês, e a metalinguagem é o português (PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).
É importante notar que, tal como foi originalmente formulada por Tarski (1935), essa teoria
aplica-se apenas a linguagens formais, que satisfaçam determinadas exigências que as linguagens
naturais usualmente não satisfazem. Uma das razões para que ele não estendesse sua teoria às línguas
naturais é, por exemplo, que não existe um modo sistemático de decidir se uma dada sentença, em
uma língua natural, é bem formada (PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).
A abordagem de Tarski (1935) foi estendida por Donald Davidson, ainda que de maneira
fragmentada, a teorias do significado para linguagens naturais, o que significa tratar a “verdade” como
um conceito primitivo, mais do que como um conceito definido (PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).
Para uma linguagem contendo os conectivos “não”, “e”, “ou” e os quantificadores “para todo e
qualquer” e “existe”, a definição indutiva de verdade de Tarski (1935) teria que atender às seguintes
condições: 1. A negação de A é verdadeira se e somente se A não é verdadeira; 2. A conjunção de A e B
é verdadeira se e somente se A é verdadeira e B é verdadeira; 3. A disjunção de A e B é verdadeira se e
somente se A é verdadeira ou B é verdadeira; 4. A quantificação universal de A é verdadeira se e
somente se cada objeto satisfaz A(x); 5. A quantificação existencial de A é verdadeira se e somente se
há um objeto que satisfaça a A(x) (PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).
Isso explica como as condições de verdade das sentenças complexas (construídas a partir
dos conectivos e dos quantificadores) podem ser reduzidas às condições de verdade dos seus
constituintes. Os constituintes mais simples são sentenças atômicas. Uma definição semântica
contemporânea da verdade para as sentenças atômicas seria: 6. Uma sentença atômica F (x1, …, xn) é
verdadeira (relativamente a uma atribuição de valores às variáveis x1, …, xn) se os valores
correspondentes das variáveis "comportam" a relação expressa pelo predicado F (PEREIRA, 2009;
TEORIA..., 2020).
O próprio Tarski (1935) definiu a verdade para sentenças atômicas numa variante que não usa
termos técnicos da semântica, tal como foi expresso anteriormente. Isso porque ele quis definir esses
termos semânticos em termos de verdade, pois produziria uma definição circular se ele usasse um
desses termos na definição da própria verdade. A concepção semântica da verdade de Tarski (1935)
desempenha um importante papel na lógica contemporânea e em grande parte da filosofia da
linguagem atual. Uma questão bastante controversa é se a teoria semântica de Tarski (1935) deve ser
considerada como qualquer teoria da correspondência ou como uma teoria deflacionária da verdade
(PEREIRA, 2009; TEORIA..., 2020).
3.3.2.1.3 Pragmático-indutiva
O pragmatismo original é contra a Ciência pela própria Ciência: para ele um estudo só se
justifica se tiver alguma utilidade social, ainda que de longo prazo, contudo sempre dando a preferência
ao que tiver utilidade imediata. Concomitantemente, entretanto, ele defende que uma teoria só pode ser
considerada verdadeira por meio das suas evidências práticas, tendo assim muita semelhança com o
empirismo (PRAGMATISMO, 2020).
Essa base estrutural de pensamento é bastante utilizada na área de Ciências Sociais Aplicadas,
tais como Administração, por exemplo, e também na área de Educação. Ela é comumente utilizada nos
estudos de caso, que partem de casos singulares, isto é, específicos (particulares) e rumam para
conclusões genéricas (gerais); por essa razão, ela é mais didática que as demais bases estruturais de
pensamento.
4
Charles Sanders Peirce foi um filósofo, pedagogo, cientista, linguista e matemático americano. Seus trabalhos apresentam
importantes contribuições à lógica, matemática, filosofia e, principalmente, à semiótica.
5
William James foi um filósofo e psicólogo americano e o primeiro intelectual a oferecer um curso de psicologia nos
Estados Unidos. James foi um dos principais pensadores do final do século XIX e é considerado por muitos como um dos
filósofos mais influentes da história dos Estados Unidos enquanto outros o rotulam de “pai da psicologia americana”.
6
Josiah Royce foi um filósofo americano. Royce normalmente é visto sob influência tanto do pragmatismo de seus colegas
William James e Charles Sanders Peirce quanto do idealismo absoluto de Hegel. Em seu pragmatismo absoluto, Royce
incorporou o significado de signo de Peirce, considerando-o uma “teoria geral de interpretação”.
7
John Dewey foi um filósofo e pedagogo americano. Dewey foi um dos principais representantes da corrente pragmatista
inicialmente desenvolvida por Charles Sanders Peirce, Josiah Royce e William James. Ele também escreveu extensivamente
sobre pedagogia, onde é uma referência no campo da educação moderna. Dewey tinha fortes compromissos políticos e
sociais, expressados muitas vezes em publicações do jornal The New Republic..
8
Busquei, neste tópico, apresentar o estado atual das bases estruturais dedutivas, sem, contudo, esgotá-las. Para mais
informações sobre isso, consultar as suas respectivas referências.
A base estrutural dedutiva consiste no método de estrutura de pensamento mais utilizada, aceita,
respeitada e defendida pelos cientistas racionalistas – ou dedutivistas –, devido ao nível de certeza por
ela produzido. Originalmente desenvolvida pelo renomado filósofo Aristóteles, essa base vem sendo
comumente utilizada por meio da estrutura formal do raciocínio silogístico. E, como todos os demais
métodos, apresenta vantagens e desvantagens (BÊRNI; FERNANDEZ, 2012).
Cientificamente, o método dedutivo sempre foi o mais aceito e, em especial, a partir do
surgimento da ciência moderna, com o desenvolvimento do método experimental por Newton.
Historicamente, esse método originou outros dois bem parecidos no que tange à estrutura de
pensamento: o axiomático-dedutivo e o hipotético-dedutivo. Sobre esses aspectos, Bêrni e Fernandez
(2012, p. 49) ratificam:
No método dedutivo, o caminho é inverso àquele seguido no método indutivo, uma vez que,
partindo de alguns enunciados de caráter universal, inferem-se enunciados particulares. Como
fruto do desenvolvimento conjunto da lógica e da matemática, a partir do final do século XIX, o
método dedutivo pode ser aplicado a dois esquemas, historicamente mais recentes, que são o
axiomático-dedutivo e o hipotético-dedutivo.
O primeiro caso é útil quando as premissas de partida são axiomas, não demonstráveis, como no
caso das ciências formais. No segundo, ilustrado pelas ciências empíricas, os melhores
resultados emergem de situações em que as premissas sejam hipóteses que se refiram a algum
aspecto da realidade. [...]
[...] Dados todos os problemas lógicos enfrentados pela ideia de que seria possível acessar o
universal a partir do particular, passou-se a supor que o conhecimento já começa no nível
abstrato e teórico. Ou seja, supõe-se que o ponto de partida da explicação científica seja algum
tipo de conhecimento prévio intelectualmente estruturado sobre o assunto, que pode ser
científico ou não. Popper, por exemplo, quando tratou dessa questão, referiu-se a esse
conhecimento prévio como “nossos mitos e preconceitos”. Sem tal estrutura mentalmente
preconcebida sobre como deve se comportar o mundo, nem sequer seria possível reconhecer
algo na realidade dos fatos como um “problema” a ser explicado, ou como uma sentença do tipo
explanandum. Somando-se a isso, seria necessário também o engenho criativo do cientista, sem
o qual uma hipótese interessante e inovadora jamais poderia ser aventada.
3.3.2.2.1 Axiomático-dedutiva
3.3.2.2.2 Hipotético-dedutiva
3.3.2.2.3 Silogístico-dedutiva
Ainda considerado por muitos filósofos como único caminho para se alcançar a verdade, essa
base estrutural de pensamento é, indubitavelmente, a mais utilizada nas Ciências Filosóficas. Contudo,
conforme a explanação de outras bases, concluímos que no mundo nem tudo pode ser deduzido ou
considerado verdade absoluta, quando falamos da complexidade humana, da natureza, dos sentimentos,
do psicológico, da mente, do social, da cultura, da arte, etc. (BACHA, 1999; GIFTED, 2015).
A base estrutural de pensamento abdutiva é apoiada pelos estudos de Charles Sanders Peirce 10
(SERRA, 1995). Ela é uma das três formas de raciocínio em Ciência (MENEGHETTI, 2007; DAVID
ALPA, 2017B).
Podemos exemplificar o raciocínio abdutivo, contrastando-o com o indutivo e o dedutivo, por
meio do exemplo dos feijões dado por Charles Sanders Peirce: 1 – Todos os feijões daquela saca são
brancos. Esses feijões são daquela saca. Logo, esses feijões são brancos (dedução); 2 – Esses feijões
são daquela saca. Esses feijões são brancos. Logo, todos os feijões daquela saca são brancos (indução);
3 – Todos os feijões daquela saca são brancos. Esses feijões são brancos. Logo, esses feijões são
daquela saca (abdução).
Abdução significa determinar a premissa. Usa-se a conclusão e a regra para defender que
a premissa poderia explicar a conclusão. Exemplo: "Quando chove, a grama fica molhada. A grama
está molhada, então pode ter chovido." Associa-se este tipo de raciocínio aos diagnosticistas e detetives
etc. (FNDE, 2017; RACIOCÍNIO..., 2020).
Comumente utilizada na Semiótica e nas Ciências da Comunicação, a abdução atua entre os
dois extremos anteriores, ou seja, a indução e a dedução (ABDUÇÃO, 2020). Ela possui caráter
explicativo, intuitivo, ampliativo, sendo a única a produzir a criatividade e a inovação, tal como diz
David Alpa (2017, s. p.. Grifos meus):
9
Para mais informações sobre a base estrutural abdutiva, favor consultar as suas respectivas referências.
10
Charles Sanders Peirce foi um filósofo, pedagogo, cientista, linguista e matemático americano. Seus trabalhos apresentam
importantes contribuições à lógica, matemática, filosofia e, principalmente, à semiótica.
Já o raciocínio abdutivo atua entre os dois extremos anteriores, o que sempre busca 100% de
confiabilidade e o que busca 100% de validez. Este meio termo se trata pela utilização de
características de ambos, para concluir a melhor explicação de algo. Vale notar que melhor
explicação é diferente de maior probabilidade, a abdução possui caráter explicativo e
intuitivo, procura concluir a melhor explicação, também utilizando o seu conhecimento de
fundo (repertório de conhecimento) e não a melhor probabilidade matemática. O raciocínio
abdutivo é ampliativo, ele busca a validez assim como a indução e busca a melhor explicação
possível assim como a dedução busca a verdade. O interessante é que a Abdução é o único
raciocínio que produz a criatividade e a inovação, por ser a única lógica que introduz uma
nova ideia.
Por fim, podemos concluir que a base estrutural abdutiva serve para a Ciência como um
processo constante de aperfeiçoamento contínuo que busca balancear os resultados obtidos tanto pela
indução, quanto pela dedução. Desse modo, o raciocínio abdutivo deve ser adotado com mais
frequência nos estudos científicos (DAVID ALPA, 2017; SERRA, 1995).
O pilar técnico é o terceiro dos três alicerces, ou colunas, da metodologia da pesquisa científica.
Por técnico, entende-se a base procedimental de investigação, a qual, por sua vez, entende-se por um
método que indica os meios técnicos e instrumentais utilizados na pesquisa (BARROS; LEHFELD,
2007; GIL, 2010). Nesse diapasão, existem três abordagens de pesquisa – a qualitativa, a quantitativa
e a mista – e quatro principais bases procedimentais – a observacional, a experimental, a estatística,
e a clínica. A natureza da pesquisa, levando-se em consideração o objeto investigado, o tempo e os
recursos tecnológicos e financeiros do pesquisador, é que determina qual a base procedimental
adequada (BÊRNI; FERNANDEZ, 2012; RODRIGUES, 2006).
A abordagem quantitativa é aquela que estuda variáveis quantificáveis, tais como renda, idade,
distâncias, tempo, altura, idade, pressão arterial, enfim, medidas em geral. Não significa apenas utilizar
dados quantitativos, tais como números e gráficos, mas apoiar seus resultados predominantemente em
dados de natureza matemática, estatística, física, química etc. (RODRIGUES, 2007; SOARES, 2003).
Sobre esse tipo de abordagem, Rodrigues (2007, p. 34) explana:
No que tange aos usos e ao modo correto de utilização dessa abordagem de pesquisa, Soares
(2003, p. 17) elucida:
Para o emprego dessa abordagem, são necessários recursos e técnicas estatísticas, os quais
podem variar em termos de complexidade, que vai desde a mais simples, como porcentagem,
média, moda, mediana e desvio-padrão, até as de uso mais complexo, como coeficiente de
correlação, análise de regressão, etc.
Aconselha-se a utilização da abordagem quantitativa em procedimentos descritivos, nos quais se
procura descobrir e classificar a relação entre variáveis, bem como nas investigações que
procuram determinar relações de causalidade entre fenômenos.
No campo dos que trabalham em enfoques qualitativos estas têm recebido outras denominações,
além de serem conhecidas como estudos etnográficos. A pesquisa qualitativa é conhecida
também como “estudo de campo”, “estudo qualitativo”, “interacionismo simbólico”,
“perspectiva interna”, “intrepretativa”, “etnometodologia”, “ecológica”, “descritiva”,
“observação participante”, “entrevista qualitativa”, “abordagem de estudo de caso”, “pesquisa
participante”, “pesquisa fenomenológica”, “pesquisa-ação”, “pesquisa naturalista”, “entrevista
em profundidade”, “pesquisa qualitativa e fenomenológica”, e outras que apontaremos
posteriormente. Naturalmente, não pretendemos ser exaustivos na busca das denominações da
pesquisa qualitativa. E tampouco vamos definir aquele tipo de pesquisa que melhor
representaria o enfoque qualitativo. Sob esses nomes, em geral, não obstante, devemos estar
alertas em relação, pelo menos, a dois aspectos. Alguns desses enfoques rejeitam total ou
parcialmente o ponto de vista quantitativo na pesquisa educacional; e outros denunciam,
claramente, os suportes teóricos sobre os quais elaboraram seus postulados interpretativos da
realidade. [...] (TRIVIÑOS, 1987, p. 124).
São vários os usos desse tipo de abordagem, conforme salienta a vasta literatura dessa temática
(SOARES, 2003; TRIVIÑOS, 1987; RODRIGUES, 2007). Concernente aos usos dessa abordagem de
pesquisa, Soares (2003, p. 19) cita:
Explanando em que situações de pesquisa cabe a abordagem qualitativa, Soares (2003, p. 19)
usa os seguintes dizeres:
1. Situações em que se faz necessário substituir uma informação estatística por dados
qualitativos.
2. Situações em que as observações qualitativas são usadas como indicadores do funcionamento
de estruturas sociais.
3. Situações em que se manifesta a importância de uma abordagem qualitativa para efeito de
compreender aspecto psicológico, cujos dados não podem ser coletados de modo completo por
outros métodos devido à complexidade que envolve a pesquisa.
Combinar os dados (e, em um sentido mais amplo, a combinação das questões de pesquisa, da
filosofia, da interpretação) é difícil principalmente quando se considera que os dados
qualitativos consistem de texto e imagens e de dados quantitativos, números. Há duas questões
diferentes aqui: Quando um pesquisador faz a combinação dos dados em um estudo de métodos
mistos? E como ela ocorre? A primeira questão é muito mais fácil de responder do que a
segunda. A combinação dos dois tipos de dados pode ocorrer em diversos estágios: na coleta
dos dados, na análise dos dados, na interpretação dos dados, ou nas três fases. [...]
A estratégia explanatória sequencial é popular, e dá maior peso aos dados quantitativos, que são
coletados numa primeira etapa, sobre a qual são coletados dados qualitativos, em uma fase secundária
(CRESWELL, 2010). Sobre esse tipo de combinação, Creswell (2010, p. 247-248, grifo meu) explana:
A estratégia exploratória sequencial dá maior peso aos dados de natureza qualitativa, que são
coletados em uma primeira etapa, sobre a qual são coletados dados de natureza quantitativa, para
apoiar os primeiros (CRESWELL, 2010). Sobre esse tipo de combinação, Creswell (2010, p. 248,
gGrifo meu) acentua:
Essa técnica de combinação é fortemente indicada para pesquisadores com fortes inclinações
qualitativas, ou quando uma teoria explícita informa ser esse o procedimento geral ideal para a
investigação da temática (CRESWELL, 2010).
A estratégia transformativa sequencial é um projeto de duas fases, com uma lente teórica (p.
ex., gênero, raça, teoria da ciência social) se sobrepondo aos procedimentos sequenciais. Tem
também uma fase inicial (quantitativa ou qualitativa), seguida de uma segunda fase (qualitativa
ou quantitativa), a qual se desenvolve sobre a fase anterior. A lente teórica é apresentada na
introdução de uma proposta, molda uma questão de pesquisa direcional que visa explorar um
problema (p. ex., desigualdade, discriminação, injustiça), cria sensibilidade à coleta de dados de
grupos marginalizados ou sub-representados e termina com um chamado à ação.
O peso maior dos dados é dado pelo pesquisador a seu gosto: pode ser dado aos dados
qualitativos ou quantitativos, de acordo com os conteúdos investigados e resultados produzidos. Por
exemplo, em uma investigação do tema “Análise dos demonstrativos financeiros no processo de fusões
e aquisições empresariais”, convém-se criar uma lente teórica, composta por dados qualitativos, que
vão explanar o que são fusões e aquisições, a sua história no Brasil e no mundo, as suas etapas, a
legislação nacional e internacional envolvidas etc. Aí, numa fase posterior, convém-se utilizar dados
quantitativos para exemplificar como analisar os demonstrativos financeiros nesse processo.
Para Creswell (2010), essa técnica é provavelmente a mais familiar dentre os seis principais
modelos de métodos mistos que ele estuda há mais de 35 anos (com base no ano 2010). Nela, os dados
qualitativos e quantitativos são coletados simultaneamente.
Na utilização dessa técnica, um banco de dados secundário é utilizado como guia do projeto,
desempenhando um papel de apoio nos procedimentos adotados (CRESWELL, 2010).
A diferença entre essa técnica e a transformativa sequencial é que os seus dados são coletados
concomitantemente, e os dados naquela (transformativa sequencial) são coletados sequencialmente
(CRESWELL, 2010).
Consoante explanado anteriormente neste trabalho, com base nos pressupostos apresentados por
Gil (199; 2010), por Rodrigues (2006) e por Barros e Lehfeld (2000), infere-se indutiva e
unanimemente de que os pilares metodológicos da metodologia da pesquisa científica consistem em
três eixos fundamentais: a base epistemológica de investigação, que indica a forma de conceber a
ciência, o homem, a verdade, a vida e o mundo em que ela é produzida; a base lógica de investigação,
que indica a estrutura dos pensamentos e a sequência das fases da pesquisa; e a base técnica de
investigação, que indica os ritos procedimentais, no que concerne à(s) abordagem(ns), à(s) técnica(s) e
aos instrumentos utilizados.
Nesse diapasão, são apresentadas nesse tópico as quatro principais bases procedimentais da
pesquisa científica, quais sejam: a observacional, a experimental, a estatística e a clínica.
A base procedimental observacional indica que o meio técnico utilizado para a coleta de dados é
a observação e os meios instrumentais a ela inerentes. Por observação entende-se a técnica de coleta de
dados em que o pesquisador observa o objeto investigado, quer participe ou não desse processo.
Quando o observador-pesquisador participa do processo de investigação, diz-se que se trata de uma
pesquisa observacional participante; quando, entretanto, o observador-pesquisador não participa do
processo de investigação, diz-se que se trata de uma pesquisa observacional não participante.
A observação participante (OP), também denominada observação direta, realizada in loco (i.e.,
diretamente no local do objeto, presencialmente, em contato direto com o objeto da pesquisa), visa a
coletar, via de regra, ou a priori, dados primários, enquanto a observação não participante (ONP),
também denominada observação indireta, realizada ex loco (i.e., a distância do local do objeto, sem
contato direto com ele), dados secundários. Contudo, em alguns casos, por exemplo, quando da
utilização de um levantamento documental bem conduzido, por meio da ONP, podem-se coletar
também dados primários, mas estabelecendo uma relação indireta entre o sujeito investigador e o
objeto investigado – por isso o levantamento documental é considerado ONP. Por essa razão, na OP
podem ser realizadas a pesquisa-ação, os estudos de caso in loco, as entrevistas in loco, as biografias
participantes e as etnografias participantes13. Já na ONP podem ser realizadas as pesquisas
bibliográficas, as pesquisas documentais, os estudos de caso ex loco, as entrevistas ex loco, as
biografias não participantes e as etnografias não participantes. Nesse diapasão, BÊRNI; FERNANDEZ
(2012, p. 176-177) explanam:
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que a base procedimental observacional é
parcialmente empírica (OP) e parcialmente não empírica (ONP), dissemelhantemente das demais bases
procedimentais, que são todas completamente empíricas. Além disso, deduz-se que ela é a mais
utilizada por parte dos pesquisadores em geral, por causa da facilidade da sua compreensão e,
especialmente, do seu uso. Por fim, deduz-se também que toda pesquisa teórica, ou básica, baseia-se
nos procedimentos observacionais, valendo-se de seus meios técnicos e instrumentais.
A base procedimental experimental indica que o meio técnico utilizado para a coleta de dados é
a experimentação e os meios instrumentais a ela inerentes. Por experimentação, entende-se a técnica de
coleta de dados em que o pesquisador experimenta o objeto investigado, quer por meio de testes ou sua
inserção em um ambiente rigorosamente controlado de acordo com as suas vontades e necessidades.
Quando à natureza da experimentação, Rodrigues (2007, p. 42) explana:
13
Para sanar eventuais dúvidas sobre as etnografias e sua relação com a observação participante, ler o livro Etnografia e
observação participante, escrito por Michael Angrosino, em 2009, pela editora Artmed, Coleção pesquisa qualitativa.
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que a base procedimental experimental não é
mais fácil de compreender e de se utilizar, porém que é a mais utilizada nas pesquisas cujos objetivos
necessitem de experimentos, ou seja, da submissão do objeto de estudo a condições rigorosamente
testadas ou controladas. Deduz-se também que essa é uma das bases utilizadas nas pesquisas práticas,
ou aplicadas.
A base procedimental estatística indica que o meio técnico utilizado para a coleta de dados é
uma técnica de estatística e os meios instrumentais a ela inerentes. A técnica estatística mais utilizada
na pesquisa científica é a amostragem, também denominada na literatura por levantamento amostral,
por causa da eficácia dos seus resultados, da qualidade das informações produzidas e do baixo grau de
complexidade tanto na sua compreensão como no seu uso.
Por amostragem, ou levantamento amostral, entende-se a técnica de coleta de dados em que o
pesquisador seleciona estrategicamente os componentes do seu objeto de pesquisa. Por exemplo, se seu
objeto de pesquisa é o cidadão de determinado perfil da cidade de São Paulo, é selecionada,
aleatoriamente ou não, uma quantidade n predefinida de cidadãos paulistas desse perfil e, por meio dos
meios instrumentais a essa técnica inerentes, normalmente, questionários ou formulários, os dados são
coletados para ulterior análise e interpretação.
Quando os componentes do objeto de pesquisa são selecionados aleatoriamente, isto é,
probabilisticamente, a técnica é denominada amostragem probabilística. Quando, porém, os
componentes do objeto de pesquisa não são selecionados aleatoriamente, ou seja, quando a pesquisa
define quais componentes quer escolher, essa técnica é denominada amostragem não probabilística.
Já existem vários tipos de amostragens probabilísticas e não probabilísticas, e também várias
distribuições estatísticas desenvolvidas para o seu uso.
A base procedimental clínica indica uma pesquisa clínica, um ensaio clínico ou um estudo
clínico, conforme diferentes denominações encontradas na sua literatura crítica. Segundo a ANVISA, a
base procedimental clínica se refere a "qualquer investigação em seres humanos, objetivando descobrir
ou verificar os efeitos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e/ou outros efeitos de produto(s)
e/ou identificar reações adversas ao produto(s) em investigação com o objetivo de averiguar sua
segurança e/ou eficácia."
A testagem é uma técnica utilizada para coletar dados especialmente em estudos clínicos. É
comum o uso de testes e de escalas sociais em pesquisas das ciências da saúde em geral, tais como
Medicina, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Psicologia, Odontologia, Farmácia, Veterinária,
Nutrição, Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Engenharia Biomédica etc.
3.4.3.1.1 Experimentação
A experimentação visa não apenas a analisar o objeto de pesquisa, compreendendo suas causas e
suas implicações, mas também modificá-lo, por meio da intervenção experimental, que é toda ação
praticada quando de um experimento com o objetivo último de mudar características do objeto
investigado. No que concerne à experimentação como técnica de coleta de dados, alguns autores sobre
o tema emprestam-nos suas ideias:
Sobre os tipos de experimentação, Cervo e Bervian (2002, p. 29-30, . Grifos meus)14 apresentam
três técnicas:
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que a pesquisa experimental possui maior
grau de complexidade do que a pesquisa observacional, que as técnicas utilizadas nos experimentos
requerem maior experiência e atenção por parte dos sujeitos envolvidos na investigação, e que seus
instrumentos precisam ser testados e adequados a cada tipo experimental.
14
Devido a um erro técnico, cometido quando da protocolagem observacional, a segunda técnica citada foi suprimida. Nesse
caso, para conhecê-la, consultar a referência: Cervo e Bervian (2002, p. 29-30).
3.4.3.1.2 Observação
A observação é a técnica mais utilizada para a coleta de dados, e faz-se presente em toda
pesquisa científica, haja vista que é por meio dela que se realiza a revisão bibliográfica e ou
documental do tema selecionado para investigação. Sobre os tipos de observação, Marconi e Lakatos
(2008, p. 77-80, grifos meus) apresentam oito:
Todavia, embora a literatura crítica apresente vários tipos de observação, existem basicamente
dois tipos dela: a direta, ou participante, que constitui uma técnica aplicada in loco, ou seja, no local
onde se encontra o objeto do estudo; e a indireta, ou não participante, que constitui uma técnica
aplicada ex loco, ou seja, a distância do local onde se encontra o objeto de estudo.
Quer a observação participante, utilizada, por exemplo, na pesquisa-ação, em estudos de casos
observacionais e na etnografia participante, quer a observação não participante, utilizada, por exemplo,
na pesquisa bibliográfica, na pesquisa documental ou na etnografia não participante, existem cuidados
importantes que precisam ser tomados. Sobre esse aspecto, Martins (2008, p. 109) salienta:
A observação consiste em um exame minucioso que requer atenção na coleta e análise dos
dados. Para tanto, a observação deve ser precedida por um levantamento de referencial teórico e
resultados de outras pesquisas relacionadas ao estudo. Formalmente, é desejável a construção de
um protocolo de observação, que, evidentemente, fará parte do protocolo do Estudo de Caso.
Observar não é apenas ver. A validade (será que se está observando aquilo que de fato se deseja
observar?) e a confiabilidade, ou fidedignidade (será que sucessivas observações do mesmo fato
ou situação oferecem resultados semelhantes?) poderão ser atingidas se a observação for,
rigorosamente, controlada e sistemática. Implica em um planejamento cuidadoso do trabalho e
preparação do observador. O plano delimitará o fenômeno a ser estudado, indicará o que se
deve observar, as maneiras de se observar, a duração, periodicidade, modo de registros e
controles para garantia da validade e confiabilidade.
A observação pode ser direta, denominada observação participante (OP), quando o observador-
pesquisador participa dos eventos a serem estudados, ou pode ser indireta, denominada observação não
participante (ONP), quando o observador-pesquisador se vale somente da literatura crítica sobre os
eventos a serem estudados sem, contudo, deles participar. Distinguindo os dois tipos de observação,
Martins (2008, p. 25) explana:
As principais formas da observação participante são a entrevista, bastante utilizada nos estudos
de caso, nas pesquisas de campo em geral, nas biografias e nas etnografias não participantes
(VERGARA, 2012; YIN, 2010), e a intervenção não experimental, utilizada nas pesquisas-ação
(THIOLLENT, 2011). Por sua vez, as principais formas da observação não participante são os
levantamentos bibliográficos (dados secundários) e os levantamentos documentais (dados primários),
utilizados em todas as pesquisas quando da revisão da literatura e outras partes (GIL, 1999, 2010;
SEVERINO, 2007). Nesse diapasão, segue explanação de cada uma dessas formas de OP e de ONP:
3.4.3.1.2.1.1 Pesquisa-ação
Explanando de forma dessemelhante de Thiollent (2011), Rodrigues (2007, p. 44) diz sobre a
pesquisa ação, comparando-a com a pesquisa participante:
O pesquisador não pretende intervir sobre a situação, mas dá-la a conhecer tal como ela lhe
surge. Pode utilizar vários instrumentos e estratégias. Entretanto, um estudo de caso não
precisa ser meramente descritivo. Pode ter um profundo alcance analítico, pode interrogar a
situação. Pode confrontar a situação com outras já conhecidas e com as teorias existentes. Pode
ajudar a gerar novas teorias e novas questões para futura investigação. As características ou
princípios associados ao estudo de caso se superpõem às características gerais da pesquisa
qualitativa.
Vale ressaltar que o caso selecionado para a pesquisa precisa ser significativo e bem
representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para situações análogas,
autorizando inferências. Devem-se seguir os procedimentos da pesquisa de campo na etapa de coleta e
registro dos dados, os quais devem ser trabalhados, por meio de análise rigorosa, e apresentados em
relatórios qualificados (SEVERINO, 2007).
Ainda sobre a natureza e adequada utilização dessa modalidade de pesquisa, os seguintes autores
emprestam-nos seus conhecimentos com os seguintes dizeres:
O que é o Estudo de Caso? É uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se
analisa aprofundadamente. Esta definição determina suas características que são dadas por duas
circunstâncias, principalmente. Por um lado, a natureza e abrangência da unidade. Esta pode ser
um sujeito. Por exemplo, o exame das condições de vida (nível socio-econômico, escolaridade
dos pais, profissão destes, tempo que os progenitores dedicam diariamente ao filho, orientando-
o nos estudos, tipo de alimentação do aluno, prática de esportes, sono, perspectivas do estudante
e dos pais em relação ao futuro da criança, a opinião dos professores, dos colegas, etc.) que
rodeiam um aluno que repetiu a primeira série do 2º grau, de uma escola pública. No estudo de
uma turma de 8ª série de uma escola particular, de uma comunidade de pescadores, de uma
escola de uma vila popular, etc. é fácil compreender que a análise do ambiente, negativo ou
positivo, que circunda uma pessoa, é muito mais simples que a interpretação dos problemas que
apesenta uma comunidade agícola que pretende organizar uma cooperativa de produção e
consumo.
Em segundo lugar, também a complexidade do Estudo de Caso está determinada pelos suportes
teóricos que servem de orientação em seu trabalho ao investigador. Um enfoque a-histórico,
reduzido às características culturais de um meio específico no qual se insere a unidade em
exame, de natureza qualitativa fenomenológica, é menos complexo, sem dúvida, que uma visão
na qual se observa o fenômeno em sua evolução e suas relações estruturais fundamentais.
(TRIVIÑOS, 1987, p. 133-134).
[...] Trata-se de uma investigação empírica que pesquisa fenômenos dentro de seu contexto real
(pesquisa naturalística), onde o pesquisador não tem controle sobre eventos e variáveis,
buscando apreender a totalidade de uma situação e, criativamente, descrever, compreender e
interpretar a complexidade de um caso concreto. Mediante um mergulho profundo e exaustivo
em um objeto delimitado – problema de pesquisa -, o Estudo de Caso possibilita a penetração
na realidade social, não conseguida plenamente pela avaliação quantitativa. [...]. (MARTINS,
2008, p. xi).
Dentre vários tipos de estudos de caso, Triviños (1987, p. 134-136, grifos meus) apresenta três,
quais sejam:
Caracterizando e tipificando estudos de caso, Yin (2010, p. 38-41) explana sobre os estudos de
caso explanatórios ou causais, os estudos de caso descritivos e os estudos de caso exploratórios,
conforme seus dizeres:
Com base em tais pressupostos, percebe-se que existem estudos de caso abordados
qualitativamente, tais como os observacionais e os denominados “História de Vida”, como também
aqueles abordados qualitativa e ou quantitativamente, como os histórico-organizacionais. Uma das
maiores vantagens desse tipo de pesquisa é a profundidade alcançada e, consequentemente, uma
contribuição social mais significativa dos resultados produzidos.
Além de tudo o que já foi explanado sobre estudo de caso, vale ressaltar que ele pode ser
realizado tanto in loco quanto ex loco. Tudo vai depender de como ele é realizado. Por exemplo, se
vamos analisar os relatórios financeiros de uma empresa, uma vez tendo-se acesso a esses relatórios
pela internet, no seu site institucional, e em bibliografias diversas, pode-se e deve-se – para a economia
dos recursos – realizá-lo ex loco; do contrário, se não é possível coletar dados primários pela internet
ou em bibliografias, então pode-se e deve-se realizá-lo in loco, tal como na Pesquisa Urbanística de
Entorno de Domicílio, também denominada de pré-coleta, realizada no Censo Demográfico brasileiro.
Mineiro (2020) afirma que a palavra Survey não tem termo correspondente em português, mas é
comumente transliterado meramente por “levantamento”, o que, na opinião da autora, não abrange toda
a semântica da expressão, razão pela qual ainda se mentem na literatura crítica a utilização da
expressão inglesa.
De acordo com Mineiro (2020, p. 286), as pesquisas Survey tem como objetivo principal
“fornecer descrições estatísticas de pessoas por meio de perguntas, normalmente aplicadas em uma
amostra”. Por essa razão, elas estão mais alinhadas com a abordagem quantitativa de pesquisa, e com
os enfoques paradigmáticos positivistas e pós positivistas, “por questões de origens históricas, formas
de coleta e análise de dados” (MINEIRO, 2020, p. 286). Contudo, a autora (2020, p. 286) enfatiza:
Entretanto, conhecê-la a fundo pode fazer avançar a ciência, pois com as devidas adequações
epistemológicas e de forma, pode servir à abordagem qualitativa embasada nas perspectivas
paradigmáticas da Teoria Crítica, Construtivista e/ou Participativa (LINCOLN; GUBA, 2010).
Sobre a origem desse tipo de técnica científica, Mineiro (2020) conta que ela surgiu nos censos
demográficos norte-americanos, e na política também, durante o século XIX. Sobre esses aspectos, a
autora (2020, p. 288) empresta-nos seus dizeres:
A história dos Surveys tem seus registros iniciais nos Estados Unidos da América (EUA) para
efeitos de contagens de habitantes (Censo), bem como se confunde com a história da
amostragem. O U.S. Bureau of Census é o responsável pelo recenseamento decenal da
população norte-americana (equivalente ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE) seus dados coletados constituíram um valioso recurso para o desenvolvimento de
desenhos de amostras em Surveys específicos. [...]
Um dos primeiros usos políticos dos Survey ocorreu em 1880 quando o sociólogo político
alemão, Karl Marx, enviou pelo correio 25.000 questionários para trabalhadores franceses no
intuito averiguar em que grau eram explorados pelos seus patrões. Outro usar o Survey foi Max
Weber em seu estudo sobre A Ética Protestante. A maioria das pesquisas de Survey
contemporâneas foi realizada por pesquisadores americanos. Pela constituição dos Estados
Unidos a cada 10 anos deve-se fazer um censo, com
cujas informações é possível identificar a devida representação junto à House of
Representatives (parte do congresso norte-americano equivalente à Câmara dos Deputados)
bem como, coletam-se dados sobre idade, educação, habitação, etc. Como ocorre decenalmente,
acaba por limitar-se no tempo, destarte as pesquisas por amostragem, neste interstício,
tornaram-se parte da vida norte-americana desde os anos de 1930.
Dá para notar pelas palavras supracitadas da autora (2020) que Survey e amostragem não são
sinônimos, embora suas origens remontam a mesma época, e seus usos estejam sensivelmente
interligados na prática da investigação científica.
Sobre os tipos de Surveys, Mineiro (2020) apresenta um quadro, o qual compilo a seguir:
São muitas as técnicas específicas que podem ser utilizadas nas pesquisas Surveys (MINEIRO,
2020). Dentre elas, a autora (2020) destaca as seguintes: a entrevista, o questionário – que é
autoadministrado –, o formulário – que é administrado pelo pesquisador –, a documentação, a
tabulação, a codificação, Análise de Conteúdo, técnicas estatísticas, dentre várias outras.
Sobre as vantagens e desvantagens dos instrumentos de coleta utilizados nas pesquisas Surveys,
Monteiro (2020) apresenta um quadro, o qual compilo a seguir:
Mineiro (2020, p. 299) ressalta que “uma limitação dos Surveys é a taxa de resposta aos
instrumentos de coleta de dados”. A autora (2020) afirma que quando as taxas de resposta são altas,
existe um pequeno potencial de erros pela ausência de respostas; entretanto, quando as taxas de
resposta são baixas, existe um grande potencial para erros, servindo de base a críticas sobre a
verossimilhança dos dados.
Sobre as questões éticas intrínsecas das pesquisas de Surveys, Mineiro (2020) salienta que em
muitos casos faz-se necessária a aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa para aplica-las aos
respondentes, e que, para dar mais credibilidade à investigação científica, o investigador pode buscar a
assinatura de cooperação voluntária dos participantes da pesquisa, quando, é claro, isso for possível
(em Surveys feitos por telefone as assinaturas não são possíveis). Deve-se também deixar claro aos
respondentes sobre o sigilo das informações prestadas, que são asseguradas, na maioria dos países, por
dispositivos legais (é o que ocorre com o Censo Demográfico).
Os Surveys podem ser realizados in loco ou ex loco. Em Censos Demográficos, por exemplo,
nos quais se busca sempre dados diretamente com os respondentes, em suas residências, são realizados
os Surveys in loco. Contudo, em pesquisas eleitoras, por exemplo, ou quando não se pode coletar os
dados diretamente com os respondentes (como durante a pandemia de coronavírus, por exemplo), os
Surveys são realizados ex loco. Contudo, tanto os Surveys in loco quanto os Surveys ex loco, seguem os
mesmos procedimentos científicos nesse tópico explanados.
A entrevista é uma técnica bastante utilizada nas pesquisas observacionais participantes, sendo
também útil em pesquisas clínicas. Sobre sua natureza, alguns autores emprestam-nos suas ideias:
A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a
respeito de determinado assunto, mediante uma conversação, de natureza profissional. É um
procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no
diagnóstico ou no tratamento de um problema social. (MARCONI; LAKATOS, 2008, p. 80)
Trata-se de uma técnica de pesquisa para coleta de dados cujo objetivo básico é entender e
compreender o significado que os entrevistados atribuem a questões e situações, em contextos
que não foram estruturados anteriormente, com base nas suposições e conjecturas do
pesquisador. (MARTINS, 2008, p. 27)
Colocando em pauta ainda outros aspectos sobre essa técnica, Dencker e Viá (2012, p. 158)
ressaltam:
Existem vários tipos de entrevista, sendo as principais: o focus group (ou grupo focal), a
entrevista estruturada, a semiestruturada e a não estruturada. Sobre esse aspecto, Marconi e Lakatos
(2008, p. 82) apresentam três tipos:
a. Padronizada ou estuturada. É aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente
estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza de acordo com
um formulário elaborado e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo com
um plano. [...]
b. Despadronizada ou não estruturada. O entrevistado tem liberdade para desenvolver cada
situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de poder explorar mais
amplamente uma questão. Em geral, as perguntas são abertas e podem ser respondidas dentro de
uma conversação informal. [...] Esse tipo de entrevista [...] apresenta três modalidades:
entrevista focalizada [...], entrevista clínica [...] [e] entrevista não dirigida.
c. Painel. Consiste na repetição de perguntas, de tempo em tempo, às mesmas pessoas, a fim de
estudar a evolução das opiniões em períodos curtos. As perguntas devem ser formuladas de
maneira diversa, para que o entrevistado não distorça as respostas com essas repetições.
Ainda no que concerne aos tipos de entrevistas, Vergara (2012) considera dois critérios para a
sua classificação: o número de pessoas nela envolvida e sua estrutura. Quanto ao número de pessoas,
Vergara (2012, p. 6-7) apresenta a entrevista individual e a entrevista coletiva, as quais sintetizando as
suas palavras, são:
Quanto à estrutura, por sua vez, Vergara (2012, p. 7-17) apresenta a entrevista fechada, a
entrevista semiaberta e a entrevista aberta, as quais, sintetizando as suas palavras, são:
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que tal técnica implica a participação tanto
do entrevistado como do entrevistador, por essa razão, integrando a observação participante.
Quando existe a necessidade de se coletar, por meio da entrevista, dados primários, isto é,
aqueles que ainda não foram manipulados, recomenda-se realizá-la in loco, ou seja, diretamente em
contato com o objeto de pesquisa. Por exemplo, na realização da coleta do Censo Demográfico
brasileiro, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os investigadores –
chamados no Censo de Agentes Recenseadores – coletam os dados, aplicando um Questionário Básico
ou um Questionário de Amostra, diretamente em contato com os moradores, ou seja, in loco.
3.4.3.1.2.2.1.1 RBI
A revisão integrativa de literatura é um método que tem como finalidade sintetizar resultados
obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e
abrangente. É denominada integrativa porque fornece informações mais amplas sobre um
assunto/problema, constituindo, assim, um corpo de conhecimento. Deste modo, o
revisor/pesquisador pode elaborar uma revisão integrativa com diferentes finalidades, podendo
ser direcionada para a definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica dos
estudos incluídos de um tópico particular.
Esse método permite a inclusão simultânea de pesquisa quase-experimental e experimental,
combinando dados de literatura teórica e empírica, proporcionando compreensão mais completa
do tema de interesse. A variedade na composição da amostra da revisão integrativa em
conjunção com a multiplicidade de finalidades desse método proporciona como resultado um
quadro completo de conceitos complexos, de teorias ou problemas relativos ao cuidado na
saúde, relevantes para a enfermagem.
De acordo com as autoras (2014), tanto a RBI quanto a RBS possuem o mesmo método e rigor.
Ambas são consideradas pesquisas originais, por conseguirem alcançar o estado da arte de uma
temática.
As autoras (2014) afirmam que a RBI deve ser desenvolvida em seis etapas principais, quais
sejam: a) a identificação do tema e a seleção da hipótese ou questão de pesquisa; b) o estabelecimento
de critérios para a inclusão e a exclusão de estudos/ amostragem ou busca na literatura; c) a definição
das informações a serem extraídas dos estudos selecionados, ou categorização dos estudos; d) a
avaliação dos estudos incluídos; e) a interpretação dos resultados; e f) a apresentação da revisão/síntese
do conhecimento.
Por fim, as autoras (2014) salientam que ambos os tipos de revisões (a RBI e a RBS) são os
“pilares da prática baseada em evidências (PBE)”. Afirmam ainda que a partir delas a enfermagem
consegue produzir o conhecimento científico para “fundamentar a tomada de decisão sobre a melhor
assistência prestada ao cliente e fortalecer sua profissão” (ERCOLE; MELO; ALCOFORADO, 2014,
p. 10).
A RBI se assemelha à RBS e ao MBS porque segue exatamente o mesmo protocolo de pesquisa.
A RBI se assemelha ao MBS em mais um aspecto: sua questão-problema também é ampla/abrangente,
porém mais ampla do que no MBS. Contudo, a RBI se diferencia do MBS porque nela se realiza uma
avaliação da qualidade do estudo, enquanto no MBS essa avaliação não é realizada (SOUZA et al.,
2018).
Uma questão-problema de pesquisa para uma RBI poderia ser: “Dentre as pesquisas sobre
sinergias, quantas e quais delas são aplicáveis às Fusões e Aquisições (F&A)?”. Procurando-se no
título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, pelos descritores [(“synerg*”) and (“merger” or
“acquisition” or “M&A”)] na Coleção Principal da Web of Sciense, somente artigos publicados nos
últimos cinco anos (2018 a 2022) em inglês, português ou espanhol, na data de 17.07.22, encontra-se
um corpus de pesquisa composto por 824 resultados; e procurando-se pelos mesmos descritores, no
título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, somente artigos publicados nos últimos cinco anos (2018 a
2022) em inglês, português ou espanhol, na Scopus, na data de 17.07.22, encontra-se um corpus de
pesquisa composto por 1.150 resultados. Somando-se a quantidade de resultados dessas duas maiores
bases de dados do mundo, perfaz-se um total de 1.974 artigos, o que, se for realizado, daria uma
excelente RBI. Entretanto, devido à exiguidade temporal para se fazer uma pesquisa, dependendo do
nível do curso (graduação, especialização, mestrado, doutorado ou pós-doutorado), pode-se filtrar esses
artigos ainda mais, por exemplo por área do conhecimento, para tornar o corpus de pesquisa
operacionalizável dentro do tempo do curso.
3.4.3.1.2.2.1.2 RBN
A RBN pressupõe trabalhos anteriores que servem como fonte ou lente teórica para
embasamento de estudos mais abrangentes e ou aprofundados. Sobre esse aspecto, Severino (2007, p.
122) destaca:
Realmente, toda pesquisa acadêmica requer em algum momento a realização de trabalho que
possa ser considerado como levantamento bibliográfico. Prova disso é que nas dissertações e teses da
atualidade, em sua maioria, há um capítulo especial dedicado à revisão bibliográfica cuja finalidade
principal é fundamentar o trabalho acadêmico teórica e consistentemente, identificando, não raro, o
estágio atual do conhecimento referente ao tema. Gil (2010, p. 29) explana sobre tal tipo de pesquisa
com os seguintes dizeres:
Ressaltando a relevância de tal tipo de pesquisa, Gil (2010) destaca que ela permite ao
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia
pesquisar diretamente, em especial quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo
espaço. Entretanto, não se esquece de salientar que, como fontes secundárias, as bibliografias podem
apresentar dados coletados ou processados de forma equivocada, tornando possível a reprodução e/ou
ampliação desses erros em trabalhos nelas fundamentadas. Por essa razão, Gil (2010, p. 30) fornece
sugestões úteis para reduzir tal possibilidade, dizendo:
Para reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das condições em
que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informação para descobrir
possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas, cotejando-as
cuidadosamente.
De acordo com Gil (2010), não existem regras fixas para a realização de pesquisas
bibliográficas, mas algumas tarefas que a experiência demonstra serem importantes. Dessa forma,
seguiu-se o seguinte roteiro de trabalho:
a) Exploração das fontes bibliográficas: livros, revistas científicas, teses, relatórios de pesquisa
entre outros, que contêm não só informação sobre determinados temas, mas indicações de
outras fontes de pesquisa;
b) Leitura do material: conduzida de forma seletiva, retendo as partes essenciais para o
desenvolvimento do estudo, e analítica, avaliando a qualidade das informações coletadas;
c) Elaboração de fichas: foram elaboradas fichas de citações, de resumo e bibliográficas,
contendo as partes mais relevantes dos materiais consultados;
d) Ordenação e análise das fichas: organizadas e ordenadas de acordo com o seu conteúdo,
conferindo sua confiabilidade;
e) Conclusões: obtidas a partir da análise qualitativa e quantitativa dos dados.
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que a RBN é um tipo de levantamento
bibliográfico extremamente útil para se conhecer uma temática a priori desconhecida pelo
investigador, a partir da qual poder-se-á aprofundar nela mediante o uso de técnicas de investigação
mais robustas, tais como, por exemplo, o estudo de caso ou a pesquisa-ação.
3.4.3.1.2.2.1.3 RBS
Surgida no final da década de 1970, por um pesquisador da área de Psicologia chamado de Gene
Glass, a Revisão Bibliográfica Sistemática (RBS) tem o objetivo de diminuir os vieses da Revisão
Bibliográfica Convencional, ou Narrativa, na qual temos a tendência, enquanto pesquisadores
imperfeitos, “de supervalorizar estudos que estejam de acordo com nossas hipóteses iniciais e ignorar
estudos que apontem para outras perspectivas” (COSTA; ZOLTOWSKI, 2014, p. 53).
Revisão Bibliográfica Sistemática e Metanálise não são sinônimos, tal como Costa e Zoltowski
(2014, p. 53) corroboram:
Apesar do termo metanálise ser frequentemente utilizado como sinônimo de revisão
sistemática, quando a revisão inclui uma metanálise, atualmente os dois termos possuem
sentidos distintos (Sousa & Ribeiro, 2009). Metanálise refere-se ao procedimento estatístico de
tratamento de dados de diversos estudos com o objetivo de agrupá-los, enquanto revisão
sistemática se refere ao processo de reunião, avaliação crítica e sintética de resultados de
múltiplos estudos, podendo ou não incluir uma metanálise (Cordeiro, Oliveira, Rentería,
Guimarães, & Grupo de Estudo de Revisão Sistemática do Rio de Janeiro, 2007).
O problema de pesquisa de revisão pode ser decomposto em algumas partes que visam a
facilitar a busca e a organização dos resultados encontrados. Petticrew e Roberts (2006)
sugeriram estratégias facilitadoras para esse processo de desmembramento da questão de
estudo, principalmente no caso de estudos sobre avaliação de eficácia: definição de qual é a
população de interesse (p. ex., crianças, adolescentes, adultos jovens, etc.); de qual é a
intervenção que se pretende avaliar (p. ex., psicoterapia individual, psicoterapia de casal,
cursos, etc.); com o que a intervenção está sendo comparada (p. ex., outro tipo de intervenção,
de curso, etc.); quais os desfechos a serem investigados, tanto positivos quanto negativos; qual
o contexto em que a intervenção foi desenvolvida (p. ex., laboratórios, ambientes naturais, etc.).
Os autores (2014) ainda destacam que a existência de uma revisão do assunto de interesse não
elimina a necessidade da realização de um novo trabalho de revisão, pois as revisões já realizadas
podem estar desatualizadas ou apresentar problemas metodológicos intrínsecos.
Quanto à escolha das fontes de dados, Costa e Zoltowski (2014) ressaltam que se pode realizar
uma busca por bibliografias nas bases de dados especializadas (DARE, Research Evidence in
Education Library, The Campbell Collaboration, etc.) ou mesmo nas convencionais (Banco de Teses
da CAPES, Scopus, Web of Sciense, etc.). Ou pode-se, também, buscar fontes de dados nas referências
de artigos já selecionados para a revisão.
Quanto à eleição das palavras-chave para a busca, Costa e Zoltowski (2014) destacam que:
[...] as palavras-chave precisam ser sensíveis o suficiente para acessar
adequadamente o fenômeno, indicando um número representativo de trabalhos. Porém não
podem ser sensíveis demais, retornando muitos resultados, inviabilizando o projeto de revisão.
Os autores (2014, p. 58) ainda salientam que é possível encontrar palavras-chave apropriadas
em banco de terminologias ou os denominados thesaurus, cujo objetivo principal é “a realização de
uma busca rápida e bem-sucedida de publicações acadêmicas”.
Quanto à busca e o armazenamento dos resultados, Costa e Zoltowski (2014) explanam que é
preciso usar adequadamente as strings, isto é, os conjuntos de descritores com alguns operadores
booleanos (AND, OR, NOT) e símbolos de pontuação (aspas, parênteses, colchetes, chaves, asterisco).
As strings servem para tornar a busca mais específica, sensível, restringindo-a ou ampliando-a, e
também para unificar os procedimentos de busca em diversas bases de dados. Pode-se ainda utilizar
softwares específicos para seleção e extração de dados em revisões sistemáticas, tais como o EndNote,
o Refworks, ou o Start. Ampliando o nosso entendimento sobre o uso das strings, Costa e Zoltowski
(2014, p. 59) emprestam-nos seus dizeres:
Em primeiro lugar, a string utilizada deve ser documentada, bem como o número de artigos
incluídos e excluídos. A utilização de figuras facilita a ilustração do processo [...]. Em segundo
lugar, é importante que a busca seja realizada por pelo menos dois juízes no mesmo intervalo de
tempo, a fim de minimizar o viés no processo de busca. [...]
Quanto à seleção de artigos pelo resumo, de acordo com critérios de inclusão e exclusão, Costa
e Zoltowski (2014) destacam que uma vez formado o corpus de execução da pesquisa, deve-se filtrá-lo
por meio da leitura atenciosa dos resumos dos artigos para selecionar apenas aqueles que aderem aos
critérios de inclusão ou de exclusão previamente determinados. Alguns critérios de inclusão podem ser
o idioma (p. ex., artigos publicados em inglês, ou em português), o lapso temporal (p. ex., artigos
publicados de ano XX até ano YY), as áreas do conhecimento (p. ex., artigos publicados nas áreas de
Administração, Ciências Contábeis e Economia), os critérios metodológicos (p. ex., estudo de caso,
revisão da literatura, etc.), dentre muitos outros. Os autores (2014) afirmam que essa etapa deve, se
possível, ser realizada por dois juízes para minimizar os vieses da pesquisa.
Quanto à extração dos dados dos artigos selecionados, Costa e Zoltowski (2014) salientam que,
para manter um alto grau de qualidade da pesquisa, faz-se necessário ter o acesso aos artigos
selecionados completos. Sobre esses aspectos, os autores (2014, p. 61) corroboram:
Caso haja dificuldade em acessar o texto completo de algum artigo, essa informação deve
constar de maneira clara na seção do método e esse artigo deve ser deixado de fora dos
resultados finais. O trabalho de extração de dados também deve ser realizado por dois juízes,
buscando o consenso, a fim de reduzir vieses.
Ainda sobre esse tópico da extração dos dados, os autores (2014, p. 61) afirmam que é
justamente nessa etapa que se deve categorizar os artigos selecionados, extraindo de cada um deles
informações tais como: “nome do estudo, referencial teórico,
objetivos, localização temporal da intervenção, contexto, instrumentos, descrição
dos participantes, principais achados, entre outros”. A partir dessa categorização, é possível encontrar
os pontos altos (p. ex., achados relevantes) e os pontos baixos (p. ex., limitações metodológicas) dos
artigos.
Quanto à avaliação dos artigos, Costa e Zoltowski (2014) emprestam-se seus seguintes dizeres:
A avaliação dos estudos visa a constatar se eles são ou não pertinentes para responder à
pergunta de pesquisa. Nesse ponto, você se pergunta com mais clareza: Os participantes dos
estudos revisados representam a população que quero estudar? Os estudos apresentam alguma
limitação que pode comprometer a interpretação do seu resultado final?
Uma possibilidade é avaliar os estudos a partir do delineamento utilizado, por exemplo, dando
maior ênfase aos resultados que apresentem delineamentos
experimentais e quase-experimentais. Já para delineamentos qualitativos, você
pode utilizar a estratégia de metassíntese, que envolve a análise da teoria, dos
métodos e dos resultados de estudos qualitativos, levando a uma síntese do fenômeno estudado.
Outra possibilidade é utilizar como critério de avaliação o referencial teórico, classificando os
estudos de acordo com a qualidade da utilização dos construtos adotados. Outros critérios
podem ser evocados no caso de uma revisão de instrumentos. [...]
Os autores (2014, p. 62) afirmam que, dependendo dos objetivos da pesquisa, artigos
problemáticos podem ser mantidos no banco final de dados. Por exemplo, se o objetivo da investigação
científica for o de avaliar a qualidade metodológica das pesquisas em um campo de estudo específico,
“estudos que não atendam satisfatoriamente os critérios de avaliação devem ser mantidos, pois refletem
exatamente a qualidade do campo”.
Quanto à síntese e interpretação dos dados, Costa e Zoltwski (2014) sintetizam o seguinte:
Os autores (2014) terminam seu artigo dizendo que essas oito etapas comumente são realizadas
antes de se começar a escrever propriamente o artigo de revisão sistemática. Destacam que a redação
necessita ser clara e precisa, pormenorizando todos os passos executados. Pode-se e deve-se utilizar
figuras para melhor ilustrar todo o processo. Para facilitar o processo de redação do artigo, os autores
(2014, p. 65) deixam um checklist resumindo os principais pontos a serem contemplados.
Uma questão-problema de pesquisa para uma RBS poderia ser: “Dentre as pesquisas sobre
sinergias financeiras e operacionais, aplicáveis às Fusões e Aquisições (F&A), quantas e quais delas
utilizam a técnica do Fluxo de Caixa Descontado (FCD) com taxas de desconto adequadas?”.
Procurando-se no título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, pelos descritores [(“financial synerg*”
or “operational synerg*”) and (“merger” or “acquisition” or “M&A”)] na Coleção Principal da Web
of Sciense, somente artigos publicados em inglês, português ou espanhol, na data de 17.07.22,
encontra-se um corpus de pesquisa composto por 26 resultados; e procurando-se pelos mesmos
descritores, no título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, somente artigos publicados em inglês,
português ou espanhol, na Scopus, na data de 17.07.22, encontra-se um corpus de pesquisa composto
por 56 resultados. Somando-se a quantidade de resultados dessas duas maiores bases de dados do
mundo, perfaz-se um total de 82 artigos, e filtrando-se desse montante somente os artigos que
respondem à questão-problema específica da pesquisa, daria para se realizar uma excelente RBS.
3.4.3.1.2.2.1.4 MBS
Tal como a RBS, o MBS segue um protocolo de pesquisa bastante rigoroso, mas a questão-
problema que o norteia não é específica quanto na RBS e nem tão amplo/abrangente quanto na RBI. A
análise e a síntese dos dados no MBS são gerais, e não detalhadas como na RBS. Além disso, no MBS
não se realiza uma avaliação da qualidade do estudo, enquanto essa avaliação se faz presente na RBI, e
pode ou não se fazer presente na RBS (SOUZA et al., 2018).
Uma questão-problema de pesquisa para um MBS poderia ser: “Dentre as pesquisas sobre
sinergias financeiras e operacionais, quantas e quais delas são aplicáveis às Fusões e Aquisições
(F&A)?”. Procurando-se no título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, pelos descritores [(“financial
synerg*” or “operational synerg*”) and (“merger” or “acquisition” or “M&A”)] na Coleção
Principal da Web of Sciense, somente artigos publicados em inglês, português ou espanhol, na data de
17.07.22, encontra-se um corpus de pesquisa composto por 26 resultados; e procurando-se pelos
mesmos descritores, no título, ou no resumo, ou nas palavras-chave, somente artigos publicados em
inglês, português ou espanhol, na Scopus, na data de 17.07.22, encontra-se um corpus de pesquisa
composto por 56 resultados. Somando-se a quantidade de resultados dessas duas maiores bases de
dados do mundo, perfaz-se um total de 82 artigos, o que, se for realizado, daria um excelente MBS.
A RBI, a RBS e o MBS podem ser combinados com uma Análise Bibliométrica (AB) dos
dados, pois a AB pressupõe a realizadas de uma pesquisa sistemática dos dados, ou seja, realizada por
meio de um rigoroso protocolo de pesquisa. Essas modalidades de revisão de literatura, podem ainda se
combinar com muitas outras técnicas de análise ou interpretação dos dados, como a Metanálise (análise
quantitativa dos dados), a Metassíntese (análise qualitativa dos dados), a Análise de Conteúdo (análise
quantitativa dos dados), a Análise de Discurso (análise qualitativa dos dados), dentre vários outros. A
RBN, por sua vez, pode ser combinada com uma Análise de Conteúdo ou uma Análise de Discurso.
O levantamento bibliográfico oferece meios que auxiliam na definição e resolução dos
problemas já conhecidos, como também permite explorar novas áreas onde ainda não se cristalizaram
suficientemente. Permite também que um tema seja analisado sob novo enfoque ou abordagem,
produzindo novas conclusões. Além disso, permite a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais
ampla, mormente, em se tratando de pesquisa cujo problema requeira a coleta de dados muito
dispersos no espaço.
Sobre essa técnica de pesquisa para coleta de dados, Rodrigues (2007, p. 43) assinala:
Bibliográfica é a pesquisa limitada à busca de informações em livros e outros meios de
publicação. É o oposto da pesquisa de campo, distinguindo-se também e igualmente por
oposição da pesquisa in victro. Geralmente, a pesquisa bibliográfica integra o âmbito da
pesquisa ex-post-facto, pelo simples fato de que os livros e artigos de revista ou periódico
qualquer tratam, via de regra, de fatos consumados, não sendo habitual a pesquisa bibliográfica
baseada em leitura do tipo futurologia.
O levantamento bibliográfico pressupõe trabalhos anteriores que servem como fonte ou lente
teórica para embasamento de estudos mais abrangentes e ou aprofundados. Sobre esse aspecto,
Severino (2007, p. 122) destaca:
Realmente, toda pesquisa acadêmica requer em algum momento a realização de trabalho que
possa ser considerado como levantamento bibliográfico. Prova disso é que nas dissertações e teses da
atualidade, em sua maioria, há um capítulo especial dedicado à revisão bibliográfica cuja finalidade
principal é fundamentar o trabalho acadêmico teórica e consistentemente, identificando, não raro, o
estágio atual do conhecimento referente ao tema. Gil (2010, p. 29) explana sobre tal tipo de pesquisa
com os seguintes dizeres:
Ressaltando a relevância de tal tipo de pesquisa, Gil (2010) destaca que ela permite ao
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia
pesquisar diretamente, em especial quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo
espaço. Entretanto, não se esquece de salientar que, como fontes secundárias, as bibliografias podem
apresentar dados coletados ou processados de forma equivocada, tornando possível a reprodução e/ou
ampliação desses erros em trabalhos nelas fundamentadas. Por essa razão, Gil (2010, p. 30) fornece
sugestões úteis para reduzir tal possibilidade, dizendo:
Para reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das condições em
que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informação para descobrir
possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas, cotejando-as
cuidadosamente.
De acordo com Gil (2010), não existem regras fixas para a realização de pesquisas
bibliográficas, mas algumas tarefas que a experiência demonstra serem importantes. Dessa forma,
seguiu-se o seguinte roteiro de trabalho:
a) Exploração das fontes bibliográficas: livros, revistas científicas, teses, relatórios de pesquisa
entre outros, que contêm não só informação sobre determinados temas, mas indicações de
outras fontes de pesquisa;
b) Leitura do material: conduzida de forma seletiva, retendo as partes essenciais para o
desenvolvimento do estudo, e analítica, avaliando a qualidade das informações coletadas;
c) Elaboração de fichas: foram elaboradas fichas de citações, de resumo e bibliográficas,
contendo as partes mais relevantes dos materiais consultados;
d) Ordenação e análise das fichas: organizadas e ordenadas de acordo com o seu conteúdo,
conferindo sua confiabilidade;
e) Conclusões: obtidas a partir da análise qualitativa e quantitativa dos dados.
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o levantamento bibliográfico é a técnica
própria e mestra para o embasamento teórico baseado em fontes secundárias.
Além do que já foi mencionado sobre esta a técnica geral de coleta de dados, ressalta-se que
existem atualmente dois principais tipos de levantamentos bibliográficos: a Revisão Bibliográfica
Narrativa (RBN) – ou Revisão Bibliográfica Simples (que foi a utilizada para a realização deste
trabalho) – e a Revisão Bibliográfica Sistemática (RBS). Enquanto por meio da primeira conseguimos
um bom conhecimento de uma área da qual ainda pouco ou nada conhecemos, por meio da segunda
conseguimos alcançar mais facilmente o estado da arte da temática investigada, categorizando todos os
principais autores dela no decorrer do tempo. Na próxima edição deste livro serão melhor explanadas
essas duas formas de levantamento bibliográfico.
16
Para mais informações, verificar o Apêndice 2, intitulado Levantamentos bibliográficos e documentais.
pessoais, registros institucionais, registros estatísticos e da comunicação de massa em geral, isto é, TV,
rádio, jornais, revistas, internet etc. Sobre essa técnica de pesquisa, Gil (1999, p. 160) salienta:
Tipificando os documentos utilizados nesse tipo de técnica, Gil (1999, p. 160-165, grifos meus)
apresenta quatro, quais sejam:
1) Registros estatísticos
[...] Entidades governamentais como a Fundação IBGE dispõem de dados referentes a
características socioeconômicas da população brasileira, tais como: idade, sexo, tamanho da
família, nível de escolaridade, ocupação, nível de renda etc. Os órgãos de saúde fornecem dados
a respeito de incidência de doenças, causas de morte etc. Uma entidade como o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos dispõe de dados sobre desemprego,
salários, greves, negociações trabalhistas etc. Organizações voluntárias têm dados referentes a
seus membros e também às populações que atendem. Institutos de pesquisa vinculados aos mais
diversos campos do conhecimento. Além disso, número cada vez maior de entidades vem-se
preocupando em manter bancos de dados. Isto se verifica em hospitais, escolas, agências de
serviço social, entidades de classe, repartições públicas etc. [...]
2) Registros institucionais escritos
Além dos registros estatísticos, também podem ser úteis para a pesquisa social os registros
escritos fornecidos por instituições governamentais. Dentre esses dados estão: projetos de lei,
relatórios de órgãos governamentais, atas de reuniões de casas legislativas, sentenças judiciais,
documentos registrados em cartórios etc. [...]
3) Documentos pessoais
Há uma série de escritos ditados por iniciativa de seu autor que possibilitam informações
relevantes acerca de sua experiência pessoal. Cartas, diários, memórias e autobiografias são
alguns desses documentos que podem ser de grande valia na pesquisa social. [...]
4) Comunicação de massa
Os documentos de comunicação de massa, tais como jornais, revistas, fitas de cinema,
programas de rádio e televisão, constituem importante fonte de dados para a pesquisa social.
Possibilitam ao pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual e também
lidar com o passado histórico. Neste último caso, com eficiência provavelmente maior que a
obtida com a utilização de qualquer outra fonte de dados. [...]
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que os levantamentos documentais são a
técnica própria e mestra para o embasamento teórico baseado em fontes, a priori, primárias e, a
posteriori, secundárias.
O estudo de caso evidencia-se como um tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho
descritivo e é um dos tipos de pesquisa qualitativa que vem conquistando crescente aceitação na área
da educação (RODRIGO, 2008). Severino (2007, p. 121) conceitua o estudo de caso como:
O pesquisador não pretende intervir sobre a situação, mas dá-la a conhecer tal como ela lhe
surge. Pode utilizar vários instrumentos e estratégias. Entretanto, um estudo de caso não
precisa ser meramente descritivo. Pode ter um profundo alcance analítico, pode interrogar a
situação. Pode confrontar a situação com outras já conhecidas e com as teorias existentes. Pode
ajudar a gerar novas teorias e novas questões para futura investigação. As características ou
princípios associados ao estudo de caso se superpõem às características gerais da pesquisa
qualitativa.
Vale ressaltar que o caso selecionado para a pesquisa precisa ser significativo e bem
representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para situações análogas,
autorizando inferências. Devem-se seguir os procedimentos da pesquisa de campo na etapa de coleta e
registro dos dados, os quais devem ser trabalhados, por meio de análise rigorosa, e apresentados em
relatórios qualificados (SEVERINO, 2007).
Ainda sobre a natureza e adequada utilização dessa modalidade de pesquisa, os seguintes autores
emprestam-nos seus conhecimentos com os seguintes dizeres:
O que é o Estudo de Caso? É uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se
analisa aprofundadamente. Esta definição determina suas características que são dadas por duas
circunstâncias, principalmente. Por um lado, a natureza e abrangência da unidade. Esta pode ser
um sujeito. Por exemplo, o exame das condições de vida (nível socio-econômico, escolaridade
dos pais, profissão destes, tempo que os progenitores dedicam diariamente ao filho, orientando-
o nos estudos, tipo de alimentação do aluno, prática de esportes, sono, perspectivas do estudante
e dos pais em relação ao futuro da criança, a opinião dos professores, dos colegas, etc.) que
rodeiam um aluno que repetiu a primeira série do 2º grau, de uma escola pública. No estudo de
uma turma de 8ª série de uma escola particular, de uma comunidade de pescadores, de uma
escola de uma vila popular, etc. é fácil compreender que a análise do ambiente, negativo ou
positivo, que circunda uma pessoa, é muito mais simples que a interpretação dos problemas que
apesenta uma comunidade agícola que pretende organizar uma cooperativa de produção e
consumo.
Em segundo lugar, também a complexidade do Estudo de Caso está determinada pelos suportes
teóricos que servem de orientação em seu trabalho ao investigador. Um enfoque a-histórico,
reduzido às características culturais de um meio específico no qual se insere a unidade em
exame, de natureza qualitativa fenomenológica, é menos complexo, sem dúvida, que uma visão
na qual se observa o fenômeno em sua evolução e suas relações estruturais fundamentais.
(TRIVIÑOS, 1987, p. 133-134).
[...] Trata-se de uma investigação empírica que pesquisa fenômenos dentro de seu contexto real
(pesquisa naturalística), onde o pesquisador não tem controle sobre eventos e variáveis,
buscando apreender a totalidade de uma situação e, criativamente, descrever, compreender e
interpretar a complexidade de um caso concreto. Mediante um mergulho profundo e exaustivo
em um objeto delimitado – problema de pesquisa -, o Estudo de Caso possibilita a penetração
na realidade social, não conseguida plenamente pela avaliação quantitativa. [...]. (MARTINS,
2008, p. xi).
Dentre vários tipos de estudos de caso, Triviños (1987, p. 134-136. Grifos meus) apresenta três,
quais sejam:
Caracterizando e tipificando estudos de caso, Yin (2010, p. 38-41) explana sobre os estudos de
caso explanatórios ou causais, os estudos de caso descritivos e os estudos de caso exploratórios,
conforme seus dizeres:
Com base em tais pressupostos, percebe-se que existem estudos de caso abordados
qualitativamente, tais como os observacionais e os denominados “História de Vida”, como também
aqueles abordados qualitativa e ou quantitativamente, como os histórico-organizacionais. Uma das
maiores vantagens desse tipo de pesquisa é a profundidade alcançada e, consequentemente, uma
contribuição social mais significativa dos resultados produzidos.
Além de tudo o que já foi explanado sobre estudo de caso, vale ressaltar que ele pode ser
realizado tanto in loco quanto ex loco. Tudo vai depender de como ele é realizado. Por exemplo, se
vamos analisar os relatórios financeiros de uma empresa, uma vez tendo-se acesso a esses relatórios
pela internet, no seu site institucional, e em bibliografias diversas, pode-se e deve-se – para a economia
dos recursos – realizá-lo ex loco; do contrário, se não é possível coletar dados primários pela internet
ou em bibliografias, então pode-se e deve-se realizá-lo in loco, tal como na Pesquisa Urbanística de
Entorno de Domicílio, também denominada de pré-coleta, realizada no Censo Demográfico brasileiro.
Mineiro (2020) afirma que a palavra Survey não tem termo correspondente em português, mas é
comumente transliterado meramente por “levantamento”, o que, na opinião da autora, não abrange toda
a semântica da expressão, razão pela qual ainda se mentem na literatura crítica a utilização da
expressão inglesa.
De acordo com Mineiro (2020, p. 286), as pesquisas Survey tem como objetivo principal
“fornecer descrições estatísticas de pessoas por meio de perguntas, normalmente aplicadas em uma
amostra”. Por essa razão, elas estão mais alinhadas com a abordagem quantitativa de pesquisa, e com
os enfoques paradigmáticos positivistas e pós positivistas, “por questões de origens históricas, formas
de coleta e análise de dados” (MINEIRO, 2020, p. 286). Contudo, a autora (2020, p. 286) enfatiza:
Entretanto, conhecê-la a fundo pode fazer avançar a ciência, pois com as devidas adequações
epistemológicas e de forma, pode servir à abordagem qualitativa embasada nas perspectivas
paradigmáticas da Teoria Crítica, Construtivista e/ou Participativa (LINCOLN; GUBA, 2010).
Sobre a origem desse tipo de técnica científica, Mineiro (2020) conta que ela surgiu nos censos
demográficos norte-americanos, e na política também, durante o século XIX. Sobre esses aspectos, a
autora (2020, p. 288) empresta-nos seus dizeres:
A história dos Surveys tem seus registros iniciais nos Estados Unidos da América (EUA) para
efeitos de contagens de habitantes (Censo), bem como se confunde com a história da
amostragem. O U.S. Bureau of Census é o responsável pelo recenseamento decenal da
população norte-americana (equivalente ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE) seus dados coletados constituíram um valioso recurso para o desenvolvimento de
desenhos de amostras em Surveys específicos. [...]
Um dos primeiros usos políticos dos Survey ocorreu em 1880 quando o sociólogo político
alemão, Karl Marx, enviou pelo correio 25.000 questionários para trabalhadores franceses no
intuito averiguar em que grau eram explorados pelos seus patrões. Outro usar o Survey foi Max
Weber em seu estudo sobre A Ética Protestante. A maioria das pesquisas de Survey
contemporâneas foi realizada por pesquisadores americanos. Pela constituição dos Estados
Unidos a cada 10 anos deve-se fazer um censo, com
cujas informações é possível identificar a devida representação junto à House of
Representatives (parte do congresso norte-americano equivalente à Câmara dos Deputados)
bem como, coletam-se dados sobre idade, educação, habitação, etc. Como ocorre decenalmente,
acaba por limitar-se no tempo, destarte as pesquisas por amostragem, neste interstício,
tornaram-se parte da vida norte-americana desde os anos de 1930.
Dá para notar pelas palavras supracitadas da autora (2020) que Survey e amostragem não são
sinônimos, embora suas origens remontam a mesma época, e seus usos estejam sensivelmente
interligados na prática da investigação científica.
Sobre os tipos de Surveys, Mineiro (2020) apresenta um quadro, o qual compilo a seguir:
São muitas as técnicas específicas que podem ser utilizadas nas pesquisas Surveys (MINEIRO,
2020). Dentre elas, a autora (2020) destaca as seguintes: a entrevista, o questionário – que é
autoadministrado –, o formulário – que é administrado pelo pesquisador –, a documentação, a
tabulação, a codificação, Análise de Conteúdo, técnicas estatísticas, dentre várias outras.
Sobre as vantagens e desvantagens dos instrumentos de coleta utilizados nas pesquisas Surveys,
Monteiro (2020) apresenta um quadro, o qual compilo a seguir:
Mineiro (2020, p. 299) ressalta que “uma limitação dos Surveys é a taxa de resposta aos
instrumentos de coleta de dados”. A autora (2020) afirma que quando as taxas de resposta são altas,
existe um pequeno potencial de erros pela ausência de respostas; entretanto, quando as taxas de
resposta são baixas, existe um grande potencial para erros, servindo de base a críticas sobre a
verossimilhança dos dados.
Sobre as questões éticas intrínsecas das pesquisas de Surveys, Mineiro (2020) salienta que em
muitos casos faz-se necessária a aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa para aplica-las aos
respondentes, e que, para dar mais credibilidade à investigação científica, o investigador pode buscar a
assinatura de cooperação voluntária dos participantes da pesquisa, quando, é claro, isso for possível
(em Surveys feitos por telefone as assinaturas não são possíveis). Deve-se também deixar claro aos
respondentes sobre o sigilo das informações prestadas, que são asseguradas, na maioria dos países, por
dispositivos legais (é o que ocorre com o Censo Demográfico).
Os Surveys podem ser realizados in loco ou ex loco. Em Censos Demográficos, por exemplo,
nos quais se busca sempre dados diretamente com os respondentes, em suas residências, são realizados
os Surveys in loco. Contudo, em pesquisas eleitoras, por exemplo, ou quando não se pode coletar os
dados diretamente com os respondentes (como durante a pandemia de coronavírus, por exemplo), os
Surveys são realizados ex loco. Contudo, tanto os Surveys in loco quanto os Surveys ex loco, seguem os
mesmos procedimentos científicos nesse tópico explanados.
A entrevista é uma técnica bastante utilizada nas pesquisas observacionais participantes, sendo
também útil em pesquisas clínicas. Sobre sua natureza, alguns autores emprestam-nos suas ideias:
A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a
respeito de determinado assunto, mediante uma conversação, de natureza profissional. É um
procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no
diagnóstico ou no tratamento de um problema social. (MARCONI; LAKATOS, 2008, p. 80).
Trata-se de uma técnica de pesquisa para coleta de dados cujo objetivo básico é entender e
compreender o significado que os entrevistados atribuem a questões e situações, em contextos
que não foram estruturados anteriormente, com base nas suposições e conjecturas do
pesquisador. (MARTINS, 2008, p. 27).
Colocando em pauta ainda outros aspectos sobre essa técnica, Dencker e Viá (2012, p. 158)
ressaltam:
Existem vários tipos de entrevista, sendo as principais: o focus group (ou grupo focal), a
entrevista estruturada, a semiestruturada e a não estruturada. Sobre esse aspecto, Marconi e Lakatos
(2008, p. 82) apresentam três tipos:
Ainda no que concerne aos tipos de entrevistas, Vergara (2012) considera dois critérios para a
sua classificação: o número de pessoas nela envolvida e sua estrutura. Quanto ao número de pessoas,
Vergara (2012, p. 6-7) apresenta a entrevista individual e a entrevista coletiva, as quais, sintetizando as
suas palavras, são:
Quanto à estrutura, por sua vez, Vergara (2012, p. 7-17) apresenta a entrevista fechada, a
entrevista semiaberta e a entrevista aberta, as quais, sintetizando as suas palavras, são:
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que tal técnica implica a participação tanto
do entrevistado como do entrevistador, por essa razão, integrando a observação participante.
Quando não existe a necessidade de se coletar, por meio da entrevista, dados primários, isto é,
aqueles que ainda não foram manipulados, recomenda-se realizá-la ex loco, ou seja, sem precisar
estabelecer contato direto com o objeto de pesquisa. Por exemplo, durante a pandemia de coronavírus
no Brasil e no mundo todo, o Datafolha (2020) realizou várias pesquisas entrevistando indivíduos em
todas as Unidades Federativas brasileiras, por meio de telefone, ou seja, ex loco. A entrevista ex loco
também pode ser realizada por meio de questionário eletrônico, sem que seja necessário o contato
direto com o objeto investigado. Em muitos casos, ela se mostra a melhor opção por ser menos onerosa
e mais fácil de aplicar, menos trabalhosa do que a entrevista in loco.
3.4.3.1.3 Amostragem
Aplica-se quando a população homogênea. Para sua execução a população deve ser ordenada
de forma que os elementos sejam identificados pela posição que ocupam na lista e seu sorteio
é feito periodicamente. O elemento da lista é escolhido para inclusão na amostra. Para
garantia contra viés, seleciona-se o primeiro elemento aleatoriamente. Empiricamente, os
resultados são virtualmente idênticos. Em sua elaboração pode-se usar uma lista, para a qual
se determina o número de entradas e de elementos que serão selecionados, então se divide
este último pelo primeiro e tem-se uma fração. Um cuidado que se deve ter é saber se a lista é
ordenada por algumas características, ou tem um padrão recorrente, o que irá afetar
diferencialmente a amostra dependendo do início. Ex.: Aplicar um questionário de satisfação
sobre os serviços prestados por uma empresa, em seu banco de dados de clientes cadastrados.
Fixa-se que de dez em dez (ou outra contagem qualquer), seleciona-se o respondente.
Amostragem Estratificada
3.4.3.1.4 Testagem
A testagem é uma técnica utilizada para coletar dados especialmente em estudos clínicos. É
comum o uso de testes e de escalas sociais em pesquisas das ciências da saúde em geral, tais como
Medicina, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Psicologia, Odontologia, Farmácia, Veterinária,
Nutrição, Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Engenharia Biomédica etc. Nesse diapasão,
Gil (1999, p. 150) explana características fundamentais dos testes e das escalas sociais a seguir:
Os testes são aplicados nos mais diversos campos da atividade humana, pois sempre há a
necessidade de se colocar alguma coisa à prova. Nas ciências, particularmente, os testes são
amplamente requeridos. Todavia, neste domínio o significado de teste é bem mais preciso, pois
envolve o sentido de medida. Assim, aplicar um teste significa medir, isto é, comparar um
critério determinado.
São muitos os critérios para se classificar os testes, sendo, consoante Gil (1999, p. 152-153,
grifos meus), os principais:
Por sua vez, as escalas sociais podem e são comumente usadas aos testes e, mais do que isso,
elas são normalmente utilizadas durante a realização do teste, amiúde como o principal instrumento da
testagem. Sobre elas, Gil (1999, p. 139) elucida:
Escalas sociais são instrumentos construídos com o objetivo de medir a intensidade das opiniões
e atitudes da maneira mais objetiva possível. Embora se apresentem segundo as mais diversas
formas, consistem basicamente em solicitar ao indivíduo pesquisado que assinale, dentro de
uma série graduada de ítens, aqueles que melhor correspondem à sua percepção acerca do fato
pesquisado.
Gil (1999) alista seis problemas básicos das escalas sociais, quais sejam: a) definição de um
contínuo; b) fidedignidade; c) validade; d) ponderação dos ítens; e) natureza dos ítens; e f) igualdade
das unidades. Em seguida, o autor (GIL, 1999, p. 143-148. G, grifos meus) apresenta seis tipos de
escalas sociais que, sinteticamente, são:
1. Escalas de ordenação
Estas escalas são constituídas por uma série de palavras ou enunciados que os sujeitos devem
ordenar de acordo com sua aceitação ou rejeição. Por exemplo: pode-se solicitar que as pessoas
ordenem uma série de nacionalidades de acordo com sua preferência em termos de
relacionamento. [...]
2. Escalas de graduação
As escalas de graduação apresentam um contínuo de atitudes possíveis em relação à
determinada questão. Os enunciados de atitudes correspondem a graus, que indicam maior ou
menor favorabilidade. [...]
3. Escalas de distância social
Estas escalas são utilizadas para estabelecer relações de distância entre as atitudes em relação a
determinados grupos sociais. [...]
4. Escala de Thurstone
A escala de Thurstone [...] constitui a primeira experiência de mensuração de atitudes com base
numa escala de intervalos. A despeito das críticas que lhe têm sido formuladas e de ter caído em
desuso, esta escala é tomada frequentemente como a base metodológica para os procedimentos
de mensuração de atitudes [...]
5. Escala de Likert
A escala Likert baseia-se na de Thurstone. É, porém, de elaboração mais simples e de caráter
ordinal, não medindo, portanto, o quanto uma atitude é mais ou menos favorável. [...]
6. Diferencial semântico
O diferencial semântico é uma técnica criada por Osgood, Suci e Tannembaum [...], cujo
objetivo é medir o sentido que determinado objeto tem para as pessoas. Neste sentido pode ser
considerado como uma escala de atitudes. Pode-se avaliar qualquer conceito: uma etnia, uma
pessoa, uma instituição política, uma obra de arte etc.
Dadas essas explanações sobre a testagem, deduz-se dos pressupostos apresentados que ela
configura-sese configura numa das mais importantes técnicas gerais de coleta de dados, tanto quanto a
observação, a experimentação e a amostragem – ou levantamento amostral (GIL, 1999).
No entanto, a seguir, são apresentadas as principais técnicas específicas para coleta de dados,
que em muito clarificam o processo de investigação científica.
Sobre essa técnica de pesquisa, Diniz e Da Silva (2008, p. 3) passam a dizer que:
Apesar do avanço tecnológico referente aos recursos audiovisuais, todos precisam ler, porque
o conhecimento é adquirido através da leitura, e para obtê-lo é necessário ler muito e ler bem.
A leitura possibilita a ampliação de conhecimentos e a reflexão sobre o mundo. Para que a
leitura seja proveitosa e eficaz deve-se estar atento ao que está sendo lido, evitando
desconcentração e distração. O leitor deve sentir-se atraído pela leitura e desenvolver uma
velocidade adequada na leitura, não devendo ler vagarosamente, para não esquecer o que foi
lido no final do parágrafo, ou muito veloz propiciando a incompreensão do que foi lido.
Sobre os tipos de leitura, Diniz e Da Silva (2008, p. 5-6) apresentam quatro, quais sejam:
Quando o texto for selecionado, faz-se sua leitura completa, para ter uma visão geral do todo.
Em seguida deve-se reler o texto e assinalar palavras ou expressões desconhecidas, que
devem ser consultadas em dicionário. Esclarecidas as dúvidas, fazer uma nova leitura para a
compreensão do todo.
Tornar a ler, procurando a ideia central, que pode estar implícita ou explícita no texto.
Localizar acontecimentos ou ideias, comparando-as entre si e procurando semelhanças e
diferenças existentes. Agrupá-los pelo menos por semelhança importante e organizá-los por
ordem hierárquica de importância. Interpretar as ideias do autor e descobrir suas conclusões.
17
A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de reconhecimento), a
organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação (leitura interpretativa) dos dados. Por
essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra da pesquisa científica.
A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de
reconhecimento), a organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação
(leitura interpretativa) dos dados. Por essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra
da pesquisa científica.
3.4.3.2.3 Entrevista
A entrevista é uma técnica bastante utilizada nas pesquisas observacionais participantes, sendo
também útil em pesquisas clínicas. Sobre sua natureza, alguns autores emprestam-nos suas ideias:
A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a
respeito de determinado assunto, mediante uma conversação, de natureza profissional. É um
procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no
diagnóstico ou no tratamento de um problema social. (MARCONI; LAKATOS, 2008, p. 80)
Trata-se de uma técnica de pesquisa para coleta de dados cujo objetivo básico é entender e
compreender o significado que os entrevistados atribuem a questões e situações, em contextos
que não foram estruturados anteriormente, com base nas suposições e conjecturas do
pesquisador. (MARTINS, 2008, p. 27)
Colocando em pauta ainda outros aspectos sobre essa técnica, Dencker e Viá (2012, p. 158)
ressaltam:
Existem vários tipos de entrevista, sendo as principais: o focus group (ou grupo focal), a
entrevista estruturada, a semiestruturada e a não estruturada. Sobre esse aspecto, Marconi e Lakatos
(2008, p. 82) apresentam três tipos:
Ainda no que concerne aos tipos de entrevistas, Vergara (2012) considera dois critérios para a
sua classificação: o número de pessoas nela envolvida e sua estrutura. Quanto ao número de pessoas,
Vergara (2012, p. 6-7) apresenta a entrevista individual e a entrevista coletiva, as quais sintetizando as
suas palavras, são:
Quanto à estrutura, por sua vez, Vergara (2012, p. 7-17) apresenta a entrevista fechada, a
entrevista semiaberta e a entrevista aberta, as quais, sintetizando as suas palavras, são:
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que tal técnica implica a participação tanto
do entrevistado como do entrevistador, por essa razão, integrando a observação participante.
Quando existe a necessidade de se coletar, por meio da entrevista, dados primários, isto é,
aqueles que ainda não foram manipulados, recomenda-se realizá-la in loco, ou seja, diretamente em
contato com o objeto de pesquisa. Por exemplo, na realização da coleta do Censo Demográfico
brasileiro, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os investigadores –
chamados no Censo de Agentes Recenseadores – coletam os dados, aplicando um Questionário Básico
ou um Questionário de Amostra, diretamente em contato com os moradores, ou seja, in loco.
Quando não existe a necessidade de se coletar, por meio da entrevista, dados primários, isto é,
aqueles que ainda não foram manipulados, recomenda-se realizá-la ex loco, ou seja, sem precisar
estabelecer contato direto com o objeto de pesquisa. Por exemplo, durante a pandemia de coronavírus
no Brasil e no mundo todo, o Datafolha (2020) realizou várias pesquisas entrevistando indivíduos em
todas as Unidades Federativas brasileiras, por meio de telefone, ou seja, ex loco. A entrevista ex loco
também pode ser realizada por meio de questionário eletrônico, sem que seja necessário o contato
direto com o objeto investigado. Em muitos casos, ela se mostra a melhor opção por ser menos onerosa
e mais fácil de aplicar, menos trabalhosa do que a entrevista in loco.
Na planificação manual, o registro dos dados da pesquisa é realizado por meio de compilação
manual, em que o pesquisador anota à tinta ou a grafite, por exemplo, num papel (GIFTED, 2015; GIL,
1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).
Para aperfeiçoar a gerência do tempo despendido nessa etapa, recomenda-se levar à frente do
computador e da escrivaninha (ou outro ambiente adequado para a compilação) todo o conteúdo que se
vai utilizar no trabalho acadêmico, o que inclui as bibliografias, os documentos e as anotações
(GIFTED, 2015; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).
Trata-se, pois, de uma etapa bastante trabalhosa para se fazer e demanda tempo numa dose
inversamente proporcional às habilidades do pesquisador em utilizar tais metodologias, isto é, quanto
mais habilidoso ele for menor o tempo que ele precisa despender para realizar pesquisas científicas por
meio dessas metodologias, mas não é difícil porque basta saber ler bem e escrever bem (GIFTED,
2015; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).
A tradução literal da palavra string vem do inglês e significa corda, ou âncora. Na prática,
strings são os descritores, ou seja, as palavras-chave, utilizadas para filtrar trabalhos acadêmicos nas
mais diversas bases de dados (UFSCar, 2020).
Uma busca simples de strings significa procurar trabalhos acadêmicos, sobre determinado tema
específico, nas bases de dados, no fito de sistematizar a pesquisa. Por exemplo, pode-se procurar no
Google Acadêmico – ou qualquer outra base de dados – trabalhos científicos sobre as Fusões e
Aquisições pelos seguintes descritores: “Fusões e Aquisições”, “F&A”, “Mergers and Acquisitions”,
“M&A”, etc. Observa-se que essas strings são bastante genéricas, o que resultará em uma quantidade
imensa de trabalhos indexados por elas nas bases de dados. No entanto, se em todas as bases de dados
utilizadas na pesquisa procurarmos trabalhos científicos por meio destas mesmas strings, estaremos
sistematizando nossa investigação mesmo que de uma forma simples. Por essa razão, recomenda-se
utilizar esta técnica em toda Revisão Bibliográfica Simples, também denominada na literatura como
Revisão Bibliográfica Narrativa, ou Revisão Bibliográfica Convencional (UFSCar, 2020).
Sobre essa técnica de pesquisa, Diniz e Da Silva (2008, p. 3) passam a dizer que:
Apesar do avanço tecnológico referente aos recursos audiovisuais, todos precisam ler, porque
o conhecimento é adquirido através da leitura, e para obtê-lo é necessário ler muito e ler bem.
A leitura possibilita a ampliação de conhecimentos e a reflexão sobre o mundo. Para que a
leitura seja proveitosa e eficaz deve-se estar atento ao que está sendo lido, evitando
desconcentração e distração. O leitor deve sentir-se atraído pela leitura e desenvolver uma
velocidade adequada na leitura, não devendo ler vagarosamente, para não esquecer o que foi
lido no final do parágrafo, ou muito veloz propiciando a incompreensão do que foi lido.
Sobre os tipos de leitura, Diniz e Da Silva (2008, p. 5-6) apresentam quatro, quais sejam:
Quando o texto for selecionado, faz-se sua leitura completa, para ter uma visão geral do todo.
Em seguida deve-se reler o texto e assinalar palavras ou expressões desconhecidas, que
devem ser consultadas em dicionário. Esclarecidas as dúvidas, fazer uma nova leitura para a
compreensão do todo.
Tornar a ler, procurando a ideia central, que pode estar implícita ou explícita no texto.
Localizar acontecimentos ou ideias, comparando-as entre si e procurando semelhanças e
18
A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de reconhecimento), a
organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação (leitura interpretativa) dos dados. Por
essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra da pesquisa científica.
diferenças existentes. Agrupá-los pelo menos por semelhança importante e organizá-los por
ordem hierárquica de importância. Interpretar as ideias do autor e descobrir suas conclusões.
(DINIZ e DA SILVA, 2008, p. 7)
A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de
reconhecimento), a organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação
(leitura interpretativa) dos dados. Por essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra
da pesquisa científica.
3.4.3.5.2 Codificação
Codificação é o processo pelo qual os dados brutos são transformados em símbolos que possam
ser tabulados.
A codificação pode ser feita anterior ou posteriormente à coleta dos dados. A pré-codificação
ocorre frequentemente em levantamentos em que os questionários são constituídos por
perguntas fechadas, cujas alternativas são associadas a códigos impressos no próprio
questionário. [...]. (GIL, 1999, p. 170).
[...] A abordagem tradicional nas ciências sociais é permitir que os códigos emerjam durante a
análise dos dados. Nas ciências da saúde, uma abordagem comum é usar códigos
predeterminados baseados na teoria que está sendo examinada. Nesse caso, os pesquisadores
podem desenvolver um livro de códigos qualitativo, um quadro ou um registro que contenha
uma lista de códigos predeterminados que os pesquisadores utilizam para codificar os dados.
[...] (CRESWELL, 2010, p. 221).
A codificação é largamente utilizada nas pesquisas científicas, sejam elas de natureza qualitativa
ou quantitativa. Elas visam facilitar a apresentação dos dados e informações, facilita também todo o
processo de tabulação.
3.4.3.5.3 Categorização
As respostas fornecidas pelos elementos pesquisados tendem a ser as mais variadas. Para que
essas respostas possam ser adequadamente analisadas, torna-se necessário, portanto, organizá-
las, o que é feito mediante o seu agrupamento em certo número de categorias. Para que essas
categorias sejam úteis na análise dos dados, devem atender a algumas regras básicas [...]:
a) o conjunto de categorias deve ser derivado de um único princípio de classificação;
b) o conjunto de categorias deve ser exaustivo; e
c) as categorias do conjunto devem ser mutuamente exclusivas.
Para que se torne possível o agrupamento de grande número de respostas a determinado ítem
em um pequeno número de categorias, torna-se necessário estabelecer um princípio de
classificação. [...]
Por exemplo, ao classificar as Fusões e Aquisições (F&A) empresariais, devem-se incluir como
categorias todos os tipos de F&A (regra da exaustão); todas elas precisam estar, ao fim da
categorização, em uma só categoria, de modo a não se confundir com nenhuma das demais (regra da
exclusão mútua); as categorias precisam ser derivadas de um único princípio de classificação (por
exemplo, função econômica, ou finalidade da transação comercial, ou ainda relacionamento entre as
empresas; mas apenas um desses critérios apenas, para que cada uma das F&A seja inserida em apenas
uma categoria).
3.4.3.5.4 Tabulação
Tabulação é o processo de agrupar e contar os casos que estão nas várias categorias de análise.
Pode haver tabulação simples e cruzada. A tabulação do primeiro tipo, que também é
denominada marginal, consiste na simples contagem das frequências das categorias de cada
conjunto. A tabulação cruzada, por sua vez, consiste na contagem das frequências que ocorrem
juntamente em dois ou mais conjuntos de categorias por exemplo: tabulação dos casos
referentes às categorias de renda e de escolaridade.
Sobre essa técnica de pesquisa, Diniz e Da Silva (2008, p. 3) passam a dizer que:
Apesar do avanço tecnológico referente aos recursos audiovisuais, todos precisam ler, porque
o conhecimento é adquirido através da leitura, e para obtê-lo é necessário ler muito e ler bem.
A leitura possibilita a ampliação de conhecimentos e a reflexão sobre o mundo. Para que a
leitura seja proveitosa e eficaz deve-se estar atento ao que está sendo lido, evitando
desconcentração e distração. O leitor deve sentir-se atraído pela leitura e desenvolver uma
velocidade adequada na leitura, não devendo ler vagarosamente, para não esquecer o que foi
lido no final do parágrafo, ou muito veloz propiciando a incompreensão do que foi lido.
Sobre os tipos de leitura, Diniz e Da Silva (2008, p. 5-6) apresentam quatro, quais sejam:
Quando o texto for selecionado, faz-se sua leitura completa, para ter uma visão geral do todo.
Em seguida deve-se reler o texto e assinalar palavras ou expressões desconhecidas, que
19
Além das técnicas específicas para análise ou interpretação dos dados apresentadas nesta seção, existem muitas outras,
dentre as quais podemos citar: a) Análise Fatorial; b) Análise de Regressão Linear; c) Análise de Regressão Múltipla; d)
Exegese Bíblica; e) Hermenêutica Jurídica; f) Análise Vertical; g) Análise Horizontal; h) Análise do Tamanho Comum; i)
Análise por Índices e Quocientes; j) Análise SWOT; k) Análise BCG; dentre muitas outras.
20
A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de reconhecimento), a
organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação (leitura interpretativa) dos dados. Por
essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra da pesquisa científica.
devem ser consultadas em dicionário. Esclarecidas as dúvidas, fazer uma nova leitura para a
compreensão do todo.
Tornar a ler, procurando a ideia central, que pode estar implícita ou explícita no texto.
Localizar acontecimentos ou ideias, comparando-as entre si e procurando semelhanças e
diferenças existentes. Agrupá-los pelo menos por semelhança importante e organizá-los por
ordem hierárquica de importância. Interpretar as ideias do autor e descobrir suas conclusões.
(DINIZ; DA SILVA, 2008, p. 7).
A leitura científica é uma técnica multifuncional utilizada para a coleta (pré-leitura, ou leitura de
reconhecimento), a organização (leitura seletiva), a análise (leitura crítica ou reflexiva) e interpretação
(leitura interpretativa) dos dados. Por essa razão, ela é, por excelência, a técnica observacional mestra
da pesquisa científica.
Os critérios mais utilizados nesse tipo de análise são: a) a quantidade de um tipo específico de
trabalho científico (artigo, tese, resenha, dissertação) por: a) ano de publicação, dentro do recorte
temporal do tema de pesquisa; orientador; programa de pós-graduação; linha de pesquisa; instituição de
pesquisa; autor; país, estado, região, cidade; área e subárea de conhecimento; meio de veiculação
científica (revista, periódico, anal de congresso, jornal etc.); enfoque epistemológico; enfoque lógico;
procedimentos técnicos; descritores; b) a produtividade de cada autor consultado, bem como a de seus
respectivos orientadores e instituições de pesquisa; c) a quantidade de citações de cada tipo específico
de trabalha científico nas diversas bases de dados (Scopus, Scielo etc.); d) a quantidade de referências
consultadas por autor e por trabalho, tipificando-as em fundamentais (básicas), metodológicas e
específicas (adicionais); por último, e) fatores de impacto FI e ou JCR; f) Índice H (MATTOS, 2004;
MUGNAINI; JANNUZZI; QUONIAM, 2004).
Com base nestes pressupostos, infere-se que a AB pressupõe a realização de uma revisão
sistematizada da literatura, tal como uma RBI, uma RBS ou um MBS. Contudo, é incorreto afirmam
que esses tipos de revisões e a AB sejam sinônimos, pois não são; enquanto a RBI, a RBS e o MBS são
tipos de ténicas gerais para coleta e tratamento dos dados, a AB é apenas uma técnica específica para
análise ou interpretação dos dados (REIS, 2022). Sobre estes aspectos, Reis (2022, página única)
apresenta:
Quadro 12 – Etapas e sub-etapas de uma Revisão Sistemática com Análise Bibliométrica
Etapa Sub-etapa Descrição
1) Escolha as bases
Escolha aqui:
de
http://www.periodicos.capes.gov.br/index.php?
dados pertinentes
option=com_pbases&controller=pbases&Itemid=320
Teste os componentes do algoritmo um a um no
Google
Scholar ( http://scholar.google.com.br/ ) antes , para
2) Determine um checar se são pertinentes na busca.
algoritmo [strings Exemplo de Algoritmo de busca: (“tangible
de busca] interaction”
OR “tangible interface”) AND autis*
Mais sobre como montar algoritmo com operadores
lógicos: http://www.infowester.com/dicasgoogle.php
3) Realiza a busca, Em todas as bases de dados escolhidas na etapa 1.
usando o algoritmo
Aplique filtros nas buscas feitas na Etapa 3.Exemplos
4) Filtre a busca por de filtros:
critérios pré- a) apenas artigos em periódicos com peer review;
Revisão selecionados. b) apenas publicações entre 2004 e 2014;
Sistemática c) apenas publicações disponíveis grátis na internet
etc..
5) Use o EndNOTE.
Pegue todos os artigos que restaram depois do passo 4,
e baixe o .RIS deles (na base de dados em que o
OBS: O Zotero é
achou). Pegue esse arquivo .RIS contendo os dados de
uma
todos os artigos e abra no EndNOTE. Agora selecione
alternativa Software
os
Livre para o
artigos por: a) título; b) palavras-chave; c) resumo.
EndNOTE.
Faça uma planilha mostrando os artigos que sobraram
depois da etapa 5. Nessa planilha explicite o autor, ano
6) Sistematize a de publicação, título, fonte, etc, de cada artigo. OBS:
bibliografia Destaque itens da planilha como “Temas mais
frequentes”, “Palavras-chaves mais usadas”, “Áreas”,
etc..
Análise 7) Exponha os Na base de dados onde o encontrou. Exemplos de
Bibliométrica indicadores indicadores: número de citações (acha isso na Base de
bibliométricos de Dados usada), impacto do artigo
cada (http://www.plos.org/plos-one-measuring-article-
artigo na planilha da impact/), peso do periódico
etapa 6. (http://www.journalmetrics.com/ e
http://scimagojr.com/), etc..
Crie tabelas e gráficos (histogramas, de pizza,
diagramas, etc), para expressar os dados
bibliométricos
8) Monte gráficos
dos artigos. Ex: principais autores, conexões entre
para
autores via citações, ranking de publicações, regiões
apresentar os
do
resultados
mundo ou centros de pesquisa mais importantes,
timeline de publicações, etc. OBS: seja criativo nesta
etapa!
Escreva um texto integrando dados da planilha (Etapa
6) com os gráficos bibliométricos (Etapa 8), com suas
9) Escreva uma
Resultado análises e interpretações. É esse texto, com esses
relatório
Final elementos todos, que embasará sua pesquisa
A pré-análise: a organização do material, quer dizer de todos os materiais que serão utilizados
para a coleta dos dados, assim como também como outros materiais que podem ajudar a
entender melhor o fenômeno e fixar o que o autor define como corpus da investigação, que
seria a especificação do campo que o pesquisador deve centrar a atenção.
A descrição analítica: nesta etapa o material reunido que constitui o corpus da pesquisa é
mais bem aprofundado, sendo orientado em princípio pelas hipóteses e pelo referencial teórico,
surgindo dessa análise quadros de referências, buscando sínteses coincidentes e divergentes de
ideias.
Interpretação referencial: é a fase de análise propriamente dita. A reflexão, a intuição, com
embasamento em materiais empíricos, estabelecem relações com a realidade aprofundando as
conexões das ideias, chegando se possível à proposta básica de transformações nos limites das
estruturas específicas e gerais.
Com base em tais pressupostos, deduz-se que a Análise de Conteúdo é própria para as pesquisas
quantitativas, utilizando interpretações inferenciais estatísticas dos seus dados (SILVA et al., 2004;
MARTINS, 2008).
A AD pode ser dividida em duas amplas linhas que, embora apresentem diferenças
metodológicas e teóricas, surgem, ambas, da necessidade imposta pela Linguística de definir
uma nova unidade de análise que ultrapasse os limites da frase: o texto. Na linha anglo-saxã, ao
contrário do que ocorre na corrente europeia, a AD não é afetada pela dicotomia saussuriana
[da] língua e [da] fala e constitui, assim, mera extrapolação da gramática. [...]
A linha europeia da AD segue a tradição, mais especificamente francesa, de atrelar uma
perspectiva histórica ao estudo reflexivo dos textos. [...]
A Exegese Bíblica moderna surgiu no decorrer do século XVII, mas foi modificada na virada do
século XIX para o século XX (ALMEIDA; FUNARI, 2016). Sobre esses aspectos, os autores (2016, p.
49-50) emprestam-nos seus dizeres:
O início da exegese moderna se deu a partir do século XVII. Mas foi na virada do século XIX
para o século XX com a filosofia hermenêutica de Wilhelm Dilthey, Martin Heidegger e Hans-
Georg Gadamer que provocaram mudanças na exegese, de modo especial, pela nova maneira de
se compreender a relação entre o autor, o texto e o leitor. Na sequência, vieram os trabalhos
exegéticos de Karl Barth e de Rudolf Karl Bultmann. Ambos recolocaram a questão
hermenêutica, mas cada um a seu modo. Barth se perguntava sobre o significado do texto
bíblico para o homem moderno. Já Bultmann dizia que a linguagem dos autores bíblicos tinha
deixado de ser compreensível. Era uma linguagem mítica e o homem moderno tinha adquirido
uma visão científica do mundo. Era, pois, preciso retraduzir aquela linguagem nesta outra para
que o texto bíblico voltasse a ter sentido. Pela mesma via, mas em sentido contrário, foram os
trabalhos de Paul Ricoeur2, para quem a linguagem simbólica da Sagrada Escritura precisava
ser reinterpretada, não, porém, substituída (GRECH, 2005, p. 48-9).
A Exegese Bíblica é, pois, uma técnica científica para a análise (ou interpretação) das Escrituras
Hebraico-Aramaicas (Antigo Testamento) e das Escrituras Gregas (Novo Testamento), cristãs
(ALMEIDA; FUNARI, 2016). Corroborando essa afirmação, os autores (2016) enfatizam:
Embora os termos Exegese e Hermenêutica sejam utilizados como sinônimos, na verdade eles
são complementares na busca por uma interpretação bíblica melhor fundamentada. Além disso, ambos
podem ser aplicados a qualquer texto, não apenas à Bíblia (ALMEIDA; FUNARI, 2016). Sobre esses
aspectos, os autores (2016) salientam:
Gorman (2017) divide a Exegese Bíblica em sete passos fundamentais, quais sejam: a pesquisa;
a análise contextual: o contexto histórico, literário e canônico; a análise formal: forma, estrutura e
movimento do texto; a análise detalhada do texto; a síntese; a reflexão: interpretação teológica, o texto
de hoje; o aprimoramento e ampliação da exegese. Para mais detalhes sobre cada uma dessas etapas,
favor ler Gorman (2017) conforme alistado nas referências desse livro.
3.4.3.6.6 Metanálise
Existe no meio acadêmico quem defenda que Metanálise e Revisão Sistemática são sinônimos;
mas, não são. Enquanto a Metanálise se refere a uma técnica específica para análise (ou interpretação)
dos dados, a Revisão Sistemática é muito mais ampla, referindo-se a uma técnica geral para a coleta
dos dados (COSTA; ZOLTOWSKI, 2014). Sobre estes aspectos, os autores (2014, p. 53) explanam:
Ainda sobre o conceito de Metanálise, o Ministério da Saúde (2012) afirma que ela é uma
técnica estatística de análise de dados e que ela pode ou não ser combinada com uma Revisão
Bibliográfica Sistemática. Nas palavras do Ministério da Saúde (2012, p. 14):
Com base nesses pressupostos, a Metanálise é uma excelente ferramenta para se analisar (ou
interpretar) os dados da pesquisa; no entanto, para essa finalidade, é necessário que o investigador a
utilize da maneira e no momento adequados, para que ela não produza efeitos contrários aos pré-
objetivados (MS, 2012; COSTA; ZOLTOWSKI, 2014).
O resumo científico constitui em um material que pode ou não ser publicável. É publicado
comumente em anais de eventos acadêmicos, tais como congressos, simpósios etc. Mas também pode
ser utilizado apenas como um trabalho apresentado ao(s) professor(es) para adquirir notas em
determinado componente curricular que se esteja cursando.
Existem dois tipos de resumo: o simples e o expandido. Mas a diferença vai muito além da
diferença de tamanho. Por exemplo: enquanto o resumo simples tem cerca de 500 palavras, o
expandido tem no máximo 2000 palavras (4 páginas); no simples não se exige a aplicação de
referências, já no expandido exige-se o uso de referências conceituais; como o resumo simples é
pequeno, faz-se necessário ser muito claro e objetivo, sem rodeios, na apresentação dos dados,
enquanto no expandido pode-se dar mais pormenores da ideia geral da pesquisa e da forma como ela
foi realizada; o resumo simples pede objetivos, resultados, metodologia utilizada e resultados obtidos,
já o expandido pede, além de tudo o que o simples já pede, também título, autor, palavras-chave,
introdução, conclusões, agradecimentos e referências; ambos precisam seguir as normas da ABNT
(NBR 14724, 2002; NBR 6023, 2002; NBR 10520, 2002; NBR 6024, 2003; NBR 6022, 2003).
3.4.3.7.2 Resenha científica
A resenha pode ser do tipo descritiva (também chamada de resenha técnica ou resenha
científica), ou então do tipo crítica (também conhecida como resenha opinativa).
A resenha descritiva se concentra na avaliação do conteúdo enquanto conhecimento, ciência
ou verdade, ou seja, ela faz um julgamento de verdades. Já a resenha crítica avalia a obra
considerando valor, estilo, estética, beleza etc. (julgamento de valores). Assim, a resenha
crítica exige maior grau de detalhes para a fundamentação da crítica (seja ela positiva ou
negativa), já que trata de questões menos palpáveis e mais subjetivas.
Existem ainda as chamadas resenhas temáticas. Nesse tipo de resenha, há a apresentação
de vários textos de diferentes autores que tratam de um mesmo tema principal. Na resenha
temática, cada um desses textos é identificado e apreciado em termos de sua real contribuição (e
o grau de qualidade dessa contribuição) para o tema em questão.
Se uma resenha não emitir qualquer avaliação sobre o conteúdo, temos o caso da resenha-
resumo. Esse tipo de resenha limita-se aos dois primeiros passos descritos anteriormente, isto é,
apenas identificar a obra e resumir seu conteúdo. Então, essa modalidade cumpre uma
função meramente informativa, e não busca convencer o leitor sobre a importância ou valor
de ler dada obra ou não.
As resenhas científicas são muito utilizadas em periódicos científicos, visto que as mesmas
representam uma atualização sobre quais publicações estão surgindo na área de interesse do periódico.
Elas mantêm os periódicos atualizados quanto a novas pesquisas feitas sobre temáticas que compõem o
seu escopo. Por essas razões, elas são comumente recentes.
De acordo com o site Exatamente Publicidade (2020, s.p.), banner ou pôster trata-se de “uma
peça publicitária em forma de bandeira, confeccionada em plástico, tecido ou papel, impressa de um ou
de ambos os lados, geralmente para ser pendurada em postes, fachadas ou paredes, exposta
publicamente, em pavilhões de exposições, pontos de venda etc.”.
O banner ou pôster é muito utilizado em apresentações de trabalhos acadêmicos em eventos
científicos, ou mesmo em apresentações feitas em sala de aula nas principais universidades do Brasil e
do mundo.
3.4.3.7.4 Maquete
Sendo assim, a maquete é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se formalizar os dados
de uma pesquisa.
De acordo com a Wikipedia (2020, s.p.), uma obra de arte tem as seguintes características:
Obra de arte, trabalho artístico ou somente obra, é uma obra criada ou avaliada por sua função
artística ao invés de prática. Por função artística, entende-se a representação de um símbolo, do
belo. Apesar de não ter isso como principal objetivo, uma obra de arte pode ter utilidade prática.
Pode consistir num objeto, uma composição musical, arquitetura, pintura, um texto,
uma apresentação, um filme, um programa de computador, dentre outros. Entretanto, o que é
considerado uma obra de arte depende do contexto histórico e cultural, e do próprio significado
de arte.
Uma obra de arte, por conseguinte, é um produto que transmite uma ideia ou uma expressão
sensível. Trata-se da criação que projeta ou reflete a intenção de um artista.
Sendo assim, uma obra de arte é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se formalizar os
dados de uma pesquisa.
3.4.3.7.6 Máquina
Consoante a Wikipedia (2020, s. p., grifos meus), uma máquina possui as seguintes
características:
Sendo assim, uma máquina é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se formalizar
os dados de uma pesquisa.
De acordo com a Wikipédia (2020, s.p.), um dispositivo (ou componente) eletrônico possui as
seguintes características:
O trabalho de conclusão de curso, mais conhecido como TCC, a dissertação, a tese e o livro são
materiais publicáveis, isto é, produzidos em condições para serem publicados. Por essa razão, precisam
seguir as normas da ABNT (NBR 14724, 2002; NBR 6023, 2002; NBR 10520, 2002; NBR 6024, 2003;
NBR 6022, 2003), e também as orientações da universidade que o(a) solicita (UB, 2015; UBC, 2012;
UNIMES, 2015).
Comumente, o TCC é requisito parcial obrigatório na conclusão de um curso de graduação, na
modalidade licenciatura ou bacharelado. Nos cursos superiores de Tecnologia, o TCC não é obrigatório,
nem nos cursos de especialização – pós-graduação lato sensu (a partir de 2018). Nos cursos de
mestrado são obrigatórias a apresentação e a aprovação de uma dissertação, e nos cursos de doutorado,
de uma tese. Tanto a dissertação quanto a tese são rigorosamente avaliadas pelos pares (por acadêmicos
e profissionais gabaritados no tema investigado), precisam seguir as normas da ABNT (NBR 14724,
2002; NBR 6023, 2002; NBR 10520, 2002; NBR 6024, 2003; NBR 6022, 2003) e as da universidade
que a solicita (UB, 2015; UBC, 2012; UNIMES, 2015).
No caso específico da elaboração de um livro, temos que ele não é exigido em nenhum curso,
mas sim elaborado e publicado por livre iniciativa do pesquisador. Mesmo assim, para ser considerado
científico, ou literatura crítica de um tema científico, ele precisa seguir as normas da ABNT (NBR
14724, 2002; NBR 6023, 2002; NBR 10520, 2002; NBR 6024, 2003; NBR 6022, 2003) e também o
rigor da metodologia da pesquisa científica. É, nesse diapasão, recomendável que ele seja avaliado e
aprovado pelos pares, por exemplo, por meio de uma boa editora, para que seja publicado (UB, 2015;
UBC, 2012; UNIMES, 2015).
Consoante a Wikipédia (2020, s.p., grifo meu), o Plano de Negócios possui as seguintes
características:
O Plano de negócios (do inglês Business Plan), também chamado plano empresarial, é um
documento que especifica, em linguagem escrita, um negócio que se quer iniciar ou que já está
iniciado.
Geralmente é escrito por empreendedores, quando há intenção de se iniciar um negócio, mas
também pode ser utilizado como ferramenta de marketing interno e gestão. Pode ser uma
representação do modelo de negócios a ser seguido. Reúne informações tabulares e escritas de
como o negócio é ou deverá ser.
De acordo com o pensamento moderno, a utilização de planos estratégicos ou de negócios é um
processo dinâmico, sistêmico, participativo e contínuo para a determinação dos objetivos,
estratégias e ações da organização; assume-se como um instrumento relevante para lidar com as
mudanças do meio ambiente interno e externo e contribuir com o sucesso das organizações. É
uma ferramenta que concilia a estratégia com a realidade empresarial. O plano de negócio é um
documento vivo, no sentido de que deve ser constantemente atualizado para que seja útil na
consecução dos objetivos dos empreendedores e de seus sócios.
O plano de negócios também é utilizado para comunicar o conteúdo a investidores de risco, que
podem se decidir a aplicar recursos no empreendimento.
Plano de negócio "é uma obra de planejamento dinâmico que descreve um empreendimento,
projeta estratégias operacionais e de inserção no mercado e prevê os resultados financeiros".
Segundo o mesmo autor, a estratégia de inserção no mercado talvez seja a tarefa mais
importante e crucial do planejamento de novos negócios.
De acordo com o site SomosPar (2020, s.p.), um Projeto Político Pedagógico (PPP) possui as
seguintes características:
O Projeto Político Pedagógico (PPP), também conhecido apenas como projeto pedagógico, é
um documento que deve ser produzido por todas as escolas, segundo a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN).
Embora seja amplamente conhecido no meio especializado, muitos diretores pedagógicos e
gestores educacionais têm dúvidas sobre o que o documento deve conter, como ele foi criado e
de que forma ele deve ser implementado nas escolas.
Na prática, o documento estipula quais são os objetivos da instituição e o que a escola, em todas
as suas dimensões, vai fazer para alcançá-los. Nele, serão considerados todos os âmbitos que
compõem o ambiente educacional, como:
– A proposta curricular: deve ficar claro o que será ensinado e qual será a metodologia adotada.
A proposta pedagógica deve trazer, ainda, as diretrizes adotadas pela instituição para avaliação
da aprendizagem, bem como do próprio método de ensino;
– Diretrizes sobre a formação dos professores: o documento deve ser claro sobre a forma como
a equipe docente vai se organizar para cumprir a proposta curricular. Além disso, deve haver um
plano para desenvolvimento e capacitação contínuos da equipe;
– Diretrizes para a gestão administrativa: para que a proposta curricular e as diretrizes sobre o
corpo docente sejam cumpridas é necessário que exista um suporte administrativo bem
organizado. O documento apontará o caminho para que a gestão da escola viabilize os outros
pontos.
Em suma, o documento funciona como um mapa para que a instituição alcance seu potencial
máximo, adequando-se ao contexto no qual está inserida e contribuindo para o crescimento e o
desenvolvimento de seus alunos.
O PPP pode ser apresentado como um trabalho de conclusão de curso (TCC) nos cursos da área
educacional, em especial em Pedagogia, no fito de ser concedido ao aluno o título de
Licenciado, ou Bacharel, na sua respectiva área.
Sendo assim, um PPP é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se formalizar os dados de
uma pesquisa.
3.4.3.7.11 Software
3.4.3.7.12 Edificação
De acordo com o site Significados (2020, s. p.), em seu sentido lato sensu, o conceito de
edificação “está relacionado com a construção civil, significando as técnicas usadas para a construção
de edifícios, sejam eles direcionados para habitação ou comércio. As técnicas de edificação mudam
conforme o tipo de edifício que está sendo construído”.
A expressão edificação civil indica a construção de infraestruturas para utilização de alguns
elementos da sociedade.
Em seu sentido stricto sensu, o conceito de edificação representa um edifício, uma construção
civil em si mesma. Em cursos de Engenharia ou Arquitetura, o trabalho final para conclusão do curso
pode ser apresentado na forma de um edifício, uma casa, uma ponte, um túnel, um palácio, ou qualquer
outra construção civil adequada.
Segundo a ABNT (NBR 6022, 2003, p.2), o artigo científico pode ser definido como a
“publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos
e resultados nas diversas áreas do conhecimento”. Sua finalidade é apresentar publicamente os
resultados originais de uma dada pesquisa.
Santos (2007, p. 43) afirma que “são geralmente utilizados como publicações em revistas
especializadas, a fim de divulgar conhecimentos, de comunicar resultados ou novidades a
respeito de um assunto, ou ainda de contestar, refutar ou apresentar outras soluções de uma
situação convertida”.
Como antes citado, há a hipótese de que a concisão seja a característica que demarca a diferença
entre a monografia e o artigo. Assim, precisamos compreender acerca de alguns pressupostos, a
fim de que possamos confirmar ou não se tal hipótese é verdadeira.
O primeiro passo é compreendermos que enquanto na monografia existe a possibilidade de se
esmiuçar um determinado assunto, estendendo-o em vários capítulos, no artigo científico tal
aspecto não prevalece.
Como se trata de um texto que prima pela concisão dos dados apresentados, ele precisa passar
por um critério rigoroso de correção, no sentido de verificar a estruturação dos parágrafos e
frases, garantir a clareza e objetividade retratadas pela linguagem, entre outros. Não deixando
de mencionar que, num artigo, o revisor precisa estar livre para se posicionar frente ao objeto de
análise, levando em consideração alguns aspectos voltados para a análise dos argumentos
apresentados, checagem do valor científico atribuído ao texto em questão, verificação da
possibilidade de se tornar público (estar disponível a outras pessoas), confirmação da
possibilidade de abertura a possíveis reavaliações em função de novas descobertas e,
consequentemente, apresentação de melhores resultados etc.
Sendo assim, um artigo científico é um tipo de trabalho acadêmico utilizado para se formalizar
os dados de uma pesquisa.
Consoante o site NovoIdeal (2020, s. p., grifo meu), uma exposição cultural, mostra cultural, ou
um museu, trata-se:
[...] da culminância do Projeto Anual, escolhido criteriosamente pela equipe docente, atribuindo
um subtema para cada turma da universidade, com diferentes desafios. Um evento único,
quando os estudantes têm a oportunidade de socializar seus conhecimentos e produções
construídas, de forma coletiva e individual, aos familiares e comunidade acadêmica como um
todo, com espaços organizados especialmente pelos discentes de forma a atribuir sentido ao que
foi trabalhado.
A exposição oral é realizada, é claro, pela fala. O pesquisador apresenta a sua pesquisa falando
com a assistência. Ele expõe desde os critérios utilizados para se escolher o tema, até quais
metodologias foram escolhidas, como foram adequadamente aplicadas, explica quem foram os
participantes da pesquisa, quais os desafios existentes no decurso da investigação, quais foram os
resultados pré-objetivados e os efetivamente alcançados. Enfim, o investigador precisa relatar de tudo
um pouco na sua exposição oral, que é muito comum em eventos científicos, tais como congressos,
simpósios, workshops, minicursos etc. (GIFTED, 2015; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS,
2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).
A exposição visual é realizada por meio de algum recurso visual, tal como um banner, um
pôster, uma faixa, uma maquete, um relatório impresso ou eletrônico etc. Por meio dela, o investigador
expõe basicamente as mesmas coisas que na exposição oral: os critérios utilizados para se escolher o
tema, até que metodologias foram escolhidas, como foram adequadamente aplicadas; explica quem
foram os participantes da pesquisa, quais os desafios existentes no decurso da investigação, quais foram
os resultados pré-objetivados e os efetivamente alcançados. A diferença consiste em que o investigador
aqui não fala com a assistência, mas deixa exposto o seu trabalho, em um local adequado em um evento
científico, para que ela olhe, veja, leia, e tire as suas próprias conclusões (GIFTED, 2015; GIL, 1999,
2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).
A exposição mista, tal como o próprio nome já diz, é uma mistura entre a exposição oral e
visual, um pouco de cada uma. O investigador expõe o seu trabalho, comumente em um evento
científico, tanto falando com a assistência quanto a deixando lê-lo, vê-lo, tocá-lo (quando adequado,
por exemplo, uma maquete), e tirar as suas próprias conclusões (GIFTED, 2015; GIL, 1999, 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; 2012).
Aqui, nesta seção, são apresentados vários tipos de pesquisa científica, de acordo com alguns
diferentes critérios de classificação – tais como, por exemplo, por objetivo –, no intuito de aculturar ao
máximo possível o pesquisador, para que ganhe confiança na sua investigação e na classificação das
metodologias nela empregadas21. Além disso, essas classificações são adicionais, isto é, servem para
complementar aquela classificação apresentada no item 3.4.3 deste livro, mas nunca para substituí-la.
A pesquisa de campo é sempre realizada in loco e objetiva sempre coletar dados primários, ou
seja, dados que ainda não foram sujeitos à manipulação (RODRIGUES, 2007). Sobre esses e outros
aspectos da pesquisa de campo, Rodrigues (2007, p. 42) acentua:
Pesquisa de campo é aquela que busca fontes primárias, no mundo dos acontecimentos não
provocados nem controlados pelo pesquisador, que se caracteriza por desenrolar-se em
ambiente natural. Trata-se de um procedimento baseado na observação direta do objeto
estudado no meio que lhe é próprio, geralmente sem a interferência do pesquisador, ou sem que
esta interferência modifique substancialmente os acontecimentos. Distingue-se da pesquisa
experimental e da pesquisa in vitro. [...] (RODRIGUES, 2007, p. 42)
A pesquisa teórica é a mais básica de todas as espécies de pesquisa, consiste em uma revisão da
literatura crítica e ou de documentos que forneçam dados sobre tema investigado. Não possui caráter
prático e, por essa razão, é essencialmente qualitativa. Sobre esses aspectos, Rodrigues (2007, p. 41)
explana:
Teórico ou básico é o estudo que procura estabelecer um sistema coerente de proposições sobre
21
A quantidade exorbitante de nomenclaturas de métodos e técnicas de investigação científica constantes na vasta literatura
da temática não deve, de modo algum, atemorizar o investigador, mas sim aculturá-lo ao máximo possível para que ele seja
capaz de cimentar sua investigação, classificando-a e utilizando-a de modo adequado.
uma zona da realidade [...] é um conjunto de declarações sobre o real [...] uma explicação dos
fatos [...] a teoria procura estabelecer relações funcionais entre variáveis. A pesquisa teórica não
busca a solução de problemas práticos, mas a compreensão da realidade, ou a sua explicação, ou
simplesmente descrevê-la [...]
Inobstante, como base nesses pressupostos, deduz-se que a pesquisa teórica, ou básica, consiste,
na verdade, em uma pesquisa observacional não participante, sendo, inclusive, parte integrante de todas
as pesquisas, com maior ou menor grau de complexidade.
A pesquisa prática, ou aplicada, possui grau de complexidade maior que a pesquisa teórica, ou
básica, contrapondo-se a ela no que concerne ao lócus de elaboração, às técnicas de pesquisa, e às
finalidades. Trata-se de pesquisa in loco, isto é, realizada no mesmo local que o objeto investigado.
Pode consistir em uma pesquisa de abordagem qualitativa, quantitativa ou mista. Sobre esses aspectos,
Rodrigues (2007, p. 42) explana:
Prática, também chamada aplicada, é a investigação que procura soluções para problemas
concretos. Não se preocupa com o abstrato. Deve ter fundamentação na pesquisa teórica ou
básica, mas tem existência própria. A vida própria de que goza a pesquisa prática fica
parenteada pelo tempo, muita vez longo, no curso da história da ciência, decorrido desde a
formulação teórica até a sua aplicação [...]
Inobstante, como base nesses pressupostos, deduz-se que a pesquisa prática, ou aplicada,
consiste, na verdade, em uma pesquisa de campo, podendo valer-se das bases procedimentais
observacionais participantes, da experimental, da estatística e da clínica.
A pesquisa original é aquela que resulta em alguma descoberta científica. Normalmente, essas
pesquisas são realizadas por pesquisadores com longa quilometragem de estudos sobre e convivências
com o tema investigado. É comum em teses de pesquisa, ou em dissertações, de cursos de pós-
graduação stricto sensu – mestrado e doutorado. Isso não quer dizer que não seja possível realizar uma
pesquisa original em um trabalho de conclusão de curso de graduação ou pós-graduação lato sensu,
mas, por requerer grande bagagem acadêmica e profissional por parte do pesquisador, ela é mais
comum nos mestrados e nos doutorados.
3.4.4.5 Pesquisa exploratória
Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa explorar determinado tema. No que
concerne à pesquisa exploratória, alguns autores sobre o tema emprestam-nos suas ideias:
Por meio da pesquisa exploratória, o investigador conhece de perto o objeto investigado, antes
de avaliar a possibilidade e ou necessidade de um procedimento experimental.
Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa a analisar determinado tema. No
que concerne à pesquisa analítica, Rodrigues (2007, p. 28) explana: “Analítico é o estudo minucioso,
voltado para os detalhes, para a busca de inter-relações do objeto de estudo com outros objetos a ele
relacionados; ou das partes ou fatores internos do dito objeto. [...].”.
A pesquisa analítica separa o objeto (quando possível) em partes menores, e as estuda
minuciosamente para se conhecer o todo em maior profundidade. Por essa razão, ela é largamente
utilizada, em todas as áreas do conhecimento.
Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa a sintetizar determinado tema. No
que concerne à pesquisa sintética, Rodrigues (2007, p. 29) empresta-nos suas ideias:
Sintético é o relatório de pesquisa que, ao contrário do analítico, não busca detalhes, não
desmonta o objeto segundo os seus elementos constitutivos ou intervenientes. O estudo
sintético, como o nome sugere, busca elaborar uma síntese, que pode ser descritiva, explicativa
ou compreensiva, como pode ser teórica ou prática [...]
A pesquisa sintética é utilizada em redações de ensaio, ou anteprojetos de pesquisa, quando se
quer, na verdade, uma síntese (sem detalhes) sobre o fenômeno ou objeto investigado.
Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa a descrever determinado tema. No
que concerne à pesquisa descritiva, alguns autores sobre o tema emprestam-nos suas ideias:
[...] O foco essencial desses estudos reside no desejo de conhecer a comunidade, seus traços
característicos, suas gentes, seus problemas, suas escolas, seus professores, sua educação, sua
preparação para o trabalho, seus valores, os problemas do analfabetismo, a desnutrição, as
reformas curriculares, os métodos de ensino, o mercado ocupacional, os problemas do
adolescente, etc.
[...] Os estudos descritivos exigem do investigador, para que a pesquisa tenha certo grau de
validade científica, uma precisa delimitação de técnicas, métodos, modelos e teorias que
orientarão a coleta e interpretação dos dados. A população e a amostra devem ser claramente
delimitadas, da mesma maneira, os objetivos do estudo, os termos e as variáveis, as hipóteses,
as questões de pesquisa etc.. [...]. (TRIVIÑOS, 1987, p. 109).
Descrever sem analisar profundamente é o foco desse tipo de pesquisa. Mesmo assim, se for
bem realizado, pode gozar de bom status científico.
Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa a explicar determinado tema. No
que concerne à pesquisa explicativa, Rodrigues (2007, p. 30) empresta-nos suas ideias:
Explicativa é a pesquisa que busca relações do tipo causa e efeito. Não basta que procure
relações de quaisquer espécies. É preciso que vise àquelas relações pertinentes ao nexo de
causalidade. Assim, não basta enfocar, num estudo antropológico, a presença de relações de
parentesco entre nubentes no sertão do Nordeste, com certa frequência, até meados do século
XX. A pesquisa só será explicativa se apontar causas para a aludida endogamia. [...]
Essa espécie de pesquisa, tal como o próprio nome diz, visa a compreender determinado tema.
No que concerne à pesquisa compreensiva, Rodrigues (2007, p. 31) acentua:
A pesquisa compreensiva é incipiente tal qual o é a pesquisa sintética. Ela busca, sem
aprofundamentos, a compreensão do objeto investigado, em uma fase inicial, tal como quando se
elabora a redação de ensaio, ou o anteprojeto de pesquisa.
Essa espécie de pesquisa possui maior grau de complexidade, porque requer condicionamento
controlado, sendo normalmente utilizada em estudos experimentais e clínicos. No que concerne à
pesquisa in vitro, Rodrigues (2007, p. 43) ressalta: “Pesquisa in victro, cujo objeto estudado encontra-
se confinado em um ambiente artificial, como um tubo de ensaio. Não tem aplicação no campo das
ciências sociais [...].”.
Com base nesses pressupostos, deduz-se que se refere à pesquisa de campo, à pesquisa de
laboratório, e outras pesquisas.
Ex-post-facto é a investigação pertencente à categoria das pesquisas de campo, mas que tem a
particularidade de centrar as suas observações num fato já consumado. Isto é: consiste na
tentativa de compreender, explicar, ou pelo menos descrever um fenômeno que já se consumou,
que já não está em andamento nem foi provocado. [...]
A pesquisa ex-post-facto diz respeito mais sobre o momento do que sobre a maneira que o fato,
fenômeno, ou objeto, é investigado.
3.4.4.13 Pesquisa de mercado
No que concerne à pesquisa de mercado, Rodrigues (2007, p. 44) salienta: “Pesquisa de mercado
visa ao comportamento do consumidor em face de produtos ou serviços e modalidades de pagamentos,
aspectos ou outros do mundo do consumo. [...]”.
A pesquisa de mercado é bastante utilizada no mundo empresarial, por empresários interessados
em conhecer bem a sua clientela, os seus hábitos de consumo, as suas preferências concernentes aos
produtos e formas de pagamentos, no fito de a fidelizar.
Largamente utilizada por empresas de grande porte do ramo de tecnologia, esse tipo de pesquisa
visa a criar novos produtos e serviços que venham a solucionar problemas cotidianos de seus clientes,
marcando, desse modo, o mercado.
Pesquisa oral, como a denominação sugere, é a que se vale da oralidade como fonte principal,
ou como instrumento de coleta de informações. É uma forma de pesquisa que vive um grande
impulso nos últimos anos. Largamente praticada pelos antropólogos, desde sempre empregada
na investigação forense, a oralidade ganhou a adesão sôfrega de historiadores após a orfandade
a que foram reduzidas as versões mais teoréticas da História, com o advento da crise dos
paradigmas. Outros ramos das ciências sociais estão se voltando para a oralidade. [...]
A pesquisa oral é bastante peculiar às ciências que a utilizam, seja no Direito, em oitivas de
testemunhas, seja na Antropologia, seja em estudos de casos classificados como Histórias de Vida.
3.4.5 Os instrumentos da pesquisa científica
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o protocolo observacional é instrumento
fundamental nas pesquisas observacionais e que, para não dificultar ou mesmo impedir a sua adequada
execução, ele só pode ser inutilizado quando substituído por outro instrumento equivalente, tal como o
diário de campo.
Use um protocolo de entrevista para formular perguntas e registrar as respostas durante uma
entrevista qualitativa. Esse protocolo inclui os seguintes componentes:
●Um cabeçalho (com data, local, nome do entrevistador e nome do entrevistado).
●Instruções a serem seguidas pelo entrevistador para que procedimentos padrão sejam usados
por vários entrevistadores.
●As questões (geralmente uma questão para quebrar o gelo no início), seguida de quatro a
cinco perguntas que são com frequência as subquestões em um plano de pesquisa qualitativa,
seguidas de alguma declaração conclusiva ou uma pergunta como “Quem devo procurar para
aprender mais sobre minhas perguntas?”
●Sondagens das quatro a cinco perguntas, para o acompanhamento e para pedir aos indivíduos
para explicarem suas ideias mais detalhadamente ou para elaborar sobre o que disseram.
●Espaço entre as perguntas para registrar as respostas.
●Um agradecimento final para reconhecer o tempo que o entevistado gastou durante a
entrevista. [...]
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o protocolo de entrevista é instrumento
fundamental nas entrevistas e que, para não dificultar ou mesmo impedir a sua adequada execução, ele
jamais pode ser inutilizado.
3.4.5.2 Questionário
Questionário é um método de coletar dados no campo, de interagir com o campo composto por
uma série ordenada de questões a respeito de variáveis e situações que o pesquisador deseja
investigar. Tais questões são apresentadas a um respondente, por escrito, para que ele responda
também dessa forma, independentemente de ser a apresentação e a resposta em papel ou em um
computador. A escolha do meio é sempre do pesquisador. (VERGARA, 2012, p. 39)
O questionário é a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita medir com melhor
exatidão o que se deseja. Em geral, a palavra questionário refere-se a um meio de obter
respostas às questões por uma fórmula que o próprio informante preenche. Assim, qualquer
pessoa que preencheu um pedido de trabalho teve a experiência de responder a um questionário.
Ele contém um conjunto de questões, todas logicamente relacionadas com um problema central.
[...]
O questionário poderá ser enviado pelo correio, entregue ao respondente ou aplicado por
elementos preparados e selecionados. [...]
Todo questionário deve ter natureza impessoal para assegurar uniformidade na avaliação de
uma situação para outra. Possui a vantagem de os respondentes se sentirem mais confiantes,
dado o anonimato, o que possibilita coletar informações e respostas mais reais (o que pode não
acontecer na entrevista). [...] (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 48).
Se optar pelo uso do correio, o pesquisador deve incluir envelope selado com o nome e o
endereço do pesquisador escrito (destinatário), de maneira a facilitar o retorno do questionário e
não causar ônus financeiro ao respondente. Para garantir o anonimato, é prudente não colocar o
nome do remetente.
Mas o pesquisador pode, também, optar por valer-se de um portador. Nesse caso, também por
este o questionário dese ser devolvido.
Junto com o questionário, deve-se enviar uma nota ou carta explicando a natureza da pesquisa,
sua importância e a necessidade de obter respostas, numa tentativa de despertar o interesse do
recebedor, para que ele preencha e devolva o questionário dentro de um prazo razoável.
Se optar por meio eletrônico, o pesquisador pode enviar o questionário por e-mail, ou
disponibilizá-lo em páginas próprias na Web, usando hypertext markup language (HTML), a
linguagem da Web, e hospedá-lo em um dos diversos sites especializados como, por exemplo, o
<www.vista-survey.com>. [...].
Existem grandes vantagens de se utilizar o meio eletrônico para a obtenção de dados via
questionário (VERGARA, 2012). Dentre as mais importantes podemos citar a facilidade para se
comunicar com os entrevistados e para organizar os dados obtidos, codificando-os, categorizando-os ou
tabulando-os. Além de ser possível ampliar o número de respondentes, por meio de convites virtuais a
outros usuários do mesmo site, também é possível construir caixas protetivas, impedindo o respondente
de marcar mais de uma resposta, quando o pesquisador só quer uma. Eletronicamente, as respostas
podem ser processadas, instantaneamente e organizadas por meio de algum software estatística
apropriado, tal como o SAS, o SPSS e o Minitab, ou mesmo em uma planilha eletrônica como o Excel
ou o Calc.
Os questionários podem ser classificados de acordo com o tipo das perguntas nele contidas. Por
exemplo, se as perguntas forem abertas, então o questionário é denominado aberto ou não padronizado.
Se as perguntas forem fechadas, então o questionário é denominado fechado ou padronizado. E se
houver combinação de perguntas abertas com outras fechadas, então o questionário é denominado
misto (DENCKER; VIÁ, 2012; RICHARDSON, 2007).
Quanto à classificação dos questionários, Vergara (2012) traz à tona que existem os abertos, os
fechados – também denominados surveys e os mistos. Nesse diapasão, sintetizando as palavras da
autora (VERGARA, 2012, p. 40, grifos meus), temos:
Nos primeiros, ou seja, nos abertos, são postas, para o respondente, questões abertas, sem a
apresentação de possíveis respostas. [...]
Nos questionários fechados, são apresentadas questões fechadas nas quais o respondente faz
marcações com um símbolo, por exemplo um X, ou com algarismos. São adequados a um
contingente maior de respondentes e à investigação cuja abordagem seja quantitativa. [...]
Questionários mistos, como o nome está dizendo, apresentam questões abertas e fechadas. [...]
Ressalta-se ainda que os questionários possam ser utilizados conjuntamente às escalas sociais,
por meio de questões fechadas escalonadas (VERGARA, 2012). Com base nos pressupostos
apresentados, deduz-se ainda que o questionário seja instrumento fundamental nas entrevistas e que,
para não dificultar ou mesmo impedir a sua adequada execução, ele só pode ser inutilizado quando
substituído por outro instrumento equivalente, tal como o formulário.
3.4.5.3 Formulário
a) Planos: são formulários cujos campos são desenhados e pré-impressos em papel padronizado;
b) Contínuos: são também elaborados em papel, e destinados a serem preenchidos
por impressoras de computadores, em grande escala. O desenho desses formulários é realizado
em gabaritos de espaçamento que permitem a impressão de acordo com as características e
necessidades do computador e da respectiva impressora;
c) Eletrônicos: são elaborados por softwares aplicativos, permitindo o trâmite na sua
organização por meio das redes informáticas, e centros de computação, dispensando a utilização
de papel. Esse tipo de formulário é muito difundido pelas organizações que se utilizam dos
recursos da Internet, disponibilizando em seus sites os formulários para serem preenchidos por
seus clientes a fim de efetuar suas compras por meio de seus respectivos computadores
devidamente conectados à rede mundial; e
d) Formulários PDF: são formularios preenchíveis em PDF. Podem ser gerados por um software
profissional (Adobe.com). Existem sites que convertem um PDF regular em formulario
eletronico.
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o formulário é instrumento fundamental
nas entrevistas e que, para não dificultar ou mesmo impedir a sua adequada execução, ele só pode ser
inutilizado quando substituído por outro instrumento equivalente, tal como o questionário.
O diário de campo é o instrumento próprio das pesquisas de campo, sejam elas observacionais
participantes, experimentais, estatísticas ou clínicas. Trata-se de um meio para se registrar as
informações produzidas durante a atuação do pesquisador em campo. Embora seja denominado diário,
ele pode ser, além de um diário, um caderno, um bloco de anotações, ou mesmo uma página para
rascunho. Mas difere do protocolo observacional por duas razões: primeiro, porque não é utilizado nas
pesquisas observacionais não participantes; e segundo, porque, no diário de campo, as informações não
precisam ser, necessariamente, registradas manualmente, podendo ser gravados em CDs, DVDs, fitas,
pendrives, chips, fotografias ou filmagens digitais etc. Entretanto, o objetivo é o mesmo: planificar tudo
o que foi observado sobre o objeto de pesquisa, suas características, suas variações, as possíveis causas
e os possíveis efeitos das variações, o que foi feito durante a atuação em campo, o que não foi feito
durante ela e o(s) seu(s) respectivo(s) porquê(s). Sobre esses aspectos, Barros e Lehfeld (2007, p. 105)
explanam:
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o diário de campo é instrumento
fundamental nas pesquisas de campo e que, para não dificultar ou mesmo impedir a sua adequada
execução, ele só pode ser inutilizado quando substituído por outro instrumento equivalente, tal como o
protocolo observacional.
3.4.5.5 Testes
Os testes são instrumentos de pesquisa próprios das pesquisas clínicas, acompanhando quase
sempre as escalas sociais no processo de testagem. São comumente utilizados nas pesquisas da área das
ciências da saúde, tais como Medicina, Psicologia, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Odontologia,
Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Educação Física, Engenharia Biomédica etc. Sobre esse
instrumento de pesquisa, Gil (1999, p. 150) diz:
Os testes são aplicados nos mais diversos campos da atividade humana, pois sempre há a
necessidade de se colocar alguma coisa à prova. Nas ciências, particularmente, os testes são
amplamente requeridos. Todavia, neste domínio o significado de teste é bem mais preciso, pois
envolve o sentido de medida. Assim, aplicar um teste significa medir, isto é, comparar um
critério determinado.
São muitos os critérios para se classificar os testes. Sobre esse aspecto, Gil (1999, p. 152-153)
alista os principais:
Com base nesses pressupostos, deduz-se que os testes são instrumentos imprescindíveis para os
estudos clínicos, mormente quando do processo de testagem.
As escalas sociais são instrumentos de pesquisa próprios das pesquisas clínicas, acompanhando
quase sempre os testes no processo de testagem. Mais do que isso, elas são normalmente utilizadas
durante a realização do teste, amiúde como o principal instrumento da testagem. São comumente
utilizadas nas pesquisas da área das ciências da saúde, tais como Medicina, Psicologia, Enfermagem,
Terapia Ocupacional, Odontologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Educação Física,
Engenharia Biomédica etc. Sobre esse instrumento de pesquisa, Gil (1999, p. 139) elucida:
Escalas sociais são instrumentos construídos com o objetivo de medir a intensidade das opiniões
e atitudes da maneira mais objetiva possível. Embora se apresentem segundo as mais diversas
formas, consistem basicamente em solicitar ao indivíduo pesquisado que assinale, dentro de
uma série graduada de ítens, aqueles que melhor correspondem à sua percepção acerca do fato
pesquisado.
As principais escalas sociais, consoante palavras de Vergara (2012), são: a nominal, a ordinal, a
intervalar e a razão. A autora pontua que a escala razão pode ser classificada em sete espécies, quais
sejam: a categoria simples, a múltipla escolha, a resposta múltipla, as escalas de Likert, a diferencial
semântico, as escalas numéricas, as escalas de soma constante e as escalas de ranqueamento. Nesse
diapasão, sintetizando as palavras da autora (VERGARA, 2012, p. 49-60, . Ggrifos meus), apresentam-
se as escalas citadas a seguir:
Sobre as desvantagens das escalas sociais, Gil (1999) alista seis problemas básicos, quais sejam:
a) definição de um contínuo; b) fidedignidade; c) validade; d) ponderação dos ítens; e) natureza dos
ítens; e, f) igualdade das unidades. Em seguida, o autor (GIL, 1999, p. 143-148. G, grifos meus)
apresenta seis tipos de escalas sociais que, sinteticamente, são:
1. Escalas de ordenação
Estas escalas são constituídas por uma série de palavras ou enunciados que os sujeitos devem
ordenar de acordo com sua aceitação ou rejeição. Por exemplo: pode-se solicitar que as pessoas
ordenem uma série de nacionalidades de acordo com sua preferência em termos de
relacionamento. [...]
2. Escalas de graduação
As escalas de graduação apresentam um contínuo de atitudes possíveis em relação a
determinada questão. Os enunciados de atitudes correspondem a graus, que indicam maior ou
menos favorabilidade. [...]
3. Escalas de distância social
Estas escalas são utilizadas para estabelecer relações de distância entre as atitudes em relação a
determinados grupos sociais. [...]
4. Escala de Thurstone
A escala de Thurstone [...] constitui a primeira experiência de mensuração de atitudes com base
numa escala de intervalos. A despeito das críticas que lher têm sido formuladas e de ter caído
em desuso, esta escala é tomada frequentemente como a base metodológica para os
procedimentos de mensuração de atitudes [...]
5. Escala de Likert
A escala Likert baseia-se na de Thurstone. É, porém, de elaboração mais simples e de caráter
ordinal, não medindo, portanto, o quanto uma atitude é mais ou menos favorável. [...]
6. Diferencial semântico
O diferencial semântico é uma técnica criada por Osgood, Suci e Tannembaum [...], cujo
objetivo é medir o sentido que determinado objeto tem para as pessoas. Neste sentido pode ser
considerado como uma escala de atitudes. Pode-se avaliar qualquer conceito: uma etnia, uma
pessoa, uma instituição política, uma obra de arte etc.
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que as escalas sociais são instrumentos
imprescindíveis para os estudos clínicos, mormente quando do processo de testagem.
3.4.5.7 Bibliografias
As bibliografias são fontes de dados secundários, ou seja, aqueles que já foram manipulados,
consistindo em interpretações dos dados originais sobre determinado tema, o que se denomina
literatura crítica. São os instrumentos próprios dos levantamentos bibliográficos. Acompanham
principalmente as pesquisas observacionais não participantes, mas se fazem úteis e necessárias com
lentes teóricas de todas as espécies de pesquisa para o levantamento do seu referencial teórico.
Consistem basicamente nos livros e nos trabalhos acadêmicos em geral, tais como TCCs, monografias,
dissertações, teses, artigos científicos, resenhas científicas, projetos de pesquisa etc. (GIL, 1999;
SEVERINO, 2007; RODRIGUES, 2007).
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que as bibliografias são instrumentos
imprescindíveis para os levantamentos bibliográficos, necessárias para todas as espécies de pesquisa.
3.4.5.8 Documentos
Os documentos são fontes de dados primários, ou seja, aqueles que ainda não foram submetidos
a algum tipo de manipulação. São os instrumentos próprios dos levantamentos documentais.
Classificam-se em documentos pessoais, registros institucionais, registros estatísticos e da
comunicação de massa em geral, isto é, TV, rádio, jornais, revistas, internet etc. Sobre esse instrumento
de pesquisa, Gil (1999, p. 160) salienta: “As fontes de ‘papel’ muitas vezes são capazes de
proporcionar ao pesquisador dados suficientemente ricos para evitar a perda de tempo com
levantamentos de campo, sem contar que em muitos casos só se torna possível a investigação social a
partir de documentos.”.
Tipificando os documentos utilizados nesse tipo de técnica, Gil (1999, p. 160-165. Grifos meus)
apresenta quatro, quais sejam:
1) Registros estatísticos
[...] Entidades governamentais como a Fundação IBGE dispõem de dados referentes a
características socioeconômicas da população brasileira, tais como: idade, sexo, tamanho da
família, nível de escolaridade, ocupação, nível de renda etc. Os órgãos de saúde fornecem dados
a respeito de incidência de doenças, causas de morte etc. Uma entidade como o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos dispõe de dados sobre desemprego,
salários, greves, negociações trabalhistas etc. Organizações voluntárias têm dados referentes a
seus membros e também às populações que atendem. Institutos de pesquisa vinculados aos mais
diversos campos do conhecimento. Além disso, número cada vez maior de entidades vem-se
preocupando em manter bancos de dados. Isto se verifica em hospitais, escolas, agências de
serviço social, entidades de classe, repartições públicas etc.
[...]
2) Registros institucionais escritos
Além dos registros estatísticos, também podem ser úteis para a pesquisa social os registros
escritos fornecidos por instituições governamentais. Dentre esses dados estão: projetos de lei,
relatórios de órgãos governamentais, atas de reuniões de casas legislativas, sentenças judiciais,
documentos registrados em cartórios etc. [...]
3) Documentos pessoais
Há uma série de escritos ditados por iniciativa de seu autor que possibilitam informações
relevantes acerca de sua experiência pessoal. Cartas, diários, memórias e autobiografias são
alguns desses documentos que podem ser de grande valia na pesquisa social.
[...]
4) Comunicação de massa
Os documentos de comunicação de massa, tais como jornais, revistas, fitas de cinema,
programas de rádio e televisão, constituem importante fonte de dados para a pesquisa social.
Possibilitam ao pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual e também
lidar com o passado histórico. Neste último caso, com eficiência provavelmente maior que a
obtida com a utilização de qualquer outra fonte de dados. [...]
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que os documentos são instrumentos
próprios e, portanto, imprescindíveis para os levantamentos documentais, necessários para todas as
espécies de pesquisa.
Mais do que isso, um levantamento documental bem conduzido pode – tanto quanto um
levantamento bibliográfico conduzido de igual forma – produzir resultados pertinentes, relevantes,
significativos para o avanço da Ciência, tal como este trabalho demonstra do seu início ao seu fim.
3.5 Conclusões22
A pesquisa científica tem grande importância social devido ao seu poder de transformar a
sociedade, resolvendo problemas e reestruturando processos econômicos, políticos, tecnológicos,
culturais, sociais e até mesmo científicos. Por exemplo, as grandes revoluções sociais e industriais
ocorridas nos últimos séculos tiveram a sua base nas descobertas científicas (KÖCKE, 1997).
O método é um elemento muito importante para o desenvolvimento da ciência porque ele,
quando adequado com o objetivo da pesquisa, com o objeto de estudo e com o problema, direciona a
pesquisa da maneira correta para o conhecimento da verdade, maximizando os resultados obtidos e
minimizando tempo empregado na sua obtenção. Nesse diapasão, pode-se levar em conta as seguintes
palavras de Soares (2003, p. 13):
Por essas razões, realizar adequadamente a pesquisa científica passou a ser uma tarefa bastante
séria e respeitada, dentro e fora do contexto acadêmico. As instituições de ensino superior e de pesquisa
passaram a adotar métodos mais rigorosos de avaliação de seus pesquisadores bem como de suas
respectivas produções científicas. Os estudos sobre o tema ganharam maior disseminação e destaque
(SOARES, 2003; TEIXEIRA, 2012).
Entretanto, apesar dos grandes avanços da ciência, mormente nos últimos séculos, a sua
natureza hipotética a torna provisória, inacabada e falível, tal como Soares (2003, p. 13-14) pontua:
Assim, pode-se afirmar que o conhecimento científico é uma crença verdadeira e justificada,
fato este que nos leva a acreditar que o conhecimento acha-se essencialmente correlacionado
22
Para mais informações sobre a síntese dos três pilares da metodologia da pesquisa científica, favor verificar o artigo
científico intitulado “Os três pilares da metodologia da pesquisa científica: uma revisão da literatura”, publicado na revista
Ágora, nº 1, de dezembro de 2015, e disponível no site:
https://periodicos.unimesvirtual.com.br/index.php/formacao/article/view/531. Acessado em: 3 maio 2020.
com a verdade.
Apesar dessa afirmação, não se pode esquecer que a ciência não é considerada como algo
pronto, acabado ou definitivo. Não é a posse de verdades absolutas e imutáveis, mas uma busca
constante de explicações e soluções, de revisão de seus resultados.
Dentro desses limites, a justificação das teorias científicas é um elemento da busca da verdade
(mesmo que se saiba que a verdade absoluta das coisas em seu sentido ontológico ou mesmo
empírico nunca será alcançada). Essa justificação só se constrói com base em um caminho
próprio de cada ciência, ou, em outras palavras, no método científico, o qual se apresenta como
um meio, um caminho para a busca da verdade.
A forma como foram abordados os três pilares da pesquisa científica, neste trabalho, formam
um arcabouço teórico-metodológico mais completo, abrangente, claro e fidedigno sobre a temática, de
modo a facilitar a sua compreensão e o seu uso, tal como originalmente planejado.
4.1 Conclusões
Quadro 713 – Síntese dos níveis da pesquisa científica e dos seus respectivos focos de estudo
O NÍVEL EPISTEMOLÓGICO
O NÍVEL GNOSIOLÓGICO
O NÍVEL ONTOLÓGICO
O NÍVEL TEÓRICO
O NÍVEL METODOLÓGICO
O NÍVEL TÉCNICO
Considera as sete etapas fundamentais da pesquisa científica, quais sejam: a coleta, o registro, a
sistematização, a organização, a análise ou interpretação, a formalização e a apresentação dos dados.
O NÍVEL ÉTICO
Estuda as normas inerentes às boas condutas e práticas em todo o processo da pesquisa científica.
Além disso, a clareza aqui apresentada facilita a compreensão e o uso de todas as abordagens,
os métodos, as técnicas e os instrumentos utilizados quando da investigação científica, levando-se
sempre em consideração os seus elementos e pressupostos. Nesse diapasão, as formas de caracterização
da pesquisa científica podem ser sintetizadas conforme o quadro a seguir:
O PILAR EPISTEMOLÓGICO
As bases epistemológicas principais da investigação científica são três, quais sejam: o método ou
enfoque fenomenológico-hermenêutico, o método ou enfoque empírico-analítico e o método ou
enfoque crítico-dialético (ou histórico-estrutural). Entretanto, cada área de conhecimento tem seus
próprios paradigmas, ou suas próprias bases epistemológicas.
O PILAR LÓGICO
As abordagens de pesquisa científica são: a qualitativa, a quantitativa e a mista.
As bases estruturais de pensamento científico são: o método indutivo, que, por sua vez, se
subdivide em silogístico-indutivo, e semântico-indutivo e pragmático-indutivo; e o método
dedutivo, que, por sua vez, se subdivide em axiomático-dedutivo, e hipotético-dedutivo e
silogístico-dedutivo; e o método abdutivo.
O PILAR TÉCNICO
NOTAS TÉCNICAS
As duas hipóteses originárias desta pesquisa foram: 1. por meio de um bom levantamento
bibliográfico e documental, é possível eliminar grande parte da imprecisão terminológica, conceitual,
taxonômica e conteudal encontrada na vasta literatura de metodologia da pesquisa científica, bem como
promover as suas complementaridades; e, 2. por meio do estudo pormenorizado das principais
bibliografias e documentos de uma determinada temática, é possível alcançar o seu estado da arte, isto
é, seu estado atual. Ambas se confirmaram verdadeiras por meio dos resultados alcançados por esse
trabalho.
As modalidades de pesquisa apresentadas neste trabalho – também denominadas na literatura
crítica de meios lógicos de investigação, métodos de procedimento, ou simplesmente métodos de
pesquisa – são as principais citadas pelas maiores autoridades passadas e presentes do tema
metodologia da pesquisa científica. Cabe, sobretudo, ao sujeito pesquisador e, por extensão, a quem
mais da pesquisa participar, a escolha adequada da modalidade da pesquisa, levando-se sempre em
consideração a natureza e as características do seu objeto de investigação, o tempo e o conteúdo a ser
abrangido, bem como a ética em todas as etapas desse processo.
No que tange à ética na pesquisa científica, ela é o elemento propulsor da autêntica
cientificidade. Um trabalho não pautado na ética não merece, não pode e nem deve ser considerado
científico. O respeito pela qualidade da pesquisa produzida só merece o pesquisador ético. A
integridade científica deve ser o principal pilar avaliado pelas instituições de ensino superior (IES) e
pesquisa quando das orientações destinadas a seus pesquisadores discentes ou docentes. Práticas de
combate às más condutas científicas devem ser disseminadas e defendidas pelas IES e pelos
pesquisadores em suas pesquisas. Os Códigos de Ética, tanto os nacionais como os internacionais,
precisam ser respeitados.
A ciência está progredindo. Contudo, há barreiras impeditivas para um maior progresso
científico, dentre as principais as imperfeitas interpretações humanas e as más adequações e ou
aplicações dos métodos de pesquisa por parte dos pesquisadores. O domínio da língua vernácula e do
uso adequado dos três pilares da pesquisa científica, nesse presente trabalho apresentados, cumprem o
papel de facilitar a sua realização e minorar os efeitos torçores da imperfeição humana, maximizando a
qualidade daquilo que se denomina ciência, visando à produção de um conhecimento razoavelmente
seguro, válido, verdadeiro.
Digno de nota que, ao se aludir aos pilares da metodologia da pesquisa científica, o autor do
presente trabalho chama à atenção dois aspectos chave: primeiro, as bases constituintes da ciência, tal
como as colunas bem ferramentadas e bem cimentadas que sustentam uma edificação, sem as quais a
sua estrutura enfraquece, ou seja, a cientificidade da pesquisa atenua-se ao ponto de se tornar
vulnerável a qualquer teste de falseabilidade; e segundo, que o conteúdo aqui apresentado não exaure o
tema investigado, consistindo naquilo que o autor considera o mais importante e necessário no
processo de investigação científica, deixando, desse modo, margens para ulteriores aprofundamentos.
Por fim, é indubitável que, ao rever de forma tão abrangente a literatura crítica do tema e ao
apresentá-la com máxima clareza e objetividade, o autor cumpre a sua finalidade de desmistificar o
processo da pesquisa científica, mostrando que, apesar de seu desenvolvimento ser bastante trabalhoso
e rigoroso no que tange às normas técnicas de elaboração e apresentação, consiste em uma tarefa
relativamente simples e completamente realizável a todo(a) pesquisador(a), ainda que incipiente, e que
se torna cada vez mais agradável na medida em que ele(a) ganha quilometragem nessa fantástica
experiência.
5 REFERÊNCIAS
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. 7. impr. São Paulo: Afiliada, 2008. 424 p.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. 24. ed.
São Paulo: Perspectiva, 2012. 174 p.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 184
p.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 206
p.
GILES, Thomas Ransom. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU/USP, 1979. 324 p.
MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2008. 101 p.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 6. ed. São
Paulo: Atlas, 2007. 289 p.
23
Essas foram as referências que eu utilizei ao elaborar um artigo, com o mesmo nome deste livro, mas apenas como ensaio
para posterior elaboração deste trabalho.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria.. Técnicas de pesquisa: planejamento
e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de
dados. São Paulo: Atlas, 2008. 277 p.
PIAGET, Jean. Psicologia e epistemologia: por uma teoria do conhecimento. 1. ed. Rio de
Janeiro: Forense Rio, 1973. 158 p
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho cientifico. 23. ed. São Paulo: Cortez,
2007. 304 p.
SOARES, Edvaldo. Metodologia científica: lógica, epistemologia e normas. São Paulo: Atlas,
2003. 138 p.
THIOLLENT, Michael. Metodologia da pesquisa ação. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
(Coleção temas básicos de pesquisa-ação).
THIOLLENT, Michael. Metodologia da pesquisa ação. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011. 136
p.
VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de coleta de dados no campo. 2. ed. São Paulo: Atlas,
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Acesso em: 25 set. 2020.
24
Essas foram as referências que utilizei na execução deste livro, adicionalmente àquelas utilizadas na execução do artigo
referido na nota de rodapé anterior.
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São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. 162 p.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Afiliada, 2005. 424 p.
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revisão sistemática. [s.l.]: ResearchGate, 2014. 16 p. Disponível em <https://
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Almeida. 1. ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017. 320 p.
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THIOLLENT, Michael. Metodologia da pesquisa ação. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
(Coleção temas básicos de pesquisa-ação).
THIOLLENT, Michael. Metodologia da pesquisa ação. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011. 136
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UBC. Universidade Bráz Cubas. Material didático de apoio. Mogi das Cruzes: UBC, 2012.
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PoCA, UFSCar, 2020. Disponível em <https://cursos.poca.ufscar.br/course/view. php?id=50>. Acesso
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VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de coleta de dados no campo. 2. ed. São Paulo: Atlas,
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YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução de Ana Thorell. Revisão
técnica de Claudio Damacena. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. 248 p.
Quadro 149 – Glossário Científico
GLOSSÁRIO CIENTÍFICO
Conhecimento: é o objeto agregado pelo sujeito; é a relação que se estabelece entre sujeito que
conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer.
Definição: explicação clara e concisa sobre alguma coisa, é o seu significado; delimitação exata,
estabelecimento de limites.
Dissertação: é o trabalho final de conclusão de curso de mestrado; examinado com maior rigor que
os trabalhos de conclusão de curso de graduação e pós-graduação lato sensu.
Fato: é qualquer evento que ocorre na realidade, independentemente de ser conhecido ou não,
independentemente de ter sido alguma vez observado ou não.
Fenômeno: é um fato que é percebido por um observador. O mesmo fato pode ser observado de
diferentes maneiras, por diferentes observadores, gerando diferentes fenômenos, segundo cada ponto
de vista.
Ideologia: é “um sistema teórico-prático de justificação política das posições sociais” (DEMO,
2013, p. 67).
Lei científica: é a relação constante e necessária que deriva da natureza das coisas (DEMO, 2002).
Método: vem do grego méthodos que significa um caminho para se chegar a um fim.
Metodologia: significa estudo dos métodos ou da forma, ou dos instrumentos necessários para a
construção de uma pesquisa científica; é uma disciplina a serviço da Ciência.
Proposição: é um termo utilizado em lógica para descrever o conteúdo das asserções, isto é, de
conteúdos (afirmações ou negações) que podem ser tomados como verdadeiro ou falso.
Síntese: é o resumo das ideias; a junção de todas as partes de um todo de maneira sucinta.
Técnica: conjunto de procedimentos ligados a uma arte ou ciência; maneira de tratar detalhes
técnicos (como faz um escritor) ou de usar os movimentos do corpo (como faz um dançarino).
Tese: é o trabalho final de conclusão de curso do doutorado; examinado com maior rigor que os
trabalhos de conclusão de curso de graduação, de pós-graduação lato sensu e de mestrado.
Fonte: elaborado pelo autor com base em Demo (2002, 2013) e Eco (2012)
Quadro 105 – Estrutura do trabalho científico
1. Capa (item opcional para trabalhos de pequeno vulto – até 20 páginas; item obrigatório para os
demais trabalhos).
5. Folha/página de aprovação (item necessário somente para os trabalhos de grande expressão, tais
como dissertações e teses de mestrado ou de doutorado).
11. Resumo na língua vernácula, acrescido das palavras-chave, também em língua vernácula (item
necessário principalmente na divulgação dos trabalhos).
12. Resumo em língua estrangeira, acrescido das palavras-chave, também em língua estrangeira
(item recomendado para a perfeita divulgação do trabalho).
18. Sumário (item obrigatório para Trabalhos de Conclusão de Curso, tais como monografias,
dissertações e teses – usado também na divulgação dos trabalhos)
2. Glossário (item opcional – só elaborado quando justificado pela quantidade de palavras a serem
definidas).
RESUMO
Este artigo tem como tema os paradigmas nos Estudos Organizacionais (EO). Objetiva
conhecer de perto as suas bases fundantes e a sua evolução. Para tanto, utiliza-se as
metodologias: o enfoque neoperspectivista, como eixo epistemológico de investigação; o
método hipotético-dedutivo, como eixo lógico de investigação; como eixo técnico de
investigação, operacionaliza-se uma revisão bibliográfica, desenvolvida para uma pesquisa de
mestrado, mesclando-se bibliografias clássicas e contemporâneas nos EO, algumas nacionais
outras estrangeiras, tais como Morgan (1980), Willmott (2003), Chia (1998), Donaldson (2003),
Cortese (2016), dentre outros. Conclui-se que as bases fundantes do paradigma funcionalista são
empiristas, positivistas, objetivistas; as do paradigma interpretativista são idealistas,
subjetivistas; as do paradigma humanista radical são materialistas, dialéticos, idealistas,
subjetivistas, intersubjetivistas; as do paradigma estruturalista radical são materialistas,
dialéticos, objetivistas, intersubjetivistas; os paradigmas perspectivista e neoperspectivista são
simultaneamente objetivistas, subjetivistas, intersubjetivistas, consistindo no ponto de equilíbrio
paradigmático desejado nos EO.
ABSTRACT
This article focuses on the paradigms in Organizational Studies (EO). Aims to get to
know their founding bases and their evolution. Therefore, the methodology is used: the
neoperspectivist approach as an epistemological axis of research; the hypothetical-deductive
method, as a logical axis of research; as technical axis of research, operationalized a literature
review designed for a master's research, mingling classic and contemporary bibliographies in
EO, some national other foreign such as Morgan (1980), Willmott (2003), Chia (2003),
Donaldson (2003), Cortese (2016), among others. It follows that the founding bases of the
functionalist paradigm are empiricists, positivists, objectivist; the the interpretative paradigm
are idealists, subjective; the radical humanist paradigm are materialist, dialectical, idealist,
subjectivist, intersubjectivist; the radical structuralist paradigm are materialist, dialectical,
objectivist, intersubjectivist; the perspectival paradigms and neoperspectivista are
simuntaneamente objectivist, subjectivist, intersubjectivist, consisting of the paradigmatic point
of equilibrium in the desired EO.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem como tema os paradigmas nos Estudos Organizacionais (EO). As
abordagens teóricas e paradigmáticas compõem as discussões denominadas metateóricas, ou
epistemológicas, dos EO. Contudo, a variedade de conceitos para teorias e para paradigmas têm
o poder de condicioná-las umas às outras, enrijecendo o seu uso, tal como o faz Morgan (1980),
ou de diferenciá-las, embora as considerando indissociáveis, flexibilizando, desse modo, o seu
uso, tal como o faz Gifted (2015, 2016).
Este artigo consiste no resultado de uma revisão bibliográfica desenvolvida para uma
pesquisa de mestrado. No fito de escolher a abordagem paradigmática mais adequada para os
estudos das F&A bancárias, que é meu tema de dissertação, foi necessário um aprofundamento
em cada uma das principais abordadas na literatura, buscando conhecer de perto as suas bases
fundantes e a sua evolução. Daí a decisão de se investigar essa temática com o objetivo de
descobrir as bases fundantes das principais abordagens paradigmáticas nos EO.
Para tanto, foram utilizadas as seguintes metodologias: o enfoque neoperspectivista,
como eixo epistemológico de investigação; o método hipotético-dedutivo, como eixo lógico de
investigação, partindo da hipótese que as bases fundantes dos principais paradigmas nos
Estudos Organizacionais (EO) são aquelas que possuem as suas ideias como seus elementos
constitutivos; como eixo técnico de investigação, foi selecionado por conveniência e por
julgamento um corpus de pesquisa bibliográfico que mescla literaturas clássicas e
contemporâneas, algumas nacionais outras estrangeiras, nos EO, tais como Morgan (1980),
Willmott (2003), Chia (2003), Donaldson (1998), Hatch e Yanow (1998), além de manuais de
metodologia da pesquisa científica, tais como Marconi e Lakatos (2003, 2008), Gil (1999;
2010), Luna (2011), Eco (2012), Gifted (2015).
Há vários conceitos para o termo paradigma nos estudos organizacionais, o que provoca
uma ampla e confusa variedade de interpretações (MORGAN, 1980). Por exemplo, consoante
aponta Kuhn (1962), paradigma pode referir-se: (1) a uma completa visão da realidade, ou
modo de ver; (2) à organização social da ciência em termos de escolas de pensamento ligadas a
tipos particulares de realizações científicas; (3) à utilização concreta de tipos específicos de
ferramentas e textos para o processo de solução de quebra-cabeças científicos; (4) às realidades
alternativas.
Um paradigma, em seu sentido stricto sensu, tal como é empregado na literatura crítica
de metodologia da pesquisa científica e epistemologia, consiste em um conjunto de concepções
do investigador, orientadas pelas suas percepções, sensações e valores, sobre a verdade, o
mundo, a vida humana, o conhecimento e a ética (WILLMOTT, 2003; KÖCHE, 1997; CLEGG
et al., 2003).
As discussões sobre abordagens paradigmáticas são frequentes nos EO; elas tentam, não
raro, encontrar caminhos intermediários, menos extremistas, ou que dialoguem com as
principais teorias empregadas nesse campo, atenuando os diescensos entre os cientistas da área
e facilitando o diálogo e o uso dos paradigmas e das teorias. Contudo, tal objetivo tem
culminado ora na multiplicidade teórica e paradigmática excessiva, ora em mais dissensos entre
os cientistas da área, prejudicando os avanços necessários (BARBOSA et al., 2013;
WILLMOTT, 2003; CLEGG et al., 2003). As diferenças terminológicas, conceituais,
taxonômicas e conteudais são as principais barreiras nos referidos avanços (BARBOSA et al.,
2013; MORGAN, 1980; HATCH; YANOW, 1998; CHIA, 2003).
Este artigo foi estruturado em cinco partes. Nessa primeira parte, são apresentados o
tema, os objetivos, as justificativas, uma síntese dos métodos e técnicas empregados, uma breve
introdução do referencial teórico, e a estrutura do conteúdo do trabalho. No capítulo dois, são
apresentados os quatro principais paradigmas nos EO apresentados por Morgan (1980): o
funcionalista, o interpretativista, o humanista radical e o estruturalista radical. A seção três é
dedicada à apresentação e à explanação das metodologias empregadas neste trabalho,
separando-as em três níveis: o epistemológico (metateórico; diretivo; estratégico), o lógico
(gerencial; tático) e o técnico (funcional; operacional). Na seção quatro, são apresentados os
resultados e as discussões deste trabalho, levando-se em consideração as limitações do quadro
paradigmático proposto por Burrel e Morgan (1980), apresentando o paradigma perspectivista e
o neoperspectivista, e propondo um quadro paradigmático mais atualizado e amadurecido,
capaz de flexibilizar o diálogo e o uso dos paradigmas e das teorias nos EO. O quinto capítulo é
dedicado à apresentação das conclusões e das considerações finais. Por último, mas não menos
importante, são apresentadas as referências.
2.1 O funcionalista
[...] considera a realidade constituída por partes isoladas; não aceita outra realidade que
não sejam os fatos, fatos que possam ser observados; não interessavam as causas dos
fenômenos, mas as relações entre as coisas; não há interesse em conhecer as
consequências dos achados, o que fortaleceu a ideia de "neutralidade das ciências”;
rejeição ao conhecimento metafísico, à metafísica; considera verdadeiro aquilo que
empiricamente é verdadeiro (formulou o princípio da verificação); ideia de unidade
metodológica para investigação dos dados naturais e sociais; utilização do emprego da
"variável‟ no processo de quantificação dos fatos sociais (as técnicas de amostragem,
os tratamentos estatísticos e os estudos experimentais severamente controlados foram
instrumentos usados para concretizar estes propósitos); busca de uma linguagem única,
comum para todas as ciências (fisicalismo); se o que reconhecemos como
conhecimento é aquilo que pode ser testado empiricamente, não há possibilidade de
conhecimento elaborado "a priori” (crítica à tese Kantiana); distinção entre valor e fato,
sendo o primeiro entendido como objetos da ciência, e o segundo como expressões
culturais, ficaram de fora da análise positivista; reconheciam apenas dois tipos de
conhecimento científico: o empírico e o lógico.
Portanto, é correto afirmar que o positivismo teve seu início em meados do século XIX,
com August Comte, com a concepção de que conhecer significa somente mensurar e quantificar.
Para eles, o único meio para se conhecer um objeto de investigação é a experiência.
Entretanto, ele “avançou até o século XXI com novas faces, mas mantendo seu cerne.
Traz, em sua base epistemológica, elementos conceituais de duas principais linhas filosóficas do
século XX, quais sejam, a lógica empirista e o positivismo lógico” (BARBOSA et al., 2013, p.
6).
Sobre a evolução das ideologias positivistas, Triviños (1987, p. 33) divide-a em três
momentos distintos, quais sejam:
Uma primeira fase, que é chamada de positivismo clássico, na qual, além de fundador
Comte, sobressaem os nomes de Litté, Spencer e Mill. Em seguida, ao final do século
19 e princípios do século 20, o empiriocriticismo de Avenarius (1843 -1896) e Mach
(1838-1916). A terceira etapa denomina-se, em geral, neopositivismo e compreende
uma série de matizes, entre os quais se podem anotar o positivismo lógico, o
empirismo lógico, estreitamente vinculados ao Círculo de Viena (Carnap, Schlick,
Frank, Neurath, etc.); o atomismo lógico (Russel, 1872-1970, e Wittgens-tein 1889-
1951); a filosofia analítica (Wittgenstein e Ayer, 1910) que acha que filosofia deve ter
por tarefa elucidar as formas de linguagem em busca da essência dos problemas; o
behaviorismo (Watson, 1878-1958) e o neobehaviorismo (Hull, 1884-1952), e
Skinner, (1904).
2.2 O interpretativista
No Paradigma Interpretativista, não existe uma realidade concreta, mas sim experiências
subjetivas e intersubjetivas entre os indivíduos; o investigador influencia e é influenciado pelo
seu objeto de investigação; o conhecimento científico é tão problemático quanto o senso comum
(MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003; HATCH; YANOW, 2003;
DONALDSON, 2003).
As ideias que fundamentam essa abordagem paradigmática são: a inexistência de uma
realidade objetiva, quer externa quer interna; a existência de uma realidade subjetiva; a
intersubjetividade dos indivíduos; a indissociabilidade entre o sujeito investigador e o objeto-
problema investigado; a parcialidade do conhecimento científico (MORGAN, 1980;
WILLMOTT, 2003).
Então, suas raízes estão ligadas, por um lado, ao idealismo socrático, platônico e
aristotélico, posteriormente refinado por Kant e Hegel, e, por outro lado, agrega a
intersubjetividade do materialismo dialético marxista. Por essas razões, o interpretativismo pode
ser conceituado como uma espécie de idealismo refinado (MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA,
2003; REED, 2003; HATCH; YANOW, 2003; DONALDSON, 2003; WILLMOTT, 2003).
O idealismo nega a verdade objetiva, um mundo externo independente das percepções
humana; a verdade é a união da essência e da aparência das coisas; o pensamento é
independente da matéria; quando morremos, o nosso espírito prevalece vivo; somos a nossa
essência, a nossa existência carnal é passageira, mortal, finita, mas nossa existência espiritual é
eterna, imortal, infinita (MORGAN, 1980; REED, 2003; HATCH; YANOW, 2003;
DONALDSON, 2003).
A diferença entre a verdade absoluta e a relativa reside no grau de precisão com que
cada uma reflete o mundo objetivo. Porém, ambas sempre são momentos da verdade
objetiva que acontece como processo, como movimento. A soma de verdades relativas
contribui para a formação da verdade absoluta, mas isso não se dá de forma mecânica.
Não se trata da construção de verdades acabadas, mas da verdade como um processo de
pensamento nutrido pelo movimento para o objetivo e para o absoluto.
Necessário ressaltar aqui que a verdade objetiva defendida nesse paradigma é interna,
fruto do encontro das verdades subjetivas humanas. Alude-se à síntese, que, segundo Marx, é
produto do encontro da tese e sua respectiva antítese; a síntese, desse modo, é um conhecimento
mais amadurecido, refinado, confiável, fidedigno. O paradigma humanista radical é, desse
modo, uma espécie de materialismo dialético idealista, subjetivista, relativista.
A diferença entre a verdade absoluta e a relativa reside no grau de precisão com que
cada uma reflete o mundo objetivo. Porém, ambas sempre são momentos da verdade
objetiva que acontece como processo, como movimento. A soma de verdades relativas
contribui para a formação da verdade absoluta, mas isso não se dá de forma mecânica.
Não se trata da construção de verdades acabadas, mas da verdade como um processo
de pensamento nutrido pelo movimento para o objetivo e para o absoluto.
Necessário, ressaltar aqui, que o paradigma estruturalista radical defende duas verdades:
uma objetiva externa, independente das interpretações humanas; e uma verdade objetiva interna,
fruto do encontro das verdades subjetivas humanas – a síntese, tal como é defendida por Marx.
O paradigma estruturalista radical é, desse modo, uma espécie de materialismo dialético
objetivista, determinista, positivista (MORGAN, 1980; CZARNIAWSKA, 2003; REED, 2003;
HATCH; YANOW, 2003; DONALDSON, 2003; TSOUKAS; KNUDSEN, 2003).
3 METODOLOGIA
– Ordenação e análise das fichas: uma vez organizadas e ordenadas de acordo com o
seu conteúdo, eu resenhei sobre cada uma das bibliografias consultadas, anotando minhas
observações nas fichas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Regulação
FUNCIONALISMO: INTERPRETATIVISMO:
É uma espécie de positivismo refinado É uma espécie de idealismo refinado (realidade subjetiva,
(realidade objetiva, sistêmica e sistêmica e não determinística).
determinística). Principais pensadores: Dilthey, Husserl, Weber,
Principais pensadores: Comte, Durkheim, Gadamer, Schutz, Scheller, Heidegger, Sartre etc.
Malinowski, Radchiffe Brown, Simmel, G.
H. Mead, Weber etc.
Objetivismo Subjetivismo
ESTRUTURALISMO RADICAL: HUMANISMO RADICAL:
É uma espécie de materialismo dialético É uma espécie de materialismo dialético idealista
positivista (realidade objetiva, alienada e (realidade subjetiva, alienada e alienante).
alienante). Principais pensadores: Sartre, Luckacs,
Principais pensadores: Marx, Engels, Horkheimer, Adorno, Fromm, Marcuse,
Plekhanov, Lênin, Bukharin, Althusser, Habermas etc.
Poulantzas, Rex, Dahrendorf etc.
Mudança Radical
A geometria de Desargues será a primeira a postular a possibilidade de que quaisquer duas retas
num plano se encontram. Ou elas são concorrentes com uma intersecção a uma distância finita,
ou então são paralelas, e neste caso seu ponto de encontro está a uma distância infinita (em ambos
os casos, Desargues diz que as retas são de mesma “ordonnance”).
Cada mônada é, no entanto, distinguível das outras, possuindo qualidades que variam
unicamente por princípio interno, visto que, enquanto substância pura, nenhuma causa exterior
pode influir no seu interior, isto é, enquanto realidade concreta, absoluta, real, objetiva, a sua
substância é independente das percepções humanas.
Contudo, como ela é interpretada sob um ponto de vista, ela é dotada de percepção.
Não havendo partes em uma mônada, ela possui um detalhe múltiplo, isto é, envolve uma
multiplicidade na unidade (BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016).
Uma mônada não pode exercer qualquer efeito sobre a outra pois entre elas ocorre
uma acomodação, mediante Deus, que, ao fazer cada uma, teve em conta todas as outras. Em
Leibniz, dado que cada mônada possui em si a representação de todo o Universo e da relação
entre todas as mônadas, um espírito absoluto – Deus – pode, segundo Leibniz, a partir do que se
passa em cada uma, inferir por mero cálculo o que se passa, o que se passou ou passar-se-á em
todo o Universo (BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016).
Por essas razões, afirma-se que o paradigma perspectivista diferencia-se do
paradigma funcionalista e do interpretativista, apesar de semelhanças pontuais com um e outro.
Tal como o paradigma funcionalista, o perspectivista defende que há uma única realidade, mas
acrescenta a essa tese metafísica (pois se trata de uma tese sobre a realidade) a tese
epistemológica sobre a perspectiva de cada um frente a realidade.
Tal como o paradigma interpretativista, o perspectivista defende que diferentes
indivíduos percebem a realidade diferentemente, mas ao contrário dele, o perspectivista não
defende que há tantas realidades quanto percepções (BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016).
Outro caminho que leva Leibniz a concluir que a realidade é objetiva, que existe sim
um todo independente do ser humano, é refletir sobre a onisciência divina. Ele raciocina que
Deus conhece tudo, o todo, todos os pontos de vistas sobre tudo, todas as coisas, toda a verdade,
absoluta e integralmente (BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016).
Portanto, conclui ele, o todo existe, ainda que nós seres humanos não o conheçamos
(BONNEAU, 2010; CORTESE, 2016). Sobre esses aspectos, Cortese (2016, p. 24) corrobora:
[...] em 1712 Leibniz atribui à visão divina dois modos pelos quais ela é, por assim
dizer, completa: ela se dá tanto pelo bom tipo de representação icnográfica, não
padecendo da parcialidade da cenografia, quanto pela ciência divina do conjunto de
parcialidades relacionadas a cada situs. Digamos que Deus possui assim a visão do
todo, ao mesmo tempo em que a visão de todos os pontos de vista. Leibniz pensa numa
superação da parcialidade do ponto de vista ao associar à visão divina tanto ao ponto
de vista (parcial) quanto à ubiquidade.
Reorganizando as ideias, em suma, o perspectivismo prega a existência de uma verdade
objetiva, concreta, real, absoluta, independente das interpretações humanas, completa; nossas
interpretações sobre ela é que são subjetivas; o mundo é externo, mas interpretado internamente,
isto é, com base nas percepções, sensações e valores humanos (BONNEAU, 2010; CORTESE,
2016).
Regulação
FUNCIONALISMO: INTERPRETATIVISMO:
É uma espécie de positivismo refinado É uma espécie de idealismo refinado
(realidade objetiva, sistêmica e (realidade subjetiva, intersubjetiva,
determinística). sistêmica e não determinística).
Principais pensadores: Comte, Durkheim, Principais pensadores: Dilthey, Husserl,
Malinowski, Radchiffe Brown, Simmel, Weber, Gadamer, Schutz, Scheller,
G. H. Mead, Weber etc. Heidegger, Sartre etc.
NEOPERSPECTIVISMO:
Baseia-se no conceito da mônada e da perspectiva
Concebe a coexistência de duas realidades completamente
distintas e, concomitantemente, indissociáveis: uma
realidade objetiva, concreta, real, absoluta, independente
das interpretações humanas (a mônada), que representa a
Objetivismo Subjetivismo
integralidade de todos os pontos de vistas sobre todas as Subjetivismo
coisas; e uma realidade subjetiva, parcial, construída por
meio das imperfeitas interpretações humanas sobre a
realidade objetiva que o cerca (a perspectiva).
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APÊNDICE 2 – Levantamentos bibliográficos e documentais
RESUMO
O trabalho reflete sobre o tema levantamentos bibliográficos e documentais. Busca alcançar o estado da
arte sobre os procedimentos técnicos para a sua adequada operacionalização, esclarecendo-os o
suficiente para facilitar a sua compreensão e o seu uso. Para tanto, realiza de forma bastante
abrangente, porém não exaustiva, uma revisão bibliográfica e documental da sua literatura crítica,
buscando clarear a sua correta compreensão e o seu adequado uso. Utiliza o método neoperspectivista
como a base lógica da sua investigação e o método hipotético-dedutivo, como a base da sua estrutura
de pensamento. Discute que um levantamento bibliográfico e documental bem realizado é uma
excelente porta de entrada em uma área de pesquisa, consistindo em um mapa completo do seu
território, apontando e explanando o seu estado atual, as suas teorias, os seus conceitos fundantes e as
suas lacunas. Conclui que: o fluxograma da pesquisa científica é sistemático e flexível, admitindo
etapas que podem ser operacionalizadas estanques ou concomitantes, de acordo com os hábitos do
pesquisador; esse tipo de pesquisa é fundamental para o início de toda e qualquer investigação
científica; e, a sua qualidade é diretamente proporcional ao nível de especificidade do problema-objeto
de pesquisa, do nível de conhecimento do pesquisador sobre o objeto investigado e de sua experiência
em operacionalizar tais metodologias.
ABSTRACT
The work reflects on the theme bibliographic and documentary surveys. Seeks to achieve the state of
the art technical procedures for its proper implementation, clarifying them enough to facilitate their
understanding and use. The study presents quite comprehensive, but not exhaustive literature review
and document its critique literature, seeking to lighten their correct understanding and proper use. Uses
neoperspectivist method as the rationale of its research and the hypothetical-deductive method as the
basis of the structure of thought. It argues that a bibliographic and documentary survey done well is an
excellent gateway into a research area, consisting of a complete map of its territory, pointing and
explaining its current state, its theories, its fundamental concepts and their shortcomings . Concludes
that: the flowchart of scientific research is systematic and flexible, admitting steps that can be
operationalized watertight or concomitant, according to the researcher's habits; this type of research is
critical to the beginning of any scientific research; and its quality is directly proportional to the level of
specificity of the problem object of research, the researcher's level of knowledge about the investigated
object and its operational experience in such methodologies.
PROCEDIMIENTOS TÉCNICOS PARA EL ADECUADO FUNCIONAMIENTO
DE ENCUESTAS BIBLIOGRÁFICO Y DOCUMENTAL: EL ESTADO DEL
ARTE
RESUMEN
El trabajo reflexiona sobre el tema bibliográfico y documental encuestas. Busca alcanzar el estado de
los procedimientos técnicos de última generación para su correcta aplicación, aclarando lo suficiente
para facilitar su comprensión y uso. El estudio presenta revisión bastante amplia, aunque no exhaustiva,
la literatura y documentar su literatura crítica, tratando de aligerar su comprensión y la correcta
utilización. Utiliza método neoperspectivista como la razón fundamental de su investigación y el
método hipotético-deductivo como la base de la estructura del pensamiento. Se argumenta que una
encuesta bibliográfica y documental hecho bien es una excelente puerta de entrada a un área de
investigación, que consiste en un mapa completo de su territorio, señalando y explicando su estado
actual, sus teorías, sus conceptos fundamentales y sus deficiencias. Concluye que: el diagrama de flujo
de la investigación científica es pasos sistemáticos y flexibles, admitiendo que pueden ser en operación
los estancos o concomitantes, de acuerdo con los hábitos del investigador; ese tipo de investigación es
fundamental para el inicio de cualquier investigación científica; y su calidad es directamente
proporcional al nivel de especificidad del objeto problema de la investigación, el nivel de conocimiento
sobre el objeto investigado y su experiencia operativa en tales metodologías del investigador.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho reflete sobre o tema levantamentos bibliográficos e documentais. Busca alcançar o
estado da arte quanto os procedimentos técnicos para a sua adequada operacionalização. Essas técnicas
científicas, próprias do processo de revisões da literatura, são uma excelente porta de entrada em uma
área de pesquisa, consistindo em uma mapa completo do seu território, apontando e explanando o seu
estado atual, as suas teorias, os seus conceitos fundantes e as suas lacunas (KÖCHE, 1997, 2011; GIL,
1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; SAMPIERI; COLLADO;
LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978;
PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES, 1979; CHAUI, 2008).
Esse tema justifica-se pela necessidade de esclarecimentos sobre os passos adequados para a
operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais, levando-se em consideração seus
aspectos estruturais e éticos. Existem pesquisadores que tratam a revisão da literatura como uma
questão de mera reprografia daquilo que já foi produzido sobre um tema, hesitando de se posicionar
contra ou a favor de determinada linha ideológica, filosófica ou científica, ação fundamental no
processo de se fazer ciência. Não se pode favorecer tudo o que foi estudado e produzido sobre um
tema, porque é antiético, uma vez que a ciência, ainda que razoavelmente segura e confiável, é
inacabada, é hipotética, é falível, é tão imperfeita quanto os seus produtores. Por essa razão, o cientista
precisa desenvolver o seu senso crítico para avaliar e julgar sentenças de acordo com o seu nível de
confiabilidade, justificando cada um dos seus pareceres, visto que se torna responsável, tanto diante da
comunidade científica quanto perante a sociedade civil em geral, por cada partícula de cada letra de
cada palavra que eu seus trabalhos se insere. Deduz-se, incontinenti, que o pesquisador precisa tomar
cuidado com cada detalhe de tudo o que fala, escreve ou expõe sobre algum autor ou alguma obra
(KÖCHE, 1997, 2011; ECO, 2012; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008;
LUNA, 2011; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA;
FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978; PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES, 1979; CHAUI, 2008).
A questão que move essa pesquisa é esclarecer minuciosamente os passos necessários para a
adequada operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais, exposto o seu
sistematismo, sem, contudo, fazer-lhe parecer inflexível. Também trabalha a questão da ética em todo o
processo de investigação científica que, mesmo em uma pesquisa básica, traz grandes
responsabilidades para o sujeito pesquisador, tanto diante da comunidade científica quanto perante a
sociedade civil em geral (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007,
2008; LUNA, 2011; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010;
MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978; PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES, 1979;
CHAUI, 2008).
Para tanto, foram selecionados quarenta trabalhos acadêmicos específicos sobre a metodologia
da pesquisa científica, buscando nelas os conteúdos mais esclarecedores sobre os procedimentos
técnicos para a operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais (GIL, 1999, 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2007; RODRIGUES, 2007; BÊRNI; FERNANDEZ, 2012; SAMPIERI;
COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO,
1978; PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES, 1979; CHAUI, 2008).
Para a escolha das fontes selecionadas, foram considerados os seguintes critérios: a) conteúdo
específico sobre a metodologia da pesquisa científica; b) viabilidade de acesso e análise dos materiais
selecionados. Todas as fontes foram observadas; os dados foram coletados, organizados,
sistematizados, analisados, e apresentados de acordo com os procedimentos técnicos de pesquisa para
levantamento bibliográfico e documental apresentados por Gil (1999, 2010), Marconi e Lakatos (2007),
Rodrigues (2007), Luna (2011) e Köche (2011). Buscou-se nelas alcançar o estado da arte do tema
levantamentos bibliográficos e documentais.
Meu interesse por pesquisar esse tema nasceu da minha percepção da imensa dificuldade que
pesquisadores iniciantes possuem de operacionalizar levantamentos bibliográficos e documentais,
pesquisa básica imprescindível para a realização de toda e qualquer investigação científica, e, portanto,
indispensável entrada na carreira científica. Tal percepção da minha parte deu-se no decorrer dos meus
estudos e vivências universitárias. Além disso, o meu interesse em me tornar um excelente docente e
pesquisador, aliado às minhas percepções sobre os obstáculos existentes para o progresso da ciência e
da docência universitária, inquietaram-me o suficiente para eu contribuir significativamente em seu
prol. Ressalto ainda que eu cursei um componente curricular específico sobre metodologia da pesquisa
científica nas duas graduações e em duas pós-graduações lato sensu que eu concluí na modalidade
EaD. A minha carreira acadêmica completa mais de 10 anos de estudos e vivências em Ambientes
Virtuais de Aprendizagem, fazendo pesquisas em bibliotecas virtuais, participando de eventos
científicos virtuais realizados por meio de videoconferências ao vivo, dentre outras atividades online.
Minhas vivências permitiram que eu percebesse diferentes metodologias de educação a distância, bem
como falhas em cada uma delas, que com pesquisas específicas, e com a articulação e ou o
desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação a distância, podem ser eliminadas, culminando
em maior qualidade para essa modalidade de ensino.
A revisão da literatura de um tema é o início de toda investigação científica. Somente se
conhecendo o que já foi estudado e produzido sobre ele é que se pode revisar os seus resultados. É
desse modo que há vários temas que já são pesquisados há séculos, outros, menos antigos, há décadas,
e ainda outros, incipientes, há alguns anos. Contudo, ao se investigar um objeto cuja literatura é vasta,
o pesquisador depara-se com a necessidade de se fazer um recorte espacial e temporal da realidade a
fim de que seu trabalho seja viável e, então, faça algum sentido. É daí a conclusão de que são
necessários procedimentos técnicos bem planejados e sistemáticos, ainda que possam admitir certa
flexibilidade, para a adequada operacionalização da investigação científica (KÖCHE, 1997, 2011; GIL,
1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; SAMPIERI; COLLADO;
LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978;
PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES, 1979; CHAUI, 2008). Sobre esses aspectos, Luna (2011, p.
19) corrobora:
[…] Não vejo como uma pesquisa possa dispensar procedimentos, e a razão para isso é simples.
Se o problema que gera a pesquisa não pode ser respondido diretamente (caso contrário não
teríamos um problema!), isso significa que a realidade não pode ser apreendida diretamente,
mas depende de um recorte dela que faça sentido. Esse recorte é garantido pelo procedimento
que seleciona as informações necessárias para uma leitura pelo pesquisador. Diferentes
tendências farão recortes diferentes, mas não poderão prescindir de procedimentos de coleta de
informações.
Os levantamentos bibliográficos e documentais oferecem meios que auxiliam na definição e
resolução dos problemas já conhecidos, como também permitem explorar novas áreas onde ainda não
se cristalizaram suficientemente. Permitem também que um tema seja analisado sob novo enfoque ou
abordagem, produzindo novas conclusões. Além disso, eles permitem a cobertura de uma gama de
fenômenos muito mais ampla, mormente em se tratando de pesquisa cujo problema requeira a coleta de
dados muito dispersos no espaço (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS,
2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007; PIAGET, 1973; MENEZES, 1938; GILES,
1979; CHAUI, 2008).
Embora a pesquisa bibliográfica e a documental possuam aspectos comuns, por exemplo ambas
se respaldam em materiais elaborados e já publicados, elas são distintas. A pesquisa documental
consiste na análise de fontes, a priori, primárias, isto é, elaboradas pelo próprio autor, enquanto a
pesquisa bibliográfica consiste na análise de fontes secundárias, isto é, transcritas de fontes primárias
contemporâneas ou retrospectivas. Na literatura crítica sobre a metodologia da pesquisa científica,
existem muitas definições para o que vem a ser o levantamento bibliográfico e o documental (KÖCHE,
1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011;
RODRIGUES, 2007). Para não ser exaustivo, eu transcrevo algumas, tal como se segue:
Para reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das condições em
que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informação para descobrir
possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas, cotejando-as cuidadosamente.
A literatura crítica sobre a metodologia da pesquisa científica é unânime em esclarecer que não
existe um código normativo que estabeleça quantos, quais e em que sequência devam ser executados
os passos para a operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais, mas sim critérios,
diretrizes, princípios que a orientam sistematicamente. Desse modo, os passos para a sua
operacionalização ocorrem de acordo com o nível de conhecimento e o grau de experiência
25
As bibliografias são fontes de dados secundários. Os documentos são fontes de dados que podem ser primários ou
secundários (LUNA, 2011; GIL, 1999, 2010).
metodológica do pesquisador. Entretanto, a pesquisa científica exige um planejamento prévio e
sistemático e, por essa razão, existem várias sugestões de seu fluxograma no intuito de auxiliar os
pesquisadores iniciantes (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003,
2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006;
ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978).
Este trabalho foi organizado em sete partes. A primeira refere-se à introdução, na qual são
apresentados o tema, a justificativa, o problema, os objetivos, a contribuição, a metodologia, o percurso
do aluno, o referencial teórico e a organização do trabalho. Da segunda à sexta parte, o tema é
desenvolvido, apresentando-se no segundo a formulação do problema-objeto da pesquisa, no terceiro a
formulação das hipóteses e dos objetivos da pesquisa, no quarto a explicitação das fontes de
informação, no quinto a coleta dos dados da pesquisa, e no sexto o tratamento dos dados da pesquisa.
Na sétima seção, são apresentadas as conclusões e as considerações finais. Daí, por último, mas não
menos importante, no intuito de finalizar de forma completa, o trabalho apresenta as referências
consultadas.
Um problema de investigação delimitado expressa a possível relação que possa haver entre, no
mínimo, duas variáveis conhecidas. Dever ser uma pergunta inteligente, isto é, que indique os
possíveis caminhos que devem ser seguidos pelo investigador. Para isso, no entanto, é
necessário que o investigador elimine a incógnita introduzindo no seu lugar alguma outra
variável que a substitua. Essa tarefa requer o uso de duas competências por parte do
pesquisador: da imaginação criativa e do conhecimento disponível. O pesquisador deve, à luz
do conhecimento disponível, conjecturar sobre os possíveis fatores que podem se relacionar
com a variável em estudo. A pergunta que ele formula sempre questionará, em nível hipotético,
a possível relação proposta pelo investigador, como uma pergunta inteligente, em substituição à
ignorante, que endereçará à natureza, aos fatos, às coisas, para que seja respondida no decorrer
da pesquisa. […] A pergunta inicial (a) que Rosenberg formulou para o fato que o intrigava foi:
O desaparecimento espontâneo do câncer do seu paciente foi provocado pelo seu sistema imune
inato? O conhecimento disponível na área da imunologia o levou a acreditar nessa suposição e a
utilizá-lo para delimitar o problema principal de sua pesquisa. Agregando a esses
conhecimentos os já produzidos na área de engenharia genética, pôde, então, Rosenberg,
elaborar uma pergunta que até então nenhum pesquisador ousara fazer, a respeito da
possibilidade de manipular o potencial imune inato, existente no organismo, para combater o
câncer. Assim, a pergunta completa (b), de caráter conjectural, que orientou toda sua
investigação posterior, foi: É possível desenvolver uma imunoterapia para o câncer, isto é, um
tratamento que permita incrementar (no organismo humano) o potencial (latente) inato do
sistema imune para eliminar as células cancerígenas? (KÖCHE, 2011, p. 106-107).
O ponto de partida de uma pesquisa pode constituir-se de uma intenção ainda imprecisa. O
pesquisador pode ter decidido trabalhar com deficientes mentais ou estudar a escola de primeiro
grau. É possível que tenha se associado a um grupo que vem estudando a psicologia das
organizações ou, mais especificamente, as relações sociais dentro de empresas. Nenhuma dessas
especificações delimita um problema de pesquisa, embora o pesquisador esteja um ou mais
passos adiante de quem não tenha ainda ideia do que pretende estudar.
De fato, “deficientes mentais” delimita um tipo de sujeito (embora a deficiência mental seja
melhor caracterizada como um tema). A escola de primeiro grau (ou qualquer outra)
circunscreve uma instituição dentro da qual se pretende trabalhar. A psicologia social ou das
organizações configura uma área de pesquisa e a especificação de que se pretende tratar das
relações sociais dentro das empresas já implica a seleção de um tema de uma área, mas não
ainda um problema de pesquisa.
Da mesma forma, por mais informativo que seja o título de um trabalho (e ele deveria) sê-lo),
raramente ele se constitui em uma boa formulação de problema de pesquisa (até porque títulos
não deveriam ser longos). “Estado, Sociedade e Marginalidade” pode ser um ótimo título para
um trabalho, mas certamente não constitui uma boa formulação para um problema. Em
qualquer das situações acima, o pesquisador estará apenas em uma fase preliminar do processo
de pesquisar, que pode ser uma etapa inevitável do pesquisar, especialmente se o pesquisador
estiver entrando em uma área nova para ele (aliás, condição comum entre os pesquisadores
iniciantes). O risco dela está no fato de uma formulação tão inicial ser tomada como o problema
de pesquisa, gerando o desencadeamento das demais decisões (escolha de procedimentos, das
características dos participantes da pesquisa, etc.). Já foi dito aqui que quanto mais claramente
um problema estiver formulado, mais fácil e adequado será o processo de tomada das decisões
posteriores, mas deve ficar claro que essa clareza não significa que o pesquisador não
decida/prefira/precise reformular o problema posteriormente. O processo de pesquisa é
essencialmente dinâmico. (LUNA, 2011, p. 29-31).
Toda investigação parte – ou pelo menos deve partir – de um conjunto de hipóteses, isto é, de
suposições de solução para o problema-objeto proposto. Somente a partir desse passo é possível a
determinação do seu nível de relevância científica e social bem como dos caminhos adequados para
coletar e tratar os dados necessários para a sua solução. Dissemelhantemente do que acreditavam, na
fase primitiva da ciência, os indutivistas e os empiricistas, “que as explicações científicas provinham da
pura observação dos fatos ou dos fenômenos”, toda e qualquer investigação precisa de ideias
preconcebidas – as quais, decerto, provêm de nossos parâmetros e referenciais teóricos, os quais, por
sua vez, são construídos histórica, cultural e subjetivamente – para ser desencadeada (KÖCHE, 1997,
2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES,
2007; ECO, 2012; VERGARA, 2012; TEIXEIRA, 2012; VASCONCELLOS, 2010). Corroborando
essas ideias, Luna (2011, p. 34 a 36) explicita alguns aspectos dessa etapa com os seguintes dizeres:
No sentido mais leigo do termo, hipótese significa uma suposição, uma conjectura e, quando
aplicada à pesquisa, implica conjectura quanto aos possíveis resultados a serem obtidos. Desse
ponto de vista, hipóteses são quase inevitáveis, sobretudo para quem é estudioso da área que
pesquisa e, com base em análises do conhecimento disponível, acaba “apostando” naquilo que
pode surgir como produto final do estudo.
Mas hipótese sempre teve um significado e uma função bem mais precisos, especialmente no
que se refere à pesquisa quantitativa conduzida segundo delineamentos estatísticos. De fato, a
estatística inferencial responde a perguntas específicas sobre relações entre conjuntos de dados.
Durante muitos anos, a primazia quase absoluta da pesquisa quantitativa tornou impensável que
se dispensasse o uso de testes estatísticos para encaminhar os resultados da pesquisa. Nesse
contexto, hipóteses eram derivadas do problema formulado e faziam parte indispensável do
projeto e do relatório de pesquisa.
Particularmente nas ciências humanas, quando começaram a ser introduzidos novos modelos de
pesquisa, a estatística inferencial teve seu uso drasticamente reduzido e, em decorrência,
evidenciou-se a existência de uma confusão estabelecida entre problema e hipótese. Por um
lado, falar em problema de pesquisa parece evocar, para muitas pessoas, ecos estatísticos; ou
seja, problema de pesquisa confunde-se com hipótese estatística. Como um outro lado dessa
mesma moeda, parece persistir a ideia de que, se não se pretender empregar estatística
inferencial, é desnecessária a preocupação com a precisão da formulação do problema de
pesquisa.
Hipótese, nesse sentido, não pode e nem deve confundir-se com problema de pesquisa. Em
primeiro lugar, porque a formulação de hipóteses de pesquisa deriva necessariamente do
problema. Em segundo, porque, ao contrário do que ocorre com as demais formulações de
problema tomadas como exemplo, a hipótese representa uma formalização do problema e,
como tal, é muito mais específica do que este. De fato, uma hipótese bem estruturada depende
de um problema claro e sem ambiguidades.
Ressalta-se que Luna (2011) afirma que a formulação das hipóteses e dos objetivos da pesquisa
depende da prévia formulação do problema-objeto da pesquisa porque esse é o seu hábito
procedimental a realizar levantamentos bibliográficos e documentais. Contudo, não há passos tão
rígidos assim para metodologias, visto que a ordem de tais passos não prejudica o processo de
investigação científica. Por essa razão, o pesquisador tem a liberdade de escolher fazer uma etapa,
primeiro, e, depois, a outra, ou simultaneamente as duas, de acordo com o nível do seu conhecimento
sobre o tema e o nível de sua experiência em fazer levantamentos bibliográficos e documentais
(KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011;
RODRIGUES, 2007; ECO, 2012; GIFTED, 2015; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006;
ACEVEDO; NOHARA, 2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978).
Nesse diapasão, importante destacar que as hipóteses possuem características fundamentais,
sem as quais não é possível a confrontação empírica necessária para que as informações produzidas por
meio da investigação científica satisfaçam não somente a verdade sintática26, mas também a verdade
semântica27 e a verdade pragmática28 e, então, possam ser consideradas científicas. Inobstante, as
variáveis são tipificadas para esse mesmo fim (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI;
LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012; VERGARA, 2012;
TEIXEIRA, 2012; VASCONCELLOS, 2010). Köche (2011, p. 109, 113-114) as apresenta
integralmente do seguinte modo:
26
A verdade sintática refere-se a enunciados lógicos, coerentes.
27
A verdade semântica refere-se à consistência na literatura crítica e nos fatos.
28
A verdade pragmática refere-se ao exame pareado, isto é, avaliação e aprovação por uma banca examinadora composta
por pesquisadores profissionais do e no tema.
Variável de controle: é aquele fator ou propriedade que poderia afetar a variável dependente,
mas que é neutralizado ou anulado, através de sua manipulação deliberada, para não interferir
na relação entre a variável independente e a dependente.
Geralmente, na investigação de uma situação complexa, um efeito observado não é resultado de
somente uma causa. Não é possível, porém, em um só experimento, analisá-las todas ao mesmo
tempo. Alguns fatores, então, são neutralizados para que não tenham efeito sobre o fenômeno
estudado. Assim, no exemplo anterior, idade e inteligência, são variáveis de controle. Se não
fossem neutralizadas, não se poderia analisar e avaliar a relação entre o número de treinos
práticos e o desempenho de habilidades. […]
Variável interveniente: é aquele fator ou propriedade que teoricamente afeta o fenômeno
observado. Esse fator, no entanto, ao contrário das outras variáveis, não pode ser manipulado ou
medido. É um fator hipotético, teórico, não concreto. Ele é inferido a partir da variável
independente ou da moderadora. Geralmente essa variável não é muito considerada pelos
pesquisadores.
Apesar de ser possível fugir da testabilidade das hipóteses de uma investigação, numa tentativa
de facilitar o seu andamento, na verdade, o que ocorre é o contrário, ou seja, o foco investigativo sai do
campo científico e passa a rumar para o campo do senso comum, quando o pesquisador abstém-se de
formular qualquer suposição, ou mesmo para o campo metafísico, quando as suas hipóteses são muito
vagas, fruto de suas credulidades pessoais (BARROS; LEHFELD, 2000, 2007; KÖCHE, 1997, 2011;
GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007;
ECO, 2012).
Na etapa de consulta à literatura, são úteis as dissertações e teses, que muitas vezes fazem boas
revisões, assim como os artigos que têm como objetivo a revisão dos estudos sobre um tema ou
problema. Um periódico em que esses artigos são publicados é o Annual Review of Psychology.
A revista American Psychologist também apresenta artigos que analisam criticamente temas
relevantes e por vezes polêmicos na psicologia contemporânea. Uma de suas seções se dedica
especificamente à análise dessa natureza: a “Science Watch”.
Além da busca por temas, é útil consultar nas bibliotecas as listas de periódicos e localizar os
que tratam do assunto ou os que foram indicados por pesquisadores consultados. O próximo
passo é a consulta a seus últimos números, ou aos números de um certo período, conforme o
tipo de trabalho que se tem em mente realizar (por exemplo, os últimos cinco ou dez anos).
Finalmente, o exame do conteúdo desses periódicos pode levar à seleção de trabalhos sobre o
tema.
Depois de localizados livros e artigos, é interessante proceder a uma seleção do que se vai
retirar por empréstimo, ou do que se vai reproduzir em xerox, lembrando sempre as leis de
direitos autorais e os limites para esse tipo de cópia. Muitas vezes já é adequado organizar o
material tal como apresentado na revista, enriquecendo de comentários pessoais. Uma sugestão
é criar um banco de dados no programa Acess ou similar. O trabalho e o tempo despendidos na
criação de um sistema próprio de organização de material consultado serão compensados com
menos dificuldade no momento de redação do projeto.
Paralelamente à pesquisa manual nas bibliotecas por meio da consulta de seus catálogos, pode
ser realizada uma busca eletrônica em bases computadorizadas de dados. Algumas bibliotecas
dispõem de assinaturas desses sistemas que armazenam enorme quantidade de informações e
que permitem ao usuário ter acesso a arquivos de dados, fazendo buscas por assunto, uma ou
mais palavras-chave, autores ou publicações. Tais buscas podem ser limitadas por períodos,
faixas etárias dos sujeitos, língua em que o trabalho foi publicado etc. Antes, esses bancos
estavam disponíveis em CD-ROM, em bibliotecas que tinham sua assinatura; hoje a consulta
pode ser feita pela internet, em bibliotecas ou instituições. […]
O levantamento documental visa a coleta de dados, a priori, primários, ou seja, aqueles que
ainda não foram submetidos a algum tipo de manipulação, enquanto o levantamento bibliográfico visa
a coleta de dados secundários sobre um tema, quando não existem dados primários sobre ele ou quando
a sua coleta é comprovadamente inviável. Entretanto, vale destacar que nos documentos, ou em anexo,
podem haver dados secundários; por essa razão, correto afirmar que os documentos são fontes de dados
primários ou secundários. Sobre esse instrumento de pesquisa, Gil (1999, p. 160) salienta:
Os documentos são tipificados por Gil (1999, p. 160-165. Grifos meus) em documentos
pessoais, registros institucionais, registros estatísticos e da comunicação de massa em geral, isto é, TV,
rádio, jornais, revistas, internet etc., tal como se segue:
1) Registros estatísticos
[...] Entidades governamentais como a Fundação IBGE dispõem de dados referentes a
características socioeconômicas da população brasileira, tais como: idade, sexo, tamanho da
família, nível de escolaridade, ocupação, nível de renda etc. Os órgãos de saúde fornecem dados
a respeito de incidência de doenças, causas de morte etc. Uma entidade como o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos dispõe de dados sobre desemprego,
salários, greves, negociações trabalhistas etc. Organizações voluntárias têm dados referentes a
seus membros e também às populações que atendem. Institutos de pesquisa vinculados aos mais
diversos campos do conhecimento. Além disso, número cada vez maior de entidades vem-se
preocupando em manter bancos de dados. Isto se verifica em hospitais, escolas, agências de
serviço social, entidades de classe, repartições públicas etc.
[...]
2) Registros institucionais escritos
Além dos registros estatísticos, também podem ser úteis para a pesquisa social os registros
escritos fornecidos por instituições governamentais. Dentre esses dados estão: projetos de lei,
relatórios de órgãos governamentais, atas de reuniões de casas legislativas, sentenças judiciais,
documentos registrados em cartórios etc. [...]
3) Documentos pessoais
Há uma série de escritos ditados por iniciativa de seu autor que possibilitam informações
relevantes acerca de sua experiência pessoal. Cartas, diários, memórias e autobiografias são
alguns desses documentos que podem ser de grande valia na pesquisa social.
[...]
4) Comunicação de massa
Os documentos de comunicação de massa, tais como jornais, revistas, fitas de cinema,
programas de rádio e televisão, constituem importante fonte de dados para a pesquisa social.
Possibilitam ao pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual e também
lidar com o passado histórico. Neste último caso, com eficiência provavelmente maior que a
obtida com a utilização de qualquer outra fonte de dados. [...]
Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o levantamento bibliográfico, enquanto
um tipo de observação indireta, consiste na coleta e no tratamento sistematizado de dados secundários,
e que o levantamento documental, enquanto um tipo de observação que tanto pode ser direta (dados
primários) quanto indireta (dados secundários), consiste na coleta e no tratamento sistematizado de
dados híbridos, isto é, tanto primários quanto secundários (KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; LUNA, 2011; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012).
Que tipo de fontes de informação escolher? Essa é a questão fundamental dessa etapa de
pesquisa e precisa ser respondida levando-se em consideração a natureza do problema-objeto da
pesquisa, da habilidade do pesquisador e dos recursos disponíveis para a execução da investigação, o
que inclui o tempo nela gasto. Factualmente, Luna (2011, p. 57, 58 e 109) ajuda-nos a compreender
esses aspectos com os seguintes dizeres:
Certos problemas de pesquisa – quer pela sua própria natureza, quer pela habilidade do
pesquisador na delimitação do problema de pesquisa – não deixam muita margem de escolha
quanto às fontes a serem consultadas. Se minha pesquisa propõe-se a comparar o nível de
aprovação no vestibular dos alunos oriundos de escolas particulares e de escolas públicas, não
há muita escolha: preciso consultar documentos nas secretarias das universidades e registrar as
informações na forma cruzada. Se uma pesquisa pretende avaliar as interações entre a
professora e seus alunos, a fonte mais direta possível é a observação em sala de aula.
Finalmente, se a intenção for a de avaliar as sugestões e críticas do usuário de um serviço
qualquer (digamos, um posto de saúde ou uma biblioteca), o melhor recurso é o relato verbal
(oral ou escrito). […]
É verdade que nosso acesso à bibliografia internacional está aquém do desejável. Da mesma
forma, determinados documentos podem ser acessíveis apenas in loco, o que pode dificultar sua
leitura. Em condições como estas, um autor pode ser autorizado a recorrer a fontes secundárias.
Mas apenas em condições como estas!
A coleta dos dados da pesquisa principia com a definição inicial de palavras-chave, também
denominadas descritores, que são os termos pelos quais se consegue acesso às fontes de pesquisa
explicitadas, bem como de suas respectivas localizações, por exemplo em bancos de dados, em
bibliotecas físicas ou virtuais (LUNA, 2011; BARROS; LEHFELD, 2000, 2007; KÖCHE, 1997, 2011;
GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007, 2008; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012). Sobre
todos esses aspectos, Luna (2011, p. 100 e 101) salienta:
Por exemplo, na etapa da coleta de dados para este trabalho, em selecionei as seguintes
palavras-chave: levantamento bibliográfico, levantamento documental, metodologia científica. As
localizações nas quais eu utilizei as palavras-chave na busca das minhas fontes de pesquisa foram o
Banco de Dados da CAPES, bibliotecas físicas da Universidade Mackenzie, da Universidade Federal
de São Carlos, da Universidade Bráz Cubas, da Universidade Federal de São Paulo, do Parque da
Juventude, do Parque Villa-Lobos, da Universidade Federal do ABC, da Mário de Andrade, da
Universidade de São Paulo, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, do Arsenal da
Esperança, da Rede Municipal de Bibliotecas do Município de São Paulo, do Município de São
Lourenço, e a Biblioteca Virtual 3.0 da Pearson, com a qual tem convênio a Universidade
Metropolitana de Santos (GIFTED, 2015).
Daí eu encontrei, em cada localização em que eu pesquisei, uma lista com todas as fontes de
pesquisa indexadas pelos descritores que eu utilizei, fiz um recorte delas, selecionando para o
tratamento dos dados apenas publicações cujo resumo fosse claro e objetivo o suficiente para facilitar a
compreensão e o uso dos levantamentos bibliográficos e documentais. Dentre essas fontes, algumas da
década de 1970, outras da de 1990, algumas da década de 2000, e outras mais recentes, publicadas nos
últimos cinco anos, por meio das quais eu busquei alcançar o estado da arte desse tema (GIFTED,
2015).
Em seguida, eu procedi à consulta de todas as fontes de pesquisa acessadas, analisando o seu
título, o seu resumo, os seus descritores, o seu sumário, as suas referências, e, então, lendo do texto os
trechos mais importantes que eu seleciono do seu sumário, ou, algumas obras, lendo-as integralmente
(GIFTED, 2015; LUNA, 2011; SAMPIERI; COLLADO; LUCRO, 2006; ACEVEDO; NOHARA,
2010; MOURA; FERREIRA, 2005; CASTRO, 1978; VASCONCELLOS, 2010; ECO, 2012). Quando
me vem às mãos um livro científico, cujo tema me desperta o interesse, eu sigo um itinerário
procedimental de leitura científica: primeiro eu observo o sumário, com atenção, avaliando como o
autor estruturou a sua obra e em que aspectos do tema focou, de tal modo que já de início eu consigo
perceber o seu domínio com a metodologia da pesquisa científica, em que aspectos tem facilidade ou
dificuldade; em seguida, eu costumo passar diretamente à seção das referências, onde eu avalio o nível
da consistência do seu trabalho e, portanto, se ele merece ser aproveitado ou não; em caso positivo, ou
seja, se o livro científico, além de atualizado, é também consistente, eu costumo percorrer os tópicos
em que eu mais me interesso, avaliando as gravuras (desenhos), as tabelas (quadros), os títulos e os
subtítulos, e alguns trechos textuais nucleares29, avaliando o nível de coerência e de coesão textual, e
se, de fato, o livro for coerente, então eu o considero digno das minhas investigações científicas
(NICOLA; TERRA, 2007; VASCONCELLOS, 2010; LUNA, 2011; GIFTED, 2015).
Vale destacar aqui o protocolo observacional, instrumento próprio das pesquisas
observacionais. Trata-se de um meio para se registrar as informações produzidas durante a observação.
Pode ser um caderno, um bloco de anotações, ou mesmo uma página para rascunho. O objetivo é
planificar tudo o que foi observado sobre o objeto de pesquisa, suas características, suas variações, as
29
Por trechos textuais nucleares, quero dizer o encadeamento das frases e parágrafos que sucedem o nível mais profundo
da estrutura do trabalho. Por exemplo, se esse nível mais profundo é o subsubtítulo, leio os parágrafos que imediatamente o
sucedem.
possíveis causas e os possíveis efeitos das variações, o que foi feito durante a observação, o que não foi
feito durante ela e o (s) seu (s) respectivo (s) porquê (s). Comumente, o registro das informações no
protocolo observacional é separado em notas descritivas (aquilo que se observa de fato) e notas
reflexivas (as interpretações ou reflexões daquilo que se observa). Sobre esses aspectos, Creswell
(2010, p. 2015) ratifica:
Os dados da pesquisa, após coletados, precisam ser tratados. O tratamento dos dados da
pesquisa inclui: o seu registro, que pode ser operacionalizado por meio da planificação manual ou
eletrônica; a sua sistematização, que precisa explanar exploratória e descritivamente a sequência
lógica da investigação científica (o seu ponto de partida, cada um dos passos intermediários, e o seu
desfecho, considerando as suas suposições, hipóteses, indagações, suspeitas, curiosidades, ou
conjecturas); pode ser a busca simples de strings, a busca avançada de strings, e ou os fatores de
inclusão/exclusão; a sua organização, que pode ser operacionalizada, por exemplos, por meio da
categorização, da codificação ou da tabulação; a sua análise ou interpretação, que pode ser realizada,
por exemplo, por meio da Análise Bibliométrica, Análise de Discurso, Análise de Conteúdo ou
Exegese/Hermenêutica; a sua formalização, que comumente é cimentada como TCC, dissertação,
tese, trabalho, resenha, periódico, revista, software, patente, obra de arte; a sua apresentação, que
pode ser realizada, por exemplo, por meio de uma exposição oral, ou uma exposição visual, ou uma
exposição mista (GIFTED, 2015; SEVERINO, 2007; GIL, 1999, 2010; LUNA, 2011; BARROS;
LEHFELD, 2000, 2007; KÖCHE, 1997, 2011; GIL, 1999, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2003, 2007,
2008; RODRIGUES, 2007; ECO, 2012).
O registro dos dados da pesquisa pode ser realizado por meio de compilação manual, em que o
pesquisador anota a tinta ou a grafite, por exemplo, num papel, ou eletrônica, em que o pesquisador
digita todos as anotações em um arquivo de texto, como o do Microsoft Word (aplicativo do pacote
padrão Office do sistema operacional Windows) ou o do Open Writter (aplicado do pacote padrão Open
Office do sistema operacional Linux). Para otimizar a gerência do tempo despendido nessa etapa,
recomenda-se levar para frente do computador e da escrivaninha (ou outro ambiente adequado para a
digitalização) todo o conteúdo que se vai utilizar no trabalho acadêmico, o que inclui as bibliografias,
os documentos e as anotações. Trata-se, pois, de uma etapa bastante trabalhosa para se fazer e demanda
tempo numa dose inversamente proporcional às habilidades do pesquisador em utilizar tais
metodologias, isto é, quanto mais habilidoso ele for menor o tempo que ele precisa despender para
realizar pesquisas científicas por meio dessas metodologias, mas não é difícil porque basta saber digitar
bem, digitalizar, imprimir, ler bem e escrever bem (GIFTED, 2015).
A sistematização dos dados da pesquisa trata-se da explanação descritiva da sequência lógica
da pesquisa, ou seja, o seu ponto de partida, cada um dos seus passos intermediários e o seu desfecho.
Por exemplo, este trabalho (apêndice) foi sistematizado do seguinte modo: partiu-se do problema da
dificuldade dos pesquisadores iniciantes em se operacionalizar levantamentos bibliográficos e
documentais, bem como da hipótese de que a eliminação da imensa imprecisão terminológica,
conceitual, taxonômica e conteudal sobre esse tema encontrada na vasta literatura crítica sobre
metodologia da pesquisa científica é capaz de solucionar o problema, facilitando tanto a compreensão
quanto o uso de tais técnicas científicas fundamentais; daí, partiu-se para a definição de seu objetivo
principal que é o de esclarecer os procedimentos técnicos necessários para a adequada
operacionalização dos levantamentos bibliográficos e documentais, facilitando o trabalho do
pesquisador; depois, passou-se para a escolha do enfoque para cada um dos três pilares fundamentais
da metodologia da pesquisa científica, adotando-se o neoperspectivista como o seu eixo epistemológico
de investigação, o hipotético-dedutivo como o seu eixo lógico de investigação, e a base procedimental
observacional não participante, dos tipos bibliográfico e documental, como o seu eixo técnico de
investigação; depois, ainda, foi escolhida a abordagem qualitativa, o protocolo observacional como o
seu instrumento de pesquisa, e foi desenhado o fluxo logístico cronológico investigativo, isto é, uma
tabela na qual contavam as atividades diárias necessárias para se concretizar esse trabalho dentro do
espaço de tempo de 15 dias, que eu escolhi; na tabela, por exemplo, na segunda-feira, após tomar o café
da manhã, eu deslocava-me até a biblioteca do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da
USP, em São Carlos, SP, acessava o livro de Popper, lia-o completamente, depois ia à Biblioteca
Comunitária (BCo), da UFSCar, acessava os livros de Marconi e Lakatos (2003; 2007; 2008), Gil
(1999; 2010), Castro (1978), Moura e Ferreira (2005), Sampieri et al. (2010), lia deles os trechos mais
pertinentes para a elaboração deste trabalho, fazia minhas anotações sobre eles em folhas de caderno
avulsas, citando as referências já dentro das normas da ABNT (ou outra, quando necessário, tais como
as da Associação Psiquiátrica Americana, ou as da Vancouver), para facilitar o registro dos dados
quando da sua planificação. Escolhi a busca simples de strings como técnica de sistematização
(GIFTED, 2015).
A organização dos dados da pesquisa objetiva facilitar a compreensão do seu conteúdo,
principalmente por parte dos seus leitores. Desse modo, termos pouco utilizados precisam ser
explicados no corpo do texto ou em alguma nota de rodapé, recomenda-se resumir as conclusões de
cada capítulo ou tópico (caso não desatenda as normas da instituição onde se pretende apresentá-las)
em tabelas, quadros, figuras, gravuras, ou notas de recapitulação. As técnicas científicas mais utilizadas
para tal fim são a tabulação (construção de tabelas, quadros ou equivalentes), a codificação (construção
de listas explicativas de siglas e de símbolos, ou equivalentes) e a categorização (divisão dos aspectos
sobre o tema em tópicos e subtópicos, capítulos e subcapítulos, às vezes subsubtópico ou
subsubcapítulo) (GIFTED, 2015). Existem várias maneiras de se organizar e sistematizar os dados, mas
eu destaco as palavras de Luna (2011, p. 101-103), quando ele diz:
O fechamento mais importante para este texto é a ênfase na importância das revisões de
literatura. Quer como peça fundamental na definição/detalhamento de um problema de
pesquisa, quer como um trabalho solo de pesquisa, uma revisão de literatura bem feita constitui
um passo decisivo para quem quer que pretenda entrar em uma área de pesquisa.
Além da contribuição que ela pode trazer na produção de conhecimento, uma revisão de
literatura constitui um respeito ao trabalho de outros pesquisadores e um compromisso com a
crítica contínua ao produto deles e, portanto, com o aprimoramento da ciência.
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ÍNDICE REMISSIVO:
A
Abdução
Acidentes
Amostragem
Análise Bibliométrica
Análise de Conteúdo
Análise de Discurso
Anteprojeto de pesquisa
Artigo científico
Axiomática-dedutiva
B
Banner ou pôster
Base estrutural dedutiva
Base estrutural indutiva
Base procedimental clínica
Base procedimental estatística
Base procedimental experimental
Base procedimental observacional
Bibliografias
C
Categorização
Cientificidade
Codificação
Corpus de execução de ensaio
Corpus de execução definifivo
D
Dedução
Diário de campo
Dispositivo eletrônico
Documentos
E
Edificação
Entrevista ex loco
Entevista in loco
Epistemologia científica
Escalas sociais
Estratégia de triangulação concomitante
Estratégia explanatória sequencial
Estratégia exploratória sequencial
Estratégia incorporada concomitante
Estratégia transformativa concomitante
Estratégia transformativa sequencial
Estudo de caso ex loco
Estudo de caso in loco
Ética científica
Exegese bíblica
Experimentação
Exposição cultural ou museu
Exposição mista
Exposição oral
Exposição visual
F
Fatores de inclusão/exclusão
Fichamento
Filme, teatro, dança ou concerto
Fluxo Logístico Cronológico Investigativo
Formulário
G
Gnosiologia científica
H
Hipotética-dedutiva
I
Incidentes
Indução
J
K
L
Leitura científica
Levantamento bibliográfico
Levantamento documental
M
Maquete
Máquina
MBS
Metanálise
N
O
Obra de arte
Observação
Ontologia científica
P
Paradigma crítico-dialético
Paradigma empírico-analítico
Paradigma fenomenológico-hermenêutico
Paradigma neoperspectivista
Pesquisa analítica
Pesquisa compreensiva
Pesquisa de campo
Pesquisa de mercado
Pesquisa de Survey ex loco
Pesquisa de Survey in loco
Pesquisa descritiva
Pesquisa e desenvolvimento
Pesquisa explicativa
Pesquisa exploratória
Pesquisa ex-post-facto
Pesquisa in victro
Pesquisa oral
Pesquisa original
Pesquisa prática ou aplicada
Pesquisa sintética
Pesquisa teórica ou básica
Pesquisa-ação
Pilar epistemológico
Pilar lógico
Pilar técnico
Planificação eletrônica
Planificação manual
Plano de Negócios
Pragmática-indutiva
Projeto de pesquisa
Projeto Político Pedagógico
Protocolagem observacional
Protocolo de entrevista
Protocolo observacional
Q
Questionário
R
RBI
RBN
RBS
Redação de ensaio
Referencial teórico
Resenha científica
Resumo científico
S
Semântica-indutiva
Silogística-indutiva
Silogística-dedutiva
Software
T
Tabulação
TCC, dissertação, tese ou livro
Teoria da ciência
Testagem
Testes
U
V
W
X
Y
Z