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da História
Já vimos que a História não é uma ciência exata, mas é uma ciência humana,
sujeita a todas as incertezas e flexibilidades da natureza humana. Mas isso não
significa que ela não tenha como objetivo constante a procura da verdade. A
História, para ser escrita, não pode ser fruto de mera imaginação do
historiador... Se pudesse, ele não seria historiador, seria romancista, literato ou
novelista... A História precisa se basear em documentos, obtidos em pesquisas
sérias e bem conduzidas.
A História vem sendo escrita há muitos séculos, por pessoas muito diferentes
que têm, obviamente, critérios e impostações também muito diferenciadas. Daí
a extrema variedade de interpretações e enfoques que as narrativas históricas
assumiram ao longo dos tempos e continuam, na atualidade, sendo assumidas
pelos historiadores.
Mas eles têm uma liberdade muito ampla para analisar e interpretar os fatos
históricos, procurando respostas para muitas perguntas.
Dica do professor:
Você viu que, a propósito da viagem de Cabral ao Brasil, em 1500, várias
perguntas foram formuladas neste tópico. Muitas outras poderiam ser feitas.
Habitue-se a sempre levantar muitas perguntas, a respeito dos fatos históricos
que for estudando. Mesmo que você não saiba respondê-las, ou não tenha
elementos para respondê-las, o simples fato de ir levantando questões abrirá
seus horizontes e enriquecerá seu espírito. O valor de um intelectual se mede
muito mais pelo número de problemas que ele é capaz de levantar, do que pelo
número de respostas que ele é capaz de formular.
Tópico B - À procura de um sentido para a História: conceitos
de meta-história e teleologia histórica
Dica do professor:
Vamos, pois, ver como se formou a cultura, dentro da qual se inseriu, por força
da sua formação histórica, o Brasil.[2]
Aqui entra o elemento de Homero, a quem se atribui a autoria, nos séculos IX-
X a.C., das duas grandes epopeias (a Ilíada e a Odisseia) que condensaram
todos os valores e todos os modelos humanos que inspiraram a cultura grega
antiga e – como se verá adiante – mais tarde haveriam de fixar,
conjugadamente com a tradição do pensamento judaico-cristão, as bases do
pensamento de todos os tempos, senão da Humanidade inteira, pelo menos do
mundo ocidental.
Nos primeiros tempos, os gregos antigos não tinham escrita, de modo que as
duas epopeias homéricas eram transmitidas de geração em geração por via
oral, de memória, de cor. Com o surgimento e o desenvolvimento da escrita, a
educação grega se fazia sobre os livros homéricos. A paideia tinha como
objetivo preparar os jovens para ler e escrever os textos homéricos, e, por esse
meio, ler e entender a origem e a especificidade do povo grego. Em outras
palavras, não só para se autoconhecerem, mas para se autoconhecerem
enquanto gregos, distintos dos que não falavam grego e eram designados de
modo genérico, e um tanto depreciativo, como bárbaros.
Sócrates (c.469-399 a.C.), Platão (c. 428-348 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.),
cada qual a seu modo, foram os três filósofos máximos da Grécia Antiga e,
também, de toda a Humanidade, em todos os tempos. Eles se abeberaram dos
elementos da paideia, desenvolveram-nos, sistematizaram-nos, teorizaram-
nos, fixaram suas formas definitivas aplicáveis a todos os tempos. E ainda hoje,
milênios decorridos, é sempre nos três grandes mestres gregos que vamos
encontrar luzes para resolver a maior parte dos problemas profundos que
afligem a Humanidade.
Sócrates, como é bem sabido, foi mestre de Platão, que o foi de Aristóteles.
Sócrates nada deixou escrito, mas Platão, seu genial discípulo, divulgou suas
ideias, seu modo de pensar, especialmente sua dialética, seu sistema de
interrogar, sempre permeado de ironia, de ir fazendo com que o interlocutor
descubra, por si mesmo, o que pensa, como pensa, em que medida pensa. Ou,
pelo contrário, ir fazendo com que entre em contradição e acabe reconhecendo
seus erros. É o famoso parto das ideias, a maiêutica, característica do
pensamento socrático.
Não se sabe até que ponto Platão foi estritamente fiel, ao divulgar o
pensamento de Sócrates, até que ponto o reinterpretou e lhe incutiu sua marca
pessoal.
Se Platão foi mais generalista, idealista e utópico, seu discípulo Aristóteles foi
mais específico, sistemático, empírico e cientificista. Desenvolveu e
aperfeiçoou os ensinamentos socráticos e platônicos de um ponto de vista
diverso. Aristóteles era cientista, filho de médico e ele próprio estudou
medicina. Seu método era o estudo dos casos concretos e particulares para, a
partir deles, chegar ao conhecimento e formulação das regras gerais. Seu
pensamento era indutivo, ao contrário de Platão. Mas ambos se completam
admiravelmente. Em ambos se nota o mesmo equilíbrio fundamental da
natureza humana, o geral com o particular, o todo com as partes, a teoria com
a prática.
Sem Homero, não teria havido Sócrates. Sem Sócrates, não teria havido nem
Platão nem Aristóteles. Mas sem Platão e Aristóteles, talvez Sócrates fosse
lembrado apenas como mais um dos obscuros sofistas de seu tempo. A tríade
é inseparável. São, sem a menor dúvida, os três maiores cérebros da
Antiguidade clássica. Sem essa tríade, talvez Homero fosse mais um dos
incontáveis autores mitológicos esquecidos de todos. Foi a tríade que fez com
que o gênio de Homero fosse reconhecido e admirado em todos os tempos.
Heródoto (c.484-c.420 a.C.) escreveu uma obra constituída por nove livros,
geralmente designados como “As histórias de Heródoto”, nos quais narra, com
base em depoimentos dos lutadores, e em tradições orais, a invasão dos
persas na península grega, ocorrida na primeira metade do século V a.C.
Trata-se de uma obra extraordinariamente rica em pormenores interessantes e
que se lê com interesse e gosto ainda em nossos dias. Heródoto receberia, do
romano Cícero, a designação de “Pai da História”, a qual modernamente lhe
continua a ser atribuída, embora sua obra seja, de muitos pontos de vista,
criticada pelos seus elementos fabulosos e mitológicos, assim como pelo fato
de reproduzir depoimentos que aos olhos dos críticos parecem pouco
confiáveis.
Tucídides (c. 460-c. 400 a.C.) escreveu, ao que parece com mais rigor
documental do que Heródoto, uma História da Guerra do Peloponeso, da qual
participou ativamente. Nos oito livros constitutivos dessa obra, narra a Guerra
travada, no mesmo século V a.C., entre as poleis rivais de Atenas e Esparta.
Tanto o Antigo como Novo Testamento contêm livros de caráter histórico, que
um moderno historiador não eivado de preconceitos antirreligiosos pode e deve
tomar em consideração. Também é de grande interesse o estudo dos escritos
de Flávio Josefo (c.37-c.100 d.C.), historiador judeu que escreveu A Guerra
dos Judeus e Antiguidades Judaicas. No primeiro desses livros Josefo relata a
revolta dos judeus contra o domínio Romano, nos anos 66 a 70 d.C. e a
consequente destruição de Jerusalém pelas tropas de Tito, filho do imperador
Vespasiano e também ele futuro imperador. Josefo participou ativamente dessa
guerra e foi testemunha do cerco e da destruição da cidade e do templo. No
segundo livro, escrito já no final do século I d.C., Josefo traçou a história do
povo hebraico desde suas origens mais remotas até o início da revolta contra
Roma, usando como fontes não apenas os livros históricos da Bíblia, mas
também tradições orais judaicas de interesse para o estudo da História de
Israel e do próprio Cristianismo. Os dois livros costumam modernamente ser
publicados conjuntamente, com o título História dos Hebreus.
Roma, cidade da qual o Apóstolo Pedro foi o primeiro Bispo, se tornou a sede
do Papado e o centro vital e espiritual do Cristianismo em todo o mundo. O
Cristianismo teve igualmente, no mundo grego, enorme expansão e,
cristianizadas, Roma e Grécia continuaram a estender sua influência cultural
pela Europa e pelo mundo afora.
Dica do professor: