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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 LIFE DESIGN: O PARADIGMA DA CONSTRUÇÃO DO EU E DA


CARREIRA .................................................................................................................. 4

3 O TRILHO DA CARREIRA NA PERSPECTIVA ATUAL DA PSICOLOGIA


VOCACIONAL ............................................................................................................. 5

3.1 Trabalho e Globalização....................................................................... 8

4 CONSTRUÇÃO DE VIDA ......................................................................... 11

5 PRESSUPOSTOS DO PARADIGMA LIFE DESIGN ................................ 14

5.1 Dos Traços e Estados ao Contexto .................................................... 15

5.2 Da Prescrição ao Processo ................................................................ 16

5.3 De Uma Causalidade Linear às Dinâmicas Não Lineares .................. 17

5.4 Dos Fatos Científicos às Realidades Narrativas................................. 19

5.5 Da Descrição à Modelagem ............................................................... 20

6 INTERVENÇÕES NA CONSTRUÇÃO DA VIDA ...................................... 21

6.1 Ao Longo de Todo o Ciclo Vital .......................................................... 22

6.2 Holística.............................................................................................. 22

6.3 Contextual .......................................................................................... 23

6.4 Preventiva .......................................................................................... 23

7 OBJETIVOS DA INTERVENÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA VIDA.............. 24

7.1 Adaptabilidade .................................................................................... 24

7.2 Narrabilidade ...................................................................................... 25

7.3 Atividade............................................................................................. 27

7.4 Intencionalidade ................................................................................. 28

8 MODELO DE INTERVENÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA VIDA .................. 29

1
9 UM PARADIGMA CONTEMPORÂNEO EM ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL E DE CARREIRA ................................................................... 32

2
1 INTRODUÇÃO

Prezado Aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 LIFE DESIGN: O PARADIGMA DA CONSTRUÇÃO DO EU E DA CARREIRA

Este paradigma foi apresentado na publicação de Mark Savickas e seus


colaboradores no ano de 2009. O modelo atual é baseado em:

“Teorias de construção do Self (Guichard, 2005) e da construção da carreira


(Savickas, 2005) que descrevem o comportamento de carreira e seu
desenvolvimento. Assim, a estrutura geral está organizada de maneira a
considerar todo o ciclo de vida, a ser holística, contextual e preventiva”
(MARTINS & COL., 2018).

A ideia deste modelo de intervenção de carreira, compreendido na língua


portuguesa como paradigma da construção da vida (Duarte & cols., 2010), não tem
por objetivo substituir os paradigmas anteriores, de orientação vocacional e de
construção de carreira, colocado em prática nas últimas décadas, mas é paralelo a
estes.

Fonte: kuau.com.br

No ano de 2012, Savicks publicou um trabalho no qual caracterizou o Life


Design como “o paradigma para a intervenção de carreira no século XXI”. O autor
considera a intervenção ocupacional na perspectiva do construtivismo social, na qual
o indivíduo é o autor de sua experiência e é caracterizado por uma história
autobiográfica que pode ajudá-lo a refletir sobre questões da vida e a construir sua
própria carreira (Martins, 2015).
Nesse sentido, o novo paradigma se baseia na necessidade de mudar o modelo
de carreira e os métodos de consultoria conduzidos anteriormente. No entanto, como
4
mencionado anteriormente, o paradigma anterior ainda pode ser dinâmico. Como por
exemplo, Martins (2015), menciona que os profissionais e agentes educativos, como
professores e psicólogos, poderão aplicar intervenções profissionais que refletem
diferentes abordagens de paradigma aos seus jovens ou estudantes.
De forma especifica, a ideia é que conforme as necessidades de diagnóstico
dos jovens, fornecer orientação profissional para identificar ajustes ou
incompatibilidades na carreira e educação profissional para promover a identidade ou
o desenvolvimento da vida profissional, como o nome sugere, estabelecer vida e
carreira relacionadas (Savickas, 2012).
Life Design é um paradigma, resultado do conhecimento evolutivo existente
nas perspectivas teóricas da construção e desenvolvimento vocacional e de carreira.
Retrata o status atual dos problemas e desafios socioeconômicos e culturais que os
indivíduos enfrentam na construção de suas vidas de acordo com o mundo do trabalho
e com diferentes contextos. Em vista da adaptabilidade, flexibilidade e gerenciamento
da dinâmica socioeconômica que ocorre constantemente na vida pessoal, esse novo
nome atualiza o conceito de construção de carreira e aproxima-o do conceito de vida
moderna. (Martins, 2015).
Este é um modelo teórico que enfatiza a importância de "dar sentido à vida"
para melhor entender e lidar com a dinâmica e as características situacionais dos
indivíduos (Taveira, 2011).

3 O TRILHO DA CARREIRA NA PERSPECTIVA ATUAL DA PSICOLOGIA


VOCACIONAL

Observar e explorar caminhos profissionais nem sempre foi tão complicado


como é hoje. As sucessivas modificações sociais relativas aos ajustes econômicos,
culturais e tecnológicos afetaram o modelo teórico da psicologia profissional, que
evoluiu à medida que os indivíduos se adaptam às necessidades do ambiente de
trabalho.
Para Alves (2012), a partir do século XX, especialmente após a Segunda
Guerra Mundial, as pessoas sofreram gradualmente a destruição do mercado de
trabalho. Mesmo assim, no decorrer do século XX, os indivíduos ainda dependiam de

5
uma trajetória de carreira segura e se envolviam em trabalho permanente,
possibilitando assim o desenvolvimento de uma carreira no contexto da organização
(Savickas, 2012; Duarte, 2009).
No entanto, desde o início do século XXI, com o advento da revolução digital e
a chegada de uma nova forma de capitalismo mundial, ou seja, o relaxamento do uso
de capital e trabalho, levou a um aumento da insegurança e do desemprego.
Especificamente, o efeito associado à incorporação do trabalho do conhecimento é
que os indivíduos não se tornam mais mediadores do processo de produção, mas se
tornam o corpo principal e os participantes do processo de produção (Amorim, 2013).

Fonte: fia.com.br

No ambiente econômico, as organizações empresariais remodelaram o uso de


capital e mão de obra, essa última passando a ser qualificada para integrar o trabalho
(Alves, 2012), e os custos associados são bastante reduzidos, e o mercado de
trabalho se torna instável e temporário. Nesse sentido, em termos de adaptabilidade
e flexibilidade das condições e ambientes de trabalho, aumentou a demanda pelas
qualidades técnicas e pessoais dos sujeitos. A inevitabilidade de "mercado de trabalho
instável, personalização, trabalho remunerado reduzido, maior insegurança” (Alves,
2012) tornou-se o fator decisivo que desencadeia a nova era social do mundo do
trabalho.

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O (des)equilíbrio da vida profissional tem um impacto na vida pessoal e familiar
de um indivíduo, se tornando necessário (re)pensar suas habilidades e ambições
(Duarte & cols., 2010). As pessoas não apenas precisam estar no local de trabalho
como de costume, mas também com a vida pessoal e familiar para apoiar a visão e o
desenvolvimento de sua carreira.
Atualmente, no "plano econômico global, o mundo pós-moderno apoiado pela
tecnologia da informação", o desenvolvimento e gerenciamento de carreira exigem
uma visão da vida. (Duarte & cols., 2010). Em outras palavras, na reflexão atual, a
chamada era moderna líquida (Bauman, 2001; Guichard, 2012), sendo tarefa da
psicologia vocacional ajudar os indivíduos a imaginar e refletir sua trajetória de vida.
Especificamente, auxiliando-os a projetar e construir suas vidas gradualmente,
incluindo planos de carreira (Duarte & cols., 2010).
Ao longo desses caminhos, a satisfação no contexto da formação profissional
pode ser entendida como um senso de identidade, e os ajustes na área de treinamento
se traduzem em uma sensação de bem-estar e comprometimento. (Bradagi,
Lassance, Paradiso, & Menezes., 2006).
Observando as necessidades do século XXI de uma perspectiva mais
abrangente e específica, percebe-se que os indivíduos, particularmente, possuem
dúvidas relacionadas ao o que ser ou fazer da vida. O objetivo da psicologia
vocacional não é apenas encontrar respostas profissionais, mas também prestar
atenção a preocupação dos antepassados, ou seja, ajudar os indivíduos a
desenvolver sua busca pelo significado da vida sob adversidade (Frankl, 1988 apud
Martins e col., 2018)), como um procedimento incluso no ciclo de vida (Savickas,
2012). Em outras palavras, hoje, o papel da psicologia vocacional é auxiliar os
indivíduos a encontrar as melhores oportunidades com base em seus interesses e
habilidades. Como refere Andrade, Meira e Vasconcelos (2002), esse posicionamento
deve acompanhar o processo educacional e cooperar com ele, não apenas para
atender às suas possíveis necessidades.
No curso da trajetória da vida, surgiu uma nova relação entre os indivíduos
"trabalhadores e o mundo do trabalho desencadearam a necessidade de desenvolver
e aplicar novos equipamentos para promoção pessoal" (Duarte & cols., 2010). Ou
seja, considerando os desafios (como um novo emprego, uma nova experiência de
aprendizado) ou os possíveis riscos (como desemprego, trabalho de meio período ou
7
temporário, divórcio), os indivíduos devem considerar essas situações como
oportunidades para aprender e refletir sobre a participação em um projeto pessoal de
Life Design (Savickas & cols., 2009) ou Construção da Vida (Duarte & cols., 2010).
Nas palavras de Duarte:

A carreira do indivíduo é vista, agora, como um fiel registo da vida de cada


um, deriva da maneira como ele capta a realidade e a ela se adapta, sem de
algum modo atraiçoar a sua essência, ou seja, os traços essenciais da sua
personalidade e as linhas estruturantes da sua história pessoal – que, como
qualquer obra do espírito humano, é única e irrepetível (DUARTE, 2009).

3.1 Trabalho e Globalização

Fonte: slacoaching.com.br

No início do século XXI, com a inovação organizacional do trabalho, surgiu uma


série de perguntas e desafios para especialistas que trabalham auxiliando as pessoas
a desenvolver suas vidas profissionais.
A internacionalização da orientação profissional levou especialistas de todo o
mundo a investigar a importância transnacional de suas teorias e técnicas. Essa
reflexão ocorreu no contexto da globalização da economia e do rápido progresso no
campo da tecnologia da informação. A consideração sobre modelos e métodos de
intervenção profissional do século XX mostrou que é necessária uma nova abordagem
para atender às demandas dos clientes do século XXI que vivem em sociedades
baseadas no conhecimento.

8
A expansão das profissões e a diversificação do trabalho remunerado
tornaram-se, sem dúvida, uma das consequências mais características da
industrialização que ocorreu no início do século XX. Em conexão com a nova
organização social do trabalho, havia a necessidade de ajudar as pessoas a encontrar
e negociar o trabalho contratado. Práticas pioneiras no campo da orientação
profissional, consideradas uma "micro ferramenta para o Estado Industrial" (Arthur,
Inkson, & Pringle, 1999), promoveu as noções de dependência hierárquica e
relacionamentos estáveis. Como resultado, um funcionário leal e dedicado pode
aspirar a trabalhar pelo resto da vida, ao qual a organização responderá oferecendo
segurança no trabalho. Ao longo do século XX, normas e aspirações sociais limitaram
suas carreiras a um formato em que a ordem social assegurava padrões predefinidos
nos quais os indivíduos podem fazer escolhas que lhes convierem.

Dada a globalização do aconselhamento de carreira, decidimos, num fórum


internacional, abordar estas questões para, então, formular respostas
potencialmente inovadoras. Utilizamos este formato para evitar as
dificuldades advindas de criar modelos e métodos em um país e depois tentar
exportá-los para outros países nos quais deverão ser adaptados para uso.
(SAVICKAS E COLS. 2009)

Essa colaboração internacional, possibilitou a construção de um modelo e


métodos de aconselhamento. O modelo de construção de vida usado para entender
as carreiras baseia-se em cinco suposições sobre as pessoas e suas vidas
profissionais: possibilidades relacionadas à situação, processos dinâmicos,
desenvolvimento não linear, perspectivas múltiplas e modelos pessoais.
Com base nessas premissas, foi criado um modelo contextual baseado na
epistemologia do construcionismo social, reconhecendo, em particular, que o
conhecimento e a identidade de uma pessoa são um produto da interação social e
que esse significado é construído através do discurso. Assim, a base conceitual
refere-se ao ciclo vital como um todo, é holística, contextual e preventiva.
Para Savickas e cols. (2009) os conceitos básicos da teoria da carreira do
século XX e das técnicas de aconselhamento de carreira precisam ser reformulados
para se adaptar à economia pós-moderna. As abordagens atuais são insuficientes:

Em primeiro lugar, estão radicadas em pressupostos de estabilidade das


características individuais e empregos seguros em organizações bem
delimitadas. Em segundo lugar, elas conceituam os percursos profissionais
como uma sequência ordenada de estágios. Conceitos como identidade
9
vocacional, planejamento de carreira, desenvolvimento de carreira e estágios
de carreira são utilizados para predizer o ajustamento da pessoa aos
contextos de trabalho, pressupondo uma estabilidade relativamente elevada
do contexto e do comportamento individual. SAVICKAS E COLS, 2009).

Contudo, mesmo no caso do paradigma positivista, fatores individuais, como


interesses profissionais, parecem ser menos estáveis do que supõem as teorias das
personalidades profissionais tais como a de Holland (1973 apud Savickas et al. 2009).
Poucos estudos que examinaram a possível estabilidade de interesses profissionais
foram conduzidos em contextos relativamente estáveis (Rottinghaus, Coon, Gaffey, &
Zytowski, 2007). Não é de admirar, então, que haja relações significativas entre traços
individuais medidos na adolescência e comportamento profissional subsequente em
um contexto social estável que favorece carreiras lineares. Além disso, não apenas
imaginando uma carreira como meta-narrativa sobre estágio, as teorias do século XXI
devem tratar a carreira como um cenário individual. As etapas da carreira
estabelecidas nas teorias existentes (Super, 1957 apud Duarte et al 2010) são
amplamente descritas pelas demandas da sociedade. Um mercado de trabalho
permeável e estável comporta a ideia de estágios de carreira, mas esta ideia deixa de
ser funcional em um mercado agitado e em permanente mudança.
As teorias e técnicas atuais de desenvolvimento de carreira estão enfrentando
uma crise na qual a suposição fundamental sobre previsibilidade baseada na
estabilidade e na sequência do estágio é questionada e não é mais funcional. De fato,
o comportamento humano não é apenas uma função de uma pessoa, mas também
um contexto. Não importa quão estáveis os traços humanos possam ser, o contexto
muda rapidamente. Portanto, são necessários modelos teóricos que enfatizem a
flexibilidade humana, a adaptabilidade e a aprendizagem ao longo da vida. Além
disso, os métodos futuros de aconselhamento de carreira devem adotar uma
abordagem dinâmica que estimule o pensamento criativo e a exploração do indivíduo
em vários contextos (Oyserman, Bybee, & Terry, 2006).
Em particular, a psicologia aplicada moderna e a equipe de profissionais no
campo da orientação profissional são obrigadas a desenvolver um modelo de carreira
empiricamente testado e metodicamente aprimorado, que se adapte à nova sociedade
global e apoie as intervenções apropriadas. Tais modelos e métodos devem levar as
pessoas a um processo contínuo de integração com seus contextos. Juntamente, não
se pode rejeitar as grandes contribuições das teorias e técnicas do século XX, por
10
mais que haja avanços, é necessário gerir e perceber a importante herança das
últimas décadas do século XX.

4 CONSTRUÇÃO DE VIDA

Indivíduos que receberam conhecimento no início do século 21 deve estar


ciente que os problemas relacionados à carreira são apenas parte de um conjunto
muito maior de preocupações sobre o modo de vida em um mundo pós-moderno
moldado e apoiado por uma economia global de acordo com as tecnologias da
informação. Por exemplo, uma pergunta que frequentemente tem ocorrido está
relacionada ao equilíbrio entre as interações e atividades de trabalho e as interações
e atividades relativas à família, sendo de fundamental reflexões do indivíduo sobre o
assunto competências e aspirações. O gerenciamento de interações entre diferentes
áreas da vida tornou-se uma grande preocupação para inúmeros funcionários
inseguros, cujo emprego é aleatório, independente, temporário, externo, em meio
período ou ocasional.

Fonte: sense-lab.com

Uma das principais consequências da interconectividade entre diferentes áreas


da vida é que não podemos mais falar com convicção sobre "desenvolvimento de
carreira" ou "orientação de carreira". Pelo contrário, precisamos imaginar "trajetórias
de vida" nas quais os indivíduos gradualmente projetam e constroem suas próprias
11
vidas, incluindo planos de carreira. O questionamento “o que devo fazer da minha
vida” é aberto a todos diante de uma série de mudanças sérias em suas vidas,
causadas por mudanças na saúde, no emprego e nas relações pessoais mais íntimas.
A resposta para a questão da construção da vida nos leva a considerações
éticas sobre os princípios que definem a direção da vida e determinam o que torna a
vida realmente valiosa (Taylor, 1989). Como salientou Parker (2007):

Por detrás de cada ato autobiográfico há um ‘eu’ para quem algumas coisas
são importantes e assumem prioridade sobre outras. Algumas destas coisas
não são apenas objetos de desejo ou interesse, mas dominam a admiração
e o respeito de quem as escreveu. São os principais bens-chave que animam
e moldam as escolhas e as respectivas deliberações éticas. Estes bens
podem incluir ideais de autorrealização, de justiça social, de igualdade de
respeito ou de cuidado do outro... Tais bens também moldam inevitavelmente
as histórias que o autor conta quando projeta o seu futuro ou constrói seu
passado ou seu presente. Em suma, estes bens estão no cerne da narrativa
de vida, e são seus constituintes necessários. (PARKER, 2007).

Tais considerações éticas no design e na construção de sua própria vida não


são novidade. No início do século passado, essas considerações provavelmente
estavam presentes nas reflexões dos jovens considerando suas escolhas de carreira.
No entanto, em nossa sociedade atual, considerações éticas se tornam mais
psicológicas. Primeiro, os indivíduos agora são forçados a refletir sobre o que é mais
importante para eles, como referido por Giddens (1991), “o indivíduo sente-se
abandonado e sozinho em um mundo no qual lhe falta o suporte psicológico e o senso
de segurança fornecidos pelos contextos mais tradicionais”. Essa perda de
parâmetros requer reflexão sobre o significado que deve ser dado à vida. Em segundo
lugar, as pessoas estão cada vez mais conscientes dos novos riscos associados ao
nosso estilo de vida atual (Giddens, 1991). À luz desses dois fenômenos, parece
crucial que especialistas tentem construir modelos contextuais. As pessoas envolvidas
no design de um projeto pessoal de construção da vida podem usar esses modelos
para entender e lidar com seus contextos únicos.
Novas relações entre o funcionário e o mundo do trabalho criaram a
necessidade de desenvolver e usar novos dispositivos para promoção pessoal. As
intervenções, em particular no contexto da orientação profissional, devem ajudar as
pessoas a refletir sobre seus “bens-chave” (Parker, 2007), em vinculação com o
contexto em que estão inseridas. O objetivo dessa reflexão é resolver os problemas

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que surgem quando os indivíduos constroem suas vidas, combinando suas
necessidades com as do contexto, em particular o contexto do trabalho.
Savickas et. al (2009) afirmam que, ao formular essas intervenções no contexto
de uma carreira profissional, pressupõe que a questão da interação entre o poder da
ação pessoal e a estrutura social seja transformada em questões científicas. Esses
novos problemas devem ser suportados por conhecimentos já desenvolvidos.
Uma questão que tem conduzido a pesquisa de carreira é como combinar
indivíduos e profissões. Em meados do século, novas questões surgiram com o
surgimento de organizações hierárquicas e burocráticas. A segunda questão é,
portanto, como os indivíduos podem usar suas diversas experiências para se
desenvolver profissionalmente e desenvolver suas carreiras. Super (1957 apud Duarte
et al 2010) questionou quais seriam os estágios e processos de desenvolvimento de
carreira ao longo do ciclo da vida. As questões sociais contemporâneas relativas à
construção da vida levaram a uma questão de pesquisa, além das feitas até agora,
sobre adequação e desenvolvimento (Guichard, 2005), onde questionou-se quais são
os fatores e os processos da construção de si. Embora ainda seja importante entender
como as pessoas escolhem profissões e desenvolvimento de carreira ao longo do
tempo, é necessário entender melhor como as pessoas constroem suas vidas através
de seu trabalho. Pois, quando os indivíduos estão envolvidos em atividades com
diferentes funções, eles tentarão reconhecer atividades que sejam consistentes com
seus valores fundamentais. Através de eventos e discursos sobre suas experiências,
as pessoas podem se construir.
Para elaborar um plano de pesquisa, é necessário distinguir entre funcionários
/ colaboradores nucleares, precários e marginalizados. Funcionários nucleares
trabalham relativamente fixo na organização. Esses trabalhadores devem aprender a
fazer os melhores investimentos em habilidades atuais para adaptar e desenvolver
novas habilidades, a fim de sobreviver no mercado de trabalho sem fronteiras. Para
esse tipo de funcionário, é necessário investigar os fatores e processos que favorecem
e levam ao desenvolvimento de competências. Para trabalhadores precários, eles
precisam aprender a lidar com as múltiplas mudanças que enfrentarão ao longo de
suas carreiras. Sua carreira se desenvolverá com uma série de miniciclos (Super,
Savickas, & Super, 1996), e envolverá atividades de exploração e desenvolvimento
que sua experiência anterior de trabalho pode ou não oferecer suporte. Portanto, as
13
decisões de carreira tomadas por trabalhadores precários geralmente se concentram
no curto prazo e são determinadas pela sua empregabilidade. Os trabalhadores
marginalizados podem encontrar outros obstáculos e restrições no emprego, às vezes
até trabalhando por diárias.

Fonte: tiespecialistas.com.br

O indivíduo faz uma carreira quando faz sua escolha naquilo que exprime seu
autoconceito. O autoconceito também é estabelecido através das experiências
peculiares que indivíduos encontram em seu ambiente de vida. O método narrativo de
aconselhamento de carreira baseia-se nessas experiências e é um recurso importante
para o planejamento e o estabelecimento de vida. Os autoconceitos das pessoas
podem ser alterados por meio de novas experiências e até pela observação do
comportamento dos outros. Seus interesses nunca foram totalmente estabelecidos, e
o "eu" está em um estado de reconstrução.

5 PRESSUPOSTOS DO PARADIGMA LIFE DESIGN

Desenvolver um modelo e método de intervenção para ajudar indivíduos na


construção da vida requer uma mudança de paradigma fundamental. Para formular
intervenções que atendam às metas estabelecidas, é necessário um paradigma para
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enfatizar o desenvolvimento conjunto permanente do indivíduo, economia e
sociedade. O novo paradigma de consultoria deve gerar conhecimentos e habilidades
específicas para analisar e lidar com ambientes ecológicos, dinâmica complexa,
causalidade não linear, múltiplas realidades subjetivas e modelagem dinâmica.
Para Duarte e cols. (2010) e Savickas e cols. (2009), o desenvolvimento do
paradigma Life Design, é determinado no objetivo em auxiliar indivíduos a participar
do processo de construção da vida, com base em cinco premissas:

1- Dos Traços e Estados ao Contexto,


2- Da Prescrição ao Processo,
3- De uma Causalidade Linear às Dinâmicas não Lineares,
4- Dos Fatos Científicos às Realidades Narrativas
5- Da Descrição à Modelagem

Segundo os autores Savickas & cols, (2009) esses cinco pressupostos visam
“produzir conhecimento e capacidades específicas para analisar e lidar com contextos
ecológicos, dinâmicas complexas, causalidades não-lineares, realidades subjetivas
múltiplas e modelagem dinâmica”. De fato, é um modelo projetado para planos de
intervenção e pode fornecer recomendações para a trajetória de vida de indivíduos
que se integram à vida social do trabalho.
Os cinco pressupostos constituem um novo método de intervenção
ocupacional. O Life Design é um modelo teórico que abrange cinco pressupostos sob
a perspectiva do construtivismo social, posicionando o indivíduo como autor do criador
do processo narrativo da (auto)biografia (Savickas, 2012).

5.1 Dos Traços e Estados ao Contexto

Influenciados pela ciência natural, os psicólogos do século XX estão


procurando leis universais que possam controlar o comportamento humano. Como
resultado, a pesquisa se concentrou nas características da personalidade e nos
fatores de capacidade estáveis para caracterizar pessoas e ocupações. Esses
psicólogos usam arquivos pessoais e profissionais para diagnosticar os melhores
ajustes de pessoa para pessoa e prescrevê-los aos clientes. (Holland, 1973 apud
15
Duarte el al, 2010). Introduzir habilidades profissionais e sociais essenciais,
transferíveis ou específicas para melhorar o diagnóstico e a tomada de decisões em
relação à orientação profissional e à empregabilidade (Watts & Sultana, 2004). A
contradição básica desses métodos é que o instrutor deve usar ferramentas e
métodos para eliminar com precisão essas informações contextuais, a fim de
encontrar a melhor correspondência entre o projeto de vida do cliente e as condições
ambientais.
Os conselheiros costumam usar as chamadas medidas objetivas e descrições
normativas. No entanto, esses métodos não são suficientes para descrever como
clientes interagindo com suas diversas situações e se adaptando aos seus clientes. A
identidade profissional deve ser vista como um padrão em constante mudança nas
histórias dos clientes, em vez de nos arquivos de configuração estáticos, abstratos e
simplificados, resultantes das pontuações dos testes.

O cliente, individualmente e no seu ecossistema, forma uma entidade


dinâmica complexa, que resulta de uma auto-organização de adaptação
mútua ao longo do tempo. A identidade profissional é moldada pela auto-
organização das múltiplas experiências da vida no dia-a-dia. Assim, nosso
primeiro pressuposto sobre as mudanças necessárias nos modelos de
carreira e métodos de aconselhamento é o reconhecimento de que este
aconselhamento ocorre em condições que estão longe de ser controladas.
(DUARTE E COLS, 2010).

5.2 Da Prescrição ao Processo

Estudos longitudinais recentes pelo Departamento Americano de Estatística do


Trabalho (U.S. Bureau of Labor Statistics, 2002) mostraram que grande parte dos
jovens com menos de 36 anos mudou de emprego 9,6 vezes. Se a maioria das
pessoas muda de emprego a cada dois anos, escolher uma carreira para a vida é
mais um mito do que uma realidade. Além disso, o consultor deve enfrentar o fato de
que o modelo de carreira tradicional se tornou cada vez mais suspeito e incerto. O
consultor precisará ser informado sobre os requisitos específicos de todos os
empregos no mercado de trabalho atual e, em seguida, fornecer o serviço "mais
adequado". Na era da Internet, os clientes costumam reclamar de sobrecarga de
informações e não de falta de informações. Hoje, eles buscam ajuda para lidar com
as rápidas mudanças em seus requisitos de empregabilidade, aprimorar suas
habilidades sociais e enfrentar armadilhas psicológicas, como a “racionalidade
16
limitada” no processo de tomada de decisão (Kahnemann, 2003), gerenciar as
complexas limitações de seu ecossistema pessoal, profissional, social e familiar.

Nosso segundo pressuposto acerca das mudanças necessárias nos modelos


de carreira e métodos de aconselhamento é, portanto, o foco nas estratégias
de sobrevivência e na dinâmica de enfrentamento, mais do que adicionar
informação ou conhecimento. Os conselheiros devem discutir com seus
clientes “como fazer” e não “o que fazer”. (DUARTE E COLS, 2010).

O ponto de vista ideal de um consultor independente é a meta-perspectiva que


inclui todas as habilidades específicas necessárias para a análise sistemática de
processos complexos, interativos e dinâmicos e a produção de múltiplas
consequências.

Fonte: ocafezinho.com

Essas análises visam determinar parâmetros de controle relevantes, a fim de


estabelecer uma comunicação abrangente e simples com os clientes sobre esses
mecanismos de direção, desenvolvendo estratégias eficazes para a solução de
problemas, planos de ação e vidas gerais.

5.3 De Uma Causalidade Linear às Dinâmicas Não Lineares

Para Duarte e cols (2010) “o pensamento científico tradicional é linear e


dedutivo”. Tornando-se muito válido e eficaz ao sobrepor leis universais a um único
caso e induzir implicações presumível. Com base nessa racionalidade, muitos

17
consultores profissionais acreditam em uma lei geral e apoiam sua prática assumindo
que as habilidades e interesses do indivíduo vai permitir prever o desenvolvimento
pessoal da carreira. Se assim fosse, seria possível fornecer uma grande quantidade
de evidências que comprovariam a eficácia preditiva de uma avaliação psicológica na
maioria dos modelos ocupacionais. Não é esse o caso, a evidência disponível é, na
melhor das hipóteses, a capacidade preditiva moderada em certas dimensões do
aconselhamento de carreira (Brown & Krane, 2000).
Percebe-se que os conselheiros continuam acreditando em explicações
causais simples e lineares que não foram confirmadas por sua experiência diária. As
suposições de que as habilidades e os interesses são suficientes para garantir o
sucesso em um determinado trabalho ou treinamento e a crença de que esses
requisitos permanecem estáveis e previsíveis não parecem mais se sustentar. De fato,
existem habilidades como inteligência geral e valores fundamentais que permanecem
relativamente estáveis, mas o problema é que as pessoas projetam e vivem suas vidas
e podem não pensar que essas habilidades e interesses sejam permanentes.
Ademais, em ocasiões interativas, como no aconselhamento de carreira, um
dos agentes não pode ter certeza de que o outro agente se comportará
prudentemente. Mesmo durante interações simples de solução de problemas,
suposições e definições mudam constantemente e de maneira não linear. Variação e
cadeias de decisão complexas são as regras. A causalidade linear simples é uma
exceção.

Assim, nosso terceiro pressuposto sobre a necessidade de mudanças nos


modelos de carreira e métodos de aconselhamento é o alargamento da
perspectiva, passando do simples conselho relativo a uma tomada de decisão
vocacional para a perícia em coconstruir e acompanhar um processo de
construção de vida mais holístico. A tradicional sequência simplificada de
diagnóstico diferencial, indicação e prescrição, herdada do modelo médico,
deve ser substituída. (DUARTE E COLS, 2010).

Os conselheiros precisam aplicar táticas interativas de resolução de problemas


e adquirir habilidades multiuso através do uso de várias ferramentas e métodos
(Krumboltz, 2003). Para ajudar na conclusão de tarefas complexas de construção de
vida, poucos contatos são insuficientes; um aconselhamento sério levará tempo.
Trabalhando com clientes e aqueles importantes para ele, ele deve determinar os
parâmetros que controlam a dinâmica potencial de seu complexo ecossistema, deve

18
formular suposições viáveis e, em seguida, testar e avaliar; e deve repetir esse
processo interativamente, a fim de desenvolver soluções sustentáveis e satisfatórias.

5.4 Dos Fatos Científicos às Realidades Narrativas

Durante a maior parte do século 20, as diretrizes atuais da empresa


descreveram carreiras individuais: primeiro ensino, depois trabalho e, finalmente,
família. A integração e o reconhecimento social são basicamente baseados nesses
sistemas de referência. Hoje, pelo menos na sociedade ocidental, há uma crescente
diversificação de realidade individual. Em qualquer idade, as pessoas podem voltar à
escola, receber treinamento, ficar desempregadas e se divorciar sem perder o
reconhecimento social. Portanto, a coexistência de múltiplas identidades e realidades
subjetivas parece ser o resultado natural desses desenvolvimentos sociais.
Além disso, o treinamento tradicional de conselheiros profissionais depende
muito de métodos científicos desenvolvidos pelas universidades sob condições
controladas e de acordo com rígidos padrões de testes psicológicos. Esse teste
convencional e seus padrões são derivados de cálculos estatísticos, que atualmente
fornecem uma falsa sensação de segurança e levam a profecias autorrealizáveis, o
que dificulta a verificação de sua verdadeira validade na vida real. Além disso, essas
ferramentas obrigam os consultores a traduzir a realidade subjetiva e a verdade de
seus clientes em termos que esses clientes não entenderão.

Fonte: ibpad.com.br

19
A principal contradição aqui é que os conselheiros tentam entender seus
clientes usando uma linguagem (terminologia técnica e normativa) que não pertence
ao seu vocabulário. O trabalho de Savickas (2005) mostra que a análise das narrativas
do próprio indivíduo para entender sua construção de múltiplas realidades subjetivas
tem a vantagem de poder manter contato próximo com sua própria linguagem, não
apenas para entender a situação, relacionado ainda a sua origem. Em vez de normas
sociais e estatísticas abstratas e imutáveis, surgiram as referências vivas dos clientes.

Assim, o nosso quarto pressuposto sobre as mudanças necessárias para os


modelos de carreira e métodos de aconselhamento é o foco na contínua
construção e reconstrução das realidades subjetivas e múltiplas que o cliente
vai produzindo. Mais do que apoiar-se nas normas grupais e em termos
abstratos, os clientes devem engajar-se em atividades e na busca de sentido
que os capacitarão a construir uma nova visão sobre si mesmos. (DUARTE
E COLS, 2010)

As vantagens são óbvias: se uma pessoa tem várias maneiras de explicar suas
diversas experiências de vida, pode ter diferentes perspectivas e perfis de vida. O
papel do conselheiro é apoiar a mobilidade da pessoa e sua adaptação ou
reconstrução flexível de seu próprio ecossistema, abrindo assim uma nova
perspectiva de coevolução.

5.5 Da Descrição à Modelagem

Os planos profissionais dos indivíduos são individuais, e, deste modo, distintas.


Assim sendo, o aconselhamento de carreira eficiente deve ser adaptado
individualmente e qualquer redução a tratamentos padronizados diminuem sua
substância. Dificuldades semelhantes são encontradas ao tentar definir o impacto da
consultoria a partir de uma única variável dependente, mesmo ao usar variáveis
inovadoras (como satisfação com a tomada de decisões, adaptação a novas
situações, aceitação da sua situação pessoal e sentimentos de tirar conclusões).
Qualquer método baseado em estatísticas descritivas simples resultará em uma taxa
de sucesso limitada, porque os serviços de consultoria embarcam uma variedade de
realidades subjetivas, incluindo origens privadas para diferentes clientes e, no
processo, existindo muitas causas não lineares devido a alterações de suposições e
definições de problemas no processo.

20
No entanto, apesar da complexidade da tarefa, a eficácia da consulta ainda
precisa ser avaliada. Algumas outras disciplinas científicas, incluindo matemática,
meteorologia, biologia, genética e economia, também exploraram métodos diferentes,
modelaram sistematicamente modelos complexos de interações variáveis e
simularam para prever a possibilidade do sistema comportamento. (Thomas & D’Ari,
1990). Esses procedimentos de modelagem, incluindo lógica de difusão e modelos
caóticos, mostraram validade preditiva mais forte.

Nosso quinto pressuposto sobre a necessidade de mudança nos modelos de


carreira e métodos de aconselhamento é o foco na modelagem de estruturas
fractais, com vistas a predizer a emergência de configurações estáveis de
variáveis, mais do que considerar os resultados somente do ponto de vista
de uma variável (Dauwalder, 2003). Esperamos que, assim, uma das mais
importantes críticas ao aconselhamento de carreira – a falta de provas
empíricas de sua eficácia – poderá, finalmente, ser eliminada. (DUARTE E
COLS, 2010).

6 INTERVENÇÕES NA CONSTRUÇÃO DA VIDA

Intervenções baseadas em modelos de construção de vida devem assumir


todas as cinco premissas acima sobre pessoas e suas vidas profissionais:
possibilidades situacionais, processos dinâmicos, trajetórias não lineares, realidades
múltiplas e modelos personalizados. Com base nessas cinco premissas, foi
estabelecido um modelo baseado na epistemologia construtivista social, em particular,
reconhece que:
(a) Conhecimento e identidade pessoais são o produto de processos sociais e
cognitivos que ocorrem no contexto de interação e negociação entre pessoas e grupos
(Gasper, 1999);
(b) o significado dado à realidade pelos indivíduos é construído em conjunto no
contexto da sociedade, história e cultura, através do discurso do estabelecimento de
relações (Young & Collin, 2004).
A estrutura geral da consultoria de construção da vida adota a teoria da
autoconstrução (Guichard, 2005) e do desenvolvimento de carreira (Savickas, 2005).
Descreve o comportamento e o desenvolvimento profissional. Portanto, a estrutura
geral da organização é considerar todo o ciclo de vida como um todo, contexto e
prevenção.

21
6.1 Ao Longo de Todo o Ciclo Vital

A vida em uma sociedade do conhecimento flui por trajetórias imprevisíveis.


Cada vida não é apenas composta de processos individualizados, mas também
influenciada por fatores contextuais, embora seja amplamente construída pelos
indivíduos. No entanto, o pré-requisito para a autoconstrução é possuir o
conhecimento e as habilidades necessárias. É nesse ponto que a orientação
profissional ao longo da vida entra em cena.

Fonte: engsearch.com.br

Construir um sistema de suporte à vida pode não apenas ajudar as pessoas a


desenvolver habilidades para lidar com os problemas de mudança e os problemas de
evolução. Também deve ajudá-los a desenvolver as habilidades e conhecimentos que
eles valorizam no desenvolvimento ao longo da vida e, em seguida, ajudá-los a
determinar "como" (o método necessário), "quem" (pode apoiar) e "onde" (o pano de
fundo dessa situação) e "quando" (o melhor momento para intervir), essas habilidades
e conhecimentos estão disponíveis.

6.2 Holística

O desenvolvimento ao longo da vida não pode adotar uma abordagem


independente da abordagem holística de construção da vida. Isso significa que,
22
embora aspectos profissionais relacionados ao papel do trabalhador e do aluno
tenham se tornado o foco da atenção, demais papéis importantes da vida como
membros da família, cidadãos ou realização de atividades de lazer (Super, 1990)
devem ser levados em conta.
Os indivíduos envolvidos na construção de sua vida devem ser incentivados a
considerar todos os papéis importantes da vida ao mesmo tempo em suas carreiras.
Portanto, as consultas de construção da vida não incluem apenas o desenvolvimento
da carreira, mas também se estendem a todos os papéis da vida, incluindo a
autoconstrução, porque, para esses indivíduos, o trabalho pode não ser um papel
importante.

6.3 Contextual

Para os pontos de vista dos construtivistas sociais sobre a construção da vida,


a importância do contexto deve ser enfatizada. Além disso, situações passadas e
presentes bem como a interação humana com essas situações e a maneira como as
pessoas observam e explicam essas situações. (Young, Valach, & Collin, 1996). As
pessoas devem ser incentivadas a explorar cenários de vida que possam
desempenhar papéis diferentes e usar os resultados dessa exploração em seu
processo de autoconstrução. Nesta perspectiva, a intervenção na construção da vida
deve ser inclusiva. Todos os papéis e ambientes relacionados ao indivíduo devem
fazer parte da intervenção para estabelecer uma história de carreira e vida.

6.4 Preventiva

A orientação vocacional não pode mais ficar livre de interferir nesses períodos
de transição, nem pode fazer previsões ou recomendações com base nas condições
atuais. Também deve desempenhar um papel preventivo óbvio. É necessário intervir
e buscar alianças e cooperação preventivas prioritárias.
Na estrutura geral da consultoria de construção da vida, isso significa que as
pessoas estarão interessadas em seu futuro antes do momento em que a transição
será difícil, de modo a aumentar suas oportunidades reais de escolha e prestar
atenção especial à situação de risco.
23
Fonte: segurancatemfuturo.com.br

A eficácia do aconselhamento pode ser medida por sua capacidade de fazer


mudanças significativas na "conclusão" das estórias de vida de muitas pessoas
(Soresi, Nota, Ferrari, & Solberg, 2008), aumentando a adaptabilidade, narrativa,
mobilidade e intenção.

7 OBJETIVOS DA INTERVENÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA VIDA

A estrutura geral das intervenções de aconselhamento definidas desta maneira


(ao longo de toda a vida, holística, contextual e preventiva) visa promover sua
adaptabilidade, narrativa e atividade entre os clientes. Adaptabilidade refere-se a
mudança, enquanto narrativa refere-se à continuidade. A adaptabilidade e a narrativa
juntas proporcionam aos indivíduos flexibilidade e lealdade consigo mesmos,
permitindo que eles se envolvam em atividades significativas e se desenvolvam em
uma sociedade do conhecimento.

7.1 Adaptabilidade

O objetivo de estabelecer um modo de vida é ajudar as pessoas a esclarecer e


executar sua experiência profissional e estabelecer as bases para adaptar e lidar com
24
flexibilidade com as tarefas de desenvolvimento, trauma ocupacional e a transição
entre o trabalho. O modelo pode ajudá-los a desenvolver sua capacidade de prever
mudanças e seu futuro em um ambiente em constante mudança, também os ajuda a
encontrar maneiras de atingir suas expectativas, participando de diferentes atividades.
Portanto, intervenções na vida são projetadas para melhorar a adaptabilidade.
Como exemplo, pode utilizar os cinco "Cs" da teoria da construção de carreira:

 Concern (Atenção) – refere-se à tendência de pensar a vida a partir de


uma perspectiva temporal baseada na esperança e no otimismo.
 Control (Controle) – baseia-se na crença de que não apenas as
estratégias de autorregulação podem ser usadas para se adaptar às
necessidades de diferentes contextos, mas também podem exercer
alguma influência e controle sobre o contexto, o que é vantajoso
 Curiosity (Curiosidade) – curiosidade acerca de possíveis “eus” e de
oportunidades sociais estimula nas pessoas comportamentos de
exploração ativa.
 Confidence (Confiança) – a confiança designa a capacidade de manter
as aspirações e objetivos a despeito dos obstáculos e das barreiras.
 Commitment (Persistência) – adesão a um projeto de vida, mais do que
a um emprego em particular, significa que a indecisão em uma escolha
de carreira pode não ser necessariamente eliminada, na medida em que
pode gerar novas possibilidades e experimentações que levarão o
indivíduo a ser ativo, mesmo em situações de incerteza.

7.2 Narrabilidade

As intervenções profissionais existentes usam o diálogo entre o cliente e o


consultor para ajudar o cliente a estabelecer e narrar uma história que descreve sua
carreira e vida de maneira coerente e contínua. Esta história deve permitir que os
clientes compreendam melhor seus temas de vida, personalidade profissional e
recursos adaptativos (Savickas, 2005). Parte desse processo é a construção de
formas subjetivas de identidade e possíveis estruturas cognitivas (Guichard, 2004,
2005; Guichard & Dumora, 2008).
25
A função do conselheiro deve ser ajudar os clientes a expressar suas
identidades com suas próprias palavras e desenhar os diagramas de sistema na forma
de identidades subjetivas. A forma subjetiva de identidade é a maneira como um
determinado indivíduo se vê e a outros em um contexto particular, e como ele se
conecta com outros e objetos nesse contexto. De acordo com o ambiente de interação
e comunicação pessoal, ele estabelece sua identidade em diferentes formas de
identidade (por exemplo, estudantes, atletas, atividades vigorosas em seu tempo
livre). Portanto, a identidade de uma pessoa parece consistir em um sistema dinâmico
na forma de identidade subjetiva (Guichard, 2005; Guichard & Dumora, 2008).
Os sistemas de mapeamento requerem habilidades cognitivas, como
comparação e reflexão probabilística (Dumora, 1990, 2000). O processo de
mapeamento não é linear, mas sinuoso. Significa uma série de miniciclos de
atividades de seleção repetida, como conscientização, auto exploração, exploração
ambiental, exploração da relação entre si e o meio ambiente, normas e tomada de
decisão (Van Esbroeck, Tibos, & Zaman, 2005). A realização dessas atividades de
miniciclo, especialmente explorando a si mesmo e seu relacionamento com o meio
ambiente, pode ajudar a se construir.

Fonte: falando-psi.blogspot.com

26
As intervenções de construção de vida podem ajudar os indivíduos a identificar
todas as suas identidades ou papéis subjetivos (e seus relacionamentos) na vida e
depois pensar em como algumas dessas formas ou papéis se tornam energia nuclear
na vida e como outras formas ou papéis se tornam coisas periféricas. A qualquer
momento da vida de uma pessoa, uma ou duas áreas podem ser mais importantes e
fornecer uma perspectiva mais relevante para a construção e construção da vida.
Esses papéis proeminentes moldam áreas que são significativas e importantes para
os indivíduos, e essas áreas geralmente correspondem a certas expectativas
principais.
Ao desempenhar um papel no contexto, as pessoas entenderão que
executarão scripts específicos, receberão feedback específico, desenvolverão
representações de si mesmas e de outras pessoas e, em seguida, gerarão
expectativas para o seu futuro nesse contexto. Portanto, as recomendações de
desenvolvimento de carreira incluem o estabelecimento de planos de carreira
relacionados aos cargos, mas é mais global que isso. Foi desenvolvido para ajudar as
pessoas a entender claramente os papéis e áreas da vida (incluindo papéis e áreas
passadas) relacionados a certas expectativas futuras importantes de um ou mais
papéis. Portanto, incentiva-os a encontrar maneiras de obter as oportunidades
necessárias: priorizar, determinar apoio, desenvolver recursos e participar de
atividades.

7.3 Atividade

As atividades específicas realizadas em diferentes áreas da vida são os


elementos básicos no processo de previsão e construção da vida. Todo mundo
constrói seu mundo através do discurso verbal, mas o que ele faz é uma parte
importante da evolução desse discurso. Ao se envolver em atividades diferentes, os
indivíduos podem descobrir quais habilidades e interesses preferem exercer. Por meio
de atividades, as pessoas podem estabelecer novas dimensões que se representam,
como crenças de autoeficácia. Eles interagem com outras pessoas, recebem feedback
delas e estabelecem um sistema de representação coletiva com elas. Essas

27
atividades e interações criaram novas maneiras de ver e expressar, que mudaram os
autoconceitos e podem reinterpretar certos temas na vida.
Para que haja grandes mudanças nas "conclusões" da história de vida de
muitas pessoas, especialmente aquelas que parecem ter sido escritas ou fáceis de
prever, dever ser considera essas atividades. Um exemplo dessa intervenção é um
seminário chamado " Descoberta das Atividades Profissionais e Planos Futuros”
(Guichard & Dumora, 2008), que permite que os jovens se envolvam em atividades
que consideram relevantes para as expectativas futuras.

7.4 Intencionalidade

A ação é essencial para nossa perspectiva, porque envolve comportamento e


significado (Malrieu, 2003). O significado pode vir da intenção esperada ou da reflexão
retrospectiva (Vallacher & Wegner, 1987 apud Duarte et al 2010). Richardson (2009)
acredita que processos conscientes são essenciais para a construção de uma vida
mais ampla. A pesquisa empírica sobre o percurso profissional concentra-se na
tomada de decisões e na escolha. Do ponto de vista do construtivismo social, o
processo comparável é uma expressão do possível "eu" e das intenções e
expectativas da vida futura. Em relação ao papel de trabalho, Young et al. (1996)
verificaram que o plano de carreira pode ser encarado como uma construção
interpretativa explicada pelos trabalhadores.

Fonte: medium.com
28
O percurso profissional em si é estabelecido participando de atividades e
refletindo sobre os resultados posteriormente. Nesse sentido, Krieshok (2003) propôs
que, apesar da incerteza, o conceito decisivo deveria ser substituído pela participação
no mundo do trabalho. Richardson e Krieshok sugeriram que, em um mundo em que
há mais incerteza e menos opções, clientes e consultores não devem se concentrar
nas opções. Como alternativa, eles devem se concentrar no significado estabelecido,
estabelecendo intencionalmente seus próprios processos de vida. Em uma sociedade
do conhecimento, "eu" e identidade são conceitos que as pessoas desenvolvem
através de constante reflexão e retrospecção.
A teoria do desenvolvimento de carreira aponta que os indivíduos constroem
suas carreiras, dando sentido ao comportamento profissional (Savickas, 2005). Do
ponto de vista construtivista, o conceito de ocupação representa uma perspectiva
esportiva, atribuindo significado à memória do passado, à experiência do presente e
ao desejo de futuro, com o objetivo de transformá-lo em um tema da vida. Os
significados contidos nesses temas biográficos fornecem aos indivíduos os pré-
requisitos necessários para se adaptar às mudanças sociais que experimentam no
trabalho. Esse significado pessoal substitui o contexto de segurança fornecido
anteriormente pela organização. A tarefa dessas organizações é integrar-se cuidando
dos funcionários, protegendo e explicando. Atualmente, a história da vida mantém sua
singularidade e estabelece uma ponte de um emprego para outro. Numa sociedade
do conhecimento, ajudar as pessoas a projetar vidas e desenvolver carreiras requer
novos métodos de intervenção.

8 MODELO DE INTERVENÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA VIDA

O modelo de intervenção para a construção da vida é baseado em narrativas e


atividades, em vez de pontuações em testes e interpretação de dados pessoais. Em
resumo, o modelo inclui seis estágios principais, embora sejam determinados pela
situação real de cada cliente.
Primeiro, o cliente e o conselheiro precisam definir o problema e determinar o
que o cliente deseja alcançar através da intervenção. Quando o objetivo da consulta
é formulado, a interação será estabelecida imediatamente, caracterizada por uma

29
aliança de trabalho. Nesta interação, o conselheiro incentiva o cliente a descrever
através da narrativa o histórico de problemas a serem resolvidos. Tal como o cliente
conta sua história, o conselheiro o incentiva a refletir sobre os tópicos e significados
contidos nessa narrativa.
Nesse diálogo, o consultor e o cliente determinam as principais circunstâncias
de cada questão. Esse diálogo deve ajudar os clientes a entender as principais áreas
da vida, em vez de focar a narrativa em apenas uma situação. Além disso, eles devem
distinguir os papéis centrais e periféricos desempenhados pelo cliente, que são papéis
pendentes para consultas contínuas.
Depois de identificar o problema e seu contexto principal, o segundo passo se
concentra em explorar o sistema atual de formas de identidade subjetiva do cliente. O
cliente e o consultor investigam as visões do cliente hoje e como ele/ela está
organizado e trabalha em uma função/campo destacado. Os conselheiros ajudam os
clientes a refletir e construir narrativas, expressando suas experiências e expectativas,
ações e interações, relacionamentos e expectativas com os outros.

Fonte: blog.kuau.com.br

A terceira etapa do processo visa abrir o horizonte. A narrativa transforma o


conteúdo sugerido em conteúdo claro, objetivo e claro. A objetividade fornece
continuidade e realidade à narrativa, o que, por sua vez, permite ao cliente analisar a
narrativa à distância. Essa leitura cuidadosa da narrativa permite que o cliente olhe

30
para eles de uma nova perspectiva e, assim, releia sua narrativa. O consultor pede ao
cliente que renuncie a qualquer opção, destrua o sonho ou tenha opções limitadas.
Talvez seja hora de recapitular e experimentar essas narrativas silenciosas
novamente. Por meio dessa descoberta e reutilização comuns, a narrativa pode ser
reorganizada, modificada e revitalizada.
Depois de revisar a narrativa, o quarto passo na intervenção na construção da
vida é encontrar o problema nesta nova história. Quando os problemas surgem de
uma nova perspectiva, momentos críticos no processo ocorrerão. Isso leva os clientes
a se considerarem da perspectiva de certas formas de identidade novas ou esperadas.
Quando o cliente claramente levanta novas expectativas e expressa claramente o
possível "eu”, vagamente percebido antes da intervenção, a solução de problemas e
as mudanças ocorrem. Esta etapa será concluída quando o cliente sintetizar entre o
antigo e o novo por meio da seleção e do compromisso inicial com determinadas
funções ou identidades.
O quinto passo envolve a designação de atividades que o indivíduo coloca em
prática e alcança essa identidade. O cliente deve se engajar em atividades
relacionadas ao possível "eu", que agora fazem parte de sua narrativa. Para
especificar o que ele fará e o que isso significa, é necessário desenvolver um plano
de ação. O plano do evento descreve como participar dessas novas experiências. Ele
lista atividades que podem transferir clientes de pessoas experientes para o que é
agora desejado, um movimento que Tiedman (1964 apud Duarte et al 2010) chama
de ação intencional (purposeful action).
O plano deve conter ações em como lidar com obstáculos existentes ou
potenciais, e como permitir que o cliente conte sua importante história de vida a
importantes audiências. O discurso deve ser apoiado por pais, parceiros, amigos e
outros que possam ser ouvintes para tornar a narrativa mais clara e coerente.
É necessário que o consultor verifique junto ao cliente se o plano de ação
intencional atende de forma direta o problema de consultoria trazido por ele. Será útil
fornecer aos clientes um resumo por escrito do plano e uma declaração que reflita
claramente os benefícios e segredos mais duradouros do sucesso.
A sexta etapa contém atuações de assistência de curto e longo prazo. A
garantia da qualidade requer que os consultores considerem os resultados
recomendados e providenciem outras sugestões, se necessário.
31
9 UM PARADIGMA CONTEMPORÂNEO EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E

DE CARREIRA

O paradigma Life Design apesar de discordar, não nega suas raízes na


psicologia profissional, mas procura implementar uma teoria do comportamento
profissional, ou seja, a teoria da construção de carreira. (Savickas, 2005).

Fonte: linkedin.com

Pode haver objeções ao considerar que as ideias centrais do paradigma Life


Design e das recomendações de desenvolvimento de carreira podem promover a
integração da psicoterapia: ênfase no indivíduo como construtor de significado
contextual e, com aconselhamento e orientação profissional. A relação entre os
conceitos de temas da vida que aparecem na psicoterapia ainda é considerada o tema
básico para explicar como os indivíduos organizam sua própria experiência pessoal
(Cardoso, 2016). Life Design (Savickas et al., 2009) é valorizável (ou discutível) não
por propor qualquer definição de aconselhamento profissional, mas porque fixa os
atributos do aconselhamento profissional com base nos modelos teóricos enraizados
na psicologia profissional e na implementação da teoria do comportamento
profissional.

32
É importante ressaltar que o paradigma Life Desogn permite que a definição
seja separada da teoria, o que mostra que a teoria pode realmente ser usada como
uma alternativa à definição dinâmica. Em outras palavras, ao separar a definição da
teoria, a atitude de propor a definição também é diferente da atitude expressa pela
teoria. Ao contrário da definição, a teoria não pode considerar a consulta como uma
estrutura ideal, mas pode ser vista como um processo aberto, visando de diferentes
maneiras e executando diferentes funções em diferentes momentos. Ao contrário da
definição, a teoria pode ser usada para descobrir o desenvolvimento da carreira por
meio de histórias de vida, a reconstrução da narrativa e a construção conjunta da
identidade narrativa.
O paradigma do design de vida não considera a consultoria um conceito
fechado; ele pode integrar novos elementos, assim como o uso de um sistema de
modelo de código de momentos inovadores, enraizado no conceito de auto narrativa.
(Cardoso, Silva, Gonçalves, & Duarte, 2014).
Por exemplo, o paradigma Life Design admite ser uma maneira de olhar com
consistência e coerência suficientes para construir a si mesmo como uma certa
verdade, que é sempre passageira, marcada pelo tempo e sempre probabilística. Uma
maneira de ver, com sua própria existência ontológica, porque a maneira de ver prediz
o modo de ser visto; isto é, as coisas não são, as coisas serão apenas.
O novo paradigma é um modelo projetado para responder às necessidades
sociais caracterizadas pela diversidade e rápidas mudanças nos campos
socioeconômico e tecnológico (Cardoso, 2011). Da perspectiva do pensamento pós-
moderno, o Life Design ou Construção da Vida é o paradigma atual da psicologia
profissional.
Do ponto de vista da aprendizagem ao longo da vida, esse paradigma se
concentra no desenvolvimento pessoal para ajudar os sujeitos a “projetar a vida como
autoria ou marca pessoal, como no campo da arte, o que requer uma compreensão
do todo, trabalho, modelagem, ajuste interativo e até mesmo re-designing ou
reconstrução” para lidar com possíveis alterações (Taveira, 2011).
Sendo o paradigma Life Design um modelo recente, é necessário fortalecer os
planos de intervenção para orientação e desenvolvimento de carreira, que devem ser
acompanhados de formas educacionais e da trajetória de construção de vidas de
33
jovens e indivíduos, ou seja, através do trabalho ou ocupações que devem ser
realizadas. Para fazer ou experimentar, o objetivo é integrar-se à sociedade,
principalmente para encontrar satisfação entre a vida pessoal e o trabalho. (Martins,
2015).
O trabalho de Silva (2016) reforça essa ideia: de certa forma, é necessário
aprimorar dinamicamente a estratégia de orientação profissional para que os
aprendizes individuais possam "ter sucesso o máximo possível" e impedir a
marginalização e a exclusão social.

34
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