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NEUROCIÊNCIA

DAS FUNÇÕES MENTAIS

Capítulo 19
A Linguagem e os
Hemisférios Especialistas
A Neurobiologia da
Linguagem e das
Funções Lateralizadas
• A fala - para ser emitida
ou compreendida -
depende da consulta a
sofisticados dicionários
mentais, os léxicons, em
busca do som dos
fonemas, das sílabas e das
palavras, da organização
gramatical que lhes
confere sentido, e do seu
conteúdo final. Além
disso, um conjunto de
modulações de voz,
mímica facial e gestos
corporais da colorido
afetivo a fala humana.
A linguagem possui uma rede de
áreas conectadas que
compõem o sistema linguístico
humano:
• áreas conceitualizadoras, que
realizam o planejamento do
conteúdo da fala e a
compreensão do que e ouvido;
• áreas formuladoras, que se
encarregam do planejamento e
da compreensão da forma das
palavras e das frases; e
• áreas articuladoras, que
efetivamente comandam os
movimentos necessários a fala.
• Além delas, inúmeras
regiões corticais estão
envolvidas: as áreas
auditivas que primeiro
percebem os sons
verbais, as áreas visuais
que percebem os signos
da escrita; as regiões de
processamento
emocional, de onde se
originam as nuances
afetivas da fala, e assim
por diante.
• O cérebro tem dois
hemisférios, mas eles não
são iguais. Ao contrário,
cada um deles tem
especialidades que o
outro não tem: funções
lateralizadas.
• A linguagem é a mais
lateralizada das funções,
já que a maior parte de
seus mecanismos é
operada pelo hemisfério
esquerdo na maioria dos
seres humanos.
• Os dois hemisférios cerebrais
diferentes são mantidos em
comunicação direta pelas
comissuras cerebrais, as
pontes de fibras nervosas
encarregadas de unificar a
mente e as funções
cerebrais.
• São elas: o corpo caloso, as
comissuras hipocampais, a
comissura anterior e outras
situadas no diencéfalo e nos
segmentos mais baixos do
sistema nervoso central.
• É por meio desse sistema
de comissuras que as
funções lateralizadas do
hemisfério esquerdo,
entre elas a fala, são
coordenadas com as
funções do hemisfério
direito, como a prosódia
que confere tonalidade
afetiva a fala. O indivíduo
torna-se unificado pela
ação integradora dessas
comissuras.
• Ano 1863, Paris. Em uma
sessão científica da Societe
Anatomique, o neurologista
Pierre-Paul Broca (1824-
1880) espantou a todos os
presentes com a sua
declaração bombástica:
Nous parlons avec l
’hemisphere ganche! Broca
apresentava os casos de
pacientes que haviam
perdido a capacidade de
falar, sem qualquer paralisia
dos músculos da face.
• Alguns deles já haviam morrido,
e tinha sido possível estudar os
seus cérebros necropsiados.
Todos apresentavam lesões na
mesma região cerebral: a
porção posterior e lateral do
lobo frontal do hemisfério
esquerdo. A descoberta de
Broca foi um tiro duplo de
grande pontaria: ele acertou ao
mesmo tempo a localização
cerebral da fala e a sua natureza
assimétrica, isto é,
especialidade de apenas um dos
hemisférios cerebrais.
• A linguagem, que a imensa
maioria dos seres humanos
aprende já a partir dos
primeiros meses de vida pós-
natal, e a mais assimétrica das
funções.
• Foi o que Broca revelou ao
mundo: um dos hemisférios
cerebrais (geralmente o
esquerdo) assume essa
especialidade funcional, O
outro colabora, mas o primeiro
e quem dá as cartas.
• A linguagem humana
e única na natureza em
sua capacidade de
simbolizar
pensamentos – simples
ou complexos,
concretos ou abstratos.
• Foi descoberto um gene
(conhecido pela sigla Fox
P2`) existente em animais
e em seres humanos, cuja
inativação interfere com a
aprendizagem do canto
em pássaros canoros, e
cuja mutação interfere
com a linguagem em
humanos.
Os neurolinguistas empregam técnicas modernas e
imagem funcional para localizar as áreas cerebrais
envolvidas com a linguagem. Neste exemplo, trata-se
de imagens tomográficas obtidas através de um
isótopo emissor de pósitrons (PET), que indica o
aumento da atividade neural quando um indivíduo
executa as tarefas descritas acima de cada esquema
do cérebro (A a D). A escala à direita indica os níveis
de atividade codificados pelas cores: máx. = atividade
neural máxima; min. = atividade neural mínima.
Dá-se o nome linguagem,
A COMUNICAÇÃO ENTRE
numa acepção genérica do
OS HOMENS
termo, aos sistemas de
comunicação com regras
definidas que devem ser
empregadas por um emissor
para que a mensagem
possa ser compreendida
pelo receptor. Uma acepção
mais específica do termo
refere-se a cada uma das
modalidades linguísticas:
linguagem oral, linguagem
gestual etc.
• As modalidades da linguagem
envolvem sistemas pareados de
expressão e compreensão.
Assim, quando a expressão é
oral ou vocal (modalidade que
chamamos fala), a compreensão
ocorre principalmente pelo
sistema auditivo; quando a
expressão é gestual, a
compreensão é realizada pelo
sistema visual.
• Da mesma forma, quando a
expressão é escrita, é o sistema
visual que possibilita a leitura. E
quando a escrita é Braille, é o
sistema somestésico que
assume a tarefa.
• Ao longo de sua existência no
planeta, os seres humanos
criaram e conservaram vivos
cerca de 10 mil idiomas e
dialetos, Todos eles consistem
em símbolos associados,
segundo regras lentamente
definidas e modificadas,
durante o percurso histórico de
cada cultura.
• Todas as línguas tem uma
modalidade falada, mas só
algumas delas tem uma versão
escrita. Isso porque a fala
possui uma forte base
neurobiológica inata que
permite a aprendizagem logo
aos primeiros meses de vida
pela escuta dos adultos falando
e pela prática da emissão de
sons, enquanto a escrita e uma
construção cultural cuja
aprendizagem depende de um
ensino formal bem mais
prolongado e trabalhoso.
Os hemisférios são
especializados, o
que significa que
participam das
mesmas funções de
modo diferente. O
conceito de
especialização
superou o conceito
antigo de
dominância, pelo
qual um dos
hemisférios faria
tudo, sendo o outro
apenas uma
“reserva técnica”
coadjuvante.
A primeira observação do Mercado de escravos com o busto evanescente de Voltaire, quadro
pintado em 1940 por Salvador Dalí (1904-1989), revela a estratégia perceptual do hemisfério
esquerdo. Um segundo olhar mais cuidadoso revela a estratégia do hemisfério direito. Óleo sobre
tela, Museu Salvador Dali, St. Petersburg, EUA.
Quando os
painéis à
esquerda (em
bege) são
apresentados
para pacientes
com grandes
lesões
hemisféricas
copiarem, os que
têm lesões
direitas
(hemisfério
esquerdo
funcionante)
copiam os
detalhes, mas
perdem a forma
global (painéis do
meio). O contrário
ocorre com os
pacientes com
lesões esquerdas
(hemisfério direito
funcionante,
painéis à direita).

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