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INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ, Campus ITAPIPOCA

DEPARTAMENTO DE ENSINO
COORDENADORIA DA LICENCIATURA EM MÚSICA
PROFESSORA: LIA RAQUEL MONTEIRO SANTOS VENTURIERI
DISCIPLINA: PRÁTICA INSTRUMENTAL II - CANTO

KÊNIA BRAGA MOURA

ITAPIPOCA - CE
NOVEMBRO DE 2022
O questionamento sobre a produção da voz é um assunto que surgiu desde a
Antiguidade. Além disso, Salomão (2008) afirma que na Antiguidade os fenômenos
naturais eram atribuídos à religião, consequentemente, o enigma da produção da voz
estava diretamente relacionado à religião. Salomão (2008, p. 14) relata:
Na antiguidade os fenômenos naturais eram vistos como religiosos ou
sobrenaturais. No Egito antigo, por exemplo, atribuía-se um poder mágico
aos pulmões, o qual poderia ser mesmo utilizado como uma espécie de
amuleto para espantar o mal. Não se sabia ainda da conexão entre o ar
proveniente dos pulmões e a produção do som vocal.

Já na Grécia Antiga, Salomão (2008) descreve que esse conhecimento era


explicado não através de crenças religiosas, mas de observações. Um dos observadores
da produção vocal que a autora faz referência é Hipócrates. De acordo com Salomão
(2008, 14): “Hipócrates especulou que tanto pulmões como traquéia exerceriam papel
na produção da voz, e que lábios e língua estariam envolvidos na articulação das
palavras”.
Salomão (2008) retrata que na Renascença o primeiro a trazer informações
inéditas a respeito da anatomia, fisiologia e patologias da voz humana foi Leonardo da
Vinci. Além disso, Salomão (2008, p. 16) afirma que foi também nesse período que deu
início ao movimento chamado bel canto, ou belo canto, escola italiana caracterizada
basicamente pelo virtuosismo vocal no canto solo.
Em relação aos registros vocais, Salomão (2008, p. 18) afirma que o
primeiro a citá-los foi Lodovico Zacconi, maestro de cappela:
Em seu escrito, ao referir-se à necessidade de unidade entre timbre vocal de
coralistas treinados e não treinados, o maestro faz referência à voce di petto
(voz de peito) e à voce di testa (voz de cabeça), recomendando aos cantores
que preferencialmente utilizassem as vozes de peito, de maior “deleite” se
comparadas às vozes de cabeças, “chatas” e “irritantes”. Ele observou que
alguns cantores caminhavam de uma voz para outra, mas que o melhor seria
mesmo permanecer na voz de peito, mais poderosa e de “melhor entonação”.

Salomão (2008, p. 20) continua relatando aspectos relacionados aos


registros vocais. Assim, a autora relata que de acordo com o eunuco Pierfrancesco Tosi:

Tosi referiu recomendar aos cantores que aprendessem a cultivar a boa


produção de ambos os registros, para que fossem os mesmos devidamente
utilizados nas situações apropriadas, e para que o canto não tivesse que se
restringir a umas poucas notas musicais mais graves.

Salomão (2008, p. 21 e 22) declara que foi o alemão J.E. Galliard que criou
a teoria de uma existência de três registros vocais de voz masculina, na qual a voz de
cabeça e a de falsete passariam a ser considerados dois registros distintos.
Salomão (2008) afirma a tese que essas e outras conclusões advindas de
professores, cantores e maestros eram resultados de experiências e sensações causadas
durante a emissão do canto. Além disso, os termos utilizados também seriam resultados
de sensações e não somente de estudos anatômicos.

Não seria de se estranhar, portanto, que os diferentes nomes atribuídos às


“diferentes vozes” normalmente expressassem alguma espécie de relação de
semelhança entre as sensações decorrentes dos diferentes modos de produção
de voz e a qualidade vocal resultante. Sendo assim, sensações de vibração,
por exemplo, nas regiões da frente, lados e/ou topo da cabeça, comumente
associadas à emissão de sons canados na região mais alta de pitch, eram
interpretadas como decorrentes do “posicionamento”, propriamente dito, da
voz nessas regiões, como se a voz “estivesse vindo” da cabeça, vindo a
constituir, portanto, a voz chamada “voz de cabeça”.

Ao continuar defendendo que os pesquisadores citados faziam experimentos


em si próprios, Salomão (2008, p. 26) descreve que o professor de canto Manuel Garcia
II “explorou sua própria laringe e a de alguns de seus alunos por meio de um
laringoscópio constituído por um pequeno espelho fixado no final de um cabo
comprido, a ser posicionado na garganta” Salomão (2008) finaliza afirmando que
Garcia concluiu que há três vozes, são elas: peito, médio e cabeça. Desse modo, é
notório que a observação era participativa e que a percepção não era somente vista e
ouvida, mas também sentida, e que as sensações que ocorriam eram explicadas em
relação aos aspectos fisiológicos dos músculos intrínsecos da laringe.

REFERÊNCIA:

SALOMÃO, Gláucia Laís. Registros Vocais no Canto: Aspectos perceptivos,


acústicos, aerodinâmicos e fisiológicos da voz modal e de falsete. 2008. Tese de
Doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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