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ESCOLA JUDICIAL – TRT 5ª REGIÃO

Dias 5, 6 e 7 de julho de 2022

PORTUGUÊS JURÍDICO

CARLOS FONSECA

Juiz do trabalho (17ª Região/ES),


mestre em Direito (Ufes),
escritor, poeta, pesquisador da
Língua Portuguesa e professor de
Comunicação Jurídica.
@carlosfonseca.escritor
Características de um bom texto

Um bom texto é aquele dotado de gramaticalidade, clareza e encantamento.

Gramaticalidade – adequação às regras gramaticais.


Clareza – capacidade de transmissão da ideia desejada.
Encantamento – aptidão para prender a atenção, capacidade de sedução.

Em sumaríssimo resumo, um bom texto é aquele correto, sem vícios, capaz de


sustentar a atenção do leitor e de transmitir o conteúdo desejado.

Preliminarmente: O que é um parágrafo? É a parte de um texto que contém uma


ideia central e, eventualmente, outras acessórias. Suas partes mantêm maior relação
entre si do que com o restante do texto.

Um parágrafo modelo deve conter: uma frase que resuma a ideia central; frases com
o desenvolvimento da ideia; conclusão.

Ex.: O reclamante tem direito ao pagamento de inúmeras horas extras. Como se


extrai dos cartões de ponto, ele sempre trabalhou além do horário contratual, em
vários dias da semana, por exigência expressa do supervisor, mas não recebeu a
contraprestação devida, o que se evidencia pela análise dos contracheques. Logo, a
reclamada deve ser condenada ao pagamento das horas extras inadimplidas.

Teoria dos 6 Cs:

1. Claro
2. Coerente
3. Coeso
4. Correto
5. Conciso
6. Certeiro

Obs.: exemplos de textos extraídos de peças jurídicas.

1. CLARO - Que não é escuro; límpido, transparente, translúcido; que se vê


perfeitamente; visível, distinto.

É o texto simples na forma e límpido no pensamento transmitido.


Manual de redação da Presidência da República

“Não se concebe que um documento oficial ou um ato normativo de qualquer natureza


seja redigido de forma obscura, que dificulte ou impossibilite sua compreensão. A
transparência é requisito do próprio Estado de Direito: é inaceitável que um texto
oficial ou um ato normativo não seja entendido pelos cidadãos. O princípio
constitucional da publicidade não se esgota na mera publicação do texto, estendendo-
se, ainda, à necessidade de que o texto seja claro.”

Exemplo: “O autor sofreu um sério problema de saúde durante e por conta das
atividades de trabalho, não tendo sido auxiliado pela empregadora em nenhum
momento, mesmo com grave restrição na capacidade de trabalho. É preciso dizer que
o autor procurou a ajuda da empresa, mas não recebeu nada além da omissão. Em
razão do mal físico sofrido pelo reclamante, não há outra alternativa a não ser a
propositura da ação trabalhista.”

Proposta de reescrita: O autor sofreu um sério acidente de trabalho, mas não recebeu
apoio, nem atendimento médico por parte da empregadora, a qual estava ciente da
restrição da capacidade laboral do reclamante e, mesmo assim, manteve-se inerte.
Diante disso, não há alternativa a não ser a propositura desta demanda trabalhista.

Exemplo: “É importante registrar que o autor exigiu conversar pessoalmente com o


réu, seu pai e o gerente Fulano, com o intuito de saber das razões da dispensa
repentina.”

Proposta de reescrita: É importante registrar que o autor exigiu conversar


pessoalmente com o gerente Fulano, o réu e o pai deste, com o intuito de saber das
razões da dispensa repentina.

LEI COMPLEMENTAR Nº 95, DE 26 DE FEVEREIRO DE 1998

Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem lógica, observadas,
para esse propósito, as seguintes normas:

I - para a obtenção de clareza:

a) usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a norma versar sobre
assunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura própria da área em que se esteja
legislando;
Ex.: Fulano recusou-se a receber a substância que, contendo certos agentes patológicos, mortos ou
atenuados, é introduzida no organismo para provocar a formação de anticorpos, desenvolvendo
imunidade às doenças por eles causadas.

Fulano recusou-se a receber a vacina.

b) usar frases curtas e concisas;

Ex.: Após longos e longos anos trabalhando, de maneira incansável, o trabalhador foi expurgado da
fazenda como um ser imprestável.

Após longos anos de contrato, o trabalhador foi dispensado de forma desconsiderada.

c) construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e adjetivações


dispensáveis;

Ex.: Em noite erma e pluviosa, de modo sub-reptício, os invasores do terreno apossaram-se


injustamente de coisa alheia imóvel.

A invasão clandestina do terreno deu-se em noite chuvosa.

d) buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto das normas legais, dando preferência ao
tempo presente ou ao futuro simples do presente;

Ex.: O depoimento da testemunha Beltrano demonstrou que o negócio jurídico foi rescindido por
vontade de ambas as partes. Já o documento de fl.xx comprova a licitude da retirada da mercadoria.

e) usar os recursos de pontuação de forma judiciosa, evitando os abusos de caráter estilístico;

Ex.: Não é possível crer em tamanha violência!!!!! A que ponto chega a crueldade humana?!?!

Não é possível crer em tamanha violência! A que ponto chega a crueldade humana?

2. COERENTE - Que é lógico; que contém lógica, coerência; que se apresenta


logicamente. Coerência atua em nível mais profundo, subjacente ao texto. É a
interligação dos elementos textuais que confere sentido completo ao texto.

Exemplo: “O juízo de 1º grau entendeu, corretamente, que a tese autoral encontra


respaldo nos fatos, embora não esteja de acordo com a melhor interpretação
legislativa, conforme jurisprudência recente da Corte Superior Trabalhista. Não há que
se falar, portanto, em reparo da sentença já que, como fonte secundária do Direito, a
jurisprudência também possui certo grau de vinculatividade, principalmente, quando
se trata do caro princípio da segurança jurídica”.

Proposta de reescrita: O juízo de 1º grau entendeu, corretamente, que a tese autoral


encontra respaldo nos fatos, embora não esteja de acordo com a melhor interpretação
legislativa, conforme jurisprudência recente da Corte Superior Trabalhista. Nesse
passo, apesar de a jurisprudência, com fonte secundária do Direito, possuir certo grau
de vinculatividade, em respeito ao caro princípio da segurança jurídica, não há que se
falar em reparo na sentença, pois esta reflete a melhor subsunção do fato à norma.

Exemplo: “Embora fosse excelente atleta, estivesse em ótimas condições físicas e


muito bem treinado para a prova, chegou em primeiro lugar.”

Proposta de reescrita: Porque era excelente atleta, estava em ótimas condições físicas
e muito bem treinado para a prova, chegou em primeiro lugar.

3. COESO - Que usa corretamente os aspectos gramaticais, conectando os


elementos de um texto; que apresenta harmonia entre suas partes, favorecendo a
progressão textual de maneira fluida. Em geral, a coesão é explícita no texto e é
garantida por conectivos (palavras ou locuções) que harmonizam os vocábulos.

Exemplo: “O réu demonstrou tibieza em seu depoimento, vacilando em várias


respostas, tergiversando e buscando respostas evasivas. Na verdade, quando
confrontado com os documentos de fls. xx, o réu não conseguiu refutar nem explicar
a origem dos mencionados documentos. Portanto, as respostas do réu foram bastante
genéricas e nada firmes, não acrescentando nenhum elemento para a elucidação dos
fatos. Embora tenha prestado um longo depoimento, quase nada de útil para o
deslinde do litígio pode ser extraído das frágeis respostas declinadas pelo réu.”

Proposta de reescrita: O réu demonstrou tibieza em seu depoimento, tergiversando e


buscando respostas evasivas. Quando confrontado com os documentos de fls. xx, o
réu não soube refutar nem explicar a origem dos mencionados documentos. Em
suma, de seu depoimento não se pode extrair nenhum elemento útil para a elucidação
dos fatos ou para o deslinde do litígio.

4. CORRETO - Desprovido de erro ou defeito; que se encontra em conformidade


com as regras; certo; que se adéqua às regras ou normas; que obedece às normas
linguísticas.

Exemplo: “Em princípio, é necessário registrar que o autor sempre foi um empregado
pontual, assíduo e cumpridor das suas obrigações. Portanto, a aplicação da dispensa
por justa causa depois de uma (apenas uma!) falta injustificada ao serviço não pode
ser tolerada. Isso sem contar as ofensas perpetradas pelo gerente da loja. Tratam-se
de palavras de baixo calão que não merecem ser transcritas aqui. É verdade que a
coordenadora de RH, Sra. Fulana, interviu em favor do autor, mas o diretor da
empresa não deu ouvidos ao justo apelo da citada coordenadora”.

Proposta de reescrita: A princípio, é necessário registrar que o autor sempre foi um


empregado pontual, assíduo e cumpridor das suas obrigações. Portanto, a aplicação
da dispensa por justa causa depois de uma (apenas uma!) falta injustificada ao
serviço não pode ser tolerada. Isso sem contar as ofensas perpetradas pelo gerente
da loja. Trata-se de palavras de baixo calão que não merecem ser transcritas aqui. É
verdade que a coordenadora de RH, Sra. Fulana, interveio em favor do autor, mas o
diretor da empresa não deu ouvidos ao justo apelo da citada coordenadora.

5. CONCISO - Resumido ao essencial; sintetizado em poucas palavras; sucinto;


objetivo; que se utiliza de poucos recursos para exprimir um conceito ou conteúdo.

Manual de Redação da Presidência da República

“Conciso é o texto que consegue transmitir o máximo de informações com o mínimo


de palavras. Não se deve de forma alguma entendê-la como economia de
pensamento, isto é, não se deve eliminar passagens substanciais do texto com o único
objetivo de reduzi-lo em tamanho.”

Exemplo 1: “Na linguagem escrita, diferentemente da despretensiosa e possível


linguagem falada do dia a dia, cabe ao operador do Direito a irrestrita adesão às
normas da gramática, devendo o transmissor preocupar-se com a clareza e a
objetividade. Esse cuidado no redigir remete aquele que lida com a linguagem
jurídica, na qualidade de transmissor da mensagem, à chamada norma culta, aquela
de maior prestígio, por meio da qual deverá observar as normas gramaticais em sua
plenitude. Dessa forma, o profissional do Direito deve ficar circunscrito ao rigor da
linguagem formal.” (88 palavras)

Proposta de reescrita: Na linguagem escrita, diferentemente da despretensiosa


linguagem falada do dia a dia, cabe ao operador do Direito a irrestrita adesão às
normas da gramática, devendo o transmissor da mensagem de conteúdo jurídico
preocupar-se com a clareza e a objetividade, atentando para as regras previstas pela
prestigiosa norma culta da língua. (50 palavras)

Exemplo 2: “O depoimento da testemunha Fulano, indicado pelo réu, demonstrou de


maneira clara e inequívoca que houve, sim, promessa de promoção do autor ao cargo
de supervisor, o que se deduz do depoimento de Fulano e, ainda, do documento de
fls. xx, não havendo dúvida de que a promoção foi garantida ao autor, o qual cumpriu
os requisitos exigidos, mas não obteve a alteração de cargo.” (65 palavras)

Proposta de reescrita: A promessa de promoção do autor ao cargo de supervisor foi


comprovada pelo depoimento da testemunha Fulano, indicado pelo réu, e pelo
documento de fls. xx. Embora o autor tenha cumprido os requisitos que lhe foram
exigidos, não obteve a prometida ascensão de cargo. (44 palavras)

Dica para concisão: uso do gerúndio


Ex.: Quando a audiência enfim terminar, poderemos descansar um pouco.
Sugestão: Terminando a audiência, poderemos descansar um pouco.

6. CERTEIRO - Que acerta bem; atilado; que alcança com exatidão o alvo; preciso;
exato; categórico.

Exemplo: “Nada mais estapafúrdio do que a narrativa da peça de defesa! O réu alega
ter havido violação contratual pelo autor, sem nem explicar que cláusula teria sido
infringida. Além do mais, é preciso deixar claro que se não houve o integral
cumprimento do contrato celebrado entre as partes, essa infração se deve
exclusivamente ao comportamento do réu. E mais, tratando-se de contrato de
transporte, a responsabilidade do réu é sabidamente objetiva, embora, apenas
remotamente, possa-se falar em culpa concorrente.”

Proposta de reescrita: Não merece guarida a tese defensiva pelas seguintes razões: a
alegação de violação contratual é completamente genérica, sem especificação sequer
da cláusula supostamente infringida; a responsabilidade do réu, pela natureza do
contrato de transporte, é sabidamente objetiva; e, ainda que assim não fosse, o
descumprimento do contrato deu-se exclusivamente por culpa do réu.

LEI COMPLEMENTAR Nº 95, DE 26 DE FEVEREIRO DE 1998

Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem lógica, observadas,
para esse propósito, as seguintes normas:

(…)

II - para a obtenção de precisão:

a) articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita compreensão do objetivo da


lei e a permitir que seu texto evidencie com clareza o conteúdo e o alcance que o legislador pretende dar
à norma;

b) expressar a idéia, quando repetida no texto, por meio das mesmas palavras, evitando o emprego
de sinonímia com propósito meramente estilístico;

c) evitar o emprego de expressão ou palavra que confira duplo sentido ao texto;

d) escolher termos que tenham o mesmo sentido e significado na maior parte do território nacional,
evitando o uso de expressões locais ou regionais;

(…).

A importância do paralelismo

Paralelismo, para a Gramática, significa simetria, identidade, similitude, afinidade ou


correspondência.
O objetivo do paralelismo é apresentar ideias similares em estruturas gramaticais
semelhantes.

A observância das regras de paralelismo confere, especialmente, coesão, coerência e


clareza ao texto.

a) Semântico: simetria ou afinidade entre as ideias contidas na oração. Atua no


plano da coerência.

Exemplo: “A reclamada não pagou corretamente as horas extras e o cálculo correto


do adicional de insalubridade.”

Proposta de reescrita: A reclamada não pagou corretamente as horas extras nem as


diferenças do adicional de insalubridade.

b) Sintático: simetria entre as estruturas sintáticas contidas na oração. Atua no


plano da coesão.

Exemplo: “Condeno a reclamada a: i) pagar as horas extras com os reflexos


discriminados na fundamentação; ii) entregar os documentos rescisórios no prazo e
sob as cominações acima estipuladas; iii) diferenças de adicional de insalubridade; iv)
deferir os benefícios da justiça gratuita.”

Proposta de reescrita: Condeno a reclamada a: i) pagar as horas extras com os


reflexos discriminados na fundamentação; ii) pagar as diferenças de adicional de
insalubridade; iii) entregar os documentos rescisórios no prazo e sob as cominações
acima estipuladas.
Defiro à reclamada os benefícios da justiça gratuita.

Exemplo: “Determino que a 2ª reclamada apresente, no prazo de 10 dias, os


documentos mencionados no Id. xxxx e a conceder a oportunidade de o reclamante
migrar para o novo plano de saúde.”

Proposta de reescrita: Determino que a 2ª reclamada apresente, no prazo de 10 dias,


os documentos mencionados no Id. xxxx e comprove a concessão da oportunidade de
o reclamante migrar para o novo plano de saúde.
Pronomes relativos

Não têm significado próprio.

Representam sempre o termo ou oração antecedente, a que se referem. São termos


“relativos” a outros termos.

Todos os pronomes que puderem ser substituídos pelos pronomes relativos


“clássicos”: o qual, a qual, os quais, as quais e demais derivações.

Que

Pode se referir a pessoas, coisas, lugar e tempo (bem eclético).

Ex.: Aquela advogada que usa blusa florida é uma das mais competentes da cidade.
O carro que comprei é vermelho.
Como é bela aquela praia que tem areias monazíticas.
Aquele foi um século que marcou a história do desenvolvimento agrícola.

Ter cuidado com ambiguidades e quando o pronome relativo estiver distante do seu
antecedente, o que se pode fazer com a substituição do “que” por “o qual” e
variações.

Ex.: A advogada daquele escritório, que (a qual/o qual) possui grande renome,
defenderá o réu.
O juiz da causa, que (a qual/ o qual) é uma bomba relógio, ainda não chegou ao
fórum.

Alguns gramáticos contraindicam sua utilização quando precedido de preposições ou


locuções prepositivas com duas ou mais sílabas, em prol da fluidez do texto,
sugerindo a substituição por “o qual” e variações.

Ex.: O juiz perante que (o qual) o réu compareceu foi muito inflexível.
Os depoimentos foram ruins apesar de que (dos quais) mantenho a confiança.
Saiu a decisão conforme a que (a qual) um dos réus foi absolvido.

Quem

Só se refere a pessoas ou coisas personificadas.

Ex.: O advogado a quem me referi é aquele de terno cinza.


Não me recordo da pessoa a quem ofereci ajuda.
Lembra-se daquela testemunha sobre quem falei mais cedo?
A dor foi quem me ensinou o caminho do bem.

Onde/Aonde/Donde

Refere-se a lugar físico ou virtual.

Pode haver contração com preposição antecedente.

Ex.: Esta é a casa onde nasci e cresci.


Meu escritório é o lugar onde me sinto mais à vontade.
Encontrei a informação na internet, onde se acha de tudo.
O fórum aonde sempre vou é muito bonito.
A cidade donde venho é pacata e bucólica.

Exemplos de mau uso:

Os servidores já respondem a processo administrativo, onde (pelo qual) podem


perder os cargos públicos.
Brilhante a defesa da tese de doutorado, onde (segundo a qual, por meio da qual) a
professora apontou os equívocos dos estudos anteriores.

Quanto

Ideia de quantidade ou intensidade.

Antecedido de tudo, todas, todos, tanto.

Ex.: Vou trabalhar tanto quanto puder.


Ele fará tudo quanto estiver ao seu alcance.
Todos quantos estiveram aqui duvidaram do que seus olhos viram.
Farei vigília em tantas quantas noites sejam necessárias.

Quando

Refere-se apenas a tempo.

Dispensa o uso de preposição.

Ex.: Não houve um momento sequer quando a audiência foi tranquila.


Foi no dia seguinte ao crime quando o suspeito se entregou à polícia.
É sempre de madrugada quando consigo trabalhar com calma.
Durante o depoimento foi quando o réu demonstrou nervosismo.
Cujo

Transmite noção de posse.

Concorda sempre com o termo posterior, com a coisa possuída.

Ex.: Esses são os réus cujas ações já foram julgadas.


Passou mal o advogado cujos clientes teriam audiência hoje à tarde.
Ela é a escritora em cujo romance me inspirei.
Esse processo, de cuja sentença recorri, é o mais complexo que já assumi.

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Pronomes demonstrativos

Podem ser distinguidos com base nos seguintes critérios: espaço, tempo e texto.

Este e variações

Espaço: próximo de quem fala/escreve

Este livro foi um presente do meu avô.


A gravata mais bonita que tenho é esta.
Protocolarei ainda hoje esta petição.

Tempo: momento atual ou futuro ou passado pouco distante

Neste século, houve muitos avanços científicos e tecnológicos.


Estão demorando a passar estes tempos pandêmicos.
Nesta noite, não consegui dormir bem.
Esta semana foi pouco produtiva no escritório.

Texto: o que está sendo dito ou o que será dito (catáfora) – projeção

Só posso adiantar-lhe isto: não trabalharei mais aqui.


A principal tese defensiva é esta: culpa exclusiva da vítima.
Profiro este discurso de maneira emocionada.

Dois elementos antecedentes – refere-se ao mais próximo

O réu e seu advogado chegaram mais cedo ao fórum. Este veio de carro.
Maria e Marta não chegaram a um acordo por causa da intransigência
desta.
O promotor e o delegado não se cumprimentaram, talvez por distração
deste.

Esse e variações

Espaço: distante de quem fala/escreve e/ou próximo de quem ouve/lê

Esse livro foi um presente do meu avô.


A sua gravata mais bonita é essa.
Você deveria protocolar essa petição ainda hoje.

Tempo: passado próximo

Essa semana foi cheia de boas oportunidades no escritório.


Esse dia foi memorável.

Texto: o que já foi dito (anáfora) – retomada


O autor perdeu-se a caminho fórum. Por essa razão, chegou atrasado
para a audiência.
Culpa exclusiva da vítima: essa é a principal tese defensiva.

Dois elementos antecedentes – refere-se a ambos

O réu e seu advogado chegaram mais cedo ao fórum. Esses vieram de


carro.
O promotor e o delegado não se cumprimentaram, talvez por distração
desses.

Aquele

Espaço: distante de quem fala/escreve e de quem ouve/lê

Aquela paisagem sempre me traz boas recordações.


Aquele livro foi um presente do meu avô.
A sua gravata mais bonita é aquela em tons de azul.
Você deveria protocolar aquela petição ainda hoje.

Tempo: passado distante

Naquela época, a vida era mais simples e as relações humanas, mais


puras.
Aquele foi um dia memorável.

Texto: dois elementos antecedentes – refere-se ao mais distante

O réu e seu advogado chegaram mais cedo ao fórum. Este veio de carro,
enquanto aquele, de ônibus.
Maria e Marta não chegaram a um acordo por causa da intransigência
desta e da impaciência daquela.
O promotor e o delegado não se cumprimentaram, talvez por distração
deste ou arrogância daquele.

E quando houver três elementos antecedentes?

O réu, seu advogado e o assistente técnico chegaram mais cedo ao


fórum. Este veio de metrô; esse chegou de carro; aquele, de ônibus.
Maria, Marta e Beatriz não chegaram a um acordo por causa da avareza
desta, da intransigência dessa e da impaciência daquela.

Observação: Nisto é tradicionalmente utilizado no sentido de “então” ou “nesse


momento”.

Estava saindo de casa. Nisto, presenciei o acidente de trânsito.


A advogada ia fazer a pergunta crucial. Nisto, a testemunha desmaiou.
Os porquês

POR QUE – junção da preposição “por” com o pronome interrogativo “que” ou com o
pronome relativo “que”.

No primeiro caso (“que” interrogativo), aparece em perguntas diretas ou indiretas;


pode ser substituído por “por qual razão” ou “por qual motivo”.

Por que o juiz rejeitou o pedido de bloqueio de bens? (Pergunta direta)


Gostaria de saber por que o juiz rejeitou o pedido de bloqueio de bens.
(Pergunta indireta)
Por que a advogada não quis fazer perguntas às testemunhas? (Pergunta
direta)
Eu não sei por que a advogada não quis fazer perguntas às testemunhas.
(Pergunta indireta)
Por que os corruptos não vão para a cadeia? (Pergunta direta)
A sociedade quer entender por que os corruptos não vão para a cadeia.
(Pergunta indireta)

No segundo caso (“que” relativo), estabelece-se uma relação com um termo


antecedente; pode ser substituído por “pelo qual” e variações.

A rodovia por que segui é cheia de praças de pedágio.


Os direitos e as garantias fundamentais são causas por que devemos
sempre lutar.
Estabilidade e boa remuneração, essas são as maiores razões por que os
concursos públicos são concorridos.
Entendo perfeitamente o motivo por que você está calado.

POR QUÊ – junção da preposição “por” com o pronome interrogativo tônico “quê”;
utilizado sempre ao final da frase; pode ser substituído por “por qual motivo”, “por
qual razão”.

O pedido foi julgado improcedente, mas o juiz não esclareceu por quê.
As provas anexadas anteontem foram excluídas do processo, por quê?
Os advogados se hostilizaram por quê?
Durante o interrogatório, o acusado não quis dizer por quê.

PORQUE – conjunção causal ou explicativa; utilizado em respostas e explicações;


indica a causa; pode ser substituído por “pois”, “visto que”, “uma vez que”.

A advogada desistiu da oitiva da testemunha porque entendeu que as


provas já produzidas eram suficientes.
Ele propôs ação de consignação em pagamento porque estava em dúvida
sobre a pessoa do credor.
O promotor estava desconcentrado na audiência porque passa por sérios
problemas pessoais.

PORQUÊ – substantivo; geralmente acompanhado de artigo (definido ou indefinido),


pronome, adjetivo ou numeral; pode ser substituído por “motivo”, “razão”.

A promotora não entendeu o porquê de tanta hostilidade da parte do


advogado.
O atraso na audiência tem dois porquês: o advogado do autor ainda não
chegou e o promotor requereu o adiamento para daqui a uma hora.
Espero que seu comportamento irônico tenha um bom porquê.
A sociedade quer saber o porquê de tão elevado gasto com uma simples
praça.
Pronomes pessoais

São os pronomes que indicam as pessoas do discurso.

Quem fala: EU – NÓS (1ª pessoa)


Com quem se fala: TU – VÓS (2ª pessoa)
De quem se fala: ELE – ELA – ELES – ELAS (3ª pessoa)

Caso reto: EU TU ELE/ELA NÓS VÓS ELES/ELAS

Atuam como sujeito ou predicativo.

Caso oblíquo (átonos): ME TE SE/O/A/LHE NOS VOS SE/OS/AS/LHES

Atuam como complemento.

Sem preposição.

Sempre próximos ao verbo – ênclise, próclise, mesóclise.

a) Se o verbo não exigir preposição, o pronome atuará como objeto direto e


deveremos utilizar: O A OS AS
Ex.: Comprei este apartamento há pouco tempo.
Comprei-o há pouco tempo.
Ainda não proferiu a sentença.
Ainda não a proferiu.

Nesses mesmos casos, quando houver o emprego da 3ª pessoa, se o verbo


terminar em R, S ou Z, adotaremos as formas pronominais: LO LA LOS LAS –
excluindo as letras R, S ou Z do final do verbo.
Ex.: Não foi possível analisar o processo.
Não foi possível analisá-lo.
Eu fiz o que ele pediu porque quis.
Eu fi-lo porque quis.
Encontramos a testemunha perdida nas escadas do fórum.
Encontramo-la perdida nas escadas do fórum.

Também quando houver a utilização da 3ª pessoa, se o verbo terminar em


DITONGO NASAL, adotaremos as formas pronominais: NO NA NOS NAS.
Ex.: Aos gritos, chamaram a atenção do réu.
Aos gritos, chamaram-na.
As advogadas requereram as certidões processuais.
As advogadas requereram-nas (ou as requereram).
Ele põe o chapéu sobre a mesa e começa a falar.
Ele põe-no sobre a mesa e começa a falar.
b) Se o verbo exigir preposição, o pronome atuará como objeto indireto e
deveremos utilizar: ME TE LHE NOS VOS LHES

Observações quanto ao uso da 3ª pessoa (LHE LHES):

i. O pronome pessoal substituirá “a ele”, “para ele”, “nele” e suas variações.

Ex.: Eu avisarei a ele a nova data.


Eu lhe avisarei a nova data.
O réu se antecipou e pagou aos autores as parcelas do acordo.
O réu se antecipou e pagou-lhes as parcelas do acordo.
A perita pediu uma orientação para a juíza.
A perita pediu-lhe uma orientação.

ii. O pronome pessoal poderá, ainda, substituir um pronome possessivo (“seu”, “dele”
e variações).

Ex.: O depoimento da testemunha agravou a situação do réu.


O depoimento da testemunha agravou-lhe a situação.
A banca examinadora parece ter ignorado os argumentos dela.
A banca examinadora parece ter-lhe ignorado os argumentos.
A crise econômica paralisou as atividades da sociedade empresarial.
A crise econômica paralisou-lhe as atividades.

Caso oblíquo (tônicos): MIM/COMIGO TI/CONTIGO SI/CONSIGO/ELE/ELA


NÓS/CONOSCO VÓS/CONVOSCO SI/CONSIGO/ELES/ELAS

Sempre precedido de preposição.

É correto o uso de “com nós” e “com vós” se houver a utilização de todos, ambos,
outros, mesmos, próprios, substantivos e numerais.

Ex.: Foi o que fizemos com nós mesmos (e não “conosco mesmos”).
O juiz concordou com vós todos (e não “convosco todos”).
A testemunha esclareceu tudo o que houve com nós três (e não “conosco
três”).

- Orações introduzidas pela preposição “entre”: uso dos oblíquos tônicos.

Ex.: Entre mim e ti não há divergência.

Exceção: antes de verbo no infinitivo, deve-se utilizar como sujeito um pronome reto.

Ex.: Entre eu chorar e tu sofreres, prefiro chorar.


- Quando utilizar “entre si” ou “entre eles/elas”? “Consigo” ou “com eles/elas”?

Se o pronome se refere ao sujeito da oração: entre si – consigo (modo reflexivo).


Se o pronome não se refere ao sujeito da oração: entre eles/elas – com eles/elas.

Ex.: Os advogados acabaram discutindo asperamente entre si.


As partes chegaram a um acordo conversando entre si.
A discussão dos advogados foi apenas entre eles.
O juiz levou o processo consigo.
A decisão da juíza? Ah, isso é apenas com ela.

O pronome “SE” como partícula apassivadora e índice de


indeterminação do sujeito

a) O pronome SE funciona como partícula apassivadora em construções na voz


passiva pronominal (voz passiva sintética).

Para identificar se o SE está na função apassivadora, basta colocar a oração na


“ordem direta”: voz passiva analítica – verbo SER + verbo no PARTICÍPIO.

Nesse tipo de construção, o pronome SE atua como se fosse o verbo SER.

Dica: sempre haverá um verbo TD ou TDI.

Ex.: Vendem-se lotes neste local. (Ordem direta: Lotes são vendidos neste local.)
Devolveram-se as terras aos legítimos donos. (Ordem direta: As terras foram
devolvidas aos legítimos donos.)
Intimem-se as partes. (Ordem direta: As partes sejam intimadas.)
Que se deem todas as honras a ele. (Ordem direta: Que todas as honras sejam
dadas a ele.)
Protocolaram-se as petições. (Ordem direta: As petições foram protocoladas.)
Apreende-se o conteúdo com estudo e revisão. (Ordem direta: O conteúdo é
apreendido com estudo e revisão.)

b) Já como índice de indeterminação do sujeito, o pronome SE associa-se a um


verbo cujo sujeito é genérico, impreciso, indeterminado, em construções na voz ativa.

Não fará sentido a tentativa de passar a oração para a voz passiva analítica.

Funciona para verbos de qualquer transitividade.

Dica: substitua o SE por “alguém”.

Ex.: Trata-se de questões complexas. (“questões” não é sujeito do verbo “tratar”,


mas objeto indireto, além do quê, o sujeito é indeterminado, logo, o verbo sempre
fica na 3ª pessoa do singular)
Precisa-se de empregados com experiência. (“empregados” não é sujeito do
verbo “precisar”, mas objeto indireto)
Ali trabalhava-se com prazer. (verbo intransitivo, mais uma vez, com sujeito
impreciso)
A vida é leve quando se está feliz. (verbo de ligação, sujeito indefinido)

Plural de modéstia – utilizar a 1ª pessoa do plural (nós) para indicar o


compartilhamento de ideias, opiniões, diminuir o tom impositivo ou muito pessoal da
fala. Muito utilizado por políticos e oradores.

Ex.: Viemos a esta tribuna para esclarecer os fatos em discussão.


Tudo o que fizemos, em 30 anos de vida pública, foi para o bem do povo.
Depois de muita reflexão, decidimos pela candidatura a governador.

OBSERVAÇÕES SOBRE PRONOMES DE TRATAMENTO

Referem-se à pessoa com quem se fala (2ª pessoa do discurso).

Valem como verdadeiros pronomes pessoais: você, senhor(a), Vossa Excelência


etc.

Dizem respeito à 2ª pessoa, mas o verbo é conjugado na 3ª pessoa.

Ex.: O senhor virá para o almoço?


Vossa Excelência compreendeu o que eu disse?

Quando o pronome de tratamento se referir à pessoa de quem se fala (3ª


pessoa), utiliza-se: Sua Excelência, Sua Majestade, Sua Santidade etc.

PRESTA ATENÇÃO, INDIVÍDUO!

i. Separa-se por vírgulas a expressão “para mim” quando no sentido de “na minha
opinião”.

Ex.: Esse processo, para mim, não deveria sequer ter começado.
O interrogatório do acusado foi muito superficial, para mim.
Para mim, um acordo é sempre a solução menos dolorosa.

ii. A expressão “ei-lo” substitui “eis ele”.

Ex.: A testemunha entrou na sala e o advogado disse: “ei-la”.


Quer ver as provas? Ei-las aqui.
Colocação pronominal

Apenas pronomes oblíquos ÁTONOS: ME TE SE/O/A/LHE NOS VOS SE/OS/AS/LHES

Sempre próximos ao verbo.

Sem preposição.

ÊNCLISE – Pronome depois do verbo


PRÓCLISE – Pronome antes do verbo
MESÓCLISE – Pronome no meio do verbo

Não se inicia período com pronome átono. Próclise vedada!


Vale para toda pontuação (ponto final; ponto e vírgula; ponto de exclamação; ponto
de interrogação; dois pontos).

Me conte como foi a audiência! (errado)


Conte-me como foi a audiência! (certo)
A sentei ao meu lado e comecei a relatar o caso. (errado)
Sentei-a ao meu lado e comecei a relatar o caso. (certo)
Lhe entrego o meu coração e é assim que reage? (errado)
Entrego-lhe o meu coração e é assim que reage? (certo)

PRÓCLISE – pronome oblíquo átono ANTES do verbo

i. Usa-se próclise com verbo modificado por advérbio ou precedido de palavra


negativa ou, ainda, de pronome ou quantitativo indefinidos.

Não me parece adequado o seu comportamento.


Nunca o tratei com desrespeito.
Sempre me recebe com um largo sorriso.
Ninguém lhe devolveu o objeto que estava perdido.
Tudo a incomoda nesta fase de provas.
Farei tudo quanto me convier.
Ainda as encontrei pela manhã.
Alguém o golpeou pelas costas.

ii. Usa-se próclise quando a oração é iniciada por palavra interrogativa ou


exclamativa.

Quem me explicará o que ocorreu aqui?


Quando o encontraram desmaiado?
Quanto lhe devo pela consulta?
Como te maltratam os teus irmãos!

iii. Usa-se próclise com o verbo no gerúndio precedido da preposição “em”.


Em se tratando de crime, a competência não é deste juízo.
Não podemos nos entristecer, em lhe chegando a hora de partir.

iv. Usa-se próclise em orações optativas (expressam desejo) e exclamativas e sujeito


antes do verbo.

Que Deus o abençoe!


Bons ventos o levem!
Que a alegria a acompanhe!

v. Usa-se próclise quando houver pronome relativo antes do verbo.

Você não conhece a pessoa por quem se apaixonou.


Maria disse não saber onde se perdeu naquela noite.
Este é o livro do qual lhe falei.

vi. Usa-se próclise em orações alternativas.

A advogada ora se indignava, ora se calava.


As minutas de contrato têm que ser feitas: ou as faz ela ou as faço eu.

MESÓCLISE

Usa-se mesóclise apenas quando verbo estiver no futuro do presente ou no futuro do


pretérito, desde que não haja palavra que exija a próclise.

Com esses tempos verbais, NÃO se usa ênclise.

A audiência realizar-se-á no fim de outubro. (Nunca: realizará-se)


Os candidatos reunir-se-ão para o debate. (Nunca: reunirão-se)
Se tivesse paciência com os resultados, alcançá-los-ia com mais frequência.
(Nunca: alcançaria-os)

Você se lembrará de tudo o que eu disse.


OU
Você lembrar-se-á de tudo o que eu disse.

Eu me inscreveria no concurso se estivesse no seu lugar.


OU
Eu inscrever-me-ia no concurso se estivesse no seu lugar.

Ela se calará diante dessa situação?


OU
Ela calar-se-á diante dessa situação?
Palavra que exija próclise:

A audiência NÃO se realizará no fim de outubro. (não cabe: realizar-se-á)


Os candidatos JAMAIS se reunirão para o debate. (não cabe: reunir-se-ão)
Se tivesse paciência com os resultados, NUNCA os deixaria escapar. (não cabe:
deixá-los-ia)

ÊNCLISE

i. Verbo no início da oração – se não estiver no futuro do presente nem no futuro do


pretérito.

Intimem-se as partes.
Oficie-se ao Ministério Público.
Abracei-a fortemente.

ii. Verbo no infinitivo e gerúndio – se não houver palavra que exija a próclise.

O vírus é forte, por isso, é importante combatê-lo.


Foi embora desmanchando-se em lágrimas.

iii. Pausa antes do verbo – se não estiver no futuro do presente nem no futuro do
pretérito.

Proferida a sentença, intimem-se as partes.


Uma vez ouvida a testemunha, dispense-a.

COM LOCUÇÕES VERBAIS

Observadas todas as regras anteriores:

I. Verbo auxiliar + Verbo no infinitivo ou no gerúndio

VOU EXPLICAR – QUERO FALAR


ESTOU EXPLICANDO – ESTOU FALANDO

a) Próclise no verbo principal:


Vou lhe explicar. – Quero lhe falar.
Estou lhe explicando. - Estou lhe falando.

b) Ênclise no verbo auxiliar (com hífen):


Vou-lhe explicar. - Quero-lhe falar.
Estou-lhe explicando. - Estou-lhe falando.

c) Ênclise no verbo principal (com hífen):


Vou explicar-lhe. - Quero falar-lhe.
Estou explicando-lhe. - Estou falando-lhe. (uso raro)

II. Verbo auxiliar + verbo no particípio

TENHO EXPLICADO – TENHO FALADO

a) Próclise no verbo auxiliar:


Eu lhe tenho explicado. - Eu lhe tenho falado.

b) Ênclise no verbo auxiliar:


Tenho-lhe explicado. - Tenho-lhe falado.

c) Próclise no verbo principal:


Tenho lhe explicado. - Tenho lhe falado.

NUNCA utilizar ênclise em verbo no particípio: Tenho explicado-lhe. (errado!)

Se quiser colocar pronome oblíquo depois do particípio, deve ser utilizado um


pronome tônico, precedido de preposição:

Ex.: Tenho explicado a ele. - Tenho falado a ela.

---
Regência verbal

A depender da regência, pode-se alterar completamente o sentido do verbo.

Ex.: Assistir, aspirar, implicar, suceder etc.

É necessário trabalhar casuisticamente.

Abster-se DE

Acarretar – Não pede preposição “em”.

Acomodar-se (ajustar-se, adaptar-se) A

Acudir A

Aditar A

Agradar A

Agradecer A

Ajudar TD/TI (A ou EM)

Anuir A

Aquiescer A/EM

Arriscar-se A

Aspirar (inalar, inspirar) TD


(desejar) A

Assentir A

Ela assentiu aos caprichos da filha.

Assistir (ajudar) TD
(presenciar) A

Atender A

Chegar A
Comparecer A

Consistir EM (e não DE)

Constar DE

Corroborar (confirmar) TD – não pede preposição “com”

Declinar (rejeitar) DE

Emendar TD

Esmerar-se EM

Esquecer TD
Esquecer-se DE

Implicar (acarretar) TD

Importar (acarretar) TD

Inquirir TD

Interrogar TD ou A

Intervir EM

Morar EM

Namorar TD (usar “com” é coloquial)

Obedecer (ou desobedecer) A

Oficiar A

Pagar (coisa) TD
(pessoa) A

Perdoar (coisa) TD
(pessoa) A

Preferir A (não usar advérbio mais, nem conjunção que ou do que)

Presidir TD ou A

Proceder (realizar, levar a efeito) A

Pugnar POR/CONTRA

Responder A

Suceder (acontecer) Int


(substituir, seguir-se) A
Visar (mirar, olhar, dar o visto) TD
(pretender) A
Crase

Crase (origem grega) = fusão, mistura, combinação

Acertar o uso da crase exige raciocínio e intuição. O raciocínio depende de


conhecimentos da língua portuguesa, mas a intuição está acessível a qualquer pessoa.

Para o que nos importa, chamamos de crase a contração de vogais idênticas.

Na pronúncia, pode ocorrer crase em algumas palavras (cooperação, coordenação,


compreender) ou entre vocábulos (da amiga, em todo o mundo, para aprender). Mas
é só na pronúncia, já que na escrita essas vogais mantêm a independência.

O que não acontece nos seguintes casos:

Em gramática normativa, ocorre a contração da preposição “a” com:


1) artigos definidos “a(s)”;
2) pronomes demonstrativos “a(s)”, “aquele(s)”, “aquela(s)”, “aquilo”;
3) pronomes relativos “a(s) qual(is)”.

Logo, o fenômeno linguístico da crase não se confunde com o sinal grave que o
assinala.

A regência do termo (verbo, nome ou advérbio) deve exigir a preposição “a”.

O acento indicativo de crase é, mais do que tudo, um “imperativo de clareza” (Celso


Luft).

Ex.: O acusado bateu a porta da casa da vítima.


O acusado bateu à porta da casa da vítima.

Ele passou o caso a outra advogada.


Ele passou o caso à outra advogada.

O trabalho dele é pintar a máquina.


O trabalho dele é pintar à máquina.

Dicas rápidas:

i) Substituir a palavra antes da qual aparece o “a(s)” por um termo masculino. Se o


resultado for “ao(s)”, utiliza-se o sinal de crase.

Ex.: Os advogados entregaram toda a documentação à juíza/ao juiz.


A testemunha dirigiu-se de maneira desrespeitosa à advogada/ao advogado.

ii) Substituir a preposição “a” por para/na/pela/da. Se a preposição não se flexionar


para o feminino, significa que o artigo “a” é dispensável, logo, não se usa o acento
indicativo de crase.

Ex.: Fui à escola / Venho da escola / Moro na escola / Passo pela escola
Fui a Brasília / Venho de Brasília / Moro em Brasília / Passo por Brasília

Principais hipóteses de ocorrência de crase:

a) Diante de palavra feminina com o uso do artigo “a(s)”

Ex.: Fui à região litorânea do estado.


O advogado dirigiu-se polidamente à testemunha.

b) Diante do artigo “a(s)” e dos pronomes demonstrativos “aquele(s)”, “aquela(s)”,


“aquilo”

Ex.: Gostaria de fazer perguntas àquele homem sentado ao fundo da sala.


Dirijo-me àquela região litorânea.
Caminhou em direção àquilo em que acreditava.

c) Diante de pronomes possessivos em referência a substantivo oculto

Ex.: Não pretendo fazer perguntas às testemunhas, exceto à sua.

d) Em locuções adverbiais formadas por substantivo feminino plural

Ex.: Às claras, às escondidas, às vezes, às ocultas, às duas da tarde etc.

e) Antes de horas determinadas

Ex.: O depoimento ocorrerá às quatro horas.


O crime foi cometido à uma hora da tarde.

f) Antes das formas pronominais “a(s) qual(is)”

Ex.: Essa é a promotora à qual me referi.

Não ocorre crase antes de:

a) Palavras masculinas

Ex.: Graças a Deus.


Respondi a ele com firmeza e destemor.
João pretende ser candidato a presidente.

b) Substantivos femininos em sentido geral, indeterminado


Ex.: Não abra a porta a pessoas estranhas.
Gosto de viajar a cidades praianas.

c) Artigos indefinidos

Ex.: Chegamos a uma razoável conciliação.


Ele atendeu a uma convocação do chefe.

d) Expressões de tratamento

Ex.: Não se trata de desrespeito a Vossa Excelência.


Dedico este poema a Vossa Senhoria.

Exceções: pronomes de tratamento senhora, senhorita e dona.

e) Pronomes pessoais, demonstrativos e indefinidos

Ex.: A ela todo o meu amor.


A esta mulher todo o meu amor.
A nenhuma mulher darei o meu amor.

f) Verbo

Ex.: Não me obrigue a fazer o que não quero!


Vocês não podem começar a discutir.

g) Palavra “casa” no sentido de próprio lar

Ex.: Voltei a casa para almoçar.


Chegamos a casa muito tarde.

h) Em expressões formadas com repetição do termo

Ex.: Face a face, cara a cara, frente a frente, gota a gota etc.

i) Em expressões que indicam duração, distância e em sequência do tipo “de... a...”

Ex.: Nosso curso será ministrado de segunda a quarta-feira.


A Segunda Guerra Mundial ocorreu de 1939 a 1945.
A audiência deve durar de uma a duas horas de duração.
Marcaram a reunião de três a cinco horas da tarde.

Exceção: Se as expressões começarem com o artigo, utiliza-se o sinal de crase para a


manutenção do paralelismo.
Ex.: Nosso curso será ministrado da (de + a) segunda à (a + a) quarta.
Marcaram a reunião das (de + as) três às (a + as) cinco horas da tarde.

Uso facultativo do sinal de crase

a) Antes de pronomes possessivos

Ex.: Estava me referindo a/à nossa fazenda.


A juíza atendeu a/à minha solicitação.

b) Antes de nomes próprios de mulheres

Ex.: Enviei o documento a/à Maria.


A minuta do contrato foi entregue a/à Elisa ontem à noite.

c) Diante da preposição “até”, quando no sentido de limite determinado

Ex.: O réu caminhou sozinho até a/à entrada da fazenda da vítima.


A delegada chegou até a/à superintendência para assumir o novo cargo.
ALGUNS ERROS CRASSOS (e comuns)

- Fundiário (do FGTS)

- Estabilitário (da estabilidade)

- Impago (não pago)

- Consumeirista (consumerista)

- Inacolher/Inacolhimento (desacolher/desacolhimento)

Atenção: improvimento (grafia preferível: desprovimento)

- Inaplicar (não aplicar – atenção: desaplicar)

- Inocorrer/Inocorrência (não ocorrer/não ocorrência)

- A teor de (conforme/consoante/de acordo com)

- Em sede de (no âmbito de/na esfera de/no campo de/em)

- Despiciendo (= desprezível, desdenhável, insignificante)

- Subsume-se (segue a conjugação do verbo “sumir”, logo, subsome-se)

- Uso do MESMO

“Mesmo” pode ser:

Adjetivo (o próprio, não outro) – O mesmo advogado participou de todas as


audiências de hoje.

Substantivo (a mesma coisa) – Aconteceu o mesmo conosco.

Advérbio (exatamente, realmente, também) – É mesmo uma alegria estar aqui hoje!
Conjunção concessiva (embora) – Mesmo passando mal, ela veio trabalhar.

Não se admite o uso do “mesmo” como pronome pessoal.


Ex.: O réu prestou um longo depoimento, no qual o mesmo confessou os crimes.
Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo se encontra no andar.

DICAS PRÁTICAS DE REDAÇÃO

- HORAS

A letra “h” minúscula junto ao numeral, sem espaço, sem ponto e sem a letras “s”.

Formas corretas:

8h 15h 22h 14h45 (preferencial) 14h45min 14h45min20s

- DATAS

Sem o número 0 antes dos números 1 a 9; o mês em letras minúsculas e por


extenso; o ano sem ponto após o milhar.

O primeiro dia do mês – e apenas ele – é ordinal.

Em datas abreviadas, é possível a utilização de ponto, traço ou barra.

Ex.: Salvador, 4 de fevereiro de 2022


Vitória da Conquista, 1º de março de 2020
4/2/2022 4-2-2022 4.2.2022

- CITAÇÃO DE DISPOSITIVOS LEGAIS

Se houver parágrafo único, não se pode utilizar o símbolo §.

Ex.: art. 6º, parágrafo único, da Constituição Federal.

Se houver mais de um parágrafo, é obrigatório o uso do símbolo §.

Ex.: art. 477, §8º, da CLT.

Não se usa vírgula na ordem direta: alínea – inciso – parágrafo – artigo – lei
Ex.: alínea a do inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição Federal.

Há vírgula na ordem indireta: lei – artigo – parágrafo – inciso – alínea

Ex.: Constituição Federal, art. 12, §4º, II, a.

Há vírgula quando não houver ordem (mista).

Ex.: art. 477, §8º, da CLT.

- ASPAS E PONTO FINAL

Quando a citação ocupar todo o período, o ponto deve ficar antes/dentro das aspas.

Ex.: “Amai-vos uns aos outros.” (Jesus Cristo)

Quando a citação abrange apenas parte do período, o ponto deve ficar depois/fora das
aspas.

Ex.: Segundo Jesus Cristo, a regra de ouro é “amai-vos uns aos outros”.

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