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SEGURANÇA DO TRABALHO

Curso Técnico em Segurança do Trabalho


Disciplina: Higiene Ocupacional
Aula 04 – Toxicocinética
Autor: Pedro Câncio Neto
Professor: Marcílio Lima

Você verá por aqui...

Nesta aula, continuaremos estudando a toxicologia. Para entendermos


essa grandiosa ciência, veremos no curso da aula como a toxina penetra em
nosso organismo, seu comportamento após esse contato e sua eliminação. Bons
Estudos!

Objetivos

Estudar os fatores toxocinéticos das substâncias após contato com o organismo.

Para começo de conversa

“Todas as coisas são um veneno e nada existe sem veneno, apenas


a dosagem é razão para que uma coisa não seja um veneno.”

Paracelso (1493-1541).

Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von


Hohenheim, conhecido pelo pseudônimo de Paracelso, ou
seja, “superior a Celso (médico romano)”. Astrólogo,
Alquimista, Físico e Médico, nasceu na Suíça onde viajando
com seu pai teve os primeiros contatos com a Teologia,
Alquimia e Latim. Seus conhecimento em medicina
tornaram-no famoso, ele rejeitava os tratamentos
convencionais.
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Toxicocinética

Podemos definir a Toxicocinética como a parte da Toxicologia que se dedica


ao estudo do deslocamento das substâncias tóxicas dentro do organismo vivo, a
maneira como é absorvido, distribuído, metabolizado e excretado; assim como a
relação entre a dose que entra no organismo e a concentração das substâncias
no sangue, tecidos ou líquidos corporais.

Absorção

Podemos definir a absorção como a passagem do agente tóxico para a


corrente sanguínea através das membranas celulares. A velocidade de absorção de
um tóxico depende de alguns fatores, como o grau de concentração da substância e
sua solubilidade.
Veremos a seguir os principais meios de absorção de agentes tóxicos pelo
organismo humano.

 Via dérmica ou cutânea

Alguns contaminantes podem penetrar na corrente sanguínea através dos


poros da nossa pele. Uma toxina em contato com a pele pode apenas provocar uma
irritação ou ser absorvido e desencadear um infecção.
Como citado em (3), vários materiais ou situações no ambiente de trabalho
podem causar moléstias ou lesões. O trabalho mecânico em que realiza fricções,
pressão e outras formas de força podem produzir calos, bolhas, lesões nos nervos,
cortes, etc.
É importante salientar que a absorção de toxinas pela pele não é sempre
acompanhada de dor ou irritação afinal, muitos produtos tóxicos podem penetrar no
organismo através desta via de absorção sem que nos dermos conta.
A pele representa uma capa protetora do corpo humano, que após a perda de
sua integridade (lesão), abre uma grande brecha para a passagem de toxinas para
o organismo.

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A pele humana:
 Área: ±17m2;
 Espessura: ±0,5 a ±4mm;
 ±18% do peso corpóreo.

De acordo com (1), podemos ainda subdividir a absorção de agentes tóxicos


através da pele em três tipos de mecanismos, são eles: absorção transepidermal,
absorção transfolicular e absorção pela pele lesionada.

Absorção transepidermal.

Constituída por uma membrana lipídica, a epiderme


poderá ser responsável pela absorção do agente tóxico na via
cutânea. Algumas substâncias como inseticidas, benzeno, fenol,
cetonas, nitroglicerina, chumbo e mercúrio penetram facilmente
através da pele.

Absorção transfolicular.

As peles que contêm pêlos podem absorver facilmente


através das raízes desses pêlos qualquer agente tóxico
presente na superfície pele. (1)

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Absorção através da pele lesionada (ferimento).

A corrente sanguínea poderá ser atingida por alguma


toxina facilmente se a proteção do nosso corpo, a pele,
estiver com algum dano / ferimento. Não importando se o
ferimento foi originado por meio mecânico, físico ou
químico. (1)

http://educacao.uol.com.br/ciencias/ult1686u25.jhtm. Acessado em 20/09/09.

 Via gastrintestinal

Compreende a absorção por meio da cavidade oral, cavidade gástrica


(estômago), intestino delgado e intestino grosso. Apesar de ter sido desacreditada
ultimamente, a via gastrintestinal ainda é responsável por sérios envenenamentos
laborais. A entrada das toxinas através da via gastrintestinal poderá ser através:
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Cavidade oral:

É a absorção de toxinas diretamente pela mucosa bucal. Nesta condição


teremos uma concentração mais elevada do agente tóxico no sangue, pois devido à
alta vascularização da boca (língua), tais toxinas podem ir diretamente ao coração e
em seguida serem distribuídas a todo o organismo.

Intestino delgado:

É no intestino delgado onde há maior absorção de agentes tóxicos, pois ele é


especializado em absorção de nutrientes. Sua absorção é influenciada por alguns
fatores, como o pH do meio (intestino) e a velocidade do esvaziamento gástrico.
Assim temos que a diarréia diminui o tempo de exposição do agente tóxico no
intestino delgado, diminuindo conseqüentemente a absorção. Já a constipação
intestinal, prolonga o tempo de exposição da toxina no intestino delgado
aumentando assim a absorção.

Intestino grosso:

Ao contrário do intestino delgado, o intestino grosso tem uma baixa


capacidade de absorver as toxinas, por isso para a Toxicologia Ocupacional, essa
via de absorção é considerada irrelevante.
Já para a administração de medicamentos, a região retal é considerada de
grande importância devido ao seu alto grau de vascularização. Igualmente a boca,
as substâncias ali absorvidas não são drenadas pelo fígado, e sim para a veia cava
superior e posteriormente para o coração.

ATENÇÃO

Um exemplo de envenenamento através da via gastrintestinal ocorreu em


Franca/SP, onde funcionários de uma sapataria tinham o costume de colocar pregos

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para sapato na boca, ingerindo assim uma quantidade elevada de chumbo presente
nos pregos. Devido a tal envenenamento, alguns trabalhadores faleceram.

Atividade 1

Cite e explique as formas de absorção dos agentes tóxicos no organismo


humano vistas até o momento.

 Via respiratória (Inalação)

A via respiratória é o mais importante canal de entrada dos agentes tóxicos


no organismo humano. Ela é considerada, pela Toxicologia Ocupacional, a via de
maior importância na penetração de agentes tóxicos no organismo, devido a grande
maioria das intoxicações ocupacionais serem ocasionadas pela aspiração das
toxinas dispersas no ar ambiente.
Sua importância se deve a:

 Grande volume de ar inalado durante a jornada de trabalho (5 a 6 L/min em


repouso, e 15, 20 ou 30L/min em condições de esforço);
 Ampla área alveolar ricamente vascularizada;
 Devido ao pequeno tamanho das partículas contaminantes presentes nos
gases ou vapores, há uma maior facilidade de contato com a mucosa
respiratória.
Após a inalação, as toxinas podem ficar retidas no aparelho respiratório,
desencadeando a intoxicação apenas no trato respiratório, ou podem ser absorvidas
intoxicando assim diferentes partes do nosso organismo.

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Os agentes tóxicos inalados através da via respiratória podem interagir com


as vias superiores (narinas, faringe, laringe, traquéia, brônquios e bronquíolos) e
pulmões (alvéolos pulmonares).

Os agentes tóxicos dispersos no ar do ambiente de trabalho são encontrados


basicamente na forma de: Gases, Vapores e Partículas.

Gases e Vapores

Como vimos anteriormente, a maior parte dos contaminantes químicos está


dispersa na atmosfera na forma de gases e vapores (estado gasoso).
Mas, afinal, qual a diferença entre gases e vapores?

 Vapor é a fase gasosa de uma substância que nas condições normais


de pressão e temperatura (25ºC e 760mmHg), é líquida ou sólida.
Ex.: vapores de gasolina ou água.

 Gás é a denominação dada a uma substância que nas condições


normais de pressão e temperatura (25ºC e 760mmHg), está no estado
gasoso.

O ar que respiramos, por exemplo, é uma mistura de vários gases como


podemos observar em valores aproximados logo abaixo:

O AR
1% 21%

78%

OXIGENIO NITROGENIO OUTROS GASES

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Segundo sua ação no organismo, podemos classificar os gases e vapores


em:

 Gases e vapores irritantes


Há uma grande variedade de gases e vapores do tipo irritante, mas há uma
característica em comum entre todos eles: Produzem inflamação dos tecidos com
que entram em contato direto, como pele, olhos e vias respiratórias.

Ex.: ácido clorídrico, hidrocarbonetos aromáticos e gás sulfídrico.

 Gases e vapores asfixiantes

Podem agir simplesmente deslocando o oxigênio, tornando o ambiente


laboral deficiente em oxigênio, ou, podem impedir a utilização pelo organismo do
oxigênio adequadamente fornecido.
O nitrogênio (N2), hidrogênio (H2), metano (CH4), hélio (He) e o dióxido de
carbono (CO2), são os chamados asfixiantes simples, ou seja, apenas deslocam o
oxigênio presente no ar.
Já o monóxido de carbono (CO), anilina (C6H5NH2) e o ácido cianídrico
(HCN), são exemplos de asfixiantes químicos, ou seja, se elas forem inaladas,
elas impedem que o oxigênio seja aproveitado por nosso organismo.

 Gases e vapores anestésicos

Também conhecidos como gases e vapores narcóticos, possuem uma


propriedade comum, tais substâncias tem uma ação depressiva sobre o sistema
nervoso central.
O butano, propano, etano, tolueno e xileno são alguns exemplos de
substâncias anestésicas.

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Partículas

Algumas características físico-químicas das substâncias como: o diâmetro, a


forma, a densidade e a carga elétrica influenciarão na chegada ou não das
partículas aos pulmões.
De acordo com (1), as partículas mais lesivas a saúde pulmonar são as de
menor diâmetro aproximadamente 1. Partículas grandes não permanecem no ar
por muito tempo (sedimentam), diminuindo a possibilidade de inalação e mesmo
quando inaladas ficam retidas nas partes superiores do aparelho respiratório. Além
disso, as partículas menores são mais difíceis de serem removidas do pulmão e por
isso são mais prejudiciais.

As fossas nasais, que tem a função de aquecer e umidificar o ar inspirado,


são consideradas um filtro natural que permite a retenção de cerca de 50% das
partículas de diâmetro superior a 8m (nas mesmas condições a respiração pela
boca retêm no máximo 20%). (1)

A tosse é quase essencial para a


vida, pois é o meio pelo qual as vias aéreas
pulmonares se mantêm livres de matéria
estranha. Os brônquios e a traquéia são tão
sensíveis que qualquer corpo estranho, ou
agente irritante, desencadeia o reflexo de
tosse. (1)

Atividade 2

Qual a diferença entre gases e vapores e como podem ser classificados


quanto a seus efeitos no organismo.

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Excreção

Até agora vimos apenas como os agentes tóxicos penetram no organismo,


mas, como as toxinas são eliminas?

Nosso organismo pode excretar as toxinas através dos rins, pulmões, bile,
fezes, saliva e suor.

 Eliminação o renal

Se a substância for hidrossolúvel, o organismo pode utilizar o rim para


excretar a toxina através da urina. O rim é o órgão mais importante na eliminação de
substâncias.

 Eliminação pulmonar

Alguns vapores e gases podem ser eliminados por essa via, sem que haja
nenhuma absorção dos agentes tóxicos.
Quanto maior for à facilidade da toxina em ser absorvida pelo organismo,
menor será a sua eliminação por essa via.

 Excreção biliar e fezes

Os produtos formados pela absorção das toxinas pelo fígado são


transportados para a circulação sanguínea e bile, onde, posteriormente são
eliminados pelas fezes.

 Excreção através do suor e saliva

Os agentes tóxicos excretados pela saliva e suor são geralmente deglutidos.


Esse tipo de excreção ocorre com baixa freqüência para a maioria das toxinas e os
mecanismos envolvidos na excreção de tóxicos são similares para a saliva e suor.

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Atividade 3

Resumidamente descreva como as toxinas podem ser eliminadas pelo organismo.

Leitura complementar

 www.toxnet.com.br - Neste site encontramos uma série se artigos técnicos e


endereços eletrônicos sobre a toxicologia e suas áreas correlatas.

Resumo

Nesta aula, vimos que a Toxicocinética estuda as formas de absorção dos agentes
tóxicos pelo organismo, como também sua eliminação. Seu conhecimento é
bastante importante, pois através dele podemos saber e orientar ações mais
eficazes junto à proteção do trabalhador.

Auto-avaliação

Após ter respondido todos os questionamentos desta aula. Faça um estudo


toxicocinético de algum trabalhador que labore em uma empresa próxima a sua
residência. Investigue o ambiente laboral e analise as possíveis interações do
trabalhador com os agentes tóxicos presentes neste meio ambiente e responda
quais os possíveis danos que poderão ser causados nesses trabalhadores expostos
à tais toxinas.

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Referências

1. BARBOSA, Maria de Fátima Pedrosa Pinto. CEST Toxicologia Ocupacional.


Natal. 2004/2005.
2. SALIBA, Tuffi Messias. Manual Prático de Avaliação e Controle de Gases e
Vapores – PPRA. 2ª Edição, São Paulo: LTr, 2003.
3. VENDRAME, Antônio Carlos. Agentes químicos: reconhecimento, avaliação e
controle na higiene ocupacional. São Paulo: Edição do Autor, 2007.

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