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1
ARQUÉTIPOS E TIPOLOGIAS
VETOR
São Paulo, 2013
2
Copyright
Ficha catalográfica
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4
SUMÁRIO - O MAPA DA NOSSA VIAGEM
Apresentação 7
Capítulo 1 – Introdução 10
Conclusões
Referências Bibliográficas
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Apresentação
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Darcy Ribeiro, o antropólogo, fala de seu encontro com Anísio Teixeira que,
junto com Paulo Freire, se tornou em mito da educação brasileira. “São gregos, dizia
Anísio a toda hora”, ao ouvir as histórias dos Tupinambás contadas por Darcy. O
que Anísio já constatava é o fato defendido por Jung de que os mitos são os sonhos
do nosso inconsciente coletivo, que compartilhamos com todos os seres vivos,
desde “a primeira alga a surgir no mar”.
Se como os gregos hilozoístas acreditarmos que “tudo tem vida”, e que a vida
anima até a pedra, então estaríamos falando do que Hilmann, discípulo de Jung,
chamava de Anima Mundi.
Joseph Campbel já nos mostrou o caminho para resgatar esse “inconsciente
coletivo” de que nos fala Jung. Coletar histórias, mitos, sonhos coletivos, recontados
de mil maneiras em função de tempo e espaço, que resgatam o não registrado pela
história.
Este livro nasceu em um conjunto de disciplinas que os autores ministraram
no Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, na
Universidade Federal de Santa Catarina: Gestão de Si mesmos; Gestão de Equipes
Criativas e Organizações Arquetípicas. Nestas, explorávamos as aplicações práticas
de uma hermenêutica junguiana para compreender empresas, equipes de alto
desempenho e nós mesmos.
O curso que damos sobre Psicologia e Criatividade, no Pós Graduação em
Design, é todo suportado pela Psicologia Profunda de Jung, que temos como um
diferencial. Da compreensão do que seja criatividade até a compreensão de nós
mesmos.
Falaremos sobre a estrutura arquetípica das histórias, o design arquetípico de
personagens além de marketing, marcas e branding arquetípicos. Tratamos disso
nos cursos de graduação em Design Gráfico, Design de Produto e Design de
Animação.
Temos os “Simpson” e a tipologia de cada um dos personagens da série. O
Senhor Fantástico, representando os Racionais; a Mulher Invisível, os Idealistas; o
Coisa, Guardião; e o Tocha representando os Artesãos. Sex and the City, as quatro
casas de Hogwartz de Harry Potter, tudo, consciente ou inconscientemente
associado à psicologia profunda. Esse quatro parece um padrão pitagórico, um
arquétipo com certeza. Os autores ficaram impressionados como o mesmo se repete
ao longo do livro.
8
Acompanhamos teses usando este referencial sobre o estudo das lideranças,
organizações arquetípicas1 incursões na área de marketing, gestão de marcas,
semiótica, orientação profissional, etc.
Esse livro serve de introdução para muitos outros que virão a seguir. Uma
série de doze, quem sabe. Afinal doze é um número mágico, o quatro (água, terra,
fogo e ar) de que Jung gostava tanto, multiplicado pelos três elementos alquímicos,
o sal o enxofre e o mercúrio.
Jung dizia que “o encontro com a sombra é obra de aprendiz, enquanto o
encontro com a ânima é obra prima”.
Somos cavaleiros em busca do Santo Graal, alquimistas em busca da pedra
filosofal, meditadores a procura de iluminação. A grande obra é a construção de nós
mesmos, seres infinitos, projetos sempre inacabados. Que obra de arte é o homem
refletia Hamlet.
É a esta obra, o caminho para a construção do si mesmo, a jornada em
direção ao self, que o presente livro convida o leitor.
Trata-se, que ousadia, de um livro iniciático.
11
Tese de doutorado da Ermelinda sob a supervisão do Fialho (embora o Fialho tenha aprendido mais sobre Jung
do que a, então sua aluna, já apaixonada pelo mestre de longa data)
9
Capítulo 1
Introdução
“A psicologia de tipos específicos de caráter até o momento mal começou a ser
esboçada”. (William James, 1902)
O ser humano não sabe lidar com o aleatório. Diante do acaso buscamos a
causa. Olhamos para as nuvens e não só imaginamos-criamos formas como somos
capazes de mostrá-las a outros.
Desde tempos remotos, a diversidade comportamental nos tem preocupado.
Dedicamos grande parte do nosso tempo especulando e pesquisando em buscas de
ilhas de estabilidade, símbolos capazes de sintetizar, agrupar. Na tentativa de
entender melhor o nosso comportamento, assim como o de nossos semelhantes,
começamos a classificar as pessoas, de acordo com suas semelhanças e
diferenças, originando, assim, os sistemas tipológicos.
Tais sistemas constituem-se em modelos característicos de uma atitude geral
que se manifesta em muitas formas individuais. Quando esses sistemas tipológicos
estudam os temperamentos das pessoas, temos os tipos psicológicos que
representam maneiras pelas quais as pessoas selecionam e organizam as
informações que recebem do ambiente externo, formam as suas ideias e tomam
decisões. Os tipos, assim, caracterizam as pessoas quanto a interesses,
preferências e habilidades.
Partindo de revisões históricas e observações empíricas, no início do século
XX, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) desenvolveu um sistema de
tipologia psicológica fundamentado em 20 anos da sua experiência como médico
psiquiatra, que culminou na publicação da obra “Tipos Psicológicos”2. Nesse
sistema, Jung agrupava as pessoas em oito tipos, cada um com a sua maneira
própria de temperamento.
Em paralelo ao trabalho de Jung, na Suíça, duas pesquisadoras americanas,
na década de 40, Katherine Cook Briggs e Isabel Briggs Myers, resolveram estudar
em profundidade o modelo criado por Jung concluindo que o mesmo podia ser
aplicado a um grande número de pessoas.
10
Desta cuidadosa análise resultou a ampliação do modelo junguiano para 16
tipos e a criação de um instrumento psicométrico chamado de MBTI, utilizado para
determinar os tipos psicológicos das pessoas.
A partir do trabalho das pesquisadoras citadas, o inventário começou a ser
utilizado sistematicamente em vários estudos realizados nos Estados Unidos e em
outros países, o que contribuiu para uma maior fundamentação (validação) do
modelo tipológico junguiano.
O objetivo deste livro é construir uma estrutura de referência para ampliar o
nosso entendimento sobre o modelo tipológico Junguiano. Esta estrutura foi formada
a partir da revisão histórica do pensamento tipológico, associada às ideias de Carl
Gustav Jung e de Myers e Briggs sobre os tipos. Procuraremos demonstrar o
modelo teórico tipológico junguiano, dando informações sobre cada tipo psicológico
em um primeiro momento, para depois exemplificarmos de que maneira podemos
utilizá-los na prática.
Figura I.1 Pintura rupestre gruta de Lascaux, França, produzidas entre 15.000 e 13.000 a.C.
Fonte: Perassi, R. (2005)
2
Editado inicialmente em 1921
11
Ao fim deste livro, sob a forma de “apêndice”, o leitor encontrará vários testes
que o ajudarão a se identificar com os tipos e arquétipos que serão citados ao longo
deste livro. Sintam-se a vontade para fazê-los e refazê-los ao longo da leitura.
Somos uma multidão. Estes teste nos permitirão compreender um pouco mais as
nossas infinitas sub personalidades, inclusive a que denominamos por “ego”.
12
Capítulo 2
3
Veja Scientific American, novembro de 2006 Arqueo Astrologia e as tábuas MULANI
13
Embora a astrologia não seja considerada como ciência, sua influência é
inegável. Será que nos comportamos de acordo com os “astros” “de fato”, ou será
que nossa crença de que nos comportamos de acordo com os astros provoca o
processo de identificação que temos com os nossos signos, ascendentes e posições
lunares fazendo com que acreditemos que assim seja? Inegável, de qualquer forma,
é a importância em termos de conhecimento popular da crença quanto à capacidade
dos astros de influenciar as ocorrências em nosso cotidiano.
4
O calendário lunar foi introduzido por Huang Ti e é considerado o mais antigo registro cronológico na história.
Um ciclo completo deste calendário abrange sessenta anos e se compõe de cinco ciclos simples de doze anos
cada, cada ano chinês, portanto, composto de doze luas novas. A cada doze anos, se adiciona uma lua a mais,
passando esse ano específico a ter treze luas novas. É por essa razão que o dia de início do ano novo chinês
nunca é igual.
5
A escolha desses animais ocorreu de acordo com uma lenda. Conta a lenda que antes do Senhor Buda deixar a
Terra, convocou todos os animais para virem até Ele. De todos os animais, somente 12 compareceram. Como
retribuição à consideração destes a Ele, Buda nomeou os anos com o nome dos animais que compareceram e o
fez de acordo com a ordem de chegada: Rato, Búfalo, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco,
Galo, Cachorro e Javali.
14
Já a astrologia do Antigo Oriente, principalmente a mesopotâmica,
considerada ainda mais antiga do que a chinesa, teve a sua origem há
aproximadamente três mil anos.6 Esse sistema tipológico, baseava-se na ideia de
que a natureza era constituída de quatro elementos, a saber: água, terra, fogo e ar.
Podemos compreender a teoria dos quatro elementos como uma espécie de física
primitiva, que tentava buscar revelar uma “ordem” no mundo, relacionando tudo com
tudo o mais que existe por uma categorização por analogias. O Cosmos, nessa
visão, existia pelo funcionamento harmonioso da interação entre os quatro
elementos.
A intersecção entre a teoria dos quatro elementos e a observação dos astros
no céu predominava no sistema astrológico do Antigo Oriente, no qual cada
elemento estava associado a um grupo de três signos do zodíaco. Dessa forma, os
signos de Gêmeos, Libra e Aquário estavam associados ao elemento Ar; os signos
de Áries, Leão e Sagitário estavam associados ao elemento Fogo e os signos de
Câncer, Escorpião e Peixes estavam associados ao elemento Água. No sistema
astrológico zodiacal descrito acima, a constelação imperante na hora do nascimento
da pessoa influenciaria o temperamento e destino correspondentes desta. A
influência seria determinada pelo signo astrológico, assim como pelo elemento
correspondente ao signo.7
Da Babilônia a astrologia foi levada à Grécia, por filósofos que lá estudaram,
e que acrescentaram sofisticações de cunho mais racional ao modelo. A tipologia
dos quatro elementos, assim, foi incorporada pelos médicos e filósofos gregos, que
criaram a teoria fisiológica dos quatro humores.
A teoria dos humores, desenvolvida por Empédocles e Hipócrates, partia da
premissa de que todas as substâncias da natureza eram formadas pela combinação
dos quatro elementos básicos irredutíveis (água, terra, fogo e ar). Esses elementos,
ao entrarem na composição do corpo humano formavam os “humores”: sangue,
fleuma, bílis amarela e bílis negra. Se estes elementos estivessem misturados de
uma forma equilibrada haveria saúde. No entanto, se houvesse falta ou excesso de
algum deles, ocorreria doença.
6
O documento astrológico mesopotâmio Namar Bel atribuído a Sargão, foi encontrado na biblioteca de
Assurbanipal (668-626 a.C) em Nínive, supostamente de 3000 a.C.
7
C. G. JUNG, Tipos Psicológicos, edição de 1991.
15
A ideia de saúde ligada ao equilíbrio e de doença ligado ao excesso ou a falta
na produção de “algo” (neurotransmissores, proteínas, etc.) permanece até hoje.
Por fim, Galeno, baseado em Hipócrates, acreditando que a depender do
predomínio de um dos quatro humores físicos encontraríamos quatro tipos diferentes
de temperamento no indivíduo, criou um sistema tipológico baseado no
comportamento emocional da pessoa. Galeno acreditava que não eram as estrelas
ou os deuses que determinavam o comportamento das pessoas, mas o predomínio
de um de seus quatro fluidos ou “humores” em circulação no corpo. Se
predominasse o sangue, teríamos o tipo sanguíneo, de reações rápidas e débeis e
temperamento extrovertido, otimista e divertido; se predominasse a fleuma, teríamos
o tipo fleumático, de reações fracas e lentas e temperamento pacífico, passivo e
calmo; se predominasse a bílis amarela, teríamos o tipo colérico, de reações rápidas
e intensas, com temperamento apaixonado, obstinado e se predominasse a bílis
negra, teríamos o temperamento melancólico, de reações lentas e intensas,
temperamento triste, com tendência à depressão.
A tipologia galênica teve o mérito de persistir por 1800 anos8, assim como a
medicina preconizada por este cientista. No século XVI, ainda era ensinada na
maioria das faculdades de medicina.
Antes de Galeno, ainda na Grécia, Platão descreve na “República” quatro
tipos de caráter, que correspondem aos temperamentos da tipologia hipocrática-
galênica: artesão, guardião, idealista e racional. Cada tipo de caráter platônico tinha
um papel específico na sociedade (artes; defesa; moral e investigação lógica).
A tipologia hipocrática-galênica se tornou dominante até a Idade Média,
quando foi relegada à escuridão, sendo redescoberta na Europa Renascentista.
8
Ibid.
16
Na encenação medieval os tipos eram empregados na composição de
personagens. Seu comportamento era típico de sua nacionalidade, função ou classe
social: o padeiro, o alfaiate, a cigana, o padre, dentre muitos outros. A composição
de personalidades individuais só acontecerá mais tarde como formulação
renascentista.
No Renascimento, mais precisamente no período compreendido pelos
séculos XVI e XVII, que os historiadores da ciência denominam de "período da
revolução científica", as preocupações intelectuais se sobrepuseram às exigências
espirituais e dogmáticas.
O imenso apetite de cultura inverteu os limites impostos pela fé dos séculos
precedentes. O mundo dos intelectuais começou a ganhar corpo, com uma
retomada de admiração pelas antigas obras pagãs, um desejo de usufruir os bens
presentes e um otimismo sorridente para o futuro.
Houve um período de grande efervescência intelectual e artística, pelo desejo
de demolir tudo o que viera do passado, pela redescoberta do saber greco-romano
liberto, enfim, da fechada interpretação do cristianismo medieval. Acompanhando
esse movimento científico, médicos, filósofos, escritores e novelistas retomaram a
ideia dos quatro temperamentos, destacando-se a tipologia desenvolvida pelo
médico vienense Paracelso.
Paracelso, em meados do século XVI, propôs um sistema tipológico
semelhante aos modelos sistematizados por Galeno e Platão, classificando as
pessoas como Salamandras (instáveis e impulsivas); Gnomos (trabalhadoras e
cautelosas); Ninfas (inspiradas e apaixonadas) e Silfos (curiosas e calmas).
Outro sistema tipológico popular na Europa do século XVI, a fisiogonomia ou
biopsicotipologia, tentava correlacionar Anatomia e Psicologia. Esse modelo
tipológico, que buscava deduzir características psíquicas a partir de traços
anatômicos, e vice-versa, teve como precursor Aristóteles. Este filósofo grego
acreditava ser possível julgar a natureza dos homens e animais com base na forma
do corpo. Afinal bicos teriam funcionalidades específicas, independente do tipo de
ave que os tivesse. Como exemplo, Aristóteles citava o leão, que é corajoso e tem
grandes extremidades, deduzindo daí que um homem com pés grandes e fortes
seria igualmente corajoso.
17
O tema foi mais tarde retomado por Della Porta, que em 1586 publica seu De
humana phisiognomonia, onde faz correlações entre as faces de animais e rostos
humanos, deduzindo daí semelhanças de temperamento e comportamento. O
princípio no qual ele se baseava era a hipótese da existência de uma sabedoria
divina organizadora que se revelaria nas formas dos homens, dos animais, das
plantas e até dos corpos celestes.
No século XVII, outro modelo de tipologia surgiu, descrito pelo autor francês
La Bruyère, com base em estereótipos sociais. A partir da obra do grego
Teophastrus, La Bruyère fez uma reflexão sobre o comportamento humano na
sociedade da corte francesa do século XVII.
Diferente da tipologia psicológica do século XX, que observa a variabilidade
comportamental dos indivíduos a partir das suas características essenciais, a
tipologia de La Bruyère considerava o indivíduo no seu contexto social, nas suas
relações com os outros.
A obra desse autor nasceu da necessidade vital que a sociedade da corte do
rei Luiz XIV tinha de observar as pessoas. Essa arte de observar a atitude das
pessoas contribuiu para a elaboração do seu modelo tipológico, baseado nas
normas de comportamento social. A partir de personagens de diversos estilos como:
o homem rico, o camponês, o homem soberbo, o comilão e outros, La Bruyère
descrevia indivíduos com diferentes tipos de temperamentos.
No final do século XVIII, houve uma revalorização da fisiogonomia, através
dos trabalhos de um dos grandes representantes dessa arte: o padre suíço Johann
Casper Lavater. A obra de Lavater, considerada mais artística do que científica,
influenciou uma grande parte dos artistas retratistas do seu século e do século
seguinte.
O foco centrado no corpo humano repercutiu em outra tipologia que vigorara
na época: a frenologia. Esse modelo tipológico, criado pelo médico Franz Joseph
Gall atribuía uma localização cerebral para as atitudes e tendências do homem.
Cada atitude e tendência tinha a sua origem em partes independentes do cérebro,
estas chamadas por Gall de “órgãos”. A composição e desenvolvimento dos
“órgãos” eram responsáveis pelo formato particular da caixa craniana de cada
indivíduo. O estudo do formato do crânio propiciava, então, o conhecimento de
determinados traços de personalidade dos indivíduos.
18
O sistema de Gall foi formulado em 1790 e obteve muito sucesso na Europa
até que, na metade do século XIX, começou a ficar desacreditado como ciência,
sendo associado a charlatanismo.
A responsabilidade por esse descrédito se deve, no entanto, a má fé de falsos
cientistas que se apropriaram do sistema de Gall para apoiar suas crenças absurdas
quanto à superioridade do homem sobre a mulher, do homem europeu sobre os
bárbaros estrangeiros, manipulando e forjando dados e experimentos.
No século XIX, também foi criada a Antropologia Criminal, um sistema de
classificação tipológica, aplicado à área criminal. Esta tipologia, concebida por
Cesare Lombroso postulava que o criminoso nato apresentava determinadas
características físicas e mentais, que o distinguiam da população normal.
A partir do século XIX todos os ramos da ciência sofreram grande
desenvolvimento. Foi a época do surgimento das sociedades científicas
especializadas. As tipologias de temperamento acompanharam esse progresso
científico.
As teorias modernas sobre tipologias de temperamento, pertinentes ao século
XX, podem ser agrupadas em três classificações:
19
A sua classificação divide os indivíduos em quatros grupos, conforme descrito
no quadro II.1:
1 - Viscerotônico
Físico: Endomorfia: predomínio de formas arredondadas e macias, além de um
maior desenvolvimento das vísceras digestivas.
Psíquico: Viscerotonia: gosto pelo conforto físico, prazer em comer,
sociabilidade, tendência ao romantismo e ao melodrama. São pessoas
extrovertidas, tolerantes, ávidas de afeto, com reações lentas.
2 - Somatotônico
Físico: Mesomorfia: predomínio do tecido ósseo, muscular e conectivo.
Apresentam corpo pesado, firme e retangular.
Psíquico: Somatotonia: tendem à imposição e coersão, gostam de atividades
enérgicas, do poder e de correr riscos. Apresentam muita coragem física. São
pessoas que gostam de aventura, do risco e do exercício físico. São
extrovertidas, alegres, às vezes agressivas e competitivas. Precisam de ação.
3 - Cerebrotônico
Físico: Ectomorfia: predominam formas lineares e frágeis, possui maior
exposição sensorial, maior sistema nervoso e maior cérebro em proporção ao
corpo.
Psíquico: Cerebrotonia: tendem ao retraimento e ao isolamento, inibidos e
tímidos, preferem atividades intelectuais. São pessoas introvertidas que gostam
de intimidade. Precisam da solidão.
Quadro II.2: Características dos tipos propostos por Sheldon.
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Capítulo 3
O modelo Junguiano da psique
9
Jung, Correspondência completa.
23
Arquétipo deriva do grego “arché”, substância primordial, e typós, impressão,
marca. Os arquétipos dariam à psique a capacidade de formar as mesmas imagens,
reagindo de modo sempre semelhante a circunstâncias dadas. Isto explicaria a
semelhança de imagens nas mitologias de todos os povos.
Para Jung, o que chamamos de psique não pode ser reduzida apenas à
esfera consciente, conhecida por nós. Existe uma parte complexa da psique que nos
é desconhecida, mas nos afeta de imediato. Esse aspecto desconhecido, chamado
de inconsciente, sempre esteve presente no homem, desde a antiguidade.
10
Seneferu ou Snefru foi o primeiro faraó da IV Dinastia (2.630 a.C. 2.609 a.C.?). Pai de Khufu, mais
conhecido em português como Quéops, associado à grande pirâmide de Gizé.
11
T. O. SPALDING, Dicionário de Mitologia Egípcia, Sumeriana, Babilônica, Fenícia, Hurrita, Hitita e Celta,
1995.
24
Essa capacidade de criar histórias e mitos faz parte da natureza humana,
estando presente não só no homem antigo, mas em nós, homens modernos. Os
acontecimentos naturais mitificados, não são nada mais que expressões simbólicas
para o drama interior e inconsciente da psique, drama que, no caminho da projeção,
isto é, espelhado em acontecimentos naturais, torna apreensível a consciência
humana.
12
C. G. JUNG, A natureza da Psique, 1998
25
A partir dessas reflexões, o estudo da nossa dimensão psíquica
desconhecida, inconsciente, tornou-se o foco principal das pesquisas de Jung,
sendo o pilar de sustentação de sua teoria, núcleo em torno do qual o seu modelo
psíquico foi construído.
No decorrer das suas observações empíricas, no entanto, Jung percebeu que
havia uma camada ainda mais profunda do inconsciente, formada por conteúdos
que nunca haviam sido conscientes, ou seja, o inconsciente não era apenas um
depósito do passado do indivíduo e sim fonte de situações psíquicas futuras. Nessa
categoria estão as coisas que se formam dentro de nós e somente mais tarde
chegarão à consciência. Essa observação o levou à descoberta do inconsciente
coletivo.
Como exemplo, Jung 13 cita o caso do químico alemão Kekulé (século XIX). O
referido cientista refere que quando pesquisava a estrutura molecular do benzeno,
sonhou com uma serpente que mordia o próprio rabo. O sonho fê-lo concluir que
esta estrutura referia-se a um círculo fechado de carbono, o que possibilitou a
descoberta da estrutura do benzeno.
13
C. G. JUNG, O homem e seus símbolos, 1996.
26
As imagens arquetípicas ocupariam a região do ultravioleta enquanto instintos
e padrões de comportamento equivalentes, ao infravermelho. O arquétipo estaria
presente na região do ultravioleta como imagem e, na esfera do infravermelho como
padrão de comportamento ou instinto correspondente.
I –Consciente
Consciência
(EGO)
EGO II –Inconsciente
Inconsciente pessoal Pessoal
(COMPLEXOS)
Dessa forma, em termos sintéticos, para Jung a psique é composta por três
(03) camadas concêntricas (semelhantes à face interna de uma cebola), assim
distribuídas: consciência, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. Podemos
observar a disposição dessas camadas na figura III.4:
27
Peirce (da Semiótica) já insistia em que as teorias da continuidade seriam
mais adequadas que as teorias de telepatia para descrever fenômenos hoje
entendidos como anômalos. Tudo estaria conectado com tudo. Imanência e
transcendência;
Consciência (Ego)
14
A energia psíquica para Jung é um conceito equivalente à libido da Psicanálise. Freud utilizou o termo libido
para referir-se à energia psíquica vital, tendo a sexualidade como fonte primária dessa energia. Para libertar a
energia vital de uma definição muito estreita, Jung retirou a conotação eminentemente sexual da libido,
atribuindo-lhe um sentido mais amplo. A partir da concepção de Schopenhauer sobre vontade, Jung utilizou o
termo libido para referir-se a vários impulsos psíquicos, sendo a sexualidade apenas um dentre outros ramos da
vontade ou força vital mais genérica. A palavra libido foi substituída posteriormente por Jung pelo termo
“energia psíquica”.
28
O ego pode ser comparado a um espelho que reflete a nossa psique. Os
conteúdos do inconsciente, para serem conhecidos, precisam ser captados pela
superfície refletora do ego. Este é um “sujeito” a quem os conteúdos psíquicos são
“apresentados” e é o responsável pela retenção de conteúdos na consciência. Se o
ego deixa de refletir determinados conteúdos, estes irão se retirar para o
inconsciente. Como ele é o gerenciador da consciência, é a estrutura psíquica
responsável pela tomada de decisões, fixando prioridades e mobilizando energia
física e emocional necessárias para o cumprimento de tarefas.
29
Os complexos, portanto, correspondem a unidades funcionais que fazem
parte do inconsciente pessoal. Essas unidades são constituídas por sensações,
representações e emoções. Esses três componentes estão tão unidos, que
geralmente aparecem juntos na consciência. Existe a possibilidade de que um
número razoável de tais componentes compartilhe de uma determinada tonalidade
afetiva, de maneira que esse afeto funcionará por sua vez como um vínculo de união
entre eles.
Os complexos, assim, se formam devido ao
agrupamento de conteúdos inconscientes, que se
juntam em torno de uma carga emocional
compartilhada, formando constelações. Eles
correspondem a entidades psíquicas inconscientes
carregadas de emotividade, feitas de várias ideias e
imagens associadas e agregadas ao redor de um
núcleo central. Ao investigar este núcleo, ele se
revela como imagem arquetípica.
Figura III.7 – Frida Kahlo, As duas Fridas
Fonte: Perassi, Richard (2005)
Todos nós temos complexos de vários tipos e, à medida que crescemos e nos
desenvolvemos, esses complexos se tornam conscientes para nós. A esquizoanálise
defende a importância de uma gestão adequada destes complexos e não o seu
mero bloqueio por algum ego tirano.
30
Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora."
Álvaro de Campos
Heterônimo mais atribulado de Fernando Pessoa
31
No entanto, quando atua negativamente, o arquétipo manifesta-se como
rigidez, fanatismo e possessão. Como exemplo, pode-se citar o caso do Nazismo
alemão, quando a imagem arquetípica de Wotan, deus da mitologia germânica, foi
reativada através de Hitler, desencadeando um estado de possessão guerreira,
culminando em uma espécie de psicose coletiva.
32
Eles fazem a religação do homem com o sagrado, dando significação à vida.
Como exemplos de imagens arquetípicas temos os mitos, contos de fada, temas e
imagens dos sonhos.
O conhecimento mais aprofundado destas
imagens arquetípicas (símbolos) permite um
conhecimento mais profundo de nós mesmos,
pois estes símbolos representam aspectos da
nossa personalidade, que podem ou não estar
ativados (agindo em nós), em determinado
momento, a depender das circunstâncias de vida
e predisposição individual. Quando ativos
(energizados ou desenvolvidos) ou, para usar uma
terminologia junguiana, constelados realizam uma
função estruturante na personalidade,
“modelando” a mesma e definindo o modo como
vemos o mundo.
Figura III.9 – Gustav Klint, Hygeia
Fonte: Perassi, Richard (2005)
Consciência (EGO)
Corpo Físico
Inconsciente Pessoal
Mônada Quântica
Inconsciente Coletivo
Arquétipos
Corpo Temático
Corpo Psicóide
Outras Possibilidades
33
O inconsciente pessoal com seus complexos fala de nossas viagens junto
com o Sistema Solar. Aqui e agora somos iluminados por Galáxias – Arquétipos, que
nos constelam, ainda que filtrados pelas nuvens e desvios provocados pelos
complexos – apoios – tropeços em nossa jornada, nosso corpo mental.
Do encontro do EGO com o Self brota a criatividade, a possibilidade de nos
movermos dentro do Universo trazendo a emergência de novas possibilidades.
Mas isso, ainda, é apenas uma pálida imagem do desconhecido, do ignoto,
início apenas da fascinante jornada rumo ao autoconhecimento.
34
Capítulo 4
Arquétipos, Mitos e Hermenêuticas
35
Do ponto de vista individual, o conhecimento do ser humano se dá por
intermédio de suas manifestações subjetivas, como sonhos, fantasias e sintomas.
Do ponto de vista coletivo, o conhecimento do humano se dá por suas
manifestações coletivas, isto é, culturais, tais como na mitologia, no folclore, na arte,
nos eventos históricos e sociais.
Quanto à perspectiva metodológica: na apreensão e compreensão dos
fenômenos usa-se a mitohermnêutica. Os métodos qualitativos de investigação
compreendem duas grandes etapas: Coleta de material ou apreensão dos
fenômenos a serem investigados e; Análise do material ou compreensão dos dados
coletados.
Os recursos que empregamos para acessar o material inconsciente incluem,
dentre outros: sonho, fantasia dirigida, imaginação ativa, relaxamento, meditação,
desenho, pintura, expressão corporal, dramatização, sandplay.
O pensamento simbólico empregado na mitohermenêutica opera por
associações, comparações e analogias entre diversas áreas do conhecimento e
entre as diversas funções da consciência.
Para Jung o sonho “é uma auto-representação, em forma espontânea e
simbólica, da situação atual do inconsciente. A mais frequente e mais importante
manifestação do mecanismo psíquico de formação de símbolos”. Compreender o
processo onírico implica, portanto, a investigação de múltiplos e variados aspectos,
“envolvendo a totalidade de uma pessoa, e não somente o seu intelecto”.
A técnica permitiu a Jung perceber a recorrência de determinados “temas ou
elementos formais que se repetiam de forma idêntica ou análoga nos mais variados
indivíduos”. “As fantasias dirigidas por reguladores inconscientes coincidem com os
documentos da atividade do espírito humano em geral, conhecidos através da
tradição e da pesquisa etnológica”. Revelando arquétipos, representações oriundas
de uma “raiz comum”, o inconsciente coletivo.
Arquétipos, portanto: “Correspondem a padrões inatos de comportamento,
herdados, comuns à humanidade. Os arquétipos são formas sem conteúdo,
correspondendo a possibilidades latentes de manifestação. São análogos aos
instintos – elementos autônomos da psique inconsciente” (JUNG, 2000). Em todas
as culturas ocidentais aparece uma cinderela ou uma bela adormecida a espera de
um príncipe.
36
Podemos pensar nos arquétipos como um “software da psique”, que ajuda as
pessoas a realizar certas tarefas. Podemos imaginar que a nossa mente vem pré-
programada no nascimento com todos os arquétipos disponíveis, mas apenas
poucos são acessados na nossa vida inicial. Isso não significa que somos
“programados” a agir de determinadas maneiras, mas que temos dentro de nós
todos os arquétipos que necessitamos para evoluir. O arquétipo é, simultaneamente,
imagem e emoção.
15
Expressão baseada no livro “Godel. Escher and Bach: An ethernal Golden Braid”, de Douglas Hofstader que
se refere aos atratores associados à consciência.
37
Aqueles arquétipos-atratores mais “constelados” (energizados) nos levam ou
atraem a “viver-buscar” determinadas situações. “Tudo passa a ter sentido. Preparar
uma aula, realizar um “design” ... Viver ... deixa de ser uma “coisa”, passa a ter
significado, a ter vida ... Vira poesia”.
Albert Einstein já dizia: “Se você quer que seus filhos sejam inteligente leia
conto de fadas para eles. Se quiser que sejam mais inteligentes leia mais contos de
fadas”16.
Podemos pensar na dinâmica psíquica dos seres humanos como sendo
representada pela figura V.2.
16
Vi esse aforismo no livro infantio juvenil Em Busca de WondLa de Tony DiTerlizzi
17
Ver em WU, Roberto. A ontologia da phronesis: a leitura heideggeriana da étiaA de Aristóteles. Revista
Veritas, v. 56, n. 1, jan./abr. 2011, p. 95-110 e em HEIDEGGER, M. Plato’s Sophist. Bloomington &
Indianopolis: Indiana Univ. Press, 2003.Heidegger, 2003
18
Aletheia é o termo grego para "verdade, veracidade, honestidade, sinceridade"
38
De alguma forma ao falar de epistemonikon estaríamos falando aqui do
Inconsciente Coletivo e dos Arquétipos, ou do Real Lacaniano que é aonde seres
sem forma habitam. Para se manifestar no “logistikon”, dentro da caverna platônica,
o habitat das consciências, é preciso que os arquétipos sejam “in-formados”,
vestidos, transformados em símbolos.
A phronesis (inteligência prática, um saber fazer)19 está situada no campo do
logistikon, prossegue Heidegger, visto que remete ao mundo da ação humana, que
não é de forma alguma invariável. A deliberação sobre o que é variável implica
sempre uma relação com aquele que delibera (uma relação com o autor da ação). A
phonesis habita o “Mundo Imaginalis” de Corbin20.
Mundus imaginalis
(Corbin)
Campo arquetípico
19
Sophia seria uma inteligência teórica (um saber).
20
Henri Corbin, nascido em 1903 na cidade de Paris, foi o representante do sufismo dentre os
cientistas que frequentaram o “Círculo de Eranos”.
21
SAIZ, M. E. Arquétipos, emergencia y evolución: construyendo un diálogo transdisciplinario en
psiconeurociencia. In: CALIA, M; OLIVEIRA, M. F. de, Terra Brasilis: pré-história e arqueologia da
psique. São Paulo: Paulus, 2006.
39
Desde o início de Eranos que cientistas, filósofos, artistas e religiosos eram
convidados a participar e contribuir nas reuniões que aconteciam em Ascona, na
Suíça.
Compreendendo que a razão não possibilita uma compreensão integral do
ser humano, Eranos se propunha a compensar a unilateralidade da razão,
confrontando-a com a questão simbólica, na tentativa de confluir o mito e a razão,
para chegar a uma visão intermediária e complementar. A questão do sentido ocupa
lugar central em Eranos: o sentido da vida e da existência, a morte, a pergunta pelo
divino, a razão em suas capacidades e limites.
O intenso debate que percorreu o período de 1933 a 1988, publicado nos 57
volumes de Eranos Jahrbuch, discutiu intensamente as questões relacionadas à
mitologia comparada, antropologia cultural e hermenêutica simbólica a partir das
reflexões e questões colocadas por Ernst Cassirer em "Filosofia das Formas
Simbólicas".
Como espaço interdisciplinar de investigação, participaram pensadores da
estirpe de: Karl Kerenyi, Mircea Eliade, Gilbert Durand, F. Geisen, D. Hayard,
Joseph Campbell (mitologia); Carl Gustav Jung, Erich Neumann, Marie von Franz e
James Hillman (psicologia); P.Radin, Jean Servier e D. Zahan (antropologia); Th.
Von Oexkull, H. Pleisner e A. Portmann (antropo-biologia e etologia); Herbert Read e
Michel Guiomar (estética); V. Pauli, E. SOOrôdinger, Bernouilli e M. Knoll (ciência);
H. Zimmer e G. Tucci (hinduísmo); R. e H. Wilhelm, D. Suzuki e T. Izutsu (taoísmo e
budismo); G. Scholem (judaísmo); J. Danielou (cristianismo primitivo); Henry Corbin
(orientalismo) e Andrés Ortiz-Osés (mitologia vasca) entre outros (FERREIRA
SANTOS, 2003)
A phronesis de Heidegger habita um Mundo Imaginalis. Cada um de nós cria
e vive no seu próprio mundo.
A phronesis não pode ter uma Arete (excelência, adaptação perfeita) visto
que ela mesma é uma Arete. Enquanto que na techne o indivíduo pode alcançar
uma determinada excelência a respeito daquilo que ele produz e, nesse sentido,
pode-se dizer que o indivíduo tem a Arete a esse respeito, na phronesis o ergon
(algo feito ou construído) da ação é o próprio agente.
Todo fazer é um conhecer e todo conhecer é um fazer. Todo fazer, conhecer
é um criar e todo criar é um criar-se (MATURANA, VARELA, 2001).
40
Ao diferenciar a phronesis da episteme, Heidegger aponta para o critério do
esquecimento. O que se aprende pela episteme pode ser esquecido, pois remete ao
que é invariável. Mas a phronesis é “em cada caso novo” (Heidegger, 2003, p. 39),
e, portanto, não tem o objeto invariável. Uma falha de phronesis não é uma falha de
esquecimento.
Heidegger relaciona explicitamente a phronesis com a noção de consciência:
[...] não estamos indo longe demais em nossa interpretação ao dizer que
Aristóteles chegou aqui ao fenômeno da consciência. Phronesis não é nada mais que
consciência em movimento, tornando uma ação transparente. Consciência não pode ser
esquecida. Mas é bem possível que o que é desvelado pela consciência possa ser
distorcido e tornado ineficaz por hedone e lype, por meio das paixões. Consciência
sempre anuncia a si mesmo. Justamente porque phronesis não possui a possibilidade da
lethe, não é um modo de aletheuen que possa ser chamado conhecimento teórico.
(2003, p. 39)
41
O ego surge a partir do self, este correspondendo ao centro organizador da
personalidade, constituído pela soma de todos os conteúdos psíquicos, incluindo o
ego, o inconsciente pessoal, os arquétipos e suas inter-relações. O self é um
arquétipo que contém arquétipos.
A emancipação do ego pode ser comparada com o momento em que Adão e
Eva comem da árvore do conhecimento do bem e do mal e são expulsos do paraíso
urobórico, que corresponde ao útero do Arquétipo da Grande Mãe.
Para Jung (1985) o impulso criativo surge
do inconsciente coletivo, como uma árvore surge
do solo do qual extrai o seu alimento. O alimento
do processo criativo é arquetípico. Assim, as
expressões criativas poderiam ser consideradas
autênticos símbolos.
A criatividade está enraizada na camada
mais profunda do inconsciente. Na concepção da
psicologia analítica a obra de arte é como uma
árvore que surge e extrai seu alimento do solo,
ou como a criança em relação ao ventre
materno. Para Jung as fontes da capacidade de
criação estão contidas nesse inconsciente
impessoal, coletivo, de onde emerge o novo.
Figura IV.5 Virgem na Glória, de Giotto
Fonte: Perassi, Richard (2005)
42
“O artista é sem querer o porta-voz dos segredos espirituais de sua época e,
como todo profeta, é de vez em quando inconsciente como um sonâmbulo. Julga
estar falando por si, mas é o espírito da época que se manifesta e, o que ele diz, é
real em seus efeitos”. (Paula Carvalho, 1999).
43
A interpretação estabelece o encontro, a encruzilhada, o ligar dos pontos,
atividade essencialmente hermenêutica: o sentido: “o livro faz o sentido, o sentido
faz a vida” (Barthes, 1973: 45).
44
A interpretação não se prende à imagem como também interfere
intrinsicamente na inteligibilidade do fenômeno. Hillman não está sozinho nesta
posição, se fazendo acompanhar de todo o atual pensamento pós-moderno que
defende a fenomenologia frente à hermenêutica, como no caso da escritora Susan
Sontag que é contra a interpretação, pois a considera uma intelectualização da
experiência, como ela própria diz: "uma vingança do intelecto sobre o mundo".
“Alteração psicológica significa afetar profundamente a subjetividade pela
constelação de uma realidade simbólica e emocional ... Devemos divagar sobre um
tema e não resolver um problema; esperamos poder deixar que nosso método nos
guie através de uma série de reflexões sobre um mesmo tema, como se fossem
uma sequência de aquarelas, evocando percepções, perspectivas, enfatizando o
discurso metafórico, pretendendo dar sugestões e provocar aberturas, tendo como
objetivo não uma conclusão, não esgotar o assunto, mas deixá-lo ainda mais em
aberto” (HILLMAN, 1981)
Carlos Byngton (2005) fala de símbolos estruturantes e funções estruturantes.
Símbolos estruturantes incorporam os significados dos acontecimentos,
enriquecendo nosso conhecimento da vida. Inclui todas as entidades e suas
polaridades, como por exemplo: ego-não ego, corpo-mente, consciência-
inconsciência, objetivo-subjetivo, pensamento-sentimento, razão-emoção, etc.
É o símbolo que dá origem à formação da polaridade ego-outro na
consciência, seja este outro a natureza, o corpo, a sociedade ou até mesmo ideias e
emoções.
Funções estruturantes formam e desenvolvem nossa consciência. São as
forças que veiculam os símbolos estruturantes, mas também as ferramentas que os
dissecam e que nos permitem acessar os seus significados para o aprendizado da
vida.
Podemos compreender a evolução humana a partir destes elementos. Os
arquétipos matriarcal, patriarcal, da alteridade e cósmico são constelados
sequencialmente (conceito estrutural-evolutivo), mas, depois, operam lado a lado na
sua função coordenadora dos símbolos estruturantes da consciência (Byington,
2005).
45
essência do processo de união-separação dos símbolos para formar a Consciência.
O amor propicia a união e o poder promove a separação, formando assim a
polaridade básica do desenvolvimento do Ser” (Byington, 2005).
46
próprio lago de significados, esse encontro das águas. Pelo imaginário o ser
constrói-se na cultura. Na visão durandiana é a “bacia semântica” que orienta o
“trajeto antropológico” de cada um na “errância” existencial.
Somos o que somos inseridos dentro de uma rede de conversações
(processo linguístico interativo → linguagear para Maturana), que nos procede e
sobre o qual não temos controle total. Somos conscientes e inconscientes, frutos de
uma relação entre nossos desejos e a interação precedente codificada na
linguagem.
Dessa forma, a dimensão simbólica se edifica e encontra sustentação a partir
do conversar. Antes de sermos racionais, somos seres emocionais. É no fluir das
conversações que somos gerados tanto como indivíduos quanto como coletivos.
O símbolo dialoga com um substrato mais profundo, com o momento mítico
de leitura do intérprete (Durand, 1998).
Hermenêutica, do grego hermeneuein, conota uma teoria ou filosofia da
interpretação, de modo a tornar possível a compreensão do objeto de estudo, muito
além de sua simples aparência superficial. A palavra grega hermeios é derivada do
deus Hermes que, na mitologia grega, foi o descobridor da linguagem e da escrita...
Mito: do grego mythós (muqóv): “aquilo que se relata”, “o mito é aqui
compreendido como a narrativa dinâmica de imagens e símbolos que orientam a
ação na articulação do passado (arché) e do presente em direção ao futuro (télos)".
Neste sentido, é a própria descrição de uma determinada estrutura de
sensibilidade e de estados da alma que a espécie humana desenvolve em sua
relação consigo mesma, com o Outro e com o mundo (Ferreira Santos, 1998).
Se eu posso transmitir o que foi criado, também posso me apropriar de algo
existente, daquilo que foi criado e me foi transmitido. Tornar meu, não somente
aquilo que é produzido pela minha cultura, mas apropriar-me também daquilo que é
criado e transmitido pelas várias culturas.
Posso também buscar sentido para essas coisas, interpretar aquilo que foi
criado, foi transmitido, apropriado e sentido.
Se eu me pauto por essa concepção processual de cultura, já não faz muita
diferença o suporte material ou não desses processos, porque eu privilegio o
processo.
Para isso, necessitamos de: o olho do geógrafo, o espírito do viajante e a
criação do romancista (Ricoeur 1994).
47
No prisma da hermenêutica a singularidade do mito, enquanto narrativa
simbólica articula a História com a não-História. O mito é um sistema dinâmico de
símbolos, de arquétipos e de schèmes. É um esboço de racionalização, visto que ele
utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os
arquétipos em ideias.
Os mitos descrevem as diversas, e por vezes dramáticas irrupções do
sagrado ou simplesmente a sobrenaturalidade. (Durand)
“A mitohermenêutica se aplica como estilo de reflexão, preferencialmente,
sobre narrativas míticas, arte popular, artesanato e demais expressões culturais
populares”. (Maffesoli, 1985).
A linguagem primária dos arquétipos é a linguagem metafórica dos mitos.
Eles são os padrões fundamentais da existência humana. Para estudar a natureza
humana no seu nível mais básico, é necessário voltar-se para a cultura (mitologia,
religião, arte, arquitetura, o épico, o drama, o ritual) onde esses padrões são
evidentes. (Hillman, 1983, p. 23.)
Rudolf Oto nos diz que “os mitos fundamentais revelam os arquétipos que o
homem se empenha a realizar frequentemente fora da vida religiosa”. “Os arquétipos
são, portanto, imagens primordiais numinosas e imperativamente potentes e
pertencentes ao domínio genético do comportamento humano”.
Os mitos estão presentes em todo o material descritivo da psicologia dos
arquétipos. Os conteúdos psíquicos, na psicologia analítica, são personificados, não
são apenas conceitos abstratos teóricos, mas personagens vivos internos, deuses.
“O sujeito é abertura não quer dizer que ele é janela ou buraco no muro(...)
abertura, portanto: obra do abrir, inauguração sempre recomeçada, operação do
espírito selvagem, espírito da práxis. Ou ainda: o sujeito é o que abre.” (Castoriadis,
1987:157).
O que Jung sempre postulou é que os arquétipos são tendências,
possibilidades herdadas para representar imagens similares, formas intuitivas de
imaginar. Padrão de comportamento. Há tantos arquétipos quantas são as situações
na vida – uma infinidade deles. Arquétipo deriva do grego “arché”, substância
primordial, e typós, impressão, marca.
Arquétipos são padrões de comportamento que conferem ao ser humano a
sua índole específica (JACOBI, 1986). Aptidão imaginária da psique, que reaviva
48
imagens coletivas de significância biológica e histórica como "categorias herdadas”
(JUNG, 1981). Núcleos de significados carregados de energia – interagindo entre si.
Predisposições estruturais inatas definíveis somente em termos de princípios
ordenadores, nunca em termos de conteúdo específico (WITTINE). Formas sutis,
transcendentais, que são as formas primordiais de manifestação, não importa se
esta é física, biológica ou mental. (WILBER).
Segundo a Filosofia agostiniana, as ideias eternas são as formas principais
ou razões estáveis e imutáveis das criaturas. Não têm sido formadas, e por isso são
eternas; subsistem na Inteligência divina que as contém. A divisão entre as razões
eternas individuais das criaturas e as razões eternas universais das mesmas faz
parte das ideias de Agostinho. As últimas desempenham um papel fundamental na
teoria do conhecimento humano.
Para Jung os arquétipos são mais existenciais do que transcendentais. São
simplesmente facetas das experiências comuns do dia-a-dia da condição humana.
Concordo que essas formas míticas são herdadas coletivamente pela psique. E
também concordo inteiramente com Jung que é muito importante chegar a um
acordo com esses “arquétipos míticos”. (WILBER)
“A construção de um ninho é um processo arquetípico, tanto quanto a dança
ritual das abelhas, a defesa assustada da lula ou o desdobramento do leque do
pavão” (JACOBY, 1986). “O inconsciente fornece, por assim dizer a forma
arquetípica, que é em si mesma vazia e, por isso, inimaginável. No entanto, da parte
do consciente, essa forma logo está sendo preenchida por material imaginado,
aparentado e semelhante, tornado perceptível”. (JACOBY, 1986)
O arquétipo manifesta uma qualidade psicóide, isto é: o arquétipo ocupa uma
posição entre o mundo psíquico e o mundo material, ele é quase-psíquico e quase-
material. (JUNG, 1954/1975)
Jung percebe as relações do homem com o meio dentro de uma
epistemologia segundo a qual há um continuum do mundo subjetivo com o mundo
objetivo. Nesse continuum, o unus mundus, as relações do homem com o meio
circundante se dão em um campo projetivo onde ocorrem os fenômenos de
sincronicidade e as relações de causa e efeito não dão conta de todos os
fenômenos.
“A ideia de unus mundus se baseia na hipótese de que a multiplicidade do
mundo empírico apoia-se em uma unidade subjacente, e não na coexistência ou
49
combinação de dois ou mais mundos fundamentalmente diferentes (...). A existência
de inegáveis conexões causais entre a psique e o corpo confirma a natureza unitária
subjacente" (JUNG, apud SAIZ, 2006).
Jung desenvolveu, como já citado anteriormente,
uma metáfora de forma a correlacionar os instintos
animais com os arquétipos. Abaixo da cor vermelha
temos a região do infravermelho e, acima do violeta,
o ultravioleta. As imagens arquetípicas ocupariam a
região do ultravioleta enquanto instintos e padrões
de comportamento equivalentes, ao infravermelho. O
arquétipo estaria presente na região do ultravioleta
como imagem e, na esfera do infravermelho como
padrão de comportamento ou instinto
correspondente.
Figura IV.7 Arquétipos e Instintos
Capítulo 5
50
As funções psicológicas e as atitudes da libido
22
As palavras sístole e diástole vêm do grego systolé (contração) e diastolé (dilatar). Os dois termos são
utilizados na fisiologia médica para indicar o estado de contração de fibras musculares cardíacas (sístole) e o
movimento de dilatação do coração, após a fase de contração (diástole).
23
Em vários trechos da sua obra Tipos Psicológicos (1991), JUNG utiliza a metáfora da sístole e da diástole para
explicar os movimentos psíquicos de introversão e extroversão.
51
do homem em relação aos objetos do meio ambiente, que correspondem aos dois
movimentos energéticos que a consciência realiza em direção ao mundo:
extroversão e introversão.
Enquanto que na extroversão ocorre um direcionamento da energia psíquica
em direção ao objeto, na introversão acontece o inverso, a energia psíquica
direciona-se para o sujeito.
O movimento da energia psíquica
na extroversão, ao voltar-se em direção
ao objeto, possibilita que o ambiente
externo se torne, ao mesmo tempo,
orientador e campo de ação das
experiências pessoais, sendo as
características desse ambiente
determinantes sobre os aspectos
subjetivos da experiência.
24
C. G. JUNG, Tipos Psicológicos, 1991.
52
grupo de quatro funções contribui para a nossa adaptação no mundo. Utilizando a
fisiologia25, mais precisamente a ideia de que cada órgão do corpo realiza uma
função específica, Jung criou o termo “função psíquica” para designar uma forma
psíquica de manifestação da libido, a nível do ego que, em princípio, permanece
idêntica sob condições diversas, ou seja, é um fim em si mesma. Cada função,
portanto, é independente, não podendo ser reduzidas umas às outras.
Atitudes psíquicas e funções psíquicas nos falam da direção para que aponta
a energia da libido e de que forma esta se manifesta. Da combinação dessas
atitudes e funções emergem os mais diferentes tipos de leituras de mundo e reações
a estas leituras que explicariam até certo ponto o comportamento humano,
25
Fisiologia é uma parte da biologia que investiga as funções orgânicas, processos ou atividades vitais, como o
crescimento, a nutrição, a respiração, etc. Dicionário Aurélio - Século XXI.
26
M. L. VON FRANZ; J. HILLMAN, A Tipologia de Jung, 1990.
53
Galeno, Paracelso, entre outros. Observem ao longo deste livro, como esse padrão
quádruplo se repete em outras áreas de expressão do viver humano.
27
A escolha das letras representando as funções foi feita de acordo com as palavras da língua inglesa: feeling
(sentimento); thinking (pensamento); sensation (sensação) e intuition (intuição). Provavelmente a letra N foi
atribuída à intuição para não ser confundida com a letra “I” da atitude introvertida.
54
De acordo com Jung, existem, portanto, duas maneiras opostas pelas quais
percebemos o mundo – funções sensação e intuição - assim como outras duas que
usamos para julgar os fatos – funções sentimento e pensamento.
Funções perceptivas
28
C. G. JUNG, Fundamentos de Psicologia Analítica, 1999, p.13.
55
Michel Foucault fala de “tromp l´oeu” para falar da perspectiva de um
Velasquez e de um “tromp l´espirit” para falar das leituras feitas por Picasso de sua
obra “As Meninas”.
Funções julgadoras
As funções julgadoras, vistas através da nossa metáfora do “ser-universo”,
podem ser analogizadas com a cabeça e o coração da terra – consciência, sendo
responsáveis pelo julgamento através da razão (pensamento) ou através da
valoração (sentimento).
A função pensamento nomeia e conceitua os objetos, estabelecendo a
relação lógica e conceitual entre os fatos percebidos. Quando essa função é
utilizada, julga-se o objeto percebido baseado em leis gerais aplicáveis às situações,
sem levar em conta a interferência de valores pessoais, ou seja, analisamos
racionalmente um fato utilizando a lógica, sem maior interesse pelo seu valor afetivo.
56
Para Jung, a função pensamento pode ser ativa ou
passiva. No pensamento ativo há uma
subordinação dos conteúdos de representação a
um ato voluntário de julgamento, enquanto que no
pensamento passivo há uma disposição de
conexões conceituais que podem se contrapor às
intenções do sujeito.
Também essa função pode ser concreta ou abstrata. Quanto mais concreto o
sentimento, mais pessoal e subjetiva é a valoração objetal e quanto mais abstrato,
mais geral e objetivo será o valor.
57
De uma forma mais prática, nas situações do nosso cotidiano, poderíamos
dizer que a função sensação diz o que determinado fato é; a função pensamento
analisa este fato procurando reconhecer o seu significado; a função sentimento
revela que valor tem para nós este fato, ou seja, se gostamos ou não de
determinado objeto ou situação e, por fim, a intuição aponta para possibilidades do
“por que” e do “até onde” este fato pode estar apontando.
FUNÇÕES PSÍQUICAS
S N
F opostos
CAPTA INFORMAÇÕES CAPTA INFORMAÇÕES
Volta-se para
Volta-se para fatos
possibilidades
58
Capítulo 6
Psicodinâmica das funções e atitudes da consciência
29
E. NEUMANN, História da Origem da Consciência, 1995.
59
Essa fase inicial do desenvolvimento da consciência, que é regida pelo
arquétipo da Grande Mãe, é chamada de urobórica30, paradisíaca, de união total
com o mundo, não havendo ainda sofrimento; este só ocorre com a experiência do
ego. É uma fase de pré-ego, pertencendo ao estágio da mais tenra infância, quando
existe apenas o germe do ego. A estrutura quaternária total da personalidade, nessa
fase, contém as quatro funções psíquicas (sensação, intuição, pensamento e
sentimento) pré-formadas e indiferenciadas. Em termos mitológicos corresponde ao
paraíso cristão, onde Adão e Eva vivem em um completo estado de inocência,
adormecidos.
Em 1934, Jung escreveu: “Os princípios básicos, os
archetypoi, do inconsciente são indescritíveis em virtude de
sua riqueza de referência, muito embora reconhecíveis em
si mesmos. O intelecto discriminador naturalmente
prossegue tentando estabelecer-lhes significados únicos e,
assim, perde o ponto essencial; pois aquilo que, antes de
tudo, podemos estabelecer como compatível com sua
natureza é seu significado múltiplo, sua quase ilimitada
riqueza de referência, que torna impossível qualquer
formulação unilateral”.
A “Grande Mãe”; o “Si Mesmo”, o “Velho Sábio”; o
“Herói” e a “Morte” estão entre os primeiros arquétipos
descobertos por Jung.
30
Neumann conceitua essa fase de “urobórica”, referindo-se ao símbolo da serpente circular que morde o próprio
rabo, já descrito anteriormente quando falamos sobre o sonho de Kakulé (vide subcapítulo 3.3). Este símbolo foi
utilizado pelo autor para representar a total indiferenciação que caracteriza essa etapa do desenvolvimento, onde
tudo desemboca em tudo, de tudo depende e com tudo está relacionado.
60
O inconsciente, enquanto totalidade de todos os arquétipos é o repositório de
todas as experiências humanas desde os seus mais remotos inícios: um repositório
vivo.
“O Si-mesmo representa o objetivo do homem inteiro, a saber, a
realização de sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra
sua vontade. A dinâmica desse processo é o instinto, que vigia para
que tudo o que pertence a uma vida individual figure ali, exatamente,
com ou sem a concordância do sujeito, quer tenha consciência do
que acontece, quer não” (JUNG, 1977: p. 322)
31
Fenomenologia do Espírito
61
A pulsão (Trieb) remete à ordem do corpo, a ordem do Real, mas tem seus
representantes no aparelho psíquico. É a via mestra pela qual o sujeito se constitui
e, também, a energia por detrás do seu comportamento. Uma energia que cresce
sempre, pressionando o somático a uma operação de descarga, à qual o sujeito não
consegue escapar. Essa tensão pulsional, que aumenta sempre, exige que algo seja
feito.
A segunda figura do movimento da consciência, segundo Hegel, é a
percepção, em que o sujeito começa a escapar da tirania do imediato. É a Cultura,
ao operar a conversão do animal para o humano, através da regulação do
comportamento, quem vai provocar esta libertação, ou melhor dizendo, este
deslizamento entre a tirania do absoluto e a tirania do outro.
A terceira figura da consciência é o “discernimento” em que a criança começa
a diferenciar e categorizar as coisas do seu mundo.
No decurso do seu desenvolvimento, o ego começa a adquirir consciência de
ser distinto e peculiar, atraindo para si uma quantidade maior de energia psíquica,
avançando rumo à autonomia que leva a um aumento de consciência. Com a
discriminação consciente, há a divisão do mundo em opostos: bem/mal, dentro/fora,
sujeito/objeto. A emancipação do ego, simbolicamente, pode ser comparada com o
momento em que Adão e Eva comem a maçã da árvore do conhecimento do bem e
do mal, e são expulsos do paraíso urobórico arquetípico da Grande Mãe.
32
C. G. JUNG, apud E. C. WHITMONT, A Busca do Símbolo – Conceitos básicos de Psicologia Analítica,
1990.
62
Resumindo: é por causa da centroversão e do movimento de diferenciação e
adaptação do ego - saindo das "garras do inconsciente"- que o indivíduo adota uma
atitude habitual de introversão ou extroversão e diferenciação de determinada
função (aquela que ele de forma inata tem mais facilidade e o meio reforça).
Esse movimento de diferenciação configura-se em uma seleção feita por nós
daquela função e atitude que temos mais aptidão para usar no mundo. Jung chama
essa seleção de “acento numinal”. 33
Figura VI.5 – Teto da Igreja de São Francisco, na cidade de Ouro Preto em Minas Gerais,
Brasil, pintado por Mestre Ataíde, no século XVIII. Fonte: Perassi, Richard (2005)
33
O termo “acento numinal”, cunhado por Jung, refere-se a qualidades positivas de importância e valor, inatas,
que o indivíduo concebe em relação ao sujeito e objeto, assim como em relação às quatro funções psíquicas
(sentimento, pensamento, sensação e intuição). Durante o desenvolvimento psíquico, face ao “acento numinal”,
uma das atitudes se diferencia, assim como uma das funções, que se tornam a atitude e a função dominante ou
principal.
34
Jung utilizou este termo, a partir do antropologista Lévy-Bruhl, significando uma espécie singular de
vinculação psicológica entre o sujeito e o objeto, não havendo uma distinção clara entre os dois. O sujeito fica
63
Seth, para se precaver do retorno do irmão, espalha seus pedaços por todo o
Egito. Assim, Isis percorre toda a região daquele país e reúne os pedaços de Osíris,
mas como não encontra o seu pênis, coloca no seu lugar um falo de madeira e com
este, concebe Hórus. Hórus, filho de Osíris, posteriormente conceberá quatro (04)
filhos com Isis.
A criança Hórus é criada na floresta do pântano. Mais tarde luta com Seth e
triunfa. Osíris, assim, é completamente reabilitado, em todos os seus direitos de
soberano, “como pai morto” de Hórus, encarnado no respectivo rei (tema dos hinos
de Osíris).
Para Neumann35, nos mitos encontramos conteúdos psíquicos importantes,
que o homem antigo percebia inconscientemente e projetava nas histórias da
mitologia. Para este autor, encontramos no mito de Osíris/Hórus, a representação
psíquica do Self e do Ego, respectivamente.36
Seth, o predador da psique, destrói Osíris, o pai protetor. Só a sabedoria de
Isis, a velha bruxa, a deusa mãe, capaz de conceber com um falo mágico, feito do
carvalho, da árvore antiga, pode dar nascimento ao Hórus – Self.
Hórus teve quatro filhos: Imseti, Hapi, Duamutef e Kebehsenuef. Esses
deuses estavam estritamente ligados ao culto funerário37, não tendo sido alvo em
nenhum culto em templos. Cada um dos deuses, que era associado a um ponto
cardeal e uma deusa, era considerado como o guardião de um dos órgãos internos
do falecido, conforme podemos observar no quadro V.1.
ligado ao objeto por relação direta, havendo uma unicidade apriorística de objeto e sujeito. Cria-se, assim, uma
relação mágica, mística, os sujeitos e os objetos conectados entre si abaixo da superfície da consciência.
35
E. NEUMANN, História da Origem da Consciência, 1995.
36
Para Jung, o ego surge a partir do self, este correspondendo ao centro organizador da personalidade,
constituído pela soma de todos os conteúdos psíquicos, incluindo o ego, o inconsciente pessoal, os arquétipos e
suas inter-relações. Corresponde à totalidade psíquica, comparado a um maestro, que mantém os componentes
psíquicos unidos como uma orquestra para executar, em cada um de nós, uma melodia única, ao longo de toda a
nossa vida. O ego e o Self são unidos por um eixo, através do qual os vários símbolos da personalidade
expressão. Nos mitos de Osíris/Hórus e Cristo/Deus vemos a relação entre o ego e o self representados pela
expressão “eu e o pai somos um”.
37
Os antigos egípcios viviam de acordo com a ideia da imortalidade. Foi com uma existência religiosa voltada
para os destinos além-túmulo e a preservação desta imortalidade que as crenças na ressurreição e na vida futura
guardaram uma grande unidade durante longos períodos, estando presente nos elaborados ritos funerários, na
construção de sepulturas e o seu apetrechamento nas minuciosas técnicas de mumificação e nos cuidados com o
destino da alma e da morada espiritual, que chamaram a atenção de todos que tiveram qualquer forma de contato
com esta cultura.
64
Deus Iconografia Órgão Ponto Deusa tutelar
cardeal
Imseti Homem Fígado Sul Isis
Hapi Babuíno Pulmões Norte Néftis
Duamutef Chacal Estômago Leste Neit
38
Esse princípio é pertinente, do ponto de vista da adaptação do indivíduo ao ambiente, ou seja, o homem se
torna mais bem adaptado ao ambiente desenvolvendo na consciência uma função julgadora, associada à uma
função perceptiva.
66
No caso de uma neurose, a função inferior submerge no inconsciente,
ganhando mais energia psíquica, podendo emergir no consciente de uma forma
infantil e arcaica, trazendo desequilíbrio para a personalidade.
A função oposta a auxiliar, chamada de função terciária, é uma função com
desenvolvimento rudimentar, cuja importância está na complementaridade da
dinâmica (consciente/inconsciente) atribuída aos quatro elementos da tipologia 39.
(1º.) PRINCIPAL
(2º.) SECUNDÁRIA
CONSCIENTE
INCONSCIENTE
(3º) TERCIÁRIA
(4º.) INFERIOR
39
A fase de diferenciação das funções e atitudes dominantes é importante para o ego libertar-se do inconsciente,
o que ocorre geralmente na primeira metade da vida. Na segunda metade da vida ocorre um movimento inverso:
e ego já tendo cumprido as suas funções de adaptação e adequação do indivíduo frente à sociedade, deve buscar
um reencontro com o inconsciente, mantendo uma relação dialógica com o mesmo. É o que ocorre no processo
de individuação. Nessa fase, se torna importante o diálogo com todas as funções psíquicas, inclusive aquelas
menos diferenciadas (função inferior e terciária).
40
De acordo com Jung (1991), para que a função sensação opere efetivamente é necessário que a energia
psíquica esteja focada nas informações sensoriais dos objetos. Esse processo psíquico não é compatível
simultaneamente com a função intuição, que foca a energia psíquica nas “informações” do mundo interno,
inconsciente. O mesmo acontece com o julgamento dos fatos. Para que a função pensamento seja fiel ao seu
próprio princípio, ela deve avaliar as informações de forma lógica e não valorativa. O princípio da função
pensamento, portanto, não pode ser realizado de forma simultânea com o princípio da função sentimento, que é
eminentemente valorativo (eu gosto, eu não gosto, por exemplo).
67
No intuito de exemplificar a dinâmica das funções e
atitudes psíquicas na personalidade humana,
construímos a figura VI.8 que mostra a psique de duas
pessoas diferentes, do ponto de vista tipológico.
Conforme podemos observar na figura VI.8, o
indivíduo A é um pensador introvertido (a função
principal é pensamento, a inferior, portanto, tem de ser
sentimento porque as duas funcionam como pares de
opostos). A função auxiliar deste indivíduo é sensação
(devemos lembrar que sempre que a função principal é
julgadora, a auxiliar é perceptiva e vice versa).
Figura VI.7 O Pensador, Auguste Rodin
Fonte: Perassi, Richard (2005)
ATITUDE ATITUDE
INTROVERTIDA EXTROVERTIDA
Consciente Consciente
Inconsciente Inconsciente
(3º.) N
(3º.) F
(4º.) F (4º.) S
68
Já o indivíduo B é um intuitivo extrovertido (a função principal é intuição,
consequentemente a inferior tem de ser sensação, face ao antagonismo das
mesmas). A função auxiliar deste indivíduo é pensamento (devemos lembrar que
sempre que a função principal é julgadora, a auxiliar é perceptiva e vice versa).
Concluímos que os dois indivíduos apresentam formas diferentes de perceber
o mundo, moldadas pela dinâmica que ocorre entre as funções e atitudes psíquicas.
Essa dinâmica dá origem aos diferentes tipos psicológicos, conforme veremos nas
próximas seções.
69
CAPÍTULO 7
O modelo tipológico concebido por Carl Gustav Jung.
41
Jung manteve uma estreita relação com a psicanálise no período compreendido entre 1907 até 1912. Nessa
época, ele e Freud mantinham um vínculo de intensa colaboração. Em 1910 foi fundada a Associação
Psicanalítica Internacional. Jung foi eleito presidente dessa Associação, com o apoio de Freud. No entanto, em
1912 os dois pesquisadores começaram a apresentar divergências teóricas profundas, que culminaram com a
71
As diferenças de temperamento entre Freud e Adler, segundo Jung, teriam
sido a causa das divergências entre os dois psicanalistas. Apesar de ambos os
investigadores perceberem o sujeito em relação com o objeto, havia diferenças na
maneira de perceberem essa relação. Na qualidade de extrovertido, Freud priorizava
o objeto, enquanto que na qualidade de introvertido, Adler valorizava, sobretudo, o
sujeito.
A partir do questionamento sobre a existência dessas duas formas de atitude
psíquica (introversão e extroversão), Jung resolveu aprofundar os seus estudos
através da filosofia, literatura e teologia, onde encontrou o mesmo conflito que ele já
havia observado na psicanálise. Associando às suas observações empíricas os
trabalhos de William James, Wilhelm Ostwald, Worringer, Schiller, Nietzsche e
Gross, Jung começou a delinear o seu sistema tipológico, culminando com
publicação da obra “Tipos Psicológicos”, em 1921.
As observações empíricas de Jung, decorrentes da práxis psicológica de 20
anos, ampliadas através de uma vasta pesquisa histórica caracterizaram “Tipos
Psicológicos”. A primeira metade da obra é dedicada à exploração de alguns
conceitos tipológicos encontrados na teologia e história do pensamento antigo e
medieval, poesia, psicopatologia, filosofia e biografia de alguns autores. Na segunda
metade da obra, Jung detalha conceitualmente o seu modelo tipológico dos oito
tipos.
Para Jung, o nosso comportamento é determinado, não só pelas funções e
atitudes dominantes, e sim também pelas funções e atitudes inferiores. Essa
interação entre as funções e atitudes dominantes e inferiores dão origem a formas
distintas de temperamento (chamados por Jung de tipos psicológicos), cada um com
características próprias.
As pessoas de cada tipo psicológico apresentam peculiaridades
comportamentais decorrentes dessa combinação entre funções e atitudes, assim
como dificuldades originárias, ou da unilateralização das funções e atitudes
dominantes, ou da influência exercida pelas atitudes e funções inferiores (aquelas
que ficaram pouco utilizadas pelo indivíduo, em decorrência da ascendência das
funções e atitudes dominantes).
ruptura entre eles, Jung criando a sua própria concepção teórica, chamada de Psicologia Analítica. Em 1913 já
havia sido rompido os laços de Jung com o grupo psicanalítico.
72
Quanto menos desenvolvidas forem as funções e atitudes
inferiores, mais primitivas ficam as mesmas, podendo influenciar
regressivamente o comportamento consciente.
Agora está na hora de conhecermos os tipos psicológicos
definidos por Jung. Vamos?
Extroversão
N/S N/S
Introversão
Como podemos observar no desenho gráfico acima exposto, esse tipo tem a
função pensamento e a atitude extrovertida dominantes, enquanto que a função
sentimento e a atitude introvertida são inferiores. As funções auxiliares e terciárias
são funções perceptivas (sensação ou intuição). No entanto, essas funções
auxiliares não foram exploradas por Jung. Sendo assim, voltaremos a elas no
próximo subcapítulo.
Características principais - A marca
principal desses indivíduos é a reflexão
orientada pelo objeto e pelos dados
objetivos. Como o primado dos pensadores
é a função pensamento, eles conduzem as
suas vidas sob o comando da reflexão, do
julgamento lógico, esforçando-se por colocar
toda a sua atividade psíquica na
dependência de conclusões intelectuais. A
orientação pela realidade objetiva dos fatos
ou das ideias válidas em geral e que
determinam o seu ideal, ocorre em
decorrência da extroversão dominante.
Figura VII.3 – Télefo na presença de Arcádia
Fonte: Perassi, Richard (2005).
73
Em face dessa extroversão, os indivíduos desse tipo dão importância às
ideias consideradas racionais pela coletividade, pelo senso comum, se afastando
dos aspectos pessoais e subjetivos.
Portanto, o julgamento dessas pessoas está apoiado em conceitos
transmitidos através da tradição e educação, ou seja, ideias validadas pelo senso
comum.
A dependência do senso comum faz com que o ideal dessas pessoas esteja
submetido a uma fórmula intelectual com orientação objetiva, que em última análise,
é determinada pela coletividade. Essa fórmula pessoal guia a vida dessas pessoas,
determinando os seus julgamentos entre o certo e o errado, o bem e o mal, o belo e
o feio.
A moral desses indivíduos proíbe tolerar exceções, sendo a realização do seu
ideal de extrema importância para eles. Quando a fórmula intelectual que guia a vida
dos pensadores extrovertidos é ampla o suficiente, eles podem ter um papel
relevante na vida social da comunidade, como reformadores, promotores públicos,
etc. Por outro lado, se os ideais forem rígidos, o indivíduo pode se tornar um
resmungão, sofista e crítico, procurando comprimir a si e aos outros num esquema
rígido e é aqui que começam as dificuldades dos pensadores extrovertidos.
42
Procusto ou Damastes é um personagem da mitologia grega que vivia perto da estrada de Elêusis. Costumava
atrair viajantes solitários para a sua pousada, oferecendo-lhe abrigo para passar a noite. Acreditava-se que ele
tinha dois leitos de ferro, um menor que o outro, que ele escolhia dependendo da altura do visitante. Depois que
a vítima adormecia, Procusto a dominava e tratava de adequar o corpo às medidas exatas do leito: se ele era alto
e os pés sobressaíam da borda, ele os amputava com um machado; se era baixo e tinha espaço de folga, ele
esticava os membros com cordas e roldanas. Teseu terminou com a obsessão homicida de Procusto, obrigando-o
a deitar no seu próprio leito, atravessado, e cortou todas as partes do corpo de Procusto que sobraram fora da
cama.
74
Como a plenitude da vida não pode ser expressa apenas por um ideal
intelectual, esses indivíduos podem inibir outras formas e atividades importantes da
vida, cujas formas de expressão dependem do sentimento, como, por exemplo,
atividades estéticas, o senso artístico, o cultivo de amizades, etc. Se a inibição
dessas outras formas de expressão for muito acentuada pode dar origem a
distúrbios psíquicos. Aqui encontramos a segunda dificuldade dos pensadores
extrovertidos, decorrente da função sentimento inferior.
Apesar de serem capazes de afeições profundas, os pensadores
extrovertidos tem dificuldades de expressar os seus sentimentos. Isso ocorre porque
a função sentimento desses indivíduos, apesar de profunda, é infantil e pouco
desenvolvida. Em face dessa característica, podem ocorrer manifestações
sentimentais arcaicas, como por exemplo, violentas explosões de afeto, que podem
chegar até graus perigosamente destrutivos, comprometendo o relacionamento com
outras pessoas; lealdades duradouras e impetuosas “não razoáveis”; apegos
sentimentais ou interesses místicos que desafiam a lógica. Como esses indivíduos
estão mais focados nos objetos, pode ocorrer um afastamento em relação ao sujeito,
que aliado a uma função sentimental inferior torna esses indivíduos difíceis de serem
entendidos no campo interpessoal.
Introversão
• Tipo Pensamento Introvertido T
N/S N/S
F
Extroversão
75
Como o primado dos pensadores é a
função pensamento, eles conduzem as suas
vidas também sob o comando da reflexão. No
entanto, esse pensar conduz a experiência
concreta, objetiva, para o conteúdo subjetivo.
Essas pessoas observam a realidade
objetiva, mas escolhem os determinantes
subjetivos como decisivos, interpondo uma
opinião subjetiva entre a percepção do objeto e a
ação.
Figura VII.5 – Urutu, Tarsila do Amaral
Fonte: Perassi, Richard (2005).
76
Dificuldades – A primeira dificuldade pertinente a esse tipo psicológico pode
ocorrer em face de uma exacerbação da função dominante, no caso a função
pensamento introvertida, que quando muito unilateralizada pode proporcionar ideias
interiores que dominam a personalidade do indivíduo, distanciando-o da realidade
ordinária.
Nesse caso, semelhante ao
que acontece com Ícaro na mitologia
grega43, o voo do pensamento muito
alto e muito distante da realidade
termina por provocar uma inflação,
culminando em neurose. Jung
chama de “inflação” quando
expandimos a personalidade além
dos nossos limites individuais, de
uma forma presunçosa.
Figura VII.6 – O homem controlador do universo, Diego Rivera
Fonte: Perassi, Richard (2005).
43
A estória de Ícaro começa quando Dédalo, seu pai, grande engenheiro, patrono dos técnicos de grande parte
da Grécia antiga, colocou–lhe asas que ele mesmo tinha feito, de modo que este pudesse voar e escapar do
labirinto de Creta que o próprio Dédalo tinha inventado, a pedido do Rei Minos, para ocultar o Minotauro, filho
de sua esposa Parsifaé com um touro. Após construir o labirinto, para que ninguém soubesse de seu filho (ego-
self) monstruoso, prendeu Dédalo e seu filho Ícaro no mesmo. Quando ambos se preparavam para escapar,
Dédalo disse a seu filho: “Voe moderadamente. Não voe muito alto, senão o sol derreterá a cera das suas asas e
você cairá. Não voe muito baixo, senão as ondas do mar o apanharão”. O próprio Dédalo voou moderadamente,
conseguindo atingir a outra margem. No entanto, como Ícaro, em êxtase, voou muito alto, a cera derreteu as suas
asas e o rapaz caiu no mar, ou seja, o castigo de Ícaro ocorreu porque faltava ao jovem a virtude da moderação,
virtude a ser trabalhada nos pensadores introvertidos.
44
C. G. JUNG, O Eu e o inconsciente, 1987.
77
A função sentimental inferior desse tipo psicológico também é arcaica e
infantil, porém voltada aos objetos do mundo exterior, ou seja, são afetos fortes que
se manifestam mais intensamente (menos contido) do que o sentimento introvertido.
Este tipo psicológico pode amar ou odiar, por exemplo, às vezes se apegando de
uma forma exagerada a outras pessoas.
Se Dédalo representa o tipo “positivo” de pensador “introvertido”, seu filho,
Ícaro, enfatiza os desafios que esse tipo precisa vencer para reagir de forma
adequada às questões emergentes em nosso cotidiano.
Extroversão
N/S N/S
Introversão
Como podemos observar no desenho acima, esse tipo tem a função sentimento
e a atitude extrovertida dominantes, enquanto que a função pensamento e a atitude
introvertida são inferiores. As funções auxiliares e terciárias são funções perceptivas
(sensação ou intuição).
Características principais - A característica
marcante desses indivíduos é o julgamento
valorativo orientado pelo objeto, ou seja,
valorizações que decorrem do ato de sentir
correspondendo diretamente a valores objetivos,
geralmente englobando parâmetros de valor
tradicionais e aceitos em geral. Isso quer dizer que
o sentimental extrovertido elogiará e irá valorar algo
como bom ou agradável não por uma avaliação
subjetiva, e sim porque é adequado para as
circunstâncias sociais, o que se mostra muitas
vezes necessário para a harmonia do ambiente.
Figura VII.7 – Mona Lisa, Leonardo da Vinci (1510)
Fonte: Perassi, Richard (2005).
78
O sorriso da Monalisa é obtido propositalmente por Mestre Leonardo.
Camadas de tinta superpostas em uma técnica denominada sfumato estabelecem o
paradoxo. Paradoxo que quer dizer contradição: Ao mesmo tempo em que a
Gioconda é alegre, é triste; auto referência: Eu minto; círculo vicioso: Esta biblioteca
tem um livro que tem tudo sobre esta biblioteca. Como uma palavra valise de Lacan,
o alegretriste da Monalisa remete ao enigma que singulariza e eterniza essa obra. O
sentimental introvertido deve resolver o paradoxo para encontrar seu significado no
campo linguístico que caracteriza suas relações com o mundo.
Face à função sentimento estar voltada para os objetos externos, há uma
genuína afinidade com as outras pessoas, o que é traduzida em uma facilidade nos
relacionamentos interpessoais. O bom relacionamento com os outros torna os
sentimentais extrovertidos pessoas afáveis, que fazem amigos com facilidade, se
preocupam com a harmonia do ambiente que os cerca e facilmente se sacrificam
pelos outros. Além disso, essas pessoas geralmente estão bem adaptadas às
condições externas e aos valores sociais.
Podemos observar o sentimento extrovertido se movendo em direção ao
objeto, o ser amado, nesses versos de Antonio Carlos Jobim, fragmentos da música
“Falando de amor”:
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro, teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor.
79
A função inferior, como é primitiva e pouco desenvolvida (pouco utilizada),
pode emergir na forma de pensamentos negativos que se voltam principalmente
contra o próprio indivíduo (face à introversão) ou pensamentos sob a forma de
julgamentos críticos extremamente duros e frios.
Na mitologia, Zeus, o Rei todo poderoso do
Olimpo, substitui a forma de cavalo que usou para
engravidar a virgem Dia, e aí fazer nascer a manhã,
pela do cisne, para a sedução de Leda. A Virgem, com
seu único e mágico filho-self, adota toda a humanidade.
Zeus é um sentimental extrovertido. Suas
aventuras fora do Olimpo, no entanto, é que fazem com
que surjam os semideuses, os heróis capazes de trazer,
aos homens, o que só aos deuses é reservado.
A criação, diz Platão, demanda inspiração e
loucura. Sem paixão, emoção, aquilo que move, nada
pode acontecer.
Extroversão
Como podemos observar no desenho gráfico acima, esse tipo tem a função
sentimento e a atitude introvertida dominantes, enquanto que a função pensamento
e a atitude extrovertida são inferiores. As funções auxiliares e terciárias são funções
perceptivas (sensação ou intuição).
80
Muitas vezes esses sentimentos intensos não
conseguem ser expressos adequadamente, daí a
importância desses indivíduos encontrarem uma forma
de canalizar esses sentimentos, seja através da arte, da
escrita e outras formas de expressão.
A intensidade do sistema de valores subjetivos
dessas pessoas geralmente exerce uma influência
marcante no meio social em que vivem, podendo formar
a espinha dorsal ética de um grupo, ou seja, os seus
valores éticos corretos forçam os outros, por sugestão, a
serem decentes na sua presença.
81
As pinturas seriam obras de bárbaros, de feras. “A Janela Azul” (fig. VII. 11)
de Matisse serve de exemplo dessa maneira de pintar em que as cores assumem
uma função mais simbólica que naturalistas e a composição apresenta
características gráficas e planas, suscitando lembranças de representações egípcias
e medievais.
O que pode não ser percebido é que esses indivíduos amam profundamente,
tão profundamente que às vezes não conseguem se expressar. Um bom exemplo do
sentimento introvertido encontra-se nas estrofes desta poesia de Rainer Maria
Rilke45:
45
Cartas a um jovem poeta, 2006.
82
Percebemos que Rilke valoriza o amar por amor ao amor, um sentimento
muito forte, que, porém não flui para o objeto (está associado até à solidão). O outro
está implicado no sentimento, mas este sentimento não vai em direção ao outro, fica
dentro do poeta.
83
• Tipo Sensação Extrovertido Extroversão
S
F/T F/T
N
Introversão
84
Se olharmos a história da arte, encontraremos uma representação desse tipo
psicológico nos pintores do Realismo46, que buscavam retratar a realidade de uma
forma objetiva.
A tendência ao Realismo se manifestou primeiramente na França, nas
pinturas de Gustave Courbet (1819-1877), que batizou sua obra de “realista” em
uma exposição alternativa de 48 obras, realizada em 1846, após ter dois de seus
trabalhos recusados no Salão de Paris, por conta de seus temas que foram
considerados prosaicos (PERASSI, R. 2005).
Curioso é observar que da mesma forma que podemos associar tipos às
pessoas, poderíamos fazer o mesmo para descrever cada cultura e cada época.
Podemos comparar a corte de Luís XIV, no início do século XX com pessoas como
Santo Dumont, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, todos agradáveis,
refinadamente bem vestidos, mostrando ambos os polos, positivo e negativo de
cada tipo psicológico.
46
O Realismo é um movimento artístico surgido na França, no século XIX, em reação ao Romantismo, e cuja
influência se estendeu a numerosos países europeus. O princípio desse movimento se desenvolve baseado na
observação da realidade, na razão e na ciência. Para o movimento, o artista deve representar o seu tempo, sem,
no entanto tomar um partido definido. Ele deve retratar a realidade, enfatizando a objetividade.
85
Outra dificuldade dessas pessoas está relacionada à sua função inferior: a
intuição introvertida. Essa característica tipológica pode fazer com que os sensoriais
extrovertidos não percebam o desdobramento de possibilidades novas. A intuição
primitiva e pouco desenvolvida pode provocar no indivíduo, premonições
pessimistas sobre a saúde e a vida em geral, ideias místicas primitivas e
superstições de todo tipo.
S
F/T F/T
N
Extroversão
86
Os indivíduos do tipo sensação introvertido apreendem melhor o plano de
fundo do que a superfície do mundo concreto dos objetos. Essas pessoas ficam
focadas nas impressões subjetivas que os objetos do mundo concreto produzem nas
suas personalidades. Existe nesses indivíduos uma grande sensibilidade para
percepção de detalhes. Essa profundidade subjetiva de percepção facilita muito o
trabalho criativo dos artistas, que muitas vezes podem dar vida a um cenário,
pintando ou escrevendo.
Para Jung 47, como exemplo, podemos encontrar esse tipo psicológico em
muitos pintores impressionistas franceses, a exemplo de Renoir e Monet que,
diferentemente dos pintores realistas, procuram retratar a realidade a partir das suas
impressões subjetivas.48
O termo “Impressionismo” surgiu em 1874 depois da primeira exposição
coletiva de Claude Monet (1840-1926), Auguste Renoir (1841-1919), Edgar Degas
(1834-1917) e Paul Cézanne (1839-1906), quando foi apresentada a tela de Monet,
intitulada “Impressão, Sol Levante” (fig. VII.14). Ao criticar a exposição, o jornalista
Louis Leroy intitulou a mostra sarcasticamente como “exposição dos
impressionistas”. (PERASSI, R., 2005)
47
Tipos Psicológicos, 1991.
48
O Impressionismo, movimento artístico surgido na França, no século XIX, apresenta um comportamento
diferente do realismo. Dentre outras características, destaca-se o pioneirismo no uso da luz na pintura como
forma de capturar a vida como vista pelos olhos humanos. Os pintores impressionistas pesquisavam a produção
87
Se esses indivíduos são pressionados a assimilarem as fantasias da intuição
inferior, podem ter mal estar físico, como sintomas de vertigens ou enjoos. Isso
acontece porque essas pessoas são apegadas à realidade sensorial, àquilo que elas
podem tocar. Assimilar o “voo” da intuição, para elas, significa tirar-lhes o chão.
Extroversão
F/T F/T
S
Introversão
pictórica não mais interessados no retrato fiel da realidade e sim na visão da obra artística em si mesma, ou seja,
uma visão subjetiva.
88
Enquanto que os sensoriais extrovertidos buscam no mundo dos objetos o
ponto mais alto de realismo físico, os intuitivos extrovertidos tentam apreender o
grau máximo de possibilidades inerentes na situação objetiva. As possibilidades
emergentes tornam-se o principal foco de atenção para os indivíduos com esse tipo
psicológico. Essas pessoas sempre procuram saídas e novas possibilidades na vida
externa, querendo saber o que poderia ser feito e de que forma as situações
objetivas podem ser utilizadas. O intuitivo extrovertido nunca está no lugar onde se
encontram valores reais, aceitos em geral, mas sempre no lugar onde há novas
possibilidades, onde ele “fareja” situações novas em potencial. Têm faro aguçado
para ideias novas e que prometem futuro.
89
Introversão
• Tipo Intuição Introvertido
N
F/T F/T
Extroversão
90
De um lado, esses indivíduos podem ser incompreendidos. Analogicamente,
poderíamos compará-los com o profeta cuja voz clama no deserto. Por outro lado, a
rica vida interior dessas pessoas pode torná-las promotoras de cultura e
educadoras. Suas vidas ensinam mais do que suas palavras.
A visão profética pode ser vista nesta poesia de William Blake49, feita no
século XIX, inspirada na tirania do aspecto material do homem, que pode se tornar
escravo ao utilizar o conhecimento para a produção material:
49
apud J. Singer, Blake, Jung e o inconsciente coletivo: o conflito entra a razão e a imaginação, 2004, p. 167.
91
O intuitivo introvertido segue a escada de Jacó (tela de William Blake) em
direção ao centro de si mesmo. De certa forma, ao meditarmos, estamos nos
identificando com esse tipo, deixando nossa intuição nos conduzir em direção ao
filho sagrado, o self.
Outra analogia impossível de ser evitada seria entre as tipologias e o
processo de desenvolvimento humano. Esta vinculação compulsiva com os objetos
não seria um retorno à fase um do desenvolvimento humano, segundo Jung, sua
“projection mystique”, em que a projeção é tão realista que sofremos a “batida do
carro” ou a “quebra do disco predileto”. Será que, ao longo do nosso fazer-se, na
nossa Promenade pela vida, viajamos entre diversos tipos.
Figura VII.19 – Bom dia senhor Max Ernst, Wilfredo Lam (1902-1982)
Fonte: Perassi, Richard (2005)
50
Etimologicamente, a palavra grega metánoia tem duas raízes: meta, que significa grande mudança e noia,
derivada de nous, que significa consciência superior. Jung utilizou o termo metanóia para referir-se à fase
profunda de transformação da consciência, que ocorre na segunda metade da vida, visando preparar o indivíduo
para um novo relacionamento entre seu ego pessoal e o Si-Mesmo. Na metanóia ocorre uma inversão da direção
libidinal e as situações que não puderão ser vividas conscientemente na primeira metade da vida, e portanto,
92
Através do uso das mãos lavrando a terra, rachando lenha, esculpindo e
cozinhando procurava exercitar a função sensação; introduziu a dimensão do
sentimento na sua obra científica, ressaltando a importância da tonalidade afetiva
nas experiências de vida; com a função intuição, que proporcionava visões de longo
alcance, Jung apreendia o sentido dos processos psíquicos, que depois eram
sistemizados através da função pensamento, sendo submetidos à reflexão e a
documentação exaustiva. 51
Através de exemplos práticos podemos ver melhor de que forma os oito tipos
psicológicos atuam na vida. Vamos então imaginar uma cena 52:
93
No entanto o que ele gosta mesmo é de ficar imerso no seu estúdio, horas e
horas. Ele saúda a todos de forma elegante e cumprimenta a primeira convidada a
chegar, uma conhecida advogada (pensadora extrovertida). Ao cumprimentar a
jovem ele “sem querer” se atrapalha e diz “adeus” (no íntimo ele deprecia esta
mulher).
A anfitriã, horrorizada com esta gafe, vai correndo ao encontro dos dois,
tratando de fazer tudo para consertar o equívoco com uma dose dupla de
cordialidade.
94
A esta altura do jantar, chega um novo convidado, um professor de medicina
(pensador introvertido), muito conhecido por suas conferências e novas descobertas
nesse campo. No entanto, apesar de ser um professor e médico competente, não se
interessa muito pelos alunos e pacientes. Estes são considerados apenas “casos”
necessários para que as investigações científicas prossigam.
Este indivíduo jamais é visto com a esposa (inclusive há rumores que ela é
inculta e já foi funcionária dele).
95
Como a sua função sentimento é pueril e rudimentar, não percebe as reações
dos outros convidados. Estes têm diferentes reações ao discurso do professor, cada
qual por uma razão diferente: a advogada sempre tem curiosidade por ideias
diferentes ou educativas; o industrial está mais interessado no que o professor diz
acerca da implementação prática do seu trabalho; o refinado anfitrião está enjoado e
com falta de ar face à descrição da enfermidade médica.
.
Figura VI.20 – O cão andaluz, Luis Buñuel
Fonte: Perassi, R,
96
As três Graças, a saber: a castidade; a beleza; e a sensualidade também
espelham tipos distintos. Cale, a castidade, está prestes a ser atingida pela flecha do
Cupido. A virgem está em vias de deixar de sê-lo. Seria a união mística entre o
masculino (Hermes) e o feminino (Afrodite)?
Observe, ainda, que Hermes, o intuitivo, é filho de Zeus, o supremo racional,
com a mãe Terra, Geia, Maia, a rainha das ilusões. Se Terra é Maia, o Hermes
grego é o mesmo Hermes Trimegisto, Tot dos egípcios. De ovo o Uroboro, a
serpens mercurialis que se auto devora. O vento inseminador, Zéfiro, faz girar o
moinho das ideias, fazendo que a ninfa Clóris, como Dânae, a mãe de Perseu,
enganada pela nuvem, engravide-se de ideias, fazendo nascer a Primavera.
A presença da função auxiliar cria subtipos dentro dos tipos principais. Como
exemplo, Jung cita o intelectual prático (função principal Pensamento e função
auxiliar Sensação), o intelectual especulativo (função principal Pensamento com
função auxiliar Intuição), o intuitivo artístico (função principal Intuição com função
auxiliar Sentimento), o intuitivo filosófico (função principal Intuição com função
auxiliar Pensamento), etc.
97
Apesar de Jung ter aberto as portas para o conhecimento da função auxiliar,
ele não a estudou profundamente. Esse trabalho foi feito por duas pesquisadoras
americanas, na década de 40, mãe e filha, Katherine Cook Briggs e Isabel Briggs
Myers. Estas autoras, utilizando os conceitos junguianos de função dominante e
função auxiliar, ampliaram o modelo de tipologia psicológica concebido por Jung,
originando 16 tipos psicológicos. É o que veremos no próximo capítulo.
Esperamos que a essa altura o leitor já tenha identificado a sua função
dominante. O autor deste livro é um NF (Sentimental Intuitivo). Anote as suas
letrinhas e aguarde. Afinal, conhecer é, sobretudo, conhecer-se.
98
CAPÍTULO 8
Os 16 tipos de Myers e Briggs
99
Este fato mobilizou Myers e Briggs para aplicarem à teoria tipológica nesse
campo, visando entender a relação dos temperamentos individuais com os tipos
diferentes de trabalho na indústria.53 Como não existia nenhum teste que pudesse
demonstrar os tipos psicológicos das pessoas (Jung utilizava somente a observação
empírica), elas resolveram criar um, o MBTI ® 54.
Figura VIII.2 - Cena neolítica de caça aos cavalos em Valltorta, Espanha, produzida perto de
10.000 a.C.
Fonte: Perassi Richard (2005).
53
MYERS, I. B. Ser humano é ser diferente: valorizando as pessoas por seus dons especiais, 1997.
54
MBTI ® é a marca registrada da Consulting Psychologists Press, Inc., no Brasil representada pela Coaching,
Psicologia Estratégica (Saad Felipelli). Todos os direitos reservados (N. R. T.).
55
Em 1994, mais de 2,5 milhões de pessoas se submeteram em MBTI. Fonte: Ser humano é ser diferente.
100
O primeiro papel da função dominante - realizar o equilíbrio necessário entre
as atitudes psíquicas de extroversão e introversão - ocorre da seguinte maneira: a
função dominante fica focada na atitude também dominante, se extroversão, no
mundo exterior das pessoas e das coisas, se introversão, no mundo interno e
subjetivo. A função auxiliar, visando equilibrar o sistema psíquico, direciona o seu
foco para a atitude menos favorecida pela função dominante. Nos introvertidos, a
função auxiliar é extrovertida, enquanto que nos extrovertidos a função auxiliar é
introvertida.
Figura VIII.3 – Lacoonte e seus filhos, obra do helenismo, marcante por sua expressividade
Fonte: Perassi, Richard
101
O segundo papel da função auxiliar - apoiar e suplementar a função
dominante em sua principal área de atuação - possibilita a ocorrência de
combinações entre funções perceptivas e julgadoras no mesmo tipo psicológico. Em
face dessas combinações, cada tipo psicológico definido por Jung (08 tipos) se
divide em dois. Por exemplo, o tipo pensador introvertido pode ser um pensador
introvertido com sensação auxiliar ou um pensador introvertido com intuição auxiliar.
O mesmo mecanismo é aplicado aos outros tipos.
FUNÇÕES
EXTROVERTIDAS
FUNÇÕES
INTROVERTIDAS
Figura VIII.4 – Combinações de atitudes e funções
psicológicas a partir de Myers e Briggs.
102
Quando se emprega uma atitude de julgamento para conduzir a vida, há uma
tendência para querer que as coisas sejam elaboradas e realizadas de acordo com
um planejamento inicial. Quando se emprega um processo de percepção para lidar
com a vida diária, ocorre uma tendência de abertura para novas possibilidades,
numa atitude de flexibilidade na adaptação a novas circunstâncias, experimentando
a vida do modo mais amplo possível.
103
Funções dominantes e Atitudes da libido Formas de lidar com o
auxiliares
mundo externo
T – função pensamento
F – função Sentimento
Como cada função e atitude é representada por uma letra (E/I, S/N, T/F, J/P),
um código de quatro letras é utilizado para definir o tipo psicológico. Por exemplo,
ESTJ indica um indivíduo de atitude extrovertida, que utiliza a função Pensamento
para tomar decisões, sendo esta a função dominante, utiliza a função Sensação
como auxiliar e adota o Julgamento como estilo de vida.
104
Esta tipologia tem sido empregada de diversas formas (BRIDGES, 1998):
Orientação profissional; Formação de equipes; Desenvolvimento de lideranças e em
estudos de Motivação profissional. Nós a usamos. Por exemplo, para o Design
Arquetípico de Personagens; Definição da Essência de uma Marca; etc.
ST 64% Contadores
47% Bancários
Enfermagem
105
O conhecimento do tipo psicológico do indivíduo ajuda a compreender a
tensão que as pessoas às vezes experimentam entre seu papel ou tarefa e suas
preferências íntimas. Uma tensão suficientemente grande pode levar à mudança de
carreira. Segundo, ajuda a orientar uma pessoa para um campo no qual se sinta
mais à vontade (BRIDGES, 1998)
106
Após o primeiro ano de curso, o tipo modal encontrado foi (ROSATI, 1998):
107
Assim como as pessoas, as nações também têm uma tipologia. O Brasil é um
país de Guardiões (SJ), cuidadores.
N %
109
Imagine o macro sistema como uma espuma, com um sem fim de bolhas
conectadas. A forma de cada bolha é dada pelo equilíbrio entre as tensões internas
e externas do conjunto. Imagine que esta espuma tem a sua forma constantemente
alterada, algumas bolhas encolhem outras crescem, nascem, estouram, criando
novas composições de tensões.
A organização é como essa bolha da espuma, ou a estrutura dentro do cristal.
Também é formada por múltiplos agentes e múltiplas interações diferentes internas
e externas.
Visionário Valores
Para que ocupe lugar no espaço (um critério de sucesso), esta bolha precisa
manter alguma configuração espacial. É desejável que a resistências as pressões e
deformações sejam maiores no seu nicho
Quando pensamos um grupo, temos a preocupação de que o campo grupal
se torne um espaço de encontro de diferenças, onde os sujeitos se afetam
mutuamente. Para tanto, apostamos que cada pessoa tem algo a dizer, transformar,
e, a partir disso, ser transformada. Assim voltamos para a ideia de diferença. É nas
diferenças que podemos constituir um outro devir social.
Diferenças, mas com unidade de trabalho. Dito de outra forma, é só na
multiplicação de diferentes formas de ver, sentir, pensar e ser no mundo que
podemos conceber um outro "vir a ser", calcado no respeito mútuo e na ética.
110
Quando nos deparamos com a nossa vida prática na empresa, família ou
sociedade, notamos duas grandes tendências que assumimos: 1) a persona, através
dos papéis estabelecidos pela sociedade e pelos cargos ou funções que exercemos
e 2) e a tipologia e aspectos arquetípicos, através de padrões comportamentais que
refletem um jeito de ser próprio nosso ao lidar com as pessoas ou mundo.
Nas organizações, bem como nas relações sociais e familiares, os indivíduos
convivem sempre em grupos, mas é nas empresas, por estarem estruturadas em
vários setores, onde os funcionários são agrupados de acordo com o seu cargo,
função e área de atuação, que a persona e os padrões tipológicos estarão mais em
evidência.
Na formação de equipes, os agentes são avaliados tipologicamente para
mostrar os pontos fracos e fortes da equipe. “Muitas equipes são limitadas em sua
tipologia, até porque a tarefa pode atrair em primeiro lugar determinado tipo e
porque o gerente ou a direção talvez tenham tendência a selecionar seu próprio tipo
ao recrutar pessoal” (BRIDGES, 1998, p. 140)
O perfil tipológico de uma equipe também é útil para identificar e explicar seus
conflitos característicos. Ao relacionar esses problemas com as diferenças de estilo
de perceber o mundo e tomar decisões. (BRIDGES, 1998, p. 140)
Lessa, na sua tese de doutorado (2003)
trouxe contribuições importantes sobre a relação
entre tipos psicológicos, complementaridade e
desempenho de equipes. Sob o ponto de vista
qualitativo e estatístico, a pesquisa de Lessa
demonstrou uma forte correlação entre a afinidade
e complementaridade entre pessoas com tipos
psicológicos distintos, porém, não totalmente
opostos.
Figura VIII.7 vitral “O Rei Davi” da Catedral de
Canterbury na Grã-Bretanha. Fonte: Perassi, Richard
(2005)
111
A análise dos dados da pesquisa de Lessa (2003), revelou uma tendência de
as pessoas apontarem colegas com grau de complementaridade forte, com quem
tiveram maior afinidade, dificuldade e complementaridade no trabalho em equipe. O
grau de complementaridade forte significa que as pessoas utilizam o processo
dominante distinto, mas tem em comum o processo secundário.
Não houve uma tendência de as pessoas indicarem, tanto em afinidades,
dificuldades e complementaridade, pessoas cujos tipos eram totalmente iguais e (ou)
muito parecidos (grau de complementaridade neutro e muito fraco)
“Tal fato parece sugerir que a maioria dos entrevistados apontou ter
afinidades com pessoas que puderam complementar os seus pontos fracos,
relacionados às habilidades e características próprias de seu estilo de
personalidade” (LESSA, 2003, p. 79).
Ex: os entrevistados INTJ escolheram pessoas ESTJ. Nesse caso, a pessoa
escolhida tem como processo de percepção a sensação, que é oposto ao processo
do entrevistado, a intuição, e tem em comum o pensamento lógico, que diz respeito
à tomada de decisão. (LESSA, 2003, p.79).
“Foi observada uma tendência de os entrevistados apontarem pessoas com
características comportamentais diferentes das suas como aquelas pessoas com
quem tiveram mais dificuldades no trabalho em equipe. Exemplificando, os intuitivos
identificaram dificuldades de trabalhar com os sensoriais, enquanto os sentimentais
apontaram dificuldades para trabalhar com pessoas lógicas” (LESSA, 2003, p. 89).
“Foi observado ainda as dificuldades que alguns entrevistados tiveram para
trabalhar com Tipos Psicológicos parecidos. Essas dificuldades podem ter surgido
devido à maximização de pontos fracos, não havendo, pois, complementaridade
entre eles” (LESSA, 2003, p. 90).
Será que essas considerações são válidas para as relações familiares? Se
estudarmos a tipologia dos casais, o que irá predominar?
“As empresas podem promover programas de desenvolvimento de equipe
utilizando os conceitos da Teoria dos Tipos Psicológicos de Jung, visando a ampliar
o autoconhecimento e apoiar o bom desenvolvimento do Tipo. Esses programas
devem estimular as pessoas a saírem de sua zona de conforto, ou seja, a utilizar as
suas funções menos desenvolvidas, além de paralelamente aperfeiçoar as funções
preferidas...”
112
“...A maturidade favorece a integração e o relacionamento entre as pessoas
com opiniões divergentes , aumentando o diálogo, a cooperação e a confiança entre
os membros de uma equipe. Contribui para que as pessoas se tornem sensíveis às
diferenças individuais, possibilitando, portanto, a tomada de decisões mais
consistentes e o alcance dos resultados da equipe” (LESSA, 2003, p. 113-114).
113
Lessa (2003) aponta para a necessidade de pesquisar melhor o papel e a
atuação dos tipos sentimentais nas equipes executivas e (ou) da alta administração
das empresas. Para ela, os indivíduos com este tipo psicológico tendem a ser
excluídos das equipes gerenciais nas quais predominam pessoas com o tipo lógico.
Utilizando a leitura tipológica, podemos dizer que um líder espiritual servidor
(Líder constelado pelo Arquétipo do Mago) precisa desenvolver e harmonizar as
quatro funções psíquicas na consciência: Sentimento – sentir (Eros); Pensamento –
pensar (Atená); Sensação – agir (Hermes) e Intuição – visão de futuro
Falamos de orientação profissional, gestão de equipes e liderança. Vamos
concluir falando da contribuição da teoria dos tipos psicológicos para a motivação.
Motivação é a energia propulsora do comportamento, fenômeno psicológico
que se caracteriza por um conjunto de fatores dinâmicos existentes na
personalidade (forças internas), que determinam a conduta de cada indivíduo,
orientando e mobilizando as suas ações em direção a determinados objetivos
(BERGAMINI, 2005).
A Teoria da Autodeterminação, assim, propõe que os seres humanos, desde
seu nascimento, têm propensões inatas para a estimulação e a aprendizagem. No
entanto, o ambiente pode fortalecer ou enfraquecer esta tendência, na medida em
que nutre ou frustra três necessidades psicológicas básicas: competência,
autonomia ou autodeterminação e pertença ou formação de vínculos. A interação
dessas necessidades psicológicas com o ambiente podem formar diferentes padrões
motivacionais: desmotivação, motivação extrínseca e a motivação intrínseca
(GUIMARÃES & BORUCHOVITCH, 2004).
EXTRÍNSECA - motivação para o trabalho em resposta a algo externo à
atividade ou tarefa, como por exemplo, obtenção de recompensas materiais ou
sociais, reconhecimento, demonstração de competência de valor e atendimento de
comandos ou pressões dos outros. Neste tipo de motivação, há uma vinculação da
tarefa com resultados esperados.
INTRÍNSECA - O indivíduo realiza determinada atividade por sua própria
causa, por esta ser interessante, envolvente ou, de alguma forma, geradora de
satisfação, havendo assim uma valorização e gosto pela tarefa (DECI & RYAN,
2000; RYAN & DECI, 2000, apud GUIMARÃES & BORUCHOVITCH, 2004).
114
Tal envolvimento é considerado ao mesmo tempo espontâneo, parte do
interesse individual, e autotélico (CSIKSZENTMIHALYI, 1999), isto é, a atividade é
um fim em si mesma.
A motivação intrínseca e a extrínseca fazem parte de um mesmo continuum
de auto-regulação.
AMABILE et al (1994) relacionou o tipo psicológico ESTJ com fatores
higiênicos (extrínsecos).
Gryphon (2003) em estudos realizado por uma empresa de consultoria em
gestão organizacional (população de 113 trabalhadores); demonstrou uma
correlação estatística significativa entre: as tipologias que apresentaram funções S
(sensação) e J (julgamento) com fatores higiênicos (extrínsecos); as que
apresentaram funções N (intuição) e P (percepção) com fatores motivacionais
(intrínsecos). Também sugeriu uma correlação entre os tipos _NFP, com fatores
motivacionais (intrínsecos).
A pesquisa realizada pelos autores deste livro, confirma o trabalho de Godoi
(2001): Os fatores de insatisfação estão diretamente ligados à motivação,
funcionando como elemento faltante e propulsor da dinâmica motivacional; As
medidas sugeridas para aumentar a motivação mais citadas foram relacionamento
interpessoal (35%), condições e ambiente de trabalho (30%) e remuneração (25%),
justamente os fatores mais citados como de insatisfação. O que está mobilizando os
entrevistados para aumentar a motivação, na verdade, são os elementos faltantes,
os fatores de insatisfação.
Não foi nossa intenção, neste capítulo, esgotar o tema, mas motivar o leitor a
se aprofundar no estudo dos arquétipos e tipologias.
115
Capítulo 9
As quatro matrizes de David Keirsey
“Algo em nós se eleva quando alguma ação se aprofunda – e que, inversamente, algo se
aprofunda quando alguma coisa se eleva. Somos o traço de união da natureza e dos
deuses, ou, para ser mais fiel à imaginação pura, somos o mais forte dos traços de união
entre a terra e o ar” (BACHELARD, 1990b:109)
116
Em 1978, juntamente com sua assistente, Marilyn Bates, publicou o livro
Please Understand Me, que vendeu mais de dois milhões de cópias56, reavivando o
interesse popular pelos quatro temperamentos, como veremos adiante.
Keirsey retomou a ideia arquetípica do modelo de estrutura quádrupla da
psique, encontrado nos sistemas tipológicos da antiguidade, já descritos no início
deste capítulo, e já tendo sido referida por Jung na sua obra Tipos Psicológicos. De
acordo com Jung:57
...nossas tentativas modernas de tipologia não são novas e nem originais, ainda que nossa
consciência científica nos permita retomar esses caminhos antigos e intuitivos. Temos que
achar nossa própria resposta para o problema, e uma resposta que satisfaça os anseios da
ciência.
Tabela IX.1 – Os quatro tipos de temperamento estudados por diversos autores ao longo do
tempo.
Fonte: KEIRSEY, 1978.
56
M. da L. CALEGARI, Temperamento e Carreira: desvendando o enigma do sucesso, 2006.
57
Tipos Psicológicos, 1991.
58
D. KEIRSEY, Please Understand Me II: Temperament Character Intelligence, 1998.
117
Os quatro estilos básicos de temperamento definidos por Keirsey, que
configuram as quatro matrizes tipológicas do seu modelo, se baseiam em duas
características temperamentais básicas: como o indivíduo se comunica com os
demais (podendo ser concretos ou abstratos) e como procura conseguir os seus
objetivos (podendo ser utilitaristas ou cooperativos).
118
Quando ativos, realizam uma função estruturante, “modelando” a nossa
personalidade, conforme já foi visto no início desse capítulo. Deve-se ressaltar que
os símbolos arquetípicos e os tipos psicológicos são coisas distintas, mas cada
símbolo, de alguma forma, representa um (ou mais) tipos.
Alinhado com essa ideia, Keirsey utiliza os símbolos arquetípicos para
representar as suas matrizes tipológicas (cada uma se relacionando com 04 tipos
junguianos). O autor ressalta que os Deuses não são iguais aos tipos, apenas
apresentam algumas características que podem ser utilizadas como metáforas para
falar das matrizes. Apolo foi escolhido porque simboliza a verdade, a beleza e a
espiritualidade; Dioniso, porque representa a ação; Prometeu, a competência e o
conhecimento; e, finalmente, Epimeteu, a lealdade e o cumprimento do dever.
119
A tabela IX.2 apresenta algumas características dos diversos tipos. Aproveite
para verificar o seu e corrigir se for o caso. A esta altura, se você leu com atenção
os capítulos anteriores, esta será uma tarefa fácil. Como a gente não é um
personagem, mas gente de carne e osso somos mais que uma pessoa.
120
“O que somos para a nossa visão interior, e o que o homem aparenta como
subespécie aeternitatis, só pode ser expresso através do mito. O mito é mais
individual e exprime a vida com mais precisão do que a ciência. A ciência trabalha
com conceitos de médias que são demasiado gerais para serem justos com a
variedade subjetiva de uma vida individual” (JUNG apud RANDAZZO, 1993, p.60).
Maria Zélia Alvarenga (2007) associou cada tipo a um Deus Grego.
ISTJ ISFJ INFJ INTJ
(Inspetor) (Protetor) (Conselheiro) (Mente Brilhante)
HEFESTO ARTEMIS DIONISO APOLO
Tabela IX.3
Fonte – elaborado a partir de Mitologia Simbólica- Estruturas da Psique e Regências Míticas
(Maria Zélia Alvarenga e cols. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007).
121
A tabela IX.5 apresenta ao leitor outras hermenêuticas. Trata-se da busca
pelos universais que voltam a ter sentido a partir da ideia de inconsciente coletivo de
Jung.
122
De acordo com os mitos que nos referimos, se adequam tal e qual tipologia.
A tabela IX.6 apresenta outras leituras em diferentes culturas.
59
Wikipedia
123
Exu é o orixá da comunicação, como Hermes. Ele faz o erro virar acerto e o
acerto virar erro. Exu é phonesis, consciência em movimento.
Os filhos de Exu são sensuais, dominadores e inteligentes (ST). Gostam da
vida cercada de barulho, muitas pessoas e romances de todo tipo. Adoram festas e
não se prendem a ninguém, são muito impulsivos (ESTP).
Talvez, influenciado por Exu tenha resolvido concluir este capítulo com humor
expresso pela Tabela IX.7:
124
Capítulo 10
Estrutura Arquetípica de Narrativas
Dorothy e o Leão Covarde. Alice e o Chapeleiro.
Oz e a Toca do Coelho.
Arquétipos que se repetem.
O Gato é o Bobo, que serve a Alegria.
O Chapeleiro é o Mago que encanta o mundo com sua dança maluca.
Ah! Cuidado com o Jaguadarte.
Em seu livro Memórias, Sonhos e Reflexões, Jung narra como nomeou duas
imagens que apareceram para ele de Philemon e Salomé durante uma experiência
de imaginação ativa. De acordo com Jung essas imagens personificavam dois
arquétipos: o Velho sábio e a Anima. Jung, entretanto, imediatamente reduziu essas
personificações a categorias apriorísticas.
"Pode-se dizer que essas duas figuras são personificações do logos e de
Eros, porém, sabemos que toda definição é excessivamente intelectual. Seria muito
mais interessante deixar as figuras serem o que elas foram para mim naquele
momento: um evento estranho, inominável, pura experiência".
Ao contrário de tentar interpretar as personificações, Jung declara que prefere
experenciá-las do modo como são, isto é, considerá-las como se fossem pessoas
reais. Existem, então, duas tendências em Jung: uma que poderíamos chamar de
intelectual e outra que é experencial.
Na hermenêutica simbólica a pessoa é o início, o meio e o fim da jornada e
que suscita um engajamento existencial.
Gilbert Durand trabalha com a ideia de pregnância simbólica (Cassirer 1994),
característica própria de quem fecunda sentidos em uma gravidez de Ser.
Na jornada interpretativa, diz Durand (1988), saio de meu lugar tranquilo,
deixo meus “pré-conceitos” e “pré-juízos” e vou buscando o sentido nas obras da
cultura e da arte. Mas, curiosamente, essa jornada interpretativa que me leva para
fora também me remete para o mais específico, para o mais interior das minhas
descobertas.
“Nascer é ao mesmo tempo nascer do mundo e nascer no mundo. O mundo
já está constituído, mas também nunca completamente constituído [...]” (MERLEAU-
PONTY, 1971)
O ser humano é um sujeito dinâmico e partidário de um simbolismo que é o
produto do meio onde ele evolui.
125
As imagens simbólicas, que constituem o seu imaginário, nascem da
interação dos imperativos pulsionais e subjetivos que modelam a representação do
real objetivo e das restrições ou intimações objetivas do meio (DURAND, 1988)
O arquétipo do Herói que vigorou por mais de cinco mil anos cede espaço
para o arquétipo do Mago. O Amante é superado pelo Explorador.
Carol Pearson, no livro “O Herói e o Fora da Lei” escolhe doze “imagens
arquetípicas” para auxiliar o criador de histórias, produtos ou experiências a dar vida
aos seus personagens, enredos, aventuras.
Doze seriam as “imagens arquetípicas” básicas utilizadas no desenvolvimento
de identidades: o sábio, o inocente, o explorador, o herói, o fora-da-lei, o mago, o
cara comum, o amante, o bobo da corte, o prestativo, o criador e o governante.
Todos estes elementos podem ser concebidos como tendo uma base
arquetípica que se expressa no mundo por meio de tipologias.
Da mesma forma como vestimos a tartaruga do Logo60 de personagens ou
ambientes, atribuindo ações a estes componentes do todo, podemos dar alma a
cada elemento de uma narrativa.
60
Seymour Papert
126
Mark e Pearson (2003) no livro “O Herói e o Fora-da Lei” reúnem alguns
conceitos históricos sobre os arquétipos. Afimam que, para C. G. Jung, eles estão
ligados a um inconsciente coletivo, que se manifesta em mitos e é um produto
individual. Os mesmos autores afirmam que Platão os definia como “formas
elementares”, e Adolf Bastian como “ideias elementares”. Já em sânscrito, eram as
“formas conhecidas subjetivamente”, e na Austrália, eram os “Eternos do Sonho”.
127
Preparados os Egos os Amantes buscam compromisso com os outros
enquanto os Exploradores colocam seus objetivos, suas carreiras, acima das
relações. Ambos buscam uma Terra Prometido, em que se realizarão. No caminho é
preciso Destruir o velho para Criar o novo. É preciso morrer para se poder renascer.
“Quando o arquétipo do Criador está ativo, as pessoas são devoradas pela
necessidade de criar uma vida, da mesma forma como um artista é devorado pela
necessidade de pintar ou um poeta pela necessidade de escrever” (PEARSON,
1995).
Completada a jornada da alma é a hora do retorno ao Self. Enquanto o Sábio
busca a Verdade, o Bobo serve à Alegria. Enquanto o governante busca dominar o
mundo, o Mago deseja transformá-lo. Redenção e Iluminação. “A transição do
palhaço ou do trapaceiro para a condição de Bobo Sábio ocorre quando o Bobo
experimenta a iniciação através do Amor... No nível mais elevado, o Bobo
transforma-se no Bobo sábio e sagrado, que experimenta a alegria durante toda a
vida e torna-se quase diáfano” (PEARSON, 1995).
Temos histórias que falam da inocência e outras que contam histórias de
Amantes, que podem se chamar Romeu e Julieta ou naufragar com o Titanic. Temos
histórias de órfãos como o ET de Spielberg, e de órfãos que viram heróis como o
Harry Potter de Rowling. Cultuamos histórias de heróis como Guerra nas Estrelas ou
de Foras da Lei como nas aventuras do velho oeste. Não são mais que uma dúzia
de histórias que se recontam e se combinam, como as sete notas que são capazes
de gerar todas as músicas.
Para dada narrativa arquetípica temos uma estrutura. É óbvio, diriam os pós-
modernos, que é uma estrutura deformada pela emoção.
No ato 1 temos um mundo comum em que algo acontece convidando-nos a
aventura. Recusaram-se somos como Homer Simpson, que como o Carlitos, é um
ESFP (extrovertido, sensorial, sentimental e vivendo o aqui e agora). Se aceitarmos
outros arquétipos são constelados. Surge o “Mentor” que nos acompanha a passar
um primeiro limiar.
Entramos no ato 2, quando surgem aliados que nos auxiliam a passar por
uma série de testes. Surgem também os inimigos que prexisam ser vencidos.
Precisamos penetrar na caverna oculta e passar por toda a sorte de provações até
alcançar a recompensa.
128
Ao começar o ato 3 estamos percorremos o caminho da volta. A ressureição
do herói foi alcançada. Gilgamesh conquista a imortalidade (nem sempre o final é
triste como no mito original) retornando com o elixir precioso.
A psique consciente é regida pelo pensamento dirigido, ou adaptativo, linear.
A psique inconsciente pelo pensamento circular, onírico ou mitológico.
Portanto, o ego tem o pensamento apolíneo de adaptação à realidade
externa, linear que funciona pelo mecanismo de associação de ideias racionais. O
inconsciente opera pelo mecanismo associativo de imagens mitológicas.
“Um dos grandes divisores de água entre as escolas de Jung e Freud é a
linguagem escolhida para a difícil tarefa do tornar-se consciente: a palavra em
Freud, e a imagem fantasia, em Jung” (MARONI, 2001).
Pensamento dirigido ou linguístico – rede de conversações externas.
A matéria com que pensamos é a linguagem e o conceito linguístico. Ao
pensarmos de modo dirigido, pensamos para outros e falamos a outros → linear
(JUNG, 1999).
Pensamento –fantasia –Sonhos-fantasias-mitos.
“Pelo pensamento-fantasia se faz a ligação do pensamento dirigido com as
camadas mais antigas do espírito humano, que há muito se encontram, abaixo do
limiar da consciência [...]” (JUNG, 1999).
“Na obra, acontece esta abertura, a saber, o desocultar, ou seja, a verdade do
ente. Na obra de arte, a verdade do ente pôs-se em obra na obra. A arte é o pôr-se-
em-obra da verdade.” (HEIDEGGER, 1999, p.30).
“Amante carne que resiste e cede, cede e resiste”. (Bachelard, 1989)
129
Capítulo 11
Design Arquetípico de Personagens
Todo este universo é um livro em que cada um de nós é uma frase.
Nenhum de nós, por si mesmo, faz mais que um pequeno sentido, ou
uma parte de sentido; só no conjunto do que se diz se percebe o que cada um
verdadeiramente quer dizer. Fernando Pessoa
130
Temperamentos e personalidades não são a mesma coisa.
Estes não são os tipos. Estes são estereótipos coletivos, empregados para
definir personagens. Pessoas reais são mais complexas, trocam de persona como
131
quem troca de roupa. O show funciona porque reconhecemos a origem arquetípica
dos enredos e dos personagens que povoam os diferentes ambientes.
Gandalf, um Racional, convive com Samwise Gamgee, Guardião, protetor de
Frodo, Idealista. Podemos falar de um tipo “elfo” (T) ou “hobbit” (S). A Terra Média é
habitada, também, por humanos (F) e Magos (N).
Na vida real podemos imaginar Stravinsky, Marta Grahan e Picasso, como
Artesãos. Gandhi seria um Guardião. Freud um bom exemplo de Racional, ao
contrário de Jung, Einstein e T. S. Eliot, que seriam Idealistas.
Agora, creio, já podemos trocar o chapéu seletor de Hogwarts pela argúcia do
leitor em reconhecer tipos.
Corvinal foi fundada por Rowena Ravenclaw (Garra de Corvo). De acordo
com Rowling, a Corvinal representa o elemento ar. Poucos membros dessa casa
são citados nos livros de Harry Potter. Uma das virtudes mais prezadas por
Rowena era a inteligência (T). Os membros da Corvinal são inteligentes,
perspicazes e gentis, ainda que misteriosos. Possuem uma grande sede de
conhecimento e pensam rápido na hora de dizer algo gracioso. Se você é um
Racional, esta é a sua casa. Curiosamente, o símbolo da casa é a águia e não o
Corvo.
"Quem sabe será a velha e sábia Corvinal
A Casa dos que tem a mente sempre alerta
Onde os homens de grande espírito e saber
“Sempre encontrarão companheiros seus iguais”
Lufa-Lufa (Hufflepuff) foi fundada por Helga Hufflepuff (acho ela muito
parecida com Maria de Montesori) e preza os que trabalham muito, são pacientes,
amigos leais e justos. De acordo com Rowling, a Lufa-Lufa corresponde a um dos
quatro elementos, a terra. Lufa-lufa é muito unida à Grifinória, embora todos sejam
de tamanha bondade e ajudem todas as casas. São bastante conhecidos por sua
imensa gentileza. Se você é um Guardião, esta é a sua casa.
"A Meiga Hufflepuff das planícies"
"Para Hufflepuff, os aplicados eram Os merecedores de admissão;"
"Quem sabe é na Lufa-Lufa que você vai morar,
Onde seus moradores são justos e leais
Pacientes, sinceros, sem medo da dor."
"Disse Hufflepuff: 'Ensinarei a todos, E os tratarei como iguais.'"
"A boa Hufflepuff acolheu os que restaram."
"Os alunos da casa Hufflepuff, não se importam apenas com si mesmo, gostam de ajudar, são muito
inteligentes e gostam de aprender, e sempre são unidos".
132
Grifinória foi fundada por Godric Gryffindor, um homem de muita bravura e
coragem. De acordo com J.K Rowling, a Grifinória corresponde ao elemento fogo,
que talvez seja a razão de suas cores. Se você é um Idealista, esta é a sua casa.
Se você é um Artesão, Sonserina (Slytherin) é a sua casa, fundada por
Salazar Slytherin. Os Slytherin costumam (a maioria, não todos) orgulhar-se da
"raça", são astutos e têm um enorme desejo de poder. De acordo com Rowling, os
Slytherin representam o elemento água. Até o Mago Merlin pertenceu a esta casa.
A principal característica dos membros dessa casa é a perseverança e a
ambição: são capazes de usar quaisquer métodos para atingir seus objetivos, sendo
estes bons ou ruins. Se deles for exigida a coragem, a sabedoria ou a lealdade para
alcançarem o fim que desejam, as terão.
Rowling afirma que o personagem Harry Potter foi inspirado em sua própria
vida. Seria uma espécie de autobiografia.
133
Quando interpretamos um mito, um conto de fadas, cada personagem é uma
subpersonalidade oculta que deseja se manifestar. A esquizoanálise defende que o
self não é algo, mas o todo em harmonia, imanência e transcendência.
Fernando Pessoa nos diz a mesma coisa, nos versos de Álvaro de Campos,
seu heterônimo mais atribulado.
"Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora."
134
Jô Soares e Eliezer Mota são exemplos de transformação quando
abandonam suas personalidades sérias e incorporam o Capitão Gay, protetor das
minorias e seu fiel assistente, Carlos Suely. Neste caso, aparentemente, o que
temos é uma paródia bem humorada para os personagens dos quadrinhos e, mais
recentemente, do cinema, Batman e Robin.
135
Capítulo 12
As Marcas, o Marketing e o Branding Arquetípicos
Todos os objetos, desde que se libere o seu sentido simbólico, tornam-se
signos de um intenso drama. Tornam-se espelhos aumentadores de sensibilidade!
Nada mais no universo é indiferente, desde que se conceda a cada coisa a sua
profundeza. (Bachelard, 1994, p. 36)
Arquétipos Necessidades
Criador, prestativo e governante Estabilidade e controle
136
Há exemplos de marcas que possuem em sua essência arquétipos bem
definidos, como por exemplo, a Coca-Cola, que busca a imagem do arquétipo do
inocente através de situações infantis e doces. Já a Harley Davidson possui o
arquétipo do fora da lei, que desafia e quebra barreiras.
Uma marca bem construída tem sua essência arquetípica. Cabe ao marketing
transmitir a imagem que usamos para vestir este(s) arquétipo(s) de modo consciente
com o intuito de alcançar determinado público.
Para Tomiya (2010), marca é essência, é uma descoberta de quem se é. O
autor cita empresas como IBM e Apple, que ao longo de sua trajetória tiveram que
buscar estratégias de recuperação voltadas para a redescoberta da sua identidade
essencial, pois estavam envolvidas em crises mercadológicas.
Os estudos dos arquétipos se orientam pelas características expressivas
essenciais dos seres humanos, para a busca dos seres básicos, intrínsecos a todas
as culturas. Para Mark e Pearson (2003), marca é um conjunto de características
funcionais, significados e valores.
O objetivo do design, que antes era ligado apenas à criação de um produto,
serviço e outros elementos de comunicação, agora está voltado ao desenvolvimento
de experiências, ao processo de relações e interações. Não se compra uma marca
pela qualidade do produto, mas pela experiência que ele proporcionará (PETERS,
2005).
Mark e Pearson (2003) dizem que o primeiro passo exige que entremos no
papel de biógrafo da marca, resgatando tanto o lado racional (história documentada)
quanto o emocional (folclore da marca), fazendo perguntas como:
• Quem criou e por quê?
• O que estava acontecendo na cultura como um todo na época em que a
marca foi criada?
• Como a marca se posicionou no início?
• Qual foi a melhor ou mais memorável comunicação já criada para a marca?
• Como os consumidores vêm se relacionando com a marca ao longo dos
anos?
• Como eles se relacionam hoje com a marca?
• Qual é o fator que faz a marca se destacar da concorrência?
137
Estética é a ciência que estuda o que nos afeta. Assim como as marcas,
produtos também podem contar histórias que falam das vivências e experiências
que tivemos com os objetos. Chamamos isso de Memória Afetiva, a partir da qual
relembramos os momentos importantes na vida.
O marketing e o design pretendem, também, contar histórias, desta vez
propositalmente. Histórias capazes de evidenciar aspectos de um serviço, produto
ou experiência, de modo a constelar arquétipos dominantes pra uma pessoa, um
grupo, uma cultura ou uma época.
Steve Jobs e Steve Wozniak criaram a Apple em 1976 visando o lucro, mas
com uma premissa mais revolucionária e mais voltada ao “lado humano do
computador” ao construir um computador pessoal acessível a todos e com uma
interface mais amigável ao usuário.
Assim como os mitos são histórias contadas através dos arquétipos, os
serviços, produtos e experiências contam histórias que podem ser conscientes ou
inconscientes.
Um determinado produto de uso de segurança residencial, como um cofre,
por exemplo, pode ter o objetivo de representar resistência, coragem, força e
confiança. Todas estas são características pertencentes ao arquétipo do Guerreiro.
Porém, um produto onde a segurança tenha uma conotação diferente, referente à
proteção e ao cuidado, como um berço infantil, estaria de acordo com a
personalidade do arquétipo Materno, ou seja, do Caridoso. O ideal do Caridoso é um
pai ou mãe extremosos e perfeitos, bons e carinhosos (Brusque, Edmar, 2011)61.
Um esportista pode ter preferência com o conceito do Guerreiro, que luta pela
vitória; já um escritor pode se identificar com o arquétipo do sábio, que possui
conhecimento sobre as coisas. Por outro lado, uma criança muito jovem, ou um
bebê, pode interagir melhor com produtos relacionados com o arquétipo do inocente,
onde confia e acredita na proteção (ibidem).
Acreditamos que as pessoas se identificam e consequentemente preferem
produtos e marcas que representam os arquétipos mais fortes no momento atual de
suas vidas.
Cinema com pipoca.
61
“Design emocional. Um estudo de caso com base na Psicologia Junguiana”. Trabalho de Conclusão do
Especialização em Design Emocional da PUCPR, 2011
138
A ótica da psicologia junguiana sugere que há uma seqüência através dos
arquétipos que reflete a jornada de todos nós. Este trajeto ilustra como temos
pensamentos diferentes sobre as coisas no decorrer nas fases da vida dependendo
dos arquétipos mais presentes (ibidem).
Steve Jobs, em sua biografia, disse: “Quer dizer, Picasso tinha um ditado que
afirmava: ‘artistas bons copiam, grandes artistas roubam’. E nós nunca sentimos
vergonha de roubar grandes ideias”. Parece que estou ouvindo Hermes, um deus
sonso e ladrão na poesia de Chico Buarque e Edu Lobo, o próprio arquétipo do
Ladrão Criador.
Como passamos por diversas fases de acordo com jornada arquetípica e as
etapas são bastante diferentes, as necessidades também têm características
particulares de acordo com os arquétipos, possuindo desejos e aspirações de
acordo (ver Figura X.2).
As decisões e escolhas sempre envolvem a emoção (em primeiro lugar) e
depois a cognição (razão). Danos nas regiões do cérebro associadas às emoções
nos tornam incapazes das decisões mais elementares. A maior intensidade de
cognição e emoção nas escolhas que fazemos depende do tipo de serviço, produto
ou experiência em questão, das preferências pessoais, da afinidade com as coisas e
do momento.
Um tipo Pensamento pode agir por impulso (TP), mas esse parece ser um
comportamento algo mais frequente em um tipo Sentimento (SP).
O objetivo de desenvolver uma marca e administrá-la a partir da utliização dos
estudos de arquétipos não é desenvolver um significado passageiro para uma
campanha, mas criar e manter uma expressão mais duradoura de uma identidade,
providada de significado, e expressá-lo através de uma marca gráfica, que
funcionaria como um sintetizador visual desse sistema de significados. Assim,
através da psicologia arquetípica compreender, ajustar, administrar e classificar
categorias de produtos, empresas e serviços, através do desenvolvimento de valor
para identidades e marcas, motivando experiências emocionais nos consumidores
(MARK; PEARSON, 2003).
O segundo passo, após o estudo mito hermenêutico, segundo Mark e
Pearson (2003) é buscar a substância da marca: Nessa etapa é necessário analisar
a verdade sobre o produto ou serviço, verdade física e contemporânea, se a relação
com o consumidor é de fato o que diz ser:
139
• O papel da marca é funcional ou ele expressa algum valor para seus
usuários?
• A marca faz parte de uma categoria de produtos com alto envolvimento ou
com baixo envolvimento?
• O uso da marca é ocasional ou rotineiro?
• Qual é o nível de fidelidade dos consumidores à marca?
140
A American Marketing Association (2012) define o termo marca como “um
nome, termo, desenho, símbolo ou qualquer outro que identifique os produtos de
uma organização ou serviço, distintos de outras”.
Para Tybout e Calkins (2006), uma marca é um conjunto de associações
vinculadas a um nome, sinal ou símbolo, relacionadas a um produto ou serviço. A
diferença entre um nome e uma marca é que um nome não tem associações; é
simplesmente um nome. Uma marca é bem parecida com a reputação.
O quarto passo consiste em “Conhecer os seu consumidor”. Esse último
estágio é importante para garantir que o arquétipo será significativo para o cliente-
alvo.
O quinto passo é “administrar a Marca”.
Ainda sobre a definição de marca, Perez (2007, p. 138-167), coloca:
A marca como conceito mercadológico refere-se a um termo, sinal,
ou a combinação destes, que tem por objetivo distinguir uma oferta
de outras. Na perspectiva legal, marca é um sinal de identidade que
tem por objetivo distinguir uma empresa ou produto da concorrência.
Tanto em uma direção, a do marketing como em outra, a do direito, a
marca incorpora características de identidade e representação e
nesse sentido, a marca é um signo. Remetendo à noção peirceana
de signo, “alguma coisa que representa algo para alguém”. A marca
representa um objeto: empresa, produto, ideia, serviço... para
alguém: consumidor real ou potencial e todos os públicos intérpretes
deste signo
142
Usar o fator “o que você poderá ser” é mais poderoso no marketing do que “o
que você é”, pois desperta impulsos adormecidos, justamente os que levam ao
consumo.
Atualmente as empresas se diferenciam por seus valores, e, de acordo com o
quadro XII.2, vivenciamos a era 3.0 do marketing (KOTLER, KARTAJAYA e
SETIAWAN, 2010).
Como as empresas Compradores de massa, Consumidor inteligente, Ser humano pleno, com
veem o mercado com necessidades dotado de coração e coração, mente e
físicas mente espírito
143
Para se relacionar com uma marca, é necessário que um processo de
identificação seja criado, dentro de uma estratégia de branding. Para Mark e
Pearson (2003): “um produto com identidade arquetípica fala diretamente à matriz
psíquica profunda dentro do consumidor, ativando um senso de reconhecimento e
significado”.
Sobre arquétipos e incosciente coletivo, Silva (2002), no livro “O Mito em
Ernst Cassirer e Carl Gustav Jung”, reforça que “chamam-se arquétipos a certos
tipos originais de representações simbólicas que estão contidas nele e que, por
consequência, se econtram de modo semelhante, com o mesmo valor afetivo, em
povos de diferentes raças, afastados, que não puderam ter influência histórica uns
sobre os outros, e mesmo em indivíduos isolados.”
O mesmo Silva (2002), citando Lalande (1993), ainda coloca: “Os arquétipos,
segundo C. G. JUNG, são, no plano das estruturas mentais e das representações,
os corolários dinâmicos daquilo que são os instintos no plano biológico, modelos de
ação e de comportamento. O arquétipo é, de algum modo, a ‘Gestalt’, o aspecto, a
forma e a imagem do instinto. Antes de empregar a palavra arquétipo, Jung
designava-os como sendo ‘os dominantes do incosciente coletivo’”.
A administração do significado de uma marca pode ser executada a partir do
gerenciamento de arquétipos (MARK; PEARSON, 2003). Dessa maneira, uma
marca bem definida dentro de um arquétipo desenvolverá maior poder de alcance e
relacionamento junto a seu público-alvo.
As marcas que capturam o significado essencial de sua categoria dominam o
mercado. As melhores marcas arquetípicas são, em primeiro lugar, produtos
arquetípicos, criados para atender e incorporar necessidades humanas
fundamentais. (MARK; PEARSON, 2003)
Ou seja, o que se busca, no desenvolvimento de produtos e suas formas de
comunicação, é algo que seja inerente às pessoas, que pertença à maioria dos
mundos possíveis. Ainda assim, os arquétipos auxiliam na determinação de como
esses produtos podem “convencer” os consumidores através de sua comunicação.
Um produto ou serviço de uma marca com um arquétipo bem definido sustentará
uma vantagem de alcance e relacionamento junto ao consumidor.
Randazzo (1993), que se utiliza da construção de arquétipos para a
construção de marcas, traz a percepção de que a construção psíquica de uma
marca é ferramenta fundamental.
144
Uma marca existe num espaço psicológico, na mente do consumidor. É uma
entidade perceptual, com um conteúdo psíquico definido, que é maleável e
dinâmico.
A publicidade é o meio que nos permite ter acesso à mente do consumidor,
criar um inventário perceptual de imagens, símbolos e sensações que passam a
definir a entidade perceptual que chamamos de marca.
Dentro desse espaço perceptual da marca, podemos criar mundos sedutores
e personagens míticos que, graças à publicidade, ficam associados ao produto e
que finalmente passam a definir nossa marca. (RANDAZZO, 1993, p. 27)
145
Capítulo 13
Liderança Arquetípica
146
Como apresentado na Tabela XIII.1, a liderança transformacional
(Transformational Leadership), proposta inicialmente por Burns (Leadership, 1978) e
aprofundada posteriormente por Bass e Avolio (1994), é a teoria que apresenta a
maior presença entre os trabalhos contemporâneos. Trata-se, de fato, de uma teoria
que tem embasado a maioria dos trabalhos sobre liderança, desde meados da
última década do século XX.
62
Usarei Mago das Tecnologias para diferenciar do Mago Mágico de Carol Pearson. O Mago de Moore e Gillete
é mais cientista do que bruxo. Ele lidera por ser o especialista em sua área, o que lhe confere autoridade. Seria
algo entre o Sábio e o Mago de Pearson.
147
A Liderança Trasformacional corresponde, sem dúvida, ao Líder Rei que, com
seu carisma pode, de fato, transformar o mundo. Termos como Liderança
Sustentável, Liderança Espiritual, Liderança Servidora, e outras, seguem o mesmo
padrão arquetípico.
Em geral, os autores criticam a liderança a partir de um cargo ou posição
(McCrimmon, 2005) e defendem que a sociedade do conhecimento prescinde muito
mais de grupos autogerenciáveis do que de estruturas hierárquicas, pois a solução
para problemas complexos advêm de grupos auto-organizados sem a necessidade
de gestão ou direção (Mintzberg, 1998; Petersen, 2007)
Um desafio para os estudiosos de hoje é como acomodar os conhecimentos
acumulados para um mundo em que o elemento era o ser humano para esta nova
humanidade que privilegia o trabalho em equipe, times de alto desempenho, em que
a liderança como em um “voo de gansos” flui, o tempo todo, de um participante do
grupo para outro.
O estudo quantitativo realizado por Ensley, Hmieleski e Pearce (2006) fornece
algum indicativo sobre a questão. Eles compararam a liderança vertical e a liderança
compartilhada para trabalhadores envolvidos na criação de novos empreendimentos.
Para eles, estes trabalhadores obtêm melhores resultados quando atuam em grupos
não centralizados. Mas fazem uma ressalva de que a liderança vertical pode ser
importante nos estágios de pré-formação do empreendimento.
De fato, para transitar entre velhos e novos paradigmas, a mediação é
necessária. Talvez um Líder Rei, ou mesmo Guerreiro seja necessário para liberar o
Líder que existe dentro de cada um de nós e que, por tanto tempo, foi soterrado sob
as montanhas da acomodação.
Um dos focos fundamentais da liderança compartilhada é o engajamento e o
empoderamento da equipe em torno dos valores e dos objetivos organizacionais
(Pearce, 2003). O modelo de liderança compartilhada vem sendo muito utilizado e
discutido nos trabalhos que envolvem as organizações do conhecimento.
A era pós-industrial exige que a liderança tenha seu foco baseado nos
aspectos relacionais e coletivos, enfatizando as relações laterais e as redes de
conhecimento nas organizações, em detrimentos das relações hierárquicas
(Hansson & Monsted, 2008; Magliocca & Christakis, 2001). O mito de um líder com
controle total sobre as atividades deve ser deixado para trás (Mintzberg, 1998).
148
Uhl-Bien, Marion e McKelvey (2007) apresentam uma proposta para abordar
ou estudar os temas gestão e liderança de forma equilibrada e no contexto de uma
única teoria. Para isto eles propõem dois níveis de liderança: a liderança
administrativa e a liderança adaptativa.
A primeira está focada nas funções burocráticas, dando, aos líderes, papéis
gerenciais de tomada de decisão, planejamento e coordenação. Já a segunda trata
das dinâmicas de interação e emergência que produzem os resultados adaptativos
em um sistema social. Neste caso, a liderança adaptativa não seria uma ação de um
indivíduo, mas uma dinâmica de agentes interdependentes capazes de gerar
mudanças no sistema social.
Entre as qualidades pessoais do líder para angariar respeito em equipes de
conhecimento estão o conhecimento, o carisma, a segurança, energia, entusiasmo,
empatia, valores e autenticidade mesmo em situações e ambientes desafiadores
(Cohen, 2008; Hansson & Monsted, 2008). Taylor (2004) menciona em seu trabalho,
uma pesquisa realizada por uma empresa de consultoria em desenvolvimento de
talentos, com mais de 40.000 trabalhadores, na qual se constatou que os
trabalhadores desejam que o líder seja confiável, justo e tenham carinho e respeito
por eles. Sarker, Sarker e Schneider (2009) alertam, porém, que os atributos
valorizados variam entre diferentes culturas.
Parece que os trabalhadores estejam pedindo ou um Líder Amante, sedutor
irresistível, ou um Líder Rei, que os possa proteger como um pai protege aos seus
filhos.
Henry Ford já dizia. Se eu perguntasse aos meus consumidores o que eles
queriam, teriam me respondido: Um cavalo mais rápido.
O que os trabalhadores estão pedindo não é aquilo que eles precisam. Como
professor, dez anos atrás, eu formava trabalhadores. Hoje formamos
empreendedores.
Liderança é um elemento que envolve relações sociais de mútua influência,
seja no compartilhamento de concepções e visão de mundo, ou na simples
execução de uma tarefa (Yukl, 1998). Desta forma, aspectos culturais, políticos e
relacionados ao poder, que são inerentes aos processos sociais, deveriam ser
tratados e estar no centro das discussões sobre liderança. Não é, entretanto, o que
se observa.
149
A liderança baseada em valores é um elemento fundamental para preservar e
promover a motivação e a responsabilidade e pode contribuir de forma efetiva para o
comprometimento e o comportamento responsável dos trabalhadores do
conhecimento (Alvesson & Sveningsson, 2003; Petersen, 2007).
A Tabela XIII.2 apresenta as características da liderança segundo diferentes
autores. Observem a redundância do “quatro”. Este padrão é, na verdade um
Arquétipo de Arquétipos, um Atrator de Atratores.
Tabela XIII.2 Tabela construída por Micheline Krause63 com base nos conceitos de
Moore e Gillette (1993)
O “Líder Rei” é aquele que recebe o poder diretamente das mãos de alguma
divindade. A imagem do rei é de uma pessoa que nasceu no poder, Geralmente é o
proprietário de uma organização, o espírito que anima o negócio, a razão de existir
de um investimento. Impressiona e lidera aonde chega, sem necessidade de se
impor (Moore; Gillette, 1993).
150
Ainda, segundo os autores, pode-se afirmar que o rei é um arquétipo
simbolizado pelo líder que promove, concede audiências, premia e homenageia (por
justiça).
As características de personalidade do Líder Rei são: sensatez,
racionalidade, franqueza, paciência com os defeitos alheios, tranquilidade,
crescimento, integridade e calma. Seu caráter é racional e não emocional. Aceita
“exigências adversas” contrárias para atingir o fim almejado.
O imagem do Líder Guerreiro é de alguem altamente capaz, objetivo e rápido.
A eficácia é sua característica principal. O líder que se identifica com este arquétipo
tem as seguintes características: clareza de pensamento, precisão, força e
habilidade sempre alerta. É alguém que “veste a camisa”, leal, capaz de recuar e
contornar se isto for necessário, exibindo um distanciamento emocional dos
problemas e da vida.
O Líder Amante apresenta a imagem de uma pessoa muito simpática,
popular, sorridente e afável; que irradia confiança, tranquilidade e harmonia. Sua
característica diferenciadora é o entusiasmo e a paixão, apresentando grande
sensibilidade ao meio externo, criatividade, descontração e alegria. O Amante sente
a dor alheia e tem dificuldades em se decidir, pois teme desagradar alguém. É ele
que detém o poder de fato, na maioria das vezes, podendo liderar greves em prol do
interesse de sua classe.
Seu tipo de ação é a Afetiva (essencialmente emocional), caracterizada por
afetos ou estados emocionais momentâneos.
O Líder Mago das Tecnologias é o mestre da arte do uso dessa tecnologia, o
ancião do ritual de passagem e sua tarefa é iniciar os outros. Aquele que vê em
profundidade e percebe a falsidade. Possui ideias equilibradas e sensatas com
golpes contundentes de lógica. É alguém que tem um conhecimento acima da
média. Como subalterno cria dificuldades para seus superiores não qualificados
devido à sua grande capacidade intelectual.
Necessita de liberdade de tempo e de espaço, cria, organiza e programa com
maestria. Na empresa, é conhecido por sua eficiência. É o melhor administrador e
conservador dos negócios da empresa. Prefere trabalhar com o coletivo.
Gestão do Conhecimento
151
Sua ação é do tipo Racional: estimulado pelos Valores, pela crença
consciente no valor absoluto ético, estético, religioso, independem do resultado.
Têm necessidade de reconhecimento.
Agora vejamos: O rei (diretor) tem uma ideia genial, que pode trazer mais
lucro para a empresa. O problema é que a proposta não é muito prática, então entra
em ação o guerreiro (gerente), que vai arregaçar as mangas e transformar a
inspiração em realidade, mas é preciso que o mago das tecnologias (administrador
financeiro) use seu poder de organização e libere a verba e que o amante (gerente
de RH) ajude a harmonizar o ambiente e evite que todos os outros se digladiem.
Todos nós temos um pouco de cada uma das características do Rei,
Guerreiro, Mago das Tecnologias e Amante, mas algumas sempre sobressaem.
Saber adequar cada tipo é essencial hoje no mundo corporativo. As empresas
precisam viver em harmonia interna para suportar o turbulento ambiente externo.
A convivência entre pessoas de estilos diferentes pode significar o sucesso
ou a derrota de uma empresa ou de um relacionamento. A organização é como uma
orquestra, cada qual com sua respectiva função. Se todos tocarem perfeitamente, o
som será maravilhoso, porém se um desafinar, o som não será tão maravilhoso
assim. Se trocarmos a pessoa que toca violino pelo do piano, talvez um não toque
tão bem quanto o outro ou talvez nem toque e mais uma vez o som não será tão
audível assim.
Na organização funciona da mesma maneira, se trocarmos o especialista em
RH pelo que trabalha na área Financeira, o departamento pode não ter o mesmo
desempenho se estivesse com o profissional adequado.
Existem níveis possíveis dos arquétipos se apresentarem: o nível
inconsciente, ou infantil e o consciente ou adulto (MOORE e GILLETTE, 1993).
Ao nível infantil o Guerreiro / Herói é caracterizado pelo valor, heroísmo,
coragem, destemor. Ele possui o auge das energias masculinas do menino. É
imaturo para administrar a vida adulta, mas possui independência, competência,
diferenciação, amor e brilho próprios. É capaz de sacrifícios.
Neste mesmo nível o Amante / Edipiano é caracterizado pela emoção,
profundidade e verdade interna. É simbolizado pela ternura, afeto, espiritualidade,
unidade, comunhão, amor e nutrição perfeitos e infinitos.
152
O Mago das Tecnologias / Precoce é caracterizado pela graciosidade,
equilíbrio, concentração e autoconfiança, avidez por conhecimento e desejo de
partilhá-lo. Gosto pela aventura. Pioneiro, explorador, introvertido, meditativo e adora
ajudar. É o conselheiro e orientador.
O Rei / Divino é caracterizado pelo sentimento de amor e veneração, mas ao
mesmo tempo é frágil e indefeso. Tem a necessidade de se sentir com poder sobre
as pessoas queridas.
Os Arquétipos também podem se manifestar em seu lado sombrio. O conceito
de “Sombra” foi abordado por Jung em seus estudos arquetípicos. Essa Sombra
personifica o “duplo” do indivíduo. É identificada por alguns como sendo um tipo de
alter ego recalcado e perverso (MANNION, 2004.).
De acordo com seguidores de Jung, é do confronto com a Sombra que se
conquista a personalidade ou individualidade.
As sombras personificam os tipos ou arquétipos psicológicos com menos
características em nossas vidas (o inverso da predominância). Fugimos deles,
fazemos de conta que eles não existem e, acima de tudo, os escondemos dos
outros e de nós mesmos.
As Sombras são erráticas e incoerentes nos levando a desperdiçar recursos,
energias e trabalho. Elas acabam induzindo diversos tipos de problemas para a
pessoa e seus relacionamentos. Podemos oscilar entre elas.
Vimos como os Arquétipos do Rei, do Guerreiro, do Amante e do Mago das
Tecnologias se manifestam nas crianças. Vamos ver agora, as suas sombras.
O Valentão Exibicionista (arrogância) / Covarde (Foge da briga, sente-se
invadido).
O Filhinho da Mamãe (se perdendo na visão idealizada dos pais) / Sonhador
(sensação de isolamento).
O Trapaceiro Sabichão (perito em criar aparências e enganar) / Palerma (sem
senso de humor).
O Tirano da Cadeirinha Alta (narcisista carente) / Príncipe Covarde (mimado e
sem personalidade).
Estas sombras também podem se manifestar nos adultos. Temos:
O Sádico (insensibilidade) / Masoquista (derrotado).
O Viciado (inquietação) / Impotente (depressão).
153
O Manipulador Frio (ganância) / Inocente Negador (falsa ingenuidade). Aqui
Prestupa (2008) não resiste e inclui nesta categoria os professores de pós-
graduação.
Temos, ainda, o Tirano (odeia, teme e inveja o novo) / Covarde (que esconde
o desejo de ser adorado).
Da Tabela XII.2 vimos que o Rei corresponde aos conceitos de Liderança
Autorizada ou Delegada. (idealizador). O Guerreiro é associado à Liderança diretiva:
capacidade de execução, objetividade, concentração e praticidade.
(operacionalização, vendas). O Amante tem a ver com a Liderança Transacional:
valorização dos sentimentos e valores, a busca da harmonia e empatia. (relações
Públicas, RH) e o Mago das Tecnologias (aí mais próximo ao Mago de Carol
Pearson) com a Liderança Transformacional: aprendizado sistêmico, teórico e
abertura a novidades. (consultor, gestor).
Desta forma, a profundidade da tipologia de liderança baseada em arquétipos
permite que a organização identifique potencialidades e coloque “a pessoa certa no
lugar certo” maximizando a capacidade produtiva de cada um.
Steyrer (1998) ressalta as inúmeras investigações sobre o tema Liderança,
feitas nas últimas décadas, em um esforço “… para analisar os líderes excepcionais
que têm efeitos extraordinários sobre seus seguidores tanto de um ponto de vista
teórico quanto empírico...”.
Citando Bryman (1992), Steyrer (1998) propõe uma “nova abordagem para a
liderança”, subdividida em três perspectivas de investigações distintivas entre:
• Gestão e liderança;
• Liderança transformacional e transacional;
• E uma análise do fenômeno carisma.
O autor cita Bennis e Nanus (1985); Kouzes e Posner (1987); Kotter (1988),
Burns (1978); Bass (1985), House (1977); Conger e Kanungo (1987); Kets de Vries
(1988); Conger (1989); Howell e Frost (1989); House et al. (1991); Howell e Avolio
(1992); House e Howell (1992); Shamir et al. (1993; 1994); O ' Conner et al. (1995);
Steyrer (1995); Kirkpatrick e Locke, (1996); Deluga (1997).
154
“O núcleo comum dessas abordagens frequentemente sobrepostas encontra-
se em suas visões de liderança como transmissão de valores e significados por meio
de ação exemplar, bem como pela articulação de uma visão inspiradora. O
pressuposto básico é que este tipo de liderança transforma as necessidades,
valores, preferências, desejos e aspirações dos seguidores, levando-os de seus
interesses individuais aos interesses coletivos, tornando-se, portanto, altamente
comprometidos com a missão do líder e dispostos a fazer sacrifícios no interesse da
missão” (STEYRER, J. 1998).
155
Capítulo 14
Arquétipos, Tipologias e a Criatividade
“Todos nós somos muito mais ricos do que imaginamos. Ninguém tem uma vida sem
magia, graça ou poder. Nossos recursos interiores, frequentemente inexplorados e até
mesmo desconhecidos ou não reconhecidos, são os tesouros que carregamos, o que
chamo de nosso DNA espiritual” (CAMERON)
156
"Sou artista suficientemente para desenhar livremente com minha
imaginação. A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento
é limitado, a imaginação rodeia o mundo" (Albert Einstein).
A arte é um sistema de uso de imagens. Devemos utilizar o nosso tempo para
abastecer conscientemente a nossa imaginação. Pensemos nela como um lago,
cheio de imagens vívidas e móveis. Desejamos mantê-lo assim para que, quando
precisarmos delas, não fiquemos exauridos.
“Aprendendo pela prática a produzir arte, vivendo habilmente, exploramos a
nossa mina de ouro. O que eu chamo de “mina de ouro”, os egípcios chamavam de
“raio de ouro”. É a conexão individual, indiscutível e indestrutível com o divino”
(CAMERON).
Para Jung (1985) o impulso criativo surge do inconsciente coletivo, como uma
árvore surge do solo do qual extrai o seu alimento. O alimento do processo criativo é
arquetípico. Assim, as expressões criativas poderiam ser consideradas autênticos
símbolos.
Para sermos criativos temos de entrar em contato com a Criança Criativa ou a
Criança Divina dentro de nós. “Em todo adulto espreita uma criança – uma criança
eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita
cuidado, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana
que quer desenvolver-se e tornar-se completa” (C. G. JUNG).
Alma corresponde à nossa personalidade interna, que faz relação com os
processos psíquicos internos (inconsciente). Representa o âmago do nosso ser, a
essência mais profunda da nossa personalidade (JUNG, 1991).
James Hillman denomina “criatividade psicológica” o cultivo da alma, objetivo
maior da terapia (BERNARDI, 1995).
Keirsey chama os sensoriais perceptivos de artesãos porque esses
indivíduos, concretos e utilitaristas, agem para concretizar os seus impulsos,
semelhante ao trabalho feito no artesanato, onde o artista utiliza as mãos para dar
forma a uma imagem interna.
A conexão de Dioniso com o corpo pode ser comparada metaforicamente à
preferência que os sensoriais perceptivos têm de se comunicar com o mundo pela
função sensação, porta para a experiência sensorial. Eram os melancólicos da Idade
Média e Renascença, artistas como Albrecht Dure, Rafael Sânzio, Goto,
Michelangelo Buonarroti e tantos outros.
157
O uso da função sensação os torna pessoas concretas, muito cientes da
realidade e nunca lutando contra ela, sempre de olho em compromissos viáveis e no
que ocorre em volta, capazes de ver as necessidades do momento, armazenando
fatos úteis, fazendo as coisas com "nada de teorias", talentosos com máquinas e
ferramentas, agindo com economia de esforços, sensíveis à cor e a textura.
O dinamismo está fortemente presente nesses indivíduos, que estão sempre
em movimento (da mesma forma que o Dioniso viajante) mesmo que pareçam estar
parados, como o pintor em seu estúdio, por exemplo. Costumam serem pessoas
impulsivas, audaciosas, agitadas e com inclinação para atividades artísticas.
Bastante ativos, têm prazer em ser notórios e não se incomodam em ser o centro
das atenções – por isso costumam ter sucesso como jogadores de futebol,
empresários, artistas, promotores de eventos, jornalistas, etc.
O que move os artesãos é a liberdade, impacto e ação. Eles veem as
situações e fazem o necessário para que os desejos sejam imediatamente
concretizados.
Eles confiam nos seus impulsos e utilizam as ferramentas disponíveis nas
mãos (sejam elas físicas ou teóricas), para a realização das metas.
Criatividade para eles é desafio, alegria e liberdade. A criatividade dos
artesãos modifica uma ideia já existente para que nasça uma nova perspectiva.
Criatividade é variação e quebra de limites. Consiste em buscar ação e
impacto, a depender do que a situação irá requerer.
Os artesãos querem ideias que possam proporcionar um melhor uso do que
eles tenham na mão, quebrando barreiras e que possam ter uma utilização imediata.
Para o artesão Voltaire “Originalidade nada mais é do que imitação com
julgamento”
A responsabilidade e a dedicação de Epimeteu fez com que Keirsey o
associasse metaforicamente aos indivíduos do tipo SJ Guardiões. Os tipos realistas
judicativos (SJ) são concretos e cooperativos, apresentando um sentido aprimorado
de dever, responsabilidade e dedicação, tanto às pessoas quanto ao trabalho e às
instituições. A união do lado concreto da função sensação, com a função judicativa
na relação com o mundo externo, faz com que esses indivíduos tenham certa
preferência (e facilidade) para cuidar do mundo e dos outros em qualquer território,
seja família, instituições públicas ou privadas, organizações, etc.
158
A atitude julgadora torna essas pessoas resolutas, vivendo de acordo com
planos, padrões e costumes. Gostam de ter os assuntos resolvidos e decididos,
visando um melhor planejamento. Tem facilidade para concluir tarefas, aceitam a
rotina e usam com facilidade a força de vontade.
Este tipo não é impulsionado pelo desejo de independência e liberdade como
o SP, mas sim pelo desejo de servir e ser útil aos demais, voltando-se para o
trabalho e para o cumprimento de seus deveres e compromissos.
Esses indivíduos são socializadores e, como Epimeteu, disciplinadores
(devemos lembrar que este titã, no mito grego, fez questão de assumir a tarefa de
realizar a partilha justa das qualidades dos seres vivos).
Os guardiões conseguem as coisas certas para as pessoas certas no tempo
certo, com um determinado orçamento.
Eles gostam que as operações e eventos corram eficientemente e
tranquilamente. Preferem tornar as coisas mais fáceis para os outros, em termos
práticos, cuidando para que tudo dê certo.
O lado logístico vem da função sensação, que facilita a manipulação dos
detalhes das operações. Esta função, atuando como auxiliar ao nível de consciência
faz com que esses indivíduos importem-se primeiramente com os detalhes da
experiência direta, aplicando esse princípio a si mesmo e em relação aos outros,
amigos ou desconhecidos, que cruzam o seu caminho. São pessoas geralmente
práticas, convencionais, sociáveis e bem adaptadas às rotinas.
Criatividade para eles é uma mudança que cresce progressivamente –
algumas vezes tão gradual que pode passar despercebida
Criatividade é um brincar frívolo. Portanto, geralmente não deve ser
considerada. Para ser criativo, o indivíduo precisa estabilizar condições caóticas por
razões de segurança, um passo de cada vez.
Os guardiões querem ideias que trabalhem, sejam seguras, possam ser
planejadas e facilmente implementadas.
Para o guardião Thomas Alva Edson Criatividade é 1% inspiração e 99%
transpiração.
A busca pelo conhecimento, o desejo de compreender, controlar, predizer e
explicar as realidades, são características típicas das pessoas que pertencem à
matriz tipológica NT, Racional.
159
Keirsey e Bates observam: "Note que esses são os quatro propósitos da
ciência: controle e entendimento, predição e explicação. Raspe a superfície de um
NT e encontrará um cientista".
Os tipos intuitivos racionais (NT) são analíticos, sistemáticos, abstratos,
teóricos, intelectuais, exigentes, independentes, lógicos e técnicos, curiosos e
científicos, geralmente se interessando pela pesquisa. A inteligência fascina os NT,
por essa razão buscam competências, habilidades, capacidades e destrezas.
Os racionais analisam e ponderam sobre as situações de forma abstrata. Eles
conceituam, explicam probabilidades e os fatores que os influenciam de uma
variedade de perspectivas. Essas pessoas gostam de questionar suposições.
Fazendo assim elas testam as suas próprias competências, assim como as
capacidades dos outros.
Pesquisa e análise suportam o desenvolvimento de seus conceitos e ideias.
A criatividade para os racionais é como uma equação composta de
considerações multidimensionais para a visão estratégica e cumprimento de metas.
E ela continua quando os racionais encontram as palavras certas para articular
suscintamente esses conceitos.
Criatividade é visão. Envolve a aplicação de uma análise, estratégia e
hipótese competentes para acessar, realizar e aplicar as qualidades
multidimensionais da verdade.
Os racionais querem ideias que eficientemente integrem e utilizem novos
conhecimentos
Para o Racional Thomas Disch “A criatividade é a habilidade de ver relações
onde nada existe”.
O aspecto luminoso e espiritual de Apolo mobilizou Keirsey a utilizá-lo como
metáfora para falar dos indivíduos da matriz tipológica NF. A luminosidade desse
deus, que se sente totalmente à vontade no reino celestial, está traduzida na
característica “abstrata” dos Idealistas.
Para Keirsey, esses indivíduos estão mais voltados para o mundo das ideias
e da imaginação, diferente dos concretos, que estão mais focados nos assuntos
materiais. Essa característica é proveniente da dominância da função intuição, em
detrimento da função sensação.
160
Os indivíduos NF, por causa da função intuição dominante, tendem a transitar
entre as imagens internas, correndo atrás de todas as possibilidades inconscientes,
usando a função julgadora “sentimento” para dar forma às suas percepções. Essa
forma, muitas vezes, expressa através da arte, torna as contribuições e influência
desses indivíduos extraordinários, posto que a maioria dos escritores procede deste
grupo. No entanto, o impacto que este tipo causa não se limita à palavra escrita.
Os idealistas constroem pontes entre as pessoas. Eles adoram atuar como
catalisadores do crescimento dos outros. As pessoas dessa matriz tipológica
aproveitam a vida empaticamente. Eles são direcionados para resolver assuntos que
são mais profundos e fazem isso movendo para outro nível de abstração,
geralmente utilizando símbolos como unificadores.
A criatividade para essas pessoas é a expressão de uma identidade única e a
sinergia em trabalhar junto para produzir algo maior do que uma pessoa sozinha
possa conseguir. Os idealistas encontram maneiras novas para ajudar as pessoas a
se relacionarem e produzirem harmoniosamente de forma que cada necessidade
pessoal seja encontrada.
Para o Idealista Arthur Koestler: “A atividade criativa pode ser descrita como
um tipo de processo de aprendizagem onde mestre e aprendiz estão localizados no
mesmo indivíduo”.
Criatividade é auto expressão. A criatividade está em ser um catalizador ou
facilitador da auto realização, de si e dos outros. Está em suportar o
desenvolvimento de um todo harmonioso e unificado.
Idealistas querem ideias que ampliem potenciais humanos e respeitem as
pessoas envolvidas
Um grupo criativo é um grupo de pessoas que estão interessadas em apoiar a
criatividade umas das outras fazendo essa jornada juntas.
Os 16 tipos psicológicos (padrões de energia) nos movem a criar e vivenciar
diferentes experiências. O termo “voz” é utilizado metaforicamente para descrever
um padrão de energia psíquica que é revelado quando expressamos opiniões,
crenças, valores e desejos.
Cada “voz” individual representa um padrão de energia único para motivação,
processamento cognitivo e experiência de vida. Quando usamos a nossa voz,
criamos o futuro.
161
Papéis das Vozes e sua Ordem de Uso nos Processos Cognitivos
MBTI 1a 2a 3a 4a 5a 6a 7a 8a
TIPO Líder Suporte Descarga Aspirante Opositora Parental Enganadora Demoníaca
Crítica
Artesão
ESTP Se Ti Fe Ni Si Te Fi Ne
ESFP Se Fi Te Ni Si Fe Ti Ne
ISTP Ti Se Ni Fe Te Si Ne Fi
ISFP Fi Se Ni Te Fe Si Ne Ti
Guardião
ESTJ Te Si Ne Fi Ti Se Ni Fe
ESFJ Fe Si Ne Ti Fi Se Ni Te
ISTJ Si Te Fi Ne Se Ti Fe Ni
ISFJ Si Fe Ti Ne Se Fi Te Ni
Racional
ENTJ Te Ni Se Fi Ti Ne Si Fe
ENTP Ne Ti Fe Si Ni Te Fi Se
INTJ Ni Te Fi Se Ne Ti Fe Si
INTP Ti Ne Si Fe Te Ni Se Fi
Idealista
ENFJ Fe Ni Se Ti Fi Ne Si Te
ENFP Ne Fi Te Si Ni Fe Ti Se
INFJ Ni Fe Ti Se Ne Fi Te Si
INFP Fi Ne Si Te Fe Ni Se Ti
Frases Chave
Funções Perceptivas Funções Julgadoras
Se – O que está acontecendo no momento Te – Avalia e estrutura usando princípios
Si – O que aconteceu no passado – mensuráveis
lembrando detalhes Ti – Analisar para entender
Ne – Geração de opções do que pode ser Fe – Avalia e harmoniza as pessoas de
Ni – O que isso representa – antevê acordo com as necessidades delas
possibilidades Fi – Alinha as situações de acordo com os
valores pessoais
Tabela XIV.1 As vozes que usamos no dia a dia e que precisamos aprender a
usar para nos tornarmos mais criativos.
162
A voz dominante, principal, a 1ª é a que usualmente se desenvolve mais cedo
na infância. Nós tendemos a ficar engajados inicialmente no processo dessa função,
utilizando o mesmo para a resolução de nossos problemas, nos ajudando a ter
sucesso. Sendo a mais utilizada e mais confiável, ela geralmente tem uma qualidade
madura adulta.
Normalmente acessamos essa função automaticamente. Temos muito mais
controle consciente sobre ela. A quantidade de energia psíquica utilizada para esse
processo é muito baixa.
A função dominante tem uma qualidade heroica na medida em que nos tira de
situações difíceis. No entanto, algumas vezes nós “amplificamos o volume” desse
processo, o que traz dificuldades. Nesse caso essa voz aparece como uma
qualidade negativa dominante na nossa vida.
A voz de suporte, auxiliar, é a 2ª. Na sua forma mais positiva é como um
parente que cuida e nos educa. Em seu aspecto mais negativo, ela pode ser “super
protetora”, impedindo o nosso crescimento. Quando a função dominante é
extrovertida, a auxiliar é introvertida e vice versa. Quando essa voz é extrovertida
pode parecer mais ativa porque é mais visível
A voz de reforço, terciária, é a 3ª. A voz de reforço nos propicia energização.
Ela serve como backup para a função auxiliar e geralmente opera em cooperação
com ela. Quando somos jovens podemos não saber utilizá-la adequadamente até
que circunstâncias da vida requeiram ou tornem difícil a utilização da função auxiliar.
Usualmente, na fase adulta inicial somos direcionados a atividades que precisam
desse processo. É quando somos engraçados e pueris.
Na sua expressão mais negativa, é quando nos tornamos ingênuos. Nesse
caso ela adquire uma qualidade inquietante, e nós podemos usá-la para nos divertir
e distrair os outros, nos tirando dos alvos.
A 4ª voz é a de inspiração, inferior. Essa voz geralmente não se desenvolve
até a meia-idade. Inicialmente a experienciamos no seu aspecto negativo,
projetando os nossos medos nos outros. As qualidades desses medos refletem o
processo que opera nessa função. Assim podemos parecer imaturos quando
estamos sob a influência do processo que executa esse papel. Geralmente há um
custo alto de energia psíquica
163
As quatro últimas vozes estão na sombra. São processos que chegam à
consciência apenas sob certas circunstâncias. Nós geralmente experienciamos
essas vozes de uma forma negativa. No entanto, quando estamos abertos, elas
podem ser positivas
A 5ª voz, de oposição: “Geralmente aparece em como somos obstinados
(teimosos) e argumentativos nos recusando a executar e participar do que estiver
acontecendo no momento. Pode ser fácil para nós desenvolver habilidade no
processo que executa essa voz, mas parece que nós somos mais limitados na
nossa aplicação desta habilidade”.
A 5º voz irá demandar mais energia para ser executada. No seu aspecto
positivo ela estabelece uma sombra ou profundidade para o nosso processo
dominante, nos tornando mais persistentes na conquista de metas.
A voz parental crítica é a sexta: Essa voz aparece na forma de como
encontramos pontos fracos e podemos imobilizar ou desmoralizar a nós mesmos e
aos outros. Esse processo é geralmente esporádico na sua aparência e geralmente
emerge sob condições estressantes quando alguma coisa importante está em risco.
Para acessar o seu lado positivo de descoberta, nós devemos aprender a
apreciar e estar aberto à sua presença. Então ela tem uma qualidade quase mágica
e pode estabelecer um senso profundo de conhecimento e sabedoria.
A 7ª voz é a voz que nos ilude: ”Essa voz nos engana através do pensamento
de que algo é importante de se fazer ou de se prestar atenção. O processo que
ocupa esta função (7º.) é geralmente não confiável ou visto como digno de atenção.
Quando prestamos atenção a ele nós podemos cometer erros de percepção ou
julgamento, o que pode nos paralisar”.
No entanto, essa função pode ter um aspecto positivo na medida em que
estabelece um “alívio cômico” para as nossas vidas. Assim, podemos rir de nós
mesmos, o que pode ser revigorante. Recarregamo-nos através do divertimento.
A voz diabólica é a 8ª: Essa voz pode ser secretamente negativa. Utilizando o
processo que faz esse papel, nós podemos ser autodestrutivos ou destruir os outros.
Arrependemo-nos das ações ou não ações tomadas quando estamos
comprometidos com esses processos. Usualmente não sabemos como utilizar o
processo que acompanha essa função e ele geralmente irrompe de forma
inconsciente. No entanto, quando estamos abertos a esse processo, ele torna-se
transformador, nos dando o ímpeto para criar algo novo.
164
Vejamos como podemos usar essas vozes. Primeiro imagine que você seja
um ISTP. Monte um quadro semelhante ao apresentado abaixo para o seu tipo
específico.
Se você é um ISTP o que o Quadro XIX.1 diz é que você: “Quando eu entro
em uma nova situação, primeiro eu analiso para entender o que está acontecendo
na situação atual. Imagino o que isso representa e, então, busco harmonizar as
pessoas de acordo com as suas necessidades”.
Se você é um ENTJ o que o Quadro XIX.2 diz é que você: “Quando eu entro
em uma nova situação, primeiro eu avalio sua estrutura usando princípios
mensuráveis, vendo o que isto representa e antevendo possibilidades. Presto
atenção ao contexto atual e ajo de acordo com meus valores pessoais”.
Agora vamos para o seu tipo específico. A Tabela XIX.1 mostra as oito vozes
associadas ao seu tipo. Construa a seguinte frase usando as vozes da luz, as quatro
primeiras: “Quando eu entro em uma nova situação ... voz 1 ... voz 2. Posso
recarregar as minhas energias... voz 3 ... voz 4”.
165
Vamos a mais um exemplo. Seja um INFP. As quatro vozes da luz são: Fi;
Ne; Si e Te.
166
Capítulo 15
Conclusão
Através da profundidade as coisas coexistem cada vez mais intimamente, deslizam umas
nas outras e se integram. É então ela que faz com que as coisas tenham uma carne: sua
realidade, sua abertura. O olhar não vence a profundidade, contorna-a. (Merleau Ponty, O
visível e o invisível, 1964)
Judaísmo
A vida é preparação para um mundo vindouro.
Budismo
A vida é como um “sono”, de ignorância do
homem de sua verdadeira natureza, preso a um ciclo
de renascimentos e mortes. A “Verdadeira Sabedoria”
liberta para o Nirvana (perfeição espiritual). Há gratidão
aos que já foram pois se aprende sobre a morte
Islamismo
A morte é a passagem para a próxima etapa. No Juízo Final todos retornarão
em corpos jovens e sem defeitos. Não há luto; a morte deve ser vista como natural.
Hinduísmo
A vida é parte de um ciclo eterno de nascimentos,
mortes e renascimentos. A pessoa pode levar uma vida
voltada para o bem e se libertar desse ciclo.
167
Candomblé
A vida continua por meio da força vital imperecível de cada
um: o Ori, que volta a reencarnar em outro corpo da mesma
família.
Cristianismo
Após a morte o espírito vai para o céu ou para o inferno. No
Juízo Final todos ressuscitarão para uma vida eterna.
Visito toda segunda feira, a creche dos meus netos, onde sento no chão, com
as crianças, e conto histórias.
168
Só funciona quando eu conto as histórias que eles querem ouvir e não as que
eu trago prontas. Juntos, vamos construindo enredos, narrativas, tecendo cenários,
criando personagens.
Adoram o leão da Neméia, o Cérbero, mas também apreciam a Cuca, o Saci
e outros monstros imaginários (sempre do tamanho de um edifício de vinte andares)
que vamos construindo juntos. A mesma história, a do herói de mil faces de que
falava Joseph Campbell64, continua popular.
Como educador discípulo de Paulo Freire, busco educar para transformar.
Para isso temos que imaginar mundos, tantos mundos quantos sejam necessários
para que as pessoas possam se desenvolver, florescer. Para isso precisamos de
novas histórias. Defendo que o Arquétipo do Herói está sendo substituído, após dez
mil anos, pelo do Mago. Histórias da Grande Mãe, do Herói e do Mago são
necessárias em uma adaptação à Pedagogia Simbólica proposta por Charles
Byngton, ou para os novos currículos de uma “educação de parceria” como proposto
por Riane Eisler.
Meu avô Chico, único astrônomo amador de Sobral City, no Ceará, ajudou
Einstein em sua famosa experiência sobre a influência da gravidade nos raios
luminosos.
Fialho e Melly são Idealistas (afinal a maioria dos escritores é idealista).
64
Campbell, muito citado neste livro, foi um dos principais caçadores de histórias de nosso tempo.
169
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176
Apêndice 1
Testes para determinar meus tipos e arquétipos
www.keirsey.com
www.inspiira.org
Em inglês temos vários sites que permitem a realização dos testes. Por
exemplo:
http://www.humanmetrics.com/hr/JTypesResult.aspx
177
Às vezes se apresenta como um Guardião, ISFJ (Protetor). Isto acontece
quando fica mais preso mais à realidade do que aos seus mundos imaginários.
Como o centauro Quíron, que é quem supervisiona o “Acampamento Meio
Sangue”65. Enquanto as subpersonalidades intuitivas estão mais ligadas às
atividades que exerce no seu trabalho, no que se refere à família, são os seus
guardiões que se apresentam. Além do protetor, emerge o ESFJ (Provedor) que,
como Demeter, a deusa que cuida dos campos, provê tudo que é necessário para a
paz, segurança e harmonia de seu “acampamento”.
Quando a situação no meio profissional “aperta”, também não terei dificuldade
em chamar minhas subpersonalidades racionais. Que tal agir como um ENTJ
(Marechal de Campo) e evocar a força de Xangô. Afinal, passei metade da vida
como um “Mente Brilhante” (INTJ), apoiado pela deusa Atená, me dedicando a
competições de inteligência.
Posso ser “duro” dentro de casa, quando necessário. Aí evoco o ESTJ
(Supervisor) ou o mais pacato ISTJ (Inspetor).
A característica mais forte é o (J) seguido do (F). Um sentimental que planeja
as coisas que vai fazer. Alguém que coloca o perdão acima da justiça, um humanista
que valoriza tudo que é humano.
Não existe tipo melhor ou pior. Anote as horas do dia em que você é:
extrovertido (E) ou introvertido (I); sensação (S) ou intuição (I), pensamento (T) ou
sentimento (F); planejamento (J) ou preso ao aqui e agora (P). Vamos descobrir
quais as subpersonalidades que mais usamos. O segredo está em saber usá-las de
forma adequada. Como sou no trabalho? Com a família? Com os amigos?
Nas perguntas que se seguem, para cada escolha que fizer, anote se você é
moderadamente ou fortemente (E ou I), (S ou N), (T ou F), (P ou J). Anote também
aonde e em que situações suas subpersonalidades se manifestam.
Este livro, como dissemos na introdução, é uma iniciação. Procure aprender
um pouco mais a respeito de si mesmo.
Vamos lá. Caneta e papel na mão.
65
Quíron é um centauro que, na mitologia, domina as artes da cura, sendo tutor de alguns deuses em suas
infâncias. Riordam em sua série de livros sobre Percy Jordan o coloca como subordinado ao Deus Dionisio mas,
de fato, o supervisor do Acampamento que recebe os filhos de deuses e mortais.
178
INSTRUMENTO 1
Objetivo
INSTRUÇÕES:
Escolha um local tranquilo, relaxe e deixe sua mente ficar serena.
Inicie o preenchimento dos grupos de colunas, marcando com um "x" a
alternativa da coluna com a qual você se identifica mais. No final da coluna, marque
o total de “x” marcados. Considere a situação real, o seu aqui e agora. Não há
respostas "certas" ou "erradas".
179
COLUNA E/I
COLUNA E COLUNA I
Eu falo abertamente sobre o que penso ou sinto Eu penso antes de falar
Sociável Quieto
Em reuniões, eu me sinto energizado interagindo Posso ter apenas alguns amigos mais íntimos
com outros
Eu foco minha atenção nas coisas que estão Eu tendo a permanecer em uma só́ área
acontecendo ao meu redor e não me incomodo enquanto trabalho e não gosto quando sou
em ser interrompido. interrompido
Sou ativo, falante e cheio de energia Minha cabeça pensa no que minha boca deveria
dizer antes de eu efetivamente falar.
Eu entendo as coisas me movimentando Eu entendo melhor as coisas após refletir sobre
bastante elas
Gosto de manter contato com círculos grandes e Mantenho um círculo bem mais limitado de
variados de amigos e conhecidos que por sua vez amigos próximos e confiáveis; minha lista de
possuem interesses também variados. Tendo a interesses e atividades favoritas tende a ser
ser falante e amigável, obtendo grande prazer e igualmente menor, porém mais concentrada.
animação só de conversar com outras pessoas. Aparento ser uma pessoa mais reservada e
quieta (até tímido), mas geralmente possuo uma
abundância de reações internas ao que está se
passando à minha volta.
Gosto de ser o centro das atenções e adoro Pode ser difícil encontrar palavras para expressar
entreter outras pessoas e me divertir meu mundo interior. [calma, gosta de estar só,
conversando numa roda de amigos (quanto mais quieta, prefere não chamar atenção para si].
amigos, melhor!).
Gosto de ouvir e contar estórias como uma Quando em meio a um grupo prefiro conversar
forma de compartilhar quem eu sou, e de no "um-a-um", e com pessoas que conheço bem;
aprender sobre outras pessoas. [animada, posso achar desconfortável jogar conversa fora
energética, entusiasmada, chama atenção] com pessoas que tenha acabado de conhecer.
[intimidade, um-a-um, busca indivíduos].
Sinto-me energizado quando encorajo as pessoas Eu me sinto energizado quando reflito sobre
e coisas. meus próprios pensamentos e experiências.
TOTAL E TOTAL I
180
COLUNA S/N
COLUNA S COLUNA N
Realista Abstrato
Eu sempre vejo os detalhes antes de ver um Eu tendo a lidar com as coisas mais gerais e
padrão abrangentes
Eu tendo a ser literal Eu normalmente encontro um sentido figurativo
nas coisas
Eu posso perder a floresta para observar as Eu posso deixar de ver árvores observando a
árvores floresta
Eu gosto de me concentrar em fatos concretos Eu me sinto confortável com teorias e suposições
Tangível Eu leio as entrelinhas
Prático Conceitual
Eu me refiro às minhas experiências anteriores Eu prefiro focar em assuntos gerais visualizando
para lidar com situações atuais possibilidades futuras
Eu tendo a lidar com o aqui e agora Eu prefiro criar uma nova ideia do que melhorar
as velhas
Eu tendo a lidar com os detalhes de um assunto Eu me lembro dos detalhes sempre que eles se
referem a um padrão
Prefiro que as coisas ofereçam benefícios práticos a Valorizo a originalidade como um meio de expressão
mim e às outras pessoas. Valorizo o "bom-senso" pessoal e uma forma de incutir significado nas
porque é algo prático, realista, e, como já foi testado atividades do dia-a-dia; posso ser esperto, inventivo,
e aprovado pela experiência, funciona. Também aventureiro, e empreendedor. Tomo a iniciativa para
valorizo altamente o conforto pessoal e a segurança expor minhas ideias originais. Para mim a variedade
familiar. [realista, sensata, pé-no-chão, busca promove significado e progresso, enquanto a mesmice
eficiência] remove significado. [não-convencional, original,
diferente, o novo e incomum]
Prefiro trabalhar com materiais e objetos que já Exibo uma postura informal e descontraída na hora de
conheço, através de métodos familiares e práticos. resolver problemas, avançando sem planos muito
Me interesso por conforto físico que pode ser vivido detalhados. Com isso posso acabar não lendo as
aqui e agora. Prefiro construir a inovar, e me instruções do kit de montagem antes de começar a
interesso mais por ganhos modestos palpáveis do que montar algo. Tenho facilidade de trabalhar em
por oportunidades arriscadas de ganhos muito projetos não-estruturados que requerem
maiores. [pragmática, prática, voltada a resultados, improvisação. [pula de cabeça, estratégias vão se
aplicação] tornando claras durante o processo, adaptável]
Eu entendo melhor os conceitos quando posso Eu me energizo quando descubro as relações
aplica-los no mundo real entre as coisas
Eu tenho várias informações a minha disposição Eu me envolvo facilmente e ajo confortavelmente
com suposições
Utilizo a experiência como critério mais Trabalho melhor e com a maior quantidade de
importante na hora de avaliar o que é energia quando posso contar com variedade
verdadeiro e importante. Não vejo vantagem em constante e quando tenho a liberdade de decidir
substituir métodos que já comprovei por quando executar minhas tarefas. Valorizo
experiência própria. Prefiro o método da altamente a novidade e a variedade. Para mim o
"tentativa-e-erro" na hora de executar tarefas pior destino que uma pessoa pode ter é acabar
para as quais não existam procedimentos num emprego ou viver num lar monótono, numa
estabelecidos, começando sempre com algo que rotina que nunca muda. [espontânea, quer
já sei que funciona. [mãos-na-massa, aprende variedade, gosta do inesperado, procedimentos
por observação e experiência (e não pela teoria), atrapalham].
confia em experiência].
TOTAL S TOTAL N
181
COLUNA T/F
COLUNA T COLUNA F
Eu entendo melhor as coisas, quando elas são Eu entendo as coisas a partir de um gosto
apresentadas em uma ordem lógica pessoal e subjetivo
Eu devo ser tão direto, que outros me vêem Piedoso
como insensível
Negócio é negócio e normalmente não afeta Eu prefiro conhecer as pessoas antes de
amizade trabalhar com elas em uma tarefa
Eu penso em termos de causa e efeito Eu peso os meus valores e de outros ao invés de
usar princípios gerais
Quando eu examino um problema tento não me Eu sou orientado por valores. Quando tenho um
envolver problema sempre julgo pelo meu gosto
(bonito/feio; prazer/desprazer; bom/ruim)
Argumentos e debates ajudam-‐me a solidificar As minhas decisões são fortemente
as minhas decisões influenciadas pelos efeitos que possam ter sobre
os outros
Para mim, parece justo tratar as pessoas Para mim, parece justo tratar cada um como um
igualmente indivíduo
Eu tento ser objetivo quando tomo decisões Eu tomo decisões com base no que acho certo
para mim e para os outros
Eu fico energizado quando posso criticar uma Eu me sinto energizado quando posso apoiar os
idéia ou processo outros
Analítico Envolvente
Eu normalmente guardo minhas emoções pra Eu posso ser tão sensível aos outros que posso
mim ser direto ou indireto ao me expressar
Cético Apoiador
Eu normalmente aplico princípios a tudo Eu sou frequentemente o primeiro a notar um
conflito –normalmente me preocupo com as
pessoas
Realista Elogioso
Após uma avaliação ponderada de situações, Utlilizo o carinho e a gentileza para conseguir o
possibilidades, e das pessoas envolvidas, me que quero ou preciso. Por trás de minha postura
mantenho firme sobre minhas decisões. Agir de terna jaz a consciência de que há dois lados
outra forma seria rejeitar toda a lógica, o mutualmente contraditórios nas mais diversas
raciocínio, o questionamento, e a análise crítica questões, que acabam impossibilitando acordos
utilizada quando a decisão inicial havia sido puramente racionais. [gentil, coração-mole,
tomada. [firme, dura, preocupada com os fins]. sensível, preocupado com os meios].
Tendo a estar disposto a compartilhar meus Demonstro meus sentimentos e intenções com
pensamentos, sentimentos, interesses, e facilidade, ao ponto deles se tornarem óbvios.
preocupações somente com pessoas em quem Sou uma pessoa animada, calorosa, engraçada,
confio plenamente. Considero-me uma pessoa que tem uma certa facilidade de se abrir e contar
difícil de se conhecer; minhas reações meus segredos a outras pessoas, e que me
emocionais são geralmente internas; pode ser descrevo como uma pessoa fácil de se conhecer.
difícil que eu me abra com outras pessoas já que [expressiva, mais fácil de conhecer, aberta].
quanto mais incomodado eu me torno, menos eu
deixo esse incômodo transparecer. [contida,
mais difícil de se conhecer, privativa]
Prefiro tradições e convenções por estas Creio que as relações humanas são fonte de
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promoverem continuidade, segurança, e significado e de "verdade" em nossas vidas. A
validação ao meu meio social. Sinto-me "verdade" é algo pessoal e ao mesmo tempo
desconfortável com modismos e práticas que universal, e nunca existe isolada das pessoas em
fujam aos padrões tradicionais pois a estes falta si. Os sentimentos e as relações humanas são
a validação que somente o tempo, a experiência, mais importantes do os direitos. [pessoal, busca
e a aprovação de longo-prazo da sociedade pode compreensão, valores centrais, empática]
proporcionar. [convencional, tradicional,
costumário, testado e aprovado]
Encaro a crítica como uma forma válida de se Valorizo harmonia enormemente. Acredito que
chegar à verdade, e conto com a expectativa desafiar e confrontar é menos eficaz do que
de que as outras pessoas não a levem para o buscar acordos que incorporem os pontos de
lado pessoal. Creio que a crítica ajuda a vista divergentes, visando assim satisfazer o
maior número de pessoas possível.
resolver problemas de forma definitiva,
[acomodadora, aprovadora, concordável, quer
aprimora ideias, situações, procedimentos, e
harmonia]
evita as consequências de planos, decisões, e
pontos de vista errôneos. [cética, quer
provas, crítica]
TOTAL T TOTAL F
183
COLUNA J/P
COLUNA J COLUNA P
Eu me sinto mais confortável quando posso Eu me sinto confortável não tendo objetivos
controlar o meu ambiente claros
Eu gosto de acompanhar as coisas até o final Eu adio a finalização até o momento certo
Eu me sinto energizado quando estou finalizando Eu inicio muitas coisas, mas depois, perco o
meus compromissos interesse por elas
Eu tendo a finalizar as tarefas antes dos prazos Eu me sinto confortável com mudanças bruscas
de rumo
Confiável e tendendo à rigidez Flexível
Trabalho e diversão são assuntos diferentes Trabalhar deveria incluir algumas abordagens
divertidas
Eu me sinto preso por horários rígidos Eu gosto de curtir o momento sem ficar preso à
rigidez do tempo
Eu encaro a mudança como algo desconfortável Eu me adapto bem às mudanças em meu
a resolver ambiente
Eu levo minha vida de forma ordenada Eu gosto de levar as coisas sem estresse
Planejador Espontâneo
Eu planejo o meu trabalho e depois realizo Eu realizo o meu trabalho à medida que as coisas
vão acontecendo, sem um planejamento prévio.
TOTAL J TOTAL P
FOLHA DE TABULAÇÃO
TOTAL E TOTAL I
TOTAL S TOTAL N
TOTAL T TOTAL F
TOTAL J TOTAL P
184
O MEU TIPO PSICOLÓGICO É (os meus maiores escores)
______ _______ ______ ______
(E ou I) (S ou N) (T ou F) (J ou P)
185
INSTRUMENTO 2
COMO EU SOU?
Objetivo
INSTRUÇÕES:
Escolha um local tranqüilo, relaxe e deixe sua mente ficar serena.
Inicie o preenchimento das afirmações a seguir, marcando com um "x" a
alternativa com a qual você se identifica mais. Considere a situação real, o seu aqui
e agora. Não há respostas "certas" ou "erradas".
Após preencher completamente, lance suas escolhas na folha de tabulação.
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3. A minha meta é:
a) exercer a mestria de modo a melhorar o mundo. b) destruir aquilo que
não funciona (para mim e para a sociedade). c) pertencer, adequar-se. d) tornar
os sonhos realidade e) criar uma família, empresa ou comunidade próspera e
bem-sucedida. f) Ser feliz. g) Criação, identidade, dar forma a uma visão. h)
ajudar os outros. i) experimentar uma vida melhor, mais autêntica e mais
gratificante. j) utilizar a inteligência e a análise para compreender o mundo. k)
divertir-se e alegrar o mundo. l) manter um relacionamento com as pessoas, o
trabalho, as experiências que ama.
187
6. Os meus maiores dons são:
188
9. Quais as palavras que me descrevem melhor?:
Transcreva cuidadosamente suas escolhas dos "x" em cada linha; depois totalize
quantos "x" estão em cada coluna.
Afirmação Amante Caridoso explorador sabio bobo Mago inocente Fora- governante guerreiro Órf
da- (car
com
lei
m)
1 I e K l g c j b f a h
2 f b J k d I l h c g e
3 L h I J K F f b E a C
4 d a K h I f l e g c f
5 e h L b a d j f c g I
6 c d A l k j g l h e f
7 b g C E a f k l I j h
8 h f A B l k d j I g e
9 d j I L a c g k b e f
Total de
Pontos
(%) *
* Para calcular a porcentagem (%) multiplique por 5 a soma de cada coluna (total de
pontos).
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Você pode melhorar esta análise pedindo que um amigo, namorado, parente
ou pessoa próxima a você responda o questionário, avaliando a sua atuação. Você
poderá encontrar resultados muito parecidos, o que mostra que a forma de você se
perceber é muito parecida com a forma que os outros o vêem . Mas pode ser
diferente, e aí está uma ótima oportunidade de conversar com as pessoas à sua
volta e procurar chegar a um a conclusão que aprimore a sua maneira de enxergá-
lo.
Uma outra possibilidade é você perceber que o seu perfil vai mudando com o
tempo. Você pode colocar em sua agenda para novamente preencher este
questionário daqui a algum tempo e averiguar como as coisas se alteraram.
Caso você queira ter resultados ainda mais precisos de seu perfil, você pode
ao invés de um "x", distribuir 1 ou mais pontos entre as quatro alternativas de cada
afirmação, colocando mais pontos na alternativa que melhor lhe represente.
Por exemplo, se a alternativa "c" representa exatamente seu comportamento,
coloque 1 ou mais pontos nela, e zero em todas as outras três. Se você se sente
dividido entre as alternativas "a" e "d",você pode,por exemplo, colocar X pontos em
"a" e 3 pontos em "d" ou qualquer outra pontuação que melhor represente sua form
a de agir.
Sugerimos que você evite pontuações do tipo 2,5 em cada alternativa (a
menos que isto realmente represente sua forma de ser).
Certifique-se que a soma dos pontos em cada item seja igual a 10. Coloque
estas pontuações na Folha de tabulação e some nas colunas.
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