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ACÓRDÃO: 20225105
RECURSO: Apelação Cível
PROCESSO: 202100826795
RELATOR: JOSÉ DOS ANJOS
APELANTE CONTORNO VEICULOS LTDA Advogado: PEDRO MORAES MESSIAS
APELANTE WALDISON ALBERTINY SANTOS DA SILVA Advogado: HILDON OLIVEIRA RODRIGUE
BOM NEGOCIO ATIVIDADES DE INTERNET Advogado: JULIANA SANTANA ARAGÃO
APELADO
LTDA – OLX ALVES
APELADO CONTORNO VEICULOS LTDA Advogado: PEDRO MORAES MESSIAS
APELADO WALDISON ALBERTINY SANTOS DA SILVA Advogado: HILDON OLIVEIRA RODRIGUE
EMENTA
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Aduz que após a referida data, Daniel não lhe deu retorno sobre a
liberação, tentando entrar em contato com aquele com Bruno, mas
sem sucesso. A partir de então, o autor suspeitou ter sido vítima de
um golpe, dirigindo-se à DELEGACIA DE POLÍCIA para realizar o
BOLETIM DE OCORRÊNCIA N°014845/2019.
VOTO
MÉRITO
“(...) Da análise das provas trazidas aos autos pelas partes, bem
como daquelas produzidas em juízo, verifica-se que o veículo foi
exposto à venda pelo fornecedor Contorno Veículos. O autor dirigiu-
se até a Contorno Veículos para efetuar a compra. Assim, tal como o
agente financiador (CREDILINE), a Contorno também é fornecedora.
Nessa qualidade, responde objetivamente pelos danos causados. A
exoneração de tal responsabilidade, segundo o CDC, somente tem
lugar na hipótese de culpa exclusivade consumidor ou terceiro,
excludentes que não restaram caraterizadas nos autos. Art. 14. O
fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos. [...] § 3° O fornecedor de serviços só não será
responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o
serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor
ou de terceiro. Avaliando a prova produzida, a conclusão que
melhor se aproxima da verdade gravita em torno de teremsido, tanto
o consumidor quanto o fornecedor, vítimas de fraude. No entanto,
ambos agiram de modo acolaborar com o sucesso do esquema
fraudulento.Com efeito, o consumidor agiu com imprudência ao
realizar os depósitos em contas de particulares (p.35), mesmo tendo
sido aconselhado a não fazê-lo. Por sua vez, o fornecedor não agiu
com a cautelanecessária, faturando o veículo (p. 163) e permitindo
ao consumidor crer na aparência de verdade donegócio, ainda que
houvesse indícios claros de que pudesse se tratar de uma fraude.O
simples exame do documento de pp. 127 dos autos indica que a
autorização de faturamento apresentaum modelo fora de padrão. O
vendedor, Marcos, ouvido, informou que não conhecia a financiadora
ou apessoa de nome Daniel, mas mesmo assim não diligenciou
confirmar as credenciais do agente financeiro,colaborando, dessa
forma, para a concretização do negócio fraudulento.Ademais, não
pode ser desprezado que há nos autos comprovante, frise-se não
impugnado, de que, poucoantes do autor realizar o depósito nas
contas de terceiros, o funcionário da Contorno, Marcos, entrou em
contato com o autor (as 14h04min do dia 07/02/2019 – p. 494). Na
versão do demandante, Marcos teria confirmado a
regularidade do negócio, o que teria sido a razão
determinante para a realização dos depósitos. O funcionário,
ouvido, refuta a versão do autor sobre tal ligação, mas não
nega expressamente que tenha feito alguma ligação telefônica
para o requerente naquela tarde. Ora, não tendo o conteúdo
da ligação sido revelado, não se pode confirmar que, de fato,
tenha havido a ratificação da viabilidade da venda
preconizada pelo autor, mas a versão autoral igualmente não
foi eficientemente refutada pelo réu. Em resumo, não logrou o
demandado provar que o depósito foi realizado por culpa
exclusiva do autor, porque não foi capaz de afastar a tese
autoral de que o negócio somente fora concretizado na
confiança depositada na credibilidade da Contorno Veículos.
Como é cediço, sendo a responsabilidade objetiva, cabia ao requerido
o ônus de provar a excludente de responsabilidade, não o fazendo
deverá responder pelos danos advindos do serviço viciado. Vale
dizer, o ônus da fraude não pode ser exclusivamente suportado pelo
consumidor, uma vez que, na qualidade de fornecedor, a Contorno
responde pelos riscos do negócio, podendo se valer de ação
regressiva para reparação do prejuízo. Assim, deve a requerida
Contorno arcar com os danos trinominais sofridos pelo autor, quais
sejam, os valores transferidos para as contas de terceiros, conforme
comprovante à p. 35, no valor total de R$ 48.000,00 (quarenta e oito
mil reais). Em relação aos danos extrapatrimoniais, sabe-se que o
dano moral é a lesão a um interesse existencial merecedor de tutela,
ou seja, uma ofensa concreta à dignidade da vítima, sendo os
sentimentos de decepção, desprazer, dissabor, dor e consternação
consequências daquele. Com efeito, para a configuração do dano
moral faz-se necessário que a vítima demonstre a efetiva ofensa a
um direito da personalidade ou a um direito fundamental do
ofendido, não dispensando o ônus probatório do ofendido em relação
a esse ponto. É dizer: somente haverá direito a indenização por dano
moral, independentemente da responsabilidade ser subjetiva ou
objetiva, se o autor comprovar a existência de um dano a se reparar,
e este for capaz de causar dor, angústia e sofrimento relevante que
cause grave humilhação e ofensa ao direito de personalidade(...)
Firmadas essas premissas, o exame acerca do reconhecimento ou
não de dano extrapatrimonial passível de compensação em hipóteses
como a dos autos deve se dar sob a ótica dos danos morais
subjetivos, os quais reclamam uma análise mais pormenorizada das
circunstâncias do caso concreto. In casu, é evidente a angústia,
impotência, tristeza, raiva, sentimentos que podem ser
compensados diante da evidencia da lesão moral, em virtude
da frustração do negócio jurídico fraudulento firmado para o
qual também concorreu o fornecedor, que não buscou
verificar as credenciais do suposto banco financiador a fim de
garantir a regularidade da contratação para si e para o
consumidor com quem tratou diretamente. Tais circunstâncias
inequivocamente ultrapassam os limites da razoabilidade,
ensejando dano extrapatrimonial que justifica o emprego da
tutela judicial compensatória. Por estas razões, o pleito de
indenização por dano moral há de ser deferido.(...) Nesse
toar, tendo em conta os paradigmas supracitados, sobretudo
analisando o posicionamento da jurisprudência do E. TJSE em
casos semelhantes, bem como os graus de culpa tanto da
requerida, concessionária de grande porte, conhecida em todo
o estado, com destaque e aceitação no meio comercial e
social, bem como a culpa do consumidor, que mesmo
desconfiando da regularidade da contratação assumiu o risco
de realizar a transferência dos valores para contas de
terceiros acreditando ter sido confirmada a regularidade do negócio
pelo representante da requerida, bem como ante a ausência de
cautela mínima quando da contratação entre a Contorno Veículos e a
CREDILINE, havendo omissão na checagem segura de dados e
informações, permitindo a ocorrência de fraude e lesão ao
consumidor que também concorreu para o dano, impondo-se,
portanto, a incidência da norma prevista no art. 945 do Código Civil.
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento
danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade
de sua culpa em confronto com a do autor do dano. Assim, estima-
se razoável e compatível com suas finalidades reparatória e
punitiva a fixação do valor da indenização em R$ 500,00
(quinhentos reais)(...)”
É como voto.
RELATOR