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Curso: Corpo e violência de gênero no audiovisual brasileiro contemporâneo sobre o

cangaço: fantasias de vingança e paisagens utópicas (4h)


Profa. Dra. Daiany Ferreira Dantas

Ementa: O tropo do corpo ainda evidencia marcas de projeções, fantasias, vinculações


e desterritorializações no campo dos afetos que o audiovisual proporciona. No cinema
nacional, assim como na Literatura, existe uma disputa histórica por um cenário que
deflagra marcas estruturais de nosso passado colonial, discrepâncias, dominações e
processos de precarização da vida que mascaram e negam paisagens históricas e
humanas. Uma das marcas narrativas que emerge no cenário de obras contemporâneas,
na disputa por cenas de violência que exibam marcas estruturais de poder e lutos
históricos coloniais é da fantasia de vingança, um arco simbólico que surge no cinema
dos anos 1990 como catarse política antissistêmica. Partindo dos conceitos de
enquadramento (Butler, 2017) e necropolítica (Mbembe, 2019) e das propostas de
Segato (2012) sobre chaves decoloniais para a análise da categoria gênero. Nas visões
que o audiovisual contemporâneo oferece sobre os trânsitos de gênero e as
corporeidades que emergem no cenário do cangaço e do sertão nordestino, percebemos
reivindicações de dissidências, utopias, assincronias políticas e trajetórias que
emolduram fantasias de vingança. É o que percebemos na análise com enfoque na
disputa pelo biopoder, sob o escopo do corpo gendrado, em obras como Bacurau (2019)
e Cangaço Novo (2023).
Objetivo geral: Discutir o conceito de violência de gênero e violência a partir das
identidades de gênero vistas no audiovisual recente sobre o cangaço, nas obras Bacurau
(2019) e Cangaço Novo (2023); Investigar o conceito de enquadramento e as noções de
biopoder a partir de reconfigurações afetivas da imagem, em fabulações críticas e
fantasias de vingança que buscam clímax subvertendo paradigmas estruturantes da
precarização do gênero; Analisar o quadro da masculinidade como gênero hegemônico e
a subversão das identidades de gêneros nos arcos narrativos das duas obras. Discutir o
contexto do cangaço no cinema brasileiro.
Metodologia: Aulas expositivo-dialogadas, leitura e visualização prévia das obras,
exibição de trechos para o debate.
Conteúdo programático:

1. Gênero, violência e memória política no contexto da audiovisualidade sobre


o cangaço (O cangaceiro, Cinema Novo, remakes e novelas).
2. A questão do Nordeste – a abordagem do coronelismo e do feminicídio
como políticas de honra.
3. Biopoder, vidas passíveis de luto e fantasias de vingança no audiovisual
contemporâneo.
4. As políticas emancipatórias e as utopias de gênero em Bacurau.
5. A fantasia de vingança de Dinorá, em Cangaço Novo, uma Diadorim
contemporânea.
Referências
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras
artes. São Paulo: Cortez, Recife, Massangana, 1999.

______. Nordestino: uma invenção do falo: uma história do gênero masculino


(Nordeste — 1920/1940). Maceió, Catavento, 2003.

CAETANO, Maria do Rosário. Cangaço – O Nordestern no Cinema Brasileiro.


Brasília: Avathar, 2005.
FERREIRA, Carolin Overhoff; NAFAFÉ, José Lingna. Resistência, necropolítica e
fantasias de vingança–Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano
Dornelles. Rebeca-Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, v. 10, n. 2, p.
244-276, 2021. Disponível em: https://rebeca.socine.org.br/1/article/view/719. Acesso
em 25 Ago. 2023.
HARTMAN, S. Vênus em dois atos. Revista Eco-Pós, [S. l.], v. 23, n. 3, p. 12–33,
2020. DOI: 10.29146/eco-pos.v23i3.27640. Disponível em:
https://revistaecopos.eco.ufrj.br/eco_pos/article/view/27640. Acesso em: 18 set. 2023.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte e Ensaios, n. 32, 2016, p. 123-151. Disponível
em: https://www.procomum.org/wp-content/uploads/2019/04/necropolitica.pdf.
Acessado em: 2 de junho de 2020.
PAQUET, Lili. The Corporeal Female Body in Literary Rape–Revenge: Shame,
Violence, and Scriptotherapy. Australian Feminist Studies. 33. 1-16, 2018. Disponível
em:
https://www.researchgate.net/publication/328348221_The_Corporeal_Female_Body_in
_Literary_Rape-Revenge_Shame_Violence_and_Scriptotherapy/citation/download.
Acesso em 25 Ago. 2023.
SEGATO, Rita Laura. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um
vocabulário estratégico descolonial», e-cadernos CES [Online], 18 | 2012, posto online
no dia 01 dezembro 2012, consultado o 17 setembro 2023. URL:
http://journals.openedition.org/eces/1533; DOI: https://doi.org/10.4000/eces.1533

SHOHAT, Ella; STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica: multiculturalismo e


representação. São Paulo: Cosac Naify, 2006.

XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: Cinema Novo, Tropicalismo,


Cinema Marginal. São Paulo: Cosac & Naify, 2013.

Obras recomendadas

BACURAU. Direção: Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles. Produção de


Emilie Lesclaux,Saïd Ben Saïd e Michel Merkt. Recife: SBS Productions, Globo
Filmes, Cinemascópio, 2019. 132 min.
CANGAÇO NOVO. Direção: Fabio Mendonça; Ali Muritiba. Produção de: Fábio
Mendonça, Aly Muritiba, Izzy Naconesky, Andrea Barata Ribeiro , Bel Berlinck, Yana
Chang, Gustavo Gontijo, Wellington Pingo. Ceará: O2 Filmes, Amazon Prime Video,
2023. 8 episódios.

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