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Correlação verbal

1) O presente do indicativo

A atitude do falante/escritor em relação ao fato expresso pelo verbo pode ser


explicitada pelo tempo e pelo modo verbal.

O presente do indicativo é muito empregado nos gêneros textuais acadêmicos,


como em resumos, resenhas, artigos, entre outros.

A seguir, com base em Faraco e Moura (2007, p.345), passamos a apresentar


os contextos de uso do presente do indicativo e a função expressa em cada
contexto.

a. Expressa um fato que ocorre no momento em que se fala.

As águas atingem um metro, afirma o locutor da tv.

b. Expressa uma verdade científica, uma lei, um fato real que data de muito
tempo e deve durar por tempo indefinido. É chamado de presente
durativo.

O interior do planeta Terra gira mais depressa. (Superinteressante)

c. Expressa uma ação habitual ou frequente. Nesse caso, é chamado de


presente habitual ou frequentativo.

Todo dia ela faz tudo sempre igual


Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã. (Chico Buarque)

d. Expressa fatos passados. É chamado de presente narrativo ou histórico.


É bastante utilizado em textos jornalísticos, principalmente nas
manchetes, para transmitir ao leitor a impressão de que os fatos são
recentes.

Enchente provoca emergência no Paraná. (Folha de Londrina)

e. É utilizado em lugar do futuro.

- Volto terça-feira que vem.

f. É utilizado para substituir o imperativo, expressando de forma delicada


um pedido ou ordem. Compare as duas frases:
- Resolva o problema. (imperativo)
- Você me resolve o problema? (presente do indicativo)

g. Substitui o futuro do subjuntivo.

- Se você vem, traga-me o material. (presente do indicativo)


- Se você vier, traga-me o material. (futuro do subjuntivo)

2) Os verbos na elaboração da citação indireta (paráfrase)

Ao realizarmos uma paráfrase (ou citação indireta), sempre é importante


observar a correlação verbal, uma vez que esse recurso será empregado na
elaboração do texto acadêmico.

É importante observar:

1. Emprega-se o verbo no presente do indicativo, ao fazer menção ao ato


realizado pelo autor do texto-fonte, ou seja, o que é comentado por ele.
2. Emprega-se o pretérito (imperfeito, perfeito ou mais que perfeito) do
indicativo, ao mencionar:
a. o ato narrado por ele.
b. o ato realizado pelo autor que é citado pelo autor do texto-fonte.

Verifique a correlação verbal da passagem de um discurso para outro, isto é,


da citação direta para a citação indireta.

Presente do indicativo  passa a pretérito perfeito do indicativo

Pretérito perfeito do indicativo  passa a pretérito mais-que-perfeito do indicativo

Exemplo 1:

“Após 30 dias, os animais foram novamente estimulados a pressionar uma


alavanca para receber água, e o resultado chama a atenção pela similaridade
com o comportamento humano...”

Correlação verbal:
O autor menciona que, passados 30 dias, os animais tinham sido
estimulados a apertar a alavanca em troca de água, e o resultado chamou a
atenção pela semelhança com o comportamento dos seres humanos.

Exemplo 2:

“... os ratos que se tornaram dependentes de açúcar pressionavam a alavanca


muito mais vezes do que os ratos do grupo de controle, o que sugere
ansiedade e comportamento impulsivo.”

Correlação verbal:
O autor declara que os animais que tinham se tornado dependentes
pressionavam a alavanca de forma mais recorrente do que aqueles do grupo
de controle, fato que sugeriu ansiedade e impulsividade.

3) As vozes verbais e o seu uso como recurso estilístico

Voz é uma forma assumida pelo verbo para indicar a relação entre ele e seu
sujeito na sentença. Nessa relação, o sujeito pode:

a) Praticar a ação expressa pelo verbo.

O soldado feriu o grevista. (voz ativa)

b) Sofrer a ação expressa pelo verbo.

O grevista foi ferido pelo soldado. (voz passiva)

c) Praticar e sofrer a ação expressa pelo verbo.

O soldado feriu-se. (voz reflexiva)

Observe:

Câmara aprova projeto de lei para a aposentadoria. (voz ativa)


Projeto de lei para a aposentadoria é aprovado pela Câmara. (voz passiva
analítica)
Aprova-se projeto de lei para aposentadoria. (voz passiva sintética)

Essas três maneiras de comunicar a notícia têm o mesmo significado, mas não
são equivalentes. Há diferença de enfoque entre elas.
Na primeira, enfatiza-se o agente da ação: a Câmara; na segunda, destaca-se
o objeto da ação (projeto de lei para aposentadoria), deixando-se em segundo
plano o agente; na terceira, dá-se mais ênfase ao ato de aprovar, sem
referência ao agente, que fica indeterminado.

Portanto, o emprego das vozes verbais é bastante sutil, requerendo por parte
do locutor conhecimento das circunstâncias e clareza de objetivo para utilizar a
voz verbal mais adequada. É fundamental também que o leitor conheça essas
sutilezas ao interpretar um texto.

Referências

AZEREDO, J.C. Fundamentos de gramática do português. Rio de Janeiro:


Editora Jorge Zahar, 2000.

Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Curitiba: Editora Positivo, 2010.

FARACO & MOURA. Gramática. São Paulo: Ática, 2007.

FERRAREZI JR, C. O estudo dos verbos na educação básica. São Paulo:


Contexto, 2014.

MACHADO, A.R.; LOUSADA, E.; ABREU-TARDELLI, L. S. Resumo. São


Paulo: Parábola, 2004.

ROCHA LIMA, C. H. Gramática normativa da língua portuguesa. RJ: José


Olympio, 2013.

TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação. São Paulo: Cortez, 2000.

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