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Engenharia de
Pavimentos
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Agosto de 2007
Sumário
1.2 – Conservação..................................................................................................................................... 4
1.2.1 - Conserva Rotineira ..................................................................................................................... 4
1.2.2 - Conserva Leve ............................................................................................................................ 6
1.2.3 - Conserva Pesada ......................................................................................................................... 6
i
2.9.7 - Dimensionamento contra Trincamento por Fadiga.................................................................... 45
Referências ............................................................................................................................................. 59
3.1 - Conceitos......................................................................................................................................... 60
Referências ............................................................................................................................................. 71
ii
4.12 - Monitoramento........................................................................................................................... 104
iii
________________________________________________________
Capítulo 1
________________________________________________________
1.1 - Introdução
1
inferiores aos da restauração, além de suas intervenções serem mais recorrentes ou
freqüentes. Pode ser de três tipos fundamentais:
Conserva Rotineira:
- quaisquer intervenções que não se refiram diretamente ao pavimento, como:
desobstrução dos sistemas de drenagem, limpeza da pista, capina e manutenção dos
taludes em cortes e aterros;
Conserva Leve:
- consiste da execução de reparos em áreas localizadas danificadas da pista ou dos
acostamentos, abrangendo remendos superficiais ou profundos, selagem de juntas e
trincas, correção de exsudação de asfalto ou de escorregamento de massa, quando
elas se encontram restritas a pequenas áreas;
Conserva Pesada:
- é a aplicação contínua, nas faixas de rolamento, de alguma camada de pequena
espessura que tenha uma ou mais das seguintes funções: selagem de trincas,
rejuvenescimento do revestimento asfáltico, proteção contra oxidação ou correção
da resistência à derrapagem. O exemplo típico no Brasil é a Lama Asfáltica, sendo
também aplicáveis, com as mesmas finalidades, os Tratamentos Superficiais.
2
de Restauração, projeto este capaz de identificar as variações estruturais e de degradação
dos pavimentos ao longo da rodovia e de adaptar as soluções a cada condição encontrada,
leva a uma economia expressiva, quando se avalia o custo total do pavimento dentro de seu
ciclo de vida, em relação à aplicação de medidas de restauração sem muito critério,
guiando-se apenas por uma intuição e um diagnóstico subjetivos.
A decisão de se restaurar um pavimento pode ser tomada a partir de uma série de
parâmetros indicativos, tais como: custos de conservação elevados, necessidade muito
freqüente de intervenções, irregularidade elevada e degradação de superfície acentuada.
Um dos benefícios que vêm sendo obtidos com a aplicação de Sistemas de Gerência de
Pavimentos (SGP) em todo o mundo é a determinação do momento mais eficaz, em termos
econômicos, para se executar a restauração dos pavimentos de uma rede viária.
Essa discussão é válida igualmente para todos os demais componentes de uma
infra-estrutura viária, tais como: obras de arte especiais (pontes, viadutos e passarelas) e
obras de arte correntes (sistemas de sinalização e de auxílio ao usuário, sistemas de
drenagem, sistemas de contenção de encostas). Em um grande centro urbano, as
conseqüências da interrupção do tráfego em um viaduto (devido a perda de protensão do
aço por corrosão sob infiltração de água através de juntas mal seladas, por exemplo)
podem ser de grande magnitude. Cada componente ou sistema tem vidas de serviço
específicas (de alguns anos para lama asfáltica ou tratamentos superficiais até 100 anos
para pontes), aspectos próprios a serem monitorados e técnicas apropriadas para
manutenção. Em todos os casos, pode-se sempre definir medidas de baixo custo a serem
implementadas mais freqüentemente (conservação) e intervenções de maior porte e menor
freqüência (restauração, recuperação).
As necessidades futuras de manutenção de um componente ou estrutura deveriam,
idealmente, ser estimadas da melhor forma possível já durante o projeto original, dentro do
horizonte de tempo definido pela vida de serviço da estrutura a ser projetada, a fim de se
procurar adotar a solução de projeto que seja a mais econômica a longo prazo. A
praticidade de execução da manutenção futura deve ser também levada em conta no
projeto, na medida em que um engenheiro responsável pela manutenção ou reparo de um
pavimento tem muito menos liberdade de escolha de opções do que o engenheiro que fez o
projeto original. Deve ele atuar sobre o pavimento como ele se apresenta e sujeito a
restrições operacionais e econômicas. Além disso, a escolha da medida correta depende de
uma compreensão adequada do comportamento do pavimento, a fim de diagnosticar as
causas para o desenvolvimento dos defeitos existentes.
Como ilustrado na Figura 1.1, que mostra a curva de desempenho de um pavimento
em termos de redução do PSI com o tempo, pode-se delinear seis fases da vida de serviço
em que um pavimento pode se encontrar, em função do grau de deterioração:
- Fase II: O pavimento se encontra em boa condição (3 ≤ PSI < 4) e deve receber apenas
uma pequena alocação orçamentária para efeito de eventuais reparos em áreas
localizadas (selagem de trincas, remendos);
3
primeiros 3 cm do topo do revestimento, podem indicar a necessidade ou a
conveniência de se aplicar alguma camada de desgaste delgada (Lama Asfáltica, TSD)
ou capas selantes de modo a corrigir estes problemas e se configurar como uma
proteção ao revestimento, estendendo sua vida estrutural (Conserva Pesada);
- Fase VI: A deterioração é tão acentuada (PSI ≤ 1) que não há viabilidade técnica para
qualquer medida de restauração, devendo o pavimento ser reconstruído, total ou
parcialmente.
1.2 – Conservação
Envolve serviços que não interferem diretamente com o pavimento, mas que podem ter
grande importância para a segurança e o conforto do tráfego, ou até mesmo vir a afetar o
desempenho futuro do pavimento.
A manutenção das condições de limpeza da pista é vital em vista dos seguintes
aspectos: visibilidade da sinalização horizontal, erosão da microtextura superficial, desgaste
dos pneus, risco de dano aos pára-brisas e obstrução e destruição de juntas de dilatação de
pontes.
A manutenção das condições de drenagem afeta diretamente o desempenho do
pavimento. Deve-se desobstruir periodicamente o sistema de drenagem (superficial, sub-
superficial e profunda) e substituir ocasionalmente os materiais filtrantes dos drenos.
Atenção deve ser dada também aos efeitos da descarga das águas superficiais para as áreas
adjacentes à pista, com seu potencial erosivo.
As áreas adjacentes à pista requerem tratamentos específicos, onde se incluem os
cuidados com a vegetação e a manutenção de taludes e de sistemas de escoramento de
encostas. Também os dispositivos de sinalização e de segurança (cercas e defensas,
barreiras tipo New Jersey, placas de sinalização vertical) requerem manutenção, a fim de
manterem suas características funcionais.
4
PSI I II
III
4
IV
3
2,5
V
2
VI
tempo (anos)
-dPSI/dt
tc tempo
5
1.2.2 - Conserva Leve
A fresagem superficial (de alguns mm) é uma solução quando se deseja regularizar uma
superfície asfáltica ou de concreto cimento e é uma intervenção que pode ser enquadrada
na categoria de Conserva Pesada, em vista de seu custo e do fato de prescindir de qualquer
intervenção complementar, exceto limpeza da superfície após a fresagem. As máquinas
mais utilizadas efetuam a fresagem a frio e podem ter um sistema de sensores eletrônicos
para se obter um controle preciso da geometria. A largura dos tambores de fresagem varia
de 0,5 a 4 m e há máquinas que permitem um corte de até 150 mm de profundidade,
dependendo do material encontrado.
Os tratamentos superficiais têm sido utilizados com os seguintes objetivos:
6
médio, pode-se obter vidas na faixa de 3 a 5 anos para esses tratamentos, incluindo o caso
da Lama Asfáltica. Já sob tráfego pesado, deve-se utilizar tratamentos especiais, à base de
asfalto modificado por polímero.
A Lama Asfáltica consiste da mistura de agregados com granulometria uniforme
(diâmetro nominal de 10, 6 ou 3 mm) com emulsão asfáltica (comum ou modificada). A
mistura é feita dentro de um caminhão especial e não requer usina. O espalhamento é feito
pelo próprio caminhão, obtendo-se espessuras entre 3 e 10 mm. O tempo de cura da
emulsão (evaporação da água) varia de 15 minutos a 12 horas, dependendo das condições
climáticas. O processo não requer rolagem após o espalhamento.
Uma outra categoria é a do micro-concreto asfáltico a frio, feito em geral com
asfalto modificado, e requerendo rolagem após o espalhamento. Obtêm-se espessuras de 10
a 25 mm.
Uma técnica desenvolvida recentemente nos EUA consiste da aplicação de um
produto líquido, à base de alcatrão, que é espalhado a frio na superfície de um pavimento
oxidado e desgastado, e que tem a propriedade de penetrar cerca de 6 a 38 mm na camada
asfáltica, recuperando as propriedades do ligante oxidado (aumento de dutilidade e redução
de viscosidade). A oxidação atinge, nos concretos asfálticos usuais, cerca de 25 mm de
profundidade. O resultado esperado por meio desse produto, o PDC (Pavement Dressing
Conditioner) é:
Ensaios realizados duas horas após a aplicação do PDC (tempo mínimo necessário
para que a chuva não possa carrear o produto) revelaram que o coeficiente de atrito não é
alterado. O PDC é, portanto, um agente rejuvenescedor da superfície do revestimento
asfáltico. Tem ainda a vantagem de tornar o ligante resistente ao derramamento de
combustíveis, na profundidade de penetração. O fato de o PDC se tornar parte integral da
mistura resolve o problema associado com o uso da Lama Asfáltica, que sofre contração e
expansão térmicas diferenciadas das do concreto asfáltico subjacente, levando ao seu
trincamento e à delaminação. Uma aplicação do PDC a cada 5 anos pode extender a vida
de serviço de pavimentos estruturalmente bons de forma significativa. Para que haja uma
redução no Custo no Ciclo de Vida é necessário, contudo, que o pavimento esteja em boas
condições estruturais. É uma técnica de manutenção preventiva. O aspecto visual da
superfície, após a aplicação do PDC, é o de um pavimento novo. Um resultado adicional do
PDC é facilitar o processo de auto-soldagem de fissuras de pequeno comprimento, que
ocorre sob elevadas temperaturas quando da passagem das cargas do tráfego. Em áreas
onde foi executado o grooving, a aplicação do PDC não torna necessária nova execução.
1.3 - Restauração
A restauração envolve custos bem mais elevados que a Conserva Pesada (acima de US$
30.000/km, em pista de 7,2 m de largura) e se caracteriza por medidas que têm um caráter
não apenas corretivo de deficiências existentes, mas também por serem preventivas, na
medida em que as técnicas específicas, adotadas em cada caso, procuram atacar a origem
ou os mecanismos pelos quais a deterioração do pavimento vem se processando ao longo
do tempo. A relação custo/eficácia de cada alternativa técnica é de fundamental
7
importância, neste caso, e o projeto deve se basear em um diagnóstico acurado dos
problemas e do desempenho do pavimento. São investimentos denominados de capital, por
envolverem recursos significativos e por serem efetuados apenas de tempos em tempos em
cada trecho de rodovia. Afetam significativamente as condições de tráfego, requerendo um
sistema de sinalização e um plano de desvio de tráfego adequados.
1.4 - Reconstrução
A política de manutenção a ser implementada em uma rede viária não deve levar em conta
apenas as necessidades funcionais e estruturais dos pavimentos em cada segmento da rede,
mas deve ser função também das restrições orçamentárias. Na prática, isto significa que a
medida a ser efetivamente aplicada a um determinado segmento dependerá também das
necessidades globais da rede, do orçamento disponível e dos parâmetros funcionais e
estruturais que se deseja atingir dentro de um horizonte de tempo ("padrão da rede").
Como se verá adiante, trata-se este de um processo de gerenciamento, cuja maior ou menor
eficácia condicionará os resultados econômicos a serem obtidos.
A natureza dos serviços de manutenção de que uma via pode ser objeto depende
fundamentalmente do tipo da camada de revestimento. Os comentários até aqui
apresentados relativos às diversas técnicas são válidos, de modo geral, para os pavimentos
asfálticos.
No caso de vias não pavimentadas, pode-se apontar as seguintes categorias:
8
- A Reconstrução significa a remoção do calçamento, a reconformação da plataforma
subjacente e a instalação de novo calçamento, com aproveitamento total ou parcial
dos blocos antigos e com aplicação de rejuntamento adequado.
9
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Capítulo 2
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Em termos de concepção inicial, uma primeira decisão a ser tomada refere-se à manutenção
do greide atual da via ou se há necessidade de alterações no seu traçado, a fim de elevar o
padrão operacional da rodovia, adequando-a a normas mais modernas que as utilizadas
quando de seu projeto original. Esta adequação pode vir a ser necessária em função de um
crescimento acentuado do tráfego. Caso se decida pela manutenção da geometria atual, não
haverá a necessidade de se levantar a topografia da via existente. Neste caso, tais
levantamentos ficariam restritos a locais onde a geometria atual estaria inadequada ou
comprometendo a segurança, como no caso de superelevação insuficiente em curvas.
Faz parte também da concepção inicial de um projeto de restauração a escolha de
um período de projeto, que será a vida de serviço do pavimento restaurado, ou seja, o
tempo mínimo que deve transcorrer antes que seja necessária uma nova restauração.
Adota-se 10 anos, em geral, para esse período. Em função da importância da rodovia, o
Nível de Confiabilidade do projeto deve ser também escolhido. Nesta fase, as restrições
orçamentárias e operacionais, porventura existentes, deverão ser conhecidas.
Em termos de levantamento de dados cadastrais (aqueles referentes ao pavimento
que não sofrem alteração com o tempo), as seguintes informações quanto à estrutura do
pavimento existente devem ser pesquisadas:
11
Projetos anteriores de restauração, caso existentes, constituem uma fonte valiosa
para levantamento dessas informações.
As informações que puderem ser obtidas quanto às medidas de manutenção
aplicadas ao longo do tempo, bem como observações existentes, mesmo que qualitativas,
quanto ao histórico de desempenho do pavimento, podem auxiliar na elaboração de um
diagnóstico mais confiável para os problemas existentes.
O tráfego que se prevê atuar durante o período de projeto deve ser caracterizado
em termos de:
N C = Pr (VS ≥ PP)
12
• Condição de superfície (defeitos e afundamentos plásticos);
• Estrutura do pavimento existente;
• Idade da última camada aplicada;
• Condição estrutural das camadas.
D0
Estaca ou km
13
longo do tempo. O produto final desta síntese poderá ser a calibração de um ou mais dos
modelos considerados, de modo a torná-los aplicáveis às condições climáticas, de tráfego,
de materiais e de drenagem existentes no pavimento em questão. Tais modelos serão
aplicados no dimensionamento da restauração.
O diagnóstico deve ser efetuado, portanto, através da integração de todas as
informações levantadas e dos resultados das avaliações realizadas no pavimento, de modo a
se defrontar um dado contra outro com o objetivo de interpretar o desempenho que o
pavimento vem apresentando. É deste modo que se poderá detectar as deficiências reais do
pavimento. Um diagnóstico completo deveria incluir, ainda, a calibração de modelos de
previsão de desempenho para o pavimento em questão, de modo a se poder efetuar
estimativas quanto à sua vida restante, bem como permitir um dimensionamento mais
confiável para o pavimento restaurado. Com este fim, os modelos de previsão de
desempenho mais eficazes são os do tipo mecanístico-empírico.
Identificar os mecanismos que vêm controlando o desempenho de um pavimento
requer a ponderação relativa dos efeitos das duas fontes de solicitações mecânicas:
2.4.2 - Elaboração
• Modelos para se prever o trincamento por fadiga das camadas asfálticas e/ou
cimentadas;
• Modelos para se prever os afundamentos em trilha de roda decorrentes das
deformações plásticas sob cargas repetidas nas camadas do pavimento.
N f = Fc D0−2, 31
ou:
N f = Fc ε 't−3, 3
N acum
Fc =
D1−2, 31
N acum
Fc ' =
ε 1−3,3
15
onde D1 e ε1 são extraídos da relação empírica obtida.
No caso de pavimentos flexíveis em tratamento superficial, uma relação clara entre
trincamento e deflexão revela o mecanismo de trincamento por fadiga, enquanto que uma
correlação entre a severidade do desgaste de superfície e o volume total diário de veículos
que compõem o tráfego (VDM) revela o mecanismo de desgaste por abrasão. A existência
dessas correlações permite que se calibre modelos de previsão de desempenho como os do
HDM-III:
, × D0−1, 06
N acum (10 6 ) = Fc × 113
N V = Fc × 1,6 × 10 −8 × ε v−4, 26
onde Fc é o fator de calibração. Para Fc = 1 tem-se um modelo que representa a média dos
principais modelos que foram desenvolvidos na Europa e nos EUA.
A não existência dessa relação mostra que as deformações plásticas devem ter se
acumulado preferencialmente nas outras camadas do pavimento, como nas camadas
granulares de base e sub-base, em decorrência de seu enfraquecimento pela entrada de
águas pluviais através das trincas. Outra possibilidade é, na existência de uma camada de
pré-misturado aberto, seu esmagamento por resistência insuficiente tenha gerado os
afundamentos. A ação das cargas dinâmicas, gerando excesso de pressões neutras quando
esta camada se encontrava saturada, é outra possibilidade, por levar ao arrancamento
gradual da película de ligante que envolvia os agregados.
No caso de pavimentos semi-rígidos, deve-se investigar, antes de tudo, se o
trincamento observado na superfície se deve à fadiga da base cimentada, ou se progrediu a
partir de trincas transversais de retração da base, ou, ainda, se são apenas trincas que se
originaram de cima para baixo no revestimento, não tendo relação com o trincamento da
base (essas trincas tendem a ser longitudinais). Este último caso só será observável quando
a base cimentada se encontrar essencialmente íntegra, o que pode ser verificado analisando-
se o seu módulo de elasticidade efetivo (Eef), obtido na fase de “modelização” por
retroanálise das deflexões. Se for nítida uma relação entre a percentagem de área trincada e
a redução do módulo efetivo em relação ao módulo da camada íntegra (E0), é sinal de que
o trincamento de superfície provém da reflexão de trincas da base. O mecanismo de
trincamento por fadiga pode ser detectado pelo grau de correlação entre TR e a relação
entre a deformação de tração atuante sob a base (εt) e a deformação de ruptura da mistura
cimentada (εR), definida por:
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εt
SSR =
εR
RTF
εR =
E0
E0 ( ksi ) + 139
RTF ( psi ) =
4,6
SSR
7 ,19 (1− )
N f = Fc × 10 8
Com relação ao correto diagnóstico do trincamento, deve-se observar que uma atribuição
de causas através de um exame apenas visual deve ser considerada provisória, na melhor
das hipóteses, mesmo quando o avaliador tem muita experiência. Na maioria dos casos,
pode haver mais de uma e, às vezes, até quatro causas para um certo tipo de trincamento.
A realização de ensaios tende a aumentar as chances de um diagnóstico correto, mas ainda
assim a identificação da causa pode ser difícil.
As trincas em um revestimento podem ser descritas, às vezes, de acordo com a sua
geometria, como: (1) longitudinal, (2) transversal, (3) poligonal (couro-de-crocodilo ou em
mapa), e (4) de bloco. Às vezes, as trincas já são descritas em função do mecanismo que as
causou, tal como nos casos das trincas de escorregamento, de retração e de reflexão. Em
pelo menos um caso, o trincamento é descrito pela sua localização, como no das trincas de
bordo. Com relação à identificação desses diversos tipos, pode-se dizer que:
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única passagem de uma carga excessiva, as de escorregamento, as decorrentes de
movimentação lateral de aterros e aquelas que são induzidas por afundamentos em trilha de
roda excessivos. As trincas de reflexão podem ser consideradas também, ao menos em
parte, associadas às cargas do tráfego, sendo quase que exclusivamente desta natureza em
pavimentos flexíveis ou full-depth. Já com relação às trincas não associadas às cargas do
tráfego, há uma série de classes, onde se incluem: recalques de aterros, expansão do solo
de fundação, juntas de construção, retração de componentes da estrutura do pavimento,
trincamento a baixas temperaturas do concreto asfáltico ou, mais geralmente, trincamento
por fadiga térmica, em decorrência de uma série de incursões a baixas temperaturas.
Trincas de reflexão podem ter sua origem, em parte, em causas não associadas às cargas do
tráfego.
Embora a maioria dessas categorias e mecanismos de trincamento estejam presentes
em quase todas as situações, importam para efeito de projeto e análise: o trincamento por
fadiga, o trincamento por reflexão e, em climas frios, o trincamento térmico a baixas
temperaturas.
Finalmente, deve-se notar que um determinado padrão de trincamento não será
observado de forma uniforme ao longo de um mesmo projeto, mesmo que todas as
condições sejam aparentemente uniformes. As trincas começam a surgir em áreas isoladas,
situadas aleatoriamente. Com o tempo, o tráfego e a exposição contínua às condições
ambientais, a situação progredirá para um ponto em que alguma medida de conservação
será necessária ou recomendável.
onde se observa que um CAP20 comumente utilizado em CBUQ para revestimentos, com
PNT = 50 tem TRB = 55oC. No Brasil, a superfície dos pavimentos atinge temperaturas
máximas da ordem de 65oC. Mesmo levando em conta uma redução com a profundidade, é
visível que a temperatura dos revestimentos asfálticos supera, durante um certo percentual
do ano, a temperatura do ponto de amolecimento do asfalto. Nesta situação, a resistência
da mistura a deformações plásticas passa a depender apenas do entrosamento de agregados
e do atrito intergranular (isto explica o mau desempenho das misturas tipo areia-asfalto em
Manaus).
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Não sendo encontrada uma explicação na mistura asfáltica, outras fontes potenciais
de deformações plásticas devem ser investigadas, tais como: más condições de drenagem
sub-superficial ou profunda, deficiências de natureza construtiva (ex: má compactação de
aterros) ou excesso de carga.
2.4.7 - Ondulações
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tráfego prematura (camada se encontra ainda muito quente) ou granulometria inadequada
para os agregados.
relação esta que se baseia no seguinte modelo, que pode ser obtido por regressão linear de
casos analisados pela teoria de camadas elásticas:
D0 = αE 0β
D1 = αE1β
Se uma equação de fadiga como a do The Asphalt Institute foi calibrada a partir dos
dados de desempenho da própria rodovia, a vida de fadiga prevista para o pavimento novo
é dada por:
1 1
3, 3 0 ,86
Nf0 = K
ε t 0 E0
Se o tráfego acumulado até hoje é Nacum, o consumo à fadiga que houve na trilha de
roda externa é dado por:
N acum
cf =
Nf0
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e a vida restante, em anos, é dada por:
Nf0
VR = (1 − c f )
N ano
E1
RT =
E 0 TR =20%
a qual é a “relação terminal” entre os módulos efetivos, no sentido de ser uma condição
associada a vida restante nula (VR = 0).
No que diz respeito a afundamentos em trilha de roda, não há necessidade de se
calcular uma vida restante, uma vez que a aplicação de uma camada asfáltica como
recapeamento elimina praticamente os afundamentos existentes, e as estimativas de vida de
serviço com relação a este critério para o pavimento restaurado podem ser feitas como se
se tratasse de um pavimento novo.
21
Reflexão de Trincas apropriado. Em geral, a adoção de tal sistema já levará à correção dos
problemas funcionais associados às deformações plásticas existentes. Se a reflexão de
trincas não se constituir em problema, como no caso de as trincas existentes serem de
severidade baixa ou isoladas de pequeno comprimento, o tradicional recapeamento simples
ou diversas combinações de espessuras de fresagem e recapeamento são suficientemente
eficazes.
No caso de pavimentos em tratamento superficial, deve-se, em princípio, prever a
vida de serviço de um novo pavimento em tratamento superficial. Se esta vida superar ou
se aproximar bastante do período de projeto requerido, basta aplicar-se um TSD sobre o
pavimento existente, se este não estiver severamente trincado ou ondulado, ou escarificar-
se e recompactar-se os primeiros 15 ou 20 cm do pavimento existente, formando-se uma
nova camada de base, sobre a qual o novo TSD será aplicado. Caso o TSD não apresente
durabilidade suficiente, deve-se partir para um revestimento em concreto asfáltico, aplicado
diretamente sobre o pavimento existente, se a camada de base não tiver sido comprometida
estruturalmente, ou aplicado após escarificação e recompactação, em caso contrário.
Apresenta-se, a seguir, alguns códigos que podem ser utilizados para efeito de se
identificar as diversas alternativas de restauração:
1. O trincamento existente é severo e extenso? Em caso afirmativo, qual será a origem das
trincas? Elas se concentram nas trilhas de roda ou se espalham uniformemente em toda
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a área da pista? Aplicando-se modelos de previsão de trincamento por fadiga ao
pavimento existente, conclui-se pela possibilidade de as trincas serem de fadiga? O
trincamento compromete a integridade estrutural da camada de revestimento? Ou são
trincas que surgiram na superfície e não atravessam a espessura da camada asfáltica?
A próxima questão é: os afundamentos em trilha de roda são significativos?
3. Em caso negativo (afundamentos em trilha de roda são pouco expressivos), tem-se uma
condição onde os mecanismos de degradação estrutural ainda não se manifestaram.
Neste caso, qualquer intervenção teria caráter preventivo (correção de desgaste
superficial, proteção do revestimento contra oxidação, selagem de trincas) ou de
correção de deficiências funcionais existentes (resistência à derrapagem em pista
molhada baixa, irregularidade elevada para o volume de tráfego e as velocidades
operacionais da via, reparos em áreas localizadas).
23
2.7 - Dimensionamento Estrutural
2.7.1 - Consideração da Vida Residual
VS = ∆t 1 + ∆t 2
onde ∆t1 é o tempo em que o revestimento antigo ainda permanecerá isento de trincas
severas, em extensão e padrão suficientes para que seja alterada a distribuição de tensões
na camada de recapeamento aplicada, de modo a que ela deixe de estar em compressão e
passe a sofrer concentração de tensões devido às trincas da camada subjacente. O intervalo
de tempo ∆t2 é a vida de reflexão de trincas da camada de recapeamento, calculada por
modelo apropriado.
O consumo à fadiga que é produzido quando da passagem de uma carga de eixo é
definido por:
1
cf1 =
Nf0
onde Nf0 é o número admissível de repetições de carga necessário para levar a camada a um
estágio de trincamento que marque o final de sua vida de serviço. De acordo com a Lei de
Miner, para se considerar os efeitos das diferentes cargas de eixo que compõem o tráfego
de veículos comerciais, basta a simples adição dos consumos unitários (cf1) produzidos pela
passagem de cada carga, e o final da vida de serviço será dado pela condição:
n Nj
∑N = 1,0
j =1 fj
N acum
cf =
Nf0
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onde Nacum é o tráfego acumulado que já passou e Nf0 é a vida de serviço do pavimento
original, que pode ser estimada por um modelo que foi calibrado na fase de “Diagnóstico”,
como:
1
n
Nf0 = K
ε t0
Assim, pode-se escrever:
(1 − c )
Nf
∆t 1 = f
N ano
1
n
N f = K
εt
N 'f
∆t 2 =
N ano
1
n
N = K '
'
ε t
f
25
Q HR CBUQ NOVO ε‘ t
h1
εt0 εt
BG
26
carga - descarga. Enquanto no revestimento de um pavimento flexível a trinca de fadiga
surgirá na fibra inferior da camada (região onde se tem a máxima deformação de tração),
no pavimento recapeado a trinca de reflexão surgirá na região de máxima densidade de
energia de distorção, que é aquela no entorno da extremidade da trinca do revestimento
subjacente à camada de recapeamento.
A ocorrência da reflexão de trincas pode tomar de vários anos a poucos meses
depois da construção da camada de reforço. Esta forma de trincamento, junto com os
efeitos que a acompanha, é a principal causa de deterioração da nova camada. Quando a
reflexão de trincas ocorre, a continuidade da superfície da camada de reforço é destruída; a
resistência estrutural do pavimento decresce, podendo a água de chuva ingressar na
estrutura, tornando-se um forte promotor da deterioração subseqüente (Button 1982,
Lytton 1989). Assim, ocorrendo a reflexão de trincas prematuramente, dentro de pouco
tempo a nova camada poderá estar com os mesmos problemas da camada original. A
reflexão de trincas é acelerada quando:
Esses sistemas têm por objetivo levar o pavimento restaurado a vidas de serviço
adequadas a custos menores que os resultantes do uso de espessas camadas asfálticas no
recapeamento convencional.
A seqüência para a ocorrência da ruptura por fadiga de uma camada asfáltica inicia
com a interligação de microfissuras inerentes à massa asfáltica, as quais, por um processo
contínuo de propagação, darão origem à trinca de reflexão. A seguir, tem-se o crescimento
27
gradual da trinca através da espessura da camada asfáltica de recapeamento. A terceira e
última fase é caracterizada pela fratura final, onde a trinca atinge um tamanho crítico que
impossibilita o seu crescimento de forma estável, vindo a atingir a superfície do pavimento
em poucos ciclos de carga.
28
A Figura 2.3 ilustra as possíveis movimentações de uma trinca quando da aplicação
de tensões e que contribuem para o seu crescimento por fadiga, de acordo com os Modos
I, II e III. Já a Figura 2.4 mostra o que se passa em uma trinca transversal e que leva à sua
reflexão, onde atuam:
a b c d
29
período de projeto. Um Sistema Anti-Reflexão de Trincas deve ser então concebido,
definindo-se a natureza dos materiais e as espessuras das camadas constituintes.
O potencial efetivo para que a reflexão de trincas ocorra através de uma camada
asfáltica de recapeamento depende, fundamentalmente, do grau de transferência de tensões
através das paredes das trincas existentes no revestimento existente. Este grau depende da
abertura da trinca (ou seja, de sua severidade), de seu comprimento no plano horizontal e
da granulometria dos agregados da mistura asfáltica. Assim, trincas de grande comprimento
ou trincas interligadas têm maior potencial de reflexão do que trincas curtas isoladas. Para
uma certa abertura de trinca, quanto maior for o diâmetro máximo de agregados da mistura
asfáltica da camada de revestimento existente, maior será o entrosamento dos agregados,
reduzindo o potencial para reflexão. Além disso, no caso de revestimentos asfálticos
espessos, principalmente quando resultam de recapeamentos sucessivos aplicados ao longo
do tempo, uma trinca que atravesse toda a sua espessura tende a apresentar uma trajetória
tortuosa na direção vertical, o que leva a um baixo potencial para movimentações da trinca
na direção vertical, como resultado de um elevado grau de transferência de tensões. Essa
tortuosidade da trinca é, portanto, benéfica para o desempenho de uma camada asfáltica de
recapeamento.
Todos esses aspectos mostram que é difícil avaliar-se o potencial que uma trinca
tem de se refletir através de uma camada asfáltica aplicada como recapeamento. Na Europa
e na África do Sul vêm sendo utilizados aparelhos denominados “Crack Activity Meters”
com o objetivo de se medir as deflexões diferenciais entre as duas faces de uma trinca
quando da passagem de uma carga de roda, de forma semelhante ao que já vem sendo feito
em avaliações de juntas de pavimentos rígidos através do FWD (Falling Weight
Deflectometer). Somente através do uso de aparelhos desta natureza é que se pode avaliar
com precisão o potencial de reflexão de uma trinca e dimensionar-se a espessura de
recapeamento necessária para que a reflexão de trincas ocorra apenas após decorrido o
período de projeto requerido.
Em um caso de projeto de restauração de pavimento rodoviário, o pavimento
existente tinha um revestimento espesso em CBUQ, tendo sido aplicada uma capa
emergencial delgada (massa fina) há alguns anos. Em alguns segmentos, o estado de
superfície por ocasião do projeto era ruim, com trincamento severo e extenso, enquanto
que em outros havia poucas trincas. Este resultado é conseqüência da variabilidade do
potencial de reflexão de trincas, que é elevado em alguns segmentos e baixo em outros.
Esta consideração foi levada em conta no projeto de restauração, tendo-se indicado
fresagem e reposição de cerca de 10 cm de concreto asfáltico nos segmentos trincados, e
um recapeamento simples delgado (3,5 cm) nos segmentos com trincamento incipiente.
Caso não se desejasse correr riscos, poder-se-ia acrescentar uma camada intermediária de
geotêxtil impregnado com asfalto entre o recapeamento de 3,5 cm e o pavimento existente.
Assim, mesmo que o potencial de reflexão de trincas não seja tão baixo quanto se
pressupôs originalmente, um desempenho adequado para o pavimento restaurado estará
garantido para o período de projeto de 10 anos.
No caso da aplicação prévia de uma camada de Massa Fina de CBUQ (3 cm, antes
de compactar), o efeito benéfico da soldadura parcial das trincas, aliado à espessura dessa
camada após compactação (2 cm), resulta em que se pode aplicar o mesmo modelo aqui
apresentado, bastando apenas elevar-se a espessura da camada de recapeamento em 3 cm.
Com relação a uma camada intermediária de geotêxtil impregnado por asfalto, seu efeito
pode ser considerado como equivalendo a um aumento de 3 a 4 cm na espessura da camada
asfáltica de recapeamento, como ficou evidenciado pelo desempenho do trecho
experimental na Rodovia DF-003 e pela experiência da CALTRANS.
Para efeito do dimensionamento da espessura da camada asfáltica de recapeamento
contra a reflexão de trincas, será apresentado a seguir um modelo de previsão do tipo
30
mecanístico-empírico. A derivação deste modelo se deu a partir da interpretação pelo
método dos elementos finitos de uma série de ensaios de cargas repetidas realizados em
placas de concreto asfáltico apoiadas sobre suportes elásticos que simulavam pavimentos
trincados, em uma pesquisa patrocinada pela FAA. Na aplicação do modelo, os parâmetros
que caracterizam o comportamento mecânico do concreto asfáltico da camada de
recapeamento foram tomados a uma temperatura de referência de 25oC e a lei de fadiga
adotada foi a do The Asphalt Institute (MS-1, 1981), expressa em termos da densidade de
energia de distorção Ud no lugar de em termos da deformação de tração, a fim de permitir
o uso do modelo nas condições de solicitação tridimensionais vigentes na região crítica da
camada de recapeamento (imediatamente acima da trinca).
O número de coberturas requerido para o aparecimento da trinca de reflexão na
superfície da camada asfáltica de recapeamento é dado por:
1
Nf =
cf1
onde o consumo à fadiga unitário (por cobertura) é a soma dos consumos produzidos pelas
solicitações críticas quando da passagem de uma carga de roda, ou seja:
1 2
cf1 = +
N f (F ) N f (C )
N f ( F ,C ) = Nlab (1 + FPT )
β
onde:
Nlab = número de ciclos de carga até a formação da trinca, como avaliado por meio
de ensaios de cargas repetidas a tensão controlada (MS-1, 1981)
β = 5,246
FPT = Fator de Progressão de Trincas, calculado por:
FPT = α ( H R − φmax )
onde:
φmax = diâmetro máximo de agregados da mistura asfáltica (cm);
HR = espessura da camada asfáltica de recapeamento (cm);
α = função da temperatura:
α = 0 para T ≤ 10oC e α = 0,143 para T > 10oC.
N ano
− 3, 255
R PC N f
t0 = FCR × AGING × e
31
onde:
FCR = Fator de Calibração Regional do modelo;
RPC = Relação passagem-cobertura do tráfego (= 2,5 em rodovias);
Nano = número anual de repetições do eixo padrão de 80 kN, calculado através dos
fatores de equivalência de cargas da AASHTO;
AGING = termo que retrata o efeito do intemperismo no envelhecimento gradual da
camada asfáltica ao longo do tempo e que reduz sua vida de fadiga devido à
oxidação do ligante betuminoso.
32
Considerando-se algumas condições estruturais e de tráfego em torno da situação
média dos dados experimentais que levaram aos modelos empíricos do HDM-III, foi
determinado um valor igual a FCR = 0,836 para o fator de calibração regional do modelo.
O modelo de previsão, tal como se encontra, deve ser aplicado tomando-se os
parâmetros médios que caracterizam cada Subtrecho Homogêneo. A fim de se incluir nas
previsões o conceito de Nível de Confiabilidade para o projeto, o valor obtido para t0 nas
expressões acima deve ser afetado pelo seguinte fator:
[− β ln(1 − p)]
1
β
K ( p) =
B( β )
O modelo, tal como se encontra calibrado pelo HDM-III, pode ser aplicado
diretamente para projeto, fazendo-se FCR = 0,836 na fórmula para t0. Contudo, as
condições climáticas regionais vigentes nas seções experimentais que foram utilizadas para
a obtenção dos modelos do HDM-III (que abrangeram pavimentos situados nas Regiões
Sudeste e Centro-Oeste do Brasil) podem ser bastante diferentes das que existem na região
onde estará situada a rodovia a ser projetada. Assim, uma calibração regional é
recomendável, a fim de se melhorar a confiabilidade das previsões do modelo. O fator de
calibração regional FCR deve ser, portanto, determinado para as condições climáticas de
projeto, ao invés de se utilizar o valor default FCR = 0,836, referente ao caso em que o
modelo refletirá as condições climáticas do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil.
A vida de fadiga de um pavimento flexível não deve ser prevista por meio de um
modelo que seja função apenas da deformação máxima de tração sob o revestimento
33
asfáltico. A propagação das trincas por fadiga, através da espessura da camada, deve ser
considerada de forma explícita. A simulação do caminhamento de uma trinca através da
espessura da camada asfáltica pode ser feita pelo Método dos Elementos Finitos (MEF).
Neste caso, duas possibilidades existem para a simulação da concentração de tensões na
extremidade da trinca, concentração esta que explica a progressão da trinca:
1. Uma trinca afilada, como a que pode ser obtida por meio de elementos especiais, como
o “quarter-point”, que reproduzem o gradiente de tensões 1/r1/2 na extremidade;
2. Uma frente de fissuras, apontada por Bazant como a mais adequada para se simular o
trincamento em concreto de cimento Portland, e que pode ser modelizada por meio de
elementos “standard”.
34
Propriedades dos Estado de
Tráfego Superfície
Materiais da
Estrutura
Espesura de Recapeamento
a ser analisada
No
Vida de Serviço é aceitável ?
Análise Econômica
35
A avaliação do estado da superfície do pavimento existente definirá o parâmetro
severidade das trincas, classificada como: baixa, média ou elevada. Entende-se aqui por
“severidade elevada” uma abertura suficientemente grande para que a transferência de
tensões entre as paredes da trinca por entrosamento de agregados seja pequena. Assim, o
parâmetro “severidade” depende não somente da abertura da trinca, mas também da
granulometria da mistura asfáltica. Quanto mais graúda, maior poderá ser a abertura, para
um mesmo grau de transferência de tensões.
A severidade das trincas existentes foi simulada pelo MEF bidimensional variando-
se o módulo de elasticidade do material que preenche a trinca, bem como a sua abertura.
Um módulo quase nulo reproduzirá os efeitos de uma trinca de severidade alta, quando não
há praticamente transferência de tensões cisalhantes entre suas paredes por entrosamento
de agregados, enquanto que um módulo da ordem de grandeza de uma Brita Graduada
simulará uma trinca em que o entrosamento de agregados é elevado. Em um projeto real,
quando houver dúvidas acerca da severidade a ser considerada, uma análise de sensibilidade
deve ser feita com relação à importância deste parâmetro.
36
material granular onde foi registrado o acúmulo de deformações plásticas desde o primeiro
ciclo de carga. Foram aplicadas três seqüências de cargas distintas (16, 32 e 48 kips). No
primeiro caso (curva A), as cargas são aplicadas em ordem crescente, enquanto que, no
segundo caso (curva B), a carga mais elevada é aplicada em primeiro lugar. Como se pode
observar, quando a carga mais elevada é aplicada em primeiro lugar, as demais cargas
acrescentam apenas uma pequena parcela à deformação plástica acumulada. Já quando as
cargas são crescentes, os incrementos correspondentes de deformação plástica são também
crescentes. Este fato implica em que, se não houve comprometimento estrutural das
camadas de base, sub-base e subleito, só importa efetuar-se uma previsão dos
afundamentos em trilha de roda futuros para o pavimento recapeado se o tráfego de projeto
envolver cargas significativamente mais elevadas ou em número bem maior que aquelas que
o pavimento já foi submetido. Havendo necessidade de uma verificação desta natureza,
pode-se prever o afundamento em trilha de roda (ATR) a ser produzido no pavimento
restaurado após N repetições da carga do eixo padrão de 80 kN por:
n
ATR = ∑ε p( j , k ) × ∆z j
j =1
onde as deformações plásticas podem ser previstas através de modelos derivados de ensaios
triaxiais de cargas repetidas, desde que o histórico de tensões da compactação seja
reproduzido em laboratório.
10 3, 01
Dadm =
N −f 0,176
37
N atual
N0 =
(1 + r )Idade
e o tráfego médio anual que deve ter atuado seria dado por:
Idade
1
N ano = ∫ N (1 + r ) dt
t
0
Idade 0
10 3, 01
D adm = FC
N −f 0,176
N P−0,176
FC = D0
10 3, 01
D
H R = 40 log C
Dadm
HC
D = DC 10
*
C
40
38
pode-se estimar a nova deflexão característica DC* do pavimento após a fresagem de uma
espessura HC do revestimento asfáltico. É esta nova deflexão que deverá ser utilizada no
lugar de DC quando do cálculo da espessura de recapeamento HR.
σv
εP
32
16
B
48 εp σh
48
32
16
A
0
1 1000 2000 3000 N (log)
39
2.8 - Análise Econômica e Escolha da Solução de Projeto
Um projeto de restauração realmente otimizado não deve se fixar apenas na solução técnica
que pareça, à primeira vista, a mais adequada. Quase sempre existem alternativas e elas
deveriam ser avaliadas em termos econômicos, antes de se escolher a solução final. O
parâmetro ideal para este tipo de análise é o Custo Total de Manutenção no Ciclo de Vida
(CCV), definido como a soma dos custos de restauração e de conservação previstos
durante todo o período de projeto, para uma certa alternativa.
Como esses custos variarão ao longo do tempo de alternativa para alternativa,
deve-se trazer todos os custos anuais para o valor presente, a uma taxa de desconto r
fixada, de modo a se comparar as alternativas em uma mesma base. Algumas alternativas
apresentarão, contudo, um “Valor Residual” ao final do período de análise, o qual será tão
maior quanto maior for a vida restante do pavimento naquele momento. Este valor residual
(VR) deverá, portanto, ser subtraído no cálculo de CCV, a fim de que se possa comparar
alternativas com diferentes vidas de serviço entre si. O cálculo de CCV é feito, dessa
forma, pela seguinte fórmula:
PP
PA ( ∆COV j − ∆CM j ) ( m− n )
VPLBE ( m− n) = ∑
j =1 ( 1 + r ) j −1
40
2.9 - Um Sistema para Restauração de Pavimentos Asfálticos Rodoviários
A rodovia deve ser dividida em segmentos que possam constituir Unidades de Análise
independentes para efeito do projeto de restauração. Para tanto, devem ser observados os
parâmetros fundamentais que condicionam o desempenho do pavimento existente e de
medidas de restauração a ele aplicadas, tais como: estrutura do pavimento, tráfego (atual e
futuro), estado de superfície, idade da última camada aplicada, geometria (vertical e
horizontal), tipo de seção (em corte, aterro ou mista) e resposta do pavimento às cargas do
tráfego (inferida por meio de levantamentos deflectométricos).
Deve ser gerado o arquivo IGG.CSV, contendo as fichas de campo da norma DNER PRO-
08/78. As primeiras linhas do arquivo devem conter os números das linhas que demarcam
as fronteiras dos subtrechos homogêneos (estes números se referem ao arquivo original,
antes de se incluir essa numeração no topo do arquivo).
O programa IGG.EXE gera como resultado o arquivo IGG.OUT, que conterá os
parâmetros que descrevem o estado de superfície dentro de cada subtrecho homogêneo
(como: IGG, ITR, IDP, ATR, etc.).
Deve ser editada no arquivo ESTRUT.CSV, onde em cada linha se descreverá a estrutura
existente em cada subtrecho homogêneo (materiais e espessuras das camadas, tomando-se
por referência um sistema com 4 camadas situadas acima do solo de subleito). Deve ser
informado o número de camadas asfálticas do revestimento (no máximo duas).
41
Revestimento
h1 Asfáltico E1 = fixo
MR
= 142 ,9 A0,5274 CBR − 0,8537
CBR
Emedio
E projeto =
1 + CV
H Treq − HTef
HR =
2 ,0
H Tef = K1h1 + K2 h2
onde:
HTreq = espessura total de pavimento requerida pelo Método do DNER (cm de Brita
Graduada);
HTef = espessura efetiva do pavimento existente (cm de Brita Graduada);
K1 e K2 = coeficientes de equivalência estrutural do revestimento asfáltico e das
camadas granulares (base + sub-base).
1
CBR2 3
K2 = 1,0
80
43
fórmula esta sugerida pelo Guia da AASHTO para se converter coeficientes de
equivalência estrutural de camadas granulares. No cálculo de HR a ser efetuado, pode-se
considerar o CBR médio de cada subtrecho para a camada de base, deixando-se a
expressão da variabilidade estrutural de cada subtrecho para o CBR de projeto do subleito
(ou seja, o CBR médio afetado pelo coeficiente de variação das deflexões, como na
fórmula acima para o módulo de elasticidade).
Todos os arquivos de dados e de resultados gerados até aqui serão lidos pelo programa
PRO10.EXE para efeito de aplicação da norma DNER PRO-10/79 (Método A). Esta
norma, apesar de suas deficiências (principalmente quanto ao seu critério de deflexões
admissíveis), pode ser utilizada como referência para auxiliar na escolha das soluções de
restauração, não devendo ser utilizada para efeito de dimensionamento final do pavimento
restaurado. As soluções serão gravadas no arquivo SOLPRO10.OUT e os parâmetros
utilizados pela norma, para cada subtrecho homogêneo, serão gravados em
PARAMETR.OUT e em PARINT10.OUT.
A Tabela 2.2 mostra um exemplo para os parâmetros utilizados e os resultados
obtidos aplicando-se o programa PRO10.EXE para a definição das soluções de
restauração.
O programa permite que se desconsidere a recomendação da norma de se
reconstruir do pavimento sempre que se tem IGG > 180, por se entender que outros fatores
e parâmetros devam ser também levados em conta para este tipo de decisão. Foram
adotados os seguintes códigos para se identificar os tipos de medida de restauração na
Tabela 2.2:
44
HC (Nomograma 3) = espessura mínima da camada de revestimento em
CBUQ com relação ao critério de proteção da camada de base
granular;
HR (def.plast.) = espessura mínima da camada de reforço em CBUQ com
relação à proteção do solo de subleito contra deformações plásticas;
HR mínimo = espessura mínima da camada de recapeamento em CBUQ que
atende aos dois critérios acima;
Dadm de HR = deflexão admissível para a camada de recapeamento
proposta, de espessura HR.
Eixo padrão
de 80 kN
Camada de
HR recapeamento em
ε CBUQ
h1 Revestimento atual
Camadas granulares
h2 (base + sub-base)
Reforço + Subleito
45
Ao se recapear um pavimento, o fato de se utilizar um geotêxtil como camada intermediária
permite que se aplique três a quatro vezes mais asfalto de imprimação sem risco de
exsudação, em comparação com a taxa de imprimação que é requerida no caso de um
recapeamento simples. Este fato, por si só, leva à obtenção dos seguintes benefícios:
46
Tabela 2.2 - Norma DNER PRO-10/79
STH No. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Indice de Trafego 11.08 11.08 11.08 11.08 11.08 11.08 11.08 11.08 11.08 11.08 11.08 11.08 11.08 11.08
IGG 130.2 142.6 161.5 199.6 219.9 179.1 212.5 133.7 166.3 205.4 284.6 310.6 295.6 262.1
ATR (mm) 5.0 4.5 5.0 6.6 7.5 5.7 5.5 4.1 4.8 8.4 9.2 8.2 10.6 8.4
AP (%) 68.3 75.8 68.0 87.0 82.6 57.0 51.7 42.9 48.0 81.0 77.8 82.0 87.9 79.3
FC1 (%) 31.7 6.1 0.0 8.7 14.5 11.0 10.3 19.0 4.0 3.0 2.8 0.0 1.5 1.1
FC2 (%) 7.9 0.0 0.0 4.3 30.4 17.0 13.8 19.0 22.0 30.0 11.1 6.0 12.1 21.7
FC3 (%) 6.3 6.1 32.0 21.7 37.7 42.0 55.2 23.8 56.0 32.0 80.6 88.0 80.3 65.2
Tipo de Revest. TS TS TS TS TS TS TS TS TS TS TS TS TS TS
He (cm) 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0
Hef (cm) 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0
Tipo de Base BG BG BG BG BG BG BG BG BG BG BG BG BG BG
CBR da base 78 92 98 87 92 120 78 103 78 90 112 84 84 137
Dc (0,01 mm) 55.3 60.5 53.8 66.2 68.3 58.4 55.3 51.7 60.2 70.7 65.8 52.8 61.5 62.2
Dadm (pav.exist.) 149.0 149.0 149.0 149.0 149.0 149.0 149.0 149.0 149.0 149.0 149.0 149.0 149.0 149.0
HC(Nomograma3) 10.2 9.5 9.5 9.5 9.5 9.5 10.2 9.5 10.2 9.5 9.5 9.5 9.5 9.5
HR (def.plást.) 3.7 7.1 5.2 7.9 9.9 5.8 2.9 4.9 5.5 13.6 11.7 3.1 8.5 12.5
HR minimo (cm) 10.2 9.5 9.5 9.5 9.9 9.5 10.2 9.5 10.2 13.6 11.7 9.5 9.5 12.5
Critério de HRmín DEGRAD. DEGRAD. DEGRAD. DEGRAD. DEF. DEGRAD. DEGRAD. DEGRAD. DEGRAD. DEF. DEF. DEGRAD. DEGRAD. DEF.
BASE BASE BASE BASE PLAST. BASE BASE BASE BASE PLAST. PLAST. BASE BASE PLAST.
Dadm de HR 44.5 47.0 47.0 47.0 45.7 47.0 44.5 47.0 44.5 35.5 40.2 47.0 47.0 38.1
Medida indicada RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS
HR (cm) 10.2 9.5 9.5 9.5 9.9 9.5 10.2 9.5 10.2 13.6 11.7 9.5 9.5 12.5
Critério final DEGRAD. DEGRAD. DEGRAD. DEGRAD. DEF. DEGRAD. DEGRAD. DEGRAD. DEGRAD. DEF. DEF. DEGRAD. DEGRAD. DEF.
BASE BASE BASE BASE PLAST. BASE BASE BASE BASE PLAST. PLAST. BASE BASE PLAST.
47
1. Propiciar um aumento da vida de reflexão de trincas de uma camada asfáltica de
recapeamento, aplicada sobre um pavimento trincado;
2. Postergar, por um período de tempo significativo, o momento em que o pavimento deva
ser novamente restaurado, uma vez que a sua degradação, na fase pós-reflexão de trincas,
ocorrerá a uma velocidade menor, de forma mais controlada e previsível, em vista da
menor severidade das trincas e da impermeabilização superficial.
Cada uma das funções aqui referidas será explicada em maior detalhe a seguir.
48
Q
Camada asfáltica de
recapeamento
SAMI
Revestimento antigo
trincado
49
Tabela 2.3 - Mistura asfáltica ensaiada
PARÂMETRO VALOR
Faixa Granulométrica B (DNER)
Peso específico médio dos agregados 2,71
Teor de asfalto (% em peso) 5,50
Tipo de ligante CAP - 20
Densidade teórica (kg/dm3) 2,54
3
Densidade aparente (kg/dm ) 2,37
Teor de vazios de ar (%) 6,69
Vazios cheios com betume (%) 10,68
Relação betume vazios (%) 61,48
50
com aumentos significativos da resistência à tração do geotêxtil e do módulo tangente inicial
(maior rigidez nas deformações elásticas) com o aumento da taxa de impregnação de asfalto. É
possível, portanto, que este aumento na resistência à tração venha a ser ainda maior se as
amostras forem compactadas com pressões iguais às de compactação de campo, por melhorar-se
a impregnação. A compactação do geotêxtil impregnado com asfalto é muito importante,
portanto, pois além de implicar em um aumento na resistência à tração, diminui
significativamente a permeabilidade, como foi verificado no ensaio hidrostático ASTM D751. A
curva C4 na Figura 2.13 apresenta maior deformação inicial comparado com as outras curvas,
devido a um problema no início do ensaio. Na Figura 2.13, as curvas C2, C3 e C4 tendem a se
confundir em uma única, exceto quanto à resistência última, que sempre aumenta com a taxa de
impregnação.
100.00
80.00
Carga ( kgf )
60.00
40.00
Sem Geottêxtil
Com Geotêxtil Bidim OP-15
20.00 Com Geotêxtil Bidim OP-20
ξ
U
∆N = 5.0 × 105 d
1kPa
51
Ensaio de tração de faixa larga no sentido transversal
12.00 ( Bidim OP-15 )
--- C2
- C1: Sem asfalto
- C2: 0,099 g/cm2
--- C3 - C3: 0,066 g/cm2
) - C4: 0,047 g/cm2
m
/ - C5: 0,031 g/cm2
N
k(
--- C4
8.00
a
ru --- C5
g
ra
l
e
d
e
d
---C1
a
id
n
u
ro 4.00
p
a
g
ra
C
0.00
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80
Deformação (m/m)
Figura 2.12 - Efeito da taxa de impregnação do geotêxtil por asfalto (Bidim OP-15).
--- C4
12.00
--- C5
8.00 --- C1
4.00
0.00
Figura 2.13 - Efeito da taxa de impregnação do geotêxtil por asfalto (Bidim OP-20).
52
onde Ud é a densidade de energia de distorção máxima atuante na camada asfáltica de
recapeamento, calculada sem a presença do geotêxtil, e que ocorre na região em torno da
extremidade da trinca existente no revestimento antigo. O parâmetro ξ = -0,677 para T = 4,4oC e
é igual a ξ = -2,10 para T = 22,2oC. Este modelo é consistente com um mecanismo de desvio e
progressão horizontal da trinca, descrito pela Lei de Paris.
(e) Impermeabilização:
Mesmo após o surgimento das trincas na superfície e seu posterior espalhamento, o
pavimento permanecerá impermeável, uma vez que o geotêxtil não é danificado pela formação e
crescimento das trincas. Assim, a abertura de panelas, a geração de afundamentos em trilha de
roda e, no caso de bases em solo estabilizado, o bombeamento de finos são evitados ou inibidos,
levando a que o pavimento possa permanecer em uma condição funcional adequada por um
período de tempo adicional. Este acréscimo na vida de serviço do pavimento tenderá a ser cada
vez mais significativo quanto maior for o índice pluviométrico da região. Os benefícios trazidos
pela impermeabilização variam também em função do tipo de estrutura do pavimento.
No caso de pavimentos semi-rígidos, a entrada de água pelas trincas do revestimento tem
os seguintes efeitos destrutivos:
53
Afundamentos em trilha de roda tenderão a ocorrer após o trincamento mesmo com a
impermeabilização, uma vez que o fato de a camada de base se encontrar trincada leva a um
aumento das tensões verticais que as cargas de roda aplicam nas camadas de sub-base e subleito.
A diferença está em que, estando o pavimento impermeabilizado, a capacidade de suporte dessas
camadas não será afetada, o que minimiza o fenômeno.
No caso dos pavimentos flexíveis, a entrada de água pelas trincas traz as seguintes
conseqüências:
• A água que satura a camada de base granular sofre um excesso de pressões neutras sob a
passagem das cargas dinâmicas dos veículos, o que acelera a desagregação da camada
asfáltica de revestimento nas áreas trincadas, dando origem a panelas e a arrancamento de
agregados por retirada da película de ligante;
• As camadas de base, sub-base e subleito são enfraquecidas pelo aumento de sua umidade,
acelerando a formação de afundamentos em trilha de roda;
• Se a base for de Solo Estabilizado, ocorre bombeamento de finos da base para a
superfície do pavimento, incrementando os afundamentos em trilha de roda e solapando o
suporte da camada de revestimento. Este último efeito acelerará o trincamento por fadiga
do revestimento.
• Se a sub-base não for resistente à erosão, o excesso de pressões neutras gerado levará ao
bombeamento de finos e ao solapamento do suporte da placa de C.C.P.;
• Se a sub-base for resistente à erosão (caso de materiais cimentados), a água se infiltrará
pelas trincas da sub-base cimentada, atingindo o subleito e acelerando a geração de
deformações plásticas nessa camada, o que acarretará a formação de degraus entre placas
adjacentes em juntas e desníveis entre os lados de uma trinca.
Além das funções já referidas, uma camada intermediária dentro de um Sistema Anti-Reflexão de
Trincas deve atender requisitos relativos a:
54
A estabilização mecânica do asfalto que compõe uma camada intermediária pode ser feita
por meio de um geotêxtil, o qual atuará como um container. Quando saturado pelo asfalto, o
geotêxtil garantirá a impermeabilização do pavimento.
Como se trata de uma camada intermediária de pequena espessura, os movimentos
verticais das paredes das trincas devem ser bem restritos, a fim de que não ocorram danos
estruturais severos à camada de recapeamento.
Um efeito de reforço estrutural da camada de recapeamento requer que o seu módulo de
elasticidade seja inferior ao da camada intermediária. No caso das solicitações térmicas, esse
efeito é bastante evidente para as camadas de geotêxtil impregnado com asfalto. No caso das
cargas do tráfego, o efeito é menos pronunciado, mas pode existir. Além disso, essas camadas
podem reforçar revestimentos delgados.
Evidências fornecidas por trechos experimentais indicam que as camadas intermediárias
com sistemas do tipo geotêxtil-asfalto retardam o surgimento e a propagação das trincas de
reflexão, especialmente no caso de pavimentos flexíveis. Obtêm-se resultados positivos em
estruturas rígidas e semi-rígidas quando os modos cisalhantes são evitados. É importante que se
identifique as situações onde este sistema seja aplicável, aquelas onde tenha uma elevada eficácia
econômica e aquelas onde não seja aplicável.
A experiência californiana com geotêxteis indica que eles são mais eficazes em retardar a
reflexão de trincas transversais do que no caso das trincas longitudinais. Este fato pode indicar
um efeito do pulso de tensões no processo de ação do geotêxtil, já que este pulso é diferente nos
dois casos. Quando a carga atravessa uma trinca transversal a carga se posiciona de ambos os
lados da trinca, levando a uma solicitação simétrica no tempo. No caso da trinca longitudinal, a
solicitação é assimétrica em qualquer instante de tempo.
O geotêxtil não se rompe após a reflexão das trincas e mantém as trincas refletidas mais
fechadas do que se o geotêxtil não estivesse presente, o que reduz a infiltração de água, eleva o
grau de transferência de tensões entre suas paredes (reduzindo as tensões verticais que atingem
as camadas inferiores) e reduzindo a erosão, a deterioração e a progressão horizontal dessas
trincas.
Quanto mais baixas as temperaturas, maior a eficácia do geotêxtil em retardar a reflexão
de trincas (observação de ensaios de laboratório).
A severidade das trincas é reduzida e também a amplitude das movimentações térmicas, o
que é um efeito de reforço referente às solicitações térmicas.
O geotêxtil retarda, portanto, tanto a reflexão das trincas couro-de-crocodilo, que são
provocadas pelas cargas do tráfego, como a reflexão térmica de trincas longitudinais e
transversais.
Os ensaios realizados por Coetzee em um painel experimental onde um pavimento rígido
trincado foi recapeado por CBUQ mostraram que, mesmo em uma condição onde todas as
tensões eram de compressão, pôde ocorrer um desligamento localizado entre a camada de CBUQ
e a placa, no entorno da trinca, antes de sua reflexão. Este fato mostra que o mecanismo de
redirecionamento horizontal ocorre mesmo na ausência completa de deformações de tração.
Finalmente, deve-se salientar que, para que o projeto de um Sistema Anti-Reflexão de
Trincas seja eficaz, é necessário conhecer-se os movimentos que o pavimento existente
apresenta, uma vez que algumas alternativas são mais eficazes em resistir à propagação de trincas
provocada pelos ciclos térmicos do que em resistir à propagação decorrente da repetição das
cargas do tráfego.
55
2.10.3 - Restauração de Pavimentos Flexíveis
A Figura 2.14 ilustra uma seção de pavimento trincado que foi restaurado pelo uso de camada
intermediária de Geotêxtil-Asfalto.
recapeamento asfáltico
emulsão
geotêxtil
emulsão
revestimento antigo
56
do tráfego como em vista dos ciclos térmicos. Dessa forma, os seguintes efeitos da inclusão do
geotêxtil estarão presentes:
Este caso é crítico em termos de reflexão de trincas, uma vez que se tem tanto as camadas
asfálticas como a base cimentada trincadas, e o potencial para ocorrência da reflexão de trincas
aumenta com o aumento da espessura da camada trincada e com o aumento de sua rigidez.
Assim, deve-se esperar efeitos benéficos por parte do geotêxtil em relação a:
Ao ser aplicado à superfície do pavimento, o geotêxtil é desenrolado sob tensão sobre uma
película de asfalto com cerca de 1 mm de espessura. Um percentual do asfalto dessa película
pode ser absorvido pela superfície do pavimento subjacente, ou escorrer para dentro de trincas.
Depois que a camada asfáltica de recapeamento é aplicada a quente sobre o geotêxtil, o ligante
que já havia sido espalhado é reaquecido, levando à saturação do geotêxtil e à sua efetiva ligação
com o pavimento existente e com a camada de recapeamento.
Com relação às restrições de temperatura e às características físicas e mecânicas
necessárias para o uso de fibras em pavimentos, pode-se dizer que um geotêxtil não tecido que
será utilizado como camada intermediária deve contar com propriedades que contribuam para as
seguintes funções importantes:
57
O Swiss Geotextile Manual apresenta em detalhe os aspectos construtivos a serem
observados na instalação do geotêxtil no campo. Algumas observações devem ser feitas:
1. Uma aderência deficiente entre o geotêxtil e o pavimento subjacente pode ser decorrente
de: excesso de ligante, cura incompleta da emulsão, falta de ligante (por se ter uma
superfície muito porosa) ou umidade excessiva da manta (em função de condições
climáticas adversas);
2. Uma superfície muito irregular requer a aplicação prévia de uma camada de
regularização, antes da colocação do geotêxtil;
3. Devem ser efetuados reparos em áreas localizadas onde a deterioração estrutural
(trincamento por fadiga, deformações plásticas) for muito acentuada, e devem ser
preenchidas as panelas e as trincas com abertura superior a 5 mm;
4. As ondulações na manta, já colocada, são praticamente inevitáveis e podem servir de
origem para trincas na camada asfáltica de recapeamento. Todos os cuidados devem ser
dispensados, portanto, no sentido de se limitar a formação dessas ondulações, por meio
da aplicação de uma tensão apropriada enquanto a manta estiver sendo desenrolada;
5. A fim de que sejam obtidos os referidos efeitos de absorção de tensões e uma aderência
adequada da camada asfáltica de recapeamento deve-se conseguir uma taxa de
impregnação suficientemente elevada da manta;
6. A superfície onde a manta será aplicada deve estar o mais limpa que for possível, uma vez
que a poeira pode reduzir a aderência;
7. No caso de recapeamento de pavimentos rígidos, a movimentação vertical excessiva das
juntas deve ser eliminada por meio de uma estabilização da sub-base;
8. No caso de aplicação sobre superfícies fresadas, considerar que a emulsão asfáltica
aplicada para ligação da manta com o pavimento existente tenderá a se concentrar na
parte mais baixa das corrugações, reduzindo a aderência da manta se não for aplicada
uma taxa de emulsão suficiente. A emulsão deverá estar curada antes que a manta seja
aplicada;
9. A manta deve ser compactada por um rolo pneumático (de 50 psi) antes de se aplicar a
segunda imprimação, sendo suficiente 2 a 3 passadas, que servem para provocar a
aderência completa entre o geotêxtil;
10. Sobre a manta é realizada uma segunda imprimação. Esta película betuminosa serve para
impregnar o geotêxtil e provocar a sua ligação com a camada de recapeamento.
11. Após a cura ou ruptura da emulsão aplicada, espalha-se um pouco do próprio concreto
asfáltico a ser utilizado na camada de recapeamento ao longo da trajetória das trilhas da
vibro-acabadora e dos seus caminhões de abastecimento, a fim de que o trânsito desses
equipamentos não danifiquem a manta.
A maior parte dos problemas observados com esse sistema está associada a taxas de
imprimação deficientes, ou a uma baixa absorção de asfalto pela membrana. A experiência
americana (onde há 20 anos se vem utilizando esse sistema a uma razão de 10000 milhas por
ano e envolvendo geotêxteis não tecidos de polipropileno com gramatura entre 3,5 e 4,0
oz/yd2) mostra que deve-se aplicar uma taxa de imprimação da ordem de 0,25 gal/yd2 a fim
de que o geotêxtil absorva cerca de 0,20 gal/yd2 e deixe 0,05 gal/yd2 para a ligação entre o
geotêxtil, o pavimento existente e a camada asfáltica de recapeamento. De fato, o efeito de
impermeabilização do geotêxtil é desprezível até que a membrana absorva pelo menos 0,16
gal/yd2. É preferível utilizar-se asfalto diluído do que emulsão asfáltica. O calor da camada
asfáltica de recapeamento e a pressão aplicada durante a sua compactação forçam a
imprimação para dentro do geotêxtil. Esta é a razão pela qual não se deve usar geotêxtil com
camadas de recapeamento muito delgadas (espessuras inferiores a 2,5 cm), uma vez que
essas camadas esfriam rapidamente.
58
Referências
Paterson, W.D.O. 1987. Road Deterioration and Maintenance Effects - Models for Planning and
Management. The World Bank, Washington, D.C., Johns Hopkins.
AASHTO 1986. The AASHTO Guide for Design of Pavement Structures. American Association
of State Highway and Transportation Officials, Washington, DC.
Elliott, R.P. & Thompson, M.R. 1985. “Mechanistic Design Concepts for Conventional Flexible
Pavements”. Report No. FHWA-IL-UI-208, February, University of Illinois at Urbana-
Champaign.
Finn, F.N., Nair, K. & Hilliard, J.M. 1978. “Minimizing Prematura Cracking in Asphaltic
Concrete Pavement”. NCHRP Report 195, Transportation Research Board, Washington,
DC.
Rodrigues, R.M. 1998. “Performance prediction model for asphalt overlays with geotextile
interlayers on cracked pavements”. Sixth International Conference on Geosynthetics,
Atlanta, Georgia, 25-29 march, 1998, IGS - International Geotextile Society, Vol. 2, pp.
973-976.
Atkinson, K. 1997. Highway Maintenance Handbook. Thomas Telford Publications, Second
Edition, Trowbridge, UK.
59
__________________________________________________________
Capítulo 3
__________________________________________________________
3.1 - Conceitos
1. Conservação;
2. Recuperação;
3. Restauração ( = recuperação estrutural + recapeamento);
60
4. Reconstrução.
onde se passa do tipo 1 ao tipo 4 à medida em que o pavimento se encontra cada vez mais
deteriorado.
Os seguintes defeitos e graus de deterioração têm se revelado indicativos da ocorrência
de degradação estrutural em pavimentos rodoviários de concreto com juntas, nos casos sem
armadura (Jointed Plain Concrete Pavement, JPCP) e com armadura (Jointed Reinforced
Concrete Pavement, JRCP), marcando a fronteira entre Recuperação e Restauração:
(1) O trincamento transversal fornece uma evidência direta de deterioração por fadiga.
Em pavimentos JRCP, trincas de baixa severidade são consideradas uma
conseqüência normal da retração por ressecamento após a construção e não são
consideradas degradação estrutural. Em pavimentos JPCP, a menos que o
espaçamento entre as juntas seja muito grande, trincas transversais de qualquer
severidade são evidência de deterioração estrutural. Níveis críticos para o trincamento
transversal são: 10% das placas trincadas ou 40 trincas por km (de qualquer
severidade) para JPCP, e 40 trincas por km (severidade média ou alta) para JRCP;
(2) O trincamento longitudinal é causado quase sempre por fatores que não o tráfego
(exemplo: má construção das juntas, movimentação da fundação), mas o tráfego pode
deteriorá-lo a tal ponto que ele passa a constituir uma degradação estrutural. Mais de
150 m de trincamento longitudinal em uma extensão de 1,6 km é um nível crítico para
JPCP e JRCP;
(3) Degrau nas juntas e bombeamento não são considerados defeitos estruturais, em
geral, mas eles são causados pelas cargas do tráfego e são indicações visíveis de perda
progressiva de transferência de carga nas juntas e de erosão do suporte da placa.
Níveis críticos são 2,5 mm para JPCP e 6 mm para JRCP, no caso de degrau nas
juntas;
(4) Quebras de canto, que ocorrem como resultado de erosão significativa do suporte da
placa e de deflexões de canto elevadas, são indicações definitivas de deterioração
estrutural. Um nível crítico sugerido é 15 quebras de canto por km, para JPCP e
JRCP;
(5) Esborcinamento de junta transversal, que reduz a espessura da placa nas juntas,
deveria ser considerada uma deterioração estrutural, já que ele diminui a integridade
estrutural da placa e é por natureza progressivo. Este defeito é provocado
freqüentemente por má execução das juntas, corrosão das barras de transferência,
trincamento “D” ou agregados reativos. Níveis críticos são 30 juntas esborcinadas por
km (severidade média ou alta) para JPCP e 15 por km (severidade média ou alta) para
JRCP.
Se uma rodovia apresenta níveis de degradação estrutural acima dos limites indicados
acima, o pavimento atingiu ou ultrapassou, provavelmente, o ponto a partir do qual a velocidade
de deterioração começa a aumentar rapidamente. Este é o estágio em que uma melhoria
estrutural é mais apropriada. Trabalhos de recuperação executados em um pavimento que
ultrapassou este ponto não devem levar a vidas de serviço significativas sob condições de tráfego
médio ou pesado.
Embora a degradação visível seja um bom indicador da deterioração estrutural, ela não
pode dar um retrato completo da extensão da deterioração subjacente. A realização de ensaios
destrutivos e levantamentos deflectométricos deve sempre ser recomendada em qualquer projeto
de restauração.
61
3.2 - Estudo de Alternativas
62
(1) O suporte das placas é restabelecido;
(2) As deflexões verticais diferenciais nas trincas e nas juntas são reduzidas a valores
aceitáveis;
(3) Os blocos de dimensões reduzidas fazem com que os movimentos térmicos sejam
mínimos;
(4) A magnitude e o efeito do empenamento da placa são reduzidos.
A maior parcela das trincas de reflexão que ocorrem em recapeamentos asfálticos sobre
pavimentos de C.C.P. resulta de deflexões verticais diferenciais nas juntas e trincas sob a
passagem dos veículos de carga. A velocidade de crescimento das trincas é função da freqüência
de passagem das cargas de roda e da magnitude das deflexões diferenciais provocadas por essas
cargas. Sempre que as deflexões diferenciais sob o eixo de 80 kN forem maiores que 5,1 × 10-2
mm a reflexão prematura das trincas em recapeamentos simples com espessura entre 9,1 e 15,2
cm é uma possibilidade e, quando essas deflexões forem maiores que 20,3 × 10-2 mm, a reflexão
prematura é quase certa.
63
H CBUQ Geotêxtil não tecido,
saturado com asfalto
3 cm CBUQ (regularização)
20 a CCP (JPCP)
23 cm
SUB-BASE
(tratada com cimento)
4,6 m
Subleito
VS (anos)
Dispersão (2 anos)
8,8
7,7
6,7
5,5
0
7,5 9,0 10,5 12,0 HR (cm)
64
A solução da CALTRANS, de utilizar a quebra e assentamento prévios das placas, é mais
econômica que se aumentar a espessura do recapeamento em 4,6 cm ou mais para igual
desempenho, já que o custo das operações de quebra e assentamento (“Crack and Seat”) varia de
0,6 a 0,9 US$/m2. Esta solução tem ainda um menor custo no ciclo de vida que o recapeamento
por uma placa de C.C.P. não aderida ou que a remoção e reconstrução ou reciclagem das placas
existentes e da sub-base.
O FHWA define o trincamento e assentamento da seguinte forma: “O objetivo de se
trincar e assentar o pavimento é o de se criar blocos de concreto pequenos o suficiente para se
reduzir os movimentos horizontais das placas a um ponto onde as tensões térmicas que
contribuem para a reflexão de trincas sejam bastante reduzidas. Além disso, os blocos devem ser
grandes o suficiente e apresentarem algum entrosamento de agregados entre eles de modo a que
a maior parcela da resistência estrutural original do pavimento de C.C.P. seja mantida. O
assentamento das placas quebradas após o trincamento tem o objetivo de restabelecer o suporte
entre a placa e a sub-base, onde vazios possam ter existido”.
Muitos consideram que os movimentos horizontais sejam mais importantes que as
deflexões diferenciais para a reflexão de trincas. Esses movimentos horizontais são provocados
pela retração e dilatação da placa de concreto sob ciclos de temperatura sazonais e diários, bem
como devido às cargas do tráfego. Os movimentos verticais, causados pelas cargas do tráfego,
induzem tensões de tração e de cisalhamento excessivas no recapeamento asfáltico, levando ao
início e à propagação de trincas.
Medições de campo, efetuadas em placas onde foi executada a quebra e assentamento,
indicaram a existência de uma relação direta entre a faixa definida pelas temperaturas máxima e
mínima do ar e a amplitude de movimentação das juntas, detectada por sensores apropriados.
Esta relação não é linear. Espera-se que as maiores faixas de temperatura ocorram durante o
verão. Contudo, sob temperaturas elevadas, o concreto asfáltico pode suportar deformações
maiores, indicando que deve haver outra época do ano em que a condição seja mais crítica para a
reflexão térmica.
Diferencia-se “quebra e assentamento” de “trincamento e assentamento” pelo fato de, no
primeiro caso, obter-se blocos com tamanho típico entre 15 e 45 cm, enquanto que, no segundo
caso, os blocos têm entre 45 e 120 cm de largura. Esta pesquisa teve por objetivo identificar o
mínimo esforço de quebra necessário para se destruir a “ação de placa”, ao mesmo tempo em que
se minimiza a perda de valor estrutural das placas do pavimento existente.
As alternativas à reconstrução de um pavimento de C.C.P., que é uma medida de custos
elevados e que provoca interrupções de tráfego significativas, são:
A última alternativa é a de menor custo inicial e a que vem sendo mais utilizada, apesar da
reflexão de trincas.
Um método como o da AASHTO pode ser aplicado para se definir a espessura da camada
asfáltica de reforço, o que requer a realização de:
A espessura final, contudo, tenderá a ser definida pelo critério da reflexão de trincas. No
Estado Novo México, por exemplo, uma espessura mínima de 11,4 cm é adotada.
65
O objetivo do processo de trincamento e assentamento prévio das placas é o de se reduzir
as tensões e deformações atuantes na camada de reforço. As trincas a serem formadas pela
quebra das placas devem ser fissuras de pequena abertura, a fim de se garantir transferência de
carga por entrosamento de agregados entre blocos vizinhos, e devem atravessar toda a espessura
da placa. Uma elevada transferência de carga permite que o pavimento retenha boa parte de sua
integridade estrutural original, o que minimiza a espessura de reforço necessária. A altura de
queda do martelo (que pode ser um bate- estacas adaptado) deve ser ajustada por tentativa e erro
em um segmento da rodovia até que se consiga uma fissura vertical atravessando toda a
espessura da placa. Após o trincamento, a superfície é limpada por meio de ar comprimido. Um
rolo pneumático, pesando no mínimo 50 tf , efetua o número de passadas necessário para que o
pavimento trincado fique bem assentado. A seção adotada é mostrada na Figura 3.3. A camada
porosa de atrito utilizada naquela seção tem os seguintes objetivos: evitar o fenômeno da
hidroplanagem, manter o coeficiente de atrito em níveis aceitáveis nos momentos críticos
(imediatamente quando começa a chover), melhorar as condições de visibilidade sob chuvas
intensas (por evitar o spray ou névoa que os veículos produzem com sua passagem para os
veículos de trás) e reduzir a infiltração de água para as camadas subjacentes do pavimento.
O desempenho apresentado por esta solução tem sido excelente, com mínima reflexão de
trincas em 5 anos. O baixo custo da operação de trincamento e assentamento (US$ 0,48 / m2)
torna esta solução altamente competitiva.
A Figura 3.4 sintetiza a discussão aqui apresentada, na forma de uma árvore de decisão
simplificada para escolha do tipo de medida de restauração mais apropriado para pavimentos
rígidos.
O Quadro 3.1 mostra uma classificação dos tipos de camadas de recapeamento que são
usualmente aplicadas sobre pavimentos rígidos, em função do grau de ligação que existe entre a
camada de recapeamento e o pavimento subjacente.
66
CAMADA POROSA DE ATRITO
10,2 cm SUB-BASE
(cimentada)
4,6 m
Subleito
67
No caso de recapeamento de pavimentos rígidos, seja por uma camada de concreto
asfáltico ou por concreto cimento, os critérios empíricos adotados pela FAA e que resultaram de
ensaios acelerados bastante restritos realizados pelo USACE nas décadas de 40 e 50 são bastante
insatisfatórios. Um método mecanístico-empírico foi desenvolvido pelo próprio USACE, o qual
se baseia no modelo de previsão de desempenho mostrado na Figura 3.5, que mostra a evolução,
com o número acumulado de coberturas, do Structural Condition Index (SCI), que é o PCI
apenas com os elementos relacionados ao trincamento estrutural. As seguintes fórmulas definem
o modelo:
DF = 0,2967 + 0,3881log C F
RTF
DF =
σt
onde:
DF = “design factor”;
RTF = resistência à tração na flexão (ASTM C-78);
σt = tensão máxima de tração, calculada pela teoria de camadas elásticas.
Para um número acumulado de coberturas maior que C0, a queda gradual do SCI é dada
por:
C
log F
SCI = 100
C
C
log F
C0
Quando SCI atinge o valor zero, tem-se uma condição de ruptura estrutural do
pavimento. Como a tensão σt é calculada admitindo-se uma placa horizontalmente infinita, o
modelo não considera de forma explícita as tensões máximas de tração que ocorrem ao longo das
juntas. Contudo, implícito no modelo está um grau de transferência de carga nas juntas superior a
25 %. Caso essa transferência seja inferior a 25 % (que é o valor de projeto admitido pelo
USACE), deve-se aumentar a tensão σt calculada pelo seguinte fator multiplicativo:
( 1 − α ) 0, 972
X=
0,7561
onde α é o grau de transferência de carga na junta (se α < 25 %). É fundamental que, quando da
aplicação desse modelo, seja considerado o prosseguimento da degradação estrutural da placa
subjacente, mesmo após o recapeamento, como indicado na Figura 3.6. A perda gradual de
suporte é considerada através do módulo de elasticidade efetivo da camada, podendo-se aplicar:
E ef
= 0,02 + 0,0064 × SCI + ( 0,00584 × SCI )
2
E0
68
SCI
100
1 C0 C (log)
CF
69
CAMADA DE RECAPEAMENTO
Degradação se o
suporte fosse
Condição
invariável
do
Pavimento
t
σt
t0 t
t1
PLACA SUBJACENTE
Suporte
Fornecido
pela Placa
t
Degradação se o
Condição
recapeamento não
do
fosse executado
Pavimento
Degradação da
placa após o
recapeamento
t0 t1 t
70
Referências
Darter, M.I. & Hall, K.T. 1991. “Case Studies in Rehabilitation Strategy Development”, 70th
Annual Meeting of the Transportation Research Board. Washington, D.C., January 13-17.
Wells, G.K., Hannon, J.B. & Predoehl, N.H. 1991. “California Experience with Cracking and
Seating of Concrete Pavements”. 70th Annual Meeting of the Transportation Research
Board, Washington, D.C., January, 13-17.
Tabatabaee, N. & Sebaaly, P. 1991. “Crack Monitoring System for Cracked and Seated PCC
Pavements”. 70th Annual Meeting of the Transportation Research Board, Washington,
D.C., January, 13-17.
Yi, Keun-Wook 1991. “Crack and Seat Performance”. 70th Annual Meeting of the
Transportation Research Board, Washington, D.C., January 13-17.
Paterson, W.D.O. 1987. Road Deterioration and Maintenance Effects - Models for Planning and
Management. The World Bank, Washington, D.C., Johns Hopkins.
AASHTO 1986. The AASHTO Guide for Design of Pavement Structures. American Association
of State Highway and Transportation Officials, Washington, DC.
IPR/DNER 1990. Manual de Pavimentos Rígidos. Volumes 1, 2 e 3. Divisão de Pesquisas do
Instituto de Pesquisas Rodoviárias do DNER. Rio de Janeiro.
Elliott, R.P. & Thompson, M.R. 1985. “Mechanistic Design Concepts for Conventional Flexible
Pavements”. Report No. FHWA-IL-UI-208, February, University of Illinois at Urbana-
Champaign.
Rollings, R.S. 1989. “Design of Airfield Overlays”. Second International Symposium on
Pavement Evaluation and Overlay Design, Rio de Janeiro.
71
___________________________________________________________
Capítulo 4
___________________________________________________________
4.1 - Introdução
5 PSI
A
3 B
P e río d o d e A n á lis e
1
0
te m p o
72
Uma outra questão: qual é o momento ideal para se restaurar um pavimento? Seja o caso da
Figura 4.2, onde duas alternativas são indicadas. Será que o fato de se ter postergado a
restauração, na alternativa 2, compensa o seu custo adicional, em relação à alternativa 1? Quando
se permite que um pavimento asfáltico permaneça por muito tempo trincado, a entrada de água
pelas trincas enfraquece as camadas subjacentes (base, sub-base, subleito), acelerando o acúmulo
de deformações plásticas, bem como levando à formação de panelas, quando as cargas dinâmicas
dos veículos em movimento geram excessos de pressões neutras na água que ficou retida sob o
revestimento. Além disso, quando um pavimento apresenta apenas trincas isoladas, é viável
obter-se um bom desempenho por meio de espessuras moderadas de concreto asfáltico em um
recapeamento. Se, por outro lado, tem-se um padrão de trincas severas interligadas ou em couro-
de-crocodilo, a reflexão dessas trincas através de um recapeamento asfáltico será inevitável,
devendo-se lançar mão de grandes espessuras para se obter um desempenho aceitável. E se
acrescentarmos o custo operacional dos veículos adicional, decorrrente de, na alternativa 2, a
irregularidade do pavimento permanecer em níveis mais elevados? A resposta a esta questão
depende de uma série de fatores, tais como: estrutura do pavimento, tráfego atuante, taxa de
oportunidade do capital e custos das obras. Além disso, existe um momento crítico na vida de um
pavimento que, se ultrapassado sem que uma restauração tenha sido executada, ocorrerá uma
perda total do patrimônio que é representado pelo pavimento existente, na medida em que não
será mais economicamente viável aproveitar a estrutura existente por meio dos processos
convencionais de restauração, sendo mais econômico reconstruir o pavimento completamente.
Esta é a pior situação, em termos do custo total do transporte, representado pela soma de três
componentes:
onde:
73
PSI ALTERNATIVA 1
5
tempo
PSI ALTERNATIVA 2
5
tempo
74
AMBIENTE
(Tecnológico - Social -
Econômico - Político)
DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
RECONHECIMENTO DO
PROBLEMA • Objetivos
• Revisão da situação existente; • Dados de entrada
• Avaliação prelim inar de • Resultados requeridos
necessidades. • Restrições
• Regras de decisão
GERAÇÃO DE
ESTRATÉGIAS
ALTERNATIVAS
FEEDBACK
ANÁLISE DAS
ALTERNATIVAS
AVALIAÇÃO DAS
ALTERNATIVAS E
OTIMIZAÇÃO
MONITORAMENTO E
AVALIAÇÃO DO IMPLEMENTAÇÃO DA
DESEMPENHO DO MELHOR ALTERNATIVA
SISTEMA EM SERVIÇO
A gerência de pavimentos, em seu sentido mais amplo, inclui todas as atividades envolvidas no
planejamento, no projeto, na construção, na manutenção (conservação e restauração) e na
avaliação dos pavimentos que fazem parte de uma infra-estrutura viária (rodoviária,
aeroportuária ou urbana). Um Sistema de Gerência de Pavimentos (SGP) é um conjunto de
ferramentas ou métodos para auxiliar os que tomam decisões a encontrar estratégias ótimas para
construir, avaliar e manter os pavimentos em uma condição funcional aceitável, durante um certo
período de tempo. Consiste, portanto, da aplicação da Engenharia de Sistemas ao problema de se
gerenciar uma rede viária da forma mais eficaz possível.
75
A função de um SGP é aumentar a eficiência das tomadas de decisão, expandir seu
escopo, fornecer “feedback” quanto às conseqüências das decisões, facilitar a coordenação das
atividades dentro da organização e assegurar a consistência das decisões tomadas em diferentes
níveis de gerência dentro da mesma organização.
Uma organização que administre uma rede pavimentada, seja rodoviária, aeroportuária ou
urbana, pode executar as atividades envolvidas na manutenção e melhoria das condições
operacionais de sua rede por meio de uma série de formas, que vão desde a execução dispersa
das diversas atividades por departamentos ou setores com pouca ou nenhuma interconexão até a
existência de um Sistema de Gerência de Pavimentos, definido como um conjunto de
procedimentos e metodologias destinadas a assegurar a execução coordenada, pela organização,
de todas as atividades envolvidas na manutenção e melhoria da rede. Tal coordenação visa,
basicamente, garantir coerência na tomada de decisões em todos os níveis, de modo a que os
recursos disponíveis sejam utilizados da forma mais eficiente possível, minimizando o custo total
do transporte, ao mesmo tempo em que as funções da rede pavimentada são plenamente
realizadas. Em alguns sistemas, a rede não pavimentada e as pontes e viadutos são também
incluídos no processo, quando se passa a ter um Sistema de Gerência da Infra-Estrutura Viária.
A finalidade básica de um SGP é auxiliar a organização responsável pela administração de
uma rede viária a responder à seguinte questão: “Sob certas restrições orçamentárias, quais as
medidas de conservação e de restauração que deveriam ser executadas, bem como quando e
onde, de modo a se preservar o patrimônio representado pela infra-estrutura existente e se obter
o máximo retorno possível dos investimentos a serem realizados? Além disso, qual parcela dos
recursos disponíveis deveria ser alocada para novas pavimentações?”
Um SGP deve ser capaz de auxiliar a tomada de decisões por parte de usuários em
diversos níveis dentro da organização. Para a mais alta administração, o SGP deve responder às
seguintes questões:
• Qual será o padrão futuro da rede, em função dos recursos disponíveis para sua
manutenção?
• Qual é a estratégia de manutenção e de construção que resultará no máximo retorno para
a sociedade dos investimentos a serem efetuados?
Para os engenheiros que fazem os projetos, o SGP deve auxiliar na definição das soluções
técnicas de manutenção e de construção que sejam as mais eficazes. O SGP pode operar, assim,
em dois níveis fundamentais: em nível de rede, quando se trata do planejamento de estratégias e
da alocação de recursos para toda a rede, e em nível de projeto, quando o processo ilustrado no
diagrama da Figura 4.3 é aplicado dentro de um determinado projeto apenas.
Os SGP’s são estruturados dentro do conceito da Engenharia de Sistemas, onde todas as
atividades necessárias à gerência de uma rede viária são interligadas, de modo a que as decisões
sejam bem embasadas e, ao longo do tempo, o monitoramento das condições da rede forneça um
“feedback” para todo o processo, de modo a permitir que se efetue “correções de rota”, por meio
da análise crítica do grau em que os objetivos do sistema estão sendo atingidos. Os princípios em
que se fundamenta um SGP completo e operacional são, portanto, os mesmos que norteiam a
administração de uma empresa de médio ou grande porte, bastando se encarar todo o processo
como um negócio, que pode dar lucro ou prejuízo, dependendo de onde e como o capital é
aplicado. O “lucro” que deve ser contabilizado no caso de um SGP, quando este opera em Nível
de Rede, pode ser calculado de várias formas, sendo que a mais completa utiliza o Valor Presente
Líquido dos Benefícios Econômicos, dado por:
PA (Bi − C i )Y
VPL BE = ∑
i =1 (1 + r )i
76
onde:
Bi = ∆USERi + BAi
CC i (1 + inf )
i
VR
CCV = CI + ∑ −
i (1 + r ) i
(1 + r )PA
onde:
CI = custo inicial (custo de restauração ou de construção);
C.C.i = custo de conservação no ano i;
VR = “Valor Residual” do pavimento, que é o valor monetário que pode ser associado
à vida restante do pavimento ou da medida de restauração aplicada, e que pode
ser calculado por:
VSR
VR = × CI (1 + inf )
PA
PP
77
onde:
VSR = vida de serviço restante;
PP = período de projeto do pavimento ou de sua restauração.
CI
CAEM =
VS
onde VS é a vida de serviço de uma alternativa de construção ou de manutenção que tenha custo
inicial CI. A alternativa que apresentar menor valor para CAEM tenderá a ser a de menor CCV,
embora isto não seja rigorosamente correto.
A estrutura detalhada de um SGP depende da organização onde está implementado.
Apesar disto, uma estrutura geral pode ser definida e aplicada, independentemente da
organização. Além disso, os SGP’s existentes se encontram em diferentes estágios de
desenvolvimento. Em qualquer estágio que se encontre, contudo, a experiência tem mostrado
que benefícios reais são obtidos de sua aplicação, sendo que esses benefícios aumentam
enormemente à medida que o sistema se torna cada vez mais completo e operacional.
Um SGP pode ser implementado de uma infinidade da maneiras diferentes. Como
apontado na Ref. [20], contudo, um SGP que não utilize previsões de desempenho, baseando-se
apenas na condição atual do pavimento para se tomar decisões acerca de quais trechos deverão
ser objeto de conserva ou de restauração tem pequena probabilidade de aplicar uma estratégia
que se aproxime da ótima. Como ilustrado na Figura 4.5, a mesma decisão seria tomada para os
pavimentos A e B, apenas por se encontrarem, em um dado momento T, em condições idênticas,
mesmo com a evolução posterior diferindo de forma acentuada.
78
Período de
PSI Projeto
5,0
2,0
VSR
0 tempo
CC i
CUSTOS
0 tempo
Período de
Análise
Um SGP é um meio de se organizar, coordenar e controlar todas as atividades que possam estar
relacionadas à economia e ao desempenho dos pavimentos de uma rede. A diferença que existe
entre a prática da gerência de pavimentos, que consiste no direcionamento eficiente e eficaz das
diversas atividades envolvidas em se manter os pavimentos em uma condição aceitável para os
usuários ao menor custo total para o transporte, e um Sistema de Gerência de Pavimentos está
no estabelecimento e documentação de cada uma das atividades componentes, tornando-as
formais, ao mesmo tempo em que elas são tratadas de forma coordenada e objetiva, existindo
“feedback” entre elas. Um SGP atravessa quase todas, senão todas, as fronteiras das divisões de
uma organização.
79
PSI
Nível de Alerta
Nível Crítico
0 t (anos)
80
acidentes, na medida em que se relacionem à condição e ao desempenho dos pavimentos, são
benéficas no processo de se determinar o que deveria ser feito e quando. A pesquisa deveria ser
um processo contínuo na gerência de pavimentos, tanto para se aperfeiçoar o sistema como na
procura de materiais e métodos melhores e mais eficazes.
81
• A construção e utilização de uma estrutura genérica para as diversas atividades
componentes do SGP é fundamental para se organizar essas atividades e para se
poder avaliar, a qualquer momento, o funcionamento do SGP;
• O SGP deve ser capaz de atender aos diversos tipos de usuários dentro da
organização;
• O uso de técnicas de quase-otimização, incorporando um procedimento heurístico, de
análise marginal de custo-eficácia ou custo-benefício, fornece bons resultados para a
priorização da programação de restaurações em uma rede, e pode ser até preferível a
um método que use programação matemática para a otimização;
• O Subsistema de Pesquisa do SGP deve permitir a incorporação gradual dos
resultados que venham a se revelar úteis de pesquisas já concluídas ou em andamento,
abrangendo toda a base tecnológica do sistema.
Um SGP deve utilizar a melhor base tecnológica que os recursos alocados para sua
implementação permitirem, já que o SGP é um processo coerente, consistente, e
aperfeiçoamentos marginais podem resultar em grandes ganhos.
Um SGP deve incentivar a inovação por parte dos empreiteiros, por meio de
especificações baseadas em resultados finais, bem como incentivar o acompanhamento dessas
inovações por pesquisadores e a incorporação de idéias novas ou resultados de pesquisas por
parte daqueles que fazem as especificações. A capacitação técnica dos empreiteiros e dos
técnicos da própria organização deve ser também incentivada, por meio de programas
específicos.
O SGP deve incentivar e participar de pesquisas em áreas onde os custos e os benefícios
econômicos envolvidos sejam elevados, tais como: determinação dos efeitos das cargas
dinâmicas para o desempenho dos pavimentos (de modo a se identificar os sistemas de suspensão
que minimizem a deterioração dos pavimentos); desenvolvimento de sistemas de drenagem
eficazes e desenvolvimento de técnicas para minimização da reflexão de trincas em camadas de
recapeamento.
Finalmente, mesmo que a gerência de pavimentos dentro de uma organização seja feita
por meio de processos que não atendam à estrutura de um SGP completo e operacional, ainda
assim surgem benefícios quando os técnicos e os administradores envolvidos nesta gerência
atuam imbuídos dos conceitos e metodologias associados a um Sistema de Gerência de
Pavimentos.
No caso rodoviário, onde é comum haver uma rede com extensão significativa e sujeita a
tráfego de veículos de carga, o SGP tende a operar nos dois níveis, rede e projeto, de forma
associada. Em nível de rede, faz-se o planejamento orçamentário, a alocação de recursos e a
seleção de projetos, enquanto que, em nível de projeto, procura-se encontrar a solução técnica
que seja economicamente a mais eficaz.
No caso de uma rede viária urbana, ocorre uma fusão entre ambos os níveis, de modo que
a medida de manutenção que é determinada para um certo segmento na análise econômica em
nível de rede é implementada na prática, sendo raros os casos onde um projeto de restauração é
efetuado antes da execução das obras.
No caso aeroportuário, o SGP opera apenas em nível de projeto, uma vez que ele é
aplicado aos pavimentos que compõem um determinado aeroporto. Assim, tende a não haver o
problema de se priorizar intervenções ou de selecionar-se projetos competitivos, mas sim a
questão de se determinar a medida de manutenção mais eficaz a ser aplicada a cada área
homogênea.
82
A Figura 4.6 mostra um diagrama de blocos simplificado de um SGP completo e operacional,
com os seus subsistemas componentes.
(1)
(3)
(4)
(9) BANCO
DE
(7) DADOS (5)
MONITORAMENTO IMPLEMENTAÇÃO
- Construção
(6) - Conservação
PESQUISA
(8) - Restauração
- Reconstrução
A Figura 4.6 ilustra um processo cíclico de nove etapas, que ocorre, em geral, a cada ano:
(1) O Subsistema de Planejamento acessa os dados em nível de rede para detectar as deficiências
atuais dos pavimentos e, a partir de condicionantes impostos quanto ao desempenho aceitável
ao longo de um Período de Análise e com base em restrições orçamentárias, gera um Plano
Plurianual de Investimentos em construção, conservação, restauração e reconstrução, que
consiste na resposta à pergunta: o que fazer? onde? e quando?
(2) O Subsistema de Projeto recebe do planejamento as categorias de intervenção que cada
segmento da rede será objeto e faz os projetos de engenharia necessários para os casos de
construção, restauração e reconstrução, além de especificar os materiais e serviços para os
casos de conservação. A verba prevista pelo planejamento para as intervenções em cada
segmento da rede se torna a restrição orçamentária que deverá ser atendida pelo projeto.
Eventualmente, relocações orçamentárias entre segmentos podem ser feitas nesta etapa, caso
haja excesso de verba para alguns segmentos e deficiência para outros;
(3) O Subsistema de Projeto acessa o Banco de Dados para buscar informações que serão
utilizadas para os projetos de engenharia de restauração, tais como: estrutura do pavimento
existente, tráfego atuante e histórico de crescimento, condição de superfície, histórico de
intervenções no pavimento e outros dados que podem ser úteis no processo. Quanto mais
completo for o Banco de Dados neste subsídio aos projetos de restauração, menos se
necessitará investir em levantamentos de campo complementares;
83
(4) Concluídos os projetos e as especificações, as intervenções programadas são executadas, ou
pela própria organização que gerencia a rede ou através de contratos com empresas externas.
O Subsistema de Implementação inclui ainda todos os processos de controle tecnológico e de
controle de qualidade das obras;
(5) É o Subsistema de Implementação que, por gerenciar os contratos das obras e serviços, terá
as informações mais atualizadas com relação aos custos reais praticados pelo mercado para
os materiais e serviços envolvidos em todas as atividades previstas. Os custos unitários
efetivamente praticados são então inseridos no Banco de Dados, a fim de que possam ser
utilizados pelos demais Subsistemas do SGP. Este Subsistema atualiza também o Banco de
Dados no que diz respeito ao histórico de intervenções que os pavimentos sofreram, em
função das obras e serviços efetivamente executados no período. Estas intervenções podem
não ter sido exatamente as que foram programadas pelo planejamento, devido a percalços e
problemas operacionais surgidos no período entre o planejamento ter sido concluído e as
obras terem sido executadas, o que justifica a necessidade de ser o Subsistema de
Implementação o que atualiza o histórico das intervenções;
(6) Durante a implementação das obras, os controles tecnológico e de qualidade gerarão
informações que podem ser utilizadas para se avaliar as práticas construtivas que vêm sendo
adotadas (eficácia, operacionalidade, qualidade do pavimento após a intervenção, etc). Os
Subsistemas de Monitoramento e de Pesquisa são então acionados;
(7) O Subsistema de Monitoramento é responsável pela avaliação de toda a rede e por atualizar
o Banco de Dados com relação à condição dos pavimentos, devido à deterioração sofrida
desde a última avaliação e em vista da mudança de condição dos pavimentos que foram
objeto de intervenção;
(8) O Subsistema de Pesquisa analisa as informações do Banco de Dados com o objetivo de
aperfeiçoar continuamente a base técnica do SGP, abrangendo todos os seus componentes
(critérios de decisão adotados pelo planejamento, modelos de previsão de desempenho dos
pavimentos, técnicas para os serviços de conservação e para as obras de restauração,
métodos para projeto de pavimentos novos e restaurados, materiais, etc.);
(9) A existência deste último elo do processo é que faz do SGP um verdadeiro feedback system.
Embora se tenha feito o planejamento na forma de um Plano Plurianual de Investimentos
abrangendo todo um período de análise de vários anos, esse plano precisa ser reavaliado a
cada ano, gerando-se, em conseqüência, um novo plano os anos seguintes. Diversos fatores
contribuem para que essa reavaliação seja necessária, por cancelarem as premissas em que o
planejamento foi feito: o plano de investimentos original pode ter sido implementado apenas
parcialmente, a deterioração dos pavimentos ao longo do tempo dificilmente segue
exatamente o que é previsto através de modelos, os custos unitários dos materiais e serviços
mudam com o tempo, o tráfego atuante varia ao longo do tempo de formas imprevisíveis,
dentre outros fatores. Além disso, aperfeiçoamentos feitos na base tecnológica do SGP de
modo a aumentar a eficácia de suas decisões requerem que um novo planejamento seja feito,
a fim de se tomar partido o quanto antes desses aperfeiçoamentos.
4.5.1 - Planejamento
84
1. Avaliar as conseqüências de diversas estratégias de alocação de recursos;
2. Analisar as implicações, em termos de custos de manutenção e de custos operacionais
do transporte, de se dispor de diferentes níveis de restrições orçamentárias para os
próximos anos;
3. A partir de restrições orçamentárias e operacionais conhecidas, priorizar as obras de
construção e as intervenções de manutenção na rede, de modo a se obter o máximo
retorno possível para esses investimentos.
4.5.2 - Projeto
85
3,12
N σ / 0,12 MPa
pi − pt = 0,91 6 i
10 [ Ei / 160 MPa]α
onde:
Ei = módulo de elasticidade da camada i;
pi = índice de serventia (PSR) inicial;
pt = PSR terminal;
α= 1,16 se Ei < 160 MPa e α = 1,00 nos demais casos.
Este Subsistema é responsável pela implementação das obras que foram programadas pelo
Subsistema de Planejamento e que foram detalhadas pelo Subsistema de Projeto, e inclui o
acompanhamento dos contratos, com registro dos custos efetivamente envolvidos, os quais são
inseridos no Banco de Dados.
Executa o levantamento periódico de dados acerca da condição dos pavimentos em toda a rede,
de modo a manter o Banco de Dados permanentemente atualizado para utilização pelos demais
Subsistemas. Os tipos de levantamentos mais usuais são os contínuos, realizados em toda a rede,
e os localizados, que consistem de levantamentos mais detalhados que são realizados em
Unidades de Amostragem espalhadas ao longo da rede, cujo acompanhamento é realizado pelo
Subsistema de Pesquisa.
4.5.5 - Pesquisa
Após mais de 20 anos de aplicação prática dos SGP’s, pode-se concluir que estes sistemas
fornecem o modo mais eficaz de se obter retorno dos investimentos efetuados. Eles reconhecem
explicitamente o enorme investimento em infraestrutura que é representado pelos pavimentos.
Além disso, eles podem se tornar operacionais, ser compreensíveis e auxiliar o processo decisório
dos seus usuários (Ref.[2]). Outros benefícios que os SGP’s vêm trazendo incluem (Ref.[4]):
86
4. Informações quanto ao desempenho dos pavimentos, que são utilizadas para se prever
a condição futura da rede;
5. Uma forma de se avaliar diversas estratégias de restauração;
6. Uma forma objetiva de se julgar e classificar as necessidades da rede por prioridade;
7. Uma base consistente para a alocação de recursos;
8. Uma forma para se analisar as conseqüências de diversos níveis orçamentários;
9. Um aumento da credibilidade da organização junto ao público e aos níveis superiores
da administração;
10. Transferência de tecnologia e um valioso “feedback” que aperfeiçoam a tecnologia do
projeto de pavimentos, da restauração, da conservação, dos materiais e da
construção;
11. Uma avaliação da deterioração dos pavimentos da rede causada por mudanças nas
dimensões e nas cargas dos caminhões;
12. De modo geral, a capacidade de as organizações monitorarem e aperfeiçoarem
continuamente seus sistemas.
À medida que a capacitação dentro de cada estágio aumenta, o valor de um SGP também
cresce, e de forma dramática. Contudo, não é uma questão de “tudo ou nada”. Benefícios
87
imediatos de um SGP existem desde o momento em que as bases de dados do inventário e da
condição da rede se encontrem estruturadas, na medida em que termina o problema da
“volatilização” de dados ao longo do tempo e a dependência da disponibilidade de algumas
poucas pessoas para se ter acesso a informações, além de se tornar as informações mais
prontamente acessíveis quando requisitadas. Implantar um SGP significa, portanto, nada mais do
que: organizar para se trabalhar melhor e com mais eficiência, visando resultados para a
sociedade.
Apresenta-se, a seguir, um exemplo de seqüência de atividades para se aperfeiçoar um
SGP existente:
88
rede ou em nível de projeto; efetuar-se estudos especiais (como sobre
novos materiais, dosagem de misturas asfálticas baseada no desempenho,
etc).
• Aspectos Institucionais:
89
4.8 - Efeitos das Técnicas de Manutenção de Pavimentos
4.8.1 - Conservação
90
A previsão da época em que é necessário ou conveniente aplicar-se uma Lama Asfáltica
sobre um revestimento em CBUQ pode ser feita considerando-se a redução do coeficiente de
atrito que mede a resistência à derrapagem sob pista molhada. O atrito adequado entre o pneu e
o pavimento depende da profundidade da macrotextura, que é a altura média das protuberâncias
do agregado de superfície e que afeta a drenagem de água na área de contato do pneu e o risco
de hidroplanagem, e da microtextura do agregado, que tende a sofrer polimento sob tráfego a
uma velocidade que depende do tipo do mineral.
A perda da macrotextura pode ocorrer por exsudação ou por embebimento de agregados.
A exsudação é causada ou por excesso de ligante ou por viscosidade inadequada para as
condições de temperatura, e tende a ser um problema mais grave em tratamentos superficiais do
que em concretos asfálticos. Mesmo em tratamentos bem projetados, a embebição de agregados
ocorrerá sob tráfego mesmo que não haja exsudação ou desagregação. No caso de tratamentos
superficiais, os modelos acima podem ser utilizados para se prever a vida de serviço esperada,
para a deterioração não associada a trincamento. Eles resultam em ciclos de resselagem de 9,5
anos para tráfego de 1000 veículos/faixa ao dia e de 6 anos para volumes de 5000 veículos/faixa
ao dia.
O polimento da microtextura dos agregados ocorre tanto em tratamentos superficiais
como em concretos asfálticos. Rauhut et alii (1984) desenvolveram um modelo para previsão da
redução da resistência à derrapagem em função das passagens dos veículos para duas classes de
agregados:
Agregado Calcáreo:
g( N ) = 0,582 N 0,574
g( N ) = 0,354 N 0, 383
onde:
g(N) = função de deterioração da resistência à derrapagem, definida a partir do “skid
number” (SK) e para uma condição terminal (ou seja, g(N) = 1) de SK = 35:
SK ( inicial ) − SK ( N )
g( N ) =
SK ( inicial ) − 35
91
• “Flush seal”: aplicação de emulsão ou asfalto líquido à superfície
do pavimento, a uma taxa prescrita;
• “Sand seal”: aplicação de emulsão ou asfalto líquido à superfície
e aplicação de uma cobertura de areia;
• “Chip seal”: ou tratamento superficial, sendo usual que o ligante
seja uma emulsão com látex.
Os modelos foram desenvolvidos por região climática (três distritos) e alguns deles são
(Distrito 3):
• Flush Seal:
• Sand Seal:
• Chip Seal:
4.8.2 - Restauração
92
Para uma espessura de recapeamento HR (em cm) a irregularidade é reduzida de seu valor inicial
QIa ao valor final QId de acordo com (fonte: Pesquisa PAEP do IPR):
QI a − 19
QI d = 19 +
0,602 H R + 1
4.8.3 - Reconstrução
93
conta (dados em nível de rede), resultando em subtrechos que poderão apresentar dezenas de
quilômetros de extensão.
Esta fórmula só tem sentido, contudo, para efeito de propiciar, por meio de um único
parâmetro, uma visão global da condição atual dos pavimentos, por se tratar de algo como
“somar laranjas com maçãs”, e na medida em que se teria valores iguais para o IAP
representando situações completamente distintas. Os itens seguintes descrevem formas de se
definir os índices necessários ao cálculo do IAP.
O registro dos defeitos pode ser realizado de forma contínua ao longo dos trechos a serem
estudados. Para tanto, pode ser utilizada a idéia originária do Método VIZIR do LCPC, também
adotada pelo sistema de gerência de pavimentos DMS com o seu “Roughness and Distress
Meter” (RDM), que se baseia em um computador manual, conectado a um odômetro de
precisão, no qual o operador digita os defeitos de superfície e suas características (além de outras
informações relevantes) à medida que o veículo se desloca a baixa velocidade ao longo da
rodovia. A cada defeito ou ocorrência, com sua severidade correspondente, existe uma tecla ou
seqüência de teclas que são acionadas pelo operador assim que ele identifica o defeito ou
94
ocorrência. O resultado é que se obtém um registro realmente contínuo dos defeitos de
superfície, com a localização dos defeitos ao longo da extensão da rodovia com uma precisão
bastante elevada. A codificação dos defeitos pode utilizar as definições da norma DNER-PRO
08/78 (Avaliação Objetiva da Superfície de Pavimentos Flexíveis e Semi-rígidos).
Pode-se definir um índice objetivo (numérico) que indique as condições de degradação
superficial do pavimento a cada intervalo entre estacas (segmento de 20 m de extensão). Este
índice teria a mesma definição dada na norma DNER-PRO 08/78 para o Índice de Gravidade
Global (IGG), alterando-se apenas seu nome para excluir os afundamentos plásticos (que estão
embutidos no IGG). Usando-se a sugestão do monitoramento do DNER de 1992, pode-se definir
o Índice de Defeitos de Superfície:
n
IDS = ∑ fri x FPi
i=1
onde:
n = número de tipos de defeitos existentes dentro do segmento de 20 m;
fri = freqüência relativa com que ocorre o defeito “i” dentro do segmento, calculada
dividindo-se o número de vezes em que o defeito ocorre, por intervalo de 1 m de
extensão, pelo número total desses intervalos dentro do segmento (ou seja, 20);
Fpi = fator de ponderação, de acordo com a norma DNER-PRO 08/78 (Tabela 4.2), para
revestimento em CBUQ.
P 1,0
EX 0,5
D 0,3
R 0,6
95
1
4,5 1
IGG = - 1 -3
1,065
VSA 7,635 × 10
Invertendo-se esta fórmula, pode-se definir um Índice de Estado de Superfície (IES) como
um conceito de 0 a 5 que seria calculado a partir do IDS (assimilado ao IGG, por definição) e que
expressaria, em uma escala finita, o grau de deterioração da superfície:
4,5
IES =
1 + 7,635 × 10 -3 × IDS1,065
P 1,0
EX 0,5
R 0,6
leve 0,3
Deve-se observar que o valor máximo do IES, obtido por esta fórmula, é de 4,5 e não de
5,0. Esta consideração é necessária devido ao fato de que um pavimento novo (ou seja, com IGG
= 0) não costuma receber VSA = 5, em vista das imperfeições construtivas. Como ilustração,
tem-se o caso da “AASHO Road Test”, onde os pavimentos, quando novos, receberam PSR =
4,2.
96
Tabela 4.4 - Índice de Estado de Superfície
4,5 0
Ótimo
4,0 14
3,5 30
Bom
3,0 51
2,5 79
Regular
2,0 120
Sua avaliação deve ser constituída por três tipos de levantamentos complementares:
• Irregularidade Transversal:
É medida, em cada estaca, por meio de um perfilômetro transversal, que consiste de uma
haste, ancorada entre o acostamento e a fronteira entre as faixas de tráfego, que tem uma
ponta móvel que toca a superfície do pavimento e registra continuamente, em papel
milimetrado, o perfil transversal daquela faixa de tráfego. Com este perfil, pode-se
calcular os afundamentos em trilha de roda (externa e interna).
• Irregularidade Longitudinal:
É medida por meio de equipamento tipo resposta (como o Maysmeter), obtendo-se o
parâmetro “Quarter-car Index” (QI, em contagens/km), com o qual se pode calcular o IRI
(“International Roughness Index”) pela seguinte correlação:
QI
IRI (m / km) =
13
5,0
QI = 71,5 log e
PSR
97
Assim, o Índice de Serventia Atual pode ser estimado por:
− QI
onde fri se refere à freqüência do defeito “i” dentro de cada segmento de 20 m de extensão,
calculada com base nas ocorrências dentro de intervalos de 1 m do levantamento contínuo.
A fim de converter o IGDL a uma escala de 0 a 5, como está sendo feito para todos os
índices aqui definidos, será considerada válida a mesma relação ente o IGG e o VSA apresentada
no item anterior, o que pode ser feito tendo em vista que o IGDL foi definido através da própria
fórmula de IGG, Assim:
4,5
IDL =
1 + 7,635 x 10 -3 x IGDL1,065
98
medida em que o desvio-padrão de ATR, e não apenas seu valor médio dentro de um segmento,
é que mais se correlaciona com o PSI. Como será utilizado o valor de ATR (média entre as
trilhas de roda externa e interna) de cada estaca para se calcular o IDP, não disporemos do seu
desvio-padrão, contudo.
Uma forma de se definir esta correlação é utilizando-se a seguinte relação, válida em
caráter aproximado:
Considerando-se que, para ATR = 1,5 cm tenha-se uma condição terminal (pavimento deve
ser restaurado) dada por PSI = 2, obtém-se α = 1,11. Esta relação pode ser utilizada, portanto,
para se calcular o seguinte Índice de Afundamentos em Trilha de Roda:
O Índice de Deformações Permanentes pode ser dado, portanto, pela seguinte fórmula:
onde os pesos P1, P2 e P3 devem ser definidos em função da importância relativa que se desejar
atribuir aos três componentes das deformações permanentes. Uma sugestão pode ser:
P1 = 2
P2 = 1,5
P3 = 1,5
o que implica em uma importância um pouco maior para a irregularidade longitudinal, já que o
QI já é afetado pelos demais componentes (IDL e IATR).
Pode-se utilizar um equipamento tipo “Falling Weight Deflectometer” (FWD) para a medida das
bacias de deflexões nas provas de carga a serem realizadas nos pavimentos analisados. Os ensaios
podem ser executados a cada 50 m, de forma alternada entre as faixas de tráfego, quando a
rodovia for de pista simples, ou sem se alternar, mas avaliando-se apenas a faixa mais carregada,
nos casos de pista dupla.
Uma carga que pode ser aplicada nos ensaios é a de 40 kN, utilizando-se uma placa
circular com 30 cm de diâmetro, de modo a se obter uma pressão de contato igual a 5,66
kgf/cm2. Esta configuração é a que melhor reproduz o estado de tensões aplicado ao pavimento
pelo eixo padrão rodoviário de rodas duplas, com carga de 80 kN, já que a pressão de inflação
do pneu é de 5,6 kgf/cm2 e a distância centro a centro entre as rodas do semi-eixo é de 30 cm.
A determinação dos módulos de elasticidade efetivos das camadas de um pavimento, nas
condições “in situ”, tem por finalidade não somente avaliar-se a integridade ou condição
estrutural de cada camada, mas também permitir uma previsão confiável das respostas da
estrutura às cargas de roda em movimento, na forma de tensões e deformações nos pontos
críticos do pavimento. Estas respostas é que formam a base para previsões de desempenho futuro
por meio de modelos do tipo mecanístico-empírico. Assim, se o comportamento real da estrutura
se distanciar significativamente do modelo teórico admitido para as retroanálises (teoria de
camadas elásticas, cada uma sendo formada por material homogêneo, isotrópico e de
comportamento tensão × deformação linear), os módulos de elasticidade calculados não
99
representarão a natureza e a condição real dos materiais das camadas, mas serão parâmetros
fictícios, sem correlação com os módulos de resiliência dos materiais e dando apenas uma
descrição “elástica equivalente” da estrutura. Esta situação é mais comumente observada quando
se nota a impossibilidade de se ajustar, por retroanálise, a bacia teórica à bacia de campo, dentro
de um erro tolerável. O resultado deste processo é que não haverá confiabilidade no cálculo das
tensões e deformações geradas na estrutura pelas cargas de roda em movimento, invalidando
quaisquer previsões de desempenho.
Alguns poucos ensaios com a viga Benkelman podem ser realizados simultaneamente aos
ensaios com o FWD, a fim de se estabelecer uma correspondência entre os diagnósticos que
podem ser obtidos por meio desses dois equipamentos. Nos trechos ou segmentos onde este
estudo limitado for realizado, seriam coletadas amostras dos materiais das camadas para a
determinação, em laboratório, dos módulos de deformação resiliente. Embora reduzido em
extensão, o escopo deste estudo especial poderá ser muito abrangente e útil, na medida em que
permitirá traçar-se uma relação entre as análises com o FWD e aquelas que utilizam a viga. A
importância deste resultado está em que os dados deflectométricos que os SGP’s dispõe
usualmente para toda a rede se referem à viga Benkelman.
Deve-se observar que a utilização de duas cargas no FWD ao invés de uma não eleva o
tempo necessário para os ensaios de forma significativa, podendo-se contar com uma produção
diária de 200 a 300 estações de ensaio por dia de trabalho.
Em cada estação de ensaio, pode ser calculado um índice que traduza a característica de
deformabilidade elástica externada pelo pavimento. A definição de um índice desta natureza é,
contudo, extremamente simplista, na medida em que não existe um parâmetro único de resposta
da estrutura às cargas do tráfego (tensões, deformações, deflexões), nem algum parâmetro
sintetizador da rigidez elástica da estrutura (módulo equivalente, número estrutural) que
explique a deficiência estrutural do pavimento com relação à geração de trincas por fadiga nas
camadas asfálticas, e que seja válido para qualquer tipo de estrutura de pavimento. A deflexão
máxima do pavimento (D0), por exemplo, embora tenha uma relação com o desempenho da
estrutura, necessita de outros parâmetros complementares para que se possa obter uma previsão
adequada do desempenho futuro do pavimento, tais como:
Além disso, o próprio tráfego atuante influi diretamente na deflexão que um pavimento
pode suportar para que apresente um desempenho adequado durante um período de tempo
especificado. A fim, contudo, de se definir um índice que possa ser utilizado para o cálculo de um
índice de aptidão comparativo entre as estruturas, para fins de priorização de intervenções, por
exemplo, será aqui utilizado um Índice de Deformabilidade Elástica (IDE), o qual se baseia nas
seguintes premissas:
100
(ii) Nos demais casos (D0 > Dadm), o valor de IDE se reduz de 5 proporcionalmente
redução na vida de serviço do pavimento decorrente da distância existente entre D0 e
Dadm.
Nf = ∝ D 0 β
resulta que, para D0 > Dadm:
D
3, 25
onde foi adotado β = - 3.25, de acordo com o critério de deflexões admissíveis, calibrado na
“AASHO Road Test”, para um PSI terminal igual a 2,5:
No caso de pavimentos semi-rígidos, a deflexão admissível pode ser dada pelo critério do
TRRL, apresentado no Guia da AASHTO de 1986, enquanto que, no caso de pavimentos em
tratamento superficial, o critério californiano, mostrado nesse mesmo Guia, poderá ser usado. O
tráfego de projeto, Np, utilizado nessas fórmulas, pode ser considerado como aquele referente a
um período ou vida de serviço de 10 anos, o qual tem sido adotado como a vida de serviço
mínima de um pavimento asfáltico, na maioria dos projetos.
Um parâmetro importante para constar das sínteses a serem elaboradas é a Vida Restante dos
pavimentos (VR), definida como o número de anos que deve transcorrer antes que o pavimento
necessite ser restaurado. Sua importância está em reunir, em um só parâmetro, as condições
estruturais e funcionais dos pavimentos, além de ser um excelente indicador relativo a até que
ponto a política de investimentos em manutenção que vem sendo adotada está sendo eficaz para
a proteção dos investimentos em infra-estrutura representados pelos pavimentos existentes. Este
parâmetro pode ser estimado por meio de um modelo recursivo-incremental como:
1
1−
1 PSI 0 β PSI 2
δPSI = −αβ − 1 × × δt
α PSI PSI 0
PSI 0
PSI (t ) =
1 + αt β
101
PSI
PSI0
0 t
Figura 4.7 - Forma geral para um modelo de perda de serventia ao longo do tempo
A decisão quanto à estratégia a adotar é função de uma complexa rede de fatores. Um SGP não
toma decisões, mas apenas processa informações fornecidas a ele de acordo com um conjunto
pré-determinado de modelos. As pessoas responsáveis pelas tomadas de decisão devem
“controlar” o SGP, de modo que este seja uma ferramenta no processo decisório (Ref.[11]), que
expanda seu escopo e eficácia.
A escolha final da estratégia a ser implementada é subjetiva. Embora a análise econômica
deveria formar uma base para a decisão, não há regras que deveriam ser seguidas à risca. Não se
deve listar apenas a estratégia ótima, mas também algumas estratégias quase ótimas, já que a
experiência tem mostrado que a estratégia economicamente ótima é apenas marginalmente mais
atrativa que um certo número de outras quase iguais, havendo uma flexibilidade considerável na
escolha da “melhor” alternativa. Pode-se escolher entre dois procedimentos para geração das
estratégias a serem consideradas para análise: a priorização ou a otimização.
A priorização envolve a definição e o uso de um índice com o qual os projetos candidatos
são ordenados. Os projetos a serem implementados no ano a que se referem as análises serão
todos aqueles com os maiores índices, reunidos até que se esgotem as restrições orçamentárias
para aquele ano. O índice utilizado pode ser definido subjetivamente ou ser calculado pela
relação benefício-custo das intervenções.
A otimização envolve a maximização, sob restrições orçamentárias, do Valor Presente
Líquido dos Benefícios Econômicos, decorrentes das intervenções, o qual é definido por
(Ref.[12]):
Y DNBy(m − n)
VPL(m − n) = ∑
y = 1 [1 + 0,01r ] y − 1
102
onde:
no ano y;
r = taxa de oportunidade do capital (% por ano);
Y = período de análise (anos).
O benefício econômico líquido de uma alternativa em relação à outra é a soma das
diferenças dos custos operacionais dos veículos, dos custos associados ao tempo de viagem e de
benefícios exógenos, subtraindo-se as diferenças, entre as alternativas comparadas, dos custos
totais de implementação das estratégias (custos de construção e de manutenção).
Na Ref.[5], são utilizados dois procedimentos alternativos: uma priorização com análise
de conseqüências e uma otimização.
Para a priorização, utiliza-se o seguinte Índice de Prioridade:
p1IC + p2 IES
IP =
p1 + p2
onde:
IC = Índice de Custos Operacionais;
IES = Índice de Estado de Superfície;
p1, p2 = pesos relativos.
O IC é um valor, definido em uma escala de 0 a 10, que depende da redução nos custos
operacionais dos veículos, obtida por uma restauração. Sua determinação, de acordo com a
Tabela 4.6, procurou segmentar os volumes de tráfego e a irregularidade de modo a que se
obtivessem faixas ou células significativas. No processo com otimização, pode-se usar o VPL
calculado pelo HDM-III, por exemplo.
Irregularidade VDM ≤ 1000 1000 < VDM ≤ 3000 3000 < VDM ≤ 7000 VDM > 7000
103
4.11.2 - Em Nível de Projeto
CI + ∑ CCi
CAEM = i
VS
N f = FC × 87 × e 1,579 n × H R1,505 × h1−0,2311 × E 0−0,279 × E1−0, 0494 × E 20,172 × E 30, 0762 × Q −2 ,22
onde FC é o fator de calibração do modelo (da ordem de 48, para condições brasileiras) e HR é a
espessura da camada de recapeamento em concreto asfáltico, cujo módulo de resiliência a 25oC é
E0. O parâmetro n é o expoente da lei de fadiga dessa mesma mistura asfáltica.
4.12 - Monitoramento
É usual que SGP’s em nível de rede atualizem a cada ano o banco de dados em termos de
parâmetros como a irregularidade, que pode ser medida de forma rápida e econômica através de
104
medidores tipo resposta. O Índice de Serventia (PSI) pode ser calculado, a partir dessas medidas
objetivas, por meio de correlações do tipo:
QIm = 13 × IRI
PCI
Excelente Custo da Restauração = 1,00
Muito Bom
Bom
Regular
Custo da Restauração = 5,00
Ruim
Muito Ruim
Rompido
t
Figura 4.8 - Conseqüências de se postergar a restauração (Ref.[18])
A detecção precisa do momento crítico para a restauração, ilustrado na Figura 4.8, é uma tarefa a
ser executada pelos critérios que determinam as necessidades atuais de manutenção dos
pavimentos da rede. Exemplos de critérios desta natureza são mostrados na Figuras 4.11 a 4.13.
Quanto mais consistentes e realistas forem esses critérios, mais se estará efetuando intervenções
adequadas no momento oportuno. Esta é uma das mais importantes contribuições que um
sistema de gerência de pavimentos completo e operacional pode dar para a utilização eficaz dos
recursos disponíveis.
É no momento de se elaborar um projeto de engenharia para restauração de um
pavimento que se torna fundamental a execução de levantamentos deflectométricos detalhados, a
fim de caracterizar a deformabilidade elástica dos materiais das camadas. O uso do Falling
Weight Deflectometer (FWD) permite um estudo mais completo e confiável da estrutura do
pavimento existente, em relação a uma avaliação através da viga Benkelman. Não é usual, nos
SGP's existentes no mundo, a utilização de levantamentos deflectométricos como parte do
Subsistema de Monitoramento, uma vez que a gerência em nível de rede busca a forma mais
eficaz de alocar recursos em manutenção, o que inclui a definição dos segmentos que requerem
intervenções de caráter apenas corretivo, em termos funcionais (como reparos localizados, por
exemplo), ou de caráter preventivo (caso da conservação preventiva: selagem de trincas, por
exemplo), bem como a detecção da época mais oportuna para se restaurar o pavimento de um
determinado segmento. Os dados relativos a deflexões, se utilizados neste processo, pouco
acrescentarão em termos de sua melhoria, quando se considera os custos envolvidos e a
perturbação decorrente do tráfego, associados aos levantamentos deflectométricos. Em nível de
projeto, por outro lado, eles se tornam imprescindíveis para um correto diagnóstico dos
mecanismos através dos quais os pavimentos vêm se deteriorando ao longo do tempo e para o
dimensionamento estrutural do pavimento restaurado.
105
4.13 - O Modelo HDM-III
4.13.1 - Introdução
Nos países desenvolvidos, de onde se originou a quase totalidade das técnicas de projeto e
construção de pavimentos, o tráfego intenso, a importância econômica de se reduzir os tempos
de viagem e a disponibilidade de recursos financeiros levam à adoção de padrões elevados para
as rodovias. No terceiro mundo, onde a realidade é bem diferente, a necessidade de se determinar
os padrões economicamente mais adequados levou ao desenvolvimento do modelo HDM
(Highway Design and Maintenance Standards Model). Este modelo se constitui em uma
estrutura conceitualmente ordenada de relações entre os parâmetros físicos de uma malha viária e
a economia envolvida no processo total do transporte. Aplica-se à análise econômica de padrões
alternativos para as rodovias de uma malha, seja padrões de construção (estrutura do pavimento,
geometria da via) ou de manutenção (natureza e freqüência das operações de conserva, medidas
de restauração), permitindo responder-se a questões do tipo:
106
Os custos de manutenção ao longo do tempo são calculados pelo HDM-III a partir de
modelos de previsão de desempenho para os pavimentos e para diversas medidas de restauração.
Estes modelos foram desenvolvidos a partir de um amplo estudo no Brasil (1977 - 1982), que
incluiu pavimentos também em Minas Gerais. Tais modelos se aplicam bastante bem para o
estudo econômico de padrões de manutenção em nível de planejamento (alocação de recursos,
priorização, análise de sensitividade de parâmetros nas necessidades futuras de manutenção) de
uma rede. Deve-se ter o cuidado, contudo, de não aplicá-los à definição de soluções técnicas em
nível de projeto, uma vez que os modelos são empíricos e refletem, a rigor, apenas a base de
dados que foi utilizada em seu desenvolvimento.
Os modelos para o cálculo dos custos operacionais dos veículos que foram
desenvolvidos naquela mesma pesquisa no Brasil (1975 - 1984) também fazem parte do HDM-
III.
O HDM-III vem sendo amplamente utilizado em todo o mundo, inclusive nos países
desenvolvidos, após se efetuar uma calibração prévia de seus modelos componentes. É hoje a
ferramenta mais versátil, completa e bem fundamentada para auxiliar as atividades de
planejamento em um SGP. Contudo, como foi salientado pela própria equipe do Banco Mundial
que o desenvolveu, é necessário que um processo contínuo de calibração de seus modelos seja
empreendido, a fim de se assegurar uma boa confiabilidade para as previsões e estimativas
efetuadas.
Como exemplo de aplicação, cita-se o caso mostrado na Ref. [20], onde se concluiu que
os modelos do HDM-III são capazes de prever, com acurácia razoável, a deterioração observada
em 15 anos em pavimentos da África do Sul, após terem sido determinados fatores de calibração
apropriados.
Quando se trata da implementação de um SGP em uma rede rodoviária que utilizará o HDM-III
como base para elaboração dos Programas Plurianuais de Investimentos, é fundamental a
realização de um monitoramento em Unidades de Amostragem distribuídas por toda a rede.
Com relação às Unidades de Amostragem (UA’s), a primeira atividade a ser executada
refere-se à definição da metodologia para se determinar a sua localização. Para isto, contudo,
deve-se estabelecer antes qual será a finalidade das UA’s dentro do SGP.
Uma idéia que pode ser considerada é a de que a realização de avaliações periódicas nas
UA’s sirva a dois propósitos básicos, simultaneamente:
1. Levantar dados que serão utilizados, a cada ano, na reavaliação dos Programas
Plurianuais de Investimentos, e que são onerosos e demorados demais para que possam
ser levantados periodicamente de forma contínua em toda a rede;
2. Permitir a implementação do Subsistema de Pesquisa do SGP, o qual interpretará o
desempenho observado ao longo do tempo nos pavimentos das UA’s de modo a:
107
• Permitir a realização de pesquisas acerca de questões que interessem à melhoria
da eficácia econômica das técnicas de conservação e de restauração dos
pavimentos incluindo novos materiais e processos.
Dentro desta visão, os únicos levantamentos que deveriam ser realizados periodicamente
de forma contínua em toda a rede seriam: o L.V.C., a cada ano, o de irregularidade, a cada dois
anos, e o de tráfego nos PNV’s a cada ano, por exemplo. Os demais parâmetros, requeridos para
a elaboração de Programas Plurianuais de Investimentos, seriam obtidos por meio de análises dos
dados levantados periodicamente na UA’s, tais como:
• Os parâmetros que descrevem o estado de superfície dos pavimentos asfálticos e que são
requeridos pelo HDM-III, como a percentagem de área trincada, determinados por meio
de correlações com os dados do L.V.C.;
• As deflexões dos pavimentos, que deveriam ser extendidas aos Subtrechos Homogêneos
por meio de um processo que considere aspectos como: estrutura do pavimento, grau de
trincamento da camada de revestimento e natureza ou CBR dos solos de subleito;
• Os afundamentos médios em trilha de roda e o desvio-padrão dos afundamentos, dentro
de um Subtrecho Homogêneo, estimados por meio de correlações a serem estabelecidas
entre os dados do L.V.C. e o QI.
108
Com relação ao tipo de estrutura de pavimento existente, pode-se considerar os
seguintes:
• Flexível asfáltico, original (nunca foi recapeado);
• Flexível em tratamento superficial;
• Semi-rígido, original;
• Rígido, original;
• Flexível asfáltico, recapeado;
• Semi-rígido, recapeado;
• Rígido, recapeado.
Quanto às espessuras das camadas, pode-se definir faixas de valores para a espessura do
revestimento em pavimentos flexíveis em concreto asfáltico e para a espessura da placa de
concreto em pavimentos rígidos. Para os pavimentos recapeados, a espessura da camada asfáltica
de recapeamento é fundamental. Para os demais tipos, pode-se estabelecer níveis de valores para
o Número Estrutural da AASHTO.
Quanto ao estado de superfície, pode-se definir índices como o IDS (Índice de Defeitos
de Superfície), relativo à freqüência e severidade da degradação superficial, e um Índice de
Deformações Permanentes (IDP), relacionado aos afundamentos em trilha de roda e às
deformações plásticas localizadas. Combinações de faixas de valores para o IDS e para o IDP
definiriam situações a serem consideradas.
Quanto aos quatro últimos fatores (idade, tráfego, clima e geometria), bastaria definir-se
categorias ou classes específicas para cada um deles, com base nas situações que ocorrem na rede
pavimentada.
Com relação à aplicabilidade dos modelos do HDM-III para cálculo dos custos operacionais dos
veículos (Modelo VOC), deve-se lembrar que, em princípio, o que importa quando se elabora um
Programa Plurianual de Investimentos, é a variação dos custos operacionais dos veículos devido
a alterações na irregularidade ou na geometria de uma via, e não uma elevada precisão nas
estimativas dos valores absolutos dos custos operacionais em si, que estão sendo gerados por
uma certa condição. Diferenças de custos relativas a diferentes condições da rodovia variam
muito menos do que os custos operacionais totais, quando se considera diferentes ambientes
sócio-econômicos (Ref.[9]). Além disso, deve-se esperar dos modelos desenvolvidos a partir do
estudo realizado no Brasil entre 1975 e 1984 que sejam de alto grau de generalidade, sendo
extrapoláveis para condições que se encontram fora do universo experimental definido pelo
dados que foram utilizados para o seu desenvolvimento, na medida em que não são simples
regressões estatísticas, mas as formas das relações utilizadas para se prever as velocidades dos
veículos, o consumo de combustíveis e o desgaste dos pneus de ônibus e caminhões são
basseadas em princípios da mecânica dos veículos e no comportamento dos motoristas, enquanto
aqueles utilizados para a previsão do consumo de peças de manutenção e para os recursos de
mão-obra requeridos são baseados em análise econométrica de dados levantados junto aos
usuários.
Existem aspectos do Modelo VOC que merecem, contudo, ser objeto de uma calibração.
A frota de veículos atual é bastante diferente daquela que serviu de base para o estudo
experimental, a qual era composta por veículos típicos dos montados na década de 70 no Brasil
(VW 1300, Opala, Dodge Dart, Scania 110/39, Mercedes Benz 1113). Este aspecto importa no
caso do consumo de combustíveis, para o que foi introduzido no seguinte modelo o “fator
relativo energia-eficiência”, α1:
109
UFCu UFCd
FL = 500α 1α 2 +
Vu Vd
Para os veículos atuais, deve-se atribuir valores para α1 menores que 1,0. Para α2, uma
calibração seria necessária quando as condições operacionais da via se distanciarem bastante das
vigentes no experimento realizado no Brasil. Os valores de UFCu e UFCd dependem do
parâmetro CRPM, que é a “rotação nominal calibrada do motor”, um valor constante que se
atribui ao número de rotações por minuto do motor e que serve para se prever o consumo de
combustível. Este é um outro parâmetro a ser calibrado para a frota atual. Diretrizes para se
ajustar os parâmetros α1, α2 e CRPM podem ser encontradas na Ref.[22], Capítulo 14.
Informações experimentais para essa calibração poderão ser obtidas junto a empresas de
transporte coletivo, no caso dos ônibus, e de transporte de cargas, no caso dos caminhões. Para
os automóveis, deverá ser pesquisada uma fonte confiável para se obter os parâmetros desejados.
A Figura 4.8 mostra os parâmetros que descrevem a geometria de uma via e
que são utilizados pelo modelo HDM-III no cálculo do custo operacional dos veículos.
Nessa figura, LAB é o comprimento da seção, medido ao longo do arco.
A velocidade média operacional é calculada por:
3.6 × 2 × LGTH 7. 2
S= =
LGTH LGTH 1 1
+ +
Vu Vd Vu Vd
onde:
LGTH = comprimento da seção, em km;
Vu = velocidade prevista para o segmento ascendente (m/s);
Vd = velocidade prevista para o segmento descendente (m/s).
110
B
R1
R2
F1
F2
C3
C1
B
A
C2
R1 + R 2 + F1 + F 2
RF =
L AB
C1 + C 2 + C 3
C=
L AB
−β
1 1 1 1 1
0 β β β
1 β 1 β 1 1 1
Vu = E + + + +
VDRIVEu VBRAKEu VCURVE VROUGH VDESIR
−β
1 1 1 1 1
0 1 β 1 β 1 β 1 β 1 β
Vd = E + + + +
VDRIVEd VBRAKEd VCURVE VROUGH VDESIR
111
A partir das características geométricas do segmento considerado, dois segmentos são
idealizados: o ascendente e o descendente, ambos com as mesmas características médias do
segmento real em termos de: curvatura horizontal (C) e gradiente vertical médio (RF), tendo
também o mesmo comprimento e irregularidade longitudinal do segmento real. A única diferença
entre eles está no sinal do parâmetro RF, que é positivo no segmento ascendente e negativo no
segmento descendente, mas em valor absoluto igual ao gradiente vertical médio do segmento
real. Estes segmentos são apenas um artifício de cálculo que se revelou útil para a previsão da
velocidade média operacional. Nas fórmulas acima:
VDRIVE é calculada com base na hipótese de que o veículo é dirigido a velocidade constante em
uma rodovia reta e suave (sem irregularidade), utilizando um alto nível de potência denominado
"potência útil do motor", HPDRIVE, a qual é menor que a potência nominal do motor
(principalmente em veículos a gasolina), em vista da tendência dos usuários de não fazer uso da
potência máxima permitida pelo motor e devido a restrições mecânicas (como potência perdida
na transmissão e utilizada por acessórios). É calculada por:
736 × HPDRIVE
VDRIVE =
DriveForce
onde:
736 = número de Watts em uma unidade métrica de HP;
GVW = peso do veículo (tf) = TARE + LOAD;
g = 9,81 m/s2;
112
CR = coeficiente de atrito ao rolamento;
CR = 0,0218 + 0,0000467 QI para automóveis e utilitários
CR = 0,0139 + 0,0000198 QI para ônibus e caminhões
GR = gradiente vertical = + RF/1000 ou = - RF/1000;
RHO = densidade do ar (kg/m3);
[ ]
RHO = 1,225 1 − 2,26 × 10 −5 A
4 , 255
113
medida de manutenção a todos os Subtrechos Homogêneos que compõem uma determinada
Célula de Análise.
Neste contexto, uma forma bastante eficaz de se definir as referidas células é aquela que
foi adotada quando da estruturação da versão atual do SGP do DNER (Ref. [5]), onde se
considerou que uma célula seria determinada pelo cruzamento de três parâmetros fundamentais:
Sendo esses três parâmetros da mesma categoria ou classe para todo um conjunto de
Subtrechos Homogêneos é de se esperar que o desempenho de uma determinada medida de
manutenção, o custo total no ciclo de vida dessa medida e os custos operacionais dos veículos
sejam semelhantes em todos os subtrechos componentes.
Naquele critério, contudo, o número total de células obtido foi ainda muito elevado (164),
mesmo se considerando o fato de que algumas das células pudessem ser extintas, por haver uma
extensão pouco significativa de subtrechos dentro delas. Uma simplificação é, portanto,
recomendável. Para tanto, deve-se considerar que as medidas de manutenção que o HDM-III
considera aplicáveis para os pavimentos asfálticos são:
onde Nano é o número anual equivalente de operações do eixo padrão rodoviário de 80 kN,
estimado com base nos dados disponíveis sobre Fatores de Veículo resultantes de postos de
pesagem do DNER e considerando os fatores de equivalência da AASHTO.
Das combinações possíveis para esses parâmetros, serão excluídas aquelas cuja expressão
for pequena em termos de representatividade da malha federal pavimentada. As análises para os
114
Subtrechos Homogêneos que pertencerem a essas combinações excluídas serão consideradas
como dadas pela combinação mais semelhante e cuja necessidade atual de manutenção seja a
mesma. As combinações finais obtidas serão as Células de Análise para o HDM-III, como
indicado nas Tabelas 4.7, 4.8 e 4.9.
115
Tabela 4.9 - Células de análise (tráfego pesado)
Necessidade Atual de Manutenção:
RL LA CS RS REF RRT
Tipo:
FCA C67 C68 C69 C70 C71 C72
FRC C73 C74 C75 C76 C77 C78
SCA C79 C80 C81 C82 C83 C84
SRC C85 C86 C87 C88 C89 C90
O Índice de Qualidade pode ser determinado em função de dois índices, como indicado na
Tabela 4.11:
116
rigor, elaborar o “diagnóstico” de um pavimento significa analisar a relação entre o desempenho
apresentado até o momento em que o pavimento foi avaliado, parâmetros estruturais (estrutura
do pavimento e resposta da estrutura às cargas do tráfego) e o tráfego solicitante, com alguma
consideração quanto aos fatores climáticos e de drenagem, quando necessário. A existência de
uma relação clara e bem definida é um indicador de que o desempenho registrado possa ter sido
efetivamente provocado pelo mecanismo de deterioração que está sendo testado. A inexistência
de correlação, por outro lado, mostra que novas relações ou outros mecanismos deverão ser
testados.
0-2 Q1 Q2 Q3 Q4 Q5
3-4 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10
Conservação
Restauração
0-1 10 9 8 8 7
1-2 9 8 7 6 5
2-3 8 7 6 4 3
3-4 8 6 4 2 1
4-5 7 5 3 1 0
1. Trincamento por fadiga das camadas asfálticas e cimentadas, por repetição das cargas do
tráfego;
2. Reflexão das trincas subjacentes, no caso de recapeamentos aplicados sobre pavimentos
trincados;
3. Deformações permanentes, causadas por acúmulo de deformações plásticas em uma ou
mais camadas sob a repetição das cargas do tráfego;
117
4. Degradação do revestimento asfáltico por envelhecimento natural (oxidação do ligante)
ou artificial (craqueamento do asfalto, volatilização de componentes mais leves e
oxidação, durante as operações de mistura em usina);
5. Degradação do revestimento asfáltico pela ação da água livre ou do vapor d’água, em
trincas ou poros, sob excesso de pressões neutras decorrente da passagem das cargas de
roda;
6. Deficiência de compactação em uma ou mais camadas, ou problemas quanto à resistência
ou durabilidade dos materiais empregados;
7. Outros fatores.
Como se pode notar, esta questão não é simples e envolve uma dose considerável de
estudos e de experiência para se obter um correto diagnóstico.
A fim de ordenar um procedimento que será seguido quando da análise dos Subtrechos
Homogêneos, serão considerados como “normais” os casos onde, na tabela que define o Índice
de Qualidade, houver uma correspondência direta entre o grau de deterioração do pavimento
(medido pelo Índice de Degradação) e o grau de adequação da estrutura ao nível de tráfego
atuante (medido pelo Índice de Deformabilidade Elástica). Assim, fazendo-se referência à tabela
que define o IQ, pode-se dizer que:
Nos casos IQ = Q3, Q4, Q5, Q8, Q9 e Q10 deve-se investigar se não houve alguma
intervenção recente que está “mascarando” as conseqüências da deficiência estrutural. Já nos
casos IQ = Q11, Q12, Q16, Q17, Q21 e Q22 deve-se verificar se não se trata de pavimentos antigos,
sem restauração há vários anos, ou se os dados de tráfego estão corretos, por exemplo.
A elaboração das estratégias de manutenção, a serem objeto de avaliação por meio do HDM-III,
será baseada no que foi definido como “necessidade atual de manutenção” para cada célula de
análise. Assim, para cada condição, definida por uma determinada célula serão listadas as
medidas de manutenção que poderão se constituir em alternativas para a medida que foi indicada
como “necessidade” para aquela célula. Essas medidas alternativas tenderão a ser de menor custo
inicial (de implantação) que a medida referente à “necessidade”, uma vez que esta última foi
definida como “a medida requerida para se eliminar as deficiências estruturais e funcionais do
pavimento, e que seja capaz de garantir um desempenho satisfatório durante um período de
tempo especificado”. Dessa forma, as alternativas referidas serão medidas menos eficazes quanto
à eliminação das deficiências estruturais e funcionais do pavimento, mas que poderão ser
aplicadas em um contexto de restrições orçamentárias.
Uma política de manutenção pode ser definida como uma diretriz básica que o órgão
rodoviário pretende seguir. Esta política deve ser elaborada a partir do nível administrativo ou
orçamentário imediatamente superior ao órgão rodoviário, e poderá ter uma definição como:
1. A rede viária deverá ser colocada em condições funcionais satisfatórias o mais rápido que
for possível;
118
2. Os investimentos anuais em manutenção (conservação e restauração) não poderão
exceder a uma determinada quantia que será alocada;
3. Os investimentos deverão ser programados de modo a que a sociedade obtenha o maior
retorno que for possível.
A partir da política que for definida, parte-se, então, para a elaboração das estratégias de
manutenção que forem aplicáveis, dentro dos objetivos e restrições impostos pela política de
manutenção adotada. Uma estratégia de manutenção é, portanto, uma das possíveis respostas à
questão: O que fazer? Quando? e Onde? Significa, em outros termos, uma programação de
investimentos que chega ao nível de alocar recursos, ao longo do tempo, para as obras de
conservação e restauração em toda a rede pavimentada, durante um determinado horizonte de
tempo estipulado pelo setor de planejamento.
O número de estratégias de manutenção possíveis é bastante elevado, deixando-se de
lado, por enquanto, as restrições orçamentárias e operacionais. Para se elaborar uma estratégia,
serão consideradas, para cada Célula de Análise, todas as medidas de manutenção de custo igual
ou inferior ao custo da medida definida como “necessidade atual de manutenção” e que faz parte
da definição da própria Célula, dentre as que foram apresentadas no item 4.11.4. Efetuando-se
todas as combinações possíveis, ter-se-á as estratégias de manutenção a serem objeto de análise
econômica. A Tabela 4.13 mostra as medidas básicas de manutenção que poderão vir a ser
consideradas. Alternativas a essas medidas poderão ser elaboradas, bastando combinarem-se duas
medidas básicas ao longo do período de análise. Em termos de associação das medidas da Tabela
4.13, que se encontram codificadas de acordo com a nomenclatura adotada pelo HDM-III, com
as medidas aqui denominadas de “necessidade atual de manutenção”, deve-se observar apenas
que a necessidade identificada por “REF” (restauração com reforço estrutural e ou proteção
contra reflexão de trincas) será associada ao recapeamento simples nas espessuras de 10,0 e 12,5
cm (Medidas 12 a 17).
Para efeito das análises econômicas com o HDM-III, será tomada como Alternativa Base (aquela
em relação à qual todos os custos e benefícios são calculados, para cada medida alternativa) a
não execução de quaisquer intervenções na pista.
Dentre uma série de resultados fornecidos pelo HDM-III, importa o Valor Presente
Líquido dos Benefícios Econômicos (VPLBE) de uma alternativa de manutenção em relação à
alternativa base. A Estratégia de Manutenção Ótima será aquela que levar ao maior somatório
dos valores de VPLBE, quando se considera todas as Células de Análise e todas as alternativas
consideradas aplicáveis para cada Célula. Dificilmente esta estratégia poderá vir a ser adotada,
contudo, em um quadro de severas restrições orçamentárias e acentuado estado de degradação
da rede pavimentada. As alternativas que serão consideradas em cada Célula, para efeito da
otimização global para a rede como um todo, serão aquelas que apresentarem os maiores valores
para o parâmetro VPLBE. A Figura 4.8a ilustra um resultado típico a ser obtido por meio das
análises das Células com o HDM-III. A otimização sob restrições orçamentárias, a ser executada
posteriormente, será mais eficaz se forem selecionadas, para cada Célula, apenas um número
mínimo de alternativas que levem a uma curva VPLBE × Custo de formato convexo, como é o
caso, na Figura 4.8a, para as Alternativas: 09, 13, 14, 16 e 22. Um gráfico deste tipo é traçado
com o objetivo de se selecionar as medidas que definem uma “envoltória dos máximos” na
relação VPLBE × Custo.
119
Tabela 4.13 - Estratégias básicas de manutenção
Critério para Aplicação
Medida Tipo % da área QI Intervalo Espessura
deteriorada (anos) (cm)
01 Lama 50 5 1,2
02 Selagem 50 7 2,5
03 50 3,5
04 Recap. 60 3,5
05 70 3,5
06 50 5,0
07 Recap. 60 5,0
08 70 5,0
09 50 7,5
10 Recap. 60 7,5
11 70 7,5
12 50 10,0
13 Recap. 60 10,0
14 70 10,0
15 50 12,5
16 Recap. 60 12,5
17 70 12,5
18 RRT
Obs: Medida Base : não há intervenções na pista;
Medida 00 : reparos em áreas localizadas (para um certo percentual da área com panelas).
VPLBE 22
16
14 05
19
13
10
09
0
Custo de Manutenção
Figura 4.8a - Estudo de alternativas de manutenção para uma célula de análise no HDM
120
4.13.7 - Otimização sob Restrições Orçamentárias
Deve ser determinada, portanto, a estratégia que levar ao maior VPLBE para o conjunto de
Células de Análise, dentre as estratégias que atenderem às restrições orçamentárias anuais. Para
tanto, devem ser analisados vários cenários para essas restrições e as conseqüências associadas a
cada cenário são então computadas, a fim de se poder compará-los entre si. A determinação da
estratégia ótima sob restrições orçamentárias pode ser executada aplicando-se o programa EBM,
que acessa os resultados gerados pelo HDM-III e requer apenas que seja fornecida a restrição
orçamentária, separada em restrições para os custos de capital e em restrições para os custos
recorrentes, caso seja desejado.
A Tabela 4.14 ilustra em que poderá consistir um resultado típico a ser obtido após a
otimização efetuada com o EBM, enquanto que a Figura 4.9 esquematiza a síntese de todas as
otimizações a serem efetuadas, sendo uma para cada nível de restrição orçamentária. Um gráfico
deste tipo permite que se analise a atratividade econômica se se efetuar investimentos na
manutenção da malha federal pavimentada.
VPLBE
121
4.13.8 - Elaboração de Relatórios Gerenciais
A preparação de Relatórios Gerenciais para a Direção Geral do órgão que administra a rede
viária considerada visa apresentar:
A finalidade desses relatórios será a de fornecer todos os subsídios que importam para
que os responsáveis pelo planejamento possam tomar as decisões referentes ao Programa
Plurianual de Investimentos que será adotado para os próximos anos. Estes relatórios
subsidiarão também os níveis mais elevados de planejamento.
10
0
400 500 600 700
5
4
3
2
1
0
400 500 600 700
122
Pavimento Existente
h1
HR CBUQ
h1
Recapeamento Delgado
HR = 4 cm CBUQ
h1
Capa Selante
Massa Fina de CBUQ
HR = 3 cm
h1
123
Um outro exemplo é o caso da "Pavimentação por Etapas", útil em caso de restrição
orçamentária severa ou de grande incerteza quanto ao tráfego que de fato irá operar na rodovia.
Um estudo na pista circular de Nantes (LCPC) mostrou que "5 + 5 = 10", ou seja, que construir
um revestimento com 5 cm de CBUQ hoje e aplicar um recapeamento de mais 5 cm após alguns
anos de serviço, antes que o revestimento esteja severamente trincado, leva a um desempenho
semelhante a construir-se logo o revestimento com espessura total (10 cm). Este resultado
indicaria que, desde que o recapeamento seja feito no momento oportuno, é mais vantajoso do
ponto de vista econômico adotar-se a pavimentação por etapas. Esta conclusão deve ser vista
com cautela, contudo, uma vez que o resultado da Pista de Nantes refere-se a um ensaio
acelerado, com menos de dois anos de duração, o que significa que a oxidação intensa que a
camada de 5 cm sofrerá durante os primeiros 5 anos de serviço não estava incluída naquele
experimento. De fato, após 5 anos em serviço, é bastante provável que a quase totalidade da
espessura da camada esteja significativamente intemperizada e fragilizada, tornando a mistura
asfáltica mais susceptível de sofrer trincamento por fadiga. O recapeamento de 5 cm teria,
portanto, de enfrentar a concentração de tensões induzida pelas trincas da camada subjacente.
Assim, não haveria como a pavimentação por etapas apresentar desempenho equivalente à
aplicação inicial de 10 cm, a menos que o revestimento original de 5 cm recebesse uma capa
selante, do tipo Lama Asfáltica, por exemplo, logo de início. Esta estratégia tende a ser superior
principalmente em casos onde a incerteza quanto ao tráfego de projeto é muito grande, a tal
ponto de justificar correr-se o risco de construir a espessura total requerida de revestimento
apenas após haver confirmação experimental da magnitude do tráfego atuante.
124
A metodologia que pode ser adotada em cada uma dessas etapas será apresentada nos
itens a seguir.
• Segurança:
1. Resistência à derrapagem mínima, em pista molhada ou seca. É afetada pela textura
da superfície e por suas condições de drenagem. A textura é alterada pelo desgaste
superficial ou por exsudação de ligante, enquanto que as condições de drenagem são
prejudicadas pelos afundamentos em trilha de roda;
2. Inexistência de descontinuidades na superfície, do tipo panelas.
• Conforto ao Rolamento: diz respeito à irregularidade longitudinal da via.
Qicrit = 45 cont/km
IGGcrit = 50
ATRcrit = 7 mm
A Figura 4.12 mostra o processo seguido para a definição das medidas de restauração a
serem aplicadas, enquanto que a Figura 4.13 apresenta o critério adotado para a definição das
125
intervenções de conservação. No que diz respeito às medidas de restauração, considera-se, de
acordo com a norma DNER PRO-10/79, que um IGG superior a 180 indica um pavimento que
deve ser reconstruído (medida identificada por RRT na Figura 4.12). Não sendo este o caso, a
existência de trincas interligadas severas em extensão significativa dentro de um segmento leva à
necessidade de que o projeto de restauração leve em conta o fenômeno da reflexão de trincas,
também de acordo com a norma DNER PRO-10/79. A medida a ser aplicada deveria ser,
idealmente, um “Sistema Anti-Reflexão de Trincas”, como identificado pelo código SART na
Figura 4.12. A forma mais simples e convencional que um sistema desta natureza pode assumir é
a medida que consiste de fresagem do revestimento trincado, a fim de se reduzir o comprimento
das trincas capazes de se refletirem, seguida de recapeamento em concreto asfáltico. Quando a
reflexão de trincas não tiver um potencial de ocorrência elevado, o recapeamento simples em
CBUQ é a medida de maior eficácia econômica que pode ser aplicada (código RS(HR) na Figura
4.12), desde que a espessura da camada de recapeamento requerida para o período de projeto
(HR) seja exeqüível. Caso contrário, sendo a espessura de reforço necessária pelo “critério da
resistência” (para proteção contra deformações plásticas excessivas) muito elevada (acima de
12,5 cm por exemplo), a medida de maior eficácia econômica passa a ser uma reconstrução
parcial do pavimento (código RRP), o que pode ser feito por meio de reciclagem in situ
(operação conhecida também por “recuperação” do pavimento em algumas terminologias).
No que diz respeito às intervenções de conservação, deve-se verificar, inicialmente, se a
resistência à derrapagem em pista molhada se encontra dentro do limite admissível. Para tanto,
pode-se lançar mão do Skid Number (SK), sendo que o momento onde se espera a ocorrência do
seu valor crítico (SKmin = 35) pode ser previsto pelo seguinte modelo, para revestimentos em
CBUQ:
g ( N ) = 0,354 N 0,383
SK − SK min
g(N ) =
SK max − SK min
126
Início
QI > Qicrit ?
S
N
S
IGG > IGGcrit ? RESTAURAÇÃO
S
ATR > ATRcrit ?
CONSERVAÇÃO
127
RESTAURAÇÃO
S
IGG > 180 ? RRT ou RRP
S S
FC2 + FC3 > 50% HR / h1 < 1,7 SART
N N
RECAP
RRP
S
HR > 12,5 cm ?
N RS(HR)
CONSERVAÇÃO
S
SK < SKmin ?
LAMA ou TSD
N
S
Desagregação ?
N
S
RL
IGG > 30 ?
CR
128
No que diz respeito às deficiências estruturais, pode-se utilizar como parâmetro básico a
espessura da camada asfáltica de recapeamento necessária para se trazer a deflexão característica
de cada segmento à deflexão admissível, esta última sendo função do tráfego previsto para um
período de projeto adotado como referência. Deve-se considerar, contudo, o fenômeno da
reflexão de trincas, que cancela a validade de qualquer critério de deflexões admissíveis.
A Figura 4.14 mostra outro exemplo de “árvore de decisão”, utilizada para se decidir
quais as medidas de manutenção que são requeridas para se corrigir as deficiências funcionais e
estruturais de um pavimento.
No Método VIZIR, as soluções de manutenção são escolhidas integrando-se as
informações do Índice de Qualidade Estrutural e do tráfego atuante, de acordo com as práticas
de construção vigentes e os tipos de estrutura de pavimento existentes. No caso da aplicação
deste método, que foi realizada para o Banco Mundial na Coréia do Sul, têm-se as soluções
mostradas na Tabela 4.15. Nesta tabela, TS é tratamento superficial e CA é concreto asfáltico. O
dimensionamento das espessuras das camadas (indicadas em centímetros na Tabela 4.15) foi feito
por dois métodos: um critério deflectométrico e o modelo ALIZE III, que analisa o trincamento
por fadiga.
Q1 TS TS CA4 CA5
Conserva Q2 TS TS ou CA4 CA4 CA5
Q3 TS ou CA4 CA4 CA7 CA7
Q7 CA7 CA7 CA10 PMQ10+CA5
Restauração Q8 CA7 CA10 PMQ7+CA5 PMQ10+CA5
Q9 CA10 PMQ7+CA5 PMQ10+CA5 PMQ15+CA5
129
TRÁFEGO
S FR + RS FR + RS FR + HR FR + HR
CR > 40
S RS FR + RS FR + RS FR + HR
25< CR< 40
S S
15<CR<25 QI > 60 RS RS FR + RS FR + RS
N LA LA FR + RS FR + RS
QI > 60 S RS RS RS RS
QI > 25 S RS
S
Desgaste>20 LA LA LA RS
S LA LA RS
15<Desgaste<20
130
O Custo no Ciclo de Vida é definido por:
NR
PA
CCi CR j VR
CCV ( PA) = CI + ∑ + ∑ −
i =1 (1 + r ) j =1 (1 + r ) (1 + r )PA −1
i −1 Tj
VSR
VR = CR
PP
N R −1
VSR = PP − PA − VS − ∑ PP
j =1
j
Situações de referência para as quais o cálculo de CCV poderá feito, a fim de determinar
o Período de Projeto ideal (aquele de minimizará o CCV), são mostradas nas Tabelas 4.16 e
4.17.
Para esses cálculos de CCV utilizando um modelo de previsão de desempenho
mecanístico-empírico confiável e calibrado para as condições da rede em questão, deve-se utilizar
um Nível de Confiabilidade para as previsões de desempenho (NC) compatível com a importância
da rodovia, traduzida pelo volume de tráfego. Para tanto, as estimativas utilizadas no cálculo de
CCV para os custos anuais de conservação (CCi) devem refletir o valor de NC correspondente,
na medida em que se esperam maiores custos de conserva localizada (remendos, selagem de
trincas) com a redução de NC (Figura 4.15).
131
CCi
50 80 95 NC (%)
280000
270000
CCV (R$)
260000
250000
240000
0 5 10 15 20 25 30
Período de Projeto (anos)
O resultado acima, obtido para um pavimento flexível com revestimento em CBUQ sob tráfego
pesado, com custo do CBUQ igual a R$ 150,00/m3 e r = 12% ao ano, mostra que o ideal é
efetuar-se intervenções recorrentes de restauração a cada 10 anos (ou 8 a 11 anos), a fim de
minimizar o custo em longo prazo das intervenções em pavimentação. Este cálculo foi feito
aplicando-se a equação genérica acima para CCV, particularizada para restaurações feitas sempre
ao mesmo custo e a intervalos regulares (iguais a PP), uma vez que o objetivo do cálculo é
determinar qual o período de projeto ideal para as restaurações a serem feitas nos pavimentos
enquadrados naquela condição de referência (estrutura, condição de superfície e tráfego atuante).
Os recursos de análise de que um SGP em nível de rede deve dispor são:
132
(3) Gerar a "Estratégia-Base", definida como aquela onde as árvores de decisão em (1) são
aplicadas a cada ano e todas as medidas de conservação e restauração ali detectadas são
efetivamente implementadas, sem qualquer consideração acerca de restrições
orçamentárias;
(4) Gerar estratégias sob restrições orçamentárias (alteração da Estratégia-Base impondo o
atendimento a um limite máximo de investimentos a cada ano ao longo do Período de
Análise);
(5) Analisar as conseqüências (econômicas e funcionais) dos cenários gerados em (2), (3) e
(4) para auxílio à tomada de decisões.
133
planejamento. Isto pode ser feito agregando-se os Subtrechos Homogêneos em Células de
Análise representativas e desenvolvendo-se os estudos com os modelos em nível de projeto para
as condições estruturais e de tráfego que representem cada Célula de Análise. Cada segmento a
ser objeto de restauração deverá ter, posteriormente, seu próprio projeto de restauração antes da
execução das obras, ficando a alocação orçamentária feita em nível de rede como restrição
orçamentária para esse projeto.
(3) Estratégia-Base
O fluxograma em (3) é modificado de modo a que a restrição orçamentária imposta a cada ano
seja atendida. Isto é feito através de um Índice de Prioridade (IP), aplicado a todos os subtrechos
que necessitem ser restaurados em um dado ano (Figura 4.19). Inicialmente, exclui-se do
orçamento disponível a verba requerida, a cada ano, para as intervenções de conservação. Serão
executadas apenas as restaurações de maior IP que se enquadrarem no orçamento restante
disponível. Os demais segmentos, que requerem restauração naquele ano mas que ficaram de fora
da priorização, receberão Conserva Leve (reparos em áreas localizadas) naquele ano e nos
seguintes, até que venham a ser restaurados. Se o acréscimo de verba requerido para a execução
dessas conservas CL ultrapassar a diferença entre a restrição orçamentária ajustada e o somatório
da verba requerida para as restaurações já priorizadas, um ajuste iterativo deverá ser feito,
excluindo-se progressivamente as restaurações já programadas do final da lista de IP.
134
Início
S S
S
N N
RESTAURAÇÃO
N
S
FC2+FC3 > 50%
CP
S
N S CL
SK < SKC
CONSERVAÇÃO IGG > 30
CR
N
N
135
RESTAURAÇÃO
S
ATR > 15 mm ou HR = f(deformações
v = ATR / Nano > 10mm / 107ESAL's plásticas)
S
Trincamento por reflexão
estará presente ? HR = f(reflexão de trincas)
As intervenções de conservação são realizadas sempre da forma como foram detectadas pelas
árvores de decisão, aplicando-se o IP apenas às restaurações. A razão para isto está em que:
136
Início
i=1
NSTH
i=i+1
PA t PA t
j=1
PA
j=j+1
Evolução da condição
após δt = 1 ano
Plano
Plurianual de
Investimentos
PSR Custos de C&R
i=1
NSTH
i=i+1
PA t PA t
j=1
PA
j=j+1
Evolução da condição Atualiza a condição do
após δt = 1 ano pavimento em função da
medida aplicada
137
R.O.(j)
j = 1, PA
Plano
Gerar Plurianual de
Estratégia-Base Investimentos
PSR Custos de C&R
j=1
PA
j= j+ 1
PA t PA t
i=1
NSTH
i=i+1
Evolução da condição
após δt = 1 ano
IP(i,j)
Ordena os
STH's por
IP
Atualiza a condição do
pavimento em função da
i=1 medida aplicada
NSTH
i=i +1
Define os STH's a
serem restaurados,
em função do
ordenamento de IP,
dos custos e de
RO*(j).
138
VPLBE
Recap.
CP
CL
RBC = VPLBE/CCV
CCV
Impressão de gráficos mostrando a comparação entre diversos parâmetros para o que foi gerado
em (2), (3) e (4), apresentado de forma sintética para fins de decisão (Figura 4.21). Pode-se
determinar qual é o nível mínimo de investimentos requerido para que seja obtido um
determinado padrão de serventia médio ao longo do Período de Análise, bem como qual seria o
nível de investimento ótimo em termos de minimização do Custo no Ciclo de Vida global da rede
ao longo do Período de Análise.
139
4.15 - Sistemas de Gerência Aeroportuários
O uso de SGP’s para aeroportos individuais e para sistemas de aeroportos é uma aplicação
relativamente recente, comparada ao caso rodoviário. O Virginia Department of Aviation
(VDOA), responsável pela administração e financiamento de 70 aeroportos e 01 heliporto
implementou um SGP em 1990, quando o PCI médio do sistema era de 76. Em 1993, após 3
anos de uso do SGP, o PCI médio passou para 82, sem que tivesse havido um acréscimo
significativo nos gastos com pavimentação. Este é um resultado direto do uso de um SGP na
prática (Ref. [21]).
Antes da existência do SGP, os recursos eram alocados em função dos pedidos dos
operadores dos aeroportos, sem priorização e sem uma análise quanto a sua oportunidade. A
FAA financiava restaurações, mas não conservação. Assim, era prática usual dos operadores
deixar o pavimento se deteriorar a fim de que pudesse estar apto a receber os fundos da FAA.
Além deste procedimento gerencial de elevado custo e baixa eficácia, o VDOA não tinha como
avaliar quais técnicas de conservação e quais materiais estavam dando melhores resultados no
Estado.
Os modelos de previsão de desempenho são uma peça fundamental de um SGP para se
comparar os custos no ciclo de vida das diversas alternativas de conservação e de restauração,
bem como para se identificar o momento ótimo para a aplicação das medidas (que é a partir do
ponto em que a velocidade de degradação começa a aumentar significativamente).
O sistema implementado (denominado DSS, ‘ERES Decision Suport Software’) organiza
a rede em “famílias” de pavimentos que têm desempenho similar. Por exemplo, pavimentos
asfálticos que nunca foram recapeados e que estão sujeitos a tráfego pesado podem ser
agrupados em uma família (parte-se do princípio de que as diferenças nas espessuras das camadas
dos pavimentos dentro de uma mesma família sejam acompanhadas por diferenças no tráfego
atuante). Se o SGP está sendo implantado em um Estado, as famílias podem ser divididas
também em função da região geográfica. Plotando-se a condição versus a idade de todas as
seções de pavimento enquadradas em uma mesma família, a curva gerada representará a
tendência de desempenho daquela família. Os modelos desenvolvidos, reavalidados com os dados
coletados até 1993, tiveram a forma:
com os coeficientes ai mostrados na Tabela 4.18 para cada família, definida pelo tipo de
pavimento, pelo local onde é utilizado e pela natureza do tráfego que suporta (dentre aviação
comercial e aviação geral).
140
Tabela 4.18 - Modelos de previsão de desempenho do VDOA
Tipo Local Tráfego a4 (10-4) a3 (10-2) a2 a1
AC pátios C -2,2754 1,4847 -0,24818 -1,580
AAC todos C -7,9944 2,8460 -0,2990 -0,238
APC todos C 1,4068 -1,5340 0,42896 -4,690
PCC todos C -1,6512 0,9127 -0,1200 -0,990
AC pistas C -2,5938 1,3882 -0,1781 -1,890
AC táxis C -2,1172 1,5670 -0,30786 -1,070
AAC pátios G -6,2051 2,6786 -0,40332 -0,092
AC pátios G -2,2547 1,1494 -0,12942 -2,400
APC pátios G 0,4399 -0,4500 0,16443 -4,680
PCC todos G 0,0833 0,0959 -0,11302 -0,051
AC pistas G -3,3938 1,9694 -0,2867 -1,580
AAC pistas G -0,0766 0,0950 -0,10054 -0,900
APC pistas G 1,2715 -1,3548 0,44581 -6,540
AC táxis G -2,2197 0,9559 -0,04599 -3,080
Tipo de Pavimento:
AC = concreto asfáltico;
PCC = concreto de cimento portland;
APC = concreto de cimento portland recapeado com concreto asfáltico;
AAC = concreto asfáltico recapeado com concreto asfáltico.
Tráfego:
C ==> Aviação comercial
G ==> Aviação geral.
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Pavements. Second North American Conference on Managing Pavements. Toronto, November 2-
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Capítulo 5
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AVALIAÇÃO DE PAVIMENTOS
O aumento das demandas impostas aos materiais através de condições de serviço cada vez mais
severas e as necessidades crescentes de qualidade e economia deram origem aos ensaios não
destrutivos. Por este nome são designados todos os métodos de ensaio que permitem o teste ou a
inspeção de um material ou componente sem que a sua utilidade seja comprometida e com o
objetivo de se avaliar se este material ou componente desempenhará sua função de forma
satisfatória. Determina-se, assim, o estado ou a qualidade em que se encontra o material, seja
para efeito de aceitação/rejeição ou para se diminuir o grau de ignorância acerca do material, sem
que se diminua o fator de segurança do produto final. Como não existem materiais absolutamente
perfeitos, os ensaios não destrutivos podem informar apenas se a integridade relativa de um certo
material ou componente se encontram dentro de tolerâncias especificadas. Sua utilização
consistente pode ser um auxiliar eficaz na obtenção de produtos melhores a um menor custo.
Tendo em vista que a tecnologia dos ensaios não destrutivos é baseada na física aplicada,
a correta utilização desses ensaios requer uma compreensão clara dos princípios físicos
envolvidos no ensaio, bem como dos sistemas ou técnicas de medição utilizados.
Qualquer tipo de ensaio deve realizar medidas de parâmetros físicos que interessam ao
problema em questão. Em qualquer sistema de medição, utilizam-se sensores e transdutores,
definidos como:
Sensor é a parte do sistema de medição que responde ao parâmetro físico a ser medido; e
Transdutor é o componente do sistema que transfere informação na forma de energia de
uma parte do sistema para outra, incluindo, em alguns casos, a conversão de uma
forma de energia contendo a informação para outra.
143
Entrada Saída
Pré- Sensor / Pós-
processamento Transdutor processamento
144
superficial entra nos defeitos pela ação da capilaridade, ou água/gás sob pressão, e observa-se o
resultado.
Nos Ensaios Térmicos o componente é aquecido e registra-se a distribuição de
temperatura resultante, por meio de substâncias sensíveis ao calor ou fosforescentes, termopares,
termômetros ou células sensíveis ao infravermelho.
Na Radiografia é utilizada a radiação penetrante (raios X ou Gama). Variações de
espessura ou de densidade modificam a passagem da radiação através do componente. Esta
variação de intensidade da radiação transmitida pode ser detectada por meio de filmes,
semicondutores ou fotocondutores.
Nos Ensaios Magnéticos o componente é magnetizado e uma distorção do campo
magnético é produzida pelos defeitos. Esta distorção pode ser registrada por meio de partículas
magnéticas, como o óxido de ferro.
Os Métodos Elétricos dependem das diferenças de resistividade elétrica dos materiais. No
método eletrostático, variações no campo eletrostático são detectadas pelo uso de partículas
carregadas.
Quando se aplica a um circuito uma corrente alternada e este é colocado próximo a um
material condutor, correntes elétricas são induzidas no material. Há um campo magnético
associado às correntes induzidas. Defeitos ou variações físicas e químicas dentro do material
causam variações de resistividade e afetam as correntes induzidas e, conseqüentemente, o campo
magnético induzido. As variações no campo magnético induzido podem ser detectadas pelo seu
efeito nas correntes induzidas ou por um circuito de busca colocado nas imediações do
componente testado. Estas são as técnicas baseadas em InduçãoEletromagnética
Em nível de projeto, quando se busca dar a melhor utilização possível aos recursos que
serão alocados a um determinado segmento, a avaliação tem por finalidade levantar elementos
que permitam diagnosticar-se os problemas apresentados pelo pavimento, a ponto de se
esclarecer os mecanismos que levaram à sua degradação, bem como caracterizar a estrutura
existente de forma suficientemente completa para que se possa dimensionar o pavimento
restaurado dentro de um nível de confiabilidade aceitável, levando a que as medidas de
restauração aplicadas sejam não somente efetivas para a correção das deficiências funcionais
detectadas, mas que sejam também eficazes do ponto de vista econômico, o que equivale a dizer
que o processo de se restaurar o pavimento deve atuar contra os mecanismos com que a
degradação do pavimento original se processou.
Uma avaliação completa, em nível de projeto, deve ser composta pelos seguintes
componentes fundamentais:
145
Avaliação da Condição Funcional: indica até que ponto o pavimento está cumprindo
suas funções básicas (conforto ao rolamento e segurança, nas velocidades operacionais da
via). Relaciona-se, portanto, aos aspectos que afetam diretamente o usuário e os custos
do transporte (custos operacionais dos veículos, custo do tempo de viagem e custo de
acidentes). O item segurança é função da resistência à derrapagem, do potencial para
ocorrência de hidroplanagem, da refletividade da superfície e da presença de panelas;
Estes três componentes apresentam uma relação estreita entre si, na medida em que uma
avaliação da condição estrutural permite que se preveja como evoluirá, ao longo do tempo, a
condição funcional, já que a redução do nível de serventia do pavimento ocorre devido aos
defeitos e às deformações exteriorizados na sua superfície e que decorrem de uma complexa
conjugação dos efeitos do tráfego e do clima sobre o pavimento. Parte desses defeitos é de
natureza estrutural, na medida em que são gerados pela repetição das cargas do tráfego e são
funções do número e magnitude dessas cargas, bem como das respostas da estrutura do
pavimento e essas cargas, na forma da distribuição de tensões e deformações que se manifesta em
suas camadas constituintes.
Uma condição estrutural inadequada ou uma capacidade estrutural insuficiente, para o
tráfego atuante, acelerará a geração de defeitos de superfície (trincas de fadiga nas camadas
asfálticas e cimentadas), bem como a queda do nível de serventia com o tempo (em decorrência
da geração de afundamentos plásticos em trilha de roda). Ao mesmo tempo, a existência de
trincas no revestimento asfáltico permite a entrada de águas pluviais no pavimento, gerando
bombeamento de finos e enfraquecimento do solo de subleito, o que degrada a condição
estrutural do pavimento, acelerando, por sua vez, a queda do nível de serventia e a própria
degradação superficial.
5.3 - Avaliação Funcional
5.3.1 - Conforto ao Rolamento
Tem por objetivo informar o conceito dos usuários quanto ao nível de serviço fornecido pelo
pavimento, bem como possibilitar estimativas quanto aos custos operacionais dos veículos. É
composta por uma avaliação subjetiva, quando é atribuída uma nota entre 0 e 5 às condições
146
gerais da via (Norma DNER-PRO 07/78), e por uma avaliação objetiva, exemplificada pela
medida da irregularidade longitudinal por equipamentos tipo-resposta, quando se obtém o
parâmetro QI (contagens/km), que é tão maior quanto mais a irregularidade da via excitar
vibrações de alta freqüência e de amplitude elevada, em um automóvel a 80 km/h. Este
parâmetro se relaciona, portanto, ao conforto ao rolamento percebido pelos usuários.
Um outro componente da avaliação funcional são os indicadores da segurança da via. A
resistência à derrapagem em pista molhada pode ser medida pelo µ-meter, que fornece o
coeficiente de atrito. O perfil transversal da via, medido por perfilômetros transversais, permite a
medida dos afundamentos em trilha de roda, os quais influem diretamente no potencial para
ocorrência da hidroplanagem.
As medições de irregularidade através de equipamentos tipo-resposta têm sido feitas no
Brasil através de aparelhos que apresentam o QI em segmentos de 200 m ou de 320 m de
extensão. Mais recentemente, perfilógrafos a laser foram introduzidos com o objetivo de
possibilitar leituras mais confiáveis nos níveis mais baixos de irregularidade, onde a dispersão das
leituras dos mays-meters é maior.
Como indicado em Shahin (1994), as condições mostradas na Tabela 5.1 são típicas em
termos da irregularidade observada nas mais diversas situações.
A Tabela 5.2 mostra uma classificação que foi padronizada dentro da OCDE (Organisation de
Coopération et de Développement Économiques, que reúne Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá,
Dinamarca, Espanha, EUA, França, Grécia, Irlanda, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega,
Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça, Turquia, Japão, Finlândia, Austrália e Nova
Zelândia) e que pode ser tomada como referência para a definição de padrões aceitáveis de
irregularidade, no que diz respeito ao conforto ao rolamento. Por este critério, uma
irregularidade admissível QI = 35 cont/km, por exemplo, implica em manter as rodovias dentro
de uma condição funcional excelente, de modo a serem adequadas para tráfego a velocidades
acima de 120 km/h. Este critério concorda aproximadamente com o da Tabela 5.1. Exceto por
estas indicações, não há referências mais precisas, na prática rodoviária, relativas a um nível
aceitável de irregularidade, uma vez que o padrão de serventia que se tem por objetivo manter ou
atingir dentro de uma rede depende não somente do conforto ao rolamento percebido pelos
usuários, como também pelo que pode ser obtido levando em conta as restrições orçamentárias
para a manutenção dos pavimentos e os benefícios a serem obtidos em termos de redução dos
custos operacionais dos veículos. O modelo HDM do Banco Mundial tem por objetivo
justamente efetuar este equacionamento econômico, de modo que o padrão de serventia ideal em
que os pavimentos devem ser mantidos não é pré-definido, sendo antes determinado em função
da busca pela minimização do custo total do transporte, o qual envolve: custos de construção e
de manutenção dos pavimentos, custos operacionais dos veículos, custo do tempo de viagem e
custo de acidentes. Nos EUA, por exemplo, o padrão de serventia aceitável acaba sendo um
subproduto da otimização que é efetuada pelos Sistemas de Gerência de Pavimentos, havendo
nos DOT's estaduais apenas referências quanto a valores aceitáveis para a irregularidade inicial de
pavimentos recém construídos ou restaurados.
147
Tabela 5.2 - Classificação funcional de rodovias pavimentadas
IRI QI v* Condição Categoria
(m/km) (cont/km) (km/h) Funcional OCDE
≤3 ≤ 39 > 120 Excelente 1
> 3 e ≤ 6,5 > 39 e ≤ 84,5 100 - 120 Aceitável 2
> 6,5 e ≤ 8,5 > 84,5 e ≤ 110,5 70 - 90 Tolerável 3
> 8,5 e ≤ 10,5 > 110,5 e ≤ 136,5 50 - 60 Intolerável 4
> 10,5 > 136,5 < 50 Péssima 5
v* = velocidade de tráfego “confortável”.
148
Tabela 5.3 - Significado do Índice de Serventia
Conceito PSI QI (cont/km)
Excelente 5-4 0,0 - 16,0
Bom 4-3 16,0 - 36,5
Regular 3-2 36,5 - 65,5
Mau 2-1 65,5 - 115,1
Péssimo 1-0 > 115,1
Na Tabela 5.3, a associação entre o PSI e o QI foi feita através de uma correlação oriunda de um
estudo do Banco Mundial:
− QI
PSI = 5,0 exp
71,5
Esses valores mostram que a fronteira entre condições boas e condições regulares se dá
por volta de QI = 36,5 cont/km, de modo que o limite QI < 35 cont/km implica, na prática, em
que a condição geral do pavimento deve ser mantida entre boa e excelente. Como já comentado,
contudo, o PSI, tal como definido na "AASHO Road Test", pondera simultaneamente conforto
ao rolamento e deterioração do pavimento. Um PSI da ordem de 2,5 (QI = 49,6 cont/km) indica
uma condição em que o pavimento deveria ser restaurado, tanto em vista do conforto ao
rolamento reduzido como por uma questão de oportunidade econômica: deixar o pavimento sem
intervenção a partir deste ponto tende a equivaler a utilizar o pavimento por um período de
tempo adicional curto em relação à deterioração subseqüente, que tende a ser cada vez mais
acelerada, encarecendo a solução de restauração. Se o PSI atingir um valor tão baixo quanto 1,5
ou 1,0 o pavimento já passaria a requerer reconstrução, mesmo que parcial. Assim, uma
exigência de QI < 35 cont/km (equivalente a PSI > 3,06) corresponderia a impedir que os
pavimentos pudessem sofrer uma deterioração adicional dada por: ∆PSI = 3,06 - 2,5 = 0,56.
Quando se dimensiona um pavimento pelo Guia da AASHTO, é usual utilizar-se uma queda de
serventia em torno de: ∆PSI = PSI0 - PSIt = 4,2 - 2,5 = 1,7 de modo que se estaria deixando de
tomar partido de cerca de: 0,56/1,7 = 33 % da queda de serventia que define a vida de serviço do
pavimento. O próprio Guia da AASHTO aponta, contudo, que rodovias de grande importância
merecem que se adote PSIt = 3,0. Neste caso, em se tratando de situações de tráfego intenso, os
pavimentos deveriam ser construídos sob melhores condições de qualidade, de modo a ser
razoável considerar PSI0 ≥ 4,5 de modo a trazer de volta um ∆PSI por volta de 1,7 para projeto.
Dessa forma, adotar PSIt = 3,0 requer PSI0 = 4,7 (QI0 = 4,4 cont/km) para a obtenção de vidas
de serviço comparáveis a PSI0 = 4,2 (QI0 = 12,5 cont/km) com PSIt = 2,5. Irregularidades iniciais
da ordem de QI0 = 15 a 20 cont/km representam valores que podem ser obtidos sob um controle
de qualidade da construção excelente em obras rodoviárias (Tabela 5.1), desde que as condições
para a execução das obras sejam favoráveis, o que não é o caso, por exemplo, da adição de novas
faixas de tráfego a rodovias existentes, por exemplo. Já valores abaixo de 10 cont/km são muito
raros, podendo ser atingidos apenas em situações especiais, como no caso das pistas de pouso e
decolagem dos grandes aeroportos, onde as condições de construção podem ser bastante
favoráveis. Dessa forma, o critério QI < 35 cont/km equivaleria a encurtar os intervalos de
restauração, com a decorrente interrupção do tráfego, a menos que as obras de construção de
pavimentos novos ou de restauração de pavimentos existentes obtenham níveis de irregularidade
inicial muito baixos, compatíveis com uma boa qualidade de execução e quando as condições
para construção forem favoráveis. Neste sentido, a imposição QIadm = 35 cont/km embute uma
149
política de fomentar a busca pelo aperfeiçoamento das práticas de construção e de restauração, o
que é, sem dúvida, benéfico para todo o processo. Sendo assim, o critério QIadm = 35 cont/km
deve ser apoiado como sendo uma exigência apropriada ao contexto.
No caso da irregularidade longitudinal, além dos aspectos relativos a segurança e a
conforto ao rolamento já apontados, uma consideração central poderia ser o controle dos custos
operacionais dos veículos. Em se tratando de rodovias sob tráfego intenso, este aspecto tende a
ser mais condicionante para a fixação de uma irregularidade admissível que a questão da
segurança e do conforto ao rolamento, na medida em que quanto mais veículos passam por uma
rodovia, mais custos operacionais são gerados e maior é a eficácia econômica (em termos
macroeconômicos) de se manter os pavimentos em boas condições funcionais. Sendo assim, a
minimização do custo total do transporte para a sociedade como um todo requer a adoção de
critérios de irregularidade admissível mais exigentes para as rodovias com maiores volumes de
tráfego.
Deixando de lado a discussão relativa aos níveis ideais de irregularidade em função do
tráfego e partindo de uma dada referência (ex: QIadm = 35 cont/km) que seja fixada, resta
investigar as formas apropriadas para sua verificação ao longo de uma rodovia, dado que há
variações ao longo da sua extensão. Tendo em vista o caráter fundamental representado nesta
discussão pelo custo operacional dos veículos, uma série de simulações foram feitas com o
programa HDM-III do Banco Mundial, a fim de verificar o seu comportamento em face das
variações naturais do QI ao longo de um segmento. Para tanto, as seguintes condições foram
adotadas:
Esta composição corresponde a uma média das situações existentes nas rodovias sob
concessão no Estado de São Paulo. A Figura 5.2 mostra os resultados obtidos a partir da análise
de diversas seções de pavimentos, em termos do custo operacional dos veículos (em milhões de
R$ por 1000 veículos por ano em um segmento com 10 km de extensão) em função da
irregularidade do pavimento. O resultado é uma função praticamente linear do custo com a
irregularidade. Apenas quando ocorrem níveis extremamente elevados de irregularidade (QI > 80
cont/km por exemplo), valores inaceitáveis sob qualquer ótica para estradas pavimentadas, é que
há uma ligeira tendência de crescimento não linear dos custos com a irregularidade.
A Figura 5.3 mostra o modelo resultante para QI < 80 cont/km, onde fica evidente a
adequação de uma função linear para descrever a variação do custo operacional com a
irregularidade.
150
1.5
Custo Operacional
y = 1E-05x 2 + 0.0031x + 1.0091
1.4 r2 = 0.9998
1.3
1.2
1.1
1.0
0 20 40 60 80 100 120
QI (cont/km)
1.5
Custo Operacional
y = 0.0044x + 0.9762
1.4 r2 = 0.9964
1.3
1.2
1.1
1.0
0 20 40 60 80 100 120
QI (cont/km)
1.4
Custo Operacional
y = 0.0041x + 0.989
1.3 r2 = 0.999
1.2
1.1
1
0 20 40 60 80
QI (cont/km)
151
Para os cálculos feitos com o HDM-III, a irregularidade longitudinal é constante ao longo do
trecho analisado. O resultado da Figura 5.3 pode ser escrito, portanto, na forma:
c(L ) = αL(a 0 + b0 QI )
para o custo operacional c(L) acumulado ao longo da extensão L de uma rodovia, sendo α, a0 e
b0 constantes que dependem da geometria da via e da composição do tráfego. Em uma situação
real, contudo, a irregularidade varia ao longo do trecho, de modo que a expressão acima deve ser
generalizada para:
L
c(L ) = α ∫ [a 0 + b0 QI ( x )]dx
0
para o cálculo do custo operacional dentro de uma extensão L do trecho, sendo QI(x) a função
que descreve a variação da irregularidade ao longo do trecho.
Derivando esta última equação:
dc
= a + b × QI ( x)
dx
dc
dx = ∫ [a + b × QI ( x)]dx = aL + b ∫ QI ( x )dx
L L L
c=∫
0 dx 0 0
1 L
L ∫0
QI c = QI ( x )dx
de modo que o custo operacional gerado dentro desse trecho de irregularidade constante é dado
por:
L 1 L
c * = aL + b ∫ QI c dx = aL + bLQI c = aL + bL
L ∫0
QI ( x)dx
0
de onde se conclui que c = c*. Assim, o custo operacional que ocorre dentro de um trecho onde
há variações de irregularidade é exatamente igual ao custo operacional que existiria dentro de um
trecho idealizado onde não houvesse variações de QI e cuja irregularidade tivesse valor igual ao
valor médio da irregularidade do trecho real onde o QI varia ao longo de sua extensão. O
exemplo mostrado na Tabela 5.4 ilustra este resultado, onde foi aplicado o modelo mostrado na
Figura 5.2:
152
Custo = 1,009127 + 3,111022 × 10 −3 QI + 1,00024 × 10 −5 QI 2
Esta conclusão permite que seja feita a seguinte proposição para controle de irregularidade:
desde que não haja medidas individuais de irregularidade (em segmentos de 200 m ou de 320 m)
acima de um valor considerado inaceitável em termos de conforto ao rolamento e em termos de
segurança (por exemplo: QIcrít = 55 cont/km) e que não existam pontos localizados
potencialmente problemáticos (caso dos já referidos acessos a pontes sem laje de transição e com
desnível excessivo entre o tabuleiro da ponte e a pista, de modo que um impacto significativo
possa ser produzido nos veículos quando acessam a ponte na velocidade máxima permitida no
trecho), a verificação de um critério de irregularidade admissível (ex: QI < 35 cont/km) poderia
ser feita admitindo-se irregularidade média do trecho avaliado menor que 35 cont/km, uma vez
que isto garantiria que os custos operacionais gerados pelo tráfego dentro do trecho seriam
inferiores àqueles que ocorreriam se houvesse homogeneidade com QI = 35 cont/km.
5.3.2 - Segurança
Diversos métodos para projeto de pavimentos em todo o mundo fazem referência a valores
críticos para os afundamentos em trilha de roda, indicativos de que o pavimento deve ser
restaurado. Croney et al (1998) indicam que a experiência inglesa aponta para valores na faixa
153
entre 12 e 18 mm como associados a uma condição em que o pavimento deve ser restaurado, por
estar esta ocorrência usualmente acompanhada de trincamento nas trilhas de roda, fazendo com
que o acúmulo de água nas trilhas penetre na estrutura e comprometa a condição das camadas
subjacentes ao revestimento. Diversos métodos para avaliação de pavimentos (como o do PCI, o
da Caltrans e o do WSDOT) consideram que afundamentos em trilha de roda entre 6 e 13 mm
são de severidade baixa, podendo não requerer intervenção imediata. Haveria, portanto, algum
grau de conservadorismo no que diz respeito a este parâmetro para o valor crítico F = 7 mm, mas
deve-se reconhecer que aceitar valores mais próximos de 12 mm, por exemplo, seria razoável
apenas no caso da existência de medições regulares de resistência à derrapagem em pista
molhada através de µ-meters (devido ao risco de hidroplanagem em altas velocidades decorrente
de uma drenagem superficial prejudicada).
No que diz respeito às avaliações de resistência à derrapagem, podem ser feitos os
seguintes comentários:
154
60
50
BPN
40
30
0 0.5 1 1.5
HS (mm)
v02
d=
ρAC D v02
2 g (µ cosθ − sen θ ) +
3m
onde:
v0 = velocidade inicial do veículo, no momento em que os freios são acionados;
µ = coeficiente de atrito pneu-pavimento;
g = aceleração da gravidade (9,81 m/s2 ao nível do mar);
θ = ângulo que a superfície faz com a horizontal (positivo no caso de rampa
descendente);
A = área de seção transversal frontal do veículo (m2);
m = massa do veículo (kg);
CD = coeficiente de arraste aerodinâmico do veículo:
= 0,45 para automóveis
= 0,65 para ônibus
= 0,85 para caminhões
ρ = densidade do ar, dada em kg/m3 por:
155
ρ = 1,225(1 − 2,26 ×10 −5 h )
4 , 225
onde h é a altitude (m) em relação ao nível do mar. Esta fórmula, deduzida para o modelo
simples mostrado na Figura 5.4, mostra que a capacidade de frear o veículo é quase inversamente
proporcional ao coeficiente de atrito, o que mostra a importância desse parâmetro. Por outro
lado, a fórmula mostra também que o parâmetro central para uma frenagem segura é a velocidade
inicial do veículo, pois a distância de frenagem é quase que diretamente proporcional ao
quadrado dessa velocidade (o arraste aerodinâmico reduz um pouco este efeito, pois beneficia a
frenagem). Até mesmo a geometria da via tem influência, no caso através da declividade
longitudinal, de modo que a distância de frenagem aumenta se o veículo se encontra em uma
rampa descendente.
v0
Fat
Far
mg
Ao mesmo tempo, o coeficiente µ da fórmula acima não é o que pode ser medido diretamente
através dos diversos aparelhos existentes, uma vez que µ depende, além dos fatores sazonais já
apontados, de parâmetros inerentes ao veículo, tais como:
- Velocidade (µ não é uma constante, mas diminui com o aumento da velocidade, de modo que
a fórmula acima é apenas aproximada). µ pode ser considerado aproximadamente
independente da velocidade apenas em superfícies limpas e secas, ou seja, em situações onde
raramente há condições críticas de atrito;
- Pressão do pneu. Para uma determinada carga por roda, o aumento da pressão causa uma
redução de µ, pois há uma redução da área de contato pneu-pavimento, fazendo com que o
calor gerado pela derrapagem se distribua em uma área menor, elevando mais a temperatura
do pneu;
- Carga por roda. O seu aumento pode levar a menores valores para µ, devido à tendência de
as maiores cargas por roda apresentarem menores áreas de contato, uma vez que as maiores
cargas de eixo podem implicar em aumentos mais que proporcionais da pressão de inflação
dos pneus, especialmente no caso de eixos tandem-triplo (a um aumento de carga por eixo de
20 para 40 tf corresponde, em média, um aumento usual da pressão de inflação dos pneus de
50 para 118 psi);
- Projeto do pneu. A presença de canais no pneu permite a retirada eficiente da água, elevando
bastante a eficiência da frenagem.
156
Estes fatos implicam em que o coeficiente de atrito que atua no contato pneu-pavimento
depende não somente das condições de superfície, mas também das condições climáticas, do
veículo e da sua velocidade. Não é possível, portanto, o estabelecimento de um critério relativo
às condições de resistência à derrapagem que garanta a segurança dos veículos, na medida em
que excesso de velocidade e condições de conservação ruins dos pneus são capazes de, por si
sós, propiciar um quadro onde a probabilidade de ocorrência de um acidente seja elevada. O
melhor que se pode fazer é garantir que o coeficiente de atrito esteja sempre acima de um valor
crítico requerido para as condições operacionais da via.
Com o passar do tempo e com a abrasão produzida pelo tráfego, principalmente pelos
caminhões, o atrito sofre redução gradual. Esta redução é usualmente mais intensa durante os
dois primeiros anos da abertura ao tráfego, após o que o coeficiente de atrito tende a se
estabilizar por um certo tempo (exceto pelas variações sazonais). Em seguida, as reduções
prosseguem, em velocidades tão maiores quanto mais intenso for o tráfego. Dessa forma, a
finalidade de se efetuar medições de atrito deve ser a de identificar locais onde existam valores
muito baixos ou onde a velocidade de perda de atrito tenha se mostrado elevada, de modo que
intervenções apropriadas possam ser aplicadas oportunamente. O intervalo aceitável para as
medições não poderia, portanto, ser fixado em um período de tempo tão longo e independente do
tráfego atuante.
O polimento da microtextura dos agregados ocorre tanto em tratamentos superficiais
como em concretos asfálticos. Rauhut et al (1984) desenvolveram um modelo para previsão da
redução da resistência à derrapagem em função das passagens dos veículos para duas classes de
agregados:
Agregado Calcáreo:
g( N ) = 0,582 N 0,574
g( N ) = 0,354 N 0, 383
onde:
g(N) = função de deterioração da resistência à derrapagem, definida a partir do “skid
number” (SK) e para uma condição terminal (ou seja, g(N) = 1) de SK = 35:
SK ( inicial ) − SK ( N )
g( N ) =
SK ( inicial ) − 35
157
65
60
SK
55
50
45
9 12 15 18
Ano
Como apontado por Croney et al (1998), diversos tipos de aparelhos estão disponíveis para
medida da resistência à derrapagem em pista molhada. Basicamente, dois processos alternativos
são adotados: a medida do coeficiente de atrito lateral (Sideway friction coefficient, SFC) ou a
medida do coeficiente de atrito longitudinal (Braking friction coefficient, BFC). No primeiro
caso, a roda teste é inclinada em relação à direção do deslocamento, de modo a simular a
mobilização de atrito quando o veículo faz uma curva, enquanto que no outro caso a roda não
está inclinada e mede-se a força mobilizada entre a roda e o pavimento em uma situação de
frenagem com travamento da roda. Os coeficientes de atrito obtidos por esses processos
correlacionam-se fortemente (BFC = 0,8 SFC), de modo que qualquer um dos dois pode ser
adotado na prática. O mesmo não acontece com o Pêndulo Britânico (Portable Skid-Resistance
Tester), cujo parâmetro SRV (Skid-Resistance Value) não tem correlação com o SFC ou com o
BFC quando a superfície é de macrotextura muito rugosa, fato que se deve à pequena área de
contato do pêndulo. Por outro lado, quando a superfície tem macrotextura lisa ou
moderadamente rugosa, a correlação entre o SRV e o SFC medido a 48 km/h é forte (Figura
5.6).
Na prática, as medições com o Pêndulo Britânico se aplicam mais à investigação de locais
potencialmente problemáticos em termos de acidentes associados à derrapagem, devendo ser
tomadas medidas em vários pontos (espaçados entre 5 e 10 m) para se obter uma média digna de
confiança.
0.7
0.6 y = 0.0096x
2
0.5 r = 0.9992
0.4
SFC
0.3
0.2
0.1
0
0 10 20 30 40 50 60 70
SRV
158
Ainda segundo Croney et al (1998), a velocidades abaixo de 50 km/h (situação típica de áreas
urbanas ou com tráfego congestionado, onde os acidentes associados à derrapagem são muito
mais freqüentes) a microtextura domina o valor de µ, especialmente as características superficiais
dos agregados graúdos. Sob velocidades maiores (quando as conseqüências dos acidentes são
mais sérias), a macrotextura (associada ao tamanho e à forma das asperezas visíveis) se torna
igualmente importante na definição de µ. Valores excessivos de profundidade da macrotextura
devem ser evitados, contudo, a fim de controlar o ruído e o desgaste dos pneus. Dessa forma,
limites devem ser impostos para a profundidade da macrotextura, tal como é medida por ensaios
como o da Mancha de Areia.
Deve-se considerar que há variações sazonais importantes do parâmetro µ, devido aos
ciclos de deposição de contaminantes na superfície (borracha, óleo dos veículos comerciais) e sua
remoção por chuvas intensas, bem como pela temperatura. Isto significa que as condições em que
o ensaio foi realizado devem ser anotadas (ex: pouco tempo após uma chuva intensa, ou durante
uma estação seca) para posterior interpretação, sendo recomendável dispor-se de leituras obtidas
sob diferentes condições para facilitar esta análise.
O coeficiente de atrito sofre reduções maiores com o aumento da velocidade em
superfícies de macrotextura lisa do que em superfícies rugosas, de modo que, sob tráfego em alta
velocidade, deveria ser evitada uma macrotextura lisa. Em altas velocidades, contudo, o tráfego
não tende a ser congestionado, de modo que os acidentes relacionados à derrapagem não têm
ocorrência significativa. Assim, restam dúvidas quanto à real necessidade de se impor critérios
relativos à macrotextura.
Em pavimentos rígidos, a textura inicial (medida pelo ensaio de Mancha de Areia) não
deve ser menor que 0,75 mm de acordo com as especificações britânicas. Não há especificações
deste tipo para revestimentos asfálticos, mas os valores aceitáveis deveriam ser mais rigorosos
que no caso dos pavimentos rígidos, devido ao grooving ou ao brushing que são usualmente
feitos nestas superfícies. Um valor como 1,5 mm parece adequado. Se a referência para os
pavimentos rígidos for 0,6 mm o valor correspondente para os revestimentos asfálticos é de cerca
de 1,3 mm.
Finalmente, deve ser citado o critério adotado na Inglaterra (Tabela 5.5), onde um estudo
bastante abrangente foi feito, para os valores mínimos a serem atendidos pelo SFC, em função
das condições da rodovia.
Tabela 5.5 - Critério inglês para o coeficiente de atrito (Croney et al, 1998)
Categoria Situação Local Velocidade do SFC
Ensaio (km/h)
A Retornos, curvas com raio < 150 m, gradientes 50 0,55
maiores que 5 %, proximidade de sinais de tráfego.
B Vias com velocidade > 95 km/h. 50 0,50
80 0,45
C Vias arteriais ou principais, ou com mais de 100 50 0,50
veículos por dia por sentido em áreas urbanas.
D Rodovias retas, com pequenos gradientes e curvas 50 0,40
suaves, sem intersecções capazes de criar condições
de emergência.
159
5.4 - Avaliação de Degradação de Superfície
Os defeitos de superfície, para sua completa caracterização, devem ser descritos por meio dos
seguintes parâmetros:
160
O Quadro 5.1 mostra um exemplo de planilha que pode ser utilizada para a avaliação
visual expedita do estado de superfície de pavimentos de vias urbanas, para fins de gerência em
nível de rede. Para cada tipo de defeito existente, registra-se a extensão com que cada nível de
severidade do defeito está presente dentro de uma unidade de análise (definida, em geral, pelo
segmento delimitado pelo cruzamento com duas ruas transversais consecutivas). A extensão é
avaliada de forma semi-quantitativa, de acordo com:
A severidade de cada defeito é avaliada, de forma subjetiva, em função do grau com que
o defeito compromete a integridade estrutural, a estanqueidade ou a condição funcional do
pavimento, adotando-se os seguintes níveis:
1 ==> aceitável
2 ==> tolerável
3 ==> inaceitável
161
Estado de Superfície de Pavimentos Asfálticos
________________________________________________ Data: ___/___/___
RUA / AVENIDA
_____________________________________________________________________
DE A
Avaliador:
Observações:
Quadro 5.1 - Planilha para avaliação visual expedita em nível de rede de pavimentos
de vias urbanas
162
BR-472/RS
100
90
80
70
60
TR (%)
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100
FC23 (%)
Se for desejada uma previsão de TR a partir de FC23, terá que ser adotado um
procedimento conservativo, por meio da aplicação da relação definida pela envoltória superior
dos pontos da Figura 5.6, a qual é mostrada na Figura 5.7 e que pode ser expressa por:
• Para FC23 ≥ 52 %:
TR = 100%
A relação proposta pode ser adotada na prática, tendo-se em vista que, para TR=20% já
se teria uma condição correspondente à de um pavimento que necessita ser restaurado, uma vez
que as duas trilhas de roda se encontrariam completamente trincadas. Os pontos da Figura 5.6
mostram que TR é maior que 30% para FC23 > 52%.
Uma outra correlação, obtida com os dados da gerência do DER-SC, é:
TR (% ) = 0,5917 × (FC 2 + FC 3)
com r2 = 0,6207 para 199 segmentos homogêneos, que apóia o uso da relação da Figura 5.7
como uma envoltória superior na estimativa de TR.
163
TR (%)
100
0
52 FC23 (%)
A Figura 5.8 mostra a relação obtida entre o IGG de cada Subtrecho Homogêneo e o
percentual da área da pista onde foi indicada, por inspeção no campo, a necessidade ou
conveniência de se executar reparos em áreas localizadas antes da restauração. Um subtrecho
situou-se completamente fora da tendência geral dos pontos, estando associado um percentual de
remoções de 100 % para um IGG = 150. A razão para esta discrepância está no fato deste
subtrecho, situado entre o km 429+300 e o km 432+300, necessitar ser subdividido em dois: um
subtrecho entre o km 429+300 e o km 430+490, que apresenta ainda o revestimento em TSD, e
um subtrecho entre o km 430+490 e o km 432+300, onde o revestimento não existe mais.
Daquela relação, pode-se concluir que a necessidade de remoções passa a se tornar
acentuada para valores de IGG > 70.
100
90
80
70
REMOCOES (%)
60
50
40
30
20
10
0
0 50 100 150 200 250 300
IGG
164
Registros detalhados, com medida de afundamentos em trilha de roda, como são feitos no
método DNER PRO-08/78, têm por objetivo efetuar uma descrição da condição de superfície
completa o suficiente para que um projeto de restauração consistente possa ser feito (o mesmo
pode ser dito do método DNER-PRO 128/83 e do método do ICP). Não se tratam estes,
portanto, de processos úteis para monitoramento em nível de rede, a menos que sejam aplicados
apenas em pequenas Unidades de Amostragem, selecionadas de modo a representar a condição
de segmentos mais extensos, os quais tenham sido avaliados através de um levantamento visual
contínuo mais expedito. O levantamento detalhado das condições de superfície que é propiciado
pelos métodos referidos, se executado em toda a rede uma vez por ano, resultará em uma massa
de dados cuja utilidade pode ser duvidosa. Como apontado por Monismith et al (1987) em um
estudo abrangente dos Sistemas de Gerência de Pavimentos utilizados em algumas cidades dos
EUA e do Canadá, foi observada a tendência de se coletar mais informações do que as
efetivamente necessárias. O resultado foi a lentidão dos levantamentos, a redução da
confiabilidade das informações, o incremento das necessidades de armazenagem e de
processamento computacionais, levando a um processo global ineficiente. Concluem os autores
pela importância de se coletar apenas as informações realmente necessárias. De fato, diversos
procedimentos foram desenvolvidos para o registro das condições de superfície dos pavimentos
rodoviários que são bastante expeditos quanto a sua aplicação mas que fornecem todas as
informações necessárias a um correto julgamento acerca da natureza, severidade e extensão dos
principais defeitos existentes (o exemplo mais notável é, talvez, o Método VIZIR do LCPC).
Com relação ao critério estabelecido para o Índice de Gravidade Global (IGG da norma
DNER-PRO 08/78), deve-se observar que seus valores estão associados à condição geral do
pavimento de acordo com a Tabela 5.6.
Os conceitos da Tabela 5.6 mostram que se estaria exigindo, com um critério como IGG < 30,
que os pavimentos permanecessem sempre em boas condições ou na fronteira entre as condições
Boa e Regular. A definição da Tabela 5.6 é, contudo, um pouco grosseira, uma vez que não
apresenta os conceitos Excelente ou Ótimo, presentes em todos os demais processos para
avaliação de superfície. Como apontado pelo próprio autor do método (Pereira, 1979), um
conceito Ótimo poderia ser associado a IGG < 10, ficando o conceito Bom associado a 10 < IGG
< 30 (Tabela 5.7), de modo que o critério IGG < 30 implica em que se deve evitar que os
pavimentos entrem na condição regular. Esta exigência leva à impossibilidade de que os
pavimentos sejam utilizados até uma condição em que a restauração se torne necessária ou
mesmo oportuna, acarretando em intervenções freqüentes de caráter não estrutural que visem
recompor as condições de superfície de forma a mantê-las dentro dos conceitos Ótimo ou Bom.
A eficiência econômica de tal prática é questionável, uma vez que impede a concessionária de
trabalhar com estratégias de manutenção que podem ser mais eficazes. Além disso, as
interrupções de tráfego associadas a intervenções de manutenção freqüentes em troca de um
beneficio apenas marginal decorrente de se reduzir o IGG de 30 para zero devem também ser
questionadas.
165
Tabela 5.7 - Índice de Gravidade Global (Pereira, 1979)
IGG Conceito
0 - 10 Ótimo
10 - 30 Bom
30 - 80 Regular
80 - 150 Mau
150 - 500 Péssimo
Por outro lado, a metodologia do ICP aponta a associação entre seus valores e a condição geral
do pavimento de acordo com a Tabela 5.8. Desta forma, o critério ICP > 60 equivale a permitir
que os pavimentos possam atingir uma condição regular, associada ao momento em que a sua
restauração possa ser necessária (devido a aspectos funcionais) ou que pelo menos seria oportuna
(a fim de evitar uma deterioração mais acelerada dentro de pouco tempo, encarecendo a
restauração). As fórmulas para o cálculo do IGG e do ICP não são, contudo, de igual
sensibilidade, sendo o ICP um instrumento muito mais adequado para detectar as diferentes
condições de superfície, por ser baseado em fatores de ponderação que variam bastante com a
extensão e com a severidade dos defeitos existentes. O IGG é bastante simplificado e grosseiro, a
ponto de facilitar a ocorrência de situações onde dois pavimentos possam apresentar o mesmo
IGG e mostrarem condições de superfície radicalmente distintas.
Uma faixa de valores para o IGG que pode ser associada ao momento em que um pavimento
deve ser restaurado situa-se por volta de 50 < IGG < 80. No caso do ICP, estudos mostram que
esta faixa depende da estrutura do pavimento, podendo-se apontar valores em torno de 45 < ICP
< 65. Existiria, portanto, um descompasso entre os critérios baseados no IGG e no ICP, com o
critério dado por IGG = 30 podendo representar pavimentos cuja condição ainda não seria aquela
que ensejaria uma intervenção. De fato, observando-se o processo através da qual o IGG é
calculado:
IGG = ∑ f i pi
onde fi é a freqüência com que o defeito "i" ocorre dentro do segmento avaliado e pi é o seu fator
de ponderação, nota-se uma grande diferença com o cálculo do ICP, o qual discrimina os pesos
em função do grau de severidade de cada defeito. No IGG, apenas as trincas têm níveis distintos
de severidade. Com relação à ocorrência de desgaste superficial, por exemplo, a definição em
DNER-TER 01/78 é a de arrancamento de agregados, com peso pi = 0,3 implicando em IGG =
30 caso o problema se verifique em toda extensão (fi = 100) do trecho avaliado. Na metodologia
166
do ICP, por outro lado, há três níveis de severidade para o desgaste, com definições precisas para
cada nível, além de um defeito adicional referente a agregado polido. O desgaste da DNER-TER
01/78 corresponde ao nível de severidade alto do desgaste no ICP. Assim, uma superfície onde
existam agregados expostos e uma textura rugosa, mas sem arrancamento de agregados, poderia
ser erroneamente avaliada como desgastada e receber IGG = 30, sem que o pavimento tenha
qualquer outro defeito. Esta condição de desgaste superficial, por sua vez, não implica em um
baixo coeficiente de atrito (que só pode ser avaliado utilizando equipamentos apropriados, como
o Mu-meter), nem na existência de desagregação superficial, com risco de que agregados
graúdos possam se soltar e provocar quebra de pára-brisas de veículos. Em síntese, o Método
PCI do USACE (Pavement Condition Index) descreve em detalhe cada nível de severidade com
que cada tipo de defeito pode se manifestar, associando pesos a cada nível, o que o torna um
indicador mais acurado para distinguir as diferentes condições em que um pavimento pode se
encontrar.
Uma correlação aproximada entre o IGG e o Índice de Serventia (PSI) da AASHTO é
dada por (Pereira, 1979):
"Uma incursão ao campo da literatura técnica especializada mostra que diversas tentativas têm
sido levadas a efeito com a finalidade de expressar a intensidade de deterioração assumida por
um pavimento, ou a serventia por ele proporcionada, através de um parâmetro numérico, cujo
conhecimento, por si só, facultaria a qualificação do estado da estrutura em observação, e, ao
mesmo tempo, o seu relacionamento comparativo com o de outras estruturas."
E, mais adiante,
"Em nosso país, durante a avaliação rotineira de pavimentos existentes, não se tem contato com
instrumentos que facultem a medida direta das condições de irregularidade longitudinal nas trilhas
de roda (perfilômetros e perfilógrafos). Esse fato, associado às peculiaridades que caracterizam a
sistemática adotada na condução do inventário do estado da superfície do pavimento, tornaria
impraticável a mobilização in totum dos procedimentos destinados à avaliação do parâmetro
representativo das condições de superfície, já consagrados pelo uso por entidades rodoviárias
estrangeiras.
Objetivando contornar o impasse apontado, procurou-se conceber uma metodologia que fosse
especificamente compatível com os insumos propiciados pela modalidade de inventário utilizada."
− QI
PSI = 5,0 exp
71,5
167
pudesse ser utilizada, optou-se por calcular um parâmetro cuja aplicação fosse viável à época.
Tendo em vista a disponibilidade atual de equipamentos para medição da irregularidade, levando
em conta a confiabilidade da correlação acima entre o PSI e o QI e considerando o papel central
e sintetizador representado pelo QI, tanto em termos de possibilitar uma avaliação global da
condição do pavimento (PSI) como em termos funcionais, parece não haver motivo para manter
um controle simultâneo dentro do monitoramento dos parâmetros IGG e QI. De fato, a
correlação acima indica que a um valor QI = 35 cont/km corresponde PSI = 3,06 o qual pode ser
associado (pela fórmula apresentada por Pereira, 1979) a IGG = 33, de modo que estaria
havendo certa redundância entre os critérios.
Aplicando a correlação proposta por Pereira (1979):
onde se pode notar que uma condição dada por IGG = 30 tende a implicar em uma grande
distância com relação àquela em que o pavimento atingiria o momento ideal para ser restaurado.
Na prática, exigir que IGG < 30 implica em forçar a aplicação de pelo menos uma camada de
desgaste, tal como Lama Asfáltica ou Micro-concreto Asfáltico, em um momento intermediário
da vida de serviço do pavimento (novo ou restaurado), antes que novas aplicações dessas
camadas sejam inviáveis e o pavimento deva ser de fato restaurado. Esta pode ser uma estratégia
válida em certos casos, mas seria mais correto que a decisão de aplicar camadas de desgaste na
forma de uma Conserva Pesada deste tipo fosse tomada em função de fatores como:
Um outro aspecto diz respeito à questão dos reparos em áreas localizadas e seu peso dentro
do IGG. Por se tratar de uma metodologia bastante antiga (apesar da edição da norma DNER-
PRO 08/78 ser de 1978 o método em si é baseado em conclusões da AASHO Road Test, 1958-
1962, e em um método canadense mais antigo, tendo sido apresentado pela primeira vez em
1972), a definição do IGG não diferencia uma trinca comum de uma trinca selada, nem avalia as
diferentes categorias de remendos que possam existir. O método do PCI do USACE, por
exemplo, que é um processo de desenvolvimento bem mais recente e bem mais sofisticado, faz
referência a diferentes níveis de severidade do remendo, tendo em conta sua condição (dentro da
área remendada) e o desnível entre o remendo e a área que o circunda. Assim, um reparo
localizado deveria receber uma consideração mais apropriada, tendo em conta a técnica utilizada,
sua condição e como o reparo afeta o conforto ao rolamento da rodovia.
No caso de trincas severas que sejam seladas de forma apropriada, ou seja, serrando-se em
largura e profundidade adequadas, com limpeza por jato de ar comprimido do reservatório assim
168
formado, seguida de preenchimento por ligante asfáltico de consistência e resistência que
atendam aos requisitos necessários, o seu peso no IGG não poderia ser o mesmo do de uma
trinca que não recebeu qualquer intervenção. A trinca em si deixou de existir, surgindo em seu
lugar um reparo localizado, capaz de manter a estanqueidade da superfície e de evitar a
continuidade da progressão da trinca. Ao mesmo tempo, o revestimento teve sua integridade
estrutural parcialmente restabelecida, melhorando sua capacidade de aliviar as tensões aplicadas
pelas cargas de roda para as camadas subjacentes. Mesmo que as trincas seladas introduzam
algum acréscimo na irregularidade do pavimento, isto não seria motivo para que elas devam ter
um peso no IGG idêntico ao de uma trinca aberta, uma vez que a avaliação de irregularidade é
um outro item, medido através de equipamentos apropriados. No Método PCI de avaliação, as
trincas seladas onde o material de enchimento se encontre em condições satisfatórias são
consideradas como trincas de baixa severidade, qualquer que seja a sua abertura, desde que a
trinca selada não se encontre circundada por trincas não seladas.
No que diz respeito aos remendos, pode-se distinguir as seguintes categorias:
169
conforto ao rolamento, através do uso de equipamentos de medida apropriados (como os
Mays-meters), e não pela sua inclusão no IGG como um remendo. O Método PCI esclarece
que se uma grande área foi objeto de recomposição, esta área não deve ser considerada como
um remendo.
Como apontado no manual para inspeção de pavimentos do WSDOT, não há consenso entre
as diversas agências nos EUA acerca do que é um remendo e do que seria uma restauração,
quando se trata de recomposições totais ou parciais do revestimento asfáltico abrangendo toda a
largura da faixa de tráfego e com extensões significativas. A terminologia em DNER-TER01/78,
utilizada pela norma DNER-PRO08/78 (ou 08/94), não apresenta qualquer definição do que seria
um remendo. Este defeito é definido apenas na própria norma DNER-PRO08/94 como:
"reconstrução localizada, que reflete o mau comportamento da estrutura inicial, podendo ser
superficial ou profundo". Esta definição não entra no mérito acerca da técnica através da qual o
remendo foi executado e nem faz referência, ao contrário da norma do PCI, à condição do
remendo em si e do grau em que afeta a condição do pavimento.
Finalmente, deve-se comentar referências a valores admissíveis para a percentagem de área
com trincas severas (FC3 < 2% e FC2 < 15%). A presença de trincas em si pode não afetar
significativamente a irregularidade longitudinal, de modo que não trazem quaisquer perturbações
para os usuários (exceto, talvez, no aspecto psicológico, e ainda assim quando os níveis de
trincamento excedem bastante os valores críticos usuais, ocasião em que costumam estar
acompanhados por outras formas de deterioração que efetivamente importam para o conforto ao
rolamento e ou a segurança). A rigor, a presença de trincas deveria ser do interesse exclusivo da
Concessionária, por indicar o momento ideal para as intervenções de restauração. Além disso, se
o pavimento se encontrar ainda na condição em que a selagem de trincas representa uma
intervenção eficaz (caso em que as trincas são essencialmente isoladas ou interligadas, mas sem
ainda constituir as poligonais que caracterizam o padrão couro-de-crocodilo), e uma operação de
selagem for bem executada, as trincas seladas deveriam deixar de ser consideradas para efeito do
cômputo dos parâmetros FC3 e FC2.
Pode-se considerar razoável que um pavimento que tenha uma percentagem de área
trincada TR = FC2 + FC3 da ordem de 20% esteja com as duas trilhas de roda praticamente
tomadas por trincamento couro-de-crocodilo com trincas de abertura maior que 1 mm. Esta é
uma condição propícia para que o pavimento deva ser restaurado, a fim de evitar uma progressão
mais rápida da deterioração e o aumento dos custos de restauração. Os critérios FC3 < 2% e FC2
< 15% permitem, na prática, que o pavimento se aproxime dessa condição. O trincamento em si
não tem relação direta com o nível de serventia do pavimento para o usuário, sendo antes um
indicador de caráter gerencial para apontar a necessidade ou a oportunidade de se restaurar o
pavimento, de modo a prevenir uma deterioração mais acelerada da estrutura. Se a organização
que gerencia uma determinanada malha viária tem liberdade para decidir o que fazer, onde e
quando em termos de intervenções no pavimento, fica sem sentido a imposição de critérios
relativos ao controle do trincamento de superfície dos pavimentos. Pode-se argumentar que a
medida visaria a proteção do patrimônio público representado pela infra-estrutura existente, mas
este aspecto deveria se referir ao caso de trincas que comprometam a estanqueidade da estrutura,
deixando passar águas pluviais em vazão suficiente para comprometer a condição das camadas
subjacentes ao revestimento. O fato é que a presença de trincas visíveis na superfície não implica
necessariamente que essas trincas sejam passantes através de toda a espessura do revestimento
asfáltico, podendo ser apenas superficiais.
170
5.4 - Avaliação Estrutural
5.4.1 - Conceitos
Em seu sentido mais amplo, a análise estrutural de um pavimento consiste no cálculo das
respostas da estrutura à passagem das cargas do tráfego, na forma de tensões, deformações e
deflexões nos pontos críticos da estrutura, de modo a que se possa avaliar sua capacidade de
resistir aos mecanismos de degradação provocados pela ação repetida das cargas do tráfego. As
técnicas existentes para se efetuar tal análise encontram-se em um estágio onde podem ser
consideradas ferramentas práticas para diversas aplicações, dentre as quais se pode citar:
171
1. Na elaboração de um diagnóstico acerca dos problemas e do desempenho apresentado
pelo pavimento, visando a adoção de medidas de restauração que sejam eficazes do ponto
de vista econômico, por atuarem junto aos mecanismos que vêm controlando a
degradação do pavimento ao longo do tempo;
2. Na caracterização do pavimento através de um modelo estrutural que permita o cálculo
das tensões e deformações provocadas pelas cargas de roda em movimento nas suas
diversas camadas. Estas respostas da estrutura às cargas do tráfego são utilizadas tanto
para a estimativa da vida restante do pavimento existente como para efetuar-se o
dimensionamento estrutural do pavimento restaurado.
172
eliminar falsos conceitos e práticas injustificadas, que vêm levando a projetos de confiabilidade
duvidosa.
A condição estrutural pode ser avaliada de duas formas complementares:
Avaliação Destrutiva:
Consiste da abertura de furos de sondagem para identificação da natureza e das
espessuras das camadas do pavimento, bem como da abertura de poços de
sondagem para coleta de amostras dos materiais que serão ensaiados em
laboratório. Alguns ensaios “in situ” nas camadas de solos e de materiais
granulares podem ser realizados, como CBR “in situ” e determinações de umidade
e densidade. Os ensaios de laboratório abrangem desde aqueles convencionais
para caracterização geotécnica até ensaios especiais, como os que permitem a
medida do módulo de deformação resiliente. Este último parâmetro traduz o
comportamento tensão-deformação dos materiais quando submetidos às cargas
transientes do tráfego.
Quanto maior for a acurácia e a confiabilidade das leituras de deflexões efetuadas, bem
como o número de informações sobre o pavimento que a avaliação não destrutiva puder
fornecer, menor poderá ser o esforço dispendido nas avaliações destrutivas. Além disso, o
procedimento ideal para a seleção dos pontos ao longo da via onde serão executadas as
avaliações destrutivas consiste em se realizar primeiro as avaliações não destrutivas
(levantamentos deflectométricos) e o registro de defeitos de superfície, para então, de posse dos
Subtrechos Homogêneos definidos a partir desses elementos, selecionar os locais que trarão
informações significativas se forem executados poços de sondagem e coletado material das
camadas para ensaios de laboratório. O procedimento, usual em algumas normas, de se realizar
avaliações destrutivas a intervalos pré-fixados (como a cada 1 ou 2 km) leva a um esforço
desnecessário e pouco eficaz em termos de consumo de tempo e recursos.
Os ensaios não destrutivos, realizados por meio de provas de carga, ganharam relevância
com base no fato de que a execução de ensaios de laboratório em algumas amostras sempre gera
dúvidas acerca da representatividade das condições in situ das camadas. Originalmente,
utilizavam-se provas de carga estáticas, tanto para a medida do módulo de reação do subleito
para o projeto de pavimentos rígidos como para medidas indiretas do CBR, tendo sido
abandonadas pelos seguintes aspectos:
Com relação ao modo como são aplicadas as cargas ao pavimento, os equipamentos para
a realização de ensaios não destrutivos se classificam em:
173
Deflectômetros Quase-Estáticos:
Utilizam cargas de eixos de caminhões em verdadeira grandeza, movendo-se a
velocidades muito baixas (da ordem de 3 km/h). Como as solicitações aplicadas, em
termos de magnitude das cargas e da área de contato, correspondem às solicitações de
serviço em rodovias, as deflexões medidas com estes aparelhos correlacionam-se bem
com o desempenho dos pavimentos flexíveis e semi-rígidos. Não servem, contudo, para
pavimentos rígidos, por falta de acurácia na leitura de deflexões menores que 10 x 10-2
mm, além de não permitirem a avaliação de juntas. Alguns equipamentos desta categoria
incluem:
• Viga Benkelman
• Deflectógrafo Lacroix
• California Traveling Deflectometer
A Viga Benkelman foi utilizada pela primeira vez nas pistas experimentais da WASHO,
em 1953, difundindo-se por todo o mundo desde então. Atualmente, só é utilizada nos
países do terceiro mundo, em vista de seus baixos custos de aquisição, operação e
manutenção. O equipamento se compõe de uma parte fixa e de uma viga móvel. A parte
fixa é apoiada no pavimento por meio de três pés reguláveis. A viga móvel é acoplada à
parte fixa por meio de uma articulação, ficando uma das extremidades (ponta de prova)
em contato com o pavimento, no local onde se deseja medir a deflexão, enquanto que a
outra extremidade fica em contato com um extensômetro que acusa qualquer movimento
vertical da ponta de prova. A parte fixa é provida de um vibrador, cuja função é reduzir
ao mínimo o atrito entre todas as peças móveis durante a operação de medida.
Deflectômetros Dinâmicos:
São aqueles que aplicam cargas que variam de forma senoidal, a uma certa freqüência, e
medem as correspondentes deflexões dinâmicas em diversos pontos da superfície do
pavimento, por meio de sensores sísmicos (geofones). Permitem, portanto, a
determinação dos módulos de elasticidade dinâmicos dos materiais das camadas, por
retroanálise das bacias de deflexões medidas. Apresentam a desvantagem de ser
necessária a aplicação de uma pré-carga estática da ordem de três vezes a carga dinâmica
(pico-a-pico) aplicada, o que altera todo o estado de tensões no pavimento. Esta pré-
carga se destina a evitar o repique da placa de carga no topo do pavimento. Fazem parte
desta categoria o Dynaflect e o Road Rater. O Dynaflect foi retirado de uso, uma vez que
aplicava cargas muito baixas ao pavimento, não chegando a mobilizar os níveis de
deformações que as cargas dos veículos comerciais produzem. O resultado disto foi a
descoberta de que as deflexões medidas por meio desse equipamento não se
correlacionava com o desempenho apresentado pelos pavimentos.
Deflectômetros de Impacto:
Também denominados “Falling Weight Deflectometers” (FWD’s), aplicam cargas
impulsivas por meio da queda de um conjunto de pesos sobre um sistema que amortece e
transfere as cargas aplicadas a uma placa circular, apoiada no pavimento. A duração do
pulso de carga resulante (30 ms) é tal que simula os efeitos, no pavimento, de cargas de
roda a velocidades da ordem de 70 km/h. Não requerem aplicação de uma pré-carga
estática e permitem cargas cuja magnitude e área de contato simulam os eixos dos
caminhões ou os trens-de-pouso das aeronaves. Aplicam-se a quaisquer tipos de
pavimentos, inclusive para a avaliação de juntas e detecção de solapamentos em placas de
concreto de cimento Portland.
174
Em um estudo experimental, onde foram instrumentadas uma série de seções de
pavimentos e foram realizadas provas-de-carga com os principais equipamentos para ensaios não
destrutivos, ficou evidenciado que o “Falling Weight Deflectometer” é o equipamento que
melhor simula as tensões e deformações que são produzidas nos pavimentos pelas cargas de roda
em movimento dos caminhões.
A Figura 5.9, extraída da Ref. [11], esquematiza o processo de aplicação de cargas nos
dois tipos de FWD mais utilizados na prática. O uso de uma massa intermediária em queda no
caso do FWD marca KUAB leva a um pulso de carga mais suave, o que eleva a acurácia das
leituras do valor de pico da carga aplicada, além de tornar a forma do pulso de carga mais
condizente com o produzido pelas cargas de roda em movimento. A placa segmentada e com
sistema de distribuição de pressões por óleo comprimido do KUAB leva a diagramas de pressões
de contato mais uniformes que no caso da placa inteiriça do FWD-DYNATEST, o que é uma
vantagem quando se consideram ensaios realizados sobre superfícies irregulares.
Ainda segundo a Ref. [11], “outra particularidade do KUAB-2m-FWD é a utilização de
um eficiente mecanismo de leitura das deflexões, permitindo que seja aumentada a sensibilidade
das leituras por meio de um ajuste seletivo da leitura máxima possível para 2 ou 5 mm, em função
da estrutura do pavimento a ser ensaiado. Dificuldades anteriormente existentes na calibração dos
sensores de deflexão foram solucionadas com a introdução de um sistema de uma massa
referencial suspensa por um conjunto de molas e um micrômetro, cuja finalidade principal é
permitir uma fácil aferição da calibração e da linearidade das respostas das leituras do LVDT, em
quaisquer situações, inclusive no campo. A Figura 5.10 mostra o esquema de funcionamento dos
sensores utilizados pelo KUAB-2m-FWD, onde a diferença de potencial em mV, registrada pelo
LVDT será devida ao movimento relativo de Z2, ou seja, a deflexão medida será correspondente
a Z1 - Z2”.
Os ensaios dinâmicos não destrutivos para avaliação estrutural de pavimentos podem ser
agrupados em: (a) ensaios deflectométricos; e (b) ensaios de propagação de ondas. Nestes
últimos, as histórias no tempo de movimento devido a uma carga dinâmica são registradas em
dois ou mais pontos na superfície do pavimento. Calculando-se o tempo de viagem da onda de
superfície entre sensores adjacentes para diversas freqüências de excitação, uma curva de
dispersão é obtida relacionando velocidades de fase a freqüências. Espessuras e rigidezes das
camadas do pavimento são então obtidas por um processo de inversão, baseado na propagação
de ondas planas generalizadas do tipo Rayleigh. Este tipo de ensaio é representado pela Análise
Espectral de Ondas de Superfície (SASW) de Nazarian & Stokoe (1986). As curvas de
dispersão obtidas com o ensaio SASW são muito sensitivas à rigidez do revestimento e do
subleito, mas são pouco sensíveis às propriedades da camada de base (Ref. [10]).
175
Conjunto de Pesos
(massa principal) Conjunto
de Pesos
massa Buffers
intermediária
Placa de Carga
não Segmentada
Placa de Carga
Segmentada
O fato de a carga aplicada no FWD ser dinâmica leva a amplificações nas deflexões, em relação a
uma carga estática, quando a profundidade até a rocha é inferior a 6,1m. Assim, os
procedimentos estáticos usuais de retroanálise, quando se conhece a profundidade da rocha,
levam a se subestimar a rigidez do subleito.
O procedimento corrente para se interpretar as leituras do FWD falha em utilizar o
verdadeiro potencial do ensaio, uma vez que não se considera a natureza dinâmica da resposta do
pavimento. Registrar-se uma história de tempo maior da resposta dinâmica do pavimento levaria
a uma estimativa mais simples e rápida da rigidez do subleito. A profundidade da rocha também
poderia ser estimada a partir do período das vibrações livres do pavimento, que se seguem após a
passagem do pulso do FWD. Esta informação e a história da força são necessárias se um
procedimento de retroanálise dinâmico deve ser aplicado.
176
Amortecedor
viscoso Invólucro
Elemento
de atrito
Mola B
Mola A
Mola A
Peso de
referência
Superfície do pavimento
O ensaio SASW, por outro lado, é eficaz na determinação das propriedades do revestimento
(rigidez e espessura). A profundidade da rocha é também facilmente determinada. O FWD e o
SASW se complementam, portanto.
Na Ref. [11] foi feito um estudo experimental a fim de se investigar a confiabilidade das leituras
obtidas através da viga Benkelman. Alguns dos resultados obtidos em um pavimento flexível
rodoviário são mostrados na Tabela 5.9, de onde se conclui que:
As Figuras 5.11 e 5.12, extraídas da Ref. [11], ilustram a repetibilidade das leituras da
bacia de deflexões com a viga Benkelman em comparação com a que é obtida através do FWD,
para ensaios realizados sobre o mesmo pavimento. O coeficiente de variação das leituras com o
FWD situou-se na faixa entre 0,4 e 1,5% naqueles ensaios.
177
Tabela 5.9 - Bacias da viga Benkelman medidas sobre um mesmo ponto em pavimento flexível
(Ref. [11])
Deflexões da Viga Benkelman ( 10-2 mm)
Bacias / Dist.(cm) D0 D12.5 D25 D45 D65 D85 D105 D125 D145
Bacia VBk 1 68 52 48 36 20 8 16 4 16
Bacia VBk 2 72 56 40 24 12 4 0 0 0
Bacia VBk 3 72 60 40 24 16 12 8 8 4
Bacia VBk 4 76 60 36 24 16 8 4 4 4
Bacia VBk 5 72 56 32 20 16 12 8 8 4
Bacia VBk 6 64 52 36 24 16 12 8 4 4
Bacia VBk 7 76 56 44 28 16 16 12 4 4
Bacia VBk 8 68 56 36 24 16 12 8 4 4
Bacia VBk 9 68 56 40 20 16 8 4 4 4
Bacia VBk 10 36 16 4 -4 -8 0 -12 -4 0
Bacia média VBk * 71 56,5 38 23,5 15,5 10,5 6,5 4,5 3,5
σ* 4,140 2,563 3,7 2,563 1,414 3,665 3,66 2,56 1,41
C. V. (%)* 5,832 4,537 9,75 10,9 9,12 34,9 56,4 57 40
* Cálculos excluindo as bacias VBk 1 e VBk 10.
-10
-20
Deflexões (0.01mm)
-30
Figura 5.11 - Análise da repetibilidade das bacias da viga Benkelman obtidas em um mesmo
ponto em pavimento flexível rodoviário (Ref. [11])
178
de carga. Como os materiais de pavimentação, especialmente as misturas asfálticas, têm um forte
componente viscoelástico no seu comportamento reológico, qualquer variação no tempo de
carregamento é significativa para a deformação das camadas. Os únicos parâmetros que podem
ser lidos com um grau de confiança mais aceitável através da viga Benkelman são: a deflexão
máxima entre rodas (D0) e o Raio de Curvatura Teórico (RC) da deformada de superfície, este
último sendo calculado por:
3135
RC =
D0 − D25
Bacias do FWD
0
-10
-20
Deflexões (0.01mm)
-30
T = 25,5 oC 12:05 h
-40
Figura 5.12 - Análise da repetibilidade das bacias do FWD obtidas em um mesmo ponto em
pavimento flexível rodoviário (Ref. [11])
onde D25 é a deflexão (em 10-2 mm) a 25 cm do centro do eixo de 80 kN e RC é dado em metros.
As incertezas associadas às determinações do raio de curvatura se encontram em torno de 20%
(Ref. [11]). Estes dois parâmetros são úteis porque o trincamento por fadiga dos revestimentos
asfálticos é função da deformação máxima de tração na fibra inferior da camada (εt), e se tem
que:
εt = f (D0 , RC , h1 , Esl )
179
em caráter complementar, coletar-se materiais das camadas para a realização de ensaios de
cargas repetidas em laboratório, para medida do Módulo de Deformação Resiliente (MR), em
condições que simulem o melhor possível as existentes no campo.
Ensaios triaxiais de cargas repetidas deverão ser realizados na umidade e densidade de
campo em amostras dos materiais granulares das camadas de base e sub-base, bem como nos
solos das camadas de reforço e subleito. Em vista da grande contribuição nas deflexões do
pavimento que se deve ao subleito e às dificuldades de se retirar amostras indeformadas no
campo, será aproveitado para as análises apenas o expoente “n” da relação: MR = k σdn, no caso
de solos finos coesivos, ou o K2 da relação: MR = k1 θK2, no caso de solos cujo comportamento é
granular (cascalhos e areias).
Para as camadas asfálticas tipo CBUQ, no caso de não se dispor de ensaios de MR em
compressão diametral, pode-se adotar os valores típicos da Tabela 5.10, desde que a espessura
total das camadas asfálticas seja pequena o suficiente para influir pouco nas deflexões do
pavimento (ou seja, menores que 10 cm).
Tabela 5.10 - Valores típicos para o módulo de resiliência de camadas asfálticas tipo
CBUQ
MR(kgf/cm2) Condição
40.000 CBUQ novo, a 25oC
60.000 CBUQ antigo, a 25oC
20.000 Trilhas de roda parcialmente trincadas
10.000 Camada severamente trincada
No caso da existência de diversas camadas asfálticas, pode-se adotar, para cada uma, os
valores típicos indicados na Tabela 5.11, se a camada não estiver trincada. Se houver trincamento
significativo, uma forma de se estimar a redução do módulo efetivo da camada nas trilhas de roda
é efetuar-se levantamentos deflectométricos também entre as trilhas de roda (no centro da faixa
de tráfego, portanto), por ser esta uma região que praticamente não sofreu consumo à fadiga
significativo. Neste caso, o módulo de elasticidade efetivo do revestimento (E1) nas trilhas de
roda pode ser estimado por:
1
DTR β
E1 = E 0
DET
180
na faixa da esquerda, onde predominam os automóveis. A interpretação das relações medidas
pode ser feita pela teoria de camadas elásticas, traçando-se relações entre a razão de deflexões
(DTR/DCF) e a razão entre o módulo efetivo do revestimento (ou base cimentada) e o módulo da
mistura (Eef/E0).
Material MR (kgf/cm2)
PMQ denso 35.000
PMQ aberto 15.000
PMF denso 20.000
PMF aberto 10.000
Macadame Betuminoso 25.000
Areia-Asfalto a Quente 35.000
Do = 0,62 DVBK
onde DVBK é a deflexão medida com a Viga Benkelman. Esta correlação foi estabelecida na
“AASHO Road Test”.
Para as camadas granulares que formam a base e a sub-base, pode-se adotar a seguinte
relação entre os parâmetros K1 e K2 (Ref. [8]):
K1 = α 0 D0α 1 RCα 2
K = β 0 D0β 1 RCβ 2
obtidos após análise de uma série de casos pela teoria de camadas elásticas. Neste caso, contudo,
RC deveria ser lido, preferencialmente, em todas as estacas, juntamente com Do. Os valores
calculados para K1 e K devem ser comparados aos que foram medidos em laboratório. Se
grandes discrepâncias forem observadas, sua causa deveria ser investigada (por exemplo,
revendo-se o E1 que foi adotado).
Uma avaliação estrutural efetuada com a viga Benkelman, para que possa se aproximar
do grau de confiabilidade que é propiciado por uma avaliação com o FWD, deve ser
complementada por determinações do módulo de resiliência dos materiais das camadas, a partir
de ensaios triaxiais de cargas repetidas realizados em amostras dos materiais extraídas do
pavimento a ser avaliado. Embora o módulo de resiliência descreva o comportamento dos
181
materiais sob as cargas transientes dos veículos, este ensaio destrutivo deve ser complementado
pelos levantamentos deflectométricos, na medida em que:
D0
182
h1 E 1 = MR E1med =
E
E 2med
h2 E2med K 24 =
E 2 = A1θ σA2
d
A3
E 4med
E3med E 3med
h3
E 3 = B1θ σ B2
d
B3
K 34 =
E 4med
‘
E4med
E 4 = C1 σ dC2
D0
DC
E4
E4ef
DFWD 1,0
α= = , para a > 0 e b > 0
DVBK a × h1b + 1
Para os dados disponíveis, a aplicação deste modelo resultou nos dados da Tabela 5.12,
que levam à relação mostrada na Figura 5.13. As deflexões medidas com o FWD se referem a
uma carga de 40 kN aplicada sobre uma placa de 30 cm de diâmetro. Uma placa com esta
dimensão gera bulbos de tensões de forma e magnitude semelhante ao eixo padrão de rodas
duplas, na medida em que as rodas se encontram separadas em 30 cm centro a centro e as
pressões médias de contato nos dois sistemas são praticamente idênticas (em torno de 5,6
kgf/cm2).
183
Tabela 5.12 - Correlação entre viga Benkelman e FWD (Ref. [11])
h1 (cm) α Parâmetros obtidos
5,0 0,91 a = 6,136×10-3
7,5 0,84 b = 1,756
10,0 0,68 R2 = 0,94
15,0 0,62 σ = 0,248
1.1
1
Dfwd / Dvbk
0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Espessura da Cam ada Asfáltica (cm )
Revestimento
h1 Asfáltico E1 = fixo
A avaliação estrutural de um pavimento pode ser efetuada, neste caso, através da seguinte
seqüência:
184
1. Determinação dos módulos de elasticidade da camada granular (base e sub-base) e do
sistema reforço/subleito (E2 e E3, respectivamente), através da deflexão máxima (D0) e do
raio de curvatura (RC) medidos com a viga Benkelman;
2. Estimativa do CBR in situ da camada granular e dos solos de reforço/subleito, por meio
da relação:
Ei
CBR =
Ki
onde os valores de Ki são calculados com base nos valores de CBR e de módulo de resiliência
medidos em laboratório. Valores entre 60 e 200 têm sido encontrados para Ki (unidades em
kgf/cm2) pela aplicação deste procedimento, para o caso de solos de subleito.
No caso de seções onde se tenha uma espessura significativa de camadas asfálticas (h1 > 7
cm) a única retroanálise possível é aquela onde se determinará o módulo efetivo E1 das camadas
asfálticas e o módulo equivalente E2 de todo o sistema situado abaixo das camadas asfálticas
(base, sub-base, reforço e subleito).
Um exemplo de como a correta interpretação dos ensaios realizados com a viga
Benkelman pode ser útil no diagnóstico de um pavimento é o caso apresentado a seguir, referente
a um trecho da rodovia BR-285/RS, segmento Lagoa Vermelha - Passo Fundo.
1 – Histórico do Pavimento
A restauração foi terminada há 4 anos e o Lote 1 apresenta trincamento significativo. Trata-se
de projeto com fortes limitações em espessuras (somente CBUQ) definidas pelo DNER, tal
como vem sucedendo há bastante tempo (emprego do PRO-159, no caso).
O trecho tem 94,17 km e foi subdividido em dois lotes para a restauração:
. Lote 1: Km 0+000 ao Km 52+500;
. Lote 2: Km 52+500 ao Km 94+172,66.
Outras observações:
- A mesma empreiteira ganhou os dois lotes e executou-os com as mesmas
equipes, mesma usina, mesma pedreira, etc;
- Aparentemente, o tráfego é o mesmo ao longo do dois lotes (está sendo
verificada uma corrente de tráfego que ingressa no Lote 1, que afetaria
parte desse lote. Até agora, não se tem dados a respeito);
- Outras possíveis causas dos defeitos e do predomínio destes no Lote 1:
. A qualidade questionável do agregado. A pedreira de basalto apresenta-
se heterogênea, inclusive com frações amigdalóides;
. Nessas condições, o Lote 1 poderia ter sido recapeado com brita de pior
qualidade. É hipótese ainda a ser verificada;
. Maiores dados do recapeamento no Lote 1 (os serviços
cronologicamente avançaram do início do Lote 1 para o término do Lote
2);
. Melhor ajustagem do traço de mistura e do trabalho das equipes, à
medida em que avançavam os serviços. Assim, o Lote 2, executado por
último, seria por certo beneficiado;
- O pavimento antigo, severamente trincado, possuía a seguinte estrutura
básica:
185
. Revestimento em CBUQ (~ 6 cm);
. Base de macadame hidráulico (~ 35 cm);
. Subleito variegado, de solos oriundos de rochas basálticas;
- Idade aproximada do pavimento original, desde a entrega ao tráfego à
restauração: 26 anos;
- A base de macadame parece ter beneficiado o desempenho, relativo a
deformações permanentes e à fadiga;
- Número N de projeto de restauração (AASHTO - 10 anos): 2,4 x 106
(USACE - 10 anos: 7,8 x106);
- Não se constatou correlação simples entre FC (2,3) antes e após
recapeamento. Pelo contrário, uma tentativa fracassou totalmente
(r2 = 0,0128);
- Há variantes de traçado em alguns segmentos homogêneos; nestes locais,
o pavimento obviamente é novo e apresenta igualmente fissurações. Esta
constatação, associada à do parágrafo anterior, parece reforçar a hipótese
de que a causa principal de determinação é alheia à fissuração do
revestimento antigo;
- Será feita uma tentativa de pesagem das cargas-de-eixos, por
amostragem, dependendo de se obter por empréstimo uma balança móvel.
- Anexo, os seguintes elementos dos lotes 1 e 2:
Quadro 1 - Fissuras (do Projeto de Restauração e atuais estudos - 1999);
Quadro 2 - Deflexões (do Projeto de Restauração e atuais estudos - 1999);
Quadro 3 - Raios de Curvatura (do Projeto de Restauração e atuais
estudos - 1999);
Quadro 4 - Índice de Gravidade Global (do Projeto de Restauração e
atuais estudos - 1999);
Quadro 5 - Número N, ISC, SNC e espessuras (do Projeto de
Restauração);
Quadro 6 - Temperaturas ( dos atuais estudos - 1999).
2 – Análise Preliminar
DC
= αe βH R
DP
onde se obteve para β valores em torno de 0,60 (DC é a deflexão de campo atual e DP é a
deflexão de projeto, do pavimento antigo, medida à época do projeto de restauração). Já no
que diz respeito ao parâmetro α, o resultado foi:
Lote 1: α = 1,716
Lote 2: α = 1,187
186
O valor do produto αDP pode ser considerado como uma estimativa da deflexão do
pavimento imediatamente antes da execução da camada asfáltica de recapeamento. Sendo
assim, verifica-se que o aumento das deflexões do pavimento no Lote 1 no período de 7 anos
decorrido entre o projeto de restauração e a época em que a restauração foi efetivamente
executada foi bastante pronunciado, da ordem de 72 %, enquanto que no Lote 2 teria
ocorrido apenas um pequeno aumento (da ordem de 19 %). O resultado foi que as deflexões
no Lote 2 se encontram hoje abaixo dos valores de projeto, enquanto que as deflexões atuais
no Lote 1 tendem a superar os valores de projeto.
Com relação ao Raio de Curvatura da deformada de superfície, o recapeamento
sempre levou a um aumento de RC no Lote 2, em relação ao valor de projeto, sendo que o
aumento da espessura do recapeamento incrementou esse efeito.
Já no Lote 1 observam-se os mesmos efeitos, exceto pelo fato de que, em alguns
subtrechos, o valor de RC diminuiu em relação ao valor de projeto. Todos os subtrechos do
Lote 1 onde o valor de RC diminuiu em relação ao valor de projeto situam-se entre os
subtrechos 1 e 14. A entrada de água pelas trincas e a degradação do pavimento durante os
7 anos que decorreram entre o projeto de restauração e a execução das obras explicariam
esse efeito.
Em termos médios, têm-se os seguintes parâmetros para os pavimentos recapeados
dos dois Lotes:
- Lote 1:
FC2+FC3 = 37,4 %
D0 = 56,9 × 10-2 mm
HR = 6,1 cm
RC = 138,8 m
- Lote 2:
FC2+FC3 = 1,7 %
D0 = 41,6 × 10-2 mm
HR = 5,8 cm
RC = 200,3 m
FC2+FC3 = 25,5 %
D0 = 67,3 × 10-2 mm
h1 = 6,0 cm (CBUQ novo)
RC = 116,6 m
revelando uma condição estrutural mais desfavorável até que a dos pavimentos recapeados
do Lote 1.
As figuras abaixo mostram a existência de uma forte correlação entre o trincamento
observado e as deflexões média (D0) e característica (DC) do pavimento, apesar da elevada
dispersão. Para que apenas um trincamento incipiente ocorresse neste momento (4 anos
após a abertura ao tráfego), seria necessário o atendimento a uma deflexão média admissível
da ordem de 45 × 10-2 mm e uma deflexão característica admissível da ordem de 55 × 10-2
mm.
187
A existência dessas correlações indica que o mecanismo através do qual o
trincamento se processou foi a fadiga da camada asfáltica de recapeamento sob a ação
repetida das cargas do tráfego.
y = 2.2682x - 92.107
100.0
FC2+FC3 (%) r2 = 0.5429
80.0
60.0
40.0
20.0
0.0
30.0 40.0 50.0 60.0 70.0
D0 (0,01 mm)
Deflexão Média
y = 1.8044x - 91.619
100.0
r2 = 0.5068
Fc2+FC3 (%)
80.0
60.0
40.0
20.0
0.0
40.0 50.0 60.0 70.0 80.0 90.0
Dc (0,01 mm)
Deflexão Característica
188
200.0
Rc (m) atual
150.0
100.0
50.0
50.0 100.0 150.0
Rc (m) de projeto
Lote 1
250.0
Rc (m) atual
200.0
150.0
50.0 70.0 90.0 110.0
Rc (m) de projeto
Lote 2
Raios de Curvatura
189
Lote 1
y = 0.4302x 0.6959
Rc(atual) / Rc(proj)
2.50
r2 = 0.2688
2.00
1.50
1.00
0.50
3.0 6.0 9.0
HR (cm)
y = 1.3764x 0.3488
Rc(atual) / Rc(proj)
4.0
3.5 r2 = 0.2975
3.0
2.5
2.0
1.5
1.0
3.0 5.0 7.0 9.0 11.0
HR (cm)
Lote 2
190
y = 2.2327x-0.3399
D0(atual) / D0(proj.)
2.00
r2 = 0.3228
1.50
1.00
0.50
3.0 6.0 9.0
HR (cm)
Lo te 1
y = 1.6639x -0.4035
D0(atual) / D0(proj.)
1.2
r2 = 0.4815
1.0
0.8
0.6
0.4
3.0 5.0 7.0 9.0 11.0
HR (cm)
Lote 2
191
-0.0556x
y = 1.716e
D0(atual) / D0(proj.)
2.00 2
r = 0.2948
1.50
1.00
0.50
3.0 6.0 9.0
HR (cm)
Lote 1
y = 1.1867e-0.0608x
D0(atual) / D0(proj.)
1.2
r2 = 0.4375
1.0
0.8
0.6
0.4
3.0 5.0 7.0 9.0 11.0
HR (cm)
Lote 2
192
3 – Análise Estrutural do Pavimento
A seção de pavimento da Figura 6 pode ser utilizada como referência para efeito de se analisar o
desempenho quanto ao trincamento por fadiga dos pavimentos do trecho em questão, em vista
das conclusões do item anterior. O módulo de elasticidade da camada asfáltica de recapeamento
será fixado em E1 = 15.000kgf/cm2, a fim de se simular a condição de carregamento quase-
estático vigente nos levantamentos deflectométricos com a viga Benkelman. Os módulos de
elasticidade da camada de base (E2), composta pelo revestimento antigo trincado e pela camada
granular de Macadame Hidráulico, e do solo de subleito (E3) foram variados de acordo com as
combinações mostradas na Tabela 1, onde aparecem também a deflexão máxima entre rodas
(D0), o raio de curvatura (RC) e a deformação específica máxima de tração (εt) sob a camada
asfáltica, calculados pela teoria de camadas elásticas (programa FLAPS) para cada situação
estrutural considerada.
Revest. antigo
+ E2
37 cm Base granular
Subleito E3
193
Tabela 1 – Resultados da análise estrutural sob o eixo padrão de 80 kN
E2 E3 D0 D25 RC εt
(kgf/cm2) (kgf/cm2) (0,01 mm) (0,01 mm) (m) (10-3)
500 146.5 82.36 48.7 1.085
500 1.000 118.8 57.47 51.0 1.074
2.500 99.6 40.53 52.9 1.066
500 82.94 54.01 108.0 0.5216
1.500 1.000 61.35 34.06 114.5 0.5283
2.500 45.1 19.48 122.0 0.5344
500 49.3 38.78 297.1 0.1402
5.000 1.000 33.79 23.94 317.3 0.1549
2.500 21.46 12.45 346.8 0.1714
-4
- Lote 1: εt = 3,92775 × 10
-4
- Lote 2: εt = 2,73113 × 10
Tendo em vista que a vida de fadiga de um revestimento asfáltico pode ser dada por
um modelo da forma:
n
1
N f = FC (h1 ) ×
εt
onde:
194
−2
n = 2.5905 × 1011VB−0.2629 e −1.5769×10 VV
PNT −0.2502 Tabs
−4.0976
onde:
VB = percentual em volume de asfalto na mistura;
VV = volume de vazios de ar da mistura (%);
PNT = penetração do asfalto a 25oC;
Tabs = temperatura absoluta da mistura asfáltica = T(oC) + 275,15
195
5.4.3 - Avaliação com o Falling Weight Deflectometer
No FWD, um pulso de carga é gerado pela queda de uma massa sobre amortecedores, apoiados
em uma placa de carga circular. O valor de pico da carga aplicada e a forma da superfície
deformada do pavimento são medidos. As deflexões resultam de uma integração eletrônica das
medidas de velocidade feitas por geofones, sendo que estes estão dispostos até uma distância de
2 m do centro da placa de carga.
No caso dos equipamentos que permitem uma leitura confiável das bacias de deflexões
(deslocamentos de superfície) geradas pelas cargas aplicadas, caso dos deflectômetros dinâmicos
e dos deflectômetros de impacto, pode-se calcular o “módulo de elasticidade efetivo in situ” de
cada camada do pavimento. A razão desta denominação está em que este módulo reflete as
condições in situ dos materiais, em termos de umidade, densidade e compactação, além de levar
em conta o estado de tensões a que a camada está submetida. Este não é, portanto, idêntico ao
módulo de resiliência de laboratório, que é medido em condições artificiais em relação às de
campo. Tem sido observada, contudo, uma correspondência muito boa entre ambos os módulos,
indicando que podem ser utilizados os dois conceitos de forma intercambiável, ao menos em
termos práticos.
No caso de se utilizar apenas a deflexão máxima, medida no centro da placa de carga,
para se avaliar a rigidez de uma fundação, pode-se calcular um módulo de elasticidade efetivo da
fundação por:
Eef =
(
2 pa 1 − ν 2 )
d0
196
∞
D = ∫ ε (z)dz
i vi
0
onde εvi(z) representa o campo de deformações verticais ao longo da vertical que passa pelo
geofone “i”. Como a região que está fora do bulbo de tensões tem deformações quase nulas, a
equação acima pode ser escrita como:
∞
D = ∫ ε (z)dz
i vi
z
i
onde zi é a profundidade onde as camadas começam a influir na deflexão do geofone “i”. Assim,
todas as camadas situadas acima da profundidade zi não contribuem para a deflexão Di, sofrendo
apenas deslocamento de corpo rígido ao longo desta vertical. Dessa forma, apenas os módulos de
elasticidade das camadas situadas abaixo da profundidade zi têm alguma influência em Di. Quanto
mais afastado da carga estiver o geofone, tanto menor o número de camadas que influenciarão a
sua deflexão. Este fato indica como deve ser executado o processo de retroanálise: variando-se
os módulos de elasticidade das camadas de baixo para cima, do subleito até o revestimento,
ajustam-se as deflexões dos geofones mais afastados até o centro da placa de carga,
seqüencialmente. O processo é, portanto, análogo à resolução de um sistema de equações
lineares, quando a matriz do sistema é triangular.
Q
geofone
h1
Zi
h2
Por mais bem executada que seja a retroanálise, raramente se ajustará a bacia teórica à
bacia medida de forma perfeita, ou seja, com erro nulo em todos os geofones, pelas seguintes
razões:
• Existe um erro experimental. A precisão dos geofones é de 2 micra (0,2 x 10-2 mm);
• Existe uma certa distância entre o modelo teórico e o pavimento real, e sempre haverá, por
mais bem elaborado e complexo que seja o modelo. Aspectos não considerados pelo modelo,
como viscoelasticidade, anisotropia e não linearidade podem ser importantes em certos
casos.
197
Uma regra prática deve ser imposta, portanto, para se indicar o momento de interromper
as iterações. A experiência tem mostrado que o erro médio (S) entre as deflexões medida (DMi) e
calculada (Dci) de uma bacia, erro este definido por:
DM i − DCi
100 m
S (%) = ∑
m i =1 DM i
198
A confiabilidade deste método depende do grau em que as fórmulas adotadas para se
correlacionar as deflexões calculadas (DCj) aos módulos de elasticidade das camadas represente
de fato os resultados do programa FLAPS. Por exemplo, no caso da retroanálise linear elástica
de um sistema de três camadas, a seguinte fórmula tem se revelado eficaz:
ln DC j = a 0 j + a1 j ln E1 + a 2 j ln E 2 + a 3 j ln E 3 + a 4 j ( ln E1 ) + a5 j ( ln E 2 ) +
2 2
a 6 j ( ln E1 ) + a 7 j ( ln E 2 ) + a8 j ( ln E 3 )
3 3 3
199
onde o significado dos parâmetros do modelo é explicado na Figura 5.15.
É feita a minimização da seguinte Função Erro:
7 − nSL
S= ( ) ( ) ( )
∑ ln δ i − ln Di 2 + ln δ i − ln Di 2 + ln δ i − ln Di 2
i =1 Q1 Q2 Q3
0,904 pa 2 (1 − ν 2 )
E SL =
rd r
SIP = D0 - D1,5Hp
onde:
SIP = ‘structural index of the pavement’;
Do = deflexão sob uma carga de 40 kN no FWD;
Hp = espessura total do pavimento.
Em seguida, 7.776 seções de pavimento foram analisadas pela teoria de camadas elásticas
e foi utilizada a relação da AASHTO para se calcular o SN de cada uma:
E
1/ 3
SN = 0,04 ∑ag hi i
Eg
onde:
ag = coeficiente estrutural do material (por polegada);
hi = espessura da camada, mm (com Σ hi ≤ 700 mm);
Ei = módulo de resiliência da camada i; e
Eg = módulo de resiliência de materiais padronizados na AASHTO Road Test,
correspondente a ag .
200
PAVEDAT2
SUBLEITO CASO1.BAC
MODELONL
ANALISE
MODOFAT.OUT CASO1.MSL
FLAPSFT
CASO1.FAT
REGRESS
CASO1.COF
LAYMOD
CASO1.MOD
AJUSTE
CASO1.SOL
201
Re vestimento E
1 υ = 0,30
1
k
Base Granular E = Kθ 2 υ = 0,35
2 1 2
Subleito E = Kσ n υ = 0,40
3 d 3
SN = K1SIP K 2 H PK 3
Tendo em vista que os ensaios com o FWD são realizados sob condições variáveis de
temperatura, torna-se necessário efetuar a conversão dos módulos de elasticidade determinados
para o revestimento asfáltico para uma temperatura de referência, a fim de que a seção possa ser
objeto de análises estruturais subseqüentes. Para tanto, as seguintes fórmulas vêm sendo
utilizadas:
202
4350
y = -2.5027x + 4307.1
4300 2
r = 0.3766
4250
Q (kgf)
4200
4150
4100
4050
4000
20 40 60 80 100
D0 (0,01 mm)
a P
h1 3 2 1 4 5 6 7 CCP
-30 -20 0 80 120 160 200 cm
h2 SB
SL
Figura 5.17 - Ensaios com o FWD em pavimentos rígidos
A determinação dos módulos de elasticidade das camadas (placa de CCP, sub-base e subleito)
pode ser feita pelo mesmo processo utilizado em pavimentos asfálticos, para a bacia de deflexões
referente aos ensaios realizados no centro da placa de concreto. Em alguns casos, pode não haver
acurácia suficiente para se distinguir E2 de E3, levando a que se faça uma retroanálise em apenas
duas camadas. Neste caso, pode-se aplicar as fórmulas apresentadas na Ref. [9] e transcritas a
seguir.
Inicialmente, calcula-se a partir da bacia de deflexões medida o parâmetro:
203
d d d
x = AREA = 61 + 2 30 + 2 61 + 91
d0 d0 d0
P a a
2
K ef =
2 1+ 0,217 − 0,367 log
8d 0 lk l k l k
ECCP h13
lK = 4
( )
12 1 − ν 2 K ef
Para fins de se avaliar até que ponto o fissuramento por fadiga da placa de concreto pode
ter afetado sua condição estrutural, pode-se comparar o módulo calculado ao seguinte valor,
dado pela correlação do ACI:
E CCP = 15110
. RCS
R
1,67
RCS = TF
0,56
para unidades em MPa.
No caso de uma sub-base em Concreto Rolado, pode-se aplicar:
204
E
0 ,865
K ensaio = 6,04 S
1000
D30junta
JDR =
D30placa
que utiliza as deflexões a 30 cm do centro da placa de carga do FWD, sendo uma do lado da
placa de CCP onde a carga é aplicada e a outra na placa que está do outro lado da junta avaliada.
A Tabela 5.14 mostra o resultado da observação de rodovias no Texas, no que diz respeito à
interpretação que se pode dar para JDR.
D30placa − D152
Q = arctg
24
6
M = arctg placa
D0 − D30
205
Determinação dos Parâmetros Q e M
0
-20
-40
Deflexões (0.001mm)
-60 Q
-80
-100
Q = arc. tang.[(D1 -D7)/24]
-120
M = arc. tang.[6/(D0 -D1)]
-140
M
-160
-30 0 30 60 90 120 150
Distâncias (cm )
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