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Quadrívio[1] (em latim: quadrivium; de quatro e via: caminho, ou seja os "quatro caminhos") era
o conjunto de quatro matérias—aritmética, geometria, astronomia e música—ensinadas nas escolas
helênicas na fase inicial do percurso educativo, cujo ápice eram as disciplinas teológicas. A
educação era iniciada com o trívio—gramática, lógica e retórica—as primeiras três das sete artes
liberais, seguindo-se as restantes quatro, que formavam o quadrívio. O quadrívio foi desenvolvido
por Marciano Capela, que tentara desta forma sistematizar todo o conhecimento humano, e
organizado depois por Pedro de la Ramée. Na A República, de Platão, Sócrates faz referência aos
Pitagóricos ao discorrer sobre o quadrívio.[2]
As quatro áreas de estudo que compõem o quadrívio se encontram, de alguma forma, relacionadas
aos números. Isso é evidente na aritmética, que cuida das relações possíveis entre os números (nas
operações de adição, subtração, multiplicação e divisão). No que diz respeito à geometria, as
formas no espaço são mensuráveis através dos números. A música, por sua vez, é considerada
como a aplicação da aritmética às melodias. E a astronomia, que cuida dos movimentos dos astros,
é explicada como o estudo dos números no tempo e no espaço, das formas resultantes dos
movimentos. Na Grécia Antiga, considerava-se que era preciso estudar cada uma das disciplinas do
quadrívio na sequência. Esta era a base dos estudos superiores, conforme foi apresentado por
Sócrates em A República, de Platão.
Como mencionado anteriormente, o trívio quadrívio completavam o quadro das sete artes liberais,
cujo centro estava no pensamento e na reflexão. As setes artes liberais, por sua vez, buscavam o
conhecimento unificado e verdadeiro do cosmos. Para Platão, a educação deveria recordar o que
foi esquecido pela nossa alma. Desta forma, as sete artes liberais propunham, a partir de suas
disciplinas, buscar reacender na alma o conhecimento unificado que foi esquecido.[4] De acordo
com Critchlow (2014),
“A alma, que Sócrates provou ser imortal no Fédon, vem de uma posição de completo
conhecimento antes de nascer no corpo. Recordar - o ponto principal da educação - significa trazer
novamente ao coração algo que ficou esquecido. O objetivo de estudar essas disciplinas era
ascender de volta à Unidade através de uma simplificação, baseada na compreensão prática de
cada área do quadrívio."[5]
Os sofistas
Nada do que os sofistas escreveram sobreviveu, mas houve trabalhos de reconstituição, segundo os
quais os sofistas fizeram estudos sobre os métodos educativos que os precederam, investigações
sobre as condições prévias de toda a educação, e o problema da relação entre a natureza e o fluxo
educativo exercido sobre o indivíduo. Essa retrospectiva aponta para a ideia de que os
fundamentos da educação estavam na natureza e que, através do ensino e do exercício, seria
possível criar no homem uma segunda natureza. A partir do momento em que o homem passa a
ser visto como submetido às leis da natureza, nasce um conceito mais amplo de natureza humana.
O sistema pedagógico dos sofistas entendia o ser humano como uma totalidade formada por corpo
e alma, naturalmente voltado para o bem (ainda que a definição de bem variasse de autor para
autor).
Segundo Protágoras, um sofista célebre, o processo de educação deveria iniciar-se com o cultivo do
espírito, partindo da alfabetização, passando pela música, para culminar com a educação do corpo,
em fase mais avançada, na ginástica. As ideias de formar a alma a partir da harmonia e do ritmo da
poesia, ou de que a Música podia ser impressa na alma para fazê-la rítmica e harmoniosa, estavam
presentes em Protágoras, autor da frase segundo a qual "o homem é a medida de todas as coisas".
Outro pensador, Plutarco, relacionou educação e cultura para apresentar a ideia de que o homem é
um solo pronto para ser cultivado[6]
Idade Média
O trívio e o quadrívio foram utilizados nas universidades medievais como porta de entrada para o
ensino superior, além de comporem a fase inicial do percurso educativo. Nos escritos de Boécio (c.
480 – c. 524), especialmente na obra De institutione arithmetica[7], encontra-se a
primeira referência do termo quadrívio para as disciplinas consideradas indispensáveis à aquisição
do saber. Para o autor, não existia antagonismo entre a procura racional e a fé, pois através do
estudo intelectual da natureza o homem era capaz de chegar a Deus. A partir de Boécio sobressai a
distinção entre física e metafísica, ou entre corpo e alma. A partir disso, estudar as artes liberais
tornou-se a experiência de trabalhar produtivamente dentro da tensão entre teoria e prática.
Ver também
Artes liberais
Artes mecânicas
Ciência medieval
Cultura medieval
Escola catedral
Paideia
Referências
1. «Quadrívio» (http://www.priberam.pt/dlpo/Qu%C3%ADnvio). Priberam. Consultado em 7 de
novembro de 2014
2. ANDRADE, Helena de Fátima Souza. Quadrivium. SOUZA, Áurea; NUNES, Jerônimo;
CABRAL, João; MARTINS, Maria do Carmo; SILVA, Osvaldo; MEDEIROS, Paulo. Matemática
7 perspectivas. Universidade dos Açores, 2016. p. 41-74. Disponível em:
https://repositorio.uac.pt/handle/10400.3/4021. Acesso em: 28/09/2021.
3. Forma triangular considerada perfeita para os pitagóricos, que consiste na representação
aritmética: 1+2+3+4= 10.
4. CRITCHLOW, K. (2014). Quadrivium. São Paulo: É Realizações. ISBN 8580331625
5. CRITCHLOW, K. (2014). Quadrivium. São Paulo: É Realizações. p. 8. ISBN 8580331625
6. Frase presente na obra Educação da Juventude, de Plutarco.
7. «De institutione arithmetica» (https://archive.org/details/ita-bnc-in2-00001756-001/mode/2up)
Bibliografia
Charles Blaich, Anne Bost, Ed Chan, e Richard Lynch (2004) Defining Liberal Arts Education.
Center of Inquiry in the Liberal Arts.
Sister Miriam Joseph (2002) The Trivium: The Liberal Arts of Logic, Grammar, and Rhetoric.
Paul Dry Books.
Brand Blanshard (1973) The Uses of a Liberal Education: And Other Talks to Students. Open
Court.
CRITCHLOW, K. Introdução Geral. In: MARTINEAU, J (Org). Quadrivium: as quatro artes
liberais clássicas da aritmética, da geometria, da música e da cosmologia. 8º impressão. São
Paulo: É realizações, 2014.
"A escola de Chartres e a tradição do quadrivium". Disponível em:
http://www.scielo.org.co/pdf/cteo/v41n96/v41n96a07.pd (http://www.scielo.org.co/pdf/cteo/v41n
96/v41n96a07.pdf)
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