Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Universidade Aberta
UNIVERSIDADE ABERTA
1996
Serviços de Documentação
Nº .A�Oo2..(o -
cu A
• \_JCC• O-
4. A Inglaterra Medieval - séculos XIV e XV
Sumário
99
4.1 O contexto político-social
Os séculos XIV e XV evidenciam já alguns dos traços que iriam mais tarde
caracterizar novas formas de organização política e económica, novos
modos de ver o mundo, novas expressões estéticas.
101
Eduardo I ( 1227-1307) procurou afirmar a soberania inglesa sobre o País
de Gales, primeiro, e sobre a Escócia depois. Em 1301 tinha já conquistado
metade do País de Gales e estabelecido um principado, conferido ao seu
filho mais velho, o primeiro Príncipe de Gales nascido em Inglaterra. Na
Escócia, Eduardo I procurou desenvolver uma espécie de Protectorado,
apro veitando uma crise sucessória. Mas a subordinação da Escócia à
coroa
inglesa não iria processar-se pacificamente, nem constitucionalmente. Os
conflitos com os escoceses prolongaram-se ao longo do século XIV, cru
zando-se com idênticos problemas de soberania na Irlanda, onde a explora
ção de recursos por Eduardo I enfraquecera de tal modo a região e criara
tal hostilidade ao regime inglês, que os irlandeses viram com alívio uma
sobe rania escocesa, por esta se opor à inglesa.
c
teira com a Escócia, manter a paz no País de Gales e evitar revoltas na
Irlanda. Estes feitos ficarão a dever-se à inspiração, exemplo e liderança de
ç
Eduardo III e do seu filho, o Príncipe Negro, que personifi"cavam as virtudes
d
da cavalaria queridas à nobreza e admiradas pela sociedade em geral, que
Jean Froissart elogiou rasgadamente nos seus registos dos feitos de cavala A
LI
' Rnlph A. Griffi1hs. «Thc ria mais notáveis do seu tempo, comparando Eduardo III ao rei Artur'.
Ln1cr Middlc Agcs ( 1290- te
-1-185)». in The Oxford
A nível político interno este período. entre 1290 e 1390, foi marcado por e
H1.<1ory o{ Briwi,1. vol. 11.
The i\fidd/e Ages. pp. 82- alguns acontecimentos que se torna indispensável registar por definirem o at
83.
102
_·_tdas relações entre o rei e os seus magnatas, indicando uma progressiva
:_,"terioração das relações pessoais que estruturavam o exercício do poder
·:·_. Poderá constatar-se o recurso, por parte dos nobres, a instrumentos Ie
·':'·s e constitucionais para fazer frente à vontade contrária do rei. Em 1297 e
:soo os nobres invocaram a Magna Carta para se insurgirem contra impos
.flevantados sem o consentimento do contribuinte. Em 1308 o novo rei,
i•;
_as o sucessor de Eduardo II, Eduardo III, será também confrontado com o
,: contentamento dos nobres, dos mercadores e dos Comuns no Parlamento,
_:_ sformado agora no forum onde se processavam os pedidos reais de lan
:\unento de impostos (1339-1343). Nos anos setenta novas crises abalaram
''i,itegime de Eduardo III, quando os Comuns no Parlamento começaram a
pestionar a honestidade e competência dos conselheiros do rei, levando à
'.:- posição de ministros membros do clero. No chamado Good Parliament
:J 1376 os ministros ditos corruptos foram acusados e julgados pelos
,;,,
, amuns diante dos Lords, num procedimento que veio a permitir que, no
_··Juro, os detentores de posições de privilégio e responsabilidade pudes
'. mserpublicamente responsabilizados pelas suas acções- oimpeachment.
103
contrário, ao adiamento da libertação dos sevos. Importa notar que a
autori dade do rei começava a ser questionada pelos nobres, num
crescendo de conflitos que culminaria em 1388 no Meciless Parliament,
em que o rei foi forçado a submeter-se a uma facção de Lords,
precipitando o país numa nova crise política e constitucional.
As casas de Lancaster e ele York, que entre si lutaram pela coroa inglesa no
conflito que ficou conhecido como a Guerra elas Rosas, continuaram a
enfren tar a guerra com a França e a instabilidade interna, gerada pela guerra
civile pelas dificuldades em manter as pretensões de governo sobre Gales, a
Escó cia e a Irlanda. No século XV os sucessivos governos da Inglaterra
iriam cessar as tentativas de manutenção de um overlordship na Escócia,
e veriam enfraquecer o seu domínio sobre a Irlanda, onde prevalecia o poder
dos magnatas locais, como os condes de Ormond ou Kildare. No País de
Gales a paz e o reéonhecimento da soberania inglesa eram também difíceis
de man ter, sendo sempre temida uma revolta galesa, à semelhança da que,
em 1400, foi chefiada por Owain Glyndwr. O descontentamento no País de
Gales po deria, em consequência ela proximidade geográfica e da facilidade
de acesso por mar, tornar o território inglês vulnerável aos seus inimigos
continentais.
105
rios em França, e pelo povo, liderado por um obscuro John ou Jack Cade,
que em 1450 tomou a cidade de Londres durante alguns dias e denunciou a
incompetência e a opressão financeira imposta pelos ministros do rei.
Mas a sorte da casa de York não seria duradoura: embora os últimos anos do
é
governo de Eduardo IV tenham sido relativamente tranquilos, a sua suces
são caberia de novo a um menor, o seu filho Eduardo V, que não chegaria a A
ser coroado. Num país dividido por pretensões rivais, apoiadas pelos gran u
c
des magnates o Duque de Goucester encontrou a oportunidade de usurpar a
c
coroa ao seu sobrinho, que terá mandado executar juntamente com o irmão,
tendo finalmente subido ao trono com o nome de Ricardo III. m
m
A Guerra das Rosas chegaria ao fim com a vitória de Henrique Tudor, conde V
de Richmond, sobre Ricardo III na batalha de Bosworth, em 1485. Mais e
uma vez a coroa seria conquistada por um pretendente com um direito cr
remoto ao trono. Mas Henrique VII tomaria medidas para garantir, não ape p
nas uma sucessão legítima, mas Lambém o fortalecimento de um governo
li
que tenderia já a assumir as características modernas de consolidação do rn
Estado e da Nação. re
11
as
Ju
nhada por um conjunto de mudanças nos planos económico, social, reli- ce
106
''ioso e cultural que indicam uma progressiva tendência para a indi
·:idualização e o consequente rompimento das relações feudais do kinship.
·-: :J:govemo da Inglaterra adquiriu, pouco a pouco, as práticas e as rotinas
--- 'nistrativas que lhe permitiam acção eficaz no levantamento regular de
- postos, na cobrança de taxas alfandegárias, nas questões práticas da
·.erra, na manutenção da lei e da ordem internas. O governo tornou-se coor
çnado, concentrado e sedentário, e Londres e Westminster transformaram
: nos grandes centros administrativos, comerciais e culturais do reino.
)Parlamento começou a reunir com regularidade, a ter funções próprias,
ocedimentos regulamentados e representação permanente dos comuns a
,- ·r de 1337.
/,
J>s planos económico e social, assistiu-se ao gradual desaparecimento do
·, nor feudal, à medida que os serviços eram comutados em dinheiro.
,.._este Negra, em meados do século XIV, ao dizimar cerca de um terço da
;> pulação da Inglaterra, contribuiu também para a alteração das relações
i'*eiais e para o desaparecimento gradual da servidão rural: a escassez de
"'"o-de-obra terá levado ao recurso do trabalho pago, e ao progressivo
,·belecimento de uma classe intermédia, de pequenos proprietários e de
·oalhadores livres, que começaram a colmatar a imensa distância social do
dalismo, entre os proprietários e os vilões. O yeoman independente,
'ltivamente próspero, bem humorado e excelente archeiro tornou-se um
'itivo constante nas baladas inglesas desde a Guerra dos Cem Anos até à
bca Stuart3. 1
G. M. Trevelyan. E111-:lish
,,' Social History: A S111Tey of
J ndência para a progressiva libertação dos servos e para o crescimento de Six Ce11t11ries. Chaucer
to Queen Victoria,
):,classe intermédia de pequenos proprietários livres, para a qual as expli Harmonds worth, Penguin.
••,ij_es populacional e económica iluminam apenas um segmento de um pro 1967, p. 24.
107
entre os leigos surgem expressões de misticismo, como no Book
ofMargery Kempe, a autobiografia espiritual de uma burguesa de Lynn, que
exemplifica as virtudes que os leigos - homens e mulheres - devem
procurar, e as revelações, visões e êxtases através dos quais as alcançarão. O
duque de Lencastre, Henry, escreveu em 1354 um livro de devoção em
francês, e a mãe de Henrique VII, Margaret Beaufort dedicou-se a uma
intensa vida espiritual, talvez como reacção à aridez das discussões e
debates teológicos dos scholars.
l08
'éâal e terrena da Igreja com a vida e os hábitos das popu]ações. No século
·xiv os monarcas ingleses começaram, inclusivamente, a adoptar
medidas 1,que, claramente, limitavam a jurisdição da Santa Sé em alguns
assuntos ecle
;:siásticos.
lü9
i
The Callterbury Tales (redigidos entre 1386-1400, mas nunca completados)
revelam já a variadíssima gama de potencialidades do inglês como língua
de literatura. Chaucer, que conhecia bem a literatura francesa e italiana, o
Roman de la Rose e as obras de Dante, Petrarca, Boccaccio ou Froissart,
acrescenta a essas influências uma nota tipicamente inglesa, o sentido de
humor. Ao lado de Troylus alld Criseyde ( 1380-1385), este poema
alarga decisivamente o nível e o âmbito da poesia em língua vernácula,
acrescen
tando à riqueza e diversidade do pensamento um domínio do idioma em
todas as suas variedades.
110
A última fase da arquitectura medieval inglesa, o estilo Perpendicular,é
um desenvolvimento de um dos aspectos do Decorated. A decoração
torna-se mais rectilínea, mas continua a cobrir a superfície arquitectónica; as
janelas são muito maiores, as paredes cobertas pelos mesmos elementos
rectilíneos usados nas janelas, as abóbadas são desenhadas em padrões mais
rectos e quadrangulares. As bases e os capitéis são facetados e os arcos vão-
se aba tendo gradualmente até tomarem a forma quadrangular. Sendo
raramente de grandes dimensões, os edifícios do gótico perpendicular são
leves, abertos, arejados, esguios. A ornamentação em leque é também
própria deste estilo, de que os exemplos mais conhecidos e de
extraordinário equilíbrio e execu ção são a Capela do King's Colledge em
Cambridge e a ala este da catedral de Peterborough.
111