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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Etiologia/epidemiologia............................................. 3
3. Fisiopatologia .............................................................. 5
4. Quadro clínico ............................................................. 9
5. Exames complementares .....................................19
6. Diagnóstico.................................................................23
7. Tratamento..................................................................25
Referências Bibliográficas .........................................28
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 3

1. INTRODUÇÃO são o fígado, a pele e os olhos. O


resultado clínico da sarcoidose varia,
A sarcoidose é uma patologia au-
ocorrendo a remissão em mais de 50%
toimune, caracterizada pela presença
dos pacientes ao longo de poucos anos
de granulomas sem caseação. Além
após fazer o diagnóstico, no entanto, os
disso, há presença inflamatória devi-
demais pacientes podem desenvolver
do ao crescimento de nódulos infla-
uma doença crônica que dura várias
matórios ou pelo acúmulo de células
décadas.
do sistema imunológico (macrófagos)
que são uma resposta a algum tipo de
agressão sofrida pelo organismo. Os 2. ETIOLOGIA/
granulomas epitelioides não caseo- EPIDEMIOLOGIA
sos, são lesões que podem surgir em
Embora a etiologia da sarcoidose
diversos órgãos do corpo, alterando
permaneça desconhecida, inúmeros
sua estrutura e seu funcionamento. Em
avanços têm sido obtidos em sua com-
muitos casos, a doença comprome-
preensão. Atualmente, admite-se que
te múltiplos sistemas, sendo o aco-
vários antígenos possam provocar a
metimento de dois ou mais órgãos,
doença em indivíduos geneticamente
indispensável para se poder fazer um
suscetíveis. Entre os possíveis agentes
diagnóstico específico, como no caso
infecciosos, estudos minuciosos mos-
da neurosarcoidose. Os casos mais co-
traram uma incidência muito mais alta
muns de sarcoidose há comprometi-
de Propionibacter acnes nos linfono-
mento pulmonar e linfático. O achado
dos dos pacientes com sarcoidose em
de granulomas não é específico da sar-
comparação aos controles. Um modelo
coidose e devem ser excluídas outras
animal mostrou que o P. acnes pode in-
condições que causam sabidamente
duzir uma resposta granulomatosa em
granulomas, tais como infecções mi-
camundongos, semelhante à da sarcoi-
cobacterianas e fúngicas, malignidade
dose. Outros demonstraram a presença
e agentes ambientais tipo berílio. De
de uma proteína micobacteriana [ca-
modo geral, presume-se o diagnósti-
talase-peroxidase de Mycobacterium
co pelo comprometimento pulmonar,
tuberculosis (mKatG)] nos granulomas
confirmando-se com radiografia de
de alguns pacientes com sarcoidose.
tórax, biópsias e exclusão de outras
Técnicas modernas como a reação em
causas, mas esse tema vai ser detalha-
cadeia da polimerase (PCR) foram uti-
do mais a frente nesse Super Material.
lizadas para detectar as sequências
A sarcoidose afeta praticamente todos
de DNA de Mycobacterium tubercu-
os órgãos do corpo, porém o pulmão é
losis, com resultados contraditórios. O
acometido mais comumente. Outros
ponto crítico da técnica de PCR é o fato
órgãos que costumam ser afetados
de ela envolver a amplificação de uma
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sequência de DNA e não a recupera- dito, além de ser técnica facilmente


ção do microorganismo propriamente contaminável.

SAIBA MAIS!
Você conhece o teste PCR? Se não, veio ao BOX certo! A técnica PCR promove, por meio
de etapas de variação de temperatura, a duplicação de cadeias de DNA in vitro. A reação
de amplificação de DNA por PCR consiste no emprego dos quatro nucleotídeos (dNTP’s) do
DNA, primers e um DNA polimerase termoestável, tendo em vista que esse teste é realizado
por meio de variações de temperatura. Desse modo, é possível obter várias cópias de uma
sequência específica de ácido nucléico, por meio de uma fita molde. O teste PCR é realizado
em três etapas básicas de variação de temperatura por ciclo. A primeira delas é realizada pela
desnaturação da fita molde de DNA, essa etapa costuma ser feita entre 30s a 1 min a tem-
peratura deve estar entre 92 a 96 graus. Depois, ocorre o pareamento entre dois iniciadores
sintéticos de composições distintas, que desempenham o papel de iniciadores da reação de
polimerização, ligando-se à região complementar da fita de DNA, que sofrerá a duplicação. A
terceira etapa, consiste na amplificação por intermédio da enzima Taq DNA polimerase, das
novas fitas de DNA a partir de cada um dos primers, utilizando os quatros dNTP’s como subs-
trato da reação de polimerização. Esta etapa costuma durar entre 45s a 1 min a uma tempera-
tura de 72 graus. Não pense que essas etapas ocorrem apenas uma vez, elas costumam ser
repetidas em torno de 30 a 35 vezes e realiza a amplificação da região alvo que é determinada
conforme o anelamento dos iniciadores sintéticos de DNA. Ou seja, o primer reconhece, por
complementaridade de bases, o local de início da região do DNA a ser amplificada e fornece
uma extremidade 3’-OH livre para a síntese da nova cadeia pela DNA polimerase.

A proteína catalase-peroxidase de África, particularmente em mulheres,


Mycobacterium tuberculosis (mKa- com a maioria dos diagnósticos ocor-
tG), é muito resistente à degradação rendo entre a segunda e a quarta dé-
e pode representar o antígeno persis- cadas de vida. A partir desse contexto
tente na sarcoidose. Estudos sugerem podemos realizar algumas inferências
que uma micobactéria semelhante ao e correlacionar a sarcoidose com uma
M. tuberculosis pode ser responsável predisposição genética pelos casos
pela sarcoidose. familiares e pela alta prevalência e
A sarcoidose é uma doença glo- incidência entre indivíduos de grupos
bal, cuja prevalência é cerca de 10- étnicos e raciais diferentes. A suscep-
20 casos a cada 100.000 pessoas e tibilidade genética deve relacionar-se
uma incidência que irá depender da na regulação da resposta imune. Vá-
população amostra, podendo variar rios estudos demonstram a associação
de 0-35 casos a cada 100.000 pes- entre os alelos do HLA classe II e a sar-
soas ao ano. As taxas mais elevadas coidose. Sugere-se que alguns alelos
são relatadas na Europa e Norte da conferem susceptibilidade à doença
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(HLA-DR 3, 5, 8, 9, 11, 12, 14, 15, 17, incidência requer o acompanhamento


de indivíduos em uma população para
HLA-DPB1, HLADQB1) e outros são identificar novos casos, já na prevalên-
considerados protetores (HLADR1, cia não há necessidade de acompanha-
DR4). A sarcoidose ocorre com fre- mento. E quando a incidência e a pre-
quência em adultos jovens sadios. É valência são utilizadas? A incidência é
usada quando se estuda causa e efei-
incomum diagnosticar essa doença to, enquanto que a prevalência é usada
em alguém com menos de 18 anos para estimar o ônus da população de
de idade. Entretanto, já ficou claro que uma doença crônica.
um segundo pico na incidência ocorre
por volta dos 60 anos. As exposições
3. FISIOPATOLOGIA
ambientais aos inseticidas e fun-
gos filamentares estão associadas
a maior risco de contrair tal doen-
ça. Os profissionais da assistência de
saúde parecem correr um risco mais
elevado. Alguns autores sugeriram
que a sarcoidose não é decorrente de
um único agente, mas representa uma
resposta de determinado hospedeiro
a múltiplos agentes. Alguns estudos
conseguiram correlacionar as exposi-
ções ambientais aos marcadores ge- Figura 1. Imagem histológica do granuloma caseoso.
Fonte: Sanarflix
néticos. Tais estudos confirmaram a
hipótese de que um hospedeiro gene-
ticamente suscetível constitui um fator Como dito anteriormente, a presença
essencial nessa doença. do granuloma é o elemento patológico
mais característico da sarcoidose. O
SE LIGA! Você sabe a diferença entre granuloma representa resposta do
prevalência e incidência? hospedeiro formada, sobretudo, por
A prevalência é o número de casos de histiócitos, que são os macrófagos
uma doença em uma determinada po- residentes no tecido. Os granulomas
pulação durante um período específico
de tempo. Já a incidência é a taxa de
não infecciosos podem ser divididos
manifestações de uma determinada do- em 3 tipos, mas o que nos interessa
ença. Outras diferenças são perceptíveis nesse momento é o granuloma sar-
entre esses dois conceitos, enquanto coídeo, arranjo concêntrico de células
a incidência mensura o surgimento da
doença, a prevalência mede a propor- epitelióides (histiócitos modificados).
ção da população que já tem a doen- Pela participação dos linfócitos T no
ça. O acompanhamento dos casos na processo, são também denominados
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de granulomas imunológicos. Em sua de eliminação transepidérmica. É per-


periferia, os granulomas sarcoíde- tinente ressaltar que o achado de ma-
os podem apresentar halo frouxo de terial birrefringente não afasta o diag-
linfócitos, sendo por tal motivo cha- nóstico de sarcoidose. Na sarcoidose,
mados de “granulomas desnudos” os granulomas não acometem folí-
ou “granulomas nus”, contrapondo- culos pilosos e nervos.
-se aos granulomas tuberculóides,
em que denso infiltrado linfocitário
pode ser observado no contorno da-
quelas estruturas. A necrose case-
osa, característica dos granulomas
tuberculóides, não é observada nos
granulomas sarcoídeos. A impreg-
nação argêntica revela fibras de re-
ticulina na periferia e no interior dos
granulomas sarcoídeos, aspecto não
encontrado nos granulomas tubercu-
lóides. O granuloma sarcoídeo pode Figura 2. Imagem histológica do granuloma não-case-
oso. Fonte: Sanarflix
apresentar-se envolvido por fibras
de colágeno de arranjo compacto. As
células gigantes de Langhans, gi- SE LIGA! A formação do granuloma é
gantócitos com os núcleos dispostos uma resposta do microorganismo que
geralmente é difícil de ser eliminado,
na periferia em forma de ferradura, desse modo linfócitos T, macrófagos e
podem compor o infiltrado. Embora células epitelioides compõem o granu-
não sejam específicos da sarcoidose, loma. Os granulomas não infecciosos
podem-se observar no interior dos podem ser divididos em três tipos, o pri-
meiro deles é o granuloma sarcoídeo. O
gigantócitos os corpúsculos asterói- protótipo desse grupo é a sarcoidose; a
des (fibras colágenas de aspecto es- queilite granulomatosa de Miescher é
trelado) e os corpos de Schaumann. outro exemplo. O segundo, é o granu-
loma de corpo estranho, o granuloma é
Mas como o granuloma é visualiza-
provocado por substâncias incapazes de
do? Na pele, os granulomas são vi- expulsar a resposta imune especializa-
sualizados na derme média, poden- da (mediada pelos alinfócitos T), sendo
do atingir a derme profunda e até também denominados granulomas não
imunológicos. E quanto ao exame his-
mesmo o tecido subcutâneo. A epi- topatológico? Caracteriza-se por mate-
derme sobrejacente aos granulomas rial estranho fagocitado por histiócitos,
tem frequentemente aspecto normal que se aglomeram em células gigantes
ou atrófico, e raramente se apresenta multinucleadas (as células gigantes de
corpo estranho). São exemplos os granu-
acantótica. Pode ocorrer o fenômeno lomas de corpo estranho os provocados
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granuloma propriamente dito. Em


por fio de sutura, haste do pêlo e cisto alguns pacientes, no decorrer do pro-
epidérmico roto. O terceiro, é o granulo-
ma necrobiótico, que se caracteriza por cesso granulomatoso, há mudança
degeneração do colágeno dérmico, de- da resposta imune para o perfil de
nominada necrobiose, envolto por histi- citoquinas TH2, que favorecem a fi-
ócitos e linfócitos dispostos em paliçada.
brogênese, decorrendo disso a fibro-
São exemplos de enfermidade desse
grupo o granuloma anular, a necrobiose se pulmonar. A estrutura compacta
lipídica, o granuloma actínico, o nódulo e fixa do granuloma sarcoídeo pode
reumatóide, o granuloma multiforme e o sugerir estrutura estática, no entan-
granuloma elastolítico.
to, o granuloma sarcoídeo é estrutura
dinâmica, em que macrófagos jovens
A reação sarcoídea é fundamenta- são recrutados continuamente, re-
da na interação entre macrófagos e pondo as células epitelióides elimina-
linfócitos T/CD4. Tudo começa com das com o decorrer do processo.
o recrutamento dos monócitos do
sangue para os tecidos, tornando-se SE LIGA! Você sabia que na infecção
macrófagos residentes (histiócitos). pelo HIV não tratada em fase avan-
Acredita-se que o antígeno da sar- çada, os pacientes que carecem de
células T auxiliares raramente desen-
coidose seja de degradação lenta, volvem sarcoidose? Em contrapartida,
acarretando a cronicidade do gra- vários relatos confirmam que a sarcoido-
nuloma. A substância antigênica res- se acaba sendo desmascarada quando
ponsável pelo recrutamento dos ma- os indivíduos infectados pelo HIV rece-
bem terapia antirretroviral, com subse-
crófagos é internalizada, processada quente restauração de seu sistema
e apresentada aos linfócitos T/CD4 imune. Em contrapartida, o tratamento
juntamente com o complexo maior de da sarcoidose pulmonar já estabelecida
com ciclosporina, fármaco que regula
histocompatibilidade classe II. Com a negativamente as respostas de células
persistência do estímulo antigêni- T auxiliares, parece ter pouco impacto
co, os histiócitos transformam-se em sobre a sarcoidose.
células epitelióides através da ação
das citoquinas liberadas pelos lin-
fócitos T/CD4 que infiltraram o local.
Acredita-se que o perfil das citoqui-
nas envolvidas nesse processo é do
padrão TH1, incluindo IL-2, INF-ga-
ma, TNF-alfa, IL-12, IL-15, IL-18, que
favorecem a compartimentalização
das células inflamatórias, acarretan-
do, desse modo, na formação do
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MAPA MENTAL DE FISIOPATOLOGIA

Macrofágos

Sangue
Recrutamento
dos monócitos
REAÇÃO
SARCOÍDEA
+ Antígeno Degradação lenta

Linfócitos T Cronicidade
Tecido
do granuloma

COMPONENTES 3 TIPOS

Granuloma
Células epitelioides Sarcoídeos
imunológico
RESPOSTA DO
VISUALIZADOS Granuloma não
Macrofágos HOSPEDEIRO Corpo estranho
imunológico

Linfócitos T Derme média Necrobiótico

Fibras de colágeno Derme profunda

Células de langhans Tecido subcutâneo

Gigantócitos

Interior

Corpúsculos asteróides

Corpos de Schaumann
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 9

4. QUADRO CLÍNICO de vias aéreas com envolvimento de


laringe, traquéia e brônquios com hi-
O quadro clínico na sarcoidose po-
per-reatividade em torno de 20%
de-se apresentar assintomática,
dos casos. O envolvimento pleural
sendo a doença descoberta através
embora incomum pode ocorrer com
da radiografia do tórax. Em outros
efusão pleural, quilotórax ou pneu-
casos, podem ocorrer sintomas ines-
motórax. A presença de linfonodos
pecíficos, como febre, emagrecimen-
calcificados é comum e formação de
to, sudorese noturna e fadiga. Ou-
cavidades pode ocorrer. Além disso,
tros sintomas dependem dos órgãos
os pacientes podem apresentar sin-
acometidos pela doença, como no
tomas constitucionais inespecífi-
comprometimento pulmonar (tosse
cos que consistem em fadiga, febre,
seca, dispnéia, dor torácica). Em mui-
suor noturno e redução ponderal. A
tos casos, o paciente apresenta-se
fadiga é talvez o sintoma constitu-
com uma história de 2 a 4 semanas
cional mais comum que afeta esses
com estes sintomas. Lamentavel-
pacientes. Por causa de sua natureza
mente, por causa da natureza ines-
insidiosa, em geral os pacientes não
pecífica dos sintomas pulmonares, o
ficam cientes da associação com a
paciente pode consultar médicos por
sarcoidose até que a enfermidade te-
até 1 ano antes de o diagnóstico ser
nha regredido.
confirmado. Para esses pacientes, o
diagnóstico de sarcoidose costuma
ser sugerido somente quando é fei-
ta uma radiografia de tórax. No com-
prometimento de outros órgãos há a
presença de outros sintomas, como
no ocular (dor ocular, distúrbios da
visão); no cutâneo: ao contrário dos
pacientes com doença pulmonar, os
pacientes com lesões cutâneas com-
portam maior probabilidade de serem
diagnosticados 6 meses após o
surgimento dos sintomas; nos sin- Figura 3. Radiografia póstero-anterior do tórax que
tomas músculo-esqueléticos (dores demonstra adenopatia hilar bilateral com doença no
estágio 1. Fonte: Reumatologia de Harrison, 2014
articulares, mialgias) e linfonodome-
galia. Sintomas neurológicos e car-
díacos são raros e, se existentes, pre- O comprometimento pulmonar ocor-
nunciam doença grave. Os pacientes re em mais de 90% dos pacientes
também podem apresentar doença com sarcoidose. O método usado
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mais comumente para identificar a Para as doenças infecciosas, a tubercu-


lose e a pneumonia por Pneumocystis
doença pulmonar ainda é a radiogra- podem se manifestar, com frequência,
fia de tórax. Nesse exame, é possível como doenças do lobo superior.
constatar os linfonodos aumentados
no local onde os pulmões encontram o
coração ou à direita da traquéia. A sar- ESTADIAMENTO RADIOGRÁFICO DA SARCOIDOSE

coidose pode acarretar na inflamação Estágio Evidência radiográfica

pulmonar que pode acabar causando a 0 Radiografia torácica normal

formação de tecido cicatricial e levar à I Linfadenopatias hilares bilaterais

formação de cistos. Geralmente, essa II


Linfadenopatias hilares bilaterais e infil-
trados pulmonares
formação de tecido cicatricial progres-
III Infiltrados pulmonares
siva ocorre com pouca frequência, o
IV Fibrose pulmonar
que é muito bom para o paciente. Em
Tabela 1. Tabela de estadiamento radiográfico da sar-
alguns casos, o fungo Aspergillus pode coidose. Fonte: Sanarflix
se estabelecer nos cistos do pulmão,
crescer e causar sangramento. Nesses
casos, respirar pode se tornar difícil. É
pertinente ressaltar que o profundo en-
volvimento do pulmão pela sarcoidose
pode vir a sobrecarregar o lado direi-
to do coração, causando insuficiência
cardíaca direita.

SE LIGA! O estadiamento radiográfico


da sarcoidose desenvolvido por Scad-
ding em 1961, é dividido em 4 estágios.
O estágio 1 representa apenas adeno-
patia hilar, na maioria das vezes com o
acometimento paratraqueal do lado di-
reito. O estágio 2 é uma combinação de
adenopatia mais infiltrados, enquanto
o estágio 3 revela apenas infiltrados. O Figura 4. Comprometimento cutâneo na sarcoidose,
estágio 4 consiste em fibrose. Habitu- lúpus pérnio. Fonte: Sanarflix
almente, os infiltrados na sarcoidose são
predominantemente um processo do
lobo superior. Somente em umas poucas Diferentemente do envolvimento pul-
doenças não infecciosas, observa-se a monar, o comprometimento cutâneo
predominância do lobo superior. Além
da sarcoidose, o diagnóstico diferencial ocorre com menos frequência, cerca
de doença no lobo superior inclui pneu- de 20 a 35% dos casos, possibilitando
monite de hipersensibilidade, silicose e o diagnóstico precoce pela facilidade
histiocitose de células de Langerhans.
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 11

de realização da biópsia para o exame epitelióides pode ocorrer como ma-


histopatológico. A sarcoidose cutâ- nifestação inicial da sarcoidose ou
nea pode apresentar-se sob inúmeras associada a doença sistêmica preexis-
formas: lesões máculo-papulosas, tente. A única lesão cutânea que se
nodulares, em placas, eritêmato-a- correlaciona com o prognóstico é o
castanhadas, única ou múltiplas. Na eritema nodoso, que ocorre na fase
diascopia dessas lesões observa-se a aguda e está associado à sarcoidose
cor de “geléia de maçã”. O quadro de de resolução espontânea. O eritema
lesão eritematosa, infiltrada, centro- nodoso é manifestação inespecífica da
facial é denominado lúpus pérnio, doença, pois não se observa o granu-
de difícil tratamento e que pode levar a loma epitelióide histopatologicamente.
quadros desfigurantes. Em contrapar- Outras manifestações inespecíficas
tida, o eritema nodoso é uma erup- são o eritema polimorfo, o prurigo, as
ção cutânea transitória que pode ser calcificações e as alterações ungueais,
observada em associação com ade- tais como a distrofia ungueal associada
nopatia hilar e uveíte (síndrome de ou não aos cistos ósseos, o baquetea-
Lòfgren). É mais comum em mulhe- mento ungueal, a hiperqueratose su-
res. É importante que o médico esteja bungueal, a onicólise e a traquioníquia.
sempre em alerta, pois as lesões ma-
culopapulares da sarcoidose são a SE LIGA! Clinicamente a síndrome de
forma crônica mais comum da doen- Lofgren consiste em um tipo agudo da
ça, sendo negligenciadas com frequ- sarcoidose, mas frequente em cauca-
ência pelo paciente e pelo médico por sianos. Ela é caracterizada pela instala-
ção aguda do eritema nodoso, lifane-
serem crônicas e não produzirem dor. dopatia hilar bilateral ou paratraqueal
Inicialmente, essas lesões costumam e artrite, comumente nas articulações
ser pápulas de coloração púrpura fre- inferiores, acompanhada de febre e
uveíte, inflamação no revestimento dos
quentemente enduradas, as quais po-
olhos. O diagnóstico é realizado com
dem tornar-se confluentes e infiltrar base no quadro clínico apresentado pelo
grandes áreas da pele. Outras formas, paciente em associação com exames
menos usuais, incluem as lesões ulce- laboratoriais e de imagens. O tratamen-
to desta síndrome depende do curso e
radas, as úlcero-atróficas semelhantes severidade dos sintomas em casos indi-
à necrobiose lipoídica, as ictiosiformes, vidualizados. Os fármacos mais eficazes
psoriaseiformes, as hipopigmentadas, são os anti-inflamatórios não esteróides,
as verrucosas, a eritrodermia, as per- visando minimizar os sintomas, contudo
o uso de corticóides pode ser necessá-
furantes, mutilantes, a alopecia cica- rio quando os agentes anti-inflamatórios
tricial, as rosaceiformes, esclerodermi- não são suficientes ou contraindicados.
formes, lipodermatoesclerose-símiles
e as liquenóides. A infiltração das ci-
catrizes e tatuagens por granulomas
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 12

Linfonodomegalia hilar Eritema nodoso


bilateral

Artrite
Figura 5. Achados clínicos na Síndrome de Lofgren. Fonte: Sanarflix

O acometimento ocular ocorre entre


25 e 50% dos casos, havendo risco SE LIGA! A uveíte é uma patologia in-
de perda de visão. É clássica a uveíte flamatória que tem como sintomas a hi-
peremia (olhos vermelhos), fotofobia,
anterior aguda com fotofobia, visão
dor e visão turva e embaçada. As cau-
borrada e lacrimejamento. Nódulos sas são variadas, e vão desde infecções
conjuntivais, assintomáticos e bilate- por micro-organismos a leucemias e lin-
rais, podem ser observados e repre- fomas. A uveíte pode comprometer por
completo a úvea ou uma de suas partes
sentam granulomas epitelióides ao ( íris, corpo ciliar e coróide) . Em alguns
exame histopatológico. A manifes- dos casos, a inflamação atinge também
tação mais frequente costuma ser o nervo óptico e a retina, nesse último
uveíte anterior, mais de 25% dos caso provocando a cegueira. A veíte
pode ser classificada em anterior, inter-
pacientes têm inflamação na parte mediária e posterior, em casos de sar-
posterior do olho, como retinite e pars coidose, costumam ser uveíte anterior.
planitis. Sintomas como fotofobia, Conforme o segmento ocular em que o
distúrbio se manifesta, e pode ocorrer
visão embotada e aumento do lacri-
num olho ou nos dois olhos.
mejamento podem ocorrer, porém al-
guns pacientes assintomáticos ainda
apresentam inflamação. Os pacientes
inicialmente assintomáticos com sar-
coidose ocular eventualmente podem
desenvolver cegueira. Por isso, re-
comenda-se que todos os pacientes
com sarcoidose sejam submetidos a
exame oftalmológico específico.
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 13

Pseudotumor retrorbitário Uvéite anterior


Figura 6. Comprometimento ocular na sarcoidose. Fonte: Sanarflix

Em alguns casos de sarcoidose há a 4%). O envolvimento assintomático


comprometimento musculoesque- dos músculos ocorre entre 25 e 75%
lético. Em relação ao sistema muscu- dos casos, mas o acometimento sin-
loesquelético a poliartrite aguda ines- tomático é raro (< 0,5%), podendo
pecífica ocorre em mais de 40% dos ocorrer como miopatia, tumores ou
casos e tem curso autolimitado. A ar- nódulos intramusculares ou síndrome
trite crônica e recorrente é rara (de um polimiositesímile.

ACOMETIMENTO MUSCULOESQUELÉTICO NA SARCOIDOSE

ARTRALGIA

ARTRITE

CISTOS ÓSSEOS

DACTILITE

MIOPATIA FONTE: SANARFLIX


SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 14

O acometimento dos ossos ocorre estudo cintilográfico mesmo antes


entre cinco e 10% dos casos, porém de se manifestar radiologicamente.
é significativo entre dois e 5% dos ca- Os achados radiológicos consistem
sos, e frequentemente associado ao em lesões císticas radiolucentes, mas
comprometimento crônico sistêmico, também em forma de favo de mel
ao lúpus pérnio e à uveíte crônica. As ou de erosões ósseas com fraturas
falanges das mãos e dos pés são fre- patológicas.
quentemente afetadas. Essas lesões
são em geral múltiplas e positivas ao

Sarcoidose óssea Sarcoidose óssea

Figura 7. Acometimento ósseo na sarcoidose. Fonte: Sanarflix

Acredita-se que o acometimento do de Heerfordt, as manifestações po-


sistema neurológico seja maior que dem ser hipotalâmicas (hipopituaris-
os 5% previamente descritos. A pa- mo, hiperprolactemia), vasculites por
ralisia do nervo facial é o achado granulomas na adventícia (lesão is-
neurológico mais comum, mas são quêmica) e acometimento dos ner-
inúmeras as apresentações possíveis. vos cranianos, prepondera o envolvi-
Na sarcoidose a manifestação neuro- mento dos nervos oculomotor, óptico
lógica é conhecida como Síndrome e fácil.
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 15

Uveíte + Parotidite + Febre + Paralisia de Nervo facial


Figura 8. Achado clínicos na Síndrome de heerfordt-waldestrom. Fonte: Sanarflix

SE LIGA! A Síndrome de Heerfordt-


-waldestrom é uma forma subaguda
da sarcoidose, marcada pelo aumento
das glândulas parótidas ou salivares,
paralisia do nervo fácil e uveíte ante-
rior. Nos órgãos afetados há granulomas
com escassez de linfócitos na periferia.
Geralmente, é autolimitada, com cura
em 12 a 36 semanas, sendo poucos os
casos mais prolongados. O diagnóstico
da síndrome é clínico, e o tratamento irá
depender da gravidade do acometimen-
to sistêmico. Quanto ao tratamento, o Figura 9. Hepatomegalia em sarcoido-
uso de corticóides orais costumam ser a se. Fonte: https://laboratoriosaoluis.com.
primeira opção. br/2018/2019/01/25/o-que-seria-a-hepatomegalia/

No acometimento hepático, cons-


tata-se uma anormalidade mais co-
mum da função hepática, uma ele-
vação no nível da fosfatase alcalina,
compatível com um padrão obstruti-
vo. Além disso, podem ocorrer níveis
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 16

elevados das transaminases. Um


nível elevado de bilirrubina constitui SE LIGA! A ascite pode ser definida
um marcador para doença hepática como acúmulo patológico de líquido na
cavidade peritoneal, se localiza dentro
mais avançada. Em síntese, apenas
da cavidade abdominal, seu limite in-
5% dos pacientes com sarcoidose ferior é a cavidade pélvica. É um local
exibem sintomas suficientes devido à entre as lâminas parietal e visceral do
sua hepatopatia e que exigem tera- peritônio. Em pacientes com suspeita de
ascite, os exames diagnósticos séricos e
pia específica. Apesar de os sintomas do líquido ascítico devem ser solicitados
poderem derivar de hepatomegalia, de acordo com as hipóteses diagnósti-
os sintomas resultam mais frequen- cas, embora você saiba que a contagem
temente de uma extensa colestase de células no líquido ascítico com dife-
rencial, cultura e concentração de albu-
intra-hepática que evolui para hiper- mina sempre devam ser solicitadas. As
tensão portal. Nesse caso, podem etiologias da ascite podem ser divididas
ocorrer ascite e varizes esofágicas. É em relacionadas à hipertensão portal,
quando o GASA está aumentado, e não
raro que um paciente com sarcoidose
relacionadas à hipertensão portal quan-
venha a necessitar de um transplante do o GASA está diminuído. As causas
de fígado, pois mesmo os pacientes de ascite devem ser investigadas em
com cirrose decorrente de sarcoidose uma sequência objetiva e custo-efetiva.
O tratamento da ascite irá depende da
podem responder à terapia sistêmica. etiologia e em cirróticos inclui diuréticos
e paracentese, que podem ser necessá-
rios em pacientes com ascite refratária.

Figura 10. Esplenomegalia em sarcoidose. Fonte: https://www.abrasta.org.br/retirar-ou-nao-o-baco/


SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 17

O acometimento hepatoesplênico casos, mas o comprometimento fun-


assintomático é frequente, ocor- cional é raro. Além disso, a sarcoidose
rendo em variação de 40 a 70% dos gastrointestinal é infreqüente.

Figura 11. Radiografia do tórax com a presença de pericardite constritiva. Fonte: https://www.msdmanuals.com/pt/
profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/miocardite-e-pericardite/pericardite

A doença cardíaca em pacientes com origem a uma fração de ejeção infe-


sarcoidose, manifesta-se habitual- rior a 10%. Mas, mesmo nesta situa-
mente como insuficiência cardíaca ção, pode ocorrer melhora na fração
congestiva ou arritmias cardíacas, de ejeção com a terapia sistêmica. As
ambas as manifestações resultando da arritmias também podem ocorrer com
infiltração do músculo cardíaco ou por a infiltração difusa ou acometimento
granulomas. O envolvimento cardíaco cardíaco mais irregular.
ocorre em 20 a 50% dos pacientes
que podem apresentar prognóstico
SE LIGA! A pericardite é uma inflama-
e evolução adversa. Todas as estru- ção provoca na membrana que recobre
turas cardíacas podem ser envolvidas, e protege o coração, podendo ser clas-
porém o miocárdio é o local mais co- sificada como aguda ou crônica. O sin-
toma mais comum é uma dor aguda no
mum. As três principais sequelas car- peito que realize uma irradiação para o
díacas são anormalidades do sistema ombro esquerdo e pescoço. A pericardi-
de condução, arritmias e insuficiên- te geralmente tem início rápido, contu-
cia cardíaca (IC). A manifestação car- do não dura muito tempo. A maioria dos
casos é leve e costuma melhorar por
díaca é pleomórfica variando desde o conta própria. O tratamento dos casos
paciente totalmente assintomático até mais graves pode incluir medicamen-
com palpitações, dor precordial, sin- tos e, raramente, cirurgia. A relação que
tomas de IC, síncope e morte súbita a sarcoidose possui com a pericardite é
devido ao fato de a formação de granu-
(MS). O acometimento granulomatoso lomas poder afetar qualquer estrutura
difuso do músculo cardíaco pode dar do coração, dentre elas o pericárdio.
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 18

MAPA MENTAL – QUADRO CLÍNICO

Máculo-papulosas Forma crônica


Hipotalâmica
Manifestações
Nodulares em placas
Lesões dos
nervos cranianos
Paralisia do
Lesões Eritêmato- acastanhadas Eritematosa
Vasculites nervo facial

Lúpus pérnio Infiltrada


Síndrome de
Biópsia
Heerfordt
Fotofobia Miocárdio

Visão borrada Insuficiência cardíaca Arritmias

Cegueira Sintomas Lesão Sistema de condução

Lacrimejamento Pericardite
Poliartrite
Padrão obstrutivo
Hiperemia Manifestações
pleomórfica Artralgia

Cistos ósseos
↑ Bilirrubina
Miopatia

Hepatomegalia
Formação 1 - adenopatia hilar
Tecido cicatrical
de cistos
2 - adenopatia + Infiltrado
Ascite
Radiografia do Aumento dos 3- infiltrado
tórax linfonodos
4- fibrose
↑ Fosfatase alcalina
Estadiamento
4 estágios
de Scadding
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 19

5. EXAMES solicitado quando se deseja avaliar


COMPLEMENTARES a restrição de volume ou limitação
de fluxo em vias aéreas, o que in-
Como averiguar os achados clíni-
dica a presença de lesões em vias
cos no paciente com sarcoidose?
aéreas enquanto a presença de uma
Simples, através dos exames com-
prova de função pulmonar completa
plementares que irão auxiliar nesse
com difusão de monóxido de carbo-
processo de investigação. Aqui nes-
no diminuída e fluxos anormais na
se tópico iremos destrinchar todos os
espirometria são mais típicos. Além
exames complementares para que
disso, para avaliação do envolvimen-
você saiba exatamente quais exa-
to pulmonar e intratorácico devem
mes pedir quando um paciente che-
realizar alguns exames para facilitar
gar com suspeita de sarcoidose. O
o seu diagnóstico. A aspiração com
primeiro e um dos mais importantes
agulha endobrônquica guiada por
exames complementares é a radio-
ultrassom é uma técnica muito re-
grafia de tórax, tendo em vista que
cente e útil para a investigação de
na maioria dos casos o paciente tem
linfadenopatia mediastinal, hilar e
acometimento pulmonar, levando
pode evitar a necessidade de 87%
em consideração o estadiamento de
das mediastinoscopias. Outro exame
Scadding. Outro exame complemen-
complementar que pode ser solicita-
tar muito importante para a investi-
do pelo médico, a cintilografia com
gação do envolvimento pulmonar é
gálio que ajuda a determinar a exten-
a TC de tórax que vem sendo utili-
são da doença. Nesse exame é pos-
zada com frequência cada vez maior
sível encontrar o “sinal do panda”,
na avaliação da doença pulmonar
sendo descrito pelo aumento do traço
intersticial. Na sarcoidose, a presen-
radiológico nas glândulas lacrimais e
ça de adenopatia e de um infiltrado
parótidas e o acúmulo normal na na-
nodular não é específica para sarcoi-
sofaringe, outro achado clínico nesse
dose. Uma adenopatia com até 2 cm
exame é o sinal do lambda. Como foi
pode ser visualizada em outras do-
dito anteriormente, a sarcoidose pode
enças pulmonares inflamatórias, tais
acarretar em alguma cardiopatia, mas
como fibrose pulmonar idiopática. No
como avaliar a função cardíaca por
entanto, uma adenopatia com > 2 cm
meio dos exames complementa-
no eixo mais curto apóia o diagnós-
res? O eletrocardiograma é o exa-
tico de sarcoidose em relação a ou-
me mais adequado para realizar essa
tras doenças pulmonares intersticiais.
avaliação, as manifestações cardíacas
Ainda investigando causas de com-
incluem bloqueios atriovetriculares,
prometimento das vias aéreas o exa-
insuficiência cardíaca, morte súbita e
me de prova de punção pulmonar é
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 20

disautonomia. No ECG, a presença de sangue e na urina, tendo em vista


QRS aumentados ou bloqueio de que a hipercalcemia e/ou hipercalci-
ramos sugestivos de envolvimento úria ocorrem em cerca de 10% dos
miocárdico. Agora vamos focar em pacientes com sarcoidose.
exames complementares laborato-
riais, começamos com a biópsia de
tecidos, que é o principal exame uti-
lizado para o diagnóstico de sarcoi-
dose. Alterações características dos
tecidos são observadas ao microscó-
pio. O exame da enzima conversora
da angiotensina, ACE, com frequên-
cia está elevada na sarcoidose, as-
sim como em outras doenças. Quan-
do elevada, é útil para monitorar a
atividade da doença e a resposta ao
tratamento. Além disso, o exame de
hepatograma e outros exames bio-
químicos podem ser solicitados para
avaliar as funções hepáticas e renais.
Exames de cálcio também são soli- Figura 12. Sinal de panda encontrado no exame cintilo-
citados para detectar aumentos no grafia com gálio 67. Fonte: Sanarflix

Figura 13. Sinal de lambda encontrado no exame cintilografia com gálio 67. Fonte: Sanarflix
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 21

SE LIGA! Nesse BOX iremos trabalhar


com dois conceitos a hipercalcemia e a
hipercalciúria. A hipercalcemia é o alto
nível de cálcio no sangue, isso pode se
dar por problemas nas glândulas para-
tireóides ou na dieta, câncer ou distúr-
bios que afetam os ossos. Geralmente, a
hipercalcemia é detectada durante exa-
mes de sangue de rotina. No começo, a
pessoa tem problemas digestivos sen-
te sede e pode urinar muito, mas se for
grave, a hipercalcemia dá origem a con-
fusão e acaba levando ao coma. Já a hi-
percalciúria, é o excesso de cálcio na
urina. Esse excesso causa problemas
porque tende a formar sais que cristali-
zam. Esses cristais podem causar dor ou
outros sintomas urinários, dependendo
de seu tamanho e localização. Grandes
cristais são conhecidos como pedras
nos rins.
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 22

MAPA MENTAL EXAMES COMPLEMENTARES

Funcões hepáticas Hepatograma ACE Elevado na sarcoidose

Hipercalcemia Exames de cálcio Biópsia Analisa tecidos

Hipercalciúria

Acometimento
Sinal do panda Investiga
pulmonar

Cintilografia Estadiamento de
Sinal do lambda Radiografia do tórax 4 estágios
com gálio Scadding

Linfadenopatia Aspiração com agulha Doença pulmonar 1 - adenopatia hilar


TC
mediastinal endobrônquica intersticial
2 - adenopatia
Restrição de volume Punção pulmonar Eletrocardiograma QRS aumentado +
Infiltrado

Limitação de fluxo
3- infiltrado

4- fibrose
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 23

6. DIAGNÓSTICO identificados, admite-se, então, que


o paciente sofre de sarcoidose. Na
O diagnóstico da sarcoidose deve
segunda situação, os sinais ou sin-
ser consolidado após a exclusão de
tomas sugestivos de sarcoidose,
outras possíveis doenças, princi-
como a presença de adenopatia bi-
palmente as de origem infecciosa.
lateral, podem estar presentes em
Para os casos de sarcoidose cutâ-
um paciente assintomático ou em
nea, os diagnósticos clínico-his-
um paciente com uveíte ou erupção
tológicos diferenciais importantes
cutânea compatível com sarcoidose.
são a hanseníase, a tuberculose
Nesse ponto, deve ser realizado um
cutânea (especialmente, o lúpus
procedimento diagnóstico. Para o
vulgar), as micoses profundas, a
paciente com lesão cutânea compatí-
sífilis, os granulomas de corpo es-
vel, deve ser aventada uma biópsia da
tranho e as infiltrações linfocitá-
pele. Outras biópsias a serem levadas
rias. O diagnóstico de sarcoidose é
em conta podem incluir o fígado, um
baseado no achado histológico de
linfonodo extratorácico ou músculo.
granulomas epitelióides não case-
Se a biópsia revela granulomas, deve
osos associado a quadro clínico e
ser excluído um diagnóstico alterna-
radiológico, se houver comprome-
tivo, como infecção ou malignidade.
timento pulmonar, compatíveis. Mas
O material do lavado broncoscópico
também pode não haver a necessi-
pode ser enviado para a realização de
dade de realizar a biópsia para de-
culturas, verificando a possível pre-
terminar o diagnóstico, em casos de
sença de fungos e tuberculose. Para o
formas agudas da sarcoidose, como
patologista, quanto mais tecido lhe for
a síndrome de Loftren, também em
proporcionado, maior a facilidade com
casos de adenopatia hilar bilateral
que poderá fazer o diagnóstico de sar-
sem sintomas, e o “sinal de panda” e
coidose. Um aspirado por agulha pode
lambda positivos.
ser suficiente em casos de sarcoido-
Destrinchando o que foi dito anterior- se clássico, mas ser insuficiente em
mente, existem duas situações para um paciente cujos linfoma ou infecção
a determinação de sarcoidose no pa- fúngica constitui diagnóstico alternati-
ciente. Na primeira situação, o pacien- vo provável. Como os granulomas po-
te pode ser submetido a uma biópsia dem ser visualizados na margem de
que revela um granuloma sem case- um linfoma, a presença de uns poucos
ação em um órgão tanto pulmonar granulomas no material proporcionado
quanto extrapulmonar. Se a mani- por aspirado com agulha pode não ser
festação clínica for compatível com suficiente para esclarecer o diagnós-
sarcoidose e não houver outra cau- tico. Esses exames complementares,
sa alternativa para os granulomas quando comumente combinados com
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 24

as características clínicas da doença sabidamente de sarcoidose, é biopsia-


não diagnóstica de sarcoidose, po- da 4 a 6 semanas após a injeção. Se
dem realçar a probabilidade diagnós- forem visualizados granulomas sem
tica. Tais elementos não diagnósticos caseação, isto é altamente específico
consistem em uveíte, cálculos renais, do diagnóstico de sarcoidose. Lamen-
hipercalcemia, paralisia do sétimo ner- tavelmente, não existe um reagente
vo craniano ou eritema nodoso. O pro- de Kviem-Silzbach disponível no co-
cedimento de Kviem-Siltzbach é um mércio, e alguns lotes preparados lo-
teste diagnóstico específico da sar- calmente apresentam baixa especifici-
coidose. Uma injeção intradérmica de dade. Assim, esse teste tem interesse
tecido preparado especialmente, de- apenas histórico, sendo usado rara-
rivado do baço de paciente que sofre mente na prática clínica atual.

MAPA MENTAL – DIAGNÓSTICO

Hanseníase
Quadro clínico
radiológico
Tuberculose cutânea
Solicitar exames
complementares
Diagnóstico
clínico histológico
+
Sarcoidose cutânea Achado histológico

Procedimento de
Sem biópsia
Kvien-Siltzbach

Síndrome de Loftren Injeção intradérmica

Formas agudas Biópsia 4 a 6 semanas

Adenopatia hilar Diagnóstico positivo

Sinal do panda Granulomas


não caseosos

Sinal do lambda
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 25

7. TRATAMENTO empregadas como “poupadores de


corticoesteróides”, das quais, o meto-
O tratamento da sarcoidose deve ser
trexato, os antimaláricos, a azatioprina,
de acordo com o quadro sintomático
o clorambucil, a ciclofosfamida, a ciclos-
do paciente. O paciente com provas
porina e a pentoxifilina já foram utiliza-
de função hepática elevadas ou radio-
das. As recomendações terapêuticas
grafia de tórax anormal provavelmen-
para a doença extrapulmonar em geral
te não é beneficiado pelo tratamento.
são semelhantes, com poucas modifi-
Contudo, esses pacientes devem ser
cações. Por exemplo, a posologia dos
monitorados para a possível evidência
glicocorticoides costuma ser mais alta
de doença progressiva sintomática. Os
para a neuro-sarcoidose e mais baixa
corticóides sistêmicos permanecem
para a doença cutânea. Foram feitas
o tratamento padrão para a sarcoi-
algumas sugestões de que as doses
dose cardíaca, a neurológica, a ocu-
mais altas podem ser benéficas para
lar não responsiva à terapia tópica e
a sarcoidose cardíaca, porém um es-
a hipercalcemia maligna são as indi-
tudo constatou que as doses iniciais
cações indiscutíveis de terapêutica
> 40 mg/dia de prednisona estavam
sistêmica. Na sarcoidose pulmonar,
associadas a resultado sombrio, devi-
o estádio II ou III, sintomáticos, tam-
do à toxicidade. Apesar de a maioria
bém indicam o tratamento. A análise
dos pacientes receber glicocorticoides
sistemática do uso de corticoesterói-
como sua terapia sistêmica inicial, a to-
des (orais ou inalatórios) na sarcoidose
xicidade associada à terapia prolonga-
pulmonar revelou que há melhora ra-
da costuma dar origem a alternativas
diológica nos estádios II e III após pe-
que têm como finalidade poupar os
ríodo que varia de 6 a 24 semanas de
esteroides. Os agentes antimaláricos
tratamento, com discreta melhora na
tipo hidroxicloroquina são mais efeti-
função pulmonar. Embora haja bene-
vos para a doença cutânea que para a
fício a curto prazo, é questionável se
doença pulmonar. A aminociclina tam-
os corticosteroides alteram a progres-
bém pode ser útil na sarcoidose cutâ-
são da doença pulmonar. Para os ca-
nea. Para a doença pulmonar e outras
sos de sarcoidose cutânea, o uso dos
formas extra-pulmonares, os agentes
corticosteroides, assim como de todas
citotóxicos são utilizados com frequ-
as novas drogas utilizadas, está limi-
ência e incluem metotrexato, azatio-
tado à descrição de pequenas séries
prina, clorambucil e ciclofosfamida. O
de casos e relatos de casos isolados.
agente citotóxico usado mais extensa-
E em situações que os corticóides
mente é o metotrexato, que funciona
causam efeitos colaterais graves e
em cerca de 66% dos pacientes com
em casos refratários? Nesses dois
sarcoidose, independentemente da
exemplos, utilizam-se drogas citotó-
manifestação dessa doença.
xicas ou imunossupressoras, sendo
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 26

MAPA MENTAL - TRATAMENTO

Sarcoidose cutânea
↑ Função hepática S. Neurológica

Radiografia de Corticoides sistêmicos


S. Ocular
tórax anormal

Conforme o Terapia tópica


Sem tratamento
quadro clínico não responsível Citotóxicas

Neurosarcoidose Glicocorticoides Drogas Imunossupressoras

Terapia prolongada
Sarcoidose pulmonar Agentes antimaláricos Casos refratários

Toxidade Hidroxicloroquina
Estágios
Sarcoidose cutânea

I Aminociclina

Corticoesteróides

II
SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 27

MAPA MENTAL VAMOS REVISAR?

Conforme o Hipercalcemia Linfadenopatia mediastinal


quadro clínico Exames de cálcio
Hipercalciúria
Sem tratamento Restrinção de volume
Punção pulmonar
↑ Função hepática Limitação de fluxo
Radiografia de Aspiração com agulha endobrônquica 1 - adenopatia hilar
tórax anormal +
2 - adenopatia
Sinal do panda
Com tratamento Acometimento pulmonar 3- infiltrado
Sinal do lambda
Glicocorticóides Investiga 4- fibrose
Cintilografia com gálio
Corticoides Estadiamento de Scadding 4 estágios
Agentes
antimaláricos Exames complementares Radiografia do tórax
Máculo-papulosas Forma crônica
Imunossupressores TC Doença pulmonar intersticial
Nodulares em placas
Fisiopatologia Eletrocardiograma QRS aumentado Eritêmato-acastanhadas Eritematosa
Macrofágos Lesões Lúpus pérnio Infiltrada
+ Biópsia Poliartrite
Linfócitos T
Quadro clínico Insuficiência cardíca Miocárdio Artralgia
Antígeno
Lesão Arritmias Cistos ósseos
Degradação lenta
Pericardite Sistema de condução Miopatia
Cronicidade do granuloma Manifestações pleomórfica Paralisia do
Síndrome de Loftren nervo facial
Formas agudas Padrão obstrutivo Síndrome de
Adenopatia hilar Heerfordt
↑ Bilirrubina Fotofobia
Diagnóstico Sinal do panda Radiografia
Hepatomegalia Visão borrada do tórax
Sem biópsia Sinal do lambda Ascite Cegueira
Estadiamento de
Achado histológico + Quadro clínico ↑ Fosfatase alcalina Lacrimejamento Scadding
radiológico
Positivo Sintomas Hiperemia
Aumento dos
Granulomas não caseosos Injeção intradérmica Uveíte anterior linfonodos

Procedimento de Kvien-Siltzbach Biópsia 4 a 6 semanas


SARCOIDOSE – REUMATOLOGIA 28

REFERÊNCIAS
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