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A FUNÇÃO DA ANGÚSTIA SEGUNDO FREUD

Rev ista THE FUNCTION OF ANGUISH ACCORDING TO FREUD


de
Psicologia

Lara Cristina d' Avila Lourenço 1

RESUMO
Segundo Freud, a angústia possui importante função psicofisiológica. Os primeiros escritos do autor,
através do conceito de angústia somática, consideram a angústia uma forma de descarga das excitações
sexuais acumuladas. Essa tese atende ao princípio de constância e participa da primeira teoria freudiana
sobre a angústia, para a qual a angústia é resultado da transformação da libido. Tal postulado é revisado
até a formulação da segunda teoria de Freud sobre a angústia. Nela a angústia é definida como sinal,
dado pelo Eu, de perigo. Nesse caso, a angústia passa a ser considerada a reação adaptativa fundamental
para a sobrevivência do aparelho psíquico.

Palavras-chave: angústia, ego, libido, perigo, princípio de constância.

ABSTRACT
According to Freud, anguish has an important psychophysiological function. The first author writings,
through the concept of somatic anguish, consider anguish a kind of discharge of the accumulated sexual
excitements. This thesis obeys the principie of constancy and takes part in Freud's first theory about
anguish, in which anguish is the result of libido transformation. Such thought is reviewed until the
formulation ofFreud's second theory about anguish. In this theory, anguish is defined as a sign of danger
given by the ego. In this case, anguish begin to be considered the fundamental adapta tive reaction to the
survival of psychic system.

Key words: anguish, ego, libido, danger, principie of constancy.

1
Doutoranda em Psicologia, pela USP- Ribeirão Preto; bolsista da CAPES. E-mail: laracdl@hotmail.com

llfl Revista de Psicologia, Fortaleza, v. 22 n1, p. 32-44, juiJdez. 2004


8CH-PERIODICOS
Revista de Psicologia

1 INTRODUÇÃO Vale considerar que essa formulação contou


com a definição precisa da noção de trauma (peri-
Este artigo enfoca o aspecto funcional que a
go), a qual é particularmente exposta em Além do
angústia possui, de acordo com os escritos de Freud.
Princípio do Prazer (FREUD, 1920/1980). O trauma
Para tanto é feito um levantamento bibliográfico,
constitui a invasão excessiva de estímulos, capaz
que não tem a pretensão de ser exaustivo, sobre a
de causar o rompimento do escudo protetor do
concepção freudiana da angústia. 2
aparelho psíquico. A solução para a invasão trau-
O conceito de angústia somática, desenvol- mática de estímulos é ligá-los psiquicamente. Para
vido nos primeiros textos desse autor, leva em con- essa dominação, o Eu deve estar preparado com
ta as exigências do princípio de constância. Nesse um estoque suficiente de energia. E essa prepara-
caso, a angústia é uma forma de descarga da ten- ção é acionada pela angústia, uma vez que esse es-
são sexual acumulada (FREUD, [1894c] 1895 /1980). tado afetivo caracteriza a expectativa de um perigo.
Portanto, ela tem a função de colaborar para a ma-
Em Inibições, Sintomas eAnsiedade, Freud (1926 I
nutenção do equilíbrio energético do organismo.
1980) localiza a angústia tanto no momento quanto
Com as teorias sobre as pulsões e sobre o na iminência do trauma. Dessa maneira, o autor dis-
recalque, Freud (1915c/1980) estabelece que a an- tingue a angústia automática e a angústia voluntária.
gústia é resultado da transformação da libido A primeira é a reação imediata e somática ao trauma,
recalcada. Nesse ponto, este artigo nota que a an- que fica como uma impressão no Eu. Dada essa im-
gústia continua sendo uma forma de descarga se- pressão, o Eu pode ter a perspectiva de repetição do
xual, uma vez que ela consiste num dos destinos trauma e produzir uma dose moderada de angústia
do afeto da pulsão sexual. Mais que isso, nesse com o objetivo de sinalizar a situação de perigo e aci-
momento teórico, a angústia aponta para a exis- onar os mecanismos de defesa. Cumpre ressaltar que
tência de desejos recalcados. esse objetivo falha, caso o sinal de angústia se trans-
Na Conferência XX\1, Freud (1917 /1980) su- forme num acesso de angústia.
põe a existência de dois tipos de angústia: angústia Com essas considerações, este artigo busca
neurótica e angústia realística. A primeira continua comunicar que, para a teoria freudiana, a angús-
a tese de que a angústia é resultado da transforma- tia não é, em essência, um desprazer a ser supri-
ção da libido sob recalque. A segunda é considera- mido. Antes, a angústia é índice da condição de
da a reação original diante de perigos externos. Não desamparo do homem diante dos perigos exter-
obstante, seja na angústia neurótica, seja na angús- nos e do acúmulo de tensões internas; assim como
tia realística, Freud constata sempre a expectativa também é a reação adaptativa fundamental a tal
de um perigo (seja ele interno, no caso da angústia condição.
neurótica, seja externo, no caso da angústia
realística).
Essas idéias antecipam as teses centrais de
Inibições, Sintomas e Ansiedade, texto no qual Freud 2 ANGÚSTIA: CAMINHO DE DESCARGA
(1926/1980) faz uma profunda revisão de sua teo- DAS EXCITAÇÕES SEXUAIS
ria sobre a angústia, concedendo a esse afeto um Estudos sobre a histeria (BREUER e FREUD,

!
lugar central na sobrevivência psicofisiológica. 1893[1895]/1980) não apresentam uma teoria so-
Nesse momento, a angústia é definida como si- bre a formação da angústia. Entretanto, essa obra
nal, dado pelo Eu, da presença ou iminência de nota a angústia como um sintoma nem sempre
um trauma. redutível à terapêutica proposta
l 2
Cumpre apontar que o termo Angst, em português, pode ser traduzido por ansiedade ou angústia. A Imago editora, na edição Standard
Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, utiliza-se freqüentemente da primeira opção, com a seguinte justificativa: "Preferi-
mos usar 'ansiedade' para nos referir à vivência do sofrimento psíquico determinado pela presença de um conflito interno. Designa, pois,
predominantemente, o aspecto mental do fenômeno e se aproxima certamente mais da abordagem metapsicológica." (Nota do tradutor
brasileiro, Freud 1917/1980, p.457). Apesar deste artigo optar por tal edição para as citações, no decorrer do texto ele utiliza-se da
expressão angústia (tal como o fazem, por exemplo, Laplanche e Pontalis, in Vocabulário de Psicanálise, 1982). Isso porque o objetivo
deste trabalho não se refere somente aos aspectos mentais da angústia mas também ao seu substrato somático. Ainda sobre a tradu-
ção, nota-se que este artigo utiliza o termo recalque para referir-se à palavra alemã Verdrãngung (traduzida, pela lmago editora, por
repressão); e pulsão, para referir-se à Trieb (termo muitas vezes traduzido por instinto, por tal editora). Da mesma forma, são usados os
termos supereu, eu e Isso para traduzir os termos alemães Über-lch, lch e das Es, respectivamente.

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A terapêutica, nesse caso, baseia-se no méto- Há casos, porém, em que o acúmulo da ten-
do catártico de acordo com o qual a elaboração do são sexual não estabelece a junção com as repre-
trauma (causador da histeria) acontece por meio da sentações psíquicas. Isso impede, portanto, a
recordação e da ab-reação afetiva dos representan- descarga adequada da excitação. Nesses casos, a
tes traumáticos. Porém, apesar da conscientização e descarga possível permanece na esfera somática,
catarse oferecidas pelo tratamento, muitas vezes a por meio das reações de angústia. Esse processo
angústia (e os afetos penosos, de maneira geral) per- e suas possíveis causas são resumidos na seguinte
siste nos quadros clínicos e apresenta-se como o enig- afirmação:
ma proposto pela manutenção dos sintomas. Além Nos casos em que há um conside-
disso, Freud ainda depara-se com a possibilidade rável desenvolvimento da tensão
da angústia surgir sem qualquer motivo, sem ne- sexual física, mas esta não pode ser
nhum acontecimento externo ou aspecto moral que convertida em afeto pela transfor-
a justifique. mação psíquica- por causa do de-
Se a angústia não se reduz às relações entre senvolvimento insuficiente da
sintomas e cenas traumáticas, Freud começa a ir sexualidade psíquica, ou por causa
da tentativa de suprimi-la (defesa),
além da pesquisa das vivências traumáticas exter-
ou por causa do declínio da mesma,
nas. Nos anos seguintes a 1893, ele considera a pos- ou por causa do alheamento habitu-
sibilidade da angústia ser causada por fatores al entre sexualidade física e psíqui-
somáticos (tendo a sexualidade um papel predo- ca, a tensão sexual se transforma em
minante nesse processo). Nesse caminho o autor angústia. (FREUD, [1894b] 1950 I
elabora o conceito de angústia somática, o qual lhe 1980, p.216, grifo do autor).
permite acrescentar, em 1895, notas aos Estudos so-
Essa idéia é ratificada em Sobre os critérios para
bre a histeria, as quais buscam explicar algumas
destacar da neurastenia uma síndrome específica de/lO-
manifestações afetivas insondáveis em 1893.
minada 'neurose de angústia' (FREUD, [1894c]1895 I
No Rascunho E. de suas correspondências a 1980). Apesar do título, esse artigo não enfa tiza tan-
Fliess (FREUD, [1894b]1950 I 1980), Freud afirma to a distinção entre neurastenia e neurose de an-
a existência de uma angústia somática e outra psí- gústia quanto a distinção entre as neuroses
quica, sendo a relação entre ambas não de exclu- psíquicas (também denominadas neuroses de de-
são mas de complementaridade: a primeira fesa ou psiconeuroses) e neuroses sexuais (em ou-
justifica a forma e manutenção da segunda. Mais tros termos, neuroses atuais, entre as quais se
especificamente, o substrato da angústia é sem- encontram a neurastenia e a neurose de angústia).
pre somático, o que pode ser psíquico é o fator Nas neuroses de defesa, também há mecanismo
que a desencadeia.
sexual e disfunção no uso das representações psí-
É na heterogeneidade de condutas de abs- quicas. Isto é, tanto em um quanto em outro tipo
tinência sexual (virgindade voluntária ou não, de neurose, encontram-se acúmulo de tensão se-
coito interrompido, impotência) que Freud en- xual e insuficiência psíquica que levam a descar-
contra o fator físico subjacente à angústia. Trata- gas somáticas inadequadas. Porém, a neurose de
se de uma acumulação de tensão sexual física, angústia relaciona-se com uma excitação sexual que
que impedida de ser descarregada, transforma- não chegou a atingir o psiquismo. Já a neurose de
se em angústia. defesa, refere-se a uma tensão sexual que recebeu
As explicações para tal transformação podem alguma elaboração psíquica, sendo posteriormen-
ser buscadas nas teses do princípio de constância. te alvo de um conflito.
Segundo tal princípio, a excitação exógena que atin- Os aspectos comuns à etiologia das neuroses
ge o organismo é eliminada por uma ação de igual de defesa e à etiologia da neurose de angústia evi-
magnitude. Entretanto, as excitações internas não denciam-se numa sintomatologia, em muitos pon-
podem ser eliminadas da mesma forma direta. Para tos, equivalente. O quadro clínico da neurose de
serem descarregadas, tais excitações devem se acu- angústia apresenta: irritabilidade geral; expectati-
mular até alcançarem um limiar, a partir do qual va angustiada; despertar em pânico durante a noi-
entram em contato com grupos de representações te; vertigens; ataques de angústia. Tais sintomas,
psíquicas, que podem organizar uma ação especí- percebe o autor, não estão ausentes nos casos de
fica de descarga (particularmente, o coito). histeria (neurose de defesa). Ao contrário, eles pa-

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recem estar na base mesma dos fenômenos histéri- 1980, p.l77), considera basicamente três destinos para
cos. Esse fato começa a dificultar a distinção tão a quota afetiva. Uma possibilidade é que o afeto seja
nítida entre as duas formas de neurose. inibido, ou mesmo, suprimido. Outra é que o afeto,
O enfraquecimento da fronteira entre histe- livre das idéias que o especificam, torne-se qualitati-
ria e neurose de angústia recebe duas soluções: o vamente diferente (nesse caso, ele posteriormente
diagnóstico de neurose mista e a interessante tese unir-se-ia a alguma idéia substituta). Pode aconte-
de que a neurose de angústia constitui o substrato cer ainda a transformação do afeto em angústia.
somático da histeria. Portanto, antes de ser mani- Sobre isso, este artigo faz a seguinte observa-
festação do conflito de intenções inerente à neuro- ção: mesmo que o afeto venha a unir-se a outra
se de defesa, a angústia é descarga da tensão sexual idéia (adquirindo assim uma qualidade diferente),
acumulada. com o recalque ele perde a vinculação com a idéia
original. Logo, mesmo que por um ínfimo momen-
to, o afeto encontra-se sem uma representação que
o especifique. Então, em todos os casos (com exce-
3 ANGÚSTIA: DESTINO DO AFETO NO ção daqueles em que o afeto é suprimido), a angús-
RECALQUE tia surge como conseqüência do recalque? Se são
Ao levar em conta a ligação entre as tensões tomadas as primeiras formulações sobre a angústia
internas constantes (basicamente a tensão sexual) (as quais concebem-na como uma excitação livre de
e os representantes psíquicos, Freud mune-se das representações), é possível dizer que sim. Contudo,
premissas necessárias à formulação da teoria sobre Freud parece considerar a angústia apenas um re-
as pulsões e sobre o recalque. sultado privilegiado da transformação do afeto.
Em O Instinto e suas Vicissitudes (FREUD, A angústia pode ser considerada a eclosão
afetiva do representante pulsional recalcado. Ou
1915b/1980, p.142), a pulsão é definida como ore-
seja, a angústia é o desprazer que funciona como
presentante psíquico dos estímulos endógenos. Já
índice para o reforço ou reorganização do recalque.
os textos A Repressão (FREUD, 1915c/1980) e O In-
Dessa maneira, ela serve de parâmetro para a
consciente (FREUD, 1915 a/1980) trazem uma mo- estruturação dos sintomas das três principais
dificação no conceito de pulsão. Nesses textos, a psiconeuroses: fobia (histeria de angústia); histeria
pulsão não é o representante psíquico das tensões de conversão e neurose obsessiva.
internas, e sim a força dessas tensões que se mani-
festa via representação psíquica. Isso que representa Na fobia, o conteúdo ideativo é substituído
via deslocamento. E o afeto, livre de sua idéia ori-
a pulsão constitui-se de um conteúdo ideativo e de
ginal, transforma-se em angústia. Isso leva a uma
uma quota afetiva correspondente.
segunda fase, na qual se vê a fobia propriamente
Segundo o autor, o recalque ocorre quando a dita, caracterizada por tentativas de fuga e evitações
satisfação da pulsão sexual, prazerosa em si mes- destinadas a impedir a liberação de angústia.
ma, causaria desprazer em virtude de interesses
Na histeria de conversão, a idéia original é
contrários e concomitantes na mente. O recalque
substituída por uma inervação somática. O desti-
falha em seu propósito quando não impede a libe- no do afeto, nesse caso, pode ser: o desaparecimen-
ração de desprazer. O desprazer é então, sinal para to (caracterizando a dita indiferença histérica) ou a
que tal mecanismo de defesa seja acionado com transformação em angústia.
mais força e reorganizado. Isso demonstra a pri-
O processo de recalque ocorre em duas fases,
mazia do destino do afeto nesse processo.
na neurose obsessiva. Na primeira fase, a idéia é
Uma vez ocorrido o recalque, a representa- rejeitada pela consciência e o afeto transforma-se
ção psíquica (ou representação pulsional) só pode em seu oposto. Na segunda, a idéia rejeitada é subs-
aceder ao consciente através de um remanejamento tituída e a formação reativa do afeto não se susten-
que a disfarce, o qual é realizado por meio de uma ta, sendo o afeto transformado em angústia moral,
separação entre a idéia e o afeto. A partir daí, esses social e auto-censura. A presença da angústia de-
elementos representativos têm destinos diferentes. sencadeia mecanismos de fuga, evitações e proibi-
A idéia sofre os processos de deslocamento e ções (organizados nos rituais compulsivos)
condensação. Admitindo não poder exprimir clara- semelhantes aos vistos nas fobias histéricas (FREUD,
mente a hipótese de recalque do afeto, Freud (1915c/ 1915c/1980, p.181).

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Visto seu objetivo, este artigo observa que a poderíamos dizer que uma pessoa se protege do
tese de que a angústia é resultado da transforma- medo por meio da ansiedade." (FREUD, 1917 I
ção da libido, ocorrida no recalq_ue, mantém a pers- 1980, p.461).
pectiva da funcionalidade da angústia. Ou seja, a No entanto, o autor adverte que esse aspecto
angústia ainda é possibilidade de descarga das ten- adaptativo da angústia depende de fatores quanti-
sões sexuais, tal como Freud afirma nos textos so- tativos. A angústia deve resumir-se à preparação
bre a angústia somática. para o perigo (despertando a atenção sensória e a
tensão motora). Se atinge determinada intensida-
de, ela paralisa a ação defensiva. Assim a angústia,
enquanto sinal útil à defesa, corre sempre o risco
4 ANGÚSTIA É REAÇÃO AO PERIGO de transformar-se num acesso de angústia.
A Conferência XXV (FREUD, 1917 I 1980) apre- A concepção de que a angústia sinaliza o pe-
senta a sistematização mais completa da teoria rigo requer a participação da memória, ou seja, do
freudiana sobre a angústia, realizada até esse perí- caráter histórico dos afetos. Caso contrário, não
odo da obra do autor. Além disso, ela adianta algu- haveria reconhecimento do perigo. Assim, Freud
mas premissas fundamentais para a reformulação (1917 11980, p.462) afirma que a angústia, sendo um
dessa teoria, que é efetuada em 1926, no texto Inibi- afeto, é a repetição de determinada experiência sig-
ções, Sintomas e Ansiedade (FREUD, 192611980). nificativa.
Diante da presença da angústia em todos os A experiência original, repetida no afeto de
estados mentais (quer dizer, não somente nos esta- angústia, é o ato do nascimento. O nascimento é
dos neuróticos), há a tentativa de encontrar suas considerado o protótipo privilegiado de um peri-
referências nos critérios da realidade. Sem abando-
go mortal. Nesse caso, o que representa perigo é
nar a tese de que a angústia é resultado da trans-
o aumento de excitação devido ao início da res-
formação da libido, Freud (1917 11980) supõe a
piração pulmonar (não uterina). Por isso, nas pa-
existência de um outro tipo de angústia, cuja cau-
lavras do autor (1917 11980, p.462), trata-se de
sa não seria um conflito inconsciente mas a pre-
angústia tóxica.
sença de um perigo externo. Haveria então a
diferença entre angústia neurótica (causada pela A angústia tóxica produzida na situação do
condição libidinal) e angústia realística (ligada ao nascimento recorda a teoria sobre a neurose de an-
perigo externo). gústia, pois em ambos os casos, a angústia perma-
A afirmação de que a angústia realística, en- nece na esfera somática, ou seja, é resultado de um
quanto reação ao perigo, relaciona-se ao reflexo de puro acúmulo de excitação. Nesse caso, há uma
fuga exigido pela pulsão de autoconservação, de- grande dificuldade em distinguir angústia neuró-
termina o caráter adaptativo desse afeto. E à pri- tica de angústia realística.
meira vista, esse sentido da angústia parece A dificuldade de sustentar essa distinção não
coincidir com o do medo, uma vez que há a delimi- impede que Freud (1917 11980, p.471) localize um
tação de um perigo real. fundamento comum a qualquer forma de angús-
Freud (1917 11980, p.461) porém, atentando tia: o perigo. Isto é, toda a angústia é reação a deter-
para esse coincidência, garante um lugar específi- minado perigo (perigo externo ou perigo interno,
co para a angústia. Aqui ele apresenta a distinção o qual refere-se às pulsões), com o objetivo de pre-
(que é reafirmada em Além do Princípio do Prazer paração para a defesa.
{FREUD, 1920 I 1980]) entre angústia (Angst), medo Não obstante, essa síntese teórica apresenta
(Furcht) e susto (Schreck). A angústia refere-se à um problema: como a angústia, concebida como
perspectiva de perigo e não ao objeto perigoso; o resultado da transformação da libido, pode consis-
foco no objeto é realizado no medo. Já o susto acon- tir num sinal contra o excesso dessa mesma libido?
tece quando o perigo se impõe ao Eu, sem a pré- Além disso, como a libido pode significar um peri-
via sensação de medo ou angústia. Há uma espécie go, como se fosse algo externo? Nessa Conferên-
de hierarquia funcional na qual a angústia seria a cia de 1917, o autor apenas reconhece que há nessas
reação mais propícia à defesa, pois ela indicaria o questões uma grande obscuridade para a Psicaná-
perigo mesmo na ausência da definição do objeto lise. Elucidá-las, diz o autor (1917 11980, p.472), exi-
ameaçador. Daí a afirmação de Freud: "Portanto, giria uma análise da dinâmica topográfica do

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aparelho psíquico. E realmente Freud só apresenta até o interior do organismo. A reação da mente a
a revisão de sua teoria sobre a angústia, em Inibi- isso, segundo o autor, é catexizar a área de ruptura
ções, Sintomas e Ansiedade (FREUD, 192611980), após numa tentativa de cicatrizá-la.
haver formalizado sua tese sobre a topologia da Dessa forma de reação, Freud deduz que se
mente, em O ego e o id (FREUD, 192311980). o aparelho psíquico estiver munido de determina-
da quantidade de energia, o trauma psíquico pode
ser minimizado. Isso na medida em que a reação
desse aparelho é catexizar (ou melhor, dominar) a
5 TRAUMA E ANGÚSTIA, SEGUNDO energia invasora, impedindo-a de fluir caotica-
ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER mente pelo organismo. Para essa dominação, o Eu
Em Além do princípio do prazer (FREUD, 1920 I deve estar preparado com um estoque suficiente
1980), a idéia de que a angústia constitui uma pre- de energia.
paração para o perigo é aprofundada, na medida E tal preparação é acionada pela angústia,
em que há a formalização da noção de perigo. Essa uma vez que a angústia caracteriza o estado de ex-
formalização exige a retomada da noção de trau- pectativa do perigo. Nesse caso, o perigo não é es-
ma, a qual tem papel central nos primeiros escritos pecificado por uma ou outra representação, mas
de Freud (embora nunca esteja ausente em qual- pode ser indeterminado (ou seja, desconhecido). No
quer período da obra desse autor). Basicamente o momento do trauma, o aparelho psíquico é toma-
trauma continua sendo concebido como a invasão do de susto, o que significa que não houve angús-
excessiva de estímulos que se opõe ao princípio de tia para assinalar a iminência do perigo e, dessa
constância. forma, incitar a defesa. E defesa, aqui significa a
Freud (192011980, p.41) toma a figura de um tomada de energia suficiente para a vinculação das
organismo simples, uma vesícula, para descrever a excitações afluentes:
formação de uma barreira de proteção contra estí- E atribuímos air1da a importância ao
mulos. Segundo o autor, o impacto incessante de elemento susto. Ele é causado pela
estímulos externos sobre a superfície da vesícula falta de qualquer preparação para
cria uma camada calcigenada, inorgânica, capaz de a ansiedade, inclusive a falta de
filtrar as estimulações externas. hipercatexia dos sistemas que seri-
am os primeiros a receber o estímu-
Quantidades excessivas de estímulos podem lo. Devido à sua baixa catexia, esses
ocasionar o rompimento desse escudo protetor, ca- sistemas não se encontram em boa
racterizando o trauma. Convém notar que essa ex- posição para vincular as quantida-
plicação é clara no que concerne aos estímulos des afluentes de excitação e as con-
externos. Quanto aos estímulos internos, como dar- seqüências da ruptura no escudo
se-ia o trauma, uma vez que eles não estão subme- defensivo decorrem mais facilmen-
tidos ao escudo protetor? te ainda. Ver-se-á, então, que a pre-
paração para a ansiedade e a
Sobre isso, o autor diz que quando as ten- hipercatexia dos sistemas receptivos
sões endógenas aumentam demasiadamente o constitui a última linha de defesa do
desprazer, a única forma de defesa do aparelho escudo contra estímulos. (FREUD,
psíquico é tratá-las como se fossem externas. Des- 192011980, p.47, grifas nossos).
sa forma, há a possibilidade de atuação do escudo
Cumpre apontar que Laplanche (1991, p .191)
protetor. Vale observar que o alvo de Freud é vê na angústia, descrita nessa obra de 1920, uma
enfatizar que o excesso de estímulos causa o rom- singularidade em relação às demais descrições
pimentos dos limites do Eu, sejam esse limites ex- fornecidas por Freud, especialmente aquelas pre-
temos ou internos. sentes em Inibições, Sintomas e Ansiedade (192611980).
Para explicar o trauma envolvido no rom- Para Laplanche, a angústia-preparação tem o
pimento das barreiras do Eu, Freud utiliza-se do valor de uma espécie de pára-excitações e portan-
modelo do sofrimento físico (FREUD, 192011980, to apresenta-se numa relação muito mais direta
p.45). Nesse modelo, há a efração de uma área com a proteção contra estímulos.
histológica limitada, através da qual passa um flu- Esse papel adaptativo da angústia deve es-
xo contínuo de excitações desde a periferia externa tar na base da compulsão à repetição. Freud (1920 I

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1980) afirma que a compulsão à repetição busca o sas duas pulsões não há oposição qualitativa, e
desenvolvimento da angústia, ausente no momen- sim variação topográfica (FREUD, 1920/1980,
to do trauma. A angústia causa a tensão suficiente p.72).
para que o aparelho psíquico possa sujeitar a exci- Partindo desse dualismo pulsional, este arti-
tação recebida passivamente. Na compulsão à re- go indaga o que age na compulsão à repetição. Essa
petição, a angústia sinaliza retroativamente o compulsão seria uma busca pela libido para inter-
perigo. ferir na ação ininterrupta da pulsão de morte? Uma
Essa é a única maneira do autor explicar a vez que a libido proporciona as uniões, entende-se
repetição de eventos que nunca possibilitaram ne- que ela é evocada, via compulsão à repetição, para
nhum prazer. Isto é, não se trata de eventos cujo a tentativa das ligações psíquicas. Sendo assim, a
prazer fora recalcado, e sim de excitações que não angústia aparece como apelo à libido- o que, cum-
foram dominadas. Assim, Freud refere-se à repeti- pre notar, é diferente da tese de que a angústia é
ção compulsiva dos sonhos traumáticos: efeito da transformação da libido. É interessante
Esses sonhos esforçam-se por domi- que, a relação entre ambas seja mantida.
nar retrospectivamente o estímulo, Inibições, Sintomas e Ansiedade (FREUD, 1926 I
desenvolvendo a ansiedade cuja 1980) não aborda diretamente o conceito de pulsão
omissão constituiu a causa da neu- de morte (nesse texto, a angústia perante a morte
rose traumática. (FREUD, 1920/
aparece como modificação da angústia de castra-
1980, p.46, grifas do autor).
ção. Não se trata, pois, da morte enquanto objetivo
A tese de Além do princípio do prazer é a de que pulsão). E a compulsão à repetição aparece como a
a compulsão à repetição tem um caráter pulsional. reprodução intencional e moderada da angústia,
Nela Freud afirma a natureza conservadora das como forma de dominação do trauma. Essa domi-
pulsões, em oposição ao aspecto impulsionador da nação acontece basicamente porque a repetição do
mudança, que até então era reconhecido como ca- trauma passa a ser prevista, isto é, a angústia in-
racterística de toda a pulsão. O objetivo primeiro tencional é um instrumento do Eu para sinalizar a
dessa força pulsional, que Freud identifica na iminência de nova situação traumática:
compulsão à repetição, é um estado de quietude
total, um estado inanimado e original. A ansiedade é a reação original ao
desamparo no trauma, sendo
Nisto, Freud apóia a distinção entre os dois reproduzida depois da situação de
tipos de pulsão que, nesse momento, encenam o perigo corno um sinal em busca de
dualismo e o conflito sempre necessários à sua teo- ajuda. O ego, que experimentou o
ria: pulsão de vida e pulsão de morte. A primeira trauma passivamente, agora ore-
busca a ligação e o aumento (ou manutenção) do pete ativamente, em versão
nível energético; a segunda tende ao isolamento e enfraquecida, na esperança de ser
à descarga total das excitações. O princípio de cons- ele próprio capaz de dirigir seu
tância surge como resultado desses interesses di- curso. E certo que as crianças de
versos. Assim como há também uma espécie de comportam dessa maneira em re-
compromisso que se faz num jogo e numa fusão lação a toda impressão aflitiva que
recebem, reproduzindo-as em
entre agressão e libido.
suas brincadeiras. Ao passarem da
Essa conciliação entre a tendência à morte passividade para a atividade ten-
e o interesse pela vida estabelece que a morte não tam dominar suas experiências
seja excluída, mas adiada até os limites da capa- psiquicamente. (FREUD, 1926/
cidade do organismo. Também vale dizer que a 1980, p.192).
presença da morte se faz sobre o fundo de uma
imortalidade em potencial, a da espécie. Portan-
to, ao lado do pulsar silencioso que encaminha
o organismo à morte, persistem os interesses da 6 ANGÚSTIA AUTOMÁTICA E ANGÚS-
autoconservação e a força das atrações sexuais. TIA SINAL
Daí Freud identificar, na pulsão de vida, as Em Inibições, Sintomas e Ansiedade, Freud
pulsões egóicas e as pulsões sexuais (observamos (1926/1980) consegue unir numa mesma teoria os
que, com a perspectiva do narcisismo, entre es- aspectos biológicos e psíquicos da angústia. Para

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isso, ele postula dois momentos para esse afeto: no Tal mudança não diz respeito somente às rela-
primeiro, a angústia é reação automática e natural ções entre recalque e angústia, mas também refere-se à
ao trauma; no segundo, o Eu utiliza-se da angústia participação da libido na gênese da angústia. Pois Freud
automática como modelo para liberar, então, doses postula que o Eu emprega uma energia dessexualizada.
moderadas desse desprazer, com o objetivo de si- E assim, a afirmação de que o Eu é produtor da angús-
nalizar a urgência do empreendimento dos meca- tia rninirniza a ligação entre esse afeto e a libido.
nismos de defesa. Sobre isso cumpre apontar que, somente na
A angústia automática imprime as descargas Conferêncúz XXXII (FREUD, 1932/1980), Freud exclui
motoras provocadas pelo contexto de perigo, en- totalmente a tese de que a libido pode ser transforma-
quanto a angústia sinal é a utilização psíquica des- da em angústia. Em 1926, o autor (1926/1980, p.l32)
sa impressão. Resta saber como a primeira ainda afirma que se a excitação sexual não é devida-
experiência traumática, acompanhada da produ- mente descarregada, ela corre o risco de se tomar an-
ção automática de angústia, pode adquirir o valor gústia. Obviamente, há aqui uma contradição: se a
de símbolo mnêmico, uma vez que o momento de angústia é resultado ou expectativa de perigo, feita
sua ocorrência não alcança a organização psíquica. pelo Eu, como manter a idéia de que ela é modifica-
Melhor dizendo, deve-se saber como essa descar- ção da libido? Freud tenta solucionar o impasse:
ga fisiológica, que é a angústia automática, pode Podemos tentar fazê-lo supondo
permanecer disponível até que as funções psíqui- que, quando o coito é perturbado ou
cas possam utilizá-la. a excitação sexual interrompida ou
a abstinência forçada, o ego fareja cer-
Inibições, Sintomas e Ansiedade vê, na forma de
tos perigos aos quais reage com an-
fixação produzida pelo recalque primevo, as cau- siedade. (FREUD, 1926/1980, p.l33).
sas do estabelecimento da angústia como afeto pas-
sível de ser reutilizado. Freud (1926/1980, p.115) Talvez possa ser pensado, em conformidade
admite que o recalque primevo ainda é pouco es- com Ramos (2003, p. 104), que a angústia voluntá-
clarecido pela Psicanálise. Nessa obra de 1926, o ria (reação à iminência do perigo) não deixa de ser
autor apresenta a hipótese de que esse recalque é resultado de uma transformação. Nesse caso, tra-
coincidente com o trauma (ou seja, com o rompi- ta-se de uma transformação dos investimentos do
Eu, que serve às finalidades de defesa. Pois, segun-
mento do escudo protetor). A reação automática a
do Freud (1926, p. 114), o Eu retira sua catexia dos
esse episódio é a produção de angústia, cujo cará-
representantes relacionados ao perigo e utiliza-a
ter é econômico. O recalque primevo, ao determi-
para a finalidade de liberar o desprazer (a angústia
nar os recalques posteriores, transmite o modelo
que sinaliza para o acionamento do recalque).
da angústia como forma de reação ao perigo.
É claro que, para ser um meio adequado à
O desenvolvimento do Eu permite a avaliação defesa, a angústia deve se restringir a mero sinal.
das percepções, e assim toma-se possível antecipar- Caso contrário, ela paralisa o Eu, impedindo por-
se às novas situações traumáticas (semelhantes àque- tanto a fuga do perigo. Vê-se nisso as indicações
las experimentadas no contexto do recalque prirnevo). contidas ainda na Conferência XXV (FREUD, 1917 I
Essa expectativa é assinalada pela produção de an- 1980, as quais alertam para o fato de que o sinal de
gústia. Agora a angústia é um desprazer moderado, angústia deixa de ser adequado quando transfor-
intencionalmente utilizado pelo Eu para inibir ou ma-se em acesso de angústia.
defletir algum processo causador de perigo.
Realizada a expectativa do perigo, através da
Esse raciocínio, de acordo com o qual a an- angústia, o Eu empreende mecanismos de defesa.
gústia provoca as defesas, assegura modificações Entre esses está, fundamentalmente, o recalque. Os
importantes na concepção freudiana da angústia. perigos externos são evitados ou inibidos, essenci-
As primeiras teses de Freud sobre esse assunto afir- almente, por meio de fugas motoras. Já a defesa
mavam que a angústia era resultado da transfor- contra os perigos internos exigem uma modifica-
mação da libido, efetuada no recalque. Em 1926, a ção no curso dos processos pulsionais. E isso pode
angústia não é mais posterior ao recalque: tem-se ser obtido por meio de inibições ou sintomas, con-
uma angústia somática, no momento do recalque seqüentes ao recalque. As inibições implicam na
primevo, e uma angústia voluntária, que aciona os restrição de alguma função do Eu. Basicamente, diz
recalques posteriores. Freud, as inibições acontecem nas funções sexuais,

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de alimentação, de trabalho e de locomoção. E aqui, dência à morte tomaria a dianteira sem a proteção to ta
embora a referência seja a funções do eu, fala-se de Eros. De qualquer forma, trata-se de um perigo faz
que há modificação no curso pulsional, porquanto econômico de aniquilação da vida. qu
tais funções só são inibidas na medida em que são Freud então elabora uma teoria que tenta lo- an
altamente investidas de libido. Ou melhor, é só calizar as situações nas quais essa ameaça econô-
quando têm sua significação sexual aumentada que mica pode surgir. Tais situações modificam-se ao
essas funções colocariam o Eu em situação de peri- longo do processo de maturação do Eu, tomando
go, caso fossem realizadas. possível que o perigo econômico receba uma signi-
Entretanto essa restrição, diferentemente ficação psíquica. Somente através dessa significa-
do sintoma, não representa um modo substituto ção é que uma situação de perigo pode ser
de satisfação. Daí Freud (1926/1980) dizer que assinalada pela angústia voluntária.
as inibições não se confundem com os sintomas, Freud vê a primeira manifestação de angús-
embora esses possam fazer uso daquelas. Não tia na vida de um indivíduo, na situação do nasci-
obstante, cumpre advertir que essa é a forma des- mento. Nela, as características físicas de expressão po
te artigo entender a distinção freudiana entre sin- da angústia são impressas por requisitos biológi- de
toma e inibição. A explicação dada por Freud cos, tais como a dilatação dos pulmões e a regulari- ex
quanto a essa diferença é bastante enigmática. zação dos batimentos cardíacos. O nascimento é o
Ele afirma que o sintoma não é um processo que ponto histórico que o autor sempre tenta localizar
ocorre dentro ou dirigido ao Eu: " ... podemos ver na base das manifestações fisiológicas:
sem dificuldade em que sentido uma inibição
Somos tentados a presumir a pre-
difere de um sintoma, porquanto um sintoma não vo
sença de um fator histórico que une
pode mais ser descrito como um processo que firmemente as sensações de ansie- P·
ocorre dentro do ego ou que atua sobre ele." dade e suas inervações. [... ]No ho- pa
(Idem, p.111). Porém, ele também diz que uma mem, o nascimento proporciona sa
inibição pode ser um sintoma, desde que ela en- uma experiência prototípica desse in
volva um processo patológico (FREUD, 1920, tipo, e ficamos inclinados, portan-
p.107). Nesse caso, a participação do Eu deixa de to, a considerar os estados de ansie- no
ser critério para a distinção entre esses mecanis- dade como uma reprodução do
mos. Além disso, não se deixa de constatar que a trauma do nascimento. (FREUD,
formação do sintoma é condicionada à exigência 1926/1980, p.l56)
de síntese feita pelo Eu. Mas Freud (1926/1980, p.158) alerta que essa
Sem abordar o conceito de sintoma, este arti- reprodução da angústia acontece por meio da or-
go apenas aponta que, com a ênfase na noção de ganização psíquica, a qual é ausente na ocasião do
perigo, o sintoma é considerado acima de tudo uma nascimento. A situação do nascimento não carrega
saída da iminência da situação traumática. O sin- qualquer conteúdo psíquico, pois nela não há a
toma passa a ser uma forma de providência, toma- presença de um Eu capaz de vivenciar o perigo.
da pelo Eu, diante das três fontes de perigo que Essa opinião de Freud leva-o a criticar a tese de Otto
podem lhe ameaçar: o mundo externo, o Isso e o Rank, apresentada em The Trauma oJBirth, publica-
Supereu (Cf. O Ego e o Id [FREUD, 1923/1980] e do em 1924. Segundo Rank, todas as manifestações
Mal-estar na Civilização [idem., 1929 /1980]). ulteriores da angústia seriam tentativas de ab-rea-
gir o trauma do nascimento. Freud, no entanto, acre-
dita ser impossível que uma criança retenha, da
situação do nascimento, algo além de sensações
7 A NATUREZA DOS PERIGOS, ASSI- táteis e gerais, e portanto o nascimento não pode-
NALADOS ATRAVÉS DA ANGÚSTIA ria ser considerado um trauma psíquico.
Em última instância, o perigo ao qual o Eu Sendo assim, como surge a representação
reage é de duas ordens: uma diz respeito à possibi- mental, necessária à caracterização da situação de
lidade de rompimento do escudo protetor contra perigo? O caminho para a construção da imagem
estímulos, através de um excesso de estímulos; a rnnêmica que caracteriza a situação de perigo co-
outra refere-se a uma possível desfúsão entre as meça quando a criança tem suas necessidades (de-
pulsões de vida e de morte, a partir da qual a ten- correntes de seu desamparo biológico), parcial ou

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totalmente, satisfeitas por um objeto externo. Isso negatividade que atua no corpo (o falo está simbo-
faz com que a criança comece a ansiar pelo objeto lizado numa parte altamente valorizada do corpo)
que satisfaz. E esse anseio vem a se transformar em e na forma de vida do indivíduo (ele modifica sua
angústia: posição narcísica).
Essa ansiedade tem toda a aparência Ramos (2003, p.118) também nota que, tanto
de ser uma expressão do sentimento a castração quanto a morte, envolvem a perspecti-
da criança em sua desorientação, va da negatividade. Porém, diz esse autor, a castra-
como se em seu estado ainda muito ção não implica uma aniquilação total do ser, mas
pouco desenvolvido ela não soubes- apenas a separação de uma de suas partes. Por isso
se como melhor lidar com sua catexia
a castração, ao contrário da morte, pode ser registra-
de anseio. (FREUD, 1926/1980,
da no inconsciente. A morte é irrepresentável. E o
p.l60)
homem só pode angustiar-se diante dela por
Quando a criança descobre que um objeto meio das representações criadas no complexo
pode pôr fim à seu estado economicamente de castração.
desconfortável (caracterizado por um excesso de Para Freud a angústia de morte é, na verda-
excitação), o perigo que ela começa a temer não é de, a angústia diante do Supereu. Essa variação da
mais o econômico mas a condição que pode angústia, por sua vez, é derivada da angústia de
determiná-lo, ou seja, a perda do objeto. Com isso, castração. O autor enfatiza que o Supereu é resul-
diante da ausência da mãe, surge a angústia como tado da intemalização do agente da castração, uma
sinal de que a situação econômica perigosa pode autoridade parenta! (especificamente o pai)
voltar a ocorrer. Dessa forma, Freud (1926/1980, despersonalizada. Por causa desse processo, a an-
p.161) conclui que a transição da relação biológica gústia volta-se para um perigo menos definido que
para a relação psíquica com a mãe, inaugura a pas- Freud (1926/1980, p.151) encontra na chamada
sagem da angústia automática para a reprodução angústia social ou moral. Com isso, o que o Eu teme
intencional da mesma . é que o Supereu não esteja satisfeito com ele e quei-
A criança deve intuir que os cuidados mater- ra deixar de amá-lo ou puni-lo.
nos estão relacionados ao estado afetivo da mãe. Repetimos então que, segundo Freud, a an-
Ou seja, o amor da mãe é necessário para que ela gústia do Supereu é a verdadeira razão da angús-
busque a tender as necessidades da criança. Portan- tia de morte:
to, desde muito cedo, o perigo da perda do amor Mas o inconsciente parece nada con-
do objeto é intenso. ter que pudesse dar qualquer conteú-
E é no complexo de castração, durante a fase do ao nosso conceito de aniLfuilarnento
fálica, que a criança experimenta a perda do amor da vida. A castração pode ser retrata-
do objeto em seu aspecto mais profundo: há a frus- da com base na experiência da perda
tração dos investimentos edípicos e também a ame- diária das fezes que estão sendo sepa-
aça de punição de tais desejos. Isto é, a criança radas do corpo ou com base na perda
entende que não é amada como imaginava em seu doseio da mãe no desmame. Mas nada
que se assemelhe à morte jamais pode
narcisismo e, ao mesmo tempo, ela é ameaçada de
ter sido experimentado[ ...] Estou incli-
perder ainda mais o afeto dos pais, caso insista em
nado, portanto, a aderir o ponto de vis-
sua intenção edípica.
ta de que o medo da morte deve ser
Para Freud (1926/1980, p.149), a castração é considerado como análogo ao medo
uma conseqüência lógica e esperada dos desejos da castração e que a situação à qual o
edípicos. Essa idéia leva o autor a afirmar que a ego está reagindo é de ser abandona-
castração é um perigo externo e real que tem como do pelo superego protetor _ os pode-
condição determinados impulsos libidinais. res do destino. (FREUD, 1926/1980,
A relação entre a angústia do nascimento e a p.l53)
angústia da castração parece estar na base da an- Dessa maneira, as distintas situações de pe-
gústia de morte. Isso na medida em que há, no nas- rigo (cujo fator é sempre econômico) delineiam-se
cimento, um perigo mortal e uma perda efetuada conforme as fases de desenvolvimento do Eu . Na
no corpo; a castração refere-se também a uma primeira infância, a imaturidade do Eu exige, tanto

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física quanto psiquicamente, um objeto cuidador. O fator biológico representa a carência orgâ-
Aqui, o desamparo ameaça claramente a sobrevi- nica com que nasce o homem. A espécie humana
vência. Há, portanto, o perigo de que o objeto dei- tem um longo período de vida em que depende
xe de estar presente ou mesmo de amar aquele de totalmente de um objeto para ser protegido con-
quem cuida. Ainda na infância, mais especificamente tra as ameaças do mundo externo. Conforme já
durante a fase fálica, os desejos da criança justificam comentamos, essa dependência é o que determi-
a perspectiva de perda do objeto valoroso caracte- na o alto valor atribuído ao perigo de perder o
rístico dessa etapa de desenvolvimento: o falo. Nes- objeto ou seu amor. (FREUD, 1926/1980, p.179).
se período, a angústia assinala o perigo da castração. Quanto ao fator filogenético, Freud admite
O destino do complexo de castração, isto é, a forma- ser uma inferência teórica, baseada nas caracterís-
ção do Supereu determina que o Eu corre o risco de ticas do desenvolvimento da libido. Esse desenvol-
não atender as exigências dessa autoridade interna, vimento é marcado por uma interrupção por volta
a qual, por isso, pode puni-lo e abandoná-lo. Nesse do quinto ano de vida; na puberdade, ele é retoma-
processo, a morte é considerada justamente o aban- do, seguindo os traços delineados na primeira in-
dono e a punição de uma autoridade protetora. Logo, fância. As peculiaridades desse processo conduzem
como foi dito, a angústia diante da morte é, em es- Freud a supor que algo, na realidade, deve ter ocor-
sência, angústia diante do Supereu. rido nos destinos da espécie humana, imprimin-
Freud adverte que uma nova situação de do características filogenéticas determinantes
perigo não destrói, necessariamente, a precedente. dessa interrupção do desenvolvimento sexual. A
Todas essas situações podem persistir lado a lado, patogenia trazida por esse fator deve-se ao fato
ou ainda, entrarem em operação ao mesmo tempo. de que o Eu considera a sexualidade infantil peri-
Obviamente, continua o autor (1926/1980, p.172), gosa e, por isso, ela é recalcada. Quando a sexuali-
em um indivíduo adulto os perigos característicos dade aflora na puberdade, ela corre o risco de ser
da infância são, normalmente, modificados. Assim, atraída pelos conteúdos sexuais recalcados. Assim,
um homem pode atualizar sua angústia de castra- ela seria mais uma vez motivo de preocupação e
ção transformando-a, por exemplo, em uma desgaste para o Eu. Sobre isso, são particularmente
sifilidofobia, porquanto o contágio da doença ve- interessantes as palavras de Freud:
nérea pode ser considerado um perigo para aquele É aqui que nos defrontamos com a
que se entrega a seus desejos eróticos. etiologia mais direta das neuroses.
O perigo do Supereu nunca é superado. Pois, É fato curioso que o contato inicial
quanto mais essa instância psíquica é atendida em com as exigências da sexualidade
suas exigências, mais forte se torna. Isto é, inibida deve ter efeito sobre o ego seme-
no exterior, a agressividade volta-se para o próprio lhante ao produzido pelo contato
prematuro com o mundo externo.
Eu através da voz do Supereu. A angústia em ra-
(FREUD, 1926/1980, p.l79-180)
zão do Supereu é, portanto, fundamental para a
civilização. O terceiro fator, o psicológico, é atribuível à
não-continuidade do aparelho mental humano. Isto
é, esse aparelho não é homogêneo mas diferencia-
do em distintas instâncias psíquicas. Diante dos
8 ANGÚSTIA NEURÓTICA E ANGÚSTIA perigos da realidade externa, o Eu deve agir de for-
REALÍSTICA ma que resguarde o indivíduo de certos desejos que,
Por mais desenvolvido que esteja o Eu, ele se satisfeitos, poderiam efetivar um trauma. Mas
não pode excluir os perigos a que está exposto. toda essa precaução acaba por restringir a pró-
Isto é, todo o amadurecimento do Eu não é capaz pria organização do Eu, porque exige um consu-
de remediar a condição de desamparo do ser hu- mo constante de energia.
mano. Em Inibições, Sintomas e Ansiedade essa con- Freud encerra sua referência a esses três fa-
dição refere-se, essencialmente, à incapacidade do tores admitindo que o conhecimento das causas da
aparelho psíquico de dominar adequadamente os neurose ainda é insuficiente para que essa análise
estímulos (internos ou externos). Sobre as causas possa ser avançada. (FREUD, 1926/1980, p.181).
disso, Freud enumera três fatores: um biológico; É importante apontar que, segundo essas
um filogenético; um psicológico. considerações, o desamparo e a conseqüente pro-

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dução da angústia são inerentes à condição huma- vés da relação sexual. Nesse caso, a excitação sexual
na. Logo, se coloca mais uma vez (tal como fora é descarregada através das inervações físicas que ca-
colocado na Conferência XXV [FREUD I 1917 I 1980]) racterizam a angústia. O autor não deixa de consi-
a questão da diferença entre angústia realística e derar a possibilidade de a angústia ser desencadeada
angústia neurótica. por fatores psíquicos. Contudo ele afirma que a na-
A diferença, explica Freud (192611980), é que tureza da angústia é sempre somática, suas causas é
a angústia neurótica é uma reação exagerada ao que podem ser psíquicas.
perigo. Além disso, o sujeito neurótico não atuali- Considerado o princípio de constância, a an-
za as situações de perigo às quais reage, mas fica gústia porta um valor para a sobrevivência do or-
preso aos protótipos infantis de conteúdos amea- ganismo, pois, ela é uma forma de descarga da
çadores. Eis o exemplo, dado por Freud (Idem., excitação que não seguiu os caminhos normais do
p.171), para uma reação neurótica à perda do obje- ato sexual.
to de amor:
O estudo da tensão sexual interna fornece as
Parece perfeitamente normal que bases da teoria freudiana sobre as pulsões e sobre o
aos quatro anos de idade uma me- recalque. Segundo tais teorias, a angústia é resulta-
nina chore penosamente se a sua do da transformação da libido, sob recalque. Ela é
boneca quebrar-se; ou aos seis, se a
um dos destinos do afeto sexual da pulsão
governanta reprová-la; ou aos
dezesseis, se for desprezada pelo recalcada. Nesse ponto, este artigo nota que a an-
namorado; ou aos vinte e cinco, gústia continua sendo uma forma de descarga das
talvez, se um filho dela morrer. excitações sexuais e que, nesse momento, ela é tam-
Cada um desses determinantes bém índice da presença de desejos recalcados.
de dor tem sua própria época e Essa teoria sobre a angústia é revisada até
cada um desaparece quando
alcançar a elaboração do que é considerada a se-
essa época terminar. Somente os
gunda teoria freudiana da angústia, a qual é for-
determinantes finais e definitivos
permanecem por toda a vida. De- malmente apresentada em Inibições, sintomas eansiedade
vemos julgar estranho se essa mes- (FREUD, 192611980). Nela, a angústia toma-se a
ma menina, depois de ter crescido reação adaptativa do organismo ao meio em que
e se tornado esposa e mãe, fosse vive. Isto é, a angústia deixa de ser somente uma
chorar por algum objeto sem valor descarga fisiológica privilegiada das excitações se-
que tivesse sido danificado. Con- xuais e passa a ser a reação indicativa das percep-
tudo, é assim que se comporta o ções externas e internas.
neurótico. (FREUD 1926/1980,
p.171) Com essas breves considerações, este artigo
tem a intenção de salientar a importância concedi-
Para este artigo, em essência toda angústia é da à angústia, pela teoria de Freud. Seguindo essa
realística uma vez que indica o desamparo do sujei-
intenção, ele verifica que a angústia não é enfatizada
to. O aspecto neurótico da angústia é secundário. E
enquanto reação patológica, mas enquanto reação
ele acontece se esse desamparo não é considerado e
adaptativa do organismo humano, cuja condição
enfrentado de acordo com as possibilidades reais do
é uma falta inata na capacidade de dominar ade-
Eu e da situação de perigo.
quadamente os estímulos internos e externos.

9 CONCLUSÃO
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