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The study presented here brings a reflection about the political history, Political history
more specifically about its process of renovation, and the renewed
historiography proposed by the Annales movement during the nineteenth Annales
century in France. The political history nowadays makes use of an open
field which is hard to delimit its action field, its border area, but this is Historiography
not our interest. However, what is shown at present as a feature of the
methods and objects of the political history was not far from a stroke on
its way to discuss and demonstrate historical knowledge. Then, several
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questions can be done, but one of them is more relevant: how can this
new political history be understood? This article aims to contribute to the
historiographical debate surrounding the political history.
Edição nº 16 - Agosto/2011
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Mestrando em História pela Universidade Severino Sombra - USS, Especialista em História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense - UFF,
Graduado em História pelo Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
1. Introdução riamente dos indivíduos promovidos ao
46 papel de heróis ou de massa? De quem
O presente escrito é uma reflexão sobre tem poder e autoridade no Estado ou na
duas renovações no estudo de história, mais Igreja ou, ao contrário, dos campone-
precisamente em seus métodos, em sua forma ses, do proletariado, dos burgueses, da
de entender e analisar os fatos sociais, cul- população no seu conjunto e de todas
turais e políticos. Ambos os três de maneira as classes que a compõem? (LE GOFF,
relacionada sob o manto da história política. 2003: 17)
Tendo como material básico as publicações
de historiadores franceses como Le Goff e Corrente historiográfica que esteve liga-
Rémond, que proporcionaram tanto à disci- da intimamente às visualizações do poder no
plina história quanto à historiografia várias re- Estado, a historiografia política começou por
flexões sobre as problemáticas que carregava uma análise das pessoas importantes e de gran-
quando se tratava da história política, as linhas de poder na sociedade. Assim, era o alvo mais
aqui apresentadas tratam dessa renovação. fácil e mesmo o ideal para historiadores que,
Uma renovação para além do movimento dos num dado momento, ansiavam por renovações
Annales, que, em síntese, trabalharemos para nos olhares da história, a ponto de marcar a
confrontar com a história política. Logo, exis- vida historiográfica com estudos que usavam
tem dois lados a serem distinguidos. como veículo uma revista e transformou-se
De um lado a “nova história”, surgida em um movimento. Nascia os Annales e com
pela via francesa da “Escola dos Annales”, ele uma crítica aos velhos métodos para o es-
tida como outra forma de se entender a histó- tudo da história.
ria – tanto a disciplina em si, quanto as práti- Se a história política foi alvo de críticas,
cas factuais do processo de estudo. Do outro, a que a bem da verdade auxiliaram em sua reno-
história política, corrente vista, a priori, como vação, ela soube também se apropriar de mui-
amálgama dos problemas historiográficos – tas características de outros campos do saber,
geralmente relacionada como forma ultrapas- a exemplo de seus contatos com a economia, a
sada e a ser superada de se entender a história psicologia e o que hoje chamamos de ciência
e praticar os métodos historiográficos nas aná- política. Uma história que se tornou relevante
lises da sociedade. Portanto, repensar nossos para as ciências humanas não deve ser alvo só
métodos é tarefa frequente. Para historiadores, de revisões e de um alto grau de criticidade,
a história não poderá nunca estar fechada em mas deve reconhecer também o que os histo-
si e somente para si, deve ter os tentáculos de riadores do político fizeram para que seus ob-
polvo e alcançar sempre objetivos e públicos jetos fossem vistos pela sociedade como uma
cada vez mais distantes, unindo áreas do saber ferramenta utilizável na constante construção
do homem político, enfim, do homem em so-
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A história está sempre no centro das anexa aos conhecimentos de latim, retórica ou
controvérsias. De que assuntos deve a filosofia clássica, o ensino de história esta-
tratar? Os acontecimentos apenas, ou va calcado no âmbito das grandes narrativas,
também os desígnios da providência, os compostas basicamente pelas questões das
progressos da humanidade, os fenôme- causas, origens e consequências, como expli-
nos repetitivos, as estruturas? Deve pôr citou Weinstein (2003: 185). A problematiza-
tônica na continuidade ou, pelo contrá- ção dos fatos não era relevante para o debate
rio, nas revoluções, nas rupturas, nas sobre a vida em sociedade, sobre os homens
catástrofes? Deve ocupar-se priorita- e sua vivência na trilha social, seus percalços
em outros âmbitos sociais que não o econô- momento se contrapunha às experiências dos
mico; o homem comum estava excluído da historiadores tradicionais. 47
história e, logo, seus nomes e memórias não Marc Bloch e Lucien Febvre, através
entrariam no conhecimento repassado aos que da revista Annales. Economies. Sociétés.
do ensino se serviam, ou mesmo à história, Civilizations. agruparam em torno do novo
como disciplina. movimento, também citado como “nova his-
Com o advento de uma nova geração de tória” - um olhar sobre a disciplina que foi
historiadores franceses, a disciplina foi oxi- de encontro às antigas correntes historiográ-
genada e seus rumos sofreram uma guinada ficas, vigentes até aquele momento. Estas não
irascível. A “Escola dos Analles” inaugurou se vinculavam à vida cotidiana dos homens,
em meados de 1929 outra maneira de pensar importando apenas com os grandes fatos e os
o conhecimento histórico, bem como seus mé- grandes personagens, uma história conclusa
todos de pesquisa e ensino. Veremos a diante aos grandes feitos e às grandes narrativas, que,
como esse movimento influenciou as futuras ao contrário das novas propostas, afirmavam
gerações de historiadores, que, mesmo não es- que a história era um movimento quase que
tando em territórios franceses e fora do conví- inerte. Em contrapartida, os annalistès atesta-
vio dos “annalistès”, assimilaram a revolução vam “a história como uma ciência em marcha”
na historiografia que o movimento em questão (BLOCH, 2001: 21), ou seja, uma ciência em
proporcionou. A verdade é que mesmo com mutação; voltada “aos homens, à sociedade, às
algumas dificuldades causadas pelas novas crises momentâneas ou elementos mais dura-
proposições feitas pelos historiadores dos douros” (BLOCH 2001: 51), e por isso, dinâ-
Annales, ainda hoje colhemos os frutos de tal mica. Como destacou Rémond (2003), a his-
aperfeiçoamento da disciplina histórica, embo- tória política era a encarnação perfeita para a
ra reconheçamos que a história-disciplina con- contraproposta historiográfica realizada pelos
tinua a sofrer duros golpes de muitos dos que “novos historiadores”, aliás, toda nova escola
dela tiram seu sustento. Portanto, assim como necessita de um inimigo, para que tendo con-
Marc Bloch – um dos historiadores fundado- tra quem lutar, possa afirmar, por meio dessa
res dos Annales – travamos diariamente nosso batalha, seus novos argumentos e sua práxis.
combate pela história; muitas dessas batalhas
vão além da disciplina e dos seus processos
didáticos de ensino-aprendizagem, recaem so- 3. História política: uma corrente
bre a história como movimento incessante de antiquada?
dinamismo do mundo, na movimentação de
todos os fenômenos típicos da humanidade, e Correntes historiográficas são nada mais
na movimentação do homem em seu tempo. que possíveis histórias da história, reflexões
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Nosso combate vai além da história, é a sobre as “transformações da sociedade e as
batalha do homem, pelo homem, em seu re- modificações das ideias.” (RÉMOND 2003:
corte temporal, em sua luta cotidiana. 13). Portanto, o trabalho de um historiador que
Chamada de “a revolução francesa da pesquisa objetos mais intimamente ligados ao
historiografia” por Burke (1990) a “Escola econômico terá características distintas do his-
dos Annales” foi e ainda é a maior referência toriador que analisa dados de história cultural.
na modificação dos conceitos historiográficos Contudo, esses objetos, esses fatos, circulam
contemporâneos. Vista por muitos, inclusive sob a órbita de vários campos da história en-
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pelos seus fundadores, mais como um movi- quanto disciplina. Logo, o que a princípio é
mento do que como uma escola - ainda que político afeta o social, o cultural, o econômico
Guriêvitch (2003) compartilhe dessa ideia, res- e assim por diante, pois as relações no campo
salta também a posição de escola dos Annales, da história são como átomos agitados que per-
não no sentido institucional, mas no âmbito correm os mais variados caminhos e na estrada
de renovação e disseminação de um conheci- da história estamos em uma via de mão dupla,
mento, no caso, da ciência histórica - os an- em que os encontros e desencontros metodo-
nalistès propagaram pelo universo acadêmico lógicos são inevitáveis.
uma visão disciplinar da história que naquele
Nessa ótica, dizer que o estudo do políti- turais,” ora elas se retraem, ora se dilatam, ou
48 co influenciou e sofreu influências de muitos seja, permeiam outros domínios delimitando
outros campos da história é o óbvio. Porém, sua área de atuação, mas sem fixar territórios.
a análise dos objetos políticos, ou da política, Essa mesma história política que agora realiza
iniciou-se, como já observamos, com os olha- intercessão com outras áreas, outrora estava
res voltados para os grandes nomes da política, intimamente ligada às análises do econômico.
as instituições, o Estado, que perdurou durante Ela também nasceu muito próxima ao caráter
muito tempo como “objeto por excelência na do poder nas esferas econômicas, como bem
produção histórica”. (FALCON 1997: 65). Se se julgava a política como a busca pelo poder
com os gregos a história estava voltada para social. Segundo Falcon (1997) história e poder
as grandes narrativas, durante os séculos mais caminham juntos, sendo “irmãos siameses”,
recentes, algo em torno entre o XXIII e o XX ou seja, de difícil, ou impossível separação.
a guinada de seu leme foi modesta; tanto que Isso também demonstra uma problemática
na modernidade ainda tinha “o Estado como quando se trata da análise sobre a produção
objeto por excelência na produção histórica” do poder na oficina da história, pois há aí uma
(MOMMSEM apud FALCON, 1997). Isso fez equivalência entre o político e o poder exerci-
com que os métodos de história política fos- do. Nesse âmbito, inicia-se um percalço, visto
sem presa fácil para os “novos historiadores” que a análise do político perpassa pelas ques-
que iam contra a hegemonia do político em tões de poder, mas este não poderá encerrar as
história. Ela amalgamava todos os problemas características na análise da história política,
da história tradicional, era “factual, subjeti- já que esta não se delimita simplesmente pelo
vista, psicologizante e idealista” (RÉMOND, poder em esfera política.
2003: 18), enfim, todos os defeitos que a Se a história política possuía, em seu iní-
“nova história” procurava findar, a história cio, um viés muito acentuado quando a suas
política possuía em suas finalidades. Mas de análises do poder no Estado, ao decorrer dos
fato, esse não era um problema de má intenção anos, entre 1945 e 1968/1970, a crise final da
dos historiadores políticos. Estes – homens do história política se mostra como uma possibili-
seu tempo, que em si agrupavam as ideias e as dade de modificação nas estruturas dessa cor-
inclinações de sua época – só utilizavam da- rente historiográfica. De acordo com Falcon
quilo que ela podia oferecer e a própria políti- (1997), contribuíram imensamente para esses
ca se fazia como algo superficial. Entretanto, processos intelectuais os que vieram de fora
há uma tendência em se negar o conhecimen- da ciência histórica. Sociólogos, principal-
to de gerações anteriores para se fazer afir- mente como Foucault e Bourdieu, realizaram
mar a da geração contemporânea, como bem outra forma de análise do poder. Sob a ótica
cita Rémond (2003, p. 13), que “avanços se desses dois autores, de grande influência nas
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operam muitas vezes em detrimento de outro ciências humanas e sociais, o poder ganharia
ramo, como se todo avanço devesse ser pago um aspecto simbólico, ou seja, suas relações
com algum abandono, duradouro ou passagei- não estavam ad stricto ao político, enquanto
ro, e o espírito só pudesse progredir rejeitando alcance de poder estatal, mas esse poder re-
a herança da geração anterior.” Assim, a his- lacionava-se por entre as instituições sociais
tória política fora negada pelos novos historia- e suas maneiras de “pensar” e transmitir os
dores, como uma maneira arcaica e obsoleta valores institucionais em regras sociais. Daí
de se fazer história. Foucault ter um vasto material sobre diversas
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