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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE

Turma Recursal do Estado de Sergipe

Acórdão nº: 3908/2020


Juiz(a) Relator(a): Geilton Costa Cardoso da Silva
Juiz(a) Membro: Rosa Maria Mattos Alves de Santana Britto
Juiz(a) Membro: Aldo de Albuquerque Mello

Nº do Processo: 201901011249
Classe: Recurso Inominado
Assuntos: DIREITO CIVIL - Fatos Jurídicos - Ato / Negócio Jurídico - Defeito, nulidade ou anulação
DIREITO CIVIL - Obrigações - Inadimplemento - Perdas e Danos
DIREITO DO CONSUMIDOR - Responsabilidade do Fornecedor - Indenização por Dano
Material
DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Depósito
DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Prestação de Serviços
DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO - Jurisdição e Competência -
Competência - Competência dos Juizados Especiais
DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Moral - Ato Ilícito
Data de Distribuição: 01/11/2019
Processo Origem: 201873101967
Procedência: AREIA BRANCA

Recorrente: BRADESCO
Advogado: LARISSA SENTO-SÉ ROSSI
Recorrido: FRANCISCO PEREIRA DOS SANTOS
Advogado: FABIO COSTA SANTANA

EMENTA

Processo nº 201901011249
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE
Turma Recursal do Estado de Sergipe

RECURSO INOMINADO.
DIREITO DO CONSUMIDOR.
AÇÃO CONSUMERISTA C/C
INDENIZAÇÃO POR PERDAS
E DANOS MATERIAIS E
MORAIS. INSURGÊNCIA DA
PARTE RÉ. CARTÃO
MAGNÉTICO. SAQUES NÃO
RECONHECIDOS PELA PARTE
AUTORA, CONTUDO,
REALIZADOS COM CARTÃO
MAGNÉTICO COM CHIP E
MEDIANTE A APOSIÇÃO DE
SENHA PESSOAL E
INTRANSFERÍVEL. AUSÊNCIA
DE IMPUGNAÇÃO
ESPECÍFICA AOS
ARGUMENTOS DA
SENTENÇA. RECURSO QUE
REPETE OS ARGUMENTOS
DA CONTESTAÇÃO. OFENSA
AO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE.
ADVERTÊNCIA AO
RECORRENTE EM FACE DE
CONDUTA TEMERÁRIA E
NÃO COOPERATIVA COM O
PODER JUDICIÁRIO.
SENTENÇA MANTIDA POR
SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS. RECURSO
NÃO CONHECIDO.

ACÓRDÃO

Acordam os Juízes de Direito integrantes da Turma Recursal do Estado de Sergipe, à unanimidade, em NÃO
CONHECER do Recurso Inominado interposto, mantendo incólume a sentença, nos termos do artigo 46 da Lei nº
9.099/95. Por consequência, condeno a parte recorrente ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, esses arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação atualizado, na forma do art. 55,
da Lei nº 9.099/95.

Aracaju, 15 de Junho de 2020.

Geilton Costa Cardoso da Silva


Juiz(a) Relator(a)

Processo nº 201901011249
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE
Turma Recursal do Estado de Sergipe

Rosa Maria Mattos Alves de Santana Britto


Juiz(a) Membro

Aldo de Albuquerque Mello


Juiz(a) Membro

VOTO

O(a) Senhor(a) Juiz(a) Geilton Costa Cardoso da Silva:

Dispensado o relatório na forma do artigo 38 da Lei 9.099/95.

1) SÍNTESE DA DEMANDA

Cuidam os autos de Recurso Inominado interposto por BANCO BRADESCO S/A, na ação em que contende com
FRANCISCO PEREIRA DOS SANTOS, insurgindo-se em face da sentença a seguir transcrita:

“SENTENÇA

I – RELATÓRIO

Trata-se de AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS


E MORAIS ajuizada por FRANCISCO PEREIRA DOS SANTOS
em face do BANCO BRADESCO S/A, cingindo-se o peito autoral à
condenação da ré em danos morais e devolução de quantia por
desconto indevido em sua conta bancária. No mais, fica
dispensado o relatório, nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95.

II – FUNDAMENTAÇÃO

De início, cumpre registrar que a natureza da relação havida entre


Reclamante e banco Reclamado sujeita-se às regras contidas no
Código de Defesa do Consumidor, o qual imputa ao fornecedor a
responsabilidade objetiva pelo fato do serviço, independentemente
da verificação de culpa, consoante dispõe o artigo 14, caput, da
referida legislação, que transcrevo: Art. 14. “O fornecedor de
serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação de serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”.
Ressalta-se, que no caso dos autos, mostra-se despicienda a
análise da culpa, tendo em vista a aplicação do Código de Defesa
do Consumidor, que determina ser objetiva a responsabilidade
civil da instituição financeira quanto à prestação de seus serviços.
Este, inclusive, é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
“Consumidor. Saque indevido em conta corrente. Cartão
bancário. Responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços.

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Inversão do ônus da prova. Debate referente ao ônus de provar a
autoria de saque em conta corrente, efetuado mediante cartão
bancário, quando o correntista, apesar de deter a guarda do
cartão, nega a autoria dos saques. - Reconhecida a possibilidade
de violação do sistema eletrônico e, tratando-se de sistema
próprio das instituições financeiras, ocorrendo retirada de
numerário da conta corrente do cliente, não reconhecida por este,
impõe-se o reconhecimento da responsabilidade objetiva do
fornecedor do serviço, somente passível de ser ilidida nas
hipóteses do § 3º do art. 14 do CDC. - Inversão do ônus da prova
igualmente facultada, tanto pela hipossuficiência do consumidor,
quanto pela verossimilhança das alegações de suas alegações de
que não efetuara o saque em sua conta corrente. Recurso não
conhecido.” (STJ, REsp 557030/RJ, Relatora Ministra Nancy
Andrighi, Órgão Julgador 3.ª Turma, Julgado em 16/12/2004,
Publicado no DJ em 01/02/2005, pág. 542). O Reclamante se
insurge contra os saques efetuados em sua conta bancária
totalizando a quantia de R$ 2.660,00 (dois mil seiscentos e
sessenta reais) por ele não reconhecidos. Ainda que não fosse
possível a inversão do ônus da prova com base na legislação
consumerista, não pode a parte Reclamante ser compelida a
provar fatos negativos, ou, no caso, que não efetuou os saques
impugnados. Outrossim, é fato que a ré detém a tecnologia e os
mecanismos de verificação da utilização dos seus caixas
eletrônicos, já que por força de regramento específico dirigido ao
setor bancário é obrigada a manter sistema de segurança. Nesse
contexto, poderia facilmente comprovar quem efetuou as
operações bancárias em questão. Verifica-se da análise dos
extratos anexados aos autos que foram efetuados saques na conta
da autora, sustentando a Ré que não contribuiu para os danos
reclamados pelo Autor, tendo em vista que a movimentação se fez
com a utilização do cartão magnético e de senha pessoal e
intransferível. No entanto, não trouxe a instituição Ré documento
hábil a comprovar a regularidade da operação. Dessa forma, não
tendo o Reclamante efetuado os saques, bem como não
demonstrando a Ré que o correntista atuou com desídia, não pode
ele ser responsabilizado pelas consequências negativas da
indevida operação financeira realizada. Nesse passo, não obstante
a alegação do banco de que inexistiu qualquer conduta por parte
da instituição bancária capaz de gerar o dano indenizável previsto
no art. 186 do Código Civil, entendo não lhe assistir razão, posto
que houve falha na prestação do serviço, causando prejuízos
materiais e imateriais que vão muito além de meros
aborrecimentos do cotidiano. Constata-se, pois, a falha na
prestação do serviço por parte da instituição financeira que
deixou de utilizar as medidas de segurança disponíveis para evitar
o fato. Com efeito, o inciso II do parágrafo 1º do art. 14 do
Código de Defesa do Consumidor caracterizado serviço como
defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele
pode esperar, levando-se em consideração os resultados e os
riscos que razoavelmente dele se aguarda. Diante de tal conceito,
o serviço prestado pela instituição ré deve ser considerado
defeituoso, à medida que permitiu que fossem efetuados saques
indevidos na conta do Reclamante. Ademais, a ocorrência da
conduta desidiosa da Ré afasta o fato exclusivo do correntista ou
de terceiro estranho que seriam, no caso, as únicas hipóteses
capazes de elidirem a responsabilidade do prestador do serviço.
As declarações prestadas na instrução não tiveram o condão de

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alterar a tese autoral, pois, como dito acima, o banco sequer faz
prova de que ele mesmo teria efetuado os saques, ou terceiro
estranho, de posse dos dados. Nesse contexto, saliento que a
pessoa de prenome “ Paulo”, o qual teria ficado na posse do
cartão do Reclamante no estabelecimento bancário, foi apontado
tanto pelo Reclamante quanto pelo Sr. Luiz Francisco Lima como
preposto do Demandado, uma vez que seria o responsável pela
contratação de empréstimo em ponto do Bradesco. Pela teoria da
aparência, a empresa deve responder pelos prejuízos causados a
quem contrata serviços dentro de seu estabelecimento comercial
com quem se apresenta como funcionário da empresa, uma vez
que o consumidor possui justa expectativa de com ela negociar.
Outrossim, o banco, detentor da prova acerca de quem teria
efetuados os saques, deixou de encartar os vídeos/fotos aptos a
provar cabalmente sua tese. Saliente-se que deve a Ré arcar
exclusivamente com os riscos de seu empreendimento lucrativo.
Não pode, de nenhum modo, desejar repartir os resultados
negativos de suas atividades com o consumidor, já que com este
não reparte qualquer lucro. Em última análise, quem colhe os
lucros deve igualmente suportar os riscos e ônus. Nesse sentido:
AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C DANOS MORAIS –
MOVIMENTAÇÃO FRAUDULENTA DE CONTA CORRENTE -
SAQUES E EMPRÉSTIMOS NÃO RECONHECIDOS PELO
CORRENTISTA –PEDIDO DE BLOQUEIO DO CARTÃO
FRUSTRADO– FALIBILIDADE DO CHIP –FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO – APLICAÇÃO DO ENUNCIADO 2.8
DA TRU/PR –DANO MATERIAL – RESTITUIÇÃO DEVIDA –
FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO– DANO MORAL
CARACTERIZADO – QUANTUM ARBITRADO EM R$ 8.000,00
(OITO MIL REAIS) – ÍNFIMO – MANTIDO DIANTE DA
AUSÊNCIA DE RECURSO PARA MAJORAÇÃO – APLICAÇÃO
DO ENUNCIADO 12.13, A, DA TRU/PR– RAZÕES DE
RECURSO QUE SÃO MERA REPETIÇÃO DA PEÇA
CONTESTATÓRIA – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE– SENTENÇA MANTIDA. (-TJ-PR–
PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO– RI
000924827201481600180– 3º Juizado Especial Cível de Maringá–
Julgamento 12 de Junho de 2015 -RELATOR Juiz Marco Vinícius
Schiebel). JUIZADO ESPECIAL. INSTITUIÇÃO BANCÁRIA.
RESSARCIMENTO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
SAQUES INDEVIDOS NA CONTA DO CORRENTISTA.
PRELIMINAR. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.
REJEIÇÃO. SEGURANÇA DO CARTÃO COM CHIP. RISCO DA
ATIVIDADE ECONÔMICA. CULPA EXCLUSIVA DO AUTOR
OU DE TERCEIRO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO FATO
IMPEDITIVO, MODIFICATIVO OU EXTINTIVO DO DIREITO.
DEVOLUÇÃO CABÍVEL. RECURSO DESPROVIDO. SENTENÇA
MANTIDA. […] 3. Havendo saques em conta corrente não
reconhecidos pelo correntista, mediante fraude, cabe à instituição
bancária, que dispõe de meios adequados, demonstrar se foi o
próprio cliente ou terceiro que efetuou tais saques. 4. Esse tipo de
percalço é inerente ao risco da atividade econômica desenvolvido
pela instituição financeira, o que afasta a aplicação da teoria da
imprevisão (Súmula 479/ STJ). 5. Impõe-se o dever de restituir o
que foi subtraído da conta corrente do consumidor, se a instituição
bancária não logrou apresentar fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor. O Requerido limitou-se a alegar a
culpa do correntista ou de terceiro, ao fundamento de que as

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operações teriam sido realizadas mediante o uso de cartão
magnético com chip, cuja senha é pessoal e intransferível. 6.
Carece de interesse recursal o recorrente em relação à alegação
de inexistência de dano moral, se não foi imposta condenação
nesse sentido. 7. Recurso conhecido e desprovido. 8. Condeno o
recorrente nas custas e honorários advocatícios, os quais fixo em
10% (dez por cento) do valor da condenação. 9. Decisão proferida
na forma do art. 46 da Lei 9.099/95, servindo a ementa de
acórdão. (TJ-DF– Apelação Cível do Juizado Especial– ACJ
20140310227203– 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do
Distrito Federal– julgamento: 05 de Maio de 2015– Relator: LUÍS
GUSTAVO B. DE OLIVEIRA) APELAÇÃO – INEXIGIBILIDADE
DE DÉBITOS CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS – FRAUDE EM CARTÃO DE CRÉDITO – SENTENÇA
DE PROCEDÊNCIA EM PARTE. 1. DEVER DE INDENIZAR –
Fraude bancária– Risco da atividade – Fortuito interno– Dados
bancários sigilosos em mãos de terceiros falsários – Consumidor a
quem não podem ser impostos os ônus de demonstrar a higidez de
operações de crédito por ele não reconhecidas. 2. DANOS
MATERIAIS – Reconhecida a ilegalidade das operações, de rigor
o integral a devolução integral dos valores indevidamente
cobrados ou debitados, inclusive de eventuais encargos sobre eles
existentes. SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO.
(Tribunal de Justiça de São Paulo; 37ª Câmara de Direito
Privado; TJ-SP:10841058820178260100 SP 1084105-
88.2017.8.26.0100; Julg. Em 17 de abril de 2018) Vale ressaltar, é
prescindível perquirir se houve ou não culpa da ré, pois sua
responsabilidade objetiva. Logo, pelo exposto, não há que se falar
em culpa exclusiva da vítima ou de terceiro, mas sim em
responsabilidade pelo fato do serviço, a ensejar indenização pelos
danos causados. – DOS DANOS MATERIAIS No caso do dano
material, a prova deste se dá por meio da demonstração efetiva da
repercussão na órbita financeira da vítima, diminuindo o
patrimônio desta ou impedindo que este seja legitimamente
acrescido, caracterizando esta última hipótese o lucro cessante. O
Reclamante diz ter sofrido um dano material oriundo da retirada
indevida da quantia de R$ 2.660,00 (dois mil seiscentos e sessenta
reais) de sua conta. Entende este juízo que restou comprovada a
existência de tal dano e que ele decorreu do defeito da prestação
do serviço do demandado, não tendo a instituição financeira
logrado em demonstrar que o Autor efetivamente realizou os
saques no dia 29/08/2018 nos valores de R$ 1.300,00 (mil e
trezentos reais) e R$ 1.360,00 (mil, trezentos e sessenta
reais),totalizando a quantia de R$ 2.660,00 (dois mil, seiscentos e
sessenta reais), razão pela qual é devido o ressarcimento do valor
retirado, corrigido a partir do saque indevido. – DOS DANOS
MORAIS Em relação aos danos morais, está provado o
acontecimento danoso, isto é, o saque indevido na conta do Autor,
bem como, a responsabilidade do Reclamado. Assim, o dano
moral fica evidenciado in re ipsa, sem a necessidade de qualquer
outra prova para a sua ocorrência, prevalecendo o entendimento
de que basta a demonstração do nexo de causalidade entre o dano
e a conduta do ofensor para que surja o dever de indenizar,
condições essas, satisfatoriamente comprovadas no caso em
epígrafe. Tendo em vista o caráter alimentar do benefício
previdenciário, reduzido em razão dos saques indevidos, entendo
que a parte Reclamante sofreu abalo emocional que deve ser
reparado, inclusive, ainda, por ser pessoa idosa e receber o

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mínimo indispensável para sua subsistência. Desta forma, vê-se
que se tem por configurados os requisitos do dever de indenizar,
pois é evidente que a conduta da reclamada deu causa aos danos
morais experimentados pela Reclamante, impondo-se o
acolhimento da pretensão desta. Antes, contudo, necessário que
sejam tecidas algumas ponderações acerca do montante da
indenização. Tarefa das mais tormentosas é a quantificação do
dano moral, uma vez que, como já dito, o mesmo se verifica na
esfera íntima da personalidade. Ademais, não existem critérios
legais para obtenção do justo valor da indenização. A doutrina,
embora muito discuta sobre o tema, também não oferece
parâmetros seguros para fixação do montante da indenização
devida como compensação por danos morais. Desta forma,
incumbe ao magistrado da causa, conhecedor da situação
concreta ensejadora do dever de indenizar, fixar o valor da
indenização em um patamar justo. Diz a doutrina que a
indenização pelo dano moral deve se prestar a duas finalidades:
reparar o dano experimentado pela vítima e penalizar o agente
pela conduta lesiva, dissuadindo este último da prática de atos
ilícitos. Embora absolutamente corretos tais ensinamentos, não
conduzem eles a um critério objetivo de fixação do montante da
indenização, de modo que aqui mais que em muitos outros atos
judiciais se exige do magistrado elevado senso de justiça, a fim de
evitar o enriquecimento sem causa da vítima, mas assegurando a
esta a plena satisfação pelo dano experimentado e, ainda,
sancionar com razoabilidade o agente que cometeu o ato ilícito.
Destaco as decisões abaixo: APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO
INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
SAQUES INDEVIDOS EM CONTA CORRENTE. CONSUMIDOR.
Responsabilidade objetiva (CDC, art. 14). Não demonstração,
pelo banco, de "culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro"
(CDC, 14, § 3º, II). Banco que poderia ter produzido provas com
base em filmagens do sistema de monitoramento por câmeras de
vídeo. Ocorrência de fortuito interno, incapaz de afastar a
imputação. Aplicação da teoria do risco-proveito, inerente à
atividade lucrativa exercida. Súmulas nº 479 do STJ e 94 do TJRJ.
Saques indevidos de valores em conta corrente constituem fato
gerador de dano material, porquanto implicaram a diminuição do
patrimônio da parte autora. Dano moral caracterizado. Quantum
indenizatório majorado para R$ 5.000,00 (cinco mil reais), à luz
dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Mantida o
termo a quo da incidência da correção monetária e dos juros de
mora. DESPROVIMENTO DO RECURSO DO RÉU E
PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO DO AUTOR. (TJ-RJ–
APELAÇÃO APL 00126556320158190037 RIO DE JANEIRO
NOVA FRIBURGO 3 VARA CIVEL (TJ-RJ). Data de publicação:
14/03/2018). INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO CUMULADA
COM INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL –
SAQUES FRAUDULENTOS NA CONTA CORRENTE DA
AUTORA E UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE CARTÃO DE
CRÉDITO POR TERCEIRO – PARCIAL PROCEDÊNCIA –
PRETENSÃO DE REFORMA DO RÉU – DESCABIMENTO– Não
tendo a instituição financeira ré comprovado a origem da
movimentação financeira espúria na conta corrente da autora,
bem como que a utilização de cartão de crédito teria sido
realizada pela própria correntista ou por pessoa por ela
autorizada, deve o banco réu ressarcir o numerário subtraído e se
responsabilizar pela compras a prazo que foram objeto de

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impugnação no autos – Aplicação da Súmula nº 479 do STJ –
Danos morais configurados - No caso concreto, mostra-se
caracterizado o dano moral em virtude da conduta ilícita e falha
na prestação de serviços em relação à segurança bancária,
propiciando movimentação fraudulenta por terceiro na conta
corrente do correntista, gerando ansiedade e aflição emocional
acima do suportável - Dano moral in re ipsa – Indenização fixada
em R$ 5.000,00, (cinco mil reais), que se mostra adequada para
compensar os danos morais experimentado pela vítima, não
constituindo em enriquecimento sem causa – Sentença mantida -
Recurso desprovido. (TJ-SP - AC: 10089340520178260625 SP
1008934-05.2017.8.26.0625, Relator: Walter Fonseca, Data de
Julgamento: 27/02/2019, 11ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 27/02/2019) Portanto, o arbitramento será feito
observando o que preceitua o artigo 944 do Código Civil, ou seja,
a extensão do dano, devendo o quantum indenizatório ser fixado
no valor referente aR$ 5 .000,00 (cinco mil reais), em observação
ao critério da lógica do razoável, importância adequada para
reparar a ofensa moral experimentada pelo Reclamante sem que
ele experimente enriquecimento sem causa, e que pode
perfeitamente ser suportada pelo Reclamado, devendo atentar-se,
ainda, para o viés pedagógico-punitivo da condenação.

III – DISPOSITIVO

Diante do aduzido, com base nos art. 373, inciso II,do Código de
Processo Civil, ACOLHO PARCIALMENTE OS PEDIDOS
AUTORAIS e EXTINGO O PROCESSO COM RESOLUÇÃO DO
MÉRITO, com fulcro no art. 487, I do CPC, condenando a
Reclamada a pagar à parte autora a quantia total de R$ 2.660,00
(dois mil seiscentos e sessenta reais), com correção monetária
pelo INPC ejuros de mora de 1% ao mês, desde a data do evento
danoso (cada saque indevido); e a indenizá-la por danos morais
no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), devidamente atualizados
pelo INPC, a partir desta data, com juros de mora de 1% ao mês
desde a citação. Isento dos ônus sucumbenciais, na forma do art.
55 da Lei 9.099/95. Cientes as partes de que o cumprimento
definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo
o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze)
dias, sob pena de multa de 10% (dez por cento), nos termos do art.
523, §1.º do CPC e Enunciado 97 do FONAJE. Publique-se.
Registre-se. Intimem-se. Após o trânsito em julgado, circunstância
a ser devidamente certificada nos autos, fica desde já deferido o
arquivamento do processo.

Documento assinado eletronicamente por Fernando Luis Lopes


Dantas, Juiz(a) de Areia Branca, em 30/07/2019, às 13:04:34,
conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.”

2) HISTÓRICO RECURSAL

A Parte Recorrente/Demandada objetiva a reforma integral da sentença para que sejam julgados improcedentes
os pedidos autorais. Subsidiariamente, pugna pela minoração do quantum arbitrado a título de danos morais para o
importe de R$ 500,00 (quinhentos reais).

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A Parte Recorrida/Demandante apresentou contrarrazões pugnando pelo não conhecimento do recurso contrário,
em razão da ausência de impugnação específica aos termos da sentença combatida. Ou, caso não seja esse o
entendimento, que o referido recurso seja desprovido e, consequente, mantida a sentença combatida.

3) PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE

O recurso está tempestivo e preparado.

Pois bem. Analisando os pressupostos de admissibilidade, imperioso destacar que para que um recurso seja
conhecido, é imprescindível a observância ao princípio da congruência/dialeticidade, que exige que todo o recurso
seja formulado com a indicação dos motivos de fato e de direito pelos quais se cogita um novo julgamento.

Compulsando os autos é de fácil constatação a impropriedade do recurso manejado pela demandada. Diz-se isso
porque não foram rebatidos os fundamentos da sentença em sua essência que embasaram a parcial procedência dos
pedidos autorais, sendo que, em suas razões recursais, a parte recorrente limita-se a reproduzir exclusivamente os
termos da Contestação.

A parte recorrente simplesmente transcreve a Contestação, apenas acrescentando um tópico para sustentar,
subsidiariamente, a necessidade de minoração do quantum arbitrado a título de danos morais, e outro trazendo
novas considerações acerca do ônus da prova. Vê-se que em nenhum momento do recurso a recorrente se deu ao
trabalho de impugnar especificamente os fundamentos adotados pelo julgado monocrático, limitando-se a
reproduzir os mesmos fundamentos apresentados em sua defesa, com a ressalva de alguns poucos parágrafos que
nada enfrentam diretamente e objetivamente a sentença combatida.

Assim, entendo que a medida recursal interposta não atendeu ao pressuposto extrínseco da regularidade formal,
porquanto violou o princípio da dialeticidade, nos termos da fundamentação exposta.

Em suma, pelo princípio da dialeticidade, a fundamentação, cujo atendimento pressupõe uma argumentação lógica
destinada a evidenciar o equívoco da decisão impugnada, é um pressuposto de admissibilidade recursal que deve
ser observado rigorosamente pela parte recorrente.

Com base nesse princípio, não pode o recorrente “recortar” e “colar” os fundamentos da sua petição inicial ou da
sua contestação, alterando tão somente conectivos e qualificação das partes, bem como mudando a ordem dos
parágrafos e tópicos a fim de ludibriar o julgador, sem combater a decisão e demonstrar a sua irresignação. Além
disso, o recurso deve combater o que foi tratado na sentença, ou seja, os seus fundamentos específicos.

Desse modo, a parte recorrente defrontou o princípio da Dialeticidade recursal, já que não faz oposição firme,
pontual, à decisão recorrida, infringido o art. 1010 do CPC, in litteris:

Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de


primeiro grau, conterá:

[…]

III – as razões do pedido de reforma ou de decretação de


nulidade;

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Nesse sentido, discorre Fredie Didier Jr. (Curso de Direito Processual Civil, 14ª Ed, Juspodivm, São Paulo, p. 159)
que:

“As partes, no recurso, têm de apresentar a sua fundamentação de


modo analítico, tal como ela é exigida para a decisão judicial (art.
489, §1º, CPC). A parte não pode expor as suas razões de modo
genérico; não pode valer-se de meras paráfrases da lei (art. 489,
§1º, I, CPC); não pode alegar a incidência de conceito jurídico
indeterminado, sem demonstrar as razões de sua aplicação ao
caso (art. 489, §1º, II, CPC) etc. O dever de fundamentação
analítica da decisão judicial implica o ônus de fundamentação
analítica da postulação. Trata-se de mais um corolário do
princípio da cooperação. O STJ reconheceu expressamente a
aplicação do art. 489, §1º, do CPC, às partes ao analisar um
agravo interno em que o recorrente se teria limitado, literalmente,
a repetir os argumentos trazidos no recurso especial (STJ, 2ª T.,
AgInt no AREsp 853.152/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, J.
13/12/2016, Dje 19/12/2016)”.

Também já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - AUTOS DE


AGRAVO DE INSTRUMENTO NA ORIGEM - CUMPRIMENTO
DE SENTENÇA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU
PROVIMENTO AO RECLAMO - INSURGÊNCIA DA RÉ.

1. Razões do agravo interno que não impugnam especificamente


os fundamentos invocados na decisão agravada, nos termos do
art. 1.021, §1º, do CPC/2015. Em razão do princípio da
dialeticidade, deve o agravante demonstrar de modo
fundamentado o desacerto do decisum hostilizado. Aplicação da
Súmula 182/STJ: "É inviável o agravo do art. 545 do CPC[73]
que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão
agravada." 2. A reiteração, nas razões de agravo, das
argumentações expendidas no apelo especial inviabiliza o
conhecimento do recurso.

Precedentes. 3. Agravo interno não conhecido.

(AgInt no REsp 1512004/DF, Rel. Ministro MARCO BUZZI,


QUARTA TURMA, julgado em 02/05/2017, DJe 10/05/2017)

Nesse sentido, cito os seguintes precedentes:

RECURSO INOMINADO. DIREITO DO CONSUMIDOR.


INSURGÊNCIA DA PARTE RÉ. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO EM
DECORRÊNCIA DA FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.

Processo nº 201901011249
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE
Turma Recursal do Estado de Sergipe
RECURSO QUE FAZ REPETIÇÃO DA CONTESTAÇÃO.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS
FUNDAMENTOS DA SENTENÇA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE. PRECEDENTES. SENTENÇA MANTIDA POR
SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO NÃO
CONHECIDO. (Recurso Inominado nº 201801007339 nº
único0007377-58.2018.8.25.9010 - Turma Recursal do Estado de
Sergipe, Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator(a): Geilton Costa
Cardoso da Silva - Julgado em 20/05/2019) (grifo nosso)

RECURSO INOMINADO. JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA


PÚBLICA. INSURGÊNCIA DO MUNICÍPIO DE ITAPORANGA
D’AJUDA. AÇÃO DE COBRANÇA. INCORPORAÇÃO DE
ADICIONAL DE 1/3 POR 25 ANOS DE SERVIÇO. RECURSO
QUE FAZ REPETIÇÃO DA CONTESTAÇÃO. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS FUNDAMENTOS DA
SENTENÇA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE.
SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.
RECURSO NÃO CONHECIDO. (Recurso Inominado nº
201701013413 nº único0013432-59.2017.8.25.9010 - Turma
Recursal do Estado de Sergipe, Tribunal de Justiça de Sergipe -
Relator(a): Geilton Costa Cardoso da Silva - Julgado em
01/02/2019) (grifo nosso)

Assim, não sendo satisfeitos os pressupostos de admissibilidade, não conheço do recurso manejado.

Nesse aspecto, julgo importante advertir o recorrente de que conduta dessa natureza, consistente na inobservância
do princípio da dialeticidade, deve ser evitada porquanto contrária ao comportamento legalmente esperado de
quem participa do processo, nos termos do art. 77, II, do CPC, e pode ensejar medidas legais e administrativas.

4) PRELIMINARES

AUSENTES.

5) MÉRITO

PREJUDICADO.

6) PREQUESTIONAMENTO

AUSENTE.

7) DISPOSITIVO

Processo nº 201901011249
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE
Turma Recursal do Estado de Sergipe
Ante o exposto, voto no sentido de NÃO CONHECER do Recurso Inominado interposto, mantendo-se a sentença
incólume pelos próprios fundamentos.

8) CUSTAS/SUCUMBÊNCIA

Condeno a parte recorrente ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10%
(dez por cento) sobre o valor da condenação atualizado, na forma do art. 55 da Lei 9.099/95.

M.

Aracaju, 05 de Junho de 2020.

Geilton Costa Cardoso da Silva


Juiz(a) Relator(a)

VOTO

O(a) Senhor(a) Juiz(a) Rosa Maria Mattos Alves de Santana Britto:

Acompanho o(a) relator(a) Geilton Costa Cardoso da Silva em todos os termos do voto proferido.

Aracaju, 05 de Junho de 2020.

Rosa Maria Mattos Alves de Santana Britto


Juiz(a) Membro

VOTO

O(a) Senhor(a) Juiz(a) Aldo de Albuquerque Mello:

Acompanho o(a) relator(a) Geilton Costa Cardoso da Silva em todos os termos do voto proferido.

Aracaju, 05 de Junho de 2020.

Aldo de Albuquerque Mello


Juiz(a) Membro

Processo nº 201901011249
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE
Turma Recursal do Estado de Sergipe

Processo nº 201901011249

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