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Terapia Analítico-

Comportamental
Reflexões sobre a sistematização de uma prática

por Yago Carvalho


Objetivo
Discutir o tema da sistematização da Terapia
Analítico-Comportamental (TAC) e sua relação
com demandas atuais para o surgimento de
modelos psicoterápicos.

Parafraseando: A TAC pode ser considerada


um modelo psicoterápico sistematizado e
eficaz para intervenção?
Modelos de Intervenção Psicoterápica
Os modelos de intervenção psicoterápica buscam:
a) uma representação idealizada do processo psicoterápico,
b) especificando o comportamento dos elementos (terapeuta,
paciente, instrumentos de avaliação, etc.) que compõem a
intervenção;
c) buscando a descrição e explicação teórica de fenômenos clínicos e
d) produzir componentes normativos norteadores da intervenção
psicoterápica;
e) de forma culturalmente situada.
Modelos de Intervenção Psicoterápica
Desse modo, para construir um modelo psicoterápico é
preciso de seis elementos:
a) adesão a pressupostos epistemológicos e de filosofia de ciência
específicos;
b) posições teóricas;
c) corpo de dados científicos;
d) coleção de técnicas e tecnologias;
e) valores específicos e posições éticas;
f) contexto sociológico, político e histórico particulares.
Modelos de Intervenção Psicoterápica
Os modelos são testados a partir da ação prática dos clínicos que
agem coerentemente com o modelo, em situações concretas e são
dispostos em um continuum de formalização.

Alto grau de formalização: envolve a descrição manualizada das


sessões de atendimento (incluindo temas, falas típicas a serem
introduzidas em cada sessão), instrumentos a serem utilizados e
objetivos a serem alcançados em cada etapa.
Modelos de Intervenção Psicoterápica
Vantagens:
a) Facilita a produção de pesquisas de eficácia com critérios objetivos;
b) Facilita o treinamento de novos terapeutas.

Desvantagens:
a) Pode artificializar a clínica, fazendo com que os resultados de
evidências em pesquisa não sejam facilmente transpostos para a
prática clínica cotidiana;
b) Utiliza categorias do modelo diagnóstico biomédico (pautada na
morfologia), que é criticado pela Análise do Comportamento.
Categorias Diagnósticas
Categorias Tradicionais
Na cultura ocidental, o modo predominante para falar sobre questões
relativas à saúde mental tem sido a conceituação taxonômica baseada
em diagnósticos sindrômicos;

Temos como principais figuras desse modelo o DSM e o CID;

Entretanto, esse modelo recebe críticas quanto à sua utilidade para


intervenção clínica e pesquisa.
Categorias Tradicionais
Na cultura ocidental, o modo predominante para falar sobre
questões relativas à saúde mental tem sido a conceituação
taxonômica baseada em diagnósticos sindrômicos;

Temos como principais figuras desse modelo o DSM e o CID;

Entretanto, esse modelo recebe críticas quanto à sua utilidade


para intervenção clínica e pesquisa.
Categorias Tradicionais
Dalgleish, Black, Johnston e Bevan (2020) apontam sete problemas na
nosologia tradicional que precisam ser superados por novas propostas.

1. 2. 3. 4.
Os processos O caráter contextual do Na nosologia atual, ter Há uma heterogeneidade
psicológicos e comportamento uma comorbidade massiva interna aos
biológicos subjacentes, dificulta que a deixou de ser exceção diagnósticos, ou seja,
frequentemente, presença ou ausência e passou a ser a regra. duas pessoas com o
ultrapassam as de sintomas sirva de mesmo transtorno podem
fronteiras diagnósticas critério diagnóstico ter quadros muito
atuais distintos.
Categorias Tradicionais
Dalgleish, Black, Johnston e Bevan (2020) apontam sete problemas na
nosologia tradicional que precisam ser superados por novas propostas.

5. 6. 7. Extra.
Há cada vez mais Ao longo da vida do O modelo atual dificulta Como os manuais buscam
instrumentos paciente, há uma a identificação para o homogeneizar as
psicométricos para medir plasticidade fenotípica melhor tratamento para topografias dos
diversas dimensões de que faz com que ele um transtorno, visto que comportamentos para
um transtorno, o que recebe diferentes uma mesmo tratamento fechar um diagnóstico,
implica em imprecisão e diagnósticos com o pode servir para vários eles são culturalmente
instabilidade diagnóstica tempo de diferentes formas insensíveis.
Terapia Baseada em
Processos
Terapia Baseada em Processos
“A Terapia Baseada em Processos (TBP) é constituída por modelos
psicoterápicos que avaliam os processos psicológicos subjacentes ao
fenômeno clínico e propõem procedimentos de intervenção vinculados
a estes processos.”

Para identificar esses processos, é necessário o uso de análises


funcionais;
Terapia Baseada em Processos
Devido ao uso dessa técnica, a TBP permite uma compreensão da
saúde mental menos rígida e mais contextualizada culturalmente, ainda
que não totalmente;

Crítica de Davison (2018): “[...] a TBP é apenas uma reafirmação do que


a terapia comportamental já propõe desde a segunda metade do
século XX.”
Terapia Analítico-
Comportamental
Contexto Histórico
Surgida no Brasil, ganhou esse nome na década de 90, porém,
suas origens remontam a década de 60;

O surgimento do termo Terapia Analítico-Comportamental se


deu por dois motivos:
a) demarcação dos pressupostos que fundamentam a prática clínica (os
princípios behavioristas radicais de Skinner);

b) distanciamento de outras terapias comportamentais (como a TCC).


Contexto Histórico
Possivelmente, o primeiro grupo de terapeutas
comportamentais surgiu sob coordenação de Luiz Otávio
Seixas Queiroz (aluno do curso de Psicologia da UnB
entre 1964 e 1965), então professor da PUC de Campinas,
que formou um grupo cuja atuação tinha um enfoque nas
intervenções comportamentais, ao mesmo tempo em que
buscavam manter critérios da Análise Experimental do
Comportamento.
Contexto Histórico
O processo de transposição dos conceitos laboratoriais
para a prática clínica se deu de forma crítica, através de:

a) avaliação de resultados da terapia;

b) enfoque no papel da relação terapeuta-cliente como ferramenta de


mudança.
Terapia Analítico-
Comportamental
A TAC apresenta similaridades com a TBP, são elas:

a) ênfase na análise funcional ideográfica de fenômenos clínicos;

b) nível de formalização mais baixo em relação aos manuais típicos das


Psicoterapias Baseadas em Evidência;

c) atenção especial ao desenvolvimento de competências analíticas


contextuais e éticas;
Terapia Analítico-
Comportamental
A TAC apresenta similaridades com a TBP, são elas:

d) formação de novos terapeutas com repertório reflexivo pautado em


análise da filosofia de base;

e) recusa de redução da intervenção clínica à sintomatologia, dentre


outras.
Sistematização da TAC
Essas características são sistematizadas em manuais clínicos
baseados na TAC;

Manuais são aqui entendidos como “sistematizações didáticas


das estratégias de análise e intervenção em um certo campo
científico”;

Portanto, respondendo a pergunta inicial, é um equívoco dizer


que a TAC não possui sistematização.
Eficácia da TAC
A TAC se opõe ao modelo de Práticas Baseadas em Evidências
(PBE);

À saber, a PBE é a diretriz adotada pela American Psychological


Association para avaliação de eficácias de tratamento
psicoterápico, a qual consiste em:

a) uma descrição altamente formalizada dos procedimentos de


intervenção;
b) a adoção de categorias diagnósticas sindrômicas, como as do DSM;
c) a redução de sintomas do quadro diagnóstico como evidência de
eficácia da intervenção.
Eficácia da TAC
Como já dito anteriormente, tanto a TAC quanto a TBP, optam por
uma descrição de intervenção menos formalizada e mais reflexiva
de acordo com o contexto e não adotam as categorias
diagnósticas baseadas em morfologia, mas sim nos processos
(funcionais) subjacentes a elas;

Elas propõem a verificação de evidências por meio de pesquisas


translacionais e estudos de casos clínicos (principalmente, de
delineamentos de sujeito único);
Eficácia da TAC
A TAC possui um grande histórico de publicações verificando
sua evidência clínica, são exemplos:

a) anais das reuniões anuais da Sociedade Brasileira de Psicologia;

b) encontros da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina


Comportamental (ABPMC), e em sua revista derivada, a “Sobre o
Comportamento e Cognição”;
Eficácia da TAC
A TAC possui um grande histórico de publicações verificando
sua evidência clínica, são exemplos:

c) publicações na Associação de Modificação do Comportamento;

d) publicações da Revista Brasileira de Terapia Comportamental e


Cognitiva.
Conclusão
Conclusão
O trabalho analisado defende que “a TAC é um modelo psicoterápico
que apresenta semelhanças com a proposta atual da TBP e acumula, ao
longo dos anos, uma experiência de sistematização e produção de
evidências clínicas relevantes.”

Entretanto, isso não significa que a TAC compactue com todas as


premissas defendidas pela TBP;
Limitações
Apesar de sistematizada e evidentemente eficaz, a TAC necessita refinar
mais sua base teórica e suas pesquisas. Contudo, isso deve ser feito de
forma crítica, sem se submeter a discursos político-metodológicos
incompatíveis com sua epistemologia.
Referências
CÂNDIDO, G. V. Terapia Analítico-Comportamental: reflexões sobre a
sistematização de uma prática. Em: Revista Latina de Análisis de
Comportamiento, vol. 30, n. 1, pp. 139-157, 2022
Agradeço a
atenção!

Até o próximo encontro!

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