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O Tesouro

Enfim! Alerta! Era, na vereda, a cantiga dolente e rouca, atirada aos


ramos:
Olé! Olé!
Sale la cruz de la iglesia
Toda vestida de negro...
Rui murmurou: - “Na ilharga! Mal que passe!” O chouto da égua bateu o
cascalho, uma pluma num sombrero vermelhejou por sobre a ponta das silvas.
Rostabal rompeu de entre a sarça por uma brecha, atirou o braço, a longa espada; - e toda a lâmina
se embebeu molemente na ilharga de Guanes, quando ao rumor, bruscamente, ele se virara na sela. Com
um surdo arranco, tombou de lado, sobre as pedras. Já Rui se arremessava aos freios da égua: - Rostabal,
caindo sobre Guanes, que arquejava, de novo lhe mergulhou a espada, agarrada pela folha como um
punhal, no peito e na garganta.
- A chave! - gritou Rui.
E arrancada a chave do cofre ao seio do morto, ambos largaram pela vereda - Rostabal adiante,
fugindo, com a pluma do sombrero quebrada e torta, a espada ainda nua entalada sob o braço, todo
encolhido, arrepiado com o sabor de sangue que lhe espirrara para a boca; Rui, atrás, puxando
desesperadamente os freios da égua, que, de patas fincadas no chão pedregoso, arreganhando a longa
dentuça amarela, não queria deixar o seu amo assim estirado, abandonado, ao comprido das sebes.
Teve de lhe espicaçar as ancas lazarentas com a ponta da espada: - e foi correndo sobre ela, de
lâmina alta, como se perseguisse um mouro, que desembocou na clareira onde o sol já não dourava as
folhas. Rostabal arremessara para a relva o sombrero e a espada; e debruçado sobre a laje escavada em
tanque, de mangas arregaçadas, lavava, ruidosamente, a face e as barbas.
A égua, quieta, recomeçou a pastar, carregada com os alforjes novos que Guanes comprara em
Retortilho. Do mais largo, abarrotado, surdiam dois gargalos de garrafas. Então Rui tirou, lentamente, do
cinto, a sua larga navalha. Sem um rumor na selva espessa, deslizou até Rostabal, que resfolgava, com as
longas barbas pingando. E serenamente, como se pregasse uma estaca num canteiro, enterrou a folha toda
no largo dorso dobrado, certeira sobre o coração.

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Rostabal caiu sobre o tanque, sem um gemido, com a face na água, os longos cabelos flutuando na
água. A sua velha escarcela de couro ficara entalada sob a coxa. Para tirar de dentro a terceira chave do
cofre, Rui solevou o corpo - e um sangue mais grosso jorrou, escorreu pela borda do tanque, fumegando.

Vocabulário:
Ilharga – lado de um corpo entre a anca e as primeiras costelas
Chouto – trote incomodativo
Escarcela – bolsa de couro que se prendia à cinta

A. Compreensão/Expressão

1. Guanes parte para Retortilho e regressa entoando a mesma canção: “Olé! Olé! / Sale la cruz de
la iglesia, / Toda vestida de negro...”. Tendo em conta os acontecimentos futuros, explica a
simbologia da letra.

2. Este excerto é constituído por uma sucessão rápida de acontecimentos. Enumera-os por
ordem cronológica:
a) Rui retira a chave que faltava.
b) Rostabal é morto.
c) A chave de Guanes é-lhe retirada.
d) Guanes regressa de Retortilho.
e) Rostabal mata Guanes.
f) Rostabal lava a face.

3. Transcreve a frase que melhor transmite a ideia da personificação da égua e explica o seu
significado.

4. Estabelece a comparação, apoiando-te em expressões do texto, entre o comportamento de


Rostabal, ao matar Guanes, e de Rui, ao matar Rostabal.

5. “E serenamente, como se pregasse uma estaca num canteiro, enterrou a folha toda no largo
dorso dobrado, certeira sobre o coração”. Assinala nesta frase como o narrador consegue,
através de dois processos diferentes, mostrar a frieza do gesto de Rui.

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B) Laboratório da Língua

Nomes

A classe dos Nomes divide-se em subclasses: Nomes Próprios, Nomes Comuns e ainda Nomes
Colectivos (dentro dos Nomes Comuns).

1. Observa agora a tabela que se segue.

Grupo 1 Grupo 2
 família  Guanes
 moleiro  pobreza
 varinha  magia

1.1 identifica a classe e subclasse a que pertencem as palavras da tabela.

Os nomes, assim como os adjetivos, variam em género e número.

2. Observa atentamente a tabela seguinte e coloca os nomes no feminino.

Género Masculino Género Feminino


velho
moleiro
gato
infante
escritor
camponês
cidadão
patrão
solteirão
anão

Regras gerais para formação do feminino dos Nomes:

 Os nomes terminados em o e e, mudam a vogal final para a, no feminino.


 Os nomes acabados em r e s, formam o feminino acrescentando a.
 Nos nomes terminados em ão o feminino obtém-se mudando o ão para ã, ona e oa.

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2.1. No entanto, existem casos especiais (exceções) de formação do feminino.
Completa o dominó dos nomes, com as formas de masculino ou feminino que faltam.

condessa galinha
príncipe cão
poetisa mulher
rei rapaz
heroína ovelha
cavalo actor

3. Observa atentamente a tabela seguinte e coloca os nomes no plural.

Singular Plural
velha
moleiro
gata
infante
escritor
camponês
cidadão
pão
solteirão
anão

Regras gerais para formação do Plural dos Nomes:

 Regra geral: para formar o plural dos nomes acrescenta-se um s ao nome no


singular.
 Os nomes acabados em r e s, formam o plural acrescentando es ao singular.
 Nos nomes terminados em ão o plural obtém-se mudando o ão para ãos, ões, e ães.

4. Retira do excerto do conto “O Tesouro” exemplos de nomes próprios, comuns e coletivos e


classifica-os quanto ao género e ao número.

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