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Jean-Ovide Decroly (1871-1932)

Jean-Ovide Decroly (1871-1932) foi um aluno rebelde. Sua oposição ao ensino autoritário e a
recusa em frequentar as aulas de catecismo fizeram com que fosse expulso de várias escolas.
Mas esse belga formou-se em medicina, com especialização em neurologia, e tornou-se um
dos mais importantes protagonistas do movimento por uma nova educação

A ideia central do método de Decroly é a dos “centros de interesse” como eixos estruturantes
do currículo, que permitem a expressão da motivação espontânea do aluno e, ao mesmo
tempo, abrem caminho para a aquisição de novos conhecimentos.

O processo de aprendizagem se desdobraria em três fases: observação (não como técnica,


mas como atitude diante da realidade), associação (possibilitando a integração no espaço e no
tempo dos conhecimentos adquiridos por meio da observação) e expressão (concreta, por
meio de desenho livre, de trabalhos manuais e outros; ou abstrata, por meio, por exemplo, do
texto escrito ou da linguagem matemática).Embora sejam pouco conhecidas fora do círculo
dos especialistas em história da educação, as concepções de Decroly – ou, melhor, uma
adaptação delas – tiveram grande difusão e repercussão na educação brasileira do fim dos
anos 1920.

Simon, professor emérito da Universidade de Ghent (Bélgica), e Depaepe, vice-reitor de


Leuven, os dois coautores do artigo, são considerados os maiores especialistas na obra de
Decroly.

“Nossa pesquisa buscou entender como as ideias de Decroly foram apropriadas, difundidas e
transformadas no Brasil. As traduções de seus livros foram realizadas entre 1928 e 1930, ainda
durante a vida de Decroly, em uma época na qual ocorreram no país várias reformas
educacionais, buscando a inovação pedagógica”, disse Hai .

Para esse processo, denominado “Movimento das Escolas Novas”, a metodologia dos “centros
de interesse”, adaptada e simplificada conforme as condições da sociedade brasileira,
forneceu importante aporte teórico e orientação prática.

O principal laboratório dessa experimentação pedagógica foi propiciado pela reforma


educacional do Rio de Janeiro em 1928, com importante apoio de Fernando de Azevedo, na
época diretor do Departamento de Instrução Pública do então Distrito Federal.

Segundo o artigo, havia, da parte de vários intelectuais da época, a opinião de que o Brasil
ainda não era um país propriamente “civilizado”. Como medida “civilizadora” urgente, capaz
de “republicanizar a república”, esses preconizavam uma combinação de educação e medicina,
junto com medidas sanitárias e higiênicas.

“Fernando de Azevedo acrescentou o objetivo de produzir reformas sociais à escolarização,


enfatizando a qualidade em vez de apenas trabalhar para eliminar o analfabetismo por meio
da instrução”, ressaltam os pesquisadores. Azevedo e seus colaboradores consideravam que a
escola produziria a pressão para as necessárias mudanças sociais.

Nesse contexto, a ideia de “centros de interesse” teve grande difusão e aplicação em


programas de ensino no Rio de Janeiro e também em Minas Gerais. Artigos, livros e manuais
para professores foram publicados. Conferências, seminários e cursos foram oferecidos. “O
público-alvo era de professores do ensino primário e os responsáveis por aquilo que
chamamos hoje de educação infantil”, disse Hai.
Como médico, Decroly estudou o desenvolvimento infantil com bastante detalhamento, tendo
escrito várias obras nos campos da neurologia e da psicologia. E suas concepções pedagógicas
foram embasadas nesses estudos.

“Mas a metodologia dos ‘centros de interesse’ foi adaptada no Brasil de forma bastante
simplificada, como a possibilidade de o professor trabalhar com os alunos não por disciplinas
mas por temáticas. A partir de uma temática, como, por exemplo, ‘animais’, o professor
conduziria os alunos por várias áreas do conhecimento”, comentou Hai.

Como reminiscência desse banquete antropofágico, restou para a educação brasileira da


atualidade a metodologia dos projetos, como eixos capazes de perpassar a grade curricular,
apontam os pesquisadores.
Emilia Ferreiro

Emilia Beatriz María Ferreiro Schavi foi doutoranda de Jean Piaget. Promoveu
a continuidade do trabalho de Piaget sobre epistemologia genética - uma
teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança -
estudando um campo que ele não havia explorado: a escrita.

A partir de 1974, na Universidade de Buenos Aires, desenvolveu uma série de


experimentos com crianças que deu origem às conclusões apresentadas na
sua mais importante obra: Psicogênese da Língua Escrita, publicado em 1979
e escrito em parceria com a pedagoga espanhola Ana Teberosky. A obra
apresenta os processos de aprendizado das crianças, chegando a conclusões
que puseram em questão os métodos tradicionais de ensino da leitura e da
escrita.

Emília afirma que a construção do conhecimento da leitura e da escrita tem


uma lógica individual, embora aberta à interação social, na escola ou fora dela.
Neste processo, a criança passa por etapas, com avanços e recuos, até se
apossar do código linguístico e dominá-lo. O tempo necessário para o aluno
transpor cada uma das etapas é muito variável.

De acordo com a teoria exposta em Psicogênese da Língua Escrita, toda


criança passa por quatro fases até que esteja alfabetizada:

 pré-silábica: não consegue relacionar as letras com os sons da língua


falada;
 silábica: interpreta a letra a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a
cada uma;
 silábico-alfabética: mistura a lógica da fase anterior com a identificação
de algumas sílabas;
 alfabética: domina, enfim, o valor das letras e sílabas.

Nos anos 1980, suas ideias causaram no Brasil um grande impacto sobre a
concepção que se tinha do processo de alfabetização, influenciando os
Parâmetros Curriculares Nacionais. Emilia é hoje professora titular do Centro
de Investigação e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, da
Cidade do México, onde mora.
Maria Montessori (1870-1952).

Poucos nomes da história da educação são tão difundidos fora dos círculos de especialistas como
Montessori. Ele é associado, com razão, à Educação Infantil, ainda que não sejam muitos os que
conhecem profundamente esse método ou sua fundadora, a italiana Maria Montessori (1870-1952).
Primeira mulher a se formar em medicina em seu país, foi também pioneira no campo pedagógico ao dar
mais ênfase à auto-educação do aluno do que ao papel do professor como fonte de conhecimento. "Ela
acreditava que a educação é uma conquista da criança, pois percebeu que já nascemos com a capacidade
de ensinar a nós mesmos, se nos forem dadas as condições", diz Talita de Oliveira Almeida, presidente da
Associação Brasileira de Educação Montessoriana.

Individualidade, atividade e liberdade do aluno são as bases da teoria, com ênfase para o conceito de
indivíduo como, simultaneamente, sujeito e objeto do ensino. Montessori defendia uma concepção de
educação que se estende além dos limites do acúmulo de informações. O objetivo da escola é a formação
integral do jovem, uma "educação para a vida". A filosofia e os métodos elaborados pela médica italiana
procuram desenvolver o potencial criativo desde a primeira infância, associando-o à vontade de aprender
- conceito que ela considerava inerente a todos os seres humanos.

O método Montessori é fundamentalmente biológico. Sua prática se inspira na natureza e seus


fundamentos teóricos são um corpo de informações científicas sobre o desenvolvimento infantil. Segundo
seus seguidores, a evolução mental da criança acompanha o crescimento biológico e pode ser identificada
em fases definidas, cada uma mais adequada a determinados tipos de conteúdo e aprendizado.

Por causa dessa perspectiva desenvolvimentista, Montessori elegeu como prioridade os anos iniciais da
vida. Para ela, a criança não é um pretendente a adulto e, como tal, um ser incompleto. Desde seu
nascimento, já é um ser humano integral, o que inverte o foco da sala de aula tradicional, centrada no
professor. Não foi por acaso que as escolas que fundou se chamavam Casa dei Bambini (Casa das
crianças), evidenciando a prevalência do aluno. Foi nessas "casas" que ela explorou duas de suas ideias
principais: a educação pelos sentidos e a educação pelo movimento.

Descobrir o mundo

Nas escolas montessorianas, o espaço interno era (e é) cuidadosamente preparado para permitir aos alunos
movimentos livres, facilitando o desenvolvimento da independência e da iniciativa pessoal. Assim como
o ambiente, a atividade sensorial e motora desempenha função essencial - ou seja, dar vazão à tendência
natural que a garotada tem de tocar e manipular tudo o que está ao seu alcance.

Maria Montessori defendia que o caminho do intelecto passa pelas mãos, porque é por meio do
movimento e do toque que as crianças exploram e decodificam o mundo ao seu redor. "A criança ama
tocar os objetos para depois poder reconhecê-los", disse certa vez. Muitos dos exercícios desenvolvidos
pela educadora - hoje utilizados largamente na Educação Infantil - objetivam chamar a atenção dos alunos
para as propriedades dos objetos (tamanho, forma, cor, textura, peso, cheiro, barulho).

O método Montessori parte do concreto rumo ao abstrato. Baseia-se na observação de que meninos e
meninas aprendem melhor pela experiência direta de procura e descoberta. Para tornar esse processo o
mais rico possível, a educadora italiana desenvolveu os materiais didáticos que constituem um dos
aspectos mais conhecidos de seu trabalho. São objetos simples, mas muito atraentes, e projetados para
provocar o raciocínio. Há materiais pensados para auxiliar todo tipo de aprendizado, do sistema decimal à
estrutura da linguagem.
Escola sem lugar marcado
As salas de aula tradicionais eram vistas com desprezo por Maria Montessori. Ela dizia que pareciam
coleções de borboletas, com cada aluno preso no seu lugar. Quem entra numa sala de aula de uma escola
montessoriana encontra crianças espalhadas, sozinhas ou em pequenos grupos, concentradas nos
exercícios. Os professores estão misturados a elas, observando ou ajudando. Não existe hora do recreio,
porque não se faz a diferença entre o lazer e a atividade didática. Nessas escolas as aulas não se sustentam
num único livro de texto. Os estudantes aprendem a pesquisar em bibliotecas (e, hoje, na internet) para
preparar apresentações aos colegas. Atualmente existem escolas montessorianas nos cinco continentes,
em geral agrupadas em associações que trocam informações entre si. Calcula-se em torno de 100 o
número dessas instituições no Brasil.
Biografia
.Montessori graduou-se em pedagogia, antropologia e psicologia e pôs suas idéias em prática na primeira
Casa dei Bambini (Casa das crianças), aberta numa região pobre no centro de Roma. A esta se seguiram
outras em diversos lugares da Itália. O sucesso das "casas" tornou Montessori uma celebridade nacional.
Em 1922 o governo a nomeou inspetora-geral das escolas da Itália. Com a ascensão do regime fascista,
porém, ela decidiu deixar o país em 1934. Continuou trabalhando na Espanha, no Ceilão (hoje Sri Lanka),
na Índia e na Holanda, onde morreu aos 81 anos, em 1952.

A psiquiatria, que fascinou a jovem médica em Roma, se encontrava num ponto de inflexão. Pesquisas
tornavam mais eficaz e mais humano o tratamento dos doentes mentais e lançavam luz sobre o
funcionamento do cérebro de "loucos" e "sãos". Montessori se interessou em particular pelos estudos de
um dos desbravadores dos mecanismos do aprendizado infantil, o médico francês Édouard Séguin. Do
ponto de vista dos costumes, ela também esteve na vanguarda. Escolheu uma profissão "de homens" e
mais tarde teve um filho sem se casar - o que a obrigou a afastar-se dele nos primeiros anos de vida, para
não causar escândalo. No auge de sua carreira, a educadora viu, na ascensão do regime fascista de Benito
Mussolini, o triunfo momentâneo dos valores opostos aos que defendeu. Abandonou seu país, mas não a
batalha por uma educação melhor.
Para pensar

O principal legado da italiana Maria Montessori foi afirmar que as crianças trazem dentro de si o
potencial criador que permite que elas mesmas conduzam o aprendizado e encontrem um lugar no mundo.
"Todo conhecimento passa por uma prática e a escola deve facilitar o acesso a ela", diz a educadora Talita
de Oliveira Almeida. É o que Montessori chamou de "ajude-me a agir por mim mesmo". Outro aspecto
fundamental da teoria montessoriana é deslocar o enfoque educacional do conteúdo para a forma do
pensamento. As críticas mais comuns ao montessorianismo referem-se ao enfoque individualista e ao
excesso de materiais e procedimentos construídos dentro da escola - o que dificultaria a adaptação dos
alunos a outros sistemas de ensino e ao "mundo real". Os montessorianos argumentam que, ao contrário,
o método se volta para a vida em comunidade e enfatiza a cooperação. E você? Acha que dar atenção
individual aos alunos é um modo de contrabalançar a tendência contemporânea à massificação, inclusive
do ensino?
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Educação Montessori: de um Homem Novo para um Mundo Novo, Izaltina de Lourdes Machado, 90
págs., Ed. Pioneira
Estudo do Sistema Montessori, Vera Lagoa, 192 págs., Ed. Loyola
Mente Absorvente, Maria Montessori, 318 págs., Ed. Nórdica
Jean-Jacques Rousseau

Foi um filósofo suíço que lançou as bases para o Romantismo europeu.


Qual é a principal teoria defendida por Rousseau?
Dentre suas obras, a principal teoria defendida por Rousseau foi o contrato
social. Para ele, a formação das sociedades foi responsável por encerrar o
bom tempo da liberdade e soberania individual que existia no estado de “bom
selvagem”, o período da felicidade.

Para Rousseau, a ideia cristã de pecado original, vigente no seu tempo, estava
errada. Ele rompeu com a tradição cristã.

Em sua “Carta a Beaumont”, Rousseau escreveu: “Não há perversidade


original no coração humano”.

Ele fortaleceu o pensamento liberal ao afirmar que tanto a natureza humana


quanto as vontades humanas são boas. Sendo assim, cada pessoa deveria
viver plenamente a própria subjetividade e cumprir suas vontades sem a
interferência de outras pessoas e ideias.

O escritor suíço afirmava que a natureza não pode se mover sozinha, nem
realizar seus processos por si, sendo guiada pelo Criador. Dessa maneira, os
sentimentos que surgem na alma humana são todos bons e devem ser vividos.

Para Rousseau, o ser humano de um passado remoto vivia em estado perfeito


de realização pessoal na natureza, livre e sozinho.

Então, sem se saber o porquê, o homem decidiu viver em sociedades,


realizando contratos entre si.

Com o surgimento da sociedade começou a queda da humanidade, segundo


ele. Deste seu pensamento, surgiu sua famosa frase:

“O homem nasce bom, e a sociedade o corrompe”.


Em sua teoria, disse também que a propriedade privada causou a
desigualdade e as mazelas da humanidade após a realização do contrato
social.

Ele defendia a igualdade total entre todos os homens como ponto fundamental
de uma boa sociedade.

Junto disso, defendeu a tese igualitarista de que todos deveriam ser tratados
da mesma maneira, tanto politicamente quanto socialmente.

Paulo Freire
Paulo Freire, considerado um dos mais importantes educadores brasileiros,
defendia a importância da educação como ferramenta de libertação e
empoderamento das pessoas. Ele acreditava que a educação deve ser
participativa e dialogada, e que cada indivíduo tem o direito de sonhar e buscar
realizar seus sonhos.

O direito de sonhar é uma parte fundamental da filosofia de Freire. Ele


acreditava que cada pessoa tem o direito de ter aspirações e sonhos, e que a
educação deve ser um meio para alcançá-los. Para Freire, a educação deve
ser um processo transformador que permita a realização dos sonhos das
pessoas, ajudando-as a alcançar a plena realização de sua potencialidade.

Paulo Freire vê a educação como ferramenta para emancipação individual e


social e avalia que todo processo educacional deve partir da realidade do
próprio aluno. Também valoriza a horizontalidade, ou seja, a possibilidade não
só de estudantes aprenderem com professores, mas também o contrário.
Ainda que a referência mais conhecida seja Método Paulo Freire, este autor
jamais criou um método de alfabetização. Proposta é um termo mais adequado
aos fundamentos defendidos pelo educador brasileiro.

Um deles consistia na criação de um “Círculo de Cultura”. Constituído por uma


turma de alfabetizandos e um professor orientador, que incentivava os alunos a
falarem de suas vidas na comunidade em que viviam. Para Freire não se
alfabetiza por meio de repetição de palavras.

Devemos desenvolver a capacidade de pensá-las com base nas palavras


retirados do cotidiano dos alunos. As palavras deveriam ser ensinadas como
palavras geradoras. Isto é, por meio de uma palavra conseguimos formar
muitas outras diferentes. O Círculo era também a forma espacial de disposição
de alunos e professor na sala de aula. Pois a “roda” favorecia o diálogo, a
interação entre todos.

A linguagem e o diálogo eram os pontos de partida para pesquisa, organização


e levantamento investigativo do universo vocabular e dos eixos temáticos
significativos da vida dos alunos. A partir destes eixos se definia o material a
ser utilizado na aprendizagem da leitura e da escrita. As palavras constituem a
unidade menor da pesquisa, assim como os fonemas, a unidade menor da
proposta de ensino.

A proposta didática de Paulo Freire não pode ser entendida em sentido


metodológico estrito, por ser um processo dinâmico, que se faz e refaz
enquanto é desenvolvido. Estaria mais próxima de um “método processual
coletivo de alfabetização”, sendo impossível determinar as palavras e os temas
gerados em cada comunidade, estado ou país.

A alfabetização não pode se fazer de cima para baixo, nem de fora para dentro,
como uma doação ou uma exposição. Ela precisa ocorrer de dentro para fora
pelo próprio analfabeto, somente ajustado pelo educador.

Henri Wallon (1879-1962).

Médico, psicólogo e filósofo francês . Sua teoria pedagógica, que diz que o
desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro, abalou as
convicções numa época em que memória e erudição eram o máximo em termos de
construção do conhecimento.
Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança mas, também suas emoções
para dentro da sala de aula. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos
que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a
formação do eu (leia mais no quadro abaixo) como pessoa. Militante apaixonado
(tanto na política como na Educação), dizia que reprovar é sinônimo de expulsar,
negar, excluir. Ou seja, a própria negação do ensino.

Wallon na escola: humanizar a inteligência


Diferentemente dos métodos tradicionais (que priorizam a inteligência e o
desempenho em sala de aula), a proposta walloniana põe o desenvolvimento
intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. A abordagem é sempre a de
considerar a pessoa como um todo. Elementos como afetividade, emoções,
movimento e espaço físico se encontram num mesmo plano. As atividades
pedagógicas e os objetos, assim, devem ser trabalhados de formas variadas. Numa sala
de leitura, por exemplo, a criança pode ficar sentada, deitada ou fazendo coreografias
da história contada pelo professor. Os temas e as disciplinas não se restringem a
trabalhar o conteúdo, mas a ajudar a descobrir o eu no outro. Essa relação dialética
ajuda a desenvolver a criança em sintonia com o meio.

A emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos e até o


tônus muscular, tem momentos de tensão e distensão que ajudam o ser humano a se
conhecer, explica Heloysa Dantas, da Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo (USP), estudiosa da obra de Wallon há 20 anos. Segundo ela, a raiva, a alegria, o
medo, a tristeza e os sentimentos mais profundos ganham função relevante na relação
da criança com o meio. A emoção causa impacto no outro e tende a se propagar no
meio social, completa a pedagoga Izabel Galvão, também da USP. Ela diz que a
afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento humano.

Célestin Freinet (1896-1966)


Muitos dos conceitos e atividades escolares idealizados pelo pedagogo francês se
tornaram tão difundidos que há educadores que os utilizam sem nunca ter ouvido falar
no autor. É o caso das aulas-passeio (ou estudos de campo), dos cantinhos
pedagógicos e da troca de correspondência entre escolas. Não é necessário conhecer a
fundo a obra de Freinet para fazer bom uso desses recursos, mas entender a teoria
que motivou sua criação deverá possibilitar sua aplicação integrada e torná-los mais
férteis.
A pedagogia de Freinet se fundamenta em quatro eixos: a cooperação (para construir
o conhecimento comunitariamente), a comunicação (para formalizá-lo, transmiti-lo e
divulgá-lo), a documentação, com o chamado livro da vida (para registro diário dos
fatos históricos), e a afetividade (como vínculo entre as pessoas e delas com o
conhecimento).
Freinet se inscreve, historicamente, entre os educadores identificados com a corrente
da Escola Nova, que, nas primeiras décadas do século 20, se insurgiu contra o ensino
tradicionalista, centrado no professor e na cultura enciclopédica, propondo em seu
lugar uma educação ativa em torno do aluno. O pedagogo francês somou ao ideário
dos escolanovistas uma visão marxista e popular tanto da organização da rede de
ensino como do aprendizado em si. "Freinet sempre acreditou que é preciso
transformar a escola por dentro, pois é exatamente ali que se manifestam as
contradições sociais", diz Rosa Maria Whitaker Sampaio, coordenadora do pólo São
Paulo da Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que
congrega seguidores de Freinet.
Na teoria do educador francês, o trabalho e a cooperação vêm em primeiro plano, a
ponto de ele defender, em contraste com outros pedagogos, incluindo os da Escola
Nova, que "não é o jogo que é natural da criança, mas sim o trabalho". Seu objetivo
declarado é criar uma "escola do povo".
Importância do êxito
Não foi por acaso que Freinet criou uma pedagogia do trabalho. Para ele, a atividade é
o que orienta a prática escolar e o objetivo final da educação é formar cidadãos para o
trabalho livre e criativo, capaz de dominar e transformar o meio e emancipar quem o
exerce. Um dos deveres do professor, segundo Freinet, é criar uma atmosfera
laboriosa na escola, de modo a estimular as crianças a fazer experiências, procurar
respostas para suas necessidades e inquietações, ajudando e sendo ajudadas por seus
colegas e buscando no professor alguém que organize o trabalho.

Outra função primordial do professor, segundo Freinet, é colaborar ao máximo para o


êxito de todos os alunos. Diferentemente da maioria dos pedagogos modernos, o
educador francês não via valor didático no erro. Ele acreditava que o fracasso
desequilibra e desmotiva o aluno, por isso o professor deve ajudá-lo a superar o erro.
"Freinet descobriu que a forma mais profunda de aprendizado é o envolvimento
afetivo", diz Rosa Sampaio.

Ao lado da pedagogia do trabalho e da pedagogia do êxito, Freinet propôs, finalmente,


uma pedagogia do bom senso, pela qual a aprendizagem resulta de uma relação
dialética entre ação e pensamento, ou teoria e prática. O professor se pauta por uma
atitude orientada tanto pela psicologia quanto pela pedagogia - assim, o histórico
pessoal do aluno interage com os conhecimentos novos e essa relação constrói seu
futuro na sociedade.

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