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Pierre Guichard, as fontes falam de uma série de expedições terrestres, cujas marchas e
deslocamentos dos exército tem sido analisados por historiadores que tentam reconstituir o
movimento dos exércitos muçulmanos293.
Na perspectiva de Hugh Kennedy, a dominação muçulmana ocorreu em duas fases.
Uma primeira, marcada pela ocupação das cidades principais e pelas terras férteis ao sul da
Península Ibérica e o Levante, com alguns casos de colaboração da nobreza visigoda, como o
dos filhos de Teodomiro e Vitiza surgindo daí territórios semi-independentes (Mapa 6).
Excetuando a versão romance da crônica de Ar-Razi, as demais tratam do pacto feito com
Teodomiro, entretanto, vale destacar que poucos acordos similares foram fixados nas
narrativas árabes, o que temos, de uma maneira geral, são menções indiretas ou comentários
sobre revoltas de grupos muçulmanos cujos ancestrais eram cristãos. A segunda fase vincula-
se à conquista do Norte, região ainda sob o domínio de visigodos até o início de governo de
al-Samh (718-721), sendo a época em que acordos com a nobreza cristã foram efetuados no
vale do Ebro e em outros distritos remotos, como as montanhas ao norte de Málaga 294. Estas
possessões mais distantes do núcleo político periodicamente manifestaram movimentos
autonomistas, como veremos no decorrer de toda tese, tanto liderados pela aristocracia árabe,
como os textos árabes ressaltam, quanto cristãos convertidos, como a família Banu Qasi
citada nas primeiras crônicas de Reconquista.
A conquista da Península Ibérica tornou-se vantajosa aos muçulmanos. Inicialmente,
desejava-se manter algumas guarnições, a exemplo de Kufa e Basra no Iraque, Fustat no Egito
e Qayrawan na Ifriqiya, aproveitando-se os muçulmanos dos impostos sobre a população295.
No caso ibérico, os muçulmanos instalaram-se como colonizadores e proprietários de terras, o
que indicaria o não pagamento das pensões aos conquistadores, como ocorrera no Oriente
Próximo296. Não havia surgido o funcionalismo que iria desenvolver o sistema de listas de
pensões297. A lentidão da sua criação no al-Andalus é um dado da ausência de uma cultura
-Rahman II
(822-852)298. Substituindo Sevilha, Córdoba tornou-se a capital da entidade política que
surgia, situando-se no centro de um entroncamento de rotas comerciais que ligavam de norte a

293
GUICHARD, Pierre. Al-Andalus 711-1492: Paris: Hachete
Littératures, 2000, p. 24.
294
KENNEDY, op. cit. 31.
295
Ibid., p. 34.
296
Ibid., p. 34-35.
297
Ibid., p. 35.
298
Ibid., p. 35.

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