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ACIONAMENTOS

ELÉTRICOS

Ruahn Fuser
Chaves de partida
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar as características de partidas de motores elétricos (partida


direta, estrela- triângulo e compensadora).
„„ Reconhecer o esquema de ligação das diferentes chaves de partida.
„„ Descrever chaves de partida de motores elétricos.

Introdução
Presentes em praticamente qualquer processo industrial moderno, os
motores elétricos são encontrados em aplicações que vão desde pe-
quenos aparelhos eletrodomésticos até grandes máquinas industriais,
uma variedade de aplicabilidade que levou ao desenvolvimento de
diversos tipos de motores com níveis de potência diferentes. Para vencer
a inércia, motores maiores e com elevados níveis de potência demandam
maiores correntes em sua partida, chegando a ser cerca de 10 vezes sua
corrente nominal, o que resulta em um alto consumo de energia, além
da necessidade do dimensionamento de condutores e dispositivos de
proteção mais robustos. Para diminuir a corrente inicial requerida pelos
motores, são realizadas algumas manobras — as partidas indiretas. Já em
motores de menor potência, é comum a utilização da partida direta. Neste
capítulo, serão abordadas as principais características dessas partidas,
além da lógica por trás de cada uma delas e como são representadas
em diagramas elétricos.
2 Chaves de partida

Partidas de motores
Existem diversas maneiras para fazer partir um motor elétrico trifásico: esco-
lher a maneira mais adequada para cada situação representa uma competência
essencial para profissionais da área elétrica, sempre visando à segurança, à
eficiência e à minimização dos custos.

Partida direta
Maneira mais simples de fazer partir um motor trifásico, na partida direta as
três fases provenientes da rede de distribuição elétrica, após passarem pelos
dispositivos de proteção, são ligadas diretamente aos enrolamentos do motor,
fornecendo a ele tensão nominal.
Esse tipo de partida apresenta projeto e montagem relativamente simples,
além de um conjugado nominal na partida, ainda que essa ligação impossibilite
um aumento de velocidade lento e progressivo.
Para vencer a inércia inicial do motor, a corrente de pico (Ip) requerida na
partida direta normalmente varia entre seis e oito vezes a corrente nominal do
motor (In), podendo chegar, em alguns casos, a dez vezes a corrente nominal.
Esse pico de corrente é um problema para a instalação, causando queda de
tensão e sobrecarregando a rede e os dispositivos de segurança mal dimen-
sionados. Dessa forma, a partida direta é somente indicada para motores de
menor potência, normalmente abaixo de 5 cv em unidades consumidoras
atendidas em baixa tensão, sendo importante sempre seguir a orientação da
concessionária de energia local.
A Figura 1 apresenta a curva de corrente durante a partida do motor, saindo
da inércia até chegar à sua velocidade nominal.
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In

In

Figura 1. Gráfico corrente × velocidade do motor


em partida direta.
Fonte: Adaptada de Franchi (2008).

Partida estrela-triângulo
Trata-se de um tipo de partida que utiliza duas possíveis formas de fecha-
mento das bobinas dos motores, portanto só é possível fazê-la em motores
que apresentam seis terminais de ligação e duas tensões nominais, uma para
cada fechamento. Durante a partida, o fechamento empregado é o de menor
tensão, em estrela. Após alcançar uma velocidade próxima a 90% da velocidade
nominal, a ligação é comutada para a ligação de maior tensão, ficando com o
fechamento das bobinas em triângulo e fornecendo tensão nominal ao motor.
Durante a partida, os enrolamentos do motor estão ligados em estrela, uma
ligação que diminui em aproximadamente 58% a tensão fornecida ao motor em
relação à tensão nominal, possibilitando uma redução de 33% na corrente de
partida. Contudo, essa redução também se aplica ao seu conjugado, tornando
essa ligação recomendável apenas em motores com partidas em vazio ou se
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o conjugado da carga no eixo for inferior ao conjugado de partida durante a


ligação em estrela.
Segundo Mamede Filho (2017), caso a comutação ocorra antes de o motor
atingir 90% da velocidade nominal, a corrente na partida (Ip’) ficará próxima da
corrente de pico em partida direta (Ip), contrariando o objetivo dessa manobra.
Portanto, torna-se necessário observar com atenção o tempo de partida do
motor que será utilizado, para configurar corretamente o tempo de comutação
da partida.
A Figura 2 demonstra a curva da corrente de partida em estrela-triângulo
com relação à partida direta.

In

In

Figura 2. Gráfico comparativo corrente × velocidade do


motor em partida direta e estrela-triângulo.
Fonte: Adaptada de Franchi (2008).
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Partida compensadora
Assim como na partida estrela-triângulo, para reduzir a corrente de pico
durante a partida, a estratégia consiste em reduzir a tensão de alimentação
durante esse estágio, para o qual se emprega um autotransformador ligado
em série com as bobinas do motor.
Os terminais inferiores do autotransformador são conectados em estrela, e,
pelo fato de esse tipo de transformador dispor de derivações (TAP) ao longo
de um de seus enrolamentos, é comum obter tensões de 50%, 65% e 80% da
tensão de fase aplicada a ele. Dessa forma, é possível controlar a tensão e,
consequentemente, a corrente durante a partida.
O conjugado desenvolvido durante a partida também é reduzido de acordo com
a tensão do TAP escolhido, ou seja, o TAP de 50% só deve ser aplicado a motores
que partam a vazio ou com cargas que necessitem de baixo conjugado no eixo.
A Figura 3 demonstra a curva da corrente de partida compensadora com
relação à partida direta.

In

In

Figura 3. Gráfico corrente × velocidade do motor em partida compensadora.


Fonte: Adaptada de Franchi (2008).
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A identificação das diferenças entre as chaves de partida é essencial para


a tomada de decisão em uma situação prática. As partidas apresentadas aqui
apresentam características de corrente e conjugado de partida, que, de acordo
com a situação, se enquadram melhor em uma situação de aplicação. Contudo,
além de conhecer o comportamento de cada partida, é importante saber como
dimensionar os componentes para cada uma delas.

Segundo a NBR 5410, a queda de tensão durante a partida de um motor não deve
ultrapassar 10% de sua tensão nominal no ponto de instalação do dispositivo de
partida correspondente. Contudo, segundo a mesma norma, em casos específicos,
pode-se adotar uma queda de tensão superior a 10% (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2008).

Diagramas elétricos das chaves de partida


Utilizam-se diagramas elétricos para descrever toda partida, sendo comum
dividi-los em duas partes: diagrama de comando, responsável pela lógica de
controle da partida, indicando quais componentes serão acionados e em que
ordem isso ocorrerá; e diagrama de potência, responsável pela identificação de
cada fase e de qual será o esquema de fechamento das bobinas do motor. Em
um diagrama, cada um dos equipamentos utilizados na partida é representado
por um símbolo, explicados a seguir conforme cada partida.

Partida direta
O diagrama elétrico da partida direta representado na Figura 4 mostra, na
parte de potência, as três fases provenientes da rede e o terra (L1, L2, L3, PE),
três fusíveis responsáveis pela proteção contra curto-circuito, os contatos de
potência do contator, um relé térmico para proteção do motor contra sobrecarga
e, finalmente, o motor elétrico trifásico.
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Figura 4. Partida direta: (a) diagrama de potência; (b) diagrama de comando.

O diagrama de comando é alimentado por duas fases, protegidas contra


curto-circuito por fusíveis. Os contatos 95 e 96 do relé térmico atuam na
abertura do circuito em caso de sobrecarga. E dois botões são responsáveis
por ligar e desligar o circuito, respectivamente, o B1 (NA) e p B0 (NF). Toda
lógica se dá por meio desses dispositivos em conjunto com o contator K1.
Quando se aciona o B1, a bobina de K1 é energizada e seus contatos 13 e 14
são fechados, permitindo a passagem de corrente até a bobina de K1 — essa
ligação, conhecida como contato de selo, permite que o circuito se mantenha
ligado após o botão B1 ter sido liberado, voltando ao seu estado inicial.
Assim que a bobina de K1 é energizada, os contatos de potência são fecha-
dos, possibilitando a passagem de corrente da rede até o motor. Dessa forma,
o circuito se mantém até que o botão B0 seja pressionando, interrompendo
a corrente no circuito de comando e abrindo os contatos de K1, ou até que
ocorra uma falha.
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Dimensionamento em partida direta


Para o dimensionamento dos dispositivos utilizados na partida direta, é ne-
cessário observar os dados de placa do motor em questão — corrente nominal
(In), potência e frequência —, além de definir a tensão de alimentação do
circuito de comando.

Dimensionamento do contator
A corrente nominal do contator (Ie) deve ser projetada de acordo com a corrente
nominal do motor (In); dessa forma:

Ie ≥ In

Dimensionamento do relé térmico


Assim como o contator, basta observar a corrente nominal do motor: com o
auxílio do catálogo do fabricante, escolhe-se o que se adequa a essa faixa de
corrente, além da compatibilidade com o contator.

Dimensionamento dos fusíveis


Inicialmente, os fusíveis do circuito de potência devem suportar a corrente de
pico da partida direta (Ip) durante o tempo de partida (Tp). Dessa forma, faz-se
necessário consultar a curva característica fornecida pelo fabricante e, assim,
escolher o fusível que se adequa aos valores de Ip e Tp. A Figura 5 mostra um
caso hipotético em que Tp = 2 segundos e Ip = 67 ampères (A).
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Figura 5. Exemplo de curva característica de um fusível.

Nesse caso, a corrente do fusível (If) indicado é de 50 A. Além disso, a


corrente do fusível deve ser superior em 20% à corrente nominal do motor.

If ≥ 1,2In

Por fim, os fusíveis precisam garantir a proteção dos equipamentos de


comando. Dessa forma, a corrente If deve ser inferior à corrente do contator
(IK1) e do relé térmico (If ).
RT

If ≤ IK1
If ≤ If
RT
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Partida estrela-triângulo
A comutação da ligação estrela-triângulo é feita com o auxílio de um relé de
tempo e contatores, conforme o diagrama da Figura 6.

Figura 6. Partida estrela-triângulo: (a) diagrama de potência; (b) diagrama de comando.

Quando acionado o botão B1, o contato de selo mantém o circuito operante,


permitindo passagem de corrente para as bobinas do contator K1 e do relé
de tempo RT. Pelos contatos 55 e 56 de RT, a bobina de K3 é energizada, e,
dessa forma, o motor está com fechamento em estrela.
Passado o tempo configurado em RT, seus contatos 67 e 68 se fecham,
energizando a bobina de K2; assim, os contatos 11 e 12 de K2 se abrem,
interrompendo a passagem de corrente para a bobina de K3 e o motor está
com fechamento em triângulo.
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Dimensionamento dos contatores


O contator K1 deve ter dois contatos normalmente abertos (NA), e os contatores
K2 e K3, um contato NA e um normalmente fechado (NF).
Durante o período em que o motor está com fechamento em triângulo, K1
e K2 atuam, caso em que a corrente nominal é igual à corrente de linha IL:

In = IL

Já a relação entre a corrente em triangulo (It) e a corrente de linha é dada por:

Assim, a corrente que circula em K1 e K2 é:

It = IK1 = IK2 = 0,58In

Como K3 conduz corrente apenas durante o fechamento em estrela, a


corrente que circula por ele é dada por:

Dimensionamento do relé térmico


Nesse caso, basta observar a corrente nominal do motor e, com o auxílio do
catálogo do fabricante, escolher o que se adequa a essa faixa de corrente, além
da compatibilidade com o contator.
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Dimensionamento dos fusíveis


Primeiro, os fusíveis do circuito de potência devem suportar a corrente de
partida (Ip´) durante o tempo de partida (Tp), sendo Ip´:

Ip’ = 0,33Ip

Dessa forma, faz-se necessário consultar a curva característica fornecida


pelo fabricante e, assim, escolher o fusível que se adequa aos valores de Ip e
Tp, verificando sempre as três condições apresentadas a seguir.

If ≥ 1,2In

If ≤ If
K1

If ≤ If
RT

Partida compensadora
Observando os diagramas de potência e comando, representados na Figura 7,
é possível compreender como se faz a comutação. Quando se aciona o botão
B1, a bobina do contator K3 é alimentada; na parte de potência, isso resulta
no fechamento do enrolamento secundário do autotransformador. Já na parte
de comando, aciona a bobina do contator K2, que, por sua vez, conecta o
autotransformador a rede. Os contatos de selo de K2 e K3 mantêm o circuito
operando. Com K2 energizado, a parte de potência entrega aos terminais
do motor o nível de tensão de acordo com o TAP escolhido. Já na parte de
comando, o relé de tempo é acionado.
Quando é atingido o tempo programado no relé de tempo RT, os contatos
15 e 16 comutam, cortando a corrente que vai para a bobina de K3. Dessa
forma, pelos contatos NF 21 e 22, a bobina de K1 é acionada, o que implica
o corte de corrente para a bobina de K2. Na parte de potência, isso acarreta
a ligação direta do motor à rede pelos contatos de K1; assim, o motor está
operando com tensão nominal.
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Figura 7. Partida compensadora: (a) diagrama de potência; (b) diagrama de comando.

Para escolher a melhor opção entre os TAP disponíveis, é fundamental


conhecer o conjugado imposto pela carga ao eixo do motor. A relação entre o
conjugado de partida e o TAP escolhido está relacionado no Quadro 1.

Quadro 1. Conjugados de acordo com TAPs de autotransformadores comerciais

TAP de transformação (a) a2 Percentual de conjugado nominal

0,5 0,25 25%

0,65 0,4225 42,25%

0,8 0,64 64%

Fonte: Adaptado de Franchi (2008).


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Dimensionamento dos contatores


Pelo fato de o contator K1 ser responsável por conectar o motor diretamente
à rede, a corrente IK1 é igual à corrente nominal do motor; portanto:

IK1 ≥ In

A corrente IK2 depende do TAP selecionado e é representada por:

IK2 = K2 ∙ In

Já a corrente IK3 é definida por:

IK3 = In ∙ (K – K2)

Sendo K o fator de redução mostrado no Quadro 2.

Quadro 2. Contatores a partir da relação de TAPs dos autotransformadores

TAPs do autotransformador IK2


Fator de redução (K) IK3
(%Vn) (%In)

85 0,85 72 13

80 0,80 64 16

65 0,65 65 23

50 0,50 50 25

Fonte: Adaptado de Franchi (2008).


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Dessa forma, ao observar o catálogo de fabricantes, as correntes admitidas


por K1, K2 e K3 devem ser:

Ie1 ≥ In

Ie2 ≥ K2 × In

Ie3 ≥ (K – K2) × In

Dimensionamento do relé térmico


Por meio do catálogo do fabricante, deve-se escolher um relé cuja corrente de
operação seja maior que a corrente nominal do motor.

Dimensionamento dos fusíveis


Novamente, é necessário observar a curva de atuação dos fusíveis em relação
à corrente de pico na partida (Ip) e o tempo de partida (Tp), lembrando que a
corrente de pico na partida compensadora é reduzida pelo fator K2. Assim, se
estiver sendo utilizado o TAP de 80%, com K igual a 0,8, a corrente de pico
na partida será:

Ip′ = Ip × K2

Sabendo da diversidade de aplicações que um motor tem em uma planta


industrial, torna-se imprescindível o conhecimento de como trabalhar com tais
máquinas. É importante entender os conceitos teóricos de cada metodologia
de partida a fim de poder dimensionar de maneira precisa cada um de seus
elementos. As partidas estrela-triângulo e compensadora são muito utilizadas
para reduzir a corrente de partida em máquinas de alta inércia, e a partida
direta contribui com um baixo custo e dispõe de dispositivos de segurança que
não possibilitam que a máquina retorne ligada após uma queda de energia.
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Atualmente, equipamentos como disjuntor motor somam a um mesmo dispositivo


as características de proteção contra curto-circuito, sobrecarga e seccionamento.
Informações mais detalhadas sobre outros dispositivos podem ser encontradas no
livro Motores elétricos e acionamentos, de Frank D. Petruzella.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5410: Instalações elétricas


de baixa tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2008. 209 p.
FRANCHI, C. M. Acionamentos elétricos: motores elétricos, diagramas de comando, chaves
de partida, inversores de frequência e soft-starters. 4. ed. São Paulo: Érica, 2008. 250 p.
MAMEDE FILHO, J. Instalações elétricas industriais. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. 964 p.

Leituras recomendadas
FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY JUNIOR, C.; UMANS, S. D. Máquinas elétricas: com introdução
a eletrônica de potência. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. 648 p.
PETRUZELLA, F. D. Motores elétricos: e acionamentos. Porto Alegre: AMGH; Bookman,
2013. 372 p. (Série Tekne).

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