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MÉTODO

FÔNICO
O MÉTODO FÔNICO É UM
RETROCESSO?
Por que o método fônico é
combatido e evitado na
educação brasileira?

6 mentiras que te contaram


sobre o método fônico

CONFIRA AS RESPOSTAS
NESTE E-BOOK!
Sumário
1. O método fônico é um retrocesso?
Por que o método fônico é
combatido e evitado na educação
brasileira?
2. 6 mentiras que te contaram sobre o
método fônico
1.
O método fônico
é um retrocesso?

Por que o método


fônico é combatido
e evitado na
educação
brasileira?

O método fônico é um dos métodos de alfabetização. Entre eles


há:

i) métodos sintéticos que podem ser o fônico, silábico, alfabético


ou de soletração, neles o início da alfabetização parte das
menores unidades da palavra – fonemas, letras, sílabas em
direção aos morfemas, palavras, frases, textos, ou;

ii) métodos analíticos, também denominados de métodos globais


que podem ser por palavração, sentenciação ou textos/contos
que se dão do todo para as partes – nesses métodos a linguagem
funciona como um todo significativo e que a criança primeiro
percebe esse todo e só depois procede à análise das partes
(Benedetti, 2020). Os métodos são um meio para se alcançar a
alfabetização, não o fim em si. A finalidade da alfabetização é a
compreensão e produção de textos. Sendo que para se chegar a
esse fim é preciso primeiramente aprender a ler, ou seja, adquirir
o domínio do sistema de escrita alfabético e a partir disso ser
capaz de decodificar palavras (ler) e codificar (escrever) e o
método de alfabetização contribui para essa aquisição.
Sobre isso há duas correntes teóricas que defendem formas
diferentes de aquisição do domínio da leitura e são elas:

– Há quem defenda que se aprende a ler, lendo e que,


portanto, se adquire o domínio do sistema alfabético
naturalmente como resultado do amadurecimento cerebral
respaldado pelas interações sociais do indivíduo com o meio
em que ele se relaciona. O que já foi refutado pela ciência
cognitiva de leitura. Um estudo dos pesquisadores Bennet e
Sally Shaywitz, da Universidade de Yale dos Estados Unidos,
acompanharam no decorrer de vários anos, centenas de
crianças e identificaram que à medida que se melhora a leitura,
ou seja, como um reflexo da aprendizagem e não de um
simples efeito da maturação cerebral, algumas regiões do
cérebro identificadas pela maior habilidade em leitura vão
aumentando e isso depende mais do nível de leitura alcançada
pela criança do que de sua idade. Não basta para a criança a
maturação cerebral advinda da idade e simples exposição ao
ambiente letrado, primeiro precisa aprender a ler (esse
trabalho foi citado no livro “Os neurônios da leitura” de
Stanislas Deahene). Nas últimas décadas o Brasil sofreu
influência de duas teorias que consideravam a leitura como
uma construção de hipóteses levantadas pelas próprias
crianças de acordo com o seu desenvolvimento e interação
com a linguagem, dada através de um ambiente letrado, são
elas: o movimento Whole Language que refere-se a um
método global de alfabetização e foi uma das teorias que
serviu como fundamentação e reforço para as práticas
atualmente disseminadas e no Brasil, a Psicogênese da Língua
Escrita.
Tanto o movimento Whole Language, quanto a
psicogênese da língua escrita baseiam-se na falsa
premissa de comparar a natureza da linguagem
falada (inata, biologicamente herdada) à natureza
da linguagem escrita, uma invenção cultural, um
código de transcrição fonética que necessita ser
aprendido (Benedetti, 2020).

Frank Smith (1973) um dos fundadores do


movimento Whole Language citou que decodificar
não era relevante e que o objetivo da leitura era
construir significados e a criança não deveria se
distrair com outras tarefas. No entanto, as
evidências comprovam que a decodificação
não é apenas relevante, como essencial para
formação do bom leitor.
– Há quem defenda que para ler, a criança precisa aprender a
ler e para isso precisa ser sistematicamente ensinada. Essa
corrente está de acordo com as descobertas das últimas
décadas da ciência cognitiva da leitura que aponta que a
aquisição do domínio do sistema alfabético não é natural e
que a melhor forma de ensinar uma criança a ler é por meio
da relação grafema-fonema ou popularmente conhecida
como relação letra-som (Dehaene, 2012). Pois o alvo do
sistema alfabético são os fonemas visto que o português é um
idioma fonético representado por um alfabeto. Os gregos
aperfeiçoaram o alfabeto fenício e determinaram que os
símbolos da escrita não deveriam representar os elementos de
significado, nem mesmo sons complexos como sílabas inteiras,
mas sim, classes de menores unidades sonoras da língua
falada, os fonemas, e conceberam uma notação escrita capaz
de transcrevê-los.
Assim, a primeira corrente citada se baseia na aquisição do
sistema alfabético como algo natural que ocorrerá a partir das
relações do indivíduo com o meio e a maturação cerebral, e
prioriza o acesso ao significado e na compreensão da leitura,
que conforme citado anteriormente, é a finalidade da
alfabetização e para isso adota métodos globais. Tais métodos
estão concentrados no significado da leitura e o trabalho
fonológico de base foi substituído pelo trabalho discursivo e
pretendendo tornar a alfabetização um processo mais
“significativo” e motivador para os alunos, passou-se a valorizar
o sentido das palavras e a não a relação letra-som (Benedetti,
2020). Enquanto que a segunda corrente, por defender o ensino
explícito da relação letra-som faz-se valer de métodos sintéticos
que instruam sistematicamente quanto a isso. Na Figura 1
observa-se o resumo dessa primeira parte do texto; de um lado
os métodos analíticos que se baseiam em teorias de que a
aprendizagem da leitura é inata e do outro, os métodos
sintéticos que defendem a aquisição da leitura por instrução
explícita.
FIGURA 1
Não é de hoje que ocorrem as críticas aos métodos sintéticos,
sobretudo o método fônico, que ensina a criança a ler a partir
de uma progressão clara do mais simples ao mais complexo.
Em 1787, no século XVIII, Nicolas Adam citou que a
aprendizagem silábica “atormenta” as crianças para lhes fazer
memorizar um grande número de letras, sílabas e de sons dos
quais não devem compreender nada, enquanto seria
necessário se divertir com as palavras inteiras.

Outra crítica veio do americano Horace Mann, idealizador das


escolas públicas americanas, que no início do século XIX
protestou contra a ideia de ensinar as crianças que as letras
representam sons. Ele se referiu às letras do alfabeto como
“aparições horríveis e sem sangue” e argumentou que as
crianças seriam distraídas de compreender o significado do que
estavam lendo se concentrassem demais nas letras. Ele
acreditava que as crianças deveriam ser ensinadas a ler
palavras inteiras (Lionni, 2020).

Essa filosofia de supervalorização da criança e da necessidade


de agrada-las, como se a aquisição da leitura tivesse que ser
simplesmente algo natural e divertido e que não precisasse de
instrução explícita remonta de séculos e desde então todas as
correntes pedagógicas que se destacaram foram se alinhando
a essa concepção da criança.
As teorias subsequentes surgiram a partir dessa concepção e
ficou cada vez mais necessário explicações científicas que
validassem essas ideias levantadas por educadores
proeminentes do século XVIII e XIX. No final do século XIX o
americano James Cattel, estudante do pesquisador em
Psicologia, Wundt, da Universidade de Leipzig, Alemanha,
examinou a forma com que as pessoas veem as palavras que
leem e descobriu que os adultos reconheciam as palavras sem
pronunciar as letras. Assim, concluiu que “as palavras não são
lidas por meio da composição das letras, mas percebidas
como ‘figuras completas de palavras’ e decidiu que pouco se
avança ao ensinar à criança os sons e letras na primeira fase
da alfabetização. Uma vez que elas podiam reconhecer
palavras rapidamente, devia-se ensiná-las a ler mostrando-
lhes palavras inteira e dizendo-lhes o seu significado. Esta
descoberta levou à adoção do método de ‘leitura a primeira
vista nos Estados Unidos’ (Lionni, 2020), incentivando um
método analítico ou global de alfabetização. No entanto, as
descobertas de Cattel aplicavam-se a adultos que já sabiam
ler, não a crianças em processo de alfabetização. No século
XX, em 1930, Ovide Decroly, pesquisador belga, incorporou
essas ideias no seu método “ideovisual” e teve o assentimento
de Jean Piaget. Assim, desde então os métodos analíticos ou
global de alfabetização se sobrepuseram aos métodos
sintéticos que foram sentenciados como métodos
ultrapassados. No entanto, atualmente com o avanço da
ciência cognitiva de leitura o método fônico não pôde mais ser
ignorado, quando diversas pesquisas evidenciaram que a
instrução fônica é um dos pilares que garantem a
aprendizagem eficaz da leitura, uma ampla revisão
bibliográfica foi feita recentemente e está disponível em
português no Relatório Nacional da Alfabetização Baseada em
Evidências (RENABE, 2021).
Diante de tais evidências é inaceitável críticas de que a
instrução fônica através do método fônico de alfabetização,
que tem como uma das bases a consciência fonêmica, é
torturante, mecânica ou cansativa para o aluno. Há uma
grande desconfiança na instrução explícita dos sons das letras
e da consciência fonêmica motivada pelo receio de que a
leitura seja reduzida a exercícios fonêmicos maçantes e
rotineiros. Ninguém está defendendo aulas rotineiras e
enfadonhas, em que as crianças permaneçam imóveis
repetindo fonemas. Mas a ciência mostra claramente que,
quando o ensino de leitura é organizado em torno de uma
progressão definida de conceitos sobre como a fala é
representada pela escrita, as crianças se tornam leitores
melhores. E são exercícios de consciência fonêmica que
formam a base da instrução fônica que ajuda os alunos a
adquirirem a habilidade de decodificar rapidamente e
corretamente. Sem ela o ensino da relação letra-som deixa de
fazer tanto sentido, já que as crianças sem consciência
fonêmica suficiente têm dificuldade de relacionar os sons
falados às letras (Savage, 2015). A consciência fonêmica é
importante porque desempenha um papel causal no
aprendizado da leitura, aprimora o leitor para o texto escrito e
ajuda a dar sentido ao ensino fônico (VACCA et al, 2009). A
habilidade para desempenhar tarefas de consciência fonêmica
é o melhor preditor da facilidade na aquisição inicial da leitura
(Stanovich, 1994) e por fim, a consciência fonêmica é um dos
principais fatores que separam leitores proeficientes dos
ineficientes (Savage, 2015).
Desde os anos 2000 diversos estudos foram conduzidos ao
redor do mundo e apontaram que a instrução fônica deve
ser implementada nos programas de alfabetização. Na
Figura 2 está disponível a distribuição desses países. Os
documentos que foram disponibilizados em alguns desses
países e que defendem a instrução fônica são (Araújo, 2010):

- EUA: National Reading Panel Report, 2000.

- Austrália: Department of Education, Employment, and


Workplace Relations: National Inquiry into the Teaching of
Literacy – Report and Recommendations, 2004.

- Israel: A Reference Guide to Reading Education in Countries


Participating in IEA’s Progress in International Reading Literacy
Study, 2002.

- Finlândia: The Finnish Board of Education. National Core


Curriculum for Basic Education, 2004.

- França: Noveaux Programmes de L’École Primaire. Buletin


Officiel hors-serie no. 3, 2008.

- Inglaterra: Primary Framework for Literacy and Mathematics:


Core Position Papers Underpinning the Renewal of Guidance
for Teaching Literacy and Mathematics, 2006.
FIGURA 2
Diante do exposto convém analisar: o retrocesso está no
método fônico ou na realidade brasileira que não avança
na alfabetização há décadas mesmo após diversas
implementações do que se tinha dito como mais moderno
na educação, como a abordagem socioconstrutivista, o
conceito de letramento e a implementação massiva de
métodos globais de alfabetização?

O que julgava-se de mais moderno, como a alfabetização a


partir de uma aprendizagem significativa baseada em métodos
globais tem como origem premissas do século XIX que já
foram devidamente refutadas no século XXI quanto a aquisição
da leitura não ser natural e que portanto, não se aprende a ler,
lendo. Para Deahene (2012) o método global causou uma
ilusão, apesar da realidade vã e ineficaz, pois não corresponde
à maneira pela qual funcionam as redes neuronais da leitura.
As evidências comprovam que a decodificação grafofonêmica
não apenas é relevante, é essencial para a formação do bom
leitor e que ela só pode ser obtida a partir de uma instrução
fônica baseada na habilidade de manipular e se conscientizar
das menores unidades constituintes da fala, os fonemas –
através da sistematização presente no método fônico de
alfabetização. Dessa forma, a resposta para quem acusa o
método fônico de ser um retrocesso deve ser esse último
parágrafo que sintetiza a adoção de métodos globais baseado
em premissas já refutadas e essas sim, ultrapassadas. Já
passou do momento do Brasil implementar o método fônico de
alfabetização em larga escala ao longo do território nacional,
pois essa sim está associada as últimas descobertas quanto a
aquisição da leitura e já é uma realidade adotada em diversos
países que tiveram avanços significativos nos seus índices de
leitura, como Portugal e Israel.
REFERÊNCIAS

A. P., Araújo. 2011. Aprendizagem infantil : uma abordagem da


neurociência, economia e psicologia cognitiva. Rio de Janeiro:
Academia Brasileira de Ciências
K. S., Benedetti. 2020. A falácia socioconstrutitivista. Kirion.
S. Dehaene, 2011. Os neurônios da leitura.
P. Lionni. 2020. A conexão de Leipzig. Vide Editorial.
RENABE. 2021. Relatório Nacional de Alfabetização Baseada
em Evidências (RENABE). Disponível em:
https://www.gov.br/mec/pt-
br/media/acesso_informacacao/pdf/RENABE_web.pdf
J. Savage. 2015. Aprender a ler e a escrever a partir da fônica.
Penso.
K. E., Stanovich. 1994. Romance and reality. The Reading
Teacher, v. 47, p. 280-291.
J. L. Vacca, et al. 2009. Reading and learning to read. Pearson.
2.
6 MENTIRAS QUE
TE CONTARAM
SOBRE O
MÉTODO FÔNICO

1 – Decodificar não é relevante e que o objetivo da leitura é


construir significados e a criança não deve se distrair com
outras tarefas.

As evidências comprovam que a decodificação não é apenas


relevante, é essencial para a formação do bom leitor. Para
Dehaene (2011), o método global causou uma ilusão, apesar de
que fosse vã e ineficaz, pois não corresponde à maneira pela qual
funcionam as redes neuronais da leitura. As evidências
comprovam que a decodificação não apenas é relevante, é
essencial para a formação do bom leitor. Yi et al. (2019) citado em
RENABE, 2020 “apontam a existência de uma rede neural que
sustenta a leitura, identificada em leitores de diversos sistemas de
escrita. Os dados fornecidos por neuroimagens constataram maior
ativação cerebral na área responsável pelo processamento da
conversão ortografia-som em pessoas que estavam aprendendo a
língua chinesa, o que ressalta a constante necessidade do
estabelecimento da relação letra-som para quem aprende a ler”.
2 – INSTRUÇÃO FÔNICA É MECÂNICA E
ENFADONHA.

2 – Instrução fônica é mecânica e enfadonha.

Não é verdade se a aplicação considerar atividades dinâmicas


de manipulação dos sons da fala. A exercitação é essencial
para a fixação de princípios e conceitos, mas isso não
pressupõe uma atividade mecânica.
Há uma grande desconfiança na instrução fônica explícita
motivada pelo medo de que a leitura seja reduzida a exercícios
fonêmicos maçantes e rotineiros.
Os defensores dos métodos globais comumente alegam que as
aulas de fonêmica podem ser ruins para as crianças, podendo
inibir as crianças de desenvolver o amor pela leitura, fazendo-as
se concentrar em habilidades tediosas, como quebrar palavras
em partes.
Mas a ciência mostra claramente que, quando o ensino de
leitura é organizado em torno de uma progressão definida de
conceitos sobre como a fala é representada pela escrita, as
crianças se tornam leitores melhores.

Ninguém está defendendo aulas rotineiras e enfadonhas, em


que as crianças permaneçam imóveis repetindo fonemas.
Mas a ciência mostra claramente que, quando o ensino de
leitura é organizado em torno de uma progressão definida de
conceitos sobre como a fala é representada pela escrita, as
crianças se tornam leitores melhores. E são exercícios de
consciência fonêmica que formam a base da instrução fônica
que ajuda os alunos a adquirirem a habilidade de decodificar
rapidamente e corretamente. Sem ela o ensino da relação letra-
som deixa de fazer tanto sentido, já que as crianças sem
consciência fonêmica suficiente têm dificuldade de relacionar os
sons falados às letras (Savage, 2015). A consciência fonêmica é
importante porque desempenha um papel causal no
aprendizado da leitura, aprimora o leitor para o texto escrito e
ajuda a dar sentido ao ensino fônico (VACCA et al, 2009). A
habilidade para desempenhar tarefas de consciência fonêmica é
o melhor preditor da facilidade na aquisição inicial da leitura
(Stanovich, 1994) e por fim, a consciência fonêmica é um dos
principais fatores que separam leitores proeficientes dos
ineficientes (Savage, 2015).
Em um estudo realizado no ano de 2000 por Byrne e
colaboradores, foi identificado que o nível de consciência
fonêmica teve valor preditivo mensurável para a aprendizagem
da leitura até os 6 anos. Bem como o indicador de consciência
fonêmica está fortemente relacionado ao desempenho de leitura
nos anos seguintes. As evidências desse estudo apontam que
as crianças aprendem a ler mais rápido e melhor após instrução
explícita das menores unidades constituintes das palavras, uma
vez que esse conhecimento não é natural. Não se trata apenas
de uma questão de velocidade, a criança não aprende mais
rapidamente a ler, mas principalmente, aprende a ler melhor.
Há, ainda, outros diversos estudos que documentaram que a
consciência fonêmica é um dos melhores preditores para o
sucesso na leitura (à citar alguns: Bowey, 1995; Cardoso-
Martins, 1995; Langenberg, 2000; Muter et al, 1997; Valle &
Bertelli, 2001).
3 - MÉTODO FÔNICO NEGA OS USOS SOCIAIS DA
LÍNGUA.

Afirmação típica de quem se opõe a um ensino sistemático (do


mais simples ao mais complexo) e considera que textos simples
e decodificáveis não tem valor na alfabetização e pressupõe que
somente esses textos são utilizados no método fônico. Considera
também que todos textos apresentados para a criança devem
ser complexos ou com alguma utilidade prática, como receita de
bolo, convite de aniversário, agenda de contato telefônico. Tais
afirmações são incorretas visto que há valor em todo texto,
independente do seu uso social.
4 – QUEM APRENDE A DECODIFICAR PELO
MÉTODO FÔNICO TEM MAIS DIFICULDADE PARA
COMPREENDER O QUE LÊ.

A instrução fônica é apenas um dos componentes de um ensino


explícito e sistematizado que visa à plena alfabetização. Outros
pilares devem estar presentes na formação do leitor hábil, como
o desenvolvimento da fluência leitora, vocabulário e
compreensão de textos. Em 1990, Hoover e Gough, postularam
uma visão simples da leitura hábil como produto dos fatores:
RECONHECIMENTO DE PALAVRAS e COMPREENSÃO DA
LINGUAGEM (Leitura hábil = Reconhecimento de palavras X
compreensão da linguagem). Em 2001, Hollis Scarborough
ilustrou o processo do qual depende a compreensão de textos
segundo a teoria de Hoover e Gough. Essa ilustração é
conhecida como “O MODELO DE CORDAS”. Para ser um leitor
hábil, ou seja, ler um texto com compreensão é preciso adquirir
várias habilidades. Algumas delas não necessitam de instrução
explícita e sistemática, como conhecimento de mundo,
conhecimento morfossintático, raciocínio verbal e familiaridade
com livros e outros materiais impressos e resultam na
“Compreensão da linguagem”.
No entanto, outras habilidades exigem ensino explícito, como a
consciência fonológica, sobretudo a consciência fonêmica e a
decodificação de palavras – da qual resulta o reconhecimento
automático de palavras e fazem parte do “Reconhecimento de
Palavras”. Essas habilidades vão-se unindo gradualmente como
fios numa corda, e assim a leitura se torna cada vez mais
proficiente. Com a automatização das habilidades de
reconhecimento de palavras é liberado espaço na memória para
os processos de compreensão. Um leitor hábil tem uma
execução fluente da leitura e coordenação de reconhecimento
de palavras e compreensão de textos (PNA, 2019).Um erro
grave na formação de um leitor é negligenciar um dos fatores da
equação (Leitura hábil = Reconhecimento de palavras X
compreensão da linguagem). Se um dos fatores for zero o
produto dessa equação será zero. E tem sido comum a falta de
instrução ou ausência total quanto ao reconhecimento de
palavras. Assim, ao invés de leitores hábeis que compreendem
textos formam-se leitores incapazes de compreender textos.
5 – TODA APRENDIZAGEM DEVE SER
CONTEXTUALIZADA.

Há situações em que o contexto deve ficar de lado para que o


estudo possa ser aprofundado em relação a alguns dos seus
aspectos, como na decodificação por pseudopalavras. Na fase
inicial da alfabetização os alunos devem concentrar sua
atenção na estrutura das palavras e não no contexto.
6 – O MÉTODO FÔNICO É UM RETROCESSO.

O que julgava-se de mais moderno, como a alfabetização a


partir de uma aprendizagem significativa baseada em métodos
globais tem como origem premissas do século XIX que já foram
devidamente refutadas no século XXI quanto a aquisição da
leitura não ser natural e que portanto, não se aprende a ler,
lendo.
Conforme citado anteriormente, “o método global causou uma
ilusão, apesar da realidade vã e ineficaz, pois não corresponde
à maneira pela qual funcionam as redes neuronais da leitura”
(Dehaene, 2011). As evidências comprovam que a
decodificação grafofonêmica não apenas é relevante, é
essencial para a formação do bom leitor e que ela só pode ser
obtida a partir de uma instrução fônica baseada na habilidade
de manipular e se conscientizar das menores unidades
constituintes da fala, os fonemas. Desde os anos 2000 diversos
estudos foram conduzidos ao redor do mundo e apontaram que
a instrução fônica deve ser implementada nos programas de
alfabetização.
Os documentos que foram disponibilizados em alguns desses
países e que defendem a instrução fônica são (Araújo, 2010):
- EUA: National Reading Panel Report, 2000.
- Austrália: Department of Education, Employment, and
Workplace Relations: National Inquiry into the Teaching of
Literacy – Report and Recommendations, 2004.
- Israel: A Reference Guide to Reading Education in Countries
Participating in IEA’s Progress in International Reading Literacy
Study, 2002.
- Finlândia: The Finnish Board of Education. National Core
Curriculum for Basic Education, 2004.
- França: Noveaux Programmes de L’École Primaire. Buletin
Officiel hors-serie no. 3, 2008.
- Inglaterra: Primary Framework for Literacy and Mathematics:
Core Position Papers Underpinning the Renewal of Guidance
for Teaching Literacy and Mathematics, 2006.
Dessa forma, a resposta para quem acusa o método fônico de
ser um retrocesso deve ser esse último parágrafo que sintetiza
a adoção de métodos globais baseado em premissas já
refutadas e essas sim, ultrapassadas. Já passou do momento
do Brasil implementar a instrução fônica sistemática em larga
escala ao longo do território nacional, pois essa sim está
associada as últimas descobertas quanto a aquisição da leitura
e já é uma realidade adotada em diversos países que tiveram
avanços significativos nos seus índices de leitura, como
Portugal, que em 2011 apostou em um currículo estruturado
em ensinar a criança no domínio dos sons das letras e
desenvolvimento da consciência fonológica. Com esse novo
currículo, Portugal saiu dos piores índices de educação da
Europa para resultados acima da média dos países membros
da OCDE. O exemplo de Portugal é para nós, brasileiros, um
sinal de esperança, que a partir de um ensino explícito com
aquilo que a criança precisa aprender para ler, em menos de
uma década podemos mudar o rumo da alfabetização e
educação básica de um país. E esse deve ser o objetivo do
nosso trabalho, meu e seu, seja na sua casa ou na sua prática
profissional. Urgente é nos basearmos nas evidências recentes
e nos caminhos de sucesso já trilhados por outros países.
Para finalizar, adotar o método fônico não
significa resolver todos os problemas da
educação básica brasileira. Isso porque não é
uma única variável, a adoção de um método de
alfabetização nesse caso, que resolverá um
problema complexo. Porém, adotar um ensino
explícito do que a criança não sabe e que
precisa aprender para se tornar um leitor hábil
é um dos caminhos necessários e que
precisamos avançar.

Se existem evidências suficientes e


experiências de sucesso de outros países, por
qual motivo o ensino explícito e o
desenvolvimento das habilidades preditoras
não podem ser adotados, aliados a um método
mais eficaz para ensinar uma criança a ler?

David Kilpatrick, pesquisador americano,


defende que 95% das crianças podem ser
ensinadas a ler até o final do primeiro ano com
a adoção das práticas mais eficazes através do
método fônico de alfabetização, por exemplo.
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Referências

A.P., Araújo. 2011. Aprendizagem infantil : uma abordagem da


neurociência, economia e psicologia cognitiva. Rio de Janeiro:
Academia Brasileira de Ciência
K. S., Benedetti. 2020. A falácia socioconstrutitivista. Kirion.
Bowey, J. A. (1995). Socioeconomic status differences in preschool
phonological sensitivity and first-grade reading achievement. Journal
of Educational Psychology, 87(3), 476–487.
Byrne, B., Fielding-Barnsley, R., & Ashley, L. 2000. Effects of
preschool phoneme iden- tity training after six years: Outcome level
distinguished from rate of response. Journal of Educational
Psychology, 92, 659–667.
Capovilla, F., et al., 2005. Novos caminhos da alfabetização infantil.
Memnon.
Cardoso-Martins, C. (1995). Sensitivity to Rhymes, Syllables, and
Phonemes in Literacy Acquisition in Portuguese. Reading Research
Quarterly, 30(4), 808– 828. http://doi.org/10.2307/748199
S. Dehaene, 2011. Os neurônios da leitura.

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