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2. OS PRIMÓRDIOS DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICA ASTURIANA:

2.1. Considerações iniciais:

Assumimos, como proposta primeira deste capítulo, a abordagem da formação da


entidade política que deu origem ao Reino das Astúrias. Para tanto, parece-nos de grande
valia a tentativa de desenvolver um diálogo produtivo com a Antropologia e com a
Sociologia, visando a aprimorar a nossa análise. O perfil mais teórico deste capítulo objetiva a
constituição de vias alternativas de análise para a formação da monarquia asturiana, iniciativa

impõe aos analistas o conteúdo ideológico das primeiras crônicas de Reconquista. O foco de
nosso estudo concentra-se na pretensa constituição de uma entidade política, a partir do ano
de 711, na região norte da Península Ibérica, tomando como uma das referências clássicas a
discussão da revolta de Pelágio contra os invasores muçulmanos.
Para a compreensão de tal fenômeno, será necessário dialogar com outras ciências e
com outras fontes até então não muito utilizadas. Compreendemos que esta empreitada não é
das mais simples, mas, mesmo assim, o anseio de propor uma outra visão estimula
consideravelmente nossa jornada. Procuraremos identificar outros epicentros do poder
nortenhos referidos nas fontes, fazendo notar, com isto, que a natureza da rebelião liderada
por Pelágio não é algo fora do comum, mas também não é fruto de um processo multissecular
de lutas contra inimigos estrangeiros, como propuseram Abílio Barbero e Marcelo Vigil201.
Parece-nos, antes de mais, que é preciso reconhecer, de forma mais efetiva, a complexidade
do processo histórico a que nos referimos. Por isto, temos a consciência de que muitas de
nossas especulações mantêm ainda uma forma embrionária, apesar de romperem em alguns
aspectos com as perspectivas produzidas e divulgadas na historiografia corrente. Buscaremos
apresentar uma outra visão, respeitando as contribuições daqueles que nos antecederam e que,
assim como nós, tentaram lançar alguma luz sobre um período bastante nebuloso.
Antecipando algumas proposições, a principal delas é que a chave para se
compreender a consolidação do reino das Astúrias sob Afonso III não se encontra na revolta

entidade política e territorial que linearmente produziu a monarquia sediada no trono de

201
FACI, Javier. La obra de Barbero y Vigil y la historia medieval española. In: DIONÍSIO PÉREZ,
María José Hidalgo, GERVAS, Manuel J. R. (eds.).
Ibérica: nuevas perspectivas. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 1998, p. 34.

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