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[Ano]

O direito econômico no contexto do neoliberalismo e


da globalização.

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Unidade: O direito econômico no contexto do
Unidade: Colocar
neoliberalismo o nome da unidade aqui
e da globalização.

O direito econômico no contexto do


neoliberalismo e da globalização.
MATERIAL TEÓRICO

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Marcio Morena
Prof. Esp. Fernando Tadeu Marques

Revisão Textual:
Prof. Ms Reinaldo Zychan de Moraes

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Unidade: O direito econômico no contexto do
Unidade: Colocar
neoliberalismo o nome da unidade aqui
e da globalização.
Objetivos da aula:

Caro Aluno, nesta unidade, você será apresentado à disciplina de direito


econômico dentro de um contexto que liga o neoliberalismo e a globalização.
Estudaremos também os princípios constitucionais da livre iniciativa e da livre
concorrência, que são de extrema importância para o direito econômico.

Introdução

Antes de iniciarmos o conteúdo da disciplina de direito econômico, é


importante que compreendamos que o Direito e a Economia se integram. Essa
matéria possui grande relevância, pois basta observarmos o Código Civil e veremos
que cerca de 90% de seu conteúdo é constituído por dispositivos de cunho
econômico, como por exemplo, os contratos, os regimes de bens no matrimônio e
nas sucessões, a propriedade, as obrigações, dentre outros. Podemos perceber,
deste modo que todos esses assuntos são de natureza econômica.1

O direito econômico está muito ligado ao direito empresarial, bem como ao


direito constitucional, ao tributário, ao administrativo e, inclusive, ao direito penal,
pois muitas sanções e indenizações, mesmo quando não advindas de ofensas de
natureza econômica, podem ser convertidas e liquidadas em um valor a ser
ressarcido pelo réu.

Portanto, se o direito econômico está intimamente ligado a muitas outras


matérias do Direito, imagine o quanto este não está relacionado com a sociedade e
com a política e consequentemente com a intervenção do Estado na ordem
econômica.

Nesse particular, não podemos esquecer que fatores de grande interferência


na sociedade moderna, como a tecnologia e a ampliação e difusão dos meios de
comunicação, fizeram com que o fenômeno conhecido por globalização “nasce-se”,
trazendo importantes consequências não apenas na esfera econômica, mas também
nos campos político, jurídico e social.

Por este motivo, imprescindível que estudemos a globalização e seus


respectivos efeitos na esfera do direito econômico.
1
NUSDEO, Fábio. Curso de Economia – Introdução ao Direito Econômico. Pág. 19.

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A globalização
Mas o que é globalização?

A globalização pode ser entendida como uma integração


econômica mundial alimentada por interesses políticos e
comerciais. Porém a globalização vai muito além do fator
econômico, ela é também fruto do desenvolvimento da tecnologia
da informação e dos transportes.

Deste modo, para o direito econômico, a globalização é o processo pelo qual


são criadas condições, materiais e econômicas, para a expansão do espaço de
fluxos de capitais e mercadorias.

Segundo o Professor Ruy Santacruz:


“Globalização econômica é um termo moderno para um
processo antigo, que se aprofundou após a Segunda Guerra
Mundial, de internacionalização do capital das empresas e,
consequentemente, de aproximação e integração das
2
economias nacionais.”

Apesar de ter se consolidado a partir do pós-guerra, com a emergência de


novas forças como as empresas transnacionais e os conglomerados financeiros
internacionalizados, a globalização teve seu início nos séculos XV e XVI, com as
“Grandes Navegações” europeias que romperam o isolamento das “histórias
regionais” (MAGNOLI, 2004, p. 171).

As influências econômicas decorrentes da globalização estão certamente


entre as forças propulsoras das mudanças vivenciadas nos dias de hoje, em
especial no sistema financeiro global. Essas mudanças foram impelidas por diversos
fatores, alguns estruturais, outros mais específicos e históricos, mas todas moldadas
pela tecnologia e pela difusão cultural, bem como pelas decisões tomadas pelos
governos para liberalizar e desregulamentar suas economias nacionais (GIDDENS,
1999, p. 25).

Como consequência, “emprego, salário e produtividade constituem os


aspectos de maior controvérsia em torno da globalização”, como afirmam Fortes e
Peláez (1997, p. 42), pois a globalização denota a expansão e o aprofundamento

2
Apud FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. Pág. 311.

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das relações sociais e institucionais por meio do espaço e do tempo como conjectura
(HELD, 1997, p. 42).

O neoliberalismo.

Outro conceito de extrema importância e que precisamos entender é o de


“neoliberalismo”. Para que esse objetivo seja atingido precisamos antes conhecer o
significado histórico do “liberalismo”.

Liberalismo resume um conjunto de


ideias éticas, políticas e econômicas da
burguesia do século XVIII, que se opunha à
visão de mundo da nobreza feudal. De modo
geral, o pensamento burguês buscava a
separação entre Estado e sociedade, sobretudo
no que se refere às atividades de natureza
econômica.

O que se quer é separar definitivamente o público do privado, reduzindo ao


mínimo a intervenção do Estado na vida de cada um.

O liberalismo, do ponto de vista político, se confrontou, sobretudo, com o


absolutismo real, buscando nas teorias contratualistas as formas de legitimação do
poder. Segundo os liberais, o poder não está fundamentado no direito divino, nem
na tradição e herança, mas no consentimento dos cidadãos.

Até essa época era comum a justificativa de que o rei era escolhido por Deus,
razão pela qual se falava que o seu poder estava baseado no direito divino. Um dos
grandes ideólogos dessa corrente de pensamento foi Jacques Bossuet.
“Na visão de Bossuet, a monarquia constitui forma original de
governo, mais durável e mais forte. A autoridade real é sagrada, uma
vez que os príncipes são ministros de Deus, o verdadeiro rei, cujo
império é eterno, exercido desde a criação. Por isso, quem resiste ao
poder do príncipe vai de encontro à ordem de Deus, motivo pelo qual
deve ser punido com a morte.” (MARQUES, 2008, p. 72)

O contratualismo é uma corrente teórica segundo a qual a origem do Estado,


e por consequência do poder, é fruto da vontade humana. É essa vontade que faz

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com que o homem saia do estado da natureza (no qual vivia em um momento pré-
social) para fundar o Estado.

Essa passagem teria se dado, de forma racional, fundada na necessidade,


sendo consolidada por meio do chamado contrato social. Lastreados nesse contrato,
que estabelece as bases da existência do Estado e do exercício do poder, os
homens decidem se unir, bem como criar um direito coletivo tutelado pela sociedade
civil.

A decorrência dessa forma de pensar é o aperfeiçoamento das instituições do


voto e da representação, a autonomia dos poderes e a consequente limitação do
poder central.

É interessante notar que as formas do


liberalismo mudaram com o tempo, começando de
maneira muito elitista, restringindo-se aos homens de
posse, contudo, pouco a pouco essas ideias foram
sendo ampliadas para serem aplicáveis a todos os
componentes da sociedade.

O liberalismo econômico se opôs inicialmente à intervenção do poder do rei


nos negócios, que se dava por meio de procedimentos típicos da economia
mercantilista tais como a concessão de monopólios e privilégios. Os primeiros a se
insurgirem contra o controle da economia foram os fisiocratas cujo lema era laissez-
faire, laissez-passer, le monde va de lui-même (deixai fazer, deixai passar, que o
mundo anda por si mesmo).

Tais ideias são desenvolvidas, em especial, pelos economistas ingleses


Adam Smith e David Ricardo. Suas ideias se centravam em uma maior defesa da
propriedade privada dos meios de produção e o estabelecimento de uma economia
de mercado baseada na livre iniciativa e competição.

O Estado mínimo, ou seja, o Estado não-intervencionista é considerado


possível, porque o equilíbrio pode ser alcançado pela lei da oferta e da procura.

Entretanto, nem sempre foi possível manter o Estado longe do controle da


economia, razão pela qual, após um longo período em que as ideias liberais foram
largamente empregadas, pouco a pouco houve um retorno à concepção de que a
intervenção estatal na economia era necessária e imprescindível.

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Nesse embate de ideias sobre o papel do Estado na economia, na década de
1940, alguns teóricos passam a defender um retorno às teses liberais do livre
mercado, surgindo o movimento “Neoliberalista”, retomando os valores e ideais do
liberalismo político e econômico que nasceu do pensamento iluminista e dos
avanços da economia decorrentes da Revolução Industrial do final do século XVIII,
com a adequação necessária à realidade política, social e econômica de cada nação
em que se manifesta.

Em sentido mais estrito, neoliberalismo designa, nas


democracias capitalistas contemporâneas, posições
pragmáticas e ideologicamente pouco definidas dos defensores
da política do "Estado mínimo", que deve interferir o menos
possível na liberdade individual e nas atividades econômicas
da iniciativa privada e, ao mesmo tempo, manter, ampliar e
tornar mais racional e eficiente o Estado de bem-estar social.

O Estado de bem-estar social é fruto da concepção de política e econômica


pela qual o Estado deve destinar suas ações a duas áreas prioritárias: a regulação
econômica e a criação de uma rede de proteção social.

A todo cidadão, segundo essa concepção, deve ser garantido, de forma gratuita, o
acesso a todos os serviços sociais básicos, tais como educação e saúde, bem
como devem ser criados programas que garantam uma renda mínima para a
subsistência das famílias, o seguro desemprego e a aposentadoria.

Portanto, o neoliberalismo é uma prática econômica que rejeita a intervenção


maciça do Estado na economia e deixa o mercado se autorregular com total
liberdade. As privatizações e a livre concorrência são características deste tipo de
pensamento.
No Brasil, o neoliberalismo se tornou mais presente desde os anos 1990,
quando se iniciaram as privatizações de várias empresas pertencentes ao Poder
Público, ocorreu a quebra dos monopólios estatais, houve uma maior concessão de
serviços públicos e uma maior abertura dos mercados financeiros.

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As críticas ao neoliberalismo se concentram, em especial, no afastamento do
Estado da economia, deferindo aos sujeitos econômicos um maior poder de
livremente estabelecer as regras a serem aplicadas
nas relações. Dessa forma, por exemplo, deve haver
uma maior flexibilização da legislação trabalhista.

A falta de uma maior atuação estatal propiciaria


uma maior possibilidade de exploração do trabalhador
pelas empresas – a isso se convencionou chamar de exploração do trabalho pelo
capital.

Atualmente, em nosso país a interferência do Poder Público na economia


somente se justifica quando objetivar a persecução de interesses sociais maiores,
tais como os objetivos fundamentais positivados nos incisos do artigo 3º da
Constituição Federal de 1988.

Constituição Federal

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:
I. construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II. garantir o desenvolvimento nacional;
III. erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV. promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Eros Roberto Grau, ao tratar da globalização e do neoliberalismo, diz que a


globalização é um fato histórico, ao passo que o neoliberalismo é uma ideologia, ou
seja, para o autor não há uma relação necessária entre globalização e
neoliberalismo e, se fossem outras as condições político-sociais, a globalização
poderia conviver com outras ideologias que se poderiam tornar-se hegemônicas,
sendo perfeitamente viável a concepção de uma sociedade socialista globalizada.

Para ele, há marcante contradição entre o neoliberalismo - que exclui,


marginaliza - e a democracia, que supõe acesso de um número cada vez maior de
cidadãos aos bens sociais (2007).

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O direito econômico e seu surgimento histórico

Agora que examinamos a globalização e o neoliberalismo, fica mais fácil


compreender o direito econômico.

O direito econômico surgiu recentemente


como um ramo autônomo do direito público. Isto
se deu porque, durante muito tempo, o ideário do
liberalismo econômico prevaleceu, mitigando a
legitimação do Poder Público para interferir na
economia. Essa situação começou a se alterar
após a consolidação do modelo de Estado
democrático de direito.

Para melhor compreendermos a história do direito econômico nos serviremos


do estudo de Leonardo Vizeu Figueiredo sobre o tema (2006, p.13-15):

Os primeiros atos normativos que versavam sobre matéria


econômica tratavam basicamente de coibição à prática de truste
(merece destaque o Decreto de Allarde, na França, em 1791).
Todavia, a legislação antitruste de combate à concentração de
empresas, à imposição arbitrária de preços, dentre outras infrações à
ordem econômica, somente foi sistematizada na América do Norte,
por meio da edição do Competition Act, em 1889 no Canadá, e do
Sherman Act, no ano de 1890 nos Estados Unidos.
Nos primórdios, o direito econômico era sinônimo de direito
antitruste. Todavia, em virtude do acirramento das disputas
comerciais e das desigualdades sociais, oriundos dos efeitos
excludentes do capitalismo liberal, restou patente a necessidade de
intervenção do Estado na área econômica, para garantir a salutar
manutenção de seus mercados internos e da pacificação externa, e
no campo social, a fim de se estabelecer políticas públicas de
redistribuição de rendas e de inclusão social. Isto porque a
experiência liberal conduziu a ordem econômica e social: à
concentração monopolística de poderio econômico nas mãos dos
grandes conglomerados empresariais, por meio da exclusão de
mercado dos médios e pequenos competidores, resultando na
quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929; às disputas

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bélicas externas que culminaram em dois grandes conflitos mundiais;
e à marginalização e exclusão social de todos os menos abastados,
que, por qualquer razão, encontravam-se excluídos do processo de
labor diário de geração de renda.
Assim, no campo do direito constitucional comparado, podemos
destacar que a primeira constituição legada ao mundo que tratava de
matéria econômica foi a Carta Política do México de 05.2.1917. Esta
Constituição foi a primeira a dispor sobre propriedade privada,
tratando das formas originárias e derivadas de aquisição da
propriedade, abolindo, ainda, seu caráter absoluto para submeter seu
uso, incondicionalmente, ao interesse público, originando o princípio
da função social da propriedade, fato que serviu de sustentáculo
jurídico para a transformação sociopolítica oriunda da reforma agrária
ocorrida naquele país e a primeira a se realizar no continente
latinoamericano. Nitidamente influenciada pela legislação antitruste
norte-americana, combatia o monopólio, a elevação vertical de
preços e qualquer prática tendente a eliminar a concorrência.
Todavia, a ordem econômica e social somente ganhou status de
norma materialmente constitucional com a Constituição alemã de
11.8.1919 (Weimar), que foi a primeira a abandonar a concepção
formalista e individualista oriunda do liberalismo do século XIX para
se ocupar da justiça e do social, estabelecendo que a “ordem
econômica deve corresponder aos princípios da justiça, tendo por
objetivo garantir a todos uma existência conforme a dignidade
humana. Só nestes limites fica assegurada a liberdade econômica do
indivíduo” (art. 151). Outrossim, deu maior relevância à função social
da propriedade, ao declarar que ela cria obrigações ao seu titular e
que seu uso deve ser condicionado ao interesse geral (art. 153).
Rompendo os cânones do direito individualista, a Constituição
conferiu ao Estado competência para legislar sobre socialização das
riquezas naturais e as empresas econômicas (art. 7º, § 13).”

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No Brasil, a primeira Constituição a sistematizar um grupo de artigos
referentes ao direito econômico foi a Constituição de 19343 muito embora a
Constituição do Império (1824) e a Constituição da República (1891) possuíssem
influências do pensamento liberalista de Adam Smith.

Podemos concluir que o surgimento do direito econômico se


deu em função da necessidade de se normatizar o conjunto
de princípios e regras que disciplinam o processo de
intervenção do Estado na ordem econômica e social.

O conceito de direito econômico

Uma vez que já entendemos o contexto de surgimento e formação do direito


econômico, podemos agora conceituá-lo.

O direito econômico é o ramo do direito


público que disciplina a condução da vida econômica
da nação, tendo como finalidade o estudo, o
disciplinamento e a harmonização das relações
jurídicas entre os entes públicos e os agentes
privados, detentores dos fatores de produção, nos
limites estabelecidos para a intervenção do Estado na ordem econômica. De outra
forma, é o ramo jurídico que disciplina a concentração ou coletivização dos bens de
produção e da organização da economia, intermediando e compondo o ajuste de
interesses entre os detentores do poder econômico privado e os entes públicos. Em
suma, é conjunto normativo que rege as medidas de política econômica concebidas
pelo Estado para disciplinar o uso racional dos fatores de produção, com o fito de
regular a ordem econômica interna e externa (FIGUEIREDO, 2006, p. 15-16).
Desse modo, o direito econômico é um ramo de direito público
que disciplina as relações jurídicas travadas pelo Poder Público
em face dos agentes econômicos privados que atuam e
operam no mercado, bem como as formas de interferência do
Estado no processo econômico, com o fim de direcionar e
conduzir a economia à realização e ao atingimento de objetivos
e metas socialmente desejáveis.

3
DOMINGUES, J. O.; GABAN, E. M. Direito Antitruste: O Combate aos Cartéis. p. 105-109.

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Podemos ainda conceituar o direito econômico como o conjunto de regras e
normas que regulam a organização econômica da sociedade.

Os objetivos da ordem econômica na Constituição Federal

Segundo nossa Constituição Federal, a ordem econômica é fundada na


valorização do trabalho humano e na livre iniciativa. Dessa forma, ela tem por fim a
realização das metas de transformação social e maximização do desenvolvimento
da nação brasileira.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios: [...]

A nossa atual Constituição deixa claro que a interferência do Poder Público na


vida econômica da nação somente se justifica quando visa a colimar fins maiores de
interesse coletivo, mormente o atendimento das necessidades da população.

Nessa linha, vale transcrever, por ilustrativo, os seguintes artigos da Carta


Magna de 1988:

Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a


promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos
interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem,
abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis
complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do
capital estrangeiro nas instituições que o integram.

Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será


incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-
econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do
País, nos termos de lei federal.

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Assim o direito econômico em nosso país deve estar alinhado com o
delineamento traçado na Constituição Federal para a ordem econômica. Mais do que
isso, na verdade, ele deve ser um destacado instrumento para que esses objetivos
sejam alcançados.

O direito econômico e outras disciplinas jurídicas afins

É importante salientar, como visto anteriormente, que o


direito econômico é um ramo eclético do direito, fortemente
permeado de institutos do direito público e privado, como:
direito constitucional, direito penal, direito civil, direito
empresarial, direito tributário e direito internacional.

O princípio da livre iniciativa

Constitui fundamento constitucional a possibilidade de todos se lançarem no


desempenho de qualquer atividade econômica lícita. Logo, o princípio da livre
iniciativa é um dos princípios fundamentais da Constituição brasileira e um dos
alicerces da própria ordem econômica estatal. Esse princípio está previsto
expressamente no caput do artigo 170 da Constituição Federal (acima transcrito),
bem como no seguinte dispositivo:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
[...]

É importante frisar que a livre iniciativa não pode ser considerada de forma
absoluta, ou seja, existem algumas restrições que lhe são impostas pela própria
ordem econômica. A relatividade do princípio da livre iniciativa refere-se,

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especificamente, às restrições impostas para o livre exercício de determinadas
atividades econômicas que possuem maior impacto coletivo.

Essa questão está expressamente prevista no parágrafo único do artigo 170


da Constituição Federal, que ressalta a possibilidade de que algumas atividades
econômicas podem estar, nos termos da lei, condicionadas a prévia autorização do
Poder Público.

Artigo 170 [...]

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer


atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos
públicos, salvo nos casos previstos em lei.

Um exemplo de necessidade de prévia


autorização do Poder Público para funcionamento
ocorre com as instituições financeiras. Nos termos
do inc. X do art. 10 da Lei n.º 4.595/64, somente
com autorização do Banco Central pode ocorrer o
funcionamento, instalação, transformação,
incorporação etc. de instituições financeiras em
nosso país.

Isso se justifica em razão de outros valores consagrados constitucionalmente


e que devem ser respeitados, como a justiça social e o bem-estar coletivo, em
detrimento da exploração de atividade econômica com puro objetivo de lucro e
satisfação pessoal do empresário.

Os dois aspectos relevantes que se concluem da inserção da livre iniciativa


entre os fundamentos da ordem econômica são a constitucionalidade de preceitos
de lei que visem a motivar os particulares à exploração de atividades empresariais,
como é o caso do primado da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas quando
aplicado ao direito societário, tendo o sentido de limitar o risco de forma que as
pessoas não receiem investir em atividades econômicas em razão da possibilidade
de elevado comprometimento de seu patrimônio, e a aplicação do princípio da

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autonomia das obrigações cambiais que está destinado a viabilizar a ágil circulação
de crédito (COELHO, 2004, p. 202-203).

O princípio da livre concorrência

Relacionado ao princípio da livre iniciativa está o princípio da livre


concorrência.

A livre concorrência é uma proteção conferida pelo Estado ao devido


processo competitivo em sua ordem econômica, a fim de garantir que toda e
qualquer pessoa em condições de participar do ciclo econômico (produção –
circulação – consumo) de determinado nicho de nossa economia, dele possa,
livremente, entrar, permanecer e sair, sem qualquer interferência oriunda de
interesses de terceiros, conforme o autor supracitado.

Esse princípio está previsto, em especial, no inciso IV do artigo 170 da


Constituição Federal.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios:
[...]
IV - livre concorrência;
[...]

Celso Bastos afirma que a livre concorrência é um dos


alicerces da estrutura liberal da economia e tem muito que ver
com a livre iniciativa. É dizer, só pode existir a livre
concorrência onde há livre iniciativa. Portanto, a livre
concorrência é algo que se agrega à livre iniciativa, e que
consiste na situação em que se encontram os diversos agentes
produtores de estarem dispostos à concorrência de seus rivais
(BASTOS, 2002, p. 459).

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Deve, contudo, ser observado que essa liberdade no exercício da atividade


empresarial não pode conduzir a um desequilíbrio do mercado e ao abuso do poder
econômico. Nesse sentido, adverte nossa Constituição que:

Art. 173 [...]

§ 4º - A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à


dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao
aumento arbitrário dos lucros.

Para que esse objetivo seja alcançado, os mercados mais relevantes devem
ser acompanhados pelo Poder Público para que a livre iniciativa – sem qualquer
acompanhamento estatal – não possa criar condições para a ocorrência do abuso
do poder econômico, pois ele elimina a concorrência e traz como consequência o
aumento arbitrários de lucros que penaliza toda a sociedade.

Isso ocorre, em especial, quando há uma


grande concentração do mercado em apenas
uma ou algumas poucas empresas. Essa
concentração causa a impossibilidade de que
outros interessados possam ingressar nesse
ciclo produtivo. Com isso os grupos dominantes
podem estipular livremente preços e outras condições relevantes de fornecimento,
sendo que a sociedade nada mais pode fazer senão aceitar as condições que lhe
são impostas.

O que se pretende, em especial, é coibir a formação de monopólios e


oligopólios privados.

Os monopólios se caracterizam pela concentração em um único agente da


produção de determinada mercadoria ou serviço.

Já os oligopólios se caracterizam pela existência de um número diminuto de


produtores ou fornecedores de determinado produto ou serviço.

Em geral, podemos afirmar que os oligopólios são estruturas de mercado que


surgem das mesmas condições que os monopólios, contudo, de forma mais
atenuada.

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A grande questão relacionada a essas formas de organização do mercado se
refere à possibilidade de serem estabelecidas práticas abusivas que levam a um
aumento desproporcional de preços.

Nesse sentido, é extremamente esclarecedora a lição de Paul Krugman e


Robin Wells sobre o poder de mercado dos monopólios. Acrescente-se somente
que essa mesmas ideias podem ser aplicadas aos oligopólios. Para eles:

A capacidade de um monopólio de aumentar o preço acima do


nível da competição perfeita reduzindo a quantidade [de
mercadorias] é conhecida como poder de mercado. E o poder
de mercado é o que é essencial no monopólio. Um produtor de
trigo que é um só em 100.000 fazendeiros não tem poder de
mercado: ele tem de vender o trigo ao preço corrente de
mercado. A sua companhia local de TV a cabo, contudo, tem
poder de mercado: ela pode aumentar os preços e ainda assim
manter a maior parte (ainda que não todos) dos seus
concorrentes, pois eles não têm alternativas. Em resumo, é um
monopólio.

O motivo pelo qual um monopolista reduz a quantidade do


produto e aumenta o preço, comparado com uma indústria em
competição perfeita, é aumentar o lucro. [...] (2007, p. 292)

Tratando desses dois fatores, livre concorrência e abuso do poder


econômico, menciona José Afonso da Silva que:

A livre concorrência está configurada no art. 170, IV [da Constituição


Federal], como um dos princípios da ordem econômica. Ela é uma manifestação
da liberdade de iniciativa, e, para garanti-la, a Constituição institui que a lei
reprimirá o abuso de poder econômico que vise à dominação dos mercados, à
eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros (art. 173, § 4º).

Os dois dispositivos se complementam no mesmo objetivo. Visam tutelar o


sistema de mercado e, especialmente, proteger a livre concorrência contra a
tendência açambarcadora da concentração capitalista. A Constituição reconhece
a existência do poder econômico. Este não é, pois, condenado pelo regime
constitucional. Não raro esse poder econômico é exercido de maneira antissocial.
Cabe, então, ao Estado coibir este abuso (SILVA, 2010, p. 795).

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Interessante notar que legislações como o Código de Defesa do Consumidor
(Lei n.º 8.078/90), a Lei Antitruste (Lei n.º 8.884/94) e a Lei n.º 12.529/11 (que
estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência), possuem uma relação de
complementaridade com esse princípio constitucional.

Em suma, o que podemos observar é que a liberdade de comércio e indústria


é garantida a todos os empreendedores, salvo restrições estatais estabelecidas em
lei. Além disso, é importante destacar que deve haver uma preocupação do Poder
Público para que a livre iniciativa não possa criar condições para a ocorrência do
abuso do poder econômico que restringe a livre concorrência.

Síntese

Nesta unidade, estudamos os conceitos de globalização e de neoliberalismo,


para melhor compreendermos o contexto de formação da disciplina de direito
econômico. Analisamos, ainda, o conceito da disciplina e seus objetivos, bem como
os princípios constitucionais da livre iniciativa e da livre concorrência.

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Unidade: O direito econômico no contexto do
Unidade: Colocar
neoliberalismo o nome da unidade aqui
e da globalização.
Anotações

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Unidade: O direito econômico no contexto do
Unidade: Colocar
neoliberalismo o nome da unidade aqui
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