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2ª EDIÇÃO | ANUAL | NOVEMBRO DE 2021

Revista Técnico-Científica de
Medicina Ayurveda e Yoga
w w w. a m a y u r . r e v i s t a . p t | D i r e c t o r M a r i s a M e s t r e

Ayurveda
Ciência vs Religião

ENTREVISTA SUBMISSÃO DE ARTIGOS TÉCNICO


Dr. Mandar Bedekar CIENTÍFICO ATÉ 30 DE JUNHO DE 2022
índice
EDITORIAL 3

E N T R E V I S TA - D r. M a n d a r B e d e k a r 4

ARTIGOS
- Āyurveda: entre ciência e religião 9
- C o m b i n a ç ã o d e Ā h ā r a , V i h ā r a , Yo g a e A l s a r e x 18
no tratamento de Ūrdhvaga Amlapitta – Um
caso de estudo.
- Padrões Alimentares Ancestrais nos dias 31
atuais: Padrão Alimentar Mediterrâneo vs
Padrão Alimentar Āyurvediko

SUPLEMENTO 47

PRÓXIMA EDIÇÃO 48

FICHA TÉCNICA 49
EDITORIAL
[POR]

ANA
CADIMA
Caros leitores,

Escolhemos lançar a 2ª Edição da Revista nível da nutrição e do estilo de vida, com


Té c n i c o - C i e n t í f i c a de Me d i c i n a Ā yurveda e práticas de yoga e tratamento com fitoterápico
Yo g a n o d i a 2 d e N ov e m b r o d e 2 0 2 1 , d i a e m ā y u r v e d i ko , b e m c o m o o s r e s p e t i v o s r e s u l t a d o s .
que se celebra o Dia Mundial do Ā yurveda.
Po r ú l t i m o , n u m a i n c u r s ã o s o b r e a i m p o r t â n c i a
Celebramos assim, com uma r e f l ex ã o muito d a d i e t a n a s a ú d e e u m a r e f l ex ã o s o b r e o s
atual e pertinente sobre os desafios da Ciência p a d r õ e s d e a l i m e n t a ç ã o , C a r l a P a t r í c i a Va z e
A n c e s t r a l Ay u r v e d a , u m s i s t e m a i n t e g r a d o e M a r i s a Me s t r e a p r e s e n t a m u m a r t i g o e m q u e
holístico e, o Paradigma Científico da Ciência caracterizam os Padrões Alimentares
Mo d e r n a , n u m a e n t r e v i s t a e m q u e o D r. M a n d a r Ā y u r v e d i ko e Me d i t e r r â n e o g u i a n d o - n o s p e l a
Bedekar nos apresenta alguns pontos caracterização de cada padrão bem como, por
fundamentais a ter em consideração no domínio uma análise comparativa apresentando os
da investigação. Po r outro lado, inclui-se princípios básicos inerentes a ambos e algumas
também uma r e f l ex ã o sobre a Ciência e r e f l exõ e s .
Espiritualidade num artigo em que Carolina João
Andrade nos encaminha por entre algumas Desejamos que esta edição da revista seja mais
r e f l exõ e s históricas e culturais sobre o um contributo para o enriquecimento da
ā yurveda entre a Ciência e a Religião. partilha e discussão Té c n i c o - C i e n t í f i c a da
S a b e d o r i a A n c e s t r a l d a Me d i c i n a Ā y u r v e d a e d o
Um Estudo de Caso ilustra-nos uma situação a Yo g a q u e p r e v a l e c e e s e e v i d e n c i a c a d a v e z
p a r t i r d e u m a q u e i x a i n i c i a l d e r e f l u xo g á s t r i c o mais no quadro da atualidade.
e m q u e Le a n d r o R a f a e l d a S i l v a C o s t a n o s
apresenta o caso no enquadramento e análise
d o p o n t o d e v i s t a d a Me d i c i n a ā y u r v e d a , b e m
como o tratamento, incluindo alterações ao
ENTREVISTA - DR. MANDAR BEDEKAR

O Desafio da Ciência
A Medicina Āyurveda e o Paradigma Científico
D r. M a n d a r B e d e k a r p r a t i c a M e d i c i n a Ā y u r v e d a d e s d e 1 9 9 6 . A o l o n g o d a s u a c a r r e i r a c o m o
Va i d y ā t e m v i n d o a c o l a b o r a r c o m v á r i a s i n s t i t u i ç õ e s n a Í n d i a e f o r a d e l a , i n c l u i n d o
Portugal, dinamizando oficinas e seminários no âmbito das mudanças de estilo de vida de
acordo com o Ā yurveda. Leciona em várias instituições académicas há mais de 20 anos.
Atualmente é Professor associado no Ā yurveda College, Belgaum (Karnataka, India).
Dr. Mandar Bedekar | Vaidyā

A h i s t ó r i a d a Me d i c i n a Ā y u r v é d i ka n o O c i d e n t e A isto seguiu-se a ocupação do Império


é r e l a t i v a m e n t e r e c e n t e , a o c o n t r á r i o d o Yo g a B r i t â n i c o , q u e g ov e r n o u a Í n d i a d u r a n t e c e r c a
que já se encontra muito presente nas nossas d e 1 0 0 a n o s . E n e s t e c o n t ex t o a s c i ê n c i a s
v i d a s . C o n s i d e r a q u e o Yo g a fo i u m a p o r t a d e indianas também não tiveram propriamente
entrada para o Ā yurveda no mundo c o n d i ç õ e s p a r a c r e s c e r. E p o r q u e é q u e e s t o u a
ocidental? ex p l i c a r t u d o i s t o? Po r q u e é n e s t e c o n t ex t o
que se compreende que a Índia ao se tornar
C e r t a m e n t e q u e s i m ! E v o u ex p l i c a r p o r q u ê . N a i n d e p e n d e n t e , e m 1 9 4 7, n ã o e r a v i s t a c o m m u i t a
Índia Antiga, ou seja, há milhares de anos atrás, consideração a nível internacional, e o
quando o subcontinente indiano era muito Ā yurveda, por conseguinte, também não era
desenvolvido do ponto de vista sociopolítico, as muito conhecido. Era desvalorizado pelos
artes e ciências indianas estavam no seu auge. países ocidentais e pela comunidade científica,
O Ā yurveda era uma dessas ciências assim se o posso dizer assim. Com este pano de
como o Yo g a . Ambas eram amplamente f u n d o , t a m b é m v e m o s q u e fo i a t r a v é s d o Yo g a
praticadas, muito respeitadas e conceituadas. A q u e o Ā y u r v e d a fo i i n t r o d u z i d o n o O c i d e n t e .
astrologia também estava muito desenvolvida, P r i m e i r o o s o c i d e n t a i s a c e i t a r a m o Yo g a e p e l o
assim como a matemática, e já na altura se f a c t o d a t e r m i n o l o g i a d o Yo g a e d o Ā y u r v e d a
faziam cálculos para estimar as ocorrências dos serem semelhantes, o Ā yurveda também fo i
eclipses solares, dos eclipses lunares e de ficando mais presente e as pessoas começaram
outros eventos importantes. To d o s estes a i n t e r e s s a r- s e m a i s . E c o m o s a b e m , h o j e e m
d o m í n i o s d o s a b e r, n e s s a é p o c a , e s t a v a m m u i t o dia, o Ā yurveda já é aceite a nível mundial.
d e s e n v o l v i d o s . D e p o i s d i s s o – e i n fe l i z m e n t e –
houve um longo período na história da Índia, em A Índia, na sua longa história, esteve em
que algumas destas ciências entraram em contacto com muitos outros p ov o s . Uma
declínio. Atingidas pelas guerras, que eram c o n s e q u ê n c i a d e s t e fe n ó m e n o fo i a ex p o s i ç ã o ,
frequentes no subcontinente indiano, estas q u e o Ā y u r v e d a fo i t e n d o , a o u t r o s s i s t e m a s
ciências sofreram um declínio que durou alguns médicos. Hoje em dia, o Ā yurveda tem um
milhares de anos, entre 2000 a 4000 anos.
contacto signif icativo com a ciência. Como vê rosas. As rosas não eram plantas nativas da
e s s a l i g a ç ã o? Í n d i a e v i e r a m , p r ov a v e l m e n t e , d a Pé r s i a e d e
outros países árabes. Quando os invasores
A n t e s d e m a i s , g o s t a r i a d e ex p l o r a r a l g u n s v i e r a m t r o u xe r a m a s r o s a s e , h o j e e m d i a , é u m
conceitos que vêm na pergunta. Em primeiro dos principais tratamentos anti-pitta no
l u g a r, o c o n c e i t o d e c i ê n c i a p r e c i s a d e s e r Ā yurveda.
definido. Se o definirmos segundo a perspectiva
ocidental, a ciência trata de buscar a verdade, Disse que o Ā yurveda é uma ciência aberta e
ou é um estudo sistemático de algo. Se que o conceito ciência para o Ā yurveda não
seguirmos estas definições que são aceites pelo tem o mesmo sentido que para a ciência
mundo ocidental moderno, então vamos ter ocidental. E em relação aos conceitos matéria
a l g u n s p r o b l e m a s . Po r q u e , p a r a o Ā y u r v e d a , e m e n t e , c o m o o s d e f i n e , c o m p a r a t i v a m e n t e?
estas definições não se adequam propriamente.
Para alguém que não conheça o Āyurveda, a E m p r i m e i r o l u g a r, o q u e p o s s o d i z e r é q u e o
s u a c i e n t i f i c i d a d e p o d e s e r q u e s t i o n áv e l . É Ā yurveda não dá assim tanta importância à
preciso compreender que o Ā yurveda é, em si, matéria em comparação com as ciências
uma ciência e bem desenvolvida. Uma ciência modernas ocidentais. Não estou a dizer que
sistemática. O único problema é que não não reconhece a matéria mas não a enfatiza
preenche os requisitos estabelecidos pela t a n t o . O fo c o p r i n c i p a l n o Ā y u r v e d a s ã o o s n ov e
comunidade científica, requisitos esses que se d r a v y a s b á s i c o s . A t r a d u ç ã o m a i s p r óx i m a d e s t e
começaram a d e f i n i r, principalmente, no c o n c e i t o é “ s u b s t â n c i a s ” o u “e l e m e n t o s ”. E s t e s
período que se seguiu ao Renascimento. n ov e s ã o , o s c i n c o p r i n c í p i o s b á s i c o s o u p a ñ c a
mahā bhū ta, as quatro direções, o tempo, a
O Ā yurveda está baseado num dos sistemas mente e a alma. E estes são os elementos
filosóficos específicos, definido pela filosofia b á s i c o s n a v i s ã o Ā y u r v e d a . E d e s t e s n ov e , a
indiana, Darśana. Mas, por f a v o r, não matéria é apenas um dos atributos de um dos
c o n s i d e r e m o Ā y u r v e d a u m s i s t e m a o r t o d oxo o u elementos básicos. Apenas a terra e água dos
fe c h a d o , n a v e r d a d e é u m a c i ê n c i a a b e r t a . A o cinco elementos estão relacionados com aquilo
longo da sua história, de milhares de anos, que a ciência moderna chama de matéria.
devido às correntes migratórias, os médicos de Po r t a n t o , c a d a u m d e s t e s n ov e d r ā v y a s t e m
Ā yurveda, ou Va i d y ā , tiveram, certamente, muitas qualidades ou atributos e a matéria é
contacto com d i fe r e n t e s correntes de apenas uma parte.
p e n s a m e n t o e , p o r s e r u m s i s t e m a a b e r t o , fo i
aceitando alguns conceitos de outras ciências. Em relação à mente, do que tenho conhecimento
U m exe m p l o d i s s o , s ã o o s a t r i b u t o s , g u ṇ a s , d a s a medicina ocidental só começou a reconhecer a
d i fe r e n t e s p l a n t a s . D u r a n t e a s m i g r a ç õ e s n ov a s ex i s t ê n c i a d e d o e n ç a s p s i c o s s o m á t i c a s a p a r t i r
p l a n t a s fo r a m s e n d o i n t r o d u z i d a s n a Í n d i a e o s d o s a n o s 5 0 / 6 0. M a i s t a r d e , c o m e ç o u a p e n s a r
médicos estudavam essas plantas, de acordo que não apenas um número reduzido de doenças
com os princípios do Ā yurveda, e começavam a eram psicossomáticas mas que realmente muitas
utilizá-las nos tratamentos. Como é o caso das doenças tinham essa natureza. Hoje em
d i a c r ê - s e q u e e m c a d a d o e n ç a ex i s t e u m a como um mā ntra, para a manutenção da saúde.
influência da mente. Assim, a perspectiva sobre E i s t o t a m b é m é a l g o q u e v a l e a p e n a i n v e s t i g a r.
a mente fo i mudando ao longo do tempo, J á e s t á p r ov a d o , p o r exe m p l o , q u e a p r o p o r ç ã o
também sob a influência da psicologia e da d e ox i g é n i o e d e o z o n o é m a i o r d e m a n h ã c e d o
psiquiatria. Em comparação, desde a sua do que em qualquer outra altura do dia, que
fundação que o Ā yurveda considera que a mente quando a pessoa se levanta cedo de manhã a
é um elemento importante. A mente é um dos serotonina é produzida em maior quantidade, o
drā vyas – manas em sânscrito – e um elemento que leva a mais energia e melhor desempenho
muito importante. Po r exe m p l o , segundo o nas tarefas do dia. O Ā yurveda tem um
Ā yurveda, a tristeza, que é um estado mental, é p o t e n c i a l e n o r m e d e r e fe r ê n c i a s q u e p o d e r i a
um dos factores que potencia o aparecimento o fe r e c e r à c i ê n c i a o c i d e n t a l , c a s o e s t a e s t e j a
de todas as doenças! receptiva!

Em que áreas vê o Ā yurveda fazer as suas E s e r á q u e a Me d i c i n a Ay u r v é d i ka p o d e r i a t e r


maiores contribuições no âmbito da u m a a b o r d a g e m m a i s c i e n t í f i c a?
i n v e s t i g a ç ã o c i e n t í f i c a?
O problema principal dos estudos
Pe n s o q u e a b r e m u i t a s p o r t a s p a r a o s e s t u d o s interdisciplinares é a terminologia. A primeira
i n t e r d i s c i p l i n a r e s . O Ā y u r v e d a p o d e o fe r e c e r barreira neste âmbito, na minha opinião, é a
m u i t o à c i ê n c i a o c i d e n t a l , m a s a q u e s t ã o (e dificuldade em encontrar uma terminologia
peço desculpa por colocá-la assim!) é se a comum. Quando duas ciências se juntam
ciência ocidental está disposta a receber?! Não significa que duas pessoas se juntam. E nesse
é uma crítica, mas é preciso estarmos sentido deve haver uma disponibilidade para se
conscientes do quanto elas se podem realmente chegar a soluções de compromisso. Se todos
a c o m p a n h a r. C o m o d i s s e h á p o u c o , há um insistirem na supremacia da sua própria
ś l o ka n o s t ex t o s d o Ā y u r v e d a q u e d i z q u e a terminologia então a investigação não chega a
tristeza é o principal factor que leva ao c o m e ç a r, f i c a b l o q u e a d a . O s e s p e c i a l i s t a s d e
desenvolvimento de doenças. Com base nesta Ā yurveda precisam de estar receptivos à
i n fo r m a ç ã o , vários tipos de investigação terminologia ocidental, este é o primeiro
p o d e r i a m s e r d e s e n h a d a s . U m o u t r o exe m p l o é a r e q u i s i t o . S e m i s s o , n ã o s e p o d e c o m e ç a r. E m
grande riqueza de medidas preventivas que s e g u n d o l u g a r, n a c i ê n c i a m o d e r n a , h á n ov o s
ex i s t e n o Ā y u r v e d a , s v a s t h a v ṛ t t a , s o b r e c o m o desenvolvimentos a acontecer a cada instante
manter a saúde de uma pessoa. Hoje em dia as que passa e o Ā yurveda acredita que os seus
pessoas vão para a cama por volta da meia- princípios são princípios eternos, que nunca
noite porque ficam na internet, no facebook, no mudam. Na minha opinião, é um grande conflito
instagram, entre outras, e depois há stress, e a nível filosófico. Uma das ciências diz, “não,
d e p o i s h á c o m p r i m i d o s p a r a d o r m i r, e d e p o i s os princípios não devem mudar” e a outra diz,
têm dificuldade em acordar de manhã. No “ n ã o , o q u e fo r p r ov a d o e m l a b o r a t ó r i o t e m d e
Ā yurveda, levantar cedo pode ser considerado s e r a c e i t e ”.
Na sua ex p e r i ê n c i a de ensino em países
ocidentais, que recetividade ex i s t e ao
Ā yurveda, por parte das pessoas, das
i n s t i t u i ç õ e s , d o s g ov e r n o s ?

Depende muito. Há pessoas que são muito


abertas, outras têm ideias muito específicas
sobre a ciência, que os deixa pouco receptivos
a n ov o s c o n c e i t o s . E m g e r a l , a s p e s s o a s s ã o
iguais em todo lado. E em cada sítio há todo o
tipo de pessoas. Quando as pessoas são mais
receptivas, há umas que olham para o Ā yurveda
como uma verdadeira medicina, outras mais
n u m a p e r s p e t i v a d e h e a l t h c o a c h , l i fe s c i e n c e ,
ou como medicina preventiva, ou como uma
medicina natural. Neste sentido penso que o
Ā yurveda tende a ser aceite, pelo menos, até
certo ponto.

Em relação à regulação da profissão de médico


Ā y u r v e d i ko é d i fe r e n t e . Já tenho realizado
algumas dezenas de visitas ao ocidente e
estabelecido protocolos com algumas
faculdades, e na maior parte dos países vejo as
p e s s o a s e s t ã o i n t e r e s s a d a s e m o u v i r, e m t e r
contacto com fitoterápicos e tratamentos
Ā y u r v e d i ko s q u a n d o n e c e s s i t a m . M a s q u a n d o
passamos para o nível da investigação
interdisciplinar ou da regulamentação oficial
p o r p a r t e d o s g ov e r n o s , t e n h o d e a d m i t i r q u e ,
i n fe l i z m e n t e , n ã o t e m h av i d o m u i t a a b e r t u r a
de nenhum g ov e r n o até agora. A nível
g ov e r n a m e n t a l , penso que ainda há muito
t r a b a l h o a f a z e r, p a r a o s f a z e r a c r e d i t a r q u e
ex i s t e a l g o c h a m a d o Ā y u r v e d a e q u e t e m u m
grande potencial!

Nesse sentido, que conselhos daria aos alunos


e investigadores portugueses do Ā yurveda?
Há u m g r a n d e t r a b a l h o q u e t e m s i d o fe i t o p e l a Vo u propor trabalhos de casa! Te n h a m a
A M AY U R , e m p r o l d o Ā y u r v e d a . Pe n s o q u e e s t a ex p e r i ê n c i a d e d o r m i r d u r a n t e o d i a . E d e p o i s ,
revista é também mais um passo nessa direcção. apercebam-se do peso que sentem, do torpor na
Para os alunos gostaria de dizer que, sendo mente, da preguiça no corpo, da lentidão que
ocidentais, não é fácil aceitar e compreender os sentem a realizar as actividades. Precisam de
t e r m o s d o s â n s c r i t o . Po r i s s o , s e p o s s í v e l , v ã o à s e n t i r. É este o trabalho de casa, para
raiz das palavras. Demora algum tempo e dá um perceberem porque é que o Ā yurveda diz para
certo trabalho mas penso que conhecendo a raiz não se dormir durante o dia. O segundo
d a s p a l a v r a s é p o s s í v e l a p r e e n d ê - l a s m e l h o r. t r a b a l h o d e c a s a é , d a p r óx i m a v e z q u e fo r e m
Costumo dizer que as palavras do sânscrito são c o m e r, t e n t e m fe c h a r o s o l h o s e a n a l i s a r s e t ê m
como pastas zipadas – comprimidas – r e a l m e n t e fo m e , o u s e e s t ã o a c o m e r p o r q u e s ã o
utilizando a terminologia moderna. Se as h o r a s d e c o m e r. Q u a n d o c o m e m o s a p e n a s n o
descomprimirem irão obter muito mais de cada momento em que temos fo m e , sentimo-nos
p a l a v r a . Po r i s s o , a p r e n d a m s â n s c r i t o , p a r a muito mais leves e com mais energia depois de
poderem compreender melhor o Ā yurveda. c o m e r. U m o u t r o d e s a f i o é , e m v e z d e l a v a r e m
os dentes com uma pasta dos dentes doce – não
Em relação aos investigadores, são precisos v o u d i z e r n o m e s d e m a r c a s – ex p e r i m e n t e m u m
p a r a f a z e r a c i ê n c i a a v a n ç a r. C o n t u d o h á e s t a p r o d u t o Ā y u r v e d i ko , q u e n o r m a l m e n t e t e m u m
questão do cepticismo em relação ao Ā yurveda sabor amargo, pungente ou adstringente. Só
por parte da comunidade científica. Não me p r e c i s a m d e ex p e r i m e n t a r e s e n t i r.
refiro apenas aos ocidentais, isso também
acontece na Índia. Os investigadores precisam Po r fim, gostaria de dizer que me tenho
de compreender estas barreiras e desenvolver apercebido da elevada incidência das doenças
u m a a r t e d e a s u l t r a p a s s a r. Vo u d a r o exe m p l o o n c o l ó g i c a s e m Po r t u g a l e q u e r i a a p e l a r a t o d o s
da diabetes, que é um problema de saúde a nível aqueles que estão ligados ao Ā yurveda, a esta
global. Po r não ser causada por r e v i s t a , p a r a c o n t r i b u í r e m d e a l g u m a fo r m a
microorganismos, a ciência não a consegue p a r a a t e n u a r o s o f r i m e n t o d e s s a s p e s s o a s . Po r
t r a t a r, com antibióticos, e afins. E há a exe m p l o , c o m e r c a r n e d e p o r c o é m u i t o p o p u l a r
tendência para se pensar que a diabetes é uma e m Po r t u g a l , m a s s e g u n d o o Ā y u r v e d a d e v e s e r
doença derivada da alteração do metabolismo evitado no verão. E depois de comer comida
dos açúcares. Do ponto de vista do Ā yurveda, a pesada, a pessoa não deve dormir a sesta, pois
diabetes está relacionado com problemas no isso pode trazer sérios problemas de saúde.
metabolismo do meda dhā tu, o metabolismo do Estas dicas simples podem ajudar muito a
tecido gorduroso. E esta i n fo r m a ç ã o muda p o p u l a ç ã o p o r t u g u e s a . Po r f a v o r, a c r e d i t e m n a
completamente o cenário sobre a doença! É ciência e mantenham a mente aberta nos vossos
importante tentar superar barreiras. e s t u d o s . Te n h o a c e r t e z a d e q u e p o d e r ã o r e t i r a r
muito do estudo do Ā yurveda!
Que desafios proporia aos investigadores?
Projectos científ icos no campo do Ā yurveda.
ARTIGO
Āyurveda: entre ciência e religião
Āyurveda: between science and religion
[Artigo Original]

[POR]

CAROLINA JOÃO
ANDRADE 1

1Licenciada e m E s t u d o s C o m p a r a t i s t a s ( n a F LU L ) , M e s t r a n d a e m H i s t ó r i a e C u l t u r a
d a s R e l i g i õ e s ( F LU L ) , Fo r m a n d a d o C u r s o d e Te r a p e u t a d e M e d i c i n a Ā y u r v e d a

RESUMO
E s t e a r t i g o p r e t e n d e p e n s a r n o ā y u r v e d a a p a r t i r d o b i n ó m i o "c i ê n c i a / r e l i g i ã o". E n q u a n t o s i s t e m a
m e d i c i n a l , p o d e r- s e - i a p e n s a r o ā y u r v e d a c o m o p r á t i c a c i e n t í f i c a , c o n t u d o , a p r e s e n ç a d e t e r a p i a s
subtis, a crença na dimensão espiritual e algumas especificidades metodológicas parecem
posicionar o ā yurveda no quadro das tradições religiosas e filosóficas indianas. Primeiro, serão
demonstradas as influências religiosas ao longo da história do ā yurveda. Em seguida, será
c o m p a r a d o o m o d e l o t e r a p ê u t i c o ā y u r v é d i ko c o m o m o d e l o a l o p á t i c o o c i d e n t a l . Po r f i m , s e r á
problematizada a questão que deu origem ao artigo: o ā yurveda está mais perto da ciência ou da
r e l i g i ã o? E s t a r á e s t a q u e s t ã o l i g a d a a o p a s s a d o c o l o n i a l ? E , p o r q u e é q u e c o n t i n u a a t e r
r e s s o n â n c i a n a s o c i e d a d e g l o b a l c o n t e m p o r â n e a?

P a l av r a s - c h av e : ā y u r v e d a , c i ê n c i a , r e l i g i ã o .

Abstract
T h i s a r t i c l e a i m s t o t h i n k a b o u t ā y u r v e d a t h r o u g h t h e d i c h o t o m y " s c i e n c e / r e l i g i o n ". A s a m e d i c a l
s y s t e m , w e c o u l d c o n s i d e r ā y u r v e d a a s a p r a c t i c a l s c i e n c e , h ow e v e r, t h e p r e s e n c e o f s u b t l e
t h e r a p i e s , t h e b e l i e f i n a s p i r i t u a l d i m e n s i o n , a n d s o m e s p e c i f i c m e t h o d o l o g y, s e e m t o l o c a t e
ā yurveda in the traditional Indian religious and philosophical scene. First, it will be demonstrated
the influence of religion throughout the history of āyurveda. T hen, a comparison is made between
t h e a y u r v e d i c t h e r a p e u t i c a l m o d e l a n d t h e w e s t e r n a l l o p a t h i c m o d e l . F i n a l l y, a r e f l e c t i o n o n t h e
o r i g i n a l q u e s t i o n o f t h i s a r t i c l e i s p r e s e n t e d : Is ā y u r v e d a c l o s e r t o s c i e n c e o r r e l i g i o n? C o n c l u d i n g
that this type of question reveal a relationship with colonial history that still resounds in the
c o n t e m p o r a r y g l o b a l s o c i e t y.

Ke y w o r d s : ā y u r v e d a , s c i e n c e , r e l i g i o n .
1. Introdução três corpos: o material, o subtil ou mental, e o
« E m s â n s c r i t o , “ a y u r ”, s i g n i f i c a “ v i d a”, e “ v e d a ” c a u s a l 5 , 6 q u e f u n c i o n a m e m c o o p e r a ç ã o . Is t o
p o d e s e r t r a d u z i d o p a r a “c o n h e c i m e n t o” o u coloca um problema para o estudante que
“c i ê n c i a”, o q u e n o s p e r m i t e e n t e n d e r a p a l a v r a pretende conhecer o ā yurveda através da
ā yurveda como «ciência da vida»1,2. Através metodologia científica: a dimensão espiritual
desta breve definição entende-se que o não se restringe à observação empírica, e
ā yurveda não se cinge ao tratamento da doença q u a l q u e r i n fe r ê n c i a a s e u r e s p e i t o é c a t a l o g a d a
e m e s t a d o m a n i fe s t o ; o s e u p r o p ó s i t o a b a r c a como especulação, filosofia ou crença religiosa.
t o d o u m e s t i l o d e v i d a q u e p r o m ov e o b e m - e s t a r D r. Va s a n t Lad, um dos autores mais
do individuo, independentemente da presença proeminentes da atualidade a respeito da
d e u m a p a t o l o g i a . A fo r m a m a i s e f i c a z d e s e m e d i c i n a ā y u r v e d i ka , a f i r m a q u e “Ā y u r v e d a
ex p l i c a r sucintamente a especificidade do encompasses not only science but religion and
ā y u r v e d a é a t r a v é s d o c o n c e i t o d e “ s a ú d e ”. p h i l o s o p h y a s w e l l .” 7 , o q u e l e v a a q u e s t i o n a r : o
S a t y a v a t i 2 c o m p a r a a d e f i n i ç ã o d a O. M . S c o m a que é que se quer dizer quando se fala de
de Sushruta, um dos autores canónicos dos “c i ê n c i a” e d e “ r e l i g i ã o”, p o r q u e , p e l o m e n o s n a
t r a t a d o s ā y u r v é d i ko s : cultura ocidental, estes conceitos são
“ He a l t h i s a s t a t e o f c o m p l e t e p hy s i c a l , m e n t a l empregues em contraponto, não só pela
and social well-being and not merely the d i c o t o m i a “ f a c t o - fé ”, m a s p o r q u e a p r e s e n t a m
a b s e n c e o f d i s e a s e o r i n f i r m i t y.” 3 métodos distintos de validação de
conhecimento.
"The svasthā or the h e a l t hy person is an
individual who is in a state in which the doṣa, E s t e a r t i g o p r e t e n d e ex p l o r a r a s p o s s i b i l i d a d e s
agni and dhā tus are all in equilibrium, the de diálogo entre “ r e l i g i ã o” e “c i ê n c i a” na
e xc r e t i o n o f m a l a (t h e b o d y w a s t e s) i s r e g u l a r m e d i c i n a ā y u r v e d i ka − s e s e p o d e c o n s i d e r a r o
and the mind, senses and the soul are all ā yurveda uma ciência nos moldes modernos, ou
t r a n q u i l ." 4 se está demasiado enraizada em crenças e
práticas religiosas. O discurso que coloca em
Como se pode observar na parte final da c o n c o r r ê n c i a “c i ê n c i a v s . r e l i g i ã o”, s e n d o e s t e s
definição, há a inclusão da dimensão espiritual c o n c e i t o s q u e s ã o u m “ p r o d u t o” d a c u l t u r a e
(“soul”) em paralelo com o físico, o mental e o pensamento ocidental moderno, revela
sensorial, o que permite entender a abordagem problemas ideológicos herdados do passado
holística e integrativa do ā yurveda. O conceito colonial indiano, e esta problemática será
d e “ a l m a” é m a i s c o m p l exo c o m p a r a t i v a m e n t e a b o r d a d a n a r e f l ex ã o f i n a l d o a r t i g o .
àquele que se conhece no ocidente cristão, Num primeiro momento, observar o terreno
porque a ideia de “e s p í r i t o” −ā tma, está partilhado entre o ā yurveda e a cultura
a s s o c i a d a t a n t o à c o n s c i ê n c i a i n d i v i d u a l ( j īv a r e l i g i o s a e f i l o s ó f i c a i n d i a n a , d e fo r m a m u i t o
ā tma), como a uma essência universal (param geral. Serão discutidos o sistema de
ā t m a) . S e g u n d o o ā y u r v e d a , u m a p e s s o a p o s s u i puruṣā rtha, de cariz social, a teoria dos
triguṇas descrita no Bhagavad G īt ā , e a a antiga tradição védica e as mudanças que
i n f l u ê n c i a d a f i l o s o f i a s ā ṅ k hy a . Na segunda levaram ao que mais tarde se entende como
parte do artigo, será estabelecido o bramanismo (a d i fe r e n ç a fundamental diz
contraponto entre o modelo biomédico e o respeito à descentralização do sacrifício, em
modelo ā y u r v e d i ko , a fim de ex p l o r a r as especial do sacrifício animal)10.
semelhanças e d i fe r e n ç a s entre sistemas
medicinais. A problemática da sacralidade da vaca é
ilustrativa das ambiguidades que derivaram dos
eventuais conflitos entre estes dois cultos. A
semelhança entre os escritos do atharva veda e
2. Ā yurveda no panorama
o m a i s r e c e n t e c ā r a ka s a ṃ h i t ā , i n d i c a - n o s d e
religioso indiano fo r m a e v i d e n t e q u e C a r a k a s e i n s p i r o u n o s
t ex t o s v é d i c o s . E n g l e r c h a m a à a t e n ç ã o p a r a a
ex i s t ê n c i a d e p a s s a g e n s n o c ā r a ka s a ṃ h i t ā e m
2.1. Influências religiosas que aparece recomendado o consumo de carne
b ov i n a p a r a f i n s m e d i c i n a i s 9 :
Enquanto sistema medicinal que remonta à
época da escrita dos Ve d a s , o ā yurveda Fo r e xa m p l e , a f t e r g i v i n g b i r t h , w o m e n s h o u l d
a c o m p a n h o u a o l o n g o d a h i s t ó r i a “ r e l i g i o s a” d o consume a paste made, in part, from " a
subcontinente indiano, as tradições mais portion of the right ear of the untamed and
a n t i g a s e a e m e r g ê n c i a d o s n ov o s c u l t o s e alive bull ... cut and smashed in a stone mortar"
filosofias, como o Jainismo e o Budismo no
s é c u l o V a .C . O q u e s i g n i f i c a q u e a m e d i c i n a A relação estabelecida com a vaca, ora de
āyurveda sofreu influências ao longo da ex p l o r a ç ã o , o r a d e v e n e r a ç ã o e r e s p e i t o , é
história. Um exe m p l o disto fo i a perda da flutuante nos t ex t o s antigos. Po r um lado,
prática cirúrgica, uma das técnicas mais ex i s t e m r e c o m e n d a ç õ e s a l i m e n t a r e s q u e ex i g e m
d o c u m e n t a d a s n o s u ś r u t a s a ṃ h i t ā , q u e d e i xo u a ex p l o r a ç ã o d o b ov i n o (d e s d e c a r n e , l e i t e ,
de ser aplicada por influência do princípio urina e fe z e s) . Po r outro lado, o espírito
a h i m s ā ( n ã o v i o l ê n c i a) a p r e g o a d o p e l a t r a d i ç ã o o r t o d oxo b r a m â n i c o , q u e t a m b é m e s t á p r e s e n t e
budista8. na literatura, condena a violência infligida à
vaca, uma vez que são seres sagrados9.
O s t r a t a d o s ā y u r v e d i ko s s ã o r i c o s n ã o a p e n a s Conclui-se que é possível encontrar sinais de
pelo conhecimento medicinal, mas porque continuidade e descontinuidade com ambas as
permitem entender quais as crenças e práticas tradições religiosas, o que por um lado
religiosas que perduraram ao longo do tempo. distancia o ā yurveda de uma só identidade
N o s t ex t o s c a n ó n i c o s é p o s s í v e l d i s t i n g u i r d u a s r e l i g i o s a , e e v i d e n c i a a p r ov á v e l r e fo r m u l a ç ã o
tradições religiosas determinantes: a védica e a d o s t ex t o s a o l o n g o d o t e m p o .
bramânica. Steven Engler9 faz um levantamento
de algumas ideias religiosas que são centrais no
ā y u r v e d a , e q u e d e n u n c i a m a t e n s ã o ex i s t e n t e
2.2. Sistema Puruṣā rtha 2.3. Teoria dos triguṇas e Filosof ia
Sā ṅkhya
O ā yurveda divide e organiza a vida humana em
quatro fases: a juventude, o início da vida A ideologia dos triguṇas encontra-se presente
adulta, o fim da vida adulta e a velhice. E a par em t ex t o s religiosos, nomeadamente na
destas fases, propõe um modelo chamado Bhagavad G īt ā , uma das obras mais
puruṣā rtha (puruṣa pode ser traduzido neste c o n h e c i d a s d a l i t e r a t u r a h i n d u . A Te o r i a d o s
c o n t ex t o como “c o n s c i ê n c i a”, e artha como triguṇas compreende os guṇas como “modos
“poder”), que estabelece quatro propósitos a d a n a t u r e z a” : s ā t t v a é o m o d o o u a e n e r g i a d a
serem alcançados consoante o momento da bondade, rajas o modo da paixão, e tamas o
v i d a : d h a r m a , a r t h a , kā m a e m o k ṣ a 2 . O c o n c e i t o modo da ignorância11.
d h a r m a , n e s t e c o n t ex t o , é e n t e n d i d o c o m o a
“ v o c a ç ã o” ou propósito individual, e esta To d a s a s e n t i d a d e s v i v a s e s t ã o s u j e i t a s e s ã o
a u t o d e s c o b e r t a d e v e s e r fe i t a n a i d a d e j ov e m . influenciadas por estas três fo r ç a s da
A r t h a r e fe r e - s e à o b t e n ç ã o d e b o a s c o n d i ç õ e s natureza quando entram em contacto com a
materiais, a fim de que seja possível uma vida realidade material11, e ao mesmo tempo são
digna, próspera e com saúde. O terceiro aspeto, marcadores do progresso espiritual de um
kā m a , p o d e s e r e n t e n d i d o c o m o a b u s c a p e l o individuo e determinam o destino pós-morte.
prazer de viver − satisfação dos desejos, ainda D e s t e m o d o o b s e r v a - s e u m a l ó g i c a ká r m i c a n o
que sejam de natureza s ex u a l ou material, trato cosmológico, sem esquecer que a ideia
devem ser concretizados, na condição de que o de mokṣa também está presente. Uma vez que
s e j a m d e fo r m a r e g r a d a e s e m p r e j u d i c a r o o s t r i g u ṇ a s s ã o fo r ç a s d a n a t u r e z a m a t e r i a l ,
p r óx i m o 2 . Po r último, mokṣa, que significa só é possível atingir mokṣa quando há um
“ s a l v a ç ã o” ou “ i l u m i n a ç ã o”, corresponde ao e s fo r ç o para libertar ā tma das amarras
conceito de libertação do ciclo de materiais. E isto só é possível após se atingir
reencarnação, e é o objetivo último da vida. a condição sā ttva, uma vez que é o estado em
Este último estágio só é possível se os outros que é possível chegar a uma consciência mais
três fo r e m conquistados. Estas metas são pura e livre de “ilusões” (mā yā ).
adaptáveis à especificidade pessoal e cultural
d e c a d a u m . A p e s a r d o ā y u r v e d a n ã o p r o m ov e r A p ó s e s t a ex p l i c a ç ã o d o o b j e t i v o f i n a l d a v i d a ,
o ascetismo para a pessoa comum, não significa é relevante trazer o tópico do lado oposto do
que um monge ou um celibatário tenha de e s p e c t r o : a o r i g e m d a ex p e r i ê n c i a h u m a n a . A s
p r o c u r a r a r t h a e kā m a d o m e s m o m o d o q u e o ideias filosóficas do ā yurveda estão em
leigo: o essencial é a pessoa encontrar o seu diálogo dinâmico com as do yoga, mas pode
dharma (noutras palavras, e n c o n t r a r- s e) , e d i z e r- s e que é à filosofia s ā ṅ k hy a que o
adaptar as suas circunstâncias em função desse ā yurveda vai buscar as suas bases. G. J.
“c h a m a m e n t o”. L a r s o n , n a o b r a C l a s s i c a l s ā ṅ k hy a (1 9 7 9)
estabelece a cronologia da filosofia em quatro presença de práticas não-materialistas (por
é p o c a s h i s t ó r i c a s , l o c a l i z a n d o o c ā r a ka s a ṃ h i t ā exe m p l o , a s t e r a p i a s e s p i r i t u a i s e n u m e r a d a s p o r
no período proto-clássico12. Caraka considera C a r a k a , q u e i n c l u e m a exe c u ç ã o d e s a c r i f í c i o s ,
p u r u ṣ a u m e l e m e n t o ex t e r n o a o s 2 4 t a t t v a s , e a recitação de mantras, o uso de cristais, entre
descreve-o como uma natureza pura, não-criada o u t r o s) c o m o i m p o s i ç õ e s t a r d i a s d o s g r u p o s
(anadi) e eterna (nitya)13. A característica que religiosos dominantes, em especial os
d i s t i n g u e o s ā ṅ k hy a d e C a r a k a d a q u e l e q u e m a i s b r â m a n e s . O u s e j a , o s t ex t o s ā y u r v e d i ko s t ê m
tarde se desenvolve no período clássico, é que duas camadas: a secular − que segundo estes
p u r u ṣ a é i n d i fe r e n c i a d o d o c o n c e i t o d e ā t m a . A autores constitui o conhecimento autêntico,
sobreposição dos dois conceitos implica o nascido da observação empírica; e as
afastamento do sistema dualista, uma vez que r e fo r m u l a ç õ e s e a c r é s c i m o s d e o r d e m r e l i g i o s a s
puruṣa é a essência de todas as coisas. Neste − absorvidos ou impostos pela classe
sentido, pode-se entender a doutrina bramânica.
a p r e s e n t a d a p o r C a r a k a c o m o “a s o r t o f a n
i d e a l i s t i c m o n i s m , B r a h m a n i s m o r D e i s m”. 1 3 E n g l e r c o m p a r a o s i s t e m a m e d i c i n a l ā y u r v e d i ko
com o paradigma científico ocidental e conclui
que dificilmente se pode considerar que o
3. Ciência moderna e Ā yurveda
ā yurveda corresponde aos critérios necessários
para ser aceite como sistema científico. Um dos
motivos apontados é a valorização do fatores
3.1. O modelo Ā yurvédi ko e a
n ã o -v e r i f i c á v e i s , c o m o o kā r m a e a a s t r o l o g i a ,
compati bilidade com o paradigma como determinantes na constituição e
científ ico circunstância do paciente. Além disto, apesar
da observação empírica ser um instrumento

No artigo “‘Science’ vs. ‘Religion’ in Classical constante, não é empregue no sentido de

ā y u r v e d a ”, S t e v e n E n g l e r a b o r d a a d i s c u s s ã o n o r e fo r m u l a r o u a t u a l i z a r o s c o n t e ú d o s t e ó r i c o s ,

meio académico a respeito do estatuto e ou seja, não há o espírito de adulteração de

legitimidade do ā yurveda enquanto sistema teorias, que é tão emblemática do positivismo

medicinal compatível com os parâmetros científico. Outro argumento contra a

científicos modernos. Autores como Debiprasad cientificidade (e m termos m o d e r n o s) do

Chattopadhayay (1 9 1 8 -1 9 9 3 ) e Francis ā yurveda é a ênfase colocada na autoridade da

Zimmermann advogam a cientificidade do tradição canónica9.

s i s t e m a ā y u r v e d i ko s , u m a v e z q u e p o s s u i u m a
ó t i c a m a t e r i a l i s t a ( r e l a t i v a a o c o r p o f í s i c o) , q u e A i n d a q u e ex i s t a m s e m e l h a n ç a s m e t o d o l ó g i c a s

é uma prática regida pela observação empírica, e n t r e o m o d e l o ā y u r v e d i ko e o m o d e l o c i e n t í f i c o

apresenta uma teorização racional dos ocidental, não se pode dizer que o espírito

c o n t e ú d o s , e é exe c u t a d a , t a n t o n a a n t i g u i d a d e positivista que caracteriza a ciência moderna

como na atualidade, por uma classe profissional faz parte do modelo de sistematização de

especializada9. Estes académicos justificam a


c o n h e c i m e n t o d o ā y u r v e d a . Po r o u t r a s p a l a v r a s , numa tentativa de reconstruir a sua imagem a
o āyurveda não partilha os modos reducionistas partir das matrizes modernas e positivistas.
e m a t e r i a l i s t a s d a c i ê n c i a m o d e r n a 6 ,1 4.
O modelo ocidental procura demonstrações A l i á s , a p r ó p r i a n e c e s s i d a d e d e d e fe n d e r a
objetivas, ou seja, que todos os momentos do cientificidade do ā yurveda equiparando-a ao
processo de observação sejam verificáveis e modelo ocidental já denuncia alguma
q u a n t i f i c á v e i s . O c o n t ex t o h i s t ó r i c o e m t o r n o fragilidade, no sentido em que evidência uma
do nascimento do paradigma científico moderno “historical c o m p e t i t i o n” entre “c i ê n c i a” e
é balizado pelo avanço tecnológico e pelo “ r e l i g i ã o” 9 .
processo de secularização que se iniciou no
século XVII − que deu início ao afastamento e Antes de abordar esta questão, que é central no
descrédito da dimensão r e l i g i o s a /e s p i r i t u a l . presente artigo, será relevante fazer um breve
Consequentemente, a medicina sofreu r e s u m o d a h i s t ó r i a “ p o l í t i c a” d o ā y u r v e d a n o s
alterações no seu modo operativo: o doente últimos dois séculos, iniciando no período em
p a s s o u a s e r “ p a c i e n t e ”, o u s e j a , a g e n t e p a s s i v o q u e a Í n d i a e r a g ov e r n a d a p e l o p o d e r c o l o n i a l
que transporta a doença. O hospital tornou-se da Companhia britânica.
um centro de investigação, o olhar do médico é N a o b r a C o l o n i z i n g t h e B o d y : S t a t e Me d i c i n e
agora “ m e c a n i z a d o”, e os corpos and Epidemic Disease in Nineteenth-Century
estandardizados6. O modelo ā y u r v e d i ko não India (1 9 9 3 ) , David Arnold analisa a
opera nestes moldes, uma vez que entende o i n t e r fe r ê n c i a p o l í t i c a n o t r a t a m e n t o d a s a ú d e e
individuo numa perspetiva holística, na qual a d a s d o e n ç a s e m c o n t ex t o c o l o n i a l i n d i a n o , e
doença não é uma entidade estranha e invasora, c o m o a m e d i c i n a fo i u s a d a c o m o i n s t r u m e n t o d e
m a s o r e s u l t a d o d a d i n â m i c a d o (s) c o r p o (s) c o m controlo sobre os corpos dos colonizados15.
o m e i o ex t e r i o r. N e s t e s e n t i d o , o ā y u r v e d a n ã o Antes do início do século XIX, as relações entre
rejeita a dimensão subjetiva, na qual jogam profissionais de saúde europeus e indianos
fatores como as emoções, as ex p e r i ê n c i a s eram pautadas pela apreciação e colaboração
condicionantes e os traumas, as características mútua. É entre 1 8 1 0 -1 8 3 0 que a opinião
do meio onde se vive e o entendimento ocidental em relação ao ā yurveda, assim como
espiritual6,14. em relação a outras fo r m a s de medicina
p o p u l a r, passa a ser recriminatória15;

3.2. Ā yurveda sob o olhar colonial embebidos no espírito do secularismo e do


racionalismo materialista, os médicos europeus
passaram a descredibilizar a relação estreita
Depois de esclarecidas as d i fe r e n ç a s
entre medicina e religião na cultura indiana.
fundamentais entre o modelo alopático e o
Apesar disto, o interesse europeu pelos
m o d e l o ā y u r v e d i ko , E n g l e r q u e s t i o n a p o r q u e é
fitoterápicos usados pelos vaidya não
que alguns académicos se empenham em
desaparece e o contacto colaborativo na
“branquear” os aspetos holísticos e subjetivos
identificação e tratamento de doenças
do ā yurveda, ocultando as suas especificidades
“asiáticas” também se mantém.
No Commentary on the Hindu System of conjunto de práticas especulativas e
Me d i c i n e (1 8 4 5 ) d e T. A . W i s e , p o d e d e p r e e n d e r- fraudulentas16. A autoridade colonial cresce a
se qual a narrativa geral que os europeus ponto de reprimir o exe r c í c i o da medicina
construíram em torno da cultura indiana: tradicional, mesmo quando aplicada a
o u t r o r a u m a c i v i l i z a ç ã o s o f i s t i c a d a ( r e fe r e n t e i n d i a n o s 1 6 . E x i s t i r a m exc e ç õ e s , n o m e a d a m e n t e
a o p ov o a r i a n o e à t r a d i ç ã o v é d i c a) , fo i - s e em relação a algumas famílias vaidya que em
degenerando ao longo dos séculos, caindo em c a s o s r a r o s fo r a m a u t o r i z a d a s a c o n t i n u a r o
p r á t i c a s p r i m i t i v a s d e s u p e r s t i ç ã o . Ta m b é m o estudo da medicina ā yurveda17.
ā yurveda, sendo um legado védico, é
considerado um sistema com legitimidade
c i e n t í f i c a − “a s c i e n t i f i c s y s t e m o f m e d i c i n e i n
3.3. “Ciência” vs. “Religião”
i t s ow n r i g h t ” 1 6 , m a s q u e s o f r e u u m a r u t u r a
devido às invasões muçulmanas, e à sequente Como Engler (2003) demonstra, académicos

perda material e repressão profissional. Na como Chattopadhayay têm uma postura

sequência deste evento histórico, o ā yurveda apologética em relação ao ā yurveda, tentando

n ã o ex p e r i m e n t o u o m e s m o p r o g r e s s o q u e a s e p a r a r o “ ā y u r v e d a a u t ê n t i c o” (q u e c o n s i d e r a m

m e d i c i n a e u r o p e i a , e o p ov o i n d i a n o v i u - s e n a s e c u l a r e c i e n t í f i c o) , d o “ n ã o - a u t ê n t i c o” (q u e

necessidade de recorrer a práticas comporta os aspetos religiosos impostos

supersticiosas16,17. Este tipo de discurso t a r d i a m e n t e) 9 . E e s t a i n t e r p r e t a ç ã o r e c e n t e f a z

s i m p l i f i c a d o , q u a s e e m e s t i l o s t o r y- t e l l i n g , s ã o p a r e c e r q u e h á u m a p o s t u r a d e fe n s i v a s o b r e a

ilustrativos da larga distância cultural entre identidade do ā yurveda. É através deste prisma

“o c i d e n t e ” e “o r i e n t e ”. que se questiona a relevância de se discutir

O estranhamento dos europeus em relação ao “c i ê n c i a” e “ r e l i g i ã o” quando se aborda o

ā yurveda esteve relacionado, também, com a s i s t e m a m e d i c i n a l ā y u r v e d i ko .

dificuldade em descodificar dos compêndios


ā y u r v e d i ko s , q u e r p e l a d i fe r e n ç a l i n g u í s t i c a , A dicotomia s e c u l a r/ r e l i g i o s o é uma ideia

p e l a i n c o m p r e e n s ã o d a s r e fe r ê n c i a s e m p r e g u e s , ocidental e moderna, e aplicá-la enquanto

e pelos conceitos únicos que não tinham categoria a outras realidades fo m e n t a

correspondência no pensamento ocidental17. problemas sociais, culturais e políticos que

Enquanto a medicina europeia se baseou no surgem do contacto entre o “o r i e n t e ” e o

sistema humoral de Hipócrates, o espaço de “o c i d e n t e ”. N e s t e c a s o , p r o c u r a r e n t e n d e r o

diálogo com as medicinas ā yurveda e unani era ā y u r v e d a a t r a v é s d o “o l h a r ” e d o p e n s a m e n t o

possível e f u r t í fe r o , mas o fo s s o cultural ocidental poderá levar à manipulação e perda

alarga-se quando a medicina passa a ser do seu sentido original. Que é o que acontece

influenciada pelo positivismo, e suportada pelo quando se tenta r e fo r m u l a r a medicina

avanço tecnológico. Durante o p ó s -1 8 3 0 os ā y u r v e d a c o m v i s t a a a p r ox i m á - l a o u a d a p t á - l a

comentários por parte das instituições médicas ao padrão moderno e ocidental, procurando

e administrativas coloniais atacam a salientar os aspetos empíricos e objetivos,

legitimidade do ā yurveda, reduzindo-o a um


e n q u a n t o s e o b s c u r e c e e /o u f a l s i f i c a a h e r a n ç a 1 ) a v i s ã o s u b j e t i v a e i n t e g r a l d o i n d i v í d u o , 2) a
tradicional religiosa que comporta um consideração da dimensão subtil, 3) o
conhecimento espiritual e subtil18. entendimento holístico entre o corpo e o meio.
Com isto não se quer dizer que o āyurveda seja
Quando a “c i ê n c i a” é entendida enquanto acientífico, pelo contrário, porque os
“superior” à “ r e l i g i ã o”, e ostentada como tratamentos terapêuticos e os métodos de
símbolo da identidade ocidental, entra-se no aplicação de fitoterápicos são cada vez mais
campo da discussão ideológica. O que muitas estudados em laboratório e difundidos no
v e z e s a c o n t e c e é q u e a “o c i d e n t a l i z a ç ã o” é a mundo ocidental. Mas que esta não-
única via de legitimação de paradigmas de coincidência metodológica evidência as
pensamento “e s t r a n g e i r o s ”, quer sejam especificidades holísticas e a incorporação da
organizações religiosas ou sistemas medicinais dimensão subjetiva que caracterizam e
milenares. Caso contrário, o discurso enriquecem o ā yurveda.
hegemónico considera-os inválidos, ou como
mais frequentemente se costuma ver:
primitivos, ritualistas, supersticiosos e /o u
mágicos18.

4. Conclusão

Neste artigo procurou-se entender se a


l i t e r a t u r a ā y u r v e d i ka d e n u n c i a a l g u m a f i l i a ç ã o
com uma tradição religiosa especifica e o que
s e c o n c l u i u fo i q u e o s t ex t o s p a r e c e m a b s o r v e r
ideias de várias tradições religiosas, sem que
subscrevam oficialmente alguma. Apesar de não
ser possível associar o ā yurveda a uma religião,
é importante frisar que o recurso a terapias
subtis e a crença de que o humano é um ser
espiritual é uma constante histórica. A segunda
parte desta pesquisa deu a conhecer algumas
opiniões divergentes sobre a cientificidade do
ā yurveda. Através da análise de E n g l e r,
constata-se que os modelos medicinais
ā y u r v e d i ko e alopático têm semelhanças
m e t o d o l ó g i c a s , m a s q u e a p r e s e n t a m d i fe r e n ç a s
f u n d a m e n t a i s . A l g u m a s d e s s a s d i fe r e n ç a s s ã o
5. Bibliograf ia

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ARTIGO

Combinação de Āhāra, Vihāra, Yoga e Alsarex no


tratamento de Ūrdhvaga Amlapitta – Um caso de estudo.

Combination of Āhāra, Vihāra, Yoga and Alsarex in


Ūrdhvaga Amlapitta treatment – A case study.
[Artigo Original]

[POR]

LEANDRO RAFAEL
DA SILVA COSTA
1

1 Te r a p e u t a d e Ā y u r v e d a , Te r a p e u t a M a n u a l , Fo r m a n d o d o 3 º a n o
do curso de Naturopatia
RESUMO

Ū r d hv a g a a m l a p i t t a é o n o m e d a d o n o ā y u r v e d a à d i s p e p s i a s o b r e t u d o r e l a c i o n a d a c o m h i p e r a c i d e z
e r e f l u xo g á s t r i c o . A fo r m a m a i s e f i c a z d e t r a t a m e n t o d e s t a p a t o l o g i a é c o m i n i b i d o r e s d e b o m b a d e
protões, uma vez que estes diminuem a secreção gástrica. O ā yurveda dispõe de alternativas
terapêuticas antidispépticas seguras e eficazes desde que sejam acompanhadas com uma dieta e
e s t i l o d e v i d a a d e q u a d o . F i t o t e r á p i c o s c o m o ś a t ā v a r ī, y a ṣ ṭ īm a d h u e a m l a c o n s e g u e m d i m i n u i r a s
secreções gástricas e simultaneamente protegem as mucosas do estômago. No presente estudo de
c a s o , d e u m i n d i v í d u o d e 4 2 a n o s , c o m q u e i x a s d e r e f l u xo g á s t r i c o d e s d e o s 2 6 a n o s , fo i - l h e
r e c o m e n d a d a a t o m a d a fó r m u l a A l s a r ex , q u e c o n t é m i n i b i d o r e s d e b o m b a d e p r o t õ e s (f i t o q u í m i c o s) ,
a l t e r a ç õ e s a o n í v e l d a n u t r i ç ã o e e s t i l o d e v i d a ( ā h ā r a e v i h ā r a ) j u n t a m e n t e c o m a p r á t i c a d e Yo g a
(ā s a n a e p r ā ṇ ā y ā m a ) . S e g u i n d o o p l a n o t e r a p ê u t i c o r e c o m e n d a d o , p o r u m p e r í o d o d e 3 m e s e s , o
p a c i e n t e c o n s e g u i u s u p r i m i r a s i n t o m a t o l o g i a a s s o c i a d a a ū r d hv a g a a m l a p i t t a .

P a l av r a s c h av e : ū r d hv a g a a m l a p i t t a ; ā y u r v e d a ; y o g a ; r e f l u xo á c i d o .

Abstract

Ūrdhvaga amlapitta is the name given in ā yurveda to dyspepsia related with hyperacidity and acid
r e f l u x . T h e m o s t e f fe c t i v e w a y o f t r e a t m e n t fo r t h i s p a t h o l o g y i s w i t h p r o t o n p u m p i n h i b i t o r s t h a t
d e c r e a s e g a s t r i c s e c r e t i o n s . ā y u r v e d a h a s s a fe r a n d e f fe c t i v e a n t i d y s p e p t i c t h e r a p e u t i c a l t e r n a t i v e s
a s l o n g a s a c c o m p a n i e d by a n a d e q u a t e d i e t a n d l i fe s t y l e . H e r b a l m e d i c i n e s l i ke ś a t ā v a r ī,
y a ṣ ṭ īm a d h u a n d a m l a c a n d e c r e a s e g a s t r i c s e c r e t i o n s w h i l e p r o t e c t i n g t h e s t o m a c h l i n i n g . I n t h i s
c a s e s t u d y r e p o r t , fo c u s e d o n a 4 2-y e a r- o l d m a n a f fe c t e d by a c i d r e f l u x s i n c e h i s 2 6 y e a r s o l d , w a s
r e c o m m e n d e d t h e i n t a ke o f A l s a r ex fo r m u l a t h a t h a s p r o t o n p u m p i n h i b i t o r s ( p h y t o c h e m i c a l s) ,
c h a n g e s i n n u t r i t i o n a n d l i fe s t y l e ( ā h ā r a a n d v i h ā r a ) t o g e t h e r w i t h Yo g a p r a c t i c e s ( ā s a n a e
p r ā ṇ ā y ā m a ) . Fo l l ow i n g t h e r e c o m m e n d e d t h e r a p e u t i c p l a n fo r 3 m o n t h s , t h e p a t i e n t c o u l d s u p r e s s
t h e s y m p t o m s a s s o c i a t e d w i t h ū r d hv a g a a m l a p i t t a .

Ke y w o r d s : ū r d hv a g a a m l a p i t t a ; ā y u r v e d a ; y o g a ; a c i d r e f l u x
sintomas de r e f l u xo gástrico, hiperacidez e
1. Introdução
sensação de ardor na garganta e no peito. Esta
sintomatologia prolongada no tempo pode criar
D e a c o r d o c o m u m a m e t a - a n á l i s e d e 2 0 2 0, a
úlceras no estômago ou gastrites5,6.
n í v e l g l o b a l , 1 ,0 3 b i l i õ e s d e i n d i v í d u o s s o f r e m
d e r e f l u xo g á s t r i c o , ex i s t i n d o v a r i a ç õ e s e n t r e
N o s t ex t o s c l á s s i c o s d o ā y u r v e d a , o r e f l u xo
regiões. Na Europa Ocidental a percentagem de
g á s t r i c o n ã o é r e fe r i d o c o m o u m a d o e n ç a p e r
p e s s o a s c o m e s t a d o e n ç a o s c i l a e n t r e o s 1 5 ,0 e
se, é descrita como patogénese de outras
1 9, 9 % 1 . Normalmente, para o tratamento do
doenças, isto é ocorre do desenvolvimento do
r e f l u xo g á s t r i c o é r e c o m e n d a d a a u t i l i z a ç ã o d e
m e c a n i s m o d a d o e n ç a , p o r exe m p l o , g r a h a n i e m
inibidores da bomba de protões ou antiácidos.
C ā r a ka S a ṃ h i t ā o u a m l i ka e m S u ś r u t a s a ṃ h i t ā .
Vá r i o s e s t u d o s t ê m c o m p r ov a d o q u e a u t i l i z a ç ã o
prolongada dos primeiros pode gerar pólipos no
O p r i m e i r o t ex t o , n o â m b i t o d o ā yurveda, a
estômago, aumentar a probabilidade de
r e fe r i r amlapitta como uma doença fo i o
i n fe ç õ e s , entre outros e fe i t o s adversos2,3.
Kā ś y a p a S a ṃ h i t ā 7 . A c l a s s i f i c a ç ã o d e ū r d hv a g a
Importante será salientar que o presente estudo
amlapitta pode ser resumida utilizando a
d e c a s o n ã o c o n t e m p l a r e f l u xo g á s t r i c o p o r
t e r m i n o l o g i a ā y u r v e d i ka ( Ta b e l a 1 ) .
i n fe ç ã o d e He l i c o b a c t e r py l o r i , n e m p o r m a u
f u n c i o n a m e n t o d o e s f í n c t e r e s o f á g i c o i n fe r i o r.
Ta b e l a 1 - Ū r d h v a g a a m l a p i t t a n i d ā n a 8

1.1. Diagnóstico de Ū rdhvaga Ū R DH VAG A A ML A P I T TA N I DĀ N A


amlapitta

O r e f l u xo g á s t r i c o e a l g u n s t i p o s d e d i s p e p s i a
são definidos como ū r d hv a g a amlapitta no
ā yurveda. Uma boa saúde digestiva espelha-se
na saúde do indivíduo pois é no sistema
digestivo que residem os doṣas e o agni. No
ā yurveda o sistema digestivo ou
annavā hisrotas corresponde ao canal que
transporta a comida e os nutrientes, tendo um
papel importante na digestão, absorção e
assimilação4. Quando o agni se torna agravado
devido a uma dieta e estilos de vida erráticos, a
q u a l i d a d e l í q u i d a d e p ā c h a ka pitta aumenta
levando a tīkṣṇā gni que se m a n i fe s t a em
D e a c o r d o c o m a m l a p i t t a h e t u (e t i o l o g i a d a combinações de alimentos e mais importante de
d o e n ç a) há um conjunto de condições tudo, p r o m ov e a individualização da dieta.
a s s o c i a d a s a d i s p e p s i a e a o r e f l u xo g á s t r i c o , Desta fo r m a , os constantes hábitos
que resultam do consumo de alimentos desadequados que possam aumentar o stress
incompatíveis, em má condição ou ácidos, que diário e causar distúrbios na função digestiva
aumentam a sensação de ardor internamente e ( a g n i ) , c o m o p o r exe m p l o c o m e r e m h o r á r i o s
de outros fatores que agravam pitta. Além inapropriados, comer à pressa, comer em
d i s s o , c o m e r a n t e s d a r e fe i ç ã o a n t e r i o r e s t a r lugares com muitas pessoas e barulhentos e
d i g e r i d a o u d o r m i r d e p o i s d a r e fe i ç ã o p o d e c o m m u i t o s e s t í m u l o s ex t e r n o s , p o d e m a g r a v a r
agravar ū r d hv a g a amlapitta, assim como a Pitta e levar ao desenvolvimento de amlapitta13.
supressão das necessidades naturais do
corpo8,9.
1.2. Ci kitsā de Ū rdhvaga amlapitta

A patogénese, amlapitta samprā pta,


N a d e s c r i ç ã o d e ū r d hv a g a a m l a p i t t a o a g n i é
desenvolve-se devido aos fatores mencionados
uma peça chave, uma vez que está encarregue
a c i m a , u m a v e z q u e p i t t a d o ṣ a p r a ko p a , o s
de regular a temperatura, realizar a digestão,
guṇā s uṣṇā (q u e n t e) e tīkṣṇa ( p e n e t r a n t e)
absorção e assimilação da comida ingerida e
aumentam levando a uma má digestão, sensação
t r a n s fo r m á - l a em energia. Quando ex i s t e m
de a r d o r, independentemente de qualquer
factores relacionados com a dieta, como as más
alimento que o individuo ingira. O
combinações de alimentos, o exc e s s o de
p r o l o n g a m e n t o d e p i t t a p r a ko p a n o e s t ô m a g o
alimentos ácidos em demasia, stress do dia-a-
leva a tīkṣṇā gni que por sua vez causa dano nas
dia, o pitta doṣa agrava e as suas qualidades
mucosas protetoras do estômago ( k l e d a ka
q u e n t e s , l í q u i d a s , á c i d a s e p e n e t r a n t e s a fe t a m o
ka p h a ) l e v a n d o a d o r e s o u a ú l c e r a s 8 .
agni, e este torna-se tīkṣṇā gni.
Nesta condição o fo g o digestivo cria um
Na sociedade moderna, o consumo desmedido
exc e s s o de secreções ácidas no estômago
de alimentos processados que contêm um
causando hiperacidez, diarreia, gastrite e
elevado teor de aditivos químicos tem
sensação de ardor no peito e garganta14. Para
prejudicado o funcionamento adequado do
tratar esta patologia o ā yurveda sugere
sistema digestivo, uma vez que estes diminuem
terapêuticas e fitoterápicos de qualidades
o pH n o t r a t o g a s t r o i n t e s t i n a l e s ã o i s e n t o s
opostas às de Pitta como śatā varī ( r a í z) ,
tanto de enzimas como de nutrientes10–12.
y a ṣ ṭ īm a d h u ( r a í z) e a m l a (f r u t o) . E s t e s t r ê s
f i t o t e r á p i c o s t ê m r a s a m a d h u r a e v īr y ā ś īt a e
O ā yurveda enfatiza a importância da origem do
atuam diretamente na pacificação de Pitta doṣa,
alimento, o modo como é preparado, o horário
e destacam-se no tratamento de ū r d hv a g a
em que é ingerido, os sabores presentes, as
amlapitta devido às suas propriedades gastro-
protetoras, anti-inflamatórias, antissecretórias,
2. Objetivos
cicatrizantes, demulcentes e emolientes15. A
fó r m u l a s e l e c i o n a d a , A l s a r ex e m c o m p r i m i d o s ,
O objetivo principal deste estudo de caso é
para tratar o paciente contém estes três
d e m o n s t r a r a s u p r e s s ã o /e l i m i n a ç ã o d o s s i n t o m a s
fitoterápicos.
p r ov o c a d o s p o r ū r d hv a g a a m l a p i t t a u s a n d o ā h ā r a
( n u t r i ç ã o) , v i h ā r a ( m u d a n ç a d e h á b i t o s d e v i d a) ,
O y o g a t a m b é m o fe r e c e r e c u r s o s p a r a e s t a
fitoterapia ā y u r v e d i ka , ā sana e prā ṇā yā ma,
t e r a p ê u t i c a , n o m e a d a m e n t e : p a hv a n m o o k t ā s a n a
fo r n e c e n d o u m p r o t o c o l o t e r a p ê u t i c o p a r a o u t r o s
que p r o m ov e a massagem nos órgãos
p a c i e n t e s q u e t e n h a m ū r d hv a g a a m l a p i t t a , de
abdominais e ajuda a r e m ov e r a pressão
fo r m a a s u p r i m i r o s s i n t o m a s r e l a c i o n a d o s c o m a
acumulada no sistema digestivo; e, vajrā sana
mesma.
que aumenta a eficiência do sistema digestivo
aliviando a hiperacidez. Para além dos
b e n e f í c i o s f í s i c o s , e s t a s ā s a n a s p r o m ov e m u m 3. Metodologia
relaxamento natural e calma mental no
paciente16. A metodologia utilizada para aplicação do
tratamento baseou-se em quatro fases. Na
O uso de técnicas de prā ṇā yā ma que equilibram p r i m e i r a f a s e fo r a m r e c o l h i d o s o s d a d o s r e l a t i v o s
o fo g o exc e s s i v o d e p i t t a s ã o r e c o m e n d a d a s a o p a c i e n t e ( r o g ī) ; n a s e g u n d a f a s e fo i r e a l i z a d o
para o tratamento de ū r d hv a g a amlapitta. o diagnóstico relativo à doença (roga); numa
N o m e a d a m n e t e n ā ḍ īś o d h a n a q u e u s a u m p a d r ã o t e r c e i r a f a s e fo i p r o p o s t o o p l a n o t e r a p ê u t i c o
de respiração alternada permitindo fo c a r a (cikitsā ); e por último, na quarta fase fo i
mente e equilibrar a respiração, controlando a realizada a monitorização do plano terapêutico.
ansiedade gerada pelo stress, ajudando a
acalmar e a a r r e fe c e r o corpo. Ta m b é m é 3.1. Descrição do paciente (rogī)
recomendado o ś īt a l ī, um prā ṇā yā ma de
a r r e fe c i m e n t o por exc e l ê n c i a para pacificar
O paciente é um homem caucasiano de 42 anos
p i t t a d o ṣ a 1 7 . Po r ú l t i m o , u m a d i e t a p a c i f i c a d o r a
( Ta b e l a 2) . E m c o n s u l t a q u e i xo u - s e c o m d o r d e
de pitta também está recomendada.
e s t ô m a g o , r e f l u xo g á s t r i c o e d o r e s d e c a b e ç a . N a
Neste artigo é apresentado um estudo de caso
a n a m n e s e o p a c i e n t e r e fe r i u q u e s ó t e m u m r i m , o
de um homem de 42 anos com ū r d hv a g a
o u t r o fo i r e m ov i d o e m c r i a n ç a p o r n ã o f u n c i o n a r
amlapitta e respetiva aplicação de modalidades
d e s d e o n a s c i m e n t o . N ã o r e fe r i u o u t r a s d o e n ç a s
terapêuticas descritas anteriormente, de acordo
associadas. A ausência do rim não fo i
com o ā yurveda e o yoga.
c o n s i d e r a d a c o m o i m p e d i m e n t o à exe c u ç ã o d e s t e
plano terapêutico.
Ta b e l a 2 - I n f o r m a ç õ e s d o P a c i e n t e
3.2. H istória da doença (roga)

I N F OR M AÇ ÕE S D O PAC I E N T E (ro g ī )
O p a c i e n t e r e fe r e d o r e s d e e s t ô m a g o d e s d e o s
2 6 a n o s d e i d a d e , a m e s m a i d a d e e m q u e fo i
m e d i c a d o c o m O m e p r a z o l p a r a i n i b i r o exc e s s o
da produção de ácido no estômago. O paciente
p r o c u r o u a c o n s u l t a d e Me d i c i n a ā y u r v e d a c o m
o o b j e t i v o d e r e s o l v e r o r e f l u xo g á s t r i c o p a r a
no futuro deixar completamente este
medicamento. A Ta b e l a 3 resume os oito
métodos de diagnóstico do paciente e o estado
do agni e nakha.

Ta b e l a 3 - A ṣ ṭ a v i d h a P a r ī k ṣ ā

AṢṬAVIDHA PARĪKṢĀ
3.3. Plano Terapêutico e
Monitorização

Na Ta b e l a 4 está representado o plano


terapêutico, que inclui a monitorização do
mesmo por três meses, e descreve: a posologia
do suplemento fitoterápico; a frequência da
prática de ā sana e prā ṇā yā ma e a menção da
dieta pacificadora de pitta1. A mesma tabela
também indica a posologia para ingestão de
ś a t ā v a r ī c ū r ṇ a j u n t a m e n t e c o m a s r e fe i ç õ e s ,
1A discriminação da dieta foi entregue de forma
b e m c o m o a i n f u s ã o d e y a ṣ ṭ īm a d h u . É a i n d a
personalizada ao paciente, assim como todas as
especificada a frequência da toma de informações sobre as combinações de alimentos e o forma

Omeprazol, que o paciente tomava. de uso da massala indicada para o paciente em questão.

Ta b e l a 4 - P l a n o d e Tr a t a m e n t o ( c i k i t s ā )

CIKITSĀ
4. Resultados d i a , c o m o d e s c r i t o n a Ta b e l a 4, e o p a c i e n t e
r e p o r t o u q u e a o p e q u e n o a l m o ç o , a s u a r e fe i ç ã o
mais leve, já conseguia gerir os sintomas sem
Durante as primeiras duas semanas o paciente
tomar o suplemento. No fim do segundo mês o
esteve a a d a p t a r- s e à n ov a dieta e a
p a c i e n t e s ó r e fe r i u u m a l i g e i r a s e n s a ç ã o d e
ex p e r i m e n t a r n ov a s receitas para pacificar
d e s c o n fo r t o a s e g u i r a o a l m o ç o , a u s ê n c i a d e
p i t t a e c u m p r i u o p l a n o t e r a p ê u t i c o r e fe r i d o n a
r e f l u xo a o p e q u e n o a l m o ç o e a p ó s o j a n t a r,
Ta b e l a 4. Durante este tempo, o paciente
s e n d o q u e a s r e fe i ç õ e s q u e i n g e r i a a o j a n t a r
r e fe r i u q u e o r e f l u xo c o n t i n u o u , p o r é m , a s
passaram a ser mais leves.
dores de cabeça diminuíram consideravelmente.
N o t e r c e i r o m ê s d e m o n i t o r i z a ç ã o fo i a c o r d a d o
com o paciente a toma de 2 comprimidos do
No fim do primeiro mês o paciente reportou que
A l s a r ex a o a l m o ç o , u m a v e z q u e o d e s c o n fo r t o
a sensação incómoda do r e f l u xo tinha
persistia apenas neste período. A prática de
diminuido, isto é, o incomodo que antes era de
ā sana e prā ṇā yā ma manteve-se diariamente e
duas horas e meia passou para uma hora. O
no fim do terceiro mês reportou que na maioria
paciente acrescentou que a sensação de ardor
das vezes não notava d e s c o n fo r t o . Ainda
n a g a r g a n t a e p e i t o s ó o c o r r i a a p ó s a s r e fe i ç õ e s
durante o terceiro mês o paciente tomou a
Ao longo do segundo mês o paciente continuou
decisão de deixar de tomar o Omeprazol e
as práticas de ā sana e prā ṇā yā ma. Durante a
tomar apenas o A l s a r ex . Durante a última
monitorização do tratamento o paciente
semana do terceiro mês de monitorização o
reportou que a prática de ā sana e prā ṇā yā ma
p a c i e n t e d e i xo u d e t o m a r o s u p l e m e n t o m a s
p a r a a l é m d e t e r e m exe r c i d o u m a r e d u ç ã o d e
m a n t e v e a i n f u s ã o d e y a ṣ ṭ īm a d h u a m e i o d a
a m l a p i t t a , p r o d u z i r a m u m e fe i t o g e r a l c a l m a n t e ,
tarde, assim como a dieta, a massala e śatā varī
q u e fo i ú t i l n o u t r o s a s p e c t o s d a s u a v i d a ,
cū rṇa.
nomeadamente no que diz respeito à gestão do
stress do dia-a-dia. O paciente relatou que o
Procedeu-se a uma manutenção de três em três
r e f l u xo a o p e q u e n o a l m o ç o d e i xo u d e ex i s t i r.
meses na dieta. Hoje em dia, o paciente só toma
o A l s a r ex e m s i t u a ç õ e s d e e m e r g ê n c i a q u a n d o
Marcou consulta com o médico alopático
não cumpre a dieta. Em geral, o paciente
durante o segundo mês de tratamento, e após
melhorou consideravelmente face ao seu estado
ex p l i c a r as alterações que tinha fe i t o na
inicial, reduzindo os sintomas associados à
a l i m e n t a ç ã o e e s t i l o d e v i d a , fo i r e c o m e n d a d a a
patologia assim como ao mal-estar e
redução da dose do Omeprazol para metade
d e s c o n fo r t o .
(1 0 m g )

D u r a n t e o s e g u n d o m ê s d e m o n i t o r i z a ç ã o fo i
r e d u z i d a a t o m a d e A l s a r ex p a r a d u a s v e z e s a o
5. Discussão d e s t e c o m p o s t o s ã o ś a t ā v a r ī ( r a í z) , y a ṣ ṭ īm a d h u
( r a í z) e a m l a (f r u t o) , q u e s e d e s t a c a m e m v á r i o s
estudos pelas suas propriedades gastro
N e s t e e s t u d o d e c a s o , o p l a n o t e r a p ê u t i c o fo i p r o t e t o r a s 7, 2 0 – 2 3 .
d e s e n v o l v i d o e m f u n ç ã o d o s r e c u r s o s ex i s t e n t e s
em Po r t u g a l , ou seja, tal como d e fe n d e o Śatā varī (Asparagus racemosus) atua como
ā yurveda, devem ser utilizados produtos locais protetor da mucosa gástrica, neutraliza os
para o tratamento do paciente, para além de ácidos e prolonga o tempo de vida das células
que os produtos ā y u r v e d i ko s sugeridos nos da mucosa21. Um estudo de 1990 revelou que
t ex t o s c l á s s i c o s n e m s e m p r e e s t ã o d i s p o n í v e i s . śatā varī é tão eficaz como a metoclopramida
No caso do paciente em estudo, os sintomas (c o m u m n o t r a t a m e n t o d e d i s p e p s i a s) 20,24.
m a n i fe s t a d o s c o r r e s p o n d e r a m a v i k ṛ t i ka p h a -
pittaja pradā na amlapitta8: sabores amargo, A e f i c á c i a t e r a p ê u t i c a d e ś a t ā v a r ī fo i t a m b é m
azedo e picante na boca, sensação de estudada num estudo clínico com 20 pacientes
queimadura no peito, abdómen superior e com úlcera duodenal (parinamasula). Neste
garganta, perda de apetite e quando não toma o estudo a 15 pacientes com hiperacidez gástrica
O m e p r a z o l t e m d o r e s d e c a b e ç a fo r t e s q u e associada a úlcera duodenal, fo r a m
p o d e m l e v a r a d e s m a i o . O v e c t o r d e m ov i m e n t o administradas 20g de śatā varī por dia durante
do pitta doṣa agravado é ascendente daí o um mês. Os pacientes observaram uma melhoria
r e f l u xo g á s t r i c o m a n i fe s t a r- s e c o m a r d o r n a significativa da secreção de ácido clorídrico e
zona do peito e garganta assim como dores de secreções gástricas, sendo que 80% dos
cabeça. pacientes melhoram a parinamasula25. É
importante salientar que no estudo clínico
Ta l como descrito anteriormente, um dos c i t a d o fo r a m a d m i n i s t r a d a s q u a n t i d a d e s d i á r i a s
o b j e t i v o s d a c o n s u l t a fo i a r e d u ç ã o d o u s o d o d e ś a t ā v a r ī m a i s e l e v a d a s ( 2 0 g /d i a) e m r e l a ç ã o
Omeprazol, uma vez que vários estudos às dosagens utilizadas no presente caso clínico
desaconselham o uso diário deste medicamento (0, 5 2 g /d i a) 2 . Considerando que no estudo
por poder gerar pólipos no estômago 18,19. clínico o tratamento fo i só um mês, e no
p r e s e n t e c a s o c l í n i c o fo i 3 m e s e s , é p o s s í v e l
E s t e p l a n o d e t r a t a m e n t o fo i c o n c e b i d o p a r a s e r que doses mais elevadas de śatā varī por um
mantido pelo menos durante três meses com período mais curto de tempo sejam capazes de
ajustamentos mensais de acordo com a condição atingir o objetivo terapêutico também num
d o p a c i e n t e e d a d o e n ç a . O s u p l e m e n t o A l s a r ex espaço de tempo mais curto. Mais estudos são
fo i escolhido por atuar na diminuição da necessários para poder confirmar esta hipótese.
secreção dos ácidos e por fo r t a l e c e r as
mucosas estomacais. Os principais fitoterápicos

2 Fo r a m u t i l i z a d a s 0 , 4 8 g / d i a n o A l s a r e x m a i s a p r o x i m a d a m e n t e 4 g e m c ū r ṇ a n a c o m i d a .
Considerações semelhantes em relação às caso apresentado neste artigo, a dosagem
dosagens utilizadas e tempo de administração p r e s e n t e n a fó r m u l a A l s a r ex é i n fe r i o r à d o s
neste caso clínico em comparação com outros ensaios clínicos anteriores, sendo que o
e s t u d o s p u b l i c a d o s p o d e m e n c o n t r a r- s e t a m b é m paciente tomou durante o primeiro mês
p a r a a m l a e y a ṣ ṭ īm a d h u . 0,4 8 g /d i a . A t o m a d a i n f u s ã o d e y a ṣ ṭ īm a d h u
Amla (Embilica officinalis) é considerado um d u r a n t e o d i a fo i i m p o r t a n t e p a r a m a n t e r a s
f r u t o d e exc e l ê n c i a p a r a c o n t r o l a r p i t t a . Te m mucosas do estômago lubrificadas e protegidas.
propriedades anti-inflamatórias,
antissecretórias e gastro protetoras prevenindo Além das considerações mencionadas acima
as lesões gástricas22. Num ensaio clínico de s o b r e a s d i fe r e n t e s d o s a g e n s e n t r e e s t e e s t u d o
d u p l a o c u l t a ç ã o , c o m 6 8 p a c i e n t e s , fo i r e a l i z a d a de caso e os estudos reportados assim como em
a administração de 1g de amla em comprimidos relação ao tempo de administração, é
p o r d i a d u r a n t e 4 s e m a n a s . Ve r i f i c o u - s e q u e o s importante salientar que neste estudo de caso
p a c i e n t e s q u e e s t a v a m n o g r u p o ex p e r i m e n t a l a s t r ê s p l a n t a s f a z e m p a r t e d a fó r m u l a A l s a r ex ,
vs grupo de control receberam a toma de amla e n q u a n t o q u e n o s e s t u d o s m e n c i o n a d o s fo r a m
obtiveram uma redução significativa nos u t i l i z a d a s d e fo r m a i s o l a d a . U m a h i p ó t e s e a
s i n t o m a s a s s o c i a d o s c o m o r e f l u xo g á s t r i c o 2 6 . c o n s i d e r a r é q u e a s i n e r g i a d e e fe i t o s d a s 3
Neste caso de estudo o paciente tomou p l a n t a s i n c l u í d a s n o A l s a r ex p o d e r á e q u i l i b r a r
0, 3 6 g /d i a . as dosagens mais elevadas utilizadas nos
Ya ṣ ṭ īm a d h u (Glycyrrhiza glabra) tem estudos reportados.
propriedades demulcentes e emolientes, protege
a mucosa gástrica e ajuda a cicatrizar lesões na Além do suplemento, em concordância com os
m e s m a . Po d e s e r u m b o m s u b s t i t u t o p a r a o princípios ā y u r v e d i ko s de uma dieta
Omeprazol e misoprostol23. Noutro ensaio personalizada para cada individuo, neste estudo
clínico de dupla ocultação com 50 pacientes d e c a s o fo i d e f i n i d a u m a d i e t a p a r a p a c i f i c a r
com o objetivo de avaliar o alívio dos sintomas p i t t a c o m fo c o n a r e d u ç ã o d o s a l i m e n t o s c o m
relacionados com dispepsia, a metade fo i características quentes ou ácidas, que o
administrado um placebo e a outra metade um paciente consumia regularmente e que
ex t r a t o d e y a ṣ ṭ īm a d h u , 0,7 5 g d u a s v e z e s a o d i a a u m e n t a v a m p i t t a c o m o o c a fé , á l c o o l e l e g u m e s
(1 , 5 g ) d u r a n t e 1 m ê s . N e n h u m d o s p a c i e n t e s q u e da família das solenáceas. Fo i r e c o m e n d a d a
receberam o placebo reportou uma melhoria de uma massala para pitta para adicionar à comida
sintomas enquanto que dos que tomaram o n a h o r a d a s r e fe i ç õ e s o u u t i l i z a r n a p r ó p r i a
ex t r a c t o , 1 4 t i v e r a m m e l h o r i a s s i g n i f i c a t i v a s , 9 c o n fe c ç ã o d o p r a t o . N a m a s s a l a c o n s t a v a m o s
algumas melhorias, 1 ficou completamente livre seguintes ingredientes: funcho, coentros,
de sintomas e 1 paciente não apresentou cominhos, açafrão e menta seca. O paciente
melhorias27. Em comparação com o estudo de também tomou conhecimento das compatibilida-
d e s d e a l i m e n t o s s e g u n d o o ā y u r v e d a , d e fo r m a c o n j u n t o c o m o u t r a s ā s a n a s e n ã o d e fo r m a
a fazer melhores escolhas na hora da isolada e por serem recomendadas juntamente
p r e p a r a ç ã o d a r e fe i ç ã o . com outras terapias. Desta fo r m a torna-se
d i f í c i l a v e r i g u a r o e fe i t o i s o l a d o d a s p r á t i c a s d e
Durante o 1º mês apesar de ter sido um período asanas especificas.
de adaptação para o paciente, este conseguiu
introduzir com alguma facilidade estes Q u a n t o a o s p r ā ṇ ā y ā m a s , o n ā ḍ īś o d h a n a p r o d u z
componentes na sua dieta. A supressão de um equilíbrio geral no corpo que ajuda a gerir o
alguns alimentos e produtos como os citados s t r e s s , e n q u a n t o q u e o Ś īt a l ī a r r e fe c e o c o r p o
acima permitiu verificar que alguns alimentos p r o m ov e n d o a r e d u ç ã o d e c a l o r, p a c i f i c a n d o
quando eram ingeridos pelo paciente acionavam p i t t a 1 7 . A m a i o r i a d o s e s t u d o s ex i s t e n t e s fo r a m
d e i m e d i a t o s i n t o m a s c o m o o r e f l u xo o u d o r d e desenvolvidos no âmbito da ansiedade e
estômago. A supressão destes alimentos levou a e q u i l í b r i o m e n t a l . Vá r i o s e s t u d o s r e fo r ç a m q u e
que estes sintomas fo s s e m praticamente o n ā ḍ īś o d h a n a é eficaz no controlo da
eliminados e levou a que o paciente ganhasse ansiedade, stress e auto-consciência29–31.
consciência dos alimentos que o estavam a
p r e j u d i c a r. Nos meses seguintes o paciente N o e s t u d o d e c a s o a p r e s e n t a d o , a p e n a s fo r a m
manteve um diário do seu plano alimentar para praticadas estas duas ā sanas e estes dois
conseguir avaliar os alimentos que originavam p r ā ṇ ā y ā m a s . P a r e c e u m a fo r m u l a ç ã o u m p o u c o
d e s c o n fo r t o . subjetiva definir as melhorias físicas
desencadeadas pelas ā sanas e pelas outras
A l é m d a f i t o t e r a p i a e n u t r i ç ã o r e fe r i d a s a c i m a , t e r a p i a s d e fo r m a i s o l a d a , c o n t u d o , t a l c o m o
fo r a m aconselhadas a prática de ā sanas e reportado nos resultados, o paciente descreveu
prā ṇā yā mas. O paciente sendo já praticante de uma sensação de calma e bem-estar geral
yoga, aderiu com facilidade a uma prática de depois da sua prática facilitando a gestão do
pelo menos duas vezes por semana. stress ao longo do dia e consequentemente a
melhoria dos sintomas associados à patologia
A o c o n h e c i m e n t o d o a u t o r n ã o ex i s t e m e s t u d o s em tratamento.
específicos sobre o uso das ā sanas indicadas ao
paciente para o tratamento de amlapitta ou
6. Conclusão
r e f l u xo g á s t r i c o . O s e fe i t o s d e s t a s ā s a n a s e
prā ṇā yā mas são especificados em t ex t o s
Ū r d hv a g a a m l a p i t t a é u m a d o e n ç a f r e q u e n t e n a
clássicos como o Hatha yoga p r a d i p i ka ,
sociedade ocidental1 e os tratamentos
Gheranda Saṃhitā e Goraksha Saṃhitā 28. A
normalmente utilizados baseiam-se em
dificuldade de c o m p r ov a r os benefícios da
inibidores de bomba de protões que podem
prática de ā sanas em patologias como esta pode
c a u s a r, a l o n g o p r a z o , e fe i t o s c o l a t e r a i s c o m o
advir de dois fatores: por serem praticadas em
tumores cancerigenos18 e pólipos2. Uma 6. R o l p h F W. G a s t r i c H y p e r a c i d i t y . C a n M e d A s s o c J . 1 9 1 4

a l t e r n a t i v a t e r a p ê u t i c a a e s t a a b o r d a g e m fo i Jan;4(1):25–32.
7. Prajapati, Patel BR. A comparative clinical study of
a p r e s e n t a d a n e s t e e s t u d o d e c a s o , o n d e fo r a m
J e t h i m a l a ( Ta v e r n i e r a n u m m u l a r i a B a k e r. ) a n d Ya s h t i m a d h u
c o m b i n a d o s o ā y u r v e d a (f i t o t e r a p i a e n u t r i ç ã o (Glycyrrhiza glabra Linn.) in the management of Amlapitta.
p e r s o n a l i z a d a a o p a c i e n t e) e o y o g a ( p r á t i c a d e AY U ( A n I n t Q J R e s Ay u r v e d a ) . 2 0 1 5 ; 3 6 ( 2 ) : 1 5 7.
8 . B y a d g i D P S , P a n d e y D A K . A Te x t B o o k o f K a y a c i k i t s a I I .
ā sana e prā ṇā yā ma).
1 s t e d . Va r a n a s i : C h a u k h a m b h a P u b l i c a t i o n s ; 2 0 1 8 .
9 . K a l e V G , P o t d a r V V R . A m l a p i t t a W. S . R . t o H y p e r a c i d i t y :
Os resultados gerais do tratamento discutidos A classical rev i ew. Wo r l d J Pharm Med Res. 2020;(6

acima fo r a m certamente benéficos para o (1)):66–9.


10. L a u d i s i F, S t o l f i C , M o n t e l e o n e G . I m p a c t o f Fo o d
paciente, e podem fo r n e c e r uma base de
Additives on Gut Homeostasis. Nutrients. 2019 Oct 1;
tratamento para outros casos de ū r d hv a g a 11(10).
amlapitta. É importante salientar que aqui 1 1 . C h e n X , Z h a n g Z , Ya n g H , Q i u P, Wa n g H , Wa n g F, e t a l .

fo r a m reportados os resultados relativos Consumption of ultra-processed foods and health


outcomes: a systematic review of epidemiological studies.
apenas a um paciente, sendo assim importante
Nutr J 2020 191. 2020 Aug 20;19(1):1–10.
validar estes dados preliminares positivos numa 12. S r o u r B , To u v i e r M . U l t r a - p r o c e s s e d f o o d s a n d h u m a n
amostra maior para obter uma conclusão mais health: What do we already know and what will further
r e s e a r c h t e l l u s ? E C l i n i c a l M e d i c i n e . 2 0 2 1 Fe b 1 ; 3 2 .
precisa sobre a real relevância desta
13. L a d V. Te x t b o o k o f Ay u r v e d a - G e n e r a l p r i n c i p l e s o f
combinação terapêutica. m a n a g e m e n t a n d t r e a t m e n t - Vo l I I I . 1 s t e d . C r o w t h e r G ,
e d i t o r. A l b u q u e r q u e : T h e Ay u r v e d i c P r e s s ; 2 0 2 1 .
14. L a d V. Te x t b o o k o f Ay u r v e d a - F u n d a m e n t a l p r i n c i p l e s
- Vo l I . 1 s t e d . C r o w t h e r G , e d i t o r. A l b u q u e r q u e : T h e
Ay u r v e d i c P r e s s ; 2 0 0 2 .
7. Referências Bibliográf icas 15. L a d V, F r a w l e y D . T h e Yo g a o f H e r b s . 2 n d e d . Tw i n
L a ke s : Lo t u s P re s s ; 2 0 0 8 .

1 . N i r w a n J S , H a s a n S S , B a b a r Z- U - D , C o n w a y B R , G h o r i 16. Saraswati SS. Asana Pranayama Mudra Bandha. 3rd ed.

MU. Global Prevalence and Risk Fa c t o r s of Gastro- Yo g a P u b l i c a t i o n s Tr u s t , M u n g e r, B i h a r, I n d i a ; 2 0 1 3 .

oesophageal Reflux Disease (GORD): Systematic Review 1 7. S a r a s w a t i S N . P r a n a a n d P r a n a y a m a . 1 s t e d . Yo g a B S o f ,


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Peak Expiratory Flow Rate in Post CABG Patients:
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ARTIGO

Padrões Alimentares Ancestrais nos dias atuais:


Padrão Alimentar Mediterrâneo vs Padrão Alimentar Āyurvediko

Ancestral Food Patterns in the Present Day:


Mediterranean Food Standard vs Āyurvediko Food Standard

[Artigo Original]

[POR] [POR]

CARLA PATRÍCIA , MARISA


VAZ MESTRE
1 2

1 L i c e n c i a d a e m O r t o p r o t e s i a , Fo r m a d o r a e Te r a p e u t a 2Licenciada em Nutrição Humana e Qualidade


de Medicina Ā yurveda A l i m e n t a r, Fo r m a d o r a e Te r a p e u t a de Medicina
Ā yurveda
RESUMO

A c a r a c t e r i z a ç ã o d e d i fe r e n t e s p a d r õ e s a l i m e n t a r e s t e m s i d o fe i t a d e s d e m e a d o s d o s é c u l o p a s s a d o 1 .
D e t o d o s o s P a d r õ e s A l i m e n t a r e s , o t r a d i c i o n a l P a d r ã o A l i m e n t a r Me d i t e r r â n e o ( PA M ) é o m a i s
descrito na literatura, e ganhou uma maior relevância a partir de 2013, ao ser reconhecido como
P a t r i m ó n i o C u l t u r a l I m a t e r i a l d a H u m a n i d a d e p e l a U N E S C O 2 , 3 . Po r é m o u t r a s c u l t u r a s a n c e s t r a i s t ê m
os seus próprios padrões alimentares que estão a ganhar cada vez mais relevância nos dias de hoje,
t a l c o m o é o c a s o d o P a d r ã o A l i m e n t a r Ā y u r v e d i ko ( PA A ) , q u e é d e s c r i t o h á 4 0 0 0 a n o s 4 . O f a c t o d e
ambos os padrões terem sido testados ao longo do tempo revela algumas semelhanças entre os
m e s m o s n o m e a d a m e n t e a n ã o o b r i g a t o r i e d a d e d e c o n t a b i l i z a ç ã o c a l ó r i c a . Po r o u t r o l a d o , a s u a
p r i n c i p a l d i fe r e n ç a r e s i d e n o s p r i n c í p i o s d i e t é t i c o s , e m q u e o p r i m e i r o s e r e g e p e l a i n t r o d u ç ã o d e
alimentos específicos da região mediterrânica enquanto o segundo se rege pela introdução de seis
sabores ou ṣaṭ rasa de acordo com a constituição individual ou doṣa.

P a l av r a s - c h av e : d i e t a m e d i t e r r â n e a ; d i e t a ā y u r v e d a ; d i e t a s a n c e s t r a i s .

Abstract

T h e c h a r a c t e r i z a t i o n o f d i f fe r e n t d i e t a r y p a t t e r n s h a s b e e n d o n e s i n c e t h e m i d d l e o f t h e l a s t
c e n t u r y 1 . O f a l l t h e Fo o d S t a n d a r d s , t h e t r a d i t i o n a l Me d i t e r r a n e a n Fo o d S t a n d a r d ( PA M ) i s t h e m o s t
described in the literature, and gained greater relevance as of 2013, when it was recognized as an
I n t a n g i b l e C u l t u r a l H e r i t a g e o f H u m a n i t y by U N E S C O 2 , 3 . H ow e v e r, o t h e r a n c e s t r a l c u l t u r e s h a v e
t h e i r ow n d i e t a r y p a t t e r n s t h a t a r e g a i n i n g m o r e a n d m o r e r e l e v a n c e t h e s e d a y s , s u c h a s t h e
Ay u r v e d i c Fo o d P a t t e r n ( PA A ) , h a s b e e n d e s c r i b e d fo r 4 0 0 0 y e a r s 4 . T h e f a c t t h a t b o t h p a t t e r n s h a v e
b e e n t e s t e d ov e r t i m e r e v e a l s s o m e s i m i l a r i t i e s b e t w e e n t h e m , n a m e l y t h a t c a l o r i c a c c o u n t i n g i s n o t
m a n d a t o r y. O n t h e o t h e r h a n d , i t s m a i n d i f fe r e n c e l i e s i n t h e p r i n c i p l e s o f t h e d i e t , i n w h i c h t h e
f i r s t i s g ov e r n e d by t h e i n t r o d u c t i o n o f s p e c i f i c fo o d s f r o m t h e Me d i t e r r a n e a n r e g i o n w h i l e t h e
s e c o n d i s g ov e r n e d by t h e i n t r o d u c t i o n o f s i x f l a v o r s o r ṣ a ṭ r a s a a c c o r d i n g t o t h e i n d i v i d u a l
constitution or doṣa.

Ke y w o r d s : m e d i t e r r a n e a n d i e t ; a y u r v e d i c d i e t ; a n c e s t r a l d i e t s
1. Introdução acelerado9.

Com o aumento das Doenças Crónicas Não Padrões Alimentares como o Atlântico10, o
Tr a n s m i s s í v e i s ( D C N T ) s u r g i u a n e c e s s i d a d e d e Nórdico11 e o Me d i t e r r â n i c o ( PA M ) 1 2 , 1 0 são
c a r a c t e r i z a r d i fe r e n t e s p a d r õ e s a l i m e n t a r e s e , considerados padrões ancestrais que tem vindo
por sua vez, associá-los diretamente ao risco de a ganhar relevância ao longo das últimas
D C N T, demonstrando particular importância décadas pelo seu impacto positivo na
para a Saúde Pública, inclusive na manutenção da saúde.
implementação de estratégias com objetivo de
p r o m ov e r p a d r õ e s a l i m e n t a r e s s a u d á v e i s 1 . Po r o u t r o l a d o , n o O r i e n t e t a m b é m é p o s s í v e l
identificar Padrões Alimentares ancestrais que
As DCNT são doenças de longa duração, p r o m ov e m a s a ú d e . E s t e s p a d r õ e s e s t ã o l i g a d o s
resultantes de uma combinação de fatores diretamente às culturas chinesa, japonesa e
genéticos, fisiológicos, ambientais e indiana.
comportamentais, sendo responsáveis por 70%
d a s m o r t e s g l o b a i s e m 2 0 1 5 5 . E n t r e a s D C N T, a s De todos os Padrões Alimentares, o tradicional
d o e n ç a s c a r d i ov a s c u l a r e s s ã o r e s p o n s á v e i s p e l o P a d r ã o A l i m e n t a r Me d i t e r r â n e o ( PA M ) é o m a i s
m a i o r n ú m e r o d e m o r t e s , c e r c a d e 1 7,7 m i l h õ e s descrito na literatura e caracteriza-se pela
por ano, seguidas pelo cancro, com 8,8 milhões, ingestão elevada de azeite, frutos, nozes,
pelas doenças respiratórias, 3,9 milhões, e pela vegetais e cereais, pela ingestão moderada de
d i a b e t e s , 1 ,6 m i l h õ e s 6 . A a l t e r a ç ã o n o p a d r ã o p e i xe , c a r n e d e a v e s e v i n h o à s r e fe i ç õ e s e p e l a
geral da dieta é um dos fatores principais para baixa ingestão de lacticínios, carne vermelha e
a p r e v e n ç ã o d e D C N T 7, 8 . doces13. Hoje em dia são aplicadas diversas
fe r r a m e n t a s p a r a a a v a l i a ç ã o d o g r a u d e a d e s ã o
A adesão a uma dieta equilibrada e a prática de à D i e t a Me d i t e r r â n e a , t a l c o m o é o c a s o d o
atividade física estão diretamente relacionadas questionário de 14 itens ( M E DA S ,
com a perda de peso e melhor estado Me d i t e r r a n e a n Diet Adherence Secreener),
nutricional. Atualmente, é possível identificar utilizado no estudo PREDIMED14.
mais do que um padrão de dieta alimentar por
todo o mundo, sendo o Padrão Alimentar Já o Padrão Alimentar Ā y u r v é d i ko ( PA A ) ,
Ocidental o que têm demonstrado maior p r ov e n i e n t e d a c u l t u r a i n d i a n a , v e m d e s c r i t o e m
aderência. Este Padrão d i fe r e das dietas diversos compêndios, o mais recente
a n c e s t r a i s e fo i i n s t i t u í d o d u r a n t e a r e v o l u ç ã o denominado de Aṣṭaṅga Hṛdaya. Este padrão
industrial onde os alimentos industrializados caracteriza-se pela adaptação alimentar de
ganham espaço na cultura ocidental em função acordo com a constituição individual (doṣa
da alteração para um estilo de vida mais prā kṛti), capacidade digestiva (agni), estado
m e n t a l /e m o c i o n a l (triguṇa), localização e sociais são cada vez mais céleres,
e s t a ç ã o d o a n o ( kā l a ) , i d a d e e g é n e r o , e o nomeadamente em relação ao exc e s s o de
h o r á r i o e m q u e s ã o i n g e r i d a s a s r e fe i ç õ e s , b e m trabalho, à concentração da população nos
como a consideração do modo de preparação grandes centros urbanos, à ampliação do
relativamente à quantidade, qualidade e mercado de trabalho, levando a uma
combinações entre alimentos. A i n fo r m a ç ã o , n e c e s s i d a d e p o r r e fe i ç õ e s r á p i d a s (f a s t fo o d ) ,
contida nos diversos compêndios utilizada em reduzindo a preocupação com a saúde diária
conjunto com evidências baseadas na prática l i g a d a à a l i m e n t a ç ã o 1 7, 9 .
r e fe r e n t e s à d i e t a e n u t r i ç ã o , fo r n e c e u m a
ampla oportunidade de validação cruzada para Para identificar a adesão a padrões alimentares
gerar evidências mais rigorosas e eventuais são frequentemente aplicados na epidemiologia
aplicações deste Padrão Alimentar15. nutricional dois tipos de abordagens
metodológicas em estudos observacionais10,18:
Neste artigo o principal objetivo é a
comparação entre os dois padrões destacados • método a priori: é uma abordagem
anteriormente, nomeando as potenciais orientada por hipóteses, que produz uma
s e m e l h a n ç a s e d i fe r e n ç a s . pontuação com base na adesão ao consumo de
vários itens alimentares/nutricionais,
selecionados de acordo com a evidência
científica prévia. Assim, este método utiliza
2. Padrões alimentares atuais
índices e scores que avaliam a adesão a
com benef ícios para a saúde recomendações nutricionais ou alimentares, ou
a padrões de consumo específicos de uma
A d i e t a p o d e s e r c a r a c t e r i z a d a , d e u m a fo r m a população;
geral, como um regime alimentar que satisfaz as
necessidades particulares de um indivíduo; • método a posteriori: que utiliza métodos
como a comida característica de um grupo, e s t a t í s t i c o s ex p l o r a t ó r i o s q u e d e f i n e m p a d r õ e s
cultura ou sociedade; como a privação total ou puramente empíricos, com base em técnicas
parcial de certos alimentos por motivos estatísticas como a análise fatorial, a análise de
religiosos; ou, como um regime alimentar componentes principais ou de clusters. O
prescrito, com a privação total ou parcial de método em questão identifica grupos de
alguns alimentos específicos ou redução das indivíduos que apresentam consumos
suas quantidades por razões de saúde16. semelhantes ou alimentos/nutrientes
frequentemente consumidos em conjunto.
Os fatores como o salário, a cultura, a religião,
a localização geográfica e o estilo de vida
influenciam a dieta, uma vez que as mudanças
2.1. Padrão Alimentar Mediterrâneo a l i m e n t a r, r e l a c i o n a d a c o m a h o m o g e n e i z a ç ã o
dos comportamentos alimentares da Era
moderna19.
Independentemente do total de calorias
ingeridas na dieta, a sua qualidade está
A pirâmide representativa da Dieta
a s s o c i a d a a o b a i xo r i s c o d e D C N T. E s t u d o s
Me d i t e r r â n e a 2 1 ( F i g u r a 1 ) fo r n e c e e l e m e n t o s -
prospetivos analisaram a associação da
chave para a seleção destes alimentos, tanto a
qualidade da dieta com o risco de obesidade e
nível quantitativo quanto qualitativo, indicando
outras DCNT e, na sua maioria, descobriram
as proporções relativas e a frequência de
que a dieta mediterrânea está inversamente
consumo das porções dos principais grupos de
associada ao risco da obesidade ou aumento de
alimentos que a constituem19.
peso, assim como ao risco de desenvolvimento
de síndrome metabólica, diabetes Tipo I I,
Em 2005, na Declaração de Roma, a Dieta
Doenças C a r d i ov a s c u l a r e s , doenças neuro
Me d i t e r r â n e a fo i d e s t a c a d a c o m o u m e s t i l o d e
degenerativas e cancro14,19.
vida completo que ex i g i a urgentemente
preservação e promoção2. Sendo desde 4 de
A dieta mediterrânea tradicional é uma herança
Dezembro de 2013 reconhecida pela UNESCO
milenar de trocas de pessoas, culturas e
como Património Cultural Imaterial da
alimentos de todos os países ao redor da bacia
H u m a n i d a d e e m Po r t u g a l , E s p a n h a , M a r r o c o s ,
do Me d i t e r r â n e o . Fo i a base dos hábitos
Itália, Grécia, Chipre e Croácia, juntamente com
alimentares durante o século XX em todos os
a e v i d ê n c i a c i e n t í f i c a j á ex i s t e n t e , q u e s e t r a t a
países da região, originalmente baseados nos
de um modelo cultural, histórico e de saúde
modelos agrícolas e rurais mediterrânicos19.
uma vez que2,3:
E m 1 9 5 2 , A n c e l Ke y s d e s e n v o l v e u u m e s t u d o
sobre o impacto da dieta Me d i t e r r â n i c a na
1. A D i e t a Me d i t e r r â n e a é u m p a t r i m ó n i o v i v o
saúde das populações. Este estudo comparou
que ainda se transmite de geração em geração.
hábitos alimentares entre regiões
2. A Dieta Me d i t e r r â n i c a deve ser
mediterrâneas e não mediterrâneas mostrando
continuamente recriada em resposta ao meio
uma associação positiva entre o padrão
ambiente nas diversas comunidades da região
alimentar mediterrâneo e reduzidas taxas de
através das suas respetivas tonalidades locais,
doença c a r d i ov a s c u l a r mediterrâneas20. No
que as envolvem com um sentimento de
entanto, a adesão à dieta mediterrânea
identidade.
tradicional está agora a d i m i n u i r,
3. O abandono dos hábitos saudáveis
progressivamente, devido à ampla disseminação
t r a d i c i o n a i s e o s u r g i m e n t o d e n ov o s e s t i l o s d e
da economia ocidental, urbana e culturalmente
vida associados às mudanças socioeconómicas
orientada para a tecnologia, bem como à
representam ameaças importantes à preserva-
globalização da produção e do consumo
ç ã o e t r a n s m i s s ã o d a D i e t a Me d i t e r r â n e a à s D e s t a fo r m a , e c o m b a s e e m t o d o s o s e s fo r ç o s
gerações futuras. para manter a transmissão da Dieta
Me d i t e r r â n e a de geração em geração, é
4. A D i e t a Me d i t e r r â n i c a merece e requer f u n d a m e n t a l a u t i l i z a ç ã o e c o m p r ov a ç ã o d e u m a
múltiplas e diversas iniciativas científicas e fe r r a m e n t a d e v i d a m e n t e e f i c a z p a r a a a v a l i a ç ã o
culturais, centradas na sua preservação, da adesão à mesma.
promoção e transmissão.

Figura 1 - A Pirâmide da Dieta Mediterrânica: um estilo de vida para os dias de hoje.


2.2. Padrão Alimentar Ā yurvédi ko d o ṣ a s . A s s i m , é d e r e fo r ç a r q u e a p r e s c r i ç ã o d e
uma dieta adequada é por isso realizada de
Ta l c o m o r e fe r i d o a n t e r i o r m e n t e , e s t e p a d r ã o acordo com fatores como a constituição
t e m o r i g e m n a Í n d i a , e é a p l i c a d o d e fo r m a individual (doṣa), localização e estação do ano
individual respeitando os princípios da ( ka l a ) , a f a s e d a v i d a , o c l i m a e a c a p a c i d a d e
Me d i c i n a ā yurveda, que tem como base digestiva (agni)25, assim como estado
terapêutica o aconselhamento a l i m e n t a r, q u e m e n t a l /e m o c i o n a l ( t r i g u ṇ a ) , i d a d e e g é n e r o , e o
por sua vez é o fator de maior eficácia tanto na h o r á r i o e m q u e s ã o i n g e r i d a s a s r e fe i ç õ e s , b e m
prevenção como no tratamento de doenças22. como a consideração do modo de preparação
relativamente à quantidade, qualidade
Segundo o ā yurveda cada individuo é combinações entre alimentos. Ta m b é m é
constituído por três biótipos ou doṣas, que por essencial conhecer a capacidade do
sua vez são representados por dois elementos, metabolismo de cada individuo, pois apenas
ou mahā bhū tas, os três doṣas são vā ta, quando os alimentos são devidamente digeridos,
c o n s t i t u í d o p o r a r ( v ā y u ) e é t e r ( ā kā ś a ) , p i t t a e os nutrientes são convenientemente
c o n s t i t u í d o p o r á g u a ( j a l a ) e fo g o ( a g n i ) e assimilados passando a nutrir os tecidos26.
ka p h a c o n s t i t u í d o p o r t e r r a ( p ṛ t h i v ī) e á g u a
(jala). Com base nestes princípios é realizado 2.2.1. Princípios da alimentação
um diagnóstico identificando os doṣas que se
encontram em desequilíbrio e que por sua vez
segundo o Ā yurveda
podem estar a gerar doença. Para o equilíbrio
ou manutenção da saúde pressupõem-se a A Me d i c i n a ā y u r v e d a d e fe n d e q u e u m a a d e q u a d a

adaptação da dieta de acordo com a lei de base alimentação e rotina, são fatores fundamentais

do ā yurveda, oposto cura oposto, que é para a manutenção da saúde. A dieta deve ser

aplicada através da prescrição a l i m e n t a r, específica para cada individuo, pelo que, a

fitoterápica e por métodos terapêuticos avaliação e compreensão da sua constituição

corporais específicos23,24. (doṣa) é essencial para relacionar a quantidade


e qualidade dos alimentos, bem como os fatores

De acordo com o ā yurveda, a nutrição não é que o possam intensificar ou amenizar4,22.

limitada à escolha dos alimentos ou da sua


quantidade, é mais importante o Ta n t o o s a l i m e n t o s c o m o a s p l a n t a s e s t u d a d a s

reconhecimento que não ex i s t e nenhum na fitoterapia/farmacologia ā y u r v e d i ka

alimento que seja bom para todos os indivíduos, baseiam-se nos mesmos princípios, no biótipo

alturas ou lugares. Assim a seleção dos do ser humano, uma vez que qualquer alimento

alimentos deve ser consciente tendo em conta o é fo r m a d o t a m b é m p o r u m a c o m b i n a ç ã o d o s

s e u e fe i t o n o o r g a n i s m o e o e fe i t o s o b r e o s cinco elementos ou mahā bhū tas tal como os


doṣas. Os mahābhūtas estão presentes nos
seis
s a b o r e s (r a s a) , e m c a d a s a b o r p r e d o m i n a m d o i s
elementos que se correlacionam diretamente
com os doṣas24, como representado adiante na
Ta b e l a 1 .

Cada alimento pode ter um ou mais sabores que


são identificados quando colocados na língua,
sendo que o primeiro sabor identificado é
considerado o sabor primário. Cada sabor
estimula células sensoriais das papilas
g u s t a t i v a s o q u e fo r n e c e e s t í m u l o s a o s i s t e m a Ta b e l a 1 - O s 6 S a b o r e s [ a d a p t a d o d e A ṣ ṭ a ṅ g a H ṛ d a y a ]
nervoso central e assim determina reações
orgânicas e produção de enzimas27. u m e fe i t o p ó s - d i g e s t i v o (v i p ā k a) , s e n d o a s u a
Individualmente os sabores têm a capacidade de á r e a d e a ç ã o n o s t e c i d o s e a n í v e l c e l u l a r.
aumentar ou diminuir os doṣas, de acordo com S e g u n d o C ā r a ka S a ṃ h i t ā , s ã o c o n s i d e r a d o s t r ê s
os elementos que os constituem, ou seja, se são sabores pós-digestivos – doce, ácido e picante.
s e m e l h a n t e s o u o p o s t o s ( Ta b e l a 1 ) . Pe l o q u e Po r princípio os sabores doce e salgado
ka p h a é a u m e n t a d o p e l o s s a b o r e s d o c e , á c i d o e p o s s u e m u m e fe i t o p ó s - d i g e s t i v o d o c e , o s a b o r
salgado e diminuído por picante, amargo e á c i d o m a n t é m u m e fe i t o p ó s - d i g e s t i v o á c i d o e
adstringente. Pitta é aumentado pelos sabores os sabores adstringente, picante e amargo
ácido, salgado e picante e alivia com os sabores t o r n a m - s e p i c a n t e s . D e u m a fo r m a g e r a l , o
doce, amargo e adstringente. Picante, amargo e v i p ā ka d o c e p r o m ov e o c r e s c i m e n t o d o s t e c i d o s
adstringente aumentam vā ta e os sabores doce, e f u n ç õ e s a n a b ó l i c a s (a u m e n t a ka p h a ) , o v i p ā ka
ácido e salgado reduzem as suas características á c i d o p r o m ov e f u n ç õ e s m e t a b ó l i c a s (a u m e n t a
negativas24. pitta) e os alimentos com v i p ā ka picante
aumenta as atividades catabólicas (a u m e n t a
D e u m a fo r m a g e r a l , é r e c o m e n d á v e l n u m a vā ta)24,25.
r e fe i ç ã o a combinação dos seis sabores,
p r i v i l e g i a n d o o s q u e e q u i l i b r a m o (s) d o ṣ a (s) Po d e - s e e n t ã o c o n s i d e r a r q u e o r a s a , o u s a b o r,
p r e d o m i n a n t e (s) d e c a d a i n d i v i d u o 2 7 . é o e fe i t o d o s a l i m e n t o s n o c o r p o l o g o a p ó s a
sua ingestão e antes da sua digestão. No caso
Outro princípio fundamental na alimentação d o e fe i t o exe r c i d o d u r a n t e a d i g e s t ã o é d e f i n i d o
ā y u r v e d i ka é o c o n c e i t o d e p o t ê n c i a (v ī r y a) , p e l o v īr y a , o u p o t ê n c i a , e v i p ā ka , o u e fe i t o p ó s -
q u e s e r e fe r e a o e fe i t o d e a q u e c e r o u a r r e fe c e r digestivo determina a ação de um alimento no
d u r a n t e a d i g e s t ã o 2 4 . Po r o u t r o l a d o , t a m b é m é organismo após ser digerido e assimilado25.
considerado que cada substância ingerida tem
2.2.2. Capacidade digestiva - Agni

Uma das principais características desta dieta


incide na capacidade de digerir o que se ingere.
Sendo o ā yurveda um dos sistemas de saúde
que se baseia no conceito de individualização e
abordagem centrada no paciente, a avaliação
clínica da fo r ç a do agni torna-se vital no
c o n t ex t o das recomendações dietéticas,
conselhos relacionados ao estilo de vida e
escolha de intervenções terapêuticas26.
A função principal do agni é digerir e
metabolizar os vários componentes dos
alimentos e consequentemente p r o m ov e r a
nutrição dos tecidos. Atualmente estão a ser
realizados estudos com vista à validação de
instrumentos relativos à capacidade digestiva
ou fo r ç a do agni, como o questionário
r e p r e s e n t a d o n a Ta b e l a 2 .
Ta b e l a 2 – Q u e s t i o n á r i o d e a v a l i a ç ã o d e a g n i b a l a [ a d a p t a d o d e “ D e v e l o p m e n t , Va l i d a t i o n , a n d Ve r i f i c a t i o n

o f a S e l f - A s s e s s m e n t To o l t o E s t i m a t e A g n i b a l a ” 2 8 ]
calorias ingeridas14. Uma vez que o estudo das
3. Observações
c i ê n c i a s d a n u t r i ç ã o (a n t r o p o m e t r i a , i n g e s t ã o
c a l ó r i c a) é u m e s t u d o q u e t e m s i d o a p r o f u n d a d o
Através desta breve análise pode-se constatar
ao longo dos últimos 100 anos, é considerado
q u e a m b o s o s p a d r õ e s fo r a m t e s t a d o s a o l o n g o
contemporâneo em relação aos padrões
do tempo, são vários os autores que consideram
a n c e s t r a i s q u e s ã o r e fe r i d o s n e s t e a r t i g o 3 0 .
o P a d r ã o A l i m e n t a r Ā y u r v e d i ko i m u t á v e l n a s u a
essência o que pode revelar segurança29, da
O consumo de alimentos da época, biológicos e
mesma fo r m a que o Padrão Alimentar
não processados, pode ser também considerado
Me d i t e r r â n e o tem p r ov a d o a sua eficácia
uma semelhança entre os dois padrões
e s s e n c i a l m e n t e n o q u e s e r e fe r e à s D C N T 1 .
alimentares2,3,26.

Para além da semelhança apresentada


Po r outro lado, também podem ser
anteriormente, os padrões estudados neste
e s t a b e l e c i d a s a l g u m a s d i fe r e n ç a s e n t r e o s d o i s
artigo apresentam, pelo menos mais uma
padrões, estando a principal relacionada com os
semelhança, a independência do total de
princípios dietéticos utilizados por cada um
d e l e s . N o PA M d e s t a c a - s e o f a c t o , d a p r e s c r i ç ã o
4. Conclusão
dietética s e r fe i t a a p ó s u m a a v a l i a ç ã o d e
biométrica e antropométrica do individuo13.
E n q u a n t o q u e n o PA A a i n t r o d u ç ã o d a d i e t a A elaboração de um artigo de comparação é
passa por várias fases: avaliação do biótipo sempre um desafio, ainda mais quando se
individual (doṣa) juntamente com a avaliação de estabelece uma comparação entre dois padrões
biométrica e antropométrica; avaliação da alimentares que surgem de partes opostas do
capacidade digestiva do individuo (agni); g l o b o , c o m o o P a d r ã o A l i m e n t a r Me d i t e r r â n e o e
prescrição da dieta de acordo com os seis o P a d r ã o A l i m e n t a r Ā y u r v e d i ko .
sabores (ṣaṭ rasa) adaptada ao resultado da
avaliação do individuo31. Assim, enquanto que No âmbito do termo de comparação entre os
o PA A tem em consideração os alimentos dois padrões fo i encontrada uma grande
disponíveis no local onde o individuo se ausência de evidência científica pelo que se
e n c o n t r a 2 5 , o PA M e s t á d i r e t a m e n t e r e l a c i o n a d o considera de ex t r e m a importância o
com alimentos específicos que são, sobretudo, aprofundamento do estudo sobre estas ciências,
característicos da região mediterrânea2,3. por fo r m a a contribuir para dados mais
concretos e fidedignos no futuro.
E m b o r a o e n fo q u e n a fo r m a d e a t u a ç ã o d e c a d a
u m d o s p a d r õ e s d i f i r a , p o d e c o n s i d e r a r- s e q u e o A i n d a a s s i m p o d e c o n c l u i r- s e q u e o P a d r ã o
PA A t e m a a b e r t u r a s u f i c i e n t e p a r a r e c o m e n d a r A l i m e n t a r Ā y u r v e d i ko é b a s e a d o e m p r i n c í p i o s
a dieta mediterrânea, uma vez que um dos seus universais, por isso não é limitado a um
fo c o s s ã o a u t i l i z a ç ã o d o s a l i m e n t o s l o c a i s e d e determinado grupo étnico ou cultura, para além
acordo com a estação do ano25,26. Po r o u t r o d e p e r m a n e c e r n o t e m p o . Te n d o p o r b a s e a
l a d o , a i m p l e m e n t a ç ã o d o PA A n e c e s s i t a q u e o Me d i c i n a Ā y u r v e d a , e m a l i m e n t o s e s p e c í f i c o s . O
profissional de saúde conheça profundamente a PA A pode ser usado como uma fo r m a de
Me d i c i n a Ā yurveda, caso contrário torna-se i n t e g r a ç ã o d o s s i s t e m a s d e s a ú d e ex i s t e n t e s ,
c o m p l ex a a a p l i c a ç ã o d e s t e p a d r ã o , u m a v e z q u e bem como um modelo para resgatar os valores
este apresenta pequenas nuances relacionadas tradicionais locais a fim de atender às
com a particularidades de cada um28. necessidades de d i fe r e n t e s
populações. A t e n d e n d o a e s t a ex p o s i ç ã o o
A dieta Ā yurveda por ser uma inserção de Padrão Alimentar Ā y u r v e d i ko é bastante
tradições d i fe r e n t e s do habitual para os abrangente, dando enfâse à inclusão de outros
ocidentais, por isso deve ocorrer gradualmente padrões, tal como o Padrão Alimentar
e com adaptações de modo a que os conceitos Me d i t e r r â n e o , i s t o é , a c a b a p o r p r o m ov e r o t i p o
ligados à alimentação do Ā yurveda sejam de dieta que maior disponibilidade tem no local
aceites e incorporados à prática diária9. onde o individuo se encontra, sem que
tenha de adquirir
p r o d u t o s /a l i m e n t o s que ex i j a m um desgaste 12. L e o L M , G u a l l a r- c a s t i l l o P, M e s a s A E , A g u i l e r a M T,

ambiental ou desumano para a sua produção. B a n e g a s R , R o d r ı F. A d h e r e n c e t o t h e M e d i t e r r a n e a n D i e t


Pattern Has Declined in Spanish Adults 1 – 3. 2012;1843–
Em suma a dieta deve sempre p r o m ov e r a
50.
segurança e fácil aquisição do alimento para 13. G ó m e z - g r a c i a E , P h D , R u i z - g u t i é r r e z V, P h D , F i o l M ,
que seja equilibrada e para que produza um Ph D. Primary Prevention of Cardiovascular Disease with a

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I n d i a n s y s t e m o f m e d i c i n e . J E t h n Fo o d s . 2 0 1 9 ; 6 ( 1 4 ) : 1 – 9 .
SUPLEMENTO
PRÓXIMA EDIÇÃO

R E S U LTA D O D O E S T U D O S O C I O D E M O G R Á F I C O D E M E D I C I N A
AY U RV E DA E M P O R T U G A L
Durante o ano de 2019/2020 o Centro de Investigação e Desenvolvimento
j u n t a m e n t e c o m o C e n t r o d e E s t u d o s e F o r m a ç ã o d a A M AY U R ( C I D e C E F -
A M AY U R ) d e s e n h o u u m e s t u d o s o c i o d e m o g r á f i c o s o b r e a M e d i c i n a A y u r v e d a
em Portugal, em que o objetivo é avaliar a importância da qualidade dos
s e r v i ço s p re s t a d o s e o n í ve l d e s at i s fa ç ã o q u e o Ay u r ve d a te m o u t ra z p a ra a
vida dos seus profissionais, praticantes, beneficiários e interessados visados.
Para a concretização desde estudo foi elaborado um inquérito que decorreu
entre 21 de Novembro de 2019 e 20 de setembro de 2020. Estima-se uma
amostra de 443 indivíduos, prevendo um grau de significância de 95% de
acordo com o número total da população portuguesa. Os resultados deste
estudo serão apresentados na próxima edição da revista.

C O N S T R U ÇÃO D E E S T U D O S D E CA S O C O M BA S E E M
PA N C H A K A R M A
A s E n t i d a d e s F o r m a d o r a s r e c o n h e c i d a s p e l o C E F - A M AY U R r e a l i z a m t o d o s o s
a n o s c o m o s f o r m a n d o s d o C u r s o d e Te r a p e u t a d e M e d i c i n a A y u r v e d a
programas de Panchakarma. Uma vez que este curso já é lecionado há mais
de 7 anos em Portugal, no próximo ano, será possível a recolha de dados
junto das Entidades Formadoras, relativos ao resultado dos Programas de
Panchakarma dos último 3 a 4 anos, para sejam estudados de forma analítica
e técnico-científica.

S U B M I S SÃO D E A R T I G O S D E R E V I SÃO/O R I G I N A I S

Na próxima edição, a revista conta com os artigos que podem ser


s u b m e t i d o s a t r a v é s d o e - m a i l c i d @ a m a y u r. o r g , s e g u n d o a s n o r m a s d e
p u b l i c a ç ã o q u e e s t ã o p r e s e n t e s n o s i t e h t p s : // a m a y u r. p t / r t c _ m a y _ p t / .

Para qualquer dúvida poderá contactar diretamente o Centro de Investigação


e D e s e n v o l v i m e n t o d a A M AY U R .
FICHA TÉCNICA

Nome: Revista Técnico-científica Medicina Ayurveda e Yoga

Registo ERC Nº 127-456


ISSN 2184-7495

Diretor e Editor
Dr.ª Marisa Mestre (Centro de Investigação e Desenvolvimento AMAYUR)

Diretor Adjunto
Dr.ª Ana Montez Cadima (Universidade da Beira Interior | AMAYUR)

Subdiretor
Dr.ª Cristina Manuel Ventura Donato (Centro de Investigação e Desenvolvimento AMAYUR)

Comissão Científica
Dr. Amarjeet S. Bhamra (All Party Parliamentary Group on Indian Traditional Sciences, Inglaterra)
Dr. Subash Ranade (International Academy of Ayurveda, Pune, India)
Dr. Gunvant Yeola (International Academy of Ayurveda, Pune, India)
Dr. José Ruguê Ribeiro Júnior (Escola Yoga Brahma Vidyalaya Uberlândia, Brasil)
Dr.ª Maria Paula Marinho Pinto (ESAS, Instituto Politécnico de Santarém, Portugal)
Dr. Fabian J. Ciarlotti (Universidad Maimónides, Argentina)

Comissão Editorial
Dr. Mandar Bedekar (KLE University’s B.M. Kankanwadi Ayurveda College, Karnataka, India)
Dr. Manish Deshmuk (Datta Meghe College of Pharmacy, Wardha, India)
Dr. Paulo Meira (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
Dr.ª Marie Seltzer (Centro de Investigação e Desenvolvimento AMAYUR)

Colaboradores da Revista
Dr.ª Claudina Saldanha (Centro de Investigação e Desenvolvimento AMAYUR)
Dr.ª Maria Monteiro (Centro de Investigação e Desenvolvimento AMAYUR)

Propriedade, Redação e Edição


Associação Portuguesa de Medicina Ayurveda – CID-AMAYUR
Rua D. João V nº24, 1.03, Lisboa
Telefone: 919 367 716 |E-mail: cid@amayur.org | NICP: 506 557 510

Estatuto Editorial
https://amayur.pt/rtc_may_pt/
COM O APOIO

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International Academy of Ayurveda, Pune - Índia

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