Que espécie de estrutura de poder procuramos identificar e descrever no conjunto de
páginas que formam esta tese? É inegável que o estágio de desenvolvimento político circunscrito no período inicial de nosso recorte cronológico diferencia-se daquele alcançado próximo de seu termo. Ainda que a expressão reino tenha sido empregado indistintamente para o momento de atuação de Pelágio e para o período de governo de Afonso III, não podemos dizer que estamos tratando de uma mesma realidade política; ao contrário, logramos perceber um processo de complexificação das relações sociais e políticas nas Astúrias. Todavia, apesar das diferenças entre ambas as épocas, porque chamados de reino o território e as relações políticas desenvolvidas no seu interior? Conceitualmente, reino, regnum, deriva da palavra latina rei, rex, ou seja, aquele que conduz o seu povo. Partem do mesmo radical, reg-, regnum. Portanto, reino é a circunscrição territorial na qual o rei manda, comanda e governa. Isto cobre parte de nosso trabalho, mas não compõe nem metade dele, é apenas uma consideração inicial. Entre os anos de 711 e 718, a dinâmica política visigótica se viu terrivelmente comprometida com a invasão muçulmana liderada pelo general berbere Tariq Ibn Ziyad. A articulação das redes sociais e políticas construídas em torno da figura do rei visigodo foi suprimida. As regras do jogo político visigótico, que envolviam a cooperação, a resistência e a concorrência com o poder monárquico deixaram de existir como tais, sendo substituídas por outras modalidades de articulação que envolviam um alto grau de subordinação aos novos senhores da Península Ibérica. Desaparecendo o rei, desaparecia também o reino, juntamente com boa parte daquilo que o constituía. Por outro lado, como tivemos oportunidade de vislumbrar, a conquista muçulmana não se configurou na cristalização de um novo modus operandi político homogêneo, ao contrário, por longos anos os emires necessitaram reconhecer graus diversos de autonomia e submissão. No período inicial da ocupação, teve lugar um tipo de pacto ahd acordo que garantia a manutenção de privilégios da aristocracia do desaparecido reino, o que significou reconhecer a existência de uma série de potentados locais mais ou menos integrados sob uma instância superior. Naquilo que constituía o domínio direto dos muçulmanos, encontramos um mosaico territorial dividido entre berberes de diversas procedências, árabes citadinos e nômades, sírios, iemenitas, egípcios, coraixitas, clientes, escravos, uma gama incrível de subdivisões clânicas jamais encontrada em nenhuma outra parte do califado damasceno. E cada um destes grupos apreendia para si uma parte da Península Ibérica em oposição aos demais membros da