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'Não há mais acordo entre arte e espectadores', afirma Jacques Rancière - Aliás - Estadão 18/07/2020 12:30

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'Não há mais acordo entre


arte e espectadores', afirma
Jacques Rancière
Filósofo francês conta que recusou a especialização do conhecimento,
compara política à arte e fala sobre modernidade em entrevista exclusiva

Daniel Augusto*, Colaboração para o Estado de S. Paulo


11 de março de 2017 | 16h00

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O francês Jacques Rancière se tornou filósofo para evitar a especialização do


conhecimento Foto: Ulf Andersen/Aurimages/AFP

“Eu me tornei filósofo um pouco por acaso”, conta Jacques Rancière em


sua casa. Quando jovem, hesitou entre a filosofia e a literatura, mas
acabou optando pela primeira porque se julgava “menos especialista”.
Contou para sua decisão a figura de Louis Althusser, filósofo que provocou

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sua geração a “uma certa superação em relação ao conforto intelectual”. A
soma desses motivos pode ser uma das entradas para compreender seu
itinerário: “Trabalhei toda a minha vida preferencialmente sobre as
bordas”. Fez-se, assim, um crítico dos limites que estabelecem o que é
filosofia, literatura, ciência, ideologia. Ou um filósofo que desenvolve
conceitualmente a dialética do saber e do poder (tal como Alain Badiou
certa vez o descreveu).

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Incertezas Críticas - Jacques Rancière, de Grifa Filmes

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Tais características de Rancière têm um possível marco inicial: o Maio de


1968, período de uma crise da noção de autoridade na França. Nessa
perspectiva, o título de um do seus livros, O Mestre Ignorante, já é

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sugestivo, assim como sua defesa do amador quando fala de cinema: “O


amadorismo também é uma posição teórica e política, a que recusa a
autoridade dos especialistas”. Ou seja, a posição do “menos especialista” é
um modo de escapar dos constrangimentos do poder, desobstruir o saber
e recolocar o debate em outros termos. Numa palavra: é ser fiel à
inquietude de 1968.

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Rancière, um dos filósofos da série Incertezas Críticas, produzida pela


Grifa Filmes, cuja segunda temporada irá ao ar em maio no Canal Curta,
começou “como estudante marxista, defendendo os direitos da ciência
contra a ideologia”, mas passou das ciências humanas para o estudo das
fronteiras que as compõem, uma vez que “a ciência já foi usada como um
modo de implementar uma distribuição dos seres humanos”. Trata-se de
algo que o filósofo constatou, por exemplo, quando se tornou “uma
espécie de historiador, mergulhado nos arquivos operários”. Nessa
investigação, observou como “a questão para os operários que procuravam
emancipar-se era a de sair de um mundo onde deviam agir como

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operários”. A observação, que parece restrita à classe estudada, tem


alcance mais amplo: afinal, nossos atos não estão restritos a certas formas
de organização do sensível?

Um dos livros centrais para compreensão da questão é A Partilha do


Sensível, no qual ele se propõe a falar da relação entre estética e política.
Trata-se de uma relação que mais de uma vez resultou numa
sobrevalorização da política e num rebaixamento da arte, uma vez que o
senso comum geralmente vê a política como “governo das coisas sérias, as
decisões importantes, a gestão do Estado”, ao passo que a arte seria “algo
um pouco mais para o lado da contemplação”. Na visão do filósofo, essa
perspectiva é equivocada: “a política é feita com palavras, imagens,
maneiras de ocupar os espaços, com escansões do tempo. É uma maneira
de criar algo como uma cena comum ou um mundo comum”. Assim, há
um ponto onde arte e política se encontram “aquém delas mesmas”, uma
vez que, em ambas, “usamos palavras, gestos, imagens, espaços e tempos
são separados”.

Rancière também está atento como muitas divisões da história da arte


foram recortes nos quais se tentou diferenciar uma mesma humanidade.
Antes do século 17, por exemplo, “existiam conceitos que diziam por que e
como as obras podiam ser belas. Definiam-se regras e, ao mesmo tempo,
se pressupunha uma espécie de acordo entre elas e o prazer do
espectador”. Tais regras remetiam “ao gosto e à sensibilidade de um
público de elite muito particular”. No século 18, porém, isso mudou: “não
é mais tanto a questão de definir as artes com regras, mas sim definir um
mundo da arte”. O ponto de passagem é registrado por Kant, quando ele
diz que “o belo é o que apraz universalmente sem conceito”. Ao que
Rancière completa: “não há mais acordo entre as regras da arte e as da

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emoção dos espectadores”.

Para ele, um caso produtivo para observar tal mudança é Flaubert. Antes
dele, dizia-se que existiam “temas apropriados à arte, porque são nobres”,
assim como “formas apropriadas para esses temas”. Contrário a isso,
Flaubert propõe que “não há tema nobre ou vil”, ao mesmo tempo que
apresenta novas formas. Nas palavras de Rancière, “tudo acontece como
se houvesse uma relação entre a novidade artística e uma espécie de
promoção, que faz com que as pessoas comuns comecem a experimentar
sentimentos, aspirações que normalmente não lhe pertenciam”.

Hoje, para Rancière, o momento atual do regime estético das artes


caracteriza-se por uma relação singular entre arte e política: “tudo se
passa como se a arte tentasse repovoar o mundo com uma série de
manifestações que desapareceram da visibilidade”. Quando Godard
“convoca um pouco todas as imagens possíveis e imagináveis”, ele tenta
“reconstruir um mundo comum”. O momento atual da arte é uma
configuração da inquietação, da vontade de ser “menos especialista”, que,
num mundo dominado por algumas formas de organização do sensível,
pode ser a exceção que permite descortinar um horizonte melhor.

*Daniel Augusto é diretor de cinema, mestre em Literatura Brasileira e


doutor em Filosofia pela USP

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