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AUTO DA COMPADECIDA

Hoje, em Taperoá, não percam um grande clássico do cinema brasileiro. Auto da compadecida, uma história que
retrata um pouco do nordeste e a força de sua gente. Vamos acompanhar as aventuras de Chicó e João Grilo, que
cansados de vagar por aí, resolvem se empregar na padaria de Eurico e Dorinha, que eram péssimos patrões.

ATO I – A MORTE DA CACHORRA

Dorinha, a mulher do padeiro.

Eurico, o padeiro e marido de Dorinha

Chicó e João Grilo

Padre

A cachorra de Dorinha estava muito doente e ela queria que o padre benzesse o animal. João Grilo foi à igreja tentar
convencer o padre.

PADRE: Não benzo, não benzo e não benzo.

DORINHA: Quer dizer que se fosse o cachorro do Major Antonio Moraes o senhor benzia.

PADRE: Não benzo, não benzo e não benzo.

PADEIRO: Isso é um absurdo. Eu sou o presidente da irmandade das almas.

JOÃO GRILO: É padre. Isso é muita coisa! Pra mim já é motivo pra benzer o cachorro.

PADRE: Não benzo, não benzo, não benzo e acabou-se.

DORINHA (revoltada): Mas quando era pra benzer a cachorra do major Antonio Moraes não tinha essa complicação.
Pois o meu marido é presidente da irmandade das almas. Vou pedir hoje mesmo a demissão dele.

PADEIRO: vai pedir minha demissão.

DORINHA: E não sai mais de lá de casa nenhum pão pra irmandade

PADEIRO: Nenhum pão.

DORINHA: E olhe que os pães que veem pra aqui são de graça.

PADEIRO: São de graça.

DORINHA: E olhe que as obras da igreja é ele quem tá custeando.

PADEIRO: Eu que tô custeando.

Dorinha e o padeiro se batem.

PADRE: Que é isso?

DORINHA: Que é isso? É a voz da verdade. Agora o senhor vai ver quem é a mulher do padeiro.

JOÃO GRILO: Ai ai ai . e a senhora o que é do padeiro?


DORINHA: A vaca!

JOÃO GRILO: A vaca?!

DORINHA: A vaca que mandei pra o vigário tem que ser devolvida hoje mesmo.

PADEIRO: Hoje mesmo.

PADRE: Até a vaca?! (indignado)

JOÃPO GRILO: A vaca também é demais.

Aparece Chicó

DORINHA: Ô cabra desmandado! Eu não mandei você ficar olhando a cachorra? (preocupada)

CHICÓ: Mandou, mandou!

DORINHA: E como é que ela tá?

CHICÓ: Tá lá com 4 patas, um rabo, um focinho.

DORINHA: Não me diga que ela piorou?

CHICÓ: Digo nada.

JOÃO GRILO: Ela piorou? Diga!

CHICÓ: É pra dizer ou pra não dizer?

DORINHA: Não me diga que você deixou minha cachorrinha morrer.

CHICÓ: Eu não deixei não.

Todos respiram aliviados

DORINHA: GRAÇAS A DEUS!

CHICÓ: Mas a senhora sabe como ela é desobediente.

JOÃO GRILO: Por que você foi sair de perto da cachorra, chicó?

CHICÓ: Mas se eu tivesse ficado com a defunta quem iria avisar que ela morreu?

Dorinha cai no choro desesperado. Todos consolam e ela sai chorando.

DORINHA: AHH MEU DEUS! MINHA CACHORRINHA MORREU!

TODOS SAEM! CHICÓ FICA E AÍ PASSA O ÁUDIO.

ENCERRA O ATO I
ATO II – O TESTAMENTO DA CACHORRA

O padeiro Eurico e sua esposa Dorinha usam a esperteza de João Grilo para conseguir que o padre fizesse o enterro
da cachorra. Assim, o astuto João Grilo inventa que a cachorra tinha deixado um testamento.

BISPO: Onde já se viu, fazer um enterro da cachorra!

JOÃO GRILO: Pois é, onde já se viu? Fazer um enterro da cachorra que deixa 3 contos pra o padre e 5 conto para o
bispo.

BISPO: Como é que é? (admirado)

PADRE: Pois é, o bispo nunca ouviu falar do testamento não!?

BISPO: Testamento? Que testamento?

JOÃO GRILO: O testamento da cachorra!

PADRE: Pois é senhor bispo, invenção de sua dona. A cadelinha deixou três contos para a igreja e 5 para a diocese.

BISPO: Ah, por isso que eu sempre digo, os animais também são filhos de Deus. Que animalzinho inteligente, que
sentimento nobre

BISPO E PADRE SAEM CONVERSANDO

JOÃO GRILO IMITA O PADRE REZANDO EM LATIM E SAI DE CENA.

ENCERRA O ATO II

ATO III – O AMOR DE CHICÓ E ROSINHA

Chico e João Grilo saem da padaria de Eurico depois de inventarem muita mentira e se meterem em um monte de
confusão. João Grilo passa a trabalhar na fazenda de Major Antônio Moraes. A filha do major Antônio Moraes chega
da cidade grande para passar uns dias na fazenda do pai.

- E é aí que Chicó conhece Rosinha e seu coração não resiste.

- oxente, e como isso aconteceu?

- Não sei...só sei que foi assim....

MÚSICA

CHICÓ E ROSINHA ANDAM DISTRAIDAMENTE EM FRENTE À IGREJA, APRECIANDO OS FOGOS NO CÉU. QUANDO DE
REPENTE AO VIRAR-SE SEUS OLHOS SE ENCONTRAM.

JOÃO GRILO: Oxente, Chicó! Eita cabra safado. Aproveitando a festa e eu aqui trabalhando!
CHICÓ FICA SEM REAÇÃO, ENCARANDO ROSINHA.

JOÃO GRILO: Oxi, andou bebendo foi?

CHICÓ: É o que?

JOÃO GRILO: Nada não! A missa já vai começar (fala arrastando rosinha)

ROSINHA: Quem é ele?

JOÃO GRILO: Oxi, e não é Chicó?

ROSINHA: Chicó de que?

JOÃO GRILO: Não sei não. É só chamar Chicó que ele vem.

ROSINHA: Me deu uma vontade de comprar um confeito. Ande João, vá ali comprar.

JOÃO SAI

ROSINHA E CHICÓ SE VEEM NOVAMENTE.

CHICÓ: Trouxe um confeito pra senhora.

ROSINHA: Brigada, Chicó.

CHICÓ: Como sabe meu nome?

ROSINHA: Eu adivinhei.

ROSINHA FICA TODA DERRETIDA. OS DOIS SE OLHAM. MENSAGEM DE DECLARAÇÃO NO AUTOFALANTE.

ENCERRA O ATO III

ATO IV – CHICÓ BOTA OS VALENTÕES PRA CORRER

Em nome do amor de Rosinha, Chicó promete botar pra correr os valentões da cidade. Medroso do jeito que é,
consegue a ajuda de João Grilo para expulsar os valentões. Assim, João Grilo arma mais um de seus planos: Chicó
fingir que é corajoso e enfrentar os valentões Cabo 70 e Vicentão. Será que Chicó vai sair vivo desse plano perigoso?

CHICÓ ORANDO NA IGREJA, PEDINDO A DEUS PARA O PLANO DE DE JOÃO GRILO DAR CERTO.

ENTRA ROSINHA

ROSINHA: Você me acompanha Chicó?

CHICÓ (apavorado): Valha-me Nossa Senhora. A missa já acabou?

ROSINHA: Cê tava rezando com tanta fé que nem notou.

CHICÓ: É tava fazendo uma promessa pra Nossa Senhora.

ROSINHA: E qual é a graça que você quer alcançar?

CHICÓ: Uma graça tão grande que chega a ser um milagre.

ROSINHA: Aposto que era um pedido de amor.

CHICÓ: Não deixa de ser, rezei pra não morrer desse mal.

ROSINHA: Seu coração tá batendo tão forte assim?


CHICÓ: Tá quase pulando pra fora da caixa dos peito.

JOÃO GRILO ENTRA

JOÃO GRILO: O cabo e o Vincentão vieram tomar satisfação com você.

ROSINHA: Satisfação de que meu Deus!!??

JOÃO GRILO: Chicó não contou pra senhora? Que ele vai botar aqueles dois pra correr?!

ROSINHA: Se for por isso Chicó você está dispensado desse compromisso.

CHICÓ: Já que a senhora insiste.

JOÃO GRILO: Não, não, não dona Rosinha, amigo meu não fica desmoralizado.

ROSINHA: Mas com esses dois a parada é dura.

JOÃO GRILO: A senhora vai ver uma coisa. Esse aí é todo calmo, mas quando se espaia o negócio fede.

ROSINHA: Chicó!!! (gritando)

CHICÓ: Sinhora.

ROSINHA: Cuidado pra não judiar demais desses pobres.

CHICÓ: Se aperreie não, esses dois correm só com um grito de Chicó.

CABO E VINCENTÃO ESCARRAM E COSPEM.

VINCENTÃO: Tava me procurando, seu Chicó?

CHICÓ: Tava mas já encontrei, seu Vincentão.

VINCENTÃO: Pois trate de ir fazendo seu último pedido, porque tô doidinho pra te botar pra rezar no céu. (fala
pegando chico pela gola da camisa)

CABO: Oxente, homi. Esse amarelo foi quem marcou comigo, esse aqui já tem dono.

ROSINHA: O que é que tá acontecendo João? (desesperada)

JOÃO: Chicó desafiou os dois pra um duelo.

ROSINHA: duelo?

JOÃO: Sim, um duelo de 3.

VINCENTÃO: Então Chicó? Marcaste comigo ou foi com ele?

CHICÓ: Marcaste foi com os dois. Mas foi só pra dar um recado de dona Rosinha. Ela mandou dizer que adorou as
joias que os senhores mandaram pra ela e que vai usar o presente daquele que sair vecendor de um duelo.

OS DOIS VALENTÕES FICAM COM MEDO

CABO: Oxente, aí o caso exige reflexão.

CHICÓ: Tá com medo seu cabo?

CABO: Oxente, cabra. Com medo o que? Tu já viste autoridade ter medo? (fala com voz de medo)

CHICÓ: Tá preparado seu Vincentão?

VINCENTÃO: Mas agora? Não rapaz, vai assustar dona Rosinha.

CHICÓ: Que é isso? Ela tá doida pra ver alguém botar os bofe pra fora.

ROSINHA: Valha nossa Senhora! E agora?


JOÃO: Chicó começa a contar.

CHICÓ: E é um...

JOÃO: Os cabra vão andando.

CHICÓ: E é dois...

JOÃO: Quando ouvirem já se viram atirando em Chicó.

ROSINHA: Mas Chicó nem armado está.

JOÃO: Pra que? Revólver é coisa de frouxo.

CHICÓ: É três.... e é já!!

OS DOIS VALENTÕES SAEM CORRENDO COM MEDO, SE BENZENDO E CHAMANDO POR PADRE CÍCERO.

CHICÓ: Tô dizendo...uns mequetrefe desse metido a valente pra meu lado. Pronto. Os dois vão sumir no oco do
mundo.

ROSINHA: Pode se preparar pra pagar a promessa pra Nossa Senhora que seu pedido de amor foi atendido.

ROSINHA COLOCA O BROCHE

CHICÓ: Jurei que daqui pra frente só vou gostar da senhora.

OS DOIS SE OLHAM APAIXONADOS

ENCERRA O ATO IV

ATO V – SEVERINO DE ARACAJU

Após botar os valentões pra correr da cidade, Chicó ganhou a fama de corajoso e foi pedir a mão de Rosinha a
Antonio Moraes fingindo ser um rico fazendeiro. O Major Antonio Moraes prometeu dar uma porca cheinha de
dinheiro após o casamento. Para adiantar a reforma da igreja para o casamento, Antonio Moraes empresta 10.000 a
Chicó. Se ele não pagasse a dívida, o major cortaria uma tira do couro de Chicó. Para livrar Chicó dessa enrascada,
João Grilo arma mais um de seus planos. Se passar pelo temido cangaceiro Severino de Aracaju e forjar a morte de
Chicó.

JOÃO: Você vai botar essa bexiga que enchi de sangue embaixo da camisa e vai fingir que morreu, mas deixe que
você vai fugir pra bem longe. Aí Rosinha finge que ficou doida de tristeza e então vai lhe encontrar.

CHICÓ: Você já usou essa ideia de se fingir de morto e nunca tá prevenido.

JOÃO: Dessa vez cê vai morrer de morte matada na frente da igreja e de todo mundo que é pra ninguém duvidar.

CHICÓ: Quem é que vai querer me matar?

JOÃO: O cangaceiro. Você vai morrer feito herói, defendendo a cidade.

CHICÓ: E eu lá quero história com essa gente?! (fala irritado)

JOÃO: O cangaceiro sou eu...demência!! (fala irritado). Eu vou chegar disfarçado.

CHICÓ: Valha-me Nossa Senhora..se eu sair dessa..

JOÃO: Confie em mim, pode sair por aí arrotando valentia que você vai enfrentar o rei do cangaço!

JOÃO GRILO SAI DE CENA


O plano era João Grilo se passar por Severino de Aracaju e Chicó fingir que morreu enfrentando o cangaceiro, mas
João Grilo e Chicó não contavam com o verdadeiro Severino invadindo a cidade e a igreja.

CHICÓ: Seja quem foi o corno que invadiu essa igreja, venha cá pra fora que eu vou aparar os chifre. Vai conhecer o
que é um macho.

SEVERINO: Tá aí duas coisas que eu não sabia. Uma que eu era corno, outra que defunto falava.

CHICÓ CAI AJOELHADO, MORRENDO DE MEDO.

SEVERINO: Tava me desafiando, cabra safado?

CHICÓ: Eu? Desafiando? O senhor?

SEVERINO: Responda, ao invés de ficar perguntando. Falou comigo ou não falou? (puxa Chicó pela camisa e levanta)

CHICÓ: Foi engano, meu patrão.

SEVERINO: Se fosse comigo eu ia lhe deixar viver pela coragem, mas como foi engano vai morrer com os outro.

SEVERINO SAI LEVANDO CHICÓ.

PADEIRO, ESPOSA, PADRE, BISPO, CHICÓ. TODOS SENTADOS, SEVERINO APONTANDO A ARMA.

SEVERINO: Um, dois, três, quatro e cinco. Quem é o primeiro?

PADRE: Primeiro as damas.

DORA: Oxi, primeiro as damas nada, aqui só tem uma.

PADEIRO: O senhor podia começar por ordem de idade.

CHICÓ: Primeiro os mais velhos.

BISPO: Primeiro os mais jovens.

ENTRA JOÃO GRILO DISFARÇADO DE SEVERINO DE ARACAJU

JOÃO: Se prepare pra morrer. Severino de Aracaju acaba de chegar.

DORA: Oxi, e agora é dois é?

CANGACEIRO: Eita, mas se ele é o sinhô o sinhô quem é?

SEVERINO: Eu sou eu ora?

CANGACEIRO: Mas se o sinhô é o sinhô então quem é ele?

SEVERINO: Isso é o que a gente vai saber agora. Quem é esse topo de amarrar jegue?

JOÃO: Qual?

SEVERINO: Você mesmo que acabou de chegar dizendo que sou eu.

JOÃO: Acabo de chegar e já vou dando meia volta.

SEVERINO: Meia volta nada, seu arremedo de gente.

PADEIRO: Como é isso hein?

JOÃO: Isso é apenas uma visão. Vocês estão vendo dois, mas na verdade só tem um, ele. Com licença.

SEVERINO: Um momento amarelo.


JOÃO: É que já tá ficando tarde e eu tenho muito o que fazer. A vocês até logo e muito boa viagem pra todos.

SEVERINO: Nada disso! Volte aqui e venha pra morrer com os outros.

ENCERRA O ATO V

ATO VI – MORTE DE JOÃO GRILO

João Grilo passou a vida usando da esperteza e de mentiras para se safar das situações difíceis, mas parece que dessa
vez o nordestino mais sabido dessa história não vai se dar bem.

SEVERINO JOGA JOÃO E O CANGACEIRO APONTA A ARMA.

JOÃO: Um momento! Antes de morrer eu queria lhe fazer um grande favor.

SEVERINO: Qual é?

JOÃO: Dar-lhe essa gaita de presente?

SEVERINO: Uma gaita? Pra que que eu quero uma gaita? Deixe de conversa.

JOÃO: Essa gaita foi benzida por meu padrinho padre Cícero antes dele morrer.

SEVERINO: Só acredito vendo!

JOÃO: Pois não. Deixe eu ver aqui o seu punhal.

SEVERINO: Olhe lá!!! Aponte o rifle pra esse amarelo que é desse povo que tenho medo! E agora?

JOÃO: Agora eu vou dar uma punhalada na barriga de Chicó.

CHICÓ: Oxi, na minha não.

JOÃO: Homi, deixe de moleza Chicó. Depois eu toco na gaita e você vive de novo. A bexiga (fala baixo).

CHICÓ: Muito obrigado não quero não João.

JOÃO: Já disse que depois eu toco a gaita.

CHICÓ: Então vamos fazer o seguinte. Eu toco a gaita e você toma a punhalada.

JOÃO: Homi, quer saber do que mais. Vamo deixar de conversa. Tome lá! A bexiga, a bexiga! (fala baixo). Morra
desgraçado!!! (fala um pouco alto)

CHICÓ CAI SE FINGINDO DE MORTO, JOÃO TOCA A GAITA. CHICÓ AOS POUCOS VAI SE MEXENDO E POR FIM LEVANTA
DANÇANDO AO SOM DA GAITA.

SEVERINO: Valha Nossa Senhora, só mesmo tendo sido abençoada por meu padrinho padre Ciço.

FINALIZA A MÚSICA

SEVERINO: Você não tá sentindo nada?

CHICÓ: Nadinha.

SEVERINO: E antes?

CHICÓ: Tava morto. Vi Nossa Senhora e meu padrinho ciço no céu.

SEVERINO: Mas em tão pouco tempo? Como é que foi isso?

CHICÓ: Não sei, só sei que foi assim.


SEVERINO: E o que foi que padinho padre Ciço te disse?

CHICÓ: Disse assim oh, essa gaitinha que eu abençoei antes de morrer, entregue ela a severino que precisa muito
mais dela que você.

SEVERINO: Meu Deus! Só pode ter sido mesmo meu padinho padre Ciço. João, me dê essa gaita.

JOÃO: Então me solte e solte Chicó.

SEVERINO: Os outros morreram esperando por você.

JOÃO: Mas você pode conhecer seu padrinho padre Ciço.

SEVERINO: Nunca tive essa sorte.

JOÃO: Mas pode conhecer agora. O seu cabra te dá um tiro. O senhor vai visitá-lo. Aí eu toco na gaita e o sinhô volta.

SEVERINO: E se você não tocar?

JOÃO: Tá vendo que eu não faço uma miséria dessa? Garanto que eu toco.

SEVERINO: e agora eu vejo meu padrinho padre Ciço.

CHICÓ: Vê demais! Tá lá vestido de azul com uma porção de anjinho ao redor. Ele disse assim oh. Diga a severino que
eu quero vê-lo.

SEVERINO: Mais eu vou. Vamo cabra, atire!

CANGACEIRO: capitão, vamo embora. A policia tá vindo.

SEVERINO: Atire cabra frouxo.

CANGACEIRO: Não gosto de matar chefe não, mas já que tem que matar.

SEVERINO: Não esqueça de tocar na gaita. Atire!!!

O CANGACEIRO ATIRA. TENTA REANIMAR SEVERINO.

JOÃO: Deixe o capitão falar mais um pouquinho com padre Ciço.

APÓS MUITO TENTAR REANIMAR SEVERINO...

CANGACEIRO: Ah seu grilo safado. Você matou o capitão.

O CANGACEIRO SAI ATIRANDO. JOÃO TENTA PEGAR O DINHEIRO. E ATIRA EM JOÃO QUE CAI MORTO. CHICÓ CHORA E
RECITA OS VERSOS.

ENCERRA O ATO VI

ATO VII – O JULGAMENTO

Pobre de João grilo. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável. Após morrer, encontra o
padeiro, sua esposa Dora, o padre e o bispo.

DIABO: O que é? Por que essas caras de espanto? Por acaso eu sou algum monstro?

TODOS FALAM MEIO QUE SEM JEITO AO MESMO TEMPO.

BISPO: Não! Que é isso? Estamos impressionados com a sua elegância. Com a sua finura.

DORA: É verdade...parece até um artista de cinema.

PADEIRO: Acha mesmo é? Então também acho!


PADRE: Eu já lhe disse que o senhor é muito mais simpático pessoalmente?

SEVERINO: E olhe que é difícil eu gostar da cara de um sujeito assim de primeira.

DIABO: Estão vendo, eu não sou tão feito quanto parece.

JOÃO: Pode ser, mas esse cheiro de enxofre!

DIABO: Talvez o meu cheiro esteja incomodando vocês.

TODOS FALAM NÃO MEIO SEM JEITO

DORA: Não, eu acho até meio bonzinho.

JOÃO: Pois eu tô em ponto de ter um ataque com esse fedor. Eu no lugar dele tomava um banho pra ver se diminui
essa inhaca.

O DIABO SE IRRITA E TENTA LEVAR A TODOS PRA O INFERNO. TODOS TENTAM SE SEGURAR.

JOÃO: Que raio de tribunal é esse que não tem apelação. Eu sempre ouvi dizer que uma pessoa antes de ser
condenada ela tem que ser ouvida.

DIABO: Besteira, maluquice.

JOÃO: Besteira ou maluquice eu apelo pra quem pode mais. Valei-me meu nosso senhor, jesus cristo

DIABO: Quem é? Emanuel?

JESUS: Sim, Emanuel! O leão de judá. Filho de Davi. Venham todos, pois vão ser julgados.

JOÃO: Eu não quero faltar com respeito a uma pessoa tão importante, mas se não me engano aquele sujeito acaba
de chamar o senhor de Emanuel.

JESUS: Foi isso mesmo João. Esse é um dos meus nomes, mas você pode me chamar de Jesus, de Senhor, de Deus.

JOÃO: Mas espere. O senhor é que é Jesus?

JESUS: Isso mesmo! Sou por quê?

JOÃO: Não é lhe faltando com o respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito menos queimado.

BISPO: Cale-se!

JESUS: Cale-se você! Você estava mais espantando que ele e só escondeu sua admiração por prudência mundana. O
tempo da mentira já passou.

JOÃO: Muito bem. A cor pode não ser das melhores, mas o senhor fala bem que faz gosto.

JESUS: Muito obrigado, João. Mas você também é cheio de preconceito de raça. Eu vim hoje assim de propósito
porque eu sabia que isso ia despertar comentários. E você, vire de frente. (dirigindo-se ao diabo)

DIABO: Tô bem assim.

JESUS: Como quiser! Faça seu relatório começando pelo bispo.

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