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INTRODUÇÃO 19
O ENQUADRAMENTO 23
O Tempo 30
O Espaço 38
A Caixa de Trabalho 43
A Frequência, a Duração, as Interrupções Regradas
e as Condutas Permitidas 49
Os Graus de Afastamento do Enquadramento 55
O CONTRATO 61
O DIAGNÓSTICO 67
O Diagnóstico Propriamente Dito 72
O Prognóstico e as Indicações 91
O Processo Diagnóstico 95
ANOSOLOGIA Ml
14 15
lorqc Visca Clínica Psicopedagógica
mudanças em minha vida de aprendiz e, consequentemente, no Mesmo com as inserções, procuro ser o mais fiel possível às
meu desempenho como professora e psicopedagoga. O segundo suas ideias.
deve-se ao reconhecimento da sua família que, após o encontro Somente quem foi seu aluno, ou sua aluna, pode entender
realizado no Rio de Janeiro, em 2008, para comemorar os 30 anos de o que estou tentando dizer. As aulas do Professor Jorge Visca eram
Jorge Visca no Brasil, ocasião em que apresentei um trabalho sobre verdadeiros exercícios de articulação dos elementos apresentados.
a Epistemologia Convergente, convidou-me para traduzir este livro Além de trazer o tema, colocava-o para discussão, num segundo
e escrever um capítulo. momento, ouvindo várias posições e entendimentos, provocando
Em terceiro lugar, está um motivo vinculado a um sentimento nossos posicionamentos e fazendo com que buscássemos
"pequeno", que a gente gostaria de não ter, mas tem e dificilmente significados e, assim, déssemos sentido a nossa aprendizagem. Seu
confessa: a vontade que tive de estar no lugar de Simone Carlberg e livro precisa expressar essa articulação, o que foi minha preocupação
Jacqueline Andréa Glaser, quando traduziram, respectivamente, as ao desenvolver esta tradução.
duas obras de Jorge Visca citadas por Raquel em sua mensagem. Esse seu primeiro livro, segundo depoimento de Visca,
Finalmente, minha emoção está ligada à possibilidade da gravado ao vivo e ouvido no encontro do Rio de Janeiro - a partir do
revisita às páginas do primeiro livro escrito por Jorge Visca, como banco de memórias de alguns colegas, foi resultado de um desafio
resultado de suas aulas em alguns dos Centros de Estudos feito por alunos do primeiro grupo de Formação em Clínica
Psicopedagógicos. A primeira edição em língua portuguesa, em 1987, Psicopedagógica, realizado no Rio de Janeiro e, como seria sua
não resultou naquilo que seu autor desejava, segundo confessava a primeira experiência, talvez não tivesse encaminhado todo o
alguns grupos de alunos brasileiros e abordou posteriormente: necessário para a editora. No entanto, é uma jóia rara, pois contém a
sistematização de um trabalho e seus fundamentos teóricos, realizado
Uma das coisas mais importantes para por um homem que era inteiro; seu discurso profissional revelava
a tradução não é somente conhecer a língua, sua ação, e sua ação revelava seu discurso.
mas também o conteúdo. [...] Eu acredito que, Professor Jorge Visca é, até hoje, uma referência no Brasil,
em qualquer modelo teórico, em qualquer forma como estudioso, como professor, como psicopedagogo no âmbito
de abordar a realidade, o importante é que
da clínica, como coordenador de grupos (co-pensador), como amigo
sejam criticados, analisados e estudados [...]
e, principalmente, como pessoa, mesmo não estando
podem ser estudadas na dimensão mais ampla
quando as ideias são traduzidas fielmente.
concretamente entre nós. Foi uma pessoa incapaz de ferir o outro,
Somente assim podemos fazer uma crítica mas também incapaz de deixar de dizer o que era preciso. Era
objetiva (VISCA, 1991, p. 16-17). extremamente operativo no cotidiano e, com isso, conseguia a
participação de todos, sem impor e nem desconsiderar as pessoas
Dessa forma, acena-se com uma grande responsabilidade: além que estavam envolvidas.
de traduzir a obra, faço algumas articulações (utilizando complementos Chegou ao Brasil com seu ECRO argentino, mais rígido, mais
das aulas de Visca, nos pontos em que a obra necessitava), iniciando previsível, e deixou-se fecundar pela cultura brasileira; flexibilizou-
pelo sumário que, da forma como estava desenhado na última edição se em muitos aspectos, mas sem perder de vista tudo no que
em espanhol, não permitia a percepção do livro como um todo acreditava e estava sistematizando.
articulado, e sim como uma série de itens. Organizo o sumário seguindo Também aprendemos muito com sua rigidez, pois o "jeitinho
a explicação do próprio autor sobre a ordem psicológica na qual brasileiro" nem sempre é só positivo, ou só negativo. A ideia de
apresenta os temas, para não perder de vista as relações existentes enquadramento como um instrumento do atendimento
entre os temas e suas características específicas. psicopedagógico é fantástica, e muitos se perguntam: Por que, em
16 17
Itirqc Visca Clínica Psicopedagógica
N.T. Muitas vezes, talvez a maioria delas, em nossa vivência nas aulas do
Professor Jorge Visca, as reelaborações coordenadas de forma operativa
foram realizadas, também, no grande grupo.
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lorge Visca Clinica Psicopedagógica
bem, os membros dos grupos, naturalmente e pelo processo grupai, 2.2 Contrato individual privado, individual em instituições,
primeiro vivenciam as constantes do enquadramento; logo, conceituam grupai privado e grupai em instituições.
o que é um contrato; posteriormente, desenvolvem uma atitude
Unidade III - Diagnóstico
investigativa que os conduz a diagnosticar; mais tarde, conduz a
1 Objetivos
conceituar os processos, tendendo a organizá-los, o que os leva à
1.1 Conhecer os fundamentos do diagnóstico psicopedagógico.
nosologia grupai; por último, conduz a tentar remediá-lo mediante um
1.2 Criar critérios para a administração de uma bateria
processo e recursos corretores.
diagnostica mínima.
Os catorze itens propostos nos cinco capítulos que
1.3 Capacitar para diagnosticar dificuldades de
constituem o corpo da presente publicação configuram, também,
aprendizagem.
cinco unidades temáticas: enquadramento, contrato, diagnóstico,
2 Conteúdo
nosologia e processo corretor. Cada uma delas pode ser organizada
2.1 O diagnóstico psicopedagógico: níveis de abordagem
em objetivos e conteúdos, como se detalha a seguir, na forma que
metacientífico, científico e técnico.
era apresentada nos cursos mencionados antes.
2.2 Diagnóstico propriamente dito: descrição e localização
Unidade l - Enquadramento contextuai, sintoma, descrição e localização do momento atual (a-
1 Objetivos histórico); descrição e localização histórica; desvios da normalidade
1.1 Conhecer critérios teóricos para fixar o enquadramento e assincronias.
psicopedagógico. 2.3 Prognóstico: sem agentes corretores; com agentes
1.2 Integrar os conhecimentos da epistemologia genética corretores ideais e com agentes corretores possíveis.
aos da psicologia dinâmica em função do enquadramento. 2.4 Indicações: ideais e possíveis; gerais e específicas.
1.3 Formar critérios de avaliação do agente corretor e do 2.5 O processo diagnóstico.
sujeito do processo de atendimento psicopedagógico.
Unidade IV - Nosologia
2 Conteúdos
1 Objetivos
2.1 Elementos do enquadramento: tempo, lugar, frequência,
1.1 Formar critérios de saúde e de enfermidade no campo
duração, caixa de trabalho e condutas permitidas.
psicopedagógico sobre a base de conceitos sociológicos,
2.2 Graus de distanciamento do enquadramento e sua
antropológicos, psicológicos e pedagógicos.
avaliação, em função do pertencimento, da cooperação, da
1.2 Determinar distintas unidades de análise para estudar
pertinência, da comunicação, da aprendizagem e da tele.
os vetores da aprendizagem.
Unidade II - Contrato 2 Conteúdo
1 Objetivos 2.1 Critérios baseados na Epistemologia Convergente para
1.1 Conhecer os distintos tipos de contrato em função do estabelecer uma aproximação nosográfica às dificuldades de
tempo e do âmbito de abrangência. aprendizagem.
1.2 Estabelecer critérios que permitam determinar relações 2.2 Deficiência na protoaprendizagem, deuteroaprendizagem,
entre o contrato e os princípios sanitaristas de promover a saúde e aprendizagem assistemática e aprendizagem sistemática.
prevenir a enfermidade. 2.3 Algumas dificuldades específicas de aprendizagem:
2 Conteúdos alexia, dislexia, agrafia, disgrafia, disortografia, discaligrafia,
2.1 Contratos de tempo não limitado, de tempo limitado acalculia, discalculia, quadros combinados, detenção global na
propriamente dito e de tempo limitado em função da tarefa. aprendizagem e dificuldades não-específicas.
20 21
lorqr Visca Clinica Psicopedagógica
Psiquiatria, o método passou a ser utilizado por ela e, dali, pela comprova que, sistematicamente, as crianças normais com menos de
Psicologia, particularmente pela Psicanálise. A partir desse 13 anos não podem responder a certas proposições verbais. Esse fato
momento, o método clínico toma duas vertentes de levou Piaget a perguntar-se sobre o porquê dessa dificuldade
desenvolvimento que merecem ser mencionadas: a da Psicanálise sistemática e a buscar um método que não fosse nem de observação,
e da epistemologia genética. nem psicométrico. Como consequência de suas investigações, o
Em primeira instância, abordarei a vertente psicanalítica. método clínico de Piaget experimenta várias modificações que
Hug-Hellmuth3, Ana Freud e Melanie Klein foram os que iniciaram a acompanham suas sucessivas descobertas, ainda que mantenha
Psicanálise de crianças, na qual o método clínico deixa de ser o sempre o que é essencial. Entre suas notas, destaca-se: sua intenção
método do recostado, pois a criança joga e movimenta-se; porém, epistemológica e a hipótese diretriz, sendo esta última o ponto de
conserva a característica individual. transição entre o puramente clínico e o puramente experimental.
Com a introdução da psicoterapia do adolescente, o qual se Além da utilização tradicional do método de acordo com a modalidade
encontra em uma situação intermediária - não é nem criança e nem piagetiana, alguns autores têm realizado outros estudos denominados
adulto, o atendimento também sofre modificações, apesar de neopiagetianos com o objetivo de observar, por exemplo, não só os
manter sua característica essencialmente individual. aspectos cognitivos, como também os afetivos. Entre esses autores,
Posteriormente, o desenvolvimento do método clínico passa de um encontram-se: Barbei Inhelder, Therèse Gouin Dècarie, J. Anthony,
enfoque individual para grupai: primeiro, sob a forma de "atenção Morris Nitsun, Elza Schmid-Kitsikis, Bernard Gibello e muitos outros.
em grupo", e logo, sob a forma de "atenção ao grupo". O segundo Se quisermos representar graficamente o desenvolvimento
estilo é utilizado por Pichon-Rivière, que considera o grupo como histórico do método clínico, a representação poderia ser esta:
uma unidade em funcionamento. Também cabe mencionar que
Pichon-Rivière concebe a aplicação da técnica de grupo operativo
Kliné(do grego)
não só para o campo psicoterapêutico, como também para o campo
da educação, ou seja, para a condução dos processos de
aprendizagem. Porém, Pichon-Rivière só utilizou a técnica com Psiquiatria tradicional
Na utilização que faço do método clínico, integro os aportes Depois de historiado brevemente o método clínico, desde
psicanalíticos e piagetianos, dos quais, nesta oportunidade, refiro- suas origens até os dias atuais, abordarei o tratamento das
me predominantemente aos primeiros, por serem os que mais constantes do enquadramento, com as quais trabalho para colocar
caracterizam os aspectos que a mim interessam destacar. em funcionamento o método clínico da forma como abordo em
Também quero agregar que, quando se fala de Psicopedagogia Psicopedagogia.
Clínica, faz-se referência a um método com o qual se tenta conduzir a Para realizar um atendimento psicopedagógico, é preciso
aprendizagem, e não a uma corrente teórica ou escola. Em concordância lidar com algumas constantes: tempo, lugar, frequência, duração,
com o método clínico, podem-se utilizar diferentes enfoques teóricos. caixa de trabalho, interrupções regradas e honorários.
O que eu preconizo é o da Epistemologia Convergente. No atendimento individual, por exemplo, essas constantes
Antes, porém, de retomar às constantes do desenvolvimento ficam assim caracterizadas:
do método clínico, devo explicar que, partindo da fundamentação, Tempo: encontros de SOmin ou X;
previamente mencionada, com a inestimável ajuda de meus Espaço: consultório infantil, de adulto ou X;
colaboradores - no que se refere à implementação grupai, tenho Frequência: duas ou três vezes por semana, com frequência
realizado a instrumentação do método clínico em Psicopedagogia distribuída ou acumulada;
em duas etapas: a primeira foi de aplicação à atenção individual e a Duração: de tempo não limitado, limitado em função do
segunda à atenção grupai. Ou seja, ao quadro anterior, cabe agregar tempo ou limitado em função da dificuldade;
as linhas pontilhadas que representam a integração dos Caixa de trabalho: conjunto de (objetos concretos) reativos
desenvolvimentos psicanalíticos individuais e os piagetianos, que de conduta;
convergem na utilização individual de acordo com o modelo da Interrupções regradas: feriados, outras datas por mútuo
Epistemologia Convergente e, deste, com o atendimento grupai, acordo e férias;
que tem por resultado a utilização do método clínico grupai, também Honorários: sistema de remuneração.
de acordo com o modelo da Epistemologia Convergente. O conhecimento integral das peculiaridades de cada um
desses elementos permite sua adequada utilização, pois o
conhecimento implica tanto a conceituação de seus componentes
Kliné (do grego)
energéticos (afetivos), como estruturais (estruturas cognitivas), que
só podem ser entendidos articuladamente à luz da Epistemologia
Psiquiatria tradicional Convergente. A Psicanálise descreveu os componentes energéticos;
a epistemologia genética descreveu os estruturais.
^Método clínico ou crítico de Piagct
Freud As constantes do enquadramento, instrumentadas a partir
da Epistemologia Convergente, não somente servem para isolar e
Estudos neopiagetianos
Hug-Hcllmuth, Ana Freud, Mclaine Klein compreender a situação, como também constituem instrumentos
de mudança.
Terapia do adolescente Como resultado de observações clínicas, podemos constatar
Utilização individual
que, dentre outros efeitos, o uso das constantes do enquadramento
facilita a transição de um tempo e espaços próprios, percebidos em
Atendimento grupai / '
J \ l Utilização grupai
função do princípio do prazer e, portanto, com significativas
conotações adualísticas em um tempo e espaço regido pelo princípio
da realidade; por isso, com importantes características de
descentração e objetividade.
26 27
Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
Em todo tratamento, é preciso ter-se em conta quatro por Pichon-Rivière, que sintetizou suas íntimas relações, com a sigla
conceitos básicos que contribuem para não se cair na rigidez, nem ECRO - Esquema Conceituai Referencial Operativo. Pode-se dizer
no caos, permitindo, portanto, a flexibilidade operativa. Estes que ECRO é o esqueleto de conceitos formados a partir de todas as
conceitos são: logística, estratégia, tática e técnica. experiências vitais profissionais, as quais servirão de referência ou
Logística, estratégia, tática e técnica são termos tomados do pontos de compreensão e apoio para operar sobre a realidade.
vocabulário que Pichon-Rivière utilizou na Psicologia Social, cuja Quando as constantes do enquadramento são apreendidas
origem encontra-se na linguagem militar, escolha que, certamente, (assimiladas e introjetadas), passam a constituir o "eu profissional
possui relação com a atividade de seu pai, quando ainda moravam do psicopedagogo" e serão a base do vínculo cognitivo-afetivo do
na Europa. seu fazer.
O primeiro termo, logística, pode-se dizer que se refere ao Outro aspecto a ser sublinhado é o fato de que, durante o
movimento, transporte e fonte de alimento; o segundo, estratégia, tratamento, todas as condutas, tanto do paciente quanto do
relaciona-se à arte de dirigir operações; o terceiro, tática, está ligado psicopedagogo, podem ser referidas ao enquadramento, o qual
à disposição e ao emprego dos recursos na ação concreta; por último, servirá de parâmetro ou ponto de compreensão das situações.
técnica, refere-se ao conjunto de procedimentos, como também à Por exemplo 4 , se a frequência de dois atendimentos
habilidade para colocá-la em uso. semanais faz parte do enquadramento e, constantemente, o
Aqui, cabe comentar, em relação à logística, que o paciente comparece apenas a uma e não justifica sua falta, esta
movimento, transporte e fonte de alimento (de busca) do outro conduta pode ser o emergente de algo que ainda não foi dito e que
tem um valor relativo em função do meu próprio movimento, precisa ser esclarecido. A retomada do enquadramento pode ser
transporte e de minhas fontes de busca; ou seja, a logística, do ponto um ponto de partida importante para que o paciente tome
de vista psicopedagógico, significa considerar as defasagens e consciência do que o leva a agir dessa forma e para que o
capacidades do indivíduo ou grupo em função das atitudes do psicopedagogo compreenda o que está acontecendo e possa intervir.
psicopedagogo, as quais derivam tanto da informação e formação Será medo ao ataque diante do novo? Será medo à confusão, medo
profissional, como das características de personalidade que possui. à perda ou, simplesmente, o paciente sente-se filiado ao
Quanto ao segundo, estratégia - arte de conduzir as operações - atendimento psicopedagógico, mas ainda não se sente pertencendo
requer ter à disposição categorias conceituais, das quais se possa a ele? É por isso que o enquadramento tem tanto sentido para Visca;
lançar mão no momento indicado; em nossa tarefa, entre as foi também por isso que ele iniciou este livro com este capítulo,
categorias conceituais mais gerais, encontram-se justamente: o assim como todos os seus cursos de formação de profissional com
tempo de cada encontro, o lugar onde acontecerá, a frequência na este conceito.
semana, a duração do atendimento ao longo do tempo, a caixa de
trabalho etc. A tática implica um nível mais concreto, já que é, em
essência, a implementação - pôr em prática o plano. Por último,
poder-se-ia dizer que a técnica encontra-se intimamente ligada ao
estilo particular com que cada um de nós opera.
Tudo isso, avaliando a ideia de flexibilidade operativa,
permite-nos dizer que diferentes psicopedagogos com distintos
estilos podem obter resultados semelhantes.
Resumindo, o enquadramento decorre do esquema,
4 N.T. Este exemplo foi introduzido, a partir de exemplos do próprio autor,
conceituai e referencial, com o qual, neste caso, o psicopedagogo coletados em aulas assistidas, a fim de tornar claro o conceito para o
opera. Esses quatro termos integrados configuram a ideia cunhada entendimento do leitor.
28 29
Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
O TEMPO
Unidade de tempo Critérios
SOmin Não-contaminação
Comodidade
Não-contaminação
60min Comodidade
Realidade social
Não-contaminação
Xmin Comodidade
Realidade social
Realidade individual
O motivo de fixar a sessão em 60min para determinados Esse seria o tempo contratual, o qual se encontra precedido
pacientes responde ao critério que denomino realidade social, o qual se e seguido de tempos que Ulloa denomina pré-entrevista e pós-
junta aos outros dois já comentados, ou seja, que não é diferente dos entrevista, respectivamente.
mesmos. Esse critério significa o uso de uma unidade de tempo
universalmente utilizada, no sentido de ser o tempo consensual dos
adultos. Com crianças, adolescentes ou adultos com dificuldades muito
importantes, sejam emocionais, intelectuais ou ambas conjugadas, a
experiência clínica indica a conveniência de utilizar um tempo de 60min,
o qual oferece a eles uma situação mais compreensível e manejável. Pré-entrevista |
Por outro lado, isso não é muito diferente do que acontece com a criança Omin(8h)
quando começa a aprender a hora; ela pode entender muito melhor às
5h, às 6h, às 7h, e não as 7h50min ou às 9h40min.
Quanto ao tempo X, este se fixa tendo em conta não só os critérios
de não-contaminação, comodidade e realidade social, como também da
realidade individual. O tempo X pode significar tanto uma unidade 30min
ou 45min, como outra de 90min ou 150min. Quando um paciente, por
impossibilidades intrapsíquicas, não pode permanecer mais tempo, é 50min(8h50)
conveniente atendê-lo num tempo menor que os 50min habituais. Considero Pós-entrevista
que isso é indicado para que o limite seja dado pelo próprio assistido. l 1
Pode também acontecer que haja necessidade de fazer uma sessão de
mais tempo não só por questões intrapsíquicas, mas também por situações
que se geram interpsiquicamente, como uma situação de abandono e
outras, tais como dificuldades para comparecer com maior frequência, o
que é possível, em alguns casos, resolver com entrevistas prolongadas. Esses tempos unem a entrevista ao contexto temporal
Qualquer que seja o tempo que se use, 50min, 60min ou X, o tempo contínuo.
deve constituir para o psicopedagogo uma categoria conceituai que permita
localizar os fenómenos em espaço e subespaços temporais. Esse problema
tem sido resolvido por dois autores: Fernando Ulloa e Pichon-Rivière. Em
primeiro lugar, comentarei minha interpretação do modelo de Ulloa.
A duração de uma sessão pode ser representada da seguinte
maneira:
Omin (8h)
50min(8h50)
32 33
Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
Ao mesmo tempo, a sessão possui espaços internos, três espaços Na construção dos subespaços temporais, é possível se
internos: o começo da entrevista, a entrevista propriamente dita e o fim observar distintas possibilidades e combinações.
da entrevista.
a) A duração objetiva de cada momento
b) A inexistência de um momento
Aqui deve se notar que existe um espaço temporal
contratual com subespaços resultantes da construção que realizam
Começo da Entrevista pro-
o entrevistado, por um lado, e o psicopedagogo, por outro. 25 min
entrevista priamente dita
Enquanto o espaço contratual é fixo, seus subespaços
Final da Final da
internos caracterizam-se por uma coincidência têmporo-vincular e entrevista
25 min entrevista
são essencialmente dinâmicos. Não são tempos pré-estabelecidos.
Habitualmente, explico a localização e extensão desses
momentos de forma prática, mediante o seguinte gráfico:
c) A concordância dos momentos internos (princípio do
Pré-entrevista i Desde que se tem começo da entrevista, entrevista propriamente dita e o fim da
! notícias do paciente
entrevista) com o espaço contratual etc.
Começo da entrevista Omin Desde que transpõe a
porta do consultório Mil
Pré-entrevista ""Pré-entrevista
0 min
Entrevista propriamente dita Desde que começa a Começo da
tarefa entrevista Começo da
34 35
/ ( ) / ( / < ' 1//SCO Clínica Psicopedagógica
Enquanto na entrevista (I) há coincidência, na entrevista (II) Também devo dizer que tanto com o enfoque diacrônico,
o fim prolonga-se, e o paciente "transgride" o limite temporal como com o sincrônico, é possível investigar não só o cliente, como
contratado, não conseguindo sair. também o próprio psicopedagogo ou o vínculo entre ambos.
Em cada um desses momentos, é possível observar ansiedades, Sem dúvida alguma, a discriminação e o uso ou a construção
defesas, estruturas de conduta, comunicação, aprendizagem etc. dos cinco momentos no modelo de Ulloa, assim como a pré-tarefa, a
Esse modelo tem me servido, na prática clínica, para realizar tarefa e o projeto do modelo de Pichon-Rivière (que veremos em
dois tipos de análise: uma diacrônica e outra sincrônica. seguida) não só dependem da afetividade, mas também do nível
Realizo a análise diacrônica considerando uma entrevista epistêmico do sujeito tal como foi demonstrado por investigadores
em sua totalidade, um momento ou momentos de uma entrevista da Escola de Genebra, embora não tenham sido investigações
(sejam esses momentos simétricos ou assimétricos). referidas especificamente a esses modelos. Entre estes autores
encontra-se César Coll que, em seu artigo La Significación
Uma entrevista Um momento Momentos de uma
entrevista Psicopedagógica de Ias Actividades Espontâneas de Exploración,
comenta sobre as relações entre o uso do tempo e a idade (entenda-
j~Pré-entrevÍsta~; Pré-entrevista "; l Pré-entrevista
se estrutura cognitiva).
Comí CO da Come ço da 2 Começo da O modelo de Pichon-Rivière considera três configurações: a
entre visl a entre /is ta entrevista
pré-tarefa, a tarefa e o projeto. A pré-tarefa, a tarefa e o projeto são
Entre i/Í St a pro- 3Entrevista pro- instâncias necessárias no processo do desenvolvimento e diante de
Entre' /is :a pro-
priarr enl e dita prian; er te dita priamente dita cada nova aprendizagem.
4Final da A pré-tarefa pode adotar distintas formas, as quais são
Final da Final era
entras \/is1 i entrevista expressão das resistências à mudança e, como se sabe, aprender
entrevista 1
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íorqc Visca Clínica Psicopedagógica
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
especialidades, como é o caso do consultório de um psicoterapeuta, corresponde à Escola de Genebra não serve para a clínica ou não
por exemplo, e que, em seus aspectos mais manifestos, possa se serve da mesma maneira. É interessante destacar como os autores
parecer como um consultório psicopedagógico. que se localizam em uma linha construtivista partem de postulações
Esses critérios de não-modificação de ancoragens e de que podem se integrar em proveito de uma epistemologia
ancoragens diferenciais apoiam-se: a) na necessidade de facilitar a convergente. Para mencionar um exemplo, basta recordar o
discriminação ou diferenciação entre o objeto interno e o externo e "adualismo" de Piaget e a posição "glischro-carica" de Bleger, que
b) na necessidade de respeitar certo grau de depositações que o se refere a uma organização mental arcaica que leva à ansiedade de
cliente possa realizar nos objetos da sala. A discriminação do objeto confusão total; são duas concepções que indicam como ponto de
interno (resultante do nível de depositação alcançado e de atividade partida a indiscriminação do eu e não-eu.
fantasmática) com o externo (neste caso, o consultório) facilita a O conceito de campo da conduta, desenvolvido por Bleger,
confrontação frequente de ambos, o que não acontecerá se permite uma clara explicação das relações que se estabelecem entre
ocorrerem frequentes variações no espaço do consultório. Essa um paciente e o consultório. Esse autor define campo "como o
necessidade de respeitar certo grau de depositações explica-se pela conjunto de elementos interatuantes em um dado momento" e
"teoria dos três D", elaborada por Pichon-Rivière e que postula as distingue o campo ambiental ou geográfico do campo psicológico.
interações entre depositante, depositário e depositado. Em nosso caso, o campo geográfico estaria constituído pelo
O depositante, como dizia Pichon-Rivière em suas aulas, é o psicopedagogo, a caixa de trabalho, o mobiliário e tudo que for
cliente do banco, o depositado é o capital que deixa guardado e o externo ao sujeito atendido, enquanto que o campo psicológico
depositário é quem faz o trabalho de receber o depósito. Da mesma está constituído pelo sujeito. Por sua vez, o campo psicológico possui
maneira, o cliente (depositante) controla suas ansiedades uma subestrutura: o campo de consciência, podendo acontecer
(confusional, esquizo-paranoide e depressiva) depositando sobre os várias relações entre os três campos durante o processo de
objetos (depositários) do consultório, seus medos (depositados). Essa atendimento.
estratégia serve-lhe para enfrentar outras situações que, no caso do As diferentes relações de concordância e discordância entre
atendimento psicopedagógico, são as novas aprendizagens. Por isso, os três campos podem ser visíveis nos diferentes membros de um
dizemos que não são convenientes as trocas dos objetos sobre os grupo, o que se poderia representar usando o esquema proposto
quais haviam sido operadas as projeções; o melhor é que o espaço por Bleger, como segue:
permaneça constante.
Na atividade clínica, pode se observar como, em certas B B
patologias, os clientes são muito mais sensíveis às mudanças de
móveis etc., no princípio do tratamento, mesmo quando, na maioria II c III IV |c
das vezes, não tenham consciência nem das mudanças, nem dos
1 c LçJ 1
efeitos produzidos neles. Isso não devemos estranhar, já que, no B B |
T
tratamento, reedita-se, salvando as diferenças, o que Piaget
comenta na obra A Construção do Real na Criança quando diz que,
no princípio, o sujeito ignora a si mesmo e ao mundo que o rodeia A
de tal forma que, nas próximas etapas, é concebido como uma
substância permanente e independente do eu e de sua atividade. A = Camp o geográfico •
Para certos autores, o enfoque piagetiano e o psicanalítico B = Campo psicológico
são diametralmente opostos e, portanto, acreditam que aquilo que C = Camp o da consciência
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
O feito de colocar um jogo, cujo uso requeira um nível de Como déficits de aprendizagem, refiro-me tanto aos do
construção das operações que o paciente não dispõe, vai significar, em campo da educação sistemática: escrever, operar matematicamente,
primeira instância, que o sujeito o utilize, mas de uma maneira que não ler etc., como aos do campo da educação assistemática: cozinhar,
corresponde à finalidade para a qual o material foi criado: poderia tecer, dirigir etc.
brincar de soldadinhos com as peças de xadrez, o que, em realidade, O sexo também é outro aspecto que deve ser levado em conta,
não teria maior transcendência. Também pode ocorrer que o sujeito pois, quer por prescrição social ou pelo que os sujeitos possuem de
deseje se acomodar ao uso consensualmente pré-estabelecido, ou seja, identidade nesse sentido, pode-se observar certa tendência para a
deseje aprender a jogar xadrez. Na prática clínica, é fácil observar quando escolha de materiais e atividades. Isso não implica que o profissional
um sujeito é submetido a situações que exijam dele além de sua deva fazer uma discriminação preconceituosa que prejudique a
estrutura cognitiva; ele responde por meio de condutas que revelam identificação e o andamento da aprendizagem do sujeito.
ansiedades confusionais, esquiso-paranoides ou depressivas, com os Outro tanto pode se dizer a respeito da idade, a qual constitui
consequentes inconvenientes que isso pode provocar. um problema interessante a ser estudado com tal profundidade
Os interesses ou motivações constituem o motor das condutas que, no meu entender, ainda não tem sido alcançada. Nos primeiros
de aprendizagem, as quais se encontram sempre relacionadas a momentos de minha atividade profissional, trabalhando em uma
objetos e a ações que, com eles, são possíveis de realizar-se. Por instituição hospitalar, formei um grupo cujos integrantes tinham
outro lado, é importante ressaltar que distintos objetos requerem duas características similares: eram do sexo feminino e tinham o
semelhantes condutas de um sujeito: por exemplo, de certo ponto mesmo estágio de pensamento, possuindo, entre outras diferenças,
de vista, ler uma revista, um livro de receitas culinárias, um manual idades marcadamente distintas. Esse erro significou, para mim, uma
de xadrez ou um livro de leituras escolares exigem, em todos os casos, enriquecedora experiência e permitiu-me observar os diferentes
ler e, ao mesmo tempo, pode satisfazer diferentes interesses interesses que possuíam, apesar de terem o mesmo nível de
segundo cada material. Quando um sujeito resiste à mudança, o operatividade, assim como as distintas atividades escolhidas, não
interesse e a motivação apresentam-se como uma fresta em seu suspeitáveis, independente do êxito que obtivessem nelas.
sistema defensivo, o que nos permite penetrar para intervir. O meio sociocultural também tem um importante papel na
Recordo-me de um jovem com ideias delirantes, cujo seleção dos materiais da caixa de trabalho. Os objetos possuem
fechamento era absoluto. Não se vinculava mais do que com um diferentes níveis de significação: individual (inconsciente, pré-
canário que tinha em casa e com algumas outras poucas coisas, todas consciente e consciente), grupai (familiar e do grupo social imediato
as quais tinham como ideia central "Pipi", nome com o qual chamava no qual se encontra inscrita a família) e geral (que coincidirá com
sua avezinha. Não queria fazer nada, e passamos certo tempo nessa
seu uso mais universal).
atitude, pois não queria recortar porque temia se arrepender,
Isso pode ser representado graficamente como segue:
aprender a escrever porque... etc. Até que surgiu a ideia de construir
um móbile com aves (aves era sua ideia delirante), o que aceitou e
foi o princípio da mudança que lhe permitiu começar a aprender até
quase completar sua escola primária.
Os déficits na aprendizagem constituem outro critério para
a escolha do material da caixa de trabalho. Eles devem ser levados
em conta, o que não significa, de maneira alguma, que um material
seja escolhido exclusivamente em função desse critério, mas que,
muito pelo contrário, será somente um critério que deve se conjugar
aos restantes, previamente mencionados, que seguirei detalhando.
44 45
Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
desses critérios é que se encontra o material mais pertinente para A FREQUÊNCIA, A DURAÇÃO, AS INTERRUPÇÕES
produzir mudanças. A caixa de trabalho é, de certa maneira, o
REGRADAS E AS CONDUTAS PERMITIDAS
prolongamento do psicopedagogo e, entre ele (seu prolongamento)
e o paciente, vai se estabelecer um duplo vínculo em quatro vias.
Pichon-Rivière foi quem desenvolveu o conceito de duplo
vínculo em quatro vias, aproximadamente como segue: entre duas
pessoas, é estabelecida uma relação vincular recíproca, implicando
no vínculo de cada uma para com a outra, pondo em ação aspectos
positivos e negativos. Sempre, entre um sujeito e os objetos
(humanos ou físicos), é estabelecido um duplo vínculo em quatro
Frequência é uma constante do enquadramento que indica
vias:
o número de vezes que o sujeito (indivíduo ou grupo) é atendido
em um tempo dado: semana, quinzena, mês; duração é o tempo
total do tratamento, necessário para a reabilitação total ou parcial;
interrupções regradas são as datas convencionadas, mediante mútuo
acordo, nas quais o paciente não receberá atenção; as condutas
permitidas constituem o conjunto daquelas delimitadas por meio
da consigna inicial do tratamento.
48 49
Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
2) tempo de perda (por exemplo, esquecimentos, estruturas já construídas, abandono, negação da dificuldade,
desorganizações de ações); para perdas mais recentes, maior estimulação inadequada, exigências aquém das estruturas já
frequência; construídas e outras. Assim como há incidências favoráveis ao
3) tempo de elaboração; quanto maior rapidez, menor a desenvolvimento, tais como: aceitação das dificuldades, estimulação
frequência; suficiente, exigências de acordo com a estrutura.
4) incidência positiva ou negativa do meio; De outra forma, pode-se dizer que a frequência
5) tempo do psicopedagogo para conduzir as sessões; o qual instrumentada adequadamente incide sobre o estabelecimento e a
faz referência ao fato de que o profissional também terá um tempo continuidade dos vínculos entre o paciente e a situação
de reação frente ao paciente, que incidirá, sem sombra de dúvidas, psicopedagógica devido à confrontação e à modificação do objeto
no processo geral. Esse aspecto também deve ser levado em conta interno com o externo e, particularmente, pela reelaboração do
para fixar a frequência. O tempo do psicopedagogo depende não terceiro excluído.
somente do conhecimento teórico, técnico e da experiência referente
à patologia particular a tratar, mas também às suas características de
personalidade; Caixa de
6) aspectos práticos, tais como distância, mobilidade, tempo ^trabalho
livre, do cliente e sua família (no caso de deverem acompanhá-lo).
Em síntese, a frequência deve considerar tanto a dimensão Consultório
intrapsíquica, como interpsíquica, em função dos aspectos cognitivos
e afetivos; em outros termos, a intraoperatividade e a Psicopedagogo
interoperatividade, como também o que poderíamos chamar de
intraafetividade e interatividade.
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Clínica Psicopedagógica
Em situações de aprendizagem - que, naturalmente, contém a contratos: quando se desconhece a evolução em termos de hipótese
mudança -, a atualização do terceiro excluído dá-se com frequência prognostica ou quando, conhecendo a evolução em termos hipotéticos,
inusitada, aparecendo comumente sob a forma de não-aceitação de é desconhecido o tempo aproximado que tal evolução exigirá.
uma nova estratégia para aprender ou para resolver situação A duração do tempo limitado propriamente dito é fixada
problemática: "O professor disse que se faz assim, e não como você quando um fato externo impede a indefinição do tempo. Fatos, tais
está dizendo."; "Por que minha mãe não me deixa?" Nesses exemplos, como viagem (que implica uma mudança definitiva), trabalho (que
tanto o professor como a mãe estão sendo vividos como terceiro excluído indica a necessidade de reabilitação do sujeito em um espaço de
e, portanto, perseguidores na relação paciente-psicopedagogo. tempo tal, após o qual ele mesmo necessitará assumir suas facilidades
e dificuldades para o exercício de uma atividade, motivo por que
procurou o psicopedagogo) e outros, são alguns exemplos de situações
mais comuns. É certo, também, que essa opção implica um grau de
certeza sobre o tempo requerido e a possibilidade das mudanças a
serem produzidas.
Por último, a duração de tempo limitado em função de um
déficit ou do grau de um déficit implica a não-determinação, a prior/,
do momento de finalização, mas sim que a finalização produzir-se-
á quando se alcance um determinado nível de melhora, o qual pode
consistir no desaparecimento total ou parcial das dificuldades em
uma área restrita (por exemplo, escrita, atenção, memória).
Esse tipo de contrato admite recontratos e, geralmente, dá-
se como uma forma de transição entre o medo de ter um contrato
"fechado" para o tratamento e as verdadeiras necessidades do
PI - professor introjetado como "este é o único procedimento para resolver cliente. Frequentemente, a família, ou mesmo o cliente, não admite
um problema" um tempo indeterminado.
P2 - professor representante do terceiro excluído Sem dúvida, não é possível realizar contratos de tempo
limitado, de um ou outro tipo, em qualquer caso. Para que isso possa
A frequência deve ser tal que permita uma aproximação
ocorrer, é preciso avaliar os seguintes aspectos:
paulatina e continuada para facilitar a reelaboração e as resistências
a) que a semiologia da aprendizagem seja leve; nesse
à mudança. Entre essas resistências, o vínculo persecutório do
sentido, não caberia a atenção de uma criança portadora de alexia,
terceiro excluído é um dos principais a serem levados em conta na
e sim de dislexia;
relação entre sujeito e psicopedagogo.
A duração consiste em um espaço de tempo necessário para b) que a sintomatologia seja focalizada; nos casos de
a minimização ou superação das dificuldades do sujeito (indivíduo discalculia ou dissintaxe, seria possível esse tipo de atenção, mas
ou grupo). não seria indicado para casos de detenção global, lentificação
A duração pode ser: de tempo não-limitado, de tempo generalizada e sintomas combinados;
limitado propriamente dito e de tempo limitado em função de um c) que a sintomatologia possua uma margem de evolução; assim,
déficit ou do grau de um déficit. frente a uma dificuldade específica, é necessário determinar se, na
Sobre a duração de tempo não-limitado, pode-se dizer - em estrutura cognitiva já alcançada, existe um nível de desenvolvimento
primeira instância - que é a mais comum e que ela é estipulada nos possível, que permita supor que aquela dificuldade pode se modificar
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
ao outro; a pertinência, na eficácia com que se realizam certas ações. comunicação, da aprendizagem e da tele; e o mesmo pode ser dito
Por outro lado, a comunicação pode se caracterizar como o processo em relação à pertinência.
de intercâmbio de informações, o qual pode ser entendido do ponto A posição do cone (invertido) e o fato de encontrar-se aberto
de vista da teoria da comunicação ou da teoria psicanalítica; a em sua parte superior levaram seu autor a chamá-lo frequentemente
aprendizagem é entendida como a apreensão instrumental da de funil7 porque, segundo dizia, é o meio pelo qual se dava acesso
realidade; e a tele (palavra de origem grega usada por Moreno, autor a uma nova situação.
do Psicodrama), compreendida como a distância afetiva (positiva ou
negativa).
Enquanto os indicadores da esquerda são resultado de uma
transformação qualitativa (de negativo a positivo), os da direita não Filiação ou Comunicação
o são, mas servem como indicadores dos primeiros. O fato dos três pertencimento
primeiros serem resultado de uma transformação qualitativa 6
implica que, assim como não se pode dar a pertinência sem a Cooperação Aprendizagem
cooperação, tão pouco se alcança a cooperação sem o
pertencimento. Ao contrário disso, comunicação, aprendizagem e
tele são indicadores que servem para cada um dos sucessivos níveis Pertinência ou eficácia Tele ou distância afetiva
alcançados (pertencimento, cooperação e pertinência).
Mudança
Filiação ou Negativa
Pertinência ou eficácia \ Tele ou distância afetiva
pertencimento Positiva
Mudança Negativa
Cooperação —
Isso quer dizer que o grau de pertencimento (positivo ou Positiva
negativo), por exemplo, pode ser estimado em função da
comunicação, da aprendizagem e da tele; como também a Pertinência Negativa
cooperação (positiva ou negativa) pode ser avaliada em função da ou eficácia Positiva
Mudança
6 N.T. Em suas aulas, Visca falava também desses vetores como cumulativos
ou somativos, regidos por uma lei dialética que aponta para a
transformação do negativo em positivo. 7 N.T. Em castelhano, el embudo.
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
Pois bem, pertencimento, cooperação e pertinência - com Falando de outro modo, o cone invertido pode ser aplicado
seus indicadores comunicação, aprendizagem e tele - podem ser a distintas unidades de análise: ao cliente, ao psicopedagogo, à
observados em função das constantes do enquadramento. relação de ambos, ao enquadramento e, em caso de atendimento
As seguintes situações representam os extremos e alguns psicopedagógico grupai, ao grupo, a um subgrupo, a um paciente e
dos estados intermediários mais significativos do pertencimento ao enquadramento.
ao espaço, que é possível avaliar com o cone invertido.
Ao paciente
ÍM
\'l
PI in | | MI ) ii—ii IV) (V)
U U
Enquadramento
58 59
lagógi
Ao enquadramento
O CONTRATO
individual
O pertencimento, a cooperação e a pertinência são
de diagnóstico —
detectáveis por meio de indicadores mais evidentes ou mais sutis. grupai
No primeiro caso, mais evidentes, trata-se daqueles que são - de tempo não limitado
assimiláveis pelo manifesto escolar (para o pertencimento), pelo Contratos - individual - - de tempo limitado propria-
fazer juntos (para a cooperação) etc.; porém, deve-se distinguir entre mente dito
os indicadores evidentes e sutis e o grau de resistência e propensão de tratamento - - de tempo limitado em
à mudança. Um e outro são diferentes e, muito frequentemente, grupai função de um déficit ou
um indicador evidente é de resistência mínima, enquanto que outro nível de um déficit
sutil revela resistência máxima.
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
Para os contratos de diagnóstico, deve-se estabelecer o "Eu posso reunir-me com X durante três vezes por semana,
"não-processo" ou as constantes dentro das quais o profissional vai segunda, quarta e sexta-feira, às lOh. Pode ser? Durante esta etapa,
operar. Isso oferece um marco de segurança indispensável para costumo me reunir por uns SOmin; porém, se, por algum motivo,
ambas as partes. for indicado que a entrevista seja de menos tempo, assim o farei
No diagnóstico individual, as constantes que estimo mais (isso depende da necessidade de ver níveis de rendimento com ou
importantes são: sem fadiga, como também da necessidade de distanciar certas
a) objetivo - para determinar se existem ou não provas no tempo, segundo os casos). Se for necessário, prefiro me
dificuldades de aprendizagem e as causas que as provocam, no reunir mais vezes durante menos tempo com o objetivo de poder
caso de existirem; apreciar seu verdadeiro rendimento."
b) número de entrevistas - a ser determinado sobre a base "Logo depois de reunir-me com X as vezes que forem
dos resultados que vão sendo obtidos durante o diagnóstico; necessárias, reunir-me-ei com vocês. Na primeira vez, para que me
c) duração das entrevistas; contem coisas que vocês sabem sobre X (pois, como veremos
d) sequência do processo: 1) entrevistas com o cliente, 2) oportunamente, no processo diagnóstico que proponho, prefiro
entrevista de anamnese com os pais ou adultos responsáveis no fazer a anamnese ao final); numa segunda entrevista, vamos nos
caso de crianças, adolescentes ou adultos com muitas dificuldades, reunir com o objetivo de comentar quais são as conclusões do
3) entrevista devolutiva ao paciente e sua família. diagnóstico. Também gostaria, por último, de reunir-me com X para
Para o diagnóstico grupai que realizo, sempre posterior- explicar-lhe adequadamente o que se obteve do estudo."
mente ao individual, dou prioridade especialmente ao objetivo que "Vou pedir a vocês que digam a X que vamos nos reunir para
consiste em determinar se, ao entrevistado em questão, convém que eu conheça o que lhe foi ensinado, como ele aprende, o que
integrar-se ou não ao grupo e vice-versa. sabe... e ver como eu posso ajudá-lo, se for necessário."
Aqui, é preciso deixar claro que, apesar do diagnóstico No caso do diagnóstico grupai (que realizo sempre logo após
grupai ainda se encontrar em uma etapa de investigação inicial, já o individual), além dos aspectos que são próprios de todo contrato,
pode se afirmar que o mesmo possui características muito distintas agrego: "O diagnóstico é para saber como X posiciona-se neste
daquelas do diagnóstico individual. Enquanto, nas entrevistas grupo".
individuais, predominantemente, obtém-se fatores intrapsíquicos, Outro aspecto ao qual desejo me referir brevemente é -
nas grupais, estudam-se os fatores interpsíquicos, a possibilidade com relação ao contrato - o que denomino de grau de rigorosidade.
de que os integrantes do grupo de diagnóstico configurem um grupo Em minha prática institucional e privada, tenho podido
de tratamento e assim por diante. comprovar que, para os diagnósticos e, particularmente, para os
Retomando o tema do contrato de diagnóstico individual, tratamentos, é necessário fixar pautas distintas, quer se trate de
costumo comentar com os pais o seguinte: "Vou precisar reunir com um diagnóstico ou tratamento individual, ou grupai, no âmbito
X, aproximadamente por um período de seis a dez vezes, com o privado ou institucional.
objetivo de conhecer qual a sua situação de aprendizagem. Pode Qualquer que sejam os fatores que determinam a conduta
ser que me reúna com X menos ou mais de seis vezes; o que do paciente e ou de sua família, observa-se uma pauta regular de
interessa é determinar o que se passa e quais suas causas". ausências ou desistências, que diminui à medida que se
No caso de ser uma consulta particular, agrego: "Em qualquer estabelecem e explicitam, exatamente, as condições do
caso, os honorários são sempre os mesmos, sejam cinco ou mais de atendimento. Essas condições devem se ajustar a cada meio
dez vezes; os honorários serão cobrados pelo diagnóstico total (isso particular, com um alto grau de certeza de que a especificidade
ajuda a diminuir a preocupação pelo fator económico)." deve acontecer na seguinte ordem decrescente:
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Clínica Psicopedagógica
Jorge Visca
- diagnóstico e tratamento grupai em instituições; Na medida em que o contrato exige, da parte do paciente e
- diagnóstico e tratamento individual em instituições; de sua família, uma adaptação, produzem-se resistências que,
- diagnóstico e tratamento grupai privados; frequentemente, são expressas como ataques às constantes do
- diagnóstico e tratamento individual privado. enquadramento. Os ataques mais comuns são em relação: ao papel
Nas instituições hospitalares (gratuitas ou de honorários do psicopedagogo, quando se expressa o desejo de que atenda
reduzidos) onde tenho trabalhado, tenho utilizado uma cartilha na como um psicoterapeuta ou como um professor; ao espaço, quando
qual se comentam: pedem que o atendimento, por exemplo, aconteça em seu
a) objetivo do tratamento; domicílio; ao tempo em sentido amplo, quando desejam um tempo
b) data de início; de atendimento menor que o necessário, quando pedem o aumento
c) data de término; da frequência estabelecido a partir de um espaço de tempo
d) interrupções regradas; estipulado pela família, quando desejam que os encontros sejam
e) tempo de espera do profissional em cada encontro; mais curtos ou prolongados, segundo suas necessidades, ou quando
f) número mínimo de membros para que o grupo comece a pedem que se atenda em uma determinada hora etc.; às
funcionar (em caso de ser um tratamento grupai); interrupções regradas, quando esperam que a interrupção coincida
g) número permitido de faltas sem aviso; exatamente com as férias escolares, com viagens de lazer e
h) número permitido de faltas com aviso; imprevistos da família etc.
i) número total permitido de faltas; Esses poucos exemplos - dado que, em nossa clínica, tenho
j) data de reuniões com os pais; registrado um sem número deles que se repetem regularmente
k) condições para um posterior recontrato, no caso de ser em concordância com a classe social, patologia familiar etc. - são a
necessária a recontratação do atendimento pré-fixado. expressão de sentimentos onipotentes, de voracidade,
No momento do contrato, seja de diagnóstico ou desinteresses pelo verdadeiro progresso do paciente e, também,
tratamento, entrecruzam-se o que podemos chamar de pautas ou do desconhecimento do papel profissional do psicopedagogo.
expectativas do agente corretor com as do paciente e sua família, Finalmente, quero sublinhar que o contrato é o aspecto
podendo ocorrer múltiplas combinações: manifesto do enquadramento, o qual constitui em si um recurso
corretor, o primeiro que se implementa, como também o ponto de
A F A F partida, em função do qual se vai estruturar as situações posteriores
que venham acontecer no diagnóstico e ou no tratamento.
A-Agente corretor
F - Família
S - Sujeito
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Clinica Psicopedagógica
O DIAGNÓSTICO
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aspectos de um eixo (uma criança que sabe escrever e ler aos sete B) Esquema sequencial proposto
anos, mas não aprende a calcular, por exemplo). Esse item está A) Esquema sequencial tradicional (embasado na Epistemologia
Convergente)
embasado no princípio de homogeneidade funcional e
heterogeneidade estrutural (da personalidade e da conduta). 1. Anamnese 1. Entrevista Operativa Centrada
2) Prognóstico - é uma hipótese sobre o estado ou estados na Aprendizagem (EOCA)
futuros que adotará o fenómeno atual e, nesse sentido, pode ser
formulado sem agente corretor que intervenha para sua 2. Testes 2. Testes (segundo as linhas de
investigação)
modificação, com agentes corretores ideais que coadjuvem
positivamente e com agentes corretores possíveis, de acordo com
3. Provas pedagógicas 3. Anamnese (aberta, situacional e
a realidade do sujeito e seu meio. segundo as linhas de investigação)
3) Indicações - são as ações sugeridas, que se subdividem
em gerais ou próprias de outras disciplinas (encaminhamentos 4. Elaboração do informativo 4. Elaboração do informativo
médicos, por exemplo) e específicas ou inerentes ao campo da escrito ou não (primeiro como imagem do sujeito,
Psicopedagogia (atendimento individual ou grupai, por exemplo). segundo como formulação escrita
de hipóteses a comprovar)
Dessa forma, resumidamente, e n c e r r a - s e a matriz
5. Devolução da informação aos 5. Entrevista devolutiva aos pais
diagnostica do pensamento para iniciar-se o processo diagnóstico
pais e ou ao paciente e ou ao paciente
pensado a partir dessa matriz.
O processo diagnóstico consiste na série de passos pela qual
se realizam o reconhecimento, o prognóstico e as indicações da
aprendizagem e suas dificuldades. Enquanto que a matriz
diagnostica do pensamento é o segmento conceituai, o processo
diagnóstico é o segmento técnico; porém, ambos são o verso e o
reverso da mesma ação de diagnosticar.
O diagnóstico começa com a consulta inicial (dos pais ou do
próprio paciente) e termina com a devolução dos resultados. Entre
ambas as pontas desse processo - primeira entrevista e entrevista
devolutiva - podem acontecer distintas sequências, que respondem
a diferentes esquemas teóricos. Para apoiar a compreensão e
comentar o esquema que proponho, enunciarei os passos
correspondentes à sequência tradicional e, paralelamente, os
correspondentes aos passos da modalidade da Epistemologia
Convergente. Ambas as sequências dispõem de cinco momentos
que se dão em uma ordem distinta, mas diferem, sobretudo, quanto
aos pressupostos teóricos e metafísicos.
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Jorge Visca Clínica Psicopedogógica
Os sintomas, que constituem o segundo item da matriz b) pela sua expressão no tempo
diagnostica do pensamento, são o emergente da personalidade em - predominantemente;
interação com o sistema social e seus mediadores. - alternadamente;
Em outros termos, o sintoma possui dois condicionantes: o - concomitantemente.
subfenômeno (como ideia oposta e complementar do epifenômeno
ou sintoma) e o meio ou contexto. O subfenômeno é o que, mais Outro acréscimo que desejo fazer em relação aos sintomas
adiante, veremos como patogenia. De outra forma, podemos dizer é que, do ponto de vista nosológico (estudo dos mecanismos
que o sintoma é um vínculo entre sujeito e objeto no sentido lato, capazes de produzir moléstias), são o resultado de uma abstração,
que resulta da intraoperatividade e da interoperatividade. A generalização, classificação etc. que, de alguma maneira, lhe dão o
intraoperatividade vai estar condicionada, em um dado momento, caráter de enteléquia8; porém, em "sujeitos vivos" não acontece
predominantemente, pelo subfenômeno, e a interoperatividade, isso, de maneira alguma. Os sintomas apresentam indicadores, ou
pelo contexto. seja, indícios menores que o próprio sintoma, que nos contam que
tal conduta é incluída em determinada categoria nosológica.
C Objeto Assim, na escrita, por exemplo: fazer rotação, inverter,
Sintoma omitir, substituir, contaminar, dissociar, transladar
(retrospectivamente e prospectivamente) etc. são indicadores de
Intraoperatividade > uma situação mais global que denominamos sintomas. Por isso, na
prática diagnostica, é necessário descrever exaustivamente os
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
Nível Aprendizagem assistemática Aprendizagem sistemática A explicação dos fenómenos atuais deve ser buscada em
causas atuais, que sempre estarão presentes, por mais sutis que
Detenção Ausência Dificuld. Inespecí- sejam. A tentativa de explicar o presente exclusivamente pelo
S Específicos
global total parcial ficos passado é um reducionismo. A causalidade atual (a-histórica) não
E
M Acalculia nega a história, mas realiza uma hierarquização de causas.
I Alexia As causas atuais (a-históricas) podem ser: a) causas históricas
1
Agrafia
O Discalculia não transformadas; b) causas históricas transformadas.
l Sem Sem Sem Dislexia Sem
L,
Detenção Disgrafia Ambas são contemporâneas ao sintoma,
Ó nomen- nomen- nomen- Disortografia nomen-
global Discaligrafia clatura
independentemente do grau de transformação que tenham
Q clatura clatura clatura
Dessintaxe sofrido. Ainda quero reiterar, embora não pareça necessário, que
| Escrita em
espelho as causas atuais (a-históricas) são o subfenômeno do sintoma, e
C Detenção na
evolução do este é o epifenômeno das causas.
O desenho
Sintomas Assim como as causas atuais (a-históricas) vinculam-se, em
combinados
Lentidão um sentido, com o sintoma; em outro sentido - poderíamos dizer
generalizada
no sentido oposto, relacionam-se com as causas históricas.
Pensando agora, é interessante realizar uma aproximação
Agora, abordarei os itens da matriz diagnostica do pensamento, científica e outra metacientífica das causas atuais (a-históricas) no
aqueles que, respectivamente, recebem os nomes de: descrição e que se refere ao que é próprio deste nível, e não no que se refere à
explicação atual (a-histórica) e descrição e explicação histórica. relação com seus antecedentes ou com seus consequentes.
Na descrição e explicação atual (a-histórica) determinam- De acordo com a primeira, posso dizer que as causas
se os agentes intrapsíquicos que contribuem para o aparecimento patológicas que dificultam a aprendizagem são três:
do sintoma. Esses agentes são estruturas e mecanismos que - o obstáculo epistêmico;
coexistem temporalmente com o sintoma e, poderíamos dizer, com - o obstáculo epistemofílico;
o momento em que se realiza o diagnóstico. - o obstáculo funcional.
A denominação de causas atuais (a-históricas), ou Denomino obstáculo epistêmico a duas alterações da
sistemáticas, provém de Lewin, que foi quem, em função de uma estruturação cognitiva: detenção do desenvolvimento e
abstração, fez um corte horizontal com o qual isolava os fatores lentificação. Tomo esse nome do conceito de "sujeito epistêmico",
contemporâneos de sua origem e evolução. denominação que Piaget utiliza para designar a todos os indivíduos
de um mesmo nível de operatividade ou competência, enquanto
reserva o de "sujeito individual" para nomear a cada um dos sujeitos
Causas atuais
que, possuindo um mesmo nível epistêmico, operam, sem dúvida,
(a-históricas)
com diferenças, produto de uma série de fatores que excedem o
objetivo de seu enfoque.
Em outros termos, o obstáculo epistêmico deriva do nível
Causas históricas de operatividade da estrutura cognitiva alcançada. Ninguém pode
aprender para além do que sua estrutura cognitiva permite-lhe.
Utilizo o conceito de obstáculo epistemofílico - o qual foi
cunhado pela Psicanálise - para designar não as interferências para
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Clínica Psicopedagógica
Jorge Visca
aprender que derivam do nível de competência da estrutura, mas e outros autores que, utilizando o método clínico piagetiano,
do vínculo afetivo que o sujeito estabelece com os objetos e as encontraram certas peculiaridades no funcionamento cognitivo de
situações de aprendizagem. Um vínculo inadequado também possui certas patologias: diferenças, tais como a disparidade entre os
a capacidade de impedir ou dificultar a aprendizagem. O obstáculo aspectos figurativo e operativo, distintas formas de oscilações,
epistemofílico pode adotar diferentes configurações: ansiedade impossibilidade de utilizar determinadas justificações etc.
confusional, ansiedade esquizo-paranoide e ansiedade depressiva,
as quais podem se apresentar, predominante, alternada ou Em síntese, os obstáculos patologizantes, ou seja, aqueles
coexistentemente. com potencial de tornarem-se patológicos, de da aprendizagem
Cada uma dessas configurações de base dá lugar a uma série são: o epistêmico (associado à ideia de estádio), o epistemofílico
de organizações. Assim, por exemplo, seguindo o esquema de (vinculado ao conceito de afetividade, em sua dimensão atual ou a-
Bleger, observa-se que a primeira estrutura está como uma conduta histórica) e o funcional como hipótese auxiliar.
hipocondríaca ou como uma conduta confusional. Porém, esses déficits podem ter, em sua dimensão histórica,
O conceito de obstáculo funcional tem sofrido uma evolução diferentes origens:
que me permite reconhecer dois momentos.
O primeiro, como uma hipótese auxiliar com a qual tento Estádio "l
resolver, transitoriamente, duas situações: a) quando a teoria — Organicidade
Afetividade — Funções J
psicanalítica, ou a piagetiana, não tenha apresentado um juízo sobre
um determinado problema ou setor da realidade; b) quando,
_Vínculo
havendo feito, não elaborou um instrumento de avaliação para o
dito setor ou aspecto. Em tais casos, e dado que é necessário recorrer
Não escapa à minha concepção que toda divisão que tange
a instrumentos de filiação sensual-empirista (opostos aos princípios
a uma psicogênese ou organogênese é falsa e arbitrária; porém,
construtivista, estruturalista e interacionista), denomino os também entendo que assinalar a predominância é útil.
resultados assim obtidos de obstáculos funcionais, mas somente
Com relação ao nível de análise metacientífico da descrição
como hipótese auxiliar. Sua utilização não implica uma
e explicação do momento atual (a-histórico), cabe dizer que existem
indiscriminação conceituai, nem tão pouco a desvalorização
diferentes concepções de causalidade nas ciências, que podem ser
absoluta dos instrumentos tradicionais. Seu justo valor reside no
utilizadas já como um esquema explicativo ou como uma concepção
fato de que são os melhores que existem até a atualidade, ainda
propriamente dita.
que não resppndam aos fundamentos que adoto. A história da
Seguindo o pensamento de Bleger, encontram-se entre as
Psicologia mostra como os últimos desenvolvimentos da Escola de
concepções de causalidade mais importantes: a monocausalidade
Genebra, por exemplo, tanto em sua forma mais tradicional como
unidirecional, a monocausalidade em cadeia, a policausalidade
neopiagetiana, têm investigado e criado instrumentos e recursos
unidirecional, a policausalidade concêntrica, a ação recíproca e a
diagnósticos que possibilitam irmos deixando de utilizar
causalidade gestáltica, sendo esta última, a meu entender, a que
instrumentos que não correspondem à teoria. Apesar disso, estimo
mais se aproxima da realidade, ainda que sem vislumbrá-la
que ainda há muito caminho a percorrer até que a teoria elabore
totalmente.
um repertório de instrumentos ou critérios que permita a
A monocausalidade unidirecional reconhece uma causa
substituição absoluta de outros, e talvez isso nunca ocorra.
única que produz um determinado efeito e, portanto, é
O segundo momento de evolução do obstáculo funcional
reducionista.
corresponde às diferenças funcionais encontradas por Barbei Inhelder
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
Causa
C' Efeito
Causa l Aqui "A", "B", e "C" são causas que promovem os efeitos "a",
Causa 2 "b", "c", "d", "e", "f" etc., os quais atuam sobre as causas.
Causa 3 A mudança, na causalidade gestáltica, tal como assinala
Bleger, trata-se de produtos emergentes de uma estrutura total.
Desenvolvimento Sem dúvida, devo dizer que, em muitos casos, em função
Cognitivo
da praticidade, é útil hierarquizar algum aspecto sobre o outro.
Funções Não aprende )
Isso é o que me tem permitido distinguir elementos definidores
Relações vinculares e elementos interatuantes; sendo os primeiros com um maior
peso, e os segundos de menor significação, ainda que todos
A policausalidade concêntrica é uma concepção já mais configurem uma constelação dinâmica intrapsíquica, da qual
dinâmica. emerge o sintoma.
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
Sujeito Contexto
Descrição e explicação
Htual (a-histórica)
o»
-§o
s
«C
l
o
1«
)escrição e
xplicação histórica
_ Cadeias
usais e nexo;
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
P - Parâmetro
D - Desvio
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
Com o nome de pauta formal, designo duas situações que que não se adquirem as estruturas cognitivas na mesma idade, em
se diferenciam entre si porque alcançam diferentes graus de todas as culturas.
institucionalização e assemelham-se porque ambas representam Sem dúvida, apesar desses inconvenientes e, quem sabe,
expectativas de comportamento, cuja análise permitiria elaborar justamente por eles, não deixa de ser proveitoso como parâmetro o
complexos sistemas taxionômicos. Quando o sintoma que critério de observação das aprendizagens alcançadas. Assim, por
analisamos é próprio da aprendizagem sistemática, a expectativa exemplo, se António, de 12 anos, apresenta uma discalculia que lhe
está dada pelo grau, o ano etc. que cursa o sujeito avaliado; quando o permite operar como um menino de oito anos, o desvio observado é de
sintoma pertence ao campo de aprendizagem assistemática, a quatro anos.
expectativa está dada por um consenso: costurar, caminhar, tecer, dirigir Um terceiro parâmetro que o constitui é o nível de pensamento.
um veículo etc., que pode coincidir ou não com o momento evolutivo Aqui, interessa particularmente o nível de pensamento alcançado, e
indicado. não o nível que o sujeito deveria possuir, pois permite observar se as
Devo clarear que a denominação de aprendizagem sistemática aprendizagens coincidem com o nível da estrutura ou encontram-se
e assistemática é, de certa forma, arbitrária, pois toda aprendizagem abaixo dele. Em cada um dos casos, os prognósticos seriam muito
implica uma organização ou sistema. O que destaca o termo da distintos.
aprendizagem é que se faz referência à dimensão intrapsíquica, e os A localização do desvio em função do sistema referencial
adjetivos assistemática e sistemática- extraídos do conceito de educação tridimensional é muito esclarecedora do significado e alcance do sintoma
sistemática e assistemática - referem-se à graduação, metodização, tanto no presente vivido pelo paciente, quanto para o seu futuro.
objetividade etc., ou não, com que o meio exerce sua influência. Além dos desvios, deve-se considerar o que denomino as "falsas
Retomando o conceito de desvio, darei um exemplo: se um ausências de desvios", as quais se apresentam quando existem
sujeito apresenta uma acalculia (impossibilidade absoluta no campo das aprendizagens imitativas, memorizadas de forma automática:
matemáticas) e vai passar para o terceiro ano, apresentará um desvio a) acima da estrutura cognitiva;
de dois anos. De uma forma simples, de acordo com o significado que b) com a estrutura cognitiva indicada, mas sem uma verdadeira
dou ao conceito, poderíamos dizer que o desvio é o que falta para assimilação de conceitos etc.
chegar até...
Para poder estabelecer os desvios em relação à pauta formal, é
necessário conhecer tanto os programas escolares, para a aprendizagem
Parâmetro Aprendizagem por imitação
sistemática, como os usos e costumes do meio sócio-cultural, para a (D
'Õ
(automatizada)
aprendizagem assistemática. Visto que ambos podem ser muito distintos C
«D
de uma instituição a outra e de uma sociedade a outra, a determinação to
3
ro
do desvio pode chegar a ser relativamente complexa se o que se pretende ro CU
T3
é manter um nível de objetividade adequado, ou seja, que não leve a uma O)
T3
análise impregnada de transculturação. Nível pedagógico
Assim, como há um desvio em relação à pauta formal, também verdadeiro
se pode estabelecer o valiant com relação à idade cronológica. É
interessante destacar como, por um lado, a idade cronológica pode ou
não coincidir com a pauta formal; por outro, pode também coincidir ou
não com a estrutura cognitiva que, habitualmente, os sujeitos possuem
em um determinado meio. É sabido, pois, pelos estudos comparativos,
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Clínica Psicopedagógica
Jorge Visca
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógíca
A linha horizontal mostra o observador que, do seu lugar, opera-se por meio do contato sensorial; b) os sustentados pelo
observa e percebe o paciente no momento do diagnóstico. De sujeito e que não são dados por uma presença física; c) o
acordo com o conhecimento que se possui do passado - conhecimento resultante da integração de "a" e "b"; d) o modo de
representado pelos espaços PD (passado desconhecido) e PC integração ou composição que assegura a passagem de "a"+"b" para
(passado conhecido), será possível formular hipóteses do futuro. "c" (ou seja, como o investigador, no caso o profissional que fará o
Os espaços que se encontram acima da linha temporal do observador prognóstico, integra o que conheceu pelos sentidos aos
(psicopedagogo), Fl (futuro não conhecível) e FC (futuro conhecimentos que não necessitam da presença física do objeto a
conhecível), têm uma relação direta com PD e PC. Em outros termos, ser aprendido, para chegar a um conhecimento resultante desta
a relação entre o passado conhecido e desconhecido é direta com o integração; não basta integrar, mas "como" integrar pode fazer a
futuro conhecível e não-conhecível: quanto maior a abertura do diferença na compreensão dos casos e de seus resultados).
passado conhecido (PC) maior será a abertura do futuro conhecível Entre o prognóstico científico e a profecia popular, existem
(FC) etc. diferenças. A esse respeito, ainda legitimado na atualidade, Bunge
As incertezas derivadas da emergência de uma novidade assinala:
põem em evidência o caráter aberto do prognóstico e fechado do a) o prognóstico não pode transcender o alcance dos
diagnóstico. enunciados legais nos quais se fundamenta; a profecia popular, de
O prognóstico tem duas funções: a) como ferramenta para o fato, faz isso ou carece de pressupostos legais. Quantas vezes,
êxito da ação corretora e b) como confirmação de hipóteses. No imbuídos de um sentimento reparador onipotente, somos levados
primeiro caso, tem-se a utilidade que significa dispor de um a pensar que "não importa o que tudo indique sobre uma não-
esquema antecipado que permita elaborar estratégia de ação; em recuperação, eu sei que conseguirei". Porém, também me pergunto
segundo, têm-se um intercâmbio clínico-experimental que permite se o tema passaria à ciência se não existissem os desacordos;
confirmar ou não suposições, leis gerais etc.; ou seja, tudo que possa b) o prognóstico não pode ser mais preciso que a informação
resultar em benefício da própria disciplina. específica que utiliza; a profecia pode;
O fato de que o prognóstico sirva de esquema antecipatório c) o prognóstico é condicional, enquanto as profecias são
destaca, justamente, que não deve ser um esquema rígido e inalterável incondicionais e podem se enunciar de forma categórica.
tanto frente às modificações que pode sofrer o paciente, como frente Agora, cabe abordar como enunciar um prognóstico. Em
aos possíveis ajustes que o profissional pode utilizar durante o processo minha opinião, dado que o prognóstico é o enunciado do que vai
corretor. ocorrer no futuro, esse acontecer dependerá não somente das
As razões do fracasso de um prognóstico podem vir de erros precondições observadas, no diagnóstico propriamente dito, mas
existentes: a) nos enunciados legais; b) na seleção dos enunciados também das circunstâncias a que será submetido o paciente. Por
legais; c) na informação específica; d) na inferência. esse motivo, acredito que um prognóstico completo é aquele que
Cada uma das novas correntes ou escolas tratam de apresenta alternativas da futura evolução, ou seja, como evoluirá o
aperfeiçoar os enunciados legais previamente expressos pelas paciente, a partir da presença ou não dos agentes corretores
correntes anteriores. O exercício profissional refina e exercita o indicados: a) sem agentes corretores; b) com agentes corretores
profissional na escolha dos mesmos. A informação específica pode ideais; c) com agentes corretores possíveis.
estar mal reconhecida pelo profissional, como também mal Os agentes corretores ideais são - quem sabe deva-se dizer
delineada pelo paciente ou pelos seus pais. Sobre os erros de seriam - aqueles que podem operar produzindo as melhores
inferência, mencionarei aqui o que diz Piaget: as inferências circunstâncias para o paciente, mas que, devido aos fatores
implicam quatro aspectos: os elementos dados, cujo conhecimento objetivos (distâncias, económicos, de mobilidade e outros) ou
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l Clinica Psicopedagógicc
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Clínica Psicopedagógica
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familiar reserva para o paciente parecer fundamental, se for contrário, frequentemente pode ocorrer a necessidade de utilizar-
estável, ele pode ser detectado em qualquer momento do processo se de instrumentos desconhecidos ou criar-se procedimentos novos
diagnóstico, e não somente no momento de abertura. que permitam submeter à prova hipóteses, para o que ainda não
O juízo prévio ou pré-juízo que o agente corretor forma a foram criadas formas de estudo e investigação.
partir da entrevista com os pais (tome ele partido a favor ou contra), O segundo sistema de hipóteses, configurado pela decantação
ao mesmo tempo em que interfere na visão ingénua e dificulta ao do primeiro, volta a abrir novas linhas de investigação sobre a dimensão
entrevistador deixar-se fecundar pela realidade do paciente, serve- histórica (ou etiológica e suas cadeias causais) e o contexto. O meio
lhe, também, de "esquema-antecipação-couraça-elemento que privilegiado de constatação das hipóteses, nesse momento, é a
reassegura" e, de certa forma, defende-o do medo ao desconhecido. anamnese, utilizada como uma modalidade cujas notas são: entrevista
Em minha opinião, iniciar a sequência do processo diagnóstico aberta (ou seja, não dirigida), ainda que experimental (vale dizer,
com a anamnese responde a um pressuposto fixista, que reza: "Os voltando-se sobre os pontos nodais e hipóteses diretrizes) e situacional
adultos têm razão, e as crianças (adolescentes e pessoas que não (que leva em conta a importância da dinâmica na qual os fenómenos
aprendem) não têm". do presente e passado são vividos no "aqui-agora-comigo").
O fato de começar o processo com a EOCA, na qual se detectam Os dados assim recolhidos sobre "o primeiro na ordem da
os sintomas e, digamos, finalizar com a anamnese, responde ao génese" e as cadeias causais colaboram para a formação do primeiro
conceito que Piaget toma de Aristóteles, o qual diz, sistema de hipóteses.
aproximadamente: o primeiro na ordem da génese é o último na Recapitulando, teríamos um Esquema sequencial proposto:
ordem da análise.
Com a EOCA, detectam-se os sintomas e levantam-se
hipóteses sobre as causas atuais (a-históricas) ou patogênicas Ações do Procedimentos internos do
das quais emergem esses sintomas. Ambos, sintomas e entrevistador entrevistador
hipóteses, configuram o que denomino o primeiro sistema de 1) EOCA Ler sistemas de hipóteses.
hipóteses. O mesmo constitui uma aproximação inicial que deve Organizar o primeiro sistema de hipóteses.
ser aperfeiçoada mediante a confirmação ou não de cada uma Traçar linha de investigação.
das hipóteses menores que configuram o sistema total. Isso se 2) Testes Escolher os instrumentos.
completa segundo linhas de investigação, as quais podem Elaborar o segundo sistema de hipóteses.
indicar, por exemplo: relações entre os aspectos figurativos e Traçar linhas de investigação.
o p e r a t i v o s do pensamento, r e l a ç õ e s entre os aspectos 3) Anamnese Verificar e decantar o segundo sistema de hipóteses.
fantasmáticos e cognitivos dependentes do conhecimento físico Formular o terceiro sistema de hipóteses.
e das atividades lógico matemáticas, desenvolvimento das
4) Elaboração Elaborar uma imagem do sujeito (que não pode ser
praxias e outros. do informativo repetida para outro sujeito), a qual articula a
A verificação do primeiro sistema de hipóteses obtido por aprendizagem com os aspectos energéticos e
meio da EOCA, segundo as linhas de investigação, impede o uso estruturais, atuais (a-históricos) e históricos que o
irreflexivo e desmedido de instrumentos e colabora para que o condicionam.
diagnóstico transforme-se em uma verdadeira busca intencional e
experimental. Dessa maneira, com o sistema que proponho, não
existe uma bateria de testes preestabelecida, fixa, que deva ser Resumirei, agora, dois principais aspectos do instrumento
administrada regularmente em todos os entrevistados. Pelo que denomino entrevista operativa centrada na aprendizagem, e
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que minha equipe tem denominado de EOCA9, nome com o qual Dependendo do caso, é possível agregar outros materiais e,
é conhecido atualmente. em situações muito especiais, em uma segunda entrevista que,
Esse instrumento foi inspirado, por um lado, na Psicologia Social geralmente, não é necessária, é possível incluir alguns jogos com
de Pichon-Rivière e, por outro, nos postulados da Psicanálise e também suas regras ou outros recursos.
na modalidade experimental do método clínico da Escola de Genebra. Proposta a consigna inicial, o entrevistado pode ter distintas
No entanto, diferencia-se de todos eles, focalizando-se na formas de reação:
aprendizagem ou, melhor dito, sobre a investigação da modalidade de - pôr-se a falar;
aprendizagem, ou seja, como se aprende e como se aprende a aprender. - pôr-se a desenhar, escrever, fazer contas etc.;
A EOCA pretende ser um instrumento simples, espontâneo - pedir que lhe digam o que é para fazer;
e rico em seus resultados. Consiste, em seus aspectos manifestos, - ficar paralisado.
simplesmente em colocar-se em contato com o entrevistado por Esta primeira forma de resposta já é um dado muito
meio de uma consigna: "Gostaria que me mostrasse o que sabe importante, a qual, numa leitura sutil, diz muito sobre o sujeito. Se a
fazer, o que têm lhe ensinado e o que tem aprendido". Além disso, reação for pedir que lhe digam o que é para fazer, e caso permaneça
apresenta-se um material também simples, o qual se encontra sobre a reação após dizer-lhe que é possível fazer o que melhor lhe pareça,
a mesa e é oferecido ao entrevistado, dizendo-lhe, aproximada- pode-se utilizar um recurso que denomino modelo de alternativas
mente, na continuação do que se falou anteriormente: "Este múltiplas.
material é para você usar, se precisar, para mostrar-me o que eu O modelo de alternativas múltiplas consiste em uma
gostaria de saber de você, como comentei". enumeração, não taxativa, cuja intenção consiste, unicamente, em
Evidentemente, tanto em relação à consigna, quanto aos desencadear respostas do sujeito. Por exemplo: "Pode desenhar,
materiais, haverá diferenças segundo o entrevistado seja um pré- escrever, fazer algo de matemática ou qualquer outra coisa que lhe
escolar, de idade escolar (ensino fundamental), um adolescente ocorra".
ou um adulto. Para essa exposição, centrar-me-ei na criança de Em todo momento, a intenção é permitir ao sujeito construir
idade escolar. a entrevista de forma mais espontânea, mas dirigida de uma forma
Os materiais que geralmente coloco para essa idade são: experimental. Interessa, pois, observar seus conhecimentos,
- folhas lisas, tamanho carta; atitudes, destrezas, mecanismos de defesa, ansiedades, áreas de
- folhas com linhas e quadriculadas; expressão da conduta, níveis de operatividade, mobilidade
- lápis novo, sem ponta; horizontal, vertical etc.
- apontador; De forma alguma, espera-se um determinado resultado ou
- caneta; que ocorra uma determinada situação. Simplesmente se está diante
- borracha; de uma situação a descobrir ou revelar.
- tesoura; Uma vez que o entrevistado mostra como opera em relação
- folhas de papel colorido para dobradura; a algo, o entrevistador limita-se a pedir-lhe que mostre outra coisa:
- régua; "Já me mostrou como desenha; agora, gostaria que me mostrasse
- marcadores; qualquer outra coisa que não seja desenhar" e assim
- livro ou revista. sucessivamente. No entanto, essa atitude de relativa passividade
do entrevistador não implica que ele mesmo não possa assinalar
9 Para uma explicação mais detalhada sobre EOCA, pode-se consultar o situações, tais como: "três vezes três são nove" (frente a uma conta)
capítulo Precondiciones energéticos estructurales dei aprendizaje, no livro
Psicopedagogía: Teoria, Clínica, Investigación. ou "O que fará se a régua escorregar ao traçar a linha" ou "Acreditava
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A protoaprendizagem consiste na aprendizagem das protoaprendizagem, é quando se configura o que a Psicanálise tem
primeiras relações vinculares10 que se estruturam, na criança, como conceituado como relações de objeto indiscriminado, de objeto
resultado da interação que se estabelece entre ela e sua mãe. A parcial e de objeto total, dando lugar, cada uma dessas configurações,
criança parte de uma situação inicial de indiscriminação ou a diferentes possibilidades de organização, que Bleger denomina
adualismo, com um nível de sensibilidade de acordo com essa estruturas de personalidade.
situação e, nos contatos com a mãe, vai estabelecendo suas O que mais me interessa destacar, porém, é que essas
primeiras discriminações e vínculos com o mundo externo. Esse estruturas ou esquemas de reação ainda se encontram vazias de
mundo externo reduz-se à mãe, ou ao adulto que a representa, que significado; pelo menos com o significado com o qual vão sendo
é quem resume e transmite, metabolizada em sua conduta, as preenchidas no nível seguinte de construção da aprendizagem, que
influências do pai e da cultura. Em essência, é a mãe o objeto de previamente denominamos deuteroaprendizagem.
interação, e não poderia ser de outra forma. A criança chega ao A deuteroaprendizagem, que também poderíamos
mundo com seu substrato biológico, produto de um sem número denominar concepção de mundo e de vida, configura-se pela
de influências: as próprias da transmissão hereditária e as derivadas interação da criança, que alcançou o nível de aprendizagem de
das reações afetivas da mãe, as quais, até antes do nascimento, protoaprendizagem, com seu grupo familiar: pai, mãe, irmãos,
traduzem-se para ela em estímulos biológicos (hormonais etc.) que outras pessoas que habitam a casa, objetos, animais etc. e as
o condicionam. interrelações das pessoas entre si e com os objetos animados e
inanimados.
É como se a placenta houvesse sofrido uma terceira mudança
Substrato
Mãe e ampliação: a primeira placenta era a que envolvia a criança,
biológico
protegendo-a no seio materno, a qual se amplia durante a
protoaprendizagem, deixando de ser meramente biológica e
passando a ser psicológica; porém, agora sofre uma nova
modificação, permitindo um maior número e complexidade de
Primeiro nível de Protoaprendizagem contatos.
aprendizagem
Nesse momento, adquire especial significado o trato e a
valorização dos membros entre si. A criança "bebe os valores do
Evidentemente, nesse lapso, tanto vão desempenhar seu grupo". O lugar valorizado, ou não, que ocupam a mulher, o homem,
papel as precondições da criança, como as circunstâncias oferecidas as crianças, os idosos, os prestadores de serviço, a televisão etc. é
pela mãe. Ambos, aspectos complementares, estabelecerão uma de singular peso. Então, produz-se a "tematização" dos esquemas
interação entre si, influenciando-se reciprocamente. Cabe salientar de reação elaborados no período anterior. Se antes havia se
que, assim como o biológico vai representar uma tela de cânhamo organizado uma estrutura paranoide, agora se estabilizam os ataques
para a protoaprendizagem proceder ao seu bordado, esse vai mudar a determinadas telas, como resultado do interjogo de identificações
o substrato biológico, produzindo entre ambos uma amálgama com os diferentes membros dessa pequena comunidade com a qual
indissolúvel, melhor dizendo, um novo nível de construção que a criança convive. Se o pai grita com a mãe, se este deprecia a
integra o precedente. Em minha opinião, neste nível, o da brincadeira, se os animais, livros etc. são valorizados, ou não, tudo
vai influir para que a criança configure seu estilo de aprender a
°Essas relações vinculares não se reduzem a aspectos afetivos, mas o aprender.
vínculo implica numa dimensão afetiva e numa cognitiva que se dão
indissociadamente.
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j 1
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1 f ^/"^
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Assim como o substrato biológico servia de base à
Aprendizagem
protoaprendizagem, este serve, por sua vez, à deuteroaprendizagem, Terceiro nível assistemática
e assim como a protoaprendizagem modifica o substrato biológico, a de aprendizagem ou incidental
deuteroaprendizagem modifica a protoaprendizagem. No entanto,
cabe destacar que cada nível precedente subsiste no seguinte e que,
da mesma maneira que não desaparecem as assimilações biológicas O fato de denominar este nível de aprendizagem assistemá-
(alimentar-se etc.), tão pouco desaparecem os intercâmbios afetivos, tica deriva de uma hierarquização do processo individual que se
dando-se, pois, sob uma modalidade diferente a cada novo nível de opera pela influência da educação assistemática; porém, em
organização. nenhum momento, refere-se a que nem no meio, nem no sujeito,
A aprendizagem assistemática constitui-se pela interação os fenómenos dão-se sem um sistema. O meio possui uma
que a criança alcançou no nível da deuteroaprendizagem com a organização solidamente estruturada, só que é acostumado a
comunidade restrita (em outros termos, o bairro, os provedores carecer da objetivação e consciência dos organismos, funções, redes
que chegam a casa e outros). Nas comunidades primitivas (pré- e fenómenos que produz; e outro tanto ocorre com o sujeito, no
históricas e ágrafas), é relativamente fácil distinguir a aprendizagem qual pré-existe um sistema com suas leis próprias. Até as sociedades
assistemática da seguinte, a aprendizagem sistemática. A primeira mais primitivas puseram em prática sutis instrumentos, cujo uso
consiste na instrumentação que permite a integração na assegurava a assimilação dos membros jovens à comunidade com o
comunidade. Originariamente, implicava aprender a caçar, pescar, objetivo de assegurar a continuidade da sociedade.
construir a choupana, saber os rituais e proibições do grupo etc. A aprendizagem sistemática é a que se opera pela interação
Atualmente, nas sociedades industriais e, especificamente, desde com as instituições educativas, mediadoras da sociedade como
a difusão da escrita, é cada vez mais difícil distinguir um e outro tipo órgão especializado em transmitir o conhecimento, atitudes e
de aprendizagem, devido ao modo como as influências culturais habilidades que a sociedade considera necessários para a
imbricam-se. sobrevivência, capazes de manter uma relação equilibrada entre a
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identidade e a mudança. Essas instituições oportunizam aos sujeitos Em minha opinião, nem os primeiros desenvolvimentos
aprendizagens instrumentais que lhe vão permitir o acesso aos níveis teóricos da Psicanálise, nem os da Escola de Genebra são suficientes
mais elaborados11, e é justamente nesse nível que se configuram os para explicar a aprendizagem. A aprendizagem não pode ser
sintomas da aprendizagem sistemática, os quais comentarei adiante. explicada unicamente pelo investimento afetivo em relação ao
objeto, como tão pouco, exclusivamente, pelas estruturas
cognitivas. Esses aspectos não se dão de forma dissociada como se
Substrato pretendeu durante um longo tempo. Distintas investigações
Mãe experimentais, como a de Therèse Gouin Dècarie com crianças
biológico
normais e as de James Anthony com crianças autistas, têm colocado
em evidência a correlação que existe entre a construção do objeto
permanente da escola piagetiana e a construção do objeto libidinal
da escola psicanalítica. Também essa correlação tem sido destacada
Primeiro nível de por investigadores que têm estudado a involução em anciãos e
aprendizagem Protoaprendizagem Grupo familiar
esquisofrênicos e, não é demais afirmar, o quanto de relação existe
entre esses aspectos e a aprendizagem.
Sem dúvida, a aprendizagem implica outros aspectos além
dos temas dos investimentos e das estruturas. Em outros termos,
Segundo nível de Deuteroapren- Comunidade as cargas energéticas positivas e negativas, como as operações,
aprendizagem dizagem restrita podem ser aplicadas a distintos objetos e, no caso da aprendizagem
sistemática, por exemplo, esses objetos são o resultado de uma
cuidadosa seleção dos bens culturais que se transforma em bens
pedagógicos ou em objetos com os quais o educando interagirá.
Aprendizagem Retomando as interações dos aspectos energéticos e
Terceiro nível de Instituições
assistemática estruturais entre si, interessa-me destacar que mesmo Piaget
aprendizagem escolares
ou incidental afirmou que a mãe é o primeiro objeto de conhecimento do filho.
Ele afirma que a mãe é um objeto privilegiado porque cai na
intersecção dos esquemas de ação da criança: do olfato, da gustação,
da visão, do tato e outros.
Quarto nível de Aprendizagem
aprendizagem sistemática Olfato
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Jorge Visca Clinica Psicopedagógica
A análise detalhada das histórias dos pacientes claramente Níveis Aprendizagem assistemática Aprendizagem sist emática
revela como, geralmente, existe uma relação entre os aspectos Dificuldade
Detenção Ausência Específicos Inespecí-
intrapsíquicos no desenvolvimento e as estimulações e os total global parcial ficos
investimentos do grupo familiar em relação a esses aspectos.
A afetividade pode incidir em distintos graus sobre a Acalculia
organização dos aspectos estruturais: S Alexia
Agrafía
- sobre o objeto; E
Discalculía
- sobre o esquema; M Dislexia í, "„
Disgrafia
- sobre a estrutura. Disortografia
O sem Sem San Detençlo Sem
Quando, entre a criança e um determinado objeto, é nomenclatura nomenctetura nomenclatura tfcbèl
Disca ligraf ia
nomenclatura
L Dissintaxe
estabelecido um vínculo inadequado, subsiste, sem dúvida, o Escrita em
Ó espelho
esquema, que é o aspecto comum da conduta aplicado a esse e
G Detenção na
outros objetos. evolução do
1
No grau seguinte, o vínculo inadequado estende-se a um desenho
C Sintomas
conjunto de objetos, afetando o desenvolvimento de um O combinados ',' •
Lentidão
determinado esquema; porém, a estrutura não é afetada em seu genera izada
núcleo essencial e pode se desenvolver. Por outro lado, quando o
vínculo inadequado alcança um grau maior, a estrutura é afetada P ns ro
108 109
Funções
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Níveis Aprendizagem assistemática Aprendizagem sistemática Caracterizarei, agora, algumas das unidades de análise do
-> -- • " ""
J~-ÍU»*****'
nível semiológico correspondente aos sintomas específicos da
Detenção Ausência Dificuldade Específicos In especí-
total global parcial ficos aprendizagem sistemática. A nomenclatura utilizada responde a
dois critérios: a) para cada nome, tem-se levado em conta sua origem
Acatculia
etimológica; b) com cada nome, designa-se a menor unidade
S Alexia sintomatológica possível. Isso responde a dois fatos: introduzir uma
E Agrafia
Discalculia ordem na pluralidade de nomenclaturas existentes e identificar
M Dislexia unidades relativamente simples sobre as quais operar
1 Disgrafia
Disortografia posteriormente.
0 Sem Sem ; Sm Detenção
Discaiigrafia
Sem
nomenclatura nomenclatura nomendttura global nomenclatura O termo agrafia está formado por duas raízes gregas (a =
L Dissintaxe
Escrita em privativo de; graphê = maneira de representar as palavras de uma
i espelho
língua), significando a impossibilidade de representar por escrito a
G Detenção na
1 evolução do linguagem.
'; desenho
C Sintomas Pode-se dizer que a escrita é a arte de representar a
O combinados linguagem com signos convencionais ou que é o registro simbólico
Lentidão
generalizada das ideias; signos convencionais ou registro simbólico que pode
assumir distintas formas: pictográfica, ideográfica ou alfabética.
ro ro
P Sobre esse sintoma ainda é possível dizer que ele pode
A i 'E
bfi
c ser: a) inato, b) adquirido; além de poderem a) e b) estar associados
o o
T 0
•o
<D
-D
O)
-o
(U (LI
T3
01
•o
0)
ou não com a alexia.
ro ,_
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i/i ! •o
ro ro ro
3
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-0 o>
ro
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LLJ
-o ! +-•
T3
> íO > (O >
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> >
O termo disgrafia também está formado por duas raízes gregas
'O 'S
; ^> *— l ò (U o; (D (dis = dificuldade; graphê) e consiste na dificuldade (parcial), e não
u
E i/i
LU s. p u_ LJ_ LU j < LJ_
C E i?
0
entre sistema simbólico e as grafias que representam os sons, as
1- \ palavras e as frases; ao que eu denomino simplesmente disgrafia.
82!
A segunda ocorre quando a motricidade do sujeito está
1 "1
1 o
(A
S
?
i particularmente em jogo, mas não o sistema simbólico; ao que
denomino discaligrafia e entendo como discaligrafia não é somente
O Q.
S
mesmos nomes que os indicadores da dislexia. No entanto, na
c "-
primeira, dão-se na escrita (inversão, substituição, translação,
o Jz
ib H J ^m^
?m
?
omissão, agregado etc.); na segunda, dão-se na leitura.
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Jorge Visco Clínica Psicopedagógica
- -
de mecanismos
Aritmética
de procedimentos
Mental
(sem lápis e papel) de mecanismos
Geométrica INTRODUÇÃO AO PROCESSO CORRETOR
de procedimentos
Discalculia - - -
de mecanismos Definição
Aritmética
de procedimentos Para introduzirmos a ideia de processo corretor, é necessário
Gráfica
definir, em primeira instância, ambos os termos: processo e corretor.
(com lápis e papel) de mecanismos Processo é o transcurso do que vai se sucedendo e é uma
Geométrica característica de toda coisa, de estar, a cada instante, de uma forma
de procedimentos
- - distinta da anterior. Processo é sinónimo do que está para acontecer,
ou seja, é um movimento pelo qual as coisas transformam-se.
É importante, no entanto, esclarecer que o processo pode
ser espontâneo ou provocado, e que o processo provocado pode
acontecer sob situações controladas segundo métodos, entre os
quais se encontra o método clínico.
Por outro lado, temos o termo corretor que está formado
pelas raízes co e regir, sendo a primeira um prefixo latino da
preposição "com" e sendo a segunda a ação do correto
funcionamento de um aparelho ou organismo.
Nesse sentido, o processo corretor consiste no conjunto de
operações clínicas por meio do qual se facilita o aparecimento e a
estabilização de condutas. Essas operações são realizadas entre um
sujeito que acompanha o processo e outro que vive, ativamente, o
mesmo processo, configurando um sistema do que está para acontecer.
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lorqc Visca Clínica Psicopedagógica
?
que a aprendizagem é assimétrica, exige uma adaptação ativa e
envolve uma tarefa, na qual o agente corretor opera como um Terceiro momento
continente transformador dos conteúdos não metabolizados do AC - Masculina
sujeito.
Outra unidade de análise é o sujeito, que é quem vai Continente Conteúdo
manifestar tanto sua semiologia (indicadores ou sintomas), quanto
sua patogenia, ou seja, os obstáculos: epistêmico, epistemofílico e
Além disso, é possível pensar em outra representação gráfica
funcional (este entendido como uma hipótese auxiliar).
por meio de um cone invertido (que encerra uma espiral), no qual
Por último, cabe caracterizar uma terceira unidade de análise:
tempo, lugar, frequência, duração, caixa de trabalho, condutas
o agente corretor, o qual vai utilizar uma série de recursos clínicos,
permitidas etc. são constantes flexíveis, a conduta do sujeito
entre os quais interessa destacar a mudança de situação, a informação,
(existente-emergente) é uma variável dependente, e as intervenções
a informação com redundância, a modalidade de alternativas
do agente corretor são uma variável independente (a qual, por
múltiplas, a informação intrapsíquica, a mostra, o acréscimo de
questões de técnica clínica, denomino variável interveniente).
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
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um campo, cuja estrutura ou dinâmica, aos olhos do psicopedagogo, Vale dizer que o psicopedagogo deverá estimar, antes de
tem-se configurado inadequadamente. intervir: primeiro se a intervenção apontará, predominantemente,
Os recursos que, habitualmente, utilizo são: para o aspecto energético ou estrutural; segundo, com a intenção
- a mudança de situação; de mobilizar um campo estruturado nos níveis citados; terceiro,
- a informação; implementar este ou aquele recurso.
- a informação com redundância;
- a modalidade de alternativas múltiplas;
- o acréscimo de modelo;
- a mostra;
- a explicação intrapsíquica;
- o assinalamento;
- a interpretação
- a troca de papéis.
Tais recursos - denominados variáveis intervenientes, como
já disse - são utilizados de acordo com os seguintes critérios:
a) todo recurso é utilizado para incidir sobre um existente
(campo estruturado) com o objetivo de produzir modificação;
b) todo recurso tem como base uma hipótese que envolve o
existente, a variável e o emergente, e não significa um imperativo
categórico;
c) cada um dos recursos constitui distintas formas de
expressão ou manifestação de uma mesma entidade;
d) a escolha de uma ou outra forma da variável vai
corresponder à ideia de oportunidade ou eficácia, a qual tem como
pressuposto geral o postulado que deve pôr em jogo a resposta,
mais ativa possível, por parte do sujeito.
e) a oportunidade ou a eficácia só vai ser comprovada pelo
emergente imediato ou mediato.
Em outra ordem de coisas, cabe esclarecer que os recursos
previamente mencionados podem estar, predominantemente,
dirigidos aos aspectos energéticos ou estruturais, em cada um dos
quais sempre aparecem três níveis, os quais se pretende mobilizar:
1) de indiscriminação;
2) de dissociação;
3) de integração.
Esses níveis foram conceituados tanto pela Escola de Genebra
e Psicanálise, como pela Psicologia Social, a partir de distintas
perspectivas.
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OS RECURSOS
Meio
Instrumentos de
A personalidade
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como subsistema
subsistema e o
(com suas tendên-
sistema
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e à abertura)
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Entrevistado: "Não sei como posso ir a Copacabana". O acréscimo de modelo requer uma consideração prévia.
Entrevistador: "Na estante de livros, há um guia da cidade Todos os recursos citados respondem ao critério de operar sobre a
com os meios de transporte". base de, e não intervir com um "contramodelo". Isso é tido
A informação pode ser subdividida em duas classes: a) particularmente em conta nesse tipo de intervenção. Enquanto o
dentro do consultório (intrabox) e b) fora do consultório (extrabox). "contramodelo" implica uma negação do outro (sobre a base de
Na primeira, o conteúdo da informação recai sobre objetos e uma dissociação esquizoide ou de uma simbiose), a ampliação do
situações do consultório; na segunda, recai sobre objetos e modelo toma o modelo inicial em conta e aceita-o como ele é.
situações externas a ele. Dado um existente, este pode ser Diante da dificuldade de sintetizar a ideia essencial que caracteriza
considerado em uma ou outra dimensão. Por exemplo: esse recurso, descreverei a situação em que pude vivenciá-lo e
Entrevistado: "Chego tarde porque o ônibus demora muito objetivá-lo pela primeira vez.
para passar." (existente) Z. era uma menina de uns sete anos, cujos pais consultaram-
Entrevistador: "Na estante de livros, há um guia da cidade me depois de terem tentado que ela fosse assistida por vários
com todos os meios de transporte." (intrabox) colegas. Os tratamentos não duravam; em poucos dias, Z. resistia à
Diante do mesmo existente, poder-se-ia intervir segundo continuidade de todas as maneiras imagináveis. Z. não lia, não
pareça mais conveniente. escrevia, nem operava matematicamente. Começado o
Entrevistador: "Por Copacabana, passam seis meios de atendimento psicopedagógico, a menina propôs-me: "Eu sou a caixa
transporte que vêm até aqui." de um banco e você é o ladrão. Você dá dois golpes no guichê e diz
"Levante as mãos", e eu dou-lhe o dinheiro. Esta atividade repetiu-
A informação com redundância só difere do recurso anterior se de forma estereotipada, por certo tempo, durante toda a nossa
no sentido que se recodifica parcial ou totalmente a mensagem, entrevista. Qualquer sugestão para fazer outra atividade
fazendo-se uso de um gesto, tom de voz, repetição de parte ou do (contramodelo) era recusada imediatamente; isso me fez
todo expressado. O sentido da recodificação da informação consiste compreender o motivo de suas resistências e o abandono dos
em ultrapassar as barreiras afetivas, e de outra índole, que dificultam atendimentos anteriores. Como a situação repetia-se até o cansaço,
sua apreensão e posterior metabolização em termos de imagens e em uma oportunidade, agi diferente - possivelmente movido pela
operações cognitivo-afetivas. impotência. Logo que dei os dois golpes no guichê e disse para que
ela levantasse as mãos, Z. fez o gesto de entregar-me o dinheiro
O modelo de alternativas múltiplas consiste em uma imaginário, e eu, então, disse-lhe: "Você apenas faz que me dá o
enumeração não-taxativa do que o sujeito pode realizar. dinheiro...", e ela retrucou: "Façamos o dinheiro com papel." Em
Entrevistador: "Pode desenhar, escrever, ler, construir ou outra oportunidade, acrescentei: "Dê-me apenas as notas mais
qualquer outra coisa que lhe ocorra." altas", ao que replicou: "Então, ensina-me os números, não vês que
O modelo tem como finalidade, somente, ser um eu não sei?"
desencadeante ou "motor neutro" da conduta. Utiliza-se em Em outras oportunidades, experimentei esse recurso de
situações nas quais o sujeito encontra-se paralisado. Para sua outra forma. Em vez de realizá-lo em uma dramatização, sem perder
formulação, levam-se em conta os aspectos: estrutural (nível o papel, é possível utilizá-lo frente a outro tipo de modelo; por
cognitivo) e energético (afetivo). Na prática, é fácil observar no exemplo, o desenho. Diante de uma casa sem porta, pode-se
emergente dois grupos de fenómenos: a) a oposição e a opção por questionar: "Por onde entram e saem as pessoas desta casa?" Se o
outra atividade e b) a ampliação do universo de objetos e condutas sujeito está em condições, vai desenhá-la; se não pode,
operativas. simplesmente contestará: "Pela porta!" ou continuará calado.
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lorqc Visca Clinica Psicopedagógica
A mostra é a transmissão da informação por meio de uma Um primeiro exemplo que se refere à relação do sujeito
ação não-verbalizada, que pode recair sobre: a) os objetos, b) a relação com os objetos poderia consistir no que segue.
dos sujeitos com os objetos, c) a relação do sujeito consigo mesmo. O entrevistado, ao apagar sua folha, não a segura e ela
A primeira tem por finalidade predominante promover a enruga-se e rasga.
abstração empírica; a segunda, a abstração refletidora15; a terceira, O entrevistador apaga a folha sem segurá-la, e a folha
a percepção de si mesmo (nos aspectos cognitivos e afetivos) como enruga-se e rasga; em seguida, ele pega uma folha, segurando-a, e
objeto de conhecimento. As três formas tendem a facilitar a tomada apaga o que está escrito; ela não se enruga, nem rasga.
de consciência e a passagem de certos elementos de um plano de Agora, trago outro exemplo do mesmo tipo, porém com um
não-representação ou de representação inferior a um plano de matiz diferente: imaginemos um menino que se atrapalha na
representação ou de representação superior. contagem de objetos e acredita que a quantidade de objetos
Um exemplo de mostra dirigida a um objeto seria o seguinte: modifica-se dependendo da direção em que faz a contagem. O
Se um sujeito está trabalhando com uma matriz de dupla entrada e entrevistador conta da esquerda para a direita e da direita para
tem que localizar um objeto na intersecção correspondente, mas esquerda a mesma coleção de objetos (obtendo igual resultado).
realiza tomando em conta somente um atributo ou qualidade do A mostra que recai sobre a relação do sujeito com ele mesmo
objeto, pode-se deslocar o objeto em questão até a marginal que dificilmente pode ser apresentada de forma pura; geralmente, dá-se
indica o atributo não-considerado. Por exemplo: em um contexto de verbalizações no qual o verbal não consegue
produzir a modificação necessária. A. era uma senhora que repetia
certa pauta de reação a determinadas situações de aprendizagem,
Cores
frente às quais havia utilizado uma série de recursos com o objetivo
V R de modificar tal existente estereotipado. Na situação a que me referi,
O paciente coloca o acabara por repetir a ação quando lhe pedi para posicionar sua carteira
(D círculo amarelo no no mesmo lugar no qual se encontrava o cinzeiro; ela deveria retirá-
encontro (l). lo para colocar a carteira. Sua compreensão foi imediata: "Já sei por
O entrevistador que você me sugeriu isso; porque eu faço o mesmo: ao não deixar de
fazer as coisas de determinada maneira, não posso começar a fazê-
desloca o círculo
las de outra forma".
amarelo e o justapõe à
Também cabe ressaltar que a mostra com a intenção de
marginal circular,
facilitar a relação do sujeito consigo mesmo geralmente é realizada
retornando-o
pelo próprio sujeito, a qual, neste momento, aproxima-se da troca
imediatamente à sua de papéis (rol playing) - sem chegar a sê-lo - e facilita a experiência
posição anterior. vivencial.
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Clínica Psicopedagógica
Jorge l/isco
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Jorge Visco
Clínica Psicopedagógica
assumido é que o psicopedagogo deve intervir utilizando esses
recursos, como parte do jogo.
As situações nas quais utilizo, com maior frequência, esse
recurso acontecem quando o sujeito apresenta:
- percepção parcial da situação;
- negação do passado;
- falta de antecipação da situação futura;
- preparação para uma situação futura;
- falta de vivência para compreender um conteúdo.
É possível distinguir, também, a fonte de onde surge a
EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE
proposta de dramatização do paciente e do psicopedagogo.
Em termos gerais, a proposição de dramatizar por parte do
paciente dá-se em crianças pequenas; não como uma clara Laura Monte Serrat Barbosa
proposição, mas como uma situação espontânea de jogo. Sem dúvida,
isso lhe permite viver ativamente o que sofrera passivamente ou, de
certa forma, tomar consciência de fenómenos intrapsíquicos ou
interpsíquicos.
Em compensação, com os pacientes de mais idade, a
proposta geralmente surge do psicopedagogo, pelo menos nas UMA CONVERSA
primeiras oportunidades, até que o entrevistado relaxa e passa a
apreciar essa forma de recurso. Escrevo este capítulo pensando em um diálogo meu com a
Quero acrescentar que esse recurso pode adotar distintas Epistemologia Convergente, apresentada por Jorge Visca como
modalidades, as quais podem se dar com ou sem objeto suporte para sua proposta de ação psicopedagógica. A
intermediário: Psicopedagogia na ótica da Epistemologia Convergente nasceu do
a) sem troca de papéis e sem reflexão posterior; desejo de compreender o processo de aprendizagem por meio de
b) sem troca de papéis e com reflexão posterior; dois olhares necessários: o que olha para a subjetividade
c) sem troca de papéis, com reflexão posterior e repetição (Psicanálise) e aquele que olha para a construção de estruturas para
do papel; conhecer (Psicogenética). Além disso, essa construção sofreu
d) com troca de papéis e sem reflexão posterior; influência do que Pichon-Rivière chamou de "interciência" e, em
e) com troca de papéis e com reflexão posterior; alguns registros, de "epistemologia convergente".
f) com troca de papéis, reflexão posterior e repetição de É o próprio Visca quem comenta sobre essa influência, em
papéis. seu livro Psicopedagogia: Teoria, Clínica e Investigación:
Essas modalidades, invariavelmente, estarão condicionadas
tanto pelos aspectos cognitivos, quanto pelos afetivos, os quais Mesmo o modelo da epistemologia
vão desempenhar um papel fundamental no que se refere à convergente sendo o resultado de observações
possibilidade, ou não, de implementar uma instância reflexiva. clínicas no campo psicopedagógico à luz de
algumas contribuições de certos autores
mencionados previamente, não se pode deixar
de mencionar que a primeira ideia foi o produto
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógíca
da influência de dois autores que não são da a contradição; além disso, é preciso compreender que o conhecimento
escola piagetiana: Enrique Pichon-Rivière e José "é, ao mesmo tempo, prometido em novos desenvolvimentos e
Bleger (VISCA, 1993, p. 29- 30, tradução nossa). condenado ao inacabamento" (MORIN, 1996, p. 30). A invenção no
pensamento e na criação transgride a lógica, e isso é possível porque
Naquele momento, para superar o paradigma de disjunção não é o pensamento que se encontra a serviço da lógica, e sim o
do qual fala Morin (1996), Pichon-Rivière, uma personalidade contrário. Para concluir sua reflexão sobre os problemas relacionados
inquieta, propõe a Epistemoiogia Convergente na introdução de ao conhecimento, o autor aborda:
sua obra Do Psicanálise à Psicologia Social. Visca considerou uma
expressão do que era a linha mestra de seu pensamento: [...] um paradigma é um tipo de relação
muito forte, que pode ser de conjunção ou de
A síntese atual destas indagações pode disjunção [...] A noção de paradigma é, ao
apontar para a postulação de uma mesmo tempo, linguística, lógica, ideológica: é
epistemologia convergente, segundo a qual as uma noção nuclear. Assim, o âmago do
ciências do homem referem-se a um objeto paradigma de simplificação, que guiou a
único: "o ser humano em situação", suscetível a ciência clássica, é o primado da disjunção e da
uma abordagem pluridimensional (PICHON- redução (MORIN, 1996, p. 31).
RIVIÈRE citado por VISCA, 1993, p. 30, tradução
nossa). Foi justamente para superar esse primado de disjunção e de
redução que, a meu ver, Jorge Visca propôs uma epistemologia
Essa proposta de Pichon-Rivière é ousada e é uma indicação, convergente como base do conhecimento do processo de
assimilada por Jorge Visca, para uma nova forma de ver o ser humano aprendizagem e da proposta de intervenção nas dificuldades de
em sua condição de ser e estar situado, fazendo parte do movimento aprendizagem. A disjunção leva a várias dificuldades de
do seu contexto. Isso que pede um novo olhar; não um olhar aprendizagem e a possíveis soluções, como se as causas fossem
classificatório de fenómenos, mas curioso, que dialoga com as várias únicas e lineares, assim como as soluções; a redução faz com que
áreas do conhecimento e com as questões presentes na situação. cheguemos a uma abstração supondo que a presença de uma
Esse olhar recupera o respeito pelas diferenças construídas na dificuldade específica requer sempre a mesma forma de
história de cada um, de cada cultura, de cada continente, sem perder intervenção, construindo-se, pois, uma abstração que anula a
de vista o múltiplo, o todo presente nas relações e as contradições diversidade.
emanadas. É importante frisar que convergência, aqui, não é proposta
Além desse diálogo com a Epistemologia Convergente, como a junção dos iguais, como a mistura de uma mesma massa ou
proponho uma conversa com a epistemologia complexa, proposta como um simples ponto de encontro, mas sim como um encontro
por Edgar Morin ao estudar o conhecimento, pois encontro pontos das diferenças - dos diferentes conhecimentos que ajudam a olhar
de conexão entre as duas e acredito que este diálogo pode ser para o ser humano situado e das diferenças que se revelam como
frutífero. consequência desse olhar, permitindo entender a presença das
Para entendermos melhor o avanço de uma epistemologia distintas possibilidades de cada um colocar-se no mundo.
convergente, gostaria que o leitor participasse desse diálogo e A convergência, portanto, leva à utilização de distintos
pensasse sobre o que aborda Edgar Morin (1996), ao discutir o conhecimentos para a compreensão de um fenómeno e, neste caso,
conhecimento na atualidade. Segundo ele, o conhecimento vai além o da aprendizagem e suas dificuldades. Esses conhecimentos
da lógica e, na sua exploração e construção, é necessário enfrentar reúnem-se para produzir algo novo, nova percepção, novo espaço
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Jorge Visca Clínica Psicopedagógica
para ser e para estar, novas combinações para construir, com seu tempo e do seu espaço; o conhecimento dos princípios da
diferentes elementos, ferramentas que possam levar à compreensão policausalidade nas dificuldades para aprender; a compreensão da
do aprendiz e de sua aprendizagem. articulação entre um sujeito situado, histórico e o contexto do qual
Uma epistemologia convergente, conforme essa faz parte, seja ele natural, social, simbólico, espiritual, do
compreensão e construção, sob minha ótica, requer uma visão que conhecimento etc.; o conhecimento das áreas que aprofundam os
supera a espiral de evolução apenas ascendente; sem deixá-la de estudos das distintas dimensões que constituem o aprendiz; o
lado, introduz a ideia de rede de conexões das instâncias que se desenvolvimento de técnicas que atendam ao aprendiz em vários
encontram separadas. Penso numa imagem que represente tal âmbitos - do indivíduo, do grupo, da instituição; a compreensão do
pensamento: uma espiral em três dimensões, em que, a cada volta, aprendiz, considerando-se o âmbito da comunidade, e seus códigos,
fazem-se articulações a partir das contradições que "saltam" durante além do âmbito da cultura - uma cultura capitalista, consumista e
o processo de desenvolvimento, formando redes internas nas quais globalizante, no nosso caso.
aparecem explosões, implosões, espaços preenchidos, espaços Já em seu segundo livro traduzido para o português,
vazios, sentimentos, compreensões, erros, acertos e tudo que possa publicado no Brasil, Visca trouxe à baila essa questão:
aparecer no estudo de um ser humano situado.
Segundo Morin (1996), a questão do conhecimento pede a Anteriormente, Psicopedagogia
realização de um circuito para fazer comunicar instâncias separadas; significava o conhecimento e o estudo do sujeito
porém, ele afirma que esta não é uma tarefa individual, mas individual, enquanto Educação significava o
necessita do encontro e da articulação de todos os investigadores conhecimento da comunidade, da sociedade.
que permanecem nos domínios disjuntos do conhecimento. Numa Eu acredito que, naquele momento, por motivos
manifestos e latentes, fez-se uma divisão,
escala menor de abrangência, podemos dizer que a Epistemologia
porque conhecer verdadeiramente como o
Convergente no estudo da aprendizagem requer a presença da
sujeito aprende é um conceito revolucionário,
competência de várias áreas do conhecimento para possibilitar o no sentido de aceitar o sujeito como ele é, fazer
olhar dinâmico ao aprendiz e à aprendizagem, que também são com que esse sujeito aprenda, de verdade, não
dinâmicos. fazendo de conta. Isso significa uma
Não se trata de termos um psicopedagogo psicanalista, nem modificação, no sistema e na educação, muito
um psicopedagogo psicólogo social e tão pouco um psicopedagogo grande (VISCA, 1991, p. 14).
psicólogo genético, mas sim um psicopedagogo que possa articular
os saberes da Psicanálise, da Psicologia Social e da Psicologia Nesse diálogo, trago outras afirmações de Visca, em uma
Genética, e de outras áreas como a Antropologia, a Filosofia, a entrevista que introduziu o livro Psicopedagogia: Novas Contribuições,
Neurociência, visando à compreensão do aprendiz num outro nível, a fim de que o leitor possa perceber o quanto ele se encontrava a
para além da patologização. A patologização decorre, pois, de um frente de seu tempo. Apesar de utilizar as palavras, criticadas hoje em
paradigma de disjunção, que fragmenta, que "dis- situa", que dia, como "sujeito" (por significar aquele que se sujeita) e "paciente"
classifica e que propõe a cura sem considerar as diversas (que traz a significação daquele que precisa ter paciência com sua
combinações possíveis nas redes internas de cada aprendiz e na dificuldade), ele colocava a questão da aprendizagem como algo muito
sua articulação com as redes externas a ele. mais abrangente do que aquilo que consta em muitos fazeres e
Nesse sentido, precisamos de uma Psicopedagogia capaz de concepções educacionais e/ou psicopedagógicas existentes
desenvolver uma formação pontual de seus profissionais, atualmente. São como avanços que ainda precisam acontecer, de fato,
possibilitando: a compreensão do aprendiz como emergente do em muitas formas de atenção psicopedagógica.
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Clínica Psicopedagógica
Jorge Visca
competência; está em que a desenvolva o Foi isto o que me encantou na Epistemologia Convergente:
suficiente para articulá-la com outras aprender algo passível de ser sentido, percebido, vivido,
competências que, ligadas em cadeia, reconhecido, e poder ir além.
formariam o anel completo e dinâmico (MORIN, Visca, em sua trajetória como aprendiz, viveu muitos
1996, p. 33). percalços e, apesar de ter sido atraído à faculdade de Ciências da
Educação e à formação em Psicopedagogia a partir da série de
Visca não se fechou como uma ostra; pelo contrário, fez a situações que evocavam suas dificuldades de aprendizagem e do
mala e saiu pelo mundo para contar a respeito de suas ideias, atendimento individualizado para compreendê-las e corrigi-las,
descobertas e ações, ao mesmo tempo em que continuou sua práxis postulou um caminho que foi além, mostrando uma preocupação
psicopedagógica no âmbito do indivíduo, do grupo, da instituição e mais ampla em relação às dificuldades para aprender.
da comunidade. No prefácio de seu segundo livro, Psicopedagogia: Novas
A sua ação psicopedagógica foi construída apoiando-se em Contribuições, Visca escreveu:
três níveis de abordagem: o metacientífico, ou filosófico, que traz a
convergência de conhecimentos como uma necessidade para a Eu acredito que este livro é muito
compreensão do processo de aprendizagem e do aprendiz como importante para a Psicopedagogia porque os
ele é; o científico que traz a síntese, resultado de uma discussão artigos abordam uma dimensão diferente: não
dialética entre os conhecimentos convidados a convergir para a mais restrita à clínica psicopedagógica, mas
leitura das diferentes situações de aprendizagem, sobre a qual ele estendida à utilização da Psicopedagogia no
construiu uma matriz de pensamento que fundamentou sua prática macro sistema, para ajudar a comunidade em
e seu olhar; e o técnico, responsável pelo desenvolvimento do geral nas suas necessidades de aprendizagens
instrumental necessário para que a proposta teórica pudesse tornar- (VISCA, 1991, p. 16).
se visível e revelar o grau de coerência existente entre a teoria e a
prática. Entendo que essa foi uma ampliação para colocar-se o foco
na aprendizagem, e não mais, apenas, nas dificuldades e nos
transtornos. De certa forma, este primeiro trabalho publicado no
Brasil foi sendo atualizado durante todo percurso de Visca junto a
O ENTRELAÇAMENTO ENTRE TEORIA E PRÁTICA nós que, embora pequeno, foi muito produtivo e fecundo.
Visca produziu conhecimento na tentativa de desvendar
Como aprendiz da Epistemologia Convergente, digo que o novos caminhos a serem seguidos nos diferentes âmbitos de ação
grau de coerência entre o que era proposto e seus efeitos foi psicopedagógica: o indivíduo, o grupo, a instituição, a comunidade
bastante visível em minha aprendizagem e na de meus colegas. A e a cultura - pretendendo incentivar estudos e investigações que
formação em Psicopedagogia fundamentada na Epistemologia promovessem o avanço da Psicopedagogia. Eu mesma presenciei
Convergente foi o período mais fecundo de todo meu processo de empreitadas e tentativas importantes, envolvendo empresas
aprender. O conhecimento não vinha fechado; pelo contrário, era multinacionais, para desenvolver projetos amplos relacionados a
colocado na roda para ser questionado de todas as formas, diferentes culturas como, por exemplo, dos índios do Paraná e dos
complementado, considerando-se as diversas realidades, negros da Bahia.
desconstruído e construído a partir dos conhecimentos e Visca construiu instrumentos importantes para a compreensão
experiências prévias das pessoas que ali se encontravam em do "aprendiz como ele é". Em um de seus livros, relata-os
processo de aprender. denominando-os como modelos, aos quais eu me refiro como
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Jorge Visca Clínica Psicopcdagoqii n
construções, já que a palavra modelo em nossa língua remete à movimento; EMCA-Entrevista Modular Centrada na Aprendizagem,
reprodução e ao fechamento. A meu ver, são ferramentas que nos criada por Elizabeth Carvalho da Veiga para observar a utilização
colocam em caminhos para além da patologização; são seis das várias inteligências pelo aprendiz, individual ou grupai; EOFa -
construções que nos encaminham em direção à compreensão do Entrevista Operativa Familiar, criada pela Equipe da Síntese, Grupo
processo de aprendizagem de pessoas, grupos, instituições e de Estudos da Aprendizagem, que objetiva compreender e levantar
comunidades e à intervenção psicopedagógica mais adequada para hipóteses sobre a aprendizagem familiar, individual e suas relações.
cada aprendiz. Essa é uma pequena amostra de como a EOCA, somente na
Sua primeira construção - o Esquema Evolutivo da cidade de Curitiba, trouxe a possibilidade de um olhar especial para
Aprendizagem - é primorosa. Nele, Visca mostra que a evolução da compreender o aprendiz em situação de aprendizagem, o aprendiz
aprendizagem acontece num processo contínuo de relação do situado, seja ele uma pessoa, um grupo ou uma instituição. Visca
sujeito com o mundo, o que possibilita a ele a constituição das (1991, p. 37) propõe a EOCA como um avançado substituto das provas
dimensões que comporão a condição de um ser capaz de aprender. pedagógicas, para a compreensão do aprender de um indivíduo.
Esse esquema não traz nenhum indicador de patologização, Por meio dela, identificamos indicadores do processo de
mas sim é traduzido em instrumento que ajuda na compreensão da aprendizagem que vão além da simples técnica passível de ser
história de aprendizagem de um determinado aprendiz. Desde o percebida numa prova pedagógica. No entanto, resta uma questão:
momento em que nasce até a entrada na instituição educacional, o Por que será que tantos psicopedagogos ainda insistem em colocar
aprendiz é visto como alguém que interage e aprende, ao mesmo as provas pedagógicas nos diagnósticos que realizam e dizem-se
tempo em que aprende e interage em diferentes níveis de fundamentados na Epistemologia Convergente?
complexidade relacional e de aprendizagem. Mostra que cada nível A Matriz Diagnostica do Pensamento é outra criação de Jorge
interfere na construção do seguinte e é construído a partir do Visca que merece destaque por diferenciar-se de outras propostas
anterior, num verdadeiro percurso histórico. Nesse percurso, é diagnosticas a partir da descrição da situação contextuai; ou seja,
possível localizar a génese e a evolução das aprendizagens: parte da leitura do aprendiz e de sua aprendizagem para chegar à
vinculares, de valores, assistemáticas e sistemáticas, o que pode descrição e à explicação histórica, passando pela análise dos
nos instrumentar para a compreensão de um processo de aprender indicadores de aprendizagem e de dificuldades de aprendizagem,
e das dificuldades ou transtornos que possam aparecer em seu pela explicação dos mecanismos que o aprendiz utiliza para
decorrer. aprender, destacando também os desvios e assincronias. Além do
A Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem - a famosa diagnóstico propriamente dito, todo estudo leva a uma previsão a
EOCA - foi considerada uma de suas mais ricas construções para a respeito da evolução do processo de aprendizagem e a possíveis
compreensão do funcionamento de aprender, e vários profissionais indicações; neste aspecto, não se diferencia muito de outros
apoiaram-se em seu mecanismo e fundamento para construir outros processos diagnósticos.
instrumentos importantes à prática psicopedagógica: EOCMEA - Outra criação sua foi o Processo Diagnóstico. Por se apoiar na
Entrevista Operativa Centrada na Modalidade de Ensino e Matriz Diagnostica do Pensamento, em vez de iniciar pela Anamnese,
Aprendizagem, criada por Simone Carlberg como instrumento de que levanta a história do aprendiz, inicia pela EOCA, que permite a
levantamento de hipóteses da aprendizagem da instituição; EOCA descrição da situação contextuai e o levantamento das hipóteses
Motora - Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem Motora, sobre o modo como aquele aprendiz aprende. Todo o processo
criada por Mari Angela Calderari de Oliveira e Maria Silvia Bacila diagnóstico é desenvolvido a partir do Primeiro Sistema de Hipóteses
Winkeler com o objetivo de observar e levantar hipóteses sobre o que surge da aplicação da EOCA, o que caracteriza o plano científico
funcionamento da aprendizagem individual por meio do da proposta de Visca, pois os instrumentos escolhidos para a pesquis.i
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Jorge Visca Clínica Psicopcdaqtitin u
da aprendizagem de um aprendiz são sempre decorrentes da que um indicador de dificuldade para aprender pode possuir como
observação do sujeito em situação de aprendizagem. É um processo causa histórica desde uma conduta reativa até um quadro psicótico,
diagnóstico personalizado e extremamente dinâmico que exige do ou mesmo causas orgânicas ligadas a síndromes, distúrbios
psicopedagogo uma capacidade de observação apurada e uma metabólicos, disfunções neurológicas e outros.
investigação criteriosa. Nosológico é um termo que, em português, refere-se à
O Processo Corretor é outra das suas criações fundamentadas classificação de doenças. Como o quadro que apresenta é
em uma epistemologia convergente. Também é muito diferente nosológico, retratando as várias possibilidades de causas de
de outros processos, utilizando-se de recursos psicopedagógicos dificuldades para aprender, Visca não aprofundou o estudo referente
de caráter objetivo e subjetivo: traz a Caixa de Trabalho, como às causas de caráter cultural, por entender que as mesmas não são
recurso de intervenção psicopedagógica de caráter objetivo, e patologizantes. Em suas aulas, dizia que os obstáculos
apresenta recursos psicopedagógicos de caráter subjetivo que são epistemológicos não eram patologizantes, mas eram os mais comuns
utilizados na interação do psicopedagogo com o aprendiz. O na análise das dificuldades de aprendizagem.
processo corretor não propõe nenhum tipo de treino, nem uso de Visca construiu esse modelo sobre um modelo médico, ao
metodologias específicas para cada tipo de dificuldade. Cada qual, provavelmente, teve acesso na época. Mesmo havendo todo
aprendiz é visto na sua especificidade, e a Caixa de Trabalho é um esforço de sua parte para ampliar o alcance da Psicopedagogia,
organizada a partir do perfil de cada um; além disso, as intervenções os termos dos quais se utiliza para explicar e descrever o processo
não são programadas previamente, mas surgem da situação que se de conhecer e aprender dos aprendizes podem remeter os
apresenta. Por isso, mais do que usar uma técnica ou um método, o desavisados à doença. Embora a estrutura desse instrumento seja
psicopedagogo, nesta concepção trazida por Visca, precisa aprender fantástica, pois nos faz partir da situação para a história e da história
a ler situações e situados, precisa desenvolver uma concepção de para compreender a situação, muitos estudiosos criticam-no por
mundo, de ser humano, de educação e de aprendizagem. não conhecerem o suporte que ele pode dar para a compreensão
A sexta construção de Visca diz respeito ao Quadro do aprendiz e sua aprendizagem.
Nosológico, o qual resume a compreensão da aprendizagem e das Creio que possamos desenvolver um estudo para que, em
suas dificuldades partindo do que podemos observar, passando pela vez de ter somente um quadro nosológico que, indiretamente,
identificação dos possíveis obstáculos e mecanismos que levam remete à doença, tenhamos, também, um quadro de análise da
àquela forma de aprender, ou não aprender, até chegar às causas aprendizagem que nos remeta aos diferentes estilos de aprender,
históricas que podem ser identificadas tanto no âmbito do organismo às estratégias utilizadas pelo aprendiz, às suas diferenças funcionais,
biológico, como no nível psicológico. cujas causas históricas remetam-nos aos âmbitos cultural,
O que desejo, nesse capítulo, além de ratificar a importância comunitário, institucional, grupai e individual, em direção à saúde.
e a seriedade do trabalho desenvolvido por Jorge Visca, é propor Em nossa prática psicopedagógica, introduzimos
uma parada para analisar o Modelo Nosográfico, que se traduz no instrumentos que possuem essa função. A Entrevista Operativa
Quadro Nosológico, a fim de colocar o foco em alguns detalhes, os Familiar - EOFa - leva-nos a conhecer as crenças e os valores da
quais eu considero importantes para a "despatologização" da família, sua forma de comunicação e de aprendizagem, para
aprendizagem e da prática psicopedagógica. Essa criação pode levar compreender a forma de aprender do aprendiz e suas facilidades e
à crença de que dificuldades para aprender são patologias, dificuldades; a Observação do Aprendiz em Situação de
justamente por ter a intenção de analisar as causas atuais das Aprendizagem Escolar dá pistas sobre a forma como se ensina e
dificuldades de aprendizagem que possuem potenciais para serem aprende naquela instituição, assim como sobre as possíveis relações
patologias, ao que Visca chamou de patologizantes. Visca mostra com a forma de aprender de um determinado aprendiz.
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Se as questões ligadas à cultura fizessem parte do quadro, se dois desafios principais e indissociáveis:
ele não fosse apenas um quadro nosológico, penso que haveria aperfeiçoar os resultados alcançados e abordar
mais chances para que os indicadores de dificuldades para aprender as eventuais provocações do futuro (VISCA, 1999,
não fossem somente lidos a partir de causas potencialmente p. 03-04).
patológicas.
Visca também tinha esta preocupação: no quadro auxiliar Nosso desafio tem sido lutar contra uma visão apoiada num
que apresentava durante nossa formação, trazia um espaço para o paradigma disjuntivo que fragmenta o aprendiz, fragmenta o
registro do obstáculo epistemológico, o obstáculo de caráter conhecimento a ser aprendido e fragmenta a compreensão do processo
cultural. Infelizmente, pelo menos aqui em Curitiba, ele foi de aprendizagem. Nosso desafio tem sido trazer à discussão um
deturpado, e a dimensão cultural foi substituída por uma dimensão paradigma de conjunção, por meio do qual podemos articular
pedagógica, o que reduz e simplifica o único e principal elemento conhecimentos, compreensões, diferentes leituras e contribuir para a
do estudo dos obstáculos à aprendizagem que pode fortalecer uma compreensão da aprendizagem como um processo que pode se
Psicopedagogia não patologizante. O âmbito da cultura pode diferenciar, dependendo do aprendiz, da sua história, do contexto com
explicar a mudança no processo atencional, a inquietação e muitas o qual interage, da cultura na qual está mergulhado e, principalmente,
condutas que têm sido construídas na relação com a cultura do da relação que estabelece com este mundo tão dinâmico.
instantâneo, do efémero, do consumo e do descarte, além de A génese de nossa prática psicopedagógica situada na
possibilitar uma leitura diferenciada daquela que diagnostica, Epistemologia Convergente permitiu algumas construções, as quais
trarei apenas como testemunhas de que é possível manter viva
classifica e medica.
uma concepção e atualizá-la por meio de discussões e de práticas.
Não vou aprofundá-las, pois este não é o fórum apropriado, uma
vez que este livro é do nosso mestre, e não é nosso.
Além dos dois instrumentos inspirados na EOCA criada por
EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE - NOVAS PROPOSTAS
Visca, a EOCMEA e a EOFA, a Equipe da Síntese desenvolveu outros
[...] outra meta da Psicopedagogia, em estudos, tais como a sistematização das Atitudes Operativas, o
geral, e da Epistemologia Convergente, em desenvolvimento de um instrumento chamado Observação
particular, é a de fundar núcleos de assistência, Operativa, o uso da consigna como um instrumento capaz de
docência e investigação que socializem, desenvolver a operatividade no aprendiz; realiza a Ciranda de
democratizem e humanizem o nosso fazer Educadores, no mínimo uma vez por ano, desde 1999, para estudar
psicopedagógico (VISCA, 1999). e discutir temas da contemporaneidade - mídia, disciplina, limites,
consumo, sexualidade, dependência, valores humanos, a pedagogia
É nítida a ampliação que Visca faz da visão inicial, mais voltada e a lei, entre outros; pesquisa junto a uma universidade, desde
para a ação no espaço do consultório, indo para além do indivíduo e 2005; mantém grupos de estudos, sendo um deles atrelado à ação
da sua dificuldade. Portanto, é na direção dessa ampliação que comunitária; oferece um curso livre de Formação em Teoria e Técnica
caminham os esforços de seus alunos, agora profissionais que lutam de Grupos Operativos, um curso de Aperfeiçoamento em Clínica
pela atualização desse olhar tão ousado. Psicopedagógica fundamentado na Visão Sistémica e na
Epistemologia Convergente, um curso de Coordenação de Grupos
O fazer psicopedagógico no terceiro de Aprendizagem; estuda sobre o sujeito cognoscente e s u.r,
milénio - também visto na perspectiva da elaborações simbólicas, a partir do livro de Maria Cecília de Almeida
Epistemologia Convergente-traz conjuntamente e Silva, que também foi aluna de Visca.
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Clínica Psicopedagógica
Jorge Visca
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