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ARQUÉTIPOS E TIPOLOGIAS

A Psicologia Profunda como base para uma hermenêutica

Ermelinda Ganem Fernandes Silveira


Francisco Antonio Pereira Fialho
2013

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ARQUÉTIPOS E TIPOLOGIAS

A Psicologia Profunda como base para uma hermenêutica

VETOR
São Paulo, 2013

2
Copyright

Ficha catalográfica

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SUMÁRIO - O MAPA DA NOSSA VIAGEM

Apresentação 7

Capítulo 1 – Introdução 10

Capítulo 2 – A história do pensamento tipológico 12

Capítulo 3 – O modelo Junguiano da psique 22

Capítulo 4 – Arquétipos, Mitos e Hermenêuticas 34

Capítulo 5 – As funções psicológicas e as atitudes da libido 50

Capítulo 6 – Psicodinâmica das funções e atitudes da consciência

Capítulo 7 – O modelo tipológico concebido por Carl Gustav Jung

Capítulo 8 – Os 16 tipos de Myers e Briggs

Capítulo 9 – As quatro matrizes de David Keirsey

Capítulo 10 – Estrutura Arquetípica de Narrativas

Capítulo 11 – Design Arquetípico de Personagens

Capítulo 12 – As Marcas, O Marketing e o Branding Arquetípicos

Capítulo 13 – Liderança Arquetípica

Capítulo 14 – Arquétipos, Tipologias e Criatividade

Conclusões

Apêndice 1 – Testes para determinar meus tipos e arquétipos.

Referências Bibliográficas

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Apresentação

Este é um livro com palavras e imagens. Se as palavras, estas bailarinas do


teatro de luz e sombra, falam às nossas múltiplas personas, as imagens, ensina
mestre Jung, articulam a linguagem das ânimas. Para as tipologias, as palavras,
para os arquétipos, as imagens.
O grande desafio aqui é o de popularizar conceitos muitas vezes complexos.
Isto não se consegue sem sacrifícios. Jung em uma entrevista se dizia feliz por não
ser um Junguiano. Falava, talvez, da impossibilidade de se citar outrem sem se
apropriar e se tornar responsável pela sua fala. Mesmo quando apresentamos uma
citação, estamos extraindo-a do solo em que foi plantada. A rosa do buquê não é a
mesma que perfuma o roseiral.
As palavras, como as imagens, são seres vivos que, na polissemia das eras,
amanhecem de uma forma e anoitecem sob outras vestimentas.
Os psicólogos, em geral, não gostam das tipologias, advertindo que elas
podem nos induzir a tentar rotular a indefinível singularidade dinâmica que somos
cada um de nós. Ao acordar nos comportamos de acordo com determinado tipo.
Trocamos de tipo como quem troca de roupa. Somos um no trabalho e outro no
amor. Pior que isto, temos várias subpersonalidades que tentam vencer o controle
tirânico de nossos egos, cada uma delas com a mesma volatilidade.
Assim como os arquétipos se alternam, ao constelarem as nossas vidas, da
mesma forma os tipos. Então o leitor perguntará. Para que servem eles?
A resposta a esta pergunta é: “Para tantas coisas que pensamos em reservar
um livro inteiro para falar delas”. Não fizemos isso. Achamos importante motivar o
leitor apontando algumas das inumeráveis aplicações possíveis a quem dispõe do
conhecimento aqui disseminado.
O livro começou a crescer tanto que quase fugiu de nosso controle. Ao
tradicional uso da mitologia grega, não resistimos a trazer as histórias da raça negra
e a dos índios brasileiros, que formam a nossa etnia. O jeito foi deixar estas histórias
para livros futuros. Os mitos são tão fascinantes que merecem um espaço maior.
Afinal ainda temos as “fadas amantes” da Irlanda, os pele vermelha americanos com
suas histórias tão bem coletados pelo nosso grande e inesquecível mestre, Joseph
Campbel, amigo e tutor de George Lucas.

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Darcy Ribeiro, o antropólogo, fala de seu encontro com Anísio Teixeira que,
junto com Paulo Freire, se tornou em mito da educação brasileira. “São gregos, dizia
Anísio a toda hora”, ao ouvir as histórias dos Tupinambás contadas por Darcy. O
que Anísio já constatava é o fato defendido por Jung de que os mitos são os sonhos
do nosso inconsciente coletivo, que compartilhamos com todos os seres vivos,
desde “a primeira alga a surgir no mar”.
Se como os gregos hilozoístas acreditarmos que “tudo tem vida”, e que a vida
anima até a pedra, então estaríamos falando do que Hilmann, discípulo de Jung,
chamava de Anima Mundi.
Joseph Campbel já nos mostrou o caminho para resgatar esse “inconsciente
coletivo” de que nos fala Jung. Coletar histórias, mitos, sonhos coletivos, recontados
de mil maneiras em função de tempo e espaço, que resgatam o não registrado pela
história.
Este livro nasceu em um conjunto de disciplinas que os autores ministraram
no Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, na
Universidade Federal de Santa Catarina: Gestão de Si mesmos; Gestão de Equipes
Criativas e Organizações Arquetípicas. Nestas, explorávamos as aplicações práticas
de uma hermenêutica junguiana para compreender empresas, equipes de alto
desempenho e nós mesmos.
O curso que damos sobre Psicologia e Criatividade, no Pós Graduação em
Design, é todo suportado pela Psicologia Profunda de Jung, que temos como um
diferencial. Da compreensão do que seja criatividade até a compreensão de nós
mesmos.
Falaremos sobre a estrutura arquetípica das histórias, o design arquetípico de
personagens além de marketing, marcas e branding arquetípicos. Tratamos disso
nos cursos de graduação em Design Gráfico, Design de Produto e Design de
Animação.
Temos os “Simpson” e a tipologia de cada um dos personagens da série. O
Senhor Fantástico, representando os Racionais; a Mulher Invisível, os Idealistas; o
Coisa, Guardião; e o Tocha representando os Artesãos. Sex and the City, as quatro
casas de Hogwartz de Harry Potter, tudo, consciente ou inconscientemente
associado à psicologia profunda. Esse quatro parece um padrão pitagórico, um
arquétipo com certeza. Os autores ficaram impressionados como o mesmo se repete
ao longo do livro.

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Acompanhamos teses usando este referencial sobre o estudo das lideranças,
organizações arquetípicas1 incursões na área de marketing, gestão de marcas,
semiótica, orientação profissional, etc.
Esse livro serve de introdução para muitos outros que virão a seguir. Uma
série de doze, quem sabe. Afinal doze é um número mágico, o quatro (água, terra,
fogo e ar) de que Jung gostava tanto, multiplicado pelos três elementos alquímicos,
o sal o enxofre e o mercúrio.
Jung dizia que “o encontro com a sombra é obra de aprendiz, enquanto o
encontro com a ânima é obra prima”.
Somos cavaleiros em busca do Santo Graal, alquimistas em busca da pedra
filosofal, meditadores a procura de iluminação. A grande obra é a construção de nós
mesmos, seres infinitos, projetos sempre inacabados. Que obra de arte é o homem
refletia Hamlet.
É a esta obra, o caminho para a construção do si mesmo, a jornada em
direção ao self, que o presente livro convida o leitor.
Trata-se, que ousadia, de um livro iniciático.

11
Tese de doutorado da Ermelinda sob a supervisão do Fialho (embora o Fialho tenha aprendido mais sobre Jung
do que a, então sua aluna, já apaixonada pelo mestre de longa data)

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Capítulo 1

Introdução
“A psicologia de tipos específicos de caráter até o momento mal começou a ser
esboçada”. (William James, 1902)

O ser humano não sabe lidar com o aleatório. Diante do acaso buscamos a
causa. Olhamos para as nuvens e não só imaginamos-criamos formas como somos
capazes de mostrá-las a outros.
Desde tempos remotos, a diversidade comportamental nos tem preocupado.
Dedicamos grande parte do nosso tempo especulando e pesquisando em buscas de
ilhas de estabilidade, símbolos capazes de sintetizar, agrupar. Na tentativa de
entender melhor o nosso comportamento, assim como o de nossos semelhantes,
começamos a classificar as pessoas, de acordo com suas semelhanças e
diferenças, originando, assim, os sistemas tipológicos.
Tais sistemas constituem-se em modelos característicos de uma atitude geral
que se manifesta em muitas formas individuais. Quando esses sistemas tipológicos
estudam os temperamentos das pessoas, temos os tipos psicológicos que
representam maneiras pelas quais as pessoas selecionam e organizam as
informações que recebem do ambiente externo, formam as suas ideias e tomam
decisões. Os tipos, assim, caracterizam as pessoas quanto a interesses,
preferências e habilidades.
Partindo de revisões históricas e observações empíricas, no início do século
XX, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) desenvolveu um sistema de
tipologia psicológica fundamentado em 20 anos da sua experiência como médico
psiquiatra, que culminou na publicação da obra “Tipos Psicológicos”2. Nesse
sistema, Jung agrupava as pessoas em oito tipos, cada um com a sua maneira
própria de temperamento.
Em paralelo ao trabalho de Jung, na Suíça, duas pesquisadoras americanas,
na década de 40, Katherine Cook Briggs e Isabel Briggs Myers, resolveram estudar
em profundidade o modelo criado por Jung concluindo que o mesmo podia ser
aplicado a um grande número de pessoas.

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Desta cuidadosa análise resultou a ampliação do modelo junguiano para 16
tipos e a criação de um instrumento psicométrico chamado de MBTI, utilizado para
determinar os tipos psicológicos das pessoas.
A partir do trabalho das pesquisadoras citadas, o inventário começou a ser
utilizado sistematicamente em vários estudos realizados nos Estados Unidos e em
outros países, o que contribuiu para uma maior fundamentação (validação) do
modelo tipológico junguiano.
O objetivo deste livro é construir uma estrutura de referência para ampliar o
nosso entendimento sobre o modelo tipológico Junguiano. Esta estrutura foi formada
a partir da revisão histórica do pensamento tipológico, associada às ideias de Carl
Gustav Jung e de Myers e Briggs sobre os tipos. Procuraremos demonstrar o
modelo teórico tipológico junguiano, dando informações sobre cada tipo psicológico
em um primeiro momento, para depois exemplificarmos de que maneira podemos
utilizá-los na prática.

Figura I.1 Pintura rupestre gruta de Lascaux, França, produzidas entre 15.000 e 13.000 a.C.
Fonte: Perassi, R. (2005)

Em “outros mundos”, o pintor Escher falava da infinitude. Somos uma


multidão. O nômade caçador de bisões continua a existir em nosso inconsciente
coletivo, Ao longo do dia mudamos de tipo como mudamos de roupa. Um deles, no
entanto, predomina.

2
Editado inicialmente em 1921
11
Ao fim deste livro, sob a forma de “apêndice”, o leitor encontrará vários testes
que o ajudarão a se identificar com os tipos e arquétipos que serão citados ao longo
deste livro. Sintam-se a vontade para fazê-los e refazê-los ao longo da leitura.
Somos uma multidão. Estes teste nos permitirão compreender um pouco mais as
nossas infinitas sub personalidades, inclusive a que denominamos por “ego”.

12
Capítulo 2

A história do pensamento tipológico

A faceta especulativa do pensamento humano levou à criação dos sistemas


tipológicos. As classificações primitivas guardam semelhança com as taxonomias
científicas, na medida em que constituem sistemas de noções não só agrupadas,
mas também hierarquizadas, com o objetivo de tornarem inteligíveis as relações
existentes entre os seres.
Essa tentativa de resumir em categorias as diferenças entre os seres
humanos teve a sua origem histórica nos sistemas astrológicos da China e
Mesopotâmia. A astrologia antiga era ligada à religião e utilizava uma tipologia
conectada à natureza para compreender os seres humanos, o tempo e o cosmos.
Os planetas e estrelas eram considerados deuses que determinavam o
comportamento das pessoas.
A observação dos astros e a crença de sua influência se
perdem na poeira do tempo. Stonehenge na Inglaterra e os
observatórios Maias falam destas crenças às gerações
modernas. Um dos registros mais antigos quanto à posição
dos astros na abóboda datam de 1300 a.C.3 na Mesopotâmia.
Talvez a primeira constelação a ter sido registrada tenha sido
a Ursa Maior. Certamente que os nomes Auriga, Draco,
Hércules e outros foram dados pelos gregos muito
posteriormente.

Figura II.1 – Anúbis, o deus da cabeça de chacal


Fonte: Perassi, R. (2005)

Anúbis é associado com a mumificação, à vida após a morte. Formando as


sagradas tríades, era casado com a deusa Anput, seu aspecto feminino, e pai da
deusa Kebechet. Os egípcios acreditavam que no julgamento de um morto era
pesado seu coração e a pena da verdade. Anúbis era quem guiava a alma dos
mortos no Além.

3
Veja Scientific American, novembro de 2006 Arqueo Astrologia e as tábuas MULANI

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Embora a astrologia não seja considerada como ciência, sua influência é
inegável. Será que nos comportamos de acordo com os “astros” “de fato”, ou será
que nossa crença de que nos comportamos de acordo com os astros provoca o
processo de identificação que temos com os nossos signos, ascendentes e posições
lunares fazendo com que acreditemos que assim seja? Inegável, de qualquer forma,
é a importância em termos de conhecimento popular da crença quanto à capacidade
dos astros de influenciar as ocorrências em nosso cotidiano.

A astrologia chinesa surgiu por volta do


ano de 2637 a.C., na dinastia do imperador
Huang-Ti, estando fundamentada no sistema de
calendário lunar.4 Assim como no zodíaco
ocidental há doze signos, um para cada mês, no
chinês existem doze signos (representados por
animais) um para cada ano lunar5. Neste
sistema tipológico, as pessoas nascidas no
período regido por determinado animal eram
influenciadas pelas características dele. Esta
influência iria formar ou adaptar traços de
temperamento da pessoa, relacionando-a ao
seu animal de nascimento. Para os chineses, o
animal associado ao ano de nascimento de uma
pessoa seria o animal escondido em seu
coração.
Figura II.2 – Escultura de Otávio Augusto
Fonte: Perassi, R, (2005)

4
O calendário lunar foi introduzido por Huang Ti e é considerado o mais antigo registro cronológico na história.
Um ciclo completo deste calendário abrange sessenta anos e se compõe de cinco ciclos simples de doze anos
cada, cada ano chinês, portanto, composto de doze luas novas. A cada doze anos, se adiciona uma lua a mais,
passando esse ano específico a ter treze luas novas. É por essa razão que o dia de início do ano novo chinês
nunca é igual.
5
A escolha desses animais ocorreu de acordo com uma lenda. Conta a lenda que antes do Senhor Buda deixar a
Terra, convocou todos os animais para virem até Ele. De todos os animais, somente 12 compareceram. Como
retribuição à consideração destes a Ele, Buda nomeou os anos com o nome dos animais que compareceram e o
fez de acordo com a ordem de chegada: Rato, Búfalo, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco,
Galo, Cachorro e Javali.

14
Já a astrologia do Antigo Oriente, principalmente a mesopotâmica,
considerada ainda mais antiga do que a chinesa, teve a sua origem há
aproximadamente três mil anos.6 Esse sistema tipológico, baseava-se na ideia de
que a natureza era constituída de quatro elementos, a saber: água, terra, fogo e ar.
Podemos compreender a teoria dos quatro elementos como uma espécie de física
primitiva, que tentava buscar revelar uma “ordem” no mundo, relacionando tudo com
tudo o mais que existe por uma categorização por analogias. O Cosmos, nessa
visão, existia pelo funcionamento harmonioso da interação entre os quatro
elementos.
A intersecção entre a teoria dos quatro elementos e a observação dos astros
no céu predominava no sistema astrológico do Antigo Oriente, no qual cada
elemento estava associado a um grupo de três signos do zodíaco. Dessa forma, os
signos de Gêmeos, Libra e Aquário estavam associados ao elemento Ar; os signos
de Áries, Leão e Sagitário estavam associados ao elemento Fogo e os signos de
Câncer, Escorpião e Peixes estavam associados ao elemento Água. No sistema
astrológico zodiacal descrito acima, a constelação imperante na hora do nascimento
da pessoa influenciaria o temperamento e destino correspondentes desta. A
influência seria determinada pelo signo astrológico, assim como pelo elemento
correspondente ao signo.7
Da Babilônia a astrologia foi levada à Grécia, por filósofos que lá estudaram,
e que acrescentaram sofisticações de cunho mais racional ao modelo. A tipologia
dos quatro elementos, assim, foi incorporada pelos médicos e filósofos gregos, que
criaram a teoria fisiológica dos quatro humores.
A teoria dos humores, desenvolvida por Empédocles e Hipócrates, partia da
premissa de que todas as substâncias da natureza eram formadas pela combinação
dos quatro elementos básicos irredutíveis (água, terra, fogo e ar). Esses elementos,
ao entrarem na composição do corpo humano formavam os “humores”: sangue,
fleuma, bílis amarela e bílis negra. Se estes elementos estivessem misturados de
uma forma equilibrada haveria saúde. No entanto, se houvesse falta ou excesso de
algum deles, ocorreria doença.

6
O documento astrológico mesopotâmio Namar Bel atribuído a Sargão, foi encontrado na biblioteca de
Assurbanipal (668-626 a.C) em Nínive, supostamente de 3000 a.C.
7
C. G. JUNG, Tipos Psicológicos, edição de 1991.

15
A ideia de saúde ligada ao equilíbrio e de doença ligado ao excesso ou a falta
na produção de “algo” (neurotransmissores, proteínas, etc.) permanece até hoje.
Por fim, Galeno, baseado em Hipócrates, acreditando que a depender do
predomínio de um dos quatro humores físicos encontraríamos quatro tipos diferentes
de temperamento no indivíduo, criou um sistema tipológico baseado no
comportamento emocional da pessoa. Galeno acreditava que não eram as estrelas
ou os deuses que determinavam o comportamento das pessoas, mas o predomínio
de um de seus quatro fluidos ou “humores” em circulação no corpo. Se
predominasse o sangue, teríamos o tipo sanguíneo, de reações rápidas e débeis e
temperamento extrovertido, otimista e divertido; se predominasse a fleuma, teríamos
o tipo fleumático, de reações fracas e lentas e temperamento pacífico, passivo e
calmo; se predominasse a bílis amarela, teríamos o tipo colérico, de reações rápidas
e intensas, com temperamento apaixonado, obstinado e se predominasse a bílis
negra, teríamos o temperamento melancólico, de reações lentas e intensas,
temperamento triste, com tendência à depressão.
A tipologia galênica teve o mérito de persistir por 1800 anos8, assim como a
medicina preconizada por este cientista. No século XVI, ainda era ensinada na
maioria das faculdades de medicina.
Antes de Galeno, ainda na Grécia, Platão descreve na “República” quatro
tipos de caráter, que correspondem aos temperamentos da tipologia hipocrática-
galênica: artesão, guardião, idealista e racional. Cada tipo de caráter platônico tinha
um papel específico na sociedade (artes; defesa; moral e investigação lógica).
A tipologia hipocrática-galênica se tornou dominante até a Idade Média,
quando foi relegada à escuridão, sendo redescoberta na Europa Renascentista.

Figura II.3 Tipologias Medievais. Fonte: Perassi, Richard (2005)

8
Ibid.

16
Na encenação medieval os tipos eram empregados na composição de
personagens. Seu comportamento era típico de sua nacionalidade, função ou classe
social: o padeiro, o alfaiate, a cigana, o padre, dentre muitos outros. A composição
de personalidades individuais só acontecerá mais tarde como formulação
renascentista.
No Renascimento, mais precisamente no período compreendido pelos
séculos XVI e XVII, que os historiadores da ciência denominam de "período da
revolução científica", as preocupações intelectuais se sobrepuseram às exigências
espirituais e dogmáticas.
O imenso apetite de cultura inverteu os limites impostos pela fé dos séculos
precedentes. O mundo dos intelectuais começou a ganhar corpo, com uma
retomada de admiração pelas antigas obras pagãs, um desejo de usufruir os bens
presentes e um otimismo sorridente para o futuro.
Houve um período de grande efervescência intelectual e artística, pelo desejo
de demolir tudo o que viera do passado, pela redescoberta do saber greco-romano
liberto, enfim, da fechada interpretação do cristianismo medieval. Acompanhando
esse movimento científico, médicos, filósofos, escritores e novelistas retomaram a
ideia dos quatro temperamentos, destacando-se a tipologia desenvolvida pelo
médico vienense Paracelso.
Paracelso, em meados do século XVI, propôs um sistema tipológico
semelhante aos modelos sistematizados por Galeno e Platão, classificando as
pessoas como Salamandras (instáveis e impulsivas); Gnomos (trabalhadoras e
cautelosas); Ninfas (inspiradas e apaixonadas) e Silfos (curiosas e calmas).
Outro sistema tipológico popular na Europa do século XVI, a fisiogonomia ou
biopsicotipologia, tentava correlacionar Anatomia e Psicologia. Esse modelo
tipológico, que buscava deduzir características psíquicas a partir de traços
anatômicos, e vice-versa, teve como precursor Aristóteles. Este filósofo grego
acreditava ser possível julgar a natureza dos homens e animais com base na forma
do corpo. Afinal bicos teriam funcionalidades específicas, independente do tipo de
ave que os tivesse. Como exemplo, Aristóteles citava o leão, que é corajoso e tem
grandes extremidades, deduzindo daí que um homem com pés grandes e fortes
seria igualmente corajoso.

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O tema foi mais tarde retomado por Della Porta, que em 1586 publica seu De
humana phisiognomonia, onde faz correlações entre as faces de animais e rostos
humanos, deduzindo daí semelhanças de temperamento e comportamento. O
princípio no qual ele se baseava era a hipótese da existência de uma sabedoria
divina organizadora que se revelaria nas formas dos homens, dos animais, das
plantas e até dos corpos celestes.
No século XVII, outro modelo de tipologia surgiu, descrito pelo autor francês
La Bruyère, com base em estereótipos sociais. A partir da obra do grego
Teophastrus, La Bruyère fez uma reflexão sobre o comportamento humano na
sociedade da corte francesa do século XVII.
Diferente da tipologia psicológica do século XX, que observa a variabilidade
comportamental dos indivíduos a partir das suas características essenciais, a
tipologia de La Bruyère considerava o indivíduo no seu contexto social, nas suas
relações com os outros.
A obra desse autor nasceu da necessidade vital que a sociedade da corte do
rei Luiz XIV tinha de observar as pessoas. Essa arte de observar a atitude das
pessoas contribuiu para a elaboração do seu modelo tipológico, baseado nas
normas de comportamento social. A partir de personagens de diversos estilos como:
o homem rico, o camponês, o homem soberbo, o comilão e outros, La Bruyère
descrevia indivíduos com diferentes tipos de temperamentos.
No final do século XVIII, houve uma revalorização da fisiogonomia, através
dos trabalhos de um dos grandes representantes dessa arte: o padre suíço Johann
Casper Lavater. A obra de Lavater, considerada mais artística do que científica,
influenciou uma grande parte dos artistas retratistas do seu século e do século
seguinte.
O foco centrado no corpo humano repercutiu em outra tipologia que vigorara
na época: a frenologia. Esse modelo tipológico, criado pelo médico Franz Joseph
Gall atribuía uma localização cerebral para as atitudes e tendências do homem.
Cada atitude e tendência tinha a sua origem em partes independentes do cérebro,
estas chamadas por Gall de “órgãos”. A composição e desenvolvimento dos
“órgãos” eram responsáveis pelo formato particular da caixa craniana de cada
indivíduo. O estudo do formato do crânio propiciava, então, o conhecimento de
determinados traços de personalidade dos indivíduos.

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O sistema de Gall foi formulado em 1790 e obteve muito sucesso na Europa
até que, na metade do século XIX, começou a ficar desacreditado como ciência,
sendo associado a charlatanismo.
A responsabilidade por esse descrédito se deve, no entanto, a má fé de falsos
cientistas que se apropriaram do sistema de Gall para apoiar suas crenças absurdas
quanto à superioridade do homem sobre a mulher, do homem europeu sobre os
bárbaros estrangeiros, manipulando e forjando dados e experimentos.
No século XIX, também foi criada a Antropologia Criminal, um sistema de
classificação tipológica, aplicado à área criminal. Esta tipologia, concebida por
Cesare Lombroso postulava que o criminoso nato apresentava determinadas
características físicas e mentais, que o distinguiam da população normal.
A partir do século XIX todos os ramos da ciência sofreram grande
desenvolvimento. Foi a época do surgimento das sociedades científicas
especializadas. As tipologias de temperamento acompanharam esse progresso
científico.
As teorias modernas sobre tipologias de temperamento, pertinentes ao século
XX, podem ser agrupadas em três classificações:

I. Levando-se em consideração as diferenças na estrutura somática dos indivíduos.


Como exemplo dessa classificação podemos citar a tipologia da Escola
Constitucionalista Italiana, representada pelos autores De Giovanni e Viola.
II. Levando-se em consideração a relação entre a psique e a morfologia corporal
(estrutura somática) dos indivíduos. Como exemplos dessa classificação podemos
citar a Escola Constitucionalista Alemã, representada pelo autor Kretschmer, e a
Escola Constitucionalista Americana, representada pelo autor Sheldon.
III. Levando-se em consideração a diferença entre estruturas especificamente
psíquicas. Como exemplos dessa classificação podemos citar a Teoria dos Tipos
Psicológicos de Carl Gustav Jung.

Kretschmer, professor de psiquiatria e neurologia na Universidade de


Tubinga, na sua obra Estrutura corpórea e caráter, publicada em 1921, tenta lançar
luz sobre as relações entre psique e morfologia corporal. A tipologia de Kretschmer
correlaciona determinados traços de personalidade com a compleição física das
pessoas.

19
A sua classificação divide os indivíduos em quatros grupos, conforme descrito
no quadro II.1:

• Pícnico – Ciclotímico – indivíduos de estatura baixa e forte (gordo), pernas,


peito e ombros arredondados. São pessoas sociáveis, alegres, extrovertidas,
em sintonia com o ambiente e facilmente distraíveis. Em casos patológicos,
ficarão oscilando no ciclo mania-depressão.
• Leptossômico – Esquizotímico – indivíduos de estatura alta, esbeltos,
peito relativamente pequeno, pernas e face alongadas. São pessoas velozes,
propensas à reflexão, sérias e taciturnas, introvertidas e reservadas,
tendendo ao isolamento. Em casos patológicos, apresentam extrema
introversão e falta de contato com o mundo que as rodeiam.
• Atlético – indivíduos com notável desenvolvimento muscular e do
esqueleto, ombros largos, mãos e pés grandes. São pessoas robustas e
maciças. É o tipo mais proporcional entre o pícnico e o leptossômico, sendo
classificado mais como esquizotímico.
• Displásico - é o tipo composto por pessoas que apresentam misturas
incompatíveis no seu desenvolvimento.
Quadro II.1: Características dos tipos propostos por Kretschmer.

Figura II.4 Teoria dos biótipos de Ernst Kretschmer

A tipologia de De Giovanni e Viola baseia-se no método antropométrico, mais


especificamente na relação entre tronco e membros. Essa tipologia classifica os
indivíduos em megalosplâcnicos (brevilíneos), massa de corpo superior ao normal
(gordo e baixo); normoplâcnico (atlético), equivalência da massa horizontal e
vertical; microsplâcnico (longilíneo), massa de corpo inferior ao normal (alto e
magro).
20
As diversas classificações usadas para definir obesidade são exemplos da
atualidade e relevância destas classificações.
Outra obra importante é o trabalho de Sheldon, médico e psicólogo, professor
da Universidade de Harvard, que elaborou uma tipologia semelhante à de
Kretschmer. A teoria tipológica de Sheldon utiliza o referencial da embriologia.

1 - Viscerotônico
Físico: Endomorfia: predomínio de formas arredondadas e macias, além de um
maior desenvolvimento das vísceras digestivas.
Psíquico: Viscerotonia: gosto pelo conforto físico, prazer em comer,
sociabilidade, tendência ao romantismo e ao melodrama. São pessoas
extrovertidas, tolerantes, ávidas de afeto, com reações lentas.
2 - Somatotônico
Físico: Mesomorfia: predomínio do tecido ósseo, muscular e conectivo.
Apresentam corpo pesado, firme e retangular.
Psíquico: Somatotonia: tendem à imposição e coersão, gostam de atividades
enérgicas, do poder e de correr riscos. Apresentam muita coragem física. São
pessoas que gostam de aventura, do risco e do exercício físico. São
extrovertidas, alegres, às vezes agressivas e competitivas. Precisam de ação.
3 - Cerebrotônico
Físico: Ectomorfia: predominam formas lineares e frágeis, possui maior
exposição sensorial, maior sistema nervoso e maior cérebro em proporção ao
corpo.
Psíquico: Cerebrotonia: tendem ao retraimento e ao isolamento, inibidos e
tímidos, preferem atividades intelectuais. São pessoas introvertidas que gostam
de intimidade. Precisam da solidão.
Quadro II.2: Características dos tipos propostos por Sheldon.

Para Sheldon, a prevalência de determinada membrana embrionária


(ectoderma, mesoderma ou endoderma) no curso do desenvolvimento é capaz de
imprimir determinadas características ao indivíduo no plano morfológico, funcional e
psicológico. Os indivíduos, assim, são agrupados nos somatotipos endomórfico,
mesomórfico e ectomórfico, que correspondem respectivamente aos temperamentos
viscerotônico, somatotônico e cerebrotônico.
21
Podemos observar no quadro II.2, um resumo da classificação proposta por
Sheldon, mostrando os três tipos definidos por ele:

Figura II.4 Teoria dos biótipos de William Sheldon

Em relação à classificação dos tipos psíquicos, temos uma diversidade de


tipologias. Dentre as mais difundidas destaca-se a desenvolvida pelo psiquiatra
suíço Carl Gustav Jung.
A tipologia junguiana, através da observação do comportamento das pessoas,
identificou a existência e a predominância de diferentes disposições psíquicas para
agir ou reagir em determinadas direções.
Uma das grandes contribuições da Tipologia Junguiana encontra-se no foco
centrado na maneira como cada pessoa se orienta preferencialmente no mundo.
Essa contribuição é inovadora em relação às tipologias anteriores, nas quais as
classificações eram baseadas na observação de padrões de comportamento
temperamental ou emocional.
Nos próximos capítulos será apresentada com maior detalhamento a teoria
dos tipos psicológicos de Carl Gustav Jung. Inicialmente iremos falar, em termos
gerais, sobre as concepções básicas do modelo psicológico junguiano, para depois
chegarmos à teoria dos tipos psicológicos proposta por ele.

22
Capítulo 3
O modelo Junguiano da psique

Carl Gustav Jung (1875-1961) nasceu em Keswill, aldeia da Suíça, do cantão


de Argau. Jung foi contemporâneo de Freud, Einstein, Wolfang Pauli, prêmio Nobel
de física de 1946, além de ser o primeiro sucessor de Freud a provocar uma
aproximação entre as tradições do oriente e do ocidente, estabelecendo pontes
tanto espaciais como temporais, contribuindo para um melhor conhecimento do ser
humano.
Einstein conviveu com Jung enquanto professores da Universidade
Politécnica de Zurique. Nos encontros de Einstein com Jung9, assistidos por Bleuler,
Jung relata seu esforço (e insucesso) para entender os conceitos de relatividade,
recém-concebidos pelo jovem Einstein. Pauli procurou Jung, inicialmente, para
análise. Da relação dos dois tivemos, dentre outros frutos saborosos, “The influence
of archetypal ideas on the scientific theories of Kepler” além dos trabalhos sobre
sincronicidade.
O mestre suíço, como a maioria dos cientistas, acreditava que seus estudos
só teriam validade dentro do seting terapêutico. Só mais tarde (ver o Homem e seus
Símbolos) é que aceitou a ideia de “sair fora” do consultório e leva a psicologia
profunda a dialogar com outras áreas do conhecimento.
Antes de adentrarmos no sistema tipológico junguiano, achamos prudente
fazer uma revisão sumária do modelo psíquico concebido por Jung, para que
possamos compreender melhor os fundamentos da sua teoria psicológica.
O trabalho do mestre é um constante diálogo entre teoria e prática. Em
contato com os processos delirantes de esquizofrênicos, Jung percebeu a existência
de padrões repetidos de conteúdo religioso e mitológico.
Seguindo a eterna busca da ciência por universais, o fato de que esses
padrões eram comuns ao ideário mitológico de diferentes povos, levaram-no à
hipótese de um inconsciente impessoal, coletivo. A partir do patológico Jung
verificou que os mesmos padrões poderiam ser percebidos nos sonhos e fantasias
das pessoas normais.

9
Jung, Correspondência completa.

23
Arquétipo deriva do grego “arché”, substância primordial, e typós, impressão,
marca. Os arquétipos dariam à psique a capacidade de formar as mesmas imagens,
reagindo de modo sempre semelhante a circunstâncias dadas. Isto explicaria a
semelhança de imagens nas mitologias de todos os povos.
Para Jung, o que chamamos de psique não pode ser reduzida apenas à
esfera consciente, conhecida por nós. Existe uma parte complexa da psique que nos
é desconhecida, mas nos afeta de imediato. Esse aspecto desconhecido, chamado
de inconsciente, sempre esteve presente no homem, desde a antiguidade.

Fig. III.1 Detalhe do Afresco da tumba do faraó Senefer 10


Fonte: Perassi, Richard (2005)

O homem antigo ao observar a natureza transformava a experiência em um


acontecimento psíquico. Por exemplo, na cidade de Heliópolis, os egípcios
cultuavam o sol como um Deus. Ao contemplarem o nascer do sol, os homens
dessa época achavam que o deus-sol estava nascendo da sua mãe, a vaca
sagrada, que personificava o céu, e era representada pelas deusas Nut e Hathor (os
egípcios faziam da terra um princípio masculino e do céu um princípio feminino)11.

10
Seneferu ou Snefru foi o primeiro faraó da IV Dinastia (2.630 a.C. 2.609 a.C.?). Pai de Khufu, mais
conhecido em português como Quéops, associado à grande pirâmide de Gizé.
11
T. O. SPALDING, Dicionário de Mitologia Egípcia, Sumeriana, Babilônica, Fenícia, Hurrita, Hitita e Celta,
1995.

24
Essa capacidade de criar histórias e mitos faz parte da natureza humana,
estando presente não só no homem antigo, mas em nós, homens modernos. Os
acontecimentos naturais mitificados, não são nada mais que expressões simbólicas
para o drama interior e inconsciente da psique, drama que, no caminho da projeção,
isto é, espelhado em acontecimentos naturais, torna apreensível a consciência
humana.

Inicialmente Jung percebeu que o inconsciente era constituído por conteúdos


subliminares que escaparam da percepção consciente, pelo esquecimento (por um
desvio da atenção ou porque o estímulo foi demasiadamente fraco para deixar uma
impressão consciente) ou pela repressão (elementos psíquicos previamente
conscientes são reprimidos por sua natureza moralmente incompatível, indo parar
no inconsciente). Esta camada mais superficial do inconsciente foi chamada por
Jung de inconsciente pessoal e foi estudada minuciosamente por Freud, utilizando a
via régia dos sonhos e da associação livre.

Leda Atômica é uma pintura de Salvador Dali, de 1949,


que retrata a rainha de Esparta sendo seduzida por
Zeus, na forma de um cisne. O que é consciente e o
que é inconsciente aqui. Todo o quadro segue a “divina
proporção”. Cada ponta do pentágono representa uma
semente da perfeição: amor, ordem, verdade, força de
vontade e ação. Dali é Zeus e Leda sua esposa Gala
que lhe serve de modelo. Da união surgem dois ovos. O
primeiro gera Castor e Polux e o segundo Helena e
Clitemnestra. O mortal e o imortal.

Figura III.2 – Salvador Dali, Leda Atômica.


Fonte: Perassi, Richard (2005)

Em termos mais práticos, o inconsciente pessoal é formado por tudo o que é


consciente, mas não estamos pensando no momento; tudo o que já foi consciente,
mas esquecemos; tudo o que é percebido pelos órgãos dos sentidos, mas a mente
consciente não valoriza e conteúdos que nós sentimos, pensamos, recordamos,
desejamos e fazemos involuntariamente sem prestarmos atenção12.

12
C. G. JUNG, A natureza da Psique, 1998

25
A partir dessas reflexões, o estudo da nossa dimensão psíquica
desconhecida, inconsciente, tornou-se o foco principal das pesquisas de Jung,
sendo o pilar de sustentação de sua teoria, núcleo em torno do qual o seu modelo
psíquico foi construído.
No decorrer das suas observações empíricas, no entanto, Jung percebeu que
havia uma camada ainda mais profunda do inconsciente, formada por conteúdos
que nunca haviam sido conscientes, ou seja, o inconsciente não era apenas um
depósito do passado do indivíduo e sim fonte de situações psíquicas futuras. Nessa
categoria estão as coisas que se formam dentro de nós e somente mais tarde
chegarão à consciência. Essa observação o levou à descoberta do inconsciente
coletivo.
Como exemplo, Jung 13 cita o caso do químico alemão Kekulé (século XIX). O
referido cientista refere que quando pesquisava a estrutura molecular do benzeno,
sonhou com uma serpente que mordia o próprio rabo. O sonho fê-lo concluir que
esta estrutura referia-se a um círculo fechado de carbono, o que possibilitou a
descoberta da estrutura do benzeno.

A serpente que morde o próprio rabo é chamada de uróboro, um símbolo


antiquíssimo. Na figura abaixo, podemos ver a semelhança entre as imagens do
benzeno e do uróboro.

Figura III.3 – Símbolos do benzeno e do uróboro, este representado em um manuscrito


grego do século III. Fonte: Jung, 1992, p. 38.

Jung desenvolveu uma metáfora de forma a correlacionar os instintos animais


com os arquétipos. Abaixo da cor vermelha temos a região do infravermelho e,
acima do violeta, o ultravioleta.

13
C. G. JUNG, O homem e seus símbolos, 1996.

26
As imagens arquetípicas ocupariam a região do ultravioleta enquanto instintos
e padrões de comportamento equivalentes, ao infravermelho. O arquétipo estaria
presente na região do ultravioleta como imagem e, na esfera do infravermelho como
padrão de comportamento ou instinto correspondente.

I –Consciente
Consciência
(EGO)
EGO II –Inconsciente
Inconsciente pessoal Pessoal
(COMPLEXOS)

Inconsciente coletivo III –Inconsciente


(ARQUÉTIPOS) Coletivo

Figura III.4 – Camadas da psique no modelo Junguiano

O inconsciente coletivo corresponde ao nosso substrato psíquico mais


profundo, ontogênica e filogênicamente mais antigo, arcaico, pré-verbal, conectado
com o corpo e os instintos, também chamado de psique objetiva. Face ao seu
aspecto arcaico, a psique objetiva não conceitualiza (a linguagem e os conceitos
surgiram mais tardiamente na evolução), comunicando-se através de imagens,
analogicamente. Essa camada psíquica profunda parece ser constituída por temas
ou imagens de natureza mitológica.

Toda a mitologia seria uma espécie de projeção do inconsciente coletivo. A


partir dessa dimensão parece brotar tudo o que é criativo.

Dessa forma, em termos sintéticos, para Jung a psique é composta por três
(03) camadas concêntricas (semelhantes à face interna de uma cebola), assim
distribuídas: consciência, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. Podemos
observar a disposição dessas camadas na figura III.4:

Uma metáfora para a cartografia junguiana seria entender cada um de nós


enquanto um universo inteiro com galáxias e estrelas. Neste sentido teríamos uma
quarta camada que corresponderia aos “universos dos outros” que ao mesmo tempo
estaria incluso no nosso e nos incluiria. Esta camada foi denominada por Jung de
“zonas esquizóides”.

27
Peirce (da Semiótica) já insistia em que as teorias da continuidade seriam
mais adequadas que as teorias de telepatia para descrever fenômenos hoje
entendidos como anômalos. Tudo estaria conectado com tudo. Imanência e
transcendência;

As três camadas do sistema psíquico junguiano apresentam uma porosidade


natural, ou seja, se comunicam através de um fluxo constante e dialógico de
energia14, havendo trocas relativas a valores. O inconsciente pode atuar
espontaneamente, ativando certas quantidades de energia psíquica, forçando a sua
entrada na consciência. Por outro lado, certas quantidades de energia psíquica
podem desaparecer da consciência, surgindo no inconsciente. É o que acontece na
repressão, por exemplo.

Consciência (Ego)

A camada psíquica mais superficial é o consciente,


correspondendo à dimensão responsável pela nossa
adaptação e orientação no mundo, sendo, sobretudo, produto
da percepção. A consciência permite a individualização do
homem frente aos objetos, o homem reconhecendo-se como
uma imagem separada. A consciência se desenvolve
separando sujeito de objeto, sustentando a relação do ego
com conteúdos psíquicos pertencentes tanto do mundo
externo quanto do mundo interno.

Figura III.5 – A Filosofia do Quarto (Magrit)


Fonte. Perassi, Richard (2005)

O ego é o centro coordenador da consciência, sujeito da nossa identidade


pessoal e centro dos nossos desejos e de nossas atenções, funcionando como um
organizador consciente das impressões, internas e externas, das lembranças não
reprimidas, da sequência temporal, espacial e causal.

14
A energia psíquica para Jung é um conceito equivalente à libido da Psicanálise. Freud utilizou o termo libido
para referir-se à energia psíquica vital, tendo a sexualidade como fonte primária dessa energia. Para libertar a
energia vital de uma definição muito estreita, Jung retirou a conotação eminentemente sexual da libido,
atribuindo-lhe um sentido mais amplo. A partir da concepção de Schopenhauer sobre vontade, Jung utilizou o
termo libido para referir-se a vários impulsos psíquicos, sendo a sexualidade apenas um dentre outros ramos da
vontade ou força vital mais genérica. A palavra libido foi substituída posteriormente por Jung pelo termo
“energia psíquica”.

28
O ego pode ser comparado a um espelho que reflete a nossa psique. Os
conteúdos do inconsciente, para serem conhecidos, precisam ser captados pela
superfície refletora do ego. Este é um “sujeito” a quem os conteúdos psíquicos são
“apresentados” e é o responsável pela retenção de conteúdos na consciência. Se o
ego deixa de refletir determinados conteúdos, estes irão se retirar para o
inconsciente. Como ele é o gerenciador da consciência, é a estrutura psíquica
responsável pela tomada de decisões, fixando prioridades e mobilizando energia
física e emocional necessárias para o cumprimento de tarefas.

Inconsciente pessoal (complexos)

O conceito de complexos teve o seu surgimento em 1902, quando Jung


investigava o inconsciente pessoal através de uma série de experimentos com
sujeitos humanos, denominados de testes de associação de palavras. Nesta
pesquisa, eram utilizadas palavras-estímulos, lidas a um sujeito que tinha sido
instruído previamente para responder com a primeira palavra que lhe ocorresse à
mente. As respostas geravam uma série de reações emotivas, verbais e fisiológicas,
que eram mensuradas e documentadas.
A partir destes experimentos, Jung
observou que havia fatores que não eram
conscientes pelos indivíduos e que afetavam
as respostas. Algumas palavras-estímulos
despertavam lembranças dolorosas que
haviam sido enterradas no inconsciente,
conteúdos que, por sua vez, se associavam
a outros conteúdos. Havia uma espécie de
rede de material associado, formada por
lembranças, fantasias, imagens e
pensamentos, que geravam uma
perturbação na consciência. Esta rede foi
chamada de complexo.
Figura III.6 – O Elefante Cebalos (Ernst)
Fonte. Perassi, Richard (2005)

29
Os complexos, portanto, correspondem a unidades funcionais que fazem
parte do inconsciente pessoal. Essas unidades são constituídas por sensações,
representações e emoções. Esses três componentes estão tão unidos, que
geralmente aparecem juntos na consciência. Existe a possibilidade de que um
número razoável de tais componentes compartilhe de uma determinada tonalidade
afetiva, de maneira que esse afeto funcionará por sua vez como um vínculo de união
entre eles.
Os complexos, assim, se formam devido ao
agrupamento de conteúdos inconscientes, que se
juntam em torno de uma carga emocional
compartilhada, formando constelações. Eles
correspondem a entidades psíquicas inconscientes
carregadas de emotividade, feitas de várias ideias e
imagens associadas e agregadas ao redor de um
núcleo central. Ao investigar este núcleo, ele se
revela como imagem arquetípica.
Figura III.7 – Frida Kahlo, As duas Fridas
Fonte: Perassi, Richard (2005)

Um complexo ativado é capaz de fazer oposição aberta às intenções do ego,


podendo romper a unidade deste, se comportando como se fosse um corpo
estranho na esfera da consciência. Tornar consciente os complexos é fator
terapêutico da maior importância

Este componente autônomo do complexo propicia a sua atuação como


personalidades divididas, parciais, independentes e separadas, afetando
drasticamente as nossas escolhas, o nosso comportamento e os nossos
relacionamentos.

Jung considerava os complexos como partes vitais da constituição psicológica


de toda pessoa, aspectos normais de uma personalidade saudável.

Todos nós temos complexos de vários tipos e, à medida que crescemos e nos
desenvolvemos, esses complexos se tornam conscientes para nós. A esquizoanálise
defende a importância de uma gestão adequada destes complexos e não o seu
mero bloqueio por algum ego tirano.

30
Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora."

Álvaro de Campos
Heterônimo mais atribulado de Fernando Pessoa

Alguns complexos vão permanecer profundamente inconscientes, e quanto


menos consciente for um complexo, maior o seu grau de autonomia e mais iremos
projetar o seu conteúdo sobre os outros. Vale dizer, veremos nas outras pessoas
aquilo que nos recusamos a ver em nós mesmos.

Inconsciente coletivo (arquétipos).

O inconsciente coletivo é constituído essencialmente de arquétipos, que


correspondem a padrões inatos de comportamento, herdados, comuns à
humanidade. Os arquétipos são formas sem conteúdo, correspondendo a
possibilidades latentes de manifestação. Essa configuração do arquétipo poderia ser
comparada ao sistema axial de um cristal, que determina apenas a sua estrutura
estereométrica.
Os arquétipos também têm um componente dinâmico, face à grande carga
energética que possuem. Esse componente dinâmico exerce no indivíduo, que é
guiado por ele, uma pressão irresistível e sempre vem acompanhado por um forte
componente emocional. Portanto, aliado à ativação de um arquétipo sempre existe
um estado de comoção biopsíquica.
Quando atuam positivamente, os arquétipos estão associados à criatividade,
sendo fonte de inspiração nas artes e ciências. Muitas vezes, inspirado por um
arquétipo, o indivíduo pode ter uma experiência de iluminação espiritual ou criativa
profunda.

31
No entanto, quando atua negativamente, o arquétipo manifesta-se como
rigidez, fanatismo e possessão. Como exemplo, pode-se citar o caso do Nazismo
alemão, quando a imagem arquetípica de Wotan, deus da mitologia germânica, foi
reativada através de Hitler, desencadeando um estado de possessão guerreira,
culminando em uma espécie de psicose coletiva.

Figura III.8 – Dejanira da Mota e Silva, Três Orixás, 1966


Fonte: Perassi, Richard (2005)

“Sempre me deparo de novo com o mal-entendido de que os arquétipos são


determinados quanto ao seu conteúdo, ou melhor, são uma espécie de ‘ideias’
inconscientes. Por isto devemos ressaltar mais uma vez, que os arquétipos são
determinados apenas quanto à forma e não quanto ao conteúdo, e no primeiro caso,
de um modo muito limitado. Uma imagem primordial só pode ser determinada
quanto ao seu conteúdo, no caso de tornar-se consciente ...” (Jung)

Símbolos ou imagens arquetípicas.

Pelo fato de os arquétipos não possuírem conteúdo (são apenas


predisposições para a ação), adquirem materialidade e se comunicam com a
consciência através de imagens, chamadas também de símbolos ou imagens
arquetípicas, que são a visibilidade manifesta do arquétipo. Os símbolos são
produzidos espontaneamente pela psique e apresentam duas faces, uma
inconsciente, ligada ao arquétipo e outra consciente, ligada ao ego. Estes símbolos,
face ao componente arquetípico, influenciam ativamente o comportamento humano
e as emoções.

32
Eles fazem a religação do homem com o sagrado, dando significação à vida.
Como exemplos de imagens arquetípicas temos os mitos, contos de fada, temas e
imagens dos sonhos.
O conhecimento mais aprofundado destas
imagens arquetípicas (símbolos) permite um
conhecimento mais profundo de nós mesmos,
pois estes símbolos representam aspectos da
nossa personalidade, que podem ou não estar
ativados (agindo em nós), em determinado
momento, a depender das circunstâncias de vida
e predisposição individual. Quando ativos
(energizados ou desenvolvidos) ou, para usar uma
terminologia junguiana, constelados realizam uma
função estruturante na personalidade,
“modelando” a mesma e definindo o modo como
vemos o mundo.
Figura III.9 – Gustav Klint, Hygeia
Fonte: Perassi, Richard (2005)

Consciência (EGO)
Corpo Físico

Inconsciente Pessoal
Mônada Quântica

Inconsciente Coletivo
Arquétipos
Corpo Temático
Corpo Psicóide
Outras Possibilidades

Figura III.10 – Camadas da psique no modelo Junguiano, adaptado pelos autores.

Dentro da metáfora “ser – universo” que desenvolvemos, temos o EGO e a


consciência como a Terra que habitamos.

33
O inconsciente pessoal com seus complexos fala de nossas viagens junto
com o Sistema Solar. Aqui e agora somos iluminados por Galáxias – Arquétipos, que
nos constelam, ainda que filtrados pelas nuvens e desvios provocados pelos
complexos – apoios – tropeços em nossa jornada, nosso corpo mental.
Do encontro do EGO com o Self brota a criatividade, a possibilidade de nos
movermos dentro do Universo trazendo a emergência de novas possibilidades.
Mas isso, ainda, é apenas uma pálida imagem do desconhecido, do ignoto,
início apenas da fascinante jornada rumo ao autoconhecimento.

34
Capítulo 4
Arquétipos, Mitos e Hermenêuticas

Para Geertz (1983) a teoria científica move-se principalmente por analogias,


por um pensamento metafórico, explicações do tipo “indo do menos inteligível ao
mais inteligível”. Por exemplo, o coração é visto como se fosse uma bomba, o
cérebro como se fosse um computador, e assim por diante.
A noção de paradigma envolve três elementos fundamentais: ontologia,
epistemologia e metodologia. Na perspectiva ontológica, o ser humano é
considerado uma totalidade eco-bio-psico-social, incluindo consciente e
inconsciente.
O homem como microcosmo é parte integrante do macrocosmo, o qual
compreende as esferas do inconsciente coletivo e da consciência coletiva. O
universo humano é simbólico. Conhecimento e o autoconhecimento são
inseparáveis.
O processo de aquisição e construção de conhecimento é um processo de
ampliação da consciência, denominado, por Jung, processo de individuação. “A
individuação é o tornar-se um consigo mesmo e, ao mesmo tempo, com a
humanidade toda em que também nos incluímos”.
A ontologia baseia-se na concepção de um inconsciente arquetípico como
estrutura psíquica básica e original, da qual a consciência emerge, e de um
inconsciente pessoal que é, apenas, relativamente desconhecido. Da dimensão
simbólica do ser e do mundo resulta uma concepção ontológica em que o único e o
típico se entrelaçam e compõem a totalidade.
Podemos falar de indivíduos, de “grupos de indivíduos”, “organizações”,
“países” ou “culturas”. Cada uma destas ontologias emprega personas para se
comunicar com o mundo exterior e ânimas para dialogar com seu mundo interior.
A epistemologia junguiana concentra-se, principalmente, na possibilidade e
nos limites de acesso ao inconsciente. O inconsciente se dá a conhecer apenas por
meio da consciência e pode ser investigado por meio de suas manifestações
simbólicas arquetípicas, pois sempre exprimimos através de símbolos as coisas que
não conhecemos.

35
Do ponto de vista individual, o conhecimento do ser humano se dá por
intermédio de suas manifestações subjetivas, como sonhos, fantasias e sintomas.
Do ponto de vista coletivo, o conhecimento do humano se dá por suas
manifestações coletivas, isto é, culturais, tais como na mitologia, no folclore, na arte,
nos eventos históricos e sociais.
Quanto à perspectiva metodológica: na apreensão e compreensão dos
fenômenos usa-se a mitohermnêutica. Os métodos qualitativos de investigação
compreendem duas grandes etapas: Coleta de material ou apreensão dos
fenômenos a serem investigados e; Análise do material ou compreensão dos dados
coletados.
Os recursos que empregamos para acessar o material inconsciente incluem,
dentre outros: sonho, fantasia dirigida, imaginação ativa, relaxamento, meditação,
desenho, pintura, expressão corporal, dramatização, sandplay.
O pensamento simbólico empregado na mitohermenêutica opera por
associações, comparações e analogias entre diversas áreas do conhecimento e
entre as diversas funções da consciência.
Para Jung o sonho “é uma auto-representação, em forma espontânea e
simbólica, da situação atual do inconsciente. A mais frequente e mais importante
manifestação do mecanismo psíquico de formação de símbolos”. Compreender o
processo onírico implica, portanto, a investigação de múltiplos e variados aspectos,
“envolvendo a totalidade de uma pessoa, e não somente o seu intelecto”.
A técnica permitiu a Jung perceber a recorrência de determinados “temas ou
elementos formais que se repetiam de forma idêntica ou análoga nos mais variados
indivíduos”. “As fantasias dirigidas por reguladores inconscientes coincidem com os
documentos da atividade do espírito humano em geral, conhecidos através da
tradição e da pesquisa etnológica”. Revelando arquétipos, representações oriundas
de uma “raiz comum”, o inconsciente coletivo.
Arquétipos, portanto: “Correspondem a padrões inatos de comportamento,
herdados, comuns à humanidade. Os arquétipos são formas sem conteúdo,
correspondendo a possibilidades latentes de manifestação. São análogos aos
instintos – elementos autônomos da psique inconsciente” (JUNG, 2000). Em todas
as culturas ocidentais aparece uma cinderela ou uma bela adormecida a espera de
um príncipe.

36
Podemos pensar nos arquétipos como um “software da psique”, que ajuda as
pessoas a realizar certas tarefas. Podemos imaginar que a nossa mente vem pré-
programada no nascimento com todos os arquétipos disponíveis, mas apenas
poucos são acessados na nossa vida inicial. Isso não significa que somos
“programados” a agir de determinadas maneiras, mas que temos dentro de nós
todos os arquétipos que necessitamos para evoluir. O arquétipo é, simultaneamente,
imagem e emoção.

Falamos da “imagem” de uma


determinada situação psíquica, que vem
sempre carregada de forte emoção,
contendo uma coerência interior e
portando graus variáveis de autonomia.
Aglomerado de associações, às vezes de
caráter traumático, que permanecem na
esfera inconsciente, interferindo, porém,
em nossas vidas.
Figura IV.1 Como os arquétipos se manifestam ao nível consciente.

Seriam os arquétipos atratores? Atratores de atratores? Atratores caóticos


extranhos Goedelianos?15 O atrator mais comum é o de Lorenz, muito usado para
representar o comportamento humano, imprevisível de um lado, mas apresentando
possibilidades conhecidas: “Fazer ou não fazer”; “Sim ou não”.
A imagem contém e amplifica o símbolo, e “é sempre uma expressão da
totalidade percebida e percebível, apreendida e apreensível, pelo indivíduo.” (JUNG,
2000). Para Jung, a imagem expressa conteúdos inconscientes, mas não o todo
deles, apenas aqueles que estão momentaneamente constelados. Essa constelação
é o resultado da atividade espontânea do inconsciente, por um lado, e da
momentânea situação consciente, pelo outro. A interpretação de seu significado,
portanto, não pode partir nem do consciente exclusivamente nem do inconsciente
exclusivamente, mas somente do relacionamento recíproco destes.

15
Expressão baseada no livro “Godel. Escher and Bach: An ethernal Golden Braid”, de Douglas Hofstader que
se refere aos atratores associados à consciência.

37
Aqueles arquétipos-atratores mais “constelados” (energizados) nos levam ou
atraem a “viver-buscar” determinadas situações. “Tudo passa a ter sentido. Preparar
uma aula, realizar um “design” ... Viver ... deixa de ser uma “coisa”, passa a ter
significado, a ter vida ... Vira poesia”.
Albert Einstein já dizia: “Se você quer que seus filhos sejam inteligente leia
conto de fadas para eles. Se quiser que sejam mais inteligentes leia mais contos de
fadas”16.
Podemos pensar na dinâmica psíquica dos seres humanos como sendo
representada pela figura V.2.

Figura IV.2 A consciência se formando de dentro para fora, numa construção


arquetípica.

Heidegger17 apresenta uma primeira divisão da aletheuein18 em a)


epistemonikon, que se subdivide em episteme e sophia; e b) logistikon, que se
subdivide em techne e phronesis.
O epistemonikon diz respeito àquilo que é invariável, enquanto o logistikon,
àquilo que poderia ser de outro modo. Um fala do mundo fora da caverna, das
coisas em si; O outro nos diz do mundo dentro da caverna das sombras que nunca
se repetem.

16
Vi esse aforismo no livro infantio juvenil Em Busca de WondLa de Tony DiTerlizzi
17
Ver em WU, Roberto. A ontologia da phronesis: a leitura heideggeriana da étiaA de Aristóteles. Revista
Veritas, v. 56, n. 1, jan./abr. 2011, p. 95-110 e em HEIDEGGER, M. Plato’s Sophist. Bloomington &
Indianopolis: Indiana Univ. Press, 2003.Heidegger, 2003
18
Aletheia é o termo grego para "verdade, veracidade, honestidade, sinceridade"

38
De alguma forma ao falar de epistemonikon estaríamos falando aqui do
Inconsciente Coletivo e dos Arquétipos, ou do Real Lacaniano que é aonde seres
sem forma habitam. Para se manifestar no “logistikon”, dentro da caverna platônica,
o habitat das consciências, é preciso que os arquétipos sejam “in-formados”,
vestidos, transformados em símbolos.
A phronesis (inteligência prática, um saber fazer)19 está situada no campo do
logistikon, prossegue Heidegger, visto que remete ao mundo da ação humana, que
não é de forma alguma invariável. A deliberação sobre o que é variável implica
sempre uma relação com aquele que delibera (uma relação com o autor da ação). A
phonesis habita o “Mundo Imaginalis” de Corbin20.

Mundus imaginalis
(Corbin)

Campo arquetípico

Figura IV.3 Do Real (arquetípico) ao Imaginário (Mundo Imaginalis)


Fonte: Adaptado de Saiz21 (2006)

Eranos, que foi contemporâneo ao Círculo de Viena, buscava uma


aproximação “cultural” do Oriente, considerado como “um outro complementar”.

19
Sophia seria uma inteligência teórica (um saber).
20
Henri Corbin, nascido em 1903 na cidade de Paris, foi o representante do sufismo dentre os
cientistas que frequentaram o “Círculo de Eranos”.
21
SAIZ, M. E. Arquétipos, emergencia y evolución: construyendo un diálogo transdisciplinario en
psiconeurociencia. In: CALIA, M; OLIVEIRA, M. F. de, Terra Brasilis: pré-história e arqueologia da
psique. São Paulo: Paulus, 2006.

39
Desde o início de Eranos que cientistas, filósofos, artistas e religiosos eram
convidados a participar e contribuir nas reuniões que aconteciam em Ascona, na
Suíça.
Compreendendo que a razão não possibilita uma compreensão integral do
ser humano, Eranos se propunha a compensar a unilateralidade da razão,
confrontando-a com a questão simbólica, na tentativa de confluir o mito e a razão,
para chegar a uma visão intermediária e complementar. A questão do sentido ocupa
lugar central em Eranos: o sentido da vida e da existência, a morte, a pergunta pelo
divino, a razão em suas capacidades e limites.
O intenso debate que percorreu o período de 1933 a 1988, publicado nos 57
volumes de Eranos Jahrbuch, discutiu intensamente as questões relacionadas à
mitologia comparada, antropologia cultural e hermenêutica simbólica a partir das
reflexões e questões colocadas por Ernst Cassirer em "Filosofia das Formas
Simbólicas".
Como espaço interdisciplinar de investigação, participaram pensadores da
estirpe de: Karl Kerenyi, Mircea Eliade, Gilbert Durand, F. Geisen, D. Hayard,
Joseph Campbell (mitologia); Carl Gustav Jung, Erich Neumann, Marie von Franz e
James Hillman (psicologia); P.Radin, Jean Servier e D. Zahan (antropologia); Th.
Von Oexkull, H. Pleisner e A. Portmann (antropo-biologia e etologia); Herbert Read e
Michel Guiomar (estética); V. Pauli, E. SOOrôdinger, Bernouilli e M. Knoll (ciência);
H. Zimmer e G. Tucci (hinduísmo); R. e H. Wilhelm, D. Suzuki e T. Izutsu (taoísmo e
budismo); G. Scholem (judaísmo); J. Danielou (cristianismo primitivo); Henry Corbin
(orientalismo) e Andrés Ortiz-Osés (mitologia vasca) entre outros (FERREIRA
SANTOS, 2003)
A phronesis de Heidegger habita um Mundo Imaginalis. Cada um de nós cria
e vive no seu próprio mundo.
A phronesis não pode ter uma Arete (excelência, adaptação perfeita) visto
que ela mesma é uma Arete. Enquanto que na techne o indivíduo pode alcançar
uma determinada excelência a respeito daquilo que ele produz e, nesse sentido,
pode-se dizer que o indivíduo tem a Arete a esse respeito, na phronesis o ergon
(algo feito ou construído) da ação é o próprio agente.
Todo fazer é um conhecer e todo conhecer é um fazer. Todo fazer, conhecer
é um criar e todo criar é um criar-se (MATURANA, VARELA, 2001).

40
Ao diferenciar a phronesis da episteme, Heidegger aponta para o critério do
esquecimento. O que se aprende pela episteme pode ser esquecido, pois remete ao
que é invariável. Mas a phronesis é “em cada caso novo” (Heidegger, 2003, p. 39),
e, portanto, não tem o objeto invariável. Uma falha de phronesis não é uma falha de
esquecimento.
Heidegger relaciona explicitamente a phronesis com a noção de consciência:

[...] não estamos indo longe demais em nossa interpretação ao dizer que
Aristóteles chegou aqui ao fenômeno da consciência. Phronesis não é nada mais que
consciência em movimento, tornando uma ação transparente. Consciência não pode ser
esquecida. Mas é bem possível que o que é desvelado pela consciência possa ser
distorcido e tornado ineficaz por hedone e lype, por meio das paixões. Consciência
sempre anuncia a si mesmo. Justamente porque phronesis não possui a possibilidade da
lethe, não é um modo de aletheuen que possa ser chamado conhecimento teórico.
(2003, p. 39)

Jung detectou a existência de um Arquétipo de Completude no Inconsciente


Coletivo, ocupando uma posição central e ordenadora que o aproximava do Deus-
imagem. Esse também é o Arquétipo da Unidade “O processo de individuação, (...)
subordina o múltiplo ao Uno. O Uno, porém é Deus, ao qual, em nós, corresponde a
imago Dei, a imagem de Deus” (JUNG, 2002, p. 626).
“A alma possui uma função religiosa natural. A tarefa mais nobre de toda a
educação (do adulto) é a de transpor para a consciência o arquétipo da imagem de
Deus, suas irradiações e efeitos”.

Figura IV.4 O amanhecer e o entardecer da consciência para JUNG


Fonte: GRINBERG, 1997

41
O ego surge a partir do self, este correspondendo ao centro organizador da
personalidade, constituído pela soma de todos os conteúdos psíquicos, incluindo o
ego, o inconsciente pessoal, os arquétipos e suas inter-relações. O self é um
arquétipo que contém arquétipos.
A emancipação do ego pode ser comparada com o momento em que Adão e
Eva comem da árvore do conhecimento do bem e do mal e são expulsos do paraíso
urobórico, que corresponde ao útero do Arquétipo da Grande Mãe.
Para Jung (1985) o impulso criativo surge
do inconsciente coletivo, como uma árvore surge
do solo do qual extrai o seu alimento. O alimento
do processo criativo é arquetípico. Assim, as
expressões criativas poderiam ser consideradas
autênticos símbolos.
A criatividade está enraizada na camada
mais profunda do inconsciente. Na concepção da
psicologia analítica a obra de arte é como uma
árvore que surge e extrai seu alimento do solo,
ou como a criança em relação ao ventre
materno. Para Jung as fontes da capacidade de
criação estão contidas nesse inconsciente
impessoal, coletivo, de onde emerge o novo.
Figura IV.5 Virgem na Glória, de Giotto
Fonte: Perassi, Richard (2005)

“A busca do filósofo acerca da arte precisa percorrer os caminhos do erro para


encontrar os caminhos da verdade, que não são distintos dos primeiros, mas são
aqueles mesmos, atravessados por um fio que permite dominar o labirinto”
(CROCE, 1997, p.34).

A concepção junguiana da criação da obra de arte, portanto, não diz respeito


à psicologia pessoal do artista, já que nele a arte é um instinto inato de tal força que
o domina, “uma fúria divina” que age como um complexo autônomo originado no
inconsciente coletivo.

42
“O artista é sem querer o porta-voz dos segredos espirituais de sua época e,
como todo profeta, é de vez em quando inconsciente como um sonâmbulo. Julga
estar falando por si, mas é o espírito da época que se manifesta e, o que ele diz, é
real em seus efeitos”. (Paula Carvalho, 1999).

O símbolo (metáfora) é a instância mediadora entre a incompatibilidade do


inconsciente e consciente, mediador entre o oculto e o revelado. O símbolo não é
uma realidade concreta, mas uma verdade psíquica que transcende a consciência.
O símbolo é o intermediário entre a percepção da realidade e as representações
psíquicas da própria realidade; portanto, pode-se dizer que a função simbólica é
uma função mediadora e transformadora.
Conta o mito que, ao entardecer, o recém-nascido Hermes teve fome de
carne e saiu da caverna, desta vez para espreitar e roubar algumas cabeças de
gado de Apolo.
Trata-se de um deus sonso e ladrão, que trabalha na calada da noite, como
na música “Choro Bandido” de Chico Buarque e Edu Lobo.
As aves agoureiras contaram a Apolo que seu irmão Hermes era o ladrão das
suas reses. Como todo larápio, Hermes nega o furto e é levado à presença de Zeus
que o obriga a confessar e a mostrar onde escondera as restantes.
Para acalmar os ânimos, Hermes dedilha algumas melodias na lira que
acabara de criar. Apolo, embevecido, propõe uma troca: a lira de Hermes pelo
caduceu.
De certa forma o ato de interpretação é um roubo, uma apropriação em débito
do passado. Cada leitura que fazemos do passado resulta numa invenção deste
para o presente. O passado em si, por si, torna-se inatingível, ininteligível, quando
não é, de fato, inexistente. O que existe, em suma, e a invenção do passado. Por
outro lado, o presente é o contínuo superado. Assim, ler no sentido hermenêutico é
reinventar e redescobrir, porquanto só pode ser um roubo histórico, um sequestro da
história com vistas à inteligibilidade do presente.
A hermenêutica de Hermes esconde vestígios, disfarça caminhos, indica
direções contrárias. Cabe a Hermes guiar o caminho dos achados, sejam esses a
predição da sorte ou achar a sorte que foi predita em textos: tudo isso é uma
interpretação.

43
A interpretação estabelece o encontro, a encruzilhada, o ligar dos pontos,
atividade essencialmente hermenêutica: o sentido: “o livro faz o sentido, o sentido
faz a vida” (Barthes, 1973: 45).

“Pelo pensamento-fantasia se faz a ligação do pensamento dirigido com as


camadas mais antigas do espírito humano, que há muito se encontram, abaixo do
limiar da consciência [...]” (JUNG, 1999).

Para a integração de um símbolo (sonhos, devaneios, expressão artística,


etc.) é crucial a experiência emocional de todas as suas partes. Hillman (1981)
chama esse processo de integração, integridade de permanecer com as imagens. A
amplificação de um símbolo em termos de contos de fadas, mitos, etc., pode
acrescentar nuances precisas ao tema: “mas a técnica matizante da amplificação
para revelação do sentido objetivo pode também obliterar a realidade subjetiva do
tema arquetípico”.
O método da Psicologia Arquetípica não é um método interpretativo ou um
método hermenêutico. Para Hillman, a hermenêutica é inevitavelmente reducionista.
Ele define a prática interpretativa como a conceitualização da imaginação, isto é, a
interpretação visa reduzir o particular das imagens ao universal dos conceitos (por
exemplo: reduzir a imagem de uma mulher num sonho a um conceito abstrato como
a ânima).
Uma imagem é contexto, disposição, cenário, e, quando considerada nessa
luz, uma imagem não pode ser algo somente na frente dos seus olhos, ou diante do
olho de sua mente. É algo em que você entra e pelo qual você é abraçado. As
imagens nos prendem. (Hillman, 1978, p. 159.)
Para sermos sãos devemos reconhecer nossas crenças como ficções, e
perceber as nossas hipóteses como fantasias. (Hillman, J. Healing Fiction, p. 111).
A Psicologia Arquetípica se insurge contra qualquer tentativa reducionista de
transformar imagens em conceitos, de se tentar conceitualizar a imaginação e o
mundo das imagens. Hillman alerta para o perigo de se privilegiar o conceitual sobre
o imaginal, de se tentar interpretar as imagens, traduzindo-a a partir de um código
pré-estabelecido de significados do qual o analista se faz o tradutor por excelência
(QUINTAES, 2008).

44
A interpretação não se prende à imagem como também interfere
intrinsicamente na inteligibilidade do fenômeno. Hillman não está sozinho nesta
posição, se fazendo acompanhar de todo o atual pensamento pós-moderno que
defende a fenomenologia frente à hermenêutica, como no caso da escritora Susan
Sontag que é contra a interpretação, pois a considera uma intelectualização da
experiência, como ela própria diz: "uma vingança do intelecto sobre o mundo".
“Alteração psicológica significa afetar profundamente a subjetividade pela
constelação de uma realidade simbólica e emocional ... Devemos divagar sobre um
tema e não resolver um problema; esperamos poder deixar que nosso método nos
guie através de uma série de reflexões sobre um mesmo tema, como se fossem
uma sequência de aquarelas, evocando percepções, perspectivas, enfatizando o
discurso metafórico, pretendendo dar sugestões e provocar aberturas, tendo como
objetivo não uma conclusão, não esgotar o assunto, mas deixá-lo ainda mais em
aberto” (HILLMAN, 1981)
Carlos Byngton (2005) fala de símbolos estruturantes e funções estruturantes.
Símbolos estruturantes incorporam os significados dos acontecimentos,
enriquecendo nosso conhecimento da vida. Inclui todas as entidades e suas
polaridades, como por exemplo: ego-não ego, corpo-mente, consciência-
inconsciência, objetivo-subjetivo, pensamento-sentimento, razão-emoção, etc.
É o símbolo que dá origem à formação da polaridade ego-outro na
consciência, seja este outro a natureza, o corpo, a sociedade ou até mesmo ideias e
emoções.
Funções estruturantes formam e desenvolvem nossa consciência. São as
forças que veiculam os símbolos estruturantes, mas também as ferramentas que os
dissecam e que nos permitem acessar os seus significados para o aprendizado da
vida.
Podemos compreender a evolução humana a partir destes elementos. Os
arquétipos matriarcal, patriarcal, da alteridade e cósmico são constelados
sequencialmente (conceito estrutural-evolutivo), mas, depois, operam lado a lado na
sua função coordenadora dos símbolos estruturantes da consciência (Byington,
2005).

“O amor e o poder são as duas principais funções estruturantes na


criatividade e organização do Arquétipo Central, porque elas fazem parte da

45
essência do processo de união-separação dos símbolos para formar a Consciência.
O amor propicia a união e o poder promove a separação, formando assim a
polaridade básica do desenvolvimento do Ser” (Byington, 2005).

Figura IV.6 Os Ciclos Arquetípicos

O entrelaçamento do “linguagear” com o “emocionar” vai constituir o


conversar. São as conversações que vão constituir as culturas, na medida em que
se conservam e são transformadas gerações após gerações (Maturana & Verden-
Zöller, 2004).
Maturana já nos fala de que por traz de todo o comportamento existe um
“emocionar”. No ciclo matriarcal esta emoção é o amor que une, enquanto no ciclo
patriarcal se usa o poder que separa. Maturana diz que uma sociedade em que a
emoção fundadora é o medo, não é um lugar bom para se viver.
Geertz entende a cultura como uma inextricável teia de significados que os
homens tecem em suas interações cotidianas e que funciona como um mapa para a
ação social. Nessa visão, a cultura é como um conjunto de textos, que os atores
sociais leem para interpretar o curso dos acontecimentos sociais.
Durand considera o imaginário como um trajeto antropológico de um ser que
bebe numa “bacia semântica” (encontro e repartição das águas) e estabelece o seu

46
próprio lago de significados, esse encontro das águas. Pelo imaginário o ser
constrói-se na cultura. Na visão durandiana é a “bacia semântica” que orienta o
“trajeto antropológico” de cada um na “errância” existencial.
Somos o que somos inseridos dentro de uma rede de conversações
(processo linguístico interativo → linguagear para Maturana), que nos procede e
sobre o qual não temos controle total. Somos conscientes e inconscientes, frutos de
uma relação entre nossos desejos e a interação precedente codificada na
linguagem.
Dessa forma, a dimensão simbólica se edifica e encontra sustentação a partir
do conversar. Antes de sermos racionais, somos seres emocionais. É no fluir das
conversações que somos gerados tanto como indivíduos quanto como coletivos.
O símbolo dialoga com um substrato mais profundo, com o momento mítico
de leitura do intérprete (Durand, 1998).
Hermenêutica, do grego hermeneuein, conota uma teoria ou filosofia da
interpretação, de modo a tornar possível a compreensão do objeto de estudo, muito
além de sua simples aparência superficial. A palavra grega hermeios é derivada do
deus Hermes que, na mitologia grega, foi o descobridor da linguagem e da escrita...
Mito: do grego mythós (muqóv): “aquilo que se relata”, “o mito é aqui
compreendido como a narrativa dinâmica de imagens e símbolos que orientam a
ação na articulação do passado (arché) e do presente em direção ao futuro (télos)".
Neste sentido, é a própria descrição de uma determinada estrutura de
sensibilidade e de estados da alma que a espécie humana desenvolve em sua
relação consigo mesma, com o Outro e com o mundo (Ferreira Santos, 1998).
Se eu posso transmitir o que foi criado, também posso me apropriar de algo
existente, daquilo que foi criado e me foi transmitido. Tornar meu, não somente
aquilo que é produzido pela minha cultura, mas apropriar-me também daquilo que é
criado e transmitido pelas várias culturas.
Posso também buscar sentido para essas coisas, interpretar aquilo que foi
criado, foi transmitido, apropriado e sentido.
Se eu me pauto por essa concepção processual de cultura, já não faz muita
diferença o suporte material ou não desses processos, porque eu privilegio o
processo.
Para isso, necessitamos de: o olho do geógrafo, o espírito do viajante e a
criação do romancista (Ricoeur 1994).

47
No prisma da hermenêutica a singularidade do mito, enquanto narrativa
simbólica articula a História com a não-História. O mito é um sistema dinâmico de
símbolos, de arquétipos e de schèmes. É um esboço de racionalização, visto que ele
utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os
arquétipos em ideias.
Os mitos descrevem as diversas, e por vezes dramáticas irrupções do
sagrado ou simplesmente a sobrenaturalidade. (Durand)
“A mitohermenêutica se aplica como estilo de reflexão, preferencialmente,
sobre narrativas míticas, arte popular, artesanato e demais expressões culturais
populares”. (Maffesoli, 1985).
A linguagem primária dos arquétipos é a linguagem metafórica dos mitos.
Eles são os padrões fundamentais da existência humana. Para estudar a natureza
humana no seu nível mais básico, é necessário voltar-se para a cultura (mitologia,
religião, arte, arquitetura, o épico, o drama, o ritual) onde esses padrões são
evidentes. (Hillman, 1983, p. 23.)
Rudolf Oto nos diz que “os mitos fundamentais revelam os arquétipos que o
homem se empenha a realizar frequentemente fora da vida religiosa”. “Os arquétipos
são, portanto, imagens primordiais numinosas e imperativamente potentes e
pertencentes ao domínio genético do comportamento humano”.
Os mitos estão presentes em todo o material descritivo da psicologia dos
arquétipos. Os conteúdos psíquicos, na psicologia analítica, são personificados, não
são apenas conceitos abstratos teóricos, mas personagens vivos internos, deuses.

“O sujeito é abertura não quer dizer que ele é janela ou buraco no muro(...)
abertura, portanto: obra do abrir, inauguração sempre recomeçada, operação do
espírito selvagem, espírito da práxis. Ou ainda: o sujeito é o que abre.” (Castoriadis,
1987:157).
O que Jung sempre postulou é que os arquétipos são tendências,
possibilidades herdadas para representar imagens similares, formas intuitivas de
imaginar. Padrão de comportamento. Há tantos arquétipos quantas são as situações
na vida – uma infinidade deles. Arquétipo deriva do grego “arché”, substância
primordial, e typós, impressão, marca.
Arquétipos são padrões de comportamento que conferem ao ser humano a
sua índole específica (JACOBI, 1986). Aptidão imaginária da psique, que reaviva

48
imagens coletivas de significância biológica e histórica como "categorias herdadas”
(JUNG, 1981). Núcleos de significados carregados de energia – interagindo entre si.
Predisposições estruturais inatas definíveis somente em termos de princípios
ordenadores, nunca em termos de conteúdo específico (WITTINE). Formas sutis,
transcendentais, que são as formas primordiais de manifestação, não importa se
esta é física, biológica ou mental. (WILBER).
Segundo a Filosofia agostiniana, as ideias eternas são as formas principais
ou razões estáveis e imutáveis das criaturas. Não têm sido formadas, e por isso são
eternas; subsistem na Inteligência divina que as contém. A divisão entre as razões
eternas individuais das criaturas e as razões eternas universais das mesmas faz
parte das ideias de Agostinho. As últimas desempenham um papel fundamental na
teoria do conhecimento humano.
Para Jung os arquétipos são mais existenciais do que transcendentais. São
simplesmente facetas das experiências comuns do dia-a-dia da condição humana.
Concordo que essas formas míticas são herdadas coletivamente pela psique. E
também concordo inteiramente com Jung que é muito importante chegar a um
acordo com esses “arquétipos míticos”. (WILBER)
“A construção de um ninho é um processo arquetípico, tanto quanto a dança
ritual das abelhas, a defesa assustada da lula ou o desdobramento do leque do
pavão” (JACOBY, 1986). “O inconsciente fornece, por assim dizer a forma
arquetípica, que é em si mesma vazia e, por isso, inimaginável. No entanto, da parte
do consciente, essa forma logo está sendo preenchida por material imaginado,
aparentado e semelhante, tornado perceptível”. (JACOBY, 1986)
O arquétipo manifesta uma qualidade psicóide, isto é: o arquétipo ocupa uma
posição entre o mundo psíquico e o mundo material, ele é quase-psíquico e quase-
material. (JUNG, 1954/1975)
Jung percebe as relações do homem com o meio dentro de uma
epistemologia segundo a qual há um continuum do mundo subjetivo com o mundo
objetivo. Nesse continuum, o unus mundus, as relações do homem com o meio
circundante se dão em um campo projetivo onde ocorrem os fenômenos de
sincronicidade e as relações de causa e efeito não dão conta de todos os
fenômenos.
“A ideia de unus mundus se baseia na hipótese de que a multiplicidade do
mundo empírico apoia-se em uma unidade subjacente, e não na coexistência ou

49
combinação de dois ou mais mundos fundamentalmente diferentes (...). A existência
de inegáveis conexões causais entre a psique e o corpo confirma a natureza unitária
subjacente" (JUNG, apud SAIZ, 2006).
Jung desenvolveu, como já citado anteriormente,
uma metáfora de forma a correlacionar os instintos
animais com os arquétipos. Abaixo da cor vermelha
temos a região do infravermelho e, acima do violeta,
o ultravioleta. As imagens arquetípicas ocupariam a
região do ultravioleta enquanto instintos e padrões
de comportamento equivalentes, ao infravermelho. O
arquétipo estaria presente na região do ultravioleta
como imagem e, na esfera do infravermelho como
padrão de comportamento ou instinto
correspondente.
Figura IV.7 Arquétipos e Instintos

Segundo Wilber: “Há o coletivo pré-pessoal, o coletivo pessoal e o coletivo


transpessoal; Jung não os diferencia com a clareza necessária; e isso gera um
desvio em todo o seu entendimento do processo espiritual, em minha opinião. O
poder dos “arquétipos verdadeiros”, os arquétipos transpessoais, provêm
diretamente do fato de serem as formas primordiais do Espírito intemporal; o poder
dos arquétipos junguianos provém do fato de serem as formas mais antigas da
história temporal. O único arquétipo junguiano que é genuinamente transpessoal é o
Self”.
Face à grande carga energética que possui (a energia psíquica para Jung é o
equivalente ao conceito psicanalítico de libido), o arquétipo atua como um campo
magnético dirigindo o comportamento inconsciente da personalidade (NEUMANN,
1996). Esse componente dinâmico exerce no indivíduo, que é guiado por ele, uma
pressão irresistível e sempre vem acompanhado por um forte componente
emocional. Portanto, aliado à ativação de um arquétipo sempre existe um estado de
comoção biopsíquica. (NEUMANN, 1996).

Capítulo 5

50
As funções psicológicas e as atitudes da libido

Nesse capítulo faremos uma viagem ao redor do EGO e da consciência


utilizando a metáfora “ser – universo” como referência. Iremos percorrer a Terra e a
sua natureza cíclica, com inversões e retornos sobre si mesmo.

A terra, nesta metáfora, é considerada como um


grande ser vivo que, através da adaptação, deve
manter as condições internas constantes
necessárias para a vida. A sua natureza tem um
ritmo, uma fisiologia, um movimento dramático, a
um só tempo, de expansão / contração; início /
fim; destruição / regeneração; sístole / diástole22.
Esses movimentos alternantes e sucessivos de
contração (sístole) e relaxamento (diástole), em
um processo semelhante ao que acontece com o
coração no nosso organismo, proporcionam a
vida e o equilíbrio do nosso planeta.

Figura V.1 – Imagem alquímica de 1618,


Maier, Atalanta Fugiens.
Fonte: Edinger, 1995, p. 102

Em termos psicológicos acontece o mesmo. O nosso ego-consciência,


através de movimentos cíclicos de energia psíquica, propicia a nossa adaptação no
mundo, de uma forma semelhante ao que acontece com a terra, em seus ciclos de
sístole e diástole 23.

Partindo dessa ideia, Jung concebeu dois modos psicológicos de adaptação

22
As palavras sístole e diástole vêm do grego systolé (contração) e diastolé (dilatar). Os dois termos são
utilizados na fisiologia médica para indicar o estado de contração de fibras musculares cardíacas (sístole) e o
movimento de dilatação do coração, após a fase de contração (diástole).
23
Em vários trechos da sua obra Tipos Psicológicos (1991), JUNG utiliza a metáfora da sístole e da diástole para
explicar os movimentos psíquicos de introversão e extroversão.

51
do homem em relação aos objetos do meio ambiente, que correspondem aos dois
movimentos energéticos que a consciência realiza em direção ao mundo:
extroversão e introversão.
Enquanto que na extroversão ocorre um direcionamento da energia psíquica
em direção ao objeto, na introversão acontece o inverso, a energia psíquica
direciona-se para o sujeito.
O movimento da energia psíquica
na extroversão, ao voltar-se em direção
ao objeto, possibilita que o ambiente
externo se torne, ao mesmo tempo,
orientador e campo de ação das
experiências pessoais, sendo as
características desse ambiente
determinantes sobre os aspectos
subjetivos da experiência.

Figura V.2 – Jacques-Louis David (1748-1825),


Marte é desarmado por Vênus.
Fonte: Perassi, Richard (2005)

Por outro lado, o movimento da energia psíquica na introversão, ao voltar-se


em direção ao sujeito, possibilita que o foco das experiências pessoais ocorra na
impressão causada pelos fatos externos, frente ao sujeito. Assim, o sujeito direciona
a sua atenção para o seu próprio mundo interno de emoções e pensamentos, ou
seja, os seus processos internos acionados pelos objetos. Há uma tentativa de
compreender o mundo antes de experimentá-lo.
Em condições normais, desde a mais tenra idade já podemos observar essas
duas formas de atitude psíquica nos indivíduos. A criança, logo após o nascimento,
tem de realizar um trabalho psicológico de adaptação, de natureza inconsciente em
relação às influências do meio ambiente materno24. O que predominava na geração
em que as crianças eram separadas da mãe logo após o parto e colocadas nas
famosas caixas de Skinner, em gélidas enfermarias? Qual a atitude que predomina
nas gerações atuais? Qual a sua atitude? Como ela varia ao longo do dia?

Além das atitudes psíquicas de extroversão e introversão, para Jung um

24
C. G. JUNG, Tipos Psicológicos, 1991.

52
grupo de quatro funções contribui para a nossa adaptação no mundo. Utilizando a
fisiologia25, mais precisamente a ideia de que cada órgão do corpo realiza uma
função específica, Jung criou o termo “função psíquica” para designar uma forma
psíquica de manifestação da libido, a nível do ego que, em princípio, permanece
idêntica sob condições diversas, ou seja, é um fim em si mesma. Cada função,
portanto, é independente, não podendo ser reduzidas umas às outras.

Atitudes psíquicas e funções psíquicas nos falam da direção para que aponta
a energia da libido e de que forma esta se manifesta. Da combinação dessas
atitudes e funções emergem os mais diferentes tipos de leituras de mundo e reações
a estas leituras que explicariam até certo ponto o comportamento humano,

Para Jung, temos quatro funções psíquicas básicas (sensação, intuição,


pensamento e sentimento), que correspondem a operações do ego e revelam como
a consciência opera em relação a si mesma e a outras pessoas.

As quatro funções psíquicas, no modelo


junguiano, correspondem a quatro maneiras
arquetípicas de organizar e sofrer a vida,
podendo ser concebidas como instrumentos
que a consciência do Ego dispõe para se
adaptar ao mundo. Funciona como uma
bússola que nos orienta, dando direção à
nossa vida.

Figura V.3 – Detalhe da “A Anunciação e a


Visitação” – Catedral Gótica de Reims
Fonte: Perassi, Richard (2005)

A escolha do número quatro foi fruto de longos anos de experiência empírica


observando as pessoas. Posteriormente o modelo quádruplo da psique foi
confirmado por Jung através da observação histórica de mitos e símbolos religiosos,
concluindo, assim, que esta estrutura quádrupla parece ser arquetípica26.

Curiosamente, este é o mesmo quatro das tipologias de Hipócrates, Platão,

25
Fisiologia é uma parte da biologia que investiga as funções orgânicas, processos ou atividades vitais, como o
crescimento, a nutrição, a respiração, etc. Dicionário Aurélio - Século XXI.
26
M. L. VON FRANZ; J. HILLMAN, A Tipologia de Jung, 1990.

53
Galeno, Paracelso, entre outros. Observem ao longo deste livro, como esse padrão
quádruplo se repete em outras áreas de expressão do viver humano.

As quatro funções são agrupadas em dois grupos de pares de opostos: duas


funções perceptivas (sensação, representada pela letra S e intuição, representada
pela letra N) e duas funções julgadoras (pensamento, representada pela letra T e
sentimento, representada pela letra F)27.

A disposição das funções no mundo-terra (ego-


consciência) pode ser observada na figura ao
S
lado, adaptada do diagrama concebido por
S Jung, chamado pelo autor de cruz das funções,
em cujo centro está o ego, dotado de energia
E
T G F própria. Comunicando-se com o ego estão as
O
quatro funções (perceptivas e julgadoras),
formando uma cruz com um eixo racional

N incidindo perpendicularmente sobre o eixo


irracional.

Figura V.4 – As quatro funções da consciência do Ego.

As funções perceptivas (sensação e intuição) captam as informações do


ambiente, sendo chamadas por Jung de irracionais, porque são responsáveis pela
apreensão dos dados diretamente do ambiente, sem a mediação de um julgamento
ou avaliação. Já as funções julgadoras (pensamento e sentimento) organizam as
informações recebidas do ambiente. Para Jung essas funções são racionais porque
são influenciadas pela reflexão, determinando o modo de tomada de decisões.

Ainda de acordo com a figura IV.4, podemos notar que as funções


perceptivas (sensação e intuição) formam um par de opostos, que se compensam
mutuamente, o mesmo se aplicando às funções julgadoras (sentimento e
pensamento).

27
A escolha das letras representando as funções foi feita de acordo com as palavras da língua inglesa: feeling
(sentimento); thinking (pensamento); sensation (sensação) e intuition (intuição). Provavelmente a letra N foi
atribuída à intuição para não ser confundida com a letra “I” da atitude introvertida.

54
De acordo com Jung, existem, portanto, duas maneiras opostas pelas quais
percebemos o mundo – funções sensação e intuição - assim como outras duas que
usamos para julgar os fatos – funções sentimento e pensamento.

Ao canalizarmos a energia psíquica para uma das funções, por exemplo, a


função sentimento, excluímos a utilização da função pensamento. Como ressalta
Jung 28: “(...) nenhum indivíduo possui os dois opostos agindo simultaneamente no
mesmo grau de desenvolvimento”.

Funções perceptivas

Dentro da nossa metáfora do “ser-universo”, podemos chamar as funções


perceptivas de olhos da terra, responsáveis pelo olhar para fora (sensação), através
da percepção dos sentidos ou olhar para dentro (intuição), através da percepção
subliminar, inconsciente.

A função sensação é responsável pela


percepção dos fatos externos que ocorrem
através dos órgãos dos sentidos. É através
dessa função que detectamos a existência
dos objetos, de uma forma objetiva, concreta,
apresentando também um viés subjetivo,
este dado pelo sujeito que sensualiza e
contribui com sua disposição subjetiva para o
estímulo objetivo.

Figura V.5 – “Demônios Condenados”, um detalhe do painel “Juízo Final” da Catedral de


Saint-Etienne. Fonte: Perassi, Richard (2005)

Essa percepção sensorial pode ser concreta ou abstrata. A primeira


relaciona-se à percepção sensorial imediata, reativa, sempre misturada com
representações, sentimentos e pensamentos. Já a segunda apresenta uma condição
de percepção mais diferenciada, “estética”, elaborada, sempre se levando em
consideração a vontade dirigida, esta correspondendo ao ato de exprimir e aplicar
uma atitude estética à percepção. A sensação abstrata é própria, sobretudo, dos
artistas.

28
C. G. JUNG, Fundamentos de Psicologia Analítica, 1999, p.13.

55
Michel Foucault fala de “tromp l´oeu” para falar da perspectiva de um
Velasquez e de um “tromp l´espirit” para falar das leituras feitas por Picasso de sua
obra “As Meninas”.

Já a função intuição está associada a um tipo de percepção que busca os


significados, as relações e as possibilidades futuras da informação recebida.

Esta função psíquica atua no nível de percepção subliminar, como


percepções sensoriais tão sutis que escapam à nossa consciência, registrando-se
ao nível do inconsciente, antevendo possibilidades de acontecimentos. Corresponde
aos pressentimentos, palpites e impressões.

A função intuição pode se manifestar de forma


subjetiva, objetiva, concreta ou abstrata. Na forma
subjetiva, a percepção de fatos inconscientes é
proveniente basicamente do próprio sujeito, enquanto
que na objetiva provém dos objetos. Já a concreta se
baseia na percepção referente à realidade das
coisas, enquanto que na abstrata há a percepção
relacionada a ideias.

Figura V.6 – Gravura em metal de Albrecht Dürer.


Fonte. Perassi, Richard (2005)

Funções julgadoras
As funções julgadoras, vistas através da nossa metáfora do “ser-universo”,
podem ser analogizadas com a cabeça e o coração da terra – consciência, sendo
responsáveis pelo julgamento através da razão (pensamento) ou através da
valoração (sentimento).
A função pensamento nomeia e conceitua os objetos, estabelecendo a
relação lógica e conceitual entre os fatos percebidos. Quando essa função é
utilizada, julga-se o objeto percebido baseado em leis gerais aplicáveis às situações,
sem levar em conta a interferência de valores pessoais, ou seja, analisamos
racionalmente um fato utilizando a lógica, sem maior interesse pelo seu valor afetivo.

56
Para Jung, a função pensamento pode ser ativa ou
passiva. No pensamento ativo há uma
subordinação dos conteúdos de representação a
um ato voluntário de julgamento, enquanto que no
pensamento passivo há uma disposição de
conexões conceituais que podem se contrapor às
intenções do sujeito.

Figura V.7 – Monge Copista. Fonte. Perassi, Richard (2005)

O primeiro é um agir da vontade, podendo ser chamado de pensamento


dirigido, enquanto que o segundo é um acontecer, este podendo ser chamado de
pensamento intuitivo.

Já a função sentimento nos informa através de


percepções próprias acerca do valor dos objetos. No
relacionamento do ego com os objetos, a função
sentimento consiste no processo de atribuir ao
conteúdo psíquico um valor definido no sentido de
aceitação ou rejeição, prazer ou desprazer, podendo
se manifestar também como estados de humor, estes
podendo ser provenientes de conteúdos
inconscientes.

Figura V.8 – Madona e Criança de Rafael. Fonte: Perassi,


Richard (2005)

A função sentimento julga os fatos e acontecimentos, não visando ao


estabelecimento de relações conceituais (o que ocorre através da função
pensamento), mas a uma aceitação ou rejeição subjetiva, o que confere valor a cada
conteúdo da consciência. Dessa forma, a função sentimento ordena os conteúdos
da consciência de acordo com o seu valor.

Também essa função pode ser concreta ou abstrata. Quanto mais concreto o
sentimento, mais pessoal e subjetiva é a valoração objetal e quanto mais abstrato,
mais geral e objetivo será o valor.

57
De uma forma mais prática, nas situações do nosso cotidiano, poderíamos
dizer que a função sensação diz o que determinado fato é; a função pensamento
analisa este fato procurando reconhecer o seu significado; a função sentimento
revela que valor tem para nós este fato, ou seja, se gostamos ou não de
determinado objeto ou situação e, por fim, a intuição aponta para possibilidades do
“por que” e do “até onde” este fato pode estar apontando.

FUNÇÕES PSÍQUICAS

Decide ORGANIZA INFORMAÇÕES


impessoalmente
T

S N

F opostos
CAPTA INFORMAÇÕES CAPTA INFORMAÇÕES

Volta-se para
Volta-se para fatos
possibilidades

Decide por meio ORGANIZA INFORMAÇÕES


de valores

Figura V.9 - As funções da consciência no modelo psíquico junguiano.


Fonte: Adaptado de Jung, 1999, p. 13.

Nós geralmente utilizamos as quatro funções e as duas atitudes diariamente.


No entanto, existe sempre uma função e atitude preferida para a utilização pelo
sujeito. Em virtude do seu maior uso, essa função torna-se mais desenvolvida,
dando origem aos tipos psicológicos que veremos um pouco mais adiante.

Podemos observar um resumo das funções da consciência na figura V.9:

58
Capítulo 6
Psicodinâmica das funções e atitudes da consciência

Já tendo visto de que forma as funções e atitudes da consciência se dispõem


no modelo junguiano, surge uma indagação: Como elas operam dinamicamente no
nosso sistema psíquico? Para responder a essa pergunta, inicialmente, precisamos
conhecer sumariamente como o ego se desenvolve, à luz da psicologia analítica.

Uma das contribuições que a psicologia


junguiana proporcionou ao mundo moderno foi
a ideia de que há na personalidade humana
uma tendência unificadora, inata à estrutura
psicofísica, chamada de “centroversão”, que
orienta o desenvolvimento da personalidade e
a realização individual. O núcleo dessa
tendência se localiza no interior de cada ser
humano, propiciando o desenvolvimento da sua
integralidade. Os efeitos dessa auto formação,
na segunda metade da vida foi denominada por
Jung de “individuação”.

Figura VI.1 – Casal Arnolfini, Jan Van Eyck (1436)


Fonte: Perassi, Richard (2005)

No entanto, a centroversão que guia a individuação está presente desde a


formação do ego e da consciência, na mais tenra infância. Mais precisamente,
voltada para a unidade do organismo, a centroversão produz o ego como centro de
um sistema consciente, composto de conteúdos e funções agrupadas em torno
desse núcleo, necessário para a sobrevivência do organismo no mundo 29.

Em Freud o inconsciente se forma de fora para dentro, por recalques e


repressões. No modelo Junguiano, ao contrário, a consciência se desenvolve a partir
do inconsciente. O ego surge da libido inconsciente como um complexo que irá reger
o centro da consciência.

29
E. NEUMANN, História da Origem da Consciência, 1995.

59
Essa fase inicial do desenvolvimento da consciência, que é regida pelo
arquétipo da Grande Mãe, é chamada de urobórica30, paradisíaca, de união total
com o mundo, não havendo ainda sofrimento; este só ocorre com a experiência do
ego. É uma fase de pré-ego, pertencendo ao estágio da mais tenra infância, quando
existe apenas o germe do ego. A estrutura quaternária total da personalidade, nessa
fase, contém as quatro funções psíquicas (sensação, intuição, pensamento e
sentimento) pré-formadas e indiferenciadas. Em termos mitológicos corresponde ao
paraíso cristão, onde Adão e Eva vivem em um completo estado de inocência,
adormecidos.
Em 1934, Jung escreveu: “Os princípios básicos, os
archetypoi, do inconsciente são indescritíveis em virtude de
sua riqueza de referência, muito embora reconhecíveis em
si mesmos. O intelecto discriminador naturalmente
prossegue tentando estabelecer-lhes significados únicos e,
assim, perde o ponto essencial; pois aquilo que, antes de
tudo, podemos estabelecer como compatível com sua
natureza é seu significado múltiplo, sua quase ilimitada
riqueza de referência, que torna impossível qualquer
formulação unilateral”.
A “Grande Mãe”; o “Si Mesmo”, o “Velho Sábio”; o
“Herói” e a “Morte” estão entre os primeiros arquétipos
descobertos por Jung.

Figura VI.2 – Eva. Obra do século XV que, atualmente, compõe o


acervo do Museu do Prado em Madri
Fonte: Perassi, Richard (2005)

“A humanidade sempre teve em abundância imagens poderosas que a


protegiam magicamente contra as coisas abissais de alma, assustadoramente vivas”
(JUNG, 2000, p. 23).

30
Neumann conceitua essa fase de “urobórica”, referindo-se ao símbolo da serpente circular que morde o próprio
rabo, já descrito anteriormente quando falamos sobre o sonho de Kakulé (vide subcapítulo 3.3). Este símbolo foi
utilizado pelo autor para representar a total indiferenciação que caracteriza essa etapa do desenvolvimento, onde
tudo desemboca em tudo, de tudo depende e com tudo está relacionado.

60
O inconsciente, enquanto totalidade de todos os arquétipos é o repositório de
todas as experiências humanas desde os seus mais remotos inícios: um repositório
vivo.
“O Si-mesmo representa o objetivo do homem inteiro, a saber, a
realização de sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra
sua vontade. A dinâmica desse processo é o instinto, que vigia para
que tudo o que pertence a uma vida individual figure ali, exatamente,
com ou sem a concordância do sujeito, quer tenha consciência do
que acontece, quer não” (JUNG, 1977: p. 322)

O arquétipo é filogenético enquanto o gene é ontogenético. “Teoricamente


deveria ser possível extrair, de novo, das camadas do inconsciente coletivo, não só
a psicologia do verme, mas até mesmo da ameba”. (Jung, CV § 322).
Hegel31 dirá que, ao nascer, a criança é escrava da tirania do absoluto,
vivenciando a figura da consciência que chama de Imediato. O imediato de Hegel é
o aqui e agora, o todo a penetrar pelos sentidos, sem que se dê a percepção. O
Real é, também, atemporal, na medida em que o tempo nada mais é do que a
consequência da incapacidade da consciência de assimilar esse todo. As
Vorstellung, elementos imaginários do objeto, sinalizam a coisa.

A fruta é doce, é vermelha, redonda, tem caroço, etc.


Mas ser doce, ser vermelha, ter a forma redonda e ter
caroço não captura toda a complexidade da fruta
enquanto singularidade. A coisa-Ding-mãe, não é
atingível enquanto tal, mas apenas enquanto Sache.
Das Ding é o centro em torno do qual gravitam as
Sachevorstellungen. Aquilo que aponta para das Ding e
que, ao mesmo tempo, a contorna, é a pulsão.

Figura VI.3 – A Trindade, El Greco


Perassi, Richard (2005).

31
Fenomenologia do Espírito

61
A pulsão (Trieb) remete à ordem do corpo, a ordem do Real, mas tem seus
representantes no aparelho psíquico. É a via mestra pela qual o sujeito se constitui
e, também, a energia por detrás do seu comportamento. Uma energia que cresce
sempre, pressionando o somático a uma operação de descarga, à qual o sujeito não
consegue escapar. Essa tensão pulsional, que aumenta sempre, exige que algo seja
feito.
A segunda figura do movimento da consciência, segundo Hegel, é a
percepção, em que o sujeito começa a escapar da tirania do imediato. É a Cultura,
ao operar a conversão do animal para o humano, através da regulação do
comportamento, quem vai provocar esta libertação, ou melhor dizendo, este
deslizamento entre a tirania do absoluto e a tirania do outro.
A terceira figura da consciência é o “discernimento” em que a criança começa
a diferenciar e categorizar as coisas do seu mundo.
No decurso do seu desenvolvimento, o ego começa a adquirir consciência de
ser distinto e peculiar, atraindo para si uma quantidade maior de energia psíquica,
avançando rumo à autonomia que leva a um aumento de consciência. Com a
discriminação consciente, há a divisão do mundo em opostos: bem/mal, dentro/fora,
sujeito/objeto. A emancipação do ego, simbolicamente, pode ser comparada com o
momento em que Adão e Eva comem a maçã da árvore do conhecimento do bem e
do mal, e são expulsos do paraíso urobórico arquetípico da Grande Mãe.

Com o aumento da libido para a


consciência, começa a ocorrer a diferenciação
de uma das funções e atitudes da consciência.
A função e a atitude mais diferenciadas, inatas,
nos ajuda no processo de libertação do
inconsciente original, visando nos estabelecer
como uma unidade ou figura social separada 32

Figura VI.4 – Detalhe de afresco da Capela Sixtina, MIchelangello


Fonte: Perassi, Richard (2005)

32
C. G. JUNG, apud E. C. WHITMONT, A Busca do Símbolo – Conceitos básicos de Psicologia Analítica,
1990.

62
Resumindo: é por causa da centroversão e do movimento de diferenciação e
adaptação do ego - saindo das "garras do inconsciente"- que o indivíduo adota uma
atitude habitual de introversão ou extroversão e diferenciação de determinada
função (aquela que ele de forma inata tem mais facilidade e o meio reforça).
Esse movimento de diferenciação configura-se em uma seleção feita por nós
daquela função e atitude que temos mais aptidão para usar no mundo. Jung chama
essa seleção de “acento numinal”. 33

Para Jung o primeiro movimento da


consciência é o que ele chama de participation
mystique34, uma identificação com o mundo.
Baseia-se em identificação, introjeção e projeção.
Na fase oral, diz Freud, bebemos o mundo pela
boca. Piaget fala da fase sensório-motora. Com a
busca do faltante, em que A  A, em que o
significante é marcado pela sua diferença em
relação à coisa em si, é que vai surgir a terceira
figura Hegeliana, Verstand, discernimento, muitas
vezes mal traduzida por intelecto ou entendimento.

Figura VI.5 – Teto da Igreja de São Francisco, na cidade de Ouro Preto em Minas Gerais,
Brasil, pintado por Mestre Ataíde, no século XVIII. Fonte: Perassi, Richard (2005)

Se recorrermos à mitologia para falarmos da diferenciação das funções no


movimento egoico de libertação do inconsciente original, podemos viajar até o Egito
e o mito de Osíris/Hórus. Esposa de Osíris, Isis se desespera quando o Deus – o
único a ter um destino na mitologia egípcia – é assassinado, afogado e esquartejado
por seu irmão Seth.

33
O termo “acento numinal”, cunhado por Jung, refere-se a qualidades positivas de importância e valor, inatas,
que o indivíduo concebe em relação ao sujeito e objeto, assim como em relação às quatro funções psíquicas
(sentimento, pensamento, sensação e intuição). Durante o desenvolvimento psíquico, face ao “acento numinal”,
uma das atitudes se diferencia, assim como uma das funções, que se tornam a atitude e a função dominante ou
principal.
34
Jung utilizou este termo, a partir do antropologista Lévy-Bruhl, significando uma espécie singular de
vinculação psicológica entre o sujeito e o objeto, não havendo uma distinção clara entre os dois. O sujeito fica

63
Seth, para se precaver do retorno do irmão, espalha seus pedaços por todo o
Egito. Assim, Isis percorre toda a região daquele país e reúne os pedaços de Osíris,
mas como não encontra o seu pênis, coloca no seu lugar um falo de madeira e com
este, concebe Hórus. Hórus, filho de Osíris, posteriormente conceberá quatro (04)
filhos com Isis.
A criança Hórus é criada na floresta do pântano. Mais tarde luta com Seth e
triunfa. Osíris, assim, é completamente reabilitado, em todos os seus direitos de
soberano, “como pai morto” de Hórus, encarnado no respectivo rei (tema dos hinos
de Osíris).
Para Neumann35, nos mitos encontramos conteúdos psíquicos importantes,
que o homem antigo percebia inconscientemente e projetava nas histórias da
mitologia. Para este autor, encontramos no mito de Osíris/Hórus, a representação
psíquica do Self e do Ego, respectivamente.36
Seth, o predador da psique, destrói Osíris, o pai protetor. Só a sabedoria de
Isis, a velha bruxa, a deusa mãe, capaz de conceber com um falo mágico, feito do
carvalho, da árvore antiga, pode dar nascimento ao Hórus – Self.
Hórus teve quatro filhos: Imseti, Hapi, Duamutef e Kebehsenuef. Esses
deuses estavam estritamente ligados ao culto funerário37, não tendo sido alvo em
nenhum culto em templos. Cada um dos deuses, que era associado a um ponto
cardeal e uma deusa, era considerado como o guardião de um dos órgãos internos
do falecido, conforme podemos observar no quadro V.1.

ligado ao objeto por relação direta, havendo uma unicidade apriorística de objeto e sujeito. Cria-se, assim, uma
relação mágica, mística, os sujeitos e os objetos conectados entre si abaixo da superfície da consciência.
35
E. NEUMANN, História da Origem da Consciência, 1995.
36
Para Jung, o ego surge a partir do self, este correspondendo ao centro organizador da personalidade,
constituído pela soma de todos os conteúdos psíquicos, incluindo o ego, o inconsciente pessoal, os arquétipos e
suas inter-relações. Corresponde à totalidade psíquica, comparado a um maestro, que mantém os componentes
psíquicos unidos como uma orquestra para executar, em cada um de nós, uma melodia única, ao longo de toda a
nossa vida. O ego e o Self são unidos por um eixo, através do qual os vários símbolos da personalidade
expressão. Nos mitos de Osíris/Hórus e Cristo/Deus vemos a relação entre o ego e o self representados pela
expressão “eu e o pai somos um”.
37
Os antigos egípcios viviam de acordo com a ideia da imortalidade. Foi com uma existência religiosa voltada
para os destinos além-túmulo e a preservação desta imortalidade que as crenças na ressurreição e na vida futura
guardaram uma grande unidade durante longos períodos, estando presente nos elaborados ritos funerários, na
construção de sepulturas e o seu apetrechamento nas minuciosas técnicas de mumificação e nos cuidados com o
destino da alma e da morada espiritual, que chamaram a atenção de todos que tiveram qualquer forma de contato
com esta cultura.

64
Deus Iconografia Órgão Ponto Deusa tutelar
cardeal
Imseti Homem Fígado Sul Isis
Hapi Babuíno Pulmões Norte Néftis
Duamutef Chacal Estômago Leste Neit

Kebehsenuef Falcão Intestinos Oeste Serket

Quadro VI.1 – Os quatro filhos de Hórus, com as suas associações.


Fonte: Wikipédia.

No Egito, durante o processo de mumificação,


os órgãos internos do morto eram retirados e
colocados em quatro recipientes, chamados de
vasos canópicos. A partir da XVII Dinastia a
tampa destes vasos passou a reproduzir a
cabeça dos deuses “filhos de Hórus”.

Figura VI.5 - Vasos canópicos do príncipe Hornakht.


XXII dinastia, reino de Osorkon II, (874-850 a.C)
Alabastro. Museu Egípcio, Cairo.

Se considerarmos Hórus como símbolo do Ego-consciência, os seus filhos


podem ser analogizados com as quatro funções da consciência. Percebemos, então,
uma manifestação arquetípica do modelo quádruplo das funções psíquicas no Antigo
Egito.
A psicologia analítica considera, portanto, que as quatro funções psíquicas
não são diferenciadas igualmente pelo ego. Isso ocorre face às exigências sociais,
que nos obrigam a diferenciar aquela função e atitude que temos maior aptidão, com
a qual estamos mais bem equipados pela natureza, para que possamos nos adaptar
à vida. A atitude (introversão ou extroversão), acompanhada da função dominante
se tornam mais desenvolvidas e ficam sob o controle consciente do Ego.
A tela de Mauritius Escher, uma mão desenhando a si mesmo, retrata a
capacidade dos seres autorreferentes, ou seja, a consciência que, como estamos
vendo em Jung, é um fenômeno complexo em que as funções se reportam como
formas de manifestações da mesma no espaço e no tempo. Ter consciência é,
recursivamente, ter consciência de que se tem consciência.
65
Em virtude de seu maior uso, a função dominante, chamada também de
função principal torna-se mais diferenciada, vindo a ser a função mais confiável e
eficiente que dispomos para funcionar cognitivamente no mundo. Essa função já
começa a se destacar desde a infância, através das preferências demonstradas
pelas crianças, nas suas ocupações e nos seus relacionamentos com os colegas e
vai se desenvolvendo, sendo cada vez mais reforçada pelo meio ambiente.
Por exemplo, o autor deste livro tem como função principal o Sentimental
Extrovertido. Aprendeu a conseguir as coisas fazendo manha.
Existe uma segunda função, chamada de função auxiliar ou secundária, que
também se desenvolve complementando a função dominante, não chegando a
atingir, porém, a desenvoltura da função principal. Como as funções funcionam
como pares de opostos, esta função nunca pode ser antagônica à principal, ou seja,
se a principal é perceptiva, a auxiliar é julgadora e vice versa 38
No caso do autor, sua função auxiliar é o Pensador Introvertido. Quando a
manha não funciona, a solução é fazer “birra”. Observe que estas funções são a
forma pela qual a criança consegue obter carinho ou, em outras palavras, se adaptar
ao mundo.
A importância do processo auxiliar na dinâmica tipológica reside em ser apoio
à função superior – traz equilíbrio (não igualdade) entre extroversão e introversão e
proporciona, também, equilíbrio entre o julgamento e a percepção. Exemplificando, a
função auxiliar dos extrovertidos lhes dá acesso à sua vida interior e ao mundo das
ideias, enquanto o auxiliar dos introvertidos lhes dá o meio de se adaptar ao mundo
das ações e lidar com ele de maneira eficiente.
Aqui, de novo, é melhor pensar em termos dialógicos do que dialéticos,
aceitar o paradoxo das possibilidades múltiplas do que o determinismo das escolhas
inexoráveis.
Quando a função superior é diferenciada, a sua função oposta é reprimida
violentamente, sendo chamada de função inferior. Quanto mais uni lateralizada for
a diferenciação da função superior, mais energia psíquica será drenada para ela,
esvaziando de energia a função inferior.

38
Esse princípio é pertinente, do ponto de vista da adaptação do indivíduo ao ambiente, ou seja, o homem se
torna mais bem adaptado ao ambiente desenvolvendo na consciência uma função julgadora, associada à uma
função perceptiva.

66
No caso de uma neurose, a função inferior submerge no inconsciente,
ganhando mais energia psíquica, podendo emergir no consciente de uma forma
infantil e arcaica, trazendo desequilíbrio para a personalidade.
A função oposta a auxiliar, chamada de função terciária, é uma função com
desenvolvimento rudimentar, cuja importância está na complementaridade da
dinâmica (consciente/inconsciente) atribuída aos quatro elementos da tipologia 39.

(1º.) PRINCIPAL
(2º.) SECUNDÁRIA

CONSCIENTE

INCONSCIENTE

(3º) TERCIÁRIA
(4º.) INFERIOR

Figura VI.6 – Esquema demonstrando a dinâmica das funções no modelo Psíquico


Junguiano.

Na figura VI.6, representamos esquematicamente as quatro funções


operando no sistema psíquico humano. A partir dela percebemos que a função
superior e a função inferior formam um par de opostos, assim como a função auxiliar
forma um par de opostos com a terciária.40

39
A fase de diferenciação das funções e atitudes dominantes é importante para o ego libertar-se do inconsciente,
o que ocorre geralmente na primeira metade da vida. Na segunda metade da vida ocorre um movimento inverso:
e ego já tendo cumprido as suas funções de adaptação e adequação do indivíduo frente à sociedade, deve buscar
um reencontro com o inconsciente, mantendo uma relação dialógica com o mesmo. É o que ocorre no processo
de individuação. Nessa fase, se torna importante o diálogo com todas as funções psíquicas, inclusive aquelas
menos diferenciadas (função inferior e terciária).
40
De acordo com Jung (1991), para que a função sensação opere efetivamente é necessário que a energia
psíquica esteja focada nas informações sensoriais dos objetos. Esse processo psíquico não é compatível
simultaneamente com a função intuição, que foca a energia psíquica nas “informações” do mundo interno,
inconsciente. O mesmo acontece com o julgamento dos fatos. Para que a função pensamento seja fiel ao seu
próprio princípio, ela deve avaliar as informações de forma lógica e não valorativa. O princípio da função
pensamento, portanto, não pode ser realizado de forma simultânea com o princípio da função sentimento, que é
eminentemente valorativo (eu gosto, eu não gosto, por exemplo).

67
No intuito de exemplificar a dinâmica das funções e
atitudes psíquicas na personalidade humana,
construímos a figura VI.8 que mostra a psique de duas
pessoas diferentes, do ponto de vista tipológico.
Conforme podemos observar na figura VI.8, o
indivíduo A é um pensador introvertido (a função
principal é pensamento, a inferior, portanto, tem de ser
sentimento porque as duas funcionam como pares de
opostos). A função auxiliar deste indivíduo é sensação
(devemos lembrar que sempre que a função principal é
julgadora, a auxiliar é perceptiva e vice versa).
Figura VI.7 O Pensador, Auguste Rodin
Fonte: Perassi, Richard (2005)

ATITUDE ATITUDE
INTROVERTIDA EXTROVERTIDA

(1º.) T (2º.) S (1º.) N


(2º.) T

Consciente Consciente

Inconsciente Inconsciente

(3º.) N
(3º.) F
(4º.) F (4º.) S

Indivíduo A – Pensador Introvertido Indivíduo B – Intuitivo Extrovertido

Figura VI.8 – Esquema exemplificando a dinâmica das funções e atitudes do modelo


Psíquico Junguiano em dois sujeitos diferentes.

68
Já o indivíduo B é um intuitivo extrovertido (a função principal é intuição,
consequentemente a inferior tem de ser sensação, face ao antagonismo das
mesmas). A função auxiliar deste indivíduo é pensamento (devemos lembrar que
sempre que a função principal é julgadora, a auxiliar é perceptiva e vice versa).
Concluímos que os dois indivíduos apresentam formas diferentes de perceber
o mundo, moldadas pela dinâmica que ocorre entre as funções e atitudes psíquicas.
Essa dinâmica dá origem aos diferentes tipos psicológicos, conforme veremos nas
próximas seções.

69
CAPÍTULO 7
O modelo tipológico concebido por Carl Gustav Jung.

Todos nós temos as quatro funções (sensação, intuição, sentimento e


pensamento) e as duas atitudes (introversão e extroversão) operando no nosso
sistema psíquico. No entanto uma atitude e uma função psíquica se destacam na
nossa vida, acentuando energeticamente as nossas relações com o mundo e dando
origem a distintas formas de comportamento. Nós acabamos utilizando
preferencialmente essas atitudes e funções dominantes, face à predisposição
individual e reforço do ambiente. Quando a utilização de determinada função e
atitude psíquica se torna habitual, temos os tipos psicológicos junguianos. Essa
habitualidade no uso de determinadas funções e atitudes nos permite agrupar os
indivíduos em diversos tipos psicológicos, cada um determinando um estilo de
temperamento.

Vamos exemplificar o que dissemos acima: as pessoas que têm a função


pensamento como dominante acabam por utilizar mais a reflexão para se relacionar
com o mundo, sendo classificadas como pensadoras. Já os indivíduos que têm a
função sentimento como dominante utilizam mais o julgamento valorativo na
condução das suas vidas, sendo classificadas como sentimentais.

Para Jung, tipo psicológico corresponde a


uma disposição geral que se observa nos
indivíduos, caracterizando-os quanto a
interesses, preferências e habilidades.
Cada tipo psicológico é formado por uma
das atitudes da consciência (introversão ou
extroversão) associada a uma das quatro
funções (sentimento, pensamento, intuição
ou sensação).

Figura VII.1 – A Liberdade guiando o Povo, Eugène Delacroix


Fonte: Perassi, Richard (2005).

As diferentes combinações de funções e atitudes possibilitam o agrupamento


das pessoas em oito tipos psicológicos, que descreveremos a seguir.
70
Antes, porém, de adentrarmos na descrição dos oito tipos psicológicos,
iremos recordar um pouco da história das descobertas de Jung.

Figura VII.2 – Eva Recostada, Catedral Românica de São Lázaro na França


Fonte: Perassi, Richard (2005)

No ano de 1913, em uma conferência feita no Congresso Psicanalítico de


Munique, Jung esboçou as primeiras ideias sobre o seu modelo tipológico. A partir
de observações clínicas referentes a pacientes com histeria e esquizofrenia (não
esqueçamos que Jung era médico psiquiatra), Jung começou a notar diferenças nas
manifestações clínicas destas doenças, apesar de ambas estarem ligadas com a
dissociação da personalidade. Enquanto que os histéricos investiam significado
emocional no mundo externo e seus objetos, os esquizofrênicos encontravam um
significado no mundo interior, subjetivo. O movimento psíquico do histérico foi
chamado de extroversão regressiva e o modo psíquico de reação do esquizofrênico
foi chamado de introversão regressiva.

As duas atitudes da psique (introversão e extroversão) começaram a ser


estudadas por Jung, que chegou à conclusão que elas também deveriam ocorrer
nos indivíduos normais, podendo ser encontradas, inclusive, no mesmo indivíduo.
Aplicando esses conceitos à psicanálise 41, mais precisamente a teoria Freudiana e
a teoria de Adler, Jung percebeu que esses dois movimentos psicanalíticos
apresentavam comportamentos diferentes.

41
Jung manteve uma estreita relação com a psicanálise no período compreendido entre 1907 até 1912. Nessa
época, ele e Freud mantinham um vínculo de intensa colaboração. Em 1910 foi fundada a Associação
Psicanalítica Internacional. Jung foi eleito presidente dessa Associação, com o apoio de Freud. No entanto, em
1912 os dois pesquisadores começaram a apresentar divergências teóricas profundas, que culminaram com a

71
As diferenças de temperamento entre Freud e Adler, segundo Jung, teriam
sido a causa das divergências entre os dois psicanalistas. Apesar de ambos os
investigadores perceberem o sujeito em relação com o objeto, havia diferenças na
maneira de perceberem essa relação. Na qualidade de extrovertido, Freud priorizava
o objeto, enquanto que na qualidade de introvertido, Adler valorizava, sobretudo, o
sujeito.
A partir do questionamento sobre a existência dessas duas formas de atitude
psíquica (introversão e extroversão), Jung resolveu aprofundar os seus estudos
através da filosofia, literatura e teologia, onde encontrou o mesmo conflito que ele já
havia observado na psicanálise. Associando às suas observações empíricas os
trabalhos de William James, Wilhelm Ostwald, Worringer, Schiller, Nietzsche e
Gross, Jung começou a delinear o seu sistema tipológico, culminando com
publicação da obra “Tipos Psicológicos”, em 1921.
As observações empíricas de Jung, decorrentes da práxis psicológica de 20
anos, ampliadas através de uma vasta pesquisa histórica caracterizaram “Tipos
Psicológicos”. A primeira metade da obra é dedicada à exploração de alguns
conceitos tipológicos encontrados na teologia e história do pensamento antigo e
medieval, poesia, psicopatologia, filosofia e biografia de alguns autores. Na segunda
metade da obra, Jung detalha conceitualmente o seu modelo tipológico dos oito
tipos.
Para Jung, o nosso comportamento é determinado, não só pelas funções e
atitudes dominantes, e sim também pelas funções e atitudes inferiores. Essa
interação entre as funções e atitudes dominantes e inferiores dão origem a formas
distintas de temperamento (chamados por Jung de tipos psicológicos), cada um com
características próprias.
As pessoas de cada tipo psicológico apresentam peculiaridades
comportamentais decorrentes dessa combinação entre funções e atitudes, assim
como dificuldades originárias, ou da unilateralização das funções e atitudes
dominantes, ou da influência exercida pelas atitudes e funções inferiores (aquelas
que ficaram pouco utilizadas pelo indivíduo, em decorrência da ascendência das
funções e atitudes dominantes).

ruptura entre eles, Jung criando a sua própria concepção teórica, chamada de Psicologia Analítica. Em 1913 já
havia sido rompido os laços de Jung com o grupo psicanalítico.

72
Quanto menos desenvolvidas forem as funções e atitudes
inferiores, mais primitivas ficam as mesmas, podendo influenciar
regressivamente o comportamento consciente.
Agora está na hora de conhecermos os tipos psicológicos
definidos por Jung. Vamos?

Extroversão

• Tipo Pensamento Extrovertido. T

N/S N/S

Introversão

Como podemos observar no desenho gráfico acima exposto, esse tipo tem a
função pensamento e a atitude extrovertida dominantes, enquanto que a função
sentimento e a atitude introvertida são inferiores. As funções auxiliares e terciárias
são funções perceptivas (sensação ou intuição). No entanto, essas funções
auxiliares não foram exploradas por Jung. Sendo assim, voltaremos a elas no
próximo subcapítulo.
Características principais - A marca
principal desses indivíduos é a reflexão
orientada pelo objeto e pelos dados
objetivos. Como o primado dos pensadores
é a função pensamento, eles conduzem as
suas vidas sob o comando da reflexão, do
julgamento lógico, esforçando-se por colocar
toda a sua atividade psíquica na
dependência de conclusões intelectuais. A
orientação pela realidade objetiva dos fatos
ou das ideias válidas em geral e que
determinam o seu ideal, ocorre em
decorrência da extroversão dominante.
Figura VII.3 – Télefo na presença de Arcádia
Fonte: Perassi, Richard (2005).

73
Em face dessa extroversão, os indivíduos desse tipo dão importância às
ideias consideradas racionais pela coletividade, pelo senso comum, se afastando
dos aspectos pessoais e subjetivos.
Portanto, o julgamento dessas pessoas está apoiado em conceitos
transmitidos através da tradição e educação, ou seja, ideias validadas pelo senso
comum.
A dependência do senso comum faz com que o ideal dessas pessoas esteja
submetido a uma fórmula intelectual com orientação objetiva, que em última análise,
é determinada pela coletividade. Essa fórmula pessoal guia a vida dessas pessoas,
determinando os seus julgamentos entre o certo e o errado, o bem e o mal, o belo e
o feio.
A moral desses indivíduos proíbe tolerar exceções, sendo a realização do seu
ideal de extrema importância para eles. Quando a fórmula intelectual que guia a vida
dos pensadores extrovertidos é ampla o suficiente, eles podem ter um papel
relevante na vida social da comunidade, como reformadores, promotores públicos,
etc. Por outro lado, se os ideais forem rígidos, o indivíduo pode se tornar um
resmungão, sofista e crítico, procurando comprimir a si e aos outros num esquema
rígido e é aqui que começam as dificuldades dos pensadores extrovertidos.

Dificuldades - Duas dificuldades podem acompanhar os


pensadores extrovertidos. A primeira decorre da exclusão
consciente da causalidade e da irracionalidade. O
julgamento tenta obrigar o desordenado e causal a
ajustar-se a certas formas, que se encaixem no “ideal”
dessas pessoas, o que pode torná-las dogmáticas,
procustianas 42.

Figura VII.4 – Tabac, Jean Michel Basquiat


Fonte: Perassi, Richard (2005)

42
Procusto ou Damastes é um personagem da mitologia grega que vivia perto da estrada de Elêusis. Costumava
atrair viajantes solitários para a sua pousada, oferecendo-lhe abrigo para passar a noite. Acreditava-se que ele
tinha dois leitos de ferro, um menor que o outro, que ele escolhia dependendo da altura do visitante. Depois que
a vítima adormecia, Procusto a dominava e tratava de adequar o corpo às medidas exatas do leito: se ele era alto
e os pés sobressaíam da borda, ele os amputava com um machado; se era baixo e tinha espaço de folga, ele
esticava os membros com cordas e roldanas. Teseu terminou com a obsessão homicida de Procusto, obrigando-o
a deitar no seu próprio leito, atravessado, e cortou todas as partes do corpo de Procusto que sobraram fora da
cama.

74
Como a plenitude da vida não pode ser expressa apenas por um ideal
intelectual, esses indivíduos podem inibir outras formas e atividades importantes da
vida, cujas formas de expressão dependem do sentimento, como, por exemplo,
atividades estéticas, o senso artístico, o cultivo de amizades, etc. Se a inibição
dessas outras formas de expressão for muito acentuada pode dar origem a
distúrbios psíquicos. Aqui encontramos a segunda dificuldade dos pensadores
extrovertidos, decorrente da função sentimento inferior.
Apesar de serem capazes de afeições profundas, os pensadores
extrovertidos tem dificuldades de expressar os seus sentimentos. Isso ocorre porque
a função sentimento desses indivíduos, apesar de profunda, é infantil e pouco
desenvolvida. Em face dessa característica, podem ocorrer manifestações
sentimentais arcaicas, como por exemplo, violentas explosões de afeto, que podem
chegar até graus perigosamente destrutivos, comprometendo o relacionamento com
outras pessoas; lealdades duradouras e impetuosas “não razoáveis”; apegos
sentimentais ou interesses místicos que desafiam a lógica. Como esses indivíduos
estão mais focados nos objetos, pode ocorrer um afastamento em relação ao sujeito,
que aliado a uma função sentimental inferior torna esses indivíduos difíceis de serem
entendidos no campo interpessoal.

Introversão
• Tipo Pensamento Introvertido T

N/S N/S

F
Extroversão

Como podemos observar no desenho esquemático acima exposto, esse tipo


tem a função pensamento e a atitude introvertida como dominantes, enquanto que a
função sentimento e a atitude extrovertida são inferiores. As funções auxiliares e
terciárias são funções perceptivas (sensação ou intuição).

Características principais A marca desses indivíduos é a reflexão orientada pelo


sujeito, ou seja, os fatos adquirem uma importância secundária. Isso significa que as
tendências e concepções subjetivas preponderam sobre as situações objetivas.

75
Como o primado dos pensadores é a
função pensamento, eles conduzem as suas
vidas também sob o comando da reflexão. No
entanto, esse pensar conduz a experiência
concreta, objetiva, para o conteúdo subjetivo.
Essas pessoas observam a realidade
objetiva, mas escolhem os determinantes
subjetivos como decisivos, interpondo uma
opinião subjetiva entre a percepção do objeto e a
ação.
Figura VII.5 – Urutu, Tarsila do Amaral
Fonte: Perassi, Richard (2005).

A preocupação dos pensadores introvertidos está no processo mental, no


esclarecimento de ideias, sendo a aplicação prática dessas ideias de caráter
secundário. Eles tendem a serem pessoas mais teóricas do que práticas,
influenciados pelas ideias que brotam do inconsciente, propondo questionamentos e
teorias, mas mantendo um relacionamento mais reservado em relação aos objetos.
Os fatos, muitas vezes são utilizados como exemplos ilustrativos das ideias.
Diferente do tipo pensamento extrovertido, essas pessoas não se esforçam por uma
reconstrução intelectual da realidade concreta. O seu foco ocorre na ideia subjetiva,
expressão abstrata da realidade concreta.
Como a relação dos pensadores introvertidos com os objetos é reservada, às
vezes dão uma impressão de serem pessoas indiferentes, frias ou inflexíveis. Na
verdade como eles estão sendo guiados por reflexões originadas do seu mundo
interno, não têm a necessidade de influenciarem ou serem influenciados pelas
outras pessoas, tendendo a certa indiferença em relação à opinião alheia.
Essa atração psíquica pelo mundo interno, que é propiciada pela introversão,
pode fazer com que esses indivíduos se percam em um mundo de fantasia. A
orientação subjetiva faz com que eles criem uma teoria aparentemente fixada na
realidade, cuja origem, porém, encontra-se em uma imagem interior. Em casos
extremos, esta imagem interior pode dominar o indivíduo tornando-o alienado, alheio
à realidade concreta. Aqui encontramos a primeira dificuldade dos pensadores
introvertidos.

76
Dificuldades – A primeira dificuldade pertinente a esse tipo psicológico pode
ocorrer em face de uma exacerbação da função dominante, no caso a função
pensamento introvertida, que quando muito unilateralizada pode proporcionar ideias
interiores que dominam a personalidade do indivíduo, distanciando-o da realidade
ordinária.
Nesse caso, semelhante ao
que acontece com Ícaro na mitologia
grega43, o voo do pensamento muito
alto e muito distante da realidade
termina por provocar uma inflação,
culminando em neurose. Jung
chama de “inflação” quando
expandimos a personalidade além
dos nossos limites individuais, de
uma forma presunçosa.
Figura VII.6 – O homem controlador do universo, Diego Rivera
Fonte: Perassi, Richard (2005).

Esse fenômeno pode ocorrer em diversas situações do cotidiano. O


conhecimento advindo de uma imagem interior pode provocar inflação não pelo
conhecimento em si, mas pela forma pela qual ele se apodera de um indivíduo,
quando este não consegue ver ou ouvir outras coisas, ficando como que
“hipnotizado”, acreditando ter descoberto a solução do enigma universal, o que
indica, portanto uma presunção 44.
Outra dificuldade das pessoas que pertencem a esse tipo psicológico tem a
sua origem na função sentimental e extrovertida inferior.

43
A estória de Ícaro começa quando Dédalo, seu pai, grande engenheiro, patrono dos técnicos de grande parte
da Grécia antiga, colocou–lhe asas que ele mesmo tinha feito, de modo que este pudesse voar e escapar do
labirinto de Creta que o próprio Dédalo tinha inventado, a pedido do Rei Minos, para ocultar o Minotauro, filho
de sua esposa Parsifaé com um touro. Após construir o labirinto, para que ninguém soubesse de seu filho (ego-
self) monstruoso, prendeu Dédalo e seu filho Ícaro no mesmo. Quando ambos se preparavam para escapar,
Dédalo disse a seu filho: “Voe moderadamente. Não voe muito alto, senão o sol derreterá a cera das suas asas e
você cairá. Não voe muito baixo, senão as ondas do mar o apanharão”. O próprio Dédalo voou moderadamente,
conseguindo atingir a outra margem. No entanto, como Ícaro, em êxtase, voou muito alto, a cera derreteu as suas
asas e o rapaz caiu no mar, ou seja, o castigo de Ícaro ocorreu porque faltava ao jovem a virtude da moderação,
virtude a ser trabalhada nos pensadores introvertidos.
44
C. G. JUNG, O Eu e o inconsciente, 1987.

77
A função sentimental inferior desse tipo psicológico também é arcaica e
infantil, porém voltada aos objetos do mundo exterior, ou seja, são afetos fortes que
se manifestam mais intensamente (menos contido) do que o sentimento introvertido.
Este tipo psicológico pode amar ou odiar, por exemplo, às vezes se apegando de
uma forma exagerada a outras pessoas.
Se Dédalo representa o tipo “positivo” de pensador “introvertido”, seu filho,
Ícaro, enfatiza os desafios que esse tipo precisa vencer para reagir de forma
adequada às questões emergentes em nosso cotidiano.

Extroversão

• Tipo Sentimento Extrovertido F

N/S N/S

Introversão

Como podemos observar no desenho acima, esse tipo tem a função sentimento
e a atitude extrovertida dominantes, enquanto que a função pensamento e a atitude
introvertida são inferiores. As funções auxiliares e terciárias são funções perceptivas
(sensação ou intuição).
Características principais - A característica
marcante desses indivíduos é o julgamento
valorativo orientado pelo objeto, ou seja,
valorizações que decorrem do ato de sentir
correspondendo diretamente a valores objetivos,
geralmente englobando parâmetros de valor
tradicionais e aceitos em geral. Isso quer dizer que
o sentimental extrovertido elogiará e irá valorar algo
como bom ou agradável não por uma avaliação
subjetiva, e sim porque é adequado para as
circunstâncias sociais, o que se mostra muitas
vezes necessário para a harmonia do ambiente.
Figura VII.7 – Mona Lisa, Leonardo da Vinci (1510)
Fonte: Perassi, Richard (2005).

78
O sorriso da Monalisa é obtido propositalmente por Mestre Leonardo.
Camadas de tinta superpostas em uma técnica denominada sfumato estabelecem o
paradoxo. Paradoxo que quer dizer contradição: Ao mesmo tempo em que a
Gioconda é alegre, é triste; auto referência: Eu minto; círculo vicioso: Esta biblioteca
tem um livro que tem tudo sobre esta biblioteca. Como uma palavra valise de Lacan,
o alegretriste da Monalisa remete ao enigma que singulariza e eterniza essa obra. O
sentimental introvertido deve resolver o paradoxo para encontrar seu significado no
campo linguístico que caracteriza suas relações com o mundo.
Face à função sentimento estar voltada para os objetos externos, há uma
genuína afinidade com as outras pessoas, o que é traduzida em uma facilidade nos
relacionamentos interpessoais. O bom relacionamento com os outros torna os
sentimentais extrovertidos pessoas afáveis, que fazem amigos com facilidade, se
preocupam com a harmonia do ambiente que os cerca e facilmente se sacrificam
pelos outros. Além disso, essas pessoas geralmente estão bem adaptadas às
condições externas e aos valores sociais.
Podemos observar o sentimento extrovertido se movendo em direção ao
objeto, o ser amado, nesses versos de Antonio Carlos Jobim, fragmentos da música
“Falando de amor”:
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro, teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor.

Dificuldades – As dificuldades pertinentes a esse tipo psicológico também


podem ser decorrentes ou de uma exacerbação da função dominante, no caso a
função sentimento extrovertida, que quando muito uni lateralizada pode fazer com
que o indivíduo se perca no objeto, sendo tragada por ele. Nesse caso ele não
consegue fazer contato com a sua própria subjetividade, ficando preso nas relações
com os outros.
Outra dificuldade desse tipo psicológico é a função pensamento introvertida e
inferior. Essas pessoas não se sentem à vontade com o raciocínio abstrato, a
matemática, a reflexão filosófica. Preferem as áreas que toquem a sua esfera
afetiva, como as ciências humanas e as artes em geral.

79
A função inferior, como é primitiva e pouco desenvolvida (pouco utilizada),
pode emergir na forma de pensamentos negativos que se voltam principalmente
contra o próprio indivíduo (face à introversão) ou pensamentos sob a forma de
julgamentos críticos extremamente duros e frios.
Na mitologia, Zeus, o Rei todo poderoso do
Olimpo, substitui a forma de cavalo que usou para
engravidar a virgem Dia, e aí fazer nascer a manhã,
pela do cisne, para a sedução de Leda. A Virgem, com
seu único e mágico filho-self, adota toda a humanidade.
Zeus é um sentimental extrovertido. Suas
aventuras fora do Olimpo, no entanto, é que fazem com
que surjam os semideuses, os heróis capazes de trazer,
aos homens, o que só aos deuses é reservado.
A criação, diz Platão, demanda inspiração e
loucura. Sem paixão, emoção, aquilo que move, nada
pode acontecer.

Figura VII.8 Virgem na Glória, Giotto Introversão


Fonte: Perassi Richard (2005)
F
• Tipo Sentimento Introvertido
N/S N/S

Extroversão

Como podemos observar no desenho gráfico acima, esse tipo tem a função
sentimento e a atitude introvertida dominantes, enquanto que a função pensamento
e a atitude extrovertida são inferiores. As funções auxiliares e terciárias são funções
perceptivas (sensação ou intuição).

Características principais - A característica marcante desses indivíduos é o


julgamento valorativo orientado pelo sujeito. Como esses indivíduos são guiados por
sentimentos subjetivamente orientados, seus verdadeiros motivos permanecem
encobertos. Os sentimentos das pessoas desse tipo não são extensivos e sim
intensivos, se desenvolvendo nas profundezas.

80
Muitas vezes esses sentimentos intensos não
conseguem ser expressos adequadamente, daí a
importância desses indivíduos encontrarem uma forma
de canalizar esses sentimentos, seja através da arte, da
escrita e outras formas de expressão.
A intensidade do sistema de valores subjetivos
dessas pessoas geralmente exerce uma influência
marcante no meio social em que vivem, podendo formar
a espinha dorsal ética de um grupo, ou seja, os seus
valores éticos corretos forçam os outros, por sugestão, a
serem decentes na sua presença.

Figura VII.9 Moisés, Michelangelo


Fonte: Perassi Richard (2005)

Os sentimentais introvertidos distanciam-se em relação ao objeto, o que os


torna pessoas quietas, pouco sociáveis, tendendo a evitar festas e grandes
reuniões. Como a função sentimento desses indivíduos está orientada para o fator
subjetivo, a sua indiferença em relação aos objetos pode se traduzir em uma
dificuldade de entendimento da sua personalidade.

Esses indivíduos pouco aparecem na


superfície, sendo muitas vezes mal
interpretados e rotulados como pessoas
frias e indiferentes.
Como aconteceu com Van Gogh e
Gauguim, precursores do Fauvismo,
movimento comandado por Henri Matisse
(1869-1954).

Figura VII.10 – A Lição de Música, Fragonard, séc. XVIII


Fonte: Perassi, Richard (2005).

O movimento foi assim nomeado pejorativamente, após uma exposição em


1905, porque “fauve” quer dizer “fera”.

81
As pinturas seriam obras de bárbaros, de feras. “A Janela Azul” (fig. VII. 11)
de Matisse serve de exemplo dessa maneira de pintar em que as cores assumem
uma função mais simbólica que naturalistas e a composição apresenta
características gráficas e planas, suscitando lembranças de representações egípcias
e medievais.
O que pode não ser percebido é que esses indivíduos amam profundamente,
tão profundamente que às vezes não conseguem se expressar. Um bom exemplo do
sentimento introvertido encontra-se nas estrofes desta poesia de Rainer Maria
Rilke45:

Ama-se o amor e o amar, ainda que isto se converta em isolamento e solidão


e que não haja esperança de retorno.

...Assim, para quem ama,


o amor,
por muito tempo e pela vida afora,
é solidão,
isolamento cada vez mais intenso e
profundo.
O amor, antes de tudo,
não é o que se chama entregar-se,
confundir-se, unir-se a outra
pessoa.
Que sentido teria, com efeito,
a união com algo não esclarecido,
inacabado, dependente?
O amor é uma ocasião sublime
para o indivíduo amadurecer,
tornar-se algo em si mesmo,
tornar-se um mundo para si,
por causa de um outro ser...

Figura VII.11 – A Janela Azul, Matisse


Fonte: Perassi, Richard (2005).

45
Cartas a um jovem poeta, 2006.

82
Percebemos que Rilke valoriza o amar por amor ao amor, um sentimento
muito forte, que, porém não flui para o objeto (está associado até à solidão). O outro
está implicado no sentimento, mas este sentimento não vai em direção ao outro, fica
dentro do poeta.

William Blake em “Satã olhando o enamoramento de Adão e Eva” desenha a


nossa serpente interna, a kundalini, que ateia a chama dos desejos secretos, que
evoca a imagem do amante, um ser ideal, narciso a se olhar no espelho das ilusões,
que vive e se manifesta num cenário de sonho, algum paraíso edênico e não no aqui
e agora em que pessoas de carne e osso são ignoradas posto habitarem o “mundo
lá fora” e não o “universo aqui de dentro”.

Dificuldades – Uma das dificuldades pertinentes a esse tipo psicológico pode


ser decorrente de uma exacerbação da função dominante, no caso a função
sentimento introvertida, que quando muito uni lateralizada pode fazer com que o
indivíduo se feche no seu mundo, se tornando totalmente enigmático para aqueles
que o cercam.

J. Ortega y Gasset em Ideias e Crenças diz: “Não há modo de entender bem


o homem se não se repara em que a matemática brota da mesma raiz que a poesia,
do dom imaginativo”.
Outra dificuldade desse tipo psicológico é a função pensamento extrovertida e
inferior. A extroversão faz com que esses indivíduos se interessem por conhecer
diversos fatos do mundo exterior. No entanto, eles têm dificuldades em tirar
deduções lógicas do material apreendido, geralmente ficando à mercê do julgamento
valorativo para tal. Quando partem para construções teóricas, intelectuais, podem ter
uma maior dificuldade do que os pensadores, exceto quando seguem o seu
“coração”, isto é, quando subjugam os dados à valorização pela função sentimento.
Sentimentais introvertidos são como o peregrino solitário em busca de sua
alma, sem coragem de gritar ao mundo todo a sua angústia, de pedir ajuda, alguém
que lhe aponte o melhor caminho, de confessar o seu amor a sua amada.
Ao dirigirem suas energias para dentro, se tornam em artistas
incompreendidos e solitários. Almas em busca de algo que acalme o fogo que arde
em suas entranhas. Poetas e pintores. Escritores. Artistas em busca de expressão.

83
• Tipo Sensação Extrovertido Extroversão

S
F/T F/T
N

Introversão

As pessoas com esse tipo psicológico têm a função sensação e a atitude


extrovertida dominantes, enquanto que a função intuição e a atitude introvertida são
inferiores. As funções auxiliares e terciárias são funções julgadoras (pensamento ou
sentimento).
Características principais - O foco principal dos sensoriais está no mundo
externo, mais precisamente, nos dados sensoriais concretos que emanam dos
objetos, sendo esses indivíduos orientados principalmente pela realidade que cai
sob os seus sentidos. Tem uma maior inclinação para assuntos práticos do que
teóricos.

A “vinculação sensível” com os


objetos torna esses indivíduos pessoas
realistas, que dão primazia às
situações concretas e reais.
Normalmente essas pessoas são
sensualistas, buscando o prazer obtido
através da percepção sensorial. Essa
característica torna os sensoriais
extrovertidos pessoas agradáveis, bem
adaptadas à realidade existente,
eficientes, práticas, normalmente
elegantes e com gostos refinados.

Figura VII.12 – “Ronda Noturna” de Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669).


Fonte: Perassi, Richard (2005)

84
Se olharmos a história da arte, encontraremos uma representação desse tipo
psicológico nos pintores do Realismo46, que buscavam retratar a realidade de uma
forma objetiva.
A tendência ao Realismo se manifestou primeiramente na França, nas
pinturas de Gustave Courbet (1819-1877), que batizou sua obra de “realista” em
uma exposição alternativa de 48 obras, realizada em 1846, após ter dois de seus
trabalhos recusados no Salão de Paris, por conta de seus temas que foram
considerados prosaicos (PERASSI, R. 2005).
Curioso é observar que da mesma forma que podemos associar tipos às
pessoas, poderíamos fazer o mesmo para descrever cada cultura e cada época.
Podemos comparar a corte de Luís XIV, no início do século XX com pessoas como
Santo Dumont, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, todos agradáveis,
refinadamente bem vestidos, mostrando ambos os polos, positivo e negativo de
cada tipo psicológico.

Dificuldades - No entanto, se a função


sensação extrovertida for muito
desenvolvida, há um desaparecimento
do aspecto subjetivo da sensação,
podendo transformar o indivíduo em
uma pessoa grosseira, vivendo
somente em função da busca pelo
prazer, ou num esteta refinado e sem
escrúpulos. Nesse caso, o vínculo ao
objeto é levado a extremos.

Figura VII.13 – “Mulheres peneirando trigo”, Gustave Coubert


Fonte: Perassi, Richard (2005).

46
O Realismo é um movimento artístico surgido na França, no século XIX, em reação ao Romantismo, e cuja
influência se estendeu a numerosos países europeus. O princípio desse movimento se desenvolve baseado na
observação da realidade, na razão e na ciência. Para o movimento, o artista deve representar o seu tempo, sem,
no entanto tomar um partido definido. Ele deve retratar a realidade, enfatizando a objetividade.

85
Outra dificuldade dessas pessoas está relacionada à sua função inferior: a
intuição introvertida. Essa característica tipológica pode fazer com que os sensoriais
extrovertidos não percebam o desdobramento de possibilidades novas. A intuição
primitiva e pouco desenvolvida pode provocar no indivíduo, premonições
pessimistas sobre a saúde e a vida em geral, ideias místicas primitivas e
superstições de todo tipo.

• Tipo Sensação Introvertido


Introversão

S
F/T F/T
N

Extroversão

As pessoas com esse tipo psicológico têm a função sensação e a atitude


introvertida dominantes, enquanto que a função intuição e a atitude extrovertida são
inferiores. As funções auxiliares e terciárias são funções julgadoras (pensamento ou
sentimento).

Características principais - O foco principal dos sensoriais introvertidos está


na impressão subjetiva que os dados sensoriais provocam, ou seja, essas pessoas
estão mais direcionadas para o aspecto subjetivo da percepção (os objetos e as
situações externas servem apenas como meros estímulos).
Há assim uma relação
desproporcional entre objeto e
sensação. O objeto é privado
de sua atração porque é
substituído por uma reação
subjetiva, que muitas vezes não
corresponde à realidade do
objeto. Há, assim, uma visão
ilusória da realidade.
Figura VII.14 – Impressão, Sol Levante. Claude Monet (1866), pintor impressionista do séc. XIX.
Fonte: Perassi, Richard (2005)

86
Os indivíduos do tipo sensação introvertido apreendem melhor o plano de
fundo do que a superfície do mundo concreto dos objetos. Essas pessoas ficam
focadas nas impressões subjetivas que os objetos do mundo concreto produzem nas
suas personalidades. Existe nesses indivíduos uma grande sensibilidade para
percepção de detalhes. Essa profundidade subjetiva de percepção facilita muito o
trabalho criativo dos artistas, que muitas vezes podem dar vida a um cenário,
pintando ou escrevendo.
Para Jung 47, como exemplo, podemos encontrar esse tipo psicológico em
muitos pintores impressionistas franceses, a exemplo de Renoir e Monet que,
diferentemente dos pintores realistas, procuram retratar a realidade a partir das suas
impressões subjetivas.48
O termo “Impressionismo” surgiu em 1874 depois da primeira exposição
coletiva de Claude Monet (1840-1926), Auguste Renoir (1841-1919), Edgar Degas
(1834-1917) e Paul Cézanne (1839-1906), quando foi apresentada a tela de Monet,
intitulada “Impressão, Sol Levante” (fig. VII.14). Ao criticar a exposição, o jornalista
Louis Leroy intitulou a mostra sarcasticamente como “exposição dos
impressionistas”. (PERASSI, R., 2005)

Dificuldades – As maiores dificuldades dos sensoriais introvertidos decorrem


da sua função inferior: a intuição extrovertida. A intuição inferior desse tipo, também
arcaica e infantil, se assemelha à intuição inferior dos sensoriais extrovertidos, ou
seja, tem uma predisposição para as possibilidades misteriosas, obscuras e
ambíguas. No entanto, está focada no mundo exterior coletivo e impessoal. A
assimilação das fantasias arquetípicas que às vezes emergem do inconsciente dos
sensoriais introvertidos é muito difícil, porque estas fantasias entram em confronto
direto com a sensação introvertida (que é precisa e lenta), criando uma situação
paradoxal.

47
Tipos Psicológicos, 1991.
48
O Impressionismo, movimento artístico surgido na França, no século XIX, apresenta um comportamento
diferente do realismo. Dentre outras características, destaca-se o pioneirismo no uso da luz na pintura como
forma de capturar a vida como vista pelos olhos humanos. Os pintores impressionistas pesquisavam a produção

87
Se esses indivíduos são pressionados a assimilarem as fantasias da intuição
inferior, podem ter mal estar físico, como sintomas de vertigens ou enjoos. Isso
acontece porque essas pessoas são apegadas à realidade sensorial, àquilo que elas
podem tocar. Assimilar o “voo” da intuição, para elas, significa tirar-lhes o chão.

Extroversão

• Tipo Intuição Extrovertido N

F/T F/T

S
Introversão

As pessoas com esse tipo psicológico têm a função intuição e a atitude


extrovertida dominantes, enquanto que a função sensação e a atitude introvertida
são inferiores. As funções auxiliares e terciárias são funções julgadoras
(pensamento ou sentimento).

Características principais - Face à


extroversão, a percepção inconsciente dessas
pessoas é focada nos objetos exteriores. Essa
característica, aliada à dominância da função
intuição, que proporciona a visão subliminar
daquilo que está nas entrelinhas, fornece
imagens ou impressões de relações e
conclusões que não podem ser obtidas
através das outras funções psicológicas.

Figura VII.15 – Eu e a aldeia, Marc Chagal


Fonte: Perassi, R. (2005)

Essas imagens-visões exercem grande influência na personalidade e no agir,


adquirindo o valor de conhecimentos específicos, que guiam a vida do indivíduo.

pictórica não mais interessados no retrato fiel da realidade e sim na visão da obra artística em si mesma, ou seja,
uma visão subjetiva.

88
Enquanto que os sensoriais extrovertidos buscam no mundo dos objetos o
ponto mais alto de realismo físico, os intuitivos extrovertidos tentam apreender o
grau máximo de possibilidades inerentes na situação objetiva. As possibilidades
emergentes tornam-se o principal foco de atenção para os indivíduos com esse tipo
psicológico. Essas pessoas sempre procuram saídas e novas possibilidades na vida
externa, querendo saber o que poderia ser feito e de que forma as situações
objetivas podem ser utilizadas. O intuitivo extrovertido nunca está no lugar onde se
encontram valores reais, aceitos em geral, mas sempre no lugar onde há novas
possibilidades, onde ele “fareja” situações novas em potencial. Têm faro aguçado
para ideias novas e que prometem futuro.

Dificuldades – A primeira dificuldade


que os intuitivos extrovertidos podem
apresentar é a supervalorização dos
objetos, sobretudo quando estes devem
servir a uma solução ou a uma descoberta
de novas possibilidades. Nesse caso, após
cumprirem as suas funções os objetos são
descartados rapidamente. A partir do
momento em que novas possibilidades são
esgotadas, os intuitivos extrovertidos podem
se sentir sufocados e aprisionados, partindo
então para novas “viagens”.

Figura VII.16 – Canção de Amor, Giorgio de Chirico (1888-1978)


Fonte: Perassi, R. (2005)

Outra dificuldade que esses indivíduos apresentam advém da função


sensação inferior introvertida, que se reflete primariamente no corpo. Os intuitivos
extrovertidos podem dar uma escassa atenção ao corpo, que se traduz em
enfermidades físicas, reais ou imaginárias. Uma forma diferente de relação com a
função sensação inferior pode ser encontrada no oposto, uma exagerada atenção ao
corpo.

89
Introversão
• Tipo Intuição Introvertido
N
F/T F/T

Extroversão

As pessoas com esse tipo psicológico têm a função intuição e a atitude


introvertida dominantes, enquanto que a função sensação e a atitude extrovertida
são inferiores. As funções auxiliares e terciárias são funções julgadoras
(pensamento ou sentimento).
Características principais - O primado desse
tipo se dá na intuição voltada para o sujeito,
para o mundo interior do inconsciente. A
intuição introvertida capta as imagens
arquetípicas que nascem do inconsciente.
Sendo arquetípicas, essa percepção dos
processos interiores fornece dados de
extrema importância para o entendimento dos
acontecimentos em geral. Para os intuitivos
introvertidos, as imagens inconscientes
adquirem a mesma importância do que as
coisas e os objetos.

Figura VII.17 – Roda de Bicicleta, Duchamp.


Fonte: Perassi, Richard.

Essas pessoas tendem a transitar entre as imagens internas, correndo atrás


de todas as possibilidades inconscientes, sem estabelecer a conexão desses
fenômenos consigo mesmo. O enredamento nas imagens pode afastar esses
indivíduos da realidade. O maior problema deles é dar forma à sua percepção. Eles
podem tornar as suas vidas simbólicas adaptadas ao sentido intuitivo e eterno do
devir, porém inadaptadas à realidade presente e fatual.

90
De um lado, esses indivíduos podem ser incompreendidos. Analogicamente,
poderíamos compará-los com o profeta cuja voz clama no deserto. Por outro lado, a
rica vida interior dessas pessoas pode torná-las promotoras de cultura e
educadoras. Suas vidas ensinam mais do que suas palavras.

A visão profética pode ser vista nesta poesia de William Blake49, feita no
século XIX, inspirada na tirania do aspecto material do homem, que pode se tornar
escravo ao utilizar o conhecimento para a produção material:

Volto meus olhos para as Escolas & Universidades da Europa


E lá observo o Tear de Locke, cujo tecido se enfurece horrível,
Lavado pela roda hidráulica de Newton: negra a roupa
Em pesadas dobras que envolvem toda Nação: Obras cruéis
De muitas Rodas eu vejo, roda sem roda, com engrenagens tiranas
Movendo-se umas às outras por compulsão, não como aquelas no paraíso,
estas. Roda dentro da Roda, em liberdade giram em harmonia &paz.

Dificuldades – A orientação introvertida da


atitude da consciência dos intuitivos introvertidos
os afasta dos objetos externos. Esses indivíduos
geralmente são distantes em relação a detalhes
do mundo concreto. Perdem-se em cidades
desconhecidas, extraviam seus pertences, podem
atrasar-se nos compromissos cotidianos e tendem
a ser desorganizados, sendo muitas vezes
ajudados por amigos do tipo sensação.

Figura VII.18 – O diabo dentro da Igreja, David


Siqueiros
Fonte: Perassi, Richard (2005).

Outra dificuldade que esses indivíduos apresentam advém da função


sensação inferior extrovertida, havendo, portanto uma forte dependência das
impressões sensoriais. Como essa função nesses indivíduos é primitiva e infantil, há
uma tendência para sensações compulsivas com uma excessiva vinculação aos
objetos.

49
apud J. Singer, Blake, Jung e o inconsciente coletivo: o conflito entra a razão e a imaginação, 2004, p. 167.

91
O intuitivo introvertido segue a escada de Jacó (tela de William Blake) em
direção ao centro de si mesmo. De certa forma, ao meditarmos, estamos nos
identificando com esse tipo, deixando nossa intuição nos conduzir em direção ao
filho sagrado, o self.
Outra analogia impossível de ser evitada seria entre as tipologias e o
processo de desenvolvimento humano. Esta vinculação compulsiva com os objetos
não seria um retorno à fase um do desenvolvimento humano, segundo Jung, sua
“projection mystique”, em que a projeção é tão realista que sofremos a “batida do
carro” ou a “quebra do disco predileto”. Será que, ao longo do nosso fazer-se, na
nossa Promenade pela vida, viajamos entre diversos tipos.

O autor deste livro foi um adolescente


sentimental introvertido que se tornou em um
adulto extrovertido. Provavelmente, ao
envelhecer, se recolherá à introversão. A autora,
uma sentimental introvertida, passou a primeira
metade da vida utilizando a atitude extrovertida
para adaptar-se ao mundo, até que, na metanóia
50 encontrou na arte de escrever uma forma de
expressar os seus sentimentos, reconectando-se
de novo à introversão. De quantas fantasias me
utilizo para abafar o som e a luz do Self eterno?

Figura VII.19 – Bom dia senhor Max Ernst, Wilfredo Lam (1902-1982)
Fonte: Perassi, Richard (2005)

O próprio Jung, um provável intuitivo introvertido, procurou trabalhar com as


funções menos diferenciadas, exercitando as quatro funções.

50
Etimologicamente, a palavra grega metánoia tem duas raízes: meta, que significa grande mudança e noia,
derivada de nous, que significa consciência superior. Jung utilizou o termo metanóia para referir-se à fase
profunda de transformação da consciência, que ocorre na segunda metade da vida, visando preparar o indivíduo
para um novo relacionamento entre seu ego pessoal e o Si-Mesmo. Na metanóia ocorre uma inversão da direção
libidinal e as situações que não puderão ser vividas conscientemente na primeira metade da vida, e portanto,

92
Através do uso das mãos lavrando a terra, rachando lenha, esculpindo e
cozinhando procurava exercitar a função sensação; introduziu a dimensão do
sentimento na sua obra científica, ressaltando a importância da tonalidade afetiva
nas experiências de vida; com a função intuição, que proporcionava visões de longo
alcance, Jung apreendia o sentido dos processos psíquicos, que depois eram
sistemizados através da função pensamento, sendo submetidos à reflexão e a
documentação exaustiva. 51

Para que possamos nos desenvolver plenamente, se faz necessário a


vivência de múltiplas perspectivas. Precisamos construir diversas narrativas para a
nossa vida. Viver a totalidade da alma significa resgatar as energias psíquicas que
ficaram adormecidas no inconsciente em decorrência do nosso processo de
adaptação no mundo. No início, as nossas faces adormecidas, as partes da nossa
alma que ainda estão desorganizadas e desajeitadas podem gerar ansiedade e
confusão, até que, num belo dia, como num conto de fadas, se organizam na
consciência e semelhante ao beijo de amor do príncipe encantado, nos despertam
para a eternidade.

Através de exemplos práticos podemos ver melhor de que forma os oito tipos
psicológicos atuam na vida. Vamos então imaginar uma cena 52:

Um grupo de pessoas foi convidado para jantar. A anfitriã (sentimental


extrovertida), uma mulher encantadora e atraente, que parecia uma pintura de
Renoir, cálida e voluptuosa, muito hospitaleira, teve a ideia de reunir esse grupo,
cuidando de todos os detalhes, desde os convites, feitos com uma linda caligrafia,
até a excelente comida, bem preparada e deliciosa. A anfitriã adora receber amigos.
Apesar de ser uma excelente companhia, a sua conversa não é particularmente
interessante. Costuma repetir as ideias do marido, do pai, de líderes religiosos ou de
figuras importantes da comunidade.

O seu marido, um conoisser (sensorial introvertido), historiador de arte e


colecionador, homem alto e magro, silencioso, elegante, ajuda a receber os
convidados.

foram vividas compensatoriamente no inconsciente, passam a ser mobilizadas energeticamente, sofrendo um


processo de diferenciação, visando se tornarem conscientes.
51
NISE DA SILVEIRA, Jung vida e obra, 1997.
52
Este exemplo foi adaptado de DARYL SHARP, Tipos Psicológicos Junguianos, 2002

93
No entanto o que ele gosta mesmo é de ficar imerso no seu estúdio, horas e
horas. Ele saúda a todos de forma elegante e cumprimenta a primeira convidada a
chegar, uma conhecida advogada (pensadora extrovertida). Ao cumprimentar a
jovem ele “sem querer” se atrapalha e diz “adeus” (no íntimo ele deprecia esta
mulher).

A anfitriã, horrorizada com esta gafe, vai correndo ao encontro dos dois,
tratando de fazer tudo para consertar o equívoco com uma dose dupla de
cordialidade.

A advogada, muito pontual, havia se graduado recentemente com louvor,


estando no início de uma carreira promissora da área de direito. Tem um juízo exato
e uma lógica imbatível em relação aos fatos. Ela é prática, organizada,
conservadora, valorizando muito a objetividade. Sabemos muito pouco sobre os
seus sentimentos (dizem que ela casará, em breve, com o filho do seu chefe).

Chegam mais dois novos convidados, um destacado industrial (sensorial


extrovertido) e a sua esposa musicista (sentimental introvertida). O industrial tem
natureza prática e empreendedora. É um executivo inteligente e autoritário.
Apresenta-se bem vestido, no entanto falta um certo refinamento. Parece cálido,
mas às vezes é avassalador. Na mesa é glutão. Apesar de ser extremamente
cuidadoso em relação aos negócios, necessita desenvolver uma visão mais ampla e
a capacidade de prever possíveis perigos futuros para o seu negócio (às vezes ele
fica muito focado nos detalhes). Ele teve uma paixão à primeira vista pela esposa.
Desde o momento em que a conheceu sentiu que não podia mais viver sem ela.

A sua esposa é tranquila e misteriosa. A poderosa influência que ela exerce


sobre o marido, é motivo de inesgotáveis conversas com a anfitriã, que adora
analisar as relações das outras pessoas. Como a musicista é sentimental
introvertida, acumula uma grande quantidade de afetos internos e esta intensidade
emocional dá a ela uma aura especial, com frequência percebida como uma força
misteriosa e inviolável. A verdadeira paixão na vida dessa mulher é a música. Na
música ela encontra uma harmonia total, coisa que ela não encontra normalmente
no seu mundo externo, cotidiano. Sem o esposo ela tem um contato escasso com o
mundo externo.

94
A esta altura do jantar, chega um novo convidado, um professor de medicina
(pensador introvertido), muito conhecido por suas conferências e novas descobertas
nesse campo. No entanto, apesar de ser um professor e médico competente, não se
interessa muito pelos alunos e pacientes. Estes são considerados apenas “casos”
necessários para que as investigações científicas prossigam.

Este indivíduo jamais é visto com a esposa (inclusive há rumores que ela é
inculta e já foi funcionária dele).

O último convidado a chegar está muito apressado, porque veio correndo do


aeroporto. É um engenheiro que adora novas ideias e possibilidades (intuitivo
extrovertido). Geralmente ele inspira ideias para que outras pessoas as coloquem
em prática. Na mesa, fala entusiasmado de novos planos de viagem, enquanto
devora a sua comida apressadamente. Os outros convidados se sentem
incomodados em torno desse jovem carismático, que parece estar desconectado da
realidade do mundo em que eles vivem, mas ao mesmo tempo, acham as suas
ideias sedutoras e intrigantes.

Há um lugar vazio na mesa – o lugar do pobre e jovem poeta (intuitivo


introvertido). É um jovem de aparência frágil, com um formato de rosto oval e
grandes olhos sonhadores. Na tarde do jantar, estava absorto em um manuscrito
que estava escrevendo. Foi jantar no seu restaurante de costume e depois da
refeição, saiu para caminhar à luz do céu estrelado, quando percebeu que tinha
esquecido o casaco no restaurante. Enquanto voltava para pegar o casaco foi
misteriosamente inspirado a criar uma poesia cheia de maravilhas metafísicas. De
repente se lembrou de que havia sido convidado para o jantar, porém já estava
muito tarde. Pensou: “enviar a poesia para a anfitriã é o melhor que posso fazer”. O
que o poeta pode não ter percebido é que pode ter dado à luz uma poesia de
significado universal.

A conversa na sobremesa estava muito animada. Política, teatro, livros e


cinema, de tudo se discutia. Os dois extrovertidos (a advogada e o industrial)
encontravam-se em um acalorado debate.

No entanto, o professor estava em silêncio. Ele não desfrutava de grandes


reuniões e jantares sofisticados. De repente, ele rompe com a sua mudez e começa
a falar do seu hobby – uma enfermidade que pesquisava!

95
Como a sua função sentimento é pueril e rudimentar, não percebe as reações
dos outros convidados. Estes têm diferentes reações ao discurso do professor, cada
qual por uma razão diferente: a advogada sempre tem curiosidade por ideias
diferentes ou educativas; o industrial está mais interessado no que o professor diz
acerca da implementação prática do seu trabalho; o refinado anfitrião está enjoado e
com falta de ar face à descrição da enfermidade médica.

No entanto, a reação mais profunda é sofrida pela anfitriã. Ele tentou,


inicialmente, canalizar para outra direção o longo monólogo do professor.
Finalmente, não conseguindo lograr êxito, desistiu, ficando com um pouco de raiva.
A sua expressão alegre desapareceu e ela se sente cansada. Somente no final do
jantar, ao mostrar os seus filhos à esposa do industrial, consegue recuperar a sua
vivacidade natural e o seu alegre temperamento.

Luis Buñuel dirigiu “O Cão


Andaluz”, filme em que contou a
colaboração de Salvador Dalí, e
Jean Cocteau (1889-1963),
mestre em reconstruir a
linguagem simbólica dos
sonhos.

.
Figura VI.20 – O cão andaluz, Luis Buñuel
Fonte: Perassi, R,

Na tela de Botticcelli podemos ver, à direita, Zéfiro, o vento, a fecundar Clóris,


transformando-a em Flora. Afrodite (Vênus), com seu filho Eros (Cupido), voando
acima dela, prestes a disparar uma seta em cuja ponta arde uma chama. Entre
Afrodite e Hermes (Mercúrio), as três Cárites (Graças). O bosque representa o
jardim das Hespérides, com suas maçãs de ouro, presente de Geia (Terra) à Hera
(Juno).
Hermes, intuitivo, com seu caduceu, dissolve a névoa, simbolizando a ação
do intelecto que busca desvelar o que está oculto. Faz aqui o papel do professor que
usa sua intuição para conhecer o que está oculto.

96
As três Graças, a saber: a castidade; a beleza; e a sensualidade também
espelham tipos distintos. Cale, a castidade, está prestes a ser atingida pela flecha do
Cupido. A virgem está em vias de deixar de sê-lo. Seria a união mística entre o
masculino (Hermes) e o feminino (Afrodite)?
Observe, ainda, que Hermes, o intuitivo, é filho de Zeus, o supremo racional,
com a mãe Terra, Geia, Maia, a rainha das ilusões. Se Terra é Maia, o Hermes
grego é o mesmo Hermes Trimegisto, Tot dos egípcios. De ovo o Uroboro, a
serpens mercurialis que se auto devora. O vento inseminador, Zéfiro, faz girar o
moinho das ideias, fazendo que a ninfa Clóris, como Dânae, a mãe de Perseu,
enganada pela nuvem, engravide-se de ideias, fazendo nascer a Primavera.

O papel da função auxiliar no modelo tipológico criado por Jung.

Apesar de construir o seu modelo tipológico baseado nas funções dominantes, o


que caracterizava os tipos psicológicos como puros, Jung constatou na sua práxis
que esses tipos geralmente não eram encontrados em forma tão pura nos
indivíduos.

As pessoas apresentavam, ao lado da função


dominante, uma segunda função, de
importância secundária, porém relativamente
determinante na consciência. Essa função
secundária recebeu o nome de função
auxiliar, pois a mesma auxiliava a função
principal, ambas operando conjuntamente na
consciência.

Figura VII.21 – Le Moulin de la Galette, August Renoir (1860)


Fonte: Perassi, Richard (2005)

A presença da função auxiliar cria subtipos dentro dos tipos principais. Como
exemplo, Jung cita o intelectual prático (função principal Pensamento e função
auxiliar Sensação), o intelectual especulativo (função principal Pensamento com
função auxiliar Intuição), o intuitivo artístico (função principal Intuição com função
auxiliar Sentimento), o intuitivo filosófico (função principal Intuição com função
auxiliar Pensamento), etc.

97
Apesar de Jung ter aberto as portas para o conhecimento da função auxiliar,
ele não a estudou profundamente. Esse trabalho foi feito por duas pesquisadoras
americanas, na década de 40, mãe e filha, Katherine Cook Briggs e Isabel Briggs
Myers. Estas autoras, utilizando os conceitos junguianos de função dominante e
função auxiliar, ampliaram o modelo de tipologia psicológica concebido por Jung,
originando 16 tipos psicológicos. É o que veremos no próximo capítulo.
Esperamos que a essa altura o leitor já tenha identificado a sua função
dominante. O autor deste livro é um NF (Sentimental Intuitivo). Anote as suas
letrinhas e aguarde. Afinal, conhecer é, sobretudo, conhecer-se.

98
CAPÍTULO 8
Os 16 tipos de Myers e Briggs

Após a publicação da obra Tipos Psicológicos, em 1921, a teoria junguiana


dos tipos psicológicos sofreu considerável ampliação, com os estudos realizados por
outros autores. Esses indivíduos, mobilizados pela necessidade de entender a
tipologia humana, utilizaram a obra de Jung como referência, destacando-se os
trabalhos de Isabel Briggs Myers e David Keirsey. Estes autores, além de ampliarem
a compreensão teórica das ideias concebidas por Jung, facilitaram a comprovação
empírica da teoria, ao criarem os seus respectivos inventários de temperamentos,
atualmente utilizados por milhares de pessoas ao redor do mundo.

Contribuições de Myers e Briggs ao modelo tipológico junguiano.

Tudo começou quando Isabel Briggs Myers resolveu tentar compreender


melhor como as pessoas saudáveis e normais, diferentes entre si, se relacionavam
com o mundo.

Na segunda metade da vida ela resolveu


aprofundar essa questão estudando a teoria
tipológica concebida por Carl Gustav Jung na
década de 20. Contando com a ajuda da mãe,
Katherine Cook Briggs, iniciou um estudo
profundo buscando sustentar cientificamente a
teoria dos tipos psicológicos desenvolvida por
Jung, dedicando a esta causa o resto de sua
vida.

Figura VIII.1 – O menino de Brodósqui


Fonte: PORTINARI, João C. (org.). Portinari: O menino de Brodósqui. Rio de Janeiro:
Livroarte, 1979.,

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, mãe e filha já estudavam a


teoria junguiana havia dezesseis anos. Vários homens foram deslocados das
fábricas para a zona militar, o que possibilitou a contratação de mulheres para a
área industrial.

99
Este fato mobilizou Myers e Briggs para aplicarem à teoria tipológica nesse
campo, visando entender a relação dos temperamentos individuais com os tipos
diferentes de trabalho na indústria.53 Como não existia nenhum teste que pudesse
demonstrar os tipos psicológicos das pessoas (Jung utilizava somente a observação
empírica), elas resolveram criar um, o MBTI ® 54.

No início da construção do teste, em 1943, precisaram enfrentar a resistência


da comunidade acadêmica, visto que nenhuma das duas era psicóloga. Durante
muito tempo, no Brasil, o psicólogo era conhecido como aquele que fazia testes. Em
verdade, validar um teste, em Psicologia é tarefa árdua. Poucos testes foram tão
exaustivamente validados como o MBTI.

A obstinação das pesquisadoras, aliada a ajuda de colaboradores, dentre eles


Edward N. Hay, na época gerente de pessoal de um grande banco na Filadélfia, fez
com que o teste fosse sendo validado, chegando até os nossos dias, quando um
grande número de pessoas já se submeteu ao mesmo55, sendo a teoria junguiana
amplamente utilizada nas áreas de educação, gestão de pessoas, orientação
profissional, dentre outras.

Partindo do pressuposto que os tipos


puros, definidos por Jung, geralmente não
ocorriam com frequência na realidade prática,
Myers e Briggs começaram a se aprofundar no
estudo da função auxiliar (secundária).

Para as autoras, essa função era capaz de


proporcionar equilíbrio ao sistema psíquico, não só
fornecendo a necessária extroversão para os
introvertidos e introversão para os extrovertidos,
como também apoiando a função dominante.

Figura VIII.2 - Cena neolítica de caça aos cavalos em Valltorta, Espanha, produzida perto de
10.000 a.C.
Fonte: Perassi Richard (2005).

53
MYERS, I. B. Ser humano é ser diferente: valorizando as pessoas por seus dons especiais, 1997.
54
MBTI ® é a marca registrada da Consulting Psychologists Press, Inc., no Brasil representada pela Coaching,
Psicologia Estratégica (Saad Felipelli). Todos os direitos reservados (N. R. T.).
55
Em 1994, mais de 2,5 milhões de pessoas se submeteram em MBTI. Fonte: Ser humano é ser diferente.

100
O primeiro papel da função dominante - realizar o equilíbrio necessário entre
as atitudes psíquicas de extroversão e introversão - ocorre da seguinte maneira: a
função dominante fica focada na atitude também dominante, se extroversão, no
mundo exterior das pessoas e das coisas, se introversão, no mundo interno e
subjetivo. A função auxiliar, visando equilibrar o sistema psíquico, direciona o seu
foco para a atitude menos favorecida pela função dominante. Nos introvertidos, a
função auxiliar é extrovertida, enquanto que nos extrovertidos a função auxiliar é
introvertida.

Dessa forma, o sucesso dos introvertidos na sua relação com o mundo


exterior depende da eficiência do processo determinado pela função auxiliar. Já os
extrovertidos, através da função auxiliar, fazem contato com a sua vida íntima.

A ideia de equilíbrio entre polaridades permeia toda a obra de Jung (a


chamada união dos opostos). Para a psicologia analítica, a psique é considerada um
sistema autorregulado, cujo dinamismo visa manter um equilíbrio constante da
energia psíquica. Afinal, somos uma multidão e, cada persona, cada anima, pode
ser enquadrada em um dos tipos que estamos estudando. O fato de elegermos uma
persona e uma ânima dominantes, não esconde o fato de sermos totalidades em
busca de harmonia, adequação às turbulências, ora demandando por um, ora por
outro tipo específico.

Esse princípio das polaridades


determina que para qualquer quantidade de
energia utilizada em um ponto qualquer do
sistema psíquico, para se produzir uma
determinada condição, surge em outro ponto do
sistema igual quantidade dessa mesma ou de
outra forma de energia. Em decorrência desse
processo, a energia total permanece sempre
igual a si mesma, sendo incapaz de aumentar
ou diminuir.

Figura VIII.3 – Lacoonte e seus filhos, obra do helenismo, marcante por sua expressividade
Fonte: Perassi, Richard

101
O segundo papel da função auxiliar - apoiar e suplementar a função
dominante em sua principal área de atuação - possibilita a ocorrência de
combinações entre funções perceptivas e julgadoras no mesmo tipo psicológico. Em
face dessas combinações, cada tipo psicológico definido por Jung (08 tipos) se
divide em dois. Por exemplo, o tipo pensador introvertido pode ser um pensador
introvertido com sensação auxiliar ou um pensador introvertido com intuição auxiliar.
O mesmo mecanismo é aplicado aos outros tipos.

Levando-se em conta a função auxiliar, amplia-se o modelo originalmente


concebido por Jung para um modelo tipológico composto por 16 combinações entre
as funções e atitudes psicológicas, conforme podemos observar na figura abaixo.

FUNÇÕES
EXTROVERTIDAS

FUNÇÕES
INTROVERTIDAS
Figura VIII.4 – Combinações de atitudes e funções
psicológicas a partir de Myers e Briggs.

Olhando a figura VIII.4, pudemos perceber que a primeira coluna é constituída


de sensoriais, a segunda de intuitivos, a terceira de sentimentais e a quarta de
pensadores. Temos agora 04 subtipos de sensoriais, dois introvertidos e dois
extrovertidos, o mesmo valendo para os sentimentais, pensadores e intuitivos.

Outra contribuição de Myers e Briggs à teoria tipológica junguiana foi o


acréscimo de uma quarta dimensão na elaboração dos tipos psicológicos: as
atitudes de Julgamento e Percepção, que correspondem a preferências que as
pessoas apresentam nas suas formas de lidar com o mundo exterior. Outras
tipologias empregadas em consultorias preservam as três dimensões de Jung,
modificando apenas a quarta.

102
Quando se emprega uma atitude de julgamento para conduzir a vida, há uma
tendência para querer que as coisas sejam elaboradas e realizadas de acordo com
um planejamento inicial. Quando se emprega um processo de percepção para lidar
com a vida diária, ocorre uma tendência de abertura para novas possibilidades,
numa atitude de flexibilidade na adaptação a novas circunstâncias, experimentando
a vida do modo mais amplo possível.

No caso dos tipos extrovertidos, a função


dominante define que tipo de preferência
o indivíduo possui para lidar com o mundo
externo, se perceptiva ou julgadora. Se a
função dominante for Sentimento ou
Pensamento, o indivíduo prefere uma
atitude julgadora. Se a função dominante
for perceptiva (Sensação ou Intuição), o
indivíduo escolhe a percepção.

Figura VIII.5 – Rômulo, Remo e a loba. Mito de fundação


Fonte: Perassi, Richard (2005).

No caso dos tipos introvertidos, a função auxiliar define a atitude, se


perceptiva ou julgadora. Assim, nos introvertidos, quando a função auxiliar é
julgadora, o indivíduo interage com o mundo externo através da atitude julgadora. Já
no caso da função auxiliar ser perceptiva, o introvertido interage com o meio
ambiente através da atitude perceptiva.

A loba romana caracteriza um povo mais sensação do que intuição. As


nações também têm as suas tipologias. Os gregos Intuitivos Filosóficos (pelo menos
os Atenienses), representados pela estátua de Palas Atenas e os romanos,
Sensação e Praticidade, amamentados pela loba.

O modelo tipológico junguiano, assim, incluindo a ampliação proposta por


Myers e Briggs, é composto por 16 tipos diferentes de personalidade, cada tipo
constituído por uma função dominante, uma função auxiliar, uma atitude da libido
(Introversão ou Extroversão) e uma forma de lidar com o mundo externo
(Julgamento ou Percepção), representadas por letras, assim definidas:

103
Funções dominantes e Atitudes da libido Formas de lidar com o
auxiliares
mundo externo

S – função Sensação E– atitude extrovertida J – atitude de Julgamento

N – função intuição I– atitude introvertida P – atitude de Percepção

T – função pensamento

F – função Sentimento

Quadro VIII.1 Tipologia de Myer-Briggs

Como cada função e atitude é representada por uma letra (E/I, S/N, T/F, J/P),
um código de quatro letras é utilizado para definir o tipo psicológico. Por exemplo,
ESTJ indica um indivíduo de atitude extrovertida, que utiliza a função Pensamento
para tomar decisões, sendo esta a função dominante, utiliza a função Sensação
como auxiliar e adota o Julgamento como estilo de vida.

ISTJ ISFJ INFJ INTJ No quadro ao lado é apresentado o modelo tipológico


junguiano ampliado por Myers e Briggs, constando de
ISTP ISFP INFP INTP
16 tipos psicológicos, que serão vistos com maior
ESTP ESFP ENFP ENTP
detalhe no próximo subcapítulo. As letras sublinhadas
ESTJ ESFJ ENFJ ENTJ indicam o processo dominante de cada um dos
dezesseis tipos.

Quadro VIII.2 Os 16 tipos segundo Myers e Briggs

Tente descobrir o seu tipo. Comece pela atitude, extrovertida ou introvertida.


Depois se pergunte como captura os dados, usando os olhos (S), ou a imaginação
(N). Como organiza estes dados: De forma lógica? (T) ou usando valores? (F). Sua
vida é planejada? (J) ou você vive o aqui e agora (P). Anote e guarde. Não se
preocupe se daqui a pouco você tiver que redefinir. Vestimos os tipos como
mudamos de roupa. Para cada persona que usamos no joga da vida, empregamos
um ou outro. Chamamos de “nosso tipo” aquele associado ao “Ego”, um dos infinitos
complexos de que somos constituídos.

104
Esta tipologia tem sido empregada de diversas formas (BRIDGES, 1998):
Orientação profissional; Formação de equipes; Desenvolvimento de lideranças e em
estudos de Motivação profissional. Nós a usamos. Por exemplo, para o Design
Arquetípico de Personagens; Definição da Essência de uma Marca; etc.

Na orientação de carreiras, o tipo individual é utilizado para verificação de


como a pessoa se adapta ao tipo dominante naquele campo em particular.

Com o MBTI, podemos observar, por exemplo, que os ST formam mais da


metade das amostras de contadores e bancários. Os SF preenchem oito em dez
empregos de vendas e relações com clientes. Os NF dominam o campo do
aconselhamento e os NT enchem os laboratórios de pesquisa do país (BRIDGES,
1998).

ST 64% Contadores

(sensação - pensamento) 51% Alunos de finanças e comércio

47% Bancários

SF 81% Profissionais de vendas/

(sensação - sentimento) 44% Relações públicas

Enfermagem

NF 76% Alunos de aconselhamento

(intuição - sentimento) 65% Escritores

NT 77% Pesquisadores científicos

(intuição - pensamento) 57% Alunos de Ciências

Tabela VIII.1 Variação das frequências de tipos em grupos profissionais ou acadêmicos


Fonte: Elaborado a partir de Myers e Myers, 1997, p. 195

Na tipologia de Galeno, os melancólicos (SP) eram os pintores e escultores.


Isso mudou com movimentos como o Surrealismo em que o “trompe l´esprit”, o uso
do olho da alma, substuiu o “trompe l´oeu”, a perspectiva

105
O conhecimento do tipo psicológico do indivíduo ajuda a compreender a
tensão que as pessoas às vezes experimentam entre seu papel ou tarefa e suas
preferências íntimas. Uma tensão suficientemente grande pode levar à mudança de
carreira. Segundo, ajuda a orientar uma pessoa para um campo no qual se sinta
mais à vontade (BRIDGES, 1998)

“A enfermeira INTJ poderia render mais numa instituição de pesquisa ou


como professora. Um banqueiro ENFP (se houver) provavelmente teria mais
sucesso no departamento de recursos humanos ou de atendimento ao cliente do
que em registros de documentos ou execuções de hipotecas” (BRIDGES, 1988, p.
140).

A mesma categoria profissional pode ajustar-se de maneira inteiramente


diferente em duas organizações distintas. Ex: uma outra enfermeira ISFP pode,
surpreendentemente, ter uma experiência profissional diferente trabalhando numa
faculdade (INTJ), num grande hospital central (ISTJ), numa fábrica (ESTJ) ou numa
clínica rural (ISFJ). (BRIDGES, 1998)

“Em outras palavras, a carreira da enfermeira não é apenas um caminho


pessoal ou profissional mas também o relacionamento entre um indivíduo em
particular e uma organização específica, mais provavelmente, nos dias atuais, uma
sequência de organizações específicas” (BRIDGES, 1998, p. 143).

Em uma pesquisa feita da University of Missouri, Columbia (2004) foi


perguntado: Qual a razão primária (expectativa) dos alunos para ingresso na
faculdade?

Os alunos sensoriais responderam: estar bem financeiramente e ter


responsabilidade administrativa. Os alunos intuitivos responderam: Contribuir para a
ciência, desenvolver uma filosofia de vida, escrever trabalhos originais e criar
trabalhos artísticos. A maioria dos alunos era composta por sensoriais (75%
população está estimada em preferir a via sensorial).

No Canadá, na University of West Ontário, um estudo longitudinal de sete


anos, realizado entre os anos de 1987 até 1993, com uma população de 1865
estudantes de engenharia, demonstrou estatisticamente que o programa de
engenharia atraía mais estudantes com a tipologia ISTJ, em comparação com outros
alunos do primeiro ano, cursando programas de graduação diferentes.

106
Após o primeiro ano de curso, o tipo modal encontrado foi (ROSATI, 1998):

• Engenharia elétrica –INTJ

• Engenharia civil- geralmente tinham preferência pela função S (sensação);

• Estudantes de engenharia do sexo feminino eram mais ENFJ do que os


homens

• Os alunos que saíram do programa de engenharia, com posterior graduação


em outras áreas da universidade, eram significativamente ENFP.

Na escola de Medicina da Pontifícia Universidad Católica de Chile, foi iniciado


em 2000 um estudo longitudinal denominado Psimed 21, visando conhecer melhor
os estilos cognitivos dos alunos e suas relações com o desempenho acadêmico e
aprendizagem.
Os resultados preliminares da pesquisa demonstraram, em uma amostra de
270 estudantes ingressantes na Escola de Medicina, no período de 2000 a 2002,
uma predominância estatística das preferências TJ - função pensamento e atitude
julgadora (55%), sendo os tipos ISTJ e ESTJ os mais frequentes (19% e 14% dos
alunos), dados estes semelhantes aos encontrados em estudantes britânicos e
norte-americanos (BITRAN et al, 2003).
Uma avaliação posterior, comparando os estudantes de medicina com alunos
de outros cursos de graduação, demonstrou que os alunos ingressantes nas áreas
de medicina e engenharia, no período de 2000 a 2001, apresentavam um perfil
tipológico semelhante e diferente do perfil tipológico encontrado nos alunos de
arquitetura, psicologia e jornalismo. Enquanto que as áreas de medicina e
engenharia atraíam mais os alunos ST, as áreas de arquitetura, psicologia e
jornalismo atraíam mais os indivíduos NF (BITRAN et al, 2004).
Ainda fazendo parte da mesma pesquisa, um estudo feito com médicos dois
anos após o término da graduação demonstrou que a especialidade de cirurgia
atraía mais os tipos extrovertidos, sensoriais e julgadores, a pediatria atraía mais os
sentimentais e a medicina interna atraía mais os sentimentais e intuitivos
100% dos cirurgiões foram dos tipos ST, enquanto que a maioria dos médicos
generalistas foram dos tipos NT. Na área de medicina interna predominavam os
tipos NF, enquanto que na pediatria predominavam mais os tipos SF (BITRAN et al,
2005).

107
Assim como as pessoas, as nações também têm uma tipologia. O Brasil é um
país de Guardiões (SJ), cuidadores.

População brasileira (N = 43.720)

N %

ISTJ 6.199 14,3%

ISFJ 1.091 2,5%

INFJ 586 1,4%

INTJ 2.803 6,5%

ISTP 1.576 3,6%

ISFP 538 1,2%

INFP 764 1,8%

INTP 1.593 3,7%

ESTP 2.898 6,7%

ESFP 987 2,3%

ENFP 1.886 4,4%

ENTP 3.503 8,1%

ESTJ 9.892 22,9%

ESFJ 1.457 3,4%

ENFJ 1.276 2,9%

ENTJ 6.221 14,4%

Tabela VIII.2 Distribuição dos tipos junguianos no Brasil.


Fonte: Rigth, Saad, Fellipelli Consultoria Organizacional
108
Outros estudos mostrando a predominância de determinados tipos dentro das
profissões é apresentado na tabela VIII.3

autor amostra classe resultado

Zacharias (1995) 149 Policiais militares ISTJ


SP (guardiões)

Silveira 20 Atores de uma ISTJ


(2006) organização de saúde (guardiões)

Scopel e cols. 28 goleiros Sensoriais


(2006) extrovertidos
(ES)

Silveira; Fialho 74 Alunos design _NTJ


(2009) (racionais)

Tabela VIII.3 Estudos sobre tipologias e profissões.

De acordo com Fernández (1989), podemos pensar o campo grupal como a


reunião de diferentes singularidades que constituem o grupo, que compõe um
campo de forças que na realidade é a articulação de diferentes problemáticas e
interrogações. O grupal seria, então, produto das conexões que estes sujeitos
possam fazer, dos diferentes nós, enlaces que possam estabelecer entre si.

Figura VIII.5 Da esquerda pra a direita: “Cabeça de Aquiles”, pintura mural de


Pompeia. A imagem do centro, que é um mosaico representando a cabeça de um anjo da
igreja de Santa Maria Maior. A imagem da direita, que é parte de um outro mosaico, desta
vez da basílica de São Vital de Ravena. Fonte: Perassi, Richard (2005)

109
Imagine o macro sistema como uma espuma, com um sem fim de bolhas
conectadas. A forma de cada bolha é dada pelo equilíbrio entre as tensões internas
e externas do conjunto. Imagine que esta espuma tem a sua forma constantemente
alterada, algumas bolhas encolhem outras crescem, nascem, estouram, criando
novas composições de tensões.
A organização é como essa bolha da espuma, ou a estrutura dentro do cristal.
Também é formada por múltiplos agentes e múltiplas interações diferentes internas
e externas.

Estrategista Líder Cético

Visionário Valores

Figura VIII.6 Componentes de um grupo

Para que ocupe lugar no espaço (um critério de sucesso), esta bolha precisa
manter alguma configuração espacial. É desejável que a resistências as pressões e
deformações sejam maiores no seu nicho
Quando pensamos um grupo, temos a preocupação de que o campo grupal
se torne um espaço de encontro de diferenças, onde os sujeitos se afetam
mutuamente. Para tanto, apostamos que cada pessoa tem algo a dizer, transformar,
e, a partir disso, ser transformada. Assim voltamos para a ideia de diferença. É nas
diferenças que podemos constituir um outro devir social.
Diferenças, mas com unidade de trabalho. Dito de outra forma, é só na
multiplicação de diferentes formas de ver, sentir, pensar e ser no mundo que
podemos conceber um outro "vir a ser", calcado no respeito mútuo e na ética.

110
Quando nos deparamos com a nossa vida prática na empresa, família ou
sociedade, notamos duas grandes tendências que assumimos: 1) a persona, através
dos papéis estabelecidos pela sociedade e pelos cargos ou funções que exercemos
e 2) e a tipologia e aspectos arquetípicos, através de padrões comportamentais que
refletem um jeito de ser próprio nosso ao lidar com as pessoas ou mundo.
Nas organizações, bem como nas relações sociais e familiares, os indivíduos
convivem sempre em grupos, mas é nas empresas, por estarem estruturadas em
vários setores, onde os funcionários são agrupados de acordo com o seu cargo,
função e área de atuação, que a persona e os padrões tipológicos estarão mais em
evidência.
Na formação de equipes, os agentes são avaliados tipologicamente para
mostrar os pontos fracos e fortes da equipe. “Muitas equipes são limitadas em sua
tipologia, até porque a tarefa pode atrair em primeiro lugar determinado tipo e
porque o gerente ou a direção talvez tenham tendência a selecionar seu próprio tipo
ao recrutar pessoal” (BRIDGES, 1998, p. 140)
O perfil tipológico de uma equipe também é útil para identificar e explicar seus
conflitos característicos. Ao relacionar esses problemas com as diferenças de estilo
de perceber o mundo e tomar decisões. (BRIDGES, 1998, p. 140)
Lessa, na sua tese de doutorado (2003)
trouxe contribuições importantes sobre a relação
entre tipos psicológicos, complementaridade e
desempenho de equipes. Sob o ponto de vista
qualitativo e estatístico, a pesquisa de Lessa
demonstrou uma forte correlação entre a afinidade
e complementaridade entre pessoas com tipos
psicológicos distintos, porém, não totalmente
opostos.
Figura VIII.7 vitral “O Rei Davi” da Catedral de
Canterbury na Grã-Bretanha. Fonte: Perassi, Richard
(2005)

O sucesso do Rei David seria explicado pelas tipologias de seus generais? O


mesmo teria acontecido com Napoleão Bonaparte, que dava autonomia a seus
marechais, fazendo a rapidez na tomada de decisão de seus exércitos um fator
decisivo em suas vitórias.

111
A análise dos dados da pesquisa de Lessa (2003), revelou uma tendência de
as pessoas apontarem colegas com grau de complementaridade forte, com quem
tiveram maior afinidade, dificuldade e complementaridade no trabalho em equipe. O
grau de complementaridade forte significa que as pessoas utilizam o processo
dominante distinto, mas tem em comum o processo secundário.
Não houve uma tendência de as pessoas indicarem, tanto em afinidades,
dificuldades e complementaridade, pessoas cujos tipos eram totalmente iguais e (ou)
muito parecidos (grau de complementaridade neutro e muito fraco)
“Tal fato parece sugerir que a maioria dos entrevistados apontou ter
afinidades com pessoas que puderam complementar os seus pontos fracos,
relacionados às habilidades e características próprias de seu estilo de
personalidade” (LESSA, 2003, p. 79).
Ex: os entrevistados INTJ escolheram pessoas ESTJ. Nesse caso, a pessoa
escolhida tem como processo de percepção a sensação, que é oposto ao processo
do entrevistado, a intuição, e tem em comum o pensamento lógico, que diz respeito
à tomada de decisão. (LESSA, 2003, p.79).
“Foi observada uma tendência de os entrevistados apontarem pessoas com
características comportamentais diferentes das suas como aquelas pessoas com
quem tiveram mais dificuldades no trabalho em equipe. Exemplificando, os intuitivos
identificaram dificuldades de trabalhar com os sensoriais, enquanto os sentimentais
apontaram dificuldades para trabalhar com pessoas lógicas” (LESSA, 2003, p. 89).
“Foi observado ainda as dificuldades que alguns entrevistados tiveram para
trabalhar com Tipos Psicológicos parecidos. Essas dificuldades podem ter surgido
devido à maximização de pontos fracos, não havendo, pois, complementaridade
entre eles” (LESSA, 2003, p. 90).
Será que essas considerações são válidas para as relações familiares? Se
estudarmos a tipologia dos casais, o que irá predominar?
“As empresas podem promover programas de desenvolvimento de equipe
utilizando os conceitos da Teoria dos Tipos Psicológicos de Jung, visando a ampliar
o autoconhecimento e apoiar o bom desenvolvimento do Tipo. Esses programas
devem estimular as pessoas a saírem de sua zona de conforto, ou seja, a utilizar as
suas funções menos desenvolvidas, além de paralelamente aperfeiçoar as funções
preferidas...”

112
“...A maturidade favorece a integração e o relacionamento entre as pessoas
com opiniões divergentes , aumentando o diálogo, a cooperação e a confiança entre
os membros de uma equipe. Contribui para que as pessoas se tornem sensíveis às
diferenças individuais, possibilitando, portanto, a tomada de decisões mais
consistentes e o alcance dos resultados da equipe” (LESSA, 2003, p. 113-114).

Os Arquétipos mais usados nos estudos sobre liderança são: O Rei; o


Guerreiro; o Amante e o Mago. As tipologias nos ajudam, também, nestes estudos.
“No desenvolvimento de liderança, o tipo individual é usado para identificar o
estilo natural das pessoas de dirigir ou gerenciar. Desse modo, os indivíduos podem
ser educados segundo suas forças e fraquezas para trabalhar com subordinados de
diferentes tipos...” (BRIDGES, 1998).
“...Em um de meus clientes, um diretor INTJ muito rapidamente percebeu que
seu estilo lógico e crítico era muito difícil de suportar para as pessoas de sua
empresa INFJ. Enquanto se desenvolvia para tornar-se uma nova pessoa, ele
ensinou a si mesmo a ir mais devagar, explicar as coisas com mais cuidado, pedir
respostas e ouvir” (BRIDGES, 1998).
Ginn e Sexton (1989), apud Morales (2004), estudando um grupo de 159
fundadores de empresas do ranking das 500 empresas privadas com mais rápido
crescimento da revista “Inc” (Estados Unidos) e um grupo de 150 fundadores da
indústria manufatureira e comércio varejista do estado do Texas (Estados Unidos),
notaram uma frequência alta da combinação NT nestes indivíduos.
Para Morales (2004), a relação mais clara entre a teoria junguiana e o modelo
de competências foi encontrada ao relacionarem-se as funções S/N e T/F com o
processo de resolução de problemas.
Em relação ao empreendedorismo, Roberts (1991, apud Morales, 2004), que
estudou a tipologia de um grupo de empreendedores de base tecnológica e de
engenheiros, fez uma associação entre empreendedores tecnológicos e o tipo
ENTP.
Esses dados talvez reflitam o fato de estarmos vivendo uma sociedade do
conhecimento. Raspe-se um NT e encontramos um cientista. Nas universidades os
tipos predominantes são os NT e os NF. Em pesquisas realizadas pelos autores nas
turmas de pós-graduação em Engenharia do Conhecimento e Design, a
predominância é de Intuitivos (N).

113
Lessa (2003) aponta para a necessidade de pesquisar melhor o papel e a
atuação dos tipos sentimentais nas equipes executivas e (ou) da alta administração
das empresas. Para ela, os indivíduos com este tipo psicológico tendem a ser
excluídos das equipes gerenciais nas quais predominam pessoas com o tipo lógico.
Utilizando a leitura tipológica, podemos dizer que um líder espiritual servidor
(Líder constelado pelo Arquétipo do Mago) precisa desenvolver e harmonizar as
quatro funções psíquicas na consciência: Sentimento – sentir (Eros); Pensamento –
pensar (Atená); Sensação – agir (Hermes) e Intuição – visão de futuro
Falamos de orientação profissional, gestão de equipes e liderança. Vamos
concluir falando da contribuição da teoria dos tipos psicológicos para a motivação.
Motivação é a energia propulsora do comportamento, fenômeno psicológico
que se caracteriza por um conjunto de fatores dinâmicos existentes na
personalidade (forças internas), que determinam a conduta de cada indivíduo,
orientando e mobilizando as suas ações em direção a determinados objetivos
(BERGAMINI, 2005).
A Teoria da Autodeterminação, assim, propõe que os seres humanos, desde
seu nascimento, têm propensões inatas para a estimulação e a aprendizagem. No
entanto, o ambiente pode fortalecer ou enfraquecer esta tendência, na medida em
que nutre ou frustra três necessidades psicológicas básicas: competência,
autonomia ou autodeterminação e pertença ou formação de vínculos. A interação
dessas necessidades psicológicas com o ambiente podem formar diferentes padrões
motivacionais: desmotivação, motivação extrínseca e a motivação intrínseca
(GUIMARÃES & BORUCHOVITCH, 2004).
EXTRÍNSECA - motivação para o trabalho em resposta a algo externo à
atividade ou tarefa, como por exemplo, obtenção de recompensas materiais ou
sociais, reconhecimento, demonstração de competência de valor e atendimento de
comandos ou pressões dos outros. Neste tipo de motivação, há uma vinculação da
tarefa com resultados esperados.
INTRÍNSECA - O indivíduo realiza determinada atividade por sua própria
causa, por esta ser interessante, envolvente ou, de alguma forma, geradora de
satisfação, havendo assim uma valorização e gosto pela tarefa (DECI & RYAN,
2000; RYAN & DECI, 2000, apud GUIMARÃES & BORUCHOVITCH, 2004).

114
Tal envolvimento é considerado ao mesmo tempo espontâneo, parte do
interesse individual, e autotélico (CSIKSZENTMIHALYI, 1999), isto é, a atividade é
um fim em si mesma.
A motivação intrínseca e a extrínseca fazem parte de um mesmo continuum
de auto-regulação.
AMABILE et al (1994) relacionou o tipo psicológico ESTJ com fatores
higiênicos (extrínsecos).
Gryphon (2003) em estudos realizado por uma empresa de consultoria em
gestão organizacional (população de 113 trabalhadores); demonstrou uma
correlação estatística significativa entre: as tipologias que apresentaram funções S
(sensação) e J (julgamento) com fatores higiênicos (extrínsecos); as que
apresentaram funções N (intuição) e P (percepção) com fatores motivacionais
(intrínsecos). Também sugeriu uma correlação entre os tipos _NFP, com fatores
motivacionais (intrínsecos).
A pesquisa realizada pelos autores deste livro, confirma o trabalho de Godoi
(2001): Os fatores de insatisfação estão diretamente ligados à motivação,
funcionando como elemento faltante e propulsor da dinâmica motivacional; As
medidas sugeridas para aumentar a motivação mais citadas foram relacionamento
interpessoal (35%), condições e ambiente de trabalho (30%) e remuneração (25%),
justamente os fatores mais citados como de insatisfação. O que está mobilizando os
entrevistados para aumentar a motivação, na verdade, são os elementos faltantes,
os fatores de insatisfação.
Não foi nossa intenção, neste capítulo, esgotar o tema, mas motivar o leitor a
se aprofundar no estudo dos arquétipos e tipologias.

115
Capítulo 9
As quatro matrizes de David Keirsey

“Algo em nós se eleva quando alguma ação se aprofunda – e que, inversamente, algo se
aprofunda quando alguma coisa se eleva. Somos o traço de união da natureza e dos
deuses, ou, para ser mais fiel à imaginação pura, somos o mais forte dos traços de união
entre a terra e o ar” (BACHELARD, 1990b:109)

O trabalho desenvolvido por Myers e Briggs contribuiu de uma forma muito


ampla para o desenvolvimento do modelo tipológico Junguiano. Uma das
contribuições importantes que a obra das autoras propiciou foi feita pelo psicólogo
norte-americano David Keirsey que, baseado nos dezesseis tipos psicológicos
concebidos por Myers e Briggs, enriqueceu ainda mais a teoria Junguiana.

Figura IX.1 – Teófilo e sua esposa Teodora. Iluminura de um manuscrito


bizantino.
Fonte: Perassi, Richard (2005)

O trabalho de David Keirsey surgiu em 1956, cinco anos após formar-se,


quando um representante do Serviço de Orientação Educacional o visitou na escola
onde trabalhava e lhe aplicou o questionário MBTI, visando conhecer o seu tipo
psicológico. O resultado do inventário deixou Keirsey extremamente surpreso (e
encantado, com certeza!), levando-o a estudar profundamente a teoria tipológica
junguiana.

116
Em 1978, juntamente com sua assistente, Marilyn Bates, publicou o livro
Please Understand Me, que vendeu mais de dois milhões de cópias56, reavivando o
interesse popular pelos quatro temperamentos, como veremos adiante.
Keirsey retomou a ideia arquetípica do modelo de estrutura quádrupla da
psique, encontrado nos sistemas tipológicos da antiguidade, já descritos no início
deste capítulo, e já tendo sido referida por Jung na sua obra Tipos Psicológicos. De
acordo com Jung:57

...nossas tentativas modernas de tipologia não são novas e nem originais, ainda que nossa
consciência científica nos permita retomar esses caminhos antigos e intuitivos. Temos que
achar nossa própria resposta para o problema, e uma resposta que satisfaça os anseios da
ciência.

Através de uma observação cuidadosa, Keirsey58 começou a perceber


semelhanças entre alguns tipos de Myers e Briggs. Auxiliado pelas contribuições dos
sistemas tipológicos antigos, associados aos trabalhos de Jung, Adickes, Spranger,
Kretschmer e Fromm, conforme podemos observar na tabela IX.1, ele concluiu que
os dezesseis tipos psicológicos definidos por Myers e Briggs se originavam de 04
estilos básicos de temperamento.

Platão 340 a.C. Artesão Guardião Idealista Racional


Aristóteles 325 a.C. Hedônico Proprietário Ético Dialético
Galeno 190 a.C. Sanguíneo Melancólico Colérico Fleumático
Paracelso 190 d.C. Mutável Laborioso Inspirado Curioso
Adickes 1905 Inovador Tradicional Doutrinal Cético
Spranger1914 Estético Econômico Religioso Teórico
Kretschmer 1920 Hipomaníaco Depressivo Hiperestético Anestético
Jung 1920 Sensorial Sentimental Intuitivo Pensador
Fromm 1947 Explorador Poupador Receptivo Marketing

Tabela IX.1 – Os quatro tipos de temperamento estudados por diversos autores ao longo do
tempo.
Fonte: KEIRSEY, 1978.

56
M. da L. CALEGARI, Temperamento e Carreira: desvendando o enigma do sucesso, 2006.
57
Tipos Psicológicos, 1991.
58
D. KEIRSEY, Please Understand Me II: Temperament Character Intelligence, 1998.

117
Os quatro estilos básicos de temperamento definidos por Keirsey, que
configuram as quatro matrizes tipológicas do seu modelo, se baseiam em duas
características temperamentais básicas: como o indivíduo se comunica com os
demais (podendo ser concretos ou abstratos) e como procura conseguir os seus
objetivos (podendo ser utilitaristas ou cooperativos).

Utilizando os dezesseis tipos psicológicos do trabalho de Myers e Briggs


como referência, Keirsey nomeou as quatro matrizes básicas ou estilos de
temperamentos como Artesãos (concretos e utilitaristas), Idealistas (abstratos e
cooperativos), Guardiões (concretos e cooperativos) e Racionais (abstratos e
utilitaristas), cada um representado por um deus grego, conforme podemos observar
no quadro abaixo:

ISTJ ISFJ INFJ INTJ Artesãos SP - DIONISO

ISTP ISFP INFP INTP Idealistas NF - APOLO

ESTP ESFP ENFP ENTP Guardiões SJ - EPIMETEU

ESTJ ESFJ ENFJ ENTJ Racionais NT - PROMETEU

Quadro IX.1: Tipos Psicológicos Junguianos – Matrizes de Keirsey

Na psicologia junguiana, os deuses


gregos correspondem a símbolos
arquetípicos que, por sua vez,
representam aspectos da nossa
personalidade, que podem ou não
estar ativados em determinado
momento, a depender das
circunstâncias de vida e
predisposição individual.
Figura IX.3 – Detalhe da pintura na Capela Sistina em que Adão recebe a vida do Criador
Michelangelo
Fonte: Perassi, Richard (2005)

118
Quando ativos, realizam uma função estruturante, “modelando” a nossa
personalidade, conforme já foi visto no início desse capítulo. Deve-se ressaltar que
os símbolos arquetípicos e os tipos psicológicos são coisas distintas, mas cada
símbolo, de alguma forma, representa um (ou mais) tipos.
Alinhado com essa ideia, Keirsey utiliza os símbolos arquetípicos para
representar as suas matrizes tipológicas (cada uma se relacionando com 04 tipos
junguianos). O autor ressalta que os Deuses não são iguais aos tipos, apenas
apresentam algumas características que podem ser utilizadas como metáforas para
falar das matrizes. Apolo foi escolhido porque simboliza a verdade, a beleza e a
espiritualidade; Dioniso, porque representa a ação; Prometeu, a competência e o
conhecimento; e, finalmente, Epimeteu, a lealdade e o cumprimento do dever.

Um de nossos problemas, hoje em dia, é que não estamos familiarizados


com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e
nos problemas do momento. Antigamente, o campus de uma universidade
era uma espécie de área hermeticamente fechada, onde as notícias do
dia não chocavam com a atenção que você dedicava à vida interior, nem
com a magnífica herança humana que recebemos de nossa grande
tradição – Platão, Confúcio, o Buda, Goethe e outros, que falam dos
valores eternos, que têm a ver com o centro de nossas vidas. Quando um
dia você ficar velho e, tendo as necessidades imediatas todas atendidas,
então se voltar para a vida interior, aí bem, se você não souber onde está
ou o que é esse centro, você irá sofrer (CAMPBELL, MOYERS, 1988, p.
03 e 04).

Assim, foram nomeados Apolíneo o temperamento intuitivo sensível (NF),


Dionisíaco o temperamento realista perceptivo (SP), Prometéico o temperamento
intuitivo racional (NT) e Epimetéico o temperamento realista judicativo (SI).
Randazzo (1993) nos diz que tudo é mito. Para tal afirmação, usa os estudos
de Roland Barthes, crítico literário francês, que “postula o mito como uma forma de
discurso, um sistema semiológico e uma modalidade de significação” (BARTHES
apud RANDAZZO, 1993, p.57).

119
A tabela IX.2 apresenta algumas características dos diversos tipos. Aproveite
para verificar o seu e corrigir se for o caso. A esta altura, se você leu com atenção
os capítulos anteriores, esta será uma tarefa fácil. Como a gente não é um
personagem, mas gente de carne e osso somos mais que uma pessoa.

ISTJ ISFJ INFJ INTJ


Factuais - meticulosos Detalhistas – meticulosos Compromissados – leais Independentes – lógicos
Sistemáticos – confiáveis Tradicionalistas – Leais Tem grande compaixão Críticos – originais
Constantes – práticos Pacientes – Práticos Criativos – intensos Voltados para os sistemas
Organizados – realistas Organizados – voltados para Profundos – determinados Firmes – visionários
Fiéis ao dever – sensatos o serviço Reservados – globais Teóricos – exigentes
Cuidadosos Devotados – protetores Idealistas Reservados – globais
Responsáveis - cuidadosos Autônomos

ISTP ISFP INFP INTP


Lógicos – apropriados Atenciosos – gentis Tem grande compaixão Lógicos – céticos
Práticos – realistas – Modestos – adaptáveis Gentis – virtuosos Cognitivos – teóricos
fatuais Sensíveis – observadores Adaptáveis – enfáticos Reservados – críticos
Analíticos – aplicados Cooperativos –leais Compromissados Precisos – independentes
Independentes – De confiança – espontâneos Curiosos – criativos Especulativos – originais
Aventurosos Compreensivos Leais – devotados Autônomos – determinados
Espontâneos – Adaptáveis Harmoniosos Profundos - reservados
Determinados

ESTP ESFP ENFP ENTP


Orientados para atividades Entusiasmados – adaptáveis Criativos – Curiosos Empreendedores
adaptáveis – versáteis Divertidos – amigáveis Entusiasmados – versáteis Independentes – sinceros
Gostam de se divertir Alegres – sociáveis Espontâneos – expressivos Estratégicos – teóricos
Energéticos – alertas Comunicativos Independentes – amigáveis Adaptáveis – desafiadores
Espontâneos –pragmáticos Cooperativos Perceptivos – energéticos Analíticos – inteligentes
Despreocupados Despreocupados– tolerantes Imaginativos – incansáveis Engenhosos – criativos
Persuasivos Agradáveis Questionadores
Amigáveis – rápidos

ESTJ ESFJ ENFJ ENTJ


Lógicos – Decididos Cuidadosos – Leais Leais – Idealistas Lógicos – Decisivos
Sistemáticos – Objetivos Sociáveis – Agradáveis Agradáveis – verbais Planejadores – duros
Eficientes – diretos Responsáveis– harmoniosos Responsáveis – expressivos Estrategistas – críticos
Práticos – organizados Cooperativos – diplomáticos Entusiasmados Controlados – desafiadores
Impessoais – responsáveis Meticulosos – prestativos Energéticos – amigáveis Diretos – objetivos
Estruturados - cuidadosos Complacentes - tradicionais Diplomáticos – preocupados Justos - teóricos
prestativos

Tabela IX.2 Características dos Tipos. Fonte: Hirsh e Kummerow, 1995 p. 14

120
“O que somos para a nossa visão interior, e o que o homem aparenta como
subespécie aeternitatis, só pode ser expresso através do mito. O mito é mais
individual e exprime a vida com mais precisão do que a ciência. A ciência trabalha
com conceitos de médias que são demasiado gerais para serem justos com a
variedade subjetiva de uma vida individual” (JUNG apud RANDAZZO, 1993, p.60).
Maria Zélia Alvarenga (2007) associou cada tipo a um Deus Grego.
ISTJ ISFJ INFJ INTJ
(Inspetor) (Protetor) (Conselheiro) (Mente Brilhante)
HEFESTO ARTEMIS DIONISO APOLO

ISTP ISFP INFP INTP


(Técnico) (Compositor) (Curador) (Engenheiro)
TÉTIS HÉSTIA PERSÉFONE HADES

ESTP ESFP ENFP ENTP


(Conquistador) (Performático) Campeão Inventor
ARES AFRODITE ZEUS HERMES

ESTJ ESFJ ENFJ ENTJ


(Supervisor) (Provedor) (Professor) Marechal-de campo
HERA DEMÉTER POSIDON ATENÁ

Tabela IX.3
Fonte – elaborado a partir de Mitologia Simbólica- Estruturas da Psique e Regências Míticas
(Maria Zélia Alvarenga e cols. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007).

Um estudo interessante associa a matriz tipológica de Keirsey às inteligências


múltiplas de Howard Gardner.
ARTESÃOS SP GUARDIÃES SJ
Corporal e cenestésica Lógico-matemática
Espacial Interpessoal
Musical Linguística
Linguística Corporal e cenestésica
Lógico-matemática Intrapessoal
Interpessoal Espacial
Intrapessoal Musical
RACIONAIS NT IDEALISTAS NF
Lógico-matemática Interpessoal
Espacial Intrapessoal
Linguística Linguística
Musical Lógico-matemática
Interpessoal Espacial
Intrapessoal Musical
Corporal e cenestésica Corporal e cenestésica
Tabela IX.4 Tipologias e Inteligência Múltipla. Fonte: CALEGARI, M. da L; GEMIGNANI, O.
H., Temperamento e Carreira, São Paulo: Summus, 2006, p.53

121
A tabela IX.5 apresenta ao leitor outras hermenêuticas. Trata-se da busca
pelos universais que voltam a ter sentido a partir da ideia de inconsciente coletivo de
Jung.

Tabela IX.5 Tipos Psicológicos e Arquétipos na visão de alguns autores Junguianos

Observe que, enquanto para Alvarenga, Zeus é ENFP, idealista, capaz de


gerar heróis, todos frutos de aventuras irresponsáveis, filhas de paixões que
acontecem na eternidade do momento, para Zacharias, Zeus é um ESTJ, um
cuidador lógico e planejador, capaz de gerenciar o Olimpo e resolver os conflitos
entre os deuses.
Não há dúvida quanto a Ares (ESTP), guerreiro frio que usa a mente e os
sentidos para se sair bem das mais inesperadas situações. Não é, com certeza, o
mesmo Ares que trai Héfestos com Afrodite.
Quanto menos humano o Deus, menos ambíguo.
O ideal seria falar de um Zeus Governante e de um Zeus Namorador; um
Eros Cupido e um Eros Carpínteiro; uma Ares Guerreiro e um Ares Amante. O que
permanece são os mitos associados a cada uma destas facetas destes deuses.

122
De acordo com os mitos que nos referimos, se adequam tal e qual tipologia.
A tabela IX.6 apresenta outras leituras em diferentes culturas.

ISTJ ISFJ INFJ INTJ


(Inspetor) (Protetor) (Conselheiro) (Mente Brilhante)
Sherlock Qhíron Iris-Apolo Euá-Atená
Esculápio Obaluaê Orunmilá-
Ossaim Oxalufã
ISTP ISFP INFP INTP
(técnico) (Compositor) (Curador) (Engenheiro)
Ulisses-Ogum Nanã - Hefesto Iemanjá-Iara Dédalo-Oxóssi

ESTP ESFP ENFP ENTP


(conquistador) (Performático) (Campeão) (Inventor)
Xangô Oxum-Afrodite-Yara Logunedé- Iansã-Hermes
Hermafrodito
ESTJ ESFJ ENFJ ENTJ
(Supervisor) (Provedor) (Professor) (Marechal-de campo)
Hera-Obá Deméter Merlin- Zeus – Tupã - Xangô
Oxum Hermes-Exu-
Oxaguiã
Tabela IX.6 – Leituras em diferentes culturas

Hermes o psicopompo capaz de ir e vir entre os diferentes mundos, levando


as mensagens da terra do Condor e do Jaguar, em que reina Zeus Olímpico, até os
mares onde reina Poseidon, ou até os domínios da serpente mítica, que se oculta
nas profundezas, terreno de Hades, é o mesmo Exu que abre caminho para que os
deuses do candomblé possam se manifestar em suas montarias humanas.
Mas os Exu, como as Pomba Gira, são muitos. A palavra Èsù em yorubá
significa “esfera”. Exu recebe diversos nomes, de acordo com a função que exerce
ou com suas qualidades: Elegbá ou Elegbará, Bará ou Ibará, Alaketu, Agbô, Odara,
Akessan, Lalu, Ijelu (aquele que rege o nascimento e o crescimento de tudo o que
existe), Ibarabo, Yangi, Baraketu (guardião das porteiras), Lonan (guardião dos
caminhos), Iná (reverenciado na cerimônia do padê)59. Cada um destes Exus teria
uma tipologia própria.

59
Wikipedia

123
Exu é o orixá da comunicação, como Hermes. Ele faz o erro virar acerto e o
acerto virar erro. Exu é phonesis, consciência em movimento.
Os filhos de Exu são sensuais, dominadores e inteligentes (ST). Gostam da
vida cercada de barulho, muitas pessoas e romances de todo tipo. Adoram festas e
não se prendem a ninguém, são muito impulsivos (ESTP).
Talvez, influenciado por Exu tenha resolvido concluir este capítulo com humor
expresso pela Tabela IX.7:

ISTJ ISFJ INFJ INTJ


Funcionou no Apenas um, eu, desde A lâmpada, realmente, Você poderia, por
passado, portanto, que seja bom para deseja ser trocada favor, definir o que é
funcionará amanhã. todos os outros. mudança? E, o que
significa, exatamente,
lâmpada?
ISTP ISFP INFP INTP
Uma pessoa Nenhuma. O ISFP é Duas pessoas. Um Bem ... luz, iluminação
feliz ppor estar, para trocá-la. Outra I = 10.76LT(1/4f) (F/V)
simplesmente, sentado para dar apoio. Hcos40 + IF.
lá e aproveitando a
escuridão
ESTP ESFP ENFP ENTP
Nenhum até que eu Quem se preocupa? Bem... Vamos ver... Um, porém, apenas
descubra o autor da O importante é que Um para perceber que depois de apertar,
quebra. será divertido. a lâmpada está sacudir, revolver,
apagada, um para testar, etc. para ter
fazer uma nova cúpula, certeza de que não há
um para ler um artigo alguma outra coisa.
sobre meios
alternativos de
iluminação e mais um
para fazer o desenho
de uma vela ...
ESTJ ESFJ ENFJ ENTJ
A relação custo Pelo menos 2 Puxa! Esta era a minha VOCÊ!!!
benefício indicaria Deixe-me pegar o lâmpada favorita. Troquq aquela
apenas wm. telefone e chamar lâmpada.
alguém para vir aqui.
Tabela IX.7
Fonte: Desconhecida (circulando na INTERNET)

124
Capítulo 10
Estrutura Arquetípica de Narrativas
Dorothy e o Leão Covarde. Alice e o Chapeleiro.
Oz e a Toca do Coelho.
Arquétipos que se repetem.
O Gato é o Bobo, que serve a Alegria.
O Chapeleiro é o Mago que encanta o mundo com sua dança maluca.
Ah! Cuidado com o Jaguadarte.

Em seu livro Memórias, Sonhos e Reflexões, Jung narra como nomeou duas
imagens que apareceram para ele de Philemon e Salomé durante uma experiência
de imaginação ativa. De acordo com Jung essas imagens personificavam dois
arquétipos: o Velho sábio e a Anima. Jung, entretanto, imediatamente reduziu essas
personificações a categorias apriorísticas.
"Pode-se dizer que essas duas figuras são personificações do logos e de
Eros, porém, sabemos que toda definição é excessivamente intelectual. Seria muito
mais interessante deixar as figuras serem o que elas foram para mim naquele
momento: um evento estranho, inominável, pura experiência".
Ao contrário de tentar interpretar as personificações, Jung declara que prefere
experenciá-las do modo como são, isto é, considerá-las como se fossem pessoas
reais. Existem, então, duas tendências em Jung: uma que poderíamos chamar de
intelectual e outra que é experencial.
Na hermenêutica simbólica a pessoa é o início, o meio e o fim da jornada e
que suscita um engajamento existencial.
Gilbert Durand trabalha com a ideia de pregnância simbólica (Cassirer 1994),
característica própria de quem fecunda sentidos em uma gravidez de Ser.
Na jornada interpretativa, diz Durand (1988), saio de meu lugar tranquilo,
deixo meus “pré-conceitos” e “pré-juízos” e vou buscando o sentido nas obras da
cultura e da arte. Mas, curiosamente, essa jornada interpretativa que me leva para
fora também me remete para o mais específico, para o mais interior das minhas
descobertas.
“Nascer é ao mesmo tempo nascer do mundo e nascer no mundo. O mundo
já está constituído, mas também nunca completamente constituído [...]” (MERLEAU-
PONTY, 1971)
O ser humano é um sujeito dinâmico e partidário de um simbolismo que é o
produto do meio onde ele evolui.

125
As imagens simbólicas, que constituem o seu imaginário, nascem da
interação dos imperativos pulsionais e subjetivos que modelam a representação do
real objetivo e das restrições ou intimações objetivas do meio (DURAND, 1988)
O arquétipo do Herói que vigorou por mais de cinco mil anos cede espaço
para o arquétipo do Mago. O Amante é superado pelo Explorador.
Carol Pearson, no livro “O Herói e o Fora da Lei” escolhe doze “imagens
arquetípicas” para auxiliar o criador de histórias, produtos ou experiências a dar vida
aos seus personagens, enredos, aventuras.
Doze seriam as “imagens arquetípicas” básicas utilizadas no desenvolvimento
de identidades: o sábio, o inocente, o explorador, o herói, o fora-da-lei, o mago, o
cara comum, o amante, o bobo da corte, o prestativo, o criador e o governante.

São elementos de uma


narrativa: Enredo (acontecimentos ou
fatos); Pessoas (seres reais) ou
personagens (seres fictícios); Lugar
onde os fatos ocorrem (ambiente ou
espaço) e um Narrador (quem conta a
história).
Enredo é uma sequência de
acontecimentos colocados em ordem.
Esses acontecimentos ocorrem com
determinadas pessoas ou
personagens, num determinado lugar.
Figura X.1 Os arquétipos de Carol Pearson

Todos estes elementos podem ser concebidos como tendo uma base
arquetípica que se expressa no mundo por meio de tipologias.
Da mesma forma como vestimos a tartaruga do Logo60 de personagens ou
ambientes, atribuindo ações a estes componentes do todo, podemos dar alma a
cada elemento de uma narrativa.

60
Seymour Papert

126
Mark e Pearson (2003) no livro “O Herói e o Fora-da Lei” reúnem alguns
conceitos históricos sobre os arquétipos. Afimam que, para C. G. Jung, eles estão
ligados a um inconsciente coletivo, que se manifesta em mitos e é um produto
individual. Os mesmos autores afirmam que Platão os definia como “formas
elementares”, e Adolf Bastian como “ideias elementares”. Já em sânscrito, eram as
“formas conhecidas subjetivamente”, e na Austrália, eram os “Eternos do Sonho”.

Figura X.2 Jornada da Alma

A figura X.2 fala da jornada da alma e de como os arquétipos constelam esta


jornada.

A criança divina precisa de Segurança. Daí os Arquétipos do Inocente que


fala da confiança cega e do Órfão que demanda por Cautela. Para isso necessita de
Pais Responsáveis; Guerreiros capazes de estabelecer fronteiras e Prestativos ou
Cuidadosos que os ensine a estabelecer vínculos.

127
Preparados os Egos os Amantes buscam compromisso com os outros
enquanto os Exploradores colocam seus objetivos, suas carreiras, acima das
relações. Ambos buscam uma Terra Prometido, em que se realizarão. No caminho é
preciso Destruir o velho para Criar o novo. É preciso morrer para se poder renascer.
“Quando o arquétipo do Criador está ativo, as pessoas são devoradas pela
necessidade de criar uma vida, da mesma forma como um artista é devorado pela
necessidade de pintar ou um poeta pela necessidade de escrever” (PEARSON,
1995).
Completada a jornada da alma é a hora do retorno ao Self. Enquanto o Sábio
busca a Verdade, o Bobo serve à Alegria. Enquanto o governante busca dominar o
mundo, o Mago deseja transformá-lo. Redenção e Iluminação. “A transição do
palhaço ou do trapaceiro para a condição de Bobo Sábio ocorre quando o Bobo
experimenta a iniciação através do Amor... No nível mais elevado, o Bobo
transforma-se no Bobo sábio e sagrado, que experimenta a alegria durante toda a
vida e torna-se quase diáfano” (PEARSON, 1995).
Temos histórias que falam da inocência e outras que contam histórias de
Amantes, que podem se chamar Romeu e Julieta ou naufragar com o Titanic. Temos
histórias de órfãos como o ET de Spielberg, e de órfãos que viram heróis como o
Harry Potter de Rowling. Cultuamos histórias de heróis como Guerra nas Estrelas ou
de Foras da Lei como nas aventuras do velho oeste. Não são mais que uma dúzia
de histórias que se recontam e se combinam, como as sete notas que são capazes
de gerar todas as músicas.
Para dada narrativa arquetípica temos uma estrutura. É óbvio, diriam os pós-
modernos, que é uma estrutura deformada pela emoção.
No ato 1 temos um mundo comum em que algo acontece convidando-nos a
aventura. Recusaram-se somos como Homer Simpson, que como o Carlitos, é um
ESFP (extrovertido, sensorial, sentimental e vivendo o aqui e agora). Se aceitarmos
outros arquétipos são constelados. Surge o “Mentor” que nos acompanha a passar
um primeiro limiar.
Entramos no ato 2, quando surgem aliados que nos auxiliam a passar por
uma série de testes. Surgem também os inimigos que prexisam ser vencidos.
Precisamos penetrar na caverna oculta e passar por toda a sorte de provações até
alcançar a recompensa.

128
Ao começar o ato 3 estamos percorremos o caminho da volta. A ressureição
do herói foi alcançada. Gilgamesh conquista a imortalidade (nem sempre o final é
triste como no mito original) retornando com o elixir precioso.
A psique consciente é regida pelo pensamento dirigido, ou adaptativo, linear.
A psique inconsciente pelo pensamento circular, onírico ou mitológico.
Portanto, o ego tem o pensamento apolíneo de adaptação à realidade
externa, linear que funciona pelo mecanismo de associação de ideias racionais. O
inconsciente opera pelo mecanismo associativo de imagens mitológicas.
“Um dos grandes divisores de água entre as escolas de Jung e Freud é a
linguagem escolhida para a difícil tarefa do tornar-se consciente: a palavra em
Freud, e a imagem fantasia, em Jung” (MARONI, 2001).
Pensamento dirigido ou linguístico – rede de conversações externas.
A matéria com que pensamos é a linguagem e o conceito linguístico. Ao
pensarmos de modo dirigido, pensamos para outros e falamos a outros → linear
(JUNG, 1999).
Pensamento –fantasia –Sonhos-fantasias-mitos.
“Pelo pensamento-fantasia se faz a ligação do pensamento dirigido com as
camadas mais antigas do espírito humano, que há muito se encontram, abaixo do
limiar da consciência [...]” (JUNG, 1999).
“Na obra, acontece esta abertura, a saber, o desocultar, ou seja, a verdade do
ente. Na obra de arte, a verdade do ente pôs-se em obra na obra. A arte é o pôr-se-
em-obra da verdade.” (HEIDEGGER, 1999, p.30).
“Amante carne que resiste e cede, cede e resiste”. (Bachelard, 1989)

Mesmo porque as notas eram surdas


Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim
(Chico Buarque & Edu Lobo)

129
Capítulo 11
Design Arquetípico de Personagens
Todo este universo é um livro em que cada um de nós é uma frase.
Nenhum de nós, por si mesmo, faz mais que um pequeno sentido, ou
uma parte de sentido; só no conjunto do que se diz se percebe o que cada um
verdadeiramente quer dizer. Fernando Pessoa

Da mesma forma que falamos de uma estrutura arquetípica das histórias


podemos falar de um design arquetípico de personagens.

Dentre as personalidades definidas por Carl


Jung, Homer Simpson se enquadra perfeitamente
como um ESFP, pois estes são pessoas ativas,
preferem atividades práticas, gostam de ser o
centro das atenções, são “brincalhões”,
espontâneos, simpatizam com problemas de
outras pessoas, preferem ambientes dinâmicos,
em constante mudança, buscam o lado realista e
prático das coisas e adoram “curtir” o momento.
Marjorie Simpson é uma ISFJ, uma típica Guardiã. Observadora (S), sempre
protegendo o seu filho Bart (F). Bart Simpson é um ESTP, um Artesão como o Pai,
aluno mal comportado sempre se metendo em confusões. Elisabeth Simpson, a
Lisa, é uma típica INFJ, Idealista, uma intuitiva introvertida que toca saxofone e é
vegetariana. Maggie Simpson apesar de nem saber falar, pois ainda não fez um ano
parece ser alguém em vias de se transformar em uma ISTP, artesão como o pai e o
irmão.
Chaplin, como Homer, na sua persona de Carlitos, o Bobo Sábio, também é
um ESFP, como Homer.
Bobos são, ainda, o Nasrudin dos árabes e místicos do sufismo; os brasileiros
Macunaíma e, das histórias que meu pai me contava, quando criança, o Pedro
Malazarte.
Arquétipos podem assumir qualquer persona. Podemos vesti-los como
Artesãos, Guardiões, Racionais ou Idealistas.
Os mitos, as narrativas, com seus enredos encantados é que dão vida a estes
personagens.

130
Temperamentos e personalidades não são a mesma coisa.

Vejamos o clássico “Star Trek”. Alguns


descrevem o temperamento do capitão T.
James Kirk como Intuitivo (N), Spock como
Pensamento (T), Magro, o nosso Dr. McCoy,
como Sentimento (F), e o engenheiro (Scottie)
como Sensação (S). Já a personalidade de Kirk
é Artesão (SP), Spock é Racional (NT), McCoy
é Idealista (NF), e Scottie é Guardião (SJ).

O mesmo padrão se repete nas quatro


mulheres em "Sex and the City". Carrie, a
escritora NF é idealista, romântica, Samantha, a
oportunista SP, artesã; Miranda, a advogada NT
corporativa que é feminista e tem problemas em
mostrar seus sentimentos, racional e Charlotte, a
especialista em arte SJ que anseia por de uma
casa com a tradicional lareira. Guardiã.

Da mesma forma, o Senhor Fantástico é Racional, o Coisa, um Guardião; o


Tocha, um Artesão e a Mulher Invisível, uma idealista.

Estes não são os tipos. Estes são estereótipos coletivos, empregados para
definir personagens. Pessoas reais são mais complexas, trocam de persona como

131
quem troca de roupa. O show funciona porque reconhecemos a origem arquetípica
dos enredos e dos personagens que povoam os diferentes ambientes.
Gandalf, um Racional, convive com Samwise Gamgee, Guardião, protetor de
Frodo, Idealista. Podemos falar de um tipo “elfo” (T) ou “hobbit” (S). A Terra Média é
habitada, também, por humanos (F) e Magos (N).
Na vida real podemos imaginar Stravinsky, Marta Grahan e Picasso, como
Artesãos. Gandhi seria um Guardião. Freud um bom exemplo de Racional, ao
contrário de Jung, Einstein e T. S. Eliot, que seriam Idealistas.
Agora, creio, já podemos trocar o chapéu seletor de Hogwarts pela argúcia do
leitor em reconhecer tipos.
Corvinal foi fundada por Rowena Ravenclaw (Garra de Corvo). De acordo
com Rowling, a Corvinal representa o elemento ar. Poucos membros dessa casa
são citados nos livros de Harry Potter. Uma das virtudes mais prezadas por
Rowena era a inteligência (T). Os membros da Corvinal são inteligentes,
perspicazes e gentis, ainda que misteriosos. Possuem uma grande sede de
conhecimento e pensam rápido na hora de dizer algo gracioso. Se você é um
Racional, esta é a sua casa. Curiosamente, o símbolo da casa é a águia e não o
Corvo.
"Quem sabe será a velha e sábia Corvinal
A Casa dos que tem a mente sempre alerta
Onde os homens de grande espírito e saber
“Sempre encontrarão companheiros seus iguais”

Lufa-Lufa (Hufflepuff) foi fundada por Helga Hufflepuff (acho ela muito
parecida com Maria de Montesori) e preza os que trabalham muito, são pacientes,
amigos leais e justos. De acordo com Rowling, a Lufa-Lufa corresponde a um dos
quatro elementos, a terra. Lufa-lufa é muito unida à Grifinória, embora todos sejam
de tamanha bondade e ajudem todas as casas. São bastante conhecidos por sua
imensa gentileza. Se você é um Guardião, esta é a sua casa.
"A Meiga Hufflepuff das planícies"
"Para Hufflepuff, os aplicados eram Os merecedores de admissão;"
"Quem sabe é na Lufa-Lufa que você vai morar,
Onde seus moradores são justos e leais
Pacientes, sinceros, sem medo da dor."
"Disse Hufflepuff: 'Ensinarei a todos, E os tratarei como iguais.'"
"A boa Hufflepuff acolheu os que restaram."
"Os alunos da casa Hufflepuff, não se importam apenas com si mesmo, gostam de ajudar, são muito
inteligentes e gostam de aprender, e sempre são unidos".

132
Grifinória foi fundada por Godric Gryffindor, um homem de muita bravura e
coragem. De acordo com J.K Rowling, a Grifinória corresponde ao elemento fogo,
que talvez seja a razão de suas cores. Se você é um Idealista, esta é a sua casa.
Se você é um Artesão, Sonserina (Slytherin) é a sua casa, fundada por
Salazar Slytherin. Os Slytherin costumam (a maioria, não todos) orgulhar-se da
"raça", são astutos e têm um enorme desejo de poder. De acordo com Rowling, os
Slytherin representam o elemento água. Até o Mago Merlin pertenceu a esta casa.
A principal característica dos membros dessa casa é a perseverança e a
ambição: são capazes de usar quaisquer métodos para atingir seus objetivos, sendo
estes bons ou ruins. Se deles for exigida a coragem, a sabedoria ou a lealdade para
alcançarem o fim que desejam, as terão.

Rowling afirma que o personagem Harry Potter foi inspirado em sua própria
vida. Seria uma espécie de autobiografia.

133
Quando interpretamos um mito, um conto de fadas, cada personagem é uma
subpersonalidade oculta que deseja se manifestar. A esquizoanálise defende que o
self não é algo, mas o todo em harmonia, imanência e transcendência.
Fernando Pessoa nos diz a mesma coisa, nos versos de Álvaro de Campos,
seu heterônimo mais atribulado.
"Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora."

Chico Anísio é o nosso mestre maior na composição de personagens. Um


analista Junguiano diria que o ator era possuído por uma subpersonalidade ao
representa-los. Gostaria de ter feito exames de tomografia cerebral para verificar se
seriam cérebros diferentes, como acontece na clínica médica nos casos de múltiplas
personalidades.

134
Jô Soares e Eliezer Mota são exemplos de transformação quando
abandonam suas personalidades sérias e incorporam o Capitão Gay, protetor das
minorias e seu fiel assistente, Carlos Suely. Neste caso, aparentemente, o que
temos é uma paródia bem humorada para os personagens dos quadrinhos e, mais
recentemente, do cinema, Batman e Robin.

Os personagens de Maurício de Souza foram literalmente paridos pelo autor.


São inspirados nos seus filhos e amigos dos seus filhos.

O Designer Arquetípico, como um mago poderoso, um alquimista em busca


da pedra filosofal, quer dar vida para os objetos que cria. Pretende criar produtos,
tangíveis ou intangíveis, que possuam uma alma, que transcendam ao funcional e
ao estético.

135
Capítulo 12
As Marcas, o Marketing e o Branding Arquetípicos
Todos os objetos, desde que se libere o seu sentido simbólico, tornam-se
signos de um intenso drama. Tornam-se espelhos aumentadores de sensibilidade!
Nada mais no universo é indiferente, desde que se conceda a cada coisa a sua
profundeza. (Bachelard, 1994, p. 36)

Nossa concepção do homem está começando a mudar. Até agora nós o


temos visto em uma perspectiva histórica ou horizontal, encaixado no seu grupo, em
sua época, em seu cânone cultural e determinado pela sua posição no mundo que
existe, em sua época particular.
Há uma verdade nessa visão, sem dúvida. No entanto, hoje, nós estamos
começando a ver o homem em uma nova perspectiva—verticalmente—em sua
relação com o absoluto (Eric Neumann, 1951, Eranos).
Para o design e os projetos que tomam os arquétipos como base, cada
pessoa é uma multidão. Os arquétipos estão ligados a algumas necessidades
humanas, conforme o quadro X.1.

Arquétipos Necessidades
Criador, prestativo e governante Estabilidade e controle

Bobo da Corte, Cara Comum e Amante Pertença e prazer

Herói, Fora-da-lei e Mago Risco e maestria

Inocente, Explorador e Sábio Independência e satisfação

Quadro XII.1: Arquétipos e as quatro necessidades humanas básicas


Fonte: (MARK; PEARSON, 2003)

Considera-se também a possibilidade de união entre os arquétipos, criando


novas formas de sensações e experiências. Algumas marcas como a Nike (Deusa
da vitória. Era capaz de correr e voar em grande velocidade. Atenas Niké seria
Atenas vitoriosa. Em Roma era conhecida como Vitória) possuem um tipo mais puro
de arquétipo. Outras apresentam novas figuras, resultados da união entre duas ou
mais formas elementares.

136
Há exemplos de marcas que possuem em sua essência arquétipos bem
definidos, como por exemplo, a Coca-Cola, que busca a imagem do arquétipo do
inocente através de situações infantis e doces. Já a Harley Davidson possui o
arquétipo do fora da lei, que desafia e quebra barreiras.
Uma marca bem construída tem sua essência arquetípica. Cabe ao marketing
transmitir a imagem que usamos para vestir este(s) arquétipo(s) de modo consciente
com o intuito de alcançar determinado público.
Para Tomiya (2010), marca é essência, é uma descoberta de quem se é. O
autor cita empresas como IBM e Apple, que ao longo de sua trajetória tiveram que
buscar estratégias de recuperação voltadas para a redescoberta da sua identidade
essencial, pois estavam envolvidas em crises mercadológicas.
Os estudos dos arquétipos se orientam pelas características expressivas
essenciais dos seres humanos, para a busca dos seres básicos, intrínsecos a todas
as culturas. Para Mark e Pearson (2003), marca é um conjunto de características
funcionais, significados e valores.
O objetivo do design, que antes era ligado apenas à criação de um produto,
serviço e outros elementos de comunicação, agora está voltado ao desenvolvimento
de experiências, ao processo de relações e interações. Não se compra uma marca
pela qualidade do produto, mas pela experiência que ele proporcionará (PETERS,
2005).
Mark e Pearson (2003) dizem que o primeiro passo exige que entremos no
papel de biógrafo da marca, resgatando tanto o lado racional (história documentada)
quanto o emocional (folclore da marca), fazendo perguntas como:
• Quem criou e por quê?
• O que estava acontecendo na cultura como um todo na época em que a
marca foi criada?
• Como a marca se posicionou no início?
• Qual foi a melhor ou mais memorável comunicação já criada para a marca?
• Como os consumidores vêm se relacionando com a marca ao longo dos
anos?
• Como eles se relacionam hoje com a marca?
• Qual é o fator que faz a marca se destacar da concorrência?

137
Estética é a ciência que estuda o que nos afeta. Assim como as marcas,
produtos também podem contar histórias que falam das vivências e experiências
que tivemos com os objetos. Chamamos isso de Memória Afetiva, a partir da qual
relembramos os momentos importantes na vida.
O marketing e o design pretendem, também, contar histórias, desta vez
propositalmente. Histórias capazes de evidenciar aspectos de um serviço, produto
ou experiência, de modo a constelar arquétipos dominantes pra uma pessoa, um
grupo, uma cultura ou uma época.
Steve Jobs e Steve Wozniak criaram a Apple em 1976 visando o lucro, mas
com uma premissa mais revolucionária e mais voltada ao “lado humano do
computador” ao construir um computador pessoal acessível a todos e com uma
interface mais amigável ao usuário.
Assim como os mitos são histórias contadas através dos arquétipos, os
serviços, produtos e experiências contam histórias que podem ser conscientes ou
inconscientes.
Um determinado produto de uso de segurança residencial, como um cofre,
por exemplo, pode ter o objetivo de representar resistência, coragem, força e
confiança. Todas estas são características pertencentes ao arquétipo do Guerreiro.
Porém, um produto onde a segurança tenha uma conotação diferente, referente à
proteção e ao cuidado, como um berço infantil, estaria de acordo com a
personalidade do arquétipo Materno, ou seja, do Caridoso. O ideal do Caridoso é um
pai ou mãe extremosos e perfeitos, bons e carinhosos (Brusque, Edmar, 2011)61.
Um esportista pode ter preferência com o conceito do Guerreiro, que luta pela
vitória; já um escritor pode se identificar com o arquétipo do sábio, que possui
conhecimento sobre as coisas. Por outro lado, uma criança muito jovem, ou um
bebê, pode interagir melhor com produtos relacionados com o arquétipo do inocente,
onde confia e acredita na proteção (ibidem).
Acreditamos que as pessoas se identificam e consequentemente preferem
produtos e marcas que representam os arquétipos mais fortes no momento atual de
suas vidas.
Cinema com pipoca.

61
“Design emocional. Um estudo de caso com base na Psicologia Junguiana”. Trabalho de Conclusão do
Especialização em Design Emocional da PUCPR, 2011

138
A ótica da psicologia junguiana sugere que há uma seqüência através dos
arquétipos que reflete a jornada de todos nós. Este trajeto ilustra como temos
pensamentos diferentes sobre as coisas no decorrer nas fases da vida dependendo
dos arquétipos mais presentes (ibidem).
Steve Jobs, em sua biografia, disse: “Quer dizer, Picasso tinha um ditado que
afirmava: ‘artistas bons copiam, grandes artistas roubam’. E nós nunca sentimos
vergonha de roubar grandes ideias”. Parece que estou ouvindo Hermes, um deus
sonso e ladrão na poesia de Chico Buarque e Edu Lobo, o próprio arquétipo do
Ladrão Criador.
Como passamos por diversas fases de acordo com jornada arquetípica e as
etapas são bastante diferentes, as necessidades também têm características
particulares de acordo com os arquétipos, possuindo desejos e aspirações de
acordo (ver Figura X.2).
As decisões e escolhas sempre envolvem a emoção (em primeiro lugar) e
depois a cognição (razão). Danos nas regiões do cérebro associadas às emoções
nos tornam incapazes das decisões mais elementares. A maior intensidade de
cognição e emoção nas escolhas que fazemos depende do tipo de serviço, produto
ou experiência em questão, das preferências pessoais, da afinidade com as coisas e
do momento.
Um tipo Pensamento pode agir por impulso (TP), mas esse parece ser um
comportamento algo mais frequente em um tipo Sentimento (SP).
O objetivo de desenvolver uma marca e administrá-la a partir da utliização dos
estudos de arquétipos não é desenvolver um significado passageiro para uma
campanha, mas criar e manter uma expressão mais duradoura de uma identidade,
providada de significado, e expressá-lo através de uma marca gráfica, que
funcionaria como um sintetizador visual desse sistema de significados. Assim,
através da psicologia arquetípica compreender, ajustar, administrar e classificar
categorias de produtos, empresas e serviços, através do desenvolvimento de valor
para identidades e marcas, motivando experiências emocionais nos consumidores
(MARK; PEARSON, 2003).
O segundo passo, após o estudo mito hermenêutico, segundo Mark e
Pearson (2003) é buscar a substância da marca: Nessa etapa é necessário analisar
a verdade sobre o produto ou serviço, verdade física e contemporânea, se a relação
com o consumidor é de fato o que diz ser:

139
• O papel da marca é funcional ou ele expressa algum valor para seus
usuários?
• A marca faz parte de uma categoria de produtos com alto envolvimento ou
com baixo envolvimento?
• O uso da marca é ocasional ou rotineiro?
• Qual é o nível de fidelidade dos consumidores à marca?

Niemeyer (2002) pretende que é necessário identificar o valor, atributos e


mensagem de uma marca, para compreender como ela se comporta e se distingue
de outras no mercado.
Em um primeiro momento, as marcas eram construídas sobre as diferenças
que os produtos apresentavam entre si. Hoje, com o desenvolvimento dos sistemas
de produção e distribuição, além da sua acessibilidade às empresas, os produtos
podem ser imitados ou reproduzidos.
Para diferenciar os produtos, duas opções foram estabelecidas: reduzir os
preços ou dar significado aos produtos. Assim, o significado de um produto, e de sua
marca, agora é considerado como ativos (MARK; PEARSON, 2003).
O terceiro passo na construção da identidade de uma marca consiste em
encontrar a alavancagem competitiva (Ibidem): Nessa etapa é necessário analisar o
ambiente competitivo em termos de significado arquetípico:
• Algumas marcas entraram em território arquetípico? Se isso ocorreu, quais
arquétipos? Algumas outras marcas se relacionam claramente com o
arquétipo mais adequado para a sua marca?
• Como seus concorrentes estão apoiando os próprios arquétipos e se
mostrando a altura deles?
• Em qual nível seus concorrentes estão expressando o arquétipo? Existe
alguma oportunidade de passar para um nível mais profundo, relevante ou
mais diferenciado?
• Na sua categoria, há algum concorrente expressando o mesmo arquétipo que
você, ou os seus dois arquétipos? Existe alguma oportunidade para um
arquétipo realmente novo na categoria?
Um caminho de sucesso para uma marca que busca sua identidade
arquetípica é imaginar o confronto desta com o arquétipo da marca dominante na
categoria.

140
A American Marketing Association (2012) define o termo marca como “um
nome, termo, desenho, símbolo ou qualquer outro que identifique os produtos de
uma organização ou serviço, distintos de outras”.
Para Tybout e Calkins (2006), uma marca é um conjunto de associações
vinculadas a um nome, sinal ou símbolo, relacionadas a um produto ou serviço. A
diferença entre um nome e uma marca é que um nome não tem associações; é
simplesmente um nome. Uma marca é bem parecida com a reputação.
O quarto passo consiste em “Conhecer os seu consumidor”. Esse último
estágio é importante para garantir que o arquétipo será significativo para o cliente-
alvo.
O quinto passo é “administrar a Marca”.
Ainda sobre a definição de marca, Perez (2007, p. 138-167), coloca:
A marca como conceito mercadológico refere-se a um termo, sinal,
ou a combinação destes, que tem por objetivo distinguir uma oferta
de outras. Na perspectiva legal, marca é um sinal de identidade que
tem por objetivo distinguir uma empresa ou produto da concorrência.
Tanto em uma direção, a do marketing como em outra, a do direito, a
marca incorpora características de identidade e representação e
nesse sentido, a marca é um signo. Remetendo à noção peirceana
de signo, “alguma coisa que representa algo para alguém”. A marca
representa um objeto: empresa, produto, ideia, serviço... para
alguém: consumidor real ou potencial e todos os públicos intérpretes
deste signo

A marca gráfica é o elemento que sintetiza a identidade visual de uma


empresa, dentro de um contexto simbólico e expressivo. Ela sintetiza os valores
daquela, expressando o conjunto de memórias, impressões, sentimentos e ideias,
que qualificam os valores intangíveis (SILVA, et. al., 2010). Deve ser gerenciada
através de estratégias de branding.
Como conceituação etimológica, o termo Brand – que deriva de branding – é
oriundo de uma raiz germânica ou escandinava, cujo significado é “marcar com
fogo”. Podemos falar de marca quando, literalmente, se marca um animal ou uma
adega de vinhos para identificar seu proprietário, mas também utilizamos este termo
em sentido figurado quando falamos dos atributos de um produto que deixam uma
sensação duradoura na mente do consumidor. (HEALEY, 2009)
141
A percepção do público interno sobre si mesmo e sobre a organização é
denominada como identidade. Para Kapferer (2004), ela é aquilo que os emissores
da marca conceituam de si mesmos.
Bernstein (1984) conceitua identidade visual como sendo o conjunto de
elementos gráfico-visuais, pelo qual o público reconhece a marca e a diferencia das
demais. O valor dela deve ser validado e informado para públicos internos e
externos.
Para que a comunicação seja efetivada, elementos gráficos são criados, e
dispostos de forma a desenvolver uma comunicação coerente entre o que se pensa
de si mesmo e de que forma isso é refletido externamente.
Costuma-se assim desenvolver o pensamento sobre a comunicação de uma
marca de duas formas: características tangíveis e intangíveis, a partir da qual se
desenvolvem as estratégias de gestão de marca, dentro do processo de branding. A
identidade da marca é, assim, desenvolvida como parte das características
intangíveis, e deve ser refletida na parte tangível e percebida através de elementos
gráfico-visuais.
Assim, a identidade visual da marca é o principal produto do design no
contexto do branding.
O branding e a gestão da marca são desenvolvidos também dentro de
estratégias de marketing.
Como estratégia de branding, dentro do contexto do desenvolvimento das
identidades visuais, o estudo dos arquétipos é uma importante ferramenta, pois pode
ajudar a estabelecer parâmetros de desenvolvimento da marca, e de sua
comunicação visual.
Através de promessas e significados, os emissores e receptores de uma
marca podem estabelecer relações com os produtos do design (HEALEY, 2009).
O marketing, para Niemeyer (2002) é definido como “qualquer atividade cujo
objetivo é criar ou satisfazer a demanda por um produto ou serviço”.
Temos o “Marketing de Estilo de Vida” e o “Marketing Arquetípico”: O primeiro
trabalha com a ideia de mostrar como é seu cliente, enquanto o segundo prefere
usar os anseios das pessoas, o que ela gostaria de ser, e não o que é. A Apple faz
uso do marketing arquetípico ao provocar em seu potencial consumidor, o desejo de
ter o aparelho, focando na pessoa que ele será após obter seu produto.

142
Usar o fator “o que você poderá ser” é mais poderoso no marketing do que “o
que você é”, pois desperta impulsos adormecidos, justamente os que levam ao
consumo.
Atualmente as empresas se diferenciam por seus valores, e, de acordo com o
quadro XII.2, vivenciamos a era 3.0 do marketing (KOTLER, KARTAJAYA e
SETIAWAN, 2010).

Marketing 1.0 Marketing Marketing


Marketing centrado no 2.0 Marketing voltado 3.0 Marketing voltado
produto para o consumidor para os valores

Objetivo vender produtos satisfazer e reter os fazer do mundo um


consumidores lugar melhor

forças propulsoras Revolução Industrial Tecnologia da Nova onde de


informação tecnologia

Como as empresas Compradores de massa, Consumidor inteligente, Ser humano pleno, com
veem o mercado com necessidades dotado de coração e coração, mente e
físicas mente espírito

Conceito de marketing Desenvolvimento de Diferenciação Valores


produto

Diretrizes de marketing Especificação do Posicionamento do Missão, visão e valores


da empresa produto produto e da empresa da empresa

Proposição de valor Funcional Funcional e emocional Funcional, emocional e


espiritual

Interação com Transação do tipo um- Relacionamento um- Colaboração um-para-


consumidores para-um para-um muitos

Quadro XII.2: Comparação entre marketing 1.0, 2.0 e 3.0


Fonte: Kotler et al., 2010.

O primeiro passo para uma compra é a identificação. Uma vez que um


consumidor interaja com um produto ocorre primeiro uma sensação. Depois vem a
compreensão, o que extrapola os limites de uma interação convencional. O que se
pretende é que a identificação manifestada entre produto e usuário fortaleça a
relação entre os mesmos, em diferentes níveis de percepção e interatividade.
Tanto o Marketing 2.0 como o 3.0 demandam por uma reflexão quanto aos
arquétipos constelados dos eventuais consumidores (2.0) como das sociedades e
culturas com as quais interage e busca transformar.

143
Para se relacionar com uma marca, é necessário que um processo de
identificação seja criado, dentro de uma estratégia de branding. Para Mark e
Pearson (2003): “um produto com identidade arquetípica fala diretamente à matriz
psíquica profunda dentro do consumidor, ativando um senso de reconhecimento e
significado”.
Sobre arquétipos e incosciente coletivo, Silva (2002), no livro “O Mito em
Ernst Cassirer e Carl Gustav Jung”, reforça que “chamam-se arquétipos a certos
tipos originais de representações simbólicas que estão contidas nele e que, por
consequência, se econtram de modo semelhante, com o mesmo valor afetivo, em
povos de diferentes raças, afastados, que não puderam ter influência histórica uns
sobre os outros, e mesmo em indivíduos isolados.”
O mesmo Silva (2002), citando Lalande (1993), ainda coloca: “Os arquétipos,
segundo C. G. JUNG, são, no plano das estruturas mentais e das representações,
os corolários dinâmicos daquilo que são os instintos no plano biológico, modelos de
ação e de comportamento. O arquétipo é, de algum modo, a ‘Gestalt’, o aspecto, a
forma e a imagem do instinto. Antes de empregar a palavra arquétipo, Jung
designava-os como sendo ‘os dominantes do incosciente coletivo’”.
A administração do significado de uma marca pode ser executada a partir do
gerenciamento de arquétipos (MARK; PEARSON, 2003). Dessa maneira, uma
marca bem definida dentro de um arquétipo desenvolverá maior poder de alcance e
relacionamento junto a seu público-alvo.
As marcas que capturam o significado essencial de sua categoria dominam o
mercado. As melhores marcas arquetípicas são, em primeiro lugar, produtos
arquetípicos, criados para atender e incorporar necessidades humanas
fundamentais. (MARK; PEARSON, 2003)
Ou seja, o que se busca, no desenvolvimento de produtos e suas formas de
comunicação, é algo que seja inerente às pessoas, que pertença à maioria dos
mundos possíveis. Ainda assim, os arquétipos auxiliam na determinação de como
esses produtos podem “convencer” os consumidores através de sua comunicação.
Um produto ou serviço de uma marca com um arquétipo bem definido sustentará
uma vantagem de alcance e relacionamento junto ao consumidor.
Randazzo (1993), que se utiliza da construção de arquétipos para a
construção de marcas, traz a percepção de que a construção psíquica de uma
marca é ferramenta fundamental.

144
Uma marca existe num espaço psicológico, na mente do consumidor. É uma
entidade perceptual, com um conteúdo psíquico definido, que é maleável e
dinâmico.
A publicidade é o meio que nos permite ter acesso à mente do consumidor,
criar um inventário perceptual de imagens, símbolos e sensações que passam a
definir a entidade perceptual que chamamos de marca.
Dentro desse espaço perceptual da marca, podemos criar mundos sedutores
e personagens míticos que, graças à publicidade, ficam associados ao produto e
que finalmente passam a definir nossa marca. (RANDAZZO, 1993, p. 27)

145
Capítulo 13
Liderança Arquetípica

No modelo de homem em Jung todos nós temos, dentro de nossos


inconscientes pessoal e coletivo, os mais diferentes tipos de líderes.
“O Inconsciente Coletivo é uma espécie de memória universal compartilhada
de significância para símbolos, imagens e referências que Jung chamou de
arquétipos. Dentro do Inconsciente Coletivo existem então as estruturas psíquicas
dos arquétipos que são formas sem conteúdo próprio que servem para organizar ou
canalizar o material psicológico”. “Jung os chamava de imagens primordiais porque
eles sempre se correspondem a temas mitológicos e por serem encontrados nas
fantasias de diversas pessoas. Os símbolos representam os arquétipos. O símbolo
funciona como um indício de um conteúdo ao qual se refere” (PRESTUPA, Adriana
N. Lacerda, 2008).
Por muito tempo na história da humanidade acreditou-se que líderes eram
natos, ou seja, nasciam com características e comportamentos específicos que lhes
tornavam pessoas especiais, aptas a liderar e influenciar pessoas. Diversos estudos
emergiram a partir desta crença derivando em teorias como a dos Grandes Homens
e a dos Traços (Northouse P. G., 2003; Yukl, 1998).
Day (2001) indica que o desenvolvimento de liderança é mais amplo que o
desenvolvimento do líder. Enquanto este está focado no auto entendimento e na
construção da identidade pessoal, aquele é mais amplo e requer, sobretudo, o
desenvolvimento de competências interpessoais (Day, 2001).
Liderança é um processo dinâmico e complexo (Uhl-Bien, Marion, &
McKelvey, 2007), que deve estar baseado em valores e princípios pessoais e
coletivos (Magliocca & Christakis, 2001; Petersen, 2007), para conduzir as
mudanças sociais e organizacionais necessárias para o desenvolvimento
sustentável voltado ao bem comum (Cohen, 2008; Hargreaves, 2007; Mendis, 2006).
A Psicologia Profunda entende que os diferentes padrões encontrados na
literatura refletem os modelos mentais de uma maioria hegemônica e correspondem
às imagens arquetípicas mais comuns que associamos aos diferentes tipos de
lideranças.

146
Como apresentado na Tabela XIII.1, a liderança transformacional
(Transformational Leadership), proposta inicialmente por Burns (Leadership, 1978) e
aprofundada posteriormente por Bass e Avolio (1994), é a teoria que apresenta a
maior presença entre os trabalhos contemporâneos. Trata-se, de fato, de uma teoria
que tem embasado a maioria dos trabalhos sobre liderança, desde meados da
última década do século XX.

Covert Leadership Mintzberg, 1998


Entrepreneurial Leadership Hansson & Monsted, 2008
Implicit Leadership Theory Sarker, Sarker, & Schneider, 2009
Retention Leadership Taylor, 2004
Shared Leadership Bligh, Pearce, & Kohles, 2006; Ensley,
Hmieleski, & Pearce, 2006
Sustainable Leadership Hargreaves, 2007
Thought Leadership McCrimmon, 2005
Transformational Leadesrship Chang & Lee, 2007; Garcia-Morales,
Llorens-Montes, & Verdu-Jover, 2008;
Pirola-Merlo, Hartel, Mann, & Hirst, 2002
Transforming Leadership Magliocca & Christakis, 2001
Value-based Leadership Petersen, 2007
Não vincula Alvesson & Sveningsson, 2003; Carmeli
& Waldman, 2009; Cohen, 2008; Jong &
Hartog, 2007; Mendis, 2006
Tabela XIII.1 Estudos recentes sobre Liderança

Em seu livro “Rei, Guerreiro, Mago, Amante”, os analistas junguianos Robert


Moore e Douglas Gillette (1993) apresentam os arquétipos do Rei, do Mago das
Tecnologias62, do Guerreiro e do Amante, em uma relação dinâmica, constituindo
estruturas profundas da psique do homem maduro.

62
Usarei Mago das Tecnologias para diferenciar do Mago Mágico de Carol Pearson. O Mago de Moore e Gillete
é mais cientista do que bruxo. Ele lidera por ser o especialista em sua área, o que lhe confere autoridade. Seria
algo entre o Sábio e o Mago de Pearson.

147
A Liderança Trasformacional corresponde, sem dúvida, ao Líder Rei que, com
seu carisma pode, de fato, transformar o mundo. Termos como Liderança
Sustentável, Liderança Espiritual, Liderança Servidora, e outras, seguem o mesmo
padrão arquetípico.
Em geral, os autores criticam a liderança a partir de um cargo ou posição
(McCrimmon, 2005) e defendem que a sociedade do conhecimento prescinde muito
mais de grupos autogerenciáveis do que de estruturas hierárquicas, pois a solução
para problemas complexos advêm de grupos auto-organizados sem a necessidade
de gestão ou direção (Mintzberg, 1998; Petersen, 2007)
Um desafio para os estudiosos de hoje é como acomodar os conhecimentos
acumulados para um mundo em que o elemento era o ser humano para esta nova
humanidade que privilegia o trabalho em equipe, times de alto desempenho, em que
a liderança como em um “voo de gansos” flui, o tempo todo, de um participante do
grupo para outro.
O estudo quantitativo realizado por Ensley, Hmieleski e Pearce (2006) fornece
algum indicativo sobre a questão. Eles compararam a liderança vertical e a liderança
compartilhada para trabalhadores envolvidos na criação de novos empreendimentos.
Para eles, estes trabalhadores obtêm melhores resultados quando atuam em grupos
não centralizados. Mas fazem uma ressalva de que a liderança vertical pode ser
importante nos estágios de pré-formação do empreendimento.
De fato, para transitar entre velhos e novos paradigmas, a mediação é
necessária. Talvez um Líder Rei, ou mesmo Guerreiro seja necessário para liberar o
Líder que existe dentro de cada um de nós e que, por tanto tempo, foi soterrado sob
as montanhas da acomodação.
Um dos focos fundamentais da liderança compartilhada é o engajamento e o
empoderamento da equipe em torno dos valores e dos objetivos organizacionais
(Pearce, 2003). O modelo de liderança compartilhada vem sendo muito utilizado e
discutido nos trabalhos que envolvem as organizações do conhecimento.
A era pós-industrial exige que a liderança tenha seu foco baseado nos
aspectos relacionais e coletivos, enfatizando as relações laterais e as redes de
conhecimento nas organizações, em detrimentos das relações hierárquicas
(Hansson & Monsted, 2008; Magliocca & Christakis, 2001). O mito de um líder com
controle total sobre as atividades deve ser deixado para trás (Mintzberg, 1998).

148
Uhl-Bien, Marion e McKelvey (2007) apresentam uma proposta para abordar
ou estudar os temas gestão e liderança de forma equilibrada e no contexto de uma
única teoria. Para isto eles propõem dois níveis de liderança: a liderança
administrativa e a liderança adaptativa.
A primeira está focada nas funções burocráticas, dando, aos líderes, papéis
gerenciais de tomada de decisão, planejamento e coordenação. Já a segunda trata
das dinâmicas de interação e emergência que produzem os resultados adaptativos
em um sistema social. Neste caso, a liderança adaptativa não seria uma ação de um
indivíduo, mas uma dinâmica de agentes interdependentes capazes de gerar
mudanças no sistema social.
Entre as qualidades pessoais do líder para angariar respeito em equipes de
conhecimento estão o conhecimento, o carisma, a segurança, energia, entusiasmo,
empatia, valores e autenticidade mesmo em situações e ambientes desafiadores
(Cohen, 2008; Hansson & Monsted, 2008). Taylor (2004) menciona em seu trabalho,
uma pesquisa realizada por uma empresa de consultoria em desenvolvimento de
talentos, com mais de 40.000 trabalhadores, na qual se constatou que os
trabalhadores desejam que o líder seja confiável, justo e tenham carinho e respeito
por eles. Sarker, Sarker e Schneider (2009) alertam, porém, que os atributos
valorizados variam entre diferentes culturas.
Parece que os trabalhadores estejam pedindo ou um Líder Amante, sedutor
irresistível, ou um Líder Rei, que os possa proteger como um pai protege aos seus
filhos.
Henry Ford já dizia. Se eu perguntasse aos meus consumidores o que eles
queriam, teriam me respondido: Um cavalo mais rápido.
O que os trabalhadores estão pedindo não é aquilo que eles precisam. Como
professor, dez anos atrás, eu formava trabalhadores. Hoje formamos
empreendedores.
Liderança é um elemento que envolve relações sociais de mútua influência,
seja no compartilhamento de concepções e visão de mundo, ou na simples
execução de uma tarefa (Yukl, 1998). Desta forma, aspectos culturais, políticos e
relacionados ao poder, que são inerentes aos processos sociais, deveriam ser
tratados e estar no centro das discussões sobre liderança. Não é, entretanto, o que
se observa.

149
A liderança baseada em valores é um elemento fundamental para preservar e
promover a motivação e a responsabilidade e pode contribuir de forma efetiva para o
comprometimento e o comportamento responsável dos trabalhadores do
conhecimento (Alvesson & Sveningsson, 2003; Petersen, 2007).
A Tabela XIII.2 apresenta as características da liderança segundo diferentes
autores. Observem a redundância do “quatro”. Este padrão é, na verdade um
Arquétipo de Arquétipos, um Atrator de Atratores.

Autor Características de Lideranças


Moore & Gillette Rei Guerreiro Amante Mago das
Tecnologias
Reddin Separado Dedicado Relacionado Integrado
Keith & Newstrom Colegiado Autocrático Protetor De Apoio
Jung Intuição Sensação Sentimento Pensamento
Maslow Auto realização Segurança Social Reconhecimento
(necessidade)
Weber Ação dirigida Ação Ação afetiva Ação Racional
aos fins tradicional
Pearce et al (2000), Liderança Liderança Liderança Liderança
citado pou Liu, autorizada ou diretiva Transacional Transformacional
Lepak, Takeuchi e delegada
Sims Jr. (2003
Características Liberdade, Capacidade Facilidade no trato Visão de futuro,
comuns entre os habilidade com de execução, humano, aprendizado
tipos encontrados o poder, objetividade, valorização dos sistêmico, teórico,
autoconfiança, concentração, sentimentos e abertura a
justiça imparcial praticidade valores, busca da novidades
harmonia, empatia

Tabela XIII.2 Tabela construída por Micheline Krause63 com base nos conceitos de
Moore e Gillette (1993)
O “Líder Rei” é aquele que recebe o poder diretamente das mãos de alguma
divindade. A imagem do rei é de uma pessoa que nasceu no poder, Geralmente é o
proprietário de uma organização, o espírito que anima o negócio, a razão de existir
de um investimento. Impressiona e lidera aonde chega, sem necessidade de se
impor (Moore; Gillette, 1993).

150
Ainda, segundo os autores, pode-se afirmar que o rei é um arquétipo
simbolizado pelo líder que promove, concede audiências, premia e homenageia (por
justiça).
As características de personalidade do Líder Rei são: sensatez,
racionalidade, franqueza, paciência com os defeitos alheios, tranquilidade,
crescimento, integridade e calma. Seu caráter é racional e não emocional. Aceita
“exigências adversas” contrárias para atingir o fim almejado.
O imagem do Líder Guerreiro é de alguem altamente capaz, objetivo e rápido.
A eficácia é sua característica principal. O líder que se identifica com este arquétipo
tem as seguintes características: clareza de pensamento, precisão, força e
habilidade sempre alerta. É alguém que “veste a camisa”, leal, capaz de recuar e
contornar se isto for necessário, exibindo um distanciamento emocional dos
problemas e da vida.
O Líder Amante apresenta a imagem de uma pessoa muito simpática,
popular, sorridente e afável; que irradia confiança, tranquilidade e harmonia. Sua
característica diferenciadora é o entusiasmo e a paixão, apresentando grande
sensibilidade ao meio externo, criatividade, descontração e alegria. O Amante sente
a dor alheia e tem dificuldades em se decidir, pois teme desagradar alguém. É ele
que detém o poder de fato, na maioria das vezes, podendo liderar greves em prol do
interesse de sua classe.
Seu tipo de ação é a Afetiva (essencialmente emocional), caracterizada por
afetos ou estados emocionais momentâneos.
O Líder Mago das Tecnologias é o mestre da arte do uso dessa tecnologia, o
ancião do ritual de passagem e sua tarefa é iniciar os outros. Aquele que vê em
profundidade e percebe a falsidade. Possui ideias equilibradas e sensatas com
golpes contundentes de lógica. É alguém que tem um conhecimento acima da
média. Como subalterno cria dificuldades para seus superiores não qualificados
devido à sua grande capacidade intelectual.
Necessita de liberdade de tempo e de espaço, cria, organiza e programa com
maestria. Na empresa, é conhecido por sua eficiência. É o melhor administrador e
conservador dos negócios da empresa. Prefere trabalhar com o coletivo.

Para a disciplina “Desenvolvimento Humano e Gestão!” do Programa de Pós Graduação em Engenharia e


63

Gestão do Conhecimento

151
Sua ação é do tipo Racional: estimulado pelos Valores, pela crença
consciente no valor absoluto ético, estético, religioso, independem do resultado.
Têm necessidade de reconhecimento.
Agora vejamos: O rei (diretor) tem uma ideia genial, que pode trazer mais
lucro para a empresa. O problema é que a proposta não é muito prática, então entra
em ação o guerreiro (gerente), que vai arregaçar as mangas e transformar a
inspiração em realidade, mas é preciso que o mago das tecnologias (administrador
financeiro) use seu poder de organização e libere a verba e que o amante (gerente
de RH) ajude a harmonizar o ambiente e evite que todos os outros se digladiem.
Todos nós temos um pouco de cada uma das características do Rei,
Guerreiro, Mago das Tecnologias e Amante, mas algumas sempre sobressaem.
Saber adequar cada tipo é essencial hoje no mundo corporativo. As empresas
precisam viver em harmonia interna para suportar o turbulento ambiente externo.
A convivência entre pessoas de estilos diferentes pode significar o sucesso
ou a derrota de uma empresa ou de um relacionamento. A organização é como uma
orquestra, cada qual com sua respectiva função. Se todos tocarem perfeitamente, o
som será maravilhoso, porém se um desafinar, o som não será tão maravilhoso
assim. Se trocarmos a pessoa que toca violino pelo do piano, talvez um não toque
tão bem quanto o outro ou talvez nem toque e mais uma vez o som não será tão
audível assim.
Na organização funciona da mesma maneira, se trocarmos o especialista em
RH pelo que trabalha na área Financeira, o departamento pode não ter o mesmo
desempenho se estivesse com o profissional adequado.
Existem níveis possíveis dos arquétipos se apresentarem: o nível
inconsciente, ou infantil e o consciente ou adulto (MOORE e GILLETTE, 1993).
Ao nível infantil o Guerreiro / Herói é caracterizado pelo valor, heroísmo,
coragem, destemor. Ele possui o auge das energias masculinas do menino. É
imaturo para administrar a vida adulta, mas possui independência, competência,
diferenciação, amor e brilho próprios. É capaz de sacrifícios.
Neste mesmo nível o Amante / Edipiano é caracterizado pela emoção,
profundidade e verdade interna. É simbolizado pela ternura, afeto, espiritualidade,
unidade, comunhão, amor e nutrição perfeitos e infinitos.

152
O Mago das Tecnologias / Precoce é caracterizado pela graciosidade,
equilíbrio, concentração e autoconfiança, avidez por conhecimento e desejo de
partilhá-lo. Gosto pela aventura. Pioneiro, explorador, introvertido, meditativo e adora
ajudar. É o conselheiro e orientador.
O Rei / Divino é caracterizado pelo sentimento de amor e veneração, mas ao
mesmo tempo é frágil e indefeso. Tem a necessidade de se sentir com poder sobre
as pessoas queridas.
Os Arquétipos também podem se manifestar em seu lado sombrio. O conceito
de “Sombra” foi abordado por Jung em seus estudos arquetípicos. Essa Sombra
personifica o “duplo” do indivíduo. É identificada por alguns como sendo um tipo de
alter ego recalcado e perverso (MANNION, 2004.).
De acordo com seguidores de Jung, é do confronto com a Sombra que se
conquista a personalidade ou individualidade.
As sombras personificam os tipos ou arquétipos psicológicos com menos
características em nossas vidas (o inverso da predominância). Fugimos deles,
fazemos de conta que eles não existem e, acima de tudo, os escondemos dos
outros e de nós mesmos.
As Sombras são erráticas e incoerentes nos levando a desperdiçar recursos,
energias e trabalho. Elas acabam induzindo diversos tipos de problemas para a
pessoa e seus relacionamentos. Podemos oscilar entre elas.
Vimos como os Arquétipos do Rei, do Guerreiro, do Amante e do Mago das
Tecnologias se manifestam nas crianças. Vamos ver agora, as suas sombras.
O Valentão Exibicionista (arrogância) / Covarde (Foge da briga, sente-se
invadido).
O Filhinho da Mamãe (se perdendo na visão idealizada dos pais) / Sonhador
(sensação de isolamento).
O Trapaceiro Sabichão (perito em criar aparências e enganar) / Palerma (sem
senso de humor).
O Tirano da Cadeirinha Alta (narcisista carente) / Príncipe Covarde (mimado e
sem personalidade).
Estas sombras também podem se manifestar nos adultos. Temos:
O Sádico (insensibilidade) / Masoquista (derrotado).
O Viciado (inquietação) / Impotente (depressão).

153
O Manipulador Frio (ganância) / Inocente Negador (falsa ingenuidade). Aqui
Prestupa (2008) não resiste e inclui nesta categoria os professores de pós-
graduação.
Temos, ainda, o Tirano (odeia, teme e inveja o novo) / Covarde (que esconde
o desejo de ser adorado).
Da Tabela XII.2 vimos que o Rei corresponde aos conceitos de Liderança
Autorizada ou Delegada. (idealizador). O Guerreiro é associado à Liderança diretiva:
capacidade de execução, objetividade, concentração e praticidade.
(operacionalização, vendas). O Amante tem a ver com a Liderança Transacional:
valorização dos sentimentos e valores, a busca da harmonia e empatia. (relações
Públicas, RH) e o Mago das Tecnologias (aí mais próximo ao Mago de Carol
Pearson) com a Liderança Transformacional: aprendizado sistêmico, teórico e
abertura a novidades. (consultor, gestor).
Desta forma, a profundidade da tipologia de liderança baseada em arquétipos
permite que a organização identifique potencialidades e coloque “a pessoa certa no
lugar certo” maximizando a capacidade produtiva de cada um.
Steyrer (1998) ressalta as inúmeras investigações sobre o tema Liderança,
feitas nas últimas décadas, em um esforço “… para analisar os líderes excepcionais
que têm efeitos extraordinários sobre seus seguidores tanto de um ponto de vista
teórico quanto empírico...”.
Citando Bryman (1992), Steyrer (1998) propõe uma “nova abordagem para a
liderança”, subdividida em três perspectivas de investigações distintivas entre:

• Gestão e liderança;
• Liderança transformacional e transacional;
• E uma análise do fenômeno carisma.

O autor cita Bennis e Nanus (1985); Kouzes e Posner (1987); Kotter (1988),
Burns (1978); Bass (1985), House (1977); Conger e Kanungo (1987); Kets de Vries
(1988); Conger (1989); Howell e Frost (1989); House et al. (1991); Howell e Avolio
(1992); House e Howell (1992); Shamir et al. (1993; 1994); O ' Conner et al. (1995);
Steyrer (1995); Kirkpatrick e Locke, (1996); Deluga (1997).

154
“O núcleo comum dessas abordagens frequentemente sobrepostas encontra-
se em suas visões de liderança como transmissão de valores e significados por meio
de ação exemplar, bem como pela articulação de uma visão inspiradora. O
pressuposto básico é que este tipo de liderança transforma as necessidades,
valores, preferências, desejos e aspirações dos seguidores, levando-os de seus
interesses individuais aos interesses coletivos, tornando-se, portanto, altamente
comprometidos com a missão do líder e dispostos a fazer sacrifícios no interesse da
missão” (STEYRER, J. 1998).

155
Capítulo 14
Arquétipos, Tipologias e a Criatividade
“Todos nós somos muito mais ricos do que imaginamos. Ninguém tem uma vida sem
magia, graça ou poder. Nossos recursos interiores, frequentemente inexplorados e até
mesmo desconhecidos ou não reconhecidos, são os tesouros que carregamos, o que
chamo de nosso DNA espiritual” (CAMERON)

Para Hillman o inconsciente é imaginação. De acordo com ele “As imagens


são o que a psique é... Para mim, terapia é basicamente evocar a imaginação: é
treinar, trabalhar, lutar com a imaginação. Se é para falar em cura, teria que falar em
cura da imaginação, cura da relação com a imaginação” (HILLMAN, 1989).
Para Jung, a imagem expressa conteúdos inconscientes, mas não o todo
deles, apenas aqueles que estão momentaneamente constelados. Essa constelação
é o resultado da atividade espontânea do inconsciente, por um lado, e da
momentânea situação consciente, pelo outro. A interpretação de seu significado,
portanto, não pode partir nem do consciente exclusivamente nem do inconsciente
exclusivamente, mas somente do relacionamento recíproco destes.
A emoção representa, para o conhecimento, seu contexto mais insondável,
algo como o mar aberto em torno de uma ilha de ideias bem organizadas. Ou, no
máximo, de um arquipélago.
Conhecer não é apenas percorrer terras planas e seguras. Conhecer é
também viajar por espaços delimitados pela ignorância e pelo risco do retrocesso.
“Quando me perguntam como é trabalhar com pessoas que buscam sua
criatividade, eu respondo que é como ser um garimpeiro... Através do alinhamento
com essa mina de ouro, podemos viver de um modo mais rico” (CAMERON).
Kant, Comte, Freud, Marx, todos eles acreditam no advento de uma ciência
livre de emoções. Kant denunciava as paixões como “cancros da razão pura”. Comte
falava sobre os três estágios do pensamento, o mais primitivo, habitado por mágicos
e sacerdotes e representado pela imaginação, enquanto o último era constituído de
cientistas, sábios o bastante para amordaçar a imaginação.
Freud caminha na mesma procissão e saúda o pensamento científico como o
que definitivamente abandonou as fantasias e se ajustou à realidade. Enquanto isso,
no marxismo, a ciência devora antropofagicamente sua própria mãe, a ideologia.

156
"Sou artista suficientemente para desenhar livremente com minha
imaginação. A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento
é limitado, a imaginação rodeia o mundo" (Albert Einstein).
A arte é um sistema de uso de imagens. Devemos utilizar o nosso tempo para
abastecer conscientemente a nossa imaginação. Pensemos nela como um lago,
cheio de imagens vívidas e móveis. Desejamos mantê-lo assim para que, quando
precisarmos delas, não fiquemos exauridos.
“Aprendendo pela prática a produzir arte, vivendo habilmente, exploramos a
nossa mina de ouro. O que eu chamo de “mina de ouro”, os egípcios chamavam de
“raio de ouro”. É a conexão individual, indiscutível e indestrutível com o divino”
(CAMERON).
Para Jung (1985) o impulso criativo surge do inconsciente coletivo, como uma
árvore surge do solo do qual extrai o seu alimento. O alimento do processo criativo é
arquetípico. Assim, as expressões criativas poderiam ser consideradas autênticos
símbolos.
Para sermos criativos temos de entrar em contato com a Criança Criativa ou a
Criança Divina dentro de nós. “Em todo adulto espreita uma criança – uma criança
eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita
cuidado, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana
que quer desenvolver-se e tornar-se completa” (C. G. JUNG).
Alma corresponde à nossa personalidade interna, que faz relação com os
processos psíquicos internos (inconsciente). Representa o âmago do nosso ser, a
essência mais profunda da nossa personalidade (JUNG, 1991).
James Hillman denomina “criatividade psicológica” o cultivo da alma, objetivo
maior da terapia (BERNARDI, 1995).
Keirsey chama os sensoriais perceptivos de artesãos porque esses
indivíduos, concretos e utilitaristas, agem para concretizar os seus impulsos,
semelhante ao trabalho feito no artesanato, onde o artista utiliza as mãos para dar
forma a uma imagem interna.
A conexão de Dioniso com o corpo pode ser comparada metaforicamente à
preferência que os sensoriais perceptivos têm de se comunicar com o mundo pela
função sensação, porta para a experiência sensorial. Eram os melancólicos da Idade
Média e Renascença, artistas como Albrecht Dure, Rafael Sânzio, Goto,
Michelangelo Buonarroti e tantos outros.

157
O uso da função sensação os torna pessoas concretas, muito cientes da
realidade e nunca lutando contra ela, sempre de olho em compromissos viáveis e no
que ocorre em volta, capazes de ver as necessidades do momento, armazenando
fatos úteis, fazendo as coisas com "nada de teorias", talentosos com máquinas e
ferramentas, agindo com economia de esforços, sensíveis à cor e a textura.
O dinamismo está fortemente presente nesses indivíduos, que estão sempre
em movimento (da mesma forma que o Dioniso viajante) mesmo que pareçam estar
parados, como o pintor em seu estúdio, por exemplo. Costumam serem pessoas
impulsivas, audaciosas, agitadas e com inclinação para atividades artísticas.
Bastante ativos, têm prazer em ser notórios e não se incomodam em ser o centro
das atenções – por isso costumam ter sucesso como jogadores de futebol,
empresários, artistas, promotores de eventos, jornalistas, etc.
O que move os artesãos é a liberdade, impacto e ação. Eles veem as
situações e fazem o necessário para que os desejos sejam imediatamente
concretizados.
Eles confiam nos seus impulsos e utilizam as ferramentas disponíveis nas
mãos (sejam elas físicas ou teóricas), para a realização das metas.
Criatividade para eles é desafio, alegria e liberdade. A criatividade dos
artesãos modifica uma ideia já existente para que nasça uma nova perspectiva.
Criatividade é variação e quebra de limites. Consiste em buscar ação e
impacto, a depender do que a situação irá requerer.
Os artesãos querem ideias que possam proporcionar um melhor uso do que
eles tenham na mão, quebrando barreiras e que possam ter uma utilização imediata.
Para o artesão Voltaire “Originalidade nada mais é do que imitação com
julgamento”
A responsabilidade e a dedicação de Epimeteu fez com que Keirsey o
associasse metaforicamente aos indivíduos do tipo SJ Guardiões. Os tipos realistas
judicativos (SJ) são concretos e cooperativos, apresentando um sentido aprimorado
de dever, responsabilidade e dedicação, tanto às pessoas quanto ao trabalho e às
instituições. A união do lado concreto da função sensação, com a função judicativa
na relação com o mundo externo, faz com que esses indivíduos tenham certa
preferência (e facilidade) para cuidar do mundo e dos outros em qualquer território,
seja família, instituições públicas ou privadas, organizações, etc.

158
A atitude julgadora torna essas pessoas resolutas, vivendo de acordo com
planos, padrões e costumes. Gostam de ter os assuntos resolvidos e decididos,
visando um melhor planejamento. Tem facilidade para concluir tarefas, aceitam a
rotina e usam com facilidade a força de vontade.
Este tipo não é impulsionado pelo desejo de independência e liberdade como
o SP, mas sim pelo desejo de servir e ser útil aos demais, voltando-se para o
trabalho e para o cumprimento de seus deveres e compromissos.
Esses indivíduos são socializadores e, como Epimeteu, disciplinadores
(devemos lembrar que este titã, no mito grego, fez questão de assumir a tarefa de
realizar a partilha justa das qualidades dos seres vivos).
Os guardiões conseguem as coisas certas para as pessoas certas no tempo
certo, com um determinado orçamento.
Eles gostam que as operações e eventos corram eficientemente e
tranquilamente. Preferem tornar as coisas mais fáceis para os outros, em termos
práticos, cuidando para que tudo dê certo.
O lado logístico vem da função sensação, que facilita a manipulação dos
detalhes das operações. Esta função, atuando como auxiliar ao nível de consciência
faz com que esses indivíduos importem-se primeiramente com os detalhes da
experiência direta, aplicando esse princípio a si mesmo e em relação aos outros,
amigos ou desconhecidos, que cruzam o seu caminho. São pessoas geralmente
práticas, convencionais, sociáveis e bem adaptadas às rotinas.
Criatividade para eles é uma mudança que cresce progressivamente –
algumas vezes tão gradual que pode passar despercebida
Criatividade é um brincar frívolo. Portanto, geralmente não deve ser
considerada. Para ser criativo, o indivíduo precisa estabilizar condições caóticas por
razões de segurança, um passo de cada vez.
Os guardiões querem ideias que trabalhem, sejam seguras, possam ser
planejadas e facilmente implementadas.
Para o guardião Thomas Alva Edson Criatividade é 1% inspiração e 99%
transpiração.
A busca pelo conhecimento, o desejo de compreender, controlar, predizer e
explicar as realidades, são características típicas das pessoas que pertencem à
matriz tipológica NT, Racional.

159
Keirsey e Bates observam: "Note que esses são os quatro propósitos da
ciência: controle e entendimento, predição e explicação. Raspe a superfície de um
NT e encontrará um cientista".
Os tipos intuitivos racionais (NT) são analíticos, sistemáticos, abstratos,
teóricos, intelectuais, exigentes, independentes, lógicos e técnicos, curiosos e
científicos, geralmente se interessando pela pesquisa. A inteligência fascina os NT,
por essa razão buscam competências, habilidades, capacidades e destrezas.
Os racionais analisam e ponderam sobre as situações de forma abstrata. Eles
conceituam, explicam probabilidades e os fatores que os influenciam de uma
variedade de perspectivas. Essas pessoas gostam de questionar suposições.
Fazendo assim elas testam as suas próprias competências, assim como as
capacidades dos outros.
Pesquisa e análise suportam o desenvolvimento de seus conceitos e ideias.
A criatividade para os racionais é como uma equação composta de
considerações multidimensionais para a visão estratégica e cumprimento de metas.
E ela continua quando os racionais encontram as palavras certas para articular
suscintamente esses conceitos.
Criatividade é visão. Envolve a aplicação de uma análise, estratégia e
hipótese competentes para acessar, realizar e aplicar as qualidades
multidimensionais da verdade.
Os racionais querem ideias que eficientemente integrem e utilizem novos
conhecimentos
Para o Racional Thomas Disch “A criatividade é a habilidade de ver relações
onde nada existe”.
O aspecto luminoso e espiritual de Apolo mobilizou Keirsey a utilizá-lo como
metáfora para falar dos indivíduos da matriz tipológica NF. A luminosidade desse
deus, que se sente totalmente à vontade no reino celestial, está traduzida na
característica “abstrata” dos Idealistas.
Para Keirsey, esses indivíduos estão mais voltados para o mundo das ideias
e da imaginação, diferente dos concretos, que estão mais focados nos assuntos
materiais. Essa característica é proveniente da dominância da função intuição, em
detrimento da função sensação.

160
Os indivíduos NF, por causa da função intuição dominante, tendem a transitar
entre as imagens internas, correndo atrás de todas as possibilidades inconscientes,
usando a função julgadora “sentimento” para dar forma às suas percepções. Essa
forma, muitas vezes, expressa através da arte, torna as contribuições e influência
desses indivíduos extraordinários, posto que a maioria dos escritores procede deste
grupo. No entanto, o impacto que este tipo causa não se limita à palavra escrita.
Os idealistas constroem pontes entre as pessoas. Eles adoram atuar como
catalisadores do crescimento dos outros. As pessoas dessa matriz tipológica
aproveitam a vida empaticamente. Eles são direcionados para resolver assuntos que
são mais profundos e fazem isso movendo para outro nível de abstração,
geralmente utilizando símbolos como unificadores.
A criatividade para essas pessoas é a expressão de uma identidade única e a
sinergia em trabalhar junto para produzir algo maior do que uma pessoa sozinha
possa conseguir. Os idealistas encontram maneiras novas para ajudar as pessoas a
se relacionarem e produzirem harmoniosamente de forma que cada necessidade
pessoal seja encontrada.
Para o Idealista Arthur Koestler: “A atividade criativa pode ser descrita como
um tipo de processo de aprendizagem onde mestre e aprendiz estão localizados no
mesmo indivíduo”.
Criatividade é auto expressão. A criatividade está em ser um catalizador ou
facilitador da auto realização, de si e dos outros. Está em suportar o
desenvolvimento de um todo harmonioso e unificado.
Idealistas querem ideias que ampliem potenciais humanos e respeitem as
pessoas envolvidas
Um grupo criativo é um grupo de pessoas que estão interessadas em apoiar a
criatividade umas das outras fazendo essa jornada juntas.
Os 16 tipos psicológicos (padrões de energia) nos movem a criar e vivenciar
diferentes experiências. O termo “voz” é utilizado metaforicamente para descrever
um padrão de energia psíquica que é revelado quando expressamos opiniões,
crenças, valores e desejos.
Cada “voz” individual representa um padrão de energia único para motivação,
processamento cognitivo e experiência de vida. Quando usamos a nossa voz,
criamos o futuro.

161
Papéis das Vozes e sua Ordem de Uso nos Processos Cognitivos
MBTI 1a 2a 3a 4a 5a 6a 7a 8a
TIPO Líder Suporte Descarga Aspirante Opositora Parental Enganadora Demoníaca
Crítica
Artesão
ESTP Se Ti Fe Ni Si Te Fi Ne
ESFP Se Fi Te Ni Si Fe Ti Ne
ISTP Ti Se Ni Fe Te Si Ne Fi
ISFP Fi Se Ni Te Fe Si Ne Ti
Guardião
ESTJ Te Si Ne Fi Ti Se Ni Fe
ESFJ Fe Si Ne Ti Fi Se Ni Te
ISTJ Si Te Fi Ne Se Ti Fe Ni
ISFJ Si Fe Ti Ne Se Fi Te Ni
Racional
ENTJ Te Ni Se Fi Ti Ne Si Fe
ENTP Ne Ti Fe Si Ni Te Fi Se
INTJ Ni Te Fi Se Ne Ti Fe Si
INTP Ti Ne Si Fe Te Ni Se Fi
Idealista
ENFJ Fe Ni Se Ti Fi Ne Si Te
ENFP Ne Fi Te Si Ni Fe Ti Se
INFJ Ni Fe Ti Se Ne Fi Te Si
INFP Fi Ne Si Te Fe Ni Se Ti
Frases Chave
Funções Perceptivas Funções Julgadoras
Se – O que está acontecendo no momento Te – Avalia e estrutura usando princípios
Si – O que aconteceu no passado – mensuráveis
lembrando detalhes Ti – Analisar para entender
Ne – Geração de opções do que pode ser Fe – Avalia e harmoniza as pessoas de
Ni – O que isso representa – antevê acordo com as necessidades delas
possibilidades Fi – Alinha as situações de acordo com os
valores pessoais
Tabela XIV.1 As vozes que usamos no dia a dia e que precisamos aprender a
usar para nos tornarmos mais criativos.

As primeiras quatro vozes se referem aos processos da luz e as quatro


últimas aos processos da sombra.

162
A voz dominante, principal, a 1ª é a que usualmente se desenvolve mais cedo
na infância. Nós tendemos a ficar engajados inicialmente no processo dessa função,
utilizando o mesmo para a resolução de nossos problemas, nos ajudando a ter
sucesso. Sendo a mais utilizada e mais confiável, ela geralmente tem uma qualidade
madura adulta.
Normalmente acessamos essa função automaticamente. Temos muito mais
controle consciente sobre ela. A quantidade de energia psíquica utilizada para esse
processo é muito baixa.
A função dominante tem uma qualidade heroica na medida em que nos tira de
situações difíceis. No entanto, algumas vezes nós “amplificamos o volume” desse
processo, o que traz dificuldades. Nesse caso essa voz aparece como uma
qualidade negativa dominante na nossa vida.
A voz de suporte, auxiliar, é a 2ª. Na sua forma mais positiva é como um
parente que cuida e nos educa. Em seu aspecto mais negativo, ela pode ser “super
protetora”, impedindo o nosso crescimento. Quando a função dominante é
extrovertida, a auxiliar é introvertida e vice versa. Quando essa voz é extrovertida
pode parecer mais ativa porque é mais visível
A voz de reforço, terciária, é a 3ª. A voz de reforço nos propicia energização.
Ela serve como backup para a função auxiliar e geralmente opera em cooperação
com ela. Quando somos jovens podemos não saber utilizá-la adequadamente até
que circunstâncias da vida requeiram ou tornem difícil a utilização da função auxiliar.
Usualmente, na fase adulta inicial somos direcionados a atividades que precisam
desse processo. É quando somos engraçados e pueris.
Na sua expressão mais negativa, é quando nos tornamos ingênuos. Nesse
caso ela adquire uma qualidade inquietante, e nós podemos usá-la para nos divertir
e distrair os outros, nos tirando dos alvos.
A 4ª voz é a de inspiração, inferior. Essa voz geralmente não se desenvolve
até a meia-idade. Inicialmente a experienciamos no seu aspecto negativo,
projetando os nossos medos nos outros. As qualidades desses medos refletem o
processo que opera nessa função. Assim podemos parecer imaturos quando
estamos sob a influência do processo que executa esse papel. Geralmente há um
custo alto de energia psíquica

163
As quatro últimas vozes estão na sombra. São processos que chegam à
consciência apenas sob certas circunstâncias. Nós geralmente experienciamos
essas vozes de uma forma negativa. No entanto, quando estamos abertos, elas
podem ser positivas
A 5ª voz, de oposição: “Geralmente aparece em como somos obstinados
(teimosos) e argumentativos nos recusando a executar e participar do que estiver
acontecendo no momento. Pode ser fácil para nós desenvolver habilidade no
processo que executa essa voz, mas parece que nós somos mais limitados na
nossa aplicação desta habilidade”.
A 5º voz irá demandar mais energia para ser executada. No seu aspecto
positivo ela estabelece uma sombra ou profundidade para o nosso processo
dominante, nos tornando mais persistentes na conquista de metas.
A voz parental crítica é a sexta: Essa voz aparece na forma de como
encontramos pontos fracos e podemos imobilizar ou desmoralizar a nós mesmos e
aos outros. Esse processo é geralmente esporádico na sua aparência e geralmente
emerge sob condições estressantes quando alguma coisa importante está em risco.
Para acessar o seu lado positivo de descoberta, nós devemos aprender a
apreciar e estar aberto à sua presença. Então ela tem uma qualidade quase mágica
e pode estabelecer um senso profundo de conhecimento e sabedoria.
A 7ª voz é a voz que nos ilude: ”Essa voz nos engana através do pensamento
de que algo é importante de se fazer ou de se prestar atenção. O processo que
ocupa esta função (7º.) é geralmente não confiável ou visto como digno de atenção.
Quando prestamos atenção a ele nós podemos cometer erros de percepção ou
julgamento, o que pode nos paralisar”.
No entanto, essa função pode ter um aspecto positivo na medida em que
estabelece um “alívio cômico” para as nossas vidas. Assim, podemos rir de nós
mesmos, o que pode ser revigorante. Recarregamo-nos através do divertimento.
A voz diabólica é a 8ª: Essa voz pode ser secretamente negativa. Utilizando o
processo que faz esse papel, nós podemos ser autodestrutivos ou destruir os outros.
Arrependemo-nos das ações ou não ações tomadas quando estamos
comprometidos com esses processos. Usualmente não sabemos como utilizar o
processo que acompanha essa função e ele geralmente irrompe de forma
inconsciente. No entanto, quando estamos abertos a esse processo, ele torna-se
transformador, nos dando o ímpeto para criar algo novo.

164
Vejamos como podemos usar essas vozes. Primeiro imagine que você seja
um ISTP. Monte um quadro semelhante ao apresentado abaixo para o seu tipo
específico.

Processos Meus Padrões de Energia Papel


Ti Analiso para entender Líder
Se O que está acontecendo no momento Suporte
Ni O que isso representa – antevê possibilidades Alívio
Fe Avalia e harmoniza as pessoas de acordo com as Aspiração
necessidades delas
Quadro XIX.1 Como um ISTP usa as vozes no dia a dia

Se você é um ISTP o que o Quadro XIX.1 diz é que você: “Quando eu entro
em uma nova situação, primeiro eu analiso para entender o que está acontecendo
na situação atual. Imagino o que isso representa e, então, busco harmonizar as
pessoas de acordo com as suas necessidades”.

Vejamos a mesma situação para um ENTJ.

Processos Meus Padrões de Energia Papel


Te Avalia e estrutura usando princípios mensuráveis Líder
Ni O que isso representa – antevê possibilidades Suporte
Se O que está acontecendo no momento Alívio
Fi Alinha as situações de acordo com os valores pessoais Aspiração
Quadro XIX.2 Como um ENTJ usa as vozes no dia a dia

Se você é um ENTJ o que o Quadro XIX.2 diz é que você: “Quando eu entro
em uma nova situação, primeiro eu avalio sua estrutura usando princípios
mensuráveis, vendo o que isto representa e antevendo possibilidades. Presto
atenção ao contexto atual e ajo de acordo com meus valores pessoais”.

Agora vamos para o seu tipo específico. A Tabela XIX.1 mostra as oito vozes
associadas ao seu tipo. Construa a seguinte frase usando as vozes da luz, as quatro
primeiras: “Quando eu entro em uma nova situação ... voz 1 ... voz 2. Posso
recarregar as minhas energias... voz 3 ... voz 4”.

165
Vamos a mais um exemplo. Seja um INFP. As quatro vozes da luz são: Fi;
Ne; Si e Te.

Fi - Alinha as situações de acordo com os valores pessoais


Ne- geração de opções do que pode ser
Si - O que aconteceu no passado – lembrando detalhes
Te - avalia a estrutura utilizando princípios mensuráveis

“Quando eu entro em uma nova situação, alinho a mesma com os meus


valores pessoais, buscando gerar opções que poderão vir a ser concretizadas.
Lembrando detalhes do que aconteceu no passado, buscando avaliar as estruturas
utilizando princípios mensuráveis, posso recarregar as minhas energias”.

Conhecer a si mesmo é poderoso. Ser flexível aprendendo a usar as vozes


adequadas a cada situação é um presente precioso. Disciplina e exercício.

166
Capítulo 15
Conclusão
Através da profundidade as coisas coexistem cada vez mais intimamente, deslizam umas
nas outras e se integram. É então ela que faz com que as coisas tenham uma carne: sua
realidade, sua abertura. O olhar não vence a profundidade, contorna-a. (Merleau Ponty, O
visível e o invisível, 1964)

Os primeiros ARQUÉTIPOS revelados à Jung foram: a Grande Mãe; o Si-


mesmo; o Velho Sábio; o Herói e a Morte.
O arquétipo do Herói explica - dentre mil outras coisas - o gosto por filmes de
ação, de esportes e torneios e até mesmo de apresentações de luta. Vestimos um
arquétipo de diferentes maneiras de acordo com a cultura

Judaísmo
A vida é preparação para um mundo vindouro.

Budismo
A vida é como um “sono”, de ignorância do
homem de sua verdadeira natureza, preso a um ciclo
de renascimentos e mortes. A “Verdadeira Sabedoria”
liberta para o Nirvana (perfeição espiritual). Há gratidão
aos que já foram pois se aprende sobre a morte

Islamismo
A morte é a passagem para a próxima etapa. No Juízo Final todos retornarão
em corpos jovens e sem defeitos. Não há luto; a morte deve ser vista como natural.

Hinduísmo
A vida é parte de um ciclo eterno de nascimentos,
mortes e renascimentos. A pessoa pode levar uma vida
voltada para o bem e se libertar desse ciclo.

167
Candomblé
A vida continua por meio da força vital imperecível de cada
um: o Ori, que volta a reencarnar em outro corpo da mesma
família.

Cristianismo
Após a morte o espírito vai para o céu ou para o inferno. No
Juízo Final todos ressuscitarão para uma vida eterna.

Chimananda Adichie, uma escritora nigeriana, em palestra no youtube, falava


do poder dos contadores de história. O domínio do ocidente se reflete na força da
mitologia grega, como “sonhos” dominantes de uma cultura. Os movimentos pelas
minorias fizeram nascer a caça pelas histórias de nossos ancestrais negros. Mas o
índio, principalmente os que habitavam o nosso país, continua esquecido. Neste
livro buscamos por um “balanço de histórias”. Mais do que isso, tentamos
argumentar que o inconsciente coletivo ignora nossos preconceitos raciais e os
mitos são universais, tendo suas raízes no inconsciente coletivo.

Figura 15.1 Um balanço de histórias de Freud (Racional) e Jung (Idealista)

- Vô. Me conta uma história.


- Vocês querem uma história de que?
- De monstro.

Visito toda segunda feira, a creche dos meus netos, onde sento no chão, com
as crianças, e conto histórias.

168
Só funciona quando eu conto as histórias que eles querem ouvir e não as que
eu trago prontas. Juntos, vamos construindo enredos, narrativas, tecendo cenários,
criando personagens.
Adoram o leão da Neméia, o Cérbero, mas também apreciam a Cuca, o Saci
e outros monstros imaginários (sempre do tamanho de um edifício de vinte andares)
que vamos construindo juntos. A mesma história, a do herói de mil faces de que
falava Joseph Campbell64, continua popular.
Como educador discípulo de Paulo Freire, busco educar para transformar.
Para isso temos que imaginar mundos, tantos mundos quantos sejam necessários
para que as pessoas possam se desenvolver, florescer. Para isso precisamos de
novas histórias. Defendo que o Arquétipo do Herói está sendo substituído, após dez
mil anos, pelo do Mago. Histórias da Grande Mãe, do Herói e do Mago são
necessárias em uma adaptação à Pedagogia Simbólica proposta por Charles
Byngton, ou para os novos currículos de uma “educação de parceria” como proposto
por Riane Eisler.

Ermelinda (a Melly) é médica e baiana, filha e


neta de coronéis do cacau. Completamente
apaixonada por Jung. Seria mais uma Walkiria, tivesse
nascido uns 40 anos antes. Segue o Arquétipo
“Sabrina Spielrein”, que junto com Jung fizeram
descobertas fantásticas. Fialho é engenheiro e
psicólogo, neto de um general engenheiro, Antonio
Lopes Pereira, construtor de estradas, e de Chico
Fialho, marchand de gado e poeta, que adorava
percorrer estas estradas.

Meu avô Chico, único astrônomo amador de Sobral City, no Ceará, ajudou
Einstein em sua famosa experiência sobre a influência da gravidade nos raios
luminosos.
Fialho e Melly são Idealistas (afinal a maioria dos escritores é idealista).

64
Campbell, muito citado neste livro, foi um dos principais caçadores de histórias de nosso tempo.

169
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176
Apêndice 1
Testes para determinar meus tipos e arquétipos

A. Determinando o meu tipo psicológico.

Se você reside no Brasil temos diversos meios de determinar o seu tipo


psicológico. Alguns sites permitem que, depois de respondidas algumas perguntas,
seja determinado o tipo ao qual você pertence. Por exemplo:

www.keirsey.com
www.inspiira.org

Em inglês temos vários sites que permitem a realização dos testes. Por
exemplo:

http://www.humanmetrics.com/hr/JTypesResult.aspx

Como vimos, enquanto personagens podem ser criados estereotipando um


determinado tipo, pessoas são muito mais complexas. Somos uma multidão. Alguns
possuem um ego mais poderoso, bloqueando as demais subpersonalidades. Woody
Allen em seu filme “Para Roma com Amor” diz que não tem nem “Ego”, nem “Super
Ego”, só “ID”. Pessoas como Woody Allen, Chico Anísio e seus personagens,
Fernando Pessoa e seus heterônimos, mudam de tipo o tempo todo.
O autor deste livro é, na maior parte do dia, um Idealista, moderadamente
extrovertido e moderadamente intuitivo, o que lhe permite bailar com diferentes
máscaras. Quando “Professor” é um ENFJ. Este é o tipo mais comum que emprega
ao longo do dia. Como o Mago Merlin o professor se dedica ao desenvolvimento
humano de seus semelhantes.
Geralmente pela manhã e a noite, estando mais solitário, chama as
subpersonalidades mais introvertidas. Surge o “Conselheiro”, INFJ. É Oxalá na sua
versão apolínea, alguém em busca da perfeição. Sentado diante do seu computador
escreve livros, sonha poemas, imagina viagens por mares ou mundos distantes.

177
Às vezes se apresenta como um Guardião, ISFJ (Protetor). Isto acontece
quando fica mais preso mais à realidade do que aos seus mundos imaginários.
Como o centauro Quíron, que é quem supervisiona o “Acampamento Meio
Sangue”65. Enquanto as subpersonalidades intuitivas estão mais ligadas às
atividades que exerce no seu trabalho, no que se refere à família, são os seus
guardiões que se apresentam. Além do protetor, emerge o ESFJ (Provedor) que,
como Demeter, a deusa que cuida dos campos, provê tudo que é necessário para a
paz, segurança e harmonia de seu “acampamento”.
Quando a situação no meio profissional “aperta”, também não terei dificuldade
em chamar minhas subpersonalidades racionais. Que tal agir como um ENTJ
(Marechal de Campo) e evocar a força de Xangô. Afinal, passei metade da vida
como um “Mente Brilhante” (INTJ), apoiado pela deusa Atená, me dedicando a
competições de inteligência.
Posso ser “duro” dentro de casa, quando necessário. Aí evoco o ESTJ
(Supervisor) ou o mais pacato ISTJ (Inspetor).
A característica mais forte é o (J) seguido do (F). Um sentimental que planeja
as coisas que vai fazer. Alguém que coloca o perdão acima da justiça, um humanista
que valoriza tudo que é humano.
Não existe tipo melhor ou pior. Anote as horas do dia em que você é:
extrovertido (E) ou introvertido (I); sensação (S) ou intuição (I), pensamento (T) ou
sentimento (F); planejamento (J) ou preso ao aqui e agora (P). Vamos descobrir
quais as subpersonalidades que mais usamos. O segredo está em saber usá-las de
forma adequada. Como sou no trabalho? Com a família? Com os amigos?
Nas perguntas que se seguem, para cada escolha que fizer, anote se você é
moderadamente ou fortemente (E ou I), (S ou N), (T ou F), (P ou J). Anote também
aonde e em que situações suas subpersonalidades se manifestam.
Este livro, como dissemos na introdução, é uma iniciação. Procure aprender
um pouco mais a respeito de si mesmo.
Vamos lá. Caneta e papel na mão.

65
Quíron é um centauro que, na mitologia, domina as artes da cura, sendo tutor de alguns deuses em suas
infâncias. Riordam em sua série de livros sobre Percy Jordan o coloca como subordinado ao Deus Dionisio mas,
de fato, o supervisor do Acampamento que recebe os filhos de deuses e mortais.

178
INSTRUMENTO 1

QUAL É O MEU TIPO PSICOLÓGICO?

Objetivo

Este instrumento objetiva apoiá-lo na identificação de seu tipo psicológico


junguiano, baseado nos modelos de Jung, Myers e Briggs e Keirsey, com dezesseis
tipos básicos de temperamento.

INSTRUÇÕES:
Escolha um local tranquilo, relaxe e deixe sua mente ficar serena.
Inicie o preenchimento dos grupos de colunas, marcando com um "x" a
alternativa da coluna com a qual você se identifica mais. No final da coluna, marque
o total de “x” marcados. Considere a situação real, o seu aqui e agora. Não há
respostas "certas" ou "erradas".

Após preencher completamente, lance suas escolhas na folha de tabulação.

179
COLUNA E/I
COLUNA E COLUNA I
Eu falo abertamente sobre o que penso ou sinto Eu penso antes de falar

Eu gosto de organizar meu ambiente de trabalho Eu gosto de arrumar o meu ambiente de


para permitir uma maior interação com os outros trabalho para permitir alguma privacidade a mim
mesmo
Eu prefiro agir a refletir sobre as coisas Eu me sinto mais confortável refletindo antes de
agir
Gosto de interagir com outros O envolvimento com os outros ocorre de forma
cuidadosa
Eu falo antes de pensar Pensa bem antes de agir

Sociável Quieto

Em reuniões, eu me sinto energizado interagindo Posso ter apenas alguns amigos mais íntimos
com outros
Eu foco minha atenção nas coisas que estão Eu tendo a permanecer em uma só́ área
acontecendo ao meu redor e não me incomodo enquanto trabalho e não gosto quando sou
em ser interrompido. interrompido
Sou ativo, falante e cheio de energia Minha cabeça pensa no que minha boca deveria
dizer antes de eu efetivamente falar.
Eu entendo as coisas me movimentando Eu entendo melhor as coisas após refletir sobre
bastante elas
Gosto de manter contato com círculos grandes e Mantenho um círculo bem mais limitado de
variados de amigos e conhecidos que por sua vez amigos próximos e confiáveis; minha lista de
possuem interesses também variados. Tendo a interesses e atividades favoritas tende a ser
ser falante e amigável, obtendo grande prazer e igualmente menor, porém mais concentrada.
animação só de conversar com outras pessoas. Aparento ser uma pessoa mais reservada e
quieta (até tímido), mas geralmente possuo uma
abundância de reações internas ao que está se
passando à minha volta.
Gosto de ser o centro das atenções e adoro Pode ser difícil encontrar palavras para expressar
entreter outras pessoas e me divertir meu mundo interior. [calma, gosta de estar só,
conversando numa roda de amigos (quanto mais quieta, prefere não chamar atenção para si].
amigos, melhor!).

Gosto de ouvir e contar estórias como uma Quando em meio a um grupo prefiro conversar
forma de compartilhar quem eu sou, e de no "um-a-um", e com pessoas que conheço bem;
aprender sobre outras pessoas. [animada, posso achar desconfortável jogar conversa fora
energética, entusiasmada, chama atenção] com pessoas que tenha acabado de conhecer.
[intimidade, um-a-um, busca indivíduos].
Sinto-me energizado quando encorajo as pessoas Eu me sinto energizado quando reflito sobre
e coisas. meus próprios pensamentos e experiências.

TOTAL E TOTAL I

180
COLUNA S/N
COLUNA S COLUNA N
Realista Abstrato
Eu sempre vejo os detalhes antes de ver um Eu tendo a lidar com as coisas mais gerais e
padrão abrangentes
Eu tendo a ser literal Eu normalmente encontro um sentido figurativo
nas coisas
Eu posso perder a floresta para observar as Eu posso deixar de ver árvores observando a
árvores floresta
Eu gosto de me concentrar em fatos concretos Eu me sinto confortável com teorias e suposições
Tangível Eu leio as entrelinhas
Prático Conceitual
Eu me refiro às minhas experiências anteriores Eu prefiro focar em assuntos gerais visualizando
para lidar com situações atuais possibilidades futuras
Eu tendo a lidar com o aqui e agora Eu prefiro criar uma nova ideia do que melhorar
as velhas
Eu tendo a lidar com os detalhes de um assunto Eu me lembro dos detalhes sempre que eles se
referem a um padrão
Prefiro que as coisas ofereçam benefícios práticos a Valorizo a originalidade como um meio de expressão
mim e às outras pessoas. Valorizo o "bom-senso" pessoal e uma forma de incutir significado nas
porque é algo prático, realista, e, como já foi testado atividades do dia-a-dia; posso ser esperto, inventivo,
e aprovado pela experiência, funciona. Também aventureiro, e empreendedor. Tomo a iniciativa para
valorizo altamente o conforto pessoal e a segurança expor minhas ideias originais. Para mim a variedade
familiar. [realista, sensata, pé-no-chão, busca promove significado e progresso, enquanto a mesmice
eficiência] remove significado. [não-convencional, original,
diferente, o novo e incomum]
Prefiro trabalhar com materiais e objetos que já Exibo uma postura informal e descontraída na hora de
conheço, através de métodos familiares e práticos. resolver problemas, avançando sem planos muito
Me interesso por conforto físico que pode ser vivido detalhados. Com isso posso acabar não lendo as
aqui e agora. Prefiro construir a inovar, e me instruções do kit de montagem antes de começar a
interesso mais por ganhos modestos palpáveis do que montar algo. Tenho facilidade de trabalhar em
por oportunidades arriscadas de ganhos muito projetos não-estruturados que requerem
maiores. [pragmática, prática, voltada a resultados, improvisação. [pula de cabeça, estratégias vão se
aplicação] tornando claras durante o processo, adaptável]
Eu entendo melhor os conceitos quando posso Eu me energizo quando descubro as relações
aplica-los no mundo real entre as coisas
Eu tenho várias informações a minha disposição Eu me envolvo facilmente e ajo confortavelmente
com suposições
Utilizo a experiência como critério mais Trabalho melhor e com a maior quantidade de
importante na hora de avaliar o que é energia quando posso contar com variedade
verdadeiro e importante. Não vejo vantagem em constante e quando tenho a liberdade de decidir
substituir métodos que já comprovei por quando executar minhas tarefas. Valorizo
experiência própria. Prefiro o método da altamente a novidade e a variedade. Para mim o
"tentativa-e-erro" na hora de executar tarefas pior destino que uma pessoa pode ter é acabar
para as quais não existam procedimentos num emprego ou viver num lar monótono, numa
estabelecidos, começando sempre com algo que rotina que nunca muda. [espontânea, quer
já sei que funciona. [mãos-na-massa, aprende variedade, gosta do inesperado, procedimentos
por observação e experiência (e não pela teoria), atrapalham].
confia em experiência].

TOTAL S TOTAL N

181
COLUNA T/F
COLUNA T COLUNA F
Eu entendo melhor as coisas, quando elas são Eu entendo as coisas a partir de um gosto
apresentadas em uma ordem lógica pessoal e subjetivo
Eu devo ser tão direto, que outros me vêem Piedoso
como insensível
Negócio é negócio e normalmente não afeta Eu prefiro conhecer as pessoas antes de
amizade trabalhar com elas em uma tarefa
Eu penso em termos de causa e efeito Eu peso os meus valores e de outros ao invés de
usar princípios gerais
Quando eu examino um problema tento não me Eu sou orientado por valores. Quando tenho um
envolver problema sempre julgo pelo meu gosto
(bonito/feio; prazer/desprazer; bom/ruim)
Argumentos e debates ajudam-‐me a solidificar As minhas decisões são fortemente
as minhas decisões influenciadas pelos efeitos que possam ter sobre
os outros
Para mim, parece justo tratar as pessoas Para mim, parece justo tratar cada um como um
igualmente indivíduo
Eu tento ser objetivo quando tomo decisões Eu tomo decisões com base no que acho certo
para mim e para os outros
Eu fico energizado quando posso criticar uma Eu me sinto energizado quando posso apoiar os
idéia ou processo outros
Analítico Envolvente
Eu normalmente guardo minhas emoções pra Eu posso ser tão sensível aos outros que posso
mim ser direto ou indireto ao me expressar
Cético Apoiador
Eu normalmente aplico princípios a tudo Eu sou frequentemente o primeiro a notar um
conflito –normalmente me preocupo com as
pessoas
Realista Elogioso
Após uma avaliação ponderada de situações, Utlilizo o carinho e a gentileza para conseguir o
possibilidades, e das pessoas envolvidas, me que quero ou preciso. Por trás de minha postura
mantenho firme sobre minhas decisões. Agir de terna jaz a consciência de que há dois lados
outra forma seria rejeitar toda a lógica, o mutualmente contraditórios nas mais diversas
raciocínio, o questionamento, e a análise crítica questões, que acabam impossibilitando acordos
utilizada quando a decisão inicial havia sido puramente racionais. [gentil, coração-mole,
tomada. [firme, dura, preocupada com os fins]. sensível, preocupado com os meios].

Tendo a estar disposto a compartilhar meus Demonstro meus sentimentos e intenções com
pensamentos, sentimentos, interesses, e facilidade, ao ponto deles se tornarem óbvios.
preocupações somente com pessoas em quem Sou uma pessoa animada, calorosa, engraçada,
confio plenamente. Considero-me uma pessoa que tem uma certa facilidade de se abrir e contar
difícil de se conhecer; minhas reações meus segredos a outras pessoas, e que me
emocionais são geralmente internas; pode ser descrevo como uma pessoa fácil de se conhecer.
difícil que eu me abra com outras pessoas já que [expressiva, mais fácil de conhecer, aberta].
quanto mais incomodado eu me torno, menos eu
deixo esse incômodo transparecer. [contida,
mais difícil de se conhecer, privativa]

Prefiro tradições e convenções por estas Creio que as relações humanas são fonte de

182
promoverem continuidade, segurança, e significado e de "verdade" em nossas vidas. A
validação ao meu meio social. Sinto-me "verdade" é algo pessoal e ao mesmo tempo
desconfortável com modismos e práticas que universal, e nunca existe isolada das pessoas em
fujam aos padrões tradicionais pois a estes falta si. Os sentimentos e as relações humanas são
a validação que somente o tempo, a experiência, mais importantes do os direitos. [pessoal, busca
e a aprovação de longo-prazo da sociedade pode compreensão, valores centrais, empática]
proporcionar. [convencional, tradicional,
costumário, testado e aprovado]
Encaro a crítica como uma forma válida de se Valorizo harmonia enormemente. Acredito que
chegar à verdade, e conto com a expectativa desafiar e confrontar é menos eficaz do que
de que as outras pessoas não a levem para o buscar acordos que incorporem os pontos de
lado pessoal. Creio que a crítica ajuda a vista divergentes, visando assim satisfazer o
maior número de pessoas possível.
resolver problemas de forma definitiva,
[acomodadora, aprovadora, concordável, quer
aprimora ideias, situações, procedimentos, e
harmonia]
evita as consequências de planos, decisões, e
pontos de vista errôneos. [cética, quer
provas, crítica]
TOTAL T TOTAL F

183
COLUNA J/P
COLUNA J COLUNA P
Eu me sinto mais confortável quando posso Eu me sinto confortável não tendo objetivos
controlar o meu ambiente claros

Eu gosto de acompanhar as coisas até o final Eu adio a finalização até o momento certo

Eu me sinto energizado quando estou finalizando Eu inicio muitas coisas, mas depois, perco o
meus compromissos interesse por elas

Eu tendo a finalizar as tarefas antes dos prazos Eu me sinto confortável com mudanças bruscas
de rumo
Confiável e tendendo à rigidez Flexível

Trabalho e diversão são assuntos diferentes Trabalhar deveria incluir algumas abordagens
divertidas

Eu sou orientado para resultados Eu tendo a ser orientado a processos

Eu me sinto preso por horários rígidos Eu gosto de curtir o momento sem ficar preso à
rigidez do tempo

Eu encaro a mudança como algo desconfortável Eu me adapto bem às mudanças em meu
a resolver ambiente

Eu levo minha vida de forma ordenada Eu gosto de levar as coisas sem estresse

Eu sou uma pessoa de hábitos A espontaneidade é excitante para mim

Planejador Espontâneo

Eu planejo o meu trabalho e depois realizo Eu realizo o meu trabalho à medida que as coisas
vão acontecendo, sem um planejamento prévio.

TOTAL J TOTAL P

FOLHA DE TABULAÇÃO
TOTAL E TOTAL I
TOTAL S TOTAL N
TOTAL T TOTAL F
TOTAL J TOTAL P

184
O MEU TIPO PSICOLÓGICO É (os meus maiores escores)
______ _______ ______ ______
(E ou I) (S ou N) (T ou F) (J ou P)

Sou da matriz ___________


SJ – Guardião; NF- Idealista; NT-Racional e ST-artesão
Sou do tipo ___________ no Keirsey
deus da mitologia ________________

185
INSTRUMENTO 2

COMO EU SOU?

Objetivo

Este instrumento objetiva apoiá-lo na identificação de suas formas de agir,


baseado num modelo com quatro tipos básicos de atuação.

INSTRUÇÕES:
Escolha um local tranqüilo, relaxe e deixe sua mente ficar serena.
Inicie o preenchimento das afirmações a seguir, marcando com um "x" a
alternativa com a qual você se identifica mais. Considere a situação real, o seu aqui
e agora. Não há respostas "certas" ou "erradas".
Após preencher completamente, lance suas escolhas na folha de tabulação.

1. O meu lema preferido é:


a) Onde há uma vontade, há um caminho. b) As regras existem para
serem quebradas. c) Isso pode acontecer! d) se algo pode ser imaginado, então
pode ser criado. e) Ame o teu próximo como a si-mesmo. f) O poder não é tudo.
É apenas a única coisa. g) Se eu não posso dançar, eu não quero fazer parte da
tua revolução. h) Todo homem e toda mulher foram criados do mesmo barro. i)
eu só tenho olhos para ti. j) somos livres para ser você e eu. k) não me prenda:
eu quero sair. l) A verdade o libertará.

2. O que eu mais desejo na vida é:


a) criar algo de valor duradouro. b) proteger as pessoas. c) controlar. d)
viver o momento com desfrute. e) Conexão com os outros. f) alcançar intimidade
e experienciar prazer erótico. g) provar o meu valor com coragem e ações
difíceis. h) vingança ou revolução. i) conhecer as leis fundamentais que formam o
mundo ou o universo. j) liberdade através da exploração do mundo. k) descobrir
a verdade l) experienciar o paraíso.

186
3. A minha meta é:
a) exercer a mestria de modo a melhorar o mundo. b) destruir aquilo que
não funciona (para mim e para a sociedade). c) pertencer, adequar-se. d) tornar
os sonhos realidade e) criar uma família, empresa ou comunidade próspera e
bem-sucedida. f) Ser feliz. g) Criação, identidade, dar forma a uma visão. h)
ajudar os outros. i) experimentar uma vida melhor, mais autêntica e mais
gratificante. j) utilizar a inteligência e a análise para compreender o mundo. k)
divertir-se e alegrar o mundo. l) manter um relacionamento com as pessoas, o
trabalho, as experiências que ama.

4. A situação com a qual mais me identifico é:


a) gosto de fazer as coisas pelos outros. b) desenvolvo sólidas virtudes
comuns, mesclando-me com os outros. c) busco tornar-me tão forte, competente
e poderoso quanto me for possível ser. d) quero ficar cada vez mais atraente
para o outro, em termos físicos e emocionais. e) Quero rebentar, destruir ou
chocar. f) Busco desenvolver uma visão e vivê-la. g) Quero exercer uma
liderança bem sucedida. h) Através da reflexão e do conhecimento busco
compreender como as coisas funcionam. i) O que gosto mesmo é de alegrar o
mundo, brincando, fazendo piadas e sendo engraçado. j) Busco me aprimorar no
desenvolvimento do controle e aptidão na área artística. k) Gosto de viajar,
buscar e experimentar coisas novas, escapando das armadilhas e do tédio. l)
quero ser feliz, fazendo as coisas direito, com fé e otimismo.

5. O meu maior medo é:


a) ficar aborrecido ou me tornar uma pessoa chata. b) a ignorância, ser
enganado e iludido. c) o caos, ser destituído. d) de conseqüências negativas
inesperadas que podem surgir na vida. e) ficar sozinho, tomar chá-de-cadeira e
não ser amado. f) me tornar comum ou inconseqüente. g) me tornar um fraco,
vulnerável. h) O egoísmo, a ingratidão. i) Me destacar dos outros, parecendo que
sou o melhor, sendo por isso exilado ou rejeitado pelo grupo. j) fazer algo errado
ou ruim que pode provocar algum tipo de punição. k) não ser autêntico, falta de
imaginação l) cair em alguma armadilha, conformidade, vazio interior,
inexistência.

187
6. Os meus maiores dons são:

a) autonomia, ambição, fidelidade à própria alma. b) criatividade,


identidade, vocação. c) paixão, gratidão, apreço e comprometimento. d)
compaixão, generosidade. e) competência e coragem. f) realismo, empatia. g) fé
e otimismo. h) responsabilidade e liderança. i) sabedoria, Inteligência. j) tornar
os sonhos realidade, resultados ganha-ganha. k) alegria. l) liberdade radical,
dizer não à repressão.

7. Com qual dos personagens eu mais me identifico:

a) Carlitos, de Charles Chaplin. b) A musa Marylin Monroe. c) o herói


Indiana Jones. d) o pintor Salvador Dali. e) o físico Albert Einstein. f) Harry
Potter. g) Madre Teresa de Calcutá. h) ET. i) O presidente Obama j) O
gladiador romano. k) Peter Pan, na terra do nunca l) O roqueiro do Pink Floyd.

8. Qual o meu cenário preferido:

a) um andarilho viajando pelo mundo. b) um pesquisador trabalhando na


sua tese. c) um artista pintando, tentando dar forma à sua visão. d) uma linda
donzela colhendo flores em um jardim florido. e) uma criança exilada sai do
paraíso. f) um voluntário ajuda as pessoas carentes em uma comunidade. g) O
herói luta arriscando a vida para defender o seu povo. h) Um casal está fazendo
amor em uma ilha deserta. i) Um líder está no comando, tomando conta do seu
grupo. j) Um jovem transgressor resolve mudar de vida e de cidade. k) Um xamã
está envolvido na cura, transitando entre dois mundos, o mundo dos vivos e o
mundo dos mortos. l) Um comediante brinca e faz humor, conta piadas e provoca
sorrisos.

188
9. Quais as palavras que me descrevem melhor?:

a)curiosidade, lazer, desfrute da vida. b) ordem, poder,


responsabilidade. c) transformação, adivinhação, intuição. d)
nascimento, relacionamento, fecundação, amor. e) coragem,
disciplina, força. f) vulnerabilidade, abandono, pertencimento.. g)
confiança, segurança, nostalgia. h) criatividade, arte, imaginação. i)
viagem, liberdade, independência, energia. j) doação, sacrifício,
generosidade. k) destruição, renúncia, renascimento. l) informação,
pensar, conhecimento, comprovação.

FOLHA DE TABULAÇÃO "COMO


SOU EU?"

Transcreva cuidadosamente suas escolhas dos "x" em cada linha; depois totalize
quantos "x" estão em cada coluna.

Afirmação Amante Caridoso explorador sabio bobo Mago inocente Fora- governante guerreiro Órf
da- (car
com
lei
m)

1 I e K l g c j b f a h
2 f b J k d I l h c g e
3 L h I J K F f b E a C
4 d a K h I f l e g c f
5 e h L b a d j f c g I
6 c d A l k j g l h e f
7 b g C E a f k l I j h
8 h f A B l k d j I g e
9 d j I L a c g k b e f
Total de
Pontos

(%) *
* Para calcular a porcentagem (%) multiplique por 5 a soma de cada coluna (total de
pontos).

189
Você pode melhorar esta análise pedindo que um amigo, namorado, parente
ou pessoa próxima a você responda o questionário, avaliando a sua atuação. Você
poderá encontrar resultados muito parecidos, o que mostra que a forma de você se
perceber é muito parecida com a forma que os outros o vêem . Mas pode ser
diferente, e aí está uma ótima oportunidade de conversar com as pessoas à sua
volta e procurar chegar a um a conclusão que aprimore a sua maneira de enxergá-
lo.
Uma outra possibilidade é você perceber que o seu perfil vai mudando com o
tempo. Você pode colocar em sua agenda para novamente preencher este
questionário daqui a algum tempo e averiguar como as coisas se alteraram.
Caso você queira ter resultados ainda mais precisos de seu perfil, você pode
ao invés de um "x", distribuir 1 ou mais pontos entre as quatro alternativas de cada
afirmação, colocando mais pontos na alternativa que melhor lhe represente.
Por exemplo, se a alternativa "c" representa exatamente seu comportamento,
coloque 1 ou mais pontos nela, e zero em todas as outras três. Se você se sente
dividido entre as alternativas "a" e "d",você pode,por exemplo, colocar X pontos em
"a" e 3 pontos em "d" ou qualquer outra pontuação que melhor represente sua form
a de agir.
Sugerimos que você evite pontuações do tipo 2,5 em cada alternativa (a
menos que isto realmente represente sua forma de ser).
Certifique-se que a soma dos pontos em cada item seja igual a 10. Coloque
estas pontuações na Folha de tabulação e some nas colunas.

190

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